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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA ADOÇÃO DE MEDIDAS ERGONÔMICAS EM TRÊS POSTOS DE TRABALHO DE UMA INDÚSTRIA CALÇADISTA DO ESTADO DA PARAÍBA Geraldo Alves Colaco (UFPB) [email protected] Ithyara Dheylle Machado de Medeiros (UFPB) [email protected] Gabriela Oliveira Galvao (UFPB) [email protected] ELEIDE CORREIA DE MELO COLACO (UFPB) [email protected] A indústria calçadista tem grande importância no cenário nacional e internacional, apesar disso, o seu desenvolvimento não acompanhou a evolução tecnológica das outras áreas e indústrias, com consequente incremento de tarefas simplificadas, com ciclos curtos e repetitivos. Assim, as atividades realizadas nas indústrias calçadistas são, em sua maioria, repetitivas e não requerem raciocínio, fazendo com que se tornem monótonas e sem sentido. Com o passar do tempo, foi visto que as alterações de mobiliário, maquinário, organização do trabalho e ambiental resultavam positivamente na satisfação e melhorias posturais do trabalhador, demonstrando consequentemente que a empresa estava preocupada com este enquanto ser humano e não apenas como peça para funcionamento da empresa. Pensando nisso, o presente trabalho buscou analisar a influência da adoção de práticas ergonomicamente corretas nas condições de trabalho de três atividades em uma indústria calçadista da Paraíba. Por meio da SPM (situação, problema e melhoria) foram usados métodos e ferramentas, como o Diagrama de Corlett e Manenica e o enquadramento normativo em relação à NR-17, os quais possibilitaram concluir que os três postos de trabalho analisados proporcionam alto risco de aquisição de distúrbios muscuesqueléticos, fato que diminui a satisfação no trabalho e consequentemente a produtividade. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA ADOÇÃO DE MEDIDAS … · Azevedo (1999), por sua vez, defende que não basta apenas evitar lesões no trabalhador; necessário se faz aperfeiçoar o conceito

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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA ADOÇÃO DE

MEDIDAS ERGONÔMICAS EM TRÊS POSTOS

DE TRABALHO DE UMA INDÚSTRIA

CALÇADISTA DO ESTADO DA PARAÍBA

Geraldo Alves Colaco (UFPB)

[email protected]

Ithyara Dheylle Machado de Medeiros (UFPB)

[email protected]

Gabriela Oliveira Galvao (UFPB)

[email protected]

ELEIDE CORREIA DE MELO COLACO (UFPB)

[email protected]

A indústria calçadista tem grande importância no cenário nacional e

internacional, apesar disso, o seu desenvolvimento não acompanhou a

evolução tecnológica das outras áreas e indústrias, com consequente

incremento de tarefas simplificadas, com ciclos curtos e repetitivos. Assim, as

atividades realizadas nas indústrias calçadistas são, em sua maioria,

repetitivas e não requerem raciocínio, fazendo com que se tornem

monótonas e sem sentido. Com o passar do tempo, foi visto que as alterações

de mobiliário, maquinário, organização do trabalho e ambiental resultavam

positivamente na satisfação e melhorias posturais do trabalhador,

demonstrando consequentemente que a empresa estava preocupada com

este enquanto ser humano e não apenas como peça para funcionamento da

empresa. Pensando nisso, o presente trabalho buscou analisar a influência da

adoção de práticas ergonomicamente corretas nas condições de trabalho de

três atividades em uma indústria calçadista da Paraíba. Por meio da SPM

(situação, problema e melhoria) foram usados métodos e ferramentas, como

o Diagrama de Corlett e Manenica e o enquadramento normativo em relação

à NR-17, os quais possibilitaram concluir que os três postos de trabalho

analisados proporcionam alto risco de aquisição de distúrbios

muscuesqueléticos, fato que diminui a satisfação no trabalho e

consequentemente a produtividade.

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Palavras-chave: Ergonomia, Corlett e Manenica, NR 17

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1 Introdução

A indústria brasileira de calçados teve início em meados de 1824 no Rio Grande do Sul, com

a chegada dos primeiros imigrantes alemães, sendo nesta época o processo de fabricação de

calçados puramente artesanal. Até o final do século XX, a indústria se modernizou, porém, a

produção calçadista ainda apresenta muitas características artesanais (SILVESTRIN;

TRICHES, 2008).

