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ANÁLISE AMBIENTAL DO ARROIO VIEIRA – RIO GRANDE / RS: CONFLITOS DE USO E OCUPAÇÃO Rosani Sola Bobadilho - Graduanda em Geografia - Universidade Federal do Rio Grande / FURG - Rio Grande, RS - [email protected] Dilermando Cattaneo - Doutorando em Geografia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul / UFRGS - Porto Alegre, RS - [email protected] 1. Resumo O município de Rio Grande, no litoral sul do Rio Grande do Sul, está sobre uma estrutura geológica recente denominada Bacia Sedimentar de Pelotas, formada por depósitos de origem continental, lagunar e marinha. Nesse ambiente de planície costeira a ocupação desordenada e as atividades humanas ocasionam significativos impactos ambientais. Assim, os recursos naturais são os mais afetados, como é o caso do Arroio Vieira, o objeto deste estudo. Tal arroio, um rio de porte médio, encontra-se extremamente impactado pela ação antrópica, sofrendo com a pressão do meio urbano e com o descaso do poder público. As problemáticas ambientais que o envolvem relacionam-se com o uso e ocupação do seu entorno, onde a ação de diferentes agentes atuantes nesse meio gera conflitos decorrentes destes diferentes usos e ocupações. Considerou-se, então, ser necessário um estudo aprofundado sobre o Arroio Vieira e o seu entorno, para que pudesse subsidiar, posteriormente, ações voltadas ao planejamento ambiental. Por isso, este estudo objetivou uma análise ambiental, do ponto de vista geográfico, do arroio e de seu entorno, relacionando os aspectos físicos, uso e ocupação do solo e a dinâmica conflituosa das atividades humanas frente à legislação. Além de revisões bibliográficas e de análises laboratoriais da água do arroio, foram realizadas saídas a campo, tornando- se possível pontuar os locais mais degradados. Nos resultados se observam que, por ter um fluxo laminar e pouca profundidade, as águas do Arroio Vieira estão altamente contaminadas, devido às concentrações de nutrientes inorgânicos provenientes dos despejos de esgotos clandestinos e dos efluentes de uma Estação de Tratamento de Efluentes. As margens servem como depósito de resíduos sólidos e parte do seu curso foi retilinizada. Essas ações vão de encontro a legislação vigente no Brasil, que atribuem a esse corpo hídrico e suas margens a condição de Área de Preservação Permanente. Palavras-chave: degradação ambiental, recurso hídrico, conflitos de uso e ocupação. 2. Abstract The municipality of Rio Grande, on the coast south of Rio Grande do Sul, is on a geological structure called recent Sedimentary Basin of Pelotas, formed by deposits of continental origin, lagoon and sea. In this environment of the coastal plain disorderly occupation and human activities cause significant environmental impacts. Thus, natural resources are the most affected, such as Arroio Vieira, the subject of this study. This stream, a river of medium size, is highly impacted by human action, suffering from the pressure of the urban and the neglect of the public. The environmental issues that concern relate to the use and occupation of their surroundings, where the action of different actors

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ANÁLISE AMBIENTAL DO ARROIO VIEIRA – RIO GRANDE / RS: CONFLITOS DE USO E OCUPAÇÃO

Rosani Sola Bobadilho - Graduanda em Geografia - Universidade Federal do Rio Grande / FURG - Rio Grande,

RS - [email protected] Dilermando Cattaneo - Doutorando em Geografia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul / UFRGS -

Porto Alegre, RS - [email protected] 1. Resumo

O município de Rio Grande, no litoral sul do Rio Grande do Sul, está sobre uma estrutura

geológica recente denominada Bacia Sedimentar de Pelotas, formada por depósitos de origem

continental, lagunar e marinha. Nesse ambiente de planície costeira a ocupação desordenada e as

atividades humanas ocasionam significativos impactos ambientais. Assim, os recursos naturais são os

mais afetados, como é o caso do Arroio Vieira, o objeto deste estudo. Tal arroio, um rio de porte

médio, encontra-se extremamente impactado pela ação antrópica, sofrendo com a pressão do meio

urbano e com o descaso do poder público. As problemáticas ambientais que o envolvem relacionam-se

com o uso e ocupação do seu entorno, onde a ação de diferentes agentes atuantes nesse meio gera

conflitos decorrentes destes diferentes usos e ocupações. Considerou-se, então, ser necessário um

estudo aprofundado sobre o Arroio Vieira e o seu entorno, para que pudesse subsidiar, posteriormente,

ações voltadas ao planejamento ambiental. Por isso, este estudo objetivou uma análise ambiental, do

ponto de vista geográfico, do arroio e de seu entorno, relacionando os aspectos físicos, uso e ocupação

do solo e a dinâmica conflituosa das atividades humanas frente à legislação. Além de revisões

bibliográficas e de análises laboratoriais da água do arroio, foram realizadas saídas a campo, tornando-

se possível pontuar os locais mais degradados. Nos resultados se observam que, por ter um fluxo

laminar e pouca profundidade, as águas do Arroio Vieira estão altamente contaminadas, devido às

concentrações de nutrientes inorgânicos provenientes dos despejos de esgotos clandestinos e dos

efluentes de uma Estação de Tratamento de Efluentes. As margens servem como depósito de resíduos

sólidos e parte do seu curso foi retilinizada. Essas ações vão de encontro a legislação vigente no Brasil,

que atribuem a esse corpo hídrico e suas margens a condição de Área de Preservação Permanente.

Palavras-chave: degradação ambiental, recurso hídrico, conflitos de uso e ocupação.

2. Abstract The municipality of Rio Grande, on the coast south of Rio Grande do Sul, is on a geological

structure called recent Sedimentary Basin of Pelotas, formed by deposits of continental origin, lagoon

and sea. In this environment of the coastal plain disorderly occupation and human activities cause

significant environmental impacts. Thus, natural resources are the most affected, such as Arroio

Vieira, the subject of this study. This stream, a river of medium size, is highly impacted by human

action, suffering from the pressure of the urban and the neglect of the public. The environmental issues

that concern relate to the use and occupation of their surroundings, where the action of different actors

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working in this environment creates conflicts arising from these different uses and occupations. It was,

then, be a thorough study on the Arroio Vieira and its surroundings, so that it could support, then,

actions aimed at environmental planning. Therefore, this study aimed to an environmental analysis of

the geographical point of view, the stream and its surroundings, linking the physical, land use and

occupation of the conflict and the dynamics of human activity against the legislation. In addition to

literature reviews and laboratory analysis of water from the stream, were leaving the field, making it

possible to score the most degraded sites. Results observed that, for a laminar flow and low depth, the

waters of Arroio Vieira are highly contaminated due to concentrations of inorganic nutrients from the

illegal dumping of sewage and effluents from a sewage treatment station. The banks serve as a deposit

of solid waste and part of his course was retilinizada. These actions go against the law in Brazil, which

attach to the water body and the condition of its banks Permanent Preservation Area.

