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Universidade Estadual de Campinas UNICAMP CS305 Redes Convergentes Ana Beatriz Motta Aragão Cortez | RA 163687 ANISTIA INTERNACIONAL: Análise Netnográfica de Página do Facebook Introdução Macroagentes econômicos, de líderes mundiais e presidentes à companhias de entretenimento, cada vez mais se inserem nas comunidades online. Páginas de chefes de estado no Facebook, streamings como pronunciamentos oficiais de governos, as Nações Unidas prestando contas de seus projetos no Twitter, são todas cenas de um cenário onde a diplomacia firma suas aparências através de mídias sociais e exerce influência a partir das informações que reúne da rede. Enquanto o Twitter tem se provado a melhor plataforma para a diplomacia multilateral, o Facebook se estabelece um importante canal para explicar projetos, atividades e conquistas que de outra maneira não atingiriam audiências mais amplas (TWIPPLOMACY, 2016B). De acordo com estatísticas da própria rede, 1,5 bilhão de pessoas possui conta na plataforma, das quais 1 bilhão está ativa todos os dias. É pertinente dizer que “Social media has become diplomacy’s significant other. It has gone from being an afterthought to being the very first thought of world leaders and governments across the globe, as audiences flock to their newsfeeds for the latest news.” (TWIPPLOMACY, 2016A). As Organizações NãoGovernamentais naturalmente também acompanham essa rede de conexões que busca estar o mais próxima possível da população que influencia ou deseja influenciar, o que se traduziu em alterações nas formas de ativismo clássicas. Não cabe aqui determinar de que modos específicos a organização em comunidades online tornou evidente e próxima a defesa de uma causa nem seu caráter organizacional de toda a espécie de comunidade ativista de associações de defesa ao meio ambiente, passando por partidos políticos até os terrorismos. É necessário apenas dizer que as ONGs, e de uma forma especial nesse contexto diplomático, as ONGs de defesa aos Direitos Humanos, são parte significativa de um novo quadro político potencializado pela intensificação da internacionalização e possuem uma capilaridade bastante desenvolvida. Entretanto, se, por um lado, o tamanho e alcance são fatores fundamentais, nem sempre isso equivale a um aumento de engajamento por parte da audiência (que deveria ser, em parte, o resultado das campanhas promovidas pelas ONGs, um efeito da atenção para as disparidades que não se enxergava antes). Quantas das pessoas que curtem uma pagina, por exemplo, realmente interagem com ela através de curtidas, comentários ou compartilhamentos? Quais diferentes graus de comprometimento com a mensagem ou causa expressam essas ações? O quão realmente efetiva seria essa interação? O "ativismo de sofá" foi uma expressão cunhada na última década, como resultado da incorporação definitiva das redes sociais e plataformas análogas na dinâmica do cotidiano, que o constituem e, ao mesmo tempo, são constituídas por ele. Ele designa uma militância sedentária, que a movimentação nas redes não corresponderia a um engajamento parecido na vida face a face, ou seja, nunca se desdobraria em transformação.

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Universidade Estadual de Campinas ­ UNICAMP CS305 ­ Redes Convergentes

Ana Beatriz Motta Aragão Cortez | RA 163687

ANISTIA INTERNACIONAL: Análise Netnográfica de Página do Facebook

Introdução

Macroagentes econômicos, de líderes mundiais e presidentes à companhias de

entretenimento, cada vez mais se inserem nas comunidades online. Páginas de chefes de estado no Facebook, streamings como pronunciamentos oficiais de governos, as Nações Unidas prestando contas de seus projetos no Twitter, são todas cenas de um cenário onde a diplomacia firma suas aparências através de mídias sociais e exerce influência a partir das informações que reúne da rede. Enquanto o Twitter tem se provado a melhor plataforma para a diplomacia multilateral, o Facebook se estabelece um importante canal para explicar projetos, atividades e conquistas que de outra maneira não atingiriam audiências mais amplas (TWIPPLOMACY, 2016B). De acordo com estatísticas da própria rede, 1,5 bilhão de pessoas possui conta na plataforma, das quais 1 bilhão está ativa todos os dias. É pertinente dizer que “Social media has become diplomacy’s significant other. It has gone from being an afterthought to being the very first thought of world leaders and governments across the globe, as audiences flock to their newsfeeds for the latest news.” (TWIPPLOMACY, 2016A).

