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ANAIS DO V SIMBIOMA: SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA Editoração Elton John de Lírio Joelcio Freitas Maridiesse Morais Lopes Thaís de Assis Volpi Thiago Silva Soares Tema: Conservação da Mata Atlântica: pesquisa, educação e políticas públicas Santa Teresa, ES, 02 a 04 de junho de 2016

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ANAIS DO V SIMBIOMA: SIMPÓSIO SOBRE A

BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA

Editoração

Elton John de Lírio Joelcio Freitas

Maridiesse Morais Lopes Thaís de Assis Volpi Thiago Silva Soares

Tema: Conservação da Mata Atlântica:

pesquisa, educação e políticas públicas

Santa Teresa, ES, 02 a 04 de junho de 2016

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ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO MUSEU DE BIOLOGIA PROFESSOR

MELLO LEITÃO

V SIMBIOMA - SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA

MATA ATLÂNTICA

Elton John de Lírio, Joelcio Freitas, Maridiesse Morais Lopes, Thaís de Assis

Volpi e Thiago Silva Soares

SANTA TERESA – ES

SAMBIO

2016

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V Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – SIMBIOMA (2016: Santa Teresa, ES).

Anais do V Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica (SIMBIOMA), “Conservação da Mata Atlântica: pesquisa, educação e políticas públicas”, 02 a 04 de junho, 2016, Santa Teresa, ES, Brasil. e-book. ISBN: 978-85-67438-04-7.

702 folhas.

Evento realizado pela Associação de Amigos do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão – SAMBIO, Santa Teresa, ES.

1.Mata Atlântica. 2. Biodiversidade. 3.Conservação. 4.Meio ambiente.

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V SIMBIOMA Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica

Tema: Conservação da Mata Atlântica: pesquisa, educação e políticas públicas

Presidente da Associação de Amigos do Museu de Biologia Mello Leitão (SAMBIO)

Arlindo Serpa Filho

Comissão Organizadora

Alexander Tamanini Mônico Arlindo Serpa Filho

Aryanne Gonçalves Amaral Cintia Corsini Fernandes

Diego Vinicius Braun Elton John de Lírio

Fernanda Cristina Lirio Ferreira Francieli Loss Pugnal

Ingrid Delboni de Liz Krause Joelcio Freitas

Juliana Paulo da Silva Kêmilly Betânia Silva de Paula

Lorena Tonini Maridiesse Morais Lopes

Mileidy da Silva Caldonho Poliane Jovelina Coelho Raphael Becalli Soares Renan Luxinger Betzel Thaís de Assis Volpi Thiago Silva Soares

Comissão Científica e Editorial

Thaís de Assis Volpi Elton John de Lirio

Maridiesse Morais Lopes Thiago Silva Soares

Comissão Avaliadora

Amélia Tuler Ana Beatriz Romana Viveiros

Anderson Alves Araujo Andressa Gatti

Arlindo Serpa Filho Arno Fritz das Neves Brandes Augusto Giaretta de Oliveira

Bárbara de Sá Haiad Bruna Nunes de Luna

Bruno Augusto Costa Karnos Bruno Corrêa Barbosa

Bruno Tolentino Caixeta Carlos Eduardo Fortes Gonzalez Charles Gladstone Duca Soares

Diego Nunes Barbosa Diego Rafael Gonzaga

Elton John de Lírio Felipe Saiter

Francisco Candido Cardoso Barreto Francismeire Bonadeu Frederico Falcão Salles

Gabrielle Dantas Tenório Guilherme Figueira

Gustavo Magnago Jakeline Pires Jardel Seibert

Jeronymo Dalapicolla João Renato Stehmann

Jorge Luiz Pereira Souza Josiene Rossini

Leonardo Luiz Calado Lilian Hill

Luana Silva Braucks Calazan Lucas Monteiro

Luis Antônio Bochetti Bassetti Luisa Maria Sarmento-Soares

Magno Suprani Ramos Marcelo Ribeiro de Britto

Marcelo Rodrigues Nogueira Mário Luís Garbin

Michel Ribeiro Mirco Sole Kienle

Monique Aline Teles Monique Goes

Paola Maia Lo Sardo Patrícia da Rosa

Paulo Victor Scherrer Poliana Beatriz Arantes Priscila Rafaela Ribeiro

Rafael Felipe de Almeida Rafaela Duda Paes

Renato Silveira Bernils Roberta Paresque Roger Guimarães

Rosa Helena dos Santos Ferraz Sandor Christiano Buys Savana de Freitas Nunes Selma Aparecida Hebling

