ANGELO - Behaviorismo Radical e Inteligência Artificial

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  • 7/24/2019 ANGELO - Behaviorismo Radical e Inteligncia Artificial

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    Abstract This article proposes another paradigm that can give

    directions or at least inspire the studies of artificial

    intelligence: the radical behaviorism. The theme was presented in

    three steps: Initially, the history of behaviorism movement and

    his relation to cognitive sciences; after that, the fundaments of

    this paradigm were shown and, finally, the perspectives and

    influences from radical behaviorism in artificial intelligence

    coming from R. Brooks previous work.

    Keywords radical behaviorism; cognitive sciences; artificial

    intelligence; robotics;

    I. INTRODUO

    A busca por mquinas pensantes que pudessem agir talcomo os seres humanos um desejo muito antigo dahumanidade. Desde 400 a.C., filsofos j admitiam a

    possibilidade de uma Inteligncia Artificial j queconsideravam a mente humana muito semelhante a umamquina, a qual possuiria uma linguagem interna possvel deser codificada e reproduzida a partir de algoritmos lgicos emanipulao de smbolos [1].

    Para que fosse possvel reproduzir a mente humana, eranecessria uma cincia que fosse capaz de explicar ofuncionamento mental. Partindo de modelos computacionais eunindo aspiraes de diferentes reas do conhecimento, nasceento as Cincias Cognitivas, propondo, a partir de diversasreas do conhecimento como a lingstica, psicologia,neurologia, computao entre outras, explicar o funcionamentoda mente humana.

    Desde ento, as Cincias Cognitivas vem sendo o principalparadigma para o desenvolvimento da Inteligncia Artificial.O avano da computao e a busca de modelos cada vez maiscomplexos sobre o funcionamento mental permitiu o amplodesenvolvimento da rea. No entanto, ainda no possvel

    explicar satisfatoriamente diversas relaes mentais e h umamplo conjunto de crticas s Cincias Cognitivas quanto a

    possibilidade de responder a toda problemtica da mentehumana.

    A proposta desde artigo apresentar outro paradigma dacincia que possa nortear, ou ao menos inspirar, os estudos daInteligncia Artificial: o Behaviorismo Radical. Muitoestudado dentro das cincias psicolgicas, o BehaviorismoRadical , acima de tudo, uma filosofia sobre a natureza

    humana e atualmente inspira trabalhos na rea de lingstica,neurologia, antropologia entre outros.

    O assunto ser abordado em trs etapas. Inicialmente sermostrado o panorama histrico do Behaviorismo Radical e suarelao com as Cincias Cognitivas. Em seguida seroapresentados os principais fundamentos deste paradigma e, porfim, as perspectivas e influncias do Behaviorismo Radical naInteligncia Artificial.

    II.

    OSURGIMENTO DO BEHAVIORISMO RADICAL COMO UMAFILOSOFIA DA NATUREZA HUMANA

    A.

    O nascimento do movimento Behaviorista

    O movimento Behaviorista nasceu nos Estados Unidos, noincio do sculo XX, com o objetivo de tornar o estudo do serhumano uma cincia natural, tal como era a fsica e a biologia.Influenciado pelo movimento funcionalista, ou seja, de que osfenmenos so dinmicos e servem a um propsito, o

    behaviorismo veio libertar a psicologia do idealismo at entovigente propondo como objeto de estudo apenas aquilo que

    pudesse ser observvel. Para tal, elegeu-se como objeto depesquisa todo e qualquer comportamento que pudesse serobservado, buscando compreender a relao entre este e oambiente. Este passo foi especialmente significativo para queo estudo do ser humano sasse das indagaes filosficas eviesse a se tornar efetivamente uma disciplina cientfica [2].

