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André Luiz da Conceição e Juliana Rink · prevenção da dengue em Várzea Paulista-SP e ... uma das muitas publicações oriundas do trabalho ... infraestrutura de saneamento

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  • Andr Luiz da Conceio e Juliana Rink

    (Organizadores)

    GESTO AMBIENTAL:

    ESTUDOS E PRTICAS 1 Edio

    Editora UniAnchieta

    Jundia-SP

    2014

  • Edio e superviso editorial: Andr Luiz da Conceio e Juliana Rink

    Arte da Capa: Claudia Cervantes Starke

    Reviso textual: Caio Cesar Costa Ribeiro Mira

    FICHA CATALOGRFICA

    FICHA CATALOGRFICA

    Catalogao na Publicao

    Bibliotecria Elizabete Estevam Alves - CRB-8/6525

    Gesto ambiental: estudos e prticas. [recurso eletrnico] / Andr Luiz da

    Conceio, Juliana Rink, organizadores. Jundia: Unianchieta, 2014.

    91. : il.

    ISBN: 978-85-61764-05-0

    1. Educao ambiental. 2. Gerenciamento de resduos. 3. Gesto ambiental.

    I. Conceio, Andr Luiz da. II. Rink, Juliana. III. Ttulo

    CDU: 504.06

  • APRESENTAO

    A presente publicao resultado do esforo do corpo docente e

    discente do Curso Superior de Tecnologia em Gesto Ambiental do Centro

    Universitrio Padre Anchieta UniAnchieta, na produo do conhecimento

    tcnico-cientfico atravs da realizao, nos ltimos anos, de pesquisas e

    prticas acadmicas desenvolvidas em sala de aula envolvendo o municpio de

    Jundia e regio.

    Desse modo, um dos objetivos desta coletnea contribuir para o

    debate local, regional e nacional de assuntos relacionados sustentabilidade e

    a gesto ambiental, tais como a questo do gerenciamento dos resduos da

    construo civil do municpio de Jundia-SP, a reciclagem de leo de cozinha

    no municpio de Itapeva-SP, a educao ambiental como estratgia da

    preveno da dengue em Vrzea Paulista-SP e a experincia de leitura de

    texto de divulgao cientfica e de interpretao de conceitos inerentes rea

    de Sistemas de Gesto Ambiental.

    oportuno comentar que historicamente, a necessidade de especialistas

    em tcnicas de gesto ambiental culminou no surgimento de cursos superiores

    voltados para a formao de profissionais na rea. Desse modo, o Curso

    Superior de Tecnologia em Gesto Ambiental do Centro Universitrio Padre

    Anchieta pretende atender a uma demanda de profissionais formados para

    terem um olhar holstico, humanstico, diferenciado e sistmico para as

    questes ambientais que existem em nossa regio. Esperamos que esta seja

    uma das muitas publicaes oriundas do trabalho desenvolvido em nosso

    curso.

    Andr Luiz da Conceio

    Juliana Rink

  • SUMRIO

    Educao ambiental como estratgia de preveno dengue no entorno de

    uma rea de preservao em Vrzea Paulista/SP ............................................. 7

    Uma experincia de leitura de textos de divulgao cientfica ......................... 23

    Anlise do perfil de participantes em projeto de reciclagem de leo de cozinha

    no municpio de Itupeva, So Paulo ................................................................. 43

    Conceitos de Sistemas de Gesto Ambiental para graduandos em Tecnologia

    em Gesto Ambiental ....................................................................................... 60

    Anlise das iniciativas de gerenciamento de resduos da construo civil em

    Jundia-SP ........................................................................................................ 72

  • 7

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    EDUCAO AMBIENTAL COMO ESTRATGIA

    DE PREVENO DENGUE NO ENTORNO DE

    UMA REA DE PRESERVAO EM VARZEA

    PAULISTA/SP.

    Juliana Rink1

    Diego Novaretti2

    RESUMO

    Este trabalho apresenta resultados de um projeto de pesquisa cujo objetivo foi

    elaborar um diagnstico socioambiental de uma rea de preservao

    ambiental, localizada em Vrzea Paulista (SP), enfatizando as concepes

    socioambientais dos moradores do entorno a respeito da dengue. A aplicao

    de questionrio semiestruturado em uma amostra de 200 domiclios,

    durante os anos de 2011 e 2012, permitiu a caracterizao sociogrfica dos

    indivduos e o mapeamento das concepes sobre a dengue, dos conceitos

    sobre a doena e seu vetor. A pesquisa constatou desconhecimento e

    equvocos dos moradores sobre o ciclo de vida do vetor e do vrus causador da

    doena. Os resultados evidenciaram forte fragmentao dos conhecimentos

    por parte dos indivduos, que pode agravar a possvel proliferao do vetor na

    regio, dado o acumulo e despejo indevido de resduos slidos no local. Com

    base nesse diagnstico, uma ao de EA foi realizada junto ao poder pblico,

    para promover mudana conceitual dos moradores.

    PALAVRAS-CHAVES: dengue, concepes e percepes, sade pblica,

    educao ambiental.

    1 Doutora e Mestre em Educao pela Universidade Estadual de Campinas, Licenciada em

    Cincias Biolgicas pela mesma instituio. Professora do Centro Universitrio Padre Anchieta e da Faculdade de Tecnologia de Jundia - Centro Paula Souza. 2 Mestre em Cincias Sociais pela Universidade Federal de So Carlos, Tecnlogo em Gesto

    Ambiental pelo UniAnchieta.

  • 8

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    INTRODUO

    De acordo com a Organizao Mundial da Sade (OMS), a dengue um

    dos principais problemas de sade pblica no mundo. Estima-se que entre 50 a

    100 milhes de pessoas se infectem anualmente, em mais de 100 pases, de

    todos os continentes, exceto a Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam

    de hospitalizao e 20 mil morrem em conseqncia da dengue.

    O panorama brasileiro tambm no otimista. As condies

    socioambientais favorveis expanso do Aedes aegypti possibilitaram a

    disperso do vetor no pas desde sua reintroduo em 1976 e o avano da

    doena cada vez mais rpido. Programas e iniciativas pouco integradas e

    sem participao ativa da comunidade mostraram-se incapazes de conter um

    vetor com altssima capacidade de adaptao ao novo ambiente criado pela

    urbanizao acelerada e pelos novos hbitos. De acordo com as diretrizes

    nacionais para preveno e controle de epidemias de dengue, a situao

    epidemiolgica est se agravando dentro dos estados e municpios e, apesar

    dos esforos do Ministrio da Sade, h epidemias nos principais centros

    urbanos do pas (BRASIL, 2009).

    Sabe-se que o setor de sade, por si s, no consegue derrubar tal

    cenrio, j que h uma rede de fatores que favorecem a proliferao do vetor

    da dengue. Historicamente, a rpida urbanizao do pas gerou deficincia na

    infraestrutura de saneamento bsico, tais como falta de abastecimento de

    gua, coleta e destinao inadequada de resduos slidos (BRASIL, 2008).

    Assim, cada vez mais necessria a presena de projetos e aes articulados

    que transcendam o setor da sade, fornecendo subsdios para que o problema

    seja discutido sob uma perspectiva interdisciplinar. Ainda conforme o Ministrio

    da Sade (BRASIL, 2001), o combate ao Aedes aegypti sempre foi

    desenvolvido seguindo as diretrizes da erradicao vertical, onde a

    participao comunitria no era tida como atividade essencial. Contudo, hoje

    a abordagem ampla e a participao comunitria so consideradas

    fundamentais e imprescindveis para controlar o vetor.

  • 9

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    Entra em cena, ento, a Educao Ambiental (EA). Considerada desde

    1965 como medida scio-educativa para melhoria da qualidade ambiental

    (BRASIL, 1965), a EA definida pelo PRONEA (Programa Nacional de

    Educao Ambiental) como:

    os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

    Nesse contexto, a EA est vinculada a todos os objetivos de proteo ao

    meio ambiente e desenvolvimento sustentvel por ser um instrumento capaz

    de proporcionar o aumento da conscincia pblica, envolvendo a comunidade

    na busca por solues para os problemas existentes e na construo de um

    senso pessoal de responsabilidade em relao temtica aqui discutida. O

    prprio Ministrio da Sade tem elencado a adoo de atividades, aes e

    programas em EA como uma das principais formas de promover a participao

    comunitria no saneamento domiciliar, visando contribuir para a eliminao de

    criadouros potenciais do vetor da dengue (BRASIL, 2009); diretriz

    exemplificada pelo investimento de mais de R$ 40 milhes em campanhas

    publicitrias de sensibilizao no ano de 2009.

    Ao considerarmos o controle ao vetor como uma das maneiras mais

    eficazes para combater a dengue, a participao popular no combate ao Aedes

    aegypti essencial. Assim, de extrema importncia propor aes de EA que

    faam interveno em populaes locais, a fim de provocar uma mudana de

    atitude da populao que combata o panorama atual da doena.

    nesse contexto que se situa a presente pesquisa. A ideia do estudo

    surgiu a partir de alunos do Curso Superior de Tecnologia em Gesto

    Ambiental do Centro Universitrio Padre Anchieta (Jundia/SP), durante a

    disciplina intitulada Tpicos em Sade Ambiental, ministrada no segundo

    semestre de 2010. Uma das atividades propostas para a turma foi a escolha de

    um local com condies favorveis para proliferao de animais sinantrpicos

    e/ou vetores, com intuito de realizar um diagnstico socioambiental do entorno

    e realizar aes de EA junto populao.

  • 10

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    Dessa forma, um grupo de alunos que trabalhavam nas imediaes do

    Parque Ecolgico Chico Mendes (Vrzea Paulista/SP) o escolheram para

    realizar o diagnstico preliminar requisitado pela disciplina. O relatrio destacou

    que o panorama de acelerada urbanizao do municpio gera um dficit na

    infraestrutura de servios urbanos, cuja manifestao mais visvel a carncia

    de saneamento e problemas constantes com enchentes. Essa situao, aliado

    ao regime de chuvas alterado ocorrido no final de 2009 e incio de 2010 e os

    conceitos equivocados sobre a biologia do vetor caracterizam-se como risco

    socioambiental. A despeito dos esforos da prefeitura local, dos agentes

    comunitrios de sade e das campanhas preventivas e informativas, a maioria

    das pessoas entrevistadas pelos alunos no consideravam a simples

    presena do vetor Aedes sp. como um risco provvel sade, acreditando que

    o inseto no esteja contaminado ou, ainda, que no seja realmente o inseto

    transmissor da dengue (FRANCO & RINK, 2011). A esse respeito,

    interessante citar os estudos realizados por Chiaravalloti Neto et al. (1998) e

    Chiaravalloti et al (2002) os autores mostram que mesmo que os

    conhecimentos sobre a dengue e os vetores sejam incorporados por um

    conjunto de indivduos, no haver necessariamente uma mudana de hbitos

    e, conseqentemente, a reduo do nmero de criadouros a ponto de evitar a

    transmisso da doena.

