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MESTRADO EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A PERSPECTIVA DA INDÚSTRIA: A
EXPERIÊNCIA DA VOLVO DO BRASIL
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
CURITIBA 2010
ANA CLAUDIA BITTAR
A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A PERSPECTIVA DA INDÚSTRIA: A EXPERIÊNCIA DA VOLVO NO BRASIL
Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre, do Programa de Mestrado Acadêmico em Organizações e Desenvolvimento, FAE Centro Universitário. Orientador: Prof. Dr. Lafaiete Santos Neves
CURITIBA JUNHO 2010
TERMO DE APROVAÇÃO
Dedico este trabalho ao meu pai Álvaro,
em agradecimento aos seus ensinamentos
e oportunidades que me proporcionou,
fundamentais para minha vida.
Agradecimentos
Ao meu marido Mauro e aos meus filhos Aline e Rodolfo, pelo apoio, paciência, compreensão e incentivo. As minhas duas grandes amigas e companheiras de vida, Profa. Dra. Glenda Mezzarobba (Unicamp) e Profa. Dra. Karin Graeml (PUC-PR), por suas criticas e contribuições durante toda esta jornada acadêmica. Ao professor orientador Prof. Dr. Lafaiete Santos Neves, pelo acompanhamento, incentivo e contribuição para meu crescimento acadêmico e pessoal. Aos professores que participaram da banca examinadora, Prof. Dr. José Henrique de Faria e Prof. Dr. Sérgio Tadeu Gonçalves Muniz, que avaliaram o conteúdo do texto e ofereceram suas valiosas contribuições. Aos professores do Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da FAE Centro Universitário, que me apresentaram novas formas de interpretar o mundo. Aos colegas do mestrado por compartilharem conhecimentos, experiências, descobertas e dúvidas. A Mariana Fressato e Mônica Gonçalves, por suas informações, paciência e profissionalismo. A Volvo do Brasil, especialmente Dr. Dante Lago, Marli Bonatto e Anaelse Oliveira, que viabilizaram a realização desta pesquisa. Aos colegas de trabalho que sempre apoiaram esta aventura acadêmica em meio às atividades profissionais. Aos meus amigos e familiares que compreenderam a minha ausência em inúmeras ocasiões.
RESUMO
BITTAR, Ana Claudia. A responsabilidade social sob a perspectiva da indústria: a experiência da Volvo do Brasil. 86p. Dissertação (Mestrado em Organizações e
Desenvolvimento) - FAE Centro Universitário. Curitiba, 2010.
Desde a crise econômica que culminou na Reforma do Estado no Brasil, no início da
década de 90, as organizações empresariais, em parceria com o Estado e o terceiro
setor passaram a desempenhar importante papel na sociedade devido a sua
capacidade de potencializar recursos, prover tecnologia e inovação, entre outros
aspectos. As atividades produtivas e comerciais, além de gerar empregos e atender as
expectativas dos acionistas, criam oportunidades de iniciativas de responsabilidade
social empresarial para as comunidades que podem influenciar diretamente a região
onde estão instaladas. Neste sentido, diante de um cenário em que as empresas têm
percebido a importância das ações de responsabilidade social, esta dissertação busca
compreender a forma de aplicação deste conceito numa empresa do setor automotivo
e se tais iniciativas contribuem para desenvolver a cidadania. A pesquisa utiliza a
Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do
discurso de Responsabilidade Social pelas organizações e trata da preocupação
relativa à passagem da assistência a emancipação dos cidadãos. Empiricamente, foi
feita a análise de relatórios socioambientais e de gestão da empresa em questão,
Volvo do Brasil, e aplicados dois questionários: o primeiro, para os funcionários da
empresa sobre o entendimento e a aplicabilidade do tema. O segundo, para
beneficiários de um de seus projetos sociais, o Projeto Capoeira e Cidadania. Na
conclusão, são trabalhados aspectos relevantes do conceito, a aplicação da noção de
Responsabilidade Social pelos funcionários da empresa e a influência que o projeto
exerce na comunidade, sobretudo na formação de cidadãos emancipados.
Palavras-chave: Responsabilidade social empresarial; indústria automotiva;
assistência e cidadania; políticas públicas.
ABSTRACT
BITTAR, Ana Claudia. A responsabilidade social sob a perspectiva da indústria: a experiência da Volvo do Brasil. 86p. Dissertação (Mestrado em Organizações e
Desenvolvimento) - FAE Centro Universitário. Curitiba, 2010.
Since the economic crisis that culminated in the State Reform in Brazil, at the
beginning of the ‘90s, the enterprises, in partnership with the State and the third sector
had started to play an important role in the society due to its capacity to potentialize
resources, to provide technology and innovation, among others aspects. The
productive and commercial activities, beyond generating jobs and meeting
shareholders expectations, create chances of corporate social responsibility initiatives
for the communities that can directly influence the region where they are installed. In
this way, in a context where companies have realized the importance of their social
actions, the present paperwork seeks to understand this concept application in a
company of the automotive sector and evaluate if such initiatives contribute to improve
the local community’s citizenship . This study uses the theory of the responsibility and
reconstitutes the appropriation of the corporate social responsibility phenomenon
dealing with the switch from assistance to support citizens’ emancipation. Empirically, a
case study was conducted and the data collection and analysis came from the
company socio-environmental report. Two questionnaires were applied: the first one,
to the company employees concerning the subject definition and applicability. The
second, to beneficiaries of one of the company’s social projects, the Projeto Capoeira e
Cidadania. In the conclusion, relevant aspects of the concept are emphasized, the
application of the social responsibility definition by the employees and the project’s
effect in the community, especially to prepare emancipated citizens.
Keywords: Corporate social responsibility; automotive industry; assistance and
citizenship; public politics.
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01 - CONDIÇÕES E INTERESSES DOS STAKEHOLDERS ............................................. 21
QUADRO 02 - AS DIFERENÇAS ENTRE FILANTROPIA E RSE ...................................................... 32
QUADRO 03 - RESULTADOS DAS AÇÕES DE RSE........................................................................ 33
QUADRO 04 - NÚMEROS DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA 2008........................ 50
QUADRO 05 - PRINCÍPIOS DO PACTO GLOBAL E AS PRÁTICAS DA VOLVO DO BRASIL.......... 53
QUADRO 06 - RANKING DAS MONTADORAS 2009 ........................................................................ 55
QUADRO 07 - FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO COM STAKEHOLDERS................................ 55
LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 - A PÍRÂMDE DA RESPONSABILIDADE SOCIAL.......................................................... 22
FIGURA 02 - NOVOS ESPAÇOS SOCIAIS........................................................................................ 37
LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01 - PERFIL DA AMOSTRA – POR CARGO..................................................................... 56
GRÁFICO 02 - PERFIL DA AMOSTRA: POR IDADE E GÊNERO ..................................................... 56
GRÁFICO 03 - ENTENDIMENTO DO CONCEITO DE RSE............................................................... 57
GRÁFICO 04 - PARTICIPAÇÃO EM PROJETOS DE RSE DA EMPRESA........................................ 58
GRÁFICO 05 - PRINCIPAIS PROJETOS DE RSE DA EMPRESA .................................................... 60
GRÁFICO 06 - VANTAGENS COMPETITIVAS DAS EMPRESAS SOCIALMENTE
RESPONSÁVEIS......................................................................................................... 61
GRÁFICO 07 - INFLUÊNCIA DA IMAGEM DA MARCA NA DECISÃO DE COMPRA........................ 61
GRÁFICO 08 - PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES VOLUNTÁRIAS FORA DO HORÁRIO DE
TRABALHO.................................................................................................................. 62
GRÁFICO 09 - PERFIL DOS PARTICIPANTES................................................................................. 65
GRÁFICO 10 - IDADE DOS ALUNOS ................................................................................................ 65
GRÁFICO 11 - DIVULGAÇÃO DO PROJETO.................................................................................... 66
GRÁFICO 12 - TEMPO DE PARTICIPAÇÃO NO PROJETO ............................................................. 67
GRÁFICO 13 - RAZÕES PARA GOSTAR DO PROJETO.................................................................. 67
GRÁFICO 14 - SUGESTÕES DE MELHORIAS ................................................................................. 68
GRÁFICO 15 - BENEFÍCIOS PESSOAIS AO PARTICIPAR DO PROJETO ...................................... 69
GRÁFICO 16 - DIFERENÇA NOS ESTUDOS AO PARTICIPAR DO PROJETO ............................... 69
GRÁFICO 17 - CONHECIMENTO DE OUTROS PROJETOS VOLVO............................................... 70
GRÁFICO 18 - CONHECIMENTO DE PROJETOS DE OUTRAS EMPRESAS.................................. 71
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 12
2 REFORMA DO ESTADO, RESPONSABILIDADE SOCIAL E CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA ...................................................................................................................... 15
2.1 A REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO......................................................................... 15
2.2 AS ORIGENS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS.............................. 18
2.3 CONCEITOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL............................................................ 19
2.4 A VISÃO DE HANS JONAS: O PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE ........................... 22
2.5 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL ......................................................................... 26
2.6 CIDADANIA ...................................................................................................................... 27
2.7 DA FILANTROPIA PARA A RESPONSABILIDADE.......................................................... 30
2.8 BENEFICIÁRIOS DIRETOS E INDIRETOS DA RSE........................................................ 33
2.9 AMBIGUIDADES E AMBIVALENCIAS.............................................................................. 34
2.10 A APLICABILIDADE DO CONCEITO DE RSE ................................................................. 36
2.11 CAPTAÇÃO DE RECURSOS E RELATORIOS ................................................................ 38
2.11.1 Incentivos Fiscais ........................................................................................................... 38
2.11.2 Relatórios e Balanço Social ........................................................................................... 41
3 METODOLOGIA ............................................................................................................... 44
3.1 ETAPAS DO ESTUDO...................................................................................................... 45
4 CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA E DO LOCAL DA APLICAÇÃO DO PROJETO......................................................................................................................... 48
4.1 PANORAMA DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL ............................................... 48
4.2 A EMPRESA PESQUISADA – VOLVO DO BRASIL......................................................... 51
5 RESULTADOS DAS PESQUISAS ................................................................................... 56
5.1 RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA COM FUNCIONÁRIOS DA EMPRESA......... 56
5.2 RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA COM PARTICIPANTES DO PROJETO
CAPOEIRA ....................................................................................................................... 63
5.3 ANÁLISE GERAL.............................................................................................................. 72
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 75
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 78
APÊNDICE 1 .................................................................................................................................. 81
APÊNDICE 2 .................................................................................................................................. 83
APÊNDICE 3 .................................................................................................................................. 85
12
1 INTRODUÇÃO
Desde 1990, em consequência da crise econômica e da Reforma do Estado,
determinadas políticas do setor público passaram da esfera pública para o setor
privado. Proliferaram, então, as organizações não governamentais (ONGS) e a idéia
de Responsabilidade Social ganhou importância nos debates acadêmicos, nas
organizações empresariais e entre alguns setores da sociedade civil empenhados
em promover a causa social, embora pareça desenvolver-se em ritmo mais lento no
cotidiano das práticas de gestão.
Concomitantemente ao surgimento de novas demandas e maior pressão por
transparência nos negócios, as empresas têm sido pressionadas pela sociedade a
adotar uma postura mais responsável em suas ações e utilizar a Responsabilidade
Social Empresarial (RSE) como uma ferramenta estratégica. Isto sinaliza um
movimento na mentalidade dos gestores, acionistas, empregados, fornecedores e
demais envolvidos na rede de relacionamentos das empresas que passam a
acreditar na RSE como mais uma forma de buscar atender as novas exigências da
sociedade, o que naturalmente inclui performance e competitividade.
A tendência indica que empresas socialmente responsáveis têm sido
consideradas agentes relevantes no processo de desenvolvimento de países como o
Brasil, em que necessidades básicas de grande parcela da população ainda não
estão sendo supridas satisfatoriamente. Diante dessa realidade, persiste a
necessidade de ações concretas para lidar com problemas sociais que dificultam a
vivência plena da cidadania e parece indispensável uma reflexão ampliada a
respeito do significado e o efeito das práticas de RSE para um agir emancipatório.
Consequentemente, a análise da participação das empresas privadas na solução de
necessidades públicas está na pauta das discussões atuais, em projetos sociais e
na compreensão dos funcionários a respeito da forma como as empresas interagem
com o desenvolvimento econômico e social.
Neste sentido, a intervenção de diferentes atores sociais exige das
organizações uma postura baseada em valores éticos que promovam o
desenvolvimento e a emancipação dos cidadãos. Diante desta perspectiva de
gestão empresarial com foco na qualidade das relações empresa-comunidade, a
13
responsabilidade social pode significar uma mudança de atitude e
um compromisso social com a comunidade, para responder a um diferencial
competitivo, e um indicador de sustentabilidade no longo prazo.
Sob este prisma, o objeto de análise deste estudo é a aplicabilidade do
conceito da RSE na indústria automotiva. Este segmento foi escolhido devido à sua
representatividade e poder de influência, além de ser um exemplo clássico do
processo de globalização e desenvolvimento. No caso do Brasil, sua chegada na
segunda metade do século XX está diretamente relacionada ao processo de
expansão nacional. O poder econômico desta indústria e seu potencial de
crescimento causam forte impacto na economia. A sua dinâmica faz manter um
processo contínuo de acumulação de capital com ampla repercussão no conjunto
das economias e em seus diversos níveis, como a produção e aplicação do
conhecimento (NEVES, 2003) e, consequentemente, na sociedade onde está
inserida.
Valendo-se da Teoria da Responsabilidade de Hans Jonas, que busca o
surgimento de um novo comportamento ético, como diretriz para o desenvolvimento
sustentável, a premissa de Pedro Demo que enfatiza a importância da formação de
cidadãos emancipados, e a visão crítica de Paoli sobre a RSE, o problema de
pesquisa é:
De que forma o Projeto Capoeira de RSE da Volvo do Brasil traduz a
apicação da poltica de Responsabildade Social, a partir da percepção de seus
funcionáios e da comunidade em que se encontra inserida.
Objetivo: analisar como a Volvo do Brasil, empresa do setor automotivo
instalada em Curitiba desde 1979, formula e aplica sua política de RSE a partir da
perspectiva de seus funcionários e da comunidade onde está inserida, através do
Projeto Capoeira.
Objetivos específicos:
− Analisar os programas de RSE desenvolvidos pela empresa e sua
influência na sociedade;
− Compreender a visão dos funcionários da empresa em relação à
política de RSE praticada;
14
− Investigar o impacto e a contribuição do Projeto Capoeira da Volvo
entre seus participantes e para a formação de cidadãos emancipados.
Após a introdução, o segundo capítulo trata da Responsabilidade Social no
contexto da Reforma do Estado Brasileiro, seu desdobramento em relação à Teoria
da Responsabilidade de Hans Jonas, além da análise critica de Pedro Demo
referente à formação de cidadãos emancipados. Também aborda a aplicabilidade do
conceito por meio de parcerias e incentivos fiscais e os meios utilizados para
divulgação e controle das ações de responsabilidade social das empresas.
O terceiro capítulo trata dos procedimentos metodológicos utilizados neste
estudo, enquanto o terceiro traça um panorama da indústria automotiva no Brasil, da
organização estudada e do local de aplicação do projeto.
No quinto capítulo estão os resultados das duas pesquisas realizadas. A
primeira refere-se à interpretação dos funcionários do conceito e da aplicação das
ações de RSE, pela empresa. A segunda pesquisa, aplicada aos participantes do
Projeto Capoeira, investiga os impactos desta ação.
Por fim, no sexto capítulo, é apresentada a análise dos projetos de RSE da
empresa em questão e seu impacto na sociedade, da perspectiva do
desenvolvimento da cidadania, Reforma do Estado, Responsabilidade Social e
Construção da Cidadania.
15
2 REFORMA DO ESTADO, RESPONSABILIDADE SOCIAL E CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
Este capítulo trata da noção da responsabilidade social, o desenvolvimento do
conceito da RSE a partir da Reforma do Estado. Devido à crise econômica e do
Estado na década de 80 na Europa, sua influência na reforma do Estado na América
Latina e no Brasil, com o chamado Estado neoliberal transferindo algumas atividades
públicas foram transferidas para o setor privado, multiplicando-se então as
Organizações não governamentais (ONGs) e as práticas de responsabilidade social.
As empresas, diante da crise econômica e da concorrência capitalista, tiveram que
buscar uma nova relação com o Estado e o mercado para atender a crescente
preocupação das organizações e da sociedade de uma nova conduta empresarial
diante de cidadãos cada vez mais exigentes.
Também são tratados os temas da ética e cidadania que estão diretamente
relacionados com a responsabilidade social.
2.1 A REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO
Após a II Guerra Mundial, na Europa e na América do Norte, o
desenvolvimento do capitalismo nos anos 80, levou ao avanço do neoliberalismo
como uma reação teórica e política contra ao Estado intervencionista e de bem-estar
(ANDERSON, 1995).
