146
ANAIS DA 31 de agosto, 01 e 02 de setembro FABICO - UFRGS 2015

ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

  • Upload
    buingoc

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

ANAIS DA

31 de agosto, 01 e 02 de setembro

FABICO - UFRGS

2015

Page 2: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

III Jornada de Pesquisas sobre Tecnologias Comunicacionais Contemporâneas

Anais da III Jornada de Pesquisas

sobre Tecnologias Comunicacionais Contemporâneas

31 de agosto, 01 e 02 de setembro de 2015

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação

Porto Alegre, 2015

Page 3: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos

Editoração e Layout: Luiza Santos

Capa: Mariana Amaro

Revisão: Autores

_______________________________________________________________

Os autores retêm todos os direitos e responsabilidades sobre o material aqui

publicado, garantindo à III Jornada de Pesquisas sobre Tecnologias

Comunicacionais Contemporâneas o direito à sua publicação na web.

_______________________________________________________________

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO

BIBLIOTECA _______________________________________________________________ J828a Jornada de Pesquisas sobre TecnologiasComunicacionais Contemporâneas

(3. : 2015 : Porto Alegre, RS) [Anais...]/ Suely Fragoso, Fátima Régis (Coordenadoras). –Porto Alegre:

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, 2015.

145p.

1. Comunicação - Eventos. 2. Tecnologia de Informação e Comunicação I. Fragoso, Suely. (Coord.). II. Régis, Fátima. (Coord.) III. Titulo.

CDU: 007.5 _______________________________________________________________

ISBN 978-85-66106-73-2

Page 4: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

Comissão Coordenadora Suely Fragoso

Fátima Regis

Comitê Científico Suely Fragoso

Fátima Regis

Gabriela Zago

Rebeca Recuero Rebs

Raquel Timponi

Comissão Organizadora Alessandra Maia

André Conti

Breno Maciel

Dennis Messa da Silva

Letícia Perani

Luiza Santos

Mariana Amaro

Mayara Caetano

Raquel Timponi

Rebeca Recuero Rebs

_______________________________________________________________

As Jornadas de Pesquisas sobre Tecnologias Comunicacionais

Contemporâneas são uma iniciativa do Laboratório de Artefatos Digitais (LAD)

da UFRGS e do Laboratório de Pesquisa em Tecnologias de Comunicação,

Cultura e Subjetividade (LETS) da UERJ.

_______________________________________________________________

Promoção:

Apoio:

Page 5: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

Sumário

Apresentação.....................................................................................................12

A circulação jornalística em tempos de mobilidade e conectividade:

características, rupturas, continuidades e potencialidades das notícias em

smartphones e smartwatches............................................................................15 Maíra de Cássia Evangelista de Sousa

A construção de um repositório para o grupo de pesquisa...............................17 Ada Cristina Machado, Clarissa Schwartze e Isabel Padilha Guimarães

A construção social do gênero feminino na publicidade....................................19 Paula Rickes Viegas

A cultura das indiretas e a violência simbólica manifestada no

Facebook...........................................................................................................21 Letícia Ribeiro Schinestsck

A interação entre usuários de segunda tela e telenovela A Regra do Jogo, a

partir da análise de conteúdo.............................................................................23 Denise Castilhos de Araújo e Poliana Lopes

A produção científica sobre fãs no Brasil: primeiras abordagens e

questionamentos................................................................................................25 Giovana Santana Carlos

A representação do jornalismo na ficção – a função social, os valores e o ethos

profissional.........................................................................................................27 Gabriela Gruszynski Sanseverino

Page 6: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

A semiose e a experiência da escuta na interface com os Digital Audio

Workstations......................................................................................................29 Rodrigo Fonseca e Rodrigues

A utilização da análise de discurso francesa como possibilidade de abordagem

metodológica para a análise de discurso mediado por

computador........................................................................................................30 Taiane de Oliveira Volcan

A visualização de rastros da memória em rede a partir do

GoogleGlass......................................................................................................32 Gabrielli Tiburi Soares Pires

Adaptações institucionais a um ambiente configurado na circulação midiática:

crise de imagem do Grêmio a partir do caso de racismo envolvendo o goleiro

Aranha...............................................................................................................34 Cíntia Miguel Kaefer

Ambiguidades fundamentais no fenômeno da circulação informal de cinema na

internet...............................................................................................................36 Angela Maria Meili

Análise da participação feminina no jogo Dota 2 no Brasil: impasses e

possibilidades metodológicas............................................................................39 Gabriela Birnfeld Kurtz

Análise de dados em pesquisa-formação na cibercultura.................................41 Edméa Oliveira dos Santos, Mayra Ribeiro, Rachel Colacique, Rosemary dos Santos,

Tánia Lucía Maddalena e Tatiana Rossini

Aplicativos autóctones em franquias jornalísticas: a possível transformação de

rotinas produtivas na convergência com meios

digitais................................................................................................................44 Vivian Belochio

Page 7: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

Aplicativos site specific: desafios metodológicos na pesquisa de mídias

locativas.............................................................................................................46 Tiago Ricciardi Correa Lopes

Apropriação cultural dos fãs brasileiros de K-POP através das práticas de

shippagem no Facebook....................................................................................49 Larissa Barbieri Tassinari

Argumentação política no Facebook: as estratégias dos candidatos para a

construção de imagem.......................................................................................50 Felipe Bonow Soares

As inferências do queer nas linguagens que emergem em veículos jornalísticos

de cultura pop....................................................................................................52 Christian Gonzatti

As materialidades do retrato fotográfico e suas sensações, a partir do olhar do

retratado.............................................................................................................54 Alexandre Davi Borges

Banda independente como manifestação cultural no contexto da cibercultura –

o caso da Apanhador Só...................................................................................57 Belisa Zoehler Giorgis

Cidadania comunicativa cinematográfica aflorada e expressa através da

recepção de sessões de cinema.......................................................................59 Maytê Ramos Pires

Comunicação e mobilidade urbana: propostas de conteúdo informativo e

jornalístico para dispositivos móveis em Buenos Aires, Argentina....................61 Lucas Durr Missau

Page 8: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

Comunicação mediada pelo computador, redes sociais, internet, discurso,

linguagem, preconceito linguístico.....................................................................63 Natalia Giusti Radtke

Consumo como performance no streaming de games da plataforma

Twitch.................................................................................................................65 Samyr Paz

Consumo midiático de dispositivos móveis que se configuram como segunda

tela entre jovens dos Estados do Pará e do Rio Grande do

Sul......................................................................................................................68 Fernanda Chocron Miranda

Dilemas da pesquisa etnográfica e do debate teórico sobre inclusão digital:

desafios e possibilidades...................................................................................71 Sandra Rúbia da Silva

Educomunicação e Mídias Digitais: Apropriações da Internet por Jovens de

Classe Popular e Aprendizagens na Perspectiva da Cidadania

Comunicativa.....................................................................................................73 Lívia Freo Saggin

Em busca do leitor de uma narrativa em dois suportes: um estudo de caso do

blog e do livro Depois dos Quinze.....................................................................75 Marilia de Araujo Barcellos e Maura da Costa e Silva

Estudo de Recepção da campanha “Amor seja como for”................................78 Sendy Carneiro Mordhost

Ética e democracia de acesso na pesquisa e historiografia do Cinema

Brasileiro............................................................................................................80 Juliano Rodrigues Pimentel

Page 9: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

Fernandão: a complexidade na morte do ídolo e o surgimento do

Mito....................................................................................................................82 Bruna Provenzano

Game Design para Dispositivos Móveis............................................................84 André Pase e Rodrigo Portes Valente

Interfaces da Memória Social: o estatuto da memória social na era das redes

computacionais, um estudo de caso do Acervo Digital Bar Ocidente no

Facebook...........................................................................................................86 Priscila Chagas Oliveira

Imagens Abismadas: o filme do vídeo...............................................................88 Jamer Guterres Mello e Julia Alexandra Zortéa Soares

Impasses e dificuldades da aplicação do Método

Fotoetnotextográfico..........................................................................................90 Carlos Leonardo Coelho Recuero

Impasses no estudo dos movimentos sociocomunicativos de ativistas

engajados na luta contra o câncer de mama.....................................................93 Thais Costa Cardoso Soares

Jornalismo e Teoria Ator-Rede: possibilidades e limites do princípio da simetria

a partir da verificação digital..............................................................................96 Moreno Cruz Osório

Juventude conectada: uma etnografia dos usos e apropriações de telefones

celulares como mediador tecnoafetivo..............................................................98 Rômulo Tondo

Kindle Unlimited: mudanças no consumo de livros, a partir da convergência

midiática, no mercado editorial........................................................................100 Gabrielle Baratto Adolfo

Page 10: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

Let’s talk about indie partie’s audience: a interação do público de festas indie

em Porto Alegre nos eventos no Facebook.....................................................102 Paola Sartori

Livro digital interativo: a criação de uma narrativa digital na era dos

jogos................................................................................................................104 Bruna Maria Teixeira, Lorian Moreira de Toledo e Thaís Cristina Martino Sehn

Mapeando ecossistemas digitais de entretenimento e a cena jailbreak no Brasil:

desafios metodológicos...................................................................................106 Rosana Vieira de Souza

Mediação e agência não-humana em um coletivo de comunicação e jornalismo

brasileiro..........................................................................................................108 Leonardo Feltrin Foletto

Memórias digitais: além do armazenamento...................................................112 Daniel Bassan Petry

Midiatização do ativismo e jornalismo digital...................................................114 Maria Clara Aquino Bittencourt

Nas ruas e nas redes: uma etnografia com a Mídia Ninja...............................118 Nathália Schneider

O Design e seus artefatos: proposta de estudo sobre o imaginário

gráfico..............................................................................................................121 Karina Pereira Weber

O espaço da MPB do Rio Grande do Sul na mídia.........................................123 João Vicente Ribas

Page 11: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

O jornalismo como instituição social no século XXI: como delimitar o objeto de

pesquisa...........................................................................................................124 Taís Seibt

O professor da Educação Básica e sua relação com as tecnologias

educacionais como elemento fortalecedor da prática pedagógica..................126 Jorge Alberto Rodriguez e Rose Alves de Moura

Prêmios, pra que te quero? Reflexões e problematizações sobre o processo de

seleção, agarre e utilização de peças publicitárias na amplitude do ambiente

web..................................................................................................................128 Alessandro Souza

Problemas teórico-metodológicos: uma investigação sobre a Cachorro Grande

e o rock gaúcho...............................................................................................130 Caroline Govari Nunes

Ritmanálise como proposta metodológica.......................................................132 Thaís Amorim Aragão

#selfie: você está certo disso?.........................................................................134 Cristiane Weber

Tamanho é documento? Desafios na construção de um corpus de pesquisa

adequado à complexidade e processualidade do objeto.................................136 Danielle Miranda e Nisia M. do Rosário

The book is still on the table………………………..……………………………..138 Pedro Pazitto Galhardi e Thais Cristina Martino Sehn

Usos sociais do Facebook por migrantes brasileiros na Suécia......................140 Laura Roratto Foletto

Page 12: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

Violência Simbólica: trajetos para compreensão de discursos políticos

legitimados nos Sites de Redes Sociais..........................................................142 Ana Karen Hernandorena Viegas

“Zelando o ouro produzido no passado”: escavando construtos de memória

através do site Propagandas Históricas..........................................................144 Roberta Fleck Saibro Krause

Page 13: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

12

Apresentação

Os textos que compõem este livro resultam da terceira edição das

Jornadas de Pesquisas em Tecnologias Comunicacionais Contemporâneas

(JP-tccs), realizada entre os dias 31 de agosto e 02 de setembro de 2015, na

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. Neste

ano, a Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) e o Programa de

Pós-Graduação em Comunicação e Informação (PPGCom) comemoraram,

respectivamente, 45 e 20 anos de existência, o que viabilizou a integração do

evento às festividades. A esse motivo, que já seria suficiente para destacar

essa terceira edição do evento, aliaram-se outros, que tornaram a III JP-tccs

memorável para todos os que puderam participar. O mais evidente talvez seja

a escala do evento: participaram mais de 80 pesquisadores de diversas áreas

de conhecimento e diferentes regiões do país, cujos trabalhos foram

apresentados e debatidos em sessões temáticas. A palestra de abertura foi

realizada pelo Dr. Charles Melvin Ess, do Department of Media and

Communicationsda University of Oslo. O encerramento do evento foi marcado

por um painel com cinco renomados pesquisadores brasileiros: Eduardo

Pellanda (PUC/RS), Sandra Montardo (FEEVALE), Gustavo Fischer

(UNISINOS), Raquel Recuero (UCPEL) e, coordenando os trabalhos, Dr Alex

Primo (UFRGS).

As JP-tccs são um desdobramento da parceria entre o Laboratório de

Artefatos Digitais LAD/UFRGS e o Laboratório de Pesquisa em Comunicação,

Entretenimento e Cognição CiberCog/UERJ que, desde 2012, desenvolvem

diversas atividades de intercâmbio e cooperação em pesquisa. Dentre essas,

destacam-se as duas primeiras jornadas realizadas em 2012 na UFRGS e em

2014 na UERJ. A proposta das Jornadas reflete o espírito da colaboração entre

os dois grupos e nasceu da constatação da falta de oportunidades para debater

não apenas ideias e experiências, mas também problemas nos percursos das

investigações. Assim, as JP-tccs visam promover a recuperação do que há de

mais nobre e mais compensador no trabalho científico, que é a construção

coletiva por meio do compartilhamento e invenção de práticas, sucessos e,

claro, insucessos nos processos de pesquisa. Com essa finalidade, as JP-tccs

propõem a apresentação e debate não de artigos prontos, ou de resultados de

Page 14: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

13

pesquisas, mas de dúvidas e problemas enfrentados em investigações

realizadas ou, preferencialmente, em andamento. Ao trazer para a discussão

essas dificuldades, os autores estabelecem um fórum para mútuos

questionamentos, sugestões, insights, objeções, etc. Essa é, sem dúvida, uma

forma muito produtiva e gratificante do fazer científico.

Os diversos aspectos da proposta pouco usual da III JP-tccs refletem

nos trabalhos que o leitor encontra nesta publicação. A chamada foi aberta a

pesquisadores em diferentes estágios de formação, congregando pesquisas de

Iniciação Científica e Trabalhos de Conclusão de Curso de estudantes de

graduação, projetos de mestrandos e doutorandos e pesquisas de

investigadores com doutorado completo, alguns deles com extensa trajetória

acadêmica. Os textos diferem do que é habitual nos anais de eventos tanto

pela natureza aberta que resulta da explicitação das dúvidas, quanto no

formato, cujas variações refletem as três possibilidades disponibilizadas para

os autores: a submissão de um resumo expandido, o preenchimento de

campos específicos, ou ambos.

Nenhuma forma de publicação seria capaz de fazer jus aos debates

intensos, às colaborações e às parcerias que surgiram durante o encontro. Por

outro lado, a disponibilização das propostas em formato de e-book, com acesso

gratuito, amplia o alcance do espírito das JP-tccs no espaço e no tempo. Os

leitores têm em mãos um raro conjunto de relatos de pesquisa abertos, cujos

autores explicitam suas dúvidas e dificuldades de forma corajosa e generosa. A

expectativa é que esses textos desencadeiem novas interações: nesse sentido,

sugere-se que os contatos com os autores sejam feitos através da Plataforma

Lattes.

Finalmente, é preciso registrar agradecimentos às instituições e

indivíduos sem os quais a realização da III JP-tccs não teria sido possível. Os

apoios financeiros e logísticos do CNPq, da UFRGS, da UERJ e do PPGCom e

da Fabico/UFRGS viabilizaram a presença do palestrante e dos painelistas e a

infraestrutura necessária para as sessões de debates. As equipes do CiberCog

e do LAD foram incansáveis desde os meses que precederam o evento e

continuam atuando nos desdobramentos posteriores, entre os quais a

elaboração desta publicação. Graduandos do Curso de Relações Públicas da

Fabico e pós-graduandos do PPGCom/UFRGS disponibilizaram seu tempo e

Page 15: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

14

energia para enfrentar as eventualidades e os imprevistos da última semana. A

Comissão Coordenadora agradece a eles e a todos os participantes, que

fizeram do evento um sucesso.

Suely Fragoso e Fátima Regis

Page 16: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

15

A circulação jornalística em tempos de mobilidade e conectividade: características, rupturas, continuidades e potencialidades das notícias em

smartphones e smartwatches

Maíra Sousa

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo A circulação jornalística em tempos de mobilidade e conectividade é o tema desta

pesquisa. Ele surge em um contexto de multiplicação dos espaços de distribuição de

conteúdo jornalístico, de crescente inclusão do público consumidor no ecossistema

midiático e de debate sobre o papel e as reconfigurações das organizações

jornalísticas na atual sociedade global, cada vez mais móvel e conectada. Essas

transformações têm sido impulsionadas, sobretudo, pela conexão sem fio por banda

larga em escala global e pela miniaturização de mídias móveis a preços mais

populares que possibilitam a circulação de informações de forma ubíqua. O objeto de

pesquisa é a circulação de conteúdos jornalísticos em telas digitais móveis, com foco

em smartphones e smartwatches. O objetivo é compreender a circulação jornalística

nesses dispositivos, analisando características, rupturas, continuidades e

potencialidades dos conteúdos noticiosos distribuídos nesses espaços. O estudo é

norteado pela seguinte questão: quais as especificidades, as rupturas, as

continuidades e as potencialidades da circulação jornalística em tempos de mobilidade

e conectividade? Os procedimentos metodológicos da pesquisa serão realizados a

partir da combinação de técnicas qualitativas e quantitativas: revisão de literatura

(durante toda a elaboração da tese 2014-2017), observação não sistemática (durante

o ano de 2015), coleta de dados (durante o ano de 2016), descrição e análise (durante

o ano de 2017). Inicialmente, estão sendo observados os aplicativos dos jornais The

New York Times, The Guardian e O Estado de S. Paulo. Os conceitos norteadores do

estudo são circulação jornalística (JENKINS; FORD; GREEN, 2014; MACHADO, 2008;

PARK, 2008, RODRIGO ALSINA, 2009, SHELLER, 2015; ZAGO, 2011), mobilidade

(IGARZA, 2009; LEMOS, 2009), conectividade (IGARZA, 2009; TURKLE, 2011; VAN

DIJCK, 2013) e jornalismo móvel digital (AGUADO; CASTELLET, 2013, BARBOSA;

SILVA; NOGUEIRA; ALMEIDA, 2013; PELLANDA, 2009; SILVA, 2013; WESTLUND,

2013). É um desafio estudar produtos noticiosos para os smartwatches, pois ao

mesmo tempo em que há uma infinidade de possibilidades de investigação, existem

também impasses relativos ao fato desses dispositivos ainda não serem bastante

Page 17: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

16

difundidos, e consequentemente, não se ter certeza de que, de fato, ocorrerá a

popularização dos smartwatches. Por ser uma tecnologia cara (se comparada aos

smartphones, por exemplo), que ainda não está popularizada e que está há pouco

tempo no mercado, existe também a dificuldade de encontrar conteúdos jornalísticos

para os relógios inteligentes. O cenário é tão recente que no Brasil não há ainda a

produção de notícias para esses dispositivos. Assim, por se tratar de produtos

noticiosos ainda em fase de experimentação pelas organizações jornalísticas, o

principal impasse da pesquisa está nas formas de coletar e analisar o material

empírico em wearables como os smartwatches.

Page 18: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

17

A construção de um repositório para o grupo de pesquisa

Ada Cristina Machado

Clarissa Schwartze

Isabel Padilha Guimarães

Universidade Federal de Santa Maria

Resumo A presente proposta busca refletir sobre as atividades de investigação do Grupo de

Pesquisa Comunicação, Identidades e Fronteiras da Universidade Federal de Santa

Maria, vinculado ao Programa de Pós-graduação em Comunicação e registrado no

CNPq desde 2001. O grupo está ocupado em estruturar um repositório composto por

um banco de notícias, ademais de artigos publicados nos temas de suas pesquisas a

partir do software NVivo 10. A preocupação decorre de que as atividades da

Comunicação Midiática estão dominadas pela iniciativa privada. Isso equivale a dizer

que a veiculação está absolutamente controlada por empresas que, de uma maneira

geral, dificultam sobremaneira o acesso aos arquivos, quando os mantêm

praticamente inacessíveis. A memória sonora e audiovisual das mídias brasileiras

padece de notório esquecimento e desleixo no que se refere a sua guarda. Uma

exceção é a mídia impressa, que algumas vezes pode ser recuperada nos acervos de

bibliotecas e até o presente é disponibilizada pelas empresas. Evidencia-se, assim, a

relevância da estruturação de bancos de dados para futuras pesquisas. A elaboração

de um repositório que comporte bancos de dados referentes ao material investigado

pelo grupo de pesquisa faculta compreender os materiais como documentos, registro e

memória, identificando o papel que as novas tecnologias podem desempenhar.

Observando o repositório organizado a partir da perspectiva dos objetos empíricos

analisados, relativos ao arquivamento digital de revistas semanais de informação,

programas de TV aberta e fechada e o panorama da circulação de informações por

intermédio do blog Observatório do Noticiário de Fronteiras, percebe-se a acumulação

de um material considerável que exige procedimentos metódicos para sua

sistematização. A preocupação alcança também a publicização dos processos e

resultados de pesquisa. A divulgação científica é outra preocupação do grupo de

pesquisa. Os bolsistas atuam na manutenção de um blog, de um observatório de

notícias, páginas nas redes sociais e organização de eventos. Considerando o seu

caráter dinâmico, com a inserção de novos integrantes e voluntários a cada ano e

semestre letivo, temos como um dos principais desafios a manutenção e o

Page 19: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

18

aprimoramento de um ambiente propício para a produção, troca e divulgação de

conhecimentos.

Page 20: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

19

A construção social do gênero feminino na publicidade

Paula Rickes Viegas

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Resumo A publicidade é uma das ferramentas do marketing composta de diagnósticos e

estratégias, que buscam objetivos comerciais através da comunicação persuasiva.

Suas funções básicas são informar sobre um determinado produto ou serviço e

persuadir seu público a consumi-lo, através da comunicação entre o emissor

(anunciante) e o receptor (público-alvo). Paralelamente a finalidade comercial explícita

e o objetivo de venda, a publicidade também possui espaço na manutenção das

relações de poder e na estrutura social. Para Gastaldo, além de produtos, “vende-se

também estereótipos, ideologia, preconceitos, forja-se um discurso que colabora na

construção de uma versão hegemônica da realidade” (GASTALDO, 2013, p. 25). O

discurso das marcas pode ser pensado a partir de teorias discursivas que trabalham a

questão dos efeitos de sentido produzidos pelas marcas com determinados objetivos.

Charaudeau (2009) separa o discurso propagandista em três instâncias: o político –

que visa uma persuasão entre o racional e o emocional –, o promocional – que

representa um contrato de benefício social– e o publicitário, foco principal deste

trabalho. No duplo esquema narrativo/argumentativo de Charaudeau (2010), o emissor

tem o objetivo de seduzir o receptor através de uma estratégia de incitação. Neste

esquema, o EU (emissor) deve incitar o TU (receptor) a: Você tem uma falta > Você

procura suprir essa falta > Este é o seu objeto ideal que você não pode não querer =

Eis o meio de conseguir isso (meu produto). Esta incitação é de “fazer-crer”, pois

busca incitar o TU a sentir falta do objeto e buscá-lo. O objeto ideal é a juventude e a

beleza, em um propaganda de creme antirrugas, por exemplo, e não o produto em si.

O produto apenas o “meio” para se alcançar este objeto ideal. No discurso publicitário

em sites de rede social como o Facebook, por exemplo, este TU, ou seja, a instância

de recepção, pode interagir com a mensagem publicada pela marca através de

curtidas, comentários e compartilhamentos. O impasse deste trabalho encontra-se

aqui. Ao utilizar a análise de discurso de Charaudeau a partir de seu esquema

narrativo/argumentativo em publicações de marcas no Facebook, qual deve ser a

discussão feita sobre as interações recebidas? Deve-se considerá-las como situação

de comunicação ou esquecê-las, visto que se deve focar basicamente na instância de

produção deste discurso?

Page 21: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

20

Objeto de pesquisa Publicações em fanpages de marcas brasileiras que constroem socialmente a mulher

através de estereótipos de gênero.

Problema Como a mulher é construída em publicações no Facebook de marcas brasileiras?

Filiação teórica Charaudeau, Bourdieu, Recuero, Kellner, Gastaldo Quais são os limites de se analisar

a presença da instância de recepção na análise de discurso de Charaudeau? Em

análises de discurso clássicas, na observação da comunicação mediada pelo

computador, as interações feitas em sites de redes sociais devem ser descartadas? É

possível utilizar os comentários feitos em publicações no Facebook para se entender a

situação de comunicação?

Page 22: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

21

A cultura das indiretas e a violência simbólica manifestada no Facebook

Leticia Ribeiro Schinestsck

Universidade Católica de Pelotas

Resumo Minha proposta de dissertação é trabalhar com a violência simbólica (Bourdieu, 1930)

manifestada através das indiretas no Facebook. Este é um conceito relativamente

novo e tenho desenvolvido um capítulo ancorado em Ducrot (1987) e na teoria dos

Pressupostos e Subentendidos, sendo cada um referente a um conjunto de

conhecimentos diferentes: o pressuposto, neste caso, já estaria contido na frase,

pertencente ao componente linguístico e o subentendido, por sua vez, é dependente

do contexto em que se realiza o ato de fala. Este é o componente retórico, que é a

maneira pela qual o componente lingúístico é decifrado e absorvido pelo subentendido

(o componente retórico). (Ex: Pedro parou de fumar. A partir desta afirmação se

pressupõe que Pedro fumava antes e, se for dita em um contexto em que o ouvinte

também é fumante, pode ser entendida como uma “indireta”, uma cutucada para que o

mesmo pare também.) Por isso o subentendido depende do contexto, o que é

interessante de ser observado na internet, uma vez que o contexto precisa ser

negociado.

Objeto de pesquisa Memes retirados de determinadas páginas do Facebook que estejam de acordo com a

ideia do trabalho.

Problema Como entender a cultura das indiretas na internet a partir dos pressupostos e

subentendidos de Ducrot (1987) e identificar rastros de violência simbólica nos

discursos reproduzidos nas conversações nessas postagens de indiretas? O que está

dito e o que não está dito, mas mesmo assim continua sendo afirmado nesses

memes?

Filiação teórica Ducrot (1987), Goffman (1973), Bourdieu (1930), Recuero (2009; 2012).

Page 23: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

22

Impasses atuais Como estudar as indiretas no Facebook através do conceito de pressupostos e

subentendidos de Ducrot (1987)? Como levar este conceito que foi pensado antes

mesmo da existência da internet para o contexto do Facebook? Como posso adequar

essa teoria e aplicá-la de forma coerente e pertinente para obter um resultado

relevante na minha pesquisa?

Page 24: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

23

A interação entre usuários de segunda tela e telenovela A Regra do Jogo, a partir da Análise de Conteúdo

Denise Castilhos de Araújo

Poliana Lopes

Universidade Feevale

Resumo

Esta pesquisa tem como principal objetivo analisar a dinâmica de interação entre as

pessoas adeptas da segunda tela e o produto midiático telenovela A Regra do Jogo,

produzida e transmitida pela Rede Globo. Optou-se por este produto por ser ele o de

maior relevância, tanto comercial (a inserção paga mais cara da televisão brasileira)

quanto de audiência, salvo exceções, pois as telenovelas da Globo das 21h ainda são

as que reúnem maior público no Brasil, de acordo com o Mídia Dados 2014. Objetiva-

se, também, compreender os fatores que motivam os usuários a se engajarem no

movimento de segunda tela enquanto assistem telenovela e analisar, a partir da

telenovela A Regra do Jogo, o comportamento destes usuários e sua interrelação. A

análise será realizada a partir das postagens dos telespectadores no Twitter,

considerando-se para tanto a Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2009). Este

estudo é relevante na medida em que estuda um fato contemporâneo, e o acesso à

internet se populariza no País, assim como o hábito de consumir vários produtos

midiáticos simultaneamente, integrando esses consumos em diferentes plataformas.

Atualmente, 53% da população brasileira acessa regularmente a internet, que é a

primeira fonte utilizada na busca por informações por 47% da população. Entre os

jovens de 15 a 32 anos, 90% da população acessa a internet regularmente, 93%

navegam em sites de redes sociais e 43% consideram a internet sua principal fonte de

entretenimento, segundo dados do Ibope, 2014. O crescimento da internet e o

surgimento de novas plataformas transformam a forma de consumir conteúdo e

incentivando o fenômeno conhecido como “segunda tela” – hábito dos telespectadores

de navegarem na internet em tablets, smartphones ou notebooks, enquanto assistem

televisão. Uma das principais ferramentas de segunda tela é o Twitter, e entre os

usuários brasileiros, 97% afirmam assistir tv diariamente dividindo a atenção da mídia

tradicional com a nova mídia. Entre eles, 76% afirmam buscar outras perspectivas

sobre o programa que está passando e 50% buscam produtos para comprar e

informações sobre a programação (TWITTER, 2014). No momento, o grande impasse

da pesquisa é a definição de uma metodologia para a análise do corpus da pesquisa,

Page 25: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

24

devido ao provável grande volume de citações do produto midiático no Twitter, visto

que a telenovela pode ter até 190 capítulos (inicia em 31 de agosto de 2015 e tem o

final previsto para março de 2016).

Page 26: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

25

A produção científica sobre fãs no Brasil: primeiras abordagens e questionamentos

Giovana Santana Carlos

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo Nosso projeto de pesquisa de tese para o doutorado pretende se debruçar, sob um

viés epistemológico, na produção científica sobre fãs na área de Comunicação no

Brasil. O objeto de pesquisa será construído durante o processo, inicialmente, através

de dados como, quais os temas e abordagens teórico-metodológicas mais recorrentes,

assim como através de entrevistas com os pesquisadores sobre seus trabalhos para

entender os contextos e condições das pesquisas sobre fãs realizadas no país. Num

primeiro momento, a Teoria Fundamentada (FRAGOSO, RECUERO, AMARAL, 2011)

está norteando essa busca e algumas questões já nos ajudam a refletir sobre

possíveis problemas e objetos de pesquisas.Estudos sobre fãs são recentes no país.

As pesquisas mais antigas que encontramos até o momento datam de 2002, sendo 28

dissertações e 2 teses nos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

brasileiros, além de 51 artigos no congresso nacional da Intercom e 5 artigos no

encontro da Compós, dos últimos 14 e 15 anos, respectivamente. Em comparação

com o cenário internacional (BIELBY, HARRINGTON, 2007), no qual encontramos

pesquisas desde a década de 1980, é interessante observar que no Brasil, essas

pesquisas começam já num contexto midiático em que a internet, novas mídias e a

convergência estão reformulando a produção, distribuição e consumo comunicacional.

