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Anais do V Fórum

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Organização do Evento

Coordenação Geral• Ana Irene Alves de Oliveira

Comissão Científica e Avaliadora____• Alessandra Natasha Alcântara Barreiros• Ana Irene Alves de Oliveira• Andréa da Silva Miranda • Cláudia Maria da Rocha Martins• Fernanda Martins Hatano• George Alberto da Silva Dia• Ivanilde Apoluceno de Oliveira• Jorge Lopes Rodrigues Júnior• Lucieny da Silva Pontes • Luzianne Fernandes de Oliveira• Manoel da Silva Filho• Manoel Gionovaldo Lourenço• Marcilene Alves Pinheiro• Maria Joaquina Nogueira da Silva• Rafael Luiz Morais da Silva

Comissão de Apoio e Secretaria• Tawan Tupinambá Duarte• Rogério Ferreira Bessa• Luis Fernando Gomes Sales• Matheus Henrique dos Santos

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ISBN: 978-85-93260-00-1

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Sistema de Bibliotecas da UEPA

Anais do V Fórum de Tecnologia Assistiva e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência / Organizadoras: Ana Irene Alves de Oliveira, Luzianne Fernandes de Oliveira. – Belém, 2016.

539 p. : il.

Inclui referências

ISBN 978-85-93260-00-1

1. Tecnologia Assistiva. 2 Acessibilidade. 3. Políticas Públicas. 4. Inclusão Social. I. Alves de Oliveira, Ana Irene, org. II. Oliveira, Luzianne Fernandes de, org.

CDD 22.ed. 362.4

________________________________________________________________________________

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APRESENTAÇÃO

O V Fórum de Tecnologia Assistiva e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência tem como objetivo principal promover o intercâmbio de in-formações e a reflexão sobre as tendências no Brasil, sendo uma das prin-cipais oportunidades para expandir, nacionalmente, o debate sobre o co-nhecimento produzido pelos pesquisadores, professores e alunos sobre os processos de inclusão e de acessibilidade, mediada pelos recursos e estra-tégias da Tecnologia Assistiva que contribuem para a melhoria da qua-lidade de vida; Possibilitar interlocução entre as instituições de ensino e pesquisa do País, da Região e do Estado que se fizerem presentes, compar-tilhando suas experiências em relação à inclusão e à acessibilidade para a Promoção Humana; Apresentar resultados de pesquisa dos alunos da Pós-Graduação e da Graduação, e de outros atores sociais que atuam em torno da temática do evento; Criar um espaço de debate nacional sobre as novas tecnologias na educação inclusiva e reabilitação; Contribuir com novas alternativas para governo e Sociedade Civil em relação à inclusão social e escolar de pessoas com deficiência; Traçar alternativas de recursos de Tecnologia Assistiva para favorecer a inclusão social, no trabalho e na escola; Proporcionar um espaço de Reflexão para que profissionais, acadê-micos, pais e familiares, possam conhecer as as formas de intervenção com pessoas com deficiência; Conhecer e debater as novas tecnologias e recur-sos utilizados no processo de comunicação Alternativa e Aumentativa de pessoas com deficiência.

O tema central desse evento está em conformidade com as atuais pro-postas do Ministério da Saúde, Ministérios da Educação e Ministério da Ci-ência, Tecnologia e Inovação no que diz respeito ao processo de inclusão social e escolar das pessoas com deficiência e de Inovação Tecnológica e pre-tende discutir com pesquisadores e profissionais que trabalham em diversos locais do país com a tecnologia assistiva.

Os trabalhos aqui apresentados, frutos do compromisso social e da dedicação de pesquisadores, profissionais e alunos de diferentes áreas e re-giões do país vinculadas à temática, vêm reforçar ainda mais a importân-cia do desenvolvimento de políticas públicas que envolvam diretamente

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questões relativas às intervenções que priorizem a promoção da inclusão e valorização da pessoa humana, com a melhoria da qualidade de vida, fomentando, desse modo, a formação e a consolidação da consciência na-cional para a adoção de práticas voltadas à inclusão social da pessoa com deficiência.

Profa. Dra. Ana Irene Alves de OliveiraCoordenadora do Evento

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SUMÁRIO

1 - A FORMAÇÃO CONTINUADA COMO MEDIADORA DO PROCESSO

DE INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE NO CONTEXTO UNIVERSITÁRIO:

Percepção de condutores de passageiros da Universidade Federal do Pará

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2 - PROTÓTIPO DE SOLUÇÃO EMBARCADA DE DETECÇÃO DE OBSTÁCULOS PARA DEFICIENTES VISUAIS 21

3 - PLATAFORMA APRENDE: aprendizado guiado online 294 - SAATO: Software para Avaliação da Amplitude de Movimento Computadorizada 39

5 - APLICATIVO ACESSÍVEL VIA BLUETOOTH PARA ALFABETIZAÇÃO FONICA 45

6 - CONTROLE DE AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL GUIADA POR ELETROENCEFALOGRAMA 55

7 - EFICÁCIA DO USO DO CADERNO DE FÉRIAS COMO FERRAMENTA AUXILIAR E O COMPROMETIMENTO DA FAMILIA 63

8 - UMA REFLEXÃO SOBRE A OFICINA DE ÓRTESE EM UM HOSPITAL DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 73

9 - A INFLUÊNCIA DO USO DE ÓRTESES NO REESTABELECIMENTO FUNCIONAL DO PACIENTE QUEIMADO 79

10 - SISTEMA SEMAFÓRICO ACESSÍVEL 8511 - TECNOLOGIA ASSISTIVA NA CONSTRUÇÃO DE UM PROCESSO PEDAGÓGICO INCLUSIVO 97

12 - A VIVÊNCIA DA REABILITAÇÃO DE UMA CRIANÇA SURDA: MULTIDISCIPLINARIDADE ENTRE TERAPIA OCUPACIONAL E FONOAUDIOLOGIA.

109

13 - O USO DE ADAPTAÇÕES PARA ATIVIDADE DE ALIMENTAÇÃO POR PACIENTE TERAPLEGICO DURANTE A INTERNAÇÃO 117

14 - IDENTIFICAÇÃO DAS BARREIRAS ARQUITETONICAS DE ACESSIBILIDADE DAS SALAS DE AULA DO CAMPUS II DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

125

15 - A ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DA GAMETERAPIA NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE UM INDIVÍDUO COM PARALISIA CEREBRAL DO TIPO ESPÁSTICA

135

16 - REALIDADE VIRTUAL, TERAPIA OCUPACIONAL E AUTISMO: PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO DO JOGO DEMO INDEPENDENCE 145

8

17 - PLATAFORMA SOCIAL VIRTUAL PARA CUIDADORES DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA 157

18 - PLANEJAMENTO MOTOR E PROCESSAMENTO SENSORIAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE UMA CRIANÇA COM ATRASO NO DESENVOLVIMENTO DECORRENTE HIPERSENSIBILIDADE ALIMENTAR

167

19 - ANÁLISE FUNCIONAL DE UMA CRIANÇA COM PARALISIA CEREBRAL QUE FEZ USO DA ROUPA BIOCINÉTICA ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DO TESTE DE CAMINHADA DE DOIS MINUTOS: um estudo de caso.

177

20 - EFETIVIDADE DA GAMETERAPIA NO DESEMPENHO OCUPACIONAL DE UMA ADOLESCENTE COM PARALISIA CEREBRAL E DEFICIÊNCIA AUDITIVA

185

21 - O BRINCAR COMO ESTRATÉGIA DE ACESSIBILIDADE AO PROCESSO DE INCLUSÃO. 199

22 - A TECNOLOGIA MOTION CAPTURE APLICADA A USUÁRIOS DE PRÓTESES: uma revisão sistêmica. 209

23 - VISAPP: UM APLICATIVO MÓVEL PARA AUXÍLIO DE LEITURA, RECONHECIMENTO DE OBJETOS, LOCALIZAÇÃO E ORIENTAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL.

219

24 - QUIMIVOX MOBILE: Aplicativo para Auxilio de Deficientes Visuais no Ensino da Tabela Periódica 231

25 - CIA DA GENTE E A IMPORTÂNCIA DOS PROFISSIONAIS, MONITORES NO CAPS IJ DE OURO PRETO, MINAS GERAIS - PARCERIAS E INCLUSÃO

241

26 - A INTERFACE SAÚDE-EDUCAÇÃO-FAMÍLIA NA CLÍNICA DO SERVIÇO DE SAÚDE MENTAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DE OURO PRETO

251

27 - ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE USUÁRIOS ATENDIDOS EM UM NÚCLEO DE DESENVOLVIMENTO EM TECNOLOGIA ASSISTIVA E ACESSIBILIDADE

265

28 - APRECIAÇÃO MUSICAL PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA: um diálogo entre psicologia, tecnologia e arte. 275

29 - O USO DO TABLET COMO RECURSO PARA ESTIMULAÇÃO DA APRENDIZAGEM DE CRIANÇA COM PARALISIA CEREBRAL: UM ESTUDO DE CASO

289

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30 - PERFIL COGNITIVO DOS PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL ATENDIDOS PELA FONOAUDIOLOGIA NO NÚCLEO DE DESENVOLVIMENTO EM TECNOLOGIA ASSISTIVA E ACESSIBILIDADE - NEDETA

301

31 - PERFIL SOCIOECONOMICO DE PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL DO NEDETA QUE UTILIZAM A COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA.

309

32 - TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS NA REABILITAÇÃO DE UMA ADOLESCENTE COM SÍNDROME DE RASMUSSEN: Estudo de Caso 321

33 - TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS (TAA) NA VISÃO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS 331

34 - A CARTOGRAFIA TÁTIL E O USO DO BRAILLE COMO UMA FERRAMENTA NO ENSINO DA GEOGRAFIA AO ALUNO DEFICIENTE VISUAL DO 6º ANO NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO PROFª. REGINA COELI.

343

35 - ACESSIBILIDADE PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS – RECURSO DE TECNOLOGIA ASSISTIVA COMO APOIO À APRENDIZAGEM E INCLUSÃO

351

36 - APLICATIVO MÓVEL “PRÓ COMUNIQUE” COM SUPORTE DE INTERFACE PARA COMUNICAÇÃO COM RECURSO DO BLUETOOTH 363

37 - O JOGO COMO RECURSO E INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO: VIVÊNCIAS DO SETOR DE GAMETERAPIA DO NEDETA/UEPA 375

38 - A IMPORTÂNCIA DO ACESSO À INFORMAÇÃO SOBRE O USO DE RECURSOS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA PARA A POPULAÇÃO IDOSA COM DEFICIÊNCIA VISUAL

387

39 - PARALISADO CEREBRAL NO ESPORTE BOCHA NA CLASSIFICAÇÃO BC3 SUPERANDO LIMITES COM TECNOLOGIA ASSISTIVA 399

40 - TECNOLOGIA ASSISTIVA: ADAPTAÇÃO DE CHAPÉU PARA A LOCOMOÇÃO E LOCALIZAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS VIA SISTEMA IGO E ARDUINO

405

41 - COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AMPLIADA: CONCEPÇÃO DE PROFESSORES QUE ATUAM NAS SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS DA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO JARBAS PASSARINHO

421

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42 - PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE USUÁRIOS QUE REALIZARAM PRESCRIÇÕES DE CADEIRAS DE RODAS PERSONALIZÁVEIS/PERSONALIZADAS NO NÚCLEO DE DESENVOLVIMENTO EM TECNOLOGIA E ACESSIBILIDADE - NEDETA/UEPA

435

43 - DISPOSITIVO PARA AUXÍLIO A ALFABETIZAÇÃO PARA PESSOAS CEGAS OU DE BAIXA VISÃO

445

44 - A UTILIZAÇÃO DA ROUPA BIOCINETICA NO TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL- UM ESTUDO DE CASO

459

45 - SISTEMA ACESSÍVEL DE ALFABETIZAÇÃO EM BRAILLE 46946 - A INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA OCUPACIONAL NA CONFECÇÃO DA PRANCHA DE COMUNICAÇÃO REGIONALIZADA PARA PACIENTE COM SEQUELAS DE TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

483

47 - ACESSIBILIDADE E AUTONOMIA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: Perspectivas a partir do Instituto Federal do Pará (Campus Belém)

491

48 - APLICATIVOS MÓVEIS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL 50349 - EQUOTERAPIA SEM MONTARIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA 51550 - TECNOLOGIA ASSISTIVA PARA DEFICIENTES VISUAIS 52151 - OS BENEFÍCIOS DA ROUPA BIOCINÉTICA COMO INSTRUMENTO DE REABILITAÇÃO FUNCIONAL PARA SUJEITOS COM PARALISIA CEREBRAL 531

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A FORMAÇÃO CONTINUADA COMO MEDIADORA DO PROCESSO DE INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE NO CONTEXTO UNIVERSITÁRIO: Percepção de condutores de passageiros da

Universidade Federal do Pará.

Carla Adriana Vieira do Nascimento1; Cristina Gomes da Silva1;

Mariane Sarmento da Silva Guimarães1.

RESUMO

O Núcleo de Inclusão Social (NIS) da Universidade Federal do Pará (UFPA) foi criado para garantir as condições necessárias para o pleno acesso, par-ticipação e aprendizagem dos estudantes com deficiência em todas as suas atividades acadêmicas, desse modo, acredita-se que todos, docentes e ser-vidores, devem estar envolvidos no processo de inclusão desses alunos, sendo a capacitação uma das estratégias, para que possam compreender as demandas do universitário com deficiência, e desmistificar mitos ainda presentes, para que possam se relacionar com mais naturalidade e segu-rança. Conhecer a perspectiva dos condutores de passageiros a respeito do curso de formação continuada sobre pessoa com deficiência e mobilidade reduzida. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter transversal, descritiva e de campo. A coleta de dados foi realizada através da aplicação de um questionário semiestruturado, direcionadas para 08 motoristas que trabalham nos veículos da UFPA que participaram do curso de formação continuada para o transporte de passageiros com deficiência e mobilidade reduzida, pelo Núcleo de Inclusão Social. O estudo identificou a dificulda-de dos motoristas no atendimento e relacionamento com pessoas com defi-ciência, porém as informações ministradas e a prática vivenciada no curso trouxeram benefícios aos condutores. Foi possível concluir importância da formação para os outros personagens que constituem a universidade.

Palavras chaves: Terapia Ocupacional; pessoa com deficiência; formação continuada.

1 Núcleo de Inclusão Social (NIS) da Universidade Federal do Pará (UFPA)

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INTRODUÇÃO

O conceito de inclusão é muito recente se comparado à trajetória de séculos de exclusão vivenciados pelas Pessoas com Deficiência. É possível perceber que ao longo dos séculos houve diversas mudanças conceituais sobre a deficiência e sobre o tratamento dispensado pela sociedade às pes-soas que apresentavam deficiências. Atualmente, o movimento da inclu-são, baseia-se na visão social de um mundo democrático, onde se anseia respeitar os direitos e deveres de todos independente das diferenças de cada um, de maneira que as pessoas com deficiência possam viver de for-ma independente e participar plenamente de todos os aspectos da vida em sociedade em igualdade de oportunidade com as demais pessoas (ANTU-NES et al, 2013; DUARTE et al, 2013).

Neste cenário, encontram-se os direitos referentes à educação que co-meçou a se destacar com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que propôs diretrizes para a oferta na rede regular de ensino do Aten-dimento Educacional Especializado (AEE) às pessoas com deficiência e, com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9.394/96, onde a educação espe-cial passou a ser reconhecida como uma modalidade de educação escolar (BRASIL, 1988; 1996).

Conforme a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência nº 13.146, as Instituições de Ensino Superior (IES) devem garantir as condi-ções necessárias para o pleno acesso, participação e aprendizagem dos estu-dantes com deficiência em todas as suas atividades acadêmicas (BRASIL, 2015). Porém, as IES enfrentam desafios crescentes com a democratização do ensino e o ingresso de alunos com deficiência, e com a escassez e necessida-de de formulação de políticas públicas que contemplem ações que avancem para uma educação inclusiva também no ensino superior, que garantam não somente o acesso a instituição de ensino, mas também sua permanência e sucesso acadêmico e profissional (ANTUNES et al, 2013).

Nesse contexto, a Universidade Federal do Pará (UFPA) elaborou o seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) de 2010 a 2015, com vistas à elaboração e implantação da Política Institucional de Inclusão, co-ordenada pela Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (PROEG) que criou o Núcleo de Inclusão Social (NIS), por meio da Portaria nº 1416/2012-Rei-

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toria/UFPA, com objetivo de garantir na educação superior a eliminação de barreiras atitudinais, físicas, de comunicação e de informação que res-tringem a participação e o desenvolvimento acadêmico e social, para uni-versitários com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/superdotação, indígenas e quilombolas (NIS, 2015).

Neste sentido, para implementar as ações inclusivas necessárias e es-truturar as estratégias que possibilitem a autonomia e a permanência, dentro da Universidade para as pessoas com ou sem deficiência, no espaço universitário, a equipe do NIS é composto por diversos profissionais, entre estes, o terapeuta ocupacional (NIS, 2015).

A finalidade primordial da Terapia Ocupacional é possibilitar a parti-cipação dos indivíduos nas atividades da vida cotidiana trabalhando para ampliar sua capacidade de se envolverem nas ocupações que desejam e necessitam realizar ou que se espera que elas realizem, como as atividades que envolvem a área educacional. Considerando que a participação pode ser facilitada ou restringida pelas habilidades físicas, afetivas e cogniti-vas do indivíduo, pelas características da ocupação e pelos ambientes físi-cos, sociais, culturais, atitudinais e por aquilo que está positivado nas leis (CREFFITO, 2015).

Visto que o aumento de estudantes com deficiência no ensino superior coloca à Universidade desafios sobre o processo de inclusão, no sentido de responder eficazmente às necessidades dos alunos, pois o contexto univer-sitário promove desafios de aprendizagens, e privar alguém dos desafios universitários é impedi alguém de se desenvolver, e não se pode se aprisio-nar em uma concepção equivocada de limitação, uma vez que a deficiência é em grande parte aquilo que a estrutura física, social e de atitude das pessoas impõem aos sujeitos com restrições de suas funcionalidades (AN-TUNES et al, 2013).

Embora haja vários debates sobre a inclusão das pessoas com defici-ência na educação, se reconhece que os sujeitos envolvidos sofrem todos os tipos de descriminação e de imposição de uma sociedade que os elimi-na sendo falsa a concepção de que estão em igualdade de oportunidades (DUARTE et al, 2013). No estudo de Antunes e colaboradores (2013) os alunos com deficiência participantes do estudo apontaram como um dos

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principais fatores inibidores da inclusão a ocorrência de atitudes discrimi-natórias no contexto universitário.

Mendonça (2013) conceitua barreiras atitudinais como atitudes fun-damentadas em preconceito e estereótipos que produzem a discriminação, que reflete na maioria das vezes, no medo do desconhecimento em como agir adequadamente diante da pessoa com deficiência. Tais atitudes po-dem ser manifestar tanto de forma explicita como, recusar-se a interagir com a pessoa com deficiência, assim como velada, por exemplo, em um tratamento superprotetor, o qual provoca constrangimentos e dificulta a plena participação social da pessoa com deficiência nos ambientes dos quais participa.

Diante disso, compreende-se que para que tais dificuldades não ame-acem a permanência de estudantes com deficiência nas instituições de en-sino devem-se instrumentalizar todos os atores envolvidos no processo de inclusão desses alunos não apenas os docentes, por meio de estratégias como as capacitações, para que estes sujeitos possam compreender os con-ceitos referentes à pessoa com deficiência, suas demandas e desmistificar mitos ainda presentes, para que possam se relacionar com as pessoas com deficiência com mais naturalidade e segurança no seu dia a dia, pois a for-mação implica um processo contínuo, que vai além da presença dos sujei-tos em cursos, que visem mudar sua ação no processo inclusão. Assim, as capacitações deve permitir a reflexão dos participantes sobre suas crenças e ações, para que possam lidar com as diferenças, com a singularidade (NASCIMENTO, 2009).

Neste sentido, a literatura demonstra que para o sucesso de ações e programas que visem a inclusão de alunos com deficiência se faz necessário o envolvimento de todos os membros da instituição de ensino (professores, alunos, técnicos, serviços gerais, motoristas e outros), pois apresentam pa-péis específicos e fundamentais e são quem convivem diariamente com as dificuldades existentes para inclusão e acesso das pessoas com deficiência (NASCIMENTO, 2009), assim, achou-se pertinente apreender a impor-tância da formação continuada para servidores, condutores de passagei-ros, como geradora de inclusão para universitários com deficiência.

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OBJETIVO

Conhecer a perspectiva dos condutores de passageiros a respeito do curso de formação continuada sobre pessoa com deficiência e mobilidade reduzida.

METODOLOGIA

Esta pesquisa se caracteriza por uma abordagem qualitativa. A pes-quisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, cren-ças e atitudes, que se inter-relacionam construindo um espaço subjeti-vo, o lugar mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos (GERHARDT; SILVEIRA, 2009).

De caráter transversal, estritamente descritivo e de campo. A pesqui-sa transversal descreve os indivíduos de uma população com relação às suas características e suas historias de exposição a fatores causais suspei-tos. A pesquisa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo visa descrever os fatos e fenômenos de determinado contexto (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Enquanto a pesquisa de campo refere-se ao local que o pesquisador vai para realizar seus estudos, para observar e interagir no ambiente natural do sujeito (SPINK, 2003).

A coleta de dados foi realizada através da aplicação de um questio-nário semiestruturado contendo 05 (cinco) perguntas discursivas, direcio-nadas para 08 (oito) motoristas, selecionados de maneira aleatória, que trabalham nos veículos da Universidade Federal do Pará que participa-ram do “Curso de formação continuada para o transporte de passageiros com deficiência e mobilidade reduzida”, realizado pelo setor de deficiência física e múltipla do Núcleo de Inclusão Social. Todos os sujeitos que acei-taram participar do estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Com o intuito de preservar a identidade dos sujeitos que participaram das entrevistas, cada participante recebeu uma nume-ração aleatória. Organizaram-se as informações dos questionários em um quadro síntese, para análise de conteúdo e obtenção de categorias de estu-do, que foram: Dificuldades de atendimento e relacionamento com Pesso-as com Deficiência; Relevância das informações ministradas e O papel no processo de inclusão.

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RESULTADOS

De acordo com os dados coletados, todos os sujeitos da pesquisa são do sexo masculino, com a faixa etária de idade, entre 39 a 47 anos. Re-ferente ao tempo de serviço na universidade federal do Para é de 2 a 17 anos. Em sua maioria, (80%) não havia participado de outros cursos sobre transporte de passageiros com deficiência ou mobilidade reduzida.

Com relação às dificuldades de atendimento e relacionamento com Pes-soas com Deficiência foram encontrados aspectos relacionados à dificulda-de de manter um diálogo com a pessoa com deficiência, conforme indica M7” É o dialogo com o deficiente [...] que às vezes ele não quer ajuda” e M6 “[o difícil é] a forma de abordar essas pessoas”. E ainda, a falta de infor-mação de como se portar diante da dificuldade do outro, a maior parte dos indivíduos desconhecia como oferecer ajuda sem constranger o estudante universitário com deficiência ou com mobilidade reduzida, as seguintes fa-las evidenciam essa dificuldade: “Acredito que [a principal dificuldade seja] a falta de informações relacionada à mobilidade reduzida” (M3) e “Minha dificuldade era como eu poderia oferecer [ajuda] aos mesmos”.

Rebouças e colaboradores (2011) evidenciam que a dificuldade de acesso das pessoas com deficiência está relacionada não apenas a estrutura física de um determinado local, mas também, o despreparo dos profissio-nais que atendem essa clientela, o que influencia os estados subjetivos dos profissionais, como o aumento da carga de estresse. M4 identifica que há um aumento do “estresse do dia a dia”.

Além disso, de acordo com os servidores, outro fator que dificulta o desempenho de seu trabalho com os sujeitos com deficiência envolve as condições estruturais do ambiente de trabalho, como a inadequação e a dificuldade com o manejo dos equipamentos utilizados nos veículos. As-sim relata M6: “Muitas das vezes o equipamento que conduzimos não são adequados” e M1 “[É difícil] o manuseio dos elevadores do circular”. E ain-da da estrutura física da instituição, relatado por M3: “A acessibilidade no campus ainda é muito deficiente”.

Outra categoria analisada foi referente à relevância das informações ministradas no curso de formação. De acordo com os dados coletados as informações ministradas e a prática vivenciada no curso irão beneficiar o

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desempenho satisfatório dos participantes no trabalho, pois servirão como subsídios para o desempenho na sua prática cotidiana, M3 relata que “[...] todas as orientações foram interessantes e importantes pro nosso desempenho junto às pessoas com deficiência (...)”.

Chimentão (2009) ressalta que a informação e o conhecimento são re-quisitos indispensáveis para a vida profissional dos sujeitos, possibilitan-do o encontro de caminhos alternativos e mais adequados para as dificul-dades vivenciadas, e também possibilita o desenvolvimento da reflexão crítica da prática que se desenvolve na instituição em que trabalha.

Nos achados de Pacheco e Evangelista (2015) evidenciou-se que os sujeitos que participam de formações buscam informações que respondam parte de seus anseios referente a temáticas da inclusão das pessoas com deficiência. Os autores ressaltaram que à carência de esclarecimento, trei-namento e prática levam a atitudes de discriminação e preconceito.

Observou-se que as informações obtidas pelos o os indivíduos abarcou dúvidas no atendimento as pessoas com deficiência, conforme a fala de M7:

“Até o momento eu não sabia conduzir o cadeirante, agora com o curso já sei”. Verificou-se ainda que apesar das orientações ministradas abarcarem todos os tipos de deficiência, a maioria dos sujeitos evidenciaram as orien-tações quanto ao atendimento e o relacionamento de pessoas com defici-ência física, como presente na fala de M4 “Como conduzir os cadeirantes de modo certo” e M2 “Prender a cadeira de acordo como foi realizado no curso”.

No que tange a categoria papel no processo de inclusão, os sujeitos no conteúdo de seus discursos se reconhecem com atores no processo de garantia da inclusão e acessibilidade aos universitários com deficiência, pois participam do cotidiano desses alunos, conforme o relato de M3: “Me vejo de forma muito importante, pois estamos todos os dias em contato com os mesmos”. Além disso, verificou-se uma satisfação dos sujeitos em prestar uma assistência adequada às necessidades específicas das pessoas com de-ficiência, ressaltado por M7: “Já me vejo satisfeito por atender com eficiência e educação”.

Segundo discute Oliveira (2012) a inclusão somente é efetivada quan-do ocorre uma troca de afeto e empatia dos sujeitos para com a neces-sidade do outro, pois os indivíduos são incentivados a se apropriar dos

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meios necessários para proporcionar ao outro uma experiência positiva no contato diário com sujeitos que em outro momento teve sua austeridade desfigurada com uma representação de menos valia.

CONCLUSÃO

Apesar de a inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior ser um direito instituído e garantido pela legislação brasileira, isso não é suficiente para garantir a construção e o desenvolvimento de um sistema educacional inclusivo, pois a barreira que mais inibe a participação desses sujeitos na intuição de ensino é aquela que envolve a atitude das pessoas.

Nesse sentido, a inclusão pressupõe a organização e aplicação de es-tratégias para a eliminação de barreiras física e de comunicação e, muito importante, a eliminação de barreiras relacionadas com as atitudes da comunidade universitária uma vez que cada sujeito apresentam papéis específicos e fundamentais para inclusão e acesso das pessoas com defici-ência no cotidiano da instituição de ensino.

Diante disso, esta pesquisa torna-se relevante por evidenciar um per-sonagem que faz parte do cotidiano dos alunos com deficiência na uni-versidade, por vezes é negligenciado: os motoristas do ônibus interno da universidade, que também precisam de informações que respondam parte de seus anseios e dificuldades referente a temática da inclusão das pessoas com deficiência para que possam atuar de forma eficaz com pessoas com deficiências.

Além disso, compreende-se que a oferta de informações relevantes pode servir não apenas como subsídios para o desempenho na sua prática cotidiana dos sujeitos, mas pode também desencadear mudanças de valo-res, atitudes e comportamentos, pois estes sujeitos se reconhecem como atores no processo de garantia da inclusão e acessibilidade aos universitá-rios com deficiência.

Assim, ao subsidiar a pratica desses profissionais no atendimento e relacionamento com as pessoas com deficiência se favorece vivencias posi-tivas entre servidores e alunos com deficiência, onde ambos podem desen-volver uma percepção favorável da inclusão, construída a partir da expe-riência vivenciada.

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Em síntese, a importância da formação para os outros personagens que constituem a universidade, como os motoristas, constituem-se em um campo de reflexão e de trabalho em conjunto de todas as partes para que a inclusão esteja de fato presente no cotidiano da universidade, pois sabe--se que esta área transborda os limites educacionais e por isso há a neces-sidade de oferece esse suporte a estes profissionais para que estes possam continuar oferecendo um serviço de qualidade as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, neste trabalho tão importante que muitas vezes é pouco valorizado.

REFERÊNCIAS

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vos/2496-8.pdf> Acesso em: 26 de agosto de 2016.NÚCLEO DE INCLUSÃO SOCIAL (NIS). Plano de Ação do Núcleo de Inclusão Social - UFPA 2016-2026. Belém, p.26. 2015. Trabalho não pu-blicado.PACHECO, D. EVANGELISTA, Y. Programa Arumã/IFAM: Formação Continuada de Professores em Educação Especial na Perspectiva da Edu-cação Inclusiva, no Interior do Amazonas. Nexus Revista de Extensão do IFAM. v.1,n.2,Dez. 2015. p.9-14.REBOUÇAS et al, C. Pessoa com deficiência física e sensorial: percepção de alunos da graduação em enfermagem. Acta Paul Enferm. v.24, n. 1, p. 80-86. 2011.

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PROTÓTIPO DE SOLUÇÃO EMBARCADA DE DETECÇÃO DE OBSTÁCULOS PARA DEFICIENTES VISUAIS

Alessandra Natasha Alcântara Barreiros2; Antônio Victor dos Santos Pontes2.

RESUMO

CEGO é um protótipo em forma de cinto, desenvolvido para promover me-lhorias na qualidade de vida de deficientes visuais. Sua proposta é ajudar na livre locomoção em locais públicos ou fechados através do mapeamento de obstáculos acima e abaixo da cintura do indivíduo por meio de sensores ultrassônicos, permitindo ao deficiente visual desviar de possíveis colisões.

Palavras-chave: Mapeamento. Deficiente. Locomoção. Cego. Assistiva.

2 CESUPA - Centro Universitário do Pará

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INTRODUÇÃO

A população de pessoas com deficiência no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano de 2015 (IBGE, 2015) estão em torno de 12,4 milhões. Esse número representa 6,2% do total de brasileiro que, de alguma forma, precisam adaptar suas rotinas de modo a desempenharem atividades do dia a dia.

Nesse sentido, tem-se observado iniciativas de incentivo e amparo ao desenvolvimento de soluções que buscam na tecnologia uma forma de atender tal demanda. Entretanto, a base de dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) do ano de 2012 (INPI, 2012), registrou 27 patentes destinadas ao auxílio de pessoas com deficiência. E esse núme-ro fica ainda mais restrito se buscarem-se, no INPI, soluções para pessoas com necessidades específicas, como de apoio a deficiência visual. Para esta pesquisa o retorno do INPI mostra 10 resultados no âmbito do Brasil, no ano de 2012 (INPI, 2012).

No contexto atual, por outro lado, o que pode ser percebido é a ado-ção indispensável da usual bengala branca para deficientes visuais, pois a mesma proporciona noção do espaço ao redor de seu usuário, como cal-çadas, degraus, etc. Todavia, mesmo a bengala comum apresenta proble-mas quanto ao seu uso em ambientes abertos ou fechados, como postes, buracos, placas, etc. tornando seus usuários inseguros ao se locomoverem, sobretudo para obstáculos acima do nível da cintura, como mostrado na Figura 1.

FIGURA 1 - Usuário de bengala sem o dispositivo CEGO (autores, 2016).

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Tendo como enfoque propor uma solução que acrescente funcionalida-de sem, contudo, alterar a rotina do deficiente visual e que, assim, consi-ga atingir esse público de modo objetivo, foi desenvolvido o projeto Cego Enxergam Grandes Oportunidades (CEGO) que objetiva incluir, dar au-tonomia e segurança para os deficientes visuais. Sem, contudo, alterar sua rotina e domínio de conhecimento, mas acrescentando maior segurança.

REFERENCIAL TEÓRICO

A partir deste item serão apresentados alguns tópicos referentes ao referencial teórico do presente trabalho objetivando uma melhor compre-ensão do assunto abordado.

A cegueira engloba prejuízos da aptidão para a realização de tarefas rotineiras, só permitindo sua realização de formas alternativas. Contudo, evidencia-se a necessidade da criação dessas alternativas capazes de in-cluir e promover a independência de deficientes visuais no meio urbano.

Por conseguinte, pode-se destacar o uso da tecnologia assistiva na vida de deficientes, e o modo como intensifica as capacidades motoras dos mesmos. A infinidade de ações e programas desenvolvidos pela tecnologia garante novas formas de integrar o deficiente à sociedade, além de torná--lo autônomo melhorando sua qualidade de vida.

Pesquisas desenvolvidas no campo tecnológico tornam-se promisso-ras em decorrência da constante atualização do mercado tecnológico para deficientes, nesse caso, visuais. Para tanto, o foco do projeto decai sobre os indivíduos que possuem perda total ou parcial da visão, logo se tem no constante avanço tecnológico a tentativa de substituir, promissora mente, sentidos do ser humano, por exemplo, a visão.

METODOLOGIA

O protótipo foi montado a partir de componentes economicamente acessíveis e priorizando a tecnologia nacional. Buscou-se a autonomia dos usuários que serão capazes de utilizar a solução sem o auxílio de terceiros desde sua montagem, promovendo independência e facilidade de adoção. Desta forma, os acionadores tem identificação em braile e

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formatos diferenciados entre as funções de liga/desliga e vibração dos botões acionadores.

Para o desenvolvimento do protótipo CEGO utilizou-se os seguintes componentes:

•Microcontrolador com transceptor USB para permitir adicionar conectividade USB on-board. Possuindo: 4 canais de 10-bit ADC, 5 pinos PWM, 12 I/O, bem como, conexões seriais Rx e Tx.

•Sensor ultrassônico capaz de medir distâncias com precisão e economicamente acessíveis. Este módulo possui um circuito pronto com emissor e receptor acoplados e 4 pinos (VCC, Trigger, ECHO, GND) para medição.

•Motor de vibração: tensão/corrente mínima de trabalho, recarregável e de baixo peso para facilitar acoplamento e locomoção.

O protótipo funciona preso ao cinto e quando ligado gera um campo de ondas sonoras invisíveis na frente do usuário. Logo, o protótipo coleta informações da área em que o usuário se encontra e repassa-as para o mi-crocontrolador que, a partir do compilador em C, classifica a ordenação e distância do usuário ao obstáculo, no meio.

Um modelo do protótipo CEGO está representado abaixo, na figura 2.

FIGURA 2 - Visão do protótipo CEGO (autores, 2016).

MODELAÇÃO X ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE (OM)

A didática usada para ensinar deficientes visuais é diversa (aprendiza-gem do uso da bengala branca, locomoção, Braille, etc.), mas uma delas é

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a de Orientação e Mobilidade (OM), que leva em consideração os aspectos bio-psico-sociais envolvendo a imagem corporal, o conceito e concepção corporal para ensinar estratégias e teorias relacionadas à movimentação do corpo e bengala, possibilitando sua locomoção com segurança no dia--a-dia do deficiente visual (Brasil, 2011).

Nessa ótica, o projeto CEGO é capaz de adicionar funcionalidades a seu usuário, uma vez que não almeja substituir a bengala branca, compre-endendo importância para o deficiente visual, mas buscou, sobretudo, for-necer maior segurança e independência do mesmo em sociedade, visando nenhum impacto quanto à locomoção e/ou preocupação de se chocar com um obstáculo. Para tanto, foram considerados pontos corporais do usuá-rio, como: esquema corporal, conceito corporal, imagem corporal, planos de corpo, etc. (Souza, 2008).

MODO DE UTILIZAÇÃO

Objetivando-se igualmente conforto e discrição esquematizou-se que o protótipo assumiria a forma de um cinto utilizado na cintura do usuário, por haver estabilidade ao andar, comodidade, proteção do dispositivo (con-tra líquidos, choques mecânicos, etc.) e por conseguir realizar uma varredu-ra do local que o usuário se encontra, em torno de um ângulo de 180º.

FIGURA 3 - Usuário utilizando o protótipo CEGO (autores, 2016).

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TRABALHOS CORRELATOS

Ainda quanto a metodologia para o desenvolvimento do produto e para uma melhor definição do foco e abrangência das funcionalidades in-seridas na solução proposta, foram pesquisados trabalhos com enfoques semelhantes. Nessa ótica de inclusão e independência, o protótipo Visão Eletrodinâmica Receptível (VER) (Brancante, 2010), é um boné capaz de capturar imagens ao redor e enviar choques ao deficiente visual, quando o mesmo estiver se aproximando de um obstáculo. Todavia, tal protótipo possui alto custo de fabricação, é favorável à retirada da bengala branca do usuário e torna o mesmo vulnerável a choques elétricos ocasionados por um possível erro no código fonte. Por conseguinte, o CEGO não de-fende a retirada da bengala branca vista a sua importância na vida do deficiente, além de ser produzido com baixo custo e não produzir choque nenhum a quem o porta.

Outro protótipo a ser ressaltado é Roboticeyes (Lemos, E. Oliveira, S. Oliveira e Sousa, 2010), o qual é fixado ao tornozelo e emite uma vibração quando o usuário sai da rota. Contudo, para que funcione é necessária à construção de pistas especiais para poder funcionar, além de ser favorável à retirada de cães guias. Logo, CEGO não necessita de uma pista especial visto que foi desenvolvido para os mais variados percursos realizados no dia a dia do usuário, além de não defender a retirada dos cães guias vista a sua importância, assim como a bengala, para o deficiente visual.

RESULTADOS

A proposta CEGO - Cegos Enxergam Grandes Oportunidades - encon-tra-se em fase de prototipação. Após a pesquisa e seleção dos componentes eletrônicos utilizados, foi realizado um estudo a partir de entrevista com deficientes visuais para ajuste das funcionalidades. Projeta-se em 30 dias a finalização do protótipo e posterior teste de usabilidade já acertado para ser realizado em Centro de Referência de Inclusão Público com um contin-gente de 1 professor e 8 alunos, todos deficientes visuais.

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CONCLUSÕES

Foi apresentado o protótipo CEGO, o qual se diferencia por não des-cartar o uso da bengala, mas propõe melhorar à sua adoção a partir do atrelamento ao futuro dispositivo. Além disso, o protótipo é capaz de de-tectar obstáculos através de sensores ultrassônicos, enviando um som com intensidade regulável, estando acoplado a motores de vibração que irão vibrar quando o deficiente se encontrar no raio de 2 a 400 cm do obstáculo ou em ambientes fechados.

Contudo, a primeira interação do usuário com o protótipo será, ini-cialmente, de pequena dificuldade, pois terá um manual contendo todas as especificações do protótipo (em linguagem braile), além de um mini--manual dizendo como ligar o dispositivo, recarregar a bateria, teste de qualidade sonora, sincronização com smartphone. Logo, após essa fase do primeiro contato, o usuário não terá grandes dificuldades ao desfrutar de seu dispositivo com o máximo de aproveitamento.

Por fim, o dispositivo está dotado de botões acionadores de para pro-mover autonomia ao deficiente desde o momento de vesti-lo. E unicamente desenvolveu-se a tecnologia pela tecnologia, porém mergulhar no universo do deficiente visual de modo a proporcioná-lo um dispositivo que além de incrementar segurança à mobilidade, seja um diferencial à sua qualidade de vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL (2001). Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensi-no Fundamental –- Deficiência Visual. Série Atualidades Pedagógicas, vol. 3. Brasília: MEC / SEESP.BRANCANTE, Gustavo. Visão Eletrodinâmica Receptível (VER). Dis-ponível em: < http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticia/2010/12/bone-equipado--com-sensores-ajuda-cegos-a-desviar-de-objetos-3155589.html#> Acesso em: 28 Dezembro. 2010.CONDE, Antônio João Menescal. Definindo a Cegueira e a Visão Subnor-mal. INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT, Set. 1854. Disponível em: <

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PLATAFORMA APRENDE: APRENDIZADO GUIADO ONLINE

Caio de Oliveira Bastos3; Alessandra Natasha Alcântara Barreiros Baganha3; Luis

Fernando Gomes Sales3; Claudia Bueno Nogueira4; Romariz da Silva Barros4;

Matheus Henrique Almeida Dos Santos3; Danilo Andrade Silva3.

RESUMO

A inclusão de pessoas afetadas por Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) no ambiente escolar é o grande objetivo almejado por cuidadores, pais e ativistas. A inclusão requer treinamento e qualificação de acom-panhantes para essas crianças. Esse artigo propõe uma plataforma ele-trônica de aprendizado interativo em português facilitando profissionais do Brasil, que no ano de 2016 reforçou sua legislação tornando as escolas responsáveis por contratar e providenciar acompanhantes para alunos afetados pelo TEA, desde que a necessidade seja comprovada. Essa nova lei brasileira criou uma demanda urgente pela qualificação de mais faci-litadores que possam trabalhar com alunos afetados pelo TEA em todo o país, o que torna a existência de uma forma rápida e eficiente de treina-mento desses profissionais essencial. Para isso a Plataforma Aprende foi pensada, como uma solução simples, eficiente e economicamente viável, por ser uma solução online e gratuita à todos esses profissionais.

Palavras-chave: Análise do Comportamento Aplicada. Transtorno do Es-pectro do Autismo. Plataforma de ensino.

3 Centro Universitário do Estado do Pará4 Universidade Federal do Pará

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INTRODUÇÃO

Indivíduos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) apresen-tam déficits persistentes em comunicação social em múltiplos contextos e padrões de comportamentos repetitivos e restritivos. Esses sintomas são percebidos nos três primeiros anos de vida e causam prejuízo clinicamente significativo nas áreas social, ocupacional e outras áreas importantes do desenvolvimento (DSM-5, American Psychiatric Association, 2013).

Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos a prevalência global do autismo tem aumentado signi-ficativamente desde os primeiros estudos epidemiológicos conduzidos no final da década de 60 e inicio da década de 70. Nessa época o autismo era considerado uma condição rara, afetando um em cada dois mil indivíduos. Estudos recentes na Ásia, Europa e América do Norte identificaram a pre-valência média do TEA em 1% da população. Nos Estados Unidos dados epidemiológicos atuais apontam a prevalência de 1 caso de TEA a cada 68 crianças (Center for Disease Control and Prevention, CDC 2014).

Neste contexto constata-se que estudos epidemiológicos são essen-ciais para o planejamento de políticas públicas e para a organização do sistema de assistência à população. Contudo, pesquisas epidemiológicas brasileiras de base populacional e específicas para TEA são praticamente inexistentes. Os únicos dados epidemiológicos encontrados como referen-cia no Brasil são de um estudo piloto, realizado em Atibaia em 2011, que estimou a prevalência do transtorno em 0,3% das crianças de 7 a 12 anos de idade em um município típico do Estado de São Paulo (Paula, Ribeiro, Fombonne & Mercadante, 2011).

No campo da Educação Especial a forma de inserção destas crianças no ensino regular vem sendo discutida de modo mais intenso desde a De-claração Universal dos direitos humanos, em 1948 e, posteriormente na Lei 9.394/1996 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, Lei 9.394/96). A partir desta Lei, propõe-se que, preferencialmente, crianças que apresentam déficits devem ser inseridas no ensino regular, em nosso país. Sob essa ótica a universalização da Educação, e a regulamentação nas escolas regulares de uma política de Educação Inclusiva, ainda é tó-pico de grandes debates e está longe de ser realidade cotidiana. No que

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concerne à inclusão de alunos com autismo esse tema é ainda mais polê-mico e a disparidade entre o que rege a lei e o que se vivencia no dia a dia é marcante.

Em 2012, a Lei 12.764 (BRASIL, Lei 12.764/2012) também conhe-cida como Lei Berenice Piana, instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, atendendo aos princípios da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC/2008) e ao propósito da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – CDPD (ONU/2006). Para a realiza-ção do direito das pessoas com deficiência à educação, o art. 24 da CDPD estabelece que estas devem ter acesso a uma educação inclusiva, em igual-dade de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem e terem garantidas as adaptações razoáveis de acordo com suas necessidades individuais no contexto do ensino regular, efetivando-se, assim, medidas de apoio em ambientes que maximizem seu desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena.

Recentemente (no dia 2 de janeiro de 2016) entrou em vigor a Lei nᵒ. 13.146/2015, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência (BRA-SIL, Lei 13.146/2015), que veio consolidar o direito à educação inclusiva, já amparado no Brasil desde a promulgação da Constituição Federal em 1988. A nova Lei reitera o direito ao Atendimento Educacional Especia-lizado e ao acompanhamento, em caráter individual, por um mediador quando necessário - a fim de garantir uma educação de qualidade aos alu-nos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE).

Dentre as novidades da nova lei está à aplicação de multa para aquele que recusar ou discriminar o aluno com deficiência; sinalizando um mo-vimento contínuo no âmbito legal, de proteção aos direitos do aluno com NEE. Dos fatos expostos, destaca-se que o cumprimento da lei só se dará na medida em que os profissionais de educação sejam treinados para rece-ber estes alunos no ambiente escolar.

Segundo a referida lei, o serviço do profissional de apoio (também co-nhecido como acompanhante terapêutico, mediador ou facilitador) deve ser disponibilizado sempre que identificada a necessidade individual do estudante. Entretanto, não existem profissionais capacitados suficientes

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para suprir a demanda de todos os alunos que necessitam de acompanhan-tes terapêuticos nas escolas brasileiras.

Há de se ressaltar, a formação do mediador escolar como de funda-mental importância. Apesar de estabelecer o direito ao “profissional de apoio” e delinear o papel a ser desempenhado pelo mesmo, a lei não esti-pula claramente a formação deste Professional. Com frequência, estagiá-rios, estudantes de psicologia, pedagogia, educação, terapia ocupacional, etc. são contratados para a função sem necessariamente terem qualquer experiência prévia com um aluno com NEE, formação ou conhecimento de estratégias de ensino e manejo de comportamento.

I. Objetivo

Desenvolver uma plataforma instrucional na web que, de modo ga-mificado, ensine conceitos e técnicas de analise comportamental, objeti-vando a formação e o treinamento de facilitadores especializados.

II. A proposta

Como a lei de inclusão conta com mediadores (profissionais de apoio) para realizar intervenções, fornecer instruções e monitorar o progresso do aluno - é imperativo que esses profissionais sejam bem treinados. Sem trei-namento adequado, o mediador pode, inadvertidamente, criar dependên-cia de ajuda, limitar o crescimento acadêmico e reforçar comportamentos problema para citar algumas das consequências que uma conduta inade-quada pode causar. Por outro lado, há que se considerar que uma forma-ção de qualidade para mediadores representa ônus significativo para as escolas, muitas das quais publicas ou sem condições financeiras de arcar com tais despesas. Treinamentos Computadorizados Interativos (TCI) apresenta-se como a solução.

Por meio da parceria com o APRENDE, uma iniciativa do Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará que visa promover ensino, pesquisa e extensão voltada para a formação, nos diferentes níveis, de profissionais com experiência em pesquisa e aten-dimento a crianças do com atraso no desenvolvimento cognitivo, estu-

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dantes de Engenharia e de Ciência da Computação do CESUPA – Centro Universitário do Estado do Pará uniram-se para desenvolver a proposta de Treinamento Computadorizado Interativo (TCI) que consiste na plata-forma web chamada APRENDE.

O TCI integra componentes de manuais auto instrucionais com ví-deo modelação e auto avaliação em um pacote abrangente. Além do mais, porque TCI não requer um profissional presente para administrar a infor-mação, apresenta-se como potencial de ser um método de treinamento de baixo custo e eficiente que pode ser distribuído a pessoas físicas em áreas geograficamente isoladas, e ainda desenvolvido sob a proposta da gamifi-cação utilizando o método recompensatório.

A Plataforma Aprende inclui vídeos instrucionais que serão usados como aulas e realizará perguntas, após ou durante o vídeo, dependendo da lição, que servirão como verificação do aprendizado. A gamificação será apresentada após cada módulo em que a lição for ensinada sendo estas au-las de técnicas e conceitos diferentes, desde os básicos de análise compor-tamental, aplicação de Treinamento de Provas Distintas (Discrete Trial Training) até controle dos comportamentos inapropriados.

III. Metodologia

O crescimento rápido observado no número de casos de autismo tem aumentado a demanda por tratamento baseado em evidencias. O método ABA (Análise do Comportamento Aplicada) tem sido a intervenção consi-derada mais efetiva para TEA (Transtorno do Espectro do Autismo). Esta consideração vem desde os anos 80, com pesquisadores mostrando que programas baseados em ABA podem ser efetivos trabalhando com indiví-duos com autismo (Lovaas, 1987; Howard et al, 2005; Rogers & Vismara 2008 Eldevik et al 2009).

A intervenção baseada em ABA centraliza a aquisição de habilidades, reduzindo concomitantemente comportamentos inapropriados. A con-clusão geral é de que intervenções desse tipo podem produzir ganhos nas áreas da comunicação, linguagem, funcionamento social, atividades do dia-a-dia e manejo de problemas de comportamento encontrados por indi-víduos com autismo (Howard et al. 2005 e Keenan & Dillenburger, 2011).

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Devido a todos os bons resultados desse tipo de intervenção ela foi escolhida como a metodologia ensinada pela Plataforma Aprende.

Serão citadas a seguir algumas etapas que trataram do desenvolvi-mento do projeto até o momento atual. Do cronograma inicialmente pre-visto, já cumpriram-se: a pesquisa, estudo e compreensão dos conceitos e métodos utilizados nesta área; o levantamento de requisitos; o desenvolvi-mento do Produto Mínimo Viável (MVP); instalação do ambiente compu-tacional de homologação.

Os requisitos necessários para o desenvolvimento da plataforma de acordo com o método ABA e com o conhecimento e vivência na área que foram obtidos com os profissionais de saúde do APRENDE. Psicólogos, Pedagogos e Terapeutas Ocupacionais especialistas em pesquisa e ensino de crianças com TEA e que possuem casos de sucesso com a deferida meto-dologia há quatro anos. Os vídeos que serão utilizados bem como as orien-tações para a aplicação das aulas em módulos, deferindo a sequência das instruções, a técnica aplicada como consequência e a forma da inserção da estratégia de gamificação foram ações definidas a partir da orientação dos profissionais.

Esta fase de descoberta teve um importante papel no ciclo do desen-volvimento do aplicativo, uma vez que definiu as visões, funcionalidades e estratégias ao atualizar os desafios, objetivos e versões do produto.

Foi instalado o ambiente de homologação a partir de um sistema ope-racional Windows, para posteriormente migrar para multiplataforma.

O Banco de dados foi criado utilizando SQLite mais adequado para o armazenamento das URLs que apontarão para os vídeos, gravados em formato mp4 disponibilizados na web. Esta escolha deve-se a permitir um sistema mais leve e com melhor performance.

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Fig. 1. Imagem do funcionamento da plataforma APRENDE

A etapa seguinte consiste no trabalho do designer que atuará em cola-boração com os desenvolvedores na criação da interface que melhor aten-da os quesitos de usabilidade de forma aderente a proposta.

Haverá juntamente uma versão do APRENDE para baixar, visando acessibilidade de escolas que localizam-se em lugares de difícil comunica-ção com a internet.

Após a criação do modelo para o site as vídeo-aulas e perguntas de ve-rificação do aprendizado dos usuários serão incluídas no site e será adicio-nado um sistema de chat para que os usuários possam discutir suas ideias sobre as lições e cooperar em tempo real. Além disso, será acrescentado ao site uma ligação com o google analytics que permitirá a análise das curvas de aprendizado dos usuários de forma que elas possam ser analisadas para melhorias futuras do site.

RESULTADOS

A plataforma aprende ainda se encontra em fase de desenvolvimento e ainda não possui resultados completos, mas assim que estiver disponível para uso será realizado um teste de usabilidade para melhorar o progra-ma.

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O teste de usabilidade será realizado no núcleo APRENDE (Aten-dimento e Pesquisa sobre Aprendizagem e Desenvolvimento), núcleo de mesmo nome da plataforma, uma iniciativa do Núcleo de Teoria e Pesqui-sa do Comportamento da Universidade Federal do Pará e parte integran-te do “Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Sobre Comportamento Cognição e Ensino”.

Este núcleo da Universidade Federal do Pará é composto por alunos profissionais e pesquisadores com formação em Psicologia, Pedagogia e Terapia Ocupacional, público alvo do sistema que também conta com mestres e doutores nessas áreas e que avaliarão a efetividade do aprendi-zado por intermédio da plataforma.

CONCLUSÃO

Este trabalho apresentou uma plataforma web TCI usando métodos de Treinamento de Tentativas Discretas objetivando a formação de acom-panhantes terapêuticos que irão desempenhar o papel de facilitadores e apoio dentro de sala de aula de escolas regulares para crianças que apre-sentam necessidades especiais.

A lei de nº. 13.146/2015, reitera o direito ao Atendimento Educacional Especializado e ao acompanhamento, em caráter individual, quando ne-cessário e apontando consequências frente á quem recusar ou descriminar o aluno com deficiência. Após a aprovação dessa lei a responsabilidade de promover auxílio individual aos alunos com TEA recai sobre as Instituições de Ensino, que não podem mais recusar a entrada de alunos portadores dessa condição, devendo preparar-se para formar ou contratar profissionais qualificados suficientes para atender a demanda de alunos com TEA.

Existem poucos profissionais capacitados para lidar com o grande nú-mero de estudantes com esse tipo de deficiência no país, ou seja, um núme-ro insuficiente para atender cada indivíduo que precisa de acompanhantes no seu dia-a-dia escolar.

Atualmente não existem no cenário nacional plataformas que ofere-çam estes treinamentos, sobretudo consoante à inerente necessidade im-posta agora por lei.

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A implementação do piloto será realizada para homologação até ou-tubro de 2016 com previsão de incluir demais ferramentas – como, por exemplo, um fórum - A partir das próximas atualizações.

REFERENCIAS

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SAATO: SOFTWARE PARA AVALIAÇÃO DA AMPLITUDE DE MOVIMENTO COMPUTADORIZADA

Luis Fernando Gomes Sales5; Alessandra Natasha Alcântara Barreiros Baganha6;

Matheus Henrique Almeida dos Santos7; Caio de Oliveira Bastos8; Danilo Andrade

Silva9.

RESUMO

A fotogrametria é uma técnica que objetiva a mensuração a partir de ima-gens. Na fisioterapia, é empregada a mensuração de membros e de suas angulações. Este trabalho objetiva desenvolver uma forma alternativa ao goniômetro universal utilizando visão computacional para realizar a avaliação da amplitude do movimento utilizando câmeras fotográficas, filmadoras e webcams visando ser economicamente viável. Foram ana-lisados o referencial teórico com estudos na fotogrametria utilizando o protocolo SAPO e outros softwares de edição de imagem e concluiu-se que ainda não foi desenvolvido uma solução que capture as imagens em vídeo e possibilite a automatização, em tempo real, da avaliação da amplitude do movimento.

Palavras-chave: Fotogrametria. Goniometria. Amplitude do movimento. OpenCV.

5 Graduando em Ciência da Computação. Centro Universitário do Pará.6 Msc. Ciência da Computação. Centro Universitário do Pará.7 Graduando em Ciência da Computação. Centro Universitário do Pará. 8 Graduando em Engenharia da Computação. Centro Universitário do Pará.9 Graduando em Engenharia da Computação. Centro Universitário do Pará.

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INTRODUÇÃO

Segundo o Conselho Federal de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional (COFFITO, [entre 2011 e 2015]): “a Fisioterapia é a uma ciência da saúde que estuda, previne e trata os distúrbios cinéticos funcionais intercorren-tes em órgãos e sistemas do corpo humano”.

A goniometria é uma técnica utilizada para mensurar a amplitude do movimento de cada articulação realizada pelo fisioterapeuta. Utiliza-se comumente o goniômetro universal para realizar esta avaliação, que con-siste em duas hastes plásticas, presas por um fulcro, e medidas em graus. Sendo, atualmente, o equipamento mais utilizado durante as avaliações em pacientes e aulas, devido ao seu baixo custo de aquisição e a facilidade de manusear.

Na literatura consultada, utilizou-se a fotogrametria digital, que, segundo Sacco (2007, p. 412) é “[...]uma alternativa para a avaliação quantitativa das assimetrias posturais na avaliação postural, podendo ser utilizada para se efetuarem medidas lineares e angulares”. Entretanto, algumas dessas propostas para a avaliação goniométrica necessitam de equipamentos dedicados, como câmera fotográfica digital, ou possuem al-guma limitação para a realização. Souza et al (2011. p. 300) afirma que o protocolo SAPO - Software para Avaliação Postural, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo, é uma proposta que utiliza imagens previamente obtidas dos pacientes com pontos marcadores capaz de mensurar a distância e os ângulos corporais, como explicitado na figura 1. Entretanto, não é capaz de realizar diretamente a captura de imagens e a avaliação.

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Figura 1 - Tela do programa SAPO para marcação de pontos seguindo protocolo.

Fonte: Documentação sobre o SAPO - Software para Avaliação Postural10

O protocolo SAPO será utilizado como inspiração para futuras imple-mentações do software desenvolvido, uma vez que, como já mencionado, o processo atual deste protocolo não é automatizado.

2 JUSTIFICATIVA

A confiabilidade e a precisão do goniômetro universal são imprecisas, principalmente em pacientes que sofrem de algum distúrbio motor/psíqui-co, pois depende da familiaridade que o fisioterapeuta tem com o equipa-mento.

Por isso, propõe-se uma forma alternativa, automatizada, economica-mente viável e open-source para a realização da avaliação da amplitude do movimento através de câmeras e marcadores coloridos, contribuindo para a precisão e confiabilidade durante a avaliação.

O software será desenvolvido utilizando a linguagem de programação Python e usará a biblioteca OpenCV para manipular as imagens obtidas. Para capturar as imagens, é necessário o uso de uma câmera. Nos testes realizados utilizou-se uma webcam de um notebook. Como o ambiente no

10 Disponível em: http://demotu.org/sapo2/SAPOdoc.pdf. Acesso em Agosto de 2016.

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qual as avaliações ocorrerão poderá interferir na obtenção dos valores, é necessário um local no qual a iluminação e o fundo não interfiram durante a captura de imagens.

OBJETIVOS

Este trabalho objetiva realizar a avaliação da amplitude do movimen-to através da visão computacional, automatizada e em tempo real utili-zando Python e OpenCV, através de marcadores com cores distintas entre si (verde, vermelho e azul).

Figura 2 - Roupa Biocinética

Além disso, o SAATO acrescentará novas funcionalidades ao projeto da roupa biocinética (Projeto aprovado na chamada Nº 84/2013 do MCTI) em parceria com o NEDETA, que possibilitará a realização da avaliação da amplitude do movimento diretamente da roupa através dos marcado-res coloridos presos no macacão por meio de material adesivo.

Para atingir o objetivo geral proposto, alguns escopos específicos pre-cisam ser cumpridos, como:

•Adaptar o software para detectar adaptadores de qualquer material, possibilitar que o software perceba as cores do padrão RGB a partir de webcams economicamente acessíveis, criar um banco de dados para o armazenamento e manipulação das imagens coletadas permitindo o acompanhamento e a tomada de decisão por parte dos profissionais de saúde.

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•Ao finalizar a avaliação, será possível revê-la por completo, pois, as imagens obtidas serão gravadas e salvas no computador em que o software for utilizado, com isso, possibilitará ao profissional da saúde comparar os valores obtidos, tendo uma visão completa da evolução do tratamento.

METODOLOGIA

O trabalho foi concebido em etapas, iniciou pela pesquisa bibliográfica do conteúdo acerca da goniometria e das formas de uso e técnicas de adap-tação deste instrumento. A partir disso, foi feito uma pesquisa de mercado acerca de tecnologias associadas ao goniômetro universal para a verificação do estado da arte deste trabalho. Em seguida, passou-se para a implemen-tação das tecnologias envolvidas e neste sentido, foram adotadas parcerias no desenvolvimento embasado com técnicos e outros profissionais de saúde.

Através da parceria com a Clínica de Fisioterapia do CESUPA, o Gru-po de Estudos em Tecnologia Assistiva do CESUPA, ao qual a proposta está vinculada - como explicitado no objetivo desta proposta - foi feito um acompanhamento dos pacientes durante as avaliações fisioterápicas. Destes acompanhamentos buscou-se o aprendizado das técnicas utilizadas pelos fisioterapeutas, o que servirá de base para a realização dos testes de funcionalidade e precisão, comparando os valores obtidos pelo projeto proposto com o goniômetro universal.

Após as implementações, serão realizados testes com câmeras, filma-doras e webcams disponíveis no mercado objetivando compatibilidade com outros equipamentos e testes em situações adversas. Em outras palavras, pretende-se trabalhar a usabilidade do programa em situações reais nas quais o ambiente interfere na aferição dos dados. Desta forma, busca-se es-tabelecer comparação com os valores obtidos em condições normais de uso.

Para realizar a detecção e avaliação automatizada pelo software pro-posto, serão desenvolvidos marcadores impressos em folhas A4 com tons de vermelho a partir de 150 a 255, tons de azul a partir de 155 a 255 e tons de verde a partir de 145 até 255, no sistema de cores RGB. Esta adoção visa tornar o produto economicamente viável e acessível para todos os usuários, inclusive simplificando a tecnologia da informação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do exposto neste trabalho, pode-se afirmar que a utilização do goniômetro universal é, em alguns casos, imprecisa, confirmando-se através do exposto na justificativa deste trabalho e através de uma análise de mercado, na qual indica o desenvolvimento de soluções alternativas ao uso do goniômetro, como o flexímetro e goniômetro digital, no qual ambos sofrem do mesmo problema identificado no goniômetro universal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Conselho Federal de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional. Definição de Fisioterapia e Áreas de Atuação. Disponível em <http://www.coffito.org.br/site/index.php/fisiotera-pia/definicao.html>. Acesso em: 15 nov. 2015.

SACCO, ICN et al. Confiabilidade da fotogrametria em relação a goniometria para avaliação postural de membros inferiores. Rev. bras. fisioter., São Carlos, v. 11, n. 5, p. 411-417, Oct. 2007. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-35552007000500013&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 18 Nov. 2015.

SOUZA, Juliana Alves et al. Biofotogrametria confiabilidade das medidas do proto-colo do software para avaliação postural (SAPO). Rev. bras. cineantropom. Desem-penho hum. (Online), Florianópolis, v. 13, n. 4, p. 299-305, Aug. 2011. Avaliado em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1980--00372011000400009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 18 Nov. 2015.

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APLICATIVO ACESSÍVEL VIA BLUETOOTH PARA ALFABETIZAÇÃO FONICA

Matheus Henrique Almeida dos Santos11; Alessandra Natasha Alcântara Barreiros

Baganha12; Luis Fernando Gomes Sales13; Luzianne Fernandes de Oliveira14; Ana

Irene Alves de Oliveira.15

RESUMO

Dados do Censo 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que 45,6 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência, sendo que, muitas vezes, necessitam de mecanismos externos para se comunicar. Nos últimos anos, a tecnologia tem avançado no desenvolvimento de equipamentos, serviços e plataformas digitais que facilitam a inclusão digital ou o meio social de pessoas com deficiência vi-sual, motora, auditiva e intelectual. O produto consiste de um aplicativo desenvolvido para dispositivos móveis que auxilia pessoas com deficiência no processo de alfabetização por meio do método fônico. Desenvolvido a partir de técnicas de gamificação e dotado de acessibilidade, foi imple-mentado um acionador baseado em bluetooth, que dispõe de tecnologia de integração nacional, economicamente acessível através do qual a criança realiza o acionamento para que o aplicativo funcione.

Palavras-chave: tecnologia assistiva; alfabetização; método fônico.

11 Graduando em Ciência da Computação. Centro Universitário do Pará. 12 MSc. Ciência da Computação. Centro Universitário do Pará. 13 Graduando em Ciência da Computação. Centro Universitário do Pará.14 MSc. Fonoaudióloga. Universidade do Estado do Pará.15 Drª. Terapeuta Ocupacional. Universidade do Estado do Pará.

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INTRODUÇÃO

A criança com Paralisia Cerebral (PC), assim como qualquer indiví-duo que apresenta alguma deficiência ou dificuldade motora, visual, au-ditiva, mental, e/ou comportamental, pode contar no mundo moderno com a tecnologia que irá contribuir para amenizar as suas limitações ou impedimentos, favorecendo assim uma maior socialização, integração e aceitação na sociedade.

Uma questão específica, neste sentido, é a limitação das pessoas com PC quanto a educação. A partir da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, foram reforçados os pressupostos da escola inclusiva, referendada na reforma do sistema educacional brasilei-ro. No que se refere às crianças e jovens com Necessidades Educacionais Especiais (NEEs), está garantida legalmente a matrícula nas escolas pú-blicas regulares, o que poderá permitir a ampliação das oportunidades educacionais e universalizar o acesso à educação para esse contingente da população.

Entretanto, a garantia de permanência e, consequentemente, o direi-to à educação e ao sucesso escolar, somente serão possíveis se a escola co-mum conseguir responder às necessidades educacionais especiais desses alunos, uma vez que a igualdade de condições, nesse caso, não significa equiparação de oportunidades para acessar o conhecimento produzido e acumulado pela cultura.

A declaração de Salamanca, assinada em 1994 (AGUIAR, 2005) pre-coniza que as escolas têm o dever de acomodar todas as crianças, possibi-litando um aprendizado em conjunto e independente de diferenças ou difi-culdades que possam apresentar - quer sejam de origem física, intelectual, social, emocional, linguística ou outras - combatendo com isso, as atitudes discriminatórias, contribuindo na construção de uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos como princípio fundamental. Tal decla-ração influenciou o mundo, representando, igualmente para o Brasil, um dos marcos mais significativos no processo de inclusão.

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OBJETIVO

Desenvolver um acionador baseado em bluetooth que consista em tecnologia integradora nacional e economicamente acessível para um apli-cativo multiplataforma para dispositivos móveis, baseado em gamifica-ção, e destinado ao processo de educação inclusiva de alfabetização de pessoas com deficiência.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN Nº 9.394/96), ao tratar do processo de escolarização de pessoas com NEEs, preconiza no art. 58, a reorganização dos sistemas de ensino com vistas a assegurar currículos, organizações específicas, profissionais especialistas, professores capacitados além de métodos, técnicas e recursos educativos que garantam o desenvolvimento educacional desses alunos.

Para tal, faz-se necessário explorar toda e qualquer forma que propor-cione o cumprimento desta ação, observando no estudo das tecnologias, e em especial no uso dos computadores e dispositivos móveis, condição essencial de inclusão e ferramenta ímpar no favorecimento desta reorga-nização de técnicas, métodos e recursos voltados para o atendimento das crianças com necessidade de educação especial, auxiliando, com isto, em seu processo de ensino e aprendizagem.

Dentro deste contexto, a proposta de um aplicativo atual deve estar baseada em características entre as quais: ambiente multiplataforma (com a facilidade de poder ser utilizado em dispositivos móveis Android e iOS); acessibilidade, neste caso através de um acionador via bluetooth; fazendo uso da gamificação (de modo a estimular e não tornar qualquer ação repe-titiva cansativa); além de, economicamente viáveis.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Surgiram diversos métodos e tendências mundiais que pretendiam (ou pretendem) contribuir para o sucesso na alfabetização. Infelizmente,

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tais métodos não são fórmulas mágicas e tão pouco contentam a todas as questões envolvidas na tarefa de alfabetizar (FREITAS, 2008).

O método fônico baseia-se no aprendizado da associação entre fone-mas e grafemas (sons e letras) e usa, em princípio, textos produzidos espe-cificamente para a alfabetização. Para tanto, baseia-se no ensino dinâmi-co do código alfabético, ou seja, das relações entre grafemas e fonemas em meio a atividades lúdicas planejadas para levar as crianças a aprenderem a codificar a fala em escrita, e, de volta, a decodificar a escrita no fluxo da fala e do pensamento (SILVA, 2010).

O produto agrega, ainda, uma importante ferramenta de investigação e estímulo do desenvolvimento cognitivo do usuário, como: exercícios de lógica, adaptação, e construção de conhecimento. Tendo diversos níveis de implementação, tal quais os “games” estabelecem, o aplicativo possibili-tará a observação simultânea do processo de aprendizagem, e do desenvol-vimento do cognitivo do usuário.

Com o seu uso contínuo, o profissional da saúde pode, ainda, obter importantes indicadores e correlaciona-los com outras informações úteis durante o movimento, como: tempo de resposta ao estímulo, grau de per-cepção visual, identificação e associação de formas, tamanho, objetos do cotidiano, letras, percepção auditiva, compreensão do comando de for-ma correta e se discrimina os sons das letras, de objetos domésticos e os relaciona a palavra ao objeto; percepção espacial, no que diz respeito a identificação de aspectos como ”maiúsculo”, “grande”, “minúsculo”, “pe-queno”, percepção e sequência de ações alfabéticas.

Por meio da parceria com o NEDETA, engenheiros e cientistas da Computação do Centro Universitário do Pará (CESUPA) tiveram conhe-cimento do uso do software “Brincando com a Leitura”: inicialmente uma versão baseada em computadores standalones, limitada as letras A a F e sem auxílio de mouse ou teclado adaptados para a navegação no software. Utilizada como ferramenta de apoio aos Terapeutas Ocupacionais (TO) no atendimento (processo de alfabetização, acompanhamento, evolução) de pessoas com paralisia cerebral, foi proposto para nova versão diferen-ciais em relação as demais ferramentas correlatas, conforme item 8, bem como versões anteriores do próprio.

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A partir da citada proposta, a parceria do Grupo de Estudos em Tec-nologia Assistiva (GETA) e do Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (NEDETA), contando ainda com o intercâmbio e a experiência do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer em Campinas/SP, submete e aprova o projeto de pesquisa pela FUNDA-ÇÃO AMAZÔNIA PARAENSE DE AMPARO À PESQUISA - FAPES-PA (Edital 010/2013).

DESENVOLVIMENTO DO APLICATIVO

Levantados os requisitos necessários para o desenvolvimento do pro-duto, de acordo com a observação de experiência dos usuários no uso de softwares educacionais disponíveis no mercado nacional e os conceitos de gamificação - neste caso associando as mecânicas de jogo no processo de alfabetização, buscou-se proporcionar motivação e prazer na realização de tarefas.

Esta fase de descoberta teve um importante papel no ciclo de vida geral de desenvolvimento do aplicativo, uma vez que definiu as visões, funcionalidades e estratégias ao analisar os desafios, objetivos e restrições do produto. O banco de dados foi criado mediante aos requisitos propostos pelos profissionais do núcleo de desenvolvimento em tecnologia e acessi-bilidade (NEDETA) a fim de efetuar o cadastro de usuários/pacientes e terapeutas para a geração do relatório de acompanhamento.

Na etapa seguinte iniciou o trabalho do designer em colaboração aos desenvolvedores, trabalhando juntos na criação da solução utilizando iOS e selecionando as melhores estratégias de games aderentes a proposta. Ressalta-se, aqui, a necessidade deste ambiente emulador inicial para o desenvolvimento e homologação do aplicativo em questão para, daí, reali-zar testes posteriores diretamente nos dispositivos móveis. Na sequência, assim, foi implementado o ambiente de produção.

ACIONADOR SEM FIO

Como solução de hardware especialmente projetado para tornar aces-sível o aplicativo, no sentido de possibilitar a utilização por pessoas com déficits sensoriais e motores, foi desenvolvido um acionador de entrada,

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com teclas modificadas responsáveis pela varredura da interface do pro-grama.

Os controles podem ser acionados de forma direta ou indireta, poden-do ser realizado por um Terapeuta Ocupacional auxiliando no processo ou ainda pelo próprio usuário na seleção do aparelho através de pressão. Para alguns usuários verificou-se grandes dificuldades físicas / motoras no simples fato de apontar o dedo sobre um símbolo para indicar uma men-sagem. Por isso, foi projetado um acionador sem fio, baseado em Bluetoo-th®, prevendo possibilitar melhor movimentação e interação do usuário com o dispositivo.

USO DO APLICATIVO

Foram criadas interfaces com imagens comuns do cotidiano da crian-ça, favorecendo seus papeis ocupacionais, e tornando o processo de en-sino e aprendizagem mais prazeroso, conforme demonstra a figura 01. Ressalta-se neste ponto a importante necessidade de criar imagens que facilitassem a atenção e concentração dos usuários/pacientes, uma vez que durante as visitas para levantamento de requisitos percebeu-se serem de fácil distração.

Figura 1. Acompanhamento da Terapeuta Ocupacional ao paciente realizado nas instala-ções do NEDETA.

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Através da associação figura - grafema - palavra e som, foi possível avaliar e desenvolver suas habilidades cognitivas, possibilitando uma maior interação da criança com o aplicativo. O software “Brincando com a Leitura” foi desenvolvido para a plataforma iOS propondo uma estratégia baseada em gamificação e uma navegação intuitiva, de modo a proporcio-nar um melhor acompanhamento do TO Para isto, foi criado um formulá-rio para acompanhamento cognitivo do usuário através de uma interface para cadastramento. A seguir foi desenvolvida a fase inicial do aplicativo objetivando trabalhar e evoluir a construção da aprendizagem na execu-ção das tarefas propostas durante a prática do jogo.

O acionamento do dispositivo foi inicialmente realizado através de acesso direto utilizando-se para tanto partes distintas do corpo como mãos, dedos, ou qualquer utensílio que possua uma ponta e possa servir de contato. O aplicativo trabalha com todas as letras do alfabeto que es-tão divididas em telas. Cada tela contém um grupo de letras que podem ser navegadas bastando clicar nas setas “Próxima” ou “Anterior”.

Na sequência do jogo, já há a combinação de fonemas, formando as sí-labas, que são a base da soletração para origem das palavras. Para ouvir o áudio das imagens, basta selecioná-las. Nas fases posteriores a dificuldade vai aumentando à medida que seja atingida a meta inicial de cada etapa, que é a assimilação perfeita de todos os fonemas de forma individual, até ser concebida a compreensão da sílaba.

No próximo exercício o usuário realiza a associação do fonema em questão com figuras do cotidiano. Ao iniciar o exercício é emitido o co-mando para que possam ser identificadas figuras que iniciem com o fone-ma trabalhado. A cada acerto são recebidos retornos positivos, como por exemplo, “Parabéns, você acertou!” e figuras que associem a este retorno. Do mesmo modo, quando o usuário erra, é estimulado a continuar buscan-do a resposta correta.

ESTUDOS CORRELATOS

No Brasil, podem ser citadas algumas iniciativas de softwares com o propósito de educação de pessoas com deficiência, como o projeto “Lina Educa”, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) que tem como

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principal objetivo oferecer ao educador e aos pais um suporte para o auxí-lio à educação especial de crianças portadoras do Transtorno do Espectro Autista. Sua abordagem dá-se através do cotidiano da criança por meio de imagens, ensinando o desempenho em tarefas simples do dia-a-dia como escovar os dentes ou comer, sem utilizar palavras ou sons que representem as características de tais ações (GOMES, 2011).

Já o software “Participar 2” desenvolvido por estudantes da Univer-sidade de Brasília (UnB) é uma ferramenta pedagógica de apoio a profes-sores atuantes no processo de alfabetização de jovens e adultos com defi-ciência intelectual por meio de computadores, sem suporte a dispositivos móveis, o que torna reduzido o número de usuários efetivos da ferramenta (SILVA,2010).

O aplicativo aqui apresentado, introduz o conceito de mobilidade e gamificação, ligados a acessibilidade para pessoas com deficiências neu-romotoras no processo de alfabetização, junto ao método fônico, o qual, primeiro ensina os sons de cada letra e então constrói a mistura destes sons para alcançar a pronúncia completa da palavra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do aplicativo e das etapas de desenvolvimento realizadas, percebeu-se que com ferramentas especializadas, o processo educacional gamificado, não está distante. O número de aplicativos voltados não só para pessoas com deficiências visuais, assim como ferramentas de acessi-bilidade para dispositivos móveis tende a crescer, sobretudo baseados em plataformas de qualidade, como as encontradas atualmente no mercado de dispositivos móveis, mostrando, mesmo que timidamente, tendências e oportunidades.

A proposta deste artigo de mostrar um novo produto e a necessida-de de novos aplicativos voltados para pessoas com deficiências, bem como de recursos, técnicos e financeiros já existentes e disponíveis para tal é uma realidade que funciona, ainda melhor, devido a satisfação de colabo-rar para a inclusão digital e para o arrefecimento deste novo mercado.

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O sistema de escaneamento (varredura) acionado através de botões sem fios requereram um controle mínimo de movimentos físicos. Depen-dendo da habilidade motora e cognitiva do indivíduo, o acesso por varre-dura permitiu executar uma variedade de atividades no computador, que seriam impossíveis sem esta opção de acesso. Neste estudo, foram utiliza-dos os acionadores artesanais confeccionados com a proposta da substitui-ção da tecnologia importada por tecnologia nacional e economicamente acessível aos usuários.

Tendo cumprido o proposto até o momento, o trabalho segue com as seguintes implementações futuras: otimizar da gravação dos comandos de voz e dos feedbacks das ações do usuário, comparar as pontuações de placar dos jogadores, pautar a integração da solução na direção da nacio-nalização do máximo número possível de componentes eletrônicos.

AGRADECIMENTOS

À Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará - FAPESPA pelo financiamento da pesquisa. Ao NEDETA pelo apoio no levantamento de requisitos funcionais e testes de usabilidade.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, J. S. “Educação Inclusiva: jogos para o ensino de conceitos”, Papirus, São Paulo, 2005. ANATEL. “Em Junho, telefonia móvel chega a 256,13 milhões de linhas”. Disponível em: http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalNoticias.do?acao=carregaNoticia&codigo=26081. Acesso em: 02/01/2016.FREITAS, G. C. M. OFICINA DE ALFABETIZAÇÃO: O que a fala tem com a escrita? Disponível em: http://www.educacao.rs.gov.br/dados /ens_fund_gabriela_mat.pdf. Acesso em: 03/01/2016.GOMES, A. N. “Lina Educa”. Disponível em: http://www.linaeduca.com/#download. Acesso em: 05/01/2016.IBGE. “Censo demográfico 2010: pessoas com deficiência”. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/est adosat/temas.php?sigla=pa&tema=censo

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demog2010_defic. Acesso em: 02/01/2016.SILVA, A. S. B.; PINHEIRO, L. M.; CARDOSO, R. F. “Método misto de ensino da leitura e da escrita e história da abelhinha”, São Paulo, 2010. SILVA, R. D. et al. “Projeto Participar”. Disponível em: http://www.pro-jetoparticipa r.unb.br/participar2. Acesso em: 07/01/2016.

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CONTROLE DE AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL GUIADA POR

ELETROENCEFALOGRAMA

Matheus Henrique Almeida dos Santos16; Alessandra Natasha Alcântara Barreiros

Baganha17; Luis Fernando Gomes Sales18; Eudes Danilo Mendonça19; Luzianne

Fernandes de Oliveira20; Ana Irene Alves de Oliveira21.

RESUMO

Segundo o censo do instituto brasileiro de geografia e estatística (IBGE) de 2010, existem pelo menos 8,9 milhões pessoas com alguma dificuldade motora e 2,6 milhões com deficiência mental ou intelectual, as quais muitas vezes necessitam de mecanismos externos para se comunicar. A eletroence-falografia (EEG) é o estudo do registro das correntes elétricas emitidas pelo encéfalo, realizado através de eletrodos aplicados no couro cabeludo. Por meio da EGG, o produto proposto permite o total controle da automação residencial com o auxílio de um capacete com eletrodos que se comunica com qualquer eletrodoméstico da casa, sem necessidade de modificações no aparelho, o que possibilita acender uma lâmpada ou ligar um ar-condicio-nado utilizando os impulsos elétricos emitidos pelo encéfalo do usuário. Os sinais são processados em um computador central na residência, responsá-vel por enviar os sinais para os microprocessadores conectados às tomadas dos aparelhos que se deseja controlar. Os testes resultaram em um produto com conexão estável, respondendo corretamente aos comandos emitidos pelo usuário em 70% dos testes. Pacientes com esclerose lateral amiotrófica (ELA) apresentaram um ótimo desempenho no envio de comandos em rela-ção aos que não possuem tal deficiência. Devido a ruídos de sinal causados por interferências do meio externo, em 30% dos testes não se obteve um sinal limpo, o comando solicitado foi processado incorretamente pelo capa-cete com eletrodos.

Palavras-chave: acessibilidade; automação residencial; eletroencefalograma.

16 Graduando em Ciência da Computação. Centro Universitário do Pará.17 MSc. Ciência da Computação. Centro Universitário do Pará.18 Graduando em Ciência da Computação. Centro Universitário do Pará.19 Centro Universitário do Pará.20 MSc. Fonoaudióloga. Universidade do Estado do Pará. 21 Drª. Terapeuta Ocupacional. Universidade do Estado do Pará.

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1. INTRODUÇÃO

Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, exis-tem pelo menos 8,9 milhões pessoas com alguma dificuldade motora e 2,6 milhões com deficiência mental ou intelectual (IBGE, 2010), as quais em muitos casos necessitam de mecanismos externos para se comunicar. Vale ressaltar que, no Brasil, são poucos os que têm condições financeiras para utilizar tais mecanismos específicos. Nesse sentido, têm-se registrado algum crescimento no escasso mundo do desenvolvimento nacional de aplicativos e programas de computadores destinados ao processo de inclusão.

Faz-se necessário explorar toda e qualquer forma que proporcione a independência de pessoas com deficiência, observando no estudo das tec-nologias, e em especial no uso dos computadores e dispositivos móveis, condição essencial de inclusão e ferramenta ímpar no favorecimento da reorganização de técnicas, métodos e recursos voltados para pessoas com mobilidade reduzida, auxiliando, com isto, em seu processo de inclusão digital e social.

Objetivando proporcionar qualidade de vida de pessoas com deficiên-cia, vislumbram-se sistemas computadorizados, incluindo-se neste contex-to o desenvolvimento de softwares e dispositivos adaptados. O desenvolvi-mento de softwares é fator crucial para o avanço na inclusão social e digital de pessoas com deficiência. Por meio destas adaptações, agregando mobili-dade, a independência dessas pessoas pode alcançar taxas muito elevadas, devido o desempenho de uma determinada função, como controlar qual-quer dispositivo eletrônico, através do computador ou de um dispositivo móvel por meio de um bom aplicativo adaptado para que sua função seja exercida com o mínimo de esforço possível (CAPOVILLA, 2002).

A automação é a aplicação de técnicas computadorizadas ou mecânicas para diminuir o uso de mão-de-obra em qualquer processo, especialmente o uso de robôs nas linhas de produção, a fim de reduzir custos e aumentar a velocidade da produção, (LACOMBE, 2004). Também pode ser definida como um conjunto de técnicas que podem ser aplicadas sobre um proces-so objetivando torná-lo mais eficiente, ou seja, maximizando a produção com menor consumo de energia, menor emissão de resíduos e melhores condições de segurança, tanto humana e material quanto das informações

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inerentes ao processo. A automação pode ser dividida em alguns ramos principais, neste caso, a residencial consiste na aplicação de técnicas de automação para melhoria no conforto e segurança de residências e con-juntos habitacionais, tais como: Controle de acesso por biometria, portei-ro e portões eletrônicos, Circuitos Fechados de Televisão (CFTV), controle de luminosidade de ambientes, controle de umidade, temperatura e etc.

Para viabilizar a automação de um determinado processo, existe uma necessidade preliminar de realização de um estudo técnico (levantamento de requisitos) que verificará todas as necessidades para o processo deseja-do, servindo como subsídio para a identificação, análise e determinação da melhor estratégia de controle e para a escolha dos recursos de hardware e/ou software necessários para a aplicação. Baseado no estudo técnico, é possível desenvolver adaptações no ambiente, para agregar a mobilidade e promover a independência de pessoas com deficiência com mobilidade reduzida. A eletroencefalografia (EEG) pode ser utilizada como um recur-so de hardware adaptável a necessidade do usuário, a fim de promover a interface de controle residencial.

A eletroencefalografia é um teste que avalia à captação e o registro da atividade elétrica cerebral de forma a gerar um sinal chamado de eletro-encefalograma. A eletroencefalografia pode ser realizada através de ele-trodos fixados em áreas chave do couro cabeludo do paciente correspon-áreas chave do couro cabeludo do paciente correspon- chave do couro cabeludo do paciente correspon-dentes ao local analisado do cérebro. Por meio da EEG, o trabalho atual permite o controle da automação residencial com o auxílio de um capacete de baixo custo, como os eletrodos utilizados nos testes, que se comunica com um computador e direciona o sinal para qualquer eletrodoméstico da casa, sem necessidade de modificações no aparelho, o que possibilita exer-cer tarefas simples do dia-a-dia, como acender uma lâmpada ou ligar um ar-condicionado.

Com isto, o trabalho auxilia o processo de inclusão digital e social de pessoas com deficiência, em especial, com déficits neuromotores, o que não impede, ainda, que o hardware e o software possam ser adaptados para outra clientela, sendo para tanto necessário diferenciar as técnicas de apli-cação para enfocar as necessidades individuais.

Os testes de usabilidade foram efetuados no Núcleo de Desenvolvi-

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mento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA da Universi-dade do Estado do Pará - UEPA. Na experiência do NEDETA (Projeto aprovado pela FINEP REF. 4249/05 publicado no diário oficial da União no dia 30/12/2005, executado pela UEPA), as deficiências mais recorrentes são a mielomeningocele, a síndrome de down, o autismo, a hiperstividade, a deficiência intelectual, a distrofia muscular progressiva; podendo ser to-das trabalhadas com o auxílio do produto proposto.

2. OBJETIVOS

• Desenvolver um software multiplataforma para computadores standalones que receba os dados enviados pelo eletroencefalograma em tempo real;

• Promover a interface de controle residencial para pessoas com mo-bilidade reduzida;

• Listar todas as ações executadas pelo usuário (acender lâmpada, des-ligar televisão) no software, a fim comunicar para os outros morado-res da residência o que ocorre no ambiente em que o usuário está.

3. MÉTODOS

Por meio da parceria com o NEDETA - Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade foram levantados os requisitos necessários para o desenvolvimento do produto. Esta fase de descoberta teve um importante papel no ciclo de vida geral de desenvolvimento do software, uma vez que definem as visões, funcionalidades e estratégias ao analisar os desafios, objetivos e restrições do produto. Nesta fase se conce-beu, também, o Produto Mínimo Viável (PMV) da solução a ser apresen-tada.

O próximo passo consistiu na preparação do ambiente de desenvolvi-mento de aplicativos. Com isto, surge a necessidade de instalação e con-figuração de cada um dos ambientes de desenvolvimento (Windows, Mac OS, Linux).

Na terceira etapa, os desenvolvedores trabalharam juntos para criar versões do programa usando as plataformas e selecionando as melhores

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estratégias de engenharia de software aderentes a proposta, como a meto-égias de engenharia de software aderentes a proposta, como a meto-gias de engenharia de software aderentes a proposta, como a meto-de software aderentes a proposta, como a meto-aderentes a proposta, como a meto-, como a meto-dologia SCRUM. Na quarta etapa, se deu início as integrações do equipa- Na quarta etapa, se deu início as integrações do equipa-ício as integrações do equipa-cio as integrações do equipa-mento de eletroencefalografia (EMOTIV EPOC) com o software desenvol-vido, ilustrado na figura 01.

Na quarta etapa, se deu início às integrações do equipamento EMO-TIV EPOC, um aparelho que realiza eletroencefalografia utilizando-se de 14 canais para analisar as respostas elétricas do cérebro do paciente, em conjunto com o software desenvolvido que irá receber os dados coletados pela EEG e controlará por meio de uma central, quais os aparelhos que deverão ser ligados durante o uso do paciente, como ilustrado na figura 01.

Figura 01: equipamento de eletroencefalograma (esquerda) e central de controle com microprocessador conectado às tomadas da residência (direita).

Ressalta-se, aqui, que a necessidade inicial de um ambiente de desenvol-vimento do aplicativo, para, daí, realizar testes posteriores nos dispositivos reais. Em uma próxima etapa, cinco pacientes do NEDETA foram subme-tidos ao treinamento com o equipamento de eletroencefalografia em tempo real, para a captação dos aspectos cognitivos de cada indivíduo e adaptação da plataforma. A partir daí, por fim, os testes e homologações.

60

Os testes de usabilidade foram realizados nas cabines de atendimento de pacientes com necessidades especiais do NEDETA, o qual atualmente dispõe de sete gabinetes para atendimento. Nesta etapa serão depurados e corrigidos eventuais problemas.

4. ANÁLISE DO PROCESSO

Os sinais emitidos pelo encéfalo do usuário são captados pelo equi-rio são captados pelo equi-ão captados pelo equi-pamento de eletroencefalograma e enviados para um computador central na residência, responsável em decodificar o sinal e repassar a solicitação do acionamento para os microprocessadores conectados às tomadas dos aparelhos que se deseja controlar.

Os testes resultaram em um produto com conexão estável, respon-o estável, respon-ável, respon-dendo corretamente aos comandos solicitados pelo usuário em 70% dos testes. O produto precisa ser aprimorado, pois, devido a ruídos de sinal causados por interferências do meio externo, em 30% dos testes não se ob-teve um sinal limpo, o comando solicitado foi processado incorretamente pelo capacete com eletrodos.

5. CONCLUSÕES

A eletroencefalografia apresenta ser uma alternativa viável para con-trole de automação, visando a população com deficiência que necessita meios externos para se comunicar e exercer tarefas simples do dia-a-dia.

O trabalho demostra ser uma solução para ambientes residenciais economicamente viáveis e de alta tecnologia, proporcionando conforto e independência para usuários com ou sem defi ciências neuromotoras. A ca-ncia para usuários com ou sem defi ciências neuromotoras. A ca-ários com ou sem deficiências neuromotoras. A ca-racterística de ser multiplataforma destaca o projeto em relação à estudos anteriores devido a facilidade de acesso, independentemente da platafor-ma que está sendo utilizada pelo usuário, tornando o processo de automa-ção mais rápido e simples.

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6. REFERÊNCIAS

Capovilla, A. G. S., Capovilla, F. C. “Alfabetização: método fônico.” São Paulo: Memnon Edições Científicas, 2002.BAGANHA, A. SANTOS, M. et all. Brincando com a leitura: desenvol-vimento de aplicativo Acessível para dispositivos móveis. International Workshop on Assistive Technologies. Vitória – ES. 02 a 06 de Fevereiro de 2015. ISSN: 2359-2346.IBGE. “Censo demográfico 2010: pessoas com deficiência”. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=pa&tema=censodemog2010_defic. Acesso em: 02/01/2015.LACOMBE, F. J M. “Dicionário de Administração” (2004). São Paulo: Saraiva. “Introdução à Automação de Sistemas e à Instrumentação Industrial”. Disponível em: http://aquarius.ime.eb.br/~aecc/Automacao/Introducao.pdf. Data de acesso: 19/12/2014.

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EFICÁCIA DO USO DO CADERNO DE FÉRIAS COMO FERRAMENTA AUXILIAR E O COMPROMETIMENTO DA

FAMILIA

Alana de Oliveira Wan-Meyl22; Douglas Rego Chaves22; Letícia Barreto Ramos22;

Luzianne Fernandes de Oliveira23; Ana Irene Alves de Oliveira24.

RESUMO

A família é o suporte do ser humano que contribui para sua formação biopsicossocial, e o caderno de férias é uma ferramenta muito útil nos períodos de recesso terapêuticos, proporcionando a família conhecimento das propostas terapêuticas. Objetivando mostrar a eficácia do uso do ca-derno de férias como recurso terapêutico em pacientes de diferentes pato-logias, foi realizado estudo de casos múltiplos, descritivo e quantitativo, entre os meses de novembro de 2015 a junho de 2016, em 9 pacientes e seus responsáveis. Foi realizada entrevista, com perguntas abertas e fechadas sobre a utilização do recurso de férias durante o recesso, onde houve 100% de uso pelos responsáveis, demonstrando o comprometimento da família no tratamento. A maioria dos entrevistados realizou estimulação após as atividades com seus filhos, apesar de relatarem dificuldades por falta de concentração e por preguiça/tolice. As facilidades descritas foram o horá-rio escolhido, a sua participação no processo e o interesse da própria crian-ça. Sobre a evolução notada com o auxilio do caderno de férias, referiram progresso e que não houve regressão durante as férias das habilidades ad-quiridas em terapia. Desta forma, todos os pais e usuários do caderno manifestaram-se satisfeitos com o resultado, e gostariam de receber em todos os recessos prolongados, a ferramenta de apoio, pois, o recurso au-

22 Acadêmicos de Fonoaudiologia da Universidade da Amazônia e Estagiários do Núcleo de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA.23 Fonoaudióloga. Especialista em Linguagem Humana, Motricidade Humana e Motricidade Oral. Formação no Conceito Neuroevolutivo Bobath. Técnica da Secretaria de Educação do Estado do Pará - SEDUC. Técnica da Secretaria Municipal de Saúde - SESMA. Mestre em Desenvolvimento e Meio ambiente Urbano.24 Terapeuta Ocupacional e Bacharel em Psicologia. Professora Titular da Universidade do Estado do Pará - UEPA. Coordenadora do Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA. Coordenadora do Centro Especializado de Reabilitação Física e Intelectual CER II. Especialista em Tratamento Neuroevolutivo Bobath. Mestre em Motricidade Humana. Doutorado em Psicologia.

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xiliou bastante na questão de comunicação e inclusão do filho na família, estimulação continuada em casa e evolução das habilidades.

Palavras-chaves: Interação. Atividades. Fonoaudiologia. Eficácia. Esti-mulação.

1. INTRODUÇÃO

A família é o suporte do ser humano, é ela que contribui para sua for-mação biopsicossocial, ela alimenta as relações com amor, acolhimento, cuidados; estabelece relação com a qualidade de vida dos membros que nela existem. Por isso é de extrema importância que o profissional, a famí-lia e paciente trabalhem juntos, pois um é complemento para outro.

Devido a isto é que o caderno de férias é uma ferramenta muito útil nos períodos de recesso, pois ele reúne atividades realizadas durante todo o semestre de atendimentos focando nas inabilidades do paciente e nas habilidades já presentes, estimulando e desenvolvendo os aspectos que ne-cessitam de atenção, além de proporcionar um trabalho conjunto: pacien-te, profissional/fonoaudiólogo e família.

