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Revista Científica do UniRios 2021.1 |76 ANÁLISE DA VARIAÇÃO MORFOSSINTÁTICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO À LUZ DA SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA: Uma experiência de ensino com alunos da Bahia e de Sergipe15 José Batista de Souza Mestre em Letras pela Universidade Federal de Sergipe. Professor das redes Municipal e Estadual da Bahia e da Faculdade do Nordeste da Bahia FANEB. Membro dos Grupos de Pesquisa Educon UFS e Paidéia FANEB. E-mail: [email protected] Manoel Rodrigues de Abreu Matos Mestre em Letras pela Universidade Federal de Sergipe. Professor das redes Municipal e Estadual da Bahia E- mail: [email protected] Nice Vânia Machado Rodrigues Valadares Mestre em Letras pela Universidade Federal de Sergipe. Professora das redes Municipal e Estadual de Sergipe. E-mail: [email protected] RESUMO Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa sociolinguística aplicada em turmas de Ensino Fundamental II, com base nos pressupostos da Sociolinguística Variacionista. Trata-se de um trabalho originado de uma pesquisa realizada durante o Mestrado Profissional em Letras, na disciplina Gramática, Variação e Ensino. O objetivo do trabalho foi compreender alguns fenômenos morfossintáticos, tais como a pronominalização, a relativização e a regência dos verbos ir e chegar em textos produzidos por alunos de 6º ao 9º anos. A metodologia aplicada consistiu na análise de uma produção textual dos referidos alunos. Foram investigadas 80 produções de alunos de 3 cidades. Tal análise foi realizada com base na obra Português ou Brasileiro? um convite à pesquisa, de Marcos Bagno. A partir da análise, os resultados demonstraram que, em relação à pronominalização, prevalece o uso do pronome reto de 3ª pessoa do singular (ele/ela). Quanto à relativização, há uma porcentagem semelhante das ocorrências da relativa copiadora e da relativa cortadora. Em relação à regência do verbo “ir”, grande parte dos estudantes o usa com a preposição para [+ permanência], em detrimento de a [- permanência]. No tocante à regência do verbo “chegar”, houve poucas ocorrências, e estas mostraram que este verbo ocorre com maior frequência junto com a preposição em (chegar em) [- padrão], do que com a preposição a (chegar a) [+ padrão]. Assim, com base nos dados coletados, a principal conclusão a que se chega é que a variação linguística é algo que faz parte da língua e que, portanto, deve ser aceita. Palavras-chave: Heterogeneidade linguística. Língua. Português brasileiro. Variação linguística. Sociolinguística. ANALYSIS OF THE MORPHOSYNTACTIC VARIATION IN BRAZILIAN PORTUGUESE UNDER THE LIGHT OF VARIATIONIST 15 Artigo orientado pelo professor Doutor Derli Machado de Oliveira, da Universidade Federal de Sergipe, no Mestrado Profissional em Letras Profletras, na disciplina Grmática, Variação e Ensino.

ANÁLISE DA VARIAÇÃO MORFOSSINTÁTICA NO PORTUGUÊS

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ANÁLISE DA VARIAÇÃO MORFOSSINTÁTICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

À LUZ DA SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA: Uma experiência de ensino com

alunos da Bahia e de Sergipe15

José Batista de Souza Mestre em Letras pela Universidade Federal de Sergipe. Professor das redes Municipal e Estadual da Bahia e da

Faculdade do Nordeste da Bahia – FANEB. Membro dos Grupos de Pesquisa Educon – UFS e Paidéia –

FANEB. E-mail: [email protected]

Manoel Rodrigues de Abreu Matos Mestre em Letras pela Universidade Federal de Sergipe. Professor das redes Municipal e Estadual da Bahia E-

mail: [email protected]

Nice Vânia Machado Rodrigues Valadares Mestre em Letras pela Universidade Federal de Sergipe. Professora das redes Municipal e Estadual de Sergipe.

E-mail: [email protected]

RESUMO

Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa sociolinguística aplicada em

turmas de Ensino Fundamental II, com base nos pressupostos da Sociolinguística

Variacionista. Trata-se de um trabalho originado de uma pesquisa realizada durante

o Mestrado Profissional em Letras, na disciplina Gramática, Variação e Ensino. O

objetivo do trabalho foi compreender alguns fenômenos morfossintáticos, tais como

a pronominalização, a relativização e a regência dos verbos ir e chegar em textos

produzidos por alunos de 6º ao 9º anos. A metodologia aplicada consistiu na análise

de uma produção textual dos referidos alunos. Foram investigadas 80 produções de

alunos de 3 cidades. Tal análise foi realizada com base na obra Português ou

Brasileiro? um convite à pesquisa, de Marcos Bagno. A partir da análise, os

resultados demonstraram que, em relação à pronominalização, prevalece o uso do

pronome reto de 3ª pessoa do singular (ele/ela). Quanto à relativização, há uma

porcentagem semelhante das ocorrências da relativa copiadora e da relativa

cortadora. Em relação à regência do verbo “ir”, grande parte dos estudantes o usa

com a preposição para [+ permanência], em detrimento de a [- permanência]. No

tocante à regência do verbo “chegar”, houve poucas ocorrências, e estas mostraram

que este verbo ocorre com maior frequência junto com a preposição em (chegar em)

[- padrão], do que com a preposição a (chegar a) [+ padrão]. Assim, com base nos

dados coletados, a principal conclusão a que se chega é que a variação linguística é

algo que faz parte da língua e que, portanto, deve ser aceita.