Diante da crise generalizada das economias de mercado, o remédio parecia
ser claro: manter o Estado enxuto e no controle do dinheiro, mas econômico em
todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A Inglaterra em 1985 com o
governo conservador de Tatcher, foi o primeiro país de capitalismo avançado a por
em prática o programa neoliberal que desmontou os direitos sociais e o poder dos
sindicatos em negociar, introduzindo o livre mercado para restringir o controle
público sobre a vida econômica (PAOLI, 2005). Algo similar aconteceu nos Estados
Unidos, com a chegada de Reagan (1981-1988) à presidência e na Alemanha logo
após, quando Khol, em 1982, derrotou o regime social liberal. Posteriormente quase
todos os países da Europa também viraram à direita. Na América Latina o mesmo
16
ocorreu, inicialmente o Chile sob a ditadura de Pinochet, seguidos do México,
Argentina, Peru e Bolívia (ANDERSON, 1995).
Sendo assim, relata Sader e Gentili (1995), na contramão do Estado de bem-
estar social, aplicava-se a privatização dos serviços de saúde, do sistema
educacional e da diminuição da proteção social ao trabalho e consequentemente o
incremento da desigualdade de crescimento econômico.
A exemplo de outros países, no Brasil, a conjuntura inflacionária e a crise da
dívida favoreceram as propostas neoliberais. Ao longo dos anos 80, a economia
brasileira passou sucessivas de crises econômicas, com a imposição da hegemonia
do capital financeiro que finalmente desembocou no neoliberalismo iniciado no
governo Collor de Mello (1990), continuado no governo de Fernando Henrique
(1994-2002) e no Governo de Lula da Silva a partir de 2003, que mesmo tendo
preservado grandes empresas estatais, continuou a política de privatizações no
setor de serviços públicos.
Na visão de Paoli (2005), o processo neoliberal visa à desregulamentação
estatal do mercado, cujo funcionamento livre de limitações públicas aprofunda e
sedimenta os mecanismos de exclusão social e política presentes na história da
modernização do país.
Apesar do seu fracasso em reativar economicamente o capitalismo ao
fomentar a especulação financeira, o neoliberalismo divulga triunfos sociais e
ideológicos. Apresenta um modelo hegemônico global como nunca antes havia sido
apresentado, por sua abrangência e sua pretensão transformadora das relações
sociais (SADER; GENTILI, 1995). Por outro lado, estes autores enfatizam o risco
que esta doutrina representa à democracia social e aos direitos básicos da cidadania
devido ao encolhimento do espaço público da sociedade. Funções anteriormente do
Estado, tais como a educação, a saúde, a segurança social e serviços passaram a
ser adquiríveis seguindo as regras do mercado.
Consequentemente, alguns setores da sociedade civil empenhados em
promover a causa social se mobilizam e então, as organizações não governamentais
(ONGS) se proliferam. Na década de 70 no Brasil, segundo Paoli (2005), a
17
expressão ONG1 se referia, principalmente, às organizações de cooperação
internacional, formada por igrejas (católica e protestante) e agências internacionais
que tinham como objetivo ajudar as organizações e os movimentos sociais nos
países do sul, com o intuito de consolidarem a democracia financiando atividades
focadas na politização, conscientização e formação política.
A partir de 1980, ocorre uma explosão de ONGs com um foco diferenciado, já
não mais comprometido com os movimentos políticos sociais, mas com interesse
geral da sociedade. Conforme relata Kavinski (2009), as ONGs passaram a
despertar o interesse de muitas pessoas antes não ligadas as “causas sociais”,
constituindo-se inclusive em um novo mercado de trabalho e de oportunidades.
Considerando esse cenário, Pereira e Grau (1999), evidenciam que essas
organizações, por indicar justamente uma terceira forma de propriedade que fica
entre o privado e o estatal, o público-não-estatal sugerem que ‘terceiro setor’ é o
termo mais adequado. Sendo assim, o terceiro setor foi apresentado como a forma
encontrada pela sociedade civil para preencher a lacuna deixada pelo Estado, no
atendimento das novas demandas sociais que foram sendo incorporadas e que
conferiu às ONGs o status de parceiras na prestação de serviços sociais, tanto junto
ao governo, quanto com as empresas privadas. Para estes mesmos autores, a
desresponsabilização estatal das respostas às sequelas da “questão social” é
compensada pela ampliação de sistemas privados: mercantis (empresariais,
lucrativos) e filantrópico-voluntários (do chamado “terceiro setor”).
Neste mesmo sentido, segundo Carvalho (2009), ao se multiplicarem e
apontarem na direção da colaboração entre a sociedade e o Estado, as ONGs
sugerem otimismo ao apontarem na direção da colaboração entre sociedade e
Estado.
Desde os anos 80, pode-se dizer que o número de ONGs vem se
multiplicando a cada ano, e juntamente com essas organizações, as empresas estão
também aumentando as suas ações relacionadas à Responsabilidade social.
1 Conforme explica Coutinho (2003), o termo Organizações não governamentais (ONG), é utilizado desde 1940, pela ONU, para designar diferentes entidades executoras de projetos humanitários ou de interesse público e posteriormente ganham papel consultivo em várias agências e fundos das Nações Unidas.
18
2.2 AS ORIGENS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS
Paralelamente à evolução das políticas públicas dos Estados, é possível
encontrar antigos relatos históricos, que descrevem políticas socialmente
responsáveis por parte das empresas.
No Brasil, historicamente a filantropia e a assistência não fazem parte da
cultura empresarial. Segundo Rico (2004), até o início do processo de
industrialização e mesmo a partir dele, as ações sociais eram heterogêneas,
pontuais, dependentes e tuteladas pelo Estado. Inexistiam ações assistenciais
sistemáticas aos cidadãos de baixa renda a partir de medidas tomadas pelo Estado
que se limitava a reconhecer as ações assistenciais praticadas pelas irmandades,
atribuindo um papel diferenciado à Igreja.
Como conseqüência de uma série de eventos sociais e políticos, em 1980
surgiram os movimentos em torno da ‘RSE, pois se percebeu que a democracia
política não resolveria os problemas econômicos mais sérios. Sendo assim,
conforme já mencionado acima, após a ditadura sugiram as organizações não
governamentais (ONGs), para desenvolver atividades de interesse público que ao se
multiplicar buscam a colaboração entre a sociedade e o Estado (CARVALHO, 2009).
Segundo relata Tinoco (2001), a Câmera Americana de Comércio de São
Paulo, em 1982, instituiu Prêmio ECO-Empresa e Comunidade, com a finalidade de
reconhecer e divulgar esforços realizados por empresas que desenvolvessem
projetos sociais para a promoção da cidadania em cinco categorias: cultura,
educação, participação comunitária, educação ambiental e saúde. Posteriormente
em 1986, a Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES),
formada por empresários de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul,
iniciaram debates, eventos e atividades, em níveis nacionais e internacionais, sobre a
‘RSE.
Kavinski (2009) relata que diversos dispositivos centrados nos direitos
sociais, inexistentes até então passaram a ser garantidos com a criação da nova
Carta Constitucional do país elaborada e aprovada em 1988, quatro anos após o
fortalecimento da sociedade civil devido ao movimento “Diretas Já” que defendia o
direito ao voto direto para escolha presidencial. Nesta conjuntura, o envolvimento
popular e de organizações da sociedade civil em busca da ética resultaram em
19
1992 no impeachment do presidente Collor, demonstrando os paradigmas do
processo de reestruturação social brasileira. No mesmo ano, a Conferência Rio 92
despertou as discussão ambiental para a agenda mundial (REIS, 2007).
Ainda segundo esse autor, em 1993, a RSE ganha visibilidade no meio
empresarial com a Campanha Nacional “Ação da Cidadania contra a Miséria e pela
Vida” comandada por do sociólogo Herbert de Souza – Betinho; e apoiada pelo
movimento PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) aproximação dos
empresários com as ações sociais. Ele também lançou um modelo de balanço social
e, em parceria com a Gazeta Mercantil, criou o selo do Balanço Social estimulando
as empresas a divulgarem seus resultados na participação em projetos sociais.
No ano seguinte, o empresário Oded Grajew fundou o Instituto Ethos de
Empresas e Responsabilidade Social com o objetivo de criar uma ponte entre os
empresários e as causas sociais e disseminar a prática da RSE por meio de
publicações, experiências, programas e eventos para os interessados na temática.
Kramer (2005) ressalta que este trabalho refletiu rapidamente nas empresas e no
ano seguinte a adesão ao movimento social já foi relatada por 68 empresas através
de relatórios de balanço social no Brasil.
No curso da história, a ênfase nas questões sociais e ambientais influenciou o
comportamento do cidadão brasileiro e houve uma crescente articulação dos
movimentos sociais que serviu de base para a criação do Fórum Social Mundial,
realizado anualmente desde 2001. Tais acontecimentos provocaram uma série de
mudanças no mundo empresarial e várias entidades foram criadas para lidar com
temas sociais, direitos humanos e sustentabilidade ambiental, incentivando o
desenvolvimento comunitário e social, difundindo os conceitos de RSE.
2.3 CONCEITOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
O conceito de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) difundido no
mundo acadêmico e empresarial é amplo e complexo. Diferentes autores propõem
inúmeras definições enfatizando aspectos legais, éticos, sócias e ambientais,
visando um objetivo comum: a melhora da qualidade de vida das pessoas em seu
entorno e a sua continuidade.
20
De acordo com Ashley (2002), a RSE é o compromisso da organização para
com a sociedade, expresso por meio de atitudes que afetem positivamente a
sociedade. Nesse sentido a empresa é concebida como ator social capacitado a
assumir o desafio de articular estrategicamente e desempenho econômico com
princípios fundamentalmente éticos e morais e têm consciência de suas interações
na sociedade.
Sob este prisma, o Instituto Ethos (2003), aponta que a RSE relaciona-se
diretamente com a forma de gestão que se define pela relação ética, transparente e
solidária da empresa com seu público e pelo estabelecimento de metas empresariais
compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando
recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade
e promovendo a redução da desigualdade social.
A RSE concretiza-se então, segundo Camargo et al. (2001) por meio das
atitudes, comportamentos e práticas positivas e construtivas das empresas para a
comunidade, que contribuem para concretizar o bem comum e elevar a qualidade de
vida, por meio de ações que supram suas necessidades. Da mesma forma, Manica
(2005), refere-se à RSE ao modo como as empresas, a sociedade e o Estado se
comportam em suas relações recíprocas considerando os padrões de ética,
moralidade, transparência e altruísmo que permeiam a conduta dos atores sociais.
Complementando estas definições, segundo Melo Neto e Froes (2001), uma
empresa socialmente responsável é aquela que investe no bem-estar dos
funcionários e dependentes e num ambiente de trabalho saudável e transparente,
além de preservar o meio ambiente e investir em ações sociais. Para estes autores a
RSE refere-se aos relacionamentos que a instituição tem além dos seus
stakeholders¹, visto que envolve comunidade, meio ambiente e desenvolvimento
comunitário em todo o seu contexto onde se encontra inserido, formando uma
grande teia.
Neste mesmo sentido, Ponchirolli (2008), considera que a RSE está
diretamente ligada ao tipo de relacionamento entre a empresa e seus interlocutores
e dependem das políticas, valores, cultura e visão estratégica da empresa. Esta
ação coletiva estratégica poderá fomentar a cidadania e obter legitimidade entre os
diferentes públicos.
21
As condições e interesses dos stakeholders, considerados atores sociais
estão sintetizados, no quadro 01, a seguir:
QUADRO 01 - CONDIÇÕES E INTERESSES DOS STAKEHOLDERS
Stakeholders Condição de interesse e expectativas Acionistas Preservação e multiplicação do investimento Clientes consumidores Aquisição de produtos e serviços confiáveis
Governos Geração de empregos e impostos, apoio a programas sociais, econômicos e ambientais
Empregados Disposição de salários e condições de trabalho Organizações não governamentais
Preservação e socialização de recursos sociais, ambientais, e econômicos
Comunidades locais Fomento à economia, ao lazer e a cultura local, estímulos à qualidade de vida. Fornecedores Geração de pedidos de fornecimento Mídia Informações à sociedade2 Concorrência Disseminação de tecnologia, ampliação do mercado consumidor.
FONTE: Mota (2008), a partir dos fundamentos teóricos de Kotler (2000)3
Considerando a amplitude do conceito de RSE, Carroll e Buchholtz (2000,
p.33), desdobram RSE em um conjunto de quatro responsabilidades que devem ser
atendidas pelas empresas. Segundo estas autoras, RSE é efetiva quando todas
estas dimensões são satisfeitas. Ao iniciar pela obrigatoriedade e chegando à
responsabilidade assumida por vontade e escolha própria, são elas:
- Responsabilidade econômica – é a base para todas as outras e trata da
sustentabilidade e viabilidade do negócio, porque uma empresa que não
gera lucro não consegue manter-se;
- Responsabilidade legal – empresas devem ser responsáveis pela adequação
de suas ações de responsabilidade; refere-se ao estrito cumprimento às
leis, pois, uma empresa que não respeita as leis, pode gerar prejuízos aos
stakeholders;
- Responsabilidade ética – traduz-se às escolhas organizacionais que exige da
empresa e dos seus funcionários que ajam de acordo com os princípios
éticos vigentes na cultura social onde está inserida; levando-a a atuar num
patamar acima mínimo requerido por lei, no que se se refere ao
2 Stakeholders : corresponde à expressão em inglês que se pode traduzir por: todos que mantêm, sustentam a atividade da empresa e são por ela afetados. 3 KOTLER, Philip. Administração de Marketing. 10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000.
22
atendimento dos interesses coletivos. Não é um envolvimento exigido, nem
esperado, mas desejado pela sociedade;
- Responsabilidade filantrópico-discricionária – a empresa aporta,
voluntariamente, recursos humanos, materiais e financeiros para a melhoria
das condições sociais coletivas das empresas.
FIGURA 01 - A PÍRÂMDE DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
Sobrevivência, crescimentoResponsabilidade Econômica
Responsabilidade Legal
ResponsabilidadeÉtica
Resp.Discricionária
Ações voluntárias deextensão à comunidade
Comportamento segundoPrincípios éticos e morais
Obedecer e cumprir leis
Sobrevivência, crescimentoResponsabilidade Econômica
Responsabilidade Legal
ResponsabilidadeÉtica
Resp.Discricionária
Ações voluntárias deextensão à comunidade
Comportamento segundoPrincípios éticos e morais
Obedecer e cumprir leis
FONTE: Adaptado de Carroll e Buchholtz (2000, p.33)
Para estas mesmas autoras, as tensões empresariais que surgem quando se
procura conciliar estes níveis acontecem predominantemente entre os níveis legal,
ético e econômico, devido à possibilidade de sacrificar os resultados econômicos.
Neste contexto, a RSE associa-se a um conjunto de políticas, práticas, rotinas e
programas gerenciais que perpassam todos os níveis e operações do negócio e que
facilitam e estimulam o diálogo e a participação permanente com os stakeholders, de
modo a corresponder com as expectativas dos mesmos.
Em todas estas definições percebe-se uma interação entre os diversos
agentes sociais, abarcando os aspectos econômicos, como vêm acontecendo
classicamente na administração e também relações de confiança e normas éticas
(ASHLEY, 2002). Uma responsabilidade ética, consciente e solidária, à luz de Hans
Jonas.
2.4 A VISÃO DE HANS JONAS: O PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE
23
A evolução da ciência e da tecnologia, impulsionadas pela atividade
econômica, está causando movimentos e efeitos sobre a natureza e a qualidade de
vida que exigem uma reflexão sobre as bases éticas do comportamento humano.
Neste sentido, Hans Jonas (2006) elabora uma teoria atual e futura em busca
um novo comportamento ético, que inclua em suas preocupações as relações entre
os seres humanos e a natureza, pois considera o homem como fator causal no
complexo sistema das coisas e mostra a interdependência entre o homem e o extra-
humano. Para ele, o futuro da humanidade está condicionado ao futuro da natureza
e somente com uma conduta ética que responsabilize a todos pode viabilizar este
processo.
O Princípio da Responsabilidade de Hans Jonas foi concebido tendo como
premissa ética a relação homem e natureza e as mudanças conseqüentes da ação
humana tecnologicamente potencializada, que devido ao abuso do domínio do
homem sobre a natureza podem causar sua destruição. Sendo assim, a humanidade
de posse de um poder até então inexistente, necessitaria de uma ética que
norteasse seus atos, não somente no plano individual, mas principalmente no âmbito
coletivo e político, pois são as ações que produzem efeitos e possuem abrangência
espaço temporal.
Diante desta complexidade, Jonas (2006) sugere que o escopo da ética deve
se alargar e incluir em suas preocupações as relações entre os seres humanos e o
mundo não humano, envolvendo os animais e ate mesmo os artefatos tecnológicos.
Segundo o autor, nenhuma ética anterior levou em consideração a condição global
da vida humana, o futuro distante e a existência da espécie diante dos avanços
tecnológicos. No passado, existia uma perspectiva em curto prazo, do pequeno
alcance das ações e consequentemente a ética estava mais relacionada com o
presente, enquanto atualmente demanda a consciência das ações do presente para
os reflexos futuros.
A nova ética do Principio da Responsabilidade de Hans Jonas contempla a
natureza e as pessoas, pois, para ele as consequências futuras para a natureza
dependem diretamente das ações presentes dos homens. Seus fundamentos,
baseados na heurística do temor na qual a prudência e a responsabilidade assumem
importante papel nas tomadas de decisões, conduz a um agir diferenciado e
24
consciente sobre o que fazer e ao que renunciar diante de um futuro que se
apresenta ameaçado.
