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7 Universidade Federal da Bahia Escola Politécnica Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana ANÁLISE TEMPORAL AMBIENTAL A PARTIR DAS GEOTECNOLOGIAS. ESTUDO DE CASO: ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DAS LAGOAS E DUNAS DO ABAETÉ. Iran Carlos Caria Sacramento Salvador Dezembro/2011

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Universidade Federal da Bahia

Escola Politécnica Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana

ANÁLISE TEMPORAL AMBIENTAL A PARTIR DAS GEOTECNOLOGIAS. ESTUDO DE CASO: ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DAS LAGOAS E

DUNAS DO ABAETÉ.

Iran Carlos Caria Sacramento

Salvador Dezembro/2011

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Iran Carlos Caria Sacramento

ANÁLISE TEMPORAL AMBIENTAL A PARTIR DAS GEOTECNOLOGIAS. ESTUDO DE CASO: ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DAS LAGOAS E

DUNAS DO ABAETÉ.

Salvador Dezembro/2011

Seminário de Qualificação de Mestrado apresentado como parte integrante da disciplina de Seminário de Pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental Urbana da Universidade Federal da Bahia, submetido à apreciação da banca de avaliação. Orientação: Prof. Dra. Vivian de Oliveira Fernandes Co-orientação: Prof. Dra. Patrícia Lustosa Brito.

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SUMÁRIO Lista de Figuras iii

Lista dos Gráficos v

Lista das Tabelas vi

1.0 Introdução 08

1.1 Apresentação 08

1.2 Objetivo Geral 09

1.2.1 Objetivos Específicos 09

2.0 Localização da Área de Estudo 10

3.0 Fundamentação teórica 11

3.1 As Geotecnologias 11

3.2 Sensoriamento Remoto 13

3.2.1 Fotogrametria 13

3.2.2 Fotointerpretação 18

3.2.3 Mosaicagem 19

3.2.4 Georreferenciamento 20

3.3 Sistema de Informação Geográfica 20

3.4 Cartografia Temática 25

3.5 A questão Ambiental 29

3.5.1 Lagoas e Dunas 31

3.5.2 Análise Ambiental 34

3.5.3 Análise Temporal 34

3.6 A Legislação Ambiental 34

3.6.1 Área de Proteção Ambiental 39

3.6.2 Zoneamento Ecológico Econômico 40

4.0 Materiais e Métodos 42

4.1 Materiais 43

4.2 Métodos 46

5.0 Discussões e Análises 53

5.1 Resultados e Análises Preliminares 53

5.1.1 Clima 53

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5.1.2 Vegetação 56

5.1.3 Geomorfologia e Geologia 59

5.1.3.1 O Abaeté e sua História Geológica e Geomorfológica 60

5.1.4 Hidrografia 63

5.1.5 Ocupação Urbana 67

5.1.6 Legislação da APA do Abaeté 72

5.2 Resultados e Análises Preliminares 80

5.2.1 Análises dos Avanços da Degradação Ambiental 81

5.2.2 Influência do ZEE na Cobertura do Solo da APA do Abaeté 89

6.0 Conclusão e Considerações Preliminares 90

7.0 Resultados Esperados 91

8.0 Cronogramas de Atividades 92

9.0 Referências 93

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LISTA DE FIGURAS 2.0 Cartograma da Área de Estudo 11

3.0 Representação da Mosaicagem 20

3.1 Composição do sistema de Informação,Geográfica 25

4.0 Esquema de Definição Metodológica 47

4.1 Organograma da Pesquisa 49

4.2 Esquema Metodológico de Processamento de Dados 52

5.0 Gráfico de Normais Climatológicas 55

5.1 Lagoa do Abaeté 57

5.2 Mapa de Cobertura Vegetal da APA do Abaeté (1976) 58

5.3 Mapa de Cobertura Vegetal da APA do Abaeté (2010) 58

5.4 Modelo Digital de Terreno da APA do Abaeté 59

5.5 Fases de Evolução e Formação da Lagoa do Abaeté 61

5.6 Retirada das Dunas 63

5.7 Mapa de Cobertura Hidrográfica da APA do Abaeté (1976) 65

5.8 Mapa de Cobertura Hidrográfica da APA do Abaeté (2010) 65

5.9 Redução do Espelho D’Água 66

5.10 Invasão das Dunas 69

5.11 Grandes Empreendimentos na APA do Abaeté 70

5.12 Mapa de Ocupação Urbana da APA do Abaeté - 1976 71

5.13 Mapa de Ocupação Urbana da APA do Abaeté - 2010 71

5.14 Zoneamento Ecológico Econômico da APA do Abaeté - 1993 74

5.15 Zoneamento Ecológico Econômico da APA do Abaeté - 1997 75

5.16 Zoneamento Ecológico Econômico da APA do Abaeté - 2002 78

5.17 Mapa dos Eixos Sociais no Entorno da APA do Abaeté 84

5.18 Mapa da Cobertura do Solo - 1976 85

5.19 Mapa da Cobertura do Solo - 2010 85

5.20 Mapa Comparativo da Cobertura do Solo – 1976 / 2010 88

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LISTA DE GRÁFICOS 5.0 Quantificação da Vegetação entre 1976 e 2010 57

5.1 Quantificação das Dunas entre 1976 e 2010 62

5.2 Quantificação da Hidrografia entre 1976 e 2010 64

5.3 Quantificação da Ocupação Urbana entre 1976 e 2010 70

5.4 Classes Ambientais - 1976 87

5.5 Classes Ambientais - 2010 87

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LISTA DE TABELAS 5.0 Formas e Perfis dos Problemas Ambientais da APA do Abaeté 82

5.1 Quantificação de Áreas entre 1976 / 2010 86

5.2 Procentagem Comparativa da Cobertura do Solo 1976 / 2010 89

8.0 Cronograma de Atividades 92

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1.0 INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO

O espaço social pode ser visto como fruto das relações sociais incluindo-se aí,

além da transformação material pelo processo de trabalho, a territorialização e

urbanização através de projeções de poder e a atribuição de significados culturais.

Desta forma, a cidade é um ambiente construído artificial, implicando impactos

sobre o espaço natural, o assim chamado “meio ambiente”, este que quanto maior

e mais complexa for a urbe possivelmente, maiores serão esses impactos.

Verifica-se atualmente nas metrópoles um agravamento das condições de moradia

das populações de baixa renda– um processo de periferização do crescimento

metropolitano, acompanhado de um aumento significativo nos índices de

“favelização” – e um grau devastador de degradação ambiental provocado por

loteamentos ilegais e ocupações sobre áreas protegidas.

A significativa concentração da pobreza nas metrópoles brasileiras tem como

expressão um espaço dual: de um lado, a cidade formal que concentram os

investimentos públicos e de outro o seu contraponto absoluto, a cidade informal

relegada dos benefícios equivalentes e que cresce exponencialmente na

ilegalidade urbana. A precariedade e a ilegalidade são seus componentes

genéricos e contribuem para a formação dos sistemas urbanos sem um

escalonamento de suas variáveis.

Em uma sociedade desigual como é a sociedade brasileira é preciso considerar

que as posições nas quais os diferentes grupos ocupam na esfera de produção

definirá sua responsabilidade na gestão da economia e do espaço, e que as

esferas de influência às margens de manobras e as responsabilidades individuais

dos diferentes grupos sociais são extremamente distintas. Ademais, uma vez que

a posição de classes, o peso político dos indivíduos e os grupos sociais vinculam-

se muito intimamente a ação reguladora do aparelho de Estado.

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A análise torna-se ainda mais concreta quando se considera que a degradação

ambiental está associada não apenas à produção de riqueza, mas também a outra

vertente do capitalismo: a pobreza. Assim, vale chamar a atenção para a relação

de causa e efeito entre estas variáveis com a degradação ambiental ou mais

amplamente, para o círculo vicioso da pobreza que leva a deteriorização do meio

ambiente, que por sua vez está intimamente ligado a segregação sócio-espacial.

Entendendo que o dilema da degradação ambiental é responsabilidade tanto das

pessoas comuns como dos órgãos governamentais e dos diversos setores

produtivos da economia, é importante que todos possam contribuir para diminuir o

impacto negativo de suas ações ao meio ambiente, colaborando com diversas

atitudes, constituindo formas de manejo que proporcionem a qualidade e

possibilidade de vida não só para as gerações atuais, mas para as gerações que

ainda estão por vir. Desta forma, esta pesquisa tem o intuito de analisar a partir

das Geotecnologias, os avanços da degradação ambiental na Área de Proteção

Ambiental das Lagoas e Dunas do Abaeté, de forma temporal, entre os anos de

1976 e 2010, levando em consideração a influência da ação antrópica no processo

de ocupação urbana.

1.2 OBJETIVO GERAL

A partir das Geotecnologias analisar os avanços da degradação ambiental na Área

de Proteção Ambiental das Lagoas e Dunas do Abaeté entre os anos de 1976 e

2010, levando em consideração a influência da ação antrópica no processo de

ocupação urbana.

1.2.1 OBJETIVOS ESPECIFICOS

Caracterizar os avanços da degradação ambiental na APA das Lagoas e

Dunas do Abaeté;

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Analisar a expansão urbana na APA das Lagoas e Dunas do Abaeté entre

os anos de 1976 a 2010;

Avaliar os aspectos positivos e negativos resultantes do processo de

ocupação urbana na área de estudo;

Detalhar uma metodologia de análise temporal ambiental a partir das

Geotecnologias;

Avaliar aspectos positivos e negativos do uso das Geotecnologias para

análise temporal ambiental;

Analisar a efetividade das legislações ambientais das esferas estadual e

municipal referentes a área de estudo;

Questionar as freqüentes mudanças referente ao Zoneamento Ecológico

Econômico da APA do Abaeté.

2.0 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A localização da APA do Abaeté apresenta as coordenadas geográficas

38°25’01” W e 12°56’13” S, estando situado entre as coordenadas UTM

570.471,56 E e 8.569.726,84 N do fuso 24S referenciadas a primeira realização do

elipsóide SAD 69 (South American Datum). Ocupando uma área estimada em de

um total de 1.241 hectares (Figura 01)

O Acesso a APA pode ser feito pela a Avenida Dorival Caymmi (Faces –

Leste – Oeste), pela Avenida Luiz Viana Filho (Paralela) nas proximidades da 1°

rotula do aeroporto (Faces Norte – Sul), pela Avenida Octavio Mangabeira

conhecida também como Orla Atlântica (Faces Sul – Oeste) e pela Alameda Praia

Barra dos Coqueiros (Faces - Nordeste – Sudoeste). Região que compreende os

últimos remanescentes do sistema dunar no município de Salvador e contrastando

com loteamentos de classe alta e áreas com as mínimas condições de estrutura.

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Figura 2.0: Cartograma da área de Estudo 3.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 AS GEOTECNOLOGIAS Considerando a importância da coleta de dados para as devidas aplicações e

auxílio para o desenvolvimento científico, esta atividade sempre foi de grande

importância nas sociedades organizadas. Entretanto, até outrora, essas análises

eram realizadas de maneira manual (com mapas e documentos analógicos) e em

alguns casos primitivas, o que impedia uma eficácia no cruzamento destas

informações. Com o passar do tempo e a explosão tecnológica na segunda

metade do século XX, tornou-se possível armazenar e representar as informações

em um ambiente digital.

De tal modo, com este avanço tecnológico e as diversas formas de coleta e

representação dos dados na atualidade, a importância da utilização das

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ferramentas de Sistema de Informações Geográficas - SIG em variadas áreas de

conhecimento proporcionou surgimento das Geotecnologias como uma

generalização de todas estas ferramentas que compõe o quadro do Sistema de

Informação Geográfica abrindo espaço para o desenvolvimento e integração de tal

sistema.

Todavia, entendendo que em um país como o Brasil, com vários problemas

sociais e uma grande deficiência no que podemos relacionar a informações

apropriadas nas decisões de cunho urbano, ambiental e social, as

Geotecnologias, oferece um admirável potencial, pois, com custo relativamente

baixo e com tecnologia de ponta, torna-se possível uma automatização e a

elaboração de diversos produtos cartográficos.

Assim segundo ROSA (2005), as Geotecnologias podem ser definidas como:

“ Um conjunto de tecnologias para coleta, processamento, análise e oferta de informações com referência geográfica. As Geotecnologias são compostas por soluções em hardware, software e peopleware que juntos constituem poderosas ferramentas para tomada de decisões. Dentre as Geotecnologias podemos destacar: sistemas de informação geográfica, cartografia digital, sensoriamento remoto, sistema de posicionamento global e a topografia.” (ROSA, 2005).

Rearfimada ainda por Marcelino (2008) apud in Bonham-Carter (1996)

“Representadas especialmente pelo Sistema de Informação Geográfica (SIG), o Sensoriamento Remoto (imagens de satélite) e o Sistema de Posicionamento Global (GPS). As Geotecnologias possibilitam a coleta, armazenamento e análise de grande quantidade de dados, que devido a complexidade dos desastres naturais, seriam praticamente inviáveis de serem tratados utilizando métodos analógicos e/ou tradicionais. Com estas ferramentas produzem-se informações em pouco tempo e com baixo custo, combinando dados espaciais multi-fontes, a fim de analisar as interações existentes entre as variáveis, elaborar modelos preventivos e dar suporte as tomadas de decisões”. (MARCELINO 2008), (BONHAM-CARTER, 1996)

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Na atualidade as Geotecnologias estão cada vez mais interligadas. Suas

aplicações nos diferentes campos do conhecimento têm aumentado inclusive com

uma vasta aplicação. Neste trabalho, o seu potencial nos estudos das análises foi

de fundamental importância para entendermos o processo de degradação

ambiental sofrido na APA do Abaeté através de suas variáveis. Desta maneira

apresentamos os componentes que fizeram parte desta análise temporal a partir

das Geotecnologias.

3.2 SENSORIAMENTO REMOTO

Neste capitulo, irá ser apresentado alguns conceitos e técnicas de Sensoriamento

Remoto aplicado a Análise Temporal Ambiental, bem como, sua importância

dentro das Geotecnologias.

3.2.1 FOTOGRAMETRIA

A investigação dinâmica da terra não é um campo de ação de simples

entendimento, bem como, a sua complexidade por conta das constantes

mudanças em sua superfície. Observar e entender melhor a maneira como tais

transformações ocorrem, em suas diferentes escalas para os ambientes no qual

as sociedades convivem, percebendo a diferença entre a variabilidade provocada

pela ação antrópica e ação da natureza em varias dimensões e amplitudes,

requer, com prioridade, uma vasta cobertura de dados geográficos.

Assim, o ser humano tem cada vez mais necessidade de conhecer o planeta em

que vive, sendo necessário, catalogar, classificar, medir e quantificar uma enorme

multiplicidade de informações. Contudo, tais ferramentas são necessárias ou

capazes de responder à quantificação e medição de muitos dos elementos

identificados nas imagens.

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Considerando a fotogrametria como uma das principais ferramentas de apoio às

Geotecnologias, além, de uma ciência com vasta contribuição para a

compreensão e o entendimento do espaço. A Fotogrametria é considerada uma

sub-área das Ciências Geodésicas e abrange grande parte de todo o processo de

compilação de mapas. Atualmente, a Fotogrametria é dividida em: analógica,

analítica e digital. Em tempos remotos (fase analógica), a compilação de mapas

era realizada de forma árdua e morosa, e necessitava de operadores devidamente

treinados.

Contudo, o rápido avanço da tecnologia projetou a Fotogrametria na era digital e

possibilitou a agregação com outras áreas do conhecimento, tais como: o

Processamento Digital de Imagens (PDI), a Inteligência Artificial e a Visão

Computacional. A integração destes conhecimentos tornou possível a automação

de algumas etapas fotogramétricas, no qual destacam-se: orientações interior e

relativa, fototriangulação, a geração de Modelo Digital do Terreno (MDT) e a

geração de ortofotos digitais, bem como, a restituição cartográfica.

