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anais do anais do anais do anais do2 o encontr encontr encontr encontro nacional de pesquisadores em dança (2011) o nacional de pesquisadores em dança (2011) o nacional de pesquisadores em dança (2011) o nacional de pesquisadores em dança (2011) Dança: contrações epistêmicas Dança: contrações epistêmicas Dança: contrações epistêmicas Dança: contrações epistêmicas www.portalanda.org.br/index.php/anais 1 A dança na esteira da oficialidade: a inauguração da Academia Real de Dança, na França do século XVII, e seu eco no Brasil do século XXI The official path of the dance: the inauguration of the Royal Academy of Dance, in XVII century in France, and its echo XXI century in Brazil. Ana Cristina Echevenguá Teixeira Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica – PUC/SP, bolsista do CNPq Resumo Este artigo faz parte da pesquisa que a autora vem desenvolvendo sobre companhias públicas de dança e pretende chamar a atenção para a importância do documento que dá forma legal à primeira institucionalização da dança no mundo: a carta oficial de criação, em 1661, da Academia Real de Dança (L’Académie Royale de Danse) pelo rei Luís XIV (roi Louis XIV). Tendo como objetivo diagnosticar o modo de pensar e de fazer dança das companhias oficiais no nosso país, aqui se parte da hipótese de que elas dão continuidade a um modelo administrativo cujos pressupostos estão implicados naquele primeiro documento. Para tal, deve-se investigar como se formou esse modelo para poder cruzar os tempos seculares, chegar até o presente e ampliar a discussão em torno da relação dança-Estado implícita nesse tipo de companhia e produção artística. Palavras-chave: Companhias Oficiais de Dança, Carta Oficial de 1661, Luís XIV, Académie Royale de Danse, Dança-Estado. Abstract This article is part of the research that the autor has been conducting about public dance companies, and attempts to call attention to to the importance of the first document in the world to institutionally legalize dance: the 1661 letter, signed by King Louis XIV (roi Louis XIV), to officially create the Royal Academy of Dance (L'Académie Royale de Danse). Doutoranda em Comunicação e Semiótica (PUC/SP-CNPq) e mestre pela mesma instituição. Bolsista da CAPES (Bolsa Sandwich – nov./2010 a fev./2011) na Sorbonne Nouvelle Paris 3 (França). É formada em Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul (1992) e em Arts du Spectacle Mention Danse pela Université Paris VIII (França-2002). Foi diretora artística assistente do Balé da Cidade de São Paulo (2003 a 2009). Atualmente, é consultora para o programa Dança Contemporânea da Sesctv-SP e pesquisadora para a Enciclopédia Itaú Cultural de Dança.

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    A dana na esteira da oficialidade: a inaugurao da Academia Real de

    Dana, na Frana do sculo XVII, e seu eco no Brasil do sculo XXI

    The official path of the dance: the inauguration of the Royal Academy of

    Dance, in XVII century in France, and its echo XXI century in Brazil.

    Ana Cristina Echevengu Teixeira

    Programa de Ps-Graduao em

    Comunicao e Semitica PUC/SP,

    bolsista do CNPq

    Resumo Este artigo faz parte da pesquisa que a autora vem desenvolvendo sobre companhias pblicas de dana e pretende chamar a ateno para a importncia do documento que d forma legal primeira institucionalizao da dana no mundo: a carta oficial de criao, em 1661, da Academia Real de Dana (LAcadmie Royale de Danse) pelo rei Lus XIV (roi Louis XIV). Tendo como objetivo diagnosticar o modo de pensar e de fazer dana das companhias oficiais no nosso pas, aqui se parte da hiptese de que elas do continuidade a um modelo administrativo cujos pressupostos esto implicados naquele primeiro documento. Para tal, deve-se investigar como se formou esse modelo para poder cruzar os tempos seculares, chegar at o presente e ampliar a discusso em torno da relao dana-Estado implcita nesse tipo de companhia e produo artstica. Palavras-chave: Companhias Oficiais de Dana, Carta Oficial de 1661, Lus XIV, Acadmie Royale de Danse, Dana-Estado.

    Abstract This article is part of the research that the autor has been conducting about public dance companies, and attempts to call attention to to the importance of the first document in the world to institutionally legalize dance: the 1661 letter, signed by King Louis XIV (roi Louis XIV), to officially create the Royal Academy of Dance (L'Acadmie Royale de Danse).

    Doutoranda em Comunicao e Semitica (PUC/SP-CNPq) e mestre pela mesma instituio. Bolsista da

    CAPES (Bolsa Sandwich nov./2010 a fev./2011) na Sorbonne Nouvelle Paris 3 (Frana). formada em Educao Fsica pela Universidade de Caxias do Sul (1992) e em Arts du Spectacle Mention Danse pela Universit Paris VIII (Frana-2002). Foi diretora artstica assistente do Bal da Cidade de So Paulo (2003 a 2009). Atualmente, consultora para o programa Dana Contempornea da Sesctv-SP e pesquisadora para a Enciclopdia Ita Cultural de Dana.

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    Having as a goal to diagnose the way of thinking and doing dance of the official dance companies in our country, it hypothesizes that they perpetuate an administrative model of which the assumptions are implicated in that first document. This implies investigating how this model emerged, in order to then look thru time until nowdays, with a trans-historical approach, and help to enrich the analysis of the connection between dance-State implied in this kind of company and artistic production. Keywords: Public Dance Companies, Official Letter of 1661, Louis XIV, the Royal Academy of Dance, Dance-State.

    Oficializa-se a dana

    Os estudos histricos sobre a construo do vnculo da dana com a administrao

    pblica permitiro colocar em dia documentos que so pouco conhecidos e explorados, assim

    como diagnosticar e sinalizar esse assunto ainda pouco investigado entre ns. Para tanto, ser

    analisada a carta oficial1 que estabelece, na Frana, em 1661, a Academia Real de Dana

    (LAcadmie Royale de Danse), cunhada pelo rei Lus XIV2, marcando o comeo do enlace

    da dana no tecido oficial. Antes de apresentar esse importante documento, cabe relatar

    alguns fatos que o antecedem e colaboram para contextualizar o propsito da monarquia no

    ato de instaurar uma Academia voltada s artes, mais precisamente, fundadas com a proteo

    de Lus XIII3 e Lus XIV.

