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Instituto Internacionalde Educação do Brasil – IEB POTENCIALIDADES E LIMITES DA CADEIA DE VALOR DA MADEIRA NO MUNICÍPIO DE LÁBREA, SUL DO AMAZONAS Realização Apoio André Tomasi

André Tomasi - fundovale.org · da madeira no município e suprir a demanda na sede de Lábrea com madeira legal. Oito instituições conformaram esse grupo inicial, sendo elas as

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POTENCIALIDADES E LIMITES DA CADEIA DE VALOR DA MADEIRA NO MUNICÍPIO DE

LÁBREA, SUL DO AMAZONAS Realização Apoio

André Tomasi

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Apoio ao fortalecimento das cadeias de valor sustentáveisno sul do Amazonas

PROJETO +VALOR

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INSTITUTO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO DO BRASIL – IEB

Potencialidades e Limites da Cadeia de Valor da Madeira no Município de Lábrea, Sul do

Amazonas

André TomasiDezembro de 2016

Realização Apoio

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1. INTRODUÇÃO O setor madeireiro impulsiona a economia de dezenas de municípios da Amazônia Legal, região que abriga o maior número de indústrias da cadeia produtiva do manejo de florestas naturais, com 2.226 indústrias de beneficiamento madeireiro. As empresas e projetos de manejo florestal ocupam cerca de 3 milhões de hectares de florestas produtivas no bioma (CNI, 2014).

Na região amazônica existem cerca de 72 polos madeireiros localizados principalmen-te nos Estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia. Após o processamento, a madeira amazônica é destinada para o mercado doméstico (64%) e o externo (36%). As maiores empresas, muitas delas estrangeiras, buscam a certificação e o manejo florestal para viabilizar a comercialização de madeira beneficiada no mercado exterior (SBF, 2013).

No Brasil, a exploração das florestas primárias ficou proibida a partir do Código Flo-restal de 1965. A partir de então, a exploração das florestas para produção de madeira e produtos florestais não madeireiros (PFNM) deve observar as técnicas daquilo que ficou convencionado como “manejo florestal”. As empresas e comunidades que não adotam o manejo florestal estão sujeitas às penalidades previstas na legislação am-biental brasileira. Porém, e de maneira indiscriminada, a exploração madeireira na Amazônia ainda é feita, majoritariamente, de forma ilegal, desordenada e insusten-tável (AMARAL et al., 2012).

Nesse contexto, para além do âmbito econômico no qual estão inseridos os proje-tos florestais de grande escala, um número cada vez maior de comunidades dedica--se ao manejo de recursos florestais, o que amplia de forma significativa o leque de atores envolvidos e a abrangência de áreas e territórios manejados. Isso traz à tona várias questões ligadas à diversidade de formas de conduzir o processo de manejo. Essa expansão, ainda incipiente, evoca aspectos diferenciados e estruturais do ma-nejo florestal, como o licenciamento ambiental, o acesso ao mercado, a capacitação e o treinamento (IEB, 2008).

O município de Lábrea, foco da análise desta nota técnica, localiza-se no sul do esta-do do Amazonas, às margens do rio Purus, fronteira com os municípios de Canutama, Boca do Acre, Tapauá, Pauini e com os estados do Acre e Rondônia. Seu acesso se dá mais comumente por via aérea e fluvial. No entanto, no período de estiagem (maio a novembro) pode-se acessar o município pela BR-230 (Transamazônica), partindo-se de Porto Velho via Humaitá-AM.

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No município, é notória a conformação da atividade madeireira sob dois cenários distintos: de um lado os empreendimentos de larga escala e a exploração ilegal ma-deireira que ocorrem no sul e sudeste de Lábrea, que abastecem os estados do sul e sudeste do Brasil, tendo os principais elos da cadeia situados no Estado vizinho de Rondônia; e do outro, o cenário da sede municipal, nas margens do Rio Purus, que é composto por diversos grupos extratores e pequenos empreendimentos ligados à eco-nomia local, que extraem e processam um volume de madeira muito inferior quando comparado à região sul.

De acordo com as informações trazidas pelo “Diagnóstico da cadeia produtiva da ma-deira no município de Lábrea-AM”, produzido em 2014 pelo IEB, o volume de madeira explorada de forma ilegal no sul de Lábrea foi 7,95 vezes maior do que o volume licen-ciado em 2013 na mesma região, além de ter sido 53,47 vezes maior do que o volume explorado na região da sede de Lábrea.

Lábrea possui a maior área desmatada do Estado Amazonas, cuja origem decorre da atividade pecuária e da exploração ilegal madeireira oriundas principalmente das re-giões sul e sudoeste do município. Estas localidades, no entanto, encontram-se dis-tantes da sede do município, que está localizada às margens do rio Purus e em uma das extremidades da rodovia Transamazônica.

O acesso à parte sul e oeste é possível por meio dos Estados de Rondônia e Acre, pelas BR-364 e BR-317, respectivamente. Nestas regiões predominam a exploração madeirei-ra em larga escala, tanto por Planos de Manejo de Maior Impacto como pela explora-ção ilegal. Na sede do município, às margens do rio Purus, a exploração de madeira também tem grande importância, configurando outro cenário, vinculado, neste caso, à economia local municipal.

Em 2005, ano de uma das principais secas na Amazônia, dados divulgados pelo Ins-tituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) colocavam Lábrea na lista dos municí-pios que mais desmatavam no estado (BRASIL, 2008; INPE, 2016). Dois anos depois, em 2007, um novo relatório destacou o município como sendo o 13º na lista dos 36 que mais desmataram na Amazônia, sendo o único representante do Estado do Amazonas nesta lista (BRASIL, 2008; INPE, 2014).

Diante dessa situação, o governo federal lançou mão de duas operações para comba-ter o desmatamento ilegal: a Operação Arco de Fogo (OAF) e a Operação Arco Verde (OAV), que, respectivamente, (i) intensificaram as ações de fiscalização, comando e controle e (ii) estabeleceram mesas de diálogo entre sociedade civil e governos para propor ações que buscassem a implementação de modelos produtivos sustentáveis.

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O “Grupo de Trabalho (GT) Madeira” foi um dos grupos constituídos por estas mesas de diálogo, cujo objetivo foi discutir soluções para a regularização da cadeia produtiva da madeira no município e suprir a demanda na sede de Lábrea com madeira legal. Oito instituições conformaram esse grupo inicial, sendo elas as mesmas que, diante da falta de comprometimento e efetividade por parte do governo federal, seguiram trabalhando nos anos seguintes com as pautas estabelecidas no GT, tendo como foco central o combate ao desmatamento e o acesso à madeira legalizada para o benefi-ciamento local.

Neste sentido, o Manejo Florestal Comunitário passa a ser assumido no município como potencial para gerar renda e trabalho para os produtores familiares e contribuir para a manutenção das florestas em face aos processos desordenados de supressão florestal. Sua promoção tem buscado a capacitação dos produtores em práticas de Exploração de Impacto Reduzido, organização em torno de cooperativas/associações e estratégias para a busca de mercados, incluindo ações iniciais de certificação.

Desta feita, parte das informações contidas nesta Nota Técnica são oriundas do já mencionado “Diagnóstico da cadeia produtiva da madeira no município de Lábrea--AM”, produzido pelo IEB no âmbito do GT Madeira e que procurou fazer um sobrevoo sobre a cadeia de valor da madeira no município de Lábrea. Este documento teve por objetivo i) obter dados quantitativos e qualitativos sobre a estrutura dos empreendi-mentos ligados à cadeia produtiva da madeira de Lábrea; ii) quantificar a movimen-tação financeira e a criação de empregos por etapa de produção e comercialização; iii) elaborar cenário da cadeia produtiva da madeira de Lábrea para o ano de 2013.

A análise ainda contou com entrevista e prospecção de dados primários junto à Asso-ciação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus do rio Ituxi (APADRIT) e Cooperativa Agroextrativista do Ituxi (COOPAGRI), ambas ligadas à RESEX Ituxi, res-ponsáveis pelas primeiras iniciativas de Manejo Florestal Comunitário no município de Lábrea.

A Nota Técnica conta ainda com informações colhidas e sistematizadas durante o “Se-minário sobre Manejo Florestal Comunitário e de Pequena Escala”, realizado em se-tembro de 2014, em Lábrea-AM. O objetivo do evento foi dar prosseguimento no apoio as iniciativas de manejo florestal comunitário e de pequena escala em andamento no município para o suprimento de madeira legal, com vistas a i) dar visibilidade às iniciativas de manejo florestal comunitário e de pequena escala em andamento no município de Lábrea; ii) discutir soluções aos principais desafios enfrentados pelas organizações envolvidas nas iniciativas em andamento de manejo florestal comuni-

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tário e de pequena escala; e iii) envolver atores-chave por meio da construção de um plano de ação para a superação dos desafios relacionados ao fomento e estabeleci-mento do manejo florestal comunitário e de pequena escala no município de Lábrea.

2. A CADEIA DE VALOR DA MADEIRANO SUL DO AMAZONAS: VISÃO GERAL

A elaboração e o fortalecimento das políticas públicas relacionadas ao uso susten-tável dos recursos florestais são o amparo legal para que pequenos produtores liga-dos ao setor florestal possam desenvolver suas atividades de forma ambientalmente correta, economicamente viável, e socialmente justa, como preconizam os princípios fundantes do manejo florestal.

No Brasil, o Programa de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) foi regulamentado pelo Decreto Federal n.º 1.282 de 19/10/1994, com base nos seguintes princípios gerais: conservação da estrutura da floresta e de suas funções, manutenção da diversidade biológica e desenvolvimento socioeconômico da região amazônica.

Na Amazônia brasileira, desde o início da década de 1990, os pequenos produtores têm buscado a legalização da exploração madeireira, impulsionados pelas experiências do Programa de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil - PPG7, que investiu em proje-tos e experiências demonstrativas iniciais. O marco legal nesse período foi a Instrução Normativa n.º 04, de 28 de dezembro de 1998, primeira normativa que estabeleceu as regras para o manejo florestal comunitário. A organização das diferentes experiências de manejo florestal comunitário (MFC) culminou com a criação de um Grupo de Tra-balho Manejo Florestal Comunitário – GT MFC em 2002. Trata-se de um grupo da so-ciedade civil, composto por representantes de experiências de manejo florestal e de instituições assessoras destas experiências na Amazônia brasileira (ANDRADE, 2014).

