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1 ANÁLISE DAS CRÍTICAS DO DOCUMENTO “PAINEL DOS ESPECIALISTAS”

ANÁLISE DAS CRÍTICAS DO DOCUMENTO “PAINEL DOS …€¦ · Alguns especialistas se fiam, inclusive, apenas na análise do RIMA, que, como é sabido, propositadamente não contempla

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ANÁLISE DAS CRÍTICAS DO DOCUMENTO “PAINEL DOS

ESPECIALISTAS”

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 3 1 Do desconhecimento, pelo “Painel de Especialistas”, do conceito do eia e do rima e da

Legislação Ambiental aplicável ...................................................................................... 5 2 Do desconhecimento pelo “Painel de Especialistas” do procedimento de

Licenciamento Ambiental ............................................................................................... 9

3 Da inconsistência nas críticas à denominação e à delimitação das áreas de influência e

do “subdimensionamento” da Área Diretamente Afetada ............................................ 11

4 Da alegada utilização de retórica para ocultamento dos impactos ............................... 16

5 Da alegada negação de impactos a jusante da Barragem Principal e da Casa de Força

...................................................................................................................................... 22 6 Da má fé de se acusar os estudos etnoecológicos de “desindianizar” populações

indígenas ....................................................................................................................... 24

7 Da consonância entre o Plano de Atendimento à População Atingida proposto no EIA

e no RIMA e as Diretrizes Recomendadas para Tratamento dos Atingidos pelo Painel

de Especialistas ............................................................................................................. 24 8 Das respostas específicas às perguntas do Painel de Especialistas ............................... 27

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APRESENTAÇÃO

O presente documento vem manifestar considerações técnico-jurídicas dos profissionais

envolvidos na elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), do Relatório de Impacto

Ambiental (RIMA) e dos estudos etnoecológicos do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) Belo

Monte acerca do documento intitulado “Análise Crítica do Estudo de Impacto Ambiental do

Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte”, apresentado pelo Painel de Especialistas nos

autos do procedimento de licenciamento ambiental do empreendimento em questão.

De início, cumpre ressaltar que o cunho veementemente intimidatório impresso no

documento, visando ameaçar não só os profissionais envolvidos na elaboração dos estudos

temáticos, por vezes referidos individualmente ao longo do documento, como também os

técnicos do IBAMA, que se ocuparão de avaliar referido EIA-RIMA, constitui postura

vexatória que em nada contribui para a construção do embasamento técnico necessário para a

tomada de decisão do Administrador Público.

A retórica utilizada de forma recorrente nos artigos que se auto-proclamam técnico-científicos

(escritos por “pesquisadores de diversas instituições de ensino e pesquisa” e “acadêmicos com

larga experiência de pesquisa na Amazônia”), além de revelarem posições pré-concebidas em

relação ao AHE Belo Monte, busca desqualificar e difamar os responsáveis pela elaboração

do estudo – vide passagens como “estes profissionais não são localizados na página do

curriculum lattes e a pesquisa no Google não revela produções intelectuais conhecidas (p. 39-

230)”, “poder-se-ia citar o que pode ser qualificado como samba do crioulo doido (p. 30-

230)”, “a intencionalidade do discurso” (p.37-230), “a estrutura do EIA-RIMA é falaciosa”

(p. 40-230) ou “textos mal-formulados e até mesmo erros de redação (p. 38-230)”.

Patente a cisão entre o mundo biocêntrico, no qual parece se inserir o indigitado Painel – cujo

cunho anti-democrático, desumanizador, inquisitório e messiânico confunde-se com o

historicismo (a eterna visão da decadência e salvação) e com o platonismo (o ideal do Homem

perfeito no mundo perfeito), denunciados por Karl Popper, em sua obra “A Sociedade Aberta

e Seus Inimigos”, bem como com o nazismo e o chamado “ecologismo profundo”, apontados

por Luc Ferry, em sua obra “A Nova Ordem Ecológica” – e o mundo dos humanistas,

democráticos, que justificam a Organização das Nações Unidas, cujo conteúdo dos tratados e

cartas de princípios desmentem absolutamente o sentido das “interpretações contidas no

documento em testilha”. É nesse espírito que se pode compreender as aleivosias inseridas no

documento, de cunho ofensivo e intimidatório.