    John B. Watson foi o primeiro cientista a usar o termobehaviorismo em um artigo de 1913 denominado

    Psicologia como os behavioristas vem, onde rompeu

    definitivamente a tradio filosfica no estudo da psicologiaao eleger um objeto de estudo observvel, mensurvel e

    passvel de se reproduzir em diferentes condies e sujeitos.No entanto, o behaviorismo s se tornou uma psicologia

    cientfica de fato quando passou a buscar a relao entre ocomportamento observvel e o ambiente onde ele ocorre,levando ao surgimento da lei bsica do behaviorismo: a teoriaEstmulo-Resposta. O estmulo e a resposta tornaram-se entoas unidades bsicas e o ponto de partida para uma cincia docomportamento, onde o homem passou a ser estudado comoresultado de um processo de aprendizagem que se inicia nonascimento e perdura por toda a vida [3].

    O paradigma Behaviorista passou ento a ser a relaocausa e efeito, o esquema se... ento, denominado lei de

    aprendizado. O pensamento passou a ser visto como uma

    Behaviorismo Radical e Inteligncia Artificial:Contribuies alm das Cincias Cognitivas

    Tiago Novaes Angelo, 046797, Faculdade de Engenharia Eltrica e Computao da UNICAMP

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    organizao hierrquica de estmulo-resposta encadeadas.Todos os fenmenos humanos poderiam ser compreendidos nainterao entre as funes de suas partes. Assuntos at entotidos como subjetivos como emoes e personalidade

    passaram a ser objetos de pesquisas objetivas [2].Durante a vida de Watson, o progresso na observao

    cientfica do comportamento fez com que o behaviorismo seaproximasse das vertentes positivistas e operacionalistas,

    criando a corrente do Behaviorismo Metodolgico. Nelaosfatores mentais foram totalmente ignorados e mtodos depesquisa como o introspeccionismo foram abandonados.Behavioristas Metodolgicos acusavam as explicaesmentalistas para o comportamento humano de acalmar acuriosidade e paralisar a pesquisa [4].

    Na tentativa de explicar por completo a natureza humana,tentando vencer a dicotomia mente-corpo ao restringir oestudo apenas a fenmenos observveis, o BehaviorismoMetodolgico acabou por reafirmar o dualismo. Ao afirmarque os fatos mentais no podem ser objetos de estudocientfico pelo fato de no serem observveis por umobservador externo, o Behaviorismo Metodolgico reafirma a

    existncia dos fatos mentais como separados dos fenmenosfsicos [5].Desde ento esta vertente behaviorista passou a ser fonte de

    duras crticas na comunidade cientfica a qual o consideravamuma psicologia sem mente. A forte oposio ao

    behaviorismo fez surgir o movimento que levou a criao dasCincias Cognitivas, a partir do que alguns autores denominamcomo Revoluo Cognitiva. Tal condio foi fundamental

    para o surgimento da Inteligncia Artificial, j que asexplicaes cognitivistas visavam buscar modelos de mente eestavam intrinsecamente ligado a cincia da computao.

    No entanto, outra corrente surgiu tambm como crtica aoBehaviorismo Metodolgico: O Behaviorismo Radical. O

    termo foi utilizado pela primeira vez em 1945 pelo seu criadorB. F. Skinner, o qual tinha como objetivo superar o dualismomente-corpo que, segundo ele, marcava o BehaviorismoMetodolgico. [5] Em toda sua trajetria, o BehaviorismoRadical foi equivocadamente confundido com o BehaviorismoMetodolgico, levando a crticas que eram constantementecontestadas por Skinner.

    B.

    As Cincias Cognitivas e o Behaviorismo Radical

    Enquanto que as Cincias Cognitivas nasciam como umaalternativa para se construir uma Cincia da Mente, o

    Behaviorismo Radical paralelamente se estabelecia como umafilosofia da natureza humana, de base comportamental, a partirdas crticas ao Behaviorismo Metodolgico at ento vigente.

