17
I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA 1 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES SOCIOECONÔMICAS DA ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS (1991 - 2000): UMA PROPOSTA METODOLÓGICA 1 José Flávio Morais Castro 2 Thiago Leonardo Soares 3 1. INTRODUÇÃO A Zona da Mata de Minas Gerais é uma região que exerceu função de destaque nos cenários histórico e socioeconômico do Estado. Região que foi berço da extração do ouro no século XVIII e que, com o declínio do ciclo do ouro, especializou-se ao longo do século XIX na agricultura e na pecuária. No século XX, a atividade agropecuária declinou, produzindo estagnação socioeconômica em diversas atividades. A Zona da Mata, polarizada pelo município de Juiz de Fora, tem localização privilegiada no Estado de Minas Gerais e no Brasil, apresenta infra-estrutura relativamente em boas condições, que favorece acesso a mercados. A região, cortada por importantes rodovias federais e estaduais, se encontra próxima a importantes metrópoles como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, localização esta que a torna sensível às mudanças no processo socioeconômico. Devido a essa dinâmica apresentada pela região ao longo dos anos, torna-se oportuno avaliar as condições socioeconômicas e delimitar as áreas de influências dos pólos regionais nos anos de 1991 e 2000. A análise das potencialidades socioeconômicas da Zona da Mata de Minas Gerais (1991 – 2000) será elaborada com base em modelos de interação espacial, em particular, a Análise de Componentes Principais (ACP) e o Modelo Potencial, com vistas à identificação de relações estruturais complexas e de padrões espaciais, tais como: polarizações, potencialidades, áreas de influência, hierarquias, etc., oferecendo subsídios metodológicos e técnicos para o planejamento e o gerenciamento do espaço e para as tomadas de decisões políticas. 1 Projeto de pesquisa financiado pela FAPEMIG (Processo APQ-00847-08) e pelo CNPq (No. 400109/2008-5) 2 Coordenador da Pesquisa e Professor Adjunto III do Programa de Pós-Graduação em Geografia-Tratamento da Informação Espacial da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) - [email protected]

ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES SOCIOECONÔMICAS DA … · meados do mesmo século, em uma expedição liderada pelo sertanista Inácio de Andrade Ribeiro (LAMAS, 2006). ... de 100 metros

Embed Size (px)

Citation preview

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

1

ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES SOCIOECONÔMICAS DA ZONA DA MATA DE

MINAS GERAIS (1991 - 2000): UMA PROPOSTA METODOLÓGICA1

José Flávio Morais Castro2

Thiago Leonardo Soares3

1. INTRODUÇÃO

A Zona da Mata de Minas Gerais é uma região que exerceu função de

destaque nos cenários histórico e socioeconômico do Estado. Região que foi berço

da extração do ouro no século XVIII e que, com o declínio do ciclo do ouro,

especializou-se ao longo do século XIX na agricultura e na pecuária. No século XX, a

atividade agropecuária declinou, produzindo estagnação socioeconômica em

diversas atividades.

A Zona da Mata, polarizada pelo município de Juiz de Fora, tem localização

privilegiada no Estado de Minas Gerais e no Brasil, apresenta infra-estrutura

relativamente em boas condições, que favorece acesso a mercados. A região,

cortada por importantes rodovias federais e estaduais, se encontra próxima a

importantes metrópoles como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo,

localização esta que a torna sensível às mudanças no processo socioeconômico.

Devido a essa dinâmica apresentada pela região ao longo dos anos, torna-se

oportuno avaliar as condições socioeconômicas e delimitar as áreas de influências

dos pólos regionais nos anos de 1991 e 2000.

A análise das potencialidades socioeconômicas da Zona da Mata de Minas

Gerais (1991 – 2000) será elaborada com base em modelos de interação espacial,

em particular, a Análise de Componentes Principais (ACP) e o Modelo Potencial, com

vistas à identificação de relações estruturais complexas e de padrões espaciais, tais

como: polarizações, potencialidades, áreas de influência, hierarquias, etc.,

oferecendo subsídios metodológicos e técnicos para o planejamento e o

gerenciamento do espaço e para as tomadas de decisões políticas.