Outro não é o sentido da manifestação contendo confessada análise incompleta do EIA e do

RIMA (“Os temas abordados nesse volume contemplam a análise de apenas uma parte do

EIA” – p. 10-230), sem o exame, ao menos detalhado, do conteúdo de importante volume de

quaisquer EIA e RIMA: aquele que identifica, caracteriza e avalia os impactos, que, no caso

do AHE Belo Monte, consistem nos volumes 29, 30 e 31. Tal insuficiência resta clara na

listagem de volumes feita na página 12-230, sobre a documentação de referência para as

análises da realidade social.

Na verdade, a manifestação dos especialistas, que deveria servir para a busca objetiva de

esclarecimentos, dos termos da Resolução CONAMA, em extensão à audiência pública, o que

justificou a sua inserção no procedimento de licença, acaba se prestando à vexaminosa

plataforma para uma arrogância acadêmica e válvula de escape para quem procura se destacar

pela negatividade.

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Alguns especialistas se fiam, inclusive, apenas na análise do RIMA, que, como é sabido,

propositadamente não contempla os detalhamentos técnicos dos estudos temáticos,

objetivando justamente cumprir seu papel de instrumento de comunicação social.

É de se notar que a menção dos autores ao disposto no artigo 69-A da Lei Federal nº 9.605/98,

que visa penalizar condutas de agentes que buscam induzir a Autoridade Ambiental a erro,

por apresentação de laudo incompleto e enganoso, é de todo apropriado, na verdade, para a

caracterização como enganosa, em tese, a manifestação apresentada, como passaremos a

expor nos itens subseqüentes deste documento de respostas ao Painel dos Especialistas.

Apresenta-se, inicialmente, considerações a respeito de “alguns consensos” aos quais alegam

ter chegados os ilustres especialistas, conforme afirmado às págs. 10 e 11 da documentação

que compõe o supracitado Painel. Tais considerações se fazem necessárias dado que as

mesmas deixam clara a desconsideração, por princípio, dos especialistas a ditames

fundamentais da legislação ambiental brasileira, ao Termo de Referência expedido pelo

IBAMA em dezembro de 2007 para orientar a elaboração do EIA e do RIMA e o conteúdo

integral do EIA.

Desconstrói-se, assim, de pronto, muitas das críticas reiteradamente feitas pelos especialistas

no tocante a aspectos relevantes que pautam não só o EIA e o RIMA do AHE Belo Monte,

mas estudos de impacto ambiental para diferentes empreendimentos de naturezas e portes

diversos. São eles: a diferenciação entre os objetivos das etapas de licenciamento prévio e de

instalação; a denominação e a delimitação das áreas de influência; e a necessária visão

integrada que deve permear o processo de avaliação de impactos.

A seguir, procede-se à resposta aos questionamentos sobre fatores de diagnóstico e impactos

afetos ao denominado Trecho de Vazão Reduzida, em especial no que tange à alegada

“negação de impactos a jusante da barragem principal e da casa de força”.

Ressalta-se, ainda, que antes de se passar às respostas específicas para as perguntas feitas

pelos especialistas às págs. 185 a 191, julga-se fundamental demonstrar que o Plano de

Atendimento à População Atingida apresentado no EIA está em acordo com as diretrizes

nomeadas no paper “Extraído d‟ “O Conceito de Atingido. Uma revisão do debate e

diretrizes”1, apresentado ao final do Capítulo de Anexos da documentação apresentada pelo

Painel de Especialistas, mais especificamente às págs. 218 a 229. Uma prova, portanto, do

descuido com que os ilustríssimos Especialistas, intencionalmente ou não, analisaram o EIA,

arvorando-se a apresentar críticas diversas à conceituação de “atingido” adotada.

