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1. ANÁLISE DO MERCADO DE TURISMO NO BRASIL A. INTRODUÇÃO O Brasil presenciou dois acontecimentos nos últimos anos que, definitivamente, serão lembrados no futuro como transformadores do turismo como atividade econômica e como produto de consumo no país: o crescimento econômico robusto e ter sido escolhido para sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas. A partir de 2005, o país presenciou a combinação de boas condições macroeconômicas, mudanças no perfil social e demográfico, crescimento do PIB e melhor distribuição de renda, o que tem resultado em nível de emprego recorde e aumentos ano a ano do crédito e do consumo das famílias. A demanda por turismo, que por muitos anos foi latente, transformou-se em real, com crescimentos significativos e consistentes em todos os indicadores de consumo, a ponto de superar a intenção de consumir eletrônicos. Pesquisa Nielsen sobre intenção de gastos, citada pelo jornal O Estado de S. Paulo em 13 de Novembro de 2011, mostra que a prioridade do brasileiro para gastar dinheiro no fim deste ano é com viagens (29%), acima de roupas (26%) e eletrônicos (25%). Em paralelo ao bom momento macroeconômico, em outubro de 2007 a FIFA anunciou o Brasil como a sede da Copa do Mundo de 2014. Exatamente dois anos depois, o Rio de Janeiro é escolhido a cidade sede para os Jogos Olímpicos de 2016. Será a quarta vez que um único país sediará esses dois megaeventos no mesmo período, e a segunda vez para um país em desenvolvimento. Estes são considerados divisores de águas para a imagem do país no exterior, com o Brasil se credenciando mundialmente como um país capaz de gerar, convergir e coordenar recursos para promover o maior campeonato do esporte mais popular do mundo e o maior encontro de atletas do planeta. Os resultados já aparecem - no último relatório “2011-2012 Country Brand Index, da Future Brand, a “marca” Brasil subiu 10 posições entre 2009 e 2011, passando à 31ª numa lista de 113 países, registrando o maior crescimento dentre os 50 que lideram a lista. Para materializar esses projetos e ao mesmo tempo suprir a demanda crescente resultante do desenvolvimento econômico, inicia-se um período de investimentos significativos em infraestrutura, também descritos neste documento, que devem durar quase uma década. Dessa forma, a infraestrutura, até então um limitante ao crescimento da demanda turística apesar do desenvolvimento econômico, pode tornar-se um impulsionador, graças aos preparativos para os dois megaeventos. Se estes forem bem executados, o turismo para o Brasil terá condições de mudar definitivamente.

Análise do mercado de turismo no brasil

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Page 1: Análise do mercado de turismo no brasil

1 . A N Á L I S E D O M E R C A D O D E T U R I S M O N O B R A S I L

A . I N T R O D U Ç Ã O

O Brasil presenciou dois acontecimentos nos últimos anos que, definitivamente, serão lembrados no

futuro como transformadores do turismo como atividade econômica e como produto de consumo no

país: o crescimento econômico robusto e ter sido escolhido para sediar a Copa do Mundo e as

Olimpíadas.

A partir de 2005, o país presenciou a combinação de boas condições macroeconômicas, mudanças

no perfil social e demográfico, crescimento do PIB e melhor distribuição de renda, o que tem

resultado em nível de emprego recorde e aumentos ano a ano do crédito e do consumo das

famílias. A demanda por turismo, que por muitos anos foi latente, transformou-se em real, com

crescimentos significativos e consistentes em todos os indicadores de consumo, a ponto de superar

a intenção de consumir eletrônicos. Pesquisa Nielsen sobre intenção de gastos, citada pelo jornal O

Estado de S. Paulo em 13 de Novembro de 2011, mostra que a prioridade do brasileiro para gastar

dinheiro no fim deste ano é com viagens (29%), acima de roupas (26%) e eletrônicos (25%).

Em paralelo ao bom momento macroeconômico, em outubro de 2007 a FIFA anunciou o Brasil como

a sede da Copa do Mundo de 2014. Exatamente dois anos depois, o Rio de Janeiro é escolhido a

cidade sede para os Jogos Olímpicos de 2016. Será a quarta vez que um único país sediará esses

dois megaeventos no mesmo período, e a segunda vez para um país em desenvolvimento. Estes

são considerados divisores de águas para a imagem do país no exterior, com o Brasil se

credenciando mundialmente como um país capaz de gerar, convergir e coordenar recursos para

promover o maior campeonato do esporte mais popular do mundo e o maior encontro de atletas do

planeta. Os resultados já aparecem - no último relatório “2011-2012 Country Brand Index”, da Future

Brand, a “marca” Brasil subiu 10 posições entre 2009 e 2011, passando à 31ª numa lista de 113

países, registrando o maior crescimento dentre os 50 que lideram a lista.

Para materializar esses projetos e ao mesmo tempo suprir a demanda crescente resultante do

desenvolvimento econômico, inicia-se um período de investimentos significativos em infraestrutura,

também descritos neste documento, que devem durar quase uma década.

Dessa forma, a infraestrutura, até então um limitante ao crescimento da demanda turística apesar do

desenvolvimento econômico, pode tornar-se um impulsionador, graças aos preparativos para os

dois megaeventos. Se estes forem bem executados, o turismo para o Brasil terá condições de

mudar definitivamente.

Page 2: Análise do mercado de turismo no brasil

B . C O N T E X T O S O C I A L E M A C R O E C O N Ô M I C O

O Brasil dispõe de uma quantidade e variedade de recursos naturais singulares, com reservas

ambientais protegidas, praias e florestas, além de um território largamente inexplorado e a preços

acessíveis, do ponto de vista dos padrões internacionais.

A situação geopolítica mostra-se também favorável. A implantação da democracia e o

funcionamento das instituições são plenos, o que é positivo para as decisões de investimento

estrangeiro. As autoridades têm visado transmitir tranqüilidade à comunidade internacional através

da célere resolução das questões relacionadas com a segurança. A instalação de Unidades de

Polícia Pacificadora (UPPs) em diversas comunidades carentes do Rio Janeiro é um exemplo da

preocupação em reduzir os níveis de violência nos principais centros urbanos nestes anos que

precedem os dois grandes eventos.

Adicionalmente, a população Brasileira atravessa um período de acentuada mudança demográfica,

social e econômica. Após mais de duas décadas de baixo aproveitamento do potencial de

desenvolvimento do país, os últimos anos vêm sendo caracterizados por um acentuado crescimento

econômico, num quadro de assinalável estabilidade, que nem o impacto da maior crise financeira

mundial desde 1929 conseguiu debilitar.

Este fenômeno vem se sustentando na melhoria da educação e qualificações, no crescimento da

população economicamente ativa e no aumento da renda disponível, bem como na redução da

desigualdade social através da melhoria na distribuição de renda. Neste contexto, amplia-se o

mercado de consumo interno, agora dominado por uma renovada classe média, simultaneamente

mais instruída e com maior poder aquisitivo discricionário, o que a torna mais propensa ao consumo

de produtos de cultura e lazer e potencializa o Brasil como pólo emergente de turismo.

Fatores sociais e demográficos

Em consonância com os restantes mercados emergentes de referência, como a Índia ou a China, o

Brasil apresenta hoje uma estrutura etária jovem e em mutação. Segundo dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a idade média atual da população brasileira é de 29

anos, o que se compara com os 37 anos da América do Norte e os 40 anos da Europa. Números do

censo demográfico de 2010 mostram que a população atingiu nesse ano os 191 milhões de

habitantes, após uma taxa de crescimento anual composta de 1,9% na década que terminou em

1990, 1,5% na década que terminou em 2000 e 1,2% na década que terminou em 2010. Este

crescimento continua a ser superior ao verificado nos países desenvolvidos, com a União Européia

crescendo apenas 0,1% em 2010 e os EUA com um aumento populacional previsto de 1% para

2011, segundo o CIA World Factbook.

Page 3: Análise do mercado de turismo no brasil

A expansão demográfica que se vem verificando deverá desacelerar nas próximas décadas, com os

números do IBGE mostrando que, no longo prazo, a população do Brasil poderá fixar-se em torno

dos 215 milhões, conforme demonstrado na tabela acima. O IBGE estima que o crescimento vá se

situar na taxa composta de 0,8% ao ano até 2020. Por outro lado, prevê um aumento da esperança

média de vida na próxima década, de 73 anos em 2010 para 76 anos em 2020. Esta estabilização,

em conjunto com a juventude patenteada pela estrutura etária e com o incremento da esperança

média de vida, abrirá espaço para o chamado bônus demográfico. Estudo realizado pelo instituto

Insper e publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo em 02/01/2010 indicou que o Brasil já possuía

um bônus demográfico em 2009, com uma média de 2 adultos para cada dependente (crianças e

idosos). Segundo este mesmo estudo, o bônus demográfico brasileiro deverá continuar crescendo

até 2020, quando atingirá seu auge, com adultos representando cerca 70% da população. Nesses

10 anos, as condições demográficas para o crescimento econômico do país são consideradas as

melhores possíveis.

Ao mesmo tempo, parece atenuar-se o perfil tradicionalmente desigual do país. Segundo o Instituto

de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o coeficiente de Gini (gráfico abaixo), que permite avaliar o

desequilíbrio na distribuição de renda, caiu de 0,60 em 1995 para 0,54 em 2009. Na União Européia,

situou-se, em 2009, nos 0,30, segundo dados do CIA World Factbook. Adicionalmente, vem

melhorando o nível educacional da população brasileira. Segundo o IBGE, de 1995 a 2009 o

número médio de anos de escolaridade passou de 5,2 para 7,2 para os brasileiros com mais de 25

anos de idade.

Page 4: Análise do mercado de turismo no brasil

A existência de um bônus demográfico em conjunto com o aumento real e melhor distribuição de

renda deverão potencializar o consumo interno, constituindo assim per se em relevantes fatores de

sustentação do crescimento econômico futuro.

Cenário macroeconômico

No seguimento da recente crise financeira, que em 2009 arrastou o crescimento econômico global

para terreno negativo pela primeira vez em muitas décadas, o caminho da recuperação, ainda que

abaixo do esperado, deverá ser razoável. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que se

situe em torno dos 4%, em 2011 e 2012 (“World Economic Outlook”, Setembro/2011).

