86
MESTRADO EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A PERSPECTIVA DA INDÚSTRIA: A EXPERIÊNCIA DA VOLVO DO BRASIL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO CURITIBA 2010

ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

  • Upload
    others

  • View
    7

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

MESTRADO EM ORGANIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO

ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A PERSPECTIVA DA INDÚSTRIA: A

EXPERIÊNCIA DA VOLVO DO BRASIL

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

CURITIBA 2010

Page 2: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

ANA CLAUDIA BITTAR

A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A PERSPECTIVA DA INDÚSTRIA: A EXPERIÊNCIA DA VOLVO NO BRASIL

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre, do Programa de Mestrado Acadêmico em Organizações e Desenvolvimento, FAE Centro Universitário. Orientador: Prof. Dr. Lafaiete Santos Neves

CURITIBA JUNHO 2010

Page 3: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

TERMO DE APROVAÇÃO

Page 4: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

Dedico este trabalho ao meu pai Álvaro,

em agradecimento aos seus ensinamentos

e oportunidades que me proporcionou,

fundamentais para minha vida.

Page 5: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

Agradecimentos

Ao meu marido Mauro e aos meus filhos Aline e Rodolfo, pelo apoio, paciência, compreensão e incentivo. As minhas duas grandes amigas e companheiras de vida, Profa. Dra. Glenda Mezzarobba (Unicamp) e Profa. Dra. Karin Graeml (PUC-PR), por suas criticas e contribuições durante toda esta jornada acadêmica. Ao professor orientador Prof. Dr. Lafaiete Santos Neves, pelo acompanhamento, incentivo e contribuição para meu crescimento acadêmico e pessoal. Aos professores que participaram da banca examinadora, Prof. Dr. José Henrique de Faria e Prof. Dr. Sérgio Tadeu Gonçalves Muniz, que avaliaram o conteúdo do texto e ofereceram suas valiosas contribuições. Aos professores do Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da FAE Centro Universitário, que me apresentaram novas formas de interpretar o mundo. Aos colegas do mestrado por compartilharem conhecimentos, experiências, descobertas e dúvidas. A Mariana Fressato e Mônica Gonçalves, por suas informações, paciência e profissionalismo. A Volvo do Brasil, especialmente Dr. Dante Lago, Marli Bonatto e Anaelse Oliveira, que viabilizaram a realização desta pesquisa. Aos colegas de trabalho que sempre apoiaram esta aventura acadêmica em meio às atividades profissionais. Aos meus amigos e familiares que compreenderam a minha ausência em inúmeras ocasiões.

Page 6: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

RESUMO

BITTAR, Ana Claudia. A responsabilidade social sob a perspectiva da indústria: a experiência da Volvo do Brasil. 86p. Dissertação (Mestrado em Organizações e

Desenvolvimento) - FAE Centro Universitário. Curitiba, 2010.

Desde a crise econômica que culminou na Reforma do Estado no Brasil, no início da

década de 90, as organizações empresariais, em parceria com o Estado e o terceiro

setor passaram a desempenhar importante papel na sociedade devido a sua

capacidade de potencializar recursos, prover tecnologia e inovação, entre outros

aspectos. As atividades produtivas e comerciais, além de gerar empregos e atender as

expectativas dos acionistas, criam oportunidades de iniciativas de responsabilidade

social empresarial para as comunidades que podem influenciar diretamente a região

onde estão instaladas. Neste sentido, diante de um cenário em que as empresas têm

percebido a importância das ações de responsabilidade social, esta dissertação busca

compreender a forma de aplicação deste conceito numa empresa do setor automotivo

e se tais iniciativas contribuem para desenvolver a cidadania. A pesquisa utiliza a

Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do

discurso de Responsabilidade Social pelas organizações e trata da preocupação

relativa à passagem da assistência a emancipação dos cidadãos. Empiricamente, foi

feita a análise de relatórios socioambientais e de gestão da empresa em questão,

Volvo do Brasil, e aplicados dois questionários: o primeiro, para os funcionários da

empresa sobre o entendimento e a aplicabilidade do tema. O segundo, para

beneficiários de um de seus projetos sociais, o Projeto Capoeira e Cidadania. Na

conclusão, são trabalhados aspectos relevantes do conceito, a aplicação da noção de

Responsabilidade Social pelos funcionários da empresa e a influência que o projeto

exerce na comunidade, sobretudo na formação de cidadãos emancipados.

Palavras-chave: Responsabilidade social empresarial; indústria automotiva;

assistência e cidadania; políticas públicas.

Page 7: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

ABSTRACT

BITTAR, Ana Claudia. A responsabilidade social sob a perspectiva da indústria: a experiência da Volvo do Brasil. 86p. Dissertação (Mestrado em Organizações e

Desenvolvimento) - FAE Centro Universitário. Curitiba, 2010.

Since the economic crisis that culminated in the State Reform in Brazil, at the

beginning of the ‘90s, the enterprises, in partnership with the State and the third sector

had started to play an important role in the society due to its capacity to potentialize

resources, to provide technology and innovation, among others aspects. The

productive and commercial activities, beyond generating jobs and meeting

shareholders expectations, create chances of corporate social responsibility initiatives

for the communities that can directly influence the region where they are installed. In

this way, in a context where companies have realized the importance of their social

actions, the present paperwork seeks to understand this concept application in a

company of the automotive sector and evaluate if such initiatives contribute to improve

the local community’s citizenship . This study uses the theory of the responsibility and

reconstitutes the appropriation of the corporate social responsibility phenomenon

dealing with the switch from assistance to support citizens’ emancipation. Empirically, a

case study was conducted and the data collection and analysis came from the

company socio-environmental report. Two questionnaires were applied: the first one,

to the company employees concerning the subject definition and applicability. The

second, to beneficiaries of one of the company’s social projects, the Projeto Capoeira e

Cidadania. In the conclusion, relevant aspects of the concept are emphasized, the

application of the social responsibility definition by the employees and the project’s

effect in the community, especially to prepare emancipated citizens.

Keywords: Corporate social responsibility; automotive industry; assistance and

citizenship; public politics.

Page 8: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

LISTA DE QUADROS

QUADRO 01 - CONDIÇÕES E INTERESSES DOS STAKEHOLDERS ............................................. 21 

QUADRO 02 - AS DIFERENÇAS ENTRE FILANTROPIA E RSE ...................................................... 32 

QUADRO 03 - RESULTADOS DAS AÇÕES DE RSE........................................................................ 33 

QUADRO 04 - NÚMEROS DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA 2008........................ 50 

QUADRO 05 - PRINCÍPIOS DO PACTO GLOBAL E AS PRÁTICAS DA VOLVO DO BRASIL.......... 53 

QUADRO 06 - RANKING DAS MONTADORAS 2009 ........................................................................ 55 

QUADRO 07 - FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO COM STAKEHOLDERS................................ 55 

Page 9: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 - A PÍRÂMDE DA RESPONSABILIDADE SOCIAL.......................................................... 22 

FIGURA 02 - NOVOS ESPAÇOS SOCIAIS........................................................................................ 37 

Page 10: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01 - PERFIL DA AMOSTRA – POR CARGO..................................................................... 56 

GRÁFICO 02 - PERFIL DA AMOSTRA: POR IDADE E GÊNERO ..................................................... 56 

GRÁFICO 03 - ENTENDIMENTO DO CONCEITO DE RSE............................................................... 57 

GRÁFICO 04 - PARTICIPAÇÃO EM PROJETOS DE RSE DA EMPRESA........................................ 58 

GRÁFICO 05 - PRINCIPAIS PROJETOS DE RSE DA EMPRESA .................................................... 60 

GRÁFICO 06 - VANTAGENS COMPETITIVAS DAS EMPRESAS SOCIALMENTE

RESPONSÁVEIS......................................................................................................... 61 

GRÁFICO 07 - INFLUÊNCIA DA IMAGEM DA MARCA NA DECISÃO DE COMPRA........................ 61 

GRÁFICO 08 - PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES VOLUNTÁRIAS FORA DO HORÁRIO DE

TRABALHO.................................................................................................................. 62 

GRÁFICO 09 - PERFIL DOS PARTICIPANTES................................................................................. 65 

GRÁFICO 10 - IDADE DOS ALUNOS ................................................................................................ 65 

GRÁFICO 11 - DIVULGAÇÃO DO PROJETO.................................................................................... 66 

GRÁFICO 12 - TEMPO DE PARTICIPAÇÃO NO PROJETO ............................................................. 67 

GRÁFICO 13 - RAZÕES PARA GOSTAR DO PROJETO.................................................................. 67 

GRÁFICO 14 - SUGESTÕES DE MELHORIAS ................................................................................. 68 

GRÁFICO 15 - BENEFÍCIOS PESSOAIS AO PARTICIPAR DO PROJETO ...................................... 69 

GRÁFICO 16 - DIFERENÇA NOS ESTUDOS AO PARTICIPAR DO PROJETO ............................... 69 

GRÁFICO 17 - CONHECIMENTO DE OUTROS PROJETOS VOLVO............................................... 70 

GRÁFICO 18 - CONHECIMENTO DE PROJETOS DE OUTRAS EMPRESAS.................................. 71 

Page 11: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

SUMÁRIO

1  INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 12 

2  REFORMA DO ESTADO, RESPONSABILIDADE SOCIAL E CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA ...................................................................................................................... 15 

2.1  A REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO......................................................................... 15 

2.2  AS ORIGENS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS.............................. 18 

2.3  CONCEITOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL............................................................ 19 

2.4  A VISÃO DE HANS JONAS: O PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE ........................... 22 

2.5  ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL ......................................................................... 26 

2.6  CIDADANIA ...................................................................................................................... 27 

2.7  DA FILANTROPIA PARA A RESPONSABILIDADE.......................................................... 30 

2.8  BENEFICIÁRIOS DIRETOS E INDIRETOS DA RSE........................................................ 33 

2.9  AMBIGUIDADES E AMBIVALENCIAS.............................................................................. 34 

2.10  A APLICABILIDADE DO CONCEITO DE RSE ................................................................. 36 

2.11  CAPTAÇÃO DE RECURSOS E RELATORIOS ................................................................ 38 

2.11.1  Incentivos Fiscais ........................................................................................................... 38 

2.11.2  Relatórios e Balanço Social ........................................................................................... 41 

3  METODOLOGIA ............................................................................................................... 44 

3.1  ETAPAS DO ESTUDO...................................................................................................... 45 

4  CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA E DO LOCAL DA APLICAÇÃO DO PROJETO......................................................................................................................... 48 

4.1  PANORAMA DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL ............................................... 48 

4.2  A EMPRESA PESQUISADA – VOLVO DO BRASIL......................................................... 51 

5  RESULTADOS DAS PESQUISAS ................................................................................... 56 

5.1  RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA COM FUNCIONÁRIOS DA EMPRESA......... 56 

5.2  RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA COM PARTICIPANTES DO PROJETO

CAPOEIRA ....................................................................................................................... 63 

5.3  ANÁLISE GERAL.............................................................................................................. 72 

6  CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 75 

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 78 

APÊNDICE 1 .................................................................................................................................. 81 

APÊNDICE 2 .................................................................................................................................. 83 

APÊNDICE 3 .................................................................................................................................. 85 

Page 12: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

12

1 INTRODUÇÃO

Desde 1990, em consequência da crise econômica e da Reforma do Estado,

determinadas políticas do setor público passaram da esfera pública para o setor

privado. Proliferaram, então, as organizações não governamentais (ONGS) e a idéia

de Responsabilidade Social ganhou importância nos debates acadêmicos, nas

organizações empresariais e entre alguns setores da sociedade civil empenhados

em promover a causa social, embora pareça desenvolver-se em ritmo mais lento no

cotidiano das práticas de gestão.

Concomitantemente ao surgimento de novas demandas e maior pressão por

transparência nos negócios, as empresas têm sido pressionadas pela sociedade a

adotar uma postura mais responsável em suas ações e utilizar a Responsabilidade

Social Empresarial (RSE) como uma ferramenta estratégica. Isto sinaliza um

movimento na mentalidade dos gestores, acionistas, empregados, fornecedores e

demais envolvidos na rede de relacionamentos das empresas que passam a

acreditar na RSE como mais uma forma de buscar atender as novas exigências da

sociedade, o que naturalmente inclui performance e competitividade.

A tendência indica que empresas socialmente responsáveis têm sido

consideradas agentes relevantes no processo de desenvolvimento de países como o

Brasil, em que necessidades básicas de grande parcela da população ainda não

estão sendo supridas satisfatoriamente. Diante dessa realidade, persiste a

necessidade de ações concretas para lidar com problemas sociais que dificultam a

vivência plena da cidadania e parece indispensável uma reflexão ampliada a

respeito do significado e o efeito das práticas de RSE para um agir emancipatório.

Consequentemente, a análise da participação das empresas privadas na solução de

necessidades públicas está na pauta das discussões atuais, em projetos sociais e

na compreensão dos funcionários a respeito da forma como as empresas interagem

com o desenvolvimento econômico e social.

Neste sentido, a intervenção de diferentes atores sociais exige das

organizações uma postura baseada em valores éticos que promovam o

desenvolvimento e a emancipação dos cidadãos. Diante desta perspectiva de

gestão empresarial com foco na qualidade das relações empresa-comunidade, a

Page 13: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

13

responsabilidade social pode significar uma mudança de atitude e

um compromisso social com a comunidade, para responder a um diferencial

competitivo, e um indicador de sustentabilidade no longo prazo.

Sob este prisma, o objeto de análise deste estudo é a aplicabilidade do

conceito da RSE na indústria automotiva. Este segmento foi escolhido devido à sua

representatividade e poder de influência, além de ser um exemplo clássico do

processo de globalização e desenvolvimento. No caso do Brasil, sua chegada na

segunda metade do século XX está diretamente relacionada ao processo de

expansão nacional. O poder econômico desta indústria e seu potencial de

crescimento causam forte impacto na economia. A sua dinâmica faz manter um

processo contínuo de acumulação de capital com ampla repercussão no conjunto

das economias e em seus diversos níveis, como a produção e aplicação do

conhecimento (NEVES, 2003) e, consequentemente, na sociedade onde está

inserida.

Valendo-se da Teoria da Responsabilidade de Hans Jonas, que busca o

surgimento de um novo comportamento ético, como diretriz para o desenvolvimento

sustentável, a premissa de Pedro Demo que enfatiza a importância da formação de

cidadãos emancipados, e a visão crítica de Paoli sobre a RSE, o problema de

pesquisa é:

De que forma o Projeto Capoeira de RSE da Volvo do Brasil traduz a

apicação da poltica de Responsabildade Social, a partir da percepção de seus

funcionáios e da comunidade em que se encontra inserida.

Objetivo: analisar como a Volvo do Brasil, empresa do setor automotivo

instalada em Curitiba desde 1979, formula e aplica sua política de RSE a partir da

perspectiva de seus funcionários e da comunidade onde está inserida, através do

Projeto Capoeira.

Objetivos específicos:

− Analisar os programas de RSE desenvolvidos pela empresa e sua

influência na sociedade;

− Compreender a visão dos funcionários da empresa em relação à

política de RSE praticada;

Page 14: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

14

− Investigar o impacto e a contribuição do Projeto Capoeira da Volvo

entre seus participantes e para a formação de cidadãos emancipados.

Após a introdução, o segundo capítulo trata da Responsabilidade Social no

contexto da Reforma do Estado Brasileiro, seu desdobramento em relação à Teoria

da Responsabilidade de Hans Jonas, além da análise critica de Pedro Demo

referente à formação de cidadãos emancipados. Também aborda a aplicabilidade do

conceito por meio de parcerias e incentivos fiscais e os meios utilizados para

divulgação e controle das ações de responsabilidade social das empresas.

O terceiro capítulo trata dos procedimentos metodológicos utilizados neste

estudo, enquanto o terceiro traça um panorama da indústria automotiva no Brasil, da

organização estudada e do local de aplicação do projeto.

No quinto capítulo estão os resultados das duas pesquisas realizadas. A

primeira refere-se à interpretação dos funcionários do conceito e da aplicação das

ações de RSE, pela empresa. A segunda pesquisa, aplicada aos participantes do

Projeto Capoeira, investiga os impactos desta ação.

Por fim, no sexto capítulo, é apresentada a análise dos projetos de RSE da

empresa em questão e seu impacto na sociedade, da perspectiva do

desenvolvimento da cidadania, Reforma do Estado, Responsabilidade Social e

Construção da Cidadania.

Page 15: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

15

2 REFORMA DO ESTADO, RESPONSABILIDADE SOCIAL E CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

Este capítulo trata da noção da responsabilidade social, o desenvolvimento do

conceito da RSE a partir da Reforma do Estado. Devido à crise econômica e do

Estado na década de 80 na Europa, sua influência na reforma do Estado na América

Latina e no Brasil, com o chamado Estado neoliberal transferindo algumas atividades

públicas foram transferidas para o setor privado, multiplicando-se então as

Organizações não governamentais (ONGs) e as práticas de responsabilidade social.

As empresas, diante da crise econômica e da concorrência capitalista, tiveram que

buscar uma nova relação com o Estado e o mercado para atender a crescente

preocupação das organizações e da sociedade de uma nova conduta empresarial

diante de cidadãos cada vez mais exigentes.

Também são tratados os temas da ética e cidadania que estão diretamente

relacionados com a responsabilidade social.

2.1 A REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO

Após a II Guerra Mundial, na Europa e na América do Norte, o

desenvolvimento do capitalismo nos anos 80, levou ao avanço do neoliberalismo

como uma reação teórica e política contra ao Estado intervencionista e de bem-estar

(ANDERSON, 1995).

Diante da crise generalizada das economias de mercado, o remédio parecia

ser claro: manter o Estado enxuto e no controle do dinheiro, mas econômico em

todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A Inglaterra em 1985 com o

governo conservador de Tatcher, foi o primeiro país de capitalismo avançado a por

em prática o programa neoliberal que desmontou os direitos sociais e o poder dos

sindicatos em negociar, introduzindo o livre mercado para restringir o controle

público sobre a vida econômica (PAOLI, 2005). Algo similar aconteceu nos Estados

Unidos, com a chegada de Reagan (1981-1988) à presidência e na Alemanha logo

após, quando Khol, em 1982, derrotou o regime social liberal. Posteriormente quase

todos os países da Europa também viraram à direita. Na América Latina o mesmo

Page 16: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

16

ocorreu, inicialmente o Chile sob a ditadura de Pinochet, seguidos do México,

Argentina, Peru e Bolívia (ANDERSON, 1995).