Palavras-chave: Heterogeneidade linguística. Língua. Português brasileiro.

Variação linguística. Sociolinguística.

ANALYSIS OF THE MORPHOSYNTACTIC VARIATION IN

BRAZILIAN PORTUGUESE UNDER THE LIGHT OF VARIATIONIST

15 Artigo orientado pelo professor Doutor Derli Machado de Oliveira, da Universidade Federal de Sergipe, no Mestrado

Profissional em Letras – Profletras, na disciplina Grmática, Variação e Ensino.

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ANÁLISE DA VARIAÇÃO MORFOSSINTÁTICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO À LUZ DA

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SOCIOLINGUISTICS: A teaching experience with students from Bahia and

Sergipe

ABSTRACT

This paper presents the results of a sociolinguistic research conducted with Middle

School groups, based on the Variationist Sociolinguistic concepts. It was originated

by a research carried out during the Professional Master’s program in Literature,

for the Grammar subject. This article aims to understand come morphosyntactic

phenomena, such as the pronominalization, relativization and verbal regency of the

verbs ir (go) and chegar (arrive) in texts produced by 6th and 9th grade students. The

methodology used was based on the analysis of the students’ compositions. 80 texts

written by students from 3 different cities were examined through the concepts of

the book Português ou Brasileiro? um convite à pesquisa (Portuguese or Brazilian?

an invitation to research) by Marcos Bagno. The analysis showed that, in what

concerns pronominalization, the third-person singular prevails (ele/ela). In what

concerns relativization, there is a similar number of occurrences of the “cortadora”

(cutter) and “copiadora” (copier) relative clauses. With regard to the regency of the

verb “ir”, most students use it with the preposition “para” [+ permanence] instead

of using the preposition “a” [- permanence]. As for the verb “chegar”, which had

less occurrences, it was more often used together with the preposition “em” (chegar

em) [- standard], than with the preposition “a” (chegar a) [+ standard]. Thus, based

on the results, we conclude that the linguistic variation is something that composes

the language and, therefore, must be accepted.

Keywords: Linguistic Heterogeneity. Language. Brazilian Portuguese. Linguistic

variation. Sociolinguistic.

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem-se percebido no estudo das línguas, principalmente da Língua

Portuguesa, um destaque muito significativo para os fenômenos da variação e da mudança,

devido à compreensão de que, em virtude da grande diversidade existente nas línguas, a

heterogeneidade é uma marca registrada e um fator de fundamental importância para a

compreensão da língua em situações reais de uso.

A Sociolinguística Variacionista Laboviana, também conhecida como Teoria da Variação e

Mudança Linguística, é um dos ramos da Linguística que se incumbe do processo de variação

e mudança por que passam as línguas, amparando-se em dados quantitativos e qualitativos para

explicar a frequência com que a variação ocorre na língua e os motivos pelos quais ela ocorre,

levando-se em conta a comunidade de fala na qual o indivíduo está imerso (LABOV, 2008).

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Nesse contexto, muitos são os trabalhos e os esforços empreendidos para o estudo da variação

linguística nos últimos anos, o que demonstra avanços importantes na área. No entanto, no

campo prático, tem-se notado que, apesar de todos os esforços dos pesquisadores, muitas são

as dificuldades quando o assunto é o ensino de Língua Portuguesa, levando-se em conta todo o

contexto da variação. Ou seja, os estudos teóricos não estão sendo facilmente colocados em

prática com uma boa frequência, devido, em muitos casos, à formação precária de muitos

docentes que, geralmente por falta de leitura e atualização, não conhecem pesquisas

sociolinguísticas como essa realizada por Bagno (2004), que valorizam a variação que acontece

na língua.

Assim, esse trabalho se pauta numa pesquisa sociolinguística de base variacionista, partindo

dos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista de Labov (2008), e

também nos pressupostos de pesquisa Sociolinguística adotados por Bagno (2004), cujo

objetivo é compreender o fenômeno da variação linguística no português brasileiro, mais

especificamente a pronominalização do objeto direto de 3ª pessoa do singular, a relativização e

a regência dos verbos ir e chegar, em textos produzidos por alunos do 6º ao 9º ano das cidades

de Coronel João Sá e Olindina – BA e de Carira – SE.

Trata-se de um trabalho composto pela pesquisa bibliográfica, através da revisão da literatura,

complementado por uma pesquisa de campo, a partir da análise de produções textuais aplicadas

a alunos de diferentes cidades (Coronel João Sá, Olindina e Carira).

Assim, este trabalho é relevante, dentre alguns fatores, porque aborda situações práticas das

aulas de língua portuguesa nas quais os fenômenos investigados acontecem frequentemente,

algo com o que os professores dessa área podem se identificar facilmente. Ademais, possibilita

a outros professores ou pesquisadores aplicarem essa mesma pesquisa em outros ambientes

escolares, fazendo as adaptações necessárias. Sendo uma pesquisa sociolinguística, pode ser

aplicada também em outros contextos, a exemplo do social, do acadêmico e do profissional.

Nesse viés, esse artigo está assim configurado: na próxima seção, que segue esta introdução,

apresentamos algumas considerações importantes sobre a Sociolinguística, mais

especificamente a variacionista laboviana, cuidando de explicitar a importância do estudo da

variação e mudança na língua em uso, e do falante que, ao usar determinada variedade da língua,

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não o faz por acaso, mas, em virtude dos traços linguísticos de sua comunidade de fala. Na

seção seguinte, apresentamos algumas considerações acerca da variação linguística sob o olhar

de Bagno (2004; 2007) e sua relevância para o ensino de língua materna. Na seção

metodológica, apresentamos todo o contexto no qual a pesquisa foi empreendida e a análise dos

dados, finalizando com a última seção, na qual trazemos as considerações finais e retomamos

o objetivo da pesquisa.

