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Análise Tecno-económica da recolha e triagem de resíduos urbanos. Renato Simão Gonçalves Ribeiro Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia do Ambiente Júri Presidente: Professor Tiago Morais Delgado Domingos Orientador: Professor Paulo Manuel Cadete Ferrão Co-orientador: Engenheiro António Maria Raso da Cunha Lorena Vogal: Professora Tânia Alexandra dos Santos Costa e Sousa Novembro 2014

Análise Tecno-económica da recolha e triagem de resíduos ... · Tabela 4.4-3: Valores das varáveis de entrada no sistema de recolha ecoponto ..... 53 Tabela 5.1-1: Tabela de simulações

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Análise Tecno-económica da recolha e triagem de resíduos urbanos.

Renato Simão Gonçalves Ribeiro

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia do Ambiente

Júri

Presidente: Professor Tiago Morais Delgado Domingos

Orientador: Professor Paulo Manuel Cadete Ferrão

Co-orientador: Engenheiro António Maria Raso da Cunha Lorena

Vogal: Professora Tânia Alexandra dos Santos Costa e Sousa

Novembro 2014

ii

Resumo

A reciclagem de embalagens surge como uma possibilidade de tratamento de resíduos mais

eficiente. Uma das principais preocupações é a necessidade de se obter meios cada vez mais sustentáveis

na otimização não só técnica mas também económica na gestão de resíduos urbanos, nomeadamente

nas embalagens, pelo que o principal objetivo deste trabalho consistiu em analisar o sistema de recolha

seletiva de embalagens, desde a fonte de produção até ao seu destino final, nomeadamente reutilização

ou fim de vida das embalagens. Estudou-se assim, os custos e benefícios da recolha seletiva de

embalagens, para os diferentes tipos de recolha, porta-a-porta, ecopontos e ecocentros. O processo de

reciclagem implica custos não só para as entidades operadoras dos resíduos recicláveis, mas também

para as entidades responsáveis pela retoma dos mesmos no mercado. A análise económica deste trabalho

teve como base o caso português, recorrendo-se ao sistema de gestão de resíduos e às entidades que

dele fazem parte, de modo a se perceber que funcionalidades estavam disponíveis nos sistemas de

recolha seletiva de embalagens, a fim de se obter um conjunto de resultados que revelassem de que modo

operam essas entidades, não só a nível tecnológico mas também a nível financeiro. Os resultados incluem

um modelo generalista para o sistema de gestão de resíduos recicláveis, um simulador para uso de casos

independentes.

Palavras-Chave:

Análise Económica; Embalagens; Sistemas de Gestão de Resíduos; Reciclagem; Custos; Benefícios.

iii

iv

Abstract

Packaging recycling emerges as a possibility for more efficient treatment of waste. A major concern

is the need to achieve more sustainable means by optimizing not only technical but also economic ways in

urban waste management, more specific the packaging, so the aim of this study was to examine the system

of selective collection of packaging from the source of production to its final destination, including end of

life or reuse of packaging. Was studied as well in this work, the costs and benefits of selective collection of

packaging for different types of collection, including door-to-door, drop off systems and recycling centers.

The recycling process involves costs not only for operators of recyclable waste authorities, but also to those

responsible for recovery of the same market. The economic analysis of this work was based on the

Portuguese case, resorting to the waste management system and the entities that are part of it, so as to

realize that functionality were available in selective collection of packaging systems in order to obtain a set

of results that reveal how these entities operate, not only in technology but also financially. The results

include a general model for the management system of recyclable waste, a simulator for use of independent

cases.

Key-Words:

Economic Analysis; Packaging; Waste Management Systems; Recycling; Costs; Benefits.

v

Agradecimentos

Primeiramente gostaria de expressar a minha imensa gratidão ao meu orientador, Professor Doutor Paulo

Ferrão, e ao meu Co-orientador, Doutor António Lorena, pelo seu incessável empenho e dedicação, pelo

vasto conhecimento transmitido, pela constante motivação que me transmitiram e ideias sugeridas, e

sobretudo pela cumplicidade e pelo bom ambiente que proporcionaram.

Como não podia deixar de ser, agradeço aos meus familiares mais chegados nomeadamente à minha

Mãe, Pai e Irmão, pelo apoio constante e incondicional transmitido em todos os momentos da minha vida,

pela compreensão e amor demonstrado ao longo desta importante etapa.

Não poderia deixar de agradecer a todos os meus amigos, de uma forma especial ao Magno Mendes,

João Sargo, António Ramos, Tiago Seco, Mariana Matos, bem como a todos os que estiveram presentes

ao longo desta etapa, por toda a amizade, companheirismo, solidariedade e espírito de entreajuda que se

estabeleceu entre nós.

Por fim e não menos importante, agradeço à minha Avó, que estará para sempre presente na minha

memória!

vi

Índice Resumo .......................................................................................................................................................... ii

Abstract ........................................................................................................................................................ iv

Agradecimentos ............................................................................................................................................. v

Índice de Equações ......................................................................................................................................... x

1 Introdução ............................................................................................................................................. 1

1.1 Enquadramento Teórico ................................................................................................................. 1

1.2 Objetivos ........................................................................................................................................ 4

1.3 Definição de Âmbito ....................................................................................................................... 5

1.4 Organização da Tese ....................................................................................................................... 5

2 Sistema de Gestão de Resíduos .............................................................................................................. 7

2.1 Caracterização dos sistemas de gestão de resíduos urbanos ........................................................... 7

2.2 Enquadramento Estratégico e Legal .............................................................................................. 10

2.3 Gestão de Resíduos de Embalagem em Portugal ........................................................................... 14

Recolha Seletiva de Embalagens ........................................................................................................... 15

2.4 Triagem ........................................................................................................................................ 21

3 Revisão Bibliográfica com vista a determinar parâmetros para o modelo .............................................. 29

3.1 Tendências Internacionais ............................................................................................................ 30

3.2 Modelos Operacionais de Recolha ................................................................................................ 34

Modelos Económicos de Gestão de RU ................................................................................................. 37

3.3 Motivação do Estudo .................................................................................................................... 39

4 Modelo Tecnológico-Económico ........................................................................................................... 40

4.1 Metodologia ................................................................................................................................. 40

4.2 Dados ........................................................................................................................................... 43

4.3 Modelo Numérico ........................................................................................................................ 45

4.3.1 Custos Considerados ................................................................................................................ 45

4.3.2 Benefícios Considerados ........................................................................................................... 49

4.4 Pressupostos do Modelo .............................................................................................................. 51

Intervalos de valores ............................................................................................................................ 51

4.5 Desenvolvimento de Interface do Modelo .................................................................................... 54

5 Resultados ............................................................................................................................................ 57

5.1 Simulações Porta-a-Porta ............................................................................................................. 57

5.2 Simulações Ecoponto.................................................................................................................... 63

6 Conclusões ........................................................................................................................................... 68

vii

Indicações para um trabalho futuro .......................................................................................................... 69

7 Bibliografia ........................................................................................................................................... 70

Anexo II .......................................................................................................................................................... X

viii

Índice de Figuras

Figura 2.1-1: Distribuição dos destinos de RU em Portugal Continental e RAM em 2012, Fonte: APA e INE, 2013. ................................................................................................................................................. 7

Figura 2.1-2: Produção e capitação de RU em Portugal Continental no período 2002 – 2012, Fonte: GOV Proposta PERSU 2020. ..................................................................................................................... 8

Figura 2.1-3: Sistemas de Gestão de Resíduos em Portugal Continental, Fonte: Proposta PERSU 2020. ............................................................................................................................................................. 9

Figura 2.2-1: Hierarquia dos resíduos, Adaptado: PNGR, 2011. .......................................................... 11

Figura 2.3-1: Taxa de reciclagem de resíduos de embalagem. Adaptado: APA, 2013 ....................... 15

Figura 2.3-2: Diagrama de fluxos dos RE e seus respetivos fluxos económicos. ............................... 16

Figura 2.3-3: Valores de retomas de material reciclado em 2013, Fonte: SPV ................................... 18

Figura 2.3-4: Número de habitantes por ecoponto em 2011 em Portugal Continental, Fonte: PERSU 2020 ............................................................................................................................................................ 19

Figura 2.4-1: Abridor de sacos (14) ......................................................................................................... 21

Figura 2.4-2: Aspirador de filme (15) ....................................................................................................... 22

Figura 2.4-3: Crivo plano (15) ................................................................................................................... 22

Figura 2.4-4: Crivo rotativo (14) ................................................................................................................ 23

Figura 2.4-5: Classificador de ar (14) ...................................................................................................... 23

Figura 2.4-6: Mesa de triagem circular com lançamento frontal e lateral (19) ..................................... 24

Figura 2.4-7: Separador magnético (20) .................................................................................................. 25

Figura 2.4-8:Separação por corrente de Foucault (20) .......................................................................... 25

Figura 2.4-9: Separador balístico (20) ..................................................................................................... 26

Figura 2.4-10: Perfurador de garrafas de plástico (21) .......................................................................... 27

Figura 2.4-11: Prensa de enfardar (15) ................................................................................................... 27

Figura 2.4-12: Manuseamento de fardos de papel através de uma multicarregadora (15) ................ 28

Figura 3.1-1:Panorama dos Resíduos na Alemanha (23) (24) .............................................................. 30

Figura 3.1-2: Panorama dos resíduos na Coreia do Sul (25) ................................................................ 31

Figura 3.1-3: Panorama dos resíduos nos EUA (26) (27) ...................................................................... 31

Figura 3.1-4: Panorama dos resíduos na Inglaterra (29) (30) ............................................................... 32

Figura 3.1-5: Panorama dos resíduos em Espanha (31) (32) ............................................................... 32

Figura 3.2-1: Exemplo de contentorização e recolha seletiva de RU por ecoponto e porta-a-porta .. 36

Figura 4.1-1: Diagrama ilustrativo das fases de construção do modelo ............................................... 41

Figura 4.1-2: Passos para a operacionalização do método de simulação de Monte Carlo. Adaptado de Shamblin e Stevens, 1974 ................................................................................................................... 43

Figura 4.5-1:Interface do modelo de simulação ...................................................................................... 56

Figura 5.1-1: Histograma representativo do custo total do sistema porta-a-porta ............................... 57

5.1-2: Gráfico representativo do custo total do sistema porta-a-porta em função do número de habitantes por contentor ........................................................................................................................... 60

Figura 5.1-3: Gráfico representativo do custo total do sistema em função do valor de triagem ......... 62

Figura 5.2-1: Histograma representativo do custo total do sistema ecoponto ..................................... 63

Figura 5.2-2: Custo total do sistema fazendo variar a densidade populacional que utiliza o contentor .................................................................................................................................................................... 64

ix

x

Índice de Equações

Equação 4.3-1: Custo de contentorização ...................................................................................... 45 Equação 4.3-2: Valor do contentor ................................................................................................. 45 Equação 4.3-3: Custo de recolha de recicláveis ............................................................................. 46 Equação 4.3-4: Custo total do veículo ............................................................................................ 46 Equação 4.3-5: Custo de gestão do veículo ................................................................................... 46 Equação 4.3-6: Custo do combustível ............................................................................................ 47 Equação 4.3-7: Custo da equipa de recolha ................................................................................... 47 Equação 4.3-8: Custo total de contentorização e recolha ............................................................... 48 Equação 4.3-9: Custo total da recolha seletiva de RE .................................................................... 51 Equação 5.1-1: Cálculo de número de sacos utilizados .................................................................. 59

xi

Índice de Tabelas

Tabela 2.2-1: Eixos de atuação para cumprimento das metas até 2020. Adaptado: PERSU 2020 .. 12

Tabela 2.2-2: Documentos estratégicos da redução de resíduos. Adaptado: PNGR.......................... 13

Tabela 2.3-1: Infraestruturas existentes nas SMAUT em 2012, Fonte (12) ......................................... 20

Tabela 2.3-2: RE enviados para reciclagem provenientes da recolha seletiva em 2012, Fonte (12) 20

Tabela 3.2-1:Lista de variáveis recolhidas através da revisão bibliográfica efetuada ......................... 39

Tabela 4.2-1: Dados para veículos de recolha e contentores ............................................................... 44

Tabela 4.3-1: Valor de Contrapartida para 2011, Fonte: SPV ............................................................... 49

Tabela 4.3-2: Valor de Contrapartida para 2011, Fonte: SPV ............................................................... 50

Tabela 4.3-3: Forma de cálculo do VC, Fonte: SPV ............................................................................... 50

Tabela 4.3-4: Valores de retoma de materiais para o ano de 2013, Fonte: SPV ................................ 50

Tabela 4.4-1:Valores das varáveis de entrada no sistema de recolha PaP ......................................... 52

Tabela 4.4-3: Valores das varáveis de entrada no sistema de recolha ecoponto ............................... 53

Tabela 5.1-1: Tabela de simulações realizadas e respetivos resultados ............................................. 58

Tabela 5.1-2: Tabela de simulações realizadas para o parâmetro Triagem e respetivos resultados 61

Tabela 5.1-3: Simulações realizadas à variação do parâmetro valor de contrapartida (VC) .............. 61

Tabela 5.2-1: tabela de simulações para o parâmetro utilização por contentor no sistema ecoponto .................................................................................................................................................................... 64

Tabela 5.2-2: Tabela de simulações variando o custo de triagem ........................................................ 65

Tabela 5.2-3: Simulações com variações de parâmetros na recolha Pap e Ecoponto ....................... 65

Tabela 6.1-1: Base de dados 1 ................................................................................................................... I

Tabela 6.1-2: Base de dados 2 .................................................................................................................. II

Tabela 6.1-3: Base de dados 3 .................................................................................................................. II

xii

Lista de símbolos

Siglas

APA – Agência Portuguesa do Ambiente

CDR – Combustível Derivado de Resíduos

DQR – Diretiva Quadro “Resíduos”

EGF – Empresa Geral do Fomento

ET – Estação de Triagem

EUA – Estados Unidas da América

INE – Instituto Nacional de Estatística

PAYT – Pay As You Throw

PaP – Porta-a-Porta

PEAD – Polietileno de Alta Densidade

PERSU – Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos

PET – Plitereftalato de Etileno

PNGR – Plano Nacional de Gestão de Resíduos

PVC – Policloreto de Vinil

RE – Resíduos de Embalagem

RS – Recolha Seletiva

RU – Resíduos Urbanos

SGR – Sistema de gestão de Resíduos

SGRU – Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos

SIGERU – Sistema Integrado de Gestão de Embalagens e Resíduos em Agricultura

SIGRE – Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens

SMAUT – Sistema Municipal e Autarquias

SPV – Sociedade Ponto Verde

TM – Tratamento Mecânico

UE – União Europeia

VC – Valor de Contrapartida

Símbolos alfabéticos

kg – Quilograma

l – Litros

m3 – Metro cúbico

xiii

1

1 Introdução

1.1 Enquadramento Teórico

O sector dos resíduos tem enfrentado desafios crescentes. A intensificação das atividades

económicas aumenta a pressão sobre os recursos naturais e sobre a capacidade natural para

absorção e processamento dos resíduos e efluentes, contribuindo para que sejam questões

relevantes e proeminentes, quer ao mais alto nível da decisão política, quer da sociedade em

geral. (1)

Com o crescente aumento de produção de resíduos, especialmente de embalagens, o sistema

de gestão de resíduos (SGR) enfrenta constantemente novas formas de combater esse aumento,

tendo em foco o fator sustentabilidade. Como tal, existe uma enorme preocupação em enfrentar

essa produção com novas formas de valorização e com meios sustentáveis não só a nível

tecnológico mas também numa vertente essencial, a vertente económica de todo o sector de

resíduos.

O SGR tem evoluído em resposta às preocupações ambientais, passando de uma política de

deposição em aterro para uma política cada vez mais recorrente na União Europeia (UE), política

essa visando o desvio de resíduos da deposição em aterro. Com esta evolução, surgiram novas

formas de tratamento e de gestão dos resíduos, bem como toda uma nova política que

transformou todo o sector de resíduos.

Uma gestão adequada de resíduos permitirá prevenir ou reduzir a produção de resíduos, o seu

carácter nocivo e os impactes adversos decorrentes da sua produção e gestão, bem como a

diminuição dos impactes associados à utilização dos recursos, de forma a melhorar a eficiência

da sua utilização e a proteção do ambiente e da saúde humana.

Para a gestão integrada dos resíduos urbanos (RU) e prossecução das prioridades que têm vindo

a ser definidas na legislação, está prevista a intervenção de dois tipos de entidades:os municípios

ou associações de municípios, em que a gestão do sistema pode ser concessionada a qualquer

empresa, e as entidades multimunicipais, cujos sistemas são geridos por empresas

concessionárias de capitais maioritariamente públicos. (2)

A transição para o comportamento de prevenção de resíduos e uma melhor utilização dos

recursos exige um conjunto integrado de medidas. Uma componente essencial das políticas de

gestão de resíduos, e que assenta num dos pilares da sustentabilidade de recursos naturais é o

consumo de bens. Como defendido por (3) a prevenção passa pela atuação ao nível do consumo.

2

O aumento do consumo de bens faz com que cada vez mais seja importante a adequada gestão

dos resíduos provenientes desse consumo, levando à importância de uma constante atualização

não só de políticas, mas também de objetivos, para que prevaleça a sustentabilidade neste

sector.

“Numa economia circular, a reutilização, a reparação e a reciclagem tornam-se norma, e os

resíduos fazem parte do passado. Ao utilizar mais eficazmente e durante mais tempo os recursos

para fins produtivos, a UE melhoraria não só na vertente económica, como também na vertente

ambiental na gestão de resíduos.” (4)

A União Europeia tem assim um papel fulcral na implementação de diretivas que permitam a

orientação de objetivos e responsabilidades, como é o caso de uma das suas diretivas

comunitárias, nomeadamente a nº 94/62/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de

Dezembro (Diretiva 94/62/CE) (5).

A reutilização de resíduos surge então, como um fator chave para que os objetivos traçados

possam ser alcançados, levando a que cada vez mais a reciclagem tenha um papel importante

na sociedade em que nos enquadramos, tornando-se ela também uma reflexão do que podemos

fazer no futuro. A reciclagem é então um processo que tem início na fonte de produção, com a

recolha dos resíduos recicláveis, até à sua reutilização, ou seja, até à sua deposição novamente

no mercado, através das indústrias retomadoras. Tem-se assim a reciclagem como um meio

sustentável na política de resíduos em Portugal, pois além de desviar resíduos de deposição em

aterros, permite reduzir recursos naturais no fabrico de novos produtos para bens consumíveis.

Sendo a reciclagem um meio de redução de recursos, um dos principais objetivos, é a análise

tecnológica e económica da mesma, percebendo assim de que maneira será possível tornar

cada vez mais eficiente a reciclagem, nomeadamente a reciclagem de embalagens (2).

Como defendido por (4), uma maior eficiência nesta vertente será impulsionada por uma

conceção inovadora, um melhor desempenho, produtos e processos de produção mais

sustentáveis, modelos comerciais virados para o futuro e avanços técnicos que transformem os

resíduos em recursos.

Em Portugal, a gestão de resíduos de embalagens do fluxo urbano é assim assegurada pela

entidade gestora Sociedade Ponto Verde (SPV) que gere a recolha seletiva de resíduos

depositados voluntariamente pelos consumidores, quer no sistema porta-a-porta, quer pelo

sistema de Ecopontos.

3

A gestão realizada pela SPV só é possível devido a uma política de transferência de

responsabilidades dos embaladores/importadores. Os municípios e outros operadores de

recolha e transferência, efetuam a recolha seletiva e a triagem das embalagens para posterior

encaminhamento para que se proceda à valorização e reutilização das mesmas.