Sendo assim, relata Sader e Gentili (1995), na contramão do Estado de bem-

estar social, aplicava-se a privatização dos serviços de saúde, do sistema

educacional e da diminuição da proteção social ao trabalho e consequentemente o

incremento da desigualdade de crescimento econômico.

A exemplo de outros países, no Brasil, a conjuntura inflacionária e a crise da

dívida favoreceram as propostas neoliberais. Ao longo dos anos 80, a economia

brasileira passou sucessivas de crises econômicas, com a imposição da hegemonia

do capital financeiro que finalmente desembocou no neoliberalismo iniciado no

governo Collor de Mello (1990), continuado no governo de Fernando Henrique

(1994-2002) e no Governo de Lula da Silva a partir de 2003, que mesmo tendo

preservado grandes empresas estatais, continuou a política de privatizações no

setor de serviços públicos.

Na visão de Paoli (2005), o processo neoliberal visa à desregulamentação

estatal do mercado, cujo funcionamento livre de limitações públicas aprofunda e

sedimenta os mecanismos de exclusão social e política presentes na história da

modernização do país.

Apesar do seu fracasso em reativar economicamente o capitalismo ao

fomentar a especulação financeira, o neoliberalismo divulga triunfos sociais e

ideológicos. Apresenta um modelo hegemônico global como nunca antes havia sido

apresentado, por sua abrangência e sua pretensão transformadora das relações

sociais (SADER; GENTILI, 1995). Por outro lado, estes autores enfatizam o risco

que esta doutrina representa à democracia social e aos direitos básicos da cidadania

devido ao encolhimento do espaço público da sociedade. Funções anteriormente do

Estado, tais como a educação, a saúde, a segurança social e serviços passaram a

ser adquiríveis seguindo as regras do mercado.

Consequentemente, alguns setores da sociedade civil empenhados em

promover a causa social se mobilizam e então, as organizações não governamentais

(ONGS) se proliferam. Na década de 70 no Brasil, segundo Paoli (2005), a

Page 17: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

17

expressão ONG1 se referia, principalmente, às organizações de cooperação

internacional, formada por igrejas (católica e protestante) e agências internacionais

que tinham como objetivo ajudar as organizações e os movimentos sociais nos

países do sul, com o intuito de consolidarem a democracia financiando atividades

focadas na politização, conscientização e formação política.

A partir de 1980, ocorre uma explosão de ONGs com um foco diferenciado, já

não mais comprometido com os movimentos políticos sociais, mas com interesse

geral da sociedade. Conforme relata Kavinski (2009), as ONGs passaram a

despertar o interesse de muitas pessoas antes não ligadas as “causas sociais”,

constituindo-se inclusive em um novo mercado de trabalho e de oportunidades.

Considerando esse cenário, Pereira e Grau (1999), evidenciam que essas

organizações, por indicar justamente uma terceira forma de propriedade que fica

entre o privado e o estatal, o público-não-estatal sugerem que ‘terceiro setor’ é o

termo mais adequado. Sendo assim, o terceiro setor foi apresentado como a forma

encontrada pela sociedade civil para preencher a lacuna deixada pelo Estado, no

atendimento das novas demandas sociais que foram sendo incorporadas e que

conferiu às ONGs o status de parceiras na prestação de serviços sociais, tanto junto

ao governo, quanto com as empresas privadas. Para estes mesmos autores, a

desresponsabilização estatal das respostas às sequelas da “questão social” é

compensada pela ampliação de sistemas privados: mercantis (empresariais,

lucrativos) e filantrópico-voluntários (do chamado “terceiro setor”).

Neste mesmo sentido, segundo Carvalho (2009), ao se multiplicarem e

apontarem na direção da colaboração entre a sociedade e o Estado, as ONGs

sugerem otimismo ao apontarem na direção da colaboração entre sociedade e

Estado.

Desde os anos 80, pode-se dizer que o número de ONGs vem se

multiplicando a cada ano, e juntamente com essas organizações, as empresas estão

também aumentando as suas ações relacionadas à Responsabilidade social.

1 Conforme explica Coutinho (2003), o termo Organizações não governamentais (ONG), é utilizado desde 1940, pela ONU, para designar diferentes entidades executoras de projetos humanitários ou de interesse público e posteriormente ganham papel consultivo em várias agências e fundos das Nações Unidas.

Page 18: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

18

2.2 AS ORIGENS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

Paralelamente à evolução das políticas públicas dos Estados, é possível

encontrar antigos relatos históricos, que descrevem políticas socialmente

responsáveis por parte das empresas.

No Brasil, historicamente a filantropia e a assistência não fazem parte da

cultura empresarial. Segundo Rico (2004), até o início do processo de

industrialização e mesmo a partir dele, as ações sociais eram heterogêneas,

pontuais, dependentes e tuteladas pelo Estado. Inexistiam ações assistenciais

sistemáticas aos cidadãos de baixa renda a partir de medidas tomadas pelo Estado

que se limitava a reconhecer as ações assistenciais praticadas pelas irmandades,

atribuindo um papel diferenciado à Igreja.

Como conseqüência de uma série de eventos sociais e políticos, em 1980

surgiram os movimentos em torno da ‘RSE, pois se percebeu que a democracia

política não resolveria os problemas econômicos mais sérios. Sendo assim,

conforme já mencionado acima, após a ditadura sugiram as organizações não

governamentais (ONGs), para desenvolver atividades de interesse público que ao se

multiplicar buscam a colaboração entre a sociedade e o Estado (CARVALHO, 2009).

Segundo relata Tinoco (2001), a Câmera Americana de Comércio de São

Paulo, em 1982, instituiu Prêmio ECO-Empresa e Comunidade, com a finalidade de

reconhecer e divulgar esforços realizados por empresas que desenvolvessem

projetos sociais para a promoção da cidadania em cinco categorias: cultura,

educação, participação comunitária, educação ambiental e saúde. Posteriormente

em 1986, a Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES),

formada por empresários de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul,

iniciaram debates, eventos e atividades, em níveis nacionais e internacionais, sobre a

‘RSE.

Kavinski (2009) relata que diversos dispositivos centrados nos direitos

sociais, inexistentes até então passaram a ser garantidos com a criação da nova

Carta Constitucional do país elaborada e aprovada em 1988, quatro anos após o

fortalecimento da sociedade civil devido ao movimento “Diretas Já” que defendia o

direito ao voto direto para escolha presidencial. Nesta conjuntura, o envolvimento

popular e de organizações da sociedade civil em busca da ética resultaram em

Page 19: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

19

1992 no impeachment do presidente Collor, demonstrando os paradigmas do

processo de reestruturação social brasileira. No mesmo ano, a Conferência Rio 92

despertou as discussão ambiental para a agenda mundial (REIS, 2007).

Ainda segundo esse autor, em 1993, a RSE ganha visibilidade no meio

empresarial com a Campanha Nacional “Ação da Cidadania contra a Miséria e pela

Vida” comandada por do sociólogo Herbert de Souza – Betinho; e apoiada pelo

movimento PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) aproximação dos

empresários com as ações sociais. Ele também lançou um modelo de balanço social

e, em parceria com a Gazeta Mercantil, criou o selo do Balanço Social estimulando

as empresas a divulgarem seus resultados na participação em projetos sociais.

No ano seguinte, o empresário Oded Grajew fundou o Instituto Ethos de

Empresas e Responsabilidade Social com o objetivo de criar uma ponte entre os

empresários e as causas sociais e disseminar a prática da RSE por meio de

publicações, experiências, programas e eventos para os interessados na temática.

Kramer (2005) ressalta que este trabalho refletiu rapidamente nas empresas e no

ano seguinte a adesão ao movimento social já foi relatada por 68 empresas através

de relatórios de balanço social no Brasil.

No curso da história, a ênfase nas questões sociais e ambientais influenciou o

comportamento do cidadão brasileiro e houve uma crescente articulação dos

movimentos sociais que serviu de base para a criação do Fórum Social Mundial,

realizado anualmente desde 2001. Tais acontecimentos provocaram uma série de

mudanças no mundo empresarial e várias entidades foram criadas para lidar com

temas sociais, direitos humanos e sustentabilidade ambiental, incentivando o

desenvolvimento comunitário e social, difundindo os conceitos de RSE.

2.3 CONCEITOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

O conceito de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) difundido no

mundo acadêmico e empresarial é amplo e complexo. Diferentes autores propõem

inúmeras definições enfatizando aspectos legais, éticos, sócias e ambientais,

visando um objetivo comum: a melhora da qualidade de vida das pessoas em seu

entorno e a sua continuidade.

Page 20: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

20

De acordo com Ashley (2002), a RSE é o compromisso da organização para

com a sociedade, expresso por meio de atitudes que afetem positivamente a

sociedade. Nesse sentido a empresa é concebida como ator social capacitado a

assumir o desafio de articular estrategicamente e desempenho econômico com

princípios fundamentalmente éticos e morais e têm consciência de suas interações

na sociedade.

Sob este prisma, o Instituto Ethos (2003), aponta que a RSE relaciona-se

diretamente com a forma de gestão que se define pela relação ética, transparente e

solidária da empresa com seu público e pelo estabelecimento de metas empresariais

compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando

recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade

e promovendo a redução da desigualdade social.

A RSE concretiza-se então, segundo Camargo et al. (2001) por meio das

atitudes, comportamentos e práticas positivas e construtivas das empresas para a

comunidade, que contribuem para concretizar o bem comum e elevar a qualidade de

vida, por meio de ações que supram suas necessidades. Da mesma forma, Manica

(2005), refere-se à RSE ao modo como as empresas, a sociedade e o Estado se

comportam em suas relações recíprocas considerando os padrões de ética,

moralidade, transparência e altruísmo que permeiam a conduta dos atores sociais.

Complementando estas definições, segundo Melo Neto e Froes (2001), uma

empresa socialmente responsável é aquela que investe no bem-estar dos

funcionários e dependentes e num ambiente de trabalho saudável e transparente,

além de preservar o meio ambiente e investir em ações sociais. Para estes autores a

RSE refere-se aos relacionamentos que a instituição tem além dos seus

stakeholders¹, visto que envolve comunidade, meio ambiente e desenvolvimento

comunitário em todo o seu contexto onde se encontra inserido, formando uma

grande teia.

Neste mesmo sentido, Ponchirolli (2008), considera que a RSE está

diretamente ligada ao tipo de relacionamento entre a empresa e seus interlocutores

e dependem das políticas, valores, cultura e visão estratégica da empresa. Esta

ação coletiva estratégica poderá fomentar a cidadania e obter legitimidade entre os

diferentes públicos.

Page 21: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

21

As condições e interesses dos stakeholders, considerados atores sociais

estão sintetizados, no quadro 01, a seguir:

QUADRO 01 - CONDIÇÕES E INTERESSES DOS STAKEHOLDERS

Stakeholders Condição de interesse e expectativas Acionistas Preservação e multiplicação do investimento Clientes consumidores Aquisição de produtos e serviços confiáveis

Governos Geração de empregos e impostos, apoio a programas sociais, econômicos e ambientais

Empregados Disposição de salários e condições de trabalho Organizações não governamentais

Preservação e socialização de recursos sociais, ambientais, e econômicos

Comunidades locais Fomento à economia, ao lazer e a cultura local, estímulos à qualidade de vida. Fornecedores Geração de pedidos de fornecimento Mídia Informações à sociedade2 Concorrência Disseminação de tecnologia, ampliação do mercado consumidor.

FONTE: Mota (2008), a partir dos fundamentos teóricos de Kotler (2000)3

Considerando a amplitude do conceito de RSE, Carroll e Buchholtz (2000,

p.33), desdobram RSE em um conjunto de quatro responsabilidades que devem ser

atendidas pelas empresas. Segundo estas autoras, RSE é efetiva quando todas

estas dimensões são satisfeitas. Ao iniciar pela obrigatoriedade e chegando à

responsabilidade assumida por vontade e escolha própria, são elas:

- Responsabilidade econômica – é a base para todas as outras e trata da

sustentabilidade e viabilidade do negócio, porque uma empresa que não

gera lucro não consegue manter-se;

- Responsabilidade legal – empresas devem ser responsáveis pela adequação

de suas ações de responsabilidade; refere-se ao estrito cumprimento às

leis, pois, uma empresa que não respeita as leis, pode gerar prejuízos aos

stakeholders;

- Responsabilidade ética – traduz-se às escolhas organizacionais que exige da

empresa e dos seus funcionários que ajam de acordo com os princípios

éticos vigentes na cultura social onde está inserida; levando-a a atuar num

patamar acima mínimo requerido por lei, no que se se refere ao

2 Stakeholders : corresponde à expressão em inglês que se pode traduzir por: todos que mantêm, sustentam a atividade da empresa e são por ela afetados. 3 KOTLER, Philip. Administração de Marketing. 10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000.

Page 22: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

22

atendimento dos interesses coletivos. Não é um envolvimento exigido, nem

esperado, mas desejado pela sociedade;

- Responsabilidade filantrópico-discricionária – a empresa aporta,

voluntariamente, recursos humanos, materiais e financeiros para a melhoria

das condições sociais coletivas das empresas.

FIGURA 01 - A PÍRÂMDE DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

Sobrevivência, crescimentoResponsabilidade Econômica

Responsabilidade Legal

ResponsabilidadeÉtica

Resp.Discricionária

Ações voluntárias deextensão à comunidade

Comportamento segundoPrincípios éticos e morais

Obedecer e cumprir leis

Sobrevivência, crescimentoResponsabilidade Econômica

Responsabilidade Legal

ResponsabilidadeÉtica

Resp.Discricionária

Ações voluntárias deextensão à comunidade

Comportamento segundoPrincípios éticos e morais

Obedecer e cumprir leis

FONTE: Adaptado de Carroll e Buchholtz (2000, p.33)

Para estas mesmas autoras, as tensões empresariais que surgem quando se

procura conciliar estes níveis acontecem predominantemente entre os níveis legal,

ético e econômico, devido à possibilidade de sacrificar os resultados econômicos.

Neste contexto, a RSE associa-se a um conjunto de políticas, práticas, rotinas e

programas gerenciais que perpassam todos os níveis e operações do negócio e que

facilitam e estimulam o diálogo e a participação permanente com os stakeholders, de

modo a corresponder com as expectativas dos mesmos.

Em todas estas definições percebe-se uma interação entre os diversos

agentes sociais, abarcando os aspectos econômicos, como vêm acontecendo

classicamente na administração e também relações de confiança e normas éticas

(ASHLEY, 2002). Uma responsabilidade ética, consciente e solidária, à luz de Hans

Jonas.

2.4 A VISÃO DE HANS JONAS: O PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE

Page 23: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

23

A evolução da ciência e da tecnologia, impulsionadas pela atividade

econômica, está causando movimentos e efeitos sobre a natureza e a qualidade de

vida que exigem uma reflexão sobre as bases éticas do comportamento humano.

Neste sentido, Hans Jonas (2006) elabora uma teoria atual e futura em busca

um novo comportamento ético, que inclua em suas preocupações as relações entre

os seres humanos e a natureza, pois considera o homem como fator causal no

complexo sistema das coisas e mostra a interdependência entre o homem e o extra-

humano. Para ele, o futuro da humanidade está condicionado ao futuro da natureza

e somente com uma conduta ética que responsabilize a todos pode viabilizar este

processo.

O Princípio da Responsabilidade de Hans Jonas foi concebido tendo como

premissa ética a relação homem e natureza e as mudanças conseqüentes da ação

humana tecnologicamente potencializada, que devido ao abuso do domínio do

homem sobre a natureza podem causar sua destruição. Sendo assim, a humanidade

de posse de um poder até então inexistente, necessitaria de uma ética que

norteasse seus atos, não somente no plano individual, mas principalmente no âmbito

coletivo e político, pois são as ações que produzem efeitos e possuem abrangência

espaço temporal.

Diante desta complexidade, Jonas (2006) sugere que o escopo da ética deve

se alargar e incluir em suas preocupações as relações entre os seres humanos e o

mundo não humano, envolvendo os animais e ate mesmo os artefatos tecnológicos.

Segundo o autor, nenhuma ética anterior levou em consideração a condição global

da vida humana, o futuro distante e a existência da espécie diante dos avanços

tecnológicos. No passado, existia uma perspectiva em curto prazo, do pequeno

alcance das ações e consequentemente a ética estava mais relacionada com o

presente, enquanto atualmente demanda a consciência das ações do presente para

os reflexos futuros.

A nova ética do Principio da Responsabilidade de Hans Jonas contempla a

natureza e as pessoas, pois, para ele as consequências futuras para a natureza

dependem diretamente das ações presentes dos homens. Seus fundamentos,

baseados na heurística do temor na qual a prudência e a responsabilidade assumem

importante papel nas tomadas de decisões, conduz a um agir diferenciado e

Page 24: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

24

consciente sobre o que fazer e ao que renunciar diante de um futuro que se

apresenta ameaçado.

Aja de modo a que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autentica e inclua na tua escolha presente a futura integridade do homem como um dos objetos do teu querer (JONAS, 2006, p 48).

Sendo assim, o Princípio da Responsabilidade pede que se preserve a

condição de existência humana e mostra sua vulnerabilidade ante a fragilidade

natural da vida por meio de uma percepção de co-evolução entre o homem e a

natureza. Esta vulnerabilidade, segundo Jonas (2006), demanda que o interesse do

homem se identifique com o dos outros membros vivos da natureza, pois ele

considera que o ser humano como fato causal na natureza das coisas.

Ao considerar responsabilidade de todos à própria existência e a continuidade

da humanidade no planeta, Jonas (2006) aponta os valores éticos e os fins a serem

buscados utilizando os meios não como um fim em si mesmo. Esta proposição ética,

que leva em consideração os dilemas morais trazidos pela tecnologia e suas

consequências no ambiente humano, propõe um imperativo de responsabilidade que

inclua o dever de conservação da Terra. Para ele, a promessa da tecnologia

moderna concebida para a felicidade humana, se converteu em ameaça,

portanto busca despertar a atenção para o significado ético que a tecnologia

assume devido à importância que esta vem ocupando, pois a humanidade é levada

constantemente a acreditar que a vocação dos homens se encontra no contínuo

progresso, buscando uma superação permanente sobre si mesmo.

No que se refere ao progresso científico, Jonas (2006) ressalta a importância

das pesquisas e da fragmentação do conhecimento e afirma que seguir adiante nos

desafios do conhecimento é um dever supremo que merece o apoio de todos, pois

se trata de progresso real e de caráter desejável.

