31
MARÇO DE 2012 Esta publicação foi produzida por AIDS Support and Technical Assistance Resources (Projeto de Apoio e Recursos de Assistência Técnica em SIDA), (AIDSTAR-One), Setor I, Ordem de Serviço 1, contrato USAID número GHH-I-00-07-00059-00, financiamento 31 de janeiro de 2008. ANÁLISE DOS SERVIÇOS DE RESPOSTA À VIOLÊNCIA BASEADA NO GÉNERO EM TRÊS PAÍSES

Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

 

 MARÇO DE 2012

Esta publicação foi produzida por AIDS Support and Technical Assistance Resources (Projeto de Apoio e Recursos de Assistência Técnica em SIDA), (AIDSTAR-One), Setor I, Ordem de Serviço 1, contrato USAID número GHH-I-00-07-00059-00, financiamento 31 de janeiro de 2008.

 

ANÁLISE DOS SERVIÇOS DE RESPOSTA À VIOLÊNCIA BASEADA NO GÉNERO EM TRÊS PAÍSES

Page 2: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

 

 

Page 3: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

 

 

O ponto de vista dos autores expresso na presente publicação não reflete necessariamente o ponto de vista daAgência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional ou do Governo dos Estados Unidos.

ANÁLISE DOS SERVIÇOS DE RESPOSTA À VIOLÊNCIA BASEADA NO GÉNERO EM TRÊS PAÍSES

Page 4: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

 

 

Projeto de Recursos de Assistência Técnica e Apoio em SIDA

O AIDS Support and Technical Assistance Resources (Projeto de Apoio e Recursos de Assistência Técnica em SIDA), Setor I, Ordem de Serviço 1 (AIDSTAR-One) é financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), sob o contrato nº. GHH-I-00–07–00059–00, financiado em 31 de Janeiro de 2008. O AIDSTAR-One é implementado por John Snow, Inc., em colaboração com Broad Reach Healthcare, Encompass, LLC, International Center for Research on Women, MAP International, Mothers 2 Mothers, Social and Scientific Systems, Inc., University of Alabama at Birmingham, The White Ribbon Alliance for Safe Motherhood e World Education. O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de país do Governo dos Estados Unidos relativamente a gestão de conhecimento, liderança técnica, sustentabilidade programática, planeamento estratégico e apoio para implementação programática.

Citação Recomendada

Spratt, Kai. 2012. Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no Género em Três Países. Arlington, VA: USAID AIDS Support and Technical Assistance Resources, AIDSTAR-One, Task Order 1.

Reconhecimentos

Deixamos os nossos agradecimentos aos membros do Grupo de Trabalho Técnico sobre Género do Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos da América para o Alívio da SIDA (PEPFAR) pelos seus comentários perspicazes e pela revisão técnica do presente documento, bem como às Equipas Nacionais do PEPFAR do Governo dos Estados Unidos no Vietname, Suazilândia e Equador pela permissão para levar a cabo os estudos de caso. Agradecemos igualmente ao governo, à equipa do programa, aos voluntários e sobreviventes inquiridos para os estudos de caso, esperando-se que estes transmitam de forma rigorosa o seu compromisso e as suas perspetivas para eliminar a violência baseada no género.

AIDSTAR-One John Snow, Inc. 1616 Fort Myer Drive, 16º Andar Arlington, VA 22209 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA Telefone: 703-528-7474 Fax: 703-528-7480 E-mail: [email protected] Internet: aidstar-one.com

Page 5: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

 

iii

ÍNDICE

Acrónimos ..................................................................................................................................................... v 

Metodologia .................................................................................................................................................. 3 

Conclusões .................................................................................................................................................... 5 

Recomendações .......................................................................................................................................... 14 

Conclusão .................................................................................................................................................... 18 

Referências .................................................................................................................................................. 20 

Page 6: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

iv

Page 7: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

 

v  

ACRÓNIMOS

CEPAM Centro Equatoriano para la Promoción y Acción de las Mujeres

VBG Violência baseada no género

HTC Testagem e aconselhamento sobre VIH

MS Ministério da Saúde

MSM Homens que fazem sexo com homens

ONG Organização não-governamental

PEPFAR Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos da América para o Alívio da SIDA

PLHIV Pessoas que vivem com VIH

SWAGAA Swaziland Action Group Against Abuse

USAID Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional

USG Governo dos EUA

Page 8: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

 

vi  

Page 9: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

 

1

INTRODUÇÃO

A violência baseada no género (VBG – consultar a Caixa 1 para obter a definição) afeta entre 10 a 70 por cento das mulheres em todo o mundo (Organização Mundial de Saúde 2005). Os homens que fazem sexo com homens (MSM), os(as) indivíduos(as) que injetam drogas, os(as) transgénero e os(as) trabalhadores(as) do sexo estão entre os mais vulneráveis à VBG como resultado de desigualdades de género (Betron and Gonzalez-Figueroa 2009; Burns 2009; Sex Workers´ Rights Advocacy Network 2009). Para além das implicações existentes para praticamente todos os aspetos a nível de saúde e desenvolvimento, desde o crescimento económico e o nível educacional ao acesso aos serviços de saúde, a VBG é amplamente reconhecida como uma causa e como uma consequência da infeção pelo VIH, a qual é a principal causa de morte das mulheres de todo o mundo com idades compreendidas entre os 15 e os 44 anos (Organização Mundial de Saúde 2005). A VBG cria condições propícias para a transmissão do VIH em mulheres, porque as mulheres que vivem em relações violentas são frequentemente submetidas a sexo coercivo e violento e não têm capacidade para negociar medidas para evitar sexo desprotegido, sendo que o medo da violência pode impedir que as mulheres procurem serviços relacionados com o VIH.

O Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos da América para o Alívio da SIDA (PEPFAR) apoia a redução da violência e da coerção como uma das suas cinco principais prioridades estratégicas de género (Grupo de Trabalho Interinstitucional de Género da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional [USAID] 2008). Como resultado, o PEPFAR aumentou consideravelmente os seus investimentos em estratégias e programas de combate à VBG. Por exemplo, em Maio de 2010, o PEPFAR anunciou um investimento com a duração de três anos no valor de 30 milhões de dólares americanos destinado a expandir os programas de VBG na República Democrática do Congo, em Moçambique e na Tanzânia. No mesmo ano, o PEPFAR forneceu fundos para concursos destinados a 14 missões do Governo dos

Caixa 1. Definir a Violência Baseada no Género

Em termos mais amplos, a “violência baseada no género” é a violência direcionada a um(a) indivíduo(a) com base no seu sexo biológico, identidade de género ou à perceção da sua adesão a normas de masculinidade e feminilidade definidas socialmente. Inclui o abuso físico, sexual e psicológico; ameaças; coação; privação arbitrária da liberdade; e privação económica, quer ocorra na vida pública ou privada.

A VBG assume diversas formas e pode ocorrer durante todo o ciclo de vida, desde a fase pré-natal, durante a infância e a adolescência, até à idade reprodutiva e a velhice (Moreno 2005). Os tipos de VBG incluem o infanticídio de bebés do sexo feminino; práticas tradicionais nocivas, como casamento precoce e forçado, homicídios em defesa da “honra” e mutilação genital feminina; abuso sexual e escravidão infantil; tráfico de pessoas; coação e abuso sexual; negligência; violência doméstica; e abuso de pessoas idosas.

As mulheres e as raparigas estão em maior risco e são as mais afetadas pela VBG. Consequentemente, os termos “violência contra as mulheres” e violência baseada no género” são frequentemente utilizados alternadamente. No entanto, os rapazes e os homens também podem ser vítimas de VBG, assim como as minorias sexuais e de género, como homens que têm relações sexuais com homens e transgêneros. Independentemente do alvo, a VBG está enraizada nas desigualdades estruturais entre homens e mulheres, sendo caracterizada pelo uso e abuso de poder e controlo físico, emocional e financeiro.

Fonte: Khan 2011.

