101
Ana Dolores Almeida Sanchez Silva UMinho|2014 outubro de 2014 Estratégias de internacionalização das PMEs no setor cosmético: O Caso da Novexpert Universidade do Minho Escola de Economia e Gestão Estratégias de internacionalização das PMEs no setor cosmético: O Caso da Novexpert Ana Dolores Almeida Sanchez Silva

Ana Dolores Almeida Sanchez Silva · Relatório de Estágio Mestrado em Negócios Internacionais Trabalho realizado sob a orientação da Professora Doutora Sílvia Sousa Ana Dolores

  • Upload
    lydieu

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Ana Dolores Almeida Sanchez Silva

UM

inho

|201

4

outubro de 2014

Est

raté

gia

s d

e in

tern

aci

on

aliz

açã

o d

as

PM

Es

no

se

tor

cosm

éti

co:

O C

aso

da

No

vexp

ert

Universidade do Minho

Escola de Economia e Gestão

Estratégias de internacionalização das PMEs no setor cosmético: O Caso da Novexpert

Ana

Dol

ores

Alm

eida

San

chez

Silv

a

Relatório de Estágio Mestrado em Negócios Internacionais

Trabalho realizado sob a orientação da

Professora Doutora Sílvia Sousa

Ana Dolores Almeida Sanchez Silva

outubro de 2014

Universidade do Minho

Escola de Economia e Gestão

Estratégias de internacionalização das PMEs no setor cosmético: O Caso da Novexpert

Nome:

Ana Dolores Almeida Sanchez Silva

Endereço electrónico: [email protected]

Número do Bilhete de Identidade: 13474881 6ZZZ7

Título do Relatório de Estágio:

Estratégias de internacionalização das PMEs no setor cosmético: O caso da Novexpert

Orientadora:

Professora Doutora Sílvia Sousa

Ano de conclusão: 2014

Designação do Mestrado:

Negócios Internacionais

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTE RELATÓRIO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE;

Universidade do Minho, ___/___/______ Assinatura: ________________________________________________

i

Agradecimentos

Para a elaboração deste relatório gostaria de agradecer à Novexpert e

principalmente à minha orientadora Elise Verdot por me ter acolhido de forma tão

calorosa. Graças a ela, este estágio representou uma enorme fonte de conhecimento

tanto a nível profissional como a nível pessoal.

Também gostava de dar uma palavra de agradecimento à minha orientadora

interna, a Professora Doutora Sílvia Sousa, por me ter dada a sua preciosa ajuda na

elaboração deste relatório e também pela sua paciência durante todo o processo.

Para além dos agradecimentos já mencionados gostaria de agradecer à minha

amiga e colega de mestrado Catarina Castro, por todo o apoio e cumplicidade que me

proporcionou ao longo de todo o mestrado.

Por último, um agradecimento especial, e o maior de todos, aos meus pais e à

minha irmã, por me apoiarem incondicionalmente em todas as decisões que tomei ao

longo da minha vida e por, mesmo à distância, estarem sempre presentes. Sem eles

nada disto teria sido possível. Obrigada por terem feito de mim a pessoa que sou hoje.

ii

Resumo

Estratégias de internacionalização das PMEs no setor cosmético: O Caso da Novexpert

Este relatório é o estudo de caso do processo de internacionalização da

empresa de cosméticos Novexpert. Para a elaboração deste estudo foram realizadas

várias observações e análises sobre os passos dados pela empresa a nível

internacional. Assim, o estudo de caso tem um relevante carácter pessoal pois trata-se

de experiências vividas durante o período na Novexpert. Este processo foi analisado

durante a realização de um estágio curricular na empresa, com duração de 6 meses. A

empresa é uma produtora e vendedora de cosméticos anti idade e localiza-se em Paris,

França.

A Novexpert foi criada em 2008 como resposta às mudanças no

comportamento dos consumidores franceses e internacionais. Mesmo inserida num

contexto concorrencial desafiante a Novexpert foi capaz de se impor no mercado

cosmético francês e mundial de forma eficiente. Este fator deve-se à sua inovação,

adaptabilidade e enorme empenho por parte de toda a equipa.

Mesmo tendo sucesso no seu processo de internacionalização a Novexpert

pretende ir mais além e para isto a empresa terá de superar mais desafios e adaptar a

sua estrutura e estratégia aos novos mercados.

Durante a realização do estágio foi possível a aplicação e verificação de diversas

teorias do comércio internacional aprendidas no mestrado. Estas teorias estão em

grande medida na base das decisões tomadas pela Novexpert aquando a sua entrada

ou expansão no mercado internacional.

iii

Abstract

The internationalization strategies of cosmetics SMEs: case study Novexpert

This report consists of a case study of the internationalization process of a

cosmetic firm called Novexpert. The analysis was made through the observation and

study of each international step of the firm. So, this case study was done through my

own experiences lived in Novexpert. This internationalization process was analysed

during an internship of 6 months that I have done at this firm. The firm is a French

producer and seller of cosmetic anti-aging products located in Paris, France.

Novexpert was created in 2008 as a response to the change in the French and

international consumers’ behaviours. Even if Novexpert operates in a very competitive

sector the firm was able to efficiently impose itself within the global and French

cosmetic markets. This might be explained by the company’s innovation, adaptability

and important commitment done by all the team of Novexpert.

Even if the firm has been having a lot of success in the international market it

wants to proceed with its expansion process, in order to turn this into reality

Novexpert has to overcome more challenges and adapt its structure and strategy to

new markets.

During the internship it was possible to apply and verify various international

theories that were studied during the master. These theories are the base of the

international decisions done by the firm when opening or expanding new markets.

iv

Lista de siglas e abreviaturas

AFSSAPS- Agence Française de Sécurité Sanitaire des Produits de Santé

BRIC- Brasil, Rússia, índia e China

CCO-effect- Country of origin effect

DGCCRF- Direction Général de la Consommation de la Concurrence et de la répression

des Fraudes

HO- Hecksher Ohlin

I&D- Investigação e Desenvolvimento

L.I.C.D- Laboratoire d’Innovation Cosmétique et Dermatologique

PME- Pequena e média empresa

RBV- Resource based view

v

Conteúdo

1. Introdução ............................................................................................................................ 1

2.Contextualização do setor cosmético atual ............................................................................ 3

2.1 O setor cosmético mundial .............................................................................................. 3

2.2 O setor cosmético francês ............................................................................................... 5

2.2.1 Regulamentação....................................................................................................... 8

2.2.2 Os canais de distribuição .......................................................................................... 9

2.3- A vantagem do “Made in France”: country of origin effect ........................................... 10

3. Descrição da empresa ......................................................................................................... 12

3.1 História ......................................................................................................................... 12

3.2 Estrutura ....................................................................................................................... 13

4. A tendência dos cosmecêuticos: medicamentos ou cosméticos? ......................................... 14

5. Estratégias de governação da Novexpert ............................................................................. 15

5.1 Gamas de produtos ....................................................................................................... 15

5.2 Comunicação ................................................................................................................. 18

5.3 Distribuição ................................................................................................................... 20

6 Teorias do comércio internacional ....................................................................................... 21

6.1 Teoria Clássica ............................................................................................................... 21

6.1.1 O mercantilismo ..................................................................................................... 21

6.1.2 Adam Smith e as vantagens absolutas .................................................................... 23

6.1.3 Ricardo e as vantagens comparativas ...................................................................... 26

6.2 Teoria Neoclássica ......................................................................................................... 29

6.2.1 O Modelo de Hecksher-Ohlin .................................................................................. 29

6.2.2 Teoremas do modelo de Hecksher-Ohlin ................................................................ 32

6.2.3 O paradoxo de Leontief .......................................................................................... 33

6.3 Novas teorias dos determinantes das trocas .................................................................. 34

6.3.1 Ciclo de Vida do Produto ........................................................................................ 35

6.3.2 A teoria da Procura de Linder ................................................................................. 39

7. O Processo de Internacionalização das empresas ................................................................ 42

7.1 Modelos de internacionalização adaptados às PMEs ..................................................... 51

7.1.1.Modelo de internacionalização de Uppsala ............................................................. 52

vi

7.1.2 Resource base view of the firm (RBV) ..................................................................... 55

7.1.3 O Modelo de internacionalização e das redes industriais ........................................ 58

7.2 Estratégias de internacionalização da empresa .............................................................. 61

7.2.1 Escolha do modo de entrada .................................................................................. 61

7.2.2 Os modos de entrada ............................................................................................. 63

8. A internacionalização da Novexpert .................................................................................... 71

8.1 Escolha dos mercados a atacar ...................................................................................... 72

8.2 Estratégias de aproximação aos novos mercados .......................................................... 75

8.2.1 Modos de entrada .................................................................................................. 77

8.2.2 Adaptação dos produtos ......................................................................................... 79

8.2.3 O sucesso da América Latina vs o sucesso da Europa .............................................. 80

9. Conclusão ........................................................................................................................... 84

10. Bibliografia ........................................................................................................................ 86

vii

Índice de gráficos figuras e tabelas

Figura 1: estrutura da L.I.C.D. ...................................................................................... 12

Figura 2: estrutura interna da Novexpert .................................................................... 13

Figura 3: Gama Essential da Novexpert ....................................................................... 15

Figura 4: Gama Docteur da Novexpert ........................................................................ 17

Figura 5: Dica do mês da Novexpert ............................................................................ 20

Figura 6: Caixa Novexpert exterior ............................ Figura 7: Caixa Novexpert interior

76

Tabela 1: Categorias das empresas de cosméticos, fonte: Mialot 2011 ......................... 4

Tabela 4: Ciclo de vida do produto, adaptado de Romão et al. (1997) ......................... 36

Tabela 5: Gastos em I&D, fonte:Eurostat .................................................................... 38

Tabela 6: Motivações para a internacionalização, adaptado de Czinkota (2004).......... 49

Tabela 7: Categorias das redes, adaptado de Perry M. citado em Daszkiewicz et al.

(2012) ......................................................................................................................... 59

Tabela 8: Exemplo de pesquisa de mercado da Novexpert .......................................... 75

1

1. Introdução Este relatório foi elaborado com base num estágio curricular realizado no seio da

empresa Novexpert. Durante os seis meses que estive na empresa, foi-me delegada a

função de abertura do mercado da América Latina e a expansão do mercado europeu.

A Novepert foi criada em 2008 e trata-se de uma empresa produtora e vendedora

de produtos cosméticos anti idade biológicos. Esta pertence a um grupo chamado

Laboratoire d’Innovation Cosmétique et Dermatologique (L.I.C.D) o qual é financiado

por uma multinacional francesa também pertencente ao mesmo setor de atividade. Os

produtos Novexpert têm a capacidade de se adaptarem às exigências do mercado

cosmético mundial de forma eficaz e inovadora.

O setor cosmético desempenha um papel de grande importância para a economia

francesa, sendo o terceiro setor exportador da economia deste país, com um volume

de exportações no valor de 441 657 milhões de euros no ano de 20121 e com

perspetivas de crescimento. A qualidade da procura de cosméticos no mercado francês

aliada ao grande aumento da concorrência incentivam os produtores franceses a

inovarem não apenas ao nível dos produtos, mas também a nível da organização

interna das empresas.

A realização deste estágio na Novexpert foi a forma perfeita de colocar em prática

os conhecimentos adquiridos ao longo do mestrado. As teorias do comércio

internacional e o estudo constituíram instrumentos importantes na ultrapassagem dos

obstáculos que me foram surgindo ao longo do estágio. Visto ter obtido sucesso na

abertura de vários mercados internacionais, pode-se concluir sobre a relevância e

enquadramento do estágio realizado no âmbito do mestrado em negócios

internacionais, bem como da adequação das matérias abordadas à vida laboral e às

situações reais vividas durante o meu estágio.

As várias decisões que tive de tomar sobre a estratégia de abordagem aos clientes

internacionais, sendo devido à diferença cultural ou há existência de barreiras ao

comércio, beneficiaram da formação teórica adquirida com a frequência do mestrado.

1 www.douanes.fr

2

No decorrer do estágio na Novexpert, houve um contacto constante com o mundo dos

negócios internacionais, seja na tentativa de abertura de novos mercados para

exportação, seja no seguimento dos já clientes presentes nos mercados externos. A

elaboração deste relatório foi então inspirada na experiência como assistente de

exportação da Novexpert.

O presente relatório está organizado da seguinte forma. Numa primeira parte

pode-se encontrar uma contextualização do mercado cosmético mundial e também

francês para melhor percebermos a importância e as especificidades deste setor a

nível mundial e regional.

Seguidamente, encontra-se uma descrição da Novexpert, incluindo a história da

empresa a sua estrutura interna e externa e também a tendência de mercado que deu

origem aos produtos Novexpert. Ainda em relação à empresa, pode-se encontrar uma

explanação da sua estratégia de governação.

Passando para a revisão bibliográfica, são apresentadas as teorias do comércio

internacional clássicas, neoclássicas e as novas abordagens ao comércio internacional.

Em seguida, ainda numa perspetiva teórica, são abordadas as estratégias de

internacionalização das empresas, em geral, e das pequenas e médias empresas, em

particular (PME). Aqui estão explicados os modelos de internacionalização que mais se

adequam às PMEs, modelos que, dada a dimensão da Novexpert (PME), mais se

adequam ao seu estudo.

Por último, é apresentada uma descrição do estágio curricular e assim

compreender a forma como a Novexpert encarava o mercado internacional, jogando

com as suas vantagens e flexibilidade para conseguir uma internacionalização de

sucesso.

3

2.Contextualização do setor cosmético atual 2.1 O setor cosmético mundial

Segundo Mialot (2011), nos últimos quinze anos o mercado cosmético teve um

crescimento médio anual de +4,5% e apresentou uma taxa de progressão entre os +3%

e os 5,5% dependendo do ano em causa.

O tecido empresarial mundial cosmético é constituído por uma grande diversidade

no que toca ao tamanho das empresas e também aos seus campos de especialização.

Neste sentido, as várias empresas cosméticas podem ser categorizadas na tabela

abaixo:

Tipo de atividade Posição dos cosméticos na

atividades da empresa

Exemplos

Especialista em perfumes e

cosméticos

Os cosméticos constituem quase a

sua totalidade de volume de negócio

L’Oréal

Clarins

Estée Lauder

Industriais da farmácia Historicamente entraram no

mercado da beleza apoiando-se da

sua imagem de marca e nas

competências do setor farmacêutico

para desenvolverem uma oferta de

produtos dermatológicos.

A cosmética representa menos da

metade do seu volume de negócios

Pierre Faber

Johnson & Johnson

Grupos de luxo Entraram no mercado através da sua

associação com o prestígio.

Os cosméticos juntamente com a

joalharia e alta-costura fazem parte

do seu volume de negócios

Chanel

Christian Dior

Yves-Saint-Laurent

Gigantes do grande consumo Estes estão presentes na cosmética Unilever

4

mas também na agroalimentar e

produtos para a casa.

Os cosméticos não são a sua principal

fonte de volume de negócios.

Henkel

Protector & Gamble

Tabela 1: Categorias das empresas de cosméticos, fonte: Mialot 2011

O mercado cosmético e da perfumaria atrai várias empresas a nível mundial

devido ao seu crescimento e elevadas margens de lucro. Mas mesmo assim, este

mantém-se bastante concentrado nos principais grupos mundiais, os quais captam

mais de metade do mercado mundial. Dentro deste grupo estão presentes quatro

empresas americanas, quatro europeias e duas japonesas.

A concorrência é bastante feroz neste mercado e não tem apenas proveniência das

empresas multinacionais. Os produtores de tamanho médio focalizam-se cada vez

mais em segmentos do mercado, como é o caso dos cosméticos biológicos ou de

origem vegetal. Aqui temos grupos como Clarins, Nuxe ou Caudalie, tendo o último

apresentado um volume de negócios de 100 milhões de euros no ano de 2012

(segundo Mathilde Cathiard, criadora da empresa). Para além destes grupos, os

distribuidores de cosméticos, tais como Sephora ou Marionaud, já têm as suas próprias

linhas à venda. Estes dois distribuidores partilham mais do que a metade do mercado

francês.

Segundo Mialot (2011), os dez principais grupos cosméticos do mundo fizeram um

volume de negócios de 96 mil milhões de dólares em 2008. O primeiro lugar deste

grupo pertence à empresa francesa L’Oréal, seguida da americana Protector &

Gamble, por sua vez seguida da inglesa Unilever.

Mesmo que o mercado europeu e americano estejam perto da saturação em

relação à perfumaria, o aumento dos consumidores provenientes dos países em vias

de desenvolvimento, aliado ao aparecimento de novos segmentos de mercado como o

biológico, produtos étnicos ou os cosmecêuticos e também o aparecimento de outros

canais de distribuição como os institutos de beleza, são alguns dos fatores que

estimulam este mercado a inovar.

Embora os principais grupos de cosméticos mantenham as suas posições há vários

anos, verificaram-se algumas modificações nas posições inferiores. Uma destas

modificações deve-se ao crescimento dos países em vias de desenvolvimento como

5

por exemplo o caso dos BRIC (Brasil, Rússia, India e China). Tomando como exemplo o

Brasil, este encontra-se no terceiro lugar do top mundial dos mercados cosméticos a

nível do consumo. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene

Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) esta indústria deve crescer 11,8% em

2014, em relação ao ano passado, atingindo um valor de 42,6 bilhões de reais.2

Do lado dos preços, o continente europeu apresenta os preços mais elevados

do mundo para os cosméticos, seguido dos Estados Unidos que, por sua vez, são

seguido pelo Japão (Cosmetics Europe, 2013). No caso europeu, o país que apresenta

valores mais elevados para os preços de venda ao consumidor é a Alemanha,

encontrando-se França em segundo lugar. De acordo com o relatório da associação

Cosmetics Europe, referente ao ano de 2013, a procura por cosméticos e produtos de

cuidado pessoal continua a apresentar bons resultados. Apesar das pressões

financeiras existentes na Europa, a compra de cosméticos e produtos de cuidado

pessoal manteve-se constante. Isto pode indiciar que os cosméticos não são encarados

como produtos de luxo ou superficiais, mas sim como bens essenciais.

Ao nível das exportações a União Europeia de 28 países apresenta valores de 36.2

bilhões de euros, representando a europa quase um terço do mercado mundial.

Dentro deste valor há um país que se destaca em relação aos restantes. No primeiro

lugar do top europeu de exportações está França, com um valor de 10.634.1 bilhões de

euros. Em segundo lugar está a Alemanha com uma diferença significativa de valor em

relação ao primeiro lugar, 6,849.8 bilhões de euros (Cosmetics Europe Activity Report,

2013).

2.2 O setor cosmético francês A indústria cosmética e de perfumaria faz parte do setor dos bens de consumo na

economia francesa, sendo considerado um dos pontos fortes de especialização

francesa. Este grupo engloba uma grande diversidade de produtos, desde

farmacêuticos a equipamentos para o lar e pode ser segmentado em quatro categorias

(Mialot, 2011):

2 http://www.abihpec.org.br/noticias/

6

a) Perfumaria alcoólica: inclui todos os tipos de perfumes, águas de colónias e

águas de perfume;

b) Produtos de higiene pessoal: aqui encontram-se os shampoos, produtos

capilares (gel, fixante, tintas de coloração), produtos para o banho, higiene

dentária, desodorizantes, anti seborreicos e também produtos utilizados na

depilação;

c) Maquilhagem: batão, rímel, sombras, produtos para o cuidado das unhas,

etc;

d) Produtos para o cuidado e beleza da pele: proteção solar, cremes de dia e

ou de noite, etc.

Segundo o artigo L.51311-1 do Code de la Santé Publique3 um produto

cosmético é um produto destinado a entrar em contato com as partes supérfluas do

corpo humano, com o objetivo de as limpar, perfumar, modificar o seu aspeto, as

proteger, as manter em bom estado ou de corrigir os odores corporais. Este setor da

economia francesa é composto por 81% de PMEs, as quais cobrem também 80% do

território francês.

O sector cosmético representa o terceiro setor exportador da economia

francesa com uma taxa de exportação de 41% (SESSI, Enquêtte annuelle d’entreprise,

2002). No âmbito deste sector os produtos de beleza são os que mais têm sucesso

internacional, como se pode verificar no gráfico abaixo:

3 http://legifrance.gouv.fr/affichCode.do?cidTexte=LEGITEXT000006072665

7

Figura 1: Exportações Francesas 2013, fonte: Ubifrance

No ano de 2012, a França foi o primeiro país exportador de cosméticos

apresentando um volume de negócios que ultrapassa os 11 milhares de euros e um

crescimento de 1,5%, mantendo esta posição desde 1995, excluindo os anos de 2000 e

2001, nos quais foi ultrapassada pelos Estados Unidos. Segundo os dados de 2012

(Ubifrance), a França possui uma quota do mercado mundial de cosméticos de 19,8%

face ao seu principal competidor americano que detém uma quota de 11,2%.

O mercado internacional tem um grande peso para a indústria cosmética

francesa, visto que 40% do volume de negócios é para exportação. Neste contexto, os

produtos para o rosto têm o dobro da importância dos produtos para o corpo,

traduzida no aumento de 14,8% na produção de produtos para o rosto contra 8,2% dos

dirigidos ao corpo, segundo dados relativos aos anos 1995 a 2003 (SESSI- Enquête

anuelle de branche, 2002).

O mercado cosmético francês respondeu às oscilações da economia mundial

através da híper segmentação, por via da especialização em gamas de produtos mais

específicas como é o caso dos produtos anti idade, dos cosmecêuticos ou das gamas

biológicas. A consolidação dos tratamentos estéticos nos spas também impulsionou a

inovação dos criadores de cosméticos franceses.

37%

17% 15%

9%

4%

5%

13%

Exportações Francesas 2013

Produtos de beleza, maquihagem ecuidado da pele

Perfumes

Produtos capilares

Sabões, produtos de limperza dapele

óleos essenciais

Higiene bucal e dentária

Produtos para depilação edesodorisantes

8

2.2.1 Regulamentação

Como membro da União europeia, a França aplica os regulamentos relativos

aos cosméticos elaborados pelo Parlamento Europeu e do Conselho. O último

regulamento data do ano de 2013 e define os cosméticos como: “substâncias ou

misturas de substâncias destinadas a entrar em contacto com as partes externas do

corpo humano (epiderme, sistema piloso, unhas, etc.) ou com os dentes e as mucosas

bucais, tendo em vista, exclusiva ou principalmente, limpá-los, perfumá-los, modificar-

lhes o aspeto, protegê-los, mantê-los em bom estado ou corrigir os odores corporais.”4

Esta definição é a mesma que se pode encontrar no site francês da Agence national de

securité du médicament et des produits de santé. Em relação aos outros aspetos como

as questões de rotulagem, de testes dermatológicos ou de informação ao consumidor,

os procedimentos encontram-se harmonizados entre os países pertencentes à União

Europeia.