2 SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONSITA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

IMPORTANTES

Durante muito tempo, prevaleceu nos estudos da linguagem um caráter puramente tradicional

e gramatiqueiro, cujo foco de concentração esteve voltado para a língua literária, principalmente

aquela praticada pelos grandes autores clássicos, que tinham uma forma peculiar de conceber a

língua, forma essa que deveria ser vista na sociedade como um modelo do bem falar e escrever

e que, portanto, deveria ser seguido à risca pelos usuários da língua, independentemente de sua

comunidade de fala (BAGNO, 2004).

No entanto, essa forma de enxergar a língua de maneira homogênea, como defendida por

Saussure (2006), sempre deixou diversas lacunas quando se leva em consideração o contexto

de uso da mesma, marcado por uma heterogeneidade que, dada a sua riqueza de possibilidades,

não aceita uma língua como una, ou seja, com uma única forma de se falar e escrever.

É a partir da percepção das diversas possibilidades de fala e de escrita oferecidas pela língua e

da não aceitação de uma língua homogênea que emergem os estudos da Sociolinguística, cujo

propósito é estudar como a língua é usada no dia a dia, partindo do contexto específico do

falante, no qual dados como etnia, idade, gênero e classe social são concebidos como

imprescindíveis para a compreensão dos fenômenos linguísticos.

A sociolinguística variacionista surge no campo dos estudos linguísticos num contexto em que urgia

uma virada numa exata direção do estudo do uso e de relações interdisciplinares com áreas como

sociologia, história, antropologia, neurociência, a semiótica. Seu grande postulado talvez parta da

consideração de que somos seres plurilíngues, ou seja, nos comportamos linguisticamente de várias

formas. Daí termos como proposta concreta fundamentos empíricos para uma teoria da mudança,

como uma espécie de direcionamento para se estudar as variações que se referiam a critérios

considerados criativos para estudá-la numa comunidade ou grupos urbanos complexos

(REBOUÇAS; COSTA, 2014, p. 11).

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Nesse cenário, a Sociolinguística Variacionista se apresenta de modo bastante significativo,

tendo como foco central o estudo da variação linguística, que parte do universo/meio no qual o

falante está imerso e da não aceitação da língua como homogênea, devido às variedades

presentes na mesma.

A Teoria da Variação ou Mudança (Variacionista), que se inicia com o texto de Herzog, Labov e

Weinreich de 1968, introduz o postulado da heterogeneidade ordenada ou sistemática, na qual a

mudança é vista como passível de ser descrita e a comunidade seria o foco de estudo, em que se

identificam pelo que pensam da língua e como a usam (COSTA, 2014, p. 2).

Nessa ótica, a Sociolinguística Variacionista entende que as variedades existentes na língua são

demarcadas em virtude da existência de diferentes grupos sociais que, devido a características

peculiares, necessitam escolher entre as variedades, aquela que melhor se encaixa com o grupo

de sua comunidade de fala16.

A análise da variação na língua e no discurso, na sociolinguística quantitativa, é feita pelo

enquadramento de controle em categorias sociais gerais conhecidas como idade, gênero, profissão,

classe social, dentre outras. A teoria relaciona a essas categorias à forma de usar a linguagem e as

possíveis pressões exercidas sobre a língua (REBOUÇAS; COSTA, 2014, p. 09).

Nesse viés, “podemos depreender que o aparato teórico-metodológico da Sociolinguística

Variacionista nos fornece subsídios para que consigamos delimitar quais são as marcas

linguísticas que caracterizam a fala de uma determinada comunidade” (OLIVEIRA; SEDRINS,

2020, p.79).

A chamada Sociolinguística variacionista ou quantitativa foi iniciada por Labov (daí ser também

chamada de laboviana), certamente por inspiração em modelos teóricos já conhecidos por ele, seja

negando-os, como o fez com a concepção de língua como homogênea, de Chomsky, ou dando

continuidade às discussões neles presentes, como ocorreu com a concepção de língua como parte

social da linguagem, postulada por Saussure [...] (SOUSA, 2019, p. 119).

Ao tratar da Sociolinguística Variacionista, o nome mais importante é William Labov, por ter

sido o pioneiro nos estudos da variação e mudança linguística no contexto social da comunidade

de fala.

É a partir dos estudos de William Labov na década de 1960 que se consolida um ramo da linguística

conhecido como Sociolinguística Variacionista, o qual estuda padrões sistemáticos de variação na

sociedade. Adota o método de análise quantitativo com o objetivo de descobrir como e por que os

indivíduos “falam diferente”. A Sociolinguística Variacionista parte do princípio de que a variação

linguística é analisada em relação a fatores externos: classe socioeconômica, faixa etária, gênero,

grupo étnico, lugar de origem, grupo geracional, escolarização, redes de relações sociais, e também

quanto a fatores internos, inerentes ao sistema. Ou seja, a variação não ocorre de forma caótica e

assistemática, mas sim corresponde à coexistência de diferentes normas linguísticas (LIMA;

FREITAG, 2010, p. 40).