Aja de modo a que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autentica e inclua na tua escolha presente a futura integridade do homem como um dos objetos do teu querer (JONAS, 2006, p 48).
Sendo assim, o Princípio da Responsabilidade pede que se preserve a
condição de existência humana e mostra sua vulnerabilidade ante a fragilidade
natural da vida por meio de uma percepção de co-evolução entre o homem e a
natureza. Esta vulnerabilidade, segundo Jonas (2006), demanda que o interesse do
homem se identifique com o dos outros membros vivos da natureza, pois ele
considera que o ser humano como fato causal na natureza das coisas.
Ao considerar responsabilidade de todos à própria existência e a continuidade
da humanidade no planeta, Jonas (2006) aponta os valores éticos e os fins a serem
buscados utilizando os meios não como um fim em si mesmo. Esta proposição ética,
que leva em consideração os dilemas morais trazidos pela tecnologia e suas
consequências no ambiente humano, propõe um imperativo de responsabilidade que
inclua o dever de conservação da Terra. Para ele, a promessa da tecnologia
moderna concebida para a felicidade humana, se converteu em ameaça,
portanto busca despertar a atenção para o significado ético que a tecnologia
assume devido à importância que esta vem ocupando, pois a humanidade é levada
constantemente a acreditar que a vocação dos homens se encontra no contínuo
progresso, buscando uma superação permanente sobre si mesmo.
No que se refere ao progresso científico, Jonas (2006) ressalta a importância
das pesquisas e da fragmentação do conhecimento e afirma que seguir adiante nos
desafios do conhecimento é um dever supremo que merece o apoio de todos, pois
se trata de progresso real e de caráter desejável.
Outro aspecto relevante do Princípio da Responsabilidade é a independência
da idéia de direito e de reciprocidade. Ou seja, não se pode esperar algo em troca
por respeitar e preservar o que ainda não existe. Essa eliminação da reciprocidade
da ética de futuro, proposta por Jonas (2006), reflete uma característica fundamental
do conceito desejado para o termo responsabilidade, principalmente quando usado
com a determinação de Responsabilidade Social.
25
Jonas (2006) refere-se também a responsabilidade assumida pelo homem
político, que ambiciona o poder espontaneamente e busca assumir para si a
responsabilidade. Mesmo sendo uma responsabilidade de livre escolha,
diferentemente da responsabilidade parental, que tem como ponto comum o dever
da continuidade incondicional, cabe ao homem público, que assumiu
espontaneamente esta responsabilidade, garantir uma governabilidade futura
contribuindo de alguma forma com o desenvolvimento sustentável e tratar os
assuntos sob sua tutela como uma relação parental. Desta forma, este homem
público estaria contribuindo de alguma forma com o desenvolvimento
sustentável e em busca da sustentabilidade (SILVA, 2007).
A análise deste princípio, segundo Mota (2008) auxilia na compreensão do
conceito de Responsabilidade Social, pois ao levar em consideração a relação de
poder no comportamento das pessoas na sociedade. Pode-se afirmar que existe um
compromisso com o bem-estar dos outros, um sentido de coletividade que está
inserido na responsabilidade de todos, que também deveria determinar a maneira de
agir das empresas. Neste contexto, as ações de RSE tornam-se uma obrigação
moral para com a sociedade, uma vez que o poder causal neste caso é ainda maior
e torna-se possível aproximar a ideia de Jonas com o conceito de sustentabilidade,
passando pela esfera pública e privada, na busca por um desenvolvimento que
permita a continuidade digna no planeta, tanto dos seres humanos quanto de toda
biodiversidade (MOTA, 2008).
O termo responsabilidade social pode ser discutido, de acordo com a ética de
futuro de Hans Jonas as premissas básicas que resultam na convergência da
Responsabilidade Social que pode ser efetivada pelas organizações empresariais,
conforme descrito por Mota (2008, p.70):
- Continuidade da humanidade – Ações que não coloquem em risco o futuro do
ser humano ou de sua existência digna e que colaborem com o bem estar
geral;
- Extinção da reciprocidade – Realizar ações sem esperar retorno financeiro a
curto prazo;
- Relação parental do homem público – A responsabilidade assumida deve ser
tratada como uma responsabilidade natural, garantindo a continuidade da
26
coisa pública para a posteridade; com consciência do seu poder de
influência;
- Zelo pelas crianças como responsabilidade fundamental – As ações de
Responsabilidade Social devem proteger fundamentalmente a existência
das crianças;
- Ética de preservação da natureza – Ações que compreendam que a
continuidade da natureza é a continuidade do homem.
Em suma, tendo como base estes princípios evidenciados por Jonas, torna-se
possível ampliar o conceito de responsabilidade para responsabilidade social.
Seguindo estes critérios, a responsabilidade social representa a ética por meio da
consciência da importância da preservação da natureza e do meio ambiente, do zelo
ao ser humano, da solidariedade e consequentemente o compromisso moral que
leva às ações a buscar a posteridade.
Conforme ressalta Ponchirolli (2008), Hans Jonas tem como objetivo
fundamentar a ética visando às futuras gerações, pois acima da gratidão, está o
poder tecnológico que abriga efeitos remotos, cumulativos e uma dimensão
ameaçadora e perigosa. Sob este prisma, a questão da RSE respaldada nos
valores éticos e morais estão alinhadas com os Princípios da Responsabilidade de
Hans Jonas.
2.5 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL
O conceito da ética aplicada aos negócios é resumido por Ashley (2006) em dois
sentidos. O sentido positivo considera responsabilidade ética as atividades práticas,
políticas e comportamentos esperados enquanto o sentido negativo considera os
comportamentos proibidos por membros da sociedade, apesar de não serem
codificados em leis. Estas leis envolvem uma série de normas, padrões ou
expectativas de comportamento para atender àquilo que os diversos públicos
(stakeholders) com os quais a empresa se relaciona consideram legitimo, correto,
justo ou de acordo com seus direitos morais ou expectativas.
Desta maneira, a linha teórica que associa à ética enquanto princípio
normativo para a RSE conclui que as organizações terão de aprender a equacionar
a necessidade de obter lucros, obedecer às leis, ter um comportamento ético e
27
envolver-se em alguma forma de filantropia para com as comunidades em que se
inserem. Além disso, mudanças, como nas formas que são concebidos e
comercializados os produtos e serviços, trazem consigo novas questões éticas com
que as organizações têm de aprender a lidar – principalmente porque cada vez mais,
as novas tecnologias e oportunidades comerciais e empresariais abertas para a
globalização tendem a levar todas as organizações a abraçar padrões globais de
operação (CARROL; BUCHHOLTZ, 2000).
Complementando esta idéia, Srour (2000 p.29) menciona que a ética
empresarial implica na compreensão dos valores da moral predominante na
empresa, pois os padrões culturais e organizacionais se diferenciam nas empresas.
Para ele, a ética no campo empresarial costuma ser definida como a forma pela qual
normas morais e pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos da empresa, pois
induz os funcionários à busca pela eficiência e melhoria dos processos.
A importância da ética na RSE também é enfatizada por Rico (2004) ao
definí-la como uma forma de conduzir as ações das organizações que vêm
buscando assumir uma gestão socialmente responsável nos negócios, pautada em
valores éticos que visem integrar todos os protagonistas de suas relações: clientes,
fornecedores, consumidores, comunidade local, governo (público externo) e direção.
Seguindo esta linha de raciocínio, de acordo com Sertek (2006) à medida que
o homem conhece as coisas que está em seu entorno, dá-se conta de que os
demais seres também têm necessidades. Desta forma, sua conduta vê-se afetada
por duas chamadas distintas da natureza: uma interna (a voz das suas próprias
necessidades) e outra externa (a voz das coisas que o rodeiam).
Concomitantemente, Ponchirolli (2008, p.38) considera a ética importante no
universo organizacional que depende de homens de caráter bem formado, livres,
inteligentes, competentes e eficazes.
Em suma, o comportamento ético desenvolve o espírito de profissionalismo, a
consciência profissional e as virtudes que tornam melhores as pessoas que as
possuem e auxilia na formação de cidadãos capazes de exercerem seus direitos e
deveres.
2.6 CIDADANIA
28
A definição de cidadania, conforme relatado por Manzini-Corvre (1995),
consta na Carta de Direitos da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1948 e
desenvolveu-se a partir das cartas de Direito dos Estados Unidos (1776) e da
Revolução Francesa (1798). Nestes documentos, a concepção de cidadania passa
pela igualdade de todos os homens perante a lei, sem discriminação de raça, credo
ou cor. E ainda: a todos cabe o domínio sobre o seu corpo e a sua vida, o acesso a
um salário condizente para desenvolver a própria vida, o direito á educação, à
saúde, à habitação, ao lazer; ter direitos e deveres, ser súdito e ser soberano.
Para detalhar este conceito, esta mesma autora classifica a cidadania em
termos de direitos cíveis, políticos e sociais (MANZINI-CORVRE, 1995, p.11-15):
- direitos civis – dizem respeito basicamente ao direito de dispor do próprio
corpo, locomoção, segurança, etc.
- direitos sociais – dizem respeito ao atendimento das necessidades humanas
básicas. São todos aqueles que devem repor a força de trabalho,
sustentando o corpo humano – alimentação, habitação, saúde, educação,
etc.
- direitos políticos – dizem respeito à deliberação do homem sobre sua vida, ao
direito de ter livre expressão de pensamento e prática política, religiosa.
Em suma, esses três conjuntos de direitos não podem ser desvinculados, pois
sua efetiva realização de direito de uma vida digna, no pleno sentido, depende de
sua relação recíproca, pois se trata de um direito que precisa ser construído
coletivamente.
Segundo Carvalho (2009), no Brasil, a cidadania foi entendida e vivida
historicamente de maneira precária, com a base da pirâmide dos direitos invertida.
Os direitos sociais vieram antes dos direitos civis e políticos. A cidadania foi (e ainda
é), entendida como um manancial de direitos, como se isto bastasse ao ser humano
de natureza ávida por conhecer e fazer, de forma ativa. Para ele, a cidadania não
está pronta, necessita de um constante trabalho reflexivo e ativo de ser-cidadão.
Desde a década de 1980 o conceito de cidadania, de acordo com Paoli
(2005), ocupa o pensamento social e político brasileiro e sua relevância se dá aos
níveis de exclusão social e a passagem do governo autoritário para uma democracia
ampliada. Para ela, a noção de cidadania, faz a distinção entre o espaço de origem
29
da ação, o mundo empresarial, o espaço da política e sociabilidade que cria, ou seja,
a ampliação ou anulação da consciência e prática de direitos de cidadania para a
sociedade.
Sendo assim, para Demo (2002) é fundamental atentar para o risco sempre
presente de reduzir o cidadão a mero beneficiário. Não sendo possível ao Estado
prover todas as condições para que isto ocorra, a sociedade precisa contribuir
investindo na cidadania dos menos favorecidos como facilitador e motivador. A
cidadania assistida, complementa Demo (2002), é como regra, problemática, porque
tende a definir a pessoa como beneficiário; não como cidadã, a revelia de discursos
alternativos. É efeito, não causa. Consequentemente, para alcançar a emancipação,
faz-se necessário trabalhar a autonomia das pessoas, por meio da educação.
Ainda segundo esse autor, a educação é a política social mais próxima da
gestação do sujeito capaz da própria história enquanto cidadão emancipado, pois
motiva o saber pensar e o aprender, que levam à consciência crítica e à autocrítica.
Desta forma, os hábitos de convivência social e de exercício da cidadania podem ser
estimulados e fazem parte do processo educativo. Nesta dialética contraditória da
ajuda: ninguém se emancipa – em situação comum – sem ajuda; mas emancipar-se
incluiu sobre tudo não depender de ajuda.
Diante deste contexto, Demo (2002), considera que se estabelecem duas
vertentes: atende-se muito precariamente as pessoas que necessitam de assistência
de modo permanente e transformam-se facilmente situações provisórias em
definitivas, implantando dependência irreversível. Portanto é mais importante saber
dispensar a assistência do que dela depender, a não ser quando indispensável.
A assistência social, ainda considerando as ideias de Demo (2002) não é a
política social central mais importante, paradigmática, mas simplesmente política
social com objetivo próprio, plenamente justificado em si mesmo. Os auxílios podem
ser muito decisivos na vida das pessoas em alguns momentos, não trazem
emancipação. E muito mais importante saber dispensar a assistência do que dela
depender, a não ser quando indispensável.
Sob este prisma, Paoli (2005) relaciona a RSE com a noção de cidadania e
direitos e a indissocialidade entre bem público e bem comum. Segundo esta mesma
autora,
30
em um duplo movimento para fora de si mesmo, a empresa-cidadã realiza eficientemente sua beneficência localizada e produz, para o espaço público da opinião e para o espaço privado de seus pares, a perspectiva de uma presença ampliada, legitima, do próprio poder social do capital (PAOLI, 2005, p.407).
Concomitantemente, de acordo com Ponchirolli (2008), o exercício da
cidadania empresarial, pressupõe uma atuação eficaz da empresa com todos
aqueles que são afetados por sua atividade, sejam diretos ou indiretos, possuindo
um alto grau de comprometimento com todos seus colaboradores internos e
externos.
Percebe-se então o potencial inovador da mobilização empresarial chamando
seus pares à responsabilidade para com o contexto no qual desenvolvem negócios e
nesse movimento a empresa redefine o sentido e o modo de operar da velha
filantropia aproximando-a da noção de cidadania. Usando os recursos técnicos do
trabalho social (captação de recursos, cooperação e informação) a empresa entra no
espaço não-mercantil (pela introdução da ideia de responsabilidade).
Assim, para Paoli (2005) tanto a cidadania quanto a solidariedade são
demandadas e a ideia de responsabilidade social partilhada está disseminada entre
cidadãos, organizações, governo e empresariado. Desta forma, a vontade de se
engajar ativamente na solução dos problemas sociais, desperta a cidadania
corporativa e reflete nas empresas que buscam definir adequadamente sua missão.
Mesmo se já houve um avanço na construção da cidadania no país, esta
autora destaca o desconforto que ainda persiste da imensa incompletude, pois os
progressos são inegáveis, mas não escondem, contudo, o longo caminho que ainda
falta percorrer.
2.7 DA FILANTROPIA PARA A RESPONSABILIDADE
A atuação social das empresas brasileiras, de acordo com Reis (2007), ainda
está muito focada em ações de filantropia, revelando um caráter assistencialista,
paternalista e emergencial, visando minimizar a situação de miséria e exclusão social.
Desta forma, mesmo se cumprindo importante função social, corre o risco de
também contribuir para a reprodução da situação social vigente, sem representar
ações emancipatórias. Sob este prisma, Rico (2004), evidencia que a dependência
31
estabelecida entre quem detém o poder sobre os serviços sociais e os usuários
envolvem uma relação de dominação e uma prática clientelista.
Com esta argumentação, para Demo (2002), a assistência é um modo
provisório para atender as pessoas que sofrem de vulnerabilidade intermitente ou
ocasional, pois se volta para a sobrevivência e tem como finalidade recuperar as
condições de autonomia, tão logo seja possível; não de instituir uma situação
definitiva de dependência. Para ele, a assistência de modo permanente, deve ser
aplicada somente para os segmentos que não podem se auto-sustentar pois não é
compatível com a emancipação.
Apesar das ações filantrópicas serem embriões da RSE, estas não podem ser
consideradas como tal, devido a ausência de consciência social ampla e de uma
noção de dever cívico. Autores como Melo Neto e Froes (2001), consideram ações
filantrópicas das empresas apenas as formas mais estruturadas de cidadania
corporativa. Para eles, a postura assistencialista da filantropia diferencia-se da RSE
por ser considerada como prestação de um auxílio material ou financeiro para atender
uma problemática imediata ou possibilitar que projetos sociais de interesse público
possam ser iniciados por meio da doação de recursos.
De acordo com Paoli (2005), é ilustrativo acompanhar a evolução dos nomes
e objetivos dados ao ato de doação empresarial: da filantropia à responsabilidade, e
desta ao investimento social. Para esta autora, a filantropia solidária cria uma
consciência de cidadania entre o empresariado o que significa consciência
humanitária no contexto no qual atuam. Por meio desta filantropia organizada,
complemente a autora, o empresariado adapta-se com vantagens às formas de lucro
empresarial e deste modo propicia a iniciativa individual e privada contra a
ineficiência burocrática do Estado, afirmando sua disponibilidade civil em contribuir;
no âmbito privado e mercantil para colaborar na integração social e profissional das
parcelas menos favorecidas da população.
Desta forma, a filantropia também faz grande bem para a empresa
reforçando sua imagem institucional, agregando valor à marca e consequentemente
melhorando seus negócios. A ação social não parece fazer parte das operações de
lucro; mas afirma o poder social sobre a comunidade em que atua, sobre as relações
de trabalho que contrata e sobre as causas que abraça (PAOLI, 2005).
