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Mundo Quadrado - Número 2 - De André Diniz e Antonio Eder Editora Nona Arte - www.nonaarte.com.br - Página 1

Andre Diniz - Mundo Quadrado II

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    Certa vez, uma professora me afirmouque certo livro didtico de lnguaportuguesa dizia que o balo de falatambm era chamado de filactrio.Alm do primeiro erro a respeito dobalo de fala (Ver MundoQuadrado n 1), o termo filactrioquase nada tem a ver com o balo dosquadrinhos.

    Originalmente, era uma faixa queficava amarrada no brao ou nacabea com textos religiosos escritos,com oraes que podiam ser lidasquando esta faixa era desenrolada.Foram muito usados pelos primeirocristos e judeus. Pode at haver umeco simblico entre a faixa compridacom textos e o moderno balo.

    A sombra do baloAntonio Eder

    Figura 1

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    Durante a Idade Mdia, os filactrios entraram nas artes plsticas na formade faixas com mensagens ou oraes escritas nas pinturas sacras.Geralmente, um santo ou anjo era seu portador. Observem a figura 1. Esteexemplo do ano 1240 e mostra a converso do apstolo Paulo. Destemomento para frente, o que ocorre uma gradual mudana do filactriopara as tentativas de encaixar textos ditos pelos personagens no desenho.

    As figuras 2 e 3 mostram duas variantes curiosas. A figura 2 tenta esboara tentativa de um pr-histrico rabicho de dilogo. Na figura 3, sabemosquais falas so de que personagens devido ao seu posicionamento ao ladodeles.

    O que fica claro em muitos exemplos a real necessidade de se contarmuito mais do que o desenho pode oferecer.

    A Anatomia do Balo

    O balo neutro a base de referncia do grupo de 4 bales bsicos (balopensamento, balo em zig-zag e o balo de cochicho) para a criao de

    Figura 2

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    outros. Assim podemos dividir as partes distintas que formam o baloneutro.

    Primeiro, h o corpo do balo. uma linha ovalada (referindo-se nestecaso ao mais simples dos exemplos grficos) que circunda o texto. Aespessura desta linha geralmente igual ou, na maioria das vezes, maisfina do que o requadro dos quadrinhos. Nesta linha, insere-se o rabicho,que o apndice que indicar quem o locutor do dialogo. Parecebvio, mas deve-se encarar o desenho do balo como um plano superiorque esconde determinadas reas do desenho. Da o porque o interior dobalo branco.

    Balo nunca me pareceu algo muito simples. Numa primeira vista podeat ser extremamente cmodo usar o bsico e esquecer o resto.

    Geralmente, cada desenhista tem sua tcnica e estilo de desenharbales. Com o auxilio do computador ou no, o fato que um balo bemdesenhado e com letras legveis metade do caminho para oentendimento do trabalho.

    Figura 3

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    Bloqueio com nomes estrangeiros

    Posso passar essa dica com base na prpria experincia que tive uma vez,escrevendo um roteiro que se encontra ainda indito, na ocasio em queeste texto foi escrito.

    Este roteiro tinha como base histrias referentes Segunda GuerraMundial, onde os principais protagonistas eram japoneses. Bem, eram norelato original, mas a minha idia foi pegar o contexto da histria e jog-lo na vida de outros personagens, que viviam um mundo fictcio. Nestemundo e com estes personagens que uma histria bem semelhante real seria contada.

    Algumas verses incompletas deste roteiro foram escritas, e nada. Noadiantava, a trama no ficava interessante, eu sentia que aquela histria,contada daquela forma, no envolveria o leitor. E notei tambm queestava sendo um texto muito penoso de ser escrito, o que acontecia bemmais lentamente do que o meu ritmo normal.

    Fui isolando os ingredientes (cenrio, tema, ritmo, cenas, dilogos,

    Roteiros: Dicas,truques, macetes,trapaas...Andr Diniz

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    narrao...) e foi neste estudo que encontrei o X da questo. Quem eramaqueles personagens?