Todavia, WOLF (1984) definia a Fotogrametria como:

“arte, ciência e tecnologia de obtenção de informações sobre os objetos físicos no mundo real e o ambiente, por meio de processos de gravação, medida e interpretação de imagens fotográficas tomadas com câmaras métricas convencionais ou câmaras não métricas, além de modelos de energia eletromagnética radiante. A definição ainda inclui análise de modelos de energia acústica radiante e fenômenos magnéticos.” (WOLF, 1984).

Reforçada ainda por SAMPAIO (2007):

“Fotogrametria é o conjunto de técnicas que permitem recolher informação fidedigna e reconstruir um objeto tridimensionalmente a partir de medições realizadas em fotografias ou outras imagens do objeto. A componente analítica está atualmente na base de todas as operações fotogramétricas implementadas em gabinete com fotografias aéreas ou em estações digitais permitindo determinar a forma, posição e dimensão de objetos no espaço”. (SAMPAIO, 2007)

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A prática atual da Fotogrametria não poderia ocorrer até o desenvolvimento

do processo fotográfico. O fato ocorreu em 1839, quando Louis Daguerre de Paris

anunciou o processo fotográfico direto. Neste processo um placa de metal foi

exposta e sensibilizada pela luz, com uma porção de iodeto de prata, dando

origem ao processo fotográfico dos dias atuais;

Recentemente, também foram reconhecidos os experimentos do químico

brasileiro de origem francesa Hercule Florence, o qual na mesma época, em

Campinas (SP), inventou um processo heliográfico semelhante ao de Daguerre.

Um ano depois da invenção de Daguerre, um geodesista da academia Francesa,

demonstrou que o uso de fotografias era viável no mapeamento topográfico,

ocorrido em 1849 sob o comando do Coronel Aimé Laussedat do Corpo de

Engenheiros do exército francês. Durante vários anos o Coronel Laussedat

investiu seu conhecimento e sua persistência para o desenvolvimento da prática

da fotogrametria aérea, com o uso de balões para a tomada das fotografias;

Porém, devido às dificuldades encontradas para obter fotografias aéreas, migrou

seus estudos para a prática da Fotogrametria Terrestre. Já em 1859 o Coronel

Laussedat apresentou os resultados de seu trabalho e foi considerado o Pai da

Fotogrametria;

Apesar dos problemas as fotos obtidas a partir de balões continuaram sendo

utilizadas, especialmente com fins militares; Em 1909 o alemão Carl Pulfrich

iniciou experimentos com estereopares, estabelecendo os fundamentos de muitos

dos procedimentos instrumentais até hoje utilizados. Na atualidade, modelos mais

sofisticados facilitam e possibilitam uma melhor qualidade nos trabalhos realizados

por uma gama de empresas (pública ou privada). No caso das empresas públicas

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o acervo fotográfico permite um acompanhamento do crescimento das cidades e

colabora para o planejamento urbano além de gerir decisões do poder público.

A Fotogrametria apresenta algumas vantagens em sua utilização que comprovam

a continuidade de seu uso por diversos setores de produção, tais como:

• O objeto a ser medido não é tocado;

• A aquisição dos dados é rápida;

• Os fotogramas armazenam grandes quantidades de informações semânticas e

geométricas;

• As fotografias são documentos legais relativos à época de sua tomada;

• Podem ser medidos movimentos e deformações de objetos;

• Os fotogramas podem ser medidos a qualquer momento que se desejar,

podendo-se repetir a medida várias vezes;

• A precisão pode ser aumentada de acordo com as necessidades particulares de

cada projeto;

• Superfícies complicadas podem ser facilmente determinadas com a densidade

desejada (medição de vários pontos);

Nesta pesquisa, a Fotogrametria utilizada compõe os anos de 1976 e 2010, com

continuidade do trabalho utilizaremos também para os anos de 1992 e 2002. Em

1976 o levantamento aerofotografico foi executado pela empresa Geofoto S.A em

uma escala de 1:8.000 com a distancia focal de 153 milímetros chegando em uma

distância de vôo de aproximadamente 1.224 metros voados no sentido

Leste/Oeste entre o junho de 1976 a maio 1977.

Em 2010, o descritivo técnico da Engenharia Mapeamento e Aerolevantamento

Ltda (ENGEMAP) – empresa executora do levantamento de 2010 – apresentou os

detalhes do levantamento aerofotogramétrico do referido ano. A cobertura

aerofotogramétrica obedeceu a uma metodologia clássica na qual observa o

encadeamento lógico das atividades:

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Coleta de Informações;

Planejamento de vôo;

Aquisição das Imagens Aéreas;

Pré-Processamento das Imagens Aéreas;

Controle de Qualidade das Imagens Aéreas;

Assim, para a execução deste levantamento a ENGEMAP utilizou do Sistema

Aerotransportado de Aquisição e Pós-Processamento de Imagens Digitais

(SAAPI).

“O SAAPI foi desenvolvido em 2005 como um projeto de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo – FAPESP, na categoria de inovação tecnológica em parceria com o Departamento de Cartografia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Presidente Prudente. Trata-se de uma solução inovadora em termos de aerolevantamento digital com utilização de câmaras digitais integradas à sistemas de georreferenciamento direto, dispositivos eletrônicos e desenvolvimentos de hardware e software. O SAAPI constitui-se no primeiro sistema digital com este tipo de câmara homologado no Brasil. Integra câmaras digitais matriciais de alta qualidade geométrica e radiométrica a sensores de georreferenciamento direto, permitindo a coleta de imagens em cores RGB e infravermelho georreferenciadas em varias escalas de vôo, de acordo com a necessidade de cada projeto executado”. (ENGEMAP, 2010).

E ainda, “Possui um sistema autônomo integrado de disparo, sincronismo e armazenamento de dados. As câmaras são montadas em exoesqueletos individuais sobre um suporte de alumínio, que garante a estabilidade de orientação interior e relativa entre os sensores na plataforma de coleta” (ENGEMAP, 2010).

Todavia, a câmara digital permite a geração de imagens coloridas com resolução

radiométrica de 8 a 16 bits, o que possibilita a geração de imagens com 256 ou

4.096 níveis de tonalidades para cada canal de cor. As câmaras possuem

resoluções de 39 a 50 Megapixels, e objetivas com a distância focal de 35mm,

50mm e 80mm. Possui sensor Charge Coupled Device – Dispositivo de Carga

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Acoplado (CCD) com o tamanho do pixel de 6,8 ou 6 microns e distorção inferior a

0,01 milímetro. Possui ainda, filtro UV-Sky que filtra a luz ultravioleta e compensa

o efeito de brusma atmosférica.

Deste modo, foram geradas as Ortoimagens a partir das fotografias aéreas na

resolução espacial de 0,6 metros ambas na escala de 1:10.000, apresentando

planimetricamente no ponto definido no centro do pixel um erro médio quadrático

de 3 metros.

3.2.2 FOTOINTERPRETAÇÃO

A interpretação da paisagem, através da correlação entre a realidade de campo e

a fotografia aérea ou a imagem de satélite permite uma delimitação prévia das

unidades para diversas áreas do conhecimento possibilitando um melhor

planejamento do para o trabalho a ser executado.

Contudo, a foto-interpretação é uma técnica indispensável para o desenvolvimento

de trabalhos de delimitação de unidades homogêneas para posteriores

interpretações e decisões ao nível do planejamento do uso da terra. O ato de

examinar imagens com o fim de identificar objetos, áreas ou fenômenos e ajuizar o

seu significado.

Quando a foto-interpretação é efetuada com o objetivo de elaborar Cartografia, ela

torna-se num exame dos elementos dos padrões fotográficos, quantitativos e

qualitativos, que permitem diagnosticar as prováveis unidades existentes em

determinado local. Nesta pesquisa, as diversas atividades desenvolvidas ao longo do trabalho

possibilitaram a seguinte seqüência de procedimentos para a Foto-interpretação

das imagens de 1976 e 2010.

O Reconhecimento e a Identificação (Consiste na integração de

observações dispersas numa apreciação global da paisagem)

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A Análise (Consiste no exame de conjunto para dele separar os elementos

constituintes e estabelecer as relações com o todo);

Dedução (Objetos não diretamente perceptíveis. Dependem de um

raciocínio. É particularmente perigoso, pois requer sólidos conhecimentos

do meio e suas correlações com a foto-imagem).

Interpretação (Após a individualização, segue-se à identificação e a

descrição).

Classificação e Idealização (Ainda que condicionada pelo trabalho de

campo esta fase pode ser considerada como a parte final do trabalho)

Partindo destas técnicas de análise de imagens pode-se elaborar a classificação

dos mapas nos respectivos anos, apresentando ainda, quanto e quais foram às

áreas mais afetadas com o avanço da ocupação urbana na APA do Abaeté.

3.2.3 MOSAICAGEM

Muitas vezes na cartografia ou em suas aplicações é necessário a

conversão de dados em forma analógica para a forma digital. Uma maneira eficaz

é a utilização de scanners e de softwares capazes de realizar uma mosaicagem

de imagens digitais a partir de uma superposição.

Podemos considerar a imagem digital como sendo uma matriz cujos

índices de linhas e colunas identificam um ponto na imagem, e o correspondente

valor do elemento da matriz identifica o nível de cinza naquele ponto. Os

elementos dessa matriz digital são chamados de elementos da imagem, pixel.

O termo mosaico, é usado em Sistema de Informações Geográficas (SIGs)

e, é um sinônimo de junção de mapas, ou seja, mapas separados, porém

adjacentes, são automaticamente agrupados em um único mapa. O produto final

do mosaico é uma imagem ou um mapa topologicamente consistente, com

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continuidade física (CANDEIAS & SILVA, 2003). A figura 3.0 mostra um exemplo

desta representação.

Figura 3.0: Representação da mosaicagem

Alguns softwares utilizam algaritimos para relacionar as imagens bem como suas

interseções que possibilitam a exatidão no produto final

3.2.4 GEORREFERENCIAMENTO 3.3 SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA

Considerando a importância da coleta de dados para as devidas aplicações e

auxilio para o desenvolvimento científico, esta atividade sempre foi de grande

importância nas sociedades organizadas. Entretanto, até outrora, essas análises

eram realizadas de maneira manual (com mapas e documentos em papel) e em

alguns casos primitivas, o que impedia uma eficácia no cruzamento destas

informações. Com o passar do tempo e a explosão tecnológica na segunda

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metade do Século XX, tornou-se possível armazenar e representar as informações

em um ambiente digital, abrindo espaço para o surgimento do Geoprocessamento.

Segundo Câmara & Davis, 2001 o termo geoprocessamento ou a geomática

denota-se:

“como a disciplina do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica e que vem influenciando de maneira crescente as áreas de Cartografia, Análise de Recursos Naturais, Transportes, Comunicações, Energia e Planejamento Urbano e Regional”. (CAMARA e DAVIS, 2001. p.01)

Atrelado ao GIS (do inglês Geographic Information System) ou SIG (Sistema de

Informações Geográficas), que permite a realização de analises mais complexas

integrando os dados de variadas fontes e a criação de um banco de dados.

Em seu retrospecto histórico, com o objetivo de diminuir custos na produção e

manutenção de mapas na década de 50, Ingleterra e Estados Unidos resolveram

fazer as primeiras tentativas de automatização par parte de processamento de

dados com características espaciais. Porém, devido à precariedade cibernética, na

época, e as aplicações especificas desenvolvidas (pesquisas em botânica na

Inglaterra e estudos de volume de trafego nos Estados Unidos) os sistemas não

puderam ser considerados como sistemas de informação. Segundo Câmara e

Davis (2001).

“Os primeiros Sistemas de Informação Geográfica surgiram na década de 60, no Canadá, como parte de um programa governamental para criar um inventário de recursos naturais. Estes sistemas, no entanto, eram muito difíceis de usar: não existiam monitores gráficos de alta resolução, os computadores necessários eram excessivamente caros, e a mão de obra tinha que ser altamente especializada e caríssima. Não existiam soluções comerciais prontas para uso, e cada interessado precisava desenvolver seus próprios programas, o que demandava muito tempo e, naturalmente, muito dinheiro. Além disto, a capacidade de armazenamento e a velocidade de processamento eram muito baixas”. (CAMARA e DAVIS, 2001 p.02).

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A partir da década de 70 foram criados novos softwares com recursos mais

avançados e acessíveis facilitando o desenvolvimento de sistemas comerciais.

Também nos anos 70 foram desenvolvidos alguns fundamentos matemáticos

voltados para a cartografia, incluindo questões de geometria computacional. No

entanto, devido aos custos e ao fato destes proto-sistemas ainda utilizarem

exclusivamente computadores de grande porte, apenas grandes organizações

tinham acesso à tecnologia.

Ainda na década de 70, começaram a surgir os primeiros sistemas comerciais

como o CAD Computer Aided Design), que melhoram muito as condições para a

confecção de plantas, mapas e desenhos que serviram de base tanto para a

engenharia quanto para a cartografia digital.

Entretanto, é na década de 80 que as tecnologias relacionadas aos Sistemas de

Informações Geográficas cresceram em abundancia e perduram até os dias

atuais. Porém, em virtude dos elevados custos dos hardwares e pela pequena

quantidade de pesquisa especifica sobre o tema em questão, os Sistemas de

Informações Geográficas foram beneficiados por conta dos avanços da informática

e do estabelecimento de centros de pesquisas voltadas ao Geoprocessamento.

Contudo, a materialização do Geoprocessamento como disciplina científica e

independente originou-se nos EUA em 1989 com a formação do Centro Nacional

de Informação e Análises Geográficas o (NCGIA -National Centre for Geographical

Information and Analysis).

No decorrer da década de 80, o barateamento das estações de trabalho, a

popularização do sistema, a evolução dos computadores e dos gerenciadores de

banco de dados surgiu grande difusão do uso do GIS. Atrelado a isso, a várias

funções de análise espacial foram criadas proporcionando uma ampliação nas

aplicações do GIS. Hoje, percebe-se um crescimento incomparável na utilização

do GIS nas organizações (Empresas e o Estado) por conta dos custos mais

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baixos, podendo assim melhor desempenhar a construção de bases de dados

geográficas.

Entendendo que em um país como o Brasil, com vários problemas sociais e uma

grande deficiência no que podemos relacionar a informações apropriadas em

várias decisões de cunho urbano, ambiental, social, o geoprocessamento, oferece

um admirável potencial, pois, com custo relativamente baixo e com tecnologia de

ponta torna possível uma automatização e uma variedade de produtos

cartográficos.

Segundo Câmara e Davis (2001), no Brasil, o geoprocessamento iniciou-se devido

ao esforço da divulgação e a formação pessoal do prof. Jorge Xavier da Silva

(UFRJ) no começo da década de 80. A chegada ao Brasil, em 1982, do Dr. Roger

Tomlinson, o criador do primeiro SIG (Canadian Geographical Information

System), no que resultou ao aparecimento de diversos grupos interessados no

desenvolvimento de tais tecnologias. Foram eles: UFRJ, MaxiDATA e

CPqD/TELEBRÁS “Em 1984, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) estabeleceu um grupo específico para o desenvolvimento de tecnologia de Geoprocessamento e sensoriamento remoto (a Divisão de Processamento de Imagens - DPI). De 1984 a 1990 a DPI desenvolveu o SITIM (Sistema de Tratamento de Imagens) e o SGI (Sistema de Informações Geográficas), para ambiente PC/DOS, e, a partir de 1991, o SPRING (Sistema para Processamento de Informações Geográficas), para ambientes UNIX e MS/Windows. O SITIM/SGI foi suporte de um conjunto significativo de projetos ambientais”. (CAMARA e DAVIS, 2001 p.02).