    Para exemplificar a utilizao do ttulo Academia, Plissier (1909, p. 14) diz que se

    encontram, desde 1570, cartas patentes de Charles IX4 acordando com Jean Antoine de Baf5

    o privilgio de criar uma Academia de Msica (Acadmie de Musique). Esse ttulo,

    Academia (do italiano Accademia: concerto) foi solicitado por Baf para marcar o incio exato

    de sua fundao: a execuo de fragmentos musicais, reas e obras italianas cantadas sem

    1 Documento arquivado na Bibliothque-Muse de LOpra (Bibliothque Nationale de France BNF). Ser

    respeitada a grafia da carta. 2 Louis XIV (em francs) nasceu em Saint-Germain-en-Laye no dia 5 de setembro de 1638. Conhecido como

    Rei Sol, foi o maior monarca absolutista da Frana, reinando de 1643 a 1715. Faleceu em 1 de setembro de 1715, em Versalhes.

    3 Pai de Lus XIV, Louis XIII de Bourbon (1601-1643) foi rei da Frana e de Navarra entre 1610 e 1643. 4 Nasceu no dia 27 de junho de 1550, em Saint-Germain-en-Laye, foi rei da Frana de 1560 a 1574 e morreu no

    castelo de Vincennes em 30 de maio de 1574. 5 O poeta Jean Antoine de Baf nasceu no dia 19 de fevereiro de 1532, em Veneza, e faleceu na cidade de Paris

    no dia 19 de setembro de 1589.

    adriana perrella matos

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    nenhuma encenao.6 Nessa mesma pgina, ele afirma que esse significado foi se

    deformando ao longo dos tempos, sendo tambm utilizado por Perrin7 quando ele recebeu do

    rei Lus XIV o direito de estabelecer a Academia de pera em Msica e Versos Franceses,

    em 1669, [] exatamente o oposto de seu sentido etimolgico8. Mais adiante, voltar-se-

    inaugurao da Academia por Perrin, na perspectiva de pincelar acontecimentos histricos

    marcantes at ela se tornar o que hoje: a pera Nacional de Paris (Opra National de Paris).

    Tambm, em 1635, agora sob o reinado de Lus XIII, nasce a Acadmie Franaise

    (Academia Francesa), que tinha por funo zelar pela lngua normatizando-a e aperfeioando-

    a, por meio das regras escritas em estatutos, tornando-a compreensvel a todos os cidados.

    Uma das mais antigas instituies francesas foi dirigida e concebida por Armand Jean du

    Plessis de Richelieu, Cardinal-Duc de Richelieu (1585-1642), importante figura ligada ao Estado de Lus XIII e Lus XIV.

    Outras tantas academias so estabelecidas embaixo do guarda-chuva da monarquia.

    Como fonte de informao, citam-se: LAcadmie de Peinture et de Sculpture (Academia de

    Pintura e Escultura), em 1648, LAcadmie des Inscriptions et Mdailles (Academia de

    Inscries e Medalhas), depois chamada de LAcadmie Royale des Inscriptions et Belles-

    Lettres (Academia Real de Inscries e Belas-Artes), de 1663, LAcadmie des Sciences

    (Academia de Cincias), em 1666, e LAcadmie dArchitecture (Academia de Arquitetura),

    de 1671.

    Retornando ao documento oficial de 1661, intitulado como Cartas patentes do rei

    para o estabelecimento da Academia Real de Dana de Paris. Verificadas no Parlamento em

    30 de maro de 16629, no primeiro pargrafo, Lus XIV traz, de imediato, o desejo de

    anunciar sua viso poltica sobre a dana, lamentando o declnio dessa arte:

    Lus, pela graa de Deus, rei da Frana e de Navarra, a todos os presentes e aos que viro, nossa saudao. Apesar de a Dana ter sido sempre reconhecida como uma das artes das mais honestas e necessrias para a formao do corpo e lhe dar as primeiras e mais naturais disposies para todo o tipo de

    6 Ce titre dAcadmie (du mot italien Accademia: concert) avait t sollicit par Baf pour marquer le but exact

    de sa fondaction: lexcution de fragments musicaux, dairs et douvres italiennes chants sans aucune mise en scne. (traduo nossa)

    7 Poeta e libretista francs, Pierre Perrin nasceu em 1620, na cidade de Lyon. Foi fundador da Academia de pera em Msica e Versos Franceses (Acadmie dOpra en Musique et Vers Franois), e faleceu no dia 24 de abril de 1675, na cidade de Paris.

    8 [] exactament loppos de son sens tymologique. (traduo nossa) 9 Lettres patentes du roy, pour ltablissement de LAcadmie royale de danse en la ville de Paris. Verifies en Parlement le

    30 mars 1662. (traduo de Dominique Normand)

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    exerccios, entre outros, aqueles das armas, e sendo, em consequncia, uma das mais vantajosas e teis aos nossos Nobres, bem como aos demais que tm a honra de se aproximar de nossa pessoa, no apenas em tempo de guerra, em nossos exrcitos, mas tambm em tempo de paz, no entretenimento de nossos Bals. Entretanto, durante as desordens e a confuso das ltimas guerras, foi introduzida nesta Arte, como em todas as outras, uma grande quantidade de abusos capazes de conduzi-la runa irreparvel. Vrias pessoas, por mais ignorantes e inbeis que tenham se mostrado na Arte da Dana, se intrometeram para apresent-la em pblico, assim, de se surpreender que a pequena quantidade daqueles capazes de ensinar essa arte, por meio do estudo e da prtica, tenha resistido tanto tempo aos principais defeitos com que a quantidade infinita dos ignorantes se esforavam para desfigurar e corromp-la entre a maioria dos Gentis-homens. Isso faz com que, em nossa Corte e squito, vejamos poucas pessoas capazes de ingressar em nossos Bals e outros divertimentos de Dana, qualquer que seja nossa inteno para tanto.10