O setor calçadista é formado predominantemente por micro, pequenas e médias empresas

(FRANCO-BENATTI, 2011), e isso ocorre devido ao baixo investimento necessário para a

implantação dessas empresas, o que acarreta a entrada delas no mercado com baixa

sofisticação e mão de obra desqualificada.

O desenvolvimento da indústria calçadista brasileira no cenário mundial se deu a partir dos

anos 70, culminando em 2004 com a maior quantidade de pares exportados – 212 milhões.

Em 2007, apresentou o maior valor em dólares de receita – 1.911 milhões de dólares, e hoje é

o terceiro maior exportador de calçados do mundo, conforme se pode observar nas Figuras 1 e

2. O impacto deste setor no Brasil se mostra pelo total de empregos diretos gerados,

aproximando-se de mais de 330 mil postos de trabalho no ano de 2012 (ABICALÇADOS,

2013).

A representatividade industrial calçadista utilizou 3,3% da mão de obra alocada na indústria

nacional em 2011 e 3,2% em 2010 (ARBOLEDA, 2012), percentuais que demonstram a

importância da indústria calçadista no Brasil.

Figura 1 – Histórico das Exportações Brasileiras de Calçados em U$$ (2000-2012)

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Fonte: Abicalçados (2013)

Figura 2 – Histórico das Exportações Brasileiras em Pares de Calçados (2000-2012)

Fonte: Abicalçados (2013)

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados – Abicalçados (2012), o setor de

calçados no Brasil em 2011 era composto por, aproximadamente, oito mil e duzentas unidades

produtivas, sendo os principais exportadores em pares de calçados em 2012 os estados do

Ceará, com 39,9%, Paraíba, com 20,4% e Rio Grande do Sul, com 20%, o que apresenta o

estado da Paraíba como o 2º maior exportador de calçados do Brasil no ano de 2012

(ABICALÇADOS, 2013).

As exportações por estado de janeiro a março de 2012 e 2013, apresentado na Tabela 1,

indicaram que o estado da Paraíba é o 2º exportador no primeiro semestre de 2013:

Tabela 1 – Comparativo das exportações dos estados (janeiro a março dos anos de 2012 e 2013)

Estado / Ano Jan-mar de 2012 Jan-mar de 2013

Estado Pares % participação Pares % participação

Ceará 15.850.793 48,5 14.492.270 43,3

Paraíba 8.346.954 25,5 8.896.034 26,6

Rio Grande do sul 4.051.221 12,4 4.370.035 13,1

Fonte: MDIC/SECEX (apud ABICALÇADOS, 2013)

No entanto, apesar da sua importância no cenário nacional e internacional, o desenvolvimento

da indústria calçadista não acompanhou a evolução tecnológica das outras áreas e indústrias,

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com consequente incremento de tarefas simplificadas, com ciclos curtos e repetitivos

(BURTON et al., 1996; GUIMARÃES, 2004). Isso vem provocando preocupação, debates e

pesquisas visando à diminuição do impacto deste tipo de trabalho sobre a saúde dos

trabalhadores e redução da geração de LER/DORT (RENNER, 2007).

2 Objetivo

O presente trabalho visa analisar a influência da adoção de práticas ergonomicamente corretas

nas condições de trabalho de três atividades em uma indústria calçadista da Paraíba.

3 Revisão bibliográfica

As atividades realizadas nas indústrias calçadistas são, em sua maioria, repetitivas e não

requerem raciocínio, fazendo com que se tornem monótonas e sem sentido. O modelo

Taylorista/Fordista adotado na maioria das indústrias de calçados assume que os trabalhadores

devem ser fixos no posto de trabalho, requerendo, por isso, que sejam especialistas. A

realização de atividade exclusiva e sem sentido tende a desencadear irritabilidade,

desinteresse, maior sensibilidade ao calor, ao frio, à fome e má postura (IIDA, 2010).

Guimarães (2012) indica que se devem proporcionar diversas habilidades nos grupos de

trabalho, possibilitando condições de criação de valor tanto no nível individual como para a

empresa, pois o alargamento e o enriquecimento do trabalho, além de quebrar paradigmas, são

formas de reduzir a insatisfação, monotonia, repetitividade, erros e doenças do trabalho.