Podendo-se citar:

O levantamento dos remanescentes da Mata Atlântica Brasileira (cerca

de 100 cartas), desenvolvido pela IMAGEM Sensoriamento Remoto, sob

contrato do SOS Mata Atlântica;

A cartografia fito-ecológica de Fernando de Noronha, realizada pelo

NMA/EMBRAPA;

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O mapeamento das áreas de risco para plantio para toda a Região Sul

do Brasil, para as culturas de milho, trigo e soja, realizado pelo

CPAC/EMBRAPA;

O estudo das características geológicas da bacia do Recôncavo, através

da integração de dados geofísicos, altimétricos e de sensoriamento

remoto, conduzido pelo CENPES/Petrobrás;

Assad e Sano (1998) apresentam um conjunto significativo de

resultados do SITIM/SGI na área agrícola. O SPRING unifica o

tratamento de imagens de Sensoriamento Remoto, mapas temáticos,

mapas cadastrais, redes e modelos numéricos de terreno.

Neste contexto as definições do SIG são condicionadas pelo ambiente em que

surgem e pela realidade dos problemas que ajudam a resolver. As condições

tecnológicas permitem substituir o procedimento anterior (analógico), em que os

cidadãos tinham de requerer à administração pública acesso aos seus arquivos.

Neste novo modelo os arquivos digitais podem ser consultados através das redes

eletrônicas, para que os cidadãos se sirvam livremente em função de suas

necessidades.

Em sua composição o SIG apresenta os hardware, softwares e a informação

geográfica necessários para a formação de um banco de dados. Em contrapartida

a manipulação, criação, visualização, consultas e análises correspondem o

resultado de tais informações em um mapa ou no próprio computador (Figura 3.1).

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Figura 3.1 – Composição do Sistema de Informação Geográfica

Neste trabalho, o SIG se fez presente a partir de diversos dados referenciados que

composto no banco de dados da Companhia de Desenvolvimento Urbano do

Estado da Bahia (CONDER), através do Sistema de Informações Geográficas

Urbanas do Estado da Bahia (INFORMS), tais como, a Base Cartográfica de 1992,

as Fotografias aéreas e as análises de documentos pelos quais serviram de apoio

e produção dos diversos mapas construídos para tal pesquisa. Além disso,

construiu-se um banco de dados independente com informações relativas para a

análise ambiental (vegetação, ocupação urbana, dunas e hidrografia) inicialmente

de 1976 e 2010 para conseqüentemente elaborarmos para todos os anos

propostos para o complemento da pesquisa.

3.4 CARTOGRAFIA TEMÁTICA

Os registros acerca dos conhecimentos geográficos eram obtidos através dos

relatos de viajantes, que descreviam de forma minuciosa elementos percebidos

nas paisagens observadas, como o grego Heródoto, no século V a.C. A percepção

dos gregos sobre a Terra era bastante avançada, e filósofos como Pitágoras e

Aristóteles acreditavam que ela tinha a forma esférica. No século III a.C.,

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Erastóstenes de Cirene, na Geographica, primeira obra a usar a palavra Geografia

no título, calculou a circunferência da Terra com assombrosa aproximação.

Posteriormente, o geógrafo e historiador grego Strabo compilou todo o

conhecimento clássico sobre Geografia em uma obra de 17 volumes sobre a

época de Cristo, que se tornou a única referência sobre obras gregas e romanas.

Outra importante contribuição foi a do astrônomo e geógrafo Ptolomeu, no século

II da era cristã.

Com o advento das Grandes Navegações, o mundo começou a ser esquadrinhado

de forma mais ampla e minuciosa. Até a metade do século XV, os mapas eram

representações de descrições de itinerários para viajantes, mas não

representavam a realidade do espaço terrestre.

No final da Idade Média começaram a ser desenhados os portulanos, verdadeiros

mapas em duas dimensões indicando a posição dos portos e o contorno das

costas, entretanto, a retomada dos estudos de Geografia, cuja Geographia

generalis (1650; Geografia geral) principal obra de referência a partir do século

XVI, Gerardus Mercator (Gerard de Cremer), que criou um novo sistema de

projeções, aprimorando os que usavam longitudes e latitudes. Neste século

também se popularizam as cosmografias – manuais sobre Cartografia, Geografia,

Astronomia e História Natural, organizadas por região –. Até o século XVIII não é

possível falar de conhecimento geográfico-cartografico, pois o termo Cartografia

data de 1839.

As fontes para sistematização deste conhecimento, assim como sua difusão,

pressupõe o período das Grandes Navegações (espaço mundial), transição do

feudalismo para o capitalismo, exploração produtiva dos territórios coloniais,

criação de institutos para agrupar material recolhido (sociedades geográficas), e,

sobretudo o aprimoramento das técnicas cartográficas e de impressão. Estas

contribuições determinaram o impulso da Cartografia na Europa, notabilizado

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obviamente pelo período do Renascimento, a estes aspectos revela-se que “a

partir das viagens de exploração das novas terras, os navegadores sentiam a

necessidade de contar com mapas cada vez mais atualizados e aperfeiçoados”

(DUARTE:2002,p.36).

Considerando o mapa uma construção cultural, havendo muitos registros que

comprovam a sua elaboração por diversos povos ao longo da historia visando

“materializar” o abstrato das paisagens mentalizadas de forma reduzida, além de

refletir aspectos culturais da sua própria sociedade. Assim,

“a necessidade de estudar as condições políticas e econômicas da época em que as cartas foram traçadas e até o que se pode averiguar da biografia dos cartógrafos, deixa-nos perceber o âmbito social que as condicionou. O homem nunca poderá fugir a paixão avassaladora e salutar de conhecer sua própria história. Não conseguirá fazê-lo mais agradavelmente do que através dos estudos, mesmo ligeiro, da seqüência de cartas antigas em que antepassados registraram, com mais ou menos fantasia ou realidade, as suas concepções e conhecimentos geográficos”. (DUARTE: 2002,p.20).

A Geografia precisa situar-se com precisão na superfície terrestre aquilo que quer

estudar e analisar. A elaboração de mapas nasceu da necessidade de representar

a forma da Terra e dos continentes, bem como medir as distâncias entre lugares.

A Cartografia é a ciência e a arte da representação gráfica da superfície terrestre,

no qual seu produto principal é o mapa. Sendo este fundamental para

entendimento e análises em diversas áreas de conhecimento, pois, representam

total ou parcialmente o espaço geográfico. Desta forma, Cartografia oferece

múltiplas condições para concretizar fatos estudados, constituindo um instrumento

eficaz na compreensão das abordagens temáticas da disciplina, consubstanciando

o processo neste trabalho de análise temporal ambiental.

A Cartografia temporalmente evolui ladeada com as Geotecnologias, e à medida

que as ações humanas também vão evoluindo, conseqüentemente a capacidade

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de mapear também irá evoluir, tal comprovação, são as disponibilidades dos

recursos tecnológicos para o desenvolvimento desta ciência (SIG, Cartografia

Digital, Imagens de Satélites, Foto-interpretação, Fotogrametria, entre outros),

informando com precisão, os micros e os macros fenômenos e atendendo

diversas escalas de abordagens cientificas.

A Cartografia é conceituada como um conjunto de estudos e operações científicas,

artísticas e técnicas, baseado nos resultados de observações diretas ou de análise

de documentação, com vistas à elaboração e preparação de cartas e outras

formas de expressão, bem como sua utilização (DUARTE, 2002).

Com o aparecimento das diversas áreas de estudo operados com a divisão de

trabalho cientifico no fim do século XVIII e inicio do século XIX, desenvolveu-se

outro tipo de cartografia, a Cartografia Temática.

“Essa nova demanda norteou a passagem da representação das propriedades apenas “vistas” (Cartografia Topográfica) para a representação das propriedades “conhecidas” dos objetos (Cartografia Temática). Representam-se categorias mentalmente e não visualmente organizadas. Entretanto, o grande passo dos mapeamentos como apoio aos conhecimentos se dá com o avanço imperialista no fim do século XIX. Cada potência necessitava de um inventario cartográfico preciso para as novas incursões exploratórias, incorporando, assim, também esta ciência às suas investidas espoliativas nas áreas de dominação”. (CASTRO 2004, apud in PALSKY,1984 e SALICHTCHEV, 1979).

Porém, apesar de todo esse avanço tecnológico no qual a Cartografia vem se

beneficiando, não basta apenas que os mapas respondam a pergunta “Onde?”.

No contexto atual, surge a necessidade de se responder outras perguntas de

cunho qualitativo e quantitativo caracterizando relações de ordem e relações de

proporcionalidade entre os lugares respeitando normas e caracteres cartográficos.

Entretanto, as representações gráficas fazem parte do sistema de sinais que o

homem construiu para se comunicar com os outros compondo, portanto, uma

linguagem gráfica, bidimensional, atemporal destinada.

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A cartografia é chamada temática quando traz significados além da trilogia

latitude, longitude, altitude.

“A cartografia (temática) é o instrumento de expressão dos resultados adquiridos pela geografia, mas, ela própria é uma técnica que pode ser aplicada para projetar no espaço qualquer noção ou ação que se torne necessária representar espacialmente sem que essa noção ou ação faça parte de um sistema de relações geográficas”. (GEORGE, 1970).

A cartografia temática representa temas diferentes com ou sem expressão física

no espaço. Idéias abstratas podem ser representadas por meio de mapas, por

exemplo, as áreas de influência de cidades, a densidade populacional, a

produtividade de uma cultura, entre uma infinidade de temas. Neste caso,

utilizamos variáveis ambientais, supostamente visando atender os objetivos desta

pesquisa.

O respeito às relações existentes entre os dados de uma mesma informação

constitui a base conceitual da Semiologia Gráfica. Assim, uma informação

quantitativa precisa ser traduzida por meio de uma variável visual quantitativa,

uma informação ordenada, por meio de uma variável ordenada. Nesta pesquisa,

as normas dos mapas temáticos tiveram como referência as caracterizações

elaboradas por CASTRO (2004), bem como a idéia da Semiologia Gráfica

abordada por GEORGE (1970) que contribuíram de maneira expressiva para o

desenvolvimento, entendimento e a análise temporal ambiental da APA do Abaeté.

3.5 A QUESTÃO AMBIENTAL

A questão ambiental é uma das principais expressões, que embora

bastante debatidas não costumam ser definida com tanta clareza. Neste caso a

clareza não é mero preciosismo. Em se tratando da questão ambiental, tal

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problemática vem ganhando ao longo dos anos cada vez mais espaço nas mesas

de debate deste mundo globalizado. Questões como o aquecimento global,

ganham na atualidade paradigmas em quanto a sua origem.

Neste quesito, um erro bastante comum é confundir meio ambiente com

fauna e flora, como se fossem distintos. É grave também a constatação de que a

maioria dos brasileiros não se percebe como parte do meio ambiente,

normalmente entendido como algo de fora, que não nos inclui (TRIGUEIRO,2003).

A expansão da consciência ambiental se dá na exata proporção em que

percebemos meio ambiente como as relações que estabelecemos com o mundo.

Trata-se de um assunto tão rico e vasto que suas ramificações atingem de forma

transversal todas as áreas de conhecimento.

No entanto o fator determinante da uma degradação temporal ambiental se

restringe a o fato de que o homem interage incessantemente para o bem ou para

o mal com o ambiente natural que o rodeia e o envolve. No entanto, vale

considerar que os problemas temporais ambientais não são exclusivamente de

ordem natural, cultural ou histórica, é importante que a questão ambiental seja

tratada com a profundidade por ela requerida (SOUZA e MARIANO, 2008). No

meio geográfico, a questão ambiental vem possibilitando o ressurgimento da tão

propalada abordagem da síntese de relação homem-meio. Essa separação entre

o natural e o sócio-histórico é consagrada na divisão do trabalho científico

dominante (GONÇALVES, 1995).

No entanto, a visão atual no que tange a questão temporal ambiental,

demonstra a necessidade de reagirmos ao estagio atual de degradação

encontrado nos principais ecossistemas do Brasil, entre eles o de restinga,

compreendendo as causas e os mecanismos dos desequilíbrios. Sendo

importante ainda, entender o processo de formação adequada, as propostas de

planejamento e de gestão ambiental, principalmente em áreas de preservação,

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visando a conscientização da população, da qualidade de vida e uma

disseminação do desenvolvimento sustentável.

3.5.1 RESTINGA

Desde o período inicial da ocupação do território brasileiro, as regiões

costeiras foram uma das mais impactadas pela ocupação desordenada,

principalmente no ecossistema conhecido como Restinga. A Restinga ou flecha

litorânea (como também pode ser chamada) é conceituada como:

Faixa ou língua de areia, depositada paralelamente ao litoral, graças ao dinamismo destrutivo e construtivo das águas oceânicas. Esses depósitos são feitos com apoio em pontas ou cabos que comumente podem barrar uma serie de pequenas lagoas, como acontece no litoral da Bahia e do Rio Grande do Sul (GUERRA & GUERRA, 2001)

A flecha litorânea ocupa grandes extensões, sobre dunas e planícies

costeiras. Refere-se a um tipo de depósito arenoso costeiro, sendo de origem

quaternária. Inicia-se junto à praia, com gramíneas e vegetação rasteira, e torna-

se gradativamente mais variada e desenvolvida à medida que avança para o

interior. A vegetação típica de restinga é composta por cactos, orquídeas,

bromélias além de um terreno arenoso e salino, próximo ao mar e coberto de

plantas herbáceas.

“Entende-se por vegetação de restinga o conjunto das comunidades vegetais, fisionomicamente distintas, sob influência marinha e flúvio-marinha. Estas comunidades, distribuídas em mosaico, ocorrem em áreas de grande diversidade ecológica sendo consideradas comunidades edáficas por dependerem mais da natureza do solo que do clima”. (CONAMA, 1996)

O conceito de restinga pode variar dependendo do aspecto considerado, em

uma conotação geomorfológica, na qual, restinga refere-se a vários tipos de

depósitos arenosos costeiros, de origem bastante variada como, por exemplo,

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cristas praiais, praias barreiras, barras, esporões e tômbulos. As formações destes

depósitos arenosos são de origem quaternária e, através de diversas pesquisas

realizadas no litoral Sul e Sudeste do Brasil, tornou-se clara a compreensão das

características geomorfológicas e geológicas de amplas áreas de sedimentação.

As planícies de restinga formaram-se depois de uma transgressão marinha, a

partir do momento que o mar começou a recuar, possibilitando a deposição de

sedimentos junto à linha de costa, formando os cordões arenosos litorâneos

recobertos por vegetação1, Do ponto de vista geomorfológico, o litoral de restinga

possui aspectos típicos como: faixas paralelas de depósitos sucessivos de areias,

lagoas resultantes do represamento de antigas baías, pequeninas lagoas

formadas entre as diferentes flechas de areias, dunas resultantes do trabalho do

vento sobre a areia da restinga, formação de barras obliterando a foz de alguns

rios etc (GUERRA & GUERRA, 2001).

Deste modo, a manutenção e equilíbrio dinâmico desse sistema, decorrem

em função do papel estabilizador dos grãos de areia, contra a ação dos ventos. A

caracterização dessas unidades geológicas são representadas, segundo Matos

(2000), através do Embasamento Cristalino, que é identificado por rochas nas

encostas e nos fundos dos vales, formando um espesso manto de intemperismo

argilo–arenoso com mais de 20 metros de espessura; composto por granulitos e

gnaisses, derivados do processo de granatização (processo que dá origem à

formação das rochas graníticas ) e migmatização (processo de formação de

rochas através do metamorfismo regional originando o gnassóide) de litologias

anteriores (MATOS, 2000). Além disso, a Formação Barreiras é apresentada pode

ser encontrada nas partes mais elevadas dos morros, formando uma capa que se

sobrepõe ao complexo cristalino em discordância erosiva.

1 Ver item 5.1.3.1 “O Abaeté e sua História Geológica” confrontando informações para um melhor entendimento da formação geomorfológica e geológica da região.

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No quesito hidrológico a característica das restingas correspondem ao

trabalho executado pelo vento sobre a superfície carregando os detritos

desagregados (GUERRA & GUERRA, 2001).

As Restingas são sazonalmente alagadiças, apresentando como

características a formação de lagoas e áreas brejosas, na qual as águas

subterrâneas são armazenadas.

