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1
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE SOLOS DE EMPREENDIMENTOS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE (RMR) E O SOLO DO CONDOMÍNIO ANÊMONA
EM UBATUBA-SP
Silvandro Ferreira de Siqueira Júnior 1 Diwlay Cardoso Maia 2
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo apresentar a influência de uma perfeita
análise do estudo dos solos como fator determinante no êxito de uma obra de
construção civil. Conhecimentos prévios acerca dos principais tipos de solos e suas
propriedades, junto com os principais métodos de investigações geotécnicas serão
abordados ao longo do artigo, tendo em vista que os referidos assuntos são
essenciais para o pleno entendimento do conteúdo aqui tratado.
Segundo Queiroz (2009), a investigação do subsolo tem por objetivo permitir
que sejam identificados os tipos de solos e/ou rochas, além das condições
geológicas e geotécnicas, dentre vários outros fatores como a espessura de
camadas, elementos estruturais e a posição do nível de água com a finalidade de
estudar a viabilidade do projeto com a consequente construção de obras civis.
Neste estudo comparativo, será explanado um caso no qual a negligência na
análise do estudo dos solos antes da construção do projeto interferiu diretamente em
grandes prejuízos causados graças a ruptura de estacas que gerou o desabamento
de um dos blocos de um condomínio localizado em Ubatuba-SP. Em seguida, serão
realizadas análises comparativas com sondagens de terrenos localizados na Região
Metropolitana do Recife com o objetivo de verificar a possibilidade de ocorrência de
desabamento da estrutura, ou parte dela, em caso de negligência na etapa de
dimensionamento da fundação a partir da análise dos estudos dos solos.
Esta análise comparativa também possui a seguinte finalidade: impedir o
retrabalho necessário para o ajuste da estrutura devido a patologias geradas após o
término da construção, além do aumento dos dispêndios financeiros para os
responsáveis.
2
PALAVRAS-CHAVE: Solos, Construção Civil, Geotecnia, Investigação e Fundação.
1
ABSTRACT
The present article aims to present the influence of a perfect analysis of the
study of soils as a determining factor in the success of a civil construction work.
Previous knowledge about the main types of soils and their properties, together with
the main methods of geotechnical investigations will be addressed throughout the
article, considering that the mentioned subjects are essential for the full
understanding of the content here treated.
According to Queiroz (2009), the subsoil investigations aims to identify soil
and / or rock types, as well as geological and geotechnical conditions, among several
other factors such as layer thickness, structural elements and level position of water
with the purpose of studying the feasibility of the project with the consequent
construction of civil works.
In this comparative study, a case will be explained in which negligence in the
analysis of the study of soils before the construction of the project directly interfered
in great damages caused by rupture of stakes that caused the collapse of one of the
blocks of a condominium located in Ubatuba-SP. Then, comparative analyzes will be
carried out with surveys of land located in the Metropolitan Region of Recife in order
to verify the possibility of occurrence of collapse of the structure, or part of it, in case
of negligence in the dimensioning step of the foundation from the analysis of the soil
studies.
This comparative analysis also has the following purpose: to prevent the
necessary rework for the adjustment of the structure due to pathologies generated
after the end of the construction, besides the increase of the financial expenses for
those responsible
Keywords: Soil, Civil Construction, Geotechnics, Investigation and Foundation.
1 SIQUEIRA Jr., Silvandro Ferreira; Engenheiro Civil, Centro Universitário dos Guararapes, UNIFG, Brasil.
² MAIA, Diwlay Cardoso; Bacharela em Ciências Aeronáuticas pela UNINASSAU e Especialista em
Planejamento e Gestão Organizacional pela Universidade de Pernambuco (UPE), Brasil.
3
INTRODUÇÃO
Atualmente, diante da necessidade de se executar construções com o
máximo de segurança possível, preservando o meio ambiente e,
concomitantemente, economizando recursos, encontramos o estudo dos solos como
um dos fatores que, se negligenciado, coloca em risco a vida de pessoas, causa
catástrofes ambientais e gera altos custos devido a valores com manutenção das
estruturas que venham a sofrer manifestações patológicas pós construção.
De acordo com Milititsky (2015), as patologias que ocorrem nas fundações se
devem a cinco fatores, sendo eles: a caracterização do comportamento do solo;
análise e projeto de fundações; execução das fundações; eventos pós conclusão
das fundações e degradação dos materiais constituintes das fundações.