Em 2006, foi promulgada a Lei nº 11.284, que dispõe sobre a gestão de florestas públi-cas para a produção sustentável, instituindo o Serviço Florestal Brasileiro e criando o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal. Essa Lei possibilitou a atribuição de concessões florestais em terras públicas, permitindo o manejo florestal sustentável sem a posse efetiva da terra – contexto em que se encontram a maioria das comuni-dades manejadoras de madeira na Amazônia.

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Em 2009, o Programa de Manejo Florestal Comunitário e Familiar (PMFCF) foi criado para coordenar as ações de gestão e fomento ao manejo florestal sustentável volta-das para os povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares, no âmbito dos Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e do Desenvolvimento Agrário (MDA).

No Amazonas, a norma estadual sobre Plano de Manejo Florestal Sustentável de Pe-quena Escala (PMFSPE) foi concebida para que os pequenos produtores comunitários pudessem ter acesso e condições hábeis para extrair madeira de forma sustentável, sem incorrer sobre os mesmos trâmites de licenciamento ligados aos grandes em-preendimentos. A norma prevê procedimentos técnicos e administrativos simplifica-dos de elaboração e licenciamento ambiental. Estes aplicam-se exclusivamente para propriedades (titulada, posse, concessão ou uso) com áreas passíveis de manejo in-feriores a 500 hectares, por meio da Instrução Normativa 001/2006, da Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (SDS), que regulamentou as atividades de PMFSPE para o estado.

No Amazonas, o Licenciamento Ambiental para Planos de Manejo Florestais, de forma simplificada, é norteado pelos referidos instrumentos legais:

• Instrução Normativa SDS nº 01 de 27 de outubro de 2009: Dispõe sobre a apresen-tação, avaliação e licenciamento de Planos de Manejo Florestal Sustentáveis nas flo-restas nativas, em Unidades de Conservação de Uso Sustentável do Estado do Ama-zonas e outras providências. Destaca-se que anterior à elaboração desta IN, o Art. 9º da IN SDS nº 002, de 11 de fevereiro de 2008 já fazia referência ao licenciamento de PMFPE em 28 UCs: “Em não havendo Plano de Gestão aprovado, o órgão responsável pela gestão da UC pode autorizar a implementação de PMFSPE a título transitório”;

• Instrução Normativa SDS nº 09 de 12 de novembro de 2010: Dispõe sobre manejo flo-restal sustentável em áreas de várzea no Estado do Amazonas, e dá outras providências;Resolução CEMAAM nº 07 de 21 de junho de 2011: Estabelece normas e procedimentos que disciplinam a apresentação, tramitação, acompanhamento e condução das ativi-dades de PMFSPE para licenciamento da exploração florestal madeireira;Resolução CEMAAM nº 09 de 15 de dezembro de 2011: Estabelece procedimentos técni-cos para a elaboração, apresentação, execução e avaliação técnica de PMFS de Maior impacto de exploração e PMFS de Menor impacto de exploração nas formações su-cessoras no Estado do Amazonas;

• Resolução CEMAAM Nº 14 de 21 de Novembro de 2012: Refere-se ao aproveitamento de resíduos sólidos de PMFPE;

• Resolução CEMAAM Nº 16, de 16 de julho de 2013: referente à documentação fundiá-ria em Unidades de Conservação de Uso Sustentável.

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O Amazonas possui três modalidades operacionais de manejo florestal segundo pro-cedimentos técnicos-normativos distintos, que baseiam-se principalmente no tama-nho das áreas manejadas; a saber:

1. Plano de Manejo Florestal Sustentável de Pequena Escala, para áreas de até 500 ha (normatizado pela Portaria/SDS/040/03, IN nº 01/06 e posteriormente pela IN N° 02/08, converteu-se em Resolução CEMAAM N° 007 de 21 de julho de 2011);

2. Plano de Manejo Florestal Sustentável de Menor Impacto e Plano de Manejo Flo-restal Sustentável de Maior Impacto, para áreas superiores à 500 ha (normatizados pela Instrução Normativa nº 05/08, incluídos na Resolução CEMAAM N° 009 de 15 de dezembro de 2011).

A Figura 01 elenca as três modalidades supracitadas e as caracteriza segundo critérios analíticos de diferenciação, como tamanho dos empreendimentos, formas de explo-ração formatos de arraste das toras e monitoramento.

Figura 01 - Principais Conceitos das Modalidades de Manejo Florestal no Amazonas. Fonte: IDESAM, 2013 apud ANDRADE, 2014.

No Amazonas, segundo estudo do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sus-tentável do Amazonas (IDESAM), cerca de 60% dos Planos de Manejo estão dentro ou no entorno de Unidades de Conservação, principalmente nas Reservas Extrativistas, e cerca de 67% são de pequena escala. Cerca de 91% da madeira licenciada é extraída por organizações empresariais com plano de manejo sustentável empresarial em lar-

e condução das atividades de PMFSPE para licenciamento da exploração florestal madeireira;

• Resolução CEMAAM nº 09 de 15 de dezembro de 2011: Estabelece procedimentos técnicos para a elaboração, apresentação, execução e avaliação técnica de PMFS de Maior impacto de exploração e PMFS de Menor impacto de exploração nas formações sucessoras no Estado do Amazonas;

• Resolução CEMAAM Nº 14 de 21 de Novembro de 2012: Refere-se ao aproveitamento de resíduos sólidos de PMFPE;

• Resolução CEMAAM Nº 16, de 16 de julho de 2013: referente à documentação fundiária em Unidades de Conservação de Uso Sustentável.

O Amazonas possui três modalidades operacionais de manejo florestal segundo procedimentos técnicos-normativos distintos, que baseiam-se principalmente no tamanho das áreas manejadas; a saber:

1) Plano de Manejo Florestal Sustentável de Pequena Escala, para áreas de até 500 ha (normatizado pela Portaria/SDS/040/03, IN nº 01/06 e posteriormente pela IN N° 02/08, converteu-se em Resolução CEMAAM N° 007 de 21 de julho de 2011);

2) Plano de Manejo Florestal Sustentável de Menor Impacto e Plano de Manejo

Florestal Sustentável de Maior Impacto, para áreas superiores à 500 ha (normatizados pela Instrução Normativa nº 05/08, incluídos na Resolução CEMAAM N° 009 de 15 de dezembro de 2011).

A Figura 01 elenca as três modalidades supracitadas e as caracteriza segundo critérios analíticos de diferenciação, como tamanho dos empreendimentos, formas de exploração formatos de arraste das toras e monitoramento.

Figura 01 - Principais Conceitos das Modalidades de Manejo Florestal no Amazonas. Fonte: IDESAM, 2013 apud ANDRADE, 2014.

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ga escala. Porém, o Amazonas foi o Estado com maior número de iniciativas de PMFCF do Brasil, com um total de 902, sendo 775 (86%) de manejo florestal familiar – MFF - e 127 (14%) de manejo florestal comunitário – MFC (IDESAM, 2013).

Nas regiões sul e sudoeste de Lábrea, fronteira com o município de Boca do Acre, há predomínio da exploração de maior impacto de madeira, tanto licenciada como ilegal, com escoamento pelas estradas BR-364 e BR-317.

De acordo com dados do IPAAM, entre 2011 e 2013, foram licenciados cinco Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) de Maior Impacto na região sul de Lábrea, os quais estariam aptos a fornecer madeira licenciada em 2013, em virtude do prazo de validade da licença, que é de dois anos. Destes PMFSs, apenas um foi licenciado em 2011, possui área de 928,85 ha e licenciou 3.457,08 m³ de madeira. Os outros quatro PMFSs, licenciados em 2013, abrangem área total de 6.732,88 ha, média de 1.346,58 ha por plano, e estavam aptos a fornecer 58.871,63 m³ de madeira, média de 11.774,33 m³ por plano.

A madeira fornecida por estes PMFSs abasteceram duas indústrias madeireiras licen-ciadas no sul de Lábrea, as quais tem consumo anual de 30.000 e 14.400 m³ de madeira e empregam 55 e 42 funcionários cada, respectivamente. De acordo com o IPAAM, es-tas foram as únicas com licença em 2013. A atividade no sul de Lábrea se caracteriza, portanto, por grandes empreendimentos que comercializam a madeira para outros Estados, como Rondônia e Acre.

Além destas movimentações legais de madeira, foi informada pela prefeitura de Lá-brea a estimativa de cerca de 78.000 m³ de madeira ilegal extraída e comercializada para Rondônia e Acre por mês. Estima-se que 130 caminhões de 20 m³ de madeira saem do sul de Lábrea por dia, cabendo, atualmente, estudos pormenorizados para entender a dinâmica da rede ilegal madeireira no sul do município.

Na sede do município, às margens do rio Purus, a extração serve à indústria civil, na-val, pequenas movelarias e serrarias. Estas últimas abastecem de produtos o mercado local e fornecerem, sobretudo, carteiras escolares para o município e para a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC). Neste caso a extração, comercio e beneficiamento final da madeira ocorre em um circuito curto de abrangência limitada configurando, portanto, um Arranjo Produtivo Local (APL) ainda que em estágio primário de desen-volvimento. As características deste APL são discutidas a seguir.

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Na sede de Lábrea verifica-se que os extratores exploraram em média 37,24 m³ em 2013, o que resultaria em uma exploração total de aproximadamente 8.689,29m³. Além destes valores para exploração de madeira, foi quantificada a compra de 1.445,54 m³ de madeira pescada licenciada para três serrarias e, de acordo com IPAAM, foi licenciado um Plano de Manejo Florestal Sustentável de Pequena Escala (PMFSPE) na região pró-xima a sede de Lábrea, autorizando a exploração de 319,97 m³ de madeira (IEB, 2013)

A Figura 02 leva em consideração os locais/ territórios de extração e os destinos finais da economia de Lábrea que absorvem a madeira beneficiada pela sede municipal.

Figura 02 – Consumo de Madeira por setor da Economia Local (destino) e Territórios de Extração (origem) no município de Lábrea (Fonte: IEB, 2013)

Nota-se na Figura 02 que os principais destinos/setores para a madeira de Lábrea são as movelarias, serrarias e para a construção civil e naval; as movelarias absorvem em torno de 49,5% da madeira explorada, as serrarias 24,2%, a construção civil 18,2% e a naval 8,2%.

Abaixo, na Tabela 01, faz-se uma análise pormenorizada das características da produção por empreendimentos beneficiadores da sede de Lábrea, tendo como foco principal evidenciar os 3 principais setores da economia local que utilizam-se de madeira para efetuar seus processos produtivos de beneficiamento: Estaleiros, Movelarias e Serrarias.

madeira pescada licenciada para três serrarias e, de acordo com IPAAM, foi licenciado um Plano de Manejo Florestal Sustentável de Pequena Escala (PMFSPE) na região próxima a sede de Lábrea, autorizando a exploração de 319,97 m³ de madeira (IEB, 2013) A Figura 02 leva em consideração os locais/ territórios de extração e os destinos finais da economia de Lábrea que absorvem a madeira beneficiada pela sede municipal.