Em França, a nível nacional existem duas entidades responsáveis pela

regulamentação dos produtos cosméticos, a AFSSAPS (Agence Française de Securité

Sanitaire des Produits de Santé) e a DGCCRF (Direction Général de la Consommation,

de la Concurrence et de la Répression des Fraudes). Estas duas entidades exigem aos

produtores a passagem por diversas etapas de validação até que o produto cosmético

possa estar à venda.

No ano de 2002 foi introduzido pela AFSSAPS um novo elemento chamado

cosmétovigilance. Este elemento trata-se de uma declaração feita pelo consumidor

quando surgem efeitos indesejáveis provenientes do uso de um produto cosmético. O

efeito indesejável é definido como uma reação nociva não propositada, que se produz

em condições normais da aplicação do produto. O efeito indesejável é considerado

grave quando este incapacita a pessoa, temporariamente ou definitivamente, de ser

funcional, quando ocorre o seu internamento ou o aparecimento de uma anomalia ou

uma má formação congénita (AFSSAPS, 2014).

Quando é detetado pelo consumidor este tipo de reação, este terá que

preencher um formulário enviado pelo fabricante para que se encontre uma solução. 4

http://europa.eu/legislation_summaries/consumers/product_labelling_and_packaging/co0013_pt.htm

9

Este formulário deverá ser assinado por os dois envolvidos na ocorrência e se for

considerado que a reação nociva tem origem no produto cosmético, este deve ser

retirado do mercado e estudado até que se encontre o problema que causou a reação.

Devido ao sucesso desta iniciativa esta foi adotada pelo Conselho Europeu, em 2006.

2.2.2 Os canais de distribuição

Os produtos cosméticos são apresentados à população francesa, de uma forma

geral, através de quatro tipos de canais de distribuição. Estes podem ser a distribuição

seletiva, a grande distribuição, as farmácias e/ou parafarmácias ou a venda direta.

A distribuição seletiva é representada por cadeias de perfumarias e salões de

beleza. Aqui os consumidores podem encontrar os produtos com maior prestígio e

renome internacional, os quais são normalmente comercializados a preços bastante

elevados, como é o caso das marcas Sisley ou La Prairie. A grande distribuição diz

respeito aos híper e supermercados onde os consumidores franceses podem encontrar

marcas a menores preços, mas também menos especializadas como a L’Oréal.

O setor farmacêutico tem a vantagem de fornecer um serviço mais

personalizado a cada cliente, pois dispõe de conselheiras de venda que analisam a pele

da cliente e lhe propõe a melhor solução para os seus problemas. Neste tipo de

estabelecimentos é possível encontrar um pouco de tudo a nível de variedade de

produtos cosméticos, desde marcas de grande prestígio a marcas mais comerciais.

A venda direta aproxima-se do sector farmacêutico devido à relação que é

criada com a cliente através da venda. Esta pode ser feita ao domicílio ou de porta em

porta. Este meio de venda apresenta a suas dificuldades, pois, na maioria dos casos, a

vendedora não leva consigo publicidade, e logo deverá ser ela sozinha a convencer a

cliente de que o seu produto é o melhor.

10

Figura 2: Principais canais de distribuição do setor cosmético Francês, fonte: Fédération Française Parfumerie Sélective

2.3- A vantagem do “Made in France”: country of origin effect No atual contexto económico todos os setores produtivos têm sofrido baixas

nas suas vendas, o sector da cosmética francesa, mesmo não sendo imune às

alterações económicas, apresenta um turnover de 16 biliões de euros (FEBA, 2007).

Associado a este sucesso está a qualidade e imagem de marca que é associada com o

logo “Made in France”. Na perspetiva de Jones (2011) os ideais e as rotinas de beleza

prevalentes na Europa foram difundidos por todo mundo como uma imagem de

marca. Estes ideais incluem o estado de Paris como a capital da moda e da beleza,

refletindo a reputação francesa de luxo refinado e de qualidade. Como defende

Blendine Garot (Le petit journal, 2013), as empresas cosméticas francesas beneficiam

de uma vantagem em relação aos seus concorrentes estrangeiros devido a terem a sua

marca associada a França.

Este fenómeno pode ser explicado através do country of origin effect (COO-

effect). Kotabe (2010) define o COO-effect como a perceção global que os

consumidores formam sobre um determinado país, baseados nas suas perceções

anteriores sobre a força ou a fraqueza da produção e do marketing vindos desse país.

26%

45%

21%

8%

Principais canais de distribuição em França

Grande distribuição

Setor farmacêutico

Perfumarias e institutos de beleza

Venda direta

11

Segundo Johansson (1986)5 este fenómeno é caraterizado como um gênero de

informação extrínseca que permite aos consumidores criarem inferências sobre o valor

intrínseco de um produto. Nagashima (1970)6 acrescenta o elemento estereótipo à

descrição do COO-effect, este autor define este efeito como um estereótipo ou uma

imagem especial que os consumidores possuem em relação a um determinado país.

Segundo Rezvani et al. (2013) a origem de um certo produto, ou seja, o país no

qual este foi fabricado é um parâmetro que os consumidores, consciente ou

inconscientemente, consideram quando têm a intenção de compra e é um dos

principais fatores avaliativos de produtos nacionais e estrangeiros. Esta associação

entre produto e o seu país de origem, quando é positiva, pode ser uma grande

vantagem para uma empresa que está a entrar num novo mercado. Um destes casos

foi estudado por Saeed et al. (2013) em relação à avaliação dos consumidores

paquistaneses dos produtos cosméticos franceses. Segundo estes autores, os

cosméticos originários de França, especialmente da cidade de Paris, são muito

apreciados devido à sua qualidade superior e devido ao seu nome de marca poderoso.

Paris é considerada mundialmente como a cidade do romance e da beleza e o uso

estratégico desta ideia pode beneficiar largamente uma empresa.

Na perspetiva de Kotabe (2010), quando uma marca está perante um efeito

positivo, derivado do seu país de origem, esta deve implementar as seguintes

estratégias:

- Optar por um nome de marca que reflita o país de origem;

- Incluir nas suas embalagens informação sobre o país de origem;

- Promover o país de origem da marca.

Assim, a marca irá tirar partido do seu país de origem através do seu reforço, o

que se pode traduzir em maiores benefícios para a empresa. No entanto, este fator

não é estável, pois os consumidores podem não ter uma boa experiência como um

produto originário de um dado país ou até não terem uma boa experiência nesse

mesmo país, tornando-se a vantagem numa desvantagem.

5 Citado em Ngoc (2014)

6 Citado por Rezvani et al. (2013)

12

L.IC.D

Novexpert Bioware

3. Descrição da empresa

3.1 História

Criada em 1985, a empresa L.I.C.D. (Laboratoires d’Innovation Cosmétique et

Dermatologique) faz parte de um grupo internacional constituído por seis sociedades

dedicadas à estética profissional, para além de spas e institutos de beleza. Este grupo

tem cerca de 15 filiais e está presente em mais de 85 países.

A empresa L.I.C.D. é constituída por dois organismos, Bioware e Laboratoires

Novexpert, com um capital de 607 620€ e um rendimento anual de 1,25 milhões de

euros. Esta está localizada em Gometz la Ville, a cerca de 30 quilómetros de Paris, e

trata-se de uma sociedade de responsabilidade limitada.

Figura 3: estrutura da L.I.C.D.

A Novexpert foi criada em 2007 por Cyrille Telinge e trata-se de uma pequena

empresa de caráter familiar, produtora de cosméticos anti idade de origem natural,

sendo a sua comercialização a principal atividade da empresa. O seu fundador também

fundou a Bioware, um laboratório especializado em formulação química para

cosméticos, que fornece as fórmulas aplicadas nos produtos da Novexpert.

A criação da marca teve origem num acordo entre o seu fundador e o grupo

internacional mencionado. Este grupo internacional e a Novexpert partilham os

mesmos princípios éticos e valores, que são o respeito pela pele e a descoberta de

novos princípios ativos.

13

3.2 Estrutura

A Novexpert conta com uns 20 assalariados, constituindo uma pequena e

média empresa (PME). O seu estatuto de PME é vantajoso para a empresa, pois facilita

a comunicação e coordenação internas tornando os colaboradores mais próximos

entre si. Este facto revelou-se muito vantajoso durante a realização do estágio, pois

permitiu aprender e observar de muito perto todo o mecanismo de funcionamento da

empresa. Durante a realização do estágio foi possível trabalhar em todos os

departamentos da empresa o que possibilitou a construção de uma ideia bastante

detalhada sobre a estrutura de uma empresa em geral e da Novexpert em particular.

Ao nível da estrutura interna da Novexpert esta conta com seis departamentos

organizados segunda a estrutura apresentada na seguinte figura.

Figura 4: estrutura interna da Novexpert

O estágio foi realizado no departamento de exportação que conta com uma

responsável por todo o processo de exportação e que foi a minha orientadora ao longo

do estágio, a Elise Verdot. Dentro das suas diversas funções pode-se mencionar a

administração de todos os clientes internacionais e a fixação dos preços nos mercados

externos. Normalmente, é ajudada por duas estagiárias que trabalham na abertura de

novos mercados e ajudando ainda a responsável noutras tarefas ligadas aos clientes

internacionais. O trabalho desenvolvido no âmbito deste estágio enquadra-se na

Cyrille Telinge- presidente diretor

geral

Contabilidade

Laure Marchegaw

Laboratório

Alexandra Gauthier- responsável qualidade e

regulamentação

Aurore Halimi- responsável formulação

Comercial France

Clarisse Calzi- responsável grande

contas

Gwendoline Pommeau- responsável

comercial França

Baya Lamraou- comercial terreno

Exportação

Elise Verdot- responsável exportação

Estelle Roger- responsável

exportação Bioware

Marketing e Comunicação

Coralie le Goff

Logística

Laure Marchegaw

Michel Telinge- conselheiro

14

abertura de novos mercados, beneficiando do facto do domínio da língua portuguesa.

Sendo um dos clientes português, designadamente as perfumarias Perfumes &

Companhia, parte das função desempenhadas ao longo do estágio foi o contato com a

distribuidora portuguesa, tratando de diversos assuntos desde regularização dos

stocks à resolução de incidentes com clientes portugueses.

Estas diversas funções desempenhadas ao longo do estágio, permitiram o

desenvolvimento de capacidades tecnológicas (desde o trabalho com programas de

logística internacional e plataformas de trocas de dados, a programas de edição de

imagem) e também pessoais.

4. A tendência dos cosmecêuticos: medicamentos ou cosméticos? Diversos fatores estiveram na origem da criação da Novexpert, entre os quais a

tentativa de resposta a uma necessidade cada vez mais sentida pelos consumidores

franceses. Por outras palavras, a busca por um produto eficaz, mas ao mesmo tempo

de origem natural.

O aparecimento dos produtos cosméticos biológicos teve uma grande

importância para esta indústria. Os consumidores franceses, sensibilizados para os

problemas ambientais e para o uso excessivo de produtos químicos, responderam

extremamente bem ao aparecimento de produtos cosméticos 100% biológicos

(Elfriede Dambacher, 2014). No ano de 2007, 350 000 consumidores franceses

compraram produtos biológicos, representando 2% do volume total de vendas do

setor inteiro de cosméticos (littlelessconversation, 2014).

No entanto, mesmo tendo demonstrado um grande sucesso, os cosméticos

100% biológicos sempre foram vistos como menos eficazes do que os produtos

cosméticos altamente químicos. Segundo um estudo cosmético realizado pela

entidade Littlelessconversation (2014), as marcas cosméticas têm de cruzar dois

universos para seguirem as tendências do mercado, nomeadamente, a preocupação

com a aparência e o conforto, mas também a procura por resultados visíveis e rápidos.

De acordo com este estudo, 57% das mulheres francesas preocupam-se com o seu

processo de envelhecimento e desejam retardá-lo, mas sem comprometerem a saúde

ou o bem-estar.

15

Como resposta à mudança no comportamento dos consumidores, surgiu o

conceito de cosmecêutico. Estes produtos são cosméticos, mas possuem princípios

ativos. Este conceito já tinha sido debatido no início dos anos 1990, quando Veermer e

Lavrijsen propuseram que os produtos utilizados por indicações cosméticas

tradicionais e com uma atividade farmacêutica significativa ou efeitos secundários

potenciais deveriam ser submetidos a uma legislação específica inserida numa nova

categoria dos “cosméceutiques” (Thiers et al., 2005).

Este conceito está na base da ideologia da Novexpert. O nome da empresa tem

origem na descoberta, feita pelos cientistas da marca, da Novaxylina, um ativo natural

anti idade. Este ativo provém de uma alga escura muito resistente às agressões

naturais e do meio ambiente, tais como desidratação, stresse osmótico, vento, frio,

etc. A ideia dos formuladores da Novexpert foi então utilizar este ativo natural nos

seus produtos. Por um lado, reduzindo a ação dos radicais livres, os quais são a

principal causa do processo de envelhecimento da pele e, por outro, aumentando a

vida das células. Neste sentido, os produtos Novexpert são classificados como

cosmecêuticos e naturais, unindo num só produto as principais tendências do mercado

nos nossos dias.

5. Estratégias de governação da Novexpert

5.1 Gamas de produtos Aquando a criação da Novexpert, a principal tendência no mercado dos

cosméticos era a biológica, desejando a marca posicionar-se neste segmento de

mercado. Neste sentido, entrou no mercado com uma gama de produtos chamada

Essential que está representada na figura abaixo.

Figura 5: Gama Essential da Novexpert

16

Esta gama foi lançada no ano de 2009 e estava dirigida a um consumidor fiel às

tendências biológicas e preocupado com a possível toxicidade de certos ingredientes

químicos utilizados na fabricação dos produtos cosméticos. Neste sentido, todos os

produtos tinham o certificado Ecocert e Cosmebio, que garantia que os produtos eram

100% biológicos.

A gama Essential era composta por cremes anti-rugas, mas também por cremes

para peles com imperfeições e manchas. Pouco tempo após o lançamento da gama,

foram-lhe acrescentados novos produtos, como produtos para limpeza da pele e

exfoliantes para o corpo, sempre dentro da linha biológica. Todos os produtos estavam

disponíveis em para-farmácias em França e ao nível internacional eram

comercializados em farmácias e também em lojas especializadas ou institutos de

beleza.

Aquando do início do estágio, a gama Essential estava a ser retirada do

mercado, pois já não apresentava o sucesso desejado, devido a fatores como a

mudança no comportamento dos consumidores e o aparecimento de uma imensidão

de produtos 100% biológicos que levaram a que esta gama fosse descontinuada.

Como já referido anteriormente a Novexpert adaptou os seus produtos às

novas exigências do mercado através do aparecimento da gama Docteur. Esta gama de

produtos tenta chegar aos consumidores que procuram soluções dermatológicas ou

médicas, mas ao mesmo tempo necessitam de ter confiança nos produtos e na sua

formulação natural. Assim a Novexpert reuniu quatro especialistas na área e criou esta

nova gama.

17

Figura 6: Gama Docteur da Novexpert

Como se pode observar na imagem acima, existem cinco sub gamas dentro da

gama Docteur. Cada sub gama foi criada por um especialista numa determinada área,

o qual batizou os produtos com o seu nome:

- Linha Anti-Age Expert, pelo Dr. Linder: esta linha é composta por um creme,

um fluído e um matifiante, todos anti idade. Esta linha é a mais “tecnológica” da

Novexpert e é assinada pelo Dr. Linder que é ex-diretor científico de um laboratório

especializado na criação de ativos anti idade, Laboratoires Sederma.

18

- Linha Anti-Age Express, pelo Dr. Colleta: esta linha é composta por um sérum

Lifting Instantané, um creme la crème Repulp e uma máscara. O creme Repulp era o

produto mais vendido tanto a nível nacional como a nível internacional. Neste caso

todos os produtos têm uma alta concentração em ácido hialurónico e são assinados

por um professor universitário doutorado em ciências.

- Linha Contour des Yeux Expert, pela Dra. Anna : esta linha é composta por um

Contour des Yeux Anti-cernes, um Contour des Yeux Anti-age e um Contour des Yeux

Lifting. Esta sub gama é totalmente dedicada ao contorno dos olhos e é assinada por

uma doutorada em biologia celular e especialista em oxidação celular.

- Linha Anti Age Embelliseur, pelo Dr. Leclere: esta sub gama é composta por

três BB cremes de tonalidades diferentes, o BB creme tem a capacidade de hidratar a

pele, corrigir as imperfeições e ao mesmo tempo atuar sobre as rugas. Esta linha é

assinada pelo ex diretor técnico da marca Sisheido e ex diretor científico da marca

Nuxe.

- Linha Eclat Expert, pelo Dr. Lintner: esta linha é composta por três produtos

que devem ser aplicados numa determinada ordem. Em primeiro lugar o exfoliante, de

seguida o sérum vitamine C e por último o crème peeling de nuit.

Durante a realização do estágio foi esta gama de produtos trabalhada. Mesmo

sendo composta por produtos de alta qualidade e que envolveram muita investigação

para a sua criação, o seu preço é relativamente baixo em relação aos seus

competidores diretos, o que facilitava, em certa medida, a adesão de possíveis

distribuidores internacionais à marca.

Também durante o período do estágio, na Novexpert, estava a ser preparada

uma nova gama de produtos que entrou recentemente no mercado. Esta gama é

composta por séruns extremamente concentrados em diferentes princípios ativos.

5.2 Comunicação Sendo a Novexpert uma empresa de pequena dimensão que não dispõe de

muitos recursos, esta utilizava várias estratégias pouco dispendiosas para dar a

conhecer a marca ao público.

19

No mercado doméstico, a empresa tentava manter uma relação o mais próxima

possível com os seus clientes e com os seus distribuidores. Ao nível dos clientes, a

Novexpert possuía uma base de dados com informação pessoal sobre os clientes,

conseguida através do preenchimento de questionários. Assim, a empresa procedia ao

envio de newsletters e de e-mails promocionais, uma vez por mês ou até com mais

frequência.

Para além destas iniciativas, procurava enviar amostras de produtos no dia de

aniversário dos clientes, acompanhadas de uma carta personalizada. Isto era possível

para os clientes inscritos no site da empresa, pois um dos campos obrigatórios no

preenchimento do formulário de inscrição era a data de aniversário.

Ao nível dos pontos de venda, a empresa enviava animadoras para cada ponto

de venda, que tinham como função a captação de clientes e a formação das

vendedoras dos pontos de venda. Estas animadoras não se mantinham no mesmo

ponto de venda, eram rotativas e viajavam por todo país até terem percorrido todos os

pontos de venda da Novexpert. Como instrumento de promoção da marca foi criada

uma máquina de diagnóstico da pele que circulava pelos pontos de venda com as

animadoras. Esta máquina chamada ISkin fazia uma avaliação do estado da pele, em

termos de hidratação, elasticidade, imperfeições, rugas e vermelhidão. No final, a

cliente obtinha um diagnóstico e era aconselhada a adquirir um determinado produto

da marca atendendo ao seu diagnóstico. Esta máquina também estava disponível para

os distribuidores internacionais da Novexpert, tendo sido adquirida por diversos países

como Rússia, Nova Caledónia, Filipinas, Tunísia, Espanha, entre outros.

A nível internacional, tornava-se mais desafiante estar em contacto regular com

os clientes. Assim, a empresa criou uma mensagem de correio eletrónico que era

enviada mensalmente, com uma dica sobre o uso dos produtos. Durante o estágio,

uma das responsabilidades assumidas era o envio desta mensagem e-mail, o que

permitiu verificar que esta estratégia era bastante vantajosa para a Novexpert e ao

mesmo tempo simples de executar. Após o envio da mensagem, os clientes

internacionais devolviam respostas satisfatórias e por vezes pediam mais dicas para

além da enviada mensalmente.

20

Figura 7: Dica do mês da Novexpert

5.3 Distribuição A nível nacional, a Novexpert optou pela exclusividade como modo de

distribuição. Com isto, a marca pretendia ser verdadeiramente especializada na venda

de produtos únicos anti idade e com um carácter científico. Assim optou por estar

presente em exclusividade na cadeia de para-farmácias francesa, chamada Parashop.

Este tipo de contrato de distribuição é vantajoso para a marca em certos

pontos como o facto de esta beneficiar da enorme rede de distribuição proporcionada

pela Parashop, tanto em cidades grandes como em áreas mais rurais; o facto dos

produtos Novexpert se encontrarem sempre dispostos à frente dos outros produtos

que não têm contrato de exclusividade; e por último o ter ao dispor da marca as

21

vendedoras com a função de dinamizar as vendas, ao aconselhar a Novexpert antes

das outras marcas.

Por contrapartida, a Novexpert está impossibilitada de comercializar os seus

produtos noutros estabelecimentos, durante um período de tempo estabelecido pelo

contrato de exclusividade.

Em relação ao domínio internacional, a empresa estava disposta a negociar a

exclusividade com os clientes estrangeiros, mas apenas em último recurso.

Em geral, a marca é extremamente flexível e adaptável às especificidades de

cada mercado. Assim sendo, em certos países a marca é comercializada em farmácias

como na Tunísia, em perfumarias, como em Portugal e em para-farmácias como na

Suécia. Este ponto era sempre debatido com o distribuidor internacional na medida

em que este possuí maior conhecimento sobre o mercado do seu país, podendo ajudar

a empresa a melhor se posicionar internacionalmente.

6 Teorias do comércio internacional Visto que as tarefas desenvolvidas ao longo do estágio sempre terem possuído

uma base internacional, desde a abertura de novos mercados até ao contacto com

clientes já existentes, parece pertinente melhor entender o que se entende por

mercado internacional e como este é explicado à luz de vários autores de grande

relevância para o tema.

