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ANÁLISE TÉRMICA E ECONÔMICA DO CICLO COMBINADO INTEGRADO COM GASEIFICAÇÃO DA CASCA DE ARROZ. Gabriel Campbell de Oliveira Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Prof. Antonio MacDowell de Figueiredo, Dr.Ing. Rio de Janeiro Fevereiro de 2014

análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

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Page 1: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

ANÁLISE TÉRMICA E ECONÔMICA DO CICLO COMBINADO INTEGRADO

COM GASEIFICAÇÃO DA CASCA DE ARROZ.

Gabriel Campbell de Oliveira

Projeto de Graduação apresentado ao Curso

de Engenharia Mecânica da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador:

Prof. Antonio MacDowell de Figueiredo,

Dr.Ing.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2014

Page 2: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com
Page 3: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

i

Oliveira, Gabriel Campbell de

Análise Térmica e Econômica do Ciclo Combinado com

Gaseificação Integrada da Casca de Arroz / Gabriel Campbell de

Oliveira – Rio de Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2014.

IX, 64 p.:il.; 29,7 cm

Orientador: Antonio MacDowell de Figueiredo

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso

de Engenharia Mecânica, 2014.

Referências Bibliográficas: p. 53-57

1. Ciclo Combinado. 2. Gaseificação. 3. Biomassa. 4. Casca de

Arroz. 5. Energia. I. Figueiredo, Antonio MacDowell de II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica,

Curso de Engenharia Mecânica. III. Título.

Page 4: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

ii

“A mente é como um paraquedas, só funciona quando está aberta.”

Frank Zappa

Page 5: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

iii

Agradecimentos

À toda minha família, em especial meus pais e minha irmã, pois constituem a base de

tudo o que sou hoje, e que me apoiaram em todas as escolhas e caminhos traçados;

À todos os meus amigos que ajudaram na minha formação como pessoa e profissional;

Aos meus colegas de faculdade e companheiros de estudo que tornaram a caminhada

pela graduação menos penosa e mais divertida. Em especial, Bernardo Gelelete, Danilo

Dias, Marcus Vinicius e Vicente Curi, pois transformaram longas horas de estudo em

momentos agradáveis e de compartilhamento de conhecimento;

À todos os professores da Escola Politécnica da UFRJ, pela dedicação na profissão de

docente e pelos ensinamentos transmitidos. Em especial ao professor Antonio

Figueiredo, pela atenção e valiosa orientação.

Page 6: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

iv

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânica.

ANÁLISE TÉRMICA E ECONÔMICA DO CICLO COMBINADO INTEGRADO

COM GASEIFICAÇÃO DA CASCA DE ARROZ

Gabriel Campbell de Oliveira

Fevereiro/2014

Orientador: Antonio MacDowell de Figueiredo

Curso: Engenharia Mecânica

No atual contexto de aumento da demanda de energia e dependência do uso de

combustíveis fósseis, o uso da tecnologia de gaseificação de biomassa com ciclo

combinado integrado surge com uma alternativa de gerar eletricidade utilizando fontes

renováveis, proporcionando a diversificação da matriz energética mundial e

contribuindo para um futuro sustentável.

Portanto, o objetivo deste trabalho é apresentar as principais tecnologias

utilizadas em ciclos combinado com gaseificação integrada e analisar a viabilidade

técnica e econômica de uma planta que utiliza a gaseificação da casca de arroz para seu

funcionamento.

Para a modelagem do ciclo combinado, foi realizada uma simulação térmica do

seu funcionamento, resultando na avaliação dos seus principais indicadores, como

potência produzida e eficiência energética.

Palavras-chave: Ciclo Combinado, Gaseificação, Biomassa, Casca de Arroz, Energia.

Page 7: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

v

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

THERMAL AND ECONOMICS ANALYSIS OF A COMBINED CYCLE

INTEGRATED WITH RICE HUSK GASIFICATION

Gabriel Campbell de Oliveira

February/2014

Advisors: Antonio MacDowell de Figueiredo

Course: Mechanical Engineering

Nowadays, considering the increasing of energy demand and dependence of

fossil fuels, the use of integrated gasification combined cycle offers an alternative to

generate energy using renewable sources, providing diversification of energy source and

contributing to a sustainable future.

Considering that, the objective of this study is to present the main technologies

used in integrated gasification combined cycles and analyze the technical and economic

viability of a plant that uses gasification of rice husk for its operation.

To perform the model of a combined cycle, a thermal simulation was made,

resulting in the evaluation of the main parameters calculated, such as power and

efficiency.

Keywords: Combined Cycle, Gasification, Biomass, Husk Rice, Energy.

Page 8: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

vi

Índice:

1. Capítulo 1 - Introdução ............................................................................................. 1

2. Capítulo 2 – Ciclo combinado integrado à Gaseificação da biomassa ........................ 6

2.1 – Ciclos Termodinâmicos .................................................................................... 6

2.1.1 – Turbinas a Gás e o Ciclo Brayton ............................................................... 7

2.1.1.1 – Resfriamento Intermediário ................................................................. 9

2.1.1.2 – Reaquecimento ................................................................................. 10

2.1.1.3 – Regeneração ..................................................................................... 10

2.1.1.4 – Injeção de Vapor ............................................................................... 11

2.1.2 – Turbinas a Vapor e o Ciclo Rankine ......................................................... 11

2.1.2.1 – Diminuição da Pressão no Condensador ............................................ 12

2.1.2.2 – Superaquecimento do Vapor ............................................................. 13

2.1.2.3 – Aumento da Pressão na Caldeira ....................................................... 13

2.1.3 – Ciclo Combinado ..................................................................................... 13

2.2 – Gaseificação da Biomassa ............................................................................... 15

2.2.1 – Histórico da Gaseificação ......................................................................... 15

2.2.2 – Processo de Gaseificação .......................................................................... 15

2.2.3 – Gaseificadores .......................................................................................... 16

2.2.3.1 – Gaseificador de Leito Fixo ................................................................ 17

2.2.3.2 – Gaseificador de Leito Fluidizado ....................................................... 20

2.2.4 – Filtros ....................................................................................................... 21

2.3 – Integração Ciclo Combinado e Gaseificadores ................................................ 22

2.3.1 – Adaptações do Ciclo Brayton para Gases com Baixo Poder Calorífico ..... 25

3. Capítulo 3 – Estudo de um Ciclo Combinado com Gaseificação da Casca de Arroz 27

3.1 – Potencial da Geração de Energia Utilizando Casca de Arroz ........................... 27

3.2 – Gaseificação da Casca de Arroz ...................................................................... 28

3.3 – Simulação e Análise Termodinâmica .............................................................. 30

3.3.1 – Dimensionamento .................................................................................... 31

3.3.2 – Modelagem do Ciclo ................................................................................ 33

3.3.2.1 – Premissas de Modelagem .................................................................. 34

3.3.2.2 - Cálculo do Calor Fornecido ............................................................... 34

3.3.2.3 – Cálculo da Vazão Mássica da Turbina a Gás ..................................... 35

3.3.2.4 – Simulação do Ciclo Combinado ........................................................ 36

3.3.3 – Análise da Variação da Temperatura na Saída da Turbina a Gás ............... 37

Page 9: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

vii

3.3.3.1 – Análise do Trabalho Produzido ......................................................... 37

3.3.3.2 – Análise da Exergia ............................................................................ 39

3.3.3.3 – Conclusão da Simulação ................................................................... 42

3.3.4 – Resultados Simulação Ciclo Combinado .................................................. 43

3.4 – Análise de Viabilidade Econômica .................................................................. 44

3.4.1 - Valor de Presente Líquido (VPL) .............................................................. 45

3.4.2 - Taxa Interna de Retorno (TIR) .................................................................. 45

3.4.3 - Tempo de Retorno do Investimento (Payback) .......................................... 45

3.4.4 - Custo da Energia (COE) ............................................................................ 46

3.4.5 – Modelo de Avaliação Econômica ............................................................. 46

3.4.6 – Premissas da Modelagem ......................................................................... 47

3.4.7 – Resultados da Modelagem ........................................................................ 49

4. Capítulo 4 – Conclusão ........................................................................................... 51

5. Referências Bibliográficas....................................................................................... 53

Apêndice A – Cálculo da Quantidade de Calor Necessária para Parboilização ............. 58

A.1 - Premissas........................................................................................................ 58

A.2 – Cálculos ......................................................................................................... 58

Apêndices B – Dados e Gráficos T x s do Ciclo Combinado ....................................... 60

Page 10: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

viii

Índice de Figuras

Figura 1 – População Mundial desde 10.000 anos antes de Cristo. (HOTAKAINEN,

2011) ............................................................................................................................ 1

Figura 2 – Projeção da população mundial (ALLIANZ, 2013) ...................................... 2

Figura 3 – Taxa de crescimento populacional ao ano. (HOTAKAINEN, 2011) ............. 2

Figura 4 – Demanda de Energia no Mundo (MONGABAY, 2009) ............................... 3

Figura 5 – Eletricidade gerada no mundo por fonte (IEA, 2008) .................................... 4

Figura 6 – Turbina a gás em ciclo aberto ....................................................................... 7

Figura 7 - Evolução da Temperatura de Entrada dos Gases, do Limite de Resistência ... 8

dos Materiais e dos Sistemas de Refrigeração das Palhetas – (SCHILKE, 1996) ........... 8

Figura 8 - Eficiência termodinâmica do ciclo Brayton de acordo com a temperatura de

entrada dos gases na turbina e com a taxa de compressão – (ARONGAUS, 1996) ....... 9

Figura 9 – Ciclo Combinado ....................................................................................... 14

Figura 10 - Gaseificador contracorrente ...................................................................... 18

Figura 11 - Gaseificador concorrente........................................................................... 19

Figura 12 - Gaseificador de Leito Fluidizado............................................................... 20

Figura 13 – Filtro de Manga ........................................................................................ 22

Figura 14 – Esquema simplificado de um ciclo combinado com gaseificação integrada

................................................................................................................................... 23

Figura 15 – Quantidade de turbina a gás instaladas em 2020 (HERMSMEYER, 2008) 25

Figura 16 – Modificação Manifold para gases de baixo poder calorífico

(NASCIMENTO, 2009) .............................................................................................. 26

Figura 17 – Modificação câmara de combustão (NASCIMENTO, 2009) ..................... 26

Figura 18 – Esquema do ciclo combinado simulado no software CyclePad ............... 366

Figura 19 – Gráfico da variação da potência líquida produzida .................................. 388

Figura 20 – Variação de Exergia no ponto 1 .............................................................. 400

