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ANA CAROLINA OLIVEIRA DE ANDRADE PINTO ANÁLISE DO USO DO CAPITAL SOCIAL – UM ESTUDO DE CASOS EM UMA INCUBADORA DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO 2008

ANÁLISE DO USO DO CAPITAL SOCIAL – UM … · with eight firms incubated at the Technology Incubator of Instituto Gênesis (PUC-Rio). The results ... 4.2.7 – Desenvolvimento do

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ANA CAROLINA OLIVEIRA DE

ANDRADE PINTO

ANÁLISE DO USO DO CAPITAL SOCIAL –

UM ESTUDO DE CASOS EM UMA

INCUBADORA DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

2008

ii

ANÁLISE DO USO DO CAPITAL SOCIAL – um estudo de casos em uma

incubadora do Rio de Janeiro

Ana Carolina Oliveira de Andrade Pinto

Instituto COPPEAD de Administração - UFRJ

Dissertação de Mestrado

Orientadora: Profª Ursula Wetzel, PhD

Rio de Janeiro

2008

iii

ANÁLISE DO USO DO CAPITAL SOCIAL – Um estudo de casos em uma

incubadora do Rio de Janeiro

Ana Carolina Oliveira de Andrade Pinto

Dissertação de Mestrado submetida ao corpo docente do Programa de

Pós-graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, da

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre.

Aprovada por:

_________________________________________________________

Prof.ª Ursula Wetzel, PhD – Instituto COPPEAD de Administração - UFRJ

________________________________________________________

Prof ª Adriana Hilal – Instituto COPPEAD de Administração - UFRJ.

________________________________________________________

Prof. Antônio Botelho – PUC-Rio

Rio de Janeiro

2008

iv

FICHA CATALOGRÁFICA

Pinto, Ana Carolina Oliveira de Andrade Análise do uso do capital social – um estudo de casos em uma incubadora do Rio de Janeiro / Ana Carolina Oliveira de Andrade Pinto. Rio de Janeiro: UFRJ/ COPPEAD, 2008. xi, 162p. ; Il. (Dissertação) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD, 2008. Orientadora: Ursula Wetzel 1. Capital social. 2. Incubação de empresas. 3. Empreendedorismo. 4. Tese (Mestr. – UFRJ/ COOPEAD).5. Orientadora. I. Título.

v

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais e meus irmãos, por tudo, sempre.

Ao Fabiano, pelo amor, carinho, paciência e apoio.

Ao meu querido sogro Person, por, com toda a coragem e bravura, ter feito

esta dissertação acontecer.

À minha orientadora Ursula, pela competência e pelo apoio imprescindível que

tornou tudo possível.

Aos meus amigos do COPPEAD, por terem feito desta trajetória algo muito

mais prazeroso.

Aos amigos, pela torcida.

Ao Instituto COPPEAD, por me ensinar que nada é impossível.

vi

RESUMO

Pinto, Ana Carolina Oliveira de Andrade. Análise do uso do capital social –

um estudo de casos em uma incubadora do Rio de Janeiro. Orientadora:

Ursula Wetzel. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2008. Dissertação (Mestrado

em Administração)

Parte da vida das pessoas é dedicada à construção de grupos sociais,

com seus vizinhos, parentes e amigos. Forma-se assim uma rede em torno de

cada indivíduo que pode ser utilizada em momentos diversos. Assim como

acontece no âmbito pessoal dos indivíduos, muitos estudos já discutem a

importância do capital social também para o bom desenvolvimento de

negócios, mas é ainda pequena a parcela destes estudos que trata de

empreendimentos nascentes. Novos negócios são importantes para a

economia por serem importantes fontes de inovação. No entanto, a taxa de

sobrevivência destes negócios é ainda muito baixa, principalmente devido a

dificuldades de gestão e de aquisição de capital de risco. A incubação de

empresas tem se mostrado uma opção viável para aumentar a sobrevivência

de novos negócios. Neste trabalho buscamos compreender como as empresas

incubadas mobilizam e utilizam o capital social para o atendimento de suas

necessidades. Para isso, foram realizadas entrevistas com oito empresas

incubadas na Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis da PUC-Rio. Os

resultados das entrevistas mostraram que o capital social tem um papel

importante no desenvolvimento de empresas incubadas, sendo utilizado para

alavancar diversos tipos de recursos, como informação, apoio, tecnologia e

capital.

Palavras-chave: capital social; incubação de empresas; empreendedorismo;

recursos.

vii

ABSTRACT

Pinto, Ana Carolina Oliveira de Andrade. Análise do uso do capital social –

um estudo de casos em uma incubadora do Rio de Janeiro. Orientadora:

Ursula Wetzel. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2008. Dissertação (Mestrado

em Administração)

Great part of people’s lives is dedicated to the construction of social

groups, with neighbors, relatives and friends. In doing so, a network is formed

around each individual and it can be mobilized at any moment. As it happens in

the personal sphere of someone’s life, many studies nowadays discuss the

importance of social capital to efficient business development, but the share of

studies dealing with newly founded business is still small. New firms are

important to the economy, as they are important sources of innovation.

Nevertheless, the survival rate of these businesses is still very low, mainly due

to management and risk capital acquisition impairments. Business incubation

has shown to be a viable option to increase the survival rate of newly founded

firms. In this work, we tried to undertand how incubated enterprises mobilize

and use social capital to fulfill their needs. For that, we conducted interviews

with eight firms incubated at the Technology Incubator of Instituto Gênesis

(PUC-Rio). The results of the interviews showed that social capital has a major

role on the development of incubated firms, being used to mobilize different

kinds of resources, such as information, support, technology and financial

capital.

Keywords: social capital; firm incubation; entrepreneurship; resources.

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Modelando uma teoria de capital social ................................... 25

Figura 2 : A tríade proibida ...................................................................... 27

Figura 3: Relação entre pontes e governança ..........................................30

Figura 4: Dimensões do capital social ......................................................31

Figura 5: Modelo do processo empreendedor ..........................................43

Figura 6: Empreendendo por redes ..........................................................46

Figura 7: O processo dinâmico de incubação, empreendedorismo e redes

de anjos ............................................................................................. .... 55

Figura 8: O contínuo da incubação de empresas .....................................60

Figura 9: Modelo conceitual ......................................................................69

Figura 10: Modelo conceitual aplicado a B-mobile ...................................87

Figura 11: Modelo conceitual aplicado a Córtex Intelligence ...................90

Figura 12: Modelo conceitual aplicado a Dínamo DM ..............................94

Figura 13: Modelo conceitual aplicado a E-create .................................. 97

Figura 14: Modelo conceitual aplicado a Prime Up ................................. 100

Figura 15: Modelo conceitual aplicado a PV Inova ...................................104

Figura 16: Modelo conceitual aplicado a Silicon Strategy ....................... 107

Figura 17: Modelo conceitual aplicado a Superwaba .............................. 110

ix

SUMÁRIO

1. Introdução .............................................................................................. 1

1.1 – O problema ........................................................................................ 2

1.2 – Objetivos final e intermediários ......................................................... 6

1.3 – Suposições ....................................................................................... 7

1.4 – Delimitação do estudo ...................................................................... 8

1.5 – Relevância do estudo ........................................................................ 9

2. Revisão de literatura .............................................................................. 11

2.1 – Capital social .................................................................................... 12

2.1.1 – Diferentes abordagens disciplinares ............................................. 13

2.1.2 – Confiança, valores e normas de reciprocidade .............................. 21

2.1.3 – Modelos ......................................................................................... 24

2.1.4 – Medição do capital social ............................................................... 34

2.1.5 – Cyber networks .............................................................................. 37

2.1.6 – O lado negativo do capital social ................................................... 39

2.2 – Capital social e empreendedorismo .................................................. 42

2.3 – Incubadoras ........................................................................................51

2.3.1 – Incubadoras no Brasil ......................................................................57

2.3.2 – Tipos de incubadoras ..................................................................... 59

2.3.3 – Incubadoras e capital social ........................................................... 64

2.4 – Modelo conceitual ...............................................................................67

x

3. Metodologia ............................................................................................. 71

3.1 – A pesquisa qualitativa ......................................................................... 72

3.2 – Unidade de investigação ................................................................... 75

3.3 – Coleta e análise de dados ................................................................. 76

3.4 – Limitações da pesquisa qualitativa ..................................................... 78

3.5 – Limitações da metodologia ................................................................. 79

4. Resultados e discussão ........................................................................... 80

4.1 – Empresas do estudo ........................................................................... 81

4.1.1 – Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis – PUC-Rio ............... 81

4.1.2 – B-mobile .......................................................................................... 85

4.1.3 – Córtex Intelligence ........................................................................... 88

4.1.4 – Dínamo DM ..................................................................................... 92

4.1.5 – E-create …………………………………………………………………..95

4.1.6 – Prime Up ………………………………………………………………….98

4.1.7 – PV Inova ………………………………………………………………….101

4.1.8 – Silicon Strategy ................................................................................ 105

4.1.9 – Superwaba ....................................................................................... 108

4.2 – Análise e discussão ..............................................................................111

4.2.1 – Intenção .............................................................................................111

4.2.2 – Busca e descoberta de oportunidades ..............................................115

4.2.3 – Decisão de explorar ..........................................................................118

4.2.4 – Atividades de exploração ................................................................ 121

xi

4.2.5 – Atividades empresariais genéricas ................................................. 124

4.2.6 – Vendas Iniciais ................................................................................ 130

4.2.7 – Desenvolvimento do produto .......................................................... 134

4.2.8 – Continuidade do negócio ................................................................ 137

5. Conclusões e sugestões para futuras pesquisas ................................... 141

6. Referências Bibliográficas ...................................................................... 149

7. Anexos .................................................................................................... 161

7.1 – Roteiro de entrevista para empresas incubadas ............................... 162

1. INTRODUÇÃO

2

1.1 – O problema

O tema capital social é conhecido por muitos e sempre esteve inserido

no cotidiano, intuitivamente. Grande parte da vida das pessoas é dedicada à

construção de uma rede social, isto é, à manutenção de vínculos com seus

vizinhos, parentes e amigos. Forma-se assim uma rede em torno de cada

indivíduo, que pode ter diferentes expressões e distintos significados. Esta rede

pode ser acionada em momentos de conflito e/ou crise, aproveitada em

momento de lazer e/ou usada para alavancar oportunidades. A ausência de

certos contatos importantes em sua rede é também um fator de extrema

importância, pois pode ocasionar perdas em determinadas situações, como ser

deixado de fora de decisões importantes, ou ainda não receber a esperada

promoção no emprego por falta dos contatos certos (WOOLCOCK, 2001).

Deve-se ter em mente, no entanto, que o capital social também tem

seus pontos contraproducentes, na forma de conexões negativas ou de uma

rede fechada, que não permite a entrada de novos participantes. Tome-se

como exemplo o caso dos pais que estão sempre preocupados com os amigos

de seus filhos, com medo de que sejam “más companhias”. Em nível

institucional, um bom exemplo do lado negativo do capital social seria o

nepotismo, prática ainda difundida no Brasil, que mostra que conexões

pessoais podem ser usadas para o favorecimento de poucos (WOOLCOCK,

2001).

3

A conclusão acerca dos efeitos positivos do capital social vem de

diversos estudos em diferentes áreas de conhecimento, tais como a de saúde

pública e a de organizações (GITTELL & VIDAL, 1998; KAWACHI, KENNEDY

& GLASS, 1999; BURT, 2000; FERNANDEZ, CASTILLA & MOORE, 2000) e

consiste na idéia de que pessoas com boas conexões sociais têm maior

propensão a ter um padrão de vida mais elevado, incluindo emprego, casa,

acesso a saúde, felicidade e a outros bens (direitos sociais, econômicos e

culturais). Os estudos indicam, após o isolamento de outras variáveis, que

estas pessoas têm mais chance de ingressarem no mercado de trabalho, de

serem promovidas, de receberem maiores salários, de terem melhores

avaliações por parte de seus colegas, de faltarem menos ao trabalho e até de

viverem mais.

No campo da Administração, uma atenção maior tem sido dada ao

capital físico e ao capital humano, como se investimento e mão-de-obra

especializada fossem suficientes para o sucesso de qualquer empreendimento.

No entanto o capital social é também um importante recurso administrativo.

Tome-se, como exemplo, a importância das alianças estratégicas,

principalmente em áreas de alta inovação tecnológica, como a biotecnologia e

o desenvolvimento de softwares, que são baseadas em capital social

(WENGER & SNYDER, 2000). Além disso, é mais fácil e agradável fazer

negócios em um ambiente de cooperação e comprometimento mútuo. Quanto

maiores os níveis de capital humano, maior a presença também do capital

social (WOOLCOCK, 2001).

4

Muitos estudos já discutem a importância do capital social para o bom

desenvolvimento de negócios (WOOLCOCK, 2001; BARON & MARKMAN,

2003), mas é ainda pequena a parcela destes estudos que trata de

empreendimentos nascentes. Novos negócios são importantes para a

economia mundial por serem importantes fontes de inovação. No entanto, a

taxa de sobrevivência destes negócios é baixa, principalmente devido a

dificuldades de gestão e de aquisição de capital de risco (ALLEN & RAHMAN,

1985; SMILOR & GILL, 1986). A incubadora de empresas é justamente uma

tentativa de contornar estes obstáculos iniciais e aumentar em muito a chance

destes novos negócios crescerem (BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005).

O número de incubadoras de empresas no Brasil ainda é bastante

reduzido, principalmente quando comparamos com países mais desenvolvidos.

A proposta usada em outros países de instalar incubadoras para promover o

desenvolvimento industrial de regiões pouco desenvolvidas parece ser

interessante para o caso brasileiro, que tem um pólo industrial muito

concentrado. Estudar e entender a dinâmica do desenvolvimento de empresas

nascentes em incubadoras no Brasil adquire, assim, relevância, na medida em

que a literatura internacional descreve modelos de incubação diferentes dos

observados aqui.

Dado que os mecanismos de incubação têm falhas e, por isso, podem

na suprir todas as necessidades das empresas incubadas e o entendimento de

5

como funciona o capital social é importante para novos negócios é proposta

deste trabalho responder à seguinte pergunta: como as empresas incubadas

mobilizam e utilizam o capital social para o atendimento de suas

necessidades?

6

1.2 – Objetivos final e intermediários

O objetivo principal deste estudo foi determinar de que forma as

necessidades de empresas incubadas foram supridas a partir do uso do capital

social durante o seu desenvolvimento.

Para alcançar tal objetivo, foi necessário atingir os seguintes objetivos

intermediários:

- Entender as fases pelas quais as empresas passaram e como

ocorreu o processo de incubação;

- Identificar os recursos básicos necessários ao desenvolvimento das

empresas incubadas;

- Identificar como o capital social auxiliou na aquisição destes recursos

básicos;

- Caracterizar o laço presente nas relações sociais observadas como

facilitadoras da aquisição de recursos básicos;

7

1.3 – Suposições

Supomos que as empresas incubadas, mesmo estando localizadas

dentro de um ambiente mais seguro em relação à aquisição de seus recursos

básicos, ainda façam bastante uso de seu capital social. Isso porque certas

necessidades podem não estar sendo supridas pela incubadora, tanto por não

estarem dentro do escopo de ajuda que a incubadora provê, quanto por ser

uma necessidade particular da empresa. Acreditamos também que as

incubadoras, já tendo percebido a importância das redes de relacionamento,

possam realizar algum esforço no sentido de alavancar capital social para as

empresas incubadas.

8

1.4 – Delimitações do estudo

A nossa pesquisa será realizada em empresas residentes em uma

incubadora e, por isso, é válido esclarecer que não estaremos avaliando o

processo de incubação desenvolvido por esta incubadora especificamente.

Todas as empresas pesquisadas têm base tecnológica, o que aproxima

bastante o seu perfil. É possível que empresas incubadas com bases diferentes

possam não dividir as mesmas características no uso do capital social. Além

disso, o trabalho estará concentrado no estudo do uso do capital social dentro

das empresas incubadas, sem levar em conta os índices de sucesso dos

empreendimentos ou os produtos por eles comercializados.

9

1.5 – Relevância do estudo

O capital social no processo empreendedor vem recentemente sendo

objeto de estudo de muitos pesquisadores. (JENSSEN & KOENIG, 2002;

LARSON & STARR, 1993) A sua relevância torna-se cada vez maior frente ao

mundo industrializado e globalizado de hoje, onde a rede de relacionamento de

cada indivíduo passa a ser um ativo de grande valor.

Ao mesmo tempo, a incubação de empresas torna-se uma idéia cada

vez mais atraente para ajudar a garantir o sucesso de novos empreendimentos,

muito importantes para países em desenvolvimento como o Brasil,

principalmente no que diz respeito ao fomento do desenvolvimento de certas

regiões. (ALLEN & MCCLUSKEY,1990; SMILOR & GILL, 1986).

Esta pesquisa une estes dois assuntos, buscando entender o papel do

capital social nas empresas incubadas e assim preencher uma lacuna presente

no estudo destes dois temas no Brasil. Assim, este trabalho pode auxiliar o

entendimento do papel do capital social no processo de desenvolvimento de

negócios nascentes por empreendedores incubados e gestores de

incubadoras. Os resultados podem mostrar a atuais e futuros empreendedores

a importância de se construir uma sólida e diversificada rede social, além de

apontar às incubadoras que uma base de capital social pode permitir às

10

empresas residentes acesso a recursos básicos e a um desenvolvimento mais

eficiente.

11

2. REVISÃO DE LITERATURA

12

2.1 - Capital social

O capital social e suas propriedades têm sido amplamente discutidos

na literatura proveniente da área de Economia, Sociologia e Ciências Políticas,

tendo o interesse por este assunto crescido cada vez mais. De acordo com

Pope (2003), a popularidade da idéia de capital social, advém de duas fontes.

Primeiramente, o conceito trata principalmente dos aspectos positivos das

relações humanas, deixando de lado os aspectos negativos destas interações.

Em segundo lugar, ao falar de capital social, há um foco muito maior na idéia

não-monetária de capital, havendo, mesmo assim, um aspecto de poder e

influência embutido no conceito. Por isso, essa segunda fonte é interessante no

mundo dos negócios, já que permite a busca de soluções para questões

diversas, com custos menores.

Há grande questionamento no uso da palavra “capital” na expressão

“capital social”, dado que alguns estudiosos não acreditam que se possa

quantificar, tangibilizar ou até mesmo unificar um conceito que está baseado

em diversas correntes de pensamento diferentes e em interações sociais

diversas (PAWAR, 2006).

13

2.1.1 - Diferentes abordagens disciplinares

Apesar de o capital social já ser discutido há algum tempo - acredita-se

que desde 1890 (GROOTAERT & BASTELAER, 2001) – foi nas décadas de 80

e 90 que a publicação de três autores sobre capital social, com visões e

definições diferentes, gerou a disseminação do assunto. Estes trabalhos têm

sido encarados desde então como diferentes escolas de pensamento sobre

capital social (BAUM & ZIERSCH, 2003).

A primeira escola é fundamentada nos trabalhos de Robert Putnam

(1993 e 1995), que tem como base o estudo de relações sociais e engajamento

civil e seus resultados. Putnam (1995) define o capital social como

“características de uma organização social como as redes, as normas e a

confiança social que facilitam a coordenação e a cooperação para benefício

mútuo” (p. 67). Além disso, neste trabalho, ele postulava que o capital social

era um recurso a ser usado em nível de comunidade.

