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Análise Não Linear Tridimensional de Viga Segmentada com Protensão Externa Utilizando o ANSYS Paula Manica Lazzari 1 , Américo Campos Filho 2 , Bruna Manica Lazzari 3 1 PUCRS / Engenharia Civil / [email protected] 2,3 UFRGS/ Engenharia Civil /[email protected]; [email protected] Resumo Estruturas segmentadas são muito utilizadas na construção de tabuleiros de pontes e viadutos. Neste contexto, o presente trabalho aborda o tema da análise estrutural tridimensional não linear de viga segmentada em concreto com protensão externa através do método dos elementos finitos (MEF), utilizando a plataforma ANSYS, versão 14.5. Para a representação do comportamento do concreto, implementou-se um novo modelo de material viscoelastoplástico, com a ajuda da ferramenta de customização do ANSYS (UPF - User Programmable Features), onde foram adicionadas novas subrotinas ao programa principal em linguagem FORTRAN. Este modelo leva em conta a fissuração do concreto e sua formulação é baseada no Código Modelo fib 2010, utilizando a superfície de Ottosen como critério de ruptura. A fim de validar as subrotinas acrescentadas ao sistema, foi simulada uma viga segmentada em concreto com protensão externa, perfil caixão, ensaiada experimentalmente por APARICIO et al. (2002). Na discretização desta viga foram utilizados elementos tridimensionais quadráticos de 20 nós (SOLID186) para representar o concreto e elementos unidimensionais (LINK180) para representar os cabos de protensão sem aderência. Além destes dois elementos, foram utilizados elementos de contato (CONTA174 e TARGE170) para simular as juntas secas ao longo da viga segmentada. Foram realizadas análises quanto às tensões no concreto e nos cabos de protensão, abertura das juntas, e, ainda, foram traçados diagramas de carga x deslocamento. A comparação entre análises numéricas e experimentais mostraram resultados satisfatórios. Palavras-chave Viga segmentada; estrutura em concreto, ANSYS; protensão externa; sistema de customização UPF. Introdução O estudo de estruturas em concreto estrutural envolve diversos fatores que dificultam a sua análise e a sua compreensão. Entre estes fatores pode-se citar a diferença de comportamento à tração e compressão do concreto, a não-linearidade da relação tensão-deformação, a fissuração do concreto, a fluência e retração do concreto e a relaxação do aço de protensão. Desta forma, é apresentada, neste trabalho, a análise estrutural não linear de uma viga segmentada em concreto protendido através do método dos elementos finitos, utilizando a plataforma ANSYS, versão 14.5.

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Análise Não Linear Tridimensional de Viga Segmentada com Protensão

Externa Utilizando o ANSYS

Paula Manica Lazzari1, Américo Campos Filho2, Bruna Manica Lazzari3

1 PUCRS / Engenharia Civil / [email protected]

2,3UFRGS/ Engenharia Civil /[email protected]; [email protected]

Resumo

Estruturas segmentadas são muito utilizadas na construção de tabuleiros de pontes e viadutos.

Neste contexto, o presente trabalho aborda o tema da análise estrutural tridimensional não

linear de viga segmentada em concreto com protensão externa através do método dos

elementos finitos (MEF), utilizando a plataforma ANSYS, versão 14.5. Para a representação

do comportamento do concreto, implementou-se um novo modelo de material

viscoelastoplástico, com a ajuda da ferramenta de customização do ANSYS (UPF - User

Programmable Features), onde foram adicionadas novas subrotinas ao programa principal em

linguagem FORTRAN. Este modelo leva em conta a fissuração do concreto e sua formulação

é baseada no Código Modelo fib 2010, utilizando a superfície de Ottosen como critério de

ruptura. A fim de validar as subrotinas acrescentadas ao sistema, foi simulada uma viga

segmentada em concreto com protensão externa, perfil caixão, ensaiada experimentalmente

por APARICIO et al. (2002). Na discretização desta viga foram utilizados elementos

tridimensionais quadráticos de 20 nós (SOLID186) para representar o concreto e elementos

unidimensionais (LINK180) para representar os cabos de protensão sem aderência. Além

destes dois elementos, foram utilizados elementos de contato (CONTA174 e TARGE170)

para simular as juntas secas ao longo da viga segmentada. Foram realizadas análises quanto às

tensões no concreto e nos cabos de protensão, abertura das juntas, e, ainda, foram traçados

diagramas de carga x deslocamento. A comparação entre análises numéricas e experimentais

mostraram resultados satisfatórios.

