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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ANÁLISE DE VIABILIDADE PARA INVESTIMENTO EM ATIVOS
FÍSICOS – SUBSTITUIÇÃO PARA REDUÇÃO DE CUSTO E
EXPANSÃO DE PRODUTOS EXISTENTES EM ÁREAS
ATENDIDAS.
Por: Wanessa da Silva Reis
Orientador
Prof. Ms. Marco A. Larosa
Rio de Janeiro
2006
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ANÁLISE DE VIABILIDADE PARA INVESTIMENTO EM ATIVOS
FÍSICOS – SUBSTITUIÇÃO PARA REDUÇÃO DE CUSTO E
EXPANSÃO DE PRODUTOS EXISTENTES EM ÁREAS
ATENDIDAS.
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Finanças e
Gestão Corporativa.
Por: . Wanessa da Silva Reis.
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, meu companheiro
incondicional.
Aos meus queridos e amados pais
Abmael Reis e Ana Lúcia da Silva Reis.
Ao Prof. Marco A. Larosa, orientador
deste trabalho.
Ao Eng. Marcelo Delgado Landini de
Mattos, meu noivo, pela participação
efetiva, tanto neste trabalho quanto em
minha vida.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos colegas
Especialistas em Finanças e Gestão
Corporativa:
“Tenho ouvido dizer ao teu respeito...que
a luz e o entendimento e a excelente
sabedoria se acham em ti...tenho ouvido
dizer que podes dar interpretações e
resolver problemas...tu serás vestido de
púrpura e terás uma corrente de ouro ao
pescoço.”
Daniel 5:14-16 – O Velho Testamento
5
RESUMO
O ambiente competitivo do mundo globalizado exige que as empresas
atuem de forma estratégica priorizando os processos imprescindíveis ao
exercício da atividade a que se propuseram para a geração de lucro. Nesses
processos se encontram as decisões de investimento de longo prazo
necessárias e que de acordo com o ramo de negócios determinam o valor da
empresa.
Dentre os tipos de ativos de longo prazo, existem os ativos permanentes
onde na conta imobilizado são registradas todas as aquisições em ativos
físicos feitas que serão diretamente aplicados na atividade social da empresa e
objeto de estudo deste trabalho. Máquinas, equipamentos, mobiliário etc estão
contabilizados nesta conta do Balanço Patrimonial.
Para a ampliação da capacidade produtiva de uma empresa,
acompanhamento do avanço tecnológico, redução e custo ou para a expansão
de produtos existentes em áreas já atendidas, uma das alternativas é a
aquisição em ativos físicos novos. Tal fato exige criteriosa análise de
viabilidade técnico-financeira/econômica onde as ferramentas da matemática
financeira, gestão e contabilidade são exaustivamente aplicadas.
Identificar as motivações para o dispêndio de capital, encontrar as
técnicas de orçamento de capital usadas com o intuito de escolher os
dispêndios e capital aceitáveis e identificar as etapas do processo de
orçamento de capital são os problemas a serem resolvidos por um gestor na
hora de tomar suas decisões de investimento.
Este trabalho aborda uma metodologia sobre decisão de investimento a
longo prazo, aplicada a um caso sobre substituição de equipamento para
atendimento das necessidades do setor offshore.
6
METODOLOGIA
Dentre as principais motivações para exposição do tema deste trabalho
estão: a necessidade de pesquisa e apresentação de um método claro e
objetivo para decisões de investimento em ativos físicos e aplicação em estudo
de caso sobre aquisição de ativos físicos no setor offshore.
A partir da leitura e estudos sobre Projetos de Investimento,
Contabilidade Financeira e Gerencial, Planejamento Financeiro, e da
observação do crescimento da indústria naval apontada pelo mercado e suas
implicações com as atividades do setor offshore; este trabalho propõe-se à
abordar a base da teoria sobre decisão de investimento à longo prazo e
apresentar um método prático para auxílio à tomada de decisão.
Na Introdução será apresentada uma visão geral da teoria sobre decisão
de investimento abordando o conceito de Custo de Oportunidade, o
crescimento da industria naval e as necessidades de adequação deste setor às
novas tecnologias para atendimento às demandas do mercado offshore.
No capítulo 1 será apresentado o estado da arte dos temas envolvidos
na realização deste estudo. São eles: os conceitos de Dispêndio de Capital,
Técnicas e Processos de Orçamento de Capital e Ativos Físicos. Para tal serão
apresentados os problemas e hipóteses envolvidos, tais como: 1) Quais são as
motivações para o dispêndio de capital, 2) Quais são as técnicas de
orçamento de capital usadas com o intuito de escolher os dispêndios de capital
aceitáveis 3) Quais são as etapas do processo de orçamento de capital, 4)
Fluxos de caixa relevantes, 5) Investimento inicial e 6) Abordagens
comportamentais para lidar com risco.
No capítulo 2 os temas serão relacionados à atividade do setor offshore,
onde o crescimento da demanda por serviços aumentou e conseqüentemente
7 incentivou as empresas a investirem em ativos físicos acarretando em decisões
de investimento a longo prazo.
No capítulo 3 será apresentado um método prático para auxílio à tomada
de decisão aplicado a um caso sobre substituição de equipamento, com base
na teoria desenvolvida.
Na Conclusão serão apresentadas as análises e discussões finais.
.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - Revisão da Literatura 12
CAPÍTULO II - O Mercado 32
CAPÍTULO III – A Proposta 40
CONCLUSÃO 49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 50
ANEXOS 51
ÍNDICE 52
FOLHA DE AVALIAÇÃO 53
9
INTRODUÇÃO
Segundo Lapponi (2000), investir é realizar um desembolso esperando
receber benefícios futuros. Ao decidir investir, os empresários esperam que os
resultados da empresa sejam melhores, visando aumentar o valor da empresa.
Sendo a decisão de investimento uma das mais importantes, esta é baseada
na avaliação atraente das estimativas do projeto de investimento.
Da definição e análise do lucro esperado pelo investidor surge o conceito
de custo de oportunidade. Algumas definições para este conceito: Lapponi
(2000) – “Custo de oportunidade de uma decisão é o valor da melhor
alternativa abandonada em favor da alternativa escolhida”; Gitman (2001) – “
Custo de oportunidade determina o valor presente de um montante futuro,
presumindo a oportunidade de obter um certo rendimento, k, sobre o dinheiro”,
Mankiw (2005) – “ Custo de oportunidade é qualquer coisa de que se tenha de
abrir mão para obter algum item”.
A aquisição de um ativo físico representa um investimento, um
desembolso e/ou um custo de oportunidade ao investidor. Logo, uma criteriosa
análise de viabilidade técnico-financeira deve ser feita para optar-se pela
aquisição. Muitas empresas, principalmente as de pequeno e médio porte que
formam a base da economia de um país, ainda não consideram em sua
totalidade os estudos e metodologias já desenvolvidas pela matemática
financeira para a tomada de decisão. Além do desconhecimento das
ferramentas, isto também se deve ao fato das apresentações existentes nas
literaturas ainda serem complexas.
Optar pela aquisição de um ativo físico após um estudo de viabilidade
pode ser entendido como uma decisão pelo aumento de produtividade de uma
planta fabril, redução de custo em detrimento aos custos elevados de
manutenção de máquinas e equipamentos, busca de novos nichos de
mercados em áreas já atendidas e não atendidas etc. E dada à importância
10 estratégica de cada uma dessas decisões, é fundamental que as empresas
saibam claramente quais são as reais motivações para o dispêndio de capital,
quais são as técnicas de orçamento de capital usadas com o intuito de escolher
os dispêndios de capital possíveis de serem aceitos e quais são as etapas do
processo de orçamento de capital.
Segundo Gitman (2001), as respostas podem ser encontradas na
análise dos fluxos de caixa relevantes, no cálculo e definição do investimento
inicial e das abordagens comportamentais para lidar com risco.
Um exemplo atual da necessidade de posicionamento no mercado
encontra-se na industria naval para atendimento ao setor de atividades
offshore. Com o aumento das explorações e produções de poços de petróleo,
aumento das transações comerciais decorrente das relações entre países
posicionados geograficamente em continentes distintos, por exemplo Brasil e
China , entre outros, é imperativo o investimento em recursos que garantam o
pleno funcionamento da cadeia de suprimento. Dos exemplos citados acima,
podem ser desdobradas inúmeras demandas. Dentre elas, ao se destacar a
“simples” necessidade do transporte marítimo, seja por meio de navios
petroleiros ou de dutos submarinos, quantos recursos da ordem de grandeza
de “milhões de dólares” serão listados?! Com certeza são inúmeros. Desde
simples componentes aos ativos como um todo.
Este estudo tem por objetivo apresentar uma metodologia para análise
de viabilidade técnico-financeira aplicada em um caso de modernização de
uma embarcação projetada para lançar dutos submarinos (dutos submarinos
são estruturas tubulares por onde grande parte do petróleo e seus derivados,
produzidos no Brasil e no mundo, são escoados) da empresa fictícia XPTO.
