analise do processo de difusão tecnológica de cultivares no paraná

Embed Size (px)

Citation preview

Revista deISSN 1413-4969 Publicao Trimestral Ano XX - N 3 Jul./Ago./Set. 2011

Publicao da Secretaria de Poltica Agrcola do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

Produo de etanol nos Estados Unidos da AmricaPg. 96Ponto de Vista

Participao das cooperativas brasileiras no comrcio internacional

Pg. 35

Anlise das intervenes nas exportaes de acar bruto do Brasil para a Rssia, de 1997 a 2010

Diplomacia Multilateral: reunio da ONU refora ao desenvolvimentista da agricultura brasileira

Pg. 63

Pg. 127

ISSN 1413-4969 Publicao Trimestral Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011 Braslia, DF

SumrioCarta da AgriculturaCaio Rocha Conselho editorial Eliseu Alves (Presidente) Embrapa Edilson Guimares Mapa Renato Antnio Henz Mapa Ivan Wedekin Consultor independente Elsio Contini Embrapa Hlio Tollini Consultor independente Biramar Nunes de Lima Consultor independente Paulo Magno Rabelo Conab Antonio Jorge de Oliveira Consultor independente Caio Tibrio da Rocha Mapa Secretaria-Geral Regina Mergulho Vaz Coordenadoria editorial Marlene de Arajo Cadastro e atendimento Jssica Tainara de L. Rodrigues Carla Trigueiro Foto da capa Marlene de Arajo (Usina de Biodiesel da Petrobras Quixab, CE) Embrapa Informao Tecnolgica Superviso editorial Wesley Jos da Rocha Copidesque e Reviso de texto Corina Barra Soares Normalizao bibliogrfica Celina Tomaz de Carvalho Iara Del Fiaco Rocha Projeto grfico Carlos Eduardo Felice Barbeiro Editorao eletrnica e capa Leandro Sousa Fazio Impresso e acabamento Embrapa Informao Tecnolgica

Poltica agrcola em sintonia com o Pas .......................... 3 Poltica agrcola e modernizao: Rondnia e Acre em evidncia......................................... 5Jos Joo de Alencar / Rubicleis Gomes da Silva

Anlise do processo de difuso tecnolgica de cultivares de soja da Embrapa no Paran........................ 19Thiago Andr Guimares / Victor Manoel Pelaez Alvarez

Participao das cooperativas brasileiras no comrcio internacional................................................... 35Gustavo Leonardo Simo / Antnio Carvalho Campos

Mudanas de paradigmas: fonte de crescimento do agronegcio brasileiro ............................................... 47Mauro de Rezende Lopes / Geraldo da Silva e Souza / Ignez Vidigal Lopes / Bruno de Souza Pinho

Anlise das intervenes nas exportaes de acar bruto do Brasil para a Rssia, de 1997 a 2010................ 63Lucas Oliveira de Sousa / Marcelo Dias Paes Ferreira / Leonardo Bornacki de Mattos / Antnio Carvalho Campos

Impactos da Poltica Nacional de Irrigao sobre o desenvolvimento socioeconmico do norte de Minas Gerais .................................................................. 77Paulo Ricardo da Costa Reis / Suely de Ftima Ramos Silveira Robson Mafioletti / Gilson Martins / Flvio Turra

Produo de etanol nos Estados Unidos da Amrica ...... 96 Uma proposta de gesto econmico-ecolgica agroindstria suincola do oeste catarinense................. 108Ademar Ribeiro Romeiro / Alexandre Gori Maia / Manoel Carlos Justo

Caracterizao dos consumidores de frutas em feiras livres do sul de Minas Gerais........................................ 120Marcelo Lacerda Rezende / Flvia Giolo de Carvalho / Lucas Piedade Garcia / Luciana Azevedo

Ponto de Vista

Diplomacia Multilateral: reunio da ONU refora ao desenvolvimentista da agricultura brasileira ................. 127Adriano Jos Timossi

Interessados em receber esta revista, comunicar-se com: Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento Secretaria de Poltica Agrcola Esplanada dos Ministrios, Bloco D, 5o andar 70043-900 Braslia, DF Fone: (61) 3218-2505 Fax: (61) 3224-8414 www.agricultura.gov.br [email protected] Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Secretaria de Gesto Estratgica Parque Estao Biolgica (PqEB), Av. W3 Norte (final) 70770-901 Braslia, DF Fone: (61) 3448-4159 Fax: (61) 3347-4480 www.embrapa.br Marlene de Arajo [email protected]

Esta revista uma publicao trimestral da Secretaria de Poltica Agrcola do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, com a colaborao tcnica da Secretaria de Gesto Estratgica da Embrapa e da Conab, dirigida a tcnicos, empresrios, pesquisadores que trabalham com o complexo agroindustrial e a quem busca informaes sobre poltica agrcola. permitida a citao de artigos e dados desta revista, desde que seja mencionada a fonte. As matrias assinadas no refletem, necessariamente, a opinio do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento.Representantes e avaliadores da RPA nas Universidades A Coordenao Editorial da Revista de Poltica Agrcola (RPA) do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa) criou a funo de representante nas universidades, visando estimular professores e estudantes a discutir e escrever sobre temas relacionados poltica agrcola brasileira. Os representantes citados abaixo so aqueles que expressaram sua concordncia em apresentar essa revista aos seus alunos e avaliar artigos que a eles forem submetidos. Dr. Vitor A. Ozaki Departamento de Cincias Exatas Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) Universidade de So Paulo (USP) Profa. Dra. Yolanda Vieira de Abreu Professora adjunta IV do Curso de Cincias Econmicas e do Mestrado de Agroenergia da Universidade Federal do Tocantins (UFT) Prof. Almir Silveira Menelau Universidade Federal Rural de Pernambuco Tnia Nunes da Silva PPG Administrao Escola de Administrao Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Geraldo SantAna de Camargo Barros Centro de Estudos e Pesquisa em Economia Agrcola (Cepea) Maria Izabel Noll Instituto de Filosofia e Cincias Humanas Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Lea Carvalho Rodrigues Curso de Ps-Graduao em Avaliao de Polticas Pblicas Universidade Federal do Cear (UFC)

Tiragem 7.000 exemplares

Todos os direitos reservados. A reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao dos direitos autorais (Lei no 9.610). Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) Embrapa Informao Tecnolgica Revista de poltica agrcola. Ano 1, n. 1 (fev. 1992) - . Braslia, DF : Secretaria Nacional de Poltica Agrcola, Companhia Nacional de Abastecimento, 1992v. ; 27 cm. Trimestral. Bimestral: 1992-1993. Editores: Secretaria de Poltica Agrcola do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, 2004- . Disponvel tambm em World Wide Web: ISSN 1413-4969 1. Poltica agrcola. I. Brasil. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Secretaria de Poltica Agrcola. II. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. CDD 338.18 (21 ed.)

Carta da Agricultura

Poltica agrcola em sintonia com o PasA poltica agrcola to dinmica quanto o prprio setor primrio. Ela precisa ter um norte estratgico muito definido e, ao mesmo tempo, deve moldar-se s inmeras variveis que incidem sobre a rea. Basta mudar o horizonte econmico mundial, por exemplo, para que novos mecanismos de ao governamental passem a ser demandados. Figurativamente, a mesma relao entre a bssola e a biruta num aeroporto: o primeiro instrumento mantm o rumo, enquanto o segundo indica as adaptaes necessrias conforme a direo do vento. Ou seja: a agricultura brasileira amadureceu e sabe seu destino, mas precisa agir com eficincia diante das constantes mudanas de conjuntura. Ao assumirmos a Secretaria de Poltica Agrcola do Ministrio da Agricultura, sob o comando do ministro Mendes Ribeiro Filho, ns nos colocamos diante desse desafio. E queremos enfrent-lo, antes de tudo, lanando mo dos acmulos e das expertises da prpria equipe da pasta. Agregamos as experincias que tivemos na gesto pblica da agricultura gacha, nossa prpria formao profissional e, especialmente, a verdadeira devoo que guardamos pelo meio. Criado e afeito vida no campo, sabemos da importncia que a agricultura possui para milhares de famlias que dela dependem. Mas tambm conhecemos a sua dimenso estratgica para o Brasil, tanto internamente quanto na relao do Pas com o mundo.1

Caio Rocha1

O Plano Agrcola e Pecurio 2011/2012 a baliza j existente da qual partimos com foco em crditos para investimento, sustentabilidade, utilizao de mais tecnologia e ganhos de produtividade. Nele destacam-se algumas premissas, como a elevao e a unificao dos limites de custeio e comercializao, bem como para parceria e integrao. O plano tambm estabelece: o aumento dos limites para investimento com recursos controlados; a criao de linhas de investimento para a aquisio de matrizes e reprodutores; e tambm de investimento para a expanso e a renovao de canaviais; a linha especial de comercializao para suco de laranja; e o programa de agricultura de baixo carbono, que valoriza a sustentabilidade econmica e ambiental. Alcanamos a cifra de 107,3 bilhes de reais, o que significa um aumento de 11,2 vezes, ou seja, 1.112% a mais, em 10 anos. Haver mais divulgao dos programas de crdito aos produtores e a capacitao dos projetistas, alm de uma maior interlocuo com os agentes financeiros. Queremos que a execuo do plano chegue perto da sua plenitude. Olhamos tambm para a frente. E nossa principal ferramenta de trabalho ser aquela determinada pelo ministro em seu discurso de posse, sob o aval da presidente Dilma: dilogo e muito trabalho. Vamos buscar construir uma poltica agrcola plurianual, que parta de parmetros claros e que consiga dar mais competitividade ao produto brasileiro. E precisamos agir no momento certo, para que essa poltica se antecipe

Secretrio de Poltica Agrcola do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento.

3

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

aos problemas do campo, porque preciso agir sempre de forma preventiva. Para isso, um dos caminhos fundamentais aproximar, ainda mais, o Ministrio de cada uma das cadeias produtivas, deixando as polticas pblicas a passo igual com a agenda estratgica de cada setor. H muitas tarefas a executar: tentar conter a volatilidade de preos; focar na garantia de renda, na agregao de tecnologia e na melhoria da gesto; disseminar e aprofundar um sistema de seguro contra riscos climticos e afins; atuar nas expectativas de plantio e comercializao;

harmonizar as prticas do mercado; incentivar o cumprimento de contratos; recompensar a eficincia; e incentivar a concertao dentro das prprias cadeias. Enfim, sabemos que nenhuma poltica pblica, especialmente na rea agrcola, pode ser gestada e executada to somente a partir dos gabinetes governamentais. Com os ps no presente e os olhos postos no futuro, vamos afinar a sintonia entre nossa poltica agrcola e as justas aspiraes de um Brasil que, como o maior produtor mundial de alimentos, protagonista mundial no combate fome.

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

4

Poltica agrcola e modernizaoRondnia e Acre em evidncia1, 2

Jos Joo de Alencar3 Rubicleis Gomes da Silva4

Resumo A expanso da fronteira agrcola a partir de 1964 intensificou a atividade agrcola na regio da Amaznia Legal, em especial nos estados de Rondnia e do Acre. Este trabalho tem como objetivo geral desenvolver ndices de modernizao agrcola para os municpios de Rondnia e do Acre, e, como objetivo secundrio, o de agrupar esses municpios em clusters de similaridade e compar-los entre si. Da matriz X foram extrados seis fatores, que representam 85,59% da varincia total das variveis. Os municpios foram agrupados em trs clusters, conforme a similaridade existente entre eles, e depois comparados com base no ndice de modernizao agrcola (IMA). Os resultados obtidos demonstraram que os municpios do Estado do Acre apresentam nvel mdio de modernizao agrcola com forte vis para baixo, enquanto os municpios do Estado de Rondnia apresentam nvel mdio de modernizao agrcola com vis de alta. Vinte e trs por cento dos municpios das microrregies de Rondnia, em comparao com os demais do mesmo estado, tm alto ndice de modernizao, contra apenas 4,54% dos municpios do Estado do Acre. Dos municpios acreanos, 95,46% tm ndice mdio com forte vis de baixa. Dos municpios das microrregies de Rondnia, 77% apresentam grau mdio com vis de alta. Esses resultados levam concluso de que a ausncia de poltica agrcola contribui para o baixo nvel de modernizao agrcola do Estado do Acre. Palavras-chave: anlise fatorial, clusters, fronteira agrcola, IMA, municpios, poltica agrcola.