Com ênfase na caracterização do comportamento do solo e na análise dos
projetos de fundações, este trabalho apresenta os tipos de solos mais comuns no
território brasileiro além dos principais métodos de perfuração do solo com a
finalidade de obtenção de dados importantes para a realização do projeto de
fundações.
Em seguida, será apresentado um caso de desabamento causado por falhas
nas duas vertentes acima destacadas que poderiam ter sido evitadas caso fossem
realizados por profissionais capacitados da área e diante das condições
estabelecidas pela NBR 6122 (Projeto e execução de fundações) de 1996,
legislação vigente à época.
Ainda de acordo com Milititsky (2015), em situações comuns, a etapa de
fundação de uma obra chega a custar entre 3 e 6% do seu valor total. Em caso de
existência de patologia onde seja necessário um reforço da fundação, o custo da
obra pode chegar a muitas vezes o valor inicial planejado, sem contar com o
prejuízo para a imagem dos profissionais envolvidos, além do desgaste para a
identificação das causas e responsabilidades, necessidade de evacuação de
edifícios para a interdição das estruturas entre outras complicações como até a
falência da empresa construtora.
4
Diante de todas as consequências acima descritas, este artigo é direcionado
aos profissionais de engenharia civil, geotecnia, agrimensores, topógrafos, dentre
outros que possuem influência nessa fase crucial da construção que é a fundação.
Por sua vez, o objetivo deste trabalho é conscientizar os referidos profissionais do
grau de importância dos seus trabalhos que podem, se negligenciados, acarretar em
prejuízos financeiros, psicológicos e até catástrofes no pior dos casos.
2. ESTUDO DOS SOLOS E SUAS PROPRIEDADES
Conforme MELHADO et al (2002), alguns fatores são essenciais para se
escolher a fundação mais adequada em um projeto, são eles: os esforços atuantes
sobre a edificação, as características do solo, além das características dos
elementos estruturais que compõem as fundações.
Tendo em vista que a caracterização do solo é um dos fatores que tem
influência sobre a decisão acerca de qual fundação será escolhida no projeto, faz-se
necessário o estudo de alguns tipos de solos mais comuns em nosso território.
De acordo com NEVES et al (2010, p. 6, grifo nosso), entre as formas de
classificação do solo, são três as possibilidades: classificação genética; classificação
granulométrica e classificação pedológica.
Dentro da classificação granulométrica, ainda conforme NEVES et al (2010,
p.6), se encontram os solos arenosos, argilosos e siltosos.
Segundo CAMPOS (2018), o terreno é essencial para uma construção, pois é
ele quem garante a sustentação as cargas existentes, além de ser fator
determinante, no projeto, para a escolha do perfil e de algumas características
físicas como a localização, elevação e drenagem.
Ainda conforme CAMPOS (2018), se faz necessário, em uma construção,
conhecer o comportamento esperado de um solo quando este é exposto a esforços.
5
2.1 Solos Arenosos
F
Tabela 01 – Dimensões dos grãos.
Fonte: Adaptado de CAMPOS, 2018.
Ao se analisar a tabela acima, é possível ter uma noção entre as dimensões
do tamanho dos grãos dos três tipos de solo que serão analisados.
Dentre eles, a areia é a que possui uma maior amplitude dimensional que
varia de 0,05mm até 4,8mm e, conforme CAMPOS (2018), é a mais palpável e
visível a olho nu quando comparada com a argila e o silte.
Ela também é conhecida como “solo leve” que é encontrado em grande
escala na região nordeste do Brasil. Sua composição mineralógica apresenta uma
variação considerável, pois ela depende do tipo de rocha existente na superfície da
crosta terrestre. Nas regiões praieiras, conforme TOMAZOLLI et al (2007) A Ilmenita
é um mineral que se apresenta em grande concentração nas areias de praia.
Conforme CAMPOS (2018), geralmente, em terrenos de solo arenoso que
possuem o nível de lençol freático elevado, é possível verificar a presença de trincas
e rachaduras nas estruturas construídas sobre eles após algum tempo, graças ao
fato de o solo arenoso possuir duas características: a porosidade e a
permeabilidade.
Figura 01 – Rachaduras provenientes da relação entre solo arenoso e lençol freático próximo a
superfície.
Fonte: CAMPOS, 2018.