Em termos de tecnologias, o aumento da eficiência das mesmas permite a que se recicle cada

vez mais embalagens, de modo a que se possa alcançar uma eficiência económica também

sólida. De salientar que a preocupação da reciclagem em apenas ecopontos tornou-se parte do

passado, e cada vez mais opta-se por novas formas de introdução de meios que possibilitem

uma maior taxa de deposição de recicláveis, nomeadamente com a introdução de contentores

diferenciados nos sistemas porta-a-porta, com a evolução dos sistemas de ecocentros,

implementação de eco-ilhas, bem como a introdução futuramente de sistemas pay-as-you-throw

(PAYT)1. Esta abordagem direcionada para a alteração das tecnologias não será completamente

bem-sucedida se não existir uma mudança no comportamento da população, ou seja, no modo

como utiliza os diferentes tipos de tecnologia. As medidas essenciais para reduzir o impacto do

sector dos resíduos, principalmente dos resíduos urbanos, passam por diminuir a produção dos

mesmos na fonte, fornecer alternativas altamente viáveis para a reciclagem, e obter rentabilidade

económica para que cada vez mais se preste um serviço de qualidade e com elevadas

eficiências.

Existem de momento três modelos de recolha seletiva que são os pilares de uma reciclagem

sustentada: os sistemas porta-a-porta (contentores diferenciados de pequeno porte nas

habitações onde os produtores depositam diferenciadamente os seus resíduos), sistemas de

ecopontos (contentores diferenciados de grandes dimensões, em pontos específicos, levando a

que os produtores se desloquem a pequenas distâncias para depositar seletivamente os

resíduos produzidos) e os sistemas de ecocentros (onde os produtores de resíduos se deslocam

a pontos específicos, geralmente a distâncias maiores do que as dos ecopontos, podendo

depositar grandes quantidades de resíduos diferenciados, desde embalagens a resíduos

provenientes de jardinagem, entre outros).

De acordo com o exposto, a promoção de cada uma destas alternativas requer o

desenvolvimento de diversas políticas que incentivem a população a utilizá-las. Regra geral, em

todas as cidades, encontra-se instituído algum tipo destes sistemas, vindo a ser feito cada vez

mais um esforço coletivo por parte das diversas entidades para que se pratique cada vez mais a

deposição correta de resíduos em cada um dos respetivos contentores, pois só assim se

conseguirá alcançar os objetivos pretendidos.

1 Princípio do poluidor-pagador, onde o responsável pela geração de resíduos paga pela quantidade de resíduos gerados, e não através do sistema atual de taxação.

4

Nesse sentido, este trabalho pretende realçar num sistema de resíduos recicláveis caracterizado

como um todo, a aplicabilidade destes sistemas de recolha seletiva, do ponto de vista das

tecnologias disponíveis em cada um deles, mas também do ponto de vista económico dos

mesmos, prevendo e analisando a sua afetação a jusante do sistema, nomeadamente na

produção e recolha de resíduos, e também a montante do sistema, onde diferentes tipos de

triagem poderão afetar também o sistema. Foi dado mais foco na utilização dos sistemas de

porta-a-porta e dos sistemas de ecopontos.

De modo a que a metodologia fosse elaborada de acordo com a realidade dos sistemas de

gestão de resíduos, foram localizados e analisados estudos que contribuíssem para a introdução

de parâmetros técnicos e económicos que contribuíram assim para a formulação de um modelo.

Tal metodologia consiste na formulação de um modelo técnico e económico que utiliza diversos

parâmetros de entrada, ou seja, “inputs” do modelo, e através de formulações permite assim uma

análise económica do sistema de recolha seletiva de embalagens, ou seja, devolve um conjunto

de parâmetros de saída (“outputs”) que são utilizados para compreender, analisar e perspetivar

novas formas de melhoramento no que se relaciona com este tipo de recolha.

1.2 Objetivos

Este trabalho pretende descrever e analisar do ponto de vista técnico e económico o sistema de

recolha seletiva em Portugal. A análise tem em conta parâmetros de contentorização, de recolha,

de triagem e de retoma dos materiais recicláveis por parte da indústria retomadora.

Esta análise é efetuada através de um modelo generalista, parametrizado com base em valores

de bibliografia. Pretende-se assim compreender de que modo o sistema de recolha seletiva

poderá ser mais eficiente a nível tecnológico e económico, realizando uma análise de custo-

benefício dos parâmetros afetos a este tipo de recolha.

Com a crescente preocupação de encontrar alternativas mais eficientes, este estudo pretende

assim contribuir para uma melhor compreensão e conhecimento deste sistema de recolha em

Portugal, tendo em conta todos os fatores determinantes, nomeadamente a gestão por parte das

entidades competentes e a organização do sistema de resíduos, desde a produção dos mesmos

até à sua reutilização ou fim de vida.

Este estudo contribuirá assim para uma avaliação de benefícios provenientes da recolha seletiva

em Portugal, e todas as oportunidades que advêm de tal recolha, bem como contribuirá com

sugestões que poderão ser implementadas para uma melhor gestão, eficiência tecnológica e

económica no setor dos resíduos urbanos.

5

1.3 Definição de Âmbito

A reutilização de materiais recicláveis provenientes de resíduos urbanos em Portugal, embora já

recorrente, é uma atividade que ainda necessita de vários estudos que possam contribuir para

uma melhor gestão desde a recolha até ao destino final das embalagens, seja esse o fim de vida

das mesmas ou a reutilização. Como tal, é necessária a investigação de novas tecnologias, de

novas metodologias, que permitam uma reestruturação mais eficiente e economicamente mais

viável, de modo a que Portugal não só cumpra com os objetivos propostos para as taxas de

reciclagem da União Europeia, mas que também possa contribuir assim para uma maior

sustentabilidade energética, material e económica.

Tendo em conta todas as oportunidades, este estudo vai de encontro com a gestão praticada na

atualidade em Portugal, inserindo alternativas, e conjugando um conjunto de fatores existentes

no sistema de recolha seletiva de embalagens, o que poderá permitir uma melhor gestão

estratégica para este tipo de recolha de resíduos.

Pretende-se ir de encontro aos paradigmas atuais provenientes dos sistemas de gestão de

resíduos urbanos, reescrevendo os mesmos em novas formas de contextualização adequadas

para enfrentar tamanhos objetivos de recolha seletiva propostos para Portugal.

1.4 Organização da Tese

Capítulo 1 - Enquadrando este estudo na sua organização, inicialmente foi realizada uma revisão

bibliográfica sobre gestão de resíduos urbanos, revisão essa que visou um conjunto de casos e

formas de gestão de resíduos a nível europeu e internacional. Recorreu-se a estudos

provenientes de relatórios de agências do ambiente presentes em diversos países, publicações

científicas, bem como documentos que pudessem complementar todo um conjunto de

informação necessária ao procedimento deste estudo por mim elaborado.

Capítulo 2 - Enquadrou-se o sistema de gestão de resíduos, nomeadamente a hierarquia dos

resíduos, a gestão dos mesmos em Portugal, a recolha seletiva como potencial de

desenvolvimento e sustentabilidade financeira, bem como destacou-se as entidades gestoras e

responsáveis por todo um sistema de gestão de resíduos.

Capítulo 3 - Revisão bibliográfica, onde através dessa revisão foi possível compreender a

importância deste mesmo estudo e a oportunidade de realizar uma metodologia que em diversos

casos não abrangia todo o sistema de gestão de resíduos recicláveis.

Capítulo 4 – Tendo sempre como foco as políticas ambientais para gestão de resíduos e as

metas traçadas no PERSU II (6), foi introduzido o modelo desenvolvido, nomeadamente a sua

conceção, desde valores utilizados, formulação de equações, parâmetros de entrada e saída e

dos pressupostos que visam a elaboração do mesmo.

6

Neste capítulo, é ainda descrito a elaboração de uma interface do modelo, que permite ao

utilizador inserir dados referentes ao sistema de recolha seletiva, de modo a que obtenha não só

valores de resposta, mas também uma perceção dos parâmetros que mais influenciam o sistema

aquando de alterações nos “inputs” do modelo.

Capítulo 5 - Discutiu-se a analisou-se os resultados provenientes do nosso sistema, em que se

destaca a obtenção de valores de custo e benefício de todo o sistema de recolha seletiva. Tal

sistema não consiste só na recolha, mas também numa fase posterior a esta, nomeadamente a

valores de custo-benefício de triagem de materiais, de benefícios de se evitar a recolha

indiferenciada e de outros valores como custos de deposição de resíduos em aterro, ou de

incineração dos mesmos.

Finalizando concluiu-se o estudo e elaborou-se possíveis casos de estudo futuros que visam

uma melhor análise dos diversos sistemas que compõem o panorama dos resíduos em Portugal.

7

9%

54%

0.28%

21%

2%14%

Recolha seletiva material Deposição em aterro TM

Valor. Energética Valor. Orgânica - RS Valor. Orgânica - RI

2 Sistema de Gestão de Resíduos

2.1 Caracterização dos sistemas de gestão de resíduos urbanos

Com o aumento da população mundial e nomeadamente com a crescente procura de bens, o

uso de embalagens tem sofrido um aumento com o passar dos anos, levando assim a uma maior

produção de resíduos de embalagens, o que potencia o aumento desses para reciclagem. Como

tal, o consumo de bens é um fator determinante nos planos de gestão de resíduos, pois com o

conhecimento necessário desse consumo e consequente utilização desses resíduos, é assim

possível um processamento mais adequado e eficiente por parte das entidades competentes,

potenciando assim não só a triagem, bem como uma maior taxa de reciclagem.

Em Portugal, a maior fatia de resíduos gerados é ainda depositada em aterro, sendo que a

recolha seletiva de materiais ainda está aquém das expetativas e das metas necessárias de

alcançar. Como é facilmente observável na Figura 2.1-1, grande parte dos resíduos sofre um

tratamento mecânico preliminar, antes de ser depositado em destino final (APA e INE, 2013).

“Em 2012 verificou-se um valor de 1,57 milhões de toneladas de RE produzidos, sendo da

mesma ordem de grandeza do valor registado no ano anterior, podendo este facto indicar uma

tendência para a estabilização.” (7)

FIGURA 2.1-1: DISTRIBUIÇÃO DOS DESTINOS DE RU EM PORTUGAL CONTINENTAL E RAM EM 2012, FONTE: APA E

INE, 2013.

8

“A produção e capitação anual desde 2010 tem vindo a descer gradualmente, o que evidencia

um menor consumo de bens por parte das famílias, facto esse evidenciado pelo decréscimo da

produção e capitação de RU desde 2010.Tal situação de decréscimo é igualmente comprovado

para o ano de 2013, apesar de a Figura 2.1-2 omitir os resultados para o respetivo ano (8).”

FIGURA 2.1-2: PRODUÇÃO E CAPITAÇÃO DE RU EM PORTUGAL CONTINENTAL NO PERÍODO 2002 – 2012, FONTE: GOV PROPOSTA PERSU 2020.

“Caracterizando um pouco mais o sistema de gestão de resíduos, Portugal Continental está

dividido em 23 Sistemas de Gestão de RU, 12 Multimunicipais e 11 Intermunicipais que se

caracterizam por uma acentuada discrepância no que respeita ao número de municípios que os

integram, na área e população abrangida e igualmente nas condições socioeconómicas da

população que servem, o que se reflete no fluxo de resíduos e consequentemente, nas opções

adotadas em termos de recolha e tratamento dos seus RU e também na rede de equipamentos

e infraestruturas para a sua gestão.” (9)

“Em Portugal, a gestão de resíduos no que respeita ao setor em baixa2 é feita pelas 259

entidades gestoras responsáveis pela recolha indiferenciada dos resíduos urbanos para os 23

SGRU anteriormente referidos. Destas, apenas 27 são também responsáveis pela atividade de

recolha seletiva multimaterial, em especial nas áreas da grande Lisboa e grande Porto, as

restantes entidades gestoras em baixa são apenas responsáveis pela atividade de recolha

indiferenciada de resíduos urbanos. Outro fator de diferenciação é a titularidade estatal ou

municipal dos sistemas e o modelo jurídico da respetiva entidade gestora. Os sistemas

2“ Os serviços de águas e resíduos têm sido classificados segundo as designações de “alta” e “baixa”, consoante as atividades realizadas. Esta classificação, que esteve no cerne da criação dos sistemas multimunicipais, maioritariamente responsáveis pela alta, e dos sistemas municipais, maioritariamente responsáveis pela baixa, corresponde, respetivamente, às atividades grossista e retalhista de abastecimento de água, de saneamento de águas residuais urbanas e de gestão de resíduos urbanos.” (59)

9

multimunicipais são concessões do Estado atribuídas a empresas que em regra têm uma

participação maioritária da EGF3.”

Os sistemas Multimunicipais com partição da EGF representam 60% da população e dos RU

produzidos em Portugal Continental.

FIGURA 2.1-3: SISTEMAS DE GESTÃO DE RESÍDUOS EM PORTUGAL CONTINENTAL, FONTE: PROPOSTA PERSU

2020.

Na Região Autónoma dos Açores, a gestão dos RU é genericamente da responsabilidade direta

dos municípios, com exceção da gestão na ilha do Pico e de S. Miguel, onde é da

responsabilidade das respetivas Associações Municipais. Já no caso da Região Autónoma da

Madeira, a responsabilidade da gestão de RU foi atribuída à Valor Ambiente, Gestão e

Administração de Resíduos da Madeira, S.A. (PNGR).

Tal situação de criação destes sistemas leva a que não só Portugal, mas toda a Europa possa

assim evidenciar-se pela melhor gestão possível dos resíduos gerados, prevalecendo uma vez

mais critérios de sustentabilidade e eficácia tecnológica e económica.

3“ Empresa Geral do Fomento, responsável por assegurar o tratamento e valorização de resíduos. A gestão dos sistemas de tratamento e valorização de resíduos é feita através de 11 empresas concessionárias, constituídas em parceria com os municípios servidos, que processam anualmente cerca de 3,7 milhões de toneladas de resíduos urbanos, servindo cerca de 60% da população de Portugal, que corresponde a 6,4 milhões de habitantes.” (12)

10

A cooperação entre entidades é uma lógica que deverá prevalecer, pois só assim a minimização

da produção de resíduos poderá ser um elo positivo nas políticas ambientais. Com a tecnologia

em constante desenvolvimento, é necessário o incentivo às mudanças tecnológicas e ao

desenvolvimento de programas de investigação, de modo a prosseguir no rumo certo numa

gestão de resíduos orientada para o futuro.

2.2 Enquadramento Estratégico e Legal

A gestão de resíduos urbanos em território português tem vindo a sofrer diversas alterações que

seguem as políticas da UE, de modo assim a perfazer os objetivos propostos para todos os

estados membros, no que toca ao desvio de resíduos para aterro. Tais objetivos a longo prazo

visam uma UE como sociedade recicladora, prevenindo a produção de resíduos e utilizando-os

como recurso. Portugal assume assim o compromisso de alcançar os objetivos europeus

propostos de valorização e reciclagem de resíduos de embalagem, bem como desvio de resíduos

para aterro.

“Com base nas políticas europeias, Portugal visa abranger um conjunto de outros objetivos

elaborados na proposta do novo PERSU 2020 (8):

• Promoção da eficiência na utilização de recursos naturais na economia dissociando

assim o crescimento económico dos impactes ambientais relacionados com a produção

de resíduos;

• Reforço na prevenção de produção de resíduos, incentivando a sua reutilização e

reciclagem com vista a prolongar o seu uso na economia;

• Respeitar a hierarquia dos resíduos, onde como exemplifica a figura 2.2-1, a prevenção

deverá ser o elo principal nessa mesma gestão;

• Assegurar que a produção, recolha, transporte, tratamento e armazenamento de

resíduos sejam efetuados recorrendo a processos que por sua vez não causem danos

adversos sobre a população e o ambiente;

• Fazer prevalecer o cumprimento de objetivos comunitários e nacionais em matéria de

desvio de resíduos urbanos biodegradáveis de aterro e de reciclagem e valorização de

RE;

• Consolidar e otimizar a rede de operadores de gestão de resíduos urbanos.”

11

Prevenção e Redução

Preparação para a reutilização

Reciclagem

Outros tipos de valorização

Eliminação

FIGURA 2.2-1: HIERARQUIA DOS RESÍDUOS, ADAPTADO: PNGR, 2011.

Tais Objetivos só serão possíveis se todo o sistema de gestão de resíduos estiver consolidado

de modo a que se adeque a um novo paradigma, cada vez mais emergente na UE, que é a

sustentabilidade de recursos, visando a valorização e reutilização dos mesmos. As entidades

gestoras de resíduos terão assim que se articular de modo a perceber de que modo a melhor

gestão é favorecida, pois só assim Portugal encontrará a meta proposta em tais objetivos

ambiciosos. Como tal, Daskalopoulos et al. (10) consideram que existem três alternativas básicas

para a deposição final de resíduos:

• Deposição direta em aterro sanitário;

• Processamento dos resíduos antes da deposição final;

• Processamento de resíduos para recuperação de recursos (materiais e/ou energia) com

subsequente deposição de resíduos.

“As políticas da União Europeia para os resíduos têm sido muito importantes nos resultados

globais atingidos, mas as políticas nacionais têm determinado em grande medida os resultados

específicos. As opções de gestão de resíduos dependem em grande medida das infraestruturas

e estruturas de governação relativas à gestão dos resíduos, e estas têm sido influenciadas pelos

planos de gestão de resíduos, bem como pelo quadro jurídico nacional.” (9)

“Para que Portugal cumpra as metas de reciclagem, os eixos de atuação no setor dos resíduos

devem estar bem definidos, pois só assim será possível que as taxas de reciclagem aumentem,

bem como todo o sistema integrado de gestão de resíduos possa beneficiar com esse aumento,

perfazendo uma valorização económica por parte das entidades responsáveis. Na Tabela 2.2-1,

é possível verificar e analisar os diversos eixos de atuação propostos no novo modelo do PERSU

2020.” (8)

12

I. Prevenção na geração de resíduos, passando por objetivos que visem a revisão do programa de prevenção de resíduos urbanos (PPRU);

II. Aumento da reciclagem e da qualidade dos recicláveis, privilegiando a atuação a montante da cadeia de gestão de RU;

III. Redução da deposição de resíduos em aterro, aumentando a eficiência da tecnologia e da capacidade de tratamento;

IV. Novas abordagens económicas aos fluxos de recicláveis e seus subprodutos, influenciando assim a economia verde;

V. Definição de instrumentos económico-financeiros de incentivo ao desvio de aterro e à reciclagem, combatendo o défice dos sistemas de gestão de RU;

VI. Melhoria da eficácia e capacidade institucional e operacional do sector, assegurando a sustentabilidade dos diferentes agentes;

VII. Reforço da investigação e do desenvolvimento tecnológico, através da inovação e introdução de novas tecnologias;

VIII. Contributo do sector para outras estratégias nacionais, bem como de novos planos para o setor de resíduos.

TABELA 2.2-1: EIXOS DE ATUAÇÃO PARA CUMPRIMENTO DAS METAS ATÉ 2020. ADAPTADO: PERSU 2020

De acordo com o Decreto-Lei n.º 73/2011, de 17 de junho, Portugal até 2020 pretende alcançar

as seguintes metas:

• Um aumento mínimo global para 50% em peso relativamente à preparação para a

reutilização e a reciclagem de resíduos urbanos, incluindo o papel, o cartão, o plástico,

o vidro, o metal, a madeira e os resíduos urbanos biodegradáveis;

• Um aumento mínimo para 70% em peso relativamente à preparação para a reutilização,

reciclagem e outras formas de valorização material.

Tais objetivos centram-se assim numa base sólida de redução de resíduos, criada com a nova

proposta do PERSU 2020, que tem em conta um conjunto de diretivas e estratégias

anteriormente elaboradas, como é possível verificar na Figura 2.2-2. (11)

13

TABELA 2.2-2: DOCUMENTOS ESTRATÉGICOS DA REDUÇÃO DE RESÍDUOS. ADAPTADO: PNGR

“Portugal mantém assim o compromisso de alcançar as metas de valorização e reciclagem de

resíduos de embalagens fixadas pelo Decreto-Lei n.º 92/2006, de 25 de maio, que transpõe para

a ordem jurídica interna a Diretiva 2004/12/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de

fevereiro, as quais consistem no cumprimento até ao final de 2011 de um mínimo de valorização

de 60% (em peso), do qual pelo menos 55% deverá corresponder a reciclagem, com metas

sectoriais mínimas de reciclagem de 60% para RE de papel/cartão e de vidro, 50% para o metal,

22,5% para o plástico e 15% para a madeira” (APA).