Outro aspecto relevante do Princípio da Responsabilidade é a independência

da idéia de direito e de reciprocidade. Ou seja, não se pode esperar algo em troca

por respeitar e preservar o que ainda não existe. Essa eliminação da reciprocidade

da ética de futuro, proposta por Jonas (2006), reflete uma característica fundamental

do conceito desejado para o termo responsabilidade, principalmente quando usado

com a determinação de Responsabilidade Social.

Page 25: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

25

Jonas (2006) refere-se também a responsabilidade assumida pelo homem

político, que ambiciona o poder espontaneamente e busca assumir para si a

responsabilidade. Mesmo sendo uma responsabilidade de livre escolha,

diferentemente da responsabilidade parental, que tem como ponto comum o dever

da continuidade incondicional, cabe ao homem público, que assumiu

espontaneamente esta responsabilidade, garantir uma governabilidade futura

contribuindo de alguma forma com o desenvolvimento sustentável e tratar os

assuntos sob sua tutela como uma relação parental. Desta forma, este homem

público estaria contribuindo de alguma forma com o desenvolvimento

sustentável e em busca da sustentabilidade (SILVA, 2007).

A análise deste princípio, segundo Mota (2008) auxilia na compreensão do

conceito de Responsabilidade Social, pois ao levar em consideração a relação de

poder no comportamento das pessoas na sociedade. Pode-se afirmar que existe um

compromisso com o bem-estar dos outros, um sentido de coletividade que está

inserido na responsabilidade de todos, que também deveria determinar a maneira de

agir das empresas. Neste contexto, as ações de RSE tornam-se uma obrigação

moral para com a sociedade, uma vez que o poder causal neste caso é ainda maior

e torna-se possível aproximar a ideia de Jonas com o conceito de sustentabilidade,

passando pela esfera pública e privada, na busca por um desenvolvimento que

permita a continuidade digna no planeta, tanto dos seres humanos quanto de toda

biodiversidade (MOTA, 2008).

O termo responsabilidade social pode ser discutido, de acordo com a ética de

futuro de Hans Jonas as premissas básicas que resultam na convergência da

Responsabilidade Social que pode ser efetivada pelas organizações empresariais,

conforme descrito por Mota (2008, p.70):

- Continuidade da humanidade – Ações que não coloquem em risco o futuro do

ser humano ou de sua existência digna e que colaborem com o bem estar

geral;

- Extinção da reciprocidade – Realizar ações sem esperar retorno financeiro a

curto prazo;

- Relação parental do homem público – A responsabilidade assumida deve ser

tratada como uma responsabilidade natural, garantindo a continuidade da

Page 26: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

26

coisa pública para a posteridade; com consciência do seu poder de

influência;

- Zelo pelas crianças como responsabilidade fundamental – As ações de

Responsabilidade Social devem proteger fundamentalmente a existência

das crianças;

- Ética de preservação da natureza – Ações que compreendam que a

continuidade da natureza é a continuidade do homem.

Em suma, tendo como base estes princípios evidenciados por Jonas, torna-se

possível ampliar o conceito de responsabilidade para responsabilidade social.

Seguindo estes critérios, a responsabilidade social representa a ética por meio da

consciência da importância da preservação da natureza e do meio ambiente, do zelo

ao ser humano, da solidariedade e consequentemente o compromisso moral que

leva às ações a buscar a posteridade.

Conforme ressalta Ponchirolli (2008), Hans Jonas tem como objetivo

fundamentar a ética visando às futuras gerações, pois acima da gratidão, está o

poder tecnológico que abriga efeitos remotos, cumulativos e uma dimensão

ameaçadora e perigosa. Sob este prisma, a questão da RSE respaldada nos

valores éticos e morais estão alinhadas com os Princípios da Responsabilidade de

Hans Jonas.

2.5 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL

O conceito da ética aplicada aos negócios é resumido por Ashley (2006) em dois

sentidos. O sentido positivo considera responsabilidade ética as atividades práticas,

políticas e comportamentos esperados enquanto o sentido negativo considera os

comportamentos proibidos por membros da sociedade, apesar de não serem

codificados em leis. Estas leis envolvem uma série de normas, padrões ou

expectativas de comportamento para atender àquilo que os diversos públicos

(stakeholders) com os quais a empresa se relaciona consideram legitimo, correto,

justo ou de acordo com seus direitos morais ou expectativas.

Desta maneira, a linha teórica que associa à ética enquanto princípio

normativo para a RSE conclui que as organizações terão de aprender a equacionar

a necessidade de obter lucros, obedecer às leis, ter um comportamento ético e

Page 27: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

27

envolver-se em alguma forma de filantropia para com as comunidades em que se

inserem. Além disso, mudanças, como nas formas que são concebidos e

comercializados os produtos e serviços, trazem consigo novas questões éticas com

que as organizações têm de aprender a lidar – principalmente porque cada vez mais,

as novas tecnologias e oportunidades comerciais e empresariais abertas para a

globalização tendem a levar todas as organizações a abraçar padrões globais de

operação (CARROL; BUCHHOLTZ, 2000).

Complementando esta idéia, Srour (2000 p.29) menciona que a ética

empresarial implica na compreensão dos valores da moral predominante na

empresa, pois os padrões culturais e organizacionais se diferenciam nas empresas.

Para ele, a ética no campo empresarial costuma ser definida como a forma pela qual

normas morais e pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos da empresa, pois

induz os funcionários à busca pela eficiência e melhoria dos processos.

A importância da ética na RSE também é enfatizada por Rico (2004) ao

definí-la como uma forma de conduzir as ações das organizações que vêm

buscando assumir uma gestão socialmente responsável nos negócios, pautada em

valores éticos que visem integrar todos os protagonistas de suas relações: clientes,

fornecedores, consumidores, comunidade local, governo (público externo) e direção.

Seguindo esta linha de raciocínio, de acordo com Sertek (2006) à medida que

o homem conhece as coisas que está em seu entorno, dá-se conta de que os

demais seres também têm necessidades. Desta forma, sua conduta vê-se afetada

por duas chamadas distintas da natureza: uma interna (a voz das suas próprias

necessidades) e outra externa (a voz das coisas que o rodeiam).

Concomitantemente, Ponchirolli (2008, p.38) considera a ética importante no

universo organizacional que depende de homens de caráter bem formado, livres,

inteligentes, competentes e eficazes.

Em suma, o comportamento ético desenvolve o espírito de profissionalismo, a

consciência profissional e as virtudes que tornam melhores as pessoas que as

possuem e auxilia na formação de cidadãos capazes de exercerem seus direitos e

deveres.

2.6 CIDADANIA

Page 28: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

28

A definição de cidadania, conforme relatado por Manzini-Corvre (1995),

consta na Carta de Direitos da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1948 e

desenvolveu-se a partir das cartas de Direito dos Estados Unidos (1776) e da

Revolução Francesa (1798). Nestes documentos, a concepção de cidadania passa

pela igualdade de todos os homens perante a lei, sem discriminação de raça, credo

ou cor. E ainda: a todos cabe o domínio sobre o seu corpo e a sua vida, o acesso a

um salário condizente para desenvolver a própria vida, o direito á educação, à

saúde, à habitação, ao lazer; ter direitos e deveres, ser súdito e ser soberano.

Para detalhar este conceito, esta mesma autora classifica a cidadania em

termos de direitos cíveis, políticos e sociais (MANZINI-CORVRE, 1995, p.11-15):

- direitos civis – dizem respeito basicamente ao direito de dispor do próprio

corpo, locomoção, segurança, etc.

- direitos sociais – dizem respeito ao atendimento das necessidades humanas

básicas. São todos aqueles que devem repor a força de trabalho,

sustentando o corpo humano – alimentação, habitação, saúde, educação,

etc.

- direitos políticos – dizem respeito à deliberação do homem sobre sua vida, ao

direito de ter livre expressão de pensamento e prática política, religiosa.

Em suma, esses três conjuntos de direitos não podem ser desvinculados, pois

sua efetiva realização de direito de uma vida digna, no pleno sentido, depende de

sua relação recíproca, pois se trata de um direito que precisa ser construído

coletivamente.

Segundo Carvalho (2009), no Brasil, a cidadania foi entendida e vivida

historicamente de maneira precária, com a base da pirâmide dos direitos invertida.

Os direitos sociais vieram antes dos direitos civis e políticos. A cidadania foi (e ainda

é), entendida como um manancial de direitos, como se isto bastasse ao ser humano

de natureza ávida por conhecer e fazer, de forma ativa. Para ele, a cidadania não

está pronta, necessita de um constante trabalho reflexivo e ativo de ser-cidadão.

Desde a década de 1980 o conceito de cidadania, de acordo com Paoli

(2005), ocupa o pensamento social e político brasileiro e sua relevância se dá aos

níveis de exclusão social e a passagem do governo autoritário para uma democracia

ampliada. Para ela, a noção de cidadania, faz a distinção entre o espaço de origem

Page 29: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

29

da ação, o mundo empresarial, o espaço da política e sociabilidade que cria, ou seja,

a ampliação ou anulação da consciência e prática de direitos de cidadania para a

sociedade.

Sendo assim, para Demo (2002) é fundamental atentar para o risco sempre

presente de reduzir o cidadão a mero beneficiário. Não sendo possível ao Estado

prover todas as condições para que isto ocorra, a sociedade precisa contribuir

investindo na cidadania dos menos favorecidos como facilitador e motivador. A

cidadania assistida, complementa Demo (2002), é como regra, problemática, porque

tende a definir a pessoa como beneficiário; não como cidadã, a revelia de discursos

alternativos. É efeito, não causa. Consequentemente, para alcançar a emancipação,

faz-se necessário trabalhar a autonomia das pessoas, por meio da educação.

Ainda segundo esse autor, a educação é a política social mais próxima da

gestação do sujeito capaz da própria história enquanto cidadão emancipado, pois

motiva o saber pensar e o aprender, que levam à consciência crítica e à autocrítica.

Desta forma, os hábitos de convivência social e de exercício da cidadania podem ser

estimulados e fazem parte do processo educativo. Nesta dialética contraditória da

ajuda: ninguém se emancipa – em situação comum – sem ajuda; mas emancipar-se

incluiu sobre tudo não depender de ajuda.

Diante deste contexto, Demo (2002), considera que se estabelecem duas

vertentes: atende-se muito precariamente as pessoas que necessitam de assistência

de modo permanente e transformam-se facilmente situações provisórias em

definitivas, implantando dependência irreversível. Portanto é mais importante saber

dispensar a assistência do que dela depender, a não ser quando indispensável.

A assistência social, ainda considerando as ideias de Demo (2002) não é a

política social central mais importante, paradigmática, mas simplesmente política

social com objetivo próprio, plenamente justificado em si mesmo. Os auxílios podem

ser muito decisivos na vida das pessoas em alguns momentos, não trazem

emancipação. E muito mais importante saber dispensar a assistência do que dela

depender, a não ser quando indispensável.

Sob este prisma, Paoli (2005) relaciona a RSE com a noção de cidadania e

direitos e a indissocialidade entre bem público e bem comum. Segundo esta mesma

autora,

Page 30: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

30

em um duplo movimento para fora de si mesmo, a empresa-cidadã realiza eficientemente sua beneficência localizada e produz, para o espaço público da opinião e para o espaço privado de seus pares, a perspectiva de uma presença ampliada, legitima, do próprio poder social do capital (PAOLI, 2005, p.407).

Concomitantemente, de acordo com Ponchirolli (2008), o exercício da

cidadania empresarial, pressupõe uma atuação eficaz da empresa com todos

aqueles que são afetados por sua atividade, sejam diretos ou indiretos, possuindo

um alto grau de comprometimento com todos seus colaboradores internos e

externos.

Percebe-se então o potencial inovador da mobilização empresarial chamando

seus pares à responsabilidade para com o contexto no qual desenvolvem negócios e

nesse movimento a empresa redefine o sentido e o modo de operar da velha

filantropia aproximando-a da noção de cidadania. Usando os recursos técnicos do

trabalho social (captação de recursos, cooperação e informação) a empresa entra no

espaço não-mercantil (pela introdução da ideia de responsabilidade).

Assim, para Paoli (2005) tanto a cidadania quanto a solidariedade são

demandadas e a ideia de responsabilidade social partilhada está disseminada entre

cidadãos, organizações, governo e empresariado. Desta forma, a vontade de se

engajar ativamente na solução dos problemas sociais, desperta a cidadania

corporativa e reflete nas empresas que buscam definir adequadamente sua missão.

Mesmo se já houve um avanço na construção da cidadania no país, esta

autora destaca o desconforto que ainda persiste da imensa incompletude, pois os

progressos são inegáveis, mas não escondem, contudo, o longo caminho que ainda

falta percorrer.

2.7 DA FILANTROPIA PARA A RESPONSABILIDADE

A atuação social das empresas brasileiras, de acordo com Reis (2007), ainda

está muito focada em ações de filantropia, revelando um caráter assistencialista,

paternalista e emergencial, visando minimizar a situação de miséria e exclusão social.

Desta forma, mesmo se cumprindo importante função social, corre o risco de

também contribuir para a reprodução da situação social vigente, sem representar

ações emancipatórias. Sob este prisma, Rico (2004), evidencia que a dependência

Page 31: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

31

estabelecida entre quem detém o poder sobre os serviços sociais e os usuários

envolvem uma relação de dominação e uma prática clientelista.

Com esta argumentação, para Demo (2002), a assistência é um modo

provisório para atender as pessoas que sofrem de vulnerabilidade intermitente ou

ocasional, pois se volta para a sobrevivência e tem como finalidade recuperar as

condições de autonomia, tão logo seja possível; não de instituir uma situação

definitiva de dependência. Para ele, a assistência de modo permanente, deve ser

aplicada somente para os segmentos que não podem se auto-sustentar pois não é

compatível com a emancipação.

Apesar das ações filantrópicas serem embriões da RSE, estas não podem ser

consideradas como tal, devido a ausência de consciência social ampla e de uma

noção de dever cívico. Autores como Melo Neto e Froes (2001), consideram ações

filantrópicas das empresas apenas as formas mais estruturadas de cidadania

corporativa. Para eles, a postura assistencialista da filantropia diferencia-se da RSE

por ser considerada como prestação de um auxílio material ou financeiro para atender

uma problemática imediata ou possibilitar que projetos sociais de interesse público

possam ser iniciados por meio da doação de recursos.

De acordo com Paoli (2005), é ilustrativo acompanhar a evolução dos nomes

e objetivos dados ao ato de doação empresarial: da filantropia à responsabilidade, e

desta ao investimento social. Para esta autora, a filantropia solidária cria uma

consciência de cidadania entre o empresariado o que significa consciência

humanitária no contexto no qual atuam. Por meio desta filantropia organizada,

complemente a autora, o empresariado adapta-se com vantagens às formas de lucro

empresarial e deste modo propicia a iniciativa individual e privada contra a

ineficiência burocrática do Estado, afirmando sua disponibilidade civil em contribuir;

no âmbito privado e mercantil para colaborar na integração social e profissional das

parcelas menos favorecidas da população.

Desta forma, a filantropia também faz grande bem para a empresa

reforçando sua imagem institucional, agregando valor à marca e consequentemente

melhorando seus negócios. A ação social não parece fazer parte das operações de

lucro; mas afirma o poder social sobre a comunidade em que atua, sobre as relações

de trabalho que contrata e sobre as causas que abraça (PAOLI, 2005).

Page 32: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

32

O conjunto da RSE, segundo esse autor, integra diversas formas de ação,

como doações ocasionais, apoio a projetos do governo ou organizações diversas da

sociedade civil e desenvolvimento de projetos elaborados por institutos e fundações

criadas pelas próprias empresas. São ações sociais propostas pelos programas de

solidariedade social empresarial, com o objetivo de cuidar do social e criar uma

consciência cidadã da classe empresarial através de ações de filantropia privada.

Para este fim, são utilizados os recursos técnicos do trabalho social (captação de

recursos, cooperação e informação) e a empresa entra no espaço não-mercantil (pela

introdução da ideia de responsabilidade).

Para Melo Neto e Froes (2001), a prática da RSE busca estimular o

desenvolvimento do cidadão e fomentar a cidadania individual e coletiva. Sua ética

social é centrada no dever cívico, enquanto que a filantropia tem no dever moral sua

ética absoluta. As diferenças existentes entre filantropia e RSE são ressaltadas no

quadro abaixo elaborado por estes autores.

QUADRO 02 - AS DIFERENÇAS ENTRE FILANTROPIA E RSE

FILANTROPIA RSE Ação individual Ação coletiva Fomento de caridade Fomento a cidadania Base assistencialista Base estratégica Restrita a empresários filantrópicos e abnegados Extensiva a todos Prescinde de gerenciamentos Demanda gerenciamento Decisão individual Decisão consensual

FONTE: Melo e Froes (2001, p. 28)

Desta forma, quando se relacionam com o tema de RSE, as ações individuais

são conceituadas como assistencialismo ou filantropia; porém, quando transferidas

de um “eu” individual para um “todo imaginário, conceitua-se como RSE, porque são

estabelecidos valores e são ações coletivas, que resultam em melhores resultados

(SILVA, 2007).

Seguindo esta linha de raciocínio, as ações de filantropia são razões

humanitárias sem compromisso ou correlação a longo prazo e a responsabilidade

social é mais ampla, pois está relacionada com um modelo diferenciado de gestão

da empresa por meio de parcerias e incentivos fiscais. Consequentemente, a

caridade e paternalismo não são características do conceito de responsabilidade

social.

Page 33: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

33

2.8 BENEFICIÁRIOS DIRETOS E INDIRETOS DA RSE

Ao adotar uma postura socialmente responsável de forma consistente, além

dos benefícios para a sociedade, as empresas podem acrescentar ganhos de

imagem corporativa; a popularidade de seus dirigentes, melhor relacionamento com

o governo, maior disposição dos fornecedores, distribuidores e parceiros, maiores

vantagens competitivas, maior fidelidade dos clientes e a possibilidade de conquistar

novos clientes.

De acordo com Ponchirolli (2008), a imagem corporativa é um ativo intangível,

amplamente valorizado e de difícil imitação pelos concorrentes. Ao investir em

projetos sociais, a empresa exercita a cidadania empresarial e consolida sua

imagem de empresa-cidadã. Neste sentido, Ahsley (2002) também considera que a

RSE agrega valor à marca, fortalece os vínculos comerciais e sociais da empresa,

gera valor e longevidade aos negócios. É uma estratégia empresarial que se vale de

uma ação no campo social gerando resultados tanto para a empresa, quanto para a

sociedade.

