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ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA …matogrossobrasil.com.br/estudoscientificosmt/AN%C1LISE%20DO%20... · De origem asiática, a entrada da soja ( Glycine max L.)

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(ESTUDOS SETORIAIS, 4)

Gisalda Carvalho FilgueirasMônica Nazaré Corrêa Ferreira

Antônio Cordeiro de Santana

Belém - Pará2007

Obra editada peloBanco da Amazônia S. A.

EQUIPE TÉCNICA DE ESTUDOS SETORIAIS

Antônio Cordeiro de Santana (Consultor - UFRA)Fabrício Khoury RebelloJesus do Socorro Barroso dos SantosGeany Cleide Carvalho MartinsGisalda Carvalho FilgueirasMarcos Antônio Souza dos SantosMônica de Nazaré Corrêa FerreiraSávio de Jesus Tourinho da Cunha

Arte da 1ª capa: Orivaldo Pinto RodriguesTexto da 4ª capa: Equipe de MarketingEditoração Eletrônica: Manoel de Deus Pereira do NascimentoRevisão de texto: Oderle Milhomem AraújoNormalização: Oderle Milhomem Araújo - CRB2/745E-mail: [email protected]

Endereço para correspondências:Coordenadoria de Estudos Setoriais (COESE)Avenida Presidente Vargas, 800 16º andar Belém-PA. CEP 66.017-000Impresso na gráfica do Banco da Amazônia

Filgueiras, Gisalda Carvalho.Análise do mercado e da concentração espacial da cadeia produtiva da

soja na Amazônia / Gisalda Carvalho Filgueiras, Mônica de Nazaré CorrêaFerreira, Antônio Cordeiro de Santana. Belém: Banco da Amazônia, 2007.

50p. (Estudos Setoriais, 4)

ISBN 978-85-89548-10-6

1. CADEIA PRODUTIVA Região Norte. 2. SOJAI. Filgueiras, Gisalda Carvalho; Ferreira, Mônica de Nazaré Corrêa; Santana,Antônio Cordeiro. II. Título. III. Série.

CDD: 636.21309811

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7

2 CENÁRIO MUNDIAL ................................................................................................. 9

3 CENÁRIO NACIONAL ............................................................................................. 17

4 CENÁRIO REGIONAL .............................................................................................. 26

5 CENÁRIOS ESTADUAIS .......................................................................................... 32

5.1 ESTADO DO MATO GROSSO (MT) ............................................................................ 33

5.2 ESTADO DO PARÁ (PA) ............................................................................................ 35

5.2.1 Caracterização do setor de grãos no sul do Pará .................................... 37

5.2.2 Caracterização do setor de grãos no oeste do Pará – Pólo de Santarém ....................................................................................................... 38

5.2.3 Caracterização do setor de grãos no nordeste do Pará – Pólo de Paragominas ................................................................................................. 41

5.3 ESTADO DE RONDÔNIA (RO) .................................................................................. 43

5.4 ESTADO DE RORAIMA (RR) .................................................................................... 45

5.5 ESTADO DE TOCANTINS (TO) .................................................................................. 51

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 54

7 RECOMENDAÇÕES ................................................................................................. 55

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 57

AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho só foi possível devido à integração da equipe envolvidae as informações prestadas por representantes das seguintes instituições: Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB),Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), Agência de Defesa Agropecuáriado Estado do Pará (ADEPARÁ), Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de Santarém(SEMAB), Cooperativa Agropecuária da Amazônia (COOPERAMAZON), Instituto SócioAmbiental (ISAM), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis(IBAMA).

Estendemos também nossos agradecimentos a todos os que se engajaram aodesenvolvimento deste trabalho, dentre os quais destacamos: Hélio Coimbra (FRIGOSAN),Enéas Ribeiro (Frigorífico Ribeiro), Horácio e Rogério Cardoso (Cerealista Londrina), JoãoFarias (Corrêa Agroindústria - COAGRO), Éder Michels (Cerealista Tapajós – CETAP), RudmarBiff (Mato-Grosso Cereais), Adriano Maraschin (Fazenda Boa Esperança), Benedito MiguelMinoli (Fazenda N.S. Aparecida), Pio Stefanello (Produtor rural e de Sementes de Soja),Gilmar Tirapelle (Cargill Agrícola – complexo soja), Martin Arévalo (Missioneira – comércioe representações de insumos), Marcio Júnior Muller (Granja Avícola Tapajós), José VicenteS. Ribeiro (Edio Frigorífico de Peixe - Edifrigo), Manoel Divaldo Lira Rego (projeto depiscicultura em tanque escavado), Roberto Mafra (criação de alevinos), Geraldo PereiraFilho (Produção de Leite).

Aos colegas do Banco da Amazônia, lotados na Agência e Gereg/Santarém, somosgratos pela acolhida e pelos contatos agendados para visitas aos empreendimentos.

Por fim, à Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) por não se opor àliberação do Professor Antônio Cordeiro de Santana para orientar a equipe técnica doBanco da Amazônia na realização deste estudo.

Procuramos apresentar neste documento as informações levantadas nasentrevistas de modo a não prejudicar sua veracidade. Assim, possíveis falhas contidas sãode responsabilidade exclusiva de seus autores.

7ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

1 INTRODUÇÃO

De origem asiática, a entrada da soja (Glycine max L.) no Brasil ocorreu em 1908através de imigrantes japoneses que chegaram ao País de navio. O cultivo oficial se deu em1914, no Rio Grande do Sul (CARVALHO, 1999). Foi a partir dos anos de 1970, através depesquisa intensiva para produzir no cerrado, implementada pela Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que esta leguminosa começa de fato a se expandir epassa a se constituir em um dos principais itens da pauta de exportação brasileira. Talexpansão se deve ao incremento das agroindústrias ligadas ao complexo da soja (óleo,aves, suínos e pecuária de confinamento), assim como para atender ao aumento do consumointernacional.

No ano de 1975 foi criada uma unidade na EMBRAPA - o Centro Nacional dePesquisa da Soja, especificamente para promover esta leguminosa como uma culturatecnificada, através da introdução e adaptação de novos cultivares ao solo e clima brasileiro.

Outros incentivos, além da pesquisa, foram concedidos, como: crédito rural,incentivos ao hábito alimentar (soja de mesa) para a população brasileira, de forma aintensificar a sua expansão em todo território nacional, tanto em nível de opção e/ouatividade de exploração, como de alimentação.

Mais recentemente, novas pesquisas vêm sendo desenvolvidas para averiguar edivulgar os benefícios da soja enquanto um antídoto a doenças. Jocelem Salgado, professorada Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queirós” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), especialista em alimentos que previnem doenças, vem desenvolvendo pesquisas juntocom pesquisadores da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos da América (USA). Osresultados têm demonstrado a importância da soja na prevenção ao câncer, especialmenteao de mama. No Japão e Finlândia, investigações semelhantes estão sendo desenvolvidas.A abrangência dos benefícios do uso múltiplo da soja explica o porquê da sua expansãoem nível de atividade agrícola nos últimos anos.

Como resultado dessa expansão, o Brasil assumiu o segundo lugar no rankingdos produtores mundiais, perdendo apenas para os Estados Unidos. O seu cultivo se estendeupor todo o território brasileiro, inclusive na Amazônia, tornando o país também um dosmaiores exportadores.

Paradoxalmente, os sojicultores brasileiros estão, atualmente, vivenciando umadas maiores crises na produção dessa leguminosa, em razão, principalmente dos preçosinternacionais estarem baixos e em queda desde 2003, bem como os custos de produçãoterem se elevado. Esta combinação resultou no endividamento do setor e dos produtores,fazendo com que reinvindicassem uma solução do Governo Federal, pois, segundo alegam,

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a taxa de câmbio sobrevalorizada1 fez com que a situação piorasse. Para alguns especialistas,a perda dos produtores de soja no ano passado chegou a R$ 1,1 bilhão, que corresponde àdiferença entre a receita total de R$ 22,4 bilhões contra os custos totais de R$ 23,5 bilhões(MARQUES, 2006).

Neste contexto, faz-se necessário analisar os cenários mundial, nacional e regionalda produção de soja, de modo a procurar compreender como o mercado deste produtovem se comportando ao longo dos últimos anos do século XX, bem como efetuar indicaçõesrelativas aos municípios especializados no cultivo desta leguminosa.

Especificamente, este estudo tem como objetivo determinar, através dacombinação de algumas metodologias (ver apêndice metodológico), pesquisas de campoe revisão bibliográfica, quais os municípios da Região Amazônica possuem potencialidadespara desenvolver a produção de soja e, com isto, orientar as ações de fomento do Banco daAmazônia na concessão de créditos.

1 Para Celso Pastore, a taxa de câmbio não se encontra sobrevalorizada, pois teria que haver, também, umacombinação de taxas de juros (alta) e inflação, o que, não vem ocorrendo.

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2 CENÁRIO MUNDIAL

A soja por ser componente importante na alimentação animal e de seres humanos,com alto teor protéico, é uma cultura plantada no mundo todo, tendo como os maioresprodutores os Estados Unidos da América (40,46%), Brasil (24,52%), Argentina (18,71%)e China (8,26%). O comportamento da área, produção e produtividade, são visualizadosatravés da Taxa Geométrica de Crescimento (TGC), correspondente ao período de 1990 a2005, conforme Tabela 1.

Os quatro maiores produtores apresentaram taxas de crescimento significativasno período 1990-2005, para as três variáveis em análise (área, produção e produtividade).

Tabela 1 - Taxas geométricas de crescimento (TGC) da produção da soja nos principais paísesprodutores, correspondente ao período de 1990 a 2005.

Fonte: Organização da Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO, 2006.Notas: (*), (**) e (***) indicam significância estatística a 1%, 5% e 10% de probabilidade, respectivamente,

segundo o teste t. (ns) não significativo.

A Argentina, em termos de área e produção foi a que mais cresceu, seguida peloBrasil, contudo, este último registrou o maior crescimento em produtividade,comparativamente a outros países. Em âmbito mundial, a cultura se expandiu à taxas de3,50% a.a. na área, 4,87% a.a. na produção e 1,33% a.a. na produtividade, revelando quea expansão da ferta ocorreu para atender uma crescente demanda por este produto,

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materializada por diversas agroindústrias que a têm como insumo básico, assim como omilho, porém, ressalte-se, de uso muito mais amplo e diversificado.

Quanto ao balanço mundial do mercado desta commodity, tem-se a Tabela 2,para os três produtos que formam o complexo agroindustrial da soja. Com relação à sojaem grãos, observa-se que a oferta cresceu no período como um todo, exceto na safra2003/2004. A mesma evolução ocorreu no consumo, exportação e no estoque final, comcrescimento no período em análise, contudo, retração no ano 2003/2004, logo, um anoatípico.

A oferta e a exportação do farelo foi crescente para o período todo, de formalinear. Com relação ao consumo e o estoque final, decresceram na safra 2003/2004.

As quatro variáveis (oferta, consumo, exportação e estoque final) do produtoóleo de soja decresceram, para a safra 2002/03, destoando a trajetória de evolução decrescimento desse produto, embora, destaca-se, existem previsões de queda para a safrade 2006/07, repetindo, então, a performance daquele ano.

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Tabela 2 - Balanço mundial do complexo da soja, em mil toneladas, período: 1999 a 2007.