16 O conceito de comunidade de fala nesse trabalho parte da teoria de William Labov.

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Labov procura estudar padrões sistemáticos de variação que ocorrem no contexto social,

amparado num método quantitativo a partir de dois estudos diferentes, realizados em seu país -

os Estados Unidos -, estudo com base na comunidade de fala. Os estudos tiveram como lócus

a Ilha de Martha’s Vineyard (1º) e as lojas de departamento da cidade de Nova Iorque (Saks;

Macy’s e S. Klein) (2º). Ao mencionar a comunidade de fala e sua importância na teoria

laboviana, é interessante destacar que:

A comunidade de fala não é definida por nenhum acordo marcado quanto ao uso dos elementos da

língua, mas, sobretudo, pela participação em um conjunto de normas compartilhadas. Essas podem

ser observadas em tipos claros de comportamentos avaliativos, e pela uniformidade de seus termos

abstratos de variação, que são invariáveis com relação aos níveis particulares de uso (LABOV, 2008,

p. 120- 121).

Ou seja, trata-se de uma comunidade que se utiliza das mesmas normas relativas à fala, sendo

reconhecida por traços comuns entre seus falantes, explicados em razão do contexto no qual

eles estão inseridos. Em outros termos, diz respeito às marcas linguísticas que, pela sua

familiaridade, consegue reunir num mesmo grupo falantes com marcas similares e distinguir

falantes com falares diferentes, como é o caso percebido na Ilha Martha’s Vineyard.

Figura 1 - Ilha de Martha’s Vineyard

Fonte: Google Imagens

No primeiro estudo, Labov investigou a realização dos ditongos na Ilha de Martha’s Vineyard

(comunidade de fala), localizada no estado americano de Massachussets. À época da

investigação de Labov, havia na ilha três grupos étnicos: indianos, portugueses e ingleses que,

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segundo as observações de Labov, a realização dos ditongos por eles utilizados apresentava

traços distintivos.

A parte oeste da ilha é onde se concentravam os moradores permanentes, e foi a área escolhida pelos

veranistas, que compraram quase toda área da costa nordeste, conhecida como Ilha Baixa. A porção

ocidental da ilha, Ilha Alta, onde residia a maioria dos nativos, tem características estritamente

rurais, com pequenos vilarejos, lagoas salgadas e pântanos despovoados. É nesta região que fica

Chilmark, vilarejo que vive de atividades pesqueiras, e que já foi sede de uma indústria de caça de

baleias. Dos 25% da população ainda envolvidos na indústria de pesca à época da investigação de

Labov, a maioria vivia na área de Chilmark. Os pescadores de Chilmark formavam o mais fechado

grupo social da ilha, notadamente avesso à invasão dos veranistas. Os pescadores eram

caracterizados pelos outros ilhéus como pessoas independentes, hábeis, fisicamente fortes,

corajosos, sumarizando as virtudes daquilo que se considerava o “bom e velho Yankee”, em

oposição aos veranistas, vistos como representantes da sociedade voltada ao consumo (LIMA;

FREITAG, 2010, p. 40).

Foi partindo desse cenário, notadamente marcado por diferenças socioeconômicas e culturais,

que Labov pautou sua pesquisa, objetivando detectar as diferenças existentes entre a variedade

linguística dos ilhéus (os nativos) e a variedade padrão do resto da região onde ficava a ilha.

Focando sua análise na realização dos ditongos /aw/ e /ay/, pronunciadas por falantes do sudeste

da Nova Inglaterra, Labov notou que na ilha, esses mesmos ditongos apresentavam-se de modos

diferentes, de forma arredondada e centralizada, e tinha relação com o grupo social dos falantes.

A primeira constatação de Labov foi que as pessoas da faixa etária 30-45 anos tendem a centralizar

os ditongos mais que a faixa etária mais jovem ou mais velha. Outra constatação foi que os habitantes

da Ilha Alta costumam centralizar mais os ditongos do que os habitantes da Ilha Baixa. Os

pescadores de Chilmark centralizam /ay/ e /aw/ muito mais que qualquer outro grupo ocupacional.

Falantes descendentes de ingleses e de indianos tendem mais a centralizar os ditongos do que

descendentes de portugueses. Estes resultados parecem evidenciar que geração, ocupação e grupo

étnico podem ser uma primeira categorização quanto à dimensão social do uso da língua (LIMA;

FREITAG, 2010, p. 41).

Desse modo, ao observar a ocorrência da centralização das vogais dos ditongos, Labov

percebeu que essa ocorrência apresenta herança fonética dos colonos Yankees, do século XVII.

De acordo com sua percepção, a centralização dos citados ditongos era a forma encontrada por

muitos moradores para se reafirmar como nativos e não aceitar a pressão por culturas visitantes

e veranistas. Para ele, a opção pelo uso da variante padrão poderia revelar insatisfação pela

vontade de deixar a ilha ou pela vontade de que ela evoluísse, assemelhando-se a outras cidades

americanas (SILVA, 2011).

Em relação ao segundo caso investigado por Labov, o lócus da pesquisa foi demarcado por três

lojas de departamento da cidade de Nova Iorque (Saks; Macy’s e S. Klein), e diz respeito à

estratificação social do /r/ em posição pós-vocálica nas referidas lojas de Nova Iorque.

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Figura 2 - Lojas de departamento de Nova Iorque investigadas por Labov (Saks,

Macy’s e S. Klein)

Fonte: Google Imagens

Nesse caso, Labov quis demonstrar em relação à pronúncia do /r/ em posição pós-vocálica, que

sua ausência ou presença tem relação com o contexto social do falante, e que uma pesquisa

cuidadosa pode dar conta de registrar essa diferença entre o /r/ mais audível, menos audível, ou

não audível.