6.1 Teoria Clássica

6.1.1 O mercantilismo

O fenómeno do comércio internacional é um tema que tem sido analisado por

diversos autores e por diversas escolas ao longo dos anos. Mesmo que as teorias

clássicas do comércio internacional datem do período do mercantilismo, as trocas

internacionais já ocorriam há milhões de anos atrás.

Desde a origem do homem que este sempre teve a tendência para trocar os

bens que possuía, mas que não necessitava, por outros bens que não possuía e lhe

faziam falta. Esta ideia também se aplicava à produção dos próprios bens e pode ser

encontrada nas origens das teorias clássicas do comércio internacional. Anteriormente

ao aparecimento destas teorias, o comércio internacional era visto com base na escola

22

mercantilista. Esta, defendia uma política internacional altamente protecionista e

considerava o comércio internacional como uma oportunidade para se obter um

excedente na balança comercial (Amaral et al. 2005). Isto era conseguido através do

superavit comercial, ou seja, o comércio internacional apenas era vantajoso quando as

exportações eram superiores às importações. Arthur Taylor (1997) explica que a

finalidade do mercantilismo era aumentar os stocks monetários através da produção

manufatureira que por sua vez dava origem a produtos para a exportação. A

importação de matérias-primas representava uma saída de ouro inferior à entrada

correspondente à exportação de produtos transformados.

Segundo Mark Blaug (1997), o pensamento mercantilista assentava nos seguintes

aspetos:

a) O ouro em barra ou qualquer outro tipo de tesouro eram vistos como a

essência da riqueza, esta era conseguida através da maior quantidade possível

de metais preciosos que cada país tinha em sua posse;

b) A regulação das trocas internacionais tinha como objetivo a criação de um

fluxo de ouro e prata;

c) A promoção da indústria feita através da importação de matérias-primas

baratas;

d) O pagamento de tarifas na importação de bens já manufaturados;

e) O incentivo à exportação, principalmente de bens já produzidos;

f) A ênfase no crescimento da população, mantendo sempre os salário baixos.

Esta teoria foi vista por Adam Smith como um conjunto de falácias protecionistas

que se baseavam numa noção popular de que a riqueza era constituída apenas por

dinheiro (Blaug, 1997). Também segundo Taylor (1997), as obras teóricas do

mercantilismo são limitadas, mesmo que as suas opiniões em matéria de política

económica não devam ser desvalorizadas. Um dos motivos apontados para o insucesso

da teorização mercantilista, eram os difíceis problemas suscitados pelos sistemas

monetários da época.

23

6.1.2 Adam Smith e as vantagens absolutas

Uma resposta às falhas do mercantilismo surgiu através da escola clássica com

a publicação da obra de referência Inquérito sobre a Natureza e causa da Riqueza das

Nações (1776). O seu autor, Adam Smith, escreve numa época em que o

desenvolvimento industrial inglês e escocês já era evidente, os trabalhadores

passavam dos campos para a indústria e anunciava-se uma revolução industrial.

Neste sentido, a produção desempenhava um papel cada vez mais importante,

associada ao trabalho assalariado, divisão do trabalho e liberdade do comércio interno

e externo (Romão et al. 1997). Perceber a razão que estava por detrás do

enriquecimento das nações foi um dos maiores desafios dos economistas durante

séculos. Vários tentaram dar uma resposta a esta questão, como os mercantilistas ou

os fisiocratas. Foi então que surgiu a resposta de Adam Smith, para quem a riqueza era

conseguida através do trabalho: “o trabalho anual de cada nação é o fundo primitivo

que lhe fornece todos os objetos necessários e úteis à vida que todos os anos ela

consome, e que consiste sempre num produto imediato do trabalho ou no que se

compra com este produto às outras nações”.7 Smith manifesta assim que o trabalho,

em geral realizado através da cooperação dentro de uma nação, é a principal fonte de

riqueza das nações, e não apenas a terra. A cooperação natural mencionada por Smith

é também chamada de divisão do trabalho. O autor chama a atenção para a ideia de

que um chefe de família prudente deveria ter em atenção a seguinte máxima: nunca

tentar fazer por si mesmo aquilo que fica mais caro fazer do que comprar. O autor

acrescenta o exemplo do alfaiate que não fabrica os seus sapatos, mas sim recorre a

um sapateiro para os comprar. O mesmo se aplica ao agricultor ou ao artesão, todos

estes consideram que devem focar a sua produção naquilo que têm vantagem a

produzir e comprar os restantes elementos que necessitem. Assim sendo, a riqueza

das nações tem origem na divisão do trabalho.

É a quantidade de trabalho usada para a produção de um determinado bem

que lhe atribui valor. Aqui Smith distingue entre os conceitos de valor de uso e valor de

troca. O primeiro faz referência à utilidade que um determinado bem possui, o

7 Adam Smith citado em Taylor 1997

24

segundo diz respeito à vantagem oferecida por um determinado bem quando este é

trocado por outro bem ou bens. Este valor vai ser influenciado pelas variações na

procura e na oferta presentes no mercado.

A relação entre procura e oferta num dado mercado é harmoniosa, porque

quando se verifica o aumento do preço de um bem, devido à sua escassez, os

produtores irão ter um estímulo para aumentar a produção desse bem. Este aumento

de produção vai fazer com que a oferta desse bem aumente, no entanto, mantendo-se

a procura constante, dará origem a uma descida no preço inicial. Assim sendo, o valor

da troca está dependente das oscilações entre oferta e procura no mercado. O autor

chama à vantagem de produção ou produtividade de vantagens absolutas, estas

desempenham um papel primordial na sua teoria do comércio internacional (Adam

Smith, s.d.).8

Aplicada esta ideia aos países, um país possui vantagem absoluta numa

produção quando a faz de forma mais produtiva do que os restantes países. Smith vê a

produtividade como a menor utilização de uma quantidade de fatores produtivos para

produzir um determinado bem a menores custos. Neste sentido, cada país deverá

especializar-se na produção do bem que produz com menor custo.

De acordo com Taylor (1997), a escola de Adam Smith tem uma base

psicológica, que é o interesse individual. Ou seja, os indivíduos movem-se por

interesses individuais em busca de satisfazer as suas necessidades também individuais.

Estas necessidades podem ser satisfeitas através da divisão do trabalho, que por sua

vez aumenta significativamente a produção individual, e também através do

mecanismo dos preços que adapta automaticamente a oferta à procura. Também o

autor Henri Denis (1990) faz referência ao princípio de Smith de que a divisão do

trabalho era a fonte do enriquecimento das nações. Esta ideia era nova para a época e

explicava a divisão do trabalho pela propensão que os indivíduos têm para trocar entre

si.

Considerando que o mercado se autorregula, Adam Smith é contra a

intervenção do Estado na vida económica, pois considera a sua intervenção inútil e

considera o Estado incapaz para a regulação das atividades e funções económicas.

8 Citado me Amaral et al. 2005

25

Assim sendo, mesmo a nível interno, o autor é a favor da liberdade de

estabelecimento de indústrias e de circulação de mercadorias e a nível externo, opõe-

se às restrições às importações, aos incentivos às exportações e às concessões de

monopólios. Segundo Romão et al. (1997), o mercado internacional representava para

Smith uma saída para o excedente interno da produção inglesa, mas também uma

oportunidade de investimentos e uma fonte de novos produtos que não eram

produzidos internamente.

A questão que aqui se põe é então saber quais os bens, concretamente, cada

país deve transacionar no mercado internacional. A teoria de Adam Smith assentava

em dez pressupostos:

1) O trabalho é o único fator de produção;

2) Os países têm produtividades no trabalho diferentes;

3) Os custos de produção são constantes, não se alteram nem com a

quantidade produzida nem como tempo;

4) O trabalho é perfeitamente móvel entre indústrias do mesmo país, no

entanto, é imóvel entre diferentes países;

5) A dotação fatorial de cada país é fixa;

6) O fator produtivo trabalho é homogéneo;

7) Existe pleno emprego;

8) Existem rendimentos constantes à escala;

9) Não há qualquer impedimento à livre troca de produtos, nem no interior de

cada nação, nem entre nações. Esta hipótese elimina os direitos aduaneiros,

as restrições quantitativas, etc.;

10) Todos os mercados são de concorrência perfeita, este tipo de mercado

carateriza-se pela existência de várias pequenas unidades económicas, do

lado da oferta e também do lado da procura. Estas não têm dimensão

suficiente para influenciar os parâmetros dos preços e da produção. Para

além disto, o produto é homogêneo e as unidades económicas dispõe de

livre entrada e saída (Medeiros, 1994).

A pergunta que se pode colocar agora diz respeito aos preços relativos

internacionais dos produtos. Estes preços relativos estão relacionados com o valor da

26

troca. Smith acredita que as trocas de mercadorias são na realidade trocas de trabalho

necessário para a sua produção: “ o preço real de cada coisa, o que cada coisa custa

realmente àquele que quer adquiri-la, é o trabalho e o sacrifício que ele deve impor-se

para a obter. O que cada coisa vale realmente para aquele que a adquiriu e que

procura dispor dela ou trocá-la por qualquer outro objeto é o sacrifício e a dificuldade

que a posse dessa coisa lhe pode evitar e que ela lhe permite impor às outras pessoas”

Adam Smith (s.d.).9

Se se verificar existência do comércio internacional, os preços baseados na

relação valor-trabalho irão alterar-se significativamente.

Mesmo que esta teoria tenha uma grande importância económica, tem

também uma grande limitação, relacionada com o facto de que um país ineficiente na

produção de certos bens ficar excluído de entrar no comércio internacional. A troca

internacional apenas poderia verificar-se se um país A tivesse vantagem absoluta na

produção de um bem X e um outro país B tivesse vantagem absoluta na produção de

um outro bem Y. Mas então o que acontece a um país que tem vantagem nos dois

bens? Ou ao país que não tem vantagem em nenhum bem?

6.1.3 Ricardo e as vantagens comparativas

A resposta a esta questão, passa pelo contributo de David Ricardo através da

sua obra Princípios da Economia Política e Tributação (1965) que aprimorou a teoria do

primeiro ao estender os ganhos do comércio internacional aos países que não

possuam vantagens absolutas em relação aos outros. Segundo Romão et al. (1997),

Ricardo sentiu necessidade de tornar o modelo analítico de Smith mais abrangente.

Segundo a sua teoria um país é capaz de beneficiar com o comércio

internacional mesmo que não seja absolutamente mais eficiente do que os outros

países na produção de um determinado bem (Samuelson et al., 2005) ou que o sistema

de preços relativos de um país seja diferente do outro. Na opinião de Ricardo, a

economia identifica-se com a teoria da repartição pois analisa “as leis determinadas

9 Citado em Henri (1990).

27

pela divisão do produto da indústria entre as classes que concorrem para a sua

formação” Ricardo (1965).10

Contrariamente a Adam Smith que dava dois significados ao termo valor, para

Ricardo o valor é sempre determinado pelo trabalho. Este considera que o trabalho é a

fonte de todo o valor e a sua quantidade relativa a medida que regula quase

exclusivamente o valor das mercadorias. Segundo Taylor (1997), o trabalho para

Ricardo é a soma de todos os trabalhos necessários para obter a riqueza produzida.

O caminho para um determinado país chegar aos benefícios do comércio

internacional é através da sua especialização na produção e exportação dos bens que

consegue produzir a um custo relativamente mais baixo do que os outros países.

Aplicando o mesmo raciocínio às importações, um país menos eficiente na produção

de um determinado bem irá beneficiar se importar esse mesmo bem em vez de o

tentar produzir domesticamente.

Mantendo as diferenças tecnológicas como base, Ricardo substitui as vantagens

absolutas por vantagens comparativas ou relativas, as quais refletem os custos de

oportunidade. Segundo Samuelson et al. (2005), os custos de oportunidade são o valor

do melhor uso alternativo de um bem económico ou o valor do bem económico que é

sacrificado. Por outras palavras, é a relação entre as quantidades de um determinado

bem que os países têm de deixar de produzir para se focarem na produção de um

outro bem, isto é, qual a quantidade do bem X que um país tem de deixar de produzir

para conseguir produzir uma unidade extra do bem Y.

Estas vantagens são medidas de acordo com os custos de produção em termos

de horas de trabalho, ou seja, a produtividade do fator trabalho de distintos bens irá

ditar a especialização que um certo país deverá seguir (Amaral, 2005).

O princípio das vantagens absolutas é então substituído pelo princípio das

vantagens comparativas. Um país irá especializar-se na produção de um bem cujo

custo relativo em autarcia desse bem é inferior ao custo relativo desse mesmo bem,

em autarcia, no outro país. Com a liberdade do comércio os países modificam as suas

atividades produtivas, para que isto aconteça o sistema de preços relativos não pode

ser idêntico nos dois países.

10

Citado em Taylor (1997)

28

Com o livre comércio, todos os países saem beneficiados e cada um concentra-

se na sua área de vantagem comparativa. Os trabalhadores podem obter uma maior

quantidade de bens por um custo relativo inferior ao praticado em autarcia, pois

trocam a sua própria produção pelos bens em que têm vantagem comparativa

(Samuelson et al. 2005). O preço desses bens, segundo Guillochon (1993), ou seja o

preço da troca internacional é o mesmo que o preço da troca no interior de cada país,

pois não existem obstáculos às trocas nem custos de transporte. O preço que irá se

estabelecer equilibra o mercado, isto é, garante a igualdade entre a oferta e a procura

dos bens.

Os custos relativos de cada país são iguais à taxa de substituição na produção.

Esta taxa é igual à quantidade de um bem que renunciada quando se quer produzir um

outro bem. A isto também se pode chamar de custo de oportunidade, como já foi

referido acima (Guillochon, 1993).

Em conclusão, o comércio internacional, através da especialização, permite a

reorganização vantajosa para todos da produção mundial, pois os países tendem a

aproveitar as suas vantagens comparativas. Conseguindo os agentes económicos

aperceber-se de como reduzir os seus custos de oportunidade, a especialização via

vantagem comparativa é um processo automático.

Os bens que cada país importa e exporta são o resultado de cálculos

económicos individuais que são ditados pela interação entre todos os países. O que

dita as regras e o princípio das vantagens comparativas é a procura e a oferta no

mercado, que se autorregula gerando um funcionamento perfeito dos mercados

(Gomes, 2008).

Ninguém pode negar a importância de Ricardo para o comércio internacional.

Este autor foi o que conseguiu chegar mais longe em um período de tempo mais curto

(Guillochon, 1993). No entanto, Ricardo ou Smith não consideraram o avanço

tecnológico e como este poderia contrariar o mecanismo dos rendimentos marginais

decrescentes na produção.

Também na perspetiva de Samuelson et al. (2005), a teoria das vantagens

comparativas tem as suas limitações. Este autor aponta duas limitações, A primeira em

relação ao pressuposto clássico de um funcionamento contínuo de uma economia

concorrencial. Quando a economia está em depressão, ou o sistema de preços não

29

funciona, não é possível afirmar que todos os países ganham com o comércio

internacional.

A segunda limitação apontada por Samuelson et al. (2005) diz respeito à

distribuição do rendimento. Segundo Ricardo, a abertura de um país ao comércio

internacional aumentará o rendimento nacional do país, dado o país poder consumir

mais de todos os bens e serviços, em comparação à situação de autarcia, na qual as

fronteiras estariam fechadas às trocas internacionais. No entanto, se via importação o

comércio livre aumentar a oferta dos bens que são produzidos por um determinado

fator de produção ou uma certa região, estes podem acabar por apresentar

rendimentos inferiores aos que teriam antes do livre comércio.

Segundo Samuelson et al. (2005) o trabalho não qualificado nos países de

rendimento elevado tem sofrido reduções salariais, devido ao aumento das

importações vindas dos países em desenvolvimento que competem através da sua

mão-de-obra a preços muito reduzidos.

Gomes (1972) afirma que as conclusões que podemos retirar do princípio das

vantagens comparativas depende da maneira como este é encarado. Se este for visto

como rígido, estático e preso aos seus pressupostos clássicos, é fácil encontrar defeitos

ou limitações. No entanto, se for visto como um processo dinâmico que estabelece um

fundamento para a compreensão das motivações que estão por trás das trocas

internacionais, o princípio das vantagens comparativas torna-se extraordinário, na

medida em que permite entender que a afetação a cada uma das tarefas que se realiza

de forma mais produtiva é tão verdade para países, como indivíduos e indústrias. Para

além disto, demonstra que a especialização e o comércio andam de mãos dadas, ou

seja, a primeira não tem utilidade sem a segunda e esta não ocorre sem a primeira.

Gomes (1972) acrescenta a importância da diferença na produtividade para o

comércio internacional. Este apenas faz sentido, porque os recursos dos países são

limitados e logo não podem ser utilizados em diversos tipos de produção.

6.2 Teoria Neoclássica

6.2.1 O Modelo de Hecksher-Ohlin

30

A teoria ricardiana inspirou muitos autores e economistas a estudarem o

comércio internacional e a tentarem encontrar uma teoria explicativa mais próxima da

realidade.

A primeira aproximação à realidade foi a introdução de mais um fator

produtivo. Esta teoria explica as vantagens comparativas e a especialização de um país

através da sua dotação fatorial e ficou conhecida como modelo de Hecksher-Ohlin

(HO). Esta teoria foi desenvolvida por Hecksher através da publicação de um artigo

sueco em 1919 e por Ohlin através de um livro publicado em inglês em 1933. Ambos

autores apresentam as seguintes premissas:

- A produção de um bem requer diferentes quantidades de fator produtivo, ou

seja, trabalho ou capital;

- Os países apresentam diferentes dotações fatoriais.

Normalmente, são considerados três fatores produtivos, sendo eles, o trabalho,

isto é, a mão-de-obra disponível para a produção, o capital, que diz respeito ao

conjunto de infraestruturas e equipamentos que a economia criou através do

investimento, e, por último, os recursos naturais que também podem ser designados

por terra. No modelo aqui estudado são considerados apenas dois fatores produtivos e

são introduzidos dois novos conceitos relacionados com estes fatores:

Abundância relativa dos fatores produtivos: esta refere-se à comparação entre

economias e as suas quantidades relativas de trabalho e capital. Se um país tem uma

maior quantidade de capital, em relação ao trabalho, do que outro país, significa que o

primeiro é relativamente abundante em capital. Esta análise é sempre feita numa base

relativa, isto é, considerando a abundância ou escassez de um dos fatores produtivos

em relação aos outros. Um país é relativamente mais abundante em trabalho se tiver

disponível uma maior quantidade do fator trabalho do que outro país, sendo a

quantidade medida em unidades de capital, ou seja, o país possui uma maior

quantidade de trabalho por unidade de capital.

Este critério é um dos critérios de classificação dos países e é considerado o

critério físico. Semelhante às vantagens comparativas, não é necessário a existência de

uma abundância absoluta, mas sim relativa.

Intensidade relativa dos bens: quantidade em que os diferentes fatores

produtivos são utilizados para a produção de um bem. A intensidade do fator trabalho

31

de um bem respeita às quantidades desse fator que cada economia afeta à produção

de cada um dos bens. Semelhante às abundâncias relativas, este conceito também é

relativo, pois mesmo que um setor, que produz um determinado bem, possa ser mais

intensivo no uso dos dois fatores produtivos, quando comparado com outro setor, em

termos relativos, esse setor terá uma intensidade relativa maior no fator que mais

utiliza. Neste contexto, uma produção pode ser trabalho- intensiva ou capital-

intensiva.

Num artigo publicado por Eli Hecksher, em 191911, este pretende dar enfâse ao

termo “fator de produção” não se referindo apenas às capacidades da terra, do capital

e do trabalho, mas sim às qualidades de cada um destes fatores produtivos. Os

conceitos de abundância e intensidade aplicados a estes fatores correspondem a duas

situações distintas, isto é, a abundância de fatores produtivos diz respeito às

quantidades que cada país tem disponíveis para produzir diferentes bens, enquanto, a

intensidade de fatores produtivos refere-se às quantidades de fatores necessárias para

a produção de um determinado bem. No primeiro caso, são comparadas dotações

fatoriais entre países e, no segundo caso, compara-se a quantidade de fator produtivo

que é necessária à produção de um bem, ou seja, os requisitos exigidos pela produção

em diferentes setores num mesmo país.

À semelhança do modelo proposto por Ricardo, as dotações fatoriais em HO

são exógenas. Neste modelo não há uma explicação para o motivo pelo qual um país

tem maior ou menor dotação de fatores. O mesmo se aplica às intensidades fatoriais

dos bens (Gomes, 1972).

O modelo de HO também ficou conhecido pelo modelo 2x2x2, pois para os

autores há dois fatores produtivos, trabalho e capital, dois países e dois bens. Tudo o

resto, tecnologias ou preferências dos consumidores são assumidas idênticas nos dois

países. Para além disto, mesmo que os bens produzidos não sejam os mesmos, as

técnicas usadas em cada país para a produção dos bens são idênticas, ou seja, as

funções de produção são as mesmas para os dois países.

Nas condições acima enumeradas o padrão de especialização vai ser descrito

do seguinte modo:

11

Citado em Gonçalves (1997)

32

Um país que possui uma vantagem comparativa no bem que usa

intensivamente o fator produtivo abundante no país (Gomes, 1972). Por outras

palavras, um país tenderá a especializar-se na produção do bem que usa de modo mais

intensivo o fator produtivo no qual o país é relativamente mais abundante.

De uma forma geral, quando os dois países praticam o comércio livre, cada um

deverá especializar-se total ou parcialmente na produção do bem que utiliza

relativamente mais intensamente o fator relativamente mais abundante nesse país.

Assim, exportará este bem em questão para o outro país e importará o outro bem

(Guillochon, 1972). O termo “deverá” permite ao teorema de HO fornecer um padrão

de especialização eficiente pois não é determinístico.

Contrariamente a Ricardo, é introduzido um novo fator de produção e a

abundância e intensidade relativas de fatores são as determinantes do padrão de

especialização dos países. Aqui já não é apenas a produtividade que determina a

especialização, mas também a dotação fatorial e as necessidades de fatores para a

produção de um determinado bem. Mas esta especialização não será completa devido

à substituição do princípio dos custos de oportunidade crescentes pelos custos de

oportunidade constantes. Um país A irá produzir um bem X e um país B irá produzir

um bem Y nas quantidades que estão associadas aos custos de oportunidade internos

iguais aos preços relativos internacionais (Romão et al. 1997).