Fonte: ABIOVE, CONAB e Agrianual, 2006.Notas: (*) Estimativa e (**) projeção

Comparando as safras de 1999/00 com a de 2006/07 percebe-se melhor ocrescimento de todas as variáveis. Estes dados são confirmados por suas médias, sendo asdo grão maiores para as quatro principais variáveis (oferta, consumo, exportação e estoquefinal). O farelo segue, praticamente, a mesma trajetória de médias altas para aquelasvariáveis, exceto para estoque final, que comparativamente ao inicial, não variou muito,permanecendo um pouco acima de 5.500 mil toneladas. Entretanto, pelo processo deindustrialização a qual é submetido, o óleo de soja registra as menores médias e o estoqueinicial e final registram praticamente as mesmas médias (2.800 e 2.850 mil toneladas,respectivamente).

O coeficiente de variação (CV) é uma medida de dispersão relativa e, portanto, útilpara a compreensão do grau de concentração em torno das médias, cuja distribuição defreqüências sejam distintas. Assim, tem-se que a maior variabilidade em torno da média foiregistrada para as variáveis da componente grão e para farelo de soja, a maior e menor dispersãofoi observada no estoque final e consumo, com CV de 13,98% e 10,41%, respectivamente.

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Quanto ao coeficiente de variação do óleo de soja, o menor foi registrado para oestoque final (7,73%) e o maior para exportação (13,19%), confirmando a exportação dasoja “in natura” ou simplesmente de grão, sem agregar valor para o Brasil, que acaba porimportar o produto final beneficiado, com valores mais altos devido ao processamentofeito por outros países.

A grande questão é: - Por que o Brasil não se organiza para exportar óleo desoja? Coloca-se aqui, então, a necessidade de beneficiar a matéria-prima. Em termos desoja isto é feito, mas não tanto o quanto deveria, o que resultaria em maior geração deemprego e renda, principalmente, nas regiões em desenvolvimento, como a Amazônia.

Um dos problemas envolve questões do mercado internacional como a barreirastarifárias, subsídios de outros países, fazendo com que o Brasil não avance nas negociaçõesdo mercado externo, conforme os dados de exportação dos produtos soja que confirmamesta trajetória.

Gráfico 1 - Exportação de produtos do complexo soja brasileira para o mundo: 1992 – 2007, emmil toneladas, segundo a ABIOVE (2006).

P = previsão.

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Com exceção dos anos de 1995/1996, a soja em grão exportada aumenta deforma exponencial, enquanto para os demais produtos, há expectativa de queda e/oumanutenção da cota a ser exportada nos próximos dois anos, devido a crise de preçosbaixos que se abateu e algumas processadoras de soja que faliram. Outra forma de visualizaresta desvantagem do Brasil em relação a outros países, quanto à exportação da sojabeneficiada é apresentada na Tabela 3.

Tabela 3 - Exportações do complexo agroindustrial da soja brasileira em três períodos distintos.

Fonte: Elaborado por Caldarelli et al. (2006), a partir de dados da SECEX.

Conclui-se, conforme demonstrado, que no início dos anos de 1990, a participaçãona exportação de grãos de soja era menor, sendo que farelo e óleo tinham um maior pesona composição deste complexo, inclusive, aumentando de 1995/1999, para voltar a cair noperíodo de 2000/2004, tendo o grão aumentado fortemente até chegar com 53%, contraapenas 11% de óleo e 35% de farelo, quando este último, no período de 1995/1999, tevea maior exportação na pauta do referido complexo. Isto confirma os dados sobre a dificuldadetransacional no mercado externo, devido barreiras tarifárias ou não, fato explicadoanteriormente.

Com relação ao consumo desta oleaginosa, os principais consumidores são,também, os principais produtores (USA, Brasil, Argentina e China) conforme revela oGráfico 2.

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Gráfico 2 - Principais países consumidores de soja nos dois últimos anos, em percentual, 2005/2006.Fonte: USDA, elaborado pelo Instituto FNP.

Em termos quantitativos, o consumo total da safra de 2004/2005 salta de 203.263para 213.114 mil toneladas métricas em 2005/06, ou seja, 4,85%. Observa-se que apesarda crise, o consumo para o produto soja aumentou.

Demais disso, o Gráfico 2 revela um dado importante com relação às exportaçõesdesses países, porque eles exportam o excedente de suas produções, dado que a necessidadeinterna (consumo) de cada país é grande e, portanto, são auto-suficientes na produção,exceto a China que produz menos de 50% de suas necessidades, precisando importar orestante, sendo os USA o principal supridor, mesmo porque o seu consumo interno chega a60% da totalidade de sua produção, exportando os 40% restantes. A Argentina consome70% de sua produção e o Brasil consumiu 40% do que produziu na safra 2004/2005, coma previsão de consumo aumentar para 2005/2006, estimada em torno de 57%. Este aumentode consumo interno, no Brasil, foi resultado dos preços baixos no exterior, diminuição daprodução e outros fatores derivados da crise atual pela qual passam os grãos, principalmentea soja, além da possibilidade de usá-la como biocombustível, isto é, biodiesel para aPetrobrás, para o qual o setor de sojicultura já se movimenta.

15ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

Em outras palavras, há expectativas que os preços da soja melhorem, apenas, emnível de mercado interno, primeiro porque devemos exportar carne de frango (a aviculturabrasileira, ainda, não registrou focos e/ou problemas da gripe aviária), com isso, a demandade soja deverá subir, mesmo porque o estoque dos USA registrado em 2005/2006 era de,apenas, 5.706 mil toneladas, contra os estoques praticamente iguais da Argentina e Brasil(média de 19.000 mil toneladas).

Com relação à evolução dos preços da soja, tem-se o Gráfico 3, relativos aospraticados no mercado externo, tendo como referência a Bolsa de Chicago.

Gráfico 3 - Preços da soja em grão, em US$/t, período de jan./1998 jan./2007, pagos no mercadoexterno (Chicago).

Fonte: USDA, elaborado pelo Instituto FNP.

Entre o período da série de preços que vai de janeiro de 1998 até fevereiro de2007, a média foi de US$ 211,10. Neste período o maior preço foi pago em abril de 2004,quando a tonelada foi cotada em US$ 364,18 e em abril de 2001este produto registrou,até agora, o menor valor da série, ou seja, US$ 159,00/t, portanto, menor do que a médiano período (US$ 211,10/t), ou seja, uma amplitude entre o maior e o menor preço de US$205,18/t. A justificativa para esta queda no preço é simplesmente o crescimento destacultura no mundo, ou melhor, excesso de oferta, pois a Tabela 1 mostra que a TGC na áreafoi de 3,50%, da produção, 4,87% e a produtividade de 1,33% a.a., sem considerar que ademanda diminuiu em razão dos problemas do setor avícola (surto da gripe aviária), nomundo, também, fato já explicado anteriormente.

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Por fim, confirma-se que as expectativas de preços baixos no mercado externo devempersistir, dado que, conforme estudos de rentabilidade desta cultura feita por Geld (2006),citado por Nogueira (2006), comparativamente aos três principais países produtores (USA,Brasil e Argentina), constatou a superioridade nesse item para os USA (US$ 278,00/t) e Argentina(US$ 178,00/t), além de que os custos de produção são mais baixos (US$ 295,00/t eUS$ 250,00/t, respectivamente) contra US$ 450,00/t no Brasil. Nesse sentido, o preço darentabilidade brasileira permanece no ponto de equilíbrio (Tabela 4).

Tabela 4 - Rentabilidade da soja para exportações nos Estados Unidos da América, Argentina eBrasil, 2006.

Fonte: NOGUEIRA, 2006.

Como se visualiza, apesar do Brasil ter evoluído em termos de produtividade(maior), e de poder adentrar em (novas) áreas de plantios (o que para os dois outros paísesé um fator limitante), a ausência de uma melhor infra-estrutura e logística para produçãode grãos em geral, assim como os insumos derivados de petróleo (diesel e fertilizantes),são gargalos que ainda vão persistir por algum tempo, conforme expõe Nogueira (2006).

17ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

3 CENÁRIO NACIONAL

O plantio de soja no Brasil foi de 22,4 milhões de hectares, logo, inferior a dasafra anterior que foi de 23,3, milhões, portanto, uma variação negativa de 4,7%. Dadosda CONAB (safra 2006/2007) informam que esta era uma situação esperada, em razão doaumento nos custos da produção, bem como, a cotação de preços baixos, em geral, para osgrãos, incluindo a soja. No Gráfico 4, têm-se a distribuição de área cultivada e a produçãodas cinco regiões brasileiras.

Gráfico 4 - Regiões brasileiras com a representação relativa das áreas e produção com soja, safra2005/2006.

Fonte: CONAB (ago./2006).

A Região Centro-Oeste é detentora da maior área e produção (10.353,5 mil/hae 26.796,4 mil toneladas, respectivamente). Segue-se o Sul com 8.153,6 mil/ha e 17.722,5mil toneladas. Sudeste e Nordeste estão próximos, em termos de área e produção. ONorte ainda representa a menor área e produção, em razão do cultivo só ter iniciado apartir dos anos de 1990. De qualquer modo, a produção decresceu neste ano, em termosde área (-0,80%), produção (-8,10%) e produtividade (-7,30%). Tal fato se deve ao própriodesestímulo devido aos preços baixos e pouco crédito por parte dos Bancos de fomento.

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 18

É importante destacar que as grandes produções ocorrem no Mato Grosso, Paranáe Goiás. A Taxa de variação para a principal variável da soja encontra-se na Tabela 5 efornece melhor idéia acerca da evolução quanto à expansão desta leguminosa nos últimosdezesseis anos.

A Tabela 5 mostra quanto o Brasil expandiu em termos de área cultivada comsoja, principalmente quando se visualiza o período como um todo (1990 a 2005), ocorreuma variação de mais de 100% e na Região Norte chega a quase 1400%. Outra conclusãoque se extrai é que o período de maior incremento na produção da soja foi mais recente, de2000 a 2005, em que as variações foram as mais significativas, em razão de alguns fatores,como o aumento do consumo por parte da agroindústria animal (bovinos, suínos e aves),aumento do consumo mundial, incentivos à exportação, expansão e transferência deconhecimentos de pessoas e empresas do Sudeste e Centro-Oeste para regiões mais novas(Norte e Nordeste), ou seja, o próprio avanço da fronteira agrícola. No caso dos estados daAmazônia, isto significa que o desmatamento para o plantio de soja pode ser uma realidade.Em outras palavras, a reconversão de áreas de pastagens degradadas para o plantio dasoja deve estar ocorrendo, embora não se saiba precisar o quanto, mas, sabe-se que existemterras antropizadas o suficiente e podem ser aproveitadas para expandir a cultura da sojasem que haja necessidade de ocorrer desmatamento. Todavia, esse procedimento dependede políticas públicas fortes na Amazônia.

Tabela 5 - Taxa de variação da área plantada com a soja no Brasil e demais regiões: 1990/95 a2000/05.

Fonte: IBGE, 2006.

Com relação aos preços praticados nos principais mercados internos, conformerevela o Gráfico 5, visualizam que estes praticamente se equivalem nos Estados do Sul eSudeste do País, sendo o menor preço praticado no Centro Oeste (Mato Grosso).Naturalmente, isto se deve a melhor estruturação logística que aqueles dois primeiros

19ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

estados possuem frente ao Mato Grosso, assim como a organização quanto aoprocessamento de produtos finais da soja como capacidade de refino e enlatamento, queMato Grosso ainda não configura com 10% nesses dois itens.