    No entanto, muito do desconhecimento sobre oBehaviorismo Radical se deve a desentendimentos entre os

    pioneiros das duas vertentes da cincia. O incio de umasuposta batalha entre o Behaviorismo Radical e as CinciasCognitivas comeou quando Noam Chomsky escreveu umtexto com fortes crticas ao artigo Comportamento Verbalescrito por Skinner. O texto de Chomsky significou o

    praticamente o fim da era behaviorista na psicologiaestadunidense, insurgindo, a partir da, o modelo

    computacional de mente proposta pela novata cinciacognitiva [6].

    Por ser um paradigma novo e ainda pouco estudado para apoca, a resposta dos Behavioristas Radicais s crticas de

    Noam Chomsky demoraram a acontecer e, neste tempo, eleacabou se tornando um dos pioneiros da Cincia Cognitiva,levando reviravolta nos estudos da mente. Foi somente nadcada de 60 que as primeiras crticas resenha de Chomsky

    surgiram chamando a ateno para a necessidade de rever oalcance e a envergadura das obras de Skinner [6].No entanto, a falta de uma resposta s crticas de Chomsky

    deixou fortes marcas tanto no Behaviorismo Radical como nasCincias Cognitivas. A partir das crticas de Chomsky, o

    behaviorismo foi tido como um movimento monoltico,ignorando a diversidade de escolas que surgiram deste termo.Por outro lado, os Behavioristas Radicais passaram a rejeitaras Cincias Cognitivas como se esta se tratasse como um bloconico. A partir da instalou-se um dilogo de surdos onde oscognitivistas no distinguiam o Behaviorismo Radical doMetodolgico e os behavioristas viam as Cincias Cognitivascomo um mentalismo indesejado [6].

    Alm disso, na histria do Behaviorismo Radical, Skinnerfez dura criticas psicologia cognitiva. Em 1977 lanou umartigo denominado Porque eu no sou um Psic logoCognitivista fazendo um forte ataque ao mentalismo

    cognitivista reforando o existente preconceito em ambos oslados. Foi apenas nos anos 90 que muitos cientistas vieram aresgatar o Behaviorismo Radical, o qual havia cado emdescrdito, principalmente na psicologia estadunidense. Aretomada do Behaviorismo Radical impulsionou odesenvolvimento de uma moderna psicologia, denominadaAnlise Experimental do Comportamento, e j possvelencontrar trabalhos, apesar de muito incipiente, na rea deInteligncia Artificial que tomam o Behaviorismo Radical

    como paradigma de um modelo de mente.

    III. OS PRESSUPOSTOS DO BEHAVIORISMO RADICAL

    Conforme j enunciado, o Behaviorismo Radical nasceucomo uma tentativa de se solucionar o problema da dicotomiamente-corpo presente no Behaviorismo Metodolgico.Segundo Skinner, o Behaviorismo Radical se ope tanto scorrentes mentalistas (cognitivismo) como s correntes anti-mentalistas (behaviorismo metodolgico). Diferente desteltimo, ele considera possvel estudar os ditos eventos

    mentais, os quais so denominados eventos privados, mas

    de forma diferente das Cincias Cognitivas, a qual no atribuia eles nenhuma natureza especial. O que os BehavioristasRadicais criticam no a possibilidade de se estudar esseseventos privados, mas sim a natureza que foi denominada aeles (natureza mental). Para eles, todos os eventos humanos(privados ou pblicos) so eventos materiais e estosubmetidos s mesma leis. Assim, a introspeco volta a serum possvel mtodo de estudo do comportamento humano. [7]

    Assim, Skinner inaugura uma nova concepo de homemcuja natureza no diferente dos demais fenmenos naturais enem contm em si duas naturezas distintas (mental e fsica). O