    Dava-se incio oficializao da dana. O historiador Guest (2001, p. 11) afirma que:

    Sob o augusto patrocnio de Lus XIV, o Rei Sol, a dana comeou a adquirir a dignidade e o respeito merecido que, desde ento, nunca deixaram de cercar essa arte. A criao da Academia Real de Dana, em 1661, foi a primeira demonstrao explcita da importncia atribuda pelo soberano a um ensinamento coreogrfico de alto nvel. Apesar de essa instituio no ter tido uma influncia notvel sobre a evoluo da dana teatral, o simples fato de sua fundao testemunha a importncia que tinha a dana entre os divertimentos da corte e da capital. []11

    10 Louis par la grace de Dieu roy de France et de Navarre, a tous presens & venir, Salut. Bien que lArt de la

    Danse ait tojours este reconnu lun des plus honnestes & plus ncessaires former le corps, & luy donner les premiers & plus naturelles dispositions toute sorte dexercices, & entre autres ceux des armes; & par consequent lun des plus avantageux & plus utiles notre Noblesse, & autres qui ont lhonneur de nous approcher, non seulement en temps de guerre dans nos armes, mais mesme en temps de paix dans le divertissement de nos Ballets: Nanmoins il sest pendent les dsordres & la confusiton des dernieres guerres, introduit dans ledit Art, comme en tous les autres, un si grand nombre dabus capables de les porter a leur rune irreparable, que plusieurs personnes pour ignorans & inhabiles quils ayent este en ce Art de la Danse, se sont ingrez de la monstrer publiquement ; en sorte quil y a de setonner que le petit nombre de ceux qui sont trouvez capables de lenseigner ayent par leur tude & par leur application si longtemps rsist aux essentiels dfauts le nombre infiny des ignorans ont tache de la dfigurer & corrompre en la personne de la plus grande partie des Gens de qualit: Ce qui fait que nous en voyons peu dans nostre Cour & sute, capables & en estar dentrer dans nos Ballets, & autres semblables divertisements de Danse, quelque dessein que nous en eussions de les y appeller. (traduo de Dominique Normand)

    11 Cest sous le patronage auguste de Louis XIV, le Roi Soleil, que la danse a commenc acqurir la dignit et mriter le respect qui nont cess dentourer cet art depuis lors. La cration de lAcadmie royale de danse, en 1661, fut la premire manifestation explicite de limportance quattachait le souverain un enseignement chorgraphique dun niveau lev. Bien que cette institution ne dt pas avoir une grande influence sur lvolution de la danse thtrale, le simple fait quelle et t fonde tmoignait de limportance quavait la danse parmi les divertissement de la cour et de la capitale. Mais un autre fait devait tre beaucoup plus significatif: la cration en 1669, par lettres patents, de lAcadmie d Opra, laquelle contenait en germe le futur pera de Paris. (traduo nossa)

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    A partir desse momento inaugural, em que a dana francesa havia conquistado o

    estatuto de ser o centro ativo da dana no mundo (GUEST, 2001), o prprio rei era o

    integrante mais importante da trupe. Praticava-se o ballet de cour12, que, durante cinquenta

    anos, viveu seu apogeu. Monteiro (1998) explica que o bal de corte definido pela

    historiografia, tendo surgido em 1581, com a criao do Ballet Comique de la Reine, na corte

    de Catherine de Medici (1519-1589), pelo mestre de bal Balthazar de Beaujoyeux (1535-

    1587), afirmando ainda que:

    A festa, na corte francesa do Rei-Sol, onde o bal atinge seu apogeu, tanto quanto a etiqueta, serve para classificar e ordenar as relaes entre os nobres. Na festa, deparamos com a ostentao dessas diferenas. [...] O prprio Lus XIV, danando o Rei-Sol no Ballet de la Nuit, oferece em espetculo a imagem de seu poder absoluto.

    Dana e etiqueta so igualmente importantes na definio do lugar que ocupa, ou pode ocupar, um corteso na rede de suas relaes mundanas. Existe uma imagem pblica associada ao viver em pblico. (p. 36)

    A relao de arte e poder se afirma enfaticamente na corte, em que a aparncia, a

    imagem e o lugar ocupado nas danas determinavam a imagem pblica de algum que, de

    acordo com Renato Janine Ribeiro (apud MONTEIRO, 1998, p. 35): [...] na corte o rei se d

    em espetculo, mas em algum momento cada um chamado a se mostrar; ser visto ser

    controlado (da a exigncia de bom desempenho nos gestos), mas tambm ser admirado.

    O rei recebia aulas de dana, em casa, com o matre13 francs Charles Louis

    Beauchamps (1636-1705), mais conhecido como Pierre Beauchamp, que foi o primeiro

    diretor da Academia Real de Dana e que criou o complexo sistema de notao dos passos de

    dana, o qual se baseava nas cinco posies dos ps, tambm estabelecidas por ele. Para

    Guest (2001, p. 12):

    12 A palavra ballet deriva do italiano, no sculo XV, balleto, diminutivo de ballo (dana), que em portugus se traduz para

    bal e em francs ballet. Ballet de cour (bal de corte) eram as danas interpretadas exclusivamente por aristocratas amadores e dirigidas por um mestre de bal, em que se danavam e declamavam os triunfos alegricos e mitolgicos usando mscaras, figurinos e cenrios.

    13 Segundo, Faro e Sampaio (1989), essa expresso: Originalmente, designava a pessoa responsvel, na corte ou no teatro, pela organizao, produo e, s vezes, pela composio musical das danas e do espetculo de dana, bem como pelo bem-estar do bailarino. Hoje em dia, designa principalmente a pessoa responsvel pela organizao e controle da rotina diria de exerccios e ensaio. O ttulo de matre de ballets foi empregado pela primeira vez em 1666 para designar a funo de Beauchamp.