Os pressupostos do modelo de HO também foram alvo de críticas devido, entre

outros fatores, à sua rigidez. O ambiente concorrencial de pleno emprego, no qual os

fatores produtivos exibem perfeita mobilidade entre setores, mas imobilidade entre

países, aliados às idênticas capacidades tecnológicas e preferências entre economias e

a não existência de obstáculos ao comércio livre, são postos em causa quando

confrontados com a realidade, na medida em que os custos de transporte, os

obstáculos geográficos ou as barreias políticas modificam, de forma relevante, o

comércio doméstico e o comércio internacional.

6.2.2 Teoremas do modelo de Hecksher-Ohlin

33

O teorema de HO foi estudado e estendido por diversos autores dando origem

a três novos teoremas que serão explicados de uma forma breve.

Teorema da igualização do preço dos fatores: este foi proposto por Samuelson e

demonstra que em situação de livre comércio, e num mundo 2x2x2, ocorre um

nivelamento do rendimento dos fatores produtivos entre países, servindo como uma

possível substituição para a inexistência de mobilidade internacional. Ou seja, o capital

utilizado no país A para a produção do bem X será remunerado de forma idêntica ao

trabalho utilizado no país B para a produção do bem Y. Esta igualização apenas se

verifica uma vez instalado o sistema de trocas e se nenhum dos países estiver em total

especialização.

Teorema Stolper-Samuelson: este teorema enuncia que havendo um aumento no

preço relativo de um bem irá aumentar, para ambos bens, o rendimento real do fator

utilizado intensivamente na produção do bem e reduz, para ambos bens, o rendimento

real do outro fator. Isto demonstra que não havendo mobilidade perfeita de fatores a

nível internacional, nem todos os intervenientes saem beneficiados com a participação

no comércio internacional.

Teorema de Rybczynski: este teorema defende que na presença de pleno emprego dos

fatores de produção, uma expansão na dotação de um fator de produção faz aumentar

o produto do bem que usa esse fator intensivamente e reduz o produto do outro bem.

Por outras palavras, supondo que um país experimenta um aumento de um fator, por

exemplo o trabalho, mantendo-se o livre comércio, este aumento irá fazer com que

aumente a produção do bem intensivo em trabalho e reduzir a produção do bem

intensivo em capital. Assim, a maior dotação de um fator implica que haja um desvio

de recursos para a produção do bem que usa intensivamente esse fator.

Estes três teoremas pretendem completar o raciocínio das vantagens

comparativas e estendê-lo à existência de vários países, bens e fatores. Para além

disto, também demonstram que a especialização e o comércio com a utilização correta

dos recursos geram ganhos de bem-estar.

6.2.3 O paradoxo de Leontief

Vários foram os testes realizados às teorias de Ricardo e de HO. Os testes

realizados aos modelos de Ricardo tiveram resultados satisfatórios, mas o mesmo não

34

aconteceu aos testes realizados ao teorema de HO. Um dos mais relevantes foi

elaborado por W. Leontief, em 1953.

Segundo Guillochon (1993), para se verificar se o modelo de HO está de acordo

com a realidade é necessário que se disponha de dados sobre as dotações fatoriais dos

países e sobre os conteúdos fatoriais das exportações e importações. No entanto, não

sendo fácil encontrar estas informações, Leontief assumiu que os EUA seriam um país

relativamente abundante em capital em relação ao resto do mundo. Então, seria de

esperar que os EUA apresentassem exportações de bens relativamente intensivos em

capital e importação de bens relativamente intensivos em trabalho. No entanto, os

resultados obtidos por Leontief não foram os esperados de acordo com o teorema de

HO.

Leontief descobriu que as exportações americanas eram relativamente mais

intensivas em trabalho, por unidade de capital, e as importações relativamente mais

intensivas em capital, por unidade de trabalho. O autor procurou uma explicação para

os resultados que obteve e chegou à conclusão que, por motivos de diversa natureza

(superioridade nas habilitações técnicas, espírito de empresa, etc), os trabalhadores

americanos eram mais produtivos do que os trabalhadores do resto do mundo. Um

trabalhador americano valeria por três trabalhadores estrangeiros e então os EUA

seriam um país relativamente mais abundante em trabalho do que em capital, devido

à alta produtividade dos seus trabalhadores.

As conclusões de Leontief foram criticadas por vários autores que defendiam

que as técnicas produtivas usadas nos EUA não eram as mesmas que as técnicas

utilizadas no resto do mundo, o que faria com que a análise estivesse fora do âmbito

do modelo de HO. Também foram apontados outros fatores para justificar os

resultados de Leontief, tais como, a existência de uma procura mais interessada por

bens relativamente intensivos em capital, a ocorrência de reversões fatoriais ou a não

inclusão dos recursos naturais nos fatores produtivos.

6.3 Novas teorias dos determinantes das trocas

Na sequência dos testes empíricos realizados aos modelos clássicos e

neoclássicos surgiram várias novas teorias sobre as trocas internacionais. Podem-se

35

considerar dois tipos de abordagens: as que seguem os pressupostos dos clássicos e

neoclássicos e as novas abordagens.

Dentro das novas abordagens surgiram as seguintes correntes:

- Análise neo-fatorial: as trocas têm origem nas vantagens comparativas e as dotações

fatoriais dos países são diferentes;

- Análise neo-tecnológica: as trocas também são motivadas pelas vantagens

comparativas, mas a diferença entre os países está na tecnologia que cada país dispõe;

- Teoria de Linder: as trocas são motivadas por causas intra-industriais e a procura

interna dos países é semelhante;

- Teoria do comércio internacional em concorrência perfeita: as trocas também são

motivadas por causas intra-industriais e há ocorrência de economias de escala

internas.

Dentro destas teorias irei focar-me na análise neo-tecnológica, através da teoria do

Ciclo de vida do Produto de Vernon, e na análise da teoria da procura de Linder. Esta

escolha baseia-se no facto de ambas se aplicarem ao trabalho desenvolvido durante o

estágio.

6.3.1 Ciclo de Vida do Produto

Esta teoria foi elaborada por R. Vernon e analisa as causas da inovação e as

modalidades da sua difusão internacional. Segundo este autor, as inovações

tecnológicas que são realizadas por um certo país originam novas vantagens

comparativas que permanecem enquanto não se propagam internacionalmente.

Na perspetiva de Vernon todos os países avançados teriam acesso aos mesmos

conhecimentos científicos, mas a sua transformação em inovação exigia um mercado

doméstico vasto e rico que fosse capaz de absorver as novidades. Na altura em que a

teoria foi desenvolvida, ou seja nos anos 60, era o mercado norte-americano que

melhores caraterísticas apresentava, de acordo com os pressupostos de Vernon, pois

uma grande parte das inovações apareciam neste mercado.

Para explicar o comportamento das multinacionais americanas, o autor dividiu

o ciclo do produto em três fases, às quais foi acrescentada, posteriormente, uma nova

fase.

36

Fase Preço Intensidade fatorial

1ª- Produto novo Elevado I&D e trabalho

especializado

2ª- Crescimento Diminui Capital

3ª- Maturidade Diminui Capital e trabalho não

especializado

4ª- Declínio Diminui Trabalho não

especializado

Tabela 2: Ciclo de vida do produto, adaptado de Romão et al. (1997)

Numa primeira fase, o novo produto será produzido no país desenvolvido (os

EUA) e será pouco estandardizado. Como os consumidores americanos dispõem de

altos rendimentos há um estímulo à produção de produtos inovadores (Romão et al.,

1997). A sua técnica de produção utilizará fortemente trabalho especializado, pois a

sua produção ainda não estará automatizada. Como o lançamento de um novo

produto envolve sempre um risco de incerteza, este é direcionado para o mercado

doméstico, pois está mais próximo geograficamente, o que compensa os elevados

custos de produção.

Numa segunda fase, assiste-se a uma diversificação do produto e estarão

disponíveis no mercado outras modalidades e formas do produto inicial. Como as

técnicas de produção se estabilizam, o produto começa a ser fabricado em larga

escala, passando a utilizar mais capital para a sua produção. Através deste processo, os

preços unitários do produto descem, o que vai provocar um aumento da procura pelo

produto, por parte dos consumidores. Nesta fase, ocorre o consumo em massa no

mercado doméstico.

Numa terceira fase, o produto começará a ser exportado para o mercado

europeu. Os consumidores europeus exprimem um desejo de obter o produto, visto o

seu preço ser mais aceitável e as suas caraterísticas mais atrativas. Nesta fase, a

produção numa única localização deixa de ser viável, devido aos custos salariais

elevados no mercado americano. Para contornar esta situação, as empresas

americanas deslocam a sua produção para países nos quais os custos salariais são

inferiores aos americanos, o que é o caso do mercado europeu. A oferta de produto na

37

Europa é satisfeita pelas exportações americanas, de uma forma reduzida, e,

maioritariamente, pelas vendas feitas pelas filiais americanas que agora estão

presentes no mercado europeu. Também a procura americana pode começar a ser

satisfeita através de importações das filiais europeias em direção aos EUA.

Numa última fase, a produção tornar-se-á completamente padronizada, já não

requerendo mão-de-obra qualificada. Então a produção deslocar-se-á para países em

vias de desenvolvimento, onde a mão-de-obra tem custos muito inferiores aos

europeus e americanos. Nesta fase, o preço do produto é muito menor do que o seu

preço inicial, a sua procura estagna na Europa e entra em declínio nos EUA.

A vantagem comparativa que os produtores americanos tinham na primeira

fase vai ser altamente alterada, devido às diferenças na intensidade fatorial do bem

que ocorrem durante todo o ciclo do produto. A intensidade fatorial do bem está

relacionada com dois conceitos distintos que são a “vantagem do saber” e a

“vantagem estática”. O primeiro tipo de vantagem está relacionado com a mão-de-

obra qualificada, ou seja, o produtor tem vantagem num certo bem, pois é o único que

tem o saber suficiente para o produzir. Quando este saber passa a ter menos

importância do que o baixo nível de salários, estamos então na presença de uma

“vantagem estática” (Romão et al. 1997).

Um dos vários contributos da teoria de Vernon foi a explicação do paradoxo de

Leontief. Visto que, sendo os EUA o país inovador por excelência e à luz da teoria do

ciclo de vida do produto, os EUA exportam bens intensivos em trabalho especializado,

num primeira fase, e importam o produto, mais tarde no seu ciclo de vida, quando as

exigências de mão-de-obra qualificada forem menores em relação ao capital.

Esta teoria permite enquadrar o trabalho desenvolvido no estágio realizado, na

medida em que é pertinente considerar que o país inovador no mercado cosmético é

França. Assim sendo, é neste país que vão surgir as novidades no mundo dos

cosméticos, o que se pode verificar através da quantidade de recursos que são

empregues em I&D para os cosméticos em França, em relação com os outros países.

País Ano da útlima informação

disponível

Total de gastos em I&D

(€m)

França 2001 262.4

38

Tabela 3: Gastos em I&D, fonte:Eurostat

No caso específico da Novexpert, sempre que havia uma novidade esta era

inicialmente lançada no mercado francês. Mesmo antes do seu lançamento, os

colaboradores e estagiários da empresa realizavam testes aos novos produtos dando a

sua opinião em relação à textura, cheiro e cor. Para além destes procedimentos, eram

preenchidas escalas de satisfação em relação à novidade, por todos os elementos da

empresa.

A procura de cosméticos no mercado francês justificava que o lançamento

fosse realizado nesse mercado. Para além da situação geográfica ser a mais favorável,

a competição no mercado francês de cosméticos é bastante feroz, o que permitia

concluir que se o novo produto tivesse bons resultados no mercado doméstico,

facilmente os teria no mercado internacional.

Numa fase inicial, os novos produtos apresentavam preços mais elevados, pois

os recursos utilizados para a obtenção de novas fórmulas químicas tinham de ser

compensados com um preço de venda ao consumidor mais elevado. Quando os

produtos já tinham sido testados no mercado francês, passava-se então para a

exportação.

Numa segunda fase, a fabricação dos novos cosméticos já se tinha tornado mais

fácil, pois as fórmulas químicas utilizadas já eram as definitivas, e então entrava-se

num processo de cópia com uma produção padronizada. Nesta altura, os produtos

estavam prontos a serem enviados para os clientes internacionais. No entanto, este

processo não era tão simples quanto pode parecer, isto é, os clientes internacionais

não dispunham todos dos mesmos produtos, já que estes eram adaptados a cada

mercado internacional. Nos países com uma cultura semelhante à francesa, como é o

caso português ou espanhol, as gamas de produtos disponíveis eram quase as mesmas

e os preços praticados em França também eram os preços praticados nestes países.

Alemanha 2004 108.9

Reino Unido 2001 16.8

Espanha 2000 14.6

Itália 1999 2.9

39

No entanto, para países do norte da europa ou asiáticos, certos produtos com

coloração não eram enviados, pois os consumidores destes mercados são

caraterizados por um tom de pele mais claro do que os consumidores do sul europeu.

Numa terceira fase, verifica-se o aparecimento de outras marcas concorrentes

com produtos semelhantes aos da Novexpert. Um exemplo foi o que ocorreu com a

gama Essential deste grupo. Esta gama foi a primeira a ser lançada e desejava impor-se

como biológica e 100% natural. Note-se o surgimento simultâneo de vários produtos

da concorrência que também se caraterizavam por usarem ingredientes 100% naturais

e serem amigos do ambiente. Então a gama Essential começou a sofrer descidas nas

vendas quase em todo o país. Nesta altura, segundo o ciclo de vida do produto, seria o

momento de deslocalizar a produção para países, nos quais o trabalho fosse menos

remunerado do que em França, o que iria permitir à Novexpert descer os seus preços

de venda ou ter uma maior margem de lucro, por cada unidade vendida. No entanto, o

caminho tomado não foi este, pois uma das imagens que a marca desejava passar ao

consumidor era que a sua produção era feita a 100% em França, podendo usar o

logotipo do “Made In France”.

Com a decisão da não deslocalização da produção ou a não remodelação dos

produtos, estes entraram em declínio e a gama Esssential acabou por ser retirada do

mercado francês, num primeiro período e, posteriormente, do mercado internacional.

6.3.2 A teoria da Procura de Linder

A teoria de Linder refletia as tendências de desenvolvimento do comércio intra-

ramo e também o papel preponderante dos EUA a nível mundial. Este autor opõe-se

ao modelo de HO, pois não considera que sejam as dotações fatoriais que explicam a

troca de produtos entre países desenvolvidos, mas o comportamento da procura em

cada país. Linder partilha a ideia de que as vantagens comparativas estão ligadas ao

comércio internacional, no entanto, estas não têm origem na dotação fatorial dos

países.

Para melhor entender a teoria de Linder é importante distinguir entre comércio

de bens industriais e de bens primários. O comércio dos bens industriais desenvolve-se

entre países que têm dotações fatoriais semelhantes. Já o comércio dos bens primários

40

está relacionado com outros fatores para além das dotações fatoriais (Romão et al.

1997). Em relação ao comércio entre produtos industrializados a vantagem

comparativa não está nas dotações fatoriais, mas na importância da procura interna.

Segundo Linder, a teoria de HO apenas explicava as trocas inter-ramo entre

países distintos, pelo que o autor considerava que deveria haver outra razão que

explicasse o comércio internacional, o que, na sua perspetiva, baseava-se na procura.

As condições de procura estão relacionadas com as condições de produção, na medida

em que quanto mais significativa for a procura, mais eficiente será a produção.

A procura interna desempenha um papel extremamente importante, segundo

Linder, pois apenas se esta for considerada como forte, é que os empresários devem

introduzir o novo bem no mercado nacional. Para além disto, um país apenas exporta

os seus produtos, quando dispõe de uma procura nacional suficientemente importante

para lançar a produção.

Numa fase inicial os produtores procuram responder às necessidades do seu

mercado interno. Assim, se estes estiverem presentes num mercado que exija

inovação e eficácia, os novos produtos irão ter vantagem no mercado internacional. A

existência de uma procura interna forte cria as condições necessárias para que um

novo produto possa ser exportado. Os produtos que entrarão no mercado

internacional sairão do leque de produtos que foi fabricado para o mercado

doméstico.

Todavia, um produto só será exportado para mercados que tenham uma

procura semelhante ao da procura do país produtor. São vários os fatores que

influenciam as caraterísticas da procura dos consumidores, tais como o rendimento

per capita ou o nível de vida (Romão et al. 1997). Países com rendimento per capita

semelhante irão ter procuras também semelhantes e a troca cruzada será tanto mais

forte quanto mais aproximados forem os rendimentos, por habitante, entre dois países

e estes serão os primeiros importadores.

Rendimentos semelhantes estão normalmente associados a sistemas

produtivos semelhantes. Neste ponto, contrariamente a HO, Linder considera que os

sistemas produtivos ou dotações fatoriais semelhantes dinamizam o comércio

internacional, ao invés que o impedirem (Guillochon, 1999). Isto vai fazer com que os

41

bens exportáveis de um país sejam os mesmos para os países semelhantes, dando

origem a trocas intra-ramo.

Linder coloca o fator “procura” em primeiro lugar mas não deixa de se

interessar pelo fluxo total exportado de bens manufaturados. Este fluxo será tanto

mais intenso, quanto menos forte for a diferença entre os rendimentos per capita

entre países (Guillochon, 1993).

As constatações de Linder conseguiram explicar o motivo pelo qual as trocas se

davam na sua maioria entre países desenvolvidos e também explicam a composição

dos fluxos globais de comércio entre países industrializados. A sua tese não foi

estritamente verificada, no entanto, a base na qual ela assenta é largamente admitida,

ou seja, que os comportamentos da procura importam mais do que as caraterísticas da

oferta, para certo tipo de trocas.

Este modelo pôde ser confirmado no âmbito do trabalho desenvolvido ao longo

do estágio, na medida em que, a maioria das trocas comerciais de cosméticos

realizadas pela Novexpert eram entre países desenvolvidos e com caraterísticas

semelhantes. Ao nível da exportação o melhor cliente da marca Novexpert era a

Inglaterra. Esta situação pode ser explicada à luz da teoria da procura de Linder, na

medida em que as procuras francesa e inglesa são bastante semelhantes nos pontos

abaixo analisados.

Em relação ao rendimento per capita, os dados relativos ao ano de 201212

demonstram que em França o rendimento per capita é de 28,209,7€ e no Reino Unido

26,529,4€. Estes números podem estar na origem, com outros fatores, da importância

deste país para a Novexpert. Para além disso, os dados retirados do Observatory of

Economic Complexity, demonstram que, para o ano de 2012, as exportações francesas

de cosméticos em direção ao Reino Unido representaram 6,09% das exportações totais

para este país. No caso do Reino Unido, os dados demonstram ainda que as

exportações inglesas de produtos químicos (nos quais estão incluídos os cosméticos),

realizadas em direção a França, representaram 7,63% das exportações totais inglesas

para França. Ou seja, existe troca intra-ramo no setor cosmético entre os dois países.

12

Fonte Eurostat, via Pordata

42

Para além dos pressupostos de Linder ao nível do comércio internacional, a

importância que este autor dá à procura também se estende ao caso da Novexpert. O

comportamento da procura no mercado francês influenciou altamente a decisão de

produção desta empresa. Devido à saturação no setor cosmético francês, os

consumidores estão constantemente à procura de inovação, mas ao mesmo tempo

também estão bastante preocupados com os químicos possivelmente maliciosos que

são utilizados nos produtos cosméticos. Segundo o estudo A Study of the European

Cosmetics Industry realizado pela Global Insight, os consumidores aumentaram a sua

procura, no ano de 2007, de produtos biológicos e orgânicos, tendo-se também

registado um aumento na procura de produtos cosméticos unissexo e um aumento na

procura de produtos anti idade.

A resposta da Novexpert em relação a estas tendências foi a adaptação dos

seus produtos às novas exigências do mercado europeu e também do mercado

francês. Daqui pode-se concluir que a mudança no comportamento da procura

influenciou muito significativamente a estratégia da Novexpert, através do lançamento

de uma nova gama, em 2008, que reunia todos os fatores procurados pelos

consumidores.

7. O Processo de Internacionalização das empresas

Após analisar algumas das teorias sobre o comércio internacional torna-se

evidente a sua importância tanto para as empresas como para os países ou nações.

Neste ponto é importante salientar a importância e as consequências originadas pela

abertura das fronteiras nacionais ao comércio internacional.

Segundo Helmers et al. (1991) a abolição das restrições quantitativas às

importações, a unificação dos direitos aduaneiros sobre as importações e dos subsídios

às exportações e também a abolição dos direitos aduaneiros constituíram a real

abertura da economia e consequentemente a liberalização das trocas comerciais. Este

último fator engloba, numa primeira fase, a abolição das restrições e a sua substituição

por direitos aduaneiros com taxas diferenciadas entre os diferentes setores

económicos. Com o desenvolvimento das trocas comerciais é natural o surgimento de

43

uma unificação gradual das taxas efetivas de proteção de vários setores gerando

benefícios tanto do lado da oferta (aumento geral das receitas através da exportação)

como do lado da procura (consumidores têm disponíveis os mesmos produtos a preços

menos elevados).

A internacionalização das empresas neste contexto de livre comércio passa a

ser quase uma necessidade. Segundo Teixeira (2011), num ambiente caraterizado por

alterações profundas e constantes geradoras de riscos as empresas enfrentam novos

desafios mas também utilizam esses desafios a seu favor encarando-os como uma

oportunidade de crescimento no mercado alargado. O processo de internacionalização

das empresas assume um papel primordial como adaptação ao mercado livre. Este

novo mercado para além de trazer benefícios como a possibilidade de exportar sem

custos acrescidos ou do lado da procura a disponibilidade de uma maior variedade de

produtos a preços mais competitivos, também traz consigo novos desafios para os

produtores como o enorme aumento da competição.

Então o que é o processo de internacionalização? Segundo Barretto & Rocha

(2003)13,este processo ocorre quando uma empresa se começa a envolver com o

mercado de outros países para além do seu mercado doméstico. Isto pode ocorrer de

duas formas: por um lado através de importação, licenças para produção local,

franchising ou acordos de partilha tecnológica ou por outro lado através da

exportação, investimento direto estrangeiro (IDE), aquisição de licenças para produção

ou franchising.

No ponto de vista de Hill (2000) o processo de internacionalização é a venda de

produtos em regiões não pertencentes ao mercado doméstico, nas quais a empresa

procura novas oportunidades de negócios.