Ainda assim, a recuperação continua a efetuar-se a duas velocidades: os mercados desenvolvidos

em nítido processo de estagnação e os mercados emergentes descolando de forma robusta. Nos

primeiros, a generalizada transferência de alavancagem do setor privado para o público conduziu a

níveis insustentáveis de endividamento dos governos, forçando os mesmos a reverter as políticas de

relaxação e estímulo econômico que haviam lançado inicialmente. A correção destes fatores será

necessariamente lenta e penosa, uma vez que o crescimento econômico potencial permanece

reduzido. Já nos mercados emergentes, a situação fiscal e financeira mais favorável que vigorava

antes do eclodir da crise, em conjunto com o crescimento do mercado de consumo interno, o que

compensa a diminuição dos fluxos de comércio internacionais, torna muito mais fácil o movimento

de ajustamento. Assim, um dos desafios das autoridades residirá na capacidade de evitar o

sobreaquecimento das respectivas economias.

Page 5: Análise do mercado de turismo no brasil

O Brasil vem sendo justamente um dos grandes motores do forte crescimento econômico observado

nos mercados emergentes. A diversidade de recursos naturais, a sofisticação da estrutura

empresarial, a crescente e mais qualificada força de trabalho e o quadro de reforço das relações

com grandes potências importadoras, como a China, vêm impulsionando a economia. Segundo o

IBGE, o PIB aumentou 7,5% em 2010, o maior crescimento desde 1986, atingindo 3,7 trilhões de

reais. Desde o lançamento do Plano Real em 1994, o país vem se beneficiando de um quadro de

estabilidade política, fiscal e monetária resultante da combinação positiva de inflação controlada,

redução das taxas de juros e equilíbrio da balança de pagamentos. Somados a isso, a estabilidade

institucional e o respeito aos contratos têm se consolidado no Brasil, e hoje são considerados como

diferenciais em relação aos outros países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul),

favorecendo investimentos externos.

Segundo estimativas do FMI, pouco mais de duas décadas decorridas desde o lançamento do Plano

Real, o PIB real do Brasil terá mais do que duplicado em 2016, conforme se observa no gráfico

abaixo. A economia Brasileira cresceu a uma taxa anual composta de 1,6% na década de 1980 a

1990, 2,5% na década de 1990 a 2000 e 3,6% na década de 2000 a 2010. Apesar das recentes

revisões para baixo, o FMI estima que o crescimento do PIB brasileiro se situe sempre acima dos

3,5% nos próximos 5 anos.

Page 6: Análise do mercado de turismo no brasil

Segundo o Banco Central do Brasil (BCB), o consumo foi o principal responsável por este

assinalável desempenho econômico, potencializado pela melhoria das condições de crédito e pelo

elevado valor dos Índices de Confiança do Consumidor (ICC) e da Indústria (ICI), publicados

mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que permanecem na zona de otimismo e

expansão há cerca de dois anos.

A continuidade da evolução favorável do mercado de trabalho tem sido o principal pilar de

sustentação do consumo interno. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

(CAGED), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), registrou-se em 2010 a criação líquida de

2,1 milhões de empregos formais. Desde 2003, a taxa de desemprego nas seis regiões

metropolitanas (Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo) reduziu-

se em mais de metade, de 10,9% para 5,3% no final de 2010, o menor nível histórico já medido pela

pesquisa.

Page 7: Análise do mercado de turismo no brasil

Com o desemprego próximo da taxa natural, existe competição acrescida pela mão-de-obra,

especialmente a mais qualificada, o que se traduz na inflação dos salários, num ciclo virtuoso de

sustentação do mercado de consumo. Esse efeito vem estimulando um movimento massivo de

imigração de médios e altos quadros provenientes de países desenvolvidos. Adicionalmente, as

grandes áreas metropolitanas, e nomeadamente São Paulo, vêm se convertendo de forma cada vez

mais acentuada em pólos centralizadores de atração de negócios na região e no mundo.

A grande vantagem deste processo de transformação reside no fato de se desenrolar em paralelo à

profunda transformação do padrão de classes sociais. A busca de um caminho de redução da

desigualdade na distribuição de renda, a melhoria das qualificações e nível educacional da

população e o seguimento de programas de transferência por parte do governo abriram caminho ao

surgimento de uma nova classe média. No ano de 2009, segundo a FGV, a Classe C passou a

representar mais de metade da população total pela primeira vez na história do país.

Page 8: Análise do mercado de turismo no brasil

Um estudo do Instituto Data Popular mostra que, contrariamente ao que acontece na Classe A, em

que apenas 10% dos elementos possuem qualificação superior à da geração de seus pais, na

Classe C esse número sobe para cerca de 70%. Esta deixará de ser encarada como apenas mais

um segmento para se converter no foco central do próprio mercado, já que o seu crescimento e

predomínio beneficiam tanto a demanda quanto a oferta. De fato, os participantes da Classe C não

só assumirão o seu papel de consumidores como também se tornarão estratégicos nas decisões de

investimento das empresas no Brasil, ao se tornarem mais exigentes na seleção dos produtos,

buscando itens cada vez mais sofisticados.

Poder aquisitivo e consumo

O promissor aumento da base de consumo interno no Brasil vem sendo potencializado e amplificado

por três relevantes alavancas: o aumento da renda per capta, a melhoria na distribuição de renda e

a democratização do crédito, o qual vem crescendo na direção dos padrões internacionais.

A primeira e a segunda alavanca traçam, respectivamente, a semelhança e a diferença entre o

desempenho nacional e o da generalidade das grandes potências emergentes. A renda média

mensal real da população Brasileira com 10 anos ou mais de idade, obtida através da Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2004-2009, aumentou acumuladamente 24% no

período de 5 anos em análise - o dobro do crescimento alcançado pelo PIB per capita - em sentido

contrário ao que se observa em países como a China ou a Índia. Este movimento foi impulsionado

por uma aproximação das classes de renda inferior às de renda superior. Segundo dados da PNAD

2001-2009, o décimo inferior de população aumentou a sua renda disponível com uma taxa anual

composta de quase 7%, o que compara com o crescimento de 1,5% do décimo superior, indo ao

encontro da idéia de reforço da classe média, que constitui a referência primária para o consumo.

Uma das principais ameaças à continuação do processo de expansão da renda real no futuro diz

respeito à possibilidade de incremento da inflação nos próximos anos. Esse foi durante décadas um

dos principais bloqueadores do crescimento econômico Brasileiro, e a sua estabilização, pilar

fundamental do lançamento do Plano Real e um dos fatores que mais contribuiu para o atual cenário

de expansão vivenciado pelo país.

Page 9: Análise do mercado de turismo no brasil

Neste sentido, desde a adoção pelo BCB do Regime de Metas de Inflação em 1999 e, mais

enfaticamente, desde que em 2002 o câmbio quase atingiu 4 reais por cada dólar dos EUA, com o

IPCA cotando-se nos 12,5%, o Banco Central do Brasil (BCB) vem perseguindo uma política de forte

contenção da inflação. A recuperação e estabilização da economia Brasileira vêm permitindo a

entrada de capitais externos, conduzindo o câmbio a um máximo de quase 1,5 reais por cada dólar

dos EUA em 2008. A inflação encontra-se desde 2005 contida na banda de 4 pontos percentuais em

torno da meta de 4,5% definida pelo BCB, i.e., entre 2,5% e 6,5%, embora nos anos de 2008 e 2010

tenha se aproximado do limite superior em função do aquecimento do consumo interno.

Segundo o BCB (“Focus – Relatório de Mercado”, 18/11/2011) a expectativa do mercado é de que a

inflação continue abaixo dos 6,5% para os anos de 2011 e 2012, embora próximo ao limite superior

da banda.

Beneficiada pela estabilidade e confiança dos agentes econômicos, surge a segunda alavanca do

consumo: a democratização do crédito. Exercendo influência no consumo das famílias e nas

decisões de investimento das empresas, a trajetória de gradual redução da taxa referência SELIC

tem impulsionado este fenômeno. Adicionalmente, a bancarização do país é crescente, como se

ilustra na figura abaixo, com a duplicação do número de contas correntes desde 2001 e o

incremento da capilaridade das instituições financeiras. O acesso ao crédito é cada vez menos

dispendioso e a prazos mais alargados.

Page 10: Análise do mercado de turismo no brasil

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) projeta a continuação dessa tendência,

dos atuais 46% para cerca de 70% do PIB em 2014. De acordo com os números do Banco Central

Europeu (BCE), o total de empréstimos do sistema financeiro representava, no final de 2010, 116%

do PIB na França, 119% na Alemanha e 185% na Espanha. Em todos os países referidos, o crédito

à Pessoa Física já é superior a 50% do PIB, ao passo que no Brasil não atingiu ainda os 20%.

De 2001 a 2010, o crédito concedido em percentagem do PIB cresceu a uma taxa anual composta

de cerca de 5% para pessoa jurídica, e de cerca de 10% para a habitação e Pessoas Físicas. Houve

também uma maior sofisticação nos produtos oferecidos pelas instituições financeiras, que

passaram a proporcionar um leque mais amplo de alternativas, expandindo garantias e seguros.

Segundo um estudo da LCA Consultores, a evolução na penetração de crédito teria sido

responsável por cerca de 40% do crescimento econômico do Brasil nos últimos 6 anos. Em suma, o

consumo das famílias, que representa mais de 60% da economia e que vem sendo alavancado pelo

surgimento da nova classe média emergente, pelo aumento generalizado das rendas e pela

expansão da disponibilidade de crédito, constitui o grande motor do crescimento Brasileiro,

conforme se pode constatar na figura abaixo. Desde 2004, o PIB cresceu 28%, ao passo que o

consumo das famílias avançou acumuladamente 37%, dados do BCB. Na medida em que o eixo de

gravidade de consumo desce das Classes A e B para as Classes C e D, cada unidade monetária

marginal de renda converte-se num valor superior de consumo.

Page 11: Análise do mercado de turismo no brasil

C . M E G A E V E N T O S – C O P A 2 0 1 4 E O L I M P Í A D A S 2 0 1 6

Como agentes catalisadores do cenário otimista que vem se desenhando para o setor de turismo no

Brasil, surgem os dois megaeventos a se realizar nos próximos anos: a Copa do Mundo FIFA em

2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016.

