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XI JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2011 – UFRPE: Recife, 17 a 21 de outubro. MANIPUEIRA: UMA ALTERNATIVA PARA O PEQUENO PRODUTOR DO AGRESTE PERNAMBUCANO Andresa Cristina de Souza 1 , Daniel Barros Cardoso 2 , Robson Magno Liberal Véras 3 , Nadja Nara Gomes de Morais 4 , Paulo Márcio Barbosa de Arruda Leite 5 , Flávio Henrique do Nascimento 6 , Gustavo Araújo de Vasconcelos 7 ________________ 1. Primeiro Autor é Professor Adjunto do Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 9500, prédio 43423, sala 209, Porto Alegre, RS, CEP 91501-970. E-mail: autor@instituição.br 2. Segundo Autor é Professor Adjunto do Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 9500, prédio 43423, sala 209, Porto Alegre, RS, CEP 91501-970. 3. Terceiro Autor é Professor Adjunto do Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 9500, prédio 43423, sala 209, Porto Alegre, RS, CEP 91501-970. Apoio financeiro: CAPES e CNPq. Introdução A manipueira, vocábulo indígena incorporado à língua portuguesa, é o líquido de aspecto leitoso e cor amarelo que escorre das raízes carnosas da mandioca (Manihot esculenta Crantz) (Fig.1), por ocasião da prensagem das mesmas para obtenção da fécula ou farinha de mandioca, Ponte [1]. As casas de farinha compreendem a base da economia de muitas regiões do Brasil, mas também são responsáveis por boa parte da poluição produzida. O despejo da Manipueira nos rios e açudes polui as águas, causando intoxicação nas pessoas, além da morte dos peixes e de outros animais, SEBRAE [2]. Ao mesmo tempo em que a manipueira é um potente agente poluidor, ela é também uma oportunidade devido ao seu potencial de multiaproveitamento. Esse subproduto líquido da mandioca, disponível gratuitamente em agroindústrias de processamento de mandioca, e abundantemente desperdiçado, pode tornar-se importante insumo para a agricultura (adubo de solo e foliar, inseticida e fungicida natural) e para a pecuária (alimentação animal) (Fig.2), contribuindo para a geração de emprego e renda, assim como para o fortalecimento da sustentabilidade da agricultura familiar, Almeida et al. [3]. O Agreste de Pernambuco é a região intermediária entre a Zona da Mata e o Sertão. É caracterizada por uma economia diversificada, com o cultivo de lavouras como milho, feijão e mandioca, além da pecuária de leite e de corte. Tendo em vista o alto custo da criação animal existente na região, sempre se busca alternativas mais econômicas e bastante viáveis para minimizar essa situação. Ações de extensão e pesquisa na área de produção animal no Agreste Pernambucano devem ser direcionadas aos problemas enfrentados pelos produtores, notadamente aqueles de base familiar. Para isto é importante conhecer a realidade na qual o produtor está inserido e, a partir da identificação dos pontos cruciais, dos recursos subutilizados e das inter-relações que podem ser melhoradas, elaborar diagnósticos que possam nortear tais ações e estratégias. Assim, está atividade teve como proposta divulgar para os pequenos produtores do Agreste Pernambucano a eficiência da utilização da manipueira na alimentação animal, orientar quanto ao potencial poluidor da mesma e também sua característica de multiaproveitamento. Material e métodos As ações foram realizadas no município de Glória do Goitá, cidade localizada a 62,1 km da capital pernambucana. As ações foram realizadas por profissionais e estudantes da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, e contou com a colaboração da Secretaria de Agricultura do município e integrantes das casas de farinha da zona rural. A divulgação e mobilização do público interessado em participar das atividades foram realizadas por meio de parcerias e colaboradores da localidade. Para obtenção das informações que permitiram traçar o perfil técnico e social dos participantes, foram realizadas entrevistas estruturadas que constavam de perguntas referentes à propriedade, ao tempo de atividade dos envolvidos na exploração, tipo da exploração, conhecimento sobre a manipueira e sua utilização. A partir das informações montou-se um banco de dados que permitiu identificar, por intermédio de análise de freqüência, e planejar as estratégias para realização das atividades. No período de realização do projeto, foram realizadas atividades essências a divulgação da utilização da manipueira na alimentação animal. As atividades envolveram os agricultores e criadores da região. Foram realizadas palestras (Fig.3) e oficina (Fig.4). Nas palestras foram utilizados recursos audiovisuais, e os temas abordados foram: Apresentação do projeto e da equipe, apresentação da manipueira, potencial poluidor da manipueira, potencial de multiaproveitamento da manipueira, utilização da manipueira na alimentação animal, cuidados a serem tomados no fornecimento da manipueira, custos de uma ração com a manipueira e resultado da pesquisa realizada no Departamento de Zootecnia da UFRPE que avaliou a inclusão da manipueira na dieta de ovinos em substituição ao milho. Na oficina foi realizada a confecção de uma ração com inclusão da manipueira. Para melhor aproveitamento do conteúdo explanado, foram confeccionados e distribuídos banners e folders que orientavam acerca do uso racional e eficiente da manipueira, às melhores formas de armazenamento, fornecimento e os cuidados que deverão ser tomados com a sua utilização. 1. Aluna de graduação em Medicina Veterinária, Bolsista Extensão/PRAE/UFRPE, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900. E-mail: [email protected] 3. Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-9003. 2,4,6,7. Alunos de graduação em Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900. 5. Aluno do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900.