A motivação para os funcionários que satisfeitos retribuem com produtividade

na empresa e em alguns casos ainda colaboram nos programas de RSE da

organização é outro fator relevante, há também a possibilidade de aprendizado e

desenvolvimento pessoal, destaca Silva (2007).

As enormes carências e desigualdades existentes no país, aliadas às

deficiências crônicas do Estado no atendimento das demandas sociais, conferem

maior relevância à RSE e desafiam as corporações a atingir um patamar mais alto

de desempenho ao participarem diretamente de ações comunitárias na região em

que estão presentes.

O Instituto Ethos (2007) cita alguns dos resultados que podem ser obtidos das

ações de RSE:

QUADRO 03 - RESULTADOS DAS AÇÕES DE RSE

BENEFICIOS PARA A EMPRESA BENEFICIOS PARA A SOCIEDADE • Acesso a capitais e a mercados • Ampliação oportunidades de negócio • Redução de riscos do negócio • Maior longevidade • Valorização da imagem institucional

• Preservação dos recursos ambientais • Redução das desigualdades sociais • Promoção da diversidade • Preservação da cultura local • Geração de valor para todos os públicos

Page 34: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

34

• Reconhecimento do consumidor • Atração e retenção de talentos

• Contribuição para uma sociedade justa e sustentável

FONTE: Instituto Ethos (2007)

Como se pode perceber, incorporar políticas e práticas de responsabilidade

social é considerado vantajoso. Neste cenário, aponta-se como a RSE esse conjunto

de metas sociais, com o foco na busca na melhoria da qualidade de vida da

população.

Porém nem sempre a mensuração dessas ações é fácil de estabelecer, pois

trazem à tona uma reflexão crítica sobre a ambiguidade das relações entre o setor

público e privado.

2.9 AMBIGUIDADES E AMBIVALENCIAS

Desta forma, diante da ambiguidade com que se constrói e se modifica

perante as organizações empresariais, as ações sociais e os welfares privados nas

empresas podem ser uma experiência social e humanitária relevante diante das

prementes necessidades e carências da população pobre brasileira (PAOLI, 2005).

Mesmo se muitos benefícios são facilmente reconhecidos, para Paoli (2005),

p.404-409) existe uma dificuldade de avaliar o potencial e os resultados das novas

formas de ação, conhecimento e associação das ações de responsabilidade

empresarial sobre as questões sociais e desta forma destacam-se quatro

importantes fatores sobre a ambiguidade política da RSE:

a) Filantropia empresarial cidadã

O sentido da ‘filantropia empresarial cidadã’ e de sua auto-investida

responsabilidade social no Brasil está indiretamente ligada à substituição da ideia de

deliberação participativa ampliada sobre os bens públicos pela noção de gestão

eficaz de recursos, cuja distribuição é decidida aleatória e privadamente. Neste

sentido são práticas que desmancham a referência pública e privada para reduzir as

injustiças sociais. Inicialmente ligada aos movimentos sociais, continuou crescendo

por intermédio da ampliação e especialização das funções das ONGS para o mesmo

fim comum – assistência a pobreza ou resgate da cidadania. Estas organizações

apresentam propostas de instrumentalização da política na busca da legitimidade

Page 35: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

35

governamental para políticas excludentes, convivência pacifica entre a

responsabilidade social e a introdução da lógica mercantil na eficácia que devem

demonstrar.

b) O silêncio das ações de investimento social

Usando os recursos técnicos do trabalho social (captação de recursos,

cooperação e informação) a empresa entra no espaço não-mercantil (pela

introdução da idéia de responsabilidade), aproximando-se da realidade das

comunidades onde esta instalada quanto à vida de seus trabalhadores. A empresa

cidadã realiza eficientemente sua beneficência localizada e produz para o espaço

público a perspectiva de uma presença ampliada, legitima, do próprio poder social

do capital. Segundo Paoli (2005), esta ampliação da presença social e imagem

virtuosa das empresas refletem no aumento de seu poder social e

consequentemente os serviços sociais eficientes mudam a forma dos bens materiais

específicos que as empresas produzem.

c) O resultado da ação de solidariedade aos trabalhadores da própria empresa

Um conjunto de relações mercantis e não mercantis e procedimentos alheios

à produtividade dos trabalhos acabam sendo facilitadores para soluções de

problemas internos antes mais difíceis e a redução de incertezas dos trabalhadores.

A visibilidade dos funcionários receptores dos programas sociais ou mobilizados

para o trabalho social nas comunidades contrasta com a figura constituída pelo

vinculo fundamental do contrato que define sua relação com a empresa, a do

trabalhador assalariado.

d) A filantropia empresarial vista por dois ângulos importantes e relacionados.

Estas experiências são apresentadas ao poder público como prova da

ineficiência das políticas públicas estatais, sobre o argumento de estas criarem

cidadãos acomodados no contexto da miséria. Consequentemente, a

responsabilização filantrópica privada aparece como a corporificação da

modernidade civil colocada com ênfase no campo do mercado e na participação

ampla e voluntária de milhões de pessoas que realiza o milagre da cidadania da

doação.

Page 36: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

36

Diante das necessidades e carências da população, a ação social empresarial

e os welfares privados nas empresas demonstram ser uma experiência social

relevante. Porém, diante da ambiguidade, com que se constrói e se modifica este

espaço inovador, deve-se estar atento ao risco de transformar cidadãos designados

como sujeitos de direitos em receptores de favores e generosidade ao invés de

cidadãos emancipados. Por esse motivo, faz-se relevante uma análise sobre a

aplicabilidade do conceito de Responsabilidade Social Empresarial.

2.10 A APLICABILIDADE DO CONCEITO DE RSE

A empresa necessita estabelecer diretrizes para conseguir implementar ações

de responsabilidade social. Neste sentido, para se ter uma gestão consciente e

apoiada nos conceitos de responsabilidade social atende, de acordo com Sertek

(2006) e Melo Neto e Froes (2001) as seguintes dimensões:

- interna – que se refere aos colaboradores e seus dependentes podendo se

dar em áreas como educação, salários e benefícios, assistência médica,

social, odontológica, dentre outras. Tem como foco as atividades regulares

da empresa, saúde e segurança dos funcionários e qualidade do ambiente

de trabalho.

- externa – que se refere aos outros envolvidos como a comunidade local e aos

consumidores em questões como preservação do meio ambiente, impactos

socioeconômico, político e cultural na sociedade, segurança e qualidade

dos produtos.

Melo Neto e Froes (2001, p.80-81), vão além citando o terceiro estágio é o

exercício da gestão social cidadã que engloba questões mais amplas relativas ao

bem estar social, envolvimento da empresa na comunidade e sua atuação no campo

da cidadania, por meio de ações e projetos.

Quanto à forma de atuação da RSE, estes autores consideram duas formas:

através dos projetos sociais e das ações comunitárias. Os projetos são divididos em

quatro partes estratégicas: foco, áreas de atuação, instrumentos e tipo de retorno.

As ações comunitárias são feitas por meio de outras entidades que recebem repasse

de recursos. É uma atividade indireta sobre a comunidade, gerida por terceiros

através de parcerias.

Page 37: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

37

A fim de viabilizar os projetos e aproximar as ações de RSE, faz-se

necessária a consolidação de parcerias e a colaboração entre o primeiro, segundo e

terceiro setor da sociedade:

1) Setor público – governo, que pode ser definido como nacional, estadual, e

local;

2) Setor privado – que pode ser entendido como as empresas, associações

de negócios, comércio e indústrias. As empresas deixam de ser apenas

entidades econômicas, com preocupações financeiras e legais e passam a

ser responsáveis em relação a todo seu meio de inserção;

3) Sociedade civil – que pode ser entendida como os muitos tipos de

Organizações Não Governamentais (ONGs), Organizações Civis de

Interesse Público (OCIPs), associações sem fins lucrativos, associações

de classe ou de pesquisa e as pessoas que formam comunidades de

interesse.

Desta maneira os esforços realizados podem ser evidenciados como um

espaço único na qual a soma dos resultados representa mais do que uma simples

soma de ações isoladas, mas a materialização de novos espaços sociais, mistos por

natureza, onde os vários agentes da sociedade desempenham papeis qualitativos

de forma cooperada.

FIGURA 02 - NOVOS ESPAÇOS SOCIAIS

FONTE: Adaptado de Mota (2008, p.7)

De acordo com Mota (2008), este novo espaço social gerado pelas ações de

RSE representa uma esfera de realização que supera a essência capitalista e reflete

a coexistência de dois espaços nas organizações empresariais:

SETOR PRIVADO

NOVOS ESPAÇOS SOCIAIS

GOVERNO

SOCIEDADE CIVIL

Page 38: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

38

a) Espaço de Produção – constituído para a geração de capital, com foco no

lucro e nos mercados e suas inter-relações, onde pode-se incluir o espaço

social tradicional, com consumidores e fornecedores

b) Espaço Social Colaborativo – gerado pela criação e desenvolvimento de

ações de RSE, com foco nas comunidades de entorno, nos consumidores,

nos fornecedores e outros públicos de interesse, onde os elementos da

sociedade impactada tornam-se agentes de colaboração, podendo

influenciar a organização emissora.

Entende-se desta maneira que quanto mais ações de RSE uma empresa

desenvolver, mais espaços sociais colaborativos terá com a sociedade onde a

organização está inserida e amplitude deste espaço dependerá da abrangência do

impacto das ações.

Os projetos desenvolvidos em conjunto, de acordo com Rico (2004), agregam

experiências inovadoras para a elaboração das políticas sociais a partir do momento

que a sociedade civil colabora com o Estado compartilhando experiências e

introduzindo de forma negociada alternativas que busquem a soluções para os

problemas.

Sendo assim, as ações de RSE, conforme mencionado acima são a soma de

diversos esforços, do governo, sociedade civil e setor privado por meio de incentivos

fiscais, recursos públicos e privados para realização de projetos.

2.11 CAPTAÇÃO DE RECURSOS E RELATORIOS

Diante desta dinâmica de integração entre os setores, a maioria das

empresas que realiza projetos sociais não aplica apenas recursos financeiros

próprios, mas são captadoras de recursos externos. Seguindo o modelo de aliança

com outras empresas, governo e/ou organismos internacionais, utilizam-se das leis

de incentivo dos governos federal e estaduais.

2.11.1 Incentivos Fiscais

Conforme relata Lewis (2009), a sociedade civil, iniciativa privada e o Poder

Público estão de certa forma revendo os seus respectivos papéis, fomentando-se,

Page 39: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

39

assim, um discurso em prol de uma atuação social especialmente por parte da

empresa. Desta forma, a implantação de ações de RSE no âmbito das empresas

vem sendo fomentada por meio do aproveitamento dos incentivos fiscais criados

pelos governos federal, estadual e municipal visando motivar a participação das

empresas no serviço publico e nos assuntos relativos à sociedade em geral.

Esta maneira de fomentar as ações sociais pelas empresas consiste em

diferentes possibilidades das empresas serem beneficiadas, pois existem leis que

oferecem benefícios fiscais às empresas que atuam na área social e o investimento

social privado, desde que planejado e com acompanhamento técnico (MANICA,

2005).

Os incentivos fiscais4 visam patrocinar as empresas um duplo benefício: o

retorno financeiro, diante da renúncia fiscal e o desenvolvimento de projetos sociais,

culturais e esportivos que acarretará no desenvolvimento da empresa beneficiária e,

conseqüentemente, do País. São exemplos de incentivos fiscais (IDIS, 2009):

a) Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente (FUNCRIANÇA) – criado

através de uma lei federal com finalidade de angariar fundos a serem

revertidos em beneficio da criança e do adolescente. É constituído por

doações de pessoas físicas, jurídicas ou do próprio Poder Público. O valor

das doações ao FUNCRIANÇA é dedutível do Imposto de Renda devido

mensal, estimado, trimestral ou anual, calculado na alíquota de 15%,

limitado a 1% deste, desde que efetuado no próprio período-base.

b) Lei Rouanet de Incentivo à cultura – Implantada em 1991, Trata-se da lei

que instituiu o Programa Nacional de Apoio à Cultura – PRONAC, visando

à captação de recursos para investimentos em projetos de caráter cultural.

Pessoas físicas e jurídicas tributadas pelo lucro real poderão destinar a

aplicação de recursos em projetos culturais previamente aprovados pelo

Ministério da Cultura, podendo deduzir os valores do Imposto de Renda

devido. Esta lei permite às empresas patrocinadoras um abatimento de

até 4% no imposto de renda e para as pessoas físicas. Em 2008 fossem

4 Assume, geralmente, a forma de isenção parcial ou total de um imposto, tendo por objetivo incrementar um determinado segmento produtivo, transferir recursos para o desenvolvimento de regiões carentes ou melhorar a distribuição de renda do país. Fonte: Tesouro Nacional.

Page 40: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

40

investidos em cultura, segundo o Minc (Ministério da Cultura) mais de um

bilhão.

c) Lei do Audiovisual – incentivo fiscal federal, tem por objetivo assegurar as

condições de equilíbrio e competitividade no mercado para a obra

audiovisual, bem como para estimular sua produção, distribuição, exibição

e divulgação no Brasil e no exterior, colaborando ainda para preservar a

memória da música brasileira. Pessoas físicas que apresentarem a

declaração completa e as jurídicas tributadas pelo lucro real poderão

deduzir do Imposto de Renda devido à íntegra do valor destinado às estas

atividades, dentro do exercício social, em projetos aprovados pela Agência

Nacional do Cinema. Entretanto, as pessoas jurídicas gozam de até 3%

(três por cento) do Imposto de Renda devido calculado à alíquota de 15%.

d) Doações às OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse

Público) – doações realizadas às entidades, sem fins lucrativos,

certificadas como OSCIP. A s pessoas jurídicas de direito privado, sem

fins lucrativos, cujo objetivo social tenha, dentre outras, a promoção de

finalidades de assistência social; da cultura, defesa e conservação do

patrimônio histórico e artístico; gratuita da educação; gratuita da saúde; do

voluntariado; do desenvolvimento econômico e social e combate a

pobreza; e a defesa preservação e conservação do meio ambiente. As

pessoas jurídicas tributadas pelo lucro real podem contabilizar a

contribuição como despesa dedutível para fins de Imposto de Renda e

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a empresa doadora

faça a sua contribuição até o limite de 2% do seu resultado operacional,

antes de computada a sua própria dedução. Para as instituições de ensino

e pesquisa a doação fique limitada a até 1,5% (um e meio por cento) do

lucro operacional da empresa doadora.

e) Doações às Entidades Civis sem Fins Lucrativos – caracterizam-se como

investimentos voluntários da pessoa jurídica diretamente à entidade civil

sem fins lucrativos, que atuem na área de saúde, educação e/ou

assistência social. Até 1995, as contribuições e doações a estas entidades

eram dedutíveis como despesa para fins de Imposto de renda onde a

Page 41: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

41

dedutibilidade das contribuições a entidades civis sem fins lucrativos ficam

limitadas a 2% do lucro

Os benefícios são acumulativos e por meio dos mecanismos de incentivo

fiscal, a empresa pode abater até 6% do seu Imposto de Renda, utilizando de todas

as Leis de Incentivo disponíveis, sendo: 4% Lei Rouanet, 1% FUMCAD e 1% Lei de

Incentivo ao Esporte. Todo este controle e prestação de contas para o governo e

sociedade, é realizado por meio de relatórios específicos.

2.11.2 Relatórios e Balanço Social

A gestão dos incentivos fiscais das empresas demanda controles rigorosos

dos projetos por eles patrocinados para que seja mantida a confiabilidade dos

stakeholders e da sociedade geral (RICO, 2004). Para que isto ocorra de forma

consistente, além do acompanhamento interno realizado pelas empresas, foram

desenvolvidos relatórios específicos que reúnem informações sobre as atividades

econômicas, ambientais e sociais emitidos periodicamente pelas empresas e

denominados balanços sociais.

Diante da necessidade das empresas dedicarem sua atenção não somente às

normas técnicas e legais, como também de elaborar um instrumento de informações

voltado para a sociedade e de sua preocupação com o meio ambiente, surge na

década de 1970 o chamado “Balanço Social”,

Sob a ótica dos autores Melo Neto e Froes (2001), o conceito de Balanço

Social é o instrumento de avaliação do desempenho da empresa no campo da

cidadania empresarial, pois demonstra todas as ações sociais desenvolvidas pela

empresa naquele período determinado, representando o seu nível de compromisso

com a busca de soluções para os problemas sociais do país. Neste instrumento

são relatas as ações sociais de natureza interna e externas, sua especificidade e o

valor gasto, complementa Ponchirolli (2008).

O Balanço Social na sua concepção mais ampla envolve a demonstração da

interação da empresa com os elementos que a cercam ou que contribuem para sua

existência, incluindo o meio ambiente natural, a comunidade e economia local e

recursos humanos. “Nessa perspectiva, surge o Balanço Social, demonstração que

Page 42: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

42

tem como objetivo genérico suprir as necessidades de apresentação de informações

de caráter social e ecológico” (KROETZ, 2000, p.79).

Neste mesmo sentido, é definido por Tinoco (2001, p.29) como um

instrumento de gestão e de informação que visa reportar da forma transparente

informações econômicas financeiras e sociais do desempenho das atividades, aos

mais diferenciados usuários da informação, para diversos fins. Os analistas de

mercado, investidores e órgãos de financiamento utilizam este documento nas

avaliações de riscos das empresas.

Em 1977, a França cria a Lei do Balanço Social, que contempla os direitos

humanos no ambiente de trabalhe e segundo relata Tinoco (2001), desde 1979 é o

primeiro e único país do mundo a ter uma lei que obriga as empresas que tenham

mais de 300 funcionários a elaborar e publicar este relatório e atualmente a

Alemanha, Holanda, Bélgica, Espanha, Inglaterra e Portugal também exigem este

documento.

