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1 Anatomo-Histo-Fisiologia I Cristina Teixeira SISTEMA CARDIOVASCULAR I SUMÁRIO 1 – Importância e constituição geral do sistema circulatório. A dupla circulação 2 – Os vasos sanguíneos 2.1 - Classificação funcional: vasos de condução e distribuição, vasos de resistência, vasos de troca e vasos de capacitância. 2.2 - Histologia dos vasos sanguíneos: túnica íntima, túnica média, túnica adventícia, limitantes elásticas interna e externa. 2.3 - Classificação histológica dos vasos sanguíneos: grandes artérias do tipo elástico, artérias médias e pequenas do tipo muscular, arteríolas musculares, arteríolas terminais, meta-arteríolas e esfíncteres pré-capilares, capilares capilares contínuos, capilares fenestrados e sinusóides, vénulas e veias. 2.4 - Formas de divisão vascular: anastomoses arteriais e shunts vasculares 3 – O coração 3.1 - Forma, características anatómicas e localização topográfica. O mediastino. 3.2 - O pericárdio fibroso e o pericárdio seroso. 3.3 - Aurícula direita: seio venoso e músculos pectíneos. 3.4 - Ventrículo direito: infundíbulo arterial e músculos papilares. 3.5 - Aurícula esquerda: desembocadura das veias pulmonares e músculos pectíneos. 3.6 - Ventrículo esquerdo: vestíbulo aórtico e músculos papilares. 3.7 - Os complexos das válvulas tricúspide e mitral: orifícios auriculo-ventriculares, folíolos valvulares ou cúspides, cordas tendíneas e músculos papilares. 3.8 - Válvulas aórtica e pulmonar. Bibliografia 1 - Williams PL, Warwick R. Gray’s Anatomy. 38 th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. p. 1452 – 1503. 2 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4 th Edition. St Louis: Mosby;1998. p. 325 – 512. 3 - Guyton AC, Hall JE. Textbook of Medical Physiology. 10 th Edition. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000. p. 96-252. 4 - Junqueira LC, Carneiro J. Histologia Básica. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. p. 206-222. 5 – Kumar V, Cotran RS, Robbins SL. Robbins Basic Pathology. 7 th Edition. Philadelphia: Saunders; 2003. p. 325-360. 6 – Natham L, Chaudhuri G. Estrogens and Atherosclerosis. Annu. Rev. Pharmacol. Toxicol. 1997. 37:477-515. 7 - Netter FH. Atlas de Anatomia Humana. Segunda Edición. East Hanover. Novartis.

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Anatomo-Histo-Fisiologia I Cristina Teixeira

SISTEMA CARDIOVASCULAR I

SUMÁRIO

1 – Importância e constituição geral do sistema circulatório. A dupla circulação

2 – Os vasos sanguíneos

2.1 - Classificação funcional: vasos de condução e distribuição, vasos de resistência, vasos de troca e vasos de

capacitância.

2.2 - Histologia dos vasos sanguíneos: túnica íntima, túnica média, túnica adventícia, limitantes elásticas interna e

externa.

2.3 - Classificação histológica dos vasos sanguíneos: grandes artérias do tipo elástico, artérias médias e pequenas

do tipo muscular, arteríolas musculares, arteríolas terminais, meta-arteríolas e esfíncteres pré-capilares,

capilares capilares contínuos, capilares fenestrados e sinusóides, vénulas e veias.

2.4 - Formas de divisão vascular: anastomoses arteriais e shunts vasculares

3 – O coração

3.1 - Forma, características anatómicas e localização topográfica. O mediastino.

3.2 - O pericárdio fibroso e o pericárdio seroso.

3.3 - Aurícula direita: seio venoso e músculos pectíneos.

3.4 - Ventrículo direito: infundíbulo arterial e músculos papilares.

3.5 - Aurícula esquerda: desembocadura das veias pulmonares e músculos pectíneos.

3.6 - Ventrículo esquerdo: vestíbulo aórtico e músculos papilares.

3.7 - Os complexos das válvulas tricúspide e mitral: orifícios auriculo-ventriculares, folíolos valvulares ou cúspides,

cordas tendíneas e músculos papilares.

3.8 - Válvulas aórtica e pulmonar.

Bibliografia

1 - Williams PL, Warwick R. Gray’s Anatomy. 38th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. p. 1452 – 1503.

2 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4th Edition. St Louis: Mosby;1998. p. 325 – 512.

3 - Guyton AC, Hall JE. Textbook of Medical Physiology. 10th Edition. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000. p. 96-252.

4 - Junqueira LC, Carneiro J. Histologia Básica. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. p. 206-222.

5 – Kumar V, Cotran RS, Robbins SL. Robbins Basic Pathology. 7th Edition. Philadelphia: Saunders; 2003. p. 325-360.

6 – Natham L, Chaudhuri G. Estrogens and Atherosclerosis. Annu. Rev. Pharmacol. Toxicol. 1997. 37:477-515.

7 - Netter FH. Atlas de Anatomia Humana. Segunda Edición. East Hanover. Novartis.

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Anatomo-Histo-Fisiologia I Cristina Teixeira

SISTEMA CARDIOVASCULAR I

I - INTRODUÇÃO

A sobrevivência de um organismo complexo de grandes dimensões, como o organismo humano, requer um

sistema com elevada capacidade de transporte de várias substâncias para e de todas as células do organismo1, 2, 3.

Esta é a principal função do sistema circulatório . Neste sistema, o sangue é o veículo aquoso responsável pelo

transporte de nutrientes, oxigénio, mediadores químicos, anticorpos, células de defesa e substâncias tóxicas1,

mantendo o ambiente ideal para a sobrevivência e função de todas as células do organismo3.

O sistema circulatório engloba o coração, o principal motor deste sistema. Além disso engloba uma série de

estruturas tubulares, os vasos sanguíneos , densamente ramificadas que transportam o sangue do coração para a

periferia e que permitem o seu retorno ao coração1, 2. Os vasos sanguíneos que transportam o sangue do do coração

para a periferia, designam-se artérias , vasos que se ramificam intensamente à medida que se afastam do coração,

aumentando em número e diminuindo em diâmetro resultando em cerca de 4x106 arteríolas cuja ramificação origina um

número quádruplo de capilares , os vasos de menores dimensões. O sangue dos capilares drena para vénulas , vasos

sanguíneos em número similar aos capilares. As vénulas convergem para vasos sanguíneos responsáveis pelo retorno

de sangue ao coração, designados veias que progressivamente diminuem em número e aumentam em diâmetro à

medida que se aproximam do coração1.

II – A DUPLA CIRCULAÇÃO

O sistema circulatório engloba dois circuitos centrados no coração que, por sua vez se comporta como um par de

bombas musculares, uma responsável por bombear sangue para a pequena circulação e a outra responsável por

bombear o sangue para a grande circulação 1.

A pequena circulação ou circulação pulmonar engloba vasos sanguíneos responsáveis por transportar o sangue

do coração para os pulmões e permitir o seu retorno ao coração. Este circuito tem como objectivo a oxigenação do

sangue. A grande circulação ou circulação sistémica engloba os vasos sanguíneos que transportam o sangue do

coração para todas as partes do corpo e permitem o seu retorno ao coração1, 3.

III - OS VASOS SANGUÍNEOS:

1 – Classificação Anatómica dos Vasos Sanguíneos

Os vasos sanguíneos são classificados anatomicamente de acordo com a sua dimensão e a estrutura histológica

da sua parede. As artérias que emergem do coração e os seus principais ramos são designadas grandes artérias do

tipo elástico , pelo seu grande diâmetro e pela predominância de fibras elásticas na sua parede. À medida que estas

artérias se ramificam, o seu diâmetro diminui e aumenta a quantidade de fibras musculares lisas nas suas paredes,

característica que as permite classificar como artérias musculares . A contínua ramificação destas artérias origina

vasos sanguíneos de pequeno diâmetro mas com uma espessura considerável de fibras musculares nas suas paredes,

estes vasos são classificados como arteríolas . A ramificação das arteríolas dá origem a vasos com parede muito fina

que permite a difusão de substãncias entre o sangue e o fluído intersticial, estes vasos são designados capilares. Os

capilares convergem para vénulas que convergem para veias que são vasos que se caracterizam por terem uma

pequena espessura de parede e grande diâmetro1.

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2 – Constituição Histológica dos Vasos Sanguíneos

Na parede de todos os vasos sanguíneos, independentemente da sua dimensão e com excepção dos capilares e

vénulas, reconhecem-se três camadas concêntricas: a túnica íntima , a mais interna, a túnica média e a túnica

adventícia, a mais externa1, 4, 5.

A túnica íntima é constituída pelo endotélio e uma camada mínima de tecido sub-endotelial1, 4, 5. O endotélio fica

voltado para o lúmen estendendo-se ao longo de toda a face luminal da árvore vascular. É um epitélio simples

constituído por uma camada de células poligonais, achatadas, firmemente aderidas umas às outras, excepto nos

capilares sinusóides, através de zónulas de adesão e zónulas de oclusão. O tecido sub-endotelial é tecido conjuntivo

frouxo com escassas células identificadas como fibras musculares mergulhadas matriz extracelular onde se encontram,

também, elementos próprios da matriz extracelular, nomeadamente fibras elásticas e de colagénio1, 4 organizadas em

forma de rede tridimensional fibrilar6. A camada mais externa da túnica íntima constitui a lâmina elástica interna ,

constituída essencialmente por elastina organizada em lamelas circunferenciais, apresentando inúmeros orifícios1, 4, 5.

A túnica média varia consoante o tipo de vaso sanguíneo. Pode ser constituída por um número variável de

camadas concêntricas de fibras musculares lisas 1, 4 organizadas circunferencialmente1 ou helicoidalmente4 em torno

da túnica íntima. Entre as células musculares lisas estão colocados componentes da matriz extracelular, nomeadamente

fibras de colagénio e fibras elásticas,1, 4 bem como proteoglicanos1, 6. No entanto, nas grandes artérias do tipo elástico,

ao contrário do que sucede nos outros vasos sanguíneos, as fibras musculares são escassas, predominando a

componente elástica organizada sob a forma de lamel as concêntricas de elastina . À medida que estes grandes

vasos se ramificam diminui a quantidade de componente elástica e aumenta a quantidade de fibras musculares lisas. A

predominância variável de fibras musculares lisas ou de fibras elásticas consoante o tipo de vaso sanguíneo, confere

características fisiológicas distintas aos diferentes vasos sanguíneos1, 4, 5. Independentemente do tipo de vaso

sanguíneo, a camada mais externa da túnica média constitui a lâmina elástica externa , em tudo semelhante à lâmina

elástica interna, mas menos desenvolvida1, 4.

A túnica adventícia é uma camada de tecido conjuntivo, eventualmente com fibroblastos, caracteristicamente rico

em fibras de colagénio. A sua função é aprisionar o vaso sanguíneo às estruturas que o vaso atravessa1, 4.

Em vasos sanguíneos de maiores dimensões, a sobrevivência das células das camadas mais internas da parede

é assegurada por difusão de substâncias a partir do lúmen do vaso. As células das camadas periféricas recebem

nutrientes e oxigénio a partir de vasos existentes na adventícia, designados vasa vasorum1, 5.

Com excepção dos capilares e vénulas, todos os vasos sanguíneos são constituídos pelas três túnicas íntima,

média e adventícia. As túnicas íntima e adventícia são constitucionalmente idênticas em todos os vasos sanguíneos,

embora a espessura seja variável consoante a dimensão do vaso. O que marca a diferença entre diferentes vãos

sanguíneos é a constituição histológica da túnica média, conferindo características fisiológicas distintas aos diferentes

tipos de vaso sanguíneo1, 4, 5.

2.1 – Grandes Artérias do Tipo Elást ico

Na túnica íntima das grandes artérias do tipo elástico há uma camada sub-endotelial bem desenvolvida1, 4, com

fibras musculares lisas, que provavelmente migraram da túnica média1, 6, além disso, é evidente a abundância de fibras

de colagénio e fibras elásticas1, 4. A limitante elástica interna fenestrada, embora existente1, 4, dificilmente se distingue

da componente elástica da túnica média4. Na túnica média predomina o componente elástico da matriz extracelular1, 4, 5.

É constituída predominantemente por lamelas elásticas concêntricas, entre as quais aparecem algumas fibras

musculares lisas e fibras de colagénio, nas zonas interlamelares1, 4.

2.2 – Artérias do Tipo Muscular

Na túnica média predominam as células musculares lisas colocadas circunferencialmente1 organizadas em

várias camadas4. Cerca de três quartos da túnica média destas artérias são constituídos por fibras musculares1. O

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restante da túnica média é constituído por componentes da matriz extracelular produzidos pela fibras musculares,

nomeadamente fibras elásticas, mas também colagénio e proteoglicanos1, 4.

2.3 – Arteríolas, Meta-arteríolas e Esfíncteres Pré-C apilares

As arteríolas são vasos sanguíneos com diâmetro inferior a 0,5 milímetros e lúmen relativamente estreito4. A

túnica média é constituída por algumas camadas de células musculares lisas colocadas circunferencialmente, cada

camada com a espessura de uma célula muscular1. À medida que as arteríolas se ramificam dão origem a vasos de

menor diâmetro com menor número de camadas musculares na túnica média. As arteríolas de menor diâmetro

ramificam-se para dar origem à rede capilar e são designadas meta-arteríolas 4 ou arteríolas pré-capilares 1

apresentando apenas uma camada descontínua de células musculares lisas na túnica média4. Nas meta-arteríolas, as

células musculares mais distais circundam o orifício de passagem para cada capilar, constituindo o esfíncter pré-

capilar 1.