1 Projeto de pesquisa financiado pela FAPEMIG (Processo APQ-00847-08) e pelo CNPq (No. 400109/2008-5) 2 Coordenador da Pesquisa e Professor Adjunto III do Programa de Pós-Graduação em Geografia-Tratamento da Informação Espacial da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) - [email protected]

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

2

Utilizando-se variáveis socioeconômicas ligadas à demografia, à economia, à

saúde, à habitação, entre outras atividades, para os anos de 1991 e 2000, será

possível analisar a evolução temporal e espacial das informações e avaliar a

dinâmica socioeconômica da região.

Do ponto de vista técnico-operacional, será criado um banco de dados

socioeconômicos por município em Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s),

que permitirá a realização da análise espacial e do tratamento da informação

espacial.

1.1. Objetivos

São objetivos da pesquisa:

- analisar a dinâmica e a infra-estrutura socioeconômica a partir de indicadores

socioeconômicos da Zona da Mata, nos anos de 1991 e de 2000;

- identificar as polarizações e as potencialidades da região;

- delimitar áreas de influência dos pólos regionais;

1.2. Aspectos Históricos, Socioeconômicos e Ambientais da Região

A mesorregião Zona da Mata abrange uma área de 35.726 km², cerca de 6%

do Estado de Minas Gerais. Localiza-se a sudeste do Estado e é dividida em 7

microrregiões: Ponte Nova e Manhuaçú em sua porção setentrional; Viçosa, Ubá e

Muriaé na região central; e Juiz de Fora e Cataguases ao sul, constituída por 142

municípios (Fig. 1).

Os aspectos históricos da Zona da Mata estão associados ao período da

colonização do Brasil. Por volta de 1572, Sebastião Fernandes Tourinho reuniu cerca

de 400 homens para subir o Rio Doce em busca de pedras preciosas. Essa primeira

expedição registrada com entrada pelo Rio Doce foi descrita em detalhes por Gabriel

Soares de Souza em Notícias do Brasil de 1587 (TEIXEIRA, 2002).

3 Aluno de Graduação do Curso de Geografia com Ênfase em Geoprocessamento – PUC Minas Contagem e bolsista de Iniciação Científica pela FAPEMIG (PIBIC) - [email protected]

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

3

Figura 1 – Mapa de localização da Zona da Mata em relação às mesorregiões e

às microrregiões do Estado de Minas Gerais.

Por volta de 1680, os primitivos habitantes de arraiais fundados por Fernão

Dias Pais e pelos expedicionários vindos de São Paulo começaram a explorar áreas

de fácil acesso, a procura do ouro, percorrendo os vales dos rios Pará, Paraopeba e

das Velhas, bem como tributários da alta bacia do rio Doce, em especial, o alto rio

Piranga (SOUZA, 2000).

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

4

Segundo Carrara (1999), “ao longo do século XVIII, dois modos de produção

fixaram-se no território da Capitania de Minas Gerais: o escravista e o camponês”

O processo de colonização e ocupação da Zona da Mata pode ser dividido em

dois momentos: o primeiro, com a abertura do Caminho Novo por Garcia Rodriguez

Paes Lemos, no início do século XVIII e, o segundo, no vale do rio Pomba em

meados do mesmo século, em uma expedição liderada pelo sertanista Inácio de

Andrade Ribeiro (LAMAS, 2006).

Com o declínio da mineração aurífera no final do século XVIII, os

investimentos migraram para a agricultura e pecuária, até mesmo como forma de

abastecimento nas regiões das minas (BLASENHEIN, 1982).

No início do século XX a economia na Zona da Mata já sentia as mudanças

negativas na produção cafeeira, que atingia pouco mais de 40%, praticamente

metade da produção na década anterior.

Nas décadas de 1930 e 1940 o Estado de Minas Gerais passou por um

processo de concentração de investimentos nas regiões de extração mineral e

produção siderúrgica.

Segundo o estudo do BDMG (2001), a década de 1970 foi marcada por uma

arrancada industrial em Minas Gerais e implantações de vários projetos de largo

alcance socioeconômico, entretanto, estas mudanças não acontecem na região da

Zona da Mata. Ainda, segundo o referido estudo, o Programa de Desenvolvimento

Rural Integrado da Zona da Mata - PRODEMATA – financiado pelo Banco

Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD), foi criado para

combater a pobreza absoluta e recuperar a produção agropecuária em áreas de

concentração de pequenos produtores, no entanto, este programa teve pouca

eficiência na conclusão de seus objetivos.