Em um outro trabalho, de 2001, Putnam diz que a idéia central do

capital social é o valor gerado pelas normas e reciprocidades das redes sociais,

além das externalidades que este processo gera e, portanto, o valor gerado

pelo capital social é tanto público quanto individual. Além disso, o autor faz

menção às diferentes dimensões do capital social, que devem ser sempre

levadas em conta, já que este não é homogêneo.

14

A segunda escola baseia-se no trabalho de Bourdieu (1986), que

define capital social como “um agregado de fontes potenciais e atuais que

estão ligadas à possessão de uma rede durável de relações mais ou menos

institucionalizadas de conhecimento e reconhecimento mútuo” (p. 248). Esta

visão é referente ao que cada indivíduo pode obter de suas conexões sociais.

Para Bourdieu, o lado econômico do capital social é importante e deve ser

sempre observado, mas não se pode reduzí-lo a somente esta dimensão.

Portes (1998) acredita que a definição de Bourdieu referente ao capital social é

a mais teoricamente acertada dentre os autores que discutem a temática.

A terceira escola é balizada nos trabalhos de Coleman (1988) que

trabalha com foco maior na área de Educação. Desde a década de 70,

Coleman começou a desenvolver as Fundações da Teoria Social (COLEMAN,

1990), segundo a qual os atores do processo e os recursos estão ligados por

interesses, que governam as ações e relações de controle. O capital social

surge, então, como característica de uma estrutura social que facilita as ações,

podendo ser classificado como confiança e obrigação, informação disseminada

através de redes, sistemas regidos por normas, estruturas autoritárias, etc. Ou

seja, Coleman enxerga o capital social como uma forma de organização social,

mais do que como uma variável.

Outros autores de disciplinas distintas também participam desta

discussão sobre o conceito do capital social, o que traz ênfases diferentes

atribuídas a tradições disciplinares diversas.

15

Uphoff (2000) separa o capital social em dois tipos principais:

estrutural e cognitivo. O capital social estrutural facilita o fluxo de informações e

as ações coletivas através de redes sociais com papéis definidos e regras

claras. O capital social cognitivo refere-se à confiança, atitudes, normas e

valores divididos entre um grupo de pessoas, tendo, portanto, caráter mais

subjetivo.

Paul Collier indica em seu trabalho de 1998 que “o capital social é

chamado de ‘social’ porque envolve pessoas sendo sociáveis” (p. 14).

Aplicando uma análise mais econômica, o autor discute que o fator social

advém da interação não-comercial de agentes, e que esta interação tem

também efeitos econômicos. No entanto, como estas conexões não entram nos

cálculos financeiros das empresas, são consideradas externalidades. Para

Collier, o capital social é definido por três parâmetros:

Primeiro, a iniciação da interação social sempre envolve uma

externalidade [...]. Em segundo lugar, a interação social tem um efeito

econômico que não é mediado pelo mercado. Em terceiro lugar,

normalmente, este efeito econômico não é o propósito inicial da interação

social, mas sim incidental ou até não-pretendido. (Collier, 1998, p. 14)

Para que o capital social tenha importância econômica, devemos levar

em conta também que os efeitos econômicos gerados devem persistir. Esta

persistência pode ocorrer de duas formas: por meio da composição da

16

interação social ou por sua estrutura. Em suma, o capital social é um

subconjunto das externalidades geradas pelas interações sociais duráveis e

das interações sociais que, mesmo menos extensas em tempo, têm efeitos

duráveis (COLLIER, 1998). Collier foi capaz de reconhecer a importância do

capital social para a economia. No entanto, as teorias econômicas sempre

tenderam a ser bastante míopes em relação à importância das relações

sociais.

A esse respeito, Granovetter introduziu em 1985 o conceito de

“embeddedness”, ao qual nós vamos nos referir aqui como “inserção”. O autor

discute a impressão que muitos estudiosos de diversas áreas tinham de que as

sociedades pré-mercantilistas estavam profundamente inseridas em interações

sociais e que, com a modernização, elas se tornaram mais autônomas. Outros

autores, como Adam Smith (apud GRANOVETTER, 1985), acreditavam ainda

que a inserção observada em sociedades pré-mercantilistas não era tão maior

do que a notada hoje em dia.

Granovetter afirma que grande parte do comportamento humano está

inserida fortemente em relações sociais. Os economistas consideram que

relações sociais, quando existentes, entre participantes de uma negociação,

têm o papel único de causar rupturas e atritos nas sociedades modernas. Mas

Granovetter descarta essa idéia de que os processos mercantis não podem ser

abordados pela lente sociológica. Análises de estudos econômicos, que têm

como foco principal o indivíduo e suas metas, quando analisados sob o

17

conceito de inserção, revelam que características sociais têm efeitos centrais, e

não periféricos.

O trabalho de Lin (1999) traz uma grande revisão do tema do capital

social, analisando muitos dos autores que já tinham comentado o capital social

até o momento, e propõe então a elaboração de uma Teoria de Rede. Lin

afirma que a noção de capital social é “o investimento em relações sociais com

expectativa de retorno” (p. 3), e esta noção é consistente com o discurso dos

muitos autores analisados. A justificativa de porque o capital social é capaz de

melhorar ações futuras vem de três fatores específicos:

• Facilitação do fluxo de informações: devido às imperfeições do

mercado, laços sociais em posições específicas podem render informações

úteis sobre oportunidades únicas;

• Influência dos laços sociais sobre os agentes: conhecer pessoas em

posições estratégicas pode gerar valorização de recursos através do exercício

de poder;

• Credenciais sociais: refletem a acessibilidade do indivíduo a recursos

através de seus laços sociais, ou seja, é o capital social que cada um tem a

adicionar.

A abordagem de Lin é uma abordagem individual do capital social. Na

perspectiva do capital social como um ativo coletivo, há discussão entre

diversos autores. Para Bourdieu (1980), o capital social é mais uma forma de

18

manter e reproduzir as classes dominantes, fazendo com que os indivíduos

mais privilegiados de uma sociedade possam se conhecer e se reconhecer

mutuamente, reforçando sempre o seu status de classe dominante pela

reprodução dos diferentes tipos de capital.

Coleman (1990) tem uma visão diferente. Como a sua definição de

capital social é mais ampla, como foi visto anteriormente, o autor considera-o

um bem público. Sendo assim, a disponibilidade de capital social é para todos

os membros do grupo, independentemente de quem de fato sustenta e

contribui com os recursos. Por isso, os esforços em relação ao capital social

dependem da boa vontade dos membros e também de normas, sanções,

autoridade e confiança.

Os dois autores mencionados acima, no entanto, concordam que o

fechamento de grupos e redes é importante para o capital social, mas por

motivos diferentes. Bourdieu observa que o fechamento facilita o

reconhecimento dos indivíduos de uma mesma classe, enquanto Coleman

argumenta que o fechamento auxilia o ganho de confiança e autoridade entre

os membros de um mesmo grupo.

Lin (1999) discorda dos dois autores, afirmando que o fluxo e a

disseminação de informações se beneficiam da abertura das redes sociais.

Além disso, o fechamento pode ser importante para a manutenção de recursos

19

existentes, mas a procura e busca por novos recursos, neste caso, seria

prejudicada.

Diversos autores citados anteriormente, como Coleman, Bourdieu,

Putnam, Granovetter e Lin, deram contribuições fundamentais para a

elaboração de definições do capital social na literatura. No entanto, até hoje

ainda é difícil unificar um conceito sobre o assunto, dado que cada autor segue

a linha de pensamento de sua área de trabalho (PAWAR, 2006).

Em suma, o capital social assume, principalmente, as conseqüências

positivas da sociabilidade, colocando-as em uma discussão mais abrangente

sobre capital, e então chama atenção para como isto pode ser importante para

acessar recursos. A chance de usar diferentes tipos de capital reduz a distância

entre as perspectivas sociológicas e econômicas, o que possibilita a busca por

soluções de custo reduzido. Enquanto o capital econômico está baseado no

dinheiro e o capital humano no conhecimento, o capital social depende do

relacionamento de cada indivíduo. Ou seja, diferente dos outros tipos de

capital, o capital social não tem como fonte de recursos o próprio indivíduo, e

sim a estrutura em forma de uma rede de relacionamentos de que cada

indivíduo inserido em um contexto social dispõe. Portanto, esta rede vai

possibilitar o acesso a recursos e, como veremos a seguir, existem

características importantes nesta relação entre indivíduos que podem assumir

o papel de fontes ou de receptores de recursos, como por exemplo, as normas

de reciprocidade e a confiança (PORTES, 1998).

20

Para facilitar o entendimento deste estudo, assumiremos como

definição do capital social o conceito levantado por Lin (1999), que diz que

capital social é “o investimento em relações sociais com expectativa de retorno”

(LIN, 1999, p. 3), já que esta definição é a que melhor se alinha ao objetivo

deste trabalho.

21

2.1.2 – Confiança, valores e normas de reciprocidade

Desde a década de 60, os economistas começaram a introduzir a

noção de capital humano, argumentando que trabalhadores educados e

saudáveis poderiam influenciar os fatores de produtividade (SCHULTZ;

BECKER apud WOOLCOCK, 1998). No entanto, podemos imaginar que idéias

inovadoras, combinadas a indivíduos bem treinados, não têm tanta valia se

estes indivíduos não tiverem acesso a outros que possam prover informações

adicionais e assistência. Isso porque qualquer empreendedor tem chance

maior de sucesso se seu relacionamento com fornecedores, colaboradores e

clientes tem uma base de confiança, cooperação e comprometimento

(WOOLCOCK, 1998).

Como já foi visto na seção anterior, diversos autores mencionam em

suas definições de capital social os conceitos de confiança, valores e normas.

Esses conceitos contêm diferentes tipos de motivação que um indivíduo tem

para disponibilizar recursos para outros com quem ele mantém relações sociais

(COLEMAN, 1990; PUTNAM, 1995).

Inicialmente, existem as normas internalizadas, que fazem parte dos

valores de cada indivíduo e da comunidade em que ele está inserido. Como

exemplo, é prática comum na sociedade em geral as pessoas honrarem suas

dívidas e, por isso, outras pessoas podem conceder empréstimos sem tanta

22

dúvida. Assim, a consciência destas normas internalizadas torna-se uma fonte

de recurso para outros indivíduos (COLEMAN, 1988).

Já as normas de reciprocidade são um tipo de troca não-econômica,

um acúmulo de obrigações. Neste caso, um doador provê acesso a recursos

na expectativa de receber uma recompensa no futuro. Este tipo de transação

não se assemelha a transações econômicas por dois motivos: a “moeda” para

recompensa não será obrigatoriamente a mesma do recurso provido e o tempo

para pagamento da recompensa não é previamente especificado (SIMMEL,

1964; BLAU, 1964; COLEMAN, 1994).

A confiança é comum nas relações interpessoais e, neste caso, existe

uma garantia de retorno do favor. No caso de indivíduos inseridos em

comunidade, as relações entre o grupo garantem a recompensa, não sendo

admissível o não-pagamento. Ou ainda indivíduos podem usar a doação de

recursos para ganhar aprovação e confiança do grupo em que estão inseridos

(DURKHEIN, 1984; PORTES, 1998).

Existe ainda a solidariedade, que se manifesta entre indivíduos que

possuem situações de vida comuns. Por exemplo, operários de fábricas, que

estão ligados por uma comunidade, e que podem até mesmo participar de

greves para apoiar seus companheiros (COLEMAN, 1990; PORTES &

SENSENBRENNER, 1993).

23

Performances institucionais dependem, para facilitar o seu

desenvolvimento, de confiança, normas de reciprocidade e cooperação, que

são desenvolvidos a partir de relações sociais. Alguns autores consideram

estes aspectos das relações sociais a definição de capital social, atendo-se

mais ao conteúdo das relações sociais do que à sua estrutura de rede.

Rothstein e Stolle (2002) definem o capital social, em linhas gerais, como a

confiança generalizada. Já outros autores discutem que, se o capital social é o

levantamento de recursos através das redes relacionais de um determinado

indivíduo, então se deve conhecer a fundo o conteúdo dessas redes para

entender porque normas, confiança e valores não servem a qualquer indivíduo

da mesma forma (GABBAY & ZUCKERMAN, 1998).

24

2.1.3 - Modelos

Diversos autores tentam postular modelos para o capital social. A

exploração destes modelos pode nos ajudar a entender melhor o conceito de

capital social. Lin (1999) propõe três processos para serem levados em conta

na preparação de um modelo: o investimento em capital social, o acesso e a

mobilização de capital social e o retorno do capital social. Além disso, o autor

considera que as conseqüências serão obtidas através de ação instrumental ou

ação expressiva. O primeiro tipo de ação trata de recursos a serem

adicionados e pode significar retorno político, social ou econômico, sendo

sempre gerada adição de recursos. O retorno econômico seria bem explícito.

Como exemplo de retorno político, podemos apontar o ganho de posições em

uma hierarquia. Já o retorno social, é mais difícil de ser identificado, mas pode

ser visto principalmente na formação de boa ou má reputação. Já a ação

expressiva funciona como meio de consolidar e manter recursos já existentes.

Esse tipo de ação ocorre através da mobilização de outros que possuem os

mesmos interesses, para que os recursos possam ser divididos e, assim,

mantidos.

25

Figura 1: Modelando uma teoria do capital social (LIN, 1999)

O autor coloca como primeiro bloco da teoria a desigualdade, que é

gerada pela distribuição diferenciada de recursos sociais. Esta desigualdade é

determinada também pelas diferenças estruturais, como níveis culturais,

educacionais, industriais ou de tecnologia, e pelas diferenças posicionais, como

as diferentes posições que as pessoas assumem dentro da estrutura, seja ela

política, econômica ou social.

No segundo bloco, o de capitalização, estão caracterizados o acesso

ao capital social e o uso do capital social, ambos representando a mobilização.

O modelo então, levando em conta a distribuição desigual, entende que um

indivíduo qualquer é capaz de mobilizar capital para seu próprio uso.

26

O terceiro bloco é o resultado da mobilização destes recursos,

representa o efeito obtido a partir do processo. A pergunta que mais intriga os

estudiosos é por que algumas pessoas conseguem gerar melhores resultados

que outras a partir da mobilização de um mesmo recurso. Lin (1999) argumenta

que algumas pessoas podem estar mais bem posicionadas dentro da rede.

Granovetter (1973) também desenvolve esta idéia, como veremos a seguir.

Granovetter, autor citado de forma recorrente na literatura sobre

capital social, desenvolveu a idéia de que a força dos laços, definidos como as

relações interpessoais que cada pessoa tem, é muito importante na dinâmica

do fluxo de informações e influências em uma sociedade. Os laços podem ser

fortes ou fracos, e esta força é proporcional à combinação da quantidade de

tempo, intensidade emocional, intimidade e dos serviços recíprocos que

compõem o laço. Entende-se que estas características estão correlacionadas,

mas que não é necessário dar a elas pesos diferentes na avaliação da

intensidade do laço, já que a definição de laços fortes, fracos ou ausentes é

bastante intuitiva (GRANOVETTER, 1973).

O autor propõe que, se uma pessoa A tem um laço,

independentemente de sua força, com uma pessoa B e também com uma

pessoa C, há chance dessas duas pessoas B e C formarem também um laço

entre elas depois de se conhecerem. Essa chance é proporcional à força do

laço A-B e A-C. O autor explica até mesmo que, se estes laços (A-B e A-C)

forem fortes, é quase impossível que B e C não formem um laço, mesmo que

fraco. Portanto, a tríade abaixo seria proibida.

27

Figura 2: A tríade proibida (Granovetter, 1973)

O argumento faz sentido já que uma das características de um laço

forte é o tempo que as partes passam juntas. Por isso, a chance de B e C se

encontrarem diversas vezes por intermédio de A é grande. Além disso, se B e

C mantêm um laço forte com A, há grandes chances de eles serem

semelhantes em vários sentidos e, por isso, terem afinidades.

Para entender a importância dos laços fracos, deve-se ter em mente a

definição de “ponte”, que é caracterizada por “uma linha em uma rede que

fornece o único caminho entre dois pontos” (HARARY, NORMAN &

CARTWRIGHT, 1965, p.198). Dado isto, supondo uma ponte A-B, e

considerando que tanto A quanto B têm diversos contatos, podemos dizer que

esta ponte é o único caminho por onde qualquer informação pode fluir entre os

contatos de A e os contatos de B. O modelo de ponte será discutido mais à

frente novamente.

28

Observando a figura 2, pode-se concluir que uma ponte será quase

sempre um laço fraco. Isso devido à improbabilidade da existência da tríade

mostrada na figura, já que se um laço A-B é forte, este laço só pode ser uma

ponte se A não tiver nenhum outro laço forte, o que só pode ocorrer em

pequenos grupos.

Após a aplicação de algumas análises, Granovetter aponta que o fluxo

de informações, influências ou qualquer outra coisa é diretamente proporcional

ao número de caminhos positivos que conectam estas duas pessoas e

inversamente proporcional ao tamanho do caminho percorrido, já que a

extensão demasiada de um caminho pode ocasionar perda de qualidade da

transmissão.

Unindo as informações acima, temos que os laços fracos que formam

pontes criam um número maior de caminhos, sendo estes ainda mais curtos.

Por isso, pode-se fazer a informação fluir mais através de uma distância maior

usando laços fracos do que usando laços fortes. Sendo assim, Granovetter

conclui que a perda de um laço fraco e a conseqüente remoção de um caminho

entre pontos arbitrários ocasiona mais perdas do que a perda de um laço forte.

Em suma, Granovetter estabelece um paradoxo: os laços fracos, que

normalmente são vistos como marginalizantes, são essenciais para buscas de

oportunidades e integração social, enquanto que os laços fortes podem ser

29

elementos fragmentadores, dado o seu forte poder de coesão de pequenos

grupos.

Burt (2003) estabelece uma nova visão para as pontes. O autor

considera que as idéias e os comportamentos dentro de grupos formados são

mais homogêneos e, por isso, pessoas que conseguem conectar-se através de

grupos podem formar linhas de raciocínio diferenciadas e, assim, ter vantagem

na formação de boas idéias. Burt considera separações entre os grupos como

“buracos estruturais” e as pessoas que ficam à beira destes “buracos”, que ele

chama de “corretores”, são capazes de conectar grupos diferentes que podem

passar a ter uma visão diferente, antes inexistente.

O autor acredita que o capital social tem seu verdadeiro valor na

capacidade de tirar vantagem de uma posição social, e sua pesquisa mostra

que as grandes empresas precisam dos buracos estruturais para manter sua

criatividade. Além disso, os “corretores” têm um maior reconhecimento dentro

da organização por terem uma maior chance de expressar suas idéias (BURT,

2003).

É importante lembrar que muitas das estruturas vistas no mundo de

hoje podem ser observadas sob as lentes do capital social. Por isso,

instituições como o Banco Mundial formam centros de pesquisa sobre o efeito

que este tópico tem em assuntos como a pobreza e a saúde. Narayan (1999)

30

desenvolveu um modelo para análise do capital social em duas dimensões: as

pontes e o funcionamento do Estado, que podem representar também uma

região ou comunidade.