Figura 02 – Consumo de Madeira por setor da Economia Local (destino) e Territórios de Extração (origem) no município de Lábrea (Fonte: IEB, 2013)

Nota-se na Figura 02 que os principais destinos/setores para a madeira de Lábrea são as movelarias, serrarias e para a construção civil e naval; as movelarias absorvem em torno de 49,5% da madeira explorada, as serrarias 24,2%, a construção civil 18,2% e a naval 8,2%. Abaixo, na Tabela 01, faz-se uma análise pormenorizada das características da produção por empreendimentos beneficiadores da sede de Lábrea, tendo como foco principal evidenciar os 3 principais setores da economia local que utilizam-se de madeira para efetuar seus processos produtivos de beneficiamento: Estaleiros, Movelarias e Serrarias.

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Tabela 01 – Características da Produção por Empreendimentos Beneficiadores da Sede de Lábrea (Fonte: IPAAM, 2014)

Verifica-se, ainda, que em 2013 os estabelecimentos de insumos madeireiros (aqueles responsáveis por municiar a cadeia local da madeira com peças, ferramentas, máqui-nas etc.) comercializaram em torno de R$139.635,00 em insumos e R$148.900,00 em produtos beneficiados. Essa pequena diferença pode ser explicada pela comerciali-zação direta das movelarias ao consumidor final.

Os produtos comercializados pelos extratores da sede de Lábrea são, principalmente, pranchas para serrarias e movelarias com valor médio de R$330,00 o metro cúbico,

Tabela 01 – Características da Produção por Empreendimentos Beneficiadores da Sede de Lábrea (Fonte: IPAAM, 2014) Verifica-se, ainda, que em 2013 os estabelecimentos de insumos madeireiros (aqueles responsáveis por municiar a cadeia local da madeira com peças, ferramentas, máquinas etc.) comercializaram em torno de R$139.635,00 em insumos e R$148.900,00 em produtos beneficiados. Essa pequena diferença pode ser explicada pela comercialização direta das movelarias ao consumidor final. Os produtos comercializados pelos extratores da sede de Lábrea são, principalmente, pranchas para serrarias e movelarias com valor médio de R$330,00 o metro cúbico, podendo variar em função da espécie, ou madeira serrada para construção de casas. Esta produção resultou em uma renda líquida média anual de R$ 6.846 por extrator. De

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podendo variar em função da espécie, ou madeira serrada para construção de casas. Esta produção resultou em uma renda líquida média anual de R$ 6.846 por extrator. De acordo com informações do representante da Associação de Extratores, cerca de 60% da madeira é extraída na região da estrada, em assentamentos da reforma agrária, o que demonstra a importância de ações de apoio à produção sustentável pelos órgãos competentes, neste caso notadamente pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

Os demais 40% são extraídos de rios como Ituxi, Cainaã e Mairã, sendo que a exploração na região da estrada ocorre no período seco e a dos rios no período chuvoso em virtude da possibilidade de transporte: 57,6% do volume extraído em 2013 foi informado como ori-ginário de localidades da estrada, 41,5% de rios e 1% de áreas não informadas (IEB, 2013).

Na sede do município de Lábrea, a renda líquida anual dos extratores, o pagamento de salários nos empreendimentos beneficiadores e de comercialização, assim como o valor comercializado por estes empreendimentos movimentou, em 2013, o valor de R$7,2 mi-lhões na economia municipal. Ao se contabilizar apenas o valor da comercialização de produtos, verifica-se que em 2013 o setor madeireiro da sede de Lábrea representou 1,2% do PIB de todo município (IEB, 2013).

A atividade madeireira na sede de Lábrea também caracteriza-se como importante gera-dor de empregos. Contabilizando o número de extratores e de empregados fixos e tempo-rários, a atividade absorve 7% da população economicamente ativa de todo o município, sem contar as pessoas que trabalham na construção civil, que, de acordo com IBGE, é de 15.427 pessoas. A atividade madeireira é a segunda que mais gera empregos no município, perdendo somente para a atividade de pesca (IEB, 2013).

Tabela 02 – Geração de Empregos e Valor Comercializado na Cadeia Madeireira na Sede de Lábrea em 2013

acordo com informações do representante da Associação de Extratores, cerca de 60% da madeira é extraída na região da estrada, em assentamentos da reforma agrária, o que demonstra a importância de ações de apoio à produção sustentável pelos órgãos competentes, neste caso notadamente pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Os demais 40% são extraídos de rios como Ituxi, Cainaã e Mairã, sendo que a exploração na região da estrada ocorre no período seco e a dos rios no período chuvoso em virtude da possibilidade de transporte: 57,6% do volume extraído em 2013 foi informado como originário de localidades da estrada, 41,5% de rios e 1% de áreas não informadas (IEB, 2013). Na sede do município de Lábrea, a renda líquida anual dos extratores, o pagamento de salários nos empreendimentos beneficiadores e de comercialização, assim como o valor comercializado por estes empreendimentos movimentou, em 2013, o valor de R$7,2 milhões na economia municipal. Ao se contabilizar apenas o valor da comercialização de produtos, verifica-se que em 2013 o setor madeireiro da sede de Lábrea representou 1,2% do PIB de todo município (IEB, 2013). A atividade madeireira na sede de Lábrea também caracteriza-se como importante gerador de empregos. Contabilizando o número de extratores e de empregados fixos e temporários, a atividade absorve 7% da população economicamente ativa de todo o município, sem contar as pessoas que trabalham na construção civil, que, de acordo com IBGE, é de 15.427 pessoas. A atividade madeireira é a segunda que mais gera empregos no município, perdendo somente para a atividade de pesca (IEB, 2013).

Tabela 02 – Geração de Empregos e Valor Comercializado na Cadeia Madeireira na Sede de Lábrea em 2013

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A partir das informações descritas nos itens anteriores, elaborou-se um fluxograma da cadeia produtiva de madeira da sede de Lábrea para o ano de 2013 (Figura 03). O flu-xograma expõe: i) o volume de madeira explorado e a relação do destino e da origem da madeira com a extração total (em porcentagem); (ii) o valor comercializado pelos beneficiadores e a relação do destino da madeira com o valor total comercializado (em porcentagem); (iii) o valor comercializado pelos estabelecimentos de insumos e de produtos acabados na sede de Lábrea.

Figura 03 – Fluxograma da Cadeia Produtiva de Madeira em Lábrea

A única área protegida de Lábrea que atualmente realiza Manejo Florestal Comunitário (MFC) é a RESEX Ituxi. O manejo começou há apenas 1 ano, em 2015, mas o processo de inserção deste território à cadeia da extração madeireira é anterior, prévio a cria-ção da RESEX. Antes de 2008 já haviam grupos e pessoas trabalhando com a madeira. Antes do decreto de criação da UC haviam 8 planos de manejo no território que viria a ser a RESEX Ituxi.

O MFC na RESEX Ituxi foi iniciado na colocação Morada Nova, no rio Punicici. A discus-são em torno da viabilidade técnica e jurídica do manejo florestal se deu durante 3 anos até ser aprovado pelo ICMBio, com a expedição da licença para o corte. Atual-mente a atividade desenvolve-se numa área localizada a 30 minutos de rabeta pelo

A partir das informações descritas nos itens anteriores, elaborou-se um fluxograma da cadeia produtiva de madeira da sede de Lábrea para o ano de 2013 (Figura 03). O fluxograma expõe: i) o volume de madeira explorado e a relação do destino e da origem da madeira com a extração total (em porcentagem); (ii) o valor comercializado pelos beneficiadores e a relação do destino da madeira com o valor total comercializado (em porcentagem); (iii) o valor comercializado pelos estabelecimentos de insumos e de produtos acabados na sede de Lábrea.

Figura 03 – Fluxograma da Cadeia Produtiva de Madeira em Lábrea

A única área protegida de Lábrea que atualmente realiza Manejo Florestal Comunitário (MFC) é a RESEX Ituxi. O manejo começou há apenas 1 ano, em 2015, mas o processo de inserção deste território à cadeia da extração madeireira é anterior, prévio a criação da RESEX. Antes de 2008 já haviam grupos e pessoas trabalhando com a madeira. Antes do decreto de criação da UC haviam 8 planos de manejo no território que viria a ser a RESEX Ituxi. O MFC na RESEX Ituxi foi iniciado na colocação Morada Nova, no rio Punicici. A discussão em torno da viabilidade técnica e jurídica do manejo florestal se deu durante 3 anos até ser aprovado pelo ICMBio, com a expedição da licença para o corte. Atualmente a atividade desenvolve-se numa área localizada a 30 minutos de rabeta pelo rio Punicici, mais 3 quilômetros por ramal na terra firme. No local, os comunitários envolvidos na atividade madeireira fizeram uma estrada de acesso sem a utilização de trator. A prefeitura prometeu trator para a Cooperativa Agroextrativista do Ituxi (COOPAGRI), organização responsável pelo manejo madeireiro na RESEX, tanto para abertura de estradas, como para o transporte de pranchas, mas acabou não selando o compromisso.

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rio Punicici, mais 3 quilômetros por ramal na terra firme. No local, os comunitários envolvidos na atividade madeireira fizeram uma estrada de acesso sem a utilização de trator. A prefeitura prometeu trator para a Cooperativa Agroextrativista do Ituxi (COOPAGRI), organização responsável pelo manejo madeireiro na RESEX, tanto para abertura de estradas, como para o transporte de pranchas, mas acabou não selando o compromisso.

A COOPAGRI viabilizou o trator por intermédio de doação do sr. Frederico Scheffer, particular que reivindica posse sobre áreas onde atualmente está a RESEX Ituxi e com quem os comunitários e extrativistas possuem relação histórica.

No manejo da madeira na RESEX, as funções são variadas, sendo cinco atividades principais: i) os que cortam as árvores, com destaque para os mais velhos com maior experiência; ii) os carregadores das pranchas (toras) de madeira, que são jovens e adultos, algumas vezes contratados para o serviço; iii) os que efetuam a cubagem (medição das pranchas) e o romaneio (listagem das madeiras serradas), sendo esta função preenchida, em alguns casos, por mulheres; iv) os que cozinham são homens ou mulheres, quando passam mais de dois dias na mata sem retornar à residência; e v) os que beneficiam a madeira, serrando-a na mata.