32
O conjunto da RSE, segundo esse autor, integra diversas formas de ação,
como doações ocasionais, apoio a projetos do governo ou organizações diversas da
sociedade civil e desenvolvimento de projetos elaborados por institutos e fundações
criadas pelas próprias empresas. São ações sociais propostas pelos programas de
solidariedade social empresarial, com o objetivo de cuidar do social e criar uma
consciência cidadã da classe empresarial através de ações de filantropia privada.
Para este fim, são utilizados os recursos técnicos do trabalho social (captação de
recursos, cooperação e informação) e a empresa entra no espaço não-mercantil (pela
introdução da ideia de responsabilidade).
Para Melo Neto e Froes (2001), a prática da RSE busca estimular o
desenvolvimento do cidadão e fomentar a cidadania individual e coletiva. Sua ética
social é centrada no dever cívico, enquanto que a filantropia tem no dever moral sua
ética absoluta. As diferenças existentes entre filantropia e RSE são ressaltadas no
quadro abaixo elaborado por estes autores.
QUADRO 02 - AS DIFERENÇAS ENTRE FILANTROPIA E RSE
FILANTROPIA RSE Ação individual Ação coletiva Fomento de caridade Fomento a cidadania Base assistencialista Base estratégica Restrita a empresários filantrópicos e abnegados Extensiva a todos Prescinde de gerenciamentos Demanda gerenciamento Decisão individual Decisão consensual
FONTE: Melo e Froes (2001, p. 28)
Desta forma, quando se relacionam com o tema de RSE, as ações individuais
são conceituadas como assistencialismo ou filantropia; porém, quando transferidas
de um “eu” individual para um “todo imaginário, conceitua-se como RSE, porque são
estabelecidos valores e são ações coletivas, que resultam em melhores resultados
(SILVA, 2007).
Seguindo esta linha de raciocínio, as ações de filantropia são razões
humanitárias sem compromisso ou correlação a longo prazo e a responsabilidade
social é mais ampla, pois está relacionada com um modelo diferenciado de gestão
da empresa por meio de parcerias e incentivos fiscais. Consequentemente, a
caridade e paternalismo não são características do conceito de responsabilidade
social.
33
2.8 BENEFICIÁRIOS DIRETOS E INDIRETOS DA RSE
Ao adotar uma postura socialmente responsável de forma consistente, além
dos benefícios para a sociedade, as empresas podem acrescentar ganhos de
imagem corporativa; a popularidade de seus dirigentes, melhor relacionamento com
o governo, maior disposição dos fornecedores, distribuidores e parceiros, maiores
vantagens competitivas, maior fidelidade dos clientes e a possibilidade de conquistar
novos clientes.
De acordo com Ponchirolli (2008), a imagem corporativa é um ativo intangível,
amplamente valorizado e de difícil imitação pelos concorrentes. Ao investir em
projetos sociais, a empresa exercita a cidadania empresarial e consolida sua
imagem de empresa-cidadã. Neste sentido, Ahsley (2002) também considera que a
RSE agrega valor à marca, fortalece os vínculos comerciais e sociais da empresa,
gera valor e longevidade aos negócios. É uma estratégia empresarial que se vale de
uma ação no campo social gerando resultados tanto para a empresa, quanto para a
sociedade.
A motivação para os funcionários que satisfeitos retribuem com produtividade
na empresa e em alguns casos ainda colaboram nos programas de RSE da
organização é outro fator relevante, há também a possibilidade de aprendizado e
desenvolvimento pessoal, destaca Silva (2007).
As enormes carências e desigualdades existentes no país, aliadas às
deficiências crônicas do Estado no atendimento das demandas sociais, conferem
maior relevância à RSE e desafiam as corporações a atingir um patamar mais alto
de desempenho ao participarem diretamente de ações comunitárias na região em
que estão presentes.
O Instituto Ethos (2007) cita alguns dos resultados que podem ser obtidos das
ações de RSE:
QUADRO 03 - RESULTADOS DAS AÇÕES DE RSE
BENEFICIOS PARA A EMPRESA BENEFICIOS PARA A SOCIEDADE • Acesso a capitais e a mercados • Ampliação oportunidades de negócio • Redução de riscos do negócio • Maior longevidade • Valorização da imagem institucional
• Preservação dos recursos ambientais • Redução das desigualdades sociais • Promoção da diversidade • Preservação da cultura local • Geração de valor para todos os públicos
34
• Reconhecimento do consumidor • Atração e retenção de talentos
• Contribuição para uma sociedade justa e sustentável
FONTE: Instituto Ethos (2007)
Como se pode perceber, incorporar políticas e práticas de responsabilidade
social é considerado vantajoso. Neste cenário, aponta-se como a RSE esse conjunto
de metas sociais, com o foco na busca na melhoria da qualidade de vida da
população.
Porém nem sempre a mensuração dessas ações é fácil de estabelecer, pois
trazem à tona uma reflexão crítica sobre a ambiguidade das relações entre o setor
público e privado.
2.9 AMBIGUIDADES E AMBIVALENCIAS
Desta forma, diante da ambiguidade com que se constrói e se modifica
perante as organizações empresariais, as ações sociais e os welfares privados nas
empresas podem ser uma experiência social e humanitária relevante diante das
prementes necessidades e carências da população pobre brasileira (PAOLI, 2005).
Mesmo se muitos benefícios são facilmente reconhecidos, para Paoli (2005),
p.404-409) existe uma dificuldade de avaliar o potencial e os resultados das novas
formas de ação, conhecimento e associação das ações de responsabilidade
empresarial sobre as questões sociais e desta forma destacam-se quatro
importantes fatores sobre a ambiguidade política da RSE:
a) Filantropia empresarial cidadã
O sentido da ‘filantropia empresarial cidadã’ e de sua auto-investida
responsabilidade social no Brasil está indiretamente ligada à substituição da ideia de
deliberação participativa ampliada sobre os bens públicos pela noção de gestão
eficaz de recursos, cuja distribuição é decidida aleatória e privadamente. Neste
sentido são práticas que desmancham a referência pública e privada para reduzir as
injustiças sociais. Inicialmente ligada aos movimentos sociais, continuou crescendo
por intermédio da ampliação e especialização das funções das ONGS para o mesmo
fim comum – assistência a pobreza ou resgate da cidadania. Estas organizações
apresentam propostas de instrumentalização da política na busca da legitimidade
35
governamental para políticas excludentes, convivência pacifica entre a
responsabilidade social e a introdução da lógica mercantil na eficácia que devem
demonstrar.
b) O silêncio das ações de investimento social
Usando os recursos técnicos do trabalho social (captação de recursos,
cooperação e informação) a empresa entra no espaço não-mercantil (pela
introdução da idéia de responsabilidade), aproximando-se da realidade das
comunidades onde esta instalada quanto à vida de seus trabalhadores. A empresa
cidadã realiza eficientemente sua beneficência localizada e produz para o espaço
público a perspectiva de uma presença ampliada, legitima, do próprio poder social
do capital. Segundo Paoli (2005), esta ampliação da presença social e imagem
virtuosa das empresas refletem no aumento de seu poder social e
consequentemente os serviços sociais eficientes mudam a forma dos bens materiais
específicos que as empresas produzem.
c) O resultado da ação de solidariedade aos trabalhadores da própria empresa
Um conjunto de relações mercantis e não mercantis e procedimentos alheios
à produtividade dos trabalhos acabam sendo facilitadores para soluções de
problemas internos antes mais difíceis e a redução de incertezas dos trabalhadores.
A visibilidade dos funcionários receptores dos programas sociais ou mobilizados
para o trabalho social nas comunidades contrasta com a figura constituída pelo
vinculo fundamental do contrato que define sua relação com a empresa, a do
trabalhador assalariado.
d) A filantropia empresarial vista por dois ângulos importantes e relacionados.
Estas experiências são apresentadas ao poder público como prova da
ineficiência das políticas públicas estatais, sobre o argumento de estas criarem
cidadãos acomodados no contexto da miséria. Consequentemente, a
responsabilização filantrópica privada aparece como a corporificação da
modernidade civil colocada com ênfase no campo do mercado e na participação
ampla e voluntária de milhões de pessoas que realiza o milagre da cidadania da
doação.
36
Diante das necessidades e carências da população, a ação social empresarial
e os welfares privados nas empresas demonstram ser uma experiência social
relevante. Porém, diante da ambiguidade, com que se constrói e se modifica este
espaço inovador, deve-se estar atento ao risco de transformar cidadãos designados
como sujeitos de direitos em receptores de favores e generosidade ao invés de
cidadãos emancipados. Por esse motivo, faz-se relevante uma análise sobre a
aplicabilidade do conceito de Responsabilidade Social Empresarial.
2.10 A APLICABILIDADE DO CONCEITO DE RSE
A empresa necessita estabelecer diretrizes para conseguir implementar ações
de responsabilidade social. Neste sentido, para se ter uma gestão consciente e
apoiada nos conceitos de responsabilidade social atende, de acordo com Sertek
(2006) e Melo Neto e Froes (2001) as seguintes dimensões:
- interna – que se refere aos colaboradores e seus dependentes podendo se
dar em áreas como educação, salários e benefícios, assistência médica,
social, odontológica, dentre outras. Tem como foco as atividades regulares
da empresa, saúde e segurança dos funcionários e qualidade do ambiente
de trabalho.
- externa – que se refere aos outros envolvidos como a comunidade local e aos
consumidores em questões como preservação do meio ambiente, impactos
socioeconômico, político e cultural na sociedade, segurança e qualidade
dos produtos.
Melo Neto e Froes (2001, p.80-81), vão além citando o terceiro estágio é o
exercício da gestão social cidadã que engloba questões mais amplas relativas ao
bem estar social, envolvimento da empresa na comunidade e sua atuação no campo
da cidadania, por meio de ações e projetos.
Quanto à forma de atuação da RSE, estes autores consideram duas formas:
através dos projetos sociais e das ações comunitárias. Os projetos são divididos em
quatro partes estratégicas: foco, áreas de atuação, instrumentos e tipo de retorno.
As ações comunitárias são feitas por meio de outras entidades que recebem repasse
de recursos. É uma atividade indireta sobre a comunidade, gerida por terceiros
através de parcerias.
37
A fim de viabilizar os projetos e aproximar as ações de RSE, faz-se
necessária a consolidação de parcerias e a colaboração entre o primeiro, segundo e
terceiro setor da sociedade:
1) Setor público – governo, que pode ser definido como nacional, estadual, e
local;
2) Setor privado – que pode ser entendido como as empresas, associações
de negócios, comércio e indústrias. As empresas deixam de ser apenas
entidades econômicas, com preocupações financeiras e legais e passam a
ser responsáveis em relação a todo seu meio de inserção;
3) Sociedade civil – que pode ser entendida como os muitos tipos de
Organizações Não Governamentais (ONGs), Organizações Civis de
Interesse Público (OCIPs), associações sem fins lucrativos, associações
de classe ou de pesquisa e as pessoas que formam comunidades de
interesse.
Desta maneira os esforços realizados podem ser evidenciados como um
espaço único na qual a soma dos resultados representa mais do que uma simples
soma de ações isoladas, mas a materialização de novos espaços sociais, mistos por
natureza, onde os vários agentes da sociedade desempenham papeis qualitativos
de forma cooperada.
FIGURA 02 - NOVOS ESPAÇOS SOCIAIS
FONTE: Adaptado de Mota (2008, p.7)
De acordo com Mota (2008), este novo espaço social gerado pelas ações de
RSE representa uma esfera de realização que supera a essência capitalista e reflete
a coexistência de dois espaços nas organizações empresariais:
SETOR PRIVADO
NOVOS ESPAÇOS SOCIAIS
GOVERNO
SOCIEDADE CIVIL
38
a) Espaço de Produção – constituído para a geração de capital, com foco no
lucro e nos mercados e suas inter-relações, onde pode-se incluir o espaço
social tradicional, com consumidores e fornecedores
b) Espaço Social Colaborativo – gerado pela criação e desenvolvimento de
ações de RSE, com foco nas comunidades de entorno, nos consumidores,
nos fornecedores e outros públicos de interesse, onde os elementos da
sociedade impactada tornam-se agentes de colaboração, podendo
influenciar a organização emissora.
Entende-se desta maneira que quanto mais ações de RSE uma empresa
desenvolver, mais espaços sociais colaborativos terá com a sociedade onde a
organização está inserida e amplitude deste espaço dependerá da abrangência do
impacto das ações.
Os projetos desenvolvidos em conjunto, de acordo com Rico (2004), agregam
experiências inovadoras para a elaboração das políticas sociais a partir do momento
que a sociedade civil colabora com o Estado compartilhando experiências e
introduzindo de forma negociada alternativas que busquem a soluções para os
problemas.
Sendo assim, as ações de RSE, conforme mencionado acima são a soma de
diversos esforços, do governo, sociedade civil e setor privado por meio de incentivos
fiscais, recursos públicos e privados para realização de projetos.
2.11 CAPTAÇÃO DE RECURSOS E RELATORIOS
Diante desta dinâmica de integração entre os setores, a maioria das
empresas que realiza projetos sociais não aplica apenas recursos financeiros
próprios, mas são captadoras de recursos externos. Seguindo o modelo de aliança
com outras empresas, governo e/ou organismos internacionais, utilizam-se das leis
de incentivo dos governos federal e estaduais.
2.11.1 Incentivos Fiscais
Conforme relata Lewis (2009), a sociedade civil, iniciativa privada e o Poder
Público estão de certa forma revendo os seus respectivos papéis, fomentando-se,
39
assim, um discurso em prol de uma atuação social especialmente por parte da
empresa. Desta forma, a implantação de ações de RSE no âmbito das empresas
vem sendo fomentada por meio do aproveitamento dos incentivos fiscais criados
pelos governos federal, estadual e municipal visando motivar a participação das
empresas no serviço publico e nos assuntos relativos à sociedade em geral.
Esta maneira de fomentar as ações sociais pelas empresas consiste em
diferentes possibilidades das empresas serem beneficiadas, pois existem leis que
oferecem benefícios fiscais às empresas que atuam na área social e o investimento
social privado, desde que planejado e com acompanhamento técnico (MANICA,
2005).
Os incentivos fiscais4 visam patrocinar as empresas um duplo benefício: o
retorno financeiro, diante da renúncia fiscal e o desenvolvimento de projetos sociais,
culturais e esportivos que acarretará no desenvolvimento da empresa beneficiária e,
conseqüentemente, do País. São exemplos de incentivos fiscais (IDIS, 2009):
a) Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente (FUNCRIANÇA) – criado
através de uma lei federal com finalidade de angariar fundos a serem
revertidos em beneficio da criança e do adolescente. É constituído por
doações de pessoas físicas, jurídicas ou do próprio Poder Público. O valor
das doações ao FUNCRIANÇA é dedutível do Imposto de Renda devido
mensal, estimado, trimestral ou anual, calculado na alíquota de 15%,
limitado a 1% deste, desde que efetuado no próprio período-base.
b) Lei Rouanet de Incentivo à cultura – Implantada em 1991, Trata-se da lei
que instituiu o Programa Nacional de Apoio à Cultura – PRONAC, visando
à captação de recursos para investimentos em projetos de caráter cultural.
Pessoas físicas e jurídicas tributadas pelo lucro real poderão destinar a
aplicação de recursos em projetos culturais previamente aprovados pelo
Ministério da Cultura, podendo deduzir os valores do Imposto de Renda
devido. Esta lei permite às empresas patrocinadoras um abatimento de
até 4% no imposto de renda e para as pessoas físicas. Em 2008 fossem
4 Assume, geralmente, a forma de isenção parcial ou total de um imposto, tendo por objetivo incrementar um determinado segmento produtivo, transferir recursos para o desenvolvimento de regiões carentes ou melhorar a distribuição de renda do país. Fonte: Tesouro Nacional.
40
investidos em cultura, segundo o Minc (Ministério da Cultura) mais de um
bilhão.
c) Lei do Audiovisual – incentivo fiscal federal, tem por objetivo assegurar as
condições de equilíbrio e competitividade no mercado para a obra
audiovisual, bem como para estimular sua produção, distribuição, exibição
e divulgação no Brasil e no exterior, colaborando ainda para preservar a
memória da música brasileira. Pessoas físicas que apresentarem a
declaração completa e as jurídicas tributadas pelo lucro real poderão
deduzir do Imposto de Renda devido à íntegra do valor destinado às estas
atividades, dentro do exercício social, em projetos aprovados pela Agência
Nacional do Cinema. Entretanto, as pessoas jurídicas gozam de até 3%
(três por cento) do Imposto de Renda devido calculado à alíquota de 15%.
d) Doações às OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público) – doações realizadas às entidades, sem fins lucrativos,
certificadas como OSCIP. A s pessoas jurídicas de direito privado, sem
fins lucrativos, cujo objetivo social tenha, dentre outras, a promoção de
finalidades de assistência social; da cultura, defesa e conservação do
patrimônio histórico e artístico; gratuita da educação; gratuita da saúde; do
voluntariado; do desenvolvimento econômico e social e combate a
pobreza; e a defesa preservação e conservação do meio ambiente. As
pessoas jurídicas tributadas pelo lucro real podem contabilizar a
contribuição como despesa dedutível para fins de Imposto de Renda e
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a empresa doadora
faça a sua contribuição até o limite de 2% do seu resultado operacional,
antes de computada a sua própria dedução. Para as instituições de ensino
e pesquisa a doação fique limitada a até 1,5% (um e meio por cento) do
lucro operacional da empresa doadora.
e) Doações às Entidades Civis sem Fins Lucrativos – caracterizam-se como
investimentos voluntários da pessoa jurídica diretamente à entidade civil
sem fins lucrativos, que atuem na área de saúde, educação e/ou
assistência social. Até 1995, as contribuições e doações a estas entidades
eram dedutíveis como despesa para fins de Imposto de renda onde a
41
dedutibilidade das contribuições a entidades civis sem fins lucrativos ficam
limitadas a 2% do lucro
Os benefícios são acumulativos e por meio dos mecanismos de incentivo
fiscal, a empresa pode abater até 6% do seu Imposto de Renda, utilizando de todas
as Leis de Incentivo disponíveis, sendo: 4% Lei Rouanet, 1% FUMCAD e 1% Lei de
Incentivo ao Esporte. Todo este controle e prestação de contas para o governo e
sociedade, é realizado por meio de relatórios específicos.
