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ANÁLISE DA GESTÃO DA QUALIDADE
EM UMA INDÚSTRIA DE CALÇADOS
Paulo Renato Pakes (Depto. Engenharia de Engenharia de
Produção )
LUCIANA RODRIGUES PIRES (UFSCAR )
Brena Bezerra Silva (UFSCAR )
Estefani Silva Rocha (Universidade de Franca )
Vívian Karina Bianchini (Engenharia de Produção )
Atualmente, a competitividade faz com que as empresas busquem por
vantagens competitivas para que consigam se sustentar no mercado
cada vez mais incerto. Nesse cenário, encontra-se o setor calçadista
brasileiro, que conta com relevante partticipação na economia
nacional, mas necessita de ferramentas que a auxiliem a superar a
concorrência. Assim, os conceitos relacionados Qualidade, como a
Gestão de Qualidade Total (GQT) ou Total Quality Management
(TQM) são essenciais para o desempenho das empresas, pois,
promovem maior satisfação e a confiança aos consumidores, reduz
custos, aumenta a produtividade, melhora a imagem da empresa, além
de possibilitar a conquista de novos mercados. Nesse contexto, o
objetivo do presente artigo foi analisar, por meio de teorias e métodos
do TQM a situação atual da empresa e averiguar quais são as
oportunidades de melhoria. Para realização da pesquisa utilizou-se o
método de estudo de caso, com uma abordagem quantitativa. A partir
da realização deste artigo, foi possível realizar sugestões de melhorias
para que a empresa implante o TQM em seu processo produtivo e
assim possa alcançar maior vantagem competitiva.
Palavras-chave: Gestão da Qualidade Total. Total Quality
Management. Setor Calçadista
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
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1. Introdução
O setor calçadista de Franca tem grande representatividade na indústria calçadista nacional.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (2015), ele é considerado o maior
polo calçadista do estado de São Paulo e, cada vez mais, busca melhorar suas práticas, com a
finalidade de se tornar mais competitivo. Isso destaca a relevância deste segmento para o
desenvolvimento local e regional. Na busca por preservar uma boa identidade e reforçar o
posicionamento das empresas calçadistas, estas precisam almejar de forma contínua o
aprimoramento, definindo parâmetros para melhorias e, sobretudo, definir o conceito de
qualidade.
Destarte, no que tange as organizações, o conceito de qualidade evoluiu da adequação ao
padrão para a adequação às necessidades e satisfação dos clientes (MARTINS e COSTA
NETO, 1998). Portanto, deve-se considerar a qualidade como um elemento estratégico, no
qual as organizações precisam planejá-la e gerenciá-la, não se restringindo apenas às suas
atividades internas. Essa qualidade necessária e/ou planejada para um produto/serviço pode
ser obtida através da Gestão da Qualidade (TOLEDO et al.,2014).
A importância da gestão da qualidade culminou no desenvolvimento das teorias e práticas da
chamada Gestão da Qualidade Total (GQT) ou, em inglês, Total Quality Management (TQM).
Frente a isto, o estudo destina-se a averiguar quais são as oportunidades de melhorias em uma
indústria calçadista do município de Franca, em relação ao TQM. Para tal, serão analisadas as
práticas adotadas em uma empresa calçadista e averiguar possíveis oportunidades de melhoria
para a organização, baseado nos conceitos de TQM. Por fim, serão feitas sugestões de
melhorias para que a empresa implante esse conceito em seu processo produtivo.
2. Fundamentação Teórica
2.1. Conceito de qualidade
O conceito de qualidade é amplamente utilizado em organizações dos diversos setores, posto
que está estritamente relacionado às necessidades e desejos dos consumidores (ISNARD et al,
2006). Nesse sentido, importantes autores contribuíram para a disseminação do conceito de
qualidade, por meio de suas definições e percepções sobre o tema. Como é o caso das
definições expostas pelos Gurus da Qualidade, conforme é destacado no Quadro 1.
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Quadro 1– Definições dos Gurus da Gestão da Qualidade
Fonte: Adaptado de Toledo et al (2014).
Em uma contribuição mais recente, Carpinetti, Miguel e Gerolamo (2007) ressaltam que
existem características para atribuir qualidade a um produto, frente a isso, com objetivo de
simplificá-las o autor as agrupa em parâmetros perceptíveis ao cliente, conforme o Quadro 2.
Quadro 2 – Parâmetros da qualidade de produto.