Page 10: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

2

EUA (USG) na América Latina e África, a fim de expandir o seu programa atual relacionado com o género. Ao fortalecer a capacidade local, o PEPFAR espera melhorar um ambiente político favorável em cada país e apoiar a expansão e a sustentabilidade dos serviços e das respostas à VBG.

Um dos princípios fundamentais da estratégia do PEPFAR II consiste em apoiar a sustentabilidade a longo prazo dos programas de prevenção, tratamento, assistência e apoio relacionados com o VIH e em expandir programas e práticas promissores e inovadores. Quebrar as ligações entre a infeção pelo VIH e a VBG requer intervenções específicas com a finalidade de promover mudanças nas normas individuais e comunitárias que perpetuam a violência contra as mulheres e outros grupos vulneráveis (Gardsbane 2010; Grupo de Trabalho Interinstitucional de Género da USAID 2008; Orndorff and Natividad 2009). Por sua vez, alcançar este tipo de mudança significativa requer um ambiente político promissor ao nível local, regional e nacional, bem como um ativismo contínuo e um financiamento a longo prazo (Rhodes et al. 2005). Podem ser utilizadas diversas estratégias para manter os programas em funcionamento: financiamento do setor público; financiamento do setor privado através de fundações, contribuições de empresas privadas, ou reembolso pelos utentes do serviço (ou seja, cobrança dos serviços de saúde); ou um misto de financiamento público e privado.

Sob a orientação técnica do Grupo de Trabalho Técnico sobre Género do PEPFAR, a AIDSTAR-One, um projeto global financiado pelo PEPFAR através da USAID, que presta apoio e assistência técnica às equipas do Governo dos EUA em todo o mundo, desenvolveu uma série de recursos técnicos para explorar as ligações entre a desigualdade de género, a VBG e o VIH. Estes recursos concentram-se em identificar e partilhar abordagens programáticas e em divulgar elementos chave de sucesso para a sua replicação e expansão.

Em 2010, a AIDSTAR-One realizou estudos de caso em três países onde estavam disponíveis serviços de VBG. Os estudos de caso tinham os objetivos seguintes:

Analisar o ambiente político relacionado com a prevenção da VBG e com a prestação de serviços de VIH aos(às) sobreviventes da VBG.

Descrever componentes de prestação de serviços, incluindo intervenção de crise, apoio ao(à) sobrevivente, educação comunitária, formação de pessoal, monitorização e avaliação, ativismo por políticas e aconselhamento.

Descrever de que modo os programas estabelecem ligações ou referências a outros programas de apoio social e à saúde, como o planeamento familiar, a testagem e aconselhamento sobre VIH (HTC), serviços de saúde reprodutiva, desenvolvimento económico e apoio jurídico.

Resumir as estratégias de financiamento atuais e futuras a longo prazo de cada programa.

Estes estudos de caso foram desenvolvidos para ajudar os gestores de programas a conceber, planear e implementar estratégias para integrar a VBG no seio dos serviços e programas existentes de VIH, planeamento familiar ou saúde reprodutiva. As análises dos estudos - levadas a cabo no Vietname, no Equador e na Suazilândia – deram lugar a cinco conclusões principais e a oito recomendações globais.

Page 11: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

3

METODOLOGIA

Os estudos de caso foram levados a cabo em países que foram escolhidos deliberadamente por meio de entrevistas com informantes-chave levadas a cabo por especialistas em VBG e profissionais de saúde. Cada estudo de caso representa um contexto distinto relacionado com a localização geográfica, o financiamento, o contexto das políticas e as consequentes implicações na sustentabilidade. Não se exigiu que os programas fossem financiados pelo Governo dos EUA para fins de apreciação.

No Vietname, a equipa de género da AIDSTAR-One conduziu igualmente um estudo de caso independente sobre o modo através do qual o trabalho dos programas com populações altamente vulneráveis está a integrar o género nas suas atividades (Spratt and Trang 2011). Isto permitiu a alavancagem de recursos e custos reduzidos. O programa no Equador integra uma resposta multissetorial à VBG no seio dos serviços de saúde, sendo um modelo que tem sido identificado como uma prática promissora por especialistas em VBG. No Equador, o governo também reconheceu esta situação e está a trabalhar no sentido de expandir a abordagem para diversos locais em todo o país. Esta colaboração entre a sociedade civil e o governo não é muito comum, embora seja importante nos esforços para intensificar a VBG e os serviços de saúde em ambientes com recursos limitados. O terceiro programa na Suazilândia foi escolhido pelo facto de ser um exemplo raro de um programa de longa duração que tem continuado com subvenções a curto prazo e específicas para o projeto e com doações públicas, mas sem financiamento geral e de longo prazo. Foram escolhidos os programas seguintes:

Os programas de VBG do Departamento de Saúde de Hanoi, no Duc Giang General Hospital e no Dong Anh General Hospital, em Hanoi, Vietname

Centro Ecuatoriano para la Promoción y Acción de las Mujeres (Centro Equatoriano para Promoção e Ação da Mulher, ou CEPAM), em Guayaquil, Equador

Grupo de Ação da Suazilândia Contra o Abuso (SWAGAA), em Manzini, Suazilândia.

A equipa da AIDSTAR-One ou um consultor local contactou cada programa para explicar a finalidade do estudo de caso e preparar as visitas ao local e agendar entrevistas. Os métodos utilizados para realizar os estudos de caso incluíram uma revisão das políticas e estratégias nacionais sobre a VBG, relatórios de programas e avaliações e entrevistas com as autoridades governamentais nacionais ou locais, organizações não-governamentais colaboradoras locais (ONGs), equipas e voluntários que prestam serviços de VBG, utentes dos serviços de VBG, sempre que possível, e agências multilaterais que fornecem assistência técnica ou financeira aos programas (por exemplo. o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher e o Fundo de População das Nações Unidas).

Foram desenvolvidos um protocolo padronizado de visitas e diretrizes de entrevistas que foram utilizados nos três locais. O conteúdo dos guias incluiu o seguinte:

Histórico do programa

Page 12: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

4

Descrição da população-alvo, do programa ou da utilização do serviço, alcance, referência, garantia de qualidade e atividades de formação

Descrição dos serviços prestados

Desafios encontrados para oferecimento dos serviços

Inovações incorporadas aos serviços à medida que o programa se desenvolve

Lições aprendidas que outras organizações devem ter em conta antes de criarem serviços de VBG

Estratégias de sustentabilidade a longo prazo.

Os dados foram recolhidos em cada local durante aproximadamente cinco dias. As entrevistas foram realizadas no idioma local no Equador e no idioma local e em inglês com tradução simultânea no Vietname e na Suazilândia.

Page 13: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

5

CONCLUSÕES

1. As estruturas governamentais dos três países variam consideravelmente, mas todos promulgaram recentemente marcos de políticas para a VBG.

Os programas de VBG descritos nos estudos de caso funcionam em sociedades que possuem sociedades civis relativamente fracas e uma carência de diretrizes operacionais nacionais, protocolos, ou orçamentos detalhados dedicados que promovam uma sustentabilidade a longo prazo e uma expansão dos serviços de VBG.

Vietname: A República Socialista do Vietname é um país de partido único no qual todas as organizações políticas estão sob o controlo do Partido Comunista Vietnamita. Não existe qualquer separação de poderes entre os poderes executivo, legislativo e judicial. A Assembleia Nacional, que está subordinada à direção do Partido Comunista, é o organismo representativo mais elevado do povo e a única organização com poderes legislativos (Departamento de Estado dos Estados Unidos, 2010). Em 1986, o governo do Vietname instituiu a doi moi (renovação), a qual abriu os sistemas económico e político, resultando numa rápida mudança económica e social, incluindo a formação de grupos sociais externos ao Partido Comunista (Thayer 2008). Em 1992, a constituição de um novo estado reafirmou a função central do Partido Comunista do Vietname nas políticas e na sociedade, delineado a reorganização do governo e aumentando a liberdade económica.

