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Análise de poemas parnasianos. LÍNGUA PORTUGUESA Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga

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Análise de poemas parnasianos

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LÍNGUA PORTUGUESAÚltima flor do Lácio, inculta e bela,És, a um tempo, esplendor e sepultura:Ouro nativo, que na ganga impuraA bruta mina entre os cascalhos vela…

Amo-te assim, desconhecida e obscura,Tuba de alto clangor, lira singela,Que tens o trom e o silvo da procelaE o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aromaDe virgens selvas e de oceano largo!Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”E em que Camões chorou, no exílio amargo,O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Olavo Bilac (1865 – 1918)

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ELEMENTOS INICIAIS:

• Vocabulário: – Lácio - Lácio é uma região na Itália central onde se

falava Latim– Ganga – Impureza contidas nos minérios– Canglor – Som estridente de trombetas– Trom - Som de canhão– Procela – Tormenta no mar, tempestade – Arrolo – Canto de adormecer crianças – Viço – Força e exuberância vegetativa

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ASPECTOS FORMAIS

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ASPECTOS FORMAIS

• O poema está estruturado em catorze versos decassílabos, também chamados de heroicos, com dez sílabas métricas cada um. No processo de escansão dos versos, é possível verificar a ocorrência da crase e da elisão(supressão);

• Possui quatro estrofes , agrupadas em dois quartetos (quatro versos) e dois tercetos (três versos), podendo, portanto, ser classificado como um Soneto, que é marcado por essa forma fixa (dois quartetos e dois tercetos com versos decassílabos e de conteúdo lírico);

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• As rimas do poema são interpoladas ou opostas, do tipo ABBA. Quanto à acentuação tônica, são graves ou femininas, pois ocorrem sempre em palavras paroxítonas. São perfeitas ou soantes (soa) quanto à coincidência sonora, pois há correspondência completa de sons, como no caso: BELA/VELA; SEPULTURA/IMPURA;

ASPECTOS FORMAIS

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• Quanto à Morfologia, há a ocorrência de rimas ricas, pois a maioria pertence a classes gramaticais diferentes, como em: bela (adjetivo) , vela (verbo), sepultura (substantivo), impura (adjetivo);

ASPECTOS FORMAIS

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• O título do poema, Língua Portuguesa, claramente já indica a temática que será abordada pelo autor: a língua pátria;

• O autor, Olavo Bilac, foi personagem marcante na vida política do país, um verdadeiro nacionalista comprometido com a luta por uma identidade nacional. Por isso, é possível afirmar que, ao discorrer sobre a Língua Portuguesa, o poema será um hino de enaltecimento à língua pátria;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• Somando-se a isso, o contexto histórico em que o poema foi escrito, marcado por grandes conquistas políticas, como a mudança de regime do Imperialismo para a República, é coerente perceber que os versos trazem a marca dessa afirmação cívica, em que a língua representa, segundo o autor, a maior prova de cidadania;

• “ A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo.” (Bilac)