No geral, o Gráfico 5 mostra o comportamento dos preços pagos no Brasil, emnível de produtor. Observa-se que os maiores preços da série foram em outubro de 2002,sendo as médias para sacas de 60kg/soja de R$ 64,36 no RS, R$ 63,36 no PR, R$ 61,94 emSP e R$ 59,30 para o MT. Novos valores altos, praticamente no mesmo patamar ocorreramem todos os quatro mercados de outubro de 2003 a maio de 2004, quando os preçoscomeçam a cair e chegam em suas cotações mais baixas da série em abril de 2006, comvalores de R$ 25,71/sc no PR, R$ 23,95/sc em SP, R$ 24,06/sc no RS e R$ 19,91/sc em MT.Os menores preços praticados são os do MT e os três demais ficam muito próximos, nãohavendo grande discrepâncias. No geral, a média da série ficou em R$ 40,00/sc para osmercados do PR, SP e RS. A média do MT ficou em R$ 35,45, mas a maior amplitudeentre o maior e menor valor pago pelo saco de 60 kg da soja foi registrado no RS, comR$ 40,31/sc seguido de perto por MT, cuja amplitude foi de R$ 39,39/sc.

Gráfico 5 - Preços da soja praticados nos principais mercados internos (Paraná, São Paulo, RioGrande do Sul e Mato Grosso) em R$/saca de 60 kg, período de dez. 2000.

Fonte: IPEA, 2007.Nota: Valores atualizados pelo IGP-DI, Base: dezembro/2006=100

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 20

No Gráfico 6 observam-se os índices estacionais verdadeiros para o produto sojaem quatro mercados distintos, que fornecem uma base para se entender o aumento ounão de preços de produtos.

Gráfico 6 - Índices Estacionais Verdadeiros (IEV) dos mercados de Chicago (CH), Argentina (ARG),Paranaguá (PARAN) e Rondonópolis (ROND), relativos ao produto soja em grãos.

Fonte: dados de pesquisa.

Os IEV máximos dos mercados de Chicago (102,18) e Rondonópolis (100,51)acontecem no mesmo mês (julho) e os mínimos em meses diferentes: abril, para Chicago(98,31) e dezembro para Rondonópolis (99,01). Isto corresponde a uma amplitude entre omaior e menor valor de 3,87% (CH) e 1,50% (ROND), respectivamente. O período de safrapara Chicago envolve seis meses, que vai de novembro a abril, enquanto de Rondonópolisé mais curto, de apenas três meses, vai de outubro a dezembro. Os preços mais altos, paraos dois mercados, que compreendem o período de venda, são, também, muito distintos.Chicago compreende, praticamente o segundo semestre e Rondonópolis mais o primeirosemestre. De qualquer modo, é importante frisar que esta movimentação decorre do fatode esse produto (soja) ser negociado em bolsa e, por isso, o efeito sazonal é reduzidosubstancialmente.

No que diz respeito ao mercado da Argentina, o maior (104,41) e menor índice(97,62) ocorrem nos meses de maio e abril, enquanto para Paranaguá são para os mesesde dezembro (101,15) e janeiro (99,35). Isto corresponde uma amplitude de 6,79% (ARG)e 1,80% (PARAN), portanto, maior, comparativamente aos outros dois mercados (Chicagoe Rondonópolis).

21ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

Com relação à comercialização, verifica-se que na Argentina ela se processa emquatro meses (dezembro, janeiro, maio e junho), quando se verifica a ocorrência de preçosmais altos. A comercialização de Paranaguá ocorre mais no segundo semestre (de agostoa dezembro), com preços mais elevados na entressafra e mais baixos na safra, que vão dejaneiro a junho (primeiro semestre).

No Gráfico 7 são visualizados os índices cíclicos dos dois principais mercados queinfluenciaram os preços internos da soja no Brasil. Esses dois mercados foram escolhidospara se fazer a análise de ciclo porque são os principais locais de compra e venda da soja,inclusive, da produção brasileira.

Gráfico 7 - Índices cíclicos dos preços de mercados de Chicago (CH) e Argentina (ARG),relativos ao produto soja em grãos.

Fonte: dados da pesquisa.

O ciclo da soja ocorre de quatro em quatro anos, em que se visualiza a presençanítida entre dois picos ou dois vales na série de preços dos dois mercados, sendo que, noperíodo de 2001 até 2005, têm-se dois vales, formando um ciclo. Na verdade, o índice cíclicoserve para observar as expansões e retrações econômicas de determinado produto num períodode tempo. Assim, em setembro de 2001, começa a trajetória de um novo ciclo (ascendente)em que o preço da soja vai aumentando, paulatinamente, até chegar ao máximo (pico) emmarço e abril de 2004, quando o preço começa a baixar para chegar em seu menor preço(vale). Enfim, registra-se que a partir de 2004 esta oleaginosa passa a representar uma série

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de crises que vão destes preços baixos até a desarticulação dos agentes produtivos, o queleva a chegar em 2005 em grande vale e/ou registro de preço mais baixo da série em análise.Mas, a perspectiva é que os preços, já no final do exercício de 2006, comece a subir, pois omês de outubro foi de alta para as cotações de soja, tanto em nível de mercado nacionalcomo internacional, motivada por fatores técnicos do mercado, conforme opinião dos analistas,que justificam esta alta em razão do aumento do preço do milho e trigo que devem continuar“puxando” os preços da soja. Demais disso, segundo esses analistas, o óleo de soja temchamado a atenção de alguns fundos de investimento, que acreditam que alta nos preços dopetróleo pode forçar uma valorização do óleo de soja (REVISTA AGROBRASIL, 2006).

No Gráfico 8 observam-se, ainda, os preços médios da soja em Chicago, que noperíodo ficou entre US$ 200 e 220/t, onde se visualiza uma subida abrupta no período de2003 até o ano de 2004, quando cai, neste mesmo ano (setembro) praticamente para ospreços praticados em junho de 2002, portanto para US$ 224,01/t, registrando um valorainda acima da média do período, que foi de US$ 209,85. Esta evolução, de qualquerforma, confirma os índices cíclicos descritos anteriormente.

Gráfico 8 - Preços médios mensais da soja no mercado de Chicago (1998 - 2006).Fonte: Chicago on Board Tarde - CBOT, 2007

Em termos de capacidade de processamento, isto é, beneficiamento de produtos,as principais encontram-se nos Estados do Sul e Sudeste brasileiro. A título de esclarecimento,considerou-se apenas os Estados com percentual acima de 10%.

23ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

Como se visualiza na Tabela 6, o beneficiamento ocorre muito pouco ainda emregiões que são classificadas como grandes produtoras (Goiás e Mato Grosso) e naAmazônia, apenas os estados do Amazonas e Rondônia estão com unidades deesmagamento, sem considerar que o primeiro Estado ainda não possui produção suficientepara processar, devendo importar de Roraima e Pará. Finalmente, percebe-se a agregaçãode valores nos três principais produtos do complexo da soja no Gráfico 9.

Tabela 6 - Capacidade processamento, refino e enlatado da soja brasileira, período de 2001 a 2005.

Fonte: ABIOVE, com adaptações (2006).

O Gráfico 9 revela períodos distintos quanto aos preços dos três produtos docomplexo soja, pois de 1992 a 1998 os preços foram relativamente altos (US$/t), quandopassa por um período de preços baixos (1999 a 2001) e quando recomeça a recuperaçãoque em 2004 os preços estavam em seus níveis mais altos, além de que foi neste ano quehouve alteração na moeda brasileira, talvez, isso explique uma certa discrepância para ostrês a quatro anos subseqüentes, já que são de perdas e/ou queda (2005 e 2006). Para2007 a previsão é de recuperação, chegando próximo aos preços de 2004.

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Gráfico 9 - Preços dos produtos do complexo da soja brasileira no período de 1994 a 2005, cotadosem dólar a tonelada, segundo a ABIOVE (2006).

Fonte: elaborada pelos autores conforme a Associação Brasileira de Indústrias de Óleo Vegetal- ABIOVE

Por fim, para se ter uma idéia geral e resumida do que já foi discutido do complexoda soja, parte-se para o desempenho econômico deste setor, correspondente ao períodode 1998/99 a 2005/06 (Tabela 7).

Tabela 7 - Desempenho econômico da soja no Brasil: 1998/99 a 2005/06.

Fonte: Agroanalysis, jan. 2006.

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A produtividade da soja brasileira se manteve na média de 3.000kg/ha, conformeregistra a Tabela 7. Isto representa 50 sacas de 60kg, cujo preço é considerável, quandocomparado com outros grãos (arroz e milho). Este resultado se deve a pesquisa, que muitotem avançado sobre melhoramento de sementes e controle de doenças desta leguminosa,além de ter evoluido, também, via empresas multinacionais, na biotecnologia, o que significanão só plantar soja geneticamente modificada (GM), e a mesma tem se expandido muitorapidamente. Contudo, é uma cultura que exige altos investimentos, principalmente por setratar de uma atividade essencialmente mecanizada e, por isso, é restrita a empresáriosque tenham capacidade (capital financeiros e humanos) para investir e produzir. A respeitodisso, pode-se traçar um perfil dos produtores de soja entrevistados no Estado do Pará e osmesmos são pessoas com experiência e/ou estudo na formação agropecuária, comexperiências, via de regra, advindas de Mato Grosso, pois têm raízes lá e/ou passaram(trabalharam naquele Estado) e são suscetíveis de adotar inovações tecnológicas. Por isso,investem em conhecimento (próprio) e melhoramento/treinamento da mão-de-obracontratada. Para eles, sem tecnologia não existe produção com sucesso. Quase 100% dosentrevistados são de outros estados.

Modo geral, o período em análise, relativo às safras de 1999/00, 2000/01, 2004/05 e 2005/06 resultaram em prejuízo para o sojicultor, conforme suas receitas líquidasnegativas (Tabela 7), em razão dos custos de produção terem sido maiores. Demais disso,como o produto, em sua grande maioria, se destina ao mercado externo, com o câmbiosobrevalorizado2 e os juros internos altos, portanto, um cenário complicado para se alcançarlucros, mesmo porque, a oferta desse cereal tem aumentado, tanto no mercado internocomo externo, sem considerar que o consumo diminuiu em razão da crise do setor avícola,um dos maiores demandantes de proteína vegetal. Assim, a perspectiva de melhora em2006 não ocorreu, em nível de mudanças significativas para a soja3, uma vez que o governonão fez alterações e/ou intervenções na economia.

2 Alguns autores discordam que a taxa do câmbio esteja sobrevalorizada (o que já foi discutido em nota derodapé anterior), entretanto, para os produtores entrevistados e mesmo outros autores, o câmbio está siminterferindo nas transações do agronegócio. Basta lembrar que os insumos, tais como diesel e fertilizantessão oriundos do petróleo e, estes últimos, em sua maioria são importados.

3 CYSNE (2006) discorre mais tecnicamente sobre as exportações agrícolas e a crise dos grãos em doistextos diferentes e traça a situação atual e suas perspectivas para as exportações agrícolas. In: Conjunturaeconômica, maio de 2006 e Agroanalysis. Mar/2006. FIORE (2004) é outro autor que expõe sobre a criseda agropecuária decorrente da política macroeconômica (Conjuntura Econômicas, dez./2004).

