31
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA ANDRÉ KARADI DA SILVA Purificação de glicerina bruta de biodiesel por destilação azeotrópica com solvente orgânico para uso na produção de ésteres Lorena - SP 2012

ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

ANDRÉ KARADI DA SILVA

Purificação de glicerina bruta de biodiesel por destilação azeotrópica

com solvente orgânico para uso na produção de ésteres

Lorena - SP

2012

Page 2: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

2

ANDRÉ KARADI DA SILVA

Purificação de glicerina bruta de biodiesel por destilação azeotrópica

com solvente orgânico para uso na produção de ésteres

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo como requisito para

a conclusão do curso de graduação em

Engenharia Química, área de concentração:

Tecnologia Química.

Orientador: Prof. Dr. Antônio Aarão Serra

Lorena - SP

2012

Page 3: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

3

Resumo

Biocombustível é o combustível de origem biológica não fóssil. Normalmente é

produzido a partir de uma ou mais plantas. Todo material orgânico gera energia, mas o

biocombustível é fabricado em escala comercial a partir de produtos agrícolas como a

cana-de-açúcar, mamona, soja, canola, babaçu, mandioca, milho, beterraba e algas. Alguns

exemplos de biocombustíveis são o etanol, o biodiesel, o biogás, o biobutanol, entre outros.

Atualmente um dos principais biocombustíveis produzido no mundo é o

biodiesel. No Brasil, a lei do Biodiesel (lei 11.097/2005) propõe a adição do combustível

renovável ao diesel comercial. Embora inicialmente a mistura a 5% (B5) estivesse prevista

para vigorar somente em 2013, esse prazo foi revisto, antecipando a meta a partir de

janeiro de 2010 (Ministério de Minas e Energias - MME, 2011).

A cadeia produtiva do biodiesel gera alguns subprodutos tais como: glicerina,

lecitina, farelo e a torta oleaginosa que são fatores determinantes para a viabilidade

econômica do processo. Atualmente a purificação da glicerina implica em grande consumo

energético, devido à necessidade de altas temperaturas e de alto vácuo.

Esse trabalho propõe realizar a purificação da glicerina bruta, removendo sais por

adição de uma solução alcoólica seguida de destilação azeotrópica com solvente orgânico

para eliminação da água, resultando em um produto com pureza satisfatória para uso na

produção de ésteres.

Palavras-chave: glicerina bruta, purificação, esterificação, indústria de detergentes.

Page 4: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

4

Abstract

Biofuel is the fuel of biological non-fossil. It is usually produced from one or

more plants. All organic material generates energy, but the biofuel is produced on a

commercial scale from agricultural products such as cane sugar, castor bean, soybean,

canola, palm, cassava, corn, beets and seaweed. Some examples of biofuels are ethanol,

biodiesel, biogas, biobutanol, among others.

Currently one of the main biofuel produced in the world is biodiesel. In Brazil,

the law of Biodiesel (Law 11.097/2005) proposes the addition of renewable fuel to

commercial diesel. Although initially a mixture of 5% (B5) was scheduled to expire only

in 2013, this period has been revised in anticipation of the goal from January 2010

(Ministry of Mines and Energy - MME, 2011).

The biodiesel production chain generates some byproducts such as glycerin,

lecithin, oilseed cake and meal that are crucial for the economic viability of the process.

Currently glycerin purification implies a great energy consumption because of the need of

high temperature and high vacuum.

This paper proposes to carry out the purification of crude glycerol, removing

salts by addition of an alcohol followed by azeotropic distillation with an organic solvent

to remove water resulting in a product with a satisfactory purity for use in the production

of esters.

Keywords: crude glycerine, purification, esterification, detergent industry.

Page 5: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

5

Lista de figuras

Figura 1. Fluxograma do Processo de Produção de Biodiesel ................................................... 08

Figura 2. Estrutura plana da molécula de Glicerol ...................................................................... 11

Figura 3. Principais aplicações da glicerina ................................................................................. 11

Figura 4. Esterificação entre glicerina e ácido esteárico .............................................................. 19

Page 6: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

6

Lista de tabelas

Tabela 1. Amostra de referência utilizada para purificação ......................................................... 16

Tabela 2. Reagentes utilizados ...................................................................................................... 16

Tabela 3. Equipamentos e Materiais utilizados ............................................................................ 17

Tabela 4. Vidrarias utilizadas ....................................................................................................... 17

Tabela 5. Resultados das análises da Matéria Prima (Glicerina Bruta)....................................... 22

Tabela 6. Resultados das análises da Glicerina Purificada........................................................... 23

Page 7: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

7

Sumário

1. Introdução ............................................................................................................................... 07

1.1. O biodiesel ............................................................................................................................ 07

1.2. Tecnologia do biodiesel ........................................................................................................ 07

1.3. Biodiesel no Brasil ................................................................................................................ 09

1.4. A Glicerina ............................................................................................................................ 10

1.5. Glicerina Obtida a partir da produção de biodiesel .............................................................. 12

1.6. Destilação azeotrópica heterogênea ...................................................................................... 13

1.7. Esterificação da Glicerina ..................................................................................................... 14

