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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO DE TRINCAS DE FADIGA A PARTIR DE ENTALHES DE ELETROEROSÃO NOS SINAIS DE INSPEÇÃO POR CORRENTES PARASITAS Laura Barcellos Pereira Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Materiais da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheira de Materiais. Orientadores: Gabriela Ribeiro Pereira Cesar Giron Camerini Rio de Janeiro Dezembro de 2014

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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO DE

TRINCAS DE FADIGA A PARTIR DE ENTALHES DE

ELETROEROSÃO NOS SINAIS DE INSPEÇÃO POR

CORRENTES PARASITAS

Laura Barcellos Pereira

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Materiais da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de

Engenheira de Materiais.

Orientadores: Gabriela Ribeiro Pereira

Cesar Giron Camerini

Rio de Janeiro

Dezembro de 2014

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Pereira, Laura Barcellos

Análise da influência da representação de trincas de fadiga a

partir de entalhes de eletroerosão nos sinais de inspeção por correntes

parasitas./ Laura Barcellos Pereira – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola

Politécnica, 2014.

xvi, 46 p.: il.; 29,7cm

Orientadores: Gabriela Ribeiro Pereira e Cesar Giron Camerini

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de

Engenharia de Materiais, 2014.

Referências Bibliográficas: p. 44-46.

1. Correntes Parasitas 2. Ligas de Níquel Inconel

I. Pereira, Gabriela Ribeiro e Camerini, Cesar Giron. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Engenharia

de Materiais. III. Análise da influência da representação de

trincas de fadiga a partir de entalhes de eletroerosão nos

sinais de inspeção por correntes parasitas.

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“Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do mundo.”

Fernando Pessoa

Dedico este trabalho aos meus amados pais,

Maria Teresa e Paulo Roberto.

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Agradecimentos

A Deus, não apenas por sua infinita bondade, generosidade e sabedoria, mas

também por sempre me mostrar que, em cada momento difícil, há um propósito e

muitas lições a serem aprendidas, que eu posso ser mais forte do que imagino, que tudo

acontece na hora certa e que eu posso sempre confiar na vontade dEle.

Aos meus pais, por serem meu maior exemplo e minha maior inspiração. Por todo

amor, todo carinho, toda atenção, toda compreensão e todo apoio sempre. Por

acreditarem tanto no meu potencial, mais do que eu mesma. Enfim, por muitos motivos

mais... Mas que jamais caberiam aqui! Vocês são os meus maiores tesouros. Amo muito

vocês!

Aos meus avós, por serem presentes tão preciosos na minha vida, por torcerem

tanto por mim sempre e também por todo amor e todas as orações nos momentos em

que mais precisei.

A todos os meus familiares pela compreensão nos momentos em que precisei me

ausentar para me dedicar à engenharia, assim como por todo carinho, pela força e pela

torcida constantes.

Ao Eduardo e ao Victor, irmãos que a faculdade me deu, que me acompanharam

durante esses anos de graduação e me ajudaram a me descobrir dentro da engenharia,

sempre me incentivando nos momentos de desânimo e me ajudando nas minhas

dificuldades.

Às minhas amigas Thaís Pintor, Patricia, Thaís Sequeira, Ananda e Nathalia, por

tornarem a faculdade sempre tão divertida e acolhedora, além de todo o apoio, todos os

conselhos, todos os estudos juntas, todos os abraços... Enfim, todos os momentos felizes

ou difíceis que passamos juntas, sempre nos apoiando.

Aos amigos Andressa, Eduardo Casseres, Karina, Gabriel, Beth, Sr. Fernando, Jia,

Hatem, Ivana e Andrea, por todos os momentos especiais que compartilhamos, bem

como pela torcida e pela amizade constantes, apesar da distância imposta pela rotina.

A todos os parceiros da Metalmat, por todos os momentos inesquecíveis

compartilhados ao longo do ciclo profissional, em especial: Matheus Zuliani, sempre

querido, atencioso e disposto a ajudar; Gabriella Cruz, Carolina Bogéa, Danielle Alves e

Tamirys, por todos os momentos de estudo, de risadas e de bons papos.

À Adriana, por ser a professora de cálculo mais talentosa que eu conheço! Obrigada

por tudo que me ensinou, sempre tão atenciosa e paciente, e por acreditar no meu

potencial mais do que eu mesma.

Ao professor Pontes, por ter me recebido tão bem no Departamento de Engenharia

Metalúrgica e de Materiais, pelas sábias orientações nos meus primeiros passos dentro

do departamento, por todas as conversas sempre enriquecedoras e pela atenção sempre.

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À professora Giselle, não apenas por ser minha orientadora acadêmica e por ser

essa professora exemplar, tão querida e inesquecível, mas também pela confiança, pelo

apoio, pelas oportunidades, pelos conselhos, pelos ensinamentos, pela atenção, pela

disponibilidade e pela amizade.

À professora Rossana por me abrir as portas e despertar meu interesse no mundo da

pesquisa, bem como pela confiança ao me conceder a oportunidade única de morar e

estagiar na Alemanha, podendo vivenciar um mundo de novidades e de momentos

inesquecíveis.

A toda equipe do Laboratório de Biopolímeros, em especial Felipe, Bruna, Taíla,

Tatiana, Clara, Sabrina e Márcio, por todo incentivo, pela amizade e por tornarem o

tempo que trabalhei no Biopol tão engrandecedor e inesquecível. Vocês me inspiram!

A todos os professores da Metalmat, que muito contribuíram com a minha

formação e me deram o privilégio de assistir aulas inesquecíveis, compartilhando

conhecimento e mantendo sempre viva em mim a paixão pela engenharia de materiais.

A todos os funcionários da Escola Politécnica pela atenção e ajuda ao longo dessa

caminhada, em especial à Sônia, por ser sempre tão atenciosa e por seu sorriso e sua

simpatia constantes; ao Laércio, por ser sempre tão solícito e atencioso; e ao Gláucio e

ao Sr. Alcir, não apenas pelas cópias sempre bem feitas do DAEQ, mas também pelo

carinho, pela amizade, pelo cafezinho diário e por tornarem meus dias sempre mais

alegres.

À minha orientadora Gabriela Ribeiro Pereira por me proporcionar a oportunidade

de trabalhar nesse projeto, pelos ensinamentos, pela disponibilidade e por ser sempre tão

compreensiva. Ao meu co-orientador Cesar Giron Camerini por todo conhecimento

compartilhado, por todo apoio, pelo incentivo constante e pela atenção sempre.

À equipe do LNDC pela ajuda e pelo apoio durante a realização desse projeto, em

especial: ao Lúcio, por ser tão gentil e atencioso; à Johanna, à Iane e à Evelyn, pelas

dicas, pela ajuda e pelo incentivo nessa reta final; à Mónica e à Natalie por todo o apoio,

pela companhia, pelo carinho e pela amizade que construímos.

Aos companheiros de estágio pela torcida e pelo incentivo nesse último ano de

graduação e por serem sempre tão carinhosos e queridos, tornando os meus dias mais

felizes. Em especial: Renata, Raquel, Verônica, Sarah, Leonardo, Marina, Daniel,

Elaine Martins, Andrea e Elaine Fonseca.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheira de Materiais.

Análise da influência da representação de trincas de fadiga a partir de entalhes de

eletroerosão nos sinais de inspeção por correntes parasitas.

Laura Barcellos Pereira

Dezembro/2014

Orientadores: Gabriela Ribeiro Pereira e Cesar Giron Camerini

Curso: Engenharia de Materiais

Corpos de prova trincados por fadiga para uso experimental não são de fácil obtenção,

tendo em vista a complexidade e o custo dos ensaios de fadiga. Em meio a esse cenário,

o presente trabalho busca relacionar os sinais de inspeção por correntes parasitas obtidos

a partir de entalhes de eletroerosão de diferentes aberturas com os sinais obtidos para

trinca de fadiga. Dessa forma, cada entalhe ou trinca foi inspecionado individualmente e

os parâmetros do ensaio de correntes parasitas foram medidos e relacionados com as

respectivas aberturas. Os resultados obtidos consistiram na realização de ensaios por

correntes parasitas, com frequências de 50, 100, 250 e 400 kHz, em um corpo de prova

do tipo CT (compacto em tração), de Inconel 625, previamente trincado por ensaio de

fadiga e, posteriormente, entalhado por eletroerosão com cinco diferentes aberturas. As

aberturas dos entalhes (0,198, 0,247, 0,253, 0,386 e 0,426 mm), bem como da trinca de

fadiga (0,003 mm), foram medidas com o auxílio do software ImageJ®

, a partir de

imagens obtidas por microscopia óptica. Os sinais de correntes parasitas, por sua vez,

foram tratados e analisados com o MATLAB®

. Os resultados mostraram que, quanto

maior a frequência de teste, maior a relação da amplitude do sinal com a abertura dos

entalhes. Portanto, quando os resultados de ECT (do inglês, Eddy Current Testing)

obtidos com entalhes de eletroerosão forem utilizados para prever o comportamento do

sinal na inspeção de trincas de fadiga, deve-se atentar para a necessidade de correção

dos dados, tendo em vista a relação da abertura com a amplitude do sinal, em uma dada

frequência.

Palavras-chave: correntes parasitas, inconel, trinca de fadiga, entalhes de eletroerosão.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfilment of the

requirements for degree of Material Engineer.

Analysis of the influence of the representation of fatigue cracks from EDM notches on

signals in eddy current inspection.

Laura Barcellos Pereira

December/2014

Advisors: Gabriela Ribeiro Pereira and Cesar Giron Camerini

Course: Material Engineering

Specimens fatigue cracked for experimental use are not easy to obtain, given the

complexity and the cost of fatigue tests. Under this scenario, this work aims to relate the

signals of eddy current inspection obtained from electric discharge machining (EDM)

notches of different openings with the signals obtained for fatigue crack. In this way,

each notch or crack was inspected individually and the parameters of eddy current

testing were measured and related to each opening. These results consist in the

realization of eddy current testing, with frequencies of 50, 100, 250 and 400 kHz, for a

specimen of type CT, made of Inconel 625, previously cracked by fatigue test and and

then notched by EDM with five different openings. These openings of the notches

(0,198, 0,247, 0,253, 0,386 and 0,426 mm) and of the fatigue crack (0,003 mm) were

measured from images obtained by optical microscopy, with the assistance of ImageJ®

software. The signals of eddy currents were processed and analyzed with MATLAB®

.

The results showed that the higher test frequency, the higher the relationship of signal

amplitude with opening of the notches. Therefore, when the results of ECT obtained

with EDM notches are used to predict signal behavior in the inspection of fatigue

cracks, attention should be paid to the need for data correction, given the relationship of

the opening with the amplitude of signal in a given frequency.

Keywords: eddy current, inconel, fatigue crack, EDM notches.