Esta pesquisa foi realizada no Núcleo de Desenvolvimento em Tecno-logia Assistiva e Acessibilidade (NEDETA), da Universidade do Estado do Pará (UEPA), onde ocorrem atendimentos a pessoas com deficiência, por meio de sessões de terapias/atendimentos e desenvolvimento de novas tecnologias de acessibilidade para melhorar a qualidade de vida dos seus usuários.

Devido à experiência anterior dos acadêmicos de fonoaudiologia vivida na Universidade da Amazônia (UNAMA) com a utilização da ferramenta de férias, onde foi possível observar uma estabilidade dos resultados al-cançados durante os atendimentos dos pacientes que utilizaram o recurso de férias, houve-se a importância em trazer a mesma ideia do recurso para o Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (NEDETA), pois os pacientes não podiam ficar sem nenhum recurso de estimulação durante o recesso de férias.

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É necessário ressaltar que tal recurso é de caráter único e especifico para cada paciente e patologia, não há um modelo padrão, pois cada pa-ciente tem sua particularidade. Portanto, é importante o profissional ter uma visão holística do paciente, de sua realidade e potencial ao desenvol-ver o caderno de férias.

Considerando-se o exposto acerca da importância dos pais na estimu-lação das habilidades de seus filhos e o uso de uma ferramenta auxiliar nos períodos de recesso, evidencia-se a relevância deste estudo para responder ao problema de pesquisa: De que forma o uso de uma ferramenta para estímulo nas férias e o comprometimento da família está influenciando no desenvolvimento das habilidades dos pacientes atendidos no NEDETA pela equipe de fonoaudiologia?

2. OBJETIVO

Mostrar a eficácia do uso do caderno de férias como recurso terapêuti-co em pacientes de diferentes patologias atendidos no NEDETA.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 A IMPORTANCIA DA FAMÍLIA NO TRATAMENTO

A família desempenha um papel muito importante no desenvolvimen-to do indivíduo, já que ela será a principal transmissora das condutas e va-lores que permearão o comportamento dos que com ela convive (DALLA-BONA, S.R; MENDES, S. M. S; 2004). No processo de aprendizagem e armazenamento de conhecimentos adquiridos é a família a principal esti-muladora e agregadora da linguagem interna e externa do individuo.

A família constitui o primeiro universo de relações sociais da criança, podendo proporcionar-lhe um ambiente de crescimento e desenvolvimen-to, especialmente em se tratando das crianças com alguma dificuldade ou alteração orgânica, as quais requerem atenção e cuidados específicos. A influência da família no desenvolvimento de suas crianças se dá, primor-dialmente, através das relações estabelecidas por meio de uma via funda-

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mental: a comunicação, tanto verbal como não verbal (SILVA, N. L. P; DESSEN, M. A, 2001).

3.2 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde, representar determi-nando papel na brincadeira, faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras, as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação, da utilização e da experimentação de regras e papéis sociais (LOPES, 2006).

Os jogos educativos revelam a sua importância em situações de ensino--aprendizagem ao aumentar a construção do conhecimento, introduzindo propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora, possibilitando o acesso da criança a vários tipos de conhe-cimento e habilidades (RAVELLI, A. X; MOTTA, M. da G. C. da, 2005).

Segundo PIAGET (1967) citado por MAURICIO (2009), “o jogo não pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral”. Através dele se processa a construção do conhecimento. Neves (2006) relata que através do “brincar” tudo que aprendido é concretizado, por isso é tão importante o interesse da criança ou do adolescente pelas atividades, se for atraente e lhe chamar atenção ele fará nas suas férias, caso contrário deixará de lado.

4. METODOLOGIA

Nessa pesquisa foi realizado um estudo de casos múltiplos, descritivo quantitativo desenvolvido no Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA, no período de novembro de 2015 a junho de 2016. Os informantes utilizados no estudo foram ao todo 9 pa-cientes e 9 pais e/ou responsáveis, atendidos pela aérea de Fonoaudiologia

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em diferentes patologias (encefalopatia crônica não-progressiva, desvio fonético-fonológico e atraso de linguagem), de ambos os gêneros (masculi-no e feminino) e idades distintas (variando entre 8 a 23 anos).

Para a coleta de dados foi realizada uma entrevista direcionada aos Pais e/ou responsáveis dos pacientes, no mês fevereiro de 2016, após a uti-lização do caderno de férias. Nesta entrevista, haviam perguntas abertas e fechadas que versava sobre a utilização do caderno de férias, a observação dos envolvidos sobre a eficácia desse recurso e a participação da família na estimulação.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a entrevista realizada com os pais podemos observar os seguintes resultados:

Tabela 1 - Utilização do recurso de férias durante o recesso.Utilizaram

SempreNão Utilizaram

Utilizaram poucas vezes

P1 X

P2 X

P3 X

P4 X

P5 X

P6 X

P7 X

P8 X

PI9 X

Fonte: Autores, 2016.

Todos os Pais/Responsáveis relataram que utilizaram o recurso de fé-rias durante o recesso, demonstrando interesse na manutenção das habili-dades adquiridas por seus filhos no período de atendimento.

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TABELA 2 - Estimulação após as atividades com seus filhos.

Pais Sim Não Às vezes

P1 X

P2 X

P3 X

P4 X

P5 X

P6 X

P7 X

P8 X

PI9 X

Fonte: Autores, 2016.

Dos 9 entrevistados, 7 realizaram estimulação após as atividades com seus filhos, o que nos leva a pensar que o recurso promoveu aproximação entre os pesquisados.

TABELA 3 - Dificuldades encontradas e relatadas pelos Pais durante a realização das atividades.

PaisFalta de

concentraçãoPreguiça/

Tolice

P1 X

P2 X

P3 X

P4 X

P5 X

P6 X

P7 X

P8 X

PI9 X

Fonte: Autores, 2016.

Das dificuldades encontradas na concepção dos pais para realização das atividades, 5 consideraram a falta de concentração da criança durante a atividade e 4 a queixaram-se de preguiça/tolice.

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TABELA 4 - Facilidades encontradas e relatadas pelos Pais durante a re-alização das atividades.

Interesse do Filho

Participação dos Pais

Horário

P1 X

P2 X

P3 X

P4 X

P5 X

P6 X

P7 X

P8 X

PI9 X

Fonte: Autores, 2016.

Das facilidades encontradas durante a realização das atividades, 1 Pai referiu o horário escolhido, 3 a participação deles (os pais) nas atividades foi um fator positivo e estimulante e 5 o interesse da própria criança em realizar a proposta, o que nos leva novamente a pensar que a participação o dos Pais nesse processo é fundamental.

TABELA 5 - Evolução dos pacientes durante o recesso de férias com uso do recurso referido pelos Pais.

Pais ProgrediuNão notou mudanças

Regrediu

P1 X

P2 X

P3 X

P4 X

P5 X

P6 X

P7 X

P8 X

PI9 X

Fonte: Autores, 2016.

70

Sobre a evolução notada pelos pais com o auxilio do caderno de férias, 5 referiram que seu filho progrediu em alguns aspectos e 4 que não houve regressão nas férias, das habilidades que o filho havia adquirido no perío-do das terapias, o que nos leva a acreditar que o recurso do caderno como reforçador e eficaz.

TABELA 6 - Conceito fornecido pelos Pais com relação à utilização do recurso de férias.

Pais Excelente Bom Regular Ruim

P1 X

P2 X

P3 X

P4 X

P5 X

P6 X

P7 X

P8 X

PI9 X

Fonte: Autores, 2016.

A satisfação pela a utilização do recurso verbalizada pelos Pais de-monstra que, a partir do momento em que os eles se envolvem no processo de estimulação de seus filhos, e percebem evolução em algumas habilida-des, ocorre a credibilidade no processo terapêutico e na possibilidade de acreditarem nas potencialidades de seus filhos.

TABELA 7 - Avaliação da satisfação dos pacientes quanto às atividades propostas no caderno.

Pais Excelente Bom Regular Ruim

P1 X

P2 X

P3 X

P4 X

P5 X

P6 X

P7 X

P8 X

PI9 X

Fonte: Autores, 2016.

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Os usuários do caderno manifestaram-se satisfeitos nas atividades propostas para serem executadas em casa, apesar do período de recesso. Alguns também relataram que, os exercícios serviram para não se esque-cerem dos treinos realizados em terapias.

TABELA 8 - Desejo dos Pais em receber o caderno de férias nos próximos recessos.

Gostariam de Receber

Não Gostariam de Receber

P1 X

P2 X

P3 X

P4 X

P5 X

P6 X

P7 X

P8 X

PI9 X

Fonte: Autores, 2016.

Todos os pais manifestaram-se satisfeitos com os resultados da pro-posta e, gostariam de receber em todos os recessos prolongados, uma fer-ramenta de apoio, pois, isso auxiliou bastante na questão de comunicação e inclusão do filho na família, a estimulação continuada em casa e a evo-lução das habilidades.

6. CONCLUSÃO

Considerando a eficácia de uma ferramenta auxiliar nas férias, de cará-ter único, personalizada e individualizada, com intuito de oferecer suporte e orientação aos pais para dar continuidade a estimulação de seus filhos, é uma ideia simples, porém, de grande relevância para o tratamento de pacientes que necessitam de estimulo todos os dias, sejam eles pacientes com comprometimento neurológico, de aprendizagem, fala, dentre outros.

Nós profissionais e futuros profissionais precisamos estar sempre em parceria com a família de nossos pacientes, pois essa parceria é de fato o ponto chave para uma terapia eficaz, com resultados positivos e ganhos inestimáveis.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DALLABONA, Sandra Regina; MENDES, Sueli Maria Schimit. O lúdico na educação infantil: jogar, brincar, uma forma de educar. Revista de di-vulgação técnico-científica do ICPG, v. 1, n. 4, p. 107-112, 2004.LOPES, Vanessa Gomes. Linguagem do corpo e movimento. Curitiba, PR:FAEL, P. 100, 2006.MAURÍCIO, Juliana Tavares. Aprender brincando: o lúdico na aprendiza-gem.UNIPÊ. Disponível em: http://brinqueeaprenda. blogspot. com. Acesso em junho, v. 8, p. 2016, 2009.NEVES, Lisandra Olinda Roberto. O lúdico nas interfaces das relações educativas. Disponível em: http://www.centrorefeducacional.com.br/ludi-coint.htm. Acesso em março, 2016, 2006.RAVELLI, Ana Paula Xavier; MOTTA, Maria da Graça Corso da. O lú-dico e o desenvolvimento infantil: um enfoque na música e no cuidado de enfermagem. Revista brasileira de enfermagem. Brasília. Vol. 58, n. 5 (set./out. 2005), p. 611-613, 2005.SILVA, Nara Liana Pereira; DESSEN, Maria Auxiliadora. Deficiência mental e família: implicações para o desenvolvimento da criança. Psicolo-gia: teoria e pesquisa, v. 17, n. 2, p. 133-141, 2001.

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UMA REFLEXÃO SOBRE A OFICINA DE ÓRTESE EM UM HOSPITAL DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

Ivana Monique Corpes Castro25; Manuella Matos de Azevedo25; Sandra Suely da

Costa Soares26

RESUMO

A oficina de órtese do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergên-cia (HMUE) do Estado do Pará surgiu como fruto do trabalho da então residente em Urgência e Emergência no Trauma - hoje colaboradora da instituição - após levantamento de demandas apresentadas, sobretudo no Centro de Queimados (CTQ) do HMUE no ano de 2012. A palavra órtese vem do grego (orthos) e significa corrigir. É um dispositivo utilizado para suportar, imobilizar um segmento durante a fase de recuperação, ou para corrigir e prevenir deformidades, podendo ser estáticas, dinâmicas seria-das e progressivas (LEHM, 2016). Este artigo trata-se de uma pesquisa qualitativa, no qual será relatada a experiência de uma oficina de órtese realizada no Hospital de Urgência e Emergência, no período de Julho/2015 a Julho/2016, com a população de traumato-ortopedia, queimados e neu-rologia atendidos no período supracitado, o qual objetivou relatar a expe-riência de uma oficina de órtese no contexto hospitalar de um hospital de urgência e emergência na cidade de Ananindeua-Pará. A oficina de órtese estabelecida no hospital de urgência e emergência pode ser tida como um ganho a sociedade, uma vez que há uma dificuldade ao acesso as órteses no âmbito ambulatorial.

Palavras-Chaves: Órtese, Terapia Ocupacional, Contextos Hospitalares.

25 Terapeutas Ocupacionais do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, pós-graduadas em Urgência e Emergência no Trauma, preceptoras do Programa de Residência Multiprofissional da UEPA.26 Terapeuta Ocupacional do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, preceptora do Programa de Residência Multiprofissional da UEPA.

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INTRODUÇÃO

A oficina de órtese do Hospital Metropolitano de Urgência e Emer-gência (HMUE) do Estado do Pará surgiu como fruto do trabalho da en-tão residente em Urgência e Emergência no Trauma - hoje colaboradora da instituição - após levantamento de demandas apresentadas, sobretudo no Centro de Queimados (CTQ) do HMUE no ano de 2012.

Neste ano, em um único mês foram realizadas 8 reinternações para correção cicatricial o que espelhava negativamente nas finanças do hospi-tal e acabava por favorecer um inchaço na clínica, aumentando a deman-da e diminuindo a disponibilidade de leitos vagos no CTQ.

A palavra órtese vem do grego (orthos) e significa corrigir. É um dis-positivo utilizado para suportar, imobilizar um segmento durante a fase de recuperação, ou para corrigir e prevenir deformidades, podendo ser es-táticas, dinâmicas seriadas e progressivas (LEHM, 2016).

Seu principal objetivo é promover o equilíbrio biomecânico, por meio da aplicação de forças de contenção externa ao segmento comprometido. É indicada para imobilização de um segmento; auxílio nos movimentos, correção e prevenção nas deformidades, alívio da dor; melhorar o posicio-namento do segmento. Ela deverá ser simples, confortável, de fácil coloca-ção, livre de pontos de pressão, facilmente ajustável, leve, prática, moldá-vel e de fácil manutenção para a limpeza (FERRIGNO, 2007).

O material utilizado na confecção das órteses, a placa de ezeform® (material fornecido pelo hospital), é um material termo moldável, ou seja, quando aquecido em água à temperatura de aproximadamente 70ºC tor-na-se maleável, podendo ser moldado diretamente na parte do corpo a ser imobilizada, após alguns minutos o material esfria mantendo o molde de-sejado (POLITEC SAÚDE, 2016). Seu tempo de garantia é aproximada-mente 12 meses e se conservado seu tempo é bem maior. Pode ser utilizada em qualquer segmento corporal, sempre havendo a preocupação com os pontos de pressão e proeminências ósseas.

A oficina de órteses do HMUE foi idealizada com base na demanda dos pacientes e a dificuldade para ter acesso as órteses após o período de internação, pois há uma carência no Estado de serviços que disponibili-zem estes recursos.

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Com o potencial das órteses, foi sugerida a Organização Social de Saú-de (OSS) que administra o HMUE a criação de um espaço para confecção de dispositivos assistidos para os pacientes internados no hospital, visan-do a diminuição dos números de reinternações por retração cicatricial e/ou deformidades e contraturas oriundas do tempo de hospitalização e melhor acesso aos dispositivos assistivos, no qual foi prontamente atendido no ano de 2015.

OBJETIVO

Relatar a experiência da inserção de uma oficina de órtese no con-texto hospitalar de um hospital de urgência e emergência na cidade de Ananindeua-Pará.

METODOLOGIA

Este artigo trata-se de uma pesquisa qualitativa, no qual será relatada a experiência de uma oficina de órtese realizada no Hospital de Urgência e Emergência, no período de Julho/2015 a Julho/2016, com a população de traumato-ortopedia, queimados e neurologia atendidos no período su-pracitado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com o plano Saúde Sem Limites do Ministério da Saúde, a Oficina Ortopédica constitui-se em serviço de dispensação, de confecção, de adaptação e de manutenção de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção (OPM), e será implantada conforme previsto no Plano de Ação Regional.

Conforme a portaria 835 de 25 de abril de 2012 (BRASIL, 2012), fica instituído incentivo financeiro de investimento destinado à construção de oficinas ortopédicas como ponto de apoio dos pontos de atenção do Com-ponente Atenção Especializada em Reabilitação, bem como para aquisi-ção de equipamentos e outros materiais permanentes, da seguinte forma:

Construção de Oficina Ortopédica - até R$ 250.000,00 (duzentos e cin-quenta mil reais) para edificação mínima de 260 m²

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Aquisição de Equipamentos - até R$ 350.000,00 (trezentos e cinquen-ta mil reais).

São assistidos pela oficina os pacientes que se encontram internados e àqueles que se encontra em tratamento ambulatorial.

Dentre os materiais comercializados no mercado, os materiais de bai-xa temperatura são os que mais se adequam a realidade dos pacientes atendidos e por se mostrarem fáceis para higienização e apresentar uma tecnologia que nos permiti remodelar, conforme evolução anatômica e ne-cessidade do paciente.

Para a construção da oficina de órtese, a diretoria da OSS disponibi-lizou a compra dos materiais permanentes e do consumo, destacando-se aqui: panela elétrica, tesouras próprias para termoplástico, termoplástico do tipo ezeform® (placas e granulados), velcrons®, colas, lápis demográ-ficos e papéis.

Ainda não se tem um espaço único para essas confecções, sendo pres-critas e confeccionadas nas salas de curativo das enfermarias do hospital.

O processo de prescrição/confecção é dada através dos seguintes pas-sos (ver figura 1):

1. Solicitação do profissional ou avaliação do próprio Terapeuta Ocupacional.

2. Análise do prontuário e estado geral do paciente.

3. Avaliação antropométrica: medidas goniométricas da área a ser confeccionada a órtese.

4. Desenho da órtese em papel A4 no membro do cliente (preocupando-se com os pontos de pressão, delimitando as principais áreas).

5. Transferência do desenho para placa de Termomodável de baixa temperatura.

6. Recorte e modelagem e finalização estética da órtese. (HMUE, 2016).

O uso dos dispositivos ortóticos deve ser empregado o mais breve pos-sível para favorecer a manutenção funcional do individuo, sendo de res-ponsabilidade do terapeuta ocupacional analisar, prescrever e confeccio-

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nar as órteses, estando incluso também a vigilância constante a fim de prevenir pontos de pressão e edemas.

O uso das órteses em conjunto com o posicionamento antideformante vai possibilitar a melhora do quadro clínico, influenciando diretamente no pós-alta hospitalar, pois com a ausência das sequelas incapacitantes o individuo vai retomar sua rotina ocupacional sem prejuízos significantes, não necessitando de readaptação laboral, poupando-o de internações fu-turas para reparos cicatriciais.

Durante o período de execução deste projeto, foi possível visualizar o quão positivo foi o efeito ocasionado pelo uso de órteses, ressaltando o impedimento de deformidades, que em geral são ocasionadas durante o período hospitalar. Mesmo após a alta hospitalar tivemos contatos com pacientes que foram beneficiados com as órteses, e após o uso mostraram os ganhos obtidos com ela, tais quais: melhora de posicionamento, propor-cionando ganho de funcionalidade no membro acometido, em pacientes queimados a melhora da imagem corporal.

Ao longo deste um ano de projeto, foram confeccionadas mais de 100 órteses para membro superior e inferior, beneficiando pacientes com lesões neurológicas, traumato-ortopédicas e queimados, destaca-se aqui que fo-ram realizadas órteses tanto personalizadas como as pré-existentes, dimi-nuindo o processo de reinternações e acelerando o retorno destes pacientes a sua rotina ocupacional prévia a hospitalização, e possibilitando amplia-ção e aceitação por parte da diretoria do HMUE.

CONCLUSÕES

A oficina de órtese estabelecida no hospital de urgência e emergência pode ser tida como um ganho a sociedade, uma vez que há uma dificulda-de ao acesso as órteses no âmbito ambulatorial.

Contudo, muito ainda tem que ser feito, primeiro porque o hospital não se caracteriza como um Centro Especializado III para que se faça a arrecadação de cada órtese ou material assistivo. Para isso, seria necessá-rio viabilizar ou estudar uma forma de reverter o gasto que se tem com a compra de material e arrecadar para o Estado o serviço aqui prestado.

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E segundo, o projeto tem ampliado e demandado uma maior estru-turação arquitetônica e de pessoal. Hoje as demandas se tornaram cada vez maior, não restringindo-se apenas as prescrições/confecções de órteses, mas também, prescrição de outros dispositivos assistivos para as múlti-plas deficiências físicas.

REFERÊNCIA

BRASIL. Portaria nº 835, de 25 de abril de 2012. Institui incentivos finan-ceiros de investimento e de custeio para o Componente Atenção Especiali-zada da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde. DIARIO OFICIAL DA UNIÃO, 26 DE ABRIL DE 2012FERRIGNO, V.S.I. TERAPIA DA MÃO. SÃO PAULO: LTDA, 2007.GABRIELA MARTINS DE LIMA, HMUE: Instrução de Trabalho: re-ferência � elaboração. Ananindeua, 2016.LEHM, Vera Lúcia Mendes. Cartilha de apresentação. Disponível em: <http://www.crefito10.org.br/cmslite/userfiles/file/ORTESES%20DE%20MAOS %20-%20Dra_%20Vera%20Lucia%20Mendes%20Lehm%20-%20Terapeuta%20Ocupacional.pdf> Acessado em: 14 de agosto de 2016.POLITEC SAÚDE. Imobilizações com Termoplásticos de Baixa Tempe-ratura. Disponível em: http://www.politecsaude.com.br/produtos/termo-plasticos/122/ . Acesso em: 27 set. 2015.

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A INFLUÊNCIA DO USO DE ÓRTESES NO REESTABELECIMENTO FUNCIONAL DO PACIENTE QUEIMADO

Ivana Monique Corpes Castro27, Manuella Matos de Azevedo27

Sandra Suely Soares28

RESUMO

A queimadura é uma lesão grave que interfere diretamente no desempe-nho ocupacional do individuo afetado, em decorrência da dor e dos cura-tivos oclusivos o paciente não conseguirá ser independente, causando não só prejuízos motores, mas também um abalo psicoemocional. Levando em conta sua extensão e profundidade, as queimaduras tem um processo cicatricial impar que pode ocasionar deformidades em decorrência da pos-tura assumida pelo paciente. Sendo assim o terapeuta ocupacional tem o objetivo de intervir junto ao paciente de maneira a favorecer autonomia e independência, sendo também de sua característica profissional prescre-ver e confeccionar órteses, que irão propiciar repouso articular e posicio-namento adequado durante a fase aguda da queimadura culminando com uma melhor cicatrização evitando reinternações futuras.

Palavras-Chaves: Queimadura, Órtese, Funcionalidade.

27 Terapeuta Ocupacional do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, pós graduada em Urgência e Emergência no Trauma.28 Terapeuta Ocupacional do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, preceptora do Programa de Residência Multiprofissional da UEPA.

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INTRODUÇÃO

As queimaduras são ocasionadas quando há transferência de energia entre dois pontos, a fonte de calor, alta temperatura, para o organismo, temperatura mais baixa. Há estudos que comprovam que nervos e vasos conduzem com maior facilidade o calor, sendo que a circulação sanguínea se constitui como fator importante na determinação da absorção e dissi-pação do calor nos tecidos corporais (OLIVEIRA 2003, in TEXEIRA et al, 2003).

Constitui-se como uma lesão grave que irá interferir diretamente no desempenho ocupacional do individuo e ocasionará rupturas significativas no cotidiano, tendo em vista que seu tratamento é longo, logo implicando em um período de internação prolongado e, por vezes, sofrido. O tera-peuta ocupacional tem papel fundamental na reabilitação do individuo queimados na prevenção de deformidades, manutenção da mobilidade ar-ticular, confecção de órteses e restituição da função (ANTONELI, 2003 in TEXEIRA, 2003).

Este se dispõe a elucidar a importância da prevenção de contraturas, deformidades e incapacidades geradas pela queimadura através da inter-venção do terapeuta ocupacional e o uso de órteses de posicionamento, podendo desta forma contribuir para a recuperação e (re)inserção dos in-divíduos na retomada de seus cotidiano .

OBJETIVO

Este relato visa expor a vivencia do terapeuta ocupacional em um centro de tratamento de queimados, e sua percepção dos efeitos produzi-dos pelo uso de órteses durante o período de internação dos pacientes.

METODOLOGIA

Este artigo trata-se de um estudo qualitativo, descritivo (relato de ex-periência), que discorrerá acerca das percepções do terapeuta ocupacional sobre o uso de órteses em clientela de pacientes queimados de um Hospital de Urgência e Emergência, no período de fevereiro/2015 a dezembro/2015. Destaca-se que a revisão de literatura foi realizada considerando as produ-

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ções científicas dos últimos 15 anos, em virtude de haver pouca produção na área.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A queimadura é uma lesão que destrói a integridade capilar e vascular, seus efeitos vão além do trauma local, gerando complicações sistêmicas, sendo que o comprometimento vai depender do agente causador da quei-madura, intensidade e características do local afetado (ALBUQUERQUE et al, 2010).

Dentre as áreas afetadas as de maior complexidade para serem tra-tadas são as denominadas áreas especiais, a saber: face, mãos, pés, região glútea, genitália, porções flexoras (inclusas nestas: região cervical, axilar, do cotovelo e poplítea). Estas zonas são assim consideradas devido ao seu alto risco de contaminação, ao rico suprimento sanguíneo e tecido frou-xo da região, à maior complexidade anátomo-funcional e à facilidade de complicações, como retrações cicatriciais severas e incapacidade funcional (CAZARIM et al, 2009).

Através da observação dos pacientes que internaram no hospital, po-de-se visualizar maior incidência em crianças, por acidentes domésticos, e pessoas do sexo masculino, por acidentes de trabalho, em geral sendo a fonte de queimadura energia elétrica.

As queimaduras sobre as regiões articulares podem levar a retração da cicatriz, o que causa grandes deformidades e limitação dos movimentos normais. Cuidados apropriados com a lesão, enxerto, imobilização cor-reta, terapia ocupacional e fisioterapia são instrumentos essenciais para prevenção, podendo prevenir ou reduzir a incidência de contraturas (MO-TAMED et al, 2006 in CAZARIM et al, 2009).

Desde a internação até o momento da alta hospitalar o terapeuta ocupacional se faz presente por meio dos atendimentos beira leito, para proporcionar a funcionalidade, estimular a autonomia e independência, e verificar a real necessidade do uso de órteses a fim de prevenir contraturas cicatriciais que são extremamente limitantes.

Partindo desta perspectiva, o ponto de partida para a reabilitação do

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paciente queimado é a avaliação inicial de força muscular, amplitude de movimento (ADM), entrevista com paciente e familiares para verificar os contextos que encontrava-se inserido, se era o provedor de renda da famí-lia, tipo de trabalho, de moradia, grau de independência, etc, para que se possa planejar o tratamento adequado as necessidades do cliente (REE-VES, 2005 in PEDRETTI; EARLY, 2005).

Trombly e Radomski (2005) define órtese como dispositivo que se acrescenta ao corpo para substituir um poder motor ausente, para restau-rar a função, ajudar músculos fracos, posicionar ou mobilizar uma parte ou corrigir deformidades. Segundo De Carlo e Luzo (2004) as órteses são um recurso terapêutico essencial na reabilitação da mão, pois o uso apro-priado desses dispositivos fornece aos pacientes uma ótima oportunidade para alcançarem seu potencial máximo de recuperação.

O principal objetivo da órtese é promover o equilíbrio biomecânico do segmento corporal, é um recurso amplamente utilizado para mobilizar, restringir movimentos ou imobilizar as articulações, sendo possível até favorecer o processo de reparação cicatricial dos tecidos (FERRIGNO, 2007).

A partir da avaliação, onde é verificada a necessidade do uso de órtese, o terapeuta ocupacional deverá seguir as etapas para sua confecção: 1) Re-alizar mensuração do segmento corporal em papel, respeitando os pontos ósseos e linhas de articulação; 2) Desenho da órtese a ser confeccionada (molde em papel); 3) Transferência do molde para a placa de termoplásti-co; 4) Recorte do molde da órtese na placa de termoplástico; 5) Início da modelagem da órtese de termoplástico em água quente; 6) Experimenta-ção da órtese no paciente, verificando o se está bem adequado; 7) Finaliza-ção da órtese, utilizando velcrons® para melhor ajuste no membro.

O uso dos dispositivos ortóticos deve ser empregado o mais breve pos-sível para favorecer a manutenção funcional do individuo, sendo de res-ponsabilidade do terapeuta ocupacional analisar, prescrever e confeccio-nar as órteses, estando incluso também a vigilância constante a fim de prevenir pontos de pressão e edemas.

Durante o período inicial são recomendadas as órteses estáticas, que posicionam, imobilizam e previnem incapacidades, desta forma é possível

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posicionar o membro de acordo com a necessidade, podendo também ser confeccionadas de gesso seriando seu processo de mobilização (ANTONE-LI, 2003 in TEXEIRA, 2003).

As órteses confeccionadas no período de fevereiro a dezembro de 2015 foram sob medida do paciente, e todas foram modelos estáticos, pois sua finalidade maior era evitar a posição antálgica. Os principais modelos de órtese confeccionados foram do tipo cock-up, para posicionamento de pu-nho, evitando os desvios ulnar e radial, e a órtese de posicionamento fun-cional, para favorecer a anatomia da mão.

O paciente queimado tem um período de internação prolongado, le-vando em consideração profundidade, extensão e agente causador da queimadura, a hospitalização pode ser de um período de 15 dias a 90 dias, em média. Desta forma o terapeuta ocupacional consegue visualizar o progredir do paciente que faz uso de órteses cotidianamente até que este não venha mais ser necessário.

Durante este período de 11 meses, foram dispensadas em torno de 30 órteses apenas para pacientes queimados, esta estimativa relativamente baixa se dá ao fato do baixo número inicial de prescrições médicas conco-mitantemente ao fato de que o inicio da oficia de órteses foi inaugurada em meados de junho do referido ano.

A repercussão das órteses dentro do centro de queimados foi tão posi-tiva que houve aumento na demanda de prescrições para Terapia Ocupa-cional vindo dos cirurgiões plásticos, pois estes compreenderam que seu uso pode evitar um procedimento cirúrgico que demanda de mais tempo e é mais dispendioso para a instituição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso das órteses em conjunto com o posicionamento antideformante vai possibilitar a melhorar do quadro clinico, influenciando diretamente no pós-alta hospitalar, pois com a ausência das sequelas incapacitantes o individuo vai retomar sua rotina ocupacional sem prejuízos significantes, não necessitando de readaptação laboral, impactando também na dimi-

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nuição do número de cirurgias de correção de bridas cicatriciais poupando o individuo de uma nova internação.

REFERENCIAS

ALBUQUERQUE, Monique L.L., BASTOS, Vasco P.D., CÂMARA Tere-sa M.S., DINIZ, Denise M.S.M., FIGUEIREDO, Alessandra M.F., SIL-VA, Guilherme P.F.Análise dos pacientes queimados com sequelas motoras em um hospital de referência na cidade de Fortaleza-CE. Rev. Bras. Queimaduras. 2010, p 89-94.ANTONELI, Márcia R.M.C. Queimaduras.In:OLIVEIRA, M.C.; SAN-TOS, L.S.B.; SAURON, F.N.; TEIXEIRA, E. Terapia Ocupacional em Reabilitação Física. São Paulo: ROCA, 2003.CAZARIM, Daniele B., DORNELAS, Marilho T., FERREIRA, Ana Paula R., Tratamento das queimaduras em áreas especiais. HU Revista, Juiz de Fora, v. 35, n. 2, p. 119-126, abr./jun. 2009.DE CARLO, M.M.R.P; LUZO, M.C.M. Terapia Ocupacional: reabilitação física e contextos hospitalares. São Paulo: Roca, 2004.FERRIGNO, V.S.I. Terapia da mão. São Paulo: Ltda, 2007.

MOTAMED, S. et al. Treatment of flexion contractures following burns in extremities.Burns, Surrey, v. 32, no. 8, p. 1017-1021, Dec. 2006. In CA-In CA-ZARIM, Daniele B., DORNELAS, Marilho T., FERREIRA, Ana Paula R., Tratamento das queimaduras em áreas especiais. HU Revista, Juiz de Fora, v. 35, n. 2, p. 119-126, abr./jun. 2009.OLIVEIRA, Margarida S.C.M. Queimaduras. In:OLIVEIRA, M.C.; SANTOS, L.S.B.; SAURON, F.N.; TEIXEIRA, E. Terapia Ocupacional em Reabilitação Física. São Paulo: ROCA, 2003.REEVES, Sandra U. Queimaduras e Reabilitação de queimaduras.In: PE-DRETTI, LW; EARLY, MB. Terapia Ocupacional: Capacidades Práticas para as Disfunções Físicas. 5ª edição. São Paulo: Roca,2005.TROMBLY, C.A; RADOMSKI, M.V. Terapia Ocupacional para Disfun-ções Físicas. São Paulo: Santos, 2005.

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SISTEMA SEMAFÓRICO ACESSÍVEL

Alessandra Natasha Alcântara Barreiros29, Lucas de Lima Nava Souza9, Rosilany

Trindade Dias9

RESUMO

O Sistema Semafórico Acessível é um protótipo de um semáforo de trânsi-to a típico, entretanto, voltado a servir a pessoa com deficiência visual ofe-recendo segurança na hora de atravessar a faixa de pedestre. Ao chegar na área demarcada ao lado do semáforo a pessoa com deficiência visual será detectado por um sensor infravermelho que solicitará o fechamento do sinal para os veículos, emitindo um sinal sonoro (pelo buzzer) que avisará que o pedestre com deficiência visual poderá atravessar a rua, dando bips quando o tempo estiver acabando. O semáforo também poderá ser solici-tado pelo pedestre pressionando um botão, para acessibilidade de pessoas como o usuário de cadeira de roda, que oferecerá mais tempo de travessia. Portanto, a sonorização só será emitida quando o sensor infravermelho for acionado. O protótipo semafórico desenvolvido para auxiliar pessoas com deficiência visual que busca proporcionar maior segurança ao atravessar a faixa de pedestre. Isto é possível à medida que o sistema de sonorização alerta o tempo de travessia a faixa de pedestre.

Palavras-chave: Semáforo. Deficiente visual. Acessibilidade.

29 CESUPA – Centro Universitário do Estado do Pará.

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1. INTRODUÇÃO

A população estimada de pessoas com deficiência visual no mundo é de 285 milhões, sendo 39 milhões cegos e 246 milhões com baixa visão [2]. De acordo com o Relatório Mundial Sobre a Deficiência [5], poucos países implementaram nos últimos anos mecanismos que respondam às neces-sidades de quem vive com deficiência. As barreiras enfrentadas incluem discriminação, ausência de cuidados adequados à saúde e de serviços de reabilitação e transportes e construções sem acessibilidade.

Para o caso do Brasil segundo os dados do IBGE de 2010 [1], revelam que 6,2% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. Dentre os tipos de deficiência pesquisadas, a visual é a mais representativa e atinge 3,6% dos brasileiros, sendo mais comum entres as pessoas com mais de 60 anos (11,5%). O grau intenso ou muito intenso da limitação impossibilita 16% dos deficientes visuais de realizarem atividades habituais como ir à escola, trabalhar e brincar. O Relatório Mundial Sobre a Deficiência des-taca a cidade de Curitiba como exemplo de transporte público acessível às pessoas com deficiência, com uma estratégia de sensibilização voltadas aos motoristas e funcionários.

A Prefeitura de Curitiba está implantando na cidade uma nova tec-nologia que permite ao idosos e pessoas com deficiências e dificuldade de mobilidade uma passagem mais segura de ruas. Foram instalados 120 se-máforos inteligentes em 31 pontos da cidade, acionados por pessoas por-tadoras do cartão de passagens de idoso e de pessoa com deficiência da Urbanização de Curitiba S/A.

A Prefeitura de Curitiba realizou, em 2013, uma pesquisa inédita com 400 pedestres entre elas idosos e pessoas com deficiência em vários cruza-mentos do centro da cidade, determinando velocidade e tempos médios de travessia. Os dados levantados serviram de base para o aumento de tempo em muitos semáforos de pedestres de Curitiba e também para o cálculo do tempo de abertura dos semáforos especiais para pessoas com mobilidade reduzida. Com intenção de reduzir os acidentes no trânsito da capital pa-ranaense, principalmente com idosos e pessoas com deficiências, as maio-res vítimas de acidentes com pedestres na cidade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) com o fundamento de desen-

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volver ao máximo possível o nível de saúde de todos os povos, ou seja, me-lhorar o estado de completo bem-estar físico, mental e social dos cidadãos, cobrou esforços para melhorar o acesso de pessoas com deficiência a ser-viços básicos, além da adoção de uma estratégia voltada para o segmento de dá acessibilidade. Segundo a instituição, os governos devem trabalhar também para sensibilizar a sociedade sobre o tema e apoiar pesquisas e capacitação de profissionais.

A Lei Nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Que garante o direito a mobilidade e a acessibilidade da pessoa com defici-ência oportunizando-a viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social além de garantir à pessoa com defi-ciência acesso a produtos, recursos, estratégias, práticas, processos, mé-todos e serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua autonomia, mobilidade pessoal e qualidade de vida.

Neste sentido uma das prerrogativas para o cumprimento destas neces-sidades seria a implementação já previsto inclusive pela NBR 9050/2004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas de calçadas acessíveis. En-tretanto, não se percebe igual menção à necessidade de dar ao deficiente visual mais autonomia e segurança na a travessia na faixa de pedestre.

1.1 MOTIVAÇÃO

O problema do excesso de trânsito de veículos e pedestres é algo co-mum em qualquer lugar do mundo. O número de atropelamento no trân-sito é de 30,7%, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego [6], mas as estatísticas poderiam ser maiores se não tivesse um semáforo. Atraves-sar em uma avenida sem o auxílio de um semáforo não é segura, assim como o motorista os pedestres se sentem seguros em atravessar uma rua com a sinalização do semáforo adequado a cada um. Mas a presença do semáforo não evita acidentes, portanto tendo um sistema de sinalização funcional, adequado e com acessibilidade, melhora-se o fluxo de veículos e pedestres na via.

Atualmente tem se falado muito em acessibilidade, no trânsito foi ob-servado que em nosso país são poucas as cidades que têm acessibilidade

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no trânsito, pode-se destacar Curitiba que abrange a acessibilidade de for-ma ampla, tratando-se de questões ligada a acessibilidade arquitetônica, comunicacional e tecnológica, além dos semáforos a via se encontra to-talmente sinalizada e calçadas com pisos táteis. Buscando a melhora, da acessibilidade de nossa cidade, propõe-se implantar semáforos acessíveis, a partir do desenvolvimento de um dispositivo adaptado ao semáforo con-vencional, como ferramenta auxiliar aos deficientes visuais.

1.2 OBJETIVO

Desenvolver um protótipo de dispositivo de um sistema semafórico acessível economicamente viável, adaptado ao semáforo convencional como ferramenta de apoio a pessoa com deficiência visual.

1.3 OBJETIVO ESPECÍFICO

Adaptar os sistemas semafóricos convencional para um sistema com acessibilidade, articular parcerias com centros de referência de inclusão da região de Belém para a oferta de um sistema semafórico de acessibilidade, segurança e autonomia para pessoas com deficiências.

1.4 JUSTIFICATIVA

Ferramentas baseadas em Tecnologia Assistiva voltadas para melho-rar a qualidade de vida de pessoas com deficiência tem sido encontrada no cenário da acessibilidade. Embora, sendo um tema relativamente novo, a Tecnologia Assistiva já possui, academicamente, algumas classificações.

Uma destas classificações é a de “Tecnologia Assistiva - TA é um termo ainda novo, utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover vida independente e inclusão. ” (BERSCH & TONOLLI, 2006, p. 2), projetos arquitetônicos para acessibilidade.

Neste sentido, no Brasil podem ser montadas leis que designem calça-das táteis, entretanto, são calçadas serem de modesta abrangência, quan-do não erroneamente implementadas.

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Dentro deste contexto, a proposta de solução de um semáforo adap-tado para deficientes visuais, de forma economicamente acessível e pri-vilegiar de tecnologia nacional se mostra avaliada as leis vigentes e as necessidades de inclusão e autonomia essências às pessoas com deficiência, viabilizadas e favorecidas, sobretudo, nela implementação de Tecnologia Assistiva.

2. A PROPOSTA

Desenvolver um semáforo adaptado que seja mais eficiente que os em-pregados no trânsito, implementando o sistema semafórico com a fina-lidade de dá acessibilidade, mobilidade e inclusão para as pessoas com deficiências.

Para isso, foram levantadas sugestões técnicas funcionais na área. O semáforo apresentado nesse projeto é de dois estágios, ou seja, um mo-mento passa os veículos e em outro os pedestres.

O projeto tem suas dimensões reduzidas por se tratar de um protóti-po, mas com os seus conceitos podem ser implantados em um semáforo de dimensão real.

O projeto consiste em um protótipo simulando a situação de trânsito em uma via.

3. METODOLOGIA

De forma a cumprir com os objetivos do projeto, foi desenvolvido o protótipo do Sistema Semafórico Acessível, seguindo uma metodologia, na qual o sistema é baseado no estudo de pesquisas relacionada a Tecno-logia Assistiva (SEDH, 2009), semáforos, acessibilidade, e pessoas com deficiência visual, juntamente com a programação de microcontrolador em linguagem C (microcontrolador utilizado é o Arduino Uno), eletrônica básica e eletrônica digital que aprendemos ao longo do curso.

Através de conversas e troca de ideias com o professor do Centro de Referência em Inclusão Educacional Gabriel Lima Mendes (CRIE) – Be-lém-PA repassou informações necessárias de como é a vida de uma pessoa com deficiência visual nas grandes cidades e do que esse grupo de pessoas

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precisa para se sentir segura ao atravessa a rua. O desenvolvimento do protótipo para ser melhor acolhido de acordo com a necessidade que as pessoas com deficiência visual precisa.

4. O DESENVOLVIMENTO TÉCNICO

Neste projeto utiliza-se um protótipo que faz a simulação de um siste-ma semafórico de trânsito, sendo que o seu funcionamento para solicitar o fechamento do semáforo para os veículos quando acionado o sensor in-fravermelho ou o botão. Sendo assim, quando um pedestre com deficiente visual se aproxima da área demarcada ficando ao lodo do semáforo será detectado pelo sensor infravermelho que acionará a sonorização que vai começar a bipar que significa ele poder atravessar a via com segurança e quando estiver acabando o tempo de travessia a sonorização imite vários bips seguidos significando que o tempo está acabando. Entretanto, quan-do o pedestre acionando o botão solicitando o fechamento do semáforo para os veículos tendo um tempo de travessia maior, a solicitação pelo botão não aciona a sonorização. O que tem em comum entre o sensor e o botão é o tempo de a travessia na via.

Portanto, quando não é acionado o botão nem o sensor infravermelho, o semáforo volta a seu modo convencional.

No projeto utilizou-se um controlador de tempos, para o semáforo dos veículos após o solicitar seu fechamento pelo sensor infravermelho ou bo-tão, mostrando o seu tempo de resposta:

•Tempo para o sinal aberto (verde) 15 segundos;

•Tempo para o sinal atenção (amarelo) 5 segundos;

•Tempo para o sinal pare (vermelho) 126 segundos;

•Para semáforo pedestre:

•Tempo para o sinal aberto (verde) 120 segundos;

•Tempo para o sinal pare (vermelho) 60 segundos;

O tempo dos semáforos citados acima é de quando o sistema é solici-tado pelo sensor ou botão que tem um tempo maior para atravessar a via, o tempo citado para o pedestre quando está no sinal pare (vermelho) ele

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mostra no tempo de 60 segundos que é o tempo padrão de um semáforo que funcione sem solicitação, ou seja, quando o sistema volta a abrir o sinal para os veículos o semáforo funciona no seu modo convencional até se solicitado novamente, portanto, depois de terminado o processo de so-licitação de acionamento, o semáforo volta para o seu funcionamento e tempo padrão.

5. EXPERIMENTO

Utilizando o material necessário para desenvolver o produto e com base nos estudos e aplicação que tivemos ao longo do curso, e a necessi-dade de acessibilidade a todos os tipos de pedestre, priorizando as pessoas com deficiência visual para terem mais confiança e segurança para atra-vessar a via na faixa de pedestre.

A primeira etapa do projeto foi o desenvolvimento de um programa em linguagem C que vai executar os dados de cada método com suas fun-ções que fazem o controle de seu funcionamento de estado do sistema e os seus temporizadores.

A segunda etapa é a montagem do protótipo, o microcontrolador uti-lizado é um Arduino Uno onde foi feito a compilação. Após, feito sua com-pilação, vem a parte que foi feito o protótipo onde encontra os leds do semáforo para veículos, os leds semáforo pedestres, botão, buzzer, sensor infravermelho, o microcontrolador Arduino Uno, que faz a simulação de um sistema semafórico acessível, com os seus barramentos de entrada/saída que se comunicam com o microcontrolador.

O funcionamento do protótipo é feito dependendo de como o sistema é solicitado. A primeira situação é quando uma pessoa com deficiência visual vem para atravessar uma rua ela vai seguindo a indicação do piso tátil, ao chegar próximo do semáforo onde se encontra uma área demar-cada bem ao lado do semáforo, em que o deficiente visual deve ficar no máximo 30cm de distância do semáforo para que o sensor infravermelho possa detecta-lo e solicitando o fechamento do sinal para os veículos e acionando a sonorização que vai bipar que indica ele pode atravessar a via com segurança, e quando o tempo de travessia estiver acabando a sonori-zação vai dá vários bips seguidos indicando que o tempo estar acabando,

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sendo que o sensor fica com uma distância do solo de 1,10m para evitar seu acionamento desnecessário. A segunda situação é a solicitação pelo botão, também vai solicitar o fechamento do semáforo para os veículos com mais tempo para atravessar a via, mas a sonorização não é acionada pois ela só é acionada quando o sensor infravermelho é ativado. A tercei-ra situação é quando não é solicitado o acionamento do sensor nem o do botão, o semáforo funciona no seu modo convencional com seu tempo de a travessia padrão, nesta situação o pedestre não tem o tempo maior na hora de atravessar.

Como vai ficar a área demarcada para o deficiente visual atravessar via com segurança sendo detectado pelo sensor, para melhor ser entendido de como o projeto vai ser implementado, mostrando na figura 1.

Figura 1. Sistema Semafórico Acessível Fonte: Dias, 2016

6. ESTUDOS CORRELATOS

Pode-se citar a iniciativa do sistema semafórico com o propósito de facilitar a mobilidade do deficiente visual, como o projeto “Semáforo Inte-ligente para Deficientes Visuais Tecnologia Assistiva em Prol da Inclusão Social”, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC – Mi-nas) que tem como principal objetivo facilitar a mobilidade do deficiente visual no ambiente urbano e inclusão social, o dispositivo portátil criado fica em pose do usuário e o outro dispositivo localizado no semáforo, a co-

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municação entres eles é por rádio frequência onde ele recebe informação do semáforo quando ele pressiona o botão no dispositivo portátil. Para a produção em grande escala tentar fazer a redução de custo do componen-tes e dispositivos para adapta-lo nos semáforos[4].

O projeto implementado pela prefeitura de Curitiba em que o sistema funciona através de uma botoeira acoplada ao semáforo, que é acionada pelos cartões das passagens de idoso e de pessoa com deficiência da Ur-banização de Curitiba S/A. Ao identificar o cartão, o semáforo abrirá por mais alguns segundos além do programado de 20% a 30% a mais do que o tempo de semáforo normal. São os tipos de semáforos mais encontrados em cidades com acessibilidade são os que tem a botoeira acoplado no se-máforo.

O Sistema Semafórico Acessível apresenta o conceito de acessibilida-de, inclusão, segurança e mobilidade para pessoas com deficiências visu-ais, sendo adaptado no semáforo com uma implementação privilegiando tecnologia nacional tecnicamente e financeiramente acessível.

7. CONCLUSÃO

Com as etapas de desenvolvimento realizadas do protótipo, percebeu--se através de um sistema eletrônico pode torna-se um semáforo acessível às pessoas com deficiência visual sendo ela parcial ou total. Esse sistema pode trazer mais mobilidade de uma pessoa deficiente que se sentirá mais seguro ao sair pelas ruas e poder atravessar em uma via. O protótipo mos-tra o cumprimento do objetivo proposto. As ferramentas utilizadas entre demais processos de inclusão social, assim como, a ferramentas de acessi-bilidade está crescendo, mostrando, mesmo que razoavelmente crescendo tornando-se tendências e oportunidades.

A proposta deste artigo é trazer um produto acessível e a necessidade de mobilidade voltadas para pessoas com deficiências, de recursos técnicos já existentes e disponíveis para o mesmo é uma realidade que funciona, e a satisfação de melhorar a inclusão social e para o crescimento deste merca-do. Como está sendo realizados com outros centros de referência em Belém e se destinam a otimizar este protótipo inicial.

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Teste de usabilidade serão utilizados em parceria com estes centros usando homologação do produto final.

Com o desenvolvimento desse projeto para tornar-se a acessibilidade no trânsito como fundamento principal e trazendo benefícios de mobili-dade e segurança para as pessoas com deficiências. Visando a necessidade que uma pessoa com deficiência visual ter ao se locomover para atravessar uma via, sem nenhum sistema de sonorização indicando que ele pode fazer seu trajeto com segurança e tendo a certeza que o sinal do pedestre está aberto para ele.

Este projeto mostrou-se capaz de cumprir com seus objetivos obede-cendo a lógica de funcionamento de um sistema semafórico.

REFERÊNCIAS

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L13146.htm. Acessado em 02/09/2016.[9] BERSCH, Rita. Tecnologia Assistiva. Disponível em: http://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf. Acessado em 12/09/2016.[10] SECRETÁRIA ESPECIAL DOS DIREITOS HUMANOS. SEDH. Tecnologia Assistiva. Brasília, 2009.

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TECNOLOGIA ASSISTIVA NA CONSTRUÇÃO DE UM PROCESSO PEDAGÓGICO INCLUSIVO

Aline Beckmann de Castro Menezes30; Rosilene Prado31; Anne Caroline de Sousa

Souza32; Ciro Roberto Akel Meireles32; Íris Luciana Silva da Silva32; Kárita de

Cássia Pereira Monteiro33 ; Luciano Imar Palheta Trindade32; Luisa de Souza Leão

Almeida32; Narayane Ellen dos Anjos Farias32; Paula Oliveira Barroso32; Rafaele

Silva e Silva32; Sthefany Pawer Monteiro Cunha32

RESUMO

O processo de inclusão no sistema educacional brasileiro deve contemplar todos os níveis educacionais, mas no ensino superior ainda é historica-mente recente, o que se reflete em múltiplas barreiras à efetivação desse processo. O presente trabalho é um resumo do processo de implantação do serviço de psicologia escolar em um núcleo de inclusão social (NIS) do ensino superior, caracterizando o tipo de serviço ofertado e apresentando resultados obtidos até o momento. Foram selecionados estagiários de psi-cologia que foram capacitados para a atuação junto aos demais membros da equipe do NIS. A atuação consistirá em contatos individualizados com alunos com deficiência já acompanhados pelo setor, sendo identificadas as principais barreiras enfrentadas por estes alunos no processo de inclusão e sendo propostas ações de superação. Os resultados preliminares referem-se ao processo de implantação, quando as ações institucionais se somaram à elevada receptividade pela comunidade acadêmica, contribuindo com a oferta de um serviço multidisciplinar com diferentes demandas identifica-das de forma individualizada e acolhidas sistematicamente para subsidiar o desenvolvimento de ações específicas. Acredita-se que a apresentação desta experiência pode contribuir com as discussões sobre o processo de inclusão no ensino superior, propiciando uma oportunidade de trocas en-tre profissionais da área.

Palavras-chave: tecnologia assistiva; ensino superior; psicologia escolar.30 Professora Doutora vinculada à Universidade Federal do Pará31 Coordenadora do Núcleo de Inclusão Social – Universidade Federal do Pará32 Graduandos de Psicologia - Universidade Federal do Pará33 Discente vinculada à Universidade da Amazônia (UNAMA)

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1. INTRODUÇÃO

Muitas vezes, ao discutir a importância das TECNOLOGIA ASSIS-TIVAna construção de um processo pedagógico inclusivo, o olhar recai unicamente a materiais didáticos e equipamentos técnicos. Contudo, o presente trabalho busca contribuir com uma ampliação da abrangência desta discussão, refletindo sobre TECNOLOGIA ASSISTIVApresentes na prática profissional e que podem contribuir com o enfrentamento de múl-tiplas barreiras, em especial a atitudinal.

Desta forma, busca-se apresentar aqui uma experiência de implanta-ção do serviço de psicologia escolar em um núcleo de inclusão no ensino superior. Esta experiência contém a materialização de uma parceria mul-tidisciplinar em direção a uma mudança cultural essencial ao processo de inclusão e na oferta de ações direcionadas ao acolhimento individual de cada aluno com deficiência enquanto membro efetivo da comunidade es-colar.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Na trajetória histórica de construção da educação especial no Brasil, foram criadas diversas iniciativas voltadas ao ensino de pessoas com de-ficiência. Na década de 90, sob influência de documentos internacionais como a Declaração Mundial de Educação para Todos (UNESCO, 1990) e a Declaração de Salamanca (ONU, 1994), começou-se a desenvolver po-líticas públicas de educação inclusiva. Desta forma, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.396/96) afirma que alunos com necessidades especiais devem ter condições asseguradas para atender tais necessidades educativas (BRASIL, 1996). Em 2001, foi assinada a Reso-lução CNE/CEB Nº2/2001 que determinava a matrícula de alunos com necessidades especiais em escolas regulares. Esta preocupação com a di-versidade e a inclusão foi ainda reiterada no Plano Nacional de Educação e no Decreto Nº 3.956/2001.

Desde a Constituição Federal (BRASIL, 1988), há a garantia de igual-dade de acesso e permanência de todos ao sistema de ensino brasileiro (art. 206), sendo que o acesso ao ensino superior em particular foi assegurado pela Portaria nº 1.679 (BRASIL, 1999). Contudo, para que tais normati-

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vas legais se materializem em instituições de ensino inclusivas que estejam efetivamente aptas a oferecer formação de qualidade a todos os indivídu-os é necessário que haja muitas adaptações não só no espaço físico, mas em todo o funcionamento institucional. Conforme afirmam Alves e Gotti (2006),

Para a transformação dos sistemas educacionais com vistas à inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais é necessário e urgente a eliminação de barreiras atitudinais, revisão conceitual esta, que se materializa a partir de uma mudança na gestão da educação, da aplicação da legislação, do investimento na formação inicial e continuada de professores, bem como da oferta de atendimento educacional especializado para todos os alunos que dele necessitem (p. 268, grifo adicionado).

Em 2015, foi aprovada a Lei Nº 13.146 (BRASIL, 2015), conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, e que visa garantir condições para inclusão social e cidadania da pessoa com deficiência, regulamentan-do uma série de práticas - dentre elas, a educação inclusiva. No artigo 28 da referida lei, são descritas as incumbências do poder público, como a igual-dade de oportunidades e condições para as pessoas com deficiência no que se refere ao acesso ao ensino superior. Contudo, a palavra “acesso” precisa ser compreendida em sua plenitude, de modo que seja mais abrangente do que a simples entrada no ensino superior, mas refere-se a dar condições para a plena “utilização, com segurança e autonomia” de recursos e serviços (art. 3º, item I). Para garantir este acesso, faz-se imprescindível o mapea-mento e enfrentamento das barreiras que se interpõe à efetiva inclusão do aluno com deficiência. No item IV do referido artigo, barreiras são “qual-quer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança”, podendo ser urbanísticas; arquitetônicas; nos transportes; nas comunicações e na informação; atitudinais; e tecnológicas.

No que se refere especificamente ao ensino superior, Albino e de Melo (2011) discutem que apesar do aumento do número de alunos com necessi-dades especiais neste nível educacional ter sido de 136% entre 2003 e 2005 “enquanto reflexo do avanço da inclusão em outros níveis educacionais”

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há ainda muitas barreiras que dificultam a aprendizagem e a permanên-cia do aluno com deficiência em instituições de ensino superior. Segundo um extenso levantamento realizado por Bueno (2002) nas universidades brasileiras, pode-se perceber que a educação especial ainda é incipiente no ensino superior, mas tem se mostrado crescente. De acordo com os dados obtidos pelo autor, ainda há muitos obstáculos a serem superados para que a universidade se veja em condições de atender efetivamente os in-teresses educacionais da pessoa deficiente. Contudo, o desenvolvimento crescente de ações de ensino, pesquisa e extensão (ainda que permaneçam na maior parte das vezes desvinculados entre si), pode contribuir com a construção de uma universidade “comprometida com o bem-estar social e com a justiça social” (p. 114).

Uma dessas barreiras se constitui, segundo Rocha e Miranda (2009), a distribuição das iniciativas de inclusão pelo território nacional, haja vista que 49% das matrículas de alunos com necessidades especiais no ensino superior são na região sudeste e apenas 4% na região norte (BRASIL, 200 apud ROCHA; MIRANDA, 2009). Além disso, pode-se perceber que as dificuldades enfrentadas pelos alunos com deficiência que almejam a graduação no ensino superior perpassam desde a forma de acesso à uni-versidade (vestibular, na maioria dos casos), passando pelas dificuldades arquitetônicas até as barreiras culturais e atitudinais, refletidas em con-dutas segregacionistas e excludentes.

Em consonância com este cenário nacional e internacional, a Universi-dade Federal do Pará - UFPA tem trabalhado no sentido de construir uma cultura inclusiva. Para tal, o CONSEPE aprovou a reserva de vagas para portadores de necessidades educativas especiais pela Resolução CONSE-PE nº 3.883, de 21 de julho de 2009, determinando a reserva de uma vaga por acréscimo, nos cursos de graduação da UFPA aos portadores de defici-ência, a partir do ano de 2011. Para favorecer a permanência com sucesso dos alunos ingressantes a partir das políticas afirmativas implementadas, em 2012 foi criado na UFPA o Núcleo de Inclusão Social (NIS) por meio da portaria nº 1416/2012, onde já se estabelecia como um dos objetivos do núcleo “atuar de forma integrada com todas as Unidades acadêmicas e administrativas da UFPA para a proposição e implementação das ações pertinentes” (art. 2º, item VIII).

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Percebe-se, assim, que a integração do NIS com a Faculdade de Psico-logia pode se configurar como um importante passo para uma ampliação dos serviços oferecidos pelo núcleo, permitindo que seja desenvolvido um serviço de Psicologia Escolar e Educacional direcionado especificamente aos alunos com deficiência.

De acordo com Kupfer (2004), a maioria dos psicólogos educacionais da atualidade percebe a importância e o potencial de uma atuação mais pro-funda do que o modelo clínico que historicamente se configurou na prática escolar, de diagnóstico e intervenção em problemas de aprendizagem. Desta forma, defende-se que a prática da Psicologia Escolar deve ser transforma-dora do sistema educacional, sendo necessário o aperfeiçoamento de proce-dimentos e técnicas sob este enfoque para subsidiar a práxis desse profissio-nal. Esta perspectiva institucional implica, assim, em uma atuação em nível preventivo junto a pais, professores e educadores em geral contribuindo com a transformação do cenário educacional a partir da qualificação profissional para análise dos processos de aprendizagem de forma complexa e aprofun-dada e favorecendo a atenção individualizada e a adaptação de procedimen-tos de ensino (HÜBNER; MARINOTTI, 2000).

No que se refere à inclusão, Santos e Menezes (2015) encontraram que a literatura de psicologia escolar tem descrito como competência desse profissional a proposição “de programas e ações adequados às especifi-cidades de cada aluno com necessidades especiais e à legislação vigente, que auxiliem a sua inclusão e o seu processo de ensino-aprendizagem”. O presente projeto foi desenvolvido, assim, em consonância com essa pers-pectiva buscando contribuir, a partir da prática da Psicologia Escolar, com o desenvolvimento de TECNOLOGIA ASSISTIVAna construção de um processo pedagógico efetivamente inclusivo, no qual todo e qualquer discente sinta-se contemplado no planejamento e execução de todas as experiências institucionais.

Para tal, é importante definir TECNOLOGIA ASSISTIVAcomo

[...] uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência,

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qualidade de vida e inclusão social. (COMITÊ DE AJUDAS TÉCNICAS - CORDE, 2007, ata VII, grifo adicionado).

Deste modo, pretende-se aliar as práticas já existentes no NIS com o modelo de avaliação psicopedagógica como o proposto por Griz (2000), que se propõe a identificar talentos e possibilidades de cada aluno ao invés de enfatizar suas limitações. Propõe-se aqui, então, a construção e facilita-ção contínuas e individualizadas de estratégias de ensino que oportunizem o pleno desenvolvimento de cada aluno no contexto acadêmico da UFPA.

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Desenvolver TECNOLOGIA ASSISTIVA individualizadas para favo-recer a construção de um processo pedagógico inclusivo.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Identificar as principais barreiras enfrentadas pelos alunos com de-ficiência atendidos pelo NIS;

• Identificar talentos e possibilidades de cada aluno atendido, de modo a favorecer uma perspectiva pedagógica positiva;

• Desenvolver propostas individualizadas de ensino e/ou inclusão so-cial;

• Fornecer feedback substanciado ao NIS para o desenvolvimento de intervenções pedagógicas e/ou estruturais.

4 METODOLOGIA

Este relato de experiência se caracteriza como um estudo descritivo, de natureza qualitativa, cujo principal objetivo é favorecer a socialização dos procedimentos adotados propiciando a reflexão crítica ante estes.

4.1 PARTICIPANTES

Alunos com deficiência atendidos pelo NIS e seus familiares envolvi-

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dos em suas vivências acadêmicas, bem como o corpo técnico e docente institucional com o qual o discente interage.

4.2 AMBIENTE

O projeto será desenvolvido em múltiplos locais. Entrevistas indivi-dualizadas poderão ocorrer na Clínica de Psicologia da UFPA, em salas de atendimento estruturadas especificamente para este tipo de atividade, ou em demais espaços da UFPA, que possibilitem que o acompanhamento ocorra de forma sigilosa, confortável e sem interrupções. Tais espaços são escolhidos de acordo com as limitações de mobilidade dos alunos atendido, favorecendo a adesão dos mesmos ao projeto.

Serão utilizados, ainda, auditórios e outros espaços para ações coleti-vas, na realização de ações de sensibilização e/ou capacitação. Por fim, os espaços pelos quais o discente transita serão avaliados quanto aos impac-tos dos mesmos no seu processo de inclusão.

4.3 MATERIAIS E INSTRUMENTOS

Será utilizada uma máquina fotográfica para o registro de espaços educacionais e situações pedagógicas.

4.4 PROCEDIMENTO

Os acompanhamentos do projeto serão planejados individualmente, se-guindo um protocolo geral dividido em sete etapas, apresentadas a seguir.

4.4.1 CONTATO INICIAL

Contato realizado pela equipe de psicologia, a partir do cadastro exis-tente no NIS.

4.4.2 ENTREVISTA INICIAL

Essa fase pode se desenvolver em múltiplos encontros, sendo explicado o funcionamento do Serviço de Psicologia Escolar, assinado Termo de Con-sentimento Livre e Esclarecido e obtidas informações gerais de cada aluno.

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Nestes encontros, será seguido um roteiro padrão com os seguintes itens:

I. Apresentação pessoal, do serviço e do TCLE.

II. Caracterização discente.

III. Histórico escolar.

IV. Evolução do quadro.

V. Identificação de adaptações necessárias

4.4.3. AVALIAÇÃO

Esta fase será desenvolvida em um número variável de encontros, que poderão envolver o aluno atendido e/ou quaisquer membros da família, equipe técnica, corpo docente e corpo discente que estejam envolvidos na vida acadêmica do aluno.

4.4.4 PLANEJAMENTO

Etapa realizada internamente pela equipe de Psicologia, analisando as informações obtidas e estabelecendo estratégias de intervenção, as quais de-verão abranger a proposição de TECNOLOGIA ASSISTIVAna perspectiva individualizada de análise de demanda. O plano definido será apresentado ao discente para aprovação e encaminhado ao NIS para analisar a pertinên-cia e compatibilidade com as demais ações desenvolvidas pelo setor.

4.4.5 INTERVENÇÃO

A intervenção terá por objetivo viabilizar a execução das TECNOLO-GIA ASSISTIVApropostas e, assim, favorecer a autonomia discente no seu percurso acadêmico.

Nesta fase, poderão ser realizadas orientações individualizadas, even-tos de sensibilização, capacitações e outras estratégias direcionadas à in-tervenção ante os principais fatores que interferem na inclusão discente no processo educativo.

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4.4.6 ACOMPANHAMENTO

Após a execução do que houver sido planejado para a intervenção, o caso avançará para a etapa de acompanhamento. Nesta etapa, os encon-tros acontecerão com periodicidade reduzida, para se verificar a manuten-ção ou ampliação dos ganhos obtidos nas fases anteriores e a identificação de novas barreiras, quando for o caso.

De acordo com a evolução do caso, o mesmo poderá retroceder à Eta-pa 3 - Avaliação ou avançar para a próxima etapa.

4.4.7 FECHAMENTO DO CASO

O caso será fechado quando o discente acompanhado decidir por in-terromper o acompanhamento; trancar ou abandonar a faculdade ou con-cluir o curso. Uma vez fechado o caso, será redigido um relatório geral sintetizando a evolução geral do caso.

5 RESULTADOS

O presente projeto encontra-se ainda nos estágios iniciais de implan-tação. Após a divulgação do mesmo, foi recebida a demanda imediata de 16 casos para atendimento, com diferentes tipos de demandas.

A atuação multidisciplinar para prover a construção de um contexto pedagógico efetivamente inclusivo tem se mostrado como imprescindível e tem sido mediada pelo NIS.

6 CONCLUSÕES

Espera-se que essa apresentação contribua com a comunidade da área ao descrever uma experiência de implantação de uma ação de psicologia escolar junto ao núcleo de inclusão no ensino superior, descrevendo desde o processo de implantação do projeto até os resultados preliminares ob-tidos quando na realização do evento. Acredita-se, assim, que a presente experiência possibilitará a interlocução entre profissionais que desenvol-vem ações semelhantes.

É fundamental considerar que a inclusão nunca pode ser caracteriza-da a partir de ações isoladas, mas como um processo contínuo de múlti-

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plos agentes em torno de um objetivo comum: uma sociedade mais justa e acessível a todos os seus cidadãos.

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A VIVÊNCIA DA REABILITAÇÃO DE UMA CRIANÇA SURDA: “MULTIDISCIPLINARIDADE ENTRE TERAPIA OCUPACIONAL E

FONOAUDIOLOGIA”.

Sheila Cristina Sodré dos Santos34; Letícia Barreto Ramos34; Deyvianne Thayana de

Lima Reis35; Cláudia Maria da Rocha Martins36; Marcilene Alves Pinheiro37;

Ana Irene Alves de Oliveira38.

RESUMO

A comunicação é fundamental para o desenvolvimento humano, pois é através dela que os seres partilham diferentes informações entre si, tor-nando o ato de comunicar uma atividade essencial para a vida em socie-dade. Sendo um importante meio através do qual há trocas comunicativas entre um emissor e um receptor, a mensagem interpretada será possível a partir de todo o desenvolvimento íntegro do sistema auditivo periférico e central, este sistema encontra-se com todas suas estruturas formadas no sexto mês de vida intra-uterina, onde o feto começa a ter suas primeiras experiências auditivas reconhecendo vozes e sons da fala. Tendo a defici-ência auditiva caracterizada como um problema sensorial não visível, que acarreta dificuldades na detecção e percepção dos sons, em grau variado, ela pode ser classificada como leve, moderada e profunda, o que dificulta a aquisição da linguagem oral de forma natural. A presença de qualquer alteração auditiva na primeira infância compromete o desenvolvimento da criança como um todo, nos aspectos cognitivos, sociais, culturais e lin-guísticos. Portanto, percebendo as dificuldades enfrentadas pela criança

34 Acadêmicas de Fonoaudiologia da Universidade da Amazônia e Estagiárias do Núcleo de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA.35 Terapeuta Ocupacional, residente em saúde da família.36 Fonoaudióloga, Mestre em Neurociências pela UFPA. 37 Terapeuta Ocupacional, Mestre em teoria e pesquisa do comportamento pela UFPA.38 Terapeuta Ocupacional e Bacharel em Psicologia. Professora Titular da Universidade do Estado do Pará - UEPA. Coordenadora do Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA. Coordenadora do Centro Especializado de Reabilitação Física e Intelectual CER II. Especialista em Tratamento Neuroevolutivo Bobath. Mestre em Motricidade Humana. Doutorado em Psicologia.

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surda, torna-se importante a integração da equipe multidisciplinar entre Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional para seu desenvolvimento e con-vívio social. Expor a atuação da Terapia ocupacional e Fonoaudiologia com uma criança surda através da estimulação cognitiva e da linguagem, inserindo-a no universo do letramento através do ensino da língua portu-guesa escrita, também possibilitando a linguagem e experiências através da língua dos sinais, para o conhecimento do mundo ao seu redor, respec-tivamente. Trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo dos atendimentos de uma criança com surdez profunda de 10 anos no NEDE-TA (Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilida-de). As 22 sessões realizadas tiveram duração de 30 minutos e ocorreram no período de fevereiro a junho de 2015, sendo que as primeiras 18 sessões se iniciaram com a atuação da TO e posteriormente houve 4 intervenções da fonoaudiologia juntamente com a TO para uma melhor reabilitação. Na intervenção da Terapia Ocupacional a paciente começou a iniciar a associação entre a linguagem escrita e língua de sinais e na intervenção da fonoaudiologia, a mesma possibilitou o reconhecimento e associação dos desenhos com os sinais de libras. O presente trabalho confirmou que a integração da equipe multidisciplinar torna-se importante na intervenção da criança surda, pois se observou a evolução da mesma.

Palavras-chaves: Comunicação; Desenvolvimento; Deficiência auditiva; Linguagem.

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1. INTRODUÇÃO

A capacidade de comunicação apresenta-se como um dos principais desafios no processo de desenvolvimento da criança surda, para que possa assim desempenhar seus aspectos habituais segundo o modelo da ocupa-ção humana, como o papel de estudante e assim incluir-se na sociedade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) cerca de 1,7 milhões de brasileiros possuem deficiência auditiva profunda e cerca de um milhão de deficientes auditivos são crianças e jovens de até 19 anos. Deste modo, desde a educação infantil a criança deve estar em bas-tante contato com a leitura e a escrita da língua portuguesa e da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

A aquisição da escrita pelo deficiente auditivo é complexa devido à falta de correspondência entre os sinais em libras e as palavras escritas, é dessa forma que as imagens irão proporcionar pistas visuais para a cons-trução de um significado e facilitar na interação com o outro. No entan-to a comunicação é fundamental para o desenvolvimento humano, pois é através dela que os seres humanos partilham diferentes informações entre si, tornando o ato de comunicar uma atividade essencial para a vida em sociedade. Sendo um importante meio através do qual há trocas comu-nicativas entre um emissor e um receptor, a mensagem interpretada será possível a partir de todo o desenvolvimento íntegro do sistema auditivo periférico e central, este sistema encontra-se com todas suas estruturas formadas no sexto mês de vida intra-uterina, onde o feto começa a ter suas primeiras experiências auditivas reconhecendo vozes e sons da fala.

Tendo a deficiência auditiva caracterizada como um problema sen-sorial não visível, que acarreta dificuldades na detecção e percepção dos sons, em grau variado, ela pode ser classificada como leve, moderada e profunda, o que dificulta a aquisição da linguagem oral de forma natural. A presença de qualquer alteração auditiva na primeira infância compro-mete o desenvolvimento da criança como um todo, nos aspectos cogniti-vos, sociais, culturais e linguísticos. Sendo assim a LIBRAS foi reconheci-da como meio legal de comunicação e expressão da comunidade surda pela Lei Federal nº 10.436/02, é considerada como uma língua, assim como a língua portuguesa que nós ouvintes adquirimos a partir da percepção do

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som. E no caso do deficiente auditivo em grau severo ou profundo quando não é possível ser oralizado tem-se então a alternativa da LIBRAS, pos-sibilitando conhecer o mundo ao seu redor, o que viabilizará o deficiente auditivo a construir sua

subjetividade, pois terá recursos para sua inserção no processo dia-lógico de sua comunidade e na sociedade, trocando idéias, sentimentos, compreendendo o que se passa em seu meio e adquirindo, então, novas concepções de mundo.

Considerando também que é por intermédio da linguagem que o ho-mem consegue organizar o seu universo, compreender, abstrair pensamen-tos e sentimentos do outro, interagir no meio e adquirir conhecimento. Na criança deficiente auditiva o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem pode ser prejudicado, caso não ocorra diagnóstico e interven-ção em tempo adequado para evitar o atraso do desenvolvimento linguís-tico. A grande importância da LIBRAS para o desenvolvimento do surdo, no entanto, não os exime da importância de desenvolver a modalidade escrita da língua padrão do país, tendo em vista o fato de estes sujeitos estarem imersos em uma cultura ouvinte em que a escrita circula de forma contínua.

Portanto, percebendo as dificuldades enfrentadas pela criança sur-da, torna-se importante a integração da equipe multidisciplinar entre Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional para seu desenvolvimento e con-vívio social.

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Expor a atuação da Terapia ocupacional e Fonoaudiologia com uma criança surda através da estimulação cognitiva e da linguagem, inserindo--a no universo do letramento através do ensino da língua portuguesa es-crita, também possibilitando a linguagem e experiências através da língua dos sinais, para o conhecimento do mundo ao seu redor, respectivamente.

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3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 DEFICIENCIA AUDITIVA:

A Deficiência Auditiva (DA) exerce importante impacto sobre a co-munidade, seja do ponto de vista econômico, envolvendo altos custos na sua detecção e reabilitação, seja do ponto de vista psicossocial, não apenas para o indivíduo, como para sua família e sociedade. Depois de detectada a DA convém agilidade no início da reabilitação auditiva, visto que temos períodos de prontidão para o aprendizado e fatores, como privação auditi-va, que podem interferir no processo de reabilitação.

Bebês com perdas auditivas, particularmente os portadores das neu-rossensoriais, podem ter o desenvolvimento das vias neurais auditivas prejudicado, comprometendo diretamente a aquisição normal da lingua-gem. Avanços recentes na neurociência cognitiva demonstraram na plas-ticidade do sistema nervoso central, a existência de períodos críticos e a possibilidade de fortalecimento das ligações sinápticas pós experienciação nestes períodos. Tanto a plasticidade quanto a maturação é, em parte, de-pendente da estimulação visto que a experienciação sonora ativa reforça vias neurais específicas. Por este motivo faz-se importante o diagnóstico precoce, o qual possibilita a identificação de qualquer tipo de alteração auditiva ainda no período ideal de estimulação.

O déficit sensorial auditivo pode comprometer a aprendizagem dos indivíduos acometidos, devido especialmente ao prejuízo na aquisição e desenvolvimento da linguagem oral, que varia conforme o tipo e grau da perda auditiva. Autores referem que até mesmo uma perda leve pode in-terferir no desenvolvimento da linguagem oral da criança e no seu sucesso acadêmico.

Não há duvida, entretanto, que as crianças com perda auditiva severa e profunda são mais susceptíveis a significativas defasagens na aquisição de linguagem e no processo educacional.

Sendo por meio da audição que o indivíduo consegue compreender a linguagem oral, formar conceitos e inter-relacioná-los, expressando-os através da fala. Assim se compreende a importância da audição para a

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aquisição e desenvolvimento da linguagem, sendo que qualquer limitação auditiva interfere na comunicação oral como um todo.

4. METODOLOGIA

Trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo dos aten-dimentos de uma criança com surdez profunda de 10 anos no NEDETA (Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade). As 22 sessões realizadas tiveram duração de 30 minutos e ocorreram no período de fevereiro a junho de 2015, sendo que as primeiras 18 sessões se iniciaram com a atuação da TO e posteriormente houve 4 intervenções da fonoaudiologia juntamente com a TO para uma melhor reabilitação.

O método utilizado da Terapia Ocupacional consistia em mostrar o sinal em libras correspondente e apresentá-lo através do recurso de sopa de letras (recurso educativo infantil com letras confeccionadas em Eva), para estimular a memória visual e sinestésica da paciente. Também foram utilizados jogos da memória criados pela estagiária de Terapia Ocupacio-nal, a imagem da paciente estava estampada em cada peça com a mesma gesticulando os sinais em libras, o que tornava a intervenção lúdica.

Durante a intervenção fonoaudiológica foram realizadas atividades para estimulação da linguagem através de libras, fazendo a associação de vogais com desenhos e palavras em recursos de encaixe os quais continham a vogal indicativa, na qual a estagiária de Fonoaudiologia simbolizava as letras através das libras e a paciente a identificava fazendo associação com as palavras e figuras.

5. RESULTADOS

Na intervenção da Terapia Ocupacional a paciente começou a iniciar a associação entre a linguagem escrita e língua de sinais, bem como associar figuras com a palavra escrita e linguagem dos sinais, algo importante para seu desempenho ocupacional. Na intervenção da fonoaudiologia, a inter-venção possibilitou o reconhecimento e associação dos desenhos com os sinais de libras. Recursos como aplicativos de software, de encaixe, jogos

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da memória, sopa de letras, papel A4 foram utilizados. A paciente apre-sentou boas habilidades cognitivas e da aquisição da linguagem. O que nos leva a considerar o trabalho multiprofissional de extrema importância em paciente com comprometimento auditivo grave, por isso a LIBRAS é um meio de incluir a paciente no meio ouvinte, trazendo com isso autonomia e qualidade de vida.

6. CONCLUSÃO

O presente trabalho confirmou que a integração da equipe multidis-ciplinar torna-se importante na intervenção da criança surda, pois se ob-servou a evolução da mesma. A paciente apresentou desempenho comu-nicativo de acordo com suas possibilidades físicas e cognitivas, mostrando interesse em comunicar-se, a partir do uso intencional da linguagem e ten-do capacidade para desenvolver suas habilidades comunicativas, além de utilizar estruturas linguísticas do português escrito e da língua dos sinais de forma adequada, o que contribuiu em seu papel ocupacional e em sua comunicação.

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O USO DE ADAPTAÇÕES PARA ATIVIDADE DE ALIMENTAÇÃO POR PACIENTE TERAPLEGICO DURANTE A INTERNAÇÃO

Ivana Monique Corpes Castro39; Manuella Matos de Azevedo39;

Sandra Suely da Costa Soares40

RESUMO

A lesão medular tem como característica principal a incapacidade que é imputada ao indivíduo, tal deficiência acomete membros superiores, in-feriores e órgãos, limitando movimentos e ações que antes eram desem-penhadas com destreza. De acordo com a altura da lesão o paciente pode apresentar tetraplegia, caso sejam acometidos segmentos cervicais e o primeiro torácico; ou paraplegia, se lesionados os seguimentos torácicos e lombares. No contexto brasileiro há um elevado número de pessoas aco-metidas pela lesão medular, que tem como principal etiologia fatores liga-dos à violência urbana, a saber: ferimentos por armas de fogo e acidentes automobilísticos, sendo assim um problema de saúde pública. A Terapia Ocupacional visa conferir o maior nível de independência possível a seus clientes, podendo utilizar como meio a Tecnologia Assistiva, ressaltando as adaptações, que possibilitam ao paciente com lesão medular desempe-nhar suas tarefas de modo mais independente possível. Através da utili-zação da escala de Medida de Independência na Lesão Medular terceira versão (SCIM III), este estudo visa mensurar o quão efetivo são os efeitos produzidos pelo uso de adaptações por pacientes com lesão medular tetra-plégica.

Palavras-chaves: Lesão Medular; Terapia Ocupacional; Independência; SCIM III.

39 Terapeuta Ocupacional do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, pós-graduada em Urgência e Emergência no Trauma, preceptoras do Programa de Residência Multiprofissional da UEPA. 40 Terapeuta Ocupacional do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, preceptora do Programa de Residência Multiprofissional da UEPA.

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INTRODUÇÃO

A lesão medular é um trauma aos elementos constituintes da medula espinal, que resulta em déficits sensório-motores, disfunções autonômi-cas e esfincterianas, podendo ser definitiva ou temporária, completa ou incompleta (ANDRADA et al, 2012). Esta condição imputa ao indivíduo uma deficiência, em grande parte dos casos, de pessoas em idade produti-va, que dependerão de terceiros para realizar até as tarefas mais básicas.

A lesão medular se constituí como um desafio à equipe de reabilitação, em decorrência das alterações características da mesma, como já foi ex-posto. Sendo ainda de caráter irreversível, a reabilitação física se promove como melhor via de tratamento para propiciar o máximo de independên-cia possível, de acordo com o potencial residual (CASALIS et al, 2011).

Observando que a lesão medular é altamente incapacitante, e que as deficiências são, de modo geral, de caráter definitivo, e que nem sempre o potencial residual é o suficiente para a retomada da rotina diária, ressal-tando o paciente tetraplégico, o terapeuta ocupacional preocupado com a práxis e o modo de sua realização, pode se utilizar os conhecimentos da Tecnologia Assistiva como meio de possibilitar o fazer do individuo com independência e autonomia (ALVARENGA et al, 2003).

O presente estudo tem como proposta primordial averiguar a eficá-cia do uso de Tecnologia Assistiva, em especial os recursos adaptativos, através do uso por pacientes com lesão medular com quadro clínico de tetraplegia, utilizando como método avaliador a escala de Medida de In-dependência na Lesão Medular terceira versão. A busca por recursos que possam facilitar o engajamento do paciente com deficiência na realização das atividades, por mais básica seja, promover o bem estar biopsicossocial do indivíduo, que antes estigmatizado como incapaz, passa a ser visto com uma perspectiva diferenciada.

OBETIVOS

O objetivo deste estudo é verificar o efeito do uso das adaptações para atividades de autocuidado.

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METODOLOGIA

Tendo como enfoque o método experimental, este estudo foi realizado como requisito de avaliação final do Programa de Residencia Multiprofis-sional da Universidade do Estado do Pará, a pesquisa ocorreu nos meses de setembro a novembro de 2015, tendo aceite do comitê de ética e pes-quisa da Universidade do Estado do Pará, sob número 1.110.832. Neste período foi realizado intervenção com um paciente do sexo feminino com lesão medular em nível C6, aqui nomeada com o pseudônimo de Marie, e como instrumento de avaliação foi utilizada a Escala de Medida de Inde-pendência Funcional terceira versão (SCIM III).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na avaliação inicial, Marie apresentou quadro de espasticidade em membros superiores, quadro álgico ao realizar movimentações de ombro direito, flacidez em membros inferiores, amplitude de movimento diminu-ída em membros superiores, para realizar a preensão utiliza o mecanismo de tenodese como compensação.

A partir da coleta de dados nos quais estavam incluídos os relatos de Marie, foram elaboradas e confeccionadas duas adaptações para pos-teriormente realizar os treinos de Atividade de Vida Diária (AVD) com associação ao tratamento terapêutico ocupacional, Sampaio et al (2002), acrescenta que na realização das AVD da maneira mais independente pos-sível, torna-se necessário que o terapeuta ocupacional conheça os hábitos e o estilo de vida do paciente no contexto da família e da sociedade. Esta atuação compreende o autocuidado para a capacidade de vestir/despir, alimentar-se, fazer higiene pessoal e íntima, prevenir deformidades de ar-ticulação.

Através da SCIM III (figura 1) foram elencadas as atividades de auto-cuidado, que abrange: alimentação, higiene pessoal, banho, vestir-se me-tade superior, metade inferior e utilizar vaso sanitário, sendo 1 atribuído a total dependência e 7 total independência para cada item, Marie apresen-tou escore total de 6, somando-se todas as seis atividades, caracterizando total dependência nas suas atividades de autocuidado.

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Figura 1: Escores obtidos com as escala SCIM

As adaptações estão diretamente relacionadas com as áreas de ocu-pação, e há uma variedade de dispositivos para facilitar o desempenho em ocupações e tarefas, que são comumente categorizados em adapta-ções para o cuidado e higiene pessoal, vestuário, alimentação, comunica-ção e gerenciamento de atividades domésticas (CAVALCANTI; GALVÃO, 2007). A partir desta contextualização, as adaptações utilizadas neste estudo foram idealizadas a partir da demanda apresentada por Marie, permitindo-a realizar algumas atividades utilizando movimentação de te-nodese, as adaptações necessárias foram as que supriam a necessidade de realizar preensão e pinças, como o ato de segurar talheres, escova de dente e o copo, sendo estas adaptações o engrossador de utensílios e adaptação de copo.

O engrossador de utensílios (figura 2) foi confeccionado utilizando o Etil Vinil Acetato (EVA), utilizando as proporções de 10 centímetros de altura por 30 centímetros de largura, sendo revestido de couro sintético por ser melhor para higienizar e conferir melhor estética, culminando em maior aceitação por parte da paciente.

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Figura2: Processo de confecção do engrossador de utensílios

Sendo uma adaptação simples, porém que conseguem contemplar to-dos os quesitos preconizados por Cavalcanti e Galvão (2007), como ma-nutenção da integridade dos tecidos moles, o ajuste ao usuário, o custo, a estética, o conforto, a facilidade para colocação e retirada, e a higiene, ressaltando também sua funcionalidade para realização das atividades.

A adaptação de copo surgiu pela demanda de Marie a respeito de ma-nusear o copo de maneira independente. Tal adaptação foi confeccionada em material termoplástico, o ezeform®, por este apresentar-se de fácil manuseio dentro de unidade hospitalar.

Sendo confeccionado (figura 3) a partir de medida do copo de uso pes-soal da paciente, realizado mensuração do copo, confecção de molde de papel, em seguida passado molde para placa de ezeform®, seguido de cor-te da placa e molde com auxílio de panela elétrica.

Figura 3: Processo de confecção de utensílios

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A adequação de copo surgiu pela demanda de Marie a respeito de ma-nusear o copo de maneira independente. Tal adaptação foi confeccionada em material termoplástico, o ezeform®, por este apresentar-se de fácil manuseio dentro de unidade hospitalar.

Sendo confeccionado a partir de medida do copo de uso pessoal da paciente, realizado mensuração do copo, confecção de molde de papel, em seguida passado molde para placa de ezeform®, seguido de corte da placa e molde com auxílio de panela elétrica.

Entre as atividades elencadas Marie obteve melhora em três, sendo elas: alimentação, seu escore de 1 (totalmente dependente) aumentou para 5 (supervisão), higiene pessoal, de 1 (totalmente dependente) para 3(ajuda mínima); e vestir-se parte superior aumentou de 1 (totalmente dependen-te) para 4 (ajuda mínima), diminuindo assim a influência de seu cuidador principal na realização de algumas atividades significantes, possibilitando o aumento de seu nível de independência, minimizando a ação do cuida-dor sobre si, e a reabilitação dos componentes de desempenho.

Os escores obtidos com a escala SCIM quantificam o quanto Marie conseguiu ganhar de desempenho através dos treinos das atividades de au-tocuidado, no momento da avaliação, foi constatado necessidade de ajuda máxima de seu cuidador para realizar todas as atividades, sendo expresso pelo escore mínimo da escala (6 pontos) e, após as sessões houve mudanças em três itens, sendo o de alimentação, higiene pessoal e vestir-se metade superior, culminando com escores de 15 pontos de um total de 42, o que representa um aumento 36% de independência.

CONCLUSÕES

Na perspectiva da Terapia Ocupacional, é possível visualizar os ga-nhos obtidos e o modo em como estes refletiram no feedback proporcio-nado por Marie, a qual relatou sobre sentir-se satisfeita em poder realizar algumas atividades sem “depender de outras” (segundo próprio paciente). Assim conclui-se que o uso das adaptações, planejadas de acordo com a necessidade da cliente, teve influencia positiva tanto no seu desempenho funcional na execução das atividades, como na satisfação referida por Ma-rie, proporcionando o equilíbrio do individuo e da reabilitação.

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Considerando a total dependência que o cliente apresentava nas ativi-dades referidas antes desta pesquisa, e as limitações que a patologia impri-me a rotina ocupacional, Marie apresentou ganho funcional considerável nas atividades de alimentação, higiene bucal, e vestir-se parte superior. Além de proporcionar a paciente o aumento de sua independência perante a realização de tais atividades, foi possível favorecer a satisfação da mes-ma pelo resgate de sua funcionalidade.

Em vista dos resultados obtidos, conclui-se que o uso de recursos de tecnologia assistiva, ressaltando o uso de adaptações, é viável e necessário para contribuir para o aumento de independência de indivíduos com Le-são Medular, e tais adaptações quando idealizadas em concordância com seu paciente/cliente resultam em melhor adesão ao uso dos dispositivos.

Esta pesquisa contribuiu para a ampliação do referencial teórico da Terapia Ocupacional, ressaltando também, a importância do uso de Tec-nologia Assistiva em processos de reabilitação e sua eficácia comprovada, como o abordado nesta pesquisa, que possibilitou à pesquisadora atingir os objetivos essenciais da prática terapêutica ocupacional de maximização da independência do indivíduo e melhoria da sua qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

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IDENTIFICAÇÃO DAS BARREIRAS ARQUITETONICAS DE ACESSIBILIDADE DAS SALAS DE AULA DO CAMPUS II

‘DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

Éder Freitas do Nascimento, Glaucia Santana da Silva, Glondys Cardoso Neto,

Karen Lorena Nunes Baia, Jessyca Alves das Neves Costa, Juliana Bezerra dos

Santos, Marcio Helder Lima de Oliveira

RESUMO

Identificar as barreiras arquitetônicas para o acesso as salas de aula no Campus II da Universidade do Estado do Pará de acordo com Norma Bra-sileira Regulamentadora (NBR 9050/2015). A deficiência são impedimen-tos de natureza física, intelectual ou sensorial, obstruindo a participação do indivíduo na sociedade. No Brasil, o acesso das pessoas com deficiência é marginalizado, impedindo a construção de uma sociedade inclusiva e igualitária. No contexto educacional, é uma discussão emergente, devido as oportunidades de acesso ao ensino superior, necessitando de acessibili-dade sem barreiras. Foram realizadas avaliações ao acesso as salas de aula (expositivas e tutoria) de 3 blocos (A, B e D), e as do anexo ao bloco D, no interior da UEPA. Foram utilizados fita métrica (FisioBras), câmera foto-gráfica e a lista de itens do Manual de Instruções Técnicas de Acessibilida-de para Apoio ao Projeto Arquitetônico da Prefeitura de São Paulo para registro do acesso as salas de aula, porta, janela, interruptores, tomadas, carteiras, mesa e cadeira do professor. Percebeu-se que a maioria das salas de aula não segue as medidas baseadas na NBR 9050/2015. A análise do bloco A não possui medidas corretas para cadeiras e mesas dos professo-res, além das janelas e interruptores sem adequação para cadeirantes. O mesmo acontece nas salas do bloco B, D e anexo, porém o Bloco D é único com elevador e portas duplas para acesso de cadeirantes.

Palavras-chaves: Acessibilidade; barreiras arquitetônicas; salas de aula.

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1. INTRODUÇÃO

Os espaços públicos e de uso coletivo não podem ser excludentes; a acessibilidade aos meios físicos e participação social, ao transporte, à co-municação e à informação deve ser provida a fim de garantir que todos, sem exceção, possam usufruir de seus direitos com equiparação de opor-tunidades. Assim, todo um marco legal nacional deve ser construído cons-tantemente para que a igualdade de oportunidades seja garantida.

A realidade sobre a participação do portador de deficiência nas práti-cas sociais é de veras um fator chave para que se possa pensar em melho-rias constitucionais e estruturais para o avanço da autonomia do cidadão deficiente e seu acesso livre à educação. No que se refere ao ingresso de jo-vens e adultos no ensino superior a realidade é de crescimento abundante no número de portadores de deficiência nas universidades sejam públicas ou privadas. Neste âmbito, buscou-se analisar a realidade da Acessibilida-de na Universidade do Estado do Pará na tentativa de buscar respostas acerca dos seguintes questionamentos: a Universidade do Estado do Pará possui capacidade física, de comunicação e técnica para receber pessoas com deficiências física, auditiva e/ou visual ofertando ensino de qualidade de acordo com os parâmetros instituídos pela Constituição Federal que visam à autonomia e o respeito aos direitos e dignidade humana? De que maneira podemos adequar as lacunas existentes no quesito acessibilidade dentro de uma instituição de ensino superior pública para a redução de barreiras físicas e sociais?

REFERENIAL TEÓRICO

A DEFICIÊNCIA NO CONTEXTO ATUAL

A deficiência é caracterizada pela perda de funções corporais. De acor-do com o Decreto legislativo que aprovou o texto da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, as-sinados em Nova Iorque em 2007. No qual, deficiência é entendida como impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais quando em contato com diversas barreiras podem obstruir a participação plena e efetiva do indivíduo dentro de uma sociedade (BRASIL, 2012b).

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É ainda relevante abordar que o termo deficiência compreende uma gama de categorias. Segundo o Art. 4º do Decreto nº 3.298, de 20 de de-zembro de 1999, é considerada pessoa com deficiência a que se enquadra em uma ou mais das categorias de deficiência física; deficiência auditiva; deficiência visual; deficiência mental e deficiência múltipla. A deficiência física consiste em alterações completas ou parciais de um ou mais segmen-tos do corpo humano logo comprometendo a função física. Apresentando--se sob a forma de plegias/paresias, amputação ou ausência de membro e má formações congênitas ou adquiridas. A deficiência auditiva é repre-sentada pela perda parcial ou total das possibilidades auditivas e sonoras, variando em graus que vão de surdez leve (25 a 40 decibéis) a completa surdez. A deficiência visual se configura quando a percepção visual é igual ou menor que 20/200 no melhor olho, ou o campo visual é inferior a 20º (tabela de Snellen), ou há ocorrência simultânea de ambas as situações. A deficiência mental é diagnosticada quando o funcionamento intelectual é significativamente inferior à média da população, com manifestações an-tes dos dezoito anos de idade e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: comunicação; cuidado pessoal; ha-bilidades sociais; utilização da comunidade; saúde; segurança; habilidades acadêmicas; lazer e trabalho. Por fim, a deficiência múltipla que é a asso-ciação de duas ou mais deficiências apresentadas acima (BRASIL, 2012a).

Tendo por base os dados da Organização das Nações Unidas - ONU (2013), mais de um bilhão de pessoas, ou seja, 15% da população mundial vivem com algum tipo de deficiência. A distribuição mundial de pessoas com deficiência é desigual e os dados epidemiológicos revelam uma maior concentração desses indivíduos em países em desenvolvimento. Estes pa-íses, como o Brasil, muitas vezes não possuem a estrutura adequada de inclusão social que é primordial na manutenção da dignidade da pessoa com deficiência.

A pessoa com deficiência também necessita de acesso irrestrito aos locais públicos. Neste quesito, a acessibilidade no Brasil é atrasada e o levantamento do Censo 2010 demonstra com clareza o déficit de acessibili-dade urbana. Cerca de 95% das vias públicas brasileiras não contam com rampas que auxiliam os cadeirantes e as pessoas com mobilidade reduzi-da. As regiões Norte e Nordeste são o destaque negativo no levantamento

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com apenas 1,6% de residências com acessos inclusivos no seu entorno. A marginalização da pessoa com deficiência é evidente no total descompro-misso com a acessibilidade desses indivíduos. A falta de locais acessíveis e infraestrutura para auxiliar a pessoa com deficiência impossibilita a cons-trução de uma sociedade inclusiva e igualitária (IBGE, 2010).