Agricultural policy and modernization: Rondnia and Acre in evidenceAbstract The expansion of the agricultural frontier after 1964 intensified agricultural in the Amazon Region, especially the States of Rondnia and Acre. This study aims to develop general indices of agricultural modernization for the municipalities of States of Acre and Rondnia, secondarily1 2 3

Original recebido em 8/9/2011 e aprovado em 14/9/2011. Os autores agradecem Capes e Universidade Federal do Acre (Ufac) o financiamento da pesquisa. Economista, pela Universidade Federal do Acre (Ufac), professor do Curso de Economia e Mestrando em Desenvolvimento Regional da Ufac. E-mail: [email protected] Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viosa (UFV), professor de Mtodos Quantitativos Aplicados Economia, do Curso de Cincias Econmicas e do Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Acre (Ufac). E-mail: [email protected]

4

5

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

grouped these municipalities into clusters of similarity, and compare them with each other. We extracted the X matrix, six factors that represent 85.59% of the total variance of the variables. Counties were grouped into three clusters according to similarity of each and then compared based on the content modernization IMA. The results showed that the municipals of Acre present average level of agricultural modernization with a strong downward bias, since the municipalities of the State of Rondnia have an average level of agricultural modernization with an upward bias. 23% of the municipalities of micro regions of Rondnia in relation to others have a high rate of modernization versus only 4.54% of the municipalities of Acre State. 95.46% of the municipals of Acre have average index with a strong bias low. 77% of the municipalities of micro regions of Rondnia present average level with an upward bias. This result leaves the conclusion that of absent of agricultural policy contributes to the level low of States of Acre agricultural modernization. Keywords: factor analysis, clusters, agricultural frontier, MIA, municipalities, agricultural policy.

IntroduoA agricultura uma atividade econmica indispensvel ao crescimento e ao desenvolvimento de uma regio. No Brasil, a expanso da agricultura intensificou-se a partir de 1964, com a expanso da fronteira agrcola para a regio Amaznica (ALMEIDA, 1992; GRAZIANO NETO, 1982; GUIMARES, 1982; IANNI, 1986; MIRANDA, 1992; NUNES, 1991; SORJ, 1980). Esse processo de expanso da fronteira agrcola ocorreu concomitantemente formulao de uma poltica de incentivos do governo federal, permitindo que a agricultura experimentasse uma grande transformao, graas aos processos de inovao tecnolgica (maquinarias de alta tecnologia e reduo do nvel de trabalho) e de inovao biolgica (indstrias qumicas), que permitiram ao setor agrcola dinamizar sua produo (SILVA, 1981). A expanso da fronteira agrcola tambm marcada por forte migrao para a regio Amaznica, por parte de agricultores provindos de outras regies do Pas, em busca das vastas terras amaznicas, onde pretendiam desenvolver uma agricultura mais moderna e similar praticada no seu local de origem. Esse novo padro de agricultura, que se instala a partir 1964 na Amaznia, modifica a estrutura agrria dos estados da Amaznia Legal, principalmente dos es-

tados de Rondnia e do Acre (ALMEIDA, 1992; MIRANDA,1992; NUNES, 1991). Apesar de muitos autores (ALMEIDA, 1992; GRAZIANO NETO, 1982; GUIMARES, 1982; IANNI, 1986; MIRANDA, 1992; NUNES, 1991; SORJ, 1980) terem desenvolvido pesquisas sobre a agricultura e a expanso da fronteira agrcola na Amaznia, principalmente a partir de 1970, estudos esses direcionados a entender como a estrutura social da regio tinha sido afetada pela intensificao e pela modernizao da agricultura, h ainda carncia de estudos sobre o padro de modernizao da regio Amaznica, principalmente em mbito municipal. Antes, porm, de comparar o grau de modernizao da agricultura dos municpios dos estados de Rondnia com os do Acre, preciso investigar o tipo de poltica para a agricultura adotado por esses estados. Em Rondnia, a poltica agrcola definida pela Lei Complementar n 60, de 21 de julho de 1992 (RONDNIA, 1992), que dispe sobre as atividades agrcolas adotadas por esse estado. Em contraponto, as polticas adotadas pelo estado acreano tm sido pautadas pelo mote do desenvolvimento sustentvel, com forte concentrao nos esforos estaduais de preservao das reas florestais. Para isso, o governo desse estado sancionou a Lei n 1.117, de 26 de janeiro de 1994 (ACRE, 1994), que criou a Poltica Ambiental do Acre.

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

6

Diante desse quadro, surge a necessidade de determinar em que nveis de modernizao agrcola encontram-se os municpios dos estados de Rondnia e do Acre. Um dos objetivos deste trabalho , pois, diagnosticar o nvel de modernizao agrcola dos municpios das regies estudadas. Secundariamente, pretende-se caracterizar os grupos homogneos entre os municpios estudados e compar-los quanto ao grau de modernizao agrcola. Para nortear este trabalho, admitiu-se a hiptese de que a ausncia de poltica pblica para a agricultura no afeta o nvel de modernizao agrcola. Vrios estudos dedicaram-se anlise do grau de modernizao da agricultura em mbito nacional. Podem ser citados os trabalhos de Figueiredo e Hoffmann (1988), que analisaram a dinmica da modernizao da agricultura em 299 microrregies homogneas do Brasil. Kageyama e Leone (1990) estudaram a regionalizao da agricultura segundo indicadores sociais. Hoffmann (1992) desenvolveu o ndice de modernizao agrcola de 157 microrregies brasileiras. Souza e Lima (2003) analisaram a dinmica da modernizao agrcola do Brasil. Ferreira Jnior et al. (2004) elaboraram estudo sobre a agropecuria das microrregies do Estado de Minas Gerais. Silva e Fernandes (2005) desenvolveram um estudo sobre o ndice relativo de modernizao agrcola para a regio Norte, enquanto Vidal et al. (2008) desenvolveram o ndice de modernizao agrcola para os municpios do Estado do Acre. O que este trabalho traz de relevante e inovador a tentativa de analisar o nvel de modernizao agrcola de Rondnia e do Acre, tendo como pano de fundo a poltica agrcola adotada por seus governos. Este estudo pode, ento, vir a nortear futuras polticas agrcolas para esses estados, alm de sugerir uma metodologia de avaliao dessas polticas. O presente trabalho encontra-se estruturado em cinco sees. A primeira, como se viu, contm a introduo. Na segunda, exposta a metodologia utilizada na anlise, enquanto a terceira seo dedicada anlise das variveis a

serem utilizadas e fonte dos dados. A quarta seo reservada para os resultados e a discusso dos dados obtidos. E h uma quinta seo, que contm a concluso deste estudo.

MetodologiaPara bem entender as mltiplas dimenses do conceito de modernizao agrcola (HOFFMANN, 1992), preciso lembrar que o processo de inovao tecnolgica na agricultura caracterizado pela reduo do uso da mo de obra e do uso da terra (SILVA, 1981). Dessa forma, para captar o nvel de modernizao agrcola nos municpios rondonienses e acreanos, foi realizado um estudo que utilizou o mtodo da anlise fatorial, relacionado a um conjunto de variveis que afetam os insumos da produo agrcola nessas regies. Graas a esse recurso, foi possvel descrever as caractersticas de modernizao agrcola desses municpios. J a anlise de clusters permitiu montar agrupamentos homogneos dos municpios que apresentaram caractersticas semelhantes de modernizao nos estados de Rondnia e do Acre.

Anlise fatorialPara alcanar os objetivos deste trabalho, que, reiteramos, analisar os ndices de modernizao agrcola dos municpios, caracterizar os grupos homogneos e comparar os graus de modernizao agrcola entre os municpios das microrregies dos estados de Rondnia e do Acre, utilizar-se- o mtodo da anlise fatorial. Esse mtodo est de acordo com a metodologia utilizada em diversos trabalhos sobre modernizao agrcola, como os de Ferreira Jnior et al. (2004), Figueiredo e Hoffmann (1988), Hoffmann (1992), Kageyama e Leone (1990), Silva e Fernandes (2005), Souza e Lima (2003) e Vidal et al. (2008). Uma das metodologias utilizadas neste trabalho a de anlise fatorial. Segundo Ferreira (2008), Hair et al. (1995), Manly (2008) e Mingoti (2005), a ideia bsica dessa metodologia descrever um conjunto p de variveis X1, X2, , Xp

7

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

da matriz de indicadores de modernizao X em termos de um nmero menor de ndices ou fatores, na tentativa de obter uma melhor compreenso do relacionamento dessas variveis. Manly (2008) descreve o modelo de anlise fatorial conforme a frmula abaixo: Xi = ai F + i (1) No contexto proposto por este trabalho, Xi o i-simo escore padronizado para ter mdia zero e desvio-padro igual unidade para todos os municpios das microrregies de Rondnia e do Acre. Aqui ai uma constante; F um valor fator, que tambm apresenta mdia igual a zero e desvio-padro um para todos os municpios; e i a parte de Xi , que especfica do i-simo teste. Alm das razes constantes, segue tambm que a varincia de Xi dada por: VAR(Xi) = ai2 + VAR(i) (2) Segundo Ferreira (2008), ai uma constante, F e i so assumidas independentes, e a varincia de F assumida ser unitria, tambm por VAR(Xi) = 1. Substituindo em (2), tem-se que 1 = a + VAR(i)2 i

2 2 2 VAR(Xi) = ai1 + ai2 + + aim + VAR(i)

(5)

2 2 2 em que ai1 + ai2 + + aim chamado a comunalidade de Xi (a parte de sua varincia que relacionada aos fatores comuns), e VAR(i) chamada a especificidade de Xi (a parte de sua varincia que no relacionada aos fatores comuns).