Figura 21 – Variação da Exergia no ponto 8 .............................................................. 411

Figura 22 – Variação da Destruição de Exergia do ciclo. ........................................... 411

Figura 23 - Diagrama T x s do Ciclo Brayton.................................................................63

Figura 24 - Diagrama T x s do Ciclo Rankine.................................................................64

Page 11: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

ix

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Exemplos de plantas de ciclo combinado com gaseificação integrada

localizadas na Europa. (DOE,NETL 2007).....................................................................25

Tabela 2 – Potencial de geração de energia elétrica a partir da casca de arroz (COELHO,

2008) ........................................................................................................................ 277

Tabela 3 – Valores de PCI da casca de arroz gaseificada encontrados em diferentes

estudos .................................................................................................................... 2929

Tabela 4 – Valores de PCI de diferentes combustíveis (FIGUEIREDO, 2010) .......... 300

Tabela 5 – Composição molar do gás proveniente da gaseificação da casca de arroz

(MURARO 2008) ..................................................................................................... 300

Tabela 6 – As vinte cidades que mais produzem arroz no Brasil (CONAB, 2011) ..... 322

Tabela 7 – Usinas termoelétricas movidas a casca de arroz no Brasil (ANEEL, 2008)333

Tabela 8 – Especificações turbinas Siemens (SIEMENS, 2013) ................................ 355

Tabela 9 – Variação de potência líquida produzida .................................................... 388

Tabela 10 – Variação de exergia nos pontos 1 e 8 e destruição de exergia do ciclo .... 400

Tabela 11 – Calor Necessário na Parboilização do Arroz........................................... 433

Tabela 12 – Resultados obtidos no ciclo Brayton e Rankine ...................................... 433

Tabela 13 – Resultados obtidos no ciclo Combinado ................................................. 444

Tabela 14 – Estrutura do Demonstrativo do Resultado do Exercício .......................... 477

Tabela 15 – Impostos aplicados na modelagem ......................................................... 488

Tabela 16 – Valores de custos fixos e variáveis para ciclos combinados com

gaseificação de biomassa (NETO, 2001) ................................................................... 499

Tabela 17 – Modelagem do Demonstrativo do Resultado do Exercício .................... 5050

Tabela 18 – Análise Financeira para taxa de desconto de 12% a.a. ............................ 500

Tabela 19 – Análise Financeira para taxa de desconto de 1,2% a.a. ........................... 511

Tabela 20 - Dados Componentes do Ciclo……………………………………………..60

Tabela 21- Dados Pontos do Ciclo..................................................................................61

Tabela 22 - Dados Ciclo Combinado..............................................................................62

Page 12: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

1

1. Capítulo 1 - Introdução

A forma com que vivemos no mundo atual, se deve aos grandes avanços em

tecnologia ao longo dos últimos anos. Importantes conceitos de convivência humana

sofreram grandes alterações, sendo a energia elétrica responsável por diversas

mudanças. Transporte, comunicação e saúde, são alguns exemplos de como a energia

mudou o funcionamento destes setores ao longo do tempo.

Apesar do uso de energia ser algo essencial nos dias de hoje, sua utilização é

algo recente. No século 18, grandes cientistas começaram a desenvolver o uso de

eletricidade, Benjamin Franklin, Alessandro Volta, André-Marie Ampère, Georg Ohm e

Nikola Tesla foram alguns dos responsáveis por este avanço. Com o estudo do

comportamento da eletricidade, esta forma de energia deixou de ser algo desconhecido e

muitas vezes apenas objeto de contemplação, como raios e relâmpagos, e passou a ser

peça importante da sociedade humana. A partir de então, o uso da eletricidade aumentou

de forma significativa ao longo dos últimos anos, tornando a geração desta energia um

grande desafio.

O consumo de energia está diretamente ligado ao aumento da população

mundial e do aumento produto interno bruto, pois ela é utilizada nos diferentes

processos industriais e no convívio das pessoas. A população mundial cresce

continuamente há 600 anos, desde o fim da pandemia de peste bubônica, conhecida

como peste negra, onde morreu aproximadamente um terço da população mundial na

época.

Figura 1 – População Mundial desde 10.000 anos antes de Cristo. (HOTAKAINEN, 2011)

Page 13: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

2

A taxa de crescimento populacional teve grande aumento a partir do século 19,

concomitantemente com os maiores progressos no estudo da energia elétrica.

Figura 2 – Projeção da população mundial (ALLIANZ, 2013)

Apesar desta taxa estar diminuindo nos últimos anos, principalmente nos países

desenvolvidos, a expectativa é que a população humana continue aumentando nos

próximos anos, e consequentemente a demanda por energia elétrica.

Figura 3 – Taxa de crescimento populacional ao ano. (HOTAKAINEN, 2011)

Page 14: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

3

Figura 4 – Demanda de Energia no Mundo (MONGABAY, 2009)

Portanto, podemos concluir que no cenário atual do mundo, a necessidade de

gerar mais energia é fundamental para a manutenção do estilo de vida humano. Cada

vez mais equipamentos que necessitam desta energia para funcionamento estão sendo

utilizados, podemos citar como exemplos, computadores, celulares, ar-condicionado,

chuveiro elétrico, lâmpadas, entre outros. Somado a isto, outro desafio é o fato da

eletricidade não poder ser armazenada de modo eficiente e em grandes quantidades.

Portanto é fundamental o estudo, desenvolvimento e planejamento da geração de

eletricidade.

O mundo sempre teve o carvão como principal como insumo para geração de

energia elétrica, como observado na figura 5. O carvão responde por 41% da produção

de eletricidade no mundo e o minério manterá esta posição de fonte mais utilizada, por

mais 30 anos. Em seguida vem o gás natural, com 20,1%. (IEA, 2008). Estes

combustíveis geram grande impacto no meio ambiente, além de não serem renováveis.

No cenário atual, 63,6% da energia elétrica utilizada no mundo são deste tipo de fonte,

tornando o desafio da geração de eletricidade mais importante ainda.

Page 15: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

4

Figura 5 – Eletricidade gerada no mundo por fonte (IEA, 2008)

Com o apresentado, podemos concluir que o mundo hoje necessita gerar cada

vez mais energia, sendo esta geração o mais eficiente possível, menos poluente e que

utilize recursos renováveis. Neste contexto, podemos destacar a geração de energia

elétrica a partir de biomassa.

Do ponto de vista energético, biomassa é toda matéria orgânica (de origem

animal ou vegetal) que pode ser utilizada na produção de energia. Assim como a energia

hidráulica e outras fontes renováveis, a biomassa é uma forma indireta de energia solar.

A energia solar é convertida em energia química, através da fotossíntese, base dos

processos biológicos de todos os seres vivos. Embora grande parte do planeta esteja

desprovida de florestas, a quantidade de biomassa existente na terra é da ordem de dois

trilhões de toneladas; o que significa cerca de 400 toneladas per capita. (RAMAGE &

SCURLOCK, 1996).

Dois fatores importantes fazem com que a geração de energia elétrica a partir da

biomassa tenda a aumentar nos próximos anos (ROSILLO-CALLE et al., 2000):

i) Desenvolvimento de novas tecnologias, que tornam a transformação da

biomassa em energia elétrica mais eficiente.

Page 16: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

5

ii) Reconhecimento das vantagens ambientais do uso racional da biomassa,

principalmente no controle das emissões de CO2 e enxofre.

A produção em larga escala da energia elétrica, proveniente da biomassa, no

Brasil ocorre em conjunto com a produção agrícola. A biomassa é obtida pelo

processamento dos resíduos de grandes plantações de soja, arroz, milho ou cana-de-

açúcar. Assim, do milho é possível utilizar, o sabugo, colmo, folha e palha. Da soja e

arroz, os resíduos que permanecem no campo, tratados como palha. Na cana-de-açúcar,

o bagaço, a palha e o vinhoto (ANEEL, 2008).

Existem várias técnicas para transformar a matéria-prima em combustível

energético. A mais simples é a combustão direta desta matéria-prima para ser utilizado

em caldeiras para geração de vapor. Também é possível realizar a pirólise do

combustível, que consiste na queima deste material em pouca presença de ar, a fim de

obter um combustível de maior poder energético. Em geral, este processo é utilizado na

transformação de lenha em carvão vegetal. Outra transformação é a gaseificação, que

ocorre por meio de reações termoquímicas que transformam o combustível sólido em

gás, que pode ser utilizado em motores de combustão interna e em turbinas. Podemos

destacar também o processo de tratamento de dejetos orgânicos, que consiste na

decomposição do material orgânico pela ação de bactérias, formando o biogás,

composto por metano (CH4) entre outros gases. Um processo bastante utilizado no

Brasil é de conversão dessas energias através da fermentação dos açúcares presentes na

matéria-prima a fim de se obter o etanol. Este produto final pode ser utilizado como

combustível em termoelétricas e em automóveis. Por fim, o último processo de

conversão é a transesterificação, que consiste na reação química entre óleos vegetais e

metanol ou etanol, produzindo biodiesel, por exemplo.

A biomassa é uma das fontes para produção de energia com maior potencial de

crescimento nos próximos anos. Tanto no mercado internacional quanto no interno, ela

é considerada uma das principais alternativas para a diversificação da matriz energética

e a consequente redução da dependência dos combustíveis fósseis. A biomassa

respondeu pela produção total de 183,4 TWh em 2005, o que correspondeu a pouco

mais de 1% da energia elétrica produzida no mundo naquele ano (WEC, 2007).

Page 17: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

6

Ainda segundo o World Energy Council, o líder mundial na geração de energia

elétrica a partir de biomassa foi o Estados Unidos, que em 2005 produziu 56,3 TWh,

representando 30,7% do total mundial. Na sequencia estão Alemanha e Brasil, com

produção próxima dos 13,4 TWh e participação de 7,3% do total mundial.

No Brasil, a biomassa foi a segunda principal fonte de energia elétrica em 2011.

Ela respondeu por 6,5% da oferta de energia, atrás apenas da hidroeletricidade, que foi

responsável por 81,7 da produção. (EPE, 2012).

Em 2008, existiam 302 termelétricas movidas à biomassa no país. Desse total de

usinas, 13 são abastecidas por licor negro (resíduo da celulose) com potência total de

944 MW; 27 por madeira (232 MW); três por biogás (45 MW); quatro por casca de

arroz (21 MW) e 252 por bagaço de cana (4 mil MW). Uma das características desses

empreendimentos é o pequeno porte com potência instalada de até 60 MW, o que

favorece a instalação nas proximidades dos centros de consumo e suprimento (ANEEL,

2008).