Figura 3: Relação entre pontes e governança (NARAYAN, 1999)

A visão geral deste modelo nos dá a idéia de que associações

baseadas em relações sociais induzem o bem da coletividade, enquanto que

redes formadas por minorias líderes trazem vantagem somente aos indivíduos

pertencentes a estas minorias.

O quadrante um representa a harmonia, com uma sociedade fluida e

um Estado forte, que levam a progressos na área social e econômica. Já o

quadrante dois mostra a exclusão de grupos sociais não-dominantes, o que

acaba por gerar uma latência de conflitos, já que os grupos dominantes

31

influenciam o governo forte formado. No quadrante três, podemos ver uma

situação de conflito, onde os grupos dominantes tomam o lugar do estado

disfuncional, formando um governo informal de mafiosos ou guerrilheiros que

usam a força de seu poder armamentista para controlar a população

minoritária. Onde existem muitas pontes e um governo fraco (quadrante quatro

– cooperação), as redes informais acabam por tomar o lugar do Estado

ineficiente e a estrutura deste é caracterizada por organizações informais e

pelo auto-emprego.

Grootaert & Bastelaer (2001) desenvolveram também um modelo de

dois eixos para mostrar as dimensões do capital social.

Figura 4: Dimensões do capital social (GROOTAERT & BASTELAER, 2001);

32

Este trabalho baseia-se nos trabalhos de Putnam (1993), que como já

foi visto, observava o capital social em nível micro, considerando somente o

indivíduo e as externalidades do capital social na comunidade em que ele está

inserido. Na definição de Coleman (1990), os grupos também são levados em

conta, definindo assim o nível meso, que inclui associações verticais e

horizontais, como empresas e suas relações hierárquicas. Por último então, foi

inserido o nível macro, que leva em conta o ambiente político e social, ou seja,

relações formalizadas entre instituições, como o regime político e o sistema

judiciário. O importante nesta classificação é o grau de complementaridade

(instituições formais ajudando no desenvolvimento de associações locais) e até

substituição (perda de laços sociais localmente para possibilitar reforços para

confiança e reputação de empresas) que os indivíduos ou instituições nos

diferentes níveis possuem.

O outro eixo trata da classificação do capital social em estrutural ou

cognitivo, como veremos em detalhes a seguir, que independe do nível da

interação ser micro, meso ou macro, o que permite a construção da matriz

acima (figura 4).

A idéia subjacente a esta matriz é guiar o pensamento em capital

social, tratando o como um ativo que requer investimento para que possa ser

acumulado e pode gerar com isso uma série de benefícios (GROOTAERT &

BASTELAER, 2001).

33

A classificação criada por Uphoff (2000) diferencia o capital social em

duas categorias: a estrutural e a cognitiva. A categoria estrutural de capital

social é identificada por várias formas de organização social, como papéis,

regras, precedentes e procedimentos, assim como redes que contribuem para

ações benéficas mútuas e coletivas, que são o resultado mais importante do

capital social. Esta categoria de capital social pode reduzir custos transacionais

através de padrões já bem estabelecidos e, por isso, facilitar as ações

benéficas mútuas.

A categoria cognitiva consiste nos processos mentais e ideacionais,

influenciados pela cultura e pela ideologia, como normas, valores e atitudes

que também induzem comportamento cooperativo e benéfico mútuo. Esta

categoria torna os participantes da rede predispostos à cooperação, já que

estes dividem os valores e as crenças e podem, assim, racionalizar este

comportamento.

Apesar de poder existir capital social compreendendo somente uma

das duas categorias citadas acima, o autor discute que é bastante improvável

que se sustente por muito tempo, já que os dois domínios estão

intrinsecamente conectados. Isto porque estes dois âmbitos do capital social

estão ligados, na prática, ao fenômeno subjetivo das expectativas.

34

2.1.4 - Medição do capital social

O capital social tem influência em diversos aspectos econômicos, tanto

da vida de indivíduos como de comunidades inteiras. Assim, deve-se levar em

conta que até a simples troca de presentes afeta o relacionamento interpessoal

de indivíduos, o que altera significativamente o valor destes objetos. Um

conceito similar a este é o “endowment effect” descrito por Kahneman, Knetsch

e Thaler (1990), que tem grandes efeitos sobre as teorias de tomada de

decisão.

Assim, pode-se ver que a simples venda de uma propriedade pode ter

seu preço alterado dependendo do comprador, ou seja, qualquer negociação

está sujeita a variações se o comprador em questão faz parte ou não da rede

de relacionamento do vendedor. Robison & Flora (2003) propõem que

medições indiretas da influência do capital social sejam feitas a partir da

diferença entre preços praticados e preços tabelados.

Há tentativas de diversos autores de buscar medir o capital social total

disponível para uma pessoa ou para uma comunidade, geralmente usando um

tipo de medida ou um item para representar todo o capital social. No entanto,

sabe-se que este tipo de capital é multidimensional e usar uma medição

unidimensional é incorreto e induz ao erro (STONE & HUGHES, 2002).

35

Outros estudos tentam criar um índice de capital social, que leve em

conta toda a extensão do assunto, e por isso tem menos perda de informação

do que o uso de um item só. Contudo, perde-se a informação de como as

diferentes dimensões medidas interagem (STONE & HUGHES, 2002).

Assim como o capital humano, o capital social também é muito difícil de

ser medido diretamente. No entanto, para medir o capital humano, usam-se

indicadores como anos de educação e anos de experiência de trabalho, que

são capazes de oferecer algum valor para os estudos sobre este assunto.

Grootaert & Bastelaer (2001) acreditam que pode haver indicadores para a

medição de capital social também, sendo esta uma das grandes buscas da

Iniciativa do Capital Social do Banco Mundial. Esta iniciativa concluiu, no

entanto, que um indicador válido provavelmente deveria variar de acordo com o

setor e a localidade geográfica em questão, já que, por exemplo, em alguns

países, como a Indonésia, a adesão a associações é importante, enquanto que

em outros, como a Índia e a Rússia, as redes informais estão muito mais

difundidas (GROOTAERT & BASTELAER, 2001).

Através dos diversos estudos de caso realizados pela Iniciativa do

Capital Social do Banco Mundial, os autores puderam constatar que é possível

medir o capital social. No entanto, esta é uma tarefa difícil já que, como

observado nos estudos de caso, este capital tem um impacto muito grande em

diferentes áreas da vida e do desenvolvimento humano, afetando serviços

prestados em áreas urbanas e rurais, transformando o desenvolvimento

36

agrário, influenciando a expansão de empresas privadas, melhorando o

gerenciamento de recursos, ajudando na educação, prevenindo conflitos, e

compensando estados deficitários.

Os estudos sugerem o uso de três tipos de indicadores como medida

para o capital social:

• Adesão a associações ou redes locais: esta medida funciona através

da contagem do número de associações locais e análise destas associações

(como análise da democracia na tomada de decisão) e de seus membros

(características do grupo, tais como heterogeneidade);

• Indicadores de confiança e aderência a normas: esta medida requer

que os respondentes demonstrem suas expectativas e experiências passadas

em relação a situações que necessitaram de confiança.

• Indicador de ação coletiva: esta medida é baseada no fato de que a

execução de alguns serviços requer ação coletiva, e o número de ações

coletivas desenvolvidas em uma comunidade é indicativo de coesão social,

estes três tipos de indicadores medem o capital social de diferentes ângulos, e

são relevantes, principalmente nos níveis micro e meso, mas podem ser

usados em nível macro também. O mais importante na realização da análise é

saber adequar o indicador correto para a conjuntura social, econômica e

cultural do objeto de estudo.

37

2.1.5 - Cyber networks

O trabalho de Lin (1999) levanta o conceito de cyber networks. Ele

menciona que a venda anual de PCs já ultrapassava, em 1999, a venda de

aparelhos de televisão em alguns países e comenta também o enorme

crescimento do volume de e-commerce, aliado ao crescimento da Internet.

Estes dados são relevantes porque se sabe que no espaço virtual são criados

diariamente um número inestimável de comunidades, fóruns, sites de

relacionamento, grupos de discussão, blogs, etc. A pergunta que o autor faz é:

quais são as implicações destes tipos de interações para o estudo do capital

social?

Putnam, no seu trabalho de 1995, demonstrou que os EUA têm o seu

nível de capital social em declínio nas últimas três ou quatro décadas. Ele

argumenta que a sociedade americana tornou-se extremamente individualista,

e que isto pode ser averiguado através da observação de um fenômeno, entre

vários outros: apesar de o número de pessoas que jogam boliche ter

aumentado nas últimas décadas, o número de ligas de boliche diminui

drasticamente.

No entanto, se as redes sociais que se formam a cada dia no cyber

espaço forem de fato válidas para a geração de recursos de capital social,

então o capital social não está em declínio, e sim, em franca ascensão, através

38

da formação de cyber networks. Lin (1999) argumenta até que a Internet pode

trazer uma revolução para o capital social.

39

2.1.6 - O lado negativo do capital social

Apesar de todos os benefícios que pode trazer, o capital social também

tem seus pontos negativos. Os mesmos laços que são capazes de conectar

pessoas dentro de uma mesma rede ou em redes diferentes têm também o

poder de excluí-las. Redes detentoras de grande poder podem restringir o

acesso a oportunidades, sendo o melhor exemplo disto o sistema de castas na

Índia. O capital social é capaz de restringir a liberdade individual, levar

membros bem sucedidos de um grupo a abusarem de seu poder e também

induzir membros bem-sucedidos a quebrar laços com seu grupo étnico

(STONE & HUGHES, 2002). Por exemplo, em uma pesquisa de Fletcher (apud

STONE & HUGHES, 2002) foi descoberto que a razão do desempenho

acadêmico diferente entre brancos e negros era que o maior empenho de

estudantes negros na escola era visto pelos colegas como uma “tentativa de se

tornar branco”, e por isso estes estudantes eram ridicularizados.

Os impactos negativos do capital social podem ser vistos em grupos de

poder muito fechados, que não permitem a participação do público geral, assim

como na prática da corrupção e do nepotismo.

Portes & Landolt (2000) comentam o fato de que usar a mesma

definição de capital social de um indivíduo e de toda uma nação é errado e tem

levado a diversos erros de significado do termo. Os autores acreditam que a

40

definição individual de capital social, quando expandida para o nível coletivo,

como comunidades ou nações, acaba tornando-se um atributo das redes

sociais, transformando-se em justificativa para explicar o bom funcionamento,

tanto econômico quanto político, de cidades inteiras, virando sinônimo de tudo

o que é positivo.

Com isso, Portes & Landolt (2000) não querem dizer que o capital

social não pode fornecer aspectos positivos a redes sociais extensas, mas sim

que nem sempre este é o caso. Como exemplo, podemos citar que as

conexões certas podem levar ao ganho de acesso a contratos públicos ou ao

não-cumprimento de obrigações e regras, algo que nos é muito familiar no

Brasil. Neste caso, o capital social individual está justamente se apoiando na

habilidade de enfraquecer o capital social coletivo. Podemos citar os laços

formados entre gangues, ou no interior de famílias mafiosas, que provêm

benefícios aos participantes destas redes, às custas da ordem pública.

O grande problema do capital social é que ele é formado,

principalmente, através de confiança, cooperação e participação em grupos,

características aparentemente positivas, e que podem levar à crença de que

quanto mais estes constituintes do capital social são acumulados, mais

benefícios se conseguem. Por exemplo: comunidades de uma nacionalidade

vivem, constantemente, fechadas dentro de outro país. Os mais antigos são

capazes de fornecer condições aos recém-chegados para a abertura, por

exemplo, de um novo negócio. Assim, o capital social tende a suprir a

41

necessidade de capital físico e humano. No entanto, o crescimento de uma

comunidade tão apartada da totalidade da sociedade e fechada em si mesmo

pode fazer com que, no futuro, haja uma grande necessidade de esta formar

pontes com outras redes sociais para a sua própria sobrevivência, e esta tarefa

pode ser muito dificultada pela quantidade de obrigações existentes no interior

desta comunidade fechada. Em suma, a idéia é de que os recursos de capital

social devem ser otimizados e não maximizados (WOOLCOCK, 1998).

42

2.2 - Capital social e Empreendedorismo

O estudo do empreendedorismo deve, primeiramente, encontrar a

definição do termo empreendedorismo. Muitos autores já definiram

empreendedorismo como o sujeito empreendedor e suas atividades, mas a

idéia hoje é a de que o empreendedorismo depende de dois fatores: da

presença de oportunidades rentáveis e da presença de indivíduos que

possuam um perfil empreendedor (VENKATARAMAN, 1997).

O trabalho de 2000 de Shane e Venkataraman traz a idéia de que

diversos fatores estão envolvidos no estudo do empreendedorismo, e são eles:

a fonte das oportunidades, o processo de descoberta, a avaliação e a

vantagem da oportunidade, e o indivíduo ou grupo de indivíduos que descobre,

avalia e explora estas oportunidades. A partir destas características, um

modelo foi criado pelos autores, explicitando as diversas etapas do processo

de abertura de um novo empreendimento.

43

Figura 5: Modelo do processo empreendedor (adaptado de SHANE & VENKATARAMAN, 2000).

A intenção de abrir um novo empreendimento está ligada aos atributos

sócio-culturais do empreendedor (SHANE & VENKATARAMAN, 2000). Os

atributos citados nas teorias psicológicas são, entre outros, necessidade de

realização, disposição de suportar risco, auto-confiança, ilusão de controle e

tolerância a ambigüidade, e fazem com que certos indivíduos e não outros

optem pelo empreendedorismo (SHANE, 2000).

Drucker (apud SHANE & VENKATARAMAN, 2000) descreve três

possibilidades para o surgimento de oportunidades, sendo elas: a criação de

informação nova como, por exemplo, o aparecimento de novas tecnologias, a

exploração, devido à assimetria de informações, de ineficiências de mercado e

44

a reação a mudanças em custos relativos e a benefícios do uso alternativo de

recursos devido a transformações de cenário.

Após a fase de descoberta, surge o momento de decidir explorar ou

não esta nova oportunidade. Shane e Venkataraman (2000) sugerem que a

decisão de explorar um novo empreendimento depende da natureza da

organização, como formas de captação de capital, vantagem competitiva,

barreiras de entrada, de oportunidade e de possibilidades proprietárias, como

patentes. Ulhoi (2005), no entanto, critica esta visão pelo fato de só abranger

atributos quantitativos, deixando de lado os atributos sócio-culturais e os

contextos dos quais os empreendedores fazem parte, que são também muito

importantes.

As redes sociais são constituídas por laços fortes e fracos e as

pessoas são os nós de diversas redes, de modo que as redes interconectam-

se (SCOTT apud ULHOI, 2005). Logo, dependendo da posição sócio-cultural

e/ou político-econômica de uma determinada pessoa, esta pode ter acesso a

um número maior de redes.

Ulhoi (2005) propõe, alinhado ao pensamento de Granovetter (1985)

que as atividades econômicas estão inseridas em um contexto relacional, ou

seja, que a rede social pessoal de um indivíduo e a sua rede social profissional,

45

assim como o ambiente social em que o empreendedor está inserido, estão

intimamente ligados ao processo empreendedor.

O mix de laços fortes e fracos é fundamental para empresas nos seus

primeiros estágios de desenvolvimento. Os laços fortes estão associados à

obtenção de informações importantes, além de conhecimento tácito e captação

de recursos. Por estar ligando pessoas similares, este tipo de laço contribui

para economias de tempo, dada a proximidade do empreendedor às fontes de

conhecimento e recurso úteis (ELFRING & HULSINK, 2003). É importante

ressaltar que existe o problema de lock-in, que pode impedir a percepção de

novas informações e conhecimentos por parte das pessoas acessadas através

de laços fortes, por estas estarem demasiadamente comprometidas com o

projeto (JOHANNISSON, 2000). Já os laços fracos estão relacionados ao

acesso a um número mais diversificado de fontes de informações por não

envolverem emoção (ELFRING & HULSINK, 2003).

Logo, a troca de conselhos ou informações e o acesso a recursos

estão então sob influência de normas e regras sociais, da estrutura social e do

poder individual; todos os fatores ligados à posição relativa do indivíduo nas

suas redes sociais. De acordo com Cooper, Folta & Woo (1995), as redes

sociais podem afetar seriamente a atividade empreendedora, principalmente na

aquisição de informação, que é muito importante na identificação de

oportunidades, e na aquisição dos recursos necessários, central no lançamento

de um novo negócio.

46

Para a abertura de um novo empreendimento são necessários, pelo

menos, capital, habilidades e trabalho. O capital social pode ter um papel

significativo de ajuda na obtenção de cada um destes fatores. Pesquisas

sugerem que a posição relativa do empreendedor e as características de suas

redes sociais podem determinar o sucesso do empreendimento (BURT, 1992).

A partir disso, Gattiker & Ulhoi (2001) inferem que o capital social pode ser

traduzido como o número exato e a qualidade dos laços sociais e o grau de

centralidade do indivíduo em questão. Há também autores que acreditam que,

principalmente entre pequenas empresas, o relacionamento interorganizacional

se deve a relações de amizade e/ou sentimento de obrigações pessoais, como

contratos sociais entre indivíduos (POWELL, 1990).

Figura 6: Empreendendo por redes (Elfring & Hulsink, 2003).

47

O tipo de produto a ser lançado pelo novo empreendimento altera o

tipo de capital social a ser alavancado pelo empreendedor (figura 6). Inovações

radicais requerem mais laços fortes para analisar e julgar de forma confiável a

natureza da oportunidade insurgente e ainda assegurar recursos, tanto

financeiros quanto humanos. O mais importante para novas empresas de alto

risco é a mobilização destes recursos com a garantia de custos mínimos, que

se faz possível utilizando ativos sociais como amizade, confiança e obrigação.

Estas observações, no entanto, não são válidas para a variável de obtenção de

legitimidade, também importante para empreendimentos nascentes. Laços

fracos ajudam empresas baseadas em inovações radicais a receberem apoio

de indivíduos do meio externo, o que é muito importante para estas empresas

já que normalmente inovações radicais estão associadas a um risco maior. O

acesso a parceiros ajuda a disseminar o entendimento dos conceitos no novo

empreendimento (ELFRING & HULSINK, 2003).

Já nas inovações incrementais os laços fracos parecem mais

importantes para a descoberta de oportunidades e garantia de recursos, e

empreendedores representando inovações incrementais dependem mais de

laços fortes para ganhar legitimidade, como associações com centros de

excelência no assunto em questão que atestem credibilidade (ELFRING &

HULSINK, 2003).

Rowley, Behrens & Krackhardt (2000) corroboram em parte estes

achados, justificando que, em ambientes mais dinâmicos, é necessário um

48

número maior de laços fracos, enquanto que em ambientes mais estáveis a

presença de mais laços fortes traz mais benefícios ao empreendimento.

Davidsson & Honig (2003) estudaram o papel do capital social,

referente às estruturas sociais e redes relacionais, e do capital humano, que se

refere ao conhecimento individual, entre empreendimentos nascentes,

utilizando uma amostra significativa de empresas suecas. Foi analisada a

influência de capital humano tácito (experiência) e explícito (educação formal),

assim como a influência do capital social em forma de laços fortes e fracos.