Um exemplo de intervenção baseada na abordagem sociotécnica é o de uma grande empresa

do setor calçadista, no estado do Rio Grande do Sul, no Brasil. Os trabalhadores foram

treinados para serem multifuncionais e, assim, realizarem mudança de função dentro da

própria jornada laboral, com o objetivo de reduzir o esforço físico e a monotonia

(GUIMARÃES, 2012). Outra intervenção ergonômica foi realizada em uma montadora de

medidores de energia elétrica situada em Cachoeirinha, RS. Dentro do enfoque

macroergonômico, foi feita uma análise dos postos de trabalho e efetuada mudanças no

sistema de produção, no desenho do próprio produto, nos postos de trabalho e no ambiente

físico da fábrica, a fim de promover melhorias ergonômicas e de produtividade

(GUIMARÃES, 2001; PASTRE, 2001).

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Vários métodos e ferramentas são adotados em Ergonomia visando à prevenção de riscos de

doenças do trabalho. Entre elas, a Metodologia SPM (Situação Problema e Melhoria), a qual

permite avaliar as condições de trabalho quanto ao mobiliário, ambiente, condições

biomecânicas, tais como posturas e movimentos, e das condições das organizacionais do

trabalho, ritmo, pausas e relações de trabalho. (VIDAL, 2011b).

As alterações de mobiliário, maquinário, organização do trabalho e ambiental resultam

positivamente na satisfação e melhorias posturais do trabalhador, demonstrando

consequentemente que a empresa está preocupada com este enquanto ser humano e não

apenas como peça para funcionamento da empresa (GUIMARÃES, 2006).

É importante salientar que a garantia de condições de trabalho favoráveis está indiretamente

preconizada na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), em seu artigo 6º, o qual

determina que “[...] são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a

previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados

[...]”.

Nesse sentido, as empresas têm bem mais do que o dever contábil, isto é, de manter suas

obrigações financeiras em dia, pois suas responsabilidades também incluem a preocupação

com o bem estar físico, psicológico e social de cada um dos indivíduos que a compõem.

Apesar de os princípios ergonômicos não serem uma competência direta da empresa

analisada, esta contratou uma equipe de consultores especializados em análise ergonômica. A

partir da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) (VIDAL, 2011a), foi elaborado um relatório

ergonômico, sugerindo melhorias a serem adotadas pela empresa no intuito de adequar os

postos estudados (mobiliário, equipamentos) e as condições da organização de trabalho.

Levando-se em consideração que a indústria calçadista, na maior parte dos casos, não realizou

investimentos significativos quanto à adoção de maquinário atualizado e na ampliação e

modernização de sua estrutura física (RENNER, 2007), é possível haver maiores chances de

acidentes de trabalho. Por isso, é necessário criar a oportunidade de reverter esse quadro.

Outro ponto a ser considerado é que o aumento da produção média por trabalhador ao ano

deu-se mediante intensificação do trabalho nas fábricas de calçados (SINDIFRANCA, 2011).

Como exemplo, a Tabela 2 mostra a relação entre a produção média versus intensificação do

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trabalho que ocorreu no decorrer da história da indústria calçadista na região de Franca,

Estado de São Paulo, no período de 1984 a 2011:

Tabela 2 – Produção média x intensificação do trabalho em Franca (SP)

NÚMERO DE TRABALHADORES EMPREGADOS NA INDÚSTRIA

CALÇADISTA

PRODUÇÃO MÉDIA POR TRABALHADOR – FRANCA – 1984 – 2011

Ano Número de trabalhadores Produção média

trabalhadores/ano (em pares)

1984 36.000 888

1994 25.000 1.260

1997 17.000 1.705

1999 15.376 1.918

2002 18.754 1.599

2005 25.460 1.096

2008 24.851 1.155

2011 26.823 1.387

Fonte: CAGED/MTE (2011, apud SINDIFRANCA, 2011)

Em relação à empresa estudada, com a formação do Comitê de Ergonomia, o tratamento de

questões relacionadas às condições de lesividade dos postos de trabalho passou a ser

prioridade de todos. Porém, fez-se necessário analisar a eficiência das medidas tomadas e

implantadas e como tratar as influências dessas medidas ergonômicas nas condições de

trabalho. Além disso, esse acompanhamento é fundamental para que sejam identificados os

ganhos reais advindos das práticas ergonômicas implementadas em comparação com as

práticas planejadas. Com isso, torna-se possível visualizar efetivamente quais medidas

propiciam melhorias de desempenho e produtividade.