Palavras-chave

Viga segmentada; estrutura em concreto, ANSYS; protensão externa; sistema de

customização UPF.

Introdução

O estudo de estruturas em concreto estrutural envolve diversos fatores que dificultam a sua

análise e a sua compreensão. Entre estes fatores pode-se citar a diferença de comportamento à

tração e compressão do concreto, a não-linearidade da relação tensão-deformação, a

fissuração do concreto, a fluência e retração do concreto e a relaxação do aço de protensão.

Desta forma, é apresentada, neste trabalho, a análise estrutural não linear de uma viga

segmentada em concreto protendido através do método dos elementos finitos, utilizando a

plataforma ANSYS, versão 14.5.

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A fim de fazer a modelagem computacional da viga segmentada, levando em conta os efeitos

de fluência e retração do concreto e da relaxação do aço de protensão, foi necessária a

utilização do sistema de customização UPF (User Programmable Features), disponibilizado

pelo ANSYS (2013). Esta ferramenta permitiu a implementação de um novo modelo para o

concreto e para o aço de protensão, podendo ser utilizado tanto para análise de estruturas em

concreto armado, como para concreto protendido. A validação do modelo foi feita a partir da

simulação numérica de vigas experimentais em concreto armado e protendido, apresentando

comportamento satisfatório. Neste artigo é apresentada a validação do modelo para uma viga

segmentada em concreto protendido, ensaiada experimentalmente por APARICIO et al

(2002).

Modelos Constitutivos dos Materiais

Para que as estruturas apresentem um bom desempenho, é muito importante o conhecimento

das propriedades mecânicas de cada material. Utilizando os materiais de maneira racional, ou

seja, aproveitando a boa resistência do aço à tração e a boa resistência do concreto à

compressão, consegue-se obter estruturas que trabalhem de forma otimizada.

Para o concreto estrutural foram utilizados dois modelos constitutivos diferentes. O primeiro

trata-se de um modelo elastoplástico, baseado em critérios de ruptura, de plastificação e em

uma regra de endurecimento, designado para análises instantâneas. O segundo modelo trata-se

de um modelo viscoelástico, no qual não estão incluídos processos de ruptura, sendo utilizado

para o caso de análises diferidas. Estes dois modelos podem ser utilizados em conjunto,

porém são designados por diferentes incrementos: nas análises elastoplásticas através de

incrementos de carga, e nas análises viscoelásticas, através de incrementos de tempo

Em relação à modelagem do concreto, foram utilizados dois modelos diferentes para

descrever o seu comportamento. Para o concreto comprimido foi adotado um modelo

elastoplástico com endurecimento e, para o concreto tracionado, foi utilizado um

comportamento elástico-linear até a ruptura a partir do qual é considerado um modelo de

contribuição do concreto entre fissuras.

O modelo para o concreto comprimido é composto por um critério de ruptura, por um critério

de plastificação e por uma regra de endurecimento. O critério de ruptura utilizado baseou-se

no modelo de Ottosen, sugerido pelo Código Modelo fib 2010 (2012). O critério de Von Mises

foi utilizado como critério de plastificação e a regra de endurecimento foi representada pelas

equações fornecidas pelo Código Modelo fib 2010 (2012).