Em 2002, a Zona da Mata se encontrava em 4° lugar no PIB Estadual, com

um total de R$ 9.873.212, tendo a posição ameaçada pela Região de Planejamento

Rio Doce, que já alcançava um valor de R$ 8.766.084 (FUNDAÇÃO JOÃO

PINHEIRO, 2002).

Liderado pelo município de Juiz de Fora a região Centro-Sul da Zona da Mata

detém os melhores indicadores socioeconômicos, com uma infra-estrutura e padrão

de dinamismo diversificados das demais regiões. Suas indústrias de maior destaque

atuam na metalurgia do zinco com a empresa Companhia Paraibuna de Metais; na

siderurgia com a empresa Belgo-Mineira e no setor automobilístico com a Mercedes

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

5

Benz. O município de Ubá fica com o destaque para a indústria moveleira, ocupando

o quarto lugar como pólo moveleiro do Brasil e Cataguases com a indústria têxtil e a

produção de energia elétrica.

Os indicadores socioeconômicos também são maiores nessa região. Juiz de

Fora e Viçosa ocupam índices acima de 0.80 em relação ao Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal em 2000 (IDH-M), considerados como alto

desenvolvimento segundo a classificação internacional. Dos 140 municípios

restantes, 51 tiveram índices entre 0.64 e 0.70; 65 com índices entre 0.70 e 0.75 e 26

entre 0.75 e 0.80, todos classificados como médio desenvolvimento (CARNEIRO;

FONTES, 2005).

A Zona da Mata contou com uma população aproximada de 2,033 milhões de

habitantes em 2000, cerca de 11,5 % da população mineira, ocupando a terceira

posição de região mais populosa do Estado, onde apresentava uma densidade

populacional de 57hab/km². Somente a microrregião de Juiz de Fora abarcava 1/3

dessa população, a região mais povoada, chegando a uma densidade demográfica

de 74,44 hab/km². Há uma predominância de municípios de pequeno porte, cerca de

70% dos 142 municípios possuem uma população inferior a 10 mil habitantes e

apenas 7 municípios possuíam uma população superior a 50 mil (FUNDAÇÃO JOÃO

PINHEIRO, 2002).

Os aspectos ambientais da Zona da Mata revelam dinâmicas peculiares. No

que diz respeito a hidrografia, a região se encontra inserida em duas importantes

bacias hidrográficas: Rio Doce e Rio Paraíba do Sul. A primeira compreende uma

maior área, ao norte da região, formada pelos rios Gualaxo do Sul e do Norte, Carmo,

Casca, Manhuaçu, Matipó e Piranga. A segunda localiza-se à leste e ao sul, formada

pelos rios Murié, Paraíba do Sul, Paraibuna, Pomba e Rio Preto (Fig. 2).

As altitudes da região variam de 2.889 metros no Pico da Bandeira em Alto

Caparaó, na região nordeste na divisa de MG-ES, até altitudes que giram em torno

de 100 metros nos vales do rio Pomba. O relevo se encontra de ondulado à forte

ondulado nas partes mais baixas, em altitudes que variam entre 300 e 500 metros.

Próximo a região de Ervália, as altitudes que variam de 800 a 900 metros apresentam

um relevo fortemente ondulado e montanhoso. Altitudes superiores a 1.500 metros

são encontradas ao norte com o destaque para o Maciço do Caparaó (CARNEIRO;

FONTES, 2005).

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

6

Figura 2 – Mapa de localização da Zona da Mata em relação às bacias

hidrográficas do Estado de Minas Gerais

Segundo o IBGE (2002), o clima da região é bastante variado, recebendo forte

influência da variação altimétrica. O clima pode ser Quente (Semi-úmido com 4 a 5

meses secos, com média acima de 18°C durante todo ano), Subquente (Semi-úmido

com 4 a 5 meses secos e Úmidos com 1 a 3 meses secos e pelo menos 1 mês com

temperatura média entre 15 e 18°C) e Mesotérmico brando (clima Úmido de 1 a 3

meses secos e Semi-úmido de 4 a 5 meses secos, com temperaturas médias entre

10 a 15°C).