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4 CENÁRIO REGIONAL

Trata-se, nesta seção, da expansão da soja nos estados da Amazônia Legal,com destaque para o Mato Grosso (Centro-Oeste) e Região Norte (Pará, Rondônia,Roraima e Tocantins), que vêm, ultimamente, explorando a soja, talvez, como mais umciclo econômico regional, portanto, com o risco de não ser duradouro como os demaisque o antecederam. Sobre essa questão, Santana (2006) e Campos (2006), expõem quea expansão da soja na Amazônia é um fato que ocorre mediante o processo natural deprodutores à busca de terra para explorar a soja, com características e/ou perfil próprio,tais como: experiências nas localidades de origem, adquirem terras que passam a sergerenciada com certo conhecimento empresarial (adquirido na própria história de vidae/ou através de estudos), e preza por relações trabalhistas formais, de forma a empregartecnologia e mão-de-obra especializada. Os produtores que não se enquadram nessatipologia, por razões de ordem econômica e/ou social, ficam excluídos dessa categoria evão constituir os colonos que vendem seu lote bem localizado e se deslocam, adentrandona floresta nativa.

Por outro lado, Homma (2006) analisa a expansão da soja, especificamente quantoà Região Norte sob dois aspectos: a primeira diz respeito ao crescimento da soja comouma nova área de produção desta leguminosa; a segunda como uma via de escoamentoda produção da soja do Centro Oeste. Ambas as questões envolvem tanto riscos ambientaiscomo econômicos. No primeiro caso, a soja é uma cultura intensiva e extensiva ao mesmotempo, isto é, pode incorporar novas áreas (abertura) de cerrado ou não, acarretandoimpactos ambientais na biodiversidade, causar erosões devido à intensidade de usos demáquinas e insumos, além de gerar poucos empregos e se destinar, grande parte do produtoà exportação. Quanto aos benefícios econômicos, segundo Homma (2006), podem-seenumerar diversos, como: incorporação de nova atividade; aproveitamento de áreasalteradas; aumento na produção de grãos com eficiência, em razão da rotação de culturascom outros grãos (arroz, milho e feijão); expansão da criação de animais (suínos e aves),que dependem da soja enquanto insumo.

Sendo assim, a exploração de grãos, com destaque para a soja, é um ciclo dedifícil reversão, mesmo porque, agora, faz-se recuperação de pastos degradados com osistema: lavoura x pecuária. Nesse sentido, a soja na Amazônia deve se expandir a despeitodos defensores do meio ambiente, mesmo porque existem movimentações entre os principaisatores da cadeia produtiva da soja [Trade (Cargill), Organizações Não Governamentais -ONG (TNC), produtores rurais (representados pelo Sindicato Rural de Santarém – SIRSAN),órgãos governamentais (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis - IBAMA, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, etc.)]que estão se antecipando na realização de acordos entre eles, para se regularizarem frenteàs principais denúncias acerca da violação das leis ambientais e da questão fundiária.

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Nesse sentido, a consolidação da exploração da soja é confirmada pela presença daestruturação de portos de escoamento e a presença e a atuação de trading na Região,como se tem a oeste (MT, RO e RR) o Grupo Maggi, à leste (PA e TO) a Bünge, e mais aoCentro do País (PA e MT) a Cargill, portanto, o Mapa 1, retrata os estados amazônicosprodutores de soja, com relação à área e produção.

Mapa 1 - Estados amazônicos (MT, PA, RO, RR e TO) produtores de soja em 2000 e 2004.Fonte: elaborado pelos autores.

Na Região Norte, a produção da soja cresceu a uma taxa geométrica de 35,44%a.a. no período de 1990 a 2005. Os Estados responsáveis por este incremento foram, porordem de importância quanto à área e produção, Tocantins, Rondônia e Pará (Gráfico 10).

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 28

Gráfico 10 - Área (ha) e produção (t) da soja pelos principais estados da Região Norte (PA, TO eRO): 1990 a 2005.

Fonte: IBGE, 2006.

Tocantins é o principal produtor da Região Norte e, em 2005, a produção chegoupróxima de um milhão de toneladas. Carvalho (1999, p.3) relata que “o plantio de soja noscerrados tocantinenses teve início em 1995 através do Programa para o Desenvolvimento doCerrado (PRODECER III), tendo como patrocinador a Agência Japonesa para a CooperaçãoInternacional (JICA), com investimento de US$ 70.00 milhões, em conjunto com produtores eo Governo brasileiro”. O órgão operador deste programa foi a Companhia de Produção Agrícola(Campo). O município beneficiário dessa cooperação foi Pedro Afonso, localizado a 200 kmde Palmas. Outros incentivos foram dados, como terras desapropriadas em 1998 (consideradasimprodutivas), cuja área total correspondeu a 105.000 ha, sendo parte dessas vendidas paraempresários. Essa seleção abrangeu 43 produtores, dos quais cinco eram portugueses, paraexplorar a soja em lotes de 900 ha cada. Neste caso, o município foi Campos Lindos e osinvestimentos previstos de US$ 40.00 milhões seriam oriundos da iniciativa privada. Dadosdo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico - (IBGE, 2006) revelam que Tocantins estáprocessando a conversão da área de arroz para soja e isto se deve, talvez, pelas proximidadesfísicas e comerciais que mantém com o Mato Grosso e Goiás, além dos próprios incentivosanteriormente descritos, para expandir o plantio de soja. Como resultado, a TGC da produçãode soja do Tocantins, de 1990 a 2005, foi de 34,67% a.a.

Rondônia vem desde o início dos anos de 1990 plantando soja, ou seja, um poucomais cedo do que o Estado do Pará, sendo que este último teve início, em nível experimental(pesquisa) no início do ano agrícola 1994/1995. Encontra-se, atualmente, com a produçãopraticamente igual ao de Rondônia, ou seja, 204.302 mil toneladas. No Pará, destacam-se

29ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

três pólos de produção para a soja: Paragominas, Santarém e Redenção. Em termos devolume produzido, o Pará registra uma TGC para o período de 1990 a 2005 de 111,46%a.a., portanto, o estado que mais expandiu a cultura da soja nos últimos anos.

Visualiza-se ainda que o Pará com uma área de 575 hectares (1997) e, em 2005,salta para 68.410 ha. Para 2005, a produção foi acima de 204,30 mil toneladas. Isto mostrao incremento, em termos de volume, quando uma empresa privada como a Cargill se instalanuma determinada região, no caso Santarém, e imprime uma nova dinâmica de produção,abrindo espaço para novas empresas, mão-de-obra especializada, enfim, todos os elosque compõem a cadeia produtiva de grãos.

Em Rondônia, segundo Carvalho (1999, p.4-5), “o grupo Maggi já investiu US$200.00 milhões na hidrovia Porto Velho-Itacoatiara, com o intuito de escoar a produçãotanto do Mato Grosso como de Rondônia para o porto graneleiro de Itacoatiara, localizadono rio Amazonas, de onde o produto sairá com o preço de escoamento (frete) mais barato”.Demais disso, continua a autora, foi criada uma representação em Porto Velho para comprartoda a soja produzida na região.

Feitas essas observações, necessárias para se entender o contexto em que a sojase expande nos estados amazônicos, apresentam-se, então, a evolução de suasprodutividades (Gráfico 11).

Gráfico 11 - Produtividade (kg/ha) dos estados da Região Norte relativos à produção de soja de1990 a 2005.

Fonte: IBGE, 2006.

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 30

A produtividade de Tocantins, entre 2002 e 2005, mostra-se inferiorcomparativamente aos dois estados (PA e RO), sendo que Rondônia é superior aos doisestados produtores (PA e TO). Isto se deve, talvez, à exploração de grãos, principalmentede arroz e soja, ter se expandido muito em Rondônia, com investimentos privados há maistempo de que, por exemplo, no Pará, em que a expansão foi mais intensa a partir de 2003.Ou seja, existe em Rondônia o interesse tanto governamental quanto privado na produçãodesses dois produtos (arroz e soja). Este fato é confirmado pelo Relatório de Viagem aoEstado de Rondônia: Levantamento de dados para os Estudos Setoriais, realizado porfuncionários do Banco em agosto de 2006.

No Centro-Oeste, o estado do Mato Grosso é o maior produtor de soja, pois, desdeos anos de 1980, do século passado, ocorreram diversos incentivos oficiais e privados, paraintensificar a produção agropecuária no cerrado daquela Região, inclusive, grãos, comdestaque para a soja. Um dos primeiros grupos empreendedores desta época foi o de Olacyrde Morais, o maior produtor de soja do país e, por isso, conhecido como o “Rei da Soja”.

Nos anos de 1990, o destaque foi para o grupo André Maggi, cujo atual gestor éo Sr. Blairo Maggi, considerado como um dos maiores proprietários de plantação de sojado mundo. No Gráfico 12 encontram-se as principais variáveis da soja, relativas ao estadodo Mato Grosso.

Gráfico 12 - Área (área em ha), produção (t) e produtividade da soja no estado do MatoGrosso:1990 a 2005.

Fonte: IBGE, 2006.

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Como se visualiza no Gráfico 12, o comportamento das variáveis área, produçãoe produtividade da soja em Mato Grosso, em 16 anos, é crescente. Assim, no ano de 1990,o plantio, em termos de área, foi de 1.552.910 ha, com a produção de 3.064.715 toneladase produtividade de 1.973,53 kg/ha. Em dezesseis anos, o avanço desta leguminosarepresentou, em 2005, um plantio de 6.121.724 ha, com uma produção de 17.761.444toneladas, alcançando uma produtividade de 2.901,38 kg/ha. Em outros termos, significadizer que a área teve uma taxa geométrica de crescimento (TGC) de 10,02% a.a., produçãode 12,35% a.a. e produtividade de 2,12% a.a. Este resultado mostra a dinâmica decrescimento de apenas um produto agrícola que teve incentivos para se expandir em todoo Brasil e, por isso, em 2005, o complexo soja exportou US$ 9.5 bilhões, representando21,7% do total das exportações. A título de informação, em 2005, somente para a China, oBrasil exportou US$ 1.717 bilhões.

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 32

5 CENÁRIOS ESTADUAIS

Nesta seção, procedeu-se a análise dos resultados das metodologias empregadaspara identificar os municípios especializados na produção de soja, nos estados do MatoGrosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Primeiramente, utilizou-se a análisemultivariada, através da análise de componente principal (ACP), para normalizar os índicesde concentração, denominado Índice de Concentração Normalizado (ICN), conforme descritono Apêndice.

Foram três as variáveis bases para se saber se havia ou não concentração deprodução de soja localmente: a primeira foi o Valor Bruto da Produção das LavourasTemporárias (VBP), obtido junto aos sites do IBGE e CONAB; a segunda o Emprego Formaldas Lavouras Temporárias (ELT), cujos dados foram extraídos da Relação Anual deInformações Sociais (RAIS) emitida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A terceira,o Crédito Rural concedido para as Lavouras Temporárias, com recursos do FundoConstitucional de Financiamento da Região Norte (FNO). Para todas estas variáveis, a baseda pesquisa foram dois anos (2000 e 2004).

Para o entendimento da escolha dessas três variáveis, tem-se que:

O VBP permite identificar os municípios especializados na produção, envolvendotanto as atividades formais quanto informais, com relação à mão-de-obra ocupada naprodução de lavouras temporárias.

O emprego, extraídos das RAIZ, permite identificar os municípios especializadossomente nas atividades que utilizam mão-de-obra formal, ou seja, indica a presença deatividades empresariais.

O crédito rural (FNO), permite identificar os municípios que concentraram maiorparcela desses recursos aplicados em dada atividade produtiva. Em tese, os resultadosobtidos com esta variável deve manter forte adesão às outras duas variáveis, caso a políticade fomento seja consistente.

