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ANÁLISE DA VARIABILIDADE DA VAZÃO DAS NASCENTES NO PARQUE DAS MANGABEIRAS (BELO HORIZONTE-MG) EM RELAÇÃO AOS CONDICIONANTES AMBIENTAIS 1 Miguel Fernandes Felippe – IGC/UFMG – [email protected] Antônio Pereira Magalhães Jr. – IGC/UFMG – [email protected] RESUMO: As nascentes são sistemas ambientais condicionados por fatores do quadro físico e humano. Aspectos como o clima, geologia, geomorfologia, cobertura vegetal e os usos do solo determinam as condições hidrológicas, incluindo as vazões das nascentes. Buscando conhecer e proteger nascentes em áreas pouco degradadas em uma região metropolitana intensamente antropizada, visa-se estudar o caso do Parque das Mangabeiras, a maior unidade de conservação do município de Belo Horizonte-MG. O trabalho interpreta a variabilidade das vazões das nascentes locais, contribuindo para a gestão e proteção das mesmas. Em campanhas de campo, localizaram-se 57 nascentes no Parque. A vazão foi medida de forma direta pela coleta da água em medidores graduados, sendo que o maior registro foi de 1,84 l/s, o menor de 0,03 l/s e a vazão média foi de 0,28 l/s, havendo um desvio padrão de 0,39. Destarte a aparente similaridade das características ambientais das nascentes, há uma notável variabilidade na vazão, o que exige estudos interpretativos na busca de explicações para esse fato empiricamente comprovado. Portanto, o objetivo deste trabalho é apontar os principais condicionantes ambientais da vazão das nascentes estudadas. Foram identificados aspectos ligados à morfometria das nascentes, às características geológicas e geomorfológicas locais e regionais, à vegetação circundante, à cobertura pedológica e à qualidade das águas. Inicialmente, percebe-se que os elementos mais importantes na compreensão da variabilidade das vazões de nascentes são a morfologia, a posição dos afloramentos rochosos e o tipo de exfiltração. Palavras-chave: Nascentes; vazão; Belo Horizonte-MG. ABSTRACT: Springs are environmental systems conditioned by physical and human factors. Elements as climate, geology, geomorphology, vegetal covering and soil uses determine the hydrological conditions, besides the spring flow. To know and to protect the springs within conservation units in the core of an intense degraded metropolitan space, it is aimed to study the case of Parque das Mangabeiras, the biggest conservation unit of Belo Horizonte-MG municipality. The work interprets the variability of the flows of springs, giving a contribution to its management and protection. In fieldworks, 57 springs were localized in the park. The flow was calculated directly by the collection of water in graduate meters. The highest record was 1.84 l/s, while the lowest was 0.03 l/s and the mean calculated was 0.28 l/s, with a standard deviation of 0.39. Thus, there is a clear variability in the flows of springs that demands interpretative studies to explain this empirical fact. Therefore, this work aims to indicate the main conditioning environmental elements of the flow of the studied springs. The morphometry of the springs, its geological and geomorphological characteristics, its surrounding vegetation, its soils and its water quality were identified and described in an environmental matrix. The data were statistically interpreted. It was shown that the most important elements to comprehend the flow of springs were its morphology, the position of rock outcrop, and the type of exfiltration. Keywords: Springs; flow; Belo Horizonte-MG. 1 O trabalho apresenta resultados iniciais do mestrado do primeiro autor, no programa de Pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UFMG, sob orientação do Prof. Dr. Antônio P. Magalhães Jr.

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ANÁLISE DA VARIABILIDADE DA VAZÃO DAS NASCENTES NO PARQUE DAS

MANGABEIRAS (BELO HORIZONTE-MG) EM RELAÇÃO AOS CONDICIONANTES

AMBIENTAIS1

Miguel Fernandes Felippe – IGC/UFMG – [email protected]

Antônio Pereira Magalhães Jr. – IGC/UFMG – [email protected]