Apesar de a presença do fã já ser notada desde o século XX (JENKINS, 1992),

parece-nos que é neste momento atual que ela se destaca. Pensando sobre os

modelos comunicacionais, em que retomamos desde o receptor, o leitor, audiência, o

consumidor, e etc., que diferenças e particularidades podemos perceber no fã e qual a

importância disso? Num contexto em que a participação e o engajamento do público

se tornam facilmente acessíveis devido às mídias digitais e internet, como diferenciar o

fã de um público não-fã? Como o pesquisador consegue diferenciar esses

comportamentos?Nessa mesma linha de raciocínio, ao realizar um mapeamento inicial

das dissertações, teses e artigos sobre fãs, uma outra questão ficou visível: estudos

sobre fãs muitas vezes se relacionam a estudos de subculturas, culturas jovens, tribos

urbanas, cenas musicais e afins. Cada uma dessas tem sua particularidade, porém por

vezes se intercruzam, possuem um ponto de encontro, mas não são sinônimos. Como

recorte de pesquisa, fomos atrás apenas de estudos que apresentavam no título ou

Page 27: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

26

palavras-chave os seguintes: “fã”, “fãs”, “fandom”; e de práticas específicas como: “fan

fiction”, “fan film”, “fanzine”, “fan art”, “fansub” e “scanlation”. Mas nos indagamos

sobre trabalhos que abordam de alguma forma fã, mas não o explicitam, ou ainda, que

deixam em dúvida se são sinônimos ou não. Por exemplo, com nossa experiência ao

pesquisar sobre a cultura pop japonesa, percebemos que a palavra otaku pode ou não

ser entendida como fã de cultura pop japonesa: sua etimologia está mais relacionada

com a ideia de “nerd” e existe toda uma trajetória histórica e geográfica de significação

variantes (CARLOS, 2011). Ou seja, depende do pesquisador entender se “otaku” é ou

não “fã”. Até o momento, nosso mapeamento não tem incluído pesquisas com esses

possíveis sinônimos, mas a problemática que se levanta é: a falta de alguma

referência a “fã” se deve por falta de conhecimento dos estudos específicos de fãs, ou

é algo escolhido de forma consciente? Caso a primeira hipótese seja verdadeira,

devemos ou não passar a incluí-las no nosso mapeamento? E, ao efetivar isso, que

impacto poderemos ter ao refletir sobre a produção científica sobre fãs realizada no

Brasil?

Filiação teórica BIELBY, Denise D. HARRINGTON, C. Lee. Global fandom/global studies. In:

HARRINGTON, C. Lee; GRAY, Jonathan; SANDVOSS, Cornel (Orgs.). Fandom:

identities and communities in a mediated world. New York: New York University Press,

2007, p. 179-197.

CARLOS, Giovana S. O(s) fã(s) da cultura pop japonesa e a prática de scanlation no

Brasil. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Linguagens) – Universidade Tuiuti

do Paraná, Curitiba, 2011.

FRAGOSO, Suely; RECUERO, Sandra; AMARAL, Adriana. Métodos de pesquisa para

a internet.Porto Alegre: Sulina, 2011.

JENKINS, Henry. Textual Poachers – television fans and participatory culture. New

York: Routledge, 1992.

Page 28: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

27

A representação do jornalismo na ficção – a função social, os valores e o ethos profissional

Gabriela Grusynski Sanseverino

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Objeto de pesquisa A narrativa ficcional transmídia de Harry Potter: os sete livros, os oito filmes e o site

Pottermore.

Problema Que representações sobre o jornalismo e sobre o jornalista são construídas pelo

universo ficcional transmídia da série Harry Potter, considerando os livros, os filmes e

o site Pottermore, tendo em vista os valores, o ethos profissional e a função social da

profissão?

Filiação teórica Propõe-se uma reflexão que problematiza a história transmídia a partir de Jenkins

(2009), como uma narrativa desenvolvida em múltiplas plataformas, que permite ao

público diferentes entradas para o enredo. Para propósitos deste trabalho, pensa-se o

jornalismo como uma ação social, isto é, dotado de um significado subjetivo dado por

quem o executa, significado este que irá orientá-lo tendo em vista a ação de outros

agentes, como por exemplo seus leitores (WEBER apud QUINTANEIRO, 2009).

Nesse sentido, pode-se pensar profissão a partir de sua finalidade (ação conforme os

fins) – captar, selecionar e difundir informações de atualidade – e de seus valores

(ação conforme os valores) – o dever de verdade, a independência, a exatidão e a

noção da profissão como um serviço público. Ele é praticado por profissionais que

dominam uma linguagem específica no cumprimento desta atividade. Além disso, têm

tradições, preocupações e formas particulares de fazer as coisas. São, por isso,

dotados de um ethos próprio (TRAQUINA, 2008). Para os jornalistas, o ethos

profissional é uma maneira de ser jornalista e estar no jornalismo, isto é, constitui uma

crençacompartilhada que serve de guia de comportamento. Propõe-se, assim, uma

reflexão que problematiza a história transmídia como uma forma de interpretação da

realidade, capaz de promover um espaço de estudo sobre o jornalismo – uma

instituição sociedade contemporânea, parte do cotidiano partilhado por todos.

Page 29: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

28

Impasses atuais De que maneira pensar como diferentes plataformas – livros, filmes e site –

representam a mesma instituição, o jornalismo, e constroem uma imagem da profissão

que se complementa nas diferentes mídias, a medida que cada plataforma parece

exigir uma ferramenta de análise diferente? Enquanto conseguimos estabelecer o que

deve ser observado em cada plataforma da história de Harry Potter, considerando as

particularidades de cada mídia, não conseguimos encontrar uma forma de verificar a

representação do jornalismo que sirva para as três plataformas.

Page 30: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

29

A semiose e a experiência da escuta na interface com os Digital Audio Workstations

Rodrigo Fonseca e Rodrigues

Universidade Fundação Mineira de Educação e Cultura

Resumo Esta pesquisa aborda problemas do design de interfaces digitais no processo de

concepção e da experiência com os Digital Audio Workstations. Inicialmente se pauta

nas leituras de J. Preece, Y. Rogers, H. Sharp e C. S. Souza para problematizar os

conceitos de “semiose” e de “metacomunicação” na interação virtual. O principal

impasse detectado em nossa investigação e que nos leva a questionar a concepção

da “experiência triádica” de C. S. Peirce concerne aos modos de aproximação

epistemológica entre a Semiótica e o pensamento filosófico contemporâneo, em

particular, de H. Bergson e G. Deleuze. A experiência, para estes autores, mais do que

um conjunto de aptidões mnemônicas, perceptivas e de abstrações com a linguagem,

envolve também um processo heterogêneo de virtualidades do tempo (sensações,

afetos, devires e reminiscências) que ultrapassam o fenômeno e o signo. Indagamos:

como os estudos que apreendem a realidade para aquém da semiose poderiam

contribuir para se repensar a experiência da escuta com os DAW’s? E por quais outros

meios o design de interfaces poderia suscitar singularidades para a invenção de

sonoridades?

Page 31: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

30

A utilização da Análise de Discurso Francesa – AD – como possibilidade de abordagem metodológica para a Análise de Discurso Mediado por Computador –

CMDA

Taiane de Oliveira Volcan

Universidade Católica de Pelotas

Resumo A análise de discurso mediado por computador – CMDA é uma abordagem

metodológica, proposta pela pesquisadora americana, Susan Hering (2004), que utiliza

métodos da linguística para desenvolver conceitos para a análise da comunicação

mediada por computador, propondo padrões cientificamente rigorosos para a análise

dos discursos produzidos neste meio. O estudo do discurso mediado por computador

se apresenta como uma tentativa de compreender as transformações da língua, em

função da influência do meio digital. A sua abordagem considera a análise de quatro

domínios da linguagem: Estrutura, Significado, Interação e Comportamento Social

(HERING, 2004). No entanto, a análise de Significado na CMDA tem sido

desenvolvida com uma forte referência da análise crítica do discurso, produzindo,

como efeito, um apagamento de outros métodos da linguística aplicada, que poderiam

enriquecer profundamente seus estudos. Considerando a análise de discurso francesa

– AD, de Michel Pêcheux, uma importante abordagem de análise de sentidos,

especialmente no âmbito do discurso político, este trabalho busca construir um debate

em torno da utilização da AD como possibilidade de método para a Análise de

Discurso Mediado por Computador. Compreendemos e respeitamos os limites e

especificidades das diferentes abordagens teóricas, mas consideramos que, em um

contexto com tanto a se avaliar e explorar , como o digital, é indispensável uma cerca

abertura para o debate em torno das possibilidades de pesquisa. Consideramos,

também, o fato da AD ser uma abordagem tradicional e estabelecida dentro de

parâmetros bastante consolidados, mas salientamos que existem estudos sobre as

possibilidades de abertura desta em função de novas condições de produção dos

discursos, como a utilização da AD como método de análise de imagens (QUEVEDO,

2012). Desta forma, o presente trabalho pretende iniciar um debate, que deverá ser

bastante longo, mas que apresenta como possibilidade a união de abordagens, o que

poderá resultar em um importante acréscimo tanto para a Análise de Discurso

Mediado por Computador, como para a Análise de Discurso Francesa.

Page 32: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

31

Objeto de pesquisa Discurso Mediado por Computador

Problema Iniciar o debate sobre a utilização da Análise de Discurso Francesa – AD – como

possibilidade de abordagem metodológica para a Análise de Discurso Mediada por

Computador – CMDA.

Filiação teórica Susan Herring (2004, 2011); Eni Orlandi (2007, 2008, 2012); Michel Pêcheux (1969).

Impasses atuais É possível utilizar a Análise de Discurso Francesa como método para a análise de

sentidos na Análise de Discurso Mediado por Computador? Quais os limites e

possibilidades de diálogo entre as duas teorias?

Page 33: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

32

A visualização de rastros da memória em rede a partir do Google Glass

Gabrielli Tiburi Soares Pires

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Resumo A memória em rede potencializa uma obsessão que sempre tivemos de guardar tudo

não esquecer de nada (HUYSSEN, 2000). Ao longo do tempo, armazenamos estes

rastros de memória em superfícies aparentemente seguras, como monumentos e

livros. Porém, com a digitalização dos rastros de memória, tanto a capacidade de

armazenamento quanto as formas de acesso destes foram ampliadas. A medida que

as tecnologias da comunicação se miniaturizam e passam a fazer parte do nosso

corpo, através de computadores vestíveis, podemos armazenar nossa memória mais

próxima a nós e torná-la mais acessível. Essas transformações na memória social a

partir do desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação e informação nos

levam ao seguinte problema de pesquisa: quais formas de ressignificação da memória

social através de imagens capturadas por wearables? Assim, o objetivo geral deste

trabalho é problematizar a externalização da memória através dos wearables, como

um primeiro olhar sobre o tema, analisando as transformações na produção e no

acesso aos rastros de memória capturados através da tecnologia vestível. Para tanto,

os principais autores para conceituação da memória social, coletiva e em rede são

Halbwachs (1990), Le Goff (1994) e Ricoeur (2010), Izquierdo (2008), Garde-Hansen

(2008), Hyussen (2000) e para a tecnologia wearable Mann (2014), Donati (2005),

McLuhan (1964), Haraway (2000). O Google Glass foi escolhido como objeto de

análise, por se tratar de um wearable com uma câmera integrada na altura dos olhos.

Esta câmera sempre conectada propicia outra visão do mundo. Suas formas de

fotografar (por clique no sensor, comando de voz ou piscar de olhos) a uma primeira

visão, facilitam a captura e o armazenamento, propiciando transformações na

produção e consumo das imagens e portanto, na memória. Por tratar-se de um

dispositivo pouco utilizado, a solução encontrada para a pesquisa empírica foi utilizar

as fotografias compartilhadas de forma pública no Instagram utilizando o método

“Cultural Analytics”, uma análise massiva de dados culturais como fotografias, vídeos

e ilustrações (MANOVICH, 2009), que conta com a extração de características das

imagens e visualização destas através de análise computacional. A primeira

dificuldade encontrada foi a necessidade de validação humana dos dados, após a

coleta das imagens para garantir que todas cumpram os critérios necessários. Por

exemplo, o primeiro filtro de coleta das imagens é feito por uma hashtag colocada

Page 34: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

33

automaticamente quando a publicação no Instagram é feita pelo Google Glass.

Entretanto, nem todas as imagens que contém esta etiqueta foram capturadas pelo

dispositivo. Somente com a verificação humana é possível excluir imagens que,

embora apresentem essa hashtag, foram produzidas por outras câmeras. O segundo

entrave que encontramos é a dificuldade na extração de dados que consigam atingir

os objetivos de pesquisa. Pois, os softwares gratuitos disponibilizados por outros

pesquisadores que utilizam o mesmo método abrangem apenas a tabulação de

propriedades da imagem como diferenças de matiz, brilho e contraste. Sendo assim,

embora o método mostre-se bem adequado a proposta, não encontramos ferramentas

totalmente apropriadas para realizá-lo. No momento, buscamos outros sistemas que

possam auxiliar na extração e tabulação destes dados para análise e conclusão da

pesquisa.

Page 35: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

34

Adaptações Institucionais a um Ambiente Configurado na Circulação Midiática: crise de imagem do Grêmio a partir do caso de racismo envolvendo o goleiro

Aranha

Cintia Miguel Kaefer

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo O trabalho em desenvolvimento está inserido na linha de pesquisa Midiatização e

Processos Sociais do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade

do Vale do Rio dos Sinos. A pesquisa analisa os processos de circulação midiática

presentes no caso de racismo envolvendo o Goleiro Aranha e o Grêmio, a partir da

partida de futebol realizada em agosto de 2014 pela Copa do Brasil. Trata-se da

análise de uma crise institucional instaurada a partir de um impasse da cultura, no

caso, o racismo. A pergunta central da pesquisa busca entender como o Grêmio,

enquanto instituição, se adapta a uma nova ambiência (constituída nos processos de

circulação), interagindo com a crise simbólica protagonizada pelo goleiro do Santos e

a torcedora gremista. Os problemas atuais da pesquisa ainda envolvem o

entendimento histórico de quanto o racismo é parte da constituição do Grêmio e do

Internacional. Além disso, o trabalho quer entender porque o Grêmio foi punido com a

expulsão da Copa do Brasil devido a ação de seus torcedores enquanto outros times

de futebol brasileiros não sofreram punição alguma em casos semelhantes de

discriminação racial. O caso em estudo gerou uma série de dilemas e tensões

percebidos a partir da apropriação de imagens das instituições midiáticas, instituições

não midiáticas e atores em redes digitais (Ferreira, 2005), além de convocações de

outros campos sociais. O esquema para entendimento da midiatização pensado por

Eliseo Verón (1997) também é central nesta análise. Até a etapa atual da pesquisa,

vários indícios e inferências são perceptíveis na análise do acontecimento. Com isso,

aparecem também algumas dúvidas no processo de investigação: é necessário dar

voz ao objeto de análise, no caso, o clube de futebol, já que possuímos tantas outras

anunciações do clube por meio dos veículos de comunicação? Outra questão, desta

vez do campo da ética, também tensiona a pesquisa em curso: a torcedora que sofreu

grande exposição na mídia pode ser citada no trabalho de dissertação sem uma

autorização prévia? Seu nome e imagem estão presentes no universo da circulação

midiática, mas isso nos dá o direito de vê-las como pessoas públicas? Estes e outros

questionamentos fazem parte da etapa atual do trabalho e suas respostas nortearão

os próximos passos (finais) de desenvolvimentos da pesquisa. Metodologicamente, o

Page 36: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

35

trabalho está organizado a partir da análise de materiais empíricos para constituição

do campo de observação e construção de inferências preliminares. A organização do

estudo se dá através da constituição de um caso como referência, utilizando os

argumentos abdutivo, dedutivo e indutivo para análise do acontecimento.

Page 37: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

36

Ambiguidades Fundamentais no Fenômeno da Circulação Informal de Cinema na Internet

Angela Meili

Universidade Estadual do Paraná

Resumo Apresentamos questões originadas da minha tese de doutorado “Cinema na Internet:

Espaços Informais de Circulação, Pirataria e Cinefilia” (Famecos, PUCRS, 2015). Ao

analisarmos a circulação informal de cinema em redes BitTorrent, notamos que o

fenômeno apresenta desafios originados pela coexistência de dualidades

aparantemente excludentes. As complexidades do fenômeno demonstram uma série

modificações fundamentais no sistema de distribuição de cinema e recepção dos bens

culturais, onde a pirataria é um agente fundamental, que desestabiliza procedimentos,

imaginários, regulações, relações e mercados.

Tema Redes privadas de BitTorrent compõem uma dimensão importante da circulação dos

bens culturais em redes digitais; atingem um grau elevado de especialização e

organização, além de posicionarem-se estrategicamente em relação ao mercado de

bens culturais. Grupos de Torrent Privados (GTPs) produzem plataformas

sistematicamente organizadas e ideologicamente orientadas, que produzem domínios

discursivos que articulam ambiguidades, como formalidade e informalidade, acesso e

privilégio, legalidade e ilegalidade, grátis e pago, altruísmo e oportunismo, cuja

articulação ocorre nas interações, nos enunciados proferidos pelos usuários e

administradores e, também, na própria estruturação técnica das plataformas. As

regras internas de organização de um GTP estabelecem a sistematicidade da

plataforma e o posicionamento dos grupos em relação ao mercado, aos gostos e ao

direito. Nesse caso, as ferramentas tecnológicas articulam-se, desenvolvem-se e

adaptam-se a partir de múltiplos agenciamentos, apropriações pessoais e coletivas.

Objeto de pesquisa A circulação informal de bens culturais através de GTPs pode atingir graus variados de

especialização (tipo de mídia ou formato, gênero de conteúdo, nacionalidade/língua,

estilos de organização, grupos culturais, etc.). Na tese, identificamos e analisamos

plataformas a que dominamos Grupos de Torrent Cinéfilos (GTC), que são uma

categoria de especialização, entre outras, dos GTPs. Em GTCs, notamos um padrão

Page 38: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

37

de organização e posicionamento cultural que prioriza um tipo específico de

cinematografia, o cinema de autor, não Hollywoodiana e de menor visibilidade; ainda

que compartilhem esses traços comuns, os GTCs podem ter um foco maior em

gêneros cinemáticos ainda mais específicos. Grupos/plataformas dessa natureza

promovem, cada um ao seu modo, uma interpretação (e produção) da cultura cinéfila,

contribuindo para o desenvolvimento de um tipo de cinefilia pós-massiva, a

cibercinefilia.

Problema Em decorrência do desenvolvimento da tese, propomos a necessidade de

investigação do seguinte problema:como pensar a circulação de bens culturais nas

redes digitais, levando em consideração o fato de que as seguintes ambiguidades não

são mutuamente excludentes e que a comutação, ou seja, o arranjo e recombinação

entre elas pode se dar de qualquer maneira em cada âmbito específico do fenômeno?

São elas, a) formalidade e informalidade: transitoriedade polos, inicialmente

fundamentais para categorizar a própria “circulação informal”; espaços informais

resultam da formalização das interações, de modo que suas regras internas

estabelecem uma estrutura participativa que institucionaliza o próprio espaço informal;

redes formais/oficiais de distribuição cultural diluem-se no espaço virtual a tal ponto

que, progressivamente, interconectam-se com os âmbitos da informalidade; b) acesso

e privilégio: articulação entre a ideologia de disseminação da informação e o

desenvolvimento de ambientes exclusivos e controlados, que selecionam

rigorosamente o material e o público; c) legalidade e ilegalidade: a noção de

criminalidade pode ser interpretada pordiscursos e práticas que relativizam e

contextualizam o seu entendimento, dando espaço para uma crítica ao reducionismo

criminalista; e) altruísmo e oportunismo: redes informais funcionam sob uma

perspectiva de colaboração e compartilhamento, mas, ao mesmo tempo, a

participação nessas redes tem uma lógica oportunista.

Filiação teórica Não se pode falar, nesse caso, em uma filiação teórica, mas em uma perspectiva de

estudo das que leva em consideração i) os estudos da recepção e suas considerações

críticas acerca da passividade do espectador, em que o caráter interpretativo dos atos

de leitura sugere a possibilidade de escolha, seleção e opinião sobre os conteúdos

recebidos da mídia de massa; ii) os estudos da cibercultura, que apontam para a

viabilização técnica de emissão por parte do receptor e emergência da cultura

colaborativa; iii) a crítica cultural que apresenta a Indústria da Cultura como elemento

Page 39: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

38

atuante na formação da identidade moderna; iv) a evidência de uma cultura pós-

massiva, que não rompe diretamente com o capitalismo monopolista, mas radicaliza e

torna mais complexa a sua lógica. Optamos pelo desafio de encontrar um caminho

que não deixe de considerar essas interpretações, pelo fato de que o pirata é um

receptor (leitor interpretante) dos conteúdos da indústria cinematográfica, sofrendo um

impacto grande dos mecanismos tradicionais de distribuição, mas que atua, também,

como emissor na esfera digital. Ainda, procuramos desenvolver uma reflexão que leve

em conta as transformações do contexto tecnológico, onde a tecnologia, sendo um

nível abstrato de conhecimento, é composta por elementos, níveis também abstratos,

de possíveis relações e automatismos entre forças, materiais, componentes e

mecanismos lógicos, que unidos funcionalmente, em determinado momento e cadeia

relacional, compõem individuações técnicas.

Impasses atuais A complexidade gerada na análise da circulação informal dos bens culturais em redes

digitais trouxe à tona a instabilidade de categorias de pensamento que pareciam

definir essencialmente a sua natureza. Por exemplo, a dualidade legal e ilegal não

pode mais ser tomada sob uma perspectiva essencialista, no sentido de que

passamos por uma desconstrução dos direitos autorais e da própria noção de autoria.

Há um descompasso entre a lei e o desenvolvimento da tecnologia, por isso o discurso

criminalista, preso a leis do início do século passado, tem dificuldade em dar conta da

complexidade da circulação informal e suas implicações econômicas e culturais, mais

especificamente, o seu impactona distribuição do produto cinematográfico. O direito do

autor é desafiado, pois o critério de valoração dado ao conhecimento e o seu registro

nem sempre é estável e depende de uma série de apropriações culturais. Ainda, a

dualidade entre formal e informal revela a desestabilização do mercado de distribuição

e sugere modelos criativos de exploração da informação e produção de mercados

culturais. Nota-se que a indústria midiática passa por uma adaptação, quando os

antigos modos de exploração perdem força diante do desenvolvimento rápido de uma

cultura digital colaborativa e pirata. Ocorre, atualmente, a transição entre modos de

exploração econômica dos bens culturais, que se adaptam aos novos tipos de suporte

e lógicas comunicacionais e onde a pirataria ou a informalidade têm impacto direto e

significativo.

Page 40: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

39

Análise da participação feminina no jogo Dota 2 no Brasil: impasses e possibilidades metodológicas

Gabriela Birnfeld Kurtz

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Resumo O objetivo do presente projeto é analisar a participação feminina no jogo para

computador Defense of the Ancients 2 (Dota 2) no Brasil, bem como a percepção dos

jogadores do gênero masculino em relação à presença das mulheres nas partidas.

Trata-se de um projeto em construção para o ingresso no doutorado em Comunicação

Social. Um artigo já foi produzido acerca do tema, contudo, a análise foi realizada de

forma exploratória, por meio da leitura de discussões em fóruns sobre o assunto. Para

o projeto, busca-se investigar com maior profundidade o tema. Para isso, pensa-se ser

necessário realizar um estudo “in loco”, ou seja, durante as partidas do jogo. Dota 2

consiste em partidas entre duas equipes de cinco jogadores que disputam para

destruir a base inimiga, por meio da escolha de heróis pré-definido. Dentro de cada

partida há duas formas de interação entre os jogadores do mesmo time: via chat

escrito e por voz. Já entre os jogadores de times adversários, há apenas a opção de

chat escrito. Por meio da observação da própria pesquisadora, as partidas de Dota 2

podem ser hostis para as mulheres, principalmente quando o diálogo se dá por voz,

ocorrendo casos de ofensas ligadas ao gênero e assédio. A principal base teórica

reside nas teorias de interação mediada por computador (PRIMO, 2011), pelo fato de

os diálogos se darem por meio de ferramentas pré-definidas. Será utilizado o conceito

da interação mútua, que exige a participação ativa de que interage, em um processo

que tem impacto recursivo sobre a relação com outros interagentes. Já para a análise

dos diálogos em si, será empregada a metodologia de Recuero (2012): a análise de

conversação em rede. Ainda que os diálogos existentes na partida não

necessariamente ocorram em um site de rede social, é importante observar que,

durante a partida de Dota 2 ocorre uma interação social entre jogadores que podem ou

não ser amigos, por exemplo. Contudo, os principais impasses residem não na forma

com a qual os diálogos serão analisados, mas como serão obtidos, já que se deseja

observar partidas de Dota 2 com mulheres jogando nos times e as situações que são

desencadeadas a partir disso. Dentre muitas técnicas de pesquisa existentes para tal

investigação, há sempre pontos positivos e pontos onde a coleta de dados pode ser

comprometida. Acredita-se que a netnografia (ou etnografia), por exemplo, seria muito

demorada, pois as chances de a pesquisadora entrar em uma partida onde existam

Page 41: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

40

jogadoras meninas no time são ínfimas. Assim, pensa-se na possibilidade de adaptar

essa netnografia/etnografia. As situações das partidas teriam de ser “montadas” por

meio do recrutamento de jogadoras e documentação em vídeo da ação, sem que se

revele o foco da pesquisa, incentivando-as a agir normalmente. Entretanto, de que

forma se pode garantir que dessa forma haveria menos intervenção por parte da

pesquisadora? Quantas partidas teriam de ser necessárias para se chegar a uma

amostragem significativa e ideal? Estes são alguns dos impasses que este

planejamento gerou até o momento.

Page 42: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

41

Análise de dados em pesquisa-formação na cibercultura

Edméia Santos

Mayra Ribeiro

Rachel Colacique

Rosemary dos Santos

Tánia Lucía Maddalena

Tatiana Rossini

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo O projeto de pesquisa “Análise de dados em pesquisa-formação na cibercultura”,

pretende investigar teorias, práticas e dispositivos que potencializem a produção,

análise e interpretação de dados produzidos em contextos de pesquisa-formação

mediados por tecnologias digitais em rede. Nos últimos 10 anos, atualizamos o

método da pesquisa-formação em contextos da cibercultura, especificamente em

práticas de educação online mediados por ambientes virtuais e redes sociais na

interface cidade/ciberespaço. Neste contexto desenvolvemos dispositivos de pesquisa,

junto ao GPDOC – grupo de pesquisa docência e cibercultura (PROPED/UERJ), onde

procuramos criar ambiências de pesquisa e formação, produzindo dados com

professores e pesquisadores praticantes em diversas redes educativas. Os dados

produzidos em coautoria se materializam em narrativas e imagens digitais. Sendo

assim, procuraremos com este projeto, compreender melhor como dialogar com estes

dados e rastros, produzindo sentidos que não só estruturem a comunicação,

circulação e divulgação científica, mas também e sobretudo, possa se constituir como

mais um espaço multirreferencial de pesquisa e formação. Para tanto, organizamos a

pesquisa em dois eixos fundantes. No eixo 1, nosso objetivo é produzir um quadro

teórico específico para a interpretação de dados em contextos digitais. Lançaremos

mão da abordagem multirreferencial, bricolando inspirações da hermenêutica crítica

com teorias pós-estruturalistas. No eixo 2, nosso objetivo é mapear e utilizar softwares

para produção e interpretação de dados em contextos digitais. Pretendemos com este

estudo, contribuir no desenvolvimento e campo das pesquisas qualitativas em

educação, atualizar o método da pesquisa-formação na cibercultura com foco na

interpretação de dados, contribuir com a formação dos praticantes culturais envolvidos

no projeto.

Page 43: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

42

Objeto de pesquisa Pesquisa-formação na cibercultura. Os dados produzidos em coautoria se

materializam em narrativas e imagens digitais. Sendo assim, procuraremos com este

projeto, compreender melhor como dialogar com estes dados e rastros, produzindo

sentidos que não só estruturem a comunicação, circulação e divulgação científica, mas

também e sobretudo, possa se constituir como mais um espaço multirreferencial de

pesquisa e formação. A metodologia da pesquisa-formação na cibercultura é de nossa

autoria e vem sendo atualizada pelo GPDOC. Neste projeto, abordamos a metodologia

da pesquisa-formação na cibercultura a partir da nossa itinerância de pesquisa e

docência, mais especificamente com a educação e docência online, concebidas por

nós como fenômenos da cibercultura que se materializam em interface com as

práticas formativas presenciais e online mediadas por tecnologias digitais em rede.

Concebe o processo de ensinar e pesquisar a partir do compartilhamento de

narrativas, imagens, sentidos e dilemas de docentes e pesquisadores pela mediação

das interfaces digitais concebidas como dispositivos de pesquisa-formação. As

interfaces digitais incorporam os aspectos comunicacionais e pedagógicos, bem como

a emergência de um grupo-sujeito que aprende enquanto ensina e pesquisa e

pesquisa e ensina enquanto aprende. A pesquisa-formação é um método consolidado

de pesquisa, mas reconhecemos que nossa autoria encontra-se exatamente na

atualização de sua prática no contexto de docência na cibercultura. Nesse sentido,

para nós a pesquisa-formação na cibercultura parte de alguns pontos bastante caros:

• A cibercultura é a cultura contemporânea que revoluciona a comunicação, a

produção e circulação em rede de informações e conhecimentos na interface cidade–

ciberespaço. Logo, novos arranjos espaçotemporais emergem e com eles novas

práticas educativas. Sendo a cibercultura o contexto atual, não podemos pesquisar

sem a efetiva imersão em suas práticas.

• Pesquisar na cibercultura é atuar como praticante cultural produzindo dados em rede.

Os sujeitos não são meros informantes, são praticantes culturais que produzem

culturas, saberes e conhecimentos no contexto da pesquisa. Fazer pesquisa na

cibercultura não é, para nós, apenas utilizar softwares para “coletar e organizar

dados”.

• Não há pesquisa-formação desarticulada do contexto da docência. Nosso

investimento é pesquisar em sintonia com o exercício docente e no ensino que investe

na cibercultura como campo de pesquisa. Sendo assim, a educação online é contexto,

campo de pesquisa e dispositivo formativo.

• Educação online não é uma mera evolução das práticas massivas de EAD. Logo,

não separamos os contextos educativos das cidades e seus equipamentos culturais

Page 44: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

43

(escolas, universidades, movimentos sociais, museus, organizações, eventos

científicos, demais redes educativas), ainda mais em tempos de mobilidade ubíqua.

(Santos, 2005, 2014).

Os pontos acima elencados não são verdades absolutas e nem pretendem se

constituir como tal. Mas são fundamentos advindos de nossa experiência concreta de

pesquisa que vem se atualizando nos últimos anos, em diversos projetos do GPDOC –

Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura do PROPED/UERJ – Programa de Pós-

Graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. (Ver currículo Lattes).

Problema Como dialogar com os dados e rastros (narrativas e imagens) deixados pelos

praticantes no contexto da pesquisa-formação na cibercultura? Como formar e se

formar na prática da interpretação de dados na cibercultura?