Os municípios considerados especializados por estado, na produção de soja, foramaqueles que registraram um ICN igual ou superior a média obtida por cada estado.

Na oportunidade, acrescentaram-se aos resultados os relatos das entrevistas feitas“in loco” pelos técnicos do Banco da Amazônia, de forma a dar mais consistência asanálises, mediante o uso de informações reais acerca do “ambiente” onde as inter-relaçõessão desenvolvidas quanto ao produto soja. Na seqüência, descrevem-se os resultados porUnidade da Federação pesquisada.

33ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

5.1 ESTADO DO MATO GROSSO (MT)

Para este estado, determinou-se o Índice de Concentração Normalizado (ICN)através de duas variáveis: Valor Bruto da Produção de Lavouras Temporárias (VBP) e empregoFormal de Lavouras Temporárias (ELT), dado que não se aplica o FNO naquele estado. Osresultados encontram-se na Tabela 8.

Os municípios especializados na produção de soja, tendo como base as variáveisVBP e ELT, para dois anos (2000 e 2004), foram 49 e 29, respectivamente. No primeiro caso,pela determinação simples do VBP não se conseguiu “enxergar” como estão organizadosem nível de estrutura social. Por outro lado, a determinação de municípios especializadospelo emprego formal é uma referência econômica e social de como esses municípios sãomais bem estruturados no que diz respeito ao fortalecimento de cadeias produtivas, suasinter-ligações em termos econômicos e sociais com outras atividades, gerando emprego,renda e recolhendo impostos que podem ser re-investidos em infra-estrutura econômica esocial.

De outro modo, os números de municípios especializados na produção de sojasão grandes se considerar que o número total de municípios com VBP para o Estado foramde 60 municípios em 2000 e 63 em 2004. Isto correspondeu a 43,17% (2000) e 45,32%(2004) de municípios especializados em soja, respectivamente. Entretanto, se aplicar umnovo filtro, que nada mais é que considerar municípios especializados em soja pelas duasvariáveis, ou seja, tanto pelo VBP como pelo ELT, este número cai para 24 municípios. Istosignifica que grande parte da produção de soja ocorre em unidades produtivas que ocupammão-de-obra informal. Vale ressaltar que, a partir de 2008, estas unidades não poderãoexportar suas produções, ou seja, estão fora do mercado internacional.

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 34

Tabela 8 - Municípios especializados em soja no estado do Mato Grosso, pelo VBP e ELT: 2000 e 2004.

Fonte: dados da pesquisa.

35ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

Finalmente, no Mapa 2, visualiza-se espacialmente os município especializadosna produção de soja em Mato Grosso pelas duas variáveis (VBP e ELT) simultaneamente.

Mapa 2 - Municípios do estado do Mato Grosso especializados na produção de soja pelo VBP eELT: 2000 e 2004.

Fonte: elaborado pelos autores, 2006.

5.2 ESTADO DO PARÁ (PA)

O Índice de Concentração Normalizado (ICN) que indica os municípios do estadodo Pará especializados na produção de soja estão contemplados na Tabela 9. Para este,utilizou-se três variáveis na determinação do ICN: Valor Bruto da Produção de LavourasTemporárias (VBP), Emprego Formal de Lavouras Temporárias (ELT) e Crédito Rural oriundosdo Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), para os dois anos: 2000 e2004, conforme descrito no Apêndice.

Como exposto anteriormente, o estado do Pará está produzindo soja. Como asáreas de cerrados de Rondônia, Tocantins e Mato Grosso têm se expandido com estaleguminosa, a idéia em termos de política estadual era de que, em áreas antropizadas(alteradas), fossem implantados pólos de produção de grãos, com destaque para milho esoja.

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 36

Pelos resultados da Tabela 9, o número de municípios especializados em soja foideterminado através da variável crédito rural (FNO), um total de 12 municípios. Em seguida,vem os municípios identificados pela variável ELT, num total de seis (Altamira, Brasil Novo,Capitão Poço, Jacundá, Santa Bárbara do Pará e Santa Luzia do Pará). Finalmente, pelo VBPtêm-se apenas cinco municípios paraenses especializados em produzir soja. Desses cinco,três são comuns aos municípios identificados pela variável crédito rural (FNO): Paragominas,Santarém e Ulianópolis, que se trata, na verdade, de municípios em que, previamente,foram destinados três pólos de produção de grãos.

Tabela 9 - Municípios do estado do Pará especializados na produção de soja pelas variáveis VBP,ELT e FNO, para os anos de 2000 e 2004.

Fonte: dados da pesquisa.

Frente aos 143 municípios registrados no estado, este é um resultado bem inferior aode Tocantins e Rondônia, que são menores em termos de áreas destinadas à produção de grãos.

Neste caso, as orientações para incentivar a produção dessa leguminosa, devemser direcionadas para os seis municípios que produzem a soja, trazendo benefícios para alocalidade e conseqüentemente para o estado como um todo. No Mapa 3, encontram-seplotados os municípios especializados na produção de soja em 2000 e 2004, pelas trêsvariáveis (FNO, ELT e VBP).

Como forma de complementar as informações de dados primários, procedeu-seentrevistas em profundidade nos municípios dos estados que se mostraram especializadosna produção da soja. Passa-se, então, a descrever os resultados desses levantamentos

37ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

feitos “in loco” nos municípios que, sem dúvida, contribuíram para compreender em quegrau de evolução se encontram os processos da organização produtiva da soja em cadalocalidade, seus atuais gargalos e as perspectivas dos agentes envolvidos nesta atividade.

Mapa 3 - Municípios do Pará especializados na produção da soja pelos VBP, ELT e FNO:2000 e 2004.Fonte: elaborado pelos autores, 2006.

5.2.1 Caracterização do setor de grãos no sul do Pará

No que se refere ao cultivo de grãos, o sul do Pará, ainda, é uma região poucodinâmica. Na microrregião de Marabá as iniciativas de cultivos são raras. A pecuária dominaa economia local.

A microrregião de Redenção possui maior representatividade. Entretanto,apresenta alguns fatores naturais que dificultam a atividade. O primeiro é o relevo, cominúmeras áreas acidentadas que não contribuem para a expansão da atividade. Outroproblema diz respeito às condições pluviométricas, visto que esta área apresenta excessode chuvas no inverno.

Assim, a produtividade média da soja nesta microrregião é baixa, ficando emtorno de 35 sacas/hectare. O município de Santana do Araguaia apresenta maior potencialpara a soja, pois constitui um platô (plano) com imensas áreas disponíveis e apropriadas

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 38

para a cultura e as chuvas são mais bem distribuídas. Comparativamente, o milho se adaptamelhor do que a soja nesses ambientes. Outro grande desafio para produção de grãos é aestrutura de secagem. Só nos municípios de Redenção e Bom Jesus existem estruturas desecagens, contudo consideradas ineficientes pelos produtores.

Destaca-se, ainda, nesta microrregião a atuação da empresa de insumosagropecuários Bünge, que está incentivando e financiando a produção local. O produtor,no entanto, é obrigado a comprar todos os insumos e a vender toda sua produção paraesta empresa. Ao final, devido as ineficientes estruturas de secagem e falta de mercadocerto para os seus produtos, o produtor fica obrigado a fechar o negócio com a Bünge, queabsorve grande parte da produção local, principalmente, de soja.

5.2.2 Caracterização do setor de grãos no oeste do Pará – Pólo de Santarém

Com relação aos aspectos da soja, neste município, foram ouvidos diversosatores, dos quais se destacaram órgãos de fomento (ADEPARÁ, EMATER, EMBRAPA, dentreoutros), produtores de sementes, produtores rurais, alguns Cerealistas e Trade (Cargill). ATabela 10 resume as informações básicas sobre a produção da soja naquela região.

Tabela 10 - Informações da produção de soja no Pólo de Santarém, set.2006.

Fonte: dados da pesquisa.

O porto da Cargill, em Santarém, tem sido uma vantagem para os produtoresdesta região, pois, trata-se de uma empresa que tem investido localmente, desde 2003, egera muitos empregos. Uma firma desse porte trás consigo conhecimentos, outras empresase movimenta a economia local. Em termos técnicos, o problema tem sido o calcário, queainda sai caro, já que a necessidade é de 3 – 4 t/ha. De qualquer modo, deve-se ter emmente que a soja não é plantada isoladamente e outras culturas (grãos) devem serestimuladas, como arroz, milho, girassol e sorgo, que vem sendo explorado comercialmente.

39ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

Demais disso, o que tem chamado à atenção é o crescimento da avicultura, em que a sojae o milho são insumos básicos para viabilizar esse segmento.

Para o melhor entendimento da dinâmica da produção de grãos no Pólo deSantarém relata-se alguns dos principais resultados/impressões das entrevistas feitas “inloco” pelos funcionários do Banco.

Desde 2003 que a Cargill está em operação, com o objetivo principal de escoara produção de soja do estado do Mato Grosso, além disso, conforme estudos feitos pelaEMBRAPA esta Região possui cerca de 500 mil hectares apto para o plantio da soja eatualmente estas terras estão com capacidade ociosa. Assim, já trabalharam com trêssafras e estão partindo para a quarta e no ano de 2006 a produção foi de 53 miltoneladas.

Quanto à capacidade estática da Cargill é de 60 mil toneladas e 95% da sojaexportada de Santarém é procedente do oeste do Mato Grosso e os outros 5% é local. Odestino da soja no Porto da Cargill são os mercados da Europa, México e Oriente. Para osdirigentes desta empresa em Santarém, a soja somente é viável para plantio de 200 a300ha e destacam que a região exerce uma vantagem sobre Mato Grosso que é a existênciade área para compensação.

Assim como em toda a região do Estado, existem problemas relacionados juntoaos órgãos ambientalistas e por isso, a Cargill não vem comercializando o produto comquem não está regular (em termos de titulação da terra) e, paralelo a isso, a TNC, uma ONGnorte americana, e outros órgãos como o sindicato e cooperativas estão se empenhandopara cadastrar os produtores que querem regularizar suas áreas. A Cargill informa que jáse encontram cadastrados 96 produtores, logo aptos a comercializar a soja com a referidatrading, mas sabe-se que existem 119 produtores, consoante dados da Cooperamazon,que estão pleiteando essa regularização.

Na verdade, existe todo um processo a respeito dessa dinâmica de Regularização,pois a TNC e o Sindicato dos Produtores Rurais de Santarém, com o apoio da Cargill, estãounindo esforços para treinar o produtor a recuperar as áreas degradadas em propriedadesrurais.

Em Santarém existe uma Unidade de Beneficiamento de Semente (UBS) e relatosde seus dirigentes informam que hoje são responsáveis pela única Sementeira da região,ou seja, atende a demanda de todo o oeste Paraense, embora diga que existe a ameaçaem não mais produzir sementes para os produtores que operam com Bancos, porqueexpressam que o usuário de crédito de Banco não é confiável, em razão que existe muitaburocracia e o crédito nunca está disponível em data correta do plantio e até mesmo

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 40

pode não sair, de modo, que não podem arcar com a entrega da semente sem saber dacerteza do recebimento deste insumo.