Para levar adiante sua pesquisa, Labov focou nas três lojas acima citadas, investigando os

funcionários das mesmas, cujas características eram: loja Saks (de alto prestígio, localizada

numa famosa avenida de Nova Iorque, a Fifth Avenue, cujos preços eram os mais caros entre

as três lojas, atraindo apenas clientes de classe média e alta); loja Macy’s (de prestígio

intermediário, atraindo clientes da classe média); loja S.Klein (a de menor prestígio, com os

menores preços e cujos clientes eram de classe baixa. Ao observarmos atentamente as imagens

das três lojas, exatamente na ordem em que elas aparecem acima e em que são mencionadas,

percebe-se traços marcantes que a distinguem. As características de cada uma delas dão ideia

do possível público que a frequenta.

Sua hipótese era a de que há certo significado social em que ocorre o apagamento ou o não

apagamento do /r/ pós-vocálico. De acordo com sua teoria, pessoas que têm o mesmo valor de

realização do /r/ pertenceriam ao mesmo grupo social. O grupo social mais alto deveria realizar o /r/

na maior parte das ocorrências, enquanto que o grupo mais baixo deveria se comportar ao contrário.

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[...] Labov escolheu um grupo que poderia servir como informante porque não atentaria à sua

pronúncia, e que seria fácil de contatar, uma vez que seu trabalho é ser contatado: vendedores de

lojas de departamento. Ele fez [...] perguntas fáceis em que seriam utilizadas algumas palavras com

/r/ pós-vocálico na resposta (LIMA; FREITAG, 2010, p. 43-44).

Ou seja, na visão do autor, quando um falante no contexto investigado fala, sem querer ele

fornece pistas importantes sobre si mesmo (classe social, idade, gênero, etnia, entre outros).

Assim, a ênfase na pronúncia do /r/ nesse contexto denota um certo prestígio na fala de algumas

pessoas e um desprestígio na de outras. A ocorrência da estratificação do /r/ pós-vocálico é

bastante perceptível na cidade de Nova Iorque, mas, Labov precisou de um corpus de análise,

nesse caso, as três lojas de departamento, para amparar os resultados de sua pesquisa. Nessa

ótica:

A investigação realizada pelo referido pesquisador demonstra que a não realização do /r/ pós-

vocálico é referência da fala casual e de baixo status social, não sendo essa, portanto, a pronúncia

prestigiosa e nem aquela que é requerida para o estilo formal, já que a pronúncia do rótico é a

principal manifestação do novo padrão de prestígio em Nova Iorque (LEITE, 2015, p. 129).

Assim, pesquisas sociolinguísticas como essa empreendida por Labov, podem revelar não

apenas traços de fala de um indivíduo/comunidade, como também outras informações a respeito

do(a) mesmo(a), a exemplo de sua classe social e do nível de escolaridade que possuem, razão

pela qual esse tipo de pesquisa mostra-se bastante significativo no contexto analisado.

3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

A variação linguística é algo intrínseco a todas as línguas. Diz respeito às mudanças que

ocorrem nelas ao longo dos tempos, e que não ocorrem por acaso, mas, devido às necessidades

dos falantes que vivem em determinados contextos e em determinadas épocas. Essa variação é

de grande valia no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, uma vez que dá a eles

oportunidade de poder se comunicar de diferentes formas, e de não serem julgados o tempo

inteiro por terem um jeito peculiar de se expressar, mais do que isso, de terem sua forma de

falar respeitada.

Quando se fala em variação linguística, deve-se ter em mente que esta ocorre de forma natural

no contexto da língua, diferentemente do que ocorre com a gramática normativa, que é imposta

aos falantes.

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De modo geral, Bagno (2007) trata a variação linguística como a heterogeneidade existente na

língua, isto é, sua gama de possibilidades, sua diversidade, em virtude dos aspectos sociais,

culturais, econômicos e geográficos que a compõe. Assim, ao conceber a língua como

heterogênea, ou seja, com múltiplas possibilidades de uso no contexto social, o autor vai de

encontro à gramática normativa, que concebe a língua como algo estático, a vê de forma

homogênea, sendo essa homogeneidade representada historicamente pela gramática normativa.

Dessa forma, a língua é histórica e socialmente descontextualizada, uma vez que, pela sua

rigidez, acaba se distanciando de seus falantes.

Na concepção de Possenti (1997), a variedade linguística é um reflexo da sociedade, permeada

pela divisão de classes sociais. Essa divisão ocorre também na língua, ou seja, aqueles que

detêm o poder, que têm condições financeiras de estudar nas melhores escolas e

faculdades/universidades, têm a oportunidade de receber uma melhor educação, que permita ao

falante, a possibilidade de conhecer a diversidade linguística, mas também de adquirir o dialeto

de prestígio, aquele típico da “língua padrão”, ou até mesmo da língua culta, alcançada apenas

pelas pessoas que conseguem se formar no ensino superior.

Assim, a escola deve empreender esforços e lutar contra essa questão do preconceito e da

estigmatização da fala dos alunos que usam variedades linguísticas desprestigiadas, fazendo-os

compreender que a língua é rica justamente por conta de sua heterogeneidade e, portanto, deve

estar aberta a diferentes possibilidades.