Na primeira venda realizada pela COOPAGRI, realizada em 2015, foram tirados 30m3. A venda saiu a R$ 700,00 o m3 do Angelim, madeira extraída na primeira Unidade de Produção Anual (UPA), totalizando R$ 21.000. Estava previsto para essa primeira UPA a retirada de R$ 1.200 m3 de tora e 450 m3 em prancha. O motivo alegado para a não retirada da cota prevista no licenciamento foi o excesso de chuva que prejudicou o trabalho.

Para 2016 está previsto a retirada da quantidade não totalmente explorada da 1ª UPA de 2015 (1170 m3), mais a 2ª UPA aprovada em 2016, também com a previsão para a retirada de 1.200 m3, entretanto com 500 m3 de madeira em prancha. A previsão para início da retirada da madeira de 2016 é para o mês de setembro, antes do começo da estação das chuvas.

Ao contrário do que aconteceu em 2015, em que a madeira foi posta no mercado via pregão eletrônico, em 2016 abriu-se a negociação para a compra direta da madeira. Para a exploração de 2016 já possuem comprador antes de serrar. O método do pre-gão não deu certo.

Atualmente a APADRIT e COOPAGRI, instituições que intermediam as atividades pro-dutivas e fluxo econômico dentro da RESEX, possuem parceria com: IFT (manejo flo-

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restal comunitário), IEB (cadeias de valor para o projeto do ICMBio e Serviço Florestal Americano), TRAMITE (capacitação e assessoria contábil), Instituto Desenvolver (Ma-nejo de Pirarucu), CPT (questões fundiárias), COOPMAS (comprador dos produtos do extrativismo), SEMMA (apoio técnico), IFAM (apoio técnico).

3. OS ELOS DA CADEIADE VALOR: ATORES ECONÔMICOS Na sede do município de Lábrea, de acordo com estimativa de representante da As-sociação de Extratores, há cerca de 700 pessoas que atuam diretamente na cadeia madeireira em quatro elos abrangentes, conforme atesta a Figura 04.

Figura 04 – Modelo Simplificado dos Atores da Cadeia de Valor da Madeira no município de Lábrea

Os extratore trabalham em assentamentos ou terrenos na estrada (Transamazônica), assim como em locais com acesso por rios, como a Reserva Extrativista (RESEX) Itu-xi. São 4 as associações representativas dos extratores: Associação dos Extratores de Lábrea, que atualmente não está em operação; Associação Terra Jubilar do Assenta-mento Paciá, que está com sua direção indefinida; Associação Rio Umari, que apesar de estar em funcionamento não tem apoiado a atividade madeireira; APADRIT e CO-OPAGRI da RESEX Rio Ituxi (Figura 05).

Figura 05 – Organizações sociais e locais de extração de madeira do municípios de Lábrea

ESTRADAS

Associação PA Paciá

Não está em operação

Associação Rio Umarino entanto, extratores

não informaram apoio a organização

APADRITCom o Plano de Manejo Florestal Comunitário

encaminhado para aprovação do ICMBio, no entanto, os extratores não informaram apoio da organização

RIOS

Figura 04 – Modelo Simplificado dos Atores da Cadeia de Valor da Madeira no município de Lábrea Os extratore trabalham em assentamentos ou terrenos na estrada (Transamazônica), assim como em locais com acesso por rios, como a Reserva Extrativista (RESEX) Ituxi. São 4 as associações representativas dos extratores: Associação dos Extratores de Lábrea, que atualmente não está em operação; Associação Terra Jubilar do Assentamento Paciá, que está com sua direção indefinida; Associação Rio Umari, que apesar de estar em funcionamento não tem apoiado a atividade madeireira; APADRIT e COOPAGRI da RESEX Rio Ituxi (Figura 05).

Figura 05 – Organizações sociais e locais de extração de madeira do municípios de Lábrea

Os extratores, de modo geral, atuam, geralmente em grupos de três a quatro pessoas, de forma pouco organizada e principalmente em terrenos de terceiros, que em determinadas ocasiões cobram 20% do valor explorado para permitir a exploração da madeira. Os beneficiadores de madeira da sede de Lábrea configuram-se como atores com importante organização social. Estes se organizam em duas associações: Associação dos Pequenos Moveleiros de Lábrea (APEMOL) e Associação de Pequenas Serrarias de Lábrea (ASMADEL). Importante conquista destas duas organizações, no início de 2014, foram os licenciamentos de Planos de Manejo Florestal Sustentável de Pequena Escala (PMFSPE) em gleba estadual no Rio Sepatini, que forneceram madeira legal para as serrarias e movelarias da sede de Lábrea, apesar dos conflitos em torno da decretação da área como terra indígena da etnia Apurinã (pleiteiam a “TI Curriã”), reinvindicação territorial que tramita até hoje sem solução eminente. As associações tiveram dificuldades para a exploração florestal devido à proximidade à reinvindicação indígena (distante 7 km dos PMFS). Como mediação do conflito, o IDAM e as associações buscaram o diálogo com os indígenas, explicando como funciona o

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Os extratores, de modo geral, atuam, geralmente em grupos de três a quatro pessoas, de forma pouco organizada e principalmente em terrenos de terceiros, que em de-terminadas ocasiões cobram 20% do valor explorado para permitir a exploração da madeira.

Os beneficiadores de madeira da sede de Lábrea configuram-se como atores com importante organização social. Estes se organizam em duas associações: Associação dos Pequenos Moveleiros de Lábrea (APEMOL) e Associação de Pequenas Serrarias de Lábrea (ASMADEL).

Importante conquista destas duas organizações, no início de 2014, foram os licen-ciamentos de Planos de Manejo Florestal Sustentável de Pequena Escala (PMFSPE) em gleba estadual no Rio Sepatini, que forneceram madeira legal para as serrarias e movelarias da sede de Lábrea, apesar dos conflitos em torno da decretação da área como terra indígena da etnia Apurinã (pleiteiam a “TI Curriã”), reinvindicação territo-rial que tramita até hoje sem solução eminente.

As associações tiveram dificuldades para a exploração florestal devido à proximida-de à reinvindicação indígena (distante 7 km dos PMFS). Como mediação do conflito, o IDAM e as associações buscaram o diálogo com os indígenas, explicando como fun-ciona o manejo florestal. Mesmo com o pleito de se tornarem Terras Indígenas, uma vez que ainda não estavam homologadas pela FUNAI, os órgãos públicos responsáveis autorizaram a primeira exploração nas áreas do rio Sepatini. Os quatro PMFS do Rio Sepatini foram aprovados em janeiro de 2014 e envolveu parcerias com governo esta-dual (ITEAM, IDAM e ADS) que tiveram papel fundamental na agilidade deste processo. O IEB e a prefeitura de Lábrea (SEMMA e Prefeito) deram apoio logístico e político no processo de manejo. No momento falta um alinhamento interno das associações para estabelecer acordos e regras para a exploração e comercialização coletiva

Na sede de Lábrea foram identificados 43 empreendimentos beneficiadores, 24 mo-velarias, 16 serrarias e 3 estaleiros. De acordo com dados do IPAAM e dados de campo de campo, foi verificado que o consumo médio das movelarias é de 160,00 m³ por ano e das serrarias 351,02 m³ ano (IEB, 2013).

Também foram identificados 13 empreendimentos classificados como comercializado-res, sendo: nove estabelecimentos que comercializam insumos para extratores e be-neficiadores; três lojas que comercializam produtos acabados advindos da atividade madeireira e um estabelecimento que é tanto um empreendimento de insumos como de comercialização de produtos acabados.

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O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) está concentrado no monitoramento do Documento de Origem Florestal (DOF), ob-servando o que cada empresa e plano de manejo florestal movimenta no sistema. O DOF (instituído pela Portaria n° 253 de 18 de agosto de 2006 do Ministério do Meio Ambiente) representa a licença obrigatória para o controle do transporte de produto e subproduto florestal de origem nativa em substituição à Autorização de Transpor-te de Produtos Florestais (ATPF). O DOF acompanhará obrigatoriamente o produto ou subproduto florestal nativo, da origem ao destino nele consignado, por meio de transporte individual: rodoviário, aéreo, ferroviário, fluvial ou marítimo. Além do DOF, a Nota Fiscal é obrigatória para o transporte.

No Amazonas, o órgão responsável pela assistência técnica aos pequenos produto-res do estado é o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário Florestal Sustentável do Amazonas (IDAM), vinculado à SEPROR, que recebeu esta atribuição direta desde 2007 após a extinção da Agência de Florestas e Negócios Sustentáveis do Amazonas (AFLORAM), entidade que integrava o Sistema SDS. O IDAM tem por finalidade a su-pervisão, a coordenação e a execução de atividade de assistência técnica e extensão agropecuária e florestal, no âmbito das políticas e estratégias do Governo Estadual para os setores agropecuário, florestal e agroindustrial (Lei Delegada N° 103/2007).

O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) é responsável pelo Licencia-mento, Fiscalização e Monitoramento Ambiental das atividades com potencial impacto degradador. O licenciamento de planos de manejo florestal no Amazonas, desde 2003, é realizado pelo IPAAM com apoio do IBAMA. Em 2006, por meio da Lei de Gestão de Florestas Públicas, Lei N° 11.284, foi regulamentada a transferência de competência do governo federal aos estados e municípios na área florestal. Esta regulamentou a transferência do licenciamento de planos de manejo florestal do IBAMA para o IPAAM. Atualmente, o IPAAM licencia planos de manejo florestal em áreas inferiores a 50.000 ha, planos em áreas superiores a este limite são licenciados em âmbito federal pelo IBAMA.

O IPAAM trabalha com diversas atividades econômicas, não somente florestal. No âm-bito da atividade florestal, o IPAAM trabalha com manejo e com a regularização das beneficiadoras da madeira, como movelarias e serrarias. A atuação é sobretudo sobre o licenciamento e parte da operacionalização do DOF. A modalidade de manejo flo-restal de pequena escala é incentivada pelo estado do Amazonas, como uma política estadual incorporada desde 2003.

Na RESEX Ituxi, por meio da APADRIT e COOPAGRI, houve a formação de um grupo de manejadores, contando com várias iniciativas de intercâmbio e capacitações, que re-

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sultaram em altos investimentos dos parceiros na iniciativa. As organizações parceiras da iniciativa de manejo florestal comunitário de pequena escala na RESEX incluem o IEB, CPT, CNS, IFAM, SFB, CSF, SEMMA e IDAM.