A vegetação caracteriza-se por Floresta Estacional Semidecidual, que ocorre

sob um clima tropical estacional (RADAMBRASIL, 1983). Segundo Veloso e Góes

(1982) esse conceito ecológico da Região de Floresta Estacional remete ao clima de

duas estações, uma chuvosa e outra seca. O conjunto arbóreo dominante possui

uma adaptação fisiológica à deficiência hídrica ou à temperaturas baixas durante

longo período. A ação antrópica substituiu quase toda vegetação original da região

por Vegetação Secundária, pastagens e agricultura. Em algumas poucas áreas,

ainda são encontrados remanescentes, protegidos por lei, da vegetação original,

como é o caso da Serra do Caparaó. Trata-se do Refúgio Ecológico, que apresenta

um grande número de agrupamento remanescente da Floresta Montana.

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

7

2. FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA

2.1. Análise de Componentes Principais (ACP)

A Análise de Componentes Principais (ACP)4 pode ser empregada para se

conhecer a estrutura espacial de uma região (Fig. 3), por meio da transformação das

variáveis espaciais em um espaço euclidiano.

A ACP, um dos procedimentos da Análise Fatorial, consiste em um método de

redução de um conjunto de dados multivariados em componentes, denominados

principais, que minimizam a redundância existente entre variáveis, por meio de

transformações lineares da matriz, de tal modo que as novas variáveis geradas sejam

não correlacionadas entre si, mas expressam sua variabilidade.

Para Abreu e Barroso (1980, p. 20), “a ACP procura fazer p combinações

lineares das p variáveis X1, X2, ..., Xp, tais que cada uma delas capte o máximo

possível da variação da matriz de dados X e, simultâneamente, cada componente

permaneça linearmente independente dos demais”.

Figura 3 – Mapa da Infra-Estrutura Sócio-Econômica do Sul de Minas no

ano de 1991, obtido a partir da Análise de Componentes Principais (ACP); segundo Castro (2000)

4 Veja mais detalhes em: Berry e Marble (1968); Abler et al. (1971); Ceron (1977); Abreu e Barroso (1980); Gerardi e Silva (1981); Diniz (1984); Abreu e Alvim (1986-987); Landim (1997); Simão (1999); Castro (2000); entre outros.

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

8

A ACP corresponde ao “cálculo dos autovalores e correspondentes

autovetores de uma matriz de variâncias-covariâncias. Nessa matriz simétrica, os

elementos da diagonal principal são as variâncias das variáveis e os demais

elementos, valores de covariâncias entre pares de variáveis. (...). Se cada variável

medida pode ser considerada como um eixo de variabilidade, estando usualmente

correlacionada com outras variáveis, esta análise transforma os dados de tal modo a

descrever a mesma variabilidade total existentes, com o mesmo número de eixos

ortogonais, porém não mais correlacionados entre si” (Landim, 1997).

2.2. Modelo Potencial

Um dos elementos que definem o crescimento urbano e regional é a

interdependência entre os centros urbanos. Esta interdependência gera interação

espacial entre as diversas atividades econômicas dos centros urbanos.

Para ocorrer interação entre duas áreas, é necessária a existência de oferta

em uma e procura na outra. Assim, um sistema que explique a interação pode ser

baseado em três fatores: complementaridade - uma função ou diferenciação de área

promovendo interação espacial; complementaridade interveniente (ou oportunidades)

entre duas regiões ou lugares; e, distância, medida em termos reais incluindo custo e

tempo de transporte (ULLMAN, 1974).

Os modelos de interação espacial visam basicamente avaliar e analisar a

interação entre pontos e regiões distribuídas em um espaço geográfico. Entre os

modelos de interação espacial, dois merecem destaque: os modelos gravitacionais e

os potenciais5. Segundo Isard (1973), nestes modelos a região é considerada como

um todo e as relações interregionais são concebidas como interações entre massas.

Segundo Ferreira (1989), as hipóteses do modelo são as de que as interações

entre os indivíduos em suas atividades são proporcionais às massas ou populações

entre as cidades, porque quanto maior os aglomerados humanos, provavelmente

maior deve ser a comutação, sob diversos aspectos, entre esses aglomerados.