Por fim, observa-se que o documento apresentado como resposta aos pareceres elaborados por

pesquisadores voluntários foi devidamente respondido por cada um dos especialistas

envolvidos na elaboração do EIA, cabendo, portanto à Leme, coordenadora desse estudo, a

grande maioria das contestações e das respostas apresentadas neste documento. Questões

referentes aos estudos etnoecológicos, elaborados pelo consórcio de empresas Themag,

Intertechne e Engevix são respondidas também neste relatório pela Themag, empresa

responsável pelo desenvolvimento desse tema; questões relativas à viabilidade técnica e

econômica do AHE Belo Monte são respondidas pelo consórcio de empreendedores.

1 Documento de autoria de Carlos B. Vainer, com a colaboração de Flávia Braga Vieira, Francisca Silvania de

Souza Monte, Mirian Regina Nuti e Raquel de Mattos Viana, em acordo com informação constante à pág. 218 da

documentação apresentada pelo Painel de Especialistas.

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1 Do desconhecimento, pelo “Painel de Especialistas”, do conceito do EIA e do RIMA

e da Legislação Ambiental aplicável

A Constituição Federal de 1988 assegura a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, impondo ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo

para as presentes e futuras gerações (artigo 225, caput).

Entre os meios pelos quais se vale o Poder Público para assegurar a efetividade do direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado, está a exigência de Estudo Prévio de Impacto

Ambiental para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa

degradação ambiental, a que se dará publicidade, nos termos do artigo 225, §1º, do inciso IV

da Constituição Federal.

Patente que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é uma dinâmica e complexa

interação de processos que de forma alguma visam atingir a imutabilidade. Pelo contrário, a

imutabilidade é a morte, em qualquer meio, físico ou biológico.

Vinculado o equilibro ecológico a um direito de todos os seres humanos (pois a “revolta do

objeto” não retira o caráter humano da legislação ambiental que o ampara), devemos sempre

considerar a intervenção humana no meio natural como o fator de equilíbrio a ser tutelado

pela norma constitucional.

Esse é o espírito que norteia a Avaliação de Impacto Ambiental, necessária justamente à

mensuração dos impactos da complexa atividade socioeconômica humana em um meio

ambiente também complexo, onde aquela se insere. O objetivo dos estudos e análises será

sempre o de conferir sustentabilidade à atividade humana – visando a sua sadia qualidade de

vida, não de, a priori, taxá-la como ato de degradação a ser evitado. A modificação humana

do meio, que, via de regra impactará negativamente o meio natural, deverá traduzir-se em

desenvolvimento, em melhorias para a economia do país, em sadia qualidade de vida humana

e em compensações que permitam preservar remanescentes naturais a serem futuramente

desfrutados pelas gerações futuras. A ausência disto, desta modificação em bases sustentáveis,

é que configura o real fator de degradação ambiental.

Conforme determina a Declaração de Princípios da Conferência Internacional da ONU sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, o equilíbrio está vinculado ao Desenvolvimento

Sustentável, cujo centro das preocupações é o ser humano – Princípio 1 da Carta do Rio de

Janeiro. A partir de sua assinatura, diversas convenções internacionais afirmaram o direito dos

Estados Nacionais ao desenvolvimento econômico e social.

É preciso observar o absurdo equívoco de se pretender a sustentabilidade sem o

desenvolvimento. DESENVOLVER, significa DES-ENVOLVER, ou seja, romper com o

envolvimento, com o status quo vigente. Não há desenvolvimento sem ruptura, com todos os

impactos advindos deste fato, positivos e negativos. A decisão das Nações Unidas em apontar

o desenvolvimento como um direito, significa assumir que “para alcançar o desenvolvimento

sustentável, a proteção ambiental constituirá parte integrante do processo de desenvolvimento

e não pode ser considerada isoladamente deste” (Princípio 4 da Declaração do Rio). Ou seja:

não se busque questionar fatores de preservação ambiental isolando-os do foco principal que é

a busca estrutural pelo desenvolvimento do Estado Nacional Brasileiro.