Inicialmente a embarcação opera com restrições em determinadas áreas (rios,
mares e oceanos) devido ao seu posicionamento através de grandes âncoras e
muitos cabos de aço distendidos. Com esse sistema de ancoragem robusto a
empresa deixa de captar mais serviços, perdendo-os aos seus concorrentes
(concorrentes neste caso são outras embarcações mais preparadas e com
sistemas de posicionamento mais compatíveis com o serviço). Um novo
11 sistema de posicionamento poderá ser adquirido para a embarcação lançadora
de dutos. Porém, será que a aquisição é viável? Este investimento trará retorno
esperado a empresa detentora da embarcação? Em quanto tempo? O estudo
mostrará que a observação e análise das reais motivações para a
modernização, utilização de técnicas de orçamento de capital adequadas e o
conhecimento das etapas do processo de orçamento de capital podem fazer
da aquisição um sucesso. Já o contrário, pode acarretar em conseqüências
desastrosas aos investidores. Por exemplo, neste momento em que o Brasil se
encontra auto-suficiente em petróleo, se os sistemas de distribuição (oleodutos
e navios petroleiros) não acompanharem os níveis previstos de produção, as
metas não poderão ser alcançadas, acarretando no insucesso do Planejamento
Estratégico da empresa nacional de petróleo.
CAPITULO I
REVISÃO DA LITERATURA
O PROCESSO DECISÓRIO DE ORÇAMENTO DE
CAPITAL
Antes de comprometer recursos para expandir, substituir, modernizar
ativos físicos ou para levar adiante outros tipos e projetos a longo prazo, as
empresas estimam e analisam cuidadosamente os benefícios esperados
desses dispêndios. De acordo com Gitman (2001), esse processo de avaliação
e seleção é chamado de orçamento de capital.
1.1 Dispêndio de Capital
Segundo Ross (1995), dispêndio de capital ou orçamento de capital é o
processo de realização e gestão de gastos com ativos de longa duração. As
fábricas, por exemplo, investem nos ativos imobilizados, que incluem imóveis
(terrenos), instalações e equipamentos.
Dispêndio de capital também pode ser entendido como um dispêndio de
fundos por parte da empresa, que se espera que vá produzir benefícios através
de um período de tempo maior do que um ano, (Gitman, 2001). Dispêndios de
ativos imobilizados são dispêndios de capital, mas nem todos os dispêndios de
capital são classificados como ativos imobilizados. Um desembolso de R$
60.000,00 para uma máquina nova com uma vida útil de 15 anos é um
dispêndio de capital que apareceria como um ativo imobilizado no balanço da
empresa. Um desembolso de R$ 60.000,00 com propaganda que produz
benefícios por um longo período também é um dispêndio de capital, mas
raramente seria mostrado como um ativo imobilizado.
Os empresários decidem por dispêndios de capital por diversas razões.
E estas podem ser resumidas nas seguintes justificativas: expandir, substituir
13 ou modernizar ativos imobilizados, ou para obter algum outro benefício menos
tangível através de um longo período. Algumas explicações foram abordadas
por Gitman (2001), e se encontram na Tabela 1 abaixo.
Motivações Chave para se fazer Dispêndios de Capital
Motivação Descrição
Expansão
A motivação mais comum para um dispêndio de capital é expandir o nível de operações –
normalmente através da aquisição de ativos imobilizados. Uma empresa em crescimento
muitas vezes necessita adquirir ativos imobilizados novos rapidamente, tal como a compra
de imóveis e instalações.
Substituição
Apesar de o crescimento da empresa diminuir o ritmo e chegar a sua maturidade, a
maioria dos dispêndios de capital é feita para substituir ativos obsoletos ou gastos. Cada
vez que uma máquina exige um grande conserto, a despesa para o conserto deve ser
comparada com a despesa para substituir a máquina e os benefícios da substituição.
Modernização
Modernização, uma alternativa para a substituição, pode envolver reconstrução, reforma
ou repotencialização de ativos imobilizados existentes. Por exemplo, uma furadeira
existente pode ser renovada ao substituir seu motor e uma instalação física pode ser
renovada ao fazer uma nova instalação elétrica ou adicionando um ar-condicionado. Para
melhorar a eficácia, tanto a substituição quanto a modernização de máquinas existentes
podem ser soluções cabíveis.
Outros
Propósitos
Alguns dispêndios de capital não resultam na aquisição ou transformação de ativos
imobilizados tangíveis. Em vez disso, eles envolvem um comprometimento a longo prazo
de fundos por parte da empresa na expectativa de um futuro resultado. Esses dispêndios
incluem despesas para propaganda, pesquisa e desenvolvimento, consultoria de
gerenciamento e novos produtos. Outras propostas de dispêndios de capital – tais como a
instalação de equipamentos de controle de poluição e de segurança obrigados pelo
governo – são difíceis de avaliar, pois elas fornecem resultados intangíveis em vez de
fluxos de caixa claramente mensuráveis.
Tabela 1 - Motivações Chave para se fazer Dispêndios de Capital
Fonte: Gitman, 2001.
Mediante a identificação de motivações para o dispêndio de capital, os
empresários devem avaliá-las e entendê-las para a continuidade do processo
investigativo de tomada de decisão. A análise mais criteriosa das principais
motivações (Expansão, Substituição, Modernização), com uma equipe
multidisciplinar de trabalho, pode acarretar no desdobramento de outras
14 motivações e facilitar o processo decisório. Outros benefícios também podem
ser obtidos preliminarmente, como a redução da incerteza de investimento
desejado.
1.2 Adequação das Técnicas e Processos de Orçamento de
Capital e Ativos Físicos
Para a seleção de dispêndios de capital consistentes com as metas das
empresas de maximização do lucro, as técnicas preferidas dos analistas são as
que trabalham com o valor do dinheiro no tempo, as que consideram o paralelo
risco e retorno e que agregam conceitos de avaliação de títulos de dívidas e
ações. As técnicas abordadas neste trabalho incluem: Período de Payback,
Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR), Análise e
Sensibilidade e Cenário, Árvore de Decisão, Equivalentes de Certeza (ECs) e
Taxas de Desconto Ajustadas ao Risco (TDARs).
1.2.1 Período de Payback
A primeira avaliação de um projeto de investimento é determinar o
tempo necessário para recuperar o capital investido, a partir do fluxo de caixa
estimado do projeto de investimento. De acordo com diversos autores, o tempo
necessário para recuperar o capital investido é denominado payback e o
procedimento de avaliação como Método do Payback. Segundo Lapponi
(2000), são utilizados dois métodos:
- Método do payback simples: PBS
∑ FCt = 0 t=0
Equação 1 – Cálculo do Payback simples
Fonte: Gitman, 2001.
Onde, a equação 1 mostra que a soma dos capitais do fluxo de caixa do
projeto de investimento da data zero até a data PBS é igual a zero. A data PBS
é a incógnita do problema.
15
- Método do payback descontado PBD
∑ FCt = 0 t=0 (1+k)t
Equação 2 – Cálculo do Payback descontado
Fonte: Gitman, 2001.
A equação 2 mostra que a soma dos valores presentes* dos capitais do
fluxo de caixa da data zero até a data PBD do projeto de investimento é igual a
zero. A data PBD é a incógnita do problema.
* O conceito de valor presente está abordado no item 2.2.
Quando o período de payback é usado para decisões aceitar-rejeitar,
segundo Gitman (2001) os critérios são os seguintes:
- Se o período de payback é menor do que o período de payback máximo
aceitável (que cria valor para a empresa), aceitar o projeto;
- Se o período de payback é maior do que o período de payback máximo
aceitável (que cria valor para a empresa), rejeitar o projeto.
1.2.2 Valor Presente Líquido (VPL)
Considerada uma técnica de orçamento de capital sofisticada, o VPL
desconta os fluxos de caixa da empresa com uma taxa específica. Em Gitman
(2001), o autor cita que muitas vezes essa taxa é chamada de taxa de
desconto, retorno exigido, custo de capital ou custo de oportunidade e se refere
ao retorno mínimo que deve ser conseguido de um projeto, para não alterar o
valor da empresa no mercado.
O VPL é encontrado ao se subtrair o investimento inicial de um projeto
(I) do valor presente de seus fluxos de entrada de caixa (CFt ), descontados a
16 uma taxa igual à do custo de capital da empresa (k). Ver fluxo de caixa
representado na figura 1.
CF1 CF2 CF3 … CFt k I
Figura 1 – Representação esquemática de um Fluxo de Caixa convencional
Fonte: Autora
VPL = valor presente dos fluxos de entrada de caixa – investimento inicial n
VPL = ∑ FCt - I t=1 (1+k)t
Equação 3 – Cálculo do Valor Presente Líquido
Fonte: Gitman, 2001.
Quando o VPL é usado para decisões aceitar-rejeitar, segundo Gitman
(2001) os critérios são os seguintes:
- Se o VPL é maior do que $0, aceitar o projeto;
- Se o VPL é menor do que $0, rejeitar o projeto.
Se o VPL é maior do que $0, a empresa vai obter um resultado maior do
que seu custo de capital. Tal ação deve aumentar o valor de marcado da
empresa, por conseguinte, a riqueza de seus proprietários.