Após sete anos de negociação, o Governo do Vietname aprovou a Lei de 2007 sobre a Prevenção e Controlo da Violência Doméstica, que define a violência doméstica como “um ato cometido intencionalmente por um familiar, que cause ou seja passível de causar dano em termos físicos, emocionais e económicos a outro familiar” (Hoang 2008, 39), independentemente do sexo, idade ou relacionamento com a(s) vítima(s). O Ministério da Cultura, Desportos e Turismo é responsável pela implementação global da lei, prevendo-se que colabore com outros ministérios a fim de desenvolver e divulgar orientações para a implementação. As disposições da lei incluem a aplicação de sanções aos seus autores, abrigos para sobreviventes de violência doméstica, intervenções por parte de comissões de conciliação de base comunitária, expansão do acesso a aconselhamento de base familiar, promoção de “endereços de confiança” nas comunidades (lares onde os(as) sobreviventes possam procurar proteção ou apoio a curto prazo) e monitorização e supervisão regular da implementação da lei. A lei é bastante ampla, abrangendo qualquer ato intencional cometido por um familiar, incluindo pessoas divorciadas ou que estejam em convivência marital (Hoang 2008). O Ministério da Saúde (MS) deu o primeiro passo para implementar a lei, sendo que em 2010 utilizou o modelo do projeto Aprimorando a Resposta da Atenção à Saúde para a Violência Baseada no Género, a fim de desenvolver orientações que exijam que todos os hospitais vietnamitas integrem a triagem da violência em exames de saúde. O MS exige que os materiais de formação e as ferramentas de triagem do projeto sejam utilizados em todo o país.

Equador: Durante a maior parte do século vinte, o Equador vivenciou uma turbulência económica e política que resultou num ciclo de governos democráticos de curta duração que foram derrubados por ditaduras militares. Em 1979, o Equador regressou à democracia, mas o país ainda enfrenta os problemas da pobreza, da desigualdade e da marginalização de grupos étnicos. A despesa governamental no setor social aumentou significativamente desde o ano de 2008. A despesa na área

Page 14: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

6

da saúde mais do que duplicou, comparativamente com níveis históricos, constituindo atualmente 3,5 por cento do PIB (cerca de $1,8 mil milhões de dólares americanos). A cobertura e os serviços de saúde gratuitos foram ampliados, principalmente para as crianças e as mulheres grávidas (Weisbrot and Sandoval 2009). O Equador também possui um histórico progressista em políticas sobre VBG. No entanto, tal não significa que a política já tenha sido significativamente implementada. Por exemplo, é frequente a polícia aceitar subornos dos agressores para que os casos não sejam processados, e os prestadores de serviços de saúde receiam envolver-se em processos judiciais morosos, sofrer ameaças por parte dos agressores e calúnias por parte de advogados. Desde 1995, o Equador tem uma lei que combate a violência contra as mulheres e a família, mas o conhecimento da lei é limitado, sendo que um número reduzido de mulheres denuncia atos de violência às autoridades ou procura reparação judicial. Em 2007, foi promulgado o Decreto Presidencial Nº. 620, o Plano Nacional para a Erradicação da Violência de Género contra Crianças, Adolescentes e Mulheres. A supervisão do plano está investida numa comissão de ministros multissetorial. Esta comissão trabalha com uma equipa de assistência técnica, composta por diversos ministérios e ONG especializadas em VBG, para formular e supervisionar as políticas estabelecidas no plano. O Plano Nacional prevê o acesso a proteção e a serviços jurídicos, a prevenção através de campanhas nos meios de comunicação social, módulos sobre a VBG nos planos curriculares escolares, tribunais especializados para lidar com a VBG, serviços de apoio, como abrigos e linhas de assistência telefónica e acapacitação institucional para pessoal governamental e de ONG. É prometida proteção adicional no Artigo 66 da nova constituição do Equador (2008), a qual garante uma vida livre de violência pública ou privada. A mesma também refere que o governo vai adotar medidas para prevenir e punir a violência, particularmente contra as mulheres, crianças, adolescentes, pessoas idosas, pessoas com deficiência e pessoas desfavorecidas ou vulneráveis. As mesmas medidas serão aplicadas contra a escravatura e a exploração sexual (Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Género e Empoderamento das Mulheres 2011).

Suazilândia: O Reino da Suazilândia é a única monarquia absoluta remanescente na África. De acordo com as leis e costumes suazi, o monarca, Rei Mswati III, detém o poder supremo executivo, legislativo e judicial. No entanto, no geral, em termos práticos, o poder da monarquia é delegado através de um sistema dualista: órgãos modernos e estatutários, como o conselho de ministros, e estruturas governamentais tradicionais menos formais. O rei deve aprovar a legislação votada pelo parlamento antes de a mesma se tornar lei (Departamento de Estado dos Estados Unidos 2011). Em 2006, foi adotada uma nova constituição que prevê direitos iguais para mulheres e homens, embora mantenha o sistema duplo de legislação que reconhece a lei tradicional e a lei civil. Assuntos de matrimónio, custódia de menores, direitos de propriedade e de sucessão permanecem amplamente tutelados por leis e costumes tradicionais, que refletem fortemente normas e práticas patriarcais. O gabinete do primeiro-ministro adjunto alberga a Unidade de Género e Família e a Unidade Nacional de Coordenação Infantil. Foram nomeados pontos focais de género em cada ministério no intuito de mobilizar e coordenar iniciativas e programas antecipados relacionados com o género. Os problemas que ainda estão por resolver incluem a infraestrutura complexa do gabinete do primeiro-ministro adjunto, que abranda os processos e a capacidade de realização do trabalho, bem como a prática de nomeação de indivíduos auxiliares como pontos focais de género, carecendo deste modo de autoridade e poder de decisão.

Entre os recentes desenvolvimentos positivos está a Política Nacional de Género de 2010, um documento que esteve em elaboração ao longo de 13 anos. Espera-se que a nova política oriente a obtenção da igualdade de género prevista pela constituição. Além disso, o governo reconhece a necessidade da integração da igualdade de género em todos os principais documentos políticos, pois a mesma está incluída na Estratégia de Desenvolvimento Nacional de 1997 a 2022. Após mais de 10

Page 15: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

7

anos de trabalho levado a cabo por defensores da igualdade de género, o Projeto de Lei Crimes Sexuais e Violência Doméstica foi aprovado em Outubro de 2011, aguardando atualmente a ratificação por parte do senado. A versão original do projeto de lei foi criticada como sendo demasiado progressista, tendo gerado controvérsias sobre a “cultura suazi em contraposição à igualdade de género”. O projeto de lei final é resultado de uma negociação. Ele trata de algumas questões controversas, embora não tão intensamente conforme seria de esperar por parte dos seus defensores.

Os três estudos de caso ilustram que, apesar de estes países terem tomado medidas importantes com o objetivo de combater a VBG, o ambiente político para a institucionalização e expansão de serviços para além de alguns locais permanece limitado; a resposta integral à VBG ainda não é uma prioridade.

2. As respostas à VBG variam de país para país.

A prestação de serviços de VBG no local de cada estudo de caso reflete três tipos de resposta diferentes – uma abordagem governamental centrada na saúde no Vietname; uma ONG que trabalha com e através do apoio governamental no Equador; e uma abordagem de base comunitária na Suazilândia.

Vietname: Os serviços de VBG são extremamente limitados no Vietname. Os serviços destacados neste estudo de caso, apoiados desde 2010 pelo Departamento de Saúde de Hanoi, estão apenas disponíveis em dois hospitais e num número limitado de comunas1 existentes na sua proximidade. Vários outros programas são financiados por outros doadores e implementados através de outros parceiros governamentais, mas praticamente todos são de pequena escala, espalhados pelo país e principalmente focados na violência física (Fundo de População das Nações Unidas 2007). No Equador e na Suazilândia, os serviços estão disponíveis em locais adicionais, estendendo-se para além de um modelo de assistência médica.

O projeto Aprimorando a Resposta da Atenção à Saúde para a Violência Baseada no Género foi implementado como piloto e posteriormente integrado nos serviços de saúde em dois hospitais da cidade de Hanoi. O projeto, que foi implementado pelo Center for Applied Studies in Gender and Adolescence e pelo Population Council, possui três componentes: triagem, referência e divulgação e apoio comunitário. Todo o pessoal médico e de enfermagem nos serviços de urgência, obstetrícia e ginecologia, nos departamentos cirúrgicos e na maior parte das clínicas ambulatoriais recebem formação básica sobre a VBG. A formação abrange as definições e as consequências da violência, ensinando os participantes a utilizar uma pequena ferramenta de triagem composta por três perguntas,2 trabalhar com sobreviventes e colaborar com a comunidade para apoiar os(as) sobreviventes de VBG. Quando é identificado um caso deVBG, é prestado tratamento de emergência, se necessário, sendo feita uma referência para o centro de aconselhamento no hospital. Os serviços de aconselhamento são gratuitos. O projeto não apoia custos de HTC de rotina ou outro tipo de testagem e tratamento para infeções sexualmente transmissíveis, apesar de algumas mulheres serem encaminhadas para o local de HTC do hospital, o qual é apoiado por outros doadores. Em termos de divulgação comunitária, as equipas hospitalares e dos dois centros de

                                                            1 Uma comuna é uma unidade administrativa abaixo do nível de um distrito; várias comunas formam um distrito. 2 As três perguntas de triagem são as seguintes 1) violência doméstica: “Já alguma vez foi agredido(a), insultado(a), ou forçado(a) a praticar relações sexuais por familiares (marido, companheiro, familiares) quando não o desejava?”; 2) abuso sexual infantil: “Por vezes, durante a infância, as mulheres são abusadas sexualmente (tocadas com propósitos eróticos); essa situação já lhe aconteceu?”; 3) violação: “Alguma vez foi forçada a praticar relações sexuais por uma pessoa que conhecia ou por um estranho quando não o desejava?”

 

Page 16: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

8

aconselhamento visitam as comunidades mensalmente, a fim de realizarem sessões de comunicação para membros de organizações de massas, como o Sindicato dos Agricultores e o Sindicato dos Estudantes, ou membros da comunidade interessados em tópicos relacionados com a igualdade de género e a VBG. Estas equipas apoiam também clubes de sobreviventes, embora não trabalhem extensivamente com os jovens, com os estabelecimentos de ensino, ou com os programas do VIH existentes na comunidade.

Equador: O CEPAM é uma das poucas organizações existentes no Equador que fornece serviços abrangentes para os sobreviventes de VBG que se dirigem ao centro do CEPAM à procura de assistência. Estes serviços, que são prestados em Guayaquil, incluem serviços completos de saúde reprodutiva, assistência jurídica, aconselhamento psicológico, acesso a atenção médica e apoio social. A equipa multissetorial do CEPAM fornece estes serviços sem qualquer custo, com o financiamento do Ministério do Investimento Económico e Social (MIES). Se necessário, o(a) sobrevivente pode ser encaminhado(a) para um abrigo, para um serviço de saúde especializado, ou para uma agência que lhe possa prestar apoio económico. As conselheiras, todas mulheres sobreviventes de VBG, são submetidas a um processo intensivo de apoio e formação psicológica, a fim de se tornarem educadoras comunitárias e defensoras dos direitos das mulheres particularmente relacionados com a VBG. Uma resposta multissetorial constitui um dos elementos essenciais dos programas do CEPAM. Esta resposta permitiu que os utilizadores dos serviços do CEPAM evitassem a burocracia e os múltiplos processos necessários para terem acesso aos diversos serviços que pudessem vir a necessitar.

O Plano Nacional de 2007 para erradicar a VBG está a ser atualmente implementado através da colaboração entre ministérios de diversos setores, com a assistência técnica de uma série de ONG locais especializadas em VBG. O CEPAM é o líder destas ONG. Atualmente, o CEPAM fornece assistência técnica ao MIES no sentido de integrar o seu modelo de serviços abrangente em diversas instituições de todo o Equador e de desenvolver normas, protocolos e diretrizes operacionais de acompanhamento para serviços integrados de VBG. Do mesmo modo, o Instituto Nacional da Família e das Crianças (que também faz parte do MIES) procurou obter a assistência técnica do CEPAM de Guayaquil, a fim de desenvolver um modelo de serviço para a VBG. O MIES tem apoiado um projeto-piloto que tem como objetivo desenvolver serviços integrados na Polícia para Mulheres e Famílias e no Ministério Público da Província de Guayas. A colaboração do CEPAM com o governo tem resultado na melhoria da qualidade dos serviços de VBG, como a melhoria da compreensão ao nível do sistema de justiça das necessidades multifacetadas das mulheres que são vítimas de violência.

Suazilândia: O SWAGAA foi constituído em 1990 como uma ONG de base operada por voluntários para fornecer serviços diretos a sobreviventes de violência familiar e abuso sexual, sendo a única organização na Suazilândia cujo trabalho principal consiste em combater a VBG. Atualmente, os serviços incluem a educação de prevenção (programas escolares e comunitários), uma linha telefônica gratuita que presta assistência e aconselhamento, aconselhamento pessoal para adultos e crianças, gestão de casos, serviços jurídicos, iniciativas de autossuficiência económica, um programa de envolvimento masculino, ativismo e mobilização, campanhas de consciencialização comunitária e referências para uma rede de prestadores de serviços. As ligações entre o VIH e a VBG são explícitas através de programas do SWAGAA, sendo os clientes encaminhados para serviços de HTC sempre que apropriado. O SWAGAA trabalha em parceria com as ONGs, bem como com agências governamentais, como o gabinete do primeiro-ministro adjunto, incluindo a Unidade de Género, a Unidade Nacional de Coordenação Infantil e o Departamento de Bem-estar Social, a Unidade de Violência Doméstica da Polícia da Suazilândia e os Serviços Correcionais

Page 17: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

9

Governamentais. Está a ser desenvolvida uma forte rede de referência com vista a aumentar a eficiência e a utilização de recursos, bem como para ajudar o SWAGAA a concentrar-se no seu objetivo principal de apoiar os(as) sobreviventes da VBG.

O SWAGAA presta amplos serviços educativos de base comunitária sobre a VBG em 24 comunidades, bem como atividades de consciencialização e ativismo por políticas sobre VBG a nível nacional. O SWAGAA iniciou a integração do VIH em todos os seus programas mesmo antes de doadores e outras agências terem voltado a sua atenção para esta matéria, e muitos(as) sobreviventes que utilizaram os serviços do SWAGAA relatam experiências com ambos os serviços de VBG e VIH. As estratégias organizacionais da ONG evoluíram com um enfase acrescido na integração de homens e rapazes, aumentando as atividades de prevenção da VBG, desenvolvendo uma rede de referência para aumentar a capacidade de fazer face às necessidades dos sobreviventes, assumindo uma resposta mais estratégica à VBG. Os programas em curso do SWAGAA incluem sensibilizações em escolas, educação e divulgação, clubes de empoderamento de raparigas, a iniciativa Lihlombe Lekukhalela (“Um Ombro Onde Chorar”) (um projeto de proteção infantil criado pelo Governo da Suazilândia e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância) e uma iniciativa de envolvimento masculino.

Não existe um “modelo único” em termos de iniciação de serviços de VBG. Mas o que todos os locais demonstram é que a sustentabilidade e a expansão dos serviços de VBG requerem a colaboração entre o governo e a sociedade civil. No Vietname, o esforço foi iniciado no setor da saúde; no Equador e na Suazilândia, os esforços iniciais começaram ao nível da comunidade. A transferência de competências necessárias para expandir os programas – de especialistas da sociedade civil para o governo e, no caso do Vietname, do governo para organizações comunitárias - não é um processo rápido. Para que tal aconteça, deve existir um compromisso, financiamento e parcerias a longo prazo.

3. Os serviços de HTC não são regularmente prestados em todos os locais.

A Suazilândia possui a mais alta taxa de prevalência de VIH no mundo, pelo que a prevenção do VIH está em princípio presente todas as intervenções no país. A ligação entre o VIH e a VBG não foi suficientemente abordada em nenhum dos locais dos estudos de caso do Vietname ou do Equador. Ambos são países de baixa prevalência, em que o VIH está concentrado no seio de populações de maior risco: trabalhadores(as) do sexo, MSM (homens que fazem sexo com homens) e pessoas que injetam drogas no Vietname, e MSM, transgéneros e trabalhadores(as) do sexo no Equador. Estas populações podem não usar os serviços públicos de saúde, onde o estigma e a discriminação podem ser elevados, nem se sentem bem-vindas em serviços orientados para as mulheres. Em países com baixa prevalência, a maioria dos profissionais de saúde não está

Caixa 2. Os Organismos das Mulheres e o Risco do VIH

As alterações hormonais, a ecologia e fisiologia microbiana vaginal e uma elevada prevalência de infeções sexualmente transmissíveis tornam as mulheres – particularmente as mulheres mais jovens – intrinsecamente mais vulneráveis à infeção pelo VIH do que os homens. As mulheres têm uma probabilidade duas vezes maior relativamente aos homens de contrair o VIH durante a relação sexual com homens. A relação sexual forçada ou violenta pode provocar escoriações e cortes, que facilitam a infeção pelo VIH por parte das mulheres (American Foundation for AIDS Research 2005). A combinação entre a vulnerabilidade biológica e as desigualdades social, económica e estrutural tem acentuado a feminização da epidemia (Quinn and Overbaugh 2005).

Page 18: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

10

familiarizada com o VIH ou pode pressupor que as sobreviventes da VBG que não sejam oriundas de populações de alta vulnerabilidade não estão sob risco de contrair o VIH (consultar a Caixa 2 sobre o motivo pelo qual as mulheres enfrentam maior risco de contrair o VIH).

Vietname: Até a segunda fase do projeto, o modelo de prestação de serviços não incluiu uma referência à testagem de infeções sexualmente transmissíveis e HTC para clientes de VBG. As oportunidades perdidas para o fornecimento de HTC deveram-se em parte à natureza do financiamento do projeto: este tratava-se de um projeto de VBG e não de um projeto de VBG e VIH, sendo que o HTC não foi integrado na formação ou nos serviços, embora fossem disponibilizados serviços gratuitos de HTC em ambos os hospitais.

Equador: O CEPAM compreendeu que uma estratégia eficaz para melhorar políticas em resposta à VBG consistia no seu enquadramento como um problema social que requer medidas e esforços de mitigação por parte de todas as instituições e membros da comunidade. Enquanto o CEPAM promove claramente a VBG como um problema de saúde que afeta o desenvolvimento e a equipa do projeto recebeu formação para compreender as ligações entre a VBG e o VIH, as limitações de financiamento e das políticas reduzem a capacidade da equipa do CEPAM para prestar serviços de HTC ou profilaxia pós-exposição. As mulheres que necessitam destes serviços são referidas a outros prestadores de serviços.

Suazilândia: O SWAGAA tem, por quase uma década, respondido às ligações entre a epidemia do VIH e a VBG, integrando a educação e o aconselhamento sobre o VIH em seus programas e serviços. O processo de admissão para clientes que recebem aconselhamento pessoal inclui questionar se conhecem o seu diagnóstico quanto ao VIH, apesar de os clientes não serem pressionados a divulgar essa informação. Os(as) clientes que não conheçam o seu diagnóstico são incentivados(as) a dirigir-se para um local de HTC. Todos(as) os(as) clientes recebem algum aconselhamento sobre o VIH, incluindo referências para grupos de apoio parceiros para aqueles que sejam VIH-positivos e aconselhamento sobre estratégias de prevenção para aqueles que sejam VIH-negativos ou que desconheçam a sua condição a esse respeito. Após um aconselhamento inicial, o SWAGAA encaminha as sobreviventes de agressão sexual (caso tenham denunciado a agressão no prazo de 72 horas a partir do incidente) à “Family Life Association of Swaziland” (Associação Vida Familiar da Suazilândia) para serviços de contraceção de emergência e profilaxia pós-exposição.

4. O financiamento para os programas de VBG é insuficiente e precário.

Vietname: A restruturação económica reduziu o financiamento central para os serviços de saúde do setor público, que estão sob uma pressão cada vez maior para cobrar taxas para cobrir salários, despesas operacionais e serviços. Os serviços de VBG não estão atualmente incluídos nos orçamentos operacionais hospitalares ou através dos subsídios do MS para os hospitais. As diretrizes de 2010 do MS exigem a triagem da VBG em todos os hospitais, mas não especifica qual é a triagem de VBG que irá ser financiada ou como abranger custos para aconselhamento, referências e divulgação comunitária. As administrações hospitalares podem ou não decidir usar o seu próprio orçamento para reembolsar pessoal por serviços de triagem e aconselhamento sobre a VBG. Como resultado, a qualidade e o nível dos serviços de VBG podem variar de forma significativa em todo o Vietname, dependendo da medida em que os administradores hospitalares dão prioridade à VBG. Os administradores dos dois hospitais avaliados no estudo de caso indicam que os mesmos estão empenhados em continuar os serviços de VBG, embora a manutenção do nível atual dependa de um mecanismo de financiamento proveniente do MS. Além disso, o Departamento de Saúde de Hanoi, que administra o financiamento de hospitais e clínicas, não tem conseguido financiar totalmente o nível de serviços e de cargos de pessoal anteriormente apoiados através do financiamento de

Page 19: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

11

doadores. Até julho de 2010, um hospital do estudo de caso havia mantido um dos seus dois conselheiros a tempo integral, comprometendo-se a pagar o salário do conselheiro durante no mínimo o ano seguinte, embora não possua fundos para atividades de alcance comunitário nem para custos recorrentes a longo prazo para o centro de aconselhamento. No segundo hospital, os serviços de VBG foram combinados com o local de HTC para compensar a perda de um cargo na clínica de VBG; as atividades de sensibilização foram reduzidas. Felizmente, algumas atividades de base comunitária iniciadas através do projeto poderão continuar com os orçamentos do Sindicato das Mulheres ou do Sindicato dos Agricultores locais.

Equador: O CEPAM conseguiu posicionar-se como especialista líder em VBG e obter financiamento do governo para ajudar a implementar o Plano Nacional para a Erradicação da Violência. O CEPAM em Guayaquil recebeu financiamento governamental e está fornecendo assistência técnica para o desenvolvimento de normas, protocolos e diretrizes para prestação de serviços integrados de VBG para diversos gabinetes provinciais em Guayas, incluindo a Polícia para Mulheres e Famílias. No entanto, a sustentabilidade permanece um desafio contínuo: o CEPAM recebe financiamento insuficiente por parte do governo, bem como financiamento fragmentado de diversos doadores internacionais, resultando em inícios e paragens de atividades. Por exemplo, no caso dos conselheiros de direitos de base comunitária, quando o projeto financiado pelo doador que construiu a sua capacidade e iniciou atividades chegou ao fim, as conselheiras) deixaram de se reunir com redes multissetoriais de VBG para coordenar os seus esforços de deteção e referência.

As experiências de colaboração com o setor público revelam que é possível que o governo e a sociedade civil realizem uma parceria bem-sucedida para a implementação de serviços. No entanto, o CEPAM e os seus parceiros consideraram que demasiada participação e liderança por parte da sociedade civil pode conduzir ao excesso de confiança por parte do governo na sociedade civil no sentido de que esta assuma a responsabilidade na resposta à VBG.