2.11.2 Relatórios e Balanço Social
A gestão dos incentivos fiscais das empresas demanda controles rigorosos
dos projetos por eles patrocinados para que seja mantida a confiabilidade dos
stakeholders e da sociedade geral (RICO, 2004). Para que isto ocorra de forma
consistente, além do acompanhamento interno realizado pelas empresas, foram
desenvolvidos relatórios específicos que reúnem informações sobre as atividades
econômicas, ambientais e sociais emitidos periodicamente pelas empresas e
denominados balanços sociais.
Diante da necessidade das empresas dedicarem sua atenção não somente às
normas técnicas e legais, como também de elaborar um instrumento de informações
voltado para a sociedade e de sua preocupação com o meio ambiente, surge na
década de 1970 o chamado “Balanço Social”,
Sob a ótica dos autores Melo Neto e Froes (2001), o conceito de Balanço
Social é o instrumento de avaliação do desempenho da empresa no campo da
cidadania empresarial, pois demonstra todas as ações sociais desenvolvidas pela
empresa naquele período determinado, representando o seu nível de compromisso
com a busca de soluções para os problemas sociais do país. Neste instrumento
são relatas as ações sociais de natureza interna e externas, sua especificidade e o
valor gasto, complementa Ponchirolli (2008).
O Balanço Social na sua concepção mais ampla envolve a demonstração da
interação da empresa com os elementos que a cercam ou que contribuem para sua
existência, incluindo o meio ambiente natural, a comunidade e economia local e
recursos humanos. “Nessa perspectiva, surge o Balanço Social, demonstração que
42
tem como objetivo genérico suprir as necessidades de apresentação de informações
de caráter social e ecológico” (KROETZ, 2000, p.79).
Neste mesmo sentido, é definido por Tinoco (2001, p.29) como um
instrumento de gestão e de informação que visa reportar da forma transparente
informações econômicas financeiras e sociais do desempenho das atividades, aos
mais diferenciados usuários da informação, para diversos fins. Os analistas de
mercado, investidores e órgãos de financiamento utilizam este documento nas
avaliações de riscos das empresas.
Em 1977, a França cria a Lei do Balanço Social, que contempla os direitos
humanos no ambiente de trabalhe e segundo relata Tinoco (2001), desde 1979 é o
primeiro e único país do mundo a ter uma lei que obriga as empresas que tenham
mais de 300 funcionários a elaborar e publicar este relatório e atualmente a
Alemanha, Holanda, Bélgica, Espanha, Inglaterra e Portugal também exigem este
documento.
No Brasil, as empresas publicam sem obrigatoriedade legal, informações
sobre o desempenho econômico-social das mesmas. Em 1984 o primeiro Balanço
Social é publicado por uma empresa de fertilizantes: a circulação começa dentro da
empresa e depois é divulgada aos clientes. Porém foi a partir de 1997 que a ideia
deste relatório tornou-se mais popular por meio do sociólogo Herbert de Souza, o
Betinho, que, juntamente com o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas (IBASE), idealizou uma campanha nacional pela divulgação do Balanço
Social por meio de encontros e discussões entre associações de empresas, entre as
quais a Associação Brasileira das Empresas de Capital Aberto (ABRASCA), o
Instituto de Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) e a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM). Seu objetivo era instituir um documento para demonstrar
quantitativa e qualitativamente o papel desempenhado pelas empresas brasileiras
no plano social, tanto internamente quanto na sua atuação na comunidade
(TINOCO, 2001).
Todos os modelos de Balanço Social visam definir as informações mínimas a
serem publicadas para dar transparência às atividades da empresa. Algumas
organizações produzem relatórios com formato próprio, geralmente definido por sua
área de comunicação, os quais não contêm as informações exigidas por nenhum
dos modelos padrões, outros seguem os modelos sugeridos. Existem vários
43
modelos de relatórios internacionais e nacionais. Entre os internacionais, pode-se
citar o GRI Global Reporting Iniciative que surgiu em 1997 com o objetivo de relatar
as atividades sustentáveis das empresas.
São exemplos de Balanços Sociais utilizados no Brasil (RICO, 2004) :
- SA 8000 – originária da norma de gestão criada pela Social Accountability
International (SAI), começou a ser aplicada em 1998 e está presente em 59
países. Sua definição ampla mensura as relações da empresa com os
trabalhadores e com a comunidade, bem como o tratamento dispensado ao
meio ambiente. Desta maneira, especifica os requisitos de
responsabilidade social para possibilitar a uma empresa desenvolver,
manter e executar políticas e procedimentos relativos ao relacionamento
com fornecedores, subcontratado, ações de reparação e corretivas.
- Modelo do Instituto Ethos, baseado nas diretrizes do GRI foi adaptado ao
cenário brasileiro em 2001. Por meio de um relato detalhado dos princípios
e das ações da organização, sugere um detalhamento maior do contexto
das tomadas de decisão em relação aos problemas encontrados e aos
resultados obtidos. Esse modelo e as diretrizes do GRI são modelos
analíticos, aos quais pode ser incorporado o modelo do Ibase, geralmente
como anexo.
Conforme mencionado por Sertek (2006), as aplicações das normas
internacionais que visam à proteção do meio ambiente, a promoção do conceito de
desenvolvimento sustentável e a publicação do balanço social das empresas
constituem as contribuições significativas das iniciativas globais referentes à
responsabilidade social.
Mesmo sem obrigatoriedade legal, a obrigatoriedade social vem prevalecendo
e quase todas as grandes empresas multinacionais e nacionais emitem relatórios de
RSE, nos quais expressam sua maturidade empresarial por meio dos seus
compromissos em relação ao ambiente, aos empregados e à comunidade.
A empresa do setor automotivo, pesquisada neste estudo utiliza-se tanto dos
incentivos fiscais quanto dos relatórios de Balanço Social para relatar suas ações.
44
3 METODOLOGIA
Neste capítulo, apresentam-se os procedimentos metodológicos escolhidos
para realização deste estudo.
Para Yin (2001 p.32), um estudo de caso é uma investigação empírica que
investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real,
especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão
claramente definidos.
Este mesmo autor considera possível reunir as fontes de evidência do estudo
em três grupos principais: observação, entrevistas e documentos. A coleta de dados
pode ser feita a partir de diferentes fontes de evidências qualitativas e comportar
com dados quantitativos para esclarecer algum aspecto da questão que esta sendo
investigada. Quando existe esta técnica, geralmente o tratamento estatístico não e
sofisticado.
A ampla utilização do estudo de caso em organizações atesta de certa forma
a pertinência e relevância dessa modalidade de investigação para o avanço do
conhecimento científico na área de Administração (KLEINUBING; MELLO; SILVA,
2006). Ainda segundo estes autores, é um tipo de pesquisa especialmente
adequado quando se quer focar problemas práticos, decorrentes das situações
individuais e sociais presentes nas atividades, nos procedimentos e nas interações
cotidianas.
Ao centrar a atenção numa instância particular; mas estendendo o olhar para
as múltiplas dimensões ali envolvidas, o estudo de caso pode se constituir numa rica
fonte de informações para medidas de natureza prática e decisões políticas trazendo
contribuições tanto para a pesquisa acadêmica quanto para a vida organizacional.
Este estudo de caso visa entender a correlação entre a concepção teórica da
RSE realizada nos capítulos anteriores, e a visão empírica, que avalia a forma de
conceituar RSE de um grupo de integrantes da empresa e de um grupo especifico
da comunidade do entorno da empresa, enquanto beneficiários de um dos projetos
da empresa.
45
As informações relativas à empresa, que foi estudada e às suas ações de
RSE são provenientes do Relatório de Gestão 2009 do Premio Nacional da
Qualidade, do Relatório Socioambiental 2007 e outras fontes internas e externas.
Para Gil (2002), o estudo de campo focaliza uma comunidade, que não é
necessariamente geográfica, já que pode ser uma comunidade de trabalho, de
estudo, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana.
3.1 ETAPAS DO ESTUDO
A pesquisa realizou-se em três etapas, e teve como população dois públicos
distintos.
Primeira etapa: investigação teórica. Gil (2002) considera que a coleta de
dados de um estudo é baseada em diversas fontes de evidências. O momento
inicial da coleta de dados na pesquisa deu-se em material bibliográfico, em fontes
secundárias, documentos de caráter editorial e trabalhos sobre o tema. Para Lakatos
e Marconi (2001), as fontes secundárias tratam de bibliografias já publicadas sobre
determinado assunto, de modo a colocar o pesquisador em contato com problemas,
desafios e informações já conhecidas da área, bem como a exploração de novas
áreas onde os problemas eventualmente não se cristalizaram suficientemente.
Mattar (2005) complementa ao mencionar que a pesquisa através do conhecimento
dos trabalhos já feitos por outros, via levantamentos bibliográficos, é uma das formas
mais rápidas e econômicas de amadurecer ou aprofundar um problema.
Também foram analisados os Relatórios Socioambientais e de Gestão
disponibilizados pela empresa nos quais se buscou a caracterização das ações de
SER da Volvo, visando entender se os mesmos possuem as características
identificadas na pesquisa bibliográfica. Como afirma Mattar (2005), os arquivos da
própria empresa possuem informações valiosas sobre sua realidade que além de
terem custos desprezíveis, podem colaborar para a pesquisa em pauta, e também
para o delineamento de novas pesquisas.
Para Gil (2002, p.46), o desenvolvimento da pesquisa documental apresenta
uma série de vantagens, considerando-se que os documentos constituem fonte rica
e estável de dados, baixo custo, exigindo do autor apenas disponibilidade de tempo,
e a não exigência de contato com sujeitos de pesquisa, o que pode trazer vantagens
46
em alguns casos. Porém, Yin (2001), alerta que o uso da documentação deve ser
cuidadoso, pois eles não podem ser aceitos como registros literais e precisos dos
eventos ocorridos e seu uso deve ser planejado para que sirva para corroborar e
aumentar as evidencia vindas de outras fontes.
Segunda etapa: caracterizou-se por uma pesquisa de campo, a partir da
aplicação de dois questionários. Utilizaram-se dois questionários (Apêndices 1 e 2)
elaborados pelo pesquisador, contendo questões fechadas e abertas.
O questionário é uma técnica de investigação composta por um número mais
ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por
objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, interesses, sentimentos, expectativas,
situações vivenciadas, etc (GIL, 2002).
Depois de redigido um questionário, o mesmo deve ser testado antes de sua
aplicação definitiva, através da sua aplicação a um grupo pequeno de pessoas.
Segundo Gil (2002), o pré-teste não visa capturar qualquer aspecto que constitui os
objetivos do levantamento. Ele está centrado na avaliação do instrumento, no caso o
questionário, visando garantir que meçam exatamente aquilo que pretendem medir.
Lakatos e Marconi (2001) consideram que o pré-teste serve também para verificar se
o questionário apresenta fidedignidade, validade e operatividade. Estas autoras
também salientam que as questões abertas possibilitam uma investigação mais
profunda e precisa.
O primeiro questionário, respondido pelos funcionários da empresa (Apêndice
01), foi distribuído aleatoriamente via email e/ou impresso a 300 funcionários. Seu
objetivo foi verificar o entendimento dos funcionários em relação ao conceito de
Responsabilidade Social, seu nível de envolvimento e opinião a respeito dos
projetos existentes com questões sociais fora do ambiente profissional. Dos 300
funcionários que receberam o questionário, 147 retornaram-no preenchido. O
segundo questionário (Apêndice 02) foi aplicado aos participantes de um dos
projetos desenvolvidos pela empresa junto à comunidade do seu entorno – O
Projeto Capoeira. As entrevistas com os participantes (pais e alunos) do Projeto
Capoeira foram realizadas durante as aulas, em dois sábados consecutivos. O
objetivo principal destas entrevistas era compreender o nível de satisfação e os
benefícios que este projeto proporciona aos seus parti cantes, moradores do entorno
da empresa.
47
Terceira etapa: O processo de análise dos dados que, de acordo com Gil
(2002) envolve alguns procedimentos como codificação das respostas, tabulação
dos dados e cálculos estatísticos, e buscam respostas às investigações, ocorrem em
três fases distintas para melhor interpretação e analise dos resultados.
1) Ordenação dos dados bibliográficos pesquisados. A importância dos
documentos dá-se em função da corroboração e ampliação das
evidências oriundas de diferentes fontes, levando-se em consideração
a dificuldades de acesso à documentação interna das organizações
(YIN, 2001).
2) Transcrição eletrônica e tabulação das informações provenientes dos
questionários, composta da classificação dos dados em relação aos
pontos comuns e divergências.
3) Análise dos dados obtidos e correlação com a fundamentação teórica
abordada no trabalho de pesquisa.
Desta forma, o estudo de caso visa contribuir tanto para a pesquisa
acadêmica quanto para a vida organizacional, pois permite a análise em múltiplas
dimensões.
48
4 CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA E DO LOCAL DA APLICAÇÃO DO PROJETO
Conforme mencionado anteriormente, devido à relevância deste tema e a
importância da representatividade da indústria automotiva no contexto empresarial,
este estudo focaliza este segmento, especificamente a Volvo do Brasil, situada na
Região Metropolitana de Curitiba.
4.1 PANORAMA DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL
A indústria automotiva chega ao Brasil na segunda metade do século XX,
sendo que as principais montadoras, cujas matrizes estavam nos países do
capitalismo central, se instalaram na região do ABC paulista, concentrando toda a
indústria metalúrgica e de transporte (NEVES, 2003),
Segundo Vigevani e Veiga (1997), as razões que conduziram à implantação
da indústria automotiva no Brasil no âmbito do Plano de Metas do governo Juscelino
Kubitschek, a partir de 1956, devem ser entendida à luz da política econômica
anterior. A política de estímulo ao crescimento industrial manifestou-se, inicialmente,
a partir da II Guerra Mundial e continuou durante os anos 50 com a promoção do
desenvolvimento industrial com base na política de substituição de importações. A
política do governo Kubitschek consistiu na limitação crescente das importações
diretas, obrigando as empresas a produzir no mercado doméstico. No caso do setor
automotivo, o governo exigiu inicialmente um índice de nacionalização mínimo de
40% em veículos comerciais leves e de 50% para automóveis de passeio, índices
que deveriam ser elevados a quase 100% em poucos anos.
Por ser considerado fundamental para a promoção do desenvolvimento do
país, com o plano de metas o Governo Federal e as empresas estatais realizaram
investimentos em infra-estrutura desenvolvendo projetos voltados para a instalação,
ampliação e modernização industrial para os quais foram oferecidos vários tipos de
incentivos creditícios e cambiais (SANTOS, 2007). O Plano atuava em cinco setores:
energia, transportes, alimentação, indústrias de base e educação sendo que cada
49
um dos setores contemplados desdobrava-se numa série determinada de metas
específicas, num total de trinta metas.
A instalação dessas grandes empresas automotivas, inicialmente na região do
ABC paulista, com alto progresso e uso intensivo de capital, criou uma nova
demanda por determinado tipo de mão de obra e despertou a mobilidade da
população rural em busca de oportunidades. As consequências socioeconômicas e
ambientais, positivas e negativas, tornaram-se inevitáveis. Atualmente o Brasil tem
um papel de destaque na produção mundial de veículos e o Estado do Paraná
representa um terço da produção nacional, sendo a região de maior crescimento
automotivo (MEZA5, 2003, apud NEVES, 2003).
Posteriormente, segundo Santos (2007) devido o crescimento do mercado
interno e a decisão da indústria de realizar investimentos em novas unidades de
produção, foi criado o regime automotivo para viabilizar a inclusão dos estados
menos desenvolvidos nestes projetos. Este regime, além de abranger incentivos
fiscais para a implantação de empresas no país, ofereceu também incentivos
diferenciados para as empresas que decidissem instalar unidades em regiões menos
desenvolvidas. Em dezembro de 1995 foi instituído um amplo conjunto de incentivos
federais, estaduais e municipais para a atração de novas plantas montadoras, e
visava retomar o investimento da indústria e ganhar competitividade para aumento
das exportações.