1.2.3 Taxa Interna de Retorno (TIR)
A taxa interna de retorno (TIR) é a taxa de desconto que iguala o valor
presente de fluxos de entrada de caixa com o investimento inicial associado a
um projeto. Em Gitman (2001) , a TIR é a taxa anual de resultados capitalizada
17 que a empresa vai obter, se ela investir no projeto e receber os fluxos de
entrada de caixa fornecidos. n
$ 0 = ∑ FC t - I t=1 (1+TIR)t
Equação 4 – Cálculo da TIR
Fonte: Gitman (2001).
Quando a TIR é usada para tomada de decisões do tipo aceitar-rejeitar,
segundo Gitman (2001) os critérios são os seguintes:
- Se a TIR é maior do que o custo de capital, aceitar o projeto;
- Se a TIR é menor do que o custo de capital , rejeitar o projeto.
Os critérios acima garantem que a empresa consiga pelo menos seu
retorno exigido. Tal resultado deve aumentar o valor de mercado da empresa e,
por conseguinte, a riqueza dos seus proprietários.
1.3 Etapas do Processo de Orçamento de Capital
Em Gitman (2001), o processo de orçamento de capital consiste em
cinco etapas distintas, porém inter-relacionadas. Ele se inicia com a geração da
proposta, seguido de discussão e análise, somada de decisão, implementação
e acompanhamento. A tabela 2 descreve essas fases. Cada etapa no processo
é importante. No entanto, discussão e análise, assim como tomada de decisão
– etapas 2 e 3 – consomem a maior parte do tempo e do esforço. O
acompanhamento (etapa 5) é uma fase importante, mas muitas vezes
ignorado, com a intenção de permitir que a empresa siga melhorando a
precisão de suas estimativas de fluxos de caixa.
18 Etapas no Processo de Orçamento de Capital
Etapas
(listadas em ordem)
Descrição
1. Geração da
proposta
Propostas para dispêndios de capital são feitas em todos os níveis dentro de uma
empresa. Para estimular um fluxo de idéias, muitas empresas oferecem
recompensas em dinheiro para propostas que são adotadas em última análise.
Propostas de dispêndios de capital tipicamente passam de quem originou a idéia
para um revisor em um nível mais alto na organização. Claramente, propostas
que exigem grandes desembolsos serão mais cuidadosamente analisadas do que
as menos claras.
2. Discussão e
análise
Propostas de dispêndios de capital são formalmente analisadas (1) para avaliar
sua adequação sob a luz dos objetivos e planos globais da empresa e, mais
importante, (2) para avaliar sua validade econômica. Os custos e benefícios
propostos são estimados e então convertidos em uma série de fluxos de caixa
relevantes. Várias técnicas de orçamento de capital são aplicadas nesses fluxos
de caixa para mensurar o mérito do dispêndio potencial do investimento.
Adicionalmente, vários aspectos do risco associados à proposta são avaliados.
Uma vez que a análise econômica está completa, um relatório sumário, muitas
vezes com uma recomendação, é submetido aos tomadores de decisões.
3. Tomada de
decisões
A despesa em dólares real e a importância de um dispêndio de capital
determinam o nível organizacional no qual a decisão de dispêndios é tomada. As
empresas geralmente delegam a autoridade sobre dispêndios de capital com
base em certos limites de unidades monetárias. O Conselho de Administração se
reserva o direito de tomar decisões finais a respeito de dispêndios de capital que
exigem despesas acima de um certo montante. Dispêndios de capital
inexpressivos, tais como a compra de um martelo por $15, são tratadas como
despesas operacionais que não exigem uma análise formal a. Geralmente,
empresas operando sob limitações de tempo críticas com relação à produção dão
ao administrador da planta o poder de tomar decisões necessárias para manter a
linha de produção em movimento.
4. Implementação Uma vez que uma proposta tenha sido aprovada e os fundos tenham sido
tornados disponíveis b, inicia a fase de implementação. Para pequenos
desembolsos, o dispêndio é feito e o pagamento é efetuado. Para grandes
dispêndios, um controle maior é exigido. Muitas vezes, os dispêndios para uma
única proposta podem ocorrer em fases, cada desembolso exigindo a aprovação
assinada dos responsáveis da companhia.
5. Acompanhamento Envolve a monitoração dos resultados durante a fase operacional de um projeto.
É vital a comparação de custos e benefícios reais com aqueles esperados e os de
19 projetos anteriores. Quando os resultados reais se afastam dos resultados
propostos, uma ação pode ser exigida para cortar dispêndios, melhorar benefícios
ou possivelmente acabar com o projeto. Análises de desvios de valores reais dos
previstos fornecem dados, que podem ser usados para melhorar o processo de
orçamento de capital, particularmente a precisão das estimativas do fluxo de
caixa. a Há um certo limite de valor em dinheiro acima do qual os dispêndios são mobilizados (isto é, tratados
como um ativo imobilizado) e depreciados em vez de lançados na despesa. Em contabilidade, o problema
sobre capitalizar ou lançar na despesa um determinado dispêndio é resolvido aplicando o princípio da
materialidade, que sugere que quaisquer dispêndios vistos como materiais (isto é, grandes) em relação à
escala de operações da empresa, deveriam ser imobilizados, enquanto os outros deveriam ser lançados
como despesa no período corrente.
b Dispêndios de capital são muitas vezes aprovados como parte do processo de orçamento anual,
apesar de os fundos não estarem disponíveis até que o orçamento seja implementado – freqüentemente
até 6 meses após a aprovação.
Tabela 2 - Etapas no Processo de Orçamento de Capital
Fonte: Gitman, 2001.
Seguindo as etapas descritas, segundo Gitman (2001), no processo de
orçamentação de capital, os tomadores de decisão por projetos de
investimento têm a chance de melhor mapear todos os riscos envolvidos no
negócio. Desta forma, os riscos positivos poderão ser potencializados, para
que de fato ocorram, e riscos negativos sejam mitigados.
1.4 Fluxos de Caixa Relevantes
Para a análise das alternativas de dispêndio de capital, segundo Gitman
(2001), a empresa tem de determinar os fluxos de caixa relevantes, que são os
fluxos de saída de caixa incrementais após o imposto de renda (investimento) e
fluxos de entrada subseqüentes. Os fluxos de caixa incrementais representam
os fluxos de caixa adicionais – fluxos de saída ou fluxos de entrada – que
devem resultar de um dispêndio de capital proposto.
O padrão convencional de um fluxo de caixa de qualquer projeto possui
três componentes: Investimento inicial, fluxos de entrada de caixa operacionais
20 e fluxo de caixa residual. Todos os projetos de expansão, substituição ou
modernização têm os dois primeiros componentes. Alguns, no entanto não têm
o componente final, o fluxo de caixa residual. A figura 2 (Gitman, 2001)
descreve em uma linha de tempo os fluxos de caixa para um projeto. São
dados nomes para cada um dos componentes do fluxo de caixa.
OBS.: Os benefícios esperados que resultem de dispêndios de capital
propostos devem ser mensurados em uma base após o imposto de renda, pois
a empresa não poderá fazer uso de quaisquer benefícios até que ela tenha
satisfeito as demandas tributárias do governo. Esses lançamentos tributários
dependem do lucro tributário da empresa, de modo que a dedução de impostos
antes de se fazer comparações entre investimentos propostos é necessária
para que haja consistência quando se avaliam alternativas de dispêndio de
capital.
Figura 2 – Componentes do fluxo de caixa – Linha de tempo para os principais componentes
do fluxo de caixa.
Fonte: Gitman, 2001.
O investimento inicial é de $50 mil para o projeto proposto. Esse é o
fluxo de saída de caixa relevante no tempo zero. Os fluxos de entrada de caixa
operacionais, que são os fluxos de entrada de caixa incrementais após o
imposto de renda resultante do uso o projeto durante sua vida, gradualmente
aumentam de $4 mil no primeiro ano para $10 mil no seu décimo e último ano.
21 O fluxo de caixa residual de $25mil, recebido ao final da vida de 10 anos do
projeto, é o fluxo de caixa não-operacional após o imposto de renda que ocorre
no ano final do projeto. Ele é normalmente atribuído a liquidação do projeto. O
fluxo de caixa residual não inclui o fluxo de entrada de caixa operacional de $10
mil para o ano 10.
Para Gitman (2001), desenvolver estimativas de fluxos de caixa
relevantes é mais direto no caso de decisões de expansão. Nesse caso, o
investimento inicial, os fluxos de entrada de caixa operacionais e o fluxo de
caixa residual são meramente os fluxos de saída e de entrada e caixa após o
imposto de renda associado ao desembolso proposto.
Identificar fluxos de caixa relevantes para decisões de substituição é
mais complicado; a empresa tem e determinar o fluxo incremental de saída de
caixa e as entradas de caixa que resultariam da substituição proposta. O
investimento inicial neste caso é a diferença entre o investimento inicial
necessário para adquirir o novo ativo e quaisquer fluxos de entrada após o
imposto de renda esperado da liquidação hoje do ativo velho (ativo sendo
substituído). Os fluxos de entrada de caixa operacionais são a diferença entre
os fluxos de entrada de caixa operacionais o ativo novo e aqueles do ativo
velho. O fluxo de caixa residual é a diferença entre os fluxos de caixa após o
imposto de renda esperado com a liquidação dos ativos novos e velhos. A
tabela 3 mostra essas relações.