2. Materiais e Métodos ............................................................................................................... 16

2.1. Materiais ............................................................................................................................... 16

2.1.1. Amostra de referência .................................................................................................... 16

2.1.2. Reagentes ....................................................................................................................... 16

2.1.3. Equipamentos e Materiais .............................................................................................. 17

2.1.4. Vidrarias ......................................................................................................................... 17

2.2. Metodologia .......................................................................................................................... 17

2.2.1. Acidificação e Decantação ........................................................................................... 17

2.2.2. Neutralização da Glicerina Bruta ................................................................................... 18

2.2.3. Remoção de Sais Residuais ........................................................................................... 18

2.2.4. Evaporação do Álcool .................................................................................................... 18

2.2.5. Destilação da mistura glicerol com água e tolueno...................................................... 18

2.2.6. Esterificação da glicerol com ácido esteárico .............................................................. 18

3. Resultados e Discussões .......................................................................................................... 19

3.1. Resultado da análise da matéria prima .................................................................................. 20

3.2. Fluxograma mássico do processo de purificação ................................................................... 21

3.3. Resultado da análise do produto purificado .......................................................................... 22

3.4. Cálculos do Processo de Purificação .................................................................................... 22

3.4.1 Balanço de Massa ............................................................................................................. 22

3.4.1.1 Balanço de Massa para o Etanol ................................................................................ 22

3.4.2 Rendimento em relação a Glicerina Bruta ......................................................................... 23

3.4.3 Rendimento em relação ao Glicerol .................................................................................. 23

3.5. Esterificação do glicerol purificado ...................................................................................... 23

3.5.1 Rendimento da esterificação do Glicerol Purificado com Ácido

Esteárico........................................................................................................................................ 24

3.5.2 Comparativo entre o rendimento da Esterificação do Glicerol Purificado em Relação

a Glicerina Bidestilada.................................................................................................................. 24

4. Conclusão ................................................................................................................................. 26

5. Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 27

Page 8: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura
Page 9: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

7

1. Introdução

1.1. O biodiesel

Segundo a Lei Federal n° 11.097 (13 de janeiro de 2005) do Ministério de Minas e

Energia - MME, o Biodiesel é um bicombustível derivado de biomassa renovável para uso em

motores a combustão interna com ignição por compressão ou, conforme regulamento para geração

de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente o combustível de origem fóssil.

1.2 Tecnologia do biodiesel

Em 1937, efetua-se a concessão da primeira patente de combustíveis obtidos a partir de

óleos vegetais (óleo de palma), a G. Chavanne, em Bruxelas (Bélgica). Em 1983, o Dr. Expedito

Parente obtém a 1ª patente de biodiesel no Brasil (óleo de algodão), iniciando-se assim a euforia

mundial pelo aperfeiçoamento da tecnologia de produção do biodiesel como alternativa ao diesel

do petróleo (RATHMANN et al., 2006). O biodiesel é um biocombustível constituído de uma

mistura de ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos, obtidos da reação de transesterificação de

qualquer triglicéride com um álcool de cadeia curta, metanol ou etanol, respectivamente na

porcentagem de 10% e 20%. A relação estequiométrica de óleo e metanol é de 3:1. Na prática, a

relação deve ser de 6:1; faz-se necessário um excesso de álcool para forçar o equilíbrio para o lado

do produto desejado. Os triglicerídeos são derivados de fontes renováveis, como o óleo vegetal, a

gordura animal, o óleo residual de frituras, o esgoto doméstico, algas marinhas e qualquer matéria

que possa ter triglicérides (GERPEN, 2005).

Uma tecnologia alternativa à transesterificação do óleo é o craqueamento térmico, onde

um reator trabalhando a altas temperaturas promove a quebra das moléculas e um catalisador

remove os compostos oxigenados corrosivos (KNOTHE et al., 2006). A matéria oleaginosa mais

Page 10: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

8

usada no Brasil é a soja, mas estão sendo pesquisadas outras matérias primas como dendê,

girassol, mamona, pinhão manso, gergelim, macaúba entre outros cujo maior conteúdo de óleo

entre outras propriedades ofereça melhores rendimentos de Biodiesel (ESBERARD, 2007).

Grande parte da qualidade e da economia de produção do biodiesel depende da qualidade da

matéria prima. Por exemplo, tratamentos posteriores serão requeridos se o óleo tiver uma acidez

maior do que 1% ou outras impurezas. A temperatura e tempo de transesterificação do óleo

dependerão da matéria oleaginosa, do álcool e do catalisador empregados, assim como da

localização da usina de biodiesel (KNOTHE et al., 2006). A Figura 1 apresenta um fluxograma

simplificado do processo de produção do biodiesel, considerando a utilização do processo de

transesterificação.

