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Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 187 ANÁLISE DAS PATOLOGIAS EXISTENTES NO CONJUNTO HABITACIONAL MONTE CARLO – PRESIDENTE PRUDENTE Gabriella Fernandes Murari (1) ; Cesar Fabiano Fioriti (2) (1) Bolsista FAPESP, Aluna de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Presidente Prudente. (2) Orientador, Professor Assistente Doutor, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Presidente Prudente. Eemail: [email protected] RESUMO No Brasil, temse observado um aumento significativo na incidência de anomalias em edificações voltadas à habitação popular. As ocorrências de patologias em habitação de interesse social serão o ponto preponderante deste trabalho. Dessa forma, foram realizados levantamentos quantitativos das patologias presentes em uma amostra de 15 unidades no conjunto habitacional Monte Carlo, de Presidente Prudente. Através de inspeção visual podese observar as condições atuais das unidades habitacionais pósocupadas, diagnosticando patologias ocorridas em vários elementos construtivos das unidades, desde a data de sua ocupação em novembro de 2007 até os dias de hoje. A quantidade de ocorrências foi um indício que ainda há muito por se fazer em termos de qualidade e durabilidade aliadas ao baixo custo, na construção de moradias populares. Palavraschave: habitação de interesse social, patologias, manifestações patológicas, moradias populares, conjunto habitacional. INTRODUÇÃO E OBJETIVO O estudo das falhas construtivas é feito pela ciência denominada patologia das construções (CREA & IBAPE, 1998). À semelhança das ciências médicas, a patologia das construções também envolve conhecimentos multidisciplinares e, segundo Rocha et al. (2006), estuda os sintomas, os mecanismos de ocorrência, as causas e as origens das doenças ou defeitos que podem ocorrer nas construções. Tratase de uma ciência de fundamental importância para a construção civil, uma vez que se caracteriza pelo grande potencial de dados obtidos na análise dos problemas que ocorrem nas edificações, podendo evitar, assim, que esses problemas venham a se repetir, contribuindo para um melhor controle de qualidade no processo de construção de novas edificações. Os problemas e falhas que ocorrem na fase de concepção, execução e utilização da obra, gerando diversas causas para o surgimento de anomalias, são denominados de patologia (ALMEIDA, 2008). Os fenômenos patológicos geralmente apresentam manifestações externas características, a partir das quais se pode deduzir a natureza, a origem e os mecanismos dos fenômenos envolvidos (HELENE, 1992). Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012

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Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012  187

ANÁLISE DAS PATOLOGIAS EXISTENTES NO CONJUNTO HABITACIONAL MONTE CARLO – PRESIDENTE PRUDENTE 

 Gabriella Fernandes Murari (1); Cesar Fabiano Fioriti (2)  (1) Bolsista FAPESP, Aluna de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Presidente Prudente. (2) Orientador, Professor Assistente 

Doutor, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Presidente Prudente. Ee‐mail: [email protected] 

 RESUMO No Brasil, tem‐se observado um aumento significativo na incidência de anomalias em edificações voltadas à habitação popular. As ocorrências de patologias em habitação de interesse social serão o  ponto  preponderante  deste  trabalho.  Dessa  forma,  foram  realizados  levantamentos quantitativos das patologias presentes em uma amostra de 15 unidades no conjunto habitacional Monte Carlo, de Presidente Prudente. Através de  inspeção visual pode‐se observar as condições atuais  das  unidades  habitacionais  pós‐ocupadas,  diagnosticando  patologias  ocorridas  em  vários elementos construtivos das unidades, desde a data de sua ocupação em novembro de 2007 até os dias  de  hoje. A  quantidade  de  ocorrências  foi  um  indício  que  ainda  há muito  por  se  fazer  em termos de qualidade e durabilidade aliadas ao baixo custo, na construção de moradias populares. Palavras‐chave:  habitação  de  interesse  social,  patologias, manifestações  patológicas, moradias populares, conjunto habitacional.  