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SUMÁRIO

ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................ xi

ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................ xii

ÍNDICE DE ABREVIATURAS .................................................................................. xv

ÍNDICE DE SIGLAS .................................................................................................. xvi

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 2

2.1 Ligas de Níquel Inconel® .................................................................................. 2

2.1.1 Inconel 625 .................................................................................................... 3

2.2 Correntes Parasitas ............................................................................................ 4

2.2.1 Princípio de funcionamento da técnica ......................................................... 4

2.2.2 Plano de Impedância ..................................................................................... 7

2.2.3 Frequência aplicada à técnica ..................................................................... 12

2.2.4 Vantagens e Limitações .............................................................................. 14

2.3 Estudo de casos ................................................................................................. 15

2.3.1 Considerações finais sobre o atual estágio de desenvolvimento e estudo do

efeito das inspeções de ECT em entalhes de eletroerosão...................................... 25

2.3.2 Justificativa e motivação para o presente estudo ........................................ 26

3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 27

3.1 Corpo de prova ................................................................................................. 27

3.2 Microscopia óptica ........................................................................................... 28

3.2.1 Método de medição das aberturas ............................................................. 299

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x

3.3 Ensaios por Correntes Parasitas .................................................................... 29

3.3.1 Métodos de tratamento dos dados ............................................................... 31

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 35

4.1 Medidas das aberturas .................................................................................... 35

4.2 Correntes Parasitas .......................................................................................... 35

5 CONCLUSÕES ..................................................................................................... 42

6 PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS .............................................. 43

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS .......................................................................... 44

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2.1 Típica composição química da liga Inconel 625 (Adaptada de ASTM B 443)

.......................................................................................................................................... 3

Tabela 3.1 Representação esquemática de todas as condições de ensaio adotadas, sendo

os 10 picos obtidos em dois testes separados, com 5 picos cada. ........................... 31

Tabela 4.1 Média e desvio padrão da abertura da trinca de fadiga e dos entalhes. ........ 35

Tabela 4.2 Amplitude média e desvio padrão calculados para cada condição de ensaio.

................................................................................................................................. 35

Tabela 4.3 Amplitude média e desvio padrão calculados para cada condição de ensaio,

após filtrar apenas os picos que estivessem dentro do intervalo de 1 DP. .............. 36

Tabela 4.4 Cálculo da profundidade de penetração das correntes parasitas para cada

frequência de ensaio. ............................................................................................... 38

Tabela 4.5 Coeficiente angular das retas de ajuste linear, referentes aos sinais obtidos

por ECT com diferentes frequências.. ..................................................................... 40

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1 Representação esquemática do processo de geração de correntes parasitas e

de detecção de defeito. a) Corrente alternada passando pela bobina, com uma dada

frequência, gera um Hprimário (em azul) em volta da bobina, b) Quando a bobina

se aproxima de um material condutor elétrico, correntes secundárias parasitas são

induzidas no material, c) Um defeito presente no material condutor perturba a

circulação das correntes parasitas, variando o Hsecundário. (Modificada de imagem

disponível em Nelligan et al.) .................................................................................... 5

Figura 2.2 Exemplo de Sonda Absoluta. (Modificada de imagem disponível em

Absolute NDE, 1999) ................................................................................................. 6

Figura 2.3 Representação esquemática de uma varredura por Sonda Diferencial. a)

Nenhuma das bobinas havia passado ainda pela região defeituosa; b) A primeira

bobina já atravessou o defeito, surgindo o primeiro sinal, referente a essa bobina; c)

A segunda bobina também atravessou o defeito, formando o segundo sinal.

(Modificada de imagem disponível em NDT Resource Center, 1999) ..................... 7

Figura 2.4 Plano de Impedância. (NDT Resource Center, 1999) ..................................... 8

Figura 2.5 Representação esquemática do que se visualiza ao realizar uma inspeção por

ECT, com um corpo de prova contendo defeitos de diferentes profundidades. Em

A, não há defeito e de B para D há um aumento de profundidade dos defeitos.

(Hansen, J., junho de 2004) ....................................................................................... 9

Figura 2.6 Plano de impedância resultante da inspeção por correntes parasitas em um

material magnético e outro não magnético. (Modificada de imagem disponível em

NDT Resource Center, 1999) .................................................................................. 10

Figura 2.7 Representação esquemática de um ensaio por correntes parasitas aplicado

para medição de camadas de revestimentos. (Modificada de imagem disponível em

NDT Resource Center, 1999) .................................................................................. 11

Figura 2.8 Representação esquemática da profundidade de penetração alcançada pelas

correntes parasitas. (Hansen, J., maio de 2004) ...................................................... 11

Figura 2.9 Ondas de diferentes frequências ao longo do tempo. (Modificada de imagem

disponível em Explicatorium, 2014) ....................................................................... 14

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Figura 2.10 Variação da amplitude do sinal com a frequência, em entalhe reto, com 1,2

mm de profundidade e 0,16 mm de abertura, em aço XC38, inspecionado com

sonda absoluta de 12 mm de diâmetro. (Helifa et al., 2006) ................................... 16

Figura 2.11 Variação da amplitude do sinal com a frequência, em inspeção de entalhe

reto (1,2 mm de profundidade e 0,16 mm de abertura) feito em aço XC38,

utilizando duas sondas absolutas de diferentes diâmetros (“A12” com diâmetro 12

mm e “A25” com 25 mm). (Helifa et al., 2006) ...................................................... 17

Figura 2.12 Comparação dos resultados teóricos e experimentais obtidos para as

voltagens pico-a-pico obtidas nos sinais calculados ou medidos por uma sonda

absoluta comercial com frequência de 500 kHz. A notação utilizada para nomear os

entalhes pode ser compreendida da seguinte forma: “30” e “20” referem-se aos

valores de comprimento dos entalhes, isto é, 0,762 mm (0,030”) e 0,508 mm

(0,020”), respectivamente; “RT” e “SC” referem-se aos formatos dos entalhes,

retangular e semi-circular, respectivamente; e os números 5, 3 ou 1 indicam os

valores das aberturas, de 0,127 mm (0,005”), 0,076 mm (0,003”) e 0,025 mm

(0,001”), respectivamente. Os dois conjuntos de 12 entalhes foram feitos em corpos

de prova de Ti-6246 e de IN 100. (Nakagawa et al., 2009) .................................... 20

Figura 2.13 Comparação dos resultados teóricos e experimentais obtidos para as

voltagens pico-a-pico obtidas nos sinais calculados ou medidos por uma sonda

diferencial comercial com frequência de 2 MHz. A notação utilizada para nomear

os entalhes pode ser compreendida da seguinte forma: “30” e “20” referem-se aos

valores de comprimento dos entalhes, isto é, 0,762 mm (0,030”) e 0,508 mm

(0,020”), respectivamente; “RT” e “SC” referem-se aos formatos dos entalhes,

retangular e semi-circular, respectivamente; e os números 5, 3 ou 1 indicam os

valores das aberturas, de 0,127 mm (0,005”), 0,076 mm (0,003”) e 0,025 mm

(0,001”), respectivamente. Os dois conjuntos de 12 entalhes foram feitos em corpos

de prova de Ti-6246 e de IN 100. (Nakagawa et al., 2009) .................................... 21

Figura 2.14 Sinais da voltagem vertical pico-a-pico, obtida experimentalmente, versus

Abertura do entalhe. Dados obtidos das amostras de Ti-6246, com a sonda

diferencial operando em uma frequência de 2 MHz. (Nakagawa et al., 2009) ....... 22

Figura 2.15 Gráficos apresentando a amplitude do sinal normalizado em relação à

abertura dos entalhes, variando a frequência de trabalho. À esquerda, gráfico com

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os dados normalizados obtidos na inspeção dos entalhes com formato semicircular

e com comprimento de 0,51 mm. À direita, gráfico com os dados também

normalizados, referentes aos entalhes de mesmo formato, porém com comprimento

de 3,05 mm. (Larson et al., 2010) ........................................................................... 23

Figura 2.16 Gráficos de apresentação da amplitude do sinal em função do comprimento

das descontinuidades, as quais variam entre entalhes de diferentes aberturas ou

trincas de fadiga obtidas por ensaio de baixo ciclo. As linhas sólidas de cor cinza

indicam os dados referentes aos entalhes de diferentes aberturas; a linha tracejada

representa os sinais estimados, por meio de extrapolação dos dados empíricos, para

um entalhe de abertura tendendo a zero; os pontos de cor verde, por fim, indicam os

sinais das trincas de fadiga, enquanto a linha sólida de cor preta representa a linha

de tendência, traçada a partir desses dados obtidos para a trinca de fadiga. (Larson

et al., 2010) .............................................................................................................. 24

Figura 3.1 Desenho do CP fabricado, do tipo CT, com suas medidas em milímetros. .. 27

Figura 3.2 Corpo de prova com uma trinca de fadiga e cinco entalhes cortados por

eletroerosão (EDM), conforme indicado pela numeração. ...................................... 28

Figura 3.3 Exemplo de como foi realizada a medição das aberturas dos entalhes e da

trinca de fadiga. ....................................................................................................... 29

Figura 3.4 Sonda absoluta ZETEC DT 30PS ................................................................. 30

Figura 3.5 Equipamento OmniScan MX ECA (Olympus, 2006) ................................... 30

Figura 3.6 Gráficos obtidos a partir dos dados de ensaio filtrados por MATLAB®. À

esquerda, gráfico de Volts x Samples (pontos amostrais), com os 5 sinais de R (em

azul) e os 5 sinais de XL (em vermelho). À direita, gráfico de R x XL (plano de

impedância). ........................................................................................................... 32

Figura 3.7 Gráficos obtidos por MATLAB®. Embaixo, estão plotados os gráficos de R

x Samples e XL x Samples, com os dados referentes a R e XL já filtrados pela etapa

anterior. Em cima, encontra-se plotado o gráfico |Z| x Samples, gerado a partir do

módulo |Z| calculado pelos respectivos valores de R e XL ponto a ponto. .............. 33

Figura 3.8 Gráfico de |Z| x Samples (pontos amostrais), com indicação da amplitude

média, de 1 DP e de 2 DPs (para cima e para baixo) e da linha base média. ......... 34

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Figura 4.1 Gráfico das amplitudes médias (em Volts), com seus respectivos desvios, em

relação às aberturas (em mm) da trinca de fadiga e dos entalhes, de acordo com as

frequências de ensaio adotadas. .............................................................................. 37

Figura 4.2 Gráficos de |Z| x Samples, R x Samples e XL x Samples, com uma frequência

de ensaio de: A) 50 kHz, cujos sinais são mais ruidosos; B) 400 kHz, cujos sinais

apresentam menos ruído. ........................................................................................ 38

Figura 4.3 Gráfico das amplitudes médias (em Volts), com suas respectivas retas de

ajuste linear, em relação às aberturas (em mm) da trinca de fadiga e dos entalhes, de

acordo com as frequências de ensaio adotadas........................................................ 40

Figura 4.4 Diferença percentual entre a amplitude do sinal referente à menor abertura

(da Trinca de Fadiga, com 0,003 mm) e a amplitude associada à maior abertura (do

Entalhe 2, com 0,426 mm), em cada frequência de trabalho. ................................ 41

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ÍNDICE DE ABREVIATURAS

H Vetor de campo magnético;

R Resistência ôhmica;

XL Reatância indutiva;

Z Impedância elétrica;

Frequência de oscilação da corrente alternada;

L Auto-indutância da bobina, podendo ser chamada apenas de indutância;

ϕB Fluxo de campo magnético;

δ Profundidade de penetração;

ρ Resistividade;

µr Permeabilidade magnética relativa do material;

γ Matriz CFC, presente nas superligas de níquel;

ϕ Ângulo de fase ( º ).