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    homem, tal como qualquer fenmeno conhecido, estsubmetido a leis universais que so passveis de seremconhecidas. Tal concepo implica que as causas docomportamento humano no so, em nenhuma hiptese,mentais (no o que a pessoa sente ou processamentosmentais que geram o comportamento), mas ela est na histriagentica e no ambiente dos sujeitos; todo o comportamentoexplcito ou implcito (os ditos estados mentais) so

    produtos destas histrias [8].Portanto as pessoas so produtos da aprendizagem,modeladas pelas variveis externas (ambiente), a partir dos

    processos bsicos de condicionamento (clssico e operante)que so unidades bsicas dos processos de aprendizadohumano (modelagem e modelao). Neste sentido, as pessoasfuncionariam como mquinas, de acordo com leis, de formaordenada e pr-determinada, j que o comportamento controlado por estmulos e reforadores externos, porm, comum aspecto paradoxal: ainda que sejam controladas peloambiente, o prprio homem quem projeta esse ambiente.Skinner, neste aspecto, sinaliza o homem como uma mquinacapaz de alterar as condies ambientais que determinam o

    prprio comportamento da mquina [9].A abordagem skinneriana conceitualmente simples e suaidia fundamental que o comportamento humano controlado por suas conseqncias, ou seja, pela resposta queo ambiente d quando este aparece. Skinner acreditava quetanto um animal quanto um homem poderiam ser treinados

    para apresentar qualquer comportamento e que o tipo deresposta ambiental (reforo) quem iria determin-lo [9].

    Skinner enunciou quatro conceitos bsicos para se entenderos pressupostos do behaviorismo radical: comportamento,resposta, ambiente e estmulo.

    O termo comportamento se refere a qualquer relao entre

    um organismo e o ambiente, ou seja, uma relao entre a

    atividade ou ao (observvel ou no observvel, como, porexemplo, o pensamento) de um organismo, tambmdenominado resposta, e eventos do ambiente, tambmdenominado estmulo. importante ressaltar que o conceito decomportamento vai alm das aes observveis. Para Skinner,emoes, sentimentos, pensamento, conhecimento e memriatambm so comportamentos, porm, so ditoscomportamentos privados os quais podem ser acessados a

    partir da anlise do comportamento verbal e no-verbal dossujeitos e esto submetidos s mesmas leis decondicionamento e aprendizagem que os comportamentosobservveis.

    O termo ambiente se refere situao onde um

    comportamento ocorre. O ambiente pode ser formado porobjetos, seres vivos, entre outros e nele que esto osestmulos, que so situaes especficas do ambiente que

    atuam sobre ou fazem aparecer um comportamento. Umestmulo, ou conjunto deles, pode ser tanto a causa de umcomportamento, neste caso denominado contingncia, como

    pode ser uma resposta do ambiente a um comportamento,neste caso denominado reforo. O ambiente pode serformado por entidades materiais, como objetos e seres vivos,ou tambm de forma abstrata, como regras, leis e a prpria

    cultura, o qual dinmico e alterado pelo prpriocomportamento humano.

    Assim, possvel perceber que a sntese de todocomportamento humano est nos processos de aprendizado, osquais esto intimamente relacionados com o ambiente no qualo organismo se encontra. Estes processos, tambmdenominados condicionamento, do origem a dois tipos de

    comportamento: respondentes e operantes. Segundo Atkinson

    Et. Al. [10], seguem as definies:Os comportamentos respondentes so as respostas de umorganismo imediatamente aps a apresentao de um estmuloe podem ser de dois tipos: incondicionados e condicionados.

    Os comportamentos respondentes incondicionados soaqueles que no passaram por nenhum processo deaprendizagem. So frutos de um longo processo de seleonatural que imprimiu na espcie uma resposta especfica

    dado um estmulo ambiental. Se caracterizam por surgireminvoluntariamente, serem controlados pelo estmulo que

    precede o comportamento e so universais para a espcie.J os comportamentos respondentes condicionados so

    aqueles aprendidos a partir de um processo denominado

    condicionamento clssico ou pavloviano. Neste tipo decondicionamento, um estmulo anteriormente neutro (ou seja,um estmulo que no gera nenhuma resposta no organismo)torna-se associado a outro estmulo atravs de repetida uniocom aquele estmulo, fazendo com que ele faa o organismoapresentar uma resposta a um estmulo que anteriormente nogerava nenhum efeito. O estudo do condicionamento clssicocomeou nos primeiros anos do Sculo XX pelo fisiologistarusso Ivan Pavlov, o qual ficou famoso com suas pesquisascom ces, e descreveu ento o processo de condicionamentoque pode ser ilustrado pelo diagrama abaixo:

    Fig. 1. Diagrama do condicionamento clssico

    Segundo o diagrama, no condicionamento clssicocomportamentos no condicionados atravs de associaes

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    com estmulos especficos podem se tornar comportamentoscondicionados j que so pareados com estmulos que,originalmente, no causam aquela resposta. Por exemplo, a luz um estmulo que no causa nenhuma resposta ou umaresposta insignificante no organismo. J a comida umestmulo que causa uma resposta no condicionada, que asalivao. Caso a luz seja associada comida, por exemplo,toda vez que uma luz acende e a comida aparece, com o tempo

    o organismo ir aprender a responder luz. Toda vez que a luzaparecer, ocorrer salivao. Assim, a salivao queanteriormente era uma resposta no-condicionada causada pelacomida, agora se torna uma resposta condicionada causada

    pela luz.Os comportamentos respondentes, durante muitos anos,

    foram a base do Behaviorismo Metodolgico e acreditava-seque todos o comportamento humano pudesse ser explicado a

    partir do condicionamento clssico. Porm, Skinner alertouque a maioria dos problemas prticos das relaes humanasestavam voltados ao comportamento que exerce algum efeitosobre o ambiente e no apenas a aqueles que so provocados

    por este. Assim, passou a preocupar-se com os efeitos do

    comportamento sobre o ambiente e como este respondiaalterando a forma do organismo de comportar-se. Denominou-se ento que se chama de comportamento operante, cujaorigem o processo de aprendizagem chamadocondicionamento operante, ou trplice contingncia [11].

    Enquanto o condicionamento clssico ocorre comoresultado de uma relao entre dois estmulos, ocondicionamento operante ocorre como resultado de umcomportamento e uma reposta ambiental que ir atuar sobreeste comportamento. O paradigma que resume ocondicionamento operante chamado de trplice contingnciae est representado no quadro abaixo:

    Fig. 2. Condicionamento operante: trplice contingncia

    Pelo diagrama possvel observar que o foco agora no est

    mais no estmulo que precede o comportamento. Muitas vezestal estmulo no conhecido ou so to complexas as variveisque levam ao comportamento que torna impossvel a tarefa decompreende-la. Assim, tudo aquilo que causa ocomportamento foi denominado de contingncia, j que muitodo comportamento humano parece ser espontneo e no podeser diretamente remontado a um estmulo especfico. O focoento est em como o ambiente reage ao comportamento doorganismo, alterando sua natureza e sua freqncia. Assim, ocomportamento passa a ser controlado por um estmulo

    conseqente que faz com que a freqncia do comportamentoaumente, diminua ou at leve a extino do mesmo.

    O condicionamento operante deve ser analisado a partir dedois processos: o efeito e a ocorrncia do estmuloconseqente. Sobre o efeito, h dois tipos: Reforo ou

    punio. No reforo, o estimulo conseqente capaz deaumentar a freqncia da resposta do organismo. Na punio,o estmulo conseqente capaz de diminuir a freqncia de

    resposta do organismo. J a ocorrncia se d de duas formas:positiva ou negativa. Uma ocorrncia positiva quando oestmulo conseqente apresentado aps o comportamento.Uma ocorrncia negativa quando o estmulo conseqente no apresentado, mas sim retirado aps a resposta do organismo[12].

    Observa-se ento que os processos de aprendizado operantese resumem em 4 tipos: o reforamento positivo, reforamentonegativo, punio positiva e punio negativa.