Esta pesquisa demonstrou que altos níveis de capital humano levam a

uma maior probabilidade de descoberta de oportunidades empreendedoras, de

acordo com o modelo de Shane & Venkataraman (2000). É sugerido neste

trabalho que o mecanismo responsável por esta probabilidade maior pode ser

objetivamente a descoberta de oportunidades melhores e em maior número,

devido à maior quantidade de conhecimento do indivíduo. Existe ainda a

possibilidade de que o aumento da probabilidade se dê por maior

autoconfiança do empreendedor, e também por uma percepção de que os

riscos são menores, o que leva a uma decisão de explorar mais determinada.

O estudo também indicou que o conhecimento tácito é de valia, porém, os

capitais humanos, tanto tácitos quanto explícitos, mostraram ter menor

importância na fase nascente do empreendimento, ou ainda no período de

busca de rentabilidade do negócio (DAVIDSSON & HONIG, 2003).

49

Os resultados em relação ao capital social revelaram um nível de

importância maior deste fator na fase nascente das empresas. A descoberta de

oportunidade mostrou ser altamente influenciada pela presença de parentes ou

amigos próximos em alguma atividade de negócio. O capital social pode estar

diretamente associado à previsão de sucesso da fase de exploração. Os laços

fracos também parecem ter grande influência na aceleração da formação da

empresa e também no tempo de desenvolvimento subseqüente. Assim, a

importância dos laços fracos aumenta à medida que o negócio se desenvolve,

se comparado aos laços fortes, mais fundamentais no início do negócio. Hite e

Hesterly (2001) reforçam esta idéia, pois acreditam que os laços fortes são

mais importantes no início do empreendimento, enquanto no decorrer do

processo de desenvolvimento, os laços são substituídos por contratos formais.

Anderson & Miller (2003) discutem a importância dos laços familiares

para a saúde financeira do empreendimento, sendo a família a principal fonte

de recursos adicionais. Os resultados demonstram, também, que o nível de

conhecimento (capital humano) de um indivíduo faz com que ele se relacione

com pessoas que possuam o mesmo nível de conhecimento. Por isso,

empreendedores com alto capital humano mantêm laços que favorecem o

encontro com indivíduos que possam colaborar para o sucesso do

empreendimento. Além disso, este tipo de relacionamento favorece a

percepção e descoberta de oportunidades, como já havia sido demonstrado por

Davidsson & Honig (2003).

50

As redes sociais pessoais e as de negócios, assim como o ambiente

em que o empreendedor está inserido, são importantes no desenvolvimento do

processo empreendedor. Deve-se sempre levar em conta que toda e qualquer

atividade econômica está inserida em um contexto social e, por isso, as

relações sociais têm uma influência direta sobre o estabelecimento de

negócios. Pelo fato de as relações de negócios terem, muitas vezes, um

caráter pessoal, o contexto emocional também é muito importante no processo

empreendedor.

51

2.3 - Incubadoras

Em tempos antigos, acreditava-se que para ter um sonho visionário,

era necessário ir a um templo greco-romano e deitar-se sobre a pele de

animais recentemente sacrificados. Este ritual era chamado incubatio e

imaginava-se que ele ajudava a obter visões de como combater doenças. Com

o tempo, uma incubadora tornou-se um lugar para cuidar de crianças

prematuras que precisavam de cuidados sob condições controladas

(AERNOUDT, 2004).

A incubação de negócios, segundo a Associação Nacional Americana

de Incubadoras de Negócios (www.nbia.org) é “uma ferramenta de

desenvolvimento econômico designada para acelerar o crescimento e o

sucesso de empresas por um arranjo de serviços e recursos de apoio a

negócios”.

As incubadoras surgem a partir da observação de que pequenas e

novas empresas não conseguem sobreviver devido à falta de habilidades

gerenciais de seus empreendedores - já que na maioria das vezes estes

indivíduos possuem somente o conhecimento especializado do negócio – ou,

ainda, à falta de acesso a capital de risco, especialmente no caso de empresas

de alta tecnologia, que necessitam de um grande aporte financeiro. Os

principais problemas enfrentados por empresas recém-formadas, que tornam

52

muito difícil a sobrevivência nos primeiros anos, são: falta de acesso a apoio

administrativo e altos custos operacionais iniciais, como aluguel e outras taxas

de serviços (LYONS, 2000). As incubadoras de empresas são instituições

capazes de dar o suporte necessário para que as empresas incubadas possam

superar estes obstáculos. Ela torna-se então um meio para que as chances de

uma nova empresa sobreviver sejam aumentadas (SMILOR & GILL, 1986).

As incubadoras se definem como qualquer tipo de infra-estrutura para

apoiar e suprir pequenas e médias empresas, sendo que esta infra-estrutura

pode ter diferentes características. No entanto, incubadoras devem oferecer

mais do que acomodação física aos empreendimentos nascentes, como ajuda

no gerenciamento, acesso a financiamento (através de fundos de investimento

ou investidores-anjos), assessoria jurídica, acesso a novos mercados e

conhecimento operacional (AERNOUDT, 2004).

Lee, Kin e Chun (1999) indicam que as necessidades básicas de uma

empresa incubada se dividem em quatro funções principais: estratégia de

operações, recursos físicos e humanos, serviços da incubadora e programas

de rede. Estas funções estão, por sua vez, separadas em necessidades

básicas menores:

• Estratégia de operações

Transparência e alcance de objetivos

Realização do planejamento de operações

53

• Recursos físicos e humanos

Acesso facilitado a equipamentos e estrutura

Acesso comum a equipamentos de escritório e espaço

Apoio de uma rede de empreendedores

Suporte de experts

• Serviços de incubadora

Transferência de tecnologia e Pesquisa e Desenvolvimento

Consultoria jurídica e de negócios

Apoio financeiro

Programa educacional de empreendedores

• Programas de rede

Rede de contatos dentro da incubadora

Contato com empreendedores externos

Rede de contatos com consultorias de financiamento e

estratégia

Apoio governamental e da comunidade local

Pode-se dizer que as incubadoras dão apoio em algum grau às

pequenas e médias empresas, através de infra-estrutura para compensar as

falhas e imperfeições do mecanismo de mercado (BOLLINGTOFT & ULHOI,

54

2005). Isso porque as incubadoras fornecem às empresas incubadas os

recursos, serviços e assistência que novos negócios normalmente não

possuem e não têm condições de financiar. Logo, as incubadoras estão

suprindo falhas do mercado, como custos de informações e falta de assistência

e financiamento. As incubadoras, no entanto, limitam o tempo que as empresas

podem permanecer incubadas, que varia normalmente de dois a cinco anos, e

são restritas a novos negócios somente (BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005).

De acordo com Sherman & Chappell (1998), os serviços de apoio

incluem assistência no desenvolvimento de planos de negócio e de marketing,

criação de equipes gerenciais e obtenção de capital e auxílio no acesso a

diversos outros tipos de serviços profissionais especializados. Além disso, as

incubadoras também provêem espaço, equipamentos compartilhados e

serviços administrativos. No entanto, Aernoudt (2004) indica que 60% de todas

as incubadoras no mundo nunca ajudaram suas empresas incubadas a obter

fundos. O autor acredita que isso se deve, entre outras coisas, à pobre

interação entre redes de investidores-anjos e gerentes de incubadoras e à

visão míope da sociedade, que não enxerga o empreendedorismo como uma

característica positiva.

Na opinião do autor, deveria criar-se um ciclo virtuoso, como o

mostrado na Figura 7, que prevê que o desenvolvimento das incubadoras e das

empresas incubadas a partir do uso de fundos de investimento ou da ação de

55

investidores-anjos, pode ajudar a tornar mais positiva a imagem do

empreendedorismo.

Figura 7: O processo dinâmico de incubação, empreendedorismo e redes de anjos (Aernoudt, 2004)

Um aspecto interessante das incubadoras é o potencial para criação e

exploração de sinergias. Imagina-se que a combinação de diversos recursos,

serviços e habilidades crie algum tipo de sinergia e, consequentemente,

vantagem para as empresas incubadas. Ou seja, a partir dessa interação, a

incubadora deixa de ser somente uma estrutura física onde algumas empresas

recém-formadas dividem localização geográfica e podem minimizar custos

iniciais (ALLEN & RAHMAN,1985). Além disso, o contato entre os

empreendedores de uma mesma incubadora e também com os

empreendedores de empresas já graduadas é muito importante, já que pode

ser usado para troca de experiências e cooperação (AERNOUDT, 2004).

56

O objetivo principal das incubadoras é alavancar o talento

empreendedor. Isso significa que o problema na formação de novos negócios

não se resume apenas à disponibilidade de fundos de investimento de risco ou

a taxa de avanço tecnológico, mas engloba os agentes empreendedores. O

verdadeiro desafio das incubadoras de empresas é prover a estes agentes os

serviços e o suporte necessários para complementarem seu talento e seus

recursos e, assim, expandir seu potencial. Ou seja, as incubadoras de

empresas podem ser vistas como meios de transformar o talento do

empreendedor em bens comercializáveis (BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005).

Já foi identificado que, além da existência de um fluxo de

informações, para absorver conhecimento externo, as empresas devem possuir

capacidade de absorção para capturar e se apropriar do conhecimento

disponível (COCKBURN & HENDERSON, 1998). Cohen & Levinthal (1989) já

falavam sobre capacidade de absorção, que é entendida como a habilidade de

uma firma de reconhecer, avaliar e assimilar informações novas de fontes

externas.

57

2.3.1 - Incubadoras no Brasil

O surgimento de incubadoras no Brasil se deu a partir da década de

80, com a falência do regime ditatorial. Dado o momento de reestruturação da

sociedade civil, a falta de uma política central para a atividade de incubadoras,

houve grande flexibilidade na implantação das mesmas, possibilitando atingir

diferentes objetivos em um modelo de desenvolvimento de custos reduzidos.

Para isso, foram unidas iniciativas de universidades e governos municipais,

além de associações regionais, indústrias e o governo federal (ALMEIDA,

2005). Dados de 2003 mostram as fontes de recursos financeiros para

investimento em incubadoras brasileiras divididas entre universidade, 33%;

indústria, 48%; governo, 18%; instituições híbridas, 0.95%; instituições sociais,

0.05% (ALMEIDA, 2004).

A universidade tem papel fundamental no modelo de incubação

brasileiro, pois grupos de pesquisa acadêmicos foram tornando-se “pré-firmas”,

compostos por cientistas que combinavam recursos diversos e agiam como

empreendedores (LAW, 1989). O conceito de incubação passou de uma

simples estrutura de apoio ao empreendedor a uma forma de transformar

pesquisa avançada em um negócio rentável, e ainda chegar a ser aplicada,

mais recentemente, como solução para problemas industriais e sociais

(CERVANTES, 2002).

58

Redes foram criadas entre as esferas industrial, governamental e

universitária para expandir e consolidar um modelo de incubação novo e

altamente criativo no Brasil. Normalmente, universidades estão associadas a

incubadoras focadas em alta tecnologia, dada a grande geração de

conhecimento; a indústria tem um foco mais tradicional no desenvolvimento de

capacidades organizacionais; o governo, através de incubadoras sociais, tem

como principal objetivo a geração de empregos. No entanto, cada uma das

esferas também pode exercer uma função no domínio da outra, mesmo que em

menor ordem. Como exemplo, a indústria pode financiar uma incubadora de

alta tecnologia enquanto a universidade treina pessoal qualificado para

incubadoras industriais e sociais (ALMEIDA, 2005).

Lalkala (2003) acredita que para empresas incubadas em países em

desenvolvimento como o Brasil serem bem sucedidas são necessárias:

políticas públicas que estimulem e forneçam infra-estrutura a novos

empreendimentos, parcerias com o setor privado para ajuda em forma de

conselho, formação de uma base de conhecimento de aprendizado e pesquisa,

formalização de redes de contato profissionais nacional e globalmente e

envolvimento da comunidade para o desenvolvimento do empreendedorismo e

de mudanças culturais.

59

2.3.2 - Tipos de incubadoras

As incubadoras devem ser vistas e classificadas pelas fontes de valor

que proporcionam aos empreendedores e às atividades empreendedoras, além

das características organizacionais e as práticas, recursos e serviços utilizados

para fomentar o surgimento e crescimento de pequenas empresas (SMILOR &

GILL, 1986).

Elas podem ter também propósitos bastante diferentes, e por isso

apresentar nomes bastante diferentes. Algumas são estabelecidas para ajudar

a capitalizar oportunidades de investimento, enquanto outras buscam meios de

comercializar pesquisa acadêmica, tipicamente pela aproximação de pequenas

empresas de alta tecnologia dos campi de universidades com estudos

avançados (AERNOUDT, 2004).

Incubadoras de empresas começaram a surgir na década de 80, em

dois tipos de estratégia diferentes. Uma das estratégias era a de renovar

prédios vazios antigos e fazer leasing do espaço a preços baixos. Ou seja, o

foco maior desta estratégia era de disponibilizar espaço para novas empresas

e não de ajudar a formar novos negócios. O sucesso deste modelo de

incubadora era medido pela habilidade dos incubados de pagar suas despesas

mensalmente (SMILOR & GILL apud BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005).

60

A segunda estratégia consistia em uma tentativa mais consciente de

ajudar na formação de novos negócios ou no crescimento de firmas recém-

formadas. Prover espaço para as novas empresas era importante, mas o foco

desta estratégia era o de desenvolver empresas e, por isso, o sucesso era

medido através da expansão e habilidade das empresas incubadas de se

manterem sozinhas (SMILOR & GILL apud BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005).

Figura 8: O contínuo da incubação de empresas (BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005, adaptada de ALLEN & MCCLUSKEY, 1990)

As duas estratégias podem ser ligadas por um contínuo, mostrado na

Figura 5. Este contínuo, desenvolvido por Allen & McCluskey (1990), consiste

61

em quatro tipos organizacionais ideais de incubadoras, cada um representando

um foco de desenvolvimento diferente. Bollingtoft & Ulhoi (2005) adicionaram

ainda um quinto tipo (figura 5). Incubadoras diferentes dos arquétipos

estabelecidos são chamadas híbridas.

O contínuo está baseado sempre no valor econômico. Em um dos

lados do contínuo está a incubadora focada no desenvolvimento da estrutura

física, enquanto que, no outro extremo, temos as focadas em programas de

desenvolvimento de empresas. No entanto, pode haver adição de valor na

forma de colaboração e de atividades de relacionamento internas.

As oportunidades geradas por cada tipo de incubadora estão ligadas à

missão e objetivo globais destas. Por exemplo, incubadoras de capital

investidor com fins lucrativos têm o objetivo de capitalizar oportunidades de

investimento e, por isso, vão ajudar as empresas incubadas com seus

problemas financeiros.

As incubadoras acadêmicas, também chamadas de parques de

tecnologia, ciência ou pesquisa, estão diretamente relacionadas às

universidades e seu principal objetivo é transformar a pesquisa acadêmica e o

desenvolvimento de novos achados em produtos ou tecnologias novos. Neste

tipo de incubadora, o desenvolvimento em si é mais importante que o

62

desenvolvimento do talento do empreendedor ou da empresa, ou, ainda, que a

obtenção de lucros.

No Brasil, muitas das incubadoras existentes são formadas próximas

às universidades. O conhecimento gerado em universidades é estudado por

diversos autores, na tentativa de observar o impacto que causa na indústria,

dado que se trata de ativo de altíssima qualidade. No entanto, sabe-se pouco

sobre o fluxo de informações entre a universidade e as empresas, e os efeitos

que dele decorrem, devido à dificuldade de rastrear conhecimento de domínio

público e também pela dificuldade de encarar empresas como unidade de

análise neste setor (ROTHAERMEL & THURSBY, 2005).

As incubadoras colaboradoras com fins lucrativos, também chamadas

incubadoras de rede, são baseadas no reconhecimento mútuo do valor da

colaboração como uma das características mais importantes. As incubadoras

de desenvolvimento sem fins lucrativos podem ser patrocinadas por recursos

públicos e seu principal objetivo normalmente é a criação de empregos (ALLEN

& MCCLUSKEY,1990).

A partir do mundo globalizado atual e da era da Internet, outro tipo de

incubadora surge: a incubadora virtual. A tecnologia da Informação permite e

fomenta a adoção de novas práticas, novas estruturas organizacionais e novos

estilos gerenciais. A incubadora virtual pode facilitar o sucesso e o crescimento

63

de empresas pequenas e o avanço nas tecnologias de comunicação permite

que as empresas estejam conectadas e se relacionem diretamente com seus

parceiros, fornecedores e consumidores ao redor do mundo ao mesmo tempo

(NOWAK & GRANTHAM, 2000).

Diversos estudos sugerem que as incubadoras de empresas são

ferramentas de desenvolvimento de negócios eficazes, que requerem

investimentos modestos e proporcionam um excelente retorno para as

economias regionais (SHERMAN & CHAPPELL, 1998). O interesse nas

incubadoras de empresas como ferramentas de desenvolvimento data do final

dos anos 70, quando a economia de diversos países no mundo evoluía de uma

base de grandes empresas manufatureiras para uma base de pequenas e

médias empresas, intensivas em tecnologia e orientadas para serviço, que se

tornaram importantes fatores de criação de novos empregos (CAMPBELL,

1989).

Apesar de tudo, o valor das incubadoras de empresas tem sido

seriamente questionado e sua eficiência continua indeterminada, já que a

presença em uma incubadora não é garantia de sucesso (LUMPKIN &

IRELAND apud BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005).

64

2.3.3 - Incubadoras e capital social

Na idéia da importância do capital social, surgem as incubadoras

inseridas em redes sociais (networked incubators) (BOLLINGTOFT & ULHOI,

2005). O conceito tradicional de incubadora diz que a incubação de novas

empresas serve, principalmente, para oferecer auxílio na busca de recursos

financeiros, humanos e sociais, como, por exemplo, ajuda administrativa e/ou

jurídica (MIAN apud BOLLINGTOFT & ULHOI, 2005). No entanto, os autores

acreditam que o papel das incubadoras deveria ser estendido, no sentido de

cobrir três principais necessidades das empresas nascentes: dar suporte

administrativo, dar legitimidade e ajudar no reconhecimento no mercado, bem

como estar em uma comunidade de empreendimentos nascentes. O acesso a

redes sociais coletivas, como no caso de uma networked incubator, pode gerar

diversas oportunidades econômicas e sociais.

Com um olhar mais direto sobre as incubadoras tecnológicas, o

trabalho de Rothaermel & Thursby (2005) explicita o valor do fluxo de

informações da universidade para a incubadora, sendo este bastante

dependente de fortes laços desenvolvidos entre as duas entidades. As

chamadas incubadoras tecnológicas são ainda mais dependentes destes laços

com a universidade, dada a alta taxa de inovação das empresas nascentes

destas incubadoras. Os resultados do trabalho indicam que um maior fluxo de

conhecimento da universidade para a incubadora aumenta o desempenho das

empresas incubadas.

65

Hansen et al (2000) explicitam mais detalhadamente os benefícios de

uma networked incubator. Este novo tipo de incubadora, mais comumente

observada para novos negócios que utilizam a Internet, tem mecanismos para

alimentar parcerias entre novas equipes empreendedoras e também com

outras firmas do mesmo ramo, facilitando o fluxo de conhecimento, talento e

tecnologia. Além disso, as redes ainda podem ajudar na obtenção de recursos.

Incubadoras podem, com isso, diminuir o tempo e o custo do

estabelecimento de estruturas básicas para o negócio, pois as incubadas têm

acesso preferencial a uma rede de renomados executivos na forma de experts,

clientes, recrutadores ou parceiros. Assim, a tomada de decisões se torna mais

rápida e de melhor qualidade. As networked incubators combinam benefícios

de grandes corporações com o de incubadoras suportadas por capital de risco,

e ainda garante o acesso a parcerias-chave (HANSEN et al, 2000).

