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ANÁLISE TEMPORAL DA DISTRIBUIÇÃO DOS PADRÕES DE TEMPERATURA SUPERFICIAL DA ÁGUA NO ESTUÁRIO GUAJARÁ MIRIM-PA ATRAVÉS DO SENSOR TIRS/LANDSAT-8 Alvaro José Reis Ramos 1 João Almiro Corrêa Soares² Jessyca Fernanda dos Santos Duarte³ Breno Gustavo Bezerra Costa 4 RESUMO A temperatura indica o estado térmico da água. Desta forma, o autor Cunha (2000) afirma que os processos químicos e biológicos em águas superficiais, especialmente níveis de oxigênio, produção de algas e fotossíntese são fortemente influenciados pela temperatura. Segundo Matsuzaki et al. (2004) temperaturas elevadas estão relacionadas com o aumento da riqueza de espécies de algas no meio aquático. Além disso, a presença de florestas nas margens de grandes rios e bacias hidrográficas de modo geral resulta em melhorias da qualidade de água e regulação térmica dos corpos hídricos. Para tanto, o presente estudo teve o objetivo de avaliar a mudança nos padrões de temperatura da água no estuário Guajará- Mirim, localizado no Estado do Pará, entre as estações de inverno e verão amazônicos, para os anos de 2013 e 2016, utilizando como instrumento metodológico as geotecnologias e o emprego de algoritmos para obtenção da temperatura superficial na faixa infravermelho termal do espectro eletromagnético, presente no sensor TIRS, representado pela banda 10 do satélite Landsat 8, com a utilização do índice de água NDWI (Normalized Difference Water Index) para a delimitação da influência das águas estuarinas. O produto gerado após o processamento digital de imagens constatou um aumento de 1,48°C e 1,89° na temperatura mínima registrada para o inverno e o verão, respectivamente, pressupondo que relações ambientais de variáveis ecossistêmicas apresentam forte interação com a amplitude termal superficial em corpos hídricos, relações deduzidas após constatação da redução no adensamento florestal na região observada próxima ao estuário; esta verificação foi gerada ao se aplicar métodos de classificação da cobertura vegetal a partir do índice de vegetação NDVI (Normalized Difference Vegetation Index), além do registro de alterações rigorosas no regime pluviométrico semestral para o período verificado. 1. INTRODUÇÃO O regime térmico dos corpos hídricos na natureza apresenta significativa importância ecológica por conta de suas interações entre a temperatura e a vida aquática. Para Wheaton (1987), a temperatura da água provavelmente tem maior influência sobre a vida e os sistemas aquáticos do que qualquer outra variável físico-química tomada isoladamente. 1 Discente de Engenharia de Pesca na Universidade Federal Rural da Amazônia; [email protected]. ² Docente na Universidade Federal Rural da Amazônia; [email protected]. ³ Engenheira Agrônoma; [email protected]. 4 Docente na Universidade Federal Rural da Amazônia; [email protected].

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ANÁLISE TEMPORAL DA DISTRIBUIÇÃO DOS PADRÕES DE TEMPERATURA

SUPERFICIAL DA ÁGUA NO ESTUÁRIO GUAJARÁ MIRIM-PA ATRAVÉS DO

SENSOR TIRS/LANDSAT-8

Alvaro José Reis Ramos1

João Almiro Corrêa Soares²

Jessyca Fernanda dos Santos Duarte³

Breno Gustavo Bezerra Costa4

RESUMO

A temperatura indica o estado térmico da água. Desta forma, o autor Cunha (2000)

afirma que os processos químicos e biológicos em águas superficiais, especialmente níveis de

oxigênio, produção de algas e fotossíntese são fortemente influenciados pela temperatura.