“O desenvolvimento de uma estratégia para os resíduos em Portugal deve ter em conta os

modelos organizativos existentes e os resultados alcançados ao nível da sua produção, recolha

e tratamento, mas também os documentos legais e estratégicos (nacionais e comunitários) que

foram publicados na última década” (PNGR).

Documentos Estratégicos

7º Programa Comunitário de Ação em Matéria de Ambiente

Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável 2015

Nova Estratégia da UE para o Desenvolvimento Sustentável

PERSU 2020

Estratégia Temática para a Utilização Sustentável dos Recursos Naturais

Estratégia Temática em matéria de prevenção e reciclagem de resíduos

Diretiva Quadro “Resíduos” (DQR)

Diretiva Aterros

Diretiva Resíduos Embalagens

14

2.3 Gestão de Resíduos de Embalagem em Portugal

A gestão de resíduos e mais especificamente de resíduos de embalagem (RE) provenientes do

fluxo urbano é assegurada pela recolha seletiva, que resulta da vontade cívica dos produtores

dos mesmos, em depositá-los voluntariamente nos ecopontos ou nos contentores diferenciados

porta-a-porta.

“São embalagens todos e quaisquer produtos feitos de materiais de qualquer natureza utilizados

para conter, proteger, movimentar, manusear, entregar e apresentar mercadorias, tanto

matérias-primas como produtos transformados, desde o produtor ao utilizador ou consumidor,

incluindo todos os artigos "descartáveis" utilizados para os mesmos fins” (APA).

Uma vez que as embalagens e resíduos de embalagem, transversais a todas as origens,

constituem um fluxo específico de resíduos, o seu modelo de gestão insere-se no âmbito da

aplicação do conceito da Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP), cuja responsabilidade

é do produtor dos bens e encontra-se, na sua maior parte, sob a responsabilidade de entidades

gestoras, não se excluindo a possibilidade da gestão ser assegurada individualmente (APA).

O circuito urbano de embalagens é então garantido pela SPV, em constante cooperação com os

sistemas multimunicipais e intermunicipais de gestão de RU, o que posteriormente encarregam-

se de sujeitar tais resíduos a uma triagem e encaminhamento para reciclagem. De salientar que

a gestão dos resíduos de embalagens de medicamentos, após a sua entrega nas farmácias, é

assegurada pela entidade gestora Valormed4.

No sistema de gestão do fluxo não urbano, o encaminhamento dos RE é efetuado pelos

produtores de resíduos para operadores de gestão licenciados, diretamente ou através de uma

rede de operadores com contrato com a Sociedade Ponto Verde (SPV).

Os RE de produtos fitofarmacêuticos são geridos pela Sigeru5, a entidade gestora do Sistema

Integrado de Gestão de Embalagens e Resíduos em Agricultura - Valorfito6.

4 Criada em 1999, a Valormed é uma sociedade sem fins lucrativos que tem a responsabilidade da gestão de embalagens vazias e medicamentos fora de uso. 5 Sistema Integrado de Gestão de Embalagens e Resíduos em Agricultura. 6 Designação que é comumente dada ao Sistema Integrado de Gestão de Embalagens e Resíduos em Agricultura.

15

0

10

20

30

40

50

60

70

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Taxa

de

reci

clag

em d

e R

E (%

)

Taxa de Reciclagem (total) Meta de Reciclagem (2011)

Recolha Seletiva de Embalagens

A recolha seletiva de embalagens é considerada uma mais-valia nos SGR, pois permite assim

perseguir as metas propostas para 2020, mas também permite dar seguimento a diversas

políticas ambientais que assentam-se na sustentabilidade e na diminuição de impactes

ambientais provenientes da produção de resíduos. Tal situação em Portugal é levada a cabo por

diversas entidades responsáveis pela recolha dos resíduos recicláveis, e a deposição dos

mesmos é efetuada de forma voluntaria por parte dos cidadãos em sistemas de ecopontos, eco-

ilhas, porta-a-porta ou através de ecocentros. A entidade gestora nesta gestão de RE é a SPV,

onde os resíduos provenientes do fluxo urbano são assim encaminhados para entidades

licenciadas no sistema elaborado pela SPV.

Em Portugal as taxas de reciclagem, têm vindo a sofrer variações por vezes positivas, outras

vezes nem tanto, mas ainda assim para 2012 e 2013 a taxa de reciclagem de RE em

percentagem do seu peso total é superior às metas estabelecidas para 2011, como é possível

verificar na Figura 2.3-1. Tal situação é tida como positiva, o que demonstra que o sistema de

recolha seletiva de embalagens tem vindo a ser uma mais-valia para o cumprimento das metas

propostas para 2020.

FIGURA 2.3-1: TAXA DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS DE EMBALAGEM. ADAPTADO: APA, 2013

Em Portugal, existem três entidades gestoras licenciadas para a gestão integrada de resíduos

de embalagens, designadamente a SPV, a Valormed e a SIGERU.

16

“Em Novembro de 1996, o Grupo Intersectorial da Reciclagem (GIR), em cooperação com a

Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca (CENTROMARCA), fundaram a

entidade privada Sociedade Ponto Verde S.A., aprovada pelo Ministério da Economia (ME) e o

Ministério do Ambiente (MA) em 1 de Outubro de 1997. A estrutura acionista da SPV é assim

constituída pelas seguintes entidades” (7):

• Embopar – 54,2%;

• Dispar – 20%;

• Interfileiras – 20%;

• Outros acionistas – 5,8%.

A SPV passa a ser primeira entidade gestora em Portugal orientada para recolha seletiva, retoma

e reciclagem de RE, no âmbito do sistema integrado previsto no DL nº 366-A/97 sobre

Embalagens e Resíduos de Embalagens.

Como entidade gestora e responsável, a SPV com o sistema ponto verde, também conhecido

por SIGRE7, existe assim para garantir uma melhor organização e gestão de um circuito que

assegura não só a retoma, mas também a valorização e reciclagem dos RE, como acima já

referido, contribuindo assim para a diminuição do volume de resíduos depositados em aterro. A

Figura 2.3-2 exemplifica como está elaborado esse mesmo sistema.

FIGURA 2.3-2: DIAGRAMA DE FLUXOS DOS RE E SEUS RESPETIVOS FLUXOS ECONÓMICOS.

7 Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens.

17

Os municípios, através do DL nº 239/97, de 8 de Setembro, são responsáveis pelo serviço público

de recolha dos RU. Dado que a recolha seletiva significa custos adicionais para os municípios, o

DL nº 366-A/97, de 20 de Dezembro, prevê que a organização que opera o sistema integrado de

valorização deve reembolsar estes custos adicionais através da celebração de contratos com os

SMAUT. As taxas de licenciamento são primeiramente usadas para cobrir os tais custos

adicionais. O restante é utilizado em campanhas, investigação e desenvolvimento. Os SMAUT

comprometem-se a proceder à recolha seletiva e à triagem das embalagens de origem urbana e

entregá-las a retomadores acreditados pela SPV. A SPV assume o compromisso de garantir, a

retoma e reciclagem ou valorização os RE, de acordo com as especificações técnicas. O

transporte realizado pelos municípios é também reembolsado pela SPV, de acordo com as tarifas

predeterminadas (Raminhos, 2012).

Em 2013, os valores de retomas de RE estão demonstrados na Figura 2.3-3 abaixo ilustrada. De

salientar que a fração papel/cartão é a que em mais quantidade é retomada, ficando a madeira

como fração com menores valores de retoma.

Em todos os Estados-Membros, os operadores económicos pertencentes a esta cadeia de RE,

nomeadamente fabricantes, embaladores, distribuidores e importadores, são assim ditos como

responsáveis pela gestão dos resíduos de embalagens e também por evidenciar um conjunto de

dados que permitam uma análise cuidada sobre as quantidades de embalagens que foram

novamente introduzidas no mercado.

Com a criação do sistema ponto verde acima referido, tal sistema permite que os operadores

possam encaminhar a sua responsabilidade de retoma de embalagens, em troca de um valor

económico anual previamente estabelecido pela SPV, e de acordo com o tipo de material em

questão. A simbologia verde proveniente nas embalagens que entram no mercado determina

assim uma forma de indicar que o produto é gerido pelo sistema de recolha seletiva.

A nível dos materiais recicláveis, as retomas de embalagens provenientes da recolha seletiva

multimaterial constituem o principal fluxo de saída de recicláveis. O mercado destes materiais é

maduro e encontra-se organizado pelo SIGRE há mais de 15 anos, sendo que no entanto existem

ainda desafios para aumentar o escoamento e a valorização económica destes resíduos.

“Garantir o escoamento destes materiais torna-se assim importante para o fecho do ciclo de

materiais e para a redução do consumo de recursos. Por outro lado, promover a sua valorização

económica é fundamental, dado que contribui para a sustentabilidade económica dos sistemas

de gestão de RU, bem como para a criação de riqueza a nível nacional” (PERSU).

18

178.795

316.219

101.26

56.345

40.765

693.384

0 100 200 300 400 500 600 700 800

Vidro

Papel/Cartão

Plástico

Metal

Madeira

Total

Toneladas

Tip

o d

e m

ater

ial

FIGURA 2.3-3: VALORES DE RETOMAS DE MATERIAL RECICLADO EM 2013, FONTE: SPV

“A necessidade de aumentar a reciclagem material, levou à melhoria da rede de recolha seletiva

e de mecanismos compensatórios que garantissem a viabilidade financeira das entidades

responsáveis pela recolha seletiva. Verificou-se assim um aumento de 280% (INE, 2013 e APA,

2013), em Portugal entre 2002 e 2012, de recolha seletiva com vista à reciclagem, onde se

incluem outros resíduos para além de embalagens. Esta rede é caracterizada por uma

quantidade substancial de ecopontos com 3 contentores (verde, azul e amarelo), milhares de

contentores não agrupados em ecopontos (com apenas capacidade para armazenar um ou dois

fluxos – vidro, embalagens de plástico e metal, papel e cartão) e por cerca de 200 ecocentros

distribuídos por todo o país. A recolha Porta-a-Porta (PaP) é essencialmente realizada nos

grandes centros urbanos de Lisboa e do Porto” (PNGR e PERSU, 2014).

O crescimento da rede de apoio à recolha seletiva permitiu que se atingisse um rácio de 262

habitantes por ecoponto em Portugal Continental. Contudo, verifica-se que o crescimento foi

heterogéneo (Figura 2.3.4). O rácio varia entre 360 (Ambisousa8) e 110 (AMCAL9) habitantes por

ecoponto.

8 “A Ambisousa é uma empresa intermunicipal de tratamento e gestão de resíduos sólidos da área geográfica do Vale do Sousa (região formada pelos concelhos de Castelo de Paiva, Felgueiras, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Lousada).” (APA) 9 “Associação de Municípios do Alentejo Central compreende os municípios de Cuba, Alvito, Vidigueira, Portel e Viana do Alentejo.” (APA)

19

FIGURA 2.3-4: NÚMERO DE HABITANTES POR ECOPONTO EM 2011 EM PORTUGAL CONTINENTAL, FONTE: PERSU

2020

Fazendo uma breve referência à figura acima ilustrada, denota-se uma tendência na diminuição

de habitantes por ecoponto quando se observa o lado esquerdo da figura, pelo fato de serem

empresas de gestão maioritariamente do Alentejo onde os ecopontos encontram-se mais

afastados da população, servindo menos habitantes por contentor. Denota-se ainda que a

capitação diminui quando se anda para baixo na figura, pelo fato de haver um menor consumo

de materiais recicláveis nestas localizações, nomeadamente em zonas com rendimentos mais

baixos.

Como já acima referido, em termos de infraestruturas da recolha seletiva salienta-se três grandes

grupos de sistemas, sendo eles os ecocentros, ecopontos e porta-a-porta. Os ecocentros

definem-se como pontos de entrega voluntária onde os produtores que pretendam desfazer-se

dos resíduos deslocam-se aos mesmos para proceder à entrega de recicláveis. Estes materiais

posteriormente são triados, prensados e enfardados para posterior entrega para reciclagem. Os

ecopontos são contentores especializados para a receção de resíduos triados na fonte, com

diferentes cores para cada tipo de material. A sua localização é maioritariamente escolhida de

acordo com a densidade populacional e vias de acesso, sendo o contentor verde para o vidro, o

azul para o papel e cartão e o amarelo para os plásticos e metais. No que diz respeito à recolha

seletiva porta-aporta nem todo o país é coberto por este tipo de recolha, caracterizando-se pela

diferenciação em contentores de menor porte que os ecopontos, e onde geralmente só existe a

capacidade de separação em dois fluxos de materiais.

20

Nas tabelas 2.3.2 e 2.3.3 é possível verificar em termos quantitativos para o ano 2012, as

infraestruturas existentes e os RE enviados para reciclagem provenientes da recolha seletiva.

TABELA 2.3-1: INFRAESTRUTURAS EXISTENTES NAS SMAUT EM 2012, FONTE (12)

TABELA 2.3-2: RE ENVIADOS PARA RECICLAGEM PROVENIENTES DA RECOLHA SELETIVA EM 2012, FONTE (12)

De referir que o papel/cartão que não é embalagem, também está inserido no mesmo circuito dos

acima mencionados, pois são também alvos de reciclagem.

Infraestruturas Existentes 2012

Contentores Verdes 48.921 un. 209 hab/un

Contentores Amarelos 43.175 un. 230 hab/un

Contentores Azuis 44.097 un. 225 hab/un

Ecopontos 42.164 un. 242 hab/un

Porta-a-Porta 595.572 hab 0.06 Total hab/servidos

Ecocentros 209 un.

Estações de Triagem 34 un.

RE da recolha seletiva enviados para reciclagem 2012

Vidro 158.719 ton/ano 15.06 kg/hab.ano

Papel/Cartão 90.566 ton/ano 8.59 kg/hab.ano

Plástico 43.813 ton/ano 4.16 kg/hab.ano

Aço 6.608 ton/ano 0.63 kg/hab.ano

Alumínio 399 ton/ano 0.04 kg/hab.ano

Madeira 4.245 ton/ano 0.40 kg/hab.ano

Total 304.351 ton/ano 28.88 kg/hab.ano

21

2.4 Triagem

Uma das forças identificadas nos sistemas de gestão de RU e que é de extrema importância

referir, é a rede de infraestruturas de triagem e tratamento mecânico. Contudo, é também

reconhecido que existem grandes diferenças ao nível da eficiência dos processos e que podem

ser atenuadas pela introdução, por exemplo, de equipamentos de triagem automática, pela

qualificação dos recursos humanos e pela propagação das melhores práticas.

Sendo a triagem a fase posterior à recolha, e que de certa forma determina a eficiência de

separação, esta pressopõe várias fases, de modo a que no final do processo de triagem, os

materiais estejam aptos para serem reutilizados. Analisando essas mesmas fases é essencial

referir que a escolha das operações unitárias do processo baseia-se no uso das características

físicas ou químicas dos diferentes materiais de forma a conseguir separá-los do restante fluxo

dos resíduos. Como tal descreve-se em baixo as etapas mais importantes no processo de

triagem de materiais provenientes do fluxo urbano de reciclagem.

Pré-Triagem

Nesta fase pretende-se organizar o fluxo dos resíduos de forma a facilitar e a melhorar o

processo de triagem que irá ser realizado após esta fase. Geralmente como os resíduos são

depositados dentro de sacos é, necessária a abertura dos mesmos, de modo a tornar acessível

os materiais para triagem. Os materiais contaminantes demasiado grandes como é o caso das

grades plásticas, mobiliário de jardim ou vassouras, que facilmente é mal depositada por parte

da população, são retirados por forma a evitar danos mecânicos nos equipamentos a jusante.

Nesta fase são removidos ainda os materiais de dimensão reduzida, designados por finos,

porque são demasiado pequenos para conseguirem ser triados ou a sua dimensão não permite

a reciclagem. Algumas das tecnologias presentes nesta fase estão descritas sucintamente

abaixo:

• Abridor de sacos

“Abre e remove o saco de plástico, podendo ser realizada através de abridores ou

trituradores de sacos mecânicos, ou pode ser uma operação realizada manualmente por

elementos da estação que se encontrem nesta fase do processo. Os abridores de sacos

funcionam também como reguladores do fluxo de resíduos para jusante.” (13)

FIGURA 2.4-1: ABRIDOR DE SACOS (14)

22

• Aspirador de filme

“Equipamento constituído por uma conduta onde, por meio de uma corrente de ar em

sucção, os filmes e os sacos de plástico são aspirados para uma zona ou contentor de

deposição. A sua remoção é de extrema importância, sobretudo em estações fortemente

mecanizadas, porque se tratam de materiais leves e flexíveis, que podem facilmente

depositar-se no interior dos equipamentos, causando-lhes avarias ou diminuindo a sua

eficiência.” (15)

FIGURA 2.4-2: ASPIRADOR DE FILME (15)

• Crivo plano

“Placa perfurada com espaçamentos geralmente de mesma dimensão, que permite uma

pré triagem granulométrica dos resíduos, por forma a eliminar os elementos demasiado

finos para serem triados. Os materiais que têm dimensões inferiores às das perfurações

passam através do crivo e, no final, têm-se dois fluxos diferentes.” (16)

FIGURA 2.4-3: CRIVO PLANO (15)

23

• Trommel ou crivo rotativo

“Um trommel é um crivo rotativo cuja secção pode ser circular, hexagonal ou octogonal,

apresentando-se como um tubo ligeiramente inclinado que pode ter diferentes zonas de

crivagem, o que permite separar RE de tamanhos diferentes. A mistura de resíduos

progride da zona mais elevada, onde é feita a alimentação, para a zona mais baixa

devido à inclinação e à rotação do trommel, sendo eliminados através dos diferentes

orifícios os resíduos de dimensões inferiores a estes, tal como no crivo plano. O facto de

os resíduos sofrerem um movimento circular permite que os diferentes materiais se

soltem uns dos outros, facilitando a remoção dos finos e a triagem posterior dos RE a

reciclar.” (16)

FIGURA 2.4-4: CRIVO ROTATIVO (14)

• Classificador de ar

“Estes equipamentos utilizam um fluxo de ar para separar a fração leve dos resíduos da

fração pesada, com base nas suas diferentes densidades. Outras variáveis afetam

também o resultado da separação, como o tamanho, o formato ou a humidade, facto que

no caso do papel pode alterar bastante o seu peso, tornando-o uma fração pesada.” (17)

FIGURA 2.4-5: CLASSIFICADOR DE AR (14)

24

Triagem

Sendo esta fase posterior à pré-triagem, pretende-se nela obter um conjunto de materiais com

as mesmas características, de acordo com as especificações técnicas das indústrias

retomadoras, e com a menor quantidade possível de impurezas. De referir que nenhum sistema

é 100% eficaz em termos de triagem. Como tal, referimos algumas tecnologias que desta fase

fazem parte:

• Mesa de triagem

“Este equipamento permite apresentar os RE aos diferentes postos de triagem sendo

esta geralmente constituída por um tapete móvel em tela que passa defronte dos

triadores.” (13)

“Quanto ao tipo de material removido do tapete, a triagem pode ser classificada como:

a. Triagem positiva, o triador remove do tapete os materiais a reciclar, deixando

ficar os indesejáveis;

b. Triagem negativa, o triador remove do tapete os contaminantes, deixando ficar

os materiais para reciclagem, sendo que neste tipo, a triagem só consegue ser

eficiente com fluxos relativamente limpos, ou em que há um tipo de material

claramente predominante em relação aos restantes RE.” (18)

FIGURA 2.4-6: MESA DE TRIAGEM CIRCULAR COM LANÇAMENTO FRONTAL E LATERAL (19)

25

• Separador magnético

“Com esta tecnologia, é possível separar os elementos ferrosos duma mistura em

movimento, por meio de atracão magnética. Pode ser constituído por um material

magnético que cria um campo magnético estável, um íman permanente, ou por um

eletroíman, que utiliza uma corrente elétrica para magnetizar um núcleo de ferro

(Tchobanoglous e Kreith, 2002). Este último é geralmente mais potente mas também

mais caro, já que necessita de uma alimentação elétrica.” (16)

FIGURA 2.4-7: SEPARADOR MAGNÉTICO (20)

• Separador por correntes de Foucault

“O princípio das correntes de Foucault é a geração de campos magnéticos repulsivos

para o alumínio e os metais não ferrosos, o que permite separá-los duma mistura de

embalagens. Estes campos magnéticos repulsivos são obtidos a partir de correntes

elétricas, induzidas elas próprias por um campo magnético variável. O gerador de

correntes de Foucault está colocado no interior de um transportador, no final do percurso

deste. À passagem dos resíduos, a força de repulsão levanta e lança para a frente as

embalagens de alumínio e de metais não ferrosos. Uma placa divisória permite separar

este fluxo do restante fluxo de materiais.” (13)

FIGURA 2.4-8:SEPARAÇÃO POR CORRENTE DE FOUCAULT (20)

26

• Separador balístico

Este equipamento é usado, sobretudo, em fluxos com materiais plásticos, separando as

embalagens de acordo com a sua forma (planas ou arredondadas) e densidade (leves

ou pesadas), proporcionando, simultaneamente, a eliminação dos finos. É constituído

por um conjunto de barras metálicas, de estrutura aberta e com umas pequenas

anteparas, montadas sobre um plano inclinado.