Tipo de solo: Argila Silte Areia fina Areia
média
Areia
Grossa
Diâm. Grãos
(mm):
Até
0,005
0,005 a
0,05
0,05 a
0,15
0,15 a
0,84
0,84 a 4,8
6
Ainda conforme CAMPOS (2018), de forma a exemplificar, temos as
construções de edifícios na cidade de Santos-SP. Uma cidade praieira, localizada a
140 Km de Ubatuba-SP, onde o solo predominante é o arenoso. Graças às
fundações superficiais executadas nos prédios próximos a beira mar, temos hoje a
incidência de vários recalques que causam trincas e rachaduras nos edifícios das
redondezas da orla. Alguns dos edifícios próximos a praia, chegam a apresentar
inclinação.
Podem ser consideradas como características dos solos arenosos, as que se
seguem:
Porosidade e permeabilidade;
Baixa umidade;
Secagem rápida;
Alta susceptibilidade à erosão;
Consistência granulosa (grãos grossos, médios e finos);
Dificuldade de sobrevivência de plantas e organismos;
Pobre em água e nutrientes.
Figura 02 – Solo arenoso.
Fonte: https://www.todamateria.com.br/solo-arenoso/
Conforme GODOY (1972, apud MARANGON, 2018, p. 85) existe uma relação
direta entre o peso específico e a consistência do solo arenoso, conforme pode ser
visualizado na tabela abaixo:
7
Tabela 02 – Relação Peso específico/Consistência (Solo Arenoso)
Fonte: GODOY (1972, apud MARANGON, 2018, p. 85).
2.2 Solos Argilosos
Por sua vez, conforme BRANCO (2014), o solo argiloso é caracterizado por
uma pobre aeração e riqueza em óxidos e hidróxidos de alumínio em ferro. Ao se
analisar a tabela 01, percebe-se que ele apresenta dimensões imperceptíveis a olho
nu quando isolado.
Graças a isso, o solo argiloso também é conhecido como solo pesado, devido
a sua composição que é de argila, alumínio e ferro. A NBR 6502 (1995) classifica os
grãos de solo argiloso como oriundos da rocha sedimentar argilito. Em tempos de
chuva, os solos argilosos geralmente encontram-se encharcados, pois eles realizam
a absorção da água. Em contrapartida, nos tempos secos, o solo argiloso forma uma
espécie de camada endurecida e pouco arejada na superfície do terreno.
Assim como no caso do solo arenoso, conforme GODOY (1972, apud
MARANGON, 2018, p. 85) existe uma relação direta entre o peso específico e a
consistência do solo argiloso, conforme pode ser visualizado na tabela abaixo:
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Tabela 03 – Relação Peso específico/Consistência (Solo Argiloso)
Fonte: GODOY (1972, apud MARANGON, 2018, p. 85).
Conforme os dados contidos na figura acima, é possível constatar que os
solos argilosos possuem uma boa resistência à coesão. Além disso, ele possui
características como: alta permeabilidade; baixa acidez; alta concentração de
nutrientes; grãos muito pequenos e compactos e grande retenção de água.
Fazendo-se a comparação entre os dois solos abordados até aqui, pode-se
dizer que o argiloso é completamente o oposto do arenoso. Graças a sua elevada
plasticidade aliada a sua grande capacidade de aglutinação, o solo argiloso é muito
utilizado desde os tempos antigos como argamassa de revestimento e
assentamento, além de serem úteis na fabricação de tijolos.
Outrossim, segundo HRADILEK, Peter et al (2002), devido a sua alta
impermeabilidade, o solo argiloso é comumente o solo escolhido na construção de
barragens de terra, ao ser devidamente compactado.
2.3 Solos Siltosos
Pode-se considerar o silte como um tipo de solo intermediário, pois suas
partículas são mais finas que um grão de areia e maiores que partículas de argila. A
partir da observação, é muito difícil diferenciar um silte de uma argila, porém através
da análise da plasticidade, é possível distinguir um do outro, pois o silte quase não
possui plasticidade.
9
O solo siltoso, como seu próprio nome remete, é formado em sua maior parte
por silte, o que o torna passível de erosão. Diferentemente da argila, o silte não se
mistura, tendo em vista o seu tamanho reduzido e a sua leveza.
Em caso de necessidade de construção de estrada sobre solo siltoso, é
interessante salientar que, devido às características do silte, em tempo seco há
muito pó sobre a estrada e em tempo de chuva há a formação de barro.
Outrossim, tendo em vista a inexistência de estabilidade prolongada em
cortes realizados em terreno siltoso, é necessária uma maior manutenção e
cuidados para aumentar a estabilidade e reduzir a possibilidade de erosão e
desagregação natural que pode ocorrer.
