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XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS
DIREITO, ARTE E LITERATURA
DANIELA MESQUITA LEUTCHUK DE CADEMARTORI
LUCIANA COSTA POLI
REGINA VERA VILLAS BOAS
Copyright 2015 Conselho Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Direito
Todos os direitos reservados e protegidos. Nenhuma parte deste livro poder ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados sem prvia autorizao dos editores.
Diretoria Conpedi Presidente - Prof. Dr. Raymundo Juliano Feitosa UFRN Vice-presidente Sul - Prof. Dr. Jos Alcebades de Oliveira Junior - UFRGS Vice-presidente Sudeste - Prof. Dr. Joo Marcelo de Lima Assafim - UCAM Vice-presidente Nordeste - Profa. Dra. Gina Vidal Marclio Pompeu - UNIFOR Vice-presidente Norte/Centro - Profa. Dra. Julia Maurmann Ximenes - IDP Secretrio Executivo -Prof. Dr. Orides Mezzaroba - UFSC Secretrio Adjunto - Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto Mackenzie
Conselho Fiscal Prof. Dr. Jos Querino Tavares Neto - UFG /PUC PR Prof. Dr. Roberto Correia da Silva Gomes Caldas - PUC SP Profa. Dra. Samyra Hayde Dal Farra Naspolini Sanches - UNINOVE Prof. Dr. Lucas Gonalves da Silva - UFS (suplente) Prof. Dr. Paulo Roberto Lyrio Pimenta - UFBA (suplente)
Representante Discente - Mestrando Caio Augusto Souza Lara - UFMG (titular)
Secretarias Diretor de Informtica - Prof. Dr. Aires Jos Rover UFSC Diretor de Relaes com a Graduao - Prof. Dr. Alexandre Walmott Borgs UFU Diretor de Relaes Internacionais - Prof. Dr. Antonio Carlos Diniz Murta - FUMEC Diretora de Apoio Institucional - Profa. Dra. Clerilei Aparecida Bier - UDESC Diretor de Educao Jurdica - Prof. Dr. Eid Badr - UEA / ESBAM / OAB-AM Diretoras de Eventos - Profa. Dra. Valesca Raizer Borges Moschen UFES e Profa. Dra. Viviane Colho de Sllos Knoerr - UNICURITIBA Diretor de Apoio Interinstitucional - Prof. Dr. Vladmir Oliveira da Silveira UNINOVE
D598
Direito arte e literatura [Recurso eletrnico on-line] organizao CONPEDI/UFS;
Coordenadores: Daniela Mesquita Leutchuk de Cademartori, Luciana Costa Poli, Regina Vera
Villas Boas Florianpolis: CONPEDI, 2015.
Inclui bibliografia ISBN: 978-85-5505-047-3
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicaes
Tema: DIREITO, CONSTITUIO E CIDADANIA: contribuies para os objetivos de
desenvolvimento do Milnio.
1. Direito Estudo e ensino (Ps-graduao) Brasil Encontros. 2. Arte. 3. Literatura. I.
Encontro Nacional do CONPEDI/UFS (24. : 2015 : Aracaju, SE).
CDU: 34
Florianpolis Santa Catarina SC www.conpedi.org.br
http://www.conpedi.org.br/http://www.conpedi.org.br/
XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS
DIREITO, ARTE E LITERATURA
Apresentao
XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI DIREITO, CONSTITUIO E
CIDADANIA: CONTRIBUIES PARA OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO
DO MILNIO
APRESENTAO DO GRUPO DE TRABALHO DIREITO, ARTE E LITERATURA
com grande alegria que as Coordenadoras Professoras Doutoras Regina Vera Villas Bas,
Daniela Mesquita Leutchuk de Cademartori e Luciana Costa Poli apresentam os artigos que
foram expostos no Grupo de Trabalho (GT- 18)Direito, Arte e Literatura, o qual comps,
juntamente com quarenta e quatro Grupos de Trabalho, o rico elenco de textos cientficos
oferecidos no XXIV Encontro Nacional do CONPEDI, que recepcionou a temtica Direito,
Constituio e Cidadania: contribuies para os objetivos de desenvolvimento do Milnio,
realizado na cidade de Aracaju (Sergipe), nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 2015.
OXXIV Encontro Nacional do CONPEDI propiciou ampla e preciosa integrao
educacional, ao recepcionar escritos de autores oriundos de distintas localidades do territrio
nacional e, tambm,de outras naes, aproximando suas culturas e filosofias. Incentivou
estudos, pesquisas e discusses sobre os Direitos Humanos e Fundamentais, a Constituio
da Repblica Federativa do Brasil, a Cidadania, buscando contribuir com os objetivos de
desenvolvimento do milnio. Para tanto, recepcionou artigos que se referiam, notadamente,
problemtica social contempornea, envolvente de temas jurdicos importantes e atuais,o que
foi revelado por cada contedo expresso nos artigos cientficos exibidos nos variados Grupos
de Trabalhos, durante o perodo de realizao do XXIV Encontro Nacional do CONPEDI.
A presente Coordenao acompanhou a exposio dos artigos junto ao Grupo de Trabalho
(GT-18), o qual selecionou textos que trouxeram aos debates relevantes discusses sobre o
Direito, a Arte e a Literatura. Aos temas abordados nas pesquisas foram trazidos ao mundo
jurdico, a partir de clssicos do cinema, da poesia, do teatro, da msica e de obras literrias,
notadamente. Os artigos expostos apontaram polmicas de uma sociedade ps-moderna,
complexa, lquida e insegura, apresentando, em algumas ocasies, caminhos de soluo, ou
pelo menos de possibilidade de conhecimento transformador das realidades do mundo,
desafiando a efetividade dos direitos humanos e fundamentais, no contexto da sociedade
contempornea.
Foram abordadas disciplinas e matrias relevantes que trouxeram baila temas scio-
jurdicos atuais e de interesse social, entre os quais:construo da solidariedade social;
direitos da mulher; direito liberdade; direito liberdade de expresso; direito humano
dignidade; instrumentos de controle social; polticas pblicas de desenvolvimento social.