2.2. INSTRUMENTOS DE DIREITO

A partir da década de sessenta a discussão acerca dos direitos dos por-tadores de deficiências passou a ganhar força mundialmente. A Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959) abriu caminho para outras cartas de igualdade e acessibilidade, como a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes (1975). Deste período em diante diversas conferências e encon-tros produziram declarações com o objetivo de assegurar direitos e inserir os portadores de deficiência na sociedade. No âmbito educacional, os do-cumentos de maior destaque para o mundo e para o Brasil são a Constitui-ção Brasileira de 1988, a Declaração Mundial Sobre Educação para Todos (Jomtien, 1990), a Declaração Sobre Princípios, Política e Prática em Edu-cação Especial (Salamanca, 1994) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada em 1996 (Lei nº 9.394) (REDE SACI, 2015a).

A inclusão do portador de deficiência no contexto educacional é uma discussão emergente. Hoje, as convenções internacionais tratam de assun-tos referentes à autonomia e independência das pessoas com deficiência frente as tomadas de decisão e escolhas de vida. O domínio sobre sua pró-pria vida criou novas oportunidades, assim o acesso ao ensino superior vem se tornando possível, sendo parte do cotidiano de muitas pessoas. Cabe, portanto, à sociedade promover os meios de acesso sem barreiras ao ensino superior (SASSAKI, 2006).

OBJETIVO

Identificar as barreiras arquitetônicas para o acesso as salas de aula no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) - Campus II da Uni-versidade do Estado do Pará de acordo com Norma Brasileira Regula-mentadora (NBR 9050/2015).

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4. METODOLOGIA

Nos dias 7 e 8 de outubro de 2015 foi realizada visitação nas salas da aula do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade do Estado do Pará (UEPA). A visitação teve como objetivo qualificar a acessibilidade das unidades de ensino do campus em questão. Foram utili-zadas fitas métricas (FisioBras), câmeras fotográficas para registro e a lis-ta de itens do Manual de Instruções Técnicas de Acessibilidade para Apoio ao Projeto Arquitetônico da Prefeitura de São Paulo. A qualificação das medidas foi baseada na Norma Brasileira Regulamentadora mais recente (NBR 9050, 2015). As salas de aula analisadas na universidade corres-ponderam as localizadas no bloco A, onde existem as salas de tutoria e as salas de aula; as salas do bloco B e as salas de aula do bloco D, onde estão as salas do prédio anexo.

RESULTADOS

BLOCO A

5.1.1. SALA DE TUTORIA

As salas de tutoria apresentam portas de entradas com 93 cm de lar-gura e 1,90 m de altura, maçanetas a 1,06 m do chão e em forma de ala-vanca (Foto 1). Todas estas medidas estão dentro do sugerido pela norma 9050 da ABNT. No entanto, estas salas possuem uma mesa oval com 72 cm de altura e 76 cm de profundidade abaixo da superfície, tomadas com 24 cm de distância do chão, interruptor de luz com 1,26 m de altura e o in-terruptor do ar condicionado com 1,65 m de altura, as quais são medidas não previstas na norma. As cadeiras possuem 82 cm de altura e 41,5 cm de largura, porem a norma estabelece medidas mínimas de 41 a 45 cm de altura e 75 cm de largura.

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Foto 1: Portas

5.1.2. SALAS DE AULA

As salas de aula possuem portas, interruptores e tomadas nas mesmas medidas das salas de tutoria. No entanto estas salas diferem nos tipos de mesas e carteiras. A mesa do professor (Foto 2) apresenta-se com 73 cm de altura e 47 cm de profundidade sob a superfície e dois tipos de carteiras, uma com estofado azul escuro e outra com estofado azul, e possuem ja-nelas de madeira a 1,14 m do chão que não abrem, pois estão seladas com vidro.

As medidas das carteiras (Foto 3) fogem do padrão da norma, pois não são acessíveis para alunos com sobrepeso. As medidas foram de 87,5 cm de altura e 45 cm de largura para carteiras de estofado azul escuro e de 82 cm de altura e 37 cm de largura para carteiras de estofado azul, mas a NBR 9050 estabelece as medidas de 41 a 45 cm de altura e 75 cm de largura.

A mesa do professor também foge das medidas da norma em relação a profundidade, pois não há espaço livre para o cadeirante se aproximar. A NBR 9050 diz que a mesa deve ter um espaço livre de no mínimo 30 cm para a aproximação da cadeira de rodas.

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Foto 2: Mesa dos professores

Foto 3: carteiras

5.2. BLOCO B – SALAS DE AULA

As salas de aula do bloco B apresentam espaço físico, medidas de por-tas, janelas, interruptores, mesas e carteiras iguais as das salas de aula do bloco A. Porém, todas estas salas estão localizadas no terceiro andar do bloco e são, portanto, inacessíveis para um cadeirante ou outra pessoa com problemas de locomoção.

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5.3. BLOCO D

5.3.1. SALAS DO ANEXO

As salas de aula comuns do anexo estão localizadas no segundo andar, porém não há outro acesso a não ser a escada, o que exclui pessoas cadei-rantes ou com outras dificuldades de locomoção. As portas das salas (Foto 4) estão na medida estabelecida pela NBR 9050, porem o interruptor de luz está acima do recomendável (1 m) e as tomadas estão excessivamente baixas em relação ao padrão (40 cm no mínimo), dificultando o alcance de um cadeirante. A mesa do professor também não possui espaço livre para aproximação da cadeira de rodas e as carteiras (Foto 5) são semelhantes as já citadas anteriormente.

Foto 4: Portas (Anexo) Foto 5: Carteiras (Anexo)

5.3.2. SALA 45

O modelo de sala com entrada por duas portas separadas foi a sala 45. Esta sala apresenta portas e janelas (de correr) nos padrões da NBR 9050, porem as medidas do interruptor de luz e das tomadas fogem da norma brasileira. A mesa dos professores e as carteiras são as mesmas já citadas anteriormente.

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5.3.3. SALA 46

Um exemplo de sala com uma porta dupla foi a sala 46. Nesta, a porta apresenta 1,19 m de largura e 2,08 m de altura, sendo acessível para um cadeirante de acordo com a norma brasileira, porem os interruptores de luz e tomadas são excessivamente altos para os padrões já citados. As ja-nelas são do tipo basculantes com 1,89 m de altura.

6. CONCLUSÃO

Em virtude dos dados obtidos dos Blocos A, B e D, é necessário que as salas de aula da UEPA tenham elevadores ou rampas (mais barato) em blocos de difícil acesso, sinalização visual e tátil em todas as salas, mesas e carteiras nas medidas padronizadas pela NBR 9050, mudanças nas jane-las dos Blocos A e B para de vidro com facilidade de abertura, organização das salas para que o cadeirante possa realizar as manobras e espaço para a cadeira de rodas. Em relação as outras medidas, é importante a presença do engenheiro civil para realizar as reformas de acordo com a NBR 9050.

O Campus II da Universidade do Estado do Pará possui várias barrei-ras arquitetônicas que impedem o acesso as salas de aula pelos cadeiran-tes, bem como o uso do espaço diante das medidas incorretas. É necessário que a universidade tenha adequação estrutural, de comunicação e técnica para receber pessoas com deficiências físicas, auditivas e/ou visuais, per-mitindo melhor acessibilidade para os alunos e professores e a oferta de um ensino de qualidade, respeitando os direitos e a dignidade humana.

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A ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DA GAMETERAPIA NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE UM INDIVÍDUO COM

PARALISIA CEREBRAL DO TIPO ESPÁSTICA

Hugo Cardoso de Almeida41; Thiago da Silva Dias41; Ana Irene Alves de Oliveira42

RESUMO

A paralisia cerebral (PC) é uma patologia que acarreta danos ao cérebro, e dessa forma, o sujeito acaba sofrendo um atraso no desenvolvimento motor e, por diversas vezes, cognitivo. Sendo assim, é necessário efetu-ar-se junto aos sujeitos com PC um programa de estimulação cognitiva para que o mesmo possa ter contato com as experiências do ambiente e assim, garanta ganhos funcionais importantes ao seu processo de matu-ração. Dessa forma, fala-se da Gameterapia como recurso que propicia o contato do sujeito com uma abordagem terapêutica diferenciada e singu-lar. A partir disso, objetivou-se na pesquisa identificar as contribuições da gameterapia, mais especificamente do jogo para Nintendo Wii Big Brain Acadamy: Wii Degree, na (re) habilitação cognitiva de um individuo com paralisia cerebral do tipo espástico no NEDETA. Esta é uma pesquisa de caráter quantitativo sendo classificada como estudo de caso pelo seu modo de procedimento. O sujeito da pesquisa (com idade de 12 anos) obteve um desempenho satisfatório, apresentando melhora no aspecto cognitivo que objetivou-se estimular. Dessa forma, observou-se a eficácia da gametera-pia no processo de (re) habilitação dos aspectos em questão, o que con-tribui para o enriquecimento da prática da terapia ocupacional e para o estabelecimento de novas pesquisas nessa área em desenvolvimento.

Palavras-chave: paralisia cerebral; gameterapia; (re) habilitação cognitiva

41 Terapeuta Ocupacional. Belém, Pará, Brasil.42 Doutorado em Psicologia - Teoria e Pesquisa do Comportamento pela Universidade Federal do Pará / UFPA

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INTRODUÇÃO

O termo paralisia cerebral (PC) designa uma desordem do desenvol-vimento e se caracteriza por uma lesão neurológica no sistema nervoso central. Dessa forma, os sujeitos apresentam alterações nas funções moto-ras, que também podem estar associados a déficits cognitivos (GERALIS, 2007; ALVES DE OLIVEIRA, 2010, MONTEIRO et al, 2011).

Dessa maneira, o sujeito com paralisia cerebral necessita ser estimu-lado para que possa alcançar algumas habilidades e desenvolver as suas potencialidades, minimizando assim as suas sequelas.

Atualmente, a realidade virtual é um recurso que vem sendo cada vez mais utilizado para a (re) habilitação de indivíduos que apresentam dis-funções neuromotoras, pois há muitos anos vem se desenvolvendo novas formas de interação com o mundo virtual, de forma que as pessoas consi-gam experimentar as mais variadas sensações e experiências sem sair de casa. Logo, através da gameterapia, prática do uso de vídeo games com a finalidade de reabilitação, o profissional consegue acoplar uma atividade de lazer com o processo de tratamento, de modo a garantir ao sujeito uma aproximação com uma ocupação prazerosa.

Sendo assim, encoraja a participação ativa do paciente, mesmo com incapacidade física e/ou cognitiva; propicia um ambiente motivador para a aprendizagem; e, facilita o estudo das características das habilidades e capacidades perceptuais e motoras do sujeito (SCHIAVINATO et al, 2011).

REFERENCIAL TEÓRICO

PARALISIA CEREBRAL

A paralisia cerebral (PC) engloba um grupo de desordens permanen-tes do movimento e postura, causando limitações nas atividades devido a distúrbios não progressivos que ocorrem no desenvolvimento fetal ou cérebro infantil, e que são muitas vezes, acompanhadas por distúrbios na sensação, percepção, cognição, comunicação e comportamento, por epi-lepsia e por problemas musculares secundários. (BRASIL, 2013)

Esta patologia é considerada um distúrbio neurológico que afeta a

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coordenação motora e o equilíbrio; a postura; a força muscular e acarre-ta problemas secundários como contraturas e deformidades (GERALIS, 2007, p. 15; MONTEIRO et al, 2011). Esses distúrbios são causados por uma lesão cerebral que pode ocorrer nos períodos pré-, peri- e pós-natal.

As pessoas com paralisia cerebral podem ser classificadas, de acordo com a característica clínica mais dominante, em espástico, discinético e atáxico (CANS et al., 2007).

Dentre os tipos de paralisia cerebral previamente citados, a PC do tipo espástica é a mais frequente da patologia, sendo caracterizada pela pre-sença de uma lesão no sistema piramidal. O exame clínico revela fraqueza muscular, déficit de controle motor e hipertonia de predomínio em mem-bros inferiores, com restrições nas habilidades motoras finas (SANTOS; GOLIN, 2013)

A espasticidade é predominante em crianças cuja paralisia cerebral é con-sequente do nascimento pré-termo, enquanto que as formas discinéticas e a atáxica são frequentes nas crianças nascidas a termo (HIMPENS et al., 2008).

Quanto aos distúrbios sensoriais, perceptivos e cognitivos associados, estes podem envolver a visão, a audição, o tato, e a capacidade de inter-pretar as informações sensoriais e/ou cognitivas e podem ser como conse-quência de distúrbios primários, atribuídos à própria paralisia cerebral ou a distúrbios secundários, como consequência das limitações de atividades que restringem o aprendizado e o desenvolvimento de experiências sensó-rio-perceptuais e cognitivas (ROSENBAUM et al., 2007).

GAMETERAPIA: CONSOLES E REABILITAÇÃO

Atualmente, a tecnologia de Realidade Virtual (RV) vem sendo am-plamente utilizada e difundida nos mais diferentes campos do conheci-mento. Podemos verificar o substancial progresso analisando as variadas conferências e publicações técnico- científicas, particularmente as relacio-nas ao uso da RV nas ciências da saúde, voltadas tanto a reabilitação cog-nitiva quanto a reabilitação motora (ZORZAL & NUNES, 2014).

Nesse sentido, os videogames vêm se apresentando como forma de Re-alidade Virtual e em diferentes níveis imersividade vêm permitindo aos

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usuários interagirem com o ambiente de jogo através de atividades cor-porais. Um dos exemplos mais comuns é Nintendo Wii. De modo geral, atualmente, tais consoles trazem a proposta de “jogos ativos” proporcio-nando a convergência entre os ambientes reais e virtuais.

O Nintendo Wii, lançado em novembro de 2006 nos Estados Unidos, é o quinto console de videogame da Nintendo. Fundamentado nos concei-tos da RV, que permite maior interação motora do usuário com o console (NINTENDO, 2012).

A interface dos jogos de RV transforma os movimentos corporais em elementos de entrada. O sistema reconstrói os movimentos de membros superiores e inferiores e de todo do corpo, diferente do que ocorre em um jogo convencional, em que o sistema apenas distingue o movimento dos dedos no joystick (NINTENDO, 2012).

Nessa perspectiva, visando a tríade paciente/recurso/tratamento os recursos de realidade virtual, são instrumentos importantíssimos para o alcance dessa interação, visto que os sujeitos vêm se relacionando de ma-neira mais intensa com tais recursos tecnológicos, decorrente não somente da própria acessibilidade, mas também pelo fato de corresponder a uma atividade de lazer.

JOGO BIG BRAIN ACADEMY: WII DEGREE

O Big Brain Academy: Wii Degree é um jogo de vídeo game lançado para o Console Nintendo Wii. Dentre as opções o jogo pode exigir que o participante reconheça determinados objetos em um rol de opções confor-me uma palavra é pronunciada na tela. Em outros casos, o jogador deve arranjar fotografias em determinada ordem, conforme uma lógica natural e etc.

São mini games que exploram aspectos cognitvos. Existe um total de 15 mini games divididas em cinco categorias, sendo eles: Identify (Questões de visualização e reconhecimento de imagens), memorize (Questões de mé-moria), analyze (Questões de analíse), compute (Questões de matématica), visualize (Questões de lógica)

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Figura 1: Categorias em que os mini jogos se dividem.Fonte: http://www.trustedreviews.com/Big-Brain-Academy-review

O jogo pode ser utilizado individualmente através de duas maneiras, sendo a primeira delas o modo “teste”. Nesse modo, o jogador é desafia-do com cada um das 5 categorias em modo aleatório. São 12 perguntas por categoria (4 para cada minijogo), resultando um total de 60 questões. Sendo assim, o participante tem sua pontuação baseada na velocidade e precisão de suas respostas, logo, ao completar as perguntas mais rápido, mais pontos são obtidos (de acordo com o placar). Por fim um gráfico final é gerado, demonstrando a habilidade do indivíduo em todos os contextos.

Quanto a segunda forma de uso individual, o jogo também possui um modo chamado de “treinamento”. Nesta opção Cada minijogo pode ser uti-lizado separadamente, e dependendo dos resultados, o jogador pode ganhar uma medalha que representa o seu desempenho. De acordo com a pontuação existem as seguintes premiações: Bronze - 100g, Prata - 200g, Ouro - 300g, Platinum - 400g no modo easy, 450g no médio, 475 no hard e 500g no Expert (válido ressaltar que a variável “g” é referente ao calculo do próprio jogo entre tempo e porcentagem de acertos, sendo denominada “massa encefálica”).

Por fim, Big Brain Academy: Wii Degree faz uso efetivo dos Miis (ava-tares construídos pelo próprio jogador) permitindo o participante inte-ragir com seu alter-ego virtual de maneira raramente vista até então no console, além do mais permite que os dados sejam gravados de maneira individual para cada avatar oque torna o processo do acompanhamento da evolução do usuário muito mais acessível.

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OBJETIVOS

Esta pesquisa possui como objetivo principal compreender os benefí-cios da gameterapia na (re) habilitação cognitiva de indivíduos com pa-ralisia cerebral e, como objetivo específico, identificar as contribuições do jogo Big Brain Academy: Wii Degree, na (re) habilitação cognitiva de um indivíduo com paralisia cerebral do tipo espático inserido no Núcleo De Desenvolvimento De Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (NEDETA).

METODOLOGIA

Esta é uma pesquisa de caráter quantitativo sendo classificada como estudo de caso pelo seu modo de procedimento. Dessa forma, compreen-de-se que a pesquisa quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno e o estudo de caso visa conhecer em profundidade o como e o porquê de uma determinada situação que se su-põe ser única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico (FONSECA, 2002).

Sendo assim, esta pesquisa visa analisar como a gameterapia, através da utilização do jogo desenvolvido para o console Nintendo Wii (Big Brain Aca-damy: Wii Degree) estimula os aspectos cognitivos de um sujeito com parali-sia cerebral, utilizando para mensuração do desempenho do sujeito o software desenvolve como avaliação e reavaliação das habilidades cognitivas, sendo o mesmo também utilizado como fator primordial para a seleção do jogo a ser desempenhado, levando-se em consideração habilidades deficitárias do indiví-duo. O desempenho do próprio sujeito na tarefa através da pontuação gerada pelo jogo também serviu como fator de percepção de evolução.

A criança deste estudo de caso tem 12 anos, do sexo masculino, e apre-senta paralisia cerebral do tipo espástico, mais especificadamente uma di-plegia espástica. Possui boa coordenação nos membros superiores. Foram realizadas oito sessões com atendimentos de até 45 minutos (onde o mini game era realizado 5 vezes) duas vezes na semana, no NEDETA.

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RESULTADOS

Primeiramente foi utilizada a avaliação do software Desenvolve, no qual, verificou-se os escores mais deficitários, sendo eles: percepção de ta-manho (66,6%), percepção de sequência (50%), noção de espaço (66,6%), associação de iguais e diferentes (50%), noção de quantidade (50%), e no-ção de sequência numérica (66,6%).

Diante disto, optou-se pela escolha entre as habilidades de menor pon-tuação, sendo a escolhida a habilidade de associação de iguais e diferentes, tendo em vista que ela se relaciona especificamente com o mini game odd one out (“diferente para fora” em tradução livre).

Neste mini game, do jogo Big Brain Acadamy: Wii Degree, o partici-pante deve escolher, dentre quatro figuras, a única que se difere, sendo válido ressaltar que as figuras estão em movimento e funcionam como pequenos vídeos exibidos simultaneamente em quatro pequenas telas. Outro ponto que deve ser ressaltado é que a modalidade escolhida para a realização do jogo foi a “teste”, visto que apenas este mini game foi utiliza-do durante as 8 sessões, logo o modo teste oferecia os artifícios específicos para realização das sessões, visto que possibilita a utilização de apenas um jogo por vez.

Quadro 1: Melhores pontuações de acordo número de acerto, tempo e nível de dificuldade, por sessão, do sujeito do estudo no jogo odd one out.

Sessões/ Acerto (%) Tempo Nível

pontuações1 sessão 40% 2 min. 3 seg. Fácil2 sessão 70 % 7 min. 20 seg. Fácil3 sessão 50% 2 min. 54 seg. Fácil4 sessão 60% 6 min 7 seg. Fácil5 sessão 80 % 1 min. 53 seg. Fácil6 sessão 70% 3 min. 18 seg. Fácil7 sessão 80% 2 min. 25 seg. Fácil8 sessão 70% 3 min. 41 seg Médio

Fonte: desenvolvido pelos autores

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Observou-se durante as intervenções que o indivíduo obteve um avan-ço quanto a manutenção dos aspectos cognitivos de atenção e concentra-ção em uma atividade especifica de tempo prolongado. Levando em consi-deração seu desempenho dentro da atividade selecionada (mini game: odd one out), observa-se uma significativa evolução quanto a habilidade que desejou-se estimular, sendo que isso apresenta-se refletido nos escores.

Quando iniciou o programa o cliente apresentou escores de no máximo 40 % de acerto, com um tempo de 2 minutos e 3 segundos e realizados no nível mais básico existente. No entanto, ao final, percebeu-se significativa melhora, visto que o cliente estava realizando todas as tentativas em um tempo muito menor, porém, com uma destreza significativamente melhor. Logo, seu maior escore ao final foi de 70 % de acerto em um tempo de 3 minutos e 41 segundos e realizados no nível médio, aumentando conside-ravelmente o nível de dificuldade.

Tais resultados evidenciam a melhora no quesito selecionado para es-timulação. Tal percepção parte do preceito fundamental da própria ati-vidade realizada, onde o sujeito do estudo deve escolher entre 4 figuras a única que se difere. Seus scores aumentaram consideravelmente a cada sessão e sua capacidade de manutenção desses scores evoluiu em igual.

Quanto a avaliação do software desenvolve, a habilidade estimulada (associação de igual e diferente), previamente avaliada em 50 %, obteve um avanço, sendo agora 100 %, demonstrando eficácia do jogo seleciona-do para o estimulo da habilidade previamente selecionada.

CONCLUSÕES

Através da realização da pesquisa, pode-se perceber a eficácia da uti-lização da gameterapia (mais especificamente do Big Brain Academy: Wii Degree, através do mini game odd one out) nos atendimentos ao individuo com paralisia cerebral do tipo espástico, pois contribuiu na estimulação de déficits cognitivos apresentados pelo mesmo antes da intervenção.

A associação de atividade significativa com plano de tratamento se torna efetivo em qualquer idade. E quando se trata de crianças os obje-tivos traçados são cada vez mais alcançados. Isso foi observado durante

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a intervenção com o estudo de caso, onde o sujeito se mostrou mais mo-tivado, além de se mostrar menos disperso e mais concentrado, exigindo o máximo de si para executar a atividade, sendo isto percebido em suas pontuações.

Desta forma, compreende-se que a gameterapia soma-se a mais um dos recursos da prática terapêutica ocupacional, pois consegue inter-re-lacionar a atividades de lazer com os princípios da reabilitação cognitiva.

REFERÊNCIAS

ALVES DE OLIVEIRA, Ana Irene. Integrando tecnologias para leitura em crianças com paralisia cerebral na educação inclusiva. Tese de Douto-rado. Universidade Federal do Pará. 2010.BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departa-mento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de atenção à pes-soa com paralisia cerebral. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. - Brasília: Ministério da Saúde, 2013.CANS, C. et al. Recommendations from the SCPE collaborative group for defining and classifying cerebral palsy. Developmental Medicine and Child Neurology, [S.l.], v. 49, p. 35-38, Feb. 2007. Supplement 109.FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.GERALIS, Elaine. Crianças com paralisia cerebral: guia para pais e edu-cadores. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2007.HIMPENS, E. et al. Prevalence, type, distribution, and severity of cerebral palsy in relation to gestational age: a meta-analytic review. Developmental Medicine and Child Neurology, [S.l.], v. 50, p. 334-340, 2008.MONTEIRO, C.B.M. et al. Paralisia Cerebral e Aprendizagem de Jogo Eletrônico (Nintendo Wii). In: MONTEIRO, C.B.M. (Org.). Realidade Virtual na Paralisia Cerebral. São Paulo: Editora Plêiade, 2011.NINTENDO. Nintendo Wii. Nintendo, 2012 Disponível em:<http://www.nintendo.com/wii> Acesso em: Janeiro/2016

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SANTOS, Lenita Pedregoza Dias dos; GOLIN, Marina Ortega. Evolução Motora de Crianças com Paralisia Cerebral Diparesia Espástica. Rev Neu-rocienc. 2013;21(2):184-192.SCHIAVINATO, Alessandra Maia. Influência da Realidade Virtual no Equilíbrio de Paciente Portador de Disfunção Cerebelar - Estudo de Caso. Rev Neurocienc 2011;19(1):119-127.ZORZAL, E. & NUNES, F. Realidade Aumentada e suas Aplicações na Área de Saúde. In: Cunha, P. et al.. (org) Tendências e técnicas em realida-de virtual aumentada. Salvador: Editora SBC, 2014.

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REALIDADE VIRTUAL, TERAPIA OCUPACIONAL E AUTISMO: PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO DO JOGO DEMO

INDEPENDENCE.

Hugo Cardoso de Almeida43; Rafael Luis Moraes da Silva43; Matheus Cardoso de

Almeida44; Flávia Rocha44; Patricia Nascimento da Silva45

RESUMO

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é caracterizado por deficiên-cia persistente e clinicamente significativa da comunicação, da interação social, ausência de reciprocidade, falência em desenvolver e manter rela-ções apropriadas ao seu nível de desenvolvimento. Apresentam padrões repetitivos e restritos de comportamentos, interesses e atividades, com-portamentos motores ou verbais estereotipados, comportamentos senso-riais incomuns, excessiva fixação a rotinas e padrões de comportamentos ritualizados, interesses restritos e fixos. Tendo em vista tais dificuldades, o terapeuta ocupacional (TO) tem como meta principal que os sujeitos com TEA consigam, através das atividades propostas, melhorar as inte-rações sociais, a comunicação e o repertório de interesses por tarefas co-tidianas e escolares. É válido ressaltar que estes profissionais têm usado na estimulação do transtorno do espectro do autismo os seguintes méto-dos, conceitos e abordagens: conceito TEACCH, método ABA, método de integração sensorial, abordagem psicomotora e abordagens de neurode-senvolvimento. Sendo assim, este trabalho objetiva desenvolver um jogo demo de Realidade Virtual (R.V.) que utiliza Atividades de Vida Diária (AVD’s) baseado em alguns conceitos do TEACCH. Para tal desenvolvi-mento utilizou-se de ferramentas, como: o hardware microsoft Kinect®, a plataforma unity e o microsoft kinect Software Development Kit (SDK). Como resultado obteve-se um jogo demo que faz uso de quatro atividades cotidianas (beber água, vestir-se, escovar os dentes e comer) previamente

43 Terapeuta Ocupacional. Belém, Pará, Brasil.44 Discentes de engenharia da computação, Belém, Pará, Brasil.45 Bacharela em Biotecnologia, Salvador, Bahia, Brasil

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existentes no jogo, havendo a possibilidade da criação de atividades dife-renciadas, de acordo com a demanda do indivíduo (jogador), assim como a criação de perfis individualizados por jogador. Por fim, conclui-se que a utilização da realidade virtual, vinculada a metodologia TEACCH pode maximizar a eficácia da realidade virtual junto a clientela com TEA.

Palavras-chave: Terapia Ocupacional. Transtorno do Espectro do autis-mo. Realidade Virtual.

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INTRODUÇÃO

Atualmente, a tecnologia de Realidade Virtual (RV) vem sendo am-plamente utilizada e difundida nos mais diferentes campos do conheci-mento. Podemos verificar o substancial progresso analisando as variadas conferências e publicações técnico cientificas, particularmente as relacio-nas ao uso da RV nas ciências da saúde, voltadas tanto a reabilitação cog-nitiva quanto a reabilitação motora (ZORZAL & NUNES, 2014).

Desta maneira, a RV pode ampliar as possibilidades terapêuticas das abordagens tradicionais, pois facilita o acesso a atividades que estimulam variadas habilidades, sejam cognitivas ou motoras, através de ambientes virtuais que promovem associações diretas com as tarefas da vida diária.

Para Schiavinato et al. (2011), a utilização da realidade virtual pode ser bastante eficaz na reabilitação de pacientes neurológicos, pois oferece oportunidade de vivência em diversas situações e de maneira individuali-zada; encoraja a participação ativa do paciente, mesmo com incapacidade física e/ou cognitiva; propicia um ambiente motivador para a aprendiza-gem e facilita o estudo das características das habilidades e capacidades perceptuais e motoras do paciente.

Dentre as patologias conhecidas, tem-se o transtorno do espectro do autismo (TEA). Sendo este, um distúrbio do desenvolvimento que se ca-racteriza por alterações presentes desde idade muito precoce, tipicamente antes dos três anos de idade, com impacto múltiplo e variável em áreas nobres do desenvolvimento humano como as áreas de comunicação, inte-ração social, aprendizado e capacidade de adaptação (MELLO, 2007).

Nesse sentido, a utilização da realidade virtual, com jogos baseado na tecnologia do Microsoft Kinect, se torna um instrumento de grande rele-vância no processo de intervenção junto aos sujeitos com autismo, pois oferece benefícios como: a possibilidade de adaptar-se a vários tipos de contextos cotidianos conforme a necessidade do sujeito; ser um atrativo tecnológico; poder tornar esse indivíduo mais habilidoso nas suas ativi-dades, permitindo a manifestação de todas as suas capacidades e poten-cialidades que até então podem ser desconhecidas pelos familiares ou pelo próprio sujeito.

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REFERENCIAL TEÓRICO

TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO

O TEA é uma condição que tem início precoce e cujas dificuldades tendem a comprometer o desenvolvimento do indivíduo, ao longo de sua vida, ocorrendo uma grande variabilidade na intensidade e forma de ex-pressão da sintomatologia, nas áreas que definem o seu diagnóstico (ZA-NON, 2014).

Sendo assim, as manifestações comportamentais que definem o TEA incluem comprometimentos qualitativos no desenvolvimento sócio comu-nicativo, bem como a presença de comportamentos estereotipados e de um repertório restrito de interesses e atividades, sendo que os sintomas nessas áreas, quando tomados conjuntamente, devem limitar ou dificultar o funcionamento diário do indivíduo (APA, 2013).

Atualmente, o transtorno do espectro do autismo é compreendido como uma síndrome comportamental complexa que possui etiologias múltiplas, combinando fatores genéticos e ambientais (RUTTER, 2011).

Conforme os critérios diagnósticos do DSM-5 (APA, 2013), as primei-ras manifestações do TEA devem aparecer antes dos 36 meses de idade. Todavia, dados empíricos demonstram que a maioria das crianças apre-senta problemas no desenvolvimento entre os 12 e 24 meses (CHAKRA-BARTI, 2009; CHAWARSKA et al., 2007; NOTERDAEME; HUTZEL-MEYER-NICKELS, 2010), sendo que alguns desvios qualitativos no de-senvolvimento aparecem antes mesmo dos 12 meses (MAESTRO et al., 2002; ZWAIGENBAUM et al., 2005).

TEACCH - TRATAMENTO E EDUCAÇÃO PARA CRIANÇAS COM AUTISMO E COM DISTÚRBIOS CORRELATOS DA COMUNICAÇÃO

O Treatment and Education of Autistic and related Communication handicapped Children (TEACCH), ou Tratamento e Educação para Autis-tas e Crianças com déficits relacionados à Comunicação foi desenvolvido nos anos de 1960 no pelo Dr. Eric Schoppler, e tendo como responsável o Dr. Gary Mesibov (MELLO, 2007)

Segundo as normas orientadoras da DGIDC (2008), o conceito Teacch

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traduz-se num conjunto de princípios e estratégias que, com base na es-truturação externa do espaço, tempo, materiais e atividades, promovem uma organização interna que permite facilitar os processos de aprendiza-gem e de autonomia das pessoas com perturbação do Espetro do Autismo, diminuindo a ocorrência de problemas de comportamento.

De acordo com Cardoso (2014) a base teórica deste conceito é prove-niente da Teoria Behaviorista. A valorização das descrições das condutas, a utilização de programas passo a passo e o uso de reforçadores, eviden-ciam as características comportamentais. Assim, a teoria comportamen-tal, base epistemológica do TEACCH, converge para uma prática funcio-nal e pragmática. Além disso, o entendimento da condição neurobiológica da Síndrome é fundamental neste modelo.

REALIDADE VIRTUAL

A “Realidade Virtual” diz respeito a uma interface avançada entre o usuário e um sistema computacional que simula um ambiente real e vem sendo explorada nas mais diversas áreas do conhecimento (LATTA; OBERG, 1994). Logo, o ambiente virtual simulado por computador per-mite ao indivíduo experimentar um estado onde o nível de imersão, auto-nomia e sentimento de presença é indistinguível do mundo real.

A RV não se apresenta em uma única forma. Segundo Monteiro (2011), tal recurso existe em diferentes níveis, sendo eles: realidade virtual imer-siva, realidade semi-imersiva e realidade virtual não-imersiva (quadro 1).

Realidade virtual Imersiva

Estes dispositivos são capazes de inserir totalmente o usuário num ambiente tridimensional sintetizado por computador.

Realidade Virtual

Semiimersiva

Tais ambientes não proporcionam imersão total, pois o usuário observa o mundo virtual ao mesmo tempo em que observa o mundo real que circunda este dispositivo de visualização. Isso impede que o usuário se sinta com-pletamente imerso dentro do ambiente virtual.

Realidade Virtual Não imersiva

Referência o uso de dispositivos convencionais como mo-nitores de computador, jogos eletrônicos na televisão ou projetores para visualização, nos quais a sensação de pre-sença do usuário está no mundo real e não no virtual

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Nesse sentido, os videogames vêm se apresentando como forma de Re-alidade Virtual e em diferentes níveis imersividade vêm permitindo aos usuários interagirem com o ambiente de jogo através de atividades cor-porais, sendo um dos exemplos mais comuns o hardware Kinect® para o console Xbox360 da Microsoft. Logo, o Xbox 360 foi pioneiro, trazendo para o grande público a Possibilidade de interação jogador/console sem a utilização de um joystick, pois utilizava a tecnologia do Kinect®.

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é discutir o potencial da tecnologia de Rea-lidade Virtual no processo de estimulação de crianças com autismo, com-preendendo tais efeitos através da criação de um jogo demo baseado em atividades rotineiras do público, direcionado especificamente para tal pa-tologia, utilizando a tecnologia do Kinect®. Dessa forma, analisando as principais características de um ambiente virtual voltado para a estimu-lação cognitiva e motora de pessoas com transtorno autista.

METODOLOGIA

Durante o processo de desenvolvimento de jogo demo voltado para Indivíduos com Transtorno do Espectro do Autismo, foi feito um estudo detalhado sobre o funcionamento do sensor Kinect®. Posteriormente, foi realizada estudo acerca das tecnologias necessárias para o desenvolvimen-to do jogo. Em seguida, houve um aprofundamento quanto à metodologia TEACCH objetivando definir como as atividades seriam apresentadas no jogo.

Com relação aos aspectos metodológicos e tecnológicos, para a imple-mentação desta aplicação foi utilizada RV por meio do desenvolvimento de ambientes virtuais, incluindo interações e animações, utilizando o sen-sor Kinect®, plataforma Unity e a Microsoft Kinect SDK, visando criar para o usuário a possibilidade de interagir com ambientes virtuais atrati-vos, que facilitem a realização das atividades de maneira correta.

Para o desenvolvimento do jogo demo foi utilizado o motor de jogos Unity3D para movimentos variados. Menezes Júnior (2013) afirma que este motor de jogos permite a fácil integração de material artístico ao

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ambiente de desenvolvimento, é baseado na criação de cenas, onde os ele-mentos presentes na cena sejam controlados por scripts do desenvolvedor, ou componentes do próprio motor. Tal funcionamento permite utilizar componentes para simulação física previamente pronta, além de diversos outros componentes de áudio e colisão.

Em seguida, Para controle do sensor Kinect® foi utilizado o software development kit (SDK). O SDK é composto por várias aplicações que mos-tram o funcionamento básico do Kinect®, como, por exemplo, mapear um esqueleto ou exibir a imagem da câmera. (MSDN, 2012).

Quanto ao TEACCH, este se baseia na organização do ambiente físico através de rotinas organizadas em quadros, painéis ou agendas e sistemas de trabalho, de forma a adaptar o ambiente para tornar mais fácil para a criança compreendê-lo, assim como compreender o que se espera dela, além disso, faz uso de estímulos reforçadores para fortificar o comporta-mento (MELLO, 2007).

Logo, tendo em vista tais preceitos oriundos dessa metodologia, o jogo demo independence desenvolvido neste trabalho objetiva simular os ambientes e atividades cotidianas dos indivíduos com TEA tendo vista a melhor adaptação desses indivíduos aos diversos contextos em que estão usualmente envolvidos.

RESULTADOS

O presente estudo resultou no desenvolvimento de um jogo demo, denominado Independence, voltado para indivíduos com transtorno do espectro do autismo, sendo este jogo desenvolvido com as seguintes fer-ramentas: a plataforma Unity, o Kinect SDK e o microsoft visual studio. Ressalta-se ainda que as atividades inseridas neste jogo são baseadas em alguns preceitos do conceito TEACCH, visando, desta maneira, conseguir uma maior eficácia em relação ao que recurso se propõe.

Ressalta-se que o jogo independence é usado através de um software rodado em um computador doméstico e permite interação do usuário com o ambiente virtual através do sensor Kinect® tendo suas imagens proje-tadas por aparelhos como: televisores, projetores ou monitores; logo, não faz-se necessário o uso de nenhum console, como o Xbox 360.

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Sendo assim, Trata-se de um jogo demo com quatro (4) interfaces: 1. Opções; 2.Criar perfil; 3. Selecionar perfil e 4. Sair.

O primeiro ícone, lendo-se da esquerda para direita, é a interface op-ções. Pressionando-a aparecerá a opção: Criar novo contexto. Através dela o terapeuta ocupacional terá uma biblioteca contendo movimentos base, objetos, e ambientes para criação de contextos específicos, de acordo com a demanda que se julga estimular.

Dentro da interface “opções” ainda existirá a possibilidade de escolha do ícone “visualizar perfil”. Esta opção permite que o profissional possa analisar os dados salvos pelo jogo, de modo a compreender quantitativa-mente o desempenho do cliente.

O segundo ícone abre a interface “criar perfil”. Esta é uma área de cons-trução do terapeuta e do cliente, nela ambos criarão um avatar referente ao pa-ciente de modo que este avatar possua características semelhantes a do jogador.

O terceiro ícone, chamado “selecionar perfil”, inicializa a interface de número dois. Esta área permite a seleção do perfil desejado, e consequen-temente onde os dados de jogo serão salvos ao término da atividade.

Depois de feita escolha do avatar, o jogador será levado para um menu secundário onde deverá selecionar a opção “atividades comuns” (ativida-de previamente existente no jogo: escovar os dentes, beber água, trocar de roupa e comer) ou “atividades modificadas” (atividade criada especifica-mente pelo profissional).

Escolhendo-se a atividade, a mesma será iniciada em tela; dessa ma-neira, o sujeito deverá reproduzir os movimentos que aparecerem. Ao de-correr da atividade quando um movimento é realizado, corretamente ou erroneamente, uma pontuação é atribuída, sendo elas: 0 - não realizou, 1 - realizou parcialmente e 2 realizou de maneira correta. Dessa forma, é possível compreender que parte específica da tarefa deve ser melhorada.

Ao final de cada atividade o jogo gerará um resultado contendo infor-mações sobre: a finalização ou não da atividade e a quantidade de tempo necessária para sua realização. Essas informações serão gravadas nos res-pectivos perfis criados para os clientes, podendo ser acessado a qualquer momento pelo terapeuta ocupacional através da interface “opções”.

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Por fim, a última interface de possível seleção é a de nome “sair”.

Através desta opção o software é finalizado, encerrando todas as ações.

Por fim, pode ser observado que as inovações tecnológicas têm papel fundamental para o aperfeiçoamento, qualidade e diferenciação do trata-mento terapêutico ocupacional de pacientes.

CONCLUSÕES

Em virtude do que foi mencionado, pode ser observado que as ino-vações tecnológicas possuem papel fundamental para o aperfeiçoamen-to, qualidade e diferenciação do tratamento terapêutico ocupacional de pacientes. Diante disso, o jogo demo Independence, utilizando o sensor Kinect® e a Realidade Virtual, apresentado neste trabalho possibilita a manipulação dos dados dos pacientes imediatamente e posteriormente às seções de terapia ocupacional, com a finalidade de propiciar melhor análi-se e compreensão do desempenho do cliente nas atividades propostas.

Dessa forma, entende-se que a aplicação da realidade virtual, através da utilização do sensor Kinect® torna mais fácil a dinâmica e a compreen-são entre indivíduo e atividade, visto que esta facilidade é essencial para o público com TEA. Logo, percebe-se que esta aplicação é uma ferramenta de contribuição muito significativa para a área da saúde, principalmente no contexto terapêutico ocupacional, uma vez que mostra um tratamento mais personalizado e atrativo aos pacientes através da utilização de ativi-dades de vida diária.

Por fim, Observa-se que a utilização da realidade virtual, vinculada a metodologia TEACCH pode maximizar a eficácia da realidade virtual junto a clientela com transtorno do espectro do autismo, visto que as ati-vidades podem ser reorganizadas de modo a simular um ambiente propí-cio para realização das mesmas.

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REFERÊNCIAS

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PLATAFORMA SOCIAL VIRTUAL PARA CUIDADORES DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA

Thiago da Silva Dias; Yuri Leandro do Carmo de Souza; Simone Souza da Costa

Silva; Fernando Augusto Ramos Pontes.

RESUMO

Famílias de crianças com deficiência vivenciam uma sobrecarga de ativi-dades que pode causar alterações na saúde física e mental, sentimentos de medo e angústia, entre outros fatores. Neste contexto, a tecnologia pode ser utilizada no dia a dia destes sujeitos, visando à melhora da saúde, bem-estar e qualidade de vida. Descrever uma plataforma social virtual desenvolvida para cuidadores de crianças com deficiência. Este é um es-tudo de natureza teórica e caráter descritivo, abrangendo a apresentação dos aspectos estruturais e relacionais de uma plataforma social virtual em fase de teste. Destaca-se a aplicação no fortalecimento dos cuidadores no desempenho do seu papel. A plataforma abrange recursos que viabilizam compartilhamento de conhecimento, troca de experiências, novas intera-ções e criação de redes de apoio social. O desenvolvimento da plataforma pode integrar iniciativas de produção de conhecimento e criação de tecno-logias que possam contribuir para o bem estar e melhor qualidade de vida de tais famílias.

Palavras-chave: crianças com deficiência; famílias; rede social.

Este estudo integra um projeto de pesquisa financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Laboratório de Ecologia do Desenvolvimento Humano (LED), Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento (NTPC), Universidade Federal do Pará, Belém, Pará, Brasil.

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a tecnologia tem, progressivamente, se integrado ao cotidiano dos brasileiros e aos espaços de atendimento à saúde da popu-lação. Diante desse crescimento, a tecnologia tem se tornado uma ferra-menta elementar no desenvolvimento de estratégias voltadas para pessoas com deficiência, as quais abrangem promoção de acessibilidade, expressão desnecessidades, ideias e sentimentos, bem como a aquisição de conheci-mento, favorecendo a inclusão social.

A utilização de tecnologia para viabilizar inclusão social e acessibi-lidade a pessoas com deficiência corresponde à área de conhecimento da Tecnologia Assistiva (TA). No escopo desta área de conhecimento, as pla-taformas virtuais tem se mostrado eficazes quanto à promoção de acessi-bilidade, principalmente no que diz respeito à difusão de conhecimento. Desta forma, por meio de fóruns, conversas em rede, fotos e vídeos infor-mativos é criado um ambiente de construção coletiva do conhecimento por pessoas com deficiência e seus familiares.

As plataformas sociais virtuais com foco em pessoas com deficiência e seus familiares têm se mostrado fontes interessantes de ganhos não só quanto ao conhecimento acerca da deficiência, mas também como locais profícuos de trocas de experiências, conforto psicológico e viabilização de intervenções a distância, como comunidades existentes atualmente no Fa-cebook (AHMED; SULLIVAN; MCRORY, 2010).

Desta forma, é imprescindível que a família seja incluída nas propos-tas voltadas à pessoa com deficiência, a fim de promover um meio para a aquisição e compartilhamento de conhecimentos, troca de experiências, novas interações e criação de redes de apoio social. Neste contexto, desta-ca-se o grande número de atividades e a sobrecarga que o cuidador enfren-ta, incluindo a mudança gerada pelo nascimento de um filho com deficiên-cia (CRISTANCHO-LACROIX et al., 2013; MATSUKURA et al., 2007; SALZMANN-ERIKSON; ERIKSSON, 2011).

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REFERENCIAL TEÓRICO

CUIDADORES DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA

Compreende-se que o nascimento é um acontecimento aguardado de forma positiva para boa parte das famílias. Contudo, o nascimento de um filho com deficiência pode alterar o contexto e a dinâmica familiar.

Destaca-se que o desempenho do papel de cuidador abrange a promo-ção de condições físicas, materiais e emocionais adequadas para o desenvol-vimento psicoemocional e neuropsicomotor da criança com deficiência. Po-rém, isto pode causar impactos negativos sobre a qualidade de vida do cui-dador, visto que demanda dedicação de tempo, renúncias pessoais e diversas responsabilidades (OLIVEIRA et al., 2008; TRIGUEIRO et al., 2011).

Neste contexto, considera-se que as tarefas de cuidado podem afetar negativamente a saúde física e mental dos cuidadores, pois a dependência da criança pode causar sobrecarga, estresse, dores corporais, sentimentos de medo e angústia, entre outros fatores que causam alterações de saúde (OLIVEIRA et al., 2008).

Além disso, há uma tendência dos profissionais de saúde, em contex-tos de atendimento a crianças com deficiência, de se concentrarem exclu-sivamente na criança, em detrimento das necessidades do cuidador (FER-LAND, 2006). Desse modo, há a necessidade de desenvolvimento de es-tratégias voltadas para potencializar o desempenho do papel de cuidador.

Willrich, Azevedo e Fernandes (2009), relatam a existência de fatores de risco e proteção no ambiente que podem influenciar de forma signi-ficativa o desenvolvimento da criança. Dentre estes, considera-se que a presença de uma deficiência pode alterar consideravelmente o desenvolvi-mento, sendo que a presença de uma rede social é importante para forne-cer apoio ao cuidador.

Assim, é evidente que famílias de pessoas com deficiência enfrentam situações de estresse, isolamento, desânimo. Porém, a rede de apoio pode ser um importante recurso no enfrentamento destas adversidades. Nesta perspectiva, a rede de apoio virtual, diante do cenário tecnológico atual, tem se mostrado como um recurso promissor na construção de redes nas quais os pais de crianças com deficiência podem se apoiar mutuamente.

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PLATAFORMAS SOCIAIS VIRTUAIS

O surgimento da internet desencadeou a substituição de mídias tra-dicionais (jornais, revistas, televisão, livros e rádio) por novas mídias, de-nominadas digitais: e-mail, mensagens eletrônicas, conversas online ou chats, blogs. Dentre as novas mídias, destacam-se as mídias sociais, as quais se caracterizam pela produção de conteúdos de forma descentraliza-da e colaborativa (SILVA, 2010).

As plataformas sociais virtuais são um tipo de mídia social, as quais con-sistem em espaços virtuais com características colaborativas que são utiliza-dos para mediar diversos tipos de relacionamento na internet. Nestes espa-ços, de um modo geral, pessoas podem criar perfis com informações pessoais e definir a sua rede de amigos. Além disso, este tipo de plataforma viabiliza o envio de mensagens instantâneas, notificações sobre os perfis de amigos, pos-tagens, entre outros recursos que promovam socialização e compartilhamen-to de conteúdo com outras pessoas (ALENCAR; MOURA; BITENCOURT, 2013; BRYER; ZAVATTARO, 2011; MESSINGER et al., 2009).

A interação por meio de plataformas sociais virtuais viabiliza um grande volume de informações e permite o fluxo duplo de informações, o que subjaz diversos processos interativos. Desse modo, estas caracterís-ticas podem ser utilizadas para promover apoio entre pessoas com diver-sas demandas específicas, tais como distúrbios alimentares, saúde mental, problemas emocionais, envelhecimento, entre outros. Neste contexto, des-taca-se a promoção de comunicação, compartilhamento de informações, aprendizagem e apoio social entre cuidadores de crianças com deficiência (FONTES, 2014; NUNES, 2012).

OBJETIVO

Descrever uma plataforma social virtual desenvolvida para cuidado-res de crianças com deficiência.

METODOLOGIA

Este é um estudo de natureza teórica e abordagem descritiva, o qual consiste na apresentação de uma plataforma social virtual, em fase de

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teste, desenvolvida para cuidadores de crianças com deficiência. Esta pla-taforma faz parte de um projeto multicêntrico na área de Tecnologia As-sistiva, no qual há uma colaboração acadêmica entre três universidades federais do Brasil, sendo duas da Região Sudeste e uma da Região Norte.

A plataforma social virtual está em fase de testes preliminares, na qual os discentes e docentes das instituições de ensino superior estão utili-zando a plataforma, a fim de compreenderem os aspectos estruturais e re-lacionais do espaço virtual. O lançamento oficial da plataforma está pre-visto para o quatro trimestre de 2016. Neste contexto, os resultados deste estudo abrangem a descrição dos aspectos estruturais e relacionais da pla-taforma social virtual, considerando-se as especificidades do público-alvo: cuidadores de crianças com deficiência.

RESULTADOS

A plataforma social virtual é destinada à formação de redes sociais virtuais que viabilizem a interação entre pessoas com deficiência, profis-sionais de saúde e, principalmente, cuidadores. Dentre outros objetivos, a plataforma se destina à avaliação do perfil das redes sociais virtuais de cuidadores quanto às seguintes variáveis: estresse percebido, resiliência, estresse familiar, parentalidade, coparentalidade, estrutura e dinâmica fa-miliar, apoio social e métricas de redes sociais totais e pessoais.

Nesta perspectiva, a plataforma social virtual tem dois eixos princi-pais: promoção de espaços virtuais de discussão e colaboração (comunida-des virtuais) sobre assuntos específicos; e viabilização de interação social entre cuidadores de crianças com deficiência.

As comunidades virtuais, no âmbito da plataforma, são criadas pelos administradores, com base em demandas percebidas por meio da análise das interações entre os usuários. Nesta perspectiva, conforme novos usuá-rios, com diferentes perfis, tornam-se parte das redes sociais virtuais exis-tentes na plataforma, novas comunidades podem ser adicionadas.

Os usuários da plataforma podem escolher participar de comunidades que atendam a seus interesses específicos (ex: comunidade de Paralisia Ce-rebral para cuidadores de crianças com esta patologia). As comunidades

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são essenciais para a ampliação das redes sociais virtuais dos cuidadores de crianças com deficiência, visto que viabilizam aos participantes a opor-tunidade de entrar em contato com usuários que não faziam parte de sua rede pessoal presencial. Cada comunidade conta com quatro opções: feed de notícias, discussões, enquetes e integrantes.

No feed de notícias, os participantes podem obter um panorama geral sobre as informações e conteúdo sendo compartilhados na comunidade. Esta é uma opção essencial para potenciais usuários, visto que fornece uma visão geral sobre adequação ou inadequação da comunidade aos in-teresses pessoais.

A opção de discussões inclui os conteúdos e informações criados e com-partilhados pelos próprios usuários no âmbito do tema da comunidade. A adequação das discussões ao tema se processa através de moderação realizada pelos administradores. Esta é uma opção essencial para o eixo de discussão e colaboração, visto que os cuidadores de crianças com de-ficiência estão em um espaço de reciprocidade no compartilhamento de informações, de modo que cada usuário pode tanto obter como oferecer informações interessantes.

Quantos às enquetes, estas são importantes para a obtenção de um panorama claro sobre opiniões dos usuários em relação a uma determina-da temática. O gráfico gerado pela enquete viabiliza uma representação visual sobre o posicionamento dos participantes. A opção de integrantes viabiliza aos participantes a oportunidade de acessar os usuários que fa-zem parte da comunidade e que, eventualmente, não fazem parte de suas redes virtuais pessoais.

No eixo de interação social entre cuidadores de crianças com deficiên-cia, destaca-se que a plataforma viabiliza a criação de um perfil individua-lizado, por meio do qual os usuários podem compartilhar conteúdos como fotos, textos e vídeos, bem como podem selecionar outros usuários para integrarem as suas redes pessoais. Destaca-se que os conteúdos compar-tilhados pelos usuários em seus feeds de notícia pessoais, diferentemente do que é compartilhado em comunidades, não têm temas pré-definidos e podem abranger qualquer assunto.

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A interação social se processa na medida em que um usuário pode uti-lizar as funções “curtir”, “comentar” e “compartilhar” para interagir com um conteúdo compartilhado por outro usuário da sua rede pessoal, bem como outros usuários podem interagir por meio dos mesmos recursos com esta e outras interações subsequentes.

Ainda neste eixo, a plataforma viabiliza interação diádica mais reser-vadas por meio do chat, o que se diferencia de conversas que se processam publicamente por meio dos comentários em postagens. Este tipo de inte-ração viabiliza o compartilhamento de informações e experiências mais pessoais entre os usuários, dado o seu caráter mais reservado.

CONCLUSÕES

Tendo em vista a importância da família no processo desenvolvimen-tal da criança com deficiência, a integração por meio da plataforma social virtual viabiliza a aquisição e compartilhamento de conhecimentos, troca de experiências, novas interações e criação de redes de apoio social.

Neste contexto, ressalta-se que a plataforma social virtual tem uma natureza de pesquisa e extensão (prestação de serviços à comunidade), ou seja, objetiva-se a produção científica de conhecimento nesta área e, concomitantemente, a promoção de uma espaço de compartilhamento de conhecimentos para pessoas com deficiência e seus familiares.

Assim, a plataforma oferece como perspectivas: avaliação de estresse percebido, resiliência, estresse familiar, parentalidade, coparentalidade, estrutura e dinâmica familiar, apoio social e métricas de redes sociais to-tais e pessoais. Além disso, pode viabilizar a produção de conhecimento e a criação de estratégias de utilização de tecnologia para promover bem--estar, melhor qualidade de vida e inclusão social de cuidadores de crian-ças com deficiência.

Considerando-se a ampla discussão na literatura sobre o grande nú-mero de atividades e a sobrecarga enfrentada pelo cuidador de crianças com deficiência, o lançamento da plataforma no quarto trimestre de 2016 objetiva alcançar as famílias de crianças com deficiência no estado do Pará e, progressivamente, no restante do Brasil.

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PLANEJAMENTO MOTOR E PROCESSAMENTO SENSORIAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE UMA CRIANÇA

COM ATRASO NO DESENVOLVIMENTO DECORRENTE HIPERSENSIBILIDADE ALIMENTAR

Thiago da Silva Dias46; Hugo Cardoso de Almeida47

RESUMO

Crianças com hipersensibilidade alimentar podem apresentar atraso no desenvolvimento e déficits na habilidade de processamento sensorial. Nes-te contexto, terapeutas ocupacionais podem realizar intervenções que promovam experiências sensório-motoras significativas e variadas. Ana-lisar intervenções com enfoque em planejamento motor e processamento sensorial realizadas junto a uma criança com atraso no desenvolvimento decorrente de hipersensibilidade alimentar. O estudo tem natureza apli-cada e abordagem descritiva, o qual consiste em um relato de experiência abrangendo descrição e análise de intervenções realizadas com enfoque em planejamento motor e processamento sensorial. Dentre os resultados, destacam-se: níveis mais estáveis de demanda sensorial; diminuição da agitação psicomotora e da procura por estímulos sensoriais; maior domí-nio sobre a execução e sequenciamento das tarefas; aumento do período de permanência em uma atividade; transição de atividades estritamente dinâmicas para outras de caráter estático; melhora nos componentes de atenção e concentração; melhora na comunicação e manutenção de conta-to visual. Os dados apresentados indicam que intervenções com enfoque em processamento sensorial e planejamento motor foram efetivas junto a uma criança com atraso no desenvolvimento decorrente de hipersensibili-dade alimentar.

Palavras-chave: deficiências do desenvolvimento; hipersensibilidade ali-mentar; terapia ocupacional.

46 Terapeuta Ocupacional. Discente de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento (UFPA), Belém, Pará, Brasil.47 Terapeuta Ocupacional. Belém, Pará, Brasil.

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INTRODUÇÃO

Crianças com doenças alérgicas, tais como asma e hipersensibilida-de alimentar, podem apresentar Desordens do Processamento Sensorial (DPS) e atrasos no desenvolvimento (ENGEL-YEGER; ALMOG; KES-SEL, 2014; SCHIEVE et al., 2012). Nesta perspectiva, destaca-se que uma criança com atraso no desenvolvimento está mais propensa a enfren-tar problemas no processamento sensorial, em comparação a crianças com desenvolvimento típico (WILCOX, 2016).

Portanto, considerando-se que o processamento sensorial subjaz o de-senvolvimento da criança e o desempenho satisfatório de atividades co-tidianas, o diagnóstico e intervenção relacionados à DPS são essenciais (ENGEL-YEGER; ALMOG; KESSEL, 2014).

Desse modo, terapeutas ocupacionais podem intervir junto a este pú-blico, focando no desenvolvimento de habilidades afetadas pelo déficit no processamento sensorial. As intervenções terapêuticas ocupacionais, comumente, abrangem a utilização do brincar livre e direcionado, bem como diversos recursos terapêuticos que promovam experiências sensório--motoras significativas e variadas.

REFERENCIAL TEÓRICO

DESORDEM DO PROCESSAMENTO SENSORIAL

O processamento sensorial se refere ao processo por meio do qual o sistema nervoso recebe informações auditivas, visuais, vestibulares, táteis e proprioceptivas do meio externo e as transforma em respostas ou com-portamentos (BORGES, 2012; MILLER, 2014).

Desordens ou disfunções do processamento sensorial (DPS) abrangem alterações na capacidade de receber, processar, integrar e transformar os estímulos sensoriais em respostas apropriadas. Considerando-se que expe-riências sensoriais fazem parte do cotidiano da criança, as DPS influen-ciam as rotinas e atividades de vida diária (BORGES, 2012; DUNN, 2007; MILLER, 2014).

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Conforme Dunn (2007), as DPS podem se manifestar de diferentes formas, dependendo do limiar neurológico de registro do estímulo senso-rial e da estratégia/comportamento de autorregulação da criança. O autor caracteriza quatro formas: baixo limiar (hiperresponsividade) com estra-tégia ativa (evita os estímulos); baixo limiar com comportamento passivo (hipersensível aos estímulos); alto limiar (hiporesponsividade) com estra-tégia ativa (procura estímulos); e alto limiar com comportamento passivo (hiposensível aos estímulos).

PLANEJAMENTO MOTOR

O planejamento motor faz parte da práxis, a qual consiste em uma função integrativa superior voltada para a idealização, planejamento e organização de movimentos para alcançar uma meta motora. Esta fun-ção pode ser influenciada pelo processamento sensorial, visto que depen-de do registro de estímulos do ambiente externo para poder identificar objetivos, determinar as ações necessárias e transmitir o comando para executar o movimento (SANZ-CERVERA et al., 2015; WONG; HAITH; KRAKAUER, 2015).

Neste contexto, o planejamento motor refere-se, especificamente, a uma série de processos que ocorrem entre o registro de um estímulo e a resposta motora. Estes processos resultam da integração de informação sensorial aferente com as representações internas de tarefas motoras pre-viamente executadas. Desse modo, o organismo se torna preparado para a execução de ações voluntárias futuras e para a antecipação quanto a possíveis fatores que prejudicariam a execução do movimento (PETERS et al., 2015; WONG; HAITH; KRAKAUER, 2015).

TERAPIA OCUPACIONAL COM ENFOQUE EM PROCESSAMENTO SENSORIAL

O terapeuta ocupacional utiliza atividades significativas e apropriadas para a idade da criança para viabilizar e estimular respostas adequadas na interação com o seu meio externo. Nesta perspectiva, intervenções terapêu-ticas ocupacionais focadas no processamento sensorial viabilizam à criança

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o desenvolvimento e aperfeiçoamento da habilidade de modulação das in-formações sensoriais aferentes, visando à melhora das respostas comporta-mentais emitidas pelo sujeito (SILVA et al., 2003; WILCOX, 2016).

As intervenções devem contemplar os seguintes princípios: viabiliza-ção de experiências sensoriais diversificadas; promoção de desafios apro-priados para as habilidades da criança; colaboração na escolha e obtenção de desempenho adequado na atividade; viabilização de ambiente estimu-lante e adequado para a modulação dos estímulos sensoriais; criação de um contexto para a brincadeira; maximização do sucesso; manutenção da segurança; e estabelecimento de vinculo terapêutico (CASE-SMITH et al., 2013; PARHAM et al., 2007).

Nestas intervenções, comumente, são utilizados equipamentos e/ou materiais como redes, trapézios, cobertores, scooter boards, bolas terapêu-ticas, rampas, etc., os quais podem viabilizam estímulos sensoriais, prin-cipalmente proprioceptivos, táteis e vestibulares (PARHAM et al., 2007).

OBJETIVOS

Analisar intervenções com enfoque em planejamento motor e proces-samento sensorial realizadas junto a uma criança com atraso no desenvol-vimento decorrente de hipersensibilidade alimentar.

METODOLOGIA

Este é um estudo de natureza aplicada e abordagem descritiva, o qual consiste em um relato de experiência sobre intervenções terapêuticas ocu-pacionais realizadas com enfoque em planejamento motor e processamen-to sensorial.

O sujeito deste estudo, doravante referido pelo pseudônimo Luigi, foi escolhido através de amostragem por conveniência. Este tem 4 anos e apresenta atraso no desenvolvimento da comunicação e do planejamento motor, identificados através de avaliação clínica.

Luigi apresenta déficit de processamento sensorial, principalmente no registro e modulação de estímulos proprioceptivos. Este perfil sensorial do sujeito foi traçado por um profissional certificado para avaliação e in-tervenção na abordagem de Integração Sensorial. Ao longo das sessões,

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identificou-se que Luigi apresenta alto limiar (hiporesponsividade) quan-to a estímulos proprioceptivos com estratégia ativa (procura estímulos).

O atraso no desenvolvimento de Luigi se deve a uma severa hipersen-sibilidade alimentar desde a mais tenra idade, a qual acarretava em fortes reações alérgicas a quase todos os gêneros alimentícios e, consequentemen-te, causou privação sensorial durante os anos iniciais do desenvolvimento.

Atualmente, a frequência dos episódios de reação alérgica tem dimi-nuído, bem como Luigi passou a tolerar alguns gêneros alimentícios. Po-rém, os episódios ainda são frequentes e, comumente, acarretam em pre-juízos aos componentes de atenção, concentração e, principalmente, ao processamento sensorial.

Os relatórios de atendimento foram utilizados como fonte de dados acer-ca das intervenções realizadas, as quais serão descritas e analisadas neste es-tudo. As sessões de Terapia Ocupacional ocorreram duas vezes por semana, com duração de uma hora cada, no período de Março a Julho de 2016.

Um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi assinado pelo responsável legal do sujeito. Neste documento estão detalhados os cuidados éticos adotados neste estudo, dentre eles, destacam-se os riscos e benefícios, bem como os cuidados relacionados à manutenção da privaci-dade e confidencialidade dos dados.

RESULTADOS

Ressalta-se que Luigi apresentou episódios recorrentes de reação alérgi-ca durante o período deste estudo, o que causou frequentes prejuízos quanto aos componentes de atenção e concentração, processamento sensorial, prin-cipalmente de estímulos proprioceptivos, e planejamento motor.

A hipersensibilidade alimentar não foi o foco da intervenção terapêu-tica ocupacional, visto que Luigi tem uma dieta restritiva, baseada em um composto alimentar e a introdução de outros alimentos pode causar prejuízos à saúde da criança. Portanto, o foco da intervenção foram os dé-ficits de processamento sensorial e planejamento motor, considerando-se que estes são os componentes mais afetados pelos recorrentes episódios de reação alérgica.

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Desse modo, as intervenções componentes deste estudo compreen-dem dois eixos principais: processamento sensorial e planejamento motor. Adicionalmente, foram estimulados os seguintes componentes de desem-penho: atenção, concentração, sequenciamento de tarefas, comunicação verbal e não-verbal e manutenção de contato visual.

Quanto ao eixo de processamento sensorial, foram viabilizadas múl-tiplas experiências sensoriais, principalmente proprioceptivas, através do brincar livre e direcionado. Dentre estas, destacam-se: atividades na pis-cina de bolinhas, a fim de viabilizar estímulo tátil; desempenho de movi-mentos como pular, engatinhar, “carrinho de mão” (crianças apoiada com as mãos no chão, enquanto o terapeuta a segura pelos pés), correr, entre outras, visando à promoção de estímulos proprioceptivos; e brincadeiras utilizando plasticina terapêutica de diferentes texturas, visando à promo-ção de estímulos táteis e proprioceptivos.

O protocolo Wilbarger - incluindo escovação terapêutica e compressão articular suave - foi utilizado para viabilizar estímulos proprioceptivos e táteis profundos. Além disso, músicas do tipo mantra foram utilizadas durante os atendimentos, a fim de viabilizar estímulo auditivo. Quanto aos estímulos vestibulares, estes foram viabilizados, principalmente, com Luigi dentro de um rolo grande, enquanto o terapeuta o movimentava.

No eixo de planejamento motor, as atividades consistiram, basica-mente, de circuitos psicomotores com, no mínimo, três tarefas motoras di-ferentes. Dentre os recursos utilizados, destacam-se: rampa (vertical e ho-rizontal), piscina de bolinhas, escada, bola grande, tapete (capacho), rolo grande e almofada grande. Neste tipo de atividade, Luigi era solicitado a realizar tarefas utilizando alguns dos recursos supracitados em ordem pré--definida. Dessa forma, foi possível estimular os componentes de atenção, concentração e sequenciamento de tarefas, os quais são essenciais para a melhora do planejamento motor.

Neste contexto, quanto a melhoras no âmbito sensorial, destaca-se que Luigi passou a manter níveis mais estáveis de demanda sensorial pro-prioceptiva, em comparação às sessões iniciais. Isto se justifica, principal-mente, pela diminuição da agitação psicomotora e da procura por estí-mulos proprioceptivos. Anteriormente, o sujeito executava movimentos

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como pular, balançar os braços e hiperextensão de pescoço sem objetivo funcional aparente, o que pode ser indicativo de demanda por estímulos. Portanto, os níveis mais estáveis de demanda sensorial indicam melhora na habilidade do sujeito de processar os estímulos aferentes.

Além disso, quanto a melhoras no âmbito de planejamento motor, destaca-se que o sujeito demonstrou maior domínio sobre a execução e se-quenciamento de tarefas, bem como o período de permanência do sujeito em uma atividade se expandiu em relação aos atendimentos iniciais. Nes-te sentido, destaca-se uma transição de atividades estritamente dinâmicas (correr, pular, subir) para atividades estáticas (brincar com a plasticina terapêutica ou permanecer sentado na piscina de bolinhas).

A permanência em atividades mais estáticas se deve a um progresso nos componentes de atenção e concentração, o qual também pode ser veri-ficado na diminuição do nível de reforço verbal e físico necessário durante as atividades. Desse modo, ressalta-se que Luigi passou a executar muito mais tarefas com níveis de reforço mínimo (pistas verbais em uma parte da tarefa), ainda que necessite, eventualmente, de reforço moderado (pistas verbais e físicas em mais de uma parte da tarefa) em algumas atividades. Anteriormente, o sujeito necessitava de reforço alto (pistas verbais não funcionam e há necessidade de pistas físicas em todas as etapas da tarefa).

Adicionalmente, ressalta-se que Luigi obteve progresso considerável quanto à comunicação e à manutenção do contato visual. O sujeito me-lhorou a sua habilidade de demonstrar desejos e opiniões de forma clara, utilizando-se tanto de comunicação não-verbal (apontar, afastar um obje-to) como verbal (dizer quando não quer fazer uma atividade).

Portanto, embora Luigi tenha apresentado comportamento flutuante ao longo das sessões, decorrente dos recorrentes episódios alérgicos, iden-tificou-se progressos consideráveis, principalmente, quanto ao processa-mento sensorial e planejamento motor. Além disso, observou-se manuten-ção dos ganhos adquiridos ao longo das intervenções.

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CONCLUSÕES

Os dados apresentados indicam que intervenções com enfoque em pro-cessamento sensorial e planejamento motor foram efetivas junto a uma criança com atraso no desenvolvimento decorrente de hipersensibilidade alimentar.

Dentre os ganhos, destaca-se, primariamente, melhora no desempenho e sequenciamento de tarefas motoras, assim como diminuição da agita-ção psicomotora e demanda sensorial. Adicionalmente, os dados indicam melhora na atenção, concentração e manutenção de contato visual, bem como aprimoramento dos padrões de comunicação verbal e não-verbal.

Este estudo apresenta como limitação o formato de estudo de caso, o que inviabiliza a generalização. Por isso, sugere-se a replicação e/ou mo-dificação das intervenções apresentadas, visando ao aprimoramento do conhecimento sobre intervenções voltadas para crianças com desordens do processamento sensorial e atrasos no desenvolvimento decorrentes de hipersensibilidade alimentar e/ou outras formas de doença alérgica.

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ANÁLISE FUNCIONAL DE UMA CRIANÇA COM PARALISIA CEREBRAL QUE FEZ USO DA ROUPA BIOCINÉTICA ATRAVÉS

DA APLICAÇÃO DO TESTE DE CAMINHADA DE DOIS MINUTOS: UM ESTUDO DE CASO.

Maria Carolina Ferreira Neves, Rafael Luiz Morais da Silva,

Ana Irene Alves de Oliveira.

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo verificar a eficácia do uso da Rou-pa Biocinética na capacidade funcional de uma criança com paralisia ce-rebral. Trata-se de uma pesquisa do tipo experimental com intervenção. Para a realização deste estudo, foiselecionado de forma intencional uma criança com paralisia cerebral de acordo com os critérios de inclusão da pesquisa, os quais foram: apresentar diagnóstico de paralisia cerebral, ter faixa etária entre 3 a 6 anos e apresentar níveis de III a V segundo o Sis-tema de Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS). O instrumento utilizado para medir a capacidade funcional do participante foi o teste de Caminhada de Dois Minutos (TC2M). Os dados foram analisados com-parando o desempenho obtido do sujeito a partir da comparação pré- e pós-intervenção. Foi observado aumento da capacidade funcional após a utilização da Roupa Biocinética. A criança deste estudo apresentou au-mento da distância percorrida em função do tempo. Portanto, este recurso se mostrou promissor em relação à performance motora e funcional desta criança.

Palavras-chave: Terapia Ocupacional, Roupa Biocinética, Teste de Cami-nhada de 2 minutos.

Núcleo de Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA / Universidade do

Estado do Pará

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1. INTRODUÇÃO

A Encefalopatia Crônica não progressiva da Infância, mais conhecida como Paralisia Cerebral (PC), é uma alteração da postura e do movimen-to, permanente, porém não imutável, os quais resultam de um distúrbio nãoprogressivo do cérebro, que tem como fatores de riscos incidentes ocor-ridos no período pré, peri e pós natais, nos quais os mais comumente ob-servados são infecções do sistema nervoso central, hipóxia e traumatismo craniano. Neste sentido, a PC é classificada de acordo com as alterações predominantes do movimento, sendo esta diretamente relacionada à lo-calização no cérebro, e a gravidade da lesão dependente da extensão da mesma (DIFILIPO; LEMOS, 2008; DIAS et al, 2010).

No decorrer do desenvolvimento e com o avançar da idade, as crianças com paralisia cerebral passam por mudanças da função motora, sendo de extrema importância avaliar e acompanhar o desenvolvimento das ha-bilidades, a fim de que seja possível estabelecer um provável prognóstico (OLIVEIRA; GOLIN; CUNHA, 2010).

Por conta dos diversos níveis de comprometimentos e das limitações funcionais, pessoas com PC, na grande maioria, necessitam do auxílio da Tecnologia Assistiva, incluindo os dispositivos de auxílio para locomoção como cadeira de rodas, andadores, muletas e bengalas para facilitar a rea-lização de suas Atividades de Vida Diária (PALISANO, et al; 1997).

Dentre as TECNOLOGIA ASSISTIVAque podem ser utilizadas para ampliar as habilidades funcionais de crianças com paralisia cerebral, tem--se a Roupa Biocinética, uma órtese dinâmica com a proposta de favore-cer o alinhamento biomecânico e ajustes posturais no tronco e membros. Dessa forma, o presente estudo pretende mostrar os benefícios desta vesti-menta na capacidade funcional de crianças com paralisia cerebral.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No intuito de ampliar ou proporcionar habilidades funcionais na vida de pessoas com deficiência criou-se as TECNOLOGIA ASSISTIVA(T.A) como recurso que visa promover independência, inclusão, auxilio nas ha-bilidades funcionais perdidas ou deficitárias, além de possibilitar a melho-

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ra no desempenho ocupacional. Como tipo de Tecnologia Assistiva estão presentes as órteses, as quais são anexadas a um segmento corpóreo, per-mitindo um melhor posicionamento, estabilização e função (BERSCH, 2013). Dentre esse tipo de recurso, podemos destacar a Roupa Biocinética como um tipo de órtese dinâmica capaz de promover alinhamento corpo-ral e ajustes posturais em pessoas com desordens motoras severas.

A Roupa Biocinética foi desenvolvida visando favorecer a habilitação ou reabilitação de crianças com deficiências neuromotoras. Esta denominação surgiu com base em suas características biomecânicas, possuindo trações em pontos motores chaves estratégicos para favorecer o alinhamento postural e os movimentos coordenados dos membros (OLIVEIRA; PRAZERES, 2013).

Oliveira e Prazeres (2013) relatam que crianças que possuem desor-dens neuromotora podem apresentar alterações relevantes nas posturas estáticas e dinâmicas devido a atividade motora reflexa e os padrões de-sordenados de movimento e posturas. Roupa Biocinética surge como re-curso que busca promover o alinhamento postural e consequentemente a inibição de padrões patológicos, favorecendo os movimentos coordenados e a integração sensorial.

O tecido utilizado para a criação da vestimenta foi a Lycra compressi-va, caracterizada pela fibra sintética de grande elasticidade, também co-nhecida como elastano. Tal tecido é rotineiramente utilizado na confecção de cintas, necessárias após intervenções cirúrgicas. Graças às exclusivas características do fio de Lycra, o material pode ser esticado até sete vezes o seu comprimento inicial e retornar à posição original, garantindo ao usuário conforto, corte, retenção de forma, durabilidade e liberdade de movimento (idem).

A vestimenta apresenta velcros ao longo da sua extensão, os quais objetivam proporcionar um melhor alinhamento corporal, visando har-monizar a relação entre tronco, quadril e possibilitar a extensão e flexão de membros inferiores. Para que a estabilização postural ocorra, o par correspondente ao velcro está costurado a uma tira do mesmo tecido, essa proporciona a tração e, consequentemente, a estabilização.

Segundo Oliveira e Prazeres (2013), em relação ao tronco, as tiras de Lycra estão posicionadas de modo que possam respeitar as cadeias muscu-

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lares responsáveis pelo alinhamento postural, podemos destacar a direção das fibras do músculo trapézio. Além dessa região, vale destacar os velcros posicionados na região do glúteo máximo, objetivando favorecer a exten-são do quadril.

Velcros também foram posicionados no terço proximal da coxa, na região do terço proximal, enquanto na região anterior foram posicionados desde a o terço proximal da coxa até o terço proximal da perna. As fitas de lycra sempre eram posicionadas conforme a direção das fibras musculares, portanto, ajudavam a inibir postura e marcha patológica.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de uma pesquisa do tipo experimental com intervenção. Para a realização deste estudo, foi selecionado de forma intencional uma criança com paralisia cerebral de acordo com os critérios de inclusão da pesquisa, os quais foram: apresentar diagnóstico de paralisia cerebral, ter faixa etária entre 3 a 6 anos e apresentar níveis de I a III segundo o Sistema de Classi-ficação da Função Motora Grossa (GMFCS). O instrumento utilizado para medir a capacidade funcional do participante foi o teste de Caminhada de Dois Minutos (TC2M). Os dados foram analisados comparando o desempe-nho obtido do sujeito a partir da comparação pré- e pós-intervenção. Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética Envolvendo Seres Humanos da Universidade do Estado do Pará, sob a intitulação - A avaliação da eficácia da Roupa Biocinética em crianças com Paralisia Cerebral -, e os responsá-veis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

4. ESTUDO DO CASO

D. L. S. é uma criança de quatro anos de idade, sexo masculino, com o quatro de Paralisia Cerebral do tipo diplegia. Iniciou o tratamento de Fisioterapia e Terapia ocupacional aos 16 meses e segue realizando os mes-mos desde então. O participante enquadra-se no nível III do GMFCS se-gundo a sua faixa-etária e não apresentavam qualquer deformidade de natureza músculo-esquelética.

Durante a avaliação prévia, a mãe relatou que realizou todos os exames pré-natais, a criança nasceu no período previsto, não fez uso de medica-

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mentos ou qualquer outro tipo de droga, além de não apresentar nenhum problema após o nascimento. Entretanto, durante a gestação a mãe sofreu três quedas, atribuindo a este fato a causa da Paralisia Cerebral no D. L. S.

5. DESENVOLVIMENTO

A pesquisa foi desenvolvida no período de fevereiro à maio de 2016 no Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade da Universidade do Estado do Pará (NEDETA/UEPA). As etapas da pesqui-sa foram desenvolvidas a partir das seguintes etapas: seleção do partici-pante, avaliação pré-intervenção, confecção da Roupa Biocinética, teste de usabilidade, treinamento dos responsáveis, e avaliação pós-intervenção.

Posterior a seleção, foi realizada mensuração das medidas antropo-métricas da criança para confecção individualizada da roupa biocinética. Com a confecção desta vestimenta, foi realizado teste de usabilidade a fim de verificar questões quanto ao conforto e funcionalidade do recurso. A avaliação pré-intervenção sem o uso da roupa biocinética foi realizada a partir do Teste de Caminhada de Dois Minutos (TC2M). Com a finalização deste teste, as roupas foram entregues aos responsáveis que foram treina-dos para o uso correto na criança. Após 30 dias de utilização, foi realizado follow-up e utilizado o mesmo protocolo de pesquisa realizado na etapa de pré-intervenção.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante a avaliação da criança, verificou-se a necessidade da adapta-ção do teste de caminhada de seis minutos para dois minutos (TC2), pois a crianças apresentava limitações na deambulação e, caso o teste fosse realizado com a duração de seis minutos, demandaria maior esforço físico e poderia comprometer a precisão da avaliação.

Quanto à análise dos resultados, provenientes do uso da Roupa Bio-cinética, bem como da aplicação do TC2, verificou-se que o participante o participante ao realizar o seu primeiro TC2 percorreu 6 metros no pri-meiro minuto e 18 metros no segundo minuto; após 30 dias da entrega da roupa, foi realizado follow-up, no qual foi observado que esta criança percorreu 14 metros no primeiro minuto e 33 metros no segundo minuto.

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Portanto, verificou-se que, com a influência do uso da Roupa Biocinética, no primeiro minuto da primeira aplicação do TC2 houve uma progressão de 8 metros quando comparamos a primeira com a segunda avaliação.

Apesar do restrito número de estudos que avaliam a eficiência de ves-timentas dinâmicas em crianças com paralisia cerebral, estudo corrobora com os achados da literatura internacional que evidencia aumento da per-formance motora e da capacidade funcional após a utilização de protoco-los de intervenção específicos.

Mahaniet al. (2011) verificaram os efeitos da Terapia AdeliSuit® Modi-ficado no desenvolvimento da função motora grossa em crianças com para-lisia cerebral. Foram selecionadas 35 crianças com paralisia cerebral, dividi-das em três grupos: 12- Terapia AdeliSuit Modificada (MAST), 12- Terapia AdeliSuit (AST) e 12- Tratamento com Desenvolvimento Neuroevolutivo (NDT). Todas as crianças de cada grupo receberam diariamente duas horas de tratamento, durante cinco dias na semana, por um mês. Os participantes foram avaliados na linha de base e após quatro e 16 semanas de intervenção, por meio da Medida da Função Mora Grossa-66 (GMFM-66). Os resultados desta pesquisa mostraram que após quatro semanas houve significativa di-ferença entre os grupos MAST e AST (p= .000), entretanto o mesmo não aconteceu entre os grupo AST e o NDT (p= .272). Após 16 semanas foi observado aumento na pontuação da GMFM apenas no grupo MAST. Não houve diferença estatística entre os grupos AST e NDT (p=.379).

Outro estudo realizado por Bailes et al. (2011) examinaram os efeitos do suittherapy durante um programa de terapia intensivo na função mo-tora em crianças com paralisia cerebral. Foram selecionadas 20 crianças na idade entre 3 a 8 anos, classificadas no nível III segundo a GMFCS. Os participantes foram divididos em dois grupos (controle e experimen-tal), avaliadas pelo Inventário de Avaliação Pediátrica de Incapacidade (PEDI) e pela Medida de Função Motora Grossa-66 (GMFM-66), antes da intervenção e após 4 e 9 semanas de tratamento. Os resultados mostraram que não houve diferença estatística entre os grupos. Entretanto, houve di-ferença intragrupo apenas para o grupo controle. Portanto, o estudo não encontrou evidência do Therasuit na melhoria da função motora grossa das crianças pesquisadas.

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Apesar de ainda não haver estudos que utilizem o Teste de Caminha-da como instrumento de medida para avaliar o desempenho da capaci-dade funcional de crianças com paralisia cerebral antes e após o uso de vestimentas dinâmicas, o presente estudo corrobora com os achados das pesquisas apresentadas e mostra que a Roupa Biocinética se revelou ser eficiente no tratamento destas crianças.

7. CONCLUSÃO

Foi-se observado aumento da capacidade funcional após a utilização da Roupa Biocinética. A criança da pesquisa apresentou aumento da dis-tância percorrida em função do tempo. Portanto, este recurso se mostrou promissor em relação à performance motora e funcional desta criança. Entretanto, ainda se faz necessário novos estudos com ensaios clínicos randomizados a fim de analisar de forma mais detalhada a eficiência des-ta roupa na melhoria da capacidade funcional de crianças com Paralisia Cerebral.

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EFETIVIDADE DA GAMETERAPIA NO DESEMPENHO OCUPACIONAL DE UMA ADOLESCENTE COM PARALISIA

CEREBRAL E DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Abida Amoglia Rodrigues48; Beatriz Caroline Soares Chaves49; Danielle De Fatima

Pereira Ferreira50; Larissa Yasmin Costa Soares51; Tamiris Yrwing Pinheiro Freitas52;

Marcilene Alves Pinheiro53

RESUMO

Paralisia cerebral (PC) pode ser descrita como um grupo de desordens do movimento e da postura que causam limitações nas atividades, atribuí-das a alterações não-progressivas que ocorrem no cérebro fetal ou infan-til. Dessa forma, este estudo apresenta a gameterapia, como instrumento de intervenção, para favorecer melhoras desempenho ocupacional e en-gajamento desta clientela. Mediante a realização do estudo, busca-se de-monstrar as contribuições do uso da gameterapia como para o desempe-nho ocupacional de uma paciente surda. Trata-se de um estudo de caso descritivo de abordagem quanti-qualitativa. Desenvolvido no NEDETA no período de março-junho de 2016, com um sujeito de 12 anos apresen-tando PC hemiplégica, com déficit auditivo. Realizou-se 15 sessões no se-tor da gameterapia com o jogo do Nintendo Wii®- Big Brain Academy--Identify. A usuária obteve um desempenho satisfatório, apresentando melhora nas habilidades cognitivas e motores. Observou-se que durante as sessões, a paciente, foi desenvolvendo tolerância ao recurso e desenvol-vendo melhoras significativas no estabelecimento de diálogos e aquisição de conhecimento de novos sinais. Dessa forma, observa-se a gameterapia foi um recurso favorável a aquisição de expressão verbal e novos sinais de comunicação, contribuindo significativamente nas habilidades cognitivas, 48 Discente do 5º ano do curso de Terapia Ocupacional da Universidade do Estado do Pará (UEPA)49 Discente do 5º ano do curso de Terapia Ocupacional da Universidade do Estado do Pará (UEPA)50 Discente do 5º ano do curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Pará (UFPA)51 Discente do 4º ano do curso de Terapia Ocupacional da Universidade da Amazônia (UNAMA)52 Discente do 4º ano do curso de Terapia Ocupacional da Universidade do Estado do Pará (UEPA)53 Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Docente do curso de Terapia Ocupacional da Uni-versidade do Estado do Pará (UEPA)

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motoras, desempenho ocupacional e no engajamento do paciente que a utiliza no setor de reabilitação.

Palavras-chave: Deficiência Auditiva; Desempenho Ocupacional; Game-terapia

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1 INTRODUÇÃO

A Paralisia Cerebral (PC) é atribuída, de acordo com a Associação Brasileira de Paralisia Cerebral (2012), a distúrbios não progressivos que ocorrem no cérebro em desenvolvimento, geradores de desordens do mo-vimento e da postura, geralmente acompanhadas por alterações na sensa-ção, percepção, cognição, comunicação e comportamento, podendo tam-bém ser acompanhadas por crises convulsivas.

Dentre suas possíveis causas se pode citar as infecções maternas (ru-béola, citomegalovírus e toxoplasmose), hipóxia pré-parto, doença de Von Willebrand, medicações específicas, abuso de álcool e drogas ilícitas, trau-matismos abdominais graves e má formação congênita incluindo má-for-mação no desenvolvimento cortical (LOPES et al, 2013).

Pode-se classificar a paralisia cerebral de acordo com a desordem moto-ra em 4 tipos, segundo a classificação europeia de paralisia cerebral, base-ada no Surveillance of Cerebral Palsy in Europe (SCPE) através da obser-vação da anormalidade do tônus muscular avaliado durante o exame e com o diagnóstico das desordens do movimento presentes, podendo classifica-lo em: espasticidade (bilateral ou unilateral), ataxia, discinesia (distônico e co-reoatetoide) (Associação Brasileira de Paralisia Cerebral, 2012).

Ademais, o indivíduo com PC pode apresentar deficiências associadas, oriundas da presença ou ausência de alterações músculo-esqueléticas, al-terações sensoriais, crises convulsivas, déficit auditivo e/ou visual, altera-ções de comportamento, comunicação e/ou déficits cognitivos (Associação Brasileira de Paralisia Cerebral, 2012).

Tais alterações influenciam diretamente no cotidiano do sujeito, con-siderando que as limitações interferem nas atividades funcionais diárias, sendo as demandas principais nessa população. Deste modo, verifica-se a importância do acompanhamento multiprofissional para o processo de re-abilitação de tais sujeitos, de modo que o acompanhem no seu desenvolvi-mento, principalmente através de abordagem com programas inovadores, essenciais para o engajamento em tal processo.

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Deste modo, destacaremos neste trabalho, o papel da Terapia Ocupa-cional em tal processo utilizando a gameterapia, a qual intervém a fim de promover qualidade de vida nas ocupações do sujeito, estimulando-o em ha-bilidades deficitárias e/ou promovendo adaptações considerando seu perfil.

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1 PARALISIA CEREBRAL E A DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Fundamentalmente, a encefalopatia crônica não progressiva, ou Pa-ralisia Cerebral (PC), se refere a um conjunto de “desordens permanentes do desenvolvimento do movimento e postura atribuído a um distúrbio não progressivo que ocorre durante o desenvolvimento do cérebro fetal ou in-fantil, podendo contribuir para limitações no perfil de funcionalidade” do indivíduo, sendo esta resultante de uma lesão ocorrida nos períodos pré, peri ou pós-natal (BRASIL, 2013, p. 9).

O comprometimento neuromotor desta doença envolve partes distin-tas do corpo, resultando em classificações topográficas específicas e alte-rações clínicas (PRADO, 2013). Ademais, a PC é caracterizada por uma desordem motora que pode estar acompanhada por distúrbios sensoriais, perceptivos, cognitivos, de comunicação ou comportamentais, além de ou-tros agravos secundários como epilepsia e problemas musculoesqueléticos, que incluem distúrbios do tônus muscular, postura e movimentação vo-luntária (BRASIL, 2013).

No que se refere à audição, esta exerce fundamental papel no desen-volvimento do indivíduo. Observa-se, portanto, uma estreita relação entre a Paralisia Cerebral e as perdas auditivas (Reid et al, 2011). A audição “é essencial para a aquisição da linguagem falada, sua deficiência influi no re-lacionamento da mãe com o filho e cria lacunas nos processos psicológicos de integração de experiências, afetando o equilíbrio e a capacidade normal de desenvolvimento da pessoa” (REDONDO; CARVALHO, 200, p. 5).

A deficiência auditiva, ou surdez, refere-se à diminuição da percepção dos sons, a qual traz consigo diversas outras consequências que perpassam a dificuldade de aquisição da linguagem oral, como o atraso intelectual,

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dificuldades de abstração, generalização, atenção, concentração, ra-ciocínio lógico, simbolização, entre outros (BALAROTI; CAMPOS, 2010).

Deste modo, os déficits funcionais decorrentes da PC, associados às consequências advindas da surdez, interferem na interação do sujeito em contextos relevantes de sua vida, o que abrange efeitos deletérios na fun-ção motora e sensorial, assim como déficits no desempenho de atividades rotineiras como rendimento escolar, vestimenta, alimentação, banho, en-tre outras (BRASILEIRO et al, 2009).

A fim de que estes problemas sejam minimizados, o fator terapêutico é preponderante neste contexto, buscando estimular habilidades que fa-voreçam um desenvolvimento próximo aos padrões de normalidade, bem como proporcionar melhorias para o desempenho de suas atividades coti-dianas, interação e comunicação.

Diante de tais características, inúmeras discussões despertam a refle-xão sobre a elaboração e o uso de novas tecnologias que possam colaborar na busca de soluções a curto, médio e longo prazo para a potencialização de habilidades e atenuação de fatores limitantes, tendo em vista a maior autonomia e qualidade de vida destes sujeitos (SILVA et al, 2015).

2.2 GAMETERAPIA

Atualmente, identifica-se uma grande usabilidade dos mais diversos tipos de tecnologia, desenvolvidas para fins de produção, comunicação, lazer, entre outras. Ademais, destaca-se que ao passar por um processo de extensa difusão, os recursos tecnológicos se propagaram em diferentes segmentos da vida cotidiana, como no entretenimento, na saúde, no tra-balho e na educação (BARACHO; GRIPP; LIMA, 2012).

No que se refere à incorporação da tecnologia no âmbito da saúde, esta proporcionou significativos avanços no espaço assistencial, envolvendo os serviços de diagnóstico, tratamento, apoio à comunicação, reabilitação e promoção da saúde (SILVA; FERREIRA, 2009).

Dentre as constantes inovações no âmbito da saúde, encontra-se a in-corporação da Realidade Virtual, sobretudo os jogos eletrônicos, nos servi-ços de reabilitação, tendo em vista a minimização de limitações advindas

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de uma patologia. Tal metodologia assumiu maior relevância com o sur-gimento de videogames com captação dos movimentos corporais, sendo verificada assim sua eficácia terapêutica para o desenvolvimento humano (VANDERLINE, 2010).

Nesse contexto, insere-se a Terapia Ocupacional, que possui a sua atu-ação pautada na crença de que a saúde e a participação social podem ser promovidas por meio do engajamento em ocupações (CRUZ; EMMEL, 2012). Diante disso, o profissional pode traçar um plano terapêutico ocu-pacional baseado nesta premissa, bem como pode desenvolver estratégias para a sua intervenção junto a sujeitos com Paralisia Cerebral e Deficiên-cia Auditiva.

A utilização da Realidade Virtual surge como uma das abordagens que pode ser incluída nos serviços de reabilitação da Terapia Ocupacional, uma vez que Vanderline (2010) afirma que seu uso vem sendo bastante difundido no âmbito da saúde na contemporaneidade, assim como a sua eficácia nesse processo.

Denomina-se por Gameterapia a modalidade assistencial que utiliza de videogames e da Realidade Virtual no processo de reabilitação físico funcional do indivíduo acometido por sequelas permanentes ou transitó-rias. Esta dispõe de inúmeros benefícios, como os significativos ganhos no processamento percepto-visual, controle postural e mobilidade funcional (MONTEIRO, 2011)

Para além dos aspectos motores, Monteiro (2011) salienta que a Ga-meterapia favorece de forma significativa o desenvolvimento e o aperfeiço-amento de habilidades cognitivas básicas, tais como a atenção, concentra-ção, memória, planejamento e cálculo, uma vez que possibilita de forma simultânea o envolvimento de múltiplos estímulos visuais, auditivos e ci-nestésicos, favorecendo uma abordagem mais ampla e precisa das necessi-dades específicas de cada indivíduo.

Monteiro (2011) garantem que a Gameterapia surge como uma das mais inovadoras tecnologias no campo da saúde que pode ocasionar im-pactos favoráveis sobre a neuroreabilitação no que diz respeito ao desem-penho ocupacional, que para Caldas, Facundes e Silva (2011) caracteriza--se como a habilidade de executar rotinas, papéis e tarefas, objetivando o

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autocuidado, a produtividade e o lazer de acordo com as demandas que surgem a partir do ambiente.

À vista disso, a utilização da Gameterapia na prática clínica terapêu-tica ocupacional, pode melhorar significativamente a realização das ocu-pações, que Carleto et al. (2010) descreve que se dividem em Atividades de Vida Diária (AVD), Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD), Descanso e Dormir, Educação, Trabalho, Brincar, Lazer e Participação Social. Além disso, ele engloba os fatores do cliente, as habilidades de de-sempenho, os padrões de desempenho, os contextos de desempenho.

3 OBJETIVO

Mediante a realização do estudo, busca-se demonstrar as contribui-ções do uso da gameterapia como para o desempenho ocupacional de uma paciente com Paralisia Cerebral e Deficiência Auditiva.

4 METODOLOGIA

4.1 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo de caso descritivo de abordagem qualitativa e quantitativa. Teixeira (2005, p.202) coloca que na pesquisa qualitativa o pesquisador procura reduzir a distância entre a teoria e os dados, entre contexto e ação, usando a lógica da analise fenomenológica, que significa a compreensão dos fenômenos pela sua descrição e interpretação.

De acordo com Rodrigues (2007, p.4) na pesquisa do tipo descritiva os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpreta-dos, sem interferência do pesquisador.

Desenvolvido através do estágio do Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (NEDETA) junto a um usuário com paralisia cerebral.