Antes de fissurar, o concreto comporta-se como um material elástico-linear e, após a

fissuração, utiliza-se o modelo de fissuras distribuídas com um enrijecimento à tração (tension

stiffening). O modelo de fissuração utilizado é baseado na formulação apresentada por

HINTON (1988). Na figura 1a está representada a superfície de ruptura de Ottosen e na figura

1b está representado o diagrama tensão-deformação para o concreto tracionado.

Considerando que as barras de aço resistem apenas a esforços axiais, adotou-se, neste

trabalho, um modelo uniaxial para representar seu comportamento. O aço é representado

como um material elastoplástico perfeito, que apresenta o mesmo comportamento em tração e

compressão. Para as armaduras passivas, as barras seguem dois comportamentos, dependendo

do processo de fabricação do material. Para aços com patamar de escoamento bem definido e

com dureza material, adotou-se o modelo elastoplástico perfeito (figura 2a). Para os aços

encruados a frio utilizou-se um comportamento elastoplástico com endurecimento linear a

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partir de 0,85 da tensão de escoamento (figura 2b). Para as armaduras ativas, o material tem

um comportamento elástico linear até atingir 90% do valor da tensão de ruptura fptk. Após

atingido este valor, apresenta um comportamento com endurecimento linear, conforme

apresentado na figura 3.

Figura 1 – (a) superfície de ruptura de Ottosen; (b) curva tensão-deformação para o

concreto tracionado.

Figura 2 – (a) modelo elastoplástico perfeito; (b) modelo elastoplástico com

endurecimento linear para as armaduras passivas.

Figura 3 – Modelo elastoplástico com endurecimento linear para armaduras ativas.

Os efeitos dependentes do tempo, como a fluência e a retração no concreto, influenciam

significativamente no comportamento do concreto estrutural, pois podem gerar deformações

da mesma ordem de grandeza das deformações instantâneas. Para representar as deformações

não-imediatas que ocorrem no concreto, foi utilizado um modelo viscoelástico. A fim de

simular este comportamento do material, utilizaram-se elementos do tipo Maxwell compostos

por elementos elásticos (molas) em série com elementos viscosos (amortecedor). A

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determinação dos parâmetros da função de fluência e de retração foi feita de acordo com as

recomendações do Código Modelo fib 2010 (2012).

Modelagem Computacional

Optou-se por utilizar o método dos elementos finitos neste trabalho, pois é uma das maneiras

mais eficientes de se de analisar de forma não-linear o comportamento de estruturas de

concreto armado e protendido. Este tipo de análise numérica permite a consideração do

comportamento não-linear dos materiais concreto e aço, da fissuração do concreto e da

plastificação do concreto e do aço.

Para a modelagem do concreto, foi utilizado o elemento hexaédrico SOLID186, elemento

quadrático tridimensional de 20 nós com três graus de liberdade por nó (translação segundo

X, Y e Z). Desta forma, se obtêm bons resultados sem a necessidade de uma discretização

extremamente refinada, reduzindo de forma significativa o tempo de análise estrutural. O

elemento LINK180 pode ser utilizado para representar armadura ativa com e sem aderência,

permitindo a introdução de deformações ou tensões iniciais. Ele é um elemento

unidimensional com três graus de liberdade em cada nó (translação segundo X, Y e Z), onde

plasticidade, viscoelasticidade e grandes deformações podem ser consideradas. Caso a

protensão seja com aderência, pode-se utilizar o elemento REINF264 (admitindo uma tensão

inicial na armadura incorporada) ou o elemento LINK180 (utilizando modelagem discreta da

armadura). É importante lembrar que a utilização do elemento LINK180 muitas vezes implica

em uma limitação da malha de elementos finitos de concreto, em função do posicionamento

da armadura. Isto ocorre porque a armadura lançada com o elemento LINK180 comporta-se

de forma discreta, onde os nós do elemento LINK180 devem coincidir com os nós dos

elementos SOLID186.