22
Investimento
inicial =
Investimento inicial
necessário para adquirir
um ativo novo
- Fluxos de entrada de caixa após
o imposto de renda da liquidação
do ativo velho
Fluxos de
entrada de caixa
operacionais
=
Fluxos de entrada de caixa
operacionais de um ativo
novo
- Fluxos de entrada de caixa
operacionais de um ativo velho
Fluxo de caixa
residual =
Fluxos e caixa após o
imposto e renda da
liquidação de um ativo
novo
-
Fluxos de caixa após o imposto
de renda da liquidação de um
ativo velho
Tabela 3 – Fluxos de caixa relevantes para decisões de substituição – Cálculo dos três
componentes de fluxo de caixa relevantes para uma decisão de substituição.
Fonte: Gitman, 2001.
Segundo Gitman (2001), na realidade, todas as decisões de orçamento
de capital podem ser vistas como decisões de substituições. Decisões de
expansão são meramente decisões de substituição nas quais todos os fluxos
de caixa do ativo velho são zero.
Para estimar os fluxos de caixa relevantes associados a um dispêndio
de capital, Gitman (2001) ainda cita que as empresas devem reconhecer
quaisquer custos incorridos e custos de oportunidade. Segundo o autor, esses
custos são freqüentemente ignorados, particularmente ao se determinar fluxos
e caixa incrementais. Os custos incorridos são desembolsos de caixa que já
foram feitos (isto é, desembolsos passados) e, por tal motivo, não têm efeito
sobre os fluxos e caixa relevantes às decisões correntes. Como resultado,
custos incorridos não devem ser incluídos nos fluxos de caixa incrementais de
um projeto. Custos de oportunidade são fluxos de caixa que poderiam ser
realizados através do melhor uso alternativo de um determinado ativo (o
conceito de custo de oportunidade também já foi abordado na introdução deste
23 trabalho). Por tal motivo, os custos de oportunidade representam os fluxos de
caixa que não serão realizados como resultado de se empregar esse ativo no
projeto proposto. Devido a isto, quaisquer custos de oportunidade devem ser
incluídos como fluxos de saída de caixa ao se determinar os fluxos de caixa
incrementais de um projeto.
1.5 Investimento Inicial
Em Gitman (2001), o termo “investimento inicial” se refere aos fluxos de
saída de caixa relevantes a serem considerados ao se avaliar dispêndios de
capital potenciais. Tratando-se de orçamento de capital relativo a investimentos
em projetos com fluxos de caixa convencionais, o investimento inicial ocorre no
tempo zero – o momento no qual o dispêndio é feito. Segundo Gitman (2001), o
investimento inicial é calculado ao se subtrair todos os fluxos de entrada de
caixa que ocorrem no tempo zero de todos os fluxos de saída de caixa que
ocorrem no tempo zero. A tabela 4 resume um formato básico para se
determinar o investimento inicial.
Custo do novo ativo instalado =
custo do novo ativo
+ custos de instalação
- Resultado após o imposto de renda da venda do ativo velho =
resultados da venda do ativo velho
+/- imposto de renda sobre a venda do ativo velho =
+/- Variação no capital circulante líquido
Investimento Inicial
Tabela 4 – O formato básico para se determinar o investimento inicial
Fonte: Gitman, 2001.
24 Os fluxos de caixa que devem ser considerados ao se determinar o
investimento inicial associado a um dispêndio de capital são o custo do novo
ativo instalado, os resultados após o imposto de renda (se houver) da venda de
um ativo velho e a variação (se houver) no capital circulante líquido. Se não
houver nenhum custo de instalação e a empresa não estiver substituindo um
ativo existente, o preço de compra do ativo ajustado para qualquer mudança no
capital circulante líquido será igual ao investimento inicial.
OBS.:
a) Variação no capital circulante líquido = Diferença entre uma mudança nos
ativos circulantes e uma mudança nos passivos circulantes.
b) Ativo Circulante = Caixa, Contas a receber, estoques etc.
c) Passivo Circulante = Contas a pagar etc.
1.6 Abordagens Comportamentais para lidar com o risco
Abaixo serão destacadas algumas abordagens comportamentais para se
lidar com o risco no orçamento de capital. Risco, segundo Gitman (2001), se
refere à chance de que um projeto vai provar-se inaceitável – isto é, VPL <$0
ou TIR < custo de capital. Mais formalmente, o risco no orçamento de capital se
refere ao grau de variabilidade de fluxos de caixa. Projetos com uma pequena
chance de aceitação e uma gama ampla de fluxos de caixa esperados são
mais arriscados do que projetos tendo uma alta chance de aceitação e uma
gama estreita de fluxos de caixa esperados.
1.6.1 Análise de Sensibilidade e Cenário
Segundo Gitmam (2001), duas abordagens para se lidar como risco de
projetos, para capturar a variabilidade de fluxos e entrada de caixa e VPLs, são
a análise de sensibilidade e a análise e cenário.
a) A análise de sensibilidade é uma abordagem comportamental que usa um
número de possíveis valores para uma dada variável, tais como fluxos de
25 entrada de caixa, para avaliar seu impacto sobre o retorno da empresa,
mensurado, por exemplo, pelo VPL. Essa técnica é muitas vezes útil em
conseguir um sentido da variabilidade de resultados em resposta às mudanças
em uma variável-chave. No orçamento e capital, uma das abordagens de
sensibilidade mais comuns é estimar os VPLs associados às estimativas de
fluxos de entrada de caixa pessimista (pior), mais provável (esperado) e
otimista (melhor). A amplitude das estimativas pode ser determinada ao se
subtrair o VPL da estimativa pessimista, do VPL da estimativa otimista. A
tabela 5 exemplifica o resultado da amplitude e variação de VPL para os
projetos A e B.
Análise de Sensibilidade dos Projetos A e B (em $)
Projeto A Projeto B
Investimento inicial 10.000 10.000
Fluxos de entrada de caixa anuais
Resultado
Pessimista 1500 0
Mais provável 2000 2000
Otimista 2500 4000
Amplitude 1000 4000
Valores presentes líquidos *
Resultado
Pessimista 1409 - 10000
Mais provável 5212 5212
Otimista 9015 20424
Amplitude 7606 30424
* Estes valores foram calculados usando os fluxos de entrada e caixa anuais correspondentes.
Foram usados um custo de capital de 10% e uma vida de 15 anos para os fluxos de entrada de
caixa anuais.
Tabela 5 - Análise de Sensibilidade dos Projetos A e B (em $)
Fonte: Gitman, 2001.
b) Já a análise de cenário que é uma abordagem comportamental similar à
análise de sensibilidade, mas com alcance mais amplo, é usada para avaliar o
impacto de várias circunstâncias sobre o retorno das empresas. Em vez de
26 isolar o efeito da mudança de uma única variável, a análise de cenário avalia o
impacto de mudanças simultâneas em um certo número de variáveis, tais como
fluxos de entrada de caixa, fluxos de saída e caixa e custo de capital. Por
exemplo, a empresa poderia avaliar o impacto da alta inflação (cenário 1) e da
baixa inflação (cenário 2) sobre o VPL de um projeto. Cada cenário vai afetar
os fluxos de entrada e caixa da empresa e os fluxos de saída de caixa e custo
de capital, resultando em níveis diferentes de VPL. O tomador de decisões
pode usar essas estimativas de VPL para valiar grosseiramente o risco
envolvido com relação ao nível de inflação. A ampla disponibilidade de
programas e planilha e computadores (Excel), segundo Gitman (2001),
aumentou enormemente o uso tanto da análise de cenário quanto da análise
de sensibilidade.
1.6.2 Árvore de Decisão
Segundo Gitman (2001), árvores de decisão são uma abordagem
comportamental que usa diagramas para mapear as várias alternativas e
resultados e decisões de investimento, assim como as probabilidades de
ocorrerem. Seus nomes derivam de sua semelhança com ramos de árvores.
As árvores de decisão se baseiam em estimativas e probabilidades
associadas aos resultados de cursos de ação que competem entre si. O
resultado de cada curso de ação é ponderado pela probabilidade associada a
ele; o resultado é somado; e o valor esperado de cada curso de ação é então
determinado. A alternativa que proporciona o valor esperado mais alto é
preferível. A figura 3 mostra uma árvore de decisão entre os projetos I e J.
27
Investimento
inicial Probabilidade
Valor
presente do
fluxo de
entrada de
caixa
(resultado)
Valor
ponderado do
valor presente
do fluxo de
entrada de
caixa
[(2) x (3)]
(1) (2) (3) (4)
0,40 $ 225.000 $ 90.000
$ 120.000 0,50 100.000 50.000
Projeto I 0,10 - 100.000 - 10.000
$ 130.000
Decisão I ou J ?
0,30 280.000 84.000
$ 140.000 0,40 200.000 80.000
Projeto J 0,30 - 30.000 - 9.000
Valor presente esperado dos fluxos de entrada de caixa
$ 155.000
VPLi esperado = $ 130.000 - $ 120.000 = $ 10.000
VPLj esperado = $ 155.000 - $ $ 140.000 = $ 15.000
Levando em consideração que o VPLj esperado > VPLi esperado, escolher J.
Figura 3 – Árvore de decisão para escolha entre os projetos I e J a partir do VPL.
Fonte: Gitman, 2001.