    Skinner acreditava que grande parte do comportamentohumano era oriundo do condicionamento operante. Desde ainfncia, os seres humanos apresentam diversas formas de secomportar. Um beb, por exemplo, no incio do seu

    desenvolvimento tende a apresentar comportamentosaleatrios e espontneos, dos quais alguns so reforados (comestmulos como comida, abrao, ateno ou brinquedos) pelos

    pais, irmos ou tutores. medida que a criana cresce, oscomportamentos reforados persistiro e outros sero extintosou descontinuados. Assim, ento, as pessoas vodesenvolvendo o que denominado personalidade, ou seja,

    um padro ou conjunto de comportamentos operantes [9].Os processos de condicionamento so os pressupostos

    bsicos do Behaviorismo Radical. A partir deles busca-seexplicar toda complexidade comportamental do ser humano. Arelao comportamento-ambiente a sntese da naturezahumana para esta abordagem. Porm, os estudos de Skinner e

    outros Behavioristas Radicais no se limitaram apenas aoscomportamentos humanos. Principalmente aps o falecimentode Skinner, no incio da dcada de 90, houve um resgate doBehaviorismo Radical que at ento era consideradoultrapassado e alvo de imensas crticas, principalmente por

    parte dos psiclogos cognitivistas [13].Atualmente, o Behaviorismo Radical ultrapassou a fronteira

    da psicologia e da educao, ramos em que sempre foireconhecido em atuar, e j possvel encontrar estudos nasdiversas reas da cincia, o que faz dele um paradigmacientfico. Analisando a literatura cientfica, encontram-seestudos na rea de percepo, conscincia, antropologia,lingstica e entre outras, alm de diversas interfaces com a

    neurocincia e at a Inteligncia Artificial.

    IV. INTELIGNCIA ARTIFICIAL E BEHAVIORISMO RADICAL:UMA APROXIMAO POSSVEL?

    Em seu livro Cincia e Comportamento Humano [14],Skinner faz diversas aluses sobre como as teorias paraexplicar o comportamento humano eram tambm inspiradasnas mquinas criadas pelo homem. Segundo ele, aquilo que osbehavioristas chamavam de ao reflexa ou comportamento

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    respondente incondicional foi inspirado em um brinquedomecnico da primeira metade do sculo XVII que imitava ocomportamento humano. Desde ento, ressalta, as mquinastornaram-se mais parecidas com as criaturas vivas, e osorganismos vivos tm sido encarados cada vez mais comomquinas. Nas palavras do autor:

    As mquinas contemporneas no so apenas mais

    complexas, mas so deliberadamente preparadas para operarde modo muito semelhante ao comportamento humano.

    Engenhos quase humanos fazer parte de nossa experincia

    diria. (...) descobrimos mais sobre como funciona o

    organismo vivo e somos mais capazes de reconhecer as

    propriedades que tem em comum com as mquinas.

    As analogias entre homens e mquinas no so exclusivasdo Behaviorismo Radical. Antes mesmo de Skinner, os

    pensamentos do Behaviorismo Metodolgico foram bases parao desenvolvimento das Cincias Cognitivas, logo, inspiraes

    para o desenvolvimento da Inteligncia Artificial. Porm a raizfilosfica com que as cincias cognitivas explicam os

    condicionamentos clssicos e operantes so diferentes doBehaviorismo Radical.Enquanto que as Cincias Cognitivas inclinam-se em

    compreender o funcionamento da mente, o que h dentro de

    nosso crebro, desenvolvendo arquiteturas e algoritmos quepossam simular e at emular as funes mentais, osBehavioristas Radicais iro dizer que, se h algum algoritmoque possa explicar como os seres humanos se comportam, essealgoritmo est fora do ser humano, em plena relao com

    seu ambiente. Assim, ope-se a abordagem representacionistadas Cincias Cognitivas.

    Desde o incio da Inteligncia Artificial, o paradigma dosimbolismo, oriundo das Cincias Cognitivas, so as bases

    fundamentais para o seu desenvolvimento. Durante dcadas opensamento de que a cognio poderia ser representada poruma ordenao mecnica de representaes e smbolos

    prevaleceu nos estudos sobre Inteligncia Artificial. No toa,nos anos 70, quando o paradigma representacionista erareinante nas Cincias Cognitivas, Skinner foi duramentecriticado ao dizer em um artigo, em 1977, que o paradigmasimblico era um retorno indesejado ou mentalismo.