Pode-se afirmar que os textos selecionados foram construdos a partir de bases filosficas
seguras, as quais permitiram amplas reflexes a respeito da necessidade de o homem
contemporneo se preocupar com a busca dos valores de sua essncia, a partir da concepo
do conceito de dignidade que envolva o respeito ao seu semelhante, e no semelhante,
valorando o homem, o meio ambiente, a sustentabilidade e a preservao da natureza para a
presente e as futuras geraes. Valores clssicos e contemporneos como a igualdade, a
liberdade, e a fraternidade, entre outros, foram recordados no contexto da valorao da vida
saudvel e da constatao das sociedades dos riscos e das violncias.
A seguir,relaciona-se os nomes dos Autores e dos ttulos dos Artigos cientficos apresentados
no evento alguns deles produzidos em coautoria todos tratando da temtica abordada no
Grupo de Trabalho (GT 18) Direito, Arte e Literatura.Brilhantes autores levaram excelentes
textos cientficos ao XXIV Encontro Nacional do CONPEDI, merecendo todos eles os
cumprimentos pelas exibies. Todos os textos aqui assinalados compem Obra Coletiva, a
ser disponibilizada eletronicamente, com a finalidade de ampliar as reflexes sobre os temas
apresentados no evento:
NOMES DOS AUTORES E DOS RESPECTIVOS TTULOS DOS TEXTOS EXIBIDOS
NO GRUPO DE TRABALHO (GT 18) DIREITO, ARTE E LITERATURA
1 Na tercia Sampaio Siqueira
Rafael Marclio Xerez (ausente no evento)
A concretizao do direito como arte: harmonizando Apolo e Dionsio
2 - Margareth Vetis Zaganelli
Miriam Coutinho de Farias Alves
A dialtica do corpo na narrativa de Clarice Lispector: a feminilidade e os direitos da mulher
na via crucis do corpo
3 - Virna de Barros Nunes Figueiredo
A relevncia da literatura na construo da solidariedade social luz do pensamento de
Richard Rorty
4 - Ivan Aparecido Ruiz
Pedro Faraco Neto (ausente no evento)
Anlise da msica Construo: forte crtica alienao humana e (ideolgica) Teoria do
Mnimo Existencial
5 - Arthur Ramos do Nascimento
Anlise jurdica dos contratos de submisso (e dominao): consideraes sobre os direitos
de liberdade e dignidade da pessoa humana o direito contratual em Cinquenta Tons de Cinza
6 - Frederico de Andrade Gabrich
Arte, storytelling e direito
7 - Luciana Pereira Queiroz Pimenta Ferreira
Cndice Lisba Alves (ausente no evento)
Da Capitu machadiana s Capitus do sculo XXI: o lugar da mulher no intercmbio entre
direito e literatura, luz do romance Dom Casmurro
8 - Francielle Lopes Rocha
Valria Silva Galdino
Da transfobia e do estupro corretivo no filme Meninos No Choram
9Caroline Christine Mesquita
Daniela Menengoti Ribeiro (ausente no evento)
Discrmen Razovel frente Relativizao da Justia Humana: anlise do filme Deus da
Carnificina
10 - Sergio Nojiri
Roberto Cestari
Interdisciplinaridade: o que o direito pode aprender com o cinema
11 - Queila Rocha Carmona dos Santos
Alexandre Bucci(ausente no evento)
Interfaces entre direito, filosofia e cinema: uma anlise jurdico-filosfica da tica em Kant
sob a perspectiva do filme Concorrncia Desleal de Ettore Scola
12 - Juliana Ervilha Teixeira Pereira
Intermitncias da Morte: a dignidade da pessoa humana, a autonomia e o dever de viver
13 - Marcos Jos Pinto
Laranja Mecnica (o filme): anlise discursiva do controle social sobre o indivduo luz de
Michel Foucault, Pierre Bourdieu e Enrique Mar
14 - Juliana Cristine Diniz Campos
O Brasil de Peri e o advento da Repblica: a construo da ideia poltica de nao pela
literatura brasileira do sculo XIX
15 - Marcelo Dias Ponte
Zaneir Gonalves Teixeira(ausente no evento)
O centenrio da seca do Quinze: reflexes sobre a obra de Rachel de Queiroz no contexto das
polticas pblicas de desenvolvimento regional
16 - Isabela Maria Marques Thebaldi
Iana Soares de Oliveira Pena
O filme A Pele que Habito e os limites da autonomia privada nos atos de modificao
corporal: uma anlise luz do princpio da dignidade humana
17 - Joo Luiz Rocha do Nascimento
Reflexes sobre a equivocada aposta da dogmtica jurdica na manuteno o dos embargos
de declarao, o Macunama do direito brasileiro
18 - Jos Antonio Rego Magalhes
Lvia de Meira Lima Paiva (ausente no evento)
Representao e interrupo: uma discusso entre direito e teatro a partir de Walter Benjamin
e Bertold Brecht
19 - Anne Greice Soares Ribeiro Macedo
Seres de Papel figuras e rasuras ou quando o direito bate s portas da arte
19 - Renato Duro Dias
Sries de animao: dilogos entre direito, arte e cultura popular
20 - Douglas Lemos Monteiro dos Santos
Um olhar jurdico sobre as relaes intersubjetivas em A Hora da Estrela: quando o direito
vem em socorro de Macaba
21 - Leyde Aparecida Rodrigues dos Santos
Daisy Rafaela da Silva(ausente no evento)
O Leitor e O Juri: anlise jurdica da stima arte
COORDENADORES DO G.T. DIREITO, ARTE e LITERATURA
Regina Vera Villas Bas
Ps-Doutora em Direitos Humanos e Democracia pela Universidade deCoimbra/Ius Gentium
Conimbrigae.Graduada em Direito, Mestre em Direito Civil, Doutora em Direito Privado e
Doutora em Direitos Difusos e Coletivos pela Pontifcia Universidade Catlica deSo Paulo.
Professora e Pesquisadora nos Programasde Mestrado em Direitos Sociais, Difusos e
Coletivos do UNISAL- Lorena (SP)e nos Programas de Graduao ede Ps-Graduao- lato
estricto sensu em Direitos Difusos e Coletivos e em Direito Minerrio, ambos da PUC/SP.