Andresa Cristina de Souza - MANIPUEIRA- UMA ALTERNATIVA ... · manipueira antes do fornecimento aos animais, mas, porém não sabiam do tempo de descanso de seis dias que é recomendado

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XI JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2011 – UFRPE: Recife, 17 a 21 de outubro.

MANIPUEIRA: UMA ALTERNATIVA PARA O PEQUENO PRODUTOR DO AGRESTE PERNAMBUCANO

Andresa Cristina de Souza1, Daniel Barros Cardoso2, Robson Magno Liberal Véras3, Nadja Nara Gomes de Morais4,

Paulo Márcio Barbosa de Arruda Leite5, Flávio Henrique do Nascimento6, Gustavo Araújo de Vasconcelos7

________________ 1. Primeiro Autor é Professor Adjunto do Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 9500, prédio 43423, sala 209, Porto Alegre, RS, CEP 91501-970. E-mail: autor@instituição.br 2. Segundo Autor é Professor Adjunto do Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 9500, prédio 43423, sala 209, Porto Alegre, RS, CEP 91501-970. 3. Terceiro Autor é Professor Adjunto do Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 9500, prédio 43423, sala 209, Porto Alegre, RS, CEP 91501-970. Apoio financeiro: CAPES e CNPq.

Introdução A manipueira, vocábulo indígena incorporado à língua portuguesa, é o líquido de aspecto leitoso e cor amarelo que escorre das raízes carnosas da mandioca (Manihot esculenta Crantz) (Fig.1), por ocasião da prensagem das mesmas para obtenção da fécula ou farinha de mandioca, Ponte [1]. As casas de farinha compreendem a base da economia de muitas regiões do Brasil, mas também são responsáveis por boa parte da poluição produzida. O despejo da Manipueira nos rios e açudes polui as águas, causando intoxicação nas pessoas, além da morte dos peixes e de outros animais, SEBRAE [2]. Ao mesmo tempo em que a manipueira é um potente agente poluidor, ela é também uma oportunidade devido ao seu potencial de multiaproveitamento. Esse subproduto líquido da mandioca, disponível gratuitamente em agroindústrias de processamento de mandioca, e abundantemente desperdiçado, pode tornar-se importante insumo para a agricultura (adubo de solo e foliar, inseticida e fungicida natural) e para a pecuária (alimentação animal) (Fig.2), contribuindo para a geração de emprego e renda, assim como para o fortalecimento da sustentabilidade da agricultura familiar, Almeida et al. [3]. O Agreste de Pernambuco é a região intermediária entre a Zona da Mata e o Sertão. É caracterizada por uma economia diversificada, com o cultivo de lavouras como milho, feijão e mandioca, além da pecuária de leite e de corte. Tendo em vista o alto custo da criação animal existente na região, sempre se busca alternativas mais econômicas e bastante viáveis para minimizar essa situação. Ações de extensão e pesquisa na área de produção animal no Agreste Pernambucano devem ser direcionadas aos problemas enfrentados pelos produtores, notadamente aqueles de base familiar. Para isto é importante conhecer a realidade na qual o produtor está inserido e, a partir da identificação dos pontos cruciais, dos recursos subutilizados e das inter-relações que podem ser melhoradas, elaborar diagnósticos que possam nortear tais ações e estratégias. Assim, está atividade teve como proposta divulgar para os pequenos produtores do Agreste Pernambucano a eficiência da utilização da manipueira na alimentação animal, orientar quanto ao potencial poluidor da mesma e também sua característica de multiaproveitamento.