Pode tambm ser mostrado que a correlao entre Xi e Xj :2 2 2 2 2 2 rij = ai1 . aj1 + ai2 . aj2 + aim. ajm +

(6)

Portanto, dois escores de municpios somente podero ser altamente correlacionados se eles tiverem altas cargas nos mesmos fatores. Alm disso, como a comunalidade no pode exceder a um, preciso que: -1 aij 1 (7) O mtodo para encontrar os fatores no rotacionais como segue. Com p variveis, haver o mesmo nmero de componentes principais. Esses so combinaes lineares das variveis originais. Zi = bpn X1 + bpn X2 + + bpn Xm (8) em que os valores bij so dados pelos autovetores da matriz de correlao. Essa transformao dos valores X para os valores Z ortogonal, de modo que o relacionamento inverso simplesmente Xi = bp1 Z1 + bp2 Z2 + + bpp Zp (9) Para uma anlise de fatores, somente m das componentes principais so retidas. Assim, as ltimas equaes se tornam Xi = bp1 Z1 + bp2 Z2 + + bpmZm + i (10) em que i uma combinao linear dos componentes principais Zm+1 a Zp. Tudo que preciso fazer agora escalonar os componentes principais Z1 + Z2 + + Zm para terem varincia unitria, como requerido pelos fatores. Para isso, Zi precisa ser dividido pelo seu desvio-padro, o qual i, a raiz quadrada do correspondente autovalor na matriz de correlaes. As equaes ento se tornam: Xi = 1 .b1p .F1 + 2 .b2p .F2 + + + m .bmp .Fm + p (11)

(3)

Segundo Manly (2008), a carga fatorial de ai igual razo da varincia de Xi e proporo da varincia contida no fator. Hair et al. (1995) observam que, segundo Spearman, os fatores apresentam uma parte comum (ai1 F1 + + aiF + i) e uma outra especfica (i). Dessa forma, m m possvel montar o modelo de anlise fatorial geral para os municpios das microrregies deste estudo. Xi = ai1 F1 + ai2 F2 + + aimFm + i (4) em que Xi o i-simo escore dos municpios; ai1 a aim so as cargas dos fatores para o i-simo municpio; F1 a Fm so m fatores comuns no correlacionados, cada um com mdia zero e varincia unitria; e i um fator especfico somente para o i-simo municpio, que no correlacionado com qualquer dos fatores comuns e tem mdia zero (MANLY, 2008). Com esse modelo,

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

8

em que Fi = Zi / i . O modelo de fatores no rotacionado , ento: Xp = ap1 F1 + ap2 F2 + + apmFm + p em que aij = j .bji. Aps uma rotao varimax ou outro tipo de rotao, uma nova soluo tem a forma:* Xp = gp1 F1* + gp2 F2* + + gpmFm + p

(12)

Os grupos desconhecidos, k, so agrupados com os n objetos distintos de um conjunto geral de objetos dispersos no plano euclidiano com p caractersticas de similaridade (FERREIRA, 2008; MINGOTI, 2005). O mtodo de anlise de agrupamento pode ser aplicado por meio de duas tcnicas: pelo mtodo hierrquico e pelo mtodo de aglomerao ou diviso. Na primeira tcnica, a do mtodo hierrquico, o algoritmo consiste em calcular as distncias entre n objetos e todos os demais. A segunda consiste em aglomerar, ou seja, fundir o primeiro grupo ao grupo mais prximo, e assim por diante, at que todos os grupos estejam fundidos em um nico. No processo de diviso, considera-se a existncia de um nico grupo no qual os n objetos coexistem; em seguida, separam-se os grupos paulatinamente, at obter n grupos com um nico objeto (FERREIRA, 2008; MANLY, 2008; MINGOTI, 2005). A anlise de agrupamentos tem amplas utilidades, a saber: na anlise de mercado, na reduo de dados e algumas cincias, como a geoqumica, a ecologia, a geografia, a economia e a psicanlise (MINGOTI, 2005). Segundo Ferreira (2008), a fragilidade da anlise de agrupamentos repousa na necessidade de uma certa dose de arbitrariedade, por parte do pesquisador, na iteratividade da alocao tima dos grupos. Mingoti (2005) observa que as distncias entre os elementos so armazenadas em uma matriz de dimenso nn, chamada de matriz de distncia Dnn , cujos elementos dij representam a distncia entre o elemento amostral i e o elemento amostral j. A distncia d calculada pelo mtodo conhecido como distncia euclidiana entre os indivduos i e j da varivel X. d(Xi , Xj) = (Xi - Xj)'(Xi - Xj) 2 = i=1 (Xi - Xj)2 2 p1 1

(13)

Para testar a confiabilidade do modelo de anlise fatorial, utilizam-se o mtodo estatstico Kaiser-Maier-Oklin (KMO) e o teste de Bartlett. O KMO um indicador que estabelece uma comparao entre a correlao amostral das variveis e a correlao parcial entre duas variveis. Segundo Mingoti (2005), esse coeficiente dado pela expresso: KMO = i j R 2 ij i j R 2 + i j Q 2 ij ij (14)

em que Rij a correlao amostral entre as variveis Xi e Xj, e Qij a correlao parcial entre Xi e Xj. Os valores obtidos variam em 0 e 1 (valores do KMO abaixo de 0,5 indicam que os dados no possuem correlao; e valores acima dessa medida indicam o contrrio). Um segundo teste de Bartlett verifica se a matriz X de indicadores de modernizao uma matriz identidade ou nula. Esse teste definido pela expresso:p 8 T = - n - 1 (2p + 2) j=1 ln( i)

(15)

Ainda segundo Mingoti (2005), ln(.) uma funo logaritmo neperiano, e i , i = 1, 2, , n so autovalores da matriz de correlao amostral. Quando a n muito grande, a estatstica T tem uma distribuio aproximadamente quiquadrado com 1 p (p - 1) graus de liberdade. 2

Anlise de agrupamento ou clustersA anlise de agrupamento tem a finalidade de organizar grupos de variveis que apresentam caractersticas similares. um mtodo numrico, cujo nmero de grupos no conhecido (MANLY, 2008; MINGOTI, 2005).

(16)

9

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

Um dendograma pode ser formado usando-se os processos de aglomerao, vizinho mais prximo e hierrquico descrito anteriormente.

ndice de modernizao agrcola (IMA)O mtodo de anlise fatorial permite criar o ndice dos municpios acreanos e rondonienses, por meio da identificao das variveis que mais contriburam para a modernizao agrcola. Essa metodologia tem sido empregada em trabalhos que visam criar tais ndices. Na construo do IMA, associado ao i-simo municpio, definiu-se a equao: F* = ij (Fi - Fmin) Fmx - Fmin (17)

dores de modernizao agrcola. Para solucionar esse problema, Hoffmann (1992) sugere o uso de indicadores de modernizao que afetem a intensidade de explorao do fator terra e do fator trabalho, para captar o grau de modernizao agrcola de uma dada regio. Seguindo a metodologia de Ferreira Jnior et al. (2004), Hoffmann (1992), Silva e Fernandes (2005), Souza e Lima (2003) e Vidal et al. (2008), na forma de escolha das variveis, trs variveis afetam os insumos da funo de produo: a rea trabalhada, a rea explorada (AE) e o nmero de equivalente-homem (EH). Embora muitos trabalhos, entre os citados, difiram quanto aos objetivos, h pouca varincia na escolha das variveis utilizadas por Hoffmann, o que justifica a opo de usar a forma proposta por esse autor (1992). Levando em considerao os indicadores que potencializam o uso dos insumos de produo terra e trabalho, segue a lista dos 24 indicadores utilizados: X1 = Porcentagem de estabelecimentos que usam fora animal. X2 = Porcentagem de estabelecimentos que usam fora mecnica. X3 = Porcentagem da rea com pastagem que plantada. X4 = rea produtiva no utilizada como porcentagem da rea aproveitvel. X5 = rea trabalhada como porcentagem da rea aproveitvel. X6= rea com lavouras permanentes e temporrias como proporo da rea aproveitvel.

em que F* escore fatorial do i-simo municpio, ij Fi o fator do i-simo municpio, Fmin o menor fator obtido dos municpios e Fmx o mximo fator dos municpios utilizados na anlise do i-simo municpio. Segundo Lemos (2000), a expresso 17 tem a propriedade de garantir que todos os fatores sejam ortogonais e positivos, ou seja, estejam no primeiro quadrante do plano euclidiano. O ndice de modernizao agrcola para o i-simo municpio ser obtido pela expresso abaixo:p * IMA = j=1 F ji j j

(18)

Sendo o IMA obtido para o i-simo municpio das microrregies dos estados de Rondnia e do Acre, j a j-sima raiz caracterstica, p o nmero de fatores utilizados na anlise do i-simo municpio, j o somatrio das razes caractersticas referentes aos p fatores extrados.

Indicadores de modernizao agrcolaA produo agrcola pode ser medida utilizando-se uma funo de produo que envolva os fatores terra e trabalho de uma determinada rea ou regio. Todavia, a funo de produo no apresenta claramente os indica-

X7 = Nmero de tratores por equivalentehomem (EH). X8 = Nmero de tratores por rea explorada (AE). X9 = Nmero de arados por rea explorada (AE). X10 = Valor total dos combustveis consumidos por rea explorada (AE).

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

10

X11 = Quantidade de energia eltrica consumida por rea explorada (AE). X12 = Quantidade de energia eltrica consumida por equivalente-homem (EH). X13 = Valor total dos bens por rea explorada (AE). X14 = Valor total dos bens por equivalentehomem (EH). X15 = Valor dos investimentos por rea explorada (AE). X16 = Valor dos investimentos por equivalentehomem (EH). X17 = Valor total dos financiamentos em 2006 por rea explorada (AE). X18 = Valor total dos financiamentos em 2006 por equivalente-homem (EH). X19 = Valor total da produo em 2006 por rea explorada (AE). X20 = Valor total da produo em 2006 por equivalente-homem (EH). X21 = Valor total das despesas em 2006 por rea explorada (AE). X22 = Valor total das despesas em 2006 por equivalente-homem (EH). X23 = Despesas com adubos, corretivos, sementes e mudas, agrotxicos, medicamentos para animais, sal e raes por rea explorada (AE). X24 = Despesas com adubos, corretivos, sementes e mudas, agrotxicos, medicamentos para animais, sal e raes por equivalentehomem (EH). Os valores dos 24 indicadores de modernizao das microrregies dos estados de Rondnia e do Acre foram obtidos do censo agropecurio de 2005/2006 (IBGE, 2006). Segundo Hoffmann (1992), esses indicadores so os que apresentam maior relao com o grau de modernizao da agricultura; portanto, foram selecionados para analisar o nvel de modernizao da agricultura nos municpios dos estados de Rondnia e do Acre.

Resultados e discussesFatores de modernizao agrcola das microrregies dos estados de Rondnia e do AcreOs dados coletados do censo agropecurio 2005/2006 (IBGE, 2006) permitiu montar a matriz X de ordem m n, sendo m igual a 74 municpios das microrregies dos estados de Rondnia e do Acre, e n igual a 24 indicadores de modernizao agrcola dessas microrregies. Dessa forma, a anlise fatorial incidiu sobre a matriz X de dimenso 74 24, com base no censo agropecurio de 2005/2006. Seguindo os procedimentos sugeridos por Ferreira (2008), Hair et al. (1995) e Manly (2008) para verificar a adequao da amostra para a anlise dos fatores propostos da modernizao agrcola da regio do estudo, deve-se testar a confiabilidade do modelo de anlise fatorial, utilizando-se o mtodo estatstico Kaiser-MaierOklin (KMO) e o teste esfericidade de Bartlett. Segundo Hair et al. (1995), quando o total obtido do teste de KMO superior a 0,5, isso indica que a amostra adequada ao emprego da anlise fatorial. Como o KMO obtido da matriz X dos indicadores de modernizao alcanou o valor de 0,685, os dados so adequados anlise proposta. O teste de Bartlett sugerido na equao 16 mostrou-se altamente significativo a 1% de probabilidade. Esse teste utilizado para analisar se a matriz de correlao (R) uma matriz-identidade, ou seja, rejeitar a hiptese nula de que as variveis no so correlacionadas, dado que os testes realizados indicam que os dados da matriz X so factveis de sofrer o mtodo de anlise fatorial. Aplicando o mtodo de componentes principais sobre os dados da matriz X dos indicadores de modernizao, foram obtidas seis razes caractersticas maiores do que a unidade, que so, ento, os seis fatores que mais contribuem para a anlise do grau de modernizao