Suazilândia: O SWAGAA é financiado através de uma série de fontes, apesar de não ser financiado pelo Governo da Suazilândia, embora o SWAGAA trabalhe com os(as) sobreviventes da VBG que são referidos(as) por instituições governamentais. Para além do PEPFAR, os doadores incluem fontes privadas, individuais e corporativas, fundações locais e internacionais, a Canadian Crossroads International, a União Europeia, a Irish Aid (Assistência Irlandesa para o Desenvolvimento) e agências das Nações Unidas. No entanto, o SWAGAA nunca teve um único doador de grande dimensão que fornecesse apoio geral continuado. Deste modo, em cada momento, a sustentabilidade do SWAGAA pode parecer precária. Enquanto o governo, a sociedade civil e os cidadãos comuns valorizam bastante as contribuições do SWAGAA para o país, o financiamento constitui um desafio constante. As entrevistas indicam que o SWAGAA é encarado por diversos parceiros como algo garantido – com a suposição de que a organização será sempre “socorrida” a nível financeiro. A maioria dos(as) suazis, incluindo aqueles(as) que trabalham para outras ONG, agências governamentais e doadores, referem que o SWAGAA faz parte do “tecido da Suazilândia” e afirmam que a organização nunca será autorizada a “sucumbir” devido à carência de recursos. No entanto, para a equipa do SWAGAA, a preocupação constante de ser capaz de viver de acordo com os seus orçamentos afeta a moral da equipa, bem como a disponibilidade de recursos para despesas de infraestruturas e programáticas necessárias.

5. Os programas devem trabalhar com homens e rapazes.

Nos três países, a violência contra as mulheres é encarada por muitos como uma parte “natural” da vida, sendo que esta perspetiva constitui uma grande barreira para os esforços no combate à VBG. Desde a comunidade à polícia e ao sistema judicial, existe uma falta de sensibilidade perante os

Page 20: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

12

direitos humanos das mulheres, crianças e jovens no que respeita à violência. O nível de envolvimento de homens e rapazes em cada programa para a alteração de normas de género e redução da VBG varia significativamente.

Vietname: Faltava um componente de envolvimento masculino no projeto avaliado no estudo de caso; este facto reduziu o impacto potencial de longo prazo do projeto.

Equador: O CEPAM não possui um foco específico sobre o trabalho com homens. O programa inicia a formação com reflexões sobre normas de género e direitos, procurando fazer com que os participantes discutam mitos acerca das funções dos homens e das mulheres nos relacionamentos e opiniões sobre a sexualidade. Através do seu Centro Integrado para Adolescentes e Jovens, o CEPAM trabalha com jovens do sexo masculino, com o objetivo de transformar noções prejudiciais de masculinidade e aumentar o respeito pelas mulheres e raparigas. Atualmente, o centro está a prestar formação a três jovens do sexo masculino como facilitadores sobre o tópico da masculinidade positiva.

Suazilândia: As parcerias com homens que têm como objetivo construir uma sociedade mais equitativa em termos de género tem sido um aspeto crítico do trabalho do SWAGAA ao longo dos últimos anos. O projeto “Men for Change” (Homens para Mudança) foi lançado em 2006 como uma resposta a uma avaliação comunitária e a opiniões de que os homens e rapazes devem ser envolvidos, caso o SWAGAA deseje atingir os seus objetivos. O projeto é introduzido nas comunidades através do envolvimento do chefe, do chefe do conselho central e de outros indivíduos do sexo masculino influentes que integram a estrutura do poder comunitário tradicional. Foram capacitados facilitadores em todas as 24 comunidades-alvo do SWAGAA. Eles organizaram diálogos entre indivíduos do sexo masculino como oportunidades para que os homens se reúnam para debater uma ampla gama de temas relacionados com normas de género. O foco do projeto consiste em envolver os homens como parceiros positivos na erradicação da VBG, em vez de serem simplesmente os perpetradores. Apesar de o envolvimento dos homens com vista à eliminação da VBG ter sido uma boa prática, o atendimento a homens como clientes tem levantado questões sobre como triar adequadamente as denúncias de abuso feitas por homens. Os indivíduos adultos do sexo masculino representaram 22 por cento dos clientes no ano fiscal 2001-2002, 25 por cento no ano fiscal 2008-2009 (SWAGAA 2009) e 28 por cento no ano fiscal 2009-2010 (SWAGAA 2010). Funcionários relataram que é prestado aconselhamento a homens que afirmam ser vítimas e autores de abusos. Os autores recebem aconselhamento pessoal sobre gestão da raiva; quando o cliente se sente arrependido e o casal deseja permanecer junto, são oferecidos aconselhamento para casais e capacitação para desenvolvimento de habilidades de comunicação.

Page 21: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

13

Page 22: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

14

RECOMENDAÇÕES

1. Expandir a VBG para além de um foco na saúde e integrar o tema em todo o trabalho de desenvolvimento através do PEPFAR e de outros programas.

A VBG é uma epidemia social, e todas as instituições e membros da comunidade devem agir para a prevenir e mitigar. Mais especificamente, a VBG é um problema de saúde pública que produz impacto sobre a saúde física, sexual, reprodutiva, materna e mental. Ligar a VBG a preocupações mais amplas relacionadas com os direitos humanos, a saúde e o desenvolvimento ajuda a colocar o problema a um nível de prioridade mais elevado, atraindo maior atenção e apoio para erradicar a VBG. Nos países com epidemias de baixa prevalência ou concentradas, a ligação entre o VIH e a VBG é menos atrativa para doadores e governos do que em países de prevalência superior, como a Suazilândia. No entanto, se o problema for ignorado, a VBG vai ajudar a alimentar a epidemia nos países de baixa prevalência.

O Vietname alcançou progressos invejáveis relativamente ao Objetivo de Desenvolvimento do Milénio 3 (promover a igualdade de género e empoderamento das mulheres), reduzindo a pobreza e aumentando os níveis educacionais das raparigas, mas ficará aquém no aumento da igualdade de género, caso os seus esforços para combater a VBG permaneçam limitados (Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Género e Empoderamento das Mulheres, 2011). No Equador, onde a segurança do cidadão é uma questão prioritária, enquadrar a VBG como um problema de segurança tem sido um ponto estratégico no progresso da agenda do CEPAM. Na Suazilândia, o foco do SWAGAA na erradicação da VBG e na promoção dos direitos humanos através de uma ampla gama de atividades tem aumentado significativamente a consciencialização da VBG em todos os níveis com um foco estratégico nas interseções entre a VBG e o VIH.

2. Garantir que os(as) sobreviventes da VBG e das pessoas que vivem com o VIH (PLHIV) sejam credivelmente integrados em debates sobre políticas e no planeamento e implementação de programas.

Os(as) sobreviventes da VBG, os seus familiares e aqueles(as) afetados(as) pelo VIH estão perturbadoramente ausentes do diálogo nacional e das tomadas de decisão sobre políticas e planeamento com relevância para a VBG no Vietname, conforme demonstrado através de outra pesquisa em países de todo o mundo. Mas a experiência do programa no Equador e na Suazilândia revela que os(as) sobreviventes podem ser defensores(as) e porta-vozes eficazes. Os programas de VBG devem assumir o compromisso, como um princípio orientador, para a inclusão significativa dos(as) sobreviventes da VBG, dos seus familiares e das PLHIV durante o desenvolvimento de políticas e serviços de VBG, quer no setor privado ou público.

3. Defender um orçamento nacional para a VBG.

Nenhuma das estratégias de financiamento descritas nos três estudos de caso forneceu modelos sustentáveis para a prestação de serviços de VBG. As políticas e os programas não podem ser implementados de forma adequada e sustentável sem um apoio financeiro a longo prazo. Nos três países, o mecanismo através do qual são prestados serviços de VBG está mal definido. No Vietname, a orientação do governo nacional obriga à triagem de todos os clientes hospitalares, mas

Page 23: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

15

não clarifica de que modo é que a mesma (e a resposta subsequente) será paga. No Equador, o Plano Nacional descreve procedimentos para a institucionalização da resposta para a VBG - incluindo a atribuição de orçamentos, a coordenação de tarefas entre secções e a realização de monitorização e avaliação – mas ainda são necessários mais esforços no sentido de implementar ou financiar estes procedimentos. Na Suazilândia, a ausência de um orçamento nacional razoável para a Unidade de Género, para a Unidade Nacional de Coordenação Infantil e para outras agências governamentais encarregadas de combater a desigualdade de género limita a capacidade de trabalho destas entidades, mesmo com pessoal empenhado. Os três países devem garantir um orçamento nacional suficiente, designado especificamente para a VBG. Alguns fundos atribuídos para programas do VIH devem ser também designados para cobrir as intervenções da VBG, o que irá requerer uma consciencialização mais forte das ligações entre a VBG e o VIH.