Como resultado, espera-se obter melhorias dos postos de trabalho que ainda apresentam

condições propensas à geração de doenças musculoesqueléticas, ou seja, eliminar e prevenir a

existência de condições não ergonômicas. Isso pode vir a possibilitar também maior

motivação e melhor qualidade de vida entre os funcionários do setor de acabamento da

empresa estudada.

Azevedo (1999), por sua vez, defende que não basta apenas evitar lesões no trabalhador;

necessário se faz aperfeiçoar o conceito de trabalho, passando a ser este um meio de

realização social, alcançado dentro de um nível prazeroso e confortável.

As empresas, ao buscarem melhores condições de trabalho para seus trabalhadores, estão

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sendo responsáveis, de forma que deixam de tratar seus funcionários como máquinas e

passam a trata-los como cidadãos. (GUIMARÃES, 2001). Para isso é necessário, não só

prevenir lesões no trabalhador, mas também melhorar as condições trabalhistas, tornando o

ambiente prazeroso e confortável para quem nele realiza atividades. (AZEVEDO, 1999).

As atividades escolhidas para análise no presente trabalho são as que apresentam quantidade

significativa de afastamento, sendo este o motivo que justificou a escolha desses postos de

trabalho.

4 Procedimentos metodológicos

4.1 Caracterização da pesquisa

Este estudo trata-se de uma pesquisa de campo, na qual o pesquisador coleta os dados,

investigando-os no local em que acontecem os fenômenos. (PRESTES, 2003).

A presente pesquisa busca analisar como a falta de adoção de medidas ergonômicas, em uma

indústria calçadista, impacta na realização das atividades em diversos postos de trabalho com

diferentes profissionais exercendo as mais variadas funções.

4.2 Método

Na preparação de um trabalho científico é necessário definir os procedimentos de como será

realizada a pesquisa. Tendo em vista isso, Gil (2006) expõe o método científico como o

conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento.

Dentro do estudo da Ergonomia há vários tipos de metodologias diferentes para analisar o

ambiente de trabalho, incluindo diversas ferramentas para coleta de dados.

A indústria calçadista, por estar enquadrada no ramo da atividade de transformação, é

formada a partir de recursos humanos, matéria prima, máquinas e equipamentos, tecnologia e

informação, com a pretensão de alcançar seus objetivos. (RENNER, 2007). Assim, ao estudar

esta área, os métodos de pesquisa utilizados são influenciados pelo objetivo que o pesquisador

almeja obter.

Dessa forma, por possibilitar resumir, de forma rápida, alguns resultados e construir uma

matriz de características, a ferramenta SPM foi utilizada no presente trabalho, permitindo que

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uma ação ergonômica fosse realizada em um curto espaço de tempo. (VIDAL, 2011a).

Por meio da SPM, foram usados métodos e ferramentas, como o Diagrama de Corlett e

Manenica, o enquadramento normativo em relação à NR-17, os impactos dos problemas

presentes na atividade desenvolvida pelo operário e o nível de satisfação do mesmo ao

realizar o seu trabalho.

4.3 Coleta de dados

A coleta de dados se dividiu em três atividades realizadas em diferentes postos de trabalho,

sendo elas:

Refilagem;

Situação analisada: disponibilização de cadeiras ergonômicas para a atividade de refilagem.

Descrição da atividade: retirada de material excedente (rebarba) proveniente do processo

realizado anteriormente (prensa de borracha). Essa atividade pode ser visualizada na Figura 3,

a seguir.

Figura 3 – Atividade de Refilagem

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Fonte: Elaboração própria (2015)

Situação anterior: atividade realizada em pé, conforme Figura 3.

Situação atual (com adaptação ergonômica): atividade realizada sentada.

Problema antes da adaptação: desconforto físico gerando dores corporais, principalmente nas

costas, pernas e ombros.

Corte de material utilizando o balancim manual;

Situação analisada: substituição de balancins alfa

Descrição da atividade: realizar o corte de materiais de borracha. Essa atividade pode ser

visualizada na Figura 4, a seguir.

Figura 4 – Corte de material utilizando o balancim manual

Fonte: Elaboração própria (2015)

Situação anterior: utilização de balancim manual, equipamento que necessita que o operário

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movimente o martelete da direita para a esquerda, posicionando os braços de forma incômoda

para realizar este movimento, tendo que acionar o martelete para baixo a fim de que este

desça, conforme Figura 4.