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ÍNDICE DE SIGLAS

CFC Cúbico de face centrada;

CP Corpo de prova;

CT Compact tension;

DP Desvio padrão;

ECT Eddy Current Testing;

EDM Electric discharge machining;

END Ensaios não destrutivos;

fem Força eletromotriz;

IACS International Annealed Copper Standard.

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1 INTRODUÇÃO

A exploração e produção de petróleo em águas profundas têm crescido muito nos

últimos anos, especialmente com as descobertas no pré-sal. Esse crescimento vem

acompanhado de buscas constantes por inovação e por soluções de problemas. Em meio

a esse cenário, as ligas de Inconel surgem como uma ótima alternativa a aplicações

especiais, que demandem uma boa resistência a altas temperaturas e excelente

resistência à corrosão. Entretanto, seu uso deve ser assistido, uma vez que essas ligas

são submetidas a operações constantes sob condições extremas, tornando-as suscetíveis

a eventuais danos com o passar do tempo. Para o controle da integridade desses

materiais, os ensaios não destrutivos são uma importante ferramenta adotada pela

indústria do petróleo.

Um problema recorrente associado ao uso de Inconel consiste no surgimento de

trincas de fadiga quando essas ligas são soldadas ao aço carbono, na construção de

tubos cladeados. Ensaios com correntes parasitas, por sua vez, são estudados como uma

forma possivelmente eficaz de detecção de trincas de fadiga. No entanto, essas trincas

não são de fácil obtenção para fins experimentais, pois requerem ensaios complexos e

caros.

Nesse contexto, o presente trabalho busca avaliar a relação entre os sinais de

correntes parasitas obtidos com entalhes de eletroerosão e os obtidos a partir de trincas

de fadiga, em uma liga de Inconel. Dessa forma, um corpo de prova do tipo CT, feito

com Inconel 625, foi submetido a um ensaio de fadiga e, posteriormente, entalhado por

eletroerosão (EDM), de modo a obter uma trinca de fadiga e cinco entalhes com

diferentes aberturas entre si. Além do objetivo de relacionar os sinais de correntes

parasitas às diferentes aberturas, o presente trabalho também buscou analisar as

variações de amplitude desses sinais, quando obtidos em diferentes frequências de

ensaio, de modo a obter uma frequência ótima de trabalho.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Ligas de Níquel Inconel®

As ligas Inconel® são uma marca registrada das companhias do grupo Special

Metals e pertencem ao grupo das superligas de níquel. Elas são muito aplicadas em

condições que requerem boas propriedades em altas temperaturas, entre as quais estão: a

resistência à corrosão; a elevada resistência mecânica; e a estabilidade microestrutural,

isto é, sem perda de propriedades mesmo em longos tempos de serviço.

A composição química dessas ligas é muito variada e, combinada ainda com os

diversos tratamentos térmicos possíveis, garante a obtenção de uma enorme variedade

de propriedades e, consequentemente, de aplicações e de ligas comercializadas. Sua

matriz, denominada γ, é cúbica de face centrada (CFC). Entretanto, a alta resistência

mecânica dessas ligas é garantida por alguns mecanismos de endurecimento, que

ocorrem: por solução sólida, decorrente da presença de elementos como Mo, por

exemplo; ou por precipitação de outras fases, como, por exemplo, uma fase muito fina,

estável, ordenada e coerente com a matriz, denominada γ’, cuja composição depende da

presença de elementos como Al, Ti ou Nb, de modo a formar compostos do tipo Ni3Ti,

por exemplo. Todavia, para que o endurecimento promovido pelos precipitados de γ’

seja ainda mais eficiente, é recomendável a realização de um duplo tratamento de

envelhecimento, de modo a obter uma distribuição bimodal de γ’, isto é, γ’ fino e γ’

coalescido. (Brooks, C. R., 1984) Por fim, pode haver ainda a precipitação de outra fase

endurecedora, porém metaestável, chamada de γ”, composta por Ni3Nb e formada

através de tratamentos de envelhecimento entre 600 e 800°C. (Sundararaman et al.,

1994)

Além do mais, a presença do Cr nessas ligas é fundamental para garantir a

resistência à corrosão a altas temperaturas. Entretanto, quando colocado um baixo teor

de Cr, observa-se um aumento da taxa de oxidação na liga. Logo, esse elemento deve

estar presente em teores acima de 20%, de modo a formar o óxido Cr2O3, contínuo e

muito aderente à superfície, e garantir assim uma queda na taxa de oxidação (constante

e aproximadamente 50% menor do que a taxa observada no Ni puro). Vale ressaltar

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ainda que a adição de Cr causa uma redução na temperatura de fusão da liga, levando a

uma queda na resistência à fluência. (Brooks, C. R., 1984)

2.1.1 Inconel 625

A liga Inconel 625 (UNS N06625) já é utilizada há mais de 50 anos, especialmente

na indústria do petróleo, na aeroespacial, na aeronáutica e na marinha. Seu uso é muito

indicado para sistemas de processamento e armazenamento químico, uma vez que ela

resiste aos mais diversos tipos de ambiente – como os oxidantes, redutores ou meio

ácidos – e a uma larga faixa de temperatura, desde temperaturas criogênicas até

temperaturas acima de 1093°C. (Shoemaker, L. E., 2005) (Shankar et al., 2001) Trata-se

de uma liga níquel-cromo endurecida por solução sólida de molibdênio (Tabela 1), cuja

temperatura de fusão encontra-se na faixa de 1290 a 1350°C. (Special Metals, 2006)

Quando submetida ao envelhecimento na faixa de 550 a 750°C, ela pode apresentar

ainda precipitação de carbetos e fases intermetálicas. (Shankar et al., 2001)

Adicionalmente, vale ressaltar que, de acordo com o ASM Metals Handbook, essa liga

apresenta uma condutividade elétrica de 1,34% IACS (International Annealed Copper

Standard).

Tabela 2.1 Típica composição química da liga Inconel 625

(Adaptada de ASTM B 443)

Ni Cr Mo Fe Nb + Ta Mn Si

58,0% (mín.) 20 a 23% 8 a 10% 5,0% (máx.) 3,15 a 4,15% 0,50% (máx) 0,50% (máx.)

Suas altas resistências à tração, à fadiga, à fluência e à corrosão (mesmo em meios

altamente corrosivos) em altas temperaturas tornam essa liga muito vantajosa e versátil.

O Cr é caracterizado como o elemento responsável pela alta resistência da liga à

corrosão em altas temperaturas, enquanto o Mo e o Nb são os elementos especialmente

importantes para a resistência mecânica da liga também quando submetida a

temperaturas elevadas. Além do mais, ela apresenta uma excelente soldabilidade, uma

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vez que não tende a formar trincas de solidificação quando soldada, como ocorre na liga

Inconel 718 e em outras superligas de níquel. (Maguire et al., 1994)

De acordo com classificação da ASTM (American Society for Testing and

Materials) B 443, a liga Inconel 625 pode ser de grau 1 ou 2. Enquanto o grau 1 é

apenas recristalizado, em uma temperatura de no mínimo 871°C, e pode trabalhar em

até 593°C, o tipo grau 2 passa por recristalização e solubilização em no mínimo 1093°C

e pode trabalhar em temperaturas acima de 593°C, especialmente quando são

necessárias resistência à fluência e à ruptura. Avanços recentes desenvolveram ainda um

tipo especial e mais desenvolvido da liga, chamado 625LCF (UNS N06626), que é

submetido a um processamento termomecânico mais controlado, resultando em uma

microestrutura de grãos mais finos, mais resistente à fadiga e com maior estabilidade

térmica. (Shoemaker, L. E., 2005)

2.2 Correntes Parasitas

A técnica de inspeção por correntes parasitas (do inglês Eddy Current Testing,

abreviado como ECT) é um tipo de ensaio não destrutivo (END) muito usado na

aeronáutica e na indústria de petróleo e gás, podendo ser aplicado para: detecção de

trincas; medição de espessura de materiais e de revestimentos; e medição de

condutividade elétrica, como forma de identificação do material e dos tratamentos

térmicos que eventualmente possam ter alterado sua condutividade. (NDT Resource

Center, 1999)

2.2.1 Princípio de funcionamento da técnica

As correntes parasitas (também chamadas de correntes de Foucault ou Eddy

Current, em inglês) são geradas através de um processo chamado indução

eletromagnética. Ao passar uma corrente alternada por um material condutor elétrico,

como, por exemplo, um fio de cobre, um campo magnético primário é gerado ao redor

desse fio. Se esse condutor for em forma de bobina, é possível direcionar o campo

magnético primário gerado. Ao aproximar esse campo de um objeto condutor, uma

corrente secundária, também chamada de corrente parasita, é induzida no objeto. Esse

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material condutor elétrico, com sua corrente secundária, gera então um campo

magnético secundário ao redor dele. (Figura 2.1) A interação resultante entre os campos

primário e secundário é então o parâmetro medido por esse ensaio, tal que:

|Hresultante|= |Hprimário| - |Hsecundário|, sendo H o vetor de campo magnético.

A técnica de correntes parasitas é comparativa, entre uma região sem defeito e outra

com defeito. Quando há defeito, as correntes secundárias são desviadas por ele, de

modo a variar o Hsecundário e, consequentemente, alterando o Hresultante. (Figura 2.1)

Figura 2.1 Representação esquemática do processo de geração de correntes parasitas e

de detecção de defeito. a) Corrente alternada passando pela bobina, com uma dada

frequência, gera um Hprimário (em azul) em volta da bobina, b) Quando a bobina se

aproxima de um material condutor elétrico, correntes secundárias parasitas são

induzidas no material, c) Um defeito presente no material condutor perturba a

circulação das correntes parasitas, variando o Hsecundário. (Modificada de imagem

disponível em Nelligan et al.)