Figura 1 – Fluxograma do Processo de Produção de Biodiesel. Fonte: GÓES, 2006

Page 11: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

9

1.3 Biodiesel no Brasil

No Brasil, as diversidades sociais, econômicas e ambientais, têm gerado diferentes

motivações regionais para a produção e consumo de combustíveis da biomassa, sobretudo quando

se trata do biodiesel. Já na década de 20, o Instituto Nacional de Tecnologia - INT, estudava e

testava combustíveis alternativos e renováveis. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT, por

meio do INT e da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC, vem

desenvolvendo, projetos de óleos vegetais como combustíveis, com destaque para o

DENDIESEL, desde a década de 70. Nesta mesma década, A Universidade Federal do Ceará –

UFC desenvolveu pesquisas objetivando encontrar fontes alternativas de energia. As experiências

acabaram por revelar um novo combustível originário de óleos vegetais com propriedades

semelhantes ao óleo diesel convencional: o biodiesel. Com o envolvimento de outras instituições

de pesquisas, da Petrobras e do Ministério da Aeronáutica, foi criado, em 1980 o PRODIESEL. O

combustível foi testado por fabricantes de veículos a diesel. Motivado pela alta nos preços de

petróleo, o Governo Federal lançou, em 1983, o Programa de Óleos Vegetais – OVEG, no qual foi

testada a utilização de biodiesel e misturas combustíveis em veículos (GÓES, 2006).

A partir de 2003 um novo impulso é dado ao Biodiesel através de um Decreto

Presidencial, de 2 de julho de 2003, que criou um Grupo de Trabalho Interministerial, encarregado

de apresentar estudos da viabilidade do uso como combustível de óleos, gorduras e derivados, e

indicar as ações necessárias para a sua implementação. No relatório final, de 4 de dezembro de

2003, esta comissão considera que o biodiesel deve ser introduzido imediatamente na matriz

energética brasileira e recomenda que: o uso não deve ser obrigatório, para poder acessar o

mercado de carbono advindo do protocolo de Kyoto; não deve haver uma rota tecnológica ou

matéria prima preferencial para a produção de biodiesel e, deve ser incluído o desenvolvimento

socioeconômico de regiões e populações carentes (SUAREZ; MENEGHETTI, 2007).

Page 12: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

10

Em 2005 o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) introduziu o uso

de biocombustíveis derivados de óleos e gorduras na matriz energética brasileira pela Lei nº

11.097, de 13 de janeiro de 2005. Esta lei estabeleceu o uso opcional de B2 até o início de 2008,

quando passou a ser obrigatório (SUAREZ; MENEGHETTI, 2007).

Desde 1º de janeiro de 2010, o óleo diesel comercializado em todo o Brasil contém 5%

de biodiesel. Esta proporção foi estabelecida pela Resolução nº 6/2009 do Conselho Nacional de

Política Energética (CNPE), publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 26 de outubro de

2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura de biodiesel ao óleo

diesel. A contínua elevação do porcentual de adição de biodiesel ao diesel demonstra o sucesso do

Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel e da experiência acumulada pelo Brasil na

produção e no uso em larga escala de biocombustíveis (BRASIL, 2009a).

1.4 A Glicerina

A glicerina é um líquido incolor e inodoro, viscoso, higroscópico, de sabor doce, não

tóxico, biocompatível, sintetizado por plantas e animais, geralmente metabotizado a piruvato. Sua

fórmula química é: CH2OH-CHOH-CH2OH (KNOTHE et al., 2006). A glicerina foi descoberta

em 1779, por um químico Sueco, chamado Karl Withelm Scheele, cujo nome vem da adaptação

da palavra grega "GLUKÚS" que significa doce. O termo "glicerol" aplica-se somente ao

composto químico puro 1,2,3 propanotriol. O termo "glicerina" aplica-se aos produtos comerciais

purificados normalmente contendo >95% de glicerol, cujo máximo grau de pureza 99,5 % é

chamado de glicerina P.A. A glicerina é obtida naturalmente como subproduto das reações

químicas de triglicérides (óleos ou gorduras) para obtenção de sabões, ácidos graxos ou ésteres. O

teor de glicerina é alto, mas as subseqüentes operações de lavagem diluem o glicerol aos valores

típicos de- 10 a 15% de glicerol na saponificação, 12 a 18 % na recuperação da glicerina formada

Page 13: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

11

na hidrólise e 25 a 30% de glicerol, na transesterificação para produção de biodiesel,

respectivamente. A glicerina sintética é obtida por cloração e hidrólise do propeno entre outras

reações que envolvem hidrocarbonetos petroquímicos. A produção por saponificação predominou

até que a síntese química, de subproduto do propileno avançasse em 1950. Atualmente a maior

fonte de glicerol é o biodiesel (BAILEY; HUI, 1996). Na Figura 2 pode-se observar a estrutura

plana da molécula de glicerol.

Figura 2 – Estrutura plana da molécula de Glicerol. Fonte: MANEELY, 2006.

A glicerina purificada (grau USP ou glicerina farmacêutica) possui várias aplicações,

desde setores de cosméticos a alimentos e medicamentos. Em termos de transformação química

ela ainda apresenta aplicações limitadas, sendo as principais na produção de explosivos, como a

nitroglicerina, e na formação de resinas alquídicas. A Figura 3 mostra uma distribuição porcentual

de aplicações mais usuais da glicerina.

Figura 3 - Principais aplicações da glicerina. Fonte: MOTA et. al, 2009.