Uma outra forma de apresentação da árvore de decisão é apresentada
por Ross (1995), onde os círculos abertos representam pontos de decisão e os
círculos fechados indicam o recebimento de informação. A figura 4 apresenta
um outro modelo de árvore de decisão.
28
Figura 4 – Árvore de decisão ($ milhões)
Fonte: Ross, 1995.
No exemplo da figura 4, se remunerado a taxa requerida pelo investidor,
o resultado do VPL positivo (VPL>0) assegura o retorno esperado. Logo,
empresários poderão optar por testar o produto em questão.
1.6.3 Equivalentes de Certeza (ECs)
Em Gitman (2001), é encontrada uma das abordagens mais diretas e
preferíveis teoricamente para o ajuste ao risco que é o uso de equivalentes de
certeza (ECs). Estes representam a percentagem de fluxos de entrada de caixa
estimados que investidores estariam satisfeitos em receber com certeza, em
vez dos fluxos de entrada de caixa que são possíveis de serem recebidos para
cada ano.
A equação 5 abaixo apresenta a expressão básica para VPL quando
equivalentes de certeza são usados para adaptação ao risco.
29
n
VPL = ∑ αt x FC t - I t=1 (1+RF)t
Equação 5 – Cálculo do VPL a partir de equivalentes de certeza para adaptação ao risco
Fonte: Gitman, 2001.
Onde,
αt = fator de equivalência de certeza no ano t (0 ≤ αt ≤ 1)
FCt = fluxo de entrada de caixa relevante no ano t
RF = taxa de resultado livre de risco (Renda Fixa).
A equação mostra que os fluxos de entrada de caixa são primeiro
adaptados ao risco ao converter os fluxos de entrada de caixa esperados para
montantes certos, αt x FCt. Esses fluxos de entrada de caixa certos são, na
realidade, equivalentes a “dinheiro na mão”, mas não no tempo zero. A
segunda parte do cálculo ajusta fluxos de entrada de caixa certos para o valor
do dinheiro no tempo, ao descontá-los com a taxa livre de risco, RF. A taxa livre
de risco, RF, é a taxa de retorno que uma pessoa pode obter de um
investimento virtualmente livre de risco, tal como uma letra do tesouro Norte-
americano.
Segundo Gitman (2001), apesar de o processo descrito de converter
fluxos de entrada de caixa arriscados para fluxos de entrada de caixa certos
ser de alguma forma subjetivo, a técnica é teoricamente bem fundamentada.
A tabela 6 exemplifica uma análise de dois projetos A e B usando
equivalentes de certeza.
30
Projeto A
Ano (t)
Fluxos de Caixa
(1)
(em $)
Fatores de
equivalência de
certeza a
(2)
Fluxos de
entrada de caixa
certos
[(1) x (2)]
(3)
(em $)
FJVP 6%, t
(4)
Valor presente
[(3) x (4)]
(5)
(em $)
1
2
3
4
5
14.000
14.000
14.000
14.000
14.000
0,90
0,90
0,80
0,70
0,60
12.600
12.600
11.20
9.800
8.400
0,943
0,890
0,840
0,792
0,747
11.882
11.214
9.408
7.762
6.275
46.541
Investimento inicial 42.000
Valor presente líquido (VPL) 4.541
Projeto B
Ano (t)
Fluxos de caixa
(6)
(em $)
Fatores de
equivalênica de
certeza a
(7)
Fluxos de
entrada de
caixa certos
[(6) x (7)]
(8)
(em $)
FJVP 6%, t
(9)
Valor presente
[(8) x (9)]
(10)
(em $)
1 28.000 1,00 28.000 0,943 26.404
2 12.000 0,90 10.800 0,890 9.612
3 10.000 0,90 9.000 0,840 7.560
4 10.000 0,80 8.000 0,792 6.336
5 10.000 0,70 7.000 0,747 5.229
- Valor presente de fluxos de entrada de caixa 55.141
Investimento inicial 45.000
Valor presente líquido (VPL) 10.141 a Estes valores foram estimados pela alta administração; eles refletem o risco que os administradores percebem nos
fluxos de entrada de caixa.
Tabela 6 - Análise de dois projetos A e B usando equivalentes de certeza.
Fonte: Gitman, 2001.
Levando em consideração que o VPL esperado para o projeto B > VPL
esperado para o projeto A, escolher B.
31 1.6.4 Taxas de Desconto Ajustadas ao Risco (TDARs).
Segundo Gitman (2001), uma abordagem mais prática para o ajuste ao
risco envolve o uso de taxas de desconto ajustadas ao risco (TDARs). Em vez
de adaptar os fluxos de entrada de caixa ao risco, como faz a abordagem de
equivalentes de certeza, essa abordagem adapta a taxa de desconto. A
equação 6 apresenta a expressão básica de VPL quando taxas de desconto
ajustadas ao risco são usadas: n
VPL = ∑ FC t - I t=1 (1+TDAR)t
Equação 6 – Cálculo do VPL a partir de taxas de desconto ajustadas ao risco
Fonte: Gitman, 2001.
A taxa de desconto ajustada ao risco (TDAR) é a taxa de desconto que
deve ser obtida em um dado projeto para compensar os proprietários da
empresa adequadamente – isto é, para manter ou melhorar o preço das ações
da empresa. Quanto mais alto for o risco de um projeto, maior será a TDAR e,
por conseguinte, mais baixo o valor presente líquido para uma série dada de
fluxos de entrada de caixa.
Neste capítulo foram apresentados os principais conceitos para
investimento a longo prazo. São eles: Dispêndio de Capital, Técnicas e
Processos de Orçamento de Capital e Ativos Físicos. Além disso também
foram abordadas quais são as motivações para o dispêndio de capital que
levam investidores a optarem pela execução do investimento, quais são as
técnicas de orçamento de capital mais usadas com o intuito de escolher os
dispêndios de capital aceitáveis, quais são as etapas do processo de
orçamento de capital, quais são os fluxos de caixa relevantes, o que é e o que
representa o investimento inicial e quais são as abordagens comportamentais
para lidar com risco.
32
CAPITULO II
O MERCADO
Conforme exposto na Introdução deste trabalho, um exemplo atual da
necessidade de posicionamento no mercado encontra-se na industria naval
para atendimento ao setor de atividades offshore. Com o aumento das
explorações e produções de poços de petróleo, aumento das transações
comerciais decorrente das relações entre países posicionados geograficamente
em continentes distintos, por exemplo Brasil e China , entre outros, é
imperativo o investimento em recursos que garantam o pleno funcionamento da
cadeia de suprimento. Dos exemplos citados acima, podem ser desdobradas
inúmeras demandas. Dentre elas, ao se destacar a “simples” necessidade do
transporte marítimo, seja por meio de navios petroleiros ou de dutos
submarinos, quantos recursos da ordem de grandeza de “milhões de dólares”
serão listados?! Com certeza são inúmeros. Desde simples componentes aos
ativos como um todo.
Ferraz et al. (2002) em seus estudos sobre a competitividade de cadeias
integradas no Brasil, abordaram as principais tendências mundiais de
demanda, cadeia produtiva e inovações tecnológicas para a indústria naval.
Segundo os autores, a frota de navios mercantes internacionais soma 791
milhões de toneladas de porte bruto (TPB), concentrada em 20 países. Até o
final da década de 1990, 38% da frota foi renovada. Há necessidade de
renovar os 60% restantes. Para isso, no mercado internacional, prevalece
intensa competição e redução de preços, em virtude da capacidade de
produção excessiva dos estaleiros nos países produtores. Os principais
participantes do mercado internacional de construção naval seguem estratégias
de especialização. São facilmente reconhecíveis a da Coréia, especializada
navios de grande porte, a de Cingapura, especializada em plataformas e navios
para a indústria de petróleo offshore e a dos Estados Unidos, que focaliza a
indústria militar. A maior parte dos países europeus entrincheirou-se em nichos
33 de navios especiais e sofisticados. O Japão constrói toda a linha de navios e
luta para aumentar a produtividade e reduzir custos. Historicamente em todos
os países, o Estado tem forte presença na construção naval, através de
incentivos e regulação abrangentes (subsídios para operação e investimento
para a armação; subsídios à construção naval; definição de reservas de
mercado, através de cargas preferenciais; benefícios fiscais - renda e
depreciação - e proteção à cabotagem). As razões dessa presença do Estado
estão associadas à segurança nacional, às várias falhas de mercado e
externalidades geradas pela atividade e, obviamente, às práticas dos demais
países.
Especificamente no Estado do Rio de Janeiro, o decreto N.º 33.975 de
29 de setembro de 2003 concedeu benefício fiscal para as Indústrias Naval,
Petrolífera e Náutica do estado.
Segundo o decreto, a governadora Rosinha Matheus, no uso das
atribuições legais, tendo em vista o que consta no Processo n.º E-
28/000255/2003, e considerando as justificativas destacadas na tabela xx,
decretou no artigo 1º a concessão da isenção fiscal do Imposto sobre
operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação - ICMS,
na aquisição de máquinas, equipamentos, peças, partes e acessórios que
venham a compor o ativo destinado à produção das empresas que se
instalarem no Estado do Rio de Janeiro, voltadas para a construção, reparo
naval e náutico, bem como aqueles fabricantes de equipamentos e
componentes destinados à industria naval, náutica e petrolífera e aos
fabricantes de embarcações de recreio.