Uma das principais tecnologias utilizadas por estas usinas de geração de energia

elétrica é a do ciclo combinado integrado com a gaseificação da biomassa. Esta

tecnologia consegue alcançar elevadas eficiências térmicas e gerar grande quantidade de

eletricidade. Portanto, diante do cenário apresentado, este trabalho visa o estudo desta

tecnologia, suas características, aplicações e o seu estudo termoeconômico.

2. Capítulo 2 – Ciclo combinado integrado à Gaseificação da biomassa

2.1 – Ciclos Termodinâmicos

Grande parte da energia elétrica produzida nos dias de hoje, deriva da

transformação da energia química contida nos combustíveis, através de processos e

equipamentos desenvolvidos pela humanidade. As termoelétricas, fundamentais nos

sistemas de geração de eletricidade em todo o mundo, utilizam esta transformação da

energia contida nos combustíveis em energia térmica, para posteriormente ser

convertida em eletricidade. O funcionamento destes equipamentos é baseado em

diversos ciclos termodinâmicos, entre eles o ciclo Brayton e o ciclo Rankine.

Page 18: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

7

2.1.1 – Turbinas a Gás e o Ciclo Brayton

O ciclo Brayton foi proposto por George Brayton para ser utilizado no motor

alternativo desenvolvido por ele em 1870. Hoje, é apenas usado em turbina a gás, em

que os processos de compressão e expansão ocorrem em um maquinário rotativo. Em

geral, as turbinas a gás operam em um ciclo aberto, ou seja, o fluido de trabalho é

admitido na pressão atmosférica e os gases de escape, após passarem pela turbina, são

descarregados de volta na atmosfera sem que retornem à admissão. O ciclo da turbina a

gás se inicia quando o ar fresco, em condições ambientes, é admitido no compressor,

onde a pressão e a temperatura são elevadas. O ar à alta pressão entra na câmara de

combustão, na qual o combustível é queimado, adicionando calor à mistura ar e

combustível à pressão constante. Em seguida, os gases provenientes da queima, em alta

temperatura, entram na turbina, onde se expandem até a pressão atmosférica enquanto

produzem potência. Os gases de exaustão que deixam a turbina são jogados no meio

ambiente, caracterizando, como mencionado acima, um ciclo aberto.

Figura 6 – Turbina a gás em ciclo aberto

O funcionamento da turbina a gás apresentou grande crescimento desde o início

do seu desenvolvimento em 1930. As primeiras turbinas a gás fabricadas nos anos de

1940 e 1950, tinham eficiências próximas de 17%, principalmente devido a baixa

eficiência do compressor e da baixa temperatura de entrada na turbina (CENGEL et al,

2007). Portanto um dos principais desafios tecnológicos das turbinas foi e continua

sendo a busca do aumento da eficiência do ciclo. O aumento da temperatura de entrada

dos gases na turbina tem sido a principal medida utilizada para este aumento de

Page 19: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

8

eficiência. As temperaturas de entrada aumentaram de forma constante de cerca de

800°C nos anos de 1950 a 1425°C ou mais nos dias de hoje. Este aumento está

associado ao desenvolvimento de novas tecnologias de refrigeração de palhetas da

turbina, como revestimento das pás das turbinas com camadas cerâmicas e resfriamento

delas com ar da descarga do compressor, e ao desenvolvimento de novos materiais,

resistentes às temperaturas mais elevadas.

Figura 7 - Evolução da Temperatura de Entrada dos Gases, do Limite de Resistência

dos Materiais e dos Sistemas de Refrigeração das Palhetas – (SCHILKE, 1996)

O desempenho das primeiras turbinas também era prejudicado pelas

ineficiências dos componentes das turbomáquinas do ciclo. Com o advento dos

computadores e consequentemente técnicas mais avançadas de projeto destes

componentes, possibilitou a melhor adequação da aerodinâmica de turbinas e

compressores, proporcionando menores perdas. Portanto, as taxas de compressão dos

gases nos compressores também aumentaram ao longo desses anos.

Os aumentos da temperatura de entrada dos gases na turbina e da taxa de

compressão do compressor proporcionaram um aumento significativo na eficiência do

ciclo, conforme demonstrado na figura 8.

Page 20: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

9

Figura 8 - Eficiência termodinâmica do ciclo Brayton de acordo com a temperatura de entrada dos gases na turbina e com a taxa de compressão – (ARONGAUS, 1996)

Outra importante vertente tecnológica objetivando o aumento da eficiência das

turbinas a gás são as modificações do ciclo básico. A eficiência do ciclo das primeiras

turbinas a gás praticamente dobraram com a incorporação destas modificações. Porém,

estas alterações impactam em um custo inicial e de operação maior, se tornando,

portanto, somente justificáveis em casos em que as despesas dos combustíveis

compensem o aumento do custo destas alterações. Podemos citar quatro modificações

comumente utilizadas visando o aumento das eficiências de turbinas a gás: resfriamento

intermediário, regeneração, reaquecimento e injeção de vapor.

2.1.1.1 – Resfriamento Intermediário

Tanto o resfriamento intermediário quanto o reaquecimento (que será discutido a

frente) se baseiam em um princípio simples: O trabalho de compressão ou expansão em

regime permanente é proporcional ao volume específico do fluido. Portanto, o volume

específico do fluido de trabalho deve ser o mais baixo possível durante o processo de

compressão e o mais alto possível durante um processo de expansão (CENGEL et al,

2007). Como o volume específico aumenta de acordo com o aumento da temperatura, o

trabalho de compressão será minimizado quando a compressão se aproximar de um

processo isotérmico.

Portanto, turbinas a gás podem utilizar um resfriador intermediário, também

chamado de intercooler, para reduzir a temperatura do ar entre os estágios de

Page 21: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

10

compressão. Desta forma, o processo de compressão se aproxima de uma curva

isotérmica, impactando numa redução da potência necessária para a compressão do ar.

2.1.1.2 – Reaquecimento

O objetivo do reaquecimento é manter a temperatura no processo de expansão

constante, de forma a manter o volume específico do gás alto, garantindo um maior

valor do trabalho de expansão. Nesta alteração do ciclo básico, adiciona-se uma câmara

de combustão intermediária e divide-se a expansão na turbina em dois estágios ou mais

estágios. Assim, o ar comprimido entra na primeira câmara de combustão e reage com o

combustível para realizar trabalho na primeira turbina e, em determinado ponto, quando

a pressão é ainda significativa, os gases são direcionados a outra câmara de combustão e

recebem nova carga de energia (reaquecimento) mediante a queima de mais

combustível e então, seguem para a segunda turbina para produzir mais trabalho e assim

por diante. Em geral a combustão nas turbinas a gás ocorre com quatro vezes a

quantidade de ar necessária para efetuar uma combustão completa dos gases e evitar

temperaturas excessivas. Portanto, este ar adicional utilizado na câmara de combustão

garante a presença de oxigênio nos gases na saída da primeira turbina, possibilitando as

queimas de combustível nos processos de reaquecimento.

Apesar de esta modificação garantir maior potência produzida, ela implica num

maior gasto de combustível e consequentemente numa redução do rendimento do ciclo,

devido à queima de mais combustível nos processos de reaquecimento.

2.1.1.3 – Regeneração

Os gases provenientes do fim do processo de expansão nas turbinas ainda estão

com uma temperatura elevada, portanto este calor pode ser aproveitado para aquecer os

gases na saída do compressor, antes de entrarem na câmara de combustão. Isto garante

uma redução no consumo de combustível, pois o calor fornecido na câmara de

combustão deverá ser menor e consequentemente, esta modificação proporciona um

aumento da eficiência do ciclo. Este aquecimento dos gases na saída do compressor

ocorre utilizando um trocador de calor, o que implica num aumento da área física do

Page 22: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

11

ciclo, pois para uma troca de calor eficiente é necessário um trocador de calor com

grandes dimensões.

Em geral, a regeneração é utilizada em conjunto com o resfriamento

intermediário e o reaquecimento, isto ocorre devido a menores temperaturas do ar ao

sair do compressor e a maiores temperaturas do ar na saída da turbina, proporcionando

uma melhor troca térmica entre esses fluidos.

2.1.1.4 – Injeção de Vapor

O ciclo com injeção de vapor começou a ser utilizado em meados de 1980 e seu

objetivo é aumentar o trabalho gerado na turbina através da adição de vapor na câmara

de combustão. Este vapor é gerado durante a troca de calor dos gases na saída da turbina

e água líquida, que deve ser fornecida continuamente ao ciclo. Esta adição de vapor

proporciona uma diminuição nas emissões de NOx, pois diminui a temperatura de

queima dos combustíveis. Além disso, a adição de vapor implica em um aumento da

potência gerada devido ao aumento do fluxo mássico e do calor específico do fluido de

trabalho que entra na turbina.

Esta modificação garante maiores eficiências térmica quando comparado ao

ciclo básico, e permite uma conversão em ciclo combinado, devido à parte dos

componentes dos ciclos serem comuns. Em contrapartida, a utilização deste ciclo

implica na necessidade de sistemas complexos de tratamento de água, pois é necessário

um abastecimento contínuo de água purificada.

2.1.2 – Turbinas a Vapor e o Ciclo Rankine

O ciclo Rankine foi idealizado por William John Macquorn Rankine, e seu

conceito é o ciclo ideal das usinas de potência a vapor. Em um ciclo Rankine, a água

entra na bomba como líquida saturada e é comprimida até a pressão de operação da

caldeira. A temperatura da água aumenta ligeiramente no processo de compressão,

devido à diminuição do volume específico da água. Na caldeira, a água entra como

líquido comprimido e sai como vapor superaquecido, devido à adição de calor dos gases

provenientes da queima de combustível, reatores nucleares, entre outras fontes. O vapor

Page 23: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

12

d’água superaquecido entra na turbina, na qual ele se expande e produz potência,

girando um eixo que está conectado a um gerador elétrico. A pressão e a temperatura

caem durante o processo de expansão, transformando o vapor superaquecido em uma

mistura de líquido e vapor saturado com título elevado. Em seguida o vapor é

condensado a pressão constante em um condensador, que funciona como um trocador

de calor, onde ao rejeitar calor para o ambiente, faz com que o vapor se resfrie e

condense. A água deixa o condensador como líquido saturado e entra na bomba

completando o ciclo.