FIGURA 2.4-9: SEPARADOR BALÍSTICO (20)

• Triagem automática com sensores

Estes equipamentos foram introduzidos na triagem, de modo a melhorar a eficiência e a

produtividade da triagem manual. Este tipo de triagem é realizada através do auxílio de

sensores de diversos tipos, de modo a separar por via automática os materiais nos fluxos

respetivos, com as características desejadas.

Compactação

Nesta fase, já com os materiais triados de acordo com os fluxos e características necessárias,

procede-se à diminuição do volume dos materiais, densificando-os. Desta forma, é facilitado o

manuseamento dos materiais, otimizando também o espaço de armazenamento. Abaixo

descreve-se algumas tecnologias utilizadas nesta fase:

• Perfurador de garrafas de plástico

“Ao serem compactadas, as embalagens de plástico de PEAD 10 deformam-se com

facilidade e as de PVC11 quebram. Numa face oposta, as embalagens de PET12 resistem

à pressão se mantiverem as tampas, o que diminui a eficácia da compactação e acarreta

um risco de rebentamento dos fardos em posteriores manipulações, podendo inclusive

10 Polietileno de Alta Densidade é um polímero simples, barato, sendo um dos plásticos mais comumente utilizados no mercado, em várias aplicações e neste caso na produção de embalagens. 11 Policloreto de Vinil é um polímero constituído por etileno e vinil podendo ser rígido ou flexível, utilizado em inúmeras aplicações, sendo uma delas os contentores de lixo. 12 Politereftalato de Etileno é um polímero termoplástico, formado pela reação entre o ácido tereftálico e o etileno glicol, encontrando-se como material constituinte de inúmeras garrafas.

27

causar danos às prensas. Para evitar estes problemas é indispensável recorrer à

perfuração das embalagens de PET antes de as compactar.” (16)

FIGURA 2.4-10: PERFURADOR DE GARRAFAS DE PLÁSTICO (21)

• Prensa de enfardar

“A prensa de enfardar serve para compactar os materiais na forma de fardos, facilitando

a sua manipulação, armazenagem e transporte. Ao escolher uma prensa, é necessário

ter em conta alguns aspetos como o tipo de material a compactar, as dimensões dos

fardos, a potência necessária, entre outros” (16):

FIGURA 2.4-11: PRENSA DE ENFARDAR (15)

Manuseamento

Esta fase é a última etapa do processo de triagem, onde se inclui um conjunto de equipamentos

necessários à entrada, movimentação e saída dos resíduos na ET, como por exemplo

dispositivos de pesagem, veículos de recolha e retoma de RE.

28

A triagem torna-se assim uma operação essencial e de extrema importância, para que todo o

sistema de reciclagem possa acontecer, de modo a estabelecer a ponte de ligação entre o fim

de uso e a reutilização. A triagem adapta-se assim, a um conjunto de fatores que estão

associados ao sistema a montante, nomeadamente no tipo de recolha, pelo que as ET não têm

que satisfazer uma linha prévia de operações recomendadas e iguais a todas as ET, pois só

assim se consegue definir e alcançar eficiências elevadas, sendo importante a compreensão dos

processos e tecnologias mais adequadas para cada caso específico.

FIGURA 2.4-12: MANUSEAMENTO DE FARDOS DE PAPEL ATRAVÉS DE UMA MULTICARREGADORA (15)

29

3 Revisão Bibliográfica com vista a determinar parâmetros para o

modelo

A gestão de RU é um dos problemas da sociedade moderna. Os governos nacionais, regionais

e municipais enfrentam este problema com frequência, pois as politicas passadas de gestão de

resíduos baseadas em aterros e com baixo custo (baixo controlo), não são mais aceitáveis num

contexto de maior proteção ambiental e de eficiência de recursos.

A nova visão centra-se em cuidados de futuro para com as questões ambientais, mantendo o

equilíbrio entre o progresso, qualidade de vida e meio ambiente. A otimização da recolha de

resíduos, através da separação na fonte, deverá ser a mais-valia na superação de políticas de

gestão de resíduos baseadas em aterros.

A política da UE recomenda a redução da contribuição da gestão de RU para o impacto

ambiental, e a melhoria da reciclagem de materiais e recuperação de energia. Estas

recomendações terão um impacto significativo sobre as estratégias destinadas à otimização da

gestão de resíduos sólidos urbanos (22).

Nos últimos anos, os decisores têm sido capazes de contar cada vez mais com o apoio de

dispositivos eletrónicos e “software” específico, tornando esta gestão mais otimizada, com maior

controlo e reduzindo ainda custos elevados, na otimização de rotas, de meios mecânicos de

recolha e triagem. Desta forma, a informação melhorada é necessária, a fim de otimizar e reduzir

os custos de gestão, melhorando a qualidade do serviço para a aplicação destes princípios aos

cidadãos.

Nesta secção far-se-á uma abordagem e caracterização dos meios disponíveis

internacionalmente na recolha seletiva e gestão de resíduos urbanos, nomeadamente em

modelos de gestão já existentes neste tipo de recolha.

Como tal, foi feita uma revisão bibliográfica internacional, de modo a obtermos uma panóplia de

casos de estudo, fazendo assim com que pudéssemos ter várias variáveis para analisar,

contribuindo para um melhor entendimento nas futuras correlações feitas ao longo da conceção

do modelo tecnológico-económico resultante deste trabalho.

Um fator que determina a eficiência económica de um sistema de gestão de resíduos, é o tipo

de taxação que cada município adota. De notar, que atualmente o tipo de taxação baseado e

acoplado ao consumo de água (m3), não permite de forma justa e equitativa taxar a produção de

resíduos pelos produtores finais, sendo o facto de que atualmente com este tipo de taxação, as

entidades responsáveis pela recolha e gestão de resíduos vêm os seus custos colmatados em

aproximadamente 35%, o que origina um défice elevado que posteriormente tem que ser

assegurado pelas autarquias ou municípios correspondentes.

30

3.1 Tendências Internacionais

Ao introduzirmos neste capítulo uma visão mais global, ou seja uma revisão bibliográfica a nível

internacional, permite-nos assim identificar as principais variáveis que podem e interferem na

geração de RU, na recolha dos mesmos, no transporte e na triagem. Complementa-se assim o

que já é conhecido e realizado em Portugal, com novas rotas tecnológicas alternativas para o

tratamento e deposição de resíduos urbanos recicláveis.

Abaixo é possível observar uma análise a diversos países, onde é perceptivel alguns fatores

decisivos na gestão de RU, nomeadamente fatores estratégicos-legais, geração de RU, tipos de

tratamento e tendências para o futuro.

FIGURA 3.1-1:PANORAMA DOS RESÍDUOS NA ALEMANHA (23) (24)

Como é conhecido, a Alemanha salvo exceção não envia para aterro os seus RU. Em vez disso,

é um país em que a taxa de reciclagem aproxima-se dos 50%. Em 2009 como é possível

perceber pelo gráfico acima, este país ainda apostava muito no envio dos resíduos para aterro,

mas com o passar dos anos a Alemanha conseguiu através das suas políticas um aumento

crucial da reciclagem e ainda no tratamento térmico, nomeadamente na incineração.

31

FIGURA 3.1-2: PANORAMA DOS RESÍDUOS NA COREIA DO SUL (25)

Numa análise mais internacional feita à Coreia do Sul, é possível verificar que este país além de

produzir pouco resíduo por habitante/dia, recicla mais de 50% dos seus RU, fonte das fortes

implementações por parte do governo nas políticas de reciclagem, sendo esta uma tendência

para continuar a prosperar no país.

FIGURA 3.1-3: PANORAMA DOS RESÍDUOS NOS EUA (26) (27)

Nos Estados Unidos da América, as políticas até ao momento implementadas na maioria dos

estados, não permitem que as taxas de reciclagem aumentem, pois é um país com forte índice

de envio de RU para aterro. Tal deve-se ao facto de se produzir uma quantidade elevada diária

de resíduos, levando a que em muitos estados as instalações de tratamento sejam

sobrecarregadas, ou mesmo fiquem longe impossibilitando muitas vezes o envio dos resíduos

para as mesmas. (28)

32

FIGURA 3.1-4: PANORAMA DOS RESÍDUOS NA INGLATERRA (29) (30)

Em Inglaterra, em que já existe uma tendência de políticas ambientais em relação ao panorama

dos resíduos desde há muito tempo, este país todos os anos vem aumentando cada vez mais a

sua legislação no que toca a medidas de aumento de reciclagem, diminuindo assim e fechando

muitos dos aterros que se encontravam no ativo até meados de 2011, e onde se apostou forte

na compostagem e tratamento térmico dos resíduos.

FIGURA 3.1-5: PANORAMA DOS RESÍDUOS EM ESPANHA (31) (32)

33

Como Portugal, a vizinha Espanha ainda envia muito dos seus RU para aterro, muito devido à

difícil implementação de políticas ambientais por parte da agência do ambiente espanhola. Com

uma capitação média diária de resíduos muito parecida a Portugal, a reciclagem dos mesmos

ainda tem um longo caminho a percorrer até atingir níveis satisfatórios, embora nos últimos anos

esse esforço venha a ser feito com a introdução de legislação, como a que podemos observar

acima.

FIGURA 3.1-7: PANORAMA DOS RESÍDUOS NA UE (31)

Fazendo uma análise final ao panorama dos resíduos, na União Europeia é possível verificar

uma diminuição gradual da capitação diária por habitante ao longo dos anos, tendo como

principal meta até 2020 o aumento da reciclagem para todos os estados membros de 50%. A

deposição em aterro também vem sendo abordada cada vez mais na UE, de modo a se

conseguir a diminuição e o fecho de muitos dos mesmos e assim apostar na sustentabilidade

ambiental ambicionada. A legislação como já foi referida anteriormente tende cada vez mais a

ser maior e mais rigorosa, perfazendo com isto o aumento para níveis satisfatórios da reciclagem.

Finalizando, de salientar que Portugal, apresenta uma evolução em muito parecida à vizinha

Espanha, sendo que produz por habitante/ano cerca de 450 kg de RU, sendo que 30% dessa

produção é de RE. A nível de políticas, como já referido no enquadramento estratégico-legal do

capítulo 2, Portugal tem vindo a introduzir novas políticas e novos documentos de auxilío a

tomadas de decisões, bem como metas promissoras e ambiciosas para as taxas de reciclagem

e desvio de RU em aterro.

34

3.2 Modelos Operacionais de Recolha

À semelhança dos sistemas de recolha indiferenciada, os sistemas de recolha seletiva mais

generalizados na Europa, são os seguintes (Adenso-Diaz, 2005 (33)):

• Recolha Porta-a-Porta (PaP), em que cada família possui pequenos contentores, ou

sacos, para depositar os vários recicláveis abrangidos pelo sistema e os coloca na sua

porta na altura da recolha. Como o sistema de deposição é de fácil acesso, torna-se uma

vantagem para os utilizadores em geral, pois não têm que se deslocar para deixar os

recicláveis num ponto de recolha, fazendo-se assim com que se obtenha melhores

resultados de participação. Este é, no entanto, o sistema mais caro de implementar e o

que necessita de maiores recursos devido ao facto de ser um sistema denso que requer

muitas paragens por parte das equipas de recolha;

• Recolha Ecopontos, em que a população desloca-se até um determinado ponto da via

pública onde se encontram contentores destinados à deposição dos recicláveis,

normalmente de fácil acesso ao veículo de recolha. Este sistema tem a vantagem de

necessitar de menos recursos na recolha dos resíduos que o sistema PaP, no entanto

requer um maior esforço de deslocação por parte da população, principalmente para a

faixa etária mais envelhecida ou com problemas de locomoção.

• Recolha Ecocentro, que funciona normalmente como complemento a um dos dois

sistemas de recolha acima referidos, sendo onde se depositam os resíduos com

potencial para serem reciclados mas que no entanto não são abrangidos pelos restantes

sistemas de recolha, geralmente resíduos de maiores dimensões ou em grandes

quantidades. Estes sistemas abrangem uma zona geográfica mais alargada que os

restantes, pelo que a distancia a percorrer pela população é maior e voluntária.

Uma das grandes limitações dos sistemas de recolha seletiva é o fato de se encontrarem muito

dependentes das atitudes e comportamentos dos cidadãos, ou seja, da sua taxa de participação.

A incerteza relativamente a taxa de participação é assim um dos muitos fatores a acrescentar na

complexidade do planeamento e organização de circuitos de recolha seletiva.

“Nos sistemas PaP, a taxa de participação é calculada pelo registo do número de habitações que

colocam à sua porta os recipientes para serem removidos, pelo menos uma vez por mês, sendo

este cálculo uma medição direta de comportamentos. Quando se avalia os sistemas de

deposição em ecopontos, o cálculo da taxa de participação já não é possível, recorrendo-se para

o efeito a um levantamento indireto dos comportamentos, por questionários, solicitando-se as

pessoas que relatem a frequência com que se deslocam ao ecoponto” (34).

35

Numa análise mais específica aquando da implementação de sistemas de deposição, os

sistemas PaP são mais adequados para aglomerados de moradias ou prédios com menos de

três andares. Este tipo de sistema apresenta variações que dizem respeito ao número de

componentes a separar na fonte, ao tipo e número de recipientes utilizados para a deposição

dos recicláveis, ao tipo de veículos e sistema de recolha, à frequência e ao horário da recolha e

ao tipo de veículos. (35)

“Com um sistema de separação dedicada/veículo multi-compartimentado, os residentes separam

em casa mais do que uma fração de recicláveis e depositam-nos em recipientes diferentes e o

cantoneiro de recolha despeja o conteúdo de cada recipiente para o respetivo compartimento do

veículo” (35).

“Relativamente aos sistemas coletivos por transporte voluntário, incluem-se também uma grande

variedade de opções para a deposição e, tal como os sistemas PaP, exige-se aos produtores de

resíduos a separação na fonte, e também o seu transporte para os pontos de deposição” (35).

Os sistemas por transporte voluntário dividem-se nos seis seguintes sistemas (35):

1) Contentores isolados;

2) Ecopontos;

3) Ecocentros;

4) Sistemas de deposição móveis (contentores periódicos em localizações específicas);

5) Recolhas periódicas;

6) Centros de compra e venda de recicláveis.

Em relação aos sistemas de ecopontos, e de uma forma geral, estes apresentam as seguintes

vantagens (36):

1. Custos menores de capital e operação, comparativamente aos sistemas porta-aporta

(PaP);

2. São flexíveis para uma grande gama de contentores (tipo e dimensões) o que permite a

sua adaptação à estrutura e à densidade do tecido urbano;

3. Se o nível de participação dos cidadãos for elevado consegue-se a recolha de materiais

de boa qualidade.

Relativamente às desvantagens, destacam-se, como mais significantes, as seguintes (36) (37)

(38):

1. A quantidade e a qualidade dos materiais está muito dependente da eficiência de

participação dos cidadãos;

2. Contentores individuais e ecopontos são muito vulneráveis a atos de vandalismo e roubo,

podendo, igualmente, ser esteticamente desagradáveis, barulhentos, sujos e pouco

higiénicos.

36

3. Os ecopontos só são aceitáveis em determinados locais urbanos, devido à necessidade

de espaço na área circundante ao ecoponto para as manobras das viaturas de remoção.

FIGURA 3.2-1: EXEMPLO DE CONTENTORIZAÇÃO E RECOLHA SELETIVA DE RU POR ECOPONTO E PORTA-A-PORTA

Para uma melhor adequação aos diversos sistemas de recolha a implementar, é necessário um

estudo prévio sobre algumas condicionantes explicadas abaixo, que irão permitir assim definir o

tipo de recipiente a adotar (35):

• Características urbanas locais;

• Flexibilidade do sistema;

• Capacidade de deposição;

• Grau de participação a esperar da população;

• Número de contentores necessários;

• Melhoria das condições de higiene e segurança dos trabalhadores;

• Tipo de veículos de recolha;

• Custos de implementação e exploração;

• Adaptabilidade da tecnologia;

• Tempos de carga/descarga.

Finalizando de salientar que os sistemas de recolha indiferenciada, são também um tipo de

recolha de extrema importância não só para uma constante preservação do bem-estar público,

como também uma forma de após triagem dos RU provenientes desta recolha proceder-se à

extração de uma parcela de recicláveis, seja através de processos de degradação biológica ou

de triagem automatizada. Este tipo de recolha compreende maioritariamente a recolha PaP,

podendo no entanto muitas vezes surgir numa recolha por contentores isolados de grandes

dimensões, à semelhança dos ecopontos na recolha diferenciada.

37

Modelos Económicos de Gestão de RU

Focando a atenção apenas nos aspetos económicos, o planeamento de um sistema adequado

de recolha seletiva de RU, deve visar a minimização dos custos, juntamente com o objetivo de

otimizar o serviço prestado à comunidade. No entanto, ampliando a perspetiva de intervenção, a

atenção deve centrar-se simultaneamente nas consequências ambientais das opções técnico-

económicas feitas ou a serem feitas, bem como na minimização do consumo de recursos.

Observando algumas das limitações de estudos lidos, o estudo efetuado por A.W. Larsen (39) a

uma região da Dinamarca, onde esta se destacava apenas por três tipos de cenários possíveis

e para uma população de aproximadamente 300 mil pessoas, ficou ciente a dificuldade em

determinar um conjunto de variáveis que fossem possíveis assentarem como pilhares de um

modelo que permitisse determinar custos anuais de poupança com a recolha seletiva, onde a

participação pública foi uma das variáveis contabilizada através de questionários.

Gallardo et al (40) por sua vez no seu estudo de caso realizado em Espanha, não faz referência

aos custos associados à recolha seletiva, mas sim analisa diferentes cenários com diferentes

sistemas de recolha, nomeadamente na diferença de contentorização, e no número de

contentores utilizados, sendo este estudo limitado a uma população abrangida algo pequena,

onde chega a conclusões sobre quais os sistemas que maior quantidade recolhe.

Num estudo limitado por uma população entre 1000 a 10 000 habitantes, De Feo e Malvano (41),

analisam através de variáveis que focam o número de veículos e recursos humanos necessários

à recolha seletiva, os custos totais em €/hab/ano por tipo de fração recolhida, ou seja, se resíduo

orgânico ou resíduo seco (ambos recicláveis). Identificou ainda fases de impacto sobre os custos,

onde foi possível verificar que a recolha é uma das fases mais significativas sobre os custos

totais.

Com uma análise sobre os benefícios decorrentes da aplicação de cenários propostos no estudo

de caso na cidade de Zavidovici (Bósnia), Vaccari et al (42) propõe cenários ideais de recolha

seletiva, comparando-os com o cenário existente, retirando assim valores de custos e de volumes

depositados. Uma limitação do estudo, é que a população é muito limitada a nível de número de

habitantes, e o sistema utilizado atualmente na localidade para a recolha seletiva, é o da

deposição em sacos de 85L dos materiais recicláveis que são posteriormente recolhidos PaP.

Ainda outra limitação é a não inclusão do material vidro, pois não existem fábricas de reciclagem

do mesmo. O estudo conclui para esta localidade um défice de 73€/mês com o atual sistema de

reciclagem, onde com o cenário ideal a poupança ascenderia aos 10 000€/mês.