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

9

Por outro lado, a fricção da distância, ou seja, o custo e o sacrifício em

deslocar-se no espaço, reduz, paulatinamente, aquela comutação, à medida que a

distância entre dois pontos for maior. Assim, admite-se que a interação seja

inversamente proporcional à distância.

A utilização da variável massa pelo modelo e da variável distância tornam-se

grandes indicadores de polarizações regionais, sub-regionais, etc.

A identificação de pólos de desenvolvimento requer uma pesquisa da

estrutura atual do espaço econômico, mostrando as interdependências diretas e

indiretas entre as cidades de um subespaço. É obviamente indispensável explicar o

desenvolvimento dos centros dominantes e suas periferias. A importância de um

centro depende da magnitude e do tipo dos fluxos econômicos, políticos e sociais

que ele atrai; por isso, são chamados de pólos de atração (Ferreira, 1989).

Segundo Abreu (1991), os modelos de interação espacial são caracterizados

pelos seguintes princípios gerais: a) o volume dos fluxos depende do tamanho das

“massas” envolvidas; b) os diferenciais de atração e repulsão das origens e destinos

determinam o volume dos fluxos; e, c) o volume dos fluxos depende da distância

entre origens e destinos.

Dentre os modelos de interação espacial, o Modelo Potencial, amplamente

utilizado na análise espacial, consiste em um dos métodos utilizados para medir

áreas de influência de um pólo, através da força de atração que este exerce sobre os

centros urbanos que compõem uma região.

O modelo surgiu, nas Ciências Sociais, a partir de uma analogia com a lei

gravitacional de Newton (Isard, 1973) e corresponde ao cálculo dos índices de

interações entre duas regiões ou pontos geográficos.

Assim, o potencial final de cada município é resultado da interação de cada

município i com os demais n municípios que compõem a região, somado ao potencial

próprio da cada município i. Estes potenciais apresentam uma hierarquia de centros

urbanos, destacando os pólos regionais e suas respectivas áreas de influência.

O primeiro critério para se estabelecer uma hierarquia ou um escalonamento

entre os pólos se baseia nas suas áreas de influência: quanto maior sua área de

influência, mais elevada será a posição hierárquica ou o escalão do centro. Os limites

das áreas de influência podem ser traçados por meio de isolinhas (isócronas) de

5 Mais detalhes a respeito destes modelos podem ser encontrados em: Isard (1973); Richardson (1973); Ribeiro e Barreto Neto (1976); Hilhorst (1981); Mello e Silva (1982); Abreu (1982, 1991); Machado (1984); Abreu e Lima (1988); Ferreira (1989); Castro (1986,1987 e 2000); Abreu e Alvim (1986-1987); entre outros.

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

10

distâncias medidas em unidades de tempo, ligando-se os pontos onde cada fluxo

apresente a mesma intensidade.

A partir do cálculo dos potenciais iV da sub-área i e as demais sub-áreas da

região, são traçadas as curvas de isopotenciais que determinam os campos de força

de cada centro em diversos níveis. Segundo Ferreira (1989), partindo-se das

isopotenciais, podem-se finalmente estabelecer os delineamentos das áreas de

influência dos centros e, portanto, o sistema de interdependência.

As isopotenciais são traçadas em torno de um dado centro. A partir do valor do

potencial do próprio centro, seus valores decrescem à medida que se afastam do

mesmo. Uma isopotencial corresponde ao lugar geométrico dos pontos com o mesmo

valor numérico para o potencial (Fig. 4).

Figura 4 – Mapa do Potencial Sócio-Econômico e as áreas de Influências do Sul de Minas no ano de 1991, obtido a partir do Modelo

Potencial; segundo Castro (2000).

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

11

3. METODOLOGIA 3.1. Dados e Técnicas

Para a análise da Infra-Estrutua Socioeconômica e das Áreas de Influências

da Zona da Mata de Minas Gerais serão utilizados os seguintes bancos de dados e

documentos:

- Fundação João Pinheiro (FJP) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA):

Condições de Vida nos Municípios de Minas Gerais (1991).

- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fundação João Pinheiro (FJP):

Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (1991 e 2000)

- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Malha Municipal Digital do

Brasil de 1999.

- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Censos de 1991 e 2000.