Diante deste cenário, vários estados brasileiros receberam grandes
investimentos de empresas do setor, consolidando o processo de descentralização
do setor da Região Metropolitana de São Paulo. Dentre eles, o Estado do Paraná,
que teve início na década de 70 com a instalação da montadora de caminhões e
ônibus Volvo e a fábrica de máquinas e implementos agrícolas Case New Holland –
CNH. Este processo contribuiu para a transferência de tecnologia, consolidação da
Cidade Industrial de Curitiba como um espaço tecnológico com infra-estrutura
adequada e todas as condições de congregar um considerável potencial tecnológico
e humano e posteriormente a formação do pólo automotivo na Região Metropolitana
de Curitiba (TOCACH, 2009).
5 MEZA, M. L.. Trabalho qualificado e competência: um estudo de caso da indústria automotiva paranaense. Curitiba, 2003. Tese (Doutorado) –Programa de Pós- Graduação em Desenvolvimento Econômico-UFPR.
50
Segundo Neves (2003), estas políticas públicas de incentivo à instalação que
atraíram grandes empresas influenciaram diretamente na economia do Paraná e
proporcionaram a definição de um novo modelo de desenvolvimento regional, que
integrou a economia paranaense à rede de núcleos dinâmicos da economia
brasileira. Este autor ainda destaca que atualmente o Brasil tem um papel de
destaque na produção mundial e o Estado do Paraná representa um terço da
produção nacional, sendo a região de maior crescimento da indústria automobilística
nos pais, como ilustra o quadro 04.
QUADRO 04 - NÚMEROS DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA 2008 Números da Indústria automobilística brasileira 2008
Produtos Automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, tratores, colheitadeiras, outros Empresas 25 Fabricantes de veículos e máquinas agrícolas 500 Fabricantes de autopeças 4.271 Concessionários Emprego 1,5 milhão de pessoas Faturamento US$ 86,5 bilhões Geração de tributos (veículos) 2008 (IPI, ICMS, PIS, Cofins) R$ 39,4 bilhões Relações intesertoriais 200 mil empresas Ranking mundial (veículos) Produção: 6º Mercado interno: 5º Unidades industriais 50 fábricas 36 municípios Capacidade de produção Veículos: 4 milhões/ano Máquinas agrícolas: 105 mil/ano Investimento 1994-2008 US$ 43,3 bilhões Comércio exterior 2008 Exportação: US$ 24,0 bilhoes
Saldo: US$ 2,4 bilhoes Participação no PIB 2008 23,3% Industrial 5,5% Total FONTE: Anfavea (2009)
Afora sua representatividade econômica, a escolha da indústria automotiva,
especificamente a Volvo do Brasil, como objeto desta pesquisa atendeu a outros
51
critérios: trata-se de uma empresa de referência nacional de um setor historicamente
norteado pela inovação, com uma extensa cadeia produtiva, que compreende
amplas redes de fornecedores e distribuidores.
4.2 A EMPRESA PESQUISADA – VOLVO DO BRASIL
As informações abaixo foram extraídas do Relatório Socioambiental 2008 e
do Relatório de Gestão do Prêmio Nacional de Qualidade 2009, o qual foi
conquistado pela empresa, sendo a primeira vencedora deste segmento.
Fundada na Suécia em 1927, por Assar Gabrielsson e Gustaf Larsson, o
Grupo iniciou suas atividades produzindo automóveis, instituindo qualidade,
segurança e meio ambiente como seus valores fundamentais. Em 1928, foi fabricado
o primeiro caminhão. Ao longo da última década, o Grupo fortaleceu sua atuação no
segmento de caminhões, adquirindo empresas como Renault e Mack (2001) e
Nissan Diesel (2007).
O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a receber os caminhões da
Volvo em 1934. Em 1977, a Volvo do Brasil foi constituída com a instalação da
primeira fábrica brasileira na cidade de Curitiba, Paraná, dando início à criação do
segundo Pólo Automotivo do país.
É uma empresa de capital fechado pertencente a Volvo Trucks Corporation
(VTC), que é parte integrante do Grupo Volvo. O histórico do volume veículos
faturados que compõe o quadro 05, ilustram a evolução da empresa no Brasil que
durante os últimos 30 anos vem produzindo e comercializando caminhões e ônibus
para o mercado interno e externo.
A empresa é composta por 2.420 funcionários (base dezembro 2009), dos
quais o nível de escolaridade esta dividido da seguinte forma: 4% primeiro grau, 58%
segundo grau, 24% terceiro grau e 14% pós-graduados. Complementam este
quadro de funcionários terceiros pertencentes a empresas contratadas,
consideradas fornecedores (base dezembro 2009) e estagiários. A rede de
concessionárias é composta de 12 grupos econômicos, que possuem um total de 82
casas e aproximadamente 1500 empregados.
A missão da empresa: “Ao criar valor para nossos clientes, nós criamos
também valor para os nossos acionistas. Nós usamos o nosso conhecimento para
52
desenvolver soluções de transporte para clientes exigentes em setores
selecionados, com níveis superiores de qualidade, segurança e respeito ao meio
ambiente. Nós trabalhamos com energia, paixão e respeito pelas pessoas”.
Os valores corporativos da empresa, estabelecidos pelos fundadores em
1927 são a qualidade, a segurança e o respeito ao meio ambiente e constituem os
pilares da Política de Sustentabilidade do Grupo Volvo.
A filosofia da empresa está no documento criado em 1998, denominado “The
Volvo Way”, que sintetiza seus valores, a cultura corporativa, a forma de trabalho e
os objetivos que a empresa pretende alcançar. Traduzido em 11 idiomas é
distribuído para todos os funcionários do Grupo Volvo.
A ética e a transparência são abordadas no Código de Conduta do Grupo
Volvo e no Manual de Conduta aplicável para todas as pessoas da empresa. Este
documento descreve os princípios de negócios, políticas ambientais, direitos
humanos e praticas no local de trabalho e está disponível de forma eletrônica e
impressa, sendo responsabilidade das lideranças sua comunicação.
O Grupo Volvo é signatário desde 2001 do Pacto Global criado pela
Organização das Nações Unidas (ONU) para disseminar princípios relacionados a
quatro áreas: Diretos Humanos, Direitos do Trabalho, Proteção Ambiental e
Anticorrupção. A empresa também visa contribuir para que o Brasil cumpra os
objetivos do Desenvolvimento do Milênio formalizados na Declaração do Milênio.
Esta iniciativa da ONU, conta com o comprometimento de 189 países signatários
para atingir até 2015 condições mínimas para o desenvolvimento sustentável,
consolidado em oito grandes objetivos.
O Grupo Volvo aplica o conceito de desenvolvimento sustentável,
considerando que as três dimensões: desenvolvimento econômico, desenvolvimento
social e gestão ambiental são igualmente importantes e vitais para agregar valor
presente e principalmente futuro.
O desenvolvimento sustentável está integrado às operações diárias do Grupo Volvo. A estratégia de negócios da organização inclui metas econômicas, ambientais e sociais e longo prazo. Leif Johanssn – Presidente e CEO do Grupo Volvo (RELATORIO SOCIOAMBENTAL, 2008).
Na Volvo do Brasil, as práticas são alinhadas com os dez princípios do Pacto
Global, conforme apresentado na quadro 05 .
53
QUADRO 05 - PRINCÍPIOS DO PACTO GLOBAL E AS PRÁTICAS DA VOLVO DO BRASIL
Pacto Global Práticas da Volvo do Brasil
1. Respeitar e proteger os direitos Humanos
Política de Recursos Humanos, Política de relacionamento com os fornecedores, PVST, Fundação Solidariedade, Apoio ao desenvolvimento de projetos sociais.
2. Impedir violações de direitos humanos
Política de Recursos Humanos, Política de relacionamento com os fornecedores, Apoio ao Programa na Mão Certa.
3. Apoiar a liberdade de associação no trabalho
Política de Recursos Humanos, Código de conduta, Comitê de Ética, Comissão de Fábrica.
4. Abolir o trabalho forçado Política de Recursos Humanos, Política de relacionamento com os fornecedores.
5. Abolir o trabalho infantil Política de Recursos Humanos, Política de relacionamento com os fornecedores.
6. Eliminar a discriminação no ambiente do trabalho
Política de Recursos Humanos, Código de conduta, Comitê de Ética, Ações de Diversidade.
7. Apoiar abordagem preventiva aos desafios ambientais
Sistema de gestão ambiental, Certificação ISO 14000.
8. Promover a responsabilidade ambiental
Centro Volvo Ambiental, Projeto Caravana Ecológica, Campanhas Educacionais internas.
9. Encorajar tecnologias que não agridam o meio ambiente
Infra estrutura industrial com sistemas de produção energeticamente eficientes, desenvolvimento de produtos com alta eficiência de combustíveis e baixas emissões.
10. Combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina
Código de Conduta, Comitê de ética, Política de Recursos Humanos, Política de Relacionamento com Fornecedores.
FONTE: Relatório de Gestão (2009)
Por entender que as práticas de RSE iniciam-se nas comunidades onde está
presente, a Volvo do Brasil apóia projetos sociais e culturais que estejam em sintonia
com os valores essenciais da marca: Qualidade, Segurança e Respeito ao Meio
Ambiente. Os projetos implementados são agrupados por um grande programa,
intitulado Cidadania Volvo, estando os principais sintetizados no Apêndice 3
Com o objetivo de promover uma aproximação com a comunidade vizinha -
Vila São José do Passaúna, traçar seu Mapa Social e subsidiar as ações de
responsabilidade socioambiental no que se refere ao Programa Cidadania Volvo, a
Volvo do Brasil realizou uma pesquisa em 2005, por meio de parceria com o SESI.
Nesta pesquisa foi identificada a necessidade local de atividades
complementares que tirassem as crianças das ruas no contra turno escolar e os
moradores elencaram atividades relacionadas a esporte, artesanato, teatro, dança,
música, pintura e xadrez. Com base nos resultados desta pesquisa foram
elaborados e implementados projetos voltados ao desenvolvimento dessa
comunidade.
54
Em 2007 foi implantado o Banco de Preocupações e Impactos Sociais,
sistema em que é definido o Agente (causador da preocupação), a Preocupação
Social (qualquer agente relacionado ao produto, processo e instalações da
Companhia que pode gerar um Impacto Social) e é identificado o Impacto Social
(consequência adversa ou benéfica, que resulte de uma Preocupação Social). A
base para o Banco foi a identificação dos impactos sociais, elaborados de acordo
com o Procedimento “Levantamento de Preocupações e Impactos Sociais”, as
demandas da própria Comunidade (pesquisas realizadas em 2005 e 2007) e dos
funcionários. A partir destas informações, são determinados e registrados os
tratamentos das Preocupações Sociais.
Tendo como meta atender os requisitos da AS 8000 e empresa possui dois
grupos de acompanhamento e avaliação do êxito dos projetos sociais que são feitos
por meio do monitoramento de indicadores conforme apresentados no Relatório
Socioambiental, tais como: número de crianças atendidas pela Fundação
Solidariedade, participantes inscritos nos Fóruns do PVST, abrangência geográfica e
número de expectadores do Projeto Caravana Ecológica, investimentos em projetos
culturais e sociais, etc. Para avaliar os projetos da comunidade do entorno, é utilizado
o Formulário de avaliação do grupo de crianças e adolescentes participantes, por
meio do qual, avalia-se a evolução ou involução em aspectos tais como disciplina,
valores, integração, responsabilidade, afetividade, auto-estima.
Os principais projetos de responsabilidade social da empresa antecedem as
leis de incentivos. Os projetos da Fundação Solidariedade (abrigo a crianças e
adolescentes) e Segurança no Trânsito iniciaram antes dos programas de incentivo
e o Projeto Pescar é realizado com recursos próprios. Os demais projetos utilizam as
leis de incentivo.
Algumas instituições também são incentivadas pela Volvo para elaborar
projetos sociais por meio da Lei Rouanet de incentivo à Cultura, com orientações
técnicas e aporte financeiro. Para se ter uma noção de grandeza dos valores
investidos nos projetos acima mencionados, em 2009 foi aplicada para cultura: R$
6.204.844,33 e para o Esporte: R$ 1.551.211,08.
Com estes valores a Volvo está posicionada em 38º lugar em nível nacional e
é a 2ª maior incentivadora cultural do PR. De acordo com o relatório oficial do
Ministério da Cultura, as montadoras de caminhões estão assim posicionadas:
55
QUADRO 06 - RANKING DAS MONTADORAS 2009 25º Mercedes−Benz do Brasil Ltda.
38º Volvo do Brasil Veículos Ltda 55º Volkswagen do Brasil 118º Scania Latin America Ltda 160º Iveco Latin America Ltda
FONTE: Ministério da Cultura
A comunicação da empresa com seus os stakeholders é realizada por meio
de diversas ferramentas de uso externo e interno, conforme ilustra o quadro 07 a
seguir:
QUADRO 07 - FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO COM STAKEHOLDERS
USO EXTERNO USO INTERNO Relatório Socioambiental Comissão de fábrica Linha direta Volvo Linha Direta Volvo Manuais dos veículos Comitê de ética Manual Ambiental
FONTE: Relatório de Gestão (2009)
Desta forma a Volvo relata suas ações de responsabilidade social e fortalece
seus valores e sua imagem perante seus funcionários, clientes, toda a cadeia
produtiva e sociedade em geral.
56
5 RESULTADOS DAS PESQUISAS
5.1 RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA COM FUNCIONÁRIOS DA EMPRESA
A fim de verificar o entendimento dos funcionários em relação ao conceito de
Responsabilidade Social, seu grau de envolvimento e opinião a respeito dos projetos
existentes na empresa e o nível de envolvimento com questões sociais, foram
distribuídos aleatoriamente 300 questionários para os funcionários da empresa.
Deste total, 147 retornaram-no preenchido, conforme perfil abaixo ilustrado no
gráfico 01.
GRÁFICO 01 - PERFIL DA AMOSTRA – POR CARGO
PERFIL DA AMOSTRA
46
32
30
24
15
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Cargo administrativo
Cargo Produtivo
Chefia
Estagiários
Terceiros TOTAL - 147
FONTE: A Autora
GRÁFICO 02 - PERFIL DA AMOSTRA: POR IDADE E GÊNERO
PERFIL DA AMOSTRAIdade e gênero
4%
30%
34%
32%
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%
até 20
de 21 a 30
de 31 a 40
acima de 40
Masculino - 69%Feminiro - 31%
FONTE: A Autora
57
A análise da pesquisa com os funcionários revelou que do total de
questionários respondidos, os homens estão em maior número (68%) e a faixa etária
é acima de 30 anos (66%). Em relação aos cargos que os respondentes ocupam a
grande maioria, 46% são de cargos administrativos, seguidos de 32% e 30%, para
cargos produtivos e chefia respectivamente.
GRÁFICO 03 - ENTENDIMENTO DO CONCEITO DE RSE
FONTE: A Autora
Q1. Esta pergunta aberta buscou compreender o entendimento conceitual dos
funcionários em relação à Responsabilidade Social Empresarial.
No resultado geral destacou-se a preocupação com a sociedade, meio
ambiente e a sustentabilidade do negócio e educação. Ao avaliar os destaques por
perfil profissional, não houve discrepâncias relevantes entre as definições.
Para as chefias a comunidade, o meio ambiente e a sustentabilidade dos
negócios são os fatores mais importantes Os funcionários do cargo administrativo
além dos fatores mencionados pelas chefias, consideram também a educação item
Q1. O que você entende como Responsabilidade Social Empresarial?
110
41
18
16
13
11
9
7
4
4
3
2
1
0 20 40 60 80 100 120
Sociedade
Meio ambiente
Negócio
Educação
Qualidade
Respeito
Transparência/Ética/Leis
Cultura
Funcionários
Voluntariado/ONGs
Sustentabilidade
Benefícios
Clientes
58
relevante. Da mesma forma, os funcionários produtivos, acrescentaram a estes
fatores, a inclusão social. Os funcionários terceirizados destacaram a
sustentabilidade do negócio. No geral percebe-se que o entendimento do conceito é
semelhante para todos.
Notou-se durante a distribuição dos questionários a dificuldade que algumas
pessoas apresentaram para conceituar responsabilidade social devido a
abrangência com a qual o tema vem sendo tratado por todos os meios de
comunicação interna e externa.
GRÁFICO 04 - PARTICIPAÇÃO EM PROJETOS DE RSE DA EMPRESA
Q2. Você participa ou participou de algum projeto de Responsabiliade Social da empresa para qual trabalha?
21
14
10
9
3
2
2
1
1
0 5 10 15 20 25
Fund. Solidariedade
Campanhas
Empreendedorismo
Voluntariado
Palestras
Projeto Pescar
Centro Ambiental
Descarte de resíduos
Caravana EcológicaSim - 63 - 43%Não - 84 - 57%
Pretende - 49 - 58%Talvez - 15 - 18%Não - 20 - 24%
FONTE: A Autora
Q2. Esta questão tinha como objetivo avaliar o grau de envolvimento dos
funcionários com os projetos de responsabilidade social da empresa.
Do total da amostra, 43% participam de algum projeto ou campanha da
empresa. Destes predominam os funcionários com cargos administrativos.
Destacam-se as participações passivas de doações financeiras para a Fundação
Solidariedade, campanhas de arrecadação de agasalhos e brinquedos e o projeto de
Educação e Empreendedorismo realizado em parceria com a ONG. Jr. Achievment.