Uma escola transformadora não aceita a rejeição dos dialetos dos alunos pertencentes às camadas

populares, não apenas por eles serem tão expressivos e lógicos quanto o dialeto de prestígio

(argumento em que se fundamenta a proposta da teoria das diferenças linguísticas), mas também, e

sobretudo, porque essa rejeição teria um caráter político inaceitável, pois significaria uma rejeição

da classe social, através da rejeição de sua linguagem [...] uma escola transformadora atribui ao

bidialetalismo a função não de adequação do aluno às exigências da vida social, como faz as

diferenças da teoria linguística, mas a de instrumentalização do aluno, para que adquira condições

de participação na luta contra desigualdades inerentes a essas estruturas (SOARES, 1980, p. 74).

Diante do exposto discutido até o momento, onde se faz menção ao trabalho com a gramática

normativa e a variação linguística no contexto das aulas de português, Bagno (2007) vem dizer

que a língua é um rio caudaloso, longo e largo, que nunca se detém em seu curso, ou seja, nunca

está parada, está em constante movimento, como as águas de um rio, enquanto a gramática

normativa é apenas um igapó, uma grande poça de água parada, um charco, um brejo, um

terreno alagadiço, a margem da língua, isto é, algo sem movimento, que não se transforma.

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Portanto, a variação linguística é algo inerente às línguas, razão pela qual deve ser

compreendida e respeitada.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a realização da presente pesquisa, nos incumbimos de investigar 3 fenômenos

sociolinguísticos nas produções textuais de alunos do 6º ao 9º ano (pronominalização de objeto

direto de 3ª pessoa do singular, relativização e regência dos verbos ir e chegar), tendo como

universo a Escola Municipal Deputado Luís Eduardo Magalhães (Coronel João Sá/BA), o

Colégio Artur Fortes (Carira/SE) e a Escola Professora Eunice de Souza Oliveira

(Olindina/BA)17.

Trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa, isto é, combina a abordagem qualitativa com a

quantitativa sem nenhuma espécie de conflito entre si (GIL, 1999). Ou seja, em determinados

momentos, principalmente em trechos envolvendo números, adota-se a abordagem quanti,

enquanto em trechos marcados pela subjetividade, adota-se a abordagem quali. Ainda sobre a

abordagem quali, ela é importante porque, segundo Ludke e André (1986, pág. 11) tem “o

ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal

instrumento. [...] Supõe o contato [...] do pesquisador com o ambiente e a situação que está

sendo investigada”. No caso dessa pesquisa, o fato de os pesquisadores estarem investigando

seu próprio campo de trabalho foi essencial para esse contato com os informantes da pesquisa

e para uma facilidade na coleta dos dados.

No tocante aos objetivos, a pesquisa é de cunho exploratório, uma vez que, segundo Gil (2008),

proporciona ao pesquisador maior familiaridade com o problema investigado. Já em relação aos

procedimentos de coleta de dados, utilizamos a pesquisa bibliográfica, isto é, “[...] aquela forma

de investigação cuja resposta é buscada em informações contidas em [...] bibliotecas reais ou

virtuais. O pesquisador faz um levantamento de trabalhos já realizados sobre um determinado

tema e cataloga-os a fim de [...] reinterpretar e criticar” (XAVIER, 2014, p. 48). Também

adotamos a pesquisa de campo, a partir da aplicação de uma atividade de produção textual para

17 A escolha das três instituições de ensino em questão se justifica pelo fato de cada um dos integrantes da pesquisa

fazer parte de uma dessas instituições, um lócus apropriado para a investigação, já que os pesquisadores têm

contato direto com os informantes da pesquisa.

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80 alunos, distribuídos entre as três escolas dos três pesquisadores, mais especificamente, uma

turma de cada pesquisador. No tocante aos procedimentos de análise dos dados, seguimos os

pressupostos da pesquisa Sociolinguística adotados por Bagno (2004).

Foi solicitado aos alunos que escrevessem um texto narrativo a partir do título Um dia

inesquecível. Ao todo, foram 80 textos analisados, dos quais 30 serviram para a formação do

corpus da pesquisa, porque todos eles em maior ou menor ocorrência apresentaram os

fenômenos investigados, descartando-se os demais. Após a análise do corpus, os dados foram

apresentados em quadros específicos por item pesquisado, como veremos em seguida. Assim,

cada quadro varia em relação à quantidade total de textos, uma vez que alguns fenômenos

ocorreram com bem mais frequência do que outros.

Quadro 118

Estratégia de pronominalização de objeto direto de 3ª pessoa do singular do corpus de língua

escrita em turmas de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental

Tipo Quantidade %

PRONOME OBLÍQUO 0 0%

PRONOME RETO 10 100%

OBJETO NULO 0 0%

TOTAL 10 100%

Fonte: Adaptado de Bagno (2004)

Quadro 2 - Trechos retirados das produções dos alunos que demonstram os

dados do quadro 1

(...) era Joãozinho, o menino que ela conheceu na praça. Ela fez de tudo para tirar ele da

cabeça.

Estratégia menos padrão - estigmatizada

(...) o menino encontrou uma pessoa especial (...). Peter Pan chamou ele e sua amiga.

Estratégia menos padrão - estigmatizada

(...) Ela foi para Goiás. (...) Se arrumou e foi para a festa. Quando chegou lá, conheceu um

gatinho que chamou ela para dançar. Estratégia menos padrão – estigmatizada

Fonte: Dados da pesquisa

18 Esses modelos de quadros são adaptações feitas com base no livro que serviu de teoria para essa pesquisa,

intitulado Português ou Brasileiro? um convite à pesquisa (BAGNO, 2004).