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4.2 PARTICIPANTE

O sujeito do estudo tem 12 anos, gênero feminino, diagnóstico clínico de Paralisia Cerebral, tendo como principais acometimentos Deficiência auditiva e quadro de hemiplegia esquerda. A paciente comunica-se por Libras (ainda em processo de aprendizagem), gestos associativos e pelo apontar, demonstra dificuldades de atenção e concentração, dificultando o processo de aprendizagem e desempenho escolar, atividades de vida diária e comunicação.

4.3 PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS

Antecedendo o período de intervenções propriamente dito no setor de Gameterapia, foi realizada uma avaliação inicial através do software De-senvolve, instrumento utilizado para avaliar e traçar o perfil cognitivo da criança, por meio de 127 telas relacionadas a 19 habilidades cognitivas.

Em seguida, tendo em vista os dados obtidos através da avaliação, foi iniciado o período de intervenções junto à paciente, realizadas duas vezes por semana durante o período de Março a Junho de 2016, totalizando o número de 15 sessões. As intervenções tiveram duração de aproximada-mente 45 minutos.

Para tanto, a fim de contemplar as demandas cognitivas e comunicati-vas da paciente, foram selecionados os jogos: Nitendo Wii- jogo Big Brain Academy (Memória), onde a paciente deveria identificar as gaiolas que possuíam pássaros após uma movimentação aleatória; Xbox 360- Jogo Kinect Adventures, é uma coletânea de minijogos que fazem pleno uso do Kinect, acessório de captura de movimento do Xbox 360. O jogo apre-senta ao todo cinco minijogos diferentes: Vazamentos, Corredeiras, Salão dos Ricochetes, Cume dos Reflexos e Bolha Espacial. Cada um dos mini games suporta até dois jogadores e conta com suas características pró-prias, mas o que predomina é a jogabilidade focada através da captação da movimentação do jogador.

Para a usuária foram escolhidos os minijogos corredeiras e vazamen-to, onde na primeira fase, por meio da movimentação corporal (passos laterais e saltar) a paciente deveria movimentar uma boia ao longo de um

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riacho, coletando o maior número de moedas. Na segunda fase, o jogo va-zamento, a usuária deveria tampar os vazamentos que surgiam aleatoria-mente em um aquário, por meio na movimentação de Membros superiores e inferiores, dependendo da localização do vazamento. O jogo possibilita a uma realidade virtual semi-irmessiva, colocando dentro de subaquático no qual deve evitar o vazamento causado por peixes.

5 RESULTADOS

Na avaliação cognitiva com o software Desenvolve, foram observadas dificuldades principais em seis habilidades, são estas: Percepção de tama-nhos (55%), percepção de sequências (0%), noção de espaço (33%), noção de tempo (0%), percepção de cores (50%), identificação de ações (33%).

Portanto, por meio das intervenções realizadas junto ao setor de ga-meterapia, objetivou-se, em curto prazo, favorecer o estabelecimento do vínculo terapeuta-paciente e o aprimoramento de habilidades cognitivas, tais como a atenção, concentração, compreensão de comandos e tolerân-cia, sinalizados pela genitora como os principais influenciadores de seu desempenho nas suas atividades cotidianas; em médio prazo, estimular o raciocínio lógico para elaboração de estratégia de jogo e maior eficiência no estabelecimento de diálogos por meio da Libras.

Ao longo do período de intervenções, a paciente mostrou-se receptiva ao videogame, demonstrando facilidade para o manuseio do recurso. No primeiro momento, não foi possível obter o resultado esperado na realiza-ção do jogo, uma vez que não houve uma compreensão satisfatória quanto à movimentação exigida e o objetivo dos jogos. Contudo, ao longo das sessões a adolescente demonstrou maior compreensão dos comandos, bem como maior atenção às instruções da facilitadora.

Mediante o jogo de estimulação de aspectos motores, realizados com o Xbox, a paciente apresentou melhor desempenho na movimentação lateral, executado com maior segurança e equilíbrio, assim como a identificação do momento correto para saltar e maior noção de esquema corporal, utilizando os membros superiores e inferiores no momento oportuno para o jogo.

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No jogo a estimulação cognitiva, Big brain Academy- Memória (jogo A), a paciente apresentou, inicialmente, dificuldades para a compreensão do jogo, solicitando constante auxílio das estagiárias. Ao longo das repe-tições, observou-se um melhor desempenho, sendo o jogo desenvolvido de forma independente. Ao término de cada sessão as estagiárias realizavam perguntas sobre os resultados obtidos.

Desta forma, a paciente deveria identificar os números expostos, tem-po de desempenho do jogo e acertos obtidos. Por meio desta prática, ob-servou-se uma melhoria significativa no engajamento do sujeito e sua in-teração. Havendo melhorias significativas no estabelecimento de diálogos e aquisição de conhecimento de novos sinais.

As habilidades de atenção, concentração e tolerância, foram constan-temente estimuladas em ambos os jogos, tendo em vista que estas mos-travam-se como principais influenciadores durante o processo de inter-venção. Sendo assim, ao longo deste período foram observadas melhorias significativas nestes aspectos, influenciando diretamente no desempenho e resultados da paciente durante a realização das atividades.

Nas habilidades identificadas com prejudicadas, segundo o Desenvol-ve, foram alcançados os seguintes resultados:

Habilidade Avaliação Reavaliação

Percepção de tamanhos 55% 89%

Percepção de sequências 0% 50%

Noção de espaço 33% 100%

Noção de tempo 0% 50%

Percepção de cores 50% 75%

Identificação de ações 33% 100%

Diante da evolução apresentada, reafirma-se que a gameterapia como recurso interventivo, auxiliou a usuária na ampliação do vocabulário como na melhora do desempenho ocupacional e nas habilidades cogniti-vas, principalmente nas habilidades referentes à noção de espaço e identi-ficações de ações.

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Santos e Gardenghi (2013) ainda ressaltam que a utilização dos jogos virtuais como aliados no processo terapêutico possibilita o trabalho da socialização e comunicação do paciente, bem como o estímulo a funciona-lidade e melhora na capacidade de concentração.

6 CONCLUSÕES

A Terapia Ocupacional vem se apropriando de tecnologias inovadoras para auxiliar no processo de reabilitação de indivíduos com dificuldades motoras e/ou cognitivas, através da gameterapia e da realidade virtual, objetivando promover a saúde, qualidade de vida e maior autonomia e independência do sujeito na realização de suas ocupações. Nesse sentido, o estudo em questão aponta que o uso da gameterapia se apresenta como um recurso terapêutico importante e eficaz tratamento de paciente com paralisia cerebral hemiplégica e deficiência auditiva, contribuindo signifi-cativamente na evolução de habilidades cognitivas, no equilíbrio estático e dinâmico, como também favorecendo a interação e comunicação, reper-cutindo na melhora do desempenho ocupacional da paciente e no engaja-mento do tratamento de reabilitação.

REFERÊNCIAS

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O BRINCAR COMO ESTRATÉGIA DE ACESSIBILIDADE AO PROCESSO DE INCLUSÃO.

Ricardo Gomes Reis54; Thays Oliveira Reis55

RESUMO

Este projeto delimita à primeira parte de um estudo mais abrangente que ocorre como proposta de pesquisa no Programa de Reeducação Psicomo-tora - PRP2, o qual se desenrola em duas etapas. A etapa inicial trabalha com uma proposta metodológica que se sustenta através de uma pesquisa com abordagem qualitativa e de natureza aplicada, utilizando se de pro-cedimentos bibliográficos: analisando informações de artigos científicos, livros e outros materiais, que destaquem temas correlacionados ao brincar e aos processos de inclusão, para a partir destes levantamentos, elaborar algumas conclusões acerca do assunto. A segunda etapa, a qual será reali-zada em momento posterior à este, adotará como principal procedimento metodológico a pesquisa-ação para elencar respostas em tempo real e pro-por ajustes que sejam capazes de transformar, para melhor, as práticas de atendimento do PRP, adequando estas, através de seus subprogramas, às necessidades da sociedade. O brincar como estratégia de acessibilidade ao processo de inclusão, a qual se sustenta pela contribuição que este pode vir a dar aos profissionais da área da educação quanto as relações de ensi-no e aprendizagem na perspectiva da educação inclusiva, oferecendo um conhecimento científico que destaca observações sobre um assunto impor-tante à práxis do professor que por intermédio desta revisão bibliográfica

54 Licenciado Pleno em Educação Física - UEPA, Mestrando em gestão administrativa e Especialista em Gestão de Empresas - Universidade Lusófona de Portugal, Especialista em Educação Especial - CPÓS/ESAMAZ e Treinamento Desportivo - UEPA. Licenciada Plena em Educação Física - UEPA, Mestra em Artes - UFPA, Especialista em Educação Especial - CPÓS/ESAMAZ e Pedagogia da Dança - FIBRA.55 Programa vinculado à Coordenadoria de Educação Especial da Secretaria de Estado de Educação do Pará, o qual oferece atendimento à qualquer pessoa da comunidade estudantil, que apresente alguma deficiência, transtorno, distúrbio ou disfunção. As suas práticas de atendimento são reconhecidas como complemento e em alguns casos como suplemento ao ato educacional.

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poderá se apropriar de informações que sejam capazes de facilitar o alcan-ce das potencialidades das crianças durante os momentos de aula. Identi-ficar como se estabelecem as conexões de interação por intermédio do ato de brincar, utilizando as como meio de facilitação à inclusão, é o objetivo principal desta pesquisa. O estudo toma como base as teorias de Vigostki e as publicações sobre a inclusão para traçar paralelos que geram entendi-mentos claros sobre a importância do brincar, das brincadeiras e brinque-dos para a criança em quanto ser humano que necessita de relações de in-teração e convívio social para melhor desenvolver suas funções. O estudo aponta ainda para o papel do professor, que por intermédio das atividades do brincar é capaz de se conectar com o universo infantil, conseguindo ser reconhecido pelas crianças como mais um integrante do mundo abstra-to, comandado pelo poder da imaginação, onde as associações do real e do imaginário se fundem dando vasão à um estado de permeabilidade ao aprendizado.

Palavra-chave: Brincar; Experiências; Inclusão.

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INTRODUÇÃO

A base da pesquisa bibliográfica deste estudo se orienta nas teorias postuladas por Vigotski e reforçadas por outros pesquisadores, para en-tender a importância do brincar como elo capaz de promover a facilitação nas atividades de interação e construção de aprendizagem, e ao mesmo tempo compreender como estas conseguem interferir nas aquisições de no-vas competências.

Para Dornelles (2001), o brincar é uma atividade predominante da infância, e tem despertado o interesse da ciência por conta das suas pecu-liaridades, que geram intervenções diretas sobre os níveis de desenvolvi-mento, principalmente nos processos de educação e de aprendizagem.

Brincando as pessoas se relacionam sem preconceitos, valorizam a participação do outro como essencial ao contexto proposto e as suas res-postas de interação. A cooperação na criação, ritmo e regras fazem com que as crianças se preparem para encarar aquelas situações vitais que lhes vão permitir definir sua própria identidade.

Zapparoli (2014, p. 21) afirma que, “no brincar, a criança interage com o meio e muitas vezes com o outro. Neste sentido aprende como ser e agir no mundo [...] aprende a partilhar experiências e necessidades”.

Quando brinca a criança desenvolve características de identidade, ga-nha autonomia, melhorando a sua autoestima e socialização, sentindo se cada vez mais capaz de participar das interações sociais.

REFERÊNCIAL TEÓRICO

Dentro do contexto infantil o brincar pode ser destacado como sendo a atividade mais praticada pela criança ao longo de todas as etapas da sua formação, contribuindo preponderantemente para o amadurecimento e desenvolvimento destas.

As crianças precisam brincar, independentemente de suas condições físicas, intelectuais ou sociais, pois a brincadeira é essencial a sua vida. O brincar alegra e motiva as crianças, juntando as e dando lhes oportunidade de ficar felizes, trocar experiências, ajudarem-se mutuamente. (SIAULYS apud AMORIN, 2010, p. 6, grifo do autor).

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Segundo Vigotski apud Zanella (1994), “todas as funções psicológi-cas superiores56 resultam da reconstrução interna de uma atividade social partilhada”.

As brincadeiras proporcionam ambientes variados que oferecem re-gras as quais por intermédio da diversão passam a ser imitadas e poste-riormente entendidas, juntamente com as situações problema que se apre-sentam associadas a possibilidades de escolha e tomadas de decisões.

Durante a brincadeira tudo é possível, e o aprender é prazeroso. Nes-te momento as crianças se disponibilizam mais as relações de interação, ficam sensíveis às trocas e as abstrações, podendo ser auxiliadas em suas associações entre os mundos dos acontecimentos reais e do faz-de-contas. O espírito infantil possui uma natureza alegre que o coloca sempre apto à brincar, não importando o tamanho do desafio, ou da mobilização propos-ta pelos demais atores que participam daquele contexto.

Contribuindo com este pensamento, Trinca e Vianna (2014) ratificam, que ao utilizar a brincadeira como estratégia de ensino, o professor pro-porciona aos educandos possibilidades destes descobrirem tudo o que está a sua volta, além desta também, interferir positivamente em favor da so-cialização e de uma maior motivação no ensino aprendizagem.

Independentemente da condição típica ou atípica da criança, os aprendizados advindos dos estímulos do brincar são de utilidade concreta e capazes de promover inclusão de saberes, uma vez que, conseguem cor-relacionar situações problema através de associações, criando um paralelo entre o mundo real e o imaginário, respeitando as limitações, individuali-dades e diferenças.

As respostas observadas por Barboza e Volpini (2015) a despeito da abstração do mundo infantil, mostram claramente que “a essência do faz--de-conta no universo do brincar é relativamente interligada às práticas de convívio social” e própria de todas as crianças. Prestes (2011) destaca que a brincadeira é um ato espontâneo que surge a partir do brincar e que pode se utilizar do brinquedo para materializar elementos do imaginário,

56 São funções mentais que caracterizam o comportamento consciente do homem - atenção voluntária, percepção, a memória e o pensamento. Se constituem por meio das interações sócio culturais dos indivíduos da mesma espécie, principalmente aqueles mais experientes.

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mas que carrega em sua essência um significado que surge de uma necessi-dade de interação destas crianças com o mundo dos adultos (a sociedade).

As atividades que derivam do ato de brincar são capazes de potencia-lizar competências que contribuirão para desenvolver um repertório de experiências múltiplas, que auxiliarão determinantemente na tomada de decisões da criança com ou sem limitação de qualquer espécie, quando está vivenciar circunstâncias semelhantes às já experimentadas, ou seja, são construções que promovem aprendizagens capazes de serem utilizadas em outros contextos.

A brincadeira de faz-de-conta é uma atividade séria em que a criança aprende e se desenvolve. Ao criar uma situação imaginária, desenvolve seu pensamento abstrato, aprende regras sociais, educa sua vontade. Por isso, hoje, quando as crianças estão sendo cada vez mais cedo inseridas em espaços coletivos de educação, um grande desafio surge para todos que trabalham em creches e pré-escolas. (PRESTES, 2011, p. 4).

A experiência é a aquisição de conhecimento que surge a partir de experimentações vividas, percebidas e apreendidas. São associações que ocorrem durante o aprendizado e que servirão como base para outras ex-periências que se apresentarão em novos contextos criados a partir das interações sociais. Esse entendimento justifica a necessidade do brincar como estimulação ao desenvolvimento das funções executivas57.

São na verdade transposições ou flexibilidades de aprendizado, uma ponte associativa que facilita a construção permanente do repertório de competências. Para Vigotski (1984), o estado de sensibilização à aquisição de novos aprendizados tem relação direta com os processos de estimulação promovidos por dois momentos básicos formados por uma soma de estí-mulos específicos, os quais denominou de zonas de desenvolvimento real e potencial.

Segundo Zanella (1994) a zona potencial descreve melhor o nível de desenvolvimento da criança quando comparada a zona real, uma vez que esta última apenas indica o nível de comportamentos, ou funções psicoló-

57 Funções relacionadas com a capacidade de antecipação, planificação, controle de impulsos, inibição de respostas inadequadas, flexibilização do pensamento e ação propriamente dita.

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gicas superiores que a criança já está apta a realizar sozinha. À distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento poten-cial da criança Vigotski denominou de Zona de Desenvolvimento Proxi-mal, ou simplesmente ZDP.

A ZDP representa uma dimensão que agrupa e define funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação. São funções em estado embrionário com um imenso potencial futuro, mas que no estágio presente apresentam pequena ativação, uma vez que dependem de impulsos adequados para então amadurecerecerem.

Vigotski (1998), chama a atenção ainda para a importância da lingua-gem dentro deste contexto de experimentações, trocas e aprendizagem; destacando está como um instrumento de interação e acesso ao mundo simbólico. Para ele os processos de formação são dinâmicos e ocorrem por intermédio de experiências interativas, momento onde as crianças inter-nalizam o que conseguem experimentar do mundo.

Segundo Tosta (2012), o processo de mediação da linguagem é para Vigotski a chave de ignição que estabelece as conexões para a construção da aprendizagem, sendo está permanentemente influenciada pela cultura.

RESULTADOS

Pelas perspectivas da Política Nacional da Educação Especial Inclu-siva, Brasil (2008), nenhuma pessoa deve ser tratada como incapaz, to-dos precisam ter as mesmas oportunidades de aprender, a partir das suas aptidões e capacidades. Precisam ser estimuladas a alcançarem as suas potencialidades.

Conforme esta linha de entendimento pode se pensar no brincar como uma ótima ferramenta de inclusão, não somente de processos educacio-nais, mas também de conteúdos diversos. As abordagens utilizadas pelas práticas de brincadeiras geram impulsos que demandam respostas múlti-plas das zonas de desenvolvimento das crianças, garantindo a elas ganhos em níveis potenciais, Vigotski (2008).

Ambientes escolares inclusos são fundamentados em uma concepção de identidade e diferenças, em que as relações entre ambas não se ordenam em torno de oposições binárias (normal/ especial,

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branco/ negro, masculino/ feminino, pobre/ rico). Neles não se elege uma identidade como norma privilegiada em relação as demais. (ROPOLI et al., 2010, p. 7)

Mesmo tendo o autor, dado um destaque as relações de identidade dentro do ambiente escolar, estas práticas não acontecem apenas dentro deste contexto. São comportamentos segregadores que ocorrem a todo momentos emvários locais. A brincadeira valoriza o todo e recebe influên-cia de cada detalhe do contexto ao qual se aplica, e cabe ao professor uti-lizar as melhores estratégias deste brincar como forma de acessibilidade à construção e transformação da aprendizagem.

Dentro da brincadeira e das interações proporcionadas pelo brincar, também são comuns atitudes dessa natureza, uma vez que são reflexos de vivências e transposições de aprendizado sendo copiadas de outras práti-cas já experimentadas.

Estes comportamentos são respostas da zona de desenvolvimento real ou efetiva da criança, fazem parte de aprendizados que segundo explica Zanella (1994), ocorreram no passado, mas que podem ser iminentemente modificados por novos estímulos prospectivos.

[...] o nível de desenvolvimento real caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento mental prospectivamente. Isso significa que a zona de desenvolvimento proximal leva o aluno para frente. Dá um impulso em sua cognição. Enquanto a zona de desenvolvimento real, apenas reproduz conceitos. (BARRA, 2014, p. 765).

O brincar, as brincadeiras e os brinquedos fazem parte de um uni-verso que se constrói por meio de interações e símbolos que se interligam expressando sentimentos, traumas e desejos como reflexos de aprendiza-gens. Melo e Valle (2005), embasam este pensamento acrescentando que o brinquedo é um mecanismo que proporciona a exteriorização de medos e angústias e atua como uma válvula de escape para as emoções.

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CONCLUSÕES

A importância da brincadeira no desenvolvimento de todas as facul-dades humanas, e seu papel determinante como construtora de experiên-cias elementares a formação da aprendizagem, a promovem a um campo de atuação interdisciplinar; onde todas as áreas do conhecimento estão aptas à atuarem com ela como meio de acessibilidade.

A melhor forma de oportunizar conteúdos por meio das brincadeiras é valo-rizando as experiências trazidas pelos participantes e a partir destas, estimular interações que sejam capazes de incentivá-los às progressões de aprendizado.

[...] As vivências significativas proporcionadas pelo ambiente, seja nas relações interpessoais, nas atividades escolares ou nos aprendizados de diversas ordens, produzem repercussões na circulação cerebral que poderá, como consequência, modelar se ou remodelar se dentro de certos limites, respeitando a plasticidade do sistema nervoso (CYPEL apud BELISÁRIO FILHO e CUNHA, 2010, p. 27).

Em qualquer momento de intervenção prática é de suma importância o profissional que se encontra nesta atuação avaliar e planejar estímulos considerando todos os elementos que estão presentes no ambiente para que desta maneira possa fazer escolhas conscientes sobre quando e como oportunizar as experiências coletivas.

O espaço de aprendizagem, bem como os impulsos empregados pelas práticas do brincar precisam propiciar oportunidades de aquisições diver-sas, sejam novas ou complementares, estimulando os ganhos da autonomia da criança frente ao contexto social com o qual esteja se relacionando. É importante destacar que tudo interfere na percepção do estímulo e conse-quentemente na forma como serão construídas as respostas de interação.

REFERÊNCIAS

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207

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208

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209

A TECNOLOGIA MOTION CAPTURE APLICADA A USUÁRIOS DE PRÓTESES: UMA REVISÃO SISTÊMICA.

Gabriel de Souza Prim58; Milton Vieira38; Victor Nassar.38

RESUMO

Indivíduos que utilizam próteses nos membros inferiores podem apresen-tar dificuldades de equilíbrio e na realização de marcha, dependendo do tipo de material utilizado, modelo anatômico ou decorrente do próprio processo de adaptação. Métodos e instrumentos de análise da eficiência das próteses podem contribuir com estudos sobre as TECNOLOGIA AS-SISTIVAe a respectiva promoção da qualidade de vida dos usuários. Com isso, a tecnologia Motion Capture pode auxiliar na avaliação do desem-penho das próteses, pois permite identificar precisamente as limitações que dificultam o domínio do equilíbrio estático e a marcha dos usuários. Assim, este artigo aplica uma revisão sistemática, com o objetivo de des-crever o cenário de publicações acadêmicas sobre a utilização do Motion Capture para avaliação de equilíbrio de usuários com próteses.

Palavras-chave: Próteses, Motion Capture, Revisão Sistemática.

58 Universidade Federal de Santa Catarina, PPGDesign, Santa Catarina.

210

1. INTRODUÇÃO

Na área da ergonomia, as TECNOLOGIA ASSISTIVAfazem relação a qualquer tipo de dispositivo médico capaz de auxiliar pessoas com deficiên-cias na realização de determinadas atividades (CARMELI & IMAM, 2014) e no suporte às limitações funcionais, atuando na correção, reabilitação ou modificação da estrutura ou função do corpo humano (WHO, 2011).

Assim, as TECNOLOGIA ASSISTIVAem reabilitação possibilitam auxiliar na promoção em saúde de pacientes. Nesta pesquisa, tem-se as próteses como foco das investigações entre as TECNOLOGIA ASSIS-TIVAutilizadas para a reabilitação de indivíduos amputados. Para um usuário de uma prótese, há um processo de reabilitação e readaptação, necessários para a independência do indivíduo, para o desempenho de uma marcha equilibrada e para a realização de atividades cotidianas com qualidade, reinserindo-o no convívio social (BOCCOLINI, 2000; CARVA-LHO, 1999).

Ressalta-se que o indivíduo amputado de membro inferior pode apre-sentar dificuldades na manutenção do equilíbrio estático (BARAÚNA et al., 2006), pois o padrão de marcha após uma amputação depende da es-trutura perdida e do potencial de controle (BARAÚNA et al., 2003; RA-MOS & SALLES, 2005). Com isso, diferentes fatores influenciam no pro-cesso de adaptação à prótese, como a seleção dos materiais e tecnologias utilizadas no produto, os elementos anatômicos e funcionais, além dos tipos de atividades realizadas pelos indivíduos, que podem favorecer ou dificultar o uso da prótese.

Dessa forma, verifica-se a importância de efetuar uma avaliação ergo-nômica das próteses, considerando as necessidades dos usuários amputa-dos e como os produtos cumprem sua função em termos de desempenho. Neste contexto, a tecnologia de captura de movimentos Motion Capture (MoCap) atua como uma ferramenta de mensuração do equilíbrio dos usuários de próteses em marcha, do controle da postura ereta e da capaci-dade de realização de diferentes atividades com eficiência.

Assim, esta pesquisa objetiva realizar uma análise do cenário de pu-blicações acadêmicas sobre a aplicação da tecnologia Motion Capture para avaliação de equilíbrio de usuários com próteses. Para tanto, realiza-se

211

uma revisão sistemática com o intuito de expor diferentes métodos, técni-cas e estudos que complementem ou potencializem os testes de equilíbrio para usuários de próteses.

2. A TECNOLOGIA MOTION CAPTURE COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA MARCHA DE USUÁRIOS DE PRÓTESES

A marcha é um dos fatores que pode se utilizado para avaliar o equi-líbrio do indivíduo, incluindo a capacidade de controlar a postura ereta sob uma variedade de condições e situações, bem como a capacidade deste indivíduo perceber suas limitações de estabilidade (BERG et al., 1992). Para a manutenção deste equilíbrio é necessária a integridade dos elemen-tos anatômicos e funcionais do indivíduo (MACHADO, 1993), que podem ser auxiliados com a utilização de próteses.

A aplicação da tecnologia Motion Capture como instrumento de aferi-ção permite uma observação e comparação detalhada entre indivíduos a fim de identificar precisamente as limitações que dificultam o domínio do equilíbrio estático. Como o sistema possibilita a captura dos movimentos de um objeto real e transfere a informação para o meio digital, pode-se realizar uma avaliação comparativa do equilíbrio e marcha de usuários de próteses.

Em termos de funcionamento técnico, o sistema de Motion Capture é um meio de oferecer coordenadas tridimensionais de um objeto, indivíduo ou qualquer elemento físico (PARK et al., 2013). O indivíduo a ter seus movimentos capturados possui marcadores reflexivos fixados em seu cor-po (KITAGAWA & WINDSOR, 2008; VICON, 2014), orientados pelas estruturas anatômicas do indivíduo (KITAGAWA & WINDSOR, 2008) e alocados nas posições dos ossos e articulações de cada um (figura 1a).

As câmeras captam a reflexão da luz nos marcadores e enviam as in-formações para o software, que realiza a triangulação dos dados, identi-ficando o posicionamento em coordenadas tridimensionais e calculando as rotações das articulações (KITAGAWA & WINDSOR, 2008; PARK et al., 2013). O software reconstrói um esqueleto (figura 1b), mantendo as proporções do indivíduo, permitindo a extração e comparação dos dados de cada um.

212

O referido processo é utilizado em diversas áreas como a medicina, a robótica e na produção de filmes (KITAGAWA & WINDSOR, 2008; DUTTA, 2012; CLARK et al., 2012). Esta interdisciplinaridade é apon-tada por profissionais em saúde e organizações como importante para a produção de conhecimento para remodelar sistemas e processos em saúde e promover segurança e qualidade de vida aos pacientes (CARAYON et al. 2014).

Figura 1. Configuração de marcadores no corpo do ator (1a) e esqueleto humano simplificado (1b).

3 REVISÃO SISTEMÁTICA

A revisão sistemática de literatura sobre o tema e o registro de concen-tração foram realizados seguindo os seguintes passos: Escolha das bases de dados, determinação do algoritmo de busca, realização da busca, filtra-gem da busca, catalogação da busca filtrada, sistematização da bibliogra-fia e apresentação dos resultados.

3.1 ESCOLHA DAS BASES DE DADOS

Foram escolhidas cinco bases de dados internacionais após observar-

213

-se que estas bases possuem abrangência suficiente para reunir pesquisas relacionadas com tecnologia de ponta (como o Motion Capture) e pesqui-sas relacionadas com medicina e fisioterapia (amputação e reabilitação). As bases escolhidas foram: Scopus, SciELO, Science Direct, IEEE Xplo-re, ACM Digital Library.

3.2 DETERMINAÇÃO DO ALGORITMO PARA PESQUISA SISTEMÁTICA

O algoritmo de busca, escrito no idioma inglês, necessariamente deve abordar próteses, captura de movimentos ou outros processos relaciona-dos com a captura e/ou análise do equilíbrio ou caminhada, pois estas ava-liações podem ser relacionadas com outros equipamentos para a captação de dados relevantes. O algoritmo utilizado foi: “Prosthesis” or “prosthe-ses” + “balance” or “gait analysis” + “Motion Capture”.

3.3 REALIZAÇÃO E FILTRAGEM DA BUSCA

A busca foi realizada entre os dias 19/08/2014 e 26/08/2014 nas bases de dados apontadas. Os resultados foram imediatamente filtrados para apenas artigos publicados entre 2009 e 2014 que disponham seus resumos gratuitamente na internet. Os artigos restantes tiveram seus resumos li-dos, realizando novo filtro para manter apenas artigos relacionados com Próteses e/ou Captura de Movimentos.

3.4 CATALOGAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO DA BUSCA FILTRADA

A catalogação dos artigos foi realizada com utilização do Software livre Zotero, permitindo rápida tabulação de dados relevantes de cada um dos artigos selecionados como autores, ano da publicação e título. Os da-dos foram sistematizados, explicitando as palavras-chaves para o aponta-mento das mais utilizadas.

4 RESULTADOS

A catalogação, a sistematização e a exposição dos indicadores biblio-métricos culminaram na Tabela 1, que aponta os artigos encontrados pelo algoritmo de busca e que cumpriam as exigências dos filtros

214

Tabela 1 - Resultados da Revisão SistemáticaTítulo Autores Journal Ano

Analyzing and Visualizing Jump Performance Using Wireless BodySensors

Pradhan, Gaurav Trans. Embed.

Trans. Embed. Comput. Syst..

A novel approuch to reducing number of sensing units for wearable gaitanalysis systems

Salarian et al. TBME

Control of stair ascent and descent with a powered transfemoralprosthesis

Lawsno et al.Trans. NeuralSyst. Rehabil. Eng.

Comparison of the International Committee of the Red Cross foot withArch Phys Med

the solid ankle cushion heel foot during gait: A randomized double-blind Turcot et al.

Rehabilstudy

Impact on the biomechanics of overground gait of using an ‘Echelon’ Clinicalhydraulic ankle–foot device in unilateral trans-tibial and trans-femoral De Asha et al.

Biomechanicsamputees

A passive movement method for parameter estimation of a musculo- Yu et al. Comput. Methods

skeletal arm model incorporating a modified hill muscle model Prog. Biomed.

A preliminary investigation of powered prostheses for improved walking Lawson et al. Conf. of the Eng.

biomechanics in bilateral transfemoral amputees. in Med. Bio. Soc.

A Data-driven Appearance Model for Human Fatigue Kider et al. SIGGRAPHProspective study of the effect on gait of a two-component total ankle Choi et al. FAI

replacement

Design and application of gait analysis system for prosthesis wearers Zhang, Li & i-CREATe

Shen

An electromyogram-driven musculoskeletal model of the knee to Manal & J. Biomech. Eng.

predict in vivo joint contact forces during normal and novel gait patterns Buchanan

Stepping strategies for regulating gait adaptability and stability Hak et al. J. Biomech.

Cross-validation of a portable, six-degree-of-freedom load cell for use Koehler et al. J. Biomech.

in lower-limb prosthetics research

Amputee Independent Prosthesis Properties-A new model for Major et al. J. Biomech.

description and measurement

Changes in Gait Following the Scandinavian Total Ankle Replacement Brodsks et al. JBJSEffects of total hip replacement on knee joint motion Jiang et al. CRTER

Kinematic and kinetic analysis of the knee joint before and after a PCL ApostolopoulosJ. Long. Term. Eff.

retaining total knee replacement during gait and single step ascent et al. Med Implants.A joint normalcy index to evaluate patients with gait pathologies in the Shin et al. J. Mech. Sci.

functional aspects of joint mobility Tehcnol.

Changes in in vivo knee loading with a variable-stiffness intervention Erhart et al. J. Orthop. Res.

shoe correlate with changes in the knee adduction moment

215

Design and development of ankle-foot prosthesis with delayed release Mitchell et al. J. Rehabil. Res.

of plantarflexion Dev.

Modeling effects of sagittal-plane hip joint stiffness on reciprocating gait Johnson et al. J. Rehabil. Res.

orthosis-assisted gait Dev.

Transtibial prosthetic suspension: Less pistoning versus easy donningGholizadeh et al.

J. Rehabil. Res.and doffing Dev.(iv) Enhancing the safety and reliability of joint replacement implants Jennings et al. Orthop TraumaChallenges in human body mechanics simulation Rasmussen Procedia IUTAMImplicit methods for efficient musculoskeletal simulation and optimal Van den Bogert Procedia IUTAM

control et al.

A Method for Sports Shoe Machinery Endurance Testing: Modification Procediaof ISO 22675 Prosthetic Foot Test Machine for Heel-to-toe Running Starker et al.

EngineeringMovement.

Centre of pressure output in a kinematically driven finite element Hannah et al. Procedia

footstrike model Engineering

Monitoring sprinting gait temporal kinematics of an athlete aiming for Lee et al. Procedia

the 2012 London Paralympics Engineering

Development of a full body balance model using an artificial neural Trevino et al. ICSMC

network approach

Biomechanical models in the study of lower limb amputee kinematics: A Kent & Franklyn-J. Prosthet. Orthot.

review Miller Int.

Kinematic gait adaptations in unilateral transtibial amputees during Barnett et al.J. Prosthet. Orthot.

rehabilitation Int.

IMU-based joint angle measurement for gait analysis Seel, Raisch & Sensors

Schauer (Switzertland)

Data acquisition and motion simulation of lower limb Geng et al. J. Med. Biomech.

216

Gráfico 1 - Número de Publicações Selecionadas por Ano.

Gráfico 2 - Número de Publicações selecionadas por Base de Dados.

A quantidade de artigos encontrados abordando o tema da análise de equilíbrio e marcha é expressiva. Tradicionalmente, estas análises são feitas a partir da observação do profissional, sem ferramentas quantitati-vas para isto. Por isso, observa-se o número de publicações nesta área nos últimos anos. Ferramentas que registram precisamente a movimentação de um indivíduo como o Motion Capture, são verdadeiras portas para uma análise mais precisa da posição e movimento do paciente. Sendo assim, considera-se relevante discutir o uso do MoCap como uma mídia entre o profissional da saúde e o paciente.

Nota-se um crescente interesse em encontrar ferramentas cada vez mais precisas para avaliar a movimentação de pacientes. Sendo assim, a pesquisa com tecnologia de captura de movimentos para uma observação mais precisa tem sua relevância apoiada no contexto atual da ciência, con-forme apontada pelo registro de concentração e pesquisa sistemática.

É importante ressaltar que este levantamento foi finalizado em Se-tembro de 2014. Nota-se que a base de dados Scopus apontou maior nú-mero de artigos relacionados com as palavras apontadas no algoritmo de busca, revelando-se uma base de dados diversificada, com boa quantidade

217

de artigos relacionando próteses, tecnologias de captura, análise de mar-cha e equilíbrio.

5 CONCLUSÃO

A revisão sistemática e registro de concentração permitiram uma ob-servação do contexto em que a utilização da tecnologia Motion Capture para a avaliação do desempenho de próteses está inserida, sob a ótica de análise do equilíbrio do usuário.

A revisão sistemática permitiu observar a falta de métodos que com-plementem ou potencializem os testes de equilíbrio utilizados até hoje sob observação estruturada. A partir desta pesquisa, portanto, identifica-se esta lacuna, a fim de oferecer um caminho para a exploração de métodos precisos de aferição de dados referentes ao equilíbrio de indivíduos.

Os artigos encontrados foram relevantes para a determinação do di-recionamento dos futuros trabalhos, apontando os tipos de estudos rela-cionados à tecnologia de Motion Capture, oferecendo melhor precisão na análise do equilíbrio de usuários com próteses.

Assim, pode-se contribuir para a comunidade científica não somente nos propósitos dessa pesquisa, mas destacando a importância de produ-zir conhecimento cientifico sobre o tema. Ressalta-se ainda a ausência de publicações oriundas de países em desenvolvimento. Nesse contexto, são esperadas novas iniciativas e fomentos que viabilizem estudos de avalia-ção de equilíbrio de usuários com próteses com a aplicação de diferentes tecnologias.

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219

VISAPP: UM APLICATIVO MÓVEL PARA AUXÍLIO DE LEITURA, RECONHECIMENTO DE OBJETOS, LOCALIZAÇÃO E

ORIENTAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Wagner Augusto Aranda Cotta; Paulo Gomes Saloto; Dayanne Lopes Vieira; Laura

Abreu Martins; Luis Antônio da Silva; Rodrigo Varejão Andreão; João Marques

Salomão; Luiz Cláudio Locatelli Ventura; Claudenir Jacinto de Melo.

RESUMO

Este trabalho objetiva descrever o desenvolvimento de um protótipo vol-tado para atender as necessidades básicas de pessoas com deficiência visu-al. A solução proposta foi resultado de uma pesquisa operacionalizada por meio de entrevistas em institutos filantrópicos de amparo às pessoas com deficiência visual. As entrevistas foram realizadas em dois locais: no Insti-tuto Braille, localizado na capital capixaba, e na União dos Cegos, no mu-nicípio de Vila Velha, e teve como público alvo pessoas cegas e com visão reduzida. Ao todo foram entrevistadas 24 pessoas, com diferentes idades, sexo e rotinas, onde foi possível listar as maiores dificuldades enfrentadas no dia a dia e propor soluções viáveis. O protótipo proposto, denominado Visapp, procura amenizar algumas das dificuldades levantadas no estudo realizado e consiste em um aplicativo para smartphone capaz de atuar como lupa eletrônica, realizar digitalização e leitura de textos, reconhecer objetos por meio da câmera e auxílio na localização e orientação, trazen-do informações em textos que são lidos pelo Talkback ou outro leitor de preferência do usuário.

IFES-INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

220

INTRODUÇÃO

O aumento pelo interesse de ajudar e melhorar a acessibilidade para pessoas com deficiência visual cresceu razoavelmente ao longo dos anos, tanto no meio social, quanto no meio tecnológico. A tecnologia assistiva é incentivada através de leis em alguns estados, ou programas sociais, como calçadas padronizadas, e placas de sinalização em braile, bem como no uso de computadores e smartphones com aplicativos voltados para pessoas com baixa visão ou mesmo cegueira total. Entretanto, mesmo com a me-lhoria na acessibilidade, as pessoas com deficiência ainda possuem muita dificuldade no quesito orientação e mobilidade, pois a acessibilidade não está presente em todos os lugares, como nas ruas e calçadas, assim como em lojas e supermercados, e segundo porque esses meios que facilitam sua locomoção não são suficientes para minimizar o medo da queda, ou prever um obstáculo à frente.

Este artigo visa ocupar uma lacuna existente nas ferramentas atuais implementado uma metodologia que permita capturar a experiência de usuários com deficiência visual no uso de smartphones e desenvolver um protótipo de aplicação com ferramentas que possam trazer soluções reais para as dificuldades encontradas no cotidiano deste público.

REFERENCIAL TEÓRICO

É sabido que a visão proporciona ao indivíduo informações com ra-pidez e precisão, antecipa e coordena movimentos e ações e caracteriza por 80% do relacionamento com o mundo. Portanto, pode-se dizer que são bastante significativas as implicações da deficiência visual na vida de uma pessoa. Ressalta-se ainda que a pessoa com a visão debilitada tem prejudicada a sua compreensão do mundo e influencia negativamente na qualidade da troca de informações com o meio em que se encontra, o que causa, por diversas vezes, a privação de vivências, limitação de movimen-tos e uma percepção errônea de sua orientação espacial.

Segundo Sanches, “a visão tem como uma de suas principais funções ajudar a integrar diferentes modalidades sensoriais e compreender as várias informações que recebemos dos sentidos. Ela rapidamente unifica as diferentes sensações e põe relação de um sentido com o outro” (apud

221

ARIAS et al., 2004). Desta forma, com a ocorrência de uma disfunção neste sistema, são ocasionados prejuízos na habilidade de execução de ta-refas rotineiras exercidas de forma convencional, só permitindo sua reali-zação de formas alternativas.

Como forma de superar as dificuldades causadas pela deficiência, são desenvolvidas tecnologias que auxiliam as atividades de pessoas com de-ficiência visual. Além do sistema Braile, existe o uso de auxílios ópticos como textos com letras ampliadas, além de equipamentos como lentes, lupas, bengala branca e outras TECNOLOGIA ASSISTIVA(HERSH & JOHNSON, 2010).

PLATAFORMA ANDROID

A plataforma Android é um sistema operacional baseado em Java e é executada no Linux. O sistema, além de muito leve, possui muitos re-cursos, inclusive de acessibilidade, como TalkBack. Os aplicativos para esta plataforma são desenvolvidos na linguagem Java e contam com um imenso suporte fornecido pela empresa Google, criadora da plataforma (BURNETTE, 2009). Um ponto pertinente deste sistema é a possibilida-de de acesso a qualquer parte do Hardware, isto é, o desenvolvedor tem a possibilidade de criar aplicativos que façam discagem, usem o GPS e até mesmo a câmera, que, neste caso, será utilizada para este trabalho.

Com a popularização dos smartphones na última década, é crescente o número de pessoas com deficiência visual que possuem ou utilizam o smartphone, e um cego que não possui smartphone tem interesse em par-ticipar e usufruir desses avanços tecnológicos (CROSSLAND, SILVA & MACEDO, 2014).

OBJETIVOS

Este projeto possui como objetivo geral a produção de um aplicativo para smartphone que possa auxiliar a orientação e mobilidade de cegos e pessoas com baixa visão, provendo informações úteis e diretas ao usuário. Com isto, busca-se:

• Entender a familiaridade de pessoas com deficiência visual com

222

tecnologias móveis (celulares, smartphones e tablets);• Entender as peculiaridades no uso de smartphones por estas pes-

soas;• Entender as necessidades deste público em relação a orientação e

mobilidade;• Propor o design de um aplicativo que possa solucionar as necessi-

dades encontradas;• Implementar a solução projetada e validar seu funcionamento.

METODOLOGIA

A pesquisa realizada foi de natureza qualitativa, de caráter explora-tório, com levantamento de dados junto às pessoas com deficiência visual por meio de entrevistas semiestruturadas. Posteriormente, o protótipo de aplicação foi desenvolvido com base na análise dos dados obtidos nas en-trevistas e na revisão bibliográfica. Cada etapa do procedimento metodo-lógico está escrito nas seções a seguir.

COLETA DE DADOS

As entrevistas foram realizadas no Instituto Braille, localizado em Vitória-ES, e na União dos Cegos, no município de Vila Velha-ES, e teve como público alvo pessoas cegas e com visão reduzida. Esta contou com a participação de 24 pessoas, com faixas etária variante entre 22 e 80 anos, ambos os sexos masculino e feminino foram entrevistados. Além da diver-sidade da idade, buscou-se também uma heterogeneidade face à rotina dos pesquisados.

De acordo com os dados coletados por meio das entrevistas, foi pos-sível estudar e listar os principais desafios enfrentados no dia a dia, bem como encontrar uma característica comum dentro do grupo para que seja proposto um protótipo como solução mais viável. Vale mencionar que to-dos os participantes da pesquisa concordaram com o Termo de Consenti-mento Livre e Esclarecido que possibilitou a divulgação deste trabalho.

223

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Dentro do grupo dos entrevistados, pode-se identificar que 50% pos-suía smartphone. Das pessoas que não possuíam o dispositivo, 70% de-clararam não haver problema em adquiri-lo caso, existisse alguma ferra-menta que, de forma efetiva, o ajudasse com a deficiência. Por sua vez, o grupo remanescente, declarou deliberadamente não haver qualquer inte-resse, seja por motivos financeiros, não conhecimento do equipamento ou, simplesmente, falta de interesse na tecnologia.

A maior dificuldade enfrentada por pessoas com deficiência visual na região metropolitana de Vitória trata-se da questão da Mobilidade. Foram relatadas diversas queixas a respeito da padronização precária das calça-das, além da presença, na faixa de percurso seguro, de barracas de vende-dores ambulantes, bancos, lixeiras entre outros obstáculos que obrigam o deficiente a transitar fora da calçada, correndo o risco de ser atropelado. Também foi relatada a dificuldade em se deslocar na grande Vitória utili-zando transporte público, que é integralmente realizado por ônibus.

Além da mobilidade, foi relatada a dificuldade de compreender sina-lização por meio de placas e a impossibilidade de leitura em papéis não impressos em Braile e, embora sejam assuntos distintos, podem ser trata-dos sob a mesma ótica. Por diversas vezes, a falta de sinalização dificulta a mobilidade ou contribui para a não localização no interior de grandes espaços, como fóruns, museus, entre outros. Da mesma forma, a falta de correspondências e textos adaptados em relevo acarreta numa dependên-cia maior. A dificuldade das pessoas de baixa visão em relação às cartas e contas é devido ao tamanho e cor dos textos, que são impressos visando pessoas videntes.

Levando em conta a pesquisa exposta, pôde-se estudar característi-cas comuns que seriam utilizadas como base para o desenvolvimento do protótipo, onde concluiu-se que a característica de maior relevância em comum seria a posse de um smartphone. Pode-se justificar tal escolha pela porcentagem de pessoas que já possuem o aparelho, bem como a facilidade de aquisição ou migração por aqueles que ainda não o possuem. Ademais, durante as entrevistas, os deficientes demonstraram aversão por carregar um novo dispositivo acoplado ao corpo, desta forma, impossibilitando a

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utilização de ferramentas com câmeras externas para processamento de imagens. Outro fator levado em conta foi o argumento de que a utilização de qualquer dispositivo de uso passivo que emita som, vibrações e outros estímulos poderia ter o efeito contrário, ou seja, distraí-los e desorientá--los. Em vista dos argumentos apresentados, o método ideal a ser escolhi-do não poderia promover estímulos, substituir a bengala e o uso deveria ser por requisição. Após a análise dos resultados obtidos com a pesquisa, foi possível determinar qual seria a problemática a ser resolvida.

O PROTÓTIPO

De modo a cumprir com os requisitos definidos na fase de pesquisa de campo, estudou-se uma aplicação, denominada de Visapp, que propusesse uma forma de auxílio às principais dificuldades relatadas. Sendo assim, três funcionalidades principais foram propostas:

a) Orientação e mobilidade: desenvolver um localizador com uso de GPS, informando o local em que o usuário se encontra, estabelecimen-tos próximos e pequenas rotas a pé;

b) Leitura: auxiliar na leitura de placas e material impresso, por meio de lupa eletrônica e digitalizador de textos;

c) Identificação de objetos: auxiliar o usuário a compreender melhor o ambiente ao seu redor utilizando visão computacional.

Levando em consideração que 100% das pessoas que possuíam smar-tphone, utilizavam o sistema operacional Android, esta foi a plataforma escolhida para que o solução fosse desenvolvida. O capítulo de resultados explicita melhor o que foi obtido no desenvolvimento de cada uma das três funcionalidades.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme idealizado, foram desenvolvidas três funcionalidades para o Visapp, voltadas à orientação e mobilidade, leitura e identificação de objetos.

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APLICAÇÃO PARA LEITURA

No aplicativo de leitura, buscou-se os métodos mais adequados para a digitalização de caracteres. O Tesseract, juntamente com a biblioteca de processamento de imagens OpenCV, foram as ferramentas mais eficazes encontradas.

A figura 1 representa (a) o funcionamento do Tesseract, que digitaliza um documento através de uma câmera, em seguida localiza-se os textos e os segmenta, separando os do resto da imagem, como demonstrado em (b), os elementos segmentados são então pré-processados, para um melho-ramento da imagem e após isso são passados por um banco de dado para o reconhecimento para depois serem reconstruídos.

Figura 1 - Funcionamento do Tesseract

Fonte 1: Elaborada pelo autor

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APLICAÇÃO PARA ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE

Para o auxílio à orientação e mobilidade, foi desenvolvida uma aplica-ção que forneça informações ao usuário sobre sua localização e estabele-cimentos comerciais próximos, provendo uma breve orientação que possa auxiliá-lo em sua caminhada. A aplicação foi desenvolvida para aparelhos Android e faz uso das APIs fornecidas pela Google para coleta os dados referentes à localização do indivíduo e dos locais. A figura 2 provê uma demonstração da aplicação final.

Figura 2 - Demonstração da Aplicação Final

Fonte 2: Elaborada pelo autor

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A figura 2 representa uma situação (a) na qual o usuário se encontra no ponto azul e deseja se localizar. Ao abrir o aplicativo, é apresentada ao usuário a tela inicial (b). Ao clicar no botão, o usuário recebe as informações com a localização do usuário e os estabelecimentos comerciais por ordem de proximidade. As telas (d), (e) e (f) apresentam a situação onde o usuário seleciona um dos locais e recebe instruções para chegar a seu destino.

APLICAÇÃO PARA IDENTIFICAÇÃO DE OBJETOS

O reconhecimento de imagens utiliza a Clarifai API, que possui inte-ligência artificial e faz uso de um banco de dados e bibliotecas em um ser-vidor online. Depois de feita a programação, é enviada a fotografia para o servidor da Clarifai e o mesmo reconhece a imagem e responde em forma de tags (textos). As tags recebidas são tratadas de forma a apresentar ao usuário as informações de maneira mais otimizada.

A figura 3 apresenta o aplicativo em funcionamento, com a tela inicial já na câmera nativa do smartphone. Ao fotografar o objeto, a aplicação faz o reconhecimento e retorna as tags ao usuário, que podem ser ouvidas por meio do Talkback.

Figura 3 - Aplicativo em Funcionamento

Fonte 3: Elaborada pelo autor

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6. CONCLUSÃO

No contexto do problema estudado, foi possível o desenvolvimento de um aplicativo protótipo visando a diminuição das dificuldades relacio-nadas à leitura de textos não impressos em Braile. Para isso, o aplicativo Visapp consegue realizar a digitalização, identificação dos caracteres e, finalmente, apresentar o texto a ser lido pelo recurso de acessibilidade na-tivo do sistema Android.

Vale destacar que, com o presente trabalho, foi possível identificar e reconhecer tamanha dificuldade que as pessoas com deficiência visual enca-ram no dia a dia e, ainda que busquem sua autonomia, sempre serão depen-dentes das pessoas videntes no que tange a conscientização e o bom senso.

Por fim, este projeto buscou proporcionar, aos deficientes uma solução acessível, de utilização intuitiva e com uma boa precisão na execução suas funcionalidades.

REFERÊNCIAS

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QUIMIVOX MOBILE: Aplicativo para Auxilio de Deficientes Visuais no Ensino da Tabela Periódica

Alex Santos de Oliveira - UFPA39, Bruno Merlin - UFPA39, Heleno Fülber - UFPA39,

Tatiana Nazaré de Carvalho Artur Barros - UFPA5960, João Elias Vidueira

Ferreira - IFPA61

RESUMO

O avanço tecnológico permite a elaboração de novas ferramentas educa-cionais implantadas em dispositivos móveis. No entanto, os deficientes visuais permanecem frequentemente excluídos destes avanços por falta de adaptação dos aplicativos à deficiência visual. Assim, pesquisas são neces-sárias para adaptar tecnologias para atender este público. Nesse sentido, este trabalho apresenta um aplicativo chamado Quimivox Mobile, desen-volvido para dispositivos Android, o qual apresenta uma tabela periódica dos elementos químicos com síntese de voz e interações simples. Portanto, o aplicativo pode ser acessado tanto pelos deficientes visuais quanto pelos videntes. O Quimivox Mobile traz várias informações sobre os elementos químicos, e a organização da tabela. O dispositivo foi avaliado experimen-talmente. O experimento ressaltou a eficiência e a pertinência do aplicati-vo para o ensino da química para deficientes visuais.

Palavras-chave: Tabela periódica; Acessibilidade Mobile; Tecnologia assis-tiva.

59 Universidade Federal do Pará - Campus Tucuruí/ PA60 Universidade Federal do Pará - Campus Belém/ PA 61 Instituto Federal do Pará - Campus Tucuruí/ PA

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INTRODUÇÃO

De acordo com os dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Ge-ografia e Estatística (IBGE), existem cerca de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, sendo 582 mil cegas e 6 milhões com baixa visão (ISAU-DE, 2015). Segundo Oliveira (2012), a deficiência visual é a deficiência que apresenta a maior ocorrência no Brasil, afetando 18,6% da população.

A pessoa com deficiente visual pode levar uma vida normal e desenvol-ver qualquer atividade, mesmo aquelas que necessitam a priori da visão, como o manuseio dos computadores por exemplo. Isso é possível porque a falta de um sentido, no caso o visual, pode ser compensada por outro(s) sentido(s), a tátil, por exemplo. Naturalmente a potencialidade de outros sentidos compensatórios deve ser estimulada e sendo inclusive necessário o uso de adaptações organizacionais e tecnológicas para facilitar a inde-pendência da pessoa com deficiência como, por exemplo, os leitores de tela (Sá, 2006).

Por outro lado, com a evolução das tecnologias de informação, vem aumentando o número de dispositivos móveis, principalmente smar-tphones, possibilitando para os indivíduos de não somente fazer ligações, mas também fazer inúmeras tarefas em um único dispositivo, tais como: acessar internet e redes sociais, fazer transações bancárias, jogar, além de muitas outras aplicações. A maioria desses dispositivos utiliza o sistema operacional Android. Entretanto, não existem atualmente muitas tecno-logias que auxiliem os deficientes visuais no uso dos dispositivos móveis. O auxilio aos deficientes visuais é principalmente limitado a um leitor de tela (vocalizando o conteúdo escrito), enquanto toda a interação com os aplicativos precisaria ser repensada para suprir à impossibilidade de apon-tar de forma precisa em um elemento da tela.

Nesse sentido, este trabalho apresenta um aplicativo chamado Quimi-vox Mobile, desenvolvido para dispositivos Android, o qual apresenta uma tabela periódica dos elementos químicos com síntese de voz e marcadores de localização visuais. Os paradigmas de interação implementados permi-tem que o aplicativo seja acessível tanto pelos deficientes visuais quanto pelos videntes.

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Também, aquela pessoa com deficiente visual que um dia já enxergou e teve contato visual com a tabela periódica, pode novamente ter acesso às informações dos elementos químicos. O Quimivox Mobile permite saber o número atômico, massa atômica, família, período, classificação e usos de cada elemento químico. Consequentemente, agora os deficientes visuais podem tem uma maior autonomia no estudo da tabela periódica ao utili-zarem esse novo aplicativo.

Neste artigo apresentaremos um estado da arte das tecnologias para auxiliar os deficientes visuais no uso dos dispositivos móveis e das apli-cações móveis na área de química. Apresentaremos Quimivox Mobile e a avaliação do aplicativo antes de discutir os resultados obtidos.

ESTADO DA ARTE

Auxilio dos deficientes visuais no uso dos dispositivos móveis

Os dispositivos móveis com sistema Android disponibilizam recursos de acessibilidade para ajudar usuários com deficiência visual a interagir mais facilmente, pois trazem: text-to-speech (voz automatizada que lê os elementos apresentado na tela); feedback tátil (vibração); navegação por toques, duplo toques e gestos (um, dois ou três dedos); digitação falada através do teclado QWERTY; zoom; texto aumentado; cores invertidas e reconhecimento de voz. Todos esses recursos em conjunto oferecem a pos-sibilidade de construir aplicações acessíveis para usuários com deficiência visual (Correa, 2015). Entretanto, não há uma bijecção automática entre as modalidades de interação para videntes e as modalidades de interação para deficientes visuais. O design da aplicação deveria integrar a preocu-pação da deficiência visual o que raramente é o caso.

Algumas técnicas como BrailleTouch (FREY 2011, ROMERO 2011) permitem também facilitar a entrada de texto para deficientes visuais. Existem também algumas aplicações como R-MAP (SHAIK 2010), jogos como Sonic-Badminton (KIM 2016) concebidos especificamente para de-ficientes visuais.

Aplicações móveis destinadas ao ensino da química

Existem algumas aplicações móveis destinadas ao ensino da quími-

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ca, e particularmente da tabela periódica. Entretanto, nenhum aplicativo atende as necessidades de acessibilidade para deficientes visuais.

Entre esses Apps que possuem nos tablets educativos disponíveis nas escolas, os que possuem conteúdos em língua portuguesa são: Tabela Periódica Educa-labs, Xenubi - Tabela Periódica e Tabela Periódica Quiz (Nichele, 2014).

O Educalabs é uma tabela periódica interativa 3D, que dispõem aos usuários várias propriedades dos elementos e a sua distribuição eletrônica. O Xenubi e o Quiz têm exercícios que facilitam na fixação dos conheci-mentos obtidos no estudo da tabela periódica (Nichele,2014).

METODOLOGIA

O aplicativo Quimivox Mobile foi elaborado na perspectiva de apro-veitar dos recursos de acessibilidade disponíveis nos dispositivos móveis com sistema Android em conjunto com as informações mais importantes dos aplicativos atuais, dando possibilidade aos deficientes visuais o acesso a informações da tabela periódica sem haver dificuldades.

A idéia do aplicativo surgiu a partir de um programa para computa-dor Desktop que foi desenvolvido no IFPA por um dos autores e que teve grande destaque no ensino da tabela periódica para deficientes visuais. O aplicativo desktop utilizava o sistema operacional Dosvox. No entanto, com o avanço das tecnologias da informação produziu-se o aplicativo Qui-mivox Mobile, sendo uma versão para dispositivos móveis com adaptações das informações e dos meios interativos para facilitar o manuseio do apli-cativo para esta família de dispositivos.

Os paradigmas de navegação dentro do aplicativo são baseados em gestos simples: baixo, cima, direita, esquerda, toque para entrada. As in-terações são realizadas com um dedo ou dois dedos para ampliar o voca-bulário de interação conservando a simplicidade. Os gestos são naturais aos usuários deficientes visuais por ser utilizados nas outras ferramentas de acessibilidade para dispositivos móveis. As informações são restituídas de forma vocal e também gráfica para um acompanhamento dos videntes.

O aplicativo foi desenvolvido de maneira interativa, envolvendo testes intermediários com usuários no intuito de otimizar e facilitar a interação.

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DESCRIÇÃO DO APLICATIVO

Conforme já comentado, o aplicativo Quimivox Mobile funciona em dispositivos com sistema operacional Android e pode ser usado por viden-tes e deficientes visuais. O manuseio do aplicativo é por meio de gestos, porque na maioria dos dispositivos com sistema Android como dispositivo de entrada utilizam a tecnologia touch.

O aplicativo mostra todas as informações na tela do dispositivo junta-mente com a síntese de voz. Desta forma, os deficientes visuais têm acesso às informações que aparecem em tela. Também existe uma interface grá-fica contendo textos para os videntes conseguirem acompanhar o manu-seio da ferramenta, sendo possível um professor vidente ensinar um aluno deficiente visual através da ferramenta.

Os elementos mostrados em tela são falados utilizando o sintetizador de voz do sistema Android, cuja sigla em português é TTS (text-to-speech, em inglês). Logo mesmo os impossibilitados de enxergar podem ter a plena autonomia de manuseio da ferramenta, sem precisar de ajuda de terceiros. Os principais requisitos são ter um dispositivo com sistema operacional Android com um sintetizador de voz em língua portuguesa do Brasil e, se o talkback estiver ativado, é preciso suspender o feedback.

Os itens em tela são organizados em lista que possibilita aos usuários fazerem o gesto para cima, baixo, direita e esquerda. Com esses gestos, consegue-se caminhar entre os itens utilizando a síntese de voz. Para os videntes, a navegação se dá marcando um dos itens listados, sendo que preciso um toque para repetir o item selecionado.

A figura 1 mostra a tela inicial com sete opções. A primeira delas traz orientações básicas para o manuseio da ferramenta. A segunda se relacio-na com a organização da tabela periódica, possibilitando maior eficiência e conhecimento da tabela. Já a terceira opção é para caminhar (explorar) na tabela periódica. Essa opção é a que deverá ser a mais utilizada pelos usuários, por conter as informações da tabela periódica. Ao caminhar pela tabela periódica do aplicativo, obedece-se a mesma a estrutura convencio-nal da tabela periódica da União Internacional de Química Pura (IUPAC).

Na terceira opção (figura 2), “Caminhar tabela”, tem-se: número atô-

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mico, símbolo e nome do elemento, que são informações básicas para a identificação de um elemento químico. Com o deslize com um dedo para uma direção, se caminha um elemento químico localizado nessa direção. Deslizando dois dedos, se caminha por três elementos, possibilitando as-sim ao usuário encontrar um elemento rapidamente.

Figura 1- Tela inicial do Quimivox Mobile Figura 2- Caminhar na tabela

A quarta opção apresenta a listagem de todos os 118 elementos quí-micos da tabela periódica em ordem crescente de número atômico. Já a quinta opção, lista os elementos por grupos ou famílias. São identificados os 18 grupos da tabela periódica. De modo semelhante, na sexta opção são apresentados os elementos de transição interna, que compõem duas séries em separado, na parte inferior da classificação da tabela periódica tradicional: lantanídeos e actinídeos. Finalmente, a sétima opção se des-tina a informar sobre como o Quimivox Mobile foi desenvolvido e os seus respectivos autores.

Ao se fazer dois toques seguidos no aplicativo, quando se selecionar determinado elemento químico, serão mostradas várias informações sobre este elemento (figura 3): número atômico, massa molar, símbolo, família, período, estado físico, classificação, usos, histórico, origem do nome, den-sidade, ponto de fusão, ponto de ebulição,

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Figura 3- Tela com informações sobre elemento

Portanto, ao se fazer o gesto com dois toques seguidos, será mostrada a informação desejada na tela e lida por síntese de fala, onde, ao se sele-cionar a opção “Estado físico” para o hidrogênio o aplicativo informa por meio da síntese de voz que “O hidrogênio é um gás”.

AVALIAÇÃO DO APLICATIVO

A utilizabilidade do aplicativo foi avaliada experimentalmente por oito deficientes visuais (cegueira total ou baixa visão), com faixa etária de 19 a 44 anos. Quanto ao grau de estudos dos participantes, dois deles tem ensino médio completo; quatro são universitários; um tem o superior completo e um possui uma pós-graduação lato-sensu. No que diz respeito ao grau de visão, dois deles são cegos total de nascença, três deles tem bai-xa visão desde o nascimento, enquanto outros três ficaram cegos depois de uma certa idade.

A avaliação foi realizada com apresentação da ferramenta, mostrando seus movimentos básicos, fazendo a descrição das opções existentes e pro-pondo atividades de como pode ser usada cada opção no Quimivox Mobi-le. Posteriormente, foi aplicado um questionário com algumas atividades para serem executadas com o aplicativo e um questionário para a avalia-ção da ferramenta pelo usuário. Os quesitos avaliados foram avaliados por notas que variavam de 0 (muito ruim) a 10 (excelente).

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Na avaliação das atividades, foi analisado o tempo de resposta do usu-ário para cada tarefa utilizando-se um cronômetro. Além disso, foram ob-servados os caminhos utilizados para chegar à resposta, sendo ela correta ou incorreta. Assim foi possível conhecer o tempo médio e o caminho que mais utilizaram para chegar à resposta. Também, observou-se se houve alguma dificuldade no uso da ferramenta. Outro ponto que foi avaliado foi o grau de satisfação dos usuários e quanta importância atribuíam ao aplicativo, no sentido de ser algo realmente útil para o ensino de Química.

RESULTADOS E DISCUÇÕES

Na avaliação da manipulação do aplicativo, o tempo médio de res-posta ficou em 1 minuto e 38 segundos. Considera-se este resultado como sendo um resultado bem satisfatório. Também, de acordo algumas ob-servações feitas pelos próprios deficientes visuais, o aplicativo é fácil de manipular, sendo necessárias apenas algumas instruções para melhorar a acessibilidade do aplicativo.

As principais dificuldades relatadas entre os usuários foram com re-lação ao controle da síntese vocal. Em algumas circunstancias o usuário precisava interromper a leitura e esta funcionalidade não era disponível. Nesse quesito, as notas atribuídas ficaram entre 7 e 10. No que diz respeito à clareza, todos os entrevistados deram nota 10, o que significa que todos eles perceberam que as instruções/informações são dadas de forma a serem facilmente entendidas.

Todos relataram a real importância da ferramenta Quimivox Mobile, sendo uma tabela periódica acessível aos deficientes visuais, pois pode ser consultada em um aparelho celular e, dessa maneira, pode oportunizar um maior acesso dos deficientes visuais ao conhecimento químico.

Algumas sugestões pertinentes foram também levantadas como a im-plementação de uma busca vocal do elementos e interações de atalho para acelerar a navegação em listas longas. Foi também sugerido uma forma auxiliar de acessar aos elementos em uma lista ordenada alfabeticamente.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acompanhando os avanços das tecnologias de informação, procurou--se neste trabalho enfatizar a importância do desenvolvimento de novas tecnologias voltadas para a inclusão das pessoas com deficiência visual no ensino de Químicas. Assim, este artigo descreveu o desenvolvimento de um aplicativo chamado Quimivox Mobile, que traz uma tabela periódica para os deficientes visuais acessarem através de um dispositivo móvel.

Na avaliação da utilização do aplicativo, obteve-se resultados bastan-te positivos, com vários elogios acerca da importância do mesmo. Por con-seguinte, isso proporcionou uma motivação maior para o desenvolvimen-to de novas tecnologias destinadas à inclusão.

Em síntese, pode-se dizer que o aplicativo Quimivox Mobile está pron-to para os professores e alunos deficientes visuais utilizarem como instru-mento de ensino-aprendizagem da tabela periódica, proporcionando uma melhor educação, com mais igualdade e tendo uma maior independência dos deficientes visuais.

A experimentação nos orientará também na realização de novas oti-mizações para tornar o aplicativo ainda mais simples e rápido de acesso na sua versão 2.

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CIA DA GENTE E A IMPORTÂNCIA DOS PROFISSIONAIS, MONITORES NO CAPS IJ DE OURO PRETO, MINAS GERAIS -

PARCERIAS E INCLUSÃO

Christine Vianna Algarves Magalhães

[...] O ato de brincar é mais que a simples satisfação de desejos. O brincar é o fazer em si, um fazer que requeira tempo e espaço próprios; um fazer que se constitui de experiências culturais, que é universal e próprio da saúde, porque facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros.

Winnicott (1975, p. 73)

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INTRODUÇÃO

O Projeto Cia da Gente atua no Centro de Atenção Psicossocial Infan-to Juvenil - CAPSi desde março de 2015, oferecendo atividades arte-edu-cativas à crianças e adolescentes usuários do serviço municipal de saúde mental, incluindo Música, Teatro e Educação. Atualmente, o projeto con-ta com dois bolsistas de Artes Cênicas, um de Música e um de Pedago-gia. É possível utilizar os recursos da tecnologia assistiva na inclusão e na reabilitação das crianças e adolescentes com transtornos e deficiências que freqüentam o serviço de saúde mental infanto juvenil de Ouro Preto, Minas Gerais.

O CAPSi visa à promoção da saúde de seus usuários, utilizando como metodologia o “plano terapêutico”, onde um cronograma de ati-vidades é articulado por todos os profissionais envolvidos (Psiquiatra, Psicólogo, Enfermeiro, Terapeuta Ocupacional, Fonoaudiólogo, Psicope-dagogo e Assistente Social), observando as necessidades e/ou especificida-des psicológicas, físicas e sociais de cada indivíduo.

O Cia da Gente atua correlacionando suas atividades ao plano tera-pêutico oferecido pela instituição, de forma a contribuir para o bem estar e aprendizagem das crianças e adolescentes.

O trabalho dos monitores do projeto Cia da gente tem apresentado mudanças significativas no serviço, tanto para os profissionais como para as crianças e adolescentes que freqüentam o Centro de Atenção Psicosso-cial infantojuvenil, de Ouro Preto, Minas Gerais. (CAPSi). Percebe-se a importância dos recursos que são utilizados e desenvolvidos por eles du-rante as oficinas. A construção dos materiais que facilitam o processo da aprendizagem.

Com a parceria do Centro de Atenção Psicossocial Infanto juvenil , a Fundação Gorceix e a Universidade Federal de Ouro Preto, o projeto Cia da Gente, o CAPSi abre as portas para novas possibilidades de interven-ção, para os alunos da Universidade Federal de Ouro Preto.

Esse projeto faz parte do programa de ações sociais da Fundação Gor-ceix, que atua em prol a comunidade ouropretana.

Dentre estas atividades desenvolvidas no CAPSi, os alunos ampliam

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seus conhecimentos, convivem com a diversidade, com a equipe multi-disciplinar do serviço e promovem as oficinas que envolve a pedagogia, a música e as artes cênica, hoje são 4 bolsistas, monitores do projeto Cia da gente, Fundação Gorceix.

O processo se desenvolve de forma lúdica, percebe-se que a vivência da brincadeira oportuniza o desenvolvimento integral e a socialização.

Na brincadeira acontecem a conjugação e a síntese entre o pensamen-to e a ação, entre o abstrato e o concreto.

O projeto político-institucional do CAPSi, proposto para acolher, visa a consolidação das ações em rede, o fortalecimento de uma rede ampliada de atenção em saúde mental para a criança e o adolescente, sendo funda-mental que essa rede seja pautada na intersetorialidade e na co-responsa-bilidade.

Nessa perspectiva, atribuiu- se ao serviço não só as funções determi-nadas pela Portaria 336/GM como também a sua transformação em espa-ço de formação, atualmente contemplado com o projeto Cia da Gente da Universidade Federal de Ouro Preto e a Fundação Gorceix, uma parceria que faz a diferença.

Sob essa ótica, o CAPSi transformou-se em um cenário de ensino - aprendizagem, permitindo ampliar e diversificar os conhecimentos em di-ferentes atividades que vem sendo desenvolvidas, promove uma rede de cuidados com as singularidades e os entrelaçados que cada sujeito neces-sita.

O Centro de Atenção Psicossocial infantojuvenil foi inaugurado em julho de 2008. É um serviço comunitário intersetorial que tem como fun-ção de cuidar de crianças e adolescentes que sofrem de transtornos men-tais. Segundo o documento “Caminhos para uma política de saúde mental infanto-juvenil “ do Ministério da saúde.” No campo específico da Aten-ção à Saúde Mental, um trabalho clínico não pode deixar de ampliar-se também no serviço, de seus portões para fora, para a rede que inclui ou-tros serviços de natureza clínica (outros CAPSis e CAPS, ambulatórios, hospitais, PSFs, etc.), mas também outras agências so-ciais não clínicas que atravessam a vida das crianças e jovens: escola, igreja, órgãos da jus-tiça e da infância e adolescência, conselho tutelar, instituições de espor-

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te, lazer, cultura, dentre outros. Em suma, os serviços de saúde mental infanto-juvenil, dentro da perspectiva que hoje rege as políticas de saúde mental no setor, devem assumir uma função social que extrapola o afazer meramente técnico do tratar, e que se traduz em ações, tais como acolher, escutar, cuidar, possibilitar ações emancipatórias, melhorar a qualidade de vida da pessoa portadora de sofrimento mental, tendo-a como um ser integral com direito a plena participação e inclusão em sua comunidade, partindo de uma rede de cuidados que leve em conta as singularidades de cada um e as construções que cada sujeito faz a partir de seu quadro. As linhas gerais de ação que caracterizam as políticas públicas da área da saúde mental são regidas por claros princípios que encontram suas bases em uma lógica do cuidado. É preciso adotar como princípio a idéia de que a criança ou o adolescente a cuidar é um sujeito. As portas de todos os serviços públicos de saúde mental infanto-juvenil devem estar abertas a todo aquele que chega e qualquer demanda dirigida ao serviço de saúde do território deve ser acolhida, recebida, ouvida e respondida.

Os monitores bolsistas do projeto Cia da Gente, desenvolvem as ativi-dades de oficinas duas vezes por semana no serviço.

Com o objetivo de aprender e conviver com a diversidade, as crianças e os adolescentes que participam da proposta são diversos diagnósticos, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, TDAH, deficiência inte-lectual, síndrome de down, transtorno do espectro autista, participa das ati-vidades uma usuária com mucopolissacaridose do tipo III B e se configura como síndrome de sanfilippo, entre outros transtornos psiquiátricos.

Nesse ano de 2016 a temática escolhida pelos monitores do projeto é o “Faz de Contas” e suas muitas ramificações pelo universo infanto-juvenil, partindo de fábulas, contos clássicos, cantigas de roda, dentre outras tan-tas fontes de ludicidade.

Considerando a multiplicidade de deficiências assistidas, entendemos que o “Faz de Contas” estabelece um ponto comum entre os usuários, in-dependente da faixa etária, de suas limitações ou necessidades.

Este tema nos oferece possibilidades infinitas de criações musicais e teatrais, além de nos permitir revisitar as tradições culturais de outros países e de outras épocas.

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Nesse projeto a tecnologia assistiva é, acima de tudo, um recurso de seu usuário e a equipe coloca seu conhecimento à disposição para que ele encontre o recurso ou a estratégia que atenda a sua demanda de atuar e participar de tarefas e atividades de seu interesse.

Segundo os monitores a justificativa para o trabalho proposto irá fa-vorecer a inclusão, assim como o contexto da educação regular, as crianças com necessidades especiais, muitas vezes, não desenvolvem habilidades de lecto-escrita no mesmo ritmo que as demais. Levando em consideração que estes são processos primordiais para a educação básica, entendemos que estas passam por limitações físicas e psicológicas na escola, sendo im-pedidas de desenvolver habilidades particulares, que, normalmente, com-preendem outras atividades motoras e cognitivas.

Junto com eles, vão construir e utilizar os recursos que permitirão sua expressão e participação ativa em desafios educacionais. O monitor deve funcionar como um diretor de cena, cabendo a ele observar as condições e necessidades das crianças e montar o cenário, através da construção das estratégias de ensino e dos recursos de acessibilidade, para possibilitar a construção do conhecimento.

Sabe-se que a Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodolo-gias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funciona-lidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, indepen-dência, qualidade de vida e inclusão social.

Portanto, a parceria com a Fundação Gorceix, possibilita o traba-lho dos monitores e de extrema importância que vem sendo desenvol-vido pelo Cia da Gente no CAPSi e visa estimular o desenvolvimento das diversas habilidades apresentadas pelos atendidos, conduzindo-os pelo viés da arte-educação e inclusão, a partir da temática do “faz de conta”.

A expressão “faz de conta” pode assumir inúmeros significados, mas nos apegaremos ao apresentado por Edda Bomtempo, ao defini-lo como:

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[...] o jogo imaginativo, jogo de faz-de-conta, jogo de papéis ou sociodramático. A ênfase é dada à “simulação” ou faz-de-conta, cuja importância é ressaltada por pesquisas que mostram sua eficácia para promover o desenvolvimento cognitivo e afetivo-social da criança. (Bomtempo, 1996, pp.57-58)

Compreende-se que este tema contribuirá para a formação da afetivi-dade coletiva e do desenvolvimento cognitivo, através de caminhos brin-cantes. Estimula, ainda, a interação através de atividades lúdicas que possibilita o uso da tecnologia assistiva, da imaginação que possibilita e o resgate de brincadeiras “não-tecnológicas”. Entende-se, também, na valo-rização do patrimônio imaterial da infância, propõe vivências que propor-cionem à criança diversas formas de expressão, com o teatro e a música, por meio do faz de conta, para suprir a sua deficiência.

OBJETIVO GERAL

A partir do tema “Faz de Contas” procura-se contribuir para o desen-volvimento cognitivo e inter-relacional dos usuários, utilizando diversos recursos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Mesclar conteúdos de Teatro, Música, Artes Plásticas, Audiovisual, História e Literatura através da interdisciplinaridade;

- Promover atividades elementares de teatro e música através de conte-údos lúdicos, que desenvolvam capacidade de ação e reação, sensibilidade, desinibição, concentração, organização, controle pessoal, senso coletivo, expressão corporal, fluência verbal, imaginação, criatividade e percepção;

- Desenvolver atividades artísticas regularmente usando as novas ex-periências, vivências, encontros e observações como fato gerador.

- Fazer um resgate da cultural infantil, através de contos clássicos, jogos, brincadeiras e cantigas de roda.

- Obter a integração das várias perspectivas de funcionalidade.

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METODOLOGIA DO PROJETO

Com a utilização dos diferentes recursos usados na tecnologia assistiva os monitores desenvolvem as diversas atividades que proporcionam para as crian-ças uma melhoria na qualidade de vida diária. Na escola, na família, na saúde.

Aulas práticas de expressão corporal, musicalização, jogos teatrais, jogos musicais, improvisação teatral, dança;

Práticas psicomotoras;

Composição musical coletiva; o Drama (Beatriz Cabral);

Teatro do Oprimido (Augusto Boal);

Contação de histórias;

Vídeos e filmes de contos clássicos;

Construção de instrumentos musicais a partir de materiais diversos;

Confecção de materiais expressivos, tais como: máscaras, adereços cê-nicos, dentre outros trabalhos artísticos manuais;

Criação de esquetes cênico-musicais a partir das vivências realizadas;

Readequação do espaço físico da sala de aula;

Excursões.

Eventos realizados em 2016,parceria CAPSi e Fundação Gorceix

Colônia de férias - dia 03 a 07 de julho

Festa (julina) de encerramento do primeiro semestre – dia 08 de julho

Semana da criança - dia 10 a 14 de outubro

Festa de enceramento do segundo semestre – dia 16 de dezembro

Percebe-se a importância da parceria do serviço público com a Funda-ção Gorceix, a expansão do trabalho, da abertura para o espaço de discus-são entre os alunos da universidade federal de Ouro Preto e os profissionais da equipe. A parceria favorece a ampliação das atividades de oficina, os alunos são acompanhados também pelos professores gestores do projeto da UFOP com reuniões mensais e visitas a instituição. Desde que inicia-mos esse trabalho conjunto os resultados são gratificantes.

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As oficinas terapêuticas são estratégias de cuidado, interação e socia-lização é relevante lembrar que o trabalho nas oficinas torna-se positivo para a assistência em saúde mental, à medida que uma de suas finalidades seja promover o exercício da cidadania, a escuta, a acolhida no serviço, um espaço social, terapêutico, por meio de atividades que promovem a expressão de sentimentos e vivências. E os recursos da tecnologia assistiva podem auxiliar esse processo.

As oficinas terapêuticas representam um instrumento importante de ressocialização e inserção individual em grupos, na medida em que pro-põem o trabalho, o agir e o pensar coletivos, conferidos por uma lógica inerente ao paradigma psicossocial.

Assim como essa experiência de oficina relatada e tantas outras que são desenvolvidas no CAPS ij são importantes para os usuários e seus fa-miliares. Independente do seu saber da sua formação o trabalho da equipe do coletivo é fundamental, todos são monitores em algum momento.

REFERENCIAS

BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de Abril de 2002. DF: DOU, nº 79 - Seção 1, 2002.BRASIL. Ministério da saúde. Secretaria de atenção à saúde. Política na-cional de Humanização da atenção e Gestão do SUS. Redes de produção de saúde / Ministério da saúde, secretaria de atenção à saúde, Política na-cional de Humanização da atenção e Gestão do SUS. - Brasília: Ministério da saúde, 2009.BOAL, Augusto. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. Rio de Ja-neiro: Editora Civilização Brasileira, 1991.CABRAL, Beatriz Ângela Vieira. Drama como método de ensino. São Paulo: Hucitec, 2006.DORIN, Lannoy, Introdução a psicologia, editora do Brasil SA, 1975. Do-cumento, Caminhos para uma política de saúde mental infanto-juvenil”,Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, 2005.ICLE, Gilberto. Problemas teatrais na educação escolarizada: existem con-teúdos em teatro? Revista Urdimento, Nº 17, 2011. KOUDELA, Ingrid.

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Jogos teatrais. São Paulo: Perspectiva, 2002.LARROSA, Jorge. O enigma da infância ou o que vai do impossível ao ver-dadeiro. In: LARROSA, Jorge; LARA, Núria P. de. Imagens dos outros. São Paulo: Vozes, 1998, p. 67-86.LOURO, Viviane. Arte e responsabilidade social. São Paulo: Editora TDT Artes, 2009.MORAES, Danielle Rodrigues de. Teatro na escola: a reinvenção do espa-ço vigiado. Revista Urdimento, Nº 17, 2011.ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Livro de Recursos da OMS so-bre Saúde Mental, Direitos Humanos e Legislação. 2005.PEREIRA, Diego de Medeiros. Drama na educação infantil: experimen-tos teatrais com crianças de 02 a 06 anos. Tese de Doutorado. Florianópo-lis: UDESC, 2015.PINTO, M.; SARMENTO, M.J.(coords.) As crianças e a infância: definin-do conceitos, delimitando o campo. In: As crianças: contextos e identida-des. Braga: Universidade do Minho, 1997.Marina não vai à praia. Direção: Cássio Pereira dos Santos. Belo Horizon-te: Paideia Filmes, 2014, DVD (16 min), cor.SPOLIN, Viola. Jogos teatrais na sala de aula: um manual para o pro-fessor. Tradução: Ingrid D. Koudela. São Paulo: Perspectiva, 2007. Win-nicott, D. W. (1971/1975). O brincar e a realidade. Trad. José Octavio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago.Fotos do projeto CIA da Gente

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A INTERFACE SAÚDE-EDUCAÇÃO-FAMÍLIA NA CLÍNICA DO SERVIÇO DE SAÚDE MENTAL DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE DE OURO PRETO

Christine Vianna Algarves Magalhães

RESUMO

Este artigo relata um caso clínico de uma criança diagnosticada com trans-torno do espectro autista, usuário do Centro de Atenção Psicossocial da Criança e do Adolescente (CAPSi) de Ouro Preto, MG, com base nos prin-cípios preconizados pela reforma psiquiátrica e na consolidação de uma política pública em saúde mental no município de Ouro Preto. As iniciati-vas do grupo de profissionais da saúde mental da criança e do adolescente consistem na intervenção, no acompanhamento e no desenvolvimento de projetos terapêuticos com interface nos procedimentos e articulações do processo de inclusão educacional e social de crianças e adolescentes em tratamento no CAPSi de Ouro Preto, Minas Gerais.

Palavra chave : Políticas publicas, autismo, inclusão

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação (Constituição Brasileira, 1988).

Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil de Ouro Preto,MG - CAPSij

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Para iniciar uma discussão sobre a construção, a efetivação de uma rede de saúde, deve-se pensar em uma estrutura ampla, articulada en-tre si interdisciplinar e intersetorial. O Centro de Atenção Psicossocial da Criança e do Adolescente de Ouro Preto, Minas Gerais, vem desenvolven-do ações neste sentido. Todos os profissionais trabalham articulados com outros setores e os projetos terapêuticos de cada usuário em tratamento no serviço são elaborados junto com a família e de forma interdisciplinar e multidisciplinar quando necessário. Conforme o caso clínico N. apresen-tado neste texto. Propôs uma interface saúde mental, educação e família, na clínica da criança autista.

Segundo Valla e Stotz (1994) o conceito de saúde é resultante da in-fluência dos fatores sócio econômicos-culturais: alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, li-berdade, acesso e posse a terra e acesso a serviço de saúde. Podemos afir-mar, a partir deste conceito, que a saúde não é tão somente a ausência de doença, dado que vários fatores da vida cotidiana irão influenciá-la, ou seja, não envolve somente um segmento político, mas um conjunto de po-líticas públicas que atende as necessidades da população.

Segundo a Assembléia Mundial de Saúde (AMS), por meio do relatório EB101.R2 escrito em 1998 (WHO,1998) a saúde é um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social e não somente a au-sência de doença. Mais especificamente, a Saúde Mental (BRASIL, 2011) constitui a capacidade de administrar a própria vida e suas emoções, den-tro de um equilíbrio do patrimônio interno e as vivências externas, sem perder o valor do real, do precioso e a noção de tempo e espaço. Em con-trapartida transtornos que afetam comportamento, pensamento ou senti-mento, que podem causar prejuízos ao indivíduo ou aos que o cercam são considerados doenças mentais.

Conhecer as necessidades de saúde da comunidade e oferecer uma atenção profissional com uma equipe multiprofissional que os entenda, resultará, em parte, na melhoria da qualidade de vida respeitando um dos princípios do SUS, que é a da integralidade, porque a integralidade ou assistência integral exige que os

“... profissionais façam uma leitura abrangente das necessidades de ser-

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viços de saúde da população a que servem” (Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002), ou seja, entende-se que exige uma atitude do profissional de saúde.

Gordon Allport (1995) definiu a atitude como uma disposição nervo-sa e mental, fruto da experiência e que exerce uma influência dinâmica e orientadora sobre todos os objetos e situações com os quais guarda algu-ma relação. Nesse sentido, pode-se considerar a atitude como uma forma de motivação social (portanto, de caráter secundário em relação à moti-vação biológica, de tipo primário), que impulsiona e orienta a ação para determinados objetivos ou metas. Predispõe o organismo para responder positiva ou negativamente a pessoas, objetos e situações, e que é resultan-te de experiências passadas (Dorin, 1975).

Segundo Ministério da Saúde (MS), atualmente 12% da população ne-cessita de tratamento em Saúde Mental, seja contínuo ou eventual. Base-ado nisto, a Política Nacional de Saúde Mental objetiva, principalmente, (a) reduzir os leitos psiquiátricos de baixa qualidade; (b) expandir a rede extra-hospitalar, composta por CAPS.

As redes de atenção à saúde são compostas pelo conjunto de serviços e equipamentos de saúde que se dispõe num determinado território geográ-fico. Entretanto, a construção de uma rede na saúde implica mais do que ofertas de serviços num mesmo território geográfico. Implica colocarmos em questão: como estes serviços estão se relacionando? Qual o padrão co-municacional estabelecido entre as diferentes equipes e os diferentes ser-viços? Que modelos de atenção e de gestão estão sendo produzidos nestes serviços?

A alteração desse cenário passa pela organização dos serviços em seus procedimentos diários em relação aos seus usuários e familiares.

Em 2008 criou-se, o serviço de saúde mental da criança e do adoles-cente, aberto a comunidade e atualmente credenciado junto ao Ministério da Saúde como um Centro de Atenção Psicossocial da Criança e do Ado-lescente (CAPSi). Expandimos os nossos espaços fiscos e também a equipe de profissionais.

O primeiro procedimento do serviço do CAPSi é o acolhimento da fa-mília ou responsável e do usuário em seguida elaborar o projeto terapêuti-co da criança ou do adolescente com o profissional de referencia com eles.

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O CAPSi funciona de 7 às 18 horas, mantendo atividades de grupos com participação dos profissionais nas áreas médica, com a clinica psiquiatria, psicologia, terapia ocupacional, psicopedagogia, enfermagem, fonoau-diologia, técnico de enfermagem, monitores de oficinas terapêuticas I e II, assistente social, serviço de apoio administrativo, auxiliar de serviços gerias, motorista e a coordenação, totalizando 21 integrantes na equipe do serviço. As ações são intersetoriais e multidisciplinar e contamos com as instituições parceiras. Todos os profissionais do CAPSi realizam ativi-dades nos distritos nos PSFs, nas escolas, em instituições parceiras, com os familiares e com as crianças e adolescentes, assim como atividades de acompanhamento educacional, com a participação efetiva de represen-tantes da secretaria de educação em nossos procedimentos de acordo com a política voltada para a criança e o adolescente do ministério da saúde para uma assistência ampla e integral.

No campo específico da Atenção à Saúde Mental, um trabalho clínico não pode deixar de ampliar-se também no serviço, de seus portões para fora, para a rede que inclui outros serviços de natureza clínica (outros Capsis e Caps, ambulatórios, hospitais, PSFs, etc.), mas também outras agências sociais não clínicas que atravessam a vida das crianças e jovens: escola, igreja, órgãos da justiça e da infância e adolescência, conselho tutelar, instituições de esporte, lazer, cultura, dentre outros.

Seguindo as diretrizes da construção do SUS, é preciso garantir que a ampliação da cobertura em saúde seja acompanhada de uma ampliação da comunicação entre os serviços, resultando em processos de atenção e gestão mais eficientes e eficazes, que construam a integralidade da aten-ção. São esses processos de interação entre os serviços e destes com outros movimentos e políticas sociais que fazem com que as redes de atenção sejam sempre produtoras de saúde num dado território. Os profissionais do CAPSi desenvolvem atividades nos distritos com grupos de famílias, e é importante ressaltar que nestes momentos estão presentes os ACS, o médico do posto, a enfermagem, representantes das escolas, do CRAS, do NASF, entre outros. Cada grupo tem uma proposta diversificada e até discussões de casos, como o acompanhamento dos mesmos. Este trabalho tem apresentado diferenças no tratamento e para a demanda.

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É a rede transversal, que se produz pelos entrelaçamentos que ocor-rem entre diferentes atores, serviços, movimentos, políticas num dado ter-ritório – ou seja, a rede heterogênea – é que parece ser o lugar da novidade na saúde. É ela que pode produzir diferenças nas distribuições de poderes e saberes.

Estas pessoas sofrem preconceitos por causa de suas limitações funcio-nais significativas, elas só terão garantido o exercício desse direito huma-no fundamental se protegidas por ações afirmativas.

Para se promover um desenvolvimento saudável dos cidadãos nesse período especial de suas vidas e para se alcançar o pleno desenvolvimento de suas potencialidades, a sociedade, por meio do Estado, deve assegurar mecanismos de educação, proteção social, inclusão, promoção e garantia de direitos da criança, do adolescente e da família.

Os procedimentos do serviço são realizados por todos os profissionais. A partir do acolhimento com a família, é realizada a coleta de dados do pa-ciente, e a partir deste primeiro contato são feitos alguns encaminhamen-tos, de acordo com a necessidade, conforme as orientações na perspectiva das políticas do Ministério da Saúde. Outras atividades serão desenvolvi-das com a participação da psicologia e da psiquiatria, da psicopedagogia e da terapia ocupacional e fonoaudiologia. CAPSi + Escola + Família = Cuidado Integral .

CATEGORIAS DIAGNÓSTICAS

• Problemas significativos nas relações sociais;

• Problemas significativos na comunicação verbal e não-verbal e no brincar imaginário

• Repertório de atividades e interesses reduzido

• Início durante a infância, passível de ser diagnosticado com caute-la antes dos 36 meses.

São encontradas dentro dos transtornos invasivos, o Autismo, a Sín-

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drome de Asperger, a Síndrome de Rett, o Transtorno Desintegrativo da Infância. A severidade do transtorno é variada, caso a caso, e a manifes-tação dos sintomas/comportamentos pode mudar com o passar do tempo.

Indivíduos com Transtorno do Espectro Autista, TEA demonstram dificuldades em diversas áreas de função, como socialização, comunicação, comportamento e brincar. Comportamentos e habilidades em cada uma destas áreas estão dispostas ao longo de um continnum.

A combinação de múltiplos continnums que representam as manifes-tações comportamentais do TEA é importante para discutirmos os efeitos do transtorno em uma criança. Os procedimentos que foram realizados neste caso clinico, a N. foi acolhida em abril de 2010 pela Psicologia do CAPSi de Ouro Preto, MG.

Data de nascimento: 04/08/2005

1. Idade atual: 11 anos e 1 meses

• Queixas principais: suspeita de autismo levantada por psiquiatra aos 3 anos.

2. A família observava que N brincava muito sozinha, balançava mui-to as mãos e não conseguia falar como as outras crianças. Dificuldades de relacionamento com outras pessoas, e apresentando dificuldades de apren-dizagem e concentração na escola. As queixas escolares da equipe de pro-fissionais da escola não sabiam como lidar com a criança, fizeram relatório com encaminhamento para a APAE da cidade e na época a família não aceitou. Avaliação Psicológica da criança não respondia a abordagem no consultório; indicações de boa relação familiar vivem com a criança a mãe, os avós maternos e uma tia no distrito de Cachoeira do Campo, bairro Alto da Beleza. As intervenções dos profissionais do CAPSi, com a psico-logia primeiramente entraram em contato com a escola na tentativa de resolução de conflitos entre Escola e Família. Em seguida orientação para trabalho com a criança na escola regular. Resgate da história da família. Orientações quanto ao comportamento da criança que era preciso estipu-lar alguns limites. Em Julho de 2010, iniciou-se o trabalho interdisciplinar com a Terapia Ocupacional. Avaliação da criança através da CARS – Chil-

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dhood Autism Rating Scale (Escala de Pontuação de Autismo Infantil) – já traduzida e validada para uso no Brasil (Pereira, 2007). Fornece infor-mações em relação ao comportamento da criança, auxiliando o diagnósti-co. Mais detalhes em Pereira, 2007. A intervenção terapêutica ocupacional com base na Terapia de Integração Sensorial, é realizada visando remissão de sintomas como hiperresposta a estímulos sensoriais.

As sessões no inicio eram realizadas em conjunto da Psicologia e da Terapia Ocupacional tanto com a criança e a família. Um dos objetivos e ações do CAPSi no caso N. foram nesse período foi:

• Promoção do encontro CAPSi, Família e Escola Municipal Bo-nequinha Preta – amenizando as relações...

A - Continuidade do trabalho com a equipe escolar – abordagem com os professores sobre a importância da inclusão de crianças com Necessi-dades Educacionais Especiais (NEE) em consonância com as diretrizes do Ministério da Educação.

B - Relações interpessoais da criança ainda muito prejudicadas na es-cola pelo comportamento extremamente agressivo.

C - Discussão do caso com a Psiquiatria - avaliação psiquiátrica – diag-nóstico de TEA em.

D -Requisição de cuidadora de criança/monitora para acompanha-mento da criança junto à professora e equipe pedagógica – redação de documento embasado nas políticas de educação que apóiam a inclusão de crianças com NEE junto com a escola encaminhado à Secretaria Muni-cipal de Educação (Agosto de 2010). A requisição aceita em Outubro de 2010. Neste momento as sessões passaram a ser realizadas no serviço de saúde mental da criança e do adolescente em conjunto com a monitora, para uma capacitação do profissional nas abordagens com a criança na escola. A Continuidade do trabalho também com toda a equipe escolar, encontros periódicos, reuniões e um seminário, para a assistência na reso-lução de conflitos internos. Relatos de melhor convivência da criança na escola, com os colegas e professoras. Observações das professoras sobre o desenvolvimento de comportamentos mais “socialmente aceitos” como lanchar com os colegas sentada à mesa, brincar de roda, cantarolar... A

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criança fica mais tempo na sessão de terapia. Em março de 2011, a Tera-peuta Ocupacional fez uma visita domiciliar, para observação da criança no contexto em que vive. Café com a família...

Os familiares promoveram.