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    Esse exemplo da realeza fazia considerar a dana como um ensinamento essencial para os nobres, tal como era a esgrima; e essa maneira de pensar se tornaria um poderoso estmulo para o desenvolvimento do bal, uma arte tipicamente francesa nos sculos XVII e XVIII.14

    No segundo pargrafo da carta, assinada pelo rei, ele escreve que sero estabelecidas,

    tambm, regras formais para o bom funcionamento da Academia, citando como exemplo a

    Academia de Pintura e Escultura, fundada na regncia de sua me, Anne dAutriche15.

    Relacionar a Academia de Dana com a de Pintura e Escultura significava pontuar que se

    tratava do estabelecimento de normas precisas, como forma de organizar, de acordo com os

    interesses da corte, o modo que ela seria constituda. A Academia Real de Dana seria a

    primeira iniciativa do rei voltada dana. Ao dar evidncia para a arte da dana, Lus XIV

    no s lhe dava um lugar mais significativo no entretenimento da sua corte, como tambm

    exigia que ela fosse respeitada. A partir desse feito inaugural, a dana ganha sua autonomia

    em relao msica e ao texto, pois, at ento, na encenao do bal de corte, a referncia

    maior da arte do movimento era o Balet16 comique, sobre o qual o pesquisador Franko (2005,

    p. 20) afirma: Dans le Balet comique, le corps du danseur se modle sur la voix dans son

    mouvement, ce qui le fait dpendre dun texte17. Privilegiar a dana com certa dose de

    autonomia, seja do texto ou da msica, tambm se inscreve nessa aproximao com a

    Academia de Pintura e Escultura e, segundo o historiador francs Bly (2005, p. 141):

    LAcadmie royale de peinture et sculpture, cre en 1648, a permis aux artistes de

    smanciper du cadre troit des mtiers manuels et des arts mcanique []18. Privilegiando

    o bailarino com formao tcnica, a Academia Real de Dana garantiria seu posicionamento

    artstico perante as outras artes da corte, mas, em contrapartida, o vnculo se associava

    diretamente aos desgnios do rei. Era para ele que os bailarinos danavam, eram eles que

    evidenciavam a Sua Majestade e, assim, a autonomia dos artistas continuava merc de

    autoridades.

    14 Cet exemple royal faisait considrer la danse comme un enseignement aussi essentiel pour gentilhomme que ltait

    lescrime; et cette attitude allait constituer une stimulation puissante pour le dveloppement du ballet, en tant quart typiquement franais, aux XVII et XVIII sicle. (traduo nossa)

    15 Era espanhola e seu nome de nascena era Ana Mara Maurcia (1601-1666). Foi esposa de Lus XIII e rainha da Frana e de Navarra de 1615 a 1643.

    16 Utiliza-se aqui a grafia Balet do prprio escritor. 17 No Bal cmico, o corpo do bailarino, nos seus movimentos, modelado sobre a voz e, dessa forma, depende

    do texto. (traduo nossa) 18 A Academia real de pintura e escultura, criada em 1648, permitiu aos artistas se emanciparem do quadro

    estreito das profisses manuais e das artes mecnicas [...] (traduo nossa)

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    Na sequncia dessa carta, observa-se que a inteno maior nessa criao se refere ao

    anseio e poder do rei em constitu-la nica e exclusivamente com os participantes do seu ciclo

    social. Assim, ele estabelece que a academia ser composta por 13 experientes profissionais

    que ele julga capazes de ocupar essa funo. Operando, tambm, como uma estratgia para

    garantir que as regras seriam executadas, ele determina:

    [...] eles se reuniro uma vez por ms num local ou casa que eles podero escolher e do qual dividiro as despesas para l conferir entre eles sobre as atividades da Dana, opinar e deliberar a respeito dos meios para aperfeioar essa Arte, corrigir os abusos e defeitos que podem se introduzir nela, manter e reger essa Academia segundo e conforme os Estatutos e Regulamentos em anexo, reunidos sob a contracancela de nossa Chancelaria. Queremos que eles sejam guardados e observados nas suas formas e teores. Proibimos expressamente a todas as pessoas, de qualquer condio, e sob pena de multas para os contraventores, podendo ser maiores conforme o caso [...]19

    Essa carta composta de um estatuto dividido em 12 artigos e o relevante inscreve-se

    no artigo VIII, em que fica claro que a oficializao da Academia Real de Dana sublinhava o

    interesse na formao tcnica e na codificao da arte coreogrfica exclusivamente dana da

    corte, a saber:

    Os Veteranos e outros profissionais da Dana, autores de Danas ou desejando inventar e compor uma nova Dana no podero mostrar essa Dana sem antes apresent-la aos Veteranos, reunidos para esse fim, visando obter deles aprovao com a maioria dos votos. 20

    O rei determina a quantidade de bailarinos, conforme se pode observar no estatuto de

    nmero XI:

    19 [...] lesquels sassembleront une fois le mois, dans tel lieu ou maison qui sera par eux chosie & prise frais

    communs pour y confrer entre eux du fait de la Danse, aviser & dlibrer sur les moyens de la perfectionner, & corriger les abus & dfauts qui peuvent avoir este ou estre cy-aprs introduits; tenir & regir ladite Acadmie suivant & conformment ausdits" Statuts & Reglemens cy-attachez sous le contreseel de nostre Chancellerie: lesquels nous voulons estre gardez & observez selon leur forme & teneur: Faisant tres-expresses dfenses toutes personnes de quelque qualit quils soient, dy contrevenir aux peines y contenues, & de plus grande sil y cheoit. [...] (traduo de Dominique Normand)