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Nesse sentido, o preâmbulo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Diversidade

Biológica, que objetiva alcançar a utilização sustentável de seus componentes e a repartição

justa e equitativa dos benefícios derivados dos recursos genéticos, reconhece que o

“desenvolvimento econômico e social e a erradicação da pobreza são as prioridades

primordiais dos países em desenvolvimento”.

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, por sua vez, reitera o

direito dos países ao desenvolvimento social e sustentável e reconhece que, para alcançá-los,

o consumo de energia dos países em desenvolvimento necessitará aumentar.

É sabido que o maior acesso da população à energia elétrica, aos programas habitacionais e a

promoção da melhoria da infra-estrutura logística elevarão os níveis de emissões de gases de

efeito estufa invariavelmente. Contudo, o Brasil ainda tem a possibilidade de investir na

exploração de energia renovável e pouco intensiva em carbono, o que o diferencia dos demais

países em desenvolvimento.

Mesmo antes da realização da adoção da Declaração do Rio de Janeiro e das mencionadas

convenções-quadros, a Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei Federal nº

6.938/81, integralmente recepcionada pela ordem constitucional de 1988, já previa entre seus

instrumentos de implementação o licenciamento ambiental prévio e a avaliação de impactos

ambientais (art. 9º), vinculando-os aos objetivos desenvolvimentistas postos na Lei.

Conforme dispõe a Política Nacional do Meio Ambiente, a construção, instalação, ampliação

e funcionamento de atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva e

potencialmente poluidoras, bem como as capazes, sob qualquer forma, de causar degradação

ambiental, dependem de prévio licenciamento ambiental do órgão competente, integrante do

SISNAMA2, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.

A partir destas normas legais que ancoram a legislação ambiental brasileira, o Conselho

Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) regulamentou o Licenciamento Ambiental e o

Estudo de Impacto Ambiental, objetivando conferir subsídios técnicos à tomada de decisão do

Órgão Licenciador.

A Resolução CONAMA nº 01/86 regulamentou o instrumento do Estudo de Impacto

Ambiental e respectivo Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente, dispondo que:

“Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as

seguintes atividades técnicas:

I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e

análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a

caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto,

considerando:

a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos

minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o regime

hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas;

b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando as

espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e econômico,

raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação permanente;

2 Artigo 10, caput, da Lei Federal nº 6.938/81.

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c) o meio sócio-econômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócio-

economia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e

culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os

recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.

II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de

identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos

prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos

(benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos,

temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades

cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais.

III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os

equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a

eficiência de cada uma delas.

lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos

positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados”.

Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto Ambiental o

órgão estadual competente; ou o IBAMA ou quando couber, o Município

fornecerá as instruções adicionais que se fizerem necessárias, pelas

peculiaridades do projeto e características ambientais da área”.

A Resolução CONAMA nº 237/97, por sua vez, aportou complementações à Resolução

CONAMA nº 01/86, detalhando o momento da apresentação dos estudos ambientais no

procedimento de licenciamento ambiental, conforme disposto no artigo 10, caput, a saber:

“I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do

empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários ao

início do processo de licenciamento correspondente à licença a ser requerida;

II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos

documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida

publicidade;

III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA, dos

documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de

vistorias técnicas, quando necessárias;

IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental

competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da análise

dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, quando couber,

podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos e

complementações não tenham sido satisfatórios;

V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação

pertinente;

VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental

competente, decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo haver

reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e complementações não

tenham sido satisfatórios;

VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico;

VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida

publicidade.”

Depreende-se das normas ambientais acima que o Estudo de Impacto Ambiental não é um

documento pronto e acabado, que se esgota formalmente com a sua emissão. Pelo contrário,

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consiste em processo de planejamento da atividade empresarial que se desenrola ao longo do

procedimento de licenciamento ambiental, em um diálogo permanente com o Órgão

Licenciador.

Embora o resultado do EIA se materialize em documentos, trata-se de processo dinâmico que

deve incorporar progressivamente as melhorias dos estudos e do próprio projeto analisado, ao

longo do procedimento administrativo.