Na perspetiva de Lemaire (1997) há um conjunto de perguntas que as empresas

se colocam a si mesmas antes de decidirem dar o passo para a internacionalização.

Algumas das questões que o autor sugere encontram-se abaixo:

- Quais as razões que nos levam:

a) a iniciar, acentuar ou infletir,

13

Citado em Ziber et al. (2010)

44

b) ou a impulsionar, abrandar ou restringir o nosso desenvolvimento

internacional?

- Em que medida podemos determinar:

a) os meios que dispomos,

b) quais as nossas forças e fraquezas face a tal desafio?

- Que lugar deveremos atribuir, respetivamente,:

a) às oportunidades externas,

b) assim como às nossas caraterísticas específicas na definição da nossa

estratégia de desenvolvimento internacional

- Quais serão as principais dimensões dessa estratégia e as etapas sucessivas:

a) que permitirão precisá-las?

b) fazê-las evoluir ou reconsidera-las, se necessário?

- Que obrigações de aplicação deverão então ser tidas em conta e de que forma?

- Como garantir que na prática as decisões tomadas serão corretamente efetuadas e

conseguirão os melhores resultados?

Respondidas, ou não, todas estas questões a empresa pode iniciar o seu

processo de internacionalização por vários motivos. Segundo Teixeira (2011) há

diversos motivos que podem levar a empresa a entrar nos mercados internacionais,

como por exemplo a dimensão do mercado doméstico. Neste ponto, o autor defende

que o crescimento das vendas no mercado interno pode tornar-se difícil devido à

pequena dimensão desse mercado. Assim internacionalização pode ser uma solução

para este problema pois também permite às empresa deslocalizar parte da sua

produção para países onde os custos de mão-de-obra são inferiores o que se pode

traduzir numa fonte se economias de escala a qual contribui para o aumento dos

lucros.

Este aspeto também é suportado pela teoria do ciclo de vida do produto que

foi anteriormente analisada, na medida em que, o produto é inicialmente criado para o

mercado nacional mas com a sua evolução este tende a gerar procura externa o que

pode justificar o investimento direto através da criação de filiais em países que

apresentam procura suficientemente significativa.

Esta opinião é também partilhada por Czinkota (2004), que considera a

existência de motivações ativas e proactivas para a internacionalização das empresas,

45

pertencendo a dimensão do mercado às motivações proactivas. Este autor considera a

expansão ao mercado internacional como uma possível fuga ao declínio do produto no

mercado doméstico, ao em vez de tentar fazer o produto recuar no seu ciclo de vida

através da introdução de uma caraterística diferente existe a opção de enviar o

produto ao mercado internacional.

Uma outra motivação apontada por Teixeira (2011) é a procura por recursos

mais baratos ou de maior confiança. Muitas vezes as empresas decidem

internacionalizar-se pois procuram por mão-de-obra a um preço inferior ao preço

praticado domesticamente, mas não apenas mão-de-obra, a deslocalização da

produção pode também ser motivada por rendas a preços mais competitivos ou ajudas

do Estado mais significativas que as existentes no mercado doméstico. O aumento da

produção devido aos menores custos salariais pode permitir à empresa tirar partido de

economias de escala que se podem traduzir numa descida dos preços do produto

fabricado, tornando-o mais competitivo a nível internacional mas também a nível

nacional (Czinkota, 2004). Para além disto, a internacionalização ligada aos recursos

podem também ocorrer devido à procura por matérias-primas de confiança, este é o

caso das empresas ligadas aos setores do petróleo e da exploração mineira.

A fuga à tributação ou aos contingentes à importação pode estar na origem da

internacionalização, visto que, mesmo que o mercado se torne cada vez mais livre e

sem obstáculos ao comércio continuam a haver países que impõe tarifas às

importações para protegerem as suas indústrias locais.

O protecionismo imposto pelos países pode ser contornado através da abertura

de filiais nesses mesmos países. Este conceito é analisado por Samuelson et al. (2005)

que examina as razões pelas quais os governos criam barreiras ao comércio. Dentro

destas motivações estão os objetivos não económicos, para explicar este caso o autor

faz referência a vários exemplos sendo um deles o caso Francês. O governo francês

protege a sua economia da entrada de filmes e programas televisivos norte-

americanos pois argumenta que estes são “bárbaros”. No entanto, o que pode

realmente estar por trás das quotas rígidas aplicadas aos filmes norte-americanos é o

medo de que a indústria cinematográfica francesa seja engolida pelos filmes vindos de

Hollywood que dispõe de orçamentos bem mais recheados e de efeitos especiais que

46

os filmes franceses não têm capacidade de acompanhar. Deste modo, a colocação de

quotas vai desincentivar a entrada massiva da televisão americana em França.

Um outro caso semelhante foi experienciado durante o meu estágio curricular e

passou-se em relação ao mercado chinês. Como assistente da diretora de exportação

eu tinha entre várias funções a responsabilidade de encontrar distribuidores para a

Novexpert no mercado chinês. Para realizar esta tarefa apoiava-me de pesquisas na

internet e também da ajuda de uma entidade pertencente ao governo francês

chamada Ubifrance. Esta entidade era responsável por ajudar as PMEs francesas no

seu processo de internacionalização, um dos exemplos da ajuda prestada era a

elaboração de fichas descritivas sobre vários países. Ou seja, a Novexpert estava

interessada em exportar para o mercado chinês mas necessitava dos contactos de

potenciais distribuidores presentes no país então contactava a Ubrifrance e esta

elaborava uma ficha sobre as empresas potencialmente interessadas por distribuir os

cosméticos da Novexpert. Para além disto também davam aconselhamento via

telefone, ajudando a resolver possíveis problemas encontrados com os contatos ou

com a dificuldade na penetração do país em questão.

Esta entidade foi extremamente útil durante o meu estágio pois recorri várias

vezes à sua ajuda principalmente quando se tratava do mercado chinês. Isto porque a

Novexpert tinha uma estratégia estipulada para a abordagem aos potenciais clientes,

esta desenvolvia-se em várias etapas que serão explicadas mais à frente, uma destas

etapas era o envio gratuito da gama de produtos Novexpert para teste quando se

tratava de um não cliente e para registo da marca quando o contrato já estava

assinado. A experiência que vivi com o mercado chinês está relacionada com o envio

de produtos para registo.

Eu era responsável por enviar, por correio, ao nosso distribuidor uma série de

produtos Novexpert que seriam utilizados para o registo da marca na China, que era

essencial para que fosse permitida a comercialização dos produtos neste país. Assim

sendo, enviei uma primeira mercadoria para a nossa cliente e segui as instruções

dadas por esta e pela Ubifrance sobre como deveria elaborar as faturas e sobre as

quantidades máximas permitas de cada produto que podiam ser enviadas de uma só

vez.

47

No entanto, mesmo com a ajuda experiente que recebi mostrou-se bastante

complicado o envio de mercadorias, pois estas ficavam sucessivamente bloqueadas

nas alfândegas chinesas. O motivo várias vezes apontado pela alfândega para proceder

ao embargo da mercadoria era a falta de documentação extremamente específica e

consideravelmente difícil de encontrar. Quando conseguia contornar a situação da

documentação e as mercadorias chegavam ao seu destino havia sempre produtos em

falta, ou seja, a quantidade de produtos que a cliente recebia não correspondia à

quantidade de produtos que tinha sido enviada por mim. O que se passava era que os

funcionários alfandegários abriam as mercadorias e retiravam parte dos cosméticos

que se encontravam lá dentro, fazendo com que os produtos que chegavam à cliente

já não fossem em quantidade suficiente para proceder ao registo da marca na China.

Outro inconveniente desta situação era o que fazer à mercadoria quando esta

ficava presa na alfândega, a empresa transportadora dava-nos duas opções quando já

tínhamos esgotado todos os recursos para fazer com que a mercadoria fosse entregue.

Estas opções eram o abandono da mercadoria, que não tinha custos associados, ou a

sua destruição, que tinha um custo mais elevado do que o próprio envio de França

para a China. Como a Novexpert se tratava de uma pequena empresa que não possuía

muitos recursos a ideia de pagar para destruir os próprios produtos parecia

inconcebível para os meus responsáveis, assim estes optavam por abandonar os

produtos na alfândega. O senão desta última opção é o fato de os produtos ficarem

disponíveis, sem nenhum controlo, para todo o tipo de atividades, desde a contrafação

até ao uso indevido dos produtos.

No final a solução encontrada foi a organização de uma viagem de negócios à

China na qual o diretor da empresa aproveitou para levar os produtos em falta dentro

da sua bagagem, assim os produtos forem registados com sucesso. Aqui está um

exemplo das barreiras impostas pelo governo chinês com o objetivo de proteger a sua

indústria nacional da concorrência internacional.

Um outro motivo apontado por Teixeira (2011) para a internacionalização das

empresas diz respeito à relação da empresa com os seus clientes, isto é, por vezes os

principais clientes de uma empresa fornecedora começam a atuar internacionalmente

esta pode seguir-lhe o exemplo para não perder o contato com o cliente. Este tipo de

comportamento também pode ser observado ao nível da concorrência, ou seja,

48

quando o principal concorrente de uma empresa se lança internacionalmente esta

pode também o fazer para não perder a sua posição no mercado.

A procura por novos conhecimentos e know-how pode também estar na origem

da entrada de uma empresa no mercado internacional, a aquisição de conhecimentos

inovadores através da participação em determinadas organizações que não existem no

país de origem podem permitir às empresas adquirir uma vantagem competitiva que

pode ser usada tanto no mercado doméstico como a nível internacional (Teixeira,

2011). Também Czinkota (2004) faz referência a este fator como um estímulo

proactivo para a entrada no mercado internacional, no entanto, este autor chama a

atenção para o facto de que esta vantagem competitiva é de curta duração na medida

em que, mais cedo ou mais tarde, os concorrentes acabam por ter o mesmo

comportamento.

Um último fator apontado por Teixeira (2011) é a oportunidade da otimização

da cadeia de valor através da localização das atividades produtivas em zonas distintas.

Através da repartição das suas atividades por várias zonas geográficas a empresa pode

ser mais eficiente e ter um melhor desempenho global, também esta decisão pode

representar uma diminuição do risco do negócio na medida em que as várias

atividades da empresa estão distribuídas por vários pontos assim se algo correu mal

numa das localizações da empresa esta tem as outras localizações ainda viáveis.

Czinkota (2004) defende que as empresas entram no mercado internacional

pois estão comprometidas a ter sucesso. O envolvimento no mercado internacional

exige um grande nível de compromisso por parte da empresa, esta tem de estar

disposta a encarar a sua decisão de internacionalização tendo a consciência de que o

sucesso não está a 100% garantido. É necessário que a empresa esteja preparada para

situações de estagnação e mesmo de insucesso ou falhanço na sua abordagem

internacional.

No que diz respeito à razão que leva as empresas a assumir este compromisso

estamos perante não apenas uma razão mas sim um conjunto de razões das mais

variadas e específicas a cada caso e a cada empresa. Czinkota (2004) divide as

motivações das empresas em dois grupos, as motivações proactivas e as motivações

reativas. As primeiras tratam-se de estímulos ou tentativas para modificar a estratégia

49

empresarial, as segundas são uma resposta da empresa às mudanças ocorridas no seu

ambiente, as quais obrigam as empresas a adaptarem-se às novas situações.

Cada um destes grupos é constituídos por diferentes motivos para a

internacionalização, os quais estão presentes na tabela abaixo:

Motivos proactivos Motivos reativos

- Elevadas margens de lucro - Pressão competitiva

- Produtos únicos -Excesso de produção/excedente de

produção

- Vantagem tecnológica - Declínio das vendas domésticas

- Informação exclusiva - Capacidade excessiva

- Economias de escala - Mercado doméstico saturado

- Benefícios fiscais - Proximidade aos clientes e/ou portos

Tabela 4: Motivações para a internacionalização, adaptado de Czinkota (2004)

Em relação às motivações proactivas a oportunidade de conseguir maiores lucros é

extremamente atrativa para as empresas. O mercado internacional pode ser visto

como uma potencial fonte de maiores margens de lucro do que as conseguidas no

mercado doméstico. No entanto, é importante distinguir a realidade da teoria pois

numa fase inicial o investimento feito pela empresa para começar a sua

internacionalização nem sempre é compensado e há vários fatores que podem

influenciar os resultados planeados pela empresa, como súbitas alternações nas taxas

de câmbio que podem alterar significativamente os lucros esperados.

O segundo fator apontado por Czinkota (2004) está relacionado com a

existência de vantagens tecnológicas únicas que as empresas possam possuir. Ou seja,

uma dado empresa pode ter uma grande vantagem tecnológica num determinado

setor ou ser extremamente especializada num tipo de produção. Por vezes este tipo de

empresas, mesmo sendo muito competitivas na sua área, podem não ter um mercado

doméstico que acompanhe o seu desenvolvimento e avanço tecnológico assim o

mercado internacional pode representar uma solução para este tipo de situações

através da exportação deste tipo de bens altamente especializados. A empresa terá de

50

ter em atenção que talvez a sua vantagem competitiva não seja eterna pois no

mercado internacional a concorrência é muito mais feroz e pode apoderar-se do

conhecimento tecnológico dos seus adversários.

O acesso a informações exclusivas sobre os mercados estrangeiros também

pode estimular as empresas a se internacionalizarem. Aqui Czinkota (2004) faz

referência ao conhecimento sobre clientes estrangeiros ou situações de mercado que

não são conhecidas por outras empresas. Este tipo de conhecimento pode ser

adquirido através de pesquisas de mercado, contatos especiais ou simplesmente estar

no local certo à hora certa. Este tipo de informação exclusiva é um bom estímulo mas

não dura sempre pois é provável que os concorrentes acabem por ter acesso às

mesmas informações mais cedo ou mais tarde.

A vantagem retirada através das economias de escala já foi várias vezes

mencionada ao longo deste relatório, a oportunidade de tirar partido das economias

de escala através dos aumentos na produção é bastante atrativa para várias empresas.

Por último, os benefícios fiscais podem tomar diversas formas tais como

concessões oferecidas pelo Estado para encorajar a exportação.

As motivações reativas podem exprimir-se de diversas formas como através da

pressão competitiva que já foi sendo mencionada ao longo deste relatório. Também

através do escoamento do excesso de produção, isto é, surgem alturas em que as

empresas não conseguem vender as quantidades de produtos que tinha planificado,

nestes casos, a venda do excedente para o mercado internacional é uma solução

bastante adequada. O declínio nas vendas no mercado nacional também pode estar na

origem da internacionalização como forma de contornar o ciclo de vida do produto.

O caso do excesso de capacidade ocorre quando uma empresa tem a

necessidade de utilizar certo tipo de máquinas para a sua produção mas como as suas

vendas não são as desejadas a empresa acaba por usar as suas máquinas de forma não

eficiente. Assim, a expansão pode representar uma forma de melhor distribuir este

tipo de custos fixos.

A situação de mercado doméstico saturado é similar ao declínio nas vendas no

mercado nacional. Também aqui as empresas usam o mercado internacional como

uma forma de prolongar o ciclo de vida do produto.

51

Por último, a proximidade dos clientes importantes também desempenha um

papel chave na decisão de internacionalização. A proximidade física aos clientes pode

traduzir-se na criação de relações de cooperação entre ambas as partes o que vai

permitir à empresa disfrutar de certo tipo de benefícios em relação aos seus

adversários.

Segundo o guia desenvolvido pela associação AICEP para a ajuda à

internacionalização, em termos genéricos, pode-se considerar a existência de quatro

motivações chave para a internacionalização das empresas:

1) Penetração em mercados externos: o dinamismo da procura do exterior ou

também o declínio ou saturação do mercado interno;

2) Manutenção ou reforço de redes de relações: pode estar na origem da

necessidade de preservar ou aprofundar relações com clientes importantes;

3) Acesso a recursos produtivos: este ponto já foi mencionado anteriormente

através de outros autores e está relacionado com o controlo do

aprovisionamento de recursos naturais ou a obtenção de fatores produtivos;

4) Acesso a competências ou ativos estrangeiros: a procura de vantagens

competitivas através do acesso rápido a novas ideias que surgem no mercado

internacional.

Um ponto no qual todos os autores analisados estão de acordo é que as

motivações para a internacionalização dependem de empresa para empresa e

divergem consoante o ambiente económico interno e externo. Estas não são lineares e

podem ser várias as motivações ou até poucas tudo depende da estratégia que a

empresa quer seguir e das suas necessidades ou aspirações.

O mesmo se aplica ao processo de internacionalização em si mesmo, este é

variável e profundamente estudado por diversos autores. Nesta área de estudo uma

das escolas que é praticamente impossível não mencionar são os contributos da escola

de Uppsala que serão analisados a seguir.

7.1 Modelos de internacionalização adaptados às PMEs

Os modelos de internacionalização das empresas analisados seguidamente

foram selecionados devido ao facto de se relacionarem com o estágio realizado. Os

respetivos modelos de internacionalização são adequados às PMEs devido à sua

52

flexibilidade e não limitação do processo de internacionalização às empresas

multinacionais.

O desenvolvimento internacional realizado através de diversas etapas foi o

adotado pela Novexpert na sua abordagem internacional, neste sentido o modelo de

Uppsala é uma possível análise para este tipo de internacionalização. Visto a

internacionalização das empresas não se limitar a uma única forma de aproximação ao

mercado internacional, a análise do modelo Resouced Based View adapta-se à

Novexpert devido à importância dos seus recursos para o sucesso a nível internacional.

Associado aos recursos da empresa estão as suas redes de contatos internacionais que

ajudaram a empresa na sua tomada de posição em relação ao mercado internacional,

permitindo à Novexpert entrar no mercado internacional já dispondo de um certo

nível de conhecimento de mercado proporcionado pela sua rede de contatos.

7.1.1.Modelo de internacionalização de Uppsala

O modelo de internacionalização da escola de Uppsala foi criado, em 1977, por

Johanson e Wiedersheim-Paul, no seio do departamento dos estudos sobre o comércio

localizado naquela Universidade (Kalinic et al., 2011). Este modelo resulta da

constatação de que várias observações empíricas contrariavam a teoria sobre a

internacionalização das empresas. Assim, nasceu um modelo que encara o processo de

internacionalização como gradual, desenvolvido em quatro fases:

1) Não ocorrência de atividades de exportação regulares;

2) Exportação verifica-se através de agentes;

3) Estabelecimento de uma subsidiária de venda local;

4) Estabelecimento de subsidiárias de produção local.

À medida que a empresa vai avançando nestas etapas do processo de

internacionalização, é-lhe exigido um maior nível de compromisso e de envolvimento.

Segundo Jonhanson et al. (2008), a internacionalização começaria frequentemente em

direção a mercados que fossem próximos ao mercado doméstico, em termos de

distância física, ou seja, semelhantes ao mercado de origem em termos de cultura,

sistema económico ou proximidade geográfica (Kalinic et al., 2011). Andersen (1992)

define o conceito de distância física como um conjunto de fatores que previnem ou

perturbam a corrente de informação entre empresas e mercados, tais como a língua, a

53

cultura, o sistema político, o nível de educação ou o nível de desenvolvimento

industrial.

Neste contexto, as empresas iriam entrar, gradualmente, noutros mercados

com os quais tivessem uma maior distância física dando origem à liability of

foreignness um conceito desenvolvido por Johanson et al. (2008) que explica o porquê

de um investidor estrangeiro necessitar de ter uma vantagem específica na sua

empresa para compensar esta liability. Este conceito é diretamente proporcional ao

conceito de distância física, ou seja, quanto maior a distância física, maior a liability of

foreignness. Este mecanismo de internacionalização foi representado

esquematicamente da seguinte forma:

Figura 8: Variáveis da internacionalização segundo o modelo de Uppsala, Fonte: Johanson et al. (2008)

Inicialmente, as empresas modificam-se devido ao conhecimento adquirido

através das suas experiências e operações ou atividades correntes desenvolvidas nos

mercados estrangeiros. Numa fase seguinte, as empresas podem modicar-se através

dos compromissos que estas assumem com o objetivo de tornar a sua presença no

mercado internacional mais forte. Estes compromissos adotados pelas empresas são

definidos como o resultado do tamanho do investimento em relação ao seu grau de

inflexibilidade. Por outras palavras, o compromisso envolve dois fatores, a quantidade

de recursos comprometidos e o grau de compromisso. O primeiro fator pode ser

54

descrito como o tamanho do investimento no mercado (a nível de marketing ou a nível

organizacional, por exemplo), o segundo fator está relacionado com a dificuldade de

encontrar uma alternativa para o uso dos recursos e transferi-los para uma produção

alternativa (Andersen, 1992).

As atividades internacionais requerem conhecimento geral, mas também

conhecimento específico sobre os mercados. Este último é adquirido através da

experiência da empresa que vai modelar o seu conhecimento sobre um certo mercado,

o qual, por sua vez, irá influenciar as decisões tomadas pela empresa ao nível dos seus

compromissos e as atividades que, consequentemente, têm origem nelas. Estamos,

portanto, perante um modelo dinâmico.

Segundo Andersen (1992), as decisões de compromisso estão relacionadas com

decisões que têm como consequência a transferência de recursos da empresa para o

mercado internacional. Assumindo que estas decisões são tomadas em resposta a

oportunidades de mercado, as decisões de compromisso irão depender da experiência

e irão relacionar-se com as operações correntes da empresa levadas a cabo neste

mercado.

Kalinic et al. (2011) descrevem o modelo de Uppsala como: “a gradual

acquisition, integration and use of knowledge about foreign markets and operations

and a…successively increasing commitment to foreign markets” (Gankena, Snuiff e

Zwart, 2000)14. Este modelo apresenta o processo de internacionalização como o

gradual aumento do nível de conhecimento do mercado. Quanto mais se avança no

processo, maior é o grau de compromisso necessário, mas também mais as empresas

aprendem com este processo.

Através do processo de internacionalização os dirigentes das empresas vão

criando redes de contato que lhes fornecem informações sobre os recursos e as

capacidades dos seus potenciais associados presentes nos mercados estrangeiros. O

desenvolvimento destas relações vai dar origem a um maior grau de compromisso por

parte da empresa (Johanson et al. 2009). Assim, o conhecimento e a experiência

assumem um papel primordial no processo de internacionalização das empresas.