Outro estudo um pouco diferente dos acima referidos, onde a base dos mesmos é a escolha de

variáveis que constituirão um modelo de análise de custos consoante o tipo de sistema

implementado, Dahlén L. (43) (44) (45) (46), analisa um conjunto de fatores que influenciam a

recolha seletiva, desde a deposição até à sua posterior triagem. Elabora assim um conjunto de

43 variáveis entre as quais participação pública, incentivos económicos, estratégias de

38

informação, tipos de sistemas de recolha, entre outras, que deverão ser estudadas aquando de

uma execução de um plano de gestão de recolha seletiva de RU.

Com uma análise elaborada, e recorrendo a um “benchmark” internacional, o estudo levado a

cabo pela Bain&Company (47), elabora um conjunto de resultados provenientes de uma análise

detalhada de vários métodos de recolha e tratamento de RU. Entre as variáveis estudadas, está

o valor de contrapartida, valores de capex13 e opex14 das diversas operações necessárias à

recolha de RU, valores de Impostos por parte do governo, e ainda valores de EBITDA15. O

balanço final do fluxo económico é feito através dos valores de capex, impostos, opex, sendo

estes subtraídos ao valor do EBITDA. Este estudo embora muito detalhado, recorre a alguns

fatores que podem fazer variar os valores finais de custo quando comparados com outros

estudos do mesmo foro. Tais fatores são o horizonte de análise de projeto que é de 30 anos,

sendo este dividido numa fase de implementação, noutra de operação e outra ainda de pós-

operação, fatores como taxas de desconto anuais e taxa de retorno interna. O cálculo do capex

foi também divido em três fases, contemplando na terceira fase uma taxa de gasto a cada cinco

anos, o que irá somar a valores de opex, bem como na utilização de médias para variáveis sem

informação disponível. Finalizando a análise a este estudo, os valores de custo estão divididos

por tecnologia, ou seja, o modelo não nos fornece o custo total do sistema de reciclagem desde

a sua recolha até à sua reutilização, mas sim custos de recolha, custos de utilizar-se incineração,

custo de enviar RU para aterro, fazendo com que cada tecnologia seja um sistema individual,

com os seus respetivos custos.

Outros estudos como EIMPack (48), Carvalho, M (49), Fernandes, G (50), Lavita, M (51),

Carvalho e Marques (52), Gomes, C (53) e Marta, B (54), elaboram um conjunto de modelos e

pressupostos que estudam os sistemas de reciclagem existentes e os fatores que mais

influenciam tais sistemas. Ainda assim ficou percetível que devido à falta de informação

necessária à elaboração de modelos tecno-económicos, os estudos acima elaborados começam

a transmitir um conjunto de ferramentas necessárias para que no futuro muitas dessas

ferramentas em conjunto com novos modelos, possam ajudar numa melhor otimização dos

sistemas de gestão de RU, quer a nível tecnológico, quer a nível económico.

Com esta revisão bibliográfica foi então possível perceber e selecionar alguns parâmetros

essenciais à construção do modelo, pelo que no quadro 3.1-1 encontra-se essas mesmas

variáveis.

13 “Expressão inglesa capital expenditure (em português, despesas de capital ou investimento em bens de capital), sendo o montante de dinheiro despendido na aquisição (ou introdução de melhorias) de bens de capital de uma determinada empresa.” (Wikipédia) 14 “Operational Expenditure (em português, despesas operacionais) significa o capital utilizado para manter ou melhorar os bens físicos de uma empresa, tais como equipamentos, propriedades e imóveis. As despesas operacionais são os preços contínuos para dirigir um produto, o negócio, ou o sistema.” (Wikipédia) 15 “EBITDA é a sigla em inglês para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization, que em português significa lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações.” (Wikipédia)

39

Parâmetro Descrição Unidades

RU Geração RU ton/hab

NC Nº Contentores contentor

Nv Nº Veículos veículos

Pcomb Preço combustível €/l

Ce Custo equipa recolha €/veíc

St Salário dos trabalhadores €/h

F Frequência recolha semana

CRI Custo recolha indiferenciada €/ton

Caterro Custo deposição aterro €/ton

TABELA 3.2-1:LISTA DE VARIÁVEIS RECOLHIDAS ATRAVÉS DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA EFETUADA

3.3 Motivação do Estudo

Uma das principais lacunas nos modelos acima descritos e revistos é a demonstração completa

dos custos e benefícios dos sistemas de recolha seletiva, ou seja, é a falta de um conjunto de

variáveis que permitam uma análise global deste tipo de sistemas.

Muitas das vezes a difícil comparabilidade entre os estudos dificulta o aproveitamento dos

mesmos na implementação de novos modelos que permitam assim compreender e demonstrar

os reais custos e benefícios do sistema de recolha seletiva. A falta de descrição metodológica

em muito dos mesmos, bem como a fraca transmissão da realidade, fazem com que estes

modelos contenham falhas nos valores finais a que se propõem.

Com esse foco, é necessário começar-se a fazer uma análise cada vez mais precisa e real, mas

também mais abrangente, visando sempre essa análise a vertente tecnológica e económica dos

sistemas de gestão de RU, de modo a se obter um conjunto de custos/benefícios que possam

ser utilizados com rigor em futuras análises, aumentando cada vez mais a eficiência dos

mesmos.

Sendo a falta de dados muitas vezes uma preocupação e uma obstrução a modelos de análise,

com este estudo criou-se um modelo que fosse possível conjugar uma base de dados recolhida

e recorrendo muitas vezes à bibliografia, com um conjunto de formulações que transmitissem

uma realidade aproximada dos custos/benefícios. Tal modelo contém um conjunto de variáveis

que permitem, uma análise global de todo o sistema, desde a recolha à reutilização dos resíduos,

de modo a que seja possível no futuro aproximar-se o mesmo a uma análise técnico-económica

dos sistemas de gestão de RU.

40

4 Modelo Tecnológico-Económico

4.1 Metodologia

Este estudo pretende realizar uma análise tecnológica-económica do sistema de reciclagem de

embalagens para Portugal, desde a sua produção, ou seja, sua deposição, bem como recolha,

transporte, triagem e por fim sua reutilização, sendo esta contabilizada pelo valor de

contrapartida inserido no sistema. Para tal, foram considerados um conjunto de tecnologias de

deposição, recolha, transporte e triagem, bem como foram considerados um conjunto de fluxos

financeiros presentes no sistema de reciclagem de embalagens. Os dados obtidos foram

conseguidos através de uma revisão extensa de bibliografia, através de trocas de informação

entre empresas da área em questão, e outros através de médias obtidas aquando da falta de

dados. De salientar que a análise realizada é apenas para o fluxo urbano de resíduos de

embalagens, não contabilizando assim fluxos provenientes do setor HORECA 16 , ou fluxos

industriais. Os limites considerados no nosso estudo começam no momento em que os materiais

recicláveis deixam de apresentar valor para os seus detentores, acabando no momento em que

esses materiais estão prontos a serem reutilizados, ou seja, no momento em que a reciclagem é

completada. De salientar que o espaço temporal utilizado no cálculo efetuado pelo modelo é

anual, sendo que as simulações foram efetuadas para o ano de aquisição, ou seja, para o ano

0.

Como já referido, o âmbito deste trabalho é a análise e simulação de um sistema de reciclagem

para RE. Para tal, após um estudo sobre os sistemas de gestão de recicláveis não só em

Portugal, mas também a nível internacional, foi possível perceber um conjunto de fatores que

são decisivos na modelação deste tipo de sistemas. Sendo este um modelo que aborda o sistema

de reciclagem de RE como um todo, ou seja, desde a deposição do resíduo, até à sua

reutilização, foram elaboradas num conjunto de fases, o modelo tecnológico-económico final.

Tais fases de construção estão descritas na Figura 4.1-1.

16 Setor da indústria alimentar, abrangendo a hotelaria e restauração, consistindo nos estabelecimentos que preparam e servem alimentos e bebidas, sendo o termo uma abreviação de Hotel/Restaurante/Café.

41

FIGURA 4.1-1: DIAGRAMA ILUSTRATIVO DAS FASES DE CONSTRUÇÃO DO MODELO

Como acima foi descrito através do diagrama da Figura 4.1-1, primeiramente foi realizada uma

vasta revisão bibliográfica não só a modelos do mesmo foro já existentes, como também foi

revista um conjunto de publicações sobre modelos de gestão de RU para que se percebesse que

variáveis determinam restrições, ou que influenciam direta ou indiretamente os sistemas de

gestão no nosso caso de recicláveis de embalagens, desde a sua deposição por parte dos

utilizadores finais, até à sua preparação para reutilização. De salientar que quanto mais profunda

for esta análise, mais variáveis de entrada para o modelo poderão ser escolhidas devido à sua

pertinência. Ainda assim, foram escolhidas as variáveis mais importantes e que mais se

adequavam ao modelo elaborado neste trabalho, não obstante que outras variáveis pudessem

ser escolhidas e aí o detalhe do modelo fosse maior, o que levaria também a um aumento de

erros de resultados, visto que como iremos perceber mais à frente, muitas variáveis foram

definidas com valores meramente bibliográficos.

Após a revisão bibliográfica acima comentada, foi-nos possível então elaborar um conjunto de

variáveis (que irão ser referenciadas mais à frente) para serem introduzidas como parâmetros

de entrada no modelo. De salientar que nesta fase já havia uma noção das formulações que

iriam ser efetuadas mais à frente, fruto da revisão bibliográfica e do ganho de conhecimento que

dela proveio.

Na fase de construção da base de dados a ser utilizada, focando o que havia sido lido e

pesquisado, foram retirados conjuntos de valores bibliográficos referentes às variáveis

Revisão Bibliográfica

Determinação das variáveis de entrada

que constituem o modelo

Construção de uma base de dados para

as variáveis de entrada

Formulações, que permitissem um

conjunto de cálculos necessários ao

modelo, bem como definição das

variáveis de saída

Análise de Monte Carlo ao conjunto de

formulações anteriormente

elaboradas

Análise de dados e resultados

Elaboração de uma interface de

utilizador

42

anteriormente escolhidas, como também foram estabelecidos contactos com diversas empresas

do sector de resíduos, de modo assim a obtermos valores válidos que viriam a complementar os

retirados da bibliografia, e assim diminuir o intervalo de valores para cada variável, de modo a

oscilar as mesmas de modo a que o intervalo de valores oscilado fosse menor e que garantisse

uma maior veracidade de valores, bem como uma diminuição no erro proveniente de valores

incorretos.

Após a obtenção de valores coerentes para cada variável, foi possível assim construir a base de

cálculo de custos do nosso modelo, através de um conjunto de formulações que fossem

adequadas ao cálculo proposto por este modelo, e também com base na bibliografia, que neste

tipo de modelo se torna útil no esclarecimento não só de possíveis dúvidas, como também de

possíveis “caminhos” a seguir nesta mesma formulação. Foram ainda definidas nesta fase, os

parâmetros de saída, que serão alvo de análise e que nos permitirão assim avaliar através do

modelo os sistemas de gestão de recicláveis de RE.

Com a base do modelo elaborada, procedeu-se a uma análise de sensibilidade das variáveis

através do modelo de Monte Carlo17 , com auxílio da ferramenta MATLAB18 . Tal análise é

elaborada quando o levantamento e análise de custos são dificultados devido à existência de

variáveis que apresentam elevada variabilidade de valores, o que poderá gerar algumas

incertezas nos resultados. O método é constituído por cinco etapas organizadas de forma

sequencial e abordadas, principalmente, a partir de expressões matemáticas. Tais fases estão

descritas na Figura 4.1-2. De salientar que o número de repetições estabelecidas para esta

mesma análise foram de 1000 repetições, de modo a podermos estabilizar as frequências de

valores.

O método de simulação de Monte Carlo pode ser aplicado em problemas de tomada de decisão

a qual envolva risco e incerteza, ou seja, situações nas quais o comportamento das variáveis

envolvidas com o problema não é de natureza determinística (55) (56).

17 “A denominação “Monte Carlo” foi cunhada em referência aos jogos de azar que fazem uso constante de sorteios e de dados, uma atração popular na cidade de Monte Carlo, Mônaco (METROPOLIS; ULAM, 1949;METROPOLIS, 1987). No entendimento de Lustosa, Ponte e Dominas (2004, p. 251), a simulação de Monte Carlo consiste em um método que “[...] utiliza a geração de números aleatórios para atribuir valores às variáveis do sistema que se deseja investigar”. Os números são obtidos de artifícios aleatórios (por exemplo: tabelas, roletas, sorteios) ou diretamente de “softwares”, através de funções específicas.” 18 “MATrix LABoratory, é um “software” interativo de alta performance utilizado em cálculo numérico. O MATLAB integra análise numérica, cálculo de matrizes, processamento de sinais e construção de gráficos, onde os problemas e suas soluções são expressos somente como eles são escritos matematicamente, ao contrário da programação tradicional” (Wikipédia).

43

FIGURA 4.1-2: PASSOS PARA A OPERACIONALIZAÇÃO DO MÉTODO DE SIMULAÇÃO DE MONTE CARLO. ADAPTADO DE

SHAMBLIN E STEVENS, 1974

Após a elaboração do método de Monte Carlo, foram analisados os resultados obtidos através

das diversas simulações efetuadas para diferentes cenários. Posteriormente construiu-se uma

interface de utilização que como irá ser abordado num subcapítulo mais à frente, permitirá ao

utilizador a introdução de valores para cada uma das variáveis de entrada, e obter assim através

de um determinado tipo de cenário, valores de resposta, ou seja, valores dos parâmetros de

saída.

4.2 Dados

Para a obtenção dos dados, foi revista uma vasta bibliografia, bem como através de contactos

com empresas de gestão de resíduos e comercialização de equipamentos nessa mesma área,

obter-se dados atuais e reais necessários à estipulação dos intervalos de valores para cada um

das variáveis (ver Anexo I).

De salientar que embora fora conseguida uma elevada gama de valores para cada variável de

entrada, é de extrema dificuldade a aquisição de dados provenientes de SMAUTS, ou de outras

entidades de gestão de RU, pois muitos destes dados são económicos com alguma

sensibilidade, o que dificulta a transmissão de informação para posteriormente ser introduzida

neste trabalho académico. Na tabela 4.2-1, é possível observar algumas das fontes utilizadas

para a construção da base de dados, (embora numa versão resumida) sendo que os valores de

cada item encontra-se presente no Anexo I.

1•Definir variáveis no sistema em análise, com base em dados bibliográficos.

2•Construir uma base de dados consoante as variáveis escolhidas.

3

•Construir intervalos de valores para cada uma das variáveis, recorrendo à base de dados elaborada no passo anterior.

4

•Através de uma ferramenta de simulação, gerar valores aleatórios para cada variável, dentro do intervalo de valores anteriormente estabelecido

5

•Após o estabelecimento de um número de simulações (acima das 100 repetições), analisar as frequências e tendências de cada uma das variáveis simuladas.

44

Fonte Ano Veículo

Gomes et al.; Lopes 2008 Caixa 15m3

CM Portalegre 2009 Chassis + caixa + elevador + adaptação traseira

CM Moura 2009 Caixa 15m3

CM Penafiel 2009 Recolha RU

CM Mealhada 2009 Com Compactação

Abrantes 2009 EcoP 2500l

CM Entroncamento 2009 Recolha RU

CM Seixal 2009 Recolha RU

CM Gondomar 2009 Com Compactação

CM Sines 2009 Recolha RU

Valnor 2009 Recolha Vidro

Valnor 2009 Recolha Papel/Cartão e Embalagens

Valnor 2009 Recolha RU

ERSUC 2009 Chassis + caixa

Resialentejo 2010 Recolha seletiva

Valorminho 2009 Recolha RU 32 toneladas

Lavita 2008 Camião bi-fluxo, de 20 m3, com compactação

Lavita 2008 Camião Ampli-Roll c/grua, com caixas amovíveis de 20 m3

Lavita 2008 Camião Mono-fluxo, entre 15 e 20 m3, com compactação

Lavita 2008 Camião Bi-fluxo com grua entre 15 e 20 m3

Ambisousa 2010 Camião caixa aberta com grua, de 15 m3, sem compactação

Fonte Ano Contentorização

Almoverde 2014 SACOS DE 30l Rolo de 20 Sacos - 52x60 cm

Almoverde 2014 SACOS DE 50l Rolo de 10 Sacos - 60x80 cm

Almoverde 2014 CONTENTOR PLAST.400x300x130 cm

Almoverde 2014 CONTENTOR PLAST.600x400x200 cm

Almoverde 2014 Balde Retangular Basculante 26Ll

Contenur 2013 Ecoponto DUO PLAS 26 l

Contenur 2013 Balde de 40 l com 3 divisões (380x540x330 mm)

Almoverde 2014 Contentor de 52l c/ pedal

Contenur 2013 ECOPONTO ECOMAD 56 l

Contenur 2013 POLIMAX SIMPLES 13 l x 3

Almoverde 2014 Ecoponto Capacidade 80 l (3x26l)

Contenur 2013 Contentor Ecológico – 3 Resíduos 52 l

Contenur 2013 Contentor de 80L c/ pedal e rodas

Almoverde 2014 Contentor MGB´s 2 rodas 120l

Almoverde 2014 Contentor de 120l c/ pedal e rodas

Almoverde 2014 CONTENTOR LIXO 120l

Contenur 2013 Contentor MGB´s 2 rodas 240l

Almoverde 2014 CONTENTOR LIXO 360l

Contenur 2013 Contentor MGB 4R tampa plana 800l Sistema de Elevação Din

Almoverde 2014 Contentor MGB 4R tampa plana 800l Sistema de Elevação Oschner

Almoverde 2014 CONTENTOR LIXO 800l

Contenur 2013 Contentor MGB 4R tampa plana 1000l Sistema de Elevação Din

Almoverde 2014 Contentor Ecoponto Cyclea 2500l

Contenur 2013 Ecoponto CLYMA25, capacidade 2500 l

TABELA 4.2-1: DADOS PARA VEÍCULOS DE RECOLHA E CONTENTORES

45

4.3 Modelo Numérico

4.3.1 Custos Considerados Tal como referido, este trabalho pretende recorrendo a um modelo de simulação, a elaboração

de custos da reciclagem de embalagens através de uma análise económica consoante o tipo de

tecnologia adotada. De focar, que o pressuposto do nosso modelo é o sistema urbano de gestão

de resíduos. Como tal, foram identificados os principais custos, sendo eles os de aquisição

(despesas de capital, “capex”) e os operacionais (“opex”). O “capex” para as diversas etapas da

gestão de RE, refere-se a custos de aquisição de equipamento, e de construção de instalações

para processamento desses mesmos resíduos, enquanto o “opex” refere-se a custos de gestão

de ativos, nomeadamente infraestruturas (veículos, contentores, estações de triagem, entre

outros) e recursos humanos.

No cálculo de despesas de capital de contentorização, ou seja, o custo de aquisição de

contentores de deposição de recicláveis, nomeadamente contentores de PaP, Ecopontos e

Ecocentros, é calculado pela Equação 4.3-1:

EQUAÇÃO 4.3-1: CUSTO DE CONTENTORIZAÇÃO

CD = NC X VC

Onde:

• CD – Custo de contentorização (€);

• NC – Número de contentores (cont/ano);

• Vc – Valor do contentor (€/cont);

Em que:

EQUAÇÃO 4.3-2: VALOR DO CONTENTOR

VC = CIC + CMC

Onde:

• Cic – Custo de aquisição do contentor (€/cont);

• Cmc – Custo de manutenção do contentor (€/cont);

De salientar o facto de o custo de manutenção do contentor considerado oscilar entre o intervalo

de 10 a 15% do custo de aquisição. Este valor pode não ser o mais correto no ano de aquisição,

mas nos anos seguintes, considera-se uma boa aproximação aos gastos atuais com este tipo de

infraestrutura. Referir ainda, que caso queira-se simular os custos de contentorização no ano 2

ou outro que não o primeiro são retirados os valores de aquisição, mantendo-se apenas os

valores de manutenção e ainda uma fração de aproximadamente 10% sobre o número de

contentores que necessitam de nova aquisição no ano considerado, devido a problemas

impossíveis de solucionar sem a compra de novo elemento.