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Fonte: Carpinetti, Miguel e Gerolamo, 2007, p. 7.
2.2. Gestão da Qualidade
A filosofia de gestão é baseada no princípio de melhoria contínua de produtos e processos
visando satisfazer as expectativas de todos os clientes, de todas as fases do ciclo de vida dos
produtos, com relação a qualidade, custos, entrega, serviços etc., à medida que se passa a
considerar a qualidade total e não apenas a qualidade stricto sensu do produto (TOLEDO et
al., 2014).
De acordo com Paladini (2004) a Gestão da Qualidade pode ser conceituada como o processo
de definição, implantação e avaliação de políticas da qualidade. Portanto, concerne a ela
contribuir com as decisões que definem as políticas da qualidade da organização, além do
desenvolvimento, implantação e avaliação dos programas de qualidade.
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2.3. Gestão da Qualidade Total
Segundo Paladini (1994), a “Qualidade Total” está direcionada ao consumidor, mas, pela
abrangência do conceito é necessário um envolvimento de todas as áreas para que o objetivo
seja alcançado. Para Aquilani et al. (2017), a ideia central da Gestão da Qualidade Total
(GQT) ou TQM, compreende o gerenciamento organizacional da qualidade dentro de uma
empresa, na tentativa de ampliar o foco da qualidade, não se limitando apenas ao controle de
processos.
Segundo Toledo et al. (2014) e , o TQM é definido como uma abordagem de gestão integrada
a um conjunto de práticas que realça a melhoria contínua, o atendimento às expectativas e
necessidades do cliente, a redução do retrabalho, o planejamento a longo prazo, o trabalho em
equipe, além de um relacionamento próximo à fornecedores, clientes e agentes
governamentais.
Pode-se dizer que o TQM tornou-se uma estratégia bem adotada nas organizações que buscam
melhorias em seus processos, através da redução de perdas e custos, melhorias de
procedimentos internos, atenção oportuna e eficiência de clientes e fornecedores, bem como
tempos ótimos de entrega e serviço pós-venda (EL-SHENAWY; BAKER; LEMAK, 2007).
Sua adoção implica transformação organizacional e tempo para assimilar as mudanças. A alta
gerência deve garantir a compreensão das vantagens da organização e exercer a liderança
durante o processo
Frente a isso, o TQM possuiu sete elementos centrais, segundo Toledo et al (2014) esses
elementos são: foco no cliente, liderança e apoio da alta administração, envolvimento das
pessoas, abordagem de processo, melhoria contínua, abordagem factual para a tomada de
decisão e relação com os fornecedores. Os quais serão expostos no Quadro 3:
Quadro 3 – Elementos centrais do TQM.
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Fonte: Adaptado de Toledo et al (2014).
Entretanto, embora sejam apontados os benefícios e a relevância do TQM para as
organizações, existem alguns obstáculos para sua implementação. Oakland (1994) aponta que
por demorar um longo período para se alcançar resultados efetivos através do TQM, os
envolvidos no processo podem apresentar resistências e não se comprometer da forma
necessária. Ademais, outros pontos levantados pelo autor são os fatos de que a abordagem do
TQM é burocrática, formal, rígida, impessoal e/ou propriedade de um grupo especializado.
2.4. Ferramentas da Qualidade
Segundo Toledo et al (2014) para a organização obter maior qualidade e produtividade na
identificação das causas dos problemas é fundamental que se utilize ferramentas estatísticas e
gráficas estruturadas.
Existem diversas ferramentas utilizadas para uma infinidade de objetivos. Entretanto, os
autores Toledo et al (2014) e Oakland (1994) chamam a atenção de sete ferramentas,
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conhecidas como “As sete ferramentas básicas da qualidade”, que são apresentadas no Quadro
4:
Quadro 4 - As sete ferramentas básicas da qualidade.
Fonte: Adaptado de Oakland, 1994, p. 217 e Toledo et al, 2014, p. 196.
Para esse trabalho foi utilizada a ferramenta de Diagrama ou Análise de Pareto, e sugeriu-se a
utilização das ferramentas Diagrama de Causa e Efeito e Ciclo PDCA para resolução dos
problemas encontrados.
2.4.1. Análise de Pareto
Técnica de análise de causas, baseado nos princípios desenvolvidos pelo economista Vilfredo
Pareto (OAKLAND, 1994). Segundo estes princípios, apenas uma minoria da população
detém maior parte da renda. Juran transportou-os para área da Qualidade onde, analogamente,
os principais efeitos são derivados de um número pequeno de causas.