14

Citado em Kalinic (2011)

55

O modelo de Uppsala é bastante comum na análise da internacionalização de

PMEs, pois foca-se na aquisição, gradual, de conhecimento e de experiência, por parte

das empresas, e também no investimento racional dos seus recursos. Quanto mais

recursos são investidos pela empresa, mais esta estará envolvida com o processo de

internacionalização. No caso das PMEs, estas nem sempre dispõem de muitos

recursos. Assim, quando entram no processo de internacionalização, fazem-no de uma

forma que envolve menos risco do que as multinacionais, que estão mais aptas a

tomarem decisões mais arriscadas.

7.1.2 Resource base view of the firm (RBV)

A teoria de internacionalização baseada nos recursos da empresa foi

inicialmente analisada por Penrose, em 1959 (Daszkiewicz e Wach, 2012), sendo

desenvolvida por outros autores, entre os quais se destaca o contributo de Jay Barney

(1991).

Este autor sugere que as empresas obtêm vantagem competitiva quando

implementam estratégias que exploram as suas forças internas, como resposta às

oportunidades em seu redor, ao mesmo tempo, neutralizando ameaças e evitando

fraquezas internas (Barney, 1991).

Peng (2001) considera a teoria do Resource based view bastante inovadora para

a sua época, pois encara o processo de internacionalização de forma distinta. Por

exemplo, Barney distingue-se de Porter (1990), por dois motivos. Em primeiro lugar, o

modelo da vantagem competitiva de Porter assume que empresas pertencentes a uma

mesma indústria são idênticas, em termos dos recursos estratégicos relevantes que

elas controlam e também em relação às estratégias que estas empresas seguem. Em

segundo, o modelo de Porter, e outros modelos semelhantes, assumem a

heterogeneidade dos recursos que se desenvolvem numa indústria ou num grupo. No

entanto, estes têm um prazo de vida curto, pois os recursos que as empresas utilizam

para implementar as suas estratégias são extremamente móveis, ou seja, podem ser

vendidos ou comprados no mercado de fatores (Barney, 1986; Hirshleifer, 1989).

A RBV analisa a ligação entre as caraterísticas internas da empresa e a sua

performance, chegando então a dois pressupostos:

- Heterogeneidade dos recursos entre empresas; e

56

- Imobilidade dos recursos entre empresas.

Entenda-se por recursos os ativos, capacidades, processos organizacionais,

atributos, informação, conhecimento controlados por uma empresa, os quais lhe

permitem entender e implementar estratégicas que melhorem a sua eficiência e

eficácia (Barney, 1991). Estes dois pressupostos são explicados através do fato de que

se todas as empresas dispusessem dos mesmo recursos homogéneos e se houvesse

mobilidade destes mesmos recursos entre empresas, então era impossível uma

empresa ter vantagem competitiva em relação às outras, pois, dispondo todas as

empresas dos mesmos recursos, estas iriam implementar as mesmas estratégias e

então conseguir os mesmos resultados. Estes recursos podem pertencer a três

categorias distintas:

- Capital físico: tecnologia física utilizada pela empresa, equipamento, localização

geográfica e acesso a matérias-primas;

- Capital humano: formação, experiência, relações, inteligência e perspicácia individual

dos gerentes e trabalhadores da empresa; e

- Capital organizacional: estrutura de informação, planeamento formal e informal,

sistemas de controlo e de coordenação e também relações informais entre os grupos

pertencentes à empresa.

Na perspetiva de Barney (1990), são estes recursos que estão na origem da

vantagem competitiva sustentada das empresas. Uma empresa terá vantagem

competitiva quando implementa estratégias criadoras de valor, sem que os seus

concorrentes o façam igualmente. Aqui a concorrência não se reporta apenas aos

concorrentes atuais da empresa, mas também a potenciais concorrentes que poderão

entrar na indústria num futuro próximo.

É importante referir que mesmo que a vantagem competitiva seja considerada

sustentada, isto não significa que ela seja eterna, já que mudanças não esperadas na

estrutura económica de uma indústria podem tornar uma vantagem competitiva

sustentada, num fator que não tendo mais valor para a empresa, deixa de ser uma

fonte de vantagem competitiva sustentada.

Para além disto, os recursos apenas são fonte de vantagem comparativa

sustentada quando apresentam determinadas caraterísticas:

57

a) Valiosos, ou seja, quando permitem à empresa implementar estratégias que

contribuam para o aumento da sua eficiência e que neutralizem as ameaças

presentes no ambiente da empresa;

b) Raros, na medida em que se todos os concorrentes tiverem acesso aos mesmos

recursos, então já não haverá lugar para uma vantagem competitiva;

c) Dificilmente imitáveis, permitindo que as vantagens competitivas sustentadas

tenham um prazo de vida mais longo;

d) Insubstituíveis, ou seja, os recursos não devem ser facilmente substituíveis por

outros recursos equivalentes.

Assim sendo, o modelo de Barney pode ser representado da seguinte forma:

Figura 9: RBV, adaptado de Barney (1991)

Através da obtenção duma vantagem competitiva sustentada, a empresa

estende as suas fronteiras para além do mercado nacional. Este modelo de

internacionalização adapta-se às PMEs, na medida em que a decisão de

internacionalização é baseada num conjunto de caraterísticas da empresa, desde a sua

gerência, a qual pode ser vista como um recurso possuidor das caraterísticas

apontadas por Barney, até às decisões estratégicas tomadas pela empresa. Neste

sentido, a dimensão financeira da empresa não é um fator determinante na sua

Recursos heterogéneos

Imobilidade dos recursos

Valiosos

Raros

Dificilmente imitáveis

Insubstituíveis

Vantagem competitiva sustentada

58

obtenção de vantagem competitiva. Desde que a empresa possua e controle os

recursos com as particularidades necessárias, esta pode então internacionalizar-se.

Este modelo é bastante flexível e mais aproximado à realidade, permitindo analisar o

processo de internacionalização de uma forma menos limitativa em relação aos seus

atores.

7.1.3 O Modelo de internacionalização e das redes industriais

A análise do papel das redes industriais no processo de internacionalização das

empresas foi impulsionada pelos estudos de Birley (1985) e de Aldrich e Zimmer

(1987).

Segundo Axelsson e Johanson (1992) as redes podem ser definidas como

conjuntos de duas ou mais relações de troca. A natureza destas relações entre grupos

(clientes, fornecedores, competidores, família) vão influenciar as decisões estratégicas

da empresa e tornam-se um recurso para a empresa (Daszkiewicz e Wach, 2012).

Na perspetiva de Teixeira (2011), as redes industriais são acordos de longo

prazo entre empresas diferentes, mas relacionadas, que lhes permitem ganhar, ou

manter, vantagens competitivas sobre os seus concorrentes exteriores à rede.

Em relação à classificação dos tipos de redes, Teixeira (2011) classifica as redes

em formais ou informais, hierarquizadas ou independentes, horizontais ou verticais.

Neste contexto, M. Perry (s.d.)15 considera a existência de quatro categorias de redes,

de acordo com o tipo de relacionamento que está por detrás dessas mesmas redes.

Esta categorização está apresentada na seguinte tabela.

Tipo de relação Caraterísticas da relação Exemplos

Familiar e étnica Laços baseados na família

e em contatos pessoais,

integrados em

comunidades muito

unidas

Empresas chinesas,

empresas de minorias

étnicas, negócios

familiares

Local Proximidade geográfica e

compromissos partilhados

Distritos industrias

italianos, Sillicon Valley,

15

Citado em Daszkiewicz e Wach (2012)

59

derivados de objetivos e

valores comuns

Cosmetic Valley

Organizacional Laços de investimento ou

de propriedade em

associações industrais

Grupos de negócios, joint-

ventures, corpos

industriais, câmaras de

comércio

Comprador-fornecedor Interação para melhorar o

papel do fornecedor e dos

subcontratados

Relações de

subcontratação

Tabela 5: Categorias das redes, adaptado de Perry M. citado em Daszkiewicz et al. (2012)

Johanson e Mattsson (1992)16 desenvolveram um modelo de

internacionalização, com base nas redes de relações existentes na própria rede da

empresa e também nas redes de relações relevantes existentes nos mercados

internacionais. Neste modelo o caminho para a internacionalização de uma empresa

está dependente das suas posições correntes na rede ou redes (Teixeira 2011).

De acordo com esta teoria, o processo de internacionalização é visto como um

processo no qual várias relações vão-se estabelecendo, desenvolvendo e mantendo

continuamente. A conjugação entre o grau de internacionalização da empresa e o grau

de internacionalização do mercado (a rede de produção) vai permitir categorizar o

nível de internacionalização das empresas. Neste âmbito, Johanson e Mattson (1988)

criaram a seguinte estrutura:

Grau de

internacio-

nalização

da

empresa

16

Citado em Daszkiewicz e Wach (2012)

The lonely international

The international among others

The early starter The late starter

60

Grau de internacionalização do mercado

Figura 10: Situações de internacionalização, adaptado de Teixeira (2011)

Uma empresa encontra-se em situação de early starter, quando as suas

relações com as empresas estrangeiras não têm grande importância. Nesta fase pode-

se tornar problemático o desenvolvimento de redes, pois, por vezes, os custos podem

ser demasiado elevados para a empresa conseguir uma vantagem (Daszkiewicz e Wach

2012). Nesta fase, as empresas têm pouco conhecimento sobre os mercados

estrangeiros, na medida em que utilizam agentes ou outras empresas com mais

experiência para serem capazes de começar o seu processo de exportação e

aprenderem mais sobre os mercados. Por outras palavras, as empresas early starters

utilizam a posição de mercado de outras empresas para serem capazes de entrar no

mercado externo (Johanson e Mattson).17

À medida que a empresa avança no seu processo de internacionalização, esta

irá passar para a próxima etapa, o lonely international. Ainda sobre esta primeira

categoria, Daszkiewicz e Wach (2012) afirmam que quando o grau de

internacionalização da empresa é baixo e o grau de internacionalização do mercado

também é baixo, a empresa pode seguir o modelo tradicional de Uppsala.

O lonely international é o caso no qual a empresa está altamente

internacionalizada, mas o mercado não está. A empresa apresenta know how e

aquisição de experiência, através de operações passadas no mercado internacional.

Para além disto, a empresa também é capaz de se adaptar às diferenças existentes em

vários mercados externos. Essa capacidade de adaptação terá sido adquirida através

da aprendizagem. Neste sentido, a empresa é capaz de entrar em novos mercados e

estender as suas operações, usando a sua própria rede, o que lhe permite não estar

dependente das redes dos outros atores comerciais. Segundo Daszkiewicz e Wach

(2012) a maior dificuldade que as empresas apresentam nesta fase é a coordenação

das suas atividades internacionais.

A situação de late starter diz respeito a uma empresa com um baixo grau de

internacionalização, mas cujo mercado doméstico a pode impulsionar para o começo

17

Citado em Törnroos s.d.

61

de operações internacionais. As relações no mercado doméstico podem representar

forças motivadoras para a entrada em mercados internacionais. A empresa pode ser

“empurrada” por fornecedores ou clientes para a participação em projetos de maior

envergadura. Neste caso, a empresa é em certa medida dependente das outras

empresas que já estão presentes no mercado e que podem tentar travar o processo de

internacionalização das late starters (Daszkiewicz e Wach 2012).

Na situação de the international among others, a empresa e o ambiente de

relações onde esta se insere estão ambos extremamente internacionalizados. Neste

caso, a internacionalização significa apenas uma mudança gradual na posição da

empresa nos mercados internacionais. Os contatos internacionais, adquiridos pela

empresa ao longo da sua aprendizagem, e experiência podem ser utilizados como

fonte de informação sobre as mudanças que têm lugar no mercado internacional. A

empresa poderá então usar este tipo de informação em seu favor, tornando a

instabilidade dos mercados numa vantagem em relação aos seus concorrentes

(Tönroors, s.d.).

7.2 Estratégias de internacionalização da empresa

7.2.1 Escolha do modo de entrada

A decisão do modo de internacionalização faz parte de uma das dimensões do

processo de internacionalização e está relacionada com a pergunta como. (Romão et

al. 1997).

Segundo Daszkiewicz e Wach (2012), a escolha do modo de entrada nos

mercados internacionais depende de fatores endógenos, como o potencial

competitivo da empresa, e fatores exógenos que caraterizam o mercado no qual a

empresa está a planear entrar. Na mesma linha de pensamento, encontra-se Kotabe

(2010) que considera a existência de dois critérios de decisão para o modo de entrada

da empresa. Segundo este autor os critérios dividem-se em internos (específicos da

empresa) e externos (específico do ambiente da empresa). Em relação aos critérios de

decisão externos o autor subdivide-os nos seguintes:

a) Tamanho do mercado e crescimento: mercados maiores exigem uma maior

utilização dos recursos da empresa, traduzindo-se em joint ventures ou

62

subsidiárias. O crescimento do mercado está relacionado com o seu potencial

que é medido em relação à sua taxa de crescimento. Este fator pode ser

bastante relevante, quando a decisão de internacionalização é em direção a

mercados emergentes.

b) Risco: este fator está relacionado com a instabilidade política e económica de

um dado país. Também Teixeira (2011) aponta para a importância deste fator,

dividindo o risco em político, económico, financeiro e de gestão. Quanto maior

o risco de um país, menor vontade terá a empresa em comprometer os seus

recursos nesse país. O risco não é estático e pode alterar-se com o passar do

tempo.

c) Regulações governamentais: estas regulações podem impedir ou desencorajar

o uso de um certo modo de entrada num país. As barreiras à entrada, impostas

pelos governos, podem incentivar a empresa a optar pelo investimento direto

estrangeiro, para contornar os obstáculos impostos às exportações.

d) Ambiente competitivo: quando a concorrência num dado mercado é muito

significativa, as empresas tendem a procurar estratégias para entrar nesse

mercado de forma mais eficiente, como é o caso das alianças estratégicas.

e) Distância cultural: este fator pode estar relacionado com diferentes línguas,

cultura, costumes ou preferências dos consumidores em relação ao mercado

de origem.

f) Infraestruturas locais: este fator diz respeito ao sistema de distribuição, rede de

transportes e sistema de comunicação existente num país.

Em relação aos fatores internos Kotabe apresenta a seguinte classificação:

a) Objetivos da empresa: os objetivos corporativos da empresa são um fator

chave na decisão de entrada. Empresas que não estão dispostas a

comprometer muitos recursos optam por certos modos de entrada, como o

licenciamento.

b) Necessidade de controlo: algumas empresas preferem ter mais controlo nas

suas operações a nível internacional. Quando fatores como o konw how

representam uma grande vantagem para a empresa, esta pode optar por um

maior grau de controlo. Kim e Hwang (1991) também fazem referência à

importância deste fator, considerando que quando a empresa necessita de

63

muito controlo, esta pode optar por uma subsidiária a 100%. No outro

extremo, uma empresa que não necessite de nenhum controlo pode optar pelo

licenciamento. No meio destes dois modos de entrada encontram-se as joint

ventures que apresentam um grau de controlo intermédio.

c) Recursos internos, competências e capacidades: empresas que dispõem de

recursos muito limitados estão destinadas a optar por modos de entrada que

não exijam o comprometimento de muitos dos seus recursos, como é o caso da

exportação. Este ponto é bastante mencionado em relação ao caso das PMEs,

pois estas possuem menos recursos e uma menor margem de manobra se a

internacionalização não for bem sucedida.

d) Flexibilidade: este fator faz referência à possibilidade de adaptação do modo de

entrada escolhido no início do processo de internacionalização. Visto que o

ambiente competitivo, económico e cultural dos países não é estático, as

empresas devem possuir flexibilidade suficiente que lhes permita moldarem-se

às mudanças ambientais.

Após a ponderação de todos os fatores acima assinalados, a empresa pode (de uma

forma geral) optar pelos seguintes modos de entrada.

7.2.2 Os modos de entrada

7.2.2.1 Exportação

Segundo Romão et al. (1997), a exportação pode ser definida como um modo de

operação em que os produtos são vendidos num país diferente daquele onde são

fabricados, ou seja, implica um movimento transfronteiriço. Segundo Teixeira (2011), a

exportação ocorre quando as empresas iniciam negócios com empresas estrangeiras,

através da compra ou venda de produtos e serviços a clientes ou fornecedores. A

exportação é a forma de entrada mais comum nos mercados internacionais, pois é o

modo de entrada que envolve menos risco para a empresa, constituindo assim, muitas

vezes, a primeira fase do processo de internacionalização da empresa (Daszkiewicz e

Wach, 2012).

A exportação pode assumir três formas diferentes: indireta, direta ou

cooperativa. O primeiro caso carateriza-se pela venda dos produtos num mercado

estrangeiros, através de intermediários independentes da empresa (Kotabe, 2010).

64

Estes intermediários podem ser agentes import-export, empresas de trading,

subcontratados, agrupamentos de empresas para exportação, etc.. Este tipo de

exportação torna-se bastante atrativo para as empresas, pois estas não necessitam de

tratar da parte burocrática ligada à exportação e é bastante utilizado por empresas de

pequenas dimensões, em fase inicial do processo de internacionalização.

As vantagens apontadas para a exportação indireta são, então, o seu baixo risco

e baixo investimento, por parte da empresa, o aproveitamento do conhecimento do

intermediário, e a ausência de custos em marketing. Do lado das desvantagens, temos

a incapacidade de adquirir experiência no mercado internacional, o que origina um

desconhecimento do mercado “real”, a total dependência face ao intermediário, o

risco de o próprio intermediário começar a sua própria produção no mercado, e a

dificuldade na diferenciação dos produtos.

A exportação considera-se direta quando ocorre através de intermediários

domiciliados no país de destino, os quais, posteriormente, procedem à distribuição da

mercadoria. Neste caso, a empresa assume completamente a internacionalização da

totalidade da função e das tarefas inerentes à exportação, através do seu próprio

departamento de exportação. A exportação pode dar-se através de importadores que

adquirem as mercadorias e assumem a responsabilidade de vendê-las. Também pode

ocorrer através de agentes que atuam em representação da empresa exportadora.

Estes não adquirem os produtos e são normalmente remunerados através de

comissões. Por último, a exportação direta pode dar-se através de distribuidores que

usam a sua própria rede de distribuição para fazerem com que os produtos cheguem

aos seus pontos de venda.

Algumas das vantagens apontadas à exportação direta estão relacionadas com

o baixo grau de investimento que a empresa tem de realizar, tornando-se um modo de

entrada pouco dispendioso. Para além disto, Romão et al. (1997) chamam a atenção

para o maior controlo sobre o plano de marketing internacional da empresa e também

para o facto de haver um contacto mais direto com os mercados alvo, o que permite

obter e aceder a mais informação, e também a vantagem da maior margem de

adaptação e diferenciação dos produtos, incluindo a utilização da marca própria, em

comparação com a exportação indireta.

65

Do lado das desvantagens, Daszkiewicz e Wach (2012) destacam as baixas

margens de lucro originárias das transações, a alta dependência dos intermediários

internacionais, a incapacidade de ganhar experiência internacional, os altos preços dos

transportes e as possíveis barreiras ao comércio. Romão et al (1997) acrescentam a

maior necessidade de conhecimento sobre o mercado, a existência de “filtros” na

relação com o cliente final, e a exposição a comportamentos oportunistas, por parte

dos intermediários.

A exportação cooperativa está adaptada a empresas que não desejam usar os

seus próprios recursos para criarem a sua própria rede de distribuição, mas, ao mesmo

tempo, desejam ter algum controlo sobre as suas operações internacionais. Uma das

formas mais populares de exportação cooperativa é designada piggyback exporting

(Kotabe 2010), que ocorre quando uma empresa utiliza os canais de distribuição de

outra empresa (local ou estrangeira), para vender os seus produtos nos mercados

internacionais. As vantagens apontadas para a exportação cooperativa são a partilha

dos custos com os parceiros, os efeitos sinérgicos originários da colaboração, a maior

possibilidade de acesso à informação, e o maior controlo sobre o desenvolvimento dos

negócios. Como desvantagens, encontram-se a dependência em relação ao

intermediário, a dificuldade de prestar serviços pós venda, e a crescente dificuldade de

resposta, devido à expansão dos mercados.

7.2.2.2 Formas contratuais

O próximo conjunto de modos de entrada assume uma forma contratual, pois é

feito com base num contrato entre duas empresas localizadas em países diferentes.

Este contrato permite a cada empresa usar a tecnologia, marca, especificações do

produto e outras caraterísticas, na produção ou venda dos produtos ou serviços

(Teixeira, 2011). As formas contratuais podem ter interesse para as empresas como

um modo de aceder a recursos através da subcontratação ou de determinados

contratos de licença, mas também pode ser uma resposta a movimentos de

concorrentes ou ainda a tentativa de manutenção ou expansão de redes de

cooperação (Romão et al. 1997).

Os modos de entrada em forma contratual podem tomar as seguintes formas:

licenciamento, franchising, subcontratação, joint ventures ou alianças. O primeiro caso

66

trata-se de um acordo que envolve a transferência a outra empresa do direito sobre

um conjunto, mais ou menos alargado, de conhecimentos tecnológicos e comerciais,

como o direito do uso da marca registada ou o uso de patentes, em troca de um

pagamento. Este, normalmente, assume a forma de royalty, em função do volume de

vendas relacionado com o acordo.

São várias as vantagens apontadas para o uso do licenciamento como modo de

entrada, nomeadamente, o reduzido risco de entrada no mercado, na medida em que

não exige o uso de muitos recursos da empresa. Assim, torna-se bastante atrativa para

empresas de pequena dimensão, que não possuam recursos para investir em

infraestruturas no estrangeiro. Para além deste facto, o licenciamento permite uma

rápida entrada no mercado, beneficiando do conhecimento e imagem do licenciado e

também ultrapassando possíveis barreiras protecionistas que possam existir no país de

entrada. Ainda associado ao risco, está o facto de que é o licenciador que sofre as

consequências diretas da instabilidade do país onde está presente, enquanto o

licenciado apenas sofre consequências indiretas como a possível oscilação no seu

pagamento em royalties. No caso de a empresa usufruir de pagamentos fixos, como a

remuneração certa da sua tecnologia, a instabilidade económica do país do licenciado

não vai afetar este pagamento.