Page 14: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

12

1.5 Glicerina obtida a partir da produção de biodiesel

As impurezas presentes na glicerina bruta têm origem na qualidade da fonte dos

triglicerídeos (óleos e gorduras), estas podem ser: ácidos graxos, compostos resinosos e

nitrogenados, corantes, hidrocarbonetos e produtos fermentados de graxa e glicerol assim como

trimetilenoglicol, ácido láctico, ácido succínico, ácidos graxos oxidados de baixo peso molecular,

aldeídos e cetonas (MINER, 1953).

Um estudo da acidez da gordura feito por Rayner apud Miner (1953), demonstra que, nas

condições ambientais a acidez aumenta em seis meses de 15,2 % a 56,3 %, além da formação de

37,2 % de trimetileno glicol, composto difícil de eliminar e causa da cor amarela da glicerina, o

que indica que as condições de armazenamento das fontes de triglicerídeos também contribui na

qualidade da glicerina. Adicionalmente, na reação de transesterificação dos triglicerídeos, ocorrem

reações paralelas que geram sabões, água, di e mono glicerídeos entre outros que ficam

principalmente na fase glicerina. Entretanto, as recentes tendências do emprego de fontes diversas

de triglicerídeos como óleos, óleos de fritura reciclados ou gordura animal de baixa qualidade e/ou

de alto teor de ácidos graxos livres na produção de biodiesel, resultam em um glicerol de

qualidade inferior (KNOTHE et al., 2006).

Na caracterização da glicerina bruta, realizada por THOMPSOM e HE (2006), a

quantidade de glicerol produzido a partir de óleos vegetais está na faixa de 8,8 e 12,3 g por 100 g

de óleo utilizado, no entanto, o óleo residual (óleos de fritura reciclados e gorduras de baixa

qualidade) produz 22 g de glicerina por 100 g de óleo. Os mesmos autores verificaram que a

viscosidade do glicerol a 40 °C está entre 0,0846 e 0,088 cm²/s para óleos vegetais. Esta

viscosidade é maior na glicerina crua obtida a partir de óleo residual, 0,265 cm²/s, neste, cerca de

4,4 % dos ácidos graxos não reagem, produzindo sabões que tendem a formar emulsões, indicando

que quanto mais viscosa menos pura é a glicerina. Maneely (2006) fez uma estimativa da

Page 15: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

13

composição da glicerina bruta que consiste basicamente de: glicerol (entre 40 e 90%), água (entre

8 e 50%), metanol (< 0,5 %), sais (entre 0 e 10%).

1.6 Destilação azeotrópica heterogênea

É uma destilação fracionada baseada na exploração do comportamento azeotrópico para

efetuar a separação. O agente formador do azeótropo específico é chamado de arrastador, que

pode estar presente na mistura de separação ou é adicionado à mistura (KIRK; OTHMER, 1978).

Esta adição pode ser feita como uma corrente líquida ou corrente de vapor adicionado em um

ponto da coluna de tal modo que seja possível interagir com os componentes da mistura a ser

destilada. Através da destilação azeotrópica muitas separações difíceis têm sido conseguidas

(HOFFMAN, 1964). As técnicas de destilação azeotrópica são usadas, geralmente, na indústria

química e petroquímica para a separação de compostos com ponto de ebulição próximos ou

sistemas azeotrópicos para o qual a destilação é demasiadamente cara ou impossível. Uma das

características desejadas da destilação azeotrópica é a formação de azeótropo em combinação com

a imiscibilidade Líquido-Líquido (PERRY; GREEN, MALONEY, 1997).

Na maioria das vezes, a destilação azeotrópica com imiscibilidade de fases liquidas é

conduzida em colunas de pratos. A razão disso baseia-se no fato que, para uma boa eficiência de

separação é preciso um bom contato entre as fases líquidas e vapor. Esse bom contato se traduz

em uma grande área de contato obtida nos pratos, graças à grande agitação no líquido produzida

pela corrente de vapor (PERRY; GREEN; MALONEY, 1997). Essa é a razão pela qual a literatura

recomenda a utilização de pratos quando coexistem duas fases líquidas distintas sobre o prato.

Para entender esse fenômeno, toma-se como exemplo a obtenção do álcool anidro. A mistura

azeotrópica etanol-água com 11% em peso de água entra em ebulição a 78,16 °C. Com a adição de

benzeno, há formação de azeótropo, constituído por água-etanol-benzeno, a mistura é mais volátil

Page 16: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

14

do que o etanol, sendo possível sua separação. Quando a mistura etanol-água-benzeno se condensa

formam-se duas fases imiscíveis, a mais leve, benzeno-etanol e uma mais pesada etanol-água.

Essa imiscibilidade favorece muito a separação (HOFFMAN, 1964; PERRY; GREEN;

MALONEY, 1997). O separador de fases é usualmente um decantador.

1.7 Esterificação da Glicerina

Esterificação é uma reação química reversível na qual um ácido orgânico reage com um

álcool produzindo éster e água. Essa reação, em temperatura ambiente, é lenta, no entanto os

reagentes podem ser aquecidos na presença de um ácido mineral para acelerar o processo. Este

ácido catalisa tanto a reação direta (esterificação) como a reação inversa (hidrólise do éster).