11

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

agrcola de Rondnia e do Acre, conforme descrito na Tabela 1. Na Tabela 1, so apresentados seis fatores extrados da matriz X com raiz caracterstica maior que 1. Conjuntamente, esses fatores apresentam uma varincia acumulada da ordem de 85,59, ou seja, os seis fatores explicam 85,59% da varincia total dos 24 indicadores de modernizao agrcola para os municpios contidos na matriz X. Hoffmann (1992) observa que os indicadores de modernizao da agricultura pelo mtodo dos componentes principais podem ser interpretados como medidas sintticas do grau de modernizao, o que adotado aqui para os municpios dos estados do Acre e de Rondnia. Hoffmann (1992) obteve quatro fatores de modernizao para sua anlise das 175 microrregies homogneas do Brasil; entretanto, optou por usar apenas dois fatores, j que no existe uma forma definida da quantidade de fatores a ser extrada, mas a relao que eles apresentam quanto varincia explicada dos dados. Optouse, neste trabalho, por um procedimento diferente do utilizado por Hoffmann no que diz respeito ao uso de todos os fatores obtidos da matriz X para a caracterizao da modernizao agrcola dos municpios dos estados de Rondnia e do Acre. A presena de grande quantidade de fa-

tores com raiz caracterstica maior que 1 justifica-se pela heterogeneidade apresentada pelos municpios estudados. Uma forma de enriquecer a anlise proceder a uma rotao ortogonal, utilizando o mtodo Varimax. Segundo Manly (2008), esse mtodo tende a maximizar a varincia do fator; dessa forma, a varincia total modificada, mas sem alterar a contribuio dos fatores. Manly (2008) observa ainda que esse procedimento tem a finalidade de facilitar a interpretao dos dados obtidos da matrix X. Na Tabela 2, so descritas as cargas fatoriais dos seis fatores aps uma rotao Varimax. Hoffmann (1992) explica que as cargas fatoriais so coeficientes de correlao entre cada fator e os indicadores de modernizao. Uma forma de visualizar o relacionamento entre os seis fatores de modernizao e os 24 indicadores de modernizao utilizar valores absolutos superiores a 0,7, que esto destacados em negrito na Tabela 2 (HAIR et al., 1995). Na Tabela 2, a comunalidade expressa a proporo da varincia de cada indicador, explicada pelos seis fatores relacionados. A comunalidade um indicador que varia entre 0 e 1. Quanto mais prximo de 1, mais sensvel o indicador; e quanto mais prximo de 0, menos sensvel o indicador ao processo de moder-

Tabela 1. Varincia explicada e acumulada pelos fatores com razes caractersticas normais e rotacionadas maiores que a unidade.Varincia (%) 37,95 18,95 10,83 7,42 5,96 4,48 Varincia acumulada (%) 37,95 56,90 67,73 75,14 81,11 85,59 Rotao Varimax Raiz 6,66 3,58 3,45 3,23 2,26 1,36 Varincia (%) 27,73 14,92 14,37 13,46 9,42 5,68 Varincia acumulada (%) 27,73 42,65 57,03 70,49 79,91 85,59

Fator

Raiz

1 2 3 4 5 6

9,11 4,55 2,60 1,78 1,43 1,08

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

12

Tabela 2. Comunalidade, relao entre seis fatores e os 24 indicadores de modernizao agrcola nas microrregies de Rondnia e do Acre, depois de feita a rotao ortogonal pelo mtodo Varimax.Indicador INDX1 INDX2 INDX3 INDX4 INDX5 INDX6 INDX7 INDX8 INDX9 INDX10 INDX11 INDX12 INDX13 INDX14 INDX15 INDX16 INDX17 INDX18 INDX19 INDX20 INDX21 INDX22 INDX23 INDX24 % var. Carga fatorial F1 0,05 -0,48 0,26 -0,18 0,19 -0,09 0,85 0,40 0,77 -0,05 -0,07 0,73 0,36 0,88 -0,02 0,81 -0,22 0,76 -0,10 0,71 0,23 0,88 0,33 0,79 27,73 F2 0,04 -0,04 0,87 -0,93 0,93 0,04 0,09 0,22 0,28 -0,30 0,39 0,48 -0,00 0,08 0,08 0,31 0,17 0,14 -0,31 -0,09 -0,05 0,08 0,21 0,13 14,92 F3 -0,29 0,29 -0,04 0,13 -0,13 0,05 -0,13 -0,15 -0,02 0,83 0,51 0,05 0,16 -0,08 0,88 0,05 0,21 -0,02 0,83 0,13 0,67 -0,03 -0,25 -0,08 14,37 F4 -0,13 0,12 0,16 -0,16 0,16 -0,04 0,34 0,66 0,21 0,09 -0,00 -0,07 0,42 0,18 0,08 0,02 0,71 0,46 0,11 0,06 0,58 0,30 0,85 0,45 13,46 F5 -0,94 0,94 -0,07 -0,01 0,01 0,32 0,16 0,29 0,11 0,24 0,04 -0,11 0,05 -0,10 0,20 -0,02 0,01 -0,07 0,24 -0,16 0,12 -0,09 0,07 -0,01 9,42 F6 -0,07 0,07 -0,16 -0,09 0,09 0,41 -0,06 -0,05 -0,07 0,09 0,41 0,24 -0,21 -0,18 -0,33 -0,28 0,12 0,07 0,33 0,29 0,04 -0,04 -0,10 -0,11 5,68 Comunalidade 0,99 0,98 0,89 0,99 0,97 0,28 0,90 0,77 0,74 0,86 0,59 0,84 0,39 0,87 0,94 0,83 0,65 0,83 0,98 0,64 0,87 0,88 0,90 0,86

nizao. Por exemplo, o indicador INDX6, que representa a rea com lavouras permanentes e temporrias como proporo da rea aproveitvel, apresenta comunalidade 0,28, o que indica haver espao para uso mais intensivo de rea para a lavoura. O INDX11 apresenta comunalidade de 0,59, indicando que a quantidade de energia eltrica consumida por rea explorada atinge 59% dos municpios. Os indicadores

INDX13 com comunalidade 0,39 mostram que o valor total dos bens por rea explorada tem baixa relao com o nvel de modernizao. O INDX17 com comunalidade 0,64 e o INDX20 com comunalidade 0,65 indicam que a contribuio desses indicadores pode ser potencializada. A Tabela 2 tambm mostra o relacionamento dos fatores de modernizao agrcola dos municpios de Rondnia e do Acre com os in-

13

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

dicadores que mais contribuem para o grau de modernizao agrcola dessas regies. O fator F1 fortemente correlacionado com o nmero de tratores por equivalente-homem (X7), com o nmero de arados por rea explorada (X9), com a quantidade de energia eltrica consumida por equivalente-homem (X12), com o valor total dos bens por equivalente-homem (X14), com valor dos investimentos por equivalente-homem (X16), com o valor total dos financiamentos em 2006 por equivalente-homem (X18), com o valor total da produo em 2006 por equivalente-homem (X20), com o indicador valor total das despesas em 2006 por equivalente-homem (X22) e com o indicador despesas com adubos, corretivos, semente e mudas, agrotxicos, medicamentos para animais, sal e raes por equivalente-homem (X24). O fator F2 relaciona-se fortemente com os seguintes indicadores de modernizao agrcola: porcentagem da rea com pastagem que plantada (X3), rea produtiva no utilizada como porcentagem da rea aproveitvel (X4) e rea trabalhada como porcentagem da rea aproveitvel (X5). O fator F3 fortemente relacionado com os seguintes indicadores: valor total dos combustveis consumidos por rea explorada (X10), valor dos investimentos por rea explorada (X15) e valor total da produo em 2006 por rea explorada (X19). O fator F4 tem forte relacionamento com os indicadores: valor total dos financiamentos em 2006 por rea explorada (X17) e despesas com adubos, corretivos, semente e mudas, agrotxicos, medicamentos para animais, sal e raes por rea explorada (X23). J o fator F5 relacionado fortemente com os seguintes indicadores: porcentagem de estabelecimentos que usam fora animal (X1) e porcentagem de estabelecimentos que usam fora mecnica (X2). Quanto ao fator F6, no foram encontrados fortes relacionamentos com os indicadores de modernizao. Ao contrrio. Para facilitar a interpretao dos fatores, necessria denomin-los com base nos rela-

cionamentos com os indicadores de modernizao. O fator F1 tem seu relacionamento pautado nos indicadores equivalente-homem (EH). Essa caracterstica permite denominar F1 de fator de produo trabalho intensivo. Os fatores F2, F3, F4 e F5 relacionam-se com os indicadores relativos rea explorada, o que permite cham-los de fatores de uso da terra. Na Tabela 3, so apresentados, de forma ordenada, os ndices ou graus de modernizao agrcola dos 74 municpios estudados, e utilizada a mdia dos ndices de modernizao agrcola para 2006, que de 0,35%, como parmetro de comparao. Para facilitar a compreenso, essa tabela foi classificada por intervalos, de forma que os municpios se enquadrassem no intervalo correspondente ao IMA obtido (foi utilizado o Anexo A para a construo dessa tabela). O municpio de Cacoal, pertencente microrregio de Cacoal, no Estado de Rondnia, o nico municpio dentro do intervalo A de maior nvel de modernizao agrcola, com um ndice de 72%. Alguns dados podem comprovar o fator de desempenho desse municpio: o ndice de modernizao agrcola referente rea produtiva utilizada como proporo da rea trabalhada foi de 78%, contra 22% da rea no utilizada como proporo da rea aproveitvel. Esse indicador mais do que o dobro da mdia apresentada dos municpios de outras microrregies. Outro indicador extremamente positivo desse municpio a quantidade de energia eltrica consumida por equivalente-homem com ndice de 10,35%, que superior mdia de energia utilizada pelos demais municpios. Dos 74 municpios que compem as microrregies dos estados de Rondnia e do Acre, 11 municpios esto inclusos na classificao B, e 20 municpios na classificao C, o que corresponde a 32 municpios que apresentaram ndice maior do que a mdia. Desses, apenas 1 municpio pertence ao Estado do Acre. Outros 31 municpios foram classificados na classe D, sendo 11 pertencentes ao Estado do Acre e 20 ao Estado de Rondnia. Doze mu-

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

14

Tabela 3. Classificao dos municpios dos estados do Acre e de Rondnia com relao ao IMA.Intervalo 59 48 47 36 23 11 72 60 Classificao A B C D E Absoluta AC 1 11 10 22 RO 1 11 19 20 1 52 Total 1 11 20 31 11 74 Relativa AC 0,05 0,50 0,45 RO 0,02 0,21 0,37 0,38 0,02 Total (%) 1,00 15,00 27,00 42,00 15,00 100,00

35 24

Municpios

Obs.: na classificao dos municpios, foram utilizados, em torno da mdia X = 35, dois desvios-padro = 12.

nicpios ficaram dentro do menor extrato, E; desses, 11 pertencem ao Estado do Acre e 1 ao Estado de Rondnia. Dos 40 municpios que apresentaram graus de modernizao inferior mdia do indicador, 50% do total desses municpios pertence ao Estado de Rondnia, e os outros 50% ao Estado do Acre. Relativamente, 38% dos municpios do Estado de Rondnia apresentam ndice inferior ao da mdia geral. J esse percentual relativo salta para 90,9% para os municpios do Estado do Acre. Os municpios que apresentaram menor ndice de modernizao agrcola em 2006 foram os municpios de Assis Brasil e Manuel Urbano, ambos do Estado do Acre, que obtiveram um ndice de 13%. J o municpios de pior destaque das microrregies de Rondnia foi Guajar-Mirim, com 23%.

observam que so muitos os algoritmos utilizados para formar grupos de variveis ou objetos. Diante desse fato, a escolha do algoritmo fica a cargo do pesquisador, ou seja, daquilo a que ele se prope alcanar. Assim, foram obtidos trs clusters de modernizao, que agrupam os municpios que possuem caractersticas similares. Conforme pode ser verificado na Tabela 4, realizou-se um teste de mdia que rejeitou a hiptese de igualdade de mdia entre os grupos. O objetivo de obter esses grupos de municpios similares fazer alguma relao entre os nveis de modernizao agrcola dos municpios dos estados de Rondnia e do Acre e a poltica agrcola adotada por esses estados (os trs clusters obtidos esto dispostos no Anexo B). J a Tabela 5 permite fazer comparaes do nvel de modernizao agrcola. Dessa forma, fcil de constatar que o cluster 1 o queTabela 4. Teste de mdia entre os clusters de modernizao agrcola, no Acre e em Rondnia 2005/2006.Cluster 1 2 3 1 (-0,08) (-0,06) (-0,01) 2 3

Anlises dos clusters de modernizao agrcola de Rondnia e do AcreA anlise de agrupamentos ou clusters foi utilizada com a finalidade de agrupar os municpios das microrregies de Rondnia e do Acre que apresentassem similaridade na aplicao dos ndices de modernizao agrcola obtidos do censo agropecurio de 2006 (IBGE, 2006). Ferreira (2008), Manly (2008) e Mingoti (2005)

Obs.: entre parnteses tem-se as estatsticas t, que rejeitam a hiptese nula de igualdade de mdia.