Filiação teórica Metodologia de pesquisa: abordagem multirreferencial (Ardoino, Barbier, Macedo,

Coulon), teoria da complexidade (Morin), epistemologias das práticas (Nóvoa, Freire,

Josso) e estudos da cibercultura (Santaella, Lemos, Santos, Silva). O objeto de estudo

não pode ser visto como um alvo a ser atingido. É necessário perceber o objeto como

um ente vivo, que se auto-organiza pela complexidade dos processos instituídos e

instituintes em que seres humanos e objetos técnicos se implicam, se transformam e

se afetam, produzindo assim modos de ser, de pensar e de viver que vêm desafiando

os processos formativos legitimados por uma forma cartesiana, racionalista de

conhecer. Procuraremos estudar a formação e a prática docente mediadas pela

educação online não como objetos dados, mas como objetos dando-se, vivos, onde os

sentidos dos sujeitos cognoscentes – pesquisadores e demais sujeitos da pesquisa –

foram mapeados de forma hipertextual a partir de suas ações e experiências

concretas, vivenciadas no cotidiano de nossas interações no ambiente virtual de

aprendizagem, construído e gestado por nós.

Impasses atuais Que dados produzimos e interpretamos? A emergência das noções subsunçoras.

Produzir teoria e práticas de análises de dados que permitam aos pesquisadores

compreenderem a compreensão dos praticantes da pesquisa (sujeitos) para além das

clássicas abordagens de análise de dados.

Page 45: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

44

Aplicativos autóctones em franquias jornalísticas: a possível transformação de rotinas produtivas na convergência com meios digitais

Vivian Belochio

Universidade Federal do Pampa

Resumo O projeto de pesquisa tem como foco a identificação de franquias jornalísticas

(MIELNICZUK; SOUZA, 2009; ZAGO, BELOCHIO, 2014) brasileiras que seguem as

lógicas da convergência com meios digitais (BLOCHIO, 2012), realizando estratégias

em mídias móveis por meio dos aplicativos autóctones (BARBOSA, 2012; BARBOSA

et al, 2013). Estes são criados e desenvolvidos exclusivamente para as plataformas

móveis, sendo compostos por conteúdos específicos, diferentes das demais

publicações mantidas por determinadas franquias. Parte-se do entendimento de que

os sistemas de distribuição multiplataforma que envolvem tal experiência podem

interferir nos processos de produção das notícias dentro das redações, modificando-

os. Além disso, podem alterar a forma como os próprios jornalistas interpretam a

proposta editorial das suas publicações, tendo seu imaginário dominante sobre o meio

e sobre a própria prática transformados. A pesquisa envolve estudos sobre a cultura

da convergência, a convergência jornalística, a distribuição multiplataforma em redes

digitais e o jornalismo em mídias móveis. A ideia é fazer sua associação com teorias

sobre os processos produtivos clássicos no jornalismo, a fim de identificar e descrever

possíveis alterações dos mesmos nesse cenário. Os procedimentos metodológicos

propostos são a observação qualitativa indireta de publicações brasileiras

pertencentes a franquias de jornais impressos, a observação direta e a realização de

entrevistas semiestruturadas nas redações daqueles que são casos representativos,

mantendo aplicativos autóctones.

Objeto de pesquisa Estratégias em tablets realizadas por meio dos aplicativos autóctones por equipes de

franquias jornalísticas brasileiras que seguem as lógicas da convergência com meios

digitais e que têm como meio matriz o jornal impresso. Em outras palavras, a ideia é

investigar as características das publicações e dos processos produtivos de franquias

jornalísticas que disponibilizam conteúdos na Web e em mídias móveis,

especificamente os tablets. Serão identificados e observados os aplicativos que são

mantidos em tablets com conteúdos exclusivos, produzidos especialmente para a

exposição através dos referidos espaços, sem a cópia de informações das suas

Page 46: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

45

publicações mais antigas. Igualmente, os processos de produção de notícias para os

mesmos serão observados, bem como serão averiguadas as impressões dos

jornalistas envolvidos nesse tipo de produção sobre as suas rotinas.

Problemas e Impasses atuais Entende-se que as adaptações das franquias jornalísticas às demandas dos

aplicativos autóctones podem afetar desde a estruturação dos produtos mantidos

pelas organizações até os seus sistemas de apuração, composição e circulação das

notícias, entre outros. Isso tendo em vista a ideia de que, nesses contextos, “já não se

tem uma oposição entre meios antigos/tradicionais e os new media” (BARBOSA, 2013,

p.34). Tal aspecto marca a complexificação das rotinas produtivas e a possibilidade de

modificação das mesmas. Acredita-se que as referidas movimentações podem

influenciar as formas de pensar o fazer jornalístico nas redações. Isso porque novos e

diferentes espaços para a produção e a publicação de conteúdos jornalísticos

passaram a integrar as estratégias de meios que, antes, direcionavam suas produções

para plataformas de mídia já naturalizadas. Borram-se as fronteiras entre as

especificidades da produção noticiosa nas rotinas produtivas dos jornalistas que atuam

em franquias? À medida que os profissionais precisam pensar de maneira

diversificada a produção cotidiana das notícias, não podendo mais trabalhar apenas

para suportes familiares, necessitam alargar os seus limites de atuação. Ampliam-se

as referências convencionais sobre as formas de apuração e de produção para

determinados meios jornalísticos. Um jornal impresso que passa a ser multiplataforma

se transforma em um outro tipo de veículo? Compreende-se que a modificação dos

processos de produção das equipes de franquias que trabalham com aplicativos

autóctones pode alterar a forma como os próprios jornalistas interpretam a proposta

editorial das suas publicações, tendo seu imaginário dominante(MACHADO, 2006)

sobre o meio e sobre a própria prática transformados. Sendo assim, considera-se tal

questão relevante para a presente pesquisa. Acredita-se que ela pode ser inserida no

projeto de pesquisa, o que poderia alterar os procedimentos metodológicos a serem

aplicados.

Page 47: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

46

Aplicativos site specific: desafios metodológicos na pesquisa de mídias locativas

Tiago Ricciardi Correa Lopes

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo O relato trata das dificuldades de pesquisa relativas ao processo de realização de

minha tese de doutoramento – intitulada “Aura e vestígios do audiovisual em

experiências estéticas com mídias locativas: performances algorítmicas do corpo no

espaço urbano”, a tese foi defendida em 2014 no Programa de Pós-Graduação em

Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e contou com a

orientação da professora Suzana Kilpp.

Tema A pesquisa tratou dos novos regimes de visualidade que comparecem no campo dos

formatos audiovisuais que empregam tecnologias móveis de telecomunicação e

geolocalização em seus processos formais e estéticos.

Objeto de pesquisa Foram analisadas propostas de experimentação com mídias móveis em projetos

artísticos, turísticos, publicitários, dentre outros, os quais atualizam o cinema e outras

formas audiovisuais em experiências nas quais o ambiente de recepção e a

performance corporal do espectador ganham centralidade.

Problema Num contexto em que a imagem técnica dialoga diretamente com o espaço em que o

espectador encontra-se situado, como tal qualidade do dispositivo audiovisual afeta a

própria experiência de recepção da imagem? E como, por outro lado, afeta a

percepção do próprio ambiente (espacial) em que a experiência toma forma?

Filiação teórica Em seus vários quadros de recuperação teórica a pesquisa baseou-se, de modo geral,

nos seguintes autores: Para uma reflexão sobre os impactos da técnica sobre a

cultura, a inspiração veio dos textos de autores como Walter Benjamin, Marshall

McLuhan e Lev Manovich. Acerca das dimensões estéticas estabelecidas nas

performances entre o corpo e o aparato técnico, os principais autores foram Hans

Page 48: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

47

Gumbrecht, Didi-Huberman e Mark Hansen. Outros autores respaldaram o referencial

sobre a produção artística histórica e contemporânea, dentre os quais destacam-se

André Lemos, Arlindo Machado, Phillipe Dubois, Gisele Beiguelman, Priscila Arantes,

Christine Mello, Michael Rush e André Parente.

Impasses atuais Nos projetos analisados durante a pesquisa nem sempre nos deparamos com uma

configuração da imagem tal como estamos habituados a encontrar nas mídias

audiovisuais “tradicionais” (como no cinema e na televisão) e, por conta disso, uma

das principais dificuldades da pesquisa foi justamente encontrar uma maneira de

viabilizar a análise dos materiais, seja em termos de como abordá-los teoricamente,

seja em termos de como observá-los empiricamente. Do ponto de vista de uma

abordagem teórica, as dificuldades apareceram, antes de tudo, porque os fenômenos

em questão não se deixam circunscrever a nenhum domínio em específico, estando

posicionados em zonas difusas de interseção entre diversos campos midiáticos e

artísticos. Assim, o problema de partida para um estudo aprofundado dos objetos

tornou-se constantemente recorrente: onde situá-lo primeiramente? No campo de

estudos do cinema, da imagem eletrônica, da web, das artes do espaço (arquitetura,

escultura, instalação, performance)? A questão se tornava então como desenvolver

um método de investigação que não privilegiasse por demais uma das áreas a ponto

de obscurecer as relações com as demais. Além do problema de lidar com os objetos

em nível teórico-epistemológico, ao longo da pesquisa surgiu ainda um outro

problema, de nível ainda mais elementar, que era como proceder em relação ao

tratamento formal dos observáveis, visto que os casos investigados se mostraram, de

certa maneira, “incapturáveis”, principalmente quando comparados a outros objetos

comunicacionais, tais como filmes, músicas, programas de TV etc., que, para fins de

investigação, permitem que sejam deslocados de seus contextos de origem,

principalmente através de cópias em outras matrizes de registro que não aquelas que

os originaram. No contexto da minha pesquisa, a intangibilidade e a efemeridade são

características inerentes aos objetos: seja porque são produzidos para acontecerem

uma única vez ou durante um período de tempo, como nos casos de projetos de

intervenção realizados durante festivais, mostras e eventos; seja em decorrência de

fatores contingenciais, referentes a questões de registro e armazenamento que muitas

vezes fogem ao controle do pesquisador, como, por exemplo, a obsolescência a que

os materiais se submetem toda vez que mudam os hardwares, sistemas operacionais,

plugins etc. É claro que tais problemas são também problemas que outros

pesquisadores acabam tendo que se deparar em diferentes contextos. Por exemplo, o

Page 49: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

48

problema da efemeridade dos materiais constitui também uma dificuldade para

aqueles que estudam fenômenos como a arte urbana ou a performance artística. Já as

questões de registro e armazenamento dos materiais é um obstáculo comum àqueles

que estudam a web – no caso destes últimos é comum conviverem com o receio, para

não dizer medo, que se origina dos riscos de que seus objetos de observação sejam

radicalmente alterados por terceiros ou que simplesmente “desapareçam” da noite

para o dia, quase sempre por iniciativa dos próprios detentores do material, falhas no

sistema de hospedagem do site ou até mesmo por causa de eventuais invasões de

hackers. No caso da minha pesquisa, na maioria das vezes eu até conseguia ter

acesso ao software do projeto (por exemplo, uma determinada aplicação de telefone

celular), no entanto, o lugar, isto é, o território físico e geográfico em que a experiência

de uso do software efetivamente deveria acontecer, estava situado a milhares de

quilômetros de onde eu estava. Como então estudar em profundidade um fenômeno

cujos objetivos empíricos não podiam ser experimentados em suas condições ideais?

Em resumo, foram estas as principais dificuldades metodológicas que tive de enfrentar

durante a realização da pesquisa de Doutorado, as quais foram importantes para que

eu e minha orientadora conseguíssemos inventar caminhos (e também alguns

desvios) para superá-las.

Page 50: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

49

Apropriação Cultural dos fãs brasileiros de K-POP através das práticas de shippagem no Facebook

Larissa Barbieri Tassinari

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo Esse trabalho tem como objetivo analisar a forma como os fãs brasileiros de K-POP –

o pop coreano – se apropriam da cultura que origina a música que consomem, da

Coreia do Sul. Para isso foi utilizado como embasamento o estudo sobre fãs, assim

como aquele sobre Celebridades. Foi também contextualizada a história da música

popular coreana desde o período pós-guerra. Para chegar às conclusões necessárias,

durante esse trabalho foram analisadas páginas e grupos de fãs no Facebook e, a

partir do comportamento dos fãs nesses espaços, percebido a forma como eles

reagem à ideia do ship – o casal no qual fãs esperam e torcem para que haja um

relacionamento real. Entre fãs de K-POP há um investimento intenso, incentivado pela

indústria musical e do entretenimento, para que essa prática, de shippagem, exista.

Sendo assim, foi decidido estudar a apropriação cultural do fandom brasileiro de K-

POP a partir, justamente, das práticas de shippagem em relação àquelas coreanas.

Durante o decorrer do estudo, onde foi aplicada como metodologia principal a Teoria

Fundamentada (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011), surgiram uma diversidade

de impasses que geraram questionamentos em relação à pesquisa; por ser um tema

novo e pouco estudado no Brasil havia uma quantidade relativamente grande de

ângulos que poderiam direcionar esse trabalho. A grande dificuldade foi escolher o

caminho ideal para guiar a pesquisa, onde tiveram de ser levados em contas fatores

como o tempo disponível para análise e coleta de dados. A novidade do tema, por

mais que apresente em si um fator positivo, também expôs a realidade de ter que usar

como embasamento apenas autores estrangeiros. Foram uma série de decisões

importantes tomadas para que essa pesquisa chegasse aos seus resultados finais,

com considerações de que há de fato uma aculturação e hibridização cultural por parte

desse fandom ao realizarem essas práticas de shippagem, principalmente a partir do

modo como os fãs apropriam-se da “forma de shippar” cunhada pelos fãs coreanos.

Page 51: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

50

Argumentação política no Facebook: as estratégias dos candidatos para a construção de imagem

Felipe Bonow Soares

Universidade Católica de Pelotas

Resumo Esta pesquisa tem como tema a comunicação política nos sites de redes sociais

(SRS), em específico o Facebook. O que se pretende é analisar como se comportam

os candidatos neste espaço e quais as estratégias adotadas para a construção de si

em rede. Para isto, alguns conceitos importantes já estão sendo trabalhados. Sobre

SRS e conversação em rede, os elementos centrais são: capital social, entendido

como um valor (recurso) que possui primeiro nível (individual) e segundo nível

(coletivo); a discussão sobre linguagem na Internet, que é vista pela maioria dos

autores como uma escrita com características marcantes da fala, ainda que, pensa-se

no âmbito deste estudo, pode variar de acordo com o contexto e o tipo de relação

entre os interlocutores, de modo que pode ter características da fala ou da escrita não

só em função da ferramenta, mas, principalmente, pela apropriação dada pelos atores;

a construção da identidade, que é realizada em rede por meio de atos performáticos e

em função de um outro; e a audiência invisível, que possui relação direta com o ponto

anterior, vista como a relação sem copresença física entre interlocutores, de modo que

o outro é apenas imaginado, assim também modificando as ideias sobre adequação

da mensagem. Sobre estes temas os principais autores já trabalhados são: Raquel

Recuero, Nan Lin, José Gaston Hilgert e Susan Barnes. A questão da política e da

argumentação também é essencial para o estudo, por isso são trabalhados os

seguintes conceitos: a imagem da Retórica Mediatizada de António Fidalgo

(reinvenção da retórica aristotélica com foco nos meios), para o autor, o ethos, antes

construído na mensagem e a cada prestação, se transforma em imagem e o orador se

constrói quase como um produto publicitário; os argumentos de ligação de Chaïm

Perelman, também derivados da retórica aristotélica, que servem para observar o tipo

de argumentação desenvolvida por cada orador; e as relações entre a política e a

Internet, utilizando Santos e Rodrigues e também Espírito Santo e Figueiras. Percebe-

se, como um primeiro problema, a necessidade de um aprofundamento em tópicos

relacionados com a esfera pública e as disputas de poder entre as linhas de

pensamento dos candidatos. O segundo problema está no corpus de análise. A ideia

inicial seria observar as publicações no Facebook dos candidatos à prefeitura de

Pelotas (RS) em 2016, sendo os dados coletados no período pré-eleitoral (março a

Page 52: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

51

maio) e no período eleitoral (agosto a outubro), para analisar as possíveis mudanças

de comportamento. O problema principal, porém, está na metodologia. É possível

selecionar publicações e realizar uma descrição a partir dos conceitos anteriormente

citados, mas pretende-se ir além disso. Como, então, realizar um método não apenas

descritivo? Que metodologia parece mais apropriada para isso? Como definir e

selecionar a amostra do corpus para o estudo? Quais outros autores e conceitos

podem ser interessantes para um aprofundamento maior no tema da pesquisa? Se for

relevante, que tipo de análise de redes pode ser realizada em apoio à análise das

publicações? Enfim, quais os passos seguintes?

Page 53: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

52

As inferências do queer nas linguagens que emergem em veículos jornalísticos de cultura pop

Christian Gonzatti

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo O projeto de pesquisa propõe a análise de produções jornalísticas específicas do

universo pop, tendo como foco o estudo das linguagens que emergem nestes meios e

que conversam com a teoria queer (1)(BUTLER, 2012; PRECIADO, 2014), para

entender até em que ponto as especificidades percebidas podem apontar

transformações em níveis culturais e sociais. As articulações entre

ciberacontecimentos (2) (HENN, 2014), identidades, gêneros e sexualidades (HALL,

2000; LOURO, 2013), convergência e espalhamento (JENKINS, 2008; JENKINS et al.,

2013) e hipermídia (SANTAELLA, 2009) trazem apontamentos importantes para

entender as características destas processualidades em que expressões como

“destruidora”, “bixa”, “dona do meu cú” são, algumas vezes, incorporadas nas matérias

e nos títulos de chamada em sites de redes sociais, ganhando sentidos diferentes,

concordando, assim, com a desconstrução sinalizada por teóricos queer e com o

estudo de memes (DAWKINS, 2007; HENN, 2014) vistos, aqui, como um fenômeno

que vai além da alta replicação e que funciona como propulsor de todos processos

culturais. O projeto traz visa o estudo de processos midiáticos que se desdobram,

considerando a cibersociabilidade (LEMOS, 2007), em produtos jornalísticos que

conversam com o universo digital e com questões sociais e culturais que ganham

ressignificações no universo da cultura digital. Foi escolhido como objeto de análise,

por ser um dos veículos de cultura pop com maior visibilidade no Brasil, o Papel Pop.

Questiona-se, então, qual metodologia poderia identificar a inferência de uma possível

linguagem que foge da normatividade e que sinaliza movimentos de desconstrução,

ganhando reverberação através da cultura pop, na relação entre conteúdo das

matérias e comentários nas redes sociais do objeto? Para o estudo, as matérias e os

comentários serão percebidos através de uma perspectiva semiótica (PEIRCE, 2002),

sendo a semiosfera (LOTMAN, 1996) um universo de signos e as semioses as ações

destes signos que desenvolvem sentidos específicos. Assim, todo signo é,

consequentemente, linguagem (HENN, 2014). (1) A teoria queer, entre outras

abrangências, busca a desconstrução dos binarismos e das imposições de gêneros e

sexualidades. Assim como o termo queer teve a sua carga pejorativa desconstruída,

os termos apresentados também passaram por um processo de reestruturação de

Page 54: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

53

sentido. (2) Os ciberacontecimentos são acontecimentos tramados em sites de redes

sociais.

Objeto de pesquisa Papel Pop.

Problema Qual a implicação do queer nas linguagens que emergem na semiosfera inaugurada

pelo Papel Pop, veículo jornalístico de cultura pop? E como as especificidades

percebidas sinalizam transformações em níveis culturais e sociais?

Filiação teórica Teoria queer, gêneros, sexualidade, identidades: Beatriz Preciado, Judith Butler,

Guacira Lopes Louro, Michael Foucault, Stuart Hall. Linguagem, semiosfera,

ciberacontecimentos: Lucia Santaella, Iuri Lotman, Ronaldo Henn. Cultura Pop:

Adriana Amaral, Simone Pereira de Sá. Redes sociais, convergência, espalhamento:

Raquel Recuero, Jenkins, Sam Ford e John Green.

Impasses atuais Definição de uma metodologia que consiga atender às necessidades do problema.

Novas perspectivas e apontamentos teóricos. Verificação do problema.

Page 55: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

54

As materialidades do retrato fotográfico e suas sensações, a partir do olhar do retratado

Alexandre Davi Borges

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo O retrato fotográfico representa, há muito tempo, o indicativo de representação dos

sujeitos fotografados. Esta seria a principal façanha do retrato: espelhar (perceba-se

desde já a proximidade com a natureza especular) o sujeito posto à frente da câmera

para o registro, presumidamente, perene do indivíduo. Mas o retrato o fotográfico faz

bem mais. Contribui para a afirmação moderna do individuo, na medida em que

participa da configuração de sua identidade como identidade social. Todo retrato é

simultaneamente um ator social e um ato de sociabilidade: nos diversos momentos de

sua história obedece a determinadas normas de representação que regem as

modalidades de figuração do modelo, a ostentação que ele faz de si mesmo e as

múltiplas percepções simbólicas suscitadas no intercâmbio social. O modelo oferece à

objetiva não apenas seu corpo, mas igualmente sua maneira de conceber o espaço

material e social, inserindo-se em uma rede de relações complexas, das quais o

retrato é um dos emblemas mais significativos (FABRIS, pg. 38-39). Entendido como

parte da construção social dos sujeitos, a ação fotográfica busca centralizar o

enquadramento daquele que é fotografado, muitas vezes, sobre seu rosto. Sintoma da

familiaridade que o rosto nos convoca, justamente por estarmos, no convívio social,

normalmente olhando para rostos, a obtenção fotográfica contempla prioritariamente a

face do sujeito. Assim o é desde a pintura. A concentração sobre a face é reveladora

pois, como contextualiza Fabris em relação ao trabalho de Felix Nadar, no início do

século: “Atento observador do ser humano, imbuído das ideias fisionômicas que

circulavam no seu tempo, Nadar concentra no rosto a expressão do caráter do

indivíduo” (FABRIS, pg. 24). Contudo, o rosto fotografado sempre nos devolve um

olhar. Do olhar atento que o fotógrafo lançou sobre o retratado, ao olhar de um

observador do próprio retrato (impresso ou em telas luminosas) sempre encontramos,

nos sujeitos fotografados, um olhar que em maior ou menor grau revela-nos (ou

lembra) a existência do espaço contíguo aos limites das bordas. Pode ser através de

um olhar oblíquo à câmera ou de um olhar direto contra a câmera. Ao olhar oblíquo,

aquele que o sujeito olha para o lado da câmera (e não diretamente a ela) já percebe-

se um sinal da existência, e importância, do espaço contextualizado da obtenção. Mais

impetuoso e significativo para este estudo, aquele olhar que mira a própria câmera

Page 56: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

55

parece fazer com que o espaço capturado seja “devolvido” e cooptado, ampliando o

espectro da circunstância – toda a espacialidade do ato. O espaço projetado sobre o

retratado parece voltar como inércia e pretensamente nos coloca (como fotógrafo ou

observador) no mesmo lugar e instante que o fotografado, promovendo certa sincronia

espaço-temporal, mesmo que o retratado esteja, inclusive, morto. Entendendo a

materialidade como “todos os fenômenos e condições que contribuem para a

produção de sentido, sem serem, eles mesmos, sentido” (GUMBRECHT, p. 28), a

percepção destas materialidades na obtenção e exposição fotográfica revela a

complexificação do entendimento espacial que, a partir do retrato fotográfico, busca

superar o conceito de análise centrado no produto fotográfico (o próprio retrato), mas

também busca suplantar os conceitos centrados no entendimento da produção (o

fotógrafo e sua cultura, seus saberes, etc..). Entender como se dão as circunstâncias

de obtenção e observação que envolvem a presença dos sujeitos, os cenários, o

equipamento, devem ser consideradas como estratégias para ampliar o saber sobre a

prática fotográfica. O questionamento central deste problema é que, a partir do conflito

instaurado nas fotografias identitárias, através das quais afirmo quem sou – ou

imagino que sou – pode-se considerar que todos os retratos passariam a ser

considerados como autoretratos pois, mesmo que não tenham sido tirados por si

próprio, serão sempre produto de escolha de determinada representação intencional.

Parte-se da idéia trazida por Gumbrecht, das materialidades da comunicação, quando

afirma que seu “fascínio fundamental surgiu da questão de saber como os diferentes

meios – as diferentes materialidades – de comunicação afetariam o sentido que

transportavam” (GUMBRECHT, pg. 32). Sob esta ótica, os perfis dos sujeitos – e

nossos – na web, também como forma (auto)representativa, podem ser considerados

como autoretratos, pois projetariam aquele que achamos que somos (ou gostaríamos

de ser) mas ancorado pela possibilidade dinâmica de uma multiplicidade de facetas,

apropriadas ao tempo e ao espaço. Em outros termos: se antes o retrato, por força das

circustâncias, era físico e (quase) único, atualmente podemos considerar que as

identidades seriam mutantes e adaptadas ao tempo em que se encontra exposta.

Frente aos diferentes modos de expor a identidade nas redes sociais, amparadas pela

própria possibilidade dos meios, a dúvida estaria centrada sobre: quais perfis seriam

representativos para uma abordagem que exemplifique a materialidade? Seriam mais

adequadas as imagens dos perfis do Facebook ou do Instagram, por exemplo? Qual

escolha ajudaria a identificar como o olhar se envolve neste processo? Que nível de

aproximação (física) do retrato seria pertinente analisar para relacionar o olhar para a

câmera e o que se vê no retrato como elementos de cenário? Em outras palavras, a

principal angústia que trava o processo atualmente seria: como definir um corpus que

Page 57: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

56

seja representativo frente à força conceitual que nos joga simultaneamente para

dentro e para fora da imagem dos retratados?

Page 58: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

57

Banda independente como manifestação cultural no contexto da cibercultura – o caso da Apanhador Só

Belisa Zoehler Giorgis

Universidade Feevale

Resumo O tema do trabalho é a trajetória e as diferentes articulações da banda independente

Apanhador Só, de Porto Alegre, cujo desenvolvimento é imbricado com o contexto da

cibercultura, em que vem se articulando a reconfiguração da indústria fonográfica a

partir da modificação dos meios de produção, comunicação e distribuição, por conta

da popularização da Internet. Esse ambiente propiciou o surgimento e consolidação de

artistas e bandas independentes. A Apanhador Só trata-se de um caso emblemático

nesse contexto, pois vem realizando a utilização de uma série de estratégias

comunicacionais para formação de público, a viabilização financeira de projetos por

meio de crowdfunding e o uso de diferentes formas de distribuição de seu trabalho,

como download, streaming, vinil e fita cassette, para além do CD. A banda já lançou

três álbuns e um compacto, e conta hoje com uma forte base de fãs, que esgotam os

ingressos de seus shows rapidamente. No ambiente atual, com a oportunização de

que trabalhos de bandas e artistas independentes sejam viabilizados a partir da

reconfiguração da indústria fonográfica, faz-se necessário um olhar à forma como isso

se articula, pois, mesmo com as facilidades propiciadas pela tecnologia, há bandas e

artistas que não conseguem fazer seu trabalho acontecer com a utilização das

ferramentas disponíveis. Diante disso, coloca-se o problema de pesquisa: como,

tratando-se de uma manifestação cultural, se articula no contexto da cibercultura a

trajetória da banda independente Apanhador Só? Para este estudo se pretende utilizar

como metodologia a pesquisa documental e bibliográfica, de caráter quantitativo e

qualitativo, e exploratória, com utilização de método etnográfico por meio de

observação participante e entrevistas. O embasamento teórico trará as seguintes

concepções: de cultura e identidade, relacionadas ao contexto contemporâneo da pós-

modernidade (Clifford Geertz, Roy Wagner e Stuart Hall); questões de sociabilidade

(Michel Maffesoli e Georg Simmel); etnografia (Clifford Geertz e James Clifford); a

busca da ruptura da dicotomia entre o real e o virtual neste processo (Suely Fragoso,

Raquel Recuero e Adriana Amaral, Christine Hine e Erick Felinto); o aprofundamento

do contexto tecnológico a partir da cibercultura (André Lemos e Pierre Lévy),

convergência, conexão e transmídia (Henry Jenkins), remediação (Richard Grusin e

Jay David Bolter), retromania (Simon Reynolds), as relações entre música e tecnologia

Page 59: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

58

na cultura (Timothy Taylor), arqueologia da mídia (Siegfried Zielinski), ecologia da

mídia (Michael Goddard), estética do videoclipe (Thiago Soares) e materialidades e

experiência estética (Hans Ulrich Gumbrecht); do contexto musical de Porto Alegre

(Luiz Antonio Gloger Maroneze, Arthur de Faria, Mauro Borba, Leo Felipe, Charles Di

Pinto e Gustavo Borba); e questões relacionadas a mercado fonográfico e cenas

musicais (Matheus Berger Kuschick, Micael Herschmann, Ticiano Paludo, Will Straw,

Jeder Janotti Jr., Simone Pereira de Sá e Beatriz Polivanov). No momento, os

impasses metodológicos estão centrados no questionamento de por onde exatamente

iniciar a trajetória metodológica e quais os passos mais adequados a seguir. A autora

vem coletando os mais diversos materiais e informações sobre a banda, seja em seu

site, em seus perfis em redes sociais, e vem adquirindo os álbuns e frequentado os

shows que acontecem em Porto Alegre. Busca-se, neste momento, desenvolver um

olhar sobre isso que propicie pensar caminhos e articular uma crítica que possibilite a

realização de uma descrição e posterior análise. No entanto, cabe uma discussão dos

mais adequados caminhos, de forma a otimizar o uso das informações e o

aproveitamento das oportunidades.

Page 60: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

59

Cidadania comunicativa cinematográfica aflorada e expressa através da recepção de sessões de cinema

Maytê Ramos Pires

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Objeto de pesquisa Meu objeto de estudo é a Sessão Aurora, uma sessão de cinema promovida desde

2013 pelos editores do Zinematógrafo – fanzine de crítica de cinema produzido em

Porto Alegre – que tem como diferencial o fato de ser gratuita e promover um debate

com mediação dos editores ao final dos filmes. Minha pesquisa busca investigar e

compreender o processo de recepção da oferta fílmica da Sessão Aurora e suas

relações com o desenvolvimento da cidadania comunicativa cinematográfica ao

contextualizar aspectos relativos ao circuito de cinemas alternativos de Porto Alegre,

considerando as relações que se estabelecem com o circuito comercial e com o

contexto cinematográfico nacional, latino-americano e internacional a partir dos usos e

apropriações da oferta da Aurora desde as competências dos sujeitos.

Problema Meu problema está composto por uma questão central e cinco específicas, a saber:

Questão central: Como se dá o processo de recepção da Sessão Aurora pelo seu

público e como se vincula à constituição da cidadania comunicativa cinematográfica?

Questionamentos específicos: – Como os objetivos, a proposta cinematográfica e as

estratégias de configuração dos debates constituem o processo de recepção da

Sessão Aurora? – Quais são os usos e apropriações que o público faz da oferta fílmica

e das atividades de reflexão realizadas pela Sessão Aurora? – Como se constitui a

Sessão Autora, como se realizam os debates, a mediação dos realizadores e a

participação do público? Que negociações, significações e conflitos se expressam nas

sessões? – Como as competências midiáticas, culturais e cinematográficas dos

espectadores se articulam às apropriações por eles realizadas? – Quais são as

possibilidades e limitações que surgem na oferta e nas apropriações da Sessão

Aurora para a promoção de uma cidadania comunicativa cinematográfica?