Situação atual (com adaptação ergonômica): utilização de balancim semiautomático, o qual só

requer do operário o acionamento de um botão, para que o balancim se movimente da direita

para a esquerda e faça o movimento de descida de forma automática.

Problema antes da adaptação: Desconforto devido ao esforço físico provocado pela

movimentação do balancim.

Transporte de cargas por meio da transpaleteira manual.

Situação analisada: substituição da paleteira manual por transpaleteira elétrica.

Descrição da atividade: transporte de grandes cargas. Essa atividade pode ser visualizada na

Figura 5, a seguir.

Figura 5 - Transporte de cargas por meio da transpaleteira manual

Fonte: Elaboração própria (2015)

Situação anterior: o transporte de carga é realizado através do esforço físico desprendido pelo

operário para arrastar o material, conforme Figura 5.

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Situação atual (com adaptação ergonômica): o operário não precisa fazer esforço físico para

realizar a sua atividade, pois a transpaleteira é elétrica, só sendo necessário um treinamento

prévio para a utilização adequada do equipamento.

Problema antes da adaptação: o operário realiza esforço físico acima do limite e se desloca

por longas distâncias para a realização do seu trabalho.

4.4 Matriz Corlett e Manenica de desconforto

A técnica de avaliação de desconforto postural analisada através de um mapa de regiões

corporais foi publicada pela primeira vez em 1976 na Revista Ergonomics por Corlett e

Bishop.

Trata-se de um questionário que expõe dois conceitos opostos que correspondem ao estado de

dor e desconforto corporal, os quais vêm acompanhados com ilustração de um mapa das

regiões do corpo humano, separados em segmentos. Este diagrama adaptado de Corlett e

Bishop é usado de forma a convidar o entrevistado a colocar uma marca entre os dois polos

opostos indicando assim o grau de desconforto no momento da pesquisa. (RENNER,

BUHLER, 2006).

Em 1980, Corlett e Manenina publicaram uma adaptação do diagrama para todo o corpo,

sendo este o utilizado no presente trabalho, como pode se visto na Figura 6.

Figura 6 – Diagrama Corlett e Manenica

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Fonte: Corlett e Manenica (1980)

Como exposto na Figura 6, este diagrama apresenta divisões, que vai do número zero ao vinte

e sete, e ainda permite a separação das partes do corpo em direita e esquerda, cada uma dessas

divisões concede ao entrevistado três opções para o grau de desconforto, variando entre

pequeno, médio e grande.

A amostra pesquisada abrangeu três atividades realizadas em diferentes postos de trabalho,

sendo que em cada atividade foram entrevistados cinco funcionários, totalizando quinze

entrevistas.

4.5 Entrevista com os trabalhadores

Na maioria dos estudos ergonômicos faz-se necessário identificar a percepção dos

funcionários em relação à execução de sua atividade. (FOGLIATTO E GUIMARÃES, 1999).

Em função disso, optou-se por um questionário que mede a satisfação do trabalhador.

Foram realizadas perguntas quanto às seguintes questões: se o entrevistado acha que a

empresa se preocupa com as condições de trabalho, se o funcionário gosta da atividade que

realiza dentro da empresa, como o mesmo iria se sentir se implantações ergonômicas visando

o fim do problema em análise fossem executadas. Além de perguntas demográficas, tais como

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idade, sexo, tempo de empresa e tempo na atividade analisada.

Quanto à percepção do trabalhador em relação à presença ou não de desconforto corporal ao

realizar sua atividade, a coleta de informações foi realizada no meio da jornada de trabalho

por meio do uso do Diagrama de desconforto de Corlett e Manenica.

5 Resultados e discussões

5.1 Perfil dos trabalhadores entrevistados

Os dados referentes ao perfil dos funcionários entrevistados foram coletados antes de cada

entrevista e estão apresentados na Tabela 3, a seguir.