KEYWORDS: Environmental degradation, water resources, conflicts of use and occupancy

3. Introdução

No Brasil a demanda por recursos naturais é cada vez maior, visto que ainda tem-se a ilusão de

que estes são ilimitados, baseando-se em um passado de abundância, especialmente no que concerne

aos recursos hídricos. Com isso, a relação disponibilidade–demanda deve ser acompanhada,

principalmente, por uma gestão integrada dos recursos hídricos, para que os conflitos de uso fossem

amenizados com métodos e técnicas adequadas a cada situação particularmente estabelecida. Tendo

isso em vista, àqueles conflitos originados por diferentes usos conferidos a um determinado corpo

hídrico devem ser digiridos políticas de remediação para os elevados graus de degradação ambiental

em que a sua grande maioria se encontra.

No Rio Grande do Sul, os sistemas lagunares também se encontram fortemente impactados,

principalmente a Laguna dos Patos. Nestes sistemas existem significativos impactos ambientais de

origem antrópica, como o alto consumo de suas águas para a irrigação de lavouras, as práticas

agrícolas e de pastoreio em seu entorno e a contaminação por metais pesados. O uso desses recursos

hídricos para diferentes finalidades gera conflitos entre os usuários envolvidos, o que resulta numa

significativa poluição hídrica. Os impactos causados pela falta de saneamento básico, pelo aumento

das atividades industriais, assim como pelo uso e ocupação desordenado em áreas marginais a um

corpo hídrico são problemas encontrados próximo a este recurso natural. Assim, grande parte dos rios

que atravessam um município torna-se receptor de algum tipo de efluente podendo-se destacar três

principais formas diferentes: efluentes domésticos, industriais e agrícolas (PEREIRA NETO apud

TROINA, 2000). Os efluentes domésticos são aqueles que mais poluem o ambiente, pois são

compostos de águas para higiene pessoal, urina, fezes, sabões, além de detergentes, o maior

contaminante.

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Um exemplo de degradação ambiental e de conflito de uso encontrado no município de Rio

Grande é o Arroio Vieira. A problemática ambiental se dá pelo seu mau aproveitamento, ou seja, há

um descaso, por parte do poder público municipal, com o manejo de suas águas e adjacências e a

depredação do bem comum, por parte da população dos bairros. Além de servir como depósito de lixo,

existe o agravante dos despejos de efluentes (tratado e bruto) da Estação de Tratamento de Efluentes

(ETE) do Parque Marinha diretamente nas águas do arroio desde o início da década de 80.

Com vistas à mitigação dos impactos causados pela ação antrópica no Arroio Vieira e nas

adjacências, houve um grande interesse revelado por nós em realizar este estudo aprofundado, para que

pudesse subsidiar, posteriormente, ações voltadas ao planejamento ambiental. Por isso, este estudo

objetivou uma análise ambiental, do ponto de vista geográfico, do arroio e de seu entorno,

relacionando os aspectos físicos, uso e ocupação do solo e a dinâmica conflituosa das atividades

humanas frente à legislação vigente no país.

4. Área de estudo

No interior do município de Rio Grande (Latitude: 32º 4' 55" S / Longitude: 52º 9' 47" W), foi

delimitada para este trabalho a área de estudo correspondente ao Arroio Vieira e suas adjacências,

figura 1, abrangendo os bairros Parque Residencial São Pedro, Parque Marinha e Jardim do Sol.

Embora a maior parte do seu curso passe em meio à urbanização, a sua nascente localiza-se em uma

área mais afastada, mais precisamente nos banhados onde, inclusive, notam-se com facilidade as cavas

por entre os cordões litorâneos, nas quais o Arroio Vieira segue esculpindo o seu curso até desembocar

no Saco da Mangueira (uma enseada estuarina).

Figura 1: Esquema com a localização da área de estudo: em priemira escala o Brasil; segunda o Rio Grande do Sul e, por último, Rio Grande com destaque para o objeto do estudo (em vermelho). Fonte: Google Earth (2008), Embrapa (2007).

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4.1 Hidrografia

Segundo Vieira (1983), o município de Rio Grande não apresenta condições favoráveis para a

presença de rios por ser uma bacia de sedimentação recente e por ter, ainda, características de

colmatagem em evolução. Além disso, os terrenos extremamente planos (cotas médias de 5m) e um

substrato arenoso poroso e permeável (TAGLIANI apud OLIVEIRA, 2001: 14)1 contribuem para o

pouco desenvolvimento da hidrografia. Com isso, esta é composta apenas por lagos, lagoas e arroios,

que são “pequenos e médios cursos de água sujeitos a um ritmo hidrológico marcadamente climático”

(VIEIRA, 1983: 59).

Assim, um dos cursos d`água que compõem a hidrografia de Rio Grande é o Arroio Vieira, cujas

características são de um rio de porte médio, de pequena profundidade, padrão de canal meândrico, e

fluxo laminar, abrigando densa vegetação aquática em alguns pontos e com sedimentos de fundo

arenoso (VIEIRA, 1983: 60). Por ser um rio de planície e de regime hidrológico pluvial (com duas

fases hidrológicas), o Arroio Vieira tem sua vazão máxima especialmente nos meses de inverno, o que

causa consequentemente o seu transbordamento, uma maior capacidade de transporte de sedimentos e

a erosão e deposição nas suas margens. Isto pode ser mais bem compreendido através da seguinte

definição:

O Arroio Vieira, com curso geral de oeste para leste, desemboca no saco da

Mangueira. Seu curso é acentuadamente meândrico2, ficando muito reduzido

em volume de água durante o verão. Seu leito foi escavado em terreno plano e

fracamente consolidado. Os meandros evoluem muito rapidamente durante as

chuvas de inverno, num processo um tanto irregular de evolução meândrica.

No lóbulo de acumulação, o material exposto é uma areia fina, alva e

facilmente trabalhada pela erosão eólica. Os bancos que se formam no leito do

arroio são colonizados pelas primeiras etapas da invasão vegetal. No trecho

inferior, já próximo à desembocadura, o arroio Vieira meandreia na área de

dunas marginais ao saco da Mangueira (VIEIRA, 1983: 60).