A esterificação de glicerina tem grande aplicação na síntese do monoestearato de glicerila,

triestearato de glicerila, miristato de glicerila, palmitato de glicerila, laurato de glicerila, mono

oleato de glicerila, que são ésteres muito utilizados nas indústrias de detergentes, de cosméticos e

farmacêuticos.

Especificamente na indústria dos detergentes, o sabão é obtido fazendo-se reagir ácidos

graxos com óleos, numa reação chamada saponificação. Os ácidos graxos normalmente usados são

o oléico, o esteárico e o palmítico, encontrados sob a forma de ésteres de glicerina (oleatos,

estearatos e palmitatos) nas substâncias gordurosas. A saponificação é feita à quente. Nela a soda

ou potassa atacam os referidos ésteres, deslocando a glicerina e formando, com os radicais ácidos

assim liberados, sais sódicos ou potássicos. Esses sais são os sabões, que, passando por um

processo de purificação e adição de outros ingredientes, transformam-se nos produtos comerciais.

Embora a maior parte dos detergentes seja destinada à limpeza com água, existem alguns

produzidos para limpeza com outros solventes, como no caso dos óleos para motores, onde a água

Page 17: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

15

não pode ser usada. Nesse caso, o sódio e o potássio são substituídos por metais, como o chumbo

ou o cálcio (ALLINGER, 1976).

O monoestearato de glicerila, estearato de glicerila ou MEG consiste de uma mistura de

mono, di e triéster de gliceríla, predominando o monoéster. O MEG é obtido a partir da

esterificação de glicerina animal ou vegetal como ácido esteárico de origem natural ou animal. E

usado em cosmético como espessante e estabilizante de formulações (IBD, 2011).

A reação de esterificação da glicerina com ácido nítrico origina o trinitrato de glicerol,

mais conhecido por trinitroglicerina, que é um poderoso explosivo usado na fabricação da

dinamite (INFOPÉDIA, 2011).

A esterificação do glicerol com ácido acético forma mono, di e triacetinas. BREMUS et

al. (1983), inventaram um processo para produzir triacetina continuamente em três etapas, na

primeira o glicerol é convertido parcialmente com ácido acético. Na segunda etapa é adicionado

anidrido acético para alcançar conversão de aproximadamente 70%. Na etapa final a triacetina é

separada e purificada por destilação.

FERREIRA et al., (2009), realizou a esterificação do glicerol com ácido acético e com

ácido dodecamolibdofosfórico (PMo) impregnado na zeólita USY. Os produtos da acetilação do

glicerol foram monoacetina, diacetina e triacetina. Após 3h de reação a conversão do glicerol foi

de 68%, com seletividade de 59% para 16 diacetinas, 37% para monoacetinas e 2% para triacetina.

LIAO et. al (2009), propuseram um método em duas etapas para a obtenção de triacetilglicerol

(TAG) com altas seletividade e conversão. As condições reacionais foram otimizadas testando-se

catalisadores, temperaturas, razões de matéria prima bem como cargas de catalisadores. Depois

que as condições ótimas foram escolhidas, o anidrido ácido foi adicionado gota a gota, quando a

conversão do glicerol estava em quase 100%, em 1h.

Page 18: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

16

2. Materiais e Métodos

Nos próximos itens, estão descritos todos os materiais que foram utilizados para a realização deste

trabalho, tais como equipamentos, soluções e vidrarias, os quais são imprescindíveis para a

realização do mesmo.

2.1 Materiais

2.1.1 Amostra de referência

Tabela 1. Amostra de referência utilizada para purificação

Reagente Lote Fabricante Validade

Glicerina Bruta Amostra Comercial Bertin Indeterminada

Glicerina Bruta Amostra Comercial LatinAmérica Indeterminada

Glicerina Bruta Amostra Comercial Granol Indeterminada

2.1.2 Reagentes

Tabela 2. Reagentes utilizados

Reagente Fabricante Teor do Reagente (em peso)

Ácido Sulfúrico Chemis 98 %

Hidróxido de Sódio Chemis 50 %

Álcool Etílico Zanini 92 %

Glicerina Bidestilada Oxiteno 99,5 %

Ácido Esteárico SP Labor 95 %

Tolueno BASF 99,5 %

Page 19: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

17

2.1.3 Equipamentos e Materiais

Tabela 3. Equipamentos e Materiais utilizados

Equipamento Marca/Modelo

Rotaevaporador IKA RT 10

Placa de Agitação Magnética IKA Works

Papel Indicador Universal

Medidor de pH digital Mettler-Toledo

Unidade Filtrante

2.1.4 Vidrarias

Tabela 4. Vidrarias utilizadas

Vidraria Volume

Becker 100 mL a 2000 mL

Decantador tipo Funil 1000 mL

Funil de Buchner 120 mm

Kitasato 1000 mL

Provetas 50 mL a 1000 mL

2.2 Metodologia

2.2.1 Acidificação e decantação

Realiza-se a acidificação até pH 4,0 com ácido sulfúrico 98% e após, decanta-se a

mistura durante 2 horas, em um decantador tipo funil, para remoção de ácidos graxos (fase

sobrenadante) da glicerina (fase mais pesada).