Material e métodos As ações foram realizadas no município de Glória do Goitá, cidade localizada a 62,1 km da capital pernambucana. As ações foram realizadas por profissionais e estudantes da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, e contou com a colaboração da Secretaria de Agricultura do município e integrantes das casas de farinha da zona rural.

A divulgação e mobilização do público interessado em participar das atividades foram realizadas por meio de parcerias e colaboradores da localidade. Para obtenção das informações que permitiram traçar o perfil técnico e social dos participantes, foram realizadas entrevistas estruturadas que constavam de perguntas referentes à propriedade, ao tempo de atividade dos envolvidos na exploração, tipo da exploração, conhecimento sobre a manipueira e sua utilização. A partir das informações montou-se um banco de dados que permitiu identificar, por intermédio de análise de freqüência, e planejar as estratégias para realização das atividades. No período de realização do projeto, foram realizadas atividades essências a divulgação da utilização da manipueira na alimentação animal. As atividades envolveram os agricultores e criadores da região. Foram realizadas palestras (Fig.3) e oficina (Fig.4). Nas palestras foram utilizados recursos audiovisuais, e os temas abordados foram: Apresentação do projeto e da equipe, apresentação da manipueira, potencial poluidor da manipueira, potencial de multiaproveitamento da manipueira, utilização da manipueira na alimentação animal, cuidados a serem tomados no fornecimento da manipueira, custos de uma ração com a manipueira e resultado da pesquisa realizada no Departamento de Zootecnia da UFRPE que avaliou a inclusão da manipueira na dieta de ovinos em substituição ao milho. Na oficina foi realizada a confecção de uma ração com inclusão da manipueira. Para melhor aproveitamento do conteúdo explanado, foram confeccionados e distribuídos banners e folders que orientavam acerca do uso racional e eficiente da manipueira, às melhores formas de armazenamento, fornecimento e os cuidados que deverão ser tomados com a sua utilização.

1. Aluna de graduação em Medicina Veterinária, Bolsista Extensão/PRAE/UFRPE, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900. E-mail: [email protected] 3. Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-9003. 2,4,6,7. Alunos de graduação em Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900. 5. Aluno do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900.

XI JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2011 – UFRPE: Recife, 17 a 21 de outubro. Resultados As ações permitiram criar uma alternativa necessária de viabilização das atividades pecuárias. Os produtores rurais demonstraram-se aptos à assimilação dos conhecimentos repassados, bem como a aceitação da utilização da manipueira na alimentação animal. Entre os participantes 64% eram criadores, destes 81% criam bovinos, 14% ovinos e 5% caprinos. Sendo 90% da criação destinada à produção de carne. Dos participantes das ações, 71% já tinham conhecimento da utilização da manipueira na alimentação animal, mas apenas 40% forneciam aos animais, e o fornecimento sendo feito apenas para bovinos, 64% deles já tinham presenciado algum tipo de problema com o animal que havia ingerido manipueira. No fornecimento, 75% forneciam a manipueira na forma de ração completa, misturando ela a outros alimentos, como, milho e feno, e 25% forneciam a manipueira individualmente em baldes. Todos tinham conhecimento da importância do descanso da manipueira antes do fornecimento aos animais, mas, porém não sabiam do tempo de descanso de seis dias que é recomendado pela literatura para que ocorra a volatilização do ácido cianídrico, entre eles, 75% deixavam a manipueira em descanso por apenas três dias. A manipueira, nas ações, foi apresentada como uma alternativa na alimentação animal, além de orientar quanto aos cuidados a serem tomados no armazenamento e no fornecimento da mesma aos animais.