Na ocasião de elaboração do Plano de Manejo Florestal, ocorreram uma série de falhas técnicas do documento que o IFT se propôs a reparar, elaborando também o Plano Operacional Anual (POA) das atividades incluídas no planejamento geral da UC. Na oportunidade o IFT aguardava um parecer oficial do ICMBIO quanto a situação fundi-ária do local, que deveria ser dado após envio de uma nota técnica pelo gestor da UC.

Apesar da falta de regularização fundiária da unidade, o manejo foi aprovado e efeti-vado em 2015. O Plano de Negócios da cadeia de valor da madeira foi realizado pelo parceiro CSF e junto com o IFT, o IFAM se comprometeu a realizar as capacitações ne-cessárias para a implementação da atividade.

O Projeto de Assentamento Paciá, representado pela Associação Terra Jubilar, tam-bém é importante na cadeia da madeira em Lábrea. Os assentados já realizaram pe-dido de criação da reserva legal (RL) no assentamento para fins de manejo florestal. Tal delimitação havia sido aprovado pelo INCRA, com a única ressalva de que a as-sociação assinasse um “termo de responsabilidade” sobre aquela área. Atualmente o processo encontra-se estagnado, inviabilizado, dentre outros fatores, pela falta de um servidor do INCRA em Lábrea e impasses políticos dentro da associação, devido a mudança de diretoria.

O IFT é um outro ator chave na cadeia de valor da madeira de Lábrea. O apoio do IFT foi importante para a capacitação e assistência técnica do MFC da RESEX Ituxi: temas como abertura de estrada, passos de um plano de manejo, capacitação para o corte etc. foram ministrados aos comunitários da UC. O IFT começou a dar apoio no ano de 2008, logo após a criação da RESEX, e mantém um trabalho de formação e capacita-ção na área florestal até os dias atuais.

4. CAPACITAÇÃO E FORTALECIMENTO ORGANIZACIONAL Em 2007, o já citado GT da Madeira de Lábrea, desdobramento sociopolítico da Ope-ração Arco de Fogo (OAF) e a Operação Arco Verde (OAV) formado por representantes locais ligados à cadeia da madeira de Lábrea, em seu momento de gênese e forma-ção, apresentou uma carta de reivindicações a então Ministra do Meio Ambiente, Ma-

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rina Silva. Esta carta continha como pauta principal os seguintes itens: a adequação da normatização para os PMFCs, a demora na análise e licenciamento dos planos de manejo, a regularização fundiária e trazer à tona as relações injustas entre empresas madeireiras e comunidades. Esta comunicação se somava a um conjunto de outras demandas de diferentes grupos e organizações que se debatem com os problemas e dificuldades do manejo florestal comunitário na Amazônia.

Uma das respostas a esse conjunto de demandas foi a assinatura, pelo então Presi-dente Lula, de um Decreto que instituiu o Programa Federal de Manejo Florestal Co-munitário e Familiar (MFCF). No âmbito desse decreto foram criados os Planos Anuais de MFCF. Em 2010 foi publicado o 1º Plano Anual que traz em seu conteúdo uma linha de ação relacionada aos marcos regulatórios de procedimentos e critérios para o li-cenciamento do manejo florestal em UCs e assentamentos.

Ainda em 2010, em evento sobre o tema, foi feito o primeiro esboço de uma Instrução Normativa (IN) sobre o tema e ao longo de 2011 foi feita uma consulta pública virtual para incluir sugestões de mais pessoas interessadas no MFCF. Em 16 de junho de 2011 foi realizada mais uma oficina ampla com diversos atores envolvidos sobre o tema e, após a análise jurídica do ICMBio, foi publicação a IN nº 16, de 2011, que, portanto, resulta de um processo de mobilização social, participação e interlocução entre so-ciedade civil e Estado.

A IN nº. 16/2011 trouxe como diretrizes e premissas básicas (Artigo 3º): i) o uso flores-tal múltiplo; ii) a diversificação da produção, em que a atividade madeireira é apenas uma atividade dentre tantas outras possíveis dentro de UCs e assentamentos; iii) a capacitação para o manejo florestal; iv) o respeito às formas e modos de vida tradi-cionais; e v) a viabilidade econômica da atividade florestal. Pressupôs ainda requisi-tos prévios e estruturais à atividade florestal (Artigo 4º) como a elaboração de Plano de Manejo ou Plano de Gestão (com zoneamento, objetivos e perfil dos moradores) e a expedição do CCDRU.

Ainda de acordo com a IN, os PMFS devem ser realizados pela comunidade, criando mecanismos para evitar que terceiros os executem. Por esse motivo, existe a possibi-lidade de contratação de terceiros para a execução de algumas atividades específicas, como transporte e aluguel de maquinário, por exemplo. O mote deste princípio foi fazer com que as instituições representativas da UC, como as associações e coope-rativas comunitárias fossem as proponentes do Planos de Manejo Comunitário. Isso, por sua vez, criou a demanda pela capacitação destes atores em tramites técnico--administrativos ligados desde a parte exploratória (inventário, corte, transporte etc.) até a parte burocrática (licenciamento, DOF, comercialização etc.)

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Com os marcos regulatórios da atividade debatidos e criados evidenciou-se a carência, por parte do público beneficiário, de habilidades e informações que os habilitassem à execu-tar os Planos de Manejo Comunitários. A partir de então, por volta de 2008, começam as primeiras experiências formativas no município envolvendo parceiros como IDAM, ICMBio, IFT e IEB no tema do Manejo Florestal Comunitário.

No momento de instituição do GT Madeira em Lábrea o setor passava por uma grave crise econômica e política provocada pelas atividades de fiscalização ambiental do ICMBio na Resex Médio Purus e adjacências. Alguns pequenos serradores de madeira e moveleiros estabelecidos na cidade de Lábrea foram autuados estiveram em vias de abandonar suas atividades. Essa situação levou a uma mobilização de políticos locais e pequenos empre-sários, com manifestações em praça pública e assédio moral junto aos servidores(as) do ICMBio encarregados das fiscalizações. Um clima de tensão foi instaurado levando à eva-cuação temporária de toda e equipe do órgão.

Cerca de dois meses depois do episódio a alta direção do ICMBio retornou a Lábrea junta-mente com os servidores para normalizar a atuação do órgão na região. Um dos compro-missos firmados pelo órgão foi de aprovar, em caráter experimental, o plano de manejo florestal da Resex do Ituxi. A expectativa era de este plano de manejo, uma vez em opera-ção, poderia fornecer madeira legalizada para o mercado local de Lábrea. Desta forma, a aprovação dos Planos de Manejo Florestal assumiram um caráter estratégico, como uma agenda positiva do governo.

O ICMBio, em que pese suas atividades de comando e controle visando diminuir a explo-ração madeireira ilegal, assumiu também um papel de promotor do manejo florestal e provocou uma aproximação com o Serviço Florestal Brasileiro e com o Instituto Floresta Tropical, instituições especializadas no tema e com equipes e recursos para apoiar as ati-vidades na Resex do Ituxi.

Também é neste contexto de conflito e de negociações que as associações dos pequenos moveleiros de Lábrea, APEMOL e ASMADEL, ambas membros do GT Madeira, iniciaram suas tratativas junto ao governo do Estado a fim de licenciar Planos de Manejo Florestal Sus-tentável de Pequena Escala na Gleba Sepatini, numa área do domínio fundiário do governo do Estado.

Portanto, pode-se dizer que todos os Planos de Manejo Florestal Comunitário de Familiar em execução em Lábrea são fruto de um processo de fortalecimento organizacional e ins-titucional da sociedade civil local.

O IEB foi uma instituição chave em todo este processo. Por meio do projeto Fortalecimento Institucional no Sul do Amazonas (FORTIS), a instituição apoiou inúmeras atividades como

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reuniões setoriais, planejamentos participativos, mobilização dos atores, oficinas temáticas e mesas de negociação entre sociedade civil e governos. A própria criação do GT Madeira é resultado dessa abordagem, assim como o envolvimento das associações dos pequenos moveleiros na articulação com o grupo de manejadores da Resex do Ituxi.

A atuação do IDAM se dá sobretudo em relação ao licenciamento e parte da operaciona-lização do DOF. A modalidade de manejo florestal de pequena escala é incentivada pelo estado do Amazonas, como uma política estadual incorporada desde 2003. O IDAM atua em assentamentos do INCRA (como PAF, PAE, PA), pequenas propriedades, indústrias madeirei-ras de desdobro secundário de micro e pequeno porte, como as movelarias.

É papel do IDAM a elaboração, acompanhamento e execução dos PMFS, licenciamento e orientação técnica para indústrias de beneficiamento e de desdobro e elaboração de re-latórios da cubagem para madeira pescada e PMFCS O IDAM disponibiliza os técnicos para realização de inventários florestais, reuniões e elaboração dos PMFS.

O detentor do plano de manejo tem que pagar os custos de viagens, taxas do IPAAM e ou-tras, e fornecer toda documentação da área. Em relação ao DOF, o licenciamento é execu-tado pelo IPAAM, os procedimentos de exploração são acompanhados pelo IDAM e pelo proponente e a emissão é de responsabilidade exclusiva do proponente do manejo

O IDAM possui atuação restrita em relação às categorias de plano de manejo florestal no Estado do Amazonas. Por trabalharem exclusivamente com planos de menor impacto, não possuem incidência junto às atividades dos planos de maior impacto que ocorrem no sul do município. Até 2014, o IDAM acompanhava quatro PMFS aprovados no Rio Sepatini e um no Rio Mamuriá.

Tabela 03 - Atribuições do IDAM e do proponente ou beneficiário da assistência técnica na atividade madeireira para pequenos produtores no Amazonas (Fonte: IDAM, 2014 apud ANDRADE, 2014)

A atuação do IDAM se dá sobretudo em relação ao licenciamento e parte da operacionalização do DOF. A modalidade de manejo florestal de pequena escala é incentivada pelo estado do Amazonas, como uma política estadual incorporada desde 2003. O IDAM atua em assentamentos do INCRA (como PAF, PAE, PA), pequenas propriedades, indústrias madeireiras de desdobro secundário de micro e pequeno porte, como as movelarias. É papel do IDAM a elaboração, acompanhamento e execução dos PMFS, licenciamento e orientação técnica para indústrias de beneficiamento e de desdobro e elaboração de relatórios da cubagem para madeira pescada e PMFCS O IDAM disponibiliza os técnicos para realização de inventários florestais, reuniões e elaboração dos PMFS. O detentor do plano de manejo tem que pagar os custos de viagens, taxas do IPAAM e outras, e fornecer toda documentação da área. Em relação ao DOF, o licenciamento é executado pelo IPAAM, os procedimentos de exploração são acompanhados pelo IDAM e pelo proponente e a emissão é de responsabilidade exclusiva do proponente do manejo O IDAM possui atuação restrita em relação às categorias de plano de manejo florestal no Estado do Amazonas. Por trabalharem exclusivamente com planos de menor impacto, não possuem incidência junto às atividades dos planos de maior impacto que ocorrem no sul do município. Até 2014, o IDAM acompanhava quatro PMFS aprovados no Rio Sepatini e um no Rio Mamuriá.