- Instituto de Geociências Aplicadas (IGA) / Centro Tecnológico do Estado de Minas

Gerais (CETEC), Mapa Geopolítico do Estado de Minas Gerais, 1994.

- Departamento de Estradas de Rodagem (DER/MG), Mapa Rodoviário do Estado de

Minas Gerais, 1997.

O ambiente computacional a ser utilizado, corresponde aos seguintes

softwares: para a Análise Espacial os SIG’s ARC GIS e IDRISI, para modelagem dos

dados, os softwares STATISTICA, POTEN e SURFER; para a Cartografia Digital,

representação cartográfica e desenho digital o AUTOCAD, o MAPINFO, o

CORELDRAW e o ADOBE PHOTOSHOP; para estruturação do banco de dados, o

EXCEL; e, os hardwares do Programa de Pós-Graduação em Geografia - Tratamento

da Informação Espacial da PUC/MINAS.

3.2. Método

A pesquisa envolve a aplicação de métodos da estatística multivariada

(CASTRO, 2000) para varáveis socioeconômicas da Zona da Mata em dois anos,

1991 e 2000. O roteiro metodológico proposto (Fig. 5) apresenta, como primeira

etapa, a criação do banco de dados socioeconômicos e layers temáticos.

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

12

A Análise Espacial da Zona da Mata de Minas Gerais será estruturada na

forma de banco de dados das variáveis socioeconômicas, nos anos de 1991 e 2000.

Serão processados dados alfanuméricos (banco de dados socioeconômicos), dados

cartográficos (layers temáticos: cartogramas coropléticos - distribuição discreta da

informação, cartogramas isopléticos - distribuição contínua) e georreferenciados

(projeção/coordenadas), com características de ponto (sede de município) e área

(município) para os 142 municípios que integram a região (Fig. 6).

Figura 5 - Roteiro metodológico para análise de dados socioeconômicos em sistemas digitais

A segunda etapa consiste na análise do comportamento espacial e temporal

das variáveis socioeconômicas, por meio da elaboração de cartogramas coropléticos,

visando um nível de regionalização e uma análise de conjunto das variáveis.

Em seguida, as variáveis são submetidas à Análise de Componentes

Principais (ACP), no programa STATISTICA, visando reduzi-las a componentes ou

factor scores. Os componentes obtidos na ACP podem sintetizar, a partir da

correlação entre as variáveis, a Infra-Estrutura Socioeconômica da Região estudada.

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

13

O passo seguinte caracteriza-se pela aplicação do Modelo Potencial com

vistas à identificação de polarizações e das respectivas áreas de influências da Zona

da Mata.

Adotando-se como variável “massa” socioeconômica os componentes dos

municípios, a área de cada município e as distâncias entre as sedes dos municípios,

é possível identificar os principais pólos regionais, estabelecer a hierarquia dos

municípios e delimitar as áreas de influência.

Os potenciais são calculados no programa POTEN e interpolados no

programa SURFER, gerando assim cartogramas isopléticos.

Figura 6 - Mapa de localização dos municípios que integram a Zona da Mata de

Minas Gerais; Fonte: Geominas (2007).

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

14

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este projeto de pesquisa está em andamento e encontra-se na fase de

definição das variáveis e de processamento do banco de dados. Trata-se de uma

proposta metodológica cujo passo seguinte consistirá na geração da Análise de

Componentes Principais e do Modelo de Potencial, com vistas à obtenção e análise

dos pólos regionais e das áreas de influências associadas aos pólos.

As perspectivas futuras residem na atualização da pesquisa com base nos

resultados do Censo de 2010, com vistas a uma análise estratégica da região, na

qual se estabelecerá recomendações para planejadores e tomadores de decisão na

Zona da Mata Mineira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABLER, R.; ADAMS, J. S. e GOULD, P. Spatial Organization: The Geographer’s View of the World. New Jersey: Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1971, 587 p.

ABREU, J. F. e BARROSO, L. C. Projeto Software Básico para Análise Espacial em Geo-ciências. Projeto de Pesquisa, CNPq - IGC/UFMG, Relatório nº 1, Belo Horizonte, 1980.

ABREU, J. F. Migration and Money Flows in Brazil - A Spatial Analysis. Tese de Doutorado. University of Michigan, Ann Arbor, 1982.