Contato: [email protected]
Daniela Mesquita Leutchuk de Cademartori
Graduada em Histria e Direito pela Universidade Federal de Santa Maria RS (1984; 1986),
mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Santa Catarina (1993;2001) e ps-
doutorado pela UFSC (2015). Atualmente professora da graduao e ps-graduao em
Direito da Unilasalle (Canoas RS). Contato: [email protected]
Luciana Costa Poli
Professora visitante no programa de mestrado na UNESP. Doutora em Direito Privado pela
Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais. Mestre em Direito e Instituies Polticas
pela Universidade FUME/MG. Bacharela em Direito pela PUC/MG
DISCRMEN RAZOVEL FRENTE A RELATIVIZAO DA JUSTIA HUMANA: ANLISE DO FILME DEUS DA CARNIFICINA
DISCERNMENT OF REASONABLE FACE RELATIVIZATION OF HUMAN'S JUSTICE: ANALYZE THE FILM GOD OF CARNAGE
Daniela Menengoti RibeiroCaroline Christine Mesquita
Resumo
Em cada poca vivida, erigiram-se modos de se conviver em sociedade, com base nas
respectivas condies histricas e influncias culturais pungentes, que resultaram em vrias
ideias de como se viver bem em uma coletividade. Com efeito, essas experincias do passado
revelam ao mundo contemporneo a complexidade de se estabelecer uma forma de
organizao que seja benfazeja a todos, que permita haver plena Justia. Assim, o artigo se
prope a anlise do filme Deus da carnificina e sua relao com o relativismo humano. Nesse
entrelaamento entre este e aquele haver de se detectar as influncias sobre o direito na
trajetria da humanidade, buscando a compreenso do fundamento do direito no curso da
histria. Neste sentido, o presente trabalho, funda-se no mtodo investigativo da pesquisa
bibliogrfica que versa acerca da subjetividade da Justia, a qual embora tenha como base o
direito positivo, centrado no objetivismo, ratificada e efetivada pelo homem, um ser
intrinsecamente animal e imerso em seu prprio subjetivismo conflitante entre razo e
emoo. Destarte, destaca-se a aplicao da ponderao racional em detrimento do arbtrio
egostico.
Palavras-chave: Justia, Ponderao racional, Arbtrio egostico
Abstract/Resumen/Rsum
For each time lived, were erected ways to live together in society, based on their historical
conditions and poignant cultural influences, which resulted in several ideas of how to live
well in a community. Indeed, these past experiences reveal the contemporary world the
complexity of establishing a form of organization that is beneficent to all, enabling be full
justice. Thus, the article aims to analyze the film God of Carnage and its relation to human
relativism. In this entanglement between this and that will be to detect the influences on the
right in the path of humanity, seeking to understand the right of the plea in the course of
history. In this sense, the present work is based on the investigative method of literature,
deals about the subjectivity of Justice, which although based on the positive law, centered on
objectivism is ratified and executed by the man, an intrinsically Animal and immersed in his
own conflicting subjectivism between reason and emotion. Thus, there is the application of
rational weighting over the selfish will.
Keywords/Palabras-claves/Mots-cls: Justice, Rational weighting, Selfish will
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INTRODUO
Desde a antiguidade, trs grandes golpes esmigalharam a vaidade humana,
abalando o brio do indivduo e, retirando-o de sua zona de conforto, posto que, modificou a
ideia do homem sobre si mesmo. A primeira, com Nicolau Coprnico, coloca em xeque a
teoria geocetrista, desbancando a ufania de que o gnero humano estava no centro do
universo, com sua teoria heliocentrista.
Em seguida, vem Charles Darwin e mina a proposio de que os humanos so
frutos de uma criao divina, denotando que as espcies possuem uma origem comum entre as
mesmas, isto , o apogeu humano fruto unicamente de uma evoluo comum que teve como
diferencial a seleo natural da linhagem mais desenvolvidas.
Finalmente, desponta Sigmund Freud e investe o golpe de misericrdia sobre o
pundonor deste ente, o qual j se encontrava imerso naquelas angustias e conflitos existncias,
posto que afligia sua prpria dignificao. E sobre este pomo de ado que Freud solapa, ao
apontar que o homem no senhor de si mesmo, mas um mero fantoche de seu inconsciente1,
o qual tem amarras to translcidas e, mecanismos to ilusrios que ser humanos no se sente
controlado, pelo contrrio, sente que vive no exerccio de seu livre arbtrio.
1 CONSTRUO JUSTIA NA HISTRIA HUMANA
A sociedade humana, como assevera Russell Norman Champlin (2004, p.767),
abrange toda a organizao das relaes humanas, sem possuir limites ou confins
demarcativos, apresentando condutas justas e injustas identificadas pelos valores ticos e
morais, correspondentes a suas pocas. Posto que ao longo da histria da humanidade no tem
sido vislumbrado, de maneira uniforme, um determinado parmetro de conduta, como bem
apresentado pela histria da filosofia, a qual revela o deslinde dos principais impasses
vivenciados ao longo da trajetria humana e suas respectivas repercusses. Ou seja, esta a
principal norteadora da sociedade, em relao a moldar o agir de cada integrante social, posto
que ela , nos dizeres de Martin Heidegger (1979, p. 13), no apenas algo racional, mas a
prpria guarda da ratio. Desse modo, faz-se mister conceituar o vocbulo Justia e
consequentemente sua base formadora, a filosofia.
1 Segundo Ana Mercs Bahia Bock, Odair Furtado e Maria de Lourdes Trassi Teixeira (2008, p. 89): O inconsciente exprime o conjunto dos contedos no presentes no campo atual da conscincia. constitudo por contedos reprimidos, que no tm acesso aos sistemas pr-consciente/consciente, pela ao de censura interna.
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A palavra filosofia deriva-se de duas palavras gregas, philein, amar, e Sophia, sabedoria. [...] O apego sabedoria leva o homem a busc-la, e , ento que aflora o conhecimento sobre os princpios fundamentais em qualquer campo do conhecimento humano. [...] A filosofia , portanto, o saber a respeito das coisas, a direo ou orientao para o mundo e para a vida e, finalmente, consiste em especulao acerca da forma ideal de vida. (CHAMPLIN. 2004, p.767).
Contudo, Paulo-Eugne Charbonneau (1986, p. 4-5) pondera que a filosofia no
busca dar respostas invariveis e determinadas, mas aspira pela verdade2,
[...] por conseguinte, mais que se limitar a um objeto, a filosofia prefere se inquietar por uma verdade enquanto atingida por um sujeito. Para alm do objeto, o que lhe interessa o sujeito. Disso se pode concluir que inumerveis sos as respostas a que a filosofia atingiu. Entre elas podemos ressalvar trs fundamentais. A verdade que ela se esfora por atingir : interior, diferente da verdade objetiva; aproximativa, pois o homem bem mais rico que as diferentes tentativas feitas por ele prprio; pouco comunicvel, porque ela diz respeito a uma experincia. [...] Assim, estamos em condies de concluir que a filosofia no tem por finalidade um objeto conhecido ou ser conhecido; ao contrrio, seu objeto o sujeito conhecedor, que se descobre ao se construir a si prprio.
Na mesma direo est o posicionamento de Maura Inglsias (1986, p. 14-15),
quando aduz que a filosofia nasce quando as respostas dadas pela mitologia3 no satisfaziam
mais as mentes que ansiavam pela verdade dos fatos e no aceitavam mais a verdade
dogmtica autoimposta.
Giovanni Reale e Dario Antiseri (1990, p. 23) vo alm deste raciocnio ao
mencionarem as reflexes de Aristteles e Plato sobre a origem da filosofia.
[...] Como escrevia Aristteles: Por natureza, todos os homens aspiram ao saber. E ainda: Exercer a sabedoria e conhecer so desejveis pelos homens em si mesmos: com efeito, no possvel viver como homens sem essas coisas. E os homens tendem ao saber porque sentem-se plenos de admirao ou maravilham-se, dizem Plato e Aristteles: Os homens comeam a filosofar, tanto agora como nas origens, por causa da admirao: no princpio, eles ficavam maravilhados diante das dificuldades mais simples; em seguida, progredindo pouco a pouco, chegaram a se propor problemas sempre maiores.
Portanto, a filosofia motivada pela curiosidade humana e desenvolvida pela
sabedoria do homem que lana, atravs da crtica, os parmetros para toda uma gama de
2 Segundo Maria Helena Diniz (2008, p. 828) verdade aquilo que (Aristteles); realidade; perfeita adequao da inteligncia coisa ou ao ser (So Toms de Aquino); [...]. Proposio verdadeira (Leibniz); cpia ou descrio fiel. 3 Nos ditames de John Fiske (1998, p. 118), o mito uma histria, pela qual uma cultura explica ou compreende um dado aspecto da realidade ou da natureza.
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temas sociais e individuais, entre eles a prpria Justia. Dessa maneira, cumpre denotar agora
o sentido deste, o qual amplamente debatido e definido em razo de sua constante mutao.
Nesse sentido, Vicente de Paulo Barreto (2006, p. 493) sintetiza relatando que a [...] reflexo
filosfica sempre recaiu sobre a justia concebida como aspirao fundamental de uma ordem
social e jurdica. Assim concebida, a justia apresenta-se como um conjunto de critrios que
devem presidir a boa conduta.
Outrossim, Jos Ferrater Mora (1996, p. 400-401) ensina que:
A grande maioria de doutrinas e sistemas sociais e polticos traz consigo uma ideia de justia. De fato, tais doutrinas e sistemas so apresentados frequentemente como modelos para explicar por que houve no passado certas concepes de justia, por que essas concepes no so justas: e que concepo equitativa (ou justa) da justia pode-se proporcionar para substitu-las. Conservadorismo, liberalismo, socialismo, comunismo, anarquismo e outros movimentos e teorias podem ser descritos do ponto de vista de suas ideias e ideais respectivos, concernentes ideia de justia. Posto que, um dos aspectos que a questo de justia assumiu o referente ao que se supe ser devido ou ser devido a cada um.
Dessa forma, por exemplo, tem-se o cdigo de Hammurabi, datado de 1810
a.C. 1750 a.C. e, que considerava justo vingar-se por um dano infligido, sendo tal dando
reao de igual proporo a recebida, nesse sentido o seu pargrafo 196 preceitua que: Se um
awilum destruir o olho de um outro awilum, destruiro seu olho. (ROCHA. 2004, p. 87)
Por isso, Rizzatto Nunes (2007, p. 338-339) assevera que [a] justia enquanto
conceito, virtude, funo etc. e sempre foi um problema para os estudiosos13, visto esta
estar sempre em desenvolvimento e transao.
Eis a importncia de um estudo voltado para os antigos, j que seria extremamente trgico limitar a histria a uma exposio de opinies. A sabedoria humana uma soma de experincias de sucessivas geraes, sendo que a sede pelo saber foi constante, embora de tempos em tempos o processo fosse sendo realizado mais lento ou rapidamente. (BARO. 2015, p. 7276)
Do exposto, se percebe que o conceito de justia irrompeu ao longo de sua
trajetria histrica diversos parmetros de compreenso. Cumpre, ento, propiciar um resgate
dos mais influentes filsofos que contriburam, em suas pocas, para a edificao do instituto
da justia, para que assim se possa fazer uma crtica.
Inmeros so os filsofos que criaram um modo de entender como os homens
vivem ou devem viver em comunidade, em um mbito social, da maneira menos danosa uns
com os outros ou da melhor forma possvel, ou at mesmo lanando um modelo considerado
unicamente vlido, em detrimento de todos os outros.
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Buscar-se- nesse trabalho, assinalar qual critrio de justia poder ser vivel para
a sociedade contempornea. Para tanto, cumpre estudar as ideias de justia formuladas no
passado, lanando-se um olhar para trs, com o objetivo de assinalar a ideia de justia mais
adequada nos tempos atuais. Revela-se de suma importncia uma retomada histrica, com o
propsito de resgatar a construo da justia, o que possibilitar avanar neste conceito com
vigor.
Dentre os filsofos analisados, percebe-se, de maneira geral, que a justia se
alcana a partir de um pressuposto abstrato, conferido pela razo. Seja pela razo em si
mesma, pelo direito natural, pela lei de Deus, pela ideia ou pela descoberta de si mesmo.
Desse pressuposto, parte-se para a positivao, a formulao da lei dos homens e o agir
concreto.
Nota-se que o modo com que se faz essa transio, da Justia dogmtica para a
racional, perdeu-se ao longo do tempo, posto que h uma constante concatenao do racional
que se tenta interpretar pelos parmetros dogmticos, todavia, como relata Kant (2008, p. 39-
48), o pior que se possa fazer a Justia tentar deduzi-la de exemplos, os quais no podem de
modo algum, ser o que proporciona seu conceito, pois o que absoluto no reside no universo
dos dados empricos, o qual os homens esto inseridos.
O sentido de que necessrio o indivduo, a partir de seu prprio entendimento e
razo, agir peremptoriamente nos rumos que definem a Justia, deve-se tomar as rdeas de
como se organiza a sociedade e de como se relacionam os homens. Apesar de renegados, os
filsofos do perodo helenista, os quais viveram a crise das cidades-estado, contriburam
imensamente para com a descoberta do indivduo em si mesmo, desentrelaado da plis, do
Estado, possibilitando, assim, a reflexo tica para si, vlida com um sentido universalizante,
deixando de ser uma mera pea de um sistema social. na crise, a duras penas, que os
indivduos conseguiram transformar o modo como interagiam diante do coletivo.
Contudo, somente sculos depois, Kant (1985, p. 100) apresentou um sistema
filosfico baseado na liberdade individual e na autonomia da vontade, em que cada ser
humano segue um dever em si mesmo, o imperativo categrico, derivado da razo, que
apresente uma lei vlida universalmente; e para se atingir essa maturidade intelectual, com
liberdade, faz-se obrigatrio o esclarecimento dos indivduos, ou seja, a sada do homem de
sua menoridade, da qual ele prprio culpado.
Kant (2009, p. 72) foi o primeiro terico a reconhecer que ao homem no se pode
atribuir valor entendido como preo , justamente na medida em que deve ser considerado
como um fim em si mesmo e em funo da sua autonomia enquanto ser racional. A pessoa
humana est acima de todos os valores:
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O homem, e, duma maneira geral, todo ser racional, existe como fim em sim mesmo, no s como meio para o uso arbitrrio desta ou daquela vontade. Pelo contrrio, em todas as suas aces, tanto nas que se dirigem a ele mesmo como nas que se dirigem // a outros seres racionais, ele tem sempre de ser considerado simultaneamente como fim.
Em outras palavras, o homem deve ter coragem de fazer o uso de seu prprio
entendimento, sapere aude, ousar saber. No basta simplesmente ser um indivduo e buscar a
imperturbabilidade ou a menor dor em face dos outros indivduos, da maneira que os filsofos
helenistas se comportaram. Deve se fazer o uso pblico da razo, contribuir decisivamente
para a criao de leis justas e o aperfeioamento moral dos homens esclarecidos. O processo
do engajamento moral no sentido de formar uma sociedade de indivduos verdadeiramente
esclarecidos, exige certo tempo e se aperfeioa gradualmente ao longo da histria. A par
disso, acrescenta-se:
Partindo do conceito csmico de filosofia, pode-se dizer que a partir de uma filosofia da histria e de uma filosofia da religio que se pode defender publicamente a possibilidade mesma do esclarecimento, ou seja, cabe a elas afastar o dogmatismo religioso e o dogmatismo histrico, nas suas mais diversas formas, abrindo espao para se pensar legitimamente a possibilidade do estabelecimento gradual de uma comunidade moral, seja na forma poltica de uma repblica, seja na forma tica, de uma comunidade tica. (KLEIN. 2015, p. 1)
Cumpre afirmar que a concretizao de uma justia adequada aos tempos
hodiernos, necessariamente deve formar indivduos livres, autnomos e capazes de participar
da formao das leis, agindo consoante uma ponderao racional e, por consequncia,
contribuindo com uma sociedade mais justa.
2 O SURGIMENTO DO RELATIVISMO
Os sofistas, segundo Giovanni Reale (1999, p. 177-256), provocaram uma
gigantesca revoluo no mbito da filosofia. Visto que, levados pelo desmoronamento da
Grcia, em razo dos conflitos polticos internos e das guerras, os filsofos sentiram a
necessidade de mudar o foco das pesquisas filosficas. Desse modo, houve a passagem da
cosmologia para a antropologia, impulsionada pelos sofistas, com o surgimento do perodo
humanista da filosofia. Tendo estes se concentrando na problemtica, tico-poltico-educativa.
Buscando responder as necessidades da vida poltica na polis, que estava ruindo, em virtude
da falncia do sistema aristocrtico em detrimento ao democrtico, uma vez que a vida nestas
cidades exigia agora um cidado voltado s atividades poltica. O que acaba por consolidar a
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nova forma de educar, voltada para a formao do bom orador, isto , aquele que saiba falar
em publico e persuadir os outros nas goras. (CHAU. 2004, p. 1-5)
Por conseguinte, a arte do bem falar tornava-se o elemento primordial para a
definio do justo e do injusto, do caso diante da anlise da situao concreta e apreciao
imediata. Tendo como resultado dessa mudana de eixo cultural, o relativismo da moral e da
justia. E, nesse sentido, que os sofistas se esforam em manter oposio s tradies,
combatendo as definies e conceitos absolutos e inabalveis.
A principal vertente deste ideal Protgoras de Abdera, ao proferir o axioma que
o homem a medida de todas as coisas, das que so enquanto so e das que no so
enquanto no so, instaura-se assim a tese da subjetividade. (BITTAR; ALMEIDA. 2010, p.
61-88)
A relatividade do conhecimento e repudia qualquer verdade ou valor absoluto,
passando a considerar todo ponto de vista como vlido. Por conseguinte, os sofistas ditavam
aos seus alunos a seguinte lio, que ora eles deveriam assumir uma postura fundada no
dogma, outra embasada na dvida. Dado que, tais alicerces so muito prximos, todavia
paradoxais se mesclados, ou seja, ambas se contrape por seu elo. Nesse sentido, torna-se
fcil influenciar s pessoas, uma vez se utilizando de tal metodologia, pois se adapta s
circunstncias, criando uma verdade fixa e, caso haja crtica a mesma se apela sempre para o
princpio da no possibilidade de se obter uma verdade certa. Estes mestres na artimanhas do
adequar-se para vencer, arrimam tal conduta no sentido do dever negar seus princpios e
carter, em detrimento a um bem maior, neste caso, o convencimento. (HARTMANN;
CHITOLINA. 2002, p. 75-82)
Atravs destes pressupostos, notrio a forma na qual se distinguia a moral, que
era tida, igualmente, de forma relativista, posto que no existe uma norma transcendente de
conduta, pois as coisas so como cada um as v. Nesse sentido, segundo Plato (2009, p. 47),
Protgoras alega que em torno de cada coisa existem dois raciocnios que se contrapem
entre si, isto , sobre cada coisa possvel dizer e contradizer, aduzir razes que
reciprocamente se anulam. Deste modo, o objetivo de Protgoras era ensinar como possvel
sustentar o argumento mais frgil. E assim, o filsofo prosseguiu aduzindo que no se define
a essncia dos valores, mostra-se apenas as sries de razes que fazem as coisas parecerem
certas ou boas, e a outra srie de razes que as fazem parecerem erradas ou ms, posto que
esto relacionados com o til e o prejudicial ao prprio homem. (REALE. 1999, p. 177-256)
Em virtude deste panorama, os sofistas eram tidos pelos demais filsofos, a
exemplo de Scrates e Plato, como aqueles que defendiam qualquer ideia, se isso fosse
vantajoso. Portanto, eram apontados como aqueles que corrompiam o esprito dos jovens, ao
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se valerem de mentiras, e desenvolverem pensamentos falaciosos, com a inteno de enganar.
Nasce assim, o ideal de que os fins justificam os meios, pois, como pertenciam a classes
menos favorecidas, viam o enriquecimento como forma de felicidade. Dessa forma, no
importava como, seja vendendo conhecimento ou no, tudo se justificava na busca por esse
bem maior. (MASCARO. 2012, p. 38)
Dessa maneira, apesar da revoluo essncia e objetividade do valor, como
uma necessidade do contexto histrico, foi o movimento sofista que lanou as fagulhas do
relativismo humano.
Dentro do contexto do Iluminismo, Immanuel Kant, apresentou um sistema de
pensamento que serviu de base s posteriores discusses da filosofia sobre o conhecimento, a
moral, o direito e a justia, tornando-se divisor de guas na filosofia. Malgrado Kant (1984, p.
45-56) tenha tratado o ser humano no como meio para a obteno de algo, de modo
utilitarista, mas em considerar cada homem com respeito, como um fim em si mesmo,
alimentou a ruptura do ser e dever ser, pontuando que do mundo dos fatos no se conduz ao
mundo dos valores, encapsulando em sua teoria o maniquesmo j editado em Plato e
reproduzido em Agostinho.
Negando razo a possibilidade de acesso ao numenum, ao valor, essncia, e,
portanto, deixando in albis questes como tica e justia, reconhece, no domnio da razo
terica a possibilidade de conhecimento cientfico em virtude dos a priori da razo presentes
nos seres humanos, cujas habilidades podem conceber a cognio do fenomenum, da
aparncia, dos dados externos dos objetos cognoscveis. (ZENNI. 2006, p. 68-70)
Esta concepo da lei e sua validade, a que se chama positivismo, foi a que deixou
sem defesa o povo e os juristas contra as leis mais arbitrrias, mais cruis e mais criminosas.
Torna equivalentes, em ltima anlise, o direito e a fora, levando a crer que s onde estiver a
segunda estar tambm o primeiro, como revelou o holocausto vivenciado na Segunda Guerra
Mundial, que assolou o mundo. (ROCHA JUNIOR. 2015, p. 1)
Desse modo, o declnio da filosofia estiolou a Justia no direito, nos ditames de
Norberto Bobbio (1992, p. 18-82), a lei emanao estatal, entretanto o direito fixado pelo
homem. Com tais vertentes dispares, no incomum se comete atrocidades, por exemplo, a
da implantado o Tribunal de Nuremberg, o qual assumiu que o Estado no logrou xito em ser
fonte do justo ante a natureza humana e suas imperfeies, no que tange a interpretao das
leis.
Por esse contexto, denota-se que o Estado no conhece excees de gnero
validade das leis nem ao preceito de obedincia que os cidados lhes devem, sendo assim a lei
vale por ser lei, e lei sempre que, como na generalidade dos casos, tiver do seu lado a fora
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para se fazer impor. Esta concepo da lei e sua validade, a que se chama positivismo, foi a
que deixou sem defesa o povo e os juristas contra as leis mais arbitrrias, mais cruis e mais
criminosas. Torna equivalentes, em ltima anlise, o direito e a fora, levando a crer que s
onde estiver a segunda estar tambm o primeiro, como revelou o holocausto vivenciado na
Segunda Guerra Mundial, que assolou o mundo. (ROCHA JUNIOR. 2015, p. 1)
Dessa forma, como frisa Gustav Radbruch (1997, p. 16-25) para se enfrenta o
problema das antinomias entre os trs valores que associa ideia de direito: a justia, a
segurana jurdica e o bem comum , muitas vezes, necessrio ponderar se uma lei m,
nociva ou injusta dever ainda ser reconhecida como vlida por amor da segurana do direito
ou, ao contrrio, se, por virtude da sua nocividade ou injusta, tal validade lhe dever ser
recusada. Contudo, exorta o povo e os juristas a ter profundamente gravado na sua
conscincia um ponto decisivo: pode haver leis tais, com um tal grau de injustia e de
nocividade para o bem comum, que toda a validade e at o carter de jurdicas no podero
jamais deixar de lhes ser negados.
Destarte, deve-se reconhecer a existncia de princpios fundamentais de direito
que so mais fortes do que todo e qualquer preceito jurdico positivo. Admite que esses
princpios - que alguns chamam de direito natural e outros de direito racional - tm os
seus pormenores envoltos em grandes dvidas, face a natureza do homem e seu
sentimentalismo, que muitas vezes tolhe o direito sobre o pretexto de uma ponderao
racional, contudo seus atos no passaram de mera conduta arbitraria e eivada de egosmo
primitivo e intrnseco. (RADBRUCH. 1999, p. 55-57)
O direito moderno trai a jurisprudentia porquanto talhado segundo a vontade
uniforme do querer poltico do Estado suposto na arbitrariedade do lder (dspota). Com esse
modus operandi a autoridade do jurista foi suplantada pela vontade do poder soberano em
ambio decisionista.
No obstante, em razo da humanizao, ps Segunda Guerra Mundial, ocorre o
resgate protetivo do princpio da dignidade humana, ganha-se a interpretao de que o
indivduo o centro da existncia dos Estados, e do relacionamento internacional entre eles.
Sendo assim, mesmo que a soberania do Estado seja algo que deve ser velado, no podendo
ser imposto a este a submisso de uma ordem jurdica que no anuiu previamente. Contudo
caso esta positivao diga respeito a dignidade humana ser considerada um jus cogens, em
outras palavras um costume internacional mnimo que resguarde o individuo lhe fornecendo o
essencial para mantena de sua vida digna. (COSTA; MESQUITA. 2015, p. 1)
Para os relativistas, a noo de direito est estritamente relacionada ao sistema poltico, econmico, cultural, social e moral vigente em determinada sociedade. Sob esse prisma, cada cultura possui seu prprio discurso acerca
175
dos direitos fundamentais, que est relacionado s especficas circunstncias culturais e histricas de cada sociedade. Nesse sentido, acreditam os relativistas, o pluralismo cultural impede a formao de uma moral universal, tornando-se necessrio que se respeitem as diferenas culturais apresentadas por cada sociedade, bem como seu peculiar sistema moral. (PIOVESAN. 2010, p. 153)
Sob este aspecto, R. J. Vincent (VINCENT. 1986, p. 37-38) sustenta que as regras
sobre a moral variam de lugar para lugar, pois se enquadram ao contexto cultural em que se
apresentam, absorvendo as reivindicaes morais, as quais so si mesmas a fonte de validade
daquelas. Portanto, no h moral universal, j que a histria do mundo a histria de uma
pluralidade de culturas e, neste sentido, buscar uma universalidade, ou qui o princpio da
universalidade clamado por Kant, como critrio para toda moralidade, uma verso
imperialista de tentar fazer com que valores de uma determinada cultura seja gerais.
Importante, ainda, a contribuio de Jack Donnelly (DONNELLY. 2003, p. 349), o
qual frisa que uma das diferenas chaves entre a moderna concepo ocidental de dignidade
humana e a concepo no ocidental se atm em muito ao elemento do individualismo
constante da concepo ocidental. Os direitos relativos aos indivduos tendem, obviamente, a
ser mais individualsticos em sua realizao e efeitos que os direitos concernentes a grupos.
Assim, quando estes direitos situam-se em um nvel bsico, esse individualismo reflete a
inexistncia quase que completa de reivindicaes sociais. Dessa forma, nas democracias
liberais do mundo ocidental, o titular primeiro de direitos a pessoa humana, havendo um
perptua e obsessiva preocupao com a dignidade do ser, seu valor, autonomia e propriedade
individual. Contudo, a partir de uma perspectiva islmica, ao se voltar unicamente a dignidade
individual perde-se a noo do risco de se por em xeque a dignidade da comunidade.
A essas crticas reagem os universalistas, alegando que a posio relativista revela o esforo de justificar graves casos de violaes dos direitos humanos que, com base no sofisticado argumento do relativismo cultural, ficariam imunes ao controle da comunidade internacional. Argumentam que a existncia de normas universais pertinentes ao valor de dignidade humana constitui exigncia do mundo contemporneo. (PIOVESAN. 2010, p. 156)
A incongruncia destas correntes convergiu para a criao de um meio termo para
ambos os lados, o que ocorreu em 25 de junho de 1993, na Declarao de Viena (BRASIL.
2015, p.1), a qual em seu Ttulo I, artigo 5 estipula que:
Todos os direitos humanos so universais, indivisveis interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma global, justa e equitativa, em p de igualdade e com a mesma nfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em considerao, assim como diversos contextos histricos, culturais e religiosos, dever dos Estados promover e proteger todos os
176
direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemas polticos, econmicos e culturais.
Destarte, compreendeu-se finalmente que a universalidade enriquecida pela
diversidade cultural, e esta jamais pode ser invocada levianamente para justificar a denegao
ou violao dos direitos humanos. Em com base nestas ponderaes que Boaventura de Sousa
Santos36 defende uma concepo multicultural de direitos humanos, inspirada no dilogo
entre as culturas, a compor um multiculturalismo emancipatrio, visto que est a
precondio de uma relao equilibrada e mutuamente potenciadora entre a competncia
global e a legitimidade local, que constituem os dois atributos de uma poltica contra-
hegemnica de direitos humanos. O que culminaria na derrocada dos debates sobre
universalismo e relativismo cultural, a partir da transformao cosmopolita dos direitos
humanos. Na medida que todas as culturas possuem concepes distintas de dignidade
humana, mas so incompletas, haver-se-ia que aumentar a conscincia dessas incompletudes
culturais mtuas, como pressuposto para um dilogo intercultural, que formataria uma
concepo multicultural dos direitos humanos.
3 UMA ANLISE CASUSTICA: DEUS DA CARNIFICINA
Deus da carnificina, filme de autoria de Roman Polanski, uma releitura da
pea teatral Le dieu du carnage de Yasmina Reza, que retrata a reunio de dois casais que se
encontram no apartamento de um deles para conversar sobre a briga entre seus filhos.
Contudo, o que era para ser uma simples e rpida discusso se transforma num julgamento
generalizado e moralista de todos por todos, que vence quem tem mais argumentos, operando
o arsenal falacioso do encolerizar o adversrio4 para triunfar.
De incio percebe-se que todos os personagens so civilizados, at que a partir de
uma viso hilria, uma tarde qualquer que se transforma na mais profunda, exaustiva e
angustiante troca de ofensas entre seres humanos, relativizando-se a noo de justia, moral e
tica, pois, o importante vencer a discusso, provando-se a superioridade moral do
vencedor.
Penelope, me do garoto que apanhou, defensora do senso de comunidade.
Ela quer corrigir o mundo, de maneira que as pessoas se importem umas com as outras, que a
4 Segundo Arthur Schopenhauer (1997, p. 140-141): "Provoca-se a clera do adversrio, para que, em sua fria, ele no seja capaz de raciocinar corretamente e perceber sua prpria vantagem. Podemos incitar sua clera fazendo-lhe algo francamente injusto, vexando-o ou tratando-o com insolncia".