15

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

apresenta a maior mdia 53% de IMA. Esse cluster composto pelos municpios com maior nvel de modernizao agrcola. Outro ponto a destacar foi a baixa presena de municpios do Acre nesse cluster, com a presena apenas de Rio Branco, com IMA de 43%. Os outros 12 municpios pertencem ao Estado de Rondnia, com destaque para Cacoal, com IMA de 72%. Os municpios do Estado de Rondnia representaram 23,07% do total de municpios com alto grau de modernizao. Para os municpios das microrregies do Estado do Acre, o ndice foi de 4,54%. No cluster 2, o que chama a ateno a grande presena de municpios prximos do IMA mdio de 33%. Esse grupo mostrou ser

caracteristicamente denso, com a presena de 43 municpios. Outra caracterstica observada em torno da mdia dos indicadores que apresentaram grandes cargas fatoriais X5, X7, X15 e X22 que so inferiores as mdias obtidas pelo grupo 1 dos municpios de maior modernizao agrcola. Trinta e cinco dos municpios do grupo 2 pertencem ao Estado de Rondnia, e nove municpios ao Estado do Acre, o que indica que 67,30% dos municpios de Rondnia possuem grau mdio de modernizao agrcola, contra 40,90% dos municpios do Acre. O cluster 3 apresentou um valor mdio de 28% de IMA. Esse o grupo dos municpios com menor grau de modernizao agrcola, caracterizado por mdias de indicadores de mo-

Tabela 5. Medidas estatsticas dos clusters de modernizao dos municpios dos estados de Rondnia e do Acre, e ndice de modernizao agrcola para o ano de 2005/2006.Municpio Cluster 1 Mdia Desvio-padro Mximo Mnimo CV Cluster 2 Mdia Desvio-padro Mximo Mnimo CV Cluster 3 Mdia Desvio-padro Mximo Mnimo CV 46,18 26,16 85,97 9,95 0,57 0,11 0,16 0,45 0,00 1,45 78,58 80,95 345,50 16,82 1,03 21350,89 26583,92 88416,64 530,61 1,25 28,00 12,64 50,00 13,00 0,45 63,05 15,78 88,78 20,81 0,25 0,20 0,12 0,56 0,03 0,60 67,40 33,63 185,93 31,52 0,50 30421,7 17183,42 107296,1 13666,4 0,56 33,00 6,42 43,00 18,00 0,19 65,35 16,98 90,51 33,33 0,26 0,56 0,21 1,01 0,35 0,38 72,60 22,91 104,55 36,44 0,32 73693,81 20238,56 95315,20 29398,41 0,27 53,00 8,20 72,00 40,00 0,15 INDX5 INDX7 INDX15 INDX22 IMA (%)

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

16

dernizao agrcola muito inferior apresentada pelo grupo dos municpios de maior grau de modernizao agrcola das microrregies de Rondnia e do Acre. Dezessete municpios encontram-se nessa situao, sendo 12 municpios do Estado do Acre e 5 municpios pertencentes ao Estado de Rondnia. Isto , 9,61% dos municpios de Rondnia tm baixo grau de modernizao agrcola, contra 54,54% dos municpios do Estado do Acre. Todavia, esse cluster apresentou o maior coeficiente de variao em relao aos demais clusters, da ordem de 45%, mostrando ser o cluster mais heterogneo, composto, predominantemente, de municpios acreanos.

res. Essa anlise permitiu comparar os nveis de modernizao entre os municpios das microrregies de Rondnia e do Acre. Constatou-se que o nvel de modernizao agrcola dos municpios do Estado do Acre apresentou atraso quando comparado com o dos municpios do Estado de Rondnia. Do grupo dos municpios com maior nvel de modernizao agrcola, apenas um municpio pertencia ao Estado do Acre; os demais pertenciam regio de Rondnia. Os restantes 21 municpios das microrregies do Acre pertenciam ao grupo intermedirio, com baixo grau de modernizao. Esse fato, por si s, demonstra o atraso do setor agrcola do Estado do Acre em comparao com o de Rondnia. O que se percebe que o atraso dos municpios do Acre decorrente da fraca relao dos indicadores de modernizao agrcola. Tome-se, por exemplo, a rea produtiva no utilizada como proporo da rea aproveitvel: X4 de 62,30% (mdia), contra 32,10% (mdia) de Rondnia, em rea trabalhada como proporo da rea aproveitvel; X5 de 37,67% (mdia), contra 67,87% (mdia) de Rondnia, em quantidade de energia eltrica consumida por equivalente-homem; e X12 gasta em mdia, nos municpios acreanos, trs vezes menos do que nos municpios de Rondnia. As consideraes tecidas aqui no levaram, porm, em considerao variveis ambientais, culturais e histricas que pudessem afetar mais intensamente a questo agrcola dos municpios dos estados de Rondnia e do Acre. Outra deficincia deste trabalho foi no ter feito uma comparao entre a agricultura das regies estudadas e a agricultura de centros mais dinmicos do Pas, com o intuito de buscar um padro de modernizao agrcola mais apurado. Em suma, o setor agrcola tem, secularmente, lugar de destaque na economia dos estados brasileiros, e quanto maior o grau de modernizao desse setor, mais produtiva so as atividades econmicas locais. Sendo assim, nenhum estado pode se furtar a criar polticas pblicas que incentivem a dinamizao do setor agrcola. Tanto a agricultura em Rondnia

ConclusesEste estudo teve por objetivo geral desenvolver um ndice de modernizao agrcola (IMA) para os municpios das microrregies dos estados de Rondnia e do Acre. Para esse fim, foram utilizados indicadores de modernizao agrcola. A anlise do IMA permitiu observar que 94,54% dos municpios acreanos apresentaram grau mdio com tendncia para baixo de modernizao agrcola. Rio Branco foi o municpio acreano com o mais alto ndice de modernizao 45% , porcentagem muito distante daquela dos municpios Manuel Urbano e Assis Brasil, ambos com IMA igual a 13%. O desempenho dos indicadores de modernizao agrcola dos municpios do Acre, em comparao com os indicadores dos municpios de Rondnia, sinalizam que a no institucionalizao de poltica agrcola afeta os indicadores de modernizao. Por sua vez, 77% dos municpios de Rondnia apresentaram grau mdio com tendncia de alta. Dos municpios de Rondnia, 23% apresentaram nvel de modernizao agrcola muito superior ao dos demais municpios, com destaque para Cacoal, cujo IMA foi igual 72%, e Jaru, 58%. A anlise de agrupamentos permitiu criar grupos de municpios com caractersticas simila-

17

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

quanto no Acre so mal desenvolvidas, mas so grandes as oportunidades que esse setor oferece ao desenvolvimento regional, principalmente na regio do Acre.

KAGEYAMA, A.; LEONE, E. T. Regionalizao da agricultura segundo indicadores sociais. Revista Brasileira de Estatstica, Rio de Janeiro, v. 51, n. 196, p. 5-21, 1990. LEMOS, J. J. S. Indicadores de degradao no nordeste sub-mido e semi-rido. Revista Sober, Braslia, DF, p. 1-10, 2000. MANLY, B. F. J. Mtodos estatsticos multivariados: uma introduo. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008. MINGOTI, S. A. Anlise de dados atravs de mtodos de estatstica multivariada: uma abordagem aplicada. Belo Horizonte: UFMG, 2005. MIRANDA, E. E. de. Avaliao do impacto ambiental da colonizao em floresta Amaznica. In: AMAZNIA: a fronteira agrcola 20 anos depois. 2. ed. Belm: CEJUP, 1992. NUNES, J. R. P. Modernizao da agricultura, pecuarizao e mudanas: o caso do Alto Purus. Rio Branco: Tico-Tico, 1991. RONDNIA. Lei Complementar n 60, de 21 de julho de 1992. Dispe sobre a Poltica Agrcola do Estado de Rondnia, e d outras providncias. 1992. Disponvel em: . Acesso em: 19 fev. 2011. SILVA, J. G. da. Progresso tcnico e relaes de trabalho na agricultura. So Paulo: Hucitec, 1981. 210 p. (Coleo economia e planejamento. Srie teses e pesquisas). SILVA, R. G.; FERNANDES, E. A. ndice relativo de modernizao agrcola na Regio Norte. Revista de Economia e Agronegcio, Braslia, DF, v. 3, n. 1, p. 2949, 2005. SORJ, B. Estado e classes sociais na agricultura brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. SOUZA, P. M. de; LIMA, J. E. de. Intensidade e dinmica da modernizao agrcola no Brasil e nas Unidades da Federao. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 57, n. 4, p. 795-824, 2003. VIDAL, M. B.; SILVA, R. G.; MENDONA, M. dos S.; LIMA, M. L. da S. ndice de modernizao agrcola para os municpios do Estado do Acre. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 45., 2007, Londrina. Anais... Londrina: Sober, 2008.

RefernciasACRE. Lei n. 1.117, de 26 de janeiro de 1994. Dispe sobre a poltica ambiental do Estado do Acre, e d outras providncias. 1994. Disponvel em: . Acesso em: 19 fev. 2011. ALMEIDA, A. W. B. de. O intransitivo da transio: o Estado, os conflitos agrrios e a violncia na Amaznia (1965-1989). In: AMAZNIA: a fronteira agrcola 20 anos depois. 2. ed. Belm: CEJUP, 1992. FERREIRA JNIOR, S.; BAPTISTA, A. J. M. S.; LIMA, J. E. de. A modernizao agropecuria nas microrregies do Estado de Minas Gerais. Revista de Economia e Sociologia Rural, Braslia, DF, v. 42, n. 1, p. 73-89, 2004. FERREIRA, D. F. Estatstica multivariada. Lavras: UFLA, 2008. FIGUEIREDO, N. M. S.; HOFFMANN, R. A dinmica da modernizao da agricultura em 299 microrregies homogneas do Brasil: 1975, 1980 e 1985. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 36., 1998, Poos de Caldas. Anais... Poos de Caldas: Sober, 1998. p. 439-450. GRAZIANO NETO, F. Questo agrria e ecologia: crtica da moderna agricultura. So Paulo: Brasiliense, 1982. GUIMARES, A. P. A crise agrria. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. HAIR, J. F.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R. L.; BLACK, W. C. Multivariate data analysis: with readings. New Jersey: Prentice Hall, 1995. HOFFMANN, R. A dinmica da modernizao da agricultura em 157 microrregies homogneas do Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural, Braslia, DF, v. 30, n. 4, p. 271-290, 1992. IANNI, O. Ditadura e agricultura: o desenvolvimento do capitalismo na Amaznia: 1964-1978. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1986. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Censo agropecurio 2006. Rio de Janeiro, 2006.