34
CONSIDERANDO que o Estado do Rio de Janeiro em razão de sua geografia com longa
extensão de costa e diversas Baías como: Sepetiba, Guanabara e Ilha Grande, possui elevado
potencial natural para a Indústria Naval e para a Indústria Náutica;
CONSIDERANDO que no início da década de 90 praticamente toda a Indústria Naval e
Náutica, sucumbiu no Estado, com o fechamento da grande maioria dos estaleiros e parques
industriais ligados ao setor;
CONSIDERANDO que tais setores demonstram grande potencial para o futuro, principalmente,
com o crescimento das Indústrias voltadas para o Petróleo e Turismo, permitindo vislumbrar a
possibilidade da geração de milhares de novos empregos, de Norte a Sul do Estado;
CONSIDERANDO que os altos custos financeiros, tecnológicos e de construção suportados
pela indústria naval prejudicam a competitividade das empresas aqui estabelecidas frente às
suas concorrentes, sobretudo aquelas sediadas no exterior, às quais são concedidos
incentivos fiscais, creditícios e subsídios outros;
CONSIDERANDO que a primeira fase de restabelecimento deste setor, com a abertura dos
estaleiros e com a viabilização de novas encomendas já se concretizou, sendo imprescindível
como próxima fase o incentivo à modernização das plantas existentes e a atração de novos
investimentos, visando o aumento da competitividade que proporcionará a oportunidade da
geração de mais empregos para o Estado e a consolidação definitiva deste seguimento;
CONSIDERANDO que novos incentivos à modernização e abertura de novas unidades, não
impactam a carga tributária incidente nos produtos finais, muito pelo contrário tenderão a
ampliar ainda mais a atividade econômica com possíveis reflexos positivos na arrecadação e
CONSIDERANDO que a Assembléia Legislativa, entendendo a relevância do projeto para o
segmento da indústria naval, náutica e petrolífera, autorizou a concessão do benefício fiscal
através da Lei n.º 4.166, de 26.09.2003.
Tabela 7 – Considerações do decreto N.º 33.975 de 29 de setembro de 2003 que concedeu
benefício fiscal para as Indústrias Naval, Petrolífera e Náutica do Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: D.O.E. em 30.09.2003
Ferraz et al. (2002) ainda citaram que em todos os países, inclusive no
Brasil, as representações de interesses dos atores associados (aí incluídos
trabalhadores e forças armadas) têm forte importância política e poder de
35 influência na definição das políticas públicas. O volume de recursos públicos
despendidos em subsídios pelos países é desconhecido, mas
reconhecidamente muito alto, o que prejudica a existência de indicadores
confiáveis de preços. No Brasil, a partir da crise da SUNAMAM
(Superintendência Nacional da Marinha Mercante), em meados dos nos 80,
observa-se um processo gradual de mudanças institucionais relevantes,
incluindo desregulamentação e fim de reservas de mercado e dos subsídios à
estaleiros. Assim como em outros países, porém com conformação específica,
permanece ativo um fundo para investimentos, gerenciado pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e gerado por
contribuição para-fiscal sobre o frete de importação AFRMM (AFRMM -
Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante). Em contrapartida,
inexistem mecanismos de crédito e seguros disponíveis no mercado financeiro
internacional. Por isto o Fundo de Marinha Mercante é ponto focal das
discussões sobre o desenvolvimento da indústria de construção naval.
Ferraz et al. (2002) destacaram que a indústria de construção naval
brasileira, compreendida pelos estaleiros que constroem navios acima de 1.000
TPB (TPB – Tonelagem de Porte Bruto é uma unidade de medida referente ao
deslocamento causado pelo navio flutuando na sua condição de maior imersão
- completamente carregado), praticamente desativada desde o final da década
de 70, iniciou em 2000 movimento de retomada da produção, impulsionada
pelas encomendas da Petrobras para o aumento da produção de petróleo em
alto mar. Na indústria de peças também houve desativação da produção e
sobrevivência de poucas empresas especializadas. Assim o recurso à
importação de partes e componentes é extensivamente utilizado por todos
aqueles que promovem a construção de navios ou plataformas offshore.
Segundo Ferraz et al. (2002), na armação (Armador – É aquele que arma a sua
custa uma os mais embarcações e a explora comercialmente em serviços de
transporte, ou de pesa, de reboque etc. De acordo com o código comercial
art.484, não basta ser proprietário do navio para ser considerado armador, pois
deste se exige a condição de comerciante. O armador é sempre o
representante legal da propriedade do navio, mesmo quando não seja o
36 proprietário. Assim, ele responde para com terceiros por atos derivados de sua
profissão se for provada negligência ou imperícia) a internacionalização
patrimonial está praticamente completa. Na carga geral a maior empresa
brasileira é 5 vezes menor que sua concorrente chilena, ou 25 vezes menor
que a empresa líder mundial.
Atualmente o setor de petróleo offshore representa a maior parcela da
demanda, licitando a encomenda de plataformas, embarcações de apoio
marítimo, seus equipamentos e componentes. Os investimentos em offshore
vieram reativar a indústria naval. Além de plataformas, as encomendas incluem
a montagem dos skids dos FPSOs (Skid – pode ser entendido como uma base
para diversas estruturas;) FPSO – (Floating, Production, Storage and
Offloading Unit), promovendo reativação dos estaleiros e atraindo investidores
estrangeiros que arrendaram estaleiros no Rio de Janeiro. A demanda
expandiu ainda mais quando a Petrobras lançou o programa de substituição da
frota de navios de apoio offshore, definindo no edital de concorrência
internacional, preferência por navios de bandeira brasileira, induzindo as
empresas operadoras, nacionais e estrangeiras, a contratar a construção local
dessas embarcações.
Ferraz et al. (2002) avaliaram que o resultado de tudo isso é uma
indústria que chegou ao final do primeiro semestre de 2002 em face de uma
nova realidade, onde o principal desafio não são mais as encomendas, e sim
como reativar instalações no curto prazo e montar uma competente capacidade
produtiva, para atendê-las. Os estaleiros estão pedindo financiamentos para
expansão e modernização ao BNDES/FMM (FMM – Fundo da Marinha
Mercante) e já surgem dificuldades de contratação de mão de obra
especializada, principalmente soldadores. Na navegação, ainda são poucas ou
muito recentes as encomendas de cabotagem (cabotagem – segundo a Lei
9.432/1997 são rotas feitas por embarcações entre portos ou pontos do
território brasileiro por via marítima ou esta e vias navegáveis interiores) ou
longo curso (longo curso - segundo a Lei 9.432/1997 são rotas feitas por
embarcações entre portos brasileiros e estrangeiros), segmentos, que
37 representam um desafio essencial para manter sustentável a atividade da
construção naval brasileira no longo prazo. Armadores estrangeiros começam
a contratar na indústria naval local, respondendo às exigências dos contratos
conquistados com a Petrobras ou pelas regras da cabotagem. A Petrobras
também está procurando substituir seus petroleiros e os contratos para
construção para a Transpetro foram viabilizados graças a uma engenharia
financeira complexa, associando-se crédito e seguros, por dificuldades de
natureza patrimonial por parte dos estaleiros.
Para Ferraz et al. (2002), o Brasil possui as condições básicas
necessárias para desenvolver sua indústria de construção naval. Pelo lado da
oferta, já estão atuantes no país construtores navais internacionais e existem
empreendedores nacionais desenvolvendo estaleiros; a indústria siderúrgica é
competitiva; os custos de mão de obra não são altos; a tecnologia, incorporada
em equipamentos é disponível e em offshore o centro de pesquisas da
Petrobras e a infra-estrutura científica e tecnológica têm reputação
internacional. Pelo lado do regime de incentivos e regulação, está preservado o
sistema de financiamento, através do Fundo de Marinha Mercante; surgiram
novas agências como a Agência Nacional do Petróleo e existem incentivos
fiscais estaduais e federais (Programa Navega Brasil - criado no final do
governo Fernando Henrique Cardoso - 1995-2003 -, para a construção de
novas embarcações, por meio do BNDES) em uso. Pelo lado da demanda,
além da promoção de investimentos expressivos na exploração e produção de
petróleo offshore o país deve expandir, fortemente, seu comércio exterior nos
próximos cinco anos.
Ferraz et al. (2002) ainda concluem que a análise das construções em
curso demonstra que existe capacidade no Brasil para realizar construção
naval tecnologicamente atualizada. Dificilmente o país terá condições de se
tornar um grande exportador de navios e/ou estruturas de offshore de todos os
portes.
Em outros paises, principalmente na Ásia, prevalecem articulações
estabelecidas e consolidadas entre demandantes internacionais,
38 conglomerados industriais e apoio governamental que são difíceis de serem
rompidas, no curto e médio prazos.
Entretanto, a indústria de construção naval brasileira poderá ampliar sua
participação econômica na estrutura industrial brasileira, tornando-se
especializada e construindo navios de apoio offshore, petroleiros e porta-
containers para a navegação de cabotagem.