Assim como no ciclo Brayton, é possível modificar o ciclo Rankine para

aumentar sua eficiência. Este aumento da eficiência pode gerar grande economia na

utilização de combustível, uma vez que as usinas de potência a vapor são responsáveis

pela produção da maior parte da energia elétrica no mundo. Essas modificações buscam

aumentar a eficiência através do aumento da temperatura média na qual o calor é

transferido para o fluido de trabalho na caldeira ou diminuir a temperatura média na

qual o calor é rejeitado do fluido de trabalho no condensador. As três formas mais

comuns de modificação do ciclo Rankine são:

2.1.2.1 – Diminuição da Pressão no Condensador

O vapor no condensador é uma mistura saturada na temperatura de saturação

correspondente à pressão dentro do condensador. Assim, a diminuição da pressão de

operação no condensador implica na diminuição da temperatura do vapor e

consequentemente na temperatura na qual o calor é rejeitado. Portanto, esta modificação

provoca um aumento na eficiência global do ciclo.

É comum a utilização de pressões de operação do condensador menores que a

pressão atmosférica. Com isso, ela ocasiona dois efeitos indesejáveis: a possibilidade de

infiltração do ar ambiente para o interior do condensador e o aumento da umidade do

vapor nos estágios finais da turbina. Este aumento da umidade na turbina provoca

erosão e diminuição na eficiência da turbina. Portanto, é comum a modificação de

diminuição de pressão no condensador ser acompanhada do superaquecimento do

vapor, que será descrito no próximo item.

Page 24: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

13

2.1.2.2 – Superaquecimento do Vapor

O aumento da temperatura média com a qual o calor é transferido para o vapor

pode ser realizado sem aumentar a pressão da caldeira, isto ocorre através do

superaquecimento do vapor a temperaturas elevadas.

Apesar do aumento do consumo de combustível devido ao maior fornecimento

de calor ao ciclo, a eficiência global aumenta devido ao aumento do trabalho líquido.

Além disso, o superaquecimento do vapor diminui a presença de umidade deste vapor

ao ser expandido na turbina, prevenindo a ocorrência de erosão e aumentando a

eficiência da turbina. Este superaquecimento do vapor é limitado pelos materiais

utilizados na turbina, pois eles devem resistir às altas temperaturas utilizadas.

2.1.2.3 – Aumento da Pressão na Caldeira

O aumento da pressão na caldeira provoca o aumento da temperatura de ebulição

da água, portanto, a temperatura média com a qual o calor é transferido para o vapor

também sofre um aumento. Com isso, a eficiência global do ciclo é elevada.

As pressões de operação das caldeiras aumentaram gradualmente ao longo dos

anos, de cerca de 2,7 MPa em 1922 para mais de 30 MPa nos dias de hoje. (CENGEL et

al, 2007). Pesquisas em metalurgia para utilização de materiais que resistem a maiores

pressões e temperaturas continuam sendo incentivadas nos dias hoje, principalmente

devido ao aumento da eficiência do ciclo que estas modificações proporcionam.

2.1.3 – Ciclo Combinado

Um ciclo combinado é uma central termoelétrica constituída por dois ou mais

ciclos termodinâmicos em uma mesma planta cuja finalidade é produzir energia elétrica.

Diferentes máquinas térmicas e processos podem ser combinados, seja trabalhando com

meios fluidos distintos, ou com meios fluidos iguais, e ciclos empregando as mais

diferentes substâncias podem ser construídos. Nos dias de hoje, o tipo de ciclo

combinado que tem encontrado ampla aplicação, é o que utiliza a combinação de

Page 25: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

14

turbinas a gás (ciclo Brayton) juntamente com turbinas a vapor (ciclo Rankine),

esquematicamente apresentado na figura 9.

Figura 9 – Ciclo Combinado

Neste ciclo a energia térmica contida nos gases quentes exaustos pela turbina a

gás é utilizada em um trocador de calor, também chamado de caldeira de recuperação,

para produzir vapor. Esta produção de vapor no trocador de calor é viabilizada devido

às altas temperaturas com que o ar sai da turbina a gás, em geral acima dos 500°C. Este

vapor é então utilizado como fluido de acionamento em uma turbina a vapor para gerar

trabalho adicional.

O acréscimo de potência alcançado em um ciclo combinado é, em geral, da

ordem de 50% da potência da turbina a gás e a eficiência global passa da média de 30%

do ciclo simples e atinge valores bem acima dos 40% em ciclos combinados comerciais.

A produção de vapor em um ciclo combinado pode ser elevada através da

queima suplementar de combustível. Pois os gases de exaustão das turbinas a gás são

ricos em oxigênio devido à utilização de excesso de ar para garantir a combustão

Page 26: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

15

completa do combustível, fazendo com que a quantidade ar admitida atinja valores da

ordem de 300% do excesso de ar de combustão, carregando consigo o calor rejeitado.

Por esse motivo podem ser utilizados como comburente em uma caldeira de

recuperação para efetuar uma queima suplementar, gerando quantidade de vapor até 2,5

vezes maior que a gerada em uma caldeira puramente de recuperação de calor dos

gases.

2.2 – Gaseificação da Biomassa

2.2.1 – Histórico da Gaseificação

A tecnologia de gaseificação de combustíveis é conhecida desde o século

passado, tendo ficado praticamente estagnada desde a década de 30, quando o petróleo

começou a ser oferecido em larga escala e a baixos preços no mercado mundial. A

gaseificação de combustíveis sólidos como a biomassa, o carvão mineral ou carvão

vegetal não é uma tecnologia nova, tendo sido utilizada principalmente nos períodos das

guerras mundiais, quando o acesso aos combustíveis tradicionais foi dificultado.

Ao final da década de 70, com a intensificação da crise energética mundial a

partir dos choques do petróleo, verificou-se o despertar do interesse na gaseificação, em

especial de carvão, madeira e o carvão vegetal e, no inicio da década de 90, biomassa

energética, resíduos agrícolas e o bagaço de cana-de-açúcar. Mais recentemente, as

pressões ambientais sob as termelétricas a carvão, associadas à necessidade de atender

as demandas por energia elétrica nos países em desenvolvimento, tem produzido um

esforço mundial significativo para o desenvolvimento comercial da tecnologia da

gaseificação aplicada à geração de energia elétrica em centrais de elevada potência.

(NETO, 2001)

2.2.2 – Processo de Gaseificação

A gaseificação é a conversão de qualquer combustível sólido ou líquido em um

gás energético através da oxidação parcial a temperatura elevada. Esta conversão pode

ser realizada em vários tipos de reatores, chamados gaseificadores. O objetivo da

gaseificação é produzir um combustível gasoso com melhores características de

Page 27: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

16

transporte, melhor eficiência de combustão e também que possa ser utilizado como

matéria-prima para outros processos.

Uma instalação de gaseificação é constituída pelos seguintes sistemas e

equipamentos:

pré-processamento: estoque, transporte e redução da biomassa ao

tamanho adequado;

gaseificador, dotado de seção de alimentação apropriada para não

permitir vazamento de gás;

tratamento do gás, com limpeza e, se necessário, resfriamento;

sistema de controle;

tratamento dos resíduos, com disposição adequada.

2.2.3 – Gaseificadores

O gaseificador é um reator químico alimentado com combustível sólido ou

líquido e com uma quantidade controlada de ar forçada para dentro do equipamento em

uma posição ditada pelo projeto. Parte do combustível entra em combustão como em

uma fornalha qualquer e a característica principal da gaseificação é que o fornecimento

de ar é controlado de modo a evitar que a combustão se estenda a toda carga. Pela

queima de parte da carga libera-se a energia que é utilizada na degradação química e

gaseificação do resto do material.

Foram idealizados e desenvolvidos, até hoje, diversos tipos de gaseificadores, a

fim de atender as peculiaridades das características da matéria prima e as necessidades

de gás. A grande maioria dos gaseificadores em comercialização ou em fase de

desenvolvimento é enquadrada segundo o tipo de leito utilizado, em uma das duas

concepções de gaseificadores apresentadas a seguir. (CENBIO, 2002)

Gaseificador de leito fixo;

Gaseificador de leito fluidizado ou leito circulante.

Page 28: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

17

Os gaseificadores também podem ser classificados segundo outras

características, como: (NETO, 2001)

Poder Calorífico do Gás Produzido: baixo poder calorífico, até

5 MJ/Nm3, médio Poder Calorífico, de 5 a 10 MJ/Nm3 e alto Poder

Calorífico, de 10 a 40 MJ/Nm3;

Tipo de Agente Gaseificador: ar, vapor d’água, oxigênio, hidrogênio;

Pressão de Trabalho: baixa pressão (atmosférica), pressurizados (até

6 MPa, 59,2 atm);

Natureza da Biomassa: resíduos agrícolas, resíduos industriais,

resíduos sólidos urbanos (lixo), biomassa in natura, biomassa

peletizada, biomassa pulverizada.

2.2.3.1 – Gaseificador de Leito Fixo

Este tipo de gaseificador representa a maioria dos gaseificadores em operação ou

construção no mundo. Os gaseificadores de leito fixo são os mais indicados para

instalações de pequeno porte e eles são classificados segundo a circulação de gases,

podendo ser: concorrente (“downdraft”) ou contracorrente (“updraft”).

O gaseificador mais simples é o de contracorrente, figura 10, onde a entrada de

ar fica na parte de baixo do gaseificador. O fluxo de gás é ascendente, contrário ao fluxo

de combustível que é introduzido pela parte superior e descende pela ação da gravidade

conforme é consumido. Os gaseificadores contracorrente tendem a ter uma eficiência

térmica alta, pelo fato dos gases quentes provenientes da zona de combustão pré-

aquecerem a carga de combustível ao passar por ela. Sua principal característica é a

simplicidade, porém possui a desvantagem de produzir gás extremamente impuro.

(SÁNCHEZ, 2009). Esta impureza se deve principalmente à concentração de alcatrão,

normalmente o gás gerado contém de 10 a 20 % do alcatrão gerado na pirólise do

combustível, com uma concentração da ordem de 100 g/Nm3.

Page 29: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

18

Figura 10 - Gaseificador contracorrente

Os gaseificadores de leito fixo mais utilizados são os concorrentes. No

gaseificador concorrente, figura 11, as zonas de combustão e de redução estão

posicionadas de forma oposta aos gaseificadores contracorrente. Com a alimentação de

combustível pelo topo, a alimentação de ar é feita em fluxo descendente (mesmo sentido

do fluxo de combustível) passando pelas zonas de combustão e redução.