No Brasil, as empresas publicam sem obrigatoriedade legal, informações

sobre o desempenho econômico-social das mesmas. Em 1984 o primeiro Balanço

Social é publicado por uma empresa de fertilizantes: a circulação começa dentro da

empresa e depois é divulgada aos clientes. Porém foi a partir de 1997 que a ideia

deste relatório tornou-se mais popular por meio do sociólogo Herbert de Souza, o

Betinho, que, juntamente com o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e

Econômicas (IBASE), idealizou uma campanha nacional pela divulgação do Balanço

Social por meio de encontros e discussões entre associações de empresas, entre as

quais a Associação Brasileira das Empresas de Capital Aberto (ABRASCA), o

Instituto de Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) e a Comissão de

Valores Mobiliários (CVM). Seu objetivo era instituir um documento para demonstrar

quantitativa e qualitativamente o papel desempenhado pelas empresas brasileiras

no plano social, tanto internamente quanto na sua atuação na comunidade

(TINOCO, 2001).

Todos os modelos de Balanço Social visam definir as informações mínimas a

serem publicadas para dar transparência às atividades da empresa. Algumas

organizações produzem relatórios com formato próprio, geralmente definido por sua

área de comunicação, os quais não contêm as informações exigidas por nenhum

dos modelos padrões, outros seguem os modelos sugeridos. Existem vários

Page 43: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

43

modelos de relatórios internacionais e nacionais. Entre os internacionais, pode-se

citar o GRI Global Reporting Iniciative que surgiu em 1997 com o objetivo de relatar

as atividades sustentáveis das empresas.

São exemplos de Balanços Sociais utilizados no Brasil (RICO, 2004) :

- SA 8000 – originária da norma de gestão criada pela Social Accountability

International (SAI), começou a ser aplicada em 1998 e está presente em 59

países. Sua definição ampla mensura as relações da empresa com os

trabalhadores e com a comunidade, bem como o tratamento dispensado ao

meio ambiente. Desta maneira, especifica os requisitos de

responsabilidade social para possibilitar a uma empresa desenvolver,

manter e executar políticas e procedimentos relativos ao relacionamento

com fornecedores, subcontratado, ações de reparação e corretivas.

- Modelo do Instituto Ethos, baseado nas diretrizes do GRI foi adaptado ao

cenário brasileiro em 2001. Por meio de um relato detalhado dos princípios

e das ações da organização, sugere um detalhamento maior do contexto

das tomadas de decisão em relação aos problemas encontrados e aos

resultados obtidos. Esse modelo e as diretrizes do GRI são modelos

analíticos, aos quais pode ser incorporado o modelo do Ibase, geralmente

como anexo.

Conforme mencionado por Sertek (2006), as aplicações das normas

internacionais que visam à proteção do meio ambiente, a promoção do conceito de

desenvolvimento sustentável e a publicação do balanço social das empresas

constituem as contribuições significativas das iniciativas globais referentes à

responsabilidade social.

Mesmo sem obrigatoriedade legal, a obrigatoriedade social vem prevalecendo

e quase todas as grandes empresas multinacionais e nacionais emitem relatórios de

RSE, nos quais expressam sua maturidade empresarial por meio dos seus

compromissos em relação ao ambiente, aos empregados e à comunidade.

A empresa do setor automotivo, pesquisada neste estudo utiliza-se tanto dos

incentivos fiscais quanto dos relatórios de Balanço Social para relatar suas ações.

Page 44: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

44

3 METODOLOGIA

Neste capítulo, apresentam-se os procedimentos metodológicos escolhidos

para realização deste estudo.

Para Yin (2001 p.32), um estudo de caso é uma investigação empírica que

investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real,

especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão

claramente definidos.

Este mesmo autor considera possível reunir as fontes de evidência do estudo

em três grupos principais: observação, entrevistas e documentos. A coleta de dados

pode ser feita a partir de diferentes fontes de evidências qualitativas e comportar

com dados quantitativos para esclarecer algum aspecto da questão que esta sendo

investigada. Quando existe esta técnica, geralmente o tratamento estatístico não e

sofisticado.

A ampla utilização do estudo de caso em organizações atesta de certa forma

a pertinência e relevância dessa modalidade de investigação para o avanço do

conhecimento científico na área de Administração (KLEINUBING; MELLO; SILVA,

2006). Ainda segundo estes autores, é um tipo de pesquisa especialmente

adequado quando se quer focar problemas práticos, decorrentes das situações

individuais e sociais presentes nas atividades, nos procedimentos e nas interações

cotidianas.

Ao centrar a atenção numa instância particular; mas estendendo o olhar para

as múltiplas dimensões ali envolvidas, o estudo de caso pode se constituir numa rica

fonte de informações para medidas de natureza prática e decisões políticas trazendo

contribuições tanto para a pesquisa acadêmica quanto para a vida organizacional.

Este estudo de caso visa entender a correlação entre a concepção teórica da

RSE realizada nos capítulos anteriores, e a visão empírica, que avalia a forma de

conceituar RSE de um grupo de integrantes da empresa e de um grupo especifico

da comunidade do entorno da empresa, enquanto beneficiários de um dos projetos

da empresa.

Page 45: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

45

As informações relativas à empresa, que foi estudada e às suas ações de

RSE são provenientes do Relatório de Gestão 2009 do Premio Nacional da

Qualidade, do Relatório Socioambiental 2007 e outras fontes internas e externas.

Para Gil (2002), o estudo de campo focaliza uma comunidade, que não é

necessariamente geográfica, já que pode ser uma comunidade de trabalho, de

estudo, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana.

3.1 ETAPAS DO ESTUDO

A pesquisa realizou-se em três etapas, e teve como população dois públicos

distintos.

Primeira etapa: investigação teórica. Gil (2002) considera que a coleta de

dados de um estudo é baseada em diversas fontes de evidências. O momento

inicial da coleta de dados na pesquisa deu-se em material bibliográfico, em fontes

secundárias, documentos de caráter editorial e trabalhos sobre o tema. Para Lakatos

e Marconi (2001), as fontes secundárias tratam de bibliografias já publicadas sobre

determinado assunto, de modo a colocar o pesquisador em contato com problemas,

desafios e informações já conhecidas da área, bem como a exploração de novas

áreas onde os problemas eventualmente não se cristalizaram suficientemente.

Mattar (2005) complementa ao mencionar que a pesquisa através do conhecimento

dos trabalhos já feitos por outros, via levantamentos bibliográficos, é uma das formas

mais rápidas e econômicas de amadurecer ou aprofundar um problema.

Também foram analisados os Relatórios Socioambientais e de Gestão

disponibilizados pela empresa nos quais se buscou a caracterização das ações de

SER da Volvo, visando entender se os mesmos possuem as características

identificadas na pesquisa bibliográfica. Como afirma Mattar (2005), os arquivos da

própria empresa possuem informações valiosas sobre sua realidade que além de

terem custos desprezíveis, podem colaborar para a pesquisa em pauta, e também

para o delineamento de novas pesquisas.

Para Gil (2002, p.46), o desenvolvimento da pesquisa documental apresenta

uma série de vantagens, considerando-se que os documentos constituem fonte rica

e estável de dados, baixo custo, exigindo do autor apenas disponibilidade de tempo,

e a não exigência de contato com sujeitos de pesquisa, o que pode trazer vantagens

Page 46: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

46

em alguns casos. Porém, Yin (2001), alerta que o uso da documentação deve ser

cuidadoso, pois eles não podem ser aceitos como registros literais e precisos dos

eventos ocorridos e seu uso deve ser planejado para que sirva para corroborar e

aumentar as evidencia vindas de outras fontes.

Segunda etapa: caracterizou-se por uma pesquisa de campo, a partir da

aplicação de dois questionários. Utilizaram-se dois questionários (Apêndices 1 e 2)

elaborados pelo pesquisador, contendo questões fechadas e abertas.

O questionário é uma técnica de investigação composta por um número mais

ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por

objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, interesses, sentimentos, expectativas,

situações vivenciadas, etc (GIL, 2002).

Depois de redigido um questionário, o mesmo deve ser testado antes de sua

aplicação definitiva, através da sua aplicação a um grupo pequeno de pessoas.

Segundo Gil (2002), o pré-teste não visa capturar qualquer aspecto que constitui os

objetivos do levantamento. Ele está centrado na avaliação do instrumento, no caso o

questionário, visando garantir que meçam exatamente aquilo que pretendem medir.

Lakatos e Marconi (2001) consideram que o pré-teste serve também para verificar se

o questionário apresenta fidedignidade, validade e operatividade. Estas autoras

também salientam que as questões abertas possibilitam uma investigação mais

profunda e precisa.

O primeiro questionário, respondido pelos funcionários da empresa (Apêndice

01), foi distribuído aleatoriamente via email e/ou impresso a 300 funcionários. Seu

objetivo foi verificar o entendimento dos funcionários em relação ao conceito de

Responsabilidade Social, seu nível de envolvimento e opinião a respeito dos

projetos existentes com questões sociais fora do ambiente profissional. Dos 300

funcionários que receberam o questionário, 147 retornaram-no preenchido. O

segundo questionário (Apêndice 02) foi aplicado aos participantes de um dos

projetos desenvolvidos pela empresa junto à comunidade do seu entorno – O

Projeto Capoeira. As entrevistas com os participantes (pais e alunos) do Projeto

Capoeira foram realizadas durante as aulas, em dois sábados consecutivos. O

objetivo principal destas entrevistas era compreender o nível de satisfação e os

benefícios que este projeto proporciona aos seus parti cantes, moradores do entorno

da empresa.

Page 47: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

47

Terceira etapa: O processo de análise dos dados que, de acordo com Gil

(2002) envolve alguns procedimentos como codificação das respostas, tabulação

dos dados e cálculos estatísticos, e buscam respostas às investigações, ocorrem em

três fases distintas para melhor interpretação e analise dos resultados.

1) Ordenação dos dados bibliográficos pesquisados. A importância dos

documentos dá-se em função da corroboração e ampliação das

evidências oriundas de diferentes fontes, levando-se em consideração

a dificuldades de acesso à documentação interna das organizações

(YIN, 2001).

2) Transcrição eletrônica e tabulação das informações provenientes dos

questionários, composta da classificação dos dados em relação aos

pontos comuns e divergências.

3) Análise dos dados obtidos e correlação com a fundamentação teórica

abordada no trabalho de pesquisa.

Desta forma, o estudo de caso visa contribuir tanto para a pesquisa

acadêmica quanto para a vida organizacional, pois permite a análise em múltiplas

dimensões.

Page 48: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

48

4 CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA E DO LOCAL DA APLICAÇÃO DO PROJETO

Conforme mencionado anteriormente, devido à relevância deste tema e a

importância da representatividade da indústria automotiva no contexto empresarial,

este estudo focaliza este segmento, especificamente a Volvo do Brasil, situada na

Região Metropolitana de Curitiba.

4.1 PANORAMA DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL

A indústria automotiva chega ao Brasil na segunda metade do século XX,

sendo que as principais montadoras, cujas matrizes estavam nos países do

capitalismo central, se instalaram na região do ABC paulista, concentrando toda a

indústria metalúrgica e de transporte (NEVES, 2003),

Segundo Vigevani e Veiga (1997), as razões que conduziram à implantação

da indústria automotiva no Brasil no âmbito do Plano de Metas do governo Juscelino

Kubitschek, a partir de 1956, devem ser entendida à luz da política econômica

anterior. A política de estímulo ao crescimento industrial manifestou-se, inicialmente,

a partir da II Guerra Mundial e continuou durante os anos 50 com a promoção do

desenvolvimento industrial com base na política de substituição de importações. A

política do governo Kubitschek consistiu na limitação crescente das importações

diretas, obrigando as empresas a produzir no mercado doméstico. No caso do setor

automotivo, o governo exigiu inicialmente um índice de nacionalização mínimo de

40% em veículos comerciais leves e de 50% para automóveis de passeio, índices

que deveriam ser elevados a quase 100% em poucos anos.

Por ser considerado fundamental para a promoção do desenvolvimento do

país, com o plano de metas o Governo Federal e as empresas estatais realizaram

investimentos em infra-estrutura desenvolvendo projetos voltados para a instalação,

ampliação e modernização industrial para os quais foram oferecidos vários tipos de

incentivos creditícios e cambiais (SANTOS, 2007). O Plano atuava em cinco setores:

energia, transportes, alimentação, indústrias de base e educação sendo que cada

Page 49: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

49

um dos setores contemplados desdobrava-se numa série determinada de metas

específicas, num total de trinta metas.

A instalação dessas grandes empresas automotivas, inicialmente na região do

ABC paulista, com alto progresso e uso intensivo de capital, criou uma nova

demanda por determinado tipo de mão de obra e despertou a mobilidade da

população rural em busca de oportunidades. As consequências socioeconômicas e

ambientais, positivas e negativas, tornaram-se inevitáveis. Atualmente o Brasil tem

um papel de destaque na produção mundial de veículos e o Estado do Paraná

representa um terço da produção nacional, sendo a região de maior crescimento

automotivo (MEZA5, 2003, apud NEVES, 2003).

Posteriormente, segundo Santos (2007) devido o crescimento do mercado

interno e a decisão da indústria de realizar investimentos em novas unidades de

produção, foi criado o regime automotivo para viabilizar a inclusão dos estados

menos desenvolvidos nestes projetos. Este regime, além de abranger incentivos

fiscais para a implantação de empresas no país, ofereceu também incentivos

diferenciados para as empresas que decidissem instalar unidades em regiões menos

desenvolvidas. Em dezembro de 1995 foi instituído um amplo conjunto de incentivos

federais, estaduais e municipais para a atração de novas plantas montadoras, e

visava retomar o investimento da indústria e ganhar competitividade para aumento

das exportações.

Diante deste cenário, vários estados brasileiros receberam grandes

investimentos de empresas do setor, consolidando o processo de descentralização

do setor da Região Metropolitana de São Paulo. Dentre eles, o Estado do Paraná,

que teve início na década de 70 com a instalação da montadora de caminhões e

ônibus Volvo e a fábrica de máquinas e implementos agrícolas Case New Holland –

CNH. Este processo contribuiu para a transferência de tecnologia, consolidação da

Cidade Industrial de Curitiba como um espaço tecnológico com infra-estrutura

adequada e todas as condições de congregar um considerável potencial tecnológico

e humano e posteriormente a formação do pólo automotivo na Região Metropolitana

de Curitiba (TOCACH, 2009).

5 MEZA, M. L.. Trabalho qualificado e competência: um estudo de caso da indústria automotiva paranaense. Curitiba, 2003. Tese (Doutorado) –Programa de Pós- Graduação em Desenvolvimento Econômico-UFPR.

Page 50: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

50

Segundo Neves (2003), estas políticas públicas de incentivo à instalação que

atraíram grandes empresas influenciaram diretamente na economia do Paraná e

proporcionaram a definição de um novo modelo de desenvolvimento regional, que

integrou a economia paranaense à rede de núcleos dinâmicos da economia

brasileira. Este autor ainda destaca que atualmente o Brasil tem um papel de

destaque na produção mundial e o Estado do Paraná representa um terço da

produção nacional, sendo a região de maior crescimento da indústria automobilística

nos pais, como ilustra o quadro 04.

QUADRO 04 - NÚMEROS DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA 2008 Números da Indústria automobilística brasileira 2008

Produtos Automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, tratores, colheitadeiras, outros Empresas 25 Fabricantes de veículos e máquinas agrícolas 500 Fabricantes de autopeças 4.271 Concessionários Emprego 1,5 milhão de pessoas Faturamento US$ 86,5 bilhões Geração de tributos (veículos) 2008 (IPI, ICMS, PIS, Cofins) R$ 39,4 bilhões Relações intesertoriais 200 mil empresas Ranking mundial (veículos) Produção: 6º Mercado interno: 5º Unidades industriais 50 fábricas 36 municípios Capacidade de produção Veículos: 4 milhões/ano Máquinas agrícolas: 105 mil/ano Investimento 1994-2008 US$ 43,3 bilhões Comércio exterior 2008 Exportação: US$ 24,0 bilhoes

Saldo: US$ 2,4 bilhoes Participação no PIB 2008 23,3% Industrial 5,5% Total FONTE: Anfavea (2009)

Afora sua representatividade econômica, a escolha da indústria automotiva,

especificamente a Volvo do Brasil, como objeto desta pesquisa atendeu a outros

Page 51: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

51

critérios: trata-se de uma empresa de referência nacional de um setor historicamente

norteado pela inovação, com uma extensa cadeia produtiva, que compreende

amplas redes de fornecedores e distribuidores.

4.2 A EMPRESA PESQUISADA – VOLVO DO BRASIL

As informações abaixo foram extraídas do Relatório Socioambiental 2008 e

do Relatório de Gestão do Prêmio Nacional de Qualidade 2009, o qual foi

conquistado pela empresa, sendo a primeira vencedora deste segmento.

Fundada na Suécia em 1927, por Assar Gabrielsson e Gustaf Larsson, o

Grupo iniciou suas atividades produzindo automóveis, instituindo qualidade,

segurança e meio ambiente como seus valores fundamentais. Em 1928, foi fabricado

o primeiro caminhão. Ao longo da última década, o Grupo fortaleceu sua atuação no

segmento de caminhões, adquirindo empresas como Renault e Mack (2001) e

Nissan Diesel (2007).

O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a receber os caminhões da

Volvo em 1934. Em 1977, a Volvo do Brasil foi constituída com a instalação da

primeira fábrica brasileira na cidade de Curitiba, Paraná, dando início à criação do

segundo Pólo Automotivo do país.

É uma empresa de capital fechado pertencente a Volvo Trucks Corporation

(VTC), que é parte integrante do Grupo Volvo. O histórico do volume veículos

faturados que compõe o quadro 05, ilustram a evolução da empresa no Brasil que

durante os últimos 30 anos vem produzindo e comercializando caminhões e ônibus

para o mercado interno e externo.

A empresa é composta por 2.420 funcionários (base dezembro 2009), dos

quais o nível de escolaridade esta dividido da seguinte forma: 4% primeiro grau, 58%

segundo grau, 24% terceiro grau e 14% pós-graduados. Complementam este

quadro de funcionários terceiros pertencentes a empresas contratadas,

consideradas fornecedores (base dezembro 2009) e estagiários. A rede de

concessionárias é composta de 12 grupos econômicos, que possuem um total de 82

casas e aproximadamente 1500 empregados.

A missão da empresa: “Ao criar valor para nossos clientes, nós criamos

também valor para os nossos acionistas. Nós usamos o nosso conhecimento para

Page 52: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

52

desenvolver soluções de transporte para clientes exigentes em setores

selecionados, com níveis superiores de qualidade, segurança e respeito ao meio

ambiente. Nós trabalhamos com energia, paixão e respeito pelas pessoas”.

Os valores corporativos da empresa, estabelecidos pelos fundadores em

1927 são a qualidade, a segurança e o respeito ao meio ambiente e constituem os

pilares da Política de Sustentabilidade do Grupo Volvo.