Ferraz et al. (2002) ainda propuseram em seu estudo uma estratégia
competitiva e de crescimento – para o setor privado e para o Estado -
focalizada em segmentos que possam ser inicialmente induzidos pela demanda
local e estruturada em três movimentos: reativação e consolidação com os
contratos da indústria offshore (plataformas e embarcações de apoio);
fortalecimento com petroleiros e navios para cabotagem; expansão com a
substituição de porta-containers do comércio internacional por navios de
bandeira nacional construídos aqui e exportação de plataformas, embarcações
e navios de longo curso.
Para Ferraz et al. (2002), a possibilidade de o Brasil vir a ser competidor
internacional importante na construção naval depende de uma reativação
competente de estaleiros e seus fornecedores, de forma a explorar vantagens
circunstanciais, como o baixo custo da mão de obra. No entanto, para os
autores, a competitividade sustentada está associada à eficácia e eficiência
produtiva, em primeira instância, e no longo prazo, à competência tecnológica.
Para dar partida e operacionalizar esta estratégia, segundo os autores, é
necessário introduzir e difundir, entre contratantes, produtores e agências de
fomento e regulação, práticas e formas de operação e gestão que assegurem
baixas margens de tolerância com relação à ineficiência produtiva. Como
resultante, aumentará a credibilidade e confiabilidade das políticas públicas, em
especial o FMM. Operacionalmente esta proposição se sustenta na criação de
um sistema independente que acompanhe e certifique boas práticas produtivas
e que esteja associado ao financiamento público.
39 Além disso, a proposição está calçada em uma forte convicção entre os
diversos atores associados à cadeia naval-offshore-mercante da necessidade
de uma avaliação independente das boas práticas de construção naval,
diferente do acompanhamento financeiro dos contratos, realizado
rotineiramente, e geralmente protegidos pelo sigilo bancário.
Instrumentos desta natureza visam assegurar a conquista de ganhos
sustentáveis derivados de uma demanda em expansão para uma indústria que
apenas inicia um processo de reativação bastante promissor. Garantida uma
base produtiva de excelência os diversos atores associados à indústria podem
almejar políticas comerciais mais agressivas, tanto no sentido da atração de
demanda externa pela produção Made in Brazil quanto pela expansão dos
investimentos produtivos, com conseqüentes benefícios para o emprego.
Este capítulo abordou as principais tendências mundiais de demanda,
cadeia produtiva e inovações tecnológicas para a cadeia naval-offshore-
mercante, fornecendo assim subsídios a investidores para decisão de
investimento a longo prazo.
CAPITULO III
A PROPOSTA
A proposta a seguir apresenta uma metodologia para análise de
viabilidade técnico-financeira aplicada em um caso de modernização de uma
embarcação projetada para lançar dutos submarinos (dutos submarinos são
estruturas tubulares por onde grande parte do petróleo e seus derivados,
produzidos no Brasil e no mundo, são escoados) da empresa fictícia XPTO.
Inicialmente a embarcação opera com restrições em determinadas
áreas congestionadas (rios, mares e oceanos) devido ao seu posicionamento
através de grandes âncoras e muitos cabos de aço distendidos. Com esse
sistema de ancoragem robusto a empresa deixa de captar mais serviços,
perdendo-os aos seus concorrentes (concorrentes neste caso são outras
embarcações mais preparadas e com sistemas de posicionamento mais
compatíveis com o serviço). Um novo sistema de posicionamento poderá ser
adquirido para a embarcação lançadora de dutos. Porém, será que a aquisição
é viável? Este investimento trará retorno esperado a empresa detentora da
embarcação? Em quanto tempo?
3.1 ANALISANDO A MOTIVAÇÃO
Neste dispêndio de capital puderam ser identificadas duas motivações:
Substituição e Modernização. A substituição foi identificada como uma das
motivações porque será necessário trocar o sistema de ancoragem, descrito
acima, que já está obsoleto. Já a modernização também foi identificada porque
além do novo sistema permitir as funções já executadas, ele também agregará
novas funções permitindo um melhor desempenho no posicionamento da
embarcação, gerando benefícios diretos e indiretos.
41 3.2 SEGUINDO AS ETAPAS DO PROCESSO DE ORÇAMENTO DE
CAPITAL
O processo de orçamento de capital consiste em cinco etapas distintas,
porém inter-relacionadas. Ele se inicia com a geração da proposta, seguido de
discussão e análise, tomada de decisão, implementação e acompanhamento.
3.2.1 Geração da Proposta/ Projeto
a) Formação do Grupo de Trabalho: Uma equipe composta de um
coordenador e tantos participantes quantos forem necessários, deve ser
designada responsável pela geração da proposta.
No caso da substituição e modernização da embarcação lançadora de
dutos, a equipe foi composta por um corpo técnico-gerencial em função da
dimensão do dispêndio de capital considerado.
b) Coleta de dados, discussões e análise: O grupo deve definir a
rotina de trabalho que será adotada para que todos possam contribuir de
maneira mais equilibrada possível para o projeto. Além disso, a divisão de
tarefas é importante para que não haja sobrecarga de trabalho sobre o
coordenador ou em um ou dois membros da equipe.
Para o projeto em questão, a equipe coletou, discutiu e analisou os
seguintes dados: premissas para a geração da proposta, o histórico dos
trabalhados já realizados pela embarcação, o mercado de atuação, a
instalação do novo sistema de posicionamento/ ancoragem da embarcação e
premissas econômicas.
c) Geração da Proposta/ Projeto: Como resultado da fase acima, a
equipe gerou a proposta descrevendo todas as informações relevantes, o
resultado do estudo de viabilidade técnico-econômica, a conclusão e as
recomendações.
42 3.2.2 Discussão e Análise
a) Relatório Sumário (Análise Econômica Completa): Após a geração
da proposta, esta deverá ser apresentada às partes envolvidas e com poder de
decisão para discussões e análise. Nesta fase, a proposta de dispêndio de
capital é formalmente analisada para avaliar sua adequação sob a luz dos
objetivos e planos globais da empresa e, mais importante, para avaliar sua
validade econômica.
Para o projeto de substituição e modernização da embarcação, os
tomadores de decisão argüiram intensivamente a equipe responsável pelo
projeto requerendo algumas revisões no texto do relatório para melhor
explicitar os resultados obtidos, justificativas etc.
3.2.3 Tomada de Decisão
a) Aprovação da Proposta/ Projeto: Após o término da apresentação
da proposta aos tomadores de decisão, estes a aprovam ou não. Cada
empresa pode adotar um critério para aprovação de seus dispêndios de capital.
A maioria geralmente delega a autoridade sobre dispêndios de capital com
base em certos limites de unidades monetárias.
O projeto de substituição e modernização do sistema de
posicionamento/ ancoragem da embarcação lançadora de dutos da empresa
XPTO, enfim, foi aprovado e passou para a fase de implementação. Porém,
este trabalho abordará mais detalhadamente a proposta descrevendo todas as
informações relevantes, o resultado do estudo de viabilidade técnico-
econômica, a conclusão e as recomendações; restringindo-se a somente
sugerir como as etapas de Implementação e Acompanhamento deverão ser
conduzidas.
43 3.2.4 Implementação
Uma vez que uma proposta tenha sido aprovada e os fundos tenham
sido tornados disponíveis, inicia a fase de implementação. Para pequenos
desembolsos, o dispêndio é feito e o pagamento é efetuado. Para grandes
dispêndios, um controle maior é exigido. Muitas vezes, os dispêndios para uma
única proposta podem ocorrer em fases, cada desembolso exigindo a
aprovação assinada dos responsáveis da companhia
3.2.5 Acompanhamento
Envolve a monitoração dos resultados durante a fase operacional de um
projeto. É vital a comparação de custos e benefícios reais com aqueles
esperados e os de projetos anteriores. Quando os resultados reais se afastam
dos resultados propostos, uma ação pode ser exigida para cortar dispêndios,
melhorar benefícios ou possivelmente acabar com o projeto. Análises de
desvios de valores reais dos previstos fornecem dados, que podem ser usados
para melhorar o processo de orçamento de capital, particularmente a precisão
das estimativas do fluxo de caixa.
3.3 DETALHAMENTO DA PROPOSTA
O projeto de substituição e modernização do sistema de
posicionamento/ ancoragem da embarcação lançadora de dutos teve em sua
proposta as seguintes considerações: informações relevantes, o resultado do
estudo de viabilidade técnico-econômica, a conclusão e as recomendações.
44 3.3.1 Informações Relevantes
O grupo de trabalho designado baseou-se nas diretrizes da empresa
XPTO, revendo conceitos para que o estudo estivesse ambientado com a nova
ordem econômica mundial. Isto é, um cenário de permanentes mudanças no
mercado, onde o apelo para o alcance da excelência operacional, em função
dos riscos deste segmento, é crescente.
Aliado a isto, o aspecto ambiental vem ganhando força, obrigando as
empresas a desenvolverem novas tecnologias, que permitam um
desenvolvimento sustentável sem agressões ao meio-ambiente, sendo ainda
mais sensível no ramo petrolífero, onde as atenções estão voltadas para os
grandes acidentes ecológicos ocorridos na última década.
Estas novas demandas e regras têm levado as empresas a buscarem a
excelência operacional, visando a sua sobrevivência.