    20 Ceux desdits Anciens & autres faisans profession de la Danse, qui auront fait ou voudront faire inventer & composer quelque Danse nouvelle, ne la pourront monstrer, quelle nait este prablablement veu & examine par lesdits Anciens, & par eux approuve la pluralit des voix, eux cet effet assemblez aux jour ce destinez. (traduo de Dominique Normand)

    adriana perrella matos

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    O Rei, precisando de pessoas capazes de ingressar e Danar nos Bals e outros divertimentos dessa natureza, Sua Majestade tem a honra de informar do fato a esta Academia e pede que, sem demora, os Veteranos lhes forneam os bailarinos na quantidade que Sua Majestade determinar.21

    Pretender elaborar uma dana distinta daquela definida pela corte no era uma tarefa

    fcil para os artistas do prprio grupo do rei, tampouco para os artistas que no participavam

    desse enquadramento. A alternativa para esses ltimos era se inscrever na Academia para

    apresentar sua proposta artstica e esperar a deciso dos bailarinos mais antigos. E caso eles

    resolvessem continuar com o desenvolvimento de seus prprios trabalhos sem a anuncia da

    equipe real, pagariam multa, como estabelecido nos artigos III e IX do estatuto:

    III

    Dentre os referidos Veteranos, sero escolhidos dois para se revezarem todo sbado a fim de receber os Mestres de Dana ou outras pessoas que queiram intervir no ensino da Dana e instru-los sobre a maneira de Danar, mostrar as Danas antigas e novas, ou ainda aquelas danas que foram inventadas ou que podero ser inventadas pelos treze Veteranos, de tal forma que aqueles que querem aprend-las tero mais capacidade de mostr-las, evitando, assim, os abusos e maus hbitos que eles possam ter adquirido. 22

    IX

    As deliberaes dos Veteranos relativas Dana sero realizadas em assembleia como acima e devero ser executadas na forma e contedo pelos Veteranos, bem como pelos demais profissionais da Dana, sob pena das consequncias j citadas e de cento e cinquenta libras de multa para cada um dos contraventores. 23

    21 Le Roy ayant besoin de personnes capables dentrer & Danser dans les Ballets & autre divertissemens de

    cette qualit, sa Majest faisant lhonneur ladite Acadmie de len faire avertir, lesdits Anciens sont tenus de luy en fournir incessamment dentre eux ou autres tel nombre quil plaira sa Majest dordonner. (traduo de Dominique Normand)

    22 Il sera fait choix entre ledits Anciens de deux dentre eux, pour tour de roolle se trouver le Samedy de chaque Semaine pour y recevoir ceux des autres Maistres Danser, ou autres qui se voudront entremettre denseigner la Danse, & les instruire touchant la maniere de Danser, & monstrer tant les anciennes que nouvelles Danses, qui auront est ou seront inventes par lesdits treize Anciens; en sorte que ceux qui sen voudront instruire, se puissant rendre plus capable de monstrer & viter les abus & les mauvaises habitudes quils pourroient pour ce avoir contractes. (traduo nossa) 23 Les deliberations qui seront prises concernant le fait de la Danse, par lesdits Anciens assemblez comme dessus, seront executes selon leur forme & teneur, tant par lesdits Anciens que par les autres faisans profession cy-dessus, & de cent cinquante livres damende contre chacun des contrevenans. (traduo de Dominique Normand)

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    A prxima iniciativa do rei, apontada na pgina 2, trata da criao da Academia Real

    em Msica e Versos Franceses, tambm chamada Academia da pera ou pera, entre outras

    nominaes, at chegar ao que designado hoje LOpra National de Paris (pera Nacional

    de Paris). Foi criada por carta patente em 28 de janeiro de 1669, com o ttulo Privilge

    accord au sieur Perrin pour ltablissement dune Acadmie dOpra en Musique et Vers

    Franais24.

    Em 14 de abril de 1672, o Rei Sol assina a autorizao para o estabelecimento da

    Academia Real de Msica, na qual os bailarinos do grupo assumiam as posies

    administrativas. Com o ttulo de Arrest du Conseil DEstat du Roy. Sur la Requte du fieur

    de Lully, pour lexcution du Privilege lui accord, pour tablir une Acadmie Royale de

    Musique Paris25, essa carta passava a responsabilidade de dirigir essa Academia, at ento

    conduzida por Perrin, para um ex-bailarino do grupo do rei que tambm era compositor, o

    italiano Jean-Baptiste Lully26 (1632-1687). Trata-se de um fato relevante, uma vez que

    associava a administrao institucional com vontades artsticas, como bem mostra Guest

    (2001, p. 15) quando se refere administrao da pera nesse perodo: Em todo o perodo

    de sua gerncia da pera, Lully monopolizou a atividade artstica do teatro a ponto de no

    permitir que outro compositor pudesse ser ouvido e ainda recorreu a um nico libretista,

    Philippe Quinault27.

    A Academia reunia, sob a tutela do rei, um grupo de cantores, a primeira orquestra

    profissional da Frana e o Corpo de Bal da Academia Real de Dana. somente aps a

    Revoluo Francesa (1789-1799) que essa instituio receber apoio do Estado. A fundao

    da Academia Real de Msica considerada um evento fundador na histria da arte na Frana,

    conforme descrito no site da pera de Paris:

    24 Privilgio dado ao Sr. Perrin para a fundao de uma Academia de pera em Msica e Versos Franceses. Documento arquivado na Bibliothque-Muse de LOpra (Bibliothque Nationale de France BNF). (traduo de Dominique Normand) 25 Decreto do Conselho de Estado do Rei. Em decorrncia do requerimento do Senhor Lully e para a execuo

    do Privilgio que lhe foi atribudo para fundar uma Academia Real de Msica em Paris. Documento arquivado na Bibliothque-Muse de LOpra (Bibliothque Nationale de France BNF). Mantm-se a grafia da carta. (traduo de Dominique Normand)

    26 Nasceu em Florena e aos 14 anos mudou-se para Paris para ensinar italiano prima do rei Lus XIV, mademoiselle de Montpensier. Trabalhou, praticamente, a maior parte de sua vida na corte de Lus XIV. Foi bailarino profissional, compositor, diretor da pera, e suas tragdias lricas constituram a base da escola francesa da pera.