A filosofia da empresa está no documento criado em 1998, denominado “The

Volvo Way”, que sintetiza seus valores, a cultura corporativa, a forma de trabalho e

os objetivos que a empresa pretende alcançar. Traduzido em 11 idiomas é

distribuído para todos os funcionários do Grupo Volvo.

A ética e a transparência são abordadas no Código de Conduta do Grupo

Volvo e no Manual de Conduta aplicável para todas as pessoas da empresa. Este

documento descreve os princípios de negócios, políticas ambientais, direitos

humanos e praticas no local de trabalho e está disponível de forma eletrônica e

impressa, sendo responsabilidade das lideranças sua comunicação.

O Grupo Volvo é signatário desde 2001 do Pacto Global criado pela

Organização das Nações Unidas (ONU) para disseminar princípios relacionados a

quatro áreas: Diretos Humanos, Direitos do Trabalho, Proteção Ambiental e

Anticorrupção. A empresa também visa contribuir para que o Brasil cumpra os

objetivos do Desenvolvimento do Milênio formalizados na Declaração do Milênio.

Esta iniciativa da ONU, conta com o comprometimento de 189 países signatários

para atingir até 2015 condições mínimas para o desenvolvimento sustentável,

consolidado em oito grandes objetivos.

O Grupo Volvo aplica o conceito de desenvolvimento sustentável,

considerando que as três dimensões: desenvolvimento econômico, desenvolvimento

social e gestão ambiental são igualmente importantes e vitais para agregar valor

presente e principalmente futuro.

O desenvolvimento sustentável está integrado às operações diárias do Grupo Volvo. A estratégia de negócios da organização inclui metas econômicas, ambientais e sociais e longo prazo. Leif Johanssn – Presidente e CEO do Grupo Volvo (RELATORIO SOCIOAMBENTAL, 2008).

Na Volvo do Brasil, as práticas são alinhadas com os dez princípios do Pacto

Global, conforme apresentado na quadro 05 .

Page 53: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

53

QUADRO 05 - PRINCÍPIOS DO PACTO GLOBAL E AS PRÁTICAS DA VOLVO DO BRASIL

Pacto Global Práticas da Volvo do Brasil

1. Respeitar e proteger os direitos Humanos

Política de Recursos Humanos, Política de relacionamento com os fornecedores, PVST, Fundação Solidariedade, Apoio ao desenvolvimento de projetos sociais.

2. Impedir violações de direitos humanos

Política de Recursos Humanos, Política de relacionamento com os fornecedores, Apoio ao Programa na Mão Certa.

3. Apoiar a liberdade de associação no trabalho

Política de Recursos Humanos, Código de conduta, Comitê de Ética, Comissão de Fábrica.

4. Abolir o trabalho forçado Política de Recursos Humanos, Política de relacionamento com os fornecedores.

5. Abolir o trabalho infantil Política de Recursos Humanos, Política de relacionamento com os fornecedores.

6. Eliminar a discriminação no ambiente do trabalho

Política de Recursos Humanos, Código de conduta, Comitê de Ética, Ações de Diversidade.

7. Apoiar abordagem preventiva aos desafios ambientais

Sistema de gestão ambiental, Certificação ISO 14000.

8. Promover a responsabilidade ambiental

Centro Volvo Ambiental, Projeto Caravana Ecológica, Campanhas Educacionais internas.

9. Encorajar tecnologias que não agridam o meio ambiente

Infra estrutura industrial com sistemas de produção energeticamente eficientes, desenvolvimento de produtos com alta eficiência de combustíveis e baixas emissões.

10. Combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina

Código de Conduta, Comitê de ética, Política de Recursos Humanos, Política de Relacionamento com Fornecedores.

FONTE: Relatório de Gestão (2009)

Por entender que as práticas de RSE iniciam-se nas comunidades onde está

presente, a Volvo do Brasil apóia projetos sociais e culturais que estejam em sintonia

com os valores essenciais da marca: Qualidade, Segurança e Respeito ao Meio

Ambiente. Os projetos implementados são agrupados por um grande programa,

intitulado Cidadania Volvo, estando os principais sintetizados no Apêndice 3

Com o objetivo de promover uma aproximação com a comunidade vizinha -

Vila São José do Passaúna, traçar seu Mapa Social e subsidiar as ações de

responsabilidade socioambiental no que se refere ao Programa Cidadania Volvo, a

Volvo do Brasil realizou uma pesquisa em 2005, por meio de parceria com o SESI.

Nesta pesquisa foi identificada a necessidade local de atividades

complementares que tirassem as crianças das ruas no contra turno escolar e os

moradores elencaram atividades relacionadas a esporte, artesanato, teatro, dança,

música, pintura e xadrez. Com base nos resultados desta pesquisa foram

elaborados e implementados projetos voltados ao desenvolvimento dessa

comunidade.

Page 54: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

54

Em 2007 foi implantado o Banco de Preocupações e Impactos Sociais,

sistema em que é definido o Agente (causador da preocupação), a Preocupação

Social (qualquer agente relacionado ao produto, processo e instalações da

Companhia que pode gerar um Impacto Social) e é identificado o Impacto Social

(consequência adversa ou benéfica, que resulte de uma Preocupação Social). A

base para o Banco foi a identificação dos impactos sociais, elaborados de acordo

com o Procedimento “Levantamento de Preocupações e Impactos Sociais”, as

demandas da própria Comunidade (pesquisas realizadas em 2005 e 2007) e dos

funcionários. A partir destas informações, são determinados e registrados os

tratamentos das Preocupações Sociais.

Tendo como meta atender os requisitos da AS 8000 e empresa possui dois

grupos de acompanhamento e avaliação do êxito dos projetos sociais que são feitos

por meio do monitoramento de indicadores conforme apresentados no Relatório

Socioambiental, tais como: número de crianças atendidas pela Fundação

Solidariedade, participantes inscritos nos Fóruns do PVST, abrangência geográfica e

número de expectadores do Projeto Caravana Ecológica, investimentos em projetos

culturais e sociais, etc. Para avaliar os projetos da comunidade do entorno, é utilizado

o Formulário de avaliação do grupo de crianças e adolescentes participantes, por

meio do qual, avalia-se a evolução ou involução em aspectos tais como disciplina,

valores, integração, responsabilidade, afetividade, auto-estima.

Os principais projetos de responsabilidade social da empresa antecedem as

leis de incentivos. Os projetos da Fundação Solidariedade (abrigo a crianças e

adolescentes) e Segurança no Trânsito iniciaram antes dos programas de incentivo

e o Projeto Pescar é realizado com recursos próprios. Os demais projetos utilizam as

leis de incentivo.

Algumas instituições também são incentivadas pela Volvo para elaborar

projetos sociais por meio da Lei Rouanet de incentivo à Cultura, com orientações

técnicas e aporte financeiro. Para se ter uma noção de grandeza dos valores

investidos nos projetos acima mencionados, em 2009 foi aplicada para cultura: R$

6.204.844,33 e para o Esporte: R$ 1.551.211,08.

Com estes valores a Volvo está posicionada em 38º lugar em nível nacional e

é a 2ª maior incentivadora cultural do PR. De acordo com o relatório oficial do

Ministério da Cultura, as montadoras de caminhões estão assim posicionadas:

Page 55: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

55

QUADRO 06 - RANKING DAS MONTADORAS 2009 25º Mercedes−Benz do Brasil Ltda.

38º Volvo do Brasil Veículos Ltda 55º Volkswagen do Brasil 118º Scania Latin America Ltda 160º Iveco Latin America Ltda

FONTE: Ministério da Cultura

A comunicação da empresa com seus os stakeholders é realizada por meio

de diversas ferramentas de uso externo e interno, conforme ilustra o quadro 07 a

seguir:

QUADRO 07 - FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO COM STAKEHOLDERS

USO EXTERNO USO INTERNO Relatório Socioambiental Comissão de fábrica Linha direta Volvo Linha Direta Volvo Manuais dos veículos Comitê de ética Manual Ambiental

FONTE: Relatório de Gestão (2009)

Desta forma a Volvo relata suas ações de responsabilidade social e fortalece

seus valores e sua imagem perante seus funcionários, clientes, toda a cadeia

produtiva e sociedade em geral.

Page 56: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

56

5 RESULTADOS DAS PESQUISAS

5.1 RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA COM FUNCIONÁRIOS DA EMPRESA

A fim de verificar o entendimento dos funcionários em relação ao conceito de

Responsabilidade Social, seu grau de envolvimento e opinião a respeito dos projetos

existentes na empresa e o nível de envolvimento com questões sociais, foram

distribuídos aleatoriamente 300 questionários para os funcionários da empresa.

Deste total, 147 retornaram-no preenchido, conforme perfil abaixo ilustrado no

gráfico 01.

GRÁFICO 01 - PERFIL DA AMOSTRA – POR CARGO

PERFIL DA AMOSTRA

46

32

30

24

15

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Cargo administrativo

Cargo Produtivo

Chefia

Estagiários

Terceiros TOTAL - 147

FONTE: A Autora

GRÁFICO 02 - PERFIL DA AMOSTRA: POR IDADE E GÊNERO

PERFIL DA AMOSTRAIdade e gênero

4%

30%

34%

32%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%

até 20

de 21 a 30

de 31 a 40

acima de 40

Masculino - 69%Feminiro - 31%

FONTE: A Autora

Page 57: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

57

A análise da pesquisa com os funcionários revelou que do total de

questionários respondidos, os homens estão em maior número (68%) e a faixa etária

é acima de 30 anos (66%). Em relação aos cargos que os respondentes ocupam a

grande maioria, 46% são de cargos administrativos, seguidos de 32% e 30%, para

cargos produtivos e chefia respectivamente.

GRÁFICO 03 - ENTENDIMENTO DO CONCEITO DE RSE

FONTE: A Autora

Q1. Esta pergunta aberta buscou compreender o entendimento conceitual dos

funcionários em relação à Responsabilidade Social Empresarial.

No resultado geral destacou-se a preocupação com a sociedade, meio

ambiente e a sustentabilidade do negócio e educação. Ao avaliar os destaques por

perfil profissional, não houve discrepâncias relevantes entre as definições.

Para as chefias a comunidade, o meio ambiente e a sustentabilidade dos

negócios são os fatores mais importantes Os funcionários do cargo administrativo

além dos fatores mencionados pelas chefias, consideram também a educação item

Q1. O que você entende como Responsabilidade Social Empresarial?

110

41

18

16

13

11

9

7

4

4

3

2

1

0 20 40 60 80 100 120

Sociedade

Meio ambiente

Negócio

Educação

Qualidade

Respeito

Transparência/Ética/Leis

Cultura

Funcionários

Voluntariado/ONGs

Sustentabilidade

Benefícios

Clientes

Page 58: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

58

relevante. Da mesma forma, os funcionários produtivos, acrescentaram a estes

fatores, a inclusão social. Os funcionários terceirizados destacaram a

sustentabilidade do negócio. No geral percebe-se que o entendimento do conceito é

semelhante para todos.

Notou-se durante a distribuição dos questionários a dificuldade que algumas

pessoas apresentaram para conceituar responsabilidade social devido a

abrangência com a qual o tema vem sendo tratado por todos os meios de

comunicação interna e externa.

GRÁFICO 04 - PARTICIPAÇÃO EM PROJETOS DE RSE DA EMPRESA

Q2. Você participa ou participou de algum projeto de Responsabiliade Social da empresa para qual trabalha?

21

14

10

9

3

2

2

1

1

0 5 10 15 20 25

Fund. Solidariedade

Campanhas

Empreendedorismo

Voluntariado

Palestras

Projeto Pescar

Centro Ambiental

Descarte de resíduos

Caravana EcológicaSim - 63 - 43%Não - 84 - 57%

Pretende - 49 - 58%Talvez - 15 - 18%Não - 20 - 24%

FONTE: A Autora

Q2. Esta questão tinha como objetivo avaliar o grau de envolvimento dos

funcionários com os projetos de responsabilidade social da empresa.

Do total da amostra, 43% participam de algum projeto ou campanha da

empresa. Destes predominam os funcionários com cargos administrativos.

Destacam-se as participações passivas de doações financeiras para a Fundação

Solidariedade, campanhas de arrecadação de agasalhos e brinquedos e o projeto de

Educação e Empreendedorismo realizado em parceria com a ONG. Jr. Achievment.

Percebeu-se que o fato de contribuir financeiramente ou com doações já faz

com que os funcionários sintam-se participantes dos projetos desenvolvidos pela

empresa.

Page 59: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

59

Dentre os funcionários que atualmente não participam dos projetos sociais da

empresas, 58% pretendem participar futuramente. Este resultado demonstra que as

pessoas de maneira geral percebem que juntamente com a empresa têm papel

importante na sociedade e que podem atuar como agentes transformadores.

Q3. A terceira questão tem como objetivo compreender a opinião dos funcionários

quanto aos projetos de RSE em relação ao foco principal da empresa: se

complementares ao negócio ou se devem ser tratados separadamente.

O resultado geral foi equilibrado, pois 50% dos funcionários consideram que

os projetos são complementares e a outra metade considera que dever ser tratados

separadamente. Tanto para as chefias (57%), quanto para os funcionários

administrativos (59%) este tema deve ser tratado separadamente. Percebe-se então

que as questões sociais estão se incorporando ao discurso das empresas enquanto

colaboradoras do processo de desenvolvimento social.

Q.4 A quarta pergunta do questionário busca verificar se os funcionários percebem a

possibilidade de inovar aplicando o conceito de RSE nas atividades departamentais.

Os resultados indicam algumas sugestões de parcerias com fornecedores e

concessionárias, abertura de vagas para a comunidade, ações diretas com os

clientes no momento da entrega dos caminhões e nos contatos em feiras, compras

de brindes institucionais provenientes de ONGs e maior divulgação dos projetos

existentes em todos os contatos com clientes. Porém, a implantação destas

alternativas se mostra distante da realidade do cotidiano dos funcionários que

trabalham com metas de resultados em curto prazo, sem tempo para uma visão

critica e inovadora em temas não relacionados diretamente as suas atividades

profissionais.

Este resultado valida a questão anterior, pois mesmo se por vezes já existe a

intenção de se aplicar o conceito de responsabilidade social nas atividades ligadas

diretamente ao negócio por se parecerem complementares, são tratadas

separadamente.

Page 60: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

60

GRÁFICO 05 - PRINCIPAIS PROJETOS DE RSE DA EMPRESA

Q5. Na sua opinião, quais são os principais projetos de Responsabilidade Social da empresa para qual você trabalha?

76

66

25

16

14

12

11

11

9

7

4

3

2

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Fund Solidariedade

Segurança no Trânsito

Centro Ambiental

Empreendedorismo

Projeto Pescar

Esportes

Controle de emissões

Caravana Ecológica

Na mão certa

Culturais

Descarte de resíduos

Campanhas

Volvo Way

FONTE: A Autora

Q5. Os projetos da empresa que se destacam na opinião dos funcionários são os

mais antigos: a Fundação Solidariedade (abrigo para menores) - 51% e o Programa

de Segurança no Trânsito - 38%. Além destes, foram evidenciados os projetos

ambientais 17% e de educação e empreendedorismo em parceria com a Jr.

Achievement 11%. Notou-se que os demais projetos são pouco conhecidos pelos

funcionários produtivos, terceiros e estagiários. Isto evidencia a baixa divulgação dos

mesmos que não requerem envolvimento direto dos funcionários, diferentemente

dos projetos mais conhecidos.

Page 61: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

61

GRÁFICO 06 - VANTAGENS COMPETITIVAS DAS EMPRESAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS

Q6. Você acredita que empresas socialmente responsáveis apresentam vantagem competitiva que pode influenciar nos seus resultados?

Sim; 83%

Não; 17%

FONTE: A Autora

Q6. A grande maioria dos entrevistados percebe as ações de responsabilidade

social como um diferencial e esta resposta foi exemplificada na questão abaixo, pois

enquanto consumidores estas pessoas dizem estar mais atentas à imagem da

marca dos produtos que compram.

GRÁFICO 07 - INFLUÊNCIA DA IMAGEM DA MARCA NA DECISÃO DE COMPRA

Q7. Ao realizar suas compras pessoais, a imagem da marca do produto desejado influencia sua decisão?

Sim; 62%

Não; 38%

FONTE: A Autora

Q7. As respostas indicam que as pessoas estão passando a relacionar a marca do

produto aos aspectos relacionados à responsabilidade social, tais como trabalho

infantil, trabalho forçado, poluição ambiental, saúde e segurança na decisão de

compra. Consequentemente, este reconhecimento por parte dos consumidores está

Page 62: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

62

fazendo com que as empresas se preocupem em divulgar suas ações sociais para

fortalecerem suas marcas.

GRÁFICO 08 - PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES VOLUNTÁRIAS FORA DO HORÁRIO DE TRABALHO

Q8. Você participa de atividades voluntárias fora do seu horário de trabalho?

Sim; 22%

Não; 78%

Pretende- 59 - 52%Não pretende - 55 - 48%

FONTE: A Autora

Q8. Percebe-se com esta questão que uma parcela reduzida de funcionários que

participam de atividades voluntárias fora do horário de expediente e a maioria destas

atividades está relacionada à igreja. Isto se justifica, uma vez que grande parte dos

funcionários já participa dos projetos promovidos pela própria empresa e evidencia o

seu grau de influencia da cultura da empresa nos funcionários.

De forma geral os principais itens relacionados ao conceito de RSE foram

abordados e os mais citados foram os que a empresa pesquisada realmente

enfatiza. Os maiores e mais antigos projetos sociais da empresa são reconhecidos

como os mais importantes. Estes são também os mais divulgados interna e

externamente e estão relacionados à educação e ao atendimento das necessidades

básicas das pessoas e de seus direitos como cidadãos, pois trata-se da Fundação

Solidariedade que é um conjunto de lares sociais que abrigam crianças e

adolescentes e o Programa de Segurança de Trânsito.

Alguns funcionários mencionaram que os projetos sociais são definidos pela

direção da empresa, sem a possibilidade de participação ou sugestão no

desenvolvimento dos mesmos. Isto se justifica pela não obrigatoriedade de

envolvimento dos funcionários neste tema que não está diretamente ligado as

atividades profissionais para as quais foram contratados.

Page 63: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

63

Os funcionários percebem a empresa como socialmente responsável e

sentem-se beneficiados direta ou indiretamente, tanto por meio de benefícios diretos

ou pela imagem positiva de trabalhem numa empresa reconhecida no mercado.