2.4 – Capilares

Os capilares são ramificações de arteríolas de menor diâmetro. De uma forma geral, os capilares consistem de uma

só camada de células endoteliais rodeada por uma lâmina basal1, 4, 5, aparecendo em alguns pontos, células designadas

pericitos que são células que dão origem a novas células endoteliais1, 4. O diâmetro dos capilares oscila entre 7 a 9

micrómetros, exceptuam-se os capilares sinusóides cujo diâmetro atinge 30 a 40 micrómetros4.

Consoante as características do endotélio, os capilares podem ser classificados em três grupos distintos: capilares

contínuos, capilares fenestrados e capilares sinusóides 1, 4. Os capilares contínuos e fenestrados apresentam

células endoteliais bem unidas entre si, no entanto as células endoteliais dos capilares fenestrados são perfuradas por

poros. Os poros são circulares com um diâmetro que varia entre 50 a 100 nanómetros e na sua margem, as membranas

da face basal e luminal ficam em contacto1. Os capilares sinusóides apresentam grandes espaços entre as células

endoteliais, para além de sistemas de poros que atravessam as células endoteliais1, 4.

2.5 – Vénulas

A confluência de dois ou mais capilares resulta num vaso designado vénula pós-capilar 1. As vénulas pós-

capilares são histologicamente idênticas aos capilares, constituídas por endotélio e lâmina basal, apresentando

pericitos. As junções intercelulares são sensíveis a alguns mediadores químicos o que permite aumentar a

permeabilidade destes vasos sanguíneos, facilitando a saída de fluidos e células de defesa1, 4. À medida que

convergem, formam-se vasos sanguíneos com diâmetro cada vez maior e que obedecem ao padrão geral da parede de

um vaso sanguíneo, apresentando as três túnicas. Estas vénulas são designadas vénulas musculares por

apresentarem fibras musculares, embora escassas, na túnica média1, 4.

2.6 – Veias

As veias caracterizam-se por apresentarem pequena espessura de parede e lúmen com diâmetro considerável1.

A túnica média é pouco desenvolvida, constituída por escassas camadas de células musculares lisas e matriz

extracelular que é predominante. Na matriz extracelular destacam-se as fibras de colagénio, embora também haja fibras

elásticas1, 4.

Nas veias de menor diâmetro a camada subendotelial da túnica íntima tem espessura mínima, no entanto esta

camada torna-se desenvolvida nas veias de maior diâmetro, mais próximas do coração4. Nestas veias de maior

diâmetro aparecem projecções da túnica íntima para o interior do lúmen constituindo as válvulas venosas1, 4.

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3 – Classificação Funcional dos Vasos Sanguíneos

Os termos artéria, arteríola, capilar, vénula e veia são essencialmente termos anatómicos para vasos de

determinadas dimensões, características estruturais e posições topográficas. No entanto, pde ser utilizada uma

classificação com base nos aspectos funcionais, obviamente, relacionados com as suas características estruturais.

Consideram-se vasos de condução as grandes artérias que emergem do coração e os seus principais ramos,

caracterizadas pelas propriedades predominantemente elásticas das suas paredes1.

Os vasos de distribuição são as artérias de menor diâmetro que alcançam órgãos individualizados e se

ramificam no seu interior. A parede destas artérias caracteriza-se pela predominância de fibras musculares lisas1.

Os vasos de resistência são principalmente as arteríolas porque apresentam lúmen de pequeno diâmetro com

considerável espessura de fibras musculares nas suas paredes. O grau variável de contracção das fibras musculares

permite uma resistência variável à passagem do sangue, controlando o fluxo sanguíneo através da rede capilar1, 2.

Os capilares, os sinusóides e as vénulas pós-capilares são designados vasos de troca 1 porque, através das

suas paredes, ocorre a troca de substâncias entre o sangue e o fluído intersticial que banha as células, o que cosntitui a

função essencial do sistema circulatório1, 2, 3.

As vénulas de maior calibre e as veias constituem um sistema de grande volume e baixa pressão, por isso,

consideram-se vasos de capacitância , através dos quais se faz o retorno sanguíneo ao coração.

5 – Modelos de Divisão Vascular. Anastomoses. Shunts Vasculares

As grandes artérias que emergem do coração, aorta e tronco pulmonar dão origem a sucessivos ramos

progressivamente de menor diâmetro. Quando uma artéria se divide em dois ramos de diâmetros similares, os ramos

que se originam designam-se ramos terminais , dado que a artéria deixou de existir no ponto de bifurcação. Os ramos

que emergem ao longo do percurso de uma artéria são designados ramos colaterais . De qualquer forma, o somatório

das áreas da secção transversal dos ramos que se originam de uma artéria é sempre superior à área de secção

transversal da artéria que deu origem aos ramos1.

Eventualmente, as artérias podem unir-se por anastomose o que permite que cada uma das artérias irrigue

outros territórios, funcionando como canais alternativos para irrigar territórios particulares. A anastomose por

convergência ocorre quando duas artérias confluem uma para a outra emergindo uma só artéria desta confluência.

Noutros casos duas grandes artérias ficam ligadas por um pequeno ramo colateral, uma forma de anastomose

designada anastomose transversal1.

Em muitos casos a passagem do sangue do sistema arterial para o sistema venoso não se faz obrigatoriamente

através da rede capilar, mas sim através de canais que ligam artérias a veias ou arteríolas a vénulas, constituindo os

shunts vasculares . Tem sido demonstrado que em muitos tecidos a rede de capilares origina-se não só de ramos de

arteríolas terminais, mas também de ramos de um canal de passagem preferencial que liga a arteríola à vénula. Cada

canal de passagem preferencial e seus capilares associados formam uma unidade microcirculatória funcional. Cada

capilar está rodeado na sua origem por um esfíncter pré-capilar. Em alturas de baixa actividade funcional dos tecidos,

os esfíncteres pré-capilares estão contraídos restringindo a passagem do sangue na rede capilar, a maior parte do

sangue passa da arteríola para a vénula, através do canal de passagem preferencial, sem passar pela rede capilar. O

inverso sucede se os esfícteres pré-capilares estiverem relaxados. Em alguns locais do corpo há conexões directas

entre pequenas artérias e as veias correspondentes, estas conexões são designadas anastomoses arteriovenosas .

Os vasos que fazem estas conexões têm uma espessa camada de células musculares lisas nas suas paredes. Quando

a camada muscular destas conexões se contrai, o canal oclui e o sangue faz o trajecto através da rede capilar. Se o

canal de conexão estiver desobstruído, o sangue passa da pequena artéria para a veia correspondente, sem passar

pela rede capilar1.

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III - O CORAÇÃO1, 7

1 – Introdução

O coração do corpo humano consiste de um par de bombas musculares valvuladas, esquerda e direita,

topograficamente combinadas num só órgão. Por um lado, as redes fibromusculares e tecidos de condução nervosa de

ambas as bombas estão interligadas funcionando como um complexo unitário. Por outro lado, cada bomba está

fisiologicamente separada da outra, originando uma dupla circulação: a pequena circulação ou circulação pulmonar e a

grande circulação ou circulação sistémica.

Internamente o coração está dividido em quatro compartimentos, dois compartimentos, aurícula e ventrículo ,

em cada bomba muscular. Os compartimentos do lado direito estão separados dos compartimentos do lado esquerdo

por um septo , no entanto de cada lado, em cada bomba, a aurícula e o ventrículo comunicam-se pelo orifício aurículo-

ventricular , guardado por um complexo valvular que constitui a válvula tricúspide no lado direito e a válvula mitral do

lado esquerdo. Tanto no lado direito como no lado esquerdo, as aurículas recebem sangue, são reservatórios com fraca

capacidade contráctil, pelo contrário, ambos os ventrículos têm força contráctil suficiente para bombear o sangue para

as principais artérias.

No lado direito do coração (bomba do lado direito), a aurícula, ou aurícula direita , recebe o sangue proveniente

das diversas partes do corpo, através das veias cavas superior e inferior. Da aurícula direita o sangue passa para o

ventrículo direito , através do orifício auriculoventricular direito, guardado pela válvula tricuspide. Com o aumento da

pressão dentro do ventrículo direito, como consequência da contracção das suas paredes, ocorrerá o encerramento do

orifício auriculoventricular pela válvula tricúspide e o sangue é ejectado no tronco arterial pulmonar para alcançar a

rede de capilares pulmonares. Sendo assim, a bomba cardíaca do lado direito está implicada na ejecção do sangue

para a pequena circulação ou circulação pulmonar.

No lado esquerdo do coração (bomba do lado esquerdo), a aurícula ou aurícula esquerda , recebe o sangue

oxigenado, proveniente dos pulmões, através das quatro veias pulmonares. Da aurícula esquerda o sangue passa para

o ventrículo esquerdo , através do orifício auriculoventricular esquerdo, guardado pela válvula mitral. Com o aumento

da pressão dentro do ventrículo esquerdo, como consequência da contracção das suas paredes, ocorrerá o

encerramento do orifício auriculoventricular pela válvula mitral e o sangue é ejectado na artéria aorta para alcançar a

rede de capilares sistémicos, espalhados por todo o corpo. Sendo assim, a bomba cardíaca do lado esquerdo está

implicada na ejecção do sangue para a grande circulação ou circulação sistémica.

3 – Localização. Forma e Características do Coraçã o. O Pericárdio. Anatomia de Superfície

O coração ocupa o mediastino médio envolvido por um envólucro designado pericárdio. O mediastino é a região

da cavidade torácica que se situa entre os pulmões esquerdo e direito, desde a face interna do esterno até à coluna

vertebral e da abertura superior da cavidade torácica até ao diafragma. Cada pulmão está revestido por um membrana

serosa, a pleura, que forma os limites laterais do mediastino. O mediastino pode ser dividido em porções superior e

inferior através de um plano oblíquo que passa na margem inferior do manúbrio do esterno e no bordo inferior da 4ª

vértebra torácica. A porção inferior pode ser subdividida numa porção anterior, entre o pericárdio e a face interna do

esterno, numa porção posterior, entre o pericárdio e a coluna vertebral e numa porção média entre as outras duas

porções, constituindo o mediastino médio , o local onde está colocado o coração envolvido pelo pericárdio.

O pericárdio é um saco fibroseroso que envolve o coração e os segmentos proximais dos grandes vasos. O

pericárdio é constituído por um saco externo de tecido conjuntivo fibroso que constitui o pericárdio fibroso . O

pericárdio fibroso está inserido na face interna do esterno e no tendão central do diafragma, permitindo manter a

posição do coração na cavidade torácica. Internamente ao pericárdio fibroso há uma dupla camada serosa que envolve

o coração, constituindo pericárdio seroso . A camada mais interna fica em contacto com a superfície externa do

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coração, é designada camada ou lâmina visceral ou epicárdio . Esta camada dobra sobre ela mesma para formar a

lâmina ou camada parietal , mais externa, que fica em contacto com a face interna do pericárdio fibroso. Entre a

camada parietal e a camada visceral do pericárdio seroso há um espaço muito estreito, a cavidade pericárdica , onde

se situa uma película de fluído. A cavidade pericárdica permite separar o coração dos tecidos envolventes, permitindo

ao coração, movimento e alteração da sua forma.

O coração tem forma cónica ou piramidal, com base, ápice e uma série de faces e bordos. Está colocado

obliquamente no mediastino médio, posteriormente ao esterno e cartilagens costais. Cerca de um terço do coração

coloca-se à direita da linha média e dois terços à esquerda. Devido ao posicionamento oblíquo, a face posterior,

também designada base do coração está voltada para trás e para a direita e o ápice está dirigido para diante, para a

esquerda e para baixo, colocado ao nível do 5º espaço intercostal esquerdo, ligeiramente medial à linha vertical que

passa a meio da clavícula. O lado direito do coração está colocado anteriormente e à direita do lado esquerdo. A face

anterior é também designada face esternocostal e a inferior é deignada face diafragmática .

Em média, o coração de um adulto tem cerca de 12 centímetros da base ao ápice, 8 a 9 centímetros no diâmetro

transverso maior e pesa cerca de 300 gramas no homem e 250 gramas na mulher.

Internamente os compartimentos cardíacos estão revestidos pelo endocárdio, uma camada de tecido idêntica ao

endotélio dos vasos sanguíneos. As aurículas estão separadas entre si pelo septo inter-auricular e os ventrículos pelo

septo interventricular que no conjunto constituem o septo que separa o lado direito do lado esquerdo do coração.

As divisões internas do coração são marcadas externamente por sulcos. O sulco auriculo-ventricular ou

coronário separa as aurículas dos ventrículos e contem os principais ramos das artérias coronárias. O septo

interventricular que separa o ventrículo direito do esquerdo está marcado externamente por dois sulcos

interventriculares: o anterior na face esternocostal e o inferior na face diafragmática.

A aurícula direita é grosseiramente quadrangular. Internamente apresenta uma porção posterior designada seio

venoso e uma porção que constitui a aurícula propriamente dita . O seio venoso tem paredes lisas, é o local onde as

veias cavas libertam o sangue proveniente da circulação sistémica, a veia cava inferior em baixo e a veia cava superior

em cima. Um pequeno orifício abre-se próximo da veia cava inferior, este orifício constitui o seio coronário e

descarrega no seio venoso da aurícula direita, o sangue proveniente da irrigação cardíaca. A aurícula propriamente dita

tem paredes com cristas musculares paralelas entre si, os músculos pectíneos , que se inclinam em direcção ao orifício

auriculoventricular direito.

O ventrículo direito estende-se desde o orifício auriculo-ventricular direito até próximo do ápice do coração e,

daqui, dirige-se para cima e para a esquerda, formando um saco cónico, o infundíbulo arterial que alcança o orifício

pulmonar de onde se origina o tronco arterial pulmonar. O trajecto de entrada do sangue a partir da aurícula direita tem

paredes internas com projecções ou saliências musculares para o interior do compartimento, as trabéculas cardíacas .