As Organizações Não­Governamentais naturalmente também acompanham essa rede de conexões que busca estar o mais próxima possível da população que influencia ou deseja influenciar, o que se traduziu em alterações nas formas de ativismo clássicas. Não cabe aqui determinar de que modos específicos a organização em comunidades online tornou evidente e próxima a defesa de uma causa nem seu caráter organizacional de toda a espécie de comunidade ativista ­ de associações de defesa ao meio ambiente, passando por partidos políticos até os terrorismos. É necessário apenas dizer que as ONGs, e de uma forma especial nesse contexto diplomático, as ONGs de defesa aos Direitos Humanos, são parte significativa de um novo quadro político potencializado pela intensificação da internacionalização e possuem uma capilaridade bastante desenvolvida.

Entretanto, se, por um lado, o tamanho e alcance são fatores fundamentais, nem sempre isso equivale a um aumento de engajamento por parte da audiência (que deveria ser, em parte, o resultado das campanhas promovidas pelas ONGs, um efeito da atenção para as disparidades que não se enxergava antes). Quantas das pessoas que curtem uma pagina, por exemplo, realmente interagem com ela através de curtidas, comentários ou compartilhamentos? Quais diferentes graus de comprometimento com a mensagem ou causa expressam essas ações? O quão realmente efetiva seria essa interação?

O "ativismo de sofá" foi uma expressão cunhada na última década, como resultado da incorporação definitiva das redes sociais e plataformas análogas na dinâmica do cotidiano, que o constituem e, ao mesmo tempo, são constituídas por ele. Ele designa uma militância sedentária, já que a movimentação nas redes não corresponderia a um engajamento parecido na vida face a face, ou seja, nunca se desdobraria em transformação.

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Será que esse engajamento aparente pode ser completamente verdadeiro, considerando que hoje deixa de fazer sentido pensar em relações estritamente virtuais, uma vez que essa dicotomia não se aplica na prática? O digital não se comporta de modo estanque, pelo contrário, entremeia todas as relações e já é parte de como nos entendemos no mundo. Justamente por isso, a netnografia ganha importância ao se colocar como análise social e ténico­cultural dessa mudança. Pensando na integração e separação de mundos sociais, ou seja, no grau de associação e diferenciação dos comportamentos online e face a face, decidi investigar algumas questões no tocante ao alcance e impacto de uma ONG em uma determinada mídia social. No caso, a página de Facebook da Anistia Internacional.

A Anistia Internacional, fundada em 1962, é uma organização não­governamental que conduz pesquisa e averigua denúncias de prisões políticas, torturas ou qualquer outro tipo de ação contra os direitos humanos. No Brasil, a atuação da organização teve início durante o regime militar e nessa fase, ela se mostrou fundamental para a promoção das formas de ativismo político pacíficas. Além do comprometimento com o trabalho de pesquisa e levantamento de dados (o Secretariado Internacional, através do seu Departamento de Investigação, recolhe toda a informação possível relacionada com os casos suspeitos, se preciso enviando missões de investigação e de observação de julgamentos), seus princípios fundadores incluem, a não­intervenção em questões políticas e uma dita “imparcialidade” em suas tomadas de decisão (impondo às suas estruturas operacionais, suas células de base, que não recebam nem tratem casos relacionados com o próprio país)

Ainda que hajam críticas a sua atuação excessivamente ocidentalizada e parcial sob alguns pontos de vista, ou a sua associação com organizações de histórico duvidoso em matérias de direitos humanos, a Anistia Internacional desenvolve importantes campanhas e investigações em diversas frentes, tais como: direitos sexuais e reprodutores, auxílio a refugiados, justiça internacional, discriminação, desaparecimentos, pena de morte, controle de armas, conflitos armados, liberdade de expressão, povos indígenas e responsabilidade corporativa. Para além disso, ela se mostra um objeto de estudo interessante pois parece ser a organização presente no maior número de países. Em 2008 era atuante em 162 países, enquanto a Humans Right Watch – a título de exemplo – em 150, a Federação Internacional de Defesa dos Direitos Humanos em 114, e a Transparência Internacional em 77. (BADIE apud MARQUES).