    No que se refere ao planejamento de aes de EA, as discusses

    propostas por Carvalho (1989, 2006) vo ao encontro das observaes acima.

    De acordo com o referido autor, para a efetivao de um trabalho em EA

    devem ser consideradas trs dimenses: a dimenso axiolgica, referente aos

    valores ticos e estticos presentes em uma sociedade ou indivduo, a

    dimenso dos conhecimentos e a dimenso poltica, a qual, segundo este

    autor, deve estar presente em todas as discusses relacionadas ao processo

    educativo e, por conseguinte EA. Segundo Carvalho (2006), as dimenses

    dos valores ticos e estticos e a dos conhecimentos sustentam a

    possibilidade de intencionalizarmos as nossas aes, visando formao de

    seres humanos (p. 26).

  • 11

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    Assim, possvel perceber que o planejamento da ao educativa a

    ser realizada aps a elaborao do diagnstico socioambiental deve perpassar

    por questes que no s as referentes ao conhecimento da populao acerca

    dos riscos da presena do vetor no Parque e em seu entorno.

    Os resultados supracitados levaram a uma sistematizao do estudo,

    que foi apresentado para a Secretaria de Obras e Meio Ambiente do municpio

    sob forma de projeto de pesquisa, a fim de dar continuidade ao panorama

    inicial. Aps aprovao institucional pelo Comit de Pesquisa e Extenso e

    pelo Comit de tica, o projeto recebeu aval e apoio do poder pblico para

    execuo.

    Assim, nasceu esse projeto de iniciao cientfica, cujo objetivo geral foi

    realizar um diagnstico socioambiental do entorno do Parque Ecolgico Chico

    Mendes (Vrzea Paulista/SP) a respeito da dengue, com nfase no vetor

    Aedes aegypti e, a partir da, executar uma ao de EA junto aos moradores

    locais.

    A pesquisa sobre concepes e percepes socioambientais

    declarada desde 1973 pela Organizao das Naes Unidas para a Educao,

    Cincia e a Cultura (UNESCO) como sendo extremamente importante, j que

    consiste na investigao sobre valores, expectativas e atitudes que os sujeitos

    possuem em relao ao entorno onde vivem. Portanto, a partir desses

    conceitos e percepes, os indivduos interagem com o mundo e provocam

    interaes positivas ou relativas sobre o ambiente (FERNANDES et al., 2009).

    Nesse sentido, acredita-se que o estudo das concepes socioambientais da

    comunidade de entorno do Parque Ecolgico Chico Mendes constitui-se de

    ferramenta essencial para o planejamento de aes de EA que promovam a

    sensibilizao e desenvolvimento de novas posturas por parte da populao,

    principalmente no que tange ao controle da dengue na regio.

    CARACTERIZAO DO LOCAL DE ESTUDO

    Vrzea Paulista um municpio localizado na microrregio econmica

    da cidade de Jundia. Emancipada desde 1965, possui populao estimada

    em 110 mil habitantes, onde mais de 40% possui ingresso familiar de 0 at 4

  • 12

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    salrios mnimos. Apesar de ter o IDH Municipal de 0,795, satisfatrio se

    compararmos com o IDH mdio do Estado de So Paulo, 0,82, notrio o

    vertiginoso declnio quando analisada as regies perifricas, onde se

    concentram as populaes socialmente vulnerveis (classes D e E) (VRZEA

    PAULISTA, 2010).

    A populao predominantemente de trabalhadores pertencentes

    classe de renda C (57%) e, D e E (23%). A renda per capita de 1,5 salrios

    mnimo, semelhante mdia nacional, mas bem abaixo de Jundia (2,5). Por

    ter sido emancipada apenas h 43 anos e, como toda cidade que experimenta

    um processo acelerado de crescimento, o municpio teve seu desenvolvimento

    espacial de forma desorganizada e sem o devido planejamento urbano e,

    consequentemente, ambiental.

    Apresentadas a caracterizao do municpio, passaremos agora a focar

    nos dados obtidos sobre a situao ambiental do mesmo e, em especfico,

    sobre a criao e funcionamento do Parque Ecolgico Chico Mendes.

    De acordo com os dados obtidos na Secretaria de Obras e Meio

    Ambiente da Prefeitura de Vrzea Paulista, o Parque conta com 133.400 m

    dos quais, 63% constituem um bosque denso sobre uma encosta ngreme, com

    desnvel mdio de 60 m, com predominncia de rvores nativas em estgio

    mdio de recuperao13. Tambm conta com um Centro de Educao

    Ambiental (CEA), utilizado em geral para receber visitas dos alunos da escola

    bsica. O Parque e o CEA foram criados em 2008 atravs de uma

    compensao ambiental de empresa metalrgica instalada na cidade. Na

    ocasio, a empresa detectou danos ambientais e fez uma comunicao

    espontnea a CETESB, Prefeitura e Promotoria Pblica. Como consequncia,

    foi criado um Termo de Ajuste de Conduta para que a empresa fizesse um

    trabalho de recuperao do solo e das guas e um projeto de compensao

    ambiental no valor de R$ 500 mil, que originou a criao do Parque.

    Com anfiteatro, mini viveiro de mudas, orquidrio, rea de

    compostagem, playground, biblioteca, sala de pesquisas, o Parque ladeado

    com mais de 50 mil metros de mata nativa em uma rea de 133 mil metros 3 A floresta em estgio mdio de sucesso apresenta nico estrato arbreo, com altura mxima

    de 12 metros e dimetro de caule de at 30 cm.

  • 13

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    quadrados. O CEA referencia municipal nas atividades de sensibilizao e

    conscientizao popular sobre vrias questes ambientais e tambm abriga

    aes do programa municipal de mobilizao social para o controle do Aedes

    aegypti.

    Conforme a prefeitura, a implantao do projeto do Parque Ecolgico

    teve como objetivo primrio a preservao da fauna e flora numa perspectiva

    socioambiental, integrando a qualidade de vida da populao e tambm

    oferecendo a ela um espao fsico de lazer e conscientizao ambiental

    (VRZEA PAULISTA, 2009).

    As reas no entorno do parque j so intensamente utilizadas pelos

    moradores e encontram-se em estgio de degradao antrpica. A populao

    que vive nas imediaes foi se apropriando dos trechos mais planos, criando

    espaos para prticas esportivas e caminhadas, praas e mirantes para

    descanso e contemplao da paisagem, parquinhos para as crianas

    brincarem, plantando rvores frutferas e florferas, verduras, legumes, plantas

    medicinais e flores, improvisando equipamentos e mobilirio para a prtica de

    atividades variadas.

    Figura 1: Fotografia area do Parque Ecolgico Chico Mendes.

    Fonte: Arquivo da Secretaria Municipal de Obras e Meio Ambiente, Prefeitura de

    Vrzea Paulista, 2007.

  • 14

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    Sendo um parque urbano, o projeto visava oferecer una grande

    diversidade de usos tais como: com alamedas, equipamentos, mobilirios e

    jardins adequados a crianas, jovens, adultos, idosos, portadores de

    deficincia, entre outros. Os limites do local no so murados, contanto

    apenas com cerca-viva. De acordo com essa concepo, murar o Parque

    prejudicaria suas relaes com o entorno e diminuiria os fluxos de circulao e

    dos fluxos visuais, o que no ocorre ao utilizar rvores, arbustos e forrao que

    permitem a visibilidade do bosque e das vrzeas.

    Todavia, mesmo aps a implementao do Parque, a populao

    continua a ocupar, desmatar e destinar resduos de forma inadequada no local.

    Sabe-se que o acmulo de resduos slidos e de construo civil tem sido

    apontado como elementos potencializadores dos criadouros para o Aedes

    aegypti (TORRES, 2005), cenrio que evidencia a situao de risco

    socioambiental existente no entorno do Parque.

    PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    A presente pesquisa possui cunho quali-quantitativo e baseia-se

    principalmente na anlise de questionrios abertos, aplicados aos moradores

    do entorno do Parque a fim de identificar a percepo da populao do entorno

    em relao doena e aos possveis focos de vetores e, conseqentemente, a

    inter-relao entre a disposio irregular de resduos e a proliferao de

    criadores do mosquito transmissor no local.

    Inicialmente optou-se pela realizao de uma amostragem piloto, tendo

    em vista que a rea de abrangncia que envolve todo o entorno do Parque

    muito extensa. Para a amostragem inicial, foi selecionada a rea de entorno do

    Parque considerada mais degradada ambientalmente e que recebe maior

    impacto antrpico. Ainda, de acordo com a Prefeitura Municipal, a rea definida

    abrange os moradores mais antigos do bairro que fazem uso indevido da rea,

    como criao de animais, plantao de exticas e disposio irregular de

    resduos, fator relevante para a determinao da referida rea como interesse

    principal da aplicao do questionrio piloto (FRANCO & RINK, 2011).

  • 15

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    Aps a realizao do mapeamento e da caracterizao do local a ser

    investigado, de acordo com identificao de condies favorveis para

    proliferao do vetor e de posse das informaes levantadas acima, foram

    selecionadas quatro ruas Rua Catanduva, Rua Guaruj, Rua Orindiuva e Rua

    Cafezal destacadas no mapa abaixo.

    Figura 2: Fotografia area da regio do Parque Ecolgico Chico Mendes e suas

    relaes com o entorno, destacando as ruas em que o questionrio piloto foi aplicado.

    Fonte: Arquivo da Secretaria Municipal de Obras e Meio Ambiente, Prefeitura de

    Vrzea Paulista, 2008, modificado pelos autores.

    Tanto na amostragem piloto quanto nas posteriores etapas da pesquisa,

    o questionrio apresentou dois grandes conjuntos de questes. O primeiro

    serviu para caracterizar os indivduos entrevistados - um dos passos iniciais

    para o estudo da percepo ambiental, j que os resultados obtidos esto

    diretamente associados a essas caractersticas que influenciam direta e

    indiretamente a percepo que as pessoas tm do ambiente. Para tanto, foram

    elaboradas algumas questes socioculturais, tais como idade, gnero, nvel de

    instruo, entre outros, que evidenciaram o contexto sociocultural dos sujeitos

    entrevistados.

  • 16

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    J o segundo conjunto de questes referiu-se aos conceitos e

    percepes dos entrevistados sobre meio ambiente, sade e principalmente o

    vetor da doena, totalizando doze perguntas.

    Desta forma a amostragem piloto foi realizada em 50 domiclios nas ruas

    citadas, iniciando-se em cada rua a partir da primeira casa mais prxima ao

    Parque, alternando-se linearmente uma casa sim, e outra no, de acordo com

    a recepo dos moradores. Quando havia recusa de entrevista ou ausncia do

    morador, considerava-se o imvel seguinte (situao ocorrida em apenas dois

    casos).