Estas trabéculas rodeadas por vales, depressões ou sulcos apresentam morfologia de três tipos: ou são cristas

musculares redondas, ou colunas musculares fixas nas extremidades mas livres entre as extremidades, ou são

projecções cónicas, os músculos papilares , com a base fixa à face interna da parede do ventrículo e o ápice

projectado no interior do compartimento. O trajecto de saída do sangue do ventrículo direito constitui o infundíbulo

arterial e tem paredes internas lisas, dirigindo-se para cima e para a esquerda em direcção ao orifício pulmonar

guardado pela válvula pulmonar.

A aurícula esquerda estende-se atrás da aurícula direita e está dirigida para baixo e para a esquerda

terminando no início do ventrículo esquerdo. É menor do que a aurícula direita, mas as suas paredes são mais

espessas. As suas paredes são formadas, numa grande extensão, pelas porções proximais das veias pulmonares que

nela libertam o sangue proveniente da pequena circulação. As veias pulmonares são quatro, duas de cada lado e

abrem-se na porção superior das paredes póstero-laterais da aurícula esquerda. Algumas veias cardíacas minúsculas

abrem-se na aurícula esquerda libertando no seu interior sangue proveniente do miocárdio.

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Anatomo-Histo-Fisiologia I Cristina Teixeira

O ventrículo esquerdo tem forma de cone com base no orifício aurículo-ventricular prolongando-se até ao ápice

do coração. Está estruturado para funcionar como bomba expulsiva, capaz de manter um fluxo pulsátil com elevada

pressão, ao longo da árvore arterial sistémica, por isso com a parede consideravelmente mais espessa que a do

ventrículo direito. O orifício de entrada do sangue a partir da aurícula esquerda ou orifício auriculoventricular esquerdo,

está guardado pela válvula mitral. O orifício de saída dá passagem para o interior da artéria aorta e está guardado pela

válvula aórtica. Há um trajecto de entrada do sangue em direcção ao ápice cardíaco com paredes que apresentam

projecções, as trabéculas cardíacas , com estrutura idêntica às do ventrículo direito, entre as quais há projecções

cónicas que constituem os músculos papilares do ventrículo esquerdo. O trajecto de saída do sangue do ventrículo

esquerdo, ou vestíbulo aórtico , termina no orifício aórtico, guardado pela válvula aórtica.

4 – As Válvulas do Coração

Os complexos valvulares aurículo-ventriculares compreendem os seguintes elementos: o orifício aurículo-

ventricular e respectivo anel fibroso, os folhetos valvulares, as cordas tendinosas e os músculos papilares. O anel

valvular é tecido rico em fibras de colagénio que circunda o orifício aurículo-ventricular e permite a inserção dos

folhetos valvulares. Cada folheto valvular , também designado valva , ou cúspide é uma reduplicação do endocárdio,

projectando-se para o centro do orifício aurículo-ventricular, a dupla camada de endocárdio engloba um centro de tecido

conjuntivo rico em fibras de colagénio que reforça a estrutura. O folheto valvular apresenta uma face voltada para a

aurícula (face auricular), uma face voltada para o ventrículo (face ventricular) e uma margem livre. Os músculos

papilares são projecções cónicas do miocárdio em direcção ao interior do ventrículo, as bases contínuas com a parede

do ventrículo e o ápice prolongando-se através das cordas tendinosas. As cordas tendinosas são tiras constituídas

por fibras de colagénio, presas por uma extremidade ao ápice do músculo papilar e, pela outra extremidade inserem-se

na face ventricular e margens livres do folheto valvular.

O orifício aurículo-ventricular do lado esquerdo está guardado pelo complexo da válvula mitral caracterizado por

apresentar dois folhetos ou valvas e está colocado por trás da metade esquerda do esterno, ao nível da 4ª cartilagem

costal esquerda. A área de auscultação é ao nível do ápice cardíaco (5º espaço intercostal esquerdo, ligeiramente

medial à linha vertical que passa a meio da clavícula.

O orifício aurículo-ventricular do lado direito está guardado pelo complexo da válvula tricúspide com três folhetos

ou valvas e está colocado ao nível de uma linha com percurso descendente para a direita com início na linha mediana,

ao nível da 4ª cartilagem direita. A área de auscultação é no centro da porção inferior do corpo do esterno, ao nível do

5º espaço intercostal

A válvula pulmonar guarda o orifício de saída do sangue do ventrículo direito. Consiste de três folhetos ou valvas,

com forma semilunar, inseridas por margens convexas à parede do infundíbulo do ventrículo direito. Cada folheto ou

valva é uma duplicação do endocárdio com uma lâmina fibrosa de fibras de colagénio intermédia. Está situada

parcialmente ao nível do bordo superior da 3ª cartilagem costal esquerda. A área de auscultação é ao nível do 2º

espaço intercostal esquerdo, próximo do esterno.

A válvula aórtica guarda o orifício de saída do sangue do ventrículo esquerdo. Tal como sucede na válvula

pulmonar, a válvula aórtica é constituída por três folhetos ou valvas, com forma semilunar, cada uma formada por uma

dupla camada de endocárdio e uma lâmina fibrosa intermédia. A área de auscultação é ao nível do 2º espaço intercostal

direito, próximo do esterno.

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Anatomo-Histo-Fisiologia I Cristina Teixeira

Bibliografia

1 - Williams PL, Warwick R. Gray’s Anatomy. 38th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. p. 1452 – 1503.

2 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4th Edition. St Louis: Mosby;1998. p. 325 – 512.

3 - Guyton AC, Hall JE. Textbook of Medical Physiology. 10th Edition. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000. p. 96-252.

4 - Junqueira LC, Carneiro J. Histologia Básica. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. p. 206-222.

5 – Kumar V, Cotran RS, Robbins SL. Robbins Basic Pathology. 7th Edition. Philadelphia: Saunders; 2003. p. 325-360.

6 – Natham L, Chaudhuri G. Estrogens and Atherosclerosis. Annu. Rev. Pharmacol. Toxicol. 1997. 37:477-515.

7 - Netter FH. Atlas de Anatomia Humana. Segunda Edición. East Hanover. Novartis.

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SISTEMA CARDIOVASCULAR II

SUMÁRIO

I – Sistema Arterial

1 – Tronco pulmonar: artérias pulmonares direita e esquerda

2 – Aorta – Porção ascendente: artérias coronárias direita e esquerda

3 – Aorta – Arco aórtico: tronco braquiocefálico, artéria carótida comum esquerda e artéria subclávia esquerda

3.1 - Sistema das artérias carótidas: carótida interna e carótida externa

3.2 - Sistema das artérias subclávias: artéria vertebral e artéria axilar

3.3 - Anel de Willis

3.4 - Artérias do membro superior: artérias braquial, radial e cubital

4 – Aorta – Porção descendente torácica: irrigação das paredes e conteúdo da cavidade torácica

5 – Aorta – Porção descendente abdominal

5.1 - Artérias para irrigar estruturas da cavidade abdominal

5.2 - Artéria ilíaca comum: artérias ilíacas externa e interna

5.3 - Artérias do membro inferior: artérias femural, poplítea, tibial anterior e tibial posterior

II – Sistema Venoso

1 – Veias pulmonares

2 – Veias cardíacas

3 – Veias da cabeça e pescoço

3.1 - Veia jugular interna e veia jugular externa

3.2 - Seios venosos da dura-máter

4 – Veias do membro superior e tórax

4.1 - Veias do membro superior superficiais: veia cefálica, veia basílica, veia mediana do antebraço, veia

mediana do cotovelo

- Veias do membro superior profundas: veias radiais, veias cubitais, veias braquiais

- Veia axilar, veia subclávia, veia braquiocefálica, veia cava superior

5 – Veias do membro inferior e abdómen

5.1 - Veias do membro inferior superficiais: veia safena maior e veia safena menor

5.2 - Veias do membro inferior profundas: veia tibiais posteriores, veias tibiais anteriores, veia poplítea, veia

femural

5.3 - Veia ilíaca externa, veia ilíaca interna e veia cava inferior

Bibliografia :

1 - Williams PL, Warwick R. Gray’s Anatomy. 38th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. p. 1453 – 1626.

2 - Netter FH. Atlas de Anatomia Humana. Segunda Edición. East Hanover. Novartis.

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Anatomo-Histo-Fisiologia I Cristina Teixeira

SISTEMA CARDIOVASCULAR II

I - SISTEMA ARTERIAL

TRONCO PULMONAR

O tronco pulmonar transporta sangue pobre em oxigénio do ventrículo direito para os pulmões. Origina-se da base do

ventrículo direito, dirige-se para cima e para trás, primeiro à frente da artéria aorta, depois à sua esquerda e próximo da

concavidade do arco aórtico divide-se em artérias pulmonares direita e esquerda.

A artéria pulmonar direita tem um percurso horizontal para a direita, atrás da porção ascendente da artéria aorta e

veia cava superior e à frente do esófago e brônquio direito, até à raiz do pulmão direito onde se divide em ramos superior para

o lobo superior do pulmão direito e inferior para os lobos pulmonares inferior e médio do pulmão direito.

A artéria pulmonar esquerda tem um percurso horizontal para a esquerda, à frente da porção descendente da artéria

aorta e brônquio esquerdo até à raiz do pulmão esquerdo onde se divide em ramos inferior e superior para os lobos inferior e

superior do pulmão esquerdo, respectivamente.

ARTÉRIA AORTA É o principal tronco do sistema arterial transportando o sangue rico em nutrientes e oxigénio a todas as partes do corpo. Tem

início na base do ventrículo esquerdo, onde adquire um diâmetro de cerca de 3 centímetros. A partir daqui tem um percurso

ascendente à direita do tronco pulmonar e após uma distância de 5 cm, descreve um arco para trás e para a esquerda, junto à

raiz do pulmão esquerdo. A partir daqui tem percurso descendente ao longo do tórax, inicialmente à esquerda da coluna

vertebral inclinando-se em direcção ao plano mediano. Entra na cavidade abdominal através do hiato aórtico do diafragma,

continua com um percurso descendente para terminar ao nível do bordo inferior da 4a vértebra lombar, ligeiramente à esquerda

da linha mediana, dividindo-se em artéria ilíaca comum direita e artéria ilíaca comum esquerda. À medida que descreve o

percurso descendente, a artéria aorta diminui de diâmetro para cerca de 1,75 centímetros no local onde termina.

Por conveniência descritiva, a aorta é dividida em quatro porções: a porção ascendente, o arco aórtico, a porção

descendente torácica e a porção descendente abdominal.

1 - Porção Ascendente da Artéria Aorta

Tem início na base do ventrículo esquerdo, situando-se à direita do tronco pulmonar e à esquerda da veia cava superior,

adquirindo um percurso ascendente para a direita e para frente, com cerca de 5 centímetros de extensão. Os ramos da aorta

ascendente são as artérias coronárias direita e esquerda que emergem do segmento inicial da artéria aorta e que se colocam

no sulco auriculo-ventricular, também designado sulco coronário, circundando o coração.

A artéria coronária direita emerge do lado direito da aorta ascendente e dirige-se para a direita no sulco coronário até atingir

a face diafragmática do coração, onde seus ramos terminais entram no sulco interventricular inferior. Ramos auriculares e

ventriculares originam-se em ângulo recto da artéria coronária direita, ao longo do seu percurso no sulco coronário, para

irrigarem a aurícula direita e ventrículo direito, respectivamente. Irriga predominantemente o lado direito do coração mas

alcança porções do lado esquerdo, para além de haver várias anastomoses entre os ramos das artérias coronárias esquerda e

direita.

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Anatomo-Histo-Fisiologia I Cristina Teixeira

A artéria coronária esquerda é maior em calibre do que a artéria coronária direita pois irriga um maior volume de miocárdio.

Emerge do lado esquerdo da aorta ascendente e alcança o sulco coronário, no qual se dirige para a esquerda. Contorna o

coração até atingir a sua face diafragmática onde seus ramos terminais se subdividem. Logo no seu início emite ramos que

ocupam o sulco interventricular anterior e ao longo do seu percurso (como artéria circunflexa) emite inúmeros ramos

auriculares e ventriculares para a aurícula e ventrículo do lado esquerdo. Irriga predominantemente o lado esquerdo do

coração.

2 - O Arco Aórtico

Tem início atrás do manúbrio do esterno e dirige-se primeiro para cima para trás e para a esquerda, à frente da traqueia,

depois dirige-se para trás à esquerdo da traqueia e finalmente dirige-se para baixo, à esquerda da coluna vertebral,

continuando como aorta descendente a partir do bordo inferior da 4ª vértebra torácica. Do arco aórtico partem três ramos

arteriais: tronco arterial braquiocefálico, artéria carótida comum esquerda e artéria subclávia esquerda.

2.1 - Tronco Arterial Braquiocefálico

É o primeiro ramo do arco aórtico, dirige-se obliquamente para cima e para a direita colocando-se, primeiro à frente e depois à

direita da traqueia, dividindo-se em dois ramos: artéria carótida comum direita e artéria subclávia direita.

2.2 - Sistema das Artérias Carótidas

É constituído pelas artérias carótidas comuns direita e esquerda. A artéria carótida comum direita forma-se pela bifurcação

do tronco braquiocefálico e a artéria carótida comum esquerda é o 2º ramo do arco aórtico. As artérias carótidas comuns

direita e esquerda têm percurso similar, com percurso oblíquo para cima e lateralmente, ao longo do pescoço. Na porção

inferior do pescoço a traqueia está entre elas, mais para cima a glândula tiróide e laringe projectam-se para a frente entre as

duas artérias.