Uma das ações foi a continuidade do acompanhamento escolar pela Terapia Ocupacional – com abordagem direcionada aos sintomas de TEA apresentados pela criança, compreensão do transtorno e das implicações do diagnóstico para a família. Levantamento de questões sobre o diagnós-tico e maneiras de lidar com a criança dentro da dinâmica escolar, incluin-do estimulação da aprendizagem. Em Abril de 2011, houve uma apre-sentação das perguntas e respostas das professoras de forma interativa, lidando com o processo de pensamento das mesmas a acerca do transtor-no e seus sintomas e o perfil da criança. Elaboração do planejamento de ações para otimizar o processo de aprendizagem da criança; estimulação das ações professora + monitora; criação do

“cantinho sensorial”. Em Maio de 2011 – Sensibilização da equipe da escola: trabalho com a reflexão do texto “10 Coisas que toda criança autis-ta gostaria que você soubesse” de Ellen Nottohm. Identificação de outras questões a serem trabalhadas no próximo encontro. Sessões com a criança e a família ocorrendo regularmente – criança respondendo à estimulação. Empoderamento da mãe.

As intervenções dos profissionais do CAPSi, a psicologia primeiramen-te entrou em contato com a escola na tentativa de resolução de conflitos entre Escola e Família.

Em seguida orientação para trabalho com a criança na escola regular e adequações necessárias para o aprendizado e adaptações curriculares.

Elaboração e acompanhamento do planejamento de ações, a constru-ção do projeto terapêutico singular, PTS.

Hoje N continua em atendimento no serviço, com fonoaudióloga, te-rapeuta ocupacional e psicóloga que trabalham juntas. A usuária está mais independente, alfabetizada, lê, mas não atende muito aos comandos,

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grita quando incomodada, contrariada, entende-se como uma forma de manifestação. Gosta de música, de se olhar no espelho, de usar o computa-dor. Tem baixa tolerância a frustração, as vezes joga-se no chão. Antes era mais freqüente. Estuda em uma escola regular com auxilio de um monitor (profissional de apoio escolar). Hoje já tem alguma autonomia, veste-se sozinha.

De acordo com os direitos da pessoa com deficiência, Estatuto da Pes-soa com Deficiência que irá vigorar em 2016, através da LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015.

Realizou-se um trabalho com a família que passou por um processo de aceitação e adaptação frente a nova realidade ,mudança de rotina, redefi-nições do projeto de vida, do grupo familiar.

Conclui-se que a interface é necessária nos procedimentos do serviço e na qualidade de vida dos usuários. O envolvimento da família é funda-mental no processo de construção da rede de saúde mental da criança e do adolescente, assim como a intersetorialidade e a equipe multiprofissional no atendimento clínico.

O trabalho dos serviços de saúde mental infanto-juvenil deve incluir, no conjunto das ações a serem consideradas na pers-pectiva de uma clínica no território, as intervenções junto a todos os equipamentos “de natureza clínica ou não” que, de uma forma ou de outra, estejam envolvidos na vida das crian-ças e dos adolescentes dos quais se trata de cuidar

Em suma, os serviços de saúde mental infanto-juvenil, dentro da perspectiva que hoje rege as políticas de saúde mental no setor, devem assumir uma função social que extrapola o afa-zer meramente técnico do tratar, e que se traduz em ações, tais como acolher, escutar, cuidar, possibilitar ações emancipató-rias, melhorar a qualidade de vida da pessoa portadora de sofrimento mental, tendo-a como um ser integral com direito a plena participação e inclusão em sua comunidade (grifo nos-so), partindo de uma rede de cuidados que leve em conta as singularidades de cada um e as construções que cada sujeito faz a partir de seu quadro.”

Segundo o DSM V, o TEA se enquadra nos transtornos do neurodesen-volvimento, e caracteriza-se por déficits persistentes em duas áreas princi-

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pais: (critério A): a comunicação social e a interação social, em múltiplos contextos. Além disso, deve-se observar a presença de padrões restritivos e repetitivos de comportamento ou interesses (critério B): estereotipias no uso da fala, objetos e de movimentos; adesão excessiva a rotinas, etc. Tais sintomas devem estar presentes já nas primeiras etapas do desenvolvi-mento da criança. O diagnóstico deve ser firmado apenas após os três anos de idade, porém, é essencial que se observem os sinais de risco para o TEA antes dessa idade.

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é uma desordem do neu-rodesenvolvimento caracterizada por danos em dois domínios principais:

1. comunicação e interação sociais.

2. padrões restritos e repetitivos de comportamento, de interesses e de atividades.

Todos os portadores do TEA possuem essas características gerais, po-rém, serão manifestadas em intensidades distintas. O TEA abrange trans-tornos anteriormente conhecidos como o transtorno autista (Autismo Clássico, Síndrome de Asperger, Autismo Infantil Precoce, Autismo In-fantil, Autismo de Kanner, Transtorno Desintegrativo da infância , trans-torno Invasivo do desenvolvimento sem outra especificação)

Características Clínicas de crianças com risco para TEA De 6 a 8 meses

Não apresentam iniciativa em começar, provocar e sustentar interações com os adultos próximos (por exemplo: ausência da relação olho a olho).

Silenciamento de suas manifestações vocais, ausência do balbucio, principalmente em resposta ao outro.

Não se viram na direção da fala humana a partir dos quatro primeiros meses de vida. Não estranham quem não é da família mais próxima, como se não notassem a diferença. De 12 a 18 meses.

Não respondem claramente quando são chamadas pelo nome.

Ausência do apontar protodeclarativo, na intenção de mostrar algo a alguém não há ainda as primeiras palavras ou os primeiros esboços são de palavras estranhas. Não imitam pequenos gestos ou brincadeiras.

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Não se interessam em chamar a atenção das pessoas conhecidas e nem em lhes provocar gracinhas.

Não demonstram atenção compartilhada. Por volta dos 18 meses

Não se interessam por jogos de faz-de-conta. Ausência da fala ou fala sem intenção comunicativa.

Desinteresse por outras crianças: preferem ficar sozinhas e, se ficam sozinhas, não incomodam ninguém

Caso tenham tido o desenvolvimento da fala e interação, podem come-çar a perder essas aquisições

Já podem ser observados comportamentos repetitivos e interesses res-tritos e estranhos Pode aumentar seu isolamento.

Estímulos antes mesmo do diagnósticos

Assim como o processo de rastreio precoce de crianças com risco para o TEA, o início da terapia é essencial. A intervenção precoce pode ocor-rer logo após o nascimento e deve ser iniciada antes mesmo do diagnós-tico conclusivo. O principal objetivo é promover diminuição dos danos já causados e aumento das chances de melhor prognóstico desta criança. As ações são direcionadas com base nas habilidades iniciais da criança, e são realizadas inclusive no ambiente doméstico em que a criança vive, assim como relatado no caso N. As intervenções visam suprir as áreas do desen-volvimento mais comprometidas. Cada criança deve ser analisada indivi-dualmente, para que seu programa de tratamento também seja feito de maneira individual.

Sabe-se que atualmente, o processo diagnóstico inclui, tipicamente, a história do desenvolvimento clínico, as avaliações de fala, linguagem, habilidades intelectuais, educacional ou profissional. Avaliações médicas, como testes e exames genéticos, também são realizados para excluir ou-tras condições neurológicas ou para avaliar comorbidades .

Sabe-se que a avaliação neuropsicológica contribui para o conheci-mento do repertório e habilidades cognitivas, fornecendo o perfil de habi-lidades para a aprendizagem e estímulo. A avaliação neuropsicológica com

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crianças e adolescentes com suspeita de TEA envolve entrevistas com os pais, atividades lúdicas em que o padrão de contato e de brincar é o foco, avaliação do comportamento adaptativo, rastreio de investigação de ca-racterísticas típicas de autismo, testagem cognitiva, entrevista devolutiva que visam levantar o maior número de informações possíveis sobre quais os recursos do paciente, como eles são usados no seu dia-adia, estabele-cendo hipóteses sobre o que pode justificar suas dificuldades e rendimento atual daquela criança.

Desta forma, a avaliação neuropsicológica vem contribuindo para o diagnóstico e a compreensão do perfil neuropsicológico e é fundamental para elaboração de um projeto terapêutico individualizado e mais direcio-nado tendo, portanto um caráter interventivo, além de ajudar nas orien-tações familiares formulando questões prognósticas.

O serviço realiza suas atividades deste a sua implantação em parcerias com as secretarias de educação e assistência social e os conselhos, o Tute-lar e o conselho Municipal da criança e do adolescente, CMDCA e outras instituições parceiras. Criou-se um Fórum Intersetorial da Criança e do Adolescente em 2005, deste então vem sendo realizadas as reuniões men-salmente no CAPSi com grande participação de representantes de vários setores que compõem a rede de saúde mental infanto juvenil no município. No fórum discute-se casos que apresentam grande envolvimento da rede, onde há a necessidade de várias intervenções. Sendo assim possibilitou-se o trabalho em grupo e diversificado. Em consonância com as diretrizes do MS, o município desenvolve uma política de consolidação do CAPSi o que permite concluir que Ouro Preto, nesse novo modelo de gestão da saúde mental da criança e do adolescente, acompanha a evolução, a discussão de uma política que vem ocorrendo na clínica para lidar com o transtorno mental.

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REFERÊNCIAS

ALLPORT, Gordon W. The Nature of prejudice. Addison Wesley Pu-blishing Company, ISBN 0201001799, Mexico, 1995.BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de Abril de 2002. DF: DOU, nº 79 – Seção 1, 2002.BRASIL. Ministério da saúde. Secretaria de atenção à saúde. Política na-cional de Humanização da atenção e Gestão do SUS. Redes de produção de saúde / Ministério da saúde, secretaria de atenção à saúde, Política na-cional de Humanização da atenção e Gestão do SUS. – Brasília: Ministério da saúde, 2009.DORIN, Lannoy, Introdução a psicologia, editora do Brasil SA, 1975.Documento, Caminhos para uma política de saúde mental infanto-juve-nil”, Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, 2005.ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Livro de Recursos da OMS so-bre Saúde Mental, Direitos Humanos e Legislação. 2005.PEREIRA, A. M. Autismo Infantil: Tradução e validação da CARS (Chil-dhood Autism Rating Scale) para uso no Brasil. Dissertação de Mestrado – UFRGS, 2007.SCHOPLER, E., Reichler, R., Renner, B. Childhood Autism Rating Scale (CARS). Los Angeles: Western Psychological Services, 1988.The American Occupational Therapy Association (AOTA). Autism: A comprehensive Occupational Therapy Approach. Baltimore, Maryland, 2001.Texto disponível em www.autimismo.com.br, acesso em 25/04/2011.

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ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE USUÁRIOS ATENDIDOS EM UM NÚCLEO DE DESENVOLVIMENTO EM TECNOLOGIA ASSISTIVA

E ACESSIBILIDADE.

Amanda Caroline de Assunção Mendonça62; Camila Serrão Mota63; Izabella Neves

Frazão da Costa64; Marcilene Alves Pinheiro65.

RESUMO

“Tecnologia assistiva caracteriza-se como, toda e qualquer ferramenta ou recurso utilizado com a finalidade de proporcionar uma maior indepen-dência e autonomia a pessoa com deficiência físicas, visual, auditiva, men-tal e/ ou múltipla.” (OLIVEIRA, 2010), existe um Núcleo de Desenvolvi-mento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade, que promove e implanta a utilização dessas novas tecnologias em tratamento de usuários. Busca apresentar o perfil dos usuários atendidos de Janeiro a Junho de 2016 no Núcleo. O presente trabalho estrutura-se como uma reaplicação adaptada de estudo quantitativa, através da análise de 36 prontuários dos usuários atendidos no Núcleo. Os dados foram coletados através de prontuários dos pacientes atendidos no primeiro semestre de 2016 durante o período da manhã e da tarde. Tiveram oito itens como aspectos a serem observados como: (1) o nome do usuário, (2) idade, (3) sexo, (4) diagnóstico, (5) outras terapias, (6) se frequenta a escola, (7) se utiliza dispositivo de adaptação e tecnologia assistiva e (8) qual e o tipo de moradia. Os resultados demons-tram que há uma prevalência de usuários que apresentam Paralisia Cere-bral, e que independente da patologia, do sexo masculino, frequentam a escola, possuem casas de alvenaria e não fazem uso de Tecnologia Assisti-va. Este trabalho possibilitou quantificar os usuários atendidos no núcleo, além de reconhecer e as características dos mesmos.

Palavras-chaves: Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade; Análise de dados; Estudo epidemiológico.

62 Discente do 6º semestre do curso de Terapia Ocupacional Universidade da Amazônia (UNAMA)63 Discente do 6º semestre do curso de Terapia Ocupacional da Universidade da Amazônia (UNAMA)64 Discente do 6º semestre do curso de Terapia Ocupacional da Universidade da Amazônia (UNAMA)65 Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Docente do curso de Terapia Ocupacional da Universidade do Estado do Pará (UEPA)

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1. INTRODUÇÃO

Sabe-se que as novas TECNOLOGIA ASSISTIVAvêm se tornando, de forma crescente, importantes instrumentos de nossa cultura, tornando--se um recurso utilizado na inclusão e integração dos portadores de al-gum tipo de deficiência. A constatação é ainda mais evidente e verdadeira quando se refere a pessoas com dificuldades na comunicação (oral e escri-ta), na funcionalidade e locomoção. A Tecnologia Assistiva divide-se em 12 categorias, das quais no núcleo são mais utilizadas as que referem-se a: CAA-Comunicação aumentativa e alternativa; Recursos de Acessibilidade ao computador; Adequação postural e Auxílio para a mobilidade.

Os recursos tecnológicos assistivos podem oferecer possibilidades lú-dicas, e serem instrumentos mediadores entre a criança e o mundo real. Entendendo por mediação o processo de intervenção de um elemento in-termediário numa relação. Para os usuários que apresentam dificuldades na fala e escrita funcional ou em defasagem entre sua necessidade comu-nicativa e sua habilidade de falar e/ou escrever, utiliza-se a comunicação alternativa, como importante tecnologia facilitadora da inclusão social e consequentemente promove a interação mais satisfatória com o mundo.

Com esse intuito, Alves de Oliveira (2004) criou o software “Desenvol-ve®”, um instrumento que possibilita a avaliação do desempenho cogniti-vo de crianças no núcleo dando ênfase para usuários com PC, traçando um perfil de habilidades como percepção visual, auditiva, de formas, tamanho e sequência, entre outras. Na modalidade de treino, o mesmo software foi agora usado como ferramenta para ensino de habilidades mais complexas, como relações condicionais auditivo-visuais entre diferentes estímulos na formação de classes de equivalência (cf. SIDMAN, 1994).

O Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilida-de foram criado em 2005, e se propõe a estudar e implantar, por meio da pesquisa, novos dispositivos de ajudas técnicas, substituindo a tecnologia importada por tecnologia brasileira e regionalizada, visando à melhoria no processo de (re) habilitação global, contribuindo para a mobilidade, comunicação e a acessibilidade de crianças com deficiências neuromotoras e intelectual (SENA).

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2. REFERÊNCIAL TEÓRICO

Tecnologia Assistiva - TA é um termo ainda novo, utilizado para iden-tificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para propor-cionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover vida independente e inclusão. (BERSCH & TONOLLI, 2006)

Visto que os recursos são de fundamental importância na vida de pes-soas com deficiência conforme afirma Radabaugh (2001): “Para as pessoas a Tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência a Tecnologia torna as coisas possíveis.”(p.03)

“Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estraté-gias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, rela-cionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacida-des ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qua-lidade de vida e inclusão social” (ATA VII - Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) - Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) - Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Presi-dência da República).

Nesse sentido a Tecnologia Assistiva é dividida em categorias, dentre as quais se destaca (Bersch,2013)

•Auxílios para a vida diária e vida prática;

•CAA - Comunicação Aumentativa e Alternativa;

•Recursos de acessibilidade ao computador;

•Sistemas de controle de ambiente;

•Projetos arquitetônicos para acessibilidade;

•Órteses e próteses;

•Adequação Postural;

•Auxílios de mobilidade;

•Auxílios para qualificação da habilidade visual e recursos que ampliam a informação a pessoas com baixa visão ou cegas;

•Auxílios para pessoas com surdez ou com déficit auditivo;

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•Mobilidade em veículos;

•Esporte e Lazer.

3. OBJETIVO

Apresentar um perfil epidemiológico de usuários atendidos no NEDE-TA no primeiro semestre do ano de 2016.

4. METODOLOGIA

Participantes

O presente trabalho estrutura-se como uma reaplicação adaptada de estudo quantitativo, das autoras Ana Irene Oliveira; Mariane Sarmento da Silva;

Lígia Negrão Costa e Marilice Fernandes Garotti, do tipo quantitati-vo. Os critérios de inclusão da referida pesquisa foram:

1. Usuários atendidos no turno da manhã ou pela tarde no Núcleo de Desenvolvimento e Tecnologia Assistiva e Acessibilidade;

2. Com frequência assídua;3. Tenham sido atendidos durante o primeiro semestre no ano

de 2016;4. Realização da reavaliação completa.

E os critérios de exclusão foram:

A. Usuários que não são atendidos no Núcleo de Desenvolvimento e Tecnologia Assistiva e Acessibilidade;

B. Que não possuem frequência assídua;C. Os quais não foram atendidos durante o primeiro semestre no

ano de 2016;D. E os que não realizaram as reavaliações completas.

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Ambiente

A coleta de dados ocorreu no Núcleo de Desenvolvimento m Tecnologia Assistiva e Acessibilidade, localizado na Universidade Estadual do Pará (UEPA) - Centro de Ciências Biológicas da Saúde(CCBS). Esse núcleo, implantado em 2006 pela professora Ana Irene, criando um grupo multi-interdisciplinar de pesquisa, objetivando: “estudar e implementar através da avaliação e pesquisa, novos dispositivos de ajudas técnicas, substituindo a tecnologia importada por tecnologia brasileira e regionalizada, visando a melhoria a melhoria no processo de (re) habilitação global(...) pesquisar e desenvolver tecnologias que minimizem ou eliminem as imitações das deficiências físicas, sensorial e/ou mental contribuindo para a inclusão social, permitindo o aumento da autonomia e independência (...)” (OLIVEIRA, 2010).

Prontuários

As composições dos prontuários são:

•Ficha de anamnese: composta basicamente dos dados da paciente (nome, idade, sexo, diagnóstico, se frequenta a escola, condições físicas, cognitivas e funcionais dos usuários, dentre outros tópicos;

•Avaliação Socioeconômica: são as condições de moradia, a renda familiar, a quantidade de pessoas que moram na residência a qual o usuário reside, dentre outros;

•Desenvolve: e o instrumento que possibilita a avaliação do desempenho cognitivo dos usuários atendidos no núcleo, que traça um perfil de habilidades como a percepção visual, auditiva, de formas, tamanho, sequencia entre outras.

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Análise de dados

Os dados foram coletados através da análise de prontuários dos aten-dimentos realizadas nas salas do Núcleo. Para a análise dos dados, foram tabulados 8 itens como: (1) o nome do usuário, (2) idade, (3) sexo, (4) diagnóstico, (5) outras terapias, (6) se frequenta a escola, (7) se utiliza dis-positivo de adaptação e tecnologia assistiva e (8) qual e o tipo de moradia. Esses itens foram selecionados, pois os mesmos são as considerações como variáveis determinantes para que ocorra ganhos de desempenho ocupa-cional desses usuários no núcleo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisados 36 prontuários de crianças e adolescentes atendidas no Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade na Universidade do Estado do Pará (Uepa), no primeiro semestre no ano de 2016. Desta amostra 20 eram crianças do sexo masculino e 16 do sexo feminino; desses, 20 possuíam como patologia a paralisia cerebral, 4 pos-suem o Transtorno do Espectro Autista(TEA) que podem vim associados a outras patologias, e 12 crianças possuem patologias diversificadas. Em relação ao quantitativo de usuários que frequentam a escola, 25 destes estão inseridos no âmbito escolar e 11 não estão estudando, como apresen-tado nas tabelas 01 e 02.

TABELA 01: Perfil dos usuários do Núcleo em relação diagnóstico, idade, frequência na escola.

Nº de Frequenta aUsuários Diagnóstico Idade Escola

PC* Autista Outros* Criança Adolescente

Feminino 16 8 1 6 9 7 10

Masculino 20 11 3 6 13 7 15

Fonte: prontuários do ano de 2016 do Núcleo.

Tabela 01: Essa tabela está organizada em número de usuários, diagnóstico (*PC = Paralisia Cerebral, Autismo, *Outros= Síndrome de Down, Deficiência Intelectual, Deficiência Auditiva, Microcefalia,

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Traumatismo Crânio Encefálico, Deficiência de Aprendizagem e Atraso no Desenvolvimento Global), idade (considera-se adolescente com idade ≥ a 12 anos) e se o usuário do núcleo frequenta a escola.

TABELA 02: Perfil dos usuários do Núcleo em relação a realização de ou-tras terapeias, condições de moradias e o uso de Tecnologia Assistiva.

Outras TecnologiaNº de Usuários Terapias Condições de Moradia Assistiva

TO* FI* FO* Alvenaria Madeira Sim Não

Feminino 16 5 7 6 13 3 6 10

Masculino 20 7 12 11 19 1 6 12

Total 36 12 19 17 32 4 12 22

Fonte: prontuários do ano de 2016 do Núcleo.

Tabela 02: Esta tabela está organizada em outras Terapias que os usuários realizam (*TO= Terapia Ocupacional, *FI= Fisioterapia e *FO= Fono-audiologia), condições de moradia e o uso de Tecnologia Assistiva (com prevalência de cadeiras de rodas e prancha de Comunicação alternativa, nesse item, tiveram dois prontuários que não apresentavam esse campo no prontuário completo).

Com a análise da amostra, constatou-se que o quantitativo de usuários que frequentam terapias associados aos atendimentos no Núcleo, 32 rea-lizam algum tipo de tratamento, com maior prevalência atendimentos de Fisioterapia e Fonoaudiologia e outros tratamentos com a Terapia Ocupa-cional. Quando analisados sobre a utilização de dispositivo de adaptação e tecnologia assistiva, 22 usuários não possuem nenhum tipo de Tecnologia Assistiva e da amostra que utiliza, ocorre à prevalência de crianças utili-zando a cadeira de rodas.

Dessa forma, os resultados acima demostram que a prevalência da pa-tologia para atendimentos do núcleo no primeiro semestre do ano de 2016 foi a de Paralisia Cerebral. E que a maioria das crianças e/ou adolescentes independente da patologia frequentavam a escola, eram do sexo masculi-no, realizavam outras terapias com predomínio da Fisioterapia, e não fa-ziam uso de Tecnologia Assistiva, além de residirem em casa de alvenaria.

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CONCLUSÃO

Desta forma, é importante citar que o estudo epidemiológico de usu-ários atendidos no Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade, possibilitou uma análise de uma reaplicação adaptada de estudo quantitativa, através da verificação de 36 prontuários de usuários atendidos no núcleo. E que os objetivos do estudo epidemiológico foram alcançados, obtendo benefícios, devido favorecer a exatidão da quanti-dade de pacientes, das condições de moradia, de terapias associadas, da patologia prevalente e da frequência destes na escola.

Este trabalho, se necessário, também poderá ajudar em pesquisas fu-turas do núcleo, devido aos dados e resultados obtidos, além de afirmar a fundamental necessidade de ser realizados a avaliação, anamnese e o questionário socioeconômico, pois estes foram os instrumentos que possi-bilitaram a análise da coleta de dados necessários para a realização desta pesquisa.

Sendo assim, após a realização dessas etapas da pesquisa, notou-se as necessidades dos profissionais que trabalham em suas determinadas áre-as, que possam cada vez mais se empossar, seja da patologia, faixa etá-ria, nível de escolaridade dentre outros fatores, desses tópicos para que na prática assistencial o profissional possa fomentar as reais necessidades do individual, assim ressaltando também a análise do contexto social na qual individuo está inserido.

REFERÊNCIAS

VILIBOR, Renata Hydee Hasue et al. Correlação entre a função motora e cognitiva de pacientes com Paralisia Cerebral. Rev Neurocienc, São Pau-lo, v. 18, n. 3, p.380-385, 2010;OLIVEIRA, Ana Irene Alves. A contribuição da Tecnologia Assistiva no desenvolvimento cognitivo de crianças om Paralisia Cerebral, 2004,142f. Dissertação (Mestrado em Motricidade Humana) - Universidade Estadual do Pará.2004;

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Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamen-to de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de atenção à pessoa com paralisia cerebral / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saú-de, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. ᵒ Brasília: Mi-nistério da Saúde, 2013;OLIVEIRA, Ana Irene Alves de et al. Tecnologias no Ensino de Crianças com Paralisia Cerebral. Rev. Bras. Ed. Esp, Marília, v. 20, n. 1, p.85-102, 2014;OLIVEIRA, Ana Irene Alves de et al. Traçando o perfil cognitivo das crianças com Paralisia Cerebral atendidas no Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade(NEDETA). Tecnologia Assistiva Pesquisa e Prática, Belém, v. 1, n. 1, p.130-140, 2008;Disponível em: <http://www.veraciencia.pa.gov.br/upload/arq_arqui-vo/95.pdf> acessado no dia 9 de setembro de 2016;OLIVEIRA, Ana Irene Alves de. Integrando tecnologias para leitura em crianças com Paralisia Cerebral na Educação Inclusiva. 2010. 139 f. Tese (Doutorado) - Curso de Terapia Ocupacional, Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará, Belém, 2010.

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APRECIAÇÃO MUSICAL PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA: UM DIÁLOGO ENTRE PSICOLOGIA,

TECNOLOGIA E ARTE.

Kaliani Dassi (Estela Luz Antonorsi)

RESUMO

O tema deste artigo é bastante amplo, por isso, este artigo tem o intuito de iniciar um debate multidisciplinar sobre as questões da percepção mu-sical para indivíduos ouvintes e não ouvintes, a fim de dar referências para o desenvolvimento e aprimoramento da tecnologia assistiva e/ou atitudi-nal para a apreciação musical. Para tanto, foram pesquisados dispositivos de tecnologia que trabalhem com o fim de promover apreciação musical por diferentes sistemas sensoriais, assim como aspectos da arte e da psi-cologia. Os resultados da pesquisa proporcionaram a discussão presente nesse artigo, que evidencia um debate sobre as questões psicológicas do desenvolvimento do caráter ao longo do tempo de amadurecimento de um indivíduo até chegar na fase adulta segundo abordagens de autores como Reich, Lowen, Jung, Barbara Ann Brennan, Stanley Kelleman e Pavitra Shakti Shankar e qual a especificidade do caráter da pessoa com defici-ência auditiva segundo esses aspectos. Assim, do ponto de vista não só do entretenimento, mas também de preservar a integridade do indivíduo, de que forma a música pode contribuir e quais as atitudes, as técnicas ou tecnologias podem ter êxito nesse desafio.

Palavras-chave: Estimulação Sensorial; Deficiência Auditiva; Música; Equipamento de TA; Psicologia;

CTI-Renato ArcherCentro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva - CNRTABolsa PCI – CNPq

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INTRODUÇÃO

Devo começar dizendo, que a ideia dessa pesquisa surgiu do resultado de experiências da produção de espetáculos artísticos musicais, que curio-samente acabou gerando este artigo científico e não uma crítica de arte.

Esses espetáculos, têm como proposta serem “Espetáculos de Imer-são”, onde expectador, por muitas vias, é inserido na experiência artística. Assim, todo o seu sistema sensorial é estimulado. Os sentidos atuam de forma sinestésica. Seria impossível isolar um sentido, a partir disso, para proporcionar uma experiência de imersão artística é necessário apurar os valores dessas combinações e investir nessas caraterísticas. Um exemplo simples deste fato é que se ouvirmos o mesmo músico tocando a mesma peça musical com o mesmo instrumento, o mesmo equipamento, num grande teatro, e se ele estiver mal vestido num momento ou bem vestido, certamente isso tem significado na linguagem, alterando completamente a experiência. Assim, a experiência tanto do músico quanto do expectador são diferentes.

Para produzir tal experiência, os músicos da Cia Artística a que me refiro, tiveram que, ao longo de sua trajetória, munir-se de equipamentos e conhecimento tecnológico para cumprir tal objetivo, além dos conhe-cimentos sobre psicologia, arte e beleza, o que acabou por levantar uma importante questão: como podemos melhorar a experiência sonora? Além claro, dos equipamentos de primeira qualidade, conhecimento técnico, a acústica, como podemos fazer com que a sensação do som seja tal, que um surdo possa, por exemplo, ouvir e sentir melhor o espetáculo? É possível? E mais: é relevante? O que uma pessoa com deficiência auditiva e/ou Sur-da acha disso?

REFERENCIAL TEÓRICO

Num determinado momento, entre espetáculos e produções, a Cia Artística, lançou em sua campanha de temporada, uma frase que dizia: “Ouse fechar os olhos, um grande show acontecerá dentro de você”. Algo bastante ousado para um espetáculo onde o foco principal era a música.

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Após uma apresentação, uma pessoa da plateia pediu para falar com o líder, e lhe disse as seguintes palavras: “Eu tenho uma doença e estou fi-cando cega. Sempre tive muito medo de ficar cega. Porém, hoje, durante o show de vocês eu conheci algo dentro de mim, que antes eu não conhecia, e agora eu perdi o medo de ficar cega.”

Claro, que a essa altura, com uma frase como aquela no slogan da campanha, saindo do palco, ouvir tais palavras, é algo que emocionaria toda e qualquer pessoa envolvida na produção, como de fato ocorreu. Po-rém, aqui estamos falando de uma pessoa que está perdendo a visão, não a audição.

Indo um pouco além, como a questão da imersão é uma experiência altamente sensorial, somado ao fato de que o cérebro daquela senhora que relatou sua experiência foi capaz de organizar os sentidos mesmo preven-do a “falta” de um, não reduzindo a experiência, mas gerando um sentido altamente reconfortante, no mínimo, leva-nos a questionar sobre que tipo de estímulos desencadearam o estado de beleza ou a um estado que lhe trouxe uma sensação de conforto e segurança.

Mas, porque isto ocorreu? Seria essa uma experiência mítica? Ou quais fatores sensoriais teriam contribuído para que aquela senhora chegasse em tal conclusão? Como estão nossos sentidos para isso? Quanto disso é compensatório e quanto é cognitivo? O que dizem os artistas, físicos, neurocientistas, psicanalistas, psicólogos a respeito? E na questão da au-dição? Como incluir uma pessoa com deficiência auditiva na experiência de imersão artística musical? O que se tem feito a respeito? De que forma a tecnologia poderia interferir positivamente? Essa pessoa gostaria dis-so? São muitas questões. Algumas delas sem resposta, porém, espera-se, através de dados de pesquisas direcionar melhor esses questionamentos e quem sabe, nos aproximar de algo coerente e acertar mais nessa direção.

Existem muitos caminhos por onde poderíamos abordar e reforçar a justificativa dessa pesquisa, ou, porquê poderia ser relevante para um sur-do apreciar música.

Durante um bom tempo, acreditava-se que a música era uma lin-guagem de apreciação exclusiva dos indivíduos ouvintes. Porém, já há algum tempo, fatos e relatos históricos acabaram por discutir e debater

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essa crença, levando pesquisadores, apreciadores, educadores e músicos a considerar novas maneiras de dialogar e investir nessa questão.

“A música é vista como algo que os povos surdos não podem fazer uma vez que se trata de um fenomeno que deva ser experimentado atra-vés da audição” (CRUZ, 1997). Esta é uma opinião compartilhada pelo senso comum da população ouvinte e também das Comunidades Surdas e vêm se perpetuando há anos, sem realmente haver uma reflexão sobre a possibilidade ou não da sua realização. A autora ainda reforça que a im-possibilidade de audição e, por conseguinte, da realização das atividades musicais transformou-se em um conceito ideológico” e este foi imposto à Comunidade Surda como um meio de identidade cultural. Contudo, há exemplos de indivíduos surdos, que superaram esta ‘barreira ideológica’, com experiências bem sucedidas com música, como bem relatam Edwards (1974), Haguiara-Cervellini (1983), Darrow (1999), Salmon (2003).“

Um dos casos mais impressionantes, claro, sem falar no caso mun-dialmente conhecido do Beethoven que ficou surdo não deixando de com-por suas peças musicais que são clássicos perpetuados até hoje em nossa cultura, é o caso de Evelyn Glennie, percussionista escocesa, concertista, profundamente surda, que teve grande popularidade com seu TED “How to truly listen” (como verdadeiramente ouvir - tradução livre), Glennie “defende a teoria de que audição é uma forma de tato e que cada pes-soa, com ou sem problemas auditivos, processa sons de forma individual” (GLENNIE, 2002). “[1] e afirma “Com o desenvolvimento das atividades, o Surdo sente a música em várias partes de seu corpo por meio das vibra-ções sonoras. As frequências graves são sentidas nos pés, nos braços e nas pernas; as mais agudas no rosto, no pescoço e no peito.”

Ensino Musical para surdos: um estudo de caso com utilização de tec-nologia.

Sarita Araujo Pereira

UFU/PPG-MESTRADO EM ARTES/MUSICA SIMPOM: Educação Musical

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FINK, Regina. “Surdez e Música: será este um paradoxo?”,doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS , in.

A tecnologia vem, desde os primórdios, ampliando as capacidades de lidar e perceber o mundo do ser humano, ampliando a curiosidade e am-plitude de conexões e a consequente capacidade cognitiva, a inteligência do cérebro.

Com o propósito de possibilitar pessoas com deficiência auditiva a per-ceber a música, existe uma série de aparelhos sendo fabricados e testados, que, em sua maioria, fazem uso do recurso da vibração através do contato com a pele do indivíduo, relacionando, de formas variadas, seja em inten-sidade de vibração, região do contato, entre outras, os resultados são em parte bem sucedidos, porém, claro, existe a dúvida: mas é musica que se percebe com esses aparelhos?

A questão é altamente desafiadora, pois, inclusive nos casos dos im-plantes cocleares, (que não servem para todos os tipos de deficiência au-ditiva) a apreciação musical é altamente prejudicada devido às distorções das frequências, tornando a experiência altamente desagradável.

Assim, sob uma ótica multidisciplinar, levando em consideração to-das as linhas de atuação levantadas até aqui, vale discutir as formas e os porquês de apurar os sentidos e questionar a qualidade de estímulos, uma vez que eles incentivam ou bloqueiam nossos interesses e vontades para muitas direções.

OBJETIVOS

Essa pesquisa tem como principal objetivo, a partir de um levanta-mento de conteúdos relativos à música, tecnologia, psicologia e surdez, iniciar um debate de referências e considerações para o desenvolvimento e aprimoramento tecnológicos e atitudinais para a apreciação musical.

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METODOLOGIA

Sobre o tema da percepção das vibrações pela via do tato, com o foco em aplicação em tecnologia assistiva e em busca de uma melhor apreciação musical para pessoas com deficiência auditiva, foram levantados artigos, produtos, referências e estudos que abordam e complementam a temática desta pesquisa, bem como temas que possam de alguma forma beneficiar ou confrontar os argumentos aqui levantados.

Dessa forma, tem-se como fundamental, a seguinte ordem de priori-dades para compor os argumentos necessários para debater e direcionar tal pesquisa:

1 - Pessoas com deficiência auditiva e seu interesse em música e nos sons:

Qual a necessidade e demanda desse tipo de pesquisa para este público específico?

2 - Audição e Tato

Características fisiológicas da funcionalidade dos sentidos da audição e do tato. Espectros audíveis e inaudíveis, bem como a sensibilidade cutâ-nea das frequências e qual a possibilidade de discriminação das diferentes características das ondas que compõem as propriedades dos sons.

Assim, foram levantadas referências sobre a percepção das baixas fre-quências, e os limites saudáveis de exposição a elas: tanto para os tímpa-nos quanto para a integridade física dos órgãos.

E por fim, como se dá a percepção das frequências mais altas nos tím-panos e na pele.

3 - Tecnologia Assistiva: Softwares e Hardwares

Foi levantada uma relação de referência nos produtos disponíveis hoje no mercado:

• Equipamentos e aplicativos produzidos hoje para cumprir a finali-dade apontada por esse estudo.

• Equipamentos e aplicativos produzidos sem a finalidade de TA, mas que possam ser direcionados para este fim.

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4 - Apreciação Musical e sua atuação no indivíduo.

Neste item, foi feito um levantamento sobre artigos e estudos que des-crevem o que acontece tanto no organismo quanto nas capacidades cogni-tivas de um indivíduo ao apreciar uma obra musical.

RESULTADOS

Tive o privilégio de assistir uma palestra de um colega e pesquisador Vinadhara Wassuprem, intitulada: “Pode um Surdo perceber a música?”, onde relacionou o estado de prazer e conexão que podemos sentir ao ouvir uma música, à memória dos batimentos cardíacos e à voz maternos e à uma sensação de conforto referente a um tempo e um momento, em que tínhamos alimentos, proteção e afeto.

Citou: “Um feto ouve o batimento cardíaco da mãe 26 milhões de ve-zes. Este ritmo nos protege, e ele vai nos estimular como um dos elementos mais atraentes da música, porque simbolizará um retorno a uma seguran-ça primária” (Decker - Voigt, 1997)

Essa espécie de retorno ao um estado primordial que a música é ca-paz de nos remeter se deve à uma memória inconsciente que é ativada pela pulsação da música, assim como as melodias que nos remetem à voz materna. Assim, a música teria um importante papel de auto regulação, devolvendo estados de profundo bem-estar, com possibilidades de reorga-nizar a psique.

Até que um indivíduo chegue à fase adulta, muitas etapas de amadu-recimento são percorridas. Em cada um delas, de acordo com os inputs que recebe dos pais, família, sociedade, o indivíduo em desenvolvimento gera um tipo de significação da realidade, que fica registrado em seu corpo, em forma de registro muscular, emprestando um desenho e uma corporalida-de para aquela personalidade. Isso significa que ficam padronizadas rea-ções aos eventos que de alguma forma remetem a experiências passadas.

Quando em alguma etapa do desenvolvimento o indivíduo recebe uma informação que possa direcionar de forma erronea a compreensão da vida, começam a ocorrer distorções e a energia, no corpo da pessoa fica mais ou menos condensada na musculatura, formando assim, as couraças musculares.

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“Foi o trabalho sistemático com essa nova técnica, a Análise do Cará-ter, que levou Reich a perceber a íntima relação mente-corpo e a descobrir que toda couraça psíquica possui um equivalente somático, ou seja, uma couraça muscular. Essa couraça muscular é formada por tensões cronicas decorrentes de experiências traumáticas ao longo da vida, cuja função é, principalmente, proteger o indivíduo.”

Haguiara-Cervelinni (2003, p. 189) observa que as representações que o sujeito surdo e seus familiares têm do surdo como um ser musical estão marcadas pela visão que trazem da surdez, seja esta como condição limi-tadora ou não. Ainda é marcada “pelas experiências de vida, pelas influ-ências dos profissionais que atenderam os sujeitos e pela própria visão que têm da música como bem da humanidade”. Isso, de alguma forma explica o fato de existirem pessoas que desenvolvem a musicalidade e sua expres-são musical, sendo ou não indivíduos ouvintes. Com isso, quero dizer que o interesse pela música tem a ver com uma série de fatores e ocorrências da pessoa seja ela deficiente auditiva ou não. Então, não se trataria de forçar as pessoas a se interessarem por música, mas que já que podem ser beneficiados por ela, então melhor seria estudar formas de isso acontecer de forma integrativa.

“A pele é o órgão dos sentidos mais vital. Pode-se viver sem audição, visão, olfato, paladar, mas é impossível viver sem a pele. A pele estabele-ce os limites do corpo, propiciando sua relação com o mundo exterior. É, portanto, um meio de comunicação fundamental com o outro. Ela funcio-na como um canal de transmissão geral. Daqui se depreende que os sons possam afetar o sujeito também por essa via. E, beneficiando-se dela, o su-jeito surdo pode, então, usufruir desse mundo sonoro e reagir a ele. Ouvir com todo o corpo, entrar em sintonia com as vibrações sonoras mediante toda extensão pericorporal é possível ao surdo, bem como ao ouvinte. O conjunto perceptivo multissensorial permite-lhe a vivência musical e, as-sim, cria canais para a manifestação de sua própria musicalidade. Haguia-ra-Cervellini (2003, p. 79)

[...] ouvir é basicamente uma forma especializada de toque. O som é, simplesmente, o ar vibrando que o ouvido colhe e converte em sinais elétricos e que, então, são interpretados pelo cérebro. A sensação do ouvir não é o único sentido que pode fazer isto, o toque pode fazer isto dema-

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siado. Se você estiver em uma estrada e um caminhão grande passar por perto, você ouve ou sente a vibração? A resposta é ambos.

Com a vibração de frequências muito graves o ouvido começa a se transformar ineficiente e o resto do sentido do toque do corpo começa a dominar. Por alguma razão nós tendemos a fazer uma distinção entre o ouvir um som e o sentir uma vibração, que na realidade são a mesma coi-sa. É interessante notar que na língua italiana esta distinção não existe. O verbo “sentire” significa ouvir e o mesmo verbo na forma refletiva “sentir-si” significa sentir. A surdez não significa que você não pode ouvir, apenas que há algo errado com o ouvido. Mesmo alguém que é totalmente surdo pode ainda ouvir/sentir sons. Glennie (2008b)11

E mais: Os indivíduos com deficiências auditivas sentem a música por meio de vibrações, a percepção destas vibrações musicais são tão reais como o seu equivalente sonoro por serem ambos processados na mesma região do cérebro. (SHIBATA, 2001) .

Claro que ao deparar-se com tais depoimentos, surgem dúvidas a res-peito de que se alguém como a Evelyn Glennie foi capaz de se tornar uma virtuose da percussão, mesmo sendo profundamente surda, então será apenas uma questão atitudinal? Podemos resumir isso dessa maneira?

Mas para argumentar com essa questão, segundo afirmações da psico-logia, o indivíduo sofre traumas ao longo da vida, e a experiência de cada indivíduo é muito particular. Assim, a qualidade de estímulos que teve de dentro e de fora, resultaram na qualidade de suas vontades, dessa manei-ra, não seria possível simplificar a questão, pois os bloqueios e os conflitos de interesses internos são dinâmicos e precisariam de uma atenção espe-cial organizando a particularidade de cada caso.

Para somar elementos a essa questão e esse debate, existe a tecnologia e a tecnologia assistiva que vem servindo de ferramenta para possibilitar novos alcances e recursos de autonomia ou suporte para desenvolvimento de alguma característica.

Abordando tecnicamente os depoimentos citados acima, todas as pes-soas sentem as vibrações através da pele, do tato, sendo um complemento importante da audição. Assim, alguns pesquisadores vêm desenvolvendo dispositivos hápticos de transmissão de conteúdo musical.

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Desenvolvido por brasileiros, temos a Ludwig Project, que desenvol-veu uma pulseira conectada a um tablet em que processa um aplicativo com um teclado virtual programado para ensinar ritmos e melodias para uma pessoa com deficiência e por enquanto o repertório é restrito ao que já vem instalado, que são músicas de domínio público. Sobre os depoi-mentos sobre os resultado que tiveram: “Tivemos casos, por exemplo, que essas vibrações afloraram emoções como entusiasmo, alegria, amor...

Amor, como o de um surdo que lembrou da sua mãe por sentir a vibra-ção de uma música.

Praticamente todos notaram uma relação muito forte com a vibração que sentem pelo solo em algumas situações, como na igreja, por exemplo, onde o solo é de madeira e eles utilizam esse recurso para participarem ativamente.”equipe do Projeto Ludwig – em entrevista para o site moo-zyca.

Existem também alguns tipos de cadeiras hápticas, e num estudo so-bre a audição humana, buscou-se uma forma de separar as faixas de fre-quência relativas à cada parte da cóclea, de forma que a pessoa consiga, através do tato, discriminar os diferentes espectros de frequência, com dispositivos que são mini-falantes dispostos ao longo do assento. Sobre o software que separa as frequências que são enviadas a cada região, a so-lução foi separar as frequências através das faixas midi - de forma que se a pessoa não possui acesso ao áudio original, editável, isso somente seria possível se feito através de uma música midi.

Alguns desses dispositivos, como muitos dispositivos que acabaram se encaixando dentro de TA, não foram originalmente construídos para pessoas com deficiência, porém, encontrou-se utilidade para este fim. As-sim ocorreu por exemplo com as mochilas Subpac que são dispositivos com membranas vibratórias localizadas sobre a espinha que espalham as sensações dos sons, principalmente os graves, pelo corpo. O equipamento é bastante usado por profissionais de áudio, Djs, Gamers e também em projetos envolvendo pessoas com deficiência auditiva.

O Basslet vibra em resposta às frequências de som mais baixas, de 10 a 250 hertz, recriando a sensação tátil dos graves.

Existem também no mercado caixas de som que utilizam o sistema

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labirinto, que aproveita o deslocamento de ar que aconteceria para den-tro da caixa, e o redireciona para frente, somando assim uma sensação de mais impacto do som, por causa da pressão extra de ar.

E existe ainda uma série de aplicativos mobile que reproduzem o rit-mo de melodias através de seus mecanismos de vibração.

CONCLUSÕES

A experiência de cada pessoa ao se deparar com qualquer um desses dispositivos é muito particular. E se estamos falando em apreciação artís-tica, inevitavelmente somos remetidos ao paradigma da beleza, que reco-nhecidamente nos leva a estados de profunda conexão com o si. Embora hajam discussões a respeito do que seja beleza, quando ela acontece, todos reconhecem.

“No que diz respeito à restauração da audição, nós certamente temos um longo caminho a percorrer, um enorme caminho. E temos um cami-nho muito maior no que diz respeito a restaurar a audição perfeita. (…) Não quero subestimar o quão importante é o restauro das funções básicas (referindo-se à audição das palavras). Mas é o restauro da habilidade de perceber a beleza onde devemos buscar a inspiração. Acho que não deve-mos desistir da beleza.”

Charles Limb

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O USO DO TABLET COMO RECURSO PARA ESTIMULAÇÃO DA APRENDIZAGEM DE CRIANÇA COM PARALISIA CEREBRAL:

UM ESTUDO DE CASO

Paôlla Oliveira da Silva66; Thamires da Costa Ferreira67; José Lucas Oliveira de

Sena47; Ana Irene Alves de Oliveira68

.

RESUMO

A educação é um processo constante, que visa o desenvolvimento da ca-pacidade física, intelectual e moral do ser humano. Algumas crianças, no entanto, por apresentarem deficiências, têm mais dificuldade em iniciar essa caminhada. Pensando nas dificuldades de aprendizagem, comunica-ção e intelectual, uma alternativa de intervenção terapêutica seria o uso de tablets. Com isso, vê-se a necessidade de dar continuidade nos estudos sobre este recurso terapêutico para então proporcionar novas formas de comunicação e novas formas de estimulação da aprendizagem a crianças com deficiência. Evidenciar o uso do tablet como recurso de intervenção para estimulação da aprendizagem em paciente com PC, a partir dos re-sultados da avaliação e reavaliação do protocolo de avaliação cognitiva Desenvolve®. Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo estudo de caso com abordagem quantitativa, referente ao acompanhamento terapêutico ocupacional de um paciente com PC assistidos no Projeto PIBIT/CNPQ desenvolvido no Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (NEDETA). Os dados coletados na avaliação com o sof-tware Desenvolve® constatou habilidades cognitivas deficitárias (habili-dades com acertos abaixo de 75%) em P1, a serem estimuladas nas inter-venções. A partir da reavaliação, observou-se que as habilidades cogniti-vas: noção de espaço com valor de 100%, percepção de formas com valor de 66%, associação de iguais e diferentes com valor de 100%, noção de quantidade com valor de 100%, percepção de letras e números com valor de 58%, associa conjuntos com valor de 100%, percepção espaço temporal 66 Universidade do Estado do Pará (UEPA)67 Universidade Federal do Pará (UFPA)68 Universidade do Estado do Pará (UEPA)

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com valor de 83% e nomeação de números com valor de 50% obtiveram melhora significativa em relação a avaliação. Conclui-se que o tablet tem capacidade para ser um recurso catalisador no processo de aprendizagem de crianças com PC, pois, é inovador e está muito presente no cotidiano das novas gerações.

Palavras-chave: Tablet; Aprendizagem; Paralisia Cerebral.

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1. INTRODUÇÃO

A educação é um processo constante, que visa o desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano. Algumas crianças, no entanto, por apresentarem deficiências, têm mais dificuldade em iniciar essa caminhada (REICHERT; et al, 2013). Assim, dentro das diversas pa-tologias que podem implicar tal dificuldade, pode-se destacar a paralisia cerebral (PC).

A encefalopatia crônica não progressiva da infância, conhecida como paralisia cerebral (PC) descreve um grupo de distúrbios permanentes do movimento e da postura, causando limitação de atividade, que são atri-buídos a lesões não progressivas ocorridas durante o desenvolvimento do cérebro. As desordens motoras da PC são frequentemente acompanhadas por distúrbios sensoriais, perceptuais, cognitivos, de comunicação, com-portamento, epilepsia e por problemas musculoesqueléticos secundários (MACIEL, MAZZITELLI, DE SÁ, 2013).

Nesta perspectiva, visando minimizar os impactos que estas podem causar, um conceito novo aparece, a Tecnologia Assistiva (T.A.). Este ter-mo é utilizado para caracterizar uma área do conhecimento, de caracte-rística interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, es-tratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapa-cidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (CAT, 2007)

Dentre as categorias da T.A. está a Comunicação Alternativa e Au-mentativa (CAA), que para BEZ (2010) pode dar vez e voz aos indivíduos com déficits na fala, fazendo com que estes tenham maior autonomia em suas vidas quanto às suas necessidades, sentimentos e pensamentos, e, consequentemente, auxiliando a sua interação social e seu processo de en-sino e aprendizagem.

Pensando nas dificuldades de aprendizagem, comunicação e intelec-tual que pacientes com PC podem vir a apresentar, uma alternativa de intervenção terapêutica seria o uso de tablets com sistema IOS e android, e estes, segundo

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Keller (2013), seriam dispositivos com tela sensível ao toque com im-plicações profundas em termos cognitivos, subjetivos, emocionais e neu-rofisiológicos.

Estudos já demostraram a utilização destes dispositivos em crianças com deficiência auditiva, autistas, hospitalizadas e com diagnóstico de câncer. Em uma matéria no jornal americano The Nem York Times, Mi-chael Nagle (2010) descreveu sobre pais de uma criança autista que utili-zam o tablet de sistema IOS com aplicativos para ensinar as habilidades básicas, como escovar os dentes e se comunicar, de forma mais eficiente, com outras pessoas.

Com isso, vê-se a necessidade em se dar continuidade nos estudos so-bre esta tecnologia enquanto recurso terapêutico, para então proporcio-nar e instigar novas formas de comunicação, bem como novas formas de estimulação da aprendizagem a crianças com deficiência, a exemplo dos sujeitos com PC.

2 REEFERECIAL TEÓRICO

2.1 PARALISIA CEREBRAL

A paralisia cerebral é um distúrbio sensório motor que afeta o controle da postura e do movimento. O diagnóstico se refere a uma lesão cerebral, a qual pode ocorrer no período pré-natal (ocasionado por doenças da ges-tante, como diabetes; pressão alta; infecções virais como rubéola e toxo-plasmose; além do uso certas substâncias como álcool, drogas e tabaco); peri-natal (sendo o período que vai do começo do trabalho de parto, até 6 horas após o nascimento, tendo como possível causa a prematuridade, o baixo peso e o trabalho de parto demorado) ou pós-natal (devido infecções como meningite, traumas cranianos e tumores) (Nelson, 2004).

De acordo com a Associação Brasileira de Paralisia Cerebral (ABPC) (2012), a doença pode ser classificada de acordo com o distúrbio motor que apresenta, sendo do tipo: espástica, é a mais comum, acomete a região do cérebro que comanda primariamente os movimentos (córtex motor do cérebro); atetóide, sendo caracterizada por movimentos involuntários e variações do tônus muscular, devido a lesão do sistema extrapiramidal;

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atáxica, a qual acontece por lesão no cerebelo, é um tipo raro, onde ge-ralmente a criança apresenta tremores; falta de coordenação nos mem-bros inferiores, superiores e tronco; déficit de equilíbrio, sendo também comum, nesse caso, alterações na fala e comprometimento mental.

Além do comprometimento da área motora, há também, alteração no âmbito sensorial e cognitivo, o qual pode afetar as percepções e a capaci-dade de aprender e interpretar os estímulos ambientais. Sendo que, por vezes, serem incapazes de articular a fala ou de segurar um lápis, para aprender a escrever, possuem o processo de aprendizagem e alfabetização comprometidos (Oliveira, 2004).

Portanto, os recursos tecnológicos, fazem com que essa criança expe-rimente uma nova forma de aprender e se comunicar, visto que, atualmen-te, a tecnologia contribui para minimizar as limitações e impedimentos dos indivíduos, sejam eles com ou sem deficiência.

2.2 TECNOLOGIA ASSISTIVA NA APRENDIZAGEM

A Tecnologia Assistiva (TA) é um conceito utilizado para caracterizar produtos e serviços que auxiliem ou ampliem as habilidades funcionais de pessoas com deficiência, contribuindo para uma vida mais independente, com melhor qualidade de vida e inclusão social. O uso da TA facilita que os indivíduos tenham uma participação ativamente das atividades de vida diária, e com isso uma maior independência (BERSCH, 2013).

De acordo com o Comitê de Ajudas Técnicas - CAT, a Tecnologia Assis-tiva, não significa apenas o uso e a fabricação de equipamentos, mas tam-bém diz respeito a pesquisas e estratégias para estimular as habilidades funcionais de pessoas com deficiência. Assim, podendo ser utilizadas como ferramentas que favoreçam o desempenho dos que apresentam dificulda-des/limitações no processo de aprendizagem.

Na tecnologia assistiva há doze categorias, a saber: Auxílios para vida diária e vida prática; Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA); re-cursos de acessibilidade ao computador; sistemas de controle de ambiente; projetos arquitetônicos para acessibilidade; órteses e próteses; adequação postural; auxílios de mobilidade; auxílios para qualificação da habilidade

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visual e recursos que ampliam a informação a pessoas com baixa visão ou cegas; auxílios para pessoas com surdez ou com déficit auditivo; mobilida-de em veículos; esporte e lazer. Porém, no contexto do presente trabalho, temos o interesse por TA no âmbito da comunicação alternativa e aumen-tativa e recursos de acessibilidade.

Neste sentido, ressalta-se que a comunicação alternativa aumenta-tiva é definida como uma maneira alternativa a comunicação oral e es-crita, abrangendo o uso de símbolos (gestos, imagens e sinais), recursos (pranchas, álbuns e softwares), técnicas (apontar, segurar, acompanhar) e estratégias (uso de histórias, brincadeiras, imitações) para auxiliar o de-senvolvimento da comunicação e aprendizagem (GLENNEN, 1997 apud BERSCH, 2013).

Sendo a aprendizagem, um aspecto cognitivo a ser trabalhado, este permite ao indivíduo adquirir e manipular informação, por meio de um processamento que requer modulação, classificação, organização, assimi-lação e transformação da informação e sua consequente resposta (CAVAL-CANTI, 2007).

Outra categoria de TA relacionada a este estudo corresponde a de re-cursos de acessibilidade, no qual, nesta pesquisa se dá através do tablet, visando facilitar o acesso/inclusão do indivíduo à sociedade, logo, melho-rando seu desempenho ocupacional e, consequentemente sua qualidade de vida e inserção social. (OLIVEIRA, 2007).

Portanto, pode-se dizer que a TA pode ser utilizada como recurso que auxiliará e favorecerá no processo de aprendizagem e, assim, apresentan-do-se como uma perspectiva concreta de minimizar as barreiras causadas pela deficiência, logo possibilitando a inserção dos sujeitos nos ambientes ricos para a aprendizagem e desenvolvimento.

2.3 UTILIZAÇÃO DE TABLETS NA APRENDIZAGEM

Um grande avanço é observado na área tecnológica, gerando diversas aplicações de interesse industriais e acadêmicos, envolvendo comunicação via satélite, imagens médicas e produtos de acessibilidade, sendo desta-cados nesse meio os dispositivos móveis, os quais podem conter inúmeros

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aplicativos podendo ser de diversas categorias: entretenimento, saúde, in-teração social e educação.

Deste modo, especificamente, os tablets utilizados como recursos al-ternativos de comunicação, possuem aplicativos que atendem demandas significativas, começando com criança da primeira infância, adolescente, adulto. Apli cando os recursos de acordo com a necessidade de cada pa-ciente e suas possibilidades de manuseio diante do tratamento de reabili-tação oferecido (DUARTE, 2013).

Para afirmar as possibilidades desse recurso, cita-se a matéria de Mi-chael Nagle para o jornal americano The New York Times, em 2010, re-latando sobre um menino de sete (7) anos, o qual os pais muito tenta-ram introduzir meios de comunicação, visando minimizar a repercussão da doença, porém nenhumas das tentativas tiveram êxito. Porém quando proposto a utilização do tablet no sistema IOS, de maneira surpreendente, teve uma resposta positiva. Em relato, a mãe revelou estar surpresa como o benefício que o aparelho trouxe a seu filho.

Em fomento a isto, salienta-se também que em abril de 2010 em Mas-sachusetts o deputado Edward J. Markey redigiu uma lei que exige que os dispositivos móveis devam ser mais acessíveis aos usuários com deficiên-cia, e ainda completou afirmando que aproximadamente três quartos de comunicações e dispositivos de vídeo precisam ser adaptados para pessoas cegas e surdas.

Desta forma, pensar as possibilidades tecnológicas dentro de uma proposta que visa favorecer a aprendizagem, constitui-se um campo em desbravamento. Assim, o tablet, apresenta-se como uma possibi-lidade de recurso terapêutico frente ao favorecimento do desempenho ocupacional.

OBJETIVO

Evidenciar o uso do tablet como recurso de intervenção para estimu-lação da aprendizagem em paciente com PC, a partir dos resultados da avaliação e reavaliação do protocolo de avaliação cognitiva Desenvolve®.

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MÉTODO

4.1 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo estudo de caso com abor-dagem quantitativa, referente ao acompanhamento terapêutico ocupacio-nal de um paciente com PC assistidos no Projeto PIBIT/CNPQ desenvol-vido no Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibili-dade (NEDETA), localizado no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará (UEPA)CampusII.

4.2 PARTICIPANTE

Participou do estudo 1 sujeito, selecionado por conveniência, do gêne-ro feminino, com diagnóstico clínico de Paralisia Cerebral e com dificul-dade na aprendizagem ratificados através de relatório escolar, com treze anos de idade, a qual será identificada como P1.

4.3 PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS

Nesta pesquisa, utilizou-se como principal instrumento de investiga-ção o Desenvolve®, este, trata-se de um software de caráter de avaliação cognitiva, composto por 127 telas e um sistema de comunicação alternati-va com letras, sendo tudo configurável e armazenado através de arquivos, construídas com base em escalas de desenvolvimento, seguindo o roteiro do guia Portage.

A aplicabilidade do software como instrumento avaliativo sinaliza a pertinência da sua utilização com sujeitos que apresentem dificuldades motoras, cognitivas, de linguagem e, qualquer outro indivíduo que neces-site de alguma intervenção onde o software possa ser utilizado ou adapta-do para atender as necessidades do indivíduo na sua essência humana, a exemplo de pacientes com PC.

Assim, no caso de pacientes com PC, tal instrumento possibilita traçar um perfil cognitivo destes, bem como fornece caminhos de utilização do mesmo como recurso para estimulação e reabilitação cognitiva, de modo mais acessível e adaptado à realidade nacional e regional.

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Após a avaliação feita a partir do software Desenvolve ®, foram reali-zadas 20 sessões com duração de 30 a 40 minutos, aproximadamente, mais uma sessão de reavaliação com o mesmo software. Nas sessões utilizou-se aplicativos no tablet previamente testados, que atendiam as habilidades cognitivas deficitárias identificadas através da avaliação. Os dados obtidos foram analisados de forma comparativa para a construção dos resultados.

5. RESULTADOS

De acordo com os dados coletados na avaliação com o software De-senvolve ® foi possível identificar habilidades cognitivas deficitárias (ha-bilidades com acertos abaixo de 75%) em P1, a serem estimuladas nas intervenções.

Dessa forma, verificaram-se em P1 déficits em relação às habilidades de percepção de tamanho com valor de 50%, noção de espaço com valor de 33%, percepção de formas com valor de 50%, associação de iguais e diferentes com valor de 50%, noção de quantidade com valor de 0%, per-cepção de letras e números com valor de 56%, associa conjuntos com valor de 0%, percepção espaço temporal com valor de 66%, noção de sequência numérica com valor de 66%, nomeia números com valor de 33% e identi-ficação de fatos pela sequência de ações com valor de 66%.

Posteriormente a avaliação selecionou-se para as intervenções alguns aplicativos que abrangessem pelo menos algumas das habilidades analisa-das, entre eles estão: aprendizagem de cores crianças, formas e cores para crianças, aprendizagem das cores, ler e contar, números para crianças: o jogo, ABC kids e contando, aprendendo as formas e números para criança. Estes aplicativos foram escolhidos por serem mais atrativos e por contem-plarem o desenvolvimento e o trabalho com mais de uma habilidade.

Diante disto, a partir da reavaliação utilizando o Desenvolve® obser-vou-se que as habilidades cognitivas: noção de espaço com valor de 100%, percepção de formas com valor de 66%, associação de iguais e diferentes com valor de 100%, noção de quantidade com valor de 100%, percepção de letras e números com valor de 58%, associa conjuntos com valor de 100%, percepção espaço temporal com valor de 83% e nomeação de nú-

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meros com valor de 50% obtiveram melhora significativa em relação a avaliação.

De acordo com os resultados, observa-se como o tablet utilizado como recurso terapêutico pode apresentar características positivas na estimu-lação da aprendizagem com crianças com PC, pois oferece uma série de possibilidades de aplicativos que podem atender as demandas de cada criança. Além disso, com a era da tecnologia as crianças mostram-se mais interessadas por atividades em equipamentos tecnológicos de fácil acesso.

6. CONCLUSÃO

A partir da análise dos resultados após as intervenções, conclui-se que o tablet tem capacidade para ser um recurso catalisador no processo de aprendizagem de crianças com PC, pois, é inovador e está muito presente no cotidiano das novas gerações.

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300

301

PERFIL COGNITIVO DOS PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL ATENDIDOS PELA FONOAUDIOLOGIA NO NÚCLEO

DE DESENVOLVIMENTO EM TECNOLOGIA ASSISTIVA E ACESSIBILIDADE – NEDETA

Alana de Oliveira Wan-Meyl69; Ana Irene Alves de Oliveira70; Douglas Rego

Chaves49; Letícia Barreto Ramos49; Luzianne Fernandes de Oliveira71

RESUMO

O NEDETA da Universidade do Estado do Pará - UEPA oferece servi-ços em reabilitação a pessoas com deficiência, desenvolvendo tecnologias economicamente acessíveis. A maior demanda do núcleo é de pacientes com Paralisia Cerebral - PC. Alterações cognitivas, apesar de não serem características presentes em todos os casos, podem estar associadas a ou-tras características como as limitações motoras, que podem interferir no desenvolvimento cognitivo, pois, a exploração do meio ambiente se faz através dos movimentos e sensações, essenciais ao desenvolvimento das funções intelectuais. Com o objetivo de analisar o perfil cognitivo dos pa-cientes com PC atendidos pela Fonoaudiologia, foi realizado um estudo de casos múltiplos, quantitativo, através de seis informantes entre fevereiro a junho de 2016. Para a coleta de dados foi utilizada uma Avaliação do Perfil Cognitivo, referente às habilidades de Noção de Espaço - NE; Percepção de Objetos do Cotidiano - POC; Percepção de Cor - PC; Percepção de Ta-

69 Acadêmicos do 8 semestre de Fonoaudiologia da Universidade da Amazônia e Estagiários do Núcleo de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA.70 Terapeuta Ocupacional e Bacharel em Psicologia. Professora Titular da Universidade do Estado do Pará - UEPA. Coordenadora do Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA. Coordenadora do Centro Especializado de Reabilitação Física e Intelectual CER II. Especialista em Tratamento Neuroevolutivo Bobath. Mestre em Motricidade Humana. Doutorado em Psicologia.71 Fonoaudióloga. Especialista em Linguagem Humana, Motricidade Humana e Motricidade Oral. Formação no Conceito Neuroevolutivo Bobath. Técnica da Secretaria de Educação do Estado do Pará - SEDUC. Técnica da Secretaria Municipal de Saúde - SESMA. Mestre em Desenvolvimento e Meio ambiente Urbano.

302

manho - PT; Percepção de Forma - PF; Percepção de Sequência - PSe; Percepção de Letras Isoladas - PLI; Percepção de Sílabas - PSIL e Percep-ção de Números - PN, onde os informantes apresentaram maior facilidade em NE, POC, e PT; e menor em PSIL. As dificuldades apresentadas, rela-cionadas a elementos mais abstratos, podem ter sido mais frequentes, pelo fato de o desenvolvimento psíquico da criança se apoiar em experiências com o meio, que podem estar prejudicadas pelas desordens motoras.

Palavras-chaves: Perfil Cognitivo. Paralisia Cerebral. Habilidades Cogniti-vas. Fonoaudiologia.

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1. INTRODUÇÃO

O Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilida-de - NEDETA da Universidade do Estado do Pará - UEPA oferece servi-ços em reabilitação a pessoas com deficiência, desenvolvendo tecnologias economicamente acessíveis para esta comunidade.

A maior demanda do núcleo é de pacientes com Paralisia Cerebral - PC, a qual se caracteriza por uma desordem da postura e do movimen-to decorrente de uma lesão no cérebro em desenvolvimento estrutural e funcional. Por conta das privações de experiências sensório-motoras, a criança com PC, pode, muitas vezes, ter seu desenvolvimento neuromotor atrasado e até mesmo limitado, tendo em vista que aprendemos através de sensações.

Portanto, as alterações cognitivas, apesar de não serem características presentes em todos os casos, podem estar associadas ou influenciadas por outras características como as limitações motoras que podem interferir no desenvolvimento cognitivo, já que a exploração do meio ambiente se faz através dos movimentos e sensações, a qual é essencial para o desenvolvi-mento das funções intelectuais.

2. OBJETIVO

Analisar o perfil cognitivo dos pacientes atendidos pela Fonoaudiolo-gia no NEDETA.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 PARALISIA CEREBRAL

A Encefalopatia Crônica Não Evolutiva da Infância - ECNEI ou Paralisia Cerebral - PC, como é mais conhecida, se caracteriza por um transtornocausado por uma sequela no encéfalo em maturação e afeta a postura, tônus e movimento, sendo persistente e invariável, acarretando consequências no desenvolvimento da criança em diversos níveis. Em uma grande parte dos casos, o aspecto motor é o mais comprometido, podendo o desenvolvimento cognitivo e social estar adequado aos parâmetros de

304

indivíduos na mesma fase de desenvolvimento (TEIXEIRA-ARROYO; OLIVEIRA, 2007).

A PC é considerada um grupo de desordens permanentes do desen-volvimento motor e da postura, mas essa desordem no movimento pode estar acompanhada, muitas vezes, por distúrbios sensoriais, perceptivos, cognitivos, de comunicação e comportamental, por epilepsia e por proble-mas musculoesqueléticos secundários (QUEIROZ; BRACCIALLI, 2016).

A lesão encefálica na PC ocorre em um período muito importante no de-senvolvimento da criança, o que pode comprometer o processo de aquisição de várias habilidades. Esse comprometimento pode interferir nas atividades e experiências da criança com o meio, afetando o processo de aprendizado de alguns conceitos importantes no desenvolvimento da criança, aprendidos e fixados por meio da troca com o meio (VILIBOR; VAZ, 2010).

3.2 COMPROMETIMENTO COGNITIVO

Em muitos casos a inteligência da criança não é afetada com a Para-lisia Cerebral (depende da localização e extensão da lesão cerebral), mas as habilidades cognitivas podem, muitas vezes, se apresentarem alteradas como consequência do comprometimento motor, por conta da falta de tro-ca com o meio. Como destacam Alves de Oliveira, Garotti e Sá (2008), ao descreverem que as limitações motoras e/ou cognitivas podem acarretar dificuldades de experiências, comprometendo ainda mais o desenvolvi-mento dessas crianças.

Vilibor e Vaz (2010) destacam que os movimentos, as repetições, a ma-nipulação de objetos, a percepção e controle do esquema corporal apoiam o desenvolvimento cognitivo, como a linguagem através da experiência com o meio ambiente, deixando clara a influência e ligação entre o desen-volvimento motor e cognitivo.

Tendo em vista que a qualidade e a velocidade do desenvolvimento cognitivo estão relacionadas à experiência com o meio, o indivíduo com Paralisia Cerebral assume certa desvantagem, pois parte da tríade indiví-duo - meio - desenvolvimento cognitivo não funciona como das crianças sem limitações motoras. Ou seja, o comprometimento neuromotor pode

305

interferir na exploração do meio ambiente comprometendo por tabela o desenvolvimento cognitivo, já que as limitações de experiências sensoriais atrasam a aquisição dessas informações (ALVES DE OLIVEIRA; GA-ROTTI E SÁ, 2008).

4. METODOLOGIA

Nessa pesquisa foi realizado um estudo de casos múltiplos, quantitati-vo, desenvolvido no Núcleo de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NE-DETA, localizado na Unidade de Ensino e Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional/Centro Especializado em Reabilitação Física e Inte-lectual - UEAFTO/CERII da Universidade do Estado do Pará - UEPA, com 6 pacientes de ambos os sexos e idades distintas no período de feverei-ro a junho de 2016 atendidos pela área de fonoaudiologia com diagnóstico de encefalopatia crônica não-evolutiva.

Para a coleta de dados foram analisadas as Fichas de Avaliação do Per-fil Cognitivo dos pacientes que continham dados sobre o desempenho nas seguintes habilidades: Noção de Espaço - NE; Percepção de Objetos do Co-tidiano - POC; Percepção de Cor - PC; Percepção de Tamanho - PT; Per-cepção de Forma - PF; Percepção de Sequência - PSe; Percepção de Letras Isoladas - PLI; Percepção de Sílabas - PSIL e Percepção de Números - PN.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a avaliação dos aspectos cognitivos podemos observar os seguin-tes resultados, obtidos dos 6 pacientes da amostra:

Habilidades Quantidade de Usuários PercentualNE 6 100

POC 6 100PC 6 100PT 6 100PF 5 83,3PSe 4 66,6PLI 5 83,3

PSIL 2 33,32PN 4 66,6

Fonte: autores, 2016.

306

Dos usuários pesquisados, 100% apresentaram maior facilidade para as habilidades de noção de espaço - NE, percepção de objetos do coti-diano - POC e percepção de tamanho - PT, cujas percepções podem ser apreendidas sem a necessidade de ensino explícito. Sendo que no caso da percepção de objetos do cotidiano e percepção de tamanho a criança desde muito cedo tem contato diário com essas experiências e apesar da dificul-dade, muitas vezes presente, em manusear os objetos, o contato visual e auditivo sobre tais objetos e seu caráter mais concreto tornam a percepção mais fácil.

Com relação à percepção de forma - PF e a percepção de letras isola-das - PLI, 83,3% dos informantes apresentou bom desempenho, que tam-bém são aspectos ensinados e estimulados desde muito cedo na criança. Nas habilidades de percepção de sequência - PSe e percepção de números - PN, 66,6% dos pesquisados apresentaram reconhecer, sendo que como as letras, os números também são ensinados às crianças desde muito cedo e no caso das sequências, o percentual encontrado pode ser considerado favorável, quando considerado o caráter mais elaborado das sequências, tendo uma base de raciocínio lógico, o qual encontra-se presente nas fases mais elevadas do desenvolvimento cognitivo.

O percentual mais baixo encontrado foi o de 33,32% na habilidade de Percepção de Sílabas - PSIL, tal defasagem pode ter ocorrido devi-do ao código escrito ser mais abstrato e de difícil aprendizado, levando em consideração que muitas crianças com PC apresentam inabilidades motoras e cognitivas. Além de que linguagem escrita não é um processo natural no ser humano, é de caráter abstrato e precisa ser ensinado. Para aquisição do código escrito, tanto para leitura quanto para a seleção das letras certas para escrita, necessitam de uma capacidade de primeira-mente perceber que a fala é constituída por unidades sonoras cada vez menores (palavras, sílabas, fonemas) e que cada som (fonema) tem sua representação em caracteres do alfabeto (grafemas). Segundo Santos (2014), essa percepção acontece de maneira diferente nas crianças com Paralisia Cerebral.

307

6. CONCLUSÃO

As dificuldades apresentadas pelas crianças com PC com relação a ele-mentos mais abstratos podem ter sido mais frequentes, devido ao desen-volvimento psíquico da criança ser embasado em experiências com o meio, que se encontra comprometido pelas desordens motoras, pois a exploração sensitiva e motora irá moldando os processos infantis da imaginação, pro-piciando o desenvolvimento do pensamento abstrato e cognitivo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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308

Cerebral. Ciências & Cognição, 2008. v 13, n3, p. 243-262.QUEIROZ, F. M. M. G.; BRACCIALLI, L. M. P. Relação entre o Perfil Funcional, Função Motora Grossa e Habilidade Manual dos Alunos com Paralisia Cerebral. Revista Educação Especial, 2016. v. 29, n. 54, p. 95-108, jan./abr.SANTOS, A. F. O. A Consciência Fonológica em crianças com Paralisia

Cerebral utilizadoras de Sistemas Aumentativos e/ ou Alternativos à Co-municação: Estudo de Caso. Título de Especialista na Área de Terapia da Fala, 2014.

309

PERFIL SOCIOECONOMICO DE PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL DO NEDETA QUE UTILIZAM A COMUNICAÇÃO

ALTERNATIVA.

Alana de Oliveira Wan-Meyl72; Douglas Rego Chaves52; Letícia Barreto Ramos52;

Luzianne Fernandes de Oliveira73; Ana Irene Alves de Oliveira 74³

RESUMO

O usuário portador de paralisia cerebral (PC) possui muitas vezes, limita-ções motoras e/ou cognitivas que interferem na sua autonomia e aprendi-zagem, o que pode ser atenuado, por meio da tecnologia assistiva. Outro fator que influencia bastante em seu desenvolvimento, é o estilo de vida e as condições socioeconômicas que o mesmo está sujeito, pois, tudo in-fluencia positiva ou negativamente em sua qualidade de vida, acesso a saúde e a educação. O objetivo do trabalho foi analisar o perfil socioeco-nômico dos pacientes com paralisia cerebral atendidos no ano de 2014 e 2015 no Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibi-lidade “NEDETA”. Foi realizado um estudo transversal descritivo, em 65 usuários foram atendidos no período de fevereiro de 2014 a novembro de 2015, com diagnóstico de paralisia cerebral. Através da ficha intitulada perfil socioeconômico e padronizada pelo NEDETA, foi executada a aná-lise dos dados, onde pudemos observar que, a procura por atendimento e pelo uso de tecnologia assistiva é maior pelo sexo masculino, e que apesar 72 Acadêmicos de Fonoaudiologia da Universidade da Amazônia e Estagiários do Núcleo de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA.73 Fonoaudióloga. Especialista em Linguagem Humana, Motricidade Humana e Motricidade Oral. Formação no Conceito Neuroevolutivo Bobath. Técnica da Secretaria de Educação do Estado do Pará - SEDUC. Técnica da Secretaria Municipal de Saúde - SESMA. Mestre em Desenvolvimento e Meio ambiente Urbano.74 Terapeuta Ocupacional e Bacharel em Psicologia. Professora Titular da Universidade do Estado do Pará - UEPA. Coordenadora do Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA. Coordenadora do Centro Especializado de Reabilitação Física e Intelectual CER II. Especialista em Tratamento Neuroevolutivo Bobath. Mestre em Motricidade Humana. Doutorado em Psicologia.

310

da dificuldade de locomoção, a maioria dos pacientes frequentam escolas e atividades extras, mesmo com a média do salário que sustenta a família sendo de 1 a 2 salários mínimos.

Palavras-chave: Paralisia cerebral, Perfil socioeconômico, Qualidade de vida, Tecnologia Assistiva.

311

1. INTRODUÇÃO

A paralisia cerebral (PC) é caracterizada por uma alteração dos mo-vimentos controlados ou posturais dos pacientes, aparecendo cedo, sendo secundária a uma lesão, danificação ou disfunção do sistema nervoso cen-tral (SNC) e não é reconhecido como resultado de uma doença cerebral progressiva ou degenerativa. O evento lesivo pode ocorrer no período pré, peri ou pós-natal (LEITE, J. M. R. S.; PRADO, GF do, 2004).

O usuário portador de PC possui muitas vezes, limitações motoras e/ou cognitivas que interferem na sua autonomia e aprendizagem, o que pode ser atenuado por meio da tecnologia assistiva. Outro fator que influencia bastante em seu desenvolvimento, é o estilo de vida e as condições socioe-conômicas em que o mesmo está sujeito, pois, tudo influencia positiva ou negativamente em sua qualidade de vida, e no acesso a saúde e educação.

Os estudos sobre Tecnologia Assistiva (TA) enfatizam a necessidade de inserir recursos, serviços e estratégias, na educação especial e inclusiva, para colaborar com o processo de aprendizagem de alunos com deficiên-cias. A literatura descreve que, a primeira etapa para a implementação da TA na escola, deve permitir entender a situação que envolve o aluno, a fim de ampliar a sua participação no processo de ensino e aprendizagem, ou seja, é necessário olhar o paciente com paralisia cerebral holisticamente (Rocha, A. N., Dahwache, C; Deliberato, D., 2012).

Os resultados obtidos poderão oferecer subsídios para o redireciona-mento das práticas dos profissionais de saúde, no sentido da integralidade do atendimento, vendo além da patologia, uma família e todos os fatores que podem influenciar no tratamento.

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar o perfil socioeconômico dos pacientes com paralisia cerebral atendidos no ano de 2014 e 2015 no NEDETA.

312

OBJETIVOS ESPECIFICOS

• Conhecer fatores que estão relacionados diretamente a saúde.

• Tratar o paciente holisticamente.

• Levantar dados para nível de conhecimento dos profissionais a res-peito do perfil socioeconômico da população em foco.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 PARALISIA CEREBRAL

A Organização Mundial de Saúde (1999) descreve a PC ou encefalopa-tia crônica não progressiva da infância como decorrente de lesão estática, ocorrida no período pré, peri ou pós-natal, que afeta o sistema nervoso central em fase de maturação estrutural e funcional.

Não existe um conceito suficientemente amplo ou específico sobre PC, isto pode ocorrer devido à etiologia e manifestações clínicas variadas. Desta forma, o termo PC se refere ao grupo de condições crônicas que têm como denominador comum a anormalidade na coordenação de movimentos, isto é, transtorno do tônus postural e do movimento. (CÂNDIDO, 2004)

Bobath definiu a PC como sendo: “[...] resultado de uma lesão ou mau desenvolvimento do cérebro, de caráter não progressivo, e existindo desde a infância. A deficiência motora se expressa em padrões anormais de pos-tura e movimentos, associados com um tônus postural anormal. A lesão que atinge o cérebro quando ainda é imaturo interfere com o desenvolvi-mento motor normal da criança.” (BOBATH, 1979, p. 11).

A incidência da PC tem se mantido constante nos últimos anos, mas a prevalência varia de 1,5 a 2,5 por 1.000 nascidos vivos nos países desen-volvidos. Em países subdesenvolvidos estima-se que a cada 1.000 crianças que nascem, 7 têm PC , considerando todos os níveis de PC (PIOVENSA-NA, 2002). O nosso país é complicado realizar essa estimativa pela falta de dados precisos. Presume-se que deva ser um número elevado, consideran-do-se as circunstâncias precárias da saúde geral, e em especial, os cuidados dispensados à gestante a ao recém-nascido. (ASSIS-MADEIRA¹, Elisân-gela Andrade; DE CARVALHO, Sueli Galego, 2009).

313

3.2 TECNOLOGIA ASSISITVA

A sociedade está mais permeável à diversidade e questiona seus meca-nismos de segregação, vislumbrando novos caminhos para inclusão social da pessoa com deficiência no meio dos ditos “normais”. A apropriação

dos acelerados avanços tecnológicos disponíveis na atualidade, trazem consigo crescentes ideias tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) que apontam para diferentes formas de relacionamento com o conheci-mento e sua construção, assim como para novas concepções e possibilida-des de ensino e aprendizagem para pessoas com deficiências.

A tecnologia Assistiva é uma expressão nova, que se refere a um con-ceito ainda em pleno processo de construção e sistematização. A utilização de recursos de Tecnologia Assistiva, entretanto, remonta aos primórdios da história da humanidade ou até mesmo da pré-história. Qualquer pe-daço de pau utilizado como uma bengala improvisada, por exemplo, ca-racteriza o uso de um recurso de Tecnologia Assistiva. Como diz Manzini (2005): “Os recursos de tecnologia assistiva estão muito próximos do nosso dia-a-dia. Ora eles nos causam impacto devido à tecnologia que apresen-tam, ora passam quase despercebidos. Para exemplificar, podemos cha-mar de tecnologia assistiva uma bengala, utilizada por nossos avós para proporcionar conforto e segurança no momento de caminhar, bem como um aparelho de amplificação utilizado por uma pessoa com surdez ou mes-mo um veículo adaptado para uma pessoa com deficiência”.

Pensando em uma intervenção favorecedora do ensino de pré-requi-sitos de leitura e escrita, por meio de recursos adaptados, um exemplo de tecnologia assistiva seria a implementação de um recurso informatizado, o “Software Desenvolve”, como um instrumento avaliativo das funções cognitivas nos pacientes com Paralisia Cerebral. Esse recurso possibilita a avaliação do desempenho cognitivo de crianças com PC, traçando um perfil das habilidades cognitivas. Com outra interface, o mesmo software, pode ser utilizado como ferramenta de aprendizagem, estimulando e de-senvolvendo as habilidades cognitivas e verbais (DE OLIVEIRA, A. I. et al, 2009).

314

4. METODOLOGIA

Neste estudo de caráter transversal descritivo foram analisados 65 fi-chas de perfil socioeconômico utilizadas na triagem dos usuários atendidos no Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia e Acessibilidade - NEDE-TA, localizado na Unidade de Ensino e Assistência em Fisioterapia e Te-rapia Ocupacional/Centro Especializado em Reabilitação Física e Intelec-tual - UEAFTO/CERII da Universidade do Estado do Pará - UEPA, com idades variadas, de ambos os sexos e no período compreendido entre os meses de fevereiro de 2014 a novembro de 2015 e com diagnóstico de para-lisia cerebral (PC), levando em consideração à faixa etária, gênero, idade, procedência/origem dos usuários, usuários nas escolas, média de renda por família, tipo de moradia e presença de saneamento básico. Após a coleta dos dados, todas as informações foram organizadas em tabelas, para pos-terior analise.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a análise das fichas de perfil sócio-econômico utilizadas na tria-gem de avaliação do NEDETA, obtiveram-se os seguintes resultados. Com relação à faixa etária de 1-4 anos e 11 meses a 20 anos ou mais, com diag-nóstico de paralisia cerebral de diferentes formas, tanto no ano de 2014 como em 2015.

No ano de 2014 foram atendidos no NEDETA 24 pacientes com diag-nóstico de paralisia cerebral, destes 21 eram do sexo masculino e 3 do sexo feminino, enquanto que em 2015 foram atendidos 41 usuários sendo 29 meninos e 12 meninas.

315

Gráfico 1: Sexo dos usuários da pesquisa nos anos de 2014 e 2015 (incidência maior do Sexo Masculino)

Em 2014 a maioria dos usuários moravam na cidade de Belém, 19 usuários, e o restante se dividiu em Ananindeua, 3 usuários, Vigia, 1 usu-ário, e Bujarú, 1 usuário. Em comparação ao ano de 2015 foram atendi-dos 41pacientes, 12 do sexo feminino e 29 do sexo masculino, a maioria também é residente na cidade de Belém, 32 usuários, e o restante se divide em 5 usuários em Ananindeua, 1 em vigia, 1 usuário na cidade de Santa Bárbara e 1 em Tomé Açu.

Gráfico 2: Localidade dos sujeitos da pesquisa(Incidência de origem/procedência maior na cidade de Belém)

316

Da amostra coletada em 2014, 20 habitavam em moradias de alvena-ria, 1 em moradia de madeira e outros 3 não responderam, enquanto que em 2015, que corresponde a toda amostra (41) habitavam em moradias de alvenaria.

Gráfico 3: Tipo de Moradia(Prevalência maior em casas de alvenaria em ambos os anos)

Observou-se que 21 indivíduos tinham saneamento básico e apenas 3 não tinham em 2014 e em 2015, 37 tinham saneamento e 4 não tinham.

Gráfico 4: Presença e Ausência de Saneamento Básico

Ainda em relação à amostra de 2014, 13 frequentavam escolas de en-sino regular, 5 escolas privadas/particulares, 2 escolas de ensino especial, 8 escolas públicas e 8 não freqüentavam nenhum tipo de escola, destes usuários 12 estudavam em mais de uma escola (Ex: pública e especial),

317

nas amostra de 2015, 19 frequentavam escolas de ensino regular, 9 escolas privadas/particulares, 2 escolas de ensino especial, 13 escolas públicas e 13 não frequentavam nenhum tipo de escola, destes usuários 15 estudavam em mais de uma escola.

Gráfico 5: Usuários que frequentam escola

Em relação à renda familiar destes usuários, percebeu-se que a mesma varia de 1 salário mínimo a mais de 3 salários mínimos de acordo com os dados de 2014, sendo, que 4 usuários tinham renda familiar de 1 salário mínimo, 7 tinham renda de 2 salários, 3 de 3 salários, 5 renda familiar maior que 3 salários mínimos e 5 não sabiam ao certo qual sua renda familiar, dos dados coletados em 2015, obteve os seguintes resultados, 8 usuários tinham renda familiar de 1 salário mínimo, 8 tinham renda de 2 salários, 2 usuários de 3 salários, 1 renda familiar maior que 3 salários mínimos e 3 não sabiam ao certo qual sua renda familiar.

318

1 Salário

2 Salários

3 Salários

3 ou mais Salários

Não souberam responder

Gráfico 6: Renda Mensal da Família

O numero de residentes da casa variou de 2 a 8 moradores (amostra de 2014), e em relação ao ano de 2015, variou de 2 a 9 moradores.

5. CONCLUSÃO

Os dados obtidos do perfil socioeconômico demonstram que a procura por atendimento e uso de tecnologia assistiva no NEDETA é maior pelo sexo masculino, que é a maior parte da amostra, tanto em 2014, como em 2015. Em termos de localidade, a maioria reside em Belém ou Ananindeua e poucos são os que vêm do interior para atendimento, isso ocorre devido à dificuldade de deslocamento e baixa renda. Em relação à busca pela edu-cação é notável que a maioria esteja na escola, demonstrando o compro-metimento da família e a inclusão de pessoas com deficiência nas diversas escolas, mas em relação a inclusão e acessibilidade nas escolas ainda há muito o que melhorar, pois muitos usuários não tem esse acesso e muitas escolas não tem profissionais qualificados. A maioria dos pacientes apre-senta um estilo de vida baixo ou médio, pois, a maior parte da população atendida tem renda entre 1 salário mínimo e 2 salários mínimos, e normal-mente está é a única renda que sustenta a família inteira, levando em con-

319

sideração os gastos a mais com o membro que tem diagnóstico de paralisia cerebral. A maioria da amostra tem presença de saneamento básico em seu bairro, mas é preocupante a pequena parcela que não tem esse direito, indicando a possível precariedade de condições de vida e saúde, apesar de que a maioria reside em casas de alvenaria. A inclusão e acessibilidade aos serviços de educação e saúde são essenciais para o bom andamento do de-senvolvimento de pacientes que necessitam da tecnologia assistiva.

REFERÊNCIAS

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ALVES DE OLIVEIRA, A. I.; GAROTTI, Marilice F.; SÁ, Nonato Már-cio C. M. Tecnologia de ensino e tecnologia assistiva no ensino de crianças com paralisia cerebral. Ciências & Cognição, v. 13, n. 3, p. 243-262, 2009.ASSIS-MADEIRA¹, E. A.; DE CARVALHO, S. G.. Paralisia cerebral e fatores de risco ao desenvolvimento motor: uma revisão teórica. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, v. 9, n. 1, p. 142-163, 2009.BOBATH, K. A Deficiência Motora em Pacientes com Paralisia Cerebral. São Paulo: Editora Manole, 1979.CÂNDIDO, A. M. D. M. PARALISIA CEREBRAL: Abordagem para o Pediatra Geral e Manejo Multidisciplinar. Monografia (Curso de Residên-cia Médica em Pediatria) - Hospital Regional da Asa Sul, Brasília, 2004.GALVÃO FILHO, T. A. A Tecnologia Assistiva: de que se trata. Cone-xões: educação, comunicação, inclusão e interculturalida-de. Porto Alegre: Redes Editora, v. 252, p. 207-235, 2009.LEITE, J. M. R. S.; PRADO, G. F do. Paralisia cerebral: aspectos fisio-terapêuticos e clínicos. Revista Neurociências, v. 12, n. 1, p. 41-45, 2004.MANZINI, E. J. Tecnologia assistiva para educação: recursos pedagógi-cos adaptados. In: Ensaios pedagógicos: construindo escolas inclusivas. Brasília: SEESP/MEC, p. 82-86, 2005.

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321

TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS NA REABILITAÇÃO DE UMA ADOLESCENTE COM SÍNDROME DE RASMUSSEN:

ESTUDO DE CASO

Freitas-Rosário,H.R75; Melo, V. S.55; Lopes, G.L.P.55; Freire, V.R.B.P. 76; Silva, L.N77;

Chaves, B.C.S.³; Silva, L.N.55; Gomes, E. K. P.55; Martins-Hatano, F55.

RESUMO

A síndrome de Rasmussen é um transtorno inflamatório que atinge um hemisfério cerebral, caracterizado por uma desordem neurológica. Tem como sintomas crises epiléticas com danos motores e cognitivos, ocorrendo em crianças entre 01 e 10 anos. As Terapias Assistidas por Animais (TAA) são técnicas que utilizam animais como co-terapeutas, com evidencias de benefícios na redução do grau de incapacidade e o desenvolvimento do aspecto biopsicossocial do indivíduo. Relata-se o desempenho de uma pa-ciente diagnosticada com síndrome de Rasmussen submetida a 14 sessões de TAA com cães co-terapeutas. Como instrumento de análise utilizou-se a Ficha de Avaliação dos Praticantes e Ficha de Registro, elaborada pela equipe multidisciplinar, além dos registros escritos pelo sujeito durante as atividades pedagógicas. Verificou-se que as práticas de TAA realizadas proporcionaram experiências diversificadas, havendo ganhos motores e principalmente psicológicos.

Palavras-chave: Síndrome de Rasmussen; Terapia Assistida por Animais; Equipe multiprofissional

75 Universidade Federal Rural da Amazônia. 76 Universidade Federal do Pará77 Universidade do Estado do Pará

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INTRODUÇÃO

O diagnóstico de uma deficiência constitui um momento fundamental que marca o desenvolvimento da pessoa e a história do grupo familiar. Pereira-Silva e Dessen (2006) afirmam que o modo como as informações são prestadas pelo profissional e o grau de conhecimento dos familiares influencia nas interações iniciais entre pais e filhos positiva ou negativa-mente. (PANIAGUA, 2004)

Em momentos de transição, o desgaste dos pais pode se tornar maior já que as condições de enfrentamento, que eles dispõem, estão permeadas pelos sentimentos decorrentes do diagnóstico (insegurança, culpa, triste-za, ansiedade, preocupação e vergonha) (PANIAGUA, 2004).

O ingresso do filho na adolescência traz consigo a preocupação dos pais quanto ao futuro; aspectos como independência financeira, escolarização e relacionamentos amorosos tornam-se o foco (PANIAGUA, 2004). Em casos de maior comprometimento, os pais acabam pensando na indepen-dência e autonomia quando não estiverem mais disponíveis (FALKENBA-CH, DREXSLER, WERLER, 2008; GOITEIN, CIA, 2011; PEREIRA--SILVA, DESSEN, 2007). Daí a importância de práticas que promovam a melhora do quadro clínico, e também considerem as demandas do ciclo de vida em que a pessoa com deficiência se encontra, com vistas a promover seu desenvolvimento e autonomia.

Atualmente, a literatura evidencia que as técnicas utilizando ani-mais como co-terapeutas podem reduzir o grau de incapacidade em várias condições, promovendo qualidade de vida e independência para pessoas com deficiência (SCHULTZ et al., 2006; VAN DEN HOUT, BRAGON-JE, 2010; ISSA, 2012).O animal torna os indivíduos mais motivados para interagir, comunicar, expressar necessidades, informações e sentimentos, levando a reflexão sobre os múltiplos papéis que este pode assumir e sua contribuição para o bem-estar humano (FINE, 2010). Interações Assisti-das por Animais (IAAs) podem ter fins terapêuticos (Terapias Assistida por Animais), educacionais (Educação Assistida por Animais) ou apenas motivacionais (Atividades Assistidas por Animais) (IAHAIO).

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Logo, a TAA tem sido indicada para diversos tipos de comprometi-mento, incluindo perda de habilidades motoras e cognitivas em diversos graus, além de questões sociais e afetivas e da combinação destas em qua-dros patológicos que afetam o desenvolvimento global.

REFERENCIAL TEÓRICO

SÍNDROME DE RASMUSSEN

A Síndrome de Rasmussen é também conhecida como Encefalites Fo-cais Crônicas ou Encefalite de Rasmussen, caracterizada por uma desor-dem neurológica progressiva e rara, desenvolvendo-se normalmente em crianças na faixa etária entre 1 a 10 anos (RIZZUTTI, MUSZKAT, VI-LANOVA, 2000). É um transtorno inflamatório que atinge um hemisfério cerebral, apresentando crises epiléticas continuas e severas com detrimen-to de habilidades motoras e cognitivas, podendo apresentar hemiparesia, transtornos sensoriais, disartrias, hemianopia, disfasias, transtornos gra-ves de aprendizagens e psiquiátricos (SANTOS et al., 2012). A etiopato-genia ainda é desconhecida, porém, acredita-se que há o envolvimento do citomegalovírus ou herpes vírus simples, como agente causador (CAR-MONA-VÁZQUEZ et al., 2014).

O tratamento é cirúrgico (hemisferectomia), além dos alternativos (plasmaferese, dieta de imunoglobina, cetogénica intravenosas e esterói-des) e apoio multiprofissional a fim de reabilitar os déficits neurológicos e promover a melhora biopsicossocial (RAMASWAMY et al., 2013; MI-RONES et al., 2013. Neste contexto está incluída a Terapia Assistida por Animais (TAA) como um tratamento alternativo ou complementar (DOTTI, 2005).

TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS

A TAA apresentou relatos mais sistematizados a partir de 1792, quan-do na Inglaterra, uma instituição mental utilizou o cuidado de animais de fazenda como reforço positivo para os pacientes (SERPELL, 2010). No século XIX houve um grande crescimento do uso de animais em insti-tuições mentais. Na década de 60, o psicólogo americano Boris Levinson

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desenvolveu uma série de estudos sobre a importância de animais para o desenvolvimento infantil (SERPELL, 2010). No Brasil, Nise da Silvei-ra foi pioneira, desenvolvendo atividades com cães e gatos para pacientes mentais, a partir de 1955 (MACHADO et al., 2008).