46

No que se refere a custos de recolha, as formulações são um pouco mais complexas, pois o

número de variáveis são maiores, bem como o número de equações necessárias à modelação

desta fase de gestão de RU nomeadamente de resíduos de embalagens. Como tal a Equação

4.3-3 representa os custos de recolha:

EQUAÇÃO 4.3-3: CUSTO DE RECOLHA DE RECICLÁVEIS

CR = CTV X NV

Onde:

• CR – Custo de Recolha (€);

• CTV – Custo total do veículo (€/veíc);

• Nv – Número de veículos (veíc);

O custo total do veículo é decomposto pela Equação 4.3-4:

EQUAÇÃO 4.3-4: CUSTO TOTAL DO VEÍCULO

CTV = CAV + CGV + CE

Onde:

• Cav – Custo de aluguer do veículo (€/veíc);

• Cgv – Custo de gestão do veículo (€/veíc);

• Ce – Custo de equipa de recolha (€/veíc);

O custo de aluguer de veículo é considerado em vez do custo de aquisição. Tal deve-se ao facto

de que a maioria das empresas responsáveis pela recolha de RU, utilizarem este tipo de gestão

de modo a combater o elevado custo de aquisição de um veículo que como podemos ver no

Anexo I, compreende intervalos de 80 000 a 200 000€. Como tal, utilizou-se esta forma de

cálculo, tendo os veículos uma vida útil de aproximadamente 10-15 anos, considerou-se um valor

de aluguer de cerca de 7-10%/ano do valor total de aquisição do veículo, fazendo com que após

o tempo de vida útil este valor não faça sentido de ser aplicável.

O custo de gestão de cada veículo (Cgv) é também ele decomposto pela Equação 4.3-5:

EQUAÇÃO 4.3-5: CUSTO DE GESTÃO DO VEÍCULO

CGV = CMV + CCOMB

Onde:

• Cmv – Custo de manutenção do veículo (€/veíc);

• Ccomb – Custo de combustível (€/veíc);

47

Sendo que o custo de manutenção ao ano por veículo (Cmv) é dado por 10% do custo de aluguer

anual do veículo, e onde o custo de combustível é representado pela Equação 4.3-6:

EQUAÇÃO 4.3-6: CUSTO DO COMBUSTÍVEL

CCOMB = PCOMB X CMK X (KMD X 52 X F)

Onde:

• Pcomb – Preço do combustível (€/l);

• Cmk – Consumo médio do veículo (l/km);

• kmd – Média de quilómetros efetuados pelo veículo por dia (km/veíc/dia);

• F – Frequência de recolha à semana, com aproximadamente 52 semanas no ano

(semana);

O preço do combustível é conseguido através de uma média calculada de uma gama de valores

para o ano 2014 (Janeiro a Julho) consoante as flutuações do mercado para este produto nos

respetivos meses recorrendo a (57), e assumindo como combustível o gasóleo, sem ser

considerado o custo da introdução do AdBlue19 num tanque diferente ao tanque de combustível,

o que iria perfazer mais gastos. Tal não foi considerado pois, é um aditivo que só os veículos

mais recentes contêm de modo a satisfazer as novas normas de emissões estabelecidas pela

EU.

A média de quilómetros efetuados pelo veículo (kmd) contabiliza as viagens desde a base até

aos pontos de recolha, as viagens de descarga ou transferência de resíduos, sendo também

considerado a extensão e frequência (F) de recolha nos circuitos estipulados, que mais à frente

será possível verificar.

Na Equação 4.3-4, o custo de equipa de recolha (Ce), contempla o número de trabalhadores por

veículo, e é representado pela seguinte Equação 4.3-7:

EQUAÇÃO 4.3-7: CUSTO DA EQUIPA DE RECOLHA

CE = ST X NE X HD

Onde:

• St – Salário do trabalhador (€/h);

• Ne – Número de elementos por equipa (elementos/veíc);

• hd – horas de trabalho por ano (h/ano);

19 “Solução aquosa de ureia (32,5% de ureia pura, 67,5% de água desmineralizada) que atua sobre os gases de escape dos motores de veículos pesados como conversor catalítico para reduzir as nocivas emissões de óxido de nitrogénio (NOx) gerados nos processos de combustão. O preço varia entre os 0.3 e os 0.4€/l, e os seus consumos são de cerca de 1.5l/100km.” (GalpEnergia)

48

Para o número de horas por ano foram contabilizadas 8 horas diárias por trabalhador, com

período de trabalho de 21 dias por mês, durante 11 meses por ano.

Finalizando, o custo total das duas frações contentorização e recolha perfazem a Equação 4.3-

8:

EQUAÇÃO 4.3-8: CUSTO TOTAL DE CONTENTORIZAÇÃO E RECOLHA

CT = CD + CR

Onde:

• CD – Custo de Contentorização (€);

• CR – Custo de Recolha (€);

O custo total acima referido, não corresponde ao custo total do sistema mas sim apenas à soma

das duas frações referidas. Tal custo acima representado com as unidades (€) irá posteriormente

ser dividido pela quantidade de resíduos depositada/recolhida de recicláveis, perfazendo assim

uma análise em €/ton.

Analisando o conjunto de formulações acima descritas, percebe-se que conseguiu-se incorporar

no modelo os custos associados à deposição de resíduos, nomeadamente os custos que os

sistemas responsáveis têm ao garantir contentores de deposição de recicláveis, bem como os

custos que as entidades têm com a recolha e transporte desses mesmos resíduos. É de extrema

importância perceber que não foram incorporados com grande detalhe variáveis que

contabilizassem tempos de recolha, de viagem, e de descarga, pois apesar de considerarmos

importantes tais fatores, tentamos introduzir como variável a quilometragem efetuada,

colmatando assim os tempos gastos com as distâncias percorridas. Como já referido

anteriormente, teve-se sempre a preocupação de introduzir um elevado grau de detalhe no

modelobde modo a que este fosse o mais aproximidado possível à realidade, bem como os seus

valores, que fosse um modelo completo mas ainda assim simples, sem demasiadas variáveis

que pudessem aumentar a margem de incerteza e de erro em relação aos dados a utilizar para

essas mesmas variáveis.

Passando para a parte pós-recolha, outro importante custo contabilizado, foi o de Triagem de

recicláveis provenientes da recolha seletiva de RE porta-a-porta, ou por ecoponto. Tal variável é

importante, pois é um fator decisivo na posterior venda dos recicláveis, pelo que o nosso modelo

considera a triagem como variável de custo. Importa salientar que o custo de triagem não foi

dividido no custo de aquisição nomeadamente no custo de infraestruturas, e no custo de

operação dessas mesmas infraestruturas, porque com base nos valores obtidos para cada uma

das variáveis (“capex” e “opex”), decidiu-se somar as duas e dividi-las pela quantidade de resíduo

depositado para triagem (€/ton), de modo a tornar as formulações finais mais simples, mas sem

perder a veracidade de resultados. Tal variável no modelo é introduzida como Triagem.

49

4.3.2 Benefícios Considerados

Finalizando os custos associados à recolha seletiva de RE provenientes do fluxo urbano

passamos a introduzir no modelo os benefícios económicos associados à mesma,

nomeadamente o fluxo financeiro dos materiais recicláveis posteriormente vendidos, ou seja, o

valor de contrapartida, os benefícios de evitar a recolha indiferenciada de resíduos, bem como

os benefícios de evitar a deposição em aterro.

Para introduzirmos a variável desvio de deposição em aterro considerou-se CAterro. Com o evitar

da recolha indiferenciada a sigla introduzida no modelo foi CRI. Ambas as variáveis foram

declaradas só com um único valor, ou seja, assim como na variável de triagem, optou-se por

juntar os custos de “capex” e “opex” num só valor, perfazendo assim um custo total quer na

deposição em aterro, quer na recolha indiferenciada.

No que diz respeito aos valores de contrapartida (VC) pagos pela SPV às autoridades locais

responsáveis pela recolha e triagem dos RE, esta variável já é um pouco mais complexa que as

outras, pelo que primeiramente iremos explicar como é feito esse pagamento, e seguidamente

de que modo se incorporou este benefício no modelo.

Os valores de contrapartida são por definição o valor a pagar aos sistemas pelo custo acrescido

resultante das operações de recolha e triagem de resíduos de embalagem. (58) As autarquias,

ou as entidades responsáveis a quem foi atribuída essa competência, entregam os resíduos

triados à SPV, que por sua vez reencaminha os resíduos para empresas licenciadas, sendo que

as autarquias recebem então a contrapartida financeira, em função das quantidades recolhidas

seletivamente e triadas, compensando assim o aumento de custos relativamente à recolha

indiferenciada que praticavam até então. O valor de contrapartida (VC) é único e estável em cada

ano e para cada tipo de material (vidro, madeira, plástico, papel/cartão, aço e alumínio), o que

significa que não está sujeito às oscilações de mercado verificadas para aqueles materiais. Como

tal, os SMAUT garantem o escoamento dos resíduos triados e assegurada uma fonte de

financiamento regular. (15)

Nas tabelas 4.3-1 e 4.3-2, é possível verificar os valores de contrapartida estipulados pela SPV

para o ano de 2011.

Material X1 X2 X3 Unidade

Vidro <14.3 <24.5 <40.8 kg/hab/ano

Plástico <2.1 <3.6 <15.3 kg/hab/ano

Papel/cartão <8.0 <10.0 <15.0 kg/hab/ano

Aço <0.4 <0.7 <4.1 kg/hab/ano

Alumínio <0.02 <0.04 <0.86 kg/hab/ano

Ecal <0.3 <1.8 <3.0 kg/hab/ano

TABELA 4.3-1: VALOR DE CONTRAPARTIDA PARA 2011, FONTE: SPV

50

P1 P2 P3 Unidade

35 48 60 €/ton

732 782 832 €/ton

122 136 149 €/ton

540 580 619 €/ton

689 914 1155 €/ton

693 741 788 €/ton

TABELA 4.3-2: VALOR DE CONTRAPARTIDA PARA 2011, FONTE: SPV

Com os valores acima referidos nas duas tabelas o modelo de cálculo do VC é então efetuado

da seguinte forma:

Abaixo de X1

Recebem

P1

Entre X1 e X2 P2

Entre X2 e X3 P3

Acima X3 P3

TABELA 4.3-3: FORMA DE CÁLCULO DO VC, FONTE: SPV

A variável valor de contrapartida introduzida no modelo, agregou num só valor esta variável, de

modo a simplificar os cálculos, mas ainda assim tornar esta variável numa mais-valia considerada

para o modelo. Considerou-se então o valor de contrapartida de cada fração presente nas tabelas

acima, e multiplicou-se pelas quantidades retomadas para o ano de 2013 presente na tabela 4.3-

4, agregando-se assim os diferentes valores de contrapartida num só valor de média. Pretendeu-

se assim quantificar o resíduo como um conjunto de frações de materiais que dele fazem parte

e perceber o peso de cada fração, através da tabela de retomas e então proceder-se ao cálculo

do valor de contrapartida, sendo este valor uma mais-valia não só para os cálculos do modelo,

como também na sua simplificação sem nunca perder a realidade atual de valores.

Retomas 2013

Material Quantidade Unidade %

Vidro 164.434 ton 27

Plástico 90.586 ton 15

Papel/cartão 275.99 ton 45

Metal 51.37 ton 8

Madeira 36.435 ton 6

Total 618.815 ton 100

TABELA 4.3-4: VALORES DE RETOMA DE MATERIAIS PARA O ANO DE 2013, FONTE: SPV

Finalizando os benefícios utilizados no modelo, procedemos então à formulação final do modelo,

ou seja, construímos a fórmula final de custo de recolha seletiva de RE. Tal fórmula está descrita

na equação 4.3-9:

51

EQUAÇÃO 4.3-9: CUSTO TOTAL DA RECOLHA SELETIVA DE RE

CUSTO TOTAL = [CT / (NC X NP X RU X FP)] + TRIAGEM – VC – CATERRO - CRI

Onde:

• Custo Total – Custo total do sistema de recolha seletiva de RE (€/ton);

• CT – Custo total de contentorização e recolha (€);

• NC – Número de contentores recolhidos (cont);

• NP – Número de pessoas por contentor (hab/cont);

• RU – Quantidade de resíduo produzido (ton/hab);

• FP – Fator de participação da população na deposição correta/reciclagem;

• Triagem – Custo de triagem (€/ton);

• VC – Valor de contrapartida (€/ton);

• Caterro – Custo de deposição em aterro (€/ton);

• CRI – Custo de recolha indiferenciada (€/ton);

Com a formulação final demonstrada, passaremos no subcapítulo seguinte a mencionar alguns

dos pressupostos do modelo, como por exemplo na quantificação das variáveis, entre outras

considerações necessárias.

4.4 Pressupostos do Modelo

Intervalos de valores

Nesta secção iremos abordar os pressupostos necessários à conceção do modelo, desde os

valores de variáveis, até a um conjunto de outras considerações essenciais. Uma das

considerações mais importantes foi a de apenas considerarmos os modos de recolha porta-a-

porta e ecopontos, e não ecocentros pois as variáveis necessárias para a sua modelação são

muito difíceis de quantificar, pelo que poderíamos estar a introduzir erros nos valores introduzidos

no modelo para este modo de deposição.

Focando-se apenas nos dois sistemas acima referidos, caracterizaram-se valores ou intervalos

de valores para cada uma das variáveis de entrada do modelo, e seguidamente recorrendo-se a

uma análise de Monte Carlo com auxílio do programa MATLAB, foi possível para as variáveis

compreendidas nos intervalos de valores abaixo ilustrados pelas tabelas 4.4-1 e 4.4-3, gerar

dentro desses mesmo intervalos de valores aleatórios durante 1000 simulações de modo a

obtermos assim as variáveis de saída do modelo já estabilizadas, ou seja, onde já era notável as

tendências para determinados valores, e assim podermos efetuar uma análise de sensibilidade

a cada uma delas, principalmente ao custo final de todo o sistema.

52

Sistema Porta-a-Porta

Variáveis Intervalo

de valores Variáveis Intervalo de

valores Variáveis Intervalo

de valores

CT (€/ton) - Cav (€/veíc) [10 000, 14 000] Ne [2, 4]

CR (€) - Nv [2000, 2500] St (€/h) [5, 7]

CD (€) - Cgv (€/veíc) - hd (h) [1800]

NC [2 000 000, 3 000 000] Cmv (€/veíc) [1000, 1400] F (sem) [3]

Vc (€/cont) - Ccomb (€/veíc) - Npessoas [10, 15]

RU (ton/hab) [0.5*0.3*0.9] Pcomb (€/l) [1.2; 1.5] VC (€/ton) [80, 100]

Cic (€/cont) [80,100] Cmk (l/km) [0.5, 0.7] Triagem (€/ton) [80, 100]

Cmc (€/cont) [10,20] kmd (km/veíc/dia) [50, 70] Caterro (€/ton) [20, 40]

CTV (€/veíc) - Ce (€/veíc) - CRI (€/ton) [50, 70] TABELA 4.4-1:VALORES DAS VARÁVEIS DE ENTRADA NO SISTEMA DE RECOLHA PAP

Onde:

• NC – (10 milhões de hab/ Npessoas) x 3 contentores para papel/cartão, plástico e vidro;

• RU – Capitação de 500kg/ano/hab x 30% de material recicláve

• Kmd – Assumiu-se uma distância de entre 50 a 70 Km/viagem desde a saída da viatura

do parque, até retorno para despecho de resíduos ou regresso ao parque de paragem20;

• Ne – Assumiu-se entre 2 a 4 elementos por viatura de recolha;

• hd – O número de horas anuais corresponde aproximadamente a 8h diárias x 21

dias/mês x 11 meses;

• F – Deduziu-se uma frequência semanal de três recolhas, podendo em cada recolha um

veículo efetuar mais do que uma viagem ( contabilizado por excesso na quilómetragem

efetuada por dia) ;

• NPessoas – Assumiu-se entre 10 a 15 hab/contentor neste tipo de sistema de recolha;

• VC – Como se sabe, o valor de contrapartida é calculado com base nas tabelas 4.3-1,

4.3-2 e 4.3-3 anteriormente evidenciadas, tendo uma forte relação com as diferentes

frações que constituem os resíduos recolhidos. Como tal através dos dados disponíveis

da SPV referentes às retomas de material reciclável para o ano de 2013 (4.3-4),

multiplicados pelo VC de cada material, chegou-se a uma média de 85€/ton, pelo que se

considerou o intervalo de [80, 100] (€/ton);

• Para os intervalos de valores das variáveis Triagem, CAterro e CRI, foram estipulados

através da vasta bibliografia revista e da base de dados elaborada (Anexo I).

20 Quilometragem média anual ponderada de aproximadamente 10 000Km de um veículo de recolha de resíduos, a partir de (61), assumindo os valores médios dos intervalos definidos para a quilometragem percorrida por um camião num dia de recolha (40 a 65 km/veículo.dia) e os dias de trabalho de um veículo por ano (entre 200 e 300 veículos.dia/ano)

53

Sistema Ecoponto

Variáveis Intervalo de

valores Variáveis Intervalo de

valores Variáveis Intervalo

de valores

CT (€/ton) - Cav (€/veíc) [10 000, 14 000] Ne [2, 3]

CR (€) - Nv [2000, 2500] St (€/h) [5, 7]

CD (€) - Cgv (€/veíc) - hd (h) [1800]

NC [120 000] Cmv (€/veíc) [1000, 1400] F (sem) [1, 2]

Vc (€/cont) - Ccomb (€/veíc) - Npessoas [200, 250]

RU (ton/hab) [0.5*0.3*0.45] Pcomb (€/l) [1.2; 1.5] VC (€/ton) [80, 100]

Cic (€/cont) [350,500] Cmk (l/km) [0.5, 0.7] Triagem (€/ton) [80, 100]

Cmc (€/cont) [30,50] kmd

(km/veíc/dia) [50, 70] Caterro (€/ton) [20, 40]

CTV (€/veíc) - Ce (€/veíc) - CRI (€/ton) [50, 70] TABELA 4.4-2: VALORES DAS VARÁVEIS DE ENTRADA NO SISTEMA DE RECOLHA ECOPONTO

Onde:

• NC – Através dos dados disponibilizados pela SPV, em 2013 existiam aproximadamente

40 000 ecopontos, cada um deles com 3 contentores para papel/cartão, plástico e vidro;

• RU – Capitação de 500kg/ano/hab x 30% de material recicláve x 0.45 (participação de

45% por parte da população em reciclar);

• Cic – Custo de aquisição de contentores mais elevado neste sistema devido à maior

dimensão dos mesmos e também devido a muitas vezes o tipo de material ter que ser

mais resistente;

• Ne – Assumiu-se entre 2 a 3 elementos por viatura de recolha;

• F – Deduziu-se uma frequência semanal entre uma e duas recolhas, podendo em cada

recolha um veículo efetuar mais do que uma viagem ( contabilizado por excesso na

quilómetragem efetuada por dia) ;

• NPessoas – Assumiu-se entre 200 a 250 hab/contentor neste tipo de sistema de recolha;

• Os valores das variáveis VC, Triagem, CAterro e CRI, são os mesmos praticados no

sistema de PaP.

Uma nota final para os resultados da variável Custo total do sistema, que quando positivos

significam como um valor de custo, e quando negativos representam um valor de benefício

económico para o sistema total de recolha e triagem de resíduos de embalagens.

54

4.5 Desenvolvimento de Interface do Modelo

Pensando nos utilizadores que necessitavam de condições específicas, ou seja, na introdução

de valores próprios dos seus sistemas de gestão, foi criada assim uma ferramenta recorrendo

ao programador do Excel, nomeadamente o Visual Basic, que permite assim a introdução de

valores nas variáveis de entrada, ou até recorrer a uma base de dados inserida no programa, de

modo a se realizar um conjunto de simulações para posterior análise, sendo essa análise com

base em variáveis de saída, desde variáveis de custo de contentorização, recolha, triagem,

custos evitados, entre outros. Essa análise é complementada com um conjunto de gráficos e

ainda com uma exportação de todos os dados inseridos que permitem em qualquer altura uma

revisão ou análise.

Tal ferramenta, permitirá desenvolver um conjunto de simulações que poderão ser úteis a

possíveis alterações nos sistemas de gestão, consoante a resposta das variáveis de saída,

desde a alteração do tipo de contentor, recolha, número de veículos, e até mesmo numa análise

de processos diversos de triagem e de benefícios que o sistema aufere.