Tahysa Mota Macedo Tatiana Carrijo

Thalita Gabriella Zimmermann Thiago Marques

Thiago Silva-Soares Victor Hugo Colombi

Vivian Almeida Assunção Walace Kiffer

Yuri Luiz Reis Leite

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ARTIGOS CONVIDADOS

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COLEÇÕES ZOOLÓGICAS, BIODIVERSIDADE E O NOVO INSTIT UTO

NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA

L. M. Sarmento-Soares1,2 & R. F. Martins-Pinheiro1

1Instituto Nacional da Mata Atlântica

2Universidade Federal do Espírito Santo.

*[email protected]

Ao longo do tempo o papel das coleções biológicas foi ganhando significados diferentes.

Desde as primeiras conservações de espécimens a mais de cinco mil anos, até os dias de

hoje, a razão de se preservar indivíduos foi ganhando objetivos específicos. Antes

temporárias e desorganizadas, como acontecia até a idade média, após “A Origem das

Espécies”, as coleções deixaram de representar um arquivo do passado, e passaram a

revelar a evolução das espécies, ganhando maior importância para estudos científicos.

Com o aumento e diversificação das coleções, cresceu também o conhecimento sobre a

diversidade das espécies. Após a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), as

coleções biológicas ganharam importância, para o armazenamento seguro de espécimes e

disponibilidade de infraestrutura necessária à investigação e pesquisa, sendo entendidas

como repositórios da biodiversidade. Pelo gerenciamento de coleções e a necessidade de

identificação acurada, são enxergadas missões que vão muito além do seu próprio acervo.

Identificação de áreas prioritárias a conservação de espécies, identificação de lacunas de

conhecimento, incluindo a investigação de grupos taxonômicos pouco estudados, são

algumas das atividades interdependentes das coleções biológicas. Coleções são ainda

bibliotecas da vida e precisam se manter sobremaneira vivas ao se representarem como

um espaço fundamental de formação e educação científica e cultural para a infância e

juventude.

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HISTÓRICO

A história da conservação dos exemplares é muito antiga, remonta aos processos de

mumificação no Peru e antigo Egito. A técnica de conservação mais antiga conhecida é a

desidratação, e exemplares de animais eram mumificados, envoltos em tecido de linho.

Múmias de peixes e outros animais já eram preparadas no Egito a cerca de 5 mil anos.

Olhos eram desenhados sobre o linho, e o corpo desidratado conservado. Outros animais

eram mumificados para servir de alimento no caminho até o lar espiritual.

Figura 1. Peixes mumificados, como parte dos antigos rituais de funeral.

Fonte: http://www.touregypt.net/featurestories/animalcults.htm

O processo de catalogação de espécies tem seus registros documentais mais antigos com

Aristóteles, a cerca de 350 A.C. Dos trabalhos de Aristóteles - pai da taxonomia biológica

– começaram também as primeiras classificações biológicas. Mundo estático e hierárquico.

Nesta época, animais e plantas eram secos, e depois descartados. Aristóteles é apontado

como um dos filósofos naturais que notou uma gradação na natureza (com a Scala

Naturae). Naquela época, eram conhecidas aproximadamente 550 espécies, a maioria da

Grécia. Não havia um propósito de perpetuação dos exemplares em coleções. Animais e

plantas eram secos, e depois descartados. As coleções eram temporárias e careciam de

organização.

Durante a idade média o conhecimento científico dependia do conhecimento acumulado

pelos antigos gregos. Novidades foram trazidas do mundo islâmico, durante sua prodigiosa

era de ouro, quando filósofos e pensadores traziam idéias vanguardistas, entre eles o

médico Al Farab e o filósofo Al Jahiz. Influenciado pelos textos de Aristóteles, Al Jahiz

descreve 350 espécies de animais, em seu ' Kitab Al Hayawan ' (o livro dos animais). Seus

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trabalhos continham idéias sobre a evolução dos organismos. Este conjunto de idéias e

trabalhos ainda no séc. IX, antecipando o pensamento científico na época.