Objetivos

Uma página de ONG dificilmente terá curtidores que não se alinham com seus princípios e causas. Assim, presumindo que o público de seguidores dessa página já se enquadra nesse perfil de interesse por questões relacionadas aos diretos humanos, o estudo presente focará no modo pelo qual esses seguidores manifestam seu apoio e ativismo.

Especificamente, através da análise visual e estrutural da página de Facebook da Anistia Internacional (Amnesty International, seu escritório sede), perceber o nível de engajamento de seus curtidores através de curtidas, compartilhamentos e comentários, associando­o também ao tipo de conteúdo publicado pela página e ao modo como a própria página interage com outros usuários e entidades.

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Metodologia

Primeiramente, me aprofundei na pesquisa sobre o tema através de alguns artigos sobre visualização de dados e análise de redes sociais, enquanto coletava informações sobre a Anistia Internacional por meio do site institucional e reportagens, bem como sua atuação específica no Brasil. Deste modo, fui estreitando e especificando as perguntas que gostaria de ver respondidas e imaginando possíveis métodos de obtenção dos resultados.

Depois da delimitação do foco do estudo, a análise de fato da página se deu de duas maneiras. Inicialmente, no próprio Facebook, considerando alguns indicativos fornecidos pelo mesmo, como o número de curtidas, a possibilidade de outros usuários que não o administrador publicarem nela, a frequência de postagens, a imagens de perfil e capa ao longo da sua existência.

A segunda parte da análise utilizou a extração de dados da página através do aplicativo Netvizz e o software Gephi (facilmente instaláveis a partir do próprio Facebook e do site gephi.org, respectivamente) para gerar grafos expressivos dos dados úteis à análise. Para a extração dos dados, foi necessário selecionar um escopo temporal que fosse representativo das tendências e comportamentos dos usuários envolvidos. A primeira extração foi de todas as postagens do ano de 2016, com o intuito de, ao longo da análise de engajamento, mapear ao longo dos meses os assuntos de maior relevância e traçar um perfil das frentes ativistas predominantes. Ao abrir os dados no programa, contudo, eles se revelaram pesados demais para os limites técnicos de processamento. Assim, reduzi o número de postagens analisadas para os 100 últimos a contar do dia de extração. O Gephi permite uma imensa variedade de manipulação do grafo de acordo com as necessidades de quem o utiliza; assim, tive que realizar vários testes distribuição e aplicação de determinadas métricas. Realizei, também, a extração da rede de contatos (networking) da página.

Para realizar os testes, preferi importar uma amostragem menor da página por sobrecarregar menos o software, selecionando então as últimas vinte postagens partindo da data e extração. Essas informações foram muito úteis tanto para a parte de teste propriamente dito quanto para já expressar alguns resultados com maior facilidade de manipulação do que os dados posteriores (devido à sua densidade). Importados os dados, verifiquei que as colunas shares , comment_count , like_count , interactions e post_type seriam variáveis­chave para o que eu pretendia demonstrar. Depois de ter aplicado o Force Atlas 2 para distribuir melhor os nós, percebi que o conteúdo das postagens, minha principal base de investigação, estava mesclado com inúmeros outros nós: cada usuário que já tinha interagido de alguma maneira com a página ao longo daquelas 20 postagens estava representado no gráfico.

Para identificar quais postagens pertenciam à página e o que era comentário dos usuários, localizei o código da página (111658128847068) no Laboratório de Dados na coluna post_id e com essa busca cheguei facilmente às 20 postagens, confirmando depois que essas correspondiam, no grafo, aos nós agregadores, fontes das relações orientadas . 1

Eles eram facilmente distinguíveis nos grafos, formando feixes de regiões concentradas. Em seguida, atribuí cores a esses nós centrais e apliquei uma redistribuição de tamanho, de

1 tomando como “fonte” o ator emissor de uma relação e que ela é “orientada” quando há uma transmissão de uma ator para o outro. No caso, há umas transmissão de conteúdo midiático da página para o usuário.