RESUMO: As nascentes são sistemas ambientais condicionados por fatores do quadro físico e humano. Aspectos como o clima, geologia, geomorfologia, cobertura vegetal e os usos do solo determinam as condições hidrológicas, incluindo as vazões das nascentes. Buscando conhecer e proteger nascentes em áreas pouco degradadas em uma região metropolitana intensamente antropizada, visa-se estudar o caso do Parque das Mangabeiras, a maior unidade de conservação do município de Belo Horizonte-MG. O trabalho interpreta a variabilidade das vazões das nascentes locais, contribuindo para a gestão e proteção das mesmas. Em campanhas de campo, localizaram-se 57 nascentes no Parque. A vazão foi medida de forma direta pela coleta da água em medidores graduados, sendo que o maior registro foi de 1,84 l/s, o menor de 0,03 l/s e a vazão média foi de 0,28 l/s, havendo um desvio padrão de 0,39. Destarte a aparente similaridade das características ambientais das nascentes, há uma notável variabilidade na vazão, o que exige estudos interpretativos na busca de explicações para esse fato empiricamente comprovado. Portanto, o objetivo deste trabalho é apontar os principais condicionantes ambientais da vazão das nascentes estudadas. Foram identificados aspectos ligados à morfometria das nascentes, às características geológicas e geomorfológicas locais e regionais, à vegetação circundante, à cobertura pedológica e à qualidade das águas. Inicialmente, percebe-se que os elementos mais importantes na compreensão da variabilidade das vazões de nascentes são a morfologia, a posição dos afloramentos rochosos e o tipo de exfiltração. Palavras-chave: Nascentes; vazão; Belo Horizonte-MG. ABSTRACT: Springs are environmental systems conditioned by physical and human factors. Elements as climate, geology, geomorphology, vegetal covering and soil uses determine the hydrological conditions, besides the spring flow. To know and to protect the springs within conservation units in the core of an intense degraded metropolitan space, it is aimed to study the case of Parque das Mangabeiras, the biggest conservation unit of Belo Horizonte-MG municipality. The work interprets the variability of the flows of springs, giving a contribution to its management and protection. In fieldworks, 57 springs were localized in the park. The flow was calculated directly by the collection of water in graduate meters. The highest record was 1.84 l/s, while the lowest was 0.03 l/s and the mean calculated was 0.28 l/s, with a standard deviation of 0.39. Thus, there is a clear variability in the flows of springs that demands interpretative studies to explain this empirical fact. Therefore, this work aims to indicate the main conditioning environmental elements of the flow of the studied springs. The morphometry of the springs, its geological and geomorphological characteristics, its surrounding vegetation, its soils and its water quality were identified and described in an environmental matrix. The data were statistically interpreted. It was shown that the most important elements to comprehend the flow of springs were its morphology, the position of rock outcrop, and the type of exfiltration. Keywords: Springs; flow; Belo Horizonte-MG.

1 O trabalho apresenta resultados iniciais do mestrado do primeiro autor, no programa de Pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UFMG, sob orientação do Prof. Dr. Antônio P. Magalhães Jr.

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Introdução

A concepção de água como um bem renovável, tem sido substituída pela idéia de um bem

finito em quantidade e qualidade, ainda que seus volumes absolutos não sejam alterados em nível

global (MAGALHÃES JR, 2007). Todavia, ampliando a escala de abordagem, o ciclo hidrológico

possui dinâmicas distintas em função das especificidades de cada bacia ou cada região. Assim, os

processos hidrológicos não ocorrem da mesma forma em todos os lugares e a todo o momento.

Essa discussão ganha ainda mais importância em espaços urbanos. A aglomeração de

pessoas e atividades econômicas, invariavelmente, exerce uma pressão demasiadamente grande sobre

o meio natural. As demandas cada vez maiores de recursos promovem a degradação da qualidade

ambiental, sendo que as cidades – ou metrópoles – se transformam em uma antítese do natural. Porém,

a concepção sistêmica do espaço permite uma interpretação sensivelmente distinta: o meio ambiente

urbano (JACOBI, 1997; CARLOS, 1994).

De forma simplificada, pode-se afirmar que a perenização dos cursos d’água superficiais é

garantida pelas águas subterrâneas. Os fluxos subterrâneos convergem para zonas de menor potencial

hidrométrico, promovendo uma diferença de energia que resulta na exfiltração da água subterrânea

para a superfície (STRAHLER; STRAHLER, 1992). A exfiltração é o principal responsável pela

formação de nascentes, contribuindo para os fluxos dos canais juntamente com as águas pluviais que

atingem os canais diretamente ou pelo escoamento pluvial nas vertentes (FEITOSA; MANOEL-

FILHO, 1997; FETTER, 1994).

As nascentes são elementos singulares, com uma complexidade hidrológica,

geomorfológica e pedológica ainda pouco interpretada. Apresentam importância primeira para a

dinâmica hidrológica, pois marcam a passagem da água subterrânea para a superficial pela exfiltração.

Nesse sentido, são parcialmente responsáveis pela origem dos recursos hídricos de mais fácil acesso à

maioria da população e dos setores econômicos; posto que os custos financeiros de utilização das

águas superficiais são consideravelmente menores do que o das águas subterrâneas, sobretudo em

países tropicais, como o Brasil.