4. Esclarecer que a VBG é um tema de direitos humanos e de desenvolvimento, bem como um problema de saúde pública.

É necessário mais trabalho para elevar a atenção pública sobre as ligações entre a igualdade de género e o desenvolvimento social e político. A pobreza e a desigualdade de género andam frequentemente de mãos dadas. A igualdade de género pode aumentar a produtividade, melhorar a saúde e os resultados educativos para as crianças e garantir que uma vasta gama de vozes torne as instituições mais representativas (Banco Mundial 2011). O trabalho para aumentar a igualdade de género é fundamental para a mudança social, incluindo serviços efetivos de VBG e VIH. Nas sociedades em que a VBG é considerada normal, há muito mais trabalho a fazer ao nível comunitário para aumentar a consciencialização sobre os direitos das raparigas, das mulheres e de outras populações marginalizadas de viverem livres de violência e coerção. Alterar as normas em torno da VBG vai aumentar a probabilidade de as comunidades exigirem uma resposta adequada por parte do governo local para prevenir e combater a VBG. Os doadores e os governos devem investir em abordagens baseadas nos direitos humanos e no empoderamento como estratégias efetivas para criar a mudança social. Em última análise, a apropriação pela comunidade dos esforços para reduzir a VBG dependerá da capacidade de influência que comunidades informadas e energizadas tenham para garantir recursos a longo prazo por parte do governo ou do setor privado.

5. Desenvolver defensores(as) da VBG no seio da sociedade civil, incluindo sobreviventes de VBG e PLHIV.

Envolver membros da comunidade: Uma lição importante resultante da experiência do CEPAM no Equador é que a sociedade civil pode supervisionar as medidas do governo, mantendo este responsável pelas promessas de combate à VBG. A fim de garantir que os governos e outras partes envolvidas cumpram os seus compromissos e implementem as políticas e os serviços que prometeram, as sociedades civis devem ter capacidade para apoiar a supervisionar esta implementação, bem como para fornecer o seu parecer relativamente à qualidade dos serviços prestados. Este processo requer que os grupos da sociedade civil, incluindo os(as) sobreviventes da VBG e as PLHIV, sejam incluídos no planeamento, implementação, monitorização e avaliação de políticas e programas. Os representantes da sociedade civil podem garantir que as iniciativas sejam adequadasrespondam às necessidades da comunidade e sejam eficazes na produção de mudanças sociais significativas. Os(as) sobreviventes da violência e as PLHIV podem ser defensores(as) eficazes, particularmente através da sensibilização de terceiros para a realidade de viver com violência ou com o VIH.

Page 24: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

16

Capacitar e empregar sobreviventes como conselheiros: O SWAGAA e o CEPAM aprenderam lições importantes no trabalho com sobreviventes da VBG. Os(as) sobreviventes tornaram-se conselheiros de base comunitária ou grupos organizados de autoajuda que prestavam defesa e referência imediatas. Tendo em conta que a maioria dos(as) sobreviventes não procura inicialmente os serviços do setor formal, esta é uma estratégia vital que empodera os(as) sobreviventes da VBG como recursos da comunidade e oferece ajuda acessível para outros membros da comunidade que talvez não procurem serviços devido ao medo, a vergonha ou a falta de conhecimento. Os(as) sobreviventes-defensores(as) podem oferecer um acompanhamento a longo prazo que é necessário para lidar com o sistema jurídico e outros cuidados subsequentes. Além disso, os(as) sobreviventes de VBG capacitados quebram o silêncio em torno da VBG, desafiando o conceito de que a mesma é normal ou que se trata de um problema privado do foro familiar. Formar os(as) sobreviventes da VBG e as PLHIV para a função central de sobreviventes-defensores(as) pode ser um investimento relativamente pequeno com o potencial de aprimorar a percepção sobre os serviços abrangentes e aumentar o seu impacto.

6. Desenvolver defensores da VBG no seio de todos os níveis do governo.

Os níveis de apoio para as políticas variam entre os políticos nacionais, provinciais e locais. Para avançar com a implementação de políticas de VBG, os defensores devem ajudar os implementadores a 1) compreender a política como uma prioridade para as suas próprias organizações ou agências; 2) acreditar que a política estabelece uma solução aceitável para o problema; 3) concluir que é no melhor interesse dos implementadores tomarem medidas no imediato; e 4) desenvolver a capacidade necessária para implementar as intervenções (Spratt 2009). Para que a implementação de políticas avance, são necessários defensores em todos os níveis do governo. Estes defensores devem ter capacidade para persuadir os seus pares de que a implementação de políticas nacionais relativas à VBG é do seu próprio interesse; muito mais trabalho deve ser levado a cabo para desenvolver as habilidades dos defensores internos, a fim de assegurar atenção a uma política no momento em que esta se descentraliza para os governos locais para implementação. Isto é particularmente importante no Vietname e na Suazilândia (e noutros países, como a China ou a Rússia), em que a sociedade civil é fraca ou oprimida pelo governo e no seio da qual existe pouca vontade política para combater a VBG. O Equador oferece o melhor exemplo de ativismo por políticas entre os três países dos estudos de caso, mas ainda existe muito trabalho a fazer no sentido de se criar um compromisso para combater a VBG e oferecer serviços ao nível das administrações locais.

7. Envolver a participação de homens e rapazes.

Das três organizações avaliadas, apenas o SWAGAA tinha um programa que envolvia homens e rapazes com a finalidade de começar a identificar normas de género e as inequidades prejudiciais sustentadas por essas normas. Em todos os estudos de caso, a VBG continua a ser predominantemente encarada como um problema da mulher, vinculada a conflitos familiares internos. No entanto, um número crescente de avaliações de impacto da Ásia, América Latina e África revela que intervenções bem concebidas e implementadas podem alterar as atitudes e as práticas dos homens relacionadas com os papéis e as relações de género e o VIH. Existe atualmente uma ampla gama de ferramentas e modelos de programas disponíveis, que devem ser utilizadas para

Page 25: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

17

planear intervenções relevantes ao nível local, a fim de mobilizar homens e rapazes para a prevenção da VBG, reduzindo a disseminação e o impacto do VIH. Os programas de VBG devem procurar sincronizar os seus esforços com programas para homens e rapazes, a fim de se alterarem normas de género que levam à desigualdade de género e a VBG (Greene and Levack 2010).

Alguns participantes no estudo de caso reconheceram que homens e rapazes também são submetidos a violência física, sexual e psicológica, mas só o SWAGAA prestava serviços para homens ou rapazes ou trabalhou o modo através do qual as normas de género influenciam a violência perpetrada e sofrida por homens e rapazes.

Em geral, a resposta para a VBG deve incluir estratégias que envolvam agências públicas e privadas, bem como ONGs, a fim de expandir programas que trabalhem com homens e rapazes, bem como para manter o foco em garantir que as leis e políticas relativas à VBG sejam aplicadas e que os serviços para os(as) sobreviventes da VBG sejam sustentáveis a longo prazo. É fundamental ir além das sessões de educação para grupos para homens e rapazes em pequena escala, a fim de se poder alcançar uma mudança social mais ampla e duradoura.