Esta será a quarta vez que um país é sede de ambos os eventos no mesmo período, e apenas a

segunda vez em um país em desenvolvimento.

Após o anúncio dos dois megaeventos, o país ganhou visibilidade internacional que se reflete em

vários setores. Em 2010, por exemplo, houve 50 shows internacionais no país, e em 2011 o

calendário contava com mais de 100, segundo reportagem da revista Época de 16/09/2011.

Copa 2014

Segundo estudo da Ernst & Young (“Brasil Sustentável- Impactos Socioeconômicos da Copa 2014”,

publicação em 2010), a Copa realizada na Alemanha em 2006 atraiu 3,4 milhões de expectadores

aos estádios, gerou 5 milhões de pernoites de turistas locais e estrangeiros, 18 milhões de visitas às

áreas de lazer circundantes e estimativa de mais de 26 bilhões de telespectadores acumulados. Na

África do Sul em 2010, estima-se um total 30 bilhões de telespectadores. Segundo o mesmo estudo,

a edição Brasileira deverá atingir números ainda superiores, e estima-se que o fluxo receptivo no

país durante todo o ano de 2014 será 50% maior do que foi em 2010, alcançando 7,8 milhões de

turistas estrangeiros.

A Copa de 2014 no Brasil será realizada em 12 cidades sede – um número elevado em relação ao

padrão para Copas do Mundo – trazendo grande exposição externa para estas cidades brasileiras.

Entretanto, o fator que deverá trazer maior impacto nos fluxos turísticos doméstico e receptivo serão

os elevados investimentos que o país vai realizar em infraestrutura e qualidade dos serviços

turísticos, fruto dos preparativos para o evento.

Page 12: Análise do mercado de turismo no brasil

De acordo os diversos estudos já efetuados sobre o tema, por instituições como o Ministério do

Turismo e a Fundação Getúlio Vargas, há boas possibilidades de potencialização dos investimentos

efetuados, através de um efeito multiplicador sobre a atividade econômica, não só devido ao efeito

de investimento direto público e privado como também através de uma cadeia de efeitos indiretos e

induzidos, desde que seguidas as medidas e procedimentos adequados.

Estudo do Ministério dos Esportes em parceria com a empresa de consultoria Value Partners

(“Impactos econômicos da realização da Copa de 2014”, Março/2010) estima que a Copa gere um

impacto direto de R$ 9,5 bilhões ao turismo, através dos 600 mil turistas estrangeiros que virão,

gerando divisas de R$ 3,9 bilhões, e 3,1 milhão de turistas nacionais, gerando R$ 5,5 bilhões. Esse

estudo estima investimentos diretos que impactam o turismo em mais de R$ 47 bilhões, e um

impacto total sobre o PIB brasileiro de mais de R$ 180 bilhões.

Dos R$ 47,5 bilhões em impacto direto, os investimentos em infraestrutura somam R$ 33 bilhões,

representando aproximadamente 70% do total. Turismo e Consumo respondem pelos R$ 14,5

bilhões restantes, conforme gráfico abaixo:

Page 13: Análise do mercado de turismo no brasil

Parte significativa dos investimentos em infraestrutura civil será destinada aos estádios, incluindo 6

reformas de grande porte e a construção de 6 novos, totalizando R$ 6,3 bilhões:

Mesmo antes da realização da copa, os impactos na imagem brasileira como país hospedeiro de

eventos esportivos já podem ser sentidos. Segundo a revista Exame de novembro/2011, utilizando

dados da Sport+Market, a aproximação dos dois megaeventos fez com que o número de feiras e

eventos relacionados ao esporte quintuplicasse, passando de 30 em 2010 para os 148 previstos

para 2011.

Além dos impactos diretos e indiretos dos investimentos, existem diversos benefícios intangíveis,

mas que influenciam positivamente os fluxos turísticos:

Page 14: Análise do mercado de turismo no brasil

Fortalecimento da imagem brasileira como um pólo turístico, com infraestrutura adequada, bons produtos e serviços turísticos e capacidade organizacional para receber grandes eventos internacionais;

Salto de qualidade dos produtos e serviços oferecidos por todos os prestadores da cadeia turística, particularmente nas cidades sede;

Criação e/ ou reforço da imagem de atratividade para turismo das cidades sede e suas regiões ao nível internacional, pela exposição na mídia e pelo “boca-a-boca” dos turistas, contribuindo para descentralizar o fluxo receptivo e incrementar o interno;

Aumento do nível de “cosmopolização” das cidades sede, contribuindo para torná-las locais mais receptivos aos turistas estrangeiros.

Olimpíadas 2016

Ao contrário da organização de uma Copa do Mundo, onde várias cidades sede passam por um

salto em investimentos e exposição, as Olimpíadas têm o propósito de converter uma única cidade

sede numa metrópole mundialmente conhecida e admirada, estabelecendo um novo

posicionamento da cidade na rede global de turismo. Essa foi a estratégia adotada por Barcelona,

Sidney e Beijing.

Segundo o estudo ”Plano Aquarela 2020”, publicado em 2009 pelo Ministério do Turismo, estima-se

que as Olimpíadas de Sidney levaram ao país um número adicional de 1,7 milhão de turistas entre

1997 e 2004, que gastaram mais de US$ 3,4 bilhões. Além disso, a marca “Austrália” avançou o

equivalente a 10 anos. O estudo também cita um relatório elaborado em 1998 onde consta que

45% dos norte-americanos viajantes em potencial se diziam mais propensos a visitar a Austrália nos

próximos quatro anos como resultado direto da escolha de Sidney para sediar as Olimpíadas.

A estimativa calculada pela Beijing Olympic Economic Research Association é de que cerca de 600

mil turistas viajaram de fora da China e de que cerca de 2,5 milhões deles das mais diversas regiões

chinesas durante os jogos. Ainda é esperado um crescimento de 8% a 9% na quantidade de turistas

em Pequim no período 2009-2018.

Segundo o Plano Aquarela Brasil 2020, estima-se que os jogos de 2012 em Londres devam gerar

ganhos da ordem de US$ 3,4 bilhões (câmbio de julho/2011) para o Reino Unido.

Para o caso brasileiro, um estudo da FIA encomendado pelo Ministério dos Esportes (“Estudo de

impactos socioeconômicos potenciais da realização dos jogos olímpicos na cidade do Rio de Janeiro

em 2016”, setembro/2009) aponta a estimativa de chegada de 380 mil visitantes estrangeiros ao Rio

durante as Olimpíadas em 2016, que devem gastar em hospedagem, alimentação, comércio e

serviços em torno de US$ 152 milhões. É esperado, além disso, um impacto considerável na

imagem da cidade e na sua atratividade como pólo de turismo de lazer e de negócios.

D . O F E R T A E D E M A N D A D O S E T O R D E T U R I S M O

Nos últimos anos, uma convergência de fatores positivos macroeconômicos, demográficos e

socioeconômicos criou as condições para que uma demanda latente se materializasse numa

explosão de consumo turístico, refletida nas viagens domésticas, ao exterior, desembarques

Page 15: Análise do mercado de turismo no brasil

nacionais, ocupação hoteleira, aluguel de veículos e outros. Segundo dados IPC Target, o potencial

de consumo para despesas de viagens no Brasil teve aumento médio composto de 25% ao ano,

entre 2003 a 2010, quando alcançou R$ 36 bilhões. Além disso, a o crescimento da economia

impulsiona também o turismo de negócios interno e o receptivo, com a crescente quantidade de

eventos de negócios locais e internacionais realizados no Brasil.

Naturalmente, o mercado não é composto só por demanda, e a oferta de serviços e produtos

turísticos tem aumentado tanto em quantidade como em qualidade ao longo dos últimos anos. Neste

sentido, infraestrutura é um limitante ao crescimento. A iniciativa privada tem contado com um

crescente esforço governamental para coordenar ações nas áreas de financiamento, suporte à

qualidade da gestão, formação de mão de obra e visibilidade do Brasil no exterior.

Como mostraremos nos próximos tópicos, o momentum da demanda turística deve continuar forte

nos próximos anos, inclusive com os impulsos dos megaeventos de 2014 e 2016, que deverão

deixar um legado significativo na oferta de infraestrutura, produtos e serviços turísticos e visibilidade

nacional no exterior.

A indústria do turismo no Brasil ainda tem uma participação direta no PIB baixa se comparado a

outros países, de acordo com dados do Euromonitor e FMI:

Fluxos turísticos

A demanda turística contempla três fluxos turísticos, descritos em função do sentido que possuem

em relação às fronteiras do país:

Fluxo doméstico refere-se às movimentações turísticas com origem e destino dentro do Brasil (A);

Fluxo internacional emissor refere-se às movimentações de turistas com origem no Brasil com destino o exterior (B);

Fluxo internacional receptivo refere-se às movimentações de turistas com origem em outros países e com destino o Brasil (C).

A

B

C

Page 16: Análise do mercado de turismo no brasil

Fluxo turístico doméstico

O mercado turístico doméstico tem crescido sistematicamente, sustentando a demanda em

momentos em que a conjuntura externa apresentou-se desfavorável.

O número de viagens domésticas é um dos indicadores do vigor da demanda turística e tem

crescido nos últimos anos a uma taxa média anualizada de 6%. Para os próximos anos, o MTur e

FGV, no estudo “Turismo no Brasil, 2011- 2014”, consideram três cenários para o processo de

crescimento, desenvolvimento e de melhoria da competitividade turística no período de 2010-2014.

O mais favorável – “acelerado” (C1); o intermediário – “moderado” (C2); e o de menor crescimento –

“inercial” (C3).

Pela alta correlação entre as viagens domésticas e o desenvolvimento econômico, os cenários C1 e

C2 resultam nas mesmas projeções para o volume das viagens domésticas. Apenas no caso de

crescimento inercial é que as viagens perderiam ritmo.

Um importante indicador do vigor do fluxo turístico doméstico é o desembarque de passageiros nos

aeroportos brasileiros, que tem crescido a uma taxa anualizada média de 12%. Conforme demonstra

o gráfico abaixo, mesmo o crescimento esperado para o cenário mais otimista projetado pelo MTur

(C1), subestimou o número de desembarques ocorridos em 2010, indicando uma resposta mais

sensível deste indicador às condições econômicas favoráveis no ano.