Uma rápida revisão bibliográfica sobre a temática abordada mostra que o estudo sobre as

nascentes – seja na literatura brasileira ou estrangeira – apresenta inúmeras lacunas. Parte dessas deve-

se à complexidade do tema que exige uma abordagem interdisciplinar. Todavia, a ciência tem buscado

cada vez mais a comunicação entre os diversos campos do conhecimento, de forma que a

interdisciplinaridade é mais plausível. Adicionalmente, a consideração da teoria geossistêmica

possibilita ir além das relações causa-efeito que nortearam pesquisas geográficas no passado,

vislumbrando com maior facilidade a complexidade do ambiente e dando subsídios a estudos mais

precisos (PASSOS, 1988).

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A escassez de estudos estritamente sobre nascentes ocasiona, em termos acadêmicos, uma

falta de precisão no seu conceito. Concomitantemente, o senso comum trabalha constantemente a

“idéia” de nascente, fato que transborda para o meio científico gerando uma falsa impressão de que o

conceito é claro e está definido. A literatura traz algumas tentativas de conceitualização do termo

sendo, porém, muito distintas entre si, e supervalorizando determinados elementos de acordo com o

foco do estudo no qual se insere o termo. Isso faz com que haja uma concepção para a engenharia,

outra para a agronomia, outra para a geologia e ainda outra para a geografia. Em campo, porém,

verifica-se facilmente a falta de aplicabilidade de alguns conceitos e as limitações de outro.

As nascentes devem ser entendidas em seus respectivos contextos ambientais. Em termos

geomorfológicos, é importante caracterizar a bacia de cabeceira onde estão situadas, caso existam. As

cabeceiras de drenagem correspondem, geralmente, a formas côncavas à semelhança de anfiteatros

erosivos que concentram fluxos pluviais e sedimentos. Porém, nem sempre possuem esta forma tão

característica, podendo apresentar morfologia suavizada e mal demarcada na superfície. Originam-se

de processos de intemperismo e erosão superficial e sub-superficial de caráter químico

(dissolução/remoção) e/ou físico (erosão mecânica), onde as águas pluviais e subterrâneas são os

agentes principais. Ao determinarem o rearranjo dos fluxos em superfície, funcionando como pequenas

bacias de captação de água e sedimentos, as cabeceiras possuem destacada importância na proteção e

conservação das nascentes.

A vazão ou débito de um curso d’água é a quantidade de água que flui por uma seção

transversal do canal por unidade de tempo (CHRISTOFOLETTI, 1981). Ao longo do perfil

longitudinal dos rios, ocorrem alterações na vazão em função de eventuais perdas e ganhos de água

pelo sistema fluvial. Assim, a água que flui no exutório de uma bacia hidrográfica é uma resultante

complexa da vazão das nascentes que nela existem, das perdas por infiltração e evaporação e dos

ganhos por exfiltração e pluviosidade.

Dessa forma, objetiva-se interpretar as variações de vazão em 57 nascentes estudadas no

Parque Municipal das Mangabeiras – Belo Horizonte-MG – no intuito de avaliar seus principais

condicionantes ambientais. Para tanto, realizou-se um levantamento de uma série de características

físicas das nascentes concomitantemente à mensuração da vazão. Os resultados demonstram que o

modo de exfiltração e a posição dos afloramentos rochosos são importantes variáveis na compreensão

da vazão dessas nascentes.

Área de estudo

O Parque Municipal das Mangabeiras localiza-se na Região Centro-Sul de Belo Horizonte,

correspondendo seu limite sudeste com a divisa municipal com Nova Lima (FIG. 1). É a maior

Unidade de Conservação gerida pela Prefeitura Municipal, com uma área de 2.417.000 m². Sua rede de

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drenagem constitui a alta porção da bacia do Córrego da Serra, afluente da margem direita do Ribeirão

Arrudas e subafluente do Rio das Velhas.

FIGURA 1 – Localização do Parque das Mangabeiras. Fonte: Bases cartográficas da PBH; elaboração própria.

Em termos geomorfológicos, o parque encontra-se na vertente norte da Serra do Curral –

Quadrilátero Ferrífero – com cotas altimétricas variando entre 950 e 1.350 metros (FIG. 2). O extremo

sudeste do Parque é marcado por uma linha de crista que coincide com o divisor da drenagem e

também o limite intermunicipal. As altas vertentes possuem declividade elevada, freqüentemente

atingindo valores superiores à 60º. As médias e baixas vertentes, mormente, possuem declividade

suave à suave-ondulada, sobretudo na porção central do Parque.

A drenagem possui padrão dendrítico, por vezes, com nítido controle estrutural. As altas

vertentes são marcadas por ravinamentos profundos que se interligam à rede de drenagem perene na

porção média da vertente. Os canais fluviais são encaixados muitas vezes com talvegue em rocha sã,

indicando incisão vertical intensa, o que promove baixa sinuosidade. As planícies são praticamente

inexistentes e as margens são marcadas por taludes esculpidos majoritariamente no manto de alteração,

mas em alguns casos, na rocha sã.