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modo que os representantes das postagens com mais curtidas (logicamente todas as feitas pela página, os nós centrais) fossem maiores uns que os outros segundo o número de curtidas. Imaginei que poderia fazer o mesmo para a quantidade de compartilhamentos e comentários, obtendo grafos ligeiramente diferentes. Nisso, o gráfico se apresentava como na Figura 1, em que já estão evidentes os nós que representam as postagens mais populares.

Figura 1: Captura de tela do Gephi com os primeiros testes com grafos.

Para identificar os principais nós, testei então a aplicação de rótulos proporcionais, que se mostrariam no momento em que o mouse passasse sobre eles. Assim, em vez de ter que consultar a tabela para reconhecer qualquer característica da postagem, já haveria pelo menos uma referência à sua mensagem, como se observa na Figura 2 e no seu detalhe, a Figura 3.

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Figura 2: Captura de tela do Gephi evidenciando rótulo do nó mais proeminente.

Figura 3: Detalhe da captura da Figura 2.

Na parte de Visualização, porém, o grafo sofreu algumas alterações, ainda que

mantendo sua forma básica. Na Figura 4, vê­se que todos os rótulos dos nós mais proeminentes são mostrados no grafo, indicando as postagens com mais curtidas.

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Figura 4: Grafo resultante dos primeiros testes

Busquei então na página pelo conteúdo da postagem ressaltada como a mais

popular dentre a amostragem, que é do dia 7 de agosto de 2016 e está apresentada na Figura 5. Ela veicula um vídeo que trata das questões dos refugiados, prestes a competir nos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro com um time próprio. Com 4,6 mil interações (que incluem as curtidas e as outras reações disponibilizadas pelo Facebook) e 1909 compartilhamentos, toca em uma pauta importante da Anistia Internacional e que tem sido problematizada de modo constante nos últimos dois anos.

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Figura 5: Captura de tela do Facebook que mostra a postagem mais popular do período analisado.

Terminando esse ciclo, onde parti da identificação da postagem, análise de

engajamento e estabelecimento de um perfil para a postagem, passei para a etapa seguinte. Importei os dados extraídos sobre as ultimas 100 postagens e repeti essa análise para as curtidas, as interações, os compartilhamentos e os comentários, correlacionando com as tabelas do Laboratório de Dados.

Essas tabelas também forneceram importantes informações para a comparação dos tipos de conteúdo (imagem, vídeo ou link) que atraíam mais a atenção dos usuários e geravam maior engajamento. Para evidenciar essas relações, produzi alguns gráficos com uma amostra da tabela e também um grafo identificando as relações entre os três tipo de conteúdo, a ser mostrado na seção seguinte. Por fim, analisei também a pouco extensa rede de contatos da página (networking ).

Resultados e Discussão

Anterior à apresentação e tradução dos dados em grafos, é necessário observar

algumas características visíveis na própria página. A Amnesty International possui um total

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de 1.295.156 curtidas, e também se conecta através do Facebook às outras redes sociais em que está presente, o Twitter e o Instagram, além de aplicativos como Livestream. Na sua descrição, encoraja os usuários a interagirem e compartilharem suas opiniões na página (respeitando algumas normas de conduta básicas no tocante ao respeito de pontos de vista), o que já faz parte da abertura característica das organizações em seus relacionamentos com apoiadores. E esses realmente o fazem: as postagens de visitantes são numerosas e frequentes (há, pelo menos, uma a cada hora). A interface da página de Facebook, no entanto, não favorece a visualização dessas mensagens, uma vez que ficam restritas a um box com uma barra de scroll . Acabei por não utilizá­las na análise devido à dificuldade de extração dos dados dessa seção e ao fato de grande parte ser em outro idioma que não o inglês.