Para estimular o contínuo desenvolvimento de redes de contato, as

networked incubators tornam-se donas de pequenas parcelas das ações de

suas empresas incubadas, tornando mais interessante a alavancagem de

capital social para o desenvolvimento dos negócios (HANSEN et al, 2000).

É importante ressaltar que este modelo atrai também grandes

empresas, como a Ford Motors Co., que buscam acelerar seus processos de

66

criação de produtos e desenvolvimento de operações que têm pouca afinidade

com o negócio nuclear da empresa. A grande vantagem é que as empresas

incubadas podem contar com aportes de capital e a rede de contatos da

grande empresa associada (HANSEN et al, 2000).

Mas para dar certo, a rede de contatos destas incubadoras deve,

primeiramente, pertencer à própria incubadora, e não a um grupo de pessoas.

Em segundo lugar, a atividade de networking deve ser institucionalizada. Ou

seja, deve haver mecanismos que estimulem a criação de uma rede, como

reuniões periódicas com conselheiros e parcerias com empresas líderes no

setor (HANSEN et al, 2000).

67

2.4 – Modelo Conceitual

Criou-se um modelo conceitual para auxiliar a análise dos dados (figura

9). Este modelo tem a forma de uma linha do tempo, e contém atividades

importantes observadas desde o início do processo empreendedor até os

primeiros momentos do período de incubação.

Como atividades do processo empreendedor, temos:

Intenção – não é uma atividade propriamente dita, mas participa

do processo na medida em que antecede as atividades

empreendedoras;

Busca e descoberta de oportunidades – dado que diferentes

indivíduos possuem valores assimétricos e a sociedade atual é

baseada em especialização da informação, temos que nem

todos perceberão uma mesma oportunidade ao mesmo tempo

(HAYEK, 1945). Por isso, esta atividade é baseada

principalmente em informação anteriores que um indivíduo

possui e também em suas propriedades cognitivas, que

influenciam a forma de ver e valorizar diferentes situações e

contextos (SHANE & VENKATARAMAN, 2000);

Decisão de explorar – nem todas as oportunidades descobertas

são levadas à frente e transformam-se em empreendimentos. A

decisão de explorar uma oportunidade é fruto de uma relação

68

entre a natureza da oportunidade e as características do

indivíduo e do contexto onde ele está inserido

(VENKATARAMAN, 1997).

Atividades de exploração – é a busca por recursos necessários

para iniciar um novo negócio, sendo o principal deles a

informação. O otimismo, a maior tolerância a incertezas e a

necessidade de alcançar objetivos, por exemplo, fazem com que

as quantidades de informação necessárias variem entre

diferentes indivíduos empreendedores.

Como atividades após o momento de entrada na incubadora, temos:

Atividades empresariais genéricas – todas as atividades comuns

empresariais, como contratação e demissão de pessoal, busca

de aporte financeiro, compra de material, entre outras, exceto

vendas e desenvolvimento de produto, que foram tratadas

separadamente;

Vendas iniciais – as primeiras vendas da empresa, que

demonstram que o produto é rentável e viável;

Desenvolvimento de produto – a viabilização de uma tecnologia

nova, ou ainda a transformação de tecnologias existentes, em

novos produtos e/ou serviços inovadores e interessantes para

algum mercado consumidor.

69

70

Apesar da existência de modelos dinâmicos descritos na literatura, o

modelo conceitual criado baseou-se no trabalho de Shane e Venkataraman

(2000), que tem grande aceitação no estudo do empreendedorismo, e nas

atividades descritas por empreendedores como sendo importantes nos

momentos iniciais de desenvolvimento de uma empresa.

A razão da separação das atividades de vendas e desenvolvimento de

produto decorre do fato de se ter percebido - através de entrevistas prévias

realizadas por telefone - que estas eram as atividades de maior importância e,

portanto, de maior gasto de tempo e recursos no período inicial de

desenvolvimento dos novos empreendimentos. Vale lembrar que, apesar de o

modelo mostrar a fase anterior à entrada na incubadora, o foco do trabalho é

estudar a as fases posteriores do processo, a incubação das empresas.

71

3. METODOLOGIA

72

3.1 – A pesquisa qualitativa

A pesquisa quantitativa sempre teve destaque na elaboração de teorias

científicas. No entanto, iniciando-se no âmbito da Antropologia e da Sociologia,

a pesquisa qualitativa ganhou espaço e expandiu-se para as áreas de

Educação, Psicologia e Administração de Empresas. Ao contrário da pesquisa

quantitativa, que se baseia em hipóteses formuladas previamente relacionadas

a um objetivo específico, a pesquisa qualitativa não foca na enumeração e

medição de eventos e, portanto, não utiliza métodos estatísticos.

Alguns traços essenciais, enumeradas por Godoy (1995), ajudam a

caracterizar a pesquisa qualitativa. São eles:

A influência do meio como fonte de informações e a do

pesquisador como instrumento de análise;

A importância da descrição para a coleta de dados;

O entendimento de valores, sentimentos e crenças como parte

fundamental da pesquisa;

A indução.

Todos estes fatores têm como objetivo principal traduzir os fenômenos

observados no mundo social, estreitando assim a relação entre o mundo real e

a ciência (MAANEN, 1979).

73

Segundo Godoy, (1995) a pesquisa qualitativa pode se apresentar em,

pelo menos, três formas distintas: a etnografia, o estudo de caso e a pesquisa

documental.

O método etnográfico revela-se um dos mais importantes,

principalmente no âmbito da Antropologia, tendo sido praticado desde os

tempos da Grécia Antiga. O método exige que o pesquisador se insira na

comunidade em estudo e passe a observar, entrar em contato e participar de

atividades (GODOY, 1995).

O estudo de caso está ligado a uma análise mais profunda de uma

unidade de estudo, que pode vir a ser uma pessoa, um ambiente ou uma

situação. Este método, que se tornou bastante popular no estudo da

Administração, é amplamente utilizado quando se quer entender por que e

como certos fenômenos acontecem, especialmente em situações em que a

influência do contexto é de extrema relevância (YIN, 2001).

A pesquisa documental envolve o exame e o reexame de materiais sob

uma perspectiva nova ou complementar. Assim como no estudo de caso, a

análise e a criatividade do pesquisador têm grande influência no enfoque do

estudo, especialmente porque os documentos pesquisados são uma fonte

ausente de reações. A pesquisa documental possibilita o estudo de pessoas a

que não temos mais acesso físico (GODOY, 1995).

74

Por suas características, este estudo adotará o estudo de caso como

estratégia de pesquisa. Segundo Yin (2001), o estudo de caso é adequado

quando se quer investigar como ocorrem certos eventos e fenômenos. No caso

do presente estudo, queremos investigar como ocorre o uso de capital social

em empresas. No mais, o fato de por tratar de fenômenos bastante atuais

também contribui para tornar o estudo de caso a ferramenta mais adequada

para a investigação.

75

3.2 – Unidade de investigação

Como unidade de investigação, foi selecionada uma das mais

importantes incubadoras tecnológicas da cidade do Rio de Janeiro: a

incubadora tecnológica do Instituto Gênesis da Pontifícia Universidade Católica

do Rio de Janeiro.

As empresas incubadas, por sua vez, foram selecionadas pelo critério

de acessibilidade, mas mantendo em mente buscar empresas atuantes em

diferentes ramos de negócios, para que as características do campo de

atuação das empresas não tivessem também uma influência nos resultados da

pesquisa.

Para cada uma das oito empresas incubadas, um sócio-fundador foi

entrevistado. Foi também realizada uma entrevista com um dos coordenadores

da incubadora.

76

3.3 – Coleta e análise dos dados

Inicialmente foram realizadas entrevistas telefônicas como forma de

adquirir um entendimento prévio das questões. O segundo passo foi realizar

entrevistas, todas feitas no Instituto Gênesis da PUC-RJ, no escritório de cada

uma das empresas pesquisadas. O tempo médio de duração das entrevistas foi

de 40 minutos. Posteriormente todas as entrevistas foram transcritas para

documento Word, gerando em média 14 páginas de texto cada uma.

O roteiro elaborado para as entrevistas buscou captar todo o processo

empreendedor, apesar de o estudo estar mais focado na fase posterior à

entrada na incubadora. Isso se deu porque a intenção foi de compreender

como a empresa se formou, de forma a entender o desenvolvimento do

negócio.

Para a análise de dados, foi utilizado o software Atlas/ti v5. O uso do

software possibilitou que as entrevistas transcritas fossem codificadas segundo

categorias existentes da literatura. No entanto, algumas categorias emergiram

diretamente da análise das entrevistas.

Para cada uma das empresas entrevistadas, uma linha do tempo foi

traçada com base no modelo apresentado no capítulo anterior. Esta linha do

77

tempo retrata as atividades e fases da empresa antes e durante o processo de

incubação e serviu como ferramenta auxiliar de análise dos dados. Para cada

uma das atividades, buscou-se observar quais recursos entre informação,

recursos financeiros, tecnologia e recursos humanos foram levantados pelo uso

de capital social.

78

3.4 – Limitações da pesquisa qualitativa

Manning (1979) aponta como uma das maiores limitações da pesquisa

qualitativa o fato dela basear-se na interpretação que deve ser feita da

linguagem dos textos ou entrevistas em estudo. Isto porque o contexto, o estilo

e o simbolismo, que são muito importantes na formação de argumentos, podem

não ser captados pelo pesquisador. Para tentar diminuir este problema, o texto

de estudo deve ser objeto de análise detalhada.

Outra aparente dificuldade enfrentada por pesquisadores no âmbito

qualitativo é a dificuldade na coleta e análise de dados. Normalmente, a

quantidade de material coletado é extensa, o que dificulta a análise. Além

disso, não existem convenções para os métodos de análise na pesquisa

qualitativa tão bem estabelecidas quanto às observadas na pesquisa

quantitativa. No entanto, deve-se ter em mente que qualquer tipo de pesquisa

envolve dificuldades na interpretação e avaliação de dados (DOWNEY &

IRELAND, 1979).

Outra dificuldade enfrentada na análise dos dados é estabelecer a

ordem temporal dos acontecimentos, porque é raro que o entrevistado relate os

fatos na ordem em que eles realmente aconteceram. A seqüência de eventos

muitas vezes tem que ser deduzida por frases e por fatos narrados de forma

fragmentada.

79

3.5 – Limitações da metodologia

Não se pode ignorar que a literatura utilizada neste trabalho sobre

capital social tem um viés cultural, principalmente porque o tema envolve

relacionamento entre diferentes indivíduos. Por isso, é válido ressaltar que

afirmações encontradas no texto podem não ser verdadeiras em outras

sociedades.

As entrevistas realizadas buscaram informações e esclarecimentos

sobre o passado das empresas pesquisadas, e eventualmente os dados exatos

deste passado não podem ser completamente recuperados ou podem ainda

sofrer influência de fatos mais recentes.

80

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

81

4.1 – Empresas do estudo

4.1.1 - Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis – PUC-Rio

A Incubadora Tecnológica funciona dentro do Instituto Gênesis,

formado a partir da inauguração pela PUC-Rio, em 1997, do Prédio Gênesis,

com o apoio do Citibank, do Sebrae, da FINEP e da FAPERJ. Este prédio foi

construído com o objetivo de sediar todo o processo de incubação.

Ainda em 1997, foi formada uma pré-incubadora de informática, a

Infogene, com o oferecimento de três disciplinas da área de

empreendedorismo, com foco em comportamento, finanças e planejamento. A

pré-incubadora de informática transformou-se na Incubadora Tecnológica

Gênesis, com capacidade para 20 empresas residentes, e criou-se o Programa

de Formação de Empreendedores da PUC-Rio, o PFE, que tem hoje 17

disciplinas. O Projeto Gênesis transformou-se em Instituto Gênesis (IG), sendo

o responsável pela coordenação de incubação e também do PFE.

A missão da Incubadora Tecnológica é:

“Transferir conhecimento da Universidade para a sociedade,

contribuindo para a inclusão social, a preservação da cultura nacional e a

melhoria da qualidade de vida da região através da formação de

82

empreendedores e da geração de empreendimentos inovadores auto –

sustentáveis.” (www.genesis.puc-rio.br – acesso em 25/10/2007)

O Prédio Gênesis possui 895,14 m² de área construída, distribuídos em

25 módulos e mais um Auditório para 30 pessoas. A infra-estrutura física do

Instituto Gênesis compreende o Prédio Gênesis, os Laboratórios de

Criatividade e o Núcleo de Estudos e Pesquisas.

As empresas podem permanecer no sistema de pré-incubação de seis

meses a um ano e no processo de incubação de dois a três anos. A incubadora

busca nos projetos candidatos produtos ou processos inovadores e a

possibilidade de formação de parcerias com outras empresas incubadas. Além

disso, a interação com os centros de pesquisa da PUC-Rio e com a própria

universidade são fundamentais no processo seletivo. A Incubadora acredita

que a busca dos candidatos pela incubação deve-se, fundamentalmente, à

credibilidade e à visibilidade que a marca PUC-Rio oferece, além da

possibilidade de estabelecer um vínculo com centros de pesquisa renomados.

A Incubadora Tecnológica presta hoje, como assessoria para as

empresas incubadas, os seguintes serviços:

Gestão de Pessoas: recrutamento e seleção, dúvidas e

questionamentos, carterinha PUC – Rio;

83

Jurídico: análise e elaboração de documentos jurídicos e dúvidas e

questionamentos;

Comercial: análise e aprimoramento do processo comercial e

disponibilização do banco de dados de contatos do Instituto Gênesis;

Comunicação: criação, assessoria de imprensa e redação de textos;

Relações Internacionais: contatos internacionais, busca de convênios

com universidades, auxílio na participação em concursos

internacionais;

Tecnologia e Informação: designação de técnicos para apoio em

apresentações, palestras; criação de IP; instalação de software e

hardware; manutenção de computadores;

Predial: serviços de recepção e limpeza, serviços de contínuo,

serviços de manutenção, suporte no xérox, segurança diurno/noturno;

Incubadora: consultoria e apoio para a captação de recursos e

acompanhamento.

Além disso, a Incubadora Tecnológica dispõe de pessoal e recursos de

análise para acompanhar o processo de incubação de cada empresa, tentando

sempre aperfeiçoar o desenvolvimento do negócio.

A incubadora vê que os maiores desafios das empresas incubadas são

ganhar legitimidade frente ao mercado e buscar expertise na área de gestão. A

associação da empresa ao Instituto Gênesis traz maior confiança para os

84

clientes destas, que percebem que os empreendimentos, apesar de novos,

passaram por um processo rigoroso de seleção.

Além disso, a assessoria comercial, que foi uma demanda dos sócios

das empresas incubadas, pode ajudar na busca de mercado para os produtos

fornecidos por estas empresas, tanto por busca ativa de clientes como pela

utilização do banco de contatos do Instituto Gênesis.

O contato dos empreendedores com a PUC-Rio para formação de

parcerias de pesquisa e ensino também é estimulado pelo IG. È muito

importante, para que isso aconteça, que algum dos sócios já tenha sido aluno

da PUC-Rio, pois isso facilita a formação de uma rede de contatos dentro da

universidade.

A incubadora tecnológica também se preocupa com a interação entre

os sócios das empresas incubadas, pois entende que a troca de experiências e

informações é um diferencial do ambiente de incubação a ser valorizado. Além

disso, a incubadora tenta promover encontros entre os empreendedores para

que estes possam perceber sinergias entre seus empreendimentos e isso

possa estimular parcerias.

85

4.1.2 - B-Mobile

A sócia-executiva, que se formou pela PUC em engenharia de

produção, trabalhava aqui no Brasil em uma empresa que desenvolve

conteúdo para celular, a Ntime, que também já foi incubada pelo Instituto

Gênesis. Ela então tirou uma licença para fazer uma pós-graduação no

exterior. Lá, durante um trabalho temporário na empresa GraceNote, entrou em

contato com um produto de identificação de música pelo celular comercializado

pela empresa. A empresa tinha a intenção de entrar no mercado brasileiro e

precisava do seu trabalho para fazer contato com empresas de

telecomunicações e gravadoras brasileiras.

A primeira idéia era construir um subproduto para a tecnologia de

identificação de música pelo celular, que ela chamou de FANet. O objetivo era

promover a interatividade entre os fãs de um artista por meio do telefone

celular, usando mensagens de texto, participando de debates ou recebendo

informações sobre seus ídolos. A partir do momento que um usuário pede a

identificação de uma música de determinado artista, ele tem a opção de entrar

para o fã-clube desse artista e usufruir as opções de entretenimento do FANet.

Voltando ao Brasil com o plano de negócios já preparado, chamou um

amigo que trabalhava junto com ela na Ntime, e que também tinha vontade de

abrir um empreendimento para a sociedade, com a função de desenvolver a

86

programação do produto. Só que no momento em que ela pediu demissão da

Ntime para abrir o novo empreendimento, o seu amigo não a acompanhou e

ela teve que contratar, com muita dificuldade, duas pessoas para fazer a

programação do produto.

A empresa foi fundada em 2005 e funcionou durante seis meses em

Copacabana, em uma sala alugada, antes de passar em primeiro lugar no

processo de seleção do Instituto Gênesis, em 2006. A empresa possui uma

sócia-executiva e um sócio-investidor, que é o pai da sócia-executiva. A busca

pela incubadora se deu para garantir credibilidade e visibilidade para a

empresa e facilitar suas negociações, já que a empresa está inserida em uma

cadeia de negócios em que estão presentes grandes empresas do ramo das

telecomunicações e da música.

Neste momento de entrada na incubadora, a empresa começou a

desenvolver um novo produto, o Booklog, que trata da publicação de textos

completos ou da criação de textos em comunidade na Internet. A idéia de

mudar para a plataforma web era a de justamente não depender mais de

outros participantes da cadeia de negócio, que até hoje ainda impossibilitam o

lançamento do FANet. O Booklog tem interface para usuários comuns e

também uma interface para escolas, que pode ajudar professores a

acompanhar o trabalho de seus alunos.

87

88

4.1.3 - Córtex Intelligence

Em 2002, um dos atuais sócios da Cortez Intelligence estava

finalizando o seu doutorado em Inteligência Artificial na PUC, trabalhando com

métodos qualitativos de análise, mais especificamente o tratamento automático

de textos. Na intenção de transformar esta tecnologia em produtos e serviços,

mais três pessoas foram convidadas a participar do empreendimento: uma

fazia na época Mestrado em Informática na PUC, e as outras duas eram da

área de gestão de negócios. O grupo se uniu para escrever um projeto para

captação de recursos a fundo perdido da FINEP, dedicando-se nas horas

vagas ao projeto.

A empresa entrou na incubadora na condição de pré-incubada, e os

sócios desenvolveram diversas aplicações diferentes para a tecnologia e

estudaram seus respectivos mercados, até concluírem que a melhor opção

seria investir em inteligência competitiva, principalmente pela experiência

prévia de dois sócios em consultoria. A Incubadora Tecnológica foi vista como

um bom ambiente para o desenvolvimento da idéia do negócio, ainda sem uma

definição clara.