No substrato geológico predominam rochas do Supergrupo Minas com uma pequena

porção do Parque embasada pelo Grupo Sabará (FIG. 3). A Formação mais expressiva é a Gandarela,

com dolomitos e itabiritos dolomíticos. As cristas do sudeste apresentam crostas lateríticas – Canga –

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sobrepostas à litologias da Formação Cauê. A porção norte é embasada por rochas das Formações

Cercadinho, Fecho do Funil e do Grupo Sabará, com pequenas áreas onde se encontra a Formação

Taboões (CPRM, 2000).

FIGURA 2 – Parque das Mangabeiras: Hipsometria. Fonte: Bases cartográficas da PBH; elaboração própria.

A vegetação predominante é a Floresta Estacional Semidecidual, com existência de Savana

Gramínio-Lenhosa nas altas vertentes. Essa classificação é dificultada, porém, pela complexidade da

região que consiste em uma Área de Tensão Ecológica (IBGE, 2004). O interior do Parque apresenta

inúmeras áreas de vegetação com alto grau de preservação, intervaladas pelas estruturas de lazer e

pelas estradas. Em uma escala mais precisa, predominam matas de dossel fechado a semi-aberto, com

estrato arbustivo e herbáceo incipiente, serrapilheira abundante e lianas e epífitas constantes.

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FIGURA 3 – Parque das Mangabeiras: Substrato Geológico. Fonte: Bases cartográficas da PBH; CPRM, 2000; elaboração própria.

Metodologia

Foram realizados, entre dezembro de 2008 e fevereiro de 2009, uma série de trabalhos de

campo no Parque das Mangabeiras com o objetivo de catalogar as nascentes existentes no parque,

descrever suas características físicas e medir a vazão das mesmas. O período considerado confere com

a fase de recarga dos aqüíferos em Belo Horizonte, representando a fase de maior dinâmica hidrológica

no município.

Dessa forma, foram catalogadas as nascentes identificadas como intermitentes ou perenes.

As características físicas das áreas de entorno, as condições meteorológicas dos dias anteriores ao

campo e entrevistas com funcionários do parque permitiram excluir das análises as nascentes

consideradas efêmeras – geradas pelo fluxo de saturação2. Esse procedimento foi necessário devido à

infinidade de pontos de exfiltração da água que surgem logo após os eventos pluviais. Sem contato

direto com o aqüífero sotoposto e condicionados exclusivamente pelo fluxo de saturação, nesses locais

a exfiltração ocorre em um período muito restrito de tempo, mormente horas ou poucos dias.

2 Saturation overland flow, descrito e conceitualizado por Knighton (1984).

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As nascentes foram catalogadas e identificadas espacialmente pela média de três pontos

obtidos em aparelho GPS, no intuito de diminuir a imprecisão do aparelho (em média 4 metros). As

características físicas das 57 nascentes encontradas no parque foram descritas. Para o estudo dos

condicionantes da vazão das nascentes, foram consideradas as seguintes variáveis ambientais:

formação geológica; tipo de cobertura vegetacional; declividade; ocorrência de canal de drenagem;

ocorrência e posição de afloramentos rochosos; ocorrência de descontinuidades estruturais; ocorrência

de cabeceira de drenagem; altitude; forma da exfiltração; e morfologia das nascentes.

A ocorrência de canal de drenagem, a ocorrência e posição de afloramentos, a forma da

exfiltração e a morfologia das nascentes foram verificadas e descritas em campo, com o auxílio de

medições com fita métrica para as características morfométricas. Além da verificação em campo, o

tipo de cobertura vegetacional, a ocorrência de cabeceira de drenagem também contaram com

procedimentos de geoprocessamento. A declividade e a altitude foram medidas a partir do modelo

digital de terreno elaborado a partir da carta topográfica com eqüidistância de curvas de nível de cinco

metros. Por fim, a formação geológica e a ocorrência de descontinuidades estruturais foram obtidas de

forma secundária (CPRM, 2000).

A medição da vazão de nascentes esbarra na limitação dos procedimentos convencionais

quanto a fluxos de pequena grandeza (KONDOLF; PIÉGAY, 2003). Os equipamentos utilizados

tradicionalmente em estudos de geomorfologia fluvial não conseguem medir a vazão da maioria das

nascentes, devido à quantidade relativamente pequena de água que flui. Assim, estudos que visam

medir pequenas vazões devem implantar ações estruturais, baseadas em barramentos (KONDOLF;

PIÉGAY, 2003) ou utilizarem-se de artifícios menos convencionais como pequenos medidores

graduados (PINTO et al, 2004).