Dentre os diversos tipos da TAA, destacam-se a Equoterapia e a Cino-terapia . A Equoterapia utiliza o cavalo como instrumento cinesioterapêu-tico, pedagógico, promovedor de inserção social, objetivando ampliar o re-pertório comportamental do paciente e proporcionar ajustamento emocional, desenvolvimento da força muscular, relaxamento, conscientização corporal, aperfeiçoamento da coordenação e equilíbrio e redução da ansiedade (LIND, 2009; FINE, 2010; GROVER, 2010). A Equoterapia é a única prática de TAA reconhecida no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina (SEVERO, 2010; ANDE Brasil).A Cinoterapia apresenta-se como um recurso que utiliza cães para estimular a interação, exercício e autocontrole (DAVIS, 2002). Os cães domésticos se destacam na capacidade de interação com pessoas, pois desenvolveram uma série de habilidades cognitivas para o processamento de informações humanas (pistas gestuais, expressões faciais, aspectos comunica-tivos e emocionais) (DOTTI, 2005; ALBUQUERQUE e CIARI, 2016; DO-MINGUES, 2007). Assim, pessoas e cães desenvolveram uma relação para além do aspecto cooperativo, mas uma relação afetiva, de suporte social e com repercussões bioquímicas e psíquicas para ambos (SAVALLI, ADES, 2016).

OBJETIVO

Relatar o desempenho de uma paciente diagnosticada com síndrome de Rasmussen submetida à TAA.

METODOLOGIA

A presente pesquisa caracteriza-se como estudo de caso (YIN, 2005), no qual é relatado o acompanhamento de uma jovem com diagnóstico de Síndrome de Rasmussen em 14 sessões de terapia assistida por animais (TAA). O estudo partiu de uma amostra de conveniência, selecionada a partir da aceitação da jovem e dos seus pais ou responsáveis, por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e apresentação do laudo clínico e receituário médico.

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O Programa é desenvolvido por uma Instituição de Ensino Superior em Belém e tem como objetivo auxiliar no desenvolvimento biopsicosso-cial de pessoas com deficiência, por meio de atividades com animais co--terapeutas e/ ou motivadores.

Os animais inseridos nas atividades foram quatro cães sem raça defi-nida, com idade entre um e dois anos, peso médio de 10 kg e nível básico de adestramento. Os animais eram mantidos em um canil exclusivo do Programa e avaliados antes das seções, quanto a aspectos clínicos e com-portamentais, por médicos veterinários e zootecnistas. Adicionalmente, uma cadela boxer com idade de seis anos de um proprietário colaborador fez parte da equipe.

Como instrumento de mensuração utilizou-se a Ficha de Avaliação dos Praticantes, elaborada pela equipe de profissionais (psicólogo, pedago-go, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional), para a triagem dos jovens e adultos candidatos a participarem do Programa, composta dos seguintes itens: 1) identificação; 2) anamnese; 3) exame físico e 4) expectativas dos pais/ responsáveis.

A técnica aplicada durante o período da execução das atividades/ in-tervenções foi a de observação pelos profissionais e acadêmicos com o re-gistro realizado após cada seção através da Ficha de Registro. Além disso, foram objeto de análise os registros feitos pela praticante em atividades escritas realizadas durante as intervenções.

RESULTADOS

RELATO DE CASO

Paciente I.S.C, 15 anos, sexo feminino, estudante. Paciente com diag-nóstico clínico de Síndrome de Rasmussen, CID-10:G40.9 e G05.1, conforme laudo médico. A mãe realizou pré-natal, tendo acompanhamento médico e de outros profissionais, sendo a gestação desejada, porém não planejada. Reside com seu pai, sua madrasta e irmãos em moradia de oito cômodos de alvenaria própria da família, com renda familiar acima de três salários mí-nimos. Nascida de parto normal, a termo, sem intercorrências, apresenta-do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) adequado para idade. Com aproximadamente 10 anos de idade, I.S.C. começou a perder os movimen-

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tos. O diagnóstico inicial foi de encefalite associada a problemas de pele. As crises convulsivas causaram prejuízos motores afetando membros, perda de parte da visão periférica e da audição esquerdas. Foi avaliada pela equipe do Hospital das clínicas de São Paulo e, após inúmeras internações, foi subme-tida a craniotomia fronto-temporo parietal.Esses dados relatados pelo seu pai durante a triagem confirmam a literatura (BIEN et al, 2005) a respeito da demora na definição do diagnóstico dessa patologia. Atualmente as cri-ses convulsivas estão controladas, porém apresenta limitação de movimento em hemicorpo esquerdo, fazendo uso de órteses e tratamento com toxina botulínica. No momento da triagem no Programa (em 2015) ela fazia uso das medicações: clonazepam (2 mg) e baclofeno (10 mg).

Quanto ao seu desempenho funcional ela consegue realizar suas ativi-dades de vida diária de forma relativamente independente, porém quando relacionado com a administração financeira é totalmente dependente.

Foram realizadas 14 sessões de TAA, 10 no ano de 2015 e quatro no ano de 2016. De modo geral as sessões se organizaram em quatro momen-tos: 1) acolhimento dos praticantes e recepção dos cães; 2) alongamento; 3) realização do circuito junto com os cães, combinando diversas ativi-dades de caráter motor e cognitivo; culminando com 4) uma atividade pedagógica conforme o objetivo da sessão. A atividades propostas foram elaboradas objetivando favorecer sua autonomia abordando aspectos cog-nitivos (atenção, concentração, memória de curto, médio e longo prazo, associação, identificação e cálculo matemático), psicomotores (amplitude de movimento, coordenação motora, equilíbrio, marcha, sensibilidade tá-til, percepção espacial e linguagem), atividades de vida diária (autocuida-do, higiene, locomoção) e atividades instrumentais de vida diária (cuidado com os outros, comunicação e participação social).

Nas primeiras sessões, no inicio de 2015, I. S. C. demonstrou receio em interagir com os cães, com os demais praticantes e com a equipe em geral, e dificuldade em expor sua opinião, quando esta era contrária à opinião do grupo, irritando-se com facilidade. Aos poucos melhorou sua interação com a equipe, os animais e os praticantes, sendo mais tolerante e com melhora no humor, bem como a interação com os animais, conduzindo os cachorros pela guia, brincando com eles com o toque e realização de co-mandos simples aprendidos nas sessões.

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Nas atividades pedagógicas respondia corretamente às perguntas de fixação dos conceitos (definições, palavras ou números), sendo que em al-gumas sessões teve dificuldade com habilidades matemáticas, como con-verter quilograma para grama. Apresentou resistência em relação à pin-tura e a realização do circuito, porém na atividade vestir-se como uma médica veterinária, I.S.C. além de atenta, foi participativa interagindo com os demais e seguindo as orientações para cumprir as atividades.

As TAA previamente planejadas conseguiram abordar aspectos pro-venientes de seu diagnóstico, de modo a favorecer a área motora e senso-rial, tendo em vista que apresentou ganhos de força, equilíbrio e sensibi-lidade tátil. Tais ganhos proporcionaram melhor conhecimento em sua imagem corporal, conseguindo amenizar a negligência que apresentava pelo hemicorpo esquerdo, além de melhora na identificação de lateralida-de. Observou-se também ganhos em sua autoestima, tendo em vista que, através das sessões ela se mostrou mais comunicativa com a equipe, sendo mais participativa nas atividades, com comunicação verbal espontânea.

Esses dados coadunam-se com o estudo de Dimitrijevic (2009) que identificou os diversos contextos nos quais ocorrem benefícios proporcio-nados pela utilização dos animais como recurso terapêutico: psicológicos e psicossociais (redução da pressão arterial, problemas cardíacos e nível de estresse, aumento do bem estar emocional e interação social); físicos (habilidade motora fina, o uso da cadeira de roda e manutenção do equi-líbrio quando em pé); na área da saúde mental (atenção, concentração, autoestima, redução da ansiedade e solidão, interação verbal e habilidades recreativas e de lazer mentais, educacional e motivacional); sociais (au-mento o desejo de participar em atividades grupais e sociais) e benefícios na educação (vocabulário, memória de curto e longo prazo).

CONCLUSÕES

Identificou-se neste estudo a importância da equipe multiprofissional ao realizar as TAAs, onde há necessidade da inter-relação entre os diversos profissionais e a visão do indivíduo como um todo, numa atitude humani-zada.As práticas realizadas proporcionaram experiências diversificadas à

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I.S.C., abordando-se as demandas biopsicossociais do sujeito. Os ganhos motores e, principalmente, psicológicos, adquiridos refletiram-se no seu cotidiano, bem como na execução de suas atividades e ocupações, ofere-cendo maior independência e qualidade de vida. Através disto, identifi-cou-se que a realização de TAA são precursoras de variados ganhos ao sujeito, de caráter biopsicossocial, sendo estes interligados. Vverifica-se a importância de mais estudos que ratifiquem os benefícios do uso de TAA, bem como a troca de saberes acerca de tal tipo de assistência.

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TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS (TAA) NA VISÃO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS

MARTINS-HATANO, F.78; FREITAS-ROSÁRIO, H. R.58; MELO, V. S.58; CHAVES,

B.C.S.79; ALVES, T. C.58; QUEIROZ, C. A.58; LEÃO, C. A.58; GOMES, E. K. P.58

RESUMO

É de conhecimento popular que a interação com animais pode ser muito gratificante e proporcionar bem-estar. Nos últimos anos o estudo da re-lação humano-animal evoluiu para a área científica, visando promover o desenvolvimento biopsicossocial, com a participação de uma equipe mul-tidisciplinar. O presente trabalho tem como objetivo conhecer as impres-sões de estudantes universitários acerca da relação homem-animal e seus efeitos terapêuticos, abordando o conhecimento destes sobre as Terapias Assistidas por Animais (TAA). O estudo caracterizou-se por uma pesquisa descritiva de abordagem quantitativa através de um levantamento com 63 estudantes universitários por amostra de conveniência e utilizando ro-teiro semiestruturado. Destacou-se nos resultados a identificação da re-lação homem-animal como benéfica de forma unanime, voltada para a reabilitação de pessoas com deficiência, havendo variância da descrição de TAA através de seus efeitos e objetivos. Constatou-se a TAA ainda como é uma prática pouco conhecida no meio acadêmico, considerando o não aprofundamento nas respostas acerca de seus objetivos, público, recursos e execução, além de voltarem os benefícios somente para o homem.

Palavras-chave: Terapia Assistida por Animais; Relação homem-animal; Acessibilidade

78 Universidade Federal Rural da Amazônia.79 Universidade do Estado do Pará.

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INTRODUÇÃO

A relação homem-animal é um fenômeno bem documentado que ocor-re desde que o homem começou a domesticar os animais (Fine & Beck, 2010; Chelini & Otta, 2016). Apesar de não haver um consenso para a definição desta relação, alguns aspectos são relatados com frequência, caracterizando-a como bi-direcional, recíproca, envolvendo aumento da confiança e benefícios mútuos (Fine & Beck, 2010). Alguns estudos rela-tam a ocorrência de empatia, suporte emocional e diminuição do estresse para ambas as partes (Adams, 2009; Custence & Mayer, 2012). É de co-nhecimento popular que a interação com animais pode ser gratificante e proporcionar bem-estar nos aspectos psicológicos e físicos (Savalli & Ades, 2016). Nos últimos 40 anos o estudo do impacto desta relação evoluiu de um hobby de proprietários de animais de estimação para o estudo siste-matizado da relação homem-animal, envolvendo comportamento animal, psicologia, serviço social e diversas outras áreas ligadas a Saúde e Educa-ção (Beck, 2007; ).

As interações assistidas por animais são divididas em três grandes grupos, que diferem em objetivos e composição da equipe: i) Terapias As-sistidas por Animais (TAA) - utilização da relação humano-animal como parte do processo terapêutico, sendo a equipe supervisionada por um pro-fissional de saúde, com objetivos específicos e registros dos resultados das ações; ii) Educação Assistidas por Animais (EAA) - intervenções de cunho pedagógico que envolvem necessariamente profissionais de Educação; e Atividades Assistidas por Animais (AAA) - visam melhorar a qualidade de vida dos envolvidos e não requerem a supervisão de um profissional de saúde (http:// www.petpartners.org).

A composição da equipe para a intervenção varia conforme os ob-jetivos eleitos, mas um dos componentes é essencial: o animal. Entre as espécies mais citadas, destacam-se o cão (Cinoterapia) e o cavalo (Equo-terapia). Apesar de serem poucos os estudos específicos sobre comporta-mento e bem-estar animal em contextos de TAA, existem indicações que os animais co-terapeutas estejam sendo expostos a situações altamente estressantes durante as atividades (Rocha 2016). A ideia de que os ga-nhos são recíprocos, como ocorre nas relações domésticas entre as pessoas

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e seus pets, pode não ser a realidade em atividades de TAA, especialmente se os animais não são adequadamente preparados e observados durante s seções (Rocha, 2016). Desta forma, é imprescindível a participação de na equipe um profissional com formação na área de Saúde e Comportamento Animal, de forma a garantir a segurança e bem-estar de todos os envolvi-dos, animais e humanos.

As intervenções com animais tem aumentado em todo o mundo e no Brasil não é diferente (Chenili & Otta, 2016). Entretanto, ainda carecem denormas e sistematização em vários aspectos, incluindo a composição da equipe básica, limites de carga de trabalho, bem-estar dos animais, de biosseguridade e ética. Torna-se urgente que os diversos grupos de pesqui-sadores e aplicadores de TAA busquem padronizar a técnica, pautando-a em pesquisas e estudos científicos que comprovem a qualidade e estabele-çam os critérios de execução pensando em todos os integrantes (Ramos e Dilewski, 2016).

Neste contexto, a capacitação de novos profissionais é imprescindível, apesar de serem raros os cursos para a formação adequada destes profis-sionais no Brasil. Paralelamente, o público a ser beneficiado pelos progra-mas de TAA, deve ter conhecimento básico sobre os objetivos e abrangên-cia da mesma, para que possa ser capaz de selecionar adequadamente tais programas por critérios de qualidade.

Pretendemos neste trabalho verificar o conhecimento de universitá-rios de diversas áreas do conhecimento sobre a relação homem-animal e seus efeitos terapêuticos.

REFERENCIAL TEÓRICO

O relacionamento entre homens e animais é antigo e significativo para o ser humano em termos de convivência, interação e domesticação (CA-ETANO, 2010; LAMPERT, 2014). No decorrer desse convívio, o homem notou que os animais poderiam ser fonte de ameaça, servir de auxilio e suporte em suas necessidades cotidianas, ser utilizados de vestuário e no transporte; além de serem vistos como fonte de poder e força por algumas crenças e culturas. (CAETANO, 2010). A relação homem-animal evoluiu no decorrer da história, de uma concepção arcaica do animal, em que o

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homem estabelecia uma relação mágico-totêmica, para uma concepção econômico-funcional, até alcançar uma concepção ética, quando o animal é considerado um ser sensível com percepções conscientes de prazer e dor (VIVALDINI, 2011).

Na década de 60, Boris M. Levinson publicou uma série de artigos so-bre as possibilidades de intervenções e os efeitos benéficos da presença de um animal nas seções terapêuticas (CAETANO, 2010). No Brasil, Nise da Silveira implantou a utilização de animais como facilitadores do processo terapêutico de pacientes no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, Rio de Janeiro (LAMPERT, 2014). Ambos partilhavam a concepção sobre a importância dos animais nos processos terapêuticos, onde Silveira (1982 apud CAETANO, 2010), afirma:

Excelentes catalisadores são os co-terapeutas não humanos. Desde a adoção da pequena cadela Caralâmpia (...) verifiquei as vantagens da presença de animais no hospital psiquiátrico. Sobretudo o cão, reúne qualidades que o fazem muito apto a tornar-se um ponto de referência estável no mundo externo (p. 81).

A TAA é um método que requer a intervenção de especialistas de dife-rentes ramos da saúde a fim de avaliar a indicação para o paciente huma-no e o tipo de animal a ser utilizado no programa de recuperação (VIVAL-DINI, 2011). No Brasil só há legislação a respeito da Equoterapia, onde a equipe multiprofissional deve ser constituída, no mínimo, por médico, médico veterinário, psicólogo, fisioterapeuta e um profissional de equita-ção, podendo, de acordo com o objetivo do programa, ser integrada por outros profissionais (ANDE Brasil).

Dentre os benefícios proporcionados pela utilização dos animais como recurso terapêutico, Dimitrijevic (2009) afirma que ocorrem de forma am-pla em diversos contextos, i ncluindo aspectos psicológicos e psicossociais, físicos, na saúde mental sociais e pedagógicos.

OBJETIVO

O presente trabalho objetivou conhecer as impressões de estudantes universitários acerca da relação homem-animal e seus efeitos terapêuticos, bem como abordar o conhecimento deste público sobre as TAA.

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METODOLOGIA

Este estudo caracterizou-se por uma pesquisa descritiva de aborda-gem quantitativa, que realizou um levantamento com 63 estudantes uni-versitários, por amostra de conveniência, pois participaram apenas aque-les que preencheram o questionário. A coleta de dados foi feita através de um roteiro semiestruturado formatado no Google Questionários e enviado via internet para universitários de instituições de ensino superior públicas e privadas. O instrumento objetivou acessar informações a respeito dos aspectos sociodemográficos dos respondentes (Parte 1), de sua compreen-são sobre a relação homem-animal (Parte 2) e de seu conhecimento sobre TAA (Parte 3).

Os dados quantitativos das questões fechadas foram inseridos em pla-nilhas do Microsoft Excel® para o cálculo de frequência (Dancey & Reidy, 2013). Os dados qualitativos das questões mistas foram analisados a partir do método de Análise de Conteúdo (Bardin, 2010). A unidade de registro foi a palavra e a frase foi a unidade de contexto, ambas adotadas para a codificação e organização das respostas e a regra de enumeração aplicada foi a frequência das unidades.

RESULTADOS

Os respondentes foram universitários (87%) predominantemente sol-teiros (96,8%), sem renda mensal (49,2%). A faixa etária mais expressi-va foi entre 21 a 27 anos (47,7%) seguida de 15 a 21anos (43,1%), sendo 63,1% do sexo feminino e 36,9% masculino.

No questionário a Parte 2 se caracteriza por três questões sendo duas fechadas e uma mista, na qual o respondente além de identificar a sua escolha, devia expor de que forma a relação homem-animal é benéfica. Todos os estudantes universitários perceberam a relação homem-animal como benéfica (100%), Pela análise do conteúdo das falas, foram identifi-cadas cinco categorias: Construção de um vínculo afetivo entre o homem e o animal; Ganhos para a saúde do homem (biopsicossocial e espiritual); Promoção de aprendizagens através dos cuidados com o animal; Condição para ser benéfica - reciprocidade; e Percepção da relação como prática terapêutica ao homem - destinada a determinados perfis de público alvo

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(Tabela 1). Em algumas respostas, os universitários apresentaram mais de uma palavra para qualificar a relação homem-animal, daí o porquê da somatória total exceder o número de respondentes.

A maioria dos estudantes identificou como benefício a Construção de um vínculo afetivo entre o homem e o animal, seguida da Promoção de aprendizagens através dos cuidados com o animal. Nessas duas categorias, o animal seria beneficiado de modo indireto, mas o foco ainda se concentra no homem, seja na identificação do vínculo (amizade, companheirismo, carinho, vínculo afetivo, amor e união), ou no destaque ao fato do homem aprender a cuidar do animal.

Tabela 1: Percentual de benefícios citados pelos universitários por categorias para a relação homem-animal

CategoriasEstudantes Universitários

∑ %Construção de um vínculo afetivo entre homem-animal 31 46,97

Promoção de aprendizagens através dos cui-dados com o animal 17 25,76

Ganhos para a saúde do homem (biopsicossocial eespiritual)

11

16,67

Percepção da relação como prática terapêutica ao homem – destinada adeterminados perfis de público alvo

5 7,57

Condição para ser benéfica– reciprocidade 2 3,03

TOTAL 66 100

A categoria de menor frequência, Condição para ser benéfica ᵒ re-ciprocidade, foi a única onde a compreensão de reciprocidade do benefí-cio foi explicitada como aspecto importante na relação homem-animal. A maioria das respostas explicitaram os benefícios diretos para o homem e de modo indireto para o animal.

337

A parte 3 apresenta 3 questões (1 fechada e 2 mistas). Na primeira ques-tão é solicitado ao respondente marcar se já ouviu ou não falar em TAA e descrever o que ouviu a respeito dessa terapia. A TAA foi caracterizada pela combinação dos seguintes aspectos: público alvo (diagnóstico), técnica utilizada (recurso), efeitos e objetivo da TAA. Os termos, utilizados para se referir à TAA, foram: terapia, terapia complementar, tratamento, ativi-dade, trabalho, assistência, fisioterapias e forma de inclusão. Percebe-se o quanto as respostas variaram desde um procedimento terapêutico até uma atividade que realiza a inclusão de crianças com deficiência (Tabela 2). A ca-tegoria de maior frequência foi a público alvo ou diagnóstico (39,58%), onde os estudantes referiram-se a TAA através da identificação de seu público. As palavras mais frequentes foram: seres humanos com algum tipo de defi-ciência, pessoas especiais, Autismo, Síndrome de Down, Paralisia Cerebral e crianças. Percebe-se a identificação da TAA como uma terapia voltada para a reabilitação de um público específico, pessoas com deficiência, mais especificamente crianças. Outras palavras foram menos frequentes, nessa categoria, mas também indicaram um público específico: pessoas com pro-blemas mentais, pacientes internados ou em estado terminal, pacientes com alguma patologia.

Tabela 2: Percentual de respostas referentes ao que os universitários já ouvi-ram falar sobre TAA por categorias

Categorias

Estudantes Universitários

∑ %

Público alvo ou diagnóstico 19 39,58

Técnica ou Recurso 12 25,00

Efeitos 6 12,50

Objetivos 6 12,50

Ambiente 1 2,10

Meio de divulgação 2 4,16

Instituição/Órgão 2 4,16

TOTAL 48 100

338

Outros relacionaram a TAA à técnica empregada ou aos recursos uti-lizados em sua execução (25%), como por exemplo: uso de animais, in-teração homem-animal, alguns chegando a identificar de modo explícito a função assumida pelo animal nessa prática, ou seja, animais como co--terapeutas. Houve aqueles que falaram da TAA através de seus efeitos (12,50%), na promoção de qualidade de vida e de seus objetivos (12,50%), como auxiliar no tratamento e desenvolvimento. Destaca-se o quanto a TAA ainda é uma prática desconhecida no meio acadêmico, pois pouco se falou de modo específico e aprofundado sobre seus objetivos, os recursos utilizados ou sobre a preparação dos animais, os tipos de animais para sua execução. Até a identificação do público alvo foi estigmatizada (pessoas que apresentam alguma patologia).

Quando questionados sobre a possibilidade da TAA beneficiar as pes-soas, todos responderam que sim (100%), mesmo que não tenham exposto como isso seria possível (14,29%). As respostas obtidas foram agrupadas em três categorias: Benefícios da TAA para o homem sem indicação da relação homem-animal; Benefícios da TAA para o homem com indicação da relação homem-animal; Benefícios da TAA identificados a partir de características operacionais (Tabela 3).

Tabela 3: Percentual de respostas referentes aos benefícios da TAA identifi-cados pelos universitários por categorias

Categorias

Estudantes Universitários

∑ %

Benefícios da TAA para ohomem sem indicação da 11 42,30relação homem-animal.

Benefícios da TAA para ohomem com indicação da 10 38,46relação homem-animal

Benefícios da TAA identificadosa partir de características 5 19,24operacionais.

TOTAL 26 100

339

Foram apontados benefícios voltados para aspectos do desenvolvi-mento humano como aprendizagem, cognição, motricidade, socialização e expressão de emoções. As respostas de maior frequência indicavam os benefícios sem a presença da palavra animal ou animais (42,30%), ou seja, apenas apontando em quais aspectos a TAA era benéfica ao homem.

Difere das respostas agrupadas na segunda categoria na qual os res-pondentes, além de citar os benefícios para o homem, relacionaram-nos à interação homem-animal (38,46%). Seguem duas respostas que exempli-ficam essa categoria: “Animais geram segurança, conforto, amor, estimu-lam o movimento, provocam felicidade e são ótimos captadores de ener-gias. Além de serem grandes amigos e essa proximidade é sentida como um ombro amigo puro”; “O contato com animais aumenta a produção de dopamina, hormônio responsável pelo bem estar”.

CONCLUSÃO

Existe uma percepção de que a relação homem-animal é benéfica e que este benefício é decorrente do um vínculo afetivo entre o homem e o animal. Entretanto, existe um foco maior nos benefícios gerados para o homem, indicando apenas uma preocupação indireta com o animal como ser sensciente. O conhecimento do público sobre TAA esteve restrito a in-formações sobre o público alvo, sendo este caracterizado por pessoas com patologias. Poucas informações sobre objetivos, efeitos ou sobre a técnica, incluindo a preparação do animal, foram mencionadas. Observamos que os universitários participantes tem uma visão limitada sobre a TAA, mas reconhecem os animais como capazes de construir vínculos e oferecer ga-nhos para o desenvolvimento humano.

REFERÊNCIAS

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340

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342

343

A CARTOGRAFIA TÁTIL E O USO DO BRAILLE COMO UMA FERRAMENTA NO ENSINO DA GEOGRAFIA AO ALUNO

DEFICIENTE VISUAL DO 6º ANO NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO PROFª. REGINA COELI.

Anderson Luiz Fontoura da Rocha; Michelle de Andrade Tavares Ribeiro

RESUMO

O presente estudo tem como tema: A cartografia tátil e o uso do braille como uma ferramenta no ensino da geografia ao aluno deficiente visual do 6º ano na Escola Estadual de ensino fundamental e médio profª. Regina Coeli.

Buscamos discorrer sobre esse tema com o objetivo de identificar e descre-ver técnicas e materiais que podem ser utilizados na produção de mapas táteis adequados para educação cartográfica de pessoas com deficiência visual, dando destaque a aplicabilidade dentro de sala de aula, tendo a es-cola e seus atores como importante foco. O estudo pretende construir um entendimento sobre os materiais que mais contribuem para a produção dos mapas táteis, de forma que seja possível a produção de mapas com utilização de relevos, tamanhos e texturas diferenciadas. Para consubs-tanciar este conceito serão equacionadas questões referentes a construção de imagens mentais e o aprendizado pelas pessoas com deficiência visual.

E. ES. JOSÉ ÁLVARES DE AZEVEDOE. E. E. F. M. PROFESSORA REGINA COELI

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INTRODUÇÃO

Os processos de educação dos alunos deficientes visuais causam um novo paradigma: a inclusão. Muitas são as inquietações encontradas no meio educacional quanto às metodologias e a atuação dos professores, e também a falta de acesso aos materiais pedagógicos adaptados na escola para alunos deficientes visuais.

Segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2010, (18,8% da popula-ção brasileira é deficiente visual), com certeza esse número já deve ter au-mentado bastante nesses últimos anos, visto que a cada dia nascem mais crianças com deficiência visual e mais pessoas perdem a visão é muito grande a quantidade de pessoas que precisam ser ensinadas, sem duvida alguma se trata de um grande problema social.

No âmbito pedagógico, este projeto torna-se necessário, pois através da pesquisa busca se um olhar sobre A Cartografia e o Braille para o ensino da Geografia no ambiente escolar para que os sujeitos da pesqui-sa deslumbrem um pensar sobre as práticas desenvolvidas, contribuindo para um melhor entendimento sobre as práticas pedagógicas inclusivas para alunos deficientes visuais, favorecendo o processo de ensino e apren-dizagem desses alunos, já que levara a equipe escolar e a comunidade a (re)pensar as práticas desenvolvidas da unidade escolar.

O local escolhido para a pesquisa foi a E. E. E. F. M. PROFESSORA REGINA COELI pertencentes à rede estadual paraense, regidas técnica e administrativamente pela Secretaria Executiva de Educação (SEDUC), sendo o governo do Estado do Pará como órgão mantenedor. A referi-da escola localiza-se no Conjunto Paar Avenida Solimões nº 119, Maguari Ananindeua - PA CEP: 67145-061.

Atualmente a E. E. E. F. M. PROFESSORA REGINA COELI atende em média 1.500 alunos divididos em três turnos manhã, tarde e noite.

REFERENCIAL TEÓRICO

Visando atender às referências bibliográficas básicos, apresentamos al-guns referencias teóricos que darão embasamento na pesquisa. Os autores

345

destacados para esta pesquisa foram: ALMEIDA R. D. Desenho ao Mapa Iniciação: Cartográfica na Escola. São Paulo. Contexto. 2013; ALMEIDA R. D. Cartográfica Escolar. São Paulo. Contexto. 2011; MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria De Educação Especial. Grafia Braille Para a Língua Portuguesa. Aprovada pela portaria nº 2.678 de 24/09/2002. Bra-sília. 2006.

Para Masini (1994), os deficientes visuais são divididos em grupos: cegos e portadores de visão subnormal. Ela coloca que

Tradicionalmente a classificação tem sido feita à partir da Acuidade Visual: sendo cego aquele que dispõe de 20/200 de visão no melhor olho, após correção; e portador de visão subnormal aquele que dispões de 20/70 de visão nas mesmas condições. (p. 40)

Barraga (1976, citado por KIRK e GALAGHER, 1996), descreve três tipos de criança D.V.

1. Cegas, as crianças que têm somente a percepção da luz ou que não tem nenhuma visão e que precisem aprender através do Braille e de meios de comunicação que não esteja relacionado com o uso de visão.

2. Visão Parcial, aquelas que têm limitações da visão de distância, mas são capazes de ver objetos e materiais quando estão a poucos cen-tímetros ou, no máximo, a meio metro de distância.

3. Visão Reduzida, são consideradas crianças com visão, se esta puder ser corrigida.

Segundo os Parâmetros Curriculares para a educação inclusiva (1998), o currículo é construído a partir do projeto pedagógico da escola e deve viabilizar a operacionalização do mesmo, orientando as atividades educa-tivas, as formas de executá-las e definindo as suas finalidades. O mesmo documento usa as palavras “Adequações Curriculares” para referir-se ao currículo como sendo um elemento dinâmico da educação para todos e que a sua viabilização para os alunos com necessidades educacionais espe-ciais, pode ser realizando através de flexibilização na prática educacional, com o objetivo de atender todos os alunos.

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Pensar em adequação curricular significa considerar o cotidiano das escolas, levando-se em conta as necessidades e capacidades dos seus alunos e os valores que orientam a prática pedagógica. Para os alunos que apresentam necessidades educacionais especiais essas questões têm um significado particularmente importante (p. 32)

Logo à frente no mesmo documento, abre o seguinte título: “Adapta-ções curriculares”.

As adaptações curriculares constituem, pois, possibilidades educacionais de atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Pressupõem que se realize adaptação do currículo regular, quando necessário, para torná-lo apropriado às peculiaridades dos alunos com necessidades especiais. Não um novo currículo, mas um currículo dinâmico, alterável, passível de ampliação, para que atenda realmente a todos os educandos. Nessas circunstâncias, as adaptações curriculares implicam planificação pedagógica e a ações docentes fundamentadas em critérios que definem: o que o aluno deve aprender; como e quando aprender; que formas de organização do ensino são mais eficientes para o processo de aprendizagem; como e quando avaliar o aluno (p.33).

O documento citado acima, não deixa claro as diferenças entre “Ade-quações Curriculares” e “Adaptações Curriculares”, deixa por entender que as “Adequações” são ofertadas mais em nível de flexibilização do cur-rículo e as “Adaptações” nos levam a entender que são as ações executadas pelo professor para ofertar conhecimento ao estudante com necessidades educacionais especiais. Almeida (2003) compreende que as adaptações cur-riculares nos Parâmetros Curriculares Nacionais, continuam provocando mais fragmentação no ensino e reafirmando que é possível predefinir a capacidade dos alunos para aprender um dado conteúdo escolar.

A autora finaliza que ambientes educacionais restritivos como esses, que primam pelas atividades adaptadas, são os que oferecem serviços edu-cacionais individualizados e especializados, com o objetivo de ajudar as crianças e/ou jovens e adultos a superar suas dificuldades de adaptação, o que não coincide com uma proposta de Escola Inclusiva. Será que as

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adaptações curriculares, não são uma forma de exclusão dentro da escola inclusiva? Visto que os conteúdos podem limitar-se dependendo da forma como o aluno é estigmatizado.

PROPONENTE

Unidade Educacional Especializada José Álvares de Azevedo, funda-da pelo Decreto Lei nº. 1300/1953, para trabalhar a educação e reabilita-ção dos deficientes visuais residentes no Estado do Pará.

Endereço: Rua Presidente Pernambuco 487 - Batista Campos, Belém - PA 66.015-200

OBJETIVOS

GERAL: Incluir o aluno com deficiência visual seja ela cegueira ou baixa-visão, nas aulas de geografia para que ele possa ter as mesmas con-dições de aprendizados que os demais alunos não deficientes.

ESPECÍFICOS

- Confeccionar mapas táteis, utilizando os mais variados tipos de ma-teriais e texturas para que o aluno, cego ou com baixa-visão tenha uma noção de espacialidade e localização.

- Fazer com que a partir da leitura de um mapa tátil o aluno deficien-te visual possa aprender e apreender os conceitos básicos da Cartografia como: Título, Escala, Legenda, e Orientação.

- Ensinar o sistema Braille ao aluno cego caso ele já não o saiba. _ Fa-cilitar o ensino da geografia ao aluno deficiente visual.

METODOLOGIA

Foi escolhida 01 (uma) instituição estadual, onde encontram-se regu-larmente matriculados alunos com deficiência visual, atendidos ou não em sala de recursos multifuncionais, situadas na cidade de Ananindeua/PA. Esta instituição funciona em três turnos (manhã, tarde e Noite), atenden-

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do ao Ensino Fundamental maior do 6º ao 9º ano e ao Ensino Médio. A escola atente em média cerca de 1.500 alunos aproximadamente em três turnos manhã tarde e noite. A escola apresenta uma boa estrutura física, com 16 salas de aulas auditório, biblioteca, laboratório de ciências e in-formática, sala dos professores, secretária, diretoria, sala da coordenação, refeitório quadra de areia e uma grande área livre.

Os mapas serão confeccionados de acordo com a disponibilidade do professor itinerante que pode ser na escola do aluno na sala do AEE ou também em outros lugares onde esse professor possa ter acesso a materiais para realizar seus trabalhos.

Os mapas podem ser confeccionados com a participação da professora da sala regular desde que essa tenha disponibilidade e queira participar da confecção.

Quando os mapas estiverem prontos o professor que conduzir o proje-to deve orientar o professor da sala regular inclusive lhe ensinando o sis-tema Braille, algo que será de fundamental importância para que o aluno entenda a leitura dos mapas.

RESULTADOS PARCIAIS

Como resultados parciais foram produzidos mapas táteis, elaborados pelos professores Itinerantes durante o período da hora pedagógica, para melhor orientar os educados e professores.

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MAPA POLÍTICO DO BRASIL (IBGE) MAPA DAS REGIÕES DO BRASIL

Fonte: Criação de Anderson Rocha Fonte: Criação de Anderson Rocha

MAPA DAS REGIÕES DO BRASIL MAPA DO BRASIL

Fonte: Criação de Anderson Rocha Fonte: Criação de Anderson Rocha

RESULTADOS DESEJADOS:

Espera-se que a partir da realização desse trabalho o aluno deficiente visual tenha condições de reconhecer os mapas, os seus principais elemen-tos, aprenda a se orientar e se localizar no espaço. Além de ter um conheci-mento espacial podendo com certeza ajudar-lo no futuro a ter uma melhor compreensão de outras disciplinas e o mais importante será um legado para o resto da vida.

350

CONCLUSÃO

Logo, com toda certeza esse projeto é uma boa oportunidade que te-mos, para criar os instrumentos pedagógicos (mapas táteis), que facilitem o ensino aprendizagem dos alunos com deficiência visual da Escola Regi-na Coeli e que a partir dos mapas criados na escola, possamos está con-tribuindo não só com a educação dos nossos alunos mais, está ajudando outros alunos deficientes visuais de outras escolas, visto que esses recursos são escassos e nem todos os professores de geografia ou até mesmo os pro-fessores das salas de recursos multifuncionais têm essas habilidades para desenvolverem esses mapas e alto-relevo.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

ALMEIDA R. D. Desenho ao Mapa Iniciação: Cartográfica na Escola. São Paulo. Contexto. 2013.

ALMEIDA R. D. Cartográfica Escolar. São Paulo. Contexto. 2011.MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria De Educação Especial. Grafia Braille Para a Língua Portuguesa. Aprovada pela portaria nº 2.678 de 24/09/2002. Brasília. 2006.

PASSINI, Elza Yasuko. Alfabetização cartográfica e o livro didático: uma analise critica. Belo Horizonte, MG: Lê, 1994.

JOLY, Fernand; et. al. A Cartografia:.5.ed. Campinas SP: Papirus, 2003. JOLY, Fernand. A Cartografia:.11.ed. Campinas SP: Papirus, 2008.

OLIVEIRA, Cêurio de; IBGE. Curso de Cartografia moderna:.. Rio de Janeiro: IBGE, 1988.

FITZ, Paulo Roberto. Cartografia básica:.. São Paulo: Oficina de textos, 2008. ALMEIDA, Rosângela Doin de; JULIA SZ. Paula C. Espaço tempo e educação infantil: .. São Paulo: Contexto, 2014.

351

ACESSIBILIDADE PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS - RECURSO DE TECNOLOGIA ASSISTIVA COMO APOIO À APRENDIZAGEM E

INCLUSÃO

Maria Aparecida Ramires Zulian; Andressa Ipólito Fonseca Zanetti; Luis Pereira;

Daniel Adam Bonatti; Serguei Balachov

RESUMO

O material apresentado no presente artigo visa apresentação do andamen-to do desenvolvimento de uma interface de acessibilidade para dispositi-vos móveis, que permite aos indivíduos com graves comprometimentos motores interagir com estes dispositivos utilizando algum movimento residual. Fruto de pesquisa desenvolvida no CTI Renato Archer com o apoio da FINEP, este projeto foi pensado a partir das características de um projeto anterior conhecido como Auxilis, na busca de anterioridades de projetos similares, e no estudo de mercado realizado pela equipe. Os re-sultados preliminares alcançados até o momento apontam para um futuro promissor nas contribuições que tal ferramenta pode oferecer as pessoas com comprometimentos motores severos.

Palavras Chaves: Tecnologia Assistiva; Acessibilidade Digital; Dispositi-vos Móveis

Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, Campinas - SP Fundação de Apoio à Capacitação em Tecnologia da Informação - FACTI Financiadora de estudos e Pesquisas - FINEP

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INTRODUÇÃO

Sabe-se que a deficiência, especialmente a motora, pode causar des-vantagens diversas com consequente impacto na qualidade de vida das

pessoas. Segundo Vygotsky (1998) “o que define o destino da pessoa, em última instância, não é a deficiência em si, mas suas consequências sociais”.

O Brasil tem motivos de sobra para se esforçar cada vez mais a fim de ampliar as condições de funcionalidade das pessoas com deficiência e melhorar as estratégias que favorecem a inclusão diminuindo as desvanta-gens em que essa população se encontra.

Os números apontados pelo Censo nacional de 2010 apresentam que de um total de 45.606.048 de pessoas identificadas com deficiência 13.265.599 declararam possuir deficiência física e 4.442.246 deficiência física severa. (BRASIL, 2012)

Já é comprovado na literatura o impacto positivo que as tecnologias exercem na vida das pessoas com deficiência, favorecendo suas relações com o meio que as cerca.

Segundo Savi (2008) e Zulian (2008) os aplicativos e jogos ofereci-dos em dispositivos móveis podem ser importantes ferramentas de apoio à aprendizagem, aprimorando habilidades e competências do indivíduo para resolver determinada tarefa, alcançar um objetivo, ou treinar o que já tem, como capacidade de memorização, coordenação viso motora, a ca-pacidade de pensar de forma estratégica para solucionar problemas, aten-ção e concentração, o treino da visão e da audição, orientação espacial, corporal e temporal, criatividade e lógica. Os conhecimentos relacionadas diretamente com os conteúdos curriculares e conhecimentos gerais como: matemática, física, química, linguagens, artes, biologia etc, também po-dem ser potencializados quando se faz uso de aplicativos de pesquisa e de atividades coletivas além dos jogos digitais.

No caso da utilização de ferramentas digitais na escola, cabe ao pro-fessor a mediação destas situações, transformando-as em ações educativas (WOLFF, 2013) e (ALVES et al, 2014).

Diante deste cenário, com o desejo de inovar e oferecer algo para essa população com comprometimento motor, considerou-se a construção de

353

uma ferramenta que possibilitasse por meio de uso de sensores comuns da engenharia elétrica, a captação de sinais produzidos por movimentos mínimos, porém funcionais, presentes neste grupo de pessoas, de forma a permitir a interação desses indivíduos com diferentes dispositivos móveis, e desta forma, oportunizar as atividades e aprendizagens previstas na uti-lização dos dispositivos e aplicativos.

Diante destas experiências buscou-se atualizar o conceito utilizado em experiências anteriores como no estudo de Zulian, Beiral e Damiani (2011).

REFERENCIAL TEÓRICO

A título de esclarecimento vale lembrar que, segundo lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015:

Art. 2o “considera-se pessoa com deficiência aquela que tem im-pedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectu-al ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barrei-ras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”. (BRASIL, 2015)

A deficiência física é descrita no Decreto nº 5296/04 que regulamenta as leis10.048 e 10.098/2000;

“deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimen-to da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetrapare-sia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, am-putação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções;” (BRASIL, 2004)

Considerando que, como resultados das diversas iniciativas das po-líticas que caminham na direção da inclusão social, os dados do Censo Escolar de 2015 apontam que, em 1998, cerca de 200 mil pessoas com deficiência estavam matriculadas na educação básica, sendo apenas 13% em classes comuns e em 2014, já eram quase 900 mil matrículas, 79% de-

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las em turmas regulares. Sabe-se que atualmente têm-se em torno de um milhão de matrículas de alunos com deficiência nas escolas regulares do Brasil. Somente no último quinquênio, foram registradas mais 214 mil en-tradas de estudantes com deficiência em classes regulares e na rede federal de educação superior, esse índice quintuplicou de 3.705 alunos para 19.812 no ano passado. (INEP, 2015)

Neste mesmo período a tecnologia avançou significativamente no que diz respeito aos dispositivos oferecidos aos usuários para acesso a infor-mações e viabilização de comunicação. Pode-se afirmar que a cada 2 anos os hardwares disponíveis no mercado para esse fim se configuram em pro-dutos cada vez mais aprimorados, oferecendo melhores oportunidades de comunicação e novas funcionalidades a cada inovação. Neste aspecto,

ressalta-se o avanço significativo na tecnologia dos sistemas compu-tacionais, por exemplo a evolução do modelo de computadores de mesa para notebook e os novos modelos atuais de dispositivos móveis disponibi-lizados e amplamente utilizados por pessoas nas mais variadas condições e faixas de idade.

No caso da deficiência física com comprometimento motor severo, o que se observa em muitas situações é que, mesmo com a Política de Edu-cação Especial na Perspectiva Inclusiva e todos os programas que ela pro-porciona, em situações escolares o aluno com essas características físicas ainda se encontra muitas vezes como expectador das atividades escolares e não como um participante ativo, isto devido ao impedimento que suas limitações funcionais lhe causam ao manusear material escolar convencio-nal, por exemplo, e desta maneira participar ativamente das atividades escolares.

A escola se configura como um espaço de amplo acolhimento ao pro-cesso de aprendizagem dos alunos com deficiência e vem buscando se apro-priar cada vez mais no uso dos sistemas de informática como recurso e fer-ramentas pedagógicas, tentando acompanhar as ofertas no mercado e da nova sociedade de informações, e neste sentido programas governamen-tais vem estimulando o uso dos recursos de computação na escola como é o caso dos programas desenvolvidos pelo ProInfo - Programa Nacional de Informática na Educação. (BRASIL, 1997)

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Têm-se atualmente, disponibilizados no mercado, diversos aplicativos tecnológicos que possibilitam a comunicação funcional e consequente-mente ampliam as possibilidades de aprendizagem e participação social do aluno com deficiência e tais aplicativos estão cada vez sendo disponibi-lizados para dispositivos móveis.

Entendendo que, se viabilizada a comunicação e possibilitada o acesso a informações por meio do sistema computacional, é possível dar à gran-de parte desse quase um milhão de alunos com comprometimento motor uma porta de acesso para uma vida mais produtiva. (ZULIAN e ZANET-TI, 2015)

OBJETIVO

Apresentar o desenvolvimento de uma interface de acessibilidade vol-tada para dispositivos móveis, que permite aos indivíduos com graves comprometimentos motores interagir com estes dispositivos utilizando al-gum movimento residual.

METODOLOGIA

A pesquisa teve início com um estudo de mercado quanto às opções que já estavam disponibilizadas na internet similares ao projeto ora pro-posto e, considerando os resultados encontrados, foram feitas propostas de desenvolvimento a partir de observações das demandas reais do usuá-rio e de suas habilidades residuais.

Para garantir que o trabalho viesse a resultar em um produto que de fato contribuísse com a melhora funcional do público a que estamos nos referindo, foi criada uma equipe multidisciplinar onde os saberes especí-ficos de cada integrante foram utilizados no mesmo foco. Esta estratégia culmina no protótipo a ser apresentado neste artigo.

Como resultado do estudo de mercado foram identificados algumas questões a serem trabalhadas:

Diversos produtos de acessibilidade e interface com o computador já estavam disponíveis no mercado, tanto para compra como para acesso gratuito na web, no entanto os produtos disponíveis para compra são de

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alto custo e em sua maioria importados. Verificou-se também que cada produto atende a uma especificidade única de cada sujeito o que o torna ainda mais caro para a utilização e inviável no uso coletivo no caso do am-biente escolar por exemplo.

A vantagem do uso do sistema para dispositivos móveis é que no com-putador é esperado que lhe seja plugado dispositivos de entrada e saída como o mouse e a impressora, já nos dispositivos Android essa opção não é esperada pois o mesmo já oferece seus periféricos padrões.

No caso do acesso e manuseio ao sistema Android os produtos dispo-níveis ainda não atendem as pessoas com deficiência motora severa, pois exigem para seu manuseio o tato bem como certa coordenação motora, habilidades inexistentes ou muito precárias neste público.

A solução proposta levou em consideração os problemas encontrados no mercado e as possibilidades de aplicação para esse público-alvo, e uti-lizou-se de um conceito que utiliza o movimento residual do seu usuário, com comprometimento motor severo, para interagir com softwares e APKs comuns em dispositivos com sistema operacional Android, através de um conjunto de hardware, software e sensores, capaz de captar os sinais pro-duzidos pelo movimento funcional residual do sujeito e transformá-lo em comandos que simularão os gestos necessários para o manuseio do disposi-tivo móvel, tal qual é feito pelo usuário convencional. O conjunto permite superar a barreira do manuseio de dispositivos móveis, que exige o sentido do tato bem como certa coordenação motora, habilidades que são inexis-tentes ou muito precárias no público a quem nos referimos.

RESULTADOS

Baseado nas características do projeto anterior do Auxilis, na busca de anterioridades de projetos similares, e no estudo de mercado realizado pela equipe, foi então determinado os primeiros requisitos funcionais para o novo projeto, gerando a nova versão ilustrada na Figura 1.

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Figura 1: 2º Versão Atualizada baseada no Projeto Auxilis - Dispositivos Móveis

A principal funcionalidade da nova interface para inclusão digital é a possibilidade do acesso e controle a dispositivos móveis, o que é uma tendência em meio toda a sociedade, além da conectividade Wireless, que permite ao dispositivo e ao usuário uma maior mobilidade dentro do am-biente de uso (salas de aulas, bibliotecas, auditórios, etc).

Lagoa, et al (2008) refere que os dispositivos móveis desempenham um papel importante na sociedade moderna e considera que suas funcionali-dades ultrapassam a comunicação pois favorecem as funcionalidades para o lazer, educação ou trabalho.

Essa nova interface de acessibilidade contemplou a utilização da maio-ria dos sensores já utilizados no projeto Auxilis, e aos poucos estão sendo interligados a nova interface proposta. Também será possível reconstruir a interface entre hardware e software do controle de mouse, se um serviço específico for desenvolvido para o ambiente de Windows. Portanto, não se trata apenas de explorar a melhoria de uma tecnologia já desenvolvida e sim de reaproveitar ideias, conceitos, testes, falhas e a própria evolução da tecnologia em si.

A nova interface de acessibilidade possui uma placa controladora mui-to pequena, (o hardware), que tem por objetivo fazer a interface entre o usuário e o dispositivo móvel através da detecção de algum sinal captado por sensores e produzido por mínimos movimentos residuais que a pessoa com deficiência motora possa realizar.

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O dispositivo foi criado a partir de uma plataforma microprocessa-da, capaz de receber sinais de diferentes sensores em formatos variados (Analógicos, Digital, Binário ou de pulso) e transformá-los em informação digitalizada, informando os estados dos sensores ao aplicativo de varre-dura que funciona como um controle remoto das funções de manuseio do dispositivo móvel por meio de WiFi.

O hardware de controle se destaca também pelas várias formas de in-terface com o usuário, das quais é possível citar a captação de movimento por acelerômetro, a captação de voz ou ruído diretamente da garganta do usuário diminuindo assim o esforço do mesmo, a captação de movimen-to por sensores capacitivos, suavizando o toque e a captação de coman-dos por acionadores eletromecânicos. A mínima ação física do usuário se transforma em um gesto ou toque no dispositivo móvel.

Figura 2: Diagrama de blocos completo da solução que está sendo desenvolvida.

O aplicativo de varredura opera sobre qualquer outro aplicativo já presente no dispositivo móvel, interpreta os dados enviados pelo hardware de controle via proto-colo proprietário1 e transforma os dados em comandos que serão oferecidos em forma de gestos necessários para comandar o dispositivo móvel.

A varredura tem início assim que um dos sensores é ativado e propor-ciona a movimentação de um cursor (ponteiro para o toque), com a pre-sença de duas réguas que se movimentam uma da esquerda para direita e outra de cima para baixo. O ponteiro fica no encontro das duas e todos os

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gestos necessários para a interação com o dispositivo como: clique, arras-tar curto e arrastar longo, são representados na tela por imagens de fácil compreensão, que devem ser escolhidas pelo sujeito conforme a atividade a ser executada. Figura 3.

Figura 3: Sistema de varredura e gestos representativos na tela do dispositivo móvel

Todas as ações executadas pelo aplicativo de varredura podem ser con-figuradas em diferentes velocidades, cores e símbolos que representarão os gestos de função. Salienta-se entretanto que, como a configuração exige habilidade motora, orienta-se que seja feita por uma pessoa próxima ao usuário como cuidador, profissional envolvido, familiar, etc.

O sistema permite a configuração de diferentes perfis com o nome de cada usuário do sistema, possibilitando que o mesmo sistema seja adequa-do para diferentes pessoas. Atribui-se a cada perfil, se necessário, uma foto e o nome do usuário.Figura 4

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Figura 4: Telas de configuração do sistema e exemplo de perfil

Passerino e Montardo (2007) reforçam que:

“A acessibilidade e inclusão digital não dizem respeito apenas ao acesso à rede de informações, mas também à eliminação de barreiras de comunicação, equipamentos e software adequado às diferentes necessidades especiais.”

CONCLUSÃO

Os primeiros testes de laboratório já revelaram um significativo poder intuitivo da ferramenta para o uso no qual ela foi pensada. Com poucas interações o usuário, no caso sem deficiência, já consegue entender os me-canismos e executar as tarefas propostas.

O dispositivo está em fase de desenvolvimento, já na etapa de refina-mentos, e encontra-se sendo preparado para os testes com os usuários. O trabalho desenvolvido até o momento já fez grandes avanços, porém para que o produto de Tecnologia Assitiva previsto a ser desenvolvido no âmbito desse projeto se torne de fato algo a ser oferecido ao público com deficiência motora, faz-se necessário a continuidade do projeto que prevê o aprimoramento de suas diferentes etapas, e a execução dos testes de

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validação, usabilidade, acessibilidade e funcionalidades e, ainda, a trans-ferência da tecnologia desenvolvida a uma empresa parceira que venha a se responsabilizar pela multiplicação do produto no mercado. O conjunto permite superar a barreira do manuseio de dispositivos móveis, que exige o sentido do tato bem como certa coordenação motora, habilidades que são inexistentes ou muito precárias no público a quem nos referimos. Os resultados preliminares de uso do protótipo desenvolvido, mostraram que o conceito tem grande potencial na área de inclusão social de pessoas com deficiência motora severa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo Demográfico: 2010. Características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Censo demogr., Rio de Janeiro-RJ, p.1-215, 2012.

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Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 7 de julho de 2015.

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LAGOA, P; NICOLAU, H; GUERREIRO, T; GONÇALVES, D; JORGE, J Acessibilidade Móvel: Soluções para Deficientes Visuais. Disponível em: http://web.ist.utl.pt/hugo.nicolau/publications/2008/interaccao2008.pdf. Acesso em: 14 de set. 2016

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APLICATIVO MÓVEL “PRÓ COMUNIQUE” COM SUPORTE DE INTERFACE PARA COMUNICAÇÃO COM RECURSO DO

BLUETOOTH

Elton Sarmanho Siqueira80; Antonio Vicente Coelho81; Ana Irene Alves de

Oliveira82

RESUMO

Este trabalho apresenta um aplicativo de Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA) que utiliza a combinação de símbolos e elementos sonoros para criar processo de comunicação e interação para indivíduos com problemas de oralidade. O aplicativo foi desenvolvido na plataforma Android e executa em Tablets de diversos modelos: Samsung, Positivo, Motorola, LG e Space BR. O aplicativo chamado de “Pro Comunique” possui diversos recursos: gerenciamento de pranchas de comunicação, o uso de seleção preditiva para ligar símbolos com as pranchas, sintetiza-dor de voz português Brasileiro ou registro do áudio pelo terapeuta ocu-pacional. Além disso, a aplicação implementa método de escaneamento. Este método irá melhorar a interação com aplicativo para as pessoas com deficiência motora e que impendem de alguma forma o toque na tela do Tablet. Para apoiar este método, o aplicativo utiliza-se de um dispositivo chamado Bluetooth Switch Interface para realizar os eventos: selecionar item e iniciar escaneamento.

Palavras-Chave: Comunicação; Bluetooth; Tecnologia.

80 Doutorando em Ciências da Computação na Universidade de Brasília-UnB. Faculdade de Sistemas de Informação, Universidade Federal do Pará.81 Graduando em Sistemas de Informação Faculdade de Sistemas de Informação. Universidade Federal do Pará.82 Doutora Em Teoria e Pesquisa do Comportamento. Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade, Universidade do Estado do Pará -UEPA

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1. INTRODUÇÃO

Acredita-se que a habilidade de comunicação oral é fundamental para que as pessoas desenvolvam a interação, uma vez para que esta ocorra é necessária a presença de certos elementos fundamentais como a relação de reciprocidade estabelecida entre os participantes, o meio cultural compar-tilhado e o uso de instrumentos ou meios de comunicação que permitam sustentar a construção e o compartilhamento intersubjetivos de signifi-cados [1]. As pessoas que apresentam déficits na comunicação precisam utilizar meios complementares, suplementares ou ampliadores de comu-nicação de forma que o processo possa ser estabelecido. Nesse âmbito a Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA) constitui-se como uma área fundamental de pesquisa quando se procura desenvolver e estudar mecanismos, instrumentos e metodologias para complementar, suplemen-tar ou aumentar o potencial de comunicação entre pessoas.

Diante desse contexto, este trabalho parte da criação de um aplicati-vo móvel na plataforma Android chamado “Pro Comunique” voltado para CAA, cujo foco é atender as pessoas com déficit na oralidade devido alguma lesão neurológica como por exemplo: causada por uma Paralisia Cerebral ou Acidente Vascular Cerebral (AVC), Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), autismo ou quaisquer outras doenças que causam sérios danos à comunica-ção, desenvolvendo assim dificuldades no processo de comunicação com ou-tros indivíduos. Tal trabalho enfatiza a portabilidade e interatividade para apoiar a CAA, pois o aplicativo desenvolvido foi testado tanto em celulares como em Tablets, considerando os modelos disponíveis no mercado: Sam-sung, Positivo, Motorola, LG e Br Space. Ressalta-se que mediante aos tes-tes feitos nos modelos citados anteriormente, pode-se afirmar que em outros modelos não mencionados, o referido aplicativo funcionará de forma con-sistente, uma vez que hardware de cada modelo se diferencia em pequenos detalhes que não afetam o bom funcionamento do aplicativo.

De modo a abranger conjunto dos usuários, o aplicativo trabalha em parceria com Bluetooth Switch Interface (conhecido como adap-tador Bluetooth) e com acionador, de tal maneira que esses elemen-tos proporcionam uma interação com aplicativo sem tocar na tela do Tablet.

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Após esta breve apresentação do trabalho prossegue-se nos próximos tópicos a abordagem sobre CAA, uma pesquisa bibliográfica sobre os apli-cativos mais utilizados no contexto de CAA no mercado nacional. Em seguida, apresentando o aplicativo desenvolvido. No final, segue as consi-derações finais e agradecimentos.

2. COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA(CAA)

A comunicação é um recurso poderoso de interação e pode estar dire-tamente ligada ao êxito que um indivíduo terá em sua vida. O ato de se expressar permite que humanos ampliem seu potencial, em função das trocas que ocorrem nesse processo. Para Schirmer [2], “a linguagem ser-ve de veículo na comunicação, ou seja, constitui um instrumento social usado em interações visando à comunicação”. Ao longo da vida, os indi-víduos podem apresentar dificuldades de comunicação devido a diferentes situações e por diferentes fatores. Há os que nascem com incapacidade de falar, ou adquirem prejuízo na oralidade (temporária ou permanentemen-te), devido alguma lesão ou dano cerebral. Há também indivíduos com alguma síndrome, como o autismo, os quais podem apresentar problemas em razão disso. Nesse caso, a fim de garantir ao indivíduo autonomia e in-clusão na sociedade, tornam-se necessários artefatos comunicacionais su-plementares, como forma de mediar e/ou compensar o déficit na oralidade.

Entre alguns recursos existentes na sociedade, encontra-se a Comu-nicação Alternativa e Aumentativa (CAA) que se refere a qualquer meio de comunicação que suplemente ou substitua os modos habituais de fala, ou seja, as habilidades de comunicação quando comprometidas [3]. É um recurso que utiliza estratégias e técnicas, a fim de proporcionar ao indiví-duo independência e competência em suas situações comunicativas, tendo oportunidades de interação com o outro em seu meio social. Segundo a pesquisa feita por Johnson [4], os sistemas gráficos ou códigos alternativos mais utilizados na CAA são: Picture Communication Symbols (PCS), Pic-togram Ideogram Communication (PIC) e Core Picture Vocabulary (CPV).

O aplicativo em questão faz uso do PCS (Figura 1), por ser um sistema gráfico simples e claro, fácil reconhecimento, adequado para usuários de qualquer idade, facilmente combináveis com figuras e fotos para a criação de recursos de comunicação individualizados [4].

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Figura 1: Exemplo de CAA usando PCS.

2.1 SOFTWARES DE CAA

Com base em pesquisas feitas em publicações de trabalhos relaciona-dos CAA e IHC (Interação Homem Computador), alguns softwares desta-cam- se no mercado nacional: Livox, Adapt e Que Fala!.

2.1.1 LIVOX

O Livox [5] é um aplicativo que fornece para usuário a interação usan-do PCS e a conversão de texto em voz sintetizada. Possibilita cadastrar, atu-alizar e excluir figuras, garantindo ao usuário a personalização do conteúdo. A interação utilizando PCS se dá pela seleção de uma ou mais figuras e, caso não encontre a figura desejada, passa para próxima página através do botão “Próximo” e, caso queira voltar, utiliza-se o botão “Voltar”. Na situação de seleção da figura, o aplicativo emite um som que pode ser oriundo de um áudio gravado ou gerado por um sistema de sintetização de voz.

Figura 2: Livox

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2.1.2 ADAPT

Não muito diferente do anterior (aspectos de interface e funcionali-dades), o aplicativo Adapt [6] permite ao usuário configurar quantidade de figuras por tela, armazenamento de histórico de conversas, exportação de pranchas personalizadas e a configuração da seleção de imagens (por clique na tela ou por rastreio).

Figura 3: Adapt

2.1.3 QUE FALA!

O aplicativo “Que Fala!” [7] funciona na plataforma Android e Win-dows. Utiliza a interação PCS e, possui característica de ser um software fortemente personalizado, em que algum usuário externo cria a prancha de comunicação com a finalidade de se adequar ao contexto específico de cada paciente. Nesse aplicativo, a navegabilidade das páginas é realizada pela ação de arrastá-la no sentido da direita (avançar) ou esquerda (vol-tar). As demais funcionalidades (exceto conversão de texto em voz) são idênticas aos aplicativos anteriores.

Figura 4: Que Fala!

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2.2 ANÁLISE QUALITATIVA

De acordo com os testes de usabilidade e interação homem-compu-tador feitos em cima dos aplicativos citados anteriormente e, usando a avaliação de usabilidade feita com base em Nielsen [8], o trabalho apon-ta alguns pontos relevantes que comprometem determinados aspectos de usabilidade para os usuários que utilizam esse tipo de software:

- Excessiva carga de memorização: os dois primeiros aplicati-vos apresentam a interação de navegabilidade entre páginas por meio dos botões de navegação. Enquanto o terceiro utiliza-se da ação de arrastar as páginas através de movimentos laterais. Considerando que tais aplicativos possuem uma quantidade de-masiada de figuras, torna-se difícil para usuário memorizar a localização de cada uma, causando dificuldade no processo de busca.

- Ajuda e documentação: aspecto importante para qualquer aplicativo para guiar o usuário nos momentos iniciais de utili-zação do software. Conforme os testes realizados pelo grupo de pesquisa, os aplicativos não detinham nenhum manual ou guia para ensinar o usuário manusear o sistema.

Com base nessa análise, o “Pro Comunique” possui outra abordagem de interação que remedia tais problemas: utiliza seleção preditiva; possui manual para usuário; separa as pranchas de comunicação por sessões.

3. PRO COMUNIQUE

O aplicativo intitulado como “Pro Comunique” está sendo desenvol-vido na Universidade Federal do Pará (UFPA) campus Universitário de Cametá no Laboratório de Programação Extrema (LABEX) com o pro-pósito de criar uma solução em CAA no âmbito da região, pois esta carece muito de serviços suplementares para ajudar pessoas que possuem difi-culdades em estabelecer a comunicação oral devido alguma lesão ou dano cerebral (como exemplo, Paralisia Cerebral, AVC), autismo, deficiência motora ou outro fator que desencadeou esse estado de deficiência.

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O aplicativo funciona na plataforma Android, podendo ser utilizado em Tablets ou Smartphone. Além disso, utiliza recursos como sintetizador de voz português Brasileiro do Google, comumente utilizado pelo Google Tradutor. Nas próximas seções, serão abordadas as principais funcionali-dades do aplicativo e sua aplicação com adaptador Bluetooth e acionador.

3.1 SELEÇÃO PREDITIVA

Primeiramente, predizer significa anunciar antecipadamente o que deve acontecer. Deste modo, esse aplicativo trabalha com uma estrutura de construir estímulo (nesse caso, uma oração) que possibilite estabelecer uma comunicação durante um diálogo simples.

A seleção preditiva é programada pelo terapeuta ocupacional ou usuá-rio conhecedor das configurações do aplicativo. Assim, ligam-se os elemen-tos simbólicos com as pranchas de comunicação. Por exemplo, a oração: “Eu Quero Tomar Suco”, pode ser construída da seguinte forma: Criada prancha “Pessoa” adiciona-se dois símbolos, “eu” e “você”. O Símbolo “eu” será ligado à prancha “Ação” (Figura 5).

Figura 5: Prancha Pessoa.

O usuário seleciona o símbolo “eu” (após o toque é emitido som repre-sentado pela legenda acima do símbolo) e em seguida, o aplicativo move-se para prancha “Ação”. Posteriormente, o usuário clica no símbolo “quero” que pertence a prancha “Ação”. Após clicar nesse símbolo, o aplicativo desloca a visualização para prancha “Necessidade” (Figura 6)

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Figura 6: Prancha Necessidade.

No caso proposto, o usuário clica no símbolo “tomar” e, por fim o apli-cativo desloca-se para prancha “Alimento” e o usuário seleciona “suco”, como visto na Figura 7

Figura 7: Prancha Alimento.

Percebe-se que o usuário partiu do símbolo “eu” e foi navegando de forma preditiva entre as pranchas.

Isso proporciona uma maior flexibilidade na interação das pranchas com usuário. Além disso, durante seleção das imagens, o painel localizado na parte superior apresenta a sequência construída (Figura 8), nesse caso “eu quero tomar suco”, possibilitando o usuário repetir a oração sem a necessidade de refazer todo processo anterior.

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Figura 8: Painel Superior com Sequência Construída.

3.2 MÉTODO DE ESCANEAMENTO

O método de escaneamento é um processo em que um “indicador” se movimenta sistematicamente entre todas opções disponíveis na tela. Du-rante a utilização desse método consideram-se dois elementos importantes para o bom funcionamento deste:

- Acionador

- Adaptador Bluetooth

Acionador é um dispositivo somente ativado mediante a pressão exer-cida por alguma parte do corpo do usuário (mão, pé, cabeça entre outros). Estes dispositivos estão disponíveis em diferentes tamanhos, formas e cor. Alguns permitem ajustar a pressão exercida. Na Figura 9, mostram-se alguns acionadores que podem ser usados com as mãos, pés e cotovelos.

Figura 9: Acionadores

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Nesse projeto utilizou-se o adaptador Bluetooth H-66 da RJ Cooper [9], mostrado na Figura 10. Ressalta-se que este funciona nas plataformas Android e IOS. A finalidade desse dispositivo é viabilizar a comunicação com Tablet Android com o acionador via Bluetooth. Além disso, este possui duas portas que possibilitam a entrada de dois acionadores.

Figura 10: Adaptador Bluetooth H-66

O método de escaneamento implementado no “Pro Comunique” fun-ciona da seguinte maneira: O acionador ligado a porta 1 (tubo preto) per-mite iniciar escaneamento, ou seja, realiza a progressão do indicador atra-vés das opções disponíveis na tela do aplicativo. Quando o item exigido é destacado, então o usuário pressiona o acionador ligado a porta 2 (tubo vermelho) para selecionar o referido item. Desta forma temos uma porta para “mover” e outra para “selecionar”. Esse método procedimento possi-bilita ao usuário total controle sobre varredura e seleção dos itens da tela.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente aplicativo está nos seus últimos ajustes para entrar no con-texto na fase de testes com usuários com deficiência na oralidade. O mes-mo já sofre melhorias por meio de avaliações de especialistas da área de CAA. Nesse exato momento o manual do usuário está sendo construído e constantemente revisado. Espera-se que esse aplicativo possa de fato con-tribuir de forma significativa para sociedade.

Após a fase de testes, pretende-se hospedar o aplicativo no Google Player para que o mesmo possa ser distribuído de forma gratuita para todas as entidades e usuários interessados. Por fim, agradecemos à Fun-

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dação Amazônia Paraense de Amparo à Pesquisa (FAPESPA) pelo apoio financeiro que possibilitou a criação deste projeto e ao contínuo incenti-vo para amadurecimento deste. Junto com esta fundação, agradecemos ao Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (NEDETA) da UEPA (Universidade do Estado do Pará) pelo ótimo fe-edback em cima do aplicativo e o repasse de equipamentos para testes, proporcionando melhorias significativas no “Pro Comunique”.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Passerino, L. (2005). Pessoas com autismo em ambientes digitais de aprendizagem: estudo dos processos de interação social e mediação. Tese de Doutorado. UFRGS. Porto Alegre: UFRGS.Schirmer, C. R. Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Fí-sica. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_df.p df. Acesso em: 2 de junho de 2014.Capovilla, F.C, Macedo, E.C, Capovilla, A.G.S, Thiers, V.O. Sistemas de comu-nicação alternativa e suplementar: princípios de engenharia e design. 1998.

Johnson, R. M. Guia dos símbolos de comunicação pictórica. Porto Ale-gre: Clik-Recursos Tecnológicos para Educação, Comunicação e Facilita-ção; 1998. p.IV-31.

Livox. Software para pessoas com dificuldades na fala. Disponível em: http://www.agoraeuconsigo.org/. Acesso em: 3 de junho de 2014.

Adapt. Software de comunicação alternativa para tablets e telefones. Dis-ponível em: https://play.google.com/store/apps/details?id=com.a rgulu.adapt&hl=pt_BR. Acesso em: 3 de junho de 2014

Que Fala!. Software de comunicação alternativa com Métodos Inteligen-tes. Disponível em:

https://play.google.com/store/apps/details?id=br.com.metodos.quefala&hl=pt_BR. Acesso em: 3 de junho de 2014

Nielsen, J. (1993). Usability Engineering. San Francisco: Morgan Kauf-man RJ Cooper & Assoc. Manual BSI. Disponível em: http://www.rjco-oper.com/bluetooth-switch- interface/. Acesso em: 10 de outubro de 2014

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O JOGO COMO RECURSO E INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO: VIVÊNCIAS DO SETOR DE GAMETERAPIA DO NEDETA/UEPA

ABIDA AMOGLIA RODRIGUES; ALINE VALÉRIA PROGENE DE ALMEIDA;

ANA IRENE ALVES DE OLIVEIRA; JULIANA FERREIRA MARTINS; TAMIRIS

YRWING PINHEIRO FREITAS; MARCILENE ALVES PINHEIRO.

RESUMO

A Gameterapia é uma metodologia que utiliza videogames para a reabili-tação e estimulação de habilidades físicas e cognitivas. Dentre as possibi-lidades de jogos, destaca-se o Big Brain Academy Wii Degree, que aborda cinco habilidades cognitivas e pode ser utilizado no modo de teste. Apre-sentar o uso de um jogo como instrumento de avaliação e recurso de inter-venção. Trata-se de um estudo de caso referente ao acompanhamento de dois pacientes com paralisia cerebral, identificados como P1 e P2. Foram realizadas sete sessões, incluindo a avaliação e reavaliação por meio do teste do jogo apresentado e software Desenvolve®. Durante as interven-ções, a habilidade com menor desempenho foi estimulada com o uso do jogo. No P1 foi estimulada a dimensão Visualização que abrange ativi-dades correspondentes à habilidades identificadas como deficitárias pelo Desenvolve®: percepção de tamanho de sequências e de espaço. Quanto ao P2, abordou-se a dimensão de Análise, relacionada as habilidades de percepção de sequências e associação de conjuntos no Desenvolve®. Após as intervenções, verificou-se o aperfeiçoamento do desempenho no jogo em ambos os pacientes, alcançando a evolução nos resultados obtidos no Desenvolve®. Conclui-se que o jogo apresenta potencial avaliativo para definir um plano terapêutico e pode ser utilizado como intervenção duran-te as sessões.

Palavras-Chave: Tecnologia. Paralisia Cerebral. Terapia Ocupacional.

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INTRODUÇÃO

No cenário atual, identifica-se a incorporação dos mais diversos tipos de tecnologia no cotidiano dos sujeitos, desenvolvidas para fins de produ-ção, comunicação, lazer e potencialização da saúde.

Quanto aos recursos tecnológicos no âmbito da saúde, percebeu-se que houve significativos avanços no espaço assistencial, envolvendo os serviços de diagnóstico, tratamento, apoio à comunicação, reabilitação e promo-ção da saúde.

Nesse sentido, destaca-se a Gameterapia como um método de inter-venção que utiliza o videogame para a reabilitação de sujeitos com déficits ocupacionais oriundos de doenças neuromotoras. À vista disso, o Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (NEDETA) observou nesta uma oportunidade de oportunizar a comunidade um tipo de terapia que foge ao modelo convencional, pois além de ser uma ativida-de prazerosa, promove as habilidades físicas e/ou cognitivas importantes para a melhora da qualidade de vida dos usuários do serviço.

Dentre os jogos utilizados no setor, destaca-se o Big Brain Academy Wii Degre, composto por 15 mini jogos divididos em 5 categorias: Analy-se, Visualize, Identify, Compute e Memorize, os quais visam trabalhar habilidades cognitivas de percepção espaço-temporal, noção de formas geométricas e de cores, identificação de objetos do cotidiano, noção de se-quência numérica, associação e pareamento de números, raciocínio lógico e matemático, memória de curto e longo prazo, dentre outras.

Além de este jogo ser empregado como estratégia na prática terapêu-tica ocupacional, pode ser explorado também como como um teste cogni-tivo composto por 60 questões, sendo 12 em cada categoria e 4 por mini jogo. Logo, a pontuação do jogador se dá através da relação entre o tempo de execução e a quantidade de acertos contabilizada em gramas e porcen-tagem, sinalizando o aproveitamento no jogo.

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REFERENCIAL TEÓRICO

A Paralisia Cerebral (PC) é descrita como uma série de síndromes clí-nicas caracterizadas por distúrbios motores e alterações permanentes de etiologia não-progressiva que ocorre em um cérebro imaturo, podendo ou não estar associada a alterações cognitivas (GAUZZI; FONSECA, 2004).

A classificação de PC é definida por espásticas (Hemiplégica, diplégica e quadriplégica), discinética, atáxica, hipotônicas e mistas. Podendo apre-sentar problemas perceptivos e de aprendizagem associados, bem como a privação de experiências de movimentos no desenvolvimento (ARAÚJO; GALVÃO, 2014; GIANNI, 2003; NELSON, 1994).

Neste trabalho relata-se o atendimento de dois pacientes com P.C um do tipo diplegia espástica e o outro do tipo atáxico espástico. Araújo e Galvão (2014) descrevem que na PC espástica é decorrente de uma lesão no sistema piramidal, onde o tônus muscular é aumentado (hipertônia), causando aumento dos reflexos tendíneos e resistência ao estiramento muscular rápido.

No que diz respeito à forma diplégica é caracterizada pelo predomínio do comprometimento dos membros inferiores, embora haja o comprometi-mento em menor intensidade dos membros superiores, quanto à atáxica é decorrente de lesões no cerebelo ou vias cerebelares, apresentando incoorde-nação motora, tremor intencional e dismetria (ARAÚJO; GALVÃO, 2014).

Não obstante, as limitações motoras advindas da PC poderão influen-ciar diretamente no desenvolvimento das funções cognitivas, tais como atenção, concentração, habilidades de raciocínio lógico, dentre outros pro-blemas perceptivos e de aprendizagem associados, interferindo na comuni-cação com o meio e participação social (VILIBOR; VAZ, 2009).

Uma das formas de reabilitar/habilitar esses sujeitos é por meio da Gameterapia, onde estes podem se beneficiar da utilização de videogames como complemento das terapias. O tratamento baseado na gameterapia pode ser individualizado, além de proporcionar motivação extra, feedback em tempo real, de modo a auxiliar na melhora da qualidade de vida (RO-CHA et al, 2012).

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Quando sujeitos com PC podem acessar e utilizar recursos tecnológi-cos que a sociedade oferece, as sequelas da PC podem ser minimizadas, esses recursos tecnológicos podem oferecer possibilidades lúdicas, e serem instrumentos mediadores entre a criança e o mundo real (ALVES DE OLIVEIRA; PINTO; RUFFEIL, 2001).

Sendo assim este trabalho é de fundamental relevância, visto que a gameterapia vem crescendo nos últimos anos como possibilidade de inter-venção e pode colaborar com os estímulos necessários para diversas pato-logias de acordo com a demanda apresentada pelo cliente, seja motora ou cognitiva de forma lúdica e prazerosa apresentando resultados significa-tivos.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Apresentar o uso do jogo Big Brain Academy Wii Degree como instru-mento de avaliação e recurso de intervenção.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Estabelecer um comparativo entre os resultados obtidos na ava-liação com o jogo Big Brain Academy Wii Degree ao protocolo de avaliação cognitiva Desenvolve;

• Verificar os benefícios da utilização do jogo Big Brain Academy Wii Degree para a estimulação de habilidades cognitivas.

METODOLOGIA

TIPO DE ESTUDO

Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo estudo de caso com aborda-gem quantitativa, referente ao acompanhamento terapêutico ocupacional de dois pacientes com PC assistidos no setor de Gameterapia do Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (NEDETA), localizado no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará (UEPA) - Campus II.

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PARTICIPANTES

Participaram do estudo dois sujeitos, selecionados por conveniência, ambos do gênero masculino e com diagnóstico clínico de Paralisia Cere-bral, sendo um do tipo diplegia espástica, com oito anos de idade, e o outro do tipo atáxico espástico com 20 anos, os quais serão identificados como P1 e P2, respectivamente.

INSTRUMENTOS

Foi utilizado como principal instrumento o jogo Big Brain Academy Wii Degre, utilizado no Nintendo Wii®, caracterizado como a sétima ge-ração de videogames produzidos pela Nintendo®, o qual possui um siste-ma de controle via wireless com sensores de aceleração e que responde às mudanças de direção e velocidade, capturando e reproduzindo na projeção o movimento gerado pelo participante (NINTENDO, 2011 apud BATIS-TA et al., 2012).

O jogo em questão simula uma escola e apresenta um índice com cinco dimensões de exercícios: Identify (questões de identificação e correlação de imagens); Memorize (questões de memória); Analyze (questões de análise); Compute (questões de cálculo) e Visualize (questões de lógica).

Cada dimensão dispõe de três minijogos, totalizando o número de 15 possibilidades de atividades com apresentação lúdica e atraente, divididas no nível fácil, intermediário e difícil. O jogo pode ser realizado nos modos Test (teste) ou Practice (prática).

No modo Test o jogador realiza questões de todas as dimensões, uma por vez. Em cada categoria são expostas 12 questões, sendo quatro de cada minijogo, totalizando 60 questões. No modo Practice, cada categoria é abordada individualmente e o jogador tem liberdade de selecionar qual-quer minijogo que a compõe, os quais são constituídos de 10 questões que devem ser resolvidas em sua totalidade para a obtenção de uma nota.

Em ambos os casos a nota final é atribuída através da relação entre o tempo de execução e percentual de acertos das questões, que resultam em uma pontuação de aproveitamento no jogo, contabilizada em gramas. Por fim é fornecido um gráfico em teia que sinaliza as áreas que obtiveram

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maior e menor rendimento. Todos os resultados obtidos são armazenados em uma biblioteca de pontuações que permitem consultas ao longo de sua execução.

Para fins de comparação da eficácia da avaliação fornecida pelo jogo, utilizou-se também o software Desenvolve®, instrumento utilizado para avaliar e traçar o perfil cognitivo de crianças com diversas patologias, por meio de 127 telas relacionadas a 19 habilidades cognitivas. O resultado des-ta avaliação se dá através da percentagem de acertos em cada habilidade.

PROCEDIMENTOS

O estudo se deu no período de Agosto a Novembro de 2014, totalizan-do o número de sete intervenções, incluindo os procedimentos de avaliação e reavaliação cognitiva.

Inicialmente os sujeitos foram avaliados segundo o jogo Big Brain Academy Wii Degre- modo Test e software Desenvolve® para tablete, sendo verificadas as principais demandas de cada participante.

Em seguida, com base nos resultados obtidos inicialmente, foram re-alizadas 5 sessões no setor de Gameterapia utilizando ainda o jogo Big Brain Academy Wii Degre- modo Practice na dimensão sinalizada com me-nor desempenho. Em cada intervenção foram realizadas três repetições de cada minijogo que compõe a habilidade deficitária. Estas foram desenvol-vidas de forma semanal e com duração de aproximadamente 40 minutos.

Após o período de intervenções, realizou-se a reavaliação dos sujeitos, utilizando os mesmos instrumentos utilizados na avaliação. Os dados ob-tidos nos foram analisados de forma comparativa para a construção dos resultados.

RESULTADOS

De acordo com os dados coletados nas avaliações com o software De-senvolve® e jogo Big Brain Academy Wii Degre-modo Test foi possível identificar habilidades cognitivas deficitárias em P1 e P2, a serem estimu-ladas no processo de intervenção na Gameterapia, conforme observado no quadro 1 e 2.

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Quadro 1: Avaliação P1

Instrumentos Pontuação

Identify 168 g

Dimensões do Big Memorize 168 g

Brain Academy Analyze 47 g

Wii Degre- Compute 108 g

Visualize 1 g

Habilidades deficitárias Percepção de sequências 0%no Desenvolve®

Noção de espaço66%

Fonte: Coleta de dados

Quadro 2: Avaliação P2

Instrumentos Pontuação

Identify 122 g

Dimensões do Big Memorize 144 g

Brain Academy Analyze 32 g

Wii Degre- Compute 62 g

Visualize 61 g

Habilidades deficitárias Percepção de sequências 0%no Desenvolve®

Associação de conjuntos 0%

Fonte: Coleta de dados

Dessa forma, em P1 verificaram-se principais déficits em relação às habilidades de Percepção de Sequência apresentando um valor de 0% e

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Noção de espaço com 66%, assim como maiores demandas na Dimensão de Visualize com 1g de aproveitamento. Quanto a P2, o mesmo apresen-tou déficit nas habilidades de percepção de sequências e associação de con-juntos, obtendo um valor de 0% em ambos, assim como menor pontuação na dimensão de Analyze com 32g.

Posteriormente, em P1 selecionou-se para as intervenções a dimen-são Visualize do jogo Big Brain Academy Wii Degre, o qual abrange atividades relacionadas à análise de imagens, sendo necessária a distin-ção de tamanho, continuidade de sequencias, noção de direção, dentre outras, indo, portanto, de encontro às demandas identificadas no Desen-volve®.

Para P2 utilizou-se a dimensão Analize, envolvendo jogos que deman-dam a habilidade de identificação de iguais e diferentes, percepção de se-quencias e identificação de características de terminada imagem. Estando em consonância com as habilidades identificadas como Deficitárias no De-senvolve®.

Diante disto, após o período de intervenções, obtiveram-se os seguin-tes dados durante a reavaliação com os mesmos instrumentos, conforme quando 3 e 4.

Quadro 3: Comparação dos dados de avaliação e reavaliação de P1

Instrumentos PontuaçãoAvaliação Pontuação Reavaliação

Big BrainAcademy Wii

DegreVisualize 1g 86g

Habilidadesdeficitárias noDesenvolve®

Percepção desequências 0% 75%

Noção de espaço 66% 100%

Fonte: Coleta de dados

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Instrumentos PontuaçãoAvaliação Pontuação Reavaliação

Big Brain

Analyze 32g 123gAcademy WiiDegre

Habilidadesdeficitárias noDesenvolve®

Percepção desequências 0% 50%

Associação deConjuntos 0% 100%

Fonte: Coleta de dados

A partir da reavaliação utilizando o teste do jogo Big Brain observou--se o aperfeiçoamento do desempenho no jogo alcançando e resultados obtidos no Desenvolve® em ambos os pacientes.

Conforme os resultados observa-se a capacidade do jogo Big Brain Academy Wii Degre de apresentar características vantajosas como recurso de avaliação e intervenção que podem ser associadas à reabilitação cogni-tiva, pois oferece uma série de tarefas que estimulem a concentração, aten-ção, memória, raciocínio lógico, além de outros aspectos cognitivos e essas tarefas incluem tentativas repetitivas e podem ser graduadas, aumentan-do sua complexidade de aprendizagem. Ademais, o jogo oferece também um ambiente que é possível relacionar a situações do cotidiano do cliente, estimulando a sua participação ativa durante as sessões de Gameterapia.

Para o terapeuta ocupacional é um recurso que dá acesso a formulação de diversas estratégias para compor os objetivos do tratamento terapêuti-co de acordo com os déficits de habilidades do cliente, avaliar o seu desem-penho, se houve ou não evoluções, tal como pode ser trabalhado outros contextos do mesmo.

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CONCLUSÕES

Através das intervenções e seus resultados conclui-se que o jogo tem potencial para assumir um caráter avaliativo auxiliando na definição de um plano terapêutico de acordo com as dificuldades apresentadas pelo cliente e pode ser utilizado também como recurso de intervenção durante as sessões, trabalhando os déficits apontados pelo jogo e pelo aplicativo Desenvolve, obtendo resultados positivos no desempenho dos pacientes atendidos na Gameterapia.

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A IMPORTÂNCIA DO ACESSO À INFORMAÇÃO SOBRE O USO DE RECURSOS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA PARA A

POPULAÇÃO IDOSA COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Mayla Myrina Bianchim Monteiro; Aline Murari Ferraz Carlomanho;

Andressa Ipólito Fonseca Zanetti; Rafael Giglio Bueno.

RESUMO

Diante da necessidade de divulgação dos recursos em Tecnologia Assisti-va (TA) existentes, este trabalho apresenta um modelo de prescrição de recursos tecnológicos para idosos com deficiência visual que teve por ob-jetivo verificar adesão dos idosos ao uso de tais recursos e discutir pos-síveis impactos desta prática em suas vidas em curto prazo, . A investi-gação foi realizada por meio de um acompanhamento longitudinal com amostra constituída por 52 idosos com deficiência visual no município de Campinas SP. No período pré intervenção terapêutica, identificou se que o não uso dos recursos de auxílios ópticos estava relacionado com a resis-tência dos sujeitos, que opinaram não achar importante o uso de algum recurso de auxílio óptico. Após a intervenção, constatou se um aumento do uso de recursos de auxílio óptico (de 37 para 45), sendo que, dentre os re-cursos adotados, a lupa obteve o aumento mais significativo, passando de 10 sujeitos na pré intervenção, para 18 na pós. Os resultados obtidos com este estudo evidenciaram uma relação positiva entre um programa tera-pêutico de prescrição e orientação de recursos de TA com a adesão do uso destas tecnologias por idosos com deficiência visual. Portanto, aconselha-se a replicação desta pesquisa para ampliar o conhecimento de usuários e profissionais em relação aos recursos de TA tendo em vista que a prescrição individualizada pode realizar uma melhor aceitação do recurso indicado.

Palavras- chave: Auxílios ópticos, Deficiência visual - Tecnologia Assistiva.

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Faculdade de Ciências Médicas Programa de Pós-Graduação em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação. Campinas -SP

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INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é considerado idoso todo indivíduo de 60 anos ou mais, se este residir em países em desenvol-vimento para os países desenvolvidos este limite estende se para 65 anos. (OMS, 2012)

O último Censo Demográfico realizado pelo IBGE, ao coletar infor-mações mais específicas e abrangentes relacionadas às pessoas com de-ficiência, abrangendo o grupo de idosos, apresentou um panorama dos diferentes tipos de deficiências a fim de compreender melhor a inserção e adaptabilidade das pessoas com deficiência à sociedade moderna. O grupo etário referente à população economicamente ativa (PEA), de 15 a 64 anos, representa o maior número de deficiências declaradas, em todas as quatro deficiências investigadas. Neste grupo etário, foram verificadas 41.036.357 deficiências declaradas em todos os graus de severidade. (BRASIL, 2012)

No caso dos idosos com alguma deficiência visual, entende se neces-sário políticas de facilitação do acesso à recursos de Tecnologia Assistiva (TA), além de imprescindível orientação sobre a importância destes recur-sos, de modo a buscá los e utilizá los em seu cotidiano.

REFERENCIAL TEÓRICO

A deficiência visual pode ser de origem congênita ou adquirida. As causas mais comuns de alteração da visão nessa população são: presbio-pia, cataratas, glaucoma, retinopatia diabética e degeneração macular re-lacionada à idade (CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA, 2015). Desta forma, a deficiência visual e a cegueira entre os idosos, podem ser avaliadas como um importante problema de saúde (TSAI et al, 2005).

De acordo com Gil (2000), a deficiência visual adquirida, a que mais afe-ta os idosos, pode acarretar perdas emocionais, execução de atividades de vida diária (AVD´s), mobilidade, atividades de vida prática (AVP´s), entre outros. De forma a introduzir a Tecnologia Assistiva no contexto nacional, a definição contida na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência nº 13.146/2015 (BRASIL, 2015), conceitualiza TA da seguinte forma:

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Produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a fun-cionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua au-tonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social” (Art. 3º, Inciso III).

A garantia do acesso à TA pelas pessoas com deficiência ou idosos estimula o processo de inclusão destas pessoas na sociedade (ZULIAN- ZANETTI, 2015). O favorecimento desse processo pode dar se nas mais diversas áreas, como aprendizado, trabalho, comunicação, participação social, entre outras (RODRIGUES-ALVES, 2013).

Em termos de avanços políticos que visam assegurar os Direitos das pessoas com deficiência, mobilidade reduzida ou idosos, é importante sa-lientar o momento em que o Brasil passou a ser signatário da Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, em 25 de agos-to de 2009, por meio do decreto nº 6.949, no qual houve o fortalecimento de ações inclusivas que passaram a embasar a maioria das políticas públi-cas voltadas a este público (BRASIL, 2009).

Ações voltadas à pessoa com deficiência não se restringem apenas a elas, pois beneficiam idosos, pessoas com mobilidade reduzida e qualquer pessoa que esteja com uma deficiência temporária, algo tão comum no cotidiano. Afinal, todas as pessoas têm, em algum momento, um tipo e em algum grau de severidade, uma deficiência. Todas as pessoas são, poten-cialmente, pessoas com deficiência, pois, segundo Diniz (2013), o impedi-mento torna se inevitável à medida que envelhecemos, nos acidentamos ou adoecemos. O impedimento é uma constante humana, não apenas pecu-liar a um segmento da comunidade.

Desta forma, este artigo propõe uma discussão do papel dos profis-sionais na prescrição de recursos tecnológicos para idosos com deficiência visual e, por meio de um acompanhamento periódico, verificar se os idosos aderiram ao uso dos recursos e qual o impacto que esta prática terá em suas vidas em curto prazo.

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OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL:

Investigar qual a relação existente entre um programa terapêutico de prescrição e orientação de recursos de Tecnologia Assistiva com a adesão do uso destas tecnologias por idosos com deficiência visual.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Verificar a adesão do uso diário dos recursos de Tecnologia Assistiva pres-critos em um programa de orientação para idosos com deficiência visual;

Analisar as opiniões de idosos com deficiência visual acerca do uso dos recursos de Tecnologia Assistiva em seu cotidiano;

Mensurar a melhora no entendimento sobre a importância do uso dos recursos de Tecnologia Assistiva pré e pós programa de prescrição e orien-tação de uso.

METODOLOGIA

O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP/CEP parecer número 1041/2010 CAAE: 0815.0.146.000 10).

A população deste estudo foi constituída por sujeitos idosos com bai-xa visão adquirida, atendidos no Ambulatório de Visão Subnormal/HC/UNICAMP (VSN HC UNICAMP), no período de fevereiro de 2011 a junho de 2012 (16 meses).

A amostra obtida (52) correspondeu a todos os sujeitos que compa-receram à consulta de rotina no VSN HC UNICAMP e aos três encontros previamente estabelecidos e consecutivos e que aceitaram, por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), participar da pes-quisa.

O questionário utilizado para este estudo é fruto da tese de Livre Do-cência intitulada “Baixa Visão de Idosos: Causas, Estado Funcional, Per-cepções de Limitações e Reabilitação Visual em Unidade Hospitalar Uni-

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versitária” da Profa Dra Keila M. Monteiro de Carvalho, obtida no ano de 2007. O questionário é composto por 23 questões. (CARVALHO, 2007)

No preparo desse instrumento foram utilizados alguns itens do ques-tionário de qualidade de vida dirigido ao tema de baixa visão, LVQOL

Low Vision Quality of Life, conforme descrito por Wolffsohn e Co-chrane (2000), traduzido e submetido a modificações atendendo à realida-de local.

A Intervenção Terapêutica foi realizada em grupos por meio de três encontros, consecutivos mensais. Os grupos eram heterogêneos em rela-ção ao sexo, idade, tipo de afecção ocular e participação prévia ou não em grupos de Reabilitação.

A Intervenção aplicada nos grupos foi realizada no ambulatório de VSN HC UNICAMP, a partir de testes de auxílio óptico para prescrição e o encaminhamento para a reabilitação.

A coleta de dados foi realizada por meio de questionário estruturado com os sujeitos que aceitaram participar da pesquisa, mediante a assina-tura do TCLE.

Os sujeitos participaram dos três encontros com a pesquisadora, um por mês. Ao final do terceiro encontro, o questionário era reaplicado para posterior comparação das respostas. O questionário foi aplicado pela pró-pria pesquisadora. A leitura do questionário foi feita de forma fidedigna ao mesmo.

Por fim, analisando os dados obtidos, aplicou se um tratamento para avaliar se houve melhora da função visual comparando os resultados obti-dos através do questionário. Aplicou se o teste t para p VEM (Valor Escalar Médio: é a média aritmética ponderada de todos os valores que a variável pode assumir, em que os coeficientes de ponderação são as probabilidades de assumir esses valores ) nas questões 7 e 18, e para os demais dados foi realizada uma análise descritiva.

Desta forma, este artigo propõe uma discussão do papel dos profis-sionais na prescrição de recursos tecnológicos para idosos com deficiência visual e, por meio de um acompanhamento periódico, verificar se os idosos

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aderiram ao uso dos recursos e qual o impacto que esta prática terá em suas vidas em curto prazo.

RESULTADOS

A faixa de idade participante do estudo deu se entre 60 e 91 anos, e a maioria dos sujeitos apresentou o primário como grau de escolaridade.

No que diz respeito ao uso do recurso de auxílio óptico (Pré e Pós In-tervenção) e dos tipos utilizados, as respostas obtidas foram divididas em duas tabelas apresentadas a seguir:

Tabela 1 - Comparação Pré e Pós Intervenção Terapêutica: Uso de auxílio óptico. Campinas SP. 2013.

Uso do auxílio óptico? Pré Intervenção Pós Intervenção

Sim 37 (61%) 45 (86%)Não 15 (39%) 7 (14%)

TOTAL 52 (100%) 52 (100%)

Fonte: Elaboração própria.

Tabela 2 - Comparação Pré e Pós Intervenção Terapêutica: Tipos de auxí-lios ópticos utilizados. Campinas SP. 2013.

Tipo de auxílio ópticoutilizado* Pré Intervenção Pós Intervenção

Lente esferoprismática 27 (52%) 31 (86%)Lupa 10 (19%) 18 (14%)Outro 4 (8%) 5 (10%)

Não usa 15 (39%) 7 (14%)

TOTAL 52 (100%) 52 (100%)

*Respostas Múltiplas. Fonte: Elaboração própria.

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A questão 9 foi respondida somente pelos sujeitos que relataram não utilizar auxílios ópticos. Na Pré Intervenção, 15 sujeitos relataram não usar nenhum tipo de auxílio óptico e na Pós, 7 sujeitos.

O objetivo da questão 10 era saber se os sujeitos tinham sido informa-dos a respeito da utilidade dos auxílios ópticos.

Tabela 3 - Comparação Pré e Pós Intervenção Terapêutica: Informação sobre a utilidade dos auxílios ópticos. Campinas SP. 2013.