As lagoas comumente encontradas em áreas de restingas representam

áreas permanentemente cobertas por água, localizadas essencialmente no

contato entre leques aluviais e o sistema de dunas. Correspondem a áreas

topograficamente baixas, entre cotas de 10 e 20 metros, ocupadas por antigas

drenagens que foram barradas pela frente da duna. Representam sistemas

bastante específicos, formados em condições muito especiais, que exercem

relevante papel no equilíbrio do ecossistema associado, já que sendo as dunas

um sistema extremamente árido e carente de recursos hídricos superficiais, estas

lagoas são vitais para garantir a sobrevivência da fauna presente neste ambiente.

CONDER & SEPLANTEC (1997)

Já os alagadiços representam áreas sazonalmente alagadiças localizadas

sobre o domínio das dunas cobertas por vegetação colonizadora. Associadas à

superfície de deflação das dunas, representam porções erodidas pela ação dos

ventos, que interceptam a superfície freática. Constituem ambientes controlados

pela sazonalidade da subida e descida do lençol freático, constituindo-se áreas

extremamente vulneráveis às cargas poluentes, já que nestas áreas os

mananciais subterrâneos encontram-se sazonalmente expostos. CONDER &

SEPLANTEC (1997).

Ás áreas brejosas quando encontradas são áreas permanentemente úmidas,

cobertas por vegetação hidrófila sobre domínio de dunas, ou áreas inter-terraços

marinhos. Constituídos por sedimentos areno-argilosos ricos em matéria orgânica,

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formando solos hidromórficos sobre os quais se instalam inúmeras espécies de

Gramineae, Cypperacceae e Xyridaceae, que abrigam uma grande diversidade de

fauna, constituindo ambientes vitais para algumas espécies de aves migratórias

que utilizam estas áreas como fonte de alimentação e local de descanso.

CONDER & SEPLANTEC (1997).

Deste modo, a importância e a necessidade da manutenção deste

ecossistema se originam, justamente pela fragilidade de seus componentes de

fauna e flora que são exclusivos destes ambientes. A sua biodiversidade vem

sendo ameaçada justamente por conta do crescimento desenfreado das grandes

cidades, representados pela ação antrópica e o não regimento das Leis atribuídas

a essas áreas.

3.5.2 ANÁLISE AMBIENTAL

Neste capitulo trataremos sobre a importância da análise ambiental,

discutindo por exemplo quais são os fatores determinantes para a degradação

ambiental, bem como, a importância do desenvolvimento de um trabalho cientifico

na APA do Abaeté.

3.5.3 ANÁLISE TEMPORAL AMBIENTAL

Neste capitulo iremos apresentar alguns trabalhos cujo as Geotecnologias

auxiliaram em uma análise ambiental temporal. Discutindo a importância deste tipo

de trabalho, bem como, as metodologias utilizadas nas referidas pesquisas.

3.6 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

Considerando a Constituição Federal como um marco importante para a

regularização de uma sociedade através de normas e leis, os princípios da

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legislação ambiental precedem como forma de organização em diferentes

âmbitos.

Acreditando que para uma formalização prática de tais leis e regras e a

possibilidade de vivermos sustentavelmente a denominação comum da lei n°

9.605 de 13 de fevereiro de 1998 (Lei de Crimes Ambientais) que dispõe sobre as

sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao

meio ambiente, consolidou num único diploma legal boa parte dos aspectos

criminais da legislação ambiental. A lei 9.605 transformou em crimes algumas

infrações ambientais antes consideradas contravenções penais e instituiu a

criminalização da pessoa jurídica (MOUSINHO, 2003), trazendo em seus artigos

as conseqüências para atos aplicados para com o meio ambiente, conforme o Art.

2º, quem de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta

Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem

como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o

auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da

conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua pratica, quando podia agir

para evitá-la. (LEI DE CRIMES AMBIENTAIS n° 9.605 de 13 de fevereiro de

1998).

Acrescentando ainda no Art. 3º, no qual as pessoas jurídicas serão

responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta

Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante

legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou beneficio da sua

entidade. (LEI DE CRIMES AMBIENTAIS n° 9.605 de 13 de fevereiro de 1998).

Com relação às aplicações das penas a Lei de Crimes Ambientais n° 9.605

de 13 de fevereiro de 1998 em seu artigo 6°, refere que para composição da

agravação da penalidade, a autoridade competente observará três aspectos, o

primeiro relacionado à gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e

suas conseqüências para a saúde pública e para o meio ambiente o segundo com

os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse

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ambiental e o terceiro associado à situação econômica do infrator, no caso de

multa. Art. 8° As penas restritivas de direito são: I – Prestação de serviços à

comunidade; II – Interdição temporária de direitos; III – Suspensão parcial ou total

de atividades; IV – Prestação pecuniária; V – Recolhimento domiciliar. (LEI DE

CRIMES AMBIENTAIS n° 9.605 de 13 de fevereiro de 1998).

Porém, algumas circunstâncias podem atenuar as penas discriminadas no artigo

14 conforme a Lei n 9.605. Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena: I -

baixo grau de instrução ou escolaridade do agente; II - arrependimento do infrator,

manifestado pela espontânea reparação do dano, ou limitação significativa da

degradação ambiental causada; III - comunicação prévia pelo agente do perigo

iminente de degradação ambiental; IV - colaboração com os agentes

encarregados da vigilância e do controle ambiental. (LEI DE CRIMES

AMBIENTAIS n° 9.605 de 13 de fevereiro de 1998).

As multas são calculadas conforme os critérios do Código Penal Brasileiro

podendo ser triplicada conforme o valor da vantagem econômica auferida. A

sentença penal condenatória sempre que possível, fixará o valor mínimo para

reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofrido

pelo ofendido ou pelo meio ambiente (Lei n 9.605, 1998).

Tais princípios fornecem uma garantia teórica de punição quanto os

praticantes de danos ao meio ambiente. Assim o Licenciamento Ambiental

constitui-se uma ferramenta de fundamental importância, pois permite ao

empreendedor identificar os efeitos ambientais do seu negócio, e de que forma

esses efeitos podem ser gerenciados. Com este instrumento busca-se garantir

que as medidas preventivas e de controle adotadas nos empreendimentos sejam

compatíveis com o desenvolvimento sustentável.

A Legislação Ambiental Brasileira é uma das mais avançadas do mundo,

entretanto, a formulação e a implementação das políticas ambientais são

influenciadas pelo papel que a sociedade atribuiu ao Estado num determinado

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momento histórico e pela correspondente atuação do Poder Executivo, além da

influencia exercida pelos demais poderes, especialmente o Congresso Nacional

como última instância de decisão sobre formulação de políticas públicas

ambientais.

Tradicionalmente, são raros os casos de delimitação de áreas de preservação

em zonas urbanas. Isso se refere tanto a áreas de interesse ecológico e biótico, as

quais poderiam ser enquadradas em classes de unidades de conservação

definidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), quanto

àquelas áreas definidas no Código Florestal Brasileiro e resoluções

complementares, que definem a preservação da cobertura vegetal em função de

limites junto aos recursos hídricos e declividades. As áreas não edificantes

definidas pela Lei de Parcelamento de Solos também não são devidamente

fiscalizadas pelos órgãos competentes e não são respeitadas pela população, que

devido a interesses incomum acabam invadindo estas áreas, colaborando com o

avanço urbano ilegal.

Nas áreas urbanas, o Código Florestal e a Lei de Parcelamento de Solos são

as leis que englobam áreas a serem preservadas em maiores extensões. Isso é

importante, pois nestas áreas resguardadas pela legislação habita grande parte da

população desprovida de recursos econômicos. Assim, além da perda de

elementos naturais importantes, existe a possibilidade dos riscos à saúde e a vida

das pessoas devido à ocupação de áreas impróprias para habitação humana.

No entanto o Código Florestal de 1934 apresenta as “florestas consideradas

em conjunto” constituíam “bem de interesse comum a todos os habitantes do

país”. Considerar as florestas em seu conjunto significava reconhecer que

interessava à sociedade e que as florestas deveriam ser apreciadas como parte

integrante da paisagem natural, estendendo-se continuamente pelo terreno e,

portanto, por todas as propriedades, públicas ou privadas. A expressão “bem de

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interesse comum a todos habitantes do País” já indicava, à época, a preocupação

do legislador com a crescente degradação do patrimônio florestal do País

Em decorrência das imensas dificuldades verificadas para a efetiva

implementação do Código Florestal de 1934, elaborou-se proposta para um novo

diploma legal que pudesse normatizar adequadamente a proteção jurídica do

patrimônio florestal brasileiro. Deste modo, o conteúdo do Art. 1do “novo” Código

Florestal revela, que existe um regime jurídico muito peculiar às florestas (nativas)

e demais formas de vegetação (natural) que a sua instituição como “bens de

interesse comum a todos os habitantes do País”

Vale salientar que o pensamento jurídico contemporâneo, em particular no

contexto dos chamados interesses difusos, que qualquer habitante do País

(mesmo os não nacionais, mas que aqui habitam) têm interesse jurídico sobre o

que acontece às florestas (nativas) e outras formas (naturais) de vegetação

localizadas em qualquer ponto do território nacional. (AHRENS, 2003)

Deste modo, as florestas nativas (ou naturais), e que compõem a flora, não

são bens privados, nem bens públicos, nem bens de uso comum do povo, mas,

sim, “bens de interesse comum a todos os habitantes do País” ou bens jurídicos

ambientais, de natureza difusa. As florestas plantadas, de outro lado, são

excepcionadas deste tratamento, pelo próprio Código Florestal. Há, no entanto,

competência concorrente entre União, Estados e Municípios para legislar sobre

todas as florestas, inclusive as plantadas (Constituição Federal, Art. 24): nesse

sentido, cabe à União estabelecer normas gerais, e aos outros entes federados, a

sua suplementação, para melhor atender às necessidades estaduais ou locais.

Atribuído as especificações do novo código florestal brasileiro e a crescente

expansão urbana decorrente na cidade de Salvador, criou-se em 1987, a Área de

Proteção Ambiental das Lagoas e Dunas do Abaeté. Visando a manutenção de

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um ecossistema único na capital baiana e que vem sofrendo com a ação antrópica

temporalmente.

3.6.1 ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

A presença de riquezas naturais e a necessidade de proteger os

ecossistemas locais do impacto das atividades humanas culminam na proposta da

criação das Áreas de Preservação Ambiental. Em linhas gerais, esta iniciativa tem

por objetivo de promover uma integração harmoniosa entre atividades produtivas

de uma região e a conservação da natureza, buscando o uso sustentável dos

recursos naturais e melhores condições de vida para a população local.

Geralmente, uma APA destaca-se dentre a maioria das Unidades de

Conservação de mesma concepção pelo tratamento diferenciado que recebe

desde o início de sua implantação. De acordo com a Fundação Florestal (2011),

as APA’s são consideradas como uma unidade de conservação destinada a

proteger e conservar a qualidade ambiental e os sistemas naturais ali existentes,

para a melhoria da qualidade de vida da população local e para a proteção dos

ecossistemas regionais.

O objetivo primordial de uma APA é a conservação de processos naturais e

da biodiversidade, orientando o desenvolvimento, adequando as várias atividades

humanas às características ambientais da área.

Podem ser estabelecidas em áreas de domínio público e/ou privado, pela

União, estados ou municípios, não sendo necessária a desapropriação das terras.

No entanto, as atividades e usos desenvolvidos estão sujeitos a um

disciplinamento específico.

De acordo com o SNUC (2000), uma APA deve abranger em seu interior

outras unidades de conservação, bem como ecossistemas urbanos, e propiciar

experimentação de novas técnicas e atitudes que permitam conciliar o uso da terra

e o desenvolvimento regional com a manutenção dos processos ecológicos

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essenciais. Assim, toda APA deve ter zona de conservação de vida silvestre

(ZVS), onde será regulado ou proibido o uso dos sistemas naturais.

Em termos gerais uma Área de proteção Ambiental é extensa, com um

certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos

ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar

das populações humanas. As condições para a realização de pesquisa científica e

visitação pública nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão

gestor da unidade (SNUC, 2000).

As APA’s constituem uma importante categoria de unidade de conservação,

apesar da complexidade das relações políticas, econômicas e sociais presentes

nas áreas, que podem abranger mais de um município. De tal modo, as APA’s

podem se tornar importantes instrumentos de planejamento regional, integrando

as populações e as técnicas adequadas de manejo, independentemente de limites

geográficos dos municípios, promovendo a manutenção e equilíbrio dos

ecossistemas.

3.6.2 ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO

De acordo com Santos (2004), o planejamento ambiental é compreendido

como um planejamento de uma região, visando integrar informações, diagnosticar

ambientes, prever ações e normatizar seu uso através de uma linha ética de

desenvolvimento. Isso significa que para alcançar o desenvolvimento sustentável,

o planejamento ambiental se faz necessário, pois analisa sistematicamente as

potencialidades e riscos inerentes a utilização dos recursos naturais para o

desenvolvimento da sociedade.

Portanto quando se busca a sustentabilidade de uma cidade, o ZEE se

torna um instrumento de grande referencia. Tal importância se refere aos

conhecimentos sobre as características sociais, culturais, econômicas e

ambientais, além da implementação de políticas públicas por meio desse

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instrumento. Para a sociedade, a importância do ZEE deve-se ao seu

funcionamento enquanto uma ação preventiva contra os possíveis problemas

ambientais decorrentes do desordenamento da ocupação territorial da cidade.

Nesse sentido, a ocupação planejada tem a função de beneficiar a população

através do desaparecimento ou redução dos problemas ambientais.

Desta forma, o ZEE se torna um instrumento técnico, econômico, político e

jurídico, de grande relevância no planejamento, reconhecido entre as várias

esferas do setor público, do setor privado e da sociedade civil, por facilitar a

construção de parcerias na busca da equidade, e por considerar o uso do território

como algo de interesse de todas as classes sociais e segmentos econômicos

(SEMA, 2011), caracterizado por MOUSINHO (2003), como:

Um instrumento de organização do território que estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo, assim como a conservação da biodiversidade. O Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) tem por objetivo sistematizar e integrar planos, projetos e atividades que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais, de modo a subsidiar as decisões de planejamento social, econômico e ambiental do desenvolvimento e uso do território nacional em bases sustentáveis. Previsto no artigo 9°, inciso II da Lei Federal n° 6.938/81, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, o ZEE passou a ter força de lei através do Decreto n° 4.297, de 10 de julho de 2002. (MOUSINHO, 2003)

A concretização da importância do planejamento ambiental para a sociedade

revela-se com a utilização do Zoneamento Ecológico-Econômico como seu

subsídio. CARIOCA (2008), reforça que o ZEE proporciona os seguintes

benefícios para a sociedade:

Contribui para melhorar a eficácia das políticas públicas de

desenvolvimento e de meio ambiente;

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Melhora a capacidade de perceber as inter-relações entre os diversos

componentes ambientais, bem como as próprias funções ecossistêmicas e

seus limites de sustentabilidade;

Melhora a capacidade de prever os impactos ambientais e sociais,

decorrentes dos processos de desenvolvimento;

Identifica os sistemas ambientais capazes de prover serviços ambientais,

cujo não-uso seja importante recurso para a sustentabilidade ambiental,

econômica e social, bem como, aumenta a capacidade de planejar e

monitorar as condições de sustentabilidade ambiental.

No Brasil, o termo zoneamento advém de uma ligação ao processo de

parcelamento do solo a depender de usos específicos, especialmente aplicados

ao meio urbano, por meio de leis e decretos. Para buscarmos a sustentabilidade

ambiental necessitamos de uma organização do território para haver prevenção

contra os problemas ambientais causados pela ocupação desordenada da cidade.

Nesse caso, o ZEE aparece como a premissa básica para identificar

potencialidades e limitações ecológicas, econômicas e sociais, considerando os

impactos diretos e indiretos para a sociedade, caso não esteja preparada para

enfrentar possíveis problemas ambientais.