Outros procedimentos também foram avaliados, todos, porém, apresentando severos

impedimentos a sua utilização. As “Calhas Parshall” apresentam problemas quanto à vazão mínima

registrável (aproximadamente 2,7 l/s, valor superior ao de todas as nascentes estudadas), além disso, as

intervenções necessárias para a implantação do aparelho causariam considerável impacto na unidade

de conservação. Outra possibilidade seria a utilização de “Placas de Orifício”; porém a necessidade de

uma lâmina d’água com altura determinada, também a inviabiliza.

O melhor procedimento seria a utilização de “Turbinas Pelton”; por serem adaptadas às

baixas vazões, haveria a possibilidade da aplicação em nascentes. Porém, são construídas para

mensurar intervalos de vazões muito restritos, como por exemplo, entre 0,0015 a 0,0125 l/s. Tal

característica demandaria a obtenção de uma série de turbinas para contemplar todas as magnitudes de

vazões encontradas, o que ocasionaria um aumento considerável dos custos do trabalho. Além disso,

essas turbinas, devido ao pequeno tamanho de seus aparatos mecânicos, só podem ser utilizadas em

líquidos isentos de sólidos em suspensão, variável incontrolável em campo (INCONTROL, 2005).

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Com isso, considerou-se que para os fins deste trabalho, o procedimento mais adequado

para mensurar a vazão era, de fato, a utilização de medidores graduados. Além do baixo custo, as

limitações existentes nos demais procedimentos, os inviabilizam. O procedimento baseia-se na coleta

da água do fluxo (mais próximo possível dos pontos ou áreas de exfiltração) em sacolas plásticas e

medição do tempo em cronômetro digital. A água coletada é transportada para um medidor graduado,

sendo realizada a leitura do volume. Para minimizar os possíveis erros de coleta, foram feitas de três a

cinco medições em cada nascente. A vazão é, então calculada pela fórmula (PINTO et al, 2004):

Q = [(v/t)]/n

Em que: Q é a vazão média observada (l/s); v é o volume de água (em litros); t é o tempo

(em segundos); e n é o número de medições.

Devido à impossibilidade de mensuração de volumes extremamente pequenos de água ou

de nascentes difusas que não formam fluxo a jusante, 22 nascentes não puderam ter sua vazão

mensurada. Para evitar imprecisões nas conclusões, estas foram excluídas das análises estatísticas.

Por fim, foram elaborados gráficos de vazão x vazão com a tematização das nascentes de

acordo com a variável analisada. Esse procedimento permite a interpretação visual dos dados,

auxiliando na definição dos principais condicionantes de altas e baixas vazões nas nascentes

encontradas. Ademais, foi realizada a estatística descritiva dos resultados das vazões em função das

características ambientais das nascentes. A freqüência absoluta, a média, o desvio padrão, a relação

Desvio/ Média, a mediana, o valor máximo, o valor mínimo, a variância e a distorção das vazões

foram calculados.

Resultados e discussões

Durante a realização dos trabalhos de campo, a vazão das nascentes encontradas foi

mensurada. Porém, em 22 nascentes (de um total de 57) não foi possível realizar as medições. O

principal motivo foi a forma com que a água aflora nesses ambientes. Em alguns casos, a vazão é

extremamente baixa o que inviabilizou a mensuração; da mesma forma, algumas nascentes apresentam

exfiltração difusa ou múltipla sem acumulação de água a jusante, o que também não permitiu a

utilização da metodologia adotada para o cálculo da vazão.

Assim, 35 nascentes foram estudadas neste trabalho. As vazões variaram entre 0,03 l/s

(menor medição) e 1,84 l/s (maior medição), sendo que apenas três nascentes apresentaram vazão

superior a 1 l/s. Todas as demais (32) apresentaram vazão inferior a 0,6 l/s, mostrando uma quebra

natural no rol das vazões neste ponto.

A vazão média encontrada foi de 0,28 l/s, com desvio padrão de 0,39. Todavia, a mediana

de 0,11 l/s, consideravelmente distante da média, mostra que há uma concentração de vazões com

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valores muito baixos, com mais da metade das nascentes apresentando vazão inferior a 0,1 l/s.

Considerando que essas medições foram realizadas no período de excesso hídrico, espera-se, no

inverno, que haja a interrupção do fluxo em diversas nascentes.

A TAB. 1 apresenta uma síntese da estatística descritiva das vazões das nascentes

estudadas. Adicionalmente, apresenta-se uma avaliação em função das principais características

ambientais, auxiliando na compreensão dos condicionantes das vazões. A seqüência de gráficos

(GRÁFICO 1 a 8) apresenta a dispersão das vazões (eixos x e y apresentam invariavelmente o mesmo

valor: vazão) classificadas de acordo com as respectivas características ambientais analisadas.

O GRÁFICO 1 mostra a variação do tipo de cobertura vegetal pela vazão encontrada.