4.2 Geologia

O município de Rio Grande está localizado sobre uma bacia de sedimentação recente,

denominada Bacia Sedimentar de Pelotas, cuja formação se dá, basicamente, pelas sucessivas

transgressões e regressões da linha de costa durante o período Quaternário, que resultou no espesso

pacote sedimentar, tendo predominantemente areias quartzosas em sua composição. Segundo Oliveira

(2001), tal bacia encontra-se apoiada em um embasamento cristalino Pré-Cambriano e com sequências

1 Tagliani apud Oliveira, A. O. Enseada do Saco do Martins/ Laguna dos Patos: Caracterização dos sedimentos superficiais e desenvolvimento de um microdelta estuarino. 2 O curso do Arroio Vieira é originalmente meândrico, porém, parte do seu curso foi modificado na década de 1980.

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de sedimentos e de derramamentos vulcânicos (Mesozóicos e Paleozóicos) provenientes da Bacia do

Paraná, tendo, por fim, uma cobertura de sedimentos continentais, marinhos e transicionais durante o

Cenozóico, o que originou a atual Planície Costeira do Rio Grande do Sul.

Os eventos de transgressões e regressões do nível do mar produziram no terreno os cordões

litorâneos, os quais se encontram orientados paralelamente à linha de costa atual, formando uma

sequência alternada de cavas e cristas com uma amplitude média de 1 m entre elas e uma distância de

30 a 40 m entre os cordões sucessivos (TAGLIANI apud OLIVEIRA, 2001:14). Constituídas por

argilas e sedimentos arenosos e quartzosos (marinhos), bem selecionados, arredondados, de granulação

fina a muito fina e de coloração amarelo-creme, as cavas abrigam uma grande área de banhados de

onde nasce o Arroio Vieira. É por entre estas cavas que o arroio segue seu curso, sendo alimentado,

inclusive, pelo lençol freático localizado muito próximo, cerca de 1 m e profundidade.

4.3 Geomorfologia

Os aspectos geomorfológicos de Rio Grande são resultantes da interação de inúmeros agentes

morfológicos que modelam a paisagem, atribuindo ao município uma diversidade de formas, sendo

que podem ser destacadas dentro da área de estudo os banhados e as feições fluviais:

a. Banhados: são, normalmente, alongados, alinhados pro duas cristas, alimentados por

águas pluviais. Assim, a grande maioria dos banhados permanece com uma lâmina

d`água durante todo o ano, mesmo no período de estiagem. A sua origem está atrelada a

uma fase em que há a colmatação das lagoas e dos sulcos.

b. Feições fluviais: são pequenos curso d`água alimentados pelas chuvas e pelos banhados.

4.4 Climatologia

De acordo com a classificação de Strahler (1977), a região sul do Brasil possui um clima

subtropical úmido, regido por massas de ar polar e tropicais. Assim, a precipitação tem um

comportamento abundante, sendo cilclônica no inverno e convectiva no verão. Já as temperaturas

mostram um ciclo anual forte, com temperaturas médias anuais em torno de 17º C, as máximas em

torno de 33º C e as mínimas 6º.

Esta região é afetada, segundo Oliveira (2001), por vários sistemas sinóticos e subsinóticos, bem

como por alguns dos fatores associados à circulação de grande escala e às circulações locais da

América do Sul, entre eles:

a. Sistemas frontais que se deslocam do Pacífico, passando pela Argentina e seguem para o

nordeste;

b. Sistemas que se desenvolvem no Sul e no Sudeste do Brasil associados a vórtices

ciclônicos em altos níveis, os quais chegam pela costa Oeste da América do Sul

provenientes do Pacífico;

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c. Sistemas que se organizam no Sul e no Sudeste do Brasil com intensa convecção

associada à instabilidade causada pelo jato subtropical;

d. Sistemas que se organizam no Sul do Brasil resultantes da frontogênese ou da

ciclogênese

e. Em relação à escala subsinótica, existem os sistemas com a forma de vírgula invertida no

Sul do País aglomerados convectivos que se desenvolvem nas primeiras horas do dia na

região do Paraguai, os quais se deslocam para o Sul do Brasil no decorrer do período.

5. OS AGENTES QUE ATUAM AO REDOR DO ARROIO VIEIRA

Os recursos hídricos, em sua grande maioria, possuem problemas crescentes em relação aos usos

múltiplos, o que resulta em muitos conflitos colocando em evidência as fragilidades de tal ecossitema.

No Arroio Vieira não é diferente. Além de servir como divisor natural entre os três bairros populosos

de Rio Grande (Parque Residencial São Pedro, Jardim do Sol e Parque Marinha), a sobreposição das

finalidades dadas pelos seus diferentes usuários entram em conflito, gerando a consequente degradação

ambiental. Tais usuários são considerados, aqui, como agentes modificadores do espaço, pois na

interação/ integração de suas relações, apropriam-se deste espaço – dado pela delimitação do objeto

desse estudo (Arroio Vieira e adjacências) – transformando-o continuamente. Dessa forma, os agentes

que atuam neste ambiente são os moradores daqueles bairros, a Estação de Tratamento de Efluentes e

o Poder Público.

Estima-se que a população residente ao redor do arroio seja em torno de 25000 habitantes,

fazendo-se necessária uma maior demanda por serviços (água, luz, saneamento básico, etc.) e por

recursos naturais, a fim de criar espaços de convívio e de lazer. Assim, na década de 80 surgiram,

quase que simultaneamente, os três bairros; cada um com uma proposta de atender às distintas classes

sociais.

Segundo Duarte (1997), no inicio da década de 80 foi escolhida uma área considerada rural para

serem feitos loteamentos voltados para classes populares da periferia da cidade. Com pouco mais de

105 ha, sendo 35 % dessa área destinadas aos órgãos públicos para construção de praças, escolas,

posto médico, etc., começou a serem construídas as primeiras residências que formariam o Parque

Residencial São Pedro. Através de instituições financeiras, que parcelavam a compra dos terrenos em

25 anos, os lotes foram vendidos, inicialmente, para classes mais populares e, com o passar do tempo,

observou-se uma mudança desse parâmetro: a população voltava-se ao Parque São Pedro a procura,

principalmente, de segurança e de casa própria. Apesar de ganhar características do centro urbano, o

Parque ainda não conta com pavimentação completa das ruas e saneamento básico; este foi deixado de

lado devido as condições do terreno, que possibilitaria o escoamento natural das águas (DUARTE,

1997: 13). No mesmo sentido, o loteamento do bairro Parque Marinha, segundo Rodrigues (2001), foi

realizado através da Política Habitacional do Estado (Cohabs), também criado com o intuito de abrigar