Segundo Matsuzaki et al. (2004) temperaturas elevadas estão relacionadas com o aumento da

riqueza de espécies de algas no meio aquático. Além disso, a presença de florestas nas

margens de grandes rios e bacias hidrográficas de modo geral resulta em melhorias da

qualidade de água e regulação térmica dos corpos hídricos. Para tanto, o presente estudo teve

o objetivo de avaliar a mudança nos padrões de temperatura da água no estuário Guajará-

Mirim, localizado no Estado do Pará, entre as estações de inverno e verão amazônicos, para

os anos de 2013 e 2016, utilizando como instrumento metodológico as geotecnologias e o

emprego de algoritmos para obtenção da temperatura superficial na faixa infravermelho

termal do espectro eletromagnético, presente no sensor TIRS, representado pela banda 10 do

satélite Landsat 8, com a utilização do índice de água NDWI (Normalized Difference Water

Index) para a delimitação da influência das águas estuarinas. O produto gerado após o

processamento digital de imagens constatou um aumento de 1,48°C e 1,89° na temperatura

mínima registrada para o inverno e o verão, respectivamente, pressupondo que relações

ambientais de variáveis ecossistêmicas apresentam forte interação com a amplitude termal

superficial em corpos hídricos, relações deduzidas após constatação da redução no

adensamento florestal na região observada próxima ao estuário; esta verificação foi gerada ao

se aplicar métodos de classificação da cobertura vegetal a partir do índice de vegetação NDVI

(Normalized Difference Vegetation Index), além do registro de alterações rigorosas no regime

pluviométrico semestral para o período verificado.

1. INTRODUÇÃO

O regime térmico dos corpos hídricos na natureza apresenta significativa importância

ecológica por conta de suas interações entre a temperatura e a vida aquática. Para Wheaton

(1987), a temperatura da água provavelmente tem maior influência sobre a vida e os sistemas

aquáticos do que qualquer outra variável físico-química tomada isoladamente.

1 Discente de Engenharia de Pesca na Universidade Federal Rural da Amazônia; [email protected].

² Docente na Universidade Federal Rural da Amazônia; [email protected].

³ Engenheira Agrônoma; [email protected]. 4 Docente na Universidade Federal Rural da Amazônia; [email protected].

Segundo Branco (1986), pelo fato da temperatura afetar a solubilidade dos gases na

água, o seu aquecimento reduz as taxas de oxigênio presentes no ambiente, influenciando

assim a decomposição de matéria orgânica, com consequente efeito sobre a qualidade do

líquido e sobre a vida de organismos aeróbios aquáticos, além disso, a temperatura afeta

também o crescimento e o desenvolvimento dos seres vivos, devido a sua influência sobre as

reações químicas, em graus e formas dependentes da espécie, observando deste modo a

relevância do estudo de perfis térmicos como parâmetro avaliativo em ecossistemas aquáticos.

Para Brito (2008), considerações pertinentes a este parâmetro físico são de fundamental

importância, uma vez que está diretamente relacionado aos efeitos que interferem em reações

químicas da água, e na vida aquática. Sua elevação pode causar algumas alterações no

ambiente, como a aceleração de reações químicas, redução da solubilidade dos gases,

aumento da solubilidade dos sais e acentuação do odor da água. Entretanto um dos principais

problemas ocasionados pelo aumento da temperatura é a diminuição da solubilidade de

oxigênio dissolvido, podendo provocar prejuízos às reações bioquímicas que se desenvolvem

em função deste parâmetro.

Para Dudley (2003) a presença de florestas nas margens de grandes rios e bacias

hidrográficas de modo geral resulta em melhorias da qualidade de água e regulação térmica

dos corpos hídricos. De modo geral o crescimento da malha urbana em regiões próximas a

grandes massas d’agua, que resultam em incremento de quantidades de poluentes que entram

nas cabeceiras. As florestas reduzem a erosão do solo e, consequentemente, a carga de

sedimentos e poluentes. Para tanto, novas ferramentas e métodos devem ser utilizados para se

determinar levantamentos pertinentes à temperatura da água e sua possível relação com o

ambiente.

Conforme Checchia (2003), um dos problemas que uma mata ciliar doente sofre é com

a falta de sombra, que ocasiona o aumento da temperatura da água, o que pode comprometer

de forma significativa a qualidade da água e sua fauna aquática, reduzindo a capacidade de

armazenamento de água.

A partir desta necessidade, Lo e Yeung (2008) destacam particularmente o

sensoriamento remoto como ferramenta que passou a adquirir, nas últimas décadas, grande

aceitação no meio acadêmico em função do acesso a hardwares, software e produtos gratuitos

como as imagens de satélites, aspectos interferométricos, entre outros, complementando as

análises e aplicações. Contribuições acadêmicas com de Chander (2009) são expressivas no

que tange a discussão e aplicação de fórmulas que gerem coeficientes de calibração

radiométrica e obtenção de temperaturas Kelvin para imagens de satélite Earth Observer-

1(EO-1) e da série Landsat.