Page 17: Análise do mercado de turismo no brasil

Outro setor de destaque é o de cruzeiros marítimos. Embora não seja totalmente um fluxo

doméstico – dos 793 mil turistas na temporada 2010/2011, 12,5% foram estrangeiros – o número de

cruzeiristas que viajam no Brasil cresceu a um taxa média composta de 34% ao ano nos últimos 6

anos, segundo estudo da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar) e FGV Projetos.

Dos brasileiros, 61% são do estado de São Paulo.

Outro setor que reflete o crescimento da demanda (doméstica e receptiva internacional) é o

hoteleiro, onde, segundo estudo do BNDES sobre perspectivas do setor no Brasil, tem mostrado

aumento na taxa de ocupação nos últimos anos, após um período pressionado pela retração da

demanda e, em alguns dos principais destinos turísticos do país, pelo excesso de oferta promovido

pela intensa construção de apart-hotéis. Outro índice com crescimento acentuado é o RevPAR

(revenue per available room) – índice que combina taxa de ocupação e valor da diária média paga.

Page 18: Análise do mercado de turismo no brasil

Fluxo turístico internacional emissivo

O crescimento econômico brasileiro e o consequente aumento da renda discricionária das famílias,

descritos anteriormente, também impulsionam o fluxo de turistas brasileiros para o exterior, que tem

sido amplificado consideravelmente pela valorização do real em relação ao dólar nos últimos anos.

Segundo Business Monitor International (BMI) no seu relatório “Brazil Tourism Report Q3 2011”, em

torno de 5,6 milhões de brasileiros deveriam viajar em 2011 ao exterior. Em 2010, cada turista

brasileiro gastou em média US$ 2.610 no exterior, quase três vezes mais que o gasto médio de um

turista estrangeiro no Brasil, totalizando US$ 14,6 bilhões. Esse número pode refletir os gastos com

compras desproporcionalmente maiores realizados pelos turistas brasileiros.

Em 2010, 44% dos turistas brasileiros que foram para o exterior tiveram como destino países da

América Latina, especialmente a Argentina, refletindo alto grau de intercâmbio comercial e das

ofertas de produtos de turismo dirigidos para o país vizinho.

Page 19: Análise do mercado de turismo no brasil

Fluxo Turístico Internacional Receptivo

A entrada de turistas estrangeiros no Brasil atingiu um patamar em 2005, manteve-se estável até

2009 e deu sinais de iniciar uma recuperação em 2010. O ritmo dessa recuperação depende em

parte da atratividade turística do Brasil, tanto em lazer como para negócios, e também da qualidade

dos serviços e infraestrutura. O MTur e FGV projetam 3 cenários para o crescimento do fluxo

receptivo até 2014, baseados em projeções da taxa de câmbio, crescimento do PIB mundial, fluxo

turístico internacional e assentos oferecidos.

No lado da atratividade brasileira, os seguintes fatores são geralmente apontados entre aqueles que

defendem a perspectiva de cenário mais otimista:

O Brasil é um país com reconhecidas belezas naturais e também com crescentes atrativos culturais, culinários e de lazer em geral;

O país sediará um número crescente de eventos esportivos, culturais e de negócios nos próximos 5 anos;

O governo, através do MTur, tem aumentado seus esforços de promoção e de comunicação do turismo no exterior.

As metas contidas no Plano Aquarela 2020 do MTur contemplam um crescimento de 113% entre 2010 e 2020 para a chegadas de turistas ao país.

Page 20: Análise do mercado de turismo no brasil

No entanto, apesar da expectativa positiva, dados da Organização Mundial do Turismo e do MTur

indicam que, com os 4,8 milhões de turistas estrangeiros recebidos em 2009, o Brasil ficou na 45ª

colocação mundial, atrás de países como Turquia (7º lugar), Malásia (9º), México (10º) e Áustria

(11º), e empatado com a Argentina, apesar das diferenças em tamanho geográfico e populacional

entre os dois países.

Dessa forma, o Brasil ainda tem um longo caminho para se aproximar dos níveis de países como a

Argentina, Chile, México e África do Sul, conforme demonstrado abaixo.

Page 21: Análise do mercado de turismo no brasil

Outro indicador do grande espaço para crescimento são as divisas geradas pelo setor no Brasil, que

o WTTC estima em US$ 6,58 bilhões em 2011, nos colocando apenas no 42º lugar num ranking de

181 países, para uma economia que é a 7ª no mundo atualmente.

Quanto a destino, houve uma desconcentração no fluxo de passageiros internacionais nos principais

aeroportos brasileiros nos últimos anos, embora modestos. De 2003 a 2010, segundo relatórios da

Infraero, Guarulhos passou de 70% para 65% dos passageiros internacionais, enquanto Brasília

passou de praticamente nada a 1,3%, Manaus de 0,4% para 1,0%, Confins de 1,0% para 1,9% e

Porto Alegre de 1,7% para 2,8%.

Prestadores de Serviços

A prestação de serviços turísticos no Brasil ainda é considerada uma atividade com grande nível de

informalidade. O Sistema de Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos – Cadastur – tem

apresentado um crescimento consistente no número de prestadores, reflexo da obrigatoriedade do

cadastro a partir de 2008. Em 2009, havia 36.846 prestadores cadastrados, um aumento de 6%

sobre o ano anterior.

Em termos de emprego, o IPEA estima uma queda lenta, mas contínua, no nível de informalidade

para o setor, saindo de 59% em 2002, para 57% em 2009. Neste período, a participação da

ocupação do turismo na economia passou de 2,0% para 2,3%.

Em 2008, segundo o IPEA, os empregos em turismo estavam divididos na seguinte forma:

40% em transportes;

33% em alimentação;

13% em alojamentos;

5% como auxiliares de transporte;

5% em Empresas de Turismo e;

4% em outros.

Segundo a 7ª Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo (Pacet), as 80 maiores

Empresas de Turismo no país faturaram em 2010 R$ 42,8 bilhões e empregaram 96 mil pessoas.

Segundo a mesma pesquisa, para o período entre 2004 e 2010 (com exceção de 2009) as

empresas pesquisadas reportaram aumentos de receita de um ano para o outro entre 15% e 30%.

A cadeia de valor turística engloba diversos participantes: fornecedores de produtos de turismo,

operadoras e consolidadoras, outras Empresas de Turismo, clientes corporativos e físicos,

corretoras de câmbio, bancos, operadoras de cartão de crédito e seguradoras, que formam um elo

conforme o diagrama abaixo:

O caráter de intermediação de serviços que caracteriza boa parte da cadeia de valor do turismo

indica que a consolidação vertical apresenta grande potencial de ganhos tanto em eficiência –

Cias aéreas,

hotéis etc.

Consolidadoras

e Operadoras

Agências de

turismo Clientes

Corretoras de câmbio

Bancos, cartões de crédito e seguradoras

Bancos, cartões de crédito e seguradoras

Page 22: Análise do mercado de turismo no brasil

menos interfaces, refletindo em menores custos – quanto em qualidade do serviço – maior controle

sobre todos os elos da cadeia, do prestador de serviço ao canal que tem contato com o cliente final.

Empresas de Turismo

É uma indústria bastante pulverizada no Brasil, com 12.784 empresas cadastradas em novembro

de 2011 no Cadastur – sistema do MTur de cadastro de pessoas físicas e jurídicas que atuam no

turismo – sendo a grande maioria micro ou pequenas empresas. Essa fragmentação as torna, em

geral, o elo mais fraco na cadeia de valor, já que a maioria dos demais participantes constitui-se por

segmentos com alta concentração, proporcionando uma assimetria a favor do poder de barganha

dos outros elos diante das Empresas.

Fornecedores das Empresas de Turismo

o Cias aéreas: setor altamente concentrado, com o quase duopólio Gol e TAM;

o Hotéis: setor com concentração crescente, onde cadeias nacionais e estrangeiras, com

maior acesso a crédito, avançam na sua participação de mercado;

Agências consolidadoras: setor não tão concentrado quanto o de cias aéreas, mas cujos

participantes têm poder de barganha muito superior às outras categorias de Empresas de

Turismo, com melhor acesso aos bancos, seguradoras, corretoras de câmbio e até nas Cias

Aéreas.

Bancos, cartões de crédito e seguradoras: setores concentrados e com tendências a

acentuação. Empresas de menor porte tendem a ter dificuldades para levantar recursos junto

aos bancos ou negociar taxas de intermediação com cartões de crédito;

Corretoras de câmbio: indústria também em processo de consolidação, com grandes empresas

estrangeiras entrando no mercado brasileiro através de aquisições;

Clientes

o Cliente final pessoa física: aumento do poder de barganha sobre as Empresas pelo

crescimento das alternativas online de turismo e acesso direto aos fornecedores de

serviços turísticos (turistas independentes), além da crescente fragmentação da

demanda, que dificulta o acesso à segmentação mercadológica;

o Clientes corporativos: segmento com margens declinantes para as Empresas devido ao

tamanho dos clientes e pelo serviço ser cada vez mais negociado em áreas de

compras mais agressivas.

Esse ambiente competitivo favorece um movimento de concentração das Empresas de Turismo, que

seria uma contrapartida ao menor poder individual, possibilitando mais poder de barganha na

negociação com bancos, operadoras, fornecedores turísticos e clientes corporativos.

Outra possibilidade de ganhos é através da consolidação horizontal, onde Empresas que atendem

distintos segmentos e geografias se unem. Embora bem menos frequente, essa configuração

possibilita atingir vários segmentos da demanda turística, que valorizam abordagens e serviços

específicos, reduzindo flutuações sazonais na receita e ineficiências nas interfaces, além de

possibilitar fluxos “internos”, onde certas regiões agem como emissoras de turistas, que serão

servidos também por receptivos pertencentes ao mesmo grupo.

Pode-se esperar também uma verticalização no setor, com empresas agregando mais de um elo da

cadeia, como, por exemplo, unir operadoras, consolidadoras e outras Empresas de diversos

segmentos de atuação com corretoras de câmbio, corretoras de seguros, entre outros. Nesse caso o

ganho principal seria nas interfaces entre cada elo da cadeia e no maior controle sobre a qualidade

do serviço como um todo.