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

18

Anlise do processo de difuso tecnolgica de cultivares de soja da Embrapa no Paran1

Thiago Andr Guimares2 Victor Manoel Pelaez Alvarez3

Resumo O Paran liderou a produo nacional de soja at o fim da dcada de 1990, contribuindo decisivamente para que o Brasil ocupasse, desde 1975, o posto de segundo maior produtor mundial do gro. Entre os fatores que explicam o sucesso da sojicultura paranaense destaca-se o estabelecimento de uma rede articulada de pesquisa agrcola que, sob a liderana da Embrapa, atuou decisivamente no desenvolvimento e na transferncia de cultivares de soja para o Estado. Nesse sentido, o presente trabalho analisa o processo de difuso tecnolgica da Embrapa para os sojicultores paranaenses, entre as safras de 19701971 e de 20022003, com nfase no projeto sistmico que abrange a Embrapa Soja e a Embrapa Transferncia de Tecnologia, em parceria com produtores de sementes. Ao mesmo tempo, busca-se avaliar a eficcia desse processo baseado na participao relativa das sementes de cultivares da Embrapa em relao ao total de sementes fiscalizadas cultivadas no Paran no plantio nas safras de 19901991 a 20022003. Nesse perodo, registrou-se uma evoluo da participao relativa das sementes da Embrapa de 3% para 46% em relao ao total de sementes fiscalizadas cultivadas no Estado. Palavras-chave: aprendizado tecnolgico, cultivares de soja, difuso tecnolgica.

Analysis of process of technology transfer for the soybeans Embrapas cultivars in ParanAbstract Paran led the national soybean production by the end of the 1990s, contributing decisively to occupy that Brazil since 1975, the position of the second largest producer of grain in the world. Among the factors that explain the success of soybean production in Paran, stands out the establishment of a network of agricultural research under the leadership of Embrapa, acting decisively in the development and transfer of soybean cultivars for the State. In this sense, this paper examines process of technology transfer promoted by Embrapa Soybean with Paran soybeans producers, between the harvests of 19701971 and 20022003, emphasizing on systemic project involving Embrapa Soybean and Embrapa Technology Transfer, in partnership with seeds producers.1 2

Original recebido em 18/8/2011 e aprovado em 25/8/2011. Economista pela Universidade Federal do Paran (UFPR), engenheiro de produo civil, pela Universidade Tecnolgica Federal do Paran (UTFPR), Mestre e Doutorando em Mtodos Numricos em Engenharia, pela Universidade Federal do Paran (UFPR), professor-assistente do Centro Universitrio Franciscano do Paran (Unifae). E-mail: [email protected] Engenheiro de alimentos e Mestre em Poltica Cientfica e Tecnolgica, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Doutor em Economia, pela Universit de Montpellier I, professor-associado do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paran (UFPR). E-mail: [email protected]

3

19

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

At the same time, seeks out to identify the effectiveness of this process based on the relative share of seeds of Embrapas cultivars in relation to the total supervised seed grown in Paran between the harvests of 19891990 to 20022003. During this period, there was an evolution of the relative participation of Embrapa seeds from 3% to 46% of the total number of supervised seeds grown in the State. Keywords: technological learning, soybean cultivars, technology transfer.

IntroduoNo lastro das profundas transformaes tcnico-produtivas ocorridas na agricultura brasileira a partir da dcada de 1960, a soja vem-se destacando como o principal produto do agronegcio brasileiro, logrando ao Pas, desde 1976, o posto de segundo maior produtor mundial, superado apenas pelos Estados Unidos. Em 2010, o Brasil respondeu por 26,2% da produo mundial de soja (UNITED STATES, 2010), que correspondeu a 67,5 milhes de toneladas de soja, cultivada em uma rea de 24,2 milhes de hectares (rea equivalente ao territrio do Reino Unido) (CONAB, 2010). Em termos comerciais, a soja foi responsvel por cerca de 9% das exportaes brasileiras, perfazendo R$ 17,5 bilhes. Em relao ao PIB do agronegcio desse mesmo ano, a commodity respondeu por 5,6% de um total de R$ 821,8 bilhes, que correspondeu a uma participao de 1,25% do PIB nacional (BRASIL, 2010; CEPEA, 2010). Entre os estados produtores destaca-se o Paran, que comeou a cultivar a oleaginosa nos anos 1960 e, at o final da dcada de 1990, foi o principal estado produtor do Pas, tanto em rea cultivada quanto em volume produzido, sendo esse estado responsvel, ainda em 2010, por 21% da soja colhida no Brasil. Entretanto, em decorrncia da expanso agrcola em direo ao Cerrado, na dcada de 1980, o Paran perdeu a liderana produtiva para Mato Grosso, que responde atualmente por cerca de 27% da produo brasileira (CONAB, 2010). O estabelecimento de uma rede articulada de pesquisa sobre a soja figura entre os principais fatores que explicam o sucesso do cultivo dessa cultura no Brasil, proeza que envolve os poderes pblicos (federal e estadual) e o apoio financei-

ro da indstria privada. De acordo com Domit et al. (2007), essa rede de pesquisa teve incio, no Estado do Paran, em 1972, e articulou, num primeiro estgio, o Ministrio da Agricultura e o Instituto Agronmico do Paran (Iapar). Em um segundo estgio, foi criado, em 1975, o Centro Nacional de Pesquisa de Soja (CNPS), que viria a se transformar, no ano seguinte ao da sua criao, na Embrapa Soja. Isso possibilitou a integrao dos esforos isolados de pesquisa, que se espalhavam pontualmente pelas regies Sul e Sudeste. Paralelamente criao da Embrapa Soja, foi estabelecido o Programa Nacional de Melhoramento Gentico, que culminou no desenvolvimento das primeiras cultivares de soja no Paran, contribuindo decisivamente para a rpida expanso da produo. Tambm pode ser considerado uma conquista dessa rede de pesquisa o desenvolvimento de cultivares adaptadas s latitudes dos climas tropicais, fator fundamental expanso da soja rumo ao Cerrado (TECNOLOGIAS..., 2008). Um dos aspectos determinantes para o incio da pesquisa no Paran seria a limitao da fronteira agrcola do Estado, que comeou a se esgotar ainda na dcada de 1970, tanto em ocupao quanto em possibilidade de abertura de terras virgens (FONSECA; SALLES FILHO, 1992; LOURENO, 2000). Isso imps o aumento da produtividade da cultura, com base no desenvolvimento de novas cultivares adaptadas s condies edafoclimticas do Estado. Nesse contexto, enquanto a rea colhida de soja aumentou 80%, entre as safras de 1978 1979 e 2000 2001, passando de 2,3 milhes de hectares para 2,8 milhes, respectivamente, a sua produo cresceu mais de 215%, passando de 4 milhes para 8,6 milhes de toneladas no mesmo perodo (IPEA, 2011).

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

20

Motivado pelo papel de destaque da pesquisa agrcola na produo de soja no Paran, este trabalho prope-se a analisar o processo de difuso tecnolgica de novas cultivares de soja, promovido pela Embrapa, para os produtores paranaenses, no perodo compreendido entre 1970 e 2003. Destacar-se- o perodo entre a safra de 19891990 e a de 20022003, enquanto perdurou a parceria entre a Embrapa Soja e a Embrapa Transferncia de Tecnologia, cujo objetivo era difundir cultivares de soja em parceria com produtores de sementes do Estado. O estudo do processo de difuso tecnolgica baseia-se na anlise proposta por Nathan Rosenberg, por meio da qual procura-se identificar e discutir os principais mecanismos de difuso tecnolgica adotados pelas Unidades de pesquisa e extenso da Embrapa. Ao mesmo tempo, pretende avaliar a eficcia do processo de transferncia de tecnologia com base no percentual de sementes de cultivares da Embrapa cultivadas no Estado do Paran, em relao ao total de sementes fiscalizadas e utilizadas no plantio, nas safras de 1970 1971 a 20022003. Para tanto, alm desta introduo, este artigo composto por mais quatro sees. A seo dois apresenta o referencial terico do estudo, onde so delineadas as consideraes tericas a respeito dos mecanismos de difuso tecnolgica. A terceira seo aborda o contexto econmico e produtivo da soja no Paran. A seo quatro discute o papel da pesquisa agrcola promovida pela Embrapa no Paran, no qual analisado o processo de transferncia de tecnologia das cultivares de soja. Por fim, a quinta seo tece as concluses do artigo.

Difuso tecnolgica: uma abordagem evolucionriaSegundo Furtado (2006), a perspectiva evolucionria aproxima a inovao da difuso tecnolgica, rompendo a barreira imposta pela escola neoclssica, que tratava a inovao como sendo exgena ao sistema econmico, enquanto a difuso era considerada endgena. Tal aproximao considera tanto a inovao quanto a difuso tecnolgica como elementos endgenos. Mais do que isso, a difuso passa a ser considerada como uma atividade inerente ao processo de inovao tecnolgica, na medida em que a tecnologia evolui por meio de um processo interativo e cumulativo de mudanas incrementais. Diante dessa nova perspectiva, Rosenberg (1979) destaca a rapidez com que as novas tecnologias so incorporadas no processo produtivo, decorrente sobretudo do fato de as atividades de pesquisa e desenvolvimento serem cada vez mais subordinadas dinmica da economia. Para o autor, o fenmeno de difuso da tecnologia vai alm de uma viso esttica do progresso tcnico, na qual a propagao do conhecimento interpretada como um simples contgio, representado por uma curva em S. Ele considera a difuso tecnolgica como um processo interativo de um conjunto de mecanismos, pelos quais o conhecimento acumulado e incorporado atividade produtiva, quais sejam: Aperfeioamento dos inventos: os inventos, em suas formas primitivas, so imperfeitos e permitem apenas melhorias discretas em relao s tecnologias anteriormente empregadas. O ritmo da difuso tecnolgica no ditado pelo invento em si, mas pelo andamento das melhorias e pelas adaptaes subsequentes, que vo sendo incorporadas nova tecnologia. Portanto, as inovaes incrementais atingem grande impacto econmico, sendo muitas vezes superiores s inovaes radicais. Desenvolvimento de habilidades tcnicas por parte dos usurios: esse mecanismo est associado s inovaes

Difuso e aprendizado tecnolgicoA primeira parte deste tpico discute os principais mecanismos de difuso propostos por Rosenberg (1979), enquanto a segunda parte aprofunda-se no mecanismo de aprendizado tecnolgico, destacando suas dimenses e seus significados. A terceira parte aborda o aspecto institucional do aprendizado tecnolgico.

21

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

incrementais, uma vez que a explorao de novas tecnologias de maneira eficaz depende do desenvolvimento das habilidades humanas. O autor argumenta que a forma como novas habilidades tcnicas so adquiridas interfere diretamente na rapidez do processo de difuso. H, ento, duas formas de aprendizado tecnolgico: a primeira decorrente da participao direta no processo produtivo (learning-by-using), enquanto a segunda obtida por meio da educao regular e de treinamento (learning-by-training), permitindo a formao de trabalhadores mais qualificados. Desenvolvimento de habilidades na fabricao de mquinas: as inovaes dependem de mquinas especializadas, que as produzam com eficincia. O autor apresenta como exemplo as mquinas a vapor, cujo desenvolvimento dependia da fabricao de pistes especficos. Tecnologias complementares: so tecnologias que auxiliam outras tecnologias a se desenvolver plenamente, dentro de um contexto de externalidade positiva de redes tecnolgicas. O autor cita como exemplo o caso das locomotivas, que s se tornaram viveis quando os trilhos de ferro foram substitudos por trilhos de ao. Aperfeioamento, paralelo, de antigas e novas tecnologias: possvel a coexistncia de tecnologias antigas com tecnologias novas, ou seja, uma tecnologia ultrapassada no deixa de existir quando um novo conhecimento introduzido. Contexto institucional: a mudana tcnica depende do aspecto institucional, ou seja, das leis, dos aspectos culturais, de valores e tradies, que podem frear ou incentivar a difuso de inovaes.