Tabela 03 - Atribuições do IDAM e do proponente ou beneficiário da assistência técnica na atividade madeireira para pequenos produtores no Amazonas (Fonte: IDAM, 2014 apud ANDRADE, 2014) De 2003 à 2013, foram elaborados 1289 planos de manejo florestal pelos órgãos oficiais do Estado, que prestam assistência técnica aos pequenos produtores de madeira, desde a extinta AFLORAM (2003 a 2007) até o atual IDAM (2007 a 2013), conforme atesta a Figura 06 abaixo

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Figura 06 – Número de PMFPE elaborados pelo IDAM no período de 2003 a 2013 (Fonte: IDAM, 2014 apud ANDRADE, 2014) A Resex Ituxi é um dos territórios abrangidos pelo projeto desenvolvido pelo Instituto Floresta Tropical, que atua na Amazônia há mais de 20 anos com treinamento e capacitação para o manejo florestal. A relação entre as comunidades da região e o Instituto foi estabelecida em 2012, quando o IFT foi contratado pelo Banco Mundial, em um projeto conduzido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Serviço Florestal Brasileiro (SFB) para conduzir algumas capacitações preliminares (técnicas pré-exploratórias do manejo florestal) e para avaliar o potencial para o manejo florestal em quatro Unidades de Conservação federais da Amazônia. O Empreendimento Angelim, nome dado ao projeto de manejo florestal comunitário, é formado pelos próprios comunitários que fazem a gestão da iniciativa junto à vários parceiros. Os comunitários possuem um grupo organizado, uma cooperativa em formação para comercializar os produtos que trabalhamos, uma associação fortalecida e recursos da Fundação Banco do Brasil, que auxiliou na compra de equipamentos para ajudar diversas atividades do manejo florestal sustentável. Os produtos da RESEXs Ituxi serão comercializados via Cooperativa Agroextrativista do Ituxi (COOPAGRI). A assembleia de criação da COOPAGRI foi realizada no dia 12 de dezembro de 2015 na comunidade Vila Vitória e contou com a participação de mais de 50 moradores interessados em compor a cooperativa. A chapa eleita por aclamação tem como presidente a jovem professora Gilmara Pereira do Nascimento, 22 anos. A COOPAGRI nasceu a partir das necessidades dos moradores de terem uma entidade jurídica capaz de comercializar os produtos da floresta 5) Acesso à informações e aos mercados externos A madeira explorada em grande escala, sobretudo de maneira ilegal no sul do município de Lábrea, tem como principais mercados Rondônia e Acre (madeira em tora e beneficiada em pranchas) e sul e sudeste do Brasil (madeira beneficiada em pranchas).

De 2003 à 2013, foram elaborados 1289 planos de manejo florestal pelos órgãos ofi-ciais do Estado, que prestam assistência técnica aos pequenos produtores de madei-ra, desde a extinta AFLORAM (2003 a 2007) até o atual IDAM (2007 a 2013), conforme atesta a Figura 06 abaixo.

Figura 06 – Número de PMFPE elaborados pelo IDAM no período de 2003 a 2013 (Fonte: IDAM, 2014 apud ANDRADE, 2014)

A Resex Ituxi é um dos territórios abrangidos pelo projeto desenvolvido pelo Instituto Floresta Tropical, que atua na Amazônia há mais de 20 anos com treinamento e ca-pacitação para o manejo florestal. A relação entre as comunidades da região e o Ins-tituto foi estabelecida em 2012, quando o IFT foi contratado pelo Banco Mundial, em um projeto conduzido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Serviço Florestal Brasileiro (SFB) para conduzir algumas capacitações pre-liminares (técnicas pré-exploratórias do manejo florestal) e para avaliar o potencial para o manejo florestal em quatro Unidades de Conservação federais da Amazônia.

O Empreendimento Angelim, nome dado ao projeto de manejo florestal comunitário, é formado pelos próprios comunitários que fazem a gestão da iniciativa junto à vários parceiros. Os comunitários possuem um grupo organizado, uma cooperativa em for-mação para comercializar os produtos que trabalhamos, uma associação fortalecida e recursos da Fundação Banco do Brasil, que auxiliou na compra de equipamentos para ajudar diversas atividades do manejo florestal sustentável.

Os produtos da RESEXs Ituxi serão comercializados via Cooperativa Agroextrativista do Ituxi (COOPAGRI). A assembleia de criação da COOPAGRI foi realizada no dia 12 de dezembro de 2015 na comunidade Vila Vitória e contou com a participação de mais de 50 moradores interessados em compor a cooperativa. A chapa eleita por aclamação tem como presidente a jovem professora Gilmara Pereira do Nascimento, 22 anos. A COOPAGRI nasceu a partir das necessidades dos moradores de terem uma entidade jurídica capaz de comercializar os produtos da floresta.

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O contexto da sede difere do sul do município como já dito anteriormente: aqui o mercado local é quem absorve a produção (mesas, portas, carteiras escolares, caixilho etc.). Em 2013, estes empreendimentos da sede do município (movelarias e serrarias) comercializaram um valor total de R$2,9 milhões, sendo a produção de portas o principal produto. Enquanto as movelarias tiveram como principais consumidores os distribuidores em Lábrea, as serrarias tiveram os distribuidores em Manaus como principais compradores. Os gráficos abaixo traçam um perfil do público consumidor da madeira processada de Lábrea, representando o elo entre o beneficiamento e a comercialização, tanto para o setor moveleiro (Figura 07), quanto para o setor das serrarias (Figura 08).

Figura 07 - Perfil do público consumidor da madeira processada de Lábrea pelo setor moveleiro

Figura 08 - Perfil do público consumidor da madeira processada de Lábrea pelo setor das serrarias

Em 2013, as compras públicas tiveram importante contribuição na receita de movelarias de Lábrea. De acordo com informações fornecidas pela Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas – ADS, a comercialização por meio do PROMOVE (Programa de Regionalização de Móveis Escolares), em 2013, gerou receita de R$ 215,5 mil, o que corresponde a 31% do valor total comercializado naquele ano. A Tabela 04 demonstra a comercialização realizada pelo PROMOVE em 2013.

20%

10%

0,4%70%

Consumidor Lábrea

Distribuidor emManaus

Loja própria em Lábrea

Distribuidor Lábrea

24%

75%

0,1% 1%

Consumidor Lábrea

Distribuidor em Manaus

Outros estados

Distribuidor Lábrea

5. ACESSO À INFORMAÇÕESE AOS MERCADOS EXTERNOS

A madeira explorada em grande escala, sobretudo de maneira ilegal no sul do mu-nicípio de Lábrea, tem como principais mercados Rondônia e Acre (madeira em tora e beneficiada em pranchas) e sul e sudeste do Brasil (madeira beneficiada em pran-chas). O contexto da sede difere do sul do município como já dito anteriormente: aqui o mercado local é quem absorve a produção (mesas, portas, carteiras escolares, caixilho etc.).

Em 2013, estes empreendimentos da sede do município (movelarias e serrarias) co-mercializaram um valor total de R$2,9 milhões, sendo a produção de portas o principal produto. Enquanto as movelarias tiveram como principais consumidores os distribui-dores em Lábrea, as serrarias tiveram os distribuidores em Manaus como principais compradores. Os gráficos abaixo traçam um perfil do público consumidor da madeira processada de Lábrea, representando o elo entre o beneficiamento e a comercialização, tanto para o setor moveleiro (Figura 07), quanto para o setor das serrarias (Figura 08).

Figura 07 - Perfil do público consumidor da madeira processada de Lábrea pelo setor moveleiro.

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Tabela 04 – Comercialização Realizada pela PROMOVE em Lábrea em 2013 (Fonte: Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas – ADS, 2014)

Importantes instrumentos para a promoção do uso múltiplo das florestas são os me-canismos de financiamento e custeio de atividades produtivas e de manejo. Existem inúmeras linhas de crédito que podem atender cooperativas, comunidades, empre-sas, agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais, fomentando atividades como o manejo florestal, a recuperação da vegetação nativa em áreas de preservação permanente (APP) e reserva legal (RL), o plantio de essências nativas e de sistemas agroflorestais, silvipastoris, o plantio de florestas, o beneficiamento de produtos flo-restais, assim como a comercialização e o capital de giro

Para detalhes sobre tais políticas públicas, como público beneficiário, finalidades, limite de valores, taxas de juros, prazos de reembolso e carência, garantias estipuladas e os agentes financeiros que as operam acessar o “Guia de Financiamento Florestal 2016” (SFB, 2016) no seguinte link: <http://www.florestal.gov.br/documentos/publicacoes/tecnico-cientifico/1799-guia-de-financiamento-florestal-2016/file>:

Tabela 04 – Comercialização Realizada pela PROMOVE em Lábrea em 2013 (Fonte: Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas – ADS, 2014) Importantes instrumentos para a promoção do uso múltiplo das florestas são os mecanismos de financiamento e custeio de atividades produtivas e de manejo. Existem inúmeras linhas de crédito que podem atender cooperativas, comunidades, empresas, agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais, fomentando atividades como o manejo florestal, a recuperação da vegetação nativa em áreas de preservação permanente (APP) e reserva legal (RL), o plantio de essências nativas e de sistemas agroflorestais, silvipastoris, o plantio de florestas, o beneficiamento de produtos florestais, assim como a comercialização e o capital de giro (Tabela 05)1.

1 Para detalhes sobre tais políticas públicas, como público beneficiário, finalidades, limite de valores, taxas de juros, prazos de reembolso e carência, garantias estipuladas e os agentes financeiros que as operam acessar o “Guia de Financiamento Florestal 2016” (SFB, 2016) no seguinte link: <http://www.florestal.gov.br/documentos/publicacoes/tecnico-cientifico/1799-guia-de-financiamento-florestal-2016/file>:

Em 2013, as compras públicas tiveram importante contribuição na receita de movelarias de Lábrea. De acordo com informações fornecidas pela Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas – ADS, a comercialização por meio do PROMOVE (Programa de Regionalização de Móveis Escolares), em 2013, gerou receita de R$ 215,5 mil, o que corresponde a 31% do valor total comercializado naquele ano. A Tabela 04 demonstra a comercialização realizada pelo PROMOVE em 2013.