Para a realização dos ensaios por correntes parasitas, existem diversas formas e

tamanhos de sondas, produzidas para atender uma enorme variedade de aplicações. Elas

são classificadas de acordo com a configuração e modo de funcionamento da(s)

bobina(s), as quais são aplicadas de modo a melhor atender às necessidades de detecção

na área de interesse. (NDT Resource Center, 1999) Entre os vários tipos de sondas

existentes, há duas que merecem ser destacadas, uma vez que são mais simples e mais

amplamente utilizadas. São elas:

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Sonda Absoluta (Figura 2.2): composta por apenas uma bobina, é necessário

percorrer pontualmente toda a chapa com essa sonda, a fim de se fazer uma análise

correta. O diagnóstico é realizado a partir das mudanças detectadas na impedância total

da bobina utilizada. Ela pode ser usada para detecção de falhas, além de medidas de

condutividade, de Lift-off e de espessura. Embora ela seja versátil nos tipos de

aplicação, pode ser necessário inibir alguma(s) dessa(s) forma(s) de detecção, quando

elas não são importantes para a inspeção em questão.

Figura 2.2 Exemplo de Sonda Absoluta. (Modificada de imagem disponível em

Absolute NDE, 1999)

Sonda Diferencial (Figura 2.3): composta por duas bobinas, esse tipo de sonda é

muito sensível a defeitos, porém relativamente insensível a variações graduais de

propriedades, dimensões e temperatura. Ao percorrer uma região sem defeito, a

diferença entre os campos das duas bobinas é zero, sendo esse resultado chamado de

ponto de equilíbrio. Quando a primeira bobina entra em uma região com defeito, a

diferença de campo torna-se então diferente do ponto de equilíbrio estabelecido. Porém,

deve-se atentar para o seguinte problema: se o defeito for muito grande ou se dois

defeitos forem muito próximos, as duas bobinas podem estar simultaneamente sobre um

defeito. Dessa forma, a diferença entre os campos das duas bobinas será zero, pois os

campos magnéticos gerados por ambas serão iguais. Essa interferência caracteriza uma

desvantagem encontrada nesse tipo de sonda. Entretanto, esse problema pode ser

evitado utilizando uma sonda pequena. Quanto menor ela for, mais específico o ponto

da peça ao qual o campo magnético é direcionado.

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Figura 2.3 Representação esquemática de uma varredura por Sonda Diferencial. a)

Nenhuma das bobinas havia passado ainda pela região defeituosa; b) A primeira bobina

já atravessou o defeito, surgindo o primeiro sinal, referente a essa bobina; c) A segunda

bobina também atravessou o defeito, formando o segundo sinal. (Modificada de imagem

disponível em NDT Resource Center, 1999).

2.2.2 Plano de Impedância

Para a interpretação dos resultados obtidos por ECT, deve-se saber que a

impedância elétrica (Z) caracteriza-se pela oposição à corrente alternada em um circuito

elétrico. Ela é medida em Ohms (Ω) e é dada pela soma vetorial entre as duas

quantidades de impedância elétrica em geral presentes nas bobinas de teste (Handbook,

Vol. 2), que são: a resistência ôhmica (R) e a reatância indutiva (XL), 90° defasados

entre si.

Conforme pode ser verificado pelo plano de impedância apresentado na Figura 2.4,

a impedância total Z pode ser calculada a partir da seguinte equação:

Além disso, o ângulo de fase também pode ser calculado a partir da Figura 2.4, tal

que:

. Logo,

.

b c a

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Figura 2.4 Plano de Impedância. (NDT Resource Center, 1999)

Sabe-se ainda que a reatância indutiva é definida fisicamente como ,

onde é a frequência da corrente alternada na bobina e L é a auto-indutância da bobina,

podendo também ser chamada apenas de indutância. Dessa forma, pode-se perceber que

XL é um importante parâmetro a ser considerado na análise por correntes parasitas.

Além de variar de acordo com a frequência de teste adotada, a indutância L varia de

acordo com o número de camadas utilizadas no enrolamento da bobina, tal que quanto

maior o número de voltas da bobina, maior o valor de L. Assim sendo, para uma dada

frequência , quanto maior a indutância da bobina, maior XL. Portanto, maior será Z e,

consequentemente, maior a sensibilidade do teste. Adicionalmente, deve-se considerar

que, quando a corrente injetada na bobina é muito elevada, a temperatura local pode

aumentar (efeito joule) e provocar uma expansão da bobina, de modo a aumentar o

valor de XL. (NDT Resource Center, 1999)

O ângulo de fase também é um importante parâmetro de análise em ECT, uma vez

que ele aumenta conforme a profundidade dos defeitos também aumenta. Pela Figura

2.5, por exemplo, pode-se observar que tanto o ângulo de fase como a amplitude do

sinal variam de acordo com diferentes profundidades de defeitos. (Hansen, J., junho de

2004) Ao se observar o defeito com maior profundidade (defeito indicado pela letra D,

na Figura 2.5), nota-se que ele apresenta maior ângulo de fase e maior amplitude.

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Figura 2.5 Representação esquemática do que se visualiza ao realizar uma inspeção por

ECT, com um corpo de prova contendo defeitos de diferentes profundidades. Em A, não

há defeito e de B para D há um aumento de profundidade dos defeitos. (Hansen, J.,

junho de 2004)

As informações de inspeção, por sua vez, podem ser apresentadas na forma de um

diagrama do plano de impedância, conforme apresentado na Figura 2.6. (NDT Resource

Center, 1999) Nela, observa-se que o diagrama do plano de impedância pode se

apresentar de duas formas diferentes, uma para os materiais não magnéticos e outra para

os magnéticos. Em ambos os casos, entretanto, o ponto inicial é o mesmo. Esse ponto de

equilíbrio indica quando a sonda está no ar, havendo atuação apenas do campo primário.

Caso o material não seja condutor elétrico, o diagrama não sai desse ponto de equilíbrio,

pois não há geração de corrente induzida.

Outra característica comum a ambos os tipos de materiais, quando inspecionados

por correntes parasitas, é o Lift-off, nome dado à distância existente entre o material e a

sonda, tendo em vista que o sensor utilizado na inspeção não precisa encostar na peça.

Qualquer alteração nesse espaçamento irá modificar a impedância da bobina presente na

sonda utilizada (Pereira, D., 2014). Dessa forma, pequenos defeitos podem ser

mascarados, caso o Lift-off varie ao longo do ensaio (Camerini, C. G., 2012). Como as

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superfícies dos materiais em geral apresentam rugosidades, esse efeito do Lift-off pode

ser um problema, pois sua variação é inevitável durante a inspeção.

Tratando-se das características de inspeção de materiais não magnéticos, como por

exemplo o Alumínio, sabe-se que, ao aproximar a sonda do material, uma certa

quantidade de energia é drenada da sonda para gerar correntes parasitas, de modo que

sua resistência R aumenta e sua reatância indutiva XL diminui.

Já para o caso de materiais magnéticos, como o aço, ao passar correntes parasitas

pela peça há um alinhamento de spins. Desse modo, o campo magnético secundário

torna-se muito intenso, maior até mesmo que o campo primário, aumentando então XL.

Figura 2.6 Plano de impedância resultante da inspeção por correntes parasitas em um

material magnético e outro não magnético. (Modificada de imagem disponível em NDT

Resource Center, 1999)

Além da caracterização de materiais, os testes por correntes parasitas também

podem ser aplicados para medição de camadas de revestimentos. (Figura 2.7) Nesse

caso, o material utilizado na base também precisa ser condutor elétrico, mas o

revestimento acima dele não. À vista disso, o revestimento atua como uma camada de ar

entre a sonda e a peça, ou seja, como um Lift-off. Dessa forma, quanto menor a

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espessura do revestimento, mais correntes parasitas são geradas no material de base,

aumentando então R e diminuindo XL, caso o material seja não magnético.

Figura 2.7 Representação esquemática de um ensaio por correntes parasitas aplicado

para medição de camadas de revestimentos. (Modificada de imagem disponível em NDT

Resource Center, 1999)

Um importante aspecto que também deve ser considerado é a profundidade de

penetração alcançada pelas correntes parasitas, pois embora a densidade de corrente seja

alta na superfície, ela vai diminuindo ao longo da espessura da peça inspecionada.

Dessa forma, é importante saber qual o limite de profundidade atingida pela corrente no

material em questão, de modo a garantir que haja sensibilidade suficiente para a

identificação de falhas. Frente a essa necessidade, estabeleceu-se uma profundidade de

penetração padrão (δ), definida pela profundidade onde haja 37% de correntes parasitas

em comparação com a quantidade de correntes parasitas na superfície. (Figura 2.8)

Figura 2.8 Representação esquemática da profundidade de penetração alcançada

pelas correntes parasitas. (Hansen, J., maio de 2004)

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Essa profundidade δ depende da frequência do sensor (em outras palavras, da

frequência de excitação da corrente alternada), além da condutividade elétrica e da

permeabilidade magnética do material analisado. Portanto, δ (em mm) é determinada

por:

(1)

Onde 3,14, = frequência de teste (em Hz), µ = permeabilidade magnética do

material inspecionado (medida em H/mm e igual a 1 para materiais não ferrosos, como

níquel, e aços inoxidáveis austeníticos) e = condutividade elétrica do material

inspecionado (em % IACS). (NDT Resource Center, 1999) Deve-se ressaltar ainda que,

até uma profundidade máxima de 2 x δ, há sensibilidade para identificar defeitos na

peça. Pode-se perceber também que, quanto maior µr, ou 1/ρ (condutividade), menor

será δ.

2.2.3 Frequência aplicada à técnica

A frequência é um importante parâmetro a ser determinado nos ensaios não

destrutivos que envolvem eletromagnetismo. Fisicamente, ela indica a frequência de

oscilação da corrente alternada primária, que passa pela bobina, e sua unidade de

medida padrão chama-se Hertz (Hz), isto é, 1 ciclo por segundo. Na inspeção por

correntes parasitas, em especial, ela pode assumir valores, em geral, entre 5 Hz e 10

MHz. (Handbook, N. T., Vol. 5) Em meio a esse vasto intervalo de valores, deve-se

sempre buscar uma frequência ótima de trabalho nos ensaios por correntes parasitas,

garantindo assim a maior sensibilidade possível na detecção de defeitos. (Handbook, N.

T., Vol. 2)

Para uma melhor compreensão da relação da frequência com os ensaios por

correntes parasitas, alguns conceitos físicos precisam ser relembrados. O primeiro

desses conceitos diz respeito ao fenômeno de indução eletromagnética (já citado no

início da seção 2.1.1), que pode ser compreendido como uma variação de fluxo

magnético através de um circuito, de modo a induzir uma força eletromotriz –

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denominada “fem induzida” – e uma corrente – chamada de “corrente induzida” – nesse

circuito.