Pretendeu-se com esta interface, tornar o modelo mais dinâmico, não sendo o utilizador do

mesmo quase que “obrigado” a simular um sistema de gestão de RU apenas com os intervalos

de valores pré-estabelecidos pelo programa. Na figura 4.5-1, é possível observar a base da

interface do modelo de simulação realizado, interface essa apresentada em conjunto com este

trabalho escrito.

55

Após iniciarmos o simulador, podemos introduzir através da base de dados existente, ou até mesmo introduzindo manualmente, valores para cada um dos parâmetros de entrada do modelo, seja para recolha porta-a-porta ou para recolha por ecopontos. Após o preenchimento de todos os parâmetros, ao selecionarmos avançar o simulador avança para a imagem seguinte.

Nesta parte da simulação podemos calcular os custos de contentorização, de recolha, custos evitados, valor de contrapartida e ainda o custo total do sistema por nós simulado. De salientar que introduzimos alguma complexidade nestas funções de modo a poder-se escolher as frações

56

existentes na composição do resíduo, bem como introduzir-se valores de triagem, recolha indiferenciada e ainda de custos de deposição em aterro. Após esta fase estar concluída o simulador avança para a última etapa da simulação onde é possível observar e analisar um conjunto de gráficos construídos através dos valores das diferentes variáveis. Introduziu-se ainda uma caixa de comentários para o utilizador poder introduzir algumas notas, bem como um botão de exportação de dados com a data de exportação, para a folha de Excel, de modo a que cada valor de cada parâmetro possa posteriormente ser revisto e analisado.

FIGURA 4.5-1:INTERFACE DO MODELO DE SIMULAÇÃO

57

5 Resultados 5.1 Simulações Porta-a-Porta

Analisando as simulações com uso do programa MATLAB, abordou-se no primeiro caso, o sistema de

recolha porta-a-porta, onde procederemos a análises de gráficos e resultados, bem como a um

conjunto de diversas simulações de modo a percebermos se alterássemos valores das variáveis,

como por exemplo o custo de triagem, o número de pessoas por contentor, o próprio custo de cada

contentor, entre outras, como o sistema iria reagir, e se isso traria custos acrescidos ou benefícios

para os sistemas de gestão de RU, análise esta importante para que os decisores possam ser

auxiliados nas tomadas de decisões no que se refere à otimização destes sistemas.

O histograma apresentado na figura 5.1-1 representa a frequência do custo total do sistema obtido

através de uma simulação de Monte Carlo (secção 4.1), onde as variáveis são baseadas nos intervalos

de valores por nós estabelecidos anteriormente, e onde esses intervalos correspondem a uma

aproximação aos valores reais praticados pelos sistemas de gestão, representados na tabela 4.4-1.

FIGURA 5.1-1: HISTOGRAMA REPRESENTATIVO DO CUSTO TOTAL DO SISTEMA PORTA-A-PORTA

Analisando o histograma acima representado, é de referir que o custo líquido do sistema está

representado 80% dos casos entre os -20 € e os 20€, tendo este sistema de recolha devolvido um

valor de média de -0.88€/ton correspondente a uma aproximação real aos sistemas de gestão de

RU, pois aproximou-se todas as variáveis a valores o mais próximo da realidade praticada e

descrita na bibliografia vária. Percebe-se que o valor final de custo se enquadra no valor real de

58

tratamento de recicláveis, pois o sistema como um todo está organizado de modo a que os

sistemas de gestão não tenham custos nem benefícios Os proveitos do sistema, em particular o

valor de contrapartida está por definição calculado para que apenas cubra os gastos acrescidos

de recolha seletiva e triagem. Salienta-se ainda a importância da análise do histograma acima

apresentado, pois representa um resultado de sensibilidade do sistema, na variação dos

parâmetros que do modelo fazem parte.

Sujeitamos o nosso modelo a uma repetição de 1000 casos, através do método de Monte-Carlo

e o que foi possível concluir do resultado acima, é que há uma tendência de o sistema

permanecer na grande maioria das repetições, em valores próximos do zero, sendo o pior caso

para os sistemas quando o valor é positivo, ou seja, quando existe custo associado, e em que o

melhor caso é quando o valor devolvido é negativo, perfazendo um benefício para o sistema.

Este histograma foi para o modelo, a base de resultados que se esperava, e que nos permitiu

assim perceber que as variáveis escolhidas para o nosso sistema e os valores das mesmas

representam significativamente uma aproximação cuidada e coerente com resultados não só de

outros modelos com a mesma vertente de cálculo, como também com valores reais praticados e

obtidos pelos sistemas de gestão de resíduos.

Prosseguindo com as simulações, introduzimos variações primeiramente na variável Npessoas

e seguidamente no Cic que representa o custo de aquisição de contentores. O Npessoas foi alvo

de variações, pois esta variável devolve ao sistema o número de pessoas que usam o mesmo

contentor, ou seja, quanto menor o número de pessoas a usar o mesmo contentor, maior será a

quantidade necessária de contentores para satisfazer toda a população.

Nas Tabelas 5.1-1, 5.1-2 e 5.1-3 é possível observar um conjunto de resultados obtidos através

de várias simulações aos parâmetros falados acima, mantendo todas as outras variáveis com os

valores padrão utilizados para construir o histograma presente na figura 5.1-1.

Sim Parâmetro 1 Valor

parâmetro 1 Parâmetro

2 Valor

parâmetro 2 Média Custo Total (€/ton) DP

1

Npessoas (hab/cont)

10 - - 17.3 17.7 2 15 - -4.8 17.4 3 20 - - -19.6 17.7 4 20

CiC (€/cont)

[120, 150] -1.4 17.1 5 50 [200, 250] -11.6 16.9 6 5 - 90 20.8

7 [2, 5] [1, 3] -53.8 17.2 TABELA 5.1-1: TABELA DE SIMULAÇÕES REALIZADAS E RESPETIVOS RESULTADOS

Como é possível observar acima, esta tabela representa a variação da densidade populacional

por contentor, ou seja, o número de pessoas que utilizam o mesmo contentor. Quanto menor o

número de pessoas a utilizar o contentor, maior será o número de contentores necessários para

satisfazer todos os habitantes, aumentando o custo total de todo o sistema porta-a-porta.

59

Exemplificando, se tivéssemos uma comunidade com 100 pessoas, e se apenas grupos de 5

pessoas usassem o mesmo contentor, os custos associados seriam maiores do que se para a

mesma comunidade 20 pessoas usassem o mesmo contentor. Tal significaria uma redução nos

custos de contentorização e num menor custo de recolha por parte das empresas responsáveis.

Fazendo referência à simulação 6, denota-se um custo total de 90 €/ton, custo este devido ao

baixo número de pessoas que utilizam o mesmo contentor (cenário mais pessimista), e ainda de

salientar a simulação 7 onde se criou um sistema de contentorização apenas por via de sacos

de cor, onde obtém-se benefícios de cerca de 54 €/ton. Tal simulação recriou conjuntos de 10

sacos disponíveis a valores entre 1 e 3 € por conjunto, onde estipulou-se para o cálculo de sacos

utilizados ao ano caso todos os habitantes de Portugal aderissem a este sistema, a seguinte

equação:

EQUAÇÃO 5.1-1: CÁLCULO DE NÚMERO DE SACOS UTILIZADOS

NS = SC SEMANA X 52 SEMANAS X POPULAÇÃO

Onde:

• NS – Número de sacos utilizados;

• Sc – Sacos por pessoa/ semana (sacos/hab.semana) = 6 sacos / semana, ou seja,

com 2 saco por fração/ semana, e ainda entre 2-5 pessoas a utilizar um saco;

Esta simulação, partia do pressuposto que todo o território português aderia a este sistema de

deposição de recicláveis por via de sacos, sendo o custo dos sacos na simulação recriada

abrangido pelos sistemas de gestão, e não a cargo dos habitantes, daí o benefício total do

sistema ser bastante elevado para este tipo de contentorização, quando comparado com o custo

de contentorização dos ecopontos

Nas simulações 4 e 5, foi necessário o aumento dos tamanhos dos contentores, visto que na

simulação 5 o número de pessoas a utilizar o mesmo contentor é muito maior e daí a capacidade

do mesmo também ter que ser maior. Ainda simulou-se na simulação 4 o mesmo valor da variável

NPessoas (hab/cont) que a simulação 3, mas aumentando-se também a capacidade dos

contentores, podendo-se observar que para o mesmo número de hab/cont, o benefício do

sistema é muito menor na simulação 4, devido ao fator falado anteriormente, pois com o aumento

de capacidade de contentor, maior será também o seu custo de aquisição e manutenção.

60

17.3

-6.9

-19.6

-1.4

-11.6

-25.0

-20.0

-15.0

-10.0

-5.0

0.0

5.0

10.0

15.0

20.0

25.0

30.0

35.0

40.0

45.0

50.0

55.0

0 10 20 30 40 50 60Méd

ia C

ust

o T

ota

l (€/

ton

)

habitante/contentor

PaP

No gráfico da figura 5.1-2 estão representadas as simulações acima, excetuando a simulação 7.

5.1-2: GRÁFICO REPRESENTATIVO DO CUSTO TOTAL DO SISTEMA PORTA-A-PORTA EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE

HABITANTES POR CONTENTOR

Analisando o gráfico correspondente às simulações geradas pelo modelo, referentes à tabela

5.1-1, observa-se que um sistema em que contenha 50 hab/cont, sendo cada contentor de uma

capacidade de aproximadamente 800l, apresenta valores muito satisfatórios, pois significa que

há mais contentores localizados em zonas com maior aglomerado de habitantes a utilizar o

mesmo contentor, sistema este representativo de zonas prediais, que contenham casas de lixo

próprias em cada prédio, e onde facilmente este número de hab/cont é conseguido, sendo esta

simulação muito satisfatória e possível de se aplicar em zonas como as descritas. Nos restantes

resultados, de referir que o pior cenário encontra-se o mais à esquerda do gráfico, onde com

apenas 10 habt/cont o custo associado é elevado, e pode facilmente representar zonas com

moradias, onde a densidade populacional é baixa, sendo que cada casa utiliza os seus

contentores, diminuindo o número de hab/cont e perfazendo um gasto superior na recolha dos

recicláveis.

Prosseguindo com mais um conjunto de simulações, o que se pretendeu com este conjunto de

simulações foi recriar um conjunto de sistemas em tudo iguais uns aos outros, menos na variável

custo de triagem. Esta análise é importante para perceber-se que a triagem é uma variável chave

nos sistemas de gestão de resíduos, pois aumentando o valor da mesma, por um lado poderá

ser interpretado como uma melhoria tecnológica e assim uma maior eficiência e um retorno ao

nível de valor de contrapartida maior, mas neste caso pretendeu-se aumentar deliberadamente

61

o custo desta variável no sentido de se impor ao sistema uma triagem que consoante o aumento

do custo por tonelada, menor seria a sua eficiência, e não a primeira situação.

Sim Parâmetro Valor parâmetro Média Custo Total (€/ton) DP

7

Triagem (€/ton)

50 -35.9 17.4 8 60 -26.3 17.9 9 70 -17.1 16.9 10 80 -6.6 16.5 11 90 2.8 17.9 12 100 13.8 17.8

13 120 33.5 18.1 TABELA 5.1-2: TABELA DE SIMULAÇÕES REALIZADAS PARA O PARÂMETRO TRIAGEM E RESPETIVOS RESULTADOS

Analisando a tabela acima, e como já era expectável, um aumento da variável custo de triagem,

fará com que o sistema comece a ter custos associados para valores superiores a

aproximadamente 85€/ton. Mais uma vez salientar que o que pretende-se com esta análise é

perceber que com a diminuição de eficiência de triagem, aumenta-se os custos da mesma, no

sentido de que será mais difícil triar os resíduos e daí aumentar-se este parâmetro. Tal aumento

fará com que se fizesse diminuir o valor de contrapartida em cada uma das simulações, apesar

de ser uma diminuição não muito significativa. Para tal multiplicou-se um fator ao valor de

contrapartida que diminuiria desde o valor 1 até ao valor 0.7, consoante o aumento do parâmetro

triagem. Exemplificando, quando o valor de triagem foi de 120 €/ton, multiplicou-se ao valor de

contrapartida uma fração de 0.7, ou seja, este fator representa a menor eficiência da triagem e

consequentemente uma menor quantidade de resíduos aptos a receber o seu respetivo valor de

contrapartida.

Na tabela 5.1-3 apresenta-se os resultados das simulações fazendo-se variar o valor de

contrapartida, onde com o modelo de cálculo do mesmo anteriormente explicado no capítulo 4,

fez-se variar as frações de cada parcela constituinte do RU reciclável, e assim obter-se valores

para a variável de custo de contrapartida. É observável que se variar-se as frações onde o valor

de contrapartida é maior, nomeadamente na fração plástico, em comparação com a fração vidro

e a fração papel/cartão, pode levar a um benefício substancial do sistema, ou seja, o valor de

contrapartida aumenta. Seria interessante no futuro fazer-se uma análise pormenorizada a esta

variável de modo a perceber-se de que forma com a alteração mais cuidada de cada fração o

valor de contrapartida reagiria, e o que essa variação implicaria nos sistemas.

Sim Parâmetro Fração

Papel/Cartão Fração Plástico

Fração Vidro

Fração Outros

Valor parâmetro

Média Custo Total (€/ton) DP

14

VC (€/ton)

0.45 0.15 0.3 0.1 81 -6.9 17.9 15 0.4 0.4 0.1 0.1 124 -29.8 18.3

16 0.3 0.2 0.2 0.3 101.5 -8.4 17.6 TABELA 5.1-3: SIMULAÇÕES REALIZADAS À VARIAÇÃO DO PARÂMETRO VALOR DE CONTRAPARTIDA (VC)

62

-35.9

-26.3

-17.1

-6.6

2.8

13.8

33.5

-31.1

-22.3

-14.6

-4.1

3.9

15.2

35.8

-40.0

-35.0

-30.0

-25.0

-20.0

-15.0

-10.0

-5.0

0.0

5.0

10.0

15.0

20.0

25.0

30.0

35.0

40.0

40 50 60 70 80 90 100 110 120 130

Méd

ia C

ust

o T

ota

l (€/

ton

Custo da Triagem (€/ton)

PaP

Ecoponto

O gráfico abaixo, mostra a tendência do custo total fazendo variar o valor da triagem, sendo que

para ambos os sistemas de recolha (porta-a-porta e ecoponto) os valores de custo total do

sistema são maiores no sistema de recolha por ecoponto, do que para porta-a-porta.

FIGURA 5.1-3: GRÁFICO REPRESENTATIVO DO CUSTO TOTAL DO SISTEMA EM FUNÇÃO DO VALOR DE TRIAGEM

O gráfico acima contém os dois sistemas de recolha, pois não seria apropriado fazer uma análise

dos mesmos separadamente. Para ambos os casos, com o aumento do parâmetro custo de

triagem, o sistema comporta-se como expectável, ou seja, terá cada vez um custo associado

maior, correspondendo ao lado direito do gráfico.

De notar que o valor do parâmetro Triagem é sempre maior para o sistema ecoponto, devido ao

fato dos resíduos muitas vezes aparentarem uma mistura muito heterogénea de frações, ou seja,

a participação das pessoas é menor neste tipo de sistema, referindo menor como a má

separação em contentores apropriados, menos resíduos depositados também devido às maiores

distâncias entre habitações, o que leva a um acréscimo nos custo de triagem dos materiais

provenientes deste tipo de sistema de recolha.

Finalizando todo um conjunto de simulações para o sistema de recolha porta-a-porta, iniciamos

no subcapítulo 5.2 as simulações para o sistema de recolha por ecopontos.

63

5.2 Simulações Ecoponto

Com a variação do sistema de recolha, e como já foi referido no capítulo 4, um conjunto de

parâmetros é também alterado, de modo a obter-se um conjunto de resultados que representem a

realidade dos custos associados a estes tipos de sistemas. Na figura 5.2-1, apresenta-se o histograma

para o caso que mais se aproxima à realidade, ou seja, em que os valores das variáveis são os da

tabela 4.4-3.

FIGURA 5.2-1: HISTOGRAMA REPRESENTATIVO DO CUSTO TOTAL DO SISTEMA ECOPONTO

Observando a figura acima, é de referir que o custo líquido do sistema está representado 80%

dos casos entre os -20 € e os 20€, à semelhança do sistema de recolha porta-a-porta, tendo este

sistema de recolha devolvido um valor de média de 0.94€/ton, ou seja, apresentando como valor

de média um custo para o sistema, ao contrário do valor de média do sistema anterior. Uma vez

mais, ficou presente com estes resultados, que o modelo apresentou resultados sólidos para

este tipo de recolha, resultados esses correspondendo a um conjunto de valores de variáveis

que se aproximaram o mais possível da realidade praticada por parte dos sistemas. Referir ainda

que sujeitamos o nosso modelo uma vez mais a um conjunto de repetições, mais concretamente

de 1000 repetições

Introduzindo nesta fase variações em alguns parâmetros, a tabela 5.2-2 apresenta um conjunto

de simulações onde fez-se variar o parâmetro hab/cont, e observou-se à semelhança do sistema

anterior que quanto maior o números de pessoas a utilizar os ecopontos, maior será o benefício

económico para o sistema de recolha ecoponto, sendo um valor considerado com este estudo

64

10.1

1.9

-14.6

-26.8

-30.0

-25.0

-20.0

-15.0

-10.0

-5.0

0.0

5.0

10.0

15.0

20.0

170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 310 320 330

Méd

ia C

ust

o T

ota

l (€/

ton

)

habitante/contentor

Ecoponto

plausível e real de se utilizar, cerca de 225 a 250 pessoas por contentor, com taxas de

participação cada vez mais elevadas.

Simulação Parâmetro Valor parâmetro Média Custo Total (€/ton) DP

1

Npessoas (hab/cont)

175 10.1 18.2

2 225 1.9 17.8

3 275 -14.6 19.7

4 325 -26.8 17.4 TABELA 5.2-1: TABELA DE SIMULAÇÕES PARA O PARÂMETRO UTILIZAÇÃO POR CONTENTOR NO SISTEMA ECOPONTO

No gráfico da figura 5.2-2 é fácil de se perceber que os valores decaem para valores de benefício

do sistema (direita do gráfico) com o aumento de habitantes que utilizam o mesmo contentor. Tal

aumento ou decaimento tem correlação linear muito grande entre as duas variáveis

representadas no gráfico.

FIGURA 5.2-2: CUSTO TOTAL DO SISTEMA FAZENDO VARIAR A DENSIDADE POPULACIONAL QUE UTILIZA O CONTENTOR

Como foi possível verificar pelo gráfico da figura 5.1-3 do subcapítulo anterior, a tabela abaixo

mostra-nos a variação do custo de triagem e consequente valor de média final do sistema global.

Refere-se que à semelhança do sistema porta-a-porta e já esperando tais valores de resultado,

este sistema apresenta-se muito idêntico em termos de custo/beneficio quando se varia a

variável triagem, embora apresente valores superiores nos valores da variável custo total do

sistema.

65

Sim Parâmetro Valor parâmetro Média Custo Total (€/ton) DP

7

Triagem (€/ton)

50 -31.1 17.4 8 60 -22.3 17.9 9 70 -14.6 16.9 10 80 -4.1 16.5 11 90 3.9 17.9 12 100 15.2 17.8

13 120 35.8 18.1 TABELA 5.2-2: TABELA DE SIMULAÇÕES VARIANDO O CUSTO DE TRIAGEM

De modo a introduzir-se um maior número de variabilidade de simulações, o que simulou-se nesta fase foram um conjunto de alterações em parâmetros previamente escolhidos e conhecidos como possíveis influenciadores do valor de custo final. A tabela 5.2-3 mostra um conjunto de simulações e respetivos resultados.