    Aps a aplicao dos questionrios modelos, as respostas foram

    tabuladas por meio do uso de planilha eletrnica e analisadas de acordo com o

    intento da primeira etapa. Os resultados e as anlises apresentadas serviram

    de diretrizes para a continuidade do projeto.

    Na etapa procedente, a partir da anlise j feita e conseqente

    readequao do questionrio, o mesmo foi aplicado em todo o entorno do

    Parque, totalizando 200 moradores ao longo das ruas escolhidas, conforme

    mostra a Figura 2.

    APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS

    Conforme dito anteriormente, as entrevistas foram realizadas com 200

    moradores (123 do sexo masculino e 77 do sexo feminino), com faixa etria

    compreendida entre 15 e 93 anos, sendo que a faixa etria predominante foi

    dos 20-40 anos (35%). Quanto ao nvel de escolaridade dos entrevistados, a

    pesquisa revelou que 50% possuam o Ensino fundamental incompleto, 32%

    concluram o Ensino Fundamental, 12% concluram o Ensino Mdio e 6 %

    eram analfabetos.

    Tambm foi considerado importante o tempo em que os moradores

    residiam no domiclio onde foi realizada a entrevista. Cerca de 5% respondeu

    que moravam h menos de 5 anos, 15% moravam entre 5 e 10 anos, 20%

    moravam entre 11 e 20 anos e 60% moravam h mais de 20 anos. Todos os

    entrevistados afirmaram nunca ter contrado dengue.

  • 17

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    Em relao pergunta O que dengue?, 80% dos indivduos

    responderam que a mesma um mosquito. Apenas 14% dos indivduos

    disseram se tratar de uma doena. Respostas com carter religioso, como

    um castigo divino, compuseram 4% da amostra. Com base nesses resultados,

    possvel afirmar que a percepo predominante dos moradores associa a

    doena ao mosquito e sua picada, considerando a doena como sendo o

    prprio vetor. Consideramos que tal concepo amplamente reforada pelo

    discurso dos meios de comunicao e das prprias campanhas de preveno

    da doena, que na grande maioria das vezes trazem como smbolo o inseto

    sendo exterminado ou ainda personificam os desenhos do vetor. A existncia

    do vrus quase que totalmente ignorada, tendo sido citada por apenas um

    morador entrevistado.

    Mediante a questo Como se contrai dengue?, a grande maioria

    relacionou o contgio ao fator gua parada/acumulada, no citando a

    necessidade de picada do vetor (72%), enquanto que 20% citaram que a

    doena adquirida pela picada do mosquito transmissor. Surpreendentemente,

    8% dos moradores afirmaram que a doena pode ser transmitida diretamente

    de pessoa para pessoa (contgio direto).

    Em relao pergunta Voc sabe explicar por que eliminar a gua

    parada to importante para a preveno doena?, as respostas obtidas

    revelam uma srie de concepes errneas relativas biologia e ciclo de vida

    do Aedes aegypti. Mais de 70% dos entrevistados responderam que a gua

    parada junta ou cria o mosquito da dengue e, desses moradores, quase

    todos disseram que a gua em questo tem que ser suja para que ocorra tal

    criao do transmissor. Isso nos mostra que a populao entrevistada no

    discrimina adequadamente o tipo de gua/condies apropriada para

    estabelecer criadouros do vetor. Outro aspecto relevante foi o

    desconhecimento da fase de ovo no ciclo reprodutivo do agente. Esse dado

    nos permite inferir que a percepo da populao em relao aos potenciais

    recipientes e ao transporte passivo dos ovos praticamente nula. Alm disso,

    foi possvel observar certa inquietao por parte dos moradores nessa questo,

    principalmente nas mulheres. Respostas como na minha casa no tem

  • 18

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    dengue, no, limpinha ; eu lavo o quintal sempre e no deixo gua

    acumulada nunca ; aqui tudo limpo, mas no Parque uma sujeira s,

    revelam que a presena de mosquitos (e, portanto, do vetor da dengue)

    vinculada a ambientes descuidados, sujos ou insalubres. Tal percepo pode

    acarretar no aumento do risco socioambiental no entorno, favorecendo

    certamente a proliferao do vetor. O uso indiscriminado de inseticidas tambm

    apareceu em vrias respostas dadas nessa questo.

    Por fim, a questo Voc acha que existe alguma relao entre lixo

    (resduos slidos) e a dengue? Se sim, qual? teve resultados preocupantes. A

    grande maioria dos entrevistados (80%) respondeu que sim, estabelecendo

    uma relao positiva entre os resduos slidos e a doena. Contudo, somente

    20% dos entrevistados afirmaram que os resduos seriam recipientes que

    acumulariam gua e poderiam se tornar criadouros do vetor. Os demais no

    souberam exemplificar a relao. Quatorze por cento dos moradores

    declararam que no havia relao alguma, j que o mosquito se cria em gua

    e no em lixo; enquanto que 6% dos indivduos declararam no saber

    responder.

    Com base nos dados apresentados acima, foram tecidas reunies junto

    a representantes do poder pblico local, com a presena dos administradores

    do Parque em questo. O diagnstico foi discutido e as autoridades

    concordaram com a necessidade de realizar, ao menos para parte da

    populao investigada, alguma ao de EA que pudesse contribuir para a

    mudana conceitual dos moradores. Por conta da situao inadequada de

    despejos de resduos slidos nas reas de entorno do Parque, optamos por

    executar uma ao de EA voltada para promover a conscientizao dos

    indivduos e que ressaltasse a grande contribuio do resduo domstico e de

    construo civil para potencializar os criadouros do vetor da dengue.

    Desse modo, o grupo de trabalho constituiu uma campanha que contou

    com a participao dos pesquisadores, dois agentes ambientais da cidade, dois

    funcionrios do Parque, um representante da Guarda Municipal e um

    representante da Secretaria de Obras e Meio Ambiente do municpio. A

    campanha teve durao de dois meses (janeiro e fevereiro de 2012) e os

  • 19

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    encontros junto populao foram desenvolvidos ao longo de trs finais de

    semana, aos sbados e domingos pela manh. Basicamente, os trabalhos

    envolveram trs pontos principais:

    a) Dilogo informativo com os moradores: um pesquisador

    acompanhado de mais um membro da equipe voltou em cada uma das

    residncias visitadas na etapa inicial da pesquisa, a fim de esclarecer aspectos

    sobre o ciclo de vida do Aedes aegypti. Esse trabalho contou com a

    demonstrao de exemplares preservados do inseto e tambm com fotografias

    das diversas fases de vida do mesmo.

    b) Entrega de material de divulgao: o poder pblico possua vrios

    materiais informativos produzidos com informaes sobre a eliminao dos

    criadouros e medidas profilticas contra a doena. Os folhetos eram oferecidos

    para os moradores e apenas sete entrevistados, do total de duzentos,

    recusaram os mesmos. interessante relatar que a forma de abordagem do

    pesquisador foi diferenciada antes de oferecer o folheto para as pessoas, era

    mostrado um pequeno lbum com fotografias da prpria rua onde a casa do

    morador se localizava, todas com situaes de despejo irregular de resduos

    slidos. O pesquisador perguntava para o indivduo se ele reconhecia o local

    fotografado. Para a surpresa da equipe, mais de 60% dos sujeitos relatou no

    identificar o local. A partir da, iniciava-se o reconhecimento de situaes

    propcias para o desenvolvimento dos vetores junto ao morador e somente

    ento eram discutidas as formas de combate aos criadouros;

    c) Convite para palestra: os moradores eram convidados para uma

    conversa sobre outros agravos sade ocasionados pela contaminao

    ambiental provocada pela deposio indevida de resduos slidos na rea do

    entorno do Parque. A palestra foi realizada em espao dentro do Parque

    Ecolgico, em dois encontros diferentes, que tiveram durao mdia de meia

    hora. Aps a fala inicial, os pesquisadores, acompanhados de representantes

    do poder pblico local, fizeram uma visita ao entorno do parque com os

    moradores, de aproximadamente 400m, identificando as situaes de risco por

    conta da contaminao por lixo nos locais. Na volta, os participantes

  • 20

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    constituram uma roda de conversa e propuseram aes que os prprios

    moradores pudessem executar, a fim de diminuir a problemtica apresentada.

    Infelizmente, apenas 35% dos entrevistados na primeira etapa

    participaram da atividade proposta. Contudo, consideramos que foi um passo

    inicial para a mudana conceitual dos moradores do local investigado, j que os

    indivduos presentes foram multiplicadores das informaes obtidas pela ao.

    CONSIDERAOES FINAIS

    O diagnstico efetuado nos permitiu traar alguns indicativos sobre as

    concepes e percepes sobre a dengue e seu vetor, por parte dos

    moradores do entorno do Parque Ecolgico Chico Mendes (Vrzea

    Paulista/SP) e, a partir da identificao dos problemas, propor uma ao de EA

    que pudesse contribuir para a formao de novos conceitos e do senso crtico

    nos moradores.

    Tal como em Lefrve (2007), possvel afirmar que os conhecimentos

    sobre os vrios aspectos da doena revelados pelo conjunto de entrevistados

    so incompletos, muitas vezes equivocados e fortemente influenciado pelas

    informaes veiculadas pelos veculos miditicos. importante considerar os

    aspectos sociais dos moradores: a baixa escolaridade dificulta o acesso e a

    compreenso das informaes veiculadas campanhas e iniciativas no combate

    doena. H grande desconhecimento do ciclo reprodutivo do vetor, elemento

    que eleva o risco de proliferao do vetor na localidade, j que influencia

    diretamente nas aes que a populao ali estabelece.

    Tambm foi constatada a intensa fragmentao dos conhecimentos por

    parte dos entrevistados: os elementos gua, vegetao do Parque, mosquitos,

    vrus, lixo, resduo, aparecem nas respostas, mas sem relao intrnseca entre

    esses elementos. Isso pode significar mera reproduo de discursos

    apreendidos por meio de diversas fontes, sem mudana conceitual efetiva por

    parte do cidado.

    Apesar de contar com poucos participantes, a ao de EA foi

    fundamental para que os moradores percebessem a degradao do entorno do

  • 21

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    Parque e de suas prprias residncias por conta do despejo inadequado de

    resduos.

    Os resultados indicam a contnua necessidade de aes planejadas de

    EA que levem em conta tais concepes e conhecimentos prvios dos

    indivduos. Ao levar o mapeamento das percepes dos moradores para os

    gestores pblicos, acreditamos que seja possvel criar e executar aes de EA

    que tenha possibilidades mais reais de provocar mudana na realidade local. A

    distribuio de materiais informativos importante, mas a populao deve ser

    efetivamente envolvida na anlise do contexto onde est inserida, a fim de

    promover mudana de atitudes nesse grupo social e no ambiente que o

    circunda.

    AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem ao apoio da Secretaria Municipal de Obras de

    Vrzea Paulista/SP e Polcia Ambiental do Municpio.

    REFERNCIAS

    BRASIL. Ministrio da Sade. Fundao Nacional de Sade. Controle de

    vetores: procedimentos de segurana: manual do supervisor de campo.

    Braslia, 2001. 124 p.

    ______. Ministrio da Sade. Fundao Nacional de Sade. Diretrizes tcnicas

    para o controle de vetores no Programa de Febre Amarela e Dengue. Braslia,

    1994.

    ______. Ministrio da Sade. Fundao Nacional de Sade. Dengue,

    instrues para pessoal de combate ao vetor : manual de normas tcnicas. - 3.

    ed. Braslia, 2001. 84 p. : il. 30 cm.

  • 22

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    ______. Ministrio da Sade. Fundao Nacional de Sade. Programa

    Nacional de Controle da Dengue PNCD/Fundao Nacional de Sade.

    Braslia, 2002.

    ______. Ministrio da Sade. Secretaria de Ateno a Sade. Departamento

    de Ateno Bsica. Vigilncia em sade: Dengue, Esquistossomose,

    Hansenase, Malaria, Tracoma e Tuberculose. 2. ed. Braslia, 2008.

    ______. Ministrio da Sade. Secretaria de Vigilncia em Sade. Bases

    Tcnicas e Operacionais para Controle Vetorial da Dengue. Braslia, 2006.

    ______. Ministrio da Sade. Secretaria de Vigilncia em Sade. Guia de

    Vigilncia Epidemiolgica. 6. ed. Braslia, 2006.

    CHIARAVALLOTI NETO, F.; MORAES, M.S.; FERNANDES, M.A. Avaliao

    dos resultados de atividades de incentivo participao da comunidade no

    controle da dengue em um bairro perifrico no Municpio de So Jos do Rio

    Preto, So Paulo, e da relao entre conhecimento e prticas desta populao.

    Cadernos de Sade Pblica. 1998; 14 Suppl 2:S101-9.

    CHIARAVALLOTI, V.B.;, MORAIS,M.S.; CHIARAVALLOTI NETO, F.;

    CONVERSANI, D.T., FIORIN,A.M.; BARBOSA,A.A.C. et al. Avaliao sobre a

    adeso s prticas preventivas do dengue: o caso de Catanduva, So Paulo,

    Brasil. Cadernos de Sade Pblica. 2002; 18:1321-9

    FERNANDES, R. S., SOUZA, V. J., PELISSARI, V. B., FFERNANDES, S.T.

    Uso da percepo ambiental como instrumento de gesto em aplicaes

    ligadas s reas educacional, social e ambiental. Rede Brasileira de Centros de

    Educao Ambiental. Rede CEAS. Noticias, 2009. Disponvel em:

    Acessado em: 12 jan. 2009.

    FRANCO, T.O.; RINK,J. Percepes sobre dengue e seu vetor por moradores

    do entorno de uma rea de proteo ambiental. Caderno de Resumos I

    Congresso Nacional de Pesquisa e Iniciao Cientfica UniAnchieta.

  • 23

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    (CONAPIC) Ano 1, Nmero 1 (2011). Disponvel em:

    http://www.anchieta.br/unianchieta/revistas/conapic/publicacoes/Conapic_Ano1

    _num1.pdf. Acesso em: 20 julho 2011.

    LEFEVRE, A. M. C., et al.Representaes sobre a dengue, seu vetor e aes

    de controle por moradores do Municpio de So Sebastio, litoral norte do

    Estado de So Paulo, Brasil. Cadernos de Sade Pblica. Vol.23, n7. Rio de

    Janeiro, Julho, 2007.

    ORGANIZACAO MUNDIAL DE SAUDE. Dengue Hemorrgico: diagnostico,

    tratamento, preveno e controle. 2. ed. So Paulo, 2001.

    ORGANIZACAO PAN-AMERICANA DE SAUDE (OPAS). Dengue y Dengue

    Hemorrgico en las Amricas: Guias para su Prevencion y Control. Washington

    (DC), 1995. 110 p.

    TORRES, E. M. Dengue. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.

    VRZEA PAULISTA. Relatrio Bienal da Secretaria Municipal de Obras e Meio

    ambiente. Prefeitura de Vrzea Paulista, 2008.

    VRZEA PAULISTA. Relatrio Bienal da Secretaria Municipal de Obras e Meio

    ambiente. Prefeitura de Vrzea Paulista, 2010.

    VRZEA PAULISTA. Vrzea ganha Centro de Educao Ambiental.

    Disponvel em: http://www.varzeapaulista.sp.gov.br/noticias/2009/jun/25_4.html.

    Acesso em: 10 mar. 2010.

    http://www.anchieta.br/unianchieta/revistas/conapic/publicacoes/Conapic_Ano1_num1.pdfhttp://www.anchieta.br/unianchieta/revistas/conapic/publicacoes/Conapic_Ano1_num1.pdfhttp://www.varzeapaulista.sp.gov.br/noticias/2009/jun/25_4.html

  • 24

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    UMA EXPERINCIA DE LEITURA DE TEXTOS DE

    DIVULGAO CIENTFICA

    Isabel Cristina Alvares de Souza4

    RESUMO

    Este artigo apresenta algumas atividades de leitura e entendimento de textos

    de divulgao cientfica, propostas a estudantes recm-ingressos em cursos

    superiores tecnolgicos. Com o objetivo de submeter essas experincias

    avaliao de um pblico que extrapola aquele diretamente participante delas,

    procede-se exposio dos textos e questes, com uma breve discusso

    sobre os objetivos colocados para as atividades e sobre a pertinncia desse

    trabalho em termos da concretizao de propostas pedaggicas. Fundamenta-

    se essa discusso em postulados tericos sobre a leitura de modo geral e a

    leitura no ambiente escolar, especificamente, e a problematizao em torno da

    classificao genrica de textos, neste caso os textos escritos. Conclui-se pela

    necessidade de a prtica pedaggica estar permanentemente em avaliao, a

    fim de se promoverem o estabelecimento e o aprimoramento dos instrumentos

    de concretizao dos objetivos de formao do sujeito aprendiz.

    Palavras-chave: Leitura. Entendimento de textos. Ensino formal. Texto de

    divulgao cientfica.

    INTRODUO

    H nove anos, e, conforme as palavras do autor, pelo prazer em

    divulgar descobertas5, o bilogo brasileiro Fernando de Castro Reinach

    4 Licenciada em Letras Portugus/ingls; ps-graduada em Lngua Inglesa (lato sensu);

    docente em cursos de licenciatura, bacharelado e tecnologia do Centro Universitrio Padre Anchieta, UNIANCHIETA. Contato: [email protected]

  • 25

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    escreve semanalmente uma coluna para o peridico O Estado de S. Paulo,

    sempre abordando temas cientficos, relacionados a ambiente, comportamento,

    tecnologia, entre outros. O nome do autor aparece na relao de colunistas

    regulares do jornal, e seus textos esto disponveis na rede, agrupados por

    ano. Em 2010, os textos publicados na coluna entre 2004 e 2009 foram

    reunidos em um livro (A longa marcha dos grilos canibais e outras crnicas

    sobre a vida no planeta Terra), lanado pela editora Companhia das Letras, de

    So Paulo. No texto de introduo dessa obra (p.14), o autor esclarece que os

    textos reproduzem contedos absorvidos de publicaes cientficas, refletindo

    seus interesses pessoais, e que o trabalho original referido ao final de cada

    texto.

    A partir do contato com essa obra, e posteriormente com a coluna do

    autor na verso eletrnica do jornal, tomamos alguns dos textos como objeto

    de atividades de leitura e entendimento, nas disciplinas de Leitura e produo

    de textos, principalmente, e de Metodologia da investigao cientfica,

    desenvolvidas nos ltimos trs anos com alunos ingressantes em cursos

    superiores tecnolgicos (Gesto Ambiental e Processos Qumicos).

    Este artigo contm a apresentao e o comentrio de algumas dessas

    atividades, propostas com os objetivos principais de promover ou reforar o

    contato dos estudantes com textos de cunho cientfico e de aprimorar

    habilidades de leitura. Dada a breve extenso deste relato, foram selecionados

    trs dos textos utilizados, dos quais apenas um, mais recente, no se encontra

    no referido livro. A fim de facilitar o estabelecimento da relao entre textos e

    questes, cada um dos textos est aqui reproduzido na ntegra, seguido das

    questes propostas; ao lado do ttulo do texto, entre parnteses, se encontra a

    data da publicao no jornal, e, exceto para o mais recente, se encontram

    tambm o ano de publicao do livro e as pginas abrangidas pelo texto; no

    houve edio dos contedos.

    Antes de passarmos apresentao dos textos e das atividades,

    julgamos ser pertinente a discusso de algumas questes de carter terico

    que permeiam a prtica pedaggica. 5 Fernando Reinach respondeu por e-mail a uma breve entrevista sobre seu trabalho, cujo

    contedo ser parcialmente reproduzido conforme a pertinncia ao tpico em desenvolvimento.

  • 26

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    A PRTICA DA LEITURA NA ESCOLA E O PROBLEMA DO GNERO

    Na obra Tipos de textos, modos de leitura (2001), Paulino et al.

    apresentam sugestes de leitura, considerando a diversidade de gneros e

    portadores e que cada texto possui chaves de leitura prprias,

    disponibilizadas ao leitor. Ao tratarem de uma abordagem pedaggica da

    leitura (p. 27-30), chamam a ateno para o fato de que o ambiente escolar,

    espao privilegiado para a prtica da leitura, pode se converter num ambiente

    de excluso, cerceando a liberdade e a criatividade do sujeito leitor, ao

    promover a leitura de modo controlado (objetos, objetivos, estratgias,

    sentidos). Considerando que escola e leitura so instituies em permanente e

    inevitvel interao, as autoras defendem que essa relao pode ser fecunda e

    estimulante, viabilizando a formao de um leitor crtico, capaz de interagir com

    o que l, ativando seu repertrio; capaz de perceber e at mesmo de se

    defender do controle da leitura imposto pela escola e pela sociedade. Na

    prtica, a escola aparece como o lugar onde devem circular textos diversos e

    no qual os estudantes/leitores devem ser preparados para receb-los.