Page 30: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

19

Figura 11 - Gaseificador concorrente

A característica essencial deste gaseificador é que ele faz com que o ar

introduzido no gaseificador encontre primeiro a biomassa não queimada, portanto a

temperatura máxima ocorre na fase gasosa (não mais na fase sólida). Desta forma os

alcatrões e voláteis provenientes da zona de pirólise são direcionados a passar pela zona

de combustão onde, com condições de operação controladas, serão craqueados. Neste

tipo de gaseificador, o ar injetado no gaseificador, pode queimar até 99,9 % do alcatrão

liberado pelo combustível. (CENBIO, 2002)

Em muitos casos, o diâmetro interno é reduzido na zona de combustão, criando

uma garganta, geralmente feita de material cerâmico substituível. É na garganta que se

posicionam os injetores de ar, arranjados a fim de distribuir o ar de forma mais uniforme

possível. Em todos os arranjos o objetivo é garantir que seja atingida uma temperatura

adequada em toda a secção, a fim de craquear todos os alcatrões que passam por ela.

Esta mudança de sentido faz toda a diferença para um combustível com teor elevado de

matéria volátil como a biomassa.

Este tipo de gaseificador foi largamente empregado na Segunda Guerra

Mundial, principalmente na Europa, devido ao embargo de derivados de petróleo para o

esforço da guerra. Milhares de unidades deste tipo de gaseificador foram construídas.

Page 31: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

20

Em geral estas unidades eram constituídas de três conjuntos integrados, uma unidade de

gaseificação, um sistema de resfriamento e limpeza de gases e um motor.

2.2.3.2 – Gaseificador de Leito Fluidizado

Nos gaseificadores de leito fluidizado, figura 12 , as partículas do combustível

são mantidas suspensas em um leito de partículas inertes (areia, cinzas ou alumina)

fluidizadas pelo fluxo de ar, criando melhores condições de transferência de calor e

homogeneidade da temperatura na câmara de reação. Nestas condições, a maior parte

dos voláteis estará em contato com as partículas do leito aquecido, contribuindo para

uma gaseificação mais completa e limpa.

Figura 12 - Gaseificador de Leito Fluidizado

O leito fluidizado foi desenvolvido antes da Segunda Guerra Mundial para

sistemas de gaseificação de carvão mineral de grande capacidade. Após este período

inicial, ele foi adotado pelas indústrias petroquímicas e químicas para o craqueamento

de hidrocarbonetos pesados, secagem entre outras aplicações. Os equipamentos de leito

fluidizado tem como característica, elevadas taxas de produção e de troca de calor. Eles

são mais complicados de operar que os leitos fixos e por esta razão são empregados

majoritariamente em grandes instalações.

Page 32: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

21

2.2.4 – Filtros

Alguns elementos devem ser filtrados para que se possa utilizar o gás oriundo da

gaseificação sem que prejudique um motor ou turbina. Os elementos que devem ser

filtrados após a gaseificação são o alcatrão, cinzas volantes e os óxidos de nitrogênio.

(MURARO 2006)

Dependendo da aplicação, os sistemas para controle e limpeza dos gases são

tecnicamente viáveis, mas podem se mostrar caros a ponto de inviabilizar

economicamente o projeto (FERNANDES, 2000).

Se utilizada uma turbina a gás, deve-se considerar a temperatura de entrada dos

gases para manter uma adequada eficiência térmica do ciclo. KINOSHITA (1997)

indica que se deve desenvolver a tecnologia de limpeza de gases quentes para tornar a

geração de energia pela gaseificação da biomassa um processo comercialmente viável.

As tecnologias aplicadas para a limpeza dos gases dependem do uso aos quais estes se

destinam e do ponto no processo a ser aplicada a tecnologia (antes, durante ou depois da

gaseificação).

ZAPOROWSKI (2003) também comenta que o tipo de limpeza do gás

combustível para uso em turbinas tem um impacto significativo na eficiência energética.

A substituição de limpeza de gás a frio por limpeza a quente resulta em um aumento de

2% na eficiência de geração de eletricidade no ciclo combinado. Segundo JANSEN

(2002), o melhor custo beneficio para gaseificadores é filtragem com filtro de manga.

Page 33: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

22

Figura 13 – Filtro de Manga

2.3 – Integração Ciclo Combinado e Gaseificadores

As primeiras experiências relevantes de gaseificação no setor elétrico foram

feitas já na década de 60 com plantas que processavam biomassa, resíduos municipais e

resíduos de petróleo. Essas plantas, porém, ainda não operavam em ciclo combinado.

Plantas de gaseificação operando em ciclo combinado foram introduzidas a partir do

início dos anos 90. (HOFFMANN, 2012)

O Ciclo Combinado com Gaseificação Integrada (Integrated Gasification

Combined Cycle – IGCC) vem se desenvolvendo a partir da combinação das duas

tecnologias citadas anteriormente: a geração de energia em ciclo combinado e a

gaseificação de combustíveis sólidos ou líquidos, como demonstrado na figura 14.

Page 34: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

23

Figura 14 – Esquema simplificado de um ciclo combinado com gaseificação integrada

A biomassa tem grande potencial na geração de energia, principalmente pela sua

grande oferta. Porém, a geração de energia elétrica a partir deste tipo de combustível é

menos eficiente quando comparado aos combustíveis fósseis. Portanto, a integração

entre o ciclo combinado e a gaseificação da biomassa permite potencializar a geração de

energia, uma vez que o ciclo combinado tem como característica, elevada eficiência

energética.

Além da eficiência energética, o ciclo combinado integrado à gaseificação da

biomassa apresenta como vantagens ambientais o abatimento das emissões de carbono

na atmosfera quando comparada com a energia elétrica oriunda de fontes fósseis, a

redução da destruição de florestas, da inundação de terras agricultáveis e da

interferência em ecossistemas tropicais frágeis quando comparada a geração elétrica

através da fonte hidráulica, o aproveitamento de terras de uso marginal para a

agricultura implantando nelas maciços florestais. Além destas vantagens, pode-se

acrescentar como benefícios de seu emprego a competitividade de unidades de tamanho

reduzido que permitem a descentralização dos centros de geração e a redução dos custos

de transmissão e a criação de empregos rurais.

As principais áreas de dúvidas para aplicação em um projeto comercial são

relacionadas ao abastecimento contínuo do gaseificador com matéria-prima, as opções

Page 35: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

24

de gaseificação, a limpeza do gás e a adaptação da turbina a gás para operar com um gás

de baixo poder calorífico.

A maior atratividade dos sistemas de ciclo combinado com gaseificação

integrada está relacionada a mercados específicos, ou nichos de mercado, tais como

projetos com subprodutos economicamente atrativos, áreas com restrições a

combustíveis fósseis ou com custos elevados, áreas com prioridade de desenvolvimento

rural, áreas com disponibilidade de rejeitos ou resíduos diversos e áreas onde os custos

da biomassa são significativamente baixos. (NETO, 2001)

O número de plantas que utilizam este sistema de geração de energia tem

aumentado consideravelmente nos últimos anos. O principal combustível utilizado é o

carvão, devido ao seu elevado poder calorífico e alta disponibilidade. Plantas que

utilizam biomassa como combustível têm como dificuldade a utilização contínua de

biomassa, devido a sua dificuldade de armazenamento e sazonalidade de produção.

Portanto, estas plantas são, geralmente, de menor porte quando comparado as que

utilizam carvão como combustível, conforme demonstra a tabela 1.

Tabela 1 – Exemplos de plantas de ciclo combinado com gaseificação integrada localizadas na Europa.

(DOE,NETL 2007)

Page 36: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

25

A Siemens realizou um estudo de mercado que confirma essa tendência de

crescimento de utilização de turbinas que utilizam combustíveis de baixo poder

calorífico. A figura 15 analisa a demanda do mercado em 2020 em dois cenários, de alta

no preço de derivados de petróleo e de preço estável.

Figura 15 – Quantidade de turbina a gás instaladas em 2020 (HERMSMEYER, 2008)

2.3.1 – Adaptações do Ciclo Brayton para Gases com Baixo Poder Calorífico

As principais adaptações do ciclo brayton para operar com gases com baixo

poder calorífico são:

i. Modificação no manifold de alimentação do combustível na câmara de

combustão, para proporcionar uma maior concentração de combustível.

Pois os gases com baixo poder calorífico criam uma menor zona de

combustão. (MITSUBISHI, 2006)

Page 37: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

26

Figura 16 – Modificação Manifold para gases de baixo poder calorífico (NASCIMENTO, 2009)

ii. Maior abertura para alimentação do combustível, para proporcionar um

aumento do fluxo de alimentação de combustível na câmara de

combustão. Esta modificação deve ser realizada para manter o alto

fornecimento de energia ao ar, utilizando um gás com baixo poder

calorífico. (MITSUBISHI, 2006)

Figura 17 – Modificação câmara de combustão (NASCIMENTO, 2009)

Page 38: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

27

3. Capítulo 3 – Estudo de um Ciclo Combinado com Gaseificação da Casca de

Arroz

Para compreender o potencial de geração de energia através do ciclo combinado

com gaseificação da biomassa, nos próximos capítulos será realizada uma simulação

térmica e econômica do funcionamento deste ciclo utilizando a casca de arroz como

combustível. A escolha deste combustível se deve ao fato da alta disponibilidade desta

biomassa no Brasil e o seu potencial subutilizado para geração de energia elétrica.

3.1 – Potencial da Geração de Energia Utilizando Casca de Arroz

A produção de energia elétrica utilizando a casca de arroz tem grande potencial

no Brasil, pois o país é o nono maior produtor do mundo de arroz. Na safra de

2010/2011 foram colhidos 12,83 milhões de toneladas de arroz e as projeções de

produção indicam que o Brasil irá colher 13,70 milhões de toneladas na safra de

2020/2021 (CONAB, 2011).

Além do potencial de geração de energia elétrica o país possui grande

capacidade de gerar calor de processo. Conforme MAYER, HOFFMANN e

RUPPENTHAL (2006), o calor de processo empregado em um engenho de arroz pode

ser obtido a partir de diferentes equipamentos, o que possibilita a geração simultânea

com a eletricidade. Como exemplo de equipamentos, pode-se citar gerador de vapor,

motor Stirling, fornalhas, entre outros.

Segundo COELHO (2008) o potencial de geração de energia elétrica a partir da

casca de arroz é de 268,69 MW por ano, conforme demonstrado na tabela 2. Para este

estudo foi considerado o Poder Calorífico Inferior (PCI) da casca de 3384 kcal/kg e o

uso de ciclos a vapor de pequeno porte com rendimento de 15%.