Em setembro de 2004, a empresa lançou a Plataforma Córtex

Competitiva® em uma feira de Informática e ganhou, logo em seguida, o

primeiro Prêmio de Inovação em Inteligência Competitiva promovido pela

89

Associação Brasileira de Inteligência Competitiva, como o primeiro sistema

integrado nacional de suporte ao processo de Inteligência Competitiva. Isso

trouxe para a empresa visibilidade e o primeiro projeto com um grande cliente,

o Grupo Votorantim, além da possibilidade de continuar o desenvolvimento do

produto e da empresa. A plataforma, em 2006, foi primeiro lugar em todas as

categorias no HAREM, competição mundial de tecnologias de tratamento

automático de textos para língua portuguesa, promovida pela Linguateca.

A partir de 2006, com a empresa já melhor desenvolvida, todos os

sócios saíram de seus empregos e passaram a se dedicar em tempo integral

ao empreendimento. A empresa recebeu mais uma vez financiamento a fundo

perdido na FINEP, porém, neste período, a empresa começou a enfrentar

momentos difíceis, quando um dos seus maiores clientes não honrou o

pagamento dos serviços. No entanto, logo depois a empresa se recuperou, a

partir do fechamento de um contrato com as Lojas Americanas S.A. e,

posteriormente, com a Companhia Vale do Rio Doce e o Banco Bradesco S/A.

Na sua trajetória, a empresa desligou um dos sócios e, no ano de

2007, passou por reestruturações para estabelecer controles internos e um

processo comercial bem definido. A Córtex Intelligence investe ainda em

estudos sobre Inteligência Competitiva e já publicou artigos sobre

benchmarkings de empresas competidoras no assunto.

90

91

A empresa tem planos de criar produtos e serviços para a área de

Inteligência Competitiva com base na Internet, demonstrando a necessidade de

embarcar em um novo ramo de negócio.

92

4.1.4 - Dínamo DM

A Dínamo DM originou-se de outra empresa, a Delta T Consultoria,

criada em 1999 por dois empreendedores, que desenvolvia produtos e serviços

para marketing de relacionamento. A idéia veio de um dos sócios, que

trabalhava em uma empresa no Rio de Janeiro, e percebeu que o mercado de

marketing de relacionamento estava sendo sub-atendido. A partir do ano de

2000, a empresa começou a operar com o nome de Dínamo Data

Management. Ao final do seu primeiro ano de vida, a empresa já contava com

quase 100 funcionários e tinha como clientes empresas como Jornal o Dia,

Telemar, Banco Real e Vésper.

No ano de 2002, a empresa enfrentou um momento muito difícil, com a

morte de um dos sócios. A área técnica ficou completamente desestruturada e

a empresa falhou em honrar com os compromissos com seus clientes. Por

isso, em 2003, buscando facilitar sua reestruturação, a empresa entrou no

processo seletivo da Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis.

A empresa ainda enfrentou desafios na sua reestruturação, com a

entrada de dois novos sócios, que dificultaram muito a retomada dos contratos

com os antigos clientes e o estabelecimento de parcerias com outras empresas

ou ainda com a universidade e a incubadora. Só com a saída desses sócios e a

93

entrada de mais um sócio é que a empresa consolidou sua estrutura societária

e começou a retomar o seu crescimento.

Entre os principais produtos da empresa estão: o Data Quality, produto

focado em reduzir desperdícios e aumentar o foco em ações de Marketing de

Relacionamento; o Database Marketing (DBM), que permite obter

conhecimento e trabalhar na captação de prospects, além de analisar novos

mercados; e o Customer Relationship Management, que possibilita o

conhecimento de diversas informações dos clientes.

A empresa hoje atua nas regiões Sul, Sudeste e no Distrito Federal, e

já é considerada a maior no setor de Data Quality no Rio de Janeiro. Os

principais clientes atualmente são: Embratel, Ponto Frio, Losango, Sul América,

Banco Real, entre outros.

94

95

4.1.5 - E-create

A E-create é a realização de um desejo antigo de empreender de seu

sócio-fundador. Desde a escola, ele já se envolvia em projetos que tornassem

a aula mais divertida e interessante. A partir de experiências de trabalho no

IAG da PUC e da percepção da carência do mercado na área de Educação à

Distância, ele decidiu formar a E-create, que tem como foco o desenvolvimento

de soluções em forma de produtos, serviços e conteúdo para cursos de Ensino

à Distância.

O principal produto oferecido chama-se Universidade Virtual, e se

caracteriza por ser um espaço inovador de ensino e de aprendizagem e pela

capacidade de gerenciamento de cursos de e-learning. Um dos serviços

oferecidos pela empresa é o desenvolvimento de conteúdos interativos para

cursos de Ensino à Distância nos formatos Web, CD, DVD e TV. A empresa

oferece ainda serviços especializados para o ambiente Moodle, contando com

a parceria da Moodle Partner Brasil.

A entrada na incubadora se deu logo após a criação da empresa, e o

que motivou esta entrada foram os recursos que a incubadora oferece

exclusivamente para seus incubados e a proximidade com a universidade,

além da credibilidade e visibilidade que a associação à PUC oferece.

96

O sócio-fundador nunca conseguiu encontrar uma pessoa que se

comprometesse de fato com o empreendimento para convidar para a

sociedade, e por isso até hoje ainda não encontrou um sócio. Ele afirma que a

maior dificuldade de uma empresa nascente é a abertura para a entrada no

mercado, e para superar isso conta com a ajuda da nova assessoria comercial

da incubadora e de outra empresa de e-learning que está funcionando como

representante de vendas. Os clientes mais importantes da empresa hoje são

PUC-Rio, Grupo de Tecnologia em Engenharia de Petróleo (GTEP), Gavea

Sensors, entre outros.

97

98

4.1.6 - Prime Up

A Prime Up é formada por cinco sócios-executivos. Três deles se

conheceram na graduação, e sempre tiveram a intenção de possuir um

empreendimento próprio, tendo até mesmo já vivido a experiência de

incubação, por terem trabalhado em uma empresa incubada no Instituto

Gênesis. Os outros dois sócios, que faziam doutorado na época, entraram em

contato com os outros três fazendo Mestrado na PUC-Rio, já que todos se

encontravam constantemente no Laboratório de Engenharia de Software - LES.

Os sócios atendiam na época a demandas comerciais que chegavam

para o laboratório. A partir de 2007, observando a crescente demando por seus

serviços, entraram na Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis, a fim de

buscar profissionalização, mas permanecendo ainda conectados à

universidade e próximos de um centro de excelência em tecnologia.

O objetivo da empresa é ajudar seus clientes na implantação e

manutenção de qualidade na produção de software. Os principais produtos e

serviços da empresa – o Módulo Risk Manager, Prime|til e PEP (Perspectivas

do Engenheiro de Processo) – envolvem o diagnóstico do desenvolvimento de

software do cliente, capacitação profissional das equipes de desenvolvimento,

elaboração e implantação de um plano de ação segundo propostas de solução

e apoio da gestão de Tecnologia da Informação.

99

A empresa participou do evento RioInfo 2007 e ganhou o Prêmio

Solução RioInfo, o que trouxe uma boa visibilidade para a empresa, que ainda

tem como um de seus maiores desafios a busca por clientes. A empresa

mantém parcerias com a Fundação Padre Leonel Franca, com o Instituto

Gênesis e com a Módulo.

100

101

4.1.7 - PV Inova

A PV Inova surgiu da constatação dos sócios de que, atualmente, as

pessoas passam muito tempo de suas vidas em meios de transporte coletivos.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, a média do tempo de viagem em um

ônibus urbano é de 63 minutos, e este tempo pode ser visto como tempo livre.

Por isso, a empresa atua no desenvolvimento de produtos e serviços de

telecomunicações adaptados para veículos de transporte. O primeiro produto

da empresa baseia-se no fato de que, apesar de a grande maioria das pessoas

já possuir um aparelho de telefonia celular, mais de 80% destes aparelhos está

registrado em planos pré-pagos, que possuem preços elevados para o minuto

de ligação. Por isso, estes telefones são mais comumente utilizados para

receber chamadas. Para originá-las, as pessoas continuam utilizando telefones

públicos. Daí a idéia de criar o Telefone Público Veicular – o TÉLO – para

tornar mais prazeroso e produtivo o tempo despendido em transportes

coletivos. Com este mesmo objetivo, a empresa está também desenvolvendo o

seu segundo produto, a Televisão Digital Pública Veicular.

A oportunidade de desenvolver o negócio foi identificada por um dos

sócios-executivos durante o seu Mestrado em Engenharia na PUC. O outro

sócio-executivo, que na época fazia Mestrado em Administração no Canadá, foi

convidado a participar da empresa e, os dois, já no Brasil, começaram a

explorar a oportunidade, a partir do desenvolvimento de um plano de negócios

e a criação do primeiro produto, o TÉLO.

102

Os sócios-executivos, em 2005, após três meses de exploração da

oportunidade, buscaram a Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis da

PUC-Rio em busca de legitimidade e da possibilidade de trabalhar em parceria

com centros de excelência em pesquisa. Atualmente, outra empresa incubada

do Instituto Gênesis, a Minds at Work, é responsável pela Pesquisa e

Desenvolvimento na área de software e o Centro de Estudos em

Telecomunicações da PUC-Rio – CETUC – desenvolve a parte de pesquisa em

telecomunicações.

O TÉLO, no Brasil, precisa da parceria de uma operadora de telefonia

para funcionar nos veículos de transporte. Ele foi testado pela primeira vez em

Porto Alegre, em parceria com a Brasil Telecom. O segundo teste foi feito no

Rio de Janeiro, durante os XV Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro por

dois meses, em parceria com o Metrô: os ônibus de integração da linha

Siqueira Campos – Alvorada disponibilizaram o produto gratuitamente para o

usuário, através de uma autorização recebida pela Anatel e financiada pela

própria PV Inova. Ambos os testes foram bem-sucedidos e agora a empresa

busca uma operadora de telefonia celular para ser sua parceira no lançamento

definitivo do produto, que está previsto para janeiro de 2008.

Hoje a empresa possui três sócios-executivos, sete sócios-investidores

que formaram um pool de investimento e um investidor-anjo. Além disso, a

empresa foi uma das vencedoras do Programa de Subvenção Econômica a

Empresas da FINEP, recebeu uma linha de financiamento do BNDES

103

(FINAME) e foi uma das dez empresas selecionadas para o 15º Fórum FINEP

de Venture Capital. A PV Inova é uma empresa de inovação radical e tem

parcerias estabelecidas com empresas de renome como Brasil Telecom, Icatel,

Índio da Costa Design e Victum Design Técnico.

104

105

4.1.8 - Silicon Strategy

A idéia inicial para a formação da Silicon Strategy surgiu enquanto um

dos sócios trabalhava na Alcatel Telecomunicações S.A., e pode perceber a

que existia uma demanda não-atendida por aplicações de automação de

processos de gerência. Em 2004, após a rápida saída do outro sócio, ele

entrou em contato com outros dois amigos de faculdade que tinham montado

uma empresa de desenvolvimento de software, e foi então decidido unir as

duas empresas, com o convite de mais uma pessoa para a sociedade.

No ano de 2005, a Silicon Strategy começou a procurar uma

incubadora, com a objetivo de obter auxílio na sua gestão, e foi aprovada no

processo seletivo da Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis.

A empresa hoje é a primeira brasileira a trabalhar no desenvolvimento

de aplicações que auxiliam o processo de automação de redes de transmissão

de dados. Seus serviços estão relacionados ao desenvolvimento de sistemas

de software voltados à operação, manutenção e gerência de redes de

telecomunicações. Outro produto da empresa é o STW (Silicon

Telemanagement Workflow), que é capaz de definir e executar processos de

diagnóstico e resolução de falhas em redes de telecomunicações.

106

A Silicon Strategy trabalha com empresas que operam redes de

telecomunicações, como a Alcatel Telecomunicações S.A. e a Oi, mas vêm os

fabricantes de equipamentos de telecomunicações como bons canais de venda

para seus produtos, além de possuírem também prospecção comercial através

de representantes de vendas.

A empresa, a partir de 2006, começou a investir em pesquisa na área

de TV Digital e IPTV, e está com um crescimento acelerado. Os planos dos

sócios incluem uma expansão nacional da empresa até o ano de 2010, com

expansão para a América Latina depois.

107

108

4.1.9 - Superwaba

A empresa surgiu a partir do desenvolvimento da tecnologia por um

dos sócios. O outro sócio foi convidado para cuidar da parte administrativa da

empresa. A tecnologia desenvolvida é o SuperWaba, uma plataforma para

desenvolvimento de aplicações para PDAs (Personal Digital Assistants) e

SmartPhones.

A busca por uma incubadora de empresas resultou na entrada na

Incubadora Tecnológica do Instituto Gênesis, em 2005, onde os sócios

procuravam apoio de importantes centros de pesquisa e uma rede de contatos

que pudesse ajudá-los a gerar negócios, além de uma economia nos custos de

manutenção da empresa e consultoria na área de negócios.

Desde então, a empresa vem comercializando seus produtos na

Internet, o que lhes dá imensa vantagem, pois possibilita atingir o mercado

mundial, e hoje já são feitos downloads nos EUA e na Europa. A plataforma

atualmente é oferecida em dois pacotes distintos: o Comunitário e o

Profissional. O pacote Comunitário é gratuito, mas não possui tantos recursos

quanto o Profissional.

109

O grande diferencial da empresa Superwaba é que ela atua na

construção de uma máquina virtual Java de alta desempenho capaz de

funcionar na maioria dos palmtops de mercado e, além disso, oferece baixos

custos de manutenção e melhor performance nas aplicações.

Empresas desenvolvedoras criam seus programas utilizando a

máquina virtual SuperWaba, e estas parcerias já renderam produtos que são

utilizados por empresas como Shell, Net, Batavo, COPEL, CEMIG, entre

outras.

A empresa enfrenta alguns problemas de ordem legal por basear o

desenvolvimento de sua plataforma em um software livre, o que impede a

comercialização no formato que os sócios gostariam. Por isso, a empresa está

desenvolvendo novos produtos e mudando o seu modelo de negócios, na

tentativa de facilitar a comercialização de seus produtos e possibilitar o

crescimento do empreendimento.

110

111

4.2 – Análise e Discussão

4.2.1 – Intenção

Não se pode definir um padrão de intenção de empreender entre os

entrevistados. Em geral, os empreendedores disseram possuir vontade de ter

um empreendimento próprio, às vezes até como forma de saída do meio

corporativo.

Salvo o observado na Silicon Strategy, na E-create e na B-Mobile, os

empreendedores demonstraram precisar de bastante tempo entre o momento

da descoberta de uma oportunidade até a decisão de explorá-la. Na Córtex

Intelligence, por exemplo, passaram-se dois anos até que o produto fosse

lançado, porque, até então, nenhum dos sócios tinha abandonado suas

atividades para se dedicar ao desenvolvimento do produto.

E a gente começou a conversar nas horas vagas e, legal,

escrevemos o projeto e o projeto era exatamente isso, né? Transformar essa

pesquisa em algum produto, em alguma coisa que pudesse ser

economicamente aproveitada. O projeto FINEP, ganhamos, aportou 100 mil,

fundo perdido, então nem o principal precisava ser pago de volta. E

começamos meio que part-time, eu lá na Accenture viajando pra SP e

Salvador, o Daniel aqui terminando a faculdade, o Christian terminando o

doutorado, o Daniel Marreco terminando o mestrado [...].

112

Isso pode ser atribuído a uma intenção ainda fraca de fundar um

empreendimento e parece estar associado à necessidade de um período de

maturação da oportunidade e do empreendedor. Segundo Krueger Jr, Reilly &

Carsrud (2000), a intenção está sempre presente em sócios de negócios

nascentes, o que varia é o tempo de lançamento deste novo empreendimento.

A literatura descreve que existem fatores cognitivos comuns a pessoas

com perfil empreendedor, como processos mentais diferenciados que fazem

com que as formas de obter, armazenar e transformar informações sejam

favoráveis à realização de tarefas relacionadas ao empreendedorismo. Como

outras características têm-se também: tendência otimista, ilusão de controle e

planejamento, necessidade de auto-realização, auto-confiança e um alerta

empreendedor, capaz de perceber mudanças e desequilíbrios de mercado

(BARON, 2000).

Estas características fazem com que empreendedores busquem

ativamente uma oportunidade para explorar. Era comum que essas pessoas,

ao saírem da graduação, já buscassem oportunidades a serem exploradas. A

intenção de empreender parece se fortalecer quando o empreendedor entende

que pode minimizar os riscos de um novo negócio instalando-se em uma

incubadora.

113

A influência do histórico familiar e da universidade onde o

empreendedor estudou parecem ser fatores a serem considerados na intenção

de empreender (SCHERER, BRODZINSKI & WIEBE, 1991; ANDERSON &

MILLER, 2003). No Brasil, o empreendedorismo tem crescido nos últimos anos,

com o envolvimento de universidades provendo o ensino do

empreendedorismo, com a criação de incubadoras de empresas -

principalmente as de foco tecnológico, despontando como pólos de inovação

(DORNELAS & TIFFIN, 2002).

Um dos sócios da Dínamo DM, por exemplo, tem entre seus familiares

pessoas que possuem negócios próprios e, por isso, ele acredita que teve uma

criação voltada para o empreendedorismo.

Os meus pais têm empresa desde que eu tenho seis anos. Meu pai é

fisioterapeuta, minha mãe é professora de artes. Eles tiveram uma confecção,

uma loteria, um albergue. Eu acho que é exemplo, como eu fui criado. Eu não

fui criado, eu não sei, não é que eu não saiba, eu trabalho bem, mas eu sou

absolutamente insubordinado.

A universidade em que os empreendedores se formam também pode

ter uma participação no despertar da intenção de empreender. Foi assim com

um dos sócios da Silicon Strategy, que teve a influência da família e também

do Instituto Militar de Engenharia (IME).

O empreendedor, ele talvez tenha algumas pessoas tenham isso no

sangue de gostarem da coisa e tudo o mais, mas eu acho que é muito

114

importante a influência pessoal ao longo do seu processo de formação. Nós

em particular, os três que são de computação, [...] nós sofremos um processo

de influência razoável dentro da nossa formação no próprio IME. Eu já tive

isso antes, até de família mesmo, meu pai sempre teve comércio, minha mãe

sempre foi vendedora, isso de alguma forma não duvido nada que tenha me

influenciado, mas no IME em particular, [...] pra mim foi um processo que

consolidou eu montar isso.

115

4.2.2 – Busca e descoberta de oportunidades

Nesta fase do processo, grande parte dos empreendedores estava

trabalhando em empresas, geralmente em áreas relacionadas àquela em que a

futura empresa incubada iria atuar. Alguns empreendedores puderam perceber

falhas de mercado trabalhando nessas empresas e, depois da abertura do

empreendimento, passaram a prestar serviços iniciais para as empresas onde

trabalharam anteriormente. Foi o caso da Dínamo DM:

Ele tinha, o Fábio hoje teria uns 39, 40 anos e ele já trabalhava com

isso, então ele trabalhava em outra empresa com isso e ele viu que tinha uma

deficiência, esse mercado tinha deficiências muito graves e que ninguém

estava cobrindo. E começaram a conversar os dois com mais outras duas

pessoas e se juntaram num grupo de quatro pra atender esse mercado [...]