Em relação aos modelos constitutivos, foi utilizado o novo modelo elasto-viscoplástico com

fissuração, implementado para o concreto, através da rotina USERMAT3D (User Material

Routine), presente no sistema de customização, utilizando a linguagem de programação

FORTRAN. Para as armaduras de protensão, foi utilizado o novo modelo constitutivo,

implementado para elementos unidimensionais, na rotina USERMAT1D, considerando os

efeitos de relaxação do aço de protensão, conforme as recomendações do Código Modelo fib

2010 (2012).

Análise de Viga Segmentada em Concreto Protendido

Neste item são apresentados detalhes da modelagem de uma viga segmentada com protensão

externa, simulada experimentalmente por APARICIO et al (2002). Além disso, comparam-se

os resultados obtidos entre a análise numérica e experimental, traçando diagrama carga-

deslocamento, diagrama carga-tensão no cabo e são observadas as aberturas das juntas.

Características da estrutura

A viga segmentada biapoiada em concreto protendido apresenta seção transversal perfil

caixão e 7,2 m de vão. As sete aduelas de concreto, conectadas por juntas secas, e as

dimensões da seção transversal estão indicadas na figura 4. A armadura de protensão, de aço

CP-190 RB, é constituída de quatro cordoalhas de 15,2 mm de diâmetro. A tensão inicial de

protensão nos cabos é de 87,6 kN/cm². O módulo de elasticidade do aço equivale a

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19.500 kN/cm² e o seu limite de resistência à tração é de 190 kN/cm². A resistência média à

compressão do concreto é de 4,5 kN/cm².

Figura 4 – Perfil longitudinal e transversal da viga segmentada

A representação dos elementos de concreto desta viga segmentada foi feita através de uma

malha constituída por 192 elementos hexaédricos quadráticos de 20 nós, SOLID186. A fim de

aproveitar a simetria de geometria e de carreamento, considerou-se apenas um quarto de viga

para a análise computacional. A modelagem iniciou com a criação de 26 volumes, respeitando

a geometria da peça e as zonas com junta seca, conforme mostra a figura 5. Também foi

necessária a utilização de uma placa metálica na extremidade da viga, devido a concentração

de tensões gerada nos elementos de concreto pela ancoragem da armadura de protensão. Além

dos elementos tridimensionais, também foram acrescentados três elementos LINK180 na face

interna do perfil caixão, representando a armadura de protensão não-aderente referente à

parcela horizontal e inclinada do cabo. Estes elementos estão conectados ao concreto apenas

nas duas extremidades da viga e na posição do desviador, que permite o deslizamento do cabo

no eixo longitudinal. Este desviador localiza-se na parte inferior, quando X = 240 cm. Neste

mesmo alinhamento (X = 240 cm) é aplicada a carga em forma de incrementos de

deslocamento nos nós superiores. Em relação às restrições, foram adicionados: apoio simples

na direção X na superfície do plano YZ em X = L/2, apoio simples na direção Z na superfície

do plano XY em Z = 0, e apoio simples na direção Y nos nós inferiores da extremidade

esquerda (quando X = 0 e Y = 0). Na figura 6 é possível visualizar a discretização dos

elementos de concreto, a placa metálica e os elementos da armadura de protensão ao longo do

modelo.

Para o concreto e para a armadura de protensão, foram utilizados os novos modelos

implementados através das rotinas USERMAT3D e USERMAT1D, respectivamente. Para a

placa metálica, foi utilizado o material elástico-linear, disponibilizado pelo ANSYS (2013),

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considerando coeficiente de Poisson igual a 0,3 e módulo de elasticidade longitudinal igual a

20.000 kN/cm².

Figura 5 – Malha de volumes – viga segmentada.

Figura 6 – Discretização em elementos finitos para análise computacional.

As três juntas secas foram modeladas conforme o detalhe apresentado na figura 7. Com a

finalidade de evitar problemas de concentração de tensões, foi acrescentado um material

elástico-linear de aproximadamente 1 mm de espessura nas faces das juntas. Além destes

novos elementos com material elástico-linear, de acordo com o detalhe apresentado, observa-

se, também, a utilização dos elementos de contato TARGE170 e CONTA174 em cada uma

das faces da junta. Estes elementos são separados por uma abertura muito pequena de 0,1 mm.