Do lado das desvantagens, Romão et al (1997) apontam o risco do licenciado se

tornar um concorrente da empresa, perdendo esta o controlo sobre a sua tecnologia e

know how. Também a dificuldade de controlo do comportamento do licenciado pode

ser um problema. Se o licenciado não estiver entusiasmado ou empenhado no projeto,

as consequências irão refletir-se nas vendas do produto licenciado. O pagamento

através de royalties pode tornar-se numa desvantagem, pois, na maioria dos casos, é

inferior aos lucros obtidos através de outros tipos de internacionalização. Para além

disto, por vezes, certos países colocam limitações à duração e às taxas de royalties

praticadas.

O franchising trata-se de um contrato através do qual uma empresa (franchisor)

concede a outra empresa (franchisee), o direito de explorar de uma determinada

forma descrita no contrato, um negócio desenvolvido pelo franchisor. Por outras

palavras, o franchisee tem o direito a utilizar a imagem da marca, o conceito de

67

negócio e tornar-se num master franchisee para um país, no qual está responsável pela

criação de sub-redes de franchisee.

Para que isto seja possível, o franchisor tem de contribuir através do apoio

técnico à implementação do sistema e adaptação e controlo da qualidade, dando

formação e assistência à gestão. O franchisor deverá também dar apoio logístico,

incluindo o fornecimento de equipamento e material promocional, e deverá também

divulgar a imagem geral da cadeia. A remuneração é normalmente feita através de um

pagamento fixo inicial de royalties, estabelecidas em função das vendas, e através de

contribuições para a promoção da imagem da rede.

Este tipo de modo de entrada tem a vantagem de proporcionar uma rápida

penetração no mercado, através de um investimento mínimo, o que torna o

franchising num modo de entrada com um reduzido risco associado. À semelhança do

licenciamento, os riscos políticos para o franchisor também são bastante reduzidos.

Para além disto, como a remuneração do franchisee está diretamente relacionada com

os seus esforços e vendas, este terá uma motivação extra para cumprir com a função e

gerar lucros para ambas empresas. Por último, o franchisor pode tirar partido do

conhecimento sobre o mercado local que o franchisee possui.

No entanto, o franchising nem sempre é fácil, pois empresas menos conhecidas

no mercado mundial irão ter dificuldade em encontrar um parceiro no mercado no

qual desejam entrar. Também o controlo é inferior ao proporcionado por outros

modos de entrada, como o investimento direto estrangeiro, e exige um apoio contínuo

ao franchisee. Romão et al. (1997) chamam a atenção para a possível dificuldade de

adaptação a contextos culturais diferentes e para a possível exigência de proteção dos

direitos de propriedade industrial e intelectual.

A subcontratação como modo de internacionalização ocorre quando uma

empresa internacional faz um acordo com uma empresa do país de destino, no qual

esta última se torna responsável pela produção dos produtos e a primeira

responsabiliza-se pela sua comercialização. A poupança de recursos é a principal

motivação para as empresas optarem por este modo de entrada (Kotabe, 2010), pois

os produtos intensivos em mão-de-obra podem beneficiar com a sua fabricação em

países com salários menos elevados do que os do país de origem. Isto vai permitir à

empresa focar-se nas suas principais competências, como o design, marketing, etc.,

68

delegando a produção. Para além disto, as vantagens já apontadas ao licenciamento e

franchising aplicam-se também à subcontratação, como é o caso da menor exposição

aos conflitos políticos que possam ocorrer no país de destino.

Semelhante às anteriores formas contratuais, a desvantagem de se estar a criar

um concorrente também se aplica à subcontratação. Este modo de internacionalização

também oferece pouca flexibilidade para responder a mudanças imprevistas na

procura. A vantagem dos baixos custos de produção pode tornar-se numa

desvantagem, quando a produtividade dos funcionários é inferior ao desejado, devido

aos baixos custos salariais, o que pode também despertar problemas éticos e de

responsabilidade social.

As joint ventures caraterizam-se pela realização de um acordo entre empresas

de dois países distintos, que desejam levar a cabo, num desses países, um negócio

benéfico para ambas as partes envolvidas. Através da criação de uma joint venture, as

partes envolvidas aceitam participações equivalentes e partilhar outros recursos, para

o estabelecimento de uma nova entidade, num dos países de origem das empresas

envolvidas no negócio. O nível de equidade pode tomar, geralmente, três formas:

maioria, quando a empresa detém mais de 50% de controlo; 50-50, quando ambas

empresas detêm 50% do controlo e, por fim, minoria, quando a empresa detém menos

de 50% de controlo.

As vantagens deste modo de entrada são o acesso ao conhecimento

tecnológico dos parceiros e também aos recursos, como o caso da terra, matérias-

primas e experiência no mercado. A partilha de custos e riscos pelos associados

também é um benefício das joint ventures e a relação de sinergia que se cria em torno

desta nova entidade é uma vantagem em relação aos modos de entrada acima

mencionados.

No entanto, a criação de uma joint venture exige um grande investimento

inicial, conduzindo a um possível surgimento de conflitos de interesse entre as partes

envolvidas no negócio, para além de por vezes o seu processo de registo poder

mostrar-se complexo (Daszkiewicz e Wach, 2012).

Por último, nas formas contratuais de internacionalização, temos as alianças

que são definidas como acordos entre empresas, caraterizados pela reciprocidade ou

pela conjugação de esforços e competências entre as empresas participantes, podendo

69

envolver participações de capital (Teixeira, 2012). Distinguindo-se de Teixeira (2012),

que define as joint ventures como um processo em si mesmo, Romão et al (1997)

consideram que as joint ventures, juntamente com as participações cruzadas, podem

ser um tipo de alianças. Já Teixeira (2012) faz referência aos consórcios como um tipo

de aliança.

A redução de custos, aliada à obtenção de economias de escala, são algumas

das vantagens proporcionadas pelas alianças. Romão et al. (1997) acrescentam o

aproveitamento de posições, linhas de produtos ou competências complementares e

também a exploração de sinergias e de oportunidades de aprendizagem, como

atrativos deste modo de entrada.

Do lado das desvantagens, surgem os problemas de coordenação, o risco da

erosão da posição competitiva e a exposição a possíveis comportamentos oportunistas

vindos do parceiro de negócios.

7.2.2.3 Investimento direto estrangeiro (IDE)

Este tipo de modo de entrada pode assumir duas formas: a compra de uma

empresa já existente no país de destino, o caso duma aquisição, e a criação de uma

nova empresa que inicia a sua atividade, neste caso estamos perante um investimento

de raiz ou greenfield operation.

Em relação aos investimentos de raiz, a empresa investidora necessita de

desenvolver todos os esforços necessários à implementação de uma nova empresa,

podendo mesmo implicar a construção de uma unidade fabril. A admissão de pessoal

com as competências necessárias pode também ser um desafio neste processo, tal

como as regras e rotinas organizacionais e o estabelecimento de uma rede de

distribuição local. Para além destes fatores, a promoção dos produtos e o

desenvolvimento de contatos são também algumas desvantagens dos investimentos

de raiz. No entanto, se a empresa já tiver um bom conhecimento sobre o mercado no

qual se pretende estabelecer, vários dos fatores antes assinalados podem ser

facilmente ultrapassados.

As aquisições, face aos investimentos de raiz, representam uma forma de

entrada no mercado mais rápida, pois ultrapassam os problemas de arranque. A

obtenção de quota de mercado, aliada ao acesso e domínio de recursos escassos ou

70

específicos, podem também incentivar a escolha por uma aquisição, em vez de um

investimento de raiz. No entanto, as aquisições podem ser um problema, aquando da

identificação e seleção das empresas alvo adequadas, ou quando surgem dificuldade

de integração cultural entre as duas empresas. Estas também nem sempre são bem

vistas pelas autoridades locais (Romão et al 1997).

De todos os modos de entrada mencionados, a exportação parece ser a mais

adequada à internacionalização das PMEs. Segundo Pangarkar (2008), as PMEs não

têm os recursos necessários para realizar análises profundas dos mercados

estrangeiros, o que por vezes se traduz no não aproveitamento de oportunidades de

mercado. Quando se dá a análise dos mercados estrangeiros, normalmente, esta é

feita por colaboradores que não são especializados na área, e a decisão de avançar, ou

não, em direção a um certo mercado, não passa por uma estrutura hierarquizada de

gestores que votem o sim ou o não.

Segundo Buclkley (1999)18 as pequenas empresas costumam utilizar técnicas

menos dispendiosas para a recolha de informação. Neste contexto, dado a exportação

não implicar demasiado investimento para a empresa, nem para os seus recursos,

parece ser a forma mais adequada para começar o processo de internacionalização de

empresas de pequenas dimensões. Para além disto, empresas de grandes dimensões

têm uma maior margem de recobro se tiverem insucesso no mercado internacional,

não se aplicando o mesmo às PMEs, para as quais a perda de recursos pode ter um

resultado desastroso (Pangarkar 2008). A questão dos recursos pode ser também

encontrada num relatório da OCDE (2009) o qual menciona a escassez de recursos,

como a falta de conhecimento da gerência ou a falta de financiamento, como um dos

principais obstáculos à internacionalização das PMEs.

Sandberg e Jansson (2007) mencionam a exportação como o processo de

internacionalização mais adequado às PMEs. Estes autores consideram que o processo

de internacionalização das PMEs é constituído por cinco etapas. Numa fase inicial a

empresa está mais focada para o seu mercado doméstico, até começar a avaliar as

possibilidades de exportação para outros mercados, denominando-se esta etapa de

pré-exportação. Em seguida, começam os primeiros movimentos de exportação, mas

18

Citado em Pangarkar (2008)

71

esta atividade ainda é considerada como marginal para a empresa. Esta entra na

quarta etapa quando está ativamente envolvida na exportação e o comércio

internacional torna-se numa atividade normal da empresa. Por último, a empresa pode

ser chamada de internacional, pois depende acentuadamente do mercado estrangeiro.

A vantagem da exportação para as PMEs, como modo de entrada no mercado

internacional, está também relacionada com o facto desta não se expor diretamente a

possíveis instabilidades existentes nos países estrangeiros, podendo cessar a

exportação para um determinado país sem grandes dificuldades.

A marca Novexpert corrobora a teoria, uma vez que sendo uma PME, apenas

utiliza a exportação como modo de entrada nos mercados internacionais, dado não

possuir os recursos necessários para maiores investimentos, ainda que as suas vendas

internacionais sejam superiores às vendas realizadas no mercado francês. Em relação à

procura de informação sobre os mercados internacionais, a Novexpert utiliza os

serviços proporcionadas pela entidade já mencionada, Ubifrance.

O tratamento da informação disponível sobre os mercados internacionais,

constituía uma das funções desempenhadas no âmbito do estágio realizado,

constituindo uma tarefa fundamental para o processo de internacionalização da

Novexpert.

Os serviços fornecidos pela entidade Ubifrance eram remunerados, pelo que a

Novexpert não tinha disponíveis fichas para todos os países. No sentido de ultrapassar

as lacunas neste tipo de informação, no âmbito do estágio realizado, foram elaboradas

pesquisas na internet e subsequente tratamento da informação sobre potenciais

parceiros de negócio. Esta informação era posteriormente revista durante as reuniões

do departamento de exportação.

8. A internacionalização da Novexpert O processo de internacionalização da Novexpert iniciou-se com a venda dos

produtos na Europa, mais especificamente para os países próximos da França, como a

Bélgica, a Inglaterra ou a Suíça. Atualmente, a marca encontra-se presente em quase

todos os continentes, com exceção da Oceânia.

72

A exportação desempenha um papel crucial para a Novexpert, pois é nesse

campo que a marca apresenta melhores resultados. Neste contexto, a empresa está

constantemente a tentar alargar o seu portfólio de clientes, independentemente do

seu país de origem.

Como assistente de exportação, uma das funções realizadas no âmbito do

estágio era a procura de possíveis clientes a nível mundial. Para a realização desta

tarefa, era utilizada a informação disponibilizada pela entidade Ubifrance, cujo

tratamento era orientado por um colaborador hierarquicamente superior da empresa.

Dada a natureza das funções desempenhadas durante o estágio, este ponto do

relatório resulta dessa experiência, facto que se tenderá a fazer refletir no texto.

8.1 Escolha dos mercados a atacar

De acordo com Kotabe (2010), a empresa segue os seguintes passos no seu

processo de internacionalização:

Figura 11: Passos do processo de internacionalização, fonte: Kotabe et al. (2010)

De uma forma geral, a Novexpert segue os mesmos passos que Kotabe propõe,

com a particularidade da Novexpert não limitar a sua presença internacional, na

medida em que a empresa não coloca nenhum mercado de parte, apenas os prioriza,

conforme a sua estratégia. Neste sentido, o departamento de exportação possuía uma

73

recheada base de dados com informações sobre todos os países potenciais

importadores para a Novexpert. Dada informação sobre alguns dos países estar

incompleta, uma das funções realizadas era o preenchimento dessas informações em

falta, tais como o número de habitantes, o crescimento económico esperado, o pib per

capita, mas também as marcas concorrentes já presentes nesses mercados e

potenciais distribuidores.

Em relação aos mercados sobre os quais a empresa já dispunha de informação

concreta, como contatos de potenciais clientes ou distribuidores, esses mercados eram

considerados prioritários.

Em todo caso, sempre que a empresa detetava uma oportunidade, como por

exemplo, a abertura de uma nova distribuidora ou a entrada de um concorrente num

novo mercado, a Novexpert abordava esse mercado. A ideologia do departamento de

exportação era que não se perdia nada em tentar e, assim, todos os países

representavam uma possibilidade de vendas.

Um aspeto a sublinhar é a extrema organização da empresa ao nível da

informação sobre os processos. Todos os funcionários no departamento de

exportação tinham disponíveis guias no servidor da empresa, nos quais eram

explicados todos os passos a tomar para manter a base de dados atualizada e evitar

erros. Este facto representou uma enorme ajuda para o desempenho, enquanto

estagiária, na empresa, permitindo uma maior autonomia, na realização de cada

tarefa. Para além disto, a organização da empresa tornou-se extremamente útil a nível

profissional pois permitiu a aquisição de estratégias para gerir uma base de dados com

sucesso, potenciando um melhor desempenho. Por motivos de confidencialidade, não

é, contudo, possível revelar o conteúdo da base de dados.

Nos casos em que a empresa não tinha informação sobre os mercados, uma

das tarefas a desenvolver era pesquisar essa informação. Para a realização desta

tarefa, a formação adquirida no âmbito da parte curricular do mestrado revelou-se

crucial, paralelamente ao apoio da Ubifrance. Após terminada a pesquisa, as

informações encontradas eram revistas com um superior da empresa e,

posteriormente, apresentadas nas reuniões do departamento de exportação.

Durante a discussão sobre as informações encontradas eram debatidos vários

pontos, como a existência de concorrência no mercado pesquisado, a existência de

74

uma boa rede de distribuição, se o potencial cliente estava habituado a trabalhar com

produtos cosméticos, etc.. No final, a decisão de entrada era quase sempre positiva e a

responsabilidade pela realização da pesquisa traduzia-se numa responsabilidade pelo

mercado em causa.

Área geográfica Países

selecionados

Vantagens Obstáculos

Ásia Coreia, Hong Kong,

Filipinas, China, etc

Mercados

promissores para o

setor cosmético;

Grande valorização

do logo “Made in

France”

Distribuidores

asiáticos não

asseguram o

sucesso da

Novexpert neste

mercado pois a

empresa não

possui produtos

branqueadores

América Latina

México, Panamá,

Uruguai, Colômbia,

etc

Mercados de

rápido crescimento

económico; setor

cosmético pouco

desenvolvido

Problemas com as

alfândegas,

produtos

bloqueados;

negociação

extremamente

demorada

Europa

Alemanha, Chipre,

Suécia, Lituánia,

Roménia, etc

Preferências dos

consumidores

aproximadas entre

si; facilidade na

exportação devido

à ausência de

barreiras

Mercado muito

saturado;

dificuldade em faze

frente à enorme

concorrência

Médio Oriente Qatar, Kuwait,

Emirados Árabes

Países ricos que

apresentam

Preços dos

produtos

75

Unidos; etc elevados

rendimentos per

capita

Novexpert

precisam de ser

mais elevados;

grande dificuldade

de entrada a nível

cultural

Tabela 6: Exemplo de pesquisa de mercado da Novexpert

8.2 Estratégias de aproximação aos novos mercados Após selecionados os países prioritários, uma das funções era a realização dos

primeiros contactos. No âmbito dos primeiros contactos, a empresa já possuía uma

estratégia delineada que se dividia em três passos:

1- O primeiro contato: para a realização do primeiro contato com um potencial

cliente, a Novexpert possuía uma mensagem de correio eletrónico tipo que,

antes do seu envio, era adaptada a cada cliente. Nesta mensagem eram

enviadas algumas informações sobre a empresa e os seus produtos, mas de

uma forma muito geral. Algumas das informações que se podiam ler eram

sobre a constituição dos produtos (100% naturais, 0% de conservantes), os

prémios obtidos pela empresa e o sucesso da marca noutros países, com

procuras e estrutura semelhantes. Um exemplo desta mensagem pode ser

encontrado no anexo II.

2- Confirmação do primeiro contato: após o envio da mensagem, deixava-se

passar um período de cerca de uma semana antes de se contatar a empresa

novamente. O segundo contato era realizado via telefone, no qual se

confirmava a boa receção da mensagem de correio eletrónico e se questionava

sobre o possível interesse pela Novexpert. Se o potencial cliente se demonstra-

se interessado, era-lhe proposto o envio gratuito de uma caixa com toda a

gama de produtos da marca e também alguma informação publicitária.

Normalmente, esta oferta era bem aceite por todos os contactos, que

forneciam os seus dados para se proceder ao envio da mercadoria.

76

3- Envio da caixa: após ter a informação necessária para o envio, procedia-se à

elaboração da caixa promocional. Deste, constava a gama completa dos

produtos Novexpert, uma carta personalizada e um guia sobre cada produto

individual. Um exemplo desta caixa pode ser encontrada na imagem abaixo:

Figura 12: Caixa Novexpert exterior Figura 13: Caixa Novexpert interior

Este processo implicava um permanente contato com o potencial cliente, permitindo

que a Novexpert se destacasse, entre tantas outras marcas de cosméticos. Para além

disto, o envio da caixa permitia o acesso a novas informações sobre a empresa, tais

como, morada, telefone e pessoas responsáveis pela logística. Todas estas informações

eram inseridas na base de dados. Também todas as trocas de mensagens eletrónicas e

mesmo as próprias mensagens eletrónicas eram guardados numa pasta específica para

cada empresa internacional. Mais uma vez, se pode verificar o grau de organização da

empresa, na qual todo tipo de contato realizado com clientes estava descrito e

guardado podendo ser consultado a qualquer altura.

O registo das trocas com as empresas era muito útil pois permitia estar a par de

tudo o que se tinha passado anteriormente à chegada de qualquer colaborador à

empresa. Também permitia o acesso a todas as mensagens eletrónicas e conversas

que tinha realizado com cada empresa, evitando confusões e erros. No entanto, isto

exigia um grande rigor da parte de todos os intervenientes, pois, após cada contacto,

tinha de se preencher a pasta da empresa com toda a nova informação, para além de

obrigar à verificação recorrente das mensagens eletrónicas antes do seu envio, pois

todas estas estavam disponíveis para consulta.

77

No esquema abaixo está representado, de uma forma simplificada, o processo

de aproximação a novos mercados adotado pela Novexpert:

Figura 14: Processo de prospeção da Novexpert

8.2.1 Modos de entrada

Na escolha do modo de entrada nos mercados internacionais, a experiência da

Novexpert corrobora a teoria que a defende a exportação como o modo de entrada

mais adaptado às PMEs. Mesmo utilizando este modo de entrada considerado por

vezes “simples” ou menos trabalhoso, a Novexpert conseguiu alcançar um grande

sucesso no mercado internacional.

A empresa encarava então a exportação de duas formas distintas e a dois níveis

também distintos. Ou seja, por um lado a empresa preferia trabalhar diretamente com

o estabelecimento que ía comercializar os produtos Novexpert, mas também estava

disposta a trabalhar com empresas de distribuição. Por outro lado, a empresa

propunha duas situações distintas aos potenciais clientes:

a) O cliente era responsável por todas as ações de marketing, pela formação das

suas vendedoras em relação à marca e pelo posicionamento da marca no seu

mercado. Nestes casos havia a vantagem da Novexpert proporcionar uma

maior margem de lucro ao cliente e limitar-se à venda dos seus produtos.

Enviar 1º e-mail personalizado

O distribuidor responde

positivamente

Enviar caixa tipo

Enviar lista de preços

O distribuidor não responde

Contatar via telefone

O distribuidor responde

negativamente

Tentar perceber o porquê

da resposta

Contatar mais ou vez

passados 6 meses

78

b) O cliente não era responsável pela promoção da marca, nem pela formação das

suas vendedoras, ou seja, tinham de ser os colaboradores da Novexpert a se

deslocar ao país de x em x tempo para formar as vendedoras, sendo também a

Novexpert que se ocupava da elaboração do marketing da sua marca. Nestes

casos, a Novexpert propunha uma margem de lucro menor ao cliente, pois era

a Novexpert que ficava responsável pela promoção da marca nos mercados

internacionais, o que se pode revelar bastante complexo para uma empresa

com poucos recursos disponíveis.

De uma forma geral, foi possível verificar, durante o estágio realizado, que,

normalmente, o setor farmacêutico optava pela segunda opção e o setor da

perfumaria optava pela primeira opção. Isto poderá justificar-se pelo facto das

farmácias desejarem passar uma imagem mais científica e séria, optando por

campanhas promocionais sobre os fármacos que comercializam e não querendo se

focar excessivamente nos produtos cosméticos.

No que diz respeito às perfumarias e salões de beleza, os cosméticos

desempenham um papel primordial e são o foco destas empresas. Assim, a

possibilidade duma formação dada pelos especialistas na marca pode permitir à

perfumaria obter uma vantagem em relação aos seus concorrentes. Por outro lado,

dado o facto das perfumarias comercializarem uma enorme quantidade e diversidade

de produtos cosméticos, estas podem não possuir o tempo necessário para se focarem

em cada marca individualmente, sendo mais fácil e eficaz deixar esta tarefa com os

fundadores da marca.

A escolha da cadeia de distribuição dependia muito de país para país. Em certos

casos, como na Noruega, Dinamarca ou Suécia, a Novexpert procurava posicionar-se

no setor farmacêutico, pois considerava que nestes países o facto dos seus produtos

estarem disponíveis em farmácias ou para-farmácias transmitia maior segurança ao

consumidor.