Explicação recebidasobre auxílio óptico Pré Intervenção (N=15) Pós Intervenção

(N=7)

Sim 9 (60%) 7 (100%)Não 6 (40%) 0 (0%)

TOTAL 15 (100%) 7 (100%)

Fonte: Elaboração própria.

Na Tabela 4 é apresentada a opinião dos sujeitos sobre a viabilidade ou não do uso do auxílio óptico. O número de sujeitos que acreditam que vale a pena usar o auxílio óptico aumenta após a Intervenção.

Tabela 4 - Comparação Pré e Pós Intervenção Terapêutica: Vale a pena usar o auxílio óptico? Campinas SP. 2013.

Vale a pena usar o auxílioóptico Pré Intervenção Pós Intervenção

Sim 27 (52%) 38 (73%)Não 25 (48%) 14 (27%)

TOTAL 52 (100%) 52 (100%)

Fonte: Elaboração própria.

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DISCUSSÃO

Este trabalho objetivou discutir a relação entre um programa tera-pêutico de prescrição e orientação de recursos de Tecnologia Assistiva com a adesão do uso destas tecnologias por idosos com deficiência visual. A partir dos resultados obtidos foi possível estabelecer uma caracterização pessoal da população pesquisada e registrar o panorama do uso de TA no contexto terapêutico desta população.

Quanto à escolaridade, o Censo de 2010 (BRASIL, 2012) mostrou que mais de 50% da população só conseguiu terminar a primeira parte do ensino fundamental. Assim como encontrado nos estudos de Carvalho et al (2004) e de Carvalho (2007) que registraram, respectivamente, 84% e 69.8% de sujeitos idosos em suas pesquisa que relataram terem cursado somente o ensino fundamental. Relativo à caracterização pessoal da po-pulação, observou se que, quanto à escolaridade, a maioria dos sujeitos (n=42, 80%, tabela 5) só possui o ensino fundamental como sua escolari-dade.

Outro aspecto incluído na caracterização da população pesquisada foram as causas das perdas visuais, sendo: degeneração macular (38%), catarata (38%), glaucoma (20%), retinopatia diabética (10%), e a atrofia do nervo óptico (5%). Corroboram com este estudo os achados de Foran et al (2003), Carvalho et al (2004) e Hayman et al (2007).

Conhecer as principais causas da deficiência visual na população atendida no ambulatório de VSN/HC/UNICAMP propiciou estudos mais rigorosos e sugeriu que ações de prevenção sejam realizadas enfocando principalmente as doenças que mais se destacam. Além disso, mostrou se de extrema importância, durante o processo de reabilitação, conhecer as causas e as características das afecções oculares de cada sujeito, para que as atividades propostas, as orientações e a prescrição dos auxílios ópticos e não ópticos fossem feitas exatamente para a necessidade apresentada por aquela afecção, suprindo suas necessidades reais dos sujeitos.

Estendendo a análise ao entendimento desta população sobre o co-nhecimento e a aplicação de recursos de TA, identificou se um aumento do uso de auxílios ópticos pós intervenção (de 37, 61%, para 45, 86%, sujeitos

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fazendo uso do auxílio óptico) devido à abordagem da necessidade do uso do auxílio e também das explanações acerca de seu funcionamento. Por outro lado, cinco sujeitos (33%) participantes da pesquisa não tinham se adaptado aos auxílios.

Conforme encontrado em outros estudos, Carvalho et al, (2004), Mon-teiro et al, (2013) e Monteiro e Carvalho (2013), o auxílio óptico mais uti-lizado tanto pré como pós intervenção foram os óculos de lentes positivas de aumento e lentes esferoprimásticas binoculares: 27 (52%) sujeitos na pré intervenção, e 31 (86%) na pós. O aumento do uso da lupa foi bastante significativo: 10 sujeitos na pré intervenção, e 18 na pós. Os auxílios ópti-cos ajudaram na realização das tarefas para longe, como assistir televi-são, orientação e mobilidade, e fazer compras, localizando setores, caixas, assim como a realizar tarefas de perto e de curta duração. (BURMAN-LINDELOW, 2000)

As principais causas do não uso do auxílio óptico, pré intervenção, referem se à opinião dos sujeitos de acharem que o uso do auxílio óptico não era necessário. Apesar de todos os sujeitos terem passado por consulta com oftalmologista e terem sido explicados os benefícios do uso dos auxí-lios e os próprios terem sido oferecidos para serem testados, alguns sujei-tos (n=7, 14%) ainda ofereciam resistência quanto a seu uso, acreditando que o auxílio não oferecia melhora em sua visão.

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos com este estudo evidenciaram que existe uma relação positiva entre um programa terapêutico de prescrição e orientação de recursos de Tecnologia Assistiva com a adesão do uso destas tecnolo-gias por idosos com deficiência visual. Esta conclusão foi ilustrada pelos resultados como o aumento do relato dos idosos sobre o uso dos auxílios ópticos antes e após as intervenções terapêuticas, o aumento dos tipos de auxílios ópticos utilizados por eles e o aumento do grau de entendimento sobre a importância do uso do auxílio óptico antes e após as intervenções.

Finalmente, mesmo com estes resultados positivos, é aconselhável que se replique estes estudos ampliando os recursos de TA tendo em vista que

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a prescrição é individualizada e pode haver melhor aceitação de acordo com o recurso oferecido. Além dos recursos citados na pesquisa temos ou-tras tecnologias como recursos de acessibilidade ao computador, recursos de mobilidade, auxílios para a vida diária, entre outros.

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PARALISADO CEREBRAL NO ESPORTE BOCHA NA CLASSIFICAÇÃO BC3 SUPERANDO LIMITES

COM TECNOLOGIA ASSISTIVA

Selma Regina Freitas do Nascimento:

RESUMO

O presente trabalho será com base em relatos de experiências vivenciadas nas ativadas físicas, treinos, jogos e competições na modalidade Bocha Adaptada, tendo como eixo mediador a Tecnologia Assistiva (TA). Con-forme as informações da Associação Nacional de Desporto para Deficien-tes (ANDE), pessoa com Paralisia Cerebral (PC) severo ou não, ou de ori-gem degenerativa, tem as seguintes classificações: BC1, BC2, BC3 e BC4. Objetivamos o BC3, qual apresenta manifestações clínicas variadas, difi-culdade motora em consequência de uma lesão cerebral, como disfunção locomotora grave nos quatro membros; não apresenta força e coordena-ção suficientes para lançar a bola. TA está presente em vários segmentos do cotidiano da pessoa com deficiência, e seu crescimento trouxe grandes benefícios para o ser humano no esporte. Na Bocha as órteses favorecem o PC no prolongamento de seu corpo, ampliando seus movimento para o êxito dos lançamentos. São necessárias adaptações na cabeça ou na boca, e a Calha que é manuseada pelo ajudante Calheiro, este pode ser da famí-lia ou técnico. A diversidade amplia as alternativas conforme a necessida-de da deficiência, podendo esses lhes proporcionar um bem estar dentro do esporte, melhorando sua qualidade de vida. Essa constatação é ainda mais evidente e verdadeira como bem sinaliza Mary Pat Radabaugh: “Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis”.

Palavra-chave: PC; Tecnologia Assistiva; Bocha Adaptada.

Professora Educação Físicae Acadêmica de Terapia Ocupacional. Secretaria de Estado de Educação do Pará.

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INTRODUÇÃO

Alguma informações serão necessárias para podermos iniciar este ar-tigo, primeiramente vamos falar um pouco sobre algumas deficiências que são avaliadas e classificadas, para que esta pessoa possa praticar o esporte Bocha Adaptada, que iremos mencionar posteriormente. O que é a Pa-ralisia Cerebral? A criança com Paralisia Cerebral tem uma perturbação do controlo da postura e movimento, em consequência de uma lesão ou anomalia cerebral que afeta o cérebro em período de desenvolvimento. Algumas crianças têm perturbações ligeiras, quase imperceptíveis, que as tornam desajeitadas a andar, falar ou usar as mãos. Outras são gravemen-te afetadas com incapacidade motora grave, impossibilidade de andar e falar, sendo dependentes nas atividades de vida diária. Entre estes dois extremos existem os casos mais variados. De acordo com a localização das lesões e áreas do cérebro afetadas, as manifestações podem ser diferentes. Os tipos mais comuns são:

Espástico - Caracterizado por paralisia e aumento de tonicidade dos músculos resultante de lesões no córtex ou nas vias daí provenientes. Pode haver um lado do corpo afectado (hemiparésia), os quatro membros afec-tados (tetraparésia) ou os membros inferiores (diplegia).

Disquinésia - (Atetose/Coreoatetose ou Distonia) - Caracterizada por movimentos involuntários e variações na tenacidade muscular resultantes de lesões dos núcleos situados no interior dos hemisférios cerebrais (Siste-ma Extra-Piramidal).

Ataxia - Caracterizada por diminuição da tonicidade muscular, coor-denação dos movimentos e equilíbrio deficiente, devidos a lesão ou ano-malia no cerebelo ou das vias cerebelais.

A criança com Paralisia Cerebral pode ter inteligência normal ou até acima do normal, mas também pode ter atraso intelectual, não só devido às lesões cerebrais, mas também pela falta de experiência resultante das suas deficiências. Os esgares da face e deficiência na fala, devidos ao des-controlo dos movimentos, podem fazer aparentar um atraso mental que na realidade não existe. Além da perturbação motora há também, muitas vezes, défices sensoriais, deficiência visuais e auditivos, dificuldades per-ceptivas, deficiência na fala e epilepsia, o que torna o quadro mais com-

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plexo. Caracterizado por paralisia e aumento de tonicidade dos músculos resultante de lesões no córtex ou nas vias daí provenientes. As pessoas com esse tipo de lesão geralmente apresentam tremores, descoordenação tanto das mãos, como dos membros inferiores e do tronco e, quando an-dam, não conseguem fazê-lo em linha reta. Nestes pacientes também é raro ocorrerem deformidades, mas as alterações de fala e o comprometi-mento mental são comuns. Dependendo da distribuição do comprometi-mento motor, classifica-se a paralisia cerebral em 3 tipos: Tetraparesia: é o comprometimento global, em que tanto os membros superiores como inferiores estão alterados com a mesma gravidade. Geralmente aqui exis-te um atraso do desenvolvimento motor importante, e, de forma geral, o potencial de independência, nestas crianças, é bastante limitado. Dipa-resia: o comprometimento é mais acentuado nos membros inferiores que nos superiores, ou seja, a função das mãos é mais preservada. Neste caso, a possibilidade de adquirir mais independência é maior. Hemiparesia: é o comprometimento de um lado do corpo, direito ou esquerdo, dependen-do do lado (hemisfério) do cérebro que foi lesado. A grande maioria das crianças hemiparéticas vai ter um bom desenvolvimento global, porém, muitas vezes, a principal dificuldade decorre de problemas de comporta-mento ou de compreensão. O diagnóstico da PC é clínico, o que quer dizer que o médico chega à conclusão que a criança tem PC através das infor-mações recebidas da família (história) e da avaliação do paciente (exame físico). Equipe multidisciplinar: diante de um diagnóstico que pode ter manifestações clínicas tão variadas. Com base nestas informações vamos a seguir informaremos um pouco do esporte Bocha Adaptada, de acordo com as informações da Associação Nacional de Desporto para Deficientes (ANDE). A Bocha Adaptada estreou nos Jogos Paraolímpicos em 1984, no masculino e no feminino. A modalidade passou a contar com a disputa em duplas em Atlanta-1996. A origem do esporte, no entanto, é incerta. Os indícios dizem que tudo começou na Grécia e no Egito Antigos como um passatempo, tornando-se um esporte apenas mais tarde, na Itália. No Brasil, a bocha desembarcou junto com imigrantes italianos. A versão adaptada da modalidade só passou a ser praticada na década de 1970. Antes de se tornar uma modalidade olímpica, no entanto, a bocha teve um antecessor nos Jogos Paraolímpicos. O Brasil conquistou sua primeira medalha paraolímpica. Róbson Sampaio de Almeida e Luiz Carlos “Cur-

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tinho” foram prata nos Jogos de Heidelberg, na Alemanha, em 1972. No jogo é permitido usar as mãos, os pés, instrumentos de auxílio e até aju-dantes no caso dos atletas com maior comprometimento dos membros, podendo ser usados adaptações e a Tecnologia Assistiva.

Os atletas são classificados como:

BC1 - Atletas CP1 ou CP2 com paralisia cerebral que podem competir com auxílio de ajudantes

BC2 - Atletas CP2 com paralisia cerebral que não podem receber ssis-tência

BC3 - Atletas com deficiências muito severas e que usam um instru-mento auxiliar, podendo ser ajudados por outra pessoa

BC4 - Atletas com outras deficiências severas, mas que não recebem assistência.

As provas pode ser individual, em duplas ou equipes. Ajuda externa no caso dos atletas com maior grau de comprometimento, é permitido o uso de uma calha para dar mais propulsão à bola. Os tetraplégicos, por exemplo, que não conseguem movimentar os braços ou as pernas, usam uma faixa ou capacete na cabeça com uma agulha na ponta. O Calheiro posiciona a canaleta à sua frente para que ele empurre a bola pelo instru-mento com a cabeça. Em alguns casos, o Calheiro acaba sendo a mãe ou o pai do atleta. Aqui iremos aprofundar um pouco na classificação BC3. Ve-nho propor neste artigo um suporte para que este aluno venha praticar a bocha de forma mais confortável. Os BC3 são os mais comprometidos pre-cisando de adaptações seguras para suas jogadas, por essa necessidade ve-nho através deste artigo sugerir um implemento , que ele possa fazer suas jogadas com mais segurança de ação. O jogo de bocha pode ser jogado de forma recreativa, como esporte competitivo, ou como atividade de educa-ção física nos programas escolares. Programa de Fomento Esportivo. Esse esporte foi criado para priorizar as pessoas com grande comprometimento físico. Por esse motivo às perspectivas para o futuro desse esporte no país são as mais otimistas possíveis e ajuda da Tecnologia Assistiva que é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba pro-dutos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objeti-vam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de

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pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (GAL-VÃO FILHO et al., 2009, p. 26).De acordo com a Resolução N° 316 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. De 19 de julho d e2006, e publicada de 3 de agosto de 2006. Afirma que o Terapeuta Ocupa-cional é o profissional responsável pelo processo de criação de TA.

OBJETIVO

Proporcionar no jogo da Bocha Adaptada a utilização de instrumen-tos de auxílio, adaptações e tecnologia assistiva, visando favorecer a par-ticipação maior das crianças e jovens PC nas escolas e nos jogos escolares, visando despertar o interesse esportivo e melhorar o processo da aprendi-zagem, cognição, psicomotor, concentração, interação social, numa pers-pectiva Inclusiva.

METODOLOGIA

As aulas serão realizadas em quadras esportiva ou áreas estruturadas, com mobília e material adequado, com a duração de 3:00h/aula semanal. Os educandos passaram por um processo de adaptação e iniciação a mo-dalidade Bocha adapta para melhor socializar-se, respeitando suas limi-tações, instruindo também os Calheiros, mostrando as regras do jogo. Os Participantes são os matriculados na rede pública de ensino do Estado ou Município do Pará ou Particular. Além de materiais serão necessários de adaptações e órteses que irão fazer parte do contexto esportivo para realização das atividades, dependendo da necessidade deste em treinos e competições, que variam desde controle da cabeça com capacete e pon-teira e localizações da calha manuseada pelo Calheiro .Temos variações de implementos usados na cabeça e calha que serão de suma importância para a participação deste aluno.

RESULTADOS E DISCURSÕES

Os resultados sinalizam as áreas de déficit e de potencialidades, assim como a descoberta de fatores importantes para o desempenho deste alu-no classificado BC3, criando-se adaptações com a Tecnologia Assistiva de

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acordo com as limitações e necessidade do competidor, os Capacetes com ponteiras fixas, e a Calha na jogada, se consegue trabalhar e obter respos-tas muito positivas, tais como expressar emoções ao longo do jogo, comu-nicação e estimular suas habilidades motrizes, favorecendo uma interação social positiva.

CONCLUSÃO

Pode-se observar que PC da Classificação BC3, tornou-se mais hábil com suas órteses. Conclui-se também que as adaptações físicas e órteses, esses são todos os aparelhos ou adaptações fixadas e utilizadas no corpo do aluno e foi o facilitador de suas jogadas, nas estratégias e raciocínio lógico e explorar os objetivos dos jogos com ajuda do Calheiro que irá manusear a calha comandada pelo PC que irá pedir o deslocamento direcionando para o local desejado, proporcionando autonomia e independência nas jo-gadas, e na interação do mesmo nas atividades propostas, com utilização dos capacetes adaptados com ponteiras fixas esses serão usados quando se tem controle de cabeça, mas o Calheiro ,facilitou seu desempenho nas jo-gadas da Bocha, permitindo sua interação nas atividades físicas escolares.

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TECNOLOGIA ASSISTIVA: ADAPTAÇÃO DE CHAPÉU PARA A LOCOMOÇÃO E LOCALIZAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS VIA

SISTEMA IGO E ARDUINO

Enne Rebeca Silva de Freitas, Clayton Espíndola do Nascimento, Adriana Barbosa

Ribeiro, Thiêgo Maciel Nunes, Luciana Carlena Correa Velasco Guimarães

RESUMO

A criação de TECNOLOGIA ASSISTIVA(TA) vem trazendo desenvolvi-mento ao setor tecnológico, muitos com o intuito de agregar deficientes no convívio social. Uns dos fatores que desencadeia desigualdade entre os não deficientes e os deficientes é a acessibilidade para realizar uma tarefa comum ou frequentar lugares que sejam acessíveis ao seu estado, sendo um direito seu transitar livremente, incluindo-o na rotina da cidade direi-to garantido em lei. Visto que se encontra dificuldades para transitar em ruas públicas, devido a barreiras urbanísticas, como: árvores, placas, por-tes etc. Este projeto visa promover a inclusão do indivíduo com deficiência visual, podendo ele adequa-se e transitar em qualquer lugar por meio do desenvolvimento de protótipo. A partir do uso do Arduino, o dispositivo informará obstáculos na direção da parte frontal superior por meio de sensores de vibração, distância e voz, circuitos em um chapéu adaptado, sendo benéfico pelo baixo custo dos materiais, proporcionando qualidade e praticidade.

Palavras-chave: Tecnologia Assistiva; Inclusão; Acessibilidade.

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1-INTRODUÇÃO

Atualmente a sociedade tem problematizado e buscado inserir cada vez mais a diversidade humana no debate das tecnologias. A moderni-dade trouxe consigo novos conceitos, porém ainda há exclusão no que tange acessibilidade e reabilitação para deficientes em geral. Contudo, a tecnologia assistiva (TA) é um criador de mecanismos capaz de atender necessidades distintas, entre as quais as diversas deficiências físico-mo-toras, sensoriais, intelectual e múltiplas, que a TA busca assessorar afim de trazer inclusão e comodidade. Ela abrange desde roupas especiais para tratamento a softwares para reabilitação. Desde os primórdios usasse TA, como exemplo: até um pedaço de madeira utilizado como bengala. Segun-do Rita Bersch o objetivo da:

TA é proporcionar à pessoa com deficiência maior independên-cia, qualidade de vida e inclusão social, através da ampliação de sua comunicação, mobilidade, controle de seu ambiente, habili-dades de seu aprendizado e trabalho. (Bersch,2013. p.2)

No Brasil cresce a procura e o desenvolvimento por recursos aplicadas a deficiência visual. Segundo a Organização Mundial de Saúde (Júnior, 2013) há cerca de 39 milhões de pessoas com deficiência visual no mundo, quanto ao Brasil pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013) afirma que 6,2% dos brasileiros tem algum tipo de deficiência – considerando quatro tipos de deficiência: auditiva, visual, física e intelec-tual – e 3,6% são deficientes visuais desde do nascimento, destes devido ao grau intenso ou muito intenso da limitação impossibilita 16% de realizarem atividades habituais como ir à escola, trabalhar e brincar.

Logo presume-se que um acessório adaptado pode melhorar o cotidia-no de pessoas cegas em relação ao acesso ao direito de ir e vir, mesmo para lugares de difícil mobilidade. Visto que dependem de ajuda de terceiros para locomoção, uma vez que encontram barreiras inapropriadas no ca-minho, ruas com desníveis e mal cuidadas. Assim, o intuito deste traba-lho é criar um protótipo, que evite ferimentos na altura da cabeça, com

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detecção de obstáculos e localize o usuário, por meio de um sistema que funcionará como GPS (em inglês, global positioning system). Para tanto, a utilização de sensores como um dos recursos que tem facilitado a detecção de informações precisas e o uso do Sistema IGO, que localiza o usuário, e a plataforma Arduino muito usada pelo baixo custo e facilidade de manu-seio serão usados no projeto.

2-REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 – REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE A PESSOA CEGA

No texto da Organização das Nações Unidas (ONU) define, em seu artigo 1°, que:

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participa-ção plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas (ONU, 2007 p.16)

Quando trata-se de pessoas cegas os limites se tornam maiores ou me-nores de acordo com as estratégias usadas para interagirem com as barrei-ras cotidianas e os recursos que são disponibilizados para elas. A cegueira se apresenta também de diferentes maneiras, pode ser: congênita ou ad-quirida. De acordo com Domingues (2010) a ausência da visão manifes-tada durante os primeiros anos de vida é considerada cegueira congênita, enquanto a perda da visão de forma imprevista ou repentina é conhecida como cegueira adquirida ou adventícia, geralmente ocasionada por fatores orgânicos ou acidentais. Estima-se que somente 10% do segmento de pes-soas com cegueira não apresenta nenhum tipo de percepção visual, pois a maioria delas revela a presença de algum resíduo de visão funcional, mesmo que seja apenas para detectar pontos de luz, sombras e objetos em movimento.

No Brasil a forma mais simples de verificar alterações na visão é medir a acuidade visual com a Escala de Sinais de Snellen, segundo esta escala

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a visão normal fica em torno de 20/40, uma perda visual maior que está já existe uma limitação na acuidade visual, ou seja, alteração no grau de aptidão do olho para perceber a forma e contorno dos objetos.

Quadro 1 – Escala de Snellen

SNELLEN DECIMAL % DE VISÃO20/20 1,0 100

20/22 0,9 98,0

20/25 0,8 95

20/29 0,7 92,5

20/33 0,6 88,5

20/40 0,5 84,5

20/50 0,4 76,5

20/67 0,3 67,5

20/100 0,2 49,0

20/200 0,1 10,0

20/400 0,05 10,0

Fonte: Perícia Médica

A partir do quadro acima, pode-se perceber que não são poucas as per-das visuais que uma pessoa pode ter. Já a ausência da visão relacionada a cegueira é uma condição que não deve ser concebida como fator ou indício de dependência ou de tutela. A superestimação da cegueira como déficit, falta ou incapacidade, e a supremacia da visão como referencial percep-tivo por excelência são barreiras invisíveis que travam ou dificultam o desenvolvimento da independência, da autonomia, da confiança, da auto-estima e de segurança. Portanto, é preciso acreditar e compreender que a pessoa com cegueira e a que enxerga têm potencialidades para conhecer, aprender e participar ativamente da sociedade. (DOMINGUES, 2010).

De forma que é necessário por em discussão estratégias para que vá-rias leis se cumpram, como a lei de n° 13.146 (BRASIL,2015, Art. 3º)

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que trata da inserção da pessoas com deficiência na sociedade através da inclusão e igualdade de recursos e serviços. Considerando o que foi dito e as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia percebe-se o grande déficit de tecnologias para deficientes visuais (DV) ou de baixa visão, que auxiliem em suas atividades cotidianas.

2.2 TECNOLOGIAS VOLTADAS PARA A INDEPENDÊNCIA E AUTONOMIA DE PESSOAS CEGAS

O Comitê de Ajudas Técnicas afirma que a Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba pro-dutos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objeti-vam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visan-do sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. (BRASIL, 2009).

De acordo com a Norma Internacional ISSO 9999:

Qualquer produto, instrumento, estratégia, serviço e prática, utilizado por pessoas com deficiência e pessoas idosas, especial-mente produzido ou geralmente disponível para prevenir, com-pensar, aliviar ou neutralizar uma deficiência, incapacidade ou desvantagem e melhorar a autonomia e a qualidade de vida dos indivíduos. (GALVÃO FILHO,2009, p.6)

A criação de ferramentas para melhorar da vida do deficiente está em-basada no decreto n.º 5.296 de dezembro de 2004, em seu art. 61 que diz:

Para os fins deste Decreto, consideram-se ajudas técnicas os produtos, instrumentos, equipamentos ou tecnologia adap-tados ou especialmente projetados para melhorar a funciona-lidade da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia pessoal, total ou assistida. (BRASIL,2004, Art. 61)

Um instrumento que pode ser considerado um tecnologia é a bengala longa, símbolo universal da deficiência visual, pois identifica seu usuário

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como pessoa com cegueira ou visão subnormal, podendo ser considerada um auxílio e sinalizador efetivo e eficiente de locomoção independente. Combinada com as técnicas específicas de mobilidade e as do seu funcio-namento, a bengala representa para uma pessoa com deficiência visual, entre outros benefícios, a extensão dos seus sentidos tátil e cinestésico, segurança, proteção e meio informativo sobre a natureza e condições do e de alguns obstáculos do ambiente (HOFFMANN e SEEWALD, 2003). Contudo, apesar de todos os benefícios que a bengala possui para a loco-moção independente e identificação de obstáculos no chão, ainda existem questões relacionadas as barreiras presentes no caminho e que estão acima da cintura, que muitas vezes geram sérios transtornos as pessoas cegas.

Os pesquisadores israelenses Shoval, Borenstein e Koren (1998) dizem que com o auxílio de aparelhos eletrônicos o conhecimento de barreiras ou a ausência dessas podem ser melhores detectadas e com mais precisão, principalmente com o ETAS (Eletronics Travel Aids) um sistema que emi-te um sinal de infravermelho, pelo recebimento desse sinal pode-se ter a precisão da distância entre o sensor e a barreira.

Também o uso de sistema de localização como GPS podem ajudar no processo de localização e deslocamento das pessoas com deficiências visuais. Entre estes sistemas há o sistema IGO que é um software de na-vegação fácil de usar e simples de aprender. Esse programa possui várias versões: IGO 8, Primo e Amigo.

Assim, com o maior desenvolvimento tecnológico é possível e de novos sistemas é possível pensar em criar novos instrumentos para facilitar o vida de pessoas com deficiência.

3-OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAIS

Elaborar um dispositivo capaz de auxiliar no deslocamento de defi-cientes visuais calculando a distância conforme a proximidade do objeto, devidamente programado no Arduino, a fim de impedir que o usuário so-fra ferimentos, promovendo sua independência, principalmente no am-biente urbanístico.

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OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Desenvolver um circuito em Arduino que informe a pessoas cegas obstáculos na altura da cabeça;

• Adaptar o circuito para um chapéu que utilizará sensores de vibra-ção, ultrassônico e voz;

• Propor o deslocamento independente e permitir a localização do usuário caso se perca;

• Avaliar a viabilidade do uso do acessório pelo usuário;

4 - METODOLOGIA

Esta é uma pesquisa aplicada e visa o desenvolvimento de um pro-tótipo de baixo custo para responder uma demanda social e inclusiva de pessoas com deficiência visual. O procedimento metodológico utilizado é do tipo experimental exploratório. O público alvo do projeto são pessoas adultas cegas, que já possuam técnicas de orientação e mobilidade. A pro-posta inclui o uso de um chapéu adaptado, este comportará os sensores de proximidade, a placa protoboard para integrar os componentes do circui-to eletrônico, programada sobre a plataforma Arduino.

O projeto está dividido em quatro etapas tendo a primeira completa, a segunda em adiantamento e as duas últimas para finalizar. São elas:

1ª Etapa: Identificação dos principais recursos necessários para o de-senvolvimento do projeto;

2ª Etapa: Desenvolvimento dos códigos de programação na platafor-ma Arduino;

3ª Etapa: Implementação do Sistema IGO e devidas configurações do percurso do usuário;

4ª Etapas: Adaptação dos materiais, finalização do protótipo e teste com usuário final.

Projeto está na etapa de teste. O sensor de vibração ainda está por adquirir, quanto aos demais sensores a programação está terminada. O

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desafio é, adequar os materiais no chapéu, tendo como objetivo dar leveza e praticidade quando utilizado.

5-RESULTADOS PARCIAIS

O protótipo está em desenvolvimento, mas as primeiras etapas da pes-quisa já foram cumpridas. Com a seleção do material que será utilizado e o desenvolvimento do sistema teste.

Foi feita a escolha de um acessório comum, que foi um chapéu tipo fe-dora unissex (figura 1) por ser de fácil uso e adaptação dos equipamentos.

Figura 1- Chapéu Fedora

Fonte: Registro fotográfico feito pela autora

Neste é utilizado sensor ultrassônico básico TR40 (figura 2) para calcu-lar a distância de obstáculos, conforme aproxima-se do obstáculo também será emitido um som de alerta, através do dispositivo de MP3 avisando-o da barreira. Devido aos ruídos das ruas será usado o sensor de vibração que aumentará a frequência conforme a aproximação da barreira caso o usuário não consiga ouvir o som do dispositivo MP3. Será utilizado o Sis-tema de GPS IGO para localização.

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Figura 2 – Sensor ultrassônico

Fonte: Registro fotográfico feito pela autora

Especificações técnicas do sensor ultrassônico:

Sensibilidade: -65dB

Frequência Nominal: 40kHz

Tensão de condução máxima: 20 Vrms

Temperatura de Operação: -20 ° C a + 70 ° C

Dimensões: 16,2 milímetros de diâmetro, 12,2 milímetros

Figura 3 - Sensor de vibração

Fonte: Robocore

Para uma melhor adequação do circuito no chapéu mostrado na figu-ra 1, será utilizado placa de círcuito impresso flexível como mostrado nas

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figuras 4 e 5, uma vez que os circuitos flexíveis adaptam-se facilmente ao molde do objeto, em nosso caso o chapéu tipo fedora é usado pelo designer e material maleável. Esse tipo de circuito possui algumas vantagens, pois são:

- São de baixo custo;

- Pequenos e leves;

- Substitui cabeamentos pesados;

- Fácil manuseio e implementação.

Figura 4 - Circuito flexível

Fonte: Nova eletrônica e techtudo, respectivamente.

Figura 5- Circuito flexível 1

Fonte: Inovação tecnologia

A IDE de plataforma do Arduino (figura 6) possui grandes vantagens; além de ser compatível com diversos Sistemas Operacionais dentre eles:

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Linux, Windows, Mac OS X também possui códigos fontes para serem usados como exemplo.

Um Arduino é um pequeno computador que você pode progra-mar para processar entradas e saídas entre o dispositivo e os componentes externos conectados a ele.O Arduíno é o que cha-mamos de plataforma de computação física ou embarcada, ou seja, um sistema que pode interagir com seu ambiente por meio de hardware e software. (McRoberts, Michael 2011, p. 22).

Figura 6 – Placa Arduino Uno

Fonte: Elaborada pela autora

Especificação técnica:

• Microcontrolador: ATmega328• Tensão de funcionamento: 5V• Tensão de entrada (recomendado): 7-12V• Tensão de entrada (limites): 6-20V• Digital I/O: 14 (dos quais 6 oferecem saída PWM)• Pinos de entrada analógica: 6• Corrente DC por I / O: 40 mA• Corrente DC no pino 3.3V: 50 mA• Memória Flash: 32 KB

Para a pesquisa foi escolhido o IGO 8 pela versatilidade, mapeamen-

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to da maioria das ruas e morros, fácil manuseio. O propósito é calcular a distância entre o usuário e a barreira, instalar o Sistema IGO para locali-zação afim de assegurar a segurança.

Figura 7 - Interface Gráfica do Sistema IGO

Fonte: Atualizargps

IGO 8: É confiável e a mais utilizada.IGO primo: melhor suporte aos mapas 3D e mais opções de personalização.IGO amigo: Não possui várias opções do dos seus antecedentes, porém é bem mais leve.

Figura 8 – MP3

Fonte: imagens Google

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Para elaboração deste trabalho, alguns métodos simples foram reali-zados para iniciar o projeto, os seguintes procedimentos foram:

• Foi construído um sistema teste com uma placa Arduíno, protobo-ard, dois leds, jumpers interligados ao notebook.

• Estabeleceu-se uma distância de 1 metro para que o sensor detecte a presença de obstáculo, e que acenda um ou mais leds no protoboard

• Incluir no sistema teste o sensor ultrassônico, com o intuito de de-monstrar a distância do obstáculo na plataforma Arduino

• Foi incluso na protoboard os leds que acendem conforme a proxi-midade do objeto.

O objetivo foi mostrar através do sensor e dos leds, o funcionamento de parte do protótipo, afim de comprovar a viabilidade do projeto. Os leds foram utilizados com o objetivo de simular o uso do mp3 e o sensor de vibração. Posteriormente, os leds serão substituídos pelo MP3, incluído para emitir som a pessoa com deficiência.

Figura 9- Circuito

Fonte: Elaborado pela autora

O projeto ainda está em desenvolvimento, mas os itens utilizados já estão reunidos para testes. Assim, segue dados sobre o desenvolvimento inicial do protótipo.

O projeto chapéu para cegos ainda está em fase de desenvolvimento, porém constata-se que o chapéu descobre obstáculos à altura da cabeça e permite a localização do deficiente caso se perca enquanto que a bengala

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simples ou eletrônica ajuda na percepção de objetos a altura da cintura, e que cães – guias impossibilitam que o deficiente se perca.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O intuito do projeto foi buscar soluções para ajudar na inclusão e pro-teção de pessoas com deficiência visual na sociedade, diante das dificul-dades apresentadas no dia-a-dia por deficientes visuais, espera-se como resultado a elaboração de um dispositivo para auxiliá-lo durante seu des-locamento incluindo-o na rotina da cidade com o fim de gozar dos mesmos direitos garantindo o exercício da sua cidadania.

A pesquisa vem para responder uma demanda social e trazer reflexões sobre as possibilidades de ação e limites do sujeito hoje em uma sociedade com tantas alternativas tecnológicas.

REFERÊNCIAS

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COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AMPLIADA: CONCEPÇÃO DE PROFESSORES QUE ATUAM NAS SALAS DE RECURSOS

MULTIFUNCIONAIS DA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO JARBAS PASSARINHO.

Poliana Santos da Silva83

RESUMO

A presente pesquisa teve como objeto de estudo a concepção de professo-res sobre a Comunicação Alternativa e Ampliada. Pretendeu-se investigar como ocorre a seleção dos recursos para o Atendimento Educacional Es-pecializado, qual (is) os conhecimentos que os professores do Atendimen-to Educacional Especializado possuem sobre Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) e quais os fatores que dificultam a utilização da CAA. Deste modo, objetivamos analisar, por meio de uma pesquisa de campo, os conhecimentos que os professores que atuam na Sala de Recursos Mul-tifuncionais da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Jarbas Passarinho possuem sobre Comunicação Alternativa, conhecer a dinâmi-ca das salas de recursos multifuncionais da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Jarbas Passarinho; verificar os recursos utilizados pelos professores no atendimento educacional especializado; identificar as principais dificuldades para a utilização da comunicação alternativa. A abordagem metodológica utilizada foi qualitativa. Quanto ao tipo de pes-quisa definimos pesquisa bibliográfica e de campo. Para a coleta de dados utilizamos as seguintes técnicas de pesquisa, a observação e a entrevista semiestruturada com 6 professores da Sala de Recursos Multifuncionais da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Jarbas Passarinho. A análise dos dados foi realizada por meio da técnica de Análise do Conteúdo. Por fim, observamos que os professores da escola em questão conhecem a definição de CAA, porém a falta de formação continuada, Hora Pedagógi-ca e disponibilização de recursos fazem com que a CAA não seja utilizada 83 Pedagoga, licenciada pela Universidade Federal do Pará- UFPA, Pós-Graduanda/especialização em Psicologia Educacional com ênfase na psicopedagogia preventiva. Pós-graduada/especialização em Educação Inclusiva na Universidade da Amazônia - UNAMA e Pós-graduada/Especialização Escola que Protege - Universidade Federal do Pará- UFPA.

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nos atendimentos que ocorrem na Sala de Recursos Multifuncionais.

Palavras-chave: Atendimento Educacional Especializado. Professores.

Comunicação Alternativa e Ampliada.

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1- INTRODUÇÃO

Estamos vivendo a era das grandes tecnologias, em que informações, conteúdos e notícias estão sendo transmitidos praticamente instantane-amente entre qualquer lugar do mundo; atualmente todos nós estamos interligados de alguma maneira, por conta disso a comunicação adquiriu uma importância ainda maior, tornando-se algo inerente para a convivên-cia humana.

De acordo com Manzini (2001) a ideia inicial que se tem de conceito de comunicação é que nos comunicamos por palavras, pela fala, porém pode haver comunicação através da fala, do olhar, do toque, das expressões fa-ciais, da postura corporal, da escrita etc., ou quando um contexto emitir determinadas informações da sua estrutura física e/ou social.

Caracteristicamente, usamos a linguagem oral e escrita para nos co-municarmos uns com os outros, no entanto, a presença de uma deficiência pode limitar a extensão em que uma pessoa pode se comunicar através dessas vias tradicionais e serem necessárias adaptações para que ele possa participar plenamente de uma escolar inclusiva.

A comunicação é fator essencial para a integração do sujeito à socie-dade, pois a fala associada a gestos, expressões faciais e corporais carac-teriza a condição humana, sendo a comunicação utilizada como meio de interação com as outras pessoas, interação essa, que forma os laços sociais que ligam as pessoas umas as outras, suas comunidades e culturas.

Pesquisas apontam que cerca de um em cada duzentos indivíduos são incapazes de se comunicar oralmente em consequência dos mais diversos fatores: cognitivo, físico, neurológico e emocional. Neste grupo de pessoas é possível encontrar indivíduos com deficiência física, transtorno invasivo do desenvolvimento, deficiência intelectual, e outros.

No ambiente escolar essas dificuldades de comunicação são mais evi-denciadas, visto a extrema necessidade da comunicação no processo de ensino-aprendizagem e na expressão de conhecimentos e necessidades.

Porém nos últimos 30 anos, indivíduos impossibilitados de se expres-sar oralmente de maneira convencional, ou seja, através da fala articula-

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da, vêm tendo a oportunidade de utilizar recursos alternativos para que a sua comunicação se aconteça (NUNES, 2001).

A Tecnologia Assistiva constitui-se uma área interdisciplinar, pois abrange as áreas clinica, de reabilitação e educacional. O Centro de Aju-das Técnicas (CAT- 2007,p. 15) complementa:

Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de caracte-rística interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, meto-dologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promo-ver funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.

Quando inseridas no meio escolar, as crianças com deficiência podem apresentar dificuldades para andar, sentar, manter a cabeça posicionada adequadamente, falar, utiliza as mãos para utilizar objetos ou escrever, or-ganizar a escrita no papel, ler textos escritos com letras pequenas, utilizar computadores sem adaptações, realizar atividades de vida diária como ir ao banheiro com independência ou alimentar-se.

Tecnologia Assistiva (TA) é uma expressão nova, que se refere a um conceito para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contri-buem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover vida independente e inclusão.

A TA amplia a possibilidade de comunicação, proporciona autonomia pessoal, estimula o desenvolvimento cognitivo, aprimora e potencializa a apropriação de ideias, de conhecimentos, de habilidades e de informações que predominam na composição da identidade, de concepção da realidade e do mundo, minimiza ou compensa as restrições decorrentes da falta da visão.

A TA deve ser entendida como um auxílio que promoverá a ampliação de uma habilidade funcional deficitária ou possibilitará a realização da fun-ção desejada e que se encontra impedida por circunstância de deficiência.

A TA abrange áreas como: adequação postural, mobilidade alternati-va (cadeiras de rodas), acesso ao computador, adaptações das atividades da vida diária (AVD), transporte adaptado e comunicação alternativa e ampliada, a qual será abordada neste estudo.

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2- COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA AUMENTATIVA

A Comunicação Alternativa Ampliada (CAA) é uma das modalidades da TA que atende a pessoas sem fala ou escrita funcional ou com defasa-gem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade em falar e/ou escrever.

A CAA compreende um conjunto de símbolos, recursos, estratégias e técnicas adaptadas que vão auxiliar os alunos com deficiência a se comu-nicarem e participarem do processo escolar.

A comunicação é considerada alternativa quando o indivíduo não apresenta outra forma de comunicação e, considerada ampliada quando o indivíduo possui alguma comunicação, mas essa não é suficiente para suas trocas sociais.

Deste modo, ela vem sendo utilizada com alunos incluídos no ensino regular com limitações na linguagem, a fim de facilitar a comunicação e possibilitar condições para se comunicarem e expressarem suas habilida-des, dúvidas e interagir no seu meio social e cotidiano, a fim de se garantir o acesso aos conteúdos curriculares.

Esta possibilita a construção de novos canais de comunicação, através da valorização de todas as formas expressivas já existentes na pessoa com dificuldade de comunicação, gestos, sons, expressões faciais e corporais, de-vem ser identificadas e utilizadas para manifestar desejos, necessidades, opi-niões, posicionamentos, como Sim, Não, Olá, Tchau, Gosto, fome e desejos.

Sendo assim comunicação alternativa tem como objetivo promover a comunicação, garantir uma forma alternativa de comunicação, valorizar todas as formas expressivas do sujeito, desenvolver recursos próprios e construir e ampliar sua via de expressão e compreensão.

2.4- RECURSOS DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

Os recursos de Comunicação Alternativa e Ampliada são os objetos ou equipamentos utilizados para transmitir as mensagens. Os recursos mais comuns são: os cartões, as pranchas de comunicação em forma de pastas, livros, fichários, pasta-arquivo; os comunicadores de voz gravada ou sin-tetizada, e o computador.

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Os recursos podem ser divididos em alta tecnologia oferecem sistemas de comunicação mais sofisticados, com utilização do computador, a exem-plo destacamos: Comunicadores com voz gravada e comunicadores com voz sintetizada. E os recursos de baixa tecnologia são os recursos mais acessíveis que possibilitam a comunicação quando inexiste a linguagem oral, podem ser representados através de gestos manuais, expressões faciais, código Mor-se e signos gráficos como a escrita, desenhos, gravuras, fotografias. objetos ou símbolos, letras, sílabas, palavras, frases ou números.

Com frequência é utilizado o Sistema de Símbolos Bliss, Pictogram Ide-ogram Communication System - PIC, Picture Communication Symbols - PCS, visto que, os símbolos utilizados nesses sistemas podem ser trabalha-dos em prancha, painéis, carteiras ou outra forma acessível a quem utilize.

3 - A COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA AMPLIADA E O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE)

Na escola encontramos a CAA inserida no Atendimento Educacional Especializado (AEE), sendo que esta visa o desenvolvimento de uma com-petência operacional do aluno e outra competência funcional do recurso.

Como explicita o Decreto nº 7.611/2011:

Art. 2º O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barrei-ras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem.

§ 1º Considera-se atendimento educacional especializado o con-junto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos or-ganizados institucionalmente, prestado de forma complemen-tar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular.

Quanto ao público alvo que se destina a AEE, o decreto nº 7.611/ 2011 esclarece: Art. 4º Para fins destas Diretrizes considera-se público-alvo do AEE:

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I - Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial. II - Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aque-les que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimen-to neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa defini-ção alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndro-me de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação. III-Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um po-tencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conheci-mento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade.

4 - OBJETIVOS

4.1- OBJETIVO GERAL

• Analisar, por intermédio de uma pesquisa de campo, os conhe-cimentos que os professores que atuam na Sala de Recursos Multifuncionais da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Jarbas Passarinho possuem sobre Comunicação Alter-nativa.

4.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Conhecer a dinâmica das Salas de Recursos Multifuncionais da Es-cola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Jarbas Passarinho;

• Verificar os recursos utilizados pelos Professores no Atendimento Educacional Especializado;

• Demonstrar os benefícios da utilização da Comunicação Alternati-va com agente promotor da melhoria da comunicação dos alunos com deficiência nos Atendimentos Educacionais Especializados;

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5 - METODOLOGIA

A pesquisa consistiu em um estudo com abordagem qualitativa. Que segundo Moreira (2002, p.17) define-se como: “... aquela que trabalha pre-dominantemente com dados qualitativos, isto é, a informação coletada pelo pesquisador não é expressa em números, ou então os números e as conclusões neles baseadas representam um papel menor na análise”, ou seja, este estudo é caracterizado pela descrição, compreensão e interpreta-ção de fatos e fenômenos.

Quanto à natureza utilizei uma pesquisa bibliográfica e de campo. Sendo que o primeiro de acordo com Severino (2007, p.122).

se realiza a partir de registro disponível, decorrente de pesqui-sas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses e etc., Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já tra-balhadas por outros pesquisadores e devidamente registrados.

Em campo utilizamos duas técnicas de pesquisa, a primeira pauta observação e após entrevistas com alguns professores da educação espe-cial. A princípio ocorreu uma observação participante que compreende o pesquisador como alguém que teve o consentimento prévio dos sujeitos para empreender o estudo e observá-los em seus ambientes, em seguida realizei uma entrevistas semi- estruturada com professores da escola.

Por fim, os resultados serão coletados através de uma analise de con-teúdo, como explicita Severino (2007, p.121).

que consiste num conjunto de técnicas de analises da infor-mação constantes de um documento, sob a forma de discurso pronunciada em diferentes linguagens: escritos, orais, imagens, gestos. Um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Trata-se de compreender criticamente o sentido manifesto ou oculto das comunicações.

6 - RESULTADOS

Foram realizadas 13 perguntas sobre os atendimentos educacionais especializados, como a formação inicial e pós graduação dos professores, deficiências atendidas no AEE, conhecimento sobre o Comunicação Alter-

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nativa e Ampliada(CAA), utilização do recurso de CAA, dificuldade de im-plementação do recurso, realização de formação na instituição de ensino e sobre a inserção da Sala de Recursos Multifuncionais no Projeto Político Pedagógico da escola.

Sobre a formação inicial dos professores que atuam no AEE, é notória a heterogeneidade das licenciaturas, apesar da predominância de licencia-dos em Pedagogia.

De acordo com as Diretrizes Nacionais de Educação Especial para a Educação Básica, o atendimento educacional especializado em salas de recursos constitui serviço de natureza pedagógica, no entanto, o Pedagogo não é o profissional melhor capacitado e nem essa prática não se restringe a esse profissional.

Quando questionados sobre a realização de especialização, os professo-res responderam da seguinte forma: De acordo com o decreto 7.611/2011, O professor da sala de recursos multifuncionais deverá ter curso de gradu-ação, pós-graduação e formação continuada que o habilite para atuar em áreas da educação especial para o atendimento às necessidades educacio-nais especiais dos alunos.

A formação docente, de acordo com sua área especifica, deve desen-volver conhecimentos acerca de: Comunicação Aumentativa e Alternati-va, Sistema Braille, Orientação e Mobilidade, Soroban, Ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, Ensino de Língua Portuguesa para Surdos, Atividades e Vida Diária, Atividades Cognitivas, Aprofundamento e En-riquecimento Curricular, Estimulação Precoce, entre outros.

Conforme os resultados dessa pesquisa, notamos que nem todos os professores dessa instituição estão habilitados para atuar no AEE, devido a ausência de graduação ou pós- graduação em Educação Especial como exige a legislação.

Quando interrogados sobre quais as principais deficiências encontra-das nesse AEE. Obtivemos as seguintes respostas: Segundo as respostas apresentada é observado que a surdez tem maior frequência entre as ma-triculas da escola e a experiência dos professores.

No entanto, o AEE se destina a alunos com deficiência física, mental,

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sensorial (visual e pessoas com surdez parcial e total), alunos com trans-tornos gerais de desenvolvimento e com altas habilidades (que constituem o público alvo da Educação Especial) também podem ser atendidos por esse serviço.

Com relação aos recursos de comunicação utilizado no AEE, as re-postas foram diversas, como gravuras, figura, letras ampliadas, gestos, desenhos e libras, sendo que libras foi o recurso que os professores mais utilizam.

No entanto, a libras é uma língua reconhecida mundialmente, ela é utilizada por deficientes auditivos para a comunicação entre eles e entre surdos e ouvintes, sendo a libras nesse caso não pode ser considerada um recurso que melhore a comunicação mas como uma língua estruturada como qualquer outra existente, sendo composta também por níveis lin-guísticos como: fonologia, morfologia, sintaxe e semântica.

- O que você entende por Comunicação Alternativa (CA)?

Quando questionados sobre sua compreensão a respeito do conceito de Comunicação Alternativa e Ampliada, a maioria dos professores demons-traram conhecer a CAA, como pode ser observado nas falas abaixo:

“Ferramentas e instrumentos didáticos, recursos que auxiliam na comu-nicação” (P.3).

“Qualquer forma de comunicação que venha a facilitar o teu comunica-ção, ou seja, qualquer recurso que você utilize para se comunicar com eles, seja visual, gestual.” (P.5)

- Você já realizou algum atendimento utilizando CAA

Sobre a utilização da CAA nos atendimentos percebemos que todas as respostas foram positivas, como explicita as falas de professores abaixo:

Tem as imagens que a gente utiliza televisão, filmes, gravuras, internet, que a gente pode utilizar. (P.1)

Eu por exemplo não me comunico com os alunos Surdos somente pelas

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libras, agora eu também me comunico pela internet através de vídeos do you-tube, mostrando significados e imagens são uma forma de comunicação com eles. (P.4)

Quando questionados sobre a melhora de comunicação nos atendi-mentos, 83,333% responderam que sim, sendo que os objetivos da CAA é a valorização da expressão do sujeito, a partir de outros canais de co-municação diferentes da fala: gestos, sons, expressões faciais e corporais podem ser utilizados e identificados socialmente para manifestar desejos, necessidades, opiniões, posicionamentos, tais como: sim, não, olá, tchau, banheiro, estou bem, sinto dor, quero (determinada coisa para a qual es-tou apontando), estou com fome e outros conteúdos de comunicação ne-cessários no cotidiano.

Segundo relatos dos docentes, que os recursos disponíveis foram en-viados pelo MEC e estão já desgastados e/ou ultrapassados.

Mesmo com o baixo custo e sua fácil confecção, professores alegam não haver carga horária disponível para a confecção de novos recursos. Assim eles acabam restringindo suas aulas aos recursos disponíveis nas Salas de Recursos Multifuncionais.

Quanto a realização de formação continuada, a maioria disse não ter participado de nenhuma, eles afirmam não haver formação continuada em serviço na instituição de ensino e que a formação seria de responsabi-lidade dos mesmos. Os professores que responderam positivamente, foram aprovados recentemente no concurso público da SEDUC e esta promoveu uma formação continuada para os novos professores.

Assim a formação deve aprofundar o caráter interativo e interdiscipli-nar da pratica docente no AEE possibilitando ao educador maior apro-fundamento dos conhecimentos profissionais.

8 - CONCLUSÕES

Com relação aos resultados da pesquisa, várias foram as conclusões alcançadas, entre elas:

O primeiro dado obtido que merece destaque é sobre o conhecimento

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que os professores possuem sobre CAA, que ao final das entrevistas pode-mos perceber que os professores possuem conhecimento sobre o conceito de CAA.

De acordo com Asha (91, p.11) CAA consiste: “Um sistema de co-municação é um grupo integrado de componentes, incluindo símbolos, ajudas, estratégias e técnicas utilizadas pelos indivíduos para aumentar a comunicação”.

A formação continuada dos professores do AEE dessa instituição de ensino, que com os resultados da pesquisa podemos notar que a formação continuada não e realizada ou ocorrem raramente, sendo que as respostas afirmativas foram obtidas por professores que ingressaram recentemente por intermédio de concurso público.

E como consequência dessa carência, podemos notar que os atendi-mentos especializados são realizados sem um planejamento prévio, ou seja, os professores possuem pouco tempo para elaborarem os seus atendi-mentos, ou o fazem em momentos de lazer e descanso.

A carência de recursos de CAA disponibilizados pelo MEC, sendo que os que a escola possui estão desgastados e/ou ultrapassados e não corres-pondem a demanda dos alunos, visto que, os recursos mais utilizados nos atendimentos são o computador, vídeos e imagens. Sendo notória a fácil confecção de recursos de baixa tecnologia, porém este é inviabilizada pela falta de carga horária em serviço dos professores e formação continuada para isto.

E para uma melhor apropriação dos recursos da CAA pelos professo-res da escola, é necessário, um maior investimento em formação continua-da em serviço e em novos recursos vindos do MEC.

Assim, concebemos que a presente pesquisa ampliou nosso conheci-mento teórico e científico a respeito da Tecnologia Assistiva, Comunica-ção Alternativa e Ampliada, Atendimento Educacional Especializado e professores do AEE, contribuindo assim para o amadurecimento como profissionais e pesquisadores desse campo de estudo.

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7 - REFERÊNCIAS

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SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico/Antô-nio Joaquim Severino. - 23 ed. revi. e atual. - São Paulo: Cortez, 2007.

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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE USUÁRIOS QUE REALIZARAM PRESCRIÇÕES DE CADEIRAS DE RODAS PERSONALIZÁVEIS/PERSONALIZADAS NO NÚCLEO DE DESENVOLVIMENTO EM

TECNOLOGIA E ACESSIBILIDADE - NEDETA/UEPA

Ana Irene Alves de Oliveira84; Claudia Maria da Rocha Martins85; Iracy Tupinambá

Duarte86; Luzianne Fernandes de Oliveira87; Marcilene Alves Pinheiro88; Rogério

Ferreira Bessa89; Tawan Tupinambá Duarte90

RESUMO

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010) demonstram que, 23,9% da população brasileira, 45.606.048 indivíduos, possui algum tipo de deficiência visual, auditiva, motora ou intelectual,

84 Terapeuta Ocupacional e Bacharel em Psicologia. Professora Titular da Universidade do Estado do Pará - UEPA. Coordenadora do Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA. Coordenadora do Centro Especializado de Reabilitação Física e Intelectual CER II. Especialista em Tratamento Neuroevolutivo Bobath. Mestre em Motricidade Humana. Doutorado em Psicologia.85 Fonoaudióloga. Especialista em Neurofisiologia. Coordenadora da Divisão de Fonoaudiologia do Hospital Ofir Loyola. Membro do Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Ofir Loyola. Técnica do Centro Especializado em Reabilitação Física e Intelectual - CERII. Mestre em Neurociências em Biologia Molecular.86 Fisioterapeuta. Especialista em Órteses e Próteses. Diretora da Divisão de Atenção à Pessoa com Deficiência da Secretaria Executiva de Estado de Saúde Pública do Pará-SESPA. Presidente do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência. Coordenadora Estadual da Rede de Cuidados da Pessoa com Deficiência87 Fonoaudióloga. Especialista em Linguagem Humana, Motricidade Humana e Motricidade Oral. Formação no Conceito Neuroevolutivo Bobath. Técnica da Secretaria de Educação do Estado do Pará - SEDUC. Técnica da Secretaria Municipal de Saúde - SESMA. Mestre em Desenvolvimento e Meio ambiente Urbano.88 Terapeuta Ocupacional. Certificação Internacional em Integração Sensorial. Técnica do Centro Especializado em Reabilitação Física e Intelectual - CERII. Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento. 89 Bacharel em Economia, Servidor da UEPA. Secretário do NEDETA. 90 Acadêmico do 8º semestre de Administração da Escola Superior da Amazônia - ESAMAZ. Estagiário NEDETA.

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sendo a motora de grau severo, a segunda mais encontrada, num percen-tual de 4,4 milhões. A partir dessa fonte, a necessidade de utilização de cadeiras de rodas como recurso de tecnologia assistiva e acessibilidade contribue para a autonomia e independência dessas pessoas, principal-mente, para as que possuem grau de limitação de movimento acentuado. O estudo analisou o perfil epidemiológico dos usuários que se submeteram a prescrição de cadeiras de rodas personalizáveis/personalizadas nas de-pendências do NEDETA/UEAFTO/CERII/UEPA, entre janeiro de 2015 a Agosto de 2016, onde utilizamos os indicadores relativos à faixa etária, gênero, diagnóstico etiológico e procedência/origem. Houve predominân-cia de prescrições para o gênero masculino com maior procura por crian-ças até 10 anos de idade, sendo que, a maioria reside na região metropoli-tana de Belém, e, possue como diagnóstico etiológico a Paralisia Cerebral. Podemos concluir que, a localização do equipamento urbano próximo a uma das principais avenidas da cidade favorece a busca ao serviço presta-do pelo Núcleo, que inicialmente era referência no atendimento a crianças com deficiência motora até 12 anos, porém, atualmente, vem ampliando suas atividades, absorvendo também crianças com deficiência intelectual.

Palavras-chave: tecnologia assistiva; deficiência motora; acessibilidade; prescrição.

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1 - INTRODUÇÃO

Dados do IBGE (2010) demonstram que 23,9% da população brasi-leira, correspondendo a aproximadamente ¼ dos indivíduos (45.606.048), possuem algum tipo de deficiência visual, auditiva, motora ou intelectual, sendo a deficiência motora de grau severo, a segunda mais encontrada, num percentual de 4,4 milhões de deficientes.

A partir desses dados, faz-se necessário a implementação de Políticas Públicas mais eficazes, que garantam a igualdade de direitos e as mesmas oportunidades, resguardas as devidas proporções, preconizadas no artigo 5º da Constituição Federal de 1988 “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estran-geiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”

Desta feita, identificamos a necessidade de prescrições individualiza-das para o perfil de cada deficiência. Constatamos que na legislação bra-sileira não existe, uma normatização de controle de qualidade para o re-curso da tecnologia assistiva (TA) e que enfoque a adequação específica para as pessoas com paralisia cerebral, apesar dos avanços tecnológicos demonstrarem uma crescente necessidade.

2 - REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 - CARACTERIZANDO A PARALISIA CEREBRAL (PC):

Paralisia Cerebral é um grupo permanente, mas não imutável, de de-sordens do movimento e / ou da postura e da função motora, devido a uma interferência não progressiva, causada por lesão ou anomalia do de-senvolvimento do cérebro imaturo. Acarreta atraso de desenvolvimento neuropsicomotor, isto é por lesão no sistema nervoso central ocorrendo um comprometimento na área motora, sensorial e/ou cognitiva, implicando em alterações ao nível de tônus muscular, qualidade de movimento, per-cepções e capacidade de apreender e interpretar os estímulos ambientais. Estas alterações podem ser classificadas através de dois critérios:

- Pela disfunção motora presente, ou seja, o quadro clínico resultante,

438

que inclui os tipos extrapiramidal ou discinético (atetóide, coréico e distô-nico), atáxico, hipotônico e piramidal ou espástico;

- Por topografia dos prejuízos, ou seja, localização do corpo afetado, que inclui tetraplegia ou quadriplegia, monoplegia, paraplegia ou diple-gia e hemiplegia. Havendo também, formas mistas.

Na PC, a forma espástica ou piramidal é a mais encontrada e fre-quente em 88% dos casos. Dependendo da localização e da extensão do comprometimento, manifesta-se por monoplegia, hemiplegia, diplegia ou tetraplegia (Mancini et al.,2004).

Para que ocorra uma postura ideal, faz-se necessário um controle das forças que sustentam e conduzem o corpo sem sobrecargas, com a máxima eficiência e o mínimo de esforço. Estudos comprovam que a adequação postural ou “seating” é um contributo importante para a funcionalidade dessas crianças, bem como, quando bem prescrita, previne e reduz desvios da coluna vertebral e cintura pélvica. (Campos et al., 2013)

2.2 - TECNOLOGIA ASSISTIVA (TA):

Tecnologia Assistiva (TA) é um termo ainda novo, utilizado para iden-tificar todo o arsenal de Recursos e Serviços que contribuem para propor-cionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e con-sequentemente, promover vida independente e inclusão (SARTORETTO e BERSCH, 2014).

Considerada como um recurso do usuário (pessoa com deficiência, ido-so, pessoa com restrição de mobilidade ou outra limitação funcional tem-porária), auxilia o usuário a realizar uma tarefa pretendida como: mobili-dade; comunicação; acesso à informação; lazer; tarefas do cotidiano como vestir-se, alimentar-se, praticar um esporte, escrever, etc.(BRASIL 2007)

Segundo a Lei Brasileira de Inclusão, (2015) TA é todo e qualquer recurso que facilita ou amplia habilidades de uma pessoa com deficiência, podendo ser usadas tanto para mobilidade, quanto para acessar uma in-formação. Ela qualifica ou promove a realização de atividades de interesse e proporciona participação dos usuários nos vários contextos sociais.

439

2.3 - CADEIRAS DE RODAS PERSONALIZÁVEIS E PERSONALIZADAS

Pessoas com deficiências neuromotoras necessitam de recursos para a postura ideal em sistemas de mobilidade (cadeiras de rodas) que podem ser prescritas segundo as indicações de:

- sistemas personalizados: são executados à medida no ato da avalia-ção, considerando-se: as medidas antropométricas e as condições neuroló-gicas, naquele momento. Não apresentam possibilidades de modificações futuras. Quaisquer alterações, em curto e médio prazo, implicarão em novo projeto, portanto, funcionam como uma modelagem do corpo e da condição terapêutica “fotografada” na avaliação.

- sistemas personalizáveis: são completos em ajustabilidade tanto para regulagens terapêuticas, que são dinâmicas e flexíveis, pois são direciona-das de acordo com o quadro neuromotor (Ex: cinto pélvico com trações individualizadas para o alinhamento pontual de cada quadril), quanto para regulagens antropométricas ergonômicas, onde todos os conjuntos de recursos desses sistemas permitem ajustabilidade de altura, largura, profundidade, angulação, reclínio etc., nos assentos, encostos, apoio de braços e demais.

padrão SUS personalizada personalizável

2.4 - FORMA DE ACESSO À COMPRA/AQUISIÇÃO DE CADEIRA.

A população que busca a prescrição no Núcleo, em sua maioria, possui baixo poder aquisitivo e tem como expectativa, adquirir as cadeiras atra-vés de processo encaminhado a Secretaria de Saúde do Estado do Pará/Sistema Único de Saúde - SESPA/SUS do Governo do Estado, existindo ainda mais duas possibilidades: por meio de compra direta ou do Crédito

440

Acessibilidade, oferecido por banco oficial com parcelamento em até 60 meses e taxas de juros abaixo do mercado.

3 - OBJETIVO

Este estudo tem como objetivo analisar o perfil epidemiológico dos usuários que se submeteram a prescrição de cadeiras de rodas no Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia e Acessibilidade - NEDETA.

4- METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de cunho transversal descritivo, por meio de elaboração, análise e interpretação quantitativa dos dados.

Foram realizados levantamentos de dados em prontuários de 106 usu-ários cadastrados, que realizaram prescrições de cadeiras de rodas perso-nalizáveis/personalizadas nas dependências do NEDETA, localizado na Unidade de Ensino e Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional/Centro Especializado em Reabilitação Física e Intelectual - UEAFTO/CERII da Universidade do Estado do Pará - UEPA, durante o período compreendido entre os meses de janeiro de 2015 e Agosto de 2016, onde foram utilizadas informações relativas à faixa etária, gênero, diagnóstico etiológico e procedência/origem dos usuários.

As informações coletadas foram agrupadas em tabelas e, posterior-mente, transformadas em gráficos estatísticos.

5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a coleta de dados, realizamos o estudo e a interpretação dos re-sultados onde foram observados:

441

Gráfico 1 - Distribuição dos informantes segundo a faixa etária.

Fonte: Autores, 2016.

Gráfico 2 - Distribuição dos informantes quanto ao Gênero

Fonte: Autores, 2016.

Fonte: Autores, 2016.

Gráfico 3 - Distribuição dos Informantes segundo a Procedência/Origem

442

Fonte: Autores, 2016.

Gráfico 4 - Distribuição dos informantes segundo o Diagnóstico Etiológico

Fonte: Autores, 2016.

Com relação à FAIXA ETÁRIA dos informantes (Gráfico 1), observa-mos uma maior procura do serviço por crianças até 10 anos de idade, que pode estar relacionada com o perfil de atendimento que era realizado pelo NEDETA em anos anteriores, onde a assistência era prestada a pessoas com deficiência motora, muitas das vezes com o diagnóstico etiológico de paralisia cerebral (Gráfico 4), o que se demonstra nos dados levantados, há maior prevalência, usuários com PC.

Relativamente, ao GÊNERO (Gráfico 2), houve um predomínio de prescrições para o sexo masculino em quase todos os anos pesquisados, com exceção de 2016 em que prevaleceu o sexo feminino.

Analisando o gráfico 4 - DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO - que é des-crito pela área médica, observamos maior prevalência de indivíduos com PC, em detrimento aos traumatismos cranioencefálicos - TCE, traumatis-mos raquimedulares - TRM ou outros (Síndromes, artogriposes, Doenças degenerativas, dentre outras), e residentes na Região Metropolitana de Belém- RMB .

Este fato pode estar relacionado ao posicionamento físico do equipa-mento urbano, localizado numa das principais avenidas da cidade, onde circulam quase todas as linhas de transportes coletivos, bem como, a aces-sibilidade e a informação aos serviços prestados pelo NEDETA serem mais difundidas na RMB (GRÁFICO 3), contrapondo o que acontece nas

443

Redes de Serviços envolvendo a pactuação entre Secretaria de Estado de Saúde Pública - SESPA, Secretaria Municipal de Saúde - SESMA e Pre-feituras dos interiores do Estado, considerando a dimensão geográfica e logística do Estado.

6 - CONCLUSÃO

O Sistema Único de Saúde - SUS realiza a concessão de Órteses, Pró-teses e Meios Auxiliares de Locomoção (Portaria Nº 1.272, 2013 do Mi-nistério da Saúde), dentre eles, a dispensação de cadeiras de rodas padrão SUS que no ano de 2013 foi na ordem de 4.840 unidades, em 2014 e 2015 não houve fornecimento e até agosto 2016, foram entregues 503 unidades (SESPA, 2016).

Inicialmente o SUS ofertava somente cadeiras padronizadas. A partir de 2012, em decorrência da parceria firmada entre o NEDETA (respon-sável pela prescrição) e a Divisão de Acompanhamento e Avaliação da Pessoa com Deficiência da SESPA (responsável, pela concessão das Ca-deiras de Rodas), expandiu os serviços para cadeiras personalizadas (que possuem recursos estáticos/fixos) e personalizáveis (que possuem recurso com ajustes dinâmicos/móveis). Ressaltamos que nesse período não havia uma formalização nas condutas e procedimentos de prescrição.

Concluímos ainda que, existe necessidade de maior divulgação des-se novo serviço prestado pelo NEDETA a todas as regiões do Pará, bem como, a prescrição de cadeira de rodas ideais, realizadas por profissionais habilitados/capacitados, que utilizem os princípios da ergonomia e o sis-tema de adequação postural sentada, considerando os ajustes necessários, próprios do crescimento físico e maturação neurológica de cada indivíduo, que contribuirá para a mitigação de deformidades posturais, favorecendo a inserção social, a melhoria na qualidade de vida e independência de pes-soas com deficiência.

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REFERÊNCIAS

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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2010.

MANCINI, M. C. et al. Gravidade da paralisia cerebral e desempenho fun-Gravidade da paralisia cerebral e desempenho fun-cional. Revista Brasileira de Fisioterapia. São Carlos, v.8, n.3, p.253-260, set-dez, 2004.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria Nº 1.272, de 25 DE JUNHO DE 2013.

SOUZA, A. M. C.; FERRARETTO, I. Paralisia cerebral: aspectos práti-cos. São Paulo: Memnon, 1998.

445

DISPOSITIVO PARA AUXÍLIO A ALFABETIZAÇÃO PARA PESSOAS CEGAS OU DE BAIXA VISÃO

Edson Anício Duarte91, João Alexandre Bortoloti71, Daltamir Justino Maia71, Thales

Augusto Paletti Pomari71, Giovanni Fonseca Correia71, José Maurício Vieira Santa71

RESUMO

O projeto “Dispositivo para auxílio a alfabetização para pessoas cegas ou de baixa visão” é uma tecnologia assistiva que foi desenvolvida para auxiliar os profissionais da educação na atividade de alfabetização de pes-soas cegas ou de baixa visão. Trata-se de uma Tecnologia Assistiva que utiliza um computador tipo PC ou um dispositivo móvel associado a um hardware que aciona um mecanismo que ativa uma célula em Braille onde o usuário irá realizar a leitura do caractere apresentado. Este equipamen-to permite que o educador e o aluno possam ter uma tecnologia adicio-nal para auxiliar o processo de alfabetização deste público. Foi construí-do um protótipo utilizando impressora 3D que possibilita o acionamento da célula braile integrado com um microcontrolador. Este projeto é uma das ações do projeto WASH - Workshop para Aficcionados em Software e Hardware, que é desenvolvido em parceria com o CTI - Renato Archer e o IFSP - campus Campinas.

Palavras-chaves: Educação; Tecnologia Assistiva; Microcontrolador.

91 Instituto Federal de São Paulo – Campus Campinas

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1. INTRODUÇÃO

O sistema Braille utiliza o tato para leitura e é utilizado desde a sua invenção em meados do século XIII como ferramenta de comunicação (CERQUEIRA, 2006). A percepção do braille pela exploração tátil deve ser estimulada desde os primeiros anos, projetando a pessoa com deficiên-cia visual, em particular a criança, à capacidade de se inserir no mundo real ao alcance dos seus dedos dando condições para o indivíduo ter sua autonomia e integração social (SANTOS, 2014).

O sistema Braille é um mecanismo concreto de instrução que propor-ciona o acesso das pessoas cegas as informações, pois o sistema não conse-guiu ainda progredir e atingir todos os meios da sociedade. Sendo assim, o cego enfrenta muitas dificuldades pois dificilmente encontra outras pes-soas que conheçam o sistema. A sua utilização do sistema Braille para o ensino faz com que o método seja aprendido por profissionais da área ou não, o que fica evidenciado com a inserção cada vez maior de alunos com deficiência em escolas regulares uma vez que estas escolas estão cada vez mais recebendo alunos com deficiência, daí a necessidade da escola e profissionais estarem se adequando a este novo cenário potencializando a inclusão social (SILVA, 2006).

De acordo com os dados do Censo 2010, cerca de 45 milhões de bra-sileiros apresentam alguma deficiência visual, seja ela total ou parcial, sendo a deficiência visual a principal (OLIVEIRA, 2012). Foi pensando nestas pessoas que este projeto foi elaborado, com o objetivo de auxiliar a atividade de alfabetização para pessoas cegas ou de baixa visão.

1.1 OBJETIVO

A proposta deste trabalho é o desenvolvimento de uma Tecnologia Assistiva que dará ao PcD visual e aos educadores uma ferramenta para auxílio no processo de alfabetização em braille.

A ideia do projeto deste equipamento é que ele seja utilizado como acessório ao método convencional de alfabetização em braille para os PcDs visual, tornando mais uma ferramenta de apoio ao educador na ta-refa de alfabetização em braile. Assim, o usuário será independente e me-

447

lhor integrado, estreitando as diferenças e diminuindo as margens para o preconceito.

2. METODOLOGIA

Este equipamento foi desenvolvido de forma a permitir o seu uso por pessoas com e sem deficiência visual, uma vez que serão integradas as imagens, sons e o próprio mecanismo da célula Braille durante a sua ope-ração, atendendo aos requisitos do Desenho Universal. (ACESSO BRA-SIL, 2005. CARLETTO e CAMBIAGH, 2008).

O projeto restringiu inicialmente ao alfabeto convencional e a utilização de uma única célula Braille de 6 pontos. Para integração com o dispositivo mecânico foi desen-volvido um circuito elétrico que é ligado a porta USB do computador ou ao módulo Bluetooh que ativa as solenoides que estão ligadas aos 6 pinos de acionamento da cé-lula braille. A figura 1 apresenta o diagrama de blocos do projeto.

Figura 1. Diagrama de blocos do projeto elétrico.

Fonte: Próprios autores

448

Para este projeto foram desenvolvidos dois protótipos para seleção dos caracteres a serem mostrados em Braille, ambos protótipos utilizarão o mesmo dispositivo mecânico que faz a atuação sobre a célula em Braille. Os dois protótipos são:

• Protótipo utilizado um computador tipo PC possibilitando que um usuário vidente possa identificar na tela do computador os carac-teres que serão acionados no dispositivo mecânico.

• Protótipo utilizando um smartphone para seleção dos caracteres, possibilitando que um usuário vidente possa identificar na tela do seu dispositivo móvel os caracteres que serão acionados no disposi-tivo mecânico.

PRIMEIRO PROTÓTIPO

Para o primeiro protótipo (a) os usuários irão utilizar as teclas do com-putador para a seleção do caractere a ser ativado na cela Braille.

Para desenvolver esse equipamento foram utilizados um computador pessoal do tipo PC, componentes eletrônicos e uma impressora 3D para manufaturar o protótipo. No desenvolvimento da programação utilizou--se dois softwares o Code:Blocks para a programação em C do código e o software Scratch que possibilita a utilização de recursos gráficos e sonoros.

Foi utilizada a saída USB do computador que é conectada a um mi-crocontrolador Arduíno, uma vez estabelecida a comunicação o usuário digita o caractere do teclado do computador e esta informação é envia-da ao microcontrolador que aciona a célula Braille, a figura 2 apresenta o esquema elétrico utilizado. Nesta figura está representado o microcon-trolador conectado a porta USB, nesta comunicação o microcontrolador recebe o caractere a ser mostrado na célula Braille. A célula Braille está representada pelos LEDs D1, D2, D3, D4, D5 e D6. O projeto elétrico foi desenvolvido utilizando o software Proteus que possibilita a simulação e testes do circuito em ambiente virtual.

A programação foi desenvolvida no ambiente de programação do mi-crocontrolador que utiliza uma linguagem proprietária bem próxima a linguagem C, a figura 3 mostra a tela do ambiente de programação utili-zada.

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Figura 2. Esquema elétrico utilizado para Figura 3 – Ambientecomunicação do PC com o microcontrolador. de programação

Fonte: Próprios autores Fonte: Próprios autores

Para a operação do equipamento basta o usuário carregar o programa desenvolvido no software do ambiente Arduino, este é um programa livre e sem custo para o usuário sendo disponível para download em diversos sites. Na tela inicial é solicitado ao usuário que selecione o caractere a ser utiliza-do, imediatamente o caractere é apresentado no dispositivo mecânico.

2.2 SEGUNDO PROTÓTIPO

No segundo protótipo foi utilizado um dispositivo móvel para a se-leção do caractere, a comunicação entre o dispositivo móvel e o micro-controlador é realizada através de Bluetooth. O software utilizado para a programação foi o MIT

App Inventor que possibilita a criação de um aplicativo e telas utili-zadas no smartphone, a figura 4 apresenta uma tela desenvolvida neste ambiente de programação.

Ao selecionar a letra desejada, este caractere é enviado ao dispositivo móvel via Bluetooth e os caracteres em braille são acionados para que o usuário possa realizar a leitura. O ambiente de programação utilizado é o

450

MIT app inventor, a figura 5 mostra a tela da programação utilizada com parte do respectivo código.

Figura 4. Tela desenvolvida Figura 5. Programação desenvolvida.

Fonte: Próprios autores Fonte: Próprios autores

Para operar o segundo protótipo o usuário deve baixar o app desenvol-vido e instalar em seu dispositivo móvel, ativar a comunicação Bluetooth e iniciar a utilização.

2.3 PROJETO MECÂNICO

O equipamento foi projetado com design compacto que possibilita seu uso como um periférico de um computador. Para o modelamento mecâni-co do projeto foi utilizado o software de modelamento mecânico 3D e pos-teriormente foi utilizada a manufatura aditiva que são mais conhecidas por impressoras 3D para produzir a estrutura de suporte para os mecanis-mos acionadores. Para o modelamento mecânico do projeto foi utilizado o software SolidWorks 2012,

As impressoras 3D possibilitam grande gama de aplicações desde a confecção de peças para equipamentos, auxilio no desenvolvimento de produtos e dispositivos com alto nível de especificidade, pois são uma fer-ramenta muito útil para gerar a customização de produtos em pequena escala ou até mesmo indivivual. Para utilizar as impressoras são necessá-

451

rios softwares de modelamento 3D, para criação dos modelos, software de análise da malha, para eventuais correções na malha, e software específico do equipamento, que é utilizado para gerar o código que será impresso (VOLPATO, 1999). A manufatura aditiva permite construção de protó-tipos que antes eram só possíveis de serem modelados por profissionais habilidosos utilizando a usinagem convencional e ferramentas manuais, hoje com esta tecnologia disponível esta etapa está mais acessível à comu-nidade acadêmica e industrial.

Para geração do protótipo foi utilizada a impressora 3D cloner modelo ST (Microbras) e bobinas 1,75mm PLA 3D filament GREY. Esta impres-sora mostrada na figuara 6 é operada através do uso de softwares proprie-tários, já os modelos mecânicos foram desenvolvidos utilizando softwares de modelamento mecânico específicos, dentre eles estão o Solid Works, Solid Edge e ProE. Estas atividades foram desenvolvidas no laboratório WASH! (Workshop para Aficionados em Software e Hadware) localizado no campus IFSP-campus Campinas.

Figura 6. Impressora Cloner3D montada.

Fonte: Próprios autores

452

2.3.1 CARACTERES EM BRAILLE

Os caracteres em Braille que serão lidos pelos PcDs visual possuem uma normatização pela ABNT (Associação Brasileiras de Normas Técni-cas) quantos as suas dimensões mínimas e máxima de cada caractere para possibilitar uma criação de uma grafia uniforme a figura 7 apresenta as dimensões normatizadas que foram utilizadas no modelamento do dispo-sitivo (CERQUEIRA, 2006).

Este equipamento irá apresentar os caracteres de A a Z do teclado do computador assim foi verificado a compatibilidade com a Grafia Braille para a Língua Portuguesa e a grafia braille para a Matemática. Este siste-ma de codificação baseia-se em 6 pontos, que compõe uma estrutura ma-tricial de duas colunas e três linhas, onde são possíveis obter 63 sinais sim-ples, além do espaço em branco (CERQUEIRA, 2006; SPELTA, 2004). A figura 8 mostra o alfabeto que será utilizado no programa.

Figura 7 - Arranjo de quatro células Braille e alfabeto utilizado.

Fonte: ABNT, 1997. (modificada).

2.3.2 DISPOSITIVO MECÂNICO

O equipamento é mostrado na figura 8 que utiliza 6 solenoides modelo ZYE1-0520 para acionar os pinos que compõe a célula braille, este arranjo mecânico dos dispositivos eletromecânicos que serão interligados para o

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acionamento de cada célula. O material utilizado na estrutura mecânica foi o filamento PLA 3mm e 1,75mm para uso em impressoras 3D, cujo modelo utilizado foi a 3D Clonner.

Figura 8. Arranjo mecânico do dispositivo mecânico.

Fonte: Próprios autores

O dispositivo mecânico é apresentado na figura 9 onde pode ser visua-lizado a célula braile com 6 pinos. De acordo com o caractere selecionado no teclado os pinos correspondentes ao respectivo caractere são ativados permitindo assim a leitura em braille.

Figura 9. Arranjo mecânico do dispositivo mecânico.

Fonte: Próprios autores

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3. RESULTADOS

Os testes iniciais foram realizados em bancada e apresentaram os re-sultados esperados acionando os dígitos referentes aos caracteres Braille. A figura 10 mostra um dos testes realizados utilizando um computador tipo PC comunicando através da porta USB com o microcontrolador Ar-duino.

Figura 10. Teste inicial do primeiro protótipo.

Fonte: Próprios autores

Na figura 11 pode ser observado que a utilização dos LEDs para re-presentar a célula Braille que posteriormente foi substituído pelos pinos atuadores.

A figura 11 mostra um dos testes realizados utilizando um dispositivo móvel celular comunicando através do Bluetooth com o microcontrolador Arduino com o respectivo acionamento LEDs indicadores.

A figura 12 apresenta as peças prototipadas na impressora 3D que constitui o mecanismo de acionamento da célula braille. Já a figura 13 apresenta o conjunto montado utilizando o dispositivo móvel como dispo-sitivo de controle.

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Figura 11. Teste in

icial do segundo protótipo.

Fonte: Próprios autores

Figura 12. Peças prototipadas na impressora 3D. Figura 13. Célula braille integrada

Fonte: Próprios autores Fonte: Próprios autores

4. CONCLUSÃO

Ressalta-se que a utilização de sistemas de prototipagem rápida (im-pressoras 3D) viabilizam a produção de protótipos minimizando o tempo total do desenvolvimento. Os objetivos iniciais foram atingidos que é a construção de um protótipo como ferramenta de apoio a alfabetização em Braille. Os próximos passos é testar a operação do dispositivo construído com o público de pessoas cegas ou de baixa visão e verificar as melhorias possíveis no projeto. Agradecimentos

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Agradecimento ao CNPq pelo apoio dados a execução deste projeto. Agradecimento ao CTI - Renato Archer através do programa WASH! por nos propiciado condições para a realização destas pesquisa.

Edital CNPq / IFSP 017/2014 -Torneio de aplicações de Tecnologias Assistivas. Edital CNPq / IFSP 017/2014 - WASH! - Robótica Móvel (Workshop de Aficionados em Software e Hardware).

REFERÊNCIAS

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ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR13994: Elevadores de passageiros - Elevadores para transporte de pessoa portadora de deficiência. Rio de Janeiro, 1997.

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CERQUEIRA, Jonir Bechara. et al. Grafia Braille para a Língua Portu-guesa. Brasília: MEC, SEESP - Secretaria de Educação Especial. Ministé-rio da Educação, 2006.

CARLETTO, Ana Cláudia; CAMBIAGH, Silvana. DESENHO UNIVER-SAL - UM CONCEITO PARA TODOS. Ed. Mara Gabrilli. SN, 2008?;

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MCROBERTS, M. Projeto Arduino, Novatec, 1° Edição, 2011

MIT, App Inventor. App inventor, 2014. Disponível em: <http://appin-Disponível em: <http://appin-ventor.mit.edu/explore/ai2/tutorials.html>. Acesso em: 16 abr. 2015

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(SDH/PR) / Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD) / Coordenação-Geral do Sistema de Informações so-bre a Pessoa com Deficiência; Brasília : SDH-PR/SNPD, 2012.

SANTOS, Amanda Cardoso Venturini dos. REFLEXÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ALUNO CEGO. UFRRJ, Nova Iguaçu, 2014.

SILVA, Adilson Florentino da. A inclusão escolar de alunos com necessi-dades educacionais especiais: deficiência física. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Brasília, 2006.

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VOLPATO, Neri. Prototipagem Rápida Tecnologia e Aplicações. São Pau-lo: Ed. Edgard Blucher, 2007.

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A UTILIZAÇÃO DA ROUPA BIOCINETICA NO TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL- UM ESTUDO DE CASO.

Ana Irene Alves de Oliveira; Manoela Caroline Pinheiro da Costa; Beatriz

Conceição Rodrigues e Rodrigues; Rafael Luiz Morais da Silva.

RESUMO

Este estudo é um recorte do projeto de pesquisa de Iniciação cientifica titulado “Terapia Ocupacional na reabilitação infantil: Mensurando o de-sempenho motor e funcional por meio da roupa biocinética”, desenvolvido no Núcleo de Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva e acessibilidade (NEDETA) na Universidade do Estado do Pará (UEPA), com o intuito de mensurar o desempenho motor e funcional de crianças com paralisia cerebral por meio de um recurso de tecnologia assistiva: a roupa biociné-tica, através de instrumentos de avaliação como o PEDI e o GMFM com intuito de rastrear déficits no desempenho funcional e avaliar os aspectos motores estáticos e dinâmicos buscando aumentar as habilidades funcio-nais desse público.

Palavras-Chaves: Paralisia Cerebral; Tecnologia Assistiva; Reabilitação.

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INTRODUÇÃO

A paralisia cerebral apresenta uma heterogeneidade de quadros clí-nicos, dificultando a classificação dos comprometimentos motores o que poderá influenciar na avaliação para determinar o tratamento mais eficaz. Desse modo, é imprescindível a implementação do Sistema de Classifica-ção da função Motora Grossa (GMFCS) como mecanismo de classificação por meio de níveis de comprometimento com enfoque mais preciso nas li-mitações funcionais. Tais limitações funcionais podem ser desencadeadas por padrões patológicos com desalinhamento biomecânico, estabilidade e coordenação alterada, por isso faz-se necessária a utilização da roupa bio-cinética, órtese dinâmica capaz de auxiliar na habilitação ou reabilitação de crianças com desordens neuromotoras, maximizando assim seu desem-penho funcional. Nesse sentido, verifica-se a necessidade de instrumentos de avaliação que verifiquem a eficiência do tratamento de crianças com paralisia cerebral utilizando a roupa biocinética, como a utilização dos protocolos como a Medida da função Motora grossa (GMFM) e Inventário de Avaliação Pediátrica de Incapacidade (PEDI) com intuito de rastrear déficits no desempenho funcional e avaliar os aspectos motores estáticos e dinâmicos da criança com paralisia cerebral. Através desses instrumen-tos de mensuração mais precisos, buscou-se avaliar as habilidades fun-cionais desse público, favorecendo a descoberta de novas possibilidades interventivas no campo da reabilitação infantil. Dessa forma, este projeto mostrou-se inovador para a comunidade cientifica, visto que fortaleceu as pesquisas voltadas para a roupa biocinética, criada por pesquisadores da Universidade do Estado do Pará por meio do Núcleo de Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva (NEDETA/UEPA).

REFERENCIAL TEÓRICO

A definição de Paralisia Cerebral (PC) afirma que as desordens do desen-volvimento motor, advindas da lesão cerebral primária, são de caráter per-manente e mutável, ocasionando alterações musculoesqueléticas secun-dá-rias e limitações nas atividades (ROSENBAUM et al, 2007; MONTEIRO et al, 2011; ALVES DE OLIVEIRA, 2010).Esta patologia é considerada um

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distúrbio neurológico que afeta a coordenação motora e o equilíbrio; a pos-tura; a força muscular e acarreta problemas secundários como contraturas e deformidades (GERALIS, 2007, p. 15; MONTEIRO et al, 2011).Existem diversas classificações clínicas na paralisia cerebral, as quais são identifica-das conforme a região cerebral atingida, a severidade do comprometimento, sendo esta diretamente relacionado a extensão da lesão, e a distribuição topográfica da mesma. Em relação ao acometimento cerebral, a PC é classi-ficada em espástica, atáxica, na qual as alterações a nível cerebelar são mais prevalentes, coreoatetósica, ressaltando distúrbios a nível extrapiramidal, hipotônicas e as formas mistas. Com relação distribuição topográfica, essa pode ser evidenciada em quadriplegia, tetraplegia ou quadriparesia, diple-gia ou diparesia e hemiplegia ou hemiparesia (BALADI; CASTRO; FILHO, 2010; CHRISTOFOLETTI; HYGASHI; GODOY, 2007) As crianças com PC apresentam vários déficits no desenvolvimento das habilidades funcio-nais quando comparadas à crianças típicas, logo, o prognóstico da função motora grossa é variável, havendo, portanto, a necessidade de avaliação e classificação baseado nas habilidades e limitações dessa função (CHAGAS et al, 2008; DIAS et al, 2010).

ROUPA BIOCINÉTICA

No intuito de ampliar ou proporcionar habilidades funcionais na vida de pessoas com deficiência, criou-se as TECNOLOGIA ASSISTIVA(T.A), utilizadas para promover independência e inclusão. Além de auxi-liar em uma habilidade funcional perdida ou deficitária, a T.A possibi-litará a realização de funções necessárias para um melhor desempenho ocupacional(BERSCH,2013).Inseridas na classificação da Tecnologia Assistiva, estão as órteses, recursos anexados a um segmento corpóreo, permitindo um melhor posicionamento, estabilização e função (BERS-CH,2013). Dentre esse tipo de recurso, podemos destacas a roupa bioci-nética. A roupa biocinética foi desenvolvida mediante a necessidade da existência de dispositivos do tipo órtese dinâmica que favorecessem a ha-bilitação ou reabilitação de crianças com deficiências neuromotoras que pudessem auxiliar no seu contexto e em seu cotidiano maximizando seu desempenho funcional (OLIVEIRA; PRAZERES,2013).A denominação

462

dessa roupa foi dada com base em suas características biomecânicas, que possui trações em pontos-chaves estratégicos para favorecer o alinhamen-to postural e os movimentos coordenados. Além disso, permitirá a reali-zação de movimentos e mudanças posturais, proporcionando a criança a movimentação de forma mais livre (ALVES DE OLIVEIRA; PRAZE-RES, 2013).Dessa forma, a roupa biocinética vem como recurso que busca promover o alinhamento e consequentemente a estabilidade biomecânica, inibindo assim os padrões patológicos, favorecendo os movimentos coor-denados e a integração sensorial (OLIVEIRA; PRAZERES,2013).

PEDI

O teste PEDI (Pediatric Evaluation Of Disability Inventory) é um importante instrumento de avaliação pediátrica que disponibiliza infor-mações acerca do desempenho funcional de crianças na faixa etária entre 6 meses e 7 anos e 6 meses. Porém, ele pode ser utilizado com crianças de idade superior ao limite indicado, desde que o desempenho funcional destas esteja de acordo com a sua faixa etária, mas o escore padronizado normativo não deve ser utilizado (MANCINI, 2005; MONTEIRO et al, 2012).O PEDI consiste em um questionário referente a uma avaliação ba-seada em julgamento, realizada por meio de entrevista estruturada com os pais ou cuidadores que tem como principais propósitos fornecer uma des-crição detalhada sobre o desempenho funcional da criança, informar seu possível desempenho futuro e relatar mudanças longitudinais no seu de-sempenho funcional. Nesse sentido, esse questionário documenta o perfil funcional da criança por meio de três etapas relacionadas às áreas de fun-ção referentes ao autocuidado, a mobilidade e a função social. A primeira etapa informa o desempenho de habilidades da criança, a segunda refere--se a independência ou quantidade de assistência fornecida pelo cuidador e a terceira detém-se sobre as modificações do ambiente físico doméstico utilizadas na rotina diária da criança (MANCINI, 2005).

GMFM

O Gross Motor Function Measure (GMFM) tem sido o instrumento de avaliação quantitativo mais indicado para ser usado na detecção e men-suração de mudanças na função motora grosseira, pois desenvolve um sis-tema para quantificar a função motora e não para saber como o sujeito

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com paralisia cerebral desempenha esta função, a fim de descrever seu nível de função, sem considerar a qualidade de sua performance.A escala de avaliação GMFM (Gross Motor Function Classification System) é um instrumento clínico destinado a avaliação de mudanças da função motora grossa de crianças com PC. Na escala existem duas versões, onde a primei-ra versão contém 88 itens (GMFM 88) e a versão atual contendo 66 itens (GMFM 66). A GMFM inclui indivíduos de 5 meses a 16 anos de idade, onde esta será adequada para crianças cuja habilidades motoras estejam no nível ou abaixo do nível das habilidades esperadas para crianças de 5 anos sem qualquer incapacidade motora (CYRILLO;GALVÃO, 2011).

OBJETIVOS

Tem como objetivo mensurar o desempenho motor e funcional de crianças com paralisia cerebral por meio de um recurso de tecnologia as-sistiva: a roupa biocinética, através de instrumentos de avaliação como o PEDI e o GMFM com intuito de rastrear déficits no desempenho funcio-nal e avaliar os aspectos motores estáticos e dinâmicos buscando aumen-tar as habilidades funcionais.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo transversal do tipo estudo de caso com abordagem quantitativa, desenvolvido no setor no Núcleo de Desen-volvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (NEDETA) da Uni-versidade do Estado do Pará (UEPA). As etapas da pesquisa consistiram na seleção do participante, a partir da análise de prontuários do NEDE-TA, posteriormente, fora assinado o Termo de Consentimento Livre e Es-clarecido (TCLE). Após isso, avaliou-se a criança por meio dos protocolos PEDI e GMFM, bem como fora realizado as medidas da roupa biocinética na mesma. Em seguida, com a roupa pronta, esta fora entregue ao respon-sável da criança, sob orientações pertinentes sobre o tempo de uso, o qual fora de 4 horas diariamente, iniciando de forma gradativa.

Os dados apresentados foram coletados a partir de uma entrevista semi-estruturada, na qual constava informações referentes à avaliação físico-funcional e psicossocial realizada pelos pesquisadores: D. L. S. S.,

464

gênero masculino, quatro anos, com diagnóstico clínico de Paralisia Cere-bral (PC).

Por meio dos dados obtidos analisou-se a eficácia do tratamento com a roupa biocinética e dos instrumentos de avaliação utilizados.

RESULTADOS

Ocorreram 4 intervenções no período de dois meses, divididas da se-guinte forma: A primeira intervenção consistiu na avaliação da criança, com a realização da primeira aplicação dos protocolos PEDI E GMFM. A segunda intervenção consistiu na retirada das medidas corporais do pa-ciente para a confecção da roupa biocinética em um croqui especifico da pesquisa. A terceira intervenção consistiu no primeiro teste com a roupa, o primeiro treino de

vestuário com o responsável e o repasse das informações e do diário de registro, onde foram anotadas diariamente a quantidade de horas de utilização da mesma, além de dificuldades ou problemas encontrados.

A quarta intervenção ocorreu ao completar o período de um mês de entrega da roupa biocinética, para a primeira reavaliação com os instru-mentos da pesquisa.

No que se refere ao GMFM Os sujeitos foram avaliados nas 05 dimen-sões: A (deitar e rolar), B (sentar), C (engatinhar e ajoelhar), D (em pé) e E (andar, correr e pular). Após 4 semanas de intervenção utilizando a RB, os participantes foram reavaliados utilizando o mesmo protocolo.

A tabela 1 apresenta os escores da 1ª e 2ª avaliação de cada dimensão, bem como a variação destes escores representados pela letra V. Conside-rando que o escore total da dimensão A = 51, B = 60, C = 42, D = 39 e E = 72 pontos percentuais. No manual do Gross Motor Function Measure (RUSSELL et al., 2002) é revelado que qualquer variação positiva na es-cala GMFM-66 é indicativo de melhora e deganho funcional. Pode-se ob-servar que o sujeito apresentou melhora no desempenho da função motora grossa em quase todas as dimensões, com a variação do escore total de até 21 pontos percentuais.

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GMFM

Dimensão

A

Dimensão

B

Dimensão

C

Dimensão

D

Dimensão

E

AVALIAÇÕES 1ª 2ª V 1ª 2ª V 1ª 2ª V 1ª 2ª V 1ª 2ª V

D.L.S.S 43 51 8 30 51 21 21 29 8 19 24 5 19 38 19

Fonte: Dos autores

TABELA 1: Resultados obtidos da primeira e segunda avaliação do GMFM

Em relação ao desempenho do paciente na dimensão A (deitar e ro-lar), observou uma melhora significativa, uma vez que atingiu ao score máximo da dimensão. As dimensões C (engatinhar e ajoelhar) e D (em pé) foi observado que houve uma pequena variação dos escores da primeira e segunda avaliação, evidenciando pouca evolução. Enquanto que na di-mensão B (sentar) e E (andar, correr e pular) o sujeito obteve relevante aumento de variação e dessa forma, um melhor desempenho nas suas fun-ções motoras.