2.2.2 Neutralização da Glicerina Bruta

Page 20: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

18

Para a eliminação de sabões residuais, provenientes do processo de obtenção do

biodiesel, deve-se realizar a neutralização com NaOH até pH entre 6,5 e 7,5, utilizando um

pHmetro digital ou adicionando-se indicador (fenolftaleína) ao sistema. Depois a glicerina é

filtrada para a retenção das impurezas, caso haja formação de partículas sólidas.

2.2.3 Remoção de Sais Residuais

Para a extração dos sais, usa-se álcool como solvente extrator. O álcool cumpre a função

de separar os sais e gorduras residuais presentes na glicerina. Para esse processo deve-se adicionar

álcool até se obter uma mistura 2:1 em relação a glicerina e, posteriormente, deixar decantar por

24 horas. Em seguida deve-se filtrar a solução para a separação dos sais.

2.2.4 Evaporação do Álcool

A remoção do álcool pode ser realizada por simples evaporação em rota-evaporador. O

objetivo é obter novamente uma mistura composta apenas por glicerina e água. A evaporação pode

ser realizada com aquecimento a 78°C e pressão de 400 mm Hg (GUTIERREZ OPPE, 2008).

2.2.5 Destilação da mistura glicerol com água e tolueno

Optou-se por utilizar o tolueno como solvente orgânico, baseando-se nos resultados

apresentados segundo a literatura (GUTIERREZ OPPE, 2008). Realiza-se a adição do tolueno na

proporção de 1:1, homogeneizando-se a solução. Posteriormente, efetua-se a destilação da mistura

acima da temperatura de ebulição do tolueno. Ao ser destilado, o solvente orgânico irá arrastar

consigo a água presente no sistema, permitindo a obtenção da glicerina com porcentagem ideal de

pureza para a realização da esterificação.

Page 21: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

19

2.2.6 Esterificação do glicerol com ácido esteárico

Para a obtenção dos triésteres de ácidos graxos, realiza-se a esterificação do glicerol com

o ácido esteárico, de acordo com o esquema abaixo (figura 4).

Figura 4 – Esterificação entre glicerina e ácido esteárico

O estearato de glicerila é obtido pela reação direta do ácido esteárico com glicerol, com a

adição de um emulsionante aniônico com catalisador ácido. Obtém-se o monoestearato de glicerila

auto-emulsionável.

3. Resultados e Discussões

Os procedimentos experimentais contidos nesse trabalho foram realizados no Laboratório de

Desenvolvimento da empresa BASF de Guaratinguetá/SP. As análises foram realizadas pelo

Laboratório de Controle da Qualidade da empresa citada, seguindo os procedimentos de acordo

com as normas da ABNT.

Page 22: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

20

3.1 Resultado da análise da matéria prima

A matéria prima utilizada no processo foi escolhida a partir da análise da determinação de

suas características.

As análises foram realizadas para a determinação do aspecto (teste visual), da porcentagem

de água, da porcentagem de cinzas, da porcentagem de glicerol e do pH da amostra em uma

solução a 10% v/v.

O fator determinante para a escolha foi a porcentagem de glicerol contido na amostra.

Optou-se por aquela com o maior índice de glicerol para obter um produto de purificação mais

próximo possível da glicerina comumente utilizada nos processos de esterificação.

Os resultados podem ser observados na tabela 5.

ANÁLISE

GLICERINA BRUTA (LatinAmérica)

GLICERINA BRUTA (BERTIN)

GLICERINA BRUTA (GRANOL)

Aspecto Liq. Visc. Ambar Liq. Visc. Ambar Liq. Visc. Ambar

pH sol. 10% 7.2 5.8 6.6

% Água 9.5 10.3 9.9

% Cinzas 1.3 3.7 7.7

% Glicerol 87.20 84.72 81.67

Tabela 5 – Resultados das análises da Matéria Prima (Glicerina Bruta)

Optou-se por utilizar a Glicerina Bruta proveniente da empresa LatinAmérica, pois

apresentou maior porcentagem de glicerol.

Page 23: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

21

3.2 Fluxograma mássico do processo de purificação

Glicerina Bruta m = 500,24 g

pH = 7,24 Adição de Ácido Sulfúrico (98 %)

m = 0,5 g

Glicerina Bruta m = 500,74 g

pH = 4,00

Adição de Hidróxido de Sódio (50 %) m = 0,9 g

Glicerina Bruta m = 501,64 g

pH = 7,36

Decantação Remoção de Sobrenadante

m = 0 g

Filtração Remoção de Sólidos

m = 1,2 g

Salting Out m = 1289,44 g

Adição de Etanol Comercial (92 %) m = 789 g

Filtração m = 999,3 g

Evaporação do Álcool

Recuperação do Etanol m = 611,55 g

Glicerol Purificado m = 367,5 g

Remoção de Sólidos m = 290,14 g

Destilação do Tolueno

Adição de Tolueno (99,5 %) m = 350 g

Recuperação do Tolueno/Água/Etanol m = 385,12 g

Glicerol Purificado m = 342,94 g

Page 24: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

22

3.3 Resultado da análise do produto purificado

Tabela 6 – Resultados das análises da Glicerina Purificada

ANÁLISE

GLICERINA TRATADA (Exp.09)

Aspecto Liq. Visc. Ambar

pH sol. 10% 8.94

% Água 3.11

% Cinzas 2.0

% Glicerol 94.51

.