Percebeu-se que o fato de contribuir financeiramente ou com doações já faz
com que os funcionários sintam-se participantes dos projetos desenvolvidos pela
empresa.
59
Dentre os funcionários que atualmente não participam dos projetos sociais da
empresas, 58% pretendem participar futuramente. Este resultado demonstra que as
pessoas de maneira geral percebem que juntamente com a empresa têm papel
importante na sociedade e que podem atuar como agentes transformadores.
Q3. A terceira questão tem como objetivo compreender a opinião dos funcionários
quanto aos projetos de RSE em relação ao foco principal da empresa: se
complementares ao negócio ou se devem ser tratados separadamente.
O resultado geral foi equilibrado, pois 50% dos funcionários consideram que
os projetos são complementares e a outra metade considera que dever ser tratados
separadamente. Tanto para as chefias (57%), quanto para os funcionários
administrativos (59%) este tema deve ser tratado separadamente. Percebe-se então
que as questões sociais estão se incorporando ao discurso das empresas enquanto
colaboradoras do processo de desenvolvimento social.
Q.4 A quarta pergunta do questionário busca verificar se os funcionários percebem a
possibilidade de inovar aplicando o conceito de RSE nas atividades departamentais.
Os resultados indicam algumas sugestões de parcerias com fornecedores e
concessionárias, abertura de vagas para a comunidade, ações diretas com os
clientes no momento da entrega dos caminhões e nos contatos em feiras, compras
de brindes institucionais provenientes de ONGs e maior divulgação dos projetos
existentes em todos os contatos com clientes. Porém, a implantação destas
alternativas se mostra distante da realidade do cotidiano dos funcionários que
trabalham com metas de resultados em curto prazo, sem tempo para uma visão
critica e inovadora em temas não relacionados diretamente as suas atividades
profissionais.
Este resultado valida a questão anterior, pois mesmo se por vezes já existe a
intenção de se aplicar o conceito de responsabilidade social nas atividades ligadas
diretamente ao negócio por se parecerem complementares, são tratadas
separadamente.
60
GRÁFICO 05 - PRINCIPAIS PROJETOS DE RSE DA EMPRESA
Q5. Na sua opinião, quais são os principais projetos de Responsabilidade Social da empresa para qual você trabalha?
76
66
25
16
14
12
11
11
9
7
4
3
2
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Fund Solidariedade
Segurança no Trânsito
Centro Ambiental
Empreendedorismo
Projeto Pescar
Esportes
Controle de emissões
Caravana Ecológica
Na mão certa
Culturais
Descarte de resíduos
Campanhas
Volvo Way
FONTE: A Autora
Q5. Os projetos da empresa que se destacam na opinião dos funcionários são os
mais antigos: a Fundação Solidariedade (abrigo para menores) - 51% e o Programa
de Segurança no Trânsito - 38%. Além destes, foram evidenciados os projetos
ambientais 17% e de educação e empreendedorismo em parceria com a Jr.
Achievement 11%. Notou-se que os demais projetos são pouco conhecidos pelos
funcionários produtivos, terceiros e estagiários. Isto evidencia a baixa divulgação dos
mesmos que não requerem envolvimento direto dos funcionários, diferentemente
dos projetos mais conhecidos.
61
GRÁFICO 06 - VANTAGENS COMPETITIVAS DAS EMPRESAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS
Q6. Você acredita que empresas socialmente responsáveis apresentam vantagem competitiva que pode influenciar nos seus resultados?
Sim; 83%
Não; 17%
FONTE: A Autora
Q6. A grande maioria dos entrevistados percebe as ações de responsabilidade
social como um diferencial e esta resposta foi exemplificada na questão abaixo, pois
enquanto consumidores estas pessoas dizem estar mais atentas à imagem da
marca dos produtos que compram.
GRÁFICO 07 - INFLUÊNCIA DA IMAGEM DA MARCA NA DECISÃO DE COMPRA
Q7. Ao realizar suas compras pessoais, a imagem da marca do produto desejado influencia sua decisão?
Sim; 62%
Não; 38%
FONTE: A Autora
Q7. As respostas indicam que as pessoas estão passando a relacionar a marca do
produto aos aspectos relacionados à responsabilidade social, tais como trabalho
infantil, trabalho forçado, poluição ambiental, saúde e segurança na decisão de
compra. Consequentemente, este reconhecimento por parte dos consumidores está
62
fazendo com que as empresas se preocupem em divulgar suas ações sociais para
fortalecerem suas marcas.
GRÁFICO 08 - PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES VOLUNTÁRIAS FORA DO HORÁRIO DE TRABALHO
Q8. Você participa de atividades voluntárias fora do seu horário de trabalho?
Sim; 22%
Não; 78%
Pretende- 59 - 52%Não pretende - 55 - 48%
FONTE: A Autora
Q8. Percebe-se com esta questão que uma parcela reduzida de funcionários que
participam de atividades voluntárias fora do horário de expediente e a maioria destas
atividades está relacionada à igreja. Isto se justifica, uma vez que grande parte dos
funcionários já participa dos projetos promovidos pela própria empresa e evidencia o
seu grau de influencia da cultura da empresa nos funcionários.
De forma geral os principais itens relacionados ao conceito de RSE foram
abordados e os mais citados foram os que a empresa pesquisada realmente
enfatiza. Os maiores e mais antigos projetos sociais da empresa são reconhecidos
como os mais importantes. Estes são também os mais divulgados interna e
externamente e estão relacionados à educação e ao atendimento das necessidades
básicas das pessoas e de seus direitos como cidadãos, pois trata-se da Fundação
Solidariedade que é um conjunto de lares sociais que abrigam crianças e
adolescentes e o Programa de Segurança de Trânsito.
Alguns funcionários mencionaram que os projetos sociais são definidos pela
direção da empresa, sem a possibilidade de participação ou sugestão no
desenvolvimento dos mesmos. Isto se justifica pela não obrigatoriedade de
envolvimento dos funcionários neste tema que não está diretamente ligado as
atividades profissionais para as quais foram contratados.
63
Os funcionários percebem a empresa como socialmente responsável e
sentem-se beneficiados direta ou indiretamente, tanto por meio de benefícios diretos
ou pela imagem positiva de trabalhem numa empresa reconhecida no mercado.
Constatou-se que os projetos realizados têm como foco a educação, cultura e
esporte e visam à formação de cidadãos emancipados e conscientes de seus
direitos e deveres. As ações são importantes e os resultados são relatados e
acompanhados interna e externamente.
Os principais temas abordados nos projetos estão sendo incorporados nas
praticas de gestão da empresa. Respeito às pessoas e ao meio ambiente, ética e
segurança vem sendo alvos de importantes discussões na empresa. Neste contexto
é importante ressaltar que à medida que os funcionários percebem a empresa como
agente social com alto poder de influencia e transformação, passam a integrar estes
conceitos nas suas atividades profissionais e consequentemente pessoais,
ampliando ainda mais a responsabilidade social da empresa.
Ao comparar a interpretação dos funcionários do conceito de
Responsabilidade Social com todos os projetos sociais implementados pela
empresa, nota-se a sinergia e a consciência de ambas as partes devido à relevância
com a qual o tema vem sento tratado. Este alinhamento pode viabilizar maior
conscientização e participação de todos, mesmo se a pesquisa já relata alto grau de
envolvimento das partes.
Percebe-se ainda que o aporte financeiro, para estes projetos, depende
principalmente de incentivos fiscais e os investimentos da empresa são pequenos se
comparados com o seu potencial, porém relativos se considerarmos que os objetivos
principais da empresa, que não visa assumir o papel do Estado, apenas colaborar.
5.2 RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA COM PARTICIPANTES DO PROJETO CAPOEIRA
O Projeto Capoeira e Cidadania é desenvolvido por meio da Lei Federal de
Incentivo à Cultura e tem como patrocinadora a Volvo do Brasil, localizada na
Cidade Industrial de Curitiba.
Implementado na Associação Viking (associação dos funcionários da empresa)
desde 2005, foi criado após análise do resultado da pesquisa realizada pela Volvo
64
neste mesmo ano, na comunidade Vila São José do Passaúna, situada nas
proximidades da empresa situada na Cidade Industrial de Curitiba. Tendo como
objetivo definir os projetos que poderiam ser desenvolvidos para atender as
carências da comunidade do entorno, a entrevista com 400 moradores identificou a
necessidade de atividades de contraturno para as crianças participarem e assim não
ficarem na rua. Foram solicitadas atividades como artesanato, teatro, dança,
musica, pintura e xadrez. Os moradores desta região participavam até então apenas
de algumas atividades realizadas pela igreja.
Os participantes do projeto são as crianças e adolescentes desta
comunidade e dependentes de funcionários da Volvo. Como pré-requisito para
participar, é preciso ter bom rendimento escolar e contar com a presença dos pais
em de algumas atividades.
Este projeto Capoeira da Volvo visa estimular a responsabilidade e
motivação, como um instrumento de socialização e cidadania e pretende colaborar
para a formação de crianças e jovens em futuros cidadãos. Enquanto prática
pedagógica, a capoeira é considerada por muitos de seus mestres como uma
filosofia de vida pautada por princípios morais como respeito mútuo, autocontrole,
trabalho em grupo e disciplina que, de maneira diferenciada é incorporada pelos
praticantes.
A Cidade Industrial de Curitiba (CIC) onde se localiza a Volvo foi criada em
1973 a partir do Plano Diretor, numa área de 43 milhões de metros quadrados ou
cerca de 10% da área do município. Em 1991, a CIC surge como o bairro mais
populoso de Curitiba quando atinge 116.001 habitantes, após ter recebido 70.000
novos moradores em numa década. Com essas características surgem diversos
loteamento ou mesmo ocupações irregulares e consequentemente, maior demanda
por serviços e educação.
Mais de 400 alunos já passaram pelo projeto e atualmente são
aproximadamente 70 participantes, estudantes e adultos. O projeto oferece
gratuitamente aos alunos uniformes, lanches e os custos relativos às
apresentações externas e ao batizado de capoeira realizado anualmente.
65
Com o objetivo de investigar o impacto deste projeto junto à comunidade onde
a empresa está instalada, foram realizadas entrevistas com todos os alunos
presentes nas aulas em dois sábados consecutivos do mês de novembro/09.
GRÁFICO 09 - PERFIL DOS PARTICIPANTES
TOTAL: 36
Estudantes; 29
Pais; 719%
81%
PERFIL DOS PARTICIPANTES
FONTE: A Autora
GRÁFICO 10 - IDADE DOS ALUNOS
IDADE DOS ALUNOS
13
6
4
6
7
0 2 4 6 8 10 12 14
6 A 10
11 A 14
15 A 17
18 a 25
> 25
IDA
DE
QTD DE ALUNOS
19%
36%
17%
11%
17%
FONTE: A Autora
Foram entrevistados 36 alunos, sendo que deste total 7 eram pais e avó de
outros participantes que gostaram do projeto e foram convidados a participar.
Conforme relatado nesta pesquisa, estes alunos estudam em 10 diferentes
escolas da região e isto representa o potencial de crescimento do projeto. Também é
uma demonstração de que esse projeto possui atratividade que vai além do seu
entorno, para moradores que vivem em outros bairros e sentem a mesma carência
de oportunidades.
66
Predominam os alunos de até 14 anos e a maioria está participando há
apenas um ano do programa, o que sugere certa rotatividade dos alunos. Durante as
entrevistas foi relatado que uma das causas da desistência é a dificuldade de
transporte ou de uma pessoa que acompanhe as crianças para as aulas. Esta
observação também foi relatada nas sugestões para o projeto, quando foi solicitado
transporte. Em contrapartida, nos 2 sábados em que foram realizadas as entrevistas
chovia muito e a sala estava repleta dos alunos que participam assiduamente.
GRÁFICO 11 - DIVULGAÇÃO DO PROJETO
Q1. Como conheceu o projeto?
16
11
9
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Amigos
Escola
Irmãos/Tios 25%
31%
44%
QTD DE ALUNOS
Já indicou?Sim - 25 - 69%Não - 31 -58%
FONTE: A Autora
Q1. Mesmo se no início de cada ano o projeto é divulgado em algumas escolas do
entorno, notou-se que principal divulgação está sendo feita pelos próprios alunos
para seus amigos e familiares. São vários os casos de irmãos, primos, amigos,
vizinhos e pais que vão juntos para as aulas. Esta pesquisa constatou que 69% dos
alunos atuais já indicaram o projeto para alguém por considerá-lo uma oportunidade
de desenvolvimento e socialização importante. Notou-se o elevado interesse da
comunidade em participar de atividades e o encantamento dos adultos com a
empresa que cria oportunidades para a comunidade abrindo espaços.
67
GRÁFICO 12 - TEMPO DE PARTICIPAÇÃO NO PROJETO
26
3
3
3
1
0 5 10 15 20 25 30
1 ANO
2 ANOS
3 ANOS
4 ANOS
5 ANOS
QTD DE ALUNOS
Q2. Há quanto tempo participa do projeto ?
3%
8%
72%
8%
8%
FONTE: A Autora
Q2. Dos alunos que participam há mais tempo destacam-se os casos de 02 que já
se tornaram instrutores do projeto e 02 que estão cursando Educação Física na
Unicenp incentivados pelo professor. Estes alunos encontraram no Projeto da
Capoeira um direcionamento profissional e oportunidades de desenvolvimento
pessoal, uma vez que eram jovens expostos à marginalidade e com grandes
limitações financeiras.
GRÁFICO 13 - RAZÕES PARA GOSTAR DO PROJETO
.
Q3. O que você mais gosta do projeto?
19
17
10
9
9
4
2
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Aula/roda
Ambiente
Apresentações
Esporte
Tudo
Organização
Professor
QTD DE ALUNOS
33%20%
18%8%
4%
18%
37%
FONTE: A Autora
Q3. Todos os alunos citaram diversas razões pelas quais gostam e participam do
projeto. Ficou evidenciada a motivação em participar das aulas, da roda de capoeira
e do ambiente repleto de amigos e cumplicidade. A socialização, as apresentações e
a oportunidade de praticar uma atividade esportiva são os principais fatores
destacados. Ao mencionarem que estão satisfeitos com tudo, os alunos enfatizam a
68
qualidade do trabalho realizado pelo professor e a infra-estrutura oferecida pela
empresa.
GRÁFICO 14 - SUGESTÕES DE MELHORIAS
Q4. Tem alguma sugestão? Qual?
4
8
2
1
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Ampliar o espaço
Fornecer transporte
Controle de faltas
Controle das Notas Sim - 15 - 42%Não - 21 -58%
QTIDADE DE SUGESTOES
FONTE: A Autora
Q4. Todos os participantes estão satisfeitos com o programa e sugerem algumas
ações para que esta oportunidade possa ser oferecida a um maior número de
crianças. As sugestões são relativas ao transporte devido as indisponibilidade de
carro ou pessoa que possa levar as crianças.
Gostariam de um espaço maior para ampliar o número de alunos e sugerem o
controle de faltas e das notas como condição para participar, evitando assim que
algumas vagas não sejam bem aproveitadas.
Ao participar destes projetos os alunos conheceram novos amigos que tem
influenciado nas suas vidas. A atividade física, além de ser reconhecida pelos mais
velhos como importante para a saúde ajudam os mais jovens a vencer a timidez e
elevar a autoconfiança. Os alunos também relataram que se sentem mais alegres.
69
GRÁFICO 15 - BENEFÍCIOS PESSOAIS AO PARTICIPAR DO PROJETO
Q5a. Você percebeu algum benefício pessoal ao participar deste projeto?
15
10
10
31
0 5 10 15 20 25 30 35
Timidez/seg
Alegria
Saúde
AmigosSim - 36 - 100%
FONTE: A Autora
Q5a. Ao participar destes projetos os alunos conheceram novos amigos que tem
influenciado nas suas vidas. A atividade física, além de ser reconhecida pelos mais
velhos como importante para a saúde ajudam os mais jovens a vencer a timidez e
elevar a autoconfiança. Os alunos também relataram que se sentem mais alegres.
GRÁFICO 16 - DIFERENÇA NOS ESTUDOS AO PARTICIPAR DO PROJETO
Q5b. Você percebeu alguma diferença nos estudos depois que começou a participar deste projeto?
28
21
18
14
0 5 10 15 20 25 30
Nota
Interesse
Disciplina
FrequênciaSim - 36 - 100%
FONTE: A Autora
Q5b. Todos os estudantes disseram que apresentaram melhoras na escola, devido
ao incentivo que recebem do professor de capoeira, a disposição e desenvolvimento
pessoal, além da cobrança de alguns pais que condicionam a participação nas aulas
de capoeira à frequência e notas da escola. Estas respostas validam a importância
deste projeto que estimula a educação, que de acordo com Demo (2002) motiva o
saber pensar e o aprender, favorecendo a formação de cidadãos emancipados.
70
Devido ao incentivo recebido do professor e dos pais, as crianças sentem-se
mais motivadas para suas atividades escolares rotineiras. Notou-se melhoria no
convívio e respeito entre alunos incluindo o nível de frequência escolar e as notas.