Constatou-se que os projetos realizados têm como foco a educação, cultura e

esporte e visam à formação de cidadãos emancipados e conscientes de seus

direitos e deveres. As ações são importantes e os resultados são relatados e

acompanhados interna e externamente.

Os principais temas abordados nos projetos estão sendo incorporados nas

praticas de gestão da empresa. Respeito às pessoas e ao meio ambiente, ética e

segurança vem sendo alvos de importantes discussões na empresa. Neste contexto

é importante ressaltar que à medida que os funcionários percebem a empresa como

agente social com alto poder de influencia e transformação, passam a integrar estes

conceitos nas suas atividades profissionais e consequentemente pessoais,

ampliando ainda mais a responsabilidade social da empresa.

Ao comparar a interpretação dos funcionários do conceito de

Responsabilidade Social com todos os projetos sociais implementados pela

empresa, nota-se a sinergia e a consciência de ambas as partes devido à relevância

com a qual o tema vem sento tratado. Este alinhamento pode viabilizar maior

conscientização e participação de todos, mesmo se a pesquisa já relata alto grau de

envolvimento das partes.

Percebe-se ainda que o aporte financeiro, para estes projetos, depende

principalmente de incentivos fiscais e os investimentos da empresa são pequenos se

comparados com o seu potencial, porém relativos se considerarmos que os objetivos

principais da empresa, que não visa assumir o papel do Estado, apenas colaborar.

5.2 RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA COM PARTICIPANTES DO PROJETO CAPOEIRA

O Projeto Capoeira e Cidadania é desenvolvido por meio da Lei Federal de

Incentivo à Cultura e tem como patrocinadora a Volvo do Brasil, localizada na

Cidade Industrial de Curitiba.

Implementado na Associação Viking (associação dos funcionários da empresa)

desde 2005, foi criado após análise do resultado da pesquisa realizada pela Volvo

Page 64: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

64

neste mesmo ano, na comunidade Vila São José do Passaúna, situada nas

proximidades da empresa situada na Cidade Industrial de Curitiba. Tendo como

objetivo definir os projetos que poderiam ser desenvolvidos para atender as

carências da comunidade do entorno, a entrevista com 400 moradores identificou a

necessidade de atividades de contraturno para as crianças participarem e assim não

ficarem na rua. Foram solicitadas atividades como artesanato, teatro, dança,

musica, pintura e xadrez. Os moradores desta região participavam até então apenas

de algumas atividades realizadas pela igreja.

Os participantes do projeto são as crianças e adolescentes desta

comunidade e dependentes de funcionários da Volvo. Como pré-requisito para

participar, é preciso ter bom rendimento escolar e contar com a presença dos pais

em de algumas atividades.

Este projeto Capoeira da Volvo visa estimular a responsabilidade e

motivação, como um instrumento de socialização e cidadania e pretende colaborar

para a formação de crianças e jovens em futuros cidadãos. Enquanto prática

pedagógica, a capoeira é considerada por muitos de seus mestres como uma

filosofia de vida pautada por princípios morais como respeito mútuo, autocontrole,

trabalho em grupo e disciplina que, de maneira diferenciada é incorporada pelos

praticantes.

A Cidade Industrial de Curitiba (CIC) onde se localiza a Volvo foi criada em

1973 a partir do Plano Diretor, numa área de 43 milhões de metros quadrados ou

cerca de 10% da área do município. Em 1991, a CIC surge como o bairro mais

populoso de Curitiba quando atinge 116.001 habitantes, após ter recebido 70.000

novos moradores em numa década. Com essas características surgem diversos

loteamento ou mesmo ocupações irregulares e consequentemente, maior demanda

por serviços e educação.

Mais de 400 alunos já passaram pelo projeto e atualmente são

aproximadamente 70 participantes, estudantes e adultos. O projeto oferece

gratuitamente aos alunos uniformes, lanches e os custos relativos às

apresentações externas e ao batizado de capoeira realizado anualmente.

Page 65: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

65

Com o objetivo de investigar o impacto deste projeto junto à comunidade onde

a empresa está instalada, foram realizadas entrevistas com todos os alunos

presentes nas aulas em dois sábados consecutivos do mês de novembro/09.

GRÁFICO 09 - PERFIL DOS PARTICIPANTES

TOTAL: 36

Estudantes; 29

Pais; 719%

81%

PERFIL DOS PARTICIPANTES

FONTE: A Autora

GRÁFICO 10 - IDADE DOS ALUNOS

IDADE DOS ALUNOS

13

6

4

6

7

0 2 4 6 8 10 12 14

6 A 10

11 A 14

15 A 17

18 a 25

> 25

IDA

DE

QTD DE ALUNOS

19%

36%

17%

11%

17%

FONTE: A Autora

Foram entrevistados 36 alunos, sendo que deste total 7 eram pais e avó de

outros participantes que gostaram do projeto e foram convidados a participar.

Conforme relatado nesta pesquisa, estes alunos estudam em 10 diferentes

escolas da região e isto representa o potencial de crescimento do projeto. Também é

uma demonstração de que esse projeto possui atratividade que vai além do seu

entorno, para moradores que vivem em outros bairros e sentem a mesma carência

de oportunidades.

Page 66: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

66

Predominam os alunos de até 14 anos e a maioria está participando há

apenas um ano do programa, o que sugere certa rotatividade dos alunos. Durante as

entrevistas foi relatado que uma das causas da desistência é a dificuldade de

transporte ou de uma pessoa que acompanhe as crianças para as aulas. Esta

observação também foi relatada nas sugestões para o projeto, quando foi solicitado

transporte. Em contrapartida, nos 2 sábados em que foram realizadas as entrevistas

chovia muito e a sala estava repleta dos alunos que participam assiduamente.

GRÁFICO 11 - DIVULGAÇÃO DO PROJETO

Q1. Como conheceu o projeto?

16

11

9

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Amigos

Escola

Irmãos/Tios 25%

31%

44%

QTD DE ALUNOS

Já indicou?Sim - 25 - 69%Não - 31 -58%

FONTE: A Autora

Q1. Mesmo se no início de cada ano o projeto é divulgado em algumas escolas do

entorno, notou-se que principal divulgação está sendo feita pelos próprios alunos

para seus amigos e familiares. São vários os casos de irmãos, primos, amigos,

vizinhos e pais que vão juntos para as aulas. Esta pesquisa constatou que 69% dos

alunos atuais já indicaram o projeto para alguém por considerá-lo uma oportunidade

de desenvolvimento e socialização importante. Notou-se o elevado interesse da

comunidade em participar de atividades e o encantamento dos adultos com a

empresa que cria oportunidades para a comunidade abrindo espaços.

Page 67: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

67

GRÁFICO 12 - TEMPO DE PARTICIPAÇÃO NO PROJETO

26

3

3

3

1

0 5 10 15 20 25 30

1 ANO

2 ANOS

3 ANOS

4 ANOS

5 ANOS

QTD DE ALUNOS

Q2. Há quanto tempo participa do projeto ?

3%

8%

72%

8%

8%

FONTE: A Autora

Q2. Dos alunos que participam há mais tempo destacam-se os casos de 02 que já

se tornaram instrutores do projeto e 02 que estão cursando Educação Física na

Unicenp incentivados pelo professor. Estes alunos encontraram no Projeto da

Capoeira um direcionamento profissional e oportunidades de desenvolvimento

pessoal, uma vez que eram jovens expostos à marginalidade e com grandes

limitações financeiras.

GRÁFICO 13 - RAZÕES PARA GOSTAR DO PROJETO

.

Q3. O que você mais gosta do projeto?

19

17

10

9

9

4

2

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

Aula/roda

Ambiente

Apresentações

Esporte

Tudo

Organização

Professor

QTD DE ALUNOS

33%20%

18%8%

4%

18%

37%

FONTE: A Autora

Q3. Todos os alunos citaram diversas razões pelas quais gostam e participam do

projeto. Ficou evidenciada a motivação em participar das aulas, da roda de capoeira

e do ambiente repleto de amigos e cumplicidade. A socialização, as apresentações e

a oportunidade de praticar uma atividade esportiva são os principais fatores

destacados. Ao mencionarem que estão satisfeitos com tudo, os alunos enfatizam a

Page 68: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

68

qualidade do trabalho realizado pelo professor e a infra-estrutura oferecida pela

empresa.

GRÁFICO 14 - SUGESTÕES DE MELHORIAS

Q4. Tem alguma sugestão? Qual?

4

8

2

1

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Ampliar o espaço

Fornecer transporte

Controle de faltas

Controle das Notas Sim - 15 - 42%Não - 21 -58%

QTIDADE DE SUGESTOES

FONTE: A Autora

Q4. Todos os participantes estão satisfeitos com o programa e sugerem algumas

ações para que esta oportunidade possa ser oferecida a um maior número de

crianças. As sugestões são relativas ao transporte devido as indisponibilidade de

carro ou pessoa que possa levar as crianças.

Gostariam de um espaço maior para ampliar o número de alunos e sugerem o

controle de faltas e das notas como condição para participar, evitando assim que

algumas vagas não sejam bem aproveitadas.

Ao participar destes projetos os alunos conheceram novos amigos que tem

influenciado nas suas vidas. A atividade física, além de ser reconhecida pelos mais

velhos como importante para a saúde ajudam os mais jovens a vencer a timidez e

elevar a autoconfiança. Os alunos também relataram que se sentem mais alegres.

Page 69: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

69

GRÁFICO 15 - BENEFÍCIOS PESSOAIS AO PARTICIPAR DO PROJETO

Q5a. Você percebeu algum benefício pessoal ao participar deste projeto?

15

10

10

31

0 5 10 15 20 25 30 35

Timidez/seg

Alegria

Saúde

AmigosSim - 36 - 100%

FONTE: A Autora

Q5a. Ao participar destes projetos os alunos conheceram novos amigos que tem

influenciado nas suas vidas. A atividade física, além de ser reconhecida pelos mais

velhos como importante para a saúde ajudam os mais jovens a vencer a timidez e

elevar a autoconfiança. Os alunos também relataram que se sentem mais alegres.

GRÁFICO 16 - DIFERENÇA NOS ESTUDOS AO PARTICIPAR DO PROJETO

Q5b. Você percebeu alguma diferença nos estudos depois que começou a participar deste projeto?

28

21

18

14

0 5 10 15 20 25 30

Nota

Interesse

Disciplina

FrequênciaSim - 36 - 100%

FONTE: A Autora

Q5b. Todos os estudantes disseram que apresentaram melhoras na escola, devido

ao incentivo que recebem do professor de capoeira, a disposição e desenvolvimento

pessoal, além da cobrança de alguns pais que condicionam a participação nas aulas

de capoeira à frequência e notas da escola. Estas respostas validam a importância

deste projeto que estimula a educação, que de acordo com Demo (2002) motiva o

saber pensar e o aprender, favorecendo a formação de cidadãos emancipados.

Page 70: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

70

Devido ao incentivo recebido do professor e dos pais, as crianças sentem-se

mais motivadas para suas atividades escolares rotineiras. Notou-se melhoria no

convívio e respeito entre alunos incluindo o nível de frequência escolar e as notas.

Este projeto é importante, pois influencia de forma concreta no

comportamento e na formação cidadã dos alunos. Esta observação evidencia a

relevância do projeto no sentido de apoio social de curto prazo, mas que não chega

a influenciar no desempenho escolar dos alunos pois este fator é complexo e reflete

todo o histórico escolar.

GRÁFICO 17 - CONHECIMENTO DE OUTROS PROJETOS VOLVO

Q6. Você connhece outros projetos patrocinados pela Volvo?

10

26

0 5 10 15 20 25 30

Não

Sim

QUAIS?FUTEBOL- 24TEATRO - 9

PARTICIPA?Futebol - 1 Teatro - 1

FONTE: A Autora

Q6. O projeto mais conhecido é o de futebol, o que parece natural por ser o mais

antigo. Os alunos demonstraram interesse em participar de outros projetos

patrocinados pela empresa, mas isto nem sempre é possível devido aos horários e à

dificuldade de transporte.

Page 71: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

71

GRÁFICO 18 - CONHECIMENTO DE PROJETOS DE OUTRAS EMPRESAS

Q7. Você connhece outros projetos patrocinados por outras empresas?

32

4

0 5 10 15 20 25 30 35

Não

SimQUAIS?FAS - 1 UNICENP - 3

PARTICIPA?FAS - 0 UNICENP - 1

FONTE: A Autora

Q7. Os moradores do entorno da empresa acreditam que a Volvo a única empresa

que se envolve e oferece oportunidades para a comunidade atualmente.

Notou-se uma enorme carência de oportunidades para os moradores da

região que têm muito interesse em participar de atividades que estimulem o

desenvolvimento pessoal e a socialização, porém não têm acesso.

A última questão perguntava a opinião dos entrevistados sobre a presença da

empresa no bairro e todos evidenciaram a sua importância pelas oportunidades que

oferece para a comunidade local. Também foi mencionada a valorização do bairro e

a geração de trabalho.

Conclui-se então, que o projeto Capoeira atende o objetivo inicial de oferecer

uma atividade de contra turno para as crianças de região, e quebrar uma cadeia

negativa de comportamentos, iniciando o resgate da auto-estima e

consequentemente o desenvolvimento de cidadãos inseridos na comunidade.

A imagem que todos os participantes têm da empresa é muito positiva tanto

por oferecer oportunidades e pela organização, quanto pela infra-estrutura que

disponibiliza. A presença da Volvo agrada a todos porque cria oportunidades,

valoriza e movimenta o bairro e principalmente pela carência de ofertas semelhantes

na região.

Este projeto foi muito bem avaliado pelos participantes que reconhecem na

empresa um exemplo de organização e qualidade e ressaltam a importância que a

Page 72: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

72

Volvo tem para a localidade. Os alunos parecem motivados e os pais reconhecem

nesta atividade uma oportunidade de desenvolvimento para as crianças.

Em suma, a realidade percebida neste projeto evidenciou sua importância e

capacidade de influência na sociedade e na formação de cidadãos. Estes dados

apontam para a necessidade de ampliação do projeto, devido à carência de

oportunidades e de um espaço saudável na região onde os indivíduos possam se

desenvolver.

5.3 ANÁLISE GERAL

Uma análise crítica da RSE tem de ir além dos benefícios imediatos

proporcionados pelos projetos; reconhecendo seus limites e sua funcionalidade

como agente facilitador da cidadania.

Neste sentido, a participação da empresa por meio dos projetos sociais, e do

modo como aprimora as funções que dela dependem, na região onde está inserida,

constitui uma prática da responsabilidade social. Constatou-se que a articulação

entre a caracterização dos projetos sociais da empresa pesquisada e a interpretação

dos funcionários se mostra favorável para corroborar os fundamentos teóricos e, por

conseguinte, na determinação da importância que os projetos de RSE assumem na

sociedade.

Ainda que possam parecer utópicos, pela ênfase no altruísmo desinteressado,

parece relevante a forma pela qual Hans Jonas defende a ética e encoraja a

responsabilidade. Seus princípios transpõem o espaço e o tempo e incidem sobre as

grandes questões particulares ou comunitárias, locais ou globais para assumir a

“responsabilidade social” ética pelo futuro (MOTA, 2008).

Neste contexto amplo e sistêmico que envolve a ética e a moral, os princípios

de Hans Jonas (2006), a julgar pelo resultado da pesquisa realizada, estão sendo

aplicados pela Volvo. No sentido de orientar e enfatizar a importância da ética e da

transparência estes temas são abordados no Código de Conduta do Grupo Volvo e

no Manual de Conduta aplicável para todas as pessoas da empresa.

Para as comunidades do entorno da empresa, isto reflete a interdependência

da empresa com seus meios envolventes a longo prazo e a preocupação com a

gerar de oportunidades. Seguindo o raciocínio da Teoria da Responsabilidade, da

Page 73: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

73

heurística do temor na qual a prudência e a responsabilidade conduzem a um agir

diferenciado, a empresa está contribuindo para a sociedade.

Diante dos possíveis benefícios para a empresa citados pelo Instituto Ethos, é

possível constatar, neste estudo, que há valorização da imagem institucional e o

reconhecimento do consumidor. Sendo assim, qualquer ação de responsabilidade

social representa a própria empresa e estas ações são compreendidas como parte

da empresa e dá retorno econômico para a empresa.

Para as comunidades do entorno da empresa, isto reflete a interdependência

da empresa com seus meios envolventes a longo prazo e a preocupação com a

gerar de oportunidades. Seguindo o raciocínio da Teoria da Responsabilidade, da

heurística do temor na qual a prudência e a responsabilidade conduzem a um agir

diferenciado, a empresa está contribuindo para a sociedade.

Considerando o desdobramento feito por Carroll e Buchholtz (2000), das

quatro responsabilidades que devem ser atendidas pelas empresas, a empresa

pesquisada apresenta forte preocupação econômica visando sua sustentabilidade,

viabilidade e atendimento das expectativas de seus acionistas. Tanto a

responsabilidade legal quanto ética são amplamente difundidas e aplicadas na

empresa em todos os níveis por meio de treinamentos e ações a fim de atender os

interesses coletivos. Uma vez que estas três responsabilidades estão bem

estruturadas e solidificadas a empresa encontra e cria oportunidades de aplicar a

responsabilidade filantrópico-discricionária por meio dos projetos já relatados neste

estudo.

Ao analisar as ações da empresa pesquisada observa-se também que a

mesma atende aos três estágios da responsabilidade coorporativa descritos por

Melo Neto e Froes (2001). A gestão social interna focada nas atividades regulares

da empresa, saúde e segurança dos funcionários e qualidade do ambiente de

trabalho; a gestão social externa, que se refere à sociedade e aos consumidores em

questões como preservação do meio ambiente, impactos socioeconômico, político e

cultural na sociedade e o terceiro estágio que visa o exercício da gestão social

cidadã, englobando questões mais amplas relativas ao bem estar social.

Como afirma Paoli (2005, p.407) em um duplo movimento para fora de si

mesma, a empresa-cidadã realiza sua beneficência e produz para a sociedade e

Page 74: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

74

seus parceiros a perspectiva de uma presença ampliada do próprio poder social do

capital.

Com relação aos princípios do Pacto Global (Global Compact da ONU) do

qual o Grupo Volvo é signatário, desde 2001, percebe-se que de modo geral as

práticas estão alinhadas. Especificamente o Projeto Capoeira e Cidadania enquadra-

se no primeiro item relativo ao respeito e proteção dos direitos humanos por

intermédio do apoio ao a este projeto que promove a educação e o esporte.