Tabela 2 – Potencial de geração de energia elétrica a partir da casca de arroz (COELHO, 2008)

Page 39: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

28

No ano de 2012, o Brasil gerou 32,61 MW, através de oito usinas que utilizavam

casca de arroz como combustível, representando 0,03% do total da produção energética

nacional. A produção de arroz no Brasil, atualmente, é de 12.628,2 toneladas, e tem

apresentado crescimento em algumas regiões, como a Nordeste e a Sul. Se utilizada

toda produção, seria possível gerar cerca de 268,69 MW por ano, representando 0,21%

na produção energética total do Brasil. (ARDENGHI, 2012).

3.2 – Gaseificação da Casca de Arroz

A casca de arroz é considerada uma biomassa de difícil gaseificação utilizando

métodos tradicionais, devido as suas características de umidade, granulometria e baixa

densidade. Quando sua gaseificação é realizada em fornos de grelha (leito fixo ou

queima em pilha), a casca de arroz distribui-se de forma desigual, algumas seções

recebem muito ar, enquanto outras recebem pouco. Isto produz baixa eficiência no

sistema térmico. A distribuição desigual de ar e as temperaturas altas nas seções onde

existe excesso fazem com que a sílica na cinza se funda e forme uniões fortes,

impedindo a reação de todo o carbono fixo (NATARAJAN ET AL, 1998). Isto não

deixa o carbono restante na cinza reagir, baixando a eficiência de carbono do sistema.

Portanto, para evitar este efeitos indesejáveis na gaseificação, o gaseificador

mais indicado é o leito fluidizado. Podemos citar algumas vantagens deste tipo de

gaseificador (NATARAJAN ET AL, 1998)

A turbulência na fluidização quebra o esqueleto rígido da cinza e faz o carbono

reagir;

A cinza pode ser removida por elutriação no fluxo de gás e posteriormente

retirada com um separador de partículas;

A temperatura do leito pode se manter abaixo da temperatura de fusão da cinza.

FLANIGNAN et al (1997) também conclui que entre as vantagens do leito

fluidizado para gaseificação são: boa circulação, o conteúdo da cinza e a umidade na

casca de arroz se mantêm nos padrões desejáveis, a cinza é separada facilmente, o

Page 40: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

29

material inerte provê uma grande massa térmica que amortece as perturbações da

temperatura e o material inerte do leito fluidizado permite o uso de tamanho de

partículas variadas.

Além disso, nas aplicações da gaseificação, pode-se desconsiderar a formação

térmica de NOx, pois a temperatura adiabática de chama do gás produzido não

ultrapassa 1.100oC (JANSEN ET AL., 2002).

Diversos experimentos foram realizados em relação ao poder calorífico do gás

produzido na gaseificação da casca de arroz em leito fluidizado. NATARAJAN et al

(1998) concluiu que os gases produzidos a partir da casca de arroz possuem poder

calorífico inferior entre 4 e 6 MJ/Nm³ e potência térmica de 2,8 até 4,6 MWterm/m³.

Estas variações ocorrem devido a diversos fatores, sendo o principal deles a temperatura

em que a gaseificação acontece, podendo variar de 750 °C até 900 °C.

Já BING et al (1985) concluiu através de experimentos realizados na

Universidade de Missouri nos Estados Unidos, que o poder calorífico do gás obtido foi

entre 4,4 e 7,5 MJ/Nm³. FLANING et al (1997) utilizando parâmetros similares ao de

Bing et al (1985), obteve valores de poder calorífico de 5,2 MJ/m³.

Estudos para determinar o poder calorífico do gás produzido a partir da

gaseificação da casca de arroz também foram realizados no Brasil. MURARO (2006)

obteve, através de experimentos realizados na UNICAMP, valores de poder calorífico

de 4,24 MJ/Nm³.

Tabela 3 – Valores de PCI da casca de arroz gaseificada encontrados em diferentes estudos

A tabela 4 mostra o comparativo entre o poder calorífico inferior de alguns

combustíveis. Conforme os valores típicos encontrados para o gás proveniente da

Page 41: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

30

gaseificação da casca de arroz, ele pode ser considerado um gás pobre, ou seja, com

baixo poder calorífico.

Tabela 4 – Valores de PCI de diferentes combustíveis (FIGUEIREDO, 2010)

Além do baixo poder calorífico, o gás produzido a partir da gaseificação da

casca de arroz tem monóxido de carbono em sua composição, conforme demonstrado na

tabela 5, característica típica de gases de sínteses, ou seja, aqueles produzidos a partir da

queima incompleta da biomassa.

Tabela 5 – Composição molar do gás proveniente da gaseificação da casca de arroz (MURARO 2008)

Considerando a composição molar acima, a equação de combustão do gás está

demonstrada abaixo:

3,85 H2 + 3,81 CH4 + 19,54 CO + 19,22 (3,76N2 + O2) + 0,16 O2 = 38,69 CO2 + 11,47

H2O + 219,6 N2

Além disso, podemos concluir que a relação de massa de ar/combustível é de

1,03:1. Enquanto que, por exemplo, para o gás natural é de 16,3:1.

3.3 – Simulação e Análise Termodinâmica

Page 42: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

31

A análise realizada a seguir, tem como objetivo simular o funcionamento

termodinâmico de um ciclo combinado utilizando casca de arroz gaseificada. De forma

a avaliar todos os componentes do ciclo do ponto de vista termodinâmico, a capacidade

de geração de energia e a eficiência energética.

3.3.1 – Dimensionamento

Para tornar a simulação próxima do potencial de geração de energia dos

empreendimentos deste tipo no Brasil, sua capacidade será dimensionada a partir da

disponibilidade de gás produzido a partir da casca de arroz, e consequentemente da

produção de arroz no Brasil.

Portanto, ao observar os maiores produtores de arroz no Brasil, concluímos que

existe uma grande concentração da produção no Rio Grande do Sul, conforme

demonstra a tabela 6.

Page 43: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

32

Tabela 6 – As vinte cidades que mais produzem arroz no Brasil (CONAB, 2011)

Para a simulação que será realizada em seguida, a quantidade de casca de arroz

utilizada para manter a planta em funcionamento será de aproximadamente 6 mil

toneladas por mês. Considerando que a casca do arroz representa cerca de 20% do peso

do grão (ARDENGHI, 2012), isto significa que uma produção de 330 mil toneladas de

arroz atenderia a demanda da termoelétrica.

Page 44: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

33

ROCHA, PÉREZ e CORTEZ (2004) reforça a importância de fazer a conversão

da casca próximo ao local onde ocorre o beneficiamento do arroz, uma vez que o

transporte da casca de arroz representa uma etapa altamente problemática, pois sua

baixa densidade torna o volume muito grande e transportá-la não é economicamente

vantajoso.

Portanto, a instalação destas usinas no estado do Rio Grande do Sul se torna

atrativa. Atualmente o estado concentra a maioria das usinas termoelétricas movidas à

casca de arroz do Brasil, conforme demonstra a tabela 7.

Tabela 7 – Usinas termoelétricas movidas a casca de arroz no Brasil (ANEEL, 2008)

A usina de São Borja utiliza cerca de 8,5 mil toneladas por mês de casca de

arroz para produzir a potência de 12,5 MW (BARBOSA, 2012). Portanto, a simulação

realizada a seguir, que utilizará como combustível 6 mil toneladas por mês de casca de

arroz, pode ser viável assim como a usina de São Borja, se instalada no estado do Rio

Grande do Sul, em uma região que produza grandes quantidades de arroz.

3.3.2 – Modelagem do Ciclo

Com o dimensionamento da oferta de casca de arroz para a usina termoelétrica,

foi calculado o potencial de calor fornecido na câmara de combustão da turbina a gás e

posteriormente o dimensionamento de todos os elementos do ciclo.

Page 45: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

34

3.3.2.1 – Premissas de Modelagem

Dentre as premissas e variáveis assumidas no modelo estão:

i. Temperatura ambiente: 27 °C;

ii. Pressão ambiente: 101.3 kPa;

iii. Os processos de compressão, na bomba e no compressor, e os processos de

expansão, nas turbinas a gás e a vapor, ocorrem de forma adiabática;

iv. Os processos de troca de calor no condensador, no trocador de calor e na

câmara de combustão ocorrem de maneira isobárica;

v. A eficiência isoentrópica da bomba é de 85%;

vi. As turbinas isoentrópicas possuem eficiência de 87%;

vii. A eficiência isoentrópica do compressor é de 80%;

viii. O período de manutenção programada é de 30 dias por ano;

ix. Taxa de produção de gás no gaseificador de leito fluidizado é de 2,5

Nm³/kg;

x. Temperatura na entrada da Turbina: 1300 ºC

xi. Efetividade da troca de calor na caldeira de recuperação: 0,85

3.3.2.2 - Cálculo do Calor Fornecido

Para calcular o Calor Fornecido utilizou-se o Poder Calorífico Inferior (PCI) da

casca de arroz gaseificada multiplicado pela sua vazão volumétrica.

.

A vazão volumétrica é dada pela quantidade de casca de arroz gaseificada no

gaseificador de leito fluidizado. Segundo NATARAJAN (1998) a produção de gás neste

tipo de gaseificador varia de acordo com a temperatura do processo. Quando a

temperatura de gaseificação é de 900ºC a produção de gás é de 2,35 Nm³ por kg de

casca de arroz.

A vazão volumétrica foi calculada pela multiplicação da taxa de fornecimento da

casca de arroz pela a taxa de conversão em gás.

Page 46: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

35

[eq.1]

Portanto o calor fornecido foi calculado utilizando:

[eq.2]

3.3.2.3 – Cálculo da Vazão Mássica da Turbina a Gás

A definição da vazão mássica da turbina a gás foi definida a partir de

especificações de turbinas similares, encontradas no mercado e que possuem capacidade

de geração de energia compatível com o porte da usina a ser dimensionada. Além disso,

foi considerado o potencial de quantidade de calor fornecido por kg de ar. A tabela 8

demonstra algumas turbinas da Siemens que possuem como característica a utilização

de diferentes tipos de combustíveis.

Tabela 8 – Especificações turbinas Siemens (SIEMENS, 2013)

Foi considerado para a definição do fluxo de gás que o potencial de quantidade

de calor fornecido por kg de ar deve ser próximo de 950 kJ/kg, pois este valor seria

suficiente para elevar a temperatura do ar na entrada da turbina próxima dos 1300 ºC.

Caso o valor de calor fornecido por kg de ar seja 950 kJ/kg o valor de ṁ seria,

[eq.3]

Page 47: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

36

Para esta modelagem o valor de ṁ considerado foi 26,0 kg/s. Pois este valor

torna possível o aquecimento do ar até altas temperaturas e está próximo das

especificações de equipamentos ofertados no mercado.