Discussão A falta de informação é o principal motivo que ainda

limita a utilização da manipueira na alimentação animal. Dos participantes presentes nas ações, alguns ainda não eram criadores, mas estavam participando interessados em saber sobre a utilização da manipueira. A importância da divulgação da utilização da manipueira é de extrema importância, já que ela pode ser adicionada na alimentação animal como ingrediente energético de baixo custo, ou ate mesmo gratuito em algumas localidades.

A necessidade promover a melhoria na renda do pequeno produtor rural impõe um maior dinamismo ao setor agropecuário. E dentro desse contexto, a redução dos custos dos sistemas de produção dos rebanhos tem despertado interesse por fontes alternativas para a alimentação animal que substituam os concentrados energéticos tradicionais, conferindo maior economia para o bolso do homem do campo.

Tendo em vista o alto custo de produção existente na busca de uma boa alimentação para os animais, têm-se pensado em alternativas mais econômicas e bastante viáveis para minimizar essa situação. Sendo assim, os

alimentos alternativos representam uma fonte nutricional bastante favorável à alimentação desses animais, diminuindo significativamente os custos e promovendo ainda uma maior produção de carnes, leite e couro.

Sob essa ótica, as pesquisas com mandioca e seus subprodutos, torna-se uma boa alternativa, em função da facilidade de seu cultivo, expressiva produção, e seu papel na conjuntura sócio-econômica do país, além da possibilidade de utilização de seus resíduos culturais (folhas e caule), e de seus subprodutos industriais (principalmente a manipueira).

Os participantes das ações demonstraram-se satisfeitos com as orientações, tendo em vista que, eram práticas que eles já tinham conhecimento e alguns exerciam, mas de maneira inadequada. Além disso, as ações permitiram indicar uma série de lacunas que precisam ser melhoradas e aprofundadas para que a manipueira como alimento se possa responder mais adequadamente as necessidades de produção, através de resultados de pesquisas acessíveis e adaptadas.

Foi observado que, por mais que tenha sido gerado uma nova alternativa para o pequeno produtor, ainda é preciso uma maior divulgação do beneficio da utilização da manipueira para o bolso do produtor, já que o acesso a informação, quer por falta de discernimento ou da própria divulgação, dificulta que as novas alternativas cheguem ao conhecimento do homem do campo.

E ainda salientando quanto à importância da utilização da manipueira, para redução da poluição produzida pela mesma no local em que é despejada, assim com seu uso consciente e eficiente, evita a contaminação de solos, animais e pessoas.

Agradecimentos A Universidade Federal Rural de Pernambuco, por ceder os profissionais e estudantes, à Pró-Reitoria de Atividades de Extensão da UFRPE pela concessão da bolsa ao estudante e do apoio. E também aos colaboradores e profissionais das casas de farinha do Município de Glória do Goitá. Referências [1] PONTE, J.J. da. Cartilha da manipueira: Uso do

composto como insumo agrícola. 3. Ed. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2006, 66 p.

[2] SEBRAE. Cartilha: Aproveitamento sustentável da manipueira, 11 páginas, 2008.

[3] ALMEIDA, S.R.M.; SILVA, A.M. da.; LIMA, J.P. et al. Avaliação do potencial nutritivo da manipueira na dieta de ovinos deslanados. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 4, n. 2, p. 1434 – 1438, 2009.

XI JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2011 – UFRPE: Recife, 17 a 21 de outubro.

Figura 1. ̀ Manipueira, líquido que escorre das raízes carnosas da mandioca (Manihot esculenta Crantz)

Figura 2. ̀ Utilização da manipueira na pecuária

Figura 3. `Palestra para os profissionais de casas de farinha e criadores no município de Glória do Goitá.

Figura 4. `Oficina de formulação de ração com manipueira para os profissionais de casas de farinha e criadores no município de Glória do Goitá.