A partir desta ferramenta, é possível determinar que porcentagem pode ser atribuída a cada
uma das causas e o resultado provável é que a maior parte dos problemas seja originada por
poucas causas. Analogamente ao estudo de Pareto sobre a renda da população italiana, é
provável que 80% dos problemas de qualidade de um produto ou serviço seja originado a
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partir de 20% de todas as causas existentes. A partir dessa análise, é possível identificar quais
as causas principais que devem ser tratadas em primeiro lugar.
Toledo et al (2014) salienta que deve ser obedecido e seguido alguns passos para se montar
um Diagrama de Pareto, os quais estão expressos no Quadro 5 abaixo.
Quadro 5 - Passos para montagem de um Diagrama de Pareto.
Fonte: Adaptado de Toledo et al, 2014, p. 206.
2.4.2. Diagrama de causa e efeito
Para Oakland (1994), o Diagrama de Causa e Efeito ou espinha de peixe é um instrumento
que visa analisar as causas que afetam a qualidade. Nesse método, busca-se identificar as
causas que levam o processo a obter um determinado resultado, o efeito. A causa a ser
analisada deve aparecer na ponta de uma flecha horizontal e as causas potenciais, como: mão
de obra, equipamentos, avaliações, medidas, métodos e procedimentos, são mostradas como
setas que se prolongam até a seta da causa principal.
Segundo Toledo et al (2014), Kaoru Ishikawa propôs oito passos para a confecção do
diagrama conforme Quadro 6.
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Quadro 6 - Passos para montagem de um Diagrama de Causa e Efeito.
Fonte: Adaptado de Toledo et al, 2014, p. 204.
2.4.3. Ciclo PDCA
Segundo Carvalho e Paladini (2012), o ciclo PDCA é uma ferramenta amplamente utilizada
nas organizações para análise e melhoria dos processos organizacionais e para a eficácia do
trabalho em equipe. Ele possui a finalidade de acelerar e aperfeiçoar as atividades de uma
empresa, por meio da identificação dos problemas, de suas causas e das possíveis soluções.
O ciclo é composto por quatro etapas, que são: Planejamento (plan), Executar (do), Controlar
(check) e Agir (act).
3. Método da Pesquisa
No presente trabalho, optou-se por utilizar o método de estudo de caso, frequentemente
aplicado na engenharia de produção (MIGUEL, 2012). Ele consiste na análise aprofundada de
um ou mais casos, com o uso de múltiplos instrumentos de coleta de dados (EISENHARDT,
1989; MIGUEL, 2012). Nesta pesquisa, os pesquisadores optaram por realizar um caso
explanatório, com abordagem quantitativa, onde através de uma análise das ocorrências e
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pesquisa em livros e artigos científicos, procura-se propor melhorias para os problemas
propostos (YIN, 2005).
Para o presente artigo foi utilizado um estudo de caso único, esse método foi utilizado por
considerar diversas fontes de evidências, como tentativa de esclarecer o motivo de decisões
tomadas, como foram implantadas e quais os resultados obtidos (YIN, 2005). O estudo de
caso foi conduzido levando em consideração as etapas propostas por Miguel (2012). A
primeira etapa foi definir a estrutura teórica, por meio de uma revisão bibliográfica sobre
Qualidade, Gestão da Qualidade Total e processos calçadista. Posteriormente foi definida a
organização que seria alvo do estudo de caso e o roteiro de entrevista semiestruturado
aplicado na mesma.
Portanto, a coleta de dados, se deu mediante autorização da empresa, seguido por uma visita
inicial, para conhecer o processo produtivo, o espaço físico e a estrutura organizacional.
Posteriormente, foi realizada uma entrevista com o gerente da empresa, com duração de
aproximadamente uma hora. Além do mais, durante as visitas à empresa observações foram
realizadas e anotadas. Em seguida os dados foram analisados e compilados, conforme
apresentado na próxima seção.
4. Estudo de Caso
4.1. A empresa
O estudo de caso foi realizado em uma empresa calçadista de grande porte do município de
Franca. A empresa foi fundada há cerda de 28 anos e sua atividade produtiva está direcionada
a confecção e comercialização de sapatos masculinos em couro. Atualmente, a empresa ocupa
uma área de mais de 6.000 m², responsável pela geração de, em média, 600 empregos e uma
capacidade de produção diária de 3.400 pares. A empresa trabalha com um mix de produtos
diversificados, com 35 linhas de calçados, divididas em sapatos sociais, sapatênis e sapatilhas,
que somam aproximadamente 290 modelos. Além disso, estima-se uma carteira de mais de
7.600 clientes ativos.