ABREU, J. F. e ALVIM, P. R. J. Determinação de Potencialidades a Nível Espacial para o Estado de Minas Gerais: Resultados Preliminares. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, AGETEO, v. 16-17, n. 31-34, p. 294-301, 1986/987.

ABREU, J. F. e LIMA, M. E. Estimativa de Distâncias Rodoviárias para Análise de Potencialidades - O Caso de Minas Gerais. Geografia, Rio Claro, AGETEO, v. 13, n. 26, p. 23-33, 1988.

ABREU, J. F. Interação Espacial, Potencial e Potencialidades: Um Estudo de Caso - O Estado de Minas Gerais 1970/80. Tese de Professor Titular, IGC/UFMG, Belo Horizonte, 1991.

BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS (BDMG). Zona da Mata – Diagnóstico e Indicações de Ações Prioritárias para seu Desenvolvimento. Belo Horizonte: BDMG, 2001.

BERRY, B. J. L. e MARBLE, D. F. (eds.). Spatial Analysis: A Reader in Statistical Geography. New Jersey: Prentice-Hall Inc., Englewood Cliffs, 1968, 512 p.

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

15

BLASENHEIN, Peter Louis. A regional history of the Zona da Mata in Minas Gerais, Brazil: 1870-1906. Tese (PhD em História) – Departamento de História, Stanford University, Stanford. 1982. 372 p.

CARNEIRO, Patrício A. S. e FONTES, Rosa. Desigualdades na Região da Zona da Mata Mineira. In: FONTES, Rosa e FONTES, Mauricio (editores). Crescimento e Desigualdade Regional em Minas Gerais. Viçosa: Editora Folha de Viçosa, 2005. 465 p.

CARRARA, A. A. Estruturas agrárias e capitalismo; contribuição para o estudo da ocupação do solo e da transformação do trabalho na zona da Mata mineira (séculos XVIII e XIX). Série Estudos, n. 2, UFOP, Mariana, 1999.

CASTRO, J. F. M. Classificação dos Municípios que Compõem a Região Rio Doce do Estado de Minas Gerais, através de um Modelo de Potencial. Monografia de Graduação “B”. IGC/UFMG, Belo Horizonte, 1986.

CASTRO, J. F. M. Estudo de Interação Espacial das Áreas de Influência dos Municípios que compõem a Região Noroeste do Estado de Minas Gerais, através da Utilização de Técnicas de Estatística Multivariada, nos períodos de 1970 e 1980. Monografia de Graduação “A”. IGC/UFMG, Belo Horizonte, 1987.

CASTRO, J. F. M. Caracterização Espacial do Sul de Minas e “Entorno” Utilizando-se o Modelo Potencial e a Análise de Fluxos em Sistemas Digitais: Uma Proposta Metodológica. Tese de Doutamento, IGCE/UNESP, 2000.

CERON, A. O. Classificações Espaciais e Regionalização. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, AGETEO, v. 7, n. 14, p. 9-45, 1997.

CHORLEY, R. J.; HAGGETT, P. (edits.). Models in Geography. London: Methuen & Co, Ltd., 1967, 816 p.

COSTA, Antônio Gilberto; RENGER, Friedrich Ewald; FURTADO, Júnia Ferreira; SANTOS, Márcia Maria Duarte dos. Cartografia das Minas Gerais: da capitania à província. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, 84 p.

DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM (DER). Mapa Rodoviário do Estado de Minas Gerais, 1997.

DINIZ, Alexandre M. A.; MERGAREJO NETTO, Marcos. A Formação Geohistórica da Zona da Mata. RA’EGA, Curitiba, UFPR, v. 12, 2006.

DINIZ, J. A. F. Geografia da Agricultura. São Paulo: DIFEL, 1984, 278 p.

FERREIRA, C. M. C. Métodos de Regionalização. In: HADDAD, P. R.; FERREIRA, C. M. C.; BOISIER, S. e ANDRADE, T. A. Economia Regional: Teorias e Métodos de Análise. Fortaleza, BNB/ETENE, p 509-588, 1989.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP). As regiões de Minas Gerais e sua Inserção no Planejamento Nacional. Belo Horizonte: Centro de Estudos Econômicos, 1995, 152 p.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP). Produto Interno Bruto de Minas Gerais - Municípios e Regiões 1985-1995. Belo Horizonte: Centro de Estatística e Informações, 1996, 135 p.