Ao final da idade média surgem na Europa os “gabinetes de curiosidades”, que

correspondiam a coleções particulares expostas em pequenos espaços íntimos que

continham objetos variados. Como resultado das expansões marítimas cresce o

conhecimento sobre o mundo natural, e muitas novidades compunham as coleções de

objetos naturais (fósseis, corais, conchas, animais, incluindo especialmente pássaros e

animais marinhos, e ainda plantas exóticas vivas ou herborizadas), objetos etnográficos

(ornamentos, máscaras, vestimentas), e ainda argilas, rochas, metais, mármores e pedras

preciosas. Todos esses objetos diferentes eram cobiçados pela civilização européia,

adquiridos e colecionados como pequenas maravilhas a compor os gabinetes, alimentando

o imaginário da nobreza e da elite da época. Um dos gabinetes notáveis foi o do médico

dinamarquês Ole Worm, ao início do século XVII. Em Napoles, no Palazzo Orsini di

Gravina, é mantido o gabinete de curiosidades de Ferrante Imperato. No Rio de Janeiro, o

gabinete de Domenico Vandeli foi reproduzido no Jardim Botânico do Rio, em alusão aos

200 anos da chegada de D. João VI, em 2008. Contudo, as Coleções nos gabinetes e

armários de curiosidades foram acessíveis a poucos, ao contrário das Coleções nos museus

públicos.

Figura 2. O gabinete de curiosidades de Ole Worm, preservado em Copenhagen. Fonte:

http://www.the-scientist.com/?articles.view/articleNo/31897/title/The-World-in-a-Cabinet-

-1600s/

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Ainda ao final do século XVII surgem novidades importantes: a conservação alcoólica e os

vidros transparentes. O armazenamento que conhecemos até hoje de conservação de

animais em álcool acomodados em vidros transparentes teve início após 1662. Até os dias

de hoje, a ilha de Murano, em Veneza, Itália, permanece como um local de fabricação de

vidro artesanal.

A partir do renascimento surgem os museus modernos. As coleções deixam de ter apenas

um caráter particular nos “gabinetes de curiosidades” e passam a funcionar em grandes

museus. Mas alguns dos gabinetes se mantiveram e contribuíram para formar os embriões

do que viria a ser as grandes coleções zoológicas européias. Museus de história natural

conquistam um papel preponderante nas ciências biológicas como centros de estudo da

biodiversidade.

Ao final do séc. XVIII menos de um milhão de espécies eram conhecidas mas o

conhecimento acerca da diversidade biológica crescia rapidamente e exemplares de plantas

e animais eram coletados por aventureiros e comerciantes, ao longo de suas viagens pelo

mundo, e enviados aos centros europeus. A variação da natureza estava representada nas

coleções, e organizar a diversidade tornou-se a missão do naturalista sueco Carolus

Linnaeus. Certamente Linnaeus, em sua 10ª edição do Systema Naturae (1758), fez uso das

descrições de Marcgrave (1648) e cronistas dos séculos XVI a XVIII (franceses,

portugueses, holandeses) e das ilustrações de Seba (1734-1735,1759, 2005), para a

descrição de gêneros e espécies. O grande legado deixado por Linnaeus foi o registro e

catalogação de exemplares em coleções de acordo com uma classificação hierárquica.

Com a qualidade das coleções aumenta também o conhecimento sobre a variedade de

espécies. Ao início do século XIX, o conhecimento acerca da biodiversidade do planeta

continuava a expandir-se significativamente, muito em virtude do comércio marítimo e das

rotas de navegação entre o Novo e o Velho Mundo. O conhecimento em Zoologia tomou

grande impulso, os museus de história natural já haviam conquistado um papel

preponderante nas ciências biológicas como centros de estudo da biodiversidade. Após a

Origem das Espécies, as coleções deixaram de representar um arquivo do passado, e

passaram a revelar a evolução das espécies, ganhando maior importância para estudos

científicos.