    As prticas de leitura aqui descritas foram pensadas e elaboradas nessa

    perspectiva, embora entendamos que a linha que separa uma prtica de leitura

    cerceadora do sujeito leitor de uma prtica, por assim dizer, libertadora desse

    sujeito, nem sempre est muito definida, e resvalar de um a outro territrio

    pode ser menos difcil do que parece, a despeito da adoo convicta de um

    postulado terico. Um pensamento que tem norteado a prtica aqui

    demonstrada est na direo do referido aparelhamento dos estudantes para a

    leitura, no intuito de promover o contato com textos de modo que as estratgias

    de leitura sejam assimiladas no sentido estrito do termo, ou seja, possam ser

    acionadas no contato com outros textos, nos mais diversos contextos. Tambm

    um cuidado permanente tem sido o de no escolarizar os textos, entendendo-

    se que, como um produto sociocultural, o texto no se molda ou reformula ao

    sabor de propostas pedaggicas, mas que estas devem ser construdas com

    fundamento na realidade, tanto melhores quanto mais eficientes na apreenso

    dessa realidade, o que obviamente inclui os textos que circulam socialmente.

  • 27

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    Uma outra questo que se coloca de modo relevante no trabalho com

    prtica de leitura e entendimento de textos diz respeito classificao genrica

    dos produtos textuais. Ao definir tipo e gnero textual, Marcuschi (2002, p. 22;

    grifos do autor) informa partir do pressuposto bsico de que impossvel se

    comunicar verbalmente a no ser por algum gnero, assim como impossvel

    se comunicar verbalmente a no ser por algum texto. Da se conclui sem

    dificuldade que no h texto verbal, oral ou escrito, que funcione

    comunicativamente, ao qual no se possa atribuir uma classificao genrica.

    Ocorre, porm, que essa atribuio nem sempre bvia. Se, por um lado, h

    ocorrncias textuais de classificao inequvoca, h outras cuja complexidade,

    envolvendo aspectos formais, funcionalidade discursiva e suporte, oferece um

    problema classificao. Sobre essa questo, o referido autor defende que os

    aspectos sociocomunicativos e funcionais devem prevalecer sobre os aspectos

    formais na atribuio de gnero aos textos, sem que isto signifique o desprezo

    da forma, reconhecidamente determinante do gnero em muitos casos (2002,

    p. 21). Sobre o suporte, afirma haver casos em que este ser o determinante

    da classificao genrica de um texto, concluindo que

    num primeiro momento podemos dizer que as expresses mesmo

    texto e mesmo gnero no so automaticamente equivalentes,

    desde que no estejam no mesmo suporte. Estes aspectos sugerem

    cautela quanto a considerar o predomnio de formas ou funes para

    a determinao e identificao de um gnero. (2002, p. 21; grifos do

    autor).

    A classificao genrica dos textos, a despeito das dificuldades que

    podem cerc-la, assume particular importncia quando considerada a relao

    entre gnero e produo de sentido, esta entendida como atividade interativa

    do receptor de textos, que mobiliza seu repertrio (ou biblioteca interna)

    nessa interao. Paulino et al. (2001, p. 85) assumem os gneros de textos

    como determinantes dos modos de leitura, uma vez que a interao que o leitor

    estabelece com o texto, chamada pelas autoras de pacto de leitura (2001, p.

    31), determinada pelo objeto da leitura (o que inclui o seu gnero e suporte),

  • 28

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    pelo contexto de leitura, e determinante do modo de ler (investimento

    pessoal) e, portanto, do sentido construdo.

    Essas consideraes importam especialmente, pois os textos tomados

    para as atividades de leitura e produo de sentido aqui expostas e

    comentadas oferecem alguma dificuldade de classificao. Veiculados

    semanalmente no suporte jornal, referidos como coluna, e dados o seu

    contedo, sua forma de exposio e sua funcionalidade discursiva, esses

    textos parecem primeira vista se enquadrar ao gnero artigo de divulgao

    cientfica. Assim eles so referidos pelo autor, Fernando Reinach, que afirma

    no texto de introduo da obra publicada em livro que o formato de cada texto

    tenta mimetizar o formato dos trabalhos cientficos, por meio da

    contextualizao e do relato das descobertas (2010, p. 14). Ao ser perguntado

    sobre o formato textual que pratica na coluna, o autor reitera essa percepo,

    afirmando que ele semelhante ao de um trabalho cientfico.6 Ao serem

    reunidos em livro e referidos como crnicas, entretanto, os textos esto

    catalogados como literatura brasileira (CDD 869.93), e ento estamos diante de

    um problema colocado para a sua recepo, pois o pacto de leitura de literatura

    sensivelmente diverso do pacto de leitura de textos no literrios.

    Paulino et al. (2001, p. 113) comentam que modernamente a crnica

    um gnero no qual se relatam fatos circunstanciais cujos limites podem ser

    superados, ampliando-se suas significaes; os acontecimentos desencadeiam

    reflexes, comentrios, divagaes, que so incorporados ao relato. o que

    afirma fazer Fernando Reinach (2010, p. 14), informando que os textos so

    fechados por um pargrafo no qual ele d vazo imaginao e especula

    sobre os significados das descobertas cientficas. Na sequncia, esclarece

    (2010, p.14): Meu compromisso de fidelidade com o trabalho original, citado

    aps cada texto, se restringe aos experimentos e resultados. Os delrios da

    imaginao so de minha responsabilidade. Acrescidos ao relato de fatos

    circunstanciais, neste caso tomados da realidade e de carter evidentemente

    cientfico, esses reconhecidos delrios da imaginao provavelmente

    constituem o trao principalmente responsvel pela classificao genrica dos

    6 Ver Nota 1.

  • 29

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    textos, pelo menos quando reunidos em livro (e poderia ser evocado o debate

    sobre a questo do suporte como determinante do gnero textual).

    Embora fuja aos limites deste trabalho uma discusso mais aprofundada

    sobre a classificao genrica dos textos em questo, assumimos os aspectos

    de contedo e funcionalidade discursiva, com apoio na proposta do autor de

    recontar descobertas cientficas, para propor o tratamento desses objetos

    textuais como artigos de divulgao cientfica, portanto de carter no literrio.

    Como um dado preliminar proposto para o contato com os textos, essa

    categorizao decisivamente determinante do pacto de leitura que se

    estabelece com eles, conforme anteriormente mencionado, aspecto que,

    segundo Paulino et al. (2001, p. 37), concorre com a considerao dos veculos

    em que circulam os textos, contextos de leitura e mediadores do processo,

    entre outros, na formulao desse pacto7.

    Nas prximas sees, encontra-se a reproduo dos textos e atividades

    propostas. O contedo que segue foi organizado conforme os principais

    aspectos abordados ou conforme o modelo de atividade. A exposio

    acompanhada de alguns comentrios, quando necessrio.

    A EXPLORAO DA TEMTICA E DOS RECURSOS DE COMPOSIO

    Considerando-se que o tema o objeto especfico de que trata um texto,

    sua identificao fator imprescindvel no processo interativo de significao,

    possibilitando a diferenciao de elementos centrais e marginais que

    constituem seu contedo. Importante na leitura, essa habilidade posta em

    7 Petzhold et al. (2008, p. 4) alinham a noo de fim discursivo dos textos noo de visada

    proposta por Charaudeau (2006), segundo a qual os atos de linguagem se configuram conforme a visada seja prescritiva (fazer fazer), incitativa (fazer crer), informativa (fazer saber) e do pthos (fazer sentir). As autoras mencionam os resultados da anlise de um corpus de 120 artigos de divulgao cientfica, dos quais 116 apresentam a configurao considerada prototpica do gnero, a do fazer saber. Em uma anlise preliminar, entendemos que os textos de Fernando Reinach tomados como objeto deste trabalho apresentam essa configurao prototpica, o que vai ao encontro das palavras do autor sobre sua escrita, bem como do fim discursivo colocado para o gnero, que o de difundir conhecimentos cientficos na mdia, por meio de textos dirigidos a um pblico no necessariamente especializado. A esse respeito, vale acrescentar o testemunho do autor a respeito da aceitabilidade de seus textos; segundo ele (cf. Nota 1), que informa receber de trs a cinco e-mails por semana, os leitores gostam dos textos.

  • 30

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    prtica na produo textual, oral ou escrita, promover qualidades essenciais

    em textos expositivos e argumentativos, como a clareza e a objetividade da

    exposio. A escrita de resumos e resenhas, por exemplo, no pode prescindir

    de uma reproduo fiel das ideias principais do texto original (KCHE et al.,

    2008, p. 79; 95). Esse processo de sntese ser mais bem-sucedido na medida

    da preciso do processo de anlise.

    A identificao dos elementos constituintes de um texto e dos recursos

    de composio permite reconstruir o percurso de sua elaborao e verificar sua

    tipologia predominante. Sendo o texto predominantemente argumentativo, por

    exemplo, o reconhecimento dos elementos constituintes desse tipo textual

    tema e problema; hiptese, tese e argumentao e da natureza lingustica da

    elaborao textual desses elementos (narrao, descrio, exposio,

    argumentao etc.) ser um fator decisivo na atribuio de sentido

    (estabelecimento da coerncia), que demanda sempre a ativao do repertrio

    do receptor. Ampliar o repertrio de leitura dos estudantes um papel

    modernamente assumido pela escola; a ela tambm deve caber a ampliao

    do repertrio de modos de leitura.

    O texto de Fernando Reinach intitulado A ressurreio da floresta em

    Anak Krakatoa, alm de seu contedo cientfico relevante, oferece

    possibilidades mltiplas de explorao da composio; seguem-se sua

    reproduo e algumas atividades propostas no desenvolvimento das disciplinas

    de Leitura e produo de textos (1 a 12) e de Metodologia da investigao

    cientfica (13 a 15).

    Leitura A ressurreio da floresta em Anak Krakatoa (4 set. 2008; 2010,

    p. 80-82; reproduzido do livro)

    A maioria das pessoas associa a destruio de um ecossistema morte

    de um ser vivo. Tal como um ser vivo no volta do mundo dos mortos,

    imaginamos que ecossistemas devastados (como as reas desflorestadas na

    Amaznia) jamais retornaro ao seu estado original. Esse engano resulta da

    miopia temporal de um ser vivo cuja vida dificilmente dura mais que cem anos.

    No entanto, se vivssemos milhes de anos, teramos observado a floresta

  • 31

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    amaznica encolher, desaparecer e renascer diversas vezes. Muitos bilogos

    estudam o renascimento de ecossistemas devastados, mas para isso

    necessrio encontrar locais onde toda a vida foi extinta e documentar seu

    reaparecimento. Um desses locais a ilha Anak Krakatoa.

    Em 1883, a exploso de um vulco na ilha de Krakatoa, localizada entre

    Sumatra e Java, foi to violenta que grande parte da ilha desapareceu. O

    tsunmi gerado por essa exploso matou 36 mil pessoas e a cratera ativa do

    vulco ficou submersa no oceano. Em 1927, o acmulo de lava foi suficiente

    para que o topo do vulco aparecesse na superfcie do mar. A ilha sumiu e

    ressurgiu trs vezes entre 1927 e 1930, e desde ento aflorou definitivamente.