Cumpre-nos relembrar que:

“um dos principais objetivos do EIA é a melhoria dos projetos de engenharia,

com a incorporação da questão ambiental. Assim, como diz muito bem o Arq.

Jorge Wilheim, o objetivo do EIA não é apenas uma oura questão de exigência

burocrática. A dimensão ambiental deve, efetivamente, ser incorporada aos

projetos de engenharia.

Temos de ter sempre presente que qualquer obra de engenharia, por mais

meritória que seja, apresentará sempre uma interface ambiental. Isso pode,

porém, ser feito de mais de um modo. Antes de tudo, o EIA visa quais os modos

aceitáveis de realização do empreendimento, qual deles é o menos impactante, o

mais aceitável em termos não apenas ecológicos, mas também sociais, culturais,

econômicos e políticos”3.

A Resolução CONAMA n° 237/97 reconhece a natureza dinâmica do Estudo de Impacto

Ambiental ao prever, durante a fase do licenciamento, a possibilidade de haver, após a entrega

dos estudos ambientais, esclarecimentos sobre esses pelo proponente do projeto. Não sendo

satisfatória a complementação dos estudos, o requerimento poderá ser reiterado, quantas vezes

isso seja necessário.

O Fórum de Siena, de 1990, na Itália, ao estabelecer que os instrumentos de comando e

controle (reação e correção) deveriam apenas complementar os instrumentos de avaliação e

planejamento (previsão e prevenção) para que estes, de forma integrada, pudessem reger a

Administração Pública nas questões de ordem ambiental, reconheceu que o mecanismo

dinâmico e integrado inerente ao “preveja e previna”, não poderia ser tratado de forma

estanque e segmentada, como é característico do vetusto “reaja e corrija” até então orientador

dos procedimentos administrativos.

Para planejar é preciso analisar e avaliar e, para que isso se processe, é necessário diálogo

contínuo com os atores envolvidos no processo. Por isso, não há projeto pronto e acabado, ou

análise de impacto ambiental que se esgote em um só documento, indene de críticas.

É para tanto que se publica a intenção do empreendedor de implementar determinado projeto

impactante. É para isso que se procede à chamada Audiência Pública e é para isso que o órgão

competente pode solicitar complementações e correções necessárias ao aperfeiçoamento das

análises de impacto oferecidas, visando melhor balizar sua decisão no processo de

licenciamento.

3 TOMMASI, Luiz Roberto, Estudo de Impacto Ambiental, São Paulo, CETESB, 2004, p. 148.

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Presentes os estudos ambientais determinados pela Resolução CONAMA n° 01/86 no

procedimento de Licenciamento Ambiental, o objetivo do EIA se cumpre, conferindo

segurança jurídica e ambiental ao procedimento de licença pelo Órgão Licenciador.

O objetivo constitucionalmente tutelado de se garantir a conciliação entre desenvolvimento

econômico, necessário ao interesse do país, e sua sustentabilidade ambiental encontra-se

amparado no bojo do processo administrativo do AHE Belo Monte, que envolve o

procedimento do EIA e os estudos complementares originados no diálogo contínuo entre

agentes públicos e o empreendedor, garantida sua transparência pela publicidade, o que foi

satisfatoriamente obtido no procedimento em causa, até mesmo em face de sua ampla

repercussão.

Por óbvio, é da própria natureza dos interesses difusos ambientais serem estes

intrinsecamente conflituosos e indivisíveis, razão pela qual não será por consenso, ou

buscando agradar a todos, a todo tempo, técnicos ou não técnicos, que se retirará a legalidade

e a razoabilidade já contidas no licenciamento ambiental em curso, do empreendimento.