Nota-se que não há predomínio de qualquer vegetação nas nascentes de maior vazão, tampouco nas de

menor. Na TAB. 1 essa informação é corroborada. A média das vazões está bem distribuída em função

dos tipos de vegetação, com exceção da mata aberta que só possui uma observação (o que não é

representativo em termos estatísticos). Apesar da nítida redução dos máximos com a redução da

densidade da vegetação, as altas distorções calculadas e a alta relação desvio/média não permitem

afirmar que há qualquer tendência de vazão em função da vegetação que circunda as nascentes.

Quanto à altitude, nota-se, também, que não há clara relação entre essa característica e a

vazão das nascentes. As médias encontradas (TAB. 1) são consideravelmente próximas entre si

(exceção à da classe 1100-1150m), entretanto, as distorções são inferiores à do rol completo, assim

como a maioria das relações desvio/média. Tal afirmativa poderia apontar uma relação direta entre

altitude e vazão, todavia, isso somente corresponde à verdade para as duas últimas classes de altitude

(mais elevadas); além disso, o GRÁFICO 2 não permite afirmar que haja correspondência entre as

vazões mais altas com qualquer classe de altitude.

O GRÁFICO 3 mostra que as três maiores vazões encontradas correspondem a nascentes

em declividade baixa ou média. Essas classes apresentam as maiores médias de vazão, porém,

registram também as maiores relações desvio/média e maiores distorções (sobretudo a classe de

declividade baixa). Observa-se que não foram registradas vazões de nascentes em declividade alta e

somente um caso na classe média-alta. Dessa forma, considera-se que a declividade não pode ser

considerada um condicionante das vazões.

A morfologia das nascentes, porém, aparece como uma primeira característica que guarda

relação estreita com a vazão. O GRÁFICO 4 mostra que as maiores vazões são encontradas em

nascentes em duto ou talvegue. A TAB.1 mostra que as maiores médias se encontram nessas duas

classes, sendo que a distorção dos valores é baixa em relação ao rol completo. Em relação à classe das

nascentes em duto, tal afirmação se torna ainda mais clara: maior média, baixa relação desvio/média,

mediana extremamente alta, maior máximo e maior mínimo. Assim, pode-se afirmar que as nascentes

em duto, em geral, são caracterizadas por elevadas vazões.

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Frequência Média Desvio Desvio/ Média Mediana Máximo Mínimo Variância Distorção

Cercadinho 7 0,37 0,48 1,30 0,08 1,34 0,04 0,23 1,73Gandarela 25 0,25 0,39 1,55 0,11 1,84 0,03 0,15 3,26Fecho do Funil 3 0,25 0,17 0,71 0,29 0,39 0,05 0,03 -1,13

Mata Fechada 10 0,26 0,56 2,10 0,08 1,84 0,04 0,31 3,11Mata Semi-aberta 16 0,26 0,32 1,24 0,17 1,34 0,03 0,10 2,77Mata Aberta 1 1,02 - - 1,02 1,02 1,02 - -Alterada 8 0,23 0,20 0,89 0,16 0,54 0,03 0,04 0,53

Alta 0 - - - - - - - -Média-Alta 1 0,46 - - 0,46 0,46 0,46 - -Média 9 0,37 0,49 1,32 0,08 1,34 0,03 0,24 1,37Média-Baixa 13 0,16 0,13 0,81 0,11 0,44 0,03 0,02 0,99Baixa 12 0,31 0,50 1,61 0,13 1,84 0,04 0,25 3,01

Sem canal 10 0,11 0,09 0,78 0,07 0,29 0,04 0,01 1,29Com canal 25 0,34 0,45 1,31 0,18 1,84 0,03 0,20 2,26

Não há 11 0,17 0,14 0,82 0,16 0,44 0,03 0,02 0,99Jusante 2 0,25 0,30 1,21 0,25 0,46 0,04 0,09 -Montante 6 0,14 0,12 0,91 0,08 0,35 0,04 0,02 1,26Na nascente 15 0,42 0,55 1,30 0,17 1,84 0,03 0,30 1,71

1000-1050 8 0,34 0,44 1,31 0,18 1,34 0,04 0,19 2,071050-1100 9 0,36 0,58 1,60 0,09 1,84 0,03 0,34 2,531100-1150 14 0,12 0,11 0,89 0,08 0,44 0,03 0,01 1,961150-1200 4 0,49 0,36 0,75 0,37 1,02 0,19 0,13 1,65

Pontual 26 0,32 0,43 1,34 0,17 1,84 0,03 0,19 2,48Múltipla 4 0,24 0,25 1,01 0,20 0,54 0,03 0,06 0,51Difusa 5 0,05 0,02 0,33 0,05 0,08 0,04 0,00 0,45

Afloramento 5 0,12 0,14 1,16 0,05 0,36 0,04 0,02 2,11Concavidade 10 0,17 0,20 1,14 0,07 0,54 0,03 0,04 1,21Duto 13 0,43 0,53 1,24 0,23 1,84 0,06 0,28 2,19Talvegue 7 0,25 0,37 1,49 0,06 1,02 0,03 0,14 1,99

35 0,28 0,39 1,42 0,11 1,84 0,03 0,15 2,75Fonte: formação geológica: CPRM, 2000; declividade e altitude: PBH; vegetação, canal, exfiltração, morfologia e afloramentos: dados de campo.