Filiação teórica Minha fundamentação teórica está ancorada, principalmente, nos conceitos de

cidadania comunicativa cinematográfica (CAMACHO, 2004; CORTINA, 2005; FAXINA,

Page 61: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

60

2012; GARCÍA CANCLINI, 2010; MATA, 2006; MONJE, 2009), midiatização

(HJARVARD, 2014; SILVERSTONE, 2002; MALDONADO, 2002, 2011; VERÓN, 2014;

SODRÉ, 2006; MARTÍN-BARBERO, 2002, 2006, 2013), mediações (MALDONADO,

2002,2011; MARTÍN-BARBERO, 2002, 2006, 2013), apropriações midiáticas (HALL,

2009; GARCÍA CANCLINI, 2010; MALDONADO, 2002; MARTÍN-BARBERO, 2002,

2013), cinema (BOURDIEU, 2007; GARCÍA CANCLINI, 2010; GATTI, 2000; LOPES,

2002; MACHADO, 2007; MARTÍN-BARBERO, 2013; MASCARELLO, 2001, 2005) e

recepção (CERTEAU, 1994; GARCÍA CANCLINI, 2010; LOPES, 2002; MARTÍN-

BARBERO, 2002). São autores iniciais, mas que já vejo potencialidades para trabalhar

o que me proponho pesquisar na dissertação.

Impasses atuais Minha pesquisa está intitulada, até o momento, como Cenário de cidadania

comunicativa cinematográfica: a recepção da proposta cinematográfica da Sessão

Aurora, pois penso que o título deva exprimir o cerne da pesquisa. Entretanto, ainda

tenho dúvidas em relação à abordagem e às estratégias metodológicas para o

desenvolvimento da pesquisa de recepção pensando sua vinculação com a cidadania

comunicativa cinematográfica. Penso que a observação das sessões e entrevistas

com os sujeitos que a compõem – público, idealizadores e realizadores – sejam

elementos imprescindíveis para o desenvolvimento da investigação, mas sigo em

dúvida em como realizá-las, que elementos destacar, como abordar os sujeitos

comunicantes que compõem a sessão – me refiro aos espectadores, visto que já estou

em contato idealizadores e realizadores da Aurora, tanto membros do Zinematógrafo

quanto funcionários da Sala P. F. Gastal. Estas dúvidas me acompanham desde a

formulação do projeto e agora se intensificaram ao adentar no segundo semestre do

primeiro ano de Mestrado, percebendo a necessidade de iniciar a pesquisa

exploratória nas sessões antes da qualificação (fase que estou vivenciando

atualmente, mas ainda a nível documental – procurando informações no que o aparato

online oferece, com dificuldades para projetar as observações que, a princípio, penso

serem necessárias nessa fase um conjunto de quatro ou cinco), para após o diálogo

com os professores adentrar na pesquisa sistemática. Deste modo, levo para a

discussão na Jornada dúvidas de caráter metodológico, mas assumindo meu caráter

de iniciante no fazer de pesquisadora me propondo a problematizar também

contribuições que possam surgir em relação a outros aspectos da investigação que

estou desenvolvendo.

Page 62: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

61

Comunicação e mobilidade urbana: propostas de conteúdo informativo e jornalístico para dispositivos móveis em Buenos Aires, Argentina

Lucas Durr Missau

Universidad Nacional de La Plata

Resumo A crescente utilização de dispositivos móveis tem impulsionado transformações

paradigmáticas em distintas áreas do conhecimento. Os estudos de comunicação, que

se dedicam a investigar essas mudanças, têm evidenciado o papel central que a área

ocupa diante das práticas sociais contemporâneas. Ainda assim, seguimos com

dificuldades teórico-metodológicas para a apreensão de tais fenômenos. Nesse

contexto, apresentamos inquietudes referentes a um trabalho de investigação que

articula comunicação e mobilidade urbana nesse panorama de desenvolvimento e

implementação de novas tecnologias. O estudo busca investigar os aplicativos de

dispositivos móveis utilizados para a mobilidade urbana em Buenos Aires (Argentina) e

refletir sobre os processos de produção, intercâmbio e consumo simbólico que

ocorrem entre sujeitos, meios e linguagens nesse ambiente tecnológico. A partir dessa

perspectiva, propomos pensar formatos de conteúdo informativo e jornalístico que

possibilitem aos usuários o acesso a informações e contribua para que atuem como

produtores de conteúdo e autores de sua própria experiência de mobilidade. De um

lado, refletimos sobre o jornalismo digital e como o uso das redes sociais e dos

dispositivos móveis impacta nas rotinas de produtores de conteúdo e trazem

consequências para os consumidores em diversos aspectos de suas vidas. De outro, a

partir da mobilidade urbana, analisamos o desenvolvimento de novas ferramentas e

sua contribuição para uma experiência equitativa e democrática por parte dos

usuários. Em “Homo mobilis – la nueva era de la movilidad” (2008), George Amar

sustenta que a comunicação tem um papel importante nesse sentido, pois a utilidade

dos seus produtos se transforma de um modelo baseado em oferecer informações

para o trânsito de pedestres a um modelo que fornece as condições para que os

usuários tenham disponíveis as ferramentas de comunicação que necessitem para

atuar como emissores de mensagens, dados e informações. A análise que fazemos

em nosso trabalho engloba as potencialidades dos produtos midiáticos com uso

destinado à mobilidade urbana, considerando também os aspectos restritivos do

contexto social, cultural, econômico e político. Dessa forma, temos inquietudes em

relação às abordagens conceituais possíveis, bem como à configuração de uma

metodologia adequada. Em linhas gerais, nos encontramos em um momento de

Page 63: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

62

dúvida entre analisar as mediações e a midiatização, ou buscar a articulação entre

essas duas perspectivas. Nossa proposta de estudo abarca a apreensão dos

fenômenos mencionados e reflete sobre as particularidades do desenvolvimento

cultural e socioeconômico nos países latino-americanos, onde operam processos

como a desigualdade e a exclusão social. Também, apresentamos dificuldades na

elaboração da metodologia devido ao caráter disperso e fluido do paradigma

contemporâneo de mobilidade urbana, o qual enfoca os sujeitos muito além dos

tradicionais modos de transporte. Tendemos a uma abordagem etnográfica crítica, no

entanto, ainda não definimos os instrumentos e as ferramentas adequadas aos nossos

objetivos.

Page 64: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

63

Comunicação Mediada pelo Computador, Redes Sociais, Internet, Discurso, Linguagem, Preconceito Linguístico

Natalia Giusti Radtke

Universidade Católica de Pelotas

Resumo A língua como produto social estabelece relações de poder entre sujeitos. A

concepção de sujeito em questão, é aquela da Análise do Discurso (AD) de Pêcheux,

que se utiliza do marxismo, da psicanálise e da linguística para criar a disciplina em

questão. O sujeito se crê dono de suas escolhas mas, no entanto é interpelado por

ideologia, a qual está sob seu inconsciente e regula toda escolha, forma interpretação

e sentido. Partindo de uma hipótese de que o preconceito linguístico1, pode ser

utilizado como uma forma de silenciamento que parte de uma posição sujeito para

outra, a pesquisa busca através de preceitos da sociolinguística trazer à tona marcas

de socioletos e variações linguísticas regionais e diastráticas além de, através da AD,

expor os discursos que são utilizados como ferramenta de deslegitimação e

silenciamento através preconceito linguístico e do site de rede social Facebook. A

internet nos últimos anos se popularizou de tal maneira que até mesmo as pessoas

consideradas de baixa renda e sem educação formal de qualidade, que antigamente

não teriam condições de ter acesso à rede, estão se conectando à mesma cada vez

mais. Também, neste estudo é levado em consideração as características próprias do

suporte o qual estes usuários estão expostos, e a imediatividade de resposta o que faz

com que cresça o grande número de erros gramaticais de toda ordem nas conversas

informais que acontecem pelas redes, e apesar de ser empírico que a gramática

normativa não rege as regras dos textos na internet é possível enxergar manifestações

de preconceito linguístico em discussões na rede, além de discursos preconceituosos,

mascarados de ‘bom português’ que podem, através da ferramenta, ser facilmente

proliferados e legitimados através de botões como ‘curtir’ e ‘compartilhar’. Em um

primeiro momento se utiliza preceitos básicos da Sociolinguística, que nos apresenta a

língua como um fenômeno natural e social, heterogêneo e plural. Usa-se também,

preceitos do preconceito linguístico no Brasil, através do autor Marcos Bagno e, por

fim, para caracterizar o texto na internet, utiliza-se também como base o artigo

intitulado “A construção do texto “falado” por escrito: a conversação na internet” de

José Gaston Hilgert além do apoio bibliográfico no livro “Redes Sociais da Internet” de

Raquel Recuero. Assim pretende-se caracterizar a língua brasileira utilizada na

internet e redes sociais (mais especificamente no Facebook), mostrar as marcas das

Page 65: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

64

diferentes variantes do Português Brasileiro da Internet (PBI) em relação ao Português

Brasileiro Falado (PBF), para que, posteriormente possa ser feita uma análise de

como esse discurso que é silenciador circula na web, além de tentar expor a

subjetividade que a língua e os discursos carregam com ideologias, formações

discursivas e suas posições sujeito segundo a AD.

Objeto de pesquisa Postagens no Facebook em perfis pessoais e de comunidades, memes e comentários.

Problema O preconceito linguístico na internet, suas características e discurso.

Filiação teórica Análise de Discurso. Sociolinguística. Análise de Redes.

Impasses atuais Em ambas filiações teóricas abordadas, tanto a sociolinguística como a AD, a língua é

afetada por fatores externos, entretanto, estes fatores externos são divergentes nas

teorias. A grande questão é: como utilizar as duas disciplinas lado a lado aplicada à

comunicação media pelo computar? Considera-se somente parte de uma teoria e

parte de outra? Mistura-se as duas? Na sociolinguística a exterioridade que influi na

variação linguística possui relação com posições sociais ocupadas pelos agentes

falantes de uma língua (emissor e receptor), ou seja, leva-se em consideração faixa

etária, classe social, profissão, região geográfica. O Brasil sendo um país com um

território geográfico extenso e uma população diversificada, possui uma imensa gama

de variações tendo uma forte heterogeneidade linguística, ou seja, ao revés da AD a

sócio não trabalha com a relação de sentidos, não trabalha com o subjetivo, e sim com

o que está dado, com o fato linguístico. A AD considera a exterioridade de forma

distinta, levando em consideração o materialismo histórico, as formações discursivas

(ideologia) e as relações de sentido e as posições sujeitos, ocupadas pelos emissores

dos discursos. Como utilizar a Sociolinguística ao lado da Análise de Discurso, sendo

que a segunda faz uma crítica a primeira devido ao fato de a primeira não levar em

consideração o materialismo histórico. Além disso, é possível criar uma teoria

discursiva do preconceito linguístico dentro e fora da web?

Page 66: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

65

Consumo como performance no streaming de games da plataforma Twitch

Samyr Paz

Universidade Feevale

Resumo A partir do recorrente interesse científico do campo da comunicação nos games, este

trabalho se propõe investigar o Twitch (twitch.com), plataforma que permite transmitir e

assistir partidas de jogos eletrônicos pela Internet. Qualquer pessoa equipada com um

computador ou vídeo game conectado a Internet pode transmitir ao vivo suas sessões

de jogos pela plataforma, enquanto que através de um dispositivo conectado a Internet

qualquer pessoa pode acompanhar as transmissões. Essa prática, configurada como

streaming de games, é de interesse científico, pois o Twitch atrai 1,5 milhões de

streamers (quem transmite sessões de jogos) e 100 milhões de espectadores

mensalmente (dados do Wall Street Journal). O trabalho tem o intuito de debruçar-se

sobre este objeto pelo modo de olhar e fazer perguntas da Teoria Ator-Rede, evitando

a dicotomia humanos e não humanos, observando as associações dos actantes em

rede e verificando a agência e delegação da ação, com especial atenção ao Twitch

como agente (LATOUR, 2012). Neste ponto, salienta-se os impasses de pesquisa do

trabalho, afinal como evitar um olhar viciado na dicotomia humanos e não humanos e

interpretar corretamente as propostas da Teoria Ator-Rede? Como perseguir

corretamente as associações e os rastros deixados pela ação, conforme orienta Latour

(2012)? Problematiza-se a emergência do consumo como performance na relação

entre os actantes humanos e não humanos na plataforma, pois é objetivo do trabalho

aprofundar o conhecimento sobre estes conceitos no âmbito digital. Consumo pode

ser compreendido como a manipulação de bens (materiais ou não) que refletem na

construção de identidade e diferenciação entre grupos (BARBOSA, 2004). No âmbito

digital o consumo viabiliza a prática da socialização online, pelas capacidades do meio

em oferecer acesso a e criação de conteúdos, possibilidades de identificar usuários ou

grupos e podendo ou não envolver alocação de recursos financeiros (MONTARDO,

2013). Desta forma o consumo, que pode ser um simples ato de assistir a um vídeo ou

publicar um comentário, está diretamente ligado as ações humanas e não humanas. É

neste ponto que performance pode ser melhor compreendida, pois segundo

Schechner (2003) o conceito é qualquer tipo de ação estabelecido entre relações e

interações, enquanto alguém mostra-se fazendo algo. Por exemplo, a ação que ocorre

entre quem transmite uma sessão de jogo pelo Twitch e quem assiste é performance.

Schechner (2003) ainda salienta que performance é comportamento restaurado, o

Page 67: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

66

indivíduo se portando como aprendeu ou copiando comportamento de outros.

Portanto, consumo como performance pode ser compreendido como maneiras de

atuação que estimulam a socialização e a construção de identidade (BARBOSA, 2004;

SCHECHNER, 2003). Para responder a pergunta do trabalho “de que maneiras o

consumo como performance emerge nas relações entre interagentes humanos e não

humanos na plataforma de streaming de games Twitch?” pretende-se utilizar a

etnografia (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2013). Para isso, serão realizadas

entrevistas e recolhidos dados em um diário de campo de uma comunidade de

streaming de games (ainda não identificada), para posteriormente desenvolver as

análises e redação da dissertação de mestrado.

Objeto de pesquisa Através de etnografia, atentando para a correta aplicação do método em ambientes

digitais, o trabalho pretende investigar a emergência do consumo como performance

na plataforma de streaming de games Twitch (twitch.com). O olhar da pesquisa volta-

se para a circulação e agenciamento da ação, pela perspectiva da Teoria Ator-Rede,

evitando a dicotomia humanos e não humanos. Neste sentido, identifica-se o próprio

Twitch como participante nas relações de consumo e performance.

Problema De que maneiras o consumo como performance emerge nas relações entre

interagentes humanos e não humanos na plataforma de streaming de games Twitch?

Filiação teórica BARBOSA, Lívia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

FRAGOSO, Suely; RECUERO, Raquel; AMARAL, Adriana. Métodos de pesquisa para

internet. Porto Alegre: Sulina, 2013.

LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à teoria do Ator-Rede.

Salvador e Bauru, EDUFBA e EDUSC, 2012.

MONTARDO, Sandra Portella; ARAÚJO, W. F. Performance e práticas de consumo

online: ciberativismo em sites de redes sociais. Revista FAMECOS (Online), v. 2,

2013. p. 472-494

SCHECHNER, Richard. O que é performance. O Percevejo, v. 12. 2003. P. 1-10

Page 68: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

67

Impasses atuais Como evitar um olhar viciado na dicotomia humanos e não humanos e interpretar

corretamente as propostas da Teoria Ator-Rede? Como perseguir corretamente as

associações e os rastros deixados pela ação, conforme orienta Latour (2012)?

Page 69: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

68

Consumo midiático de dispositivos móveis que se configuram como segunda tela entre jovens dos Estados do Pará e do Rio Grande do Sul

Fernanda Chocron Miranda

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo Esta proposta, ligada ao projeto de tese em desenvolvimento no PPGCOM-UFRGS,

tem como temática central o consumo midiático relacionado a usos e apropriações de

dispositivos móveis como celulares, smartphones, tablets incorporados como segunda

tela ao hábito de assistir à televisão dos brasileiros. Na literatura nacional e

internacional não há uma definição clara a respeito de segunda tela. Considerando a

bibliografia consultada (CESAR, BULTERMAN e JANSEN, 2006; CESAR e

CHORIANOPOULOS, 2009; RUICKSHANK et al, 2012; VANATTENHOVEN e

GEERTS, 2012; MACHADO FILHO, 2013; MENDES COSTA SEGUNDO e SAIBEL

SANTOS, 2013; GOOGLE, 2013; IAB BRASIL, 2013; GLOBAL ITV, 2014),

encontramos que além das várias nomenclaturas, não há um consenso quanto ao

conceito de second screen. Mendes Costa Segundo e Saibel Santos (2013, p. 1,

tradução nossa) consideram que “second screen é o nome atribuído pela Indústria de

TV, para denotar o uso de um segundo dispositivo para interação com o conteúdo

apresentado na tela da televisão”. Em Vanattenhoven e Geerts (2012), a adoção do

termo segunda tela não se limita a dispositivos sincronizados, mas faz referência de

modo geral ao uso de dispositivos móveis durante a assistência televisiva, ainda que

de forma não relacionada ao conteúdo exibido na tela principal. Para o projeto de tese,

partimos da compreensão de segunda tela como qualquer dispositivo móvel utilizado

durante a assistência televisiva, seja de modo integrado ou não ao conteúdo exibido

na primeira tela. Sabemos que os dispositivos móveis têm sido, no Brasil, vetores de

acesso à Internet para parte considerável da população com a oferta de serviços pelo

setor de telefonia, tal como acesso à Internet 3G (ANATEL, acesso em 10 ago. 2014;

MIRANDA, 2014). E, por conseguinte, estes têm reconfigurado o processo de

implantação da TV digital no Brasil, já que a interatividade e a inclusão digital que

estava planejada para ser introduzida pelo uso do controle remoto da TV digital, nos

parece estar sendo promovida por dispositivos móveis observados como segunda tela

e que permeiam a rotina de assistência televisiva no país e em alguns momentos

tornando a TV apenas o pano de fundo do consumo midiático do usuário em questão.

Diante disso, o objetivo geral do projeto de tese é analisar os processos

comunicacionais tecidos pelos usos e apropriações dos dispositivos móveis pelos

Page 70: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

69

jovens brasileiros durante a assistência televisiva. Para isso, pretendemos realizar

uma pesquisa comparativa entre os cenários de consumo que podem ser observados

no Pará e no Rio Grande do Sul, e já inicialmente mapeados pela Rede Brasil

Conectado, coordenada pelas professoras Nilda Jacks e Mariângela Toaldo da

UFRGS e da qual fazemos parte. Acreditamos que apenas a partir de investigações

comparativas como esta seja possível acompanhar tendências futuras de consumo

midiático e, consequentemente, subsidiar a realização de políticas públicas no Brasil,

por exemplo, relacionadas ao uso de tecnologias digitais e inclusão social no país.

Tema Consumo midiático de dispositivos móveis que se configuram como segunda tela entre

jovens dos Estados do Pará e do Rio Grande do Sul.

Objeto de pesquisa Processos comunicacionais delineados pelos usos e apropriações de segunda tela por

jovens do Pará e do Rio Grande do Sul

Problema Quais são e como ocorrem os usos e apropriações de dispositivos móveis que se

configuram como segunda tela de jovens do Pará e do Rio Grande do Sul?

Filiação teórica Estudos de recepção ancorados na perspectiva latino-americana de leitura dos meios

de comunicação, que focam nos processos comunicacionais, entendidos como as

interações que estabelecem conexões entre as pessoas do ponto de vista social e

cultural. Entre as bases adotadas estão estudos de pesquisadores latino-americanos

como Jesús Martín-Barbero e, no Brasil, Maria Immacolata de Lopes, Nilda Jacks ,

entre outros. Vale ressaltar que esta proposta está alinhada aos esforços de pesquisa

em andamento e dos quais fazemos parte. Entre eles está a pesquisa comparativa em

desenvolvimento no âmbito da Rede Brasil Conectado e o projeto de cooperação

internacional GLOBAL ITV, aprovado na 2ª Chamada Brasil-EU nº 13/2012 do CNPq,

que integra o Programa de Cooperação Brasil-União Europeia em parceria com o

Seventh Framework Programm.

Impasses atuais Como estruturar do ponto de vista teórico-metodológico uma pesquisa de recepção

que nos permita identificar e comparar os usos e apropriações de dispositivos móveis

Page 71: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

70

como segunda tela nos extremos do Brasil? Quais os caminhos para a realização de

análises comparativas de realidades nacionais que vem sendo estudadas por redes de

pesquisa a fim de promover debates teórico-metodológicos inovadores na área de

Comunicação?

Page 72: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

71

Dilemas da pesquisa etnográfica e do debate teórico sobre inclusão digital: desafios e possibilidades

Sandra Rúbia da Silva

Universidade Federal de Santa Maria

Resumo A partir da inovadora provocação proposta, quero apresentar os impasses em relação

ao meu atual tema e objeto de pesquisa – os desafios, limites, possibilidades e

impactos da inclusão digital, tal como se revelam para análise através das práticas de

consumo e das formas de apropriação de dispositivos móveis (em especial telefones

celulares, smartphones e tablets) e dos sites de redes sociais (especialmente o

Facebook) entre os habitantes de periferias urbanas no sul do Brasil. Especificamente

para este projeto – que conta com financiamento do CNPq – o objetivo geral é

investigar o papel das tecnologias de comunicação e informação para o

desenvolvimento e o bem-estar social, em cotejo com os temas da cidadania e do

direito à comunicação, da inclusão social e da participação cidadã. Teoricamente, filio-

me ao campo dos estudos socio-antropológicos do consumo e das culturas digitais,

bem como aos estudos sobre o direito à comunicação. Minha curiosidade investigativa

por tal tema e objeto aguçou-se a partir da constatação de que, embora sejam a cada

dia mais evidentes estatisticamente a crescente adoção das tecnologias de

comunicação e informação nas camadas populares no Brasil, o estudo das dinâmicas

socioculturais implicadas em tal fenômeno, com ênfase na dimensão da cidadania,

tem recebido, até o presente, relativamente pouca atenção por parte dos

pesquisadores em estudos sobre a internet e as culturas digitais. Essa constitui uma

primeira dificuldade, pois há pouca bibliografia com a qual dialogar. Interesso-me pelas

questões relativas aos estudos de internet desde a graduação e mestrado, e em

particular pelo consumo de tecnologias entre grupos populares desde o doutorado

(concluído em 2010 no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da

UFSC) quando realizei uma etnografia sobre práticas de consumo de telefones

celulares entre os habitantes de um bairro popular de Florianópolis. Findo o doutorado,

desenvolvi dois projetos de pesquisa de caráter etnográfico sobre inclusão digital, em

bairros de camadas populares nas cidades de Curitiba e do Rio de Janeiro (na

comunidade do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo), este último para um pós-doc pelo

Programa de Pós-Graduação em Comunicação da ECO-UFRJ. O problema de

pesquisa que une esses dois projetos ao atual é o seguinte – quais são as práticas

socioculturais e as estratégias de apropriação da internet (especialmente dos sites de

Page 73: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

72

redes sociais) e de tecnologias móveis acionadas pelos habitantes das periferias

urbanas de Santa Maria e de Florianópolis e em qual medida tais tecnologias

propiciam formas de inclusão social e participação cidadã? Se aludo aos projetos

anteriores é para chegar ao grande impasse – a aparente saturação dos dados de

pesquisa. Ao analisar os dados e compará-los com pesquisas anteriores, confirmam-

se recorrências tais como a dificuldade em fazer frente aos altos custos dos serviços

de telefonia móvel e internet, o importante papel da internet na educação, o uso

prioritário de redes sociais e telefones celulares para manutenção de redes de

sociabilidade centradas na família e as baixas expectativas em relação ao papel da

internet para geração efetiva de renda. Nesse sentido, parece haver pouco a

acrescentar ao debate em termos de novos achados.

Page 74: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

73

Educomunicação e Mídias Digitais: Apropriações da Internet por Jovens de Classe Popular e Aprendizagens na Perspectiva da Cidadania Comunicativa

Livia Freo Saggin

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo A pesquisa desenvolvida no mestrado busca investigar apropriações da internet por

jovens inseridos em ambiente de vulnerabilidade social na perspectiva da cidadania

comunicativa. Para tal, em termos metodológicos, se apoia na realização da proposta

de uma pesquisa participante, a partir da qual esses jovens são instruídos e motivados

a criar e manter um blog no qual contam suas experiências, desafios e transformações

ao longo do tempo, a partir de práticas educomunicativas propostas. Como argumenta

Brandão (2001), a pesquisa participante pode se tornar um instrumento de reforço do

poder popular, munido “com a participação do intelectual (o cientista, o professor, o

estudante, etc.) comprometido de algum modo com a causa popular” (p. 10). A

pesquisa é realizada com jovens de uma comunidade periférica do município de Novo

Hamburgo, os quais já são atendidos por uma entidade de apoio socioeducativo. A

observação, acompanhamento e análise do que é postado e compartilhado nesse

blog, somado à convivência junto ao grupo fazem parte da estratégia metodologia de

trabalho, em movimentos de ida e volta ao campo exploratório associado à construção

teórica. A investigação das mediações socioculturais dos sujeitos participantes da

pesquisa também é constituinte da investigação exploratória para busca de pistas

relacionadas ao fenômeno investigado. Considerando que os sujeitos contemporâneos

possuem uma relação com os meios de comunicação de massa menos cada vez

menos dependente (MALDONADO, 2008); que as possibilidades de comunicação,

tanto do consumo quanto da produção, são alteradas pelos avanços tecnológicos –

especialmente pelo uso da Internet; e que a produção e circulação de bens simbólicos

é potencializada pela tecnologia e seus usos sociais (BRAGA, 2012), se está

estudando um ambiente onde Comunicação e Educação podem potencializar o

desenvolvimento socioeducativo para a formação de sujeitos críticos no seu núcleo

social (MATA 2005). A problematização teórica da pesquisa inclui os conceitos de

midiatização digital (Maldonado, Silverstone, Martín Barbero, Castells),

educomunicação (Freire, Kaplun, Citelli, Baccega, Soares), apropriações (Martín

Barbero, Hall, Ortiz, Certeau), cidadania comunicativa e cultural (Mata, Varela, Cortina,

Boaventura de Souza Santos) e cultura popular/juvenil (Hall, Borelli, Freire Filho,

Ortiz). A hipótese inicial de pesquisa considera o possível aparecimento de sujeitos

Page 75: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

74

coletivos e empoderados digitalmente/midiaticamente/comunicacionalmente, que

utilizam a construção/compartilhamento de bens simbólico-sociais para dar voz às

comunidades excluídas. Esse movimento pode revelar uma característica

contemporânea de resistência, que surge de comunidades invisíveis à mídia

hegemônica, mas visíveis nas mídias digitais. Os impasses atuais da pesquisa estão

relacionados à reflexão teórica-metodológica entre os conceitos de pesquisa

intervenção e pesquisa participante, que necessitam de aprofundamento epistêmico

no contexto da pesquisa, e que são fundamentais para a compreensão da ação

educomunicativa dentro dessa comunidade e seus resultados enquanto

aprendizagens, apropriações no ambiente digital e despertar para a cidadania

comunicativa.

Page 76: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

75

Em busca do leitor de uma narrativa em dois suportes: um estudo de caso do blog e do livro Depois dos Quinze

Marilia de Araujo Barcellos

Maura da Costa e Silva

Universidade Federal de Santa Maria

Resumo Essa pesquisa tem como tema o leitor e a narrativa em dois distintos suportes, mais

especificamente, um blog e um livro impresso característico da tendência editorial

referente a originais oriundos da web que resultam em publicações impressas. Ao ler

os textos no blog e ao ler os textos no blog, existem convenções diferentes derivadas

dos diversos modos de leitura. Assim, essa pesquisa pretende compreender as

diferentes maneiras de ler − que são conceituadas pelo historiador CHARTIER (1996)

enquanto práticas de leitura − decorrentes da evolução dos suportes, ao longo da

história, que pressupõem diferentes modalidades de apropriação do texto. A

metodologia abarca, além do cabedal teórico, o trabalho empírico realizado por meio

da coleta de informações obtidas por meio de entrevistas com os agentes da cadeia

produtiva do livro: autor, editor e leitor. No âmbito atual, que configura-se enquanto

múltiplas possibilidades de acesso à narrativa, utilizaremos dois suportes midiáticos, a

saber: o digital e o impresso como objetos de estudo. Mais especificamente, no

primeiro caso, o blog Depois dos Quinze, no qual se encontra a obra da escritora

Bruna Vieira e que possui um livro impresso homônimo. Utilizaremos a noção de que

os blogs nos últimos anos sofreram diversas transformações, enquanto em 2005 eram

vistos como “diários íntimos online”, atualmente são utilizados de maneiras diferentes,

possuem um público-alvo diferenciado e modificam suas ferramentas constantemente.

RECUERO (2002, p3) explica o conceito de blog por meio do conteúdo que nele

consta como “microconteúdo, ou seja, pequenas porções de texto colocadas de cada

vez, e atualização frequente, quase sempre, diária”. A autora e blogueira Bruna Vieira,

20 anos, é de Leopoldina, no interior de Minas Gerais. Com 14 anos criou o blog

Depois dos Quinze. Começou a escrever por causa da timidez, do bullying que sofria

na escola e por causa de um amor platônico. Desde que criou o blog em 2008

conseguiu 130 milhões de acessos, conforme a informação disponibilizada pela

autora. E é por meio das crônicas, tanto do blog como do livro, que envolve seus

leitores com suas vivências e desabafos. No entanto, essa pesquisa, que é um

trabalho de conclusão de curso, tem se mostrado dificultosa, principalmente no âmbito

de conseguir que os leitores concedam entrevistas pelo Skype. Então, a partir desse

Page 77: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

76

empecilho, a pergunta que se faz presente é “Como motivar os jovens leitores a

responderem as questões, quando cada segundo de suas navegações pela web é

efêmero e voltado para inúmeras atividades? Como conseguir a atenção desses

leitores?”.

Tema O tema desta pesquisa é o leitor e a narrativa em diferentes suportes. O tema delimita-

se a livros impressos originados de blogs e as práticas de leitura e apropriação das

narrativas por parte dos leitores. Trata-se da leitura de um mesmo conteúdo

disponibilizado na internet e no livro impresso.

Objeto de pesquisa Como objeto de pesquisa teremos o blog e o livro Depois dos Quinze, bem como seus

leitores, por considerarmos um paradigma de produção em ambiente digital,

igualmente explorado no suporte impresso.

Problema Como questão-problema temos a seguinte pergunta norteadora: Quais as diferenças

das práticas de leitura e de apropriação do conteúdo impresso (livro tradicional) e do

conteúdo online (blog)? E a partir dela desejamos atingir o objetivo geral de perceber

diferenças na apropriação dos textos publicados na internet e no impresso, a partir de

pesquisas sobre práticas de leitura de usuários do blog e leitores do livro Depois dos

Quinze.