3.3.2.4 – Simulação do Ciclo Combinado

A simulação do funcionamento do ciclo combinado foi realizada através do

software CyclePad, que é um software de simulação térmica de caráter educacional

desenvolvido pela Northwestern University. O CyclePad utiliza ar padrão e valores

variáveis de calor específico a pressão contaste (Cp variável).

Os pontos “A” são referentes ao ciclo de geração de energia utilizando uma

turbina a gás (ciclo Brayton) e os pontos “B” referentes à geração de energia utilizando

uma turbina a vapor (ciclo Rankine).

Figura 18 – Esquema do ciclo combinado simulado no software CyclePad

Page 48: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

37

3.3.3 – Análise da Variação da Temperatura na Saída da Turbina a Gás

Para analisar a energia utilizada no ciclo, foi realizada uma análise de exergia do

ciclo utilizando diferentes parâmetros de funcionamento. O objetivo é minimizar a

destruição de exergia nas diferentes etapas do processo e potencializar o trabalho

produzido.

Por se tratar de um ciclo combinado, o aumento da temperatura de saída dos

gases da turbina a gás pode aumentar a energia cedida ao vapor no ciclo Rankine e

consequentemente gerar mais trabalho na turbina a vapor. Por outro lado, a diminuição

na temperatura de saída dos gases da turbina do ciclo Brayton provoca um decréscimo

no trabalho produzido. Portanto, para analisar o efeito das mudanças dos parâmetros do

ciclo, foi observada a variação do trabalho produzido total e da destruição de exergia.

3.3.3.1 – Análise do Trabalho Produzido

O trabalho líquido produzido em ciclo combinado é a soma dos trabalhos

produzidos pela turbina a gás e a vapor, subtraído pelo trabalho do compressor e da

bomba.

[eq.4]

Portanto, ao aumentar a temperatura de saída dos gases na turbina a gás, é

esperado um decréscimo no trabalho produzido pela turbina a gás, porém o trabalho da

turbina a vapor deve aumentar. Pois conforme demonstrado abaixo, o trabalho

produzido na turbina está relacionado à diferença de entalpia na entrada e saída,

multiplicada pela eficiência da turbina.

[eq.5]

Foi realizada uma análise da variação da potência produzida de acordo com a

variação da temperatura de saída dos gases. A simulação das temperaturas começou a

Page 49: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

38

partir do valor de projeto das turbinas comerciais que se encaixam nas especificações da

modelagem, ou seja, 555 ºC. (SIEMENS, 2013).

A tabela 9 demonstra o resultado obtido.

Tabela 9 – Variação de potência líquida produzida

Figura 19 – Gráfico da variação da potência líquida produzida

Podemos concluir através dos resultados obtidos que apesar de existir um

crescimento na potência produzida no ciclo Rankine, a potência líquida total diminuiu,

pois a maior parte da potência é produzida pela turbina a gás.

Page 50: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

39

Portanto, o investimento em turbinas a gás que possuem alta eficiência e que

conseguem aproveitar grande parte da exergia dos gases provenientes da câmara de

combustão é justificável do ponto de vista da potência produzida.

3.3.3.2 – Análise da Exergia

O potencial de trabalho útil do sistema é chamado de Exergia. Portanto, a análise

da destruição de exergia no ciclo é de grande importância. Na planta modelada acima, o

ar no ponto 1 e o vapor no ponto 8, possuem valores elevados de exergia, porém esta

exergia não é aproveitada para gerar trabalho ou para gerar calor.

O objetivo desta análise é verificar o efeito da variação da exergia com o

aumento da temperatura dos gases de exaustão da turbina a gás.

Desprezando a variação de energia cinética e potencial, a exergia de um sistema

fechado φ é dada por:

φ [eq.6]

Em [eq.6] u representa a energia interna específica, a temperatura ambiente, s

entropia específica, pressão ambiente e volume específico.

Já a destruição de exergia de um sistema fechado é dada por:

[eq.7]

Sendo que a destruição de exergia de todo o ciclo é dada pela soma da

destruição de todos os processos que compõem este ciclo.

Assim como no cálculo da potência produzida, descrita no item 3.3.3.1, para o

cálculo da exergia e a sua destruição também foi utilizado diversos valores para a

temperatura. A tabela 10 demonstra os resultados obtidos:

Page 51: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

40

Tabela 10 – Variação de exergia nos pontos 1 e 8 e destruição de exergia do ciclo

Podemos concluir que o aumento da temperatura na saída dos gases da turbina a

gás provoca um aumento na exergia no ponto 1, pois o ar que passa na turbina produz

menos trabalho. Já o aumento da exergia no ponto 8, se deve ao aumento da temperatura

no ponto 7 (entrada da turbina a vapor). Este aumento ocorre devido a maior energia

transferida na caldeira de recuperação devido ao aumento da temperatura de exaustão

dos gases da turbina a gás.

Figura 20 – Variação de Exergia no ponto 1

Page 52: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

41

Figura 21 – Variação da Exergia no ponto 8

Além disso, a destruição da exergia em todo o ciclo aumentou, conforme

demonstra a figura 22.

Figura 22 – Variação da Destruição de Exergia do ciclo.

A maior parte da destruição da exergia do ciclo ocorre durante o processo de

troca de calor na caldeira de recuperação, devido aos altos valores de calor transferido

somado a grandes variações de entropia. Outra parcela significativa da destruição da

exergia ocorre durante os processos de rejeição de calor para o ambiente no ciclo

Brayton e de rejeição de calor no condensador no ciclo Rankine.

Page 53: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

42

Portanto, para reduzir a destruição de exergia do ciclo, é necessário o

investimento em uma caldeira de recuperação que torne a troca de calor mais efetiva, e

consequentemente diminua o calor rejeitado no ambiente e no condensador. Porém,

essas ações implicam em maiores investimentos de capital na planta.

3.3.3.3 – Conclusão da Simulação

Através dos resultados obtidos, podemos concluir que a temperatura de saída dos

gases que obteve os melhores resultados foi a de 555 ºC. Pois gerou a maior quantidade

de potência líquida e a menor destruição de exergia.

Portanto, é de extrema importância o investimento em turbinas a gás que possam

transformar a exergia dos gases na saída da câmara de combustão em trabalho. Mesmo

que isso acarrete em um decréscimo no trabalho produzido na turbina a vapor, o

trabalho líquido total aumenta.

Caso a turbina a gás utilizada na planta, proporcione a exaustão de gases a uma

alta temperatura, é recomendável a utilização da exergia destes gases para gerar calor de

processo.

Na indústria de beneficiamento de arroz, por exemplo, este calor de processo

pode ser utilizado em diferentes etapas do preparo do grão.

Segundo RUPPENTHAL (2006) o calor produzido por turbinas a gás ou

motores stirling pode ser aproveitado através de uma caldeira de recuperação, para

geração de vapor de processo, empregado na secagem e parboilização do arroz.

Parboilização é um processo de beneficiamento do arroz que visa transportar

nutrientes dispostos em camadas mais externas para o centro do grão, pela ação da água

aquecida, e posteriormente sendo fixados pela ação do calor. Este processo demanda

muita energia térmica, sendo, portanto, interessante o aproveitamento do calor dos gases

na saída do trocador de calor para o fornecimento desta energia. (BIDONE, 2007)

Page 54: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

43

Segundo BIDONE (2007) os principais processos que demandam energia térmica

na parboilização do arroz são: encharcamento, gelatinização, secagem primária e

secundária. A tabela 11 mostra a quantidade de taxa de calor necessária por kg de arroz

para cada processo. Os cálculos estão demonstrados no Apêndice A.

.

Tabela 11 – Calor Necessário na Parboilização do Arroz

A partir dos dados apresentados, podemos concluir que a utilização de um

sistema de cogeração para a parboilização do arroz aproveitando a energia térmica dos

gases oriundos da termoelétrica é viável e interessante do ponto de vista de

aproveitamento energético. Sendo que a variação da temperatura no Ponto 5 do ciclo

modelado, influi de maneira significativa o potencial de calor que pode ser fornecido,

conforme descrito no item 3.3.3.2.

Para a análise do potencial de geração de energia e da análise de viabilidade

econômica, não foi considerado a utilização de cogeração e o valor considerado para

temperatura de saída dos gases foi de 555 ºC.

3.3.4 – Resultados Simulação Ciclo Combinado

As tabelas 12 e 13 demonstram os principais resultados do ciclo, considerando

as premissas definidas no item 3.3.2.1 e utilizando o software CyclePad para simular o

ciclo. No apêndice B constam todos os resultados encontrados para os pontos e

componentes do ciclo, além dos diagramas T x s..

Tabela 12 – Resultados obtidos no ciclo Brayton e Rankine

Page 55: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

44

Tabela 13 – Resultados obtidos no ciclo Combinado

3.4 – Análise de Viabilidade Econômica

Para calcular os indicadores é preparado um demonstrativo de resultados de cada

exercício, que apresenta a receita líquida anual do projeto para a construção do seu

fluxo de caixa ao longo de sua vida útil. Este demonstrativo contempla todas as entradas

e saídas de capital a cada ano, incluindo-se as receitas diretas e indiretas, os custos de

investimento, custos operacionais fixos e variáveis, a depreciação dos equipamentos e

as deduções dos impostos (PUCCINI et al., 1992).

Utilizando o fluxo de caixa do projeto, é possível realizar diversas análises

econômicas e financeiras. Tornando possível avaliar a viabilidade econômica do projeto

e o retorno do investimento. Neste capítulo apresentamos os principais indicadores

utilizados na avaliação econômica de projetos, que serão calculados em nossa

modelagem: o Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR), o

Tempo de Retorno do Investimento (Payback) e, um especificamente importante na

análise de projetos de geração de energia, o Custo da Energia (COE).

A metodologia de avaliação econômica difere de acordo com o perfil do

investidor e seus objetivos, mas para todos eles constitui um conjunto de indicadores

que permitem a comparação por diferentes critérios.

O Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR), o Tempo de

Retorno do Investimento (Payback) e o Custo da Energia (COE) estão entre os

Page 56: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

45

principais indicadores considerados na análise de projetos (ABREU e STEPHAN, 1982,

BUARQUE, 1984).

3.4.1 - Valor de Presente Líquido (VPL)

Valor Presente Líquido é o valor total dos fluxos de caixa do investimento

(negativos e positivos), trazidos à data presente, depois de descontado o imposto de

renda, de todos os anos de duração do projeto. O método de VPL é um valioso indicador

porque reconhece o valor do dinheiro no tempo. Projetos que apresentam VPL positivo

são atraentes.