3.4 Cálculos do Processo de Purificação

3.4.1 Balanço de Massa

SAI = ENTRA + REAGE – ACUMULA

Reage = 0

Acumula = 0

SAI = ENTRA

(342,94 + 611,55 + 290,14 + 1,2 + 385,12 + 0 + x) = (500,24 + 0,5 + 0,9 + 789,00 + 350,0)

1630,95 + x = 1640,64 g

X = 9,69 g

O cálculo do balanço de massa permite observar a perda de 9,69 g durante o processo. Esse

fato pode ser explicado pela evaporação natural do álcool etílico e a volatilização do tolueno

durante a manipulação e a montagem do sistema de purificação. O cálculo em termos de etanol

pode ser observado a seguir.

3.4.1.1. Balanço de Massa para o Etanol

SAI = ENTRA

611,25 + (385,11-350,0) + Y = 789,0 x (92%)

Y = 79,52 g

Page 25: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

23

O cálculo do balanço de massa permite observar a perda de 79,52 g de etanol. Como

realizou-se a filtração (após Salting Out) em um sistema aberto, a diferença do etanol pode ser

explicada pela evaporação do álcool durante a passagem pelo sistema de filtração (vácuo

promovido pela bomba).

3.4.2 Rendimento em relação a glicerina bruta

100inicial m

final m rendimento

100500,24

367,5 rendimento

rendimento = 73,46 %

3.4.3 Rendimento em relação ao glicerol

100inicial m

final m rendimento

100.(0,872) 500,24

451)367,5.(0,9 rendimento

rendimento = 79,62 %

3.5 Esterificação do glicerol purificado

Realizou-se o sistema tradicional de esterificação em catálise ácida homogênea à

temperatura de 80oC. Foi utilizado como catalisador o ácido sulfúrico, um catalisador de baixo

custo e muito ativo para a esterificação do glicerol com ácido esteárico.

Page 26: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

24

As condições reacionais foram baseadas na literatura (ÖZGUL-YÜCEL et al., 2002)

utilizando ácido sulfúrico como catalisador na temperatura de 80oC, sendo obtidos rendimentos de

67%.

3.5.1 Rendimento da esterificação do Glicerol Purificado com Ácido Esteárico

100inicial m

final m 1 rendimento

100451)367,5.(0,9

218,7 1rendimento

rendimento 1 = 62,97 %

3.5.2 Comparativo entre o rendimento da esterificação do glicerol purificado em relação a

glicerina bidestilada

Para a realização do comparativo entre as reações de esterificação, realizou-se o

procedimento anterior, com as mesmas condições reacionais, para a glicerina bidestilada

(Fornecedor: Oxiteno com pureza de 99,5%). Obtendo-se o rendimento de 65,13% de acordo

com os cálculos abaixo:

100inicial m

final m 2rendimento

1009)400,0.(0,9

257,9 2rendimento

rendimento 2 = 65,13 %

Page 27: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

25

Esses valores possibilitam calcular a eficácia do processo utilizando a glicerina purificada

em relação à glicerina bidestilada.

1002 rendimento

1 rendimento comparação

10065,13

62,97 comparação

comparação = 96,68 %

A diferença entre a eficiência dos processos pode ser explicada pela presença de compostos

orgânicos variados presentes na glicerina purificada que inibem a reação de esterificação. A

discussão mais aprofundada desse tema requer um estudo mais apurado o que não está previsto no

tema principal desse trabalho.

Page 28: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

26

4. Conclusão

Como principal objetivo desse trabalho, a purificação da glicerina bruta, resíduo do processo

de produção do Biodiesel, por remoção de impurezas e por destilação azeotrópica com solvente

orgânico resultou em um produto com grau satisfatório para uso na produção de ésteres.

O tratamento para remoção de impurezas e a destilação utilizando tolueno como agente de

arraste de água mostrou bom rendimento de operação, com viabilidade técnica e atendendo as

condições ambientais, tornando esse processo possível de ser executado em termos práticos de

operação.

Com o crescimento da oferta de glicerina bruta no mercado e consequentemente a redução

dos preços, o procedimento proposto por esse trabalho buscou apresentar uma alternativa para a

indústria de produção de ésteres. Estudos envolvendo utilização de glicerina bruta como matéria

prima para os mais variados fins vêm se tornando o principal responsável pela ampliação do

consumo do glicerol proveniente da produção do Biodiesel.

Page 29: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

27

5. Referências Bibliográficas

ALLINGER, N. L. Química Orgânica. Segunda edição, Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1976. V.2, p:

97-98.

BAILEY, A.E.; HUI, Y.U. Glycerine Processing. Bailey’s industrial oil and fat products. 5th ed., New

York: John Wiley, 1996. V.5, p: 275-308.