    O que eu percebi foi que eu no tinha a menor intimidade com aquelaspessoas, o que um erro mortal. Havia inventado para eles nomes em umidioma fictcio, nomes estes que uma vozinha intrigueira na minhaconscincia ficava questionando: "ser que no soam ridculos demais?".E, quando eu visualizava os protagonistas, vinha-me na aparncia osjaponeses da histria original, que alm de pertencerem a uma culturacom a qual no tenho tanta intimidade, j no eram mais para fazer partedesta saga.

    Detectado o problema, contra-ataquei da seguinte forma: mudei todos osnomes, provisoriamente, para nomes brasileiros, como Renato, Vitrio,Antonieta, Bruno. E imaginei esta histria se passando no Brasil, um Brasilcom licenas poticas, para no sacrificar as cenas e os ingredientes queno fazem parte do nosso pas.

    Como o enfoque maior deste roteiro seria em boa parte os personagens esuas desavenas, suas paixes e seus dios, ficou muito fcil fazer estatransposio. Claro que, quando estiver tudo pronto, eu escolho novosnomes, mais condizentes com o cenrio planejado inicialmente. E porfalar no cenrio, pode ser que eu faa ainda um ou dois ajustes neste paraentrar 100% na nova atmosfera. Mas a s a lapidao. O principal daobra j foi esculpido.

    Mudana do foco

    Voc teve uma brilhante idia. A sua histria tem um excelente ponto departida, primeiro passo dado com o p direito para ganhar a ateno doleitor. Os personagens tambm esto muito bem estruturados, complexos,e voc chega a v-los como se fossem reais, palpveis. E planejou muitobem todos os ingredientes da histria: a introduo, o clima, o desenrolarda trama, a apresentao dos personagens e at mesmo um final surpresa.E voc fica orgulhoso do resultado, sem qualquer falsa modstia. Satisfeitoem ver o resultado de seus esforos ganhar forma, como um filho quechega puberdade.

    Mas... L no fundo, l no fundo mesmo, uma sensao incmoda... Sim,voc est satisfeito. Mas no 100% satisfeito. Na primeira vez que leu oroteiro pronto, voc preferiu no dar ouvidos quela pontinha de

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    insatisfao com o resultado final. Aparentemente, tudo estavafuncionando muito bem. Mas, ao reler o texto, ficou ntido que aindafaltava algo. Talvez um nico toque.

    Se voc j escreve roteiros, sabe que isso acontece. Pior: isso quase umaregra. A, temos que encarar a verdade: se voc est atrs de perfeio, ahistria ter que ser reescrita, talvez no por inteiro, mas em muitaspassagens significativas. Mas isso no regra, e s vezes, assim comoaquela pitada de sal que transforma um prato sem gosto em uma ddivaao paladar, um pequeno ajuste pode fazer milagre com a sua histria.

    Caso voc esteja bem seguro quanto ao que acontece na histria (ascenas de ao, os dilogos cmicos, o desfecho da trama), pode ser que oproblema esteja em como isso tudo contado ao leitor.

    Neste caso, pode ser uma experincia bem rica voc fazer vrias novasverses desta histria, cada uma com pequenas mudanas. A histria narrada por um narrador indefinido? E se ela fosse narrada peloprotagonista? Ah, o protagonista que conta a sua histria? Se mesmoassim ela no funciona, que tal seria se ela fosse contada por umpersonagem figurante, que fosse apenas uma espcie de testemunha datrama principal?

    A sua histria de suspense? Ser que o final to surpreendente assim?Mesmo que no seja, isso no significa uma histria ruim. Muitas vezes, ointeressante o caminho percorrido para se chegar quele desfecho, maisdo que a surpresa final em si. Se voc desconfiar que seja este o seu caso,j pensou em comear a histria pelo final? Sob esta nova tica, o leitorse depararia com uma situao que j ocorreu, e seria convidado a reverpasso-a-passo com o narrador como aquilo foi acontecer. Voc aindapode guardar uma ou outra surpresa pro final, que certamente teroefeito, j que o leitor pensa saber tudo sobre o desfecho da histria.