Filiação teórica Para as questões referentes ao livro impresso e as práticas de leitura, nos

basearemos em Chartier (2012),Goldin (2012), Darnton (2010), Petit (2008) e

Genette (2009). Quanto a web e a compreensão do fenômeno dos blogs usaremos o

cabedal teórico de Santaella (2007), Nielsen e Loranger (2007), Primo (2008), Recuero

(2003) e Sibilia (2010). Como base para a metodologia usaremos Duarte e Barros

(2011) para estruturamos entrevistas e com Gastaldo e Braga (2012) utilizaremos o

Skype como meio para realização das entrevistas com os leitores.

Impasses atuais Nossos primeiros impasses foram relacionados à busca por pessoas que tivessem lido

o livro Depois dos Quinze e que acompanhassem o blog, para que pudéssemos

realizar entrevistas presenciais com o intuito de compreender a relação do leitor com

Page 78: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

77

seu objeto impresso, bem como investigar o modo que realiza sua leitura em dois

suportes distintos de uma mesma narrativa. No entanto, não encontramos pessoas

“acessíveis” nas regiões em que a pesquisadora poderia ir ao encontro. A partir disso,

tivemos a ideia de fazer essas entrevistas por Skype, mas somente três pessoas se

dispuseram a ajudar. Os convidados a participar das entrevistas alegavam ter

vergonha de aparecer diante da câmera e outros não utilizavam o Skype. Por outro

lado, em busca de compreender o porquê da identificação do leitor com os textos de

Bruna Vieira, entramos no campo de estudo da linguagem e, para aprimorar essa

pauta, decidimos solicitar em um grupo de leitores no Facebook para compartilharem

suas citações favoritas, bem como uma justificativa para tal escolha. Novamente

obtivemos um número baixo de respostas: apenas duas meninas responderam.

Portanto, nossos impasses pertencem a área de motivação dos leitores, isto é, como

fazer com que esses indivíduos se envolvam com as entrevistas? Como conquistar a

atenção de um usuário com milhões de informações a um clique, para que dedique

alguns minutos em uma entrevista pelo Skype ou com comentários pelo Facebook? A

nossa pesquisa continua em andamento, mas a participação de um número maior de

leitores é essencial, para que não ocorra falhas ao analisarmos os materiais e para

que consigamos analisar uma maior diversidade de modos de leitura.

Page 79: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

78

Estudo de Recepção da Campanha “Amor seja como for”

Sendy Carneiro Mordhost

Universidade Federal do Pampa

Resumo A proposta do trabalho, que se encontra na fase inicial da pesquisa, parte da

perspectiva sociocultural da comunicação, seguindo o viés dos Estudos Culturais para

fazer um estudo de recepção de uma das campanhas do programa Rio Grande Sem

Homofobia, “Amor Seja Como For”. A campanha faz parte do programa que surgiu

devido à preocupação do Governo do Rio Grande do Sul com o crescente número de

casos de violência contra o público LGBT. No Relatório de Violência Homofóbica,

divulgado pela Coordenação de Promoções dos Direitos LGBT, no ano de 2012,

aponta que o Rio Grande do Sul está em 8º lugar no ranking dos estados com mais

denúncias de homofobia do Brasil. Em 2012, no estado foram registradas 202

denúncias referentes a 396 violações e oito homicídios noticiados pelo poder público

relacionados à população LGBT. Houve um aumento de 248% em relação a 2011,

quando foram notificadas 58 denúncias. Assim, partimos da recepção de uma

campanha publicitária voltada para combater a violência causada pela homofobia,

procurando perceber quais leituras e apropriações o público LGBT, pertencentes ao

“Movimento Girassol, amigos na diversidade” de São Borja-RS, que teoricamente

seriam beneficiados por ela, faz das peças publicitárias. Averiguando assim a real

efetivação da campanha publicitária. Dos procedimentos metodológicos e analíticos o

presente projeto será feita uma pesquisa qualitativa, este tipo de pesquisa preocupa-

se com a profundidade de entendimento de um grupo social. Quanto aos objetivos da

pesquisa, será realizada uma pesquisa exploratória qual possibilita maior

conhecimento do problema, envolvendo pesquisa bibliográfica e entrevistas com

pessoas envolvidas com o problema de pesquisa. Quanto aos procedimentos foi feita

pesquisa bibliográfica e documental. Para realizar a pesquisa foram selecionados

cinco sujeitos receptores da campanha “Amor seja como for” e que são atuantes no

“Movimento Girassol, amigos na diversidade”, a partir do problema de pesquisa a

escolha foi feita de acordo com as seguintes questões: Quem conhece mais sobre o

problema? Quem pode legitimar as informações com outro ponto de vista ou de

maneira mais crítica? As técnicas utilizadas durante as entrevistas foram observação e

entrevista semiestruturada. Para a análise de conteúdo, com posse do conteúdo das

entrevistas, realizada a “análise categorial” que, funciona por operações de

desmembramento do texto em categorias. A análise categorial será temática,

Page 80: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

79

construindo as categorias conforme os temas que emergem das entrevistas. Alguns

dos impasses encontrados para realizar a pesquisa, são a falta de dados quantitativos

de violência homofóbica, na cidade de São Borja-RS. Isto dá margem para realizar

uma pesquisa qualitativa com um público que foi vitima de violência ou é uma vitima

em potencial. Também a falta de referências teóricas sobre cultura LGBT no interior do

Rio Grande do Sul, mas precisamente no contexto de fronteira oeste. Por se tratar de

uma cidade do interior, que cultiva seus valores tradicionalistas encontramos algumas

dificuldades para encontrar os dados de violência, que geralmente quando registrados,

não são especificados como violência homofóbica.

Page 81: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

80

Ética e democracia de acesso na pesquisa e historiografia do Cinema Brasileiro

Juliano Rodrigues Pimentel

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo Pesquiso a história do cinema brasileiro e a possibilidade da construção de um

conceito que dê conta de formulações estéticas e estilísticas ainda não mapeadas.

Lido com teorias da narrativa, filosofia do existencialismo e produção cultural. Após um

semestre no doutorado me dei conta de problemas não previstos e que afetaram

duramente o rumo da pesquisa. Ao buscar por cópias dos filmes que gostaria de

analisar, percebi que sites como Youtube e Vimeo constituem um possível arquivo ou

acervo digital e absolutamente democrático da história do cinema brasileiro. No meu

ponto de partida olhava para filmes estocados em depósitos físicos de difícil acesso.

Hoje, não sei bem como lidar com esta construção de um panorama histórico e digital

do nosso cinema. As buscas pelos filmes trazem inúmeros resultados fragmentados,

desconexos, dispersos por associações diversas, mas que também trazem em si

filmes raros e na sua totalidade. Frente a isso, como podemos valorizar, através do

nosso esforço acadêmico, a popularização do acesso à esses elementos importantes

da nossa própria história cultural? Como legitimar um panorama histórico digital frente

a legitimação austera que a bibliografia impressa impõe? Não apenas impõe, mas

também constrói de maneira diferente? Ao ponto de que em sala de aula informo uma

possibilidade para um aluno, que rapidamente verifica no youtube sua própria versão

de um conjunto de vídeos que compõe o mesmo momento histórico que eu tento

ensinar? Talvez o panorama histórico digital não seja, de fato, menos legítimo. Quiçá

menos organizado, ou menos contextualizado, mas não sei se podemos defende-lo

como menos histórico. A teoria que é feita pelos historiadores do cinema brasileiro não

contempla a realidade dos novos espectadores, nem seus hábitos de consumo da

própria história do cinema brasileiro. A disponibilidade de acesso aos filmes

encontrados fala historicamente sobre dois momentos: 1) sobre a existência e

características de um momento passado; 2) sobre a acessibilidade e resgate histórico

de um momento presente. Outro problema que nasce aí é de ordem ética (embora

esteja também relacionado com o processo de legitimação). As cópias digitais dos

repositórios Youtube e Vimeo não são tributadas, na sua maioria. Como equacionar na

pesquisa o meu próprio ato de pirataria, já que não possuo cópia original de todos os

filmes que analiso? Vejo muitos textos sobre cinema, mas nunca vi alguém dizer que

pirateou os filmes que analisou. É impossível, dentro da realidade brasileira, pensar

Page 82: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

81

uma educação estética voltada para o audiovisual sem contemplar a pirataria. Eu

tenho estas dúvidas. Tenho outras também. E tenho um desejo de poder falar sobre

elas sem julgamentos ou constrangimentos que surgem quando os temas afetam

posicionamentos morais das pessoas (sobre a pirataria na academia, e isso que nem

toquei no assunto dos pdfs…). Eu quero poder dizer que as tecnologias digitais

democratizam produção e distribuição do audiovisual, constroem um panorama

histórico democrático, mas, ao fazer tudo isso, também trazem inúmeros problemas

que podem fazer muito bem pra academia se nós tivermos coragem de olhar pra eles

e falar deles com honestidade.

Page 83: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

82

Fernandão: a complexidade na morte do ídolo e o surgimento do Mito

Bruna Provenzano

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Resumo Na madrugada de 7 de junho de 2014, a queda de um helicóptero vitimou fatalmente

Fernando Lúcio da Costa, o Fernandão. A morte prematura e trágica de um ídolo do

futebol gerou comoção entre torcedores, fãs e jornalistas. A cobertura da morte do ex-

atleta ocupou muitas páginas de jornais que dedicaram espaço para tratar da perda

daquele que foi um dos mais importantes jogadores da história do Rio Grande do Sul.

Como projeto de dissertação de mestrado, buscamos desvelar aspectos obtusos

nestas coberturas e entender a conotação destas produções jornalísticas. Para

realizar este estudo, utilizaremos como método o Paradigma da Complexidade, de

Edgar Morin, que propõe a Transdisciplinaridade. Neste conceito, não há barreiras

entre os diferentes teóricos e disciplinas; ao contrário, se propõe, de modo

permanente, o diálogo entre os diferentes saberes. Entendemos este método como

coerente para nos guiar nesta produção visto que o esporte, neste caso o futebol, é

um tema que perpassa distintos aspectos na sociedade contemporânea e, portanto, a

possibilidade de nos nutrirmos de diferentes fontes de conhecimento contribui para a

realização deste estudo. Como Técnica Metodológica, nos guiaremos pela Semiologia,

de Roland Barthes, em sua essência qualitativa, que tem como foco menos o “o quê”,

e mais o “como e o porquê”. Como ciência geral dos signos, a Semiologia pode se

referir não só à linguagem, mas, também a imagens, um dos focos de análise deste

trabalho. Para a definição do corpus, recorremos ao Princípio da Pertinência, que

indica que o pesquisador deve reunir os fenômenos que interessem ao seu ponto de

vista, e escolhemos, como objeto de análise, matérias publicadas pelos jornais Zero

Hora e Correio do Povo. Definimos como Fundamentação Teórica para a realização

da dissertação categorias a priori que nos nortearão neste estudo. São elas Fotografia,

com as subcategorias Studium e Punctum; Fait Divers; Mito e Socioleto. Todas estas

categorias terão como referência as produções de Roland Barthes. Este é nosso ponto

de partida no estudo. Ao mesmo tempo em que o Paradigma da Complexidade nos

instiga a buscar diferentes fontes de conhecimento, é fundamental nos mantermos

centrados nos objetivos da pesquisa. Buscar o equilíbrio entre esta “liberdade” e o foco

do nosso estudo tem sido nosso principal desafio. Quanto mais conhecemos nosso

objeto de estudo, mais percebemos quantos assuntos e esferas fazem parte do seu

universo – a saber: morte, psicanálise, jornalismo esportivo, ídolo, sociedade do

Page 84: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

83

espetáculo, ritos, etc. A Transdisciplinaridade, cerne do Paradigma da Complexidade,

nos permite ir além do olhar simplificado, mas nos exige maturidade para assumir

nosso caráter limitado no que diz respeito à produção de conhecimento. Até que ponto

podemos/devemos andar para não sermos simplórios? Em que ponto

podemos/devemos parar sob pena de não chegarmos a lugar algum? O principal

impasse que encontramos neste momento da pesquisa – em que estamos buscando

as delimitações – diz respeito às possibilidades transdiciplinares que o método

escolhido, o Paradigma da Complexidade, nos oferece. Entendemos ser fundamental

para o desenvolvimento da dissertação a busca pelo equilíbrio. Embora o método nos

ofereça a possibilidade de nos nutrirmos de diferentes fontes de conhecimento,

precisamos definir onde beberemos sob pena de não chegarmos a lugar algum. É

fundamental que tenhamos foco em nosso objetivo, mas sem o equívoco de excluir

nosso objeto de seu contexto – já que o entendemos como complexo – e nem de

termos a pretensão de responder tudo o que se refere a ele, sabedores do nosso limite

enquanto pesquisadores.

Page 85: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

84

Game Design para dispositivos móveis

André Pase

Rodrigo Portes Valente da Silva

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Resumo Com o desenvolvimento dos telefones celulares e tablets, a diversão eletrônica dos

consoles também expandiu suas formas nestes espaços. Mesmo com plataformas

móveis no passado, nestes aparelhos o jogo acompanha o público em diversos

momentos da sua vida. Além disso, seu processo de instalação é todo realizado

digitalmente, guiado por normas das lojas online. Diante disso, esta pesquisa busca

reflete as dificuldades enfrentadas para pesquisar um objeto em constante

aprimoramento nas suas características e nas propriedades do meio utilizado, além da

necessidade constante da atenção do jogador para operar e, por consequência, atingir

a sua rentabilidade. Esta pesquisa tem o objetivo de compreender as características

dos games que podem estar associadas às necessidades da atual economia de

atenção. Como objeto de estudo, foi escolhido um dos principais produtos da empresa

finlandesa Supercell, chamado Clash of Clans. O jogo é um aplicativo gratuito,

disponibilizado nas lojas virtuais da Apple Store e Google Play, para ser usado em

tablets e smartphones. A pesquisa iniciou a partir de dois questionamentos: a) como

jogos digitais gratuitos voltados para o estímulo e retenção da atenção nos tablets e

smartphones podem transformar a indústria do videogame? b) seria possível observar

características da produção de um jogo que denotam valor para a indústria cultural?

Considerando as tecnologias móveis de comunicação, foram identificados os valores

para captar e reter a atenção dos públicos em um contexto de excesso de informação,

mas também de muita dispersão. Nesse ensejo, foram observadas as características

dos games, considerados um dos produtos culturais mais rentáveis na era do

ciberespaço. Assim, para a análise do game Clash of Clans, foi criado um modelo

híbrido de game design, a partir dos autores Jeannie Novak e Jesse Schell,

combinado com as observações de John Beck e Thomas Davenport sobre o

gerenciamento de atenção. Isto decorre do fato dos jogos mobiles contarem muitas

vezes com dinâmicas específicas e ausência de narrativas, fatos que dificultam

análises tradicionais. Esta amálgama foi realizada com o auxílio das ideias de Edgar

Morin e Howard Rheingold para auxiliar na compreensão da comunicação móvel

atualmente. Nos aspectos metodológicos, foram identificadas as amostras do estudo e

as categorias de análise, utilizando como tratamento de dados a descrição do

Page 86: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

85

gameplay e das imagens do jogo. Por fim, foram apresentados os resultados obtidos,

que identificaram características convergentes entre os games e o atual contexto da

comunicação, que podem tornar lucrativo o processo de captar e reter a atenção dos

seus públicos. A estratégia utilizada mostrou-se válida ao longo da pesquisa, pois

valorizou os aspectos necessários para a compreensão de um jogo importante para a

compreensão deste cenário.”

Tema Em um contexto contemporâneo que valoriza a economia de Atenção, o estudo do

Game Design de jogos digitais para dispositivos móveis requer análises que

combinam diferentes elementos.

Objeto de pesquisa Clash of Clans, game gratuito para dispositivos móveis.

Problema Como jogos digitais gratuitos voltados para o estímulo e retenção da atenção nos

tablets e smartphones podem denotar valor para a indústria cultural contemporânea?

Filiação teórica Para a compreensão do objeto, e consequente pesquisa, foram utilizados diferentes

autores. Para discutir conceitos sobre produto cultural, foi resgatado o olhar de Edgar

Morin. O olhar sobre os dispositivos móveis contou com as observações de Howard

Rheingold. Para os momentos mais importantes, o olhar sobre o objeto “jogo para

dispositivos móveis”, foram resgatados Larissa Hjorth, Jeannie Novak e Jesse Schell

na construção do aporte teórico sobre game design, seguido por John Beck e Thomas

Davenport sobre a Economia de Atenção.

Impasses atuais Na pesquisa atual foi elaborado um Game Design híbrido para estudar um game

gratuito para dispositivos móveis. Mas, como devem observados os aplicativos para as

plataformas móveis? Quais metodologias podem contribuir para a investigação de um

objeto desenvolvido para uma plataforma que está em constante transformação?

Quais características devem ser mapeadas?

Page 87: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

86

Interfaces da Memória Social: o estatuto da memória social na era das redes computacionais, um estudo de caso do Acervo Digital Bar Ocidente no

Facebook

Priscila Chagas Oliveira

Universidade Federal de Pelotas

João Fernando Igansi Nunes

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Resumo Inserida no programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural,

nível Mestrado, da Universidade Federal de Pelotas, a pesquisa nasceu no contexto

da emergência da linguagem eletrônica. Circunscreve-se na ubiquidade das redes

computacionais e na reconhecida Information and Communications Technology (ICT).

Tal contexto alterou profundamente a sociedade, seja por suas velocidades de

conexão que modificam nossa relação com o tempo e o espaço ou pelas

circunstâncias dos seus atuais modelos de produção, distribuição e acesso da

informação. Neste sentido, o sociólogo Pierre Lévy já sinalizava em sua obra

Tecnologias da Inteligência (1993) que a sociedade se encontra condicionada, mas

não determinada, pelas tecnologias intelectuais. Lévy (1993), Lemos (2007) e

Santaella (2003) falam de uma Cultura Digital ou Cibercultura para evidenciar essas

diferentes formas de interação e de sociabilidade que emergem com o surgimento das

tecnologias intelectuais computacionais: as relações sociais tornam-se cíbridas, os

saberes (inteligências) são distribuídos eletronicamente, e a construção do

conhecimento se dá de forma colaborativa e em rede e, por conseguinte, os processos

memoriais são reconfigurados no ciberespaço. Se antes falávamos de uma

reprodutibilidade técnica e perda da aura (BENJAMIM, 1990), hoje há uma replicação

da matriz pois “graças à digitalização e compressão dos dados, todo e qualquer tipo

de signo pode ser recebido, estocado, tratado e difundido, via computador”

(SANTAELLA, 2003, p. 71), através da mesma linguagem universal. Assim, percebe-

se uma crescente criação e/ou adaptação de diversos museus, bibliotecas e acervos

para o meio digital, transcritos para a linguagem eletrônica. Dessa maneira,

acreditamos que refletir sobre o impacto da Internet como depositária desses dados

(informações) que se constituem, a partir da lógica das redes sociais, como memórias

da humanidade, permite-nos explorar as dinâmicas que surgem nas relações online

entre os sujeitos e as imagens digitais, a partir das tecnologias da inteligência e de

Page 88: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

87

suas interfaces culturais (MANOVICH, 1997). É a partir desse contexto que esta

pesquisa busca responder a seguinte questão/reflexão: Qual a condição, e futuro

breve, da memória social na era das redes computacionais a partir do conjunto de

imagens digitais disponibilizadas em mídias sociais? Para chegar ao objetivo geral de

se compreender as características (estrutura, atributos de funcionamento e linguagem)

da mídia social como potência e interface da memória social, utilizar-se-á uma

abordagem qualitativa, propondo como estudo de caso as “postagens” e os

compartilhamentos de imagens digitais na unidade de análise escolhida, a fanpage

do Acervo Digital Bar Ocidente na mídia social Facebook.

Impasses atuais Os principais empasses encontrados dizem respeito aos procedimentos metodológicos

que ainda estão em fase de construção. Até o momento definimos como instrumentos

e técnicas a pesquisa bibliográfica a observação direta não participante e a análise de

conteúdo das narrativas visuais e textuais firmadas na referida fanpage, atentando

para o seu caráter denotativo e conotativo. Outras questões que surgiram referem-se à

possibilidade de categorizar o conjunto de imagens digitais e suas respectivas

narrativas (visuais e textuais) como uma coleção patrimonial, e a própria mídia social

como potência e interface da memória social.

Page 89: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

88

Imagens Abismadas: O Filme do Vídeo

Jamer Guterres Mello

Julia Soares

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo O problema de pesquisa que aqui se apresenta será desenvolvido na monografia de

conclusão de graduação na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul no final do segundo semestre do corrente

ano. Provisoriamente sob o título de Imagens Abismadas: o filme do vídeo, o trabalho

se dedicará a estudar os projetos Vídeo nas Aldeias e Inventar com a Diferença –

Cinema e Direitos Humanos, sob as perspectivas teóricas de Jacques Rancière, pelas

noções de regime estético e partilha do sensível, e Félix Guattari, com o conceito de

agenciamentos coletivos de enunciação, a partir do que os autores propõem para

pensar as relações entre estética e política. Compreendendo a partilha do sensível

como uma realização capaz de sensibilizar novos recortes nas formas de ver, de fazer

e de sentir as imagens do mundo – que estão tanto na literatura, quanto nas artes

visuais ou nas formas de vida – e os agenciamentos coletivos de enunciação como a

concretização de novos possíveis – textos, territórios, conceitos, linguagens, escrituras

sensíveis – esta monografia vai problematizar os projetos VNA e ID como processos

precários (BENTES, 2007) e perguntar-se: de que forma esses processos precários

partilham o sensível? Para tanto, consideramos que o ambiente no qual ocorrem

essas experiências de produção audiovisual é tensionado, por um lado, pela

democratização de sua infraestrutura tecnológica – os aparelhos de captação e edição

de som e imagem e as redes que hospedam, exibem e distribuem essas obras, os

projetos de formação em audiovisual que acontecem fora dos ambientes corporativos,

mercadológicos ou estritamente acadêmicos – e, por outro, atravessado por diferentes

ordens: regimes de imagem e processos de subjetividade. Tendo em vista estes

aspectos e singularidades que circundam o objeto empírico, será feita uma discussão

sobre os conceitos de coletivo e de redes de forma transversal às noções de

agenciamento coletivo de enunciação e regime estético e à produção acadêmica

brasileira de Comunicação Social que se defronta com as questões do precariado e do

capitalismo cognitivo, a fim de contribuir com esses debates, dar suporte às

expressões constituição estética e processos precários, explorando este conceito a

partir do cinema como uma experimentação constante e contingente, que interroga o

aspecto profissional e industrial que também é presente neste campo. Atualmente, a

Page 90: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

89

pesquisa está em fase de sistematização das leituras até aqui indicadas e de revisão

bibliográfica de trabalhos realizados nos campos da Comunicação e do Cinema sobre

os projetos VNA e ID, tendo encontrado nas ideias de antecampo, performatividade

das imagens e mise-en-abyme da cultura uma interlocução com os marcos teóricos da

monografia, cujas definições também estabelecem relações entre si: são redes,

acontecimentos e reflexões que só surgem em função da existência do filme.

Entretanto, os princípios metodológicos que se desenham nas interseções entre os

conceitos, os textos e as discussões que serão operadas, ainda não apontaram algum

tipo de critério que possa fazer um recorte no objeto empírico e uma delimitação de

corpus, sendo essa a principal questão a ser encarada nos próximos passos deste

estudo.

Page 91: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

90

Impasses e dificuldades da Aplicação do Método Fotoetnotextográfico

Carlos Leonardo Coelho Recuero

Universidade Católica de Pelotas

Resumo A construção e o desenvolvimento do método Fotoetnotextográfico exige um empenho

do pesquisador no sentido de estabelecer uma ligação da imagem e do texto de forma

que se tornem “falantes” e não que funcionem como apêndice um do outro durante a

descrição de comunidades. Assim, uma das principais caraterísticas deste

procedimento, é a construção e a atribuição de igual importância tanto à imagem,

quanto ao texto no decorrer de toda a pesquisa. Desse modo, como qualquer outra

metodologia, a Fotoetnotextografia apresenta dificuldades que merecem ser refletidas.

Os principais problemas que surgem são da ordem da construção da pesquisa e do

que se quer contar e mostrar durante o processo de aplicação do método. Buscar a

realização de fotografias que falem sobre o etnográfico, sobre a situação e a cultura

vivenciada, exige uma inserção durante a observação participante que não implica em

apenas participar, mas também em um empenho e uma dedicação maior no sentido

da realização das (boas) fotografias. Isso supõe um domínio da técnica fotográfica e

um prévio conhecimento do que se quer fazer e falar por meio das imagens. Caso

contrário, o momento decisivo pode ser perdido, reservando apenas às palavras a

descrição da situação. Do mesmo modo, ocasiões podem ser perdidas pela posição

do pesquisador que (em certos períodos) “sai da aldeia” para ser “o fotógrafo”, assim

como quando simplesmente participa da comunidade, vivencia e imerge em seus

acontecimentos, podendo perder, assim, boas imagens. Com isso, dificuldades no

executar as técnicas, na clara posição e lugar que deve ser assumido na

Fotoetnotextografia, são realidades constantes enfrentadas pelo pesquisador. Afinal,

como superar estes impasses que surgem na aplicação da Fotoetnotextografia sem

comprometer o bom andamento da metodologia e a descrição fidedigna de

comunidades e suas culturas? Além disso, no processo de descrição na pesquisa, o

fazer da imagem um discurso científico, sem associá-la à função da ilustração ou

mesmo do “anexo” ou “figura”, ainda é uma tarefa complicada e não bem vista pelas

normas e artigos acadêmicos, o que complica a consolidação e aplicação da

metodologia como prática comum nas Ciências Sociais. Para a imagem valer e ter o

peso das palavras no trabalho (assim como estar associada adequadamente a elas),

novamente a técnica fotográfica é solicitada, o que exige de um fotoetnógrafo, um

conhecimento que vai além das tradicionais aplicações da etnografia. Como se sabe,

Page 92: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

91

porém, as imagens produzem uma linguagem universal que pode ser interpretadas em

diferentes circunstâncias, produzindo diferentes sentidos aos olhos de quem as

percebe. Portanto, diferente do texto que sinaliza os caminhos (por meio das palavras

escolhidas no discurso) ao qual o leitor deve compreender, a imagem (ainda que

associada a ele) permite um reinterpretar que nem sempre pode estar associado à

visão desenvolvida pelo pesquisador. Assim, diferentes impasses, dúvidas e

incertezas surgem e merecem ser discutidas para um melhor andamento e correta

aplicação desta metodologia de pesquisa que mescla a etnografia e a fotografia.

Objeto de pesquisa O método Fotoetnotextográfico aplicado à comunidades.

Problema Como superar certos impasses que surgem na aplicação da Fotoetnotextografia sem

comprometer o bom andamento da metodologia e a descrição fidedigna de

comunidades e suas culturas?

Filiação teórica FOTOETNOTEXTOGRAFIA: * ACHUTTI, Luiz Eduardo Robson. * COLLIER JR., John.

* DIEGUES, Régis. * GEERTZ, Clifford. * HINE, Lewis. * LÉVY-STRAUSS. *

MALONOWSKI, Bronislaw.* MAUSS, Marcel. FOTOGRAFIA: * AUMONT, Jacques. *

BATESON, Gregory e MEAD, Margaret. * BERGER, John. * FLUSSER, Vilém. *

FREUND, Gisèle. * SONTAG, Susan.

Impasses atuais * Como registrar momentos na Fotoetnotextografia sem ser deslocado da aldeia ou

mesmo afetar o seu andamento natural?

* Como atuar como observador participante e fotógrafo na construção de uma

descrição textual e imagética sem “perder” possíveis elementos fundamentais das

comunidades analisadas?

* Como associar às imagens igual importância ao texto no próprio artigo acadêmico,

ausentando-se das tradicionais normas de “figuras” ou “anexos” que são atribuídos às

imagens na pesquisa científica?

* Como construir uma pesquisa científica onde a imagem e o texto adquirem igual

importância na descrição densa de grupos sociais, como na Fotoetnotextografia?

Page 93: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

92

* Como trabalhar na produção de um entendimento do leitor associado à compreensão

que o autor visa passar por meio do uso de imagens, sendo que estas possuem uma

linguagem, por vezes, subjetiva?

Page 94: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

93

Impasses no Estudo dos Movimentos Sociocomunicativos de Ativistas Engajados na Luta Contra o Câncer de Mama

Thais Costa Cardoso Soares

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo Na contemporaneidade, a articulação dos movimentos sociais com as mídias se

tornou fundamental para inserir suas demandas na agenda social. Da mesma forma,

comunicação digital se apresenta como espaço propício para a formação de redes e

potencializa as formas de representação e ação para transformação social. A cada dia,

ampliam-se as possibilidades para que os movimentos sociais criem e estruturem seus

próprios espaços comunicacionais digitais, oferecendo novas formas de atuação e

mobilização para seus ativistas. Neste sentido, esta pesquisa se propôs a analisar os

meios de comunicação digital desenvolvidos pela FEMAMA, com foco no processo

comunicacional, a fim de identificar a construção de vínculos entre os sujeitos e as

possibilidades de exercício da cidadania, oportunizada por essas tecnologias. A

FEMAMA (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da

Mama) é uma coalizão organizações não governamentais brasileiras, que busca

reduzir os índices de mortalidade por câncer de mama no Brasil, atuando na

articulação de uma agenda nacional única para influenciar a formulação de políticas

públicas de atenção à saúde da mulher. Através da análise e observação sistemática

do portal da organização na internet, foi possível perceber que estes espaços

comunicacionais tem potencial para suscitar e ampliar o debate acerca do direito à

saúde, possibilitando o exercício da cidadania comunicativa, principalmente entre os

membros da organização, contribuindo para a formação de vínculos identitários entre

ativistas envolvidos com a temática do câncer de mama. No entanto, verificou-se que

os espaços comunicacionais digitais, desenvolvidos pela organização, oferecem

poucos recursos para o diálogo com o público, apresentando pouca interatividade e

participação dos usuários no portal. Da mesma forma, a estética, a linguagem e o

formato do portal tendem a analogizar as lógicas das mídias tradicionais, na tentativa

de acionar os contratos de leitura que o público mantém com essas mídias. Nesse

sentido, o caso da FEMAMA se torna representativo de um paradoxo comunicacional

contemporâneo, no qual as lógicas das mídias hegemônicas tradicionais continuam a

dominar os processos produtivos, mesmo com todas as possibilidades de inovação e

ruptura atualmente disponíveis. Do mesmo modo, percebe-se que na medida em que

esses movimentos sociais se institucionalizam, formando organizações, cresce sua

Page 95: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

94

necessidade de fixação no tempo, o que se evidencia na maneira com que se

apresentam no ambiente digital e em suas formas de enunciação. Contudo, a busca

pela permanência, característica das instituições entra em conflito com o imediatismo

e aceleração do tempo, próprios da internet, configurando-se em grandes desafios

comunicacionais para as organizações sociais, como a FEMAMA.