Um dos sócios da Silicon Strategy trabalhava na Alcatel

Telecomunicações e percebeu que poderia abrir uma empresa para

desempenhar o trabalho que ele estava realizando e continuar prestando

serviço para a Alcatel e ainda para outras empresas interessadas.

Outra parte dos empreendedores, nesta fase, estava realizando

pesquisas, trabalhando em laboratórios e, a partir dessas pesquisas, puderam

criar produtos e serviços inovadores com valor comercial. Esse foi o caso da

Córtex Intelligence, em que um dos sócios desenvolveu, durante o doutorado, a

116

tecnologia de text mining, que passou a ser comercializada pela empresa na

forma de consultoria de Inteligência Competitiva. A Superwaba também é

produto do desenvolvimento, por um dos sócios, de uma plataforma para

PDAs.

A criação do empreendimento se dá como alternativa para a

exploração comercial da tecnologia gerada. Nestas empresas, era mais comum

que o início do empreendimento ocorresse próximo ou simultâneo à incubação

da empresa. Isso porque empreendedores ligados à parte técnica do

desenvolvimento da oportunidade, em geral, tinham mais receio em

desenvolver o negócio, e já procuravam inicialmente a incubadora. A

proximidade entre a incubadora e a universidade também pode ter contribuído

para esta observação.

Um melhor posicionamento dentro da rede pode render a um indivíduo

informações sobre uma oportunidade única, por causa das imperfeições do

mercado na distribuição de informações. A busca e descoberta de

oportunidades encaixam-se no modelo de Lin (1999), que mostra que a

desigualdade gerada por diferentes níveis culturais, educacionais, industriais e

de tecnologia, além de posições diferentes na rede, gera acesso e uso do

capital social de forma também diferenciada. A mobilização de recursos através

desta capitalização resulta em um efeito (LIN, 1999) que, nesta fase do

processo empreendedor, foi o levantamento de informação privilegiada e, com

isso, a geração de uma oportunidade para a abertura de uma nova empresa.

117

Durante as entrevistas, foram percebidas duas situações distintas

envolvendo a descoberta de oportunidades, todas envolvendo, em maior ou

menor extensão, o uso do capital social.

1- Sócio, em geral, apresenta perfil empreendedor e busca, durante a

sua trajetória de desenvolvimento profissional, encontrar uma falha de mercado

como oportunidade para empreender. O acesso se deu, portanto, por contatos

da rede profissional do empreendedor.

2- Sócio, em geral, não apresenta um perfil empreendedor, mas como

pesquisador, desenvolve uma tecnologia ou trabalha em laboratório com uma

tecnologia com potencial comercial. O acesso se deu, também, por contatos da

rede profissional do empreendedor.

118

4.2.3 – Decisão de explorar

A fase relativa à decisão de explorar revelou-se difícil e importante

para grande parte dos empreendedores. E ela muitas vezes perdurou além da

abertura do empreendimento. Isso porque quando se trata da decisão de

explorar um novo empreendimento, deve-se ter em mente dois fatores que irão

influenciar essa decisão: a natureza da oportunidade e as características do

empreendedor. A natureza da oportunidade é identificada pelo valor esperado

de retorno menos os custos, que envolvem até mesmo o custo do tempo do

indivíduo. As características do empreendedor envolvem a percepção do custo

de oportunidade (o indivíduo compara a oportunidade com outra situação

alternativa), o custo de aprendizado e o custo dos recursos (SHANE &

VENKATARAMAN, 2000). O empreendedor que possui laços fortes com

provedores de recursos, podendo com isso acessar com mais facilidade estes

recursos, terá uma probabilidade maior de explorar uma oportunidade

(ALDRICH & ZIMMER apud SHANE & VENKATARAMAN, 2000), assim como

a transferência de informações de experiências anteriores também aumenta

essa probabilidade, pois diminui os custos de aprendizado (COOPER, WOO, &

DUNKELBERG apud SHANE & VENKATARAMAN, 2000)

Por isso, sócios sem histórico ou perfil empreendedor demoraram

muito mais para tomar a decisão de explorar o empreendimento, precisando de

mais tempo para amadurecer como empreendedores e de mais informações

para tornar os custos da exploração da oportunidade menores. Isso pode ser

119

visto pela dificuldade de alguns sócios de sair de seus antigos empregos para

se dedicar integralmente às atividades do novo empreendimento, como foi o

caso da Superwaba. Os dois sócios trabalhavam juntos e um deles pediu

demissão para trabalhar no desenvolvimento da tecnologia, enquanto o outro

explorava a parte gerencial do empreendimento, mas ainda mantendo o seu

emprego.

Normalmente, a decisão de explorar dos empreendedores esteve

associada à busca de um sócio, que pudesse suprir necessidades técnicas do

novo empreendimento. Alguns empreendedores com formação na área

tecnológica buscavam sócios capazes de gerir a empresa. Da mesma forma,

outros empreendedores com formação na área de gestão procuravam sócios

com domínio da tecnologia. Ou seja, os sócios procuraram, em geral, convidar

para a sociedade indivíduos com competências complementares às suas.

Outros empreendedores estabeleceram sociedade com indivíduos da

mesma área técnica, pessoas de estreito convívio particular, na tentativa de

obter apoio para o desenvolvimento do empreendimento.

Esta relação normalmente envolvia também confiança, característica

que se revelou extremamente importante nas relações de sociedade de um

empreendimento. A sociedade se dava, portanto, com indivíduos da rede

particular dos empreendedores, basicamente amigos antigos, que muitas vezes

120

passaram a ser também colegas de trabalho em empresas ou em laboratórios

da universidade.

Portanto, os recursos acessados nesta fase do processo

empreendedor usando capital social foram apoio para o desenvolvimento do

negócio, informação e conhecimento.

121

4.2.4 – Atividades de exploração

Nesta fase, as atividades realizadas pelos empreendedores são as

mais diversas, como procura por uma sede comercial ou por uma incubadora,

contratação de colaboradores, busca por informações sobre a área em que a

empresa poderia atuar ou sobre demandas do mercado, elaboração do plano

de negócios, entre outras.

Um dos esforços mais importantes relatados nas entrevistas foi o

desenvolvimento do plano de negócios do novo empreendimento. Todas as

empresas elaboraram um plano de negócios, por fazer parte do processo

seletivo para a entrada no Instituto Gênesis. Para isso, os empreendedores

tinham que levantar quantidades muito grandes de informações diversas, como

pesquisas de mercado, viabilidade do negócio, contato com outros

participantes da cadeia de negócio, entre outros. Vale lembrar que, em

algumas empresas, esta tarefa tornava-se mais árdua pela falta de

conhecimento dos sócios na área de negócios, aumentando ainda mais a

necessidade de informações para a construção deste plano.

Havia ainda a necessidade de viabilizar o produto que, em alguns

casos, era ainda uma tecnologia sem aplicação específica que precisava ser

aproveitada por algum ramo de negócio. Esta atividade requeria mais

informações ainda, para descobrir qual seria a melhor e mais rentável

122

aplicação daquela tecnologia, dentre as opções. Foi o caso da Córtex

Intelligence, já que a tecnologia de text mining poderia gerar vários aplicativos

diferentes, como um filtro anti-spam, uma ferramenta de web-filtering pra

controlar a navegação de sites em uma empresa, um software de gestão de

documentos ou um software de inteligência competitiva.

A realização de atividades de exploração foi, em alguns casos como o

da Superwaba, bastante lenta, pela falta de comprometimento integral dos

empreendedores, que receavam muito em sair de seus empregos para buscar

a abertura do empreendimento.

Os recursos mais importante nessa fase do processo empreendedor

foram, nos casos analisados, a informação e o apoio emocional. E o capital

social mostrou-se uma importante forma de acesso à informação nas empresas

em estudo, pois ele facilita o fluxo de informações (LIN, 1999, UPHOFF, 2000).

Além disso, o apoio emocional também já foi descrito na literatura como

determinante nas primeiras fases do desenvolvimento de um negócio

(KRACKHARDT apud GREVE & SALAFF, 2003)

Na empresa PV Inova, por exemplo, a rede de contatos pessoais dos

empreendedores foi importante para o desenvolvimento do plano de negócios

da empresa, além de também terem sido primordiais para o design do produto.

Na verdade, não só a rede de contatos pessoais dos empreendedores, mas

123

também a rede pessoal de contatos de seus familiares, principalmente os pais

e os primos, e de outros amigos. Nesta fase, a rede particular do

empreendedor revelou ser não somente fonte de acesso à informação, mas

também uma forma de previsão de sucesso do empreendimento.

Os empreendedores da PV Inova revelaram que o capital social que

eles possuem foi vital para a exploração do negócio, pois eles possuem

parentes muito bem relacionados que puderam gerar contatos importantes para

aconselhá-los quanto a melhor forma de explorar o negócio. Eles comentaram

sobre a falta de cultura empreendedora no Brasil, ou seja, a falta de costume

de empreender ou de estímulo e procura pelo empreendedorismo, também

comentada por Lalkala (2003), que acredita que para reverter este quadro é

necessário envolver a comunidade no desenvolvimento do empreendedorismo

e de transformações culturais. Enquanto isso, as redes de relacionamento

pessoais dos sócios continuam sendo determinantes para o sucesso de um

empreendimento nascente, pois a falta de apoio do governo e do setor privado

é suplantada pelos recursos acessados via rede pessoal de contatos dos

empreendedores.

124

4.2.5 – Atividades genéricas empresariais

Estão compreendidas nesta fase atividades empresariais comuns após

a entrada na incubadora, que pode coincidir com o início do empreendimento.

Em geral, as empresas buscam recursos diversos neste momento. Porém,

mais freqüentemente, recursos humanos e financeiros. Pela proximidade com a

universidade, utiliza-se muito a contratação de estagiários ou alunos de pós-

graduação, o que facilita, em muitos casos, a busca por mão-de-obra. No caso

dos recursos financeiros, os editais públicos buscados em conjunto com a

universidade representam um tipo de recurso financeiro a mais para as

empresas incubadas.

As empresas estabelecem também acordos neste período para o

desenvolvimento de pesquisa. Isso acontece sob a forma de parcerias com

diferentes departamentos da universidade ou sob a forma de orientação de

alunos de pós-graduação, que desenvolvem seus trabalhos de conclusão na

linha de atuação da empresa incubada. No Brasil, mais de 12% dos

funcionários de incubadoras são financiados por agência de fomento

(LALKAKA & ABETTI, 1999). A proximidade da faculdade possibilita ainda que

muitos dos sócios das empresas incubadas continuem seu desenvolvimento

profissional buscando cursos de pós-graduação, muitas vezes para ajudar as

atividades de pesquisa da empresa, e sem comprometer a sua dedicação ao

negócio. Em suma, a proximidade da universidade possibilita que estas

empresas tenham uma parcela de mão-de-obra qualificada sem custos e ainda

125

que os sócios aumentem seus níveis de capital humano. A continuidade do

relacionamento com a universidade ainda possibilita a manutenção de laços

formados anteriormente e a formação de novos laços, aumentando as redes de

contato dos empreendedores, o que é importante principalmente para o

desenvolvimento de pesquisa.

Os serviços de assessoria oferecidos pela incubadora mostraram ser

de valia para os novos empreendimentos, pois ajudam no crescimento e

desenvolvimento do negócio e os empreendedores afirmam pagar menos do

que pagariam fora da incubadora pelo mesmo serviço, Além disso, eles

recebem orientação quanto a que tipo de serviço pode ajudar em cada

momento. No entanto, os sócios das empresas estudadas comentaram que a

incubadora tem dificuldade em assessorar as empresas na obtenção de apoio

financeiro, como mais de 60% das incubadoras no mundo (AERNOUDT, 2004).

Os empreendedores têm acesso a vários tipos de assessoria pela

própria incubadora. As empresas B-Mobile e Dínamo DM citaram como sendo

fundamental a assessoria jurídica. Já a E-create destacou o trabalho da

assessoria de recursos humanos e, mais recentemente, da assessoria

comercial. No entanto, é válido ressaltar que os sócios da Silicon Strategy e da

Prime Up chamam atenção para o fato de que a incubadora não cuida da

empresa sozinha; o planejamento para a utilização dos serviços prestados pela

incubadora deve ser feito pelos próprios sócios.

126

A proximidade da universidade traz uma grande vantagem para as

empresas incubadas, como a E-create, a Córtex Intelligence e a B-mobile, que

usam a assessoria de recursos humanos da incubadora ou ainda seu contato

com professores da universidade, para atrair alunos da universidade para

trabalhar nestas empresas. Muitas vezes estes alunos estão envolvidos em

projetos de pesquisa que funcionam com recursos financeiros de editais

públicos. Desta forma, as empresas podem contar com pessoas de

capacitação elevada, algo que não é comum em empreendimentos nascentes,

devido à falta de recursos. Esta constatação está de acordo com o trabalho de

Rothaermel e Thursby (2005), que prevê a utilização de incubadoras para

facilitar o fluxo de informações e capital humano da universidade para a

incubadoras, melhorando o desempenho de empresas incubadas.

No entanto, nem todas as empresas desfrutam desta facilidade no

acesso à mão-de-obra especializada. Nas empresas Superwaba e Silicon

Strategy, em que os sócios não eram alunos da PUC até a entrada na

incubadora tecnológica, os sócios têm bastante dificuldade em recrutar alunos

da PUC. Eles atribuem esta dificuldade ao fato de não terem muito contato com

os professores da instituição e de também não desenvolverem esforços de

pesquisa em parceria com a PUC, estando assim mais distantes dos alunos. O

fechamento em grupos e comunidades impede o acesso de pessoas de fora do

grupo (BOURDIEU, 1980) e prejudica o fluxo de informações e a busca e

obtenção de novos recursos (LIN, 1999). Mas facilita o relacionamento das

pessoas que estão dentro do grupo, melhorando a relação de confiança entre

127

elas (COLEMAN, 1990), e ainda ajuda a manter os recursos existentes dentro

do grupo (LIN, 1999).

O aporte de recursos financeiros é muito importante nesta fase do

empreendimento, e o relacionamento com a universidade, mais uma vez, dá às

empresas incubadas a possibilidade de participar de editais públicos, o que

significa uma importante fonte de recursos para estas empresas,

principalmente no que tange a pesquisa e o desenvolvimento de produtos. No

entanto, as empresas Superwaba e Silicon Strategy, mais uma vez, não

conseguem desfrutar de parcerias nestes tipos de editais com a universidade,

por não terem contato com professores que possam endossar estes projetos,

Os sócios acabam recorrendo para as suas universidades de origem para

conseguir participar dos editais.

Outros tipos de acesso também são utilizados no aporte de recursos

financeiros, como as redes de contatos pessoais. A PV Inova conseguiu os

primeiros aportes de recursos financeiros através de um investidor-anjo,

inicialmente, e depois com a formação de um pool de investidores, onde os

participantes eram familiares e amigos próximos dos sócios. Esta forma de

investimento é apontada por Aernoudt (2004) como uma solução para o

problema de financiamento de empresas nascentes, mas a iniciativa de formar

uma base de investidores-anjo e pools de investidores deve ser da incubadora,

para que todas as empresas residentes possam desfrutar desta fonte de

recursos.

128

A própria incubadora pode ser considerada uma fonte de recursos

financeiros já que, se as empresas estiverem enfrentando momentos difíceis

financeiramente, a incubadora pode reavaliar a forma de cobrança da

mensalidade, mostrando uma flexibilidade para pagamentos que possivelmente

não se veria em espaços fora do ambiente de incubação.

Outra importante contribuição do capital social nesta fase do

empreendimento é o acesso a informações, buscado nas outras empresas

incubadas. O ambiente de incubação permite que as empresas troquem

histórias e discutam conhecimento referente ao processo de incubação, à

participação em editais públicos e à experiência de empreender. Neste

momento também as empresas podem contar com os outros empreendimentos

incubados para criar e explorar sinergias, minimizando seus custos iniciais

através da combinação de recursos, serviços e habilidades (ALLEN &

RAHMAN, 1985).

Bollingtoft e Ulhoi (2005) acreditam que a incubadora é responsável

por compensar as falhas e imperfeições do mercado, diminuindo o custo de

informação e suprindo a falta de assistência e financiamento. No entanto,

mesmo com todo o apoio em forma de assessorias da incubadora, o capital

social ainda é importante para ajudar na compensação destas falhas de

mercado.

129

A confiança é importante nos relacionamentos estabelecidos entre os

sócios. Os sócios da Prime Up acreditam que a confiança entre eles é

absolutamente essencial para o sucesso do negócio, e o sócio da E-create

nunca conseguiu achar uma pessoa que pudesse fazer parte da sociedade da

empresa com ele. Isso porque ele acredita que esta decisão é crucial e requer

o comprometimento máximo da pessoa a ser convidada com o

empreendimento.

E os contatos gerados pelo capital social do empreendedor também

podem ter um lado negativo. Dois novos sócios, amigos pessoais do sócio mais

antigo, foram chamados para a Dínamo DM para ajudar a empresa a se

reestruturar em um momento bastante difícil. Eles, no entanto, foram

responsáveis pela perda de contratos e pelo término de parcerias importantes,

além de terem prejudicado bastante o relacionamento da empresa com a

incubadora.

130

4.2.6 – Vendas Iniciais

Esta é uma atividade bastante complicada para as empresas

nascentes. Neste momento, elas começam a fazer um mapeamento do seu

mercado e precisam contar com todo tipo de ajuda possível para começar a

comercializar seus produtos. Além disso, a partir do momento em que as

vendas começam a ser realizadas, as empresas podem adequar a capacidade

produtiva à demanda, que normalmente cresce com rapidez.

Nesta fase do empreendimento, a principal participação do capital

social se dá na forma de acesso ao mercado. Isso acontece porque os

empreendedores utilizam suas redes de contatos pessoais e profissionais para

gerar negócio, conseguindo contato com seus clientes usando indicações

dessas redes.

Além disso, outras formas de contato também se revelaram

importantes. A Superwaba, que é uma empresa de desenvolvimento de

plataformas para PDAs (Personal Digital Assistant), faz grande parte de suas

vendas hoje pela Internet. Essa estratégia mostrou-se de extrema importância

para esta empresa, já que o sócio alega não ter muitos contatos nesta área, o

que torna mais difícil a busca por clientes.

131

Em algumas empresas, os sócios afirmam que a inserção no mercado

é uma das tarefas mais difíceis em um novo empreendimento. Na Silicon

Strategy, por exemplo, os empreendedores garantem que a dificuldade de

estruturar uma rede de relacionamento se deve principalmente a pouca idade

deles. Logo, apesar de terem altos níveis de capital humano, os

empreendedores necessitam de mais tempo para encontrar uma posição

vantajosa na rede. Além da idade, outros fatores podem atrapalhar a confecção

de uma boa rede social para as vendas iniciais da empresa, como a área de

formação do sócio e suas características relacionais.

Enquanto isso, tanto eles quanto os sócios de outras empresas, como

a Córtex Intelligence e a E-create, estão fazendo uso de representantes de

vendas para conseguir contatos dentro de potenciais clientes, já que a rede de

relacionamentos pessoal dos sócios não é adequada para as vendas iniciais. O

uso da rede de contatos de representantes de vendas profissionais pode ainda

conferir legitimidade ao negócio, pela experiência que têm no ramo. Uma das

funções das incubadoras, segundo Bollingtoft e Ulhoi (2005) é prover

legitimidade e ajudar no reconhecimento da empresa no mercado. A

Incubadora Tecnológica é procurada pelas empresas principalmente pela

legitimidade que o nome da universidade dá, mas a inserção no mercado ainda

é mais difícil.