O contexto da sede difere do sul do município como já dito anteriormente: aqui o mercado local é quem absorve a produção (mesas, portas, carteiras escolares, caixilho etc.). Em 2013, estes empreendimentos da sede do município (movelarias e serrarias) comercializaram um valor total de R$2,9 milhões, sendo a produção de portas o principal produto. Enquanto as movelarias tiveram como principais consumidores os distribuidores em Lábrea, as serrarias tiveram os distribuidores em Manaus como principais compradores. Os gráficos abaixo traçam um perfil do público consumidor da madeira processada de Lábrea, representando o elo entre o beneficiamento e a comercialização, tanto para o setor moveleiro (Figura 07), quanto para o setor das serrarias (Figura 08).

Figura 07 - Perfil do público consumidor da madeira processada de Lábrea pelo setor moveleiro

Figura 08 - Perfil do público consumidor da madeira processada de Lábrea pelo setor das serrarias

Em 2013, as compras públicas tiveram importante contribuição na receita de movelarias de Lábrea. De acordo com informações fornecidas pela Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas – ADS, a comercialização por meio do PROMOVE (Programa de Regionalização de Móveis Escolares), em 2013, gerou receita de R$ 215,5 mil, o que corresponde a 31% do valor total comercializado naquele ano. A Tabela 04 demonstra a comercialização realizada pelo PROMOVE em 2013.

20%

10%

0,4%70%

Consumidor Lábrea

Distribuidor emManaus

Loja própria em Lábrea

Distribuidor Lábrea

24%

75%

0,1% 1%

Consumidor Lábrea

Distribuidor em Manaus

Outros estados

Distribuidor LábreaFigura 08 - Perfil do público consumidor da madeira processada de Lábrea pelo setor das serrarias.

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6. INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICAÉ possível obter os equipamentos e insumos necessários para a atividade de proces-samento da madeira em Lábrea. No entanto, os preços desses insumos são superiores ao encontrado em capitais como Manaus, Porto Velho e Rio Branco. Apesar do preço superior ao destas capitais, os suprimentos para máquinas como facas, lâminas, ro-lamentos e outros são adquiridos em Lábrea devido à facilidade de compra.

Durante o período de chuvas, o transporte torna os produtos de cidades como Porto Velho e Rio Branco muito caros. Dessa forma, o preço do transporte e o tempo de en-trega faz com que os materiais em Lábrea se tornem mais atraentes, o que aumenta a preferência por suprimentos na cidade.

A RESEX Ituxi aprovou o projeto Ecofortes em 2015, acessando infraestrutura somente para a cadeia da madeira. Nenhum outro recurso entrou via associação para outras cadeias como a da castanha e pirarucu. O projeto viabilizou investimentos em balsa, trator, 11 motosserras, freezer, fogão, computadores, GPS e EPI (Equipamentos de Pro-teção Individual). O total acessado foi de R$ 450.000.

A COOPAGRI também pleiteou para 2016 empréstimo de R$ 150.000 na AFEAM para ca-pital de giro e assim pagar os serradores antes da venda da madeira. Até o momento da escrita desta Nota o resultado deste pleito não havia ainda sido publicado.

Tabela 05 – Políticas Públicas e linhas de crédito vigentes para o setor madeireiro, segundo atividades a serem desenvolvidas

6) Infraestrutura e Logística É possível obter os equipamentos e insumos necessários para a atividade de processamento da madeira em Lábrea. No entanto, os preços desses insumos são superiores ao encontrado em capitais como Manaus, Porto Velho e Rio Branco. Apesar do preço superior ao destas capitais, os suprimentos para máquinas como facas, lâminas, rolamentos e outros são adquiridos em Lábrea devido à facilidade de compra. Durante o período de chuvas, o transporte torna os produtos de cidades como Porto Velho e Rio Branco muito caros. Dessa forma, o preço do transporte e o tempo de entrega faz com que os materiais em Lábrea se tornem mais atraentes, o que aumenta a preferência por suprimentos na cidade.

Tabela 05 – Equipamentos dos Empreendimentos Beneficiadores e Suas Origens

A RESEX Ituxi aprovou o projeto Ecofortes em 2015, acessando infraestrutura somente para a cadeia da madeira. Nenhum outro recurso entrou via associação para outras cadeias como a da castanha e pirarucu. O projeto viabilizou investimentos em balsa, trator, 11 motosserras, freezer, fogão, computadores, GPS e EPI (Equipamentos de Proteção Individual). O total acessado foi de R$ 450.000. A COOPAGRI também pleiteou para 2016 empréstimo de R$ 150.000 na AFEAM para capital de giro e assim pagar os serradores antes da venda da madeira. Até o momento da escrita desta Nota o resultado deste pleito não havia ainda sido publicado. 7) Considerações finais O manejo florestal em Lábrea, desconsiderando o contexto de ilegalidade de empreendimentos de grande escala do sul do município, inicia-se em meados dos anos 2000, com experiências privadas de exploração onde atualmente encontram-se os limites da RESEX Ituxi. Com a criação da RESEX no ano de 2008, estas iniciativas particulares ficam estagnadas em virtude das condicionantes preservacionistas

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O manejo florestal em Lábrea, desconsiderando o contexto de ilegalidade de empreen-dimentos de grande escala do sul do município, inicia-se em meados dos anos 2000, com experiências privadas de exploração onde atualmente encontram-se os limites da RESEX Ituxi. Com a criação da RESEX no ano de 2008, estas iniciativas particulares ficam estagnadas em virtude das condicionantes preservacionistas atreladas à pró-pria missão desta modalidade de UC. Somente em 2014 os PMFSs Comunitários co-meçam a ser executados na região do rio Sepatini e do PA Paciá. O desencadeamento destas iniciativas de legalização da atividade madeireira de âmbito comunitário - ou de pequena escala - gerou a discussão em nível municipal para a criação de um Polo Moveleiro, que mesmo tendo um início alentador, acabou não prosseguindo de ma-neira profícua. No momento, os quatro Planos de Manejo na região do Sepatini se-guem sendo executados e a RESEX Ituxi parte para o segundo ano de manejo florestal.

A implementação dos Planos de Manejo alimenta um APL que já existia de maneira informal há vários anos, sendo anteriormente abastecido por madeira explorada ile-galmente em pequenos e médios volumes.

Ao se fazer um balanço da atividade madeireira de âmbito comunitário no município de Lábrea verifica-se que os principais desafios mencionados pelos manejadores/ extratores para a cadeia madeireira sustentável (IEB, 2014) foram os problemas re-lacionados à ilegalidade da atividade (54% dos entrevistados) e ao transporte (35%). Problemas que parecem estar distantes de uma resolução, pois 65% dos entrevistados informaram não ter apoio de nenhum órgão.

Políticas e ações de apoio, como assistência técnica do IDAM são ofertadas mais co-mumente para os detentores de serrarias e movelarias. No entanto, concordaram que falta organização dos extratores para reivindicar maior apoio. Para os outros 35% há apoio de instituições como Prefeitura, ICMBio e IDAM, além do apoio de vereadores. Nota-se ainda que algumas atividades são facilmente executadas pelos próprios ma-nejadores, como o inventário florestal. Outras são extremamente dependentes de atores externos, como emissão do DOF e da nota fiscal.

Ainda é apontado pelos manejadores/ extratores como pauta de debate e reinvindica-ção ações para a organização social deste grupo, mecanismos de aproveitamento de madeira caída, criação efetiva do polo moveleiro, a competição com móveis de MDF, maior apoio do governo municipal para a destinação de resíduos e melhores arranjos interinstitucionais de órgãos do governo – IPAAM, SEFAZ e IDAM.

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A aprovação e implementação dos Planos de Manejo Florestais constitui um desafio. Em 2014, foram licenciados quatro Planos de Manejo Florestal de Pequena Escala para as organizações que representam os beneficiadores, entretanto, o volume ofertado por estes planos de manejo foram insuficientes para abastecer o município. O total de madeira ofertado por estes Planos de Manejo representam cerca de 8% do volume consumido anualmente pelos beneficiadores de Lábrea.

Outro ponto importante é a questão logística. A situação das estradas é precária e eleva o custo do transporte, assim como a madeira levada por rios está em áreas distantes e possui alto custo de transporte. As áreas de manejo, da mesma forma, também es-tão longe e são de difícil acesso, principalmente em períodos de chuva.

Como estratégias de melhorias para a cadeia foram analisadas medidas como: i) apro-veitamento de madeira caída; ii) criação do polo moveleiro que há anos é discutida pelo governo municipal; iii) maior apoio do governo municipal para a destinação de resíduos do beneficiamento; iv) políticas de valorização e de apoio ao licenciamento e comercialização da madeira manejada; v) melhorias na infraestrutura da cadeia; vi) aprimoramento do PROMOVE - Programa de Regionalização do Mobiliário Escolar, que é incentivado pela Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (o mercado institucional, como o PROMOVE e o programa “Minha Casa, Minha Vida” foram impor-tantes para o estabelecimento de mercado).

Na região da sede de Lábrea a intensificação de ações para se ofertar madeira legal aos empreendimentos, assim como melhorias no transporte pela estrada são os pon-tos principais para o fortalecimento e regularização da atividade.

Outro ponto fundamental a ser trabalhado é a organização dos atores, sendo ne-cessário maior apoio às organizações dos beneficiadores para que possam gerir os Planos de Manejo Florestal que detém. Além de apoio aos extratores para que esses possam se organizar e buscar alternativas para regularização de sua atividade, tanto trabalhando nos PMFSs dos beneficiadores, quanto buscando opções para comercia-lizarem madeira própria, pescada e de PMFSs.

A integração das duas cadeias, a do sul e a da sede de Lábrea, com oferta de madei-ra licenciada do sul para empreendimentos da sede, assim como, emprego de mão de obra da sede nos empreendimentos do sul, são ações que vem sendo discutidas pela prefeitura local, mas que carecem de pragmatismo e enfrentamento político. A concorrência econômica é desleal entre a madeira legal versus a ilegal. A ausência de um escritório da Secretaria de Estado de Fazendo (SEFAZ) destaca-se como importante entrave à cadeia da madeira, tanto na sede, quanto no sul do município.

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A regularização fundiária configura-se como uma das questões de maior complexida-de para a cadeia da madeira. Terras anteriormente vinculadas ao ciclo econômico da borracha, com o passar dos anos, foram repassadas para diferentes donos, fazendo com que os atuais “proprietários”, que aspiram o manejo florestal, precisem compro-var a cadeia dominial da área, atestando a sucessão fidedigna de compras e vendas.