Além de produtores de sementes os proprietários da UBS são produtores de grãosem Santarém e Belterra. Na época, tinham 2.400 ha de área plantada e 450 ha arrendadas,plantaram 1000 ha de soja, 700 ha de arroz, 600 ha de sorgo, 400 ha diversos (painço,forrageira, milho e feijão). A soja é o carro-chefe e a produção foi distribuída da seguinteforma: 1/3 para a empresa Seleto, 25% para sementes e o restante vendido à Cargill quelhes adiantam os insumos, que são mais caros, e pagam na safra.

Revelam que a soja acaba viabilizando outras atividades como a produção desementes de girassol e sorgo. O sorgo e o feijão atendem ao consumo local em razão de ovolume, ainda, ser pequeno. Para os dirigentes da UBS, a plantação de soja tem apresentadoexpansão nos últimos anos comparativamente à produção de arroz como mostra o Gráfico 13.

Gráfico 13 - Produção de soja e arroz no Pólo de Santarém segundo dados da UBS:1999/2000 a2005/2006.

Quanto à organização de produtores rurais de Santarém, atualmente existe commaior atuação a Cooperativa Agroindustrial da Amazônia (COOPERAMAZON), fundadaem 29/10/2005, cujo objetivo foi baixar os custos da produção, tendo iniciado suas atividades

41ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

com 19 sócios e hoje conta com 66. Sua representatividade é de 50% para grãos e 50%para a pecuária. Na parte agrícola comercializam adubos, produtos veterinários, ração, salmineral, defensivos agrícolas e insumos de modo geral. As informações abaixo foram cedidaspelo Presidente da Cooperativa:

Relativamente à crise das safras 2004/2005 foram colhidas 54 mil ha de arroz,equivalente a 2,5 bilhão de sacas, motivo pelo qual o preço do arroz apresentou umaqueda, chegando ao preço de R$ 12,00 sc/60kg, neste ano. Com isso muitos produtoresficaram descapitalizados. Houve dificuldade de crédito em 2006, mas o preço do arrozatual está em torno de R$30,00 sc/60kg (setembro 2006). Naquela época, haviam 520 milsacas equivalente a 1 milhão de kg de arroz beneficiado que correspondia ao consumo deSantarém.

Expõe, que Santarém deixou de ganhar 40 milhões, por conta dessa crise. Relatouque 16mil/ha de arroz foi plantado, isso vai apresentar uma produtividade média de 40 sc/60kg/ha, mas utilizando alta tecnologia poderia atingir uma produtividade de 75 sc/60kg/ha, e com baixa tecnologia 45 sc/60kg/ha.

Por fim, acredita-se que estão superando a crise devido a organização dessesprodutores, que com uma entidade pode melhorar as relações de compra e venda queatendam os interesses dos produtores.

5.2.3 Caracterização do setor de grãos no nordeste do Pará – Pólo deParagominas

A produção de grãos em Paragominas começou mais intensamente a partir de 1997.No começo houve incentivos do Governo Estadual. Como em Santarém existem as casas debeneficiamento de arroz para abastecer o mercado local e estadual, inclusive com marcaspróprias, a produção é local, mas, às vezes, faz-se necessário buscar/importar de “fora”.

A produção do milho é vendida, em sua maioria, para “granjeiros” de BelémSanta Izabel e demais localidades de produção de frango (próximas a capital). A soja évendida para a Bünge. As cultivares são as mesmas de Santarém. A diferença é que emParagominas os agricultores já vem plantando a soja geneticamente modificada.

A produção e área, comparativamente à Santarém, é menor, mas, a produtividadeé igual (média de 50sc/ha). Existe uma Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS),assim como a CONAB está presente (terceirizada). Em termos quantitativos, quanto àprodução do Pólo de Paragominas, para a safra de 2005/06 da soja, tem-se a Tabela 11.

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 42

Tabela 11 - Produção de soja no Pólo de Paragominas, 2005/2006.

Fonte: adaptada pelos autores a partir dos dados do IBGE, 2006.

Quanto aos preços praticados naquele mercado (Tabela 12), constam os das trêsúltimas safras (2003 a 2006) e revelam que estão no mesmo patamar de outros locais doresto do Brasil, como Paraná e São Paulo. A tecnologia vem sendo implantada porque osempresários são de fora, portanto foi trazida do MT e Sudeste do país, com assistênciatécnica privada, insumos etc.

A CONAB está presente e falta melhorar a infra-estrutura (estradas e armazéns)para dinamizar mais o pólo de grãos.

Tabela 12 - Preços praticados na três últimas safras em Paragominas e adjacências.

Fonte: JUPARANÃ, 2006.

A produtividade da soja na região de Paragominas gira em torno de 45 a 50sacas de 60kg/ha, conforme pesquisas feitas junto aos produtores daquela região. Algunsprodutores alcançam mais ou menos, dependendo da condução da cultura, incluindo

43ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

tecnologia de ponta, com insumos, assistência técnica. A variedade mais cultivada é aSambaíba, e quanto ao custo de produção está entre R$ 900,00 a R$ 1.200,00/ha, segundoos produtores.

Como se observa, a produção de grãos em Paragominas pode avançar mais,entretanto, é imprescindível que o Porto Graneleiro de Barcarena e a hidrovia do rio Capimfiquem prontos e funcionem, pois, eliminam gargalos de escoamento, incluindo a diminuiçãode custos nos transportes. Isto aumentará as possibilidades de investimento e,consequentemente, o aumento de produção de grãos, incluindo a expansão da soja. Quantoaos órgãos públicos (fomento, assistência técnica e pesquisa) devem trabalhar juntos paraviabilizar o desenvolvimento local no que diz respeito à estruturação de APL de grãos,cujos direcionamentos já vêm sendo encaminhados pela Agência de Desenvolvimento daAmazônia (ADA) e Banco da Amazônia.

5.3 ESTADO DE RONDÔNIA (RO)

Assim como o Pará, no Estado de Rondônia foram estimados os Índices deConcentração Normalizados (ICN) para três variáveis: Valor Bruto da Produção de LavourasTemporárias (VBP), Emprego Formal de Lavouras Temporárias (ELT) e o crédito rural (FNO).Os resultados são apresentados na Tabela 13.

Tabela 13 - Municípios do Estado de Rondônia especializados na produção de soja pelo VBP, ELT eFNO: 2000 e 2004.

Fonte: dados da pesquisa.

Conforme os resultados da Tabela 13, do total de 52 municípios de Rondônia,existem cinco especializados na produção de soja, independente dos critérios adotados,mas em termos proporcionais, são mais do que no Estado do Pará.

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 44

Outra observação que se extrai da Tabela 13 é que três municípios aparecemcomo especializados nas três variáveis: Ariquemes, Colorado d’ Oeste e Vilhena.

Rondônia, em 2005, teve como registro de área plantada com esta leguminosa75.275 hectares, uma área superior a outras importantes culturas daquele Estado comocacau (40.789 ha) e feijão (63.032). Com relação à cultura mais importante do Estado, ocafé, a área da soja representou naquele ano 44,88%. Isto mostra a importância que estaoleaginosa vem adquirindo desde o início dos anos de 1990.

No Relatório de Viagem ao Estado de Rondônia... (2006), os autores relataram queas áreas plantadas com soja são os municípios de Vilhena, Cabixi, Cerejeiras, Chupinguaia,Colorado d’Oeste, Corumbiara, Pimenteiras d’Oeste, Porto Velho, Itapuã d’Oeste e Seringueiras,sendo que Vilhena concentra 50,48%. Desses municípios descritos com plantações de soja,os que estão em sublinhados são os mesmos identificados pela metodologia de ICN. Consta,ainda, que existem duas unidades de esmagamento para a soja, localizadas no município deVilhena por ser o detentor da maior área plantada com soja. São empresas de capital privadoque possuem estrutura de armazenagem, secagem e distribuição de grãos (sementes), assimcomo assistência técnica e estão investindo em pesquisa junto com a EMBRAPA local(bancando a pesquisa). Demais disso, procede à compra e venda dessa commodity.

Municípios especializados na produção de soja estão no Mapa 4 onde se visualizamespacialmente.

MAPA 4 - Municípios de Rondônia especializados na produção da soja pelos, pelo ELT, VBP e FNO,em 2000 e 2004.

Fonte: elaborado pelos autores, 2006.

45ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

5.4 ESTADO DE RORAIMA (RR)

Para Roraima, assim como para os estado do Pará e Rondônia, o (ICN) foideterminado através do (VBP) Lavouras Temporárias e pelo crédito rural (FNO), cujosresultados estão apresentados na Tabela 14.

Tabela 14 - Municípios de Roraima especializados na produção de soja, pelo VBP e FNO: 2000 e 2004.

Fonte: dados da pesquisa.

Em 2000, ainda, não havia exploração da soja, por isso, o ICN determinado atravésdo VBP é apenas para o ano de 2004, cujos resultados revelam quatro municípiosespecializados na produção desta leguminosa. Pelo FNO, lavouras temporárias, apenasdois municípios se sobressaem nesta especialização (soja): Alto Alegre e Boa Vista.Considerando-se, simultaneamente, os municípios que ocorrem especialização nas duasvariáveis (VBP e FNO), então, somente Alto Alegre e Boa Vista são importantes naestruturação e fortalecimento da cadeia produtiva da soja, entretanto, através de pesquisasde campo realizadas foram levantadas mais informações sobre a estruturação de elos quefortalecem a cadeia produtiva de um produto. Mesmo porque, trata-se de um Estadorelativamente novo, em que a exploração agropecuária, ainda, não é forte na Região, poisseu PIB, para este setor, é de apenas 5%. No Mapa 5 tem-se espacialmente a localizaçãodesses municípios especializados na soja, tanto pelo VBP como pelo FNO.

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 46

Mapa 5 - Municípios do estado de Roraima especializados na produção de soja pelo VBP eFNO: 2000 e 2004.

Fonte: elaborado pelos autores, 2006.

Quanto ao aspecto organização, com relação à produção de grãos no estado deRoraima, apresenta-se o resultado dos relatos feitos por agentes envolvidos nesta atividade,a partir de pesquisas “in loco”.

Quanto à produção de grãos, em Roraima existe a Cooperativa Grão Norte, cujorepresentante prestou as informações ora transcritas quanto à situação desse segmento. ACooperativa foi criada com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento do setor degrãos no estado de Roraima e, segundo ele, ela é referência em Grãos, no Estado, atuandodesde 1998, possui atualmente 110 cooperados, entretanto somente, 50 estão, efetivamente,em atividade. A cooperativa tem 22 funcionários, sendo que o menor salário é R$ 600,00.

O mercado interno não está remunerando os produtores, razão pela qual o principalmercado consumidor é a Venezuela. Dentre as dificuldades enfrentadas pelo setor, podemosdestacar a baixa de preço da soja (US$ 11.90sc de 60kg), sendo que os preços sãocontrolados pelas multinacionais.

47ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

A vantagem do estado de Roraima está em produzir na entressafra, o quepossibilita obter melhores preços pelo produto no mercado. A soja pode ser vendida para oGrupo Maggi, pelo porto de Itacoatiara, a R$ 26,50sc de 60 kg.

Um dos fatores favoráveis da Cooperativa é o fato de poder vender diretamentea soja para o mercado consumidor, que é a Venezuela, ao preço médio atual de R$ 28,90 asc de 60kg, livre de fretes. Entretanto, o obstáculo enfrentado pela Cooperativa é a demorana concessão de autorização de importações. Inclusive, essa foi uma das causas dainadimplência dos produtores junto ao Banco da Amazônia, pois os caminhões ficaram 96dias na barreira e a autorização não saiu, sendo que os caminhões foram obrigados aretornar com o produto para Roraima e a soja foi vendida para o Grupo Maggi a R$ 22,00sc de 60kg, sendo que esse preço não cobria os custos de produção, que ficou em torno deR$ 1.070,00 (com tecnologia e compra de insumos em quantidades necessárias) e R$1.300,00/ha, respectivamente.