    Hoje seu topo tem trezentos metros de altura. O vulco Anak Krakatoa o filho

    de Krakatoa tem mais de quatro quilmetros quadrados.

    Desde 1930, nove meses depois do reaparecimento da ilha, quando os

    primeiros bilogos constataram a completa ausncia de seres vivos sobre a

    lava recm-resfriada (minto, a primeira expedio encontrou uma nica e

    solitria aranha), equipes de eclogos passaram a estudar como a vida

    recolonizou a rocha vulcnica. Meses depois, apareceram os primeiros fungos

    e micro-organismos. Em uma dcada, algumas reas estavam cobertas por

    uma savana rala onde dominava a cana-de-acar (ela uma planta nativa

    dessa regio). Depois vieram os insetos, aos poucos as aves e, nos seus

    intestinos, as sementes das espcies que no haviam sido trazidas pelos

    ventos ou pelo mar. Surgiram as primeiras florestas e com elas mais pssaros

    e morcegos. Ningum sabe como os rpteis e os caranguejos chegaram ilha,

    mas eles esto l. No censo de 1980, foram identificadas mais de 140 espcies

    de plantas, quarenta pssaros e centenas de insetos, e a biodiversidade

    continua a aumentar a cada ano. A descoberta de figueiras, cujas flores s so

    polinizadas por vespas que dependem das figueiras para viver, levou os

    pesquisadores a procurar, e finalmente encontrar, as primeiras colnias desses

    insetos, o que levantou o debate sobre quem teria se estabelecido primeiro na

    ilha.

    A histria natural de Anak Krakatoa demonstra como a vida resistente

    e capaz de recolonizar ambientes onde os ecossistemas foram devastados. O

  • 32

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    processo longo, complexo e depende diretamente da existncia de seres

    vivos em outros locais do planeta.

    Esses experimentos corrigem nossa miopia temporal e provam que

    comparar ecossistemas a seres vivos pode nos conduzir a decises

    equivocadas. Ecossistemas ressuscitam, e isso deve ser lembrado s pessoas

    que defendem a ideia de que as regies desmatadas da floresta amaznica

    devem ser liberadas, uma vez que sua regenerao seria to impossvel

    quanto ressuscitar um morto. Nada mais errado.

    Mais informaes: Fire and life. Nature, vol. 454, p. 930, 2008.

    Questes

    1. Pode ser apontada alguma relao entre o texto reproduzido abaixo e o texto

    A ressurreio da floresta, de Fernando Reinach? Explique.

    Esses experimentos corrigem nossa miopia temporal e provam que

    comparar ecossistemas a seres vivos pode nos conduzir a decises

    equivocadas. Ecossistemas ressuscitam, e isso deve ser lembrado s pessoas

    que defendem a ideia de que as regies desmatadas da floresta amaznica

    devem ser liberadas, uma vez que sua regenerao seria to impossvel

    quanto ressuscitar um morto. Nada mais errado.

    Para esta atividade, o texto no foi disponibilizado na ntegra, tendo sido

    excludo o ltimo pargrafo; o objetivo principal relacionar os contedos e

    verificar a coerncia do texto.

    2. Qual o tema do texto?

    O texto possibilita um rico debate sobre a questo do tema, pois contm o

    relato de um evento especfico, apontado no ttulo, aproveitado como

    comprovao de uma ideia geral exposta e defendida pelo autor.

    3. No primeiro pargrafo do texto, o autor explora uma associao comum. Que

    associao essa? Como o autor se posiciona a respeito dela?

    4. O que o autor refere por miopia temporal, no primeiro pargrafo do texto?

    A explorao de metforas (sentido, pertinncia), viabiliza a discusso de

    recursos e nveis de linguagem, alm de abrir caminho para a reflexo sobre a

    classificao dos meios de comunicao em frios e quentes, proposta por

  • 33

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    Marshall McLuhan, e sobre os recursos de esfriamento dos textos (cf. ABREU,

    2008, p. 84-96).

    5. O autor se refere floresta amaznica em dois momentos do texto. Como

    essas referncias se relacionam com o fato ocorrido em Krakatoa?

    6. Aponte a sequncia do texto que pode ser identificada como introduo.

    Justifique.

    7. Avalie o texto quanto ao nvel de linguagem.

    Nveis e funes da linguagem constituem tpicos do contedo da disciplina de

    Leitura e produo de textos. A anlise de produtos textuais a respeito desses

    aspectos objetiva desenvolver/aprimorar habilidades de leitura que se espera

    estarem refletidas na prtica de produo textual. Sobre os textos de Fernando

    Reinach, perceptvel o esforo do autor em recontar as descobertas

    cientficas de modo a tornar os relatos mais acessveis ao leitor leigo,

    despojados de traos que fariam se perder o sabor da aventura em textos

    quase incompreensveis. Esse trao de sua escrita assumido no texto de

    introduo da obra em livro (2010, p. 13).

    8. Localize e transcreva as informaes editoriais sobre a obra.

    9. Redija uma sntese do contedo (ideia defendida; recursos da exposio e

    argumentao)

    10. Rena e organize os contedos das respostas s questes 8 e 9 em um

    nico texto (composio de resumo).

    11. Avalie o texto (seleo do contedo, modo de exposio, funcionalidade) e

    rena esse contedo ao texto do resumo (composio de resenha).

    12. Explique como na interpretao de cada um destes elementos se

    estabelecem relaes de carter intratextual, intertextual ou extratextual: ilha

    (3 pargrafo), tsunmi (2 pargrafo) e floresta amaznica (1 e 5

    pargrafos).

    As relaes intratextuais dizem respeito interpretao de termos, expresses,

    sequncias textuais, com recurso a elementos disponveis no prprio texto. As

    relaes extratextuais e intertextuais dizem respeito mobilizao do repertrio

    do receptor, que extrapola o mbito do texto. O repertrio aparece como os

    sistemas de conhecimento mobilizados no processamento textual, um dado

  • 34

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    relevante no processo de significao em que se concebe a leitura como

    interao leitor/texto (PAULINO et al., 2001, p. 12; 36); aparece tambm como

    um dos fatores da coerncia (KCHE et al., 2008, p. 19) e da temperatura dos

    textos (ABREU, 2008, p. 84).

    13. No primeiro pargrafo do texto, o autor aponta como enganosa a

    associao da destruio de um ecossistema morte de um ser vivo em

    particular, pois este no volta vida. Esse engano seria produto do saber

    baseado na cincia (testado; comprovado) ou no empirismo (senso comum;

    experincia pessoal)? Explique.

    14. Na sequncia do texto, o autor informa que muitos bilogos estudam o

    renascimento de ecossistemas devastados, o que implica documentar o

    reaparecimento da vida em locais onde foi extinta. O conhecimento resultante

    desses estudos cientfico, filosfico, teolgico ou popular? Explique.

    15. Uma das tcnicas argumentativas observadas em textos de carter

    cientfico a comprovao pela experincia e observao. Comente a

    importncia dessa tcnica na redao de carter cientfico e sua utilizao por

    Fernando Reinach.

    UM LUGAR NA SALA DE AULA PARA AS QUESTES DE MLTIPLA

    ESCOLHA

    comum encontrar objees quanto ao uso de questes de mltipla

    escolha em situaes de ensino formal, principalmente por um pensamento

    generalizado de que a atividade do estudante resulta simplificada ou mesmo

    facilitada. Entretanto, ao se considerar, por um lado, a possibilidade de elaborar

    essas questes de modo no a facilitar levianamente a tarefa do respondente,

    mas de promover sua reflexo e o investimento de conhecimentos acumulados,

    e, por outro, a ocorrncia desse tipo de questo em exames, provas e

    concursos nos mais diversos contextos, possvel encontrar o espao para a

    proposio desse tipo de atividade, atendendo a objetivos pedaggicos

    relacionados principalmente compreenso de textos e aplicao de

    contedos estudados.

  • 35

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    O texto de Fernando Reinach intitulado O tucano e o palmito deu ensejo

    elaborao de algumas questes de mltipla escolha utilizadas em situao

    de avalio da aprendizagem; as questes envolveram tpicos do contedo da

    disciplina de Leitura e produo de textos relacionados identificao de

    gnero, tema, assunto, entendimento do contedo e anlise de recursos de

    exposio. Considerou-se o enquadramento do texto como um tipo no

    literrio, conforme anlise exposta anteriormente.

    Leitura O tucano e o palmito (17 ago. 2013; reproduzido do site

    www.estadao.com.br)

    fcil compreender que os pssaros dependem das florestas, mas

    como as plantas se comportam quando os pssaros desaparecem? Cientistas

    brasileiros descobriram que a palmeira jussara (Euterpe edulis), produtora do

    palmito, est evoluindo para se adaptar ao desaparecimento dos tucanos e

    outros pssaros de bico grande.

    A jussara produz frutos de aproximadamente um centmetro de dimetro.

    A semente recoberta por uma camada de polpa saborosa que atrai os

    pssaros. Devorada a fruta, somente a polpa digerida pelos pssaros. A

    semente expelida junto com as fezes, germina no solo, e produz uma nova

    palmeira. Isso permite que a jussara se espalhe pela floresta. A fruta que cai no

    p da palmeira que a produziu dificilmente germina. A palmeira depende dos

    pssaros para se espalhar.

    Para estudar o que est acontecendo nos resqucios de Mata Atlntica,

    os cientistas analisaram 22 locais distintos, 7 deles onde os tucanos e outros

    pssaros j haviam desaparecido ou seu nmero estava muito reduzido, e 15

    locais onde a mata ainda est relativamente preservada. Os locais estudados

    vo desde o sul do Paran, passando pelo litoral e interior de So Paulo, Minas

    Gerais, Rio de Janeiro e sul da Bahia. Em cada um desses locais foram

    localizadas palmeiras jussaras e suas sementes, coletadas.

    As sementes foram medidas cuidadosamente e, para cada local, foi feito

    um grfico relacionando o tamanho da semente e sua frequncia. O resultado

    mostra que nas regies mais preservadas o tamanho das sementes varia de 7

  • 36

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    a 14 milmetros e a maioria mede entre 10 e 12 milmetros. Nas regies menos

    preservadas, as sementes tambm variam de 7 a 14 milmetros, mas a grande

    maioria mede entre 9 e 11 milmetros.

    Mas qual a explicao para essas sementes menores? Os cientistas

    tentaram verificar se a diferena poderia estar relacionada a caractersticas das

    diferentes regies. Tentaram correlacionar o tamanho das sementes com a

    qualidade do solo, a quantidade de chuva e a temperatura. Nenhum dos fatores

    explica a diferena de tamanho. Somente a presena de pssaros de bico

    grande estava correlacionada ao maior tamanho das sementes. Onde os

    pssaros estavam ausentes, as sementes eram menores; onde eles estavam

    presentes, elas eram maiores.