Pensando nas relações que os usuários estabelecem entre si nessa que pode ser chamada comunidade criada em torno da A.I., torna­se claro que as interações através da página são limitadas, na medida em que raramente se convertem e laços profundos e duradouros. O usuário pode curtir uma publicação, e mais recentemente, interagir com ela por meio de outras cinco reações (amei , haha , uau , triste , grrr ). Ou seja, pode expressar um estado de espírito em relação ao que é publicado pela organização. Em termos de ativismo, isso apenas aumentaria o alcance da publicação da página por interferir no algoritmo de recomendação. Uma outra forma de engajamento seria o comentário, através dos quais os usuário realizam a expressão verbal da opinião (em vez de traduzi­la em reações), podendo criar núcleos de discussão, reflexão e crítica da informação que lhes é apresentada. Um outra variação bastante frequente é mencionarem nos comentários os nomes de amigos, linkando­os à postagem em questão e, consequentemente, aumentando seu alcance e poder de impacto. Por fim, há o compartilhamento, em termos de ativismo o mais eficiente dentro dessas possibilidade limitadas. Ao compartilhar o conteúdo, o usuário manifesta um ponto de vista para toda sua rede de amigos e multiplica o alcance da página ao colocar novas pessoas que podem se alinhar à suas concepções em contato com ela.

Figura 6: Quadro de classificação de relações online. Utilizando a Figura 6, é possível transpor essas reflexões sobre as interações em

algumas classificações. Pensando nas relações entre usuários, a grande maioria se encaixa na categoria “Aventura”, por se tratarem de vínculos ocasionais (superficiais) e cuja

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orientação e propósito seria apenas uma discussão localizada. Em relação às relações usuário­página, por sua vez, são relações mais profundas, já pelo fato de fundamentalmente os usuários que acompanham a página possuírem um alinhamento de conecpções. Uma das formas que serve de parâmetro para avaliar o nível de orientação seria então o tipo de interações que esses usuários estabelecem. Usuários que apenas curtem as postagens da página tendem a se encaixar na categoria “Vinculação”, enquanto aqueles que frequentemente compartilham seu conteúdo se mostrariam mais inseridos na tarefa de contribuir para uma cultura dos Direitos Humanos, isto é, pertencentes à categoria “Construção”.

Ao extrair esses dados para o Gephi e aplicar proporcionalidade nos nós para aqueles com maior número de reações (inclusas as curtidas), o resultado se assemelha a uma nuvem com feixes concentrados partindo de alguns nós nas suas bordas e coloração rosa para os nós mais proeminentes sob esse critério (Figura 7).

Figura 7: Grafo filtrado pelo maior número de reações obtido pelas postagens.

Ao reaplicar o procedimento, dessa vez atribuindo maior tamanho aos nós de acordo

com a quantidade de compartilhamentos e a quantidade de comentários, observam­se os resultados mostrados nas Figuras 8 e 9, respectivamente.

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Figura 8: grafo filtrado pelo maior número Figura 9: grafo filtrado pelo maior número de compartilhamentos de comentários.

É evidente que são todos muito semelhantes, o que leva à conclusão de que há uma correspondência bastante forte entre as postagens da página com maior popularidade nos três critérios. A partir da consideração do grau de centralidade, já podemos identificar alguns nós mais proeminentes como um todo. Há um nó especialmente forte localizado no canto inferior direito do grafo (seu afastamento do meio concentrado significa sua proporcional autonomia em relação aos outros). Essa é a postagem mais popular feita pela página (no período que está sendo analisado). Vemos outros nós em destaque, para os quais podemos aplicar a mesma lógica: quanto maior o tamanho, maior sua proeminência (e consequentemente, alcanço) e, desses, quanto mais distante do centro, maior sua autonomia. Para observar a correspondência da visualidade em relação aos dados brutos, analisei as tabelas do Laboratório de Dados, manipulando­as de acordo com os critérios que utilizei para dar peso aos nós.

Figura 10: ranking de postagens pelo número de curtidas e reações, que se relaciona à Figura 7.

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Figura 11: ranking de postagens pelo número de compartilhamentos, que se relaciona à Figura 8.

Figura 12: ranking de postagens pelo número de comentários, que se relaciona à Figura 9.