Tabela 3 – Perfil dos entrevistados

Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3 Entrevistado 4 Entrevistado 5

Sexo Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino

Idade 45 anos 39 anos 42 anos 36 anos 43 anos

Tempo na empresa 24 anos 20 anos 21 anos 4 anos 18 anos

Tempo na atividade 6 anos 7 anos 3 anos 1 ano 10 anos

Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3 Entrevistado 4 Entrevistado 5

Sexo Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino

Idade 47 anos 24 anos 27 anos 53 anos 31 anos

Tempo na empresa 23 anos 2 anos 1 ano e 7 meses 23 anos 2 anos

Tempo na atividade 8 anos 2 anos 1 ano e 7 meses 15 anos 2 anos

Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3 Entrevistado 4 Entrevistado 5

Sexo Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino

Idade 36 anos 31 anos 29 anos 22 anos 33 anos

Tempo na empresa 16 anos 1 ano e 2 meses 4 anos 3 anos 11 anos

Tempo na atividade 6 anos 1 ano e 2 meses 1 ano 1 ano 5 anos

Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3 Entrevistado 4 Entrevistado 5

Sexo Masculino Masculino Feminino Masculino Masculino

Idade 29 anos 25 anos 38 anos 32 anos 30 anos

Tempo na empresa 5 anos 6 anos 19 anos 9 anos 7 anos

Tempo na atividade 5 anos 6 anos 19 anos 9 anos 7 anos

Atividade: Refilagem

Atividade: Corte de material utilizando o balancim manual

Atividade: Transporte de cargas por meio da transpaleteira manual

Atividade: Setor administrativo, onde os funcionários passam toda sua jornada de trabalho sentados

Fonte: Elaboração própria (2015)

Analisando o perfil dos trabalhadores, Tabela 3, percebe-se que 86,7% deles são do sexo

masculino. Nota-se também que grande parte dos funcionários realiza a mesma atividade há

muitos anos.

Em relação a seu nível de satisfação no trabalho, as questões realizadas com suas respectivas

respostas, encontram-se na Tabela 4, a seguir.

Tabela 4 – Questões relativas à satisfação no trabalho

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Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3 Entrevistado 4 Entrevistado 5

Sim Indiferente Sim Sim Sim

Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3 Entrevistado 4 Entrevistado 5

Indiferente Sim Não Indiferente Sim

Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3 Entrevistado 4 Entrevistado 5

Não Sim Sim Sim Indiferente

Atividade: Refilagem

Na sua opinião, a empresa se preocupa com as condições de trabalho

por ela fornecidas?

Você gosta da atividade que realiza dentro da empresa?

Em uma escala de 0 a 10, quanto você acha que melhoraria o seu

trabalho caso ocorressem mudanças ergonômicas no seu posto de

trabalho?

Sim Sim Não Sim Não

10 10 8 8 8

Atividade: Corte de material utilizando o balancim manual

Na sua opinião, a empresa se preocupa com as condições de trabalho

por ela fornecidas?Sim Não Sim Sim

Você gosta da atividade que realiza dentro da empresa?

Em uma escala de 0 a 10, quanto você acha que melhoraria o seu

trabalho caso ocorressem mudanças ergonômicas no seu posto de

trabalho?

10 7 10 10 8

Sim

Atividade: Transporte de cargas por meio de transpaleteira manual

Na sua opinião, a empresa se preocupa com as condições de trabalho

por ela fornecidas?Não Não Não Sim

Você gosta da atividade que realiza dentro da empresa?

Em uma escala de 0 a 10, quanto você acha que melhoraria o seu

trabalho caso ocorressem mudanças ergonômicas no seu posto de

trabalho?

10 9 10 9 10

Sim

Fonte: Elaboração própria (2015)

De acordo com a Tabela 4, dentre os quinze funcionários entrevistados, 60% acreditam que a

empresa se preocupa com as condições de trabalho por ela fornecidas, 60% também afirmam

gostar da atividade que realizam, e todos acham que ocorreriam melhorias acima de 70% no

seu posto de trabalho, caso ocorressem à adoção de medidas ergonômicas.

5.2 Resultados do método diagrama de Corlett e Manenica

Os pontos, partes do corpo, que os operários afirmaram sentir maior desconforto, ao serem

questionados através da apresentação da Figura 6, foram os seguintes, ver Tabela 5.

Tabela 5 – Resultado da entrevista Corlett e Manenica

1

2, 3 e 4 e de 8 à 15

1 à 4

Indicação do nível de

desconforto

Médio e grande

Médio e grande

Médio e grande

Médio e grande

Pontos mais assinalados no

DiagramaAtividades

18 à 27

6 e 7 e de 18 à 27

Setor administrativo, onde os

funcionários passam toda sua

jornada de trabalho sentados

Refilagem

2

3

4

Corte de material utilizando o

balancim manual

Transporte de cargas por meio

da transpaleteira manual

Fonte: Elaboração própria (2015)

Analisando os resultados das respostas dos trabalhadores ficou claro que os pontos indicativos

de dor foram praticamente os mesmos dentre os funcionários que exerciam a mesma função e

todos afirmaram que a intensidade da dor era de nível médio à grande.