Deste modo, o presente estudo tem por objetivo realizar o levantamento da

temperatura superficial da água, bem como avaliar a sua relação com a cobertura vegetal de

áreas de preservação permanentes, no estuário Guajará-Mirim, utilizando o Sensor

TIRS/Landsat-8, banda 10 e modelos aritméticos de termologia.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Área de estudo

O local investigado compreende zonas de influência pertencentes aos municípios de

Vigia e Colares, localizados no estado do Pará (figura 01), abrangendo a baía do Marajó,

Microrregião do Salgado e Mesorregião do Nordeste Paraense. Estimativas do IBGE para o

ano de 2016 indicaram que o contingente demográfico para os municípios gira em torno de

63,426 mil habitantes e uma área total de 1.148,871 km². A região integra as zonas de

influência do estuário, característico de ecossistemas costeiros e possui economia voltada à

pesca e ao artesanato.

Figura 01. Área de estudo-Estuário Guajará-Mirim.

Fonte: Adaptado pelo autor.

Fundamentado no sistema Koppen, que se baseia em valores numéricos de

temperatura e pluviosidade, a região analisada está classificada no tipo climático da classe A

(Aw). A precipitação e a temperatura são parâmetros básicos para execução de balanços

hídricos, os quais servem não apenas para interpretação dos processos de formação dos solos,

como também para ao aproveitamento na produção agrícola. No município, o índice

pluviométrico compreende valores considerados elevados. A divisão de precipitação é nítida

durante todo o ano, sendo um período chuvoso, com chuvas abundantes iniciando em

dezembro e indo até junho, e outro mais seco, entre os meses de julho a novembro, com

precipitações inferiores a 60 mm. O regime térmico no município é caracterizado por baixas

amplitudes anuais entre as temperaturas máximas e mínimas. Onde a média anual está em

torno de 27,7 ºC e, ao longo do ano, varia de 26,8 a 28,0 ºC. A temperatura média máxima

alterna de 30,0 a 32,1 ºC e a temperatura média máxima anual de 31,7 ºC. A temperatura

média mínima anual é de 25,2ºC e varia de 24,1 a 26,0 ºC.

2.2 Imagens orbitais e Processamento Digital de Imagens (PDI)

A análise espacial foi realizada a partir de imagens LANDSAT 8, sensor ETM, com

resoluções geométricas de 30 metros, órbita ponto 223/61 e data de aquisição nos anos de

2013 e 2016, abrangendo os meses de março (correspondente ao inverno amazônico) e agosto

(referente ao verão na região). O material foi adquirido através do acervo digital do USGS

(United States Geological Survey) disponibilizado de forma gratuita em formato Geotiff

compactado. Na pesquisa foi utilizada a banda 10 - TIRS (Thermal Infrared Sensor) com

pixel de 100 metros, processada e disponibilizada em 30 metros, correspondendo ao intervalo

de comprimento de onda 10.6 - 11.19 µm. Ainda foram utilizadas combinações de bandas 6, 5

e 4 para composição RGB. O estudo priorizou imagens de boa resolução com boa visibilidade

e baixa incidência de nuvens.

O primeiro processo metodológico ocorreu com o geoprocessamento e aplicação do

índice de água e tratamentos raster para delimitação da área examinada, para tanto, foi

empregado o software QUANTUM GIS 2.12.3. Posteriormente ocorreu o processamento

digital das imagens (PDI), procedendo-se com a utilização do software Envi (Environment for

Visualizing Images) 4.5.

2.3 Aplicação do NDWI (Normalized Difference Water Index)

O uso do NDWI permite ressaltar feições de água e minimizar o restante dos alvos,

descriminando desta forma as feições estuarinas costeiras de forma mais eficiente, para Mc

Feeters (1996) este índice acompanha um raciocínio semelhante ao índice de diferença

normalizada da vegetação, no que permeia a operação de bandas. A concepção de um índice

espectral de água foi baseada no fato de que a água absorve energia em comprimentos de

onda do infravermelho próximo (NIR) e ondas curtas de infravermelho (SWIR). O NDWI é

formulado por meio das bandas do verde (V) e do infravermelho médio (IV). O índice de

diferença normalizada da água tem como objetivo delinear ambientes de águas abertas,

passando a determinar o limiar presente entre água e terra (umidade aparente no ambiente

terrestre e solos), permitindo deste modo realizar a maximização da reflectância comum da