Contudo, a discussão acadêmica, de cunho ideológico biocêntrico, desfocado do sentido de

busca do desenvolvimento sustentável, que se pretende inocular no bojo do procedimento

ambiental em questão, com o denominado Painel, não é própria da seara técnico-

administrativa. Isto é, a qualidade dos estudos não deve ser medida pela “revisão bibliográfica

realizada” (p. 25-230), “perfil da equipe técnica” ou metodologia de “interpretação da

diversidade social” (p. 26-230), mesmo porque, não é propósito da LEME Engenharia Ltda.

elaborar tese de doutorado ou livre docência, pelo contrário, está encarregada de

objetivamente dar aplicabilidade ao processo de avaliação, vinculada à metodologia fixada

pelo Termo de Referência (TR) expedido pelo IBAMA e às normas que regem a elaboração

do EIA e do RIMA. Estudos dessa natureza baseiam-se, antes de tudo, nas experiências

adquiridas pela equipe técnica com situações semelhantes ocorridas em outros

empreendimentos que, na maioria das vezes, não estão citados em nenhum paper acadêmico.

2 Do desconhecimento pelo “Painel de Especialistas” do procedimento de

Licenciamento Ambiental

Os ilustríssimos autores do documento ora combatido afirmam que as medidas e programas

ambientais propostos no EIA do AHE Belo Monte não estão suficientemente detalhados,

argumento que demonstra profundo desconhecimento do desencadeamento do procedimento

de licenciamento ambiental.

O licenciamento ambiental é “um procedimento administrativo constituído de atos vinculados,

isto é, atos para os quais a legislação estabelece tanto os requisitos como as condições para

que sejam praticados”4.

Amparada pela Política Nacional de Meio Ambiente e por seu regulamento (Decreto Federal

nº 99.274/90), a Resolução CONAMA nº 237/97 estabeleceu as fases do licenciamento

ambiental, que deverão ser observadas pelo empreendedor, a saber:

4 Antonio Inagê Assis de Oliveira, O licenciamento Ambiental, Ed. Iglu, 1999.

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“Art. 8o O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá

as seguintes licenças:

I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do

empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando

a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a

serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;

II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou

atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e

projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais

condicionantes, da qual constituem motivo determinante;

III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou

empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das

licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes

determinados para a operação.

Parágrafo único. As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou

sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do

empreendimento ou atividade”.

Passada a fase de obtenção de Licença Prévia, o empreendedor deverá apresentar

detalhamento das medidas de controle e programas ambientais com o fim de minimizar,

compensar ou eliminar os impactos negativos identificados no EIA.

O TR expedido pelo IBAMA para a elaboração do AHE Belo Monte confirma os ditames

legais que orientam o procedimento de licenciamento ambiental, conforme demonstrado a

seguir:

“303. Com base na avaliação de impacto ambiental, deverão ser identificadas as

medidas de controle e os programas ambientais que possam minimizar,

compensar e, eventualmente, eliminar os impactos negativos da implementação

do empreendimento, bem como as medidas que possam maximizar os impactos

benéficos do projeto. (grifo nosso)”

(...)

“316. Todas as medidas propostas deverão ser apresentadas indicando:

objetivos, justificativas, fase do empreendimento em que serão implementadas, no

escopo geral das atividades previstas, outras medidas complementares,

cronograma de implementação e indicação dos responsáveis (incluindo a

identificação de eventuais parceiros institucionais) (grifo nosso)

317. A despeito de, para a LP, ser necessário somente o estudo de avaliação do

potencial malarígeno, devendo o Plano de Ação de Controle da Malária (PACM)

ser detalhado apenas para a fase de licenciamento de instalação (Projeto Básico

Ambiental), há uma série de monitoramentos que deverão ser feitos previamente

às obras. Assim, o PACM já deverá contemplar uma fase de monitoramento

prévio, a ser implementada, se constatada a viabilidade ambiental do AHE Belo

Monte, logo após a obtenção da LP. Para tanto, no âmbito do PACM, o EIA já

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deverá conter o detalhamento executivo de uma primeira fase de monitoramento,

para implementação logo após a concessão da LP, bem como uma segunda fase

do Plano, a ser delineada conceitualmente no EIA, a exemplo das demais medidas

propostas, podendo ser detalhada no PBA”. (grifo nosso)

A análise, na íntegra, do Volume 33 do EIA, referente aos Planos, Programas e Projetos,

demonstra que o TR foi cumprido. Essas medidas serão detalhadas na próxima fase do

licenciamento ambiental do AHE Belo Monte, se concedida a Licença Prévia para o

empreendimento.