Deste modo, a sustentabilidade dos ecossistemas precisa ser alcançada para que

o planejamento ambiental cumpra sua função e o ZEE seja subsidio do mesmo

com efeitos positivos. Quando isto não ocorre, a suspeita de mudanças e 4.0 MATERIAIS E MÉTODOS

Considerando a importância de uma abordagem padronizada nas pesquisas de

caráter cientifico e um padrão de descrição das investigações realizadas, neste

capitulo, iremos descrever quais foram os materiais que subsidiaram este trabalho,

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tais como, os Programas, os Softwares, as Imagens, Base Cartográfica dentre

outros. Além de apresentar a metodologia criada, para que a partir do uso das

Geotecnologias outros pesquisadores possam desenvolver seus trabalhos

voltados a essa linha de pesquisa, auxiliando e desmistificando outros problemas

ambientais.

4.1 MATERIAIS

A seleção do material partiu-se inicialmente de um levantamento prévio na

Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia -CONDER através

de investigações do material cartográfico e fotográfico. Neste acervo podemos

encontrar fotografias aéreas da região a partir de 1976. No tocante, este acervo

contempla imagens dos seguintes anos: 1976, 1980, 1989, 1992, 1998, 2002 e

2010 em variadas escalas de vôo. Além disso, este vasto acervo é

complementado com uma imagem de satélite do ano de 2009 (QUICK BIRD).

Já na Prefeitura Municipal de Salvador pode-se encontrar um recobrimento

aéreo do ano de 2006 também em perfeitas condições de utilização.

Todavia, como será descrito no item 4.2, foram escolhidos os anos de 1976,

1992, 2002 e 2010 para a análise temporal. As fotografias Aéreas de 1976, são

imagens coloridas, analogicas na escala de 1:8.000. Por não estarem disponíveis

no Banco de Dados do INFORMS (Sistema de Informações Geográficas Urbanas

do Estado da Bahia), precisaram ser identificadas no foto-índice. Cerca de 60

fotos foram selecionadas e posteriormente escaneadas a 300dpi cada ocupando

1,49 megas de espaço em disco.

As Fotografias Aéreas de 1992, na escala de 1:10.000, possui uma

resolução de 0,20 centimetros, são as únicas imagens monocromáticas desta

análise temporal. Este material já selecionado passará pelo processamento na

fase final da pesquisa.

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As imagens de 2002, na escala de 1:8.000, já mosaícadas e restituídas pela

empresa executora do levantamento aerofotogramétrico, possui uma resolução de

0,16 metros e corresponde ao penúltimo vôo cujo o material foi fiscalizado pela

CONDER. Este material teve como referência para sua seleção as folhas da

articulação de salvador na escala de 1:2.000 (SICAR/RMS,1995). Neste contexto,

para compreender toda a APA, foram necessárias 23 folhas assim supracitadas:

143.120, 143.130, 143.150, 143.160, 143.210, 143.220, 143.230, 143.240,

143.250, 143.260, 143.320, 143.330, 143.350, 143.360, 143.410, 143.420,

143.440, 134,350, 134.360, 134.440, 134.450, 134.460, 144.110.

O levantamento aerofotogramétrico de 2010 compreende um trabalho

pioneiro no Brasil, visando a realização de um mapeamento aéreo na escala de

1:10.000 em todo o Estado da Bahia. A primeira etapa deste trabalho

compreendeu o município de Salvador e sua Região Metropolitana. Este material,

também foi mosaicado e georreferenciado pela empresa executora do serviço.

As imagens de 2010, originalmente estão referenciadas ao “Sistema de

Referência Geocêntrico para as Américas” (SIRGAS 2000), em contrapartida,

houve a necessidade de conversão do arquivo Raster para o South American

Datum (SAD 69) uma vez, que utilizamos a Base Cartográfica de 1992 como

referência e o georreferenciamento de algumas imagens. Para a conversão das

imagens 2010, utilizou-se o Software gratuito do Instituto Brasileiro de Geografia

Estatística (IBGE), o Progrid.

Nesta seleção, utilizamos ainda os decretos expedidos pelo Governo do

Estado da Bahia para com a APA do Abaeté. Tais decretos serviram de apoio para

a delimitação da APA do Abaeté, criação e quantificação dos mapas do

Zoneamento Ecológico Econômico. Os decretos que possuem coordenadas foram

digitados ponto a ponto e exportados para arquivo “.dbf”, possibilitando gerar as

referidas poligonais. As poligonais traçadas se referem aos seguintes decretos:

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Decreto 351/87 – Delimita da APA do Abaeté

Decreto 2.540/93 – Delimita o ZEE de 1993

Decreto 1.660/98 – Delimita o ZEE de 1997

Decreto 2.023/2002 – Delimita o ZEE de 2002

Todavia, para os processamentos realizados foram necessários alguns

Software’s para as Classificações, Mosaicagens, Georreferenciamentos, criação

dos Mapas Temáticos e quantificação da cobertura do solo nos variados anos

assim apresentados:

1. ARCGIS 10.0:

Software desenvolvido pela empresa americana ESRI no fim da década de

1990 e constitui uma plataforma primária de última geração para realizar as

análises em ambiente de SIG. Para este trabalho, a CONDER, disponibilizou uma

licença para os processamentos e geração dos produtos apresentados.

2. PROGRID

O ProGrid é um software gratuito desenvolvido pelo IBGE e representa um

avanço no tratamento da transformação de coordenadas entre referenciais

geodésicos. Este se vale de arquivos contendo uma grade de valores em latitude

e longitude que permite a direta transformação entre os DATUM’s (Córrego

Alegre, SAD69 e SIRGAS2000).

3. PHOTO STICH 3.1:

O Photo Stich 3.1 é um programa gratuito da Cannon Utilities, que procura

automaticamente áreas correspondentes nas imagens ao lado, ajustando o

tamanho da imagem e orientação. Além disso, imagens a serem mosaicadas

podem ser especificadas manualmente ou podem ser automaticamente

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organizadas em seqüências atingindo resultados de alta qualidade. Este programa

compensa automaticamente as diferenças no brilho e cor decorrentes de

variações nos valores de exposição. Ele pode até fundir as imagens obtidas por

scanners.

Tais materiais irão subsidiar em um estudo descritivo, apoiado a uma

metodologia desenvolvida para que a partir das Geotecnologias, possamos

realizar uma Análise Temporal Ambiental.

4.2 MÉTODOS

A fase inicial deste trabalho contempla os estudos preliminares associados a

possibilidade da realização de tal pesquisa com o intuito de definir as linhas gerais

do projeto. Em seguida, estes estudos direcionaram quais dados estariam

disponíveis para sua possível obtenção, trabalho que foi realizado através de um

Levantamento Cartográfico e Fotográfico da área a ser estudada junto a

Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER).

A partir das reuniões de orientações e com base nos dados disponíveis foram

determinadas as datas para a análise temporal, fase necessária para nortear os

estudos direcionando a Pesquisa Bibliográfica. Tal pesquisa contempla as

principais temáticas visando o desenvolvimento e delimitação do tema principal.

Em busca disso, foi necessário responder algumas questões sobre as

Geotecnologias, como o que são e quais podem ser utilizadas nesta pesquisa; O

Estado da Arte, através de pesquisas na qual as Geotecnologias auxiliaram em

uma análise temporal; A questão Ambiental, apresentando o que as Lagoas e

Dunas do Abaeté tem de especial para serem objeto de uma pesquisa, seus

fatores determinantes da degradação ambiental temporal, e suas temáticas para

realizar a análise ambiental.

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Em termos específicos, foi necessário entender também sobre o que diz lei a

respeito das Áreas de Proteção Ambiental, Zoneamento Ecológico Econômico;

Qual a importância da manutenção destes ambientes protegidos por lei.

Com a delimitação do tema principal já definida, partiu-se em busca da criação de

uma metodologia para o processamento dos dados que comprovasse a

importância das Geotecnologias em uma Análise Ambiental Temporal.

Esta metodologia tinha por objetivo utilizar algumas técnicas para a produção dos

mapas temáticos, necessários para atingir os objetivos específicos da pesquisa

assim reapresentados no quadro abaixo. (figura 4.0)

Figura 4.0: Esquema de definição metodológica.

Com a produção dos mapas sendo iniciada, partiu-se para a Caracterização da

Área de Estudo, buscando compreender a dinâmica geográfica e histórica da APA

do Abaeté, através do conhecimento do clima, dos tipos de vegetação, da

capacidade hidrológica, da formação geomorfológica e geológica e do processo de

ocupação urbana.

Já na produção dos mapas temáticos foram escolhidas com base na revisão sobre

a questão ambiental algumas variáveis ambientais (vegetação, dunas e

hidrografia) para a análise do ambiente estudado, bem como, o seu principal

agente de degradação (ocupação urbana). Com os temas definidos, escolheu-se

analisar inicialmente o ano de 1976 e o ano 2010, uma vez, que a análise destes

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anos possibilitaria em uma noção geral dos problemas decorridos na APA.

Seqüencialmente será realizada a mesma análise para os anos de 1992 e 2002

confrontando todas as informações e descriminado-as em um mapa comparativo

(figura 4.1).

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Figura 4.1: Organograma da Pesquisa

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Entretanto, o método de abordagem adotado é o sistêmico, uma vez que

considera a paisagem como resultante da combinação dinâmica de elementos

físicos, biológicos e antrópicos, aos quais reagem dialeticamente uns sobre os

outros. Desta forma, visa-se responder a partir das Geotecnologias quais são os

principais problemas encontrados ao longo dos anos na APA do Abaeté,

verificando a sua expansão urbana, estimando a cobertura do solo, questionando

e refletindo acerca das legislações ambientais propostas para tal região (figura

4.0).

Especificamente, o desenvolvimento de uma metodologia para o

processamento dos dados é de suma importância para a validação deste conjunto

de técnicas bem como, na elaboração dos produtos. (Figura 4.1)

Sendo assim, foram definidos para cada material um conjunto de

processamento, visto que consideração que as imagens e os decretos dos ZEE

encontravam-se em padrões diferenciados. Utilizou-se na fotografia aérea de 1976

as técnicas de mosaicagem, o georreferenciamento e classificação por Foto-

Interpretação. Na fotografia aérea de 2010, foi necessária empregar apenas a

classificação por foto-interpretação, uma vez, que este material já havia sido

georreferenciado pelo órgão executor. Nos dados cartográficos relativos aos

zoneamentos de 1993, 1997 e 2002 aplicou-se apenas a técnica de

Georreferenciamento, tendo como base coordenadas apresentadas em seus

Decretos. Vale salientar, que na seqüência da pesquisa utilizaremos o mesmo

processo para os anos de 1992 e 2002.

Assim, com este primeiro processamento foram produzidos os seguintes

produtos:

Mapa de Cobertura do Solo –1976;

Mapa de Cobertura do Solo –2010;

Quantificação da Cobertura do Solo entre 1976 e 2010;

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Mapa do Zoneamento Ecológico Econômico de 1993;

Mapa do Zoneamento Ecológico econômico de 1997;

Mapa do Zoneamento Ecológico Econômico de 2002;

Na fase subseqüente da pesquisa serão produzidos:

Mapa de Cobertura do Solo –1992

Mapa de Cobertura do Solo –2002

Quantificação da Cobertura do Solo entre 1976 e 1992;

Quantificação da Cobertura do Solo entre 1992 e 2002;

Quantificação da Cobertura do Solo entre 2002 e 2010;

Os mapas de cobertura do solo de 1976, 1992, 2002 e 2010 serão integrados

em um Mapa Comparativo de Cobertura do Solo entre esses anos visando

detectar e quantificar tais mudanças, caracterizando os avanços ambientais, e os

processos de expansão urbana na APA do Abaeté. Por sua vez, os mapas de

cobertura do solo associados ao ZEE que irão estimar a cobertura do solo na

região antes do primeiro e do ultimo zoneamento da área (1992 e 2002). A análise

dos mapas poderá indicar respostas aos questionamentos quanto as freqüentes

mudanças nestes ZEE’s e quanto à real efetividade das legislações ambientais

propostas pelo Estado e Municípios para a APA das Lagoas e Dunas do Abaeté

(figura 4.2).

Para configurar a veracidade terrestre do ambiente estudado foram realizados

alguns levantamentos de campo, proporcionando a percepção do espaço

direcionada, um senso crítico de pesquisa.

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Figura 4.2: Esquema Metodológico de processamento de dados.

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5.0 DISCUSSÕES E ANÁLISES

Os discussões e análises serão apresentadas por meio dos dados e

informações obtidos em análise descritiva. Procurou-se analisar as diferentes

variáveis escolhidas, conforme já descritas na metodologia, justamente, com a

finalidade de comparar a eficácia da aplicabilidade das Geotecnologias em uma

Análise Temporal ambiental.

Para uma compreensão dos problemas supracitados nos objetivos da

pesquisa, apresentaremos a seguir as análises e discussões dos efeitos da

expansão urbana na APA das Lagoas e Dunas do Abaeté. Esclarecendo

inicialmente as características da área de estudo e em seqüência as análises

iniciais dos produtos gerados a partir das Geotecnologias nos anos de 1976 e

2010.

5.1 CARACTERISTICAS DA ÁREA DE ESTUDO Como já discutido, a APA do Abaeté se configura em um ambiente peculiar, com

características próprias. Neste contexto, apresentaremos as características

geoambientais, urbanas e dos zoneamentos propostos para a área de estudo.

5.1.1 CLIMA

O clima característico da cidade de Salvador é classificado de acordo com o

sistema de Köppen como quente úmido e tipicamente tropical, sem estação seca

(Martin et al., 1980). Justamente pelo fato da região está localizada entre o

Trópico de Capricórnio e a Linha do Equador. Apresentando uma precipitação

pluviométrica média anual um pouco superior a 1950 milímetros. Contudo, ocorre

uma variabilidade de precipitação anual, chegando a 350 milímetros em maio e 70

milímetros no mês de janeiro (figura 5.0) segundo o INMET, 1990.

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As temperaturas oscilam entre 25° e 30° (média anual), alcançando a sua máxima

entre os meses de janeiro, fevereiro e março, meses considerados da alta

estação. Já as temperaturas mínimas ocorrem entre os meses de julho, agosto e

setembro, obtendo o seu limite nos 20,5° entre os anos de 1931 a 1960 e de 21,5°

entre anos de 1961 a 1990 (INMET,1990).

Segundo Ribeiro (1991), a umidade relativa do ar pode variar entre 75 e 90%.

Com relação à dominação dos ventos, há predomínio dos Alísios do quadrante E,

soprando na direção SE, durante o outono e inverno, e na direção NE, durante a

primavera e o verão. A média anual de velocidade dos ventos é de 2,3 m/s,

reduzindo no verão e intensificando – se no inverno (MATOS, 2000).

Durante o ano, o ambiente estudado apresenta algumas variações justamente por

conta da influencia climática. No período considerado chuvoso – entre os meses

de Abril a Julho - surgem diversas lagoas intermitentes dentro da APA. Tais lagoas

alimentam o lençol freático da região, bem como, auxiliam a manutenção da

cadeia alimentar, uma vez que espécies como anfíbios e insetos se desenvolvem

bastante neste período.

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Figura 5.0: Gráfico das Normais Climatológicas

Fonte: INMET, (1990).

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É interessante observar que essa característica climática na APA do Abaeté

possibilita, pela falta de consciência ambiental da população local, o surgimento

de problemas ambientais, uma vez, que com a formação de varias lagoas a

comunidade local passa a aproveitar a área como um ambiente de lazer,

promovendo aos finais de semana eventos em um local sem nenhuma estrutura e

possibilidade para tal. Por conta disso, são deixados por lá boa parte dos resíduos

oriundos destes usos.

Já nos meses entre Setembro a Fevereiro o sol prevalece com períodos de

alternados de chuvas, justamente por conta do calor e a evaporação. Nesta

época, também a vegetação típica da região começa a se desenvolver e as

plantas e árvores frutíferas abastecem a grande quantidade de aves e mamíferos

da região.