Pela análise das primeiras 24 linhas da tabela, foi possível notar que maior semelhança entre as posições das postagens com maior comentários e compartilhamentos do que com as postagens de maior número de reações/curtidas. Relaciono isso ao que já foi exposto anteriormente: comentários e compartilhamentos se relacionam de modo mais próximo quanto à sua capacidade de discussão e politização de assuntos. Postagens que geralmente apelam mais para interesses pontuais têm mais facilidade de gerar curtidas do que aquelas que se propõem a discutir conjunturas.

A partir desses 24 primeiros resultados, também extraí informações quanto ao tipo de conteúdo de cada postagem (se eram links, imagens ou vídeos), de forma a tentar identificar se algum deles exerceria maior influência na recepção da audiência. O resultado está apresentado na Figura 13.

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Figura 13: Gráficos do tipo de conteúdo presente nas 24 postagens com maiores interações (reações),

compartilhamentos e comentários, respectivamente

Em geral se nota uma distribuição equilibrada das postagens que contêm imagem, links ou vídeos. Ainda assim, é perceptível uma ligeira predominância de links entre as postagens com mais comentários e uma ausência de imagens entre as postagens com mais compartilhamentos. Outra vez, uma explicação plausível é a associação de cada tipo de

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conteúdo com o potencial de profundidade de uma discussão e com o nível de engajamento e ativismo do seu alcance. Seria pertinente então dizer que vídeos e links estariam mais ligados aos usuários inseridos numa relação de construção. No entanto, a amostragem dessa breve análise foi pequena, e para qualquer tipo de consistência seria necessário realizá­la em larga escala.

Através do grafo apresentado na Figura 14, organizado na mesma legenda de cores dos gráficos, também é possível visualizar essa dinâmica dos conteúdos.

Figura 14: Grafo orientado pelo tipo de conteúdo das postagens; laranja para os vídeos, rosa para os links e azul para imagens.

A postagem mais popular da página, tanto relação às reações como aos

compartilhamentos é comentários, é um vídeo, como demonstrado pelo grafo e verificado nas tabelas, do dia 25 de maio. Assim como a postagem mais popular da fase de testes, reforçando a atualidade e repercussão do tema, essa diz respeito ao refugiados oriundos de diversos países em conflito (Figura 15). O vídeo passa uma mensagem de empatia e convida todos a se despirem de generalizações, sintetizando de certo modo a missão da página de promover a equidade e incentivar a busca pela garantia dos Direitos Humanos em todo o mundo.

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Figura 15: Captura de tela da postagens mais proeminente da página.

A página também está conectada a outras que possuem valores semelhantes, ainda que esse networking não se dê de maneira tão fortalecida ou numerosa (Figura 16). A maioria de suas conexões são com ramos da própria organização. A do Brasil, por exemplo, é uma delas, que por sua vez também se relaciona com outros escritórios da Anistia Internacional. Em menor número estão as conexões com outras organizações governamentais, como aquelas em defesa dos direitos das mulheres.

Figura 16: Grafos com a network da página da Anistia Internacional

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A network é traçada a partir das páginas que a página em estudo curte; assim, no centro do grafo, como nó dominante está a página da Anistia Internacional. Os outros escritórios da Anistia também se relacionam uns com os outros e, além disso, outras organizações não­governamentais também curtem e são curtidas pela página, estabelecendo reciprocidade (na imagem não se vê claramente, mas as arestas contém setas que indicam a o sentido das relações, se são unilaterais ou bilaterais).

Considerações Finais

A análise da página da Anistia Internacional trouxe uma visão mais detalhada de como uma organização mundial se relaciona com seus apoiadores, como ela impacta na rede e é capaz de transmitir noções de direitos humanos através de campanhas potencializadas por seus usuários. Além disso, foi possível identificar um padrão predominantemente visual no conteúdo de suas postagens, bem como uma chance de aprofundamento de conteúdo através dos links, que correspondem ao outro tipo de publicação bastante frequente. Para a continuidade dessa pesquisa, seria interessante uma identificação mais cuidadosa e específica de como essas narrativas online se manifestam na vida pessoal, traçando um perfil da identidade dos usuários e de suas outras conexões com organizações que promovem os Direitos Humanos. Referências

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