Simulação Recolha

Parâmetro Valor parâmetro Média Custo Total (€/ton)

14 PaP F 1 -2.3 15 PaP F 3 -0.2 16 PaP F 4 1.3 17 PaP F 5 4.0 18 Ecoponto F 1 -4.7 19 Ecoponto F 2 -0.1

20 Ecoponto F 3 2.5

21 PaP CAterro 10 €/ton 19.5

22 PaP CAterro 20 €/ton 9.8

23 PaP CAterro 30 €/ton 0.5

24 PaP CAterro 40 €/ton -8.3

25 Ecoponto CAterro 10 €/ton 21.8

26 Ecoponto CAterro 20 €/ton 12.3

27 Ecoponto CAterro 30 €/ton 1.8

28 Ecoponto CAterro 40 €/ton -6.9

29 PaP CiC 80 €/cont = 80l -5.8

30 PaP CiC 100 €/cont = 80l 6.6

31 PaP CiC 150 €/cont = 360l -1.5

32 PaP CiC 300 €/cont = 800l -15.3

33 Ecoponto CiC 350 €/cont = 800l -3.4

34 Ecoponto CiC 400 €/cont = 1100l 2.3

35 Ecoponto CiC 650 €/cont = 2500l -8.3 TABELA 5.2-3: SIMULAÇÕES COM VARIAÇÕES DE PARÂMETROS NA RECOLHA PAP E ECOPONTO

Como é possível verificar na tabela acima, da simulação 14 à simulação 20, fez-se variar para

os dois casos a frequência de recolha (F), ou seja, o número de vezes que se recolhia os

recicláveis durante a semana. Após as simulações foi possível analisar que este parâmetro tem

mais influência na recolha por ecoponto do que porta-a-porta, pelo facto de os contentores se

encontrarem mais isolados uns dos outros e muitas vezes as distâncias entre os mesmos serem

mais elevadas do que no caso de PaP. Salientar ainda que podia-se pensar que quanto maior o

numero de recolhas, mais resíduos seriam triados contribuindo para um maior beneficio do

sistema. Tal não acontece, pelo facto de que se a frequência fosse por exemplo de 5 dias à

66

semana, verificar-se-ia que a taxa de ocupação dos contentores seriam menores e acabar-se-ia

por no final da semana recolher-se a mesma quantidade de resíduos do que se a frequência

fosse por exemplo de 3. Nos ecopontos este valor é mais expressivo por essa mesma razão.

Nas simulações 21 a 28, variou-se o custo de deposição em aterro. De referir que este é um

custo para as entidades, mas no nosso modelo é um custo evitado, pois ao fazer-se recolha de

recicláveis estamos a evitar a sua deposição em aterro. Verificou-se então que quanto maior o

custo de deposição em aterro, mais benéfico será fazer-se a reciclagem ou o desvio de resíduos

de aterro, pelo que os sistemas comportaram-se melhor para o valor de 40 €/ton de custo de

deposição em aterro. Observou-se para este mesmo valor, resultados melhores na recolha PaP

devido à maior adesão em reciclar e daí o sistema comportar-se melhor.

Finalizando fez-se variar no conjunto de simulações 29 a 35 o valor de custo de aquisição de

contentor, ou seja, podendo este valor ser visto como a capacidade dos mesmos. Quanto maior

o custo de aquisição maior será a capacidade dos contentores, pelo que observou-se que nos

serviços de recolha PaP a simulação 32 obteve benefícios de 15 €/ton, pois fez-se variar o

número de pessoas que utilizavam o mesmo contentor devido à maior capacidade do mesmo,

refletindo por exemplo zonas prediais. No ecoponto foi possível verificar que as ilhas ecológicas

com contentores de capacidade elevada, nomeadamente de 2500l e custo de aquisição de 650€

perfazia benefícios na ordem dos 8 €/ton. Salientar que quando se fala em ilhas ecológicas e o

seu valor de aquisição de contentores, não estamos a contar com os custos de obra inerentes à

construção das mesmas.

Em modo de discussão de resultados, percebe-se que este sistema de simulações é complexo,

devido ao elevado número de variáveis que contem o modelo presente neste estudo. Torna-se

por vezes difícil perceber-se qual o peso das variáveis de entrada do modelo, devido à variação

muito baixa dos valores de algumas delas, de modo a que possam sempre corresponder à maior

realidade possível. Conseguiu-se ainda assim uma elevada gama de valores de simulação e de

variação de parâmetros.

Analisando os sistemas em simultâneo, é percetível que os sistemas PaP em relação aos

ecopontos apresentam uma oscilação de valores totais maior, com a variação de habitantes por

contentor. Por sua vez os ecopontos têm uma maior vantagem em relação à contentorização, ou

seja, ao tamanho dos contentores e número de pessoas que conseguem abranger por contentor,

no entanto a taxa de adesão à deposição de recicláveis é menor quando comparada com a dos

sistemas PaP, o que acarreta custos mais elevados nos custos de recolha, não só pelas

distâncias, mas também pela taxa de ocupação dos contentores.

Percebeu-se ainda que a frequência por ser mais elevada inicialmente no PaP não faz variar

muito o custo final do sistema quando aumentada de 3 para 5 vezes à semana. Já nos sistemas

67

de ecoponto, essa frequência faz oscilar mais os resultados finais de custo quando variada de 1

para 3 vezes à semana.

Analisou-se ainda o custo de triagem e aterro para cada um dos casos, em que fazendo variar

estes parâmetros, ambos os sistemas comportam-se da mesma maneira, sendo que quer na

triagem quer nos custos evitados de aterro o sistema ecoponto quando variado para simulações

mais favoráveis obtém valores de custo final sempre menores aos sistemas PaP.

Fazer conjugar um sistema de ecoponto com o porta-a-porta, com este modelo é possível, mas

de difícil implementação devido à quase duplicação do número de variáveis e respetivos novos

valores que teríamos que assumir, pelo que num trabalho futuro poder-se-á fazer tal abordagem.

Finalizando esta seção, é importante salientar que este modelo é muito complexo e útil para que

possamos quantificar cada vez melhor e percebermos as condicionantes e pontos fortes dos

sistemas de gestão de resíduos recicláveis. Referir ainda que foi um trabalho demoroso e de

difícil aquisição de valores para os parâmetros, pois muitos desses parâmetros tratarem-se de

dados económicos de elevada sensisbilidade para as empresas de gestão de RU.

68

6 Conclusões

Nos últimos anos o sector dos resíduos tem tido um conjunto de progressos, não só tecnológicos

mas de políticas mais abrangentes e que focam a sustentabilidade necessária para que este

sector contribua para criar cada vez menos impacto ambiental e económico na natureza e

sociedade.

Os sistemas de gestão de RU devem ter constantemente um olhar crítico de modo a que a

poupança seja cada vez maior, os modelos de decisão mais eficazes e as taxas de reciclagem

cada vez maiores, pois só assim se cumprem metas ambiciosas como as que Portugal tem até

2020.

Sendo a reciclagem um processo critico para as receitas dos sistemas que gerem esta parte do

setor, é necessário apelar a uma maior taxa de adesão à separação, contribuindo com processos

e mecanismos para que a sociedade faça o seu papel. É importante analisar este tipo de

sistemas seja com recolha porta-a-porta, seja através de recolha em ecopontos, ecocentros,

ilhas-ecológicas ou novos mecanismos que contribuam para a valorização e reutilização dos

materiais depositados nos contentores, fazendo aumentar o ciclo de vida das mesmas.

Na revisão bibliográfica elaborada neste estudo, foi percetível que a reciclagem tem mostrado

vantagens económicas e até ambientais quando comparada com outros sistemas. Entre as

vantagens da reciclagem destacam-se como já acima referido a extensão de ciclo de vida dos

materiais, redução de deposição em aterro, e no futuro possíveis ganhos económicos com uma

análise estudada e cuidada caso a caso.

Na análise tecno-económica elaborada neste estudo, foram consideradas um conjunto de

variáveis e parâmetros que foram a base de construção do modelo descrito no modelo, onde se

conjugou custos de capital, operação, e benefícios, obtendo-se assim um custo total final para

cada tipo de sistema de recolha de recicláveis, mais concretamente na recolha porta-a-porta e

na recolha por ecopontos. Foi possível, embora não se dando tanto enfase quanto o necessário,

a construção de uma interface de utilizador que irá contribuir para que cada sistema

individualmente e com base neste modelo, introduzir ou ir a uma base de dados pré-definida e

selecionar valores para cada uma das variáveis e num processo interativo com o utilizador

promover uma análise cuidada e eficaz para um melhoramento dos sistemas de gestão de

recicláveis.

Os resultados da análise de sensibilidade obtidos através das simulações de Monte-Carlo, foram

muito satisfatórios e com valores próximos dos praticados atualmente, tendo os diagramas

apresentado médias próximas do valor zero, o que nos permitiu concluir que as aproximações

efetuadas pelo nosso modelo foram muito positivas.

69

A variável frequência de recolha não faz oscilar muito os custos totais dos sistemas PaP, o que

no sistema de Ecoponto esta variável já faz oscilar mais os custos totais, devido a maiores

distâncias percorridas na recolha, bem como custo de aquisição mais elevados nas

infraestruturas de contentorização.

A combinação de sistemas de recolha Ecoponto e PaP pode ser benéfica em alguns casos, em

que a tipologia das cidades (rural, urbano) não permite a que apenas um sistema de recolha

possa ser aplicável, sendo que efetou-se simulações no nosso modelo para sistemas rurais e

sistemas urbanos, com moradias e prediais, em que os resultados foram muito positivos.

Ficou claro que conseguiu-se aproximar com este modelo a realidade, e que compreendeu-se o

quão complexo poderá ser o sistema, mas ainda assim retratá-lo e obter valores que poderão

ser animadores para o futuro próximo.

Uma última referência à grande dificuldade em obter valores concretos para algumas variáveis,

pelo fato de que a bibliografia nesta vertente é muito reduzida, e ainda de salientar que modelos

com tamanho detalhe são de difícil obtenção e que este modelo pretendeu assim auxiliar para

que num futuro mais estudos possam ser elaborados e assim obter-se uma gestão mais

sustentada e eficiente nos sistemas de gestão de resíduos recicláveis de embalagens.

Indicações para um trabalho futuro

Para desenvolvimentos futuros, existem vários aspetos que poderão enriquecer e completar este

trabalho. Um aspeto importante a desenvolver no futuro prende-se com o cruzamento destes

dados com dados mais reais sejam de empresas de recolha ou de gestão de resíduos urbanos,

que embora sendo dados sensíveis podem ser aferidos. Aferir ainda os intervalos de valores

utilizados neste modelo, de modo a introduzir-se cada vez mais uma veracidade de valores cada

vez mais elevada e mais aproximada da praticada pelos sistemas de gestão de RU.

Trabalhar com a sensibilidade do valor de contrapartida e com variáveis como o número de

pessoas por contentor, ou a alteração dos sistemas de contentorização, bem como projetar

cenários industriais poderão contribuir para um futuro cada vez mais promissor no setor dos RU.

Por fim, de modo a complementar este trabalho poderá ser realizado um estudo de análise do

ciclo de vida das embalagens, bem como de processos mais eficientes e baratos de triagem de

modo a ver as suas influências nos custos finais dos sistemas.

70

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I

Anexo I

Base de dados recolhida:

Sacos CAPEX € + IVA

SACOS DE 15l Rolo de 20 Sacos - 52x60 cm 0.7

SACOS DE 30l Rolo de 20 Sacos - 52x60 cm 1.0

SACOS DE 50l Rolo de 10 Sacos - 60x80 cm 1.5

SACOS DE 80l Rolo de 10 Sacos - 80x90 cm 2.1

SACOS DE 120l Maço de 10 kg 50 Sacos 30.0

Fitas de cor para sacos (1m) 0.3

Contentores Interior CAPEX € + IVA

CONTENTOR PLAST.400x300x130 cm 9.0

CONTENTOR PLAST.600x400x200 cm 18.0

Balde Rectangular Basculante 26Litros 20.00 €

Ecoponto DUO PLAS 26 Lts. 25.00 €

Balde com Tampa 26 Lts 18.00 €

Cestos em plástico 35 l 25.0 €

Balde de 40 Lt com 3 divisões (380x540x330 mm) 25.00 €

Contentor de 52L c/ pedal 20.0

ECOPONTO ECOMAD 56 Lts 27.50 €

POLIMAX SIMPLES 13 Lts x 3 45.00 €

Ecoponto Capacidade 80 Lts (3x26l) 65.00 €

Contentor Ecológico – 3 Resíduos 52 l 65.00 €

Contentores Exterior CAPEX € + IVA

Contentor de 80L c/ pedal e rodas 65.0

Contentor MGB´s 2 rodas 120l 40.00 €

Contentor de 120l c/ pedal e rodas 73.0

CONTENTOR LIXO 120l 150.0

Contentor MGB´s 2 rodas 240l 50.00 €

Contentor de 240L c/ pedal e rodas 105.0

CONTENTOR LIXO 240l RGIno 180.0

Contentor MGB´s 2 rodas 360l 60.00 €

Clyma10 caixa para contentores de 360l 250.00 €

Contentor MGB 360l 75.00 €

Total de Contentor Clyma 10 360l 325.00 €

CONTENTOR LIXO 360l 171.0

CONTENTOR LIXO 360l 230.0

Contentor MGB 4R tampa plana 800l Sistema de Elevação Din 185.00 €

Contentor MGB 4R tampa plana 800l Sistema de Elevação Oschner 205.00 €

CONTENTOR LIXO 800l 390.0

Contentor MGB 4R tampa plana 1000l Sistema de Elevação Din 235.00 €

Contentor MGB 4R tampa plana 1000l Sistema de Elevação Oschner 255.00 €

CONTENTOR 1000l 470.0

CONTENTOR LIXO1100l 525.0

Contentor Ecoponto Cyclea 2500l 400.0

Ecoponto CLYMA25, capacidade 2500 l 475.00 €

TABELA 0-1: BASE DE DADOS 1

II

Fonte Ano Contentor CAPEX € + IVA

Lavita 2008 Cyclea 2500l 396.0

Valnor 2009 Ecoponto 2500l 401.0

Ecolezíria 2008 EcoP 2500l 431.0

Braval 2009 Eco Superfície 2500l 425.0

Valnor 2010 Cyclea 2500l 295.0

Amarsul 2008 EcoP 2500l 440.0

Lavita 2008 Normal 800l 109.0

Gomes et al.; Lopes 2008 Normal 800l 112.0

C.M. Angra Heroísmo 2009 Normal 770l 188.0

Município Anadia 2009 Polietileno 800l 125.0

Município Montijo 2010 Normal 800l 149.0

Amarsul 2009 Normal 800l 121.0

Amarsul 2010 Normal 800l 123.0

TABELA 0-2: BASE DE DADOS 2

Fonte Ano Veículo

CAPEX

Milhares€ +

IVA

Gomes et al.; Lopes 2008 Caixa 15m3 87.5

CM Portalegre 2009 Chassis+caixa+elevador+adaptação traseira 100.0

CM Moura 2009 Caixa 15m3 105.3

CM Penafiel 2009 Recolha RU 114.9

CM Mealhada 2009 Com Compactação 127.7

Abrantes 2009 EcoP 2500l 132.0

CM Entroncamento 2009 Recolha RU 133.8

CM Seixal 2009 Recolha RU 154.0

CM Gondomar 2009 Com Compactação 127.0

CM Sines 2009 Recolha RU 146.2

Valnor 2009 Recolha Vidro 59.0

Valnor 2009 Recolha Papel/Cartão e Embalagens 60.0

Valnor 2009 Recolha RU 108.5

ERSUC 2009 Chassis+caixa 115.9

Resialentejo 2010 Recolha selectiva 129.5

Valorminho 2009 Recolha RU 32 toneladas 116.0

Lavita 2008 Camião bi-fluxo, de 20 m3, com compactação 212.5

Lavita 2008 Camião Ampli-Roll c/grua, com caixas amovíveis de 20 m3 136.6

Lavita 2008 Camião Mono-fluxo, entre 15 e 20 m3, com compactação 100.0

Lavita 2008

Camiões bi-fluxo de 8 m3 com sistema de acondicionamento

em 1 compartimento 90.0

Ambisousa 2010 Camião caixa aberta com grua, de 15 m3, sem compactação 60.0

Bain 2012 Recolha selectiva papel, plastico e metal 210.0

TABELA 0-3: BASE DE DADOS 3

III

TABELA 0-4: BASE DE DADOS 4

IV

TABELA 0-5: BASE DE DADOS 5

V

TABELA 0-6: BASE DE DADOS 6

VI

TABELA 0-7: BASE DE DADOS 7

VII

TABELA 0-8: BASE DE DADOS 8

VIII

TABELA 0-9: BASE DE DADOS 9

IX

TABELA 0-10: BASE DE DADOS 10

X

Anexo II

Código-fonte da estrutura do modelo inserido no programa MATLAB para respetivas simulações:

for i=1:1000

NPessoas=randint(1,1,[,]); NC=()*();

RU=0.5*0.3*FatorAdesão;% 0.5 ton ano por habitante produzido * 30%

produção de recicláveis * fator de adesão Cic=randint(1,1,[,]); Cmc=0.1*Cic; Cav=randint(1,1,[,]); Nv=randint(1,1,[,]); Cmv=0.1*Cav; Pcomb=randint(1,1,[12,15])*0.1; Cmk=randint(1,1,[5,7])*0.1; F=(); kmd=randint(1,1,[5,7])*10*52*F; Ne=randint(1,1,[,]); St=randint(1,1,[6,7]); hd=1800;

Triagem=randint(1,1,[8,10])*10; Vretoma=randint(1,1,[8,10])*10; CRI=randint(1,1,[5,7])*10; CAterro=randint(1,1,[2,4])*10;

%equações Ce=St*Ne*hd; Ccomb=Pcomb*Cmk*kmd; Cgv=Cmv+Ccomb; CTV=Cav+Cgv+Ce; CR=CTV*Nv; Vc=Cic+Cmc; CD=NC*Vc; CT=CD+CR; CustoTotal=[(CT/(NC*NPessoas*RU))+ Triagem – Vretoma – Caterro - CRI]; %disp(['CustoTotal (€/ton) = ' num2str(CustoTotal)]); %X=zeros(1,24); X(i,1)=CustoTotal; X(i,2)=CT; X(i,3)=CR; X(i,4)=CD; X(i,5)=NC; X(i,6)=Vc; X(i,7)=RU; X(i,8)=Cic; X(i,9)=Cmc; X(i,10)=CTV; X(i,11)=Cav; X(i,12)=Nv; X(i,13)=Cgv; X(i,14)=Cmv; X(i,15)=Ccomb; X(i,16)=Pcomb; X(i,17)=Cmk;

XI

X(i,18)=kmd; X(i,19)=Ce; X(i,20)=Ne; X(i,21)=St; X(i,22)=hd; X(i,23)=F; X(i,24)=NPessoas; X(i,25)=Triagem; X(i,26)=Vretoma; X(i,27)=CRI; X(i,28)=CAterro; M=mean(X(:,1)) DvP=std(X(:,1))

Y=zeros (1,24); for Y=i; Y(1,1)=mean(X(:,1)); Y(1,2)=mean(X(:,2)); Y(1,3)=mean(X(:,3)); Y(1,4)=mean(X(:,4)); Y(1,5)=mean(X(:,5)); Y(1,6)=mean(X(:,6)); Y(1,7)=mean(X(:,7)); Y(1,8)=mean(X(:,8)); Y(1,9)=mean(X(:,9)); Y(1,10)=mean(X(:,10)); Y(1,11)=mean(X(:,11)); Y(1,12)=mean(X(:,12)); Y(1,13)=mean(X(:,13)); Y(1,14)=mean(X(:,14)); Y(1,15)=mean(X(:,15)); Y(1,16)=mean(X(:,16)); Y(1,17)=mean(X(:,17)); Y(1,18)=mean(X(:,18)); Y(1,19)=mean(X(:,19)); Y(1,20)=mean(X(:,20)); Y(1,21)=mean(X(:,21)); Y(1,22)=mean(X(:,22)); Y(1,23)=mean(X(:,23)); Y(1,24)=mean(X(:,24)); Y(1,25)=mean(X(:,25)); Y(1,26)=mean(X(:,26)); Y(1,27)=mean(X(:,27)); Y(1,28)=mean(X(:,28)); end

for i=1:1000 X(1,30)=X(i,1)/X(i,12); end

%histfit(X(:,12)) WW=X(:,1); ZZ=X(:,25); histfit(X(:,1)) end