    Uma resposta das Cincias Cognitivas ao problema doSimbolismo veio na dcada de 80 com o desenvolvimento doconexionismo e o estudo das redes neurais artificiais. Apesarde Skinner no ter se aventurado no estudo do conexionismo,cientistas behavioristas apontavam que o conexionismo no

    superava os problemas do simbolismo, apenas deslocavam osmesmos problemas para outras esferas. Enquanto que ainteligncia artificial simblica era acusada de separarcognio e comportamento, o conexionismo foi acusado deseparar crebro e comportamento. Alm disso, a idia decognio sem representao no completamente resolvida. Aidia de representao por smbolos e signos simplesmentesubstituda por um modelo de inspirao matemtica na formade equaes diferenciais que se referem a relaes entreneurnios artificiais. O conexionismo, portanto, no era capaz

    de superar a dicotomia cognio/mundo, logo no seaproximando do paradigma do Behaviorismo Radical [15].

    Tentando superar tal dicotomia, na dcada de 90pesquisas na rea da robtica surgiram e podem vir deencontro com o paradigma do Behaviorismo Radical. O

    pioneiro nestes estudos o pesquisador do MIT(Massachusetts Institute Technology) Rodney Brooks [16].Sua proposta apostar no aprendizado das mquinas quando

    esto em interao com o ambiente. Assim, passou adesenvolver agentes autmatos que fossem capazes de selocomover, postulando que o simples fato de se locomovereme interagirem com o ambiente seja capaz de fazer com quedesenvolvam comportamentos complexos e emergentes.

    A idia de que o agente precisar ter uma representao oumapa interno completo do ambiente para se comportar substitudo pela idia de que o agente precisa se locomover einteragir com o mundo para expressar algum comportamentointeligente. O ambiente torna-se ento o modelo para que orob se comporte a partir da dinmica interativa entre eles.Tais robs so ditos situados ou imersos no meio ambiente eexperenciam o mundo a partir de sua corporeidade. Da a

    denominao de agentes situados e incorporados. Toda aodo agente sobre o ambiente recebe um feedback do mesmo,o qual determina, por conseqncia, novas aes sem que estastenham sido programadas.

    A noo de corpo e de aprendizado dinmico em interaocom o ambiente o que aproxima os experimentos de Brooksao Behaviorismo Radical. A idia de que no se possvelestudar a cognio e o comportamento inteligente sem levarem conta o papel do corpo e do ambiente est muito mais

    prximo do paradigma Behaviorista Radical do que os autorescognitivistas e behavioristas possam imaginar [17].

    As semelhanas entre o trabalho de Brooks e o paradigmaBehaviorista Radical vo alm da noo de robs situados e

    corporificados. Conforme dito anteriormente, para Skinner,comportamento toda ao que ocorre em um tempo e espao.A noo de auto-locomoo, proposto por Brooks, seaproxima muito desta definio de Skinner, j que ambos estosujeitos a leis naturais relacionado a interao entre o

    organismo e o ambiente, onde o ambiente controla oorganismo e o mesmo capaz de atuar e modificar o ambiente,levando a complexas formas de se comportar. Brooks sustentaem seus projetos que seja usado um mnimo de pr-

    programao e que os padres de comportamento possamemergir na interao com o ambiente [16].

    Por fim, Brooks, em sua crtica viso cartesiana decognio, postula que as representaes no podem ser

    entendidas na forma de computao abstrata independente domeio fsico j que so fenmenos psicolgicos e cognitivosque acontecem no mundo. As representaes s so geradas narelao entre o agente autmato e o ambiente, logo tal relaodeve ser o objeto de estudo da cognio. Comparando com o

    paradigma Behaviorista Radical, Brooks, tal como Skinner,no nega a existncia de estados internos, apenas alerta que ofoco no deve ser nos eventos internos (ou privados, tal

    como coloca Skinner), mas sim na relao do organismo eambiente, a origem de tais eventos.