Total

Exfiltração

Morfologia

Altitude (m)

Canal

Posição dos afloramentos

Característica

Tabela 1: Estatística descritiva das vazões (l/s) das nascentes em função das características levantadas

Formação Geológica

Vegetação

Declividade

Vegetação

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

vazão (l/s)

vazã

o (l/

s)

Mata fechada

Mata semi-aberta

Mata aberta

Vegetação alterada

Gráfico 1: Dispersão dos dados de vazão (l/s) em função do tipo de vegetação.

Fonte: Dados obtidos em campo.

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Altitude (m)

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0

vazão (l/s)

vazã

o (l/

s)

1000-10501050-11001100-11501150-1200

Gráfico 2: Dispersão dos dados de vazão (l/s) em função da altitude.

Fonte: Dados obtidos em campo.

Declividade

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

vazão (l/s)

vazã

o (l/

s)

AltaMédia-AltaMédiaMédia-BaixaBaixa

Gráfico 3: Dispersão dos dados de vazão (l/s) em função da declividade.

Fonte: Dados obtidos em campo.

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Morfologia

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

vazão (l/s)

vazã

o (l/

s) ConcavidadeDutoTalvegueAfloramento

Gráfico 4: Dispersão dos dados de vazão (l/s) em função do tipo de morfologia.

Fonte: Dados obtidos em campo.

Ainda mais nítida é a relação da vazão com o tipo de exfiltração da água. O GRÁFICO 5

mostra que todas as nascentes de alta vazão (superior a 1 l/s) possuem exfiltração pontual. Por um

lado, verifica-se que as nascentes com exfiltração pontual possuem as maiores médias de vazão, mas

como são as de maior freqüência (74% dos casos), sua mediana é baixa. Por outro lado, as nascentes

difusas possuem as menores médias, menor relação desvio/média, menor mediana, menor máxima e

uma distorção extremamente baixa (TAB.1). Assim, pode-se afirmar que as nascentes com exfiltração

pontual tendem a possuir vazão elevada, enquanto que as nascentes com exfiltração difusa tendem a

possuir vazão muito baixa. As nascentes com exfiltração múltipla se encaixam entre os dois extremos,

justamente por refletirem características de nascentes pontuais e difusas simultaneamente.

Assim como o tipo de exfiltração, a formação geológica é uma característica mal

distribuída entre as nascentes: 71% dos casos encontram-se nas rochas carbonáticas da Formação

Gandarela. As médias das vazões são muito próximas entre as formações geológicas, destacando-se a

Formação Cercadinho com a maior média e, concomitantemente, menor distorção (TAB.1). Ademais,

a Formação Gandarela apresenta duas das três nascentes de elevada vazão, inclusive a maior

(GRÁFICO 6). Apesar de não ser conclusiva, a interpretação dos dados aponta para um condicionante

geológico menos pronunciado, em que a Formação Cercadinho se destaca com maiores médias de

vazão para suas nascentes.

Entretanto, a posição dos afloramentos rochosos em relação às nascentes apresentou

resultados bastante conclusivos. Nota-se no GRÁFICO 7 que todas as nascentes de maior vazão

(acima de 1 l/s) apresentam afloramentos rochosos no local da exfiltração. Além disso, essa classe

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apresenta a maior média, relação desvio/média baixa e distorção baixa (TAB.1). Isso indica uma

tendência de altas vazões em nascentes com afloramentos rochosos. Por outro lado, nascentes com

afloramento à montante ou sem afloramentos (posto que à jusante só existem dois casos, o que

inviabiliza conclusões estatísticas) possuem médias consideravelmente mais baixas e,

concomitantemente, relações desvio/média e distorções baixas. Tal verificação corrobora a influência

dos afloramentos rochosos na vazão das nascentes.

O GRÁFICO 8 apresenta a distribuição das vazões em função da ocorrência (ou não) de

canal a jusante. Primeiramente, deve-se observar a má distribuição dos dados (em 71% dos casos

existem canais). As nascentes de maior vazão possuem canal a jusante, inclusive as três superiores a 1

l/s. Na TAB.1 observa-se que a média das vazões é três vezes maior nas nascentes em canal e que as

relações desvio/média e as distorções são menores do que o rol completo. Porém, entendendo que os

canais são esculpidos pela erosão hídrica e que a vazão está diretamente relacionada à energia das

águas, pode-se acreditar que a formação de canais seja condicionada (e não condicionante) pela vazão.