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a classe mais popular, composta essencialmente por operários, porém, mais tarde, acabou sendo

ocupada por habitantes de classe média. Entretanto, o diferencial entre os dois bairros são as condições

de atendimento, por parte do Poder Público, destinadas a cada um deles: o calçamento, o esgoto e as

ocupações irregulares. Estas condições irão afetar a qualidade ambiental e contribuir na degradação do

ambiente. As obras de conclusão do calçamento de algumas ruas do bairro Parque São Pedro nunca

foram terminadas, deixando exposto o solo arenoso que as águas da chuva escavam em direção ao

Arroio Vieira, levando consigo os resíduos sólidos urbanos depositados nas ruas. Já o esgoto, somente

é possível o tratamento daquele que provém do bairro vizinho – Parque Marinha – visto que a Estação

de Tratamento de Efluentes foi implementada para suprir necessidades daquele bairro. Em relação às

ocupações irregulares, estas são de dimensões mais graves. Além de não serem regularizadas, ainda

hoje, as posses dos terrenos, estas habitações não contam com o saneamento básico, jogando os seus

efluentes no córrego mais próximo: na canaleta de escoamento pluvial direcionado ao Arroio Vieira.

A Estação de Tratamento de Efluentes trata daqueles provenientes do Parque Marinha e do

Condomínio Valdemar Duarte (próximo ao Saco da Mangueira), atendendo a aproximadamente

20.000 moradores (BERGER, 2007). No entanto, não trata daqueles vindos do Jardim do Sol e do

Parque São Pedro, pois são armazenados em sistemas de fossas. Essa estação possui até o segundo

estágio, ou nível, de tratamento, que corresponde ao biológico. No primeiro nível são removidos os

materiais mais grosseiros, passando por uma elevatória e pelo gradeamento para remover os resíduos

sólidos, e após para caixas redutoras de velocidade, retendo o restante dos sedimentos. Logo em

seguida passa-se ao tanque de aeração, ou reator biológico, que trabalha com dois aeradores cada um

girando em sentido diferente – um no sentido horário e outro no anti-horário – os quais tem por função

o fornecimento de maior quantidade de oxigênio para as bactérias decompositoras, a fim de

homogeneizar o esgoto. O tanque possui 4 m de profundidade, onde o esgoto permanecerá por 23 a 26

horas. Desse reator, o esgoto é encaminhado para a parte secundária do tratamento: outro gradeamento

até chegar ao decantador (um tanque com 5 m de profundidade e 9º de declividade em direção ao

eixo.), no qual o esgoto é remexido pelas pás da ponte giratória, tornando-o um “lodo ativado”, onde a

combinação de agitação do esgoto e injeção de ar cria uma massa líquida de microorganismos,

alimentando-se de matéria orgânica e proliferando-se na presença de O2. Encerra-se assim o

tratamento feito pela Estação, sem o último nível de tratamento, que corresponde ao químico, no qual

seriam removidos os compostos químicos ( tais como o Nitrogênio e o Fósforo) que contribuem para a

eutrofização do curso d`água receptor. Tais nutrientes inorgânicos são considerados indispensáveis à

vida aquática, porém se encontrados em altas concentrações no ambiente podem desestabilizá-lo e

levar à morte da fauna.

O Poder Público, por sua vez, atua neste meio de formas variadas, seja prestando os serviços à

população dos bairros, mesmo que limitados, seja compactuando com a degradação de recursos

naturais, como o Arroio Vieira, por exemplo.

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6. METODOLOGIA

Para esse trabalho, primeiramente, foi escolhida a área de estudo através de imagens de satélite

do programa Google Earth e, logo após, foi realizado um levantamento preliminar das problemáticas

da área do entorno do arroio. O trabalho de campo teve início com um reconhecimento da área de

estudo in situ, seguindo um roteiro pré-estabelecido, em função das unidades morfológicas

reconhecidas nas imagens de satélite Com a realização dessas saídas a campo, foi possível observar a

real situação do arroio e pontuar as áreas de maior degradação, além de auxiliar na interpretação da

imagem obtida em gabinete e, consequentemente, melhor identificar os usos e ocupação do solo.

Em seguida, foi feita uma revisão bibliográfica sobre o assunto, desde possíveis trabalhos

realizados abordando o Arroio Vieira e o seu entorno até leis ambientais, como Resoluções do

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, Lei de Crimes Ambientais, Política Nacional dos

Recursos Hídricos (Lei nº 9433 de 1997) assim como o próprio Plano Diretor da cidade de Rio

Grande. Para se avaliar os conflitos de uso e ocupação das adjacências do arroio foram examinadas

essas leis ambientais, adequando-as ao objeto de estudo, a fim de subsidiar um possível planejamento

ambiental para a área do Arroio Vieira.

Com o intuito de melhorar a análise do arroio e do seu entorno, foi feita uma setorização em três

partes do curso, desde a sua montante até a sua jusante, para torna-se possível uma análise qualitativa e

comparativa de todo o seu seguimento. Para tanto, esta compartimentação foi baseada, principalmente,

nas constatações das saídas a campo utilizando-se imagens de satélite. Assim, o primeiro

compartimento, ou setor, foi estabelecido desde as áreas das nascentes até a linha férrea. O segundo

parte-se desta linha férrea até a RS 734 e, finalmente, o terceiro da RS até a sua jusante no Saco da

Mangueira, como mostra na figura seguir:

Figura 2: Imagem de satélite com a compartimentação da área de estudo: 1º compartimento (em vermelho); 2º compartimento (em amarelo) e 3º compartimento (em verde). Fonte: Google Earth (2008).

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Com isso, foi tomado como referência alguns dos trabalhos já construídos sobre as problemáticas

do arroio, tais como: trabalho de conclusão de curso (Geografia-licenciatura plena – FURG) de

TROINA (2000), as análises de contaminação da água do arroio feitas por BERGER et al (2007), as

análises, também de contaminação da água, de SANTOS et al (2008). Além desses estudos, foram

imprescindíveis as referências teóricas já construídas por DUARTE (1997) e RODRIGUES (2001) a

respeito dos bairros que circundam o arroio.

Para realizar as análises de contaminação do Vieira, os autores citados anteriormente

dispunham de critérios para coletar as amostras de água, tais como: locais e datas pré-estabelecidas.

Assim, essas amostras foram levadas ao laboratório de química e de contaminantes para uma

comparação entre os resultados encontrados nos diferentes pontos de coleta.