Esse conceito tem como princípio a Lei de Faraday, que relaciona a fem ao fluxo

magnético variável em qualquer tipo de espira, inclusive uma bobina aplicada em um

ensaio por correntes parasitas. Dessa forma, de acordo com a Lei de Faraday da

indução, “a fem induzida em uma espira fechada é dada pela taxa de variação do fluxo

magnético passando através da área delimitada pela espira.” (Young et al., 2009) Essa

definição pode ser expressa da seguinte forma:

(2)

Onde a feminduzida é medida em volts e dϕB/dt é a taxa de variação do fluxo de

campo magnético (ϕB), sendo essa taxa medida em webers/segundo.

Dessa forma, percebe-se que, quanto mais ϕB variar ao longo do tempo, maior será

a feminduzida e, analogamente, maiores serão também as correntes induzidas (chamadas

de correntes parasitas, nos casos de inspeção por ECT).

Pela Figura 2.9, pode-se obervar que, quanto maior a frequência de oscilação ao

longo do tempo, menor será o intervalo dt ocupado por cada pico. Consequentemente,

conforme verificado matematicamente em (2), maior será a feminduzida e, portanto,

maiores serão também as correntes induzidas, isto é, as correntes parasitas. Além do

mais, conforme já visto na seção 2.1.2, . Logo, uma maior frequência

implica em uma maior reatância indutiva. Por fim, como , um maior

XL aumentará então o valor da impedância elétrica, garantindo assim uma maior

amplitude nos sinais obtidos por ECT.

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Figura 2.9 Ondas de diferentes frequências ao longo do tempo. (Modificada de imagem

disponível em Explicatorium, 2014)

2.2.4 Vantagens e Limitações

As principais vantagens da inspeção por correntes parasitas são:

Sensibilidade a pequenas trincas e outros defeitos;

Detecção de defeitos não apenas na superfície, mas também próximos à

superfície;

Análise de outros tipos, além da detecção de defeitos, como por exemplo de

espessura/profundidade;

Resultado imediato;

Portabilidade do equipamento (sensor com osciloscópio);

Exigência de uma preparação mínima da peça antes da análise;

Sem necessidade de contato entre a sonda e a peça;

Inspeção possível em materiais condutores de diferentes tamanhos e geometrias.

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Há, entretanto, algumas limitações:

Apenas materiais condutores podem ser inspecionados;

A superfície deve estar acessível à sonda e deve ser preparada, pois muita

rugosidade torna a análise do sinal mais difícil;

A habilidade e a formação exigidas para a execução dessa técnica são maiores

do que em outras técnicas;

Padrões de referência geralmente são necessários para a configuração do ensaio;

A profundidade de penetração é limitada, pois ao diminuir a frequência do

sensor para penetrar mais, perde-se resolução;

Lift-off, que varia muito por conta da superfície rugosa da maioria dos materiais,

tornando o sinal inconstante.

2.3 Estudo de casos

A utilização de trincas reais para o desenvolvimento de trabalhos experimentais

com correntes parasitas sempre foi limitada, em decorrência da dificuldade e do alto

custo de obtenção dessas trincas. Em geral, opta-se pela utilização de entalhes artificiais

(eletroerosão, por exemplo), como forma de simular o comportamento dos sinais que

seriam obtidos com as trincas reais. Em 2005, por exemplo, Yusa et al. afirmaram em

um artigo, referente à detecção de trincas de fadiga e de corrosão sob tensão, que este se

tratava de um dos primeiros trabalhos, até então publicados, a considerar a inspeção por

correntes parasitas de trincas reais.

No que diz respeito à busca por otimizar a escolha dos parâmetros de ECT de maior

influência para a detecção e o dimensionamento de trincas superficiais, um trabalho

significativo foi publicado em 2006 por Helifa et al. Em corpo de prova de aço

ferromagnético (XC38), foram feitos entalhes por eletroerosão (EDM), como forma de

simular as trincas superficiais reais. Os ensaios foram feitos com quatro sondas

diferentes, duas absolutas (com 12 e 25 mm de diâmetro) e duas diferenciais (com os

mesmos diâmetros das absolutas), as quais foram operadas manualmente e com

frequências entre 1kHz e 1 MHz.

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A escolha da frequência de operação foi feita, em cada caso, de modo a conciliar a

profundidade de penetração das correntes parasitas com a profundidade do defeito a ser

inspecionado. Dessa forma, defeitos mais superficiais, por exemplo, foram

inspecionados com frequências maiores, as quais apresentam uma interação

eletromagnética de menor profundidade, conforme visualizado pela equação (1), na

seção 2.22. Já para a detecção dos defeitos superficiais com maior profundidade (ou até

mesmo subsuperficiais), as melhores frequências de operação são as menores, uma vez

que, quanto menor , maior a profundidade de penetração das correntes parasitas. Por

outro lado, conforme raciocínio desenvolvido na seção 2.2.3 e demonstrado pela

equação (2), definida pela Lei de Faraday, menores frequências estão associadas a

maiores intervalos de tempo dt, causando uma menor feminduzida e, consequentemente,

menos correntes parasitas, fazendo com que o sinal fique mais atenuado.

Entre os resultados apresentados, percebeu-se que um entalhe superficial com 0,16

mm de abertura e 1,2 mm de profundidade, quando inspecionado pela sonda absoluta de

12 mm, pôde ser detectado por uma larga gama de frequências. Entretanto, em 100 kHz

foi medida a maior amplitude de sinal. (Figura 2.10)

Figura 2.10 Variação da amplitude do sinal com a frequência, em entalhe reto, com 1,2

mm de profundidade e 0,16 mm de abertura, em aço XC38, inspecionado com sonda

absoluta de 12 mm de diâmetro. (Helifa et al., 2006)

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Além do mais, esse trabalho também relatou a importância de se escolher uma

sonda de diâmetro compatível com a abertura dos entalhes a serem analisados. Ainda

que as sondas de maior diâmetro poupem tempo de ensaio, as sondas de menor diâmetro

são caracterizadas por apresentarem melhores resultados tanto para os entalhes de

menores dimensões, como para superfícies maiores, mas com perfis complicados.

Essa diferença de resultados entre sondas de diferentes diâmetros pode ser

constatada na Figura 2.11, também publicada no artigo de Helifa et al. Ao compararem

as amplitudes dos sinais obtidas na inspeção de um único entalhe reto, com 1,2 mm de

profundidade e 0,16 mm de abertura, utilizando as sondas absolutas de 12 mm (A12) e

25 mm (A25) de diâmetro em frequências variando de 0 a 10 kHz – intervalo este que

seguiu a faixa de operação recomendada pelo fabricante –, os autores constataram que a

sonda de menor diâmetro obteve sinais de maior amplitude em todas as frequências

testadas. Eles afirmam que a amplitude do sinal de um defeito está relacionada à razão

volume do defeito/volume inspecionado pela sonda. Dessa forma, com o aumento do

diâmetro da sonda, o volume sondado também se torna maior, tal que o valor da razão

em questão diminui, assim como a amplitude do sinal.

Figura 2.11 Variação da amplitude do sinal com a frequência, em inspeção de entalhe

reto (1,2 mm de profundidade e 0,16 mm de abertura) feito em aço XC38, utilizando

duas sondas absolutas de diferentes diâmetros (“A12” com diâmetro 12 mm e “A25”

com 25 mm). (Helifa et al., 2006)

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O artigo de Helifa et al. considera ainda que um comprimento de entalhe maior do

que o diâmetro da sonda evita maiores perturbações no ensaio. De fato, de acordo com

uma publicação de Cecco et al. em 1996, a amplitude do sinal acaba variando nos casos

em que o entalhe apresenta um comprimento menor do que o diâmetro da sonda,

enquanto no caso contrário, a sonda não é capaz de perceber variações de comprimento

dos entalhes e a amplitude torna-se constante, como se os entalhes analisados tivessem

um mesmo comprimento.

Em 2009, Nakagawa et al. afirmaram conhecer uma regra geral, a qual dizia que

um sinal obtido por correntes parasitas, correspondente a uma trinca de fadiga, poderia

apresentar 60% da amplitude do sinal de um entalhe retangular de tamanho similar,

obtido por EDM. Nessa mesma publicação, os autores buscaram compreender o efeito

da abertura de uma descontinuidade na amplitude do sinal de ECT, ao inspecionar

materiais de baixa condutividade elétrica com pequenas trincas. Nesse estudo, eles

utilizaram dois corpos de prova (CPs) feitos com uma liga de Ti (Ti-6246) e outros dois,

com uma superliga de Ni (IN-100). Em cada CP foram feitos 6 entalhes, organizados

em duas linhas: uma linha contendo 3 entalhes retangulares e outra linha com 3 entalhes

semi-circulares. Os entalhes de cada linha apresentavam mesmo tamanho (com

comprimento de 0,508 mm ou de 0,762 mm), variando apenas as aberturas, que mediam

0,025 mm, 0,076 mm e 0,127 mm. Cada entalhe foi varrido por 4 sondas, todas com um

formato tipo caneta e com um diâmetro externo de aproximadamente 1,5 mm. Dentre

elas, duas sondas eram absolutas, uma com frequência de operação de 500 kHz e outra

de 5 MHz, e duas sondas eram diferenciais, uma com frequência de operação de 2 MHz

e outra de 6 MHz. Entretanto, os dados referentes às sondas de 5 MHz (absoluta) e de 6

MHz (diferencial) não foram exibidos, sob a alegação de que ambos apresentavam

comportamentos muito semelhantes aos outros resultados mostrados.

Os resultados obtidos experimentalmente foram comparados com os resultados de

um modelo matemático, desenvolvido pelos próprios autores Nakagawa et al. Ambos

podem ser vistos na Figura 2.12 e na Figura 2.13, que se referem aos sinais obtidos com

a sonda absoluta de 500 kHz e com a diferencial de 2 MHz, respectivamente. Apesar de

não estarem representados nos gráficos, o artigo afirma que, em todos os casos, os erros

calculados foram de 10% ou menos.

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Nas duas figuras (2.12 e 2.13), pode-se perceber que, apesar do comprimento dos

entalhes não ter sido o foco do estudo, aqueles com 0,762 mm de comprimento

apresentaram um pico de amplitude maior do que os cortes com 0,508 mm de

comprimento. Já no que diz respeito às aberturas, concluiu-se que, independente da

sonda e da frequência utilizadas (500 kHz, para a sonda absoluta ou 2 MHz, para a

sonda diferencial), o comportamento foi sempre o mesmo: quanto maior a abertura,

maior a amplitude do sinal obtido (tanto o experimental como o calculado).

Por fim, pode-se concluir ainda que a sonda diferencial obteve amplitudes de sinal

maiores do que a sonda absoluta. Todavia, não se sabe se essa conclusão deve-se, de

fato, ao tipo de sonda, uma vez que a frequência da sonda diferencial também foi maior

do que a adotada na operação da sonda absoluta.