Outro obstáculo é a falta de capacidade de entrega do produto, em função dodescaminho do combustível, isto é, para os caminhoneiros não é interessante transportarsoja e sim óleo diesel, que custa R$ 0,05 o litro. A Cooperativa contratou 60 bi-trem (tipode caminhão com duas carretas) da Região Sudeste para fazer o transporte da soja. Atecnologia adotada é o plantio direto e a produtividade média está em torno de 50 a 52sacas por hectare. Os principais compradores da Cooperativa são os do Grupo Coposa e daempresa Alimentação Balanceada C.A. (1.000 toneladas por semana).

Para um dos associados da Cooperativa, o ideal seria que o estado de Roraimaplantasse 50 mil hectares de soja para reduzir os custos de produção em pelo menos 30%,pois o estado não tem escala de produção, apesar de ter disponibilidade de área paraplantio e somente 8.000 ha foram plantados. Considerando apenas a área de lavrado,Roraima possui 4.000.000 ha e 1.000.000 ha de áreas degradadas e mata. Entretanto, umdos entraves para a vinda dos empresários são as características geográficas do estado,que não dispõe de grandes extensões de áreas contíguas.

Outras informações locais junto aos produtores, dizem respeito ao módulo idealde plantio de soja, que é no mínimo de 400 hectares e o produtor deve ter todo o maquinárionecessário, tais como: plantadeira, pulverizador, tratores e colheitadeira. O calcário, que éum dos principais insumos, é proveniente dos estados do Pará e Amazonas, assim como daVenezuela. Quanto à infra-estrutura, destacam-se as boas condições das estradas. O Governodo Estado investiu em infra-estrutura e na aquisição de insumos como calcário e fosfato,inclusive com o pagamento de frete. Também, criou uma Secretaria de Agronegócio, queainda não está em funcionamento.

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 48

A Cooperativa Grão Norte possui sistema de armazenamento de soja constituídopor quatro silos de armazenagem, dois silos pulmão, um silo de caixa de impureza e umsilo meio-grão. A capacidade de recebimento de soja é de 2.200 toneladas. Na Cooperativatem dois grupos geradores para evitar a descontinuidade dos trabalhos por falta de energiaelétrica. A estrutura de armazenamento da cooperativa foi financiada com recursos daSuperintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) e do Governo do Estado.

No que se refere ao plantio de soja, os principais municípios produtores são AltoAlegre, Boa Vista, Bonfim e Cantá, conforme pesquisa de determinação do ICN. Em 2005,segundo dados do IBGE, o plantio de soja apresentou os seguintes resultados (Tabela 15).

Tabela 15 - Dados da produção de soja no Estado de Roraima, safra 2004/2005.

Fonte: IBGE, 2006

Em Roraima, há produtores de referência, que prestaram informações sobreessa atividade. Teve um produtor que plantou 1.500 ha de soja, o maior plantio do estado,a um custo médio entre R$ 1.070,00 a R$ 1.100,00/ha. A produtividade média na safra de2005 foi de 57 sc/ha e no ano de 2006, foi de 55 sc/ha. Segundo o produtor, o ano de2006 foi atípico, em função do elevado índice pluviométrico quando a maior parte dalavoura ainda estava em floração, o que reduziu a produtividade. A venda da soja desseprodutor é feita através da Cooperativa Grão Norte da qual é associado. Os insumos sãoadquiridos na região Centro-Oeste, através de corretor de vendas. A margem de lucromédio é de R$ 200,00/ha.

De acordo com este produtor, um conjunto de fatores contribuíram para osucesso do seu empreendimento, destacando-se: bons salários pagos aos seusfuncionários, o menor salário da propriedade são R$ 950,00 mais comissão, ficando emtorno de R$ 1.500,00. A comissão é paga com sacas de soja. O salário do gerente é deR$ 6.000,00, sendo que o mesmo é de outro estado. Destaca, porém, que existemproblemas culturais os quais impedem que se contrate mão-de-obra local para cargosde gerência, além de faltar capacitação para essa mão-de-obra. Além dos salários, osempregados recebem boa alimentação. Atualmente, o empreendimento possui sete

49ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

empregados, mas na época do plantio esse número aumenta para 20, pois sãocontratados temporariamente. Quando se perguntou ao produtor acerca doacompanhamento do comportamento do mercado, ele informou que recebe, diariamente,as cotações dos preços da soja de Chicago. Verificou-se que este produtor possui todaa infra-estrutura necessária para o plantio de soja (pulverizadores, duas colheitadeiras,sete tratores etc). Quando se perguntou acerca das vantagens de ser associado daCooperativa, o mesmo respondeu que a principal vantagem é poder ficar (a produção)isenta de impostos, pois não tem fins lucrativos e tem facilidade para exportar o produtopara a Venezuela, em função do volume de produção. Ademais, a Coposa, que é aprincipal compradora de soja, não realiza negociações (compra) com pessoa física,somente com pessoas jurídicas.

Dando continuidade, o produtor relata que é preciso profissionalizar a compra deinsumos, pois os mesmos têm preços elevados. Há necessidade de ter, no mínimo, umademanda de 20 mil toneladas de adubo para reduzir os custos do plantio do hectare dasoja para R$ 1.000,00. As variedades de soja plantadas no empreendimento são Pirarara(nova), Tracajá, Candeias e Sambaíba. Na opinião desse produtor, a melhor variedade é aTracajá. A variedade Candeias é propícia à praga mosca branca.

Em linhas gerais, são estas as informações colhidas em Roraima que podemdar embasamento nas ações para fortalecer a soja como uma atividade-chave nesteestado.

Há outro produtor de soja em destaque, o qual passa-se a citá-lo. Ele plantou,além de outros grãos, 265 ha de soja, na safra 2006, a produtividade obtida foi de 48 sc/ha.O preço de venda foi R$ 26,00sc de 60 kg. O destino da produção foi para Oscar Maggi, doGrupo Mirage, sendo que foi feita uma parceria e, este produtor, vendeu farelo e óleo desoja, pois o comprador possui uma extrusadora de soja no estado. O custo de plantio dasoja foi de R$ 1.250,00/ha. Ressalta-se que o cliente adota a estratégia de plantar as duasculturas (soja e milho), diversificando a produção, com vistas a reduzir os riscos da atividade,principalmente, com relação à instabilidade de preços. Além do mais, o produtor procuraagregar valor ao produto, a exemplo da parceria que fez na venda da soja. Seuempreendimento possui um armazém com capacidade de armazenar 52.000 sacas de sojae milho. As variedades de soja plantada são Sambaíba e Candeias.

No estado de Roraima existe uma Indústria de Esmagamento de Grãos, voltadapara produção de óleo bruto e farelo para ração animal. Um dos produtores entrevistadosirá administrar referida indústria. A produção da indústria é de 4 toneladas/hora,correspondente a 420 toneladas por semana. Somente para abastecer a fábrica, anecessidade é de 7.750 ha de plantio de soja.

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 50

A indústria terá capacidade para produzir 410 litros de óleo e 1.865kg de farelo/h. Considerando que o custo da produção de farelo fica em torno de 3% a 4% da receita,o que corresponde a R$ 1.025,75 para farelo e R$ 615,00 para óleo e que o custo industrialfica em torno de R$ 99,20, assim, vão obter uma receita líquida de R$ 1.541,55,correspondente a 17.260 sc de 60 kg de soja, equivalente a R$ 36,99/saca.

Segundo um produtor, a perspectiva de crescimento da soja e do milho no estadode Roraima está em cima do funcionamento dessa unidade de beneficiamento, poisManaus consome cerca de 2.500 t/mês de farelo e Roraima consome 250 t/mês desseproduto. Para atender a essa demanda, Roraima precisaria plantar 95.000 hectares desoja para abastecer esses mercados. A proposta é que a indústria venha pagar aosprodutores o mesmo preço que a Venezuela está pagando (US$ 13.00 ou R$ 28,00sc de60 kg).

Informou, ainda, que a indústria foi testada e apresentou pouca produtividadede óleo, sendo necessária ajustá-la. Essa indústria fica localizada no Distrito Industrialde Boa Vista, e poderá viabilizar o plantio de soja e, por conseguinte, o plantio demilho.

Para obter mais informações a respeito de grãos, foi realizado entrevista com osEngenheiros Agrônomos, projetistas credenciados do Banco, que possuem larga experiênciae conhecimento da agricultura do estado de Roraima.

Quanto à soja, informaram que esta depende da exportação para a Venezuela.As principais dificuldades encontradas são a logística de transporte e os elevados custosde calcário. O farelo de soja é importado de Itacoatiara – Grupo Maggi. A previsão éque a extrusadora do Governo do Estado entre em funcionamento ainda este ano, emais dois silos pequenos para garantir a auto-suficiência do estado em farelo de soja,que será direcionado para a avicultura de postura. A perspectiva é que o farelo esmagadono Estado seja de melhor qualidade, pois o que vem de fora é de qualidade ruim, alémde ter custos elevados. Outro detalhe, o Caribe se constitui em um imenso mercadopara Roraima, desde que se faça a estrada e a ponte para George Town – saída para oAtlântico. Portanto, a soja pode viabilizar as demais atividades no Estado, como milho,suinocultura, avicultura, pois prepara a área para o plantio de milho (rotação de cultura).A pecuária depende da soja. O ideal seria estimular os sistemas integrados (soja, milhoe pecuária).

51ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

5.5 ESTADO DE TOCANTINS (TO)

Para este estado foi calculado o ICN através do VBP, ELT e crédito rural (FNO) paraos dois anos. Os resultados do ICN pelas três variáveis encontram-se na Tabela 16.

Tabela 16 - Municípios especializados na produção de soja no estado de Tocantins, através do VBPe FNO, em 2000 e 2004.

Fonte: dados da pesquisa.

Os resultados (Tabela 16) indicam 19 municípios especializados na produção desoja pelo VBP, cinco pelo ELT e 15, pelo FNO. Quando se aplica novo filtro, que consiste emselecionar somente os municípios que são especializados, para os dois anos (2000 e 2004)nas duas variáveis (VBP e FNO), estes municípios caem para apenas sete (em negrito naTabela 16), a saber: Bom Jesus de Tocantins, Campos Lindos, Dianópolis, Figueirópolis, Montedo Carmo, Pedro Afonso e Tupirama (Mapa 6). Com relação aos municípios comuns que

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 52

Mapa 6 - Municípios do estado de Tocantins especializados na produção de soja, pelo VBP e FNO:2000 e 2004.

Fonte: elaborado pelos autores, 2006.

De outro modo, enquanto órgãos públicos que visem o fomento da estruturaçãoe/ou fortalecimento de cadeias produtivas, pode-se começar com os sete municípios edepois expandir para os demais que constam na Tabela 16. Observa-se (Tabela 17), que osgrãos, em geral, são preponderantes na área plantada em Tocantins.

envolvem as três variáveis, destaca-se apenas o município de Campos Limpos. Implicadizer, que Tocantins, assim como no Pará, a atividade informal predomina na exploraçãoagrícola de soja.

53ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

Fonte: IBGE, 2006.