3 Da inconsistência nas críticas à denominação e à delimitação das áreas de influência

e do “subdimensionamento” da Área Diretamente Afetada

Vários dos trabalhos que compõem o Painel dos Especialistas fazem críticas ferrenhas à

denominação e à delimitação adotadas no EIA do AHE Belo Monte para as áreas de

influência que pautaram os estudos ambientais e, em especial, à definição da Área

Diretamente Afetada (ADA). Pelo fato de muitas delas serem reincidentes, destaca-se a

seguir, in verbis, os principais questionamentos expressos com relação ao tema, grifando-se os

pontos que serão objeto da demonstração, apresentada neste item, da inconsistência na

argumentação exposta pelos Especialistas:

Em primeiro lugar, chama atenção o fato de que não se utiliza o termo

“população atingida”, mas os termos “área de influência direta”, “área de

influência indireta” e “área diretamente afetada”. O efeito retórico evidente

desses termos é o de visibilização dos impactos sobre o território (entendido

como espaço físico, desprovido de significado social e cultural) e não sobre as

pessoas que aí vivem e seus processos sócio-culturais. Segundo o RIMA, a ADA

se restringe às áreas das obras da estrutura de engenharia (barragem, canteiros,

estradas de acesso, botafora e áreas de inundação). As demais áreas são

definidas como áreas de “influência”, termo que também aponta para a

minimização dos impactos. Não se explicita em nenhum momento os critérios que

levaram à definição das áreas de influência direta e indireta, apontando-se

apenas para o caráter de “vizinhança” em relação à usina e ao reservatório.

Esta divisão não leva em consideração os impactos cumulativos da obra, que

atingirão diretamente grupos indígenas e populações tradicionais que se

encontram fora da chamada AID. Assim, das 9 terras indígenas afetadas pelo

projeto, apenas duas estão dentro da AID, as outras 7 se localizam na Área de

Influência Indireta. (Pág. 43) (grifo nosso);

No tocante à definição das áreas de abrangência do AHE Belo Monte, foram

empregadas classificações do tipo: área de influência direta/AID, área

diretamente afetada/ADA, área de influência indireta/AII, área indiretamente

afetada/AID. Aliada a estas, critérios de temporalidade, e de reversibilidade ou

não, dos impactos, aos quais se somam possíveis relevâncias e magnitudes (baixa,

média e alta). Essa forma de se colocar os atingimentos causados por projetos de

grande porte sobre a população atingida, indígena ou não, é costumeira. Com

isso, criam-se mecanismos para que tais empreendimentos se eximam de qualquer

responsabilidade sobre os problemas sociais e econômicos deles advindos. (Pág.

63) (grifo nosso);

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Assim o trecho de impacto do TVR não pode se restringir ao espelho d„água no

trecho tal como sugerido no EIA. A rigor, assim como a vazão se reduz neste

trecho as atividades econômicas e sociais que dela dependem também sofrem

conseqüências. O conjunto de propriedades ao longo deste trecho deveriam ser

contabilizadas, tal como foram nos trechos da ADA rural na região do

reservatório do Xingu. Neste sentido as TIs Paquiçamba e TI Maia, núcleos

ribeirinhos com a vila da Ressaca e várias outras também teriam trechos

contabilizados. (...) Mesmo que o empreendimento tenha sido remodelado em seus

aspectos de acomodação hídrica para formação dos reservatórios dos canais

evitando o alagamento da TI Paquiçamba, o próprio EIA reconhece alterações

profundas no modo de vida da população indígena e ribeirinha no TVR. (Págs.

124 e 125) (grifo nosso);

Os empreendedores, e portanto o Estudo de Impacto Ambiental elaborado sob

sua encomenda, consideram como atingidos todos aqueles que residem em locais

cuja cota altimétrica vai até 97 metros acima do nível do mar, e cujas moradias,

posses e propriedades seriam alagadas pelas seis represas previstas , a saber (...)