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    Alm de Brooks, clara a tendncia de outros autorescognitivistas aproximaes ao Behaviorismo Radical. Emseu artigo O mal estar do representacionismo: sete dores decabea da Cincia Cognitiva [18], Haselager alerta para o

    problema do representacionismo nas Cincias Cognitivas esugere alternativas no-representacionistas que vo deencontro, novamente, ao Behaviorismo Radical. Nas palavrasdo autor:

    Durante muito tempo (...) o problema era que a

    alternativa anti-representacionista no parecia vivel (a

    menos que se quisesse voltar ao behaviorismo, o que os

    cientistas cognitivos no desejavam fazer). No existia o

    suporte emprico de modelos que possussem o mesmo grau de

    rigor e detalhamento que so rotineiros na Cincia Cognitiva

    tradicional. No sem razo que a pergunta: de que modo

    pode-se explicar a cognio sem representaes? foi

    considerada quase retrica durante muitos anos. No entanto,

    esses dias acabaram. Uma abordagem que enfatize a

    importncia da interao corporal com o ambiente (Teoria

    de Cognio Incorporada e Situada), empiricamente

    sustentada (...)faz da opo por uma modelagem norepresentacional um tpico a ser considerado seriamente.

    V. CONCLUSO

    Desde o surgimento das Cincias Cognitivas, o papel dobehaviorismo no desenvolvimento da Inteligncia Artificialtem sido duramente criticado, ou mesmo esquecido, muitasvezes por puro desconhecimento da evoluo desta corrente dacincia. Um dos fatores que atrapalha para contribuio deste

    paradigma cientfico no desenvolvimento de agentesinteligentes exatamente o desconhecimento por parte de

    cientistas na rea de Inteligncia artificial j que as CinciasCognitivas, inspirao epistemolgica da IntelignciaArtificial, nasceu das crticas ao Behaviorismo e desde entosegue seus prprios pressupostos.

    Porm, principalmente a partir dos estudos de Skinner e onascimento do Behaviorismo Radical, fundamentado numaviso comportamental de ser humano, porm crtico e tentandosuperar as falcias do Behaviorismo Metodolgico, umacincia do comportamento que abarque todos os aspectos danatureza humana tornou-se possvel. E, ainda mais, a intensa

    preocupao de Skinner em explicar o ser humano a partir deleis e regras universais tornou possvel apropriar-se doBehaviorismo Radical como filosofia para desenvolvimento de

    agentes inteligentes. Os estudos de Brooks indicam um doscaminhos.

    Porm, ainda longo o caminho que o BehaviorismoRadical deve seguir para possa realmente alavancar odesenvolvimento da Inteligncia Artificial. O resgate demuitos trabalhos de Skinner comeou a acontecer apenas apsa sua morte, no incio da dcada de 90 e ainda muito se tem oque pesquisar a respeito de reas fortemente dominadas pelasCincias Cognitivas como percepo, conscincia, memriaentre outros. Alm disso, um pouco pelo perfil caricato deSkinner, outro pouco pelo desconhecimento de suas obras, o

    Behaviorismo Radical ainda visto com ceticismo no mundoda cincia. Atualmente, sua maior contribuio est na rea daeducao e psicologia.

    O objetivo deste artigo foi apresentar o BehaviorismoRadical como uma alternativa para o desenvolvimento daInteligncia Artificial j que ainda muito desconhecido ouento mal compreendido dentro desta rea. O pensamentoBehaviorista Radical pode ser uma possvel soluo para

    alguns dilemas cognitivistas. Faz-se necessrio vencer ohistrico dilogo de surdos entre ambas as correntes paraque as contribuies se somem e se caminhem em direo asaspiraes tanto da Inteligncia Artificial fraca como da forte.

    REFERNCIAS

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