5.1.2 VEGETAÇÃO

A área do Abaeté é uma restinga com uma aparência homogênea, com

grande espaçamento entre as manchas de vegetação e abriga uma grande

diversidade de comunidades vegetais interrompidas por áreas ocupadas por

lagoas e brejos costeiros ou por extensões de areias (VIANA, 1999). A

fitofisionomia da restinga no Abaeté apresenta uma vegetação com de porte

variado desde o tipo herbáceo até o arbóreo-arbustivo em algumas áreas de mata

de restinga (MORAWETZ,1983). Na paisagem predominam manchas de

vegetação formando moitas de diversos tamanhos que podem conter ou não

folhiço em sua base, a depender da espécie de planta ou da ação do vento em

áreas mais expostas (DIAS & ROCHA, 2004, 2007).

A presença dessa cobertura vegetal é fundamental para manter o equilíbrio

do ecossistema, fixando os sedimentos e contribuindo para a manutenção do

equilíbrio morfológico, na área de estudo, existe a presença de matas úmidas que

se estendem nas depressões ligadas às lagoas, formadas por árvores de 15 a 20

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metros encontradas em algumas porções dentro da APA conforme a figura 5.1

(CONDER & SEPLANTEC, 1997).

Figura 5.1: Lagoa do Abaeté

Foto: Acervo do Autor, (2011).

No entanto, os termos quantitativos da cobertura vegetal da APA do Abaeté

apresentam uma redução de 14% em 34 anos conforme apresenta o gráfico

abaixo. (gráfio 5.0).

Gráfico 5.0: Quantificação da vegetação entre 1976 e 2010.

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Figura 5.2: Mapa de Cobertura Vegetal da APA do Abaeté (1976).

Figura 5.3 Mapa de Cobertura Vegetal da APA do Abaeté (2010).

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Para chegarmos a esses números, foram utilizadas as técnicas de foto-

interpretação. Partindo da digitalização das imagens dos anos de 1976 e 2010

(figuras 5.2 e 5.3), com a criação da classe quantificada, além da representação

espacial da cobertura vegetal da APA, o que possibilita uma noção da distribuição

espacial entre os anos supracitados.

5.1.3 GEOMORFOLOGIA E GEOLOGIA

A conceituação apresentada por Guerra & Guerra é representada no Modelo

Digital de Terreno tendo como referencia a Base Cartográfica de Salvador (1992)

que apresenta cotas com variações entre 13,5 até 53,8 (figura 5.4), o que favorece

o crescimento de tipologias vegetais de porte arbóreo, constituindo ecossistemas

peculiares que abrigam uma diversidade faunística e florística, essenciais para a

manutenção da cadeia trófica, responsável pela manutenção e reprodução dos

processos bióticos deste tipo de ecossistema.

Figura 5.4: Modelo Digital de Terreno da APA do Abaeté.

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5.1.3.1 ABAETÉ E SUA HISTÓRIA GEOLÓGICA E GEOMORFOLOGICA

Segundo Avanzo (1988), o complexo campo de dunas e lagoas ao redor do

Abaeté começou a se configurar num período em que o relevo local era bastante

monótono quase regular, há cerca de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) anos

atrás. Não existiam ainda dunas e os rios, ou apenas um rio principal com seus

afluentes. Com o passar dos anos (milhares de anos), a migração dessas dunas

passou a cobrir o relevo acidentado formando ondas gigantescas de areia

represando os leitos dos rios e em alguns casos soterrando-os inteiramente.

Desta maneira, até a formação da Lagoa do Abaeté ocorreram alguns

processos de evolução interpretados em algumas fases. Conforme AVANZO

(1988), na fase I, (Figura 5.5) o “Rio Abaeté” corria numa planície sem dunas e

recebia vários afluentes. O clima era úmido e o nível do mar estava numa cota

bem próxima do nível atual. Na fase II, o “Rio Abaeté” começa a ser desviado de

seu curso por força da migração das dunas, saindo do leito anterior (1) e seguindo

para um leito mais a oeste (2). O clima era árido e o nível do mar estava abaixo do

atual.

Na fase III (Figura 5.5), o “Rio Abaeté” continua sendo desviado pelas dunas,

saindo do leito provisório da fase anterior (2) e passando para outro leito bem mais

a oeste (3). O clima era mais árido e o nível do mar estava bem mais abaixo do

atual (nem aparece na imagem). Na fase IV, o “Rio Abaeté” acaba sendo

totalmente contornado e represado pelas dunas, começando a formar uma

pequena lagoa que conta ainda com pequeninos riachos afluentes. O clima já se

tornou outra vez úmido e o nível do mar estava acima do atual.

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Figura 5.5: Fases de Evolução e Formação da Lagoa do Abaeté.

Fonte: Avanzo, 1988 (adaptado pelo autor, 2008).

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Na fase V, a Lagoa do Abaeté já está formada num anfiteatro de dunas,

compondo uma barragem de origem natural e os pequenos riachos dos arredores

demonstram, com evidência bastante clara, estarem sendo alimentados

subterraneamente por esta lagoa ou represa natural. O clima continua úmido e o

nível do mar é o próprio nível atua conforme figura 5.6.

Quantitativamente as dunas do Abaeté foram reduzidas em 10,1 % entre os

anos de 1976 e 2010 (gráfico 5.1). Podendo caracterizar em alguns trechos a

diminuição da altura de algumas dunas, bem como, mudanças geomorfológicas

caracterizadas por conta da retirada das dunas, construções e ação do vento

(figura 5.6)

Gráfico 5.1: Quantificação das dunas entre 1976 e 2010

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Figura 5.6: Retirada das dunas Foto: Acervo do Autor, (2011).

5.1.4 HIDROGRAFIA

Segundo a resolução CEPRAM N° 3.023 (2002), os últimos remanescentes

de restinga em Salvador – Bahia estão localizadas na APA do Abaeté, ainda sim em

estágios diversos de conservação, uma vez que a região está cercada por um

tecido urbano degradado.

No entanto, como dito anteriormente, as lagoas, brejos e alagadiços são as

principais características hidrográficas do ambiente de restinga. Na APA do Abaeté,

as lagoas possuem uma maior representatividade e que eram alimentadas por

algumas nascentes que existiam anteriormente.

Deste modo, partindo da utilização das técnicas de fotointerpretação a

representatividade em termos hidrográficos entre os anos de 1976 e 2010, varia

em 4% (gráfico 5.2). Isto, devido justamente a construção de grandes

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empreendimentos, nos quais utilizam o lençol freático para abastecimento, como

reforça o jornal ATARDE em matéria exibida em 17 de março de 2008:

“A utilização clandestina de água subterrânea na região da APA das Lagoas e Dunas do Abaeté é do conhecimento das autoridades públicas, mas, até hoje, não se sabe se isso compromete ou não o lençol freático. Na resolução em que aprovou o primeiro plano de manejo da APA, em 1998, o Conselho Estadual de Meio Ambiente (Cepram) determinava à Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) que adotasse medidas para “implantação de um sistema de água potável para a área abrangida pela APA, visando à diminuição da utilização de água subterrânea através de poços tubulares que vem se dando de forma descontrolada(...)”. (ATARDE, 2008)

“A única ação neste sentido foi tomada no caso do Hotel Sofitel, construído há mais de 20 anos e que, somente a partir de 2000, regularizou-se junto à SRH, depois de denúncias do Grupo Ecológico Nativo de Itapuã. Apesar de a rede pública de abastecimento chegar às áreas em torno das dunas, o uso da água subterrânea permanece. Em ruas como a da Passárgada, em Itapuã, basta chegar à portaria e os porteiros não têm reserva em informar a existência de poços nas moradias, apesar de serem servidas pela água da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa)”. (ATARDE, 2008)

Gráfico 5.2: Quantificação da hidrografia entre 1976 e 2010

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Figura 5.7: Mapa de cobertura hidrográfica da APA do Abaeté - 1976

Figura 5.8: Mapa de cobertura hidrográfica da APA - 2010

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Na distribuição espacial conforme os mapas hidrográficos (figura 5.7 e 5.8),

nota-se que somente as lagoas de grande porte continuam ativas como por

exemplo a Lagoa do Abaeté.

Atualmente, existem pouquíssimas nascentes, os rios foram extintos restando

apenas algumas lagoas e alagadiços. A principal delas que é a Lagoa do Abaeté

vem perdendo o seu espelho d’água gradativamente em virtude especificamente

devastação da mata ciliar, da evaporação e do bombeamento de água clandestino

conforme a figura 5.9.

Figura 5.9: Redução do Espelho d’água

Foto: Acervo do autor, (2011).

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5.1.5 OCUPAÇÃO URBANA

Os homens produzem suas cidades assim como as cidades os produzem

numa relação de reciprocidade e convivência. Portanto, é a partir de sua

vivencias, experiências e práticas cotidianas que os habitantes constroem as

cidades, inventando e reinventando espacialidades e temporalidades.

A partir do entendimento da produção do espaço, pode-se apreender os

mecanismos que produzem a cidade, a ação dos agentes e de atores sociais que

contribuem para a produção da cidade e, conseqüentemente, a dinâmica da

cidade e da vida urbana. O espaço, como fruto das relações sociais, inclui, além

da transformação material pelo processo de trabalho, a territorialização através de

projeções de poder e atribuição de significados culturais. Desta forma, a cidade é

um ambiente construído (artificial), implicando fortes impactos sobre o espaço

natural (meio ambiente), em que quanto maior e mais complexo for o ambiente

urbano, maiores serão esses impactos.

O urbano constitui o espaço em que as ações sociais se materializaram de

forma mais expressiva, onde as intervenções humanas são conduzidas pelas

diferentes formas de se organizar enquanto sociedade, e em que o uso de

diferentes tecnologias, mais contundentes, produz núcleos de relações sociais, tão

heterogêneos quanto à diversidade dos elementos que o constituíram.

Temporalmente, mais especificamente durante o Século XX, o Brasil mudou

sua estrutura urbana e econômica. Daí, em decorrência do enorme crescimento

demográfico, surgiu o problema do déficit habitacional. Em virtude disso várias

medidas foram tomadas nas principais metrópoles brasileiras. Na capital baiana,

destacam-se as ações de estímulo à industrialização, criação da Região

Metropolitana de Salvador (RMS), instalação da exploração de petróleo no

Recôncavo, Centro Industrial de Aratu (CIA) e Complexo Petroquímico de

Camaçarí (COPEC). Ainda, ressalvam-se a viabilização e melhoramento da

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acessibilidade à cidade de Salvador com a estruturação do Acesso Norte, a

construção do aeroporto internacional Dois de Julho (atual deputado Luis Eduardo

Magalhães), do sistema ferry-boat, e a duplicação da BR-324 (Vasconcelos,

2002). Destaca-se, também, a ação do Governo Federal na intensificação da

política de ampliação da oferta de habitações, transferindo à Caixa Econômica

Federal (CEF) o controle do Banco Nacional de Habitação (BNH), que, se refletiu

na cidade real via o financiamento de imóveis novos ou usados à classe média

dos grandes centros urbanos.

Especificamente foi na década de 70 que o processo de crescimento urbano

na cidade de Salvador e principalmente em Itapuã se intensificou, bairro até então

distante fora dos principais eixos da cidade e no qual havia apenas comunidades

de pescadores e veranistas.

O processo de ocupação coletiva de áreas publicas ou privadas para a

moradia da população mais pobre, acompanharam igualmente os processos de

consumo desenfreado dos bens naturais, com sérios impactos em seu rico

ecossistema.

A ocupação habitacional desordenada causou varias externalidades

negativas sobre as áreas verdes do município, sobre parcelas remanescentes das

lagoas e dunas, e esta situação, que se agravava na década de 80, permanece

até a atualidade, sem que o poder público consiga responder adequadamente ao

problema. (OLIVEIRA, 2009).

Neste contexto, as áreas próximas a Itapuã sofrem o impacto da segregação

habitacional, e as dunas e lagoas do Abaeté são invadidas constantemente. Em

1986, por exemplo, ao tempo em que começam a delimitação da APA do Abaeté

as áreas das dunas começaram a ser ocupadas coletivamente por famílias de

baixa renda sem nenhuma regulação, como mostram as fotografias abaixo. (figura

5.10).

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Figura 5.10: Invasão nas dunas Fonte: Acervo Público Municipal

A caracterização da degradação não se delineia somente por conta das

invasões por famílias de baixa renda. A prova disso são as invasões conhecidas

como invasões do “colarinho branco” sobre terrenos público também obedecem à

lógica individual do interesse imobiliário, e casas particulares com alto padrão de

construção foram edificadas nas dunas e áreas verdes dentro da APA do Abaeté.

O que configura um tipo ainda mais perverso de apropriação do bem comum e dos

recursos naturais. As invasões “ricas” impactaram terrivelmente as dunas e áreas

verdes da APA, englobando grandes construções residenciais e até mesmo

empreendimentos turístico-comerciais (figura 5.11). (OLIVEIRA, 2009).

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Figura 5.11: Grandes empreendimentos na APA do Abaeté

Foto: Acervo do autor, 2011

Neste contexto, a partir das técnicas da foto-interpretação, chegamos a

uma proporção de aumento da ocupação urbana na APA entre 1976 e 2010 de

28,1%. (gráfico 5.3)

Gráfico 5.3: Ocupação urbana na APA do Abaeté

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Figura 5.12: Mapa de Ocupação Urbana APA do Abaeté (1976)

Figura 5.13: Mapa de Cobertura Vegetal da APA do Abaeté (2010).

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Este crescimento urbano é caracterizado em sua maioria justamente na flecha

litorânea da APA, como mostram as figuras 5.12 e 5.13. O que comprova o

interesse populacional pelas construções próxima do mar e das principais vias do

entorno da APA do Abaeté.

5.1.6 LEGISLAÇÃO NA APA DO ABAETÉ

Inaugurado no dia 3 de setembro de 1993, o Parque do Abaeté está situado

dentro de uma APA do Abaeté, composto por dunas, lagoas e vegetação nativa. O

Parque Metropolitano do Abaeté é um dos maiores centros de lazer ecológico do

Nordeste, montado sobre 225 hectares de área urbanizada e foi criado para

proteger um dos mais belos e grandiosos exemplos da criação da natureza, que

vinha sofrendo um intenso processo de ocupação predatória e depredação a sua

área geológica.

Nesse sentido, o Governo do Estado da Bahia, no uso de suas atribuições com

fundamento no Art. 8º da Lei n º 6.902 de 27 de abril de 1981 atribuem ao: Poder Executivo, quando houver relevante interesse publico, poderá declarar determinadas áreas do território nacional como de interesse para a proteção ambiental, a fim de assegurar o bem-estar das populações humanas e conservar ou melhorar as condições ecológicas locais. (LEI FEDERAL DO BRASIL n° 6.902, 1981).