No seu percurso ascendente, cada artéria carótida comum divide-se ao nível do bordo superior da cartilagem tiróide da

laringe em artéria carótida interna e artéria carótida externa . Na zona de bifurcação há uma dilatação designada seio

carotídeo , as pulsações das artérias carótidas podem ser sentidas ao longo do pescoço, logo à frente do bordo anterior do

músculo esternocleidomastoideu.

2.2.1– Artéria carótida ex terna

A artéria carótida externa dirige-se para cima ao longo do pescoço até atingir a superfície da glândula parótida onde

termina, dividindo-se em dois ramos arteriais: a artéria temporal superficial e a artéria maxilar. Ao longo do seu percurso

emite vários ramos um dos quais é a artéria facial que alcança a face passando pelo bordo inferior do corpo da

mandíbula onde suas pulsações podem ser sentidas, imediatamente à frente do bordo anterior do músculo masseter.

Os inúmeros ramos da artéria carótida externa são responsáveis pela irrigação das seguintes estruturas: glândula

tiróide, musculatura superficial e profunda do pescoço, laringe, faringe, ouvido externo, ouvido médio, ouvido interno e

pavilhão da orelha, língua, palato e mucosa oral, glândulas salivares parótida, submandibular e sublingual, arcadas

alveolares superior e inferior e respectivos dentes, estruturas faciais ( músculos e pele ), excepto as adjacentes ao olho

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e cavidade orbitaria estruturas nasais e seios paranasais, musculatura e pele da cabeça e pericrânio e dura-máter

através de ramos meníngeos.

2.2.2 – Artéria carótida interna

Tem início na bifurcação da artéria carótida comum e tem percurso ascendente ao longo do pescoço até à base do

crânio. Entra na cavidade craniana através do canal carotídeo da porção petrosa do osso temporal. Dentro da fossa

craniana média dirige-se para diante, no sulco carotídeo, de cada lado do corpo do osso esfenóide e termina no cérebro

dividindo-se em artérias cerebrais anterior e média .

Ao longo do seu percurso, a artéria carótida interna, emite vários ramos para irrigar estruturas oculares, músculos

associados à cavidade orbitária e pele e musculatura da fronte, através do ramo oftálmico que entra na cavidade

orbitária pelo canal óptico, a hipófise, a maior parte dos hemisférios cerebrais através de seus dois ramos terminais:

artéria cerebral anterior e artéria cerebral média

2.3 – Sistema das Artérias Subclávias

A artéria subclávia direita origina-se do tronco braquiocefálico e a artéria subclávia esquerda é o 3º ramo do arco aórtico. A

partir da divisão do troco braquiocefálico, as artérias subclávias direita e esquerda têm percurso similar, cada uma no

respectivo lado da cavidade torácica. Cada artéria subclávia tem percurso ascendente e descreve um arco por cima da 1a

costela, abandonando a cavidade torácica. A partir daqui a artéria subcávia de cada lado passa a designar-se artéria axilar que

alcança o membro superior ipsilateral.

2.3.1 – Artéria Vertebral – Artéria Basilar

Tem origem no segmento proximal da artéria subclávia, com percurso ascendente no canal formado pelos orifícios

das apófises transversas das vértebras cervicais até atingir a base do crânio e entra na cavidade craniana pelo

buraco occipital. Ao longo do seu percurso, a artéria vertebral, emite ramos que entram no canal vertebral para

nutrirem a medula espinal, outros ramos nutrem as vértebras cervicais e músculos desta região. Dentro da cavidade

craniana, a artéria vertebral de cada lado coloca-se anteriormente ao bolbo raquidiano e, ao nível do bordo inferior

da ponte, as duas artérias vertebrais anastomosam-se para formarem a artéria basilar , responsável por irrigar a

ponte, cerebelo e restante dos hemisférios cerebrais que não é nutrido pelas artérias carótidas internas.

2.3.2 - Anel ou Círculo Art erial de Willis

A maior parte dos hemisférios cerebrais é nutrida pelas duas artérias carótidas internas, enquanto o restante é

nutrido pela artéria basilar. Uma importante anastomose existe entre as duas artérias carótidas internas e a artéria

basilar, formando um círculo arterial designado anel de Willis, situado logo à frente da ponte. Este importante círculo

arterial é formado da seguinte maneira: à frente as duas artérias cerebrais anteriores estão ligadas uma com a outra

pela artéria comunicante anterioratrás a artéria basilar divide-se em duas artérias cerebrais posteriores, cada uma

delas unidas à artéria carótida interna do seu lado, pela artéria comunicante posterior

2.3.3 – Artéria axilar

É a continuação da artéria subclávia a partir da 1a costela até atingir o membro superior, onde nominalmente termina

ao nível do bordo inferior do músculo redondo maior, após percorrer a região da axila.. A partir daqui, continua agora

como artéria braquial . Ao longo do seu percurso, a artéria axilar emite ramos que irrigam a superfície externa das

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paredes da cavidade torácica, incluindo a musculatura adjacente, bem com as estruturas musculo-esqueléticas

adjacentes à cintura escapular e articulação do ombro.

2.3.4 – Artéria braquial

É a continuação da artéria axilar ao longo do membro superior, situando-se no sector anterior do braço, coberta

apenas pela pele e fáscias superficial e profunda, colocada medialmente ao músculo bicípete braquial. Tem percurso

para distal até à articulação do cotovelo, colocando-se anteriormente a esta articulação, na designada fossa cubital.

A partir da extremidade proximal do rádio divide-se em dois ramos: artéria radial e artéria cubital . As artérias

cubital e radial têm percurso para distal, no sector anterior do antebraço, até atingirem a face palmar do carpo. Ao

nível do metacarpo as artérias cubital e radial formam duas importantes anastomoses que constituem: o arco palmar

superficial e o arco palmar profundo. Na face anterior do pulso, lateralmente, podem ser sentidas as pulsações da

artéria radial.

3 - Aorta Descendente Torácica

É a parte da aorta descendente que está no interior da cavidade torácica confinada ao mediastino posterior. Tem percurso

descemndente ao longo da porção torácica da coluna vertebral, até à abertura aórtica do diafragma. No seu início está à

esquerda da coluna vertebral e à medida que se dirige para baixo coloca-se no plano mediano, à frente da coluna vertebral e

posteriormente ao esófago. A aorta torácica, ao longo do seu percurso dá origem a ramos que vão irrigar: pericárdio, pulmões,

brônquios, esófago, superfície interna das paredes da cavidade torácica.

4 - Aorta Descendente Abdominal

Tem início no hiato aórtico do diafragma e tem percurso descendente, anteriormente e ligeiramente à esquerda dos corpos das

vértebras lombares, terminando ao nível da 4a vértebra lombar ao dividir-se em artérias ilíacas comuns direita e esquerda .

Ao longo do seu percurso emite importantes ramos que irrigam as vísceras das cavidades abdominal e pélvica. O tronco

celíaco dá origem à artéria hepática, artérias que irrigam o estômago, o duodeno, o pâncreas e o baço. A artéria mesentérica

superior nutre todo o intestino delgado e parte do intestino grosso colocando-se com suas ramificações entre as lâminas do

mesentério. A artéria mesentérica inferior nutre a porção distal do intestino grosso, desde a parte final do cólon transverso

colocando-se entre as duas lâminas do mesocólon sigmóide. As artérias renais esquerda e direita nutrem o parênquima

renal. Além disso, a aorta abdominal emite as artérias testiculares no homem, as artérias ováricas na mulher e vários ramos

arteriais que vão nutrir as paredes abdominais.

4.1 – Artérias Ilíacas Comuns Esquerd a e Direita

Têm um percurso descendente e lateral, cada uma no respectivo lado da coluna vertebral, desde a 4a vértebra lombar. Ao nível

da base do sacro, cada artéria ilíaca comum divide-se em artéria ilíaca externa e artéria ilíaca interna .

4.1.1 - Artéria Ilíaca Interna

Tem um percurso relativamente curto à frente da articulação entre o osso ilíaco e sacro,desde o local de bifurcção

da artéria ilíaca comum ipsilateral. Divide-se em dois troncos arteriais responsáveis por nutrir a bexiga, útero e

vagina, genitais externos, musculatura pélvica e musculatura da nádega.

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4.1.2 - Artéria Ilíac a Externa

Cada artéria ilíaca externa tem percurso descendente e lateral, desde a bifurcação da artéria ilíaca comum

ipsilateral, alcançando o ligamento inguinal. Passa por trás do ligamento inguinal para alcançar a face anterior da

coxa, a partir daqui passa a designar-se artéria femural .

A artéria femural inicialmente está situada no sector anterior da coxa em posição medial, depois passa pelo orifício

do músculo adutor magno, após percorrer o canal adutor alcançando a fossa poplítea e passa a designar-se artéria

poplítea.

A artéria poplítea atravessa a fossa poplítea com percurso descendente. Um pouco abaixo da articulação do joelho

divide-se em artéria tibial anterior e artéria tibial posterior. A artéria poplítea emite três ramos designados geniculares

superior, médio e inferior que irrigam a articulação do joelho formando à sua volta importantes anastomoses. Na

extremidade proximal da membrana interóssea a artéria poplítea divide-se em artérias tibiais anterior e posterior .

A artéria tibial anterior está colocada lateralmente e dirige-se para diante, passando por cima da membrana

interóssea alcança o sector anterior da perna. Tem percurso para distal alcançando o dorso do pé onde passa a

designar-se artéria dorsal do pé.

A artéria tibial posterior dirige-se para baixo e medialmente ao longo do sector posterior da perna até alcançar a

face medial do calcâneo. Entra na face plantar do pé onde se divide em artérias plantares lateral e medial. A artéria

plantar lateral anstomosa-se com a artéria dorsal do pé para formarem o arco plantar do pé.

II - SISTEMA VENOSO O sistema venoso compreende dois conjuntos de veias: as veias sistémicas e as veias pulmonares. As veias sistémicas

desembocam na aurícula direita através das veias cavas superior e inferior. As veias pulmonares são quatro e

desembocam na aurícula esquerda.

VEIAS PULMONARES

Reconduzem o sangue oxigenado dos pulmões para a aurícula esquerda do coração. São quatro, duas

provenientes de cada pulmão. Começam no leito capilar dos alvéolos pulmonares, unem-se umas às outras para formarem

um tronco único em cada lobo pulmonar. A veia do lobo médio do pulmão direito funde-se com a veia do lobo superior de

modo que duas veias, uma superior e outra inferior, deixam cada pulmão e desembocam separadamente na porção

superior e posterior da aurícula esquerda.

VEIAS SISTÉMICAS

As veias sistémicas podem ser divididas em seis grupos. Um grupo compreende as veias cardíacas que drenam o

sangue que irrigou o coração e drenam directamente nos compartimentos cardíacos. Os três grupos que constituem as

veias da cabeça e pescoço, do tórax e dos membros superiores drenam para a veia cava superior e os dois grupos que

compreendem as veias do abdómen e pelve e veias dos membros inferiores drenam para a veia cava inferior.

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1 - Veias Cardíacas A maior parte das veias do coração, drena para um amplo canal venoso designado seio coronário , situado na

porção mais posterior do sulco coronário e que termina na aurícula direita, entre o orifício da veia cava inferior e o orifício

auriculo-ventricular direito. O seio coronário recebe veias tributárias, provenientes de todas as partes do coração, estando

as de maior calibre, colocadas nos sulcos interventriculares anterior e inferior e sulco coronário.

2 - Veias da Cabeça e Pescoço

As veias superficiais têm início em vários pontos da superfície externa da cabeça e face e drenam para veias que vão

desembocar principalmente na veia jugular interna , mas também na veia jugular externa . O sangue proveniente do

interior do crânio, encéfalo e olho, é drenado por um complexo sistema de seios venosos da dura-máter que drenam o

sangue para a veia jugular interna .

2.1 - Veia Jugular Externa

Recebe o sangue do couro cabeludo e face, incluindo suas partes mais profundas. Começa ao nível do ângulo da

mandíbula, na superfície da glândula parótida, pela confluência de veias provenientes da face e superfície externa

do crânio. Tem percurso descendente cruzando obliquamente a superfície externa do músculo

esternocleidomastoideu, em direcção ao meio da clavícula, a este nível termina desembocando na veia subclávia.

2.2 - Veia Vertebral

O sangue proveniente de segmentos vertebrais cervicais é drenado num plexo venoso formado à volta de cada

artéria vertebral dentro do canal formado pelos orifícios das apófises transversas das vértebras cervicais. O sangue

deste plexo é colectado num vaso que emerge da extremidade inferior deste canal, canal transverso, como veia

vertebral. As veias vertebrais, uma de cada lado, unem-se à veia braquiocefálica do lado correspondente.

2.3 - Veia jugular interna

Começa na base do crânio ao nível do buraco jugular, como continuação do seio sigmóide. No seu início possui uma

dilatação, o bulbo da veia jugular. Tem percurso descendente ao longo do pescoço, medialmente ao músculo

esternocleidomastoideu e ao nível da extremidade medial da clavícula, une-se à veia subclávia ipsilateral para

formar a veia braquiocefálica. A veia jugular interna drena o sangue do encéfalo, crânio, face e pescoço, tem por

isso inúmeros vasos tributários. A drenagem do sangue do encéfalo faz-se através de uma série de seios venosos

envolvidos pela duplicação da dura-máter. As veias cerebrais drenam o sangue das regiões superficiais e profundas

dos hemisférios cerebrais, designando-se, respectivamente, veias cerebrais externas e veias cerebrais internas. As

veias cerebelares drenam o sangue proveniente do cerebelo. As veias cerebrais internas direita e esquerda unem-se

para formar a grande veia cerebral. As veias cerebrais externas e as veias cerebelares podem terminar na grande

veia cerebral, ou directamente nos seios venosos. As veias do tronco cerebral ou tronco encefálico terminam

principalmente nos seios venosos da dura-máter. No diploe dos ossos do crânio há inúmeras veias designadas veias

diplóicas, com paredes muito finas formadas só por endotélio, mas de grande diâmetro, apresentando dilatações ao

longo do seu percurso e comunicando-se com os seios venosos da dura-máter.