Exfiltração

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

vazão (l/s)

vazã

o (l/

s)

Multipla

Difusa

Pontual

Gráfico 5: Dispersão dos dados de vazão (l/s) em função do tipo de exfiltração.

Fonte: Dados obtidos em campo.

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Formação Geológica

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

vazão (l/s)

vazã

o (l/

s) CercadinhoGandarelaFecho do Funil

Gráfico 6: Dispersão dos dados de vazão (l/s) em função da formação geológica.

Fonte: Dados obtidos em campo.

Posição dos afloramentos

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

vazão (l/s)

vazã

o (l/

s)

Não há

Jusante

Montante

Na nascente

Gráfico 7: Dispersão dos dados de vazão (l/s) em função da posição dos afloramentos.

Fonte: Dados obtidos em campo.

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Ocorrência de canal

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2

vazão (l/s)

vazã

o (l/

s) Sem Formação deCanalFormam Canal

Gráfico 8: Dispersão dos dados de vazão (l/s) em função da ocorrência de canal de drenagem.

Fonte: Dados obtidos em campo.

Conclusões

A interpretação de processos ambientais é sempre complexa pela quantidade de variáveis

que, direta ou indiretamente, pode condicioná-los. Dessa forma, cabe salientar aqueles elementos que

possuem maior significância na compreensão desses processos. Para o caso das vazões das nascentes

no Parque das Mangabeiras, optou-se neste trabalho por uma leitura minuciosa da paisagem,

identificando uma série de variáveis que poderiam relacionar-se diretamente com a vazão.

Apresentaram-se, então, as oito que foram consideradas mais importantes, seja pela resposta que a

análise forneceu, seja pela possibilidade não concretizada destas condicionarem as vazões das

nascentes estudadas.

A vegetação e a declividade foram os elementos que menos apresentaram relação com a

vazão. Mesmo o primeiro, que poderia indicar indiretamente o grau de proteção dos ambientes, não

permitiu afirmações conclusivas. Esses elementos são importantes em termos de recarga subterrânea,

porém, na descarga não apresentam a mesma visibilidade já que, entre a recarga e a descarga, existem

lentos e complexos processos de movimentação da água em subsuperfície.

A formação geológica e a altitude apresentaram um grau de precisão insatisfatório. Os

dados tabulados mostraram certa relação desses elementos com a vazão, mas a pequena variabilidade

destes no Parque das Mangabeiras impediu afirmações mais profícuas. Acredita-se, porém, que a

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formação geológica enquanto aqüífero terá uma influência no processo de descarga, o que não pode ser

afirmado por esse estudo, exigindo novas abordagens com maior variabilidade hidrogeológica.

Os principais condicionantes da vazão das nascentes do Parque das Mangabeiras foram a

posição dos afloramentos, o tipo de exfiltração e a morfologia da nascente. Essas características

apresentaram uma relação elevada com a variabilidade vazão. De uma forma geral, pode-se afirmar

que as nascentes que possuem afloramentos, rochosos exfiltração pontual e forma de duto tendem a

apresentar vazões elevadas. Esse é o caso de duas das três nascentes com vazão acima de 1 l/s, sendo

que na terceira, a única variação é quanto á morfologia (no caso, talvegue). Nota-se que essas três

variáveis possuem uma característica interessante: são originadas por processos superficiais e

subterrâneos, concomitantemente, assim como as próprias nascentes.

Apesar da ocorrência de canal ser uma variável que apresentou uma clara relação com a

vazão, acredita-se que seria uma inversão de raciocínio afirmar que a existência do canal condiciona a

vazão. Sob a perspectiva dos processos erosivos que originam canais, é mais plausível afirmar que a

elevada vazão fornece energia para a escavação do canal. Exceção se faz às nascentes em talvegue, nas

quais o canal (que começa à montante da nascente e se estende à jusante) pode, de fato, contribuir para

a interceptação do nível freático.

Contudo, apontam-se como possibilidades de ampliação dos resultados a medição das

vazões de todas as nascentes, posto que 38% delas não puderam ter suas vazões calculadas. Além

disso, a utilização de um método estatístico multivariado e qualitativo poderia auxiliar na compreensão

dos dados. Um estudo sob uma escala diversa, que englobasse contextos ambientais mais distintos

também é demandado pra refinamento das conclusões obtidas.

Agradecimento

À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo apoio financeiro à

pesquisa.

Referências

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Geografia, n. 8, USP/FFLCH, 1994.

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