 

INTRODUÇÃO E OBJETIVO 

O estudo das falhas construtivas é feito pela ciência denominada patologia das construções 

(CREA &  IBAPE, 1998). À semelhança das ciências médicas, a patologia das construções também 

envolve conhecimentos multidisciplinares e, segundo Rocha et al. (2006), estuda os sintomas, os 

mecanismos de ocorrência, as causas e as origens das doenças ou defeitos que podem ocorrer nas 

construções. 

Trata‐se de uma ciência de fundamental importância para a construção civil, uma vez que 

se caracteriza pelo grande potencial de dados obtidos na análise dos problemas que ocorrem nas 

edificações, podendo evitar, assim, que esses problemas venham a se repetir, contribuindo para 

um melhor controle de qualidade no processo de construção de novas edificações. 

Os problemas e falhas que ocorrem na fase de concepção, execução e utilização da obra, 

gerando  diversas  causas  para  o  surgimento  de  anomalias,  são  denominados  de  patologia 

(ALMEIDA, 2008). 

Os fenômenos patológicos geralmente apresentam manifestações externas características, 

a  partir  das  quais  se  pode  deduzir  a  natureza,  a  origem  e  os  mecanismos  dos  fenômenos 

envolvidos (HELENE, 1992). 

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Para  Lima  (2005),  a  sintomatologia  é  um  importante  a  assunto  a  ser  abordado  nas 

manifestações  patológicas,  pois  se  trata  do  quadro  que  torna  evidente  que  a  construção  é 

acometida por algum processo patológico. Os sintomas mais comuns são: 

• fissuração; 

• desagregações; 

• deslocamentos; 

• falhas de concretagem; 

• deformabilidade excessiva; 

• manchas de umidade; 

• mau funcionamento de esquadrias; 

• vibração excessiva; etc. 

Desse modo,  o  presente  trabalho  identificou  visualmente,  numa  amostra,  as  patologias 

presentes e as mais  frequentes nas unidades produzidas no Conjunto Habitacional Monte Carlo, 

situado no município de Presidente Prudente. 

 

METODOLOGIA 

Este  trabalho  se  limitou  ao  estudo  de  caso,  sendo  considerada  para  a  pesquisa  uma 

amostra  de  15  unidades  no  Conjunto  Habitacional  Monte  Carlo,  composto  de  145  unidades 

habitacionais, localizado no município de Presidente Prudente. 

Salienta‐se  que  não  foi  objetivo  deste  trabalho  entrar  no mérito  da  qualificação  e  da 

atuação  dos  profissionais  e  empresas  que  participaram  dos  projetos  e  execução  destas  obras, 

sendo  o  foco  único  o  levantamento  quantitativo  das  patologias  vistas  sob  a  ótica  da 

sintomatologia. 

Assim, considerando‐se a magnitude do trabalho e visando fornecer clareza e objetividade 

referentes as patologias nas 15 unidades habitacionais analisadas, foi adotado um método misto 

de questionário,  entrevista  e observação direta, de  acordo  com  a planilha parcial mostrada na 

Tabela 1, adaptada de Silveira Neto (2005), que foi preenchida pela pesquisadora, auxiliada pela 

sua  percepção,  colaboração  dos  moradores  e  visão  crítica  dos  fenômenos  presentes  nas 

edificações. 

 

 

 

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Tabela  1  –  Trecho  da  planilha  utilizada  para  levantamento  em  campo.  (Fonte:  Neto,  2005  – 

Adaptado). 