• Assim, o texto é um resgate da trajetória e evolução da língua portuguesa em que o autor enfatiza a beleza e a importância da língua;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• No campo semântico, é possível notar logo no primeiro verso a comparação que o autor faz da língua com uma flor. “Última flor do Lácio, inculta e bela”. Historicamente, a língua portuguesa foi a última a ser formada do Latim Vulgar, falado na região do Lácio, na Itália. Para isso, o autor se utilizou da metáfora como figura de linguagem. língua é igual à flor;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• Outro recurso de linguagem utilizado pelo autor é o paradoxo, que consiste em uma declaração aparentemente verdadeira que leva a uma contradição lógica, como no verso: “És a um tempo , esplendor e sepultura”. Esse recurso permite ao autor relacionar o esplendor de uma língua que estava nascendo com uma outra que vai morrendo, no caso, o Latim, que, com a ascensão da nova língua, vai entrando em desuso;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• O poeta exalta a língua, mesmo com o fato de ainda não estar bem elaborada como as outras que anteriormente também derivaram do latim. Isso é percebido nos seguintes versos: “ Ouro nativo que na ganga impura/ a bruta mina entre os cascalhos vela”, ou seja, mesmo ainda com impurezas, existe uma mina preciosa que espera para ser lapidada;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• O poema segue enaltecendo a beleza da língua, comparando-a com canções, orações, sons de instrumentos musicais. Para isso, o autor faz uso da sinestesia, que é um recurso de linguagem em que se estabelece uma relação de planos sensoriais diferentes, como em: clangor (som), aroma (olfato) , oceano largo (visão). Além disso, a menção das florestas brasileiras são uma menção também ao idioma recém-criado, como as selvas ainda não exploradas pelo homem branco. Ao citar os oceanos, percebe-se também uma referência à forma como a língua chegou ao Brasil, por meio das caravelas;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• Certamente a forma em que o autor deixa mais claro seu amor pela língua é quando faz uso do vocativo repetidas vezes: “Amo-te, ó rude e doloroso idioma”. Rude, pois ainda precisava ser aprimorado; doloroso, pois não seria tarefa fácil implantá-lo em solo brasileiro, pois implicaria, antes de tudo, na destruição de outras culturas, como aconteceu com o latim;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• No último terceto, o autor finaliza enfatizando as sensações que a língua pode trazer. Tanto na doce voz de uma mãe que chama por seu filho, como no choro daqueles que sentem a tristeza de não poder estar na pátria amada, como no caso de Camões, citado pelo autor, que exilado escreveu “Os Lusíadas”, uma epopeia escrita em Português, contando os feitos grandiosos de Portugal durantes as grandes conquistas no mar.

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A UM POETALonge do estéril turbilhão da rua, Beneditino escreve! No aconchego, Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego. Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E natural o objeto agrade, Se lembrar dos andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício É a força e a graça na simplicidade.

Olavo Bilac

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ASPECTOS FORMAIS

• O poema A um poeta, de Olavo Bilac é composto por quatro estrofes, sendo as duas primeiras com quatro versos, chamadas quartetos e as duas últimas, com três versos tercetos. Esse tipo de competição é um poema de forma fixa denominada Soneto;

• Os versos no poema possuem dez sílabas, chamados decassílabos;

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ASPECTOS FORMAIS

• O esquema rítmico por sua vez segue fiel a tradição classicista ocorrendo o predomínio dos versos decassílabos heroicos que são acentuados nas 6ª e na 10ª sílaba. Obrigatoriamente também estão presentes os decassílabos sáficos que, por sua vez, levam acento obrigatório na 4ª, 8ª e 10ª sílaba;

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ASPECTOS FORMAIS

• No poema, ocorre rima externa, consoante, intercaladas nos quartetos do tipo ABBA//BAAB e cruzadas do tipo CDC//DCD nos tercetos, também ocorre o predomínio das rimas ricas entre os versos: 01 e 04, 05 e 08, 06 e 07, 09 e 11, 10 e 13:

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ASPECTOS FORMAIS

• A análise formal permite concluir que se trata de um soneto, isto é, poema curto, denso e concentrado. Os versos são decassílabos divididos em sáficos de esquema rítmico 10 [04-08-10] e heroico com versos esquema rítmico 10 [06-10]. As rimas são de predominância rica e seguem o esquema tradicional intercalada nos quartetos e cruzadas nos tercetos, portanto apresenta regularidade na métrica, ritmo e rima, seguindo as regras classicistas mantendo uma forma fixa característica do Parnasianismo;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• O soneto A um poeta é um poema sobre o poema. São versos em que o poeta nos apresenta uma profissão de fé, ou seja, a sua posição em relação à poesia.