8. Apoiar uma resposta abrangente para a VBG e o VIH.

Uma resposta abrangente para a VBG e o VIH inclui abordagens multissetoriais; trabalha o impacto a vários níveis, incluindo a nível individual, familiar, comunitário e nacional; e inclui múltiplas estratégias para combater a VBG e o VIH. A literatura documenta uma vasta gama de intervenções, que inclui:

Um marco de direitos humanos respaldado porleis e políticas

Uma estratégia para questionar normas, papéis e comportamentos de género

Intervenções para aumentar a segurança económica das mulheres

Projetos para promover o empoderamento e as habilidades das mulheres para a vida

Serviços abrangentes para sobreviventes

Formação adequada para profissionais

Consciencialização, intervenção e mobilização comunitária

Aconselhamento presencial e educação (Gardsbane 2010).

Cada um dos programas salientados nos estudos de caso representa apenas uma parte de uma resposta abrangente para a VBG e o VIH. Uma resposta abrangente requer uma coordenação eficaz entre os diversos intervenientes, bem como sistemas de referência e de gestão de casos eficazes.

Page 26: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

18

CONCLUSÃO

Programas promissores em circunstâncias muito diferentes partilham desafios e sucessos semelhantes nos seus esforços para combater e prevenir a VBG. As organizações que se concentram no fim da violência envolvem-se em lutas a longo prazo, a fim de garantir a adoção e a aplicação de políticas de combate e redução da VBG. As três organizações descritas nos estudos de caso de VBG responderam às necessidades dos(as) sobreviventes, ajudaram muitos(as) deles(as) a recuperar as suas vidas e dignidade e aumentaram a atenção perante o problema da VBG. No entanto, nenhuma estratégia de financiamento – por parte do setor privado, do setor público ou ambos - demonstrou ser suficientemente segura para sustentar uma resposta abrangente para a VBG ou para garantir fortes ligações entre os esforços para prevenir o VIH e os esforços para prevenir a VBG. A procura por parte da comunidade e o apoio por parte dos setores público e privado serão, a curto e longo prazo, fundamentais para a sustentabilidade a longo prazo e para a expansão destes e de outros serviços de VBG.

Page 27: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

19

Page 28: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

20

REFERÊNCIAS

American Foundation for AIDS Research. 2005. Gender-based Violence and HIV Among Women: Assessing the Evidence. Issue Brief No. 3. New York, NY: American Foundation for AIDS Research.

Betron, M., and E. Gonzalez-Figueroa. 2009. Gender Identity, Violence and HIV among MSM and TG: A Literature Review and a Call for Screening. Washington, DC: Futures Group International, U.S. Agency for International Development Health Policy Initiative, Task Order 1.

Burns, Katya. 2009. Women, Harm Reduction, and HIV: Key Findings from Azerbaijan, Georgia, Kyrgyzstan, Russia and Ukraine. New York, NY: Open Society Institute.

Gardsbane, D. 2010. Gender-based Violence and HIV. Arlington, VA: USAID’s AIDS Support and Technical Assistance Resources, AIDSTAR-One, Task Order 1.

Greene, M. E., and A. Levack. 2010. Synchronizing Gender Strategies: A Cooperative Model for Improving Reproductive Health and Transforming Gender Relations. Washington, DC: U.S. Agency for International Development.

Hoang, M. H. 2008. Vietnamese Legislation on Combating Domestic Violence. Social Sciences Information Review 2(4):37–43.

Interagency Gender Working Group of the U.S. Agency for International Development. 2008. Addressing Gender-based Violence through USAID’s Health Programs: A Guide for Health Sector Program Officers, Second Edition. Washington, DC: Interagency Gender Working Group of the U.S. Agency for International Development.

Khan, A. 2011. Gender-based Violence and HIV: A Program Guide for Integrating Gender-based Violence Prevention and Response in PEPFAR Programs. Arlington, VA: USAID’s AIDS Support and Technical Assistance Resources, AIDSTAR-One, Task Order 1.

Moreno, Claudia. 2005. WHO Multi-country Study on Women's Health and Domestic Violence Against Women: Initial Results on Prevalence, Health Outcomes and Women's Responses. Geneva, Switzerland: World Health Organization.

Orndorff, S., and M. D. F. Natividad. 2009. Special Symposium on Gender-based Violence in Global Health. Introduction. Global Public Health 4(5):448–452.

Quinn, T., and J. Overbaugh. 2005. HIV/AIDS in Women: An Expanding Epidemic. Science 308(5728):1582–1583.

Rhodes, T., M. Singer, P. Bourgois, S. F. Friedman, and S. A. Strathdee. 2005. The Social Structural Production of HIV Risk Among Injecting Drug Users. Social Science & Medicine 61:1026–1044.

Sex Workers’ Rights Advocacy Network. 2009. Arrest the Violence: Human Rights Violations Against Sex Workers in 11 Countries in Central and Eastern Europe and Central Asia. Sex Workers’ Rights Advocacy Network in Central and Eastern Europe and Central Asia (SWAN).

Spratt, K. 2009. Policy Implementation Barriers Analysis: Conceptual Framework and Pilot Test in Three Countries. Washington, DC: Futures Group, Health Policy Initiative, Task Order 1.

Page 29: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

21

Spratt, Kai, and Quach Thi Thu Trang. 2011. Breaking New Ground: Integrating Gender into CARE’s STEP Program in Vietnam. Case Study Series. Arlington, VA: USAID’s AIDS Support and Technical Assistance Resources, AIDSTAR-One, Task Order 1.

Swaziland Action Group Against Abuse. 2009. Swaziland Action Group Against Abuse: Annual Report 2008/2009. Manzini, Swaziland: Swaziland Action Group Against Abuse.

Swaziland Action Group Against Abuse. 2010. Swaziland Action Group Against Abuse: Annual Report 2009/2010. Manzini, Swaziland: Swaziland Action Group Against Abuse.

Thayer, C. A. 2008. “One-Party Rule and the Challenge of Civil Society in Vietnam.” Presentation to Remaking the Vietnamese State: Implications for Vietnam and the Region, Vietnam Workshop, City University of Hong Kong, August 21–22. Disponível em www.viet-studies.info/kinhte/CivilSociety Thayer.pdf (accessado em março de 2011)

United Nations Entity for Gender Equality and the Empowerment of Women. 2011. Handbook for National Action Plans on Violence Against Women. New York, NY: United Nations Entity for Gender Equality and the Empowerment of Women. Disponível em www.un.org/womenwatch/daw/vaw/handbook-for-nap-on-vaw.pdf (accessado em março de 2011)

United Nations Population Fund. 2007. Gender-based Violence Programming Review. Disponível em http://vietnam.unfpa.org/public/lang/en/pid/5268 (accessado em setembro de 2010)

U.S. Department of State. 2010. “Background Note: Vietnam.” Disponível em www.state.gov/r/pa/ei/bgn/4130.htm (accessado em fevereiro de 2011)

U.S. Department of State. 2011. “Background Note: Swaziland.” Disponível em www.state.gov/r/pa/ei/bgn/2841.htm (acessado em fevereiro de 2011)

Weisbrot, M., and L. Sandoval. 2009. Update on the Ecuadorian Economy. Washington, DC: Center for Economic and Policy Research. Disponível em www.cepr.net/index.php/publications/reports/update-on-the-ecuadorian-economy/ (accessado em fevereiro de 2011)

World Bank. 2011. World Development Report 2012: Gender Equality and Development. Washington DC: World Bank.

World Health Organization. 2005. WHO Multi-country Study on Women’s Health and Domestic Violence Against Women. Geneva, Switzerland: World Health Organization. Disponível em www.who.int/gender/violence/who_multicountry_study/en/ (accessado em janeiro de 2011)

Page 30: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

 

 

Para mais informações, consulte aidstar-one.com.

Page 31: Análise de Serviços de Resposta à Violência Baseada no ... · O projeto fornece serviços de assistência técnica ao Departamento de VIH/SIDA e às equipas de ... Deixamos os

 

 

 

 

 

AIDSTAR-OneJohn Snow, Inc.

1616 Fort Myer Drive, 16º Andar

Arlington, VA 22209 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Telefone: 703-528-7474

Fax: 703-528-7480

E-mail: [email protected]

Internet: aidstar-one.com