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2.4 - Seios venosos da dura-máter

São canais venosos, revestidos de endotélio, que se formam pela divisão da dura-máter em duas lâminas e drenam o

sangue do encéfalo e ossos do crânio.

O seio sagital superior ocupa a porção aderente da foice do cérebro. Tem início na crista galli, com percurso para trás

sulcando a superfície interna do osso frontal, margens adjacentes dos dois ossos parietais e osso occipital onde termina ao

nível da protuberância occipital interna, dividindo-se em dois seios transversos.

O seio recto está na confluência da foice do cérebro e tenda do cerebelo, recebe o sangue da grande veia cerebral e

dirige-se para trás no plano mediano para atingir um dos seios transversos.

Os seios transversos , um de cada lado, começam ao nível da protuberância occipital interna sendo um deles a

continuação do seio sagital superior. Dirigem-se para a frente e lateralmente, até um ponto em que se voltam para baixo

para se continuarem como seios sigmóides

O seio sigmóide é a continuação para baixo do seio transverso do respectivo lado. Tem percurso descendente e medial

até ao orifício jugular onde se continua como veia jugular interna.

Os seios cavernosos estão colocados de cada lado do corpo do esfenóide, recebendo vasos das estruturas oculares e

adjacentes. Podem drenar o sangue directamente para a veia jugular interna ou indirectamente através de outros seios.

3 - Veias do Membro Superior

As veias do membro superior podem ser agrupadas em dois grupos: as veias superficiais e as veias profundas,

apresentando anastomoses entre elas.

3.1 - Veias superficiais do membro su perior

As veias digitais dorsais drenam para veias metacárpicas dorsais, que por sua vez formam uma rede venosa dorsal. A rede

venosa dorsal da mão prolonga-se proximalmente em duas veias: a veia cefálica e a veia basílica.

A veia cefálica colocada lateralmente, tem percurso ascendente na superfície posterior do antebraço e curva-se em

torno de seu bordo radial, para alcançar a sua superfície anterior. Um pouco abaixo da prega do cotovelo dá origem a um

ramo que vai constituir a veia mediana do cotovelo que termina na veia basílica. Continua em direcção proximal, ao longo

do braço até ao nível da clavícula, onde termina na veia axilar.

A veia basílica colocada medialmente, tem percurso ascendente, na superfície posterior do antebraço e curva-se

para diante no seu bordo cubital, para atingir a sua superfície anterior, continuando para cima, no lado cubital do antebraço,

recebe a veia mediana do cotovelo e a veia mediana do antebraço. Alcança o braço dirigindo-se proximalmente para atingir

a veia axilar.

A veia mediana do antebraço drena o plexo venoso palmar e tem percurso ascendente na superfície anterior do

antebraço para atingir a veia basílica.

3.2 - Veias profundas do membro super ior

Os arcos palmares arteriais superficial e profundo estão acompanhados por arcos venosos palmares superficial e profundo.

A drenagem ascendente dos arcos venosos palmares faz-se por veias que acompanham as artérias radial e cubital.

Normalmente há duas veias acompanhantes para cada artéria. Estas veias unem-se à frente do cotovelo para formarem

duas veias braquiais, acompanhantes da artéria braquial e que se dirigem para cima para terminarem na veia axilar.

3.3 - Veia axilar

É a continuação proximal da veia basílica, com início ao nível do bordo inferior do músculo redondo maior até à 1a costela,

a partir da qual se passa a designar veia subclávia.

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3.4 - Veia subclávia

É a continuação da veia axilar, passa sobre a 1a costela em direcção à cavidade torácica, atingindo a veia jugular interna à

qual se une para formar a veia braquiocefálica.

4 - As Veias do Tórax

As veias braquiocefálicas direita e esquerda são dois grandes troncos situados na raiz do pescoço e na porção mais

superior do tórax. Cada veia braquiocefálica é formada pela união das veias jugular interna e subclávia do respectivo lado.

As duas veias braquiocefálicas unem-se para formar a veia cava superior, de tal forma que a veia braquiocefálica esquerda

tem um trajecto mais longo. A veia cava superior drena o sangue da metade superior do corpo. Começa na junção das

duas veias braquiocefálicas ao nível da 1a cartilagem costal do lado direito e dirige-se para baixo para alcançar a porção

póstero-superior da aurícula direita.

5 - As Veias do Membro Inferior

As veias do membro inferior podem ser divididas em dois grupos: as veias superficiais e as veias profundas. As superficiais

estão imediatamente sob a fáscia superficial. As veias profundas acompanham as respectivas artérias, normalmente há

duas veias a acompnhar cada artéria com o mesmo nome.

5.1 - Veias Superficiais do Membro In ferior

O sangue proveniente das veias superficiais do dorso e da planta do pé drenam para duas importantes veias

superficiais: a veia safena maior e a veia safena menor.

A veia safena maior tem percurso ascendente na superfície ântero-medial da perna até atingir a articulação do

joelho. A este nível passa póstero-medialmente aos côndilos mediais da tíbia e fémur e continua em direcção proximal, ao

longo da superfície medial da coxa, atravessa o hiato safeno para se unir à veia femural.

A veia safena menor tem percurso ascendente, primeiro na superfície póstero-lateral da perna, depois no centro da

superfície posterior da perna, perfura a fáscia profunda ao nível da fossa poplítea para desembocar na veia poplítea.

5.2 - Veias Profundas do Membro Infer ior

As duas veias tibiais posteriores têm percurso ascendente acompanhando a artéria tibial posterior ao longo da

face posterior da tíbia. As duas veias tibiais anteriores acompanham a artéria tibial anterior em direcção proximal, na face

anterior da perna e um pouco abaixo da articulação do joelho passam para o sector posterior da perna, atravessando o

bordo superior da membrana interóssea. As veias tibiais anteriores unem-se às veias tibiais posteriores para formarem a

veia poplítea . A veia poplítea tem percurso ascendente na fossa poplítea acompanhando a artéria do mesmo nome e ao

atingir o anel do músculo adutor magno passa a designar-se veia femural. Ao nível da fossa poplítea a veia poplítea recebe

a veia safena menor. A veia femural dirige-se para cima no sector ântero-medial da coxa, sendo a continuação da veia

poplítea a partir do local em que esta atravessa o canal do músculo adutor magno, para a+tingir a face anterior da coxa.

Continua em direcção proximal até ao ligamento inguinal, a partir do qual passa a designar-se veia ilíaca externa .

6 - As Veias do Abdómen e Pelve

A veia ilíaca externa é a continuação proximal da veia femural, começando atrás do ligamento inguinal. Ao nível da

articulação sacroilíaca une-se à veia ilíaca interna para constituirem a veia ilíaca comum ipsilateral.As duas veias ilíacas

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comuns, uma de cada lado, unem-se ao nível da 5a vértebra lombar para formarem a veia cava inferior . Esta conduz todo

o sangue proveniente das regiões do corpo abaixo do diafragma, em direcção à aurícula direita do coração. A veia cava

inferior dirige-se para cima, à frente da coluna vertebral e à direita da artéria aorta, perfura o centro tendíneo do diafragma

para entrar na cavidade torácica e desemboca na porção póstero-inferior da aurícula direita.

Bibliografia :

1 - Williams PL, Warwick R. Gray’s Anatomy. 38th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. p. 1453 – 1626.

2 - Netter FH. Atlas de Anatomia Humana. Segunda Edición. East Hanover. Novartis.

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SISTEMA CARDIOVASCULAR III

SUMÁRIO

1 – Características citológicas e funcionais do tecido muscular cardíaco

• Estriação transversal: bandas A, I, H e linha Z

• Discos intercalares: desmossomas e junções comunicantes em hiato

• Automaticidade e ritmicidade do miócito cardíaco

2 – Sístole e diástole. Importância funcional do ião cálcio

3 – Sistema de condução do coração

• Nós sino-auricular e auriculo-ventricular

• Feixe de His

• Miócitos de Purkinje

• Função de “pacemaker”

• Atraso na condução auriculo-ventricular

4 – O ciclo cardíaco

4.1 – Sístole ventricular

• Contracção isovolumétrica

• Fase de ejecção

4.2 – Diástole ventricular

• Relaxamento isovolumétrico

• Fase de enchimento rápido

• Fase de enchimento lento ou diástase

• Entrada adicional de sangue promovida pela sístole auricular

5 – Traçado electrocardiográfico e sons cardíacos

Bibliografia :

1 - Junqueira LC, Carneiro J. Histologia Básica. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. p. 184-222.

2 - Williams PL, Warwick R. Gray’s Anatomy. 38th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. p. 738 – 771.

3 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4th Edition. St Louis: Mosby;1998. p. 269 – 281.

4 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4th Edition. St Louis: Mosby;1998. p. 329 – 378.

5 - Guyton AC, Hall JE. Textbook of Medical Physiology. 10th Edition. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000. p. 96-142.

6 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4th Edition. St Louis: Mosby;1998. p. 21 – 29.

7 – Roden DM, George AL. The Cardiac Ion Channels. Relevance to Management of Arrhytmias. Ann. Rev. Med. 1996; 47: 135-148.

8 – Niggli E. Localized Intracellular Calcium Signaling in Muscle: Calcium Sparks and Calcium Quarks. Ann. Rev. Physiol. 1999; 61: 311-335.

9 – Kiriazis H, Kranias EG. Genetically Emgineered Models with Alterations in Cardiac Membrane Calcium Handling Proteins. Ann. Rev. Phisiol.

2000; 62: 321-351.

10 - Williams PL, Warwick R. Gray’s Anatomy. 38th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. p. 1472 – 1503.

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SISTEMA CARDIOVASCULAR III

I - CARACTERÍSTICAS CITOLÓGICAS DO TECIDO MUSCULAR CARDÍA CO

O coração é um órgão oco com paredes essencialmente musculares, com capacidade de contracção rítmica o

que permite bombear o sangue para o sistema arterial. As paredes do coração delimitam os seus compartimentos,

sendo constituídas por três túnicas: a interna constitui o endocárdio , a externa constitui o epicárdio e a intermédia e

mais espessa constitui o miocárdio . O endocárdio é uma delicada camada de tecido epitelial e conjuntivo similar à

túnica íntima dos vasos sanguíneos, constituída pelo endotélio que fica voltado para o interior dos compartimentos

cardíacos, suportado por uma fina camada de tecido conjuntivo sub-endotelial. O epicárdio é o folheto interno ou

visceral do pericárdio seroso, é constituído por um epitélio simples pavimentoso, o mesotélio, voltado para a cavidade

pericárdica e uma camada de tecido conjuntivo frouxo, entre o mesotélio e o miocárdio. O miocárdio é uma camada

muscular constituída por fibras musculares estriadas cardíacas1.

As fibras musculares estriadas cardíacas ou miócitos cardíacos são células alongadas com cerca de 100

micrómetros de comprimento e cerca de 10 a 15 micrómetros de diâmetro. Cada uma destas células tem um ou dois

núcleos ocupando o centro da célula apresentando ramificações nas suas extremidades, fortemente unidas às

ramificações de células adjacentes2. Uma característica exclusiva do músculo cardíaco é a presença de complexos

juncionais, unindo fortemente as células entre si. Estes complexos unitivos constituem os discos intercalares que

integram três formas de união intercelular: zónulas de adesão, desmossomas e junções comunicantes em hiato.

Entre os miócitos cardíacos há uma fina camada de tecido conjuntivo similar ao endomísio do tecido muscular

estriado esquelético, rico em capilares sanguíneos, no entanto, menos organizado2.

Os miócitos cardíacos apresentam estriação transversal idêntica à encontrada no tecido muscular esquelético,

com o mesmo modelo de organização dos filamentos de actina e miosina, aparecendo em microscopia electrónica as

bandas A, I, H e linhas Z . Encontram-se numerosas mitocôndrias e túbulos invaginados do sarcolema para o interior

da célula, constituindo sistemas T do sarcolema idênticos aos da fibra muscular estriada esquelética. No entanto, o

retículo sarcoplasmático não é tão desenvolvido como na fibra muscular estriada esquelética, embora esteja em íntimo

contacto com o sistema T do sarcolema1.

II – FISIOLOGIA DO MIÓCITO CARDÍACO

Tal como na fibra muscular estriada esquelética, a contracção (encurtamento) dos miócitos cardíacos deve-se à

interacção entre actina e miosina, iniciada pelo aumento da concentração de ião cálcio (Ca++) no sarcoplasma. No

entanto, a proveniência do Ca++ responsável pelo desencadeamento da contracção é diferente entre os dois tipos de

fibras musculares. Na fibra muscular estriada esquelética, todo o Ca++ necessário para despoletar a contracção está

armazenado no interior das cisternas de retículo sarcoplasmático. Na fibra muscular estriada cardíaca há um

contingente de Ca++ proveniente do fluído extracelular, que entra na célula através de canais proteicos situados no

sarcolema. Os iões Ca++ provenientes do fluído intersticial, inundam o sarcoplasma estimulando a libertação de mais

Ca++ armazenado no retículo sarcoplasmático. Os iões Ca++ são responsáveis por despoletar o mecanismo de

encurtamento do sarcómero, de forma similar ao que sucede na fibra muscular estriada esquelética, por conseguinte

fluxos iónicos envolvendo Ca++ são fulcrais para desencadear a contracção da fibra muscular estriada cardíaca 2, 3.