    Outras possibilidades: acrescentar narrao a uma histria que foi escritainicialmente sem. Ou o contrrio: cortar a narrao e passar toda ainformao contida nesta por cenas e dilogos. Voc pode aindatransformar em um flash-back uma histria que foi toda contada como sefosse o tempo presente.

    H mil possibilidades de acrescentar um tempero a mais no seu roteiro, equem deve descobrir este voc, o autor.

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    Pano de fundo

    Ser que o aqui e agora ser sempre a melhor opo?

    Quando escrevemos uma histria que no tenha em sua sinopse um localou uma poca determinados, escrevemos pensando-a nos dias de hoje,sem muita preocupao quanto ao local onde a trama se desenvolver. Epode ser que isso realmente seja irrelevante, e a histria pode funcionarmuito bem desta forma.

    Mas, em alguns casos onde a histria ainda precisa de um toque a maispara ganhar vida, no seria este um caminho interessante a serexperimentado?

    A sua histria trata do contato entre um pai de famlia e um extraterrestre?Como seria este encontro se ele acontecesse no sculo XIX? Ou nafundao do Brasil?

    Assassinatos em srie? um ponto de partida bem manjado... Mas e seestes ocorressem no Antigo Egito? Ser que histria de psicopata aindadesperta a curiosidade de algum? E se este psicopata agisse na Petrpolisonde D. Pedro II e a Princesa Isabel passavam suas frias?

    Narrao demais enche o saco!

    Decida-se: a sua obra uma histria em quadrinhos ou um livro emprosa?

    Parece uma pergunta fcil de se responder, mas ele no deve serrespondida, foi proposta antes de tudo para gerar reflexo. E atentarprincipalmente (para sermos mais diretos) a um erro faclimo de sercometido, mesmo pelos roteiristas mais experientes, em um minuto dedistrao o excesso de narrao, em detrimento ao.

    Numa histria em quadrinhos, assim como em um filme, o leitor/espectador no quer que ningum lhe conte a histria. Ele quer v-laacontecer. Isso no impede que este acontecer tenha como pano de fundoos comentrios e divagaes em off do narrador ou de um dospersonagens. Mas, ainda assim, estes devem ser uma ferramenta da trama,mas nunca estar num papel de primeira importncia.

    A reao do leitor a uma cena ser muito mais positiva, com maisenvolvimento, se, em vez de ler "No dia seguinte, Pedro acordou

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    preocupado. Mal havia dormido.", ele ver e sentir Pedro acordando, ededuzir por conta prpria (seja pela expresso, por uma ao ou por umcomentrio do prprio Pedro) que sua noite foi mal dormida. Desta forma,o leitor vivencia, e no apenas escuta. Alm disso, o excesso de narraotambm tira o ritmo da histria.

    Outro erro este gravssimo usar a narrao para descreverexatamente o que a imagem do quadro est mostrando. Isso um erroduplo, pois atrasa o ritmo da histria e cria uma redundnciadesnecessria, at mesmo tirando a funo do desenho. E este um erromais comum do que parece, cometido at mesmo por veteranos quemj leu a consagrada srie de lbuns Blake & Mortimer, sabe do que estoufalando.

    Por outro lado, de forma alguma o narrador deve virar um paria. Ele pode,inclusive, salvar muitas histrias insossas, basta apenas fazer-lhe bom uso.E, na hora de contar em poucas pginas uma histria com comeo, meioe fim, ele um verdadeiro coringa.

    Est escrito na bula: use com moderao!

    Bloqueio sexual

    Calma que eu j explico...

    bem comum que, dependendo do contexto e do papel de umpersonagem, haja uma tendncia ao autor de imagin-lo de um sexo, eno de outro. Exemplo: um deputado que manda matar um jornalistaautor de denncias contra sua gesto. Pela nossa cultura, muito maisfcil imaginar um deputado, e no uma deputada nesta situao. O nossoreferencial com a figura masculina neste papel muito maior do que onmero de deputadas que apareceram nas colunas policiais pelo mesmomotivo.