Esta separação mínima tornou-se necessária para facilitar o lançamento dos elementos de

contato no ANSYS. Na figura 8 é apresentada a discretização dos elementos de contato ao

longo das três juntas secas existentes na viga segmentada. A malha destes elementos seguiu a

mesma discretização definida para os elementos de concreto. Como os elementos TARGE170

e CONTA174 são separados por uma distância muito pequena, a visualização de suas

superfícies fica prejudicada. Na parte de análise de resultados, porém, é possível observar

melhor o comportamento destes elementos.

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Para os materiais de números 20 e 30, utilizados para representar o comportamento elástico

linear dos elementos constituintes das juntas, foi considerando coeficiente de Poisson igual a

0,2 e módulo de elasticidade longitudinal igual a 2.000 kN/cm², ou seja, simulando o

elemento de concreto na fase elástica. Esta numeração diferenciada foi adotada apenas para

facilitar a modelagem e por permitir uma visualização dos elementos de forma mais prática.

Figura 7 – Detalhamento modelagem juntas (unidades em cm).

Figura 8 – Discretização dos elementos de contato TARGE170 e CONTA174.

Nos elementos de contato TARGE170 e CONTA174 foi utilizado o modelo Cohesive Zone

Material (CZM), disponibilizado na biblioteca de materiais do ANSYS para representar o

comportamento dos elementos de contato. Entre as opções disponíveis para este material

optou-se pelo modelo CBDD – comportamento bilinear do material com amolecimento linear

que permite separação máxima entre os elementos. É importante deixar claro que este modelo

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é válido apenas para elementos de contato. O desviador foi considerado no modelo, através do

comando CP do programa ANSYS, liberando o deslizamento apenas na direção axial. Para

utilizar este comando, é necessário selecionar o nó da viga e o nó do desviador, e indicar qual

a direção que deverá ser restringida.

Análise dos Resultados

Neste item, comparam-se os resultados numéricos com os resultados experimentais

produzidos por APARICIO et al (2002). Para a validação da análise numérica foram traçadas

curvas do tipo carga-deslocamento, carga-tensão na armadura ativa, e diagramas de tensões

no concreto. Em relação às etapas de cálculo, inicialmente foi considerada a protensão,

aplicada aos 28 dias, juntamente com o peso próprio da viga. Na etapa seguinte, iniciou-se o

carregamento instantâneo desta viga até a sua ruptura.

Para a analisar de melhor forma os resultados, foram estudadas duas situações: modelo

numérico considerando ou não o deslizamento do cabo junto ao desviador. No artigo de

APARICIO et al (2002), são apresentados o diagrama carga-deslocamento para o caso

experimental com deslizamento e o diagrama carga-deslocamento numérico para o mesmo

modelo sem deslizamento. Na figura 9 observa-se a comparação entre os resultados obtidos

de forma numérica no ANSYS com os dois diagramas apresentados por APARICIO et al

(2002). O deslocamento foi medido no ponto central inferior do vão da viga, e o eixo das

cargas do diagrama carga-deslocamento foi obtido, multiplicando por dois o valor das reações

verticais nos nós de apoio.

Figura 9 – Diagrama carga-deslocamento da viga segmentada com e sem deslizamento.