3. PRINCIPAIS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DOS SUBSOLOS
Diante da grande variedade de tipos de solos existentes, faz-se necessária a
investigação dos subsolos antes da construção de qualquer estrutura.
Conforme Queiroz (2009), há dois tipos principais de investigação dos
subsolos, são eles: diretos e indiretos. Dentre os métodos indiretos que também são
conhecidos como geofísicos temos o Ground Penetrating Radar (GPR), o método
sísmico e a eletrorresistividade. Estes dois últimos métodos são, inclusive, muito
utilizados em geologia e engenharia de minas com a finalidade de realizar a
prospecção do petróleo, água subterrânea e minérios. Tendo em vista que os
métodos indiretos não são muito eficazes no que se refere ao fornecimento de
informações detalhadas do subsolo, serão enfatizados os principais métodos diretos
utilizados na investigação geotécnica dos solos.
3.1 Métodos diretos
Por sua vez, os métodos diretos têm por objetivo a coleta de amostras de
solos ou rochas por meio de perfurações ou através dos resultados de
equipamentos mecânicos/eletrônicos introduzidos no subsolo.
10
Ainda de acordo com Queiroz (2009), os métodos diretos podem ser
utilizados como complemento dos métodos indiretos na engenharia civil, pois com o
estudo direto por meio de sondagens e coleta de amostras para uma análise mais
minuciosa é possível quantificar os esforços que serão transmitidos.
Dentre os métodos diretos, encontramos dois tipos: métodos diretos manuais
e métodos diretos mecânicos.
Através da utilização dos métodos manuais, as amostras são coletadas com o
auxílio direto de ferramentas comuns, apenas escavando-se o solo e extraindo do
mesmo uma quantidade suficiente para remessa ao laboratório para análise. Dentre
os principais métodos manuais temos: coletas de amostras deformadas; coletas de
amostras indeformadas e a sondagem a trado manual.
Conforme Queiroz (2009), existe uma grande variedade, por sua vez, de
métodos mecânicos. Eles têm por objetivo a obtenção de informações qualitativas
e/ou quantitativas através de equipamentos que atravessam as camadas do solo
com a finalidade de obter amostras ou dados que são utilizados para a obtenção de
parâmetros geotécnicos que serão úteis para os dimensionamentos de projetos em
Engenharia Civil.
Outrossim, para a realização de sondagens, por intermédio de métodos
mecânicos, faz-se necessário o uso de equipamentos mecanizados com os
instrumentos para a coleta de amostras ou dados geotécnicos das camadas de solo
ou rochas atravessadas do local.
Dentre as sondagens mecânicas se destacam a Standard Penetration Test
(SPT) e a sondagem rotativa.
A sondagem SPT, que como o seu próprio nome denota, é o teste de
perfuração padrão cujo objetivo é justamente o reconhecimento do solo, auxiliando
os seus usuários com informações relevantes para o dimensionamento da fundação.
De acordo com Queiroz (2009), no Brasil, o SPT é utilizado em
aproximadamente 90% das sondagens no subsolo em projetos de fundações
profundas. Através do SPT é possível coletar informações acerca de solos
atravessados, com a obtenção de amostras deformadas a cada metro de
11
profundidade, que, logo após, são remetidas para laboratório com a finalidade de se
obter informações mais precisas acerca do solo.
Ainda conforme Queiroz (2009), Para cada metro de profundidade, são
coletados também o número (Nspt) juntamente com a posição do nível d’água. A
sondagem SPT consiste na cravação de um barrilete no solo por meio de impactos
aplicados por um equipamento chamado “martelo” sobre um sistema de hastes de
aço.
A seguir, a figura 03 apresenta o conjunto das peças que compõem o
equipamento que realiza a sondagem SPT.
Dentre os equipamentos necessários para a realização da sondagem SPT,
temos: martelo, roldana, corda, tripé, hastes, coxin de impacto, barrilete amostrador,
guincho, bomba, tubos flexíveis, depósito de lama e ferramentas perfurantes.
A sondagem rotativa, por sua vez, é essencial em obras de grande porte,
pois permite a investigação e reconhecimento de rochas e solos permitindo a
retirada de amostras da rocha atravessada, além de atingir grandes profundidades.