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5.3 Adequação dos postos de trabalho em relação a NR-17

A seguir, será descrito os pontos em que os postos de trabalho não estão de acordo

com o que propõe a NR-17.

Refilagem;

No item 17.3 da NR, o qual se refere ao mobiliário do posto de trabalho, afirma que sempre

que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser planejado

ou adaptado para esta posição. O item 17.3.5. expõe que para as atividades em que os

trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser colocados assentos para descanso em locais

em que possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as pausas.

Não se observa o cumprimento desses itens ao se analisar este posto.

Corte de material utilizando o balancim manual;

Os itens 17.3 e 17.3.5 mencionados anteriormente para a atividade de refilagem também se

enquadram nessa atividade. Já em relação ao equipamento utilizado na NR17 não há

referência a este tipo de equipamento, mas a adequação ergonômica se faz necessária devido

ao grande número de movimentos realizados, pelo funcionário, de forma repetitiva e

constante, os quais estavam provocando doenças trabalhistas em função, principalmente, da

má postura na realização da atividade.

Transporte de cargas por meio da transpaleteira manual.

O item 17.2 da NR relativo ao levantamento, transporte e descarga individual de materiais

afirma que não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um

trabalhador, cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança.

O item 17.2.6. defende que o transporte e a descarga de materiais, feitos por impulsão ou

tração de vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico deverão

ser executados de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador seja compatível com

sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou sua segurança.

E o item 17.2.7. expõe que o trabalho de levantamento de material feito com equipamento

mecânico de ação manual deverá ser executado de forma que o esforço físico realizado pelo

trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou

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sua segurança.

5.4 Conforto térmico

A leitura térmica foi quantificada através de aparelho digital de leitura direta, por meio do

qual são coletadas as temperaturas dos seguintes termômetros: Termômetro de Bulbo Úmido

Natural – Tbn, Termômetro de Globo – Tg e Termômetro de Bulbo Seco – Tbs, todas

efetuadas no local onde fica o trabalhador, sendo o termômetro posicionado na altura da

região do corpo mais atingida, como determina a NR 15.

Utilizou-se o índice de bulbo úmido termômetro de globo (IBUTG) para ambientes internos,

sem carga solar, dado pela equação (1):

IBUTG = 0,70 tbu + 0,30 tg equação (1)

sendo: tbu - Termômetro de bulbo úmido

tg - Termômetro de globo

As leituras foram realizadas às 12h30, sendo este o horário mais desfavorável, conforme

recomendado pela NR-15. Os valores de IBUTG de todos os postos ficaram entre 25,5 e

26,3°C e o recomendado segundo a NR-15 é de 26,7 °C em IBUTG. Portanto, as temperaturas

de todos os postos encontram-se abaixo do recomendado, que é 26,7 IBUTG.

6 Conclusão

A hipótese que impulsionou a realização desse estudo, ou seja, a de que o trabalho nos três

postos analisados pode acarretar desconforto, posturas inadequadas e dor foram confirmadas.

A pesquisa Corlett mostrou que o nível de desconforto dos trabalhadores está de média à

grande intensidade. Fato que pode ser justificado pela falta de cumprimento com proposto

pela NR-17.

Os impactos sobre a saúde dos trabalhadores podem ser reduzidos a condições aceitáveis se a

indústria tomar como referência o regulamento da NR-17.

Em relação às condições psicofisiológicas, as pesquisas realizadas indicaram que os

trabalhadores apresentam cansaço após uma média de 4 horas de trabalho, fato impulsionado

pelo esforço musculoesquelético quando da realização da atividade de transporte de cargas

por meio da transpaleteira manual, da repetitividade na atividade de corte de material

utilizando o balancim manual, e das dores nos membros inferiores na atividade de refilagem.

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Em relação ao conforto térmico, as temperaturas de todos os postos encontram-se abaixo do

recomendado, que é 26,7 IBUTG.

Conclui-se que os três postos de trabalho analisados proporcionam alto risco de aquisição de

distúrbios muscuesqueléticos, fato que diminui a satisfação no trabalho e consequentemente a

produtividade.

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