Foi neste contexto que a embarcação lançadora de dutos foi avaliada,
tendo como premissas os seguintes aspectos:
a) A embarcação desempenha um papel estratégico na sua área de
atuação, como agente regulador de mercado, nas atividades de prestação de
serviços offshore para a XPTO;
b) O negócio vinculado à embarcação contribui para as metas
estabelecidas no planejamento estratégico da empresa, estando alinhado às
diretrizes emanadas pelo novo modelo de gestão estabelecido, podendo
aumentar a sua contribuição na execução de serviços, tornando-se um ativo de
rentabilidade considerável, seja pelo ganho direto, seja pelos custos evitados;
c) A embarcação estará apta a prestar serviços no cenário de
desenvolvimento da produção de campos localizados em águas profundas,
bem como nos projetos de desenvolvimento da produção em lâminas d’água
rasas, atualmente executados;
d) A empresa XPTO não dependerá em 100% do mercado prestador de
serviços para execução de diversas atividades, principalmente aquelas
consideradas estratégicas;
45 e) A existência de uma embarcação com posicionamento dinâmico,
como equipamento estratégico na execução de reparos emergenciais evitando
maiores danos ao meio-ambiente;
f) A atividade de construção offshore tem como característica a
imprevisibilidade de longo prazo tanto para a evolução quantitativa quanto para
a seqüência de trabalhos. Isto porque depende, no curto prazo, da forma como
se desenvolvem os campos e, no longo prazo, das novas descobertas.
Portanto, as decisões nesta área de investimento são muito mais estratégicas,
calcadas na avaliação do mercado potencial e na flexibilidade de atuação, do
que baseadas na consistência dos elementos disponíveis para uma análise
econômica.
3.3.2 Resultado do Estudo de Viabilidade técnico-econômica
Foram considerados os seguintes fatores para análise do resultado do
estudo de viabilidade técnico-econômica:
a) Investimento
O novo investimento junto ao mercado compreende:
ÍTEM VALOR (Us$)
Novo sistema de ancoragem (Sistema
de posicionamento dinâmico)
30.000.000*
* Valor sem referência de mercado usado apenas para validação da metodologia de decisão de
investimento
Os custos de investimentos serão distribuídos conforme a previsão do
desembolso apresentada na tabela abaixo:
46
Custos de Investimentos 2006 2007 TOTAL
Total em milhões de dólares 20.000.000 10.000.000 30.000.000
b) Premissa econômica
A taxa mínima de atratividade utilizada foi de 10% a.a
Os impostos considerados que incidem sobre o aumento do lucro líquido
foram Imposto de Renda – 25% e Contribuição Social – 9 %. Foi computada
sobre qualquer desembolso a incidência de CPMF de 0,38 %.
O ICMS, PIS/Cofins e outros impostos já foram computados no
investimento. Foi considerada recuperação dos créditos de ICMS e PIS/Cofins.
Por falta de equipamento similar nacional, a importação trará benefícios
fiscais que isentará a empresa XPTO da maioria dos impostos na
nacionalização destes bens.
A depreciação considerada é de linha reta em 10 anos.
Quanto ao Custo de Oportunidade, este será a soma de todos os
rendimentos que seriam recebidos se a embarcação não estivesse parada para
a substituição e modernização durante a fase de execução (12 meses).
47 c) Demonstrativo de Redução de Custo (período de análise: 5 anos)
Fonte de Custo na Ancoragem Atual Valor US$ **
Embarcações envolvidas 50.000.000
Materiais 4.500.000
Planejamento 500.000
TOTAL 60.000.000
Combustível (18.000.000)
Redução de Custo em cinco anos* 42.000.000
* Ao deixar de usar o sistema de ancoragem atual e adotando o novo sistema
* *Valores sem referência de mercado, usados apenas para validação da metodologia de decisão de
investimento
d) Fluxo de Caixa Básico
O fluxo de caixa básico contemplou os investimentos, a redução de
custo, créditos de ICMS e PIS/Cofins, a depreciação e o pagamento de
impostos. O Anexo 1 apresenta o Fluxo de Caixa Básico e Indicadores
Econômicos.
e) Indicadores Econômicos
Os cálculos dos respectivos índices apresentados encontram-se no
Fluxo de Caixa Básico e Indicadores Econômicos no Anexo 1. Os resultados
encontrados foram:
48
Investimento (em milhões US$) 30,00
Valor Presente Líquido (em milhões US$ - 10,0 % a.a.) 27,81
Taxa Interna de Retorno (% a.a.) 27,00
Payback Simples (a partir do início da operação) 3 anos e 8 meses
3.3.3 Conclusão
A embarcação lançadora de dutos terá grande versatilidade de atuação
dotada do novo equipamento de ancoragem. Estará equipada para se constituir
em elemento de grande valor estratégico nas atividades offshore da empresa
fictícia XPTO , tendo aumentado a sua segurança operacional e reduzidos os
seus custos, quando atuando em áreas onde o fundo do mar já se encontra
congestionado. Além de ampliar sua capacidade de atuação aumentando, por
conseguinte, a base de geração de receitas.
Associado aos resultados obtidos da análise econômica do investimento
proposto que interpretados sinalizam que a implementação de melhorias
operacionais, em especial, a dotação de posicionamento dinâmico na
embarcação lançadora de dutos, com um investimento total de
US$ 30 milhões, conduzirá, se atendidas as condições da hipótese básica, a
um valor presente líquido de US$ 27,81 milhões e a uma taxa interna de
retorno de 27% ao ano.
Conclui-se pela validade técnica e econômica da implementação do
sistema de posicionamento dinâmico na embarcação lançadora de dutos, seja
através de recursos próprios, seja por financiamento ou ainda, através de
parceria com terceiros.
49
CONCLUSÃO
Este trabalho apresentou um método para decisões de investimento em
ativos físicos, aplicado a um estudo hipotético sobre aquisição destes ativos no
setor offshore.
Seja para ampliar a capacidade produtiva de uma empresa, acompanhar
o avanço tecnológico, reduzir custo ou para expandir produtos existentes em
áreas já atendidas, este trabalho mostrou que uma das alternativas é a
aquisição em ativos físicos novos. E para a tomada desta decisão concluiu-se
que é necessária uma criteriosa análise de viabilidade técnico-
financeira/econômica onde as ferramentas da matemática financeira, gestão e
contabilidade devem ser exaustivamente aplicadas.
Muitas são as ferramentas da matemática financeira disponíveis para
aplicação e análise de resultados. Entretanto, cabe a cada investidor escolher
as que melhor responderão aos seus questionamentos para a tomada de
decisão consciente e mais lucrativa.
50
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
LAPPONI, J.C. (2000) – Projetos de Investimento: construção e avaliação do
fluxo de caixa. São Paulo. Ed. Lapponi Treinamento e Editora.
MANKIW, N. G. (2005) – Introdução à Economia (Tradução da 3ª edição Norte-
Americana). São Paulo. Ed. Thomson .
GITMAN, L. F. (2001) – Princípios de Administração Financeira. São Paulo. Ed.
Bookman.
ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W. et al (1995) - Administração Financeira
FERRAZ, J. C. et al. (2002) – Estudo da Competitividade de Cadeias
Integradas no Brasil: Impactos das zonas de livre comércio - Cadeia: Indústria
Naval. São Paulo. Disponível em
<http://www.desenvolvimento.gov.br/arquivo/sdp/proAcao/forCompetitividade/i
mpZonLivComercio/24navalCompleto.pdf>. Acessado em: 21 mai. 2006.
51
52
ÍNDICE INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I 12
REVISÃO DA LITERATURA 12
1.1 Dispêndio de Capital 12
1.2 Adequação das Técnicas e Processos de Orçamento de Capital e Ativos Físicos
14
1.2.1 Período de Payback 14
1.2.2 Valor Presente Líquido (VPL) 15
1.2.3 Taxa Interna de Retorno (TIR) 17
1.3 Etapas do Processo de Orçamento de Capital 17
1.4 Fluxos de Caixa Relevantes 19
1.5 Investimento Inicial 23
1.6 Abordagens Comportamentais para lidar com o risco 24
1.6.1 Análise de Sensibilidade e Cenário 24
1.6.2 Árvore de Decisão 26
1.6.3 Equivalentes de Certeza (ECs) 28
1.6.4 Taxas de Desconto Ajustadas ao Risco (TDARs) 31
CAPÍTULO II 32
O MERCADO 32
CAPÍTULO III 40
A PROPOSTA 40
3.1 Analisando a Motivação 40
3.2 Seguindo as etapas do processo de orçamento de capital 41
3.2.1 Geração da Proposta/ Projeto 41
3.2.2 Discussão e Análise 41
3.2.3 Tomada de Decisão 42
3.2.4 Implementação 43
3.2.5 Acompanhamento 43
3.3 Detalhamento da Proposta 43
CONCLUSÃO 49
ANEXOS 51
ÍNDICE 52
FOLHA DE AVALIAÇÃO 53
53
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes
Título da Monografia: Análise de viabilidade para investimento em ativos
físicos – substituição para redução de custo e expansão de produtos existentes
em áreas atendidas.
Autora: Wanessa da Silva Reis
Data da entrega: 26/07/2006
Avaliado por: Conceito: