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Analise do filme Os Miseráveis No início do século XIX, na França, Jean Valjean (Liam Neeson) rouba um pedaço de pão e é injustamente condenado a prisão e a marginalidade. Após cumprir 19 anos com trabalhos forçados, Jean Valjean é acolhido por um piedoso bispo, que lhe dá comida e abrigo. Mas havia tanto rancor na alma de Valjean que no meio da noite rouba a prataria e agride o seu anfitrião. Valjean é preso pela polícia e diz que recebeu os objetos como um presente, é levado até o bispo que confirma a história e ainda pergunta por qual motivo ele esqueceu os castiçais, que devem valer pelo menos dois mil francos. Podemos extrair certa visão antropológica de Vitor Hugo: O homem não nasceu mau, ele foi levado para isso. Por não ter escolhas a fazer, alguns nem mesmo tiveram direito à preferência pessoal. As pessoas não são simplesmente más, elas são declaradas assim, elas se transformam naquilo que lhes constroem. O personagem Jean Valjean foi compelido circunstancialmente para aquele crime sem que fosse realmente criminoso, mas apenas um miserável modificado socialmente pela situação imposta, confirmando assim a caricatura que lhe atribuíram. Apesar disso ele tinha antes da condenação humanidade que voltaria a possuí-la mais tarde. Em uma sociedade muito afastada da "liberdade, igualdade e fraternidade" o bispo lhe dá a chance de ser igual e livre.

Analise do filme Os Miseráveis

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Analise do filme Os Miseráveis

No início do século XIX, na França, Jean Valjean (Liam Neeson) rouba

um pedaço de pão e é injustamente condenado a prisão e a marginalidade.

Após cumprir 19 anos com trabalhos forçados, Jean Valjean é acolhido por um

piedoso bispo, que lhe dá comida e abrigo. Mas havia tanto rancor na alma de

Valjean que no meio da noite rouba a prataria e agride o seu anfitrião. Valjean

é preso pela polícia e diz que recebeu os objetos como um presente, é levado

até o bispo que confirma a história e ainda pergunta por qual motivo ele

esqueceu os castiçais, que devem valer pelo menos dois mil francos.

Podemos extrair certa visão antropológica de Vitor Hugo: O homem não

nasceu mau, ele foi levado para isso. Por não ter escolhas a fazer, alguns nem

mesmo tiveram direito à preferência pessoal. As pessoas não são

simplesmente más, elas são declaradas assim, elas se transformam naquilo

que lhes constroem. O personagem Jean Valjean foi compelido

circunstancialmente para aquele crime sem que fosse realmente criminoso,

mas apenas um miserável modificado socialmente pela situação imposta,

confirmando assim a caricatura que lhe atribuíram. Apesar disso ele tinha antes

da condenação humanidade que voltaria a possuí-la mais tarde. Em uma

sociedade muito afastada da "liberdade, igualdade e fraternidade" o bispo lhe

dá a chance de ser igual e livre.

Pode-se perceber que antes de ser preso Valjean era uma homem que

buscava o bem de sua família. A pena injusta fez com que ele mudasse seus

atos tornando-se impiedoso.

Este gesto extremamente nobre do religioso devolve a fé que aquele

homem amargurado tinha perdido. Ele se torna prefeito e principal empresário

em uma pequena cidade mas sua paz acaba quando Javert, um guarda da

prisão que segue a lei inflexivelmente, desconfia de que o prefeito é o ex-

prisioneiro que nunca se apresentou para cumprir as exigências do livramento

condicional. A penalidade para esta falta é prisão perpétua, mas ele não

consegue provar que o prefeito e Jean Valjean são a mesma pessoa.

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Uma das empregadas de Valjean é despedida, se vê obrigada a se

prostituir, pois tem uma filha que é cuidada por terceiros e precisa sustentá-la.

Levando uma vida moribunda Fantine contraiu tuberculose e chegou a ser

espancada nas ruas, onde nem mesmo os policiais a defendem e acaba sendo

presa. Seu ex-patrão descobre o que acontecera, usa sua autoridade para

libertá-la e a acolhe em sua casa, pois ela está muito doente.