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.1. IMPACTOS AMBIENTAIS

O Arroio Vieira é, certamente, o curso d`água mais impactado pela ação humana no interior do

município de Rio Grande. No início da década de 80, parte do seu curso foi retilinizado no mesmo

momento em que era implementada a Estação de Tratamento de Efluentes no bairro Parque Marinha,

adjacente ao arroio. Além disso, sazonalmente este curso d`água enfrenta as consequências das

estiagens no verão e as grandes cheias nas elevadas taxas pluviais do outono e do inverno. Estas

chuvas intensas provocam significativos transtornos à sociedade, pois o Arroio Vieira corta a RS 734,

a qual liga a cidade de Rio Grande até o balneário Cassino e onde há intenso tráfego o ano inteiro, que

fica parcialmente inundada durante esses eventos extremos.

Assim, no primeiro compartimento, ou setor, verifica-se ainda a conservação da área de nascente

do arroio, tendo mata ciliar e fauna aquática preservadas. O padrão de canal meândrico é mais

amplamente observado nesse setor e a qualidade da água pode ser empiricamente notada pelo seu

aspecto e coloração, porém não comprovada por falta de análises de água nessa área.

No entanto, no seu percurso pelos cordões litorâneos há duas interferências antrópicas: a linha

férrea e o canal de captação de água para abastecimento da cidade do Rio Grande. A linha férrea liga

cidades importantes (tais como Santa Maria e Uruguaiana) até o porto de Rio Grande, sendo um dos

principais meios de escoamento da produção agrícola do Estado. Apesar de uma pequena parte da

ferrovia estar situada sobre um campo de dunas, nota-se que ela não interfere significativamente no

curso d`água, apenas nas margens de constituição arenosa que suportam a estrutura de ferro. Já o canal

de captação de água da empresa CORSAN, o qual retira água do rio São Gonçalo (divisor natural entre

os municípios de Rio Grande e Pelotas) para abastecer a cidade, não se teve certeza do seu impacto

sobre o Arroio Vieira. Apenas suspeita-se que este canal divida o Arroio em duas partes, separando a

área de nascente do restante do curso, pois a observação foi feita somente através de imagens de

satélite.

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Entretanto, é no segundo compartimento que foram detectadas a maior parte dos problemas

ambientais do Arroio Vieira. Partindo-se de uma das últimas ruas do bairro Parque São Pedro

(perpendicularmente ao curso d`água), verifica-se a presença de um grande canal de escoamento

desembocando no arroio. Tal canal de escoamento é similar à de um tributário, mas que na verdade

funciona com área de escape para as águas da chuva, que escavaram naturalmente ao longo do tempo o

solo suscetível a esse tipo de erosão. Nas ruas seguintes, em direção à RS-734, observam-se também

esse tipo de escoamento direto para o Arroio Vieira, cuja formação se dá em dias de intensa

precipitação, originando os canais efêmeros, como os consideramos no presente trabalho. Nesse bairro,

existem grandes problemas de drenagem pluvial, principalmente naquelas ruas sem pavimentação,

onde são facilmente erodidas, devido a composição do solo (areia, basicamente).

No entorno do arroio verifica-se a existência de um campo de dunas, presente em boa parte

dessa segunda compartimentação. Há uma parcela mais preservada em direção a linha férrea, porém

aquela mais próxima da urbanização encontra-se parcialmente deteriorada pelo intenso extrativismo e,

inclusive, pela ocupação desordenada nesta área. Provavelmente, a extração de areia do campo de

dunas é destinada a aterros residenciais, os quais necessitam desse recurso a fim de minimizar as

diferenças topográficas do terreno. Pior situação é encontrada à medida que se percorre o Arroio Vieira

em direção à RS-734, onde se verifica a remoção de sedimentos do fundo do arroio que, juntamente

com a vegetação e com o lixo presente no leito, são depositados ao longo das margens formando

montantes de areia misturados ao lixo e matéria orgânica. Pela ação erosiva da água pluvial, esse

montante constantemente volta para as águas do arroio, acumulando-se em uma das margens ou, ainda,

sendo carregado até a parte em que aquele se afunila na ponte da RS-734, desencadeando um processo

de assoreamento e represamento neste ponto.

Contudo, o maior agravante encontrado em campo foi a quantidade acumulada de resíduos

sólidos nos bairros do entorno do Arroio Vieira. Essa situação não é somente um problema estético,

mas representa uma série de malefícios à saúde humana. Assim, podem-se visualizar três tipos de

problemas decorrentes do acúmulo de lixo: 1) diminuição do espaço útil disponível; 2) ameaça direta à

saúde, por agentes patogênicos e 3) danos indiretos a saúde, por causa do comprometimento do ar e de

águas subterrâneas (FELLENBERG, 1980:112). Espalhados, principalmente, nos terrenos

abandonados, nas canaletas de escoamento pluvial e nos canais efêmeros o lixo também é encontrado

às margens do Arroio Vieira, tal como pode ser visto na figura 3. Todo esse montante depositado

indevidamente em locais públicos acarreta problemas à saúde da população residente nessas

proximidades. As ameaças são as variedades existentes de bactérias, inclusive aquelas patogênicas

(como estreptococos, estafilococos, salmonelas, etc.), que conseguem permanecer vivas durante meses.

Além disso, esse acúmulo de resíduos sólidos ocasiona infestações indesejáveis de insetos e pequenos

roedores, com o risco de proliferar vetores de doenças e expondo, assim, a população à leptospirose e

toxoplasmose, por exemplo.

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Outros danos inquestionáveis gerados por esses resíduos urbanos são a contaminação do lençol

freático e o mau cheiro. O primeiro ocorre principalmente em períodos chuvosos e depende de vários

fatores, tais como: intensidade de precipitação, força de adsorção e capacidade de autopurificação do

solo e a natureza do solo atravessado. De acordo com Fellenberg (1980), nas infiltrações que ocorrem

em depósitos de lixo são encontrados, predominantemente, substâncias inorgânicas (como cloretos,

nitratos, sulfatos, fosfatos e carbonatos) e cátions (íons de sódio, magnésio, amônio, potássio e cálcio).

Desse modo, é possível constatar que o solo e o lençol freático estejam contaminados naqueles pontos

observados em campo, devido ao tipo de solo (areia, basicamente) e a proximidade das águas

subterrâneas. Já nas águas superficiais, tanto do Arroio Vieira quanto das canaletas de escoamento

pluvial, a contribuição daquelas substâncias inorgânicas aliadas ao chorume, originado também do lixo

urbano, é bastante significativa. Além disso, gases tóxicos são gerados a partir dos processos de

decomposição do material orgânico, tais como gás metano e o gás sulfídrico, o que pode ocasionar

complicações respiratórias na população dos arredores desse montante de lixo.

Em relação às analises de água do Arroio Vieira, foram comparados os estudos de Berger et al

(2007), Santos et al (2008) e Troina (2000), os quais obtiveram conclusões muito semelhantes. Em

todos os estudos, os resultados da qualidade da água apontaram para um ambiente enriquecido com

altas concentrações de nutrientes, o que denota o processo de nitrificação e a possível eutrofização do

corpo hídrico. A nitrificação das águas corresponde ao processo em que o nitrogênio reduzido na

forma de amônia ou íons amônio é oxidado quase completamente para nitrito (NO2-) e íons nitrato

(NO3-) (BAIRD, 2002: 223). Já a eutrofização é dada pela quantidade excessiva de nutrientes

disponíveis no corpo d`água ocasionando a proliferação de microorganismos decompositores, que

necessitam de uma quantidade maior de O2 para decompor a matéria orgânica, esgotando o oxigênio e

levando os demais seres vivos a morte (FELLENBERG, 1980: 72). Assim, são apontados alguns

fatores responsáveis pelo aporte elevado de nutrientes inorgânicos no Arroio Vieira: os efluentes

tratado e bruto da ETE, os esgotos clandestinos e a própria vegetação que cobre densamente o arroio.

Nos dutos da ETE são despejados diariamente não só os resíduos tratado e bruto, mas são

liberados compostos nitrogenados e fosfatados, o que contribui cada vez mais para a contaminação do

Figura 3: Depósito de lixo urbano em uma das canaletas. Fonte: Costa (2007)

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arroio e também com a acumulação desses compostos nas águas. De acordo com Berger et al (2007),

as altas concentrações de amônio após o lançamento do efluente tratado, no ponto atrás da Escola

Jardim do Sol, na primeira e segunda canaletas podem estar refletindo o que é descartado pelo efluente

tratado, bem como aquilo que se acumulou ao longo do tempo, devido a vazão do arroio ser menor do

que a o efluente. Além do amônio, as concentrações de fosfato ao longo de todo arroio indicam que

este elemento provém do efluente tratado (BERGER et al, 2007:46), porém o nitrito e o nitrato estão

mais concentrados após a primeira canaleta de escoamento, o que indica o processo de nitrificação.

Entretanto, o aporte de nutrientes que provém dos esgotos clandestinos também é evidente

(figura 5). Além de despejar os compostos nitrogenados e fosfatados, os esgotos urbanos carregam um

dos principais poluentes de águas interiores: o detergente. Este, formado, basicamente, por fosfatos e

polifosfatos, age dissolvido na água, constituindo frequentemente o fator limitante para o

desenvolvimento de algas e bactérias, sendo assim os principais responsáveis pela eutrofização da água

(FELLENBERG, 1980:73). Ao juntarem-se aos nutrientes do efluente tratado e bruto, os efluentes

domésticos adicionam ainda mais compostos nitrogenados e fosfatados, fazendo do ponto de coleta de

água situado após as canaletas de escoamento pluvial o mais enriquecido inorganicamente, como

mostra a tabela 1 abaixo. Além disso, o fator condutividade – relativo a concentração de íons

dissolvidos na água – mostrada nos estudos de Berger et al (2007) e Santos et al (2008), auxilia na

comprovação de entrada adicional antropogênica.

Outra contribuição para a acumulação desses nutrientes dissolvidos nas águas do arroio,

encontrada em campo, foi a prática de pastoreio em uma das margens. De acordo com Vernier (1994),

a agricultura e a criação de gado provocam uma poluição considerável, mas, sobretudo cumulativa e

persistente, nos lençóis das águas subterrâneas. Assim, a pequena contribuição dessa prática,

juntamente com os despejos da ETE, mesmo que tratado, e a contaminação natural do arroio (matéria

orgânica) acumulam-se na coluna d`água ocasionando a sua contaminação, o que é agravado pelos

despejos de esgotos clandestinos provenientes das ocupações irregulares.

Figura 4: Imagem com os pontos de coleta das amostras da água do Vieira. Ponto 1 após o esgoto bruto da ETE; 2 o tratado; 3 a primeira canaleta proveniente do Parque Marinha; 4 segundo canalete de escoamento pluvial e de esgoto clandestino; 5 atrás da Escola Jardim do Sol e 6 onde todos os aportes nitrogenados se juntam. Fonte: Google Earth (2009).

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Por outro lado, com maior disponibilidade de nutrientes dissolvidos nas águas do Arroio Vieira,

há também, o crescimento exagerado de vegetação aquática. Estas atuam principalmente na

diminuição, ou retenção, do fluxo do arroio, aprisionando, assim, os compostos nitrogenados e

fosfatados. Quando a vegetação é retirada, ela libera estes nutrientes para a coluna d`água, resultando

em picos de concentração e depois em diminuição da mesma, por permitir uma circulação mais livre e

consequente lixiviação dos elementos (BERGER et al, 2007: 45).

Ainda no segundo compartimento, já no limite da delimitação para o terceiro, foi verificado mais

um aporte antropogênico. Próximo à rodovia RS 734 foram observados a existência de canos

provenientes de um supermercado na entrada do bairro Jardim do Sol. Durante a observação na saída

de campo, notaram-se os despejos de três tipos de efluentes, sendo somente um identificado, o qual

tinha aspecto de efluente doméstico (constatado a partir de espumas no local).

CONTAMINANTE Arroio Vieira

Estação 1 Estação 2 Estação 3 Estação 4

Fosfato (µM) 0.63

(0.22 - 1.58) 0.60

(0.31 - 1.25) 3.61

(0.68 - 12.12) 3.93

(1.55 - 12.95)

Nitrito (µM) 0.29

(0.00 - 0.65) 0.36

(0.06 - 0.88) 0.82

(0.15 - 2.25) 3.17

(0.48 - 11.67)

Nitrato (µM) 2.00

(1.02 - 3.04) 2.24

(1.47 - 3.07) 5.60

(1.88 - 7.49) 16.50

(3.80 - 33.49)

Amônio (µM) 3.58

(0 - 33.9) 4.22

(0 - 59.9) 65.25

(29.6 - 124.3) 74.75

(37.2 - 185.1) Tabela 1: Resultados das análises de água realizadas por Santos et el (2008), onde são apresentadas as médias, os mínimos

e os máximos valores de cada elemento diponíveis na água do arroio. A Estação 1 corresponde ao local antes da ETE; a

estação 2 após o lançamento do efluente bruto; a estação 3 após o efluente tratado e a estação 4 próximo a RS 734, onde

todos os aportes antropogênicos se juntam. Adaptado de Santos et al (2008).

Partindo-se ao terceiro compartimento, verificou-se que o entorno do corpo hídrico encontra-se

em estado preservado. As margens ainda conservadas, mata ciliar e o curso d`água volta a meandrar

pelo terreno arenoso. Porém, três grandes construções estão situadas às margens do Arroio Vieira: um

clube de caça e pesca, um motel e outra não identificada. Mesmo assim, não foram detectados maiores

Figura 5: Imagem de uma das canaletas pluviais. Fonte: Costa (2007).

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impactos como aqueles observados no segundo compartimento, somente tais construções irregulares

(perante as leis vigentes no país).

Apesar da conservação das margens, as águas do Vieira a partir da RS 734 encontram-se em

estado de nitrificação e possível eutrofização. Isso ocorre pela ação conjunta de todas as entradas de

nutrientes inorgânicos de segundo compartimento, que ficam acumulados mais à jusante do Arroio

Vieira. Assim, essa grande quantidade de compostos nitrogenados e fosfatados liberados pelo curso

d`água para o Saco da Mangueira traz riscos de eutrofização e a contribuição relativa de degradação

dessa região estuarina, tal como é explicitado no estudo de Santos et al (2008).

7.2. CONFLITOS DE USO E OCUPAÇÃO

Os conflitos de uso e ocupação neste ambiente são produzidos pela ação dos diferentes agentes

envolvidos que aplicam no recurso hídrico as suas distintas finalidades de uso. Como consequência

dessas ações, são gerados os conflitos entre os agentes e destes com a legislação vigente no Brasil.

Com isso, as leis que protegem e definem a área que circunda o Arroio Vieira são postas em discussão

neste estudo, para melhor compreender os conflitos e, posteriormente, criar ações que os minimizem.

A primeira lei que se aplica ao arroio é aquela que diz respeito a sua condição como Área de

Preservação Permanente (Resolução nº 303, de 20 de março de 2002), sendo estabelecida pelo

CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), na qual se pode verificar a disposição dos

parâmetros, definições e limites para esse tipo de área protegida. Esta lei estabelece as seguintes

definições para o arroio em seus Artigos 2º e 3º :

Art. 2o Para os efeitos desta Resolução, são adotadas as seguintes definições:

I - nível mais alto: nível alcançado por ocasião da cheia sazonal do curso

d`água perene ou intermitente;

Art. 3o Constitui Área de Preservação Permanente a área situada:

I - em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção

horizontal, com largura mínima, de:

a) trinta metros, para o curso d’água com menos de dez metros de largura;

Observando-se que o Arroio Vieira se enquadra como sendo um curso d`água perene, tendo sua

cheia sazonal durante o inverno (VIEIRA, 1983: 60), a ele aplica-se a delimitação da Área de

Preservação Permanente de trinta metros para cada uma das suas margens. Apesar de constituir uma

área de pouca extensão, ela consegue atingir seus objetivos de preservar as margens, a mata ciliar ao

redor do corpo hídrico, além de proteger o próprio curso d`água de possíveis interferências

antropogênicas. A segunda Resolução do CONAMA aplicada ao Vieira é a de nº357 de 17 de março

de 2005, a qual dispõe sobre a classificação dos corpos d`água e sobre as diretrizes ambientais para o

seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. Da

classificação contida nessa Resolução, na Seção I Artigo 4º, que corresponde às águas doces, o Arroio

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Vieira se enquadra na classe II, cujas águas podem ser destinadas ao abastecimento para consumo

humano, com desinfecção; à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas e à

preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral. Embora o

arroio esteja enquadrado na classe II desta legislação, a mesma não tem parâmetros específicos,

seguindo, por isso, aqueles estabelecidos para a Classe I. A seguir, são mostrados os parâmetros de

tolerância para a manutenção da qualidade da água estabelecida pela Resolução nº357/ 2005:

Classe I – Águas doces Parâmetros Valor Máximo

Fósforo total (ambiente lótico e tributários de ambientes intermediários) 0,1 mg / LP

Nitrato 10,0 mg/ LN Nitrito 1,0 mg / LN Nitrogênio amoniacal 3,7 mg / LN, para pH ≤ 7,566 Tabela 2: Parâmetros dos padrões de qualidade de água, com destaque para os valores máximos permitidos em águas doces. Adaptado da Resoluação nº 357 da Seção II. Fonte: Ministério do Meio Ambiente Quanto à definição de dunas marginais ao recurso hídrico, segundo a Resolução do CONAMA

nº 303, de 20 de março de 2002, elas correspondem a uma unidade geomorfológica que deve ser

preservada, pois exercem uma função fundamental não somente na dinâmica da zona costeira, mas

também como controladoras dos processos erosivos e na formação e recarga de aqüíferos. Para isso, na

Resolução são adotados alguns critérios, tais como:

Art. 2o Para os efeitos desta Resolução, são adotadas as seguintes definições:

X - duna: unidade geomorfológica de constituição predominante arenosa, com

aparência de cômoro ou colina, produzida pela ação dos ventos, situada no

litoral ou no interior do continente, podendo estar recoberta, ou não, por

vegetação;

Art. 3o Constitui Área de Preservação Permanente a área situada:

XI - em duna;

Dessa forma, todas as dunas situadas marginalmente ao curso d`água ou que constituírem um

campo de dunas não são aptas a qualquer tipo de exploração. Com isso, o campo de dunas marginal ao

Arroio Vieira, situado no segundo compartimento, encontra-se protegido por esta Resolução do

CONAMA e, por isso, não sendo possível extrair areia desta unidade geomorfológica. Além disso, elas

são as principais responsáveis por alimentar o lençol freático, funcionando como um campo receptivo

de águas pluviais nessa região, capaz de filtrá-las e armazená-las. Não obstante, na Lei de Crimes

Ambientais nº 9. 605 de 12 de fevereiro de 1998 encontram-se algumas das atividades e condutas

consideradas lesivas ao meio ambiente. No caso do Arroio Vieira, destaca-se, especificamente, o

Capítulo V dos crimes contra o meio ambiente, na Seção II – Dos Crimes Contra a Flora, na qual

constam os Artigos:

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Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente,

mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de

proteção;

Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação

permanente, sem previa autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de

minerais;

Esta lei, em especial, é aplicada à área em torno do Arroio Vieira, a qual se encontra com um

alto grau de degradação ambiental. De acordo com as disposições desta, também são considerados

crimes os serviços potencialmente poluidores situados em qualquer parte do território nacional que

estejam contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes (Seção III – Artigo 60), tal como

acontece às margens do Arroio Vieira. Outra lei vigente no país em relação ao meio ambiente, mais

especificamente aos recursos hídricos, é a Política Nacional dos Recursos Hídricos, na qual são

estabelecidas diretrizes a fim de assegurar a todas as gerações a disponibilidade de água, a utilização

integrada e racional dos recursos hídricos e a prevenção e defesa contra eventos hidrológicos extremos,

seja de origem natural ou antrópica. Para isso, os fundamentos adotados nessa lei estão dispostos no