água utilizando o comprimento de onda do verde, tentar diminuir a baixa reflectância dos

corpos de água no infravermelho próximo e realçar o contraste entre a água e a cobertura

vegetal, proporcionada pelo infravermelho próximo. O índice geral de NDWI é gerado

segundo a equação (1):

(1) NDWI = (YV2 – YIV4) / (YV2 + YIV4)

Onde: YV2 corresponde ao comprimento de onda do verde, e YIV4 ao infravermelho

próximo, na equação representada pelas bandas 02 e 04 do sensor.

No trabalho se utilizou as definições encontradas por Gao (1996), no qual se definiu

que os valores de NDWI variam de -1 a 1 e o número 0 como limiar, sendo a cobertura

considerada como água se NDWI apresentar intervalos inferiores a zero, enquanto valores de

índice superiores a zero não são considerados como água.

2.4 Aplicação do NDVI (Normalized Difference Vegetation Index)

Para analisar a relação entre porções de floresta e sua possível ligação com os corpos

hídricos, foi aplicado o índice NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada) o

qual, segundo Jensen (2009), se presta como um indicador sensível de vegetação verde

apresentando valores variantes entre -1 e +1, no qual, para locais que apresentam alguma

vegetação aparente os valores indicados vão de 0 a 1 e para locais com perfil hídrico

aparentemente presente, normalmente o valor encontrado é inferior à zero. Seu cálculo é

baseado no método da razão entre as bandas monocromáticas correspondentes à região do

vermelho (RED) e infravermelho próximo (NIR), deste modo é possível identificar a massa

foliar aparentemente presente de forma ativa no local examinado, segundo a equação 2.

(2) NDVI = (NIR – RED) / (NIR + RED)

2.5 Tratamento de dados e Aritmética Raster

A organização dos dados se iniciou com a elaboração de polígonos em formato

shapefile através dos resultados adquiridos após aplicação do índice NDWI na região de

estudo, e o posterior recorte do local, em seguida houve a correção atmosférica visando

efetuar a retirada do efeito de dispersão da energia eletromagnética nas partículas de água

suspensas na atmosfera e reduzir possíveis erros na leitura de elementos pelo software ENVI,

as etapas de processamento abrangeram as análises das bandas TIRS para as 04 imagens

analisadas (Abril e Agosto dos anos 2013 e 2016, respectivamente) visando realizar possíveis

comparativos de eficiência e representatividade para o espaço analisado, seguindo rotinas de

ferramentas dos referidos software. Para tanto, se utilizou os metadados, os quais dispõem de

informações pertinentes a radiância, coeficientes de calibração, elevação solar e valores

calibrados quantizados para cada banda da imagem. Após a correção, se converteu dados de

ND (Números digitais) para valores de radiação de energia espectral (Lλ), segundo a

metodologia de Accioly et.al (2002) descrita na equação (2), deste modo se extraiu valores de

TS (Temperatura da superfície).

(2) Lλ= (R minλ- R máxλ) / (Qcalmáx- Qcalmin) * (Qcal ND) + R minλ

Na equação R minλ corresponde à radiação espectral mínima da imagem, R máxλ é

correspondente à radiação espectral máxima e valores de Qcal ao valor quantizado calibrado

pelo pixel em ND. São dados disponibilizados nos metafiles de cada imagem.

Posterior à etapa de conversão para valores de radiância, elaborados pela equação do

espectro de radiação, ocorreu o tratamento da imagem raster e sua correção para valores de

brilho e temperatura (Kelvin), procedida segundo a equação (3), disponibilizada pelo serviço

geológico americano.

(3) Tbk = K2/ ln (K1/ Lλ) +1

Na equação K2 e K1 correspondem a valores de constantes de calibração de cada

banda. A posteriori os dados raster foram convertidos para Celsius (°C), unidade de

temperatura em vigência no Brasil, e elaboração de mapas temáticos de imagem termal

representativo para cada banda (TIRS 10) e comparação dos produtos obtidos com

levantamentos realizados a partir de análises bibliográficas para delineamento de dados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A mensuração dos dados de radiância espectral e a sua posterior conversão em valores

térmicos de brilho objetivou avaliar médias de temperatura da superfície hídrica no estuário e

identificar possíveis oscilações térmicas nos períodos analisados, assim como discriminar

causas para tais mudanças. As informações geradas são descritas nas figuras 02 e 03,

comparando diferenças de amplitude entre estações que compreendem o verão e o inverno

amazônicos nos anos de 2013 e 2016, transcritas em modelos de intervalos de frequência com

distribuição geométrica, geradas pelo software QuantumGIS.