A empresa trabalha com o sistema de produção em linha, o qual produz em larga escala de
produtos com padronização média, utilizando uma linha de montagem. Para atender as
demandas de produção, a empresa trabalha com máquinas e equipamentos tecnologicamente
avançados e específicos para tal atividade, além de colaboradores capacitados na área.
4.2. O processo produtivo da empresa
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A Figura 1 apresenta o fluxograma do processo produtivo da empresa analisada:
Figura 1 - Fluxograma dos processos.
Fonte: Elaboração própria, 2019.
A empresa faz a gestão da qualidade no decorrer das atividades do processo de produção,
através da inspeção, revisando e conferindo as peças após serem operadas, além do produto
final, antes de ser embalado.
A empresa trabalha com matéria prima de baixo custo e, com isso, as peles de couro, principal
matéria prima do sapato, apresentam imperfeições que precisam ser analisadas.
Ao receber a principal matéria prima, é feita a classificação do couro em três tipos:
a) Couro nobre, melhor parte do couro;
b) Couro intermediário, com qualidade média do couro;
c) Couro inferior, parte de baixa qualidade do couro, onde apresenta imperfeições na pele
do couro.
Todas as peles recebidas passam por essa análise e classificação e todas as partes do couro são
aproveitadas. Nenhuma parte do material é perdida ou devolvida ao fornecedor.
O couro classificado como A é utilizado nas partes mais visíveis do sapato: a pála e a gáspea,
que são as partes que compõem a frente do calçado. A classificação B fica para as partes
pouco menos visíveis, onde os pequenos defeitos podem ser disfarçados com o acabamento
do sapato. Já o couro classificado como C, fica para as partes mais escondidas do sapato,
partes que não ficam à vista dos clientes.
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4.2. Controle de qualidade na empresa
Na organização existem diversos setores de revisão, conforme a Figura 2, no intuito de
identificar os defeitos durante a produção e assim minimizar os problemas de não
conformidade.
Figura 2 - Fluxograma do processo produtivo e as revisões do processo
Fonte: Elaboração própria, 2019.
Com o intuito de analisar os principais defeitos do processo produtivo, foi utilizado um
levantamento de dados da empresa onde contam os resultados das inspeções realizadas entre
os meses de janeiro a abril de 2018. Com base nessas informações, foi feito um Diagrama de
Pareto com objetivo de identificar quais os defeitos que mais impactam no resultado final da
qualidade do produto.
4.2.1. Revisão de corte
A revisão de corte é realizada após o corte do couro e diversos problemas são encontrados
nesse setor conforme Tabela 1.
Tabela 1 - Motivos dos defeitos na revisão de corte
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Fonte: Elaboração própria, 2019.
Mediante dos dados coletados é possível verificar que a falta de peças é o principal problema
enfrentado pelo setor. Isso ocorre quando o cortador não corta todas as peças necessárias para
a confecção do calçado, acarretando no retrabalho de corte das peças faltantes.
A Figura 3 mostra o diagrama de Pareto dos problemas encontrados no setor de corte. Nota-se
que apenas dois defeitos representam uma totalidade de 65% de todos os problemas
encontrados.
Figura 3 - Diagrama de Pareto - Setor de Corte
Fonte: Elaboração própria, 2019.
Com base na análise e nas informações obtidas na entrevista, observa-se que quatro
problemas levantados são muitos semelhantes. Os problemas “defeito de material”, “defeito
na gáspea”, “defeito na pala” e “peça com defeito” são relacionados a problemas no couro.
4.2.2. Conferência da preparação
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No setor de preparação o maior problema encontrado, conforme a Figura 4, é a chanfração.
Esse é um procedimento que visa lixar as bordas do couro, para melhorar a adesão da cola.
Nesse caso, o problema ocorre quando o operador lixa o couro além do desejável, diminuindo
a resistência do calçado, após colado.
Figura 4 - Diagrama de Pareto - Setor de Preparação
Fonte: Elaboração própria, 2019.