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

16

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP) e INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Condições de Vida nos Municípios de Minas Gerais (1970-1980-1991). Belo Horizonte: 1996, 243 p.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP). Anuário Estatístico de Minas Gerais 2000-2001. Belo Horizonte: FJP, 2002.

GERARDI, L. H. O. e SILVA, B. C. N. Quantificação em Geografia. São Paulo: Difel, 1981, 161 p.

GIOVANINI, Rafael Rangel; MATOS, Ralfo Edmundo da Silva. Geohistória Econômica da Zona da Mata Mineira. Anais do XI Seminário sobre a Economia Mineira. Diamantina , 2004.

HILHORST, J. G. M. Planejamento Regional: Enfoque sobre Sistemas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981, 189 p.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Divisão Regional do Brasil em Mesorregiões e Microrregiões Geográficas. Vol. 1, Rio de Janeiro, 1990.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Malha Municipal Digital do Brasil de 1994, Rio de Janeiro, 1999.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Atlas Geográfico Escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS APLICADAS (IGA). Mapa Geopolítico do Estado de Minas Gerais, 1994.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA) e FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP). Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (1970, 1980, 1991), 1998.

ISARD, W. Métodos de Análisis Regional: Una Introdución a la Ciencia Regional. Barcelona: Editorial Ariel, 1973. 815 p.

LAMAS, Fernando Gaudereto. Povoamento e Colonização da Zona da Mata Mineira no século XVIII. Histórica – Revista Eletrônica do Arquivo do Estado, n. 8, março de 2006. Disponível em http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br. Acesso em julho, 2007.

LANDIM, P. M. B. Análise Estatística de Dados Geológicos Multivariados. Publicação Didática, nº 5, Laboratório de Geomatemática/IGCE/UNESP, Rio Claro, 1997. 65 p.

LANDIM, P. M. B. Análise Estatística de Dados Geológicos. São Paulo: Editora da UNESP, 1998. 226 p.

MACHADO, C. C. Análise da Evolução Espacial da População do Estado de Minas Gerais Via Técnicas Centrográficas e Modelo de Potencial. Dissertação de Mestrado, ICEX/UFMG, Belo Horizonte, 1984.

MELLO E SILVA, S. C. B. Cartografia da Acessibilidade e da Interação no Estado da Bahia. Geografia, Rio Claro, AGETEO, v. 7, n. 13-14, p. 51-75, 1982.

RADAMBRASIL, Projeto. Levantamento de Recursos Naturais: Folha SF.23/24 Rio/Vitória. Rio de Janeiro: Projeto RADAMBRASIL, 1983. 780p.

I ENCONTRO DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DA ZONA DA MATA MINEIRA

17

RIBEIRO, N. M. G. e BARRETO NETO, F. Uma Análise Teórica da Interação Espacial: Os Modelos Gravitacionais. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, AGETEO, v. 6, n. 11-12, p. 29-40, 1976.

RICHARDSON, H. W. Elementos de Economia Regional. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973, 150 p.

SILVA, Danuzio Gil Bernardino da (organizador). Os Diários de Langsdorff. Tradução Márcia Lyra Nascimento Egg e outros. Campinas: Associação Internacional de Estudos Langsdorff; Rio de Janeiro: Fiocruz, v. I, 1997. 400 p.

SIMÃO, M. L. R. Caracterização Espacial da Produção Cafeeira de Minas Gerais – um estudo exploratório utilizando técnicas de análise espacial e de estatística multivariada. Dissertação de Mestrado, PUC/Minas, Belo Horizonte, 1999.

SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves de. O Descobrimento e a Colonização Portuguesa no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000. 944 p.

TEIXEIRA, Romeu do Nascimento. O Vale do Rio Doce. Companhia Vale do Rio Doce, 2002. 157 p.

ULLMAN, E. L. Geography as Spatial Interaction. In: HURST, M. E. E. (edited). Transportation Geography: Comments and Readings. McGraw-Hill Book Company, British Columbia, 1974, pp. 29-40. UNWIN, D. Introductory Spatial Analysis. London: Methuen & Co. Ltd., 1981, 212 p.