Segundo pesquisa do MTur, no primeiro semestre de 2011 as Empresas de Turismo reportaram

uma expansão dos negócios em 70%, sendo que 76% dessas Empresas planejavam investimentos

Page 23: Análise do mercado de turismo no brasil

para o segundo trimestre, refletindo o bom momento atual e o otimismo para o curto prazo.

Entretanto, segundo outro estudo do MTur sobre hábitos de consumo do turista em 2009, dos que

compraram serviços de turismo, apenas 24,5% os fizeram através de Empresas, indicando um

grande potencial de penetração.

A região Sudeste concentra 48% das Empresas registradas, seguida pela região Sul com 22%,

Nordeste com 16%, Centro-Oeste com 9% e Norte com 5%. Essa distribuição reflete o peso das

regiões como emissores de turistas no país.

Há vários subsegmentos de Empresas de Turismo em função da motivação principal do viajante ou

da sua posição na cadeia de valor; entretanto, muitas atendem a mais de um segmento como forma

de minimizar sazonalidades na demanda e também como forma de otimizar estruturas de

atendimento e vendas. A seguir, vamos apresentar em breve descritivo de cada um desses

subsegmentos.

Agências de Turismo Receptivo

Por definição, não trabalham com a emissão de turistas para outras localidades. Restringem-se à

recepção de viajantes e em atividades complementares como reserva de hotéis, tickets para shows

e eventos, transportes de passageiros e realização de passeios turísticos no destino, sendo parte

importante nos fluxos turísticos doméstico e receptivo internacional. Algumas Empresas de maior

porte fecham acordos diretamente com Empresas emissoras nos respectivos países e repassam

alguns serviços para as chamadas Receptivas, que organizam apenas translados e passeios.

A sazonalidade da demanda no turismo de lazer torna bastante flutuante a receita para essas

empresas, sendo agravada nos casos onde a dependência do fluxo receptivo estrangeiro é grande.

A diversificação geográfica – atendendo fluxos com sazonalidades complementares – e por

segmento – mercado corporativo e eventos de negócios – é uma alternativa de crescimento para as

receptivas.

Agências Corporativas

Empresas focadas no mercado corporativo, com volume maior de transações mas com margens

menores. Algumas empresas oferecem serviços adjacentes às viagens, como gestão do fluxo de

viagens para a empresa cliente – caso da Flytour – ou a organização dos eventos corporativos –

caso da Belvitur.

Segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagem Corporativas (Abracorp), em 2010

aproximadamente 75% do faturamento do setor veio da emissão de passagens aéreas. Entretanto,

o segmento que mais cresce é o de viagens de incentivos e eventos.

Agências exclusivas para o Governo

Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, citando o Sistema Integrado de Administração Financeira do

Governo Federal (Siafi), os gastos do governo federal no primeiro trimestre de 2011 com viagens e

deslocamentos de funcionários somou R$ 122 milhões. Esse subsegmento tem atraído a atenções

de algumas Empresas que atendem exclusivamente o governo. Entretanto, é um segmento

competitivo, cujo ciclo de contratação é longo e sob licitação.

Agências focadas em Turismo Educacional e Intercâmbio

Page 24: Análise do mercado de turismo no brasil

Neste caso, o público alvo é o turista cujo objetivo principal é aprimorar seu conhecimento sobre

outros idiomas, culturas ou obter conhecimento específico em cursos curriculares ou não. As vendas

são consultivas, demandando nível de treinamento de pessoal acima da média do setor. Além disso,

Empresas são de porte médio para grande, pois exige capacidade de coordenação com equipes de

apoio nos vários países envolvidos nos intercâmbios.

O número de brasileiros em cursos no exterior tem crescido a uma taxa anual média de 26%,

segundo a Belta. Em 2005 contava-se pouco mais de meia centena, ao passo que para 2011 a Belta

estima que sejam ultrapassados os 200 mil. As principais Empresas de intercâmbio são a CI e a

STB, com mais de 60 lojas cada, a Experimento com 28 lojas e a World Study com 16 lojas.

Segundo o Valor Econômico, o faturamento das empresas do setor cresceu 40% entre o primeiro

semestre de 2010 e o de 2011.

Agências de Turismo de Aventura e Ecoturismo

Segmento onde os produtos são direcionados aos viajantes cuja motivação é de aventura (com

algum nível de risco controlado) de caráter recreativo e também produtos onde a preocupação em

não agredir o meio ambiente é primordial.

Segundo estudo da Euromonitor International (“Travel and Tourism Global Overview”, março/2011),

a categoria de turismo que mais vai crescer globalmente entre 2010 e 2015 será a de turismo a

parques nacionais.

Agências Consolidadoras

Estas são Empresas que consolidam serviços junto às cias aéreas e repassam às Empresas de

menor porte, que não são credenciadas para este fim.

Operadoras

Diferentemente das outras Empresas de turismo, as operadoras em geral não mantém contato nem

comercializam com o cliente final, o turista, mas somente com os fornecedores de serviços e

produtos turísticos. Elas adquirem os serviços, elaboram pacotes e os disponibilizam para as

Empresas de Turismo para que sejam comercializados. Entretanto, algumas desenvolvem canais de

venda no varejo, como lojas físicas ou canal eletrônico (internet) de vendas.

Segundo a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), no seu Anuário 2011,

estima-se que seus 86 associados comercializaram 85% dos pacotes turísticos no Brasil 2010 e

transportaram aproximadamente 4,8 milhões de viajantes, gerando vendas conjuntas de R$ 7,6

bilhões. Pelas estatísticas da Braztoa, o mercado brasileiro total de operadoras teria,

consequentemente, gerado vendas de aproximadamente R$ 8,9 bilhões em 2010.

Algumas operadoras utilizam lojas como canal de vendas no varejo para seus produtos. O uso de

sistemas de franquias acelera expansão das lojas, mas pode trazer riscos pela redução do controle

sobre o próprio canal de vendas.

Organizadores de Feiras e Eventos

O setor de empresas organizadoras de eventos é caracteristicamente pulverizado e informal,

composto por 90% de micro ou pequenas, segundo a Associação Brasileira das Empresas de

Eventos (ABEOC). Não há estatísticas confiáveis sobre o setor, mas, segundo o “Anuário Brasileiro

das Promotoras e Organizadoras de Eventos”, em 2008 havia 6 mil empresas organizando 319 mil

eventos/ano no país, nem todos relacionados ao turismo.

Page 25: Análise do mercado de turismo no brasil

Além disso, há uma grande diversidade em tamanhos, desde empresas iniciadas por ex-

funcionários que passam a organizar os eventos corporativos para o antigo empregador, até

grandes como a Reed Exhibitions Alcantara Machado, joint venture constituída em 2007, que

segundo seu presidente, espera realizar 42 feiras em 2011 e 2012, com investimentos de R$ 100

milhões. Em 2011 suas feiras hospedarão 6 mil expositores e receberão 4 milhões de visitantes. A

empresa, que informa ter faturado US$ 150 milhões no Brasil em 2010, ainda segundo seu

presidente, tomou a decisão estratégica de diversificar geograficamente, e deve destinar pelo menos

25% dos seus negócios para o Nordeste nos próximos anos.

Fornecedores do Setor de Turismo: Meios de Hospedagem

Diferentemente dos meios de transporte, a hotelaria está inteiramente vinculada à demanda

turística. Os meios de hospedagem se compõem por hotéis, pousadas e hospedarias, que prestam

serviços basicamente para os vários segmentos de turistas.

Segundo estudo setorial do BNDES, o mercado brasileiro de hotelaria tem baixa concentração,

sendo que os 20 maiores grupos de hotelaria por quantidade de quartos, que administram mais de

500 hotéis, ofertam apenas 19% das unidades habitacionais hoteleiras.

Relatório da Hotel Investment Advisors (HIA) e da Horwath HTL, citados em estudo do BNDES em

agosto de 2007, afirma que existiam no Brasil 7.153 hotéis e flats em 2007, totalizando 359 mil

quartos. Já em julho de 2010, segundo estudo publicado pela Jones Lang Lasalle Hotels, “Hotelaria

em números Brasil 2010”, havia 9.524 hotéis e flats no país (incluindo condo hotéis), totalizando 441

mil quartos. Segundo documento do MTur, estão previstos investimentos de R$ 1,9 bilhão em

hotelaria até Copa de Mundo de 2014 e um crescimento anual de 7% para o número total de

estabelecimentos hoteleiros no período.

Uma característica importante do fluxo turístico doméstico é o fato, capturado em uma pesquisa da

FIPE em 2007, de que a maioria dos turistas brasileiros em viagens de lazer hospeda-se em casa

de amigos ou parentes, sendo que apenas 23% hospedaram-se em hotéis. No turismo de negócios,

por outro lado, a penetração dos hotéis é bem maior, tendo atingido 60% dos viajantes.

Page 26: Análise do mercado de turismo no brasil

Assim, a segmentação da demanda em 2009, segundo a Jones Lang LaSalle, mostrou uma

concentração de 50% nos clientes corporativos para os hotéis e flats urbanos.

Há uma forte concentração de quartos na região Sudeste, com 47%, seguido por Nordeste e Sul

com 21% cada, Centro-Oeste com 8% e Norte com 3%.

Em linha com esses dados, o estudo da Jones Lang LaSalle indicou que existiam, em julho de 2010,

153 projetos hoteleiros em construção ou em fase adiantada de planejamento e que serão afiliados

às principais redes hoteleiras que operam no país, adicionando 24.147 novos apartamentos à oferta

atual, concentrados nos segmentos econômico e superior. Isso representaria um acréscimo de

apenas 5,5%.

Fornecedores do Setor de Turismo: Meios de Transporte

Page 27: Análise do mercado de turismo no brasil

Transporte Aéreo

As maiores companhias aéreas operando no mercado doméstico brasileiro, em número de assentos

instalados em dezembro/2011, segundo anuário ANAC 2010, são: TAM com 26.859: Gol: 21.155;

Azul: 2.948; Trip: 2.740; Avianca: 1.946; Pantanal: 819 e; Passaredo: 637.

Portanto, o transporte aéreo de passageiros no Brasil é bastante concentrado, quase um duopólio,

onde as duas empresas principais tiveram, nos vôos domésticos em 2010, 83% e 82% dos assentos

quilômetros oferecidos (AKS) e dos passageiros quilômetros transportados, respectivamente,

segundo o relatório anual ANAC. Portanto, desempenho dessas duas companhias reflete em grande

parte o que acontece no setor como um todo.