Capítulo I, o qual determina:

Art. 1º. Política Nacional dos Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes

fundamentos:

I – a água é um bem de domínio público;

II – a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

III – em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o

consumo humano e a dessedentação de animais;

IV – a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo

das águas;

V – a bacia hidrográfica é a unidade territorial para a implementação da

Política Nacional dos Recursos Hídricos e a atuação do Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos;

VI – a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a

participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

Com base nisso, as águas do arroio são, primeiramente, um bem de domínio público e um

recurso natural limitado, portanto, é aquele que necessita de maiores cuidados dentro da sociedade. No

caso do Arroio Vieira, assim como é previsto nessa lei, a integração da gestão dos recursos hídricos

com a gestão ambiental poderia produzir ações a fim de reverter a situação em que ele se encontra,

enquanto recurso limitado e extremamente impactado. Por outro lado, o município de Rio Grande

possui um Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado desde 1986, o qual também dispõe sobre a sua

condição, determinando-o como Área Funcional de Preservação Ambiental:

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Art. 25 - Áreas funcionais são as que requerem regime urbanístico especial,

condicionando as suas peculiaridades no que se refere a:

1. Características de localização, situação, condição topográfica, proteção à

saúde pública e ao patrimônio ambiental, nos seus aspectos ecológicos,

paisagísticos e culturais;

2. Equipamentos urbanos, programas e projetos governamentais implantados

em sua área.

PARÁGRAFO ÚNICO - As Áreas Funcionais dividem-se em Áreas de

Interesse Público, Urbanístico e Ambiental.

No que tange os conflitos entre os agentes envolvidos e destes com a legislação, podem-se

observar, primeiramente, as ocupações irregulares no entorno do Vieira. Nota-se a existência de

algumas casas situadas no campo de dunas, bem próximo ao corpo hídrico. Essas habitações são

irregulares, tratando-se de famílias que ocuparam a área e construíram aí as suas moradias. Essa

ocupação desordenada, além de descaracterizar as dunas, acarreta prejuízos para a própria população

que habita essas margens tornando-as mais vulneráveis a erosão e, consequentemente, mais suscetíveis

as enchentes causada pelo Arroio Vieira. Além disso, a recente expansão do bairro Parque São Pedro

em direção ao arroio irá provocar em alguns anos a junção desse bairro com o Parque Marinha, do

outro lado da margem. Se isso acontecer, o arroio irá assorear ou tornar-se apenas um canal de

escoamento pluvial entre a urbanização.

Na delimitação da Área de Preservação Permanente (APP), estabelecida pelo CONAMA, os

trinta metros para cada lado da margem destinados a área de proteção não estão sendo obedecidos

pelos moradores dos bairros Parque São Pedro e Parque Marinha, que ocupam as margens

irregularmente. A maioria desses moradores não sabe que ali se trata de uma área de proteção e que,

como consequência, não poderia ser habitado, assim como não tem conhecimento de todas aquelas leis

vigentes no Brasil, as quais protegem o Arroio Vieira. Nesse sentido, os usos atribuídos pelos

moradores as águas do arroio vão, também, de encontro ao que é estabelecido pelo CONAMA ou pela

Política dos Recursos Hídricos: os depósitos de resíduos sólidos e os efluentes domésticos. Porém, foi

a quantidade acumulada de lixo no entorno do Arroio Vieira, o fato mais preocupante, fazendo-se

necessária uma maior atenção da administração municipal, em especial a Secretaria do Meio

Ambiente.

Contraditoriamente, alguns dos moradores utilizam as águas do arroio para o lazer e para a

pesca, longe dos dutos da Estação de Tratamento de Efluentes. Nesse ponto, em direção à montante, a

paisagem é totalmente diferente; são verificados pequenos cardumes de peixes e mata ciliar. Já a

utilização das águas do Arroio Vieira para lazer é mais intensa nos dias quentes do verão, tal como

deveria ser em toda a sua extensão, de acordo com os fundamentos da Política Nacional dos Recursos

Hídricos.

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Entretanto, o maior descaso com o Arroio Vieira é o lançamento de efluentes, tanto da Estação

de Tratamento de Efluentes quanto das residências. Há anos, a negligência perante os impactos

ambientais ocasionados por tais fatores levaram o Arroio Vieira ao estado em que se encontra

atualmente. Mesmo com todo o aparato legislativo em vigor no país e no próprio município, a

degradação cada vez mais intensa ameaçava esse ecossistema.

Atualmente, para o Arroio Vieira, existe um projeto de re-naturalização da área do entorno do

arroio, fazendo desse meio um parque municipal. Assim, a população do entorno poderá desfrutá-lo e

utilizá-lo para lazer e apreciação da paisagem, criando novamente um ambiente de convívio em um

espaço público. Para isso, serão aplicadas as diretrizes do CONAMA (instaurando a APP),

respeitando, inclusive o próprio Plano Diretor da cidade do Rio Grande. O projeto tem como

idealizadores o oceanólogo Ronaldo Costa, a arquiteta Vanessa Baldoni e a arte-educadora Rita Rache,

que também chamam atenção para a população residente próximo ao Arroio Vieira a fim de

conscientizá-los a preservar o recurso hídrico, buscando apoio dessa comunidade na criação daquele

parque do Arroio Vieira.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Arroio Vieira certamente é o curso d`água mais impactado por ação antrópica no município de

Rio Grande, visto que, tanto as suas adjacências quanto as águas, são utilizados de forma

irresponsável pelos agentes do seu entorno. Assim, as relações conflituosas destes agentes se

confrontam com inúmeras leis brasileiras que protegem o meio ambiente.

Apesar de pequenas contribuições da ETE e da criação de animais em uma das margens são

despejados dia a dia nutrientes inorgânicos nas águas do arroio, situação agravada pelos despejos

clandestinos dos esgotos. Tal situação poderia ser remediada pelo Poder Público, regularizando as

posses dos terrenos ociosos do Parque Marinha e disponibilizando rede de saneamento básico, a fim de

minimizar, pelo menos, a contaminação das águas.

Os resíduos sólidos, outro grave problema encontrado, devem ser mais atentamente analisados,

tanto pela população quanto pelo Poder Público, pois as políticas de incentivo à reciclagem são, hoje,

uma prioridade, assim como a educação ambiental, enfatizada na maioria das escolas brasileiras.

Além disso, essas ações trazem consigo grandes consequências, tais como a prevenção da

proliferação de vetores de doenças como dengue, leptospirose, entre outros, o que se torna um risco a

saúde pública.

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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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