Além do mais, esse mesmo trabalho de Nakagawa et al. avaliou que há diferença na

resposta do sinal obtido por ECT, quando o entalhe apresenta uma forma retangular e

quando sua forma é semicircular (tunelamento). Pela Figura 2.14, observa-se que a

amplitude do sinal obtido com os entalhes de formato retangular é sempre maior do que

a do sinal referente aos entalhes de formato semicircular. Adicionalmente, calculou-se

que, no caso das trincas com 0,762 mm (0,030”) de comprimento, há uma redução de

28% entre o maior sinal obtido – referente ao entalhe retangular com 0,127 mm (0,005”)

de abertura – e o menor sinal – referente ao entalhe semicircular com 0,025 mm

(0,001”) de abertura. Já no caso das trincas com 0,508 mm (0,020”) de comprimento,

essa redução foi de 40%.

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Figura 2.12 Comparação dos resultados teóricos e experimentais obtidos para as

voltagens pico-a-pico obtidas nos sinais calculados ou medidos por uma sonda absoluta

comercial com frequência de 500 kHz. A notação utilizada para nomear os entalhes

pode ser compreendida da seguinte forma: “30” e “20” referem-se aos valores de

comprimento dos entalhes, isto é, 0,762 mm (0,030”) e 0,508 mm (0,020”),

respectivamente; “RT” e “SC” referem-se aos formatos dos entalhes, retangular e semi-

circular, respectivamente; e os números 5, 3 ou 1 indicam os valores das aberturas, de

0,127 mm (0,005”), 0,076 mm (0,003”) e 0,025 mm (0,001”), respectivamente. Os dois

conjuntos de 12 entalhes foram feitos em corpos de prova de Ti-6246 e de IN 100.

(Nakagawa et al., 2009)

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Figura 2.13 Comparação dos resultados teóricos e experimentais obtidos para as

voltagens pico-a-pico obtidas nos sinais calculados ou medidos por uma sonda

diferencial comercial com frequência de 2 MHz. A notação utilizada para nomear os

entalhes pode ser compreendida da seguinte forma: “30” e “20” referem-se aos valores

de comprimento dos entalhes, isto é, 0,762 mm (0,030”) e 0,508 mm (0,020”),

respectivamente; “RT” e “SC” referem-se aos formatos dos entalhes, retangular e semi-

circular, respectivamente; e os números 5, 3 ou 1 indicam os valores das aberturas, de

0,127 mm (0,005”), 0,076 mm (0,003”) e 0,025 mm (0,001”), respectivamente. Os dois

conjuntos de 12 entalhes foram feitos em corpos de prova de Ti-6246 e de IN 100.

(Nakagawa et al., 2009)

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Figura 2.14 Sinais da voltagem vertical pico-a-pico, obtida experimentalmente, versus

Abertura do entalhe. Dados obtidos das amostras de Ti-6246, com a sonda diferencial

operando em uma frequência de 2 MHz. (Nakagawa et al., 2009)

Em 2010, um artigo publicado por Larson et al. investigou o efeito da abertura do

entalhe cortado por eletroerosão (EDM) no sinal obtido por ECT, em função da

frequência adotada na bobina de uma sonda diferencial tipo caneta (pencil-type). O sinal

resultante do entalhe de EDM também foi comparado com o sinal referente a trincas de

fadiga obtidas em laboratório. Os corpos de prova foram fabricados com a liga de

alumínio 6061-T6, cuja condutividade elétrica é 47,8% IACS. Os entalhes, por sua vez,

foram feitos, em sua maioria, com formato semicircular, havendo ainda alguns entalhes

retangulares. As aberturas dos cortes variaram de 0,0305 a 0,1321 mm. As frequências

de teste foram 50 kHz, 100 kHz, 200 kHz, 500 kHz e 1 MHz.

A Figura 2.15 apresenta a amplitude do sinal obtido, de acordo com as frequências

adotadas e com as aberturas dos entalhes inspecionados. No gráfico à esquerda, os

entalhes apresentavam um comprimento de 0,51 mm e, à direita, 3,05 mm. Como já

esperado, a amplitude do sinal decresce conforme a abertura do entalhe diminui. Além

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do mais, pode-se perceber que os dados seguem uma linha de tendência linear, cujo

coeficiente angular aumenta, conforme a frequência de ensaio também aumenta.

Portanto, em menores frequências, conclui-se que a amplitude do sinal varia menos com

a mudança de abertura dos entalhes. Essa tendência é mais nítida para os sinais

referentes aos entalhes de maior comprimento, no caso, exibidos no gráfico da direita.

Figura 2.15 Gráficos apresentando a amplitude do sinal normalizado em relação à

abertura dos entalhes, variando a frequência de trabalho. À esquerda, gráfico com os

dados normalizados obtidos na inspeção dos entalhes com formato semicircular e com

comprimento de 0,51 mm. À direita, gráfico com os dados também normalizados,

referentes aos entalhes de mesmo formato, porém com comprimento de 3,05 mm.

(Larson et al., 2010)

Já na Figura 2.16, a amplitude do sinal é plotada em função justamente do

comprimento das trincas de fadiga e dos entalhes de eletroerosão, considerando ainda a

medida da abertura e o formato desses entalhes (semicircular ou retangular). Cada um

dos quatro gráficos plotados indica uma frequência de trabalho. Em todos eles, pode-se

ver que, independente da frequência de trabalho, a amplitude do sinal decresce não

apenas com a diminuição do comprimento ou da abertura dos entalhes e trincas,

conforme já esperado, mas também de acordo com o formato. Em outras palavras,

conclui-se que entalhes retangulares apresentam sinal de maior amplitude do que os

com formato semicircular, ainda que ambos tenham o mesmo comprimento e o mesmo

tamanho de abertura.

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Outra análise interessante, a partir da Figura 2.16, diz respeito à extrapolação feita a

partir dos dados obtidos em laboratório, de modo a obter uma estimativa da amplitude

dos sinais para o caso de um entalhe com abertura tendendo a zero, conforme indicado

pelos marcadores de cor laranja nos gráficos. Percebe-se que os sinais desse caso têm

um comportamento similar ao observado nas trincas de fadiga. Além do mais, pode-se

ver que, quanto maior a frequência de teste, mais separadas as curvas estão entre si,

indicando uma maior influência das aberturas dos entalhes e trincas na amplitude dos

sinais.

Figura 2.16 Gráficos de apresentação da amplitude do sinal em função do

comprimento das descontinuidades, as quais variam entre entalhes de diferentes

aberturas ou trincas de fadiga obtidas por ensaio de baixo ciclo. As linhas sólidas de cor

cinza indicam os dados referentes aos entalhes de diferentes aberturas; a linha tracejada

representa os sinais estimados, por meio de extrapolação dos dados empíricos, para um

entalhe de abertura tendendo a zero; os pontos de cor verde, por fim, indicam os sinais

das trincas de fadiga, enquanto a linha sólida de cor preta representa a linha de

tendência, traçada a partir desses dados obtidos para a trinca de fadiga. (Larson et al.,

2010)

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2.3.1 Considerações finais sobre o atual estágio de desenvolvimento e

estudo do efeito das inspeções de ECT em entalhes de

eletroerosão

Diante dos estudos que foram apresentados na seção anterior, alguns pontos

merecem ser destacados. Um deles diz respeito ao comportamento do sinal de ECT para

trincas reais, o qual muitas vezes é aproximado a partir de resultados experimentais.

Pelo estudo de casos, pôde-se verificar que essa aproximação, a partir de entalhes

obtidos por EDM, é frequentemente adotada, tendo em vista a dificuldade e o custo de

obtenção das trincas reais.

Além do mais, tornou-se clara a influência das características dos entalhes

(abertura, comprimento, profundidade e formato) nos resultados obtidos. No artigo

publicado por Nakagawa et al. em 2009, por exemplo, verificou-se que, ao comparar

entalhes de mesmo comprimento, mas com aberturas e formato diferentes, aquele de

abertura maior e formato retangular apresentou um sinal de amplitude 28% (no caso dos

entalhes com menor comprimento) a 40% maior (no caso dos entalhes com maior

comprimento) do que aquele de menor abertura e forma semicircular. As dimensões dos

entalhes também devem ser consideradas na escolha da sonda de trabalho, cujo

diâmetro deve ser, quando possível, menor do que o comprimento do entalhe. Dessa

forma, a razão “volume do defeito/volume inspecionado pela sonda” deve ser a maior

possível, aumentando assim, consequentemente, a amplitude do sinal.

No que diz respeito aos parâmetros físicos do teste por correntes parasitas, pôde-se

perceber que a escolha da frequência de trabalho é de especial importância para o

aprimoramento de detecção da sonda. Embora um mesmo entalhe ou trinca possa ser

detectado por uma vasta gama de frequências, sempre há uma frequência ótima de

operação, como no caso apresentado no artigo de Helifa et al. (2006), no qual a maior

amplitude de sinal foi obtida em 100 kHz. Deve-se considerar também que a frequência

tem relação direta com a profundidade de penetração das correntes parasitas, de modo

que defeitos mais profundos precisam ser inspecionados por frequências menores (e

vice-versa) para que sejam detectados. Entretanto, apesar de menor gerar correntes

parasitas com maior capacidade de penetração no material inspecionado, a quantidade

de corrente induzida diminui, o que torna o sinal mais atenuado. Por fim, vale destacar

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que os gráficos de Amplitude do Sinal Normalizado x Abertura do Entalhe, publicados

por Larson et al. (2010), apresentaram coeficientes angulares diretamente proporcionais

à frequência de ensaio.

2.3.2 Justificativa e motivação para o presente estudo

Em meio a todo esse cenário exposto até então, o presente trabalho busca contribuir

para uma melhor compreensão da relação entre os sinais de ECT obtidos para uma

trinca de fadiga e para entalhes de eletroerosão com diferentes aberturas. Para isso,

decidiu-se fazer algumas simplificações no estudo que não foram levadas em

consideração pelos demais autores: determinou-se que o único parâmetro que

influenciaria os sinais nos ensaios seria a abertura dos entalhes. Portanto, os entalhes

fabricados apresentam uma profundidade e comprimento grandes o suficiente para não

influenciarem nos resultados. Em outras palavras, tanto a profundidade quanto o

comprimento podem ser considerados infinitos para as correntes parasitas nos ensaios

deste trabalho. Com isso, as variáveis consideradas se reduzem a apenas duas principais

– a amplitude do sinal e as aberturas –, o que torna possível a obtenção de uma relação

direta entre ambos. Além do mais, buscou-se encontrar a frequência ótima de operação,

em um intervalo de 50 a 400 kHz. Para definir esses valores de frequência dos testes,

dois aspectos foram levados em consideração: o material inspecionado; e a faixa de

operação (50 a 500 kHz) indicada pelo fabricante da sonda absoluta utilizada. O corpo

de prova foi fabricado em Inconel 625, uma superliga de Ni muito aplicada na indústria

do petróleo. Apesar do trabalho publicado por Nakagawa et al. (2009) também ter

realizado um estudo de ECT em uma superliga de Ni (IN 100, no caso), as frequências

de trabalho adotadas eram consideravelmente maiores (500 kHz, 2 MHz, 5 MHz e 6

MHz). Já no artigo de Larson et al. (2010), as frequências escolhidas eram condizentes

com as adotadas neste trabalho, porém o material era uma liga de alumínio (6061-T6),

que é mais amigável em ECT devido à sua elevada condutividade.