[eq.8]

Em [eq.8] Ct representa os lucros líquidos anuais, i a taxa de desconto, n o

tempo da vida útil da planta e I o valor do investimento inicial.

3.4.2 - Taxa Interna de Retorno (TIR)

Taxa Interna de Retorno (TIR) é definida como a taxa de desconto que iguala a

zero o VPL dos fluxos de caixa do projeto. A TIR é calculada para determinar se a

rentabilidade do projeto excede uma mínima taxa de retorno aceitável, frequentemente

chamada de taxa de atratividade. A vantagem da TIR é que, diferentemente do VPL,

seus resultados de porcentagem permitem comparar projetos de tamanhos diferentes

com facilidade.

[eq. 9]

3.4.3 - Tempo de Retorno do Investimento (Payback)

Um cálculo do tempo de retorno do investimento ou payback compara as rendas

com os custos e determina o período de tempo exigido para recuperar o investimento

inicial. Um período de payback simples é calculado frequentemente sem levar em conta

o valor do dinheiro no tempo. Este indicador é frequentemente usado para analisar

Page 57: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

46

oportunidades de investimento que oferecem benefícios incrementais e aplicações de

uso final.

[eq. 10]

Em [eq.10] I representa o custo total do investimento e C os lucros líquidos

anuais.

3.4.4 - Custo da Energia (COE)

O Custo de Energia (COE - Cost of Energy) é definido como o custo médio por

MWh de energia útil produzida por um sistema. O cálculo do COE é feito a partir do

conhecimento de valores como o custo anual dos equipamentos, custos com o

combustível e os custos com operação e manutenção.

O COE é frequentemente usado pelos analistas de política energética e pelos

avaliadores de projeto para analisar a taxa de atratividade primária de um projeto.

O COE define o fluxo de renda que minimamente satisfaz as exigências para retorno e

cobertura dos investimentos e custos.

[eq. 11]

Em [eq.11] F representa o custo com combustível, os custos fixos e

variáveis da planta, P a potência líquida produzida e H o número de horas no ano de

funcionamento da planta.

3.4.5 – Modelo de Avaliação Econômica

O modelo de avaliação econômica utilizado neste projeto é baseado na

realização de uma Demonstração de Resultados do Exercício (DRE), considerada

idêntica para cada ano da vida útil do projeto.

Page 58: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

47

O objetivo do DRE é demonstrar a formação do resultado líquido em um

exercício através do confronto das receitas, despesas e resultados apurados, gerando

informações significativas para tomada de decisão.

Segundo IUCÍBUS (2004) a Demonstração do Resultado do Exercício é um

resumo ordenado das receitas e despesas da empresa em determinado período. É

apresentada de forma dedutiva (vertical), ou seja, das receitas subtraem-se as despesas e

em seguida, indica-se o resultado (lucro ou prejuízo).

A DRE apresentada na Tabela 14 é a representação das receitas e custos

esperados com o projeto, incluindo as deduções com impostos, a depreciação e o

imposto de renda. Com o resultado final encontramos o Lucro Líquido Anual do

projeto.

Tabela 14 – Estrutura do Demonstrativo do Resultado do Exercício

Para o cálculo do lucro líquido da planta, é necessário considerar algumas

premissas para a modelagem.

3.4.6 – Premissas da Modelagem

Dentre as premissas e variáveis assumidas no modelo estão:

i. O valor de comercialização da energia elétrica gerada na planta foi baseado na

média dos valores de janeiro de 2013 até dezembro de 2013, da câmara de

Page 59: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

48

comercialização de energia elétrica. O valor da média encontrada é de 261,58

R$/MWh;

ii. A taxa de desconto é de 12% a.a. Este valor foi considerado levando em

consideração a taxa Selic, que possui o valor de 10,5% a.a. Cabe ressaltar que o

BNDES apoia projetos que visam à diversificação da matriz energética nacional

e que contribuam para a sua sustentabilidade por meio da linha energia

alternativa. Para projetos de geração de energia elétrica que utilizam biomassa

como combustível, o banco financia em até 90% do investimento a uma taxa de

1,2% a.a.;

iii. Os impostos, taxas e contribuições considerados foram as seguintes:

Tabela 15 – Impostos aplicados na modelagem

iv. O custo da casca de arroz utilizada é de 50 R$/tonelada; (YASSIMURA, 2012)

v. A taxa de câmbio utilizada é de 2,42 R$/U$;

vi. Os custos fixos e variáveis do funcionamento da planta são de:

Page 60: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

49

Tabela 16 – Valores de custos fixos e variáveis para ciclos combinados com gaseificação de biomassa (NETO,

2001)

vii. O valor do investimento para instalação da planta é de U$ 2450/kW. (LEAL

2001);

viii. A vida útil do projeto é de 25 anos; (NETO, 2001);

ix. A depreciação utilizada é a do método direto, ou seja, a depreciação é

considerada igual para cada ano de vida do bem. (PAMPLONA, 2012).

[eq. 12]

3.4.7 – Resultados da Modelagem

Considerando as premissas do item 3.4.6, o demonstrativo de resultado do

exercício está apresentado na tabela 17.

Page 61: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

50

Tabela 17 – Modelagem do Demonstrativo do Resultado do Exercício

A partir do lucro líquido, podemos calcular os principais indicadores financeiros

para este projeto, conforme descrito no item 3.4. Foram realizadas duas simulações, a

primeira considera a taxa de desconto do investimento de 12% a.a., sendo próxima da

taxa de juros praticada no mercado brasileiro. Já a segunda simulação considera a taxa

de juros de 1,2% a.a., que é a taxa que o BNDES oferece para projetos de geração de

energia elétrica que utilizam biomassa.

i. Caso 1 – Taxa de Desconto 12% a.a.

Tabela 18 – Análise Financeira para taxa de desconto de 12% a.a.

Page 62: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

51

ii. Caso 2 – Taxa de Desconto 1,2% a.a.

Tabela 19 – Análise Financeira para taxa de desconto de 1,2% a.a.

A partir dos resultados observados na tabela 18, podemos concluir que o

investimento realizado a uma taxa de desconto de 12% a.a. não torna o projeto

economicamente viável, pois o Valor Presente Líquido ficou negativo.

Já o investimento realizado a uma taxa de 1,2 a.a. é economicamente viável. O

Valor Presente Líquido calculado teve um valor expressivo, indicando que o projeto

pode ser um excelente investimento. Além disso, o valor do Custo de Energia teve um

valor competitivo, devido ao baixo custo do combustível.

4. Capítulo 4 – Conclusão

O objetivo principal deste trabalho era analisar se a tecnologia de geração de

eletricidade utilizando biomassa gaseificada integrada a ciclo combinado era viável do

ponto de vista tecnológico, térmico e econômico. Como forma de exemplificar os

indicadores de funcionamento e de retorno financeiro, buscou-se modelar o

funcionamento de uma planta movida a casca de arroz.

Como visto no capítulo 2, a tecnologia de produção de energia a partir da

gaseificação da biomassa integrada ao ciclo combinado já é uma tecnologia utilizada em

diversos locais, sendo uma importante alternativa frente ao aumento da demanda de

Page 63: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

52

energia no mundo e a alta participação de energia não renovável na matriz energética

mundial.

Todavia, é importante ressaltar que apesar da alta disponibilidade de biomassa

no Brasil, existem poucas plantas termelétricas que utilizam este tipo de combustível,

em especial a casca de arroz. Conforme descrito no item 3.1, o potencial desse de

geração de energia utilizando a casca de arroz é bastante significativo, porém

atualmente, apenas uma pequena parte desse potencial é revertida em energia elétrica.

Atualmente o Brasil produz 32,61 MW utilizando a casca de arroz, sendo que o país tem

potencial de gerar 268,69 MW, o que representa cerca de 0,21% na produção energética

total do Brasil.

Os resultados da modelagem térmica demonstraram que é viável a instalação de

termelétricas com capacidades instaladas significativas e com elevadas taxas de

eficiência energética. Plantas com capacidade de 10 MW podem funcionar somente com

o uso desta biomassa, pois a produção do arroz no Brasil, em especial no estado do Rio

Grande do Sul, consegue fornecer energia térmica suficiente para abastecer o ciclo

combinado.

Já a modelagem da viabilidade financeira indicou que a geração de energia

utilizando esta tecnologia é custosa, sendo necessários altos investimentos iniciais.

Portanto a viabilidade econômica desta tecnologia, com os níveis de investimento e

custos operacionais estimados, dependerá fundamentalmente da utilização de

mecanismos de incentivo, sejam nacionais ou internacionais, conforme citado no item

3.4.7.

Page 64: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

53

5. Referências Bibliográficas

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Page 69: análise térmica e econômica do ciclo combinado integrado com

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Apêndice A – Cálculo da Quantidade de Calor Necessária para Parboilização

A.1 - Premissas

As premissas consideradas no cálculo foram baseadas em Bidone (2007) e estão

explicitadas a seguir:

i. Temperatura da água utilizada no processo de encharcamento: 65ºC;

ii. Quantidade de água necessária no encharcamento: 750 litros por tonelada de

arroz;

iii. Calor específico da água: 4,18 kJ/kg ºC;

iv. Densidade da água: 1 g/cm³;

v. Calor Específico do arroz: 1,27 kJ/kg ºC;

vi. Quantidade de água necessária na gelatinização: 25 litros por tonelada de arroz;

vii. Quantidade de ar necessário na secagem primária: 8,5 m³ por kg de arroz;

viii. Quantidade de ar necessário na secagem secundária: 4,4 m³ por kg de arroz;

ix. Calor Específico do ar: 1,05 kJ/kg ºC;

x. Massa específica do ar: 1,2 kg/m³;

xi. Temperatura da água utilizada no processo de gelatinização: 107ºC;

xii. Temperatura do ar utilizado na secagem primária: 110ºC;

xiii. Temperatura do ar utilizado na secagem secundária: 80ºC;

A.2 – Cálculos

i. Encharcamento

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ii. Gelatinização

iii. Secagem Primária

iv. Secagem Secundária

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Apêndices B – Dados e Gráficos T x s do Ciclo Combinado

Tabela 20 – Dados Componentes do Ciclo

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Tabela 21 – Dados Pontos do Ciclo

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Tabela 22 – Resultados da Modelagem do Ciclo Combinado

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Figura 23 – Diagrama T x s do Ciclo Brayton

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Figura 24 – Diagrama T x s do Ciclo Rankine