Este projeto é importante, pois influencia de forma concreta no
comportamento e na formação cidadã dos alunos. Esta observação evidencia a
relevância do projeto no sentido de apoio social de curto prazo, mas que não chega
a influenciar no desempenho escolar dos alunos pois este fator é complexo e reflete
todo o histórico escolar.
GRÁFICO 17 - CONHECIMENTO DE OUTROS PROJETOS VOLVO
Q6. Você connhece outros projetos patrocinados pela Volvo?
10
26
0 5 10 15 20 25 30
Não
Sim
QUAIS?FUTEBOL- 24TEATRO - 9
PARTICIPA?Futebol - 1 Teatro - 1
FONTE: A Autora
Q6. O projeto mais conhecido é o de futebol, o que parece natural por ser o mais
antigo. Os alunos demonstraram interesse em participar de outros projetos
patrocinados pela empresa, mas isto nem sempre é possível devido aos horários e à
dificuldade de transporte.
71
GRÁFICO 18 - CONHECIMENTO DE PROJETOS DE OUTRAS EMPRESAS
Q7. Você connhece outros projetos patrocinados por outras empresas?
32
4
0 5 10 15 20 25 30 35
Não
SimQUAIS?FAS - 1 UNICENP - 3
PARTICIPA?FAS - 0 UNICENP - 1
FONTE: A Autora
Q7. Os moradores do entorno da empresa acreditam que a Volvo a única empresa
que se envolve e oferece oportunidades para a comunidade atualmente.
Notou-se uma enorme carência de oportunidades para os moradores da
região que têm muito interesse em participar de atividades que estimulem o
desenvolvimento pessoal e a socialização, porém não têm acesso.
A última questão perguntava a opinião dos entrevistados sobre a presença da
empresa no bairro e todos evidenciaram a sua importância pelas oportunidades que
oferece para a comunidade local. Também foi mencionada a valorização do bairro e
a geração de trabalho.
Conclui-se então, que o projeto Capoeira atende o objetivo inicial de oferecer
uma atividade de contra turno para as crianças de região, e quebrar uma cadeia
negativa de comportamentos, iniciando o resgate da auto-estima e
consequentemente o desenvolvimento de cidadãos inseridos na comunidade.
A imagem que todos os participantes têm da empresa é muito positiva tanto
por oferecer oportunidades e pela organização, quanto pela infra-estrutura que
disponibiliza. A presença da Volvo agrada a todos porque cria oportunidades,
valoriza e movimenta o bairro e principalmente pela carência de ofertas semelhantes
na região.
Este projeto foi muito bem avaliado pelos participantes que reconhecem na
empresa um exemplo de organização e qualidade e ressaltam a importância que a
72
Volvo tem para a localidade. Os alunos parecem motivados e os pais reconhecem
nesta atividade uma oportunidade de desenvolvimento para as crianças.
Em suma, a realidade percebida neste projeto evidenciou sua importância e
capacidade de influência na sociedade e na formação de cidadãos. Estes dados
apontam para a necessidade de ampliação do projeto, devido à carência de
oportunidades e de um espaço saudável na região onde os indivíduos possam se
desenvolver.
5.3 ANÁLISE GERAL
Uma análise crítica da RSE tem de ir além dos benefícios imediatos
proporcionados pelos projetos; reconhecendo seus limites e sua funcionalidade
como agente facilitador da cidadania.
Neste sentido, a participação da empresa por meio dos projetos sociais, e do
modo como aprimora as funções que dela dependem, na região onde está inserida,
constitui uma prática da responsabilidade social. Constatou-se que a articulação
entre a caracterização dos projetos sociais da empresa pesquisada e a interpretação
dos funcionários se mostra favorável para corroborar os fundamentos teóricos e, por
conseguinte, na determinação da importância que os projetos de RSE assumem na
sociedade.
Ainda que possam parecer utópicos, pela ênfase no altruísmo desinteressado,
parece relevante a forma pela qual Hans Jonas defende a ética e encoraja a
responsabilidade. Seus princípios transpõem o espaço e o tempo e incidem sobre as
grandes questões particulares ou comunitárias, locais ou globais para assumir a
“responsabilidade social” ética pelo futuro (MOTA, 2008).
Neste contexto amplo e sistêmico que envolve a ética e a moral, os princípios
de Hans Jonas (2006), a julgar pelo resultado da pesquisa realizada, estão sendo
aplicados pela Volvo. No sentido de orientar e enfatizar a importância da ética e da
transparência estes temas são abordados no Código de Conduta do Grupo Volvo e
no Manual de Conduta aplicável para todas as pessoas da empresa.
Para as comunidades do entorno da empresa, isto reflete a interdependência
da empresa com seus meios envolventes a longo prazo e a preocupação com a
gerar de oportunidades. Seguindo o raciocínio da Teoria da Responsabilidade, da
73
heurística do temor na qual a prudência e a responsabilidade conduzem a um agir
diferenciado, a empresa está contribuindo para a sociedade.
Diante dos possíveis benefícios para a empresa citados pelo Instituto Ethos, é
possível constatar, neste estudo, que há valorização da imagem institucional e o
reconhecimento do consumidor. Sendo assim, qualquer ação de responsabilidade
social representa a própria empresa e estas ações são compreendidas como parte
da empresa e dá retorno econômico para a empresa.
Para as comunidades do entorno da empresa, isto reflete a interdependência
da empresa com seus meios envolventes a longo prazo e a preocupação com a
gerar de oportunidades. Seguindo o raciocínio da Teoria da Responsabilidade, da
heurística do temor na qual a prudência e a responsabilidade conduzem a um agir
diferenciado, a empresa está contribuindo para a sociedade.
Considerando o desdobramento feito por Carroll e Buchholtz (2000), das
quatro responsabilidades que devem ser atendidas pelas empresas, a empresa
pesquisada apresenta forte preocupação econômica visando sua sustentabilidade,
viabilidade e atendimento das expectativas de seus acionistas. Tanto a
responsabilidade legal quanto ética são amplamente difundidas e aplicadas na
empresa em todos os níveis por meio de treinamentos e ações a fim de atender os
interesses coletivos. Uma vez que estas três responsabilidades estão bem
estruturadas e solidificadas a empresa encontra e cria oportunidades de aplicar a
responsabilidade filantrópico-discricionária por meio dos projetos já relatados neste
estudo.
Ao analisar as ações da empresa pesquisada observa-se também que a
mesma atende aos três estágios da responsabilidade coorporativa descritos por
Melo Neto e Froes (2001). A gestão social interna focada nas atividades regulares
da empresa, saúde e segurança dos funcionários e qualidade do ambiente de
trabalho; a gestão social externa, que se refere à sociedade e aos consumidores em
questões como preservação do meio ambiente, impactos socioeconômico, político e
cultural na sociedade e o terceiro estágio que visa o exercício da gestão social
cidadã, englobando questões mais amplas relativas ao bem estar social.
Como afirma Paoli (2005, p.407) em um duplo movimento para fora de si
mesma, a empresa-cidadã realiza sua beneficência e produz para a sociedade e
74
seus parceiros a perspectiva de uma presença ampliada do próprio poder social do
capital.
Com relação aos princípios do Pacto Global (Global Compact da ONU) do
qual o Grupo Volvo é signatário, desde 2001, percebe-se que de modo geral as
práticas estão alinhadas. Especificamente o Projeto Capoeira e Cidadania enquadra-
se no primeiro item relativo ao respeito e proteção dos direitos humanos por
intermédio do apoio ao a este projeto que promove a educação e o esporte.
À luz de Demo (2002) e Paoli (2005), que consideram como objetivo principal
das ações de responsabilidade social o estímulo ao desenvolvimento do cidadão e o
fomento da cidadania individual e coletiva, o Projeto Capoeira e Cidadania atinge
este objetivo pois desperta nos seus participantes a interesse pelo desenvolvimento
físico e intelectual e cria novas oportunidades de integração social.
Desta forma, os resultados alcançados com a presente dissertação
demonstraram que este projeto contribui para o desenvolvimento da autonomia e da
cidadania nos alunos participantes mesmo que ainda que de forma modesta para
uma parcela muito pequena na população carente situada próxima da empresa.
Afora os números da população assistida pelo programa, que é muito
reduzido em relação às necessidades da região e ao potencial econômico e de
influência que a empresa representa, a discussão concentra-se no impacto das
mesmas. Tal noção relaciona-se com o treinamento oferecido e a capacidade
transformadora deste instrumento específico, ou seja, suas potencialidades
emancipatórias.
Em suma, este trabalho buscou compreender o significado e efeito da noção
de responsabilidade social e a importância de um maior entendimento, não só do
conceito, como dos efeitos de tais práticas pelas empresas para um agir
emancipatório. Constatou-se que a Volvo do Brasil está se envolvendo com as
questões sociais por meio do desenvolvimento de projetos, retribuindo à
comunidade onde está inserida, mesmo que de forma ainda restrita e usufruindo do
apoio das leis de incentivos fiscais, neste programa de RSE relevante junto à
comunidade onde esta instalada.
75
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que a consciência global para o desenvolvimento sustentável
está crescendo juntamente com a demanda de ações dos diversos atores sociais
com o objetivo de aproximar diferentes realidades. A aplicação do conceito de RSE
exemplificado nesta pesquisa não pode ser considerada como uma ferramenta
capaz de assumir o papel do Estado, mas como um meio apto a viabilizar o acesso
de comunidades carentes à cultura e ao esporte.
Desta forma, se reconhece a importância da RSE como um fenômeno de
intervenção social de grande expressividade considerando a carência de ofertas e
oportunidades de certas comunidades. Ao mesmo tempo, também não é possível
ignorar que certa visão crítica pode considerar a RSE como mera estratégia
empresarial cujo principal objetivo seria garantir determinada imagem da empresa
perante seu mercado consumidor além do benefício das deduções fiscais.
Adicionalmente, do ponto de vista socioeconômico, a simples existência da
empresa contribui para o desenvolvimento do contexto no qual está inserida.
Contudo, um anseio de ampliação do escopo dessa atuação, impulsiona
organizações empresariais a desenvolver novos meios de inclusão social, a partir do
auxilio a formação de cidadãos emancipados, que conquistem essa inclusão.
Cidadania sem autonomia e autonomia sem cidadania são incompletas, assim
como empresa sem esta visão e a consciência social não é completa diante dos
olhos dos seus consumidores e da sociedade. Consequentemente, faz-se
necessário formar cidadãos conscientes e críticos, transformadores e ousados,
capazes de corresponder às exigências da vida moderna e revitalizar os valores
humanos.
Num contexto político, como solução parcial da crise capitalista, o
neoliberalismo visa a reconstituição do mercado, reduzindo a intervenção social do
Estado em diversas áreas e atividade. Desta forma, qualquer ação que minimize a
miséria é válida e as empresas, ao assumirem algumas das funções do Estado,
retribuem à sociedade onde estão inseridas com projetos sociais.
76
Os governos desobrigaram-se da responsabilidade pela implementação de
programas sociais, até mesmo pela fragilização das condições políticas impostas
pelas políticas neoliberais, transferindo para o terceiro setor, as ONGs, as empresas,
que tentam compensar e minimizar os impactos destas reformas e substituir as
atividades sociais do Estado. Isto porque as empresas tiveram poder político
determinante nas reformas neoliberais.
De forma geral, essas transformações no papel do Estado tem levado a
sociedade civil organizada a assumir essas responsabilidades, assumindo o papel
de agentes sociais tornando-se promotores da responsabilidade social corporativa e
difundem valores éticos em suas relações com os diversos públicos da empresa.
Parece existir cada vez mais na mente das pessoas uma forte correlação entre o
papel das empresas na melhoria das condições sociais e o crescimento dos
mercados consumidores, com parte de um sistema dependente.
As alternativas são inúmeras e percebe-se que lentamente esta consciência
social está sendo difundida na empresa e na sociedade representando um processo
evolutivo e de crescimento que aos poucos está se incorporando na gestão das
empresas, assim como os itens relativos à produção, qualidade dos produtos e
comercialização.
Diante da dinâmica do mercado altamente competitivo que exige das
empresas foco nos negócios e saúde financeira, o próprio negócio atende e cria
demandas sociais nas regiões onde estão inseridas. Desta forma estimula a
movimentação da cadeia produtiva, a geração de empregos diretos e indiretos e
demanda elevado nível de educação dos seus funcionários.
Além dos benefícios diretos dos projetos de responsabilidade social para os
públicos a que são destinados, cria-se uma nova demanda de profissionais e
serviços que também geram novos empregos, crescimento econômico, a geração de
emprego e renda e a democratização de oportunidades.
Este é um processo constante, que se faz no dia a dia. Por isso, este trabalho
não buscou conceitos prontos de cidadania, autonomia, responsabilidade social e
ética, por entender que estes conceitos vão sendo construídos e aplicados na
proporção do crescimento da conscientização da amplitude do papel de influencia e
de responsabilidade das empresas na sociedade.
77
Assim como ocorreu a revolução da qualidade levando a extinção de
empresas que não atenderam as novas exigências do mercado, espera-se um dia
que o grau de consciência da exclusão social demande uma nova visão da questão
social. Sob este prisma, considerando que todos os projetos e as ações sociais das
empresas fazem diferença, mesmo se isolados diante de uma imensidão de
carências e oportunidades, estes poderiam ser maiores e mais abrangentes, estando
incorporados ao planejamento estratégico corporativo.
No Brasil, onde as diferenças sociais são muito grandes, focaliza-se
principalmente nas carências da população de baixa renda chegando ao ponto de
diferenciar os direitos dos cidadãos pobres e ricos, pois os ricos já não consideram a
possibilidade de usufruir de serviços públicos. Este estudo focou um projeto que
atende uma comunidade carente, mas este mesmo raciocínio vale para todos os
cidadãos empregados, com poder aquisitivo, que pagam impostos e da mesma
forma não podem usufruir dos serviços públicos de saúde, educação e lazer.
Sob este prisma, esta reflexão poderá ser continuada visando a compreensão
deste conceito de cidadania diante das diferentes necessidades dos indivíduos que
vivem em diferentes condições. Também desperta interesse a compreensão das
diferentes visões deste tema entre empresas nacionais e multinacionais e o
comparativo dos projetos de responsabilidade social de empresas do mesmo setor.
78
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81
APÊNDICE 1
82
83
APÊNDICE 2
84
QUESTIONÁRIO PARA OS FUNCIONÁRIOS DA EMPRESA
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a Percepção de Responsabilidade SocialEmpresarial,
Sua participação é muito importante! Aguardo sua resposta até 10/12.
Seu perfil: ( ) Cargo de chefia ( ) Cargo administrativo ( ) Cargo Produtivo( ) Terceiro ( ) Estagiário
Faixa etária: ( ) até 20 ( ) 21 a 30 ( ) 31 a 40 ( ) acima de 40 anos Sexo: ( ) F ( ) M
1. O que você entende como Responsabilidade Social Empresarial?
2. Você participa/participou de algum projeto de Responsabilidade Social da empresa para q( )_______________________________________________________________________
( ) Não Pretende participar? ( ) sim ( ) não
3. Quais são os principais projetos de Responsabilidade Social da empresa que você traba
qual você trabalha:( ) são complementares ao negócio, pois trazem benefícios à empresa( ) devem ser tratados separadamente, pois trazem beneficios somente à sociedade
5. Na sua opinião, o seu dpto poderia inovar aplicando o conceito de Responsabilidade Soci( ) Sim Como?( ) Não Por quê?
6. Você acredita que empresas socialmente responsáveis apresentam vantagem competitivanos seus resultados?( ) Sim ( ) Não Por quê?
7. Ao realizar suas compras pessoais, a imagem da marca do produto desejado infuencia sua( ) Sim ( ) Não, porque avalio a qualidade do produto e o preço.
8. Você participa de atividades voluntárias fora do seu horário de trabalho?( )_______________________________________________________________________( ) Não Pretende participar? ( ) sim ( ) não
Muito obrigada por sua valiosa colaboração,Ana Claudia Bittar
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APÊNDICE 3
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QUESTIONÁRIO PARA OS PARTICIPANTES DO PROJETO CAPOEIRA
Volvo e o resultado será utilizado em trabalho acadêmido de mestrado.
Seu perfil: ( ) Estudante ( ) Pai Faixa etária: ( )7 a 9 ( ) 10 a12 ( ) 31 a 40 ( ) acima de 40 anosSexo: ( ) F ( ) M
1. Como você conheceu este projeto?
2. Há quanto tempo você partcipa do projeto?( ) 1 ano ( ) 2 anos ( ) 3 anos ( ) 4 anos
3. O que você mais gosta do projeto?
4. Tem alguma sugestão para Volvo referente a Capoeira ? ( ) Sim Como?( ) Não Porque?Qual?
5a. Você percebeu algum benefício pessoal ao participar deste projeto?( ) Sim ( ) NãoQual?
projeto?( ) Sim ( ) NãoQual?
6. Você conhece outros projetos patrocinados pela Volvo?( ) Sim Quais?( ) Não Já participou?
7. Você conhece outros projetos patrocinadospor outras empresas?( ) Sim Quais?( ) Não Já participou?
8. Você acha bom a Volvo estar próxima do seu bairro?( ) Sim ( ) Não Porque?
Muito obrigada!