Conforme DAS, BRAJA M (2011), quando executada junto com a sondagem
SPT, ela é chamada de sondagem mista. Uma das situações em que a sondagem
rotativa é utilizada de forma “mista” é quando uma sondagem SPT atinge um
obstáculo intransponível ao seu amostrador ou trépano de lavagem, pois o
Figura 03 – Equipamento para sondagem SPT Fonte: https://www.escolaengenharia.com.br/tipos-de-sondagem/
12
equipamento a percussão não possui tecnologia para definir a natureza da
obstrução. A natureza, inclusive, pode ser um solo concrecionado, um matacão,
bloco de rocha, dentre outros, sendo necessária a realização da sondagem rotativa
para a identificação.
4. ESTUDO DE CASO (CONDOMÍNIO ANÊMONA)
Após breve explanação acerca de alguns tipos de solos e métodos de
investigação do subsolo, será apresentado neste tópico a ruptura de estacas que
acarretou no colapso de um dos blocos do condomínio anêmona que, de acordo
com DE SOUZA (2003), ocorreu graças as espessas camadas de solo que não
possuíam a mínima capacidade de suporte e extrema compressibilidade.
Consequentemente, outros solos ao longo do território nacional possuem
características semelhantes ao encontrado na cidade de Ubatuba-SP, onde estava
localizado o edifício anêmona, o que realça a importância de estudos comparativos
entre solos de diferentes regiões tomando por base um solo onde já ocorrera um
acidente.
As figuras 04, 05 e 06, a seguir, apresentam as sondagens realizadas no
subsolo do Condomínio Anêmona de forma a obter o perfil geológico do terreno,
figura 07:
Figura 04 – Sondagem SP 02 Fonte: Túzzolo Engenharia, apud DE
SOUZA (2003).
Figura 05 – Sondagem SP 03 Fonte: Túzzolo Engenharia, apud DE
SOUZA (2003).
14
Figura 06 – Sondagem SP 05
Fonte: Túzzolo Engenharia, apud
DE SOUZA (2003).
15
A partir da análise das sondagens (SPT) acima, em especial a do furo
05, que está próxima ao local exato de onde ocorreu a ruptura da base de
sustentação (fundo do terreno), é possível inferir que, em um mesmo terreno
onde se constrói um empreendimento, é possível encontrar perfis geológicos
diferentes, o que deve servir de alerta para os construtores, pois uma parte do
terreno pode ser propícia a construção enquanto outra parte não.
Conforme apresentado na imagem acima, o que já fora explanado nas
sondagens anteriormente, o solo onde foi realizada a sondagem SPT 05 foi o
mais impróprio para a construção, de acordo com DE SOUZA (2003), sendo a
razão pela qual somente o bloco B do condomínio anêmona desabou.
Através de uma minuciosa análise das sondagens e do perfil geológico
acima expostos, torna-se viável a percepção do perigo que envolve a
construção sobre esse tipo de solo, o que deveria ser objeto de preocupação
de quem construiu o empreendimento, à época, e deve ser motivo de
Figura 07 – Vista em corte do
subsolo
Fonte: Túzzolo Engenharia, apud
DE SOUZA (2003).
16
preocupação para aqueles que constroem sobre solo com características
semelhantes.
Dentre as diversas recomendações contidas na NBR 6122 (Projeto e
execução de fundações), destaca-se a que trata acerca da realização, por
profissional perito, de uma vistoria geológica in loco. A mesma também
recomenda que nessa vistoria devem ser complementada com estudos
geológicos, através da consulta das seguintes fontes:
Mapas geológicos;
Bibliografia especializada; e
Fotografias aéreas comuns ou multiespectrais, dentre outros.
Ou seja, faz-se necessário um profissional ou até mesmo uma equipe de
profissionais com plena capacidade para a execução dessa etapa da obra
(fundação), cujos conhecimentos geológicos aliados aos estudos adicionais
garantirão o êxito na conclusão dessa fase da obra.
Ao analisar algumas sondagens de alguns empreendimentos localizados
na Região Metropolitana do Recife, foi possível constatar que alguns possuem
um perfil geológico semelhante ao do edifício Anêmona, conforme podemos
observar nas figuras a seguir:
17
Figura 08 – Sondagem SP 001 Fonte: Geosolo Tecnologia do Solo,
Sondagens e Absorções Ltda.
Figura 09 – Sondagem SP 002 Fonte: Geosolo Tecnologia do Solo, Sondagens e Absorções
Ltda.
Figura 10 – Sondagem SP 003 Fonte: Geosolo Tecnologia do Solo,
Sondagens e Absorções Ltda.