• Isso é perceptível em todo o poema. Nessa poesia, o poeta se manifesta sobre o ofício de ser poeta, expondo o produto final desse trabalho, que é comparado a de um escultor, do ouvires do artesão em busca da forma perfeita. Para isso, são necessárias paciência e dedicação beneditinas: o produto final deve ser uma obra formalmente perfeita, chamada de Arte pura;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• A um poeta apresenta-se uma tomada de posição diante da criação poética, uma vez que o 1º quarteto corresponde às condições de trabalho do poeta, para o qual se exige recolhimento religioso, isolamento, esforço, paciência e trabalho árduo para se chegar ao poema;

• No 2º quarteto, apresenta-se aos cuidados que se precisa ter para a criação do poema em que o poeta admite uma forma para o poema em que não transpareça o trabalho exigido pela criação;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• Já no 1º terceto, é mostrado o resultado do trabalho feito, evidenciado seu ideal de beleza, o qual se identifica com os princípios clássicos: riqueza e sobriedade, ausência de artifícios, simplicidade;

• No 2º terceto, é apresentada uma conclusão defendendo a arte pela arte e querer a Beleza gêmea da Verdade, embora não esclareça se trata de verdade material ou transcendental;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• Há no poema uma rigorosidade lógica na disposição das ideias ao longo do poema;

• Na área semântica, pode-se fazer a seguinte análise: a presença de metáforas onde as palavras são empregadas no sentido figurado: – “longe do estéril turbilhão da rua” (longe do barulho, da

multidão)– “Beneditino, escreve” (beneditino = homem paciente)

• Também aparece o polissíndeto que é uma figura de construção que se caracteriza pela repetição de conjunções:– “Trabalha e teima e lima e sofre e sua”

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• Portanto, ocorre uma sobriedade no uso das figuras, não só na quantidade como também na natureza delas;

• Os versos são tecnicamente perfeitos; há preocupação com a rima, com a medida rigorosa dos decassílabos e mesmo com a variedade rítmica;

• Ainda há uma preocupação como a beleza que o mundo oferece; não se propõe, nesse soneto, a meditação sobre os problemas do homem, mas a arte pura. A finalidade da poesia, segundo esse poema, é a arte pela arte.

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Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papelA pena, como em prata firme Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem, A idéia veste:Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso, Por tão subtil,Possa o lavor lembrar de um vaso De Becerril.

E horas sem conto passo, mudo, O olhar atento,A trabalhar, longe de tudo O pensamento.

Não quero o Zeus Capitolino

Hercúleo e belo,Talhar no mármore divino Com o camartelo.

Que outro - não eu! - a pedra corte Para, brutal,Erguer de Atene o altivo porte Descomunal.

Mais que esse vulto extraordinário, Que assombra a vista,Seduz-me um leve relicário De fino artista.

Invejo o ourives quando escrevo:Imito o amorCom que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara A pedra firo:O alvo cristal, a pedra rara, O ônix prefiro.

Porque o escrever - tanta perícia, Tanta requer,Que oficio tal... nem há notícia De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena Segue esta norma,Por te servir, Deusa serena, Serena Forma!

Deusa! A onda vil, que se avoluma De um torvo mar,Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma Deixa-a rolar!

Blasfemo em grita surda e horrendo ímpeto, o bandoVenha dos bárbaros crescendo, Vociferando...

Deixa-o: que venha e uivando passe- Bando feroz!Não se te mude a cor da face E o tom da voz!

Olha-os somente, armada e pronta, Radiante e bela:E, ao braço o escudo> a raiva afronta Dessa procela!

PROFISSÃO DE FÉ

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Este que à frente vem, e o todo Possui minazDe um vândalo ou de um visigodo, Cruel e audaz;

Este, que, de entre os mais, o vulto Ferrenho alteia,E, em jato, expele o amargo insulto Que te enlameia:

em vão que as forças cansa, e â luta Se atira; é em vãoQue brande no ar a maça bruta A bruta mão.

Não morrerás, Deusa sublime! Do trono egrégioAssistirás intacta ao crime Do sacrilégio.

E, se morreres por ventura, Possa eu morrerContigo, e a mesma noite escura Nos envolver!

Fique eu sozinho!Que não encontre um só amparo Em meu caminho!

Que a minha dor nem a um amigo Inspire dó...Mas, ah! que eu fique só contigo, Contigo só!

Vive! que eu viverei servindo Teu culto, e, obscuro,Tuas custódias esculpindo No ouro mais puro.

Celebrarei o teu oficio No altar: porém,Se inda é pequeno o sacrifício, Morra eu também!