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Corpo de prova

O corpo de prova (CP) utilizado foi do tipo compacto em tração, também chamado

de CT, de acordo com especificações da norma ASTM E 647. Ele foi feito com Inconel

625 e apresentava as seguintes dimensões: 61,10 mm de comprimento, 63,70 mm de

largura e 7,95 mm de espessura. (Figura 3.1)

Figura 3.1 Desenho do CP fabricado, do tipo CT, com suas medidas em milímetros.

Inicialmente o CP foi usinado, de modo a adquirir um bom acabamento superficial.

Caso contrário, pequenas irregularidades poderiam gerar tensões residuais na peça e,

consequentemente, prejudicar o resultado do ensaio de fadiga, conforme explicado na

norma ASTM E 647.

Em seguida, foi realizado então o ensaio de fadiga do tipo tração-compressão com o

objetivo de propagar uma trinca de fadiga, mas não chegar a atingir a ruptura do CP.

Com essa finalidade, utilizou-se uma máquina servohidráulica da marca Instron. A

carga adotada no ensaio foi de 15 kN, com uma frequência de 10 Hz e

aproximadamente 100.000 ciclos.

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Já com a trinca de fadiga, cuja profundidade é igual à espessura do CP (conforme

apresentado na Figura 3.1), o CP foi levado para um prestador de serviços de cortes por

eletroerosão (EDM, do inglês electric discharge machining). Foi solicitada a realização

de cinco entalhes, os quais também atravessam toda a espessura do CP, porém com

aberturas distintas. Dessa forma, chegou-se ao corpo de prova em seu estado final,

conforme mostrado na Figura 3.2.

Figura 3.2 Corpo de prova com uma trinca de fadiga e cinco1 entalhes cortados por

eletroerosão (EDM), conforme indicado pela numeração.

3.2 Microscopia óptica

Com a peça já contendo a trinca de fadiga e os cinco entalhes de eletroerosão de

diferentes aberturas, optou-se por medir a abertura da trinca e dos entalhes através de

imagens obtidas por microscopia óptica. O microscópio utilizado foi da marca Zeiss,

modelo Axio Imager.M1m. As imagens foram feitas buscando-se contemplar toda a

extensão da trinca e dos entalhes.

1 O sexto entalhe exibido na Figura 3.2 foi fabricado posteriormente, quando os

experimentos para o presente trabalho já estavam finalizados.

Trinca

1

1

1

2

5

3 4

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3.2.1 Método de medição das aberturas

Com as imagens já obtidas, foi dado início ao processo de medição das aberturas com o

auxílio do software ImageJ®. Como a trinca e os entalhes não são completamente lisos,

suas aberturas podem variar ligeiramente ao longo de sua extensão. Dessa forma, optou-

se por realizar em torno de 10 medições no início de cada uma das aberturas (Figura

3.3) e calcular o valor médio da abertura.

Figura 3.3 Exemplo de como foi realizada a medição das aberturas dos entalhes e da

trinca de fadiga.

3.3 Ensaios por Correntes Parasitas

Para os ensaios de correntes parasitas, foi utilizada a sonda absoluta ZETEC DT

30PS (Figura 3.4), cuja frequência de operação é de 50 a 500 kHz e um diâmetro efetivo

de 3 mm. A sonda foi acoplada ao equipamento OmniScan MX ECA (Figura 3.5), que

por sua vez foi acoplado a um osciloscópio. Pelo osciloscópio, foi possível conectar um

pendrive e obter todos os pontos de varredura de todos os testes, viabilizando um

posterior tratamento desses dados.

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Figura 3.4 Sonda absoluta ZETEC DT 30PS

Figura 3.5 Equipamento OmniScan MX ECA (Olympus, 2006)

Os parâmetros utilizados no OmniScan foram: 4,0 V pico a pico, ganho de 42,0 dB

e ganho vertical de 6,0 dB. As frequências de teste escolhidas foram 50 kHz, 100 kHz,

250 kHz e 400 kHz.

Todos os entalhes, bem como a trinca de fadiga, foram ensaiados com todas as

frequências. Em cada ensaio (com uma dada frequência), foram realizadas manualmente

10 varreduras por entalhe/trinca, resultando então, para cada caso, em 10 picos de

amplitude do sinal, de modo a obter validade estatística dos resultados (Tabela 3.1). No

entanto, como o osciloscópio armazenava apenas os sinais que aparecessem no visor

dele, os 10 picos ficavam muito próximos um do outro para que todos coubessem no

visor e, consequentemente, poucos pontos da linha de base entre um pico e outro eram

armazenados. Como solução para esse problema, optou-se por obter 5 picos de sinal em

cada teste, ao invés de obter todos os 10 picos de uma vez só. Dessa forma, foi possível

obter mais pontos experimentais na linha de base entre cada pico, tornando assim mais

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confiáveis os resultados dos tratamentos estatísticos posteriores, com cálculos de média

e desvio padrão.

Tabela 3.1 Representação esquemática de todas as condições de ensaio adotadas,

sendo os 10 picos obtidos em dois testes separados, com 5 picos cada.

Frequências

de ensaio

Trinca de

fadiga Entalhe 1 Entalhe 2 Entalhe 3 Entalhe 4 Entalhe 5

50 kHz 10 picos 10 picos 10 picos 10 picos 10 picos 10 picos

100 kHz 10 picos 10 picos 10 picos 10 picos 10 picos 10 picos

250 kHz 10 picos 10 picos 10 picos 10 picos 10 picos 10 picos

400 kHz 10 picos 10 picos 10 picos 10 picos 10 picos 10 picos

3.3.1 Métodos de tratamento dos dados

Ao longo de toda essa etapa, o software utilizado para tratar os dados foi o

MATLAB®. Inicialmente, aplicou-se uma rotina para que os dados dos ensaios, lidos

pelo osciloscópio e salvos em Excel, fossem armazenados no próprio MATLAB®.

Em seguida, foi utilizada uma rotina capaz de filtrar os ruídos dos sinais obtidos

nos ensaios e plotar dois gráficos já filtrados: um de Volts x Samples (pontos

amostrais), no qual os 5 picos de R e de XL foram plotados; e outro na forma de plano

de impedância, R x XL (Figura 3.6). Esse procedimento foi repetido para cada conjunto

de 5 picos, em cada uma das condições de ensaio exibidas na Tabela 3.1.

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Figura 3.6 Gráficos obtidos a partir dos dados de ensaio filtrados por MATLAB®. À

esquerda, gráfico de Volts x Samples (pontos amostrais), com os 5 sinais de R (em azul)

e os 5 sinais de XL (em vermelho). À direita, gráfico de R x XL (plano de impedância).

Ao passo em que todos os sinais tiveram seu ruído filtrado, com um filtro média

móvel com abertura de janela de 5 amostras, uma nova rotina foi aplicada. Nessa nova

etapa, o objetivo era calcular o módulo da impedância Z, sabendo que ,

conforme já explicado na seção 2.2.2. Dessa forma, cada um dos dois conjuntos de 5

picos, de cada uma das condições adotadas (Tabela 3.1), teve Z calculado ponto a ponto,

a partir dos valores de R e XL já filtrados na etapa anterior. Como resultado, foram

então plotados 3 gráficos: R x Samples, XL x Samples e Z x Samples (Figura 3.7).

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Figura 3.7 Gráficos obtidos por MATLAB®. Embaixo, estão plotados os gráficos de R

x Samples e XL x Samples, com os dados referentes a R e XL já filtrados pela etapa

anterior. Em cima, encontra-se plotado o gráfico |Z| x Samples, gerado a partir do

módulo |Z| calculado pelos respectivos valores de R e XL ponto a ponto.

A partir dos valores de Z calculados, os dois conjuntos de 5 picos (10 picos no

total), de cada condição de ensaio, foram plotados em um mesmo gráfico de Z x

Samples, de modo a analisar os 10 pontos de máximo dos picos do gráfico, bem como

identificar o intervalo de cada linha de base (trecho entre um pico e outro). Dessa forma,

calculou-se a média de cada linha de base e, em relação a essa média e ao ponto de

máximo identificado em cada pico, calculou-se a amplitude de cada sinal. Por fim,

tendo a amplitude de cada sinal e a média de cada linha de base, foram calculadas a

amplitude média total do gráfico, com seu respectivo desvio padrão (DP), e a linha base

média total do gráfico. (Figura 3.8)

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Figura 3.8 Gráfico de |Z| x Samples (pontos amostrais), com indicação da amplitude

média, de 1 DP e de 2 DPs (para cima e para baixo) e da linha base média.

Por fim, para cada uma das condições de ensaio adotadas (conforme Tabela 3.1),

foram selecionados apenas os picos que estivessem dentro do intervalo de 1 DP, de

acordo com o respectivo gráfico |Z| x Samples. Esta etapa foi adotada, pois se verificou

que, em determinados casos, a amplitude pode ter pequenas variações dependendo do

manuseio do operador. Então, os sinais que estivessem fora do intervalo de mais ou

menos um desvio em relação à média foram desconsiderados para as futuras análises.

Por conseguinte, considerando apenas as amplitudes dos picos selecionados (que

estavam dentro do intervalo de ± 1DP), foi calculada uma nova amplitude média com

um novo desvio padrão. Vale comentar que, se houvesse uma maior quantidade de

sinais, a primeira amplitude média poderia ser adotada direto.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Medidas das aberturas

A partir de aproximadamente 10 medições realizadas ao longo do início de cada

entalhe, bem como da trinca de fadiga, conforme já explicado na seção 3.2.1, foram

calculados então a média e o desvio padrão da medida de cada abertura. (Tabela 4.1)

Tabela 4.1 Média e desvio padrão da abertura da trinca de fadiga e dos entalhes.

Abertura Trinca Entalhe 1 Entalhe 2 Entalhe 3 Entalhe 4 Entalhe 5

Média (mm) 0,003 0,386 0,426 0,253 0,247 0,198

Desvio Padrão (mm) 0,0002 0,008 0,004 0,004 0,004 0,007

4.2 Correntes Parasitas

A partir dos tratamentos dos dados dos gráficos de |Z| x Samples, foram calculados

o valor médio e o desvio padrão das amplitudes dos sinais em cada conjunto de 10

picos, isto é, em cada condição de ensaio, conforme explicado na seção anterior. O

resultado dos cálculos encontra-se na Tabela 4.2.

Tabela 4.2 Amplitude média e desvio padrão calculados para cada condição de ensaio.