Figura 02. Distribuição térmica no estuário Guajará-Mirim compreendendo o mês de abril

para os anos de 2013 e 2016 (inverno amazônico).

Fonte: Adaptado pelo autor.

Figura 03. Distribuição térmica aparente no estuário Guajará-Mirim compreendendo o mês

de agosto para os anos de 2013 e 2016 (verão amazônico).

Fonte: Adaptado pelo autor.

A partir das informações obtidas aplicando o modelo aritmético de termologia, é

possível notar que houve relativo aumento da temperatura da superfície da água no período

analisado (2013/2016), a amplitude térmica mínima no ano de 2013 oscilou entre 26,97 e

27,15°C enquanto no ano de 2016 as médias mínimas ficam entre 28,45 e 28,57°C, denotando

um aumento de 1,48°C na temperatura média para o mês de abril. É notória a maior

incidência de elevações na temperatura em espaços de encostas ao longo do estuário (Gráfico

01), segundo Spittlehouse (2004) este fato é explicado pela alta dissipação de energia na

interface mata ciliar-água mediante diferenças entre o calor específico dos materiais.

Analisando as informações obtidas mediante avaliação do processamento digital de

imagens na época considerada verão amazônico, é possível notar na figura 04 que, no ano de

2013 a média mínima de temperatura permaneceu entre 28,84 e 28,98°C enquanto que no ano

de 2016 a média térmica oscilou entre 30,73 e 30,80°C, revelando elevação de 1,89°C na

amplitude térmica registrada pelo sensor. No que diz respeito à média máxima, no ano de

2013 a máxima registrada correspondeu a 30,21°C enquanto no ano de 2016 a média foi de

32,17°C.

Figura 04. Variação média de temperatura no período analisado.

Fonte: Adaptado pelo autor.

Os resultados alcançados mediante processamento digital de imagens corroboram com

as conclusões encontradas por Silva et al. (2013) o qual, em trabalhos visando caracterizar a

distribuição espaço temporal da biodiversidade no estuário Guajará-Mirim, observou que a

temperatura superficial da água apresentou uma estabilidade térmica ao longo do período de

estudo, ocorrendo diminuição dos valores registrados nos meses mais chuvosos, os quais

correspondem ao inverno. Os menores valores registrados denotam uma média de 27,93ºC e

foram coletados entre os meses de março e maio. No que diz respeito à estação mais quente

do ano, o valor médio encontrado no estuário corresponde a 30,89ºC registrados de julho a

setembro para o local. Ainda referente à alternância térmica na região, Silva et al. (2011)

analisou intermareal nos meses de alta pluviosidade comparando parâmetros físico-químicos

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Inverno(2013) Inverno (2016) Verão(2013) Verão(2016)

Tem

pe

ratu

ra(°

C)

Variação de temperatura (2013/2016)

Mínima

Máxima

Média

da água visando realizar levantamentos referentes a fatores ambientais na região e suas

interações, para o mês de março a média mínima verificada para temperatura no estuário

Guajará-Mirim foi de 28,6°C, não encontrando diferenças significativas de amplitude térmica

da água comparando esta variável entre os meses mais chuvosos. No entanto, é imprescindível

notar as diferenças térmicas registradas pelo sensor nas duas estações analisados durante os

anos de 2013 e 2016, para Davies-Colley et al. (2000) a importância do dossel florestal tende

a reduzir a temperatura superficial durante o dia se comparado à áreas consideradas abertas,

ponderações em seu trabalho verificaram que a temperatura de superfície chegou a variar

entre 3 e 6°C comparando locais próximos às grandes florestas e zonas desmatadas,

pressupondo deste modo uma relação inversa entre desmatamento e temperatura média de

superfície, ainda no que tange o caráter de dependência entre regiões de florestas densas e

áreas de vegetações mais baixas ou desmatadas, Brosofske et al. (1997) analisa que a

temperatura da superfície da água mostram grandes diferenças comparando-se locais de

intenso desmatamento e florestas mais preservadas, fator que pode explicar a elevação média

da temperatura no território.