O segundo maior problema desse setor é novamente a falta de peças, mesmo após a
conferência do setor de corte. Um ponto observado é que algumas peças são descartadas no
processo de chanfração. Assim, como a revisão ocorre após essa operação, o problema é
mensurado como “faltou peça” e não como “estragou na chanfração”.
4.2.3. Revisão de pesponto
O processe de pesponto é realizado por empresas terceiras, portanto, há uma revisão quando o
material pespontado é entregue para a fábrica, para verificar a qualidade do serviço. Em caso
de peças não conformes, essas são devolvidas para correção.
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4.2.4. Revisão de montagem
No setor de montagem, o problema mais identificado foi “montagem de bico”, conforme a
Figura 5. Esse problema acontece ao realizar o processo de montagem do sapato na máquina,
chamada Molina, o operador acaba montando o sapato torto.
Figura 5 - Diagrama de Pareto - Setor de Montagem
Fonte: Elaboração própria, 2019.
Nesse setor é apontado novamente dois defeitos muitos semelhantes, segundo a entrevistada.
O problema “Defeito de Pala/Gáspea” e o “Defeito de material” se referem a problemas no
couro, onde mesmo após a conferência no setor de corte é encontrado no setor de montagem.
4.2.5. Revisão de acabamento
No setor de acabamento os principais problemas encontrados são relacionados às próprias
operações do setor, conforme Figura 6.
Figura 6 - Diagrama de Pareto - Setor de Acabamento
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Fonte: Elaboração própria, 2019.
4.2.6. Centro de qualidade
Por fim, o último setor para controle da qualidade é o “centro de qualidade”. Nesse setor é
realizada a conferência final da qualidade do sapato e o principal problema encontrado é o
“Defeito de Material”, conforme Figura 7.
Figura 71 - Diagrama de Pareto - Setor de Controle de Qualidade
Fonte: Elaboração própria, 2019.
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Mesmo após todas as conferências realizadas podemos verificar que ao final do processo
produtivo encontra-se produtos com problemas no couro. O segundo problema mais
encontrado está relacionado a defeitos de pesponto.
Importante salientar que, três dos cinco principais defeitos encontrados nesse setor estão
relacionados à matéria prima, o couro.
4.3. Relação cliente e empresa
Embora haja constantes revisões do produto durante o processo produtivo ainda são relatados
problemas de não conformidade. Frente a isso, a empresa possui um setor responsável por
analisar as solicitações de devolução, que são averiguadas junto a diretoria, para que sejam
solucionadas as melhores alternativas.
Através de coletas de dados dos meses de janeiro a abril de 2018 e que foram fornecidos pela
empresa estudada é possível realizar uma análise das causas que mais impactam
financeiramente para a empresa conforme mostrado na Figura 8.
Figura 8 - Diagrama de Pareto - Controle de Devoluções
Fonte: Elaboração própria, 2019.
O maior problema encontrado através das devoluções dos produtos está relacionado ao “Forro
PU Hidrolise”. Esse problema acontece devido a fragilidade do material que pode rasgar e
atrapalhar a usabilidade do calçado. Pode-se perceber que esse tipo de problema sozinho é
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responsável por 53,36 mil reais, o que corresponde a 44% de todo o valor gasto com
devoluções.
4.4 Recomendações quanto as proposições do TQM
Frente ao exposto, foram identificadas oportunidades de melhoria do sistema de qualidade
atual. Com base nessas informações e no estudo sobre o TQM, foram desenvolvidas algumas
recomendações para melhoria do sistema atual.
4.4.1 Foco no cliente
Foi constatado no estudo que a empresa não conta com nenhum tipo de sistema de avaliação
pós-venda e todo contato após a venda do produto é realizado partindo pelo próprio cliente
através de uma reclamação pela qualidade do produto. Assim, fica como recomendação para a
empresa a criação de sistema de pós-venda no intuito de buscar informações relevantes de seu
público alvo.
4.4.2 Liderança e apoio da alta administração
É fundamental que a alta liderança da empresa estimule e envolva todos os colaboradores
através de divulgação de resultados e suporte para as necessidades dos colaboradores.
Ademais, destaca-se a importância da definição de uma política de qualidade que promova
melhorias aos processos.
4.4.3 Envolvimento das pessoas
Para o maior engajamento dos colaboradores, recomenda-se a adoção de treinamentos
periódicos, atualizando-os sempre que necessário aos novos padrões e exigências do mercado.