    Mas digamos que a sua inteno seja realmente sair do lugar comum,apresentando uma mulher neste pape de destaque. Pode ser uma idiainteressante para sair do lugar comum e despertar o interesse do leitor.Mas no basta ter a idia, ela precisa ser tambm executada. E a, emmuitas vezes, que voc empaca.

    O problema que realmente pode acontecer num caso como este umacerta dificuldade do roteirista se entrosar intimamente com este

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    personagem, principalmente por uma falta de referncia ( o preo detentar sair do clich...). Neste caso, pode ser um bom exerccio escrever ahistria imaginando realmente este deputado como sendo um homem.Isso pode fazer com que este detalhe pare de bloquear a sua imaginaoe a histria possa, enfim, fluir.

    Mas no s isso: ao imaginar inicialmente a histria dessa forma, vocpode escapar de cair em alguns esteretipos tpicos de quem no temintimidade com o personagem. Vamos usar anda o mesmo exemplo:inconscientemente (ou conscientemente mesmo) um homem que estejaescrevendo esta histria vai se sentir na obrigao de tornar a protagonistafeminina, mesmo que a histria no exija isso. Da, insere elementoscomo maquiagem, como filhos ou amante, sem que a trama pea isso. Sefosse um homem o personagem, no haveria qualquer preocupao dereforar sua masculinidade, mostrando-o fazendo a barba ou relutandopara fazer o exame de prstata.

    Obviamente, o passo final de quem seguir esta dica, ser fazer a mudanado personagem, depois do roteiro pronto. A, pode ser de bom tom alteraralgumas falas, alguns gestos e mesmo uma ou outra seqncia, com ocuidado de no inserir os esteretipos j comentados.

    Cenas que os leitores no lero

    Em alguns casos, principalmente quando o roteiro exige uma boa cargade sntese, pode ser interessante escrever algumas cenas de apoio, queno entraro na verso final. Mesmo no fazendo parte da histria, estascenas encontraro um leitor que saber muito bem aproveit-las. Esteleitor voc mesmo.

    Chame isso de cenas de apoio, ou d o nome que voc quiser.

    Vamos imaginar uma aplicao para este macete. Ento agora voc estescrevendo uma histria que j comea com dois irmos sessentes queno se viam h 20 anos. O motivo deste afastamento citado depassagem em algum ponto da histria, bem superficialmente, pois no oassunto central da trama. Digamos que um deles roubou a mulher dooutro.

    Parece fcil colocar palavras nas bocas de dois homens que brigaram porcausa de uma mulher. Mas no se esquea de que h muito mais do que

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    rancor nesse reencontro. Eles viveram como dois irmos normais at osquarenta anos, e isso no pode ser ignorado. Quarenta anos juntos novo embora num estalar de dedos, e por mais que eles j no se dessemmuito bem antes da briga decisiva, certamente tiveram bons momentosjuntos e partilham de algumas recordaes gostosas. Eles tm parentes emcomum, e so filhos dos mesmos pais. Se tiveram filhos, no foi s aoconvvio entre irmos que eles renunciaram, tambm abriram mo de verseus sobrinhos crescendo. Sem contar que dificilmente algum ficariatanto tempo sem falar com o irmo sem sentir uma espcie de culpa ouremorso, por mais que achasse ter razo em agir desta forma. E foramvinte anos, caramba! Tente se lembrar de algum que te aborreceu acinco, sete (ou vinte) anos atrs. Ser que a raiva que voc sentiu napoca no abrandou nem um pouco nesse tempo todo?

    Essa reflexo toda para chegar na seguinte questo: pode ser que ahistria no aborde nada disso. Provavelmente nem ser o foco principalda trama esse reencontro entre irmos, da no haveria mesmo porquetrazer ao leitor essa discusso, at porque isso tudo fica subentendido.Mas ao estar consciente deste contexto que o roteirista e o desenhistavo dar o tom certo na hora que um deles falar "H quanto tempo, hein?"e ouvir como resposta "Pois , faz 20 anos que no nos falamos".