    27 Pendant toute la priode o il administriat lOpra, Lully en monopolisa lactivit artistique au point de ne permettre loeuvre dauncun autre compositeur dy tre entendu et il recourut essentiellement aux services dun seul librettiste, Philippe Quinault. (traduo nossa)

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    A arte coreogrfica, at ento, tinha como atribuio o divertimento da Corte, dispondo da em diante de uma cena: o grupo danando nos intermdios das peras. Gradualmente, o Bal conquista sua independncia at ter seu prprio repertrio no sculo XIX, na poca dos grandes bals romnticos. 28

    Desse momento histrico, Lully e Beauchamp so as figuras que, at o ano de 1687,

    vo dando visibilidade dana, numa esfera mais profissional e no trabalho de

    aperfeioamento tcnico com os bailarinos, promovendo mais espao dana nos libretos das

    peras. Aps a morte de Lully, em 1687, o teatro passa por momentos difceis:

    Enquanto isso, nos bastidores da administrao, uma lamentvel rede de intrigas e de questes de insolvncia se emaranhava em consequncia das manobras ininterruptas tramadas pelos herdeiros e sucessores de Lully para assumir a direo do teatro. 29 (GUEST, 2001, p. 24)

    Nessa fase, em 1713, o rei Lus XIV impe regras que dizem respeito administrao

    do teatro, reconhecendo a pera como uma instituio do Estado, fazendo dela a expresso

    oficial da cultura francesa. Funda-se o Conservatrio de Dana (Conservatoire de Danse),

    tambm chamado de Escola de Dana (Lcole de Danse) ou, como se encontra no site da

    pera Nacional de Paris, lcole de lAcadmie (escola da academia), que, segundo Jaqc-

    Mioche (2006, p. 9), estava destinado a aperfeioar o talento dos artistas da Academia Real

    de Msica. Essa escola foi a ltima ao realizada pelo rei Lus XIV. A situao muda, com

    a preocupao que se explicita em relao formao de bailarinos profissionais para integrar

    o grupo da pera de Paris, o atual Ballet de LOpra de Paris, e a busca por tais profissionais

    adentra as aulas dos mestres da dana dessa cidade, fato esse que demarca o incio do corpo

    de baile desse teatro, nesse perodo at ento composto estritamente por homens, os quais, na

    grande maioria, haviam danado no bal da corte. Organiza-se a formao de um grupo

    estvel de dana com 20 bailarinos, 10 homens e 10 mulheres, 1 coregrafo e 1 professor de

    bal. Jaqc-Mioche (2006: 9) tambm afirma que somente em 1780 surge um regulamento que

    consagra a escola para crianas e que em 1784 o rei que sucede Lus XIV oficializa a Lcole

    28 Lart chorgraphique, jusqualors dvolu au divertissement de la Cour, dispose dsormais dune scne: la

    troupe danse les intermdes des opras. Peu peu, le Ballet conquiert son indpendance jusqu avoir son propre rpertoire au XIXe sicle, lpoque des grandes ballets romantiques. (traduo nossa)

    29 Pendant ce temps, dans le couloirs de ladministration, un dplorable cheveau dintrigue et dhistoire dinsolvabilit se nouait et sembrouillait, au gr des manoeuvres incessants trames par les hitiers et successeurs de Lully pour prendre la direction du thtre. (traduo nossa)

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    de LOpra (Escola da pera), onde os alunos seriam instrudos gratuitamente e integrariam

    futuramente o corpo de baile. Corpo de baile, em francs corps de ballet, diz respeito a um

    grupo cujos bailarinos integrantes so parte essencial de sustentao para a dana executada

    pelos primeiros bailarinos e solistas. Trata-se do conjunto que coloca em evidncia a atuao

    desses papis. Essa expresso atravessa os tempos e se mantm, no sculo XX, como a

    denominao dada s companhias oficiais que viriam a surgir no Brasil. Esse modelo de

    dana associada ao poder pblico, se alastra pela Europa e pelas Amricas at chegar ao

    Brasil, tempos mais tarde.

    No Brasil, a primeira companhia oficialmente criada nesse formato foi o Corpo de

    Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1936. Quando se fala nesse formato,

    significa criar uma companhia no Brasil do sculo XX a partir de um referencial de um

    contexto to distinto como a Frana de Lus XIV. No se pode criar um distanciamento do

    panorama ao qual se circunscreveu esse liame, quer dizer, foram os espetculos aqui

    apresentados pelas companhias russas (que tambm, num primeiro momento, se espelharam

    nos cdigos oficiais franceses) que estimularam essa criao. A companhia carioca comea

    com a direo da bailarina, coregrafa e professora russa Maria Olenewa30 (1896-1965), que

    decide fixar residncia no Brasil em 1926, aps uma de suas passagens pelos palcos

    brasileiros acompanhando as companhias russas de Anna Pavlova (1881-1931) e de Lonide

    Massine (1895-1979).

    O Corpo de Baile nasce no Brasil com a funo de cumprir profissionalmente as temporadas

    dos teatros de pera. Os bailarinos selecionados para o Corpo de Baile eram, a princpio,

    provenientes, na grande maioria, das escolas oficiais. De 1936 a 1969, trs corpos de baile so

    inaugurados: o j mencionado Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em

    1936; o Corpo de Baile Municipal de So Paulo, no ano de 1968; e, por fim, o Corpo de Baile

    da Fundao Teatro Guara, em Curitiba, Paran, em 1969. Seus nomes foram revistos ao

    longo do tempo e, hoje, substitudos respectivamente por: Ballet do Theatro Municipal do Rio

    de Janeiro (BTMRJ)/1977, Bal da Cidade de So Paulo (BCSP)/1981 e Bal Teatro Guara

    (BTG)/1999. 30 Iniciou seus estudos em Moscou, na Academia de Dana Malinowa. Em Paris, cidade para a qual fugiu com a

    famlia aps a Revoluo Bolchevique, em 1917, teve como professores Ldia Nelidova (1888-1946) e Alexander Domadof. Integrou a companhia de Ana Pavlova. Esteve no Brasil, em 1918, em tourne com a companhia de Pavlova. Retornou, em 1921, com Lonide Massine e, em 1926, adotou definitivamente o pas. Em Buenos Aires, lecionou no Teatro Coln, em 1923, antes, portanto, de fixar residncia no Brasil.