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Temos aqui apenas três exemplos das 10 dez ocorrências percebidas nos textos dos alunos, e

tanto nesses três exemplos quanto nos outros sete que não foram apresentados, percebe-se que

que o uso do pronome grifado vai de encontro ao que prega a gramática normativa.

Segundo Cunha e Cintra (1985), os pronomes retos empregam-se como sujeito, predicativo do

sujeito, vocativos (tu e vos). É muito frequente o uso do pronome ele/ela como objeto direto,

mas deve ser evitado, buscando-se as formas mais apropriadas.

Quadro 3

Estratégia de relativização do corpus de língua escrita em turmas de 6º ao 9º ano do Ensino

Fundamental

Tipo Quantidade %

RELATIVA PADRÃO 0 0%

RELATIVA COPIADORA 04 50%

RELATIVA CORTADORA 04 50%

TOTAL 08 100%

Fonte: Adaptado de Bagno (2004)

Quadro 4 - Exemplos de trechos retirados das produções dos alunos que demonstram os

dados do quadro

(...) levei minha querida filha que eu gosto tanto dela. (que eu gosto tanto dela) –

relativa copiadora

(...) encontrou uma casa que viviam nela dois meninos. (que viviam nela) - relativa

copiadora

(...) Sem você aqui para me dar broncas, me bater quando eu merecer e estar comigo

nas horas que eu precisar. (nas horas que eu precisar) – relativa cortadora

O dia que eu nasci ele foi muito inesquecível. (o dia que eu nasci) - Relativa cortadora

Fonte: Dados da pesquisa

Como se nota no quadro dois, foram oito as ocorrências do fenômeno da relativização, sendo

quatro da relativa copiadora e quatro da relativa cortadora.

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A esse respeito, de acordo com Bagno (2004), em relação aos dois primeiros casos (relativa

copiadora), são rejeitados pela gramática normativa. Recebe esse nome porque há uma

repetição através de um “pronome-cópia”, como os percebemos grifados acima. Esses

elementos deveriam ser substituídos pelo pronome relativo, aquilo que nas gramáticas recebe o

nome de antecedente.

Em relação aos casos três e quatro (relativa cortadora), também são rejeitados pela gramática

normativa. De acordo com Bagno (2004, p. 84), “recebe esse nome porque a preposição que o

verbo rege é “cortada”, ou seja, é apagada [...]. Por isso é comum indicar com o símbolo de

vazio (Ø) o lugar deixado pela preposição”.

Quadro 5

Regência [+ PERMANÊNCIA] e [- PERMANÊNCIA] do verbo ir no corpus de língua

escrita em turmas de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental

VERBO TIPO QUANTIDADE %

IR

A [- PERMANÊNCIA] 02 10,6%

PARA [+PERMANÊNCIA] 17 89,4%

TOTAL 19 100%

Fonte: Adaptado de Bagno (2004)

Quadro 6 - Exemplos de trechos retirados das produções dos alunos que

demonstram os dados do quadro

(...) Eles foram para o show. (...) Quando chegaram lá, conheceram três minas que

chamaram eles para ir pra pista.

(...) Eu tinha um sonho: ir para a festa de Zezé de Camargo e Luciano.

(...) um certo dia, ela resolveu ir para uma festa.

(...) meu avô e minha avó fretaram um carro para irmos para Paripiranga.

(...) no outro dia a gente foi para o shopping.

(...) cheguei lá, o médico falou que eu não poderia ter aqui em Olindina. Então fui

para Antas.

(...) quando descemos do carro, fomos ao shopping.

(...) preferimos ir ao clube.

Fonte: Dados da pesquisa

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A partir dos seis primeiros exemplos demonstrativos do quadro acima, percebe-se a grande

ocorrência do verbo ir regido pela preposição para, indicando mais permanência. No entanto,

pelos exemplos acima, percebe-se que, quase todas as situações são de menos permanência,

sendo necessário, segundo a gramática normativa, usar a ao invés de para. Ou seja, nas seis

primeiras situações mostradas, a ocorrência do verbo ir indica que as pessoas não permanecerão

muito tempo nesses lugares, que são idas passageiras, com tempo certo para retornar, indicando,

portanto, menos permanência, por isso, ele não deveria estar regido pela preposição para e sim

pela preposição a e suas combinações (ao, aos, à, às).

Acerca dos exemplos sete e oito, nota-se que eles seguiram à regra normativa de menos

permanência, uma vez que a ida ao clube provavelmente vai durar alguns minutos ou algumas

horas no máximo.

Quadro 7

Regência do verbo chegar no corpus de língua escrita em turmas de 6º ao 9º ano do Ensino

Fundamental

VERBO TIPO QUANTIDADE %

CHEGAR

A [+ PADRÃO] 01 33,4%

EM [- PADRÃO] 02 66,6

TOTAL 3 100%

Fonte: Adaptado de Bagno (2004)

Quadro 8 - Exemplos de trechos retirados das produções dos alunos que

demonstram os dados do quadro19

• (...) quando eu tava em São Paulo, não via a hora de chegar em Olindina.

• quando cheguei no hospital, mim deparei com ele em cima da cama, todo banhado de

sangue. Ele se debatia muito. Achei que seria a última vez que veria ele.

• (...) quando chegamos ao hospital, vimos todo mundo chorando muito.

Fonte: Dados da pesquisa

19 Vale salientar que, apesar de terem sido encontradas apenas três ocorrências em relação ao verbo chegar, uma

possível justificativa para ocorrências tão diminutas é que talvez, o tema sugerido para a produção do texto, não

tenha aberto caminho para o uso do referido verbo em maior número, algo que pode ser melhorado com outras

pesquisas.