À luz de Demo (2002) e Paoli (2005), que consideram como objetivo principal

das ações de responsabilidade social o estímulo ao desenvolvimento do cidadão e o

fomento da cidadania individual e coletiva, o Projeto Capoeira e Cidadania atinge

este objetivo pois desperta nos seus participantes a interesse pelo desenvolvimento

físico e intelectual e cria novas oportunidades de integração social.

Desta forma, os resultados alcançados com a presente dissertação

demonstraram que este projeto contribui para o desenvolvimento da autonomia e da

cidadania nos alunos participantes mesmo que ainda que de forma modesta para

uma parcela muito pequena na população carente situada próxima da empresa.

Afora os números da população assistida pelo programa, que é muito

reduzido em relação às necessidades da região e ao potencial econômico e de

influência que a empresa representa, a discussão concentra-se no impacto das

mesmas. Tal noção relaciona-se com o treinamento oferecido e a capacidade

transformadora deste instrumento específico, ou seja, suas potencialidades

emancipatórias.

Em suma, este trabalho buscou compreender o significado e efeito da noção

de responsabilidade social e a importância de um maior entendimento, não só do

conceito, como dos efeitos de tais práticas pelas empresas para um agir

emancipatório. Constatou-se que a Volvo do Brasil está se envolvendo com as

questões sociais por meio do desenvolvimento de projetos, retribuindo à

comunidade onde está inserida, mesmo que de forma ainda restrita e usufruindo do

apoio das leis de incentivos fiscais, neste programa de RSE relevante junto à

comunidade onde esta instalada.

Page 75: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

75

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que a consciência global para o desenvolvimento sustentável

está crescendo juntamente com a demanda de ações dos diversos atores sociais

com o objetivo de aproximar diferentes realidades. A aplicação do conceito de RSE

exemplificado nesta pesquisa não pode ser considerada como uma ferramenta

capaz de assumir o papel do Estado, mas como um meio apto a viabilizar o acesso

de comunidades carentes à cultura e ao esporte.

Desta forma, se reconhece a importância da RSE como um fenômeno de

intervenção social de grande expressividade considerando a carência de ofertas e

oportunidades de certas comunidades. Ao mesmo tempo, também não é possível

ignorar que certa visão crítica pode considerar a RSE como mera estratégia

empresarial cujo principal objetivo seria garantir determinada imagem da empresa

perante seu mercado consumidor além do benefício das deduções fiscais.

Adicionalmente, do ponto de vista socioeconômico, a simples existência da

empresa contribui para o desenvolvimento do contexto no qual está inserida.

Contudo, um anseio de ampliação do escopo dessa atuação, impulsiona

organizações empresariais a desenvolver novos meios de inclusão social, a partir do

auxilio a formação de cidadãos emancipados, que conquistem essa inclusão.

Cidadania sem autonomia e autonomia sem cidadania são incompletas, assim

como empresa sem esta visão e a consciência social não é completa diante dos

olhos dos seus consumidores e da sociedade. Consequentemente, faz-se

necessário formar cidadãos conscientes e críticos, transformadores e ousados,

capazes de corresponder às exigências da vida moderna e revitalizar os valores

humanos.

Num contexto político, como solução parcial da crise capitalista, o

neoliberalismo visa a reconstituição do mercado, reduzindo a intervenção social do

Estado em diversas áreas e atividade. Desta forma, qualquer ação que minimize a

miséria é válida e as empresas, ao assumirem algumas das funções do Estado,

retribuem à sociedade onde estão inseridas com projetos sociais.

Page 76: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

76

Os governos desobrigaram-se da responsabilidade pela implementação de

programas sociais, até mesmo pela fragilização das condições políticas impostas

pelas políticas neoliberais, transferindo para o terceiro setor, as ONGs, as empresas,

que tentam compensar e minimizar os impactos destas reformas e substituir as

atividades sociais do Estado. Isto porque as empresas tiveram poder político

determinante nas reformas neoliberais.

De forma geral, essas transformações no papel do Estado tem levado a

sociedade civil organizada a assumir essas responsabilidades, assumindo o papel

de agentes sociais tornando-se promotores da responsabilidade social corporativa e

difundem valores éticos em suas relações com os diversos públicos da empresa.

Parece existir cada vez mais na mente das pessoas uma forte correlação entre o

papel das empresas na melhoria das condições sociais e o crescimento dos

mercados consumidores, com parte de um sistema dependente.

As alternativas são inúmeras e percebe-se que lentamente esta consciência

social está sendo difundida na empresa e na sociedade representando um processo

evolutivo e de crescimento que aos poucos está se incorporando na gestão das

empresas, assim como os itens relativos à produção, qualidade dos produtos e

comercialização.

Diante da dinâmica do mercado altamente competitivo que exige das

empresas foco nos negócios e saúde financeira, o próprio negócio atende e cria

demandas sociais nas regiões onde estão inseridas. Desta forma estimula a

movimentação da cadeia produtiva, a geração de empregos diretos e indiretos e

demanda elevado nível de educação dos seus funcionários.

Além dos benefícios diretos dos projetos de responsabilidade social para os

públicos a que são destinados, cria-se uma nova demanda de profissionais e

serviços que também geram novos empregos, crescimento econômico, a geração de

emprego e renda e a democratização de oportunidades.

Este é um processo constante, que se faz no dia a dia. Por isso, este trabalho

não buscou conceitos prontos de cidadania, autonomia, responsabilidade social e

ética, por entender que estes conceitos vão sendo construídos e aplicados na

proporção do crescimento da conscientização da amplitude do papel de influencia e

de responsabilidade das empresas na sociedade.

Page 77: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

77

Assim como ocorreu a revolução da qualidade levando a extinção de

empresas que não atenderam as novas exigências do mercado, espera-se um dia

que o grau de consciência da exclusão social demande uma nova visão da questão

social. Sob este prisma, considerando que todos os projetos e as ações sociais das

empresas fazem diferença, mesmo se isolados diante de uma imensidão de

carências e oportunidades, estes poderiam ser maiores e mais abrangentes, estando

incorporados ao planejamento estratégico corporativo.

No Brasil, onde as diferenças sociais são muito grandes, focaliza-se

principalmente nas carências da população de baixa renda chegando ao ponto de

diferenciar os direitos dos cidadãos pobres e ricos, pois os ricos já não consideram a

possibilidade de usufruir de serviços públicos. Este estudo focou um projeto que

atende uma comunidade carente, mas este mesmo raciocínio vale para todos os

cidadãos empregados, com poder aquisitivo, que pagam impostos e da mesma

forma não podem usufruir dos serviços públicos de saúde, educação e lazer.

Sob este prisma, esta reflexão poderá ser continuada visando a compreensão

deste conceito de cidadania diante das diferentes necessidades dos indivíduos que

vivem em diferentes condições. Também desperta interesse a compreensão das

diferentes visões deste tema entre empresas nacionais e multinacionais e o

comparativo dos projetos de responsabilidade social de empresas do mesmo setor.

Page 78: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

78

REFERÊNCIAS

ANDERSONN, P. Balanço do neoliberalismo II. In: SADER, E. ; GENTILI, P. (Orgs.). Pós-neoliberalismo: As políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.

ANFAVEA, Associação Nacional dos Fabricantes do Veículos Automotores do Brasil - Anuário Estattístico 2009 - http://www.anfavea.com.br/anuario.html

ASHLEY, P. A. (Org.) Ética e responsabilidade social. São Paulo: Saraiva, 2002.

ASHLEY, P. A. (Org.). Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2006.

CAMARGO, M. F. et al. Gestão do terceiro setor no Brasil. 2.ed. São Paulo: Futura, 2001.

CARROLL, A.; BUCHHOLTZ, A. Business & society: ethics and stakeholder management. Thomson Learning, South-Western College Publishing, 4th ed., 2000. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?ht=pt-BR&Ir=&id=B9diOWV8X UC&oi=fnd&pg=PT25&dq%=%22Carroll%22+Carol22+%22+%22Business+and+society:+Ethics+and+stakeholder+mananagement%22+&ots=0HjBgLMHG8&sig=h-wGXx-cjJ6ttN40wp5 74KQL64#v=onepage&q=&f=false>. Acesso em: 02 fev. 2010.

CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 12.ed. Rio de Janeiro: Civlização Brasileira, 2009.

COUTINHO, J. A. Organizações não-governamentais: o que se oculta no ‘”não”?. Revista Espaço Acadêmico, São Paulo, v.3, n.24, maio 2003. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/024/24ccoutinho.htm>. Acesso em 02 jun. 2010.

DEMO, P. A educação pelo avesso: assistência como direito e como problema. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2002.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002.

IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social. Leis de Incentivo fiscal. Disponível em: <http://www.idis.org.br/biblioteca/leis-e-principios/leis-de-incentivo-fiscal/>. Acesso em: 12 mar. 2010.

INSTITUTO ETHOS. Responsabilidade social das empresas: a contribuição das universidades. São Paulo: Peirópolis: 2003. vol II.

INSTITUTO ETHOS. São Paulo, 2007 http://www.ethos.org.br/_Internethos/documents/ApresentacaoAmpla30_11_07.pdf

JONAS, H. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.

KAVINSKI, H. A apropriação do discurso da sustentabilidade pelas organizações: um estudo multicaso de grandes empresas. Dissertação (Mestrado em Organizações e Desenvolvimento) – FAE Centro Universitário, Curitiba, 2009.

Page 79: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

79

KLEINUBING, C.; MELLO, R. B.; SILVA, A. B. (Orgs.). Pesquisa qualitativa em estudo organizacionais: paradigmas, estratégias e métodos. São Paulo: Saraiva, 2006.

KRAMER, M E P. Responsabilidade social: um olhar para a sustentabilidade. 2005. Disponível em: <http://www.gestiopolis.com/Canales4/ger/responsabilidade.htm>. Acesso em: 21 jan. 2010.

KROETZ, C. E. S. Balanço social: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2000.

LAKATOS E. M.; MARCONI M. A. Fundamentos de metodologia científica. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2001.

LEWIS, S. B. Responsabilidade social, incentivos fiscais e tecnologia. Universo Jurídico. 2009. Disponível em: <http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/6149/Responsabilidade_Social_Incentivos_Fiscais_e_Tecnologia>. Acesso em: 05 fev. 2010.

LUCAS, M. R. Os sentidos e os limites da responsabilidade social empresarial: estudo de caso sobre os projetos do Insituto Algar. Revista Habitus, v.1, n.1, p.37-53, 16 abr. 2007.

MANICA, F. Entrevista publicada em 17/08/2005. Disponível em: <http://www.responsabilidadesocial.com/article/article_view.php?id=382>. Acesso em: 28 jan. 2010.

MANZINI-COVRE, M. L. O que é cidadania. São Paulo: Brasiliense, 2006.

MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing: metodologia, planejamento. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2005.

MELO NETO, F. P; FROES, C. Gestão da responsabilidade social corporativa: o caso brasileiro. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.

MINC - Ministério da Cultura. Disponível em:<http://sistemas.cultura.gov.br/salicnet/Salicnet/Salicnet.php#>. Acesso em: 15 mar. 2010.

MOTA, E. A. D. Organizações empresariais complexas como espaços sociais por meio da responsabilidade social. Dissertação (Mestrado em Organizações e Desenvolvimento) – FAE Centro Universitário, Curitiba, 2008.

NEVES, L. S. Organização produtiva na indústria automobilística e seus reflexos na organização sindical dos metalúrgicos. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Econômico) – Universidade Federal do Paraná, 2003.

PAOLI, M. C. Empresas e responsabilidade social: os enredamentos da cidadania Brasil. In: SANTOS, Boaventura de Sousa (Org.). Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa.3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

PEREIRA, L. C. B.; GRAU, N. C. Entre o Estado e o mercado: o público não-estatal In: ______ (Orgs.). O Público não-estatal na reforma do Estado. Rio de Janeiro: FGV, 1999.

PEREIRA, L. C. B.; WILHEIM, J.; SOLA, L. (Orgs). Sociedade e Estado em transformação. São Paulo: Unesp; Brasília: Enap, 1999.

PEREIRA, L. C. B., SPINK, P. (Orgs.). Reforma do Estado e administração pública gerencial. 2.ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998.

Page 80: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

80

PONCHIROLLI, O. Ética e responsabilidade social empresarial. Curitiba: Juruá, 2008.

PORTAL DA TRANSPARENCIA DO GOVERNO FEDERAL. Disponível em: <http://www.portaltransparencia.gov.br/glossario/DetalheGlossario.asp?letra=i>. Acessado em: 13 jun. 2010.

REIS, C. N. A responsabilidade social das empresas: o contexto brasileiro em face da ação consciente ou do modernismo do mercado?. Rev. econ. contemp. [online], v.11, n.2, p.279-305, 2007.

REIS, C. N. A responsabilidade social das empresas: o contexto brasileiro em face da ação consciente ou do modernismo do mercado? Rev. econ. contemp. [online], v.11, n.2, p.279-305, 2007.

RELATÓRIO DE GESTÃO DA VOLVO DO BRASIL, 2009.

RELATÓRIO SOCIOAMBIENTAL DA VOLVO DO BRASIL 2008 (exercício 2007). Publicação editada por: Departamento de Comunicação Corporativa da Volvo do Brasil, 2008.

RICO, E. M. A responsabilidade social empresarial e o Estado: uma aliança para o desenvolvimento sustentável. Perspec. [online], São Paulo, v.18, n.4, p.73-82, 2004.

SADER, E; GENTILI, P. (Org). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o estado democrático. São Paulo: Paz e Terra, 1995.

SADER, E.; GENTILI P. (Org.) Pós-neoliberalismo II: que Estado para que Democracia. Petrópolis: Vozes, 1999.

SANTOS, S. E. Influência e a percepção do setor automotivo na sustentabilidade ambiental da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Dissertação (Mestrado em Organizações e Desenvolvimento) – FAE Centro Universitário, Curitiba, 2007.

SERTEK, P. Responsabilidade social e competência interpessoal Curitiba: IBPEX, 2006.

SILVA, D. G. F. da. A responsabilidade social empresarial na teoria da responsabilidade de Hans Jonas. Dissertação (Mestrado em Organizações e Desenvolvimento) – FAE Centro Universitário, Curitiba, 2007.

SROUR, R. H. Ética empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

TINOCO, J. E. P. Balanço social: uma abordagem da transparência e da responsabilidade pública das organizações. São Paulo: Atlas, 2001.

TOCACH, R. A transferência de tecnologia na implantação da Renault do Brasil: desenvolvimento local sustentável e papel do estado. Dissertação (Mestrado em Organizações e Desenvolvimento) – FAE Centro Universitário, Curitiba, 2009.

TOLDO, M. Responsabilidade social empresarial. In: Prêmio Ethos Valor. Responsabilidade social das empresas: a contribuição das universidades. São Paulo: Peirópolis, 2002.

VIGEVANI.T., VEIGA.J.P.C., Globalização e Mercosul: Política, Indústria automobilistica, informação. Cadernos Cedec, São Paulo, n.59, 1997.

YIN, R.K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001.

Page 81: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

81

APÊNDICE 1

Page 82: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

82

Page 83: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

83

APÊNDICE 2

Page 84: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

84

QUESTIONÁRIO PARA OS FUNCIONÁRIOS DA EMPRESA

Esta pesquisa tem como objetivo analisar a Percepção de Responsabilidade SocialEmpresarial,

Sua participação é muito importante! Aguardo sua resposta até 10/12.

Seu perfil: ( ) Cargo de chefia ( ) Cargo administrativo ( ) Cargo Produtivo( ) Terceiro ( ) Estagiário

Faixa etária: ( ) até 20 ( ) 21 a 30 ( ) 31 a 40 ( ) acima de 40 anos Sexo: ( ) F ( ) M

1. O que você entende como Responsabilidade Social Empresarial?

2. Você participa/participou de algum projeto de Responsabilidade Social da empresa para q( )_______________________________________________________________________

( ) Não Pretende participar? ( ) sim ( ) não

3. Quais são os principais projetos de Responsabilidade Social da empresa que você traba

qual você trabalha:( ) são complementares ao negócio, pois trazem benefícios à empresa( ) devem ser tratados separadamente, pois trazem beneficios somente à sociedade

5. Na sua opinião, o seu dpto poderia inovar aplicando o conceito de Responsabilidade Soci( ) Sim Como?( ) Não Por quê?

6. Você acredita que empresas socialmente responsáveis apresentam vantagem competitivanos seus resultados?( ) Sim ( ) Não Por quê?

7. Ao realizar suas compras pessoais, a imagem da marca do produto desejado infuencia sua( ) Sim ( ) Não, porque avalio a qualidade do produto e o preço.

8. Você participa de atividades voluntárias fora do seu horário de trabalho?( )_______________________________________________________________________( ) Não Pretende participar? ( ) sim ( ) não

Muito obrigada por sua valiosa colaboração,Ana Claudia Bittar

Page 85: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

85

APÊNDICE 3

Page 86: ANA CLAUDIA BITTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ...Teoria da Responsabilidade e reconstitui a origem do fenômeno de apropriação do discurso de Responsabilidade Social pelas organizações

86

QUESTIONÁRIO PARA OS PARTICIPANTES DO PROJETO CAPOEIRA

Volvo e o resultado será utilizado em trabalho acadêmido de mestrado.

Seu perfil: ( ) Estudante ( ) Pai Faixa etária: ( )7 a 9 ( ) 10 a12 ( ) 31 a 40 ( ) acima de 40 anosSexo: ( ) F ( ) M

1. Como você conheceu este projeto?

2. Há quanto tempo você partcipa do projeto?( ) 1 ano ( ) 2 anos ( ) 3 anos ( ) 4 anos

3. O que você mais gosta do projeto?

4. Tem alguma sugestão para Volvo referente a Capoeira ? ( ) Sim Como?( ) Não Porque?Qual?

5a. Você percebeu algum benefício pessoal ao participar deste projeto?( ) Sim ( ) NãoQual?

projeto?( ) Sim ( ) NãoQual?

6. Você conhece outros projetos patrocinados pela Volvo?( ) Sim Quais?( ) Não Já participou?

7. Você conhece outros projetos patrocinadospor outras empresas?( ) Sim Quais?( ) Não Já participou?

8. Você acha bom a Volvo estar próxima do seu bairro?( ) Sim ( ) Não Porque?

Muito obrigada!