Assim,

Considerando que as ações antrópicas temporais incidem na área do Abaeté, pela sua característica predatória, podendo conduzir à desfiguração e provavelmente destruição do ecossistema na única área de restinga (dunar/lagunar) da capital baiana; considerando que a preservação das Lagoas e dunas do Abaeté não só atenderá a todos aqueles que, desde 1983, vêm clamando pela sua permanência bem assim resgatando, para o povo da Cidade da Bahia, uma área que já em 1552 lhe fora doada por Tomé de Souza; considerando que a atuação do Estado ampliando as ações do Município do Salvador sobre tal região, dando-lhe inclusive uma normatividade mais abrangente sobre o ambiente, entendido este como o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite,

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abrigar e rege a vida em todas as suas formas; considerando que cabe ao Estado a segurança e a proteção do meio ambiente, já que patrimônio público de uso coletivo. .(DECRETO N° 351, 1987 p.01)

Desta forma, ficou-se decretado no dia 22 de Setembro de 1987 pelo então

Governador Waldir Pires que:

Fica criada a Área de Proteção Ambiental - APA - das Lagoas e Dunas do Abaeté, com 1.800 há (um mil e oitocentos hectares), delimitada pela poligonal mapeada, e também em descrita em coordenadas plano-retangulares "E" e "Nº referenciadas no Sistema SICAR-RMS-CONDER, escala 1:10.000. O exercício do direito de propriedade, na área delimitada, sujeitasse- á às normas de proteção ambiental estabelecidas pelo Conselho Estadual de Proteção Ambiental - CEPRAM, sem prejuízo do fixado na legislação do Município de Salvador. O Conselho Estadual de Proteção Ambiental - CEPRAM, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, baixará instruções com vistas à execução deste Decreto. O Centro de Recursos Ambientais - CRA fiscalizará e supervisionará a Área de Proteção Ambiental das Lagoas e Dunas do Abaeté, harmonizando suas ações com as da Prefeitura Municipal do Salvador e o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - IPAC. O Centro de Recursos Ambientais - CRA poderá firmar convênios com entidades públicas e privadas, para cumprimento do disposto neste Decreto.(DECRETO N° 351, 1987 p.02)

Institucionalizado a Área de Proteção Ambiental das Lagoas e Dunas do

Abaeté que posteriormente passou a ser controlada e fiscalizada pela

CONDER. Atualmente as fiscalizações tanto da APA quanto do parque do

Abaeté ficam a cargo da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA).

Na área de estudo, o primeiro zoneamento foi realizado em 1993, subdividindo a

APA em apenas três áreas ecológicas econômicas (Figura 5.14), a ZPP (Zona de

Preservação Permanente), a ZOC I (Zona de Ocupação Controlada I) e a ZOC II

(Zona de Ocupação Controlada II).

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Figura 5.14 – Zoneamento Ecológico Econômico da APA do Abaeté. (DECRETO 2.540, 1993)

Fonte: CONDER, 1993.

Na ZPP, sua delimitação é destinada a uma área onde as formas de vegetação

natural, a fauna, os recursos hídricos, assim como sua morfologia - também

natural -, deverão se integralmente preservadas (DECRETO, 2.540 ,1993). As

outras duas áreas ZOC I e ZOC II são caracterizadas como áreas de ocupação já

consolidadas, de uso predominantemente residencial, rarefeita, parcial ou

totalmente ocupadas, continuando seu processo de ocupação sujeito a

parâmetros ambientais (DECRETO 2.540, 1993)

Todavia, em 1997 com o objetivo de redefinir o ZEE visando uma incorporação de

novos territórios em busca da revitalização da orla atlântica de Salvador, tentando

atrair novos investimentos para região do Abaeté e pretendendo a partir dessas

ações criarem condições para que a APA pudesse efetivamente contribuir para

uma dinamização da economia da localidade de maneira consoante com a

conservação dos recursos ambientais existentes no limite proposto a Companhia

de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia - CONDER, elaborou um novo

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plano de manejo e um novo Zoneamento da Área de Proteção Lagoa e Dunas do

Abaeté este que foi aprovado através da Resolução 1.660 de 22 de maio de 1998

(CEPRAM, 1998).

Figura 5.15 - Mapa de Zoneamento Ecológico Econômico da APA Abaeté.

Fonte: CONDER, 1997.

Neste novo zoneamento ampliou-se de três zonas ecológicas econômicas para

doze zonas. (Figura 5.15). Todas as novas áreas ganharam novos conceitos,

especialidades, parâmetros, categorias, bem como, todas as suas diretrizes pré-

estabelecidas. Assim, as respectivas zonas são:

a) Zonas de Preservação

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ZRE – Zona sob Regime Específico: Utilização condicionada a estudos

específicos determinados pelos órgãos ambientais e a entidade administradora da

APA.

ZPP – Zona de Preservação Permanente: Implantação de programas de proteção

e controle

b) Zonas de Conservação

ZOR – Zona de Ocupação Rarefeita: Toda atividade a ser implantada deverá se

submetida a EIA/RIMA

ZME – Zona de Manejo Experimental: Implantação de projetos produtivos para

envolvimento da comunidade e horto.

ZRA – Zona de Recomposição Ambiental: Articulação com setores empresariais

para patrocínio dos trabalhos de pesquisa cientifica e recomposição.

ZPSA – Zona de Proteção Sócio Ambiental: Implantação de programas de

educação ambiental e turismo ecológico.

c) Zonas de Uso

ZPSC – Zona de Proteção Sócio-Cultural: Implementação de programas de apoio

ao desenvolvimento turístico, a partir de financiamento de estrutura de comercio e

serviços.

ZT – Zona Turística: Incentivo a empreendimento na área de turismo, propiciando

aumento de gabarito e diminuição das pressões sobre ecossistemas frágeis.

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ZUC I – Zona de Uso controlado I: Deverão ser implementados mecanismos de

controle e fiscalização do uso do solo nestas áreas.

ZTE – Zona de Turismo especial: Incentivo a empreendimentos na área de turismo

com a obrigatoriedade de um estudo preliminar de impacto ambiental.

ZUC II – Zona de Uso Controlado II: Deverão ser implementados mecanismos de

controle e fiscalização do uso do solo nestas áreas.

ZUP – Zona de Urbanização Prioritária: Implantação de programas emergenciais

de infra estrutura urbana.

ZCS – Zona de Comércio e Serviços: Implantação de infra-estrutura e incentivo a

atividade comercial.

Com isto, o novo Zoneamento Ecológico Econômico da Área de Proteção

Ambiental das Lagoas e Dunas do Abaeté, promoveria o desenvolvimento

sustentável a partir da normatização e controle do uso do solo, além de

implementar programas de desenvolvimento econômico centrados em uma

atividade turística de baixa densidade levando em conta os elementos definidores

da Unidade de Conservação (Figura 03).

Neste caso, o que contrapõem tais objetivos é que as principais Zonas de

Preservação (ZPP e a ZRE) passou a ter uma nova delimitação, a ZPP passou a

ser integrada a antiga ZOC II que em 1993 possuía uma característica na qual era

permitida a ação antrópica. Outro fator relevante, circunda justamente na ZRE,

área na qual faz parte de um decreto de ampliação do aeroporto de internacional

Deputado Luis Eduardo Magalhães, na época denominado Aeroporto 2 de Julho.

De tal forma, neste novo zoneamento fica o questionamento de qual área

verdadeiramente é protegida permanentemente?

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Após cinco anos com pleno crescimento na região e a não efetividade do que foi

proposto no zoneamento de 1997, surgiu a necessidade da realização de algumas

modificações, possivelmente devido à expansão urbana e à pressão da

especulação imobiliária na região da APA do Abaeté, Bairros como Stella Mares e

Praia do Flamengo ganharam uma grande valorização por conta da construção de

diversos condomínios de classe alta em contrapartida, as ocupações irregulares

também ganhavam força mesmo com a fiscalização dos órgãos competentes.

Figura 5.16: Mapa de Zoneamento Ecológico Econômico da APA Abaeté. Fonte: SEMARH/DUC (2002).

Desta forma, com o objetivo de assegurar os remanescentes de restinga e o

sistema de dunas e lagoas, assim como assegurar o desenvolvimento econômico,

dando ênfase a atividade turística voltada para o ecoturismo o Conselho Estadual

de Meio Ambiente CEPRAM nos usos de suas atribuições através da Resolução

n° 3.023 de 20 de Setembro de 2002 decretou um novo ZEE para a APA do

Abaeté (Figura 5.16). E mais uma vez, os atributos anteriormente especificados,

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bem como, os seus parâmetros ambientais, também foram re-adequados devido

ao rápido processo de degradação ambiental na região.

Com a re-adequação mudaram novamente a quantidade de áreas diminuindo de

doze zonas para oito zonas ecológicas econômicas assim destacadas abaixo:

ZPV – Zona de Proteção Visual: A preservação do Sistema dunar e a sua

vegetação admitem apenas atividades de pesquisa científica, educação ambiental,

visitação pública e ecoturismo, sendo permitida apenas a implantação de pequena

estrutura de apoio à visitação. Proibido qualquer parcelamento do solo e a

supressão de vegetação fixadora das dunas Proibição do tráfego de veículos

automotores. (RESOLUÇÃO n° 3.023 de 20 de Setembro de 2002).

ZVS – Zona de Vida Silvestre: Preservação do ecossistemas admitindo-se apenas

atividades de estudo e pesquisa científica, educação ambiental, ecoturismo e

intervenções que promovam a recomposição e revitalização das lagoas.

ZUE – Zona de Uso Específico: Proteção do ambiente natural. Turismo ecológico

controlado. Atividades de visitação. Pesquisa científica e desenvolvimento de

tecnologias para utilização sustentável. Futura ampliação do aeroporto, estando

sua utilização condicionada a Estudos de Impacto Ambiental – EIA e

determinações estabelecidas pelos órgãos ambientais e outras entidades.

ZOC – Zona de Ocupação Controlada: Uso residencial turístico, serviços ou

comercial. Gabarito máximo de 08 m ou 02 pavimentos.

ZOR I – Zona de Ocupação Rarefeita I: Uso turístico, esportivo, recreativo;

ZOR II – Zona de Ocupação Rarefeita II: Uso turístico, recreativo, esportivo,

serviços, comercial, ou residencial. Gabarito máximo 08 m ou 02 pavimentos.

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NUC – Núcleo Urbano Consolidado: Uso residencial, serviços ou comercial.

Deverá atender o que estabelece a Legislação de Ordenamento do Uso e

Ocupação do Solo do Município de Salvador.

ZDA – Zona Dulce Aqüícola: Permite-se a pesca respeitando a legislação vigente

e o período de defeso, estabelecido pelo IBAMA. Proibido o lançamento de

qualquer substância tóxica, a exemplo de óleos, graxas, etc. Proibido o

lançamento de esgoto doméstico “in natura”. Proibida a implantação de

equipamentos como marinas, tanques rede, etc., sem a autorização dos órgãos

competentes. Proibida a retirada de água sem o documento de outorga. Permitem-

se atividades de lazer e turismo com a aprovação do órgão gestor da APA.

Diante deste novo zoneamento, a expectativa ficou por conta da conservação

deste ecossistema, todavia, percebe-se que nos parâmetros ambientais do ZEE

de 2005 uma maior preocupação com relação às áreas que sofreram com o

zoneamento de 1997, ano que foi ponto de partida para o aceleramento da

degradação na região.

5.2 RESULTADOS E ANÁLISES PRELIMINARES

O ritmo crescente de alterações humanas na paisagem e o potencial das

pessoas para reconstruir a natureza de modo a prover serviços e funções

ecológicas exigem que as atividades antrópicas sejam reconsideradas de muitas

maneiras que permitam torná-las mais compatíveis com a natureza. As ações

antrópicas podem eliminar as dunas para construir instalações, alterar esses perfis

por meio de uso consuptivos, remodelá-los ou reconstruí-los, modificando sua

mobilidade, alterando suas reservas ambientais e condicionando o crescimento

por meio de mudanças nos níveis de ocupação.

Neste contexto, apresentaremos os resultados preliminares da Análise

Ambiental Temporal da APA do Abaeté, com base nos dados processados até

então (vide figura da metodologia) comprovando a eficácia do uso das

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Geotecnologias para este tipo de análise, analisando sua expansão urbana,

avaliando os aspectos positivos e negativos resultantes do processo de ocupação

na região, questionando e estimando valores quanto a sua cobertura do solo.

Assim, inicia-se com as análises entre os anos de 1976 e 2010. Na fase final da

dissertação serão apresentados tais avanços em todos os anos propostos com a

elaboração do mapa comparativo de cobertura do solo, discutindo mais

profundamente os avanços da degradação ambiental na APA do Abaeté.

5.2.1 ANÁLISE DOS AVANÇOS DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

A APA do Abaeté sofre com transformações decorridas temporalmente, o que

possibilita a diluição da particularidade geográfica e da identidade do ambiente, de

modo que a incidência da ação antrópica gera uma variedade de problemas

ambientais induzindo a um rápido avanço da degradação ambiental no local.

As conseqüências de tais ações permitem a fragmentação da paisagem, a

redução às fontes de sementes e de comunidade de plantas em áreas adjacentes

menos urbanizadas, a perda da diversidade biológica e topográfica e na perda de

habitat natural. Nordstrom (2010), salienta que estes ambientes ainda podem

sofrer a perda de seu valor intrisico, de seus valores estéticos e recreativos

originais e do patrimônio ou aspecto natural, afetando na capacidade das partes

envolvidas de tomar decisões bem informadas acerca de questões ambientais da

região (NORDSTROM, 2010).

Neste contexto, criou-se um parecer da situação ambiental de influência

direta, constatando e atribuindo uma compreensão das formas e perfis das

modificações antrópicas na área de estudo. Este modelo se caracteriza como uma

adaptação ao modelo utilizado por NORDSTROM (2010), no qual apresenta os

conflitos e tensões entre os processos geradores dos problemas ambientais

relevantes a APA do Abaeté. Isto quer dizer que a atual situação ambiental pode

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ser mais bem compreendida pela análise dos efeitos das atividades antrópicas da

região, relevantes para a composição de uma análise ambiental coerente (quadro

5.0).

FORMAS E PERFIS DE DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS NA APA DO ABAETÉ POR AÇÃO ANTRÓPICA

ELIMINAÇÃO PARA USOS ALTERNATIVOS

CONSTRUÇÃO DE CASAS, VIAS DE TRANSPORTE, PASSEIOS PÚBLICOS

CONSTRUÇÃO DE SUPERFICIES ALTERNATIVAS

ALTERAÇÃO POR MEIO DE USO

PISOTEAMENTO UTILIZAÇÃO DE VEICULOS OFF-ROAD

PESCA PASTEJO

POLUIÇÃO DO AMBIENTE AQUÁTICO CONSUMO DA MATÉRIA-PRIMA

AUMENTO DA PRODUÇÃO DE LIXO EXTRAÇÃO DE ÁGUA

REMODELAGEM (NIVELAMENTO)

REMOÇÃO DE AREIA QUE INVADE INSTALAÇÕES

ELIMINAÇÃO DE OBSTACULOS TOPOGRAFICOS PARA FACILITAR ACESSO OU CONSTRUÇÃO REMOÇÃO DE DUNAS PARA OFERECER VISTA PARA O MAR

CONSTRUÇÃO DE PAISAGENS MAIS NATURAIS

ALTERAÇÃO DA MOBILIDADE DE PERFIS DE TERRENO ESTABILIZAÇÃO DE PERFIS COM CERCAS DE CONTENÇÃO DE AREIA, VEGETAÇÃO OU MATERIAIS

REMOBILIZAÇÃO DE PERFIS COM A REMOÇÃO OU QUEIMA DA VEGETAÇÃO

ALTERAÇÃO DE CONDIÇÕES EXTERNAS

INTRODUÇÃO DE POLUENTES Tabela 5.0: Forma e Perfis dos Problemas Ambientais da APA do Abaeté.

Fonte: NORDSTROM (2010). (Adaptado pelo autor)

Após a constatação in locco e o agrupamento das informações no perfil dos

problemas ambientais da APA, os resultados dos processamentos realizados nas

imagens de 1976 e 2010 possibilitou uma descrição e quantificação real no que

tange as variáveis ambientais escolhidas e representadas através do mapas de

situação.

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Dessa forma, os números apresentados revelam que em 1976 havia apenas

61 hectares de áreas ocupadas (tabela 5.0), em alguns trechos, essas áreas eram

consideradas invasões como a invasão dos olhos d’água e a invasão do ZBO,

ambas desapropriadas pela CONDER.

Todavia, com o passar dos anos novas áreas foram surgindo, ampliando o

meio urbano na região, o que na atualidade podemos configurá-las através dos

três principais eixos sociais distintos de convivência, tanto dentro, como no

entorno1 da APA do Abaeté. Tais eixos de convivência são configurados em três

em classes, justamente por conta dos valores e tipos de propriedades encontradas

na região. A primeira classe, considerada como “classe alta” está localizada na

parte litorânea da APA, margeando as ruas Professor Souza Brito, Palmas de

Monte Santo, General Severino Filho, José Augusto Tourinho Dantas até os

limites finais na Praia de Ipitanga podendo ser identificada através dos

condomínios luxuosos e os grandes empreendimentos com total conforto e ampla

infra-estrutura (Figura 5.17).