Problema Como os processos comunicacionais digitais estabelecidos entre a FEMAMA e suas

ativistas, engajadas na luta contra o câncer de mama, promovem práticas de

cidadania comunicativa e a construção de vínculos identitários?

Filiação teórica Acerca da noção de cidadania a pesquisa se debruça em autores como Cortina

(2010), Cogo (2010), Peruzzo (2010; 2012), Lacerda (2013; 2014), que entendem que

esse conceito integra exigências por justiça e sentimentos de pertença, não se

limitando, a reivindicações por bens imprescindíveis a sobrevivência, mas se

estendendo a aceitação e a inclusão social, tecnológica e comunicacional. No que diz

respeito ao conceito de identidade, a investigação toma a perspectiva de Hall (1997;

2009), Canclini (1998), Goffman (1992), de que a identificação não é singular e nem

automática, mas híbrida, podendo mudar de acordo com a forma com os sujeitos são

representados ou interpelados, bem como, ser perdida ou ganhada ao longo da vida

de acordo com as interações sociais de cada sujeito. Cabe esclarecer, também, que

as reflexões sobre a internet como espaço comunicacional, consideram não só a

rapidez do desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação digitais, mas

também o modo desigual com que esses recursos são acessados. Da mesma forma,

entende-se que o aumento das possibilidades de participação no debate público não é

determinado exclusivamente pelo desenvolvimento de novas tecnologias, mas pelos

usos sociais que são dados a essas tecnologias. (FRAGOSO; MALDONADO, 2009).

Impasses atuais Entender como as organizações da sociedade civil podem conciliar suas lógicas

institucionais de permanência com as lógicas de aceleração e imediatismo da internet,

no desenvolvimento de processos comunicacionais dialógicos que possibilitem o

exercício da cidadania comunicativa e construção de vínculos identitários. Buscar uma

combinação de procedimentos metodológicos que permitam verificar os usos e

apropriações que esses ativistas fazem dos espaços comunicacionais desenvolvidos

pela organização, já que as formas de enunciação da organização e os discursos dos

Page 96: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

95

ativistas não deixaram rastros para a investigação das suas práticas identitárias e

cidadãs. Através das análises realizadas até o momento foi possível perceber que os

espaços comunicacionais digitais, desenvolvidos pela organização, tem potencial para

suscitar e ampliar o debate acerca do direito à saúde, possibilitando o exercício da

cidadania comunicativa. No entanto, verificou-se que estes espaços comunicacionais

oferecem poucos recursos para o diálogo com o público, apresentando poucas

possibilidades de interação e participação. Da mesma forma, as entrevistas em curso,

apontam pouca identificação das ativistas com o portal, bem como, com as

campanhas desenvolvidas pela FEMAMA. Segundo as entrevistadas, o processo de

planejamento e desenvolvimento desses espaços digitais e campanhas não é aberto

para participação e deliberação coletiva. Ao se sentirem excluídas do processo de

tomada de decisão, as ativistas associadas a organização perdem o vínculo e o

interesse nesses espaços comunicacionais. No entanto, continuam atuando

politicamente em rede e se organizando prioritariamente através da internet. Logo, o

impasse atual da pesquisa é identificar as plataformas de interação no ambiente digital

utilizadas por estes grupos para se manterem organizados e atuantes, para além dos

espaços digitais formalmente construídos pela organização.

Page 97: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

96

Jornalismo e Teoria Ator-Rede: possibilidades e limites do princípio da simetria a partir da verificação digital

Moreno Cruz Osório

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo Neste momento, meu projeto inicial de tese está sendo reestruturado mas a ideia é

trabalhar com jornalismo digital, em tempo real, em rede e um momento bastante

específico da cobertura online: o breaking news. A complexidade de noticiar um fato

urgente em um ambiente de rede. Embora a pergunta que pretendo responder ainda

esteja em construção, posso afirmar que ela gira em torno da relação do jornalismo

com o conceito ainda a ser definido de breaking news. Ou seja, como o jornalismo,

pensado como sistema, se comporta em uma situação da explosão de uma notícia

urgente, em tempo real e em rede. Pensar nessa relação implica levar em conta a

convivência do jornalismo com outros atores não-jornalísticos (público, fontes, robôs,

sistemas, empresas, outras organizações jornalísticas, governos, figuras públicas, etc)

que influenciam diretamente e decisivamente na construção da realidade neste

momento especialmente efêmero que é o breaking news online. Se eu tivesse que

resumir o que a minha pesquisa tenta responder em uma pergunta, ela seria: o que é

o breaking news online para o jornalismo? Para tentar responder a esta pergunta,

alguns pontos precisam ser desenvolvidos. No momento, enxergo três grandes

tópicos. O primeiro é trabalhar o conceito de breaking news. Isso será feito

principalmente a partir de uma revisão bibliográfica dos trabalhos de jornalismo digital

e em rede publicados nos últimos anos. O segundo é a metodologia. A minha trajetória

até aqui indica que a Teoria Ator-Rede pode ser uma boa alternativa pela sua

capacidade de delinear o social a partir da relação entre os atores. Observar um

breaking news jornalísticos à luz da TAR pode ajudar a enxergar o jornalismo como

algo imaterial, que se dá a partir da relação do sistema jornalismo com os outros

atores que participam e influenciam a construção da realidade em um breaking news.

O terceiro tópico seria a análise de um (ou vários) breaking news (ataques terroristas,

acidentes aéreos, fenômenos naturais). Nesse momento eu tentaria mapear (a partir

da técnica de cartografia) a evolução de um breaking news através do tempo (eu gosto

de usar a metáfora de uma explosão), cujo objetivo seria tentar observar os

pressupostos teóricos desenvolvidos nos dois primeiros tópicos. Assim, respondendo

a pergunta: o que é um breaking news para o jornalismo? Trata-se de um constructo

teórico que vai buscar delinear o breaking news como um momento específico do

Page 98: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

97

jornalismo realizado em redes digitais. Os seus contornos ainda não estão nítidos, ou

seja, ele ainda não existe. Mas pretendo desvelá-lo a partir do desenvolvimento de

uma reflexão desse determinado momento de atuação do jornalismo, utilizando, para

isso, as teorias do acontecimento, as práticas jornalísticas em ambiente digital e os

códigos deontológicos do jornalismo, todos sendo ‘confrontados’ por outros sistemas

de significação (não-jornalísticos) que atuam em rede durante tal momento. O que é o

breaking news online para o jornalismo? No momento, estou trabalhando com a Teoria

Ator-Rede, especialmente Latour e os pesquisadores brasileiros da área de

comunicação/jornalismo que vêm interpretando as reflexões do sociólogo francês à luz

da área. Também venho observando autores que têm se dedicado às mudanças

recentes no jornalismo (Daniela Bertocchi, Suzana Barbosa, Luciana Mielniczuk, etc),

seja na estrutura da notícia, seja nas práticas profissionais (muitos artigos publicados

na Journalism Practice), seja sob um viés teórico-epistemológico (Ronaldo Henn,

Gislene Silva, Carlos Franciscato, Eduardo Meditsch, Adelmo Genro Filho, Miquel

Alsina). Em função do meu tema de pesquisa, tenho me aproximado bastante das

teorias do acontecimento, principalmente por meio da coleção Jornalismo e

Acontecimento, mas também a partir de vieses mais basilares, como Louis Queré e

Adriano Rodrigues. São dois, basicamente. Ambos decorrentes do uso (ou não) da

Teoria Ator-Rede como base teórico-metodológica da pesquisa. O primeiro decorre do

posicionamento ontológico da TAR em relação à sociologia. Entendo que adotar os

pressupostos da TAR pressupõe assumir algumas posturas em relação à definição de

social que parecem um desafio grande demais, mesmo para uma tese de doutorado.

Em relação a isso, o impasse maior é a dúvida em relação a um possível

protagonismo de atores não-humanos no fazer jornalístico. Até onde é possível

desenvolver uma reflexão a respeito sem deixar de lado o caráter humanista do

jornalismo – no sentido de ser um agente capaz de promover transformações na

sociedade. Como o jornalismo pode afirmar o humanismo a partir de uma construção

teórica que parece negar o humanismo (segundo diz Latour). O segundo impasse

emerge a partir do momento em que se adota a TAR como pressupostos

metodológicos na pesquisa empírica. Ou seja, como realizar a pesquisa empírica a

partir dos pressupostos da TAR, visto que ela têm demonstrado fragilidades (no

sentido de ser evasiva demais)?

Page 99: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

98

Juventude conectada: uma etnografia dos usos e apropriações de telefones celulares como mediador tecnoafetivo

Romulo Tondo

Universidade Federal de Santa Maria

Resumo O estudo em questão tem como objetivo investigar o consumo de smartphones entre

os jovens moradores do Jardim Aurora (os nomes usados essa pesquisa são fictícios

para preservar a identidade dos interlocutores), bairro popular localizado na zona

oeste de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Nesta pesquisa, o consumo é

compreendido através da Cultura Material e da importância que os objetos possuem

na construção do cotidiano de cada sujeito. Dessa forma, optou-se por um estudo de

caráter qualitativo, o estudo etnográfico, para compreender como esses jovens, com

idade entre 15 e 29 anos, utilizam o telefone celular para a manutenção e construção

de suas redes de sociabilidade, tendo como enfoque principal questões relacionadas a

construção das relações afetivas com e através do dispositivo móvel. As atividades de

campo desta investigação iniciaram em março de 2014, com a aproximação com os

jovens da comunidade através de uma atividade de cunho educativo e cultural na

escola Anita Garibaldi, dividida em três momentos: a aplicação de um questionário e a

observação dos níveis de acesso e usos e apropriações das tecnologias pelos

estudantes, a desconstrução da mídia e a construção de um ambiente

educomunicativo e a utilização do telefone celular como recurso pedagógico na

construção do olhar desses jovens sobre as experiências na comunidade, através da

captação de imagens de pessoas, paisagens urbanas e afetividades relacionadas com

a comunidade escolar. Em janeiro de 2015, ocorreu a imersão no campo, com intuito

de compreender melhor a posse e o consumo do telefone celular pelos jovens. Para

tanto, foi utilizada, como método principal, a observação participante, sendo possível,

através da convivência com os jovens e seus familiares, perceber a importância do

dispositivo na vida cotidiana. Neste momento, a pesquisa encontra-se em fase da

coleta de dados etnográficos, as entrevistas, sendo possível, através dos diálogos

informais e formais (utilizando-se a entrevista semiestruturada), perceber a relevância

dos smartphones na manutenção das redes de sociabilidade (re)construídas por esses

jovens através do dispositivo, bem como o tensionamento provocado pelos usos e

apropriações dos telefones celulares nas diferentes idades que abarca esta pesquisa.

Observa-se também que o dispositivo é responsável por mediar grande parte do

cotidiano desses jovens, bem como torna-se um dispositivo técnico-afetivo

Page 100: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

99

indispensável para esses jovens na construção de suas conexões online e off-line.

Nesse cenário apresentado, como trabalhar com o grande fluxo de dados etnográficos

obtidos na pesquisa de campo? Como sistematizar esses dados sem perder a

sensibilidade proveniente das relações construídas através do estudo etnográfico?

Tema Consumo de telefones celulares por jovens de comunidade popular.

Objeto de pesquisa Telefones celulares – Smartphones

Problema Entender como o consumo cotidiano do smartphone, através de seus usos e

apropriações, pode ser compreendido na construção e manutenção das redes de

sociabilidade dos jovens moradores do Jardim Aurora.

Filiação teórica Antropologia do Consumo; Cultura Material; Estudo Etnográfico.

Impasses atuais 1) Grande fluxo de dados etnográficos obtidos na atividade de campo (na

comunidade e em sites de rede social e comunicador instantâneo). a. Como pensar a

estruturação e cruzamento de dados sem perder a essência de cada dos dados? b. A

pesquisa de campo ainda está em desenvolvimento. Como trabalhar com a questão

do afastamento do pesquisador do campo? 2) Os dados etnográficos em ambiente

virtual (site de redes sociais e mensagens enviadas através de comunicador) a. Como

trabalhar a quantidade de publicações diante de uma pesquisa qualitativa? Quantas

publicações devem ser analisadas para compor um cenário ideal diante do grande

fluxo de informação pertinente de cada interlocutor. b. Como trabalhar dados

provenientes de comunicadores instantâneos (como mensagens do Whatsapp ou

Messenger do Facebook).

Page 101: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

100

Kindle Unlimited: Mudanças no consumo de livros, a partir da convergência midiática, no mercado editorial

Gabrielle Baratto Adolfo

Universidade Federal de Santa Maria

Resumo Este projeto visa apresentar um estudo sobre o Kindle Unilimited, desenvolvido pela

empresa Amazon, serviço que oferece acesso ilimitado a um catálogo de milhares de

ebooks com uma assinatura mensal, de baixo custo comparado a um livro físico.

Assim o projeto visa estudar essa nova modalidade de acesso, pois mescla conceitos

que subordinam a circulação de livros. O objetivo é analisar a recepção do serviço

Kindle Unilimited por parte dos usuários de Kindle Unilimited no Brasil, considerando a

participação em redes sociais. Este estudo justifica-se pela importância da

disseminação da cultura através dos livros online, a partir da concepção que o serviço

de Kindle Unilimited seja um canal mais acessível para consumo de livros. Pesquisa

realizada pela F/Nazca Saatchi & Saatchi (2013) em parceria com o Instituto

Datafolha, mostra que 43 milhões de brasileiros, com mais de 12 anos, navegam pela

internet por meio de dispositivos móveis. Somando o acesso através de tablets e

celulares, o número de brasileiros que se conectam a internet cresceu 22,5% em oito

meses. Assim, podemos entender que mais da metade dos brasileiros já estão

conectados, a internet torna-se, cada vez mais um meio de comunicação de relevância

nos contextos de consumo, tornado também um objeto de importante estudo. Vale

assim destacar a importância da busca pelo novo e o entendimento da recepção

desses novos produtos pela sociedade. A metodologia está baseada na pesquisa

qualitativa do tipo estudo de caso. A coleta de dados será por entrevista semiaberta

online com usuários de Kindle Unilimited que utilizam as redes sociais e aceitarem

participarem da entrevista. O referencial teórico será desenvolvido a partir de autores

como CHARTIER (1999), JENKINS (2008) EPSTEIN (2002) que servirão de base para

esse trabalho ser desenvolvido. Os impasses atuais para desenvolvimento desse

projeto estão presentes no método de pesquisa. Fatores como a abrangência e o

formato de coleta são dúvidas do projeto atual. As redes sociais irão ou não suprir as

necessidades para responder o problema de pesquisa desse projeto? Por que estudar

apenas pessoas que estão presentes em rede social para análise desse projeto? Há

como pesquisar usuários em outro ambiente, fora das redes sociais, como? Perguntas

como essas são impasses que de alguma forma impedem a solução desse trabalho.

Page 102: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

101

Com esse estudo espera-se que seja possível entender as mudanças no consumo

livro, a partir da convergência midiática, no mercado editorial brasileiro.

Filiação teórica CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora

UNESP, 1999. ORG. DUARTE, Jorge. BARROS, Antonio. Métodos e técnicas de

pesquisa em comunicação. 2 ed. 5 Reimpr. São Paulo: Atlas, 2011. EPSTEIN, Jason.

O Negócio do Livro: Passado, Presente e Futuro do Mercado Editorial. Rio de Janeiro:

Record, 2002. F/Nazca Saatchi & Saatchi. Disponível em:

http://www.fnazca.com.br/index.php/2013/12/20/fradar-13%C2%AA-edicao/. Acesso

em: 24 de junho de 2015. JENKINS, Henry. A Cultura da Convergência. São Paulo:

Aleph, 2008. YIN, Robert K. Estudo de Caso: Planejamento e métodos. 2.ed. Porto

Alegre: Bookman, 2001.

Page 103: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

102

Let’s talk about indie partie’s audience: A interação do público de festas indie em Porto Alegre nos Eventos no Facebook

Paola Sartori

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo Este processo de investigação pretende compreender como se dá a interação do

público de festas do gênero indie rock em plataforma digital, no caso, em específico,

nos Eventos no Facebook em festas realizadas na cidade de Porto Alegre e nas

possibilidades de rearranjamentos que estas interações trazem para o cenário indie

rock porto-alegrense. Num total de onze festas – que foram selecionadas a partir de

um recorte de um mês – e que aconteceram no período entre 07 de fevereiro e 07 de

março de 2015, é possível pensar em alguns pontos a partir de uma primeira análise:

1) em como o cenário se constitui e se reconstitui por meio destas interações; 2) na

legitimidade das interações – visto que tal cenário teve início em um período pré

popularização do Facebook; 3) nas afetividades criadas e/ou fortalecidas entre o

público e os produtores/DJ’s, bem como do público para com o próprio público; 4) em

um provável hibridismo cultural (BURKE, 2003) do cenário atual de festas indie rock

em Porto Alegre com a cena eletrônica, pois encontramos agora um certo “culto as

festas” e “culto aos DJ’s” – que pertenceu inicialmente à cena eletrônica – e que hoje

se faz presente dentro de uma cena indie que nasceu na Inglaterra dos anos 1990

(MARQUES apud AMARAL & KEHL, 2013) que cultuava bandas, shows e festivais

alternativos. A análise destes recortes pretende mostrar em como o cenário pode ser

transformado e rearranjado a partir do digital, aqui, em específico os Eventos no

Facebook de festas indie na capital gaúcha. Pensando também em como tal

plataforma pode ajudar no fortalecimento ou enfraquecimento de um cenário

dependendo da forma de como os produtores e público se apropriam da mesma. No

que diz respeito ao processo metodológico desta investigação foram utilizados

determinados procedimentos até este momento: 1) Pesquisa exploratória na categoria

“Eventos” no Facebook (a fim de definir o recorte do objeto pesquisado); 2) Pesquisa

bibliográfica; 3) Grupo Focal Online com produtores e DJ’s pertencentes ao cenário

supracitado. Com o objetivo de obter maior interação e confronto de ideias a cerca do

objeto, o Grupo Focal Online foi criado no Facebook, porém os integrantes se

recusaram em participar, afirmando que não gostariam de expor seus pensamentos e

informações sobre suas festas para outros produtores a quem enxergam nitidamente

como concorrentes; 4) Questionário online aplicados ao público (pessoas escolhidas

Page 104: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

103

pelos critérios de confirmação aos eventos no Facebook e interação nos mesmos).

Entretanto, como tal estudo ainda não foi finalizado, outros métodos de pesquisa não

são descartados para uso futuro.

Page 105: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

104

Livro Digital Interativo: a criação de uma narrativa digital na era dos jogos

Bruna Maria Teixeira

Lorian Moreira de Toledo

Thaís Cristina Martino Sehn

Universidade Federal de Pelotas

Resumo Muitos ebooks são apenas uma cópia exata do livro físico, a matriz que dará origem à

cópia impressa, algo que muitas vezes será até mesmo distorcido pela diagramação

primária de e-readers, como o Kobo e o Kindle (que permitem a alteração do tamanho

das letras, da cor e do tipo). Para tentar quebrar essa uniformidade, será explorado os

recursos do meio digital para a criação de algo que pode considerado uma

“subespécie” dos livros, que convive lado-a-lado com os livros analógicos e os ebooks,

os livros digitais interativos e animados. Criação de um livro digital interativo

diferenciado,utilizando-se de elementos de jogos e propondo-se atrair a atenção e

gosto do público jovem e adulto por meio deste. No processo, seria estudado o

mercado de diversas narrativas digitais, tais como a de Visual Novel e ficção interativa,

adaptando o formato e estrutura, assim como incorporando elementos de jogos de

conteúdo episódicos e narração digital para a criação do livro digital interativo. Muitos

ebooks são apenas uma cópia exata do livro físico, a matriz que dará origem à cópia

impressa, algo que muitas vezes será até mesmo distorcido pela diagramação

primária de e-readers, como o Kobo e o Kindle (que permitem a alteração do tamanho

das letras, da cor e do tipo). Para tentar quebrar essa uniformidade, será explorado os

recursos do meio digital para a criação de algo que pode considerado uma

“subespécie” dos livros, que convive lado-a-lado com os livros analógicos e os ebooks,

os livros digitais interativos e animados.

Tema Estudo de narrativas digitais e elementos de jogos de conteúdo episódicos, de

maneira a incorporar estes à criação de um livro digital interativo que atraia a atenção

do público jovem e adulto.

Problema É possível trazer o livro digital interativo e animado que normalmente utilizado para

crianças para outros gêneros, ampliando o público para abranger igualmente jovens e

adultos?

Page 106: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

105

Filiação teórica MONTFORT, N. Twisty Little Passages: an approach to interactive fiction. Cambridge,

MA.: MIT Press, 2003. SANTOS, M. d. Hiperficção: Novas propostas para a leitura

literária do novo milênio. Pernambuco, Hipertextus, 2010. HAYLES, N. K. Electronic

Literature: New horizons for the literary. Indiana, University of Notre Dame, 2008.

MURRAY, Janet. Hamlet no Holodeck: O Futuro da Narrativa no Ciberespaço. São

Paulo, Itaú Cultural, UNESP, 2003.

Impasses atuais Este trabalho é o trabalho de conclusão de curso do curso de Design da Ufpel, o qual

inclui uma parte prática. Optamos por desenvolver a prática antes da pesquisa, para a

partir dela buscar a teoria. No momento encontra-se problemas com o

desenvolvimento da parte prática do livro, pois as habilidades do grupo não inclui a

parte de ilustração e programação, portanto pensa-se na possibilidade de contatar um

ilustrador. Também ainda não está definido como será desenvolvida a narrativa e

storyboard, tendo que realizar essa tarefa antecipadamente para que o ilustrador

possa realizar esta parte do trabalho. Outro problema é com a estrutura que o livro

será construído, pois propõe-se mesclar a narrativa digital ramificada com

interatividade e imersão do leitor.

Page 107: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

106

Mapeando ecossistemas digitais de entretenimento e a cena jailbreak no Brasil: desafios metodológicos

Rosana Vieira de Souza

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo A presente pesquisa faz parte de um projeto que contempla o cenário de emergência

de ecossistemas digitais de entretenimento, os quais consistem na oferta de solução

integrada entre hardware, software e serviços. Tais configurações estão presentes nos

dispositivos móveis baseados no sistema iOS/Apple (iPod, iPhone, iPad) e serviços

iTunes e iCloud, nos consoles Sony PlayStation/Sony e PlayStation Network (PSN),

bem como no Xbox/Microsoft e serviços Xbox Live, entre outros. Estes ambientes

compartilham uma lógica de operação similar: seu funcionamento é dependente de

uma plataforma de software e de decisões empresariais sobre o hardware, os quais se

integram a um conjunto de outros serviços. O mercado consumidor deverá levar em

consideração, portanto, o modelo de integração operado por uma dada empresa que,

com frequência, está alinhado as suas estratégias de lock-in (aprisionamento) dos

usuários. Por esta razão, há uma crescente complexificação dos processos de

apropriação dos dispositivos computacionais contemporâneos que prometem

segurança e estabilidade em lugar de liberdade para operar tais dispositivos. Diante

desse panorama, estratégias que visam burlar estas mesmas limitações vêm sendo

implementadas por usuários comuns que se utilizam de ferramentas disponibilizadas

pela comunidade hacker para fins diversos. Desde o lançamento da primeira geração

do iPhone, em 2007, são bastante ativas comunidades hackers cujo intuito é oferecer

aos usuários comuns ferramentas que permitem o acesso a áreas específicas dos

dispositivos iOS para modificações não autorizadas pela Apple. A prática é conhecida

como jailbreaking que, em uma tradução livre, significa “livrar-se da prisão”. Em geral,

envolve um conjunto de métodos de hackerismo que habilita a instalação de

aplicativos não permitidos pela Apple em sua App Store, a realização de “mods”

(modificações), ou customização de ícones, ringtones, wallpaper, dock, teclado, bem

como criação de tweaks diversos que visam à personalização dos dispositivos e sua

adequação às necessidades do usuário, entre outros recursos. Nesse sentido,

buscamos identificar em trabalhos anteriores (AMARAL e SOUZA, 2013) de que forma

jailbreakers, em suas práticas de apropriação da plataforma, manifestam resistência

cotidiana, no sentido de De Certeau (1994), aos scripts de uso definidos pela

fabricante. Enquanto aquele estudo buscava compreender, mediante o uso de

Page 108: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

107

pesquisa exploratória e entrevistas em profundidade, a prática do jailbreak em

dispositivos iOS, o segundo trabalho visa a um mapeamento mais aprofundado da

prática e, sobretudo, das interações e articulações que se estabelecem no ambiente

digital permeado por fóruns, sites e plataformas de redes sociais frequentados pelos

jailbreakers, os quais são fundamentais no suporte à manutenção de tais práticas. Os

desafios metodológicos que se apresentam se referem, assim, aos limites deste

mapeamento que busca constituir uma “cena” da prática do jailbreak no Brasil, bem

como à possível dificuldade de acesso às dinâmicas que envolvem esta comunidade.

.

Page 109: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

108

Mediação e agência não-humana em um coletivo de comunicação e jornalismo brasileiro

Leonardo Feltrin Foletto

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo O papel da tecnologia tem sido discutido nos estudos de comunicação e jornalismo,

mas pouco se tem falado sobre a agência não-humana nas múltiplas mediações que

ocorrem na prática comunicativa, em especial no jornalismo. Este trabalho busca uma

aproximação da comunicação e do jornalismo com os estudos da teoria ator-rede

(TAR) para compreender a rede de mediações na produção comunicativa de um

coletivo de comunicação e jornalismo brasileiro. Para isso, o percurso teórico

apresentado considera o contexto atual como o de uma retomada do pensamento

sobre o papel das materialidades nos processos de comunicação (FELINTO, 2013),

perspectiva que recoloca nos processos sociais os objetos técnicos e amplia a noção

de agência para além da ação intencional humana (LATOUR, 1992, 1994; CALLON,

2008; LEMOS, 2013). É uma noção que vai em oposição a ideia dominante na

comunicação e no jornalismo, de uma mídia como idealmente transparente, o que

pressupõe que a mediação precisaria ser inexistente ou inócua (LEMOS, 2013).

Objeto de pesquisa O objeto empírico escolhido para a pesquisa, que está sendo desenvolvida no âmbito

do PPPGCOM da UFRGS em nível de doutorado, foi a Mídia NINJA, coletivo brasileiro

de comunicação e jornalismo criado em março de 2013, a partir da experiência dos

núcleos de comunicação do Fora do Eixo, rede de coletivos político-culturais

espalhada pelo Brasil. A NINJA teve grande visibilidade durante os protestos de junho

de 2013, no Brasil, em especial pela cobertura ao vivo das manifestações que

ocorreram pelo país, todas elas realizadas por dispositivos digitais móveis. Desde

então, continua a registrar (em texto, foto e vídeo) e a cobrir pautas ligadas à cultura,

movimentos sociais, manifestações de rua, política e juventude.

Problema O papel da tecnologia tem sido discutido nos estudos de comunicação e jornalismo,

mas pouco se tem falado sobre a agência não-humana nas múltiplas mediações que

ocorrem na prática comunicativa, em especial no jornalismo. Este trabalho busca uma

aproximação da comunicação e do jornalismo com os estudos da teoria ator-rede

Page 110: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

109

(TAR) para compreender a rede de mediações na produção comunicativa de um

coletivo de comunicação e jornalismo brasileiro, a Mídia NINJA. O problema que move

esta pesquisa é: como se estabelece a rede de mediações entre humanos e objetos

técnicos (não humanos) na ação da Mídia NINJA?

Filiação teórica Este trabalho se filia aos estudos de comunicação, jornalismo e tecnologia a partir do

referencial da Teoria ator-rede (TAR). Originada nos estudos da Sociologia da Ciência

e da Técnica, a TAR surge nos anos 1980, no contexto de alternativas às concepções

estruturalistas e funcionais da ciência. Estas oferecem ora explicações sociais,

baseadas em relações de causa e efeito ocasionadas pelo social isolado do

“fenômeno” a ser analisado, ora essencialistas, centradas no fenômeno a ser

analisado, sem considerar as suas relações sociais, econômicas, culturais, etc. Em

oposição a isso, pesquisadores como Bruno Latour, Michel Callon, Madeleine Akrich e

John Law, entre outros, começaram a defender a ideia de que as inovações científicas

e técnicas não poderiam ser pensadas de forma separada do contexto em que se

inserem e dos atores envolvidos em sua produção. Assim, propõem uma “sociologia

da mobilidade”, que não considera nada do que quer explicar como algo dado (LAW,

1992), e onde a explicação para os fenômenos sociais passa a se dar no fluxo, na

circulação em rede entre os atores envolvidos, sejam eles humanos ou não-humanos.

Segundo André Lemos em “A Comunicação das coisas” (2013), a TAR propõe às

ciências sociais atenção “à dinâmica da formação das associações, aos movimentos

dos agenciamentos, à distribuição da ação entre atores diversos, humanos e não-

humanos, a partir de uma simetria generalizada” (LEMOS, 2013, p.37). Trata-se de

uma perspectiva que questiona o social como algo estável, que possa ser explicado

através de análises fixas que separam os elementos envolvidos: o social como algo

diferente do científico, o local e o contexto de um laboratório das ações ali passadas,

como exemplifica Latour em um de seus primeiros trabalhos – “A vida de laboratório: a

produção dos fatos científicos”. A TAR busca “reagregar o social” ao colocar os

fenômenos como consequência de associações diversas de pesquisadores e objetos

em redes complexas e não propor qualquer definição rígida que possa ser aplicada em

todas as situações (LEMOS, 2013, p.39). Os apontamentos da TAR oferecem um

repertório importante para a reconfiguração do que é um agente na ação comunicativa

e para o entendimento sobre mediação hoje. Particularmente, ao trazer a ideia de que

não se pode compreender o processo de comunicação sem levar em consideração as

materialidades e os objetos não-humanos (CALLON, 2008), a TAR pode nos ajudar

também a entender o papel dos objetos na mediação jornalística, papel que tem sido

Page 111: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

110

deixado de lado nos estudos do jornalismo por estes adotarem uma perspectiva

determinista do que o jornalismo deveria ser, e não aquilo que a realidade mostra que

ele é (PRIMO & ZAGO, 2015). O resultado é que estes estudos acabam por ignorar as

múltiplas mediações que tem atravessado a mediação jornalística (ARCE,

ALZAMORA, SALGADO, 2014), especialmente com o advento da internet, e o papel

ativo, como actante, que os objetos não-humanos podem ter na concepção do produto

jornalísticos.

Impasses atuais A pesquisa aqui apresentada está em sua etapa pré-qualificação. A forma escolhida

para estudar a Mídia NINJA foi a observação participante, com recorte etnográfico, por

entender-se ser uma metodologia adequada ao estudo de grupos organizados que

podem ser chamados de comunidade ou sociedade (ANGROSINO, 2009). Além disso,

trata-se de método também bastante utilizado na perspectiva da TAR. A partir daí, em

maio deste 2015 foi realizada uma observação piloto de 6 dias, com o objetivo de

testar a metodologia num período curto de observação, ver a sua viabilidade e

promover os ajustes necessários para o trabalho de campo mais longo, a ser feito

depois da qualificação, inicialmente durante dois meses, em cidades diferentes e com

intervalos de tempo entre elas, no segundo semestre de 2015 e no primeiro de 2016.