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1 – Fluxos Iónicos e a Contracção e Relaxamento do Miócito Cardíaco

Os eventos celulares que antecedem e são responsáveis pela contracção e relaxamento do miócito cardíaco são

meras alterações da permeabilidade do sarcolema a iões, essencialmente Na+, K+ e Ca++, cujas concentrações no fluído

extracelular devem ser mantidas dentro de determinados valores para que haja bom funcionamento do miócito

cardíaco4, 5.

Tal como sucede em muitas outras células, o sarcoplasma do miócito cardíaco apresenta um excedente de

aniões, nomeadamente proteínas ionizadas que dificilmente se difundem para o exterior da célula. Como resultado, a

diferença de potencial eléctrico entre o interior e o exterior da célula é negativo, rondando os -90 milivolts. Por outro

lado, a concentração de K+ é maior no interior da célula do que no exterior, enquanto que o oposto sucede para os iões

Na+ e Ca++. Estas características definem o potencial de membrana em repouso4, 6.

Na membrana plasmática ou sarcolema do miócito cardíaco há canais iónicos que são proteínas de membrana

que constituem poros permitindo a passagem de iões de um lado para o outro lado da membrana. Assim, estes canais

iónicos determinam fluxos de iões que caracterizam a actividade eléctrica do miocárdio7, directamente relacionada com

a alternância contracção / relaxamento deste tecido4, 5.

Alterações do potencial de membrana em repouso podem gerar potenciais e acção que alteram o

comportamento celular. Quando o potencial de membrana em repouso é subitamente alterado para um valor acima de

um limiar crítico, ocorre abertura de canais proteicos no sarcolema para o ião Na+ permitindo a entrada deste ião na

célula, tornando o citoplasma gradualmente menos negativo, um fenómeno eléctrico designado despolarização4, 5. A

partir deste momento, há abertura de canais para iões K+ e para iões Ca++ existentes no sarcolema, ocorrendo efluxo de

K+ contrabalançado pelo influxo de Ca++ o que permite manter a célula despolarizada4. O influxo de Ca++ proveniente,

obviamente, do fluído intersticial atravessa o sarcolema do miócito cardíaco, através de canais tipo L (receptores

dihidropiridina DHR) que abrem à medida que diminui a negatividade do sarcoplasma4, 5, 8, 9. O contingente de Ca++

proveniente do exterior da célula, só por si não desencadeia o mecanismo de contracção do miócito cardíaco, mas

funciona como gatilho, activando canais para os iões Ca++, existentes na membrana do retículo sarcoplasmático

(receptores rianodina) 4, 7, 8, 9. Desta forma, o Ca++ armazenado no retículo sarcoplasmático é libertado no sarcoplasma

amplificando a concentração citoplasmática deste ião, em quantidade suficiente para desencadear a o mecanismo de

contracção do miócito cardíaco4, 7. Após 0,2 ou 0,3 segundos, os canais de Ca++ fecham, terminando o influxo deste

ião5, por conseguinte, o efluxo de K+ excede o influxo de Ca++, o sarcoplasma perde cargas positivas, tornando-se

gradualmente mais negativo, a célula aproxima-se do potencial de membrana em repouso4, 8, este fenómeno eléctrico é

designado repolarização4. Tem sido sugerido que o ião Ca++ libertado pelo retículo sarcoplasmático induz a abertura de

canais paro o ião K+, uma hipótese avançada para explicar o aumento do efluxo de K+ responsável pelo retorno do

miócito cardíaco ao potencial de repouso8.

A concentração intracelular de Ca++ determina a força e a duração da contracção cardíaca, por conseguinte, a

despolarização do miócito cardíaco é o evento eléctrico que antecede a contracção do mócito9. Para que haja

relaxamento do miócito cardíaco é necessário retirar o ião Ca++ do sarcoplasma4, 8. Após 0,2 ou 0,3 segundos a partir

do início do potencial de acção, o efluxo de K+ torna-se dominante porque os canais iónicos para o Ca++ encerram

impedindo o influxo deste ião5. O resultado é um aumento gradual da negatividade do sarcoplasma, o evento eléctrico

que caracteriza a repolarização da célula4. A inibição do influxo de ião Ca++ e concomitante actividade de proteínas de

transporte existentes não só no sarcolema, mas também na membrana do retículo sarcoplasmático, são responsáveis

por reduzir a concentração do ião Ca++ no sarcoplasma4. A bomba de Ca++ (Ca++ ATPase) é uma destas proteínas e

permite extruír Ca++ através do sarcolema, bem como re-sequestrar este ião no interior do retículo sarcoplasmático. No

sarcolema há uma outra proteína envolvida na extrusão de Ca++, que por antiporte, desloca Ca++ para o exterior da

célula e em simultâneo desloca Na+ para o interior4, 9. O resultado será uma redução da concentração de Ca++ no

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sarcoplasma, ocorrendo relaxamento do miócito cardíaco4. Por conseguinte, o evento eléctrico que antecede o

relaxamento do miócito cardíaco é a repolarização desta célula, resultante do encerramento dos canais para o ião Ca++.

2 – Coordenação da Actividade Cardíaca. Sistema de C ondução

Todos os miócitos cardíacos, têm a capacidade de despolarização e repolarização do sarcolema, de forma

autónoma (sem intervenção de estruturas nervosas para estimular estes eventos) e de forma rítimica (com intervalos de

tempo regulares). Por outras palavras, o miocárdio apresenta duas características intrínsecas, a automaticidade e a

ritmicidade . Além disso, através das junções comunicantes em hiato, as ondas de despolarização e repolarização

podem passar de um miócito cardíaco para o miócito vizinho, de forma a sincronizar a actividade eléctrica de todos os

miócitos cardíacos. Porque a despolarização e repolarização são eventos eléctricos que antecedem, respectivamente, a

contracção e o relaxamento dos miócitos cardíacos, estas características permitem que de uma forma autónoma e com

ritmicidade ocorra contracção, sístole , alternando com relaxamento, diástole do miocárdio10. Por isso, num coração

excisado mas devidamente perfundido, as contracções rítmicas persistem4.

A taxa de despolarização e de repolarização dos miócitos cardíacos varia consoante a sua localização no

miocárdio, é mais lenta nos miócitos ventriculares, intermédia nos miócitos auriculares e mais rápida num conjunto de

miócitos especializados, estrategicamente situados no miocárdio e que constituem o sistema de condução do

coração 4, 10. Sempre que um miócito cardíaco despolariza e repolariza, os fluxos iónicos subjacentes a estes

fenómenos passam para os miócitos vizinhos, através das junções comunicantes em hiato, subjugando estes miócitos

ao ritmo de despolarização e repolarização do miócito que iniciou os eventos eléctricos. Logo, o conjunto de miócitos

cardíacos com maior taxa de despolarização/repolarização, marcam o ritmo de contracção e relaxamento do miocárdio,

consideram-se o pacemaker cardíaco 10.

A região do miocárdio que gera ondas de despolarização e repolarização com maior frequência constitui o nó

sino-auricular , um conjunto de miócitos cardíacos localizados no sulco entre a veia cava superior e a aurícula direita,

constituindo uma estrutura com 8 milímetros de comprimento e 2 milímetros de espessura. Pela elevada rapidez com

que iniciam o ciclo de despolarização/repolarização, os miócitos do nó sino-auricular marcam o ritmo de

contracção/relaxamento de todo o miocárdio, constituindo, em situação normal, o pacemaker cardíaco4, 10.

Do nó sino-auricular, a onda de despolarização/repolarização alastra a todos os miócitos da aurícula direita e,

através de um conjunto particular de miócitos, atinge os miócitos da aurícula esquerda4. A condução da onda de

despolarização/repolarização ao longo da aurícula direita, permite atingir um conjunto particular de miócitos cardíacos,

situados na parede posterior da aurícula direita, ao nível do orifício aurículo-ventricular. Este conjunto de miócitos

cardíacos constitui o nó aurículo-ventricular , com 22 milímetros de comprimento e 3 milímetros de espessura4, 5.

A arquitectura do miocárdio pressupõe separação funcional entre os miócitos cardíacos auriculares e os

ventriculares10. No entanto, a onda de despolarização/repolarização que alastra nas aurículas, atinge os miócitos

ventriculares através de um feixe de miócitos cardíacos que emergem do nó aurículo-ventricular, constituindo o feixe

aurículo-ventricular 5,10 ou feixe de His 4. Em condições fisiológicas normais este feixe é a única via de passagem da

onda de despolarização/repolarização das aurículas para os ventrículos4.

A onda de despolarização demora cerca de 0,03 segundos a percorrer a distância entre o nó sino-auricular e o

nó aurículo-ventricular. Devido a características particulares dos miócitos cardíacos, há um atraso na condução da onda

de despolarização/repolarização de cerca de 0,09 segundos no nó aurículo-ventricular e de cerca de 0,04 segundos no

feixe de His. Provavelmente, a causa desta lenta condução da onda de despolarização/repolarização nestes locais

Aplicação de conhecimentos: Os antagonistas dos canais de Ca++, nomeadamente verapamil e diltiazen, são fármacos

bloqueiam os canais de Ca++ reduzindo o influxo deste ião no miócito cardíaco. Nestas circunstâncias, a força de

contracção do miocárdio diminui4.

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deve-se a uma diminuição do número de junções comunicantes em hiato entre miócitos cardíacos vizinhos5. Como

consequência deste atraso na condução da onda de despolarização/repolarização, os miócitos ventriculares contraem

quase 0,2 segundo mais tarde do que as aurículas. Funcionalmente este atraso permite que os ventrículos antes de

contraírem, recebam todo o sangue proveniente das aurículas4, 5.

O feixe de His divide-se em ramos direito e esquerdo , cada um deles subdividindo-se para dar origem a uma

densa rede de miócitos cardíacos que constituem as fibras de Purkinje , responsáveis pela transmissão da onda de

despolarização/repolarização aos miócitos das paredes ventriculares4, 5.

3 – Significado Clínico do Electrocardiograma

O electrocardiograma permite inferir o percurso da onda de despolarização/repolarização ao longo do miocárdio,

manifestado pelas variações do potencial eléctrico na superfície do corpo. A apresentação gráfica do percurso da onda

de despolarização/repolarização é designada traçado electrocardiográfico 4.

Em geral, o traçado electrocardiográfico apresenta três ondas: a onda P resulta dos fluxos iónicos que causam

despolarização do miocárdio auricular e que marcam o início da sístole auricular, o complexo QRS resulta dos

potenciais de acção que causam despolarização do miocárdio ventricular e que marcam o início da sístole ventricular e

a onda T é o resultado da repolarização dos ventrículos precedendo a sua diástole5.

O intervalo P-R ou P-Q é o período de tempo entre o início da onda P e o início do complexo QRS e significa

o lapso de tempo entre a estimulação das aurículas e a estimulação dos ventrículos5, este período de tempo varia de

0,12 a 0,2 segundos, grande parte associado à passagem da onda de despolarização/repolarização no nó aurículo-

ventricular e feixe de His. Prolongamento patológico deste período de tempo está associado a distúrbios da condução

aurículo-ventricular5.

O intervalo Q-T é o período de tempo entre o início do complexo QRS e o final da onda T, dado que a

despolarização do ventrículo tem início logo com complexo QRS, este intervalo de tempo é considerado o período de

sístole eléctrica do ventrículo4.

III - O CICLO CARDÍACO 4, 5, 7

O ciclo cardíaco é o conjunto de eventos que ocorrem desde o início de um batimento cardíaco até ao início do

batimento seguinte. O ciclo cardíaco consiste de um período de relaxamento ou diástole do miocárdio e um período de

contracção ou sístole. Cada ciclo tem início pela ocorrência espontânea da despolarização/repolarização nos miócitos

cardíacos do nó sino-auricular. Os eventos que caracterizam cada ciclo cardíaco ocorrem quase em simultâneo do lado

esquerdo e do lado direito, o que varia é a pressão do sangue. Pela importância da sístole ventricular na sobrevivência

do indivíduo, considera-se o ciclo cardíaco como sendo a ocorrência alternada de sístole ventricular e diástole

ventricular.

1 – A Sístole Ventricular

O início da sístole ventricular coincide com a onda R do ECG. A contracção dos miócitos cardíacos que constituem

as paredes dos ventrículos causa um aumento abrupto da pressão no interior destes compartimentos. O sangue no seu

interior é pressionado contra os folhetos valvulares o que causa encerramento dos orifícios aurículo-ventriculares. O

encerramento abrupto dos orifícios aurículo-ventriculares é o evento que marca o início da sístole e é marcado pelo 1º

som cardíaco . O intervalo de tempo entre o início da sístole e a abertura das válvulas semilunares corresponde à

contracção isovolumétrica dos ventrículos, caracterizada pelo aumento gradual da pressão dentro do ventrículo que

funciona agora como um compartimento fechado, dado que os orifícios aurículo-ventriculares e os orifícios aórtico e

pulmonar estão fechados. Quando a do sangue no interior dos ventrículos ultrapassa a pressão do sangue no interior

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Anatomo-Histo-Fisiologia I Cristina Teixeira

das artérias, o sangue pressiona os folhetos aórtico e pulmonar ocorrendo a abertura das válvulas aórtica e pulmonar.

Este evento marca o final da contracção isovolumétrica e o início da fase de ejecção da sístole ventricular

caracterizada pela passagem do sangue para os grandes vasos, primeiro de forma rápida e depois mais lentamente. A

quantidade de sangue que passa do ventrículo para a artéria correspondente designa-se volume de ejecção . Fracção

de ejecção é a percentagem ou proporção de sangue que passa do ventrículo esquerdo para a artéria aorta em relação

ao volume total do sangue no ventrículo no final da diástole. Após a fase de ejecção, permanece no interior dos

ventrículos uma determinada quantidade de sangue que se designa volume residual .