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Nas Américas os mais antigos museus de história natural se organizaram entre 1810 e

1820. No Rio de Janeiro, a então Casa dos Pássaros, que funcionou até 1813, abrigava um

acervo da recém-descoberta diversidade biológica no Brasil colônia. Com a presença da

Família Imperial o acervo da Casa dos Pássaros foi transferido para o Campo de

Sant’Anna, passando a integrar o Museu Real em 1818. De Museu Real, a Museu Imperial

e depois Museu Nacional, a propagação do conhecimento biológico teve apoio de figuras

da nobreza, como a Imperatriz Leopoldina e contou com contribuições pioneiras

importantes de naturalistas e viajantes como Martius, Ender, Natterer, Pohl, e outros que

contribuíram para ampliar o conhecimento biológico na época. O Museu Nacional

encontra-se sediado na antiga residência imperial, a Quinta da Boa Vista, no Rio de

Janeiro.

Os acervos do Museu Nacional, juntamente com os do Museu Paraense Emílio Goeldi –

MPEG, em Belém, e o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo - MZUSP,

constituem os principais centros de representação da biodiversidade brasileira.

Agora no século XXI, além de centros de pesquisa de relevância internacional, estes

espaços contribuem para a formação e educação científica e cultural da infância e

juventude. Estima-se que atualmente existam aproximadamente 26 milhões de espécimes

depositados em coleções no Brasil.

O papel dos museus vai muito além de gerar, perpetuar, organizar e difundir informação.

Museus devem ser os mais abertos possíveis. Suas coleções acessíveis e informatizadas.

A IMPORTÂNCIA ATUAL DAS COLEÇÕES

As coleções foram historicamente concebidas com objetivos específicos. Ao longo do

tempo o papel das coleções biológicas foi ganhando significados diferentes. Com o

aumento e diversificação das coleções, cresceu também o conhecimento sobre a

diversidade das espécies. A preocupação de se mapear tal conhecimento foi colocada em

questão.

Iniciativas de avaliação da situação das coleções zoológicas e de elaboração de propostas

para iniciar programas de apoio ao desenvolvimento da zoologia e de coleções não são

recentes.

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Após a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), assinada durante a Conferência

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, as coleções

zoológicas, microbiológicas e os herbários, sediados em diferentes instituições

principalmente museus, universidades e jardins botânicos, se tornaram mais evidentes para

a sociedade e para os governos, dentre outros motivos, por serem responsáveis pela guarda

dos espécimes que documentam a biodiversidade. A CDB foi estruturada sobre três bases

principais: a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável da biodiversidade e a

repartição justa e equitativa dos benefícios provenientes da utilização dos recursos

genéticos e se refere à biodiversidade em três níveis: ecossistemas, espécies e recursos

genéticos.

O Brasil enquanto detentor da maior biodiversidade do planeta está em condições de

liderar a tomada de decisão dentro da Convenção sobre a Diversidade Biológica.

Atendendo aos objetivos da CDB, no Brasil foi instituída a Comissão Nacional de

Biodiversidade (Conabio), no Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Após a promulgação da CDB, os espécimes depositados nas coleções biológicas se

constituem registros da variação morfológica e genética passada e recente, da distribuição

geográfica, bem como de outras valiosas informações. Muitas vezes eles são os únicos

registros de uma espécie extinta ou de espécies vistas na natureza apenas uma vez em sua

forma selvagem.

Na Conferência das Partes (COP-3) em 1996, os países reconheceram que, apesar de toda a

sua importância e responsabilidade, as coleções biológicas não dispunham de recursos

suficientes para o armazenamento seguro ou para a infraestrutura necessária à investigação

e recuperação das informações dos espécimes; menos ainda para a sua expansão a fim de

desenvolver sua potencial contribuição ao conhecimento da biodiversidade.

Em 2005 documentos temáticos identificaram uma série de pontos coincidentes acerca de

fatores que poderiam ou não constituir sérios impedimentos ao desenvolvimento da

zoologia brasileira, destacando a necessidade de consolidação de uma política nacional

voltada às coleções. O “impedimento taxonômico” tem sido definido como o

impedimento do conhecimento da biodiversidade em conseqüência da falta de informações

taxonômicas. Os principais problemas que conduzem a tal impedimento correspondem a

informação taxonômica pouco acurada; o declínio no número de taxonomistas; e lacunas

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no conhecimento taxonômico. A remoção do impedimento taxonômico vem a ser um passo

crucial para o alcance dos objetivos da CDB e para a boa gestão e conservação da

biodiversidade.

COLEÇÕES E BIODIVERSIDADE

Estima-se que devam existir de 10 a 100 milhões de espécies no planeta. Trabalhos de

pesquisa cuidaram de descrever até hoje 1,7 milhão de espécies, uma ínfima fração de toda

a diversidade estimada, e novas espécies continuam a ser descobertas em todas as partes do

mundo. O simples confronto desses dois números fornece a dimensão do desafio lançado

aos pesquisadores que tratam de mapear a biodiversidade.

É necessário conhecer e disseminar a informação sobre o que já foi colecionado ao longo

de muitos anos e se encontra depositado nas coleções. Essas informações são

imprescindíveis para, por exemplo, o estabelecimento de áreas com biota pouco conhecida,

de áreas prioritárias para pesquisa e conservação, de grupos taxonômicos pouco estudados,

dentre outras funções.

Porém, esse é um árduo caminho que inclui entre os seus desafios: Gerenciamento de

coleções e a necessidade de identificação acurada. O gerenciamento envolve desde a

simples digitação e digitalização de dados e imagens, até a imprescindível organização e

modernização do acervo; o tombamento dos espécimes, sua acomodação em ambientes

adequados e um processo continuo de identificação das espécies. Este último, com certeza,

o maior dos desafios, pois a espinha dorsal do conhecimento em biodiversidade é a

pesquisa sistemática nas coleções científicas e a diminuição do número de cientistas nesse

campo do conhecimento tem sido apontada em diversos documentos e artigos científicos

como um grande problema.

Há grupos taxonômicos sobre os quais se sabe muito pouco, o que gera uma dificuldade

adicional à coleta, guarda e curadoria dos espécimes e dos dados a eles associados.

Nesse sentido a partir da Iniciativa Global de Taxonomia (GTI, na sigla em inglês) - a

taxonomia foi confirmada como imprescindível para o estudo e conhecimento de todos os

ecossistemas sendo, portanto, aplicável a diferentes grupos de trabalho da CDB.

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Estudos em biologia comparada são em grande parte dependentes da atuação de sistematas,

profissionais que atuam como geradores e organizadores dos conhecimentos sobre

biodiversidade. Assim, principalmente devido à crise mundial da biodiversidade, à

necessidade do conhecimento de seus componentes e à inserção do Brasil nas políticas

internacionais de meio ambiente, houve na última década um significativo crescimento nas

ações relacionadas às coleções biológicas brasileiras por parte de áreas específicas do

governo.

Com a incorporação de novas metodologias à taxonomia e novas tecnologias para estudos

moleculares, as coleções biológicas passaram a representar importantes bancos genéticos

para a realização de análises moleculares e para a biotecnologia.

A informatização dos dados dos espécimes depositados em coleções biológicas tem sido

prioridade em várias instituições ao redor do mundo, assim como, a digitalização de todas

as informações associadas aos nomes das espécies, catálogos, floras, checklists, entre

outros.

As coleções brasileiras têm o maior acervo do mundo sobre a região Neotropical.

Entretanto, a falta histórica de iniciativa na manutenção de um cadastro nacional de

coleções científicas dificulta sobremaneira a elaboração de um panorama efetivo sobre a

situação atual dessas coleções. O Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira

–SibBR visa preencher tal lacuna. O Sistema SIBBr alinha com os compromissos

assumidos pelo Brasil como signatário de convenções internacionais, entre elas a

Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) e o Protocolo de Nagoya sobre Acesso a

Recursos Genéticos e as Metas de Aichi.

Figura 3. Logomarca do SiBBr. Fonte: http://www.sibbr.gov.br/

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AS COLEÇÕES ZOOLÓGICAS NO INMA

Há um grande número de instituições brasileiras que abrigam coleções de valor inestimável

e que se encontram em locais inadequados e sujeitos a acidentes. Há poucos anos, o

Instituto Butantan foi vitimado por incêndio e boa parte de seu acervo perdido.

A conservação preventiva corresponde as iniciativas para prolongar a vida útil das

coleções. Seja através de providenciar um ambiente mais adequado de armazenamento, a

manutenção, manejo e cuidado da coleção. Neste sentido, as coleções zoológicas do INMA

têm alguns problemas que necessitam de solução urgente.

Para a preservação da rica biodiversidade da Mata Atlântica é necessária a tomada de

múltiplas medidas que dependem de ações coletivas, que necessitam de diálogo entre

poder público, meio empresarial e cidadão. Há necessidade urgente de melhoria das

coleções biológicas e documentação, o que poderia ser alcançado com amostragens

direcionadas a biomas e grupos incipientemente conhecidos, e intercâmbio de material

(Sabino & Prado, 2008). O Instituto Nacional da Mata Atlântica tem o potencial de agir

neste sentido estimulando as pesquisas necessárias para que se disponha de elementos

confiáveis nas definições de políticas públicas para esta região. Sua presença no Espírito

Santo ganha relevo por buscar enfrentar a desigualdade regional no tocante ao fomento à

pesquisa.

O acervo atual das coleções zoológicas do MBML conta com mais de trinta mil lotes,

distribuídos nas coleções de Peixes, Anfíbios, Répteis, Aves e Mamíferos. Em termos de

exemplares estão abrigados nas coleções aproximadamente 90 mil indivíduos.

Figura 4. Crescimento da coleção de peixes nos últimos dez anos. Fonte: CRIA.

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As coleções do INMA se sustentaram e desenvolveram com base no trabalho de

pesquisadores que se associaram com projetos próprios e um grupo de estagiários e

voluntários que passaram a ser treinados nas atividades das coleções e estimulados a

seguirem nas atividades acadêmicas.

Figura 5. Crescimento da coleção de anfíbios nos últimos dez anos. Fonte: CRIA.

Através do CRIA- Centro de Referência em Informação Ambiental, estabelecido desde

2002, seus dados estão disponíveis no Species link da base CRIA. Este disponibiliza uma

série de ferramentas para visualização das informações, como mapas e gráficos. É

necessário conhecer e disseminar a informação sobre o que já foi colecionado ao longo de

muitos anos e se encontra depositado nas coleções.

Figura 6. Crescimento da coleção de répteis nos últimos dez anos. Fonte: CRIA.

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Após a criação do INMA foi possível a inclusão de alguns bolsistas dentro do Programa de

Capacitação Institucional – PCI – uma parceria do MCTI com o CNPq. Os cuidados com a

coleção dependem da presença de um curador e de uma equipe técnica que assumam a

responsabilidade por grupo taxonômico. No caso do INMA esta situação acontece na

prática, pela atuação em parceria entre os bolsistas de diferentes níveis, cada um

cumprindo seu papel funcional diante da coleção.

Figura 7. Crescimento da coleção de aves nos últimos dez anos. Fonte: CRIA.

Mencionamos a importância das coleções biológicas para o armazenamento seguro de

espécimes e disponibilidade de infraestrutura necessária à investigação e pesquisa. Nesse

sentido as coleções biológicas do Instituto Nacional da Mata Atlântica necessitam de ações

de melhoria de seu espaço físico, necessitando transferência das coleções científicas, para

um local livre das inundações e com maior espaço, permitindo seu crescimento seguro. A

maior qualificação e dinâmica das coleções será alcançada com a integração com um maior

número de pesquisadores e colaboradores, o que deve acontecer com o tempo. Atualmente

três pesquisadores doutores atuam na área zoológica pelo INMA. A formação e

intercambio com taxonomistas é feita a medida que esses três pesquisadores buscam

parcerias e colaborações.

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Figura 8. Crescimento da coleção de mamíferos nos últimos dez anos. Fonte: CRIA.

As coleções biológicas são historicamente parceiras do avanço do conhecimento sobre a

biodiversidade. Tantos as grandes coleções, como as coleções menores, ainda dependem

grandemente do esforço pessoal de seus técnicos e curadores, sempre em número

absurdamente insuficiente.

LITERATURA CITADA

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ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO MUSEU DE BIOLOGIA MELLO LEITÃO SAMBIO

Foto da capa: Primeiro lugar no concurso fotográfico do V SIMBIOMA de Welinton Diones Lauvers

Foto contra-capa: Segundo lugar no concurso fotográfico do V SIMBIOMA de Cecília Elias Calenzani