De forma geral, os resultados dos diagramas carga-deslocamento apresentaram boa correlação

entre as curvas apresentadas, constando-se também uma carga de ruptura muito semelhante à

encontrada no ensaio experimental. A partir da análise do diagrama carga-deslocamento da

viga segmentada sem deslizamento é possível perceber uma boa aproximação entre a curva da

análise numérica no ANSYS e a curva numérica apresentada no artigo de APARICIO et al

(2002). Ainda, neste gráfico, observa-se que a consideração do deslizamento altera o

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comportamento da viga. Quando é permitido o deslizamento axial do cabo de protensão, a

viga sofre maiores deslocamentos verticais e apresenta uma menor capacidade de carga, se

comparado à situação de cabo fixo no ponto do desviador. Na viga com deslizamento, abre

apenas a junta mais próxima ao apoio. E, na viga sem deslizamento, abre inicialmente a junta

mais próxima ao apoio e, em seguida, abre a junta central. O valor da abertura final das juntas

pode ser observado na figura 10. A distribuição das tensões no concreto é apresentada na

figura 11, para as vigas segmentadas com deslizamento e sem deslizamento, respectivamente.

Nestes diagramas observa-se que, no momento em que ocorre a abertura das juntas, as tensões

são zeradas nas faces. VIGA COM DESLIZAMENTO VIGA SEM DESLIZAMENTO

Figura 10 – Representação da abertura final das juntas da viga com e sem deslizamento.

VIGA COM DESLIZAMENTO VIGA SEM DESLIZAMENTO

Figura 11 – Diagramas da componente de tensão no concreto, viga com e sem

deslizamento (kN/cm²).

Na figura 12 são apresentados os gráficos carga-tensão na armadura ativa para a viga

segmentada com e sem deslizamento. Quando é simulado o deslizamento axial do cabo, a

tensão na parte horizontal e na parte inclinada apresentam o mesmo valor. Por este motivo as

curvas obtidas pelo modelo numérico no ANSYS para o cabo horizontal e inclinado estão

sobrepostas. Em ambos os gráficos pode-se observar que, devido a abertura das juntas, ocorre

um aumento significativo das tensões nos cabos. Na viga sem deslizamento é possível notar

que a tensão obtida no ANSYS para o cabo inclinado é diferente da tensão do cabo horizontal.

Estas tensões apresentam valores maiores que os obtidos no caso com deslizamento. Este

efeito ocorre, pois, quando não existe deslizamento, a capacidade de carga se torna um pouco

maior, os deslocamentos verticais são menores e, consequentemente, as juntas começam a se

abrir a partir de uma carga mais elevada.

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VIGA COM DESLIZAMENTO VIGA SEM DESLIZAMENTO

Figura 12 – Diagrama carga-tensão na armadura da viga segmentada com e sem

deslizamento.

Conclusões

Neste artigo apresentou-se a validação do modelo para uma viga segmentada em concreto

protendido. A comparação entre análises numéricas e experimentais mostraram resultados

bem satisfatórios. Por fim, pode-se concluir que a ferramenta de customização UPF,

disponibilizada pelo ANSYS (2013), mostrou-se muito útil para a análise de estruturas

segmentadas em concreto. O modelo numérico implementado também já foi validado para

estruturas em concreto armado e protendido e terá seus resultados comentados de forma mais

detalhada na tese de doutorado de LAZZARI (2016).

Agradecimentos

Os autores agradecem à CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior e ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico o

apoio para realização deste estudo.

Referências

ANSYS, Inc. Theory reference (Version 14.5), 2013.

APARICIO, C. A.; GONZALO R. CASAS R. J. Testing of externally prestressed concrete beams.

Engineering Structures, v.24, n.4-8, p.73-84, 2002.

FÉDÉRATION INTERNATIONALE DU BÉTON. fib Model Code 2010. Bulletin No 65/66, 2012.

HINTON, E. Numerical methods and software for dynamic analysis of plates and shells. Swansea:

Pineridge Press Limited, 550p. 1988.

LAZZARI, P.M. Simulação Numérica das Etapas construtivas de Pontes Estaiadas através do

Método dos Elementos Finitos. 2016. Tese de Doutorado em Engenharia Civil. Programa de Pós-

Graduação em Engenharia Civil – PPGEC, Universidade Federal do Rio Grande do Sul –

UFRGS. Porto Alegre, Brasil. (em andamento)