O aprendizado tecnolgico adquire, assim, um papel de destaque no processo de difuso, considerando que a assimilao e a transmisso de conhecimentos so mecanismos essenciais incorporao das atividades de pesquisa e desenvolvimento nas atividades de produo e comercializao de novos produtos e processos.

Modalidades de aprendizadoDe acordo com Queiroz (2006), aprendizado tecnolgico um processo pelo qual um agente acumula habilidades e conhecimentos, gerando o aperfeioamento contnuo da tecnologia e obtendo ganhos de desempenho em determinado processo. O autor ensina que o desenvolvimento das habilidades tcnicas constitui um importante mecanismo de difuso da tecnologia. Todavia, sua gnese advm de uma multiplicidade de processos, a qual enseja vrias formas de aprender. A definio bsica do learning-by-doing decorre da prpria atividade produtiva. Assim, quanto mais se produzir ou se realizar determinado processo, maior ser a experincia em faz-lo e, consequentemente, melhor ser seu desempenho. Lundvall (1988) acrescenta a modalidade do learning-by-interaction (aprender por interao), segundo a qual o aprendizado fruto de uma cooperao entre usurios e produtores, num determinado contexto institucional, resultando em inovaes no produto ou no processo produtivo. Katz (1976 citado por QUEIROZ, 2006) sugere, por sua vez, o learning-by-adapting (aprender adaptando), em que o aprendizado decorre de alteraes de processos que no podem ser replicados no mesmo contexto em que foram criados. Jonhson e Lundvall (2000) propem, por sua vez, o learning-by-searching, ou seja, o aprendizado pela pesquisa. Essa forma de aprender fruto de atividades investigativas, promovidas por instituies especficas, como universidades e institutos de pesquisa, com o propsito de resolver determinados problemas. Britto (1999) complementa as formas de aprendizado ao propor o conceito de learning-by-training, o qual se destaca da ideia inicial proposta por Rosenberg (1979), que consi-

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

22

derava o treinamento de mo de obra como parte inerente aprendizagem pelo uso.

Aprendizado e instituiesEmbora a firma seja o tema central na anlise econmica sobre o aprendizado, Queiroz (2006) argumenta que existem outras organizaes que contribuem para a mudana tcnica, por meio do aprendizado, como universidades e centros de pesquisa. No caso das universidades, o autor v nelas fontes de multiplicidade de conhecimentos e de recursos humanos qualificados. A ttulo de exemplo, o autor cita o papel crucial da educao tcnica nos Estados Unidos, a qual contribuiu para a Segunda Revoluo Industrial, ao combinar o conhecimento cientfico com o tecnolgico, na formao de engenheiros, qumicos e cientistas. Rosenberg (1979) chama a ateno, por sua vez, sobre o papel das agncias governamentais e das instituies pblicas, ao proporcionarem suporte direto s atividades de pesquisa, s de execuo de polticas pblicas e s de realizao de programas de interesse convergente. Queiroz (2006) lembra que outros elementos integrantes do contexto institucional repercutem sobre o processo de aprendizado tecnolgico. Nesse mbito, destacam-se as instituies financeiras de fomento e a legislao. O aprendizado tecnolgico possui, portanto, um carter coletivo e interativo, no qual o contexto institucional tem um papel fundamental na criao de relaes e estmulos sociais propcios sua expanso nas vrias modalidades de conhecimento.

te e noroeste do Estado iniciaram o cultivo em 1953, em decorrncia da primeira grande geada, que destruiu os cafezais dessas regies. Em 1955, a cultura da oleaginosa foi mais uma vez intensificada, tambm por conta de geadas. Como consequncia, a rea cultivada no Estado passou de 43 ha, em 1954, para mais de 5.000 ha, em 1956 (TECNOLOGIAS..., 2004). Seguindo o crescimento da produo nacional, a soja colhida no Paran tambm aumentou em um ritmo acelerado. J na dcada de 1960, a participao relativa do Estado na produo brasileira foi de 11,3% (mdia anual), participao essa que saltou para 31,37% (mdia anual) na dcada seguinte (IPEA, 2011). No incio dos anos 1980, a soja j era o principal produto do agronegcio brasileiro, ocupando o Brasil o posto de segundo maior produtor mundial. A partir dessa dcada, a produo mdia do Paran ficou em torno de 4,15 milhes de toneladas por safra, que correspondia a uma participao mdia de 36,6% na produo nacional, passando a 6,5 milhes de toneladas na dcada seguinte, com 26% da produo do Pas, e chegando a 10,7 milhes de toneladas na safra 20022003, que correspondia a 21,1% da soja produzida no Brasil. A queda da participao da soja paranaense deveu-se expanso da fronteira agrcola rumo ao Cerrado, em especial ao aumento da produo de soja em Mato Grosso. Todavia, o montante produzido no Paran continuou crescendo, e, ao final da dcada de 2010, a produo paranaense ultrapassou os 14 milhes de toneladas4, (CONAB, 2010; IPEA, 2011). A Figura 1 apresenta a evoluo conjunta da produo brasileira e paranaense dessa oleaginosa, entre as safras de 1976 1977 e 20092010. Esse aumento da produo explica-se, em parte, pela expanso da fronteira agrcola paranaense, principalmente na dcada de 1970. Todavia, a partir da dcada seguinte, verifica-se uma estabilizao da rea colhida de soja, a qual perdurou at 1995, quando novamente houve

Contexto econmicoprodutivo da soja no ParanA soja, como lavoura comercial, comeou a ser produzida no Paran em meados dos anos 1950, como uma alternativa para a rotao de cultura com o arroz de sequeiro, que, na poca, era produzido no sul do Estado. As regies nor4

Safra de 2009/2010.

23

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

Figura 1. Evoluo da produo de soja em milhares de toneladas, entre as safras de 19761977 e 20092010, no Brasil e no Paran.Fonte: Conab (2010) e Ipea (2011).

um incremento da fronteira agrcola no Estado. Consequentemente, uma grande parcela do aumento da produo refere-se a um aumento equivalente da produtividade. A Figura 2 apresenta a evoluo da rea cultivada e a produtividade do Paran, em comparao com o Brasil, entre as safras de 1976 1977 e 20092010. Nesse perodo, registrou-se um crescimento de 104% da rea cultivada com soja no Estado e de 138% no Pas, enquanto a produtividade paranaense cresceu 50% no perodo, em um ritmo um pouco abaixo da brasileira, que foi de 67%. A Tabela 1 apresenta a rea colhida mdia e a produtividade mdia em toneladas por hectare ao longo dos 4 ltimos decnios. Conforme apontado por Santos e Bacha (2002), essa elevada produtividade est ligada a uma estrutura produtiva baseada na grande propriedade, intensiva em tecnologia insumos qumicos (agrotxicos e fertilizantes) e biolgicos (sementes) e voltada exportao. Esse modelo agrcola atende, sobretudo, consolidao de

um padro alimentar baseado na produo e no consumo de protena animal. Esse contexto produtivo deve-se ao estabelecimento de uma rede de pesquisa, que fez surgir projetos de melhoramento e transferncia de tecnologia para os produtores de soja do Paran. Nesse sentido, cabe destacar os esforos da Embrapa, por intermdio de suas filiais, a Embrapa Soja e a Embrapa Transferncia de Tecnologia. Elas iniciaram, na safra 1990 1991, um projeto conjunto para a difuso de cultivares de soja, juntamente com produtores de sementes. De acordo com Domit et al. (2007), esse projeto resultou no aumento da participao das cultivares da Embrapa na produo de sementes do Paran, passando de 3% na safra de 19891990, para 64% em 20022003. A prxima seo discutir o estabelecimento e a consolidao da pesquisa agropecuria no Brasil, analisando os programas de melhoramento e de transferncia de tecnologia das cultivares desenvolvidas pela Embrapa Soja.

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

24

Figura 2. Evoluo da rea colhida de soja (em milhares de hectares) e da produtividade (em toneladas por hectare) entre as safras de 19761977 e 20092010, no Brasil e no Paran.Fonte: Conab (2010) e Ipea (2011).

Tabela 1. rea colhida e produtividade de soja no Paran (perodo de 1970 a 2010).rea cultivada (ha) Produtividade (t/ha)

A Embrapa e a pesquisa agrcola na sojicultura paranaenseSegundo Domit et al. (2007), as primeiras pesquisas de melhoramento na sojicultura foram desenvolvidas pelo Ministrio da Agricultura em associao com o Instituto Agronmico do Paran (IAPAR). Em 1976 foi criada a Embrapa Soja, que passou a ser a principal responsvel pelas atividades de pesquisa dessa cultura, por meio do Programa Nacional de Melhoramento Gentico. Tal programa tinha por objetivo desenvolver cultivares de soja sob a tica tanto da pesquisa bsica, que agrega caractersticas gerais, como produtividade, altura de planta, ciclo, resistncia deiscncia de vagens, qualidade da semente, quanto da pesquisa aplicada. Esta ltima se concentra em projetos especficos referentes s reas de semeadura da cultivar (TOLEDO et al., 1990). Uma das principais conquistas dos melhoristas brasileiros foi a soluo para o problema do atraso no perodo de florao, graas iden-

Perodo

19701979

1.387.642,90

1,71

19801989

2.084.405,00

2,05

19901995

2.080.782,67

2,18

19952002

2.720.825,38

2,71

20022010Fonte: Ipea (2011).

4.026.800,00

2,72

25

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

tificao dos genes relacionados com o perodo juvenil longo da soja. Essa caracterstica foi incorporada s novas cultivares, o que facultou o cultivo da soja em regies de baixa latitude, principalmente nas reas do Cerrado brasileiro (TOLEDO et al., 1990). Alm disso, a expanso da soja em direo a essa regio foi muito facilitada pela estratgia de difuso tecnolgica do Programa Nacional de Melhoramento Gentico, pautado sobre um modelo de ao em parcerias, com apoio de produtores de sementes (TECNOLOGIAS..., 2003). Essa rede de ao do Programa favorece, atualmente, a ao da Embrapa Soja em mais de cem pontos de testes, estrategicamente distribudos pelos principais ecossistemas produtores de soja do Pas, permitindo que se avaliem, a cada ano, mais de 250 mil prognies e 50 mil linhagens avanadas de soja. Contudo, o processo de difuso tecnolgica nos primeiros anos do programa de melhoramento no se dedicou a nenhuma atividade especfica de transferncia de cultivares desenvolvidas pela pesquisa. Domit et al. (2007) comentam que as informaes sobre cultivares de soja faziam parte de pacotes tecnolgicos elaborados por pesquisadores e agentes da assistncia tcnica. Esses pacotes ganharam o carter de normas nas instituies de crdito rural para as operaes de financiamento das lavouras de soja. Tal modelo foi mantido at meados da dcada de 1980, quando aes pontuais foram implementadas para a transferncia de cultivares em fase de recomendao para o Paran. Essas aes coincidiram com o desenvolvimento das primeiras cultivares da Embrapa Soja recomendadas para o Estado. A partir da safra de 19901991, Domit et al. (2007) relatam que a Embrapa Soja investiu na implantao de um projeto de difuso tecnolgica baseado em uma metodologia sistmica, que teve continuidade nas safras seguintes. Em 1997, foi aprovada a Lei de Proteo de Cultivares, o que incentivou a entrada de outras empresas no mercado de pesquisa e desenvolvimento, aumentando a concorrncia, mas tambm propiciando a profissionalizao do setor.