Caia eu também, sem esperança, Porém tranqüilo,Inda, ao cair, vibrando a lança, Em prol do Estilo!

Olavo Bilac

Ah! ver por terra, profanada, A ara partidaE a Arte imortal aos pés calcada, Prostituída!...

Ver derribar do eterno sólio O Belo, e o somOuvir da queda do Acropólio, Do Partenon!...

Sem sacerdote, a Crença morta Sentir, e o sustoVer, e o extermínio, entrando a porta Do templo augusto!...

Ver esta língua, que cultivo, Sem ouropéis,Mirrada ao hálito nocivo Dos infiéis!...

Não! Morra tudo que me é caro,

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ASPECTOS FORMAIS

• O traço mais característico da poética parnasiana presente no poema Profissão de fé de Olavo Bilac é o culto excessivo pela forma perfeita, por meio da utilização de rimas ricas, raras e perfeitas, vocábulos extremamente refinados e complexos, tornando a poesia uma atividade da elite intelectual brasileira. A sintaxe poética também obedecia às regras gramaticais da época para, dessa forma, adequar-se às normas consagradas da escrita. Essas eram algumas das regras estabelecidas pelos parnasianos para que a poesia fosse completa e perfeita;

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ASPECTOS FORMAIS

• Os seguintes versos podem comprovar o culto excessivo à forma:– Rimas perfeitas

"Torce, aprimora, alteia, limaA frase; e enfim,No verso de ouro, engasga a rima,Como um rubim."

• Percebe-se neste trecho a utilização da sequência ABAB. É importante também frisar a modificação que o autor faz na palavra "rubi" transformando-a em "rubim" almejando assim a rima perfeita.

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ASPECTOS FORMAIS

– Endeusamento à forma:"Deusa! A onda vil, que se avolumaDe um torço mar,Deixa-a crescer; e o lodo e a espumaDeixa-a rolar!“

– Vocabulário refinado:"Este, que, de entre os mais, o vultoFerrenho alteia,E, em jacto expele o amargo insultoQue te enlameia:

– Culto à língua:"Ver esta língua, que cultivo,Sem ouropéis,Mirrada ao hálito nocivoDos infiéis!"

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• Olavo Bilac compara o poeta com o ourives. Para ele, ambas as profissões, tanto a ourivesaria quanto a poesia buscam a perfeição, por meio de um trabalho árduo, difícil. Bilac acentua a importância das palavras preciosas, do cuidado com as frases e realça o polimento dos versos, para que o poema se torne uma espécie de objeto precioso, semelhante a uma joia rara. O trabalho artesanal a que o poeta parnasiano atribui às palavras é para o autor semelhante ao do ourives, perseverante, delicado e cheio de dedicação e minuciosidade;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• Todavia, Bilac não vê semelhança entre o poeta e o escultor, visto que o escultor para produzir uma obra modifica totalmente sua matéria-prima, criando um novo objeto a partir de suas inspirações. Já o poeta parnasiano se utiliza da palavra (matéria-prima) somente aprimorando-a e adaptando-a para que o estilo prevaleça, ou seja, buscando somente a perfeição formal. Contrariando essa ideia, ele compara o poeta ao ourives já que esse trabalha minuciosamente para que a matéria-prima (ouro, pedra preciosa) seja apenas lapidada sem modificar sua essência, não deixando de ser uma pedra preciosa e valiosa;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• De acordo com Bilac, a preocupação primeira do poeta parnasiano deveria ser a de produzir uma poesia formalmente perfeita, isto é, utilizando uma linguagem elaborada, rimas perfeitas, sintaxe tradicional, não se atendo ao conteúdo superficial das palavras. Sua real preocupação era com o estilo e não com a profundidade das ideias e sentimentos do poeta;

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ASPECTOS TEMÁTICOS

• Na concepção dos parnasianos, o conceito da poesia está muito ligado visão “Arte pela Arte”, ou seja, a pretensão da universalidade através da utilização de uma linguagem objetiva que promove a contenção dos sentimentos e também a excessiva busca pela perfeição formal.