As áreas consideradas como “classe média”, compreende-se em sua

maioria através da grande quantidade de residências que foram transformadas em

estabelecimentos comerciais, estes, que atendem a demanda turística do bairro.

São os locais como o largo das baianas, a Igreja de Itapuan e a feira antiga e o

Penedo.

Já as áreas consideradas como “classe baixa” está localizada em áreas

anteriormente destinada à construção de loteamentos que em contra partida não

foram a frente, além disso as “famosas” invasões como a Baixa da Soronha, Baixa

do Dendê, Alto da Bela Vista e Alto do Macaco fazem parte deste contexto. Tais

áreas foram identificadas e não possuem a menor infra-estrutura urbana, com a

maioria das casas construídas em apenas em um pavimento sem fiscalização ou

1 O entorno da APA do Abaeté é considerado como um vetor de influenciador para novas ocupações, uma vez, que este além de já contribuir com os processos de poluição e degradação, forma uma espécie de barreira mascarando as novas ocupações irregulares.

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autorização de obras, sem rede de esgoto – incentivando a construção das fossas

negras – , além de termos identificado algumas casas construídas por maderites.

Figura 5.17 : Mapa dos Eixos Sociais no Entorno da APA do Abaeté

Deste modo, nas análises realizadas entre 1976 a 2010 a APA do Abaeté

sofreu um crescimento urbano totalmente desenfreado, correspondendo em 2010,

por exemplo, a 411 hectares de área urbanizada dentro da APA. Ultrapassando os

61 hectares de 1976 e ampliando as áreas urbanizadas em 670%. Fazendo parte

desse contexto áreas que atendem padrões urbanísticos e áreas que não

possuem sequer um planejamento urbano (figura 5.18 e 5.19).

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Figura 5.18: Mapa de Cobertura do solo -1976

Figura 5.19: Mapa de Cobertura do solo - 2010

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Considerando os 1.241 hectares da APA do Abaeté em uma totalidade de

100% esta evolução apresenta uma redução entre 1976 e 2010 dos recursos

naturais de 28,1% decorrentes da expansão urbana. O que possibilitou uma perda

de 14% da vegetação, 4% do manancial hídrico2 e 10% do sistema dunar.(tabela

5.0)

CLASSES 1976 % 2010 %

VEGETAÇÃO 446 36,0 271 22,0

HIDROGRAFIA 93 7,5 44 3,5

DUNAS 641 51,6 515 41,5

OCUPAÇÃO URBANA 61 4,9 411 33,0

TOTAL 1.241 Ha 100 1.241 Ha 100 Tabela 5.1: Quantificação de Áreas entre 1976 - 2010.

Desta maneira, os gráficos (gráficos 5.4 e 5.5) a seguir representam a

variação na mudança da paisagem na APA do Abaeté entre 1976 e 2010. Tais

alterações no ambiente possibilitam uma série de questionamentos acerca das

freqüentes mudanças no ZEE da APA do Abaeté.

2 2 Vale salientar que este manancial hídrico citado corresponde as áreas identificadas através da Fotointerpretação. Não levando em consideração o lençol freático nem as lagoas intermitentes.

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APA do Abaeté - 1976

0

100

200

300

400

500

600

700

VEGETAÇÃO HIDROGRAFIA DUNAS OCUPAÇÃOURBANA

Classes

Valo

res

Hectares%

Gráfico 5.4: Classes ambientais – 1976

APA do Abaeté - 2010

0

100

200

300

400

500

600

VEGETAÇÃO HIDROGRAFIA DUNAS OCUPAÇÃOURBANA

Classes

Valo

res

2010%

Gráfico 5.5: Classes Ambientais – 2010.

Entretanto, para um acompanhamento e entendimento mais claro desta

evolução, elaborou-se um mapa comparativo da cobertura do solo entre 1976 e

2010, quantificando as mudanças da cobertura do solo neste período. (figura

5.20).

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Para está construção relacionamos as classes nos respectivos anos e as

classificamos em 16 classes, proporcionando uma idéia de como cada classe era

ocupada em 1976 e em que classe hoje ela se enquadra, dimensionando

espacialmente a sua distribuição (figura 5.20).

Figura 5.20: Mapa comparativo da cobertura do solo 1976 / 2010

Deste modo, a tabela de porcentagem comparativa entre os anos de 1976 e

2010, apresentam alguns dados importantes. De acordo com a tabela 5.1 dos 22%

da vegetação na APA do Abaeté dos dias atuais, apenas 16, 5% do total de 100%

da APA é remanescente de 1976.

Com relação as dunas, dos 41.5% representados, apenas 30.5% é

correspondente aos anos de 1976. O que chama atenção nesta análise, é que as

áreas que eram ocupadas por urbanização no anos 1976 apenas 0,6% delas

vieram a se tornar áreas de dunas. O que nos remete a entender que as áreas

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outrora desapropriadas não apresentam impactos significativos, reforçando a idéia

dos questionamentos acerca das variadas mudanças dos ZEE. (tabela 5.1)

Outro aspecto relevante está associada a hidrografia foto-interpretada, com

apenas 2,8% de sua área mantida desde 1976. Comprovando a caracterização

dos bombeamentos apresentados pelas fontes de pesquisa.

1976 / 2010 VEGETAÇÃO HIDROGRAFIA DUNAS URBANIZAÇÃO

VEGETAÇÃO 16,5% 0,5% 9,7% 9,4%

HIDROGRAFIA 1,1% 2,8% 0,7% 2,7%

DUNAS 4,2% 0,2% 30,5% 17%

URBANIZAÇÃO 0,2% 0,0% 0,6% 4,3% Tabela 5.2: Porcentagem comparativa da cobertura do solo 1976 - 2010

Com este parâmetro, fica claro que os principais problemas ambientais

encontrados na APA do Abaeté estão associados ao crescimento urbano sem

controle ou fiscalização efetiva dos órgãos competentes. O que os números

representam, nos faz refletir acerca da importância de um ZEE rigoroso, que não

fique apenas limitado as suas delimitações de novas áreas e leis penosas, mais

que sejam atuantes e pensem em projetos educacionais nos três eixos sociais

apresentados, despertando o senso de identidade a todos os convivem e

participam deste ambiente.

5.2.2 INFLUENCIA DOS ZEE NA COBERTURA DO SOLO DA APA DO ABAETÉ

Neste capitulo iremos realizar as estimar a cobertura do solo quando

decretado os zoneamentos para a área de estudo,visando entender quais

foram as vias da expansão no que refere aos ZEE’s, analisando a efetividade

das legislações, questionando as freqüentes mudanças dos respectivos

zoneamentos .

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6.0 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Analisar de forma descritiva a paisagem os modelados da superfície terrestre, da

hidrografia e demais elementos naturais do planeta de como se arranjam

espacialmente e interferem no contexto social são pressupostos da Geografia. As

Geotecnologias propositivamente atende enquanto ferramenta de registro das

diversas percepções que se pode ter de um mesmo espaço geográfico. A

identificação temática das características do território como interligação entre rios

e lagos, ou mesmo a localização de acidentes geográficos, ou ainda a localização

de cidades, países, potencializa o poder do homem sobre o espaço, pois, desta

forma descortina-lhe uma gama imensurável de possibilidades através das

representações desde eras remotas.

As Geotecnologias, enquanto ferramenta de análise, possibilita leituras através de

seus sistemas integrados. Aos quais baseia-se, em suas variadas técnicas

interligadas em busca de um principal objetivo: apresentar com veracidade a

atuação do homem no espaço e representá-la. Este arcabouço de técnicas

confere a singularidade, particularidade e intencionalidade de quem a produz.

Entretanto, para uma boa “leitura” dos produtos originados através das

Geotecnologias, é necessário que o sujeito tenha desenvolvido a capacidade e

habilidade relativa à linguagem na qual esteja trabalhando e representando

espacialmente.

A compreensão de tais representações implica em um conjunto de

conhecimentos, habilidades e técnicas, as quais contribuem para uma leitura mais

aproximada da realidade geográfica em análise.

Estudando o espaço geográfico através das Geotecnologias, iniciamos um

movimento de reflexão com vistas à ação antrópica temporalmente em um

ambiente frágil quanto a restinga.

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Assim, o uso das Geotecnologias para uma análise temporal se faz de

fundamental importância para a compreensão da evolução e inicio das

degradações ambientais não somente em áreas de restinga mais sim em qualquer

ambiente. A partir da metodologia desenvolvida, conseguiu-se caracterizar,

espacializar e quantificar as principais variáveis da área de estudo com clareza e

precisão.

Tão quanto a análise temporal ambiental, que serviu para esclarecimentos que

perduravam ha vários anos, como por exemplo: a redução das lagoas, as

modificações constantes no ZEE da APA e a comparação da cobertura do solo

durante os anos estudados. Sendo assim recomendada para outros estudos de

cunho e metodologicamente parecido em áreas diferentes de atuação.

7.0 RESULTADOS ESPERADOS

Este estudo consiste, portanto, em formular algumas possíveis suposições

provisórias a respeito de uma Análise Ambiental Temporal na Área de Proteção

Ambiental das Lagoas e Dunas do Abaeté a partir das Geotecnologias. Estes

estudos relacionam-se com assuntos de interesse para estudantes que

especialmente, de um modo ou de outro, venham a se identificar com as áreas

dentro desta temática. Propõe-se ainda um caminho alternativo para a

compreensão dos avanços urbanos buscando fornecer novas respostas às

questões que tratam da interação do homem com a natureza.

Após as investigações enquanto área do conhecimento, tendo em vista as

transformações relativas a área de estudo, pode-se estabelecer os seguintes

resultados esperados com esta pesquisa:

Concepção das Geotecnologias como um objeto de estudo e articulação

que contribui ativamente no entendimento dos diversos sentidos e

significados que o homem atribui ao mundo;

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Compreensão da capacidade das Geotecnologias como campo de atuação

para Análise Ambiental Urbana e relação com outras áreas do

conhecimento;

Proposição de um processo de subjetivação na prática ambiental, em uma

dinâmica constante de reconstrução e busca de identidade com o espaço

vivido.

Visto isso, quanto à repercussão esperada nesta pesquisa, estima-se uma

relevância acadêmica e científica caracterizada sob alguns aspectos.

Primeiramente, porque coloca a postura das discussões geográficas inteiramente

atreladas ao campo da engenharia ambiental urbana, especificamente nas

abordagens técnicas e metodológicas no campo de utilização das Geotecnologias.

Aliado a isso, uma abordagem dos estudos ambientais em uma de restinga

contendo uma discussão detalhada dos problemas ambientais decorridos ao longo

de vários anos. E finalmente, por tratar não apenas de uma dissertação acerca de

uma Análise Ambiental a partir das Geotecnologias, mas também por propor

novas abordagens sob tal perspectiva.

8.0 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

ETAPAS A SEREM REALIZADAS NA PESQUISA - I

nov/11 dez/11 jan/12 fev/12 mar/12Disciplinas do curso

X X Pesquisa de campo

X X Interpretação de fotografias aéreas e

Complementação do mapa X X

ETAPAS A SEREM REALIZADAS NA PESQUISA - II

Exame de Qualificação

X Levantamento cartográfico e bibliográfico

final X X

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Análise de campo da vulnerabilidade urbana,condições físicas, biológicas, sócio-ambiental, Tabulação e análise estatístico-

cartográfica dos dados (confecção da cartografia temática e mapas de síntese)

X X X Escrita da Dissertação

X X X

Revisão Final e Defesa da Dissertação X X Tabela 8.0: Cronograma de Atividades

9.0 REFERÊNCIAS AB’SABER, A. Os Domínios de Natureza no Brasil: Potencialidades Paisagísticas. 2° ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. AVANZO, Paulo Eduardo. Importância da Geologia nos Estudos de Impactos Ambientais Abaeté: Um Exemplo. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1988. BRASIL. Decreto n° 351, de 22 de Setembro de 1987. Cria a Área de Proteção Ambiental - APA das Lagoas e Dunas do Abaeté, e dá outras providências. Salvador, p. 01. 1987. BRASIL. LEI n° 9.605 de 13 de fevereiro de 1998. Cria a Lei de Crimes Ambientais. Legislação Federal. Brasília, p. 01. 1998. BRASIL. LEI 3.938 de 1988. Institucionaliza e delimita o Parque Municipal das Lagoas e Dunas do Abaeté e define as normas específicas de uso e ocupação do solo para suas zona internas e dá outras providências. Salvador, 1988. BRASIL. Lei no 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA, Legislação Federal, Brasília. 1981. BRASIL. Resolução CONAMA nº 07, de 23 de Julho de 1996. Aprova como parâmetro básico para análise dos estágios de sucessão de vegetação de restinga para o Estado de São Paulo. São Paulo, 1996. BRASIL. Lei n º 6.902 de 27 de abril de 1981. Aprova como parâmetro básico para análise dos estágios de sucessão de vegetação de restinga para o Estado de São Paulo. São Paulo, 1996. BRASIL. Resolução 1.660 de 22 de maio de 1998. Aprovando o plano de manejo e o Zoneamento da Área de Proteção Lagoa e Dunas do Abaeté. CEPRAM. Salvador, 1998.

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BRASIL. Resolução n° 3.023 de 20 de Setembro de 2002. Aprovando o novo plano de manejo e o Zoneamento da Área de Proteção Lagoa e Dunas do Abaeté. CEPRAM. Salvador, 2002. Brasil Escola Glossário.http://www.brasilescola.com/geografia/glossario-ambiental.htm. Acesso em 11 set 2008. BRITO, Francisco. Jorge de Oliveira. Mudanças geoquímicas no subestrato inconsolidado da área do lixão de Canabrava e suas implicações ambientais. Dissertação de Mestrado. Salvador: UFBA, 2005. CÂMARA, G; CASANOVA, M.A; HEMERLY, A.; MEDEIROS, C.M.B.; MAGALHÃES, G. Anatomia de Sistemas de Informação Geográfica. SBC, X Escola de Computação, Campinas, 1996. CÂMARA, G. & DAVIS, C. Introdução: Porque Geoprocessamento? INPE. São José dos Campos, 2001. CÂMARA, G. & MEDEIROS, J. Geoprocessamento para aplicações ambientais. INPE. São José dos Campos, 2001. CAVALCANTI, A. P. B. & VIADANA, A. G. Estudo das Unidades Paisagísticas Costeiras do Estado do Piauí: Potencialidades e Limitações Antropo-Naturais. Climatologia e Estudos da Paisagem. Rio Claro, 2007. CETESB. Manual de Gerenciamento de áreas contaminadas. CETESB/GTZ. São Paulo: CETESB, 2001. CONDER, Área de Proteção Ambiental Litoral Norte: Proposta de Programa / Projetos (Mata Atlântica e seus ecossistemas associados). Salvador: CONDER, 2003. CONDER. Zoneamento Ecológico Econômico da Área de Proteção Ambiental das Lagoas e Dunas de Abaeté. Salvador: CONDER, 1997 CORRÊA, Lobato Roberto.Espaço: Um Conceito-Chave da Geografia. In: Geografia: Conceito e Temas. Org. Iná Elias dos Santos, Paulo Cesar Gomes e Roberto Lobato Corrêa. Rio de Janeiro, Editora Bertrand, 1995 COSTA, P.da; COSTA, M.C.G.; ZILLI J.E.; TONINI, H. Recuperação de Áreas Degradadas e Restauração Ecológica de Ecossitemas: Definições e Conceitos. Boa Vista: Embrapa Roraima, 2005. (Embrapa Roraima. Documentos, 7). DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental, princípios e práticas. São Paulo: Gaia. 1992

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