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    Se de incio os Corpos de Baile acompanhavam as peras, com o passar dos anos outra

    dinmica artstica entra em vigor. Desvencilhados dessa obrigao, eles vo se transformando

    em companhias profissionais e definindo o prprio estilo artstico e a programao anual. No

    final do sculo XX, a relao entre escola e companhia se torna menos implcita, no havendo

    mais a necessidade dessa ligao para contratar um bailarino. Quando foram inaugurados os

    Corpos de Baile, seus bailarinos recebiam cachs por apresentaes nas peras, pois no

    havia ainda contratao direta dos rgos pblicos.

    Registra-se no Brasil a existncia de 19 companhias distribudas, mapeadas at o

    momento, pelas regies Sul, Sudeste, Nordeste e Norte do territrio brasileiro, carregando em

    seus nomes a situao de serem agentes culturais representantes de seus estados, municpios

    ou do teatro que as abriga. So elas: 1) Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ,

    1936), 2) Bal da Cidade de So Paulo (SP, 1968), 3) Bal Teatro Guara (PR, 1969), 4) Cia.

    de Dana Palcio das Artes (MG, 1971), 5) Bal do Teatro Castro Alves (BA, 1981), 6) Bal

    de Rio Preto (SP, 1987), 7) Companhia de Ballet da Cidade de Niteri (RJ, 1992), 8) Bal da

    Cidade de Teresina (PI, 1993), 9) Companhia de Danas de Diadema (SP, 1995), 10)

    Companhia Municipal de Dana de Caxias do Sul (RS, 1997), 11) Companhia de Dana do

    Amazonas (AM, 1998), 12) Bal da Cidade de Natal (RN, 2002), 13) Cia. de Dana de So

    Jos dos Campos (SP, 2005), 14) Bal da Cidade de Taubat (SP, 2006), 15) Companhia

    Municipal de Dana de Belm (PA, 2006), 16) Companhia Municipal de Dana de Campo

    Grande (MS, 2007), 17) Cia Municipal de Dana de Vacaria Bailare (RS, 2008), 18) So

    Paulo Cia. de Dana (SP, 2008), 19) Corpo Estvel de Dana do Polytheama (Jundia SP,

    2011).

    Alm de corpo de baile, companhia pblica, companhia oficial, elas so tambm

    chamadas de companhias estveis, corpos estveis e equipamentos artsticos ou culturais, e

    essa pluralidade opera inespecificamente produzindo um tipo de comportamento social que

    interfere nos seus processos de comunicao. Para integrar o elenco de uma companhia, o

    bailarino presta uma audio pblica ou convidado, em alguns casos, diretamente pela

    direo. Entre as companhias que mantm vnculos com o repertrio clssico esto o Ballet

    do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e o Bal Teatro Guara. Mas em todas, inclusive

    nessas duas, transitam coregrafos nacionais e estrangeiros das vrias linguagens da dana:

    clssica, moderna e contempornea.

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    A vinculao das companhias com a administrao pblica e, consequentemente, com

    os rgos pblicos que as abrigam tem distintas formas jurdicas. Elas podem se estabelecer

    das seguintes maneiras: a) forma direta: quando compostas pelas suas entidades estatais, nesse

    caso estados e municpios, sem personalidade jurdica prpria; b) forma indireta: quando

    compostas por entidades autrquicas, fundacionais e organizaes sociais.

    Nesse contexto, elas so estruturas criadas em forma de lei, tomadas como um

    conjunto de artigos e constitudas por um decreto que, para Di Pietro (2010, p. 233), a

    forma de que se revestem os atos individuais ou gerais, emanados do Chefe do Poder

    Executivo (Presidente da Repblica, Governador e Prefeito), que tem por funo elaborar as

    regras de funcionamento de um equipamento pblico. Isso quer dizer, conforme o Dicionrio

    Houaiss da Lngua Portuguesa (2009, p. 1.165), que: a lei uma prescrio escrita que

    emana da autoridade soberana de uma dada sociedade e impe a todos os indivduos a

    obrigao de submeter-se a ela sob pena de sanes. Essa lei ou carta de fundao de cada

    companhia deve ser levada em conta no prisma que se refere ao entendimento de seu papel na

    dana. Existem tipos diferentes de carta, tendo em vista que cada companhia est sediada

    numa determinada localidade, mas que traduzem de forma similar seus anseios para com a

    funo da companhia, como os exemplos a seguir.

    No Decreto n 54.669, de 11 de agosto de 2009, do estado de So Paulo, deliberado

    pelo ex-governador Jos Serra, l-se sobre a criao de uma companhia criada recentemente

    no Brasil:

    []

    Artigo 1 - Fica criada, na Secretaria da Cultura, como equipamento cultural da rea de Difuso Cultural, a que se refere o inciso I do artigo 71 do Decreto n 50.941 de 5 de julho de 2006, com a nova redao dada pelo inciso II do artigo 2 do Decreto n 51.916, de 20 de junho de 2007, a So Paulo Companhia de Dana. Artigo 2 - O equipamento cultural criado pelo artigo 1 deste decreto tem por finalidade o fomento produo, difuso e sustentao da dana cnica, com enfoque na diversidade cultural brasileira. Artigo 3 - Para a consecuo de sua finalidade, cabe So Paulo Companhia de Dana, na rea de atuao que lhe prpria: I - produzir espetculos e apresentaes de dana no Brasil e no exterior; II - desenvolver: a) programas educativos e de formao, capacitao, treinamento e aprimoramento de profissionais da dana;

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    b) programas e aes de incentivo formao de plateias; III - apoiar e promover a realizao de cursos, exposies, estudos, pesquisas e conferncias; IV - difundir o repertrio da dana brasileira e internacional; V - manter intercmbio educacional e cultural, com instituies nacionais e estrangeiras; VI - constituir e preservar registros e memria da arte da dana, sem prejuzo das atribuies previstas no artigo 261 da Constituio Estadual para o Conselho de Defesa do Patrimnio Histrico, Arqueolgico, Artstico e Turstico do Estado de So Paulo (CONDEPHAAT). Artigo 4 - Este decreto entra em vigor na data de sua publicao.