BRASIL. Resolução ANP n. 6/2009, dispõe sobre o aumento de 4% para 5% o porcentual obrigatório

de mistura de biodiesel ao óleo diesel. Brasília, 2009a. Disponível em: http://www.anp.gov.br. Acesso

em: 15 Novembro 2011.

BREMUS, N.; DIECKELMANN, G.; LUTZ, J.; WOLFGANG, R.; HARTWIG, S. Process for the

continuous production of triacetin. US Patent 1983/4381407.

ESBERARD N.; Aquecimento global e biodiesel. 4° CONGRESSO BRASILEIRO DE PLANTAS

OLEAGINOSAS ÓLEOS, GORDURAS E BIODIESEL. Trabalho Apresentado. Minas Gerais, 2007.

FERREIRA, P.; FONSECA, I. M.; RAMOS, A. M.; VITAL, J.; CASTANHEIRO, J. E. Esterification of

glycerol with acetic acid over dodecamolybdophosphoric acid encaged in USY zeolite. Catalysis

Communications,10, 2009, 481-484.

GERPEN, V. J. Biodiesel processing and production. Fuel Processing Technology 86 (2005) 1097–1107

Disponível em: users.rowan.edu/~marchese/froshclinic2-07/vangerpen.pdf. Acesso em: 05 Novembro

2011.

Page 30: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

28

GÓES, P. S. A. O PAPEL DA PETROBRAS NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL: Perspectivas de

produção e distribuição do biodiesel de mamona. UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. 2006.

Disponível em: http://teclim.ufba.br/site/material_online/monografias/mono_paulo_goes.pdf. Acesso em:

06 Novembro 2011.

GUTIéRREZ OPPE, Evelyn Edith. Desidratação por destilação azeotrópica da glicerina obtida como

subproduto da produção do biodisel. 2008. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) - Escola

Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em:

<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3137/tde-30052008-141527/>. Acesso em: 01 Outubro 2011.

HOFFMAN, E. J. Azeotropic and extractive distillation. New York: Interscience Publishers,

1964. 324 p

IBD Certificações. Matéria Prima permitida para uso em cosméticos naturais e orgânicos certificados.

IBD Certificações 2011. Disponível em: http://www.ibd.com.br/downloads/RAW INGREDIENTS FOR

ORGANIC AND NATURAL BODY CARE PRODUCTS.pdf. Acesso em: 15 Novembro 2011.

INFOPÉDIA. Glicerina in Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. Disponível em:

http://www.infopedia.pt/$glicerina. Acesso em: 01 Outubro 2011.

KIRK, R.E.; OTHMER, D.F. Encyclopedia of chemical technology. 4th ed. New York: John Wiley, 1978,

v.8, p. 359-395.

KNOTHE, G.; GERPEN, J.V.; KRAHL, J.; RAMOS, L.P. Manual do Biodiesel. Ed. Edgard Blucher, São

Paulo, 2006. p.339.

LIAO, X.; ZHU, Y.; WANG, S-G; LY, Y. Producing triacetylglycerol with glycerol by two steps:

esterification and acetylation. Fuel Processing Technology, 90, 2009, 988-993.

Page 31: ANDRÉ KARADI DA SILVA - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12008.pdf · 2009, que aumentou de 4% para 5% o porcentual obrigatório de mistura

29

MANEELY T. Glycerin Production and Utilization. Biodiesel one-day course

from field to fuel. Couer d'Alene Idaho, 15 Jun. 2006. Disponível em:

http://www.uidaho.edu/bioenergy/Fei1d2fuel_cda06/Tim_Glycerin biodiesel course 061506 2.pdf. Acesso

em: 25 Outubro 2011.

MINER, C., DALTON, N.N. Glycerol. University of Michigan, Reinhold Pub. Corp., 1953. p.460

ÖZGUL-YÜCEL, S.; TÜRKAY, S. Variables Affecting the Yields of Methyl Esters Derived from in

situ Esterification of Rice Bran Oil. J. Am. Oil. Chem. Soc. 2002, 79 (6), 611-614.

PERRY, R.H.; GREEN, D.W. MALONEY, J.O. Perry’s Chemical Engineer’s Handbook, 7th

ed., McGraw-Hill, 1997.

RATHMANN, R. ET AL. Biodiesel: uma Alternativa estratégica na matriz energética brasileira? Rio

de Janeiro. 2006 Disponível em: www.fae.edu/publicacoes/pdf/IIseminario/sistemas/sistemas_03.pdf.

Acesso em: 18 Outubro 2011.

SUAREZ, P. A. Z.; MENEGHETTI, S. P. M. 70º Aniversário do biodiesel em 2007: Evolução histórica

e situação atual no Brasil. Quím. Nova, São Paulo, v. 30, n. 8, 2007. Disponível em:

http://quimicanova.sbq.org.br/qn/qnol/2007/vol30n8/46-AG07046.pdf. Acesso em: 12 Novembro 2011.

THOMPSON, J. C. HE, B.B. Characterization of Crude glycerol from biodiesel production from

multiple feedstocks. Applied Engineering in Agriculture, 2006. V. 22, p. 261-265.