Abaixo, alguns dados sobre a Gol Linhas Aéreas:

37% de participação de mercado (jul/2011);

Faturamento de quase R$ 7 bilhões em 2010.

115 aeronaves;

18,7 mil funcionários.

Dados sobre a líder de mercado, a TAM:

45% de participação de mercado;

Faturamento de R$ 9,2 bilhões em 2010;

157 aeronaves em operação.

Neste setor, vemos o impacto do crescimento da demanda turística com bastante clareza. Segundo

a ANAC, de 2002 a 2010 houve um aumento de 153% no Passageiro Quilômetro Pago

Transportado (RPK) (1 RPK = 1 passageiro pagante que voou por 1 km) para vôos domésticos.

Também segundo a ANAC, de julho de 2010 a junho de 2011, o preço médio das passagens aéreas

no Brasil foi o menor desde o início da série histórica, em 2002, contribuindo para o aumento da

demanda.

Transporte Terrestre

Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, o transporte rodoviário de

passageiros no Brasil é responsável por uma movimentação superior a 140 milhões de

usuários/ano. O transporte rodoviário por ônibus é a principal modalidade de movimentação coletiva

de usuários nas viagens de âmbito interestadual, segundo o MTur e FGV. Embora perdendo

mercado ao longo dos últimos anos, conta com um faturamento anual superior a R$ 2,5 bilhões,

utilizando 13.400 ônibus, conforme o Anuário Estatístico da ANTT. O desembarque de passageiros

em transporte rodoviário coletivo para percursos acima de 75 km, indicador utilizado pelo Plano

Nacional de Turismo, mostra uma queda de 12% entre 2004 e 2008. Segundo estudo realizado pela

Câmara Brasileira de Turismo da Confederação Nacional do Comércio, em relação ao transporte

turístico, o setor opera hoje com uma demanda a 20% da registrada em 1985. Essa perda é

concomitante não somente com o aumento expressivo do número de veículos licenciados e de

veículos locados a partir de 2003, o que poderia explicar parcialmente o comportamento da

demanda segundo o MTur e FGV, como também o aumento da oferta e redução das a tarifas

aéreas para viagens de longa distância, o que incentivou parte dos viajantes a trocar o ônibus pelo

avião.

Page 28: Análise do mercado de turismo no brasil

Por outro lado, o mercado de locação de veículos vem crescendo com taxas de dois dígitos. No

período de 2003 a 2010, segundo a Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (ABLA), a

frota teve um CAGR de 12% e o faturamento um CAGR de 11%.

Em 2010, 56% das locações tiveram como objetivo a terceirização de frota, 24% o turismo de

negócios e 20% para o turismo de lazer.

Segmentação por classe de demanda

Em pesquisa realizada pelo MTur e FIPE em 2007, o lazer foi a motivação principal para viagem

doméstica declarada por cerca de dois terços dos entrevistados, seguida por negócios com 24% e

outros motivos com 9%.

Turismo de Lazer

O turismo de lazer é, por definição, composto por viagens motivadas pela busca do entretenimento

em praias, campo, em cidades com ricos acervos culturais, históricos ou naturais, em parques

temáticos, em resorts que ofereçam serviços especializados ou diferenciados, visitas a parentes e

amigos. Há um alto grau de viagens discricionárias nesse segmento, ou seja, a demanda é muito

influenciada pela renda disponível das famílias e da atratividade do turismo como consumo.

Segundo estudo da Euromonitor International (“Travel and Tourism Global Overview”, março/2011),

as vendas no varejo de turismo de lazer a nível global em 2010 foram três vezes maiores que as

corporativas, o que deve se manter até 2015, onde deve atingir aproximadamente US$ 600 bilhões.

Em pesquisa do MTur e FIPE, os principais motivos dos turistas nas viagens de lazer domésticas

foram: a visita a parentes/amigos; sol e praia; compras pessoais; turismo cultural e; diversão

noturna.

Algumas características distinguem o turista doméstico de lazer do de negócios, também levantadas

pelo estudo do MTur FIPE:

Page 29: Análise do mercado de turismo no brasil

As viagens de lazer usam automóvel em 50% dos casos, enquanto as de negócios em 36%. Em

contrapartida, viagens de negócios usam o avião em 22% dos casos, contra apenas 8% das de

lazer;

Em mais da metade das viagens a lazer o turista se hospeda na casa de amigos e parentes,

indicando uma grande oportunidade para o setor hoteleiro;

92% dos turistas alegam não ter usado os serviços das Empresas de Turismo para organizar a

sua principal viagem, indicando também uma grande oportunidade para as empresas do setor

aumentar sua penetração.

Turismo de Negócios

O turismo de negócios trata das viagens onde a motivação seja algum compromisso de natureza

profissional, o que inclui participação em congressos, seminários, feiras e etc.

Em 2007 foram realizadas 37 milhões de viagens domésticas motivadas por negócios, segundo o

MTur. O dinamismo do turismo de negócios no Brasil pode ser comprovado pelo desempenho do

segmento corporativo das Empresas de Turismo, incluindo as operadoras. Segundo a pesquisa

“Indicadores Econômicos das Viagens Corporativas”, encomendada pela Associação Brasileira de

Gestores de Viagens Corporativas (ABGEV), o setor de viagens corporativas cresceu 20% em 2010,

movimentando R$ 21 bilhões.

O mercado crescente tem estimulado a consolidação no Brasil, exemplificada pelo anúncio em

novembro da aquisição de 100% da Net Tour pela Carlson Wagonlit Travel (CWT), a maior empresa

do mundo de turismo corporativo. Segundo seu presidente em entrevista ao jornal Valor Econômico,

com a aquisição a CWT deve faturar em torno de R$ 1,5 bilhão em 2012.

Já o fluxo receptor internacional de turistas estrangeiros em viagens de negócios, segundo o MTur

baseado em dados do WTO, veio apresentando uma queda leve a partir de 2005, que se acentuou

em 2009, impulsionado principalmente pela crise financeira nos principais países emissores. Em

2010 houve uma recuperação nos níveis de entrada de turistas estrangeiros no Brasil, e estudos da

MTur e FGV estimam que a proporção relativa a viagens de negócios, que estava em patamares de

29% até 2005 e chegou a 23% em 2009, deva retornar gradativamente aos 29%. Além disso, a

crescente importância brasileira no contexto econômico mundial, aliada ao crescente número de

eventos de negócios internacionais sediados no Brasil, reforça a atratividade do país.

Page 30: Análise do mercado de turismo no brasil

Eventos de Negócios

O Brasil tem se desenvolvido nos últimos anos como destino de eventos de negócios internacionais.

Segundo o International Congress and Convention Asssociation (ICCA), passou de 62 em 2003 para

275 eventos em 2010, ocupando por 3 anos a 7ª posição mundial.

Apesar de estar concentrada em São Paulo, que sediou 75 eventos em 2010, a quantidade de

cidades brasileiras nesse grupo passou de 22 para 45 nesse período, caracterizando uma

desconcentração, distribuindo os ganhos por outras capitais brasileiras.

Em 2008, os 254 eventos ICCA contaram com 64.500 participantes não-residentes no Brasil,

segundo o EMBRATUR. Os segmentos mais importantes em número de participantes foram

Tecnologia e Meio Ambiente (46%), Médico (38%), e Educação Social e Esporte (12%).

Segundo estudo da EMBRATUR (2008/2009), o turista estrangeiro que chega ao Brasil para

participar de evento associativo tem gasto diário médio de US$ 280, contra apenas US$ 68 para o

turista de lazer.

Intercâmbio e outros Relacionados à Educação

O turismo emissor de intercâmbio, ou educacional, é aquele em que o objetivo principal do turista é

aprimorar seu conhecimento sobre outros idiomas, culturas ou obter conhecimento específico em

cursos curriculares ou não. O aumento da internacionalização do Brasil, onde cada vez mais as

empresas valorizam experiências internacionais no recrutamento de jovens, além do câmbio

favorável, têm contribuído para este ser um dos segmentos de maior crescimento atualmente.

Segundo a Brazilian Educational & Language Travel Association (Belta), que diz representar 90% do

mercado das Empresas para turismo de intercâmbio, os cursos de intercâmbio disponíveis no

mercado em geral envolvem: cursos colegiais (jovens de 15-18 anos), idiomas, idiomas combinado

com interesses específicos, para professores, terceira idade e programas de férias.

Page 31: Análise do mercado de turismo no brasil

A nível mundial, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE), atualmente 3 milhões de estudantes realizam estudos no exterior, que, estima-se, atingirá

10 milhões em 2025.

Outros Motivos de Viagem

Turismo visando jogos esportivos: destaque crescente no Brasil nos últimos anos. Os Jogos

PanAmericanos de 2007 marcaram a entrada do Brasil como sede de grandes eventos

esportivos mundiais. Aconteceram 36 eventos esportivos internacionais no país em 2011, em

aproximadamente 15 cidades diferentes, com destaque para os 5o Jogos Mundiais Militares em

julho no Rio de Janeiro, onde participaram 6.000 atletas de 110 países e 2.000 treinadores e

comissões técnicas, segundo o site oficial do evento. Para os próximos 5 anos, além dos

megaeventos Copa do Mundo e Olimpíadas, já estão programados cerca de 20 eventos

esportivos por ano. Alguns exemplos abaixo mostram a diversidade e a importância:

Evento Local Audiência estimada

Data Última edição no país

Mega

eventos

Confederations Cup Brasil 400.000 2013 Primeira vez

Copa América Rio de Janeiro 800.000 2015 1989

World University Games Brasil 300.000 2017 Primeira vez

Summer Paralympics’ Games Rio de Janeiro 100.000 2016 Primeira vez

Formula 1 – GP Brasil São Paulo 72.631 Anual (Novembro) 2011

Rally dos Sertões Goiânia to Fortaleza

30.000 Anual (Agosto) 2011

Eventos

de média

São Silvestre (Marathon) São Paulo 21.000 Dezembro 11 2010

São Paulo International São Paulo 20.000 Anual (Junho) 2011

Page 32: Análise do mercado de turismo no brasil

escala Marathon

Masters Track & Field

Championship Porto Alegre 20.000 2013 2010

UFC Rio (Mixed Martial Arts) I

and II Rio de Janeiro 16.572 Ago2011/Jan2012 Primeira vez

WCT (Surf) Rio de Janeiro 10.000 Anual (Maio) 2011

Rio Surf Pro International Rio de Janeiro 10.000 Anual (Outubro) 2011

Rio de Janeiro Marathon Rio de Janeiro 9.000 Anual (Agosto) 2011

Rio de Janeiro International Half Marathon

Rio de Janeiro 9.000 Anual (Agosto) 2011

WCSK8 (Oi Rio Vert Jam)