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guerra da frica afete a todos no Planeta Terra, que as crianas sejam educadas para no se
tornarem delinquentes. Assim, posiciona suas aes em um cdigo moral pr-estabelecido, de
valores superiores aos quais a vida deve se adequar, sentindo-se superior aos outros.
J a personagem Nancy, me do garoto que bateu, inicialmente, parece mais
emptica fala de Penelope e docilmente aceita as suas sugestes. Contudo, mostra a sua
verdadeira faceta depois de algumas discordncias e doses de whisky. Com o desenroladar da
histria, denota-se que a mesma no se importa com os valores coletivos, com a famlia ou
com a casa, priorizando e valorizando o consumismo e as aparncias, e adotando uma posio
individualista. (BARBOSA. 2015, p. 1)
Allan, esposo de Nancy e pai do menino que comete a agresso, parece corroborar
com o posicionamento da esposa, j que no se importa com o senso de comunidade, no
parece ter nenhuma empatia pelos outros, sejam pelos pais da criana que apanhou de seu
filho, ou mesmo os consumidores de um medicamento que coloca em risco milhares de
pessoas, e cujo laboratrio defende juridicamente, sem nenhum pudor, com o auxlio de todo
o seu cinismo. Ele nem queria estar ali, j que considera esta conversa inteiramente
inoportuna, ante a magnificncia de seu trabalho, e sem propsito, pois estima que o
acontecido faz parte das relaes infantis. Afinal, ele e o pai da outra criana envolvida j
foram lderes de gangues em suas infncias e j brigaram vrias vezes com outros garotos.
(D'ARCADIA. 2015, p. 1)
Assim, descarta os valores coletivos e adota valores individualistas, como o
dinheiro e a performance profissional, chegando a ironizar a ocupao de Michael, marido de
Penelope, que vende descargas de privada. Outro ponto, que apoia estas constataes que
ele s presta ateno em seu celular, em razo de ser o objeto que o liga ao seu trabalho, ao
seu sucesso profissional e financeiro. Por esta, no se importa com o filho, que chama de
marginal, nem com a mulher. Allan passa a participa mais ativamente da conversa quando
afronta Penelope, cujos valores ele recusa e despreza. (BARBOSA. 2015, p. 1)
Por fim, Michael, marido de Penelope, j no aguenta mais os rompantes
politicamente corretos da mulher, mas tambm no se interessa por sucesso profissional ou
econmico. Ele medocre, e decididamente no quer sair disso, eis que no precisa de
valores, necessitando apenas que o deixem em paz, simplesmente, no quer avaliar nada. Ele
subordina a vida ao relativismo, pois para ele, tanto faz, tudo se equivale: o bom e o ruim so
a mesma coisa. A sua vida no ser pior ou melhor, porque tudo relativo. Assiste a tudo,
como se a sua vida no lhe concernisse. Sendo a melhor soluo ao caso abrir um whisky, e
deixar que as coisas se resolvam por si prprias. (D'ARCADIA. 2015, p. 1)
178
As crianas, envolvidas na briga, s aparecem no incio e no fim do filme, sem
que saibamos o que dizem. No incio, vemos uma movimentao num parque, em seguida, a
briga, e, no fim, voltamos ao mesmo parque da primeira cena, e os dois garotos brincam
juntos, como se nada tivesse acontecido. Talvez tenham conversado, talvez brigado de novo,
talvez simplesmente deixaram para l. Eles no precisam da moral e dos seus valores. Eles
criam os valores na hora em que as situaes da vida se apresentam, e resolvem tudo assim.
Esto, como diria Nietzsche, para alm do bem e do mal. Enquanto os seus pais se
exaurem ao longo de um julgamento mtuo no ar viciado de um apartamento, eles deixam o
ar livre do parque provocar a crueldade e trazer o esquecimento. Sem julgamento nem
moralismo. Eles so capazes de ser cruis, mas tambm so capazes de esquecer. E a vida
que segue, sem maiores sequelas ou querelas.
CONSIDERAES FINAIS
O desafio deste trabalho foi analisar o filme Deus da carnificina sob o contexto
da relativizao da justia, tica e moral, consequentemente, suas influncias na vida prtica
do ser humano, posto que, muitas vezes a humanidade recorre a vias obliquas para satisfazer
sua vaidade egostica, a qual camufla em um discurso cnico moralista.
Buscou-se desenvolver uma construo do relativismo, partindo dos pr-
socrticos, os quais no so considerados por muitos estudiosos como relativistas, at
desembocar em Gustav Rardbruch, passando por Kant, que foi um divisor de guas para o
relativismo moderno.
Logo, a partir desta contextualizao, surge a problemtica da relativizao sem a
devida ponderao racional. Posto que, separando-se esta daquela, consequentemente, se
despontar atrocidades como as de outrora. Em razo, da subjetividade da justia, a qual
embora tenha como objeto o direito positivo, centrado no objetivismo, , contudo, ratificada e
efetivada pelo homem, um ser intrinsecamente animal, mas que pode querer e vir a superar
tais impulsos pelo seu lado racional. Portanto, embora as leis sejam fixas quem as mede e
aplica um ser fundamentalmente imerso no subjetivismo humano, visto ser um ser em
conflito constante entre a razo e o sentimentalismo.
Nesse sentido, tendo em vista que o relativismo afeta o mago do ser, isto ,
qualquer intruso, por menor que seja, machucar sobremaneira a estrutura psquica e fsica
do homem, causando-lhe uma abalo existencial, o qual tem como subterfgio o inconsciente,
mascarando a cruel realidade. Sendo este, somente, acessvel, por meio dos esforos e
179
coragem do prprio ser, o qual atravs do conhecimento e entendimento deste trauma, passa a
corrigi-lo se libertando das amarras do inconsciente o que prende ao egocentrismo como
forma de defesa.
Portanto, o indivduo deve, valentemente e constantemente buscar se auto
conhecer e reconhecer seus erros e acertos no mundo que esta inserido, visto que uma das
principais caracterstica da sociedade humana sua historicidade, posto que esta se reconstitui
e se reformula conforme a necessidade da humanidade.
Assim, atravs deste trabalho, espera-se lanar fomentar a discusso do universo
do inconsciente humano, buscando a insero de uma nova viso histrica do direito, a qual
evidencie a construo do relativismo humano, conferindo, assim, subsdios academia para
um olhar mais crtico sobre a justia, a tica e a moral.
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