    Nos quatro artigos dispostos nesse decreto, identifica-se que cabem companhia seis

    funes bem definidas, mas a principal, como seu prprio nome j anuncia, a sua filiao ao

    Estado, o que mostra claramente que se trata de uma companhia que tem por atribuio,

    abarcar a dana do estado de So Paulo.

    O Decreto n 7.359, de 7 de fevereiro de 1968 (DIAS, 1980, p. 15), assinado pelo

    ento prefeito da cidade de So Paulo, Jos Vicente Faria Lima, para a criao do Corpo de

    Baile Municipal, atual Bal da Cidade de So Paulo, expe:

    Art. 1 - criado no departamento de Cultura da Secretaria de Educao e Cultura o Corpo de Baile Municipal, o qual far parte integrante dos corpos estveis do Teatro Municipal, onde funcionar.

    Art. 2 - O Corpo de Baile Municipal ser composto por 1 (uma) primeira bailarina, 1 (um) primeiro bailarino, 2 (duas) solistas femininas, 2 (dois) solistas masculinos, 20 (vinte) bailarinas e 10 (dez) bailarinos, alm de 1 (um) coregrafo, a quem competir direo do conjunto.

    Art. 3 - Os integrantes do Corpo de Baile Municipal sero contratados, obedecidas as normas legais pertinentes, no podendo o prazo de vigncia do contrato exceder a 2 (dois) anos, permitida, porm, a sua renovao.

    Art. 4 - As despesas com a execuo deste Decreto correro por conta das verbas prprias consignadas no oramento de cada exerccio.

    Art. 5 - Este Decreto entrar em vigor na data de sua publicao, revogadas as disposies em contrrio.

    Nesse exemplo, o decreto atua diretamente na estrutura tcnica da companhia, no

    determina a sua funo, somente declara que ela far parte dos corpos estveis do Teatro

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    Municipal. J os deveres dos bailarinos que integram o Bal da Cidade esto dispostos no

    anexo do decreto municipal de So Paulo de n 17.620, de 29 de outubro de 1981. Esses

    mesmos deveres so os que vigoram at os dias de hoje. So oito artigos, a saber:

    [...]

    XV - Bailarinos a) atuar em toda a programao artstica traada pela Administrao; b) comparecer no horrio estabelecido para a apresentao ou ensaio.

    Nas apresentaes e nos ensaios pr-gerais, o Bailarino dever estar pronto no palco em seguida segunda chamada para que, aps a terceira, o espetculo tenha incio. Nos ensaios normais, o Bailarino dever estar pronto na sala de ensaio aps a primeira chamada;

    c) manter-se em perfeitas condies fsicas, tcnicas e artsticas, objetivando o aprimoramento do conjunto;

    d) acatar as determinaes da Administrao; e) comparecer s aulas; f) obedecer o figurino e maquilagem estabelecidos para cada

    coreografia; g) comunicar ao Inspetor do Bal, com a necessria antecedncia, a

    impossibilidade do no comparecimento a ensaio ou espetculo programado, de forma a possibilitar a indicao do substituto;

    h) estar preparado para substituir Bailarino em qualquer eventualidade;

    [...]

    Relativamente s finalidades da Companhia Municipal de Dana de Caxias do Sul,

    que vinculada Secretaria Municipal de Cultura, a Lei n 4.677, de 1997, promulga no

    artigo 2:

    a) resgatar e cultivar, atravs da dana, as manifestaes artstico-culturais como forma de expresso;

    b) desenvolver e divulgar a cultura e a capacidade artstica do povo caxiense;

    c) gerar oportunidades, atravs de espetculos e mostras, de educar, entreter e desenvolver o gosto e a apreciao pela dana;

    d) promover e divulgar o municpio de Caxias do Sul, nacional e internacionalmente;

    e) possibilitar o intercmbio entre os municpios; f) tornar-se instrumento e fonte de pesquisa da dana.

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    A Companhia Municipal de Dana de Campo Grande tem por finalidade, conforme

    sua lei de criao n 4.467, de 8 de maio de 2007: Art. 1 - Promover o desenvolvimento

    artstico-cultural do Municpio e do Estado como um todo.

    As finalidades descritas nessas leis evidenciam que essas companhias j nascem com

    obrigaes bastante amplas: devem representar o municpio, o estado, a dana como um todo,

    realizar espetculos, educar e divulgar e tm muitas outras obrigaes que fazem delas a

    representao oficial da dana de suas localidades. Essas leis geralmente esto disponveis

    nos sites oficiais. A estrutura funcional de uma companhia pblica, apesar da sua

    singularidade, mantm a mesma natureza burocrtica dos equipamentos pblicos que cuidam

    de transporte, habitao ou segurana. Elas foram projetadas por funcionrios administrativos

    sem familiaridade com a sua natureza artstica, que no se deram conta da impropriedade

    implcita na estrutura que montaram e que se revelou sem aptido para abrigar as

    especificidades indispensveis para o bom funcionamento de uma companhia de dana. Os

    problemas no se restringem ao mbito administrativo, mas atingem tambm o seu

    direcionamento artstico. Afinal, no se desvincula produo artstica das suas condies de

    produo. Portanto, constata-se que as companhias oficiais subordinam-se, assim, a uma

    dupla vinculao: primeiro, questo colonial e, segundo, ao poder local, no seu modo de

    operar; e isso se torna visvel, sobretudo, nos produtos que criam.

    Bibliografia

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