    Em seguida, os cientistas estudaram o tamanho das sementes ingeridas

    por diversos desses pssaros em cativeiro. Eles observaram que os tucanos e

    seus parentes so capazes de ingerir sementes de at 14 milmetros, enquanto

    que os pssaros de bico pequeno ingerem sementes de at 12 milmetros, mas

    na mdia preferem as de 11 milmetros. Isso significa que sementes grandes

    no so ingeridas ou transportadas nos ambientes em que os pssaros de

    bicos grandes, como os tucanos, esto ausentes.

    O que os cientistas acreditam que est acontecendo que a jussara,

    sob presso de um novo ambiente, onde no existem tucanos, est diminuindo

    o tamanho de suas sementes. Escrito assim parece que a jussara percebe

    que os tucanos desapareceram e, portanto, decidiu produzir sementes

    menores. Na verdade, o que est acontecendo um processo de seleo

    natural. No novo ambiente, as rvores que produzem sementes menores se

    reproduzem com mais eficincia, pois podem contar com os pssaros

    pequenos para dispers-las.

    As rvores que produzem sementes maiores no conseguem se

    reproduzir to bem, pois os pssaros pequenos no conseguem ingerir as

    sementes e os tucanos esto ausentes. O resultado desse processo de

    seleo natural que a jussara que se propaga nos ambientes sem tucanos

    acaba sendo a produtora de sementes menores. No limite, se todos os tucanos

    desaparecerem, s sobraro as rvores que produzem sementes menores. a

  • 37

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    evoluo ocorrendo em tempo real, bem debaixo de nosso nariz. Os cientistas

    estimaram que grande parte dessa transio evolutiva ocorre em

    aproximadamente 100 anos.

    difcil prever o resultado do processo evolutivo posto em marcha pela

    atuao desastrada do Homo sapiens. O que se sabe que sementes

    menores germinam com menor frequncia e produzem rvores mais fracas.

    Tambm sabemos que aves menores tm um raio menor de disperso de

    sementes. Se a falta de tucanos vai provocar o desaparecimento do palmito s

    saberemos no futuro. E a ser tarde.

    Esse um bom exemplo de como a interferncia do ser humano

    provoca mudanas bruscas no equilbrio ecolgico e pode redirecionar as

    foras seletivas que impulsionam a evoluo das espcies.

    Mais informaes: Functional extinction of birds drives rapid evolutionary

    changes in seed size. Science, vol. 340, p. 1.086, 2013.

    Questes

    1. Sobre o contedo do texto e a forma de exposio, INCORRETO afirmar

    que:

    a) Trata-se de um texto no literrio, cujo tema relaciona-se realidade

    concreta e exposto/desenvolvido com o recurso a dados recolhidos dessa

    realidade.

    b) Ao afirmar O que os cientistas acreditam que est acontecendo que a

    jussara, sob presso de um novo ambiente, onde no existem tucanos, est

    diminuindo o tamanho de suas sementes., o autor expe o posicionamento

    dos cientistas dedicados investigao do objeto em questo, que extraram

    uma concluso coerente dos dados observados.

    c) O tema do texto est relacionado ao humana sobre o meio ambiente.

    d) As perguntas que iniciam o primeiro e o quinto pargrafos esto

    relacionadas entre si e ao tema do texto, mas, apesar disso, o contedo

    desenvolvido no d resposta a elas.

  • 38

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    e) No enunciado difcil prever o resultado do processo evolutivo posto em

    marcha pela atuao desastrada do Homo sapiens., o autor se refere a um

    dado objetivo da realidade, porm afirma uma posio subjetiva (crtica) em

    relao a ele, marcada no adjetivo desastrada.

    2. Ao associarem a diferena de tamanho das sementes da palmeira jussara

    presena/ausncia de pssaros de bico grande no local, os cientistas levaram

    em conta diversos fatores, entre os quais NO se inclui:

    a) A experincia com aves em cativeiro, que demonstrou que as sementes

    maiores so ingeridas por aves de bico grande.

    b) A medio rigorosa de amostras das sementes da palmeira jussara nos

    ltimos 100 anos.

    c) A neutralizao de outras explicaes possveis para a diversidade de

    tamanho das sementes, como a qualidade do solo e aspectos climticos.

    d) A necessidade da presena dos pssaros para a reproduo da planta.

    e) A adaptabilidade da planta ao ambiente (seleo natural).

    3. H algum tempo, as questes ambientais tm estado no centro das

    discusses sobre desenvolvimento em nvel global, o termo sustentabilidade

    sinaliza uma preocupao que est na ordem do dia, e a ao humana sobre o

    planeta tornou-se objeto de aes educativas mltiplas e diversas. O texto de

    Fernando Reinach est inscrito nesse movimento, apontando especificamente

    uma questo relacionada:

    a) Ao aquecimento global.

    b) Ao tratamento e destinao de resduos slidos.

    c) alterao de ecossistemas.

    d) Ao aproveitamento de recursos hdricos.

    e) produo de energia limpa.

    A ROTEIRIZAO DA LEITURA

    A antiga frmula de atividade de entendimento de textos que se

    concretiza na exposio do texto acompanhada de questes tem sido

    condenada por promover o controle da leitura, empobrecendo a interao

  • 39

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    texto/leitor. Partindo dessas consideraes, Paulino et al. (2001, p. 28-30)

    defendem que a escola deve promover o dilogo do leitor com os textos, e que

    as regras e rituais que cercam a leitura no contexto escolar, antes de serem

    condenadas, devem ser conhecidas, assimiladas, para que o leitor esteja apto

    a subvert-las, inclusive, quando for o caso.

    Partindo desse pressuposto, a roteirizao da leitura no ambiente

    escolar pode se converter em um instrumento eficaz de promoo da interao

    com os textos, especialmente quando os estudantes no tm intimidade com

    os gneros e tipos textuais tomados como objeto da anlise. Ao propormos

    esse modelo de atividade, objetivamos explicitar estratgias de construo

    textual e de leitura, para a promoo da apropriao de chaves de leitura pelos

    estudantes, sem deixar de considerar que os limites entre a interao criativa e

    a controlada muitas vezes so indistintos. Por essa razo, entendemos ser

    fundamental que se proponha no apenas o dilogo leitor/texto, mas o dilogo

    entre os leitores a respeito do texto, a fim de verificar a ocorrncia de leituras

    diversas e confront-las entre si e com o texto, localizando nele, quando existir,

    o respaldo objetivo que valide a leitura. Seria falacioso afirmar que uma prtica

    como essa poderia ocorrer no ambiente escolar destituda de qualquer

    controle, mas entendemos que a prtica pode ser controlada na direo do

    aparelhamento do sujeito aprendiz, para que ele se torne cada vez mais

    autnomo, como defendem Paulino et al. (2001, p. 28; 30).

    O texto de Fernando Reinach intitulado Um cientista que sabia o que

    medir foi apresentado aos estudantes acompanhado por um roteiro de leitura,

    elaborado conforme os objetivos acima expostos. A atividade foi proposta na

    disciplina de Leitura e produo de textos, abrangendo anlise de constituintes

    textuais e de relaes entre contedos, estratgias e recursos de construo,

    interpretao de problemas e mobilizao de conhecimentos especficos.

    Leitura Um cientista que sabia o que medir (29 jun. 2005; 2010, p. 41-43;

    reproduzido do livro)

    Raros so os cientistas que se dedicam a medir um nico fenmeno.

    Mais raros ainda so aqueles que alteram o comportamento da humanidade

  • 40

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    com suas medies. O norte-americano Charles D. Keeling passou a vida

    medindo a quantidade de gs carbnico existente na atmosfera. Foram suas

    medies que demonstraram que a quantidade de gs carbnico est

    aumentando na atmosfera. Essas medidas iniciaram as investigaes sobre as

    mudanas climticas.

    Em 1958, muito antes do surgimento dos movimentos ecolgicos,

    Keeling desconfiou que o gs carbnico (CO2) produzido pela queima de

    petrleo talvez estivesse se acumulando na atmosfera. Decidiu medir como

    variava a concentrao de CO2. Para realizar suas medidas, escolheu o topo

    de uma montanha no Hava, longe das grandes fontes de emisso de CO2,

    instalando no pico do Mauna Loa um aparelho capaz de medir continuamente a

    quantidade de CO2 na atmosfera. Em 1958, existiam 316 partes de CO2 na

    atmosfera para cada milho de partes de gases. Durante os primeiros anos,

    Keeling descobriu que a quantidade de CO2 aumentava no inverno e diminua

    no vero, como reflexo da atividade das plantas, cuja fotossntese depende da

    temperatura e da quantidade de luz.

    A curva parecia uma montanha-russa. Foram mais de dez anos de

    medies contnuas at se descobrir que a montanha-russa, na verdade,

    apresentava a cada ano um pico um pouco mais alto que no ano anterior.

    Finalmente foi possvel demonstrar que o CO2 estava de fato aumentando.

    Entre 1958 e 2002, os nveis de CO2 na atmosfera cresceram 17%.

    Os resultados de Keeling formam a base para toda a discusso sobre o

    efeito estufa e o aquecimento global. Apesar de ainda haver discrdia sobre

    como os nveis de CO2 influenciam o clima, o degelo das calotas polares e o

    aumento do nvel dos oceanos, a veracidade dos dados de Keeling jamais foi

    posta em dvida.

    Na ltima dcada, a hiptese de Keeling ficou comprovada atravs da

    anlise da quantidade de CO2 presente em bolhas de ar retidas no gelo polar.

    Os cientistas analisaram bolhas retidas no gelo h centenas de anos e

    determinaram a quantidade de CO2 que existia na atmosfera antes de o

    homem comear a queimar petrleo. O gelo dos furos feitos no rtico revelou

    que durante centenas de anos a concentrao de CO2 permaneceu inalterada,

  • 41

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    s comeando a aumentar a partir do fim do sculo XIX. A intuio de Keeling,

    portanto, estava correta: o homem realmente est modificando a atmosfera

    terrestre.

    A maioria das destruies observadas no meio ambiente constituda

    de fenmenos locais que ocorrem em um perodo de tempo relativamente

    curto. o caso do desmatamento da Amaznia, da poluio de um rio ou da

    mudana da qualidade do ar em uma cidade. Mas o que realmente pe em

    risco a sobrevivncia do homem so os fenmenos globais, que ocorrem ao

    longo de dcadas e so difceis de reverter. Com a medio da quantidade de

    gs carbnico acumulada na atmosfera, Keeling foi o primeiro cientista a

    identificar de maneira incontestvel um desses fenmenos.