A questão que se impõe é que muitos proprietários não possuem a cadeia dominial. São raros os casos em que o atual proprietário consegue comprovara sua dominia-lidade sobre a área reivindicada. Durante muito tempo a União não tinha recursos para indenizar a desapropriação de imóveis dentro das UCs. Atualmente, o Governo Federal tem trabalhado com um mecanismo de venda de passivos ambientais por proprietários que precisam fazer a compensação ambiental de suas propriedades, num mecanismo contemplado pelo novo código florestal chamado de Cotas de Re-serva Ambiental (CRA).

Assim, para o manejo florestal em UCs, a recomendação é locar os PMFS em áreas que não são de particulares ou que não estejam em litigio, optando por glebas já arrecadas pela União, evitando transtornos no momento da emissão da licença para o manejo.

Para uma análise mais abrangente relacionada aos entraves e obstáculos vinculados à cadeia da madeira, bem como suas potencialidades e virtudes, podemos conside-rar os resultados dos estudos de Andrade (2014), que analisou os planos de manejo florestal de pequena escala nas unidades de conservação do estado do Amazonas. Já Medina (2011) apresentou uma avaliação financeira de oito iniciativas de manejo florestal comunitário na Amazônia.

Segundo MEDINA (2011), são necessários altos investimentos na capacitação dos pro-dutores para manejarem suas florestas, de acordo com o marco legal e os modelos técnicos propostos. Em geral, quanto maior a complexidade do arranjo produtivo (maior número de etapas como beneficiamento, busca de mercados externos etc.) maiores são os custos com capacitação. Também, a aquisição dos equipamentos e máquinas para as operações do campo, em particular para o transporte e o beneficiamento da produção, representa custos significativos. No total, os investimentos iniciais variaram de R$ 40 mil a R$ 1,6 milhão.

A produtividade relativamente baixa nas iniciativas estudadas por Medina (2011), re-sultam das próprias características do modo de produção familiar, incluindo: o inte-resse em maximizar a remuneração da mão de obra e não o lucro, a valorização do tempo livre (folga, intervalos) e a importância de outras atividades produtivas (como agricultura). Também, as pressões externas são menores que nas empresas. As inicia-

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tivas operaram a partir de estruturas mais horizontais e tiveram seus custeios iniciais (incluindo a compra de máquinas e investimentos iniciais) pagos pelo ProManejo.

Nas iniciativas em menor escala, destacaram-se os custos de acompanhamento téc-nico e custos administrativos. Segundo Medina, nas Oficinas Caboclas, por exemplo, os principais custos foram com a manutenção da cooperativa criada para vender a produção para mercados externos. Na iniciativa de exploração de madeira em tora em Mamirauá, o acompanhamento técnico representa o maior custo. Nas iniciativas de serragem com motosserra e serraria portátil, os custos das máquinas foram os mais significativos.

Nestas iniciativas, os custos com impostos incidindo sobre o valor de venda da madeira processada também foram relevantes. Nas iniciativas em maior escala, destacaram-se os custos com as máquinas na construção de infraestrutura, arraste e carregamento. Nas iniciativas que beneficiaram a madeira, além dos custos com as máquinas, des-tacaram-se os custos com administração, para conseguir vender a madeira serrada para mercados externos, como é o caso da COOPAGRI da RESEX Ituxi.

Licenciar planos de manejo florestal para pequenos produtores nas unidades de con-servação do Estado do Amazonas ainda é mais difícil do que fora delas. Os espaços de discussão e diálogo entre os atores envolvidos com a atividade são de fundamental importância para o sucesso da mesma (ANDRADE, 2014).

Pode-se inferir que o período de 2008 a 2013 ocorreram os primeiros e principais avanços, em termos de marco legal, no que concerne ao licenciamento ambiental e o processo de regularização fundiária para atividades de PMFSPE, em UCs de uso sus-tentável, principalmente em RDS e RESEX, no Estado do Amazonas. Anterior a esse pe-ríodo, não foi identificado instrumentos normativos para disciplinar o licenciamento de PMFSPE em UCs de uso sustentável do Amazonas.

De forma geral, os rendimentos são modestos e os riscos são relativamente altos. Apenas aquelas em maior escala e com menor verticalização do arranjo produtivo conseguiram remunerar a mão de obra e ainda gerar receita líquida. Outras iniciati-vas conseguiram ter um resultado financeiramente positivo se não são consideradas as diárias pagas, indicando que podem remunerar a mão de obra abaixo dos valores atualmente pagos. Porém, outras iniciativas nem conseguiram cobrir os custos ope-racionais sem subsídios externos, mesmo considerando que vendem para mercados que pagam preços superiores ao mercado local.

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O estudo de Andrade (2014) mostrou a necessidade de investimentos contínuos para assegurar a manutenção das iniciativas. Naquelas de menor escala, o capital de giro anual necessário variou de R$ 7,5 mil até R$ 50 mil. Nas iniciativas em maior esca-la, o capital de giro variou de R$ 220 mil até R$ 940 mil. A necessidade de capital de giro demanda a capacidade gerencial de assegurar recursos para financiar a próxima safra e rendimentos suficientes na safra anterior para gerar o capital de giro para a próxima safra. Como parte significativa das iniciativas ainda prescinde da capacidade gerencial necessária para garantir a manutenção do capital de giro, é previsível certa dificuldade para conquistarem autonomia financeira. As iniciativas avaliadas estão atualmente enfrentando este desafio com o fim do apoio do ProManejo.

Os modelos de negócio dos projetos de manejo comunitário, em geral, têm rentabi-lidade financeira limitada, exigem altos investimentos na implementação e tendem a demandar subsídios constantes. Porém, na avaliação, é indispensável distinguir entre iniciativas em menores e maiores escalas. Em iniciativas em menor escala, o uso efi-ciente da madeira representa uma oportunidade importante para produtores familiares terem um complemento de renda. Porém, os modelos adotados implicaram em custos relativamente altos com o acompanhamento técnico e a administração de estruturas verticalizadas. Para viabilizar estas iniciativas, as práticas de manejo e os arranjos produtivos precisam ser adaptados às necessidades e capacidades dos produtores.

Algumas práticas inspiradas no manejo empresarial são facilmente substituíveis por práticas mais simples e com menor dependência de tecnologia e acompanhamento externo. A verticalização e a certificação devem ser adotadas somente quando signi-ficarem benefícios reais. Também há situações em que o manejo florestal é simples-mente uma atividade dispensável para o produtor familiar, que tem outras priorida-des. Diferente da exploração por empresas, o manejo por produtores familiares tem a característica de uma maior distribuição da renda gerada entre os associados. Adi-cionalmente, o regime de trabalho mais flexível é mais compatível com as tradições dos comunitários.

Entretanto, estabelecer iniciativas em maior escala implica etapas fundamentais, como a criação de uma representação legal para administrar a iniciativa; a contratação de uma equipe de apoio para atividades específicas, como administração financeira e acompanhamento técnico; a capacitação dos manejadores; e a possível terceirização do arraste e transporte que demandam grandes inversões em maquinários (MEDINA, 2011).

Isso implica investimentos inicias consideráveis, que demandam linhas de créditos específicas e apoio governamental. O estabelecimento destes arranjos produtivos

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demanda que o Estado privilegie e apoie o manejo florestal feito pelos próprios pro-dutores, por exemplo, por meio de apoio na concessão de florestas públicas, oferta de créditos e redução dos impostos. Considerando a competição potencial com uma empresa manejando florestas públicas, a sociedade tem que fazer uma escolha: re-ceber as taxas das concessões feitas a empresas ou contribuir diretamente para o desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais (PLS) apoiando iniciativas de produ-tores familiares, individualmente ou em grupos.

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8. REFERÊNCIAS

AMARAL, P; AMARAL, M. Manejo Florestal Comunitário: Processos e Aprendizagem na Amazônia Brasileira e na América Latina. Belém: IEB & IMAZON, 2005. 84p.

ANDRADE, R. S. de. Planos de Manejo Florestal em Pequena Escala nas Unidades de Conservação do Amazonas: Situação Atual e Perspectivas. 2014. 90 f. Dissertação. Ins-tituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Manaus, junho de 2014.

AZEVEDO-RAMOS, Claudia; ZWEEDE, Michelle; COUTO, Suelene, PACHECO, Leonardo; DA MATA, João. Desafios e oportunidades da produção florestal em Unidades de Conserva-ção. Anais do Seminário Internacional América Latina: Política e Conflitos contemporâ-neos - SIALAT. Castro, E.M.R., Alves, S.R., Correa, S.A., Carmo, E.D. (Org.). 9 a 11 novembro de 2015. Universidade Federal do Pará, Belém, Pará, Brasil. Pag. 748-763.

BRASIL. Portaria MMA no 28, de 24 de janeiro de 2008. Dispõe sobre os municípios si-tuados no Bioma Amazônia onde incidirão ações prioritárias de prevenção, monito-ramento e controle do desmatamento ilegal. Diário Oficial da União; 25 de janeiro de 2008, Seção 1, pág. 70

CNI. Confederação Nacional das Indústrias. Perfil da Indústria. Brasília, 2014.

IDESAM. Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas. Diag-nóstico das Cadeias Produtivas Florestais - Análise dos Municípios: Apuí, Boa Vista do Ramos, Itacoatiara, Maués e São Sebastião do Uatumã. Manaus, 2013.

IEB. Diagnóstico da cadeia produtiva da madeira no município de Lábrea-AM - Brasí-lia: IEB, 2014. 70p.INPE – Instituto nacional de Pesquisas Espaciais: PRODES Project. 2014 – Sattelite Mo-nitoring Amazon Forest. Disponível em: www.obt.inpe.br/prodes/. Acesso em: 12 de dezembro de 2014.

MEDINA, G.; POKORNY, B. Avaliação Financeira do Manejo Florestal Comunitário. Novos Cadernos NAEA, v. 14, n. 2, p. 25-36, dez. 2011.

SBF. Serviço Florestal Brasileiro. Florestas do Brasil: em Resumo. Brasília, Ministério do Meio Ambiente, 2013. Disponível em <http://www.florestal.gov.br/snif/images/Publi-cacoes/florestas_do_brasil_em_resumo_2013_atualizado.pdf>. Acesso em 20/12/2016

SBF. Serviço Florestal Brasileiro. Guia de Financiamento Florestal: 2016 / Serviço Flo-restal Brasileiro, Ministério do Meio Ambiente. Brasília: MMA, 2016

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