2 – A Diástole Ventricular

A diástole ventricular corresponde ao período de relaxamento dos miócitos cardíacos que formam as paredes dos

ventrículos, ocorrendo inicialmente diminuição da pressão no interior do ventrículo, tornando-se inferior à pressão do

sangue nas respectivas artérias. O início da diástole ventricular é marcado pelo encerramento das válvulas aórtica e

pulmonar, marcado pelo 2º som cardíaco . O encerramento das válvulas aórtica e pulmonar deve-se à tendência do

sangue regressar ao ventrículo devido à gradual descida de pressão neste compartimento. O ventrículo é agora um

compartimento fechado, cujas paredes estão a relaxar, por conseguinte, a pressão do sangue no seu interior diminui,

até que se torna inferior à pressão do sangue na respectiva aurícula. Por diferença de pressão os folhetos valvulares

são empurrados em direcção ao ventrículo e o orifício aurículo-ventricular abre. O período de tempo entre o

encerramento das válvulas aórtica e pulmonar e a abertura das válvulas auriculo-ventriculares, corresponde ao

relaxamento isovolumétrico dos ventrículos, caracterizado por uma descida da pressão nos ventrículos, mas

mantendo o mesmo volume residual de sangue.

Após a abertura das válvulas auriculo-ventriculares, o sangue existente nas aurículas passa para os ventrículos, por

simples diferença de pressão. Inicialmente a passagem de sangue entre aurícula e ventrículo faz-se de forma rápida

caracterizando a fase de enchimento rápido , depois de forma mais lenta caracterizando a fase de enchimento lento

ou diástase.

O início da sístole auricular , a última fase da diástole ventricular, é marcado pelo início da onda P do ECG e permite

a transferência de uma quantidade adicional de sangue para os ventrículos. Esta quantidade de sangue corresponde

apenas a 25% do volume de sangue que passa da aurícula para o ventrículo em cada ciclo cardíaco. Neste momento,

cada ventrículo fica repleto de sangue, com um volume de sangue que varia entre os 110 e 120 mililitros, dos quais,

cerca de 70 mililitros serão ejectados na árvore arterial do respectivo lado.

Bibliografia :

1 - Junqueira LC, Carneiro J. Histologia Básica. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. p. 184-222.

2 - Williams PL, Warwick R. Gray’s Anatomy. 38th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. p. 738 – 771.

3 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4th Edition. St Louis: Mosby;1998. p. 269 – 281.

4 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4th Edition. St Louis: Mosby;1998. p. 329 – 378.

5 - Guyton AC, Hall JE. Textbook of Medical Physiology. 10th Edition. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000. p. 96-142.

6 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4th Edition. St Louis: Mosby;1998. p. 21 – 29.

7 – Roden DM, George AL. The Cardiac Ion Channels. Relevance to Management of Arrhytmias. Ann. Rev. Med. 1996; 47: 135-148.

8 – Niggli E. Localized Intracellular Calcium Signaling in Muscle: Calcium Sparks and Calcium Quarks. Ann. Rev. Physiol. 1999; 61: 311-335.

9 – Kiriazis H, Kranias EG. Genetically Emgineered Models with Alterations in Cardiac Membrane Calcium Handling Proteins. Ann. Rev. Phisiol.

2000; 62: 321-351.

10 - Williams PL, Warwick R. Gray’s Anatomy. 38th Edition. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1995. p. 1472 – 1503.

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SISTEMA CARDIOVASCULAR IV

SUMÁRIO

I – Hemodinâmica

1 - Sistema Arterial.

1.1 - Elasticidade arterial - “Compliance” .

1.2 - Resistência arteriolar.

1.3 - Pressão arterial sistémica e pulmonar. Pressão de pulso e seu tamponamento. Determinantes da pressão

arterial.

2 - Microcirculação.

– Fluxo de sangue na rede capilar: vasomotilidade

– Permuta de substâncias entre plasma e fluído intersticial.

• Difusão.

• Filtração. Pressão hidrostática e pressão coleidosmótica no interior dos capilares.

3 - O retorno venoso. Pressão venosa central. Mecanismos facilitadores.

II – Regulação da actividade cardíaca

1 - Regulação intrínseca da actividade cardíaca: mecanismo de Frank Starling

2 - Regulação extrínseca da actividade cardíaca: sistema nervoso autónomo simpático e parassimpático

III – Regulação do fluxo sanguíneo

1 - Regulação local por metabolitos vasodilatadores.

2 - Regulação pelo sistema nervoso autónomo. Tónus vasomotor

Bibliografia :

1 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4th Edition. St Louis: Mosby;1998. p. 379-513.

2 - Guyton AC, Hall JE. Textbook of Medical Physiology. 10th Edition. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000. p. 96-222.

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SISTEMA CARDIOVASCULAR IV

I - HEMODINÂMICA

1 – O Sistema Arterial

A principal função do sistema arterial é distribuir o sangue dos vários tecidos do corpo através da rede capilar. As

arteríolas, pelas características histológicas que apresentam, são vasos que oferecem resistência variável à passagem do

sangue, assim regulam o fluxo do sangue na rede capilar, através do grau de contracção das fibras musculares lisas de suas

paredes. Por outro lado, as grandes artérias como a artéria aorta e seus principais ramos, têm paredes elásticas com

possibilidade de distensão e retorno à posição inicial. A elasticidade da parede arterial permite tamponar a excessiva pressão

do sangue ejectado do ventrículo, reduzindo a velocidade do sangue1, 2. Estas duas características do sistema arterial:

elasticidade das paredes arteriais e resistência das arteríolas, tendem a abafar as flutuações do fluxo, resultantes da

intermitência na ejecção do sangue na árvore arterial. Desta forma, o sistema arterial funciona como filtro hidráulico , que

converte a intermitência do volume de sangue ejectado, num fluxo contínuo1.

1.1 – Elasticidade Arterial 1

A riqueza em fibras elásticas nas paredes das grandes artérias confere a capacidade de se distenderem quando a

pressão no interior do vaso aumenta e regressarem à posição inicial quando a pressão regressa aos valores iniciais. Assim,

quando o sangue é ejectado no sistema arterial, o diâmetro da artéria aumenta pela distensão das suas paredes e à

medida que o sangue se desloca para segmentos mais distais da árvore arterial, o diâmetro do lúmen da artéria regressa à

posição inicial, dado que as fibras elásticas retornam à posição inicial.

O sangue é ejectado no sistema arterial sob uma elevada pressão causando distensão da parede arterial. Pelo facto

de aumentar o diâmetro da artéria, a pressão no seu interior diminui, reduzindo a velocidade de deslocamento do sangue. A

distensibilidade da parede arterial é também designada “compliance “ e esta característica controla o súbito aumento de

pressão que seria de esperar com a passagem da onda sistólica.

À medida que o sangue se desloca para segmentos distais da árvore arterial, a pressão no interior da artéria diminui

gradualmente e a parede arterial regressa à posição inicial. O sangue que permanece naquele segmento é comprimido pela

parede da artéria à medida que o diâmetro do lúmen diminui, o sangue é empurrado para segmentos mais distais.

Pela capacidade de distensão da parede arterial e retorno à posição inicial há tamponamento da excessiva pressão

do sangue no interior dos vasos e, em simultâneo, há continuidade do fluxo de sangue que chega à rede capilar. As artérias

de indivíduos jovens têm elevada distensibilidade ou “compliance“, por isso, o aumento do volume de sangue ejectado não

faz aumentar muito a pressão arterial.

Em indivíduos mais velhos a distensibilidade das artérias diminui, causando um aumento considerável da pressão

arterial à medida que aumenta o volume de sangue ejectado. Isto acontece devido a processos de aterosclerose que causa

rigidez das paredes das artérias na sequência de alterações da quantidade de elastina.

1.2 – Resistência Arteriolar 1, 2

A parede das arteríolas contém fibras musculares lisas colocadas circunferencialmente à volta de um lúmen com

diâmetro reduzido. A contracção das fibras musculares lisas causa diminuição do lúmen arteriolar criando resistência à

passagem do sangue. Este facto tem consequências no fluxo de sangue e na pressão arterial. Ao criar resistência à

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passagem do sangue, as arteríolas criam um fluxo contínuo de sangue no seu interior. Além disso, uma maior ou menor

resistência à passagem do sangue determina a quantidade de sangue que chega à rede capilar, permitindo controlar o fluxo

de sangue nos capilares. A pressão arterial é influenciada pela resistência arteriolar, na medida em que, uma maior

resistência à passagem do sangue origina a acumulação de sangue na árvore arterial, aumentando a pressão arterial.

1.3 – Determinantes da Pressão Arterial

A pressão arterial é a força que o sangue exerce na parede das artérias e é um parâmetro rotineiramente

avaliado na clínica. O sangue é ejectado de forma intermitente, pulsátil na árvore arterial. Como consequência, a pressão

arterial varia à volta de um valor médio com oscilações ao longo de cada ciclo cardíaco que vão de um valor mínimo

designado pressão diastólica a um valor máximo designado pressão sistólica. Durante o período de diástole ventricular

ocorre saída de sangue a nível periférico sem entrada de sangue no sistema arterial, como resultado obtém-se um valor

mínimo da pressão arterial que é a pressão diastólica. Durante a fase de ejecção da sístole ventricular, o volume de sangue

no sistema arterial excede o volume que sai a nível periférico e então a pressão arterial começa a aumentar atingindo um

ponto máximo no final da fase de ejecção, que constitui a pressão sistólica. A diferença entre o valor máximo (pressão

sistólica) e o valor mínimo (pressão distólica) da pressão arterial é designada pressão de pulso que percorre a árvore

arterial1, 2.

A intermitência da pressão arterial, caracterizada pela variação entre um valor máximo e um valor mínimo ocorre

quer ao nível da circulação sistémica como ao nível da circulação pulmonar. No entanto, na artéria aorta a pressão arterial

normal varia entre um valor máximo de 120 mmHg e um mínimo de 80 mm Hg, enquanto na artéria pulmonar, a pressão

sistólica normalmente ronda os 25 mmHg e a diastólica ronda os 8 mm Hg. 2

À medida que o sangue percorre a árvore arterial a intensidade da variação da pressão do sangue diminui, há um

gradual tamponamento da pulsatilidade da pressão arterial. Isto deve-se essencialmente a dois factores: a compliance das

grandes artérias e a resistência à passagem do sangue promovida pelas arteríolas. Estes dois factores eliminam a pressão

de pulso2.

Há dois factores físicos importantes que determinam a pressão arterial: o volume de sangue ejectado na árvore

arterial e a distensibilidade das paredes das grandes artérias. Quanto maior o volume de sangue na árvore arterial maior

será a pressão arterial. Por outro lado, quanto maior a distensibilidade ou compliance das grandes artérias, maior será o

seu diâmetro à passagem da onda sistólica, consequentemente, menor será a pressão arterial1, 2.

O volume de sangue no sistema arterial pode ser modificado por factores fisiológicos, nomeadamente, o débito

cardíaco e a resistência arteriolar (periférica). O débito cardíaco é definido como sendo o volume de sangue que em cada

minuto é ejectado na artéria aorta, obviamente, quanto maior o débito cardíaco maior será a pressão arterial. A resistência

arteriolar ou periférica é determinada pelo grau de contracção das fibras musculares lisas da parede das arteríolas.

Aumentando a contracção destas fibras musculares, diminui o diâmetro arteriolar, aumentando a resistência à passagem do

sangue, facto que condiciona um aumento de sangue na árvore arterial, consequentemente, uma aumento da pressão

artéria1. Uma forma de avaliar indirectamente a pressão arterial é através do esfigmomanómetro. Consiste de uma manga

que contém um saco insuflável que é colocado à volta do braço. Ao encher o saco de ar a artéria braquial é ocluída. Um

estetoscópio é colocado no espaço antecubital, ao nível da artéria braquial. Quando se diminui a pressão de ar na manga

abaixo do nível da pressão sistólica ouvem-se ruídos (sons de Korotkoff). A pressão medida no momento do primeiro ruído

constitui a pressão sistólica. À medida que a pressão de ar no saco continua a decair os sons tornam-se cada vez mais

baixos até deixarem de se ouvir, neste ponto é medida a pressão diastólica1, 2.

2 – A Microcirculação

O sistema circulatório serve para fornecer aos tecidos sangue em suficiente quantidade para suprir as

necessidades em oxigénio e nutrientes. Os capilares e vénulas pós-capilares cujas paredes consistem de uma única

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camada de células endoteliais permitem rápidas trocas de gases, água e solutos entre o sangue e fluído intersticial. As

arteríolas que são os principais vasos de resistência regulam o fluxo sanguíneo regional na rede capilar. As vénulas e

as veias funcionam como canais colectores e de armazenamento, designados vasos de capacitância e com

características que permitem o retorno do sangue ao coração1, 2.

A microcirculação é definida como o percurso do sangue através dos vasos sanguíneos mais pequenos:

arteríolas, capilares e vénulas. A densidade de capilares varia de tecido para tecido, em tecidos metabolicamente

activos a rede capilar é mais densa1.

2.1 – O Fluxo de Sangue na Rede Capilar - Vasomotilid ade

Normalmente o sangue chega à rede capilar através de arteríolas que se ramificam sucessivas vezes dando

origem a arteríolas terminais, também designadas meta-arteríolas das quais se originam os capilares sanguíneos. Da

confluência de vários capilares resultam vénulas que drenam o sangue que percorreu a rede capilar2.