Tal evoluo culminou com a criao, em 1999, da Fundao Meridional, uma entidade formada por 61 empresas produtoras de sementes do Paran, de So Paulo e de Santa Catarina. Essa fundao passou a atuar em parceria com a Embrapa, no processo de desenvolvimento das novas cultivares e na coordenao da sua difuso. Segundo Domit et al. (2007), o trabalho de difuso implementado tinha os seguintes objetivos: Informar sobre o processo de transferncia de tecnologia das cultivares de soja indicadas e detalhar todos os componentes do projeto de transferncia de tecnologia das cultivares de soja desenvolvidas pela Embrapa Soja para o Paran. Discutir os resultados alcanados por esse projeto no perodo de 1990 a 2003. Mostrar dados estatsticos sobre a produo de sementes fiscalizadas de soja no Estado do Paran no perodo de 1970 a 2003. Subsidiar trabalhos semelhantes e ampliar a discusso no meio cientfico sobre a importncia da transferncia de tecnologia num projeto de pesquisa para desenvolvimento de novas cultivares. O item a seguir, baseado no estudo de Domit et al. (2007), descreve e analisa os resultados do projeto Transferncia de tecnologia para as cultivares de soja desenvolvidas pela Embrapa Soja para o Paran.

Difuso de tecnologia das cultivares de sojaO processo de transferncia de tecnologia aos agricultores e s empresas sementeiras, das cultivares desenvolvidas pela Embrapa, ocorreu ao longo de trs fases consecutivas, entre 1970 e 2003. Considera-se que a primeira dessas fases antecede o prprio projeto, ao se estabelecer o contexto institucional propcio a sua constitui-

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

26

o. O projeto de transferncia de tecnologia, propriamente dito, foi estruturado por meio de uma parceria entre a Embrapa Soja responsvel pela pesquisa bsica e pelo desenvolvimento das cultivares, e de produtores de sementes, por meio da Fundao Meridional e a Embrapa Transferncia de Tecnologia, que atuou como instituio facilitadora. Fase 1: compreende o perodo entre a safra de 19701971 e a de 19891990. Esse perodo precede o incio do projeto de transferncia, marcado pela fundao da Embrapa Soja e pelo incio dos programas de melhoramento, quando, ento, foram desenvolvidas as primeiras cultivares de soja para o Paran. Fase 2: vai da safra de 19901991 at a safra de 19992000. Inicia-se pelo projeto de transferncia das cultivares de soja desenvolvidas pela Embrapa. Foram indicadas 22 cultivares para a sojicultura paranaense. Nesse perodo, o projeto foi mantido por uma parceria entre a Embrapa Transferncia de Tecnologia e empresas produtoras de sementes. Com relao s estratgias de ao, utilizaram-se os seguintes mecanismos ou estratgias de difuso tecnolgica: Dias de campo (DC): mtodo para demonstrar a eficincia de uma srie de prticas agropecurias bem-sucedidas, com o objetivo de motivar os produtores a adot-las. O evento realizado em propriedade de um produtor rural que tenha acesso s tecnologias ou nos experimentos de campo, tanto da pesquisa quanto da extenso. As prticas modernas de cultura so explicadas ao produtor durante a passagem pela estao previamente estabelecida (FRANCO, 2002). Essa estratgia consiste num processo de learning-by-training, ao promover a interao dos pesquisadores com os produtores, favorecida pelas demonstraes prticas e pelas visitas a campos experimentais. Reunio tcnica (RT): so reunies organizadas sob a responsabilidade da

Embrapa Soja e parceiros, para o planejamento de atividades e a avaliao dos resultados alcanados com a difuso. Visitas tcnicas (VT): trata-se do acompanhamento dos trabalhos em campo de cultivo. Unidade demonstrativa (UD): esse mtodo consiste em desenvolver uma ou vrias prticas de comprovada eficcia e rentabilidade, em uma determinada cultura ou criao, com o objetivo de avaliao e posterior adoo das prticas pelos produtores. No caso do projeto desenvolvido, tem-se a demonstrao dos resultados de tecnologias geradas pela Embrapa, com a apresentao do produto final (FRANCO, 2002). A Embrapa Soja coordenava a demonstrao de resultados de seus produtos, promovendo a interao entre produtores, pesquisadores e empresas sementeiras, geralmente assessoradas por rgos de assistncia tcnica. As trs estratgias acima implicam sobretudo um processo de aprendizado do tipo learning-by-interacting, por meio do qual os participantes vivenciam, partilham e elaboram distintas vises sobre o desempenho da tecnologia e as dificuldades encontradas na sua implementao. Tem-se ainda, a montante do processo de transferncia de tecnologia, o learning-bysearching, promovido pela prpria Embrapa Soja, por meio de suas atividades investigativas para o desenvolvimento das cultivares de soja. Por fim, a difuso tecnolgica sustentada pelos produtores de sementes durante o processo de replicao das cultivares, por meio do learningby-doing. H ainda o learning-by-using, decorrente do uso das cultivares pelos sojicultores. Contudo, a mensurao dessa modalidade de aprendizado transcende o escopo de anlise deste trabalho, motivo por que no ser explorada. O processo de difuso adotado baseou-se em uma metodologia sistmica, de forma a ar-

27

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

ticular vrias estratgias de transferncia de tecnologia, na criao de sinergias entre os participantes do projeto (coordenadores, pesquisadores, representantes das empresas de sementes e agricultores). Na fase de planejamento, a Embrapa Soja reuniu-se com seus parceiros para definir as aes a serem desenvolvidas, como: orientao sobre a instalao das UDs e respectivos locais; designaes de responsabilidades; e definio de cronogramas e da distribuio das sementes de cultivares que seriam apresentadas nas Unidades de Demonstrao. J na fase de instalao das UDs, ficou estabelecido que essas iriam seguir as indicaes tcnicas da pesquisa, ficando a cargo de tcnicos da Embrapa Soja, ou de tcnico ou responsvel pela UD, conforme fosse definido no projeto. Na etapa de acompanhamento das UDs, os pesquisadores e os tcnicos envolvidos no programa de desenvolvimento das cultivares de soja visitaram as unidades para avali-las e planejar os dias de campo. Os dias de campo foram organizados pela Embrapa e por parcei-

ros, contando com a participao de tcnicos e sojicultores. Palestras e consultorias foram realizadas pelos pesquisadores em atendimento s demandas dos produtores. Por fim, a avaliao dos resultados obtidos nas UDs foi feita na sede da Embrapa Soja, em Londrina, onde se buscou determinar o grau de aceitao das novas cultivares pelos sojicultores. Os resultados foram divulgados por meio de um relatrio geral que continha dados de todas as UDs. A Figura 3 ilustra a arquitetura funcional do projeto, associada s modalidades de aprendizagem identificadas. Fase 3: abrange o perodo da safra de 20002001 at a de 20022003. A terceira fase caracterizada pela ampliao das parcerias de apoio pesquisa, merecendo destaque a incluso da Fundao Meridional, que participou ativamente do desenvolvimento, da validao e da difuso das cultivares desenvolvidas pela Embrapa Soja. A metodologia de transferncia de tecnologia foi a mesma utilizada na fase 2. Contudo, ampliou-se o nmero de empresas produtoras de sementes participantes, e foi de-

Figura 3. Arquitetura funcional do projeto de difuso tecnolgica da Embrapa Soja para o Paran e modalidades identificadas de aprendizado tecnolgico.Fonte: adaptado de Domit et al. (2007).

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

28

senvolvido um um trabalho de marketing institucional entre os participantes do projeto. O prximo tpico apresenta os resultados obtidos pelo projeto de transferncia de tecnologia, mensurando a absoro e a adoo das cultivares desenvolvidas pela Embrapa, por parte dos produtores de soja do Paran. A discusso tambm est baseada no trabalho de Domit et al. (2007).

Adoo das cultivares pelos produtoresA difuso tecnolgica desencadeada pela Embrapa entre os sojicultores paranaenses corresponde tipicamente a um processo de inovao incremental, baseado no desenvolvimento de cultivares adaptadas s especificidades edafoclimticas do Estado. Ao mesmo tempo, buscou-se uma expanso gradativa ao longo das trs fases do processo de difuso do nmero de usurios entre os multiplicadores de sementes, os agricultores e os tcnicos extensionistas. Durante a fase 1, a produo de sementes fiscalizadas de soja no Paran cresceu, de 25 produtores, com um montante de cerca de 288 mil sacas de 50 kg de sementes produzidas no incio do perodo, para 145 produtores e quase 4 milhes de sacas de 50 kg produzidas no final do perodo. Tal evoluo representa um aumento de mais de treze vezes na quantidade de sementes fiscalizadas produzidas no estado. A Tabela 2 sintetiza os dados.Tabela 2. Evoluo da produo de sementes fiscalizadas no Paran (de 1970 a 1989).Safra 1970 1971 1989 1990Fonte: Domit et al. (2007).

Na safra de 19831984, a participao das cultivares da Embrapa correspondeu a 0,02% das sementes fiscalizadas no Estado, e chegou a atingir 5,82% na safra de 1986/1987. Cabe ressaltar que, nesse perodo, no houve nenhuma ao para a difuso das cultivares para os produtores. Na safra de 19901991, a Embrapa Soja deu incio ao projeto de transferncia de tecnologia das cultivares, juntamente com as recomendaes tcnicas para seu manejo. Inicialmente, nove empresas produtoras de sementes participaram de todas as etapas, ou seja: do planejamento, da instalao das UDs, dos dias de campo e da divulgao dos resultados. At o final da fase 2 (safra de 1999 2000), buscou-se a sincronia entre a produo das sementes (gentica e pesquisa bsica) e as atividades de transferncia, por meio do equilbrio entre a demanda pelas cultivares geradas nos dias de campo e a sua oferta. O aumento do nmero de empresas sementeiras participantes foi gradativo, chegando a 21 no final dessa fase. A partir de 1997, com a aprovao da Lei de Proteo de Cultivares, novas empresas entraram no mercado, e a concorrncia acirrou-se. Por esse motivo, o processo de transferncia de tecnologia precisou ser mais bem planejado e mais especfico, na tentativa de desenvolver cultivares que atendessem aos interesses dos produtores de soja do Paran. Os mecanismos de difuso dessas cultivares mostraram-se eficientes. A participao das cultivares da Embrapa Soja no total de sementes fiscalizadas comercializadas no Paran passou de 3%, na safra de 19891990 (considerado o marco zero do projeto), para 11%, na safra de 19901991 (primeiro ano do projeto), e chegando a 63%, na safra de 19992000 (final da fase 2) (Figura 4). A Figura 5 apresenta a evoluo da participao das cultivares da Embrapa Soja comparada s atividades de transferncia de tecnologia desenvolvidas no projeto. Verifica-se que, na safra de 19901991, foram realizados onze dias de campo, dos quais participaram 3.564 tcnicos e produtores. J no final da fase 2 (safra de 1999 2000), realizaram-se 40 dias de campo, dos quais participaram 19.409 tcnicos e produtores.

Nmero de produtores de sementes 25 145

Quantidade produzida (sacas de 50 kg) 288.242 4.000.000

29

Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011

Figura 4. Participao das cultivares da Embrapa Soja em relao s sementes fiscalizadas no Paran (comparativo anual).Fonte: Domit et al. (2007).

Figura 5. Dias de campo, nmero de participantes e pa