Por outro lado, a Tabela 17 mostra que a participação em área plantada com asoja variou de 2000 a 2005 em torno de 332,78% e, comparativamente aos dois outrosgrãos (arroz e milho), a participação, também, aumentou de 28,30% para 54,03% no totalde área plantada com lavouras temporárias.

Com relação às impressões dos relatos das entrevistas feitas junto aos setoresprodutivos de grãos, com destaque para soja, transcreve-se as informações do Relatório deViagem ao estado de Tocantins (2006).

O principal destaque na produção de grãos em Tocantins é a soja, em conjuntocom outros grãos (arroz e milho) somam cerca de 550,23 mil ha de área plantada, comuma produção de 1.230,33 mil toneladas, segundo dados da CONAB para a safra 2005/2006. Cabe destacar, no entanto, que o estado não possui grande representatividade naprodução de soja (cerca de 0,6% da produção nacional no ano de 2002), embora sua taxade crescimento médio de 48% a.a., no período de 1990/2002, seja bem superior a médianacional (7%, no mesmo período).

Os produtores empresariais têm aproveitado algumas vantagens comparativasdo estado, como a irrigação por meio de sub-irrigação, para expandir, entre outro grãos, asáreas de soja para a produção de sementes no período da entressafra, em determinadaszonas produtivas do Tocantins. As áreas de maior concentração da produção estão noMunicípio de Pedro Afonso, Dianópolis, Região de Campos Lindos e da Lagoa da Confusão.Destaca-se que, somente, este último não apareceu como especializado pelo ICN.

Existem duas esmagadoras de soja sendo implementadas no estado. Isso,certamente, configura-se em um passo decisivo para consolidação de mais um elo dessacadeia dentro das fronteiras do território tocantinense.

Tabela 17 - Área plantada total de lavouras temporárias e de grãos, em hectares, no estado deTocantins: 2000, 2004 e 2005.

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 54

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção de soja na Amazônia é uma realidade. A tecnologia empregada porprodutores de médio e grande porte pode ser comparada a usada no resto do País, fatoconfirmado pela produtividade da cultura, que é superior à média nacional. Além disso, ocusto de produção é mais baixo, o que torna a atividade comparativamente vantajosa. Osinsumos, assistência técnica e financiamento são disponibilizados pelas tradings que estãooperando na Região, como a Bünge e Cargill, para os produtores cadastrados.

A soja inicia ciclo de alta dos preços internacionais e nacionais, sinalizando asaída da crise. Adicionalmente, o programa do biodiesel está reforçando a tendência dealta dos preços, configurando capacidade de retorno para a soja, pela nova alternativa demercado.

O estudo revelou que em grande parte dos municípios especializados em soja, alavoura é praticada em unidades de produção informais, quanto à ocupação da mão-de-obra. Isto significa que tais unidades, a partir de 2008, estarão fora do mercado internacionale, portanto, não devem ser beneficiadas com recursos públicos.

Um dos maiores gargalos da soja é o escoamento da produção em algunsmunicípios de Roraima, Pará e Rondônia, o que não acontece no Pólo de Santarém, dada aimplantação do porto da Cargill. Outro problema reside na desorganização dos produtores.Todavia, foi observado que os produtores de grãos já estão se articulando para a formaçãode cooperativas e/ou associações (Santarém e Paragominas), de modo a promover ganhoscoletivos nas ações de compra de insumos, troca de conhecimentos, pleitos de reivindicaçõesjunto aos órgãos de fomento e melhorar a relação de troca entre as empresas fornecedorasde insumos e junto aos compradores de seus produtos. Nesse sentido, o fortalecimento dosprodutores pode resultar em maior poder de barganha junto a fornecedores e compradoresde seus produtos e, com isso, fortalecer os elos da cadeia produtiva, o que, no final melhoraas inter- relações setoriais e conseqüentemente a economia local que com seus efeitos detransbordamento acabam beneficiando a economia regional.

Finalmente, constatou-se que o sucesso da produção de grãos depende de diversosfatores, que vai da gestão administrativa nas unidades produtivas, inclusive, com relação aempresas de caráter familiar (pequenas e médias), uso da tecnologia, a assistência técnica,bem como do financiamento, seja este via Cargill ou Banco de Fomento. Tudo isto tem sidouma combinação de fatores para a obtenção de sucesso para quem trabalha com a soja,embora as experiências na condução da lavoura, tenham sido - também, um elementoimprescindível para o sucesso desta cultura, conforme os dados levantados nesta pesquisa.

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7 RECOMENDAÇÕES

ALAVANCAS DA CADEIA PRODUTIVA: Integração e Salvaguardas

1) A cadeia produtiva de soja na Amazônia tem o elo de produção fortemente dependentedo segmento de insumos (oligopólio) e de processamento e distribuição (oligopsônio),no que se refere à determinação dos preços dos insumos e do produto, respectivamente.Esta forma de integração impede a capitalização dos produtores e inibe a utilização depráticas agronômicas ambientalmente corretas. Portanto, é fundamental estimular aorganização do produtor, disponibilizar assistência técnica e viabilizar a implantação deinfra-estrutura de armazenamento para aumentar o poder de negociação dos produtorescom os demais elos da cadeia produtiva.

2) Identificar e selecionar os tomadores de crédito, incentivando aqueles que possuemdireito de propriedade, adotam práticas coerentes com o código florestal e a legislaçãotrabalhista, e internalizam os resultados da atividade na própria região.

INDUÇÃO DA CADEIA

a) Mercado: Solicitar estudo de mercado envolvendo os cenários em nível mundial, nacionale regional sobre a soja, incluindo a evolução de preços, custos de produção, estoques ealternativas reais do mercado. Evidenciar a conjuntura comportamental do ciclo depreços e a dinâmica estrutural dos elos da cadeia produtiva (infra-estrutura dearmazenamento, implantação de indústrias, organização corporativa e cooperativa dasunidades produtivas) para orientar as aplicações de crédito nos locais com vocaçãoedafoclimática, social e ambiental para ampliar o escopo do desenvolvimento endógeno.

b) Tecnologia: Observar os locais especializados na produção da soja, bem como ascondições de escoamento, armazenamento, logística de distribuição do produto e osefeitos sobre o meio-ambiente. Estimular o uso do plantio direto, rotação de cultura edifusão do sistema lavoura-pecuária em áreas alteradas, manejo biológico de pragas eevitar o plantio de material geneticamente modificado. Utilizar material genéticoapropriado (sementes), fazer a correção dos solos e adotar práticas agronômicasconservacionistas (curva de nível, aração), obedecendo ao ciclo de preço das atividadescompetitivas.

c) Inclusão social: Promover a inclusão da pequena produção familiar nos territóriosidentificados como produtores de grãos, por meio do financiamento de ativos coletivos(patrulha mecanizada e unidades de armazenamento e beneficiamento) para estruturara cadeia produtiva e propiciar a capitalização dos produtores. Condicionar os

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 56

investimentos à assistência técnica para produtores que não têm know how na culturada soja, bem como, observar as condições da infra-estrutura de comercialização e deindustrialização (óleo e farelo de soja).

d) Integração da cadeia: O Banco da Amazônia deve estimular a integração dos elosda cadeia produtiva e a conexão horizontal da soja com milho, arroz, confinamento deaves e suínos e pecuária, observando o comportamento dos ciclos de preços dessasatividades e os locais especializados na produção. Disponibilizar o crédito para aimplantação da cultura em áreas alteradas, especialmente a produção de orgânicos epara biodiesel nas comunidades de pequenos produtores rurais dos municípiosvocacionados para a produção de grãos.

e) Governança da cadeia: O Banco da Amazônia pode induzir a formação de um arranjoinstitucional envolvendo a Embrapa, Ibama, ATER, universidades, Ongs e as organizaçõessociais representativas dos elos da cadeia, mediante a atuação de comitês instaladosnos territórios identificados para a produção de grãos. Auxiliar a organização dosprodutores locais em cooperativas e/ou associação para adotarem tecnologiasapropriadas, sistemas coletivos de mecanização e infra-estrutura de armazenamento epromover a verticalização da cadeia produtiva de grãos.

57ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

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CENÁRIO melhora ao longo da safra 20005/06, mas preço em alta só no final da temporada.AGRIANUAL, 2006.

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SOJA na Amazônia – Sindicato de produtores faz acordo com empresa e ONG norte-americanas.Data: 26/5/2006. Fonte: Agência Carta Maior, 26/05/2006.

59ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA

APÊNDICE METODOLÓGICO

A localização espacial da produção segundo seu potencial de desenvolvimento édada pelos seguintes indicadores, de acordo com Santana (2004 e 2005):

a) Índice de especialização ou quociente locacional (QL): Este índice serve para determinarse um município em particular possui especialização em dada atividade ou setor específicoe é calculado com base na razão entre duas estruturas econômicas.

⎟⎟⎟

⎜⎜⎜

⎛=

EEEEQL

AiA

jij

/

/(1)

Em que: Eij é o emprego da atividade ou setor i no município em estudo j; Ej é oemprego referente a todas as atividades que constam no município j; EiA é o emprego daatividade ou setor i na Amazônia; EA é o emprego de todas as atividades ou setores na Amazônia.

b) Índice de concentração de Hirschman-Herfindahl (IHH): Utilizado captar o real peso daatividade ou setor na estrutura produtiva local. Este indicador é uma modificação do índice,definido da seguinte forma:

⎥⎥⎥

⎢⎢⎢

⎡−= ⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

A

j

iA

ij

EE

EE

IHH (2)

O IHH permite comparar o peso da atividade ou setor i do município j no setor ida Amazônia em relação ao peso da estrutura produtiva do município j na estrutura daAmazônia como um todo. Um valor positivo indica que a atividade ou setor i do municípioj na Amazônia está, ali, mais concentrada e, portanto, com maior poder de atraçãoeconômica, dada sua especialização em tal atividade ou setor.

c) Índice de Participação Relativa (PR): Este é o terceiro indicador que foi utilizado paracaptar a importância da atividade ou setor i do município j diante do total de emprego nareferida atividade para a Amazônia. A fórmula é dada por:

⎟⎟⎟

⎜⎜⎜

⎛=

EEPR

iA

ij

(3)

ANÁLISE DO MERCADO E DA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA 60

Este indicador varia entre zero e um. Quanto mais próximo de um maior aimportância da atividade ou setor i do município j na Amazônia.

d) Índice de Concentração Normalizado (ICN): Os três indicadores descritos fornecemos insumos básicos para a construção de um indicador mais geral e consistente deconcentração empresarial ligado a uma atividade ou setor econômico em um município,denominado de índice de concentração normalizado (ICN). O ICN é dado pela seguintefórmula:

PRIHHQLICN ijijijij θθθ 321 ++= (4)

em que os θ são os pesos de cada um dos indicadores para cada atividade ousetor produtivo em análise. Para o cálculo dos pesos θ de cada um dos índices especificadosna equação 4, empregou-se o método da análise de componentes principais.

e) Modelo de Componentes Principais: O modelo de componentes principais com mcomponentes e p variáveis (q < p), pode ser escrito como na equação 1.

pqpmmq

pp

pp

XXXCP

XXXCPXXXCP

γγγ

γγγγγγ

+++=

+++=+++=

...

......

2211

22221212

12121111

(1)

Em que:

CPi = são as i-esimas componentes principais (i = 1, 2, ..., q);

γij = são os coeficientes relacionados a cada variável;

Xj = são as j-ésimas variáveis (j = 1, 2, ..., p).