No decorrer desta observação teste, procurei acompanhar o fluxo dos processos em

busca das associações criadas pelos actantes, me atentando ao fazer mais do que o

produto feito. No que diz respeito aos objetos técnicos, tentei destacar aqueles

momentos que, como Akrich (1992, p.206) explica, há potenciais de quebra:

negociação e desacordo entre o “dentro” e “fora” dos objetos, momentos em que,

segundo a autora, a descrição dos objetos técnicos é possibilitada. Nem sempre

consegui encontrar estes momentos, e a partir daí surgiram alguns impasses: dada a

quantidade de objetos e o fluxo veloz das ações ocorridas num coletivo como a Mídia

NINJA, como identificar os rastros deixados pelos objetos técnicos nas redes de

mediações? A complexidade do fluxo de comunicação do coletivo, que se diz

jornalístico e também de midiativismo, e a quantidade das redes sociotécnicas

envoltas na ação da Mídia NINJA fez com que, neste primeiro momento, eu tivesse

dificuldade em detectar estas situações diante de outras várias que, na minha lente de

analista, aparentavam se mostrar mais interessantes para outras questões conceituais

envolvidas nesta pesquisa, como por exemplo a identificação de quando a Mídia

NINJA exerceria o jornalismo e quando exerceria o midiativismo. Outras questões a

discutir seriam sobre o tempo e os procedimentos de observação. Qual o tempo

mínimo e os procedimentos necessários para observar e detectar os rastros deixados

Page 112: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

111

pelos actantes nas redes de mediação? É necessário mapear os actantes inicialmente

e, então, se debruçar para analisá-los com profundidade depois?

Page 113: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

112

Memórias digitais: além do armazenamento

Daniel Bassan Petry

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo Tornou-se comum encontrarmos apresentações, relatos e falas sobre pesquisas em

mídias digitais, especialmente as online, que tratam da expressão “memória digital”

como diretamente relacionado ao arquivamento e armazenamento de informações,

realizando uma aproximação da palavra “memória” com a utilizada para descrever

componentes dos computadores e eletrônicos contemporâneos. O que aconteceria se,

ao invés de entendermos as potências do significado da “memória digital” a partir de

uma relação com aparelhos eletrônicos, de uma forma ou outra distantes de nossa

natureza humana, procurássemos desenvolver uma compreensão a partir da do corpo

humano? Nossa pesquisa tem como intenção explorar a noção da memória digital

como agente distante do mero arquivamento e armazenamento de informações. A

partir de uma perspectiva bergsoniana (Bergson, 1999, 2006), propomos que mídias

digitais, digitalizadas ou novas mídias (Petry, 2015) podem possuir um status de

memória frente à relação do usuário com elas. As mídias, em si, possuem a

capacidade de atuarem como instigadoras de lembranças (atualizações da memória),

neste caso sendo reconhecidas como memórias digitais. Mas estas mídias possuem,

assim como a memória humana, uma característica de constante atualização e até de

semi-onipresença (Chun, 2006). Só há, de fato, presença das mídias quando elas são

atualizadas por seus softwares. Arquivos computacionais são conjuntos de

informações armazenadas em uma mídia física de suporte. O acesso a estes dados, o

“abrir um arquivo digital” é, na realidade, solicitar que um conjunto de instruções

interprete tais informações. Dependendo do aparelho de suporte, software (nas

diversas instâncias) e da integridade do conjunto estas informações podem ser

interpretadas de forma idêntica à esperada ou em erros. Por exemplo: versões mais

recentes de softwares não necessariamente suportam a forma de codificação de

dados das mais antigas. A semi-onipresença é mais evidente quando tratamos de

serviços de nuvem, tal qual Dropbox, Onedrive e Google Drive. Estes serviços

prometem (em seus websites) acesso aos arquivos neles confiados a partir de

“qualquer dispositivo, de qualquer lugar”. Mas são premissas para tais a conexão com

a internet e acesso a uma máquina capaz, além da capacidade ou não de intepretação

dos dados, anteriormente mencionada. Temos, portanto, como parte da proposta de

nossa pesquisa, abandonar o senso comum de que a memória é um mero

Page 114: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

113

armazenamento de informações e que, por consequência, a memória digital seria a

vertente eletrônica desta ideia. Se a memória humana é parte do que define, muitas

vezes nos escapando, agindo de forma inconsciente e, em um relance, nos

transportando para momentos já vividos e há muito esquecidos, questionamos onde e

como podemos encontrar resquícios da memória humana das práticas das mídias

digitais, digitalizadas e das novas mídias? Enfrentamos alguns empasses na definição

de nossos empíricos. Que materiais deixam transparecer os métodos do software que

aproximam este agir dos realizados pela memória humana? Onde encontrar resquícios

deles? Atualmente lançamos nossos olhares para serviços on-line como Flickr e

Google Photos, que não só prometem o armazenamento destes materiais, mas

também ações automatizadas sobre eles como identificação de assuntos, curadorias,

criação de narrativas visuais. No exemplo do Google Photos, o serviço cria narrativas

visuais, mas considera somente fatores técnicos: a foto está bem batida? Possui boa

definição? Qual a relação geográfica e cronológica com as outras fotos? Uma

fotografia de grande importância emocional, mas com péssima técnica é esquecida? A

atuação do serviço permite o resgate de materiais capazes de induzirem lembranças?

Outra pergunta que temos ainda por responder gira em torno dos dados criados

automaticamente por estes serviços. As informações geradas a partir da interpretação

dos arquivos pelos algoritmos, neste caso imagens, salvas em seus bancos de dados,

seriam o equivalente à produção de uma memória maquínica? Seriam estas as

verdadeiras memórias digitais?

Page 115: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

114

Midiatização do ativismo e jornalismo digital

Maria Clara Aquino Bittencourt

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo A pesquisa propõe o estudo sobre transformações, elementos e continuidades do

jornalismo digital com foco nos processos de produção e circulação de narrativas

construídas no contexto de movimentos em rede por coletivos midiáticos

independentes, sem ignorar a atuação de veículos de massa que publicam conteúdo

online. O fortalecimento desses coletivos vem gerando apropriações técnicas e sociais

de ferramentas de comunicação digital para narrar os acontecimentos nas ruas. Essa

pluralidade é marcada por usos que potencializam a participação e a colaboração na

produção e na circulação de múltiplas vozes e discursos, mas também reproduzem

práticas e modelos baseados na verticalidade e unilateralidade de processos

comunicacionais (AQUINO BITTENCOURT, 2014). Utiliza-se o conceito de

midiatização para pensar o entrelaçamento entre as noções de convergência midiática

(AQUINO BITTENCOURT, 2012) e mídia de espalhamento (JENKINS, FORD E

GREEN, 2013). Apropriações midiáticas por cidadãos, ativistas e movimentos, e pela

própria mídia de massa, ampliam a reflexão sobre a midiatização do ativismo e dos

processos de produção e circulação de narrativas sobre os protestos. Uma das

consequências mais significativas da midiatização, para Braga (2012), é o

atravessamento dos campos sociais específicos que gera situações indeterminadas e

experimentações correlatas. Fausto Neto (2008) relata a disseminação de novos

protocolos técnicos na extensão da organização social, a intensificação de processos

que transformam tecnologias em meios de produção, circulação e recepção de

discursos. A noção de midiatização do autor se baseia ideia de apropriação, que

provoca a intensificação de tecnologias convertidas em meio. Essa conversão é

cadenciada por apropriações sociais, de modo que a midiatização é a atividade que

ultrapassa o domínio dos meios em si, expandindo-se ao longo da organização social,

conferindo-lhe uma nova dinâmica. Questões fundamentais sobre a interferência dos

meios na cultura e na sociedade decorrem da midiatização, explica Hjarvard (2014),

que trabalha o conceito a partir do entendimento de que a influência da mídia acontece

não só sobre as sequências comunicativas entre os atores sociais e as mensagens,

mas também na relação entre os meios e outras esferas sociais. Nesse contexto

midiatizado, o relato dos fatos escapa ao controle da mídia de massa e suscita a

reflexão sobre os processos de produção e circulação de narrativas realizados por

Page 116: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

115

diferentes atores. Esse processo reflexivo partirá de um mapeamento dos coletivos e

das ferramentas de comunicação digital que utilizam, para que se possa observar

formatos, características, elementos e dinâmicas nos processos de produção e

circulação das narrativas. Métodos de observação dos processos e de entrevista com

os produtores dos conteúdos serão empregados, além da possibilidade de

questionários com os consumidores dos conteúdos, caso seja necessário para avaliar

o processo de circulação. Análises comparativas com veículos de comunicação de

massa serão realizadas com o objetivo de identificar os impactos das atividades dos

coletivos na narrativa jornalística digital. Serão realizadas também rodadas de

pesquisa documental para contextualizar os acontecimentos escolhidos como casos a

serem analisados para atingir os objetivos da pesquisa.

Objeto de pesquisa Processos de produção e circulação de conteúdos por coletivos midiáticos em

contexto de movimentos em rede.

Problema As questões de pesquisa giram em torno dos impactos da midiatização do ativismo no

jornalismo digital: Quais os principais elementos e características de processos de

produção e circulação de narrativas de coletivos midiáticos? É possível identificar um

padrão de atuação dos coletivos na condução desses processos? Como a atividade

desses coletivos midiáticos pode impactar na reflexão sobre jornalismo digital? Em

que tipo de modelo comunicacional a atividade desses coletivos midiáticos se insere?

Filiação teórica A pesquisa está estruturada em três eixos, fundamentados na ideia de apropriação

(Lemos, 2001).

LEMOS, André. Cyberpunk: apropriação, desvio e despesa na cibercultura. Trabalho

apresentado no GT de Tecnologias Informacionais de Comunicação e Sociedade do X

Compós – Encontro Nacional dos Programas de Pós-Graduação em

Comunicação.2001.

* Processos de produção e circulação de narrativas jornalísticas digitais:

BARBOSA, S.; FIRMINO, F. ; NOGUEIRA, L. ; ALMEIDA, Y. A atuação jornalística em

plataformas móveis. Estudo sobre produtos autóctones e a mudança no estatuto do

jornalista. Brazilian Journalism Research (Online), v. 9, p. 1-20, 2013.

BRADSHAW, Paul. News Distribution in a new media world. Online Journalism Blogs,

2 jan. 2008. Disponível: http://goo.gl/9DL5xD.

Page 117: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

116

JENKINS, Henry. Convergence Culture: Where Old and New Media Collide. NYU:

Press, 2006.

JENKINS, H.; FORD, Sam; GREEN, Joshua.Spreadable media: creating value and

meaning in a networked culture. New York University, 2013.

RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet, difusão de informação e jornalismo:

elementos para discussão. In: SOSTER, D.A.; SILVA, F.F. (Orgs.). Metamorfoses

jornalísticas 2: a reconfiguração da forma. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2009, p. 37-

55.Disponível: http://goo.gl/XGqHWp

ZAGO, Gabriela. Informações jornalísticas no Twitter: redes sociais e filtros de

informações. In: III Simpósio da ABCiber, São Paulo. Anais… São Paulo, SP, 2009.

ZAGO, Gabriela. Circulação jornalística no Twitter: apontamentos para discussão. VIII

Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. Universidade Federal do

Maranhão, São Luís. Nov. 2010.

* Midiatização do ativismo:

ASSIS, G.E. Táticas lúdico-midiáticas no ativismo político contemporâneo. Dissertação

de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da

Universidade do Vale do Rio dos Sinos. 2006.

BRAGA, J.L. Circuitos versus campos sociais. In: MATTOS, MA. JANOTI JUNIOR, J.;

JACKS, N. Mediação e Midiatização. Livro Compós 2012. Salvador, Brasília. EDUFBA,

Compós, 2012.

FAUSTO NETO, A. Fragmentos de uma analítica da midiatização. Revista Matrizes, n.

2, abril 2008. Disponível: http://200.144.189.42/ojs/index.php/MATRIZes/article/

view/5236/5260

HJARVARD, S. A midiatização da cultura e da sociedade. São Leopoldo: Editora

Unisinos, 2014.

* Movimentos em rede e coletivos midiáticos:

ANTOUN, H.; MALINI, F. Ontologia da liberdade na rede: as multi-mídias e os dilemas

da narrativa coletiva dos acontecimentos. Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho

Comunicação e Cibercultura, do XIX Encontro da Compós, na PUC-RJ, Rio de janeiro,

RJ, 2010.

MALINI, F.; ANTOUN, H. A internet e a rua: ciberativismo e mobilização nas redes

sociais. Porto Alegre: Editora Sulina, 2013.

CAMMAERTS, B. Lógicas de protesto e a estrutura de oportunidade de mediação.

Matrizes – Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da

Universidade de São Paulo, ano 7, n. 2, p. 13-36, jul./dez. 2013.

CASTELLS, M. Networks of outrage and hope: social movements in the internet age.

Politik. Wiley, 2012.

Page 118: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

117

SCHERER-WARREN, I. Das mobilizações às redes de movimentos sociais. In:

Sociedade e Estado. Brasília. V. 21. N. 1. P. 190-130. Jan/abr, 2006. Disponível:

http://goo.gl/XTL5bj

TORET, J. Una mirada tecnopolítica sobre los primeros días del #15M, Tecnopolitica,

Internet y Revoluciones sobre la Centralidad de Redes Digitalez en #15M. Barcelona:

Icaria Editorial, 2012.

TUFTE, T. O renascimento da Comunicação para a transformação social –

Redefinindo a disciplina e a prática depois da ‘Primavera Árabe’. In: Intercom – RBCC.

São Paulo, v.36, n.2, p. 61-90, jul./dez. 2013.”

Impasses atuais O projeto tem início em 2015/2 e as dificuldades iniciais se referem aos procedimentos

metodológicos. Inicialmente a proposta é mapear os coletivos midiáticos que

produzem e colocam em circulação conteúdos relativos aos movimentos sociais

brasileiros que se organizam através das redes para a realização de atos e protestos

de rua. No entanto, há dúvida sobre as técnicas a serem empregadas nesse

mapeamento. Num segundo momento o objetivo é investigar os processos de

produção e circulação dos coletivos, de forma que um conjunto de técnicas deverá ser

empregado para esse momento da investigação. Esse conjunto ainda não foi definido

e precisa ser debatido com relação aos formatos de publicação que serão

investigados, com quem será necessário entrar em contato para descobrir as

motivações de uso de ferramentas de comunicação digital, além de decidir se os

seguidores desses coletivos são inseridos no corpus da pesquisa.

Page 119: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

118

Nas ruas e nas redes: uma etnografia com a Mídia Ninja

Nathália Schneider

Universidade Federal de Santa Maria

Resumo O trabalho procura refletir questões sobre as práticas, as inquietações, o estilo de vida

e o modo de organização do grupo ativista e midialivrista NINJA – Narrativas

Independentes, Jornalismo e Ação –, assim como o seu potencial de mobilização e

cobertura em rede, tanto nas redes quanto nas ruas. Apresento um contexto político,

social e cultural favorável de caráter progressista na América Latina para o

desenvolvimento de políticas públicas de comunicação e de cultura com ênfase no

Brasil. No cenário brasileiro, disserto sobre o Governo Lula e a gestão do Ministério da

Cultura por Gilberto Gil com destaque para as Jornadas de Junho. Analiso este

cenário sob a perspectiva de uma sociedade em rede potencializada pela internet,

com a apropriação da mesma pelos movimentos sociais e coletivos culturais na

produção de um ativismo colaborativo de livre circulação, que estoura os limites da

plataforma digital. Este formato de ativismo, que está diretamente ligado à cultura

hacker da internet, é apresentado para contextualizar o midialivrismo ciberativista, que

pauta a democratização da comunicação através de uma disputa de narrativa com a

mídia hegemônica. Por meio da pesquisa de inspiração etnográfica multi situada com

observação de campo, utilizo o meu olhar e lugar privilegiado como militante do grupo

através da técnica de estranhar o familiar para refletir e compreender as relações entre

a militância nas redes e nas ruas e a vida coletiva que os ninjas levam. Do caixa

coletivo ao creative commons, da divisão de tarefas da residência cultural ao modo de

organização na internet, das ruas às redes, busco compreender o ativismo como um

estilo de vida desse grupo e o seu papel do midialivrismo na disputa de narrativa pela

democratização da comunicação.

Tema Ativismo e midialivrismo.

Objeto de pesquisa Organização e estilo de vida do coletivo de mídia independente NINJA.

Page 120: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

119

Problema A Mídia NINJA cresceu de forma tão espontânea e rápida durante e após as Jornadas

de Junho que perdeu o controle. Quem são estes NINJAS? O grupo ativista

denominado Mídia NINJA participa, constrói e articula ações e coberturas ao lado dos

movimentos sociais nas redes e nas ruas. Como é a forma organização e o estilo de

vida deste coletivo tão heterogêneo? Seria a vida coletiva um reflexo do ativismo da

Ninja? Por que gerar uma disputa de narrativa em oposição a grande mídia?

Filiação teórica Para pesquisar a Mídia NINJA é necessário compreender primeiramente, que hoje

vivemos numa sociedade em rede (CASTELLS, 1999) mediada pelas tecnologias de

informação e comunicação. A Web 2.0, com um novo fluxo, velocidade e possibilidade

de ser produtor de conteúdo e não apenas receptor ou consumidor, faz emergir novo

usuários emponderados e com voz, que possuem opiniões e geram debates, sem a

necessidade de mediação da grande mídia. Todas essas possibilidades de uma maior

democracia que existe na internet não surgiram apenas da invenção de aparatos

tecnológicos, inúmeros fatores também estiveram envolvidos e foram essenciais para

que os indivíduos e sua relação com a internet viesse a ser o que é hoje. Entres esses

outros fatores, na minha pesquisa, é essencial contextualizar o cenário político

progressista da América Latina na última década. Moraes (2011) apresenta a

importância desses governos nas mudanças das políticas públicas voltadas para a

comunicação, com um objetivo de diminuir o monopólio midiático presente em quase

todos os países do nosso continente. No Brasil, inserido em contexto similar, as

políticas culturais assumidas pelo governo Lula e Dilma, e principalmente as gestões

do Ministério da Cultura do Brasil do Gilberto Gil. Este cenário político é essencial para

conseguir entender o midialivrismo ciberativista (MALINI, 2013) na sociedade e na

internet hoje. O midialivrismo ciberativista tem origem junto com a internet e a Cultura

Hacker (CASTELLS, 2003), carregando estes valores em seu cerne. Desta forma, a

produção desse midialivrismo é realizada através de aparatos tecnológicos e

dispositivos digitais, em um processo coletivo e colaborativo em rede, com grande

fluxo, troca e compartilhamento de conhecimento e experiências. Segundo Malini

(2013) o “principal resultado é a produção de um mundo sem intermediários da cultura,

baseada na produção livre e incessante do comum, sem quaisquer níveis de

hierarquia”. Identifico então o marco teórico da minha pesquisa diante dos conceitos

expostos: a sociedade em rede para compreender o caráter hacker dos grupos

midialivristas ciberativistas, compreendendo o contexto político, social e cultural do

país e a importância da democratização da comunicação para os grupos mídia

Page 121: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

120

ativistas. A metodologia que proponho para realizar esta pesquisa é uma inspiração a

etnografia com o meu sujeito de estudo, no caso, a Mídia NINJA. Antes, de pontuar as

técnicas que pretendo usar na minha imersão com os NINJAS, trago para dentro da

minha pesquisa o compreendimento de uma etnografia multi situada (MARCUS,

1995), pois vou utilizar meu olhar privilegiado como ex-integrante no universo da

internet, nas manifestações nas ruas e principalmente, em suas residências coletivas.

Desta forma pretendo utilizar a técnica da observação participante, com diário de

campo para assim registrar e sistematizar as minhas experiências, a qual dialoga com

a praxis militante crítica exposta por Savazioni (2013). Segundo Foote-Whyte (2005)

“assim como seus informantes, o pesquisador é um animal social”, acredito então que

a neutralidade é um mito inalcançável, sendo o meu envolvimento com opinião sobre o

estudado inevitável, mas como pesquisadora também compreendo que a imersão total

no campo não é um objetivo do antropólogo na etnografia. Assim, procuro encontrar

um equilíbrio saudável entre ambos os lados. Diante do apresentado, reforço que a

escolha da metodologia – observação participante com diário de campo – está

diretamente ligada a minha vivência com a militância no grupo, pois ao me deparar

com o meu sujeito de estudo, procurando já o estranhamento, enxerguei que apenas

mergulhando novamente neste meio poderia compreender e refletir sobre as suas

práticas.

Impasses atuais Após a minha inspiração etnográfica com a Ninja, percebi dificuldades entre separar –

e se é necessário separar – a pesquisadora da militante, pois as relações de amizades

e os afetos que já existiam durante a minha militância permanecem e foram

resinificados durante a minha pesquisa. Para os ninjas, eu não sou uma pesquisadora,

eu sou uma ninja. Da mesma forma, reflito sobre a utilização de nomes fictícios para

os integrantes do grupo, pois alguns são considerados figuras públicas no ambiente

dos movimentos sociais e mídia alternativas. Pontuo, que pretendo utilizar o nome real

do grupo em minha pesquisa, porém problematizo se uso o nome real ou fictício dos

integrantes. Outro questão, que surgiu durante a pesquisa de campo, é a negociação

com o sujeito de estudo sobre o que será dito. Certas contradições e problemas

internos se revelados será mal visto pelo grupo. Como estou utilizando o nome do

coletivo, eles podem interferir no que será publicado? Eles tem o direito de escolher o

que será dito sim ou não? Isso seria ético? Ou expor elementos que o coletivo não

queria, seria quebrar a confiança estabelecida no campo?

Page 122: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

121

O Design e seus artefatos: proposta de estudo sobre o imaginário gráfico

Karina Pereira Weber

Instituto Federal Sul-Rio-Grandense

Resumo A pesquisa tem como objetivo aproximar os estudos do Imaginário para pensar os

artefatos de design. Os estudos sobre imaginário foram abordados durante minha

pesquisa de mestrado, para pensar o consumo das marcas no contexto

contemporâneo, onde se tem um grande apreço pelas imagens, inclusive, pela

construção de uma imagem de si. No entanto, minha pesquisa não abordou o design

como alvo, algo que gostaria de propor no doutorado, devido minha formação em

Design Gráfico. Minha intenção é trazer uma aproximação entre estes dois campos de

saberes. O design produz artefatos que mediam as comunicações e ajudam a criar e

renovar os espíritos do tempo. Como produtor cultural, seus artefatos influenciam no

imaginário ao mesmo tempo em que sua produção também é influenciada por um

imaginário instituído. Neste sentido, penso que usar o imaginário como modo de ver

essa atividade de design possa ser revelador para pensar os processos de criação e

materialização desses espíritos do tempo, bem como compreender a própria atividade

do design. Sobretudo, amparado ao conceito de tecnologia do imaginário de Juremir

Machado da Silva, o qual compreende o próprio design enquanto tal. Dito isto, a

proposta de pesquisa que apresento é um estudo dos artefatos de design, suas

produções, que estão condicionadas a um contexto sociocultural, tecnológico, a partir

das teorias do imaginário, buscando uma compreensão sobre essa atividade complexa

e cada vez mais crescente. O entrecruzamento dos dois campos de saberes

(imaginário e design) podem ajudar a pensar: O que nós, designers, estamos

produzindo enquanto dado cultural? De que forma nossa atuação impacta no espaço-

tempo em que estamos inseridos? Contribuímos para a formação de um espírito do

tempo? Como isto ocorre? Para pensar isto pelo viés do imaginário, proponho fazer

um estudo da Revista Senhor, a qual circulou de 1959 a 1964, durante cinco anos,

pois, segundo Gilbert Durand, é preciso de um tempo para que se cristalize um

imaginário de uma época. Assim, a revista tendo seu ciclo iniciado e concluído,

podemos observar este artefato de modo completo: desde seu surgimento, até suas

últimas publicações, contextualizando com os acontecimentos sócio históricos da

época, os quais irão complementar a compreensão deste objeto. A Revista Senhor foi

marco na imprensa brasileira. Comumente é citada nas bibliografias do Design

Editorial como referência. Não apenas por sua importância em termos de Design, mas

Page 123: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

122

pelo conteúdo que publicava para o período em que circulou. A década de 1960 foi um

período importante para o cenário cultural do país, e as publicações e autores

apresentados pela Senhor com certeza contribuíram para tal cenário. Em 2012 foi

lançada uma coleção da revista pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,

organizada por Ruy Castro, relançando artigos, cartuns, anúncios e demais conteúdos

publicados pela originalmente revista. O grande impasse para a pesquisa é o fato de

os estudos do imaginário não serem muito comuns para pensar o design, o que

dificulta a inserção em uma pós-graduação, encontro de orientador que se aventure

para orientar, porque normalmente contempla ou uma ou outra área. Outro ponto que

talvez possa ser acrescentado, seria analisar outros periódicos da mesma época e,

também, alguns atuais para visualizar como esse imaginário é revisitado ainda hoje

como algo consagrado e, poderíamos dizer, atualmente, elitizado.

Page 124: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

123

O espaço da MPB do Rio Grande do Sul na mídia

João Vicente Ribas

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Resumo Como tese de Doutorado em Comunicação na PUCRS, proponho uma pesquisa sobre

a relação dos cancionistas de Música Popular Brasileira (MPB) do Rio Grande do Sul

com a mídia. Em estágio inicial, o desafio atual está posto quanto à delimitação das

amostras de artistas e veículos de comunicação. Entre os objetivos está analisar as

trajetórias de cantores-compositores, tais como Bebeto Alves, Nei Lisboa e Vitor

Ramil, percebendo as mudanças tecnológicas de comunicação e como eles se

adaptaram a elas. Considera-se nomes que há quase 40 anos estão em atividade.

Portanto, passaram pela gravação de long-plays (LPs) em grandes gravadoras

nacionais, aderiram à cena independente e hoje financiam discos e shows por

crowdfunding via web. De forma específica, proponho aprofundar questões de

identidade, estética e consumo, para compreender melhor no contexto contemporâneo

a relação de músicos de vanguarda com a mídia. O posicionamento de ambos os

lados (artista e comunicador) frente à mundialização da cultura, e na busca por

conquistar público, deverão ser categorizados e compreendidos, em suas diversas

formas. Outra questão importante que será contemplada, relativa mais à radiodifusão,

é a comparação entre as comunicações pública e privada na cobertura da cena

musical local. Visto que cumprem um papel de protagonismo na divulgação desta

cena, deverão ser incluídos na pesquisa os veículos da Fundação Cultural Piratini

(pública) e do grupo RBS (privado). Mas no caso de o recorte do objeto abranger o

final dos anos 70, faz-se necessária a inclusão de outros, como a rádio Continental

AM. Para trabalhar neste problema de definição de amostragem, estou propondo e

desenvolvendo um questionário de sondagem para traçar um panorama da MPB no

Rio Grande do Sul, com questões relativas à comunicação. Pretende-se com esta

ferramenta sondar algumas informações, consideradas a priori, a exemplo da

reclamação de que as rádios não tocam o repertório dos artistas deste gênero. Assim,

busca-se colher dados quantitativos a respeito da cena musical e do espaço que os

compositores locais têm na comunicação de massa, bem como o uso que fazem das

novas mídias.

Page 125: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

124

O jornalismo como instituição social no século XXI: como delimitar o objeto de pesquisa

Taís Seibt

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo A pesquisa em desenvolvimento para a tese de doutorado pretende promover uma

discussão sobre o jornalismo como instituição social no século XXI, diante da

emergência da internet, que impõe transformações profundas no sistema de circulação

e consumo de informações, bem como na produção jornalística, e a consequente crise

econômica que abala grandes organizações jornalísticas ao redor do mundo.

Inicialmente, o projeto propunha a realização de estudos de caso em dois sites

jornalísticos (El País e O Globo). Os resultados da pesquisa de campo seriam

tensionados com as bases teóricas que sustentam a pesquisa, as quais partem da

sociologia do conhecimento, principalmente à luz de Robert Park, que trata o

jornalismo como forma social de conhecimento, e Miquel Alsina, que, a partir das

bases epistemológicas de Berger & Luckmann, trabalha a notícia como uma

construção social da realidade. As ideias desses autores, postas em articulação,

permitem compreender o jornalismo como uma instituição social que se consolidou ao

longo do século XX. A questão central da pesquisa é em que condições o jornalismo

poderia manter tal status no século XXI. A escolha dos dois veículos leva em conta

critérios de similaridade, como a abrangência de seus conteúdos (ambos se

pretendem nacionais) e a localização de suas sedes (no centro do país, o que torna o

cenário econômico e social dos dois veículos similares). Esses fatores permitiriam

certo grau de comparação entre os portais. Também aspectos que os diferenciam são

importantes: O Globo cobra por assinaturas digitais, o El País, não; O Globo tem um

jornal impresso que circula em território nacional, o El País, não. Desse modo, seria

possível identificar eventuais interferências da estrutura de cada organização

jornalística em processos de produção e critérios de noticiabilidade. Seriam

necessárias entrevistas em profundidade com informantes-chave, bem como coleta de

dados para mapear as estratégias de geração de receita e indicadores de audiência. A

partir da observação de rotinas, seria possível identificar graus de interferência de

fatores externos, como as fontes de financiamento e os indicadores de audiência, no

conteúdo produzido. Na pesquisa de campo também poderiam ser analisados critérios

de noticiabilidade. Aspectos da observação norteariam a análise de conteúdo, no

sentido de identificar características das notícias e reportagens publicadas, sinalizando

Page 126: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

125

rupturas e continuidades em relação aos pilares do jornalismo tradicional. No estágio

atual da pesquisa, que é bastante inicial, o aprofundamento das leituras tem levantado

questionamentos acerca da metodologia e do recorte da pesquisa. Há dúvidas sobre

se realizar estudos de casos seria a melhor alternativa, se os casos inicialmente

escolhidos dariam conta da discussão que se pretende promover e até mesmo se

seriam necessárias tantas entradas no campo para realizar tal debate, que tem um

propósito muito mais teórico, conceitual e conjuntural sobre as condições da prática

jornalística no século XXI.