(Skate) Rio de Janeiro 8.500 Anual (Março) 2011

Brasil Open (Tennis) Bahia 4.665 Anual (Setembro) 2011

Brasilia Open – Beach Volleyball Brasília 4.500 Anual (Abril) 2011

Judo World Championship Rio de Janeiro 2.500 2013 2011

Eventos e serviços direcionados ao público GLS: crescente no Brasil e em várias partes do

mundo, como a Parada Gay de São Paulo. Segundo a São Paulo Turismo (SPTuris), em 2010

mais de 400 mil turistas vieram a São Paulo e cerca de 3 milhões de pessoas se reuniram na

Av. Paulista. A próxima convenção anual da Intenational Gay & Lesbian Travel Association será

em Florianópolis, em 2012;

Turismo com motivação médica: este é outro segmento que cresce muito a nível global, com os

consumidores procurando por locais onde os procedimentos médicos tenham melhor

custo/benefício. Na pesquisa MTur e FIPE de 2007, 7% dos turistas responderam que a saúde

era um dos motivos de viagem. Segundo o Euromonitor International, turismo objetivando

procedimentos cosméticos tem crescido com vigor na Malásia, Taiwan e Argentina. Segundo o

mesmo relatório, as categorias de turismo que mais crescerão (CAGR) em valor de vendas

entre 2010-2015, por motivação, serão: Parques Nacionais – 6,8%; Turismo Médico: 5,4%;

Spas: 3,3%; Cruzeiros: 3,3% e; Aventura: 3,3%.Festas de Rodeios: A Confederação Nacional

de Rodeios (CNAR) calcula que sejam realizadas 1.800 festas de rodeios anualmente no Brasil,

com visitas estimadas em 30 milhões em 2009. Segundo levantamento feito pela Folha de

S.Paulo, com dados da CNAR, as 30 maiores tiveram 4 milhões de visitantes em 2010;

Turismo com motivação religiosa: também apresenta números relevantes, com 3,8% dos

viajantes apontando esta como uma das motivações de turismo, na pesquisa MTur e FIPE.

Alguns estudos da Escola de Turismo da USP estimam que a cidade de Aparecida do Norte,

SP, receba em torno de 7 milhões de turistas anualmente, sendo o maior centro de

peregrinação religiosa da América Latina;

O Rio de Janeiro sediará a próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento a nível

mundial da Igreja Católica, contando com a presença do Papa Bento XVI. Em algumas das

edições anteriores, o número de visitantes foi muito elevado, como Manila em 1995, com 5

milhões, e Roma em 2000, com 2,1 milhões, segundo a CNBB. Para 2013, a prefeitura do Rio

de Janeiro espera a chegada de 4 milhões de peregrinos na cidade;

Page 33: Análise do mercado de turismo no brasil

Festas do Norte / Nordeste: as cidades de Campina Grande (PB) e Caruaru (PE) recebem mais

de 1,5 milhão de visitantes cada uma durante as comemorações de festa junina nos meses de

junho e julho. A cidade de Juazeiro do Norte (Ceará), conhecida por suas romarias ao Padre

Cícero, segundo sua Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Romarias, recebe

em torno de 2 milhões de visitantes anualmente. A romaria a São Francisco, na cidade de

Canindé (Ceará), segundo Secretaria de Turismo do município, trouxe à cidade 200 mil

romeiros no dia 18 de setembro. Já no Norte do Brasil, o festival de Parintins, no Amazonas,

atrai todos os anos mais de 100 mil pessoas, de acordo com o site oficial do evento;

Carnaval: apesar de estar concentrado em apenas quatro dias ao ano, movimenta uma grande

quantidade de turistas domésticos e estrangeiros por todo o país. Segundo estimativas da

Riotur, no carnaval de 2011 a cidade do Rio de Janeiro recebeu 760 mil turistas. O governo da

Bahia estima que Salvador recebeu outros 550 mil neste ano.

Canais de Distribuição

O canal de distribuição na indústria do turismo é um sistema de intermediários ligando os produtos e

serviços turísticos aos consumidores, pessoas físicas ou corporativas. Podemos agrupá-los em

tradicionais e eletrônicos.

Canais Tradicionais

Mais próximas do consumidor final pessoa física ou corporativa, existem as Empresas de Turismo

emissoras, que geralmente prestam serviço de consultoria sobre destinos, pacotes, documentação.

Conforme explicado em tópico anterior, podem ser segmentadas por motivo da viagem ou pelo tipo

de consumidor. Em posição intermediária, existem as operadoras turísticas, que montam pacotes de

serviços e produtos turísticos e distribuem via Agências emissoras. Finalmente, próximo aos

fornecedores de serviços turísticos, estão as Empresas de Turismo receptivas, que trabalham

exclusivamente com a recepção de turistas, reserva de hotéis, transporte de passageiros, etc

Canais eletrônicos

Todos os elementos da cadeia de distribuição e também os fornecedores de produtos e serviços

utilizam canais eletrônicos para se aproximar dos consumidores finais.

Empresas de Turismo emissoras desenvolvem seus próprios sites na internet para informar sobre seus produtos e/ou comercializá-los, em processos com início e fim no site ou a finalização em loja física;

Existem Empresas puramente online, ou seja, operam somente por meios eletrônicos, não sendo um canal de uma empresa tradicional. O maior exemplo é a Expedia Inc, Decolar.com, Viajanet e Rapi10.

Operadoras também desenvolvem sites para evitar que a comercialização de seus produtos seja intermediada por outra Empresa de Turismo;

Fornecedores de produtos turísticos são os mais desenvolvidos na utilização da Internet para vender diretamente ao consumidor: companhias aéreas, hotéis, empresas de locação de veículos, empresas de transporte marítimo e ferroviário, etc;

É inegável o papel da internet na comercialização dos produtos e serviços turísticos. O rápido

aumento do acesso à internet e à conexões de banda larga no Brasil, associado a uma população

jovem (Gerações “Y” e “Z”) que não tem as resistências habituais ao comercio eletrônico e abraça

as redes sociais com muito vigor, garantem um futuro promissor para o canal. Segundo o IBOPE

Page 34: Análise do mercado de turismo no brasil

Nielsen online, entre junho de 2010 e 2011 houve um crescimento de 14% na procura por sites de

viagens, alcançando 23,6 milhões de usuários únicos. Em relação aos cruzeiristas, pelo seu perfil

socioeconômico elevado, 58% com ensino superior completo, e por ter partido de uma base menor,

o crescimento dessa subcategoria foi de 117% no período.

Segundo reportagem da Revista Exame, citando pesquisa da E-Consulting, o turismo foi a categoria

do comércio eletrônico que mais cresceu no primeiro semestre de 2011 no Brasil: 29%, contra a

média do varejo online de 19%. Até o final de 2011, o faturamento do turismo online deve alcançar

R$ 7,3 bilhões, segundo a mesma fonte.

Segundo o relatório “Travel and Tourism: Global Overview 2011”, da Euromonitor International, há

muito espaço para o crescimento na penetração das vendas online de produtos turísticos na

América Latina, se comparado com outros continentes.

Penetração Regional das Vendas Online por Categoria (2010)

Fonte: Euromonitor International

O total de brasileiros com acesso à internet chegou a 73,9 milhões em 2010, crescimento de 10%

sobre o ano anterior, segundo o IBOPE Nielsen Online. A adoção do canal eletrônico para compras

também avança rapidamente no país, embora com velocidades diferentes. Segundo o Comitê

Gestor da Internet no Brasil (CGI), 59% dos internautas da classe A já compram on-line; na classe B

13%; e na C 5%.

Citando o crescimento das vendas de turismo pela internet e o elevado gasto dos turistas brasileiros

no exterior, o site francês de ofertas de viagens de luxo Voyage Privé, que prevê faturar US$ 380

milhões em 2011, justificou a sua entrada no mercado brasileiro em novembro.

Infraestrutura e o Setor de Turismo

A Pesquisa do Fórum Econômico Mundial divulgada em março de 2011 posicionou o Brasil em 52º

lugar no ranking de competitividade no turismo, entre os 139 analisados (caindo da posição 49 em

2009). Entre os 14 quesitos avaliados, as infraestruturas de transporte terrestre e aeroportuário, a

violência e a mão de obra qualificada foram os principais responsáveis pela mediana posição

brasileira.

Adicionalmente, a World Tourism Organization (UNWTO) classifica o Brasil em 95º lugar num grupo

de 130 países em relação a infraestrutura de transporte de grupo.

Nas áreas urbanas, a integração entre modais também apresenta sérias limitações em decorrência

das carências relativas à mobilidade urbana, particularmente nas grandes cidades.

Pacote Turístico Passagem Aérea Hotel

América do Norte 54% 57% 39%

Europa Ocidental 23% 49% 16%

América Latina 8% 20% 4%

Page 35: Análise do mercado de turismo no brasil

A infraestrutura de transportes brasileira, além de ser um limitante para a atividade econômica em

geral, pode caracterizar um limitante ao crescimento dos fluxos turísticos no Brasil. No mercado

doméstico, o crescimento dos desembarques nacionais foi de 118% entre 2003 e 2010, provocando

uma ocupação de praticamente toda a margem operacional da infraestrutura aeroportuária nos

principais destinos turísticos do país, segundo o MTur.

O caráter multiministerial das iniciativas relacionadas à infraestrutura de transporte, e

consequentemente de turismo, dificulta a coordenação de esforços pelo governo federal e em

particular o MTur.

Indicando uma percepção de urgência pelo governo federal, recentemente foi anunciado que os

aeroportos de Brasília, Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, e Viracopos, em

Campinas, serão explorados pela iniciativa privada, que poderá ter no mínimo 51% do capital, e a

Infraero deve ficar com até 49%. O governo também estuda fazer a concessão dos aeroportos

Confins (MG) e Galeão (RJ).