A aplicação do índice NDVI foi necessária para tentar constatar a relação entre

floresta-temperatura superficial da água (figura 05) e gerar subsídios que expliquem a

modificação média de temperatura na região.

Figura 05. Avaliação dos resultados gerados pelo NDVI.

Fonte: Adaptado pelo autor.

A classificação de imagem buscou verificar a situação da cobertura vegetal aparente

presente na região no ano de 2013 e posteriormente comparando ao ano de 2016, destacando

principalmente zonas de vegetação arbórea relativamente abundante e zonas de recuperação

(vegetação secundária).

Referente à classificação obtida utilizando o índice de vegetação, é notório o relativo

decréscimo das zonas de florestas consideradas densas na área de estudo, uma redução de

2,49% da florestal nativa encontrada em 2013. Em contrapartida, a vegetação secundária na

região teve um incremento de 7,08% no ano de 2016, fato que pode explicar a oscilação de

temperatura registrada entre os dois períodos. Outro fator imprescindível na avaliação da

temperatura superficial e que deve ser observado, é o índice pluviométrico médio mensal na

região, fato verificado por Silva et.al (2013) descrevendo a redução deste parâmetro quando o

índice pluviométrico na área apresenta elevação. Segundo o sistema de informações hídricas,

fornecido pela ANA (Agência Nacional das Águas) a média pluviométrica da região nos

mesmos meses analisados oscilou entre 510,2 mm em abril de 2013 e, para o mesmo mês

analisado, 456 mm em 2016, já a média no período de verão variou de 193,4 mm em 2013 e

39 mm no ano de 2016, dando subsídios para explicar a relativa variação média deste

parâmetro nos semestres investigados.

CONCLUSÃO

Embora as análises de imagens termais apresentem algumas limitações para estudos

em águas mais profundas, as conclusões alcançadas pelo processamento utilizando modelos

aritméticos de radiância da banda termal (TIRS-10) fornecem resultados satisfatórios

respectivos à temperatura superficial da água, além de fomentar discussões referentes ao

entendimento de fenômenos que possam resultar em possíveis mudanças nos padrões de

superfície em corpos hídricos. Para tanto, o entendimento de parâmetros ambientais abióticos

que possam vir a interferir ou explicar as alterações neste parâmetro físico são de fundamental

importância na compreensão dos caracteres ecossistêmicos costeiros.

Pela grande extensão territorial da plataforma amazônica, e por sua significativa

relevância econômica e social para as comunidades tradicionais locais, existe a necessidade de

buscar ferramentas que possam facilitar o monitoramento ambiental da região, para tanto, as

geotecnologias passam a fornecer informações de maneira mais precisa e rápida acerca das

interações eventuais de âmbito local. O conjunto de informações térmicas geradas pela

manipulação de dados do sensor pressupõe a importância da floresta para a manutenção da

temperatura superficial do estuário, a partir da redução da fitomassa densa e aumento de

novas categorias de cobertura do solo no ano de 2016 a temperatura média de áreas ciliares se

elevou, principalmente após o surgimento de novas estradas e expansão urbana nas cidades de

Vigia e Colares entre os anos analisados. Outro fator que supõe relação direta com as

temperaturas superficiais está ligado ao regime pluviométrico na região, uma vez que o índice

relativo de chuvas ajuda na mitigação da temperatura de superfície, permitindo redução do

gradiente térmico, principalmente em períodos mais chuvosos. O monitoramento ambiental

dos fatores abióticos presentes na região, e suas variações, favorecem o entendimento da

relação de dependência entre os ecossistemas continentais e sua interação com a biota natural,

haja vista a importância dos estuários na composição biológica, agindo como grandes

berçários para diferentes espécies marinhas e continentais, as quais buscam alimento e

condições favoráveis à reprodução nestes ambientes. Alterações em parâmetros físico

químicos no meio interferem sobremaneira nas composições bioecológicas estuarinas,

provocando mudanças nas relações intersociais das comunidades tradicionais nos municípios

de Vigia e Colares que, em sua maioria, encontram na pesca a principal fonte econômica.

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