As arteríolas musculares apresentam uma túnica média espessa constituída por fibras musculares lisas e um

diâmetro máximo de 100 micrómetros1. Pela riqueza em fibras musculares, o diâmetro das arteríolas é variável, aspecto

que permite controlar a quantidade de sangue que chega à rede capilar2. Assim, o fluxo de sangue nos capilares não é

uniforme, varia consoante o estado de contracção das fibras musculares lisas das arteríolas. Por sua vez, o estado de

contracção das arteríolas é regulado localmente através de mediadores químicos, consoante as necessidades

metabólicas do tecido em cada momento1.

As meta-arteríolas ou arteríolas terminais não apresentam continuidade da camada muscular, no entanto fibras

musculares lisas rodeiam o vaso sanguíneo em pontos intermitentes2. A meta-arteríola desemboca numa vénula e, ao

longo do seu percurso, dá origem a vários capilares sanguíneos1. No local da meta-arteríola onde tem origem um capilar

sanguíneo, fibras musculares lisas rodeiam o orifício de passagem entre a meta-arteríola e o capilar, constituindo o

esfíncter pré-capilar. A contracção e relaxamento deste esfíncter permitem regular a quantidade de sangue que entra no

capilar1, 2. Esta organização ao nível da meta-arteríola permite classificá-la como canal de passagem preferencial.

Consoante as necessidades metabólicas do momento, o sangue poderá fazer o trajecto através dos capilares se os

esfíncteres pré-capilares estiverem relaxados, ou o sangue faz o percurso através da meta-arteríola desembocando

directamente na vénula, caso os esfíncteres pré-capilares estejam contraídos1. Tal como sucede ao nível das arteríolas,

a contracção e relaxamento dos esfíncteres pré-capilares são regulados através de mediadores químicos libertados

localmente consoante as necessidades metabólicas naquele momento1, 2.

As características dos vasos sanguíneos envolvidos na microcirculação determinam um fluxo de sangue ao

longo da rede capilar, variável e descontínuo, como consequência do fenómeno designado vasomotilidade que resulta

de diferentes graus de contracção da túnica média das arteríolas e dos esfíncteres pré-capilares1, 2.

2.2 – Permuta de nutrientes entre sangue e líquido intersticial

Os capilares e as vénulas pós capilares apresentam uma constituição histológica que permite classificá-los como

vasos de troca, porque permitem a transferência de substâncias entre o plasma e o fluído intersticial. Aliás, este é o

objectivo principal do sistema cardiovascular1, 2.

A parede dos capilares é constituída por uma única camada de células epiteliais achatadas, o endotélio, rodeada

pela membrana basal. A espessura total desta parede é, em média, 0,5 micrómetros. Na parede do capilar há diminutas

passagens entre o interior e o exterior do capilar2. As fendas entre as células endoteliais são locais de passagem

permitindo a permuta de substâncias entre o plasma e o fluído intersticial. Em alguns tecidos os capilares apresentam

células endoteliais bem unidas entre si formando uma parede contínua, a fenda entre células endoteliais vizinhas é

diminuta restringindo a passagem de substâncias, apenas as moléculas de pequenas dimensões conseguem atravessar

a parede dos capilares através destas passagens. Em alguns órgãos, as células endoteliais dos capilares estão

separadas entre si por fendas de grandes dimensões, constituindo uma parede descontínua, através da qual é fácil a

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Anatomo-Histo-Fisiologia I Cristina Teixeira

passagem de substâncias, mesmo proteínas de proteínas plasmáticas. Noutros órgãos e tecidos, os capilares são

fenestrados, situação em que há poros que atravessam o citoplasma das células endoteliais. Neste caso, a facilidade de

passagem de substâncias entre o plasma e o fluído intersticial é intermédia entre a observada num capilar contínuo e a

observada num capilar descontínuo1, 2. Em suma, há características próprias do tipo de capilar que determinam a maior

ou menor facilidade com que ocorre a permuta de substâncias entre o plasma e o fluído intersticial.

A passagem de solvente e soluto através da parede dos capilares faz-se por três processos: difusão, filtração e

pinocitose, sendo a difusão o processo quantitativamente mais importante na permuta de substâncias entre o plasma e

o fluído interstical1.

A difusão é a passagem de substâncias através da parde capilar a favor do gradiente de concentração, como

resultado do movimento aleatório de moléculas e iões. À medida que o sangue passa da extremidade arterial para a

extremidade venosa do capilar, grande número de moléculas de água e de solutos difundem-se através das paredes do

capilar, alcançando o líquido intersticial. Pequenas moléculas lipossolúveis como o oxigénio e o dióxido de carbono

difundem-se muito rapidamente, através das membranas plasmáticas das células endoteliais. As pequenas moléculas

não lipossolúveis tais como moléculas de água, ureia, NaCl e glicose, atravessam a parede dos capilares através dos

poros existentes no citoplasma das células endoteliais e através das fendas entre células endoteliais os poros dos

capilares.

A filtração é a passagem de fluídos do plasma para o fluído intersticial. A quantidade de fluído que atravessa a

parede do capilar é determinada por forças antagónicas, a pressão hidrostática e a pressão coleidosmótica (oncótica)

do sangue no interior dos capilares em oposição às pressões hidrostática e coledosmótica do fluído intersticial1. Porque

as pressões hidrostática e coleidosmótica do fluído intersticial são quantitativamente pouco importantes, o que

realmente determina a passagem de fluidos entre plasma e fluído intersticial são as pressões hidrostática e

coleidosmótica no interior dos capilares2.

A pressão hidrostática do sangue é a força que o sangue exerce na parede dos capilares, determinada pela

pressão arterial e pela pressão venosa1. A pressão do sangue no interior do capilar sistémico varia entre 35 mm Hg na

extremidade arterial do capilar e 17 mm Hg na extremidade venosa2. A pressão hidrostática no interior dos capilares

força a saída de fluidos dos capilares, quantitativamente maior quanto maior for a pressão hidrostática no interior dos

capilares1, 2. A saída de fluidos do capilar é directamente proporcional à pressão hidrostática do sangue.

A força ou pressão coleidosmótica do sangue no interior dos capilares resulta da concentração de grandes

moléculas que não atravessam a parede do capilar, criando uma força que restringe a saída de fluidos e que ronda os

25 mmHg 1, 2. A saída de fluidos do capilar é inversamente proporcional à força ou pressão coleidosmótica no interior

dos capilares.

Na extremidade arterial do capilar a pressão hidrostática supera a pressão coleidosmótica determinando a saída

de fluído do capilar, pelo processo de filtração. À medida que o fluído sai do capilar a pressão hidrostática diminui e

torna-se inferor à pressão coleidosmótica, nesta situação ocorre entrada de fluído nos capilares pelo processo de

absorção. O fluído que não entra novamente nos capilares sanguíneos regressa à circulação através dos vasos

linfáticos1.

3 – Retorno Venoso 2

Vários capilares unem-se para formar vénulas que por sua vez se unem para formar as veias. O sangue das

veias sistémicas flui para a aurícula direita, por isso, a pressão do sangue na aurícula direita designa-se pressão

venosa central . Em condições normais esta pressão ronda os 0 mmHg. A pressão auricular direita é regulada pelo

equilíbrio entre a capacidade do coração bombear o sangue para fora da aurícula e a capacidade do sangue passar dos

vasos periféricos para a aurícula direita.

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Anatomo-Histo-Fisiologia I Cristina Teixeira

Quando o coração é eficaz a bombear o sangue a pressão venosa central tende a diminuir. A debilidade na

contracção cardíaca eleva a pressão venosa central. Por outro lado, a entrada rápida de sangue na aurícula direita a

partir das veias cavas tende a aumentar a pressão venosa central.

As veias oferecem pouca resistência à passagem do sangue, mas podem ser comprimidas em vários pontos pelos tecidos

adjacentes o que dificulta o retorno venoso. A pressão hidrostática ocorre no sistema vascular devido ao peso do sangue

nos vasos, por isso nas porções mais distais a pressão venosa é mais elevada, dificultando a passagem do sangue. No

entanto, há mecanismos que facilitam o retorno venoso ao longo das veias. Um desses mecanismos é a existência de

válvulas no interior das veias, de tal forma colocadas, que só permitem que o sangue circule num só sentido, mais

concretamente, em direcção ao coração. A contracção sustentada de alguns músculos dos membros comprime as veias

dificultando a passagem do sangue. No entanto, o movimento dos membros origina contracção e relaxamento intermitente

desses músculos e, desta forma, o sangue flui facilmente ao longo das veias, sendo empurrado em direcção ao coração

dado que as válvulas venosas não permitem outro sentido ao fluxo sanguíneo. Este mecanismo é bastante eficiente

permitindo o retorno venoso. Se o indivíduo permanecer de pé mas imóvel, este mecanismo de retorno venoso não

funciona, devido à contracção sustentada dos músculos dos membros inferiores. Além disso, vai haver aumento de pressão

nos capilares. O resultado é uma passagem excessiva de líquidos dos capilares para o fluído intersticial, resultando em

edema.

As válvulas venosas são facilmente lesadas deixando de funcionar como auxiliadoras do retorno venoso. Isto

acontece no caso em que as veias são submetidas a um excesso de pressão venosa durante períodos de tempo

longos. Nesta situação as válvulas venosas não conseguem impedir o fluxo retrógrado de sangue, o resultado é um

estiramento exagerado das paredes das veias, destruindo totalmente a função valvular venosa. É este processo que

leva à formação de varizes.

II - REGULAÇÃO DA ACTIVIDADE CARDÍACA 1, 2

A cada momento, a actividade cardíaca deve ser regulada para que se adapte às necessidades metabólicas do

momento. A expressão da actividade cardíaca é o débito cardíaco definido como a quantidade de sangue ejectada na

artéria aorta em cada minuto. O débito cardíaco depende da frequência cardíaca (o número de ciclos cardíacos por

minuto) e do volume de ejecção (a quantidade de sangue ejectada pelo ventrículo esquerdo na artéria aorta em cada

ciclo). A relação entre débito cardíaco e estes dois factores é expressa da seguinte forma: Débito Cardíaco = Volume

de Ejecção x Frequência Cardíaca. Por conseguinte, o débito cardíaco pode ser modificado alterando a frequência

cardíaca e/ou o volume de ejecção. Assim, a regulação da actividade cardíaca para que se adapte às necessidades do

momento é possível pela modificação da frequência cardíaca e/ou do volume de ejecção

1 – Regulação intrínseca da actividade cardíaca

O coração tem capacidade de se adaptar a q volumes variáveis de sangue que chegam aos seus

compartimentos. Esta capacidade é designada MECANISMO DE FRANK STARLING. Segundo este mecanismo quanto

maior for a distensão das fibras musculares cardíacas durante o enchimento cardíaco, maior é a força contráctil do

coração durante a sístole. Assim, quanto maior o volume de sangue que chega ao coração, maior será a distensão dos

miócitos cardíacos, maior será a força de contracção que resultará numa maior quantidade de sangue ejectado na

artéria aorta. Este mecanismo evita a acumulação de sangue nos compartimentos cardíacos.

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Anatomo-Histo-Fisiologia I Cristina Teixeira

2 – Regulação extrínseca da actividade cardíaca

O sistema nervoso autónomo regula a actividade cardíac atravé das suas duas componente. A estimulação da

componente simpática resulta num aumento da frequência cardíaca e num aumento da força contráctil do miocárdio. O

volume de ejecção aumenta devido ao aumento da força contráctil. O resultado final é um aumento do débito cardíaco.

A estimulação da componente parassimpática resulta numa diminuição da frequência cardíaca e numa diminuição da

força contráctil do miocárdio. O volume de ejecção diminui devido à diminuição da força contráctil. O resultado final é

uma diminuição do débito cardíaco.

II - REGULAÇÃO DO FLUXO DE SANGUE 1, 2

O fluxo de sangue para cada tecido é regulado para o nível mínimo necessário para manter esse tecido em cada

momento. Quanto maior for a actividade metabólica das células de um determinado tecido ou órgão maior será o fluxo

de sangue na rede capilar que irriga aquele órgão ou tecido.

1 – Regulação local do fluxo de sangue

O oxigénio transportado pelo sangue é vital para cada célula. Se a disponibilidade de oxigénio diminuir e/ou o

metabolismo tecidular aumentar, aumenta o fluxo sanguíneo. Isto deve-se à formação de metabolitos vasodilatadores

(ácido láctico; dióxido de carbono), que actuam localmente ao nível das fibras musculares dos esfíncteres pré-capilares,

meta-arteríolas e arteríolas, causando relaxamento e consequente vasodilatação o que aumentará a quantidade de

sangue na rede capilar. A concentração de oxigénio no fluído intersticial também afecta o estado de contracção das

fibras musculares lisas das arteríolas, meta-arteríolas e esfíncteres pré-capilares. Uma diminução da concentração de

oxigénio causa relaxamento destas fibras musculares aumentando a quantidade de sangue na rede capilar. A

diminuição da concentração de oxigénio tem o efeito contrário.

2 – Regulação do fluxo de sangue pelo sistema nervo so autónomo

A componente simpática do sistema nervoso autónomo provoca contracção das fibras musculares lisas das artérias e

arteríolas, aumentando a resistência periférica e diminuindo consequentemente o fluxo de sangue pelos tecidos. O

centro vasomotor é uma área de localização bilateral situada na substância reticular da protuberância e bolbo. Porções

do centro vasomotor são tonicamente activas, isto é, estão constantemente a emitir impulsos nervosos da componente

simpática que são responsáveis por vasoconstrição periférica . Desta forma, estes impulsos nervosos condicionam um

estado parcial de contracção dos vasos sanguíneos, designado tónus vasomotor .

Bibliografia :

1 - Berne RM, Levy MN. Physiology. 4th Edition. St Louis: Mosby;1998. p. 379-513.

2 - Guyton AC, Hall JE. Textbook of Medical Physiology. 10th Edition. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000. p. 96-222.

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