 

 

RESULTADOS 

 Localização 

O  conjunto  habitacional Monte Carlo  está  localizado  na  zona  sudoeste  do município  de 

Presidente Prudente (Figura 1). É composto por 145 unidades térreas (ver tipologia na Figura 2) e 

foi  implementado pela Caixa Econômica Federal, em seu Programa de Arrendamento Residencial 

(PAR), visando beneficiar famílias com renda de até quatro salários mínimos. Cada unidade possui 

38,02m² de área, divididos em  sala,  cozinha, banheiro, dois quartos e área de  serviço, além de 

uma  garagem. O  loteamento  foi  entregue  em  novembro  de  2007  com  a  realização  de  toda  a 

infraestrutura  de  esgoto,  água  potável,  guias  e  sarjetas,  pavimentação,  energia  elétrica, 

iluminação pública e calçada. 

 

Figura 1. Conjunto habitacional Monte Carlo. (Fonte: Google Maps, 2012, editado pela autora) 

 

 

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Figura 2. Tipologia das unidades habitacionais do residencial Monte Carlo.] 

 

 Desenvolvimento 

Iniciou‐se o trabalho de campo, no qual foram realizadas as vistorias e, após a coleta dos 

dados, gerou‐se a documentação escrita e fotográfica para o trabalho. 

As vistorias para a coleta de dados tiveram como premissa a observação dos problemas de 

construção que prejudicavam o desempenho das edificações, causando algum tipo de mal estar a 

seus habitantes. Foram analisadas patologias no que tange à habitabilidade, segurança e estética. 

A escolha do conjunto habitacional foi apoiada nos seguintes critérios: 

• data de entrega das residências do conjunto habitacional – sendo um conjunto de 2007, trata‐se 

de residências novas e que, em tese, devem atender satisfatoriamente às exigências do usuário; 

•  técnica  construtiva  –  unidades  habitacionais  unifamiliares  térreas  estruturadas  em  concreto 

armado,  com  revestimento  em  reboco  e  pintura,  e  cobertura  em  treliça  de madeira  e  telhas 

cerâmicas; 

•  local da construção – empreendimento  localizado na cidade de Presidente Prudente, em zona 

residencial de média densidade populacional. 

Procurou‐se  registrar  apenas  a  existência  de  manifestações  patológicas  nas  unidades 

habitacionais, certificando‐se em qual elemento essas as patologias se encontravam. Na sequência 

serão apresentadas imagens de patologias identificadas. 

 

 

 

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 Fundações (Figura 3) 

 a b

Figura 3 – a) Trincas no radier; b) Erosão do solo no radier e manchas de bolor. 

 

 Supraestrutura (Figura 4) 

 a b

Figura 4 – a) Fissuras na verga e na alvenaria; b) Fissuras na cinta de amarração. 

 

 Esquadrias (Figura 5) 

 

Figura 5 – Processo de corrosão nas esquadrias de aço. 

 

 Alvenaria de elevação (Figura 6) 

 a b c

Figura 6. a) Fissuras em parte da face externa das paredes; b) Fissuras no encontro de paredes; c) 

Fissuras e manchas de bolor e umidade no revestimento externo, além de manchas de 

bolor e umidade. 

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 Revestimentos (Figura 7) 

 a b

Figura 7. a) Manchas de bolor e umidade no revestimento interno esfarelado; b) Infestação por 

cupim no revestimento interno e externo. 

 

 Cobertura (Figura 8) 

 

Figura 8 – Mancha, lascamento e fissuras na estrutura de cobertura. 

 

 Pintura (Figura 9) 

 

Figura 9 – Revestimento descascando e com bolhas. 

 

 Instalações (Figura 10) 

 

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Figura 10. Vazamento na instalação de água fria, presença de umidade no piso dos banheiros, 

revestimento interno desagregando, além de manchas de bolor e presença de umidade no piso. 