Valjean sente-se obrigado a revelar sua identidade para evitar que um

prisioneiro, que acreditavam ser ele, fosse preso em seu lugar. Deste momento

em diante Javert volta a persegui-lo.

Antes de morrer, Fantine pede que Valjean cuide da sua filha Cosette

(Claire Danes) e ele sentiu ter o dever moral de fazê-lo, assumindo a

responsabilidade sobre a menina. Cosete levava uma vida miserável e é

adotada pelo protagonista da trama. Perseguido pelo implacável Javert, pai e

filha escondem em um convento e passam anos livres da perseguição até que

a criança, agora moça, pede para mudar dali.

Fora dos muros religiosos, o tempo passa e a menina Cosette apaixona-

se profundamente por Marius, um jovem e carismático revolucionário. Em plena

revolução de 1832, a busca incansável de Jean Valjean pela redenção alcança

seu clímax quando ele escolhe sacrificar sua liberdade para salvar o grande

amor de Cosette.

As modificações comportamentais de Jean Valjean servem como uma

crítica às crenças da época onde os pobres estavam condenados a

marginalidade, pois não possuem bens materiais e nem culturais. Sem poder

algum, os pobres estavam à margem da sociedade, e condenados a isto, não

poderiam regenerar-se.

Os Miseráveis, portanto, traz claramente a filosofia política de Victor

Hugo. É um mundo onde há cooperação - e não luta - entre as classes; onde o

empreendedor desempenha um função essencialmente benéfica para todos;

onde o trabalho é a via principal de aprimoramento pessoal e social; onde a

intervenção estatal por motivos moralistas - seja do policial ou do revolucionário

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obcecado pela justiça terrena - é um dos principais riscos para o bem de todos

que será gerado espontaneamente pelos indivíduos privados.

Javert é um homem perseverante, obstinado e frio que vive sob a égide

inabalável de princípios e ideais, a ponto de ser sufocado pelas consequências

emocionais de seus próprios atos, inspetor de primeira classe da polícia de

Paris, não suporta o confronto que lhe desencadeou o conflito que o deixou

agonizante diante da escolha entre a própria consciência e as vozes do dever.

Ao deparar-se com a presença, humanizada, de Jean Valjean que inclusive lhe

poupara a vida quando poderia tê-la ceifado, vê descortinar, de modo

incontornável algumas obviedades conflitantes.

Então quase paralisado - pois havia sido adestrado para a cega

obediência ao dever, a norma, ao código, à lei - constata: “Existe então alguma

coisa acima do dever. ” Nada poderia desconcertar, desestruturar tanto aquele

homem que sempre viveu pela lei e pela justiça quanto “ver-se obrigado a

confessar isto: a infalibilidade não é infalível, o dogma pode conter erros, o

código não é completo, a sociedade não é perfeita, a autoridade pode vacilar,

os juízes são homens, a lei pode enganar-se, os tribunais podem errar!” Javert

constata, atônito, a falibilidade da lei. Da justiça dos homens. Só lhe importava

“ser irrepreensível”. Ser humano pouco lhe importava. Porque de um lado

estava sua consciência e do outro o dever e, ainda mais, temendo deixar de

ser irrepreensível, não suporta a impotência de não lidar com estes fenômenos

humanos comuns a todos nós, como a dúvida, a angústia, a incerteza, entrega-

se a um ato de coragem. Ou de covardia?

Javert não consegue libertar-se da lei cega e encontra no suicídio a

única forma de fazer o que realmente é correto que é fazer justiça em sua

essência verdadeira. Para Javert, era impossível conceber o aspecto jurídico-

filosófico do Direito. Faltou-lhe coragem para até mesmo agir em desacordo

com a letra da lei, para resgatar o espírito original do Direito que é um meio ou

um instrumento a serviço do homem e não um fim em si. A equidade é a

expressão concreta da prática da Justiça, é considerada um valor superior no

qual todas as normas devem se espelhar.