Page 127: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

126

O professor da Educação Básica e sua relação com as tecnologias educacionais como elemento fortalecedor da prática pedagógica

Jorge Alberto Rodriguez

Rose Alves de Moura

Universidade Estadual do Ceará

Resumo O projeto de dissertação pretende dá conta de parte das discussões hoje levantadas

em torno do uso (ou não) das tecnologias da informação e comunicação – TICs pelos

professores da educação básica pública brasileira como elemento fortalecedor da sua

prática pedagógica. No entorno desta discussão, pretende-se, como objetivo geral,

investigar de que forma os professores da educação básica pública da cidade de

Limoeiro do Norte – Ceará utilizam (ou não) as TICs disponíveis no espaço escolar em

prol do fortalecimento da sua prática docente cotidiana em sala de aula. Como objetivo

específico, pretende-se levantar quais as ferramentas tecnológicas digitais utilizadas

hoje pelos professores da Educação Básica de Limoeiro do Norte como auxiliares na

sua prática pedagógica em sala de aula e apontar as dificuldades enfrentadas por

esses professores no uso (ou não) dessas tecnologias. Para tanto, a apropriação das

contribuições dos teóricos postulantes dos temas como tecnologias na educação e

prática docente, são imprescindíveis para a consecução da pesquisa. Nesse sentido,

teóricos como Kensky (2003) (2007), Levy (1996) (1999), Veiga (2010), Kay (2006),

Kessler (2006), Hanson-Smith (2006), Moraes (1997), Libâneo (2006), Demo (2008),

Moran (2000), e os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (1997) farão

parte deste aporte teórico, assim como todo outro referencial que possa sustentar os

objetivos propostos neste trabalho. Como parte da metodologia adotada, far-se-á

pesquisa de campo em duas escolas da rede pública de Limoeiro do Norte – Ceará,

com um universo de vinte professores, aproximadamente. Esses professores serão

divididos em níveis diferentes (fundamental e médio), em áreas disciplinares

diferentes, mas que são comuns nos dois níveis (língua portuguesa, língua inglesa,

matemática, história e geografia), e em diferentes tempos de exercício do magistério

(anos iniciais e anos finais). Após a seleção da amostra, será aplicado um questionário

semi aberto, buscando levantar quais recursos são utilizados ou não pelos

professores. O questionário também procurará levantar quais os entraves enfrentados

no uso escolar cotidiano desses recursos. Embora a pesquisa ainda esteja em

andamento, considera-se como hipótese principal a ser comprovada, que o uso dos

recursos tecnológicos digitais acontece sim, os professores os utilizam, mas,

Page 128: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

127

problemas como competência técnica ( precisamente o domínio de algumas

ferramentas), disponibilidade, quantidade e qualidade desses recursos, tornam seu

uso limitante e muitas vezes inviável. Diante do que se pretende, o principal impasse

atualmente enfrentado é selecionar os professores que atendam aos requisitos de

tempo no magistério, nível de ensino, áreas variadas do conhecimento e

disponibilidade necessária para participar da pesquisa. Ressalta-se a importância do

estudo ao propor a investigação de um tema relativamente novo que é o uso das

tecnologias digitais no ensino, dentro do maior polo acadêmico da região do Vale do

Jaguaribe cearense, em uma cidade que concentra grandes instituições de ensino

públicas e privadas e responsáveis por formar maioria dos professores da região.

Page 129: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

128

Prêmios, pra que te quero? Reflexões e problematizações sobre o processo de seleção, agarre e utilização de peças publicitárias na amplitude do ambiente web

Alessandro Souza

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Escola Superior de Propaganda e Marketing

Resumo Como lidar com o processo de seleção, agarre e utilização de peças publicitárias no

ambiente web? Essa pergunta sintetiza uma das dificuldades operacionais de

pesquisa em um meio no qual as indexações de conteúdos (relacionadas às

corporações) são contabilizadas em casas elevadas e em contínuo crescimento,

situação própria do ambiente de rede. Assim, há ampla oferta de materiais espalhados

por nós (Barabási, 2009) heterogêneos a exigir soluções metodológicas dos

pesquisadores. Os recortes seriam, por exemplo, considerar peças ou ações

publicitárias em portais com audiências elevadas, em páginas corporativas ou em

espaços de falas personalizadas dos sujeitos, como SRS (Sites de Redes Sociais).

Além da ponderação quantitativa, emergem reflexões qualitativas. As produções

publicitárias na web estão menos presas a padronizações convencionais de

exposição, observadas em outros meios, como formatos clássicos de trinta e sessenta

segundos (televisão e rádio); páginas e meia páginas (jornais), dentre outros. Também

deve ser considerado o polo emissor: divulgações advindas explicitamente de

corporações podem ter apreensões distintas daquelas emanadas por sujeitos. Este

cenário complexifica as decisões de recorte. Em pesquisa de doutorado, propus as

Premiações Publicitárias como, grosso modo, indexadoras de materiais para análise.

As peças por elas agraciadas têm legitimidades notórias ao serem destacadas por

processo avaliativo. Para o mercado profissional (e até mesmo para estudantes)

representam atestados razoavelmente públicos de qualificação criativa. Ademais, as

Premiações atendem quatro critérios pertinentes a pesquisas: funcionam como

repositório, são relevantes, possibilitam acesso aos materiais e configuram perenidade

(ocorrem anual ou bienalmente). Neste cenário, ao menos aqueles eventos que

apresentam categorias digitais seriam os locais a abastecer os pesquisadores. De

outra parte, mesmo consideradas tais ponderações, o universo de Premiações

Publicitárias é razoavelmente elevado e traz matizes variados. Em prisma geográfico,

há eventos regionais, nacionais e mundiais. Em prisma de foco, há eventos

especificamente digitais e outros híbridos. Já quanto a ciclo de carreira, existem

competições profissionais e mostras estudantis. Em meio a essas variações, entendo

Page 130: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

129

que o Festival Mundial de Criatividade de Cannes, por ser o mais representativo à

área (Publicidade), e mais especificamente ainda a categoria “Cyber Lions”, por ser a

mais afeita a produções web, sintetiza recorte apropriado para avaliação de produções

relevantes. Deste constructo, surgem questões: haveria outros recortes

representativos além das Premiações Publicitárias? Como pensar produções

acadêmicas/estudantis se essas não dispõem de categoria nesse Festival? A

deliberação por Cannes não limitaria em demasia as peças avaliadas por esse ser o

Festival com competição mais acirrada ou, contrário senso, tal circunstância o efetiva

como espaço mais adequado à pesquisa?

Filiação teórica BARABÁSI, Albert-Laszló. Linked. A nova ciência dos networks. São Paulo: Leopardo,

2009.

SOUZA, Alessandro. Como rugem os leões na publicidade digital? Os padrões

encontrados nos Grand Prix da categoria Cyber Lions do Festival Mundial de

Criatividade de Cannes entre 2009 e 2014. Tese (doutorado) – Universidade Federal

do Rio Grande do Sul, Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Programa de

Pós-Graduação em Comunicação e Informação, 2015.

Page 131: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

130

Problemas teórico-metodológicos: uma investigação sobre a Cachorro Grande e o rock gaúcho

Caroline Govari Nunes

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo Nosso problema propõe sistematizar e detalhar as tensões identitárias presentes na

banda Cachorro Grande e suas relações com as cenas musicais de Porto Alegre e

Manchester (Inglaterra). Pensamos a música como objeto de identidade cultural e

discutimos possíveis paralelos entre tais cenas musicais. Atravessando conflitos

teóricos e metodológicos, tentamos fazer a teoria do nosso objeto, o qual se desdobra

em ângulos como, por exemplo, cenas musicais, identidades culturais e arqueologia

da mídia – tudo uso propondo uma metodologia ancorada na etnografia.

Tema O tema sugere pensar a relação entre identidades, cultura e música. Trabalhamos

especialmente com o “Costa do Marfim”, disco mais recente da banda gaúcha

Cachorro Grande, pois no novo disco houve um rompimento – ou uma repaginação,

ou mudanças performáticas – da própria identidade do grupo.

Objeto de pesquisa A banda Cachorro Grande. Por meio dela, pensamos em remanejos identitários e

tentamos identificar se é possível traçar um paralelo entre as cenas musicais de Porto

Alegre e Manchester.

Problema No decorrer de nosso trabalho, levantamos a suposição de um possível diálogo entre

cenas musicais de Porto Alegre e Manchester. Ao que tudo indica, o rock gaúcho já

estaria dando indíciosdessa relação. A Cachorro Grande, por hipótese, é a banda que

melhor realiza isto, assume isto, dentro do mercado e, mesmo assim, debatendo-se

com uma identidade local que se tem (uma identidade mítica, estereotipada) de rock

gaúcho. Nos parece plausível averiguar se existe mesmo uma semelhança de

matrizes culturais no aspecto pós-punk de Manchester e na música juvenil feita em

Porto Alegre de meados dos anos 1970 pra cá. Então será, por exemplo, que a

Cachorro Grande, agora, com o disco “Costa do Marfim”, deu finalmente maior

formatação para essa conversa Porto Alegre – Manchester?

Page 132: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

131

Filiação teórica Quando pensamos em questões identitárias, ancoramo-nos em autores como, por

exemplo, Stuart Hall, já que este comenta que as identidades são pontos de afeição

temporária às posições do sujeito que as práticas discursivas reúnem para nós.

Kathryn Woodward e Tomaz Tadeu da Silva, com seus aportes sobre identidade e

diferença, também se mostram relevante aqui. Nas questões de cenas musicais, Will

Straw é quem nos dá suporte para a discussão, descrevendo cenas como espaços

culturais mutáveis e fluidos (que pensamos junto às feições temporárias de Hall e

problematizamos nestas cenas que se reconfiguram constantemente). Ainda, Friedrich

Kittler e Seigfried Zielinski aparecem para nos ajudar a discutir a arqueologia da mídia.

Eles nos explicam que esse pensamento aparece como uma modernização da

arqueologia do saber de Foucault para o audiovisual e a era da mídia digital. Através

da perspectiva da materialidade, esta acaba rompendo com as teorias de mídia

clássicas. Pensamos que pode ser importante fazer a arqueologia da Cachorro

Grande para avaliar um pequeno acidente numa parte da evolução ou do processo

histórico maior, que, neste caso, seria o rock gaúcho.

Impasses atuais Nossa metodologia baseia-se na etnografia, um método antropológico. Dessa forma,

vários questionamentos surgem ao aplicar o método etnográfico no ambiente

comunicacional. Alguns dos principais impasses decorrem justamente das

características do método, que estamos, no momento, nos aproximando. Por exemplo:

a) O que fazer para não correr o risco de a pesquisa ficar calcada somente na

antropologia? b) Até que ponto eu, enquanto pesquisador, devo ficar neutro ou atuar

dentro do campo? c) O que observar nestes observáveis? E como observar, já que o

método pede um olhar que não deve ser nem desenvolto nem extremamente

concentrado? d) E quais os cuidados que devemos ter com o método, já que nossos

objetos falam (pois não queremos que suas falas sejam a resposta de nosso

problema, mas sim algo a ser analisado)?

Page 133: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

132

Ritmanálise como proposta metodológica

Thaís Amorim Aragão

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo Iniciando o último semestre antes da qualificação de doutorado, encontro-me às voltas

com a ideia de ritmanálise como método para abordar processos midiáticos

observáveis na prática de fazer mapas sonoros. Embora possamos identificar mapas

sonoros como um tipo de plataforma cartográfica colaborativa disposta na internet,

onde se encontram áudios de gravações ambientais geolocalizadas, eles não

interessam a esse estudo meramente em seu aspecto “mídia”. Antes, interessa o

processo que envolve sua produção e que eles tangenciam, pois tomá-los como objeto

– ao invés de processo – poderia, entre outros problemas, aplanar as camadas de

mediação implicadas nele. Tal processo, mais dinâmico, relaciona-se desde a uma

postura de escuta ativa diante do ambiente, passando pelo manuseio de aparelhos

para gravação, até chegar ao desenvolvimento e utilização dos mapas sonoros

propriamente ditos. No atual estágio da pesquisa, estou me referindo a esses

subprocessos, ou práticas constitutivas do processo mais amplo, como momentos. A

ritmanálise foi uma ideia originalmente lançada pelo pesquisador português Pinheiro

dos Santos, quando radicado no Brasil, e que influenciou Gaston Bachelard na

formulação de sua crítica a Bergson, contida na obra “Dialética da Duração”. Para

Bachelard, a “durée” não podia ser tão coesa como concebida por Bergson, e sim

descontínua e fragmentada. Revelou-se adequado, portanto, pensá-la em termos de

ritmo, numa orquestração intercalada por pausas e retomadas – o que evitaria o

desmanche de outras noções importantes, como a de evento. Mais tarde, Henri

Lefebvre trabalhou mais a fundo a ideia de ritmanálise, com foco no espaço urbano

(externo, público), somando reflexões como a necessidade de “pensar aquilo que não

é pensamento”, de dar ouvidos ao ruído, ao corpóreo, ao sensível e ao concreto. O

pensamento de Lefebvre, um teórico reconhecido por sua ideia de espaço social, se

apresenta para mim como um importante articulador entre os conceitos e backgrounds

teóricos mobilizados adicionalmente pela pesquisa: o espaço (teoria espacial) e o som

(“sound studies”). Parece promissor o fato de ele pensar o espaço e o social a partir de

uma imaginação acústica, pois leva a crer que aspectos próprios ao sonoro possam

ser mais contemplado nesses esforços de teorização. Considerado a quarta obra de

sua série sobre a vida cotidiana, o trabalho sobre ritmanálise é o último livro de

Page 134: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

133

Lefebvre, lançado postumamente. Sua proposta era a de transformar a ritmanálise não

só em um método, mas até mesmo em uma “ciência dos ritmos”. Mas apesar de sua

potência heurística, o texto deixa esse método por ser melhor delineado. O desafio

agora tem sido buscar pesquisas posteriores que tenham retomado, desenvolvido e/ou

questionado a ideia de ritmanálise, que a tenham aplicado como método, a que

problemas e com quais resultados, etc. Nas últimas semanas, tenho me dedicado a

me aprofundar nas ideias de Lefebvre e a buscar investigações que já tenham trilhado

alguns desses caminhos, especialmente na área das novas mídias, para poder

conceber uma forma consistente de, no contexto de minha investigação, trabalhar com

a ritmanálise – ou, ainda, se for o caso, abandoná-la.

Page 135: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

134

#selfie: você está certo disso?

Cristiane Weber

Universidade Feevale

Resumo Diariamente, milhares de pessoas postam fotos, carregadas de filtros de imagem, para

cultos aferidos a si próprios. As postagens ocorrem pelos mais diversos motivos, com

o esperado retorno de relevância e “curtidas” por parte de quem recebe o conteúdo

nas timelines. Em proposta de tese temos o objetivo de problematizar o ciclo narcísico

que marca a sociedade atual, promovendo uma triangulação entre três polos: o social

(relações interpessoais de culto ao narcisismo), o tecnológico (suportes para tal

execução) e o cognitivo/neural (reações orgânico-psíquicas da autoadmiração no

cérebro). Através dos eixos propostos, temos como objetivos específicos: (a)

investigar as tipologias de selfies em frente ao espelho, com análise não só

quantitativa como qualitativa (corpus); (b) realizar uma ampla pesquisa acerca da

evolução histórica e tecnológica da selfie, desde o autorretrato e sua difusão na

pintura até as milhões de postagens diárias e instantâneas; (c) coletar e processar

dados de exames de ressonância magnética em amostra a ser determinada, com

leitura da atividade cerebral durante o reconhecimento da face (essa última com

suporte de pesquisa em neurofilosofia no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul –

PUCRS). O corpus sugerido pela pesquisadora se trata de um compilado de selfies

em frente ao espelho, catalogadas pela ferramenta Websta, voltada a quantificar

hashtags (marcações de conteúdo online) e fotos postadas na rede social Instagram.

Apesar de se tratar de uma ferramenta importante em tal levantamento, principalmente

no quesito quantitativo, um dos grandes problemas enfrentados é a falta de

discernimento do próprio usuário na marcação #selfie. Na data de submissão desse

resumo, havia pelo menos 600 milhões de registros da #selfie na ferramenta. Nas

primeiras análises (que catalogam as fotos mais recentes para menos recentes), foram

encontradas fotos de bonecos (como a personagem do desenho Peppa Pig), de uma

modelo sendo fotografada por outra pessoa, fotos em grupos (que são chamadas de

wefies), frases, fotomontagens e paisagens. De quinze registros com a hashtag selfie

no minuto analisado, sete não se tratavam de um autorretrato. Com o filtro mais

apurado e a busca pelas hashtags “selfie” e “gym” (em tese mais comuns para fotos

em frente ao espelho), foram encontrados mais de cinco mil registros. Nos dez

primeiros, sete se tratavam de uma selfie na academia. Nos demais, o que foi captado

mostrava: alguém fotografando o atleta, um balão (balonismo) e uma jovem em um

Page 136: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

135

show a céu aberto. Acreditamos que os algoritmos de cruzamento de dados pela web

não sejam precisos (o que se torna um problema na pesquisa), tendo em vista a

quantidade de fotos captadas não condizentes com o conteúdo marcado

automaticamente. Assim, o estudo que poderia tratar o ponto de vista qualitativo com

maior rapidez deve se debruçar por mais tempo no quesito quantitativo, de forma a

precisar a real existência das fotos, mensurando assim o impacto de produção real, e

não o indicado pelas ferramentas de busca. A filiação teórica é a de estudos de

performance, baseada em autores como Ehrenberg (2010), Schechner (2003 e 2003),

Goffman (1975).

Page 137: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

136

Tamanho é documento? Desafios na construção de um corpus de pesquisa adequado à complexidade e processualidade do objeto”

Danielle Miranda

Nísia Martins do Rosário

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo O resumo apresentado aqui busca dar visibilidade aos impasses experienciados no

desafio de composição do corpus de pesquisa de dissertação defendida em maio de

2015, sob o título Outros nomes da ascensão: modos de enunciar afirmativamente as

periferias e as classes populares no discurso aberto televisivo. Tal trabalho tem como

tema os modos de enunciar afirmativamente as periferias e classes populares na

atualidade do ambiente comunicativo no Brasil, articulando três temáticas centrais:

televisão, periferias e o contexto de emergência de um discurso de ascensão

socioeconômica no país. Assumindo relações intrínsecas entre as transformações

socioeconômicas e culturais dos anos 2000 e 2010 no Brasil e as atualizações

discursivas percebidas no ambiente da TV aberta do país, partimos de uma

perspectiva teórico-metodológica foucaultiana, tensionada pelas contribuições do

campo da Comunicação, em especial relacionadas aos estudos sobre os mundos

televisivos, realidades televisivas e ao conceito de televisibilidade. Focamos o estudo

na dimensão comunicacional dessa rede de inteligibilidade que permite trazer a tona

novas formas de se ver e falar sobre as periferias e pautamos a análise em

enunciados midiáticos televisivos que as posicionam hoje em certos discursos

relacionadas à noção de ascensão. Dito isto, entre tantos outros impasses, um dos

mais duradouros que se apresentou no processo de pesquisa foi, sem dúvida, a

definição do corpus. Assim, nesta III Jornada, o que pretende-se é compartilhar os

anseios e reflexões a partir de impasses tais como: diante de nosso tema, como dar

conta de um corpus que apreendesse a complexidade e multiplicidade da TV aberta

brasileira? Como respeitar nossa perspectiva epistemológica e estabelecer um corpus

capaz de dar a ver a estruturalidade dos modos de definição do sistema de relações e

transformações possíveis em um novo contexto de visibilização midiática das

periferias? Como, foucaultianamente, compor um conjunto que proponha não

traduções do objeto, mas sim regularidades, visibilidades, relações e interdições?

Como não limitar o olhar neste percurso de acompanhar os movimentos de

recomposição socioeconômica do país e, ao mesmo tempo, garantir um recorte e

critérios de pertinência que permitiriam que as intensidades e a atenção direcionada

Page 138: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

137

aos objetos não se dispersassem em cenários tão diversificados que dificultariam a

composição de relações? Como respeitar a heterogeneidade fundamental à

composição de inteligibilidades a partir dos enunciados em circulação na TV? Em

síntese, portanto, propomos discutir em conjunto com os demais pesquisadores as

dificuldades e desafios de construções de corpus operativos de acordo com a

especificidade de cada pesquisa, para além do olhar quantitativo que se detém no

“tamanho” do corpus, mas especialmente voltando a sua validade enquanto conjunto

produtivo aos objetivos do trabalho, permitindo apreender as conexões e

processualidades do objeto, em sua condição movente e heterogênea.

Page 139: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

138

The book is still on the table

Pedro Pazitto Galhardi

Thais Sehn

Universidade Federal de Pelotas

Resumo O estudo está sendo feito como trabalho de conclusão de curso de bacharel em

Design Gráfico. A pesquisa encontra-se na fase intermediária, após a avaliação da

banca de qualificação. O estudo partiu da ideia de estudar os livros impressos como

objeto de desejo, inspirado no apreço que o próprio autor deste estudo tem pelos

livros. O possível diferencial desta pesquisa frente a outras seria o destaque do

contexto em que se vive com a crescente oferta dos livros em formato digital.

Tema O objetivo geral da pesquisa é compreender os motivos pelos quais o livro físico ainda

é adquirido e colecionado pelos leitores mesmo com o avanço dos e-books, e através

deste estudo realizar o projeto gráfico de um livro com potencial para se tornar um

objeto de desejo.

Objeto de pesquisa Livro impresso.

Problema Com o avanço da tecnologia digital dos e-books, quais são as características que

influenciam o leitor, mais especificamente o designer, a ainda desejar o livro físico?

Filiação teórica Até o momento foram confrontados alguns autores que discorrem tanto sobre o livro

impresso como o digital, desde aqueles que defendem a “morte” do impresso frente ao

virtual até aqueles que defendem a coexistência entre ambos os modelos. Para essa

discussão são utilizados os autores Furtado (2006), Chartier (1998), Oliveira (2013),

Ungaretti e Fragoso (2012), Bolter (2001) e Machado (1994). Para aprofundar a parte

do livro como desejo optou-se por seguir a linha do Design Emocional do Norman

(2008), trazendo um resumo dos níveis reflexivo, visceral e comportamental, para

pensar como isso pode ser aplicado ao design editorial para seduzir o possível leitor.

Page 140: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

139

Impasses atuais A princípio pensamos em fazer um questionário para selecionar leitores para fazer

entrevistas tentando descobrir o que chamaria sua atenção. Com base nesses

resultados seria embasado o projeto prático do tcc – obrigatório no curso de Design da

UFPel – que seria um livro que traria esses aspectos listados. Contudo no momento

da qualificação, percebeu-se o quanto seria difícil traçar um perfil do leitor, já que,

como pode ser visto em outros estudos (SEHN, 2008; SEHN; FRAGOSO, 2015), o

processo de leitura é muito particular, fazendo com que cada um tenha suas manias e

coincidentemente outra pessoa possa vir a ter uma mania semelhante a sua. Com

isso, optou-se por mudar o foco, o livro a ser projetado seria o próprio TCC do aluno,

que traria esses recursos ainda a serem descobertos. Ao invés de pensar em leitor

geral e imaginário, o público-alvo seria os próprios designers, que possuem uma

aproximação do pensamento do pesquisador, já que ele se insere nesse público-alvo,

e ficaria dentro das questões que o aluno quer abordar desde o inicio do trabalho.

Page 141: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

140

Usos sociais do Facebook por migrantes brasileiros na Suécia: identidades, diferenças e dinâmicas interculturais nas redes sociais online

Laura Roratto Foletto

Universidade Federal de Santa Maria

Resumo Esta proposta tem por objetivo compreender como podemos utilizar uma metodologia

qualitativa para as pesquisas nas redes sociais online a partir de uma perspectiva

teórica dos estudos de recepção latino-americanos, com base em Martín-Barbero

(2009; 2004) e Orozco Gómes (2000; 2007). Esse debate parte de uma proposta

maior, de dissertação de mestrado em desenvolvimento que tem por objetivo analisar

os usos sociais que migrantes brasileiros na Suécia fazem de grupos do Facebook.

Diante disso, questiona-se, de forma mais ampla, qual(is) metodologia(s) é(são) mais

adequada(s) para uma pesquisa de recepção na Internet?

Tema Pretendemos investigar como os brasileiros que residem na Suécia se apropriam de

grupos no Facebook para experienciar a respeito das questões de identidades,

diferenças e dinâmicas interculturais vivenciadas a partir da vivência da migração.

Objeto de pesquisa Analisar os usos sociais que migrantes brasileiros na Suécia fazem de grupos do

Facebook relacionado às questões de identidade e diferença.

Problema Quais são e como se dão os usos sociais do Facebook, especialmente nos ambientes

dos grupos, por migrantes brasileiros na Suécia e como essas interações dão

visibilidade e fomentam questões de identidade e diferença experimentadas pelos

sujeitos migrantes?

Filiação teórica Estudos de recepção latino-americana com Martín-Barbero (2009, 2004) e Orozco

Gómes (2000; 2007).

Page 142: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

141

Impasses atuais Como utilizar a etnografia virtual para estudos na internet sem que essas informações

não fiquem apenas descritivas e haja uma reflexividade sobre as informações? Quais

e de que forma outras técnicas além da entrevista ajudam a compreender o contexto

de pesquisa nas redes sociais online, a exemplo do Facebook? Pois, na minha

dissertação uso o método da etnografia virtual aliada à análise de conteúdo, como

uma técnica, para identificar as principais temáticas postadas e comentadas, além de

entrevistas com membros dos grupos, mas estou com dificuldade de avançar para

uma análise para além da descrição dos temas debatidos, de modo a compreender

efetivamente os sentidos construídos nas apropriações sociais dos sujeitos migrantes

nos grupos do Facebook.

Page 143: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

142

Violência Simbólica: trajetos para compreensão de discursos políticos legitimados nos Sites de Redes Sociais

Ana Karen Hernandorena Viegas

Universidade Católica de Pelotas

Resumo Esta pesquisa tem como tema as condições de produção e reprodução de discursos

violentos em atos de interação na internet, baseados em ideais políticos. A escolha

pelos sites de redes sociais (SRS), especificamente o Facebook, deu-se pelo seu

caráter múltiplo de personas inseridas no mesmo contexto, o que condiciona espaço

para propagação de conflito. Para discussão, serão utilizados conceitos centrais de

redes sociais, violência simbólica, capital social (primeiro e segundo nível), audiências

invisíveis, entre outros. Desta forma, cabe salientar que a comunicação virtual introduz

características de descentralização da informação, mudanças relativas às formas de

socialização, bem como adaptação da linguagem para replicação e (re)construção em

torno das constantes transformações políticas no cenário brasileiro. Além de utilizar

referenciais da Comunicação Mediada por Computador, percebe-se a necessidade de

trabalhar também com eixos teóricos da Análise do Discurso (AD). Assim, parte-se do

entendimento de que o meio condiciona a legitimação de objetos de sentido, os quais

desembarcam em uma grande arena de construtos ideais – como forma de

estabelecer parâmetros que acolham a perspectiva de que as formações discursivas

na internet representam resultados de interpelações ideológicas que já estavam

inconscientemente alojadas na memória discursiva para formação do dizer no ato de

interação. Para tratar o tema, serão utilizados os seguintes autores: Raquel Recuero,

Eni Orlandi, Michel Pêcheux, Slavoj Žižek, Pierre Bourdieu. A ComScore disponibilizou

insights de análise de tendência de comportamento, e entre os dados disponibilizados

de acesso à rede, o Brasil está como líder global em relação ao tempo gasto. Os

usuários navegam 29,7 horas/mês, ou seja, 7 horas a mais do que a média mundial

relativa a países da América Latina. Há destaque também para o contraste em relação

a fevereiro de 2013 a fevereiro de 2014, o que confirma que o Brasil possui a 5ª maior

audiência do mundo, com total de 68,1 milhões de visitantes. No pódio dos espaços

mais visitados, estão o Google Sites e o Facebook – líder na categoria redes sociais.

Com, isso, percebe-se a possibilidade de repercussão que qualquer discurso pode

ganhar na rede. Com base neste parâmetro, cabe expor que neste trabalho serão

apresentados recortes do discurso de um vídeo de uma persona pública, jornalista

Débora Albuquerque, atual administradora da comunidade Revoltados Online, postado

Page 144: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

143

logo após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, em 2014, e que obteve 67.129

curtidas e 221.579 compartilhamentos. Percebe-se como problema a necessidade de

estabelecer abordagem metodológica para analisar o discurso de ódio de cunho

político, de forma a entender os critérios de legitimação em tentativas de

desmoralização do dizer do tu para afirmação do dizer do eu. Também é importante

buscar alternativas para seleção de recortes do corpus escolhido para análise e suas

correlações em termos de comentários e compartilhamentos.

Page 145: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

144

“Zelando o ouro produzido no passado”: escavando construtos de memória através do site Propagandas Históricas

Roberta Fleck Saibro Krause

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo Minha dissertação de mestrado se propõe a “zelar o ouro produzido no passado” em

busca de construtos de memória através do site Propagandas Históricas (PH). Através

de escavações na web, venho observando que a história da publicidade está

registrada em diversas manifestações de arquivamento, desde formas mais

categóricas como os anuários impressos que posteriormente são digitalizados. Foi a

partir dessas pistas audiovisuais do mercado da propaganda na rede que me deparei

com o site PH, uma iniciativa que realiza um resgate de diversas campanhas mundiais

desde o século XIX. Com um olhar “contagiado” por autores como Georges Didi-

Huberman e Walter Benjamin, minha forma de pensar a história de uma maneira

cronológica e linear, foi sendo apoiada por uma proposta de tempo não sequencial,

que auxilia a contextualizar a memória e o imaginário contido nas imagens. Didi-

Huberman diz que a história e memória devem ser interrogadas através das imagens,

propondo um novo modelo de temporalidade; deixando a imagem no centro do

pensamento sobre o tempo. Esse devir contido nas imagens me fez resgatar termos

bergsonianos para pensar meu problema de pesquisa mais em função do tempo do

que do espaço. Assim, minha pergunta de pesquisa é: Como os construtos de

memória na web se atualizam nos audiovisuais publicitários do site PH? Para

problematizar o material empírico através de uma perspectiva tecnocultural que

“tensiona vários tempos” e que interroga imagens “do passado” na sua atualização, é

que encontro minha principal dificuldade metodológica na pesquisa. Como pretendo

iniciar meu “agir arqueológico” trazendo uma visão através da vertente designada

como arqueologia das mídias, como uma forma de articular os conceitos de memória,

as mídias e história, estou enfrentando problemas quanto à sua aplicabilidade. Uma

das características da metodologia é justamente não possuir um “manual de uso”,

enfatizando ser uma proposta que se adapta ao objetivo do pesquisador. Isso faz com

que questione constantemente se a maneira como estou escavando a interface seria a

mais produtiva ou mais adequada para meu problema. O primeiro passo após escavar

a web com o alicerce da arqueologia da mídia, será fazer a análise do material

empírico coletado, com uma cartografia, inspirada em Benjamin, através das capturas

de telas da interface web. Por meio desse movimento, pretendo compreender melhor o

Page 146: ANAIS DA - ufrgs.br · Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos Editoração e Layout: Luiza Santos ... 80 Juliano Rodrigues Pimentel . Fernandão: a

145

uso da arqueologia para desenvolver um trajeto sobre as escavações, e,

consequentemente, criar mapas de constelações. O percurso da pesquisa

arqueológica atravessará camadas que estão posicionadas no PH e que se

interconectam, como a camada “temporalizada”, (virtual), onde há diversos tempos

que “duram” como web, usuário, publicidade, televisão, como venho notado por meio

de comentários nostálgicos dos usuários, ou através dos compartilhamentos e “likes”

nas redes sociais. A interface que remidia o vídeo “transmutado” para ser reproduzido

na mídia digital também acompanha uma camada de “navegação”, da ordem das

materialidades, que faz o percurso desse audiovisual na correnteza fluída da rede, de

forma recorrente e cíclica registrando traços da memória “viva” na web.