No caso português, espanhol ou inglês, a Novexpert já se encontrava disponível

em perfumarias, pois nestes países os consumidores tendem a dirigirem-se a uma

perfumaria para adquirirem um produto cosmético, em vez de se dirigirem a uma

farmácia. Um dos valores que foi transmitido ao longo do estágio foi que os produtos

79

Novexpert são extremamente flexíveis e adaptáveis às especificidades de cada

mercado.

8.2.2 Adaptação dos produtos

Durante o processo de internacionalização das empresas a questão sobre a

adaptação dos produtos aos novos mercados é incontornável. São várias as dúvidas

que surgem em relação a este assunto: será que a empresa deve criar novos produtos

específicos para um certo mercado?; quais os produtos que deverão ser adicionados

ou retirados?; que design deverá ter a embalagem? (Kotabe 2010).

Segundo Calantone et al (2006), a estratégia de adaptação dos produtos aos

novos mercados consiste na planificação das atividades da empresa, de acordo com as

necessidades e preferências dos consumidores do mercado no qual se procura entrar.

Esta estratégia é determinada por fatores externos e internos da empresa. Calantone

et al. (2006) sugerem que a adaptação dos produtos aos novos mercados resulta num

aumento do volume de vendas e afeta positivamente a performance das empresas nos

mercados internacionais.

A decisão da adaptação dos produtos aos novos mercados não é linear e

depende, em grande medida, dos produtos em si mesmo, dado que nem todos os

produtos apresentam o mesmo grau de adaptabilidade ou flexibilidade. Para além

disto, a semelhança entre o mercado doméstico e o mercado estrangeiro pode não

exigir nenhuma adaptação significativa do produto.

No caso específico da Novexpert, os produtos e também a empresa

demonstraram uma enorme capacidade de adaptação aos novos mercados. O diretor

da Novexpert acredita que, através da adaptação dos seus produtos aos outros

mercados, os consumidores teriam maior curiosidade em experimentar a Novexpert,

devido aos esforços realizados pela marca. Por um lado, foi possível verificar que, em

certos países, era praticamente impossível a não adaptação dos produtos,

designadamente, no mercado chinês.

Durante o processo de entrada da Novexpert na China, uma das questões

abordadas foi a pertinência dos produtos Novexpert nesse mercado, Visto os

consumidores asiáticos terem preferências bastante diferentes dos consumidores

80

europeus, a Novexpert foi forçada a adaptar a sua linha de produtos para conseguir

alcançar o sucesso entre os consumidores chineses. Assim sendo, a empresa criou um

produto específico para este mercado, que é um produto utilizado para aclarar a pele.

Também a linha de produtos da Novexpert, que apresenta três tonalidades diferentes,

não foi comercializada neste mercado, pois na cultura chinesa a definição de beleza é

distinta da definição ocidental, sendo que, nas culturas asiáticas, o bronzeado não é

associado a beleza, como é na Europa. Pelo contrário, a cor branca da pele é sinónimo

de beleza e pureza. Também a introdução de proteção solar mais intensa nos produtos

foi uma outra medida de adaptação a este conceito de beleza asiático.

No caso chinês, a adaptação dos produtos ao mercado foi profunda, mas ao

mesmo tempo indispensável. Estando a Novexpert realmente interessada neste

mercado, esta teve de optar pelo investimento de uma parte dos seus recursos, para

poder obter retornos neste mercado. A entrada e o sucesso no mercado chinês não

teriam sido possíveis, sem a reformulação dos produtos da Novexpert.

Para além deste caso, temos o caso do norte da Europa. Aqui, a adaptação não

foi necessariamente ao nível dos produtos, mas sim ao nível da estratégia de

marketing. Enquanto que no mercado francês e do sul da Europa a Novexpert tentava

passar uma imagem de eficiência no cuidado anti idade, no norte europeu a marca

insistia no cuidado anti idade, mas também na proteção contra o frio e os ventos

gelados, proporcionada pelos produtos Novexpert.

Todas as pequenas ou grandes adaptações da Novexpert aos novos mercados,

permitiram à empresa estar presente em quase todos os países do globo e fazê-lo com

sucesso. Visto a concorrência ser cada vez mais intensa, as marcas têm de tentar

encontrar estratégias para sobressaírem em relação às outras marcas. A estratégia

adotada pela Novexpert foi o respeito pelas preferências dos consumidores

internacionais, o que se traduziu num enorme sucesso a nível internacional, mesmo

para uma empresa de pequenas dimensões e recursos limitados.

8.2.3 O sucesso da América Latina vs o sucesso da Europa

Durante a realização do estágio a principal função era a abertura dos mercados

da América Latina e a expansão do mercado europeu. Esta tarefa demonstrou-se

extremamente construtiva tanto a nível profissional como a nível pessoal e também foi

81

uma oportunidade de aplicar os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do

mestrado em negócios internacionais.

No caso da América Latina, era necessário ter em consideração um grupo de

fatores que influenciaram o modo como este continente foi abordado, fatores como as

diferenças culturais, o tratamento dado aos indivíduos, o tipo de relação que era

necessário estabelecer com o país e também todo o protecionismo imposto pelos

governos latino americanos.

Num momento inicial, a estratégia adotada baseou-se na informação

disponibilizada pela Ubifrance em articulação com os conhecimentos teóricos

adquiridos no âmbito do mestrado. Assim, foi possível perceber que o primeiro

contato a realizar com os países da américa latina tinha de ter um carácter mais

pessoal do que o primeiro contato ao nível europeu. Era necessário adaptar o discurso

à cultura latina, trabalhando a relação com o interlocutor e não apenas a possibilidade

de negócio que se apresentava para ambas as partes.

O aspeto linguístico não foi um obstáculo, dado o domínio do espanhol. No

entanto, o facto da marca Novexpert ser completamente desconhecida na América

Latina revelou-se um desafio. Mesmo beneficiando do “Made in France”, os primeiros

contactos foram complexos, devido a vários fatores, como a diferença no fuso horário

ou o facto de não ser recomendada por nenhuma outra empresa, conhecida no

mercado latino-americano.

Após muita insistência, foi possível obter respostas positivas de diversos países,

tais como México, Colômbia, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Honduras. Assim sendo,

procedeu-se ao envio dos produtos da Novexpert, para facilitar a negociação. No

entanto, aqui surgiu um outro obstáculo que foi o bloqueio constante das mercadorias

nas alfândegas e a eventual falta de honestidade dos distribuidores, designadamente,

da Colômbia e da Bolívia.

Em relação ao bloqueio das mercadorias, foi necessário utilizar a informação

disponibilizada pela Ubifrance, bem como realizar pesquisas adicionais por forma a

perceber em que moldes as mercadorias deveriam ser enviadas, isto é, que tipo de

fatura se devia incluir e a quantidade, o modo como preencher as informações sobre a

mercadoria, as quantidades máximas que se podiam enviar de uma só vez, etc. Este

conhecimento permitiu fazer com que a mercadoria chegasse ao seu destino. Contudo,

82

como já foi referido, enquanto os distribuidores da Colômbia e da Bolívia afirmavam

que nunca tinham recebido os produtos Novexert, a empresa transportadora

confirmava a sua entrega.

Uma explicação possível para esta situação iniciam a produção de produtos

semelhantes, sob uma marca própria. Nestes casos, a negociação era totalmente

abandonada e eram procurados novos contatos nesses países.

Em relação ao México, os distribuidores demonstraram-se muito satisfeitos

com os produtos e ansiosos por iniciar a sua comercialização nestes países. Nestes

casos, verificou-se, contudo uma diferença entre a realidade e a informação que era

transmitida ao telefone ou por correio eletrónico. Mesmo mostrando grande interesse

pela Novexpert, a demora na entrega de documentos ou na resposta às mensagens

eletrónicas era significativa, sendo o processo extremamente lento e pesado em

termos burocráticos. Ainda assim, os contactos o processo não foi abandonado.

Contrariamente aos países acima mencionados, a entrada no Paraguai, Uruguai

e nas Honduras foi mais rápida. Desde o início do estágio, a entrada nestes países foi

trabalhada e, aquando do seu término, haviam sido estabelecidos contratos de

distribuição em cada um destes países. Este acontecimento foi de extrema importância

para a empresa, na medida em que já o tinha tentado fazer várias vezes, mas nunca

tinha tido sucesso na abertura destes mercados. O modo de entrada selecionada foi a

exportação direta para três cadeias de perfumarias, presentes em cada um dos países.

No caso europeu a situação é bastante distinta. Neste caso, mesmo não

havendo obstáculos à livre circulação de mercadorias, é necessário ter em atenção a

elevada concorrência e a quase saturação do mercado europeu, ao nível dos

cosméticos.

Em média, as empresas de distribuição europeias recebem, diariamente, 4 a 5

pedidos de colaboração, por parte de novas empresas cosméticas (SESSI, Enquêtte

annuelle d’entreprise, 2002). Neste contexto, a abordagem aos distribuidores

europeus deveria ser realizada de forma que a Novexpert sobressaísse, em relação às

outras marcas. Neste sentido, antes de contatar com cada distribuidor, este era

cuidadosamente estudado e só após esta análise, procedia-se ao primeiro contato.

No mercado europeu, os países abordados foram a Lituânia, a Roménia e a

Suécia. Num momento inicial, foram selecionados cerca de 30 países, mas ao longo do

83

tempo, foram estes três os que demonstraram um maior interesse pela Novexpert.

Durante a abordagem ao mercado europeu foi possível identificar diferenças

interessantes em relação à América Latina. Na América Latina, o primeiro contato era

mais complexo, enquanto na Europa era mais simples e direto. Os distribuidores

europeus demonstraram-se sempre dispostos a receber informações sobre a marca e a

dar uma resposta positiva, ou negativa, num curto espaço de tempo.

Em relação ao envio dos produtos para amostra, os distribuidores europeus

apenas aceitavam recebê-los se realmente estivessem interessados nos valores e

caraterísticas da marca. Neste sentido, foi possível, de forma rápida e clara,

estabelecer contratos de distribuição com a Lituânia, Roménia e Suécia.

Durante o estágio na Novexpert, foram concretizadas, com sucesso, as tarefas

atribuídas. Os objetivos, enquadrados nas funções desempenhadas, foram, em larga

medida alcançados. Após a conclusão do estágio, a Novexpert entrou em mais 6

mercados, 3 europeus e 3 na América Latina. Uma relevante medida do sucesso do

estágio realizado foi a proposta de contratação apresentada pela empresa a meio do

estágio.

84

9. Conclusão O processo de internacionalização das empresas é extremamente dinâmico e

variável de empresa para empresa e também de mercado para mercado. É difícil

delinear uma estratégia ou um modelo pré-definido de internacionalização, pois, ao

longo do todo o seu processo, há uma enorme quantidade de fatores e situações que

não dependem da empresa, mas que podem modificar todo o seu processo de

internacionalização.

Desde a teoria clássica às novas abordagens ao mercado internacional, todas as

correntes de pensamento possuem as suas vantagens, mas também limitações,

cabendo à empresa e à sua equipa adaptar estas linhas de orientação às situações

específicas que se vão apresentando, ao longo de todo o processo de

internacionalização.

Assim, a empresa tem de estar sempre pronta para o inesperado e possuir uma

estrutura de resposta rápida e eficiente às novas situações. A adaptação e flexibilidade

das empresas, principalmente das PMEs, representam então uma enorme vantagem,

durante todo o processo de internacionalização.

A globalização dos mercados é cada vez mais intensa fazendo com que todas as

empresas, e consumidores, a nível mundial, estejam sujeitos às suas consequências.

Se, por um lado, a liberalização dos mercados permitiu aos consumidores terem acesso

a uma imensidão de novos produtos, a preços mais competitivos, por outro, as

pequenas empresas sofreram, em grande medida, com o aumento repentino da

concorrência. Estes fenómenos obrigaram as empresas a se adaptarem à nova

conjuntura mundial, através da remodelação da sua estratégia, mas também através

da inovação nos seus produtos.

Estes impulsos externos para a internacionalização fazem parte de um enorme

conjunto de motivos que estão na origem da entrada nos mercados internacionais.

Contudo, é importante não esquecer que a entrada num novo mercado pode ter

origem numa motivação interna da empresa, como, por exemplo, a manutenção ou

reforço das relações com clientes ou fornecedores ou a deteção de oportunidades

noutros mercados.

85

Após a análise dos objetivos e motivações da empresa, esta deve delinear a sua

estratégia de internacionalização.

De uma forma geral, a exportação tem sido o modo de entrada mais

aconselhado por diversos autores para as PMEs. Segundo Ceci et al. (2006), o tamanho

da empresa não deve constituir um obstáculo à exportação, considerando que o

comportamento face ao comércio internacional depende de múltiplos fatores, que

podem ser específicos do setor industrial ou da gerência da própria empresa.

A mundialização do comércio, dos investimentos e da produção alterou a

vantagem competitiva das PMEs. Entre estas, as que se mostram mais flexíveis

conseguem adaptar-se e ajustar-se às mudanças no seu ambiente19.

A Novexpert é um caso de sucesso face a estes novos desafios do mercado

internacional. Mesmo sendo uma empresa de pequenas dimensões e inserida num

país no qual os cosméticos são uma das principais atividades comerciais, a Novexpert

soube responder às exigências do mercado através da adaptação dos seus produtos e

da sua flexibilidade.

Ainda assim, a empresa ainda enfrenta vários desafios no seu desenvolvimento

e crescimento. O mercado internacional é dinâmico e cada vez mais livre e a entrada

de novos concorrentes representa um constante desafio para a Novexpert, pelo que

esta deverá estar sempre pronta a inovar, sem deixar de se manter fiel aos seus

valores.

19

http://www.forumducommerce.org/Strat%C3%A9gies-dexportation-pour-les-PME/

86

10. Bibliografia

Agence de promotion et développement économique de la région centre 2011, Focus

sur la production de Parfums et Cosmétiques en Région Centre

AICEP Portugal Global 2013, Horizontes Internacioalizar: Guia para PME

Al-Hassael Mohamed 2012, Parfums, cosmétiques, modes et luxe: de l'Antiquité à nos

jours, L’Harmattan

Andersen Otto 1992, On the Internationalization Process of Firms : A Critical Analysis,

Palgrave Macmillan Journals

Ansel Jean-Luc 2006, Cosmetic Valley, France: pole cosmétique, des sciences, de la

beauté et du bien-être, Annales des Mines

Auzias Dominique 2011, Guide des visites d’entreprise, Petit Futé

Ayal Igal, Zif Jehiel 1979, Expansion Strategies in Multinational Marketing, Journal of

Marketing vol. 43

Barney Jay 1990, Firm Resources and Sustained Competitive Advantage, Texas A&M

University

Boccara Frédéric, Hecquet Vincent, D’Isanto Aurélien, Picard Tristan 2013,

L’internationalisation des entreprises et l’économie française, INSEE

Borin Geraldo 2006, Aglomerações do Sistema Produtivo : Formas e Impactos

Brouthers Keith e Nakos George 2004, SME Entry Mode Choice and Performance: A

Transaction Cost Perspective, Baylor University

Cosmetics Europe 2013, Activity Report

Czinkota 2004, The Export Marketing Imperative, Texere

87

Garcia Renato, Economias externas e vantages competitivas dos produtores em

sistemas locais de produção: as visões de Marshall, Krugman e Porter, Ensaios FEE,

Porto Alegre

Gardner Lyddon 1962, The cosmetic industry, Journal of the Royal Society of Arts, vol.

110, pgs. 892 a 903

Global Insight 2007, A Study of European Cosmetics Industry

Gonçalves Reinaldo 1997, A Teoria do Comércio Internacional: Uma Resenha,

Economia Ensaios, volume 12 no. 1

Goshal Sumantra 1987, Global Strategy: An Organizing Framework, Strategic

Management Journal, volume 8 no. 5

Guillochon Bernard 1993, Economia Internacional, Planeta Editora

Johanson Jan e Vahlne Jan-Erik 2008, The Uppsala internationalization process model

revisited: From liability of foreignness to liability of outsidership, Journal of

International Business Studies

Jones Geoffrey 2011, Globalization and Beauty: A Historical and Firm Perspective,

Harvard Business School

Kalinic Igor, Forza Cipriano 2012, Rapid Internationalisation of traditional SMEs:

Between gradualist models and born globals, International Business Review

Karo Margherita 1968, Revisiting the cosmetics/toiletries industry, Financial Analysts

Journal, vol.24, no. 5, pgs 34-44

Kim W. Chan e Hwang Peter 1991, Global Strategy and Multinationals’ Entry Mode

Choice, Journal of International Business Studies

Kotabe, Helsen 2010, Global Marketing Management, John Wiley & Sons

Laghzaoui Soulaimane s.d., L’internationalisation des PME : Pour une relecture en

termes des ressources et compétences, Université Paul Cézanne

Lemaire Jean-Paul 1997, Desenvolvimento Internacional da Empresa Estratégias de

Internacionalização, Instituto Piaget

88

Littlelessconversation étude cosmétique 2010, Votre Marque sur le Marché

Cosmétique

M.M. Al Hassael 2012, Parfums, cosmétiques, mode et luxe: De l’Antiquité à nos jours,

L’Harmathan

Mossmann Nathalie, Thomas Sylvanie 2004, Parfums et cosmétiques en chiffres,

Ministère de L’Économie des Finances et de L’Industrie

Ngoc Chu 2014, Understanding the Relationship between Country of Origin image and

Brand Equity-Case of Cosmetic Brands in Ho Chi Minh City, International University,

Vietnam

OCDE 2009, Top Barriers and Drivers to SME Internasionalisation, OECD Centre for

Entrepreneurship, SME and Local Development

Pangarkar Nitin 2008, Internationalization and performance of small-and medium-

sized enterprises, Journal of World Business

Peng Mike 2001, The resource-based view and international business, Journal of

Management

Peng Mike, Wang Denis, Jiang Yi 2008, An institution-based view of international

business strategy: a focus on emerging economies, Journal of International Business

Studies

Pinheiro Anselmo et al. 2002, Experiências de internacionalização a globalização das

empresas portuguesas, Centro Atlântico

Plé Caroline 1998, Le secteur industriel de la parfumerie, Revue de gépgraphie de Lyon

Porter Michael 1998, Clusters and the New Economics of Competiton, Harvard

Business Review

Puech Florence, Mucchielli Jean-Louis, Internationalisation et localisation des firmes

multinationales: l’exemple des entreprises françaises en Europe, Économie &

Stastitique

89

Quan Rose 2012, SMEs Entry Mode Decision Making Process: Rational or Cybernetic,

Business and Management Research

Retour Didier, Pôles de compétitivité, propos d'étape, Revue française de gestion 10/

2008 (n° 190), p. 93-99

Rezvani Samin, Rahman Muhammad, Dehkordi Goodarz 2013, Consumer’s Perceptual

Differences in Buying Cosmetic Products: Malaysian Perspective, Middle-East Journal

of Science Research

Ricardo David 1965, Princípios de Economia Política e de Tributação, Fundação

Calouste Gulbenkian, Lisboa

Romão António, Morais Amador, Mendonça António, Costa Carla, Medeiros Eduardo,

Melo Lina, Silva Joaquim, Farto Manuel, Peleteiro Maria, Fontoura Maria, Salvado

Mário, Ordaz Pedro, Simões Víctor, Magriço Víctor 1997, Comércio e Investimento

Internacional, ICEP Lisboa

Rossi Emilio, Prlic Antonia, Hoffman Robert 2007, A Study of the European Cosmetics

Industry, Global Insight

Saeed Rashid, Khurshid Naima, Safdar Muzamil, Ahmad Wisal, Lodhi Rab, Ahmad

Wasim 2013, Country-of-origin (COO) Effect on Pakistani Consumers’ Evaluation of

French Cosmetics Products, Journal of Basic and Applied Scientific Research

Sandberg Susanne e Jansson Hans 2008, Internationalization of small médium sized

entreprises in the Baltic Sea Region, Jounal of International Business Management

Schumpeter Joseph 1996, Ensaios Empresários, inovação, ciclos de negócio e evolução

do capitalismo, Celta Editora, Oeiras

Smith Adam 1999, Riqueza das Nações, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

Souza Nali 1981, Economia Regional: Conceito e Fundamentos teóricos, Perspetiva

Econômica, Universidade do Vale do Rio dos Sinos

State Street Corporation 2011, Latin America’s Major Fives: Assessing the

Opportunities

90

Thiers Sophie e Tasseau Olivier 2004, Les cosméceutiques : cosmétiques ou

médicaments ? Ecole National Supérieure de Chimie de Rennes

Törnroos Jan-Ake s.d., Internationalisation of the firm- a theorical review with

implications of business network research, 18th Annual IMP Conference, Lyon França

Vale Glaúcia e Castro José 2010, Clusters, Arranjos Produtivos locais, Distritos

industriais: Reflexões sobre Aglomerações Produtivas, Análise Econômica, Porto

Alegre, Brasil

Valersteinas Bruno, Ceci Nila 2006, Structure et Comportement des Entreprises

Exportatrices Françaises, Economie & prévision

Vissak Tiia e Francioni Barbara 2013, Serial nonlinear internationalization in practice: A

case study, International Business Review

Vontris Demetris, Thrassou Alkis, Lamprianou Iasonas 2012, International marketing

adaptation versus standardisation of multinational companies, International Marketing

Review

Zilber Silvia, Júnior Carlos, da Silva Lourenço 2008, Internationalization strategy and

foreign distribution channels: analysis of the Brazilian cosmetics company Natura,

Brazilian Business Review

http://www.atlas.media.mit.edu/ visitado a 04/10/2014

http://www.cluster-excellence.eu/3552.html visitado a 05/09/2014

http://competitivite.gouv.fr/la-documentation-sur-les-poles-de-competitivite/les-

etudes-et-rapports-800.html visitado a 05/09/2014 visitado a 05/09/2014

www.centre.cci.fr/mediatique/monographie/Mono_parf_cosm.pdf visitado a

23/09/2014 visitado a 10/09/2014

http://lekiosque.fianances.gouv.fr visitado a 1/10/2014

http://www.premiumbeautynews.com/fr/le-marche-des-cosmetiques-naturels,7095

visitado a 04/10/214

http://www.premiumbeautynews.com/fr/quel-visage-pour-la-cosmetique-bio,6782