18
Através da análise das sondagens do terreno sobre o qual foram
construídas instalações da empresa acima, algumas observações saltam a
vista como o fato do nível d’água que se encontra a aproximadamente 3,70m
de profundidade no terreno, assim como a presença de silte argiloso muito
mole e areia fofa em algumas camadas do perfil geológico apresentado. O que
pode acarretar em diversas manifestações patológicas devido a recalques das
fundações ou até mesmo devido ao “Efeito Tschebotarioff” que requisitará a
necessidade de constantes manutenções nas estruturas ao longo dos anos.
As imagens a seguir são três sondagens realizadas pela empresa
ENSOLO, na Zona Industrial em Suape para para a construção de galpões:
Figura 11 – Sondagem SP 01 Fonte: Engenharia e Consultoria
de Solos e Fundações Ltda
Figura 12 – Sondagem SP 02 Fonte: Engenharia e Consultoria
de Solos e Fundações Ltda
19
Figura 13 – Sondagem SP 03
Fonte: Engenharia e Consultoria de Solos e Fundações Ltda
20
Diante das sondagens apresentadas acima, na cidade de Cabo de Santo
Agostinho-PE, é possível constatar que o nível d’água varia de acordo com a
localização do furo, assim como as suas camadas geológicas não são lineares,
o que nos leva a inferir que, aos mesmos moldes do terreno do condomínio
Anêmona, esse solo pode ser propício para a construção em alguns locais e
em outros não.
De uma maneira geral, este terreno apresenta, até o seu leito rochoso,
as seguintes camadas: silte muito argiloso com areia fina de consistência mole
a média mole; areias médias, finas, grossas pouco compacta a compacta;
aterro de pó com pedra brita, turfa pouco argilosa, dentre outros. O que
demandará do projetista de fundação um estudo minucioso para atender o
perfil geológico encontrado.
A figura a seguir, apresenta uma sondagem do Instituto Ricardo
Brennand:
Figura 14 – Sondagem SP 01 Fonte: Master Solos Engenharia
21
Por sua vez, a sondagem do Instituto Ricardo Brennand localizado em
Recife-PE apresenta em seu perfil geológico uma argila siltosa mole a partir da
profundidade de 3,72 m. Desta forma, aos mesmos moldes dos solos
anteriores, é interessante o estudo para o correto dimensionamento da
fundação em obras cujo perfil geológico do terreno seja semelhante ao
apresentado na presente sondagem.
5. CONCLUSÃO
No presente artigo foram abordados os principais tipos de solos,
juntamente com as suas características predominantes. Este tópico foi
elaborado com a finalidade de conferir conhecimentos essenciais para os
próximos tópicos do trabalho que foram os métodos de investigação do subsolo
utilizados na construção civil e a análise de sondagens de empreendimentos
localizados nas cidades de Recife, Jaboatão dos Guararapes e Cabo de Santo
Agostinho, todos localizados em Pernambuco, comparando-os com a
sondagem do terreno de Ubatuba-SP, onde ocorreu o desabamento do bloco B
do Condomínio Anêmona.
Após a averiguação de tudo o que foi exposto até o momento, resta
concluir que a análise do estudo dos solos ou o reconhecimento geotécnico de
um terreno, é um fator que deve ser alvo de muita atenção por parte dos
profissionais envolvidos no planejamento e na execução da fundação e,
consequentemente, daqueles responsáveis pela obra como um todo.
A negligência ou até mesmo a falta de experiência no momento da
elaboração do projeto de fundação de uma obra pode ser considerado o início
de um efeito cascata, tendo em vista que qualquer erro mínimo de
dimensionamento nesta etapa poderá ser o gerador de transtornos futuros
graças a patologias que surgirão com o transcorrer do tempo, seja em um
edifício, galpão, museu ou outro empreendimento. A fase de planejamento e
22
execução da fundação é crucial, assim como todas as demais etapas, na
construção de qualquer empreendimento, devendo ser revestida da devida
importância, sendo acompanhada por profissionais não apenas habilitados,
mas de preferência com a experiência necessária de forma a entregar a
excelência ao contratante.
Consequentemente, fazem-se necessários novos estudos comparativos
ao longo do território nacional de forma a complementar a pequena gama de
dados até aqui existentes sobre o assunto e com vista a prevenir os transtornos
supracitados.
Dessa maneira, será possível acumular uma grande gama de
informações de forma a auxiliar os profissionais diretamente envolvidos nessa
importante fase da obra.
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https://docente.ifrn.edu.br/valtencirgomes/disciplinas/construcao-de-
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abril de 2019.
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https://www.ebah.com.br/content/ABAAAgskgAG/nbr-6502-1995-rochas-solos.
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