 

ANÁLISE DOS RESULTADOS 

As  patologias  encontradas  nas  residências  do  conjunto  habitacional  Monte  Carlo  são 

basicamente as mesmas entre as unidades. De uma  forma geral, as patologias mais  comuns  se 

relacionam  a  fissuras  na  fundação  (radier),  na  supraestrutura  (vergas,  contravergas  e  cinta  de 

amarração),  na  alvenaria  de  elevação  (paredes)  e  no  revestimento  externo.  Grande  parte  das 

unidades  habitacionais  também  foi  acometida  por  problemas  relacionados  à  umidade,  como 

manchas no revestimento externo das paredes e no radier. Outra patologia comum às edificações 

foram  lascamentos  e  fissuras  na  cinta  de  amarração.  Além  disso,  outras  diferentes  patologias 

foram encontradas de forma bastante variável em algumas unidades habitacionais. 

A  Figura  11  apresenta  um  gráfico  que melhor  caracteriza  os  vários  tipos  de  patologias 

identificadas no conjunto habitacional Monte Carlo. 

 

Figura 11. Gráfico com os percentuais de cada patologia identificada. 

 

Diante da Figura 11, percebe‐se que a maior parte das patologias ocorre nos revestimentos 

(28,40%),  seguida  da  alvenaria  de  elevação  e  supraestrutura,  ambas  com  17,04%.  Já  o menor 

índice de manifestações ocorre no piso e na pintura, ambas com 1,13%. 

Dessa forma, através de inspeção visual pode‐se observar as condições atuais das unidades 

habitacionais  pós‐ocupadas,  diagnosticando  patologias  ocorridas  em  vários  elementos 

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construtivos das unidades, desde a data de sua ocupação em novembro de 2007 até os dias de 

hoje. 

 

CONCLUSÃO 

Considerando‐se  a  magnitude  do  trabalho  e  visando  fornecer  clareza  e  objetividade 

referentes às patologias nas 15 unidades habitacionais analisadas, foi adotado um método misto 

de questionário, entrevista e observação direta. 

Constatou‐se que por se tratar de um conjunto habitacional recente, com apenas 5 anos, 

não  foram  encontradas  patologias  graves  que  comprometessem  o  desempenho  estrutural  das 

edificações. De uma forma geral, as patologias mais comuns se relacionam a fissuras na fundação 

(radier), na supraestrutura (vergas, contravergas e cinta de amarração), na alvenaria de elevação 

(paredes) e no revestimento externo. Onde a maior parte das patologias ocorre nos revestimentos 

(28,40%),  seguida  da  alvenaria  de  elevação  e  supraestrutura,  ambas  com  17,04%.  Já  o menor 

índice de manifestações ocorre no piso e na pintura, ambas com 1,13%. Outras patologias foram 

encontradas de forma bastante variável em poucas unidades habitacionais. 

Desta maneira, a quantidade de ocorrências foi um indício que ainda há muito por se fazer 

em  termos  de  qualidade  e  durabilidade  aliadas  ao  baixo  custo,  na  construção  de  moradias 

populares. 

 

REFERÊNCIAS 

ALMEIDA, R. Manifestações Patológicas em Prédio Escolar: uma análise qualitativa e quantitativa. 

Dissertação de Mestrado, PPGEC/UFSM, 2008.  

CREA‐SP, IBAPE‐SP, Manual do Proprietário – A saúde dos Edifícios, São Paulo, 1998. 

GOOGLE  MAPS.  Presidente  Prudente.  Google  Maps,  2012.  Disponível  em: 

<http://maps.google.com.br/>. Acesso em: 14. Mai. 2012. 

HELENE, P. R. L. Manual para reparo, reforço e proteção de estruturas de concreto. São Paulo, Pini, 

1992. 

LIMA, P. R. B. Consideração do projeto no desempenho dos sistemas construtivos e qualidade da 

edificação – Proposição de um modelo de banco de dados. Dissertação – UFMG. Belo Horizonte, 

2005. 

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em edificações na cidade de Ijuí, RS. Rio Grande do Sul: UNIIJUI, 2006. 

SILVEIRA NETO, O. Manifestações patológicas em condomínios habitacionais de interesse social no 

município de Porto alegre:  levantamento e estudo  sobre a  recorrência. Dissertação  (Mestrado): 

UFRGS, Porto Alegre, 2005.