    Com o conceito "dois homens que brigaram por uma mulher" em primeirofoco, talvez o impulso inicial do roteirista seja colocar uma ponta desarcasmo nessas frases, como se um estivesse dando uma agulhada nooutro. E no seria difcil o desenhista coloc-los encarando-semutuamente nos olhos, ainda com um rancor flor da pele.

    Mas, para sair desta interpretao rasteira, seria de grande valia o roteiristaescrever em um papel ( apenas uma sugesto entre mil outras possveis)um depoimento de cada um dos irmos, contando sobre a briga, sobre osanos seguintes, sobre sua relao antes da briga, sobre seus pais, sobreaquela vez que viajaram juntos e um ajudou o outro a pagar o hotel. Ouainda, escrever uma conversa mais a fundo entre os dois irmos, como sepassada depois do desfecho da histria. Uma conversa onde ambosdesafoguem os rancores, relembrem dos bons momentos, contem sobreseus filhos e se reconciliem ou no no final. E pode ser interessantetambm passar estes rascunhos ao desenhista. Aproveite, e lembre comele o que estava acontecendo no Brasil e no mundo a 20 anos atrs,como forma de sentir todo esse tempo que passou. Lembre da primeiravez que voc jogou Pacman no Atari, e sinta o arrepio da constatao"caramba, quanto tempo...".

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    Um exerccio deste tipo amplia em muito o relacionamento entre autor epersonagens. E, justamente por quadrinhos e sntese andarem colados umao outro, que um reencontro um pouco menos raso como o descritoanteriormente pode ganhar muito em profundidade e dramaticidade aocolocar uma ponta de mgoa no olhar de um dos irmos e fazer com quea cabea do outro se incline levemente para baixo.

    Lipoaspirao

    Temos a tendncia de escrever os dilogos de uma histria como seestivssemos falando tais frases naquele exato momento. E isso timo,pois confere ao texto um ar natural e espontneo.

    Porm, o nosso falar nunca exatamente sucinto e tendemos aacrescentar muitas palavras inteis ou rodeios desnecessrios, at mesmoredundantes, em nossos dilogos. E estes acabam figurando tambm nosdilogos do roteiro.

    Se estivssemos falando de um roteiro para TV ou cinema, este j seriaum alerta importante. Mas nos quadrinhos isso ainda mais, pois trata-sede um meio onde o espao da pgina disputado entre texto e desenhos.Neste caso, a redundncia, alm do problema em si, ajuda a criar pginasmais feias e poludas, com textos desnecessrios.

    Como evitar isso? A melhor forma esquecer deste problema enquantoescreve o seu roteiro. Pode ser que com o tempo e a prtica voc consigaser cada vez mais sucinto logo de cara, mas na primeira verso do roteiro melhor se preocupar apenas com o desenrolar dramtico da trama. E,quando esta estiver pronta, a sim voc deve fazer uma reviso. Vejacomo cada frase poderia ser reescrita com menos palavras, ou ainda comsinnimos mais curtos. Observe se no h frases redundantes ou se duasfrases no podem ser juntadas em uma s, sem perder o sentido. Estude secada informao dada pelo personagem realmente necessria. Vocficar surpreso ao ver como possvel economizar palavras!

    Mas no seja radical. No deixe nunca que a sntese tire a emoo deuma fala. H uma grande diferena entre um personagem dizer "Mas oque isso, infeliz?" e "O que isso?". A mensagem a mesma, mas nosegundo caso a dramaticidade foi perdida. Mas tambm cabe a voc verse esta dramaticidade j no oferecida pelo desenho, neste caso asubstituio pode at ser bem-vinda. Bom senso o ingrediente finaldesta dica.

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    Para exemplificar melhor, transcrevo a seguir duas verses da mesmapgina da HQ "A Saga de Lucas - As Pedras de Ica". Na primeira verso, otexto bruto, e na segunda, o mesmo j refilado. Reparem como a segundaverso da pgina est bem mais harmnica aos olhos, muito menospoluda. E o texto no teve qualquer perda, muito pelo contrrio.

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