Além disso, as próprias empresas incubadas também são fonte de

acesso a futuros clientes. Empresas como a B-Mobile e a Prime Up já

132

utilizaram a ajuda de outras incubadas para conseguir contatos comerciais.

Logo, além da assessoria comercial, onde a incubadora disponibiliza a sua

rede de contatos e mais a rede de ex-alunos da universidade e a rede de

contatos profissional de seus consultores, ainda há a possibilidade de

conseguir contatos comerciais com as outras empresas incubadas. Esse tipo

de cooperação e troca de experiências é muito importante para ajudar o

desenvolvimento inicial das empresas incubadas, mas é necessário que a

incubadora sempre estimule a interação de suas empresas residentes

(AERNOUDT, 2004).

Outra forma que as empresas incubadas usam para chegar mais perto

de seus clientes é a participação em eventos e congressos. Algumas dessas

participações já renderam prêmios para a Córtex Intelligence e para a Prime

Up. A Córtex Intelligence ainda utiliza outra opção na sua estratégia comercial,

que envolve a publicação de artigos sobre inteligência competitiva, o que acaba

chamando atenção de clientes potenciais para o trabalho que desenvolvem.

Somente duas empresas incubadas, a Prime Up e a E-create

mencionaram a incubadora como fonte de acesso a contatos comerciais,

provavelmente porque a iniciativa de assessoria comercial ainda é muito nova

no Instituto Gênesis. A maioria das empresas incubadas acredita que a rede de

contatos comerciais gerada pela incubadora não é satisfatória. Nesse momento

de acesso ao mercado, muito importante para a viabilização do negócio, o

133

capital social fica sendo então o maior responsável pelo estabelecimento de

contatos comerciais.

134

4.2.7 – Desenvolvimento de produtos

O desenvolvimento de produtos normalmente é iniciado antes da

formalização do empreendimento ou da entrada na incubadora e, por isso,

muitos empreendedores ainda mantêm seus empregos, não se dedicando

integralmente à exploração da oportunidade. Muitos dos produtos

comercializados hoje pelas empresas incubadas passaram por uma fase de

desenvolvimento dentro da própria empresa, em que os próprios sócios

desenvolveram a tecnologia; somente a PV Inova terceirizou o

desenvolvimento de seu produto.

O modelo de negócios da empresa fica mais bem definido a partir do

desenvolvimento de produtos, quando variáveis como preço e público-alvo vão

sendo definidas e o plano de negócios da empresa torna-se mais sólido. Por

isso, essa fase é crucial para que a empresa desenvolva-se de forma

planejada.

Na fase de desenvolvimento de produto, o recurso mais importante é a

tecnologia. No entanto, como os empreendedores passam por uma avaliação

de seus planos de negócios antes de serem admitidos na incubadora

tecnológica do Instituto Gênesis, eles normalmente já possuem um produto

pronto, ou em andamento, resultado da aplicação de uma tecnologia inovadora

e de acordo com o que a incubadora procura entre os candidatos. A única

135

exceção é a Superwaba, que ainda está ainda em fase de desenvolvimento de

seu produto inicial, por estar enfrentando questões legais quanto à

comercialização deste, uma plataforma baseada em um software livre.

Esses produtos e/ou serviços ainda sofrem aprimoramentos nas

empresas incubadas, e para tal o recurso principal a ser utilizado é a tecnologia

e as fontes de acesso são variadas. A B-Mobile pôde contar com a ajuda das

próprias companheiras de incubação para obter informações sobre falhas em

seu produto. Os sócios da PV Inova contaram com contatos de pessoas

influentes na Brasil Telecom para ajudá-los a fazer o primeiro teste do Télo na

cidade de Porto Alegre e o sócio da E-create conseguiu uma base sólida de

conhecimento em e-learning através de professores e projetos desenvolvidos

na PUC. Neste momento do desenvolvimento da empresa, nota-se que os

laços fracos vão ganhando mais importância e, como a empresa já está

formalizada, relações que se iniciaram baseadas em laços fortes necessitam

agora de formalização através de contratos (HITE & HESTERLY, 2001).

A incubadora é um contato importante nesta fase, pois facilita o fluxo

de informações e capital humano da universidade para as empresas, gerando

assim um diferencial competitivo (ROTHAERMEL & THURSBY, 2005). As

incubadoras universitárias têm como objetivo transformar a tecnologia gerada

na universidade em produtos e serviços para a sociedade (BOLLINGTOFT &

ULHOI, 2005), como foi confirmado pela coordenadora da Incubadora

Tecnológica do Instituto Gênesis. No entanto, o capital social continua tendo

136

um papel importante no acesso destas empresas ao estabelecimento de

parcerias.

137

4.2.8 – Continuidade do negócio

Para a fase de continuidade do negócio foram consideradas as

atividades normais da empresa, não mais relacionadas ao início do

desenvolvimento do empreendimento após a entrada na incubadora. Apesar de

tratarem muitas vezes de questões semelhantes, nesta fase a empresa já

possui um maior nível de amadurecimento e normalmente já tem produtos

rentáveis no mercado.

A atividade mais comum nessa fase é a busca por novos produtos,

que se dá através de esforços na área de Pesquisa e Desenvolvimento,

facilitados pela proximidade com a universidade. Além disso, o investimento em

P&D gera a contínua renovação dos produtos já existentes.

Existe também uma busca intensiva por novos investimentos que

possam sustentar o crescimento da empresa, já que muitas nessa fase já estão

começando a se preparar para deixar a incubadora. Apesar disso, muitas

empresas ainda buscam parcerias com outras empresas incubadas, mais uma

forma de alavancar o crescimento da empresa. Para acompanhar o

crescimento, a busca por recursos humanos é contínua.

138

Uma das maiores preocupações, no entanto, é a estruturação da área

de vendas da empresa. Passada a dificuldade inicial de entrada no mercado,

nesta fase os empreendedores começam a focar em ações comerciais bem

definidas após a formulação de metas e diretrizes para a área. Algumas

empresas até mesmo já possuem representação de vendas no mercado.

Os recursos necessários nestas atividades são ainda bem semelhantes

aos das atividades anteriores do modelo, e o capital social continua sendo uma

importante forma de acesso a estes recursos. A tecnologia, por exemplo, é

acessada principalmente através da ligação com a universidade, e os projetos

de Pesquisa e Desenvolvimento se tornam mais freqüentes, tanto na busca por

novos produtos e serviços, quanto no aprimoramento contínuo de produtos e

serviços existentes, como é o caso da PV Inova, com sua parceria com o

CETUC-PUC, e da Prime Up, com sua parceria com o Laboratório de

Engenharia de Software da PUC. Vale lembrar que estas parcerias estão

sempre acompanhadas da possibilidade de participar de editais públicos de

pesquisa, o que significa aporte de recursos financeiros para estas empresas.

Parcerias que passam a ser muito importante são as formadas entre

as empresas incubadas. A Minds at Work, empresa também incubada no

Instituto Gênesis é quem desenvolve a pesquisa na área de informática para a

PV Inova. A Dínamo DM formou parceria para geração de tecnologia com a

Córtex Intelligence, e ainda tem projetos em vista com outras empresas

incubadas, como a Ideais, a Milestone e a Superwaba.

139

Ainda existem outras formas de acesso na busca por tecnologia, como

ocorre com a PV Inova e com a Superwaba. A PV Inova contratou como um de

seus diretores uma pessoa com vasta rede de relacionamento na mídia, o que

gera para eles bons contatos para o desenvolvimento de seu segundo produto,

a televisão para ônibus. A Superwaba conseguiu fechar uma parceria para

desenvolvimento de tecnologia com uma empresa americana, e o contato entre

essas empresas foi todo feito a partir da Internet.

Além do recurso tecnologia, o recurso humano continua sendo

bastante importante nesta fase do empreendimento e nas empresas incubadas,

como a Dínamo DM e a Prime Up, a maior parte dos funcionários presentes na

empresa foi contratado através de contato com a PUC.

O acesso a contatos com clientes potenciais continua sendo

importante para as empresas, e ainda são acessados principalmente pelas

redes de relacionamento pessoais e profissionais dos sócios. O

amadurecimento da empresa associado à incubação traz legitimidade, e

empresas como a Córtex Intelligence e a Dínamo DM já gozam de um nome

reconhecido no mercado, o que facilita muito o desenvolvimento de acordos

comerciais. Além disso, as empresas já começam a ser indicadas por seus

próprios clientes ou ainda conseguem vendas recorrentes.

140

Outro importante recurso, também necessário em outras fases de

desenvolvimento da empresa, é a informação. Os empreendedores começam a

necessitar muito de informação para desenvolver o planejamento do futuro da

empresa, e continuam recorrendo a suas redes de relacionamento pessoais e

profissionais. O estreitamento de laços da empresa com a universidade

possibilita ainda a utilização dos professores como fonte de informações e os

consultores da incubadora também são ainda muito importantes no

desenvolvimento do negócio.

141

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA

FUTURAS PESQUISAS

142

A partir dos resultados obtidos, pode-se retornar aos objetivos iniciais

do trabalho e concluir sobre o uso do capital social em empresas incubadas.

Cada uma das empresas estudadas mostrou um perfil diferente na

aplicação do modelo conceitual, o que está de acordo com um modelo mais

dinâmico do processo empreendedor e de criação / incubação de empresas.

Pode-se perceber que as fases do modelo não acontecem na mesma ordem

nos diferentes empreendimentos, e a razão disso são as diferenças entre os

empreendedores e as necessidades específicas de seus negócios. Alguns

empreendedores já tinham a empresa legalizada antes da incubação, o que

significa que a empresa procurou a incubadora para uma reestruturação ou

ainda que o empreendedor buscou a incubação quando decidiu de fato

explorar a oportunidade e iniciar o desenvolvimento do negócio.

Este trabalho propôs identificar as necessidades básicas apontadas

pelas empresas estudadas como sendo de grande importância para o seu

desenvolvimento, e estas foram: recursos financeiros, recursos humanos,

tecnologia, informação, apoio emocional e capital social. Dentre estas

necessidades apresentadas, pode-se ver que o capital social teve participação

no levantamento de grande parte destes recursos.

Foi proposto também entender o uso do capital social nas empresas

estudadas e caracterizar os laços utilizados pelos empreendedores para suprir

143

suas necessidades. O capital social teve papel fundamental tanto nas

atividades do processo empreendedor como nas de pós-incubação. A

descoberta de oportunidades esteve associada a dois fatores: a descoberta de

demandas de mercado não-atendidas, em que o capital social desempenhou

um papel importante por gerar um fluxo de informações para o empreendedor

reconhecer a oportunidade, e o desenvolvimento de tecnologias inovadoras.

Quando se trata de gerar um fluxo de informações, o laço estabelecido nas

redes de contato pode ser forte ou fraco. O mais observado é o laço forte

permitindo acesso a outros laços fracos e gerando uma rede maior por onde a

informação vai transitar.

O capital social também tem importância na decisão de explorar do

indivíduo pois, quanto mais o empreendedor tiver laços fortes com provedores

de recursos, menor será para ele o risco percebido de exploração do negócio.

A proximidade da incubadora, que facilita o acesso a recursos, revelou ser

importante para despertar uma maior segurança nos empreendedores.

Os empreendedores procuram, para estabelecer sociedade, pessoas

capazes de complementar suas competências no desenvolvimento do negócio,

ou ainda pessoas de estreito contato pessoal, que podem prover apoio. De

qualquer forma, para que a sociedade se estabeleça de forma eficiente, é

necessário que os sócios possam confiar um no outro e, por isso, os

empreendedores normalmente recorrem a pessoas pertencentes à sua rede de

contatos pessoais.

144

Nas atividades de exploração, pode-se observar que o recurso mais

acessado é a informação, tanto para a criação do plano de negócios quanto

para a viabilização do produto, que também necessita de acesso à tecnologia.

O apoio emocional, buscado nos laços mais fortes dos empreendedores,

mostrou ser crucial durante todo o processo empreendedor, período de muitas

dúvidas e incertezas quanto ao sucesso do negócio nascente.

A falta de cultura empreendedora no Brasil foi um fator citado como

estimulador da necessidade de capital social para a abertura de um

empreendimento. A falta de apoio governamental e privado para a atividade

empreendedora faz com que as redes de contato dos empreendedores

assumam um papel importante no levantamento de recursos.

Após a incubação, o uso do capital social continua sendo importante,

mas é preciso entender que as necessidades das empresas vão se

transformando. As empresas continuaram mobilizando capital social para

estabelecer parcerias em pesquisa e desenvolvimento, ou na busca por

financiamento e pessoal. Estes contatos se deram principalmente através de

laços estabelecidos com professores da universidade, que foi fonte de

tecnologia, recursos financeiros através de editais públicos e recursos

humanos representados por alunos da universidade. Um bom relacionamento

145

com professores da instituição mostrou-se essencial para o desenvolvimento

destas parcerias e, por isso, empreendedores que não eram ex-alunos da

faculdade tiveram dificuldade em mobilizar estes recursos.

A incubadora é capaz de reduzir a necessidade de capital social no

desenvolvimento da empresa, mas não elimina esta necessidade. No acesso a

outras fontes de financiamento por exemplo, a rede de contatos pessoais,

principalmente os laços fortes, mostraram-se fundamentais.

O ambiente de incubação é também uma fonte de capital social, pois

os empreendedores têm a oportunidade de formar novos laços com os

empreendedores das outras empresas incubadas. Estes contatos são

importantes para a troca de experiências e de conhecimento tecnológico, além

de ser capaz de gerar negócio para as empresas com produtos e/ou serviços

complementares ou similares.

A fase em que o capital social mostrou ser absolutamente vital para o

sucesso de um empreendimento, mesmo que incubado, foi no acesso ao

mercado. A geração de negócios iniciais das empresas depende da rede de

contatos dos sócios, e o acesso a clientes foi feito principalmente a partir da

indicação de indivíduos com quem o empreendedor mantinha laços fortes ou

fracos. Deve-se lembrar que nesta fase ainda há uma dificuldade de

estabelecer credibilidade no mercado. Isso torna mais difícil a busca por

146

clientes no caso de empreendedores que têm a empresa atual trabalhando em

setores diferentes daquele de seu histórico anterior, ou ainda daqueles que são

muito novos e ainda têm uma rede de contatos pequena. A solução encontrada

foi contratar representantes de vendas do setor, que já têm redes de contatos

bem desenvolvidas. Os resultados observados neste trabalho sugerem que as

empresas incubadas devem investir no desenvolvimento de sua rede de

contatos, para ter um melhor desempenho no mercado. Futuras pesquisas

podem tratar de como este investimento pode se dar, e ainda se é possível

adicionar pessoas à rede de contatos estabelecendo relações monetárias.

O capital social foi ainda importante no desenvolvimento de produto,

para acessar parceiros para desenvolver a tecnologia ou para efetuar testes do

produto. O desenvolvimento de parcerias para tecnologia normalmente

envolveu um relacionamento forte prévio dos empreendedores, que já tinham

trabalhado ou feito pós-graduação em laboratórios da universidade. Este

acesso para o desenvolvimento de pesquisa continuou sendo importante para

a continuidade do negócio, e a proximidade com a universidade e com outras

empresas incubadas focadas em tecnologia facilita a constante renovação dos

produtos e serviços. Além disso, o contato com professores ajuda o

desenvolvimento do negócio de maneira estruturada, na medida em que estes

professores atuam informalmente como consultores.

Dada a importância que o capital social demonstrou ter nas empresas

incubadas através destes resultados, sugere-se que as incubadoras formem

147

uma rede de contatos que possa fornecer o acesso a provedores de recurso,

no caso da impossibilidade da incubadora de prover o recurso em questão.

Pode-se aludir ainda que a maior carência das empresas incubadas esteja na

obtenção de contatos com clientes e, por isso, o foco maior da incubadora deve

estar na incorporação deste tipo de contato.

Como já foi explicitado por Lumpkin e Ireland (apud BOLLINGTOFT &

ULHOI, 2005), o valor das incubadoras de empresa é ainda hoje bastante

questionado, já que a presença em uma incubadora não garante o sucesso do

empreendimento. O presente trabalho demonstrou que uma série de carências

das empresas incubadas não é atendida pela incubadora. Por isso, pode-se

perguntar: será que as incubadoras não estão atendendo ao que delas se

espera ou será que o modelo de incubação merece revisão?

A incubadora pode ainda aproximar-se de investidores-anjo ou tentar

formar fundos de investimento para ajudar as empresas a obter

financiamentos. Pode-se sugerir ainda que o ensino do empreendedorismo na

universidade deve ressaltar a importância da formação e manutenção de redes

sociais por parte dos empreendedores. A incubadora pode envolver-se também

na promoção de iniciativas que busquem combater a falta de cultura

empreendedora no país, para promover um aumento da atividade

empreendedora. Uma maior divulgação do trabalho da própria incubadora pode

estimular outros empreendedores a perseguir oportunidades antes percebidas

como de risco alto. A incubadora deve também tentar facilitar o acesso dos

148

empreendedores que não têm uma rede de contatos com a universidade

estabelecida a estreitarem seus laços com professores e alunos para terem

acesso facilitado aos diversos recursos que a universidade provê.

O Brasil ainda tem dificuldades de financiar a atividade empreendedora

Isso ocorre também pela falta de investimento em divulgação sobre a

existência e o funcionamento tanto de fundos públicos quanto de fundos

privados. Futuros estudos podem explorar a idéia das networked incubators,

incubadoras baseadas em redes de contato capazes de suprir as demandas de

empresas nascentes, pode ser uma alternativa para o desenvolvimento de

empreendimentos com aplicação mínima de investimentos.

Outros estudos podem tentar verificar qual é a melhor forma de

estabelecer estas redes de relacionamento para cada tipo de incubadora, por

exemplo, utilizando as redes da universidade somadas as redes de todas as

empresas que passam pelo processo de incubação, e ainda de outras

empresas parceiras. É necessário que incubadoras com focos diferentes

tenham acesso a redes diferentes, umas mais abrangentes e ramificadas,

outras com laços mais fortes e de fácil acesso, dependendo do setor de

atuação das empresas incubadas. Desta forma, pode-se ampliar a gama de

necessidades supridas pelo capital social, principalmente no que tange

demandas específicas de algumas empresas que podem mostrar mais

dificuldade para serem atendidas.

149

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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161

7. ANEXOS

162

7.1. Roteiro de entrevista para empresas incubadas

- O que a empresa faz?

- Conte a história da empresa desde o momento em que você teve a idéia de

iniciar o empreendimento

- Por que incubar?

- Quais foram as primeiras necessidades da empresa? Quem ajudou?

- Quais foram as maiores dificuldades e como foram contornadas?

- Como ocorre a busca por novos clientes?

- Como é o relacionamento com outros sócios? Como cada um contribuiu para

a formação do empreendimento?

- Como é a relação da empresa com a incubadora? E com as outras empresas

incubadas?

- Como é a relação da empresa com a universidade e a pesquisa? Como isso

ajuda o futuro da empresa?

- Quais são as maiores necessidades/dificuldades hoje?

- Como você vê o futuro (direção da empresa / antecipação dos recursos

necessários)?

- Você sempre quis ter uma empresa?