A empresa poderia disseminar as informações da qualidade e começar a investigar as
principais causas de defeitos em conjunto com os operadores buscando entender as causas raiz
através da técnica de brainstorming.
4.4.4 Abordagem de processo
A empresa não possui padrão para identificar os defeitos de seus produtos, visto que são
mensurados defeitos iguais/semelhantes com nomenclaturas diferentes. É importante que a
empresa padronize as nomenclaturas dos defeitos.
Recomenda-se também que a empresa atualize o fluxograma de processo de forma que todos
as atividades do processo produtivo sejam contempladas em cada setor. Essa aplicação é
importante para determinar as atividades de cada setor e posteriormente identificar qual
dessas atividades podem estar sendo a geradora do defeito estudado na fase de melhoria
contínua.
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4.4.5 Melhoria contínua
Recomenda-se que a empresa aplique a ferramenta PDCA para identificar quais são as causas
dos principais problemas identificados. Como sugestão, a empresa poderia realizar na fase do
Plan do PDCA, utilizar a ferramenta Diagrama de Pareto para identificar os principais
defeitos de cada setor e, posteriormente, o Diagrama de Causa e Efeito (Ishikawa), através de
um brainstorming para identificar as causas dos principais defeitos e definir quais as possíveis
soluções para mitigar o problema estudado. Na fase da execução do PDCA, a empresa poderia
aplicar as possíveis soluções encontradas e controlá-las por um período pré-definido. Por fim,
após o período estipulado, inicia-se fase do Agir do PDCA onde a empresa deve analisar se
foi eficaz as medidas tomadas e iniciar o ciclo novamente estudando novas soluções caso o
problema não tenha sido mitigado ou atuando para resolver outro tipo de defeito.
4.4.6. Abordagem factual para a tomada de decisões
A indústria deve realizar reuniões periódicas sobre qualidade e apresentar relatórios no intuito
de disseminar os problemas encontrados e os resultados alcançados.
4.4.7. Relacionamento com fornecedores
A empresa deve iniciar um controle de defeitos, semelhantes aos realizados em todos os
outros setores, no qual possa identificar os principais defeitos encontrados nos produtos de
seus fornecedores. Essa informação será importante para exigir que seus parceiros adotem
medidas de qualidades.
5. Conclusão
Com a realização da pesquisa pode-se compreender que embora a empresa analisada utilize
algumas abordagens de qualidade em seu processo, existe uma grande possibilidade de
melhorias. Posto que, as análises apontam que a adoção de algumas ferramentas não é
suficiente para diminuir ou até mesmo mitigar os problemas encontrados em seu processo
produtivo.
Ademais, por meio da pesquisa identificou-se quais os principais desvios encontrados nos
setores, além de detectar a falta de padrão na identificação dos defeitos de seus produtos e
falta de engajamento e comprometimento dos colaboradores na busca da qualidade dos
produtos. É importante ressaltar que as alterações sugeridas não necessitam de altos
investimentos, entretanto, algumas podem ser difíceis de serem implementadas visto que é
necessário alterar a cultura organizacional da empresa. Apesar dessa dificuldade, é
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fundamental que a liderança seja persistente em busca da melhoria contínua, pois, essas
melhorias podem trazer diversos benefícios a curto e longo prazo e em tempos de crise, pode
ser o diferencial que levará a empresa a continuar atuando no mercado.
Dessa forma, conclui-se que o objetivo desse trabalho foi alcançado, de modo que foram
identificadas e analisadas as práticas adotadas pela empresa, e por meio dessas análises foram
propostas melhorias baseadas no TQM.
Ademais, pode-se destacar algumas limitações sobre esse estudo, tal como o fato de ser um
estudo de caso único, focado em apenas uma cidade, o que limita a análise dos resultados.
Deste modo, sugere-se como pesquisas futuras, um estudo de múltiplos casos, considerando
mais empresas do mesmo segmento, além de analisar empresas localizadas em outras regiões.
REFERÊNCIAS
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INDG Tecnologia e serviços LTDA, 2006.
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<http://www.abicalcados.com.br>. Acesso em: 10 fev.2019.
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CARPINETTI, L. C. R.; MIGUEL, P. A. C.; GEROLAMO, M. C.; Gestão da qualidade ISO 9001:2000:
Princípios e requisitos. 3. Ed. São Paulo: Atlas, 2007.
CARVALHO, M. M.; PALADINI, E. P.; Gestão da Qualidade: Teoria e Casos. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier:
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