    Ele provavelmente foi um homem realizado, pois viveu tempo suficiente

    para ver a maioria dos pases assumir o compromisso de combater o aumento

    do CO2. Mas deve ter morrido decepcionado, pois seu pas, os Estados Unidos,

    o maior consumidor mundial de petrleo, recusou-se a assinar o Protocolo de

    Quioto.

    Mais informaes: http://cdiac.ornl.gov/new/keel_page.html.

    Questes

    1. A quem o ttulo do texto se refere? Explique como se relacionam o contedo

    do texto e seu ttulo.

    2. No primeiro pargrafo do texto, na passagem dos dois primeiros perodos

    para o terceiro, ocorre generalizao ou especificao? Explique.

    3. Que ponto do texto voc indicaria como incio do desenvolvimento? Por qu?

    4. Qual o sentido de a curva parecia uma montanha-russa, no incio do

    terceiro pargrafo?

    5. De acordo com o texto, em 1958 havia 316 partes de CO2 na atmosfera para

    cada milho de partes de gases (316ppm). Entre 1958 e 2002, os nveis de

    CO2 na atmosfera cresceram 17%. A quantas partes por milho de CO2 na

    atmosfera corresponde essa alta?

    6. Que relao tem o achado de Keeling* com o efeito estufa e o aquecimento

    global?

  • 42

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    7. Em se tratando de meio ambiente, que diferenas o autor informa haver

    entre fenmenos locais e fenmenos globais?

    8. No ltimo pargrafo do texto, o autor realiza algumas especulaes sobre

    Keeling. Que palavras ou expresses evidenciam isso?

    * Charles David Keeling (1928-2005) foi um qumico e climatologista

    estadunidense.

    CONCLUSO

    No nova a afirmao de que escola cabe um papel fundamental na

    promoo do contato entre sujeitos e objetos de leitura; tampouco original a

    proposio de que em nosso pas a escola constitui-se como um espao

    privilegiado, quando no nico, para o estabelecimento desse contato. Desses

    pontos em diante, colocados como premissas, surgiro questes relevantes

    relacionadas aos critrios de seleo dos textos, s estratgias de leitura como

    objeto de conhecimento, ao tratamento da multiplicidade de leituras, ao mais ou

    menos inevitvel controle da leitura, promoo da autonomia do sujeito leitor,

    verificao da aprendizagem, entre outros aspectos da prtica pedaggica da

    leitura.

    Se no novo, pelo menos renovador, pode ser o dilogo sobre essa

    prtica, no sentido de explicitar e avaliar suas estratgias, aprimorando-a e

    corrigindo-a na direo do cumprimento dos objetivos colocados

    modernamente de formao de leitores crticos e amadurecidos. A breve

    demonstrao aqui realizada apresenta-se para essa reviso; se puder dar

    ensejo a algum dilogo, ter cumprido seu principal objetivo.

    REFERNCIAS

    ABREU, Antnio Surez. Curso de redao. 12. ed. So Paulo: tica, 2008.

    (Srie tica Universidade).

  • 43

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    KCHE, Vanilda Salton; BOFF, Odete Maria Benetti; PAVANI, Cinara Ferreira.

    Prtica textual: atividades de leitura e escrita. 5. ed. Petrpolis: Vozes, 2008.

    MARCUSCHI, Luiz Antnio. Gneros textuais: definio e funcionalidade. In:

    DIONISIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Org.). Gneros textuais

    e ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 19-36.

    PETZHOLD, Paula Elise; KASPARI, Tatiane; MLLER, Valquria. Artigo de

    divulgao cientfica: fim discursivo e prototipicidade. In: Travessias Revista

    de Educao, Cultura, Linguagem e Arte da Universidade Estadual do Oeste

    do Paran, v. 2, n. 3, 2008. 22p. Disponvel em: . Acesso

    em: 5 fev. 2014.

    PAULINO, Graa et al. Tipos de textos, modos de leitura. 2. ed. Belo

    Horizonte: Formato Editorial, 2001. (Srie Educador em formao).

    REINACH, Fernando. A longa marcha dos grilos canibais e outras crnicas

    sobre a vida no planeta Terra. So Paulo: Companhia das Letras, 2010. (3

    reimpresso).

    ______. O tucano e o palmito. O Estado de S. Paulo, 17 ago. 2013. Disponvel

    em: . Acesso em: 1 set. 2013.

    AGRADECIMENTOS

    Dirijo especiais agradecimentos ao Centro Universitrio Padre Anchieta

    UNIANCHIETA, pelo acolhimento e pelas oportunidades de trabalho e de

    crescimento pessoal e profissional; ao professor Andr Luiz da Conceio, pelo

    convite a participar desta publicao e pelo permanente incentivo produo

    acadmico-cientfica; s professoras Juliana Rink e Nilva Aparecida Ressineti

    Pedro, pelo convite a integrar o corpo docente dos cursos de tecnologia em

    Gesto Ambiental e em Processos Qumicos do UNIANCHIETA e pelo

    amigvel acolhimento e constante ateno ao aprimoramento da atuao

    pedaggica; aos estudantes atendidos nos referidos cursos, pelas

    enriquecedoras vivncias no processo formativo; ao bilogo Fernando de

  • 44

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    Castro Reinach, pela solicitude e prontido em conceder uma breve entrevista

    sobre seu trabalho.

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    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    ANLISE DO PERFIL DE PARTICIPANTES EM

    PROJETO DE RECICLAGEM DE LEO DE

    COZINHA NO MUNICPIO DE ITUPEVA, SO

    PAULO

    Claudio da Cunha8 Mrcia Sumagawa Oku9

    RESUMO

    Algumas cidades brasileiras apresentam taxas de crescimento econmico e

    demogrfico acima da mdia brasileira, tendo como consequncia direta, o

    aumento na produo de resduos de origem industrial e domstico. O

    municpio de Itupeva se destaca como rea de expanso demogrfica,

    estimulada pelo crescimento dos setores industrial e de servios do

    aglomerado urbano de Jundia. As cidades da macrorregio apresentam taxas

    de crescimento 9,8 % acima da mdia do estado de So Paulo e como

    consequncia, nveis proporcionais de ao antrpica sobre o meio ambiente

    com riscos de degradao mais elevados que a mdia estadual e nacional.

    Projetos e polticas de educao ambiental so necessrios para reduzir os

    impactos da atividade humana pela preveno e reduo de danos bem como

    na formao de multiplicadores de conhecimento. Este trabalho, baseado em

    aes de educao ambiental informal, produziu um banco de dados sobre o

    perfil de uso e descarte de leo comestvel residual do municpio de Itupeva-

    SP.

    Palavras chave: Educao Ambiental. leo comestvel. Arborizao.

    Consumo de leo. 8 Bilogo, Mestre em Ecologia de Ecossistemas. Docente do Curso Superior em Tecnologia e

    Bacharelados do Centro Universitrio Padre Anchieta, UNIANCHIETA. Docente do Curso Superior em Tecnologia da Faculdade de Tecnologia do Estado de So Paulo, FATEC. Docente do Bacharelado em Psicologia da Anhanguera Educacional-AESA. Contato: [email protected]

    9 Tecnloga em Gesto Ambiental pelo UNIANCHIETA. Trabalha na Secretaria de Mobilidade

    Urbana e Meio Ambiente de Itupeva-SP. Contato: [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]

  • 46

    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    INTRODUO

    A educao ambiental possui como uma de suas caractersticas bsicas

    a multidisciplinaridade (Guimares, M. 1995). A conscientizao sobre

    problemas associados ao meio ambiente um das ferramentas que podem

    auxiliar na mudana de hbitos e comportamentos das populaes. Um dos

    problemas associados temtica ambiental a falta de dados quantitativos e

    qualitativos sobre o comportamento das pessoas no seu cotidiano. Os

    referenciais numricos so importantes para modelar projetos, definir a tomada

    de decises em diversos nveis, permitindo o acompanhamento temporal na

    modificao de atitudes e avaliao de objetivos, fornecendo bases concretas

    para formulao de hipteses e direcionamento de solues.

    Nas ltimas dcadas, campanhas para reciclagem de resduos so

    observadas em nmero crescente no Brasil e no mundo, destacando a

    importncia para a sustentabilidade dos meios de produo. Dentro deste

    contexto, o leo comestvel residual pode representar uma fonte de matria

    prima para diferentes cadeias produtivas (Fernandes et al, 2008), fonte de

    renda para comunidades carentes (Silva, M. V. et al, 2012), ou ser um

    importante agente de contaminao do solo e da gua, causando prejuzos

    ambientais diretos e indiretos, danificando e obstruindo redes de tubulaes e

    aumentando os custos operacionais ao setor pblico (SABESP, 2007).

    Vrias cidades do Brasil j iniciaram programas de entrega espontnea

    de leo de cozinha residual (Branco, S.M. et al, 2012 ; Orlandi, A. M. et al,

    2012), mas entretanto, a troca de leo por mudas de rvores para arborizao

    urbana realizada no municpio de Itupeva-SP, destacou-se como ao

    inovadora de educao ambiental informal e multidisciplinar, servindo tambm

    como base de dados para aes futuras.

    A soluo para o descarte incorreto de resduos gerados pelo homem

    continua sendo um grande desafio, que afeta todo o planeta e alvo de

    pesquisas integradoras em diversos ramos da cincia, envolvendo bases

    tecnolgicas, ambientais, sociais, educacionais e da sade.

    O leo de cozinha que muitas vezes ingenuamente descartado pela

    pia da cozinha ou despejado no solo pode causar srios problemas ao meio

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    GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS

    ambiente e dessa forma, medidas e regras mitigadoras de danos devem ser

    implementadas. Como exemplo, foi criada no estado de So Paulo, a Lei

    12.047 (So Paulo set. 2005) que, em seu Artigo 1, estabelece e institu o

    Programa Estadual de Tratamento e Reciclagem de leos e Gorduras de

    Origem Vegetal ou Animal e Uso Culinrio, servindo como base para

    implementao de novos projetos.

    Ao atingir corpos dgua, este resduo forma pelculas superficiais que

    reduzem os processos de oxigenao direta e entrada de luz, alm de obstruir

    as vias respiratrias dos animais aquticos e interferir negativamente nas

    cadeias alimentares.

    Tambm podem prejudicar os processos nas Estaes de Tratamento

    de gua (ETA), dependendo de sua concentrao.

    bastante comum a divulgao de que um litro de leo pode contaminar

    milhares de litros de gua. O volume exato de gua contaminada por leo

    carece de base tcnica adequada. Vrias estimativas so encontradas na

    literatura, como 1.000.000 de litros de gua contaminada por um litro de leo

    (Orlandi, A. M. et al, 2013), mas importante destacar que embora tais

    estimativas caream de embasamento tcnico (SABES