Para Bobath (1984), a retificação agindo sobre o corpo se faz relevan-te, pois favorece o rolar, sentar e deitar novamente, ficar em quadrúpede, arrastar e engatinhar, passar para posição de joelhos, passar para semi-ajo-elhado, ficar em postura ortostática e andar. Isto é, sugere-se que a Roupa biocinética contribui para a inibição dos padrões patológicos, facilitando o alinhamento corporal e, consequentemente, favorecendo a aquisição de novas habilidades. A utilização do GMFM como instrumento de avaliação possibilitou verificar as potencialidades do sujeito no que refere-se à fun-ção motora grossa, o que norteou as orientações acerca do uso da roupa biocinética em domicilio. Sendo assim, os resultados deste estudo fornecem informações importantes acerca da evolução dessa criança, atestando que o mesmo obteve aumento considerável de escore em boa parte das dimensões, mais expressivamente nas dimensões B (sentar) e E (andar, correr e pular). Conforme as pesquisas de Rosenbaum et al. (2002) e Hanna et al. (2008), constatou-se que quanto maior a pontuação obtida pela criança, melhor foi o desempenho da sua função motora grossa nas dimensões avaliadas.

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Atenta-se para a mudança de escore deste sujeito na dimensão E (an-dar, correr e pular) que sugere que o mesmo possa ter apresentado me-lhora no que diz respeito ao equilíbrio estático e dinâmico. Em achados experimentais, Alegretti e colaboradores (2007) pontuam que o treino de equilíbrio favorece a melhora do ajustamento postural em ortostatismo, como também a melhora funcional do equilíbrio, o que confirma as ex-pectativas deste estudo quanto às intervenções realizadas e enfatiza que a continuidade da prática torna-se crucial para maiores ganhos nas habili-dades funcionais dos sujeitos.

Desta forma, sugere-se que a Roupa Biocinética, que se apresenta en-quanto recurso de TA e utilizada como complemento nas sessões de rea-bilitação de crianças com PC, pode beneficiar no alinhamento corporal, bem como no controle postural, equilíbrio estático e dinâmico, redução e/ou prevenção de contraturas e deformidades além da manutenção ou apri-moramento das funções motoras já existentes.

CONCLUSÃO

Este estudo buscou verificar os benefícios da Roupa Biocinética, en-quanto órtese dinâmica na vida cotidiana de uma criança com Paralisia Cerebral, acompanhadas no Núcleo de Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (NEDETA) na Universidade do Estado do Pará durante o período de 01 (um) mês. Com base nos resultados obtidos, ob-servou-se que a utilização diária da Roupa Biocinética pode favorecer a melhoria da função motora grossa da criança com PC.

Em relação ao alinhamento corporal, foi observado durante avalia-ções que a roupa favorece a retificação imediata dos segmentos corporais, proporcionando a estabilização e inibição dos padrões patológicos neces-sários para o desempenho funcional durante as atividades terapêuticas.

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REFERÊNCIAS

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SISTEMA ACESSÍVEL DE ALFABETIZAÇÃO EM BRAILLE

Rodrigo Costa Ribeiro92; Victor Capovilla Ruzza72

RESUMO

No Brasil, devido a taxa de 3% de pessoas deficientes visuais em sua maior parte analfabetos e com o aumento do número de matrículas de alunos deficientes nas escolas de ensino regular é necessário adaptar a política da inclusão social. O projeto aqui exposto se fundamenta na Tecnologia Assistiva, utilizando um teclado sem fio e um dispositivo mecânico em 3D, que apresenta a célula Braille onde o usuário realizará a leitura do caractere desejado. Com isso, o dispositivo desenvolvido permite que o educador e o aluno possam ter uma tecnologia adicional para auxiliar no processo de alfabetização e também possui a capacidade de inserir os defi-cientes no mundo real ao alcance dos seus dedos, proporcionando o acesso às informações, tornando possível a redução do número de analfabetos entre os deficientes visuais.

Palavras-Chaves: Inclusão Social; Educação; Impressora 3D.

92 Escola Técnica Estadual Bento Quirino.

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INTRODUÇÃO

De 2007 a 2012, as matrículas de alunos com deficiência nas classes regulares de escolas públicas do país dobraram. Em alguns estados o au-mento foi de quase 300% CHAVES (2015). Dados do PORTAL DO BRA-SIL (2015) apontam que existem mais de 6,5 milhões de pessoas com defi-ciência visual, sendo 582 mil cegas e 6 milhões com baixa visão. Com isso cada vez mais o contexto social está se vendo obrigado a promover e a se adaptar às políticas de inclusão social para receber as crianças deficientes nas escolas e também estabelecer os princípios de acessibilidade no meio da sociedade. Segundo a Constituição Federal do Brasil de 1988, que é o principal instrumento jurídico de defesa dos direitos das pessoas, os por-tadores de deficiências possuem a garantia de acesso ao sistema de educa-ção, como apresentado no Artigo 208, em que é dever do Estado oferecer o aprendizado e garantir um atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.

Como afirma CERQUEIRA (2006) o sistema Braille se baseia no tato e é utilizado desde a sua invenção, ocorrida em meados do século XIX, como ferramenta de comunicação e de acesso à informação de natureza imediata e objetiva.

Conforme SÁ e GABAGLIA (2008) a percepção do Braille é obtida pela exploração tátil que deve ser estimulada desde os primeiros anos e possui a capacidade de inserir o indivíduo com deficiência visual no mun-do real ao alcance dos seus dedos. Mas apesar da eficiência desse sistema em proporcionar o acesso das pessoas cegas às informações, o Braille não conseguiu ainda progredir e atingir a sociedade como um todo. Sendo as-sim, o deficiente visual enfrenta muitas dificuldades, pois dificilmente en-contra outras pessoas que conheçam o sistema. O método das escolas para alfabetizar os alunos na linguagem Braille é mostrado na Figura 1.

471

Figura 1 - Método de alfabetização do Braille nas escolas

(Fonte Instituto Municipal Helena Antipoff, 2010)

A utilização do sistema Braille no ensino possibilita além do aprendi-zado do método, um aumento real nas condições e capacidades de utiliza-ção, proporcionando segurança e autonomia, incorporando os deficientes visuais na sociedade. Pensando nestas pessoas, que este projeto foi elabo-rado, com o objetivo de auxiliar na atividade de alfabetização dos defi-cientes visuais.

REFERENCIAL TEÓRICO

Conforme os dados do Censo 2010, LEAL e THOMÉ (2012) apontam que ainda há diferença significativa no nível de escolaridade entre pessoas com deficiência e a população geral. 61% da população com 15 anos ou mais, com deficiência, não têm instrução ou tem apenas o fundamental incompleto, conforme apresentando na Figura 2.

Comparando os dados dessa faixa, com o grupo de mesma faixa etá-ria, porém sem deficiência a porcentagem cai 38,2.

472

Figura 2 - Nível de instrução escolar dos deficientes brasileiros

Fonte (IBGE - Censo Demográfico, 2010)

Em relação a acessibilidade o Ministério da Educação do Brasil defi-ne como uma forma incluir a pessoa com deficiência na participação de atividades, com o uso de produtos, serviços e informações. Essa inclusão permite aqueles que não possuem o acesso as tecnologias a possibilidade de inserção na sociedade e de acesso ao ensino.

De acordo com SANTOS (1997) a questão de incluir as crianças com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino insere-se no contexto de que gradualmente a integração de pessoas portadoras de de-ficiências enquanto cidadãos, com seus respectivos direitos e deveres de participação e contribuição social, seja realidade.

No Brasil as pessoas com deficiência apresentam taxas de alfabetiza-ção menores do que a população total, como mostrado no Gráfico 1. Por isso, tanto as diferenças entre as regiões como entre pessoas com e sem deficiência é uma grande preocupação do governo.

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Gráfico 1 - Taxa de alfabetização de pessoas deficientes por regiões segundo Censo Demográfico 2010.

(Autoria própria)

OBJETIVO

Projetar e construir um dispositivo capaz de alfabetizar em Braille de forma acessível, facilitando o aprendizado dessa linguagem. Utilizando um teclado e desenvolvendo um dispositivo comandados por um micro-controlador e uma estrutura mecânica, impressa em 3D. Pretende-se com o protótipo reduzir o número de analfabetos entre os deficientes visuais e incluir essas pessoas com necessidades educacionais especiais nas escolas de ensino regular, contribuindo para o desenvolvimento escolar.

METODOLOGIA

A proposta do projeto é desenvolver uma ferramenta acessível e de total autonomia capaz de utilizar o sistema Braille no ensino, para pro-porcionar o acesso das pessoas às informações, através da Tecnologia As-sistiva, viabilizando a alfabetização de crianças com deficiência visual.

Através de um teclado sem fio o usuário escolhe os caracteres que se-rão ativados na célula Braille e também ativa os sons das letras pressiona-das no teclado.

474

O projeto inicialmente se restringiu ao alfabeto convencional para de-monstrar uma célula Braille 6 pontos, onde cada célula, ou cela Braille, será formada por 6 solenoides com a integração da impressora 3D para a elaboração da estrutura mecânica, obtendo as características da célula Braille, segundo as normas como apresentadas na Figura 2.

Figura 2 - Normas da célula Braille.

(Fonte: Legislação de Sinalização, 2011)

No desenvolvimento do protótipo foi utilizado um computador pes-soal para a elaboração dos programas. Para o hardware foram utilizados: plataforma Arduíno UNO, teclado sem fio, solenoides e outros compo-nentes eletrônicos, além de uma impressora 3D para manufaturar o pro-tótipo. Para o modelamento mecânico do projeto foi utilizado o software SolidWorks 2012.

Para compreender o funcionamento do dispositivo, podemos dividir o projeto em duas partes: eletroeletrônica e a mecânica.

475

PROJETO ELETROELETRONICO

O teclado sem fio possibilita a entrada manual de dados e inserção de comandos no sistema. Com isso processa e transfere os dados para a memória do Arduíno que é transferida através da comunicação sem fio Bluetooth com auxílio de um adaptador para a entrada do teclado USB (Universal Serial Bus) para o conector PS/2, mostrado na Figura 3. Com este adaptador o Arduíno consegue efetuar a comunicação do teclado com o microcontrolador e é possível também comunicar com os solenoides para ativar o mecanismo, formando a célula Braille.

Figura 3 – Adaptador USB – PS/2

(Autoria Própria)

Outra comunicação que será integrada ao Arduíno é a emissão do áu-dio referente à tecla pressionada no teclado.

PROJETO MECÂNICO

Inicialmente foi construído um modelo de madeira para obter os re-sultados preliminares. Para simbolizar a célula Braille foram utilizados leds que ao acender representam a letra do alfabeto Braille.

O protótipo foi planejado e elaborado com um design compacto, inte-grado ao teclado. O modelo da estrutura mecânica mostrado na Figura 4 foi elaborado no software SolidWorks.

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Figura 4 – Modelo da estrutura

(Autoria Própria)

O dispositivo mecânico apresentado utiliza 6 solenoides de modelo ZYE1-0520 para acionar os pinos que formam a célula Braille, compondo um arranjo eletromecânico onde serão integrados para o acionamento de cada célula Braille, permitindo sua leitura.

O suporte para os solenoides (acionadores da célula Braille) foi produ-zido na impressora 3D, como mostra a Figura 5.

Figura 5 - Impressões 3D

(Autoria Própria)

As impressoras 3D possibilitam diversas aplicações, de diferentes es-pecialidades com eficiência, para confeccionar peças auxiliando no desen-

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volvimento de produtos.

Para a elaboração do protótipo foi utilizada a impressora 3D Cloner modelo ST (microbras) e bobinas 1,75mm PLA 3D filament GREY, como mostra a Figura 6. Estas atividades foram desenvolvidas no laboratório WASH! (Workshop para Aficionados em Software e Hadware) localizado no Instituto Federal de São Paulo (IFSP) - Campus Campinas.

Figura 6 – Impressora 3D Cloner

(Autoria Própria)

SISTEMA BRAILLE

O sistema Braille inventado na França por Louis Braille em 1825, marco de uma conquista para a educação e a integração dos deficientes visuais na sociedade INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT (2005). A partir da invenção do Braille, em 1837 foi definido a estrutura básica do sistema, ainda hoje utilizada universalmente na leitura e na escrita.

O alfabeto Braille apresentado na Figura 7 é composto pelas possíveis combinações.

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Figura 7 – Alfabeto Braille.

(Fonte: Amanda Vivendo na Diversidade, 2011 - adaptado)

RESULTADOS

A partir das impressões em 3D obteve-se um protótipo eficiente e com-pacto. O primeiro teste realizado com uma estrutura de madeira acionan-do os leds foi desenvolvida com uma programação do tipo serial. A Figura 8 apresenta a montagem na protoboard desse circuito e a Figura 9 mostra a caixa de teste.

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Figura 8 – Montagem na protoboard.

(Autoria Própria)

Figura 9 – Caixa de teste.

(Autoria Própria)

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Com a utilização do sistema da impressora 3D Cloner o processo de impressão reduziu o tempo e o custo de produção do protótipo mantendo a qualidade do produto.

CONCLUSÃO

Para o desenvolvimento desse dispositivo foi necessário um aprofun-damento de pesquisas nas áreas de Tecnologia Assistiva, do sistema Brail-le, acessibilidade e inclusão social direcionada para o ambiente escolar, os métodos de educação para os deficientes visuais e outras políticas educa-cionais para os deficientes.

A análise de dados sobre taxas de analfabetismo, população deficiente no Brasil, grau de instrução dos deficientes, sobre a população dos defi-cientes visuais e outros dados para fundamentar as concepções do projeto.

Foi desenvolvida uma ferramenta que tem como recurso proporcio-nar e ampliar as habilidades funcionais de pessoas com deficiência e con-sequentemente promover uma vida independente, além de possibilitar o acesso das pessoas com ou sem deficiência visual as informações do siste-ma Braille.

AGRADECIMENTOS

Agradecimento ao CNRTA pelo suporte técnico na área de Tecnologia Assistiva, ao CTI Renato Archer, ao WASH! e ao Centro Paula Souza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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A INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA OCUPACIONAL NA CONFECÇÃO DA PRANCHA DE COMUNICAÇÃO REGIONALIZADA PARA PACIENTE COM SEQUELAS DE TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Carline Furtado Carvalho93, Nina Cláudia Freitas da Silva73, Lívia Mello Pontes94

RESUMO

O presente trabalho discute a intervenção da terapia ocupacional na con-fecção da prancha de comunicação alternativa em paciente com sequelas de traumatismo cranioencefálico (TCE). Apresenta-se a relação entre o TCE e o desempenho ocupacional e a terapia ocupacional na tecnologia assistiva. O TCE é uma agressão ao cérebro causada por agressão física externa, que pode produzir alteração no nível de consciência e resultar em comprometimento das habilidades cognitivas, físicas e comportamentais. Os comprometimentos físicos podem acarretar dificuldades na comunica-ção e interferir na participação social, sendo necessário o uso de tecnolo-gias que promovam a comunicação, como as pranchas de comunicação al-ternativa, que é um recurso da tecnologia assistiva. Portanto, o terapeuta ocupacional profissional capacitado a atuar na promoção a saúde, visando autonomia e independência, é o profissional com maior competência para indicar o uso da tecnologia assistiva. Foram realizados 8 sessões terapêu-ticas ocupacional, sendo elas uma vez por semana, no período de abril a junho de 2016, na Clinica de Terapia Ocupacional da Universidade da Amazônia em Belém/ Pa, através do projeto de extensão “Vivências”. A paciente relatou grande satisfação quanto ao uso do recurso e sua partici-pação social. Portanto, a intervenção terapêutica ocupacional utilizando a confecção da prancha de comunicação alternativa regionalizada pode ser utilizada com pacientes com sequelas de TCE que envolvam a comu-nicação.

Palavras-chaves: Terapia Ocupacional; Desempenho Ocupacional; Comu-nicação Alternativa.

93 Acadêmicas do Curso de Terapia Ocupacional da Universidade da Amazônia94 Preceptora do Curso de Terapia Ocupacional da Universidade da Amazônia

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INTRODUÇÃO

O traumatismo cranioencefálico (TCE) é definido como qualquer agressão de ordem traumática que acarrete comprometimento anatômico ou comprometimento funcional do crânio, das meninges, do couro cabelu-do, do encéfalo ou de seus vasos (SANTOS, MARANGONI, ANDRADE, VIEIRA, ORTIZ & GIL, 2013). Podendo ocasionar diminuição ou alte-ração do nível de consciência e consequentes déficits cognitivos, compor-tamental e/ou físico. O TCE pode afetar todas as áreas de desempenho, uma vez que os pacientes podem apresentar comprometimento em todos os componentes de desempenho. Os principais comprometimentos obser-vados são: déficits físicos; déficits cognitivos e déficits comportamentais (CAVALCANTI; GALVÃO, 2014).

Os déficits físicos podem envolver todos os membros ocorrendo junta-mente com a alteração do tônus muscular. A principio o tônus encontra--se reduzido, mas usualmente evolui para um quadro de espasticidade, podendo ocorrer a instalação de contraturas e deformidades. Comumente ocorre a instalação da ataxia que é a dificuldade na coordenação de mo-vimentos, distúrbios sensoriais que ocasionam a perda da capacidade de discriminação ou distorção na discriminação tátil, déficits na percepção auditiva, gustativa, olfativa e visual. Pode-se observar com frequência a deficiência de controle postural e distúrbios na fala, que pode ocorrer atra-vés de disartria e apraxia. (CAVALCANTI; GALVÃO, 2014).

A disartria é um nome coletivo para as alterações de fala resultantes de distúrbios no controle de seu mecanismo, devido a danos no sistema nervoso central e/ou periférico. Alterações de fala podem afetar a comu-nicação. Sabendo que esta é utilizada para interação com outras pessoas, formando os laços sociais que as conectam umas às outras e a suas comu-nidades e culturas. Para que haja a interação social dessas pessoas são criados outros sistemas de comunicação, como as pranchas de comunica-ção, que são recursos utilizado pela tecnologia assistiva (TA).

Segundo Pelosi (2005, apud KING, 1999) a TA engloba as áreas de co-municação alternativa, adaptações de acesso ao computador; equipamen-tos de auxilio a visão e audição; controle do meio ambiente, adaptações de

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jogos e brincadeiras; adaptações de postura sentada; mobilidade alterna-tiva; prótese e a integração dessa tecnologia nos diferentes ambientes com a casa, a escola, a comunidade e o local de trabalho.

As pranchas de comunicação são dispositivos da comunicação alternati-va. Estas consistem em superfícies sobre as quais são dispostos os símbolos gráficos. São personalizadas considerando a cultura do paciente e as possi-bilidades cognitivas, visuais e motoras do paciente, e podem estar soltas ou agrupadas em álbuns ou cadernos (CAVALCANTI; GALVÃO, 2014).

Sendo assim, o terapeuta ocupacional é o profissional, que possui for-mação para analisar a atividade humana em condições atípicas de desen-volvimento, é capaz de explorar o potencial do individuo no seu desempe-nho ocupacional e por isso pode desenvolver, indicar e aplicar recursos de TA com maior competência e eficácia.

REFERENCIAL TEÓRICO

TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO E O DESEMPENHO OCUPACIONAL

O TCE é a principal causa de morte em uma população jovem entre 15 e 24 anos. A incidência é três a quatro vezes maior nos homens do que nas mulheres. Ocorre quando o paciente sofre um impacto na cabeça, lesando suas estruturas internas e, algumas vezes, as externas. Suas causas mais frequentes são acidentes automobilísticos, quedas e agressões interpesso-ais (ROSA, OLIVEIRA, FREIRE, 2015).

Segundo Rosa (et. al, 2015) a natureza das lesões está condicionada ao mecanismo do trauma, à massa do objeto agressor, à área de contato, à duração e intensidade do impacto, ao deslocamento relativo gerado sobre o tecido cerebral e às características elásticas do crânio e do encéfalo.

O TCE pode apresentar deficiências e incapacidades que são temporá-rias ou permanentes, interferindo na capacidade do indivíduo em desem-penhar suas funções habituais(FARIA,2015).

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Segundo a Associação Americana de Terapia Ocupacional (2015) o de-sempenho ocupacional é a realização da ocupação selecionada resultante da transação dinâmica entre o cliente, o contexto e o ambiente, e a ativi-dade ou ocupação. Na análise do desempenho ocupacional, a queixa e os problemas ou potenciais problemas do cliente são mais especificamente identificados por meio de instrumentos de avaliação destinados a obser-var, medir e informar sobre os fatores que facilitam ou impedem o desem-penho ocupacional. Portanto, as sequelas do TCE causam grande impacto no desempenho ocupacional de pacientes como, nas Atividades de Vida Diária e Atividades Instrumentais de Vida Diária.

A TERAPIA OCUPACIONAL NA TECNOLOGIA ASSISTIVA

A terapia ocupacional e tecnologia assistiva possuem um estreito re-lacionamento que permeiam por mais de 80 anos. Desde o surgimento da TO a tecnologia tem demonstrado sua contribuição afim de otimizar a ocupação e tem feito parte de sua literatura profissional. (SMITH, 2000).

O papel do terapeuta ocupacional na tecnologia assistiva envolve des-de o processo de avaliação das necessidades do processo do paciente, bem como suas habilidades físicas, cognitivas e sensoriais. Além de avaliar a aceitação do indivíduo quanto ao uso da adaptação e modificações a serem feitas, bem como as características socioculturais e físicas do ambiente no qual será utilizada. (Canadian Association of Occupational Therapists Position Statement, 2003).

Segundo Araújo (2007), e Teixeira et al., (2003) o terapeuta também orienta a pessoa que utilizará o recurso, sua família e/ou cuidador sobre a correta utilização, sobre os cuidados a serem tomados com o dispositivo e o tempo que deve ser utilizado.

De acordo com Shuster (1993) a TA possibilita ao terapeuta ocupa-cional reduzir a interferência na deficiência na realização de atividades funcionais de maneira independente e a estimular a função do indivíduo.

Assim, dentre inúmeros recursos de TA que podem ser desenvolvidos e aplicados pelo profissional de TO, damos destaque a prancha de comu-nicação, que é um instrumento de comunicação alternativa destinada a

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pessoas sem fala ou sem escrita funcional. (SARTORETTO; BERSCH, 2014). Nelas podem conter vários símbolos, estratégias, recursos e técni-cas para auxiliar no processo de comunicação do indivíduo que são ana-lisados e selecionados de acordo com as especificidades de cada paciente. Estas possuem o objetivo de ampliar as possibilidades de comunicação do indivíduo, sua inserção e participação social.

OBJETIVO

Relatar a experiência da intervenção terapêutica ocupacional na con-fecção da prancha de comunicação regional para pacientes com sequelas de Traumatismo Cranioencefálico.

METODOLOGIA

O presente trabalho consiste em um relato de experiência obtido após intervenções terapêuticas ocupacionais realizadas junto a um paciente vi-tima de TCE, o qual acarretou algumas sequelas dentre elas a disartria. As intervenções ocorreram na Clinica de Terapia Ocupacional da Univer-sidade da Amazônia em Belém/Pa por meio do projeto de extensão “Vi-vencias”. Foram realizados o total de 8 sessões terapêuticas com duração de 60 minutos cada, uma vez por semana no período de abril a junho de 2016. Utilizou-se como instrumento de avaliação a Medida Canadense de Desempenho Ocupacional - COPM, no qual o paciente inicialmente elege as atividades que possui mais dificuldades e depois pontua de 0 a 10 seu grau satisfação e desempenho na realização destas, no que se refere às ati-vidades produtivas, de autocuidado e lazer.

RESULTADOS

Após a aplicação do COPM, dentre as atividades escolhidas pela pa-ciente destacaram-se as que a mesma possui mais dificuldades “trabalho remunerado” e “brincar/escola” as quais obtiveram escore de grau de im-portância de 10 e 10 consecutivamente. Demos enfoque a categoria “brin-car/escola” considerando a universidade da paciente, uma vez que esta se encontrava no ultimo ano do curso de Psicologia e preocupava-se no momento com a construção de seu trabalho de conclusão de curso e pos-

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teriormente sua inserção no mercado de trabalho. Diante disso, levando em consideração seu quadro clinico e os aspetos a serem considerados na prescrição e/ou confecção de uma adaptação segundo Cavalcante e Galvão (2007) que são: a simplicidade do projeto, a manutenção da integridade dos tecidos moles, o ajuste ao usuário, o custo, a estética, o conforto, a facilidade para utilização e higiene, buscou-se no plano terapêutico ocu-pacional como objetivo a ser alcançado em curto prazo criar novas tecno-logias de comunicação para favorecer o alcance das necessidades elencadas no protocolo.

De acordo com Araújo (2007), ao se criar uma adaptação é necessário a avaliação da inserção destas nas atividades cotidianas, para a mensura-ção do grau de independência gerado pela mesma e para orientar possíveis modificações nos diferentes contextos analisados.

Dessa forma, obedecendo estes fatores além dos costumes e preferên-cias da paciente, foi então confeccionada uma prancha de comunicação regionalizada. Tal nome deu-se pelo fato de nesta conter elementos regio-nais em seu conteúdo, como expressões e comidas típicas. Após análise do material a ser utilizado para sua criação, elegeu-se a pasta/álbum, pois possui baixo custo e é de fácil manuseio. Nela foi reservada uma página para cada categoria, as quais eram: alimentação, comunicação, vestuário e higiene. Na categoria alimentação continham alimentos regionais como: tacacá, vatapá, maniçoba, peixe frito com açaí, suco de cupuaçu entre ou-tros. Já na categoria comunicação continham frases como: “égua”, “pai d’egua”, “mana” etc. As figuras que compunham cada categoria foram impressas e coladas em EVA no tamanho de papel A4, formando assim cada categoria e posteriormente colocadas na pasta.

Após confecção do recurso foi realizado treino para a utilização da mesma, bem como orientação a paciente, sua família e/ou cuidador sobre a utilização correta da adaptação e os cuidados com o dispositivo, proce-dimentos necessários segundo Araújo, (2007) e Teixeira et al., (2003). A paciente destacou sua satisfação quanto ao uso do recurso e melhora na participação social.

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CONCLUSÕES

Assim, através das intervenções realizadas, a confecção e aplicação da prancha e posteriormente a comprovação da eficácia através de relatos do paciente pode-se reafirma a importância do terapeuta ocupacional junto à confecção de recursos de TA, sendo este o profissional habilitado para pro-mover a inserção e participação social de indivíduos através do desenvol-vimento de recursos eficazes, sempre levando em consideração os anseios e necessidades do paciente bem como seu contexto e costumes.

REFERÊNCIAS

SANTOS, R. B. F.; MARANGONI, A. T.; ANDRADE, A. N.; VIEIRA, M. M.; ORTIZ, K. Z.; GIL, D. Avaliação Comportamental do Processa-mento Auditivo em Indivíduos Pós-Traumatismo Cranioencefálico: estu-do piloto.Rev. CEFAC, v. 15, n.5, p. 1556-1162, 2013.Instituto de Tecnologia Social. Tecnologia Assistiva nas Escolas: recursos básicos de acessibilidade sócio-digital para pessoas com deficiência. São Paulo, 2018.CVALCANTI, A; GALVÃO, C. Terapia Ocupacional: Fundamentação & Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.ROSA, C. M.; OLIVEIRA, K. F.; FREIRE, R. N. S. Intervenção fisiote-rapêutica após traumatismo cranioencefálico: estudo de caso. Rev. Inter-disciplinar, v. 8, n. 4, p. 191-194, 2015.

FARIA, L. Meu cérebro: curioso, criativo, fascinante. Disponível em: http://meucerebro.com/as-sequelas-dos-traumatismos-cranianos/. Acesso em: 14 de Outubro de 2016.

Associação Americana de Terapia Ocupacional. Estrutura da prática da Terapia Ocupacional: domínio & processo. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 26 (Ed. Especial), p 1-49, 2015.

PELOSI, M. B. O Papel do Terapeuta Ocupacional na Tecnologia Assis-tiva.

Rev. Cadernos de Terapia Ocupacional UFSCar, vol. 13 n. 1, 2005.

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TEIXEIRA, E.; SAURON, F. N.; SANTOS, L. S. B.; OLIVEIRA, M. C. Terapia Ocupacional na Reabilitação Física. São Paulo: Editora Roca, 2003.

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ACESSIBILIDADE E AUTONOMIA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: Perspectivas a partir do Instituto Federal do

Pará (Campus Belém)

Paloma de Santana Silva951 Clóvis Maxwell Andrade Martins962

RESUMO

Este artigo tem como objetivo mostrar a falta de acessibilidade nas Bi-bliotecas, especificamente a Biblioteca Local do Instituto Federal do Pará (IFPa). Mostraremos os problemas relacionados a falta de acesso, auto-nomia e estrutura. O referido trabalho tem uma abordagem de caráter exploratório baseado na norma NBR 9050 da ABNT, assim como na le-gislação federal sobre acessibilidade para pessoas com deficiência. Conta-mos também com registros fotográficos para melhor indicarmos a falta de acessibilidade no local. O trabalho será dividido em duas partes, a saber: 1) Definiremos os conceitos e noções fundamentais para efeito do trabalho, tais como: acessibilidade, autonomia, pessoa com deficiência e barreiras. 2) Problematizaremos a Biblioteca local de acordo com a Norma de Aces-sibilidade NBR 9050, apontando as barreiras que a pessoa com deficiência pode encontrar, como: barreiras urbanísticas, barreiras arquitetônicas, barreiras nas comunicações e na informação, barreiras tecnológicas. Por fim, passaremos a expor as considerações finais.

Palavras-chave: Biblioteca local; Acessibilidade; Autonomia.

95 Técnica em Design de Interiores, aluna do Instituto Federal do Pará, cursando o 3º Semestre (2016). Contato: [email protected] Professor no IFPA Esp. Clovis Maxwell Andrade Martins, exercendo a função de orientador.

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INTRODUÇÃO

Surge, na década de 50, a partir dos processos de reabilitação de pes-soas, a questão da acessibilidade. Na década de 70, nos Estados Unidos, o tema ganha força e nos anos 80 é instituída a ADA (Americans with Disa-bilities Act) lei que busca garantir os direitos para pessoas com deficiência, inclusive o de acessibilidade. É, portanto, um marco na luta por direitos e igualdades para pessoas com deficiência.

No Brasil, embora a Constituição de 1988, em seu artigo 5º, garanta a todos o direito de ir e vir, é somente na lei 10.98 de 2000 que se estabelece a acessibilidade. É a primeira vez que se tenta garantir juridicamente o acesso à

locais para pessoas com deficiência. Atualmente, verificamos que o texto possui algumas terminologias problemáticas, como o tratamento de pessoas com deficiência por “portadoras de deficiência”, onde se identifica que a pessoa porta, ou carrega a deficiência, no sentido de que é possível livrar-se dela quando bem entende.

Importa ressaltar a respeito do artigo 3º da referida Lei, onde afirma-se que locais públicos devem ser projetados e executados para “pessoas por-tadoras de deficiência”. Com a inclusão do conceito de Desenho Universal, passamos a entender que um espaço deve ser pensado para todos, isto é, deve ser inclusivo e não especificamente para a pessoa com deficiência.

Estes pontos e outros são alterados pela Lei 13.146/15, onde os termos são atualizados e o texto sofre alterações significativas, como na termino-logia, nos conceitos etc. A importância da acessibilidade nas bibliotecas universitárias é fundamental para gerar inclusão e oferecer informação e materiais acessíveis à toda comunidade acadêmica. Para efeito de nosso trabalho, faremos uso da lei mais recente, esclarecendo os termos capitais para nosso trabalho.

OBJETIVOS

Objetivamos mostrar que embora a acessibilidade esteja prevista em Lei, esta não é cumprida. Apontamos as falhas que geram exclusão da

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pessoa com deficiência, especificamente na estrutura física do local. Mos-tramos as dificuldades impostas pela estrutura e como ela afeta a seguran-ça, conforto e autonomia da pessoa.

METODOLOGIA

O referido trabalho tem uma abordagem de caráter exploratório base-ado na norma NBR 9050 da ABNT, assim como na Lei 13.146/2015 sobre acessibilidade para pessoas com deficiência. Contamos também com regis-tros fotográficos para melhor indicarmos a falta de acessibilidade no local.

1) CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Em 6 de Julho de 2015, é instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência Nº 13.146/15, cuja definição de Pessoa com defici-ência é aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual, ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Para efeito de nosso traba-lho, destacaremos as condições de acessibilidade para pessoas com defici-ência física, como cadeirantes, pessoas cegas e/ou surdas.

Conforme artigo 3º da Lei 13.146 entende-se por acessibilidade:

possibilidade e condição de alcance para utilização, com seguran-ça e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e ins-talações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, 2015, p. 1)

A acessibilidade busca assegurar que seja executado com segurança e autonomia o aproveitamento de espaços, mobiliários, equipamentos urba-nos, edificações, transportes, informação e comunicação, e até mesmo seus sistemas e tecnologias, tal como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo para pessoas com deficiência.

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Entende-se por autonomia a execução de atividades feitas por pessoas com deficiência onde ela goze de total independência sem precisar da aju-da do outro, dando assim a noção de que ela é capaz de se locomover como qualquer outra pessoa.

Por sua vez, barreiras são definidas como:

qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com seguran-ça, entre outros. (BRASIL, 2015, P. 2)

Assim, barreiras são os obstáculos ou dificuldades frente ao cotidiano da pessoa com deficiência. Estes obstáculos limitam ou impossibilitam o direito a ir e vir, ao exercício da cidadania e acesso a informação. As bar-reiras dividem-se em:

Urbanísticas: São aquelas onde há impossibilidade de locomo-ção, como rampas e calçadas danificadas e/ou desniveladas, sem sinalização, obstáculos à circulação etc.

Arquitetônicas: São aquelas que impossibilitam o deficiente de frequentar qualquer edifício público e privado, isto é, a falta de elevadores acessíveis, sinalização, iluminação, etc.

Comunicação e Informação: São aquelas que impedem ou im-possibilitam o uso de sistemas, como a falta de uso do piso e mapa tátil e de softwares adequados para pessoas cegas, sinali-zação adequada etc.

Tecnológicas: Dizem respeito às dificuldades e obstáculos cor-respondentes ao acesso a tecnologias, como tomadas inacessí-veis, ausência de sinais visuais, sonoros e vibratórios etc. Tais barreiras prejudicam o acesso de pessoas com deficiência,

impedindo-as do exercício da cidadania. Desse modo, partindo de registros fotográficos, passaremos a apontar, com base na NBR 9050, os principais problemas de acessibilidade que permeiam a Biblioteca Local do IFPa.

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RESULTADOS

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde(PSN), feita pelo IBGE, 6,2% da população possui algum tipo de deficiência. Neste sentido, e pensando o papel das bibliotecas na formação do cidadão, passamos a apontar uma série de problemas na Biblioteca Local do IFPa. Identificamos a falta de acessibilidade na entrada principal, escada, portas, balcão e banheiros.

ENTRADA PRINCIPAL

Conforme NBR 9050 deve haver sinalização de portas e passagens no formato visual, associada a sinalização tátil ou sonora (ABNT, NBR 9050/2015, pág. 44). Devem ser sinalizadas com números, letras e/ou pic-togramas e ter sinais com texto em revelo, incluindo Braille. Na entrada da biblioteca há um tapete com superfície enrugada barrando a visualiza-ção do piso tátil, o que configura o descumprimento da norma.

No interior da biblioteca não há sinalização das portas, o que também tor-na difícil a locomoção da pessoa com deficiência até o balcão de atendimento.

Figura 1 e 2 – Barreira dificultando a circulação no ambiente. Como ve-mos, não há sinalização tátil identificando portas e passagens.

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BALCÃO DE ATENDIMENTO

De acordo com a Norma 9050/15, a altura de balcões é de 0,75 m a 0,85 m. Por sua vez, o balcão de atendimento tem altura de 1,19 m. A profundidade livre mínima deve ser de 0,30 m, de modo que a pessoa em cadeira de rodas tenha a possibilidade de avançar sob o balcão. O que não ocorre, conforme na imagem.

FIGURA 3 – BALCÕES DE ATENDIMENTO INADEQUADOS À ACESSIBILIDADE.

PORTAS DO 1° ANDAR

Quanto às portas internas da biblioteca, deveriam ser abertas em um único movimento, com maçanetas do tipo alavanca, numa altura entre 0,80 m e 1,10 m. Embora tenhamos observado que as maçanetas estão na altura adequada, na figura 04 a maçaneta não é tipo alavanca, enquanto que na figura 05 não há revestimento contra impactos.

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Figura 4 e 5 – Portas sem as maçanetas de alavanca. Como observamos não há um revestimento resistente a impactos.

ESCADA PRINCIPAL

Conforme NBR 9050/15, deve haver sinalização tátil e visual quando houver escadas ou rampas. Nos corrimões, a sinalização deve ser tátil, indicando andar, enquanto que na parede deve haver sinalização visual, também indicando andar. Quanto ao chão, deve haver piso tátil indicando escada.

Por sua vez, embora a escada de acesso ao primeiro pavimento tenha corrimão de ambos os lados, não há sinalização tátil nos mesmos. Tam-bém não há indicação de escada no início da mesma.

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Figura 6 e 7 – Corrimãos inadequados.

BANHEIRO DO TÉRREO

No que diz respeito aos banheiros, a NBR 9050/15 especifica uma série de requisitos visando o menor esforço físico por parte da pessoa com defi-ciência. Listaremos apenas barras de apoio.

Assim, de acordo com a NBR 9050/15, barras de apoio podem ser ho-rizontais ou verticais, desde que atendam às seguintes padronizações: ter espaçamento entre a barra e a parede de no mínimo 0,04 m e garantir o alcance manual da torneira.

Como observamos nas imagens, não há nenhum tipo de barra de apoio, o que impossibilita o uso por pessoas cadeirantes. Também há uma lixeira barrando a passagem, além de avarias no piso provocando assim dificul-dades na locomoção.

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Figura 8, 9 e 10 – Banheiro não acessível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos que não há acessibilidade para pessoa com deficiência, o que prejudica e priva a pessoa de seu papel social, acadêmico e profissio-nal. Neste sentido, entendemos a deficiência como uma condição, a qual deve ser respeitada por todos. A pessoa com deficiência precisa superar, todos os dias, os obstáculos do local, e não sua própria condição. Daí a importância da acessibilidade, da autonomia e do desenho universal.

Mostramos como pequenos entraves podem constituir um risco à se-gurança e ao conforto. Principalmente, a ausência da acessibilidade exclui 6,2% da população brasileira, que sofre de algum tipo de deficiência. Es-tes brasileiros e brasileiras estão impossibilitados de exercer seus direitos, inclusive privados de sua autonomia, não devido à sua condição, mas ao local inapropriado e excludente.

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REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. ABNT NBR 9050:2015. Disponível em: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfiel d_generico_imagens-filefield-description%5D_164.pdf. Acesso em 26/Mar/2016

BEZERRA, Neiliane Alves; BARROCAS, Amélia Landim; SOUSA, Cle-milda dos Santos; DA SILVA, Geovanice Maria Anselmo; TEIXEIRA, Is-lânia Castro; MESQUITA, Margareth Figueiredo Nogueira. A Biblioteca Universitária na Proposta do Desenho Universal: um diagnóstico do siste-ma de bibliotecas da Universidade Federal do Ceará Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/10231/1/2011_eve_nabezerra.pdf Acesso em: 08/Set/2016.

BRASIL, Presidência da República. Plano Nacional dos Direitos da Pes-soa com Deficiência - Plano Viver sem Limite. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7612.htm Acesso em 08/Set/2016.

BRASIL, Presidência da República. Estatuto da Pessoa com deficiência.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm Acesso em 26/Mar/2016.

COSTA, Michelle Karina Assunção. Inclusão E Acessibilidade Nas Biblio-tecas Universitárias: A Formação E Atuação Do Bibliotecário. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUBD-A8SHQ3/michelle_karina_assun__o_costa.pdf?sequence=1 Con-sulta em 08/09

LUCENA, Davi; CAVALCANTI, Marília; SOARES, Natália; ROLIM, Raíra; MARROQUIM, Flávia. Barreiras Físicas À Acessibilidade De Uma Biblioteca. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/no-ticia/2015-08/ibge-62-da-populacao-tem-algum-tipo-de-deficiencia. Aces-so em: 13/Set/2016.

PAULA, Sonia Nascimento de; CARVALHO, José Oscar Fontanini de; Acessibilidade à informação: proposta de uma disciplina para cursos de

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graduação na área de biblioteconomia. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v38n3/v38n3a05 Acesso em: 08/Set/2016.

PORTAL DO BIBLIOTECÁRIO. Acessibilidade nas Bibliotecas: uma necessidade para promover a inclusão social. Disponível em: http://por-taldobibliotecario.com/2015/06/16/acessibilidade-nas-bibliotecas-uma--necessidade-para-promover-a-inclusao-social/ Acesso em 04/Set/2016.

VILLELA, Flávia. IBGE: 6,2% da população têm algum tipo de defi-ciência. Disponível em: http://www.ebc.com.br/noticias/2015/08/ibge-62--da-populacao-tem-algum-tipo-de-deficiencia Acesso em: 13/Set/2016.

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APLICATIVOS MÓVEIS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

COTTA, Wagner Augusto Aranda; SALOTO, Paulo Gomes; VIEIRA, Dayanne

Lopes; MARTINS, Laura Abreu; SILVA, Luis Antônio da; ANDREÃO, Rodrigo

Varejão; SALOMÃO, João Marques, VENTURA, Luiz Cláudio Locatelli, MELO,

Claudenir Jacinto de.

RESUMO

Este trabalho objetiva descrever o desenvolvimento de um protótipo vol-tado para atender as necessidades básicas do deficiente visual. A solução proposta foi resultado de uma pesquisa operacionalizada por meio de en-trevistas em institutos filantrópicos de amparo às pessoas com deficiência visual. As entrevistas foram realizadas em dois locais: no Instituto Braille, localizado na capital capixaba, e na União dos Cegos, no município de Vila Velha, e teve como público alvo pessoas cegas e com visão reduzida. Ao todo foram entrevistadas 24 pessoas, com diferentes idades, sexo e ro-tinas, onde foi possível listar as maiores dificuldades enfrentadas no dia a dia e propor soluções viáveis. O protótipo proposto, que visa amenizar algumas das dificuldades levantadas no estudo realizado, consiste em um aplicativo para smartphone capaz de atuar como lupa eletrônica, realizar digitalização e leitura de textos, reconhecer objetos por meio da câmera e auxílio na localização e orientação, trazendo informações em textos que são lidos pelo Talkback ou outro leitor de preferência do usuário.

IFES-INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTOCoordenadoria de Engenharia ElétricaCoordenadoria de Educação FísicaAgência de fomento: CNPq

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1. INTRODUÇÃO

O aumento pelo interesse de ajudar e melhorar a acessibilidade para o deficiente visual cresceu razoavelmente ao longo dos anos, tanto no meio social, quanto no meio tecnológico. A tecnologia assistiva é incentivada através de leis em alguns estados, ou programas sociais, como calçadas padronizadas, e placas de sinalização em braile, bem como no uso de com-putadores e smartphones com aplicativos voltados para pessoas com bai-xa visão ou mesmo cegueira total. Entretanto, mesmo com a melhoria na acessibilidade, os deficientes visuais ainda possuem muita dificuldade no quesito orientação e mobilidade, pois a acessibilidade não está presente em todos os lugares, como nas ruas e calçadas, assim como em lojas e su-permercados, e segundo porque esses meios que facilitam sua locomoção não são suficientes para minimizar o medo da queda, ou prever um obstá-culo à frente.

Este artigo visa ocupar uma lacuna existente nas ferramentas atuais implementado uma metodologia que permita capturar a experiência de usuários com deficiência visual no uso de smartphones e desenvolver um protótipo de aplicação com ferramentas que possam trazer soluções reais para as dificuldades encontradas no cotidiano deste público.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

sabido que a visão proporciona ao indivíduo informações com rapidez e precisão, antecipa e coordena movimentos e ações e caracteriza por 80% do relacionamento com o mundo. Portanto, pode-se dizer que são bastan-te significativas as implicações da deficiência visual na vida de uma pes-soa. Ressalta-se ainda que a pessoa com a visão debilitada tem prejudica-da a sua compreensão do mundo e influencia negativamente na qualidade da troca de informações com o meio em que se encontra, o que causa, por diversas vezes, a privação de vivências, limitação de movimentos e uma percepção errônea de sua orientação espacial.

Segundo Sanches, “a visão tem como uma de suas principais funções ajudar a integrar diferentes modalidades sensoriais e compreender as várias informações que recebemos dos sentidos. Ela rapidamente unifica as diferen-

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tes sensações e põe relação de um sentido com o outro” (apud ARIAS et al., 2004). Desta forma, com a ocorrência de uma disfunção neste sistema, são ocasionados prejuízos na habilidade de execução de tarefas rotineiras exercidas de forma convencional, só permitindo sua realização de formas alternativas.

Como forma de superar as dificuldades causadas pela deficiência, são desenvolvidas tecnologias que auxiliam as atividades de deficientes visu-ais. Além do sistema Braile, existe o uso de auxílios ópticos como textos com letras ampliadas, além de equipamentos como lentes, lupas, bengala branca e outras tecnologias assistivas (HERSH & JOHNSON, 2010).

PLATAFORMA ANDROID

A plataforma Android é um sistema operacional baseado em Java e é executada no Linux. O sistema, além de muito leve, possui muitos re-cursos, inclusive de acessibilidade, como TalkBack. Os aplicativos para esta plataforma são desenvolvidos na linguagem Java e contam com um imenso suporte fornecido pela empresa Google, criadora da plataforma (BURNETTE, 2009). Um ponto pertinente deste sistema é a possibilida-de de acesso a qualquer parte do Hardware, isto é, o desenvolvedor tem a possibilidade de criar aplicativos que façam discagem, usem o GPS e até mesmo a câmera, que, neste caso, será utilizada para este trabalho.

Com a popularização dos smartphones na última década, é crescente o número de deficientes visuais que possuem ou utilizam o smartphone, e um cego que não possui smartphone tem interesse em participar e usufruir desses avanços tecnológicos (CROSSLAND, SILVA & MACEDO, 2014).

3. OBJETIVOS

Este projeto possui como objetivo geral a produção de um aplicativo para smartphone que possa auxiliar a orientação e mobilidade de deficien-tes visuais cegos e de baixa visão, provendo informações úteis e diretas ao usuário. Com isto, busca-se:

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• Entender a familiaridade de deficientes visuais com tecnologias móveis (celulares, smartphones e tablets);

• Entender as peculiaridades no uso de smartphones por deficientes visuais;

• Entender as necessidades deste público em relação a orientação e mobilidade;

• Propor o design de um aplicativo que possa solucionar as necessi-dades encontradas;

• Implementar a solução projetada e validar seu funcionamento.

4. METODOLOGIA

COLETA DE DADOS

As entrevistas foram realizadas no Instituto Braille, localizado em Vitória-ES, e na União dos Cegos, no município de Vila Velha-ES, e teve como público alvo pessoas cegas e com visão reduzida. Esta pesquisa con-tou com a participação de 24 pessoas, com faixas etária variante entre 22 e 80 anos, ambos os sexos masculino e feminino foram entrevistados. Além da diversidade da idade, buscou-se também uma heterogeneidade face à rotina dos pesquisados.

De acordo com os dados coletados por meio das entrevistas, foi pos-sível estudar e listar os principais desafios enfrentados no dia a dia, bem como encontrar uma característica comum dentro do grupo para que seja proposto um protótipo como solução mais viável. Vale mencionar que to-dos os participantes da pesquisa concordaram com o Termo de Consenti-mento Livre e Esclarecido que possibilitou a divulgação deste trabalho.

Análise e Interpretação dos dados

Dentro do grupo dos entrevistados, pode-se identificar que 50% pos-suía smartphone. Das pessoas que não possuíam o dispositivo, 70% de-clararam não haver problema em adquiri-lo caso, existisse alguma ferra-menta que, de forma efetiva, o ajudasse com a deficiência. Por sua vez, o

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grupo remanescente, declarou deliberadamente não haver qualquer inte-resse, seja por motivos financeiros, não conhecimento do equipamento ou, simplesmente, falta de interesse na tecnologia.

A maior dificuldade enfrentada pelos deficientes visuais na região me-tropolitana de Vitória trata-se da questão da Mobilidade. Foram relatadas diversas queixas a respeito da padronização precária das calçadas, além da presença, na faixa de percurso seguro, de barracas de vendedores am-bulantes, bancos, lixeiras entre outros obstáculos que obrigam o deficiente a transitar fora da calçada, correndo o risco de ser atropelado. Também foi relatada a dificuldade em se deslocar na grande Vitória utilizando trans-porte público, que é integralmente realizado por ônibus.

Além da mobilidade, foi relatada a dificuldade de compreender sina-lização por meio de placas e a impossibilidade de leitura em papéis não impressos em Braile e, embora sejam assuntos distintos, podem ser trata-dos sob a mesma ótica. Por diversas vezes, a falta de sinalização dificulta a mobilidade ou contribui para a não localização no interior de grandes espaços, como fóruns, museus, entre outros. Da mesma forma, a falta de correspondências e textos adaptados em relevo, acarreta numa dependên-cia maior. A dificuldade das pessoas de baixa visão em relação às cartas e contas é devido ao tamanho e cor dos textos, que são impressos visando pessoas videntes. Desta forma, por possuírem a capacidade de visão limi-tada, necessitam de objetos específicos para realizar a leitura.

Levando-se em conta a pesquisa exposta, pôde-se estudar uma carac-terística comum que seria utilizada como base para o desenvolvimento do protótipo, onde concluiu-se que a característica de maior relevância em comum seria a posse de um smartphone. Pode-se, inicialmente, justificar tal escolha pela porcentagem de pessoas que já possuem o aparelho, bem como a facilidade de aquisição ou migração por aqueles que ainda não o possuem. Ademais, durante as entrevistas, os deficientes demonstraram uma repulsa por carregar um novo dispositivo acoplado ao corpo, desta forma, impossibilitando a utilização de ferramentas com câmeras exter-nas para processamento de imagens. Outro fator levado em conta foi o argumento de que a utilização de qualquer dispositivo de uso passivo que emita som, vibrações e outros estímulos poderia ter o efeito contrário, ou seja, distraí-los e desorientá-los. Em vista dos argumentos apresentados,

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o método ideal a ser escolhido não poderia promover estímulos, substituir a bengala e o uso deveria ser por requisição. Após a análise dos resultados obtidos com a pesquisa, foi possível determinar qual seria a problemática a ser resolvida.

O protótipo

De modo a cumprir com os requisitos definidos na fase de pesquisa de campo, estudou-se uma aplicação que propusesse uma forma de auxílio às principais dificuldades relatadas. Sendo assim, três funcionalidades prin-cipais foram propostas:

• Orientação e mobilidade: desenvolver um localizador com uso de GPS, informando o local em que o usuário se encontra, estabeleci-mentos próximos e pequenas rotas a pé;

• Leitura: auxiliar na leitura de placas e material impresso, por meio de lupa eletrônica e digitalizador de textos;

• Identificação de objetos: auxiliar o usuário a compreender melhor o ambiente ao seu redor utilizando visão computacional.

Levando em consideração que 100% das pessoas que possuíam smar-tphone, utilizavam o sistema operacional Android, esta foi a plataforma escolhida para que o solução fosse desenvolvida. O capítulo de resultados explicita melhor o que foi obtido no desenvolvimento de cada uma das três funcionalidades descritas.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme idealizado, foram desenvolvidas três aplicações, voltadas à orientação e mobilidade, leitura e identificação de objetos.

APLICAÇÃO PARA LEITURA

No aplicativo de leitura, buscou-se os métodos mais adequados para a digitalização de caracteres. O Tesseract, juntamente com a biblioteca de

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processamento de imagens OpenCV, foram as ferramentas mais eficazes encontradas.

A figura 1 representa (a) o funcionamento do Tesseract, que digitaliza um documento através de uma câmera, em seguida localiza-se os textos e os segmenta, separando os do resto da imagem, como demonstrado em (b), os elementos segmentados são então pré-processados, para um melho-ramento da imagem e após isso são passados por um banco de dado para o reconhecimento para depois serem reconstruídos.

Figura 1 - Funcionamento do Tesseract

Fonte 1: Elaborada pelo autor

APLICAÇÃO PARA ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE

Para o auxílio à orientação e mobilidade, foi desenvolvida uma aplica-ção que forneça informações ao usuário sobre sua localização e estabele-cimentos comerciais próximos, provendo uma breve orientação que possa auxiliá-lo em sua caminhada. A aplicação foi desenvolvida para aparelhos

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Android e faz uso das APIs fornecidas pela Google para coleta os dados referentes à localização do indivíduo e dos locais. A figura 2 provê uma demonstração da aplicação final.

Figura 2 - Demonstração da Aplicação Final

Fonte 2: Elaborada pelo autor

A figura 2 representa uma situação (a) na qual o usuário se encontra no ponto azul e deseja se localizar. Ao abrir o aplicativo, é apresentada ao usuário a tela inicial (b). Ao clicar no botão, o usuário recebe as informa-ções com a localização do usuário e os estabelecimentos comerciais por ordem de proximidade. As telas (d), (e) e (f) apresentam a situação onde o usuário seleciona um dos locais e recebe instruções para chegar a seu destino.

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Aplicação para identificação de objetos

O reconhecimento de imagens utiliza a Clarifai API, que possui inte-ligência artificial e faz uso de um banco de dados e bibliotecas em um ser-vidor online. Depois de feita a programação, é enviada a fotografia para o servidor da Clarifai e o mesmo reconhece a imagem e responde em forma de tags (textos). As tags recebidas são tratadas de forma a apresentar ao usuário as informações de maneira mais otimizada.

A figura 3 apresenta o aplicativo em funcionamento, com a tela inicial já na câmera nativa do smartphone. Ao fotografar o objeto, a aplicação faz o reconhecimento e retorna as tags ao usuário, que podem ser ouvidas por meio do Talkback.

Figura 3 - Aplicativo em Funcionamento

Fonte 3: Elaborada pelo autor

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6. CONCLUSÃO

No contexto do problema estudado, foi possível o desenvolvimento de um aplicativo protótipo visando a diminuição das dificuldades relacionadas à leitura de textos não impressos em Braile. Para isso, o aplicativo consegue realizar a digitalização, identificação dos caracteres e, finalmente, apresentar o texto a ser lido pelo recurso de acessibilidade nativo do sistema Android.

Vale destacar que, com o presente trabalho, foi possível identificar e reconhecer tamanha dificuldade que os deficientes visuais encaram no dia a dia e, ainda que busquem sua autonomia, sempre serão dependentes das pessoas videntes no que tange a conscientização e o bom senso.

Por fim, este projeto buscou proporcionar, aos deficientes uma solução acessível, de utilização intuitiva e com uma boa precisão na execução suas funcionalidades.

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EQUOTERAPIA SEM MONTARIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Vivian Rafaela Barbosa Pinheiro Freire97; Hilda Rosa Moraes de Freitas98; Vania

Silva de Melo78; Gabriela Lorena Pinheiro Lopes78; Regiane Ferreira Feitosa78;

Camila Araújo Leão78; Ellen Karoline Pinheiro Gomes78; Fernanda Martins

Hatano78.

RESUMO

A Equoterapia é uma prática terapêutica onde o cavalo atua como agen-te estimulador das funções cinesioterápicas, psíquicas e sociais. A equipe multidisciplinar pode desenvolver metas dentro da Equoterapia que inde-pendem da montaria, como no caso do treino de atividades de vida diária (AVD). Buscou-se analisar a vivência da Equoterapia em uma sessão do Projeto EntreLaço/UFRA, com um grupo de praticantes era composto por 14 indivíduos na faixa etária de 07 até 35 anos, com diversas altera-ções desenvolvimentais. O equino utilizado era um animal reabilitado do trabalho de tração, que, apesar de não atender aos critérios necessários para a montaria, se enquadrava nos critérios comportamentais. Os prati-cantes foram instruídos a alimentar o animal, oferecer água, escovar, cui-dar da crina, e colocar adereços para vestir no cavalo ou prender na crina e realizar um desfile curto, conduzindo-o pela guia. Na etapa final, o grupo leu um poema sobre a temática e socializou aspectos referentes as tarefas realizadas. Verificou-se que a interação com o cavalo sem montaria foi eficaz para o treino de AVD e o enlace afetivo criado com o animal e equi-pe profissional motivou o envolvimento na tarefa. O nível de aceitação e concentração na realização da tarefa foi satisfatório, permitindo o enga-jamento em atividades de cuidados que potencializam o desenvolvimento de atividades cotidianas de forma mais independente.

Palavras-chave: equoterapia; psicomotricidade; atividades da vida diária.

97 Universidade Federal do Pará;98 Universidade Federal Rural da Amazônia.

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INTRODUÇÃO

Pessoas com deficiências diversas podem se beneficiar da Equoterapia (BARBOSA; MUNSTER, 2013). Algumas indicações abrangem a para-lisia cerebral, déficits sensoriais, síndromes neurológicas e traumatismo cranioencefálico. Como tratamento principal ou complementar, a Equote-rapia se mostra um importante recurso que aproxima pessoas com defici-ência, equipe de profissionais e um cavalo mediador da intervenção (WI-CKERT, 1999).

De fato, a Equoterapia é um processo terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, visando pro-mover o desenvolvimento físico e psíquico de pessoas com deficiência (WI-CKERT, 1999). Coerente com tal definição, Silva (2004) refere que a Equo-terapia está voltada à reeducação motora e mental, por meio da prática de atividades equestres e técnicas de equitação. Nestes termos, verifica-se que é uma metodologia terapêutica que abrange não apenas a utilização do cavalo como mediador terapêutico, mas também a integração da equi-pe terapêutica na relação paciente-cavalo-ambiente (PADILHA, 2006).

A Equoterapia é uma prática terapêutica reconhecida pelo Conselho Na-cional de Medicina desde 1997, especialmente em decorrência de seus resulta-dos fisioterapêuticos (Cunha et al, 2016) De acordo com Lermontov (2004), o cavalo atua tanto nas funções cinesioterápicas como no aspecto psíquico dos indivíduos. Desta forma, os efeitos ultrapassam os benefícios físicos aos praticantes, permitindo também que estes desenvolvam atitudes e comporta-mentos por meio do animal (LERMONTOV, 2004; UZUN, 2005).

De acordo com MEDEIROS; DIAS (2002), cada seção de Equotera-pia deve ocorrer em três fases: aproximação, montaria e separação. No primeiro são propostas atividades que levem a uma participação ativa dos participantes, auxiliando na criação de enlaces afetivos com o animal. Al-gumas destas atividades são a limpeza do cavalo e alimentação. Na se-gunda fase, o praticante realiza atividades sobre o dorso do animal. Por fim, na separação, são propostas atividades conclusivas no solo, tais como desencilhar e dar banho no cavalo (MEDEIROS; DIAS, 2002).

No entanto a realização de todas estas fases nem sempre ocorre, pois depende de aspectos como o tipo de deficiência e os objetivos terapêuticos.

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Neste âmbito, algumas condições físicas são inelegíveis à montaria, por exemplo, a presença de escolioses progressivas com ângulos acima de 40º e instabilidade atlanto-axial (MEDEIROS; DIAS, 2002). Por outro lado, a equipe pode traçar metas que independem de montaria, como no caso do treino de atividades de vida diária (AVD).

Este treino, em particular, inclui tarefas de auto manutenção, como banho, vestuário e alimentação. Sua utilização é importante em situações de incapacidades ou deficiências, uma vez que os indivíduos acometidos podem ter comprometimento da independência em virtude de alterações físicas, psicológicas, emocional e social (AOTA, 2008). Assim, o exercício de tais atividades se faz necessário na medida em que a criança é estimu-lada a satisfazer suas necessidades com maior independência em seu am-biente domiciliar.

Como exemplo de uma importante tarefa do cotidiano, o ato de vestir--se e despir-se reflete a manutenção do bem estar físico e psicológico das pessoas. Segundo Vasconcelos; Cavalcanti (2013), realizar tais atividades exige capacidades neuro-musculares que nem sempre estão preservadas, daí a importância do uso e treino de técnicas, tais como adaptação do vestuário ou indicação de tecnologias de apoio. Considerando os aspectos apresentados, este trabalho objetiva descrever um relato de experiência de Equoterapia sem montaria voltado ao treino de AVD’s.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

O EntreLaço é um Projeto de Extensão da Universidade Federal Ru-ral da Amazônia (UFRA) vinculado ao Núcleo Amazônico de Acessibi-lidade Inclusão e Tecnologia que, desde o ano de 2012, vem realizando atividades de Terapia Assistida por Animais. Este projeto opera por meio de um grupo de professores, profissionais e acadêmicos das seguintes áre-as: Agronomia, Engenharia Florestal, Fisioterapia, Medicina Veterinária, Pedagogia, Psicologia, Terapia Ocupacional e Zootecnia.

O EntreLaço tem como objetivo o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência, por meio da utilização de animais motivadores ou co-terapeutas, incentivando as práticas de atividades físicas, a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida dos praticantes e dos animais.

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Na ocasião que será relatada, o grupo de praticantes era composto por 14 indivíduos, sendo quatro femininos e 10 masculinos, na faixa etá-ria de 07 até 35 anos. Havia, no grupo, a presença de diversas alterações desenvolvimentais, entre elas a paralisia cerebral, o autismo e a Síndrome de Rasmussen. Os indivíduos foram incluídos no projeto por meio de indi-cação médica para as atividades físicas, sendo estes também avaliados por uma equipe multidisciplinar (psicóloga, pedagoga, fisioterapeuta e tera-peuta ocupacional). A partir desta avaliação, foram propostas atividades ajustadas de acordo com as necessidades de cada individuo, respeitando as suas potencialidades.

Na ocasião, o projeto contava com a participação de cinco animais, sen-do quatro cães e um cavalo. Todos foram acolhidos em situação de abando-no, porém foram eleitos, preparados e acompanhados para as atividades por uma equipe de professores e acadêmicos de medicina veterinária e zootec-nia, utilizando critérios ligados à saúde animal e ao comportamento.

A sessão de Equoterapia que será relatada ocorreu com o cavalo man-tido por um projeto parceiro (Projeto Carroceiro/UFRA). O equino ma-cho, de 15 anos, pelagem tordilha, era usado para trabalho de tração, ten-do desenvolvido uma lesão crônica no boleto do membro posterior direi-to, quando então foi trazido para atendimento veterinário e doado para UFRA. Devido à limitada condição física em que se encontrava, o animal não seria elegível para sessões de Equoterapia convencionais por não aten-der ao critério de montaria (LERMONTOV, 2004). No entanto, critérios comportamentais (ser manso e dócil) e respostas ao treino (não se assustar com brinquedos e objetos) estavam contemplados, não havendo outras condições clínicas relevantes que colocassem em risco o seu bem estar ou a segurança das pessoas envolvidas.

Em uma das sessões de Equoterapia, objetivou-se principalmente per-mitir a aproximação com o cavalo e realizar treino de atividades de vida diária com os participantes, conforme avaliação prévia dos mesmos. Para tal, o encontro se deu em três etapas: acolhimento; aproximação e ativida-des com o cavalo; e despedida.

Inicialmente, os participantes foram recepcionados no acolhimento. Este momento objetivou recebê-los e prepará-los para a atividade princi-

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pal da Equoterapia. Assim, realizou-se alongamento em grupo, jogo com bolas e participação em um jogo chamado “Pinote, o burrinho manhoso” (Estrela®). Este possui um cavalo de brinquedo travado na parte traseira que, ao ser submetido ao carregamento de cargas, pode dar um salto der-rubando os objetos suspensos nele.

Em seguida, realizou-se a aproximação e atividades com o cavalo. Esta etapa objetivou explorar atividades de vida diária por meio do cuidado com o animal. Primeiramente, os praticantes eram instruídos a alimentar o animal com grama e oferecer água. Posteriormente, os praticantes eram incentivados a escovar o pelo do cavalo, utilizando escovas e rasqueadeiras apropriadas. Esta atividade era seguida pelo cuidado com a crina, por meio das tarefas de escová-la e trançá-la. Por fim, os praticantes esco-lhiam diferentes adereços para vestir no cavalo ou prender na crina dele, logo após, realizaram desfile curto, conduzindo-o pela guia.

Como etapa final, o fechamento objetivou resgatar a vivência e fixar o aprendizado. Foi feito um círculo com o grupo, em que puderam executar, de forma compartilhada, as tarefas finais: um poema intitulado “Cava-linho Branco” de Cecília Meirelles foi lido para todos e os participantes puderam realizar colagem utilizando a imagem dos cavalos. Esta etapa permitiu a socialização de aspectos referentes à execução de todas as ta-refas propostas.

Assim, verificou-se que a interação com o cavalo foi eficaz no treino de AVD, permitindo a execução de cuidados no animal compatíveis com as atividades de autocuidado (alimentar, escovar, fazer tranças e adornar). Além disso, ratificou a importância do uso de animais como instrumen-to terapêutico, uma vez que oportunizou aos praticantes a realização de ações fundamentais para o bem estar biopsicossocial.

A experiência desta sessão evidencia que realizar equoterapia sem montaria é possível e pode permitir que os praticantes vivenciem objeti-vos terapêuticos específicos, como é o caso do treino de AVD’s. O estabele-cimento deste alvo e a utilização do cavalo como mediador foram favorá-veis para a participação ativa dos praticantes em atividades de cuidados pessoais, pois o enlace afetivo criado com o animal e equipe profissional motivaram o envolvimento na tarefa.

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De fato, a maior parte do grupo de participantes apresentou uma grande motivação em interagir com o cavalo, realizando treino de AVD’s com o mesmo. O nível de aceitação e concentração na realização da tarefa foi satisfatório, permitindo o engajamento em atividades de cuidados que, por sua vez, potencializa o desenvolvimento de atividades cotidianas de forma mais independente.

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TECNOLOGIA ASSISTIVA PARA DEFICIENTES VISUAIS

Victor Gomes Silva Monteiro, Raphael Diego Comesanha e Silva e

Leila do S. R. Feio

RESUMO

Este estudo tem como objetivo desenvolver um dispositivo que auxilia, junto ao bastão de hoover (Bengala Longa), a locomoção da pessoa com deficiência visual em ambientes desconhecidos, na detecção de obstáculos suspensos. O dispositivo projetado visa colaborar com a sociedade, pro-porcionando um auxílio adicional para os deficientes visuais. Utilizou-se uma plataforma de prototipagem eletrônica de hardware livre “Arduino mini”, um sensor de ultrassom HC-sr04, o qual mede distâncias de 2 cm a 400 cm, e um motor vibra-call. Participaram dos primeiros testes com de-ficientes visuais duas mulheres adultas com deficiência visual, sendo uma com baixa visão e outra com cegueira. A sessão foi realizada nas depen-dências da UNIFAP, e o pesquisador solicitou que cada participante colo-casse o colete que sustenta o dispositivo na parte superior frontal acima da cintura, e que usasse a bengala branca. Os resultados mostraram que as participantes perceberam conforto, que o colete é quase imperceptível, que as vibrações e as distâncias eram adequadas. Conclui-se que o uso des-te dispositivo mostrou-se eficaz para pessoas com deficiência visual pro-porcionando locomoção segura e inserção social das mesmas, além de ser de baixo custo. Posteriormente, outros testes serão conduzidos especifica-mente com indivíduos cegos. A ajuda de psicólogos será fundamental não somente na parceria quanto à elaboração da metodologia de implantação do dispositivo, como também para oferecer subsídios que garantam aos usuários atividade de vida autônoma e social, e consequentemente melhor qualidade de vida.

Palavras-Chave: Tecnologia Assistiva. Deficiência Visual. Baixo custo.

Universidade Federal do Amapá - UNIFAP

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1. INTRODUÇÃO

Tecnologia assistiva (TA) é todo arsenal de recursos e serviços capaz de proporcionar ou potencializar habilidades de pessoas com deficiência e idosos, no intuito de promover autonomia, independência e inclusão (BERSCH, 2008).

Traduzida de forma simples, diz respeito a qualquer ferramenta ou aparato tecnológico com a finalidade de desenvolver maior independência de pessoas com limitações sensoriais ou físicas (HOGETOP; SANTARO-SA, 2011). Os cegos contam com variadas TA que os auxiliam no processo de aprendizagem consequenciando melhor qualidade de vida. Entre elas sobressaem os materiais adaptados, como o Livro Falado, o Sistema de Leitura Ampliada e sistemas operacionais em microcomputadores (Dos-vox, jaws, etc.), tanto no ambiente domiciliário como no escolar, (CER-QUEIRA; FERREIRA, 2011).

Ao longo dos anos, diversas TA foram desenvolvidas, porém poucas realmente chegam de forma satisfatória e acessível para os deficientes vi-suais principalmente na área de locomoção. Existe uma gama de dispo-sitivos e softwares que podem ajudar deficientes visuais na utilização de equipamentos, como computadores e smartphones, no entanto, quando o assunto é locomoção, os deficientes visuais são submetidos apenas ao uso da tradicional bengala, conhecida como bengala branca.

Múltiplos projetos têm sido desenvolvidos nessa área (óculos com sen-sores, bengalas com sensores), porém, não avançaram de forma acessível. Nesse sentido, a partir destas condições, surge o propósito deste projeto de criar um dispositivo, discreto e confortável, que não traga algum tipo de incomodo para o usuário, que auxilie junto ao bastão de hoover (bengala Longa) a locomoção de deficientes visuais, em ambientes desconhecidos na detecção de objetos/obstáculos que estejam localizados acima da re-gião da cintura. A ideia foi fazer um sensor que atuasse na região acima da cintura e que enviasse sinais para uma pulseira que indicaria, por meio de vibrações, o obstáculo a ser desviado. Tal dispositivo é simples, com dimensões mínimas, sem necessidade de acoplar a outros periféricos como óculos, coletes, chapéus ou até mesmo fones de ouvido.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

A independência na locomoção é fundamental para que a pessoa com deficiência visual adquira autoconfiança, segurança, independência, auto-nomia, dentre outros comportamentos adequados e relevantes para ma-nutenção de uma vida ativa na sociedade.

Múltiplas pesquisas têm se dedicado a temática da Tecnologia Assis-tiva, e nos estudos de Sassaki (2006) é possível encontrar que Tecnolo-gia Assistiva consiste em oferecer a pessoas com deficiência (física, visual, auditiva, intelectual ou múltipla) suporte que envolva estrutura elétrica, eletrônica, mecânica, computacional, dentre outras. Tais suportes se refe-rem à cadeira de rodas, prótese, órtese, múltiplos aparelhos e equipamen-tos nas mais diversas áreas que requeiram uma necessidade específica e/ou pessoal, quais sejam: mobilidade, locomoção, orientação, alimentação, transporte, trabalho, educação, lazer, dentre outras.

Quanto ao lugar que as tecnologias ocupam neste cenário, é preciso ressaltar que todos os tipos e sistemas de tecnologia, tais como tecnologias assistivas, tecnologias digitais, tecnologias de informação e comunicação, devem permear as seis dimensões da acessibilidade como suportes à reali-zação de todos os direitos das pessoas com deficiência. (SASSAKI, 2009).

No que se referem aos deficientes visuais, estes possuem limitações vi-suais, em graus diferentes. Podem ser cegos ou baixa visão, também cha-mada de ambliopia, visão subnormal ou visão residual, pode ser descrita desde a simples percepção de luz até a redução da acuidade e do campo visual, que interferem ou limitam a execução de tarefas e o desempenho geral. A cegueira é uma alteração grave ou total de uma ou mais das fun-ções elementares da visão que afeta de modo irremediável a capacidade de perceber cor, tamanho, distância, forma, posição ou movimento em um campo mais ou menos abrangente (AEE, 2007).

Tais Limitações têm conduzido as pessoas à exclusão social, reduzindo suas oportunidades de inserção no mercado de trabalho que supostamente oferece iguais condições de competição.

Em um estudo realizado por Feio (2003) em que se desenvolveu um procedimento para ensinar crianças cegas a ler o braile, os resultados mos-

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traram que os deficientes visuais precisam saber ler em braile, se locomo-ver com segurança, ter orientação e mobilidade, independência e autono-mia a fim de participar efetivamente da sociedade, com independência e autonomia.

Neste sentido, a parceria entre um estudante de engenharia que de-senvolve um dispositivo com o objetivo de facilitar a locomoção da pessoa com deficiência visual, e as contribuições de um psicólogo no que diz res-peito ao desenvolvimento de metodologias eficazes para ensinar e apoiar psicologicamente a pessoa com deficiência visual, no que tange ao uso do protótipo, é de grande relevância para que o deficiente visual eleve sua autoestima e se permita ter independência e autonomia.

A ajuda de psicólogos será fundamental não somente na parceria quanto a elaboração da metodologia de implantação do dispositivo, como também para oferecer subsídios que garantam aos usuários atividade de vida autônoma e social, e consequentemente melhor qualidade de vida.

3 METODOLOGIA

Participantes: Participaram deste estudo duas mulheres adultas com deficiência visual, sendo uma informante cega e outra com baixa visão. Para esta fase da pesquisa, a seleção teve como pré-requisito que o par-ticipante fosse deficiente visual, com baixa visão ou cegueira, e também, que as características da doença causadora da cegueira fossem congênitas.

Local: A pesquisa foi realizada nos espaços da UNIFAP

Material e Estímulos: Para os primeiros testes, decidiu-se utilizar um Arduino UNO, por ser uma plataforma de prototipagem eletrônica de hardware livre, um sensor de ultrassom HC-sr04, o qual mede distâncias de 2 cm a 400 cm e um LED para indicar a intensidade de vibração do motor. Após ser escrito um algoritmo, os primeiros testes foram realizados e observaram-se alguns erros, o sensor foi submetido a novos testes, após isso, partiu-se para a construção do protótipo vestível para ser utilizado em movimento. O protótipo foi construído com uma base feita em papel maquete, onde foram colocados o sensor de ultrassom uma nova placa arduino, um motor de vibração, e uma bateria de celular. Em seguida,

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esse protótipo foi colocado em um colete onde o sensor fica posicionado na altura do peito.

Em um estudo preliminar foram realizados testes com não deficien-tes visuais, e foi identificado que o protótipo se mostrou eficaz quando se trata de identificar objetos que estão a frente do usuário, mas se tornou pouco eficaz quando o objeto se encontra um pouco deslocado para algum dos lados, pois há apenas um sensor, e o usuário não consegue identificar se o objeto esta mais a direita ou esquerda o que pode ocasionar ao usuário uma colisão.

Porém, o foco principal do trabalho foi testar o dispositivo em pesso-as com deficiência visual. Nesses primeiros ensaios optou-se por testar o protótipo em uma participante com cegueira (K.S), e com baixa visão e fotofobia (M.S), a fim de verificar a eficácia e eficiência do protótipo em pessoas com deficiência visual, e após as análises, refinar e ajustar o dis-positivo, conforme a necessidade da pessoa com deficiência visual. O pró-ximo passo será de aplicar o procedimento em pessoas com características semelhantes da deficiência visual, ou seja, testar o dispositivo em indiví-duos cegos, separadamente dos com baixa visão, pois, ao comparar o par-ticipante cego com o de baixa visão, no quesito intensidades da vibração, poderão ocorrer respostas distintas, inclusive porque a pessoa cega tem a percepção para vibração mais acentuada e, portanto, tolerância menor.

Finalmente, este teste seria o parâmetro para os pesquisadores quanto a melhorias que poderiam ser implementadas no dispositivo, a partir da coleta e análise dos dados.

PROCEDIMENTO

A sessão para testar o dispositivo foi realizada nas dependências da UNIFAP. O pesquisador solicitou que cada participante colocasse o cole-te que sustenta o dispositivo na parte superior frontal acima da cintura. Também, foi solicitado que cada participante usasse a bengala branca.

Vale mencionar que este projeto de pesquisa será submetido ao Comi-tê de Ética em Pesquisa - CEP, para análise, por se tratar de estudo com humanos, obedecendo aos procedimentos éticos estabelecidos pela Reso-lução número 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde - CNS,

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INSTRUÇÕES, APRESENTAÇÃO DOS ESTÍMULOS, E CONSEQUÊNCIAS.

As participantes foram atendidas individualmente. No início da pri-meira sessão, a participante foi informada que participaria de um teste para detecção de obstáculos com o uso de um sensor acima da cintura. Foi explicado o funcionamento do dispositivo e como deveria ser usado. A participante colocava o colete com o dispositivo e caminhava com a bengala branca a fim de detectar qualquer obstáculo a sua frente e/ou ao lado direito e esquerdo. A consequência positiva para participante seria a possibilidade de identificar obstáculos e desviá-los, além do conforto e comodidade que o dispositivo proporciona. O dispositivo foi testado em ambiente fechado para detecção de paredes, pois em testes anteriores o dispositivo mostrou-se pouco eficaz quanto ao tamanho e a localização do estímulo (objeto/obstáculo).

CONDIÇÕES

As intensidades de vibração eram quatro: leve, moderada, alta e pul-sante; e as distâncias pré-estabelecidas eram de 2.70m e 80cm. O dispo-sitivo trabalha com os seguintes parâmetros: a) começa a vibrar com um intensidade baixa a 2,70 metros; b) tem sua intensidade aumentada até 80 cm onde a vibração é máxima, e c) abaixo de 80 cm o dispositivo pulsa avisando que já esta abaixo de 80 cm indicando perigo de colisão.

Cada participante foi exposta ao uso do dispositivo com as respectivas intensidades, e foram feitas três perguntas as participantes: 1) em relação ao colete, qual a avaliação do usuário quanto a conforto e posição? 2) em relação a intensidade de vibração, o usuário experimentou 4 intensida-des de vibração (leve, moderada, alta e pulsante), essas intensidades estão adequadas? 3) as distâncias pré-estabelecidas (2.70m, 80cm) estão ade-quadas? ou deve ser alterada?

4 RESULTADOS

Participaram do estudo duas mulheres jovens, sendo uma cega (K.F) e outra com baixa visão (M.L). As duas foram expostas à sequência das mesmas condições quanto ao uso do colete e da intensidade dos estímulos.

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O desempenho das participantes aparece detalhado abaixo:

Os resultados da participante cega K.F foram as seguintes.

Quanto a primeira questão: relação ao colete, qual a avaliação do usu-ário quanto a conforto e posição? A participante cega K.F respondeu que estava confortável e que as vezes era quase imperceptível o uso do colete. Quanto a segunda questão que trata da intensidade de vibração, se estão adequadas (4 intensidades de vibração - leve, moderada, alta e pulsante), a participante cega K.F respondeu que as vibrações estão adequadas, po-rém, a pulsação pode se tornar incomoda por um longo período. Quanto a terceira questão que se refere as distâncias pré-estabelecidas de 2.70m, 80 cm estão adequadas? Ou deve ser alterada? A participante K.F respon-deu que as distancias estão adequadas, porem poderia ter um sinal sonoro quando o usuário estivesse próximo demais do objeto.

Os resultados da participante com baixa visão M.L foram as seguintes.

Quanto à primeira questão: relação ao colete, qual a avaliação do usu-ário quanto a conforto e posição? A participante M.L informou que o dis-positivo é confortável, ótimo, e a localização da vibração também esta ótima. Quanto a segunda questão que trata da intensidade de vibração, se estão adequadas (quatro intensidades de vibração - leve, moderada, alta e pulsante), a participante M.L respondeu que as intensidades estão óti-mas, pois mesmo com o obstáculo distante já é possível identificar quando tem algo a frente, e quanto mais próximo, a vibração é mais intensa, não machuca nem é incômoda. Relata que o interessante foi que o dispositivo consegue detectar quando alguém passa pela frente, o que “me permite frear”. Quanto a terceira questão que se refere as distâncias pré-estabele-cidas de 2.70m, 80cm estão adequadas? ou deve ser alterada?, a partici-pante M.L respondeu que avalia positivamente por fazer uso da bengala, informou que está ótimo, pois, ao detectar o obstáculo se consegue fazer uma varredura, e se fosse mais próximo, “eu não conseguiria fazer a var-redura ou o desvio”.

Este procedimento mostrou-se eficaz e os resultados dos testes foram importantes para verificar a necessidade de utilizar mais sensores, perce-

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ber a incapacidade de sinalizar um desvio direcionado à esquerda ou à di-reita e de detectar quando uma pessoa estiver passando a sua frente. Com esses resultados, as próximas melhorias serão colocar mais dois sensores e mais dois motores atuando de forma conjunta e enriquecendo a quantida-de de informação enviada ao usuário.

A ajuda de psicólogos será fundamental para ajudar na metodologia para implementar o dispositivo no dia a dia dos usuários.

O diferencial deste projeto é a utilização de componentes de baixo custo e a segurança a mais que o protótipo final vai proporcionar para locomoção (sem a necessidade de utilizar outros periféricos como fones, óculos e chapéus). Por fim, os resultados obtidos foram satisfatórios para os testes com não deficientes e deficientes.

Posteriormente, serão realizados testes com mais deficientes utilizando metodologias desenvolvidas por psicólogos, para realizar melhorias físicas e lógicas, para melhor adaptação às necessidades e anseios dos usuários deficientes e para redução de custos, e visa como toda tecnologia assistiva o auxilio e a inclusão, maior independência e autonomia para o usuário, consequenciando autoestima elevada, autoimagem positiva, melhoria na qualidade de vida e benefícios para saúde em geral.

O presente estudo pode fornecer contribuições teóricas e metodoló-gicas relevantes, proporcionando maior compreensão dos processos com-portamentais e das variáveis que afetam a identificação dos obstáculos, minimizando os riscos na locomoção para a pessoa com deficiência visual. Tem contribuições mais fulgentes quanto à utilização do uso de um pro-tótipo com componentes de baixo custo e a locomoção mais segura sem a necessidade de utilizar outros periféricos. Os resultados do presente estu-do podem ter implicações educacionais e sociais importantes para os de-ficientes visuais. É uma alternativa para ensinar pessoas com deficiência visual a se locomover com mais segurança, eficácia, eficiência, autonomia e independência; além de ser mais econômico.

Os resultados do presente estudo ampliam o conhecimento dos proces-sos comportamentais envolvidos na identificação de obstáculos da cintura para cima e da locomoção segura. Assim, este estudo pode contribuir para implementar uma tecnologia assistiva específica para ensinar pessoas cegas

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e com baixa visão a se locomover com mais segurança e melhorar a qualida-de de vida dessas pessoas, favorecendo a inserção social das mesmas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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OS BENEFÍCIOS DA ROUPA BIOCINÉTICA COMO INSTRUMENTO DE REABILITAÇÃO FUNCIONAL PARA

SUJEITOS COM PARALISIA CEREBRAL

Ana Irene Alves de Oliveira; Rafael Luiz Morais da Silva; Manoela Caroline

Pinheiro da Costa; Beatriz Conceição Rodrigues e Rodrigues; Flavia Santos

Coelho.

RESUMO

A encefalopatia crônica não evolutiva da infância também denominada de paralisia cerebral é uma alteração de postura e movimento, decorrente de uma lesão primária. É causadora de sequelas e limitações no desem-penho de atividades, podendo apresentar quadros clínicos distintos. Este estudo é um recorte do projeto de pesquisa de Iniciação cientifica titulado “Terapia Ocupacional na reabilitação infantil: Mensurando o desempenho motor e funcional por meio da roupa biocinética”, desenvolvido no Núcleo de Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva e acessibilidade (NEDETA) na Universidade do Estado do Pará (UEPA), com o intuito de mensurar o desempenho motor de crianças com paralisia cerebral, por meio de um recurso de tecnologia assistiva: a roupa biocinética, órtese dinâmica, de lycra compressiva, capaz de proporcionar melhor alinhamento e estabili-dade biomecânica. A utilização de um protocolo validado, como medida da função motora grossa, garante fidedignidade aos dados. Observou-se que o participante da pesquisa obteve ganhos em três dimensões do proto-colo. Logo, evidencia-se a importância da utilização da roupa biocinética.

Palavras-chave: Paralisia Cerebral; Tecnologia Assistiva; Reabilitação.

Núcleo de Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade - NEDETA/ UEPA

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INTRODUÇÃO

A paralisia cerebral apresenta uma heterogeneidade de quadros clí-nicos, dificultando a classificação dos comprometimentos motores o que poderá influenciar na avaliação para determinar o tratamento mais efi-caz. Logo, faz se necessária a implementação do Sistema de Classificação da função Motora Grossa (GMFCS) como mecanismo de classificação por meio de níveis de comprometimento com enfoque mais preciso nas limita-ções funcionais.

Tais limitações funcionais podem ser desencadeadas por padrões pa-tológicos com desalinhamento biomecânico, estabilidade e coordenação alterada, por isso faz-se necessária a utilização da roupa biocinética, órte-se capaz de habilitar ou reabilitar crianças com desordens neuromotoras, maximizando assim seu desempenho funcional.

Além desse, destaca-se a utilização dos protocolos, como a Medida da função Motora grossa (GMFM), com intuito de avaliar os aspectos moto-res estáticos e dinâmicos da criança com paralisia cerebral, identificando déficits no desempenho funcional.

Através de instrumentos de mensuração precisos, buscou-se avaliar as habilidades funcionais desse público, favorecendo a descoberta de novas possibilidades interventivas no campo da reabilitação infantil. Dessa for-ma, este projeto mostrou-se inovador para a comunidade cientifica, visto que fortaleceu as pesquisas voltadas para a roupa biocinética, criada por pesquisadores da Universidade do Estado do Pará por meio do Núcleo de Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva (NEDETA/UEPA).

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Encefalopatia Crônica não Evolutiva da Infância, também deno-minada de Paralisia Cerebral (PC), é uma alteração na postura e no movi-mento, de caráter permanente e imutável, decorrente de uma lesão cere-bral primária, que resulta em sequelas secundárias e limitações funcionais (OLIVEIRA; GOLIN; CUNHA. 2010).

As lesões podem ocorrer no período pré-natal, anterior ao nasci-mento, decorrentes de uma anóxia cerebral, infecção materna, uso

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de álcool e drogas, por exemplo; no período Peri - natal, que é duran-te o nascimento, com asfixia; e período pós – natal, como os trauma-tismos, infecção do recém-nascido, entre outros (CHAGAS et al, 2008; CHRISTOFOLETTI;HYGASHI;GODOY, 2007).

Quanto a classificação, a PC é encontrada como espástica, atáxica, coreoatetósica, hipotônica e forma mista. Topograficamente encontra-se como quadriplegia, tetraplegia ou quadriparesia, diplegia ou diparesia e hemiplegia ou hemiparesia (CHRISTOFOLETTI; HYGASHI; GODOY, 2007).

Dessa maneira, as crianças com paralisia cerebral podem apresentar quadros clínicos variados. Portanto, é necessária a avaliação e classifica-ção dos comprometimentos. Nesse âmbito, ressalta-se o Sistema de Clas-sificação da Função Motora Grossa (Gross Motor Function Classification System - GMFCS), essencial para a análise das habilidades motoras apre-sentadas por este público (CHAGAS et al, 2008; DIAS et al, 2010).

Para ampliar, estimular, favorecer ou promover habilidades funcionais de indivíduos com algum tipo de limitação, destaca-se as Tecnologias As-sistivas (TA), compreendidas como uma área do conhecimento de caráter interdisciplinar, que envolvem produtos, metodologias, recursos, serviços, voltados para a promoção de autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (BERSCH,2013).

Dentre as categorias da TA, estão as órteses, que são dispositivos acres-cidos em um segmento corpóreo, como o intuito de favorecer o melhor po-sicionamento, estabilização e função. Como exemplo, pode ser menciona-da a roupa biocinética, sendo esta uma órtese dinâmica (BERSCH, 2013; ALVES DE OLIVEIRA; PRAZERES, 2013).

A roupa biocinética foi criada frente a demanda de construção de um dispositivo que pudesse auxiliar na reabilitação de crianças com desordens neuromotoras, e estimular as atividades ocupacionais e o melhor desem-penho funcional (ALVES DE OLIVEIRA; PRAZERES, 2013).

A partir de pesquisas, Alves de Oliveira; Prazeres (2013) constataram que os trajes utilizados na reabilitação de crianças, ainda não faziam parte do contexto de tratamento amazônico. Além disso, possuíam custo elevado, visto que agregavam tecnologia importada, e também o tecido utilizado na

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confecção não se adequavam as características climáticas da Região Norte.

Ao considerar o conforto do usuário e a efetividade do dispositivo, elegeu-se como tecido, a lycra compressiva, por apresentar melhor suporte corporal. O traje possui pontos de tração em locais estratégicos do corpo que favorecem o alinhamento postural e movimentos coordenados. Res-salta-se que as pesquisas e primeiros protótipos iniciaram-se no Núcleo de Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva (NEDETA), na Universidade do Estado do Pará ( ALVES DE OLIVEIRA; PRAZERES, 2013).

Ressalta-se que o traje é composto por uma calça, um colan e faixas. Tais faixas acompanham as fibras musculares, provocando estímulos pro-prioceptivos capazes de diminuir padrões patológicos, e consequentemen-te melhorar a movimentação e alinhamento corporal (ALVES DE OLI-VEIRA; PRAZERES, 2013).

Para mensurar os ganhos e/ou perdas das habilidades funcionais de indivíduos com PC, podem ser utilizados instrumentos de avaliação va-lidados, que garantem maior fidedignidade aos dados, como a Medida da Função Motora Grossa (Gross Motor Function Classification System - GMFM), o qual é destinado para avaliação das habilidades motora grossa de crianças com paralisia cerebral (CYRILLO; GALVÃO, 2011).

A primeira versão do protocolo apresenta 88 itens (GMFM-88), já a atual apresenta 66 itens (GMFM-66). Apresenta cinco dimensões: dei-tar e rolar; engatinhar e ajoelhar; sentar; em pé; andar, correr e pular (CYRILLO; GALVÃO, 2011).

OBJETIVOS

Este estudo tem como objetivo mensurar o desempenho motor de crianças com paralisia cerebral por meio da utilização da roupa biocinéti-ca e aplicação do protocolo GMFM.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo transversal do tipo estudo de caso com abordagem quantitativa, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde (CNS

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466/12) da Universidade do Estado do Pará, desenvolvido Núcleo de De-senvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (NEDETA). É um recorte do projeto de pesquisa de Iniciação cientifica titulado “Terapia Ocupacional na reabilitação infantil: Mensurando o desempenho motor e funcional por meio da roupa biocinética”.

Selecionou-se de forma intencional uma criança com paralisia cere-bral, a partir da análise dos prontuários da instituição. Os responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre esclarecido (TCLE) para par-ticipação na pesquisa. Em seguida, realizou-se uma entrevista semi estru-turada, para coleta de dados funcionais e psicossociais.

Avaliou-se com o protocolo GMFM - 88 antes do primeiro uso da rou-pa biocinética. Para confecção do traje, foram feitas as medidas antropo-métricas da criança. Em seguida, houve discussão do caso com a equipe, desenvolvimento da roupa, e experimentação. Após a entrega da roupa, foram feitas duas reavaliações (folow - up), com a aplicação do mesmo protocolo, para acompanhamento.

Foto 1: roupa biocinética - Foto 2: roupa biocinética - Foto 3: roupa biocinética colan ,vista frontal Calça - vta frontal Faixas individuais

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Foto 4: roupa biocinética Foto 5: roupa biocinética Colan – vista posterior calça - vista posterior

RESULTADOS

O participante selecionado foi denominado de S.D, gênero masculino, três anos de idade. Quanto ao GMFCS, a criança foi classificada no nível IV. Os responsáveis foram orientados a utilizar a traje por quatro horas di-árias, havendo graduação de tempo. Foram alertados de possíveis reações alérgicas, portanto deveriam registrar dúvidas e dificuldades diárias. Para auxiliar no processo, foi entregue o Diário do uso da roupa biocinética, o qual possuía os seguintes itens ilustrados no quadro abaixo:

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DATAQUANTO TEMPO

O QUE ACONTECEU?USOU?Dificuldade pra vestir? SIM ( ) NÃO ( )Chorou? SIM ( ) NÃO ( )Vermelhidão? SIM ( ) NÃO ( )Dificuldade para colocar as faixas? SIM ( )NÃO ( )

A primeira avaliação com o protocolo GMFM, anterior ao uso da rou-pa biocinética, foi feita em dezembro de 2015. A criança alcançou 25,4% da pontuação total do protocolo. Os resultados estão ilustrados na tabela 1 abaixo:

Dimensão Dimensão Dimensão Dimensão Dimensão Dimensão

A B C D EAvaliação 37 29 3 0 0% por

72% 48% 7% 0% 0% 25,4%dimensão

A primeira reavaliação após o uso do traje foi feita em maio de 2016. A criança alcançou 30, 6% da pontuação total do protocolo, como ilustra a tabela 2 abaixo:Tabela 2

Dimensão Dimensão Dimensão Dimensão Dimensão

A B C D E

Reavaliação 42 29 10 0 01

% por 82% 48% 23% 0% 0% 30,6%

dimensão

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A segunda avaliação reavaliação foi realizada em agosto de 2016. Nes-ta última, o participante alcançou 34,8 % da pontuação total do protoco-lo, como ilustra a tabela 3:

Tabela 3:Dimensão Dimensão Dimensão Dimensão Dimensão

A B C D E

Reavaliação 44 33 14 0 02

% por 86% 55% 33% 0% 0% 34,8%dimensão

Durante o período de utilização da órtese dinâmica, a criança utilizou a roupa pelo período estabelecido e apresentou melhora significativa no alinhamento corporal, influenciando no sentar, que já é sem apoio. Esse fato favoreceu o melhor desempenho escolar, como foi relatado pelos res-ponsáveis. Ressalta-se que o participante apresentou reação alérgica, logo o uso do traje foi suspenso até melhora do quadro.

Ao analisar os dados do GMFM, notam-se ganhos nas três dimensões (A, B e C). Para Bobath (1984), as correções que ocorrem sobre o corpo, favorecem o desenvolvimento das etapas até o andar. Dessa forma, enfati-za-se a relevância da utilização do traje.

Observaram-se ao longo desse período, melhoras na postura e movi-mentação. Logo, a roupa biocinética alcançou o objetivo de proporcionar um melhor alinhamento e estabilidade biomecânica. A lycra compressiva foi essencial para o alcance de tais resultados, já que provocou estímulos táteis, capazes de estimular o controle de troco e consequentemente, me-lhores movimentos e execução de atividades (ALVES DE OLIVEIRA; PRAZERES, 2013).

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CONCLUSÃO

As deficiências neuromotoras acarretam limitações na execução das atividades diárias. Logo, faz-se necessário a adoção de estratégias para auxiliar no cotidiano e desses indivíduos. Por isso, este estudo mostra-se relevante para a comunidade acadêmica, evidenciando novos estudos so-bre a roupa biocinética e podendo servir de estímulo para novas pesquisas, junto a problemática estudada.

REFERÊNCIAS

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