50 kHz 100 kHz 250 kHz 400 kHz

Abertura Média da amplitude

DP Média da amplitude

DP Média da amplitude

DP Média da amplitude

DP

mm V V V V V V V V

Trinca de Fadiga

0,003 0,2655 0,1363 0,6090 0,1534 0,8279 0,1146 0,8556 0,1136

Entalhe 1 0,38626 0,2551 0,1564 0,7731 0,1869 1,1063 0,1288 1,5096 0,0702

Entalhe 2 0,42566 0,3539 0,1385 0,8509 0,2032 1,3015 0,1019 1,6827 0,1187

Entalhe 3 0,25254 0,3132 0,2007 0,7392 0,2467 1,0296 0,0838 1,3256 0,1748

Entalhe 4 0,24733 0,2958 0,2017 0,6905 0,2695 0,7903 0,1251 1,1549 0,1520

Entalhe 5 0,19838 0,2497 0,3673 0,7393 0,3299 0,9845 0,0978 1,3227 0,1995

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Portanto, com os gráficos de |Z| x Samples (pontos amostrais), conforme exemplo

dado na Figura 3.8, selecionou-se, para cada condição, os picos que estivessem dentro

do intervalo de 1 DP, seguindo o que já foi explicado na seção 3.3.1. Com esses picos já

selecionados, calculou-se uma nova amplitude média e um novo desvio padrão para

cada um dos entalhes ou trinca, com cada uma das frequências trabalhadas, conforme

indicam os resultados exibidos na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 Amplitude média e desvio padrão calculados para cada condição de ensaio,

após filtrar apenas os picos que estivessem dentro do intervalo de 1 DP.

50 kHz 100 kHz 250 kHz 400 kHz

Abertura Média da amplitude

DP Média da amplitude

DP Média da amplitude

DP Média da amplitude

DP

mm V V V V V V V V

Trinca de Fadiga

0,003 0,2653 0,1348 0,6002 0,1532 0,8469 0,1123 0,8393 0,1191

Entalhe 1 0,38626 0,2815 0,1503 0,7546 0,1866 1,0641 0,1355 1,5311 0,0659

Entalhe 2 0,42566 0,3596 0,1373 0,8675 0,2038 1,3211 0,0926 1,6820 0,1189

Entalhe 3 0,25254 0,3166 0,2033 0,7507 0,2471 1,0105 0,0863 1,3542 0,1556

Entalhe 4 0,24733 0,3005 0,2049 0,6887 0,2757 0,7766 0,1243 1,2212 0,1551

Entalhe 5 0,19838 0,2510 0,3679 0,7474 0,3235 0,9524 0,1049 1,3475 0,2067

Para uma melhor análise dos resultados apresentados na Tabela 4.3, plotou-se o

gráfico de Média da Amplitude (V) x Abertura (mm), conforme apresentado na Figura

4.1.

Conforme observado, quanto maior a frequência de operação, maior é a amplitude

média dos sinais. Esse resultado pode ser compreendido pelo fato de que maiores

frequências estão associadas a uma maior geração de corrente, sendo, portanto, mais

efetivas na detecção de trinca ou entalhes na superfície inspecionada, como no presente

trabalho. Dessa forma, a frequência que obteve maiores amplitudes dos sinais foi 400

kHz. Esse resultado difere do obtido por Helifa et al. (2006), cuja frequência ótima de

operação foi 100 kHz. Contudo, as condições de ensaio aplicadas no artigo de Helifa et

al. foram diferentes: o material utilizado foi um aço ferromagnético (XC38), as medidas

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do entalhe observado foram diferentes (abertura de 0,16 mm e profundidade de 1,2 mm)

e a sonda absoluta utilizada apresentava maior diâmetro (12 mm).

Além do mais, pode-se visualizar que frequências menores apresentam maiores

desvios em relação à amplitude média, ou seja, uma maior variância de valores. Esse

fato pode ser justificado pela menor quantidade de correntes parasitas que são geradas

em menores frequências, de modo a prejudicar a relação sinal-ruído dos sinais. (Figura

4.2)

Figura 4.1 Gráfico das amplitudes médias (em Volts), com seus respectivos desvios, em

relação às aberturas (em mm) da trinca de fadiga e dos entalhes, de acordo com as

frequências de ensaio adotadas.

A Tabela 4.4 apresenta a profundidade de penetração para cada frequência testada.

Como se pode observar, a profundidade de penetração é sempre menor que a espessura

do corpo de prova (7,95 mm). Portanto, essa dimensão pode ser desconsiderada na

influência dos resultados.

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Tabela 4.4 Cálculo da profundidade de penetração das correntes parasitas para cada

frequência de ensaio.

Frequência (kHz)

50 100 250 400

Profundidade (mm) 2,55 1,81 1,14 0,90

Figura 4.2 Gráficos de |Z| x Samples, R x Samples e XL x Samples, com uma frequência

de ensaio de: A) 50 kHz, cujos sinais são mais ruidosos; B) 400 kHz, cujos sinais

apresentam menor relação sinal-ruído.

At

i

t

l

e

(

'

E

n

t

a

l

h

e

1

,

4

0

0

k

H

z

(

1

)

'

)

B

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Ao plotar o mesmo gráfico da Figura 4.1, porém sem o desvio padrão e com um

ajuste linear relacionado aos pontos de cada frequência de ensaio, algumas outras

considerações podem ser feitas. (Figura 4.3)

A partir das linhas de tendência exibidas na Figura 4.3, pode-se constatar que a

diferença entre a amplitude média do sinal associado à trinca de fadiga e a amplitude

média relacionada ao entalhe de maior abertura torna-se cada vez maior, conforme a

frequência aumenta. Em outras palavras, percebe-se que, em maiores frequências, a

amplitude do sinal varia mais com a mudança de abertura dos entalhes, tornando essa

relação do sinal com a abertura dos entalhes mais perceptível. Esse comportamento se

deve à maior densidade de corrente gerada pelas frequências mais altas, aumentando

assim a sensibilidade do sensor. Pelo gráfico, esse fato pode ser comprovado de duas

formas:

1) Pelo coeficiente angular de cada reta (Tabela 4.5), os quais se tornam maiores

conforme a frequência aumenta;

2) Pela diferença percentual entre a amplitude do sinal referente à menor abertura

(da Trinca de Fadiga, com 0,003 mm) e a amplitude associada à maior abertura

(do Entalhe 2, com 0,42566 mm), em cada frequência de trabalho. (Figura 4.4)

Tal resultado condiz com o apresentado no artigo publicado por Larson et al.

(2010), apesar do material utilizado por eles ser uma liga de alumínio, com

condutividade elétrica de 47,8% IACS, enquanto o Inconel 625 apresenta uma

condutividade bem inferior, de 1,34% IACS.

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Figura 4.3 Gráfico das amplitudes médias (em Volts), com suas respectivas retas de

ajuste linear, em relação às aberturas (em mm) da trinca de fadiga e dos entalhes, de

acordo com as frequências de ensaio adotadas.

Tabela 4.5 Coeficiente angular das retas de ajuste linear, referentes aos sinais obtidos

por ECT com diferentes frequências.

Frequência

50 kHz 100 kHz 250 kHz 400 kHz

Coeficiente angular 0,16941 0,51969 0,93821 1,8561

Por fim, uma última observação pode ser feita a partir da Figura 4.4. Tendo em

vista a diferença percentual entre a amplitude média do sinal de ECT para a trinca de

fadiga e para o entalhe de maior abertura (entalhe 2), a qual tende a aumentar

consideravelmente em elevadas frequências de ensaio, deve-se sempre atentar para a

necessidade de correção dos dados, caso os resultados obtidos com entalhes de

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eletroerosão sejam utilizados para prever o comportamento do sinal na inspeção de

trincas de fadiga.

Essa diferença percentual entre amplitudes, comparando o sinal referente à maior

abertura com o sinal relacionado à menor abertura, também foi analisada por Nakagawa

et al. em 2009. No entanto, na época, essa análise foi realizada apenas com uma

frequência de operação (2 MHz), com um outro tipo de sonda (diferencial, com

diâmetro de aproximadamente 1,5 mm), além do material utilizado também ser

diferente (Ti-6246) e dos entalhes analisados apresentarem formatos distintos. Porém,

ainda que no trabalho de Nakagawa et al. haja outros parâmetros envolvidos a serem

considerados na interpretação dos resultados obtidos na época (Figura 2.14), percebe-se

que há uma semelhança entre ele e o presente trabalho: ambos indicam uma redução

considerável da amplitude do sinal associado à menor abertura, quando comparada à

amplitude do sinal obtido com a maior abertura.

Figura 4.4 Diferença percentual entre a amplitude do sinal referente à menor abertura

(da trinca de fadiga, com 0,003 mm) e a amplitude associada à maior abertura (do

Entalhe 2, com 0,426 mm), em cada frequência de trabalho.

50,10%

35,89%

30,81%

26,23%

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5 CONCLUSÕES

A relação entre a abertura de entalhes de eletroerosão e a amplitude média dos

sinais obtidos por ECT apresentou uma grande influência da frequência de teste. Dessa

forma, sabendo que maiores frequências estão associadas a uma maior geração de

corrente, torna-se coerente que a maior frequência adotada no presente trabalho, de 400

kHz, tenha apresentado a maior amplitude média dos sinais referentes à trinca de fadiga

e a todos os entalhes.

Em contrapartida, a maior densidade de corrente gerada pelas frequências mais

altas torna o sensor mais sensível às variações de abertura dos entalhes, de modo a

aumentar a diferença percentual entre a amplitude média do sinal de ECT para a trinca

de fadiga e para o entalhe de maior abertura.

Uma vez que a obtenção de trincas de fadiga em laboratório é difícil e cara, torna-se

compreensível e provável que muitos trabalhos tenham a intenção de utilizar os sinais

obtidos com os entalhes de eletroerosão para prever o comportamento dos sinais

referentes a trincas de fadiga. Nesses casos, o presente trabalho demonstra que a

diferença de sensibilidade às aberturas, de acordo com a frequência adotada, deve ser

considerada.

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6 PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS

Para futuros trabalhos relativos à análise da influência da representação de trincas

de fadiga a partir de entalhes de eletroerosão nos testes por correntes parasitas, seguem

abaixo algumas sugestões:

- Obter entalhes de eletroerosão com aberturas ainda menores e mais próximas da

abertura de uma trinca de fadiga;

- Obter entalhes de eletroerosão de diferentes formatos;

- Obter entalhes de eletroerosão com diferentes comprimentos e profundidades, de

forma a analisar, em paralelo com as aberturas, a influência dessas medidas na

amplitude do sinal;

- Repetir os experimentos, porém utilizando uma sonda comercial diferencial,

analisando assim qual seria o melhor tipo de sonda para se trabalhar;

- Montar um modelo, no qual os dados de entrada sejam a frequência e a abertura

do entalhe, gerando como resposta a correção do sinal.

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