Segundo a Infraero, os aeroportos diretamente relacionados às 12 cidades-sede para a copa de

2014 receberão investimentos de R$ 5,6 bilhões, sendo R$ 5,2 bilhões da própria Infraero.

A qualidade do sistema viário terrestre, dos terminais turísticos rodoviários e dos pontos de parada e

outras limitações da atividade são apontadas pela Câmara Nacional do Comércio como uma das

principais causas para o fato do transporte turístico rodoviário hoje corresponder a 20% do que era

em 1985, aliada à concorrência do modal aéreo.

Para endereçar esse ponto, o Ministério do Planejamento lançou, em fevereiro de 2011, o PAC da

Mobilidade, destinado a incrementar a infraestrutura de transporte público nas 24 principais cidades

brasileiras. Segundo o Ministério, serão investidos R$ 18 bilhões, dos quais 6 bilhões diretos da

União e 12 bilhões através de financiamentos.

Por fim, os diversos eventos que ocorrerão no Rio de Janeiro nos próximos anos têm mobilizado a

alocação de investimentos na cidade. Segundo sua Prefeitura, 16 investimentos em mobilidade

urbana ou estão em andamento ou em fase de planejamento, sendo quatro vias expressas:

Page 36: Análise do mercado de turismo no brasil

Transbrasil (em projeto): recursos de R$ 1,5 bilhão. Vai contar com o Bus Rapid Transit (BRT).

Ligará Deodoro ao Centro, atravessando toda a Avenida Brasil;

Transoeste (em construção): R$ 0,7 bilhões – ligará Barra da Tijuca a Santa Cruz;

Transcarioca (em construção): R$ 1 bilhão estimado em investimentos – ligará a Barra da Tijuca

ao aeroporto do Galeão;

Transolímpica (obras a iniciar): estimados R$ 1,6 bilhão em investimentos – ligará Recreio das

Bandeiras a Deodoro

Incentivos Governamentais

O MTur desenvolveu um plano de longo prazo para o turismo receptivo, o Plano Aquarela 2020 –

Marketing Turístico Internacional do Brasil – com metas para o fluxo de turistas. Segundo seu

documento de divulgação, seus objetivos principais são: aprimorar os resultados de longo prazo na

promoção turística do país; envolver os setores público e privado numa estratégica unificada;

promover o Brasil como destino turístico internacional e; aproveitar os megaeventos mundiais para

fazer o Brasil mais conhecido como destino turístico.

Além disso, a MTur desenvolve uma série de projetos específicos para melhorar a qualidade da

oferta e regionalização, baseados em estudos sobre tendências no setor, tais como: Programa de

Estruturação dos Segmentos e Projeto de Cooperação Técnica para Roteirização – diversificação e

segmentação da oferta; Projetos Talentos do Brasil Rural e Projetos relativos ao Turismo de Base

Comunitária – incentivo ao turismo social e local; Projeto Economia de Experiência – apoio ao

pequeno negócio turístico e; Novo sistema de classificação de meios de hospedagem – inserção

nos padrões internacionais de normatização

Atualmente está disponível, através dos principais bancos estatais, uma série de linhas de crédito

específicas para o turismo, definidas pelo MTur:

FINGETUR – Fundo Geral do Turismo – aquisição de máquinas e equipamentos novos

PROGER – Turismo Investimento – para investimento fixo e capital de giro associado

FNE – programa de apoio ao turismo regional NE

FNO – programa de desenvolvimento sustentável para o Amazonas

FCO - programa de apoio ao turismo regional CO

BNDES automático até R$ 10 milhões, FINEM, FINAME e cartão BNDES

Programas regionais de desenvolvimento do turismo (Prodetur), direcionados a estados e

municípios, que são operacionalizados pelo MTur e tem parceria com o Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Corporação Andina. Já tem US$ 870 milhões

em projetos aprovados e US$ 780 milhões aguardando aprovação.

Segundo o MTur, o volume de recursos desembolsados pelas instituições financeiras federais para

o setor de turismo aumentou 181% desde 2003, com destaque para os dois últimos anos. Em 2010,

72% dos recursos saíram do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.

Page 37: Análise do mercado de turismo no brasil

E . S E R V I Ç O S F I N A N C E I R O S N O T U R I S M O

Com a estabilização econômica do país e a obtenção de uma linha de desenvolvimento sustentável

da renda das famílias, surge como consequência natural a crescente expansão do nível de

bancarização, num fenômeno simultâneo de penetração geográfica e de classes. Atrelada a esta,

evidencia-se a massificação do acesso ao crédito, abrindo caminho à democratização de toda uma

variedade de produtos financeiros, cada vez mais diversos e sofisticados, e até aqui apenas

acessíveis às camadas mais favorecidas da população.

Como uma das atividades econômicas com potencial de crescimento futuro, o turismo não deverá

deixar de acompanhar este processo, alavancando a sua atividade na comercialização de produtos

financeiros relacionados. O crescimento dos serviços financeiros no turismo deverá apoiar-se em

três pilares fundamentais: crédito pessoal para o consumo de produtos turísticos e em particular a

influência no padrão de utilização dos cartões de crédito, produtos de câmbio e mercado segurador.

Crédito

Os pacotes de turismo, dado o seu perfil discricionário, o caráter habitualmente esporádico e

sazonal e o peso que em geral representam sobre os orçamentos familiares, revelam-se

normalmente inatingíveis para os segmentos da população de rendas média e baixa excluídos do

acesso ao crédito. Nesse sentido, esse é um dos setores que mais deverá beneficiar-se do vigoroso

crescimento do mercado de financiamento ao consumo privado que vem se verificando no Brasil,

em paralelo ao desenvolvimento econômico e social.

Ao longo da última década, o crédito à Pessoa Física avançou dos 66 bilhões de reais em 2000 para

os mais de 560 bilhões de reais em 2010, com destaque para o crescimento do crédito pessoal,

onde se inserem os produtos de turismo, a uma taxa anual composta de 24% no mesmo período. O

seu peso sobre o PIB, que era pouco superior a 5%, triplicou, atingindo mais de 15%.

Page 38: Análise do mercado de turismo no brasil

De fato, o caminho de crescimento econômico sustentado e de reforço da confiança dos agentes,

investidores e consumidores seguido ao longo dos últimos anos, não se reflete apenas no atenuar

das desigualdades e no incremento da renda disponível. Transporta igualmente consigo um efeito

de melhoria das condições de financiamento das instituições de crédito. A estabilização e

visibilidade proporcionadas pelo novo quadro macroeconômico vêm permitindo o alargamento dos

prazos dos empréstimos e a redução dos spreads exigidos, que no Brasil estão entre os mais

elevados do mundo. Segundo dados do BCB, na última década o prazo médio das operações de

crédito com recursos livres para Pessoas Físicas mais do que duplicou, desde o mínimo de 242 dias

em 2004, para 562 dias no final de 2010, ao passo que o spread médio se reduziu em mais de

metade, dos 60% em 2004 para os cerca de 27% no final de 2010. Este efeito alavanca-se na

capilaridade crescente do sistema financeiro nacional e no robusto ritmo de bancarização da

população para permitir a conversão em massa ao universo do financiamento, abrindo para milhões

de novos consumidores as portas de acesso a produtos habitualmente parcelados, como é o caso

do turismo.

Segundo projeções da LCA Consultores, este fenômeno deverá continuar ao longo da próxima

década, embora naturalmente com um ritmo menor. Estima-se que o volume nominal de crédito à

Pessoa Física mais do que quadriplique, atingindo cerca de 24% do PIB em 2020. Este indicador

era já em 2010 de 52% do PIB na França e 57% na Alemanha, o que permite antever a larga

margem de expansão existente no Brasil.

Numa visão de mais curto prazo, a FEBRABAN divulgou recentemente uma estimativa de

crescimento que mostrava que a componente de crédito pessoal deverá continuar a ser o principal

impulsionador do crescimento de 15% ao ano em 2011 e 2012 do total de recursos livres para

pessoas físicas, pois se prevê que este componente irá avançar 17% ao ano no mesmo período.

Page 39: Análise do mercado de turismo no brasil

Tem sido notória a tendência das instituições financeiras no sentido de adicionar à sua oferta

produtos direcionados ao turismo. Um exemplo do apetite do consumidor de turismo pelo crédito é o

sucesso alcançado pelo Cartão Turismo da Caixa Econômica Federal (CEF), agente financeiro do

Ministério do Turismo. Acrescenta às funções tradicionais de um cartão de crédito o financiamento a

24 meses e com juros mais favoráveis do consumo em estabelecimentos dos ramos de turismo,

como hotéis, pousadas, companhias aéreas, locadoras de veículos e Empresas de Turismo.

Segundo a CEF, já foram emitidos mais de 1,6 milhões de cartões desde que o produto foi lançado

no final de 2005, o que representa uma disponibilidade de crédito de cerca de R$ 900 milhões.

Cartões de crédito

Se a amplitude do acesso ao crédito segue em acelerado processo de expansão no Brasil, o

panorama não é diferente no que diz respeito ao padrão de utilização dos meios de pagamento. O

processo de simultâneo incremento da bancarização da população e de crescimento da massa de

consumidores vem se traduzindo na progressiva adoção de instrumentos eletrônicos no ato de

pagamento, em substituição dos meios tradicionais, de que é exemplo mais comum o próprio papel-

moeda. Apesar da maior parte das transações no varejo continuar a efetuar-se através deste,

especialmente quando se trata de montantes menores, é nítida uma modificação nos

comportamentos do consumidor Brasileiro, seguindo o caminho que há alguns anos vem sendo

percorrido pelas economias desenvolvidas. Assim, a evolução da representatividade do pagamento

com cartão no consumo das famílias Brasileiras vem sendo galopante, esperando-se que em menos

de uma década supere pela primeira vez o papel-moeda como instrumento principal de pagamento.

Embora o faturamento com cartões tenha, segundo a Associação Brasileira de Cartões de Crédito e

Serviço (ABECS), ultrapassado o meio trilhão de reais em 2010, representa ainda apenas um quarto

do consumo das famílias, o que compara com os atuais 45% dos EUA.