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Nota-se, nos dois primeiros exemplos, o uso do verbo conhecer regido pela preposição em,

indicando uma escolha menos padrão, o que se caracteriza como erro de acordo com a gramática

normativa, uma vez que o verbo chegar exige a preposição a. Já no exemplo seguinte, percebe-

se o uso correto da preposição. Nesse caso, temos chegar a + o (artigo)= ao, considerada a

escolha ideal pela gramática normativa.

Após toda a análise feita, partindo dos procedimentos teórico-metodológicos de pesquisa

adotados por Bagno (2004), percebeu-se que, quanto ao fenômeno da pronominalização, há

uma ocorrência significativa, nos textos dos alunos do ensino fundamental II, do contexto

analisado, do uso do pronome reto de 3ª pessoa do singular, com nenhuma ocorrência do

pronome oblíquo e do objeto nulo.

Quanto à relativização, a pesquisa demonstrou uma igualdade entre a relativa copiadora e a

cortadora. Já a relativa padrão, praticamente não existe na escrita dos alunos analisados.

Sobre a regência do verbo ir, prevalece ir para [+ permanência], em detrimento de ir a [-

permanência].

No tocante à regência do verbo chegar, prevalece chegar em [- padrão] em relação a chegar a

[+ padrão].

Vale lembrar que, numa pesquisa de Bagno (2004), ao investigar o fenômeno da

pronominalização, o autor encontrou quinhentas ocorrências no corpus de língua culta falada.

Desse número, três se apresentaram na função de pronome oblíquo, dezoito na função de

pronome reto e, a grande ocorrência, ficou por conta do objeto nulo, com quatrocentos e setenta

e nove casos.

Em relação à relativização encontrada na mesma pesquisa do autor, no corpus de língua escrita

foram encontrados setenta e cinco casos e, no corpus de língua falada, vinte e seis e, acerca da

regência do verbo ir, foram encontrados dezoito casos no corpus de língua escrita e cento e dez

no de língua falada. Já em relação à regência do verbo chegar, foram encontradas vinte e duas

ocorrências no corpus de língua escrita e vinte no de língua falada.

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Assim, é preciso que continuemos a estudar esses fenômenos em sala de aula, não apenas para

compreendermos melhor a língua que falamos, mas, principalmente, para entendermos melhor

as produções orais e escritas dos nossos alunos e a avaliá-las, levando em conta os diferentes

contextos nos quais eles se encontram. Só assim poderemos compreender melhor a língua que

falamos e aprender a valorizá-la e respeitá-la e sua diversidade, bem como a seus falantes.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho se incumbiu de discutir uma temática de grande importância no contexto

escolar e social – a variação linguística, uma temática que até meados da década de 1950, não

era alvo de preocupação dos linguistas, porque imperava à época, o modelo de língua

homogênea adotado por Saussure e seguida por vários outros estudiosos.

A preocupação com a sistematização e criação de uma ciência da variação e da mudança na

língua teve início na década de 1960, a partir de dois estudos desenvolvidos pelo norte-

americano William Labov: a realização dos ditongos na Ilha Martha’s Vineyard e a

estratificação do /r/ pós-vocálico em três lojas de departamento de Nova Iorque.

Essas duas pesquisas empreendidas por Labov serviram para grande parte das pesquisas

sociolinguísticas de que se tem notícia em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, Marcos

Bagno é um dos grandes adeptos da teoria da variação e mudança de Labov, enveredando por

essa área e se tornando um dos pesquisadores mais importantes da sociolinguística brasileira.

O objetivo do presente trabalho foi compreender alguns fenômenos morfossintáticos, tais como

a pronominalização, a relativização e a regência dos verbos ir e chegar em textos produzidos

por alunos de 6º ao 9º anos, à luz dos pressupostos da pesquisa Sociolinguística adotados por

Bagno (2004), algo que trouxe resultados positivos para a pesquisa, pois nos oportunizou

compreender um pouco acerca do uso dos referidos fenômenos pelos nossos alunos que, mesmo

estando em cidades diferentes, apresentaram comportamentos sociolinguísticos semelhantes.

Em linhas gerais, esse trabalho de pesquisa foi bastante interessante, uma vez que possibilitou

uma transposição da teoria para a prática quanto à observação e análise dos fenômenos que

ocorrem na língua e que, na maioria dos casos, passam despercebidos ou, quando são

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percebidos, são alvo de preconceito por parte daqueles que concebem a língua como

homogênea. A partir de Labov, foi possível ver a língua com outros olhos e compreender que

a variação é algo presente em todas as línguas e responsável pela sua dinamicidade.

Através da obra de Bagno Português ou Brasileiro? um convite à pesquisa, foi notória a

constatação do quanto a pesquisa é importante no contexto da sala de aula, e que os professores,

além desse ofício, também são eternos pesquisadores, e a sala de aula pode ser o seu próprio

laboratório. Além disso, esta obra foi de suma importância para a presente pesquisa por servir

de base para a análise dos dados coletados em campo.

Por fim, esse trabalho, pela forma didática como foi apresentada, pode ser aplicado em aulas de

língua portuguesa do 6º ao 9º ano, utilizando-se, inclusive, a mesma metodologia adotada. É

bem provável que, se aplicada, os professores descobrirão coisas importantes e passarão a ver

a língua a partir de olhares diversos.

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