(Pág. 129) (grifo nosso);

Há dados confusos sobre área de alagamento: o capítulo 6 (especificamente o

item 6.4.3 Base Cartográfica da ADA à pág. 16) exibe: “Portanto, as áreas atuais

consideradas nos estudos ambientais para os dois reservatórios totalizam 559

km2, reiterando-se aqui que, para o reservatório do Xingu, este representa, na

realidade, a fusão de envoltórias para diferentes vazões, em estrito acordo com o

definido no TR do IBAMA (dezembro de 2007)”. Esta declaração contradita com

a área mencionada de 516 km2 de alagamento. Um cruzamento com os valores de

perdas de terras agricultáveis também exibe números conflitantes. Estas

divergências precisam ser esclarecidas e justificadas. (Pág. 126) (grifo nosso);

O processo de colonização realizado pelo Estado Brasileiro produziu uma

dinâmica demográfica e social que exige uma análise apurada. Não constam no

EIA RIMA as especificidades da ocupação no que diz respeito às distintas

categorias e processos sociais como: colonização oficial, assentamentos rurais,

os Projetos de Assentamento Sustentável; e os processos de ocupação

espontânea. Não consta também o modo como estes territórios, com histórias e

dinâmicas específicas, serão afetados pelas diversas obras previstas para a

construção da hidrelétrica, como os diques, as estradas, as áreas de bota-fora, os

canteiros de obra e as linhas de transmissão. Isto decorre da inadequação

metodológica acima referida que prioriza como unidade de análise o imóvel a ser

indenizado e/ou a condição do produtor (proprietário/ocupante) a ser indenizado,

cf. vol.23, pg.22. (Pág. 26) (grifo nosso);

Fica aqui mais uma vez a certeza de que projetos como o AHE Belo Monte

considera apenas como população atingida aquela que sofre os efeitos da

inundação. Isso é uma falácia; é sofismar. (Pág. 65) (grifo nosso);

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Desconsideração e/ou desconhecimento dos Especialistas sobre o teor do Termo

de Referência do Ibama e dos fundamentos da legislação ambiental brasileira

Em primeiro lugar, causa no mínimo espanto constatar como os críticos das definições e

delimitações das áreas de influência adotadas no EIA e, consequentemente, no Rima

desconsideram frontalmente os ditames básicos da legislação e de resoluções do Conselho

Nacional de Meio Ambiente (Conama) com relação ao tema em apreço. E mais, ou

desconhecem ou simplesmente ignoraram a denominação e as diretrizes estabelecidas no TR

emitido pelo Ibama em dezembro de 2007 para elaboração dos documentos atinentes aos

estudos ambientais para licenciamento prévio do AHE Belo Monte.

Nesse sentido, os Especialistas autores das críticas explicitadas anteriormente parecem

ignorar, de princípio, o teor da Resolução Conama 001/86, que em seu Art. 5, Inciso III, deixa

claro que o estudo de impacto ambiental obedecerá a diretriz geral de definir os limites da

área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de

influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se

localiza. Portanto, aquele que afirma que ao se adotar as denominações AII, AID e ADA

“criam-se mecanismos para que tais empreendimentos se eximam de qualquer

responsabilidade sobre os problemas sociais e econômicos deles advindos” contrapõe-se de

frontalmente aos ditames básicos do órgão superior que determina diretrizes e parâmetros

para a questão ambiental no país.

Já no que tange à confrontação com o TR emitido pelo Ibama, basta uma rápida análise do

mesmo, e já de imediato, mas não somente, o seu parágrafo 63, para visualizar-se que foram

adotadas no EIA e no Rima as classificações para as áreas de influência aí especificadas. Ipsis

verbis:

63. Ficam estabelecidas as seguintes denominações para as diferentes áreas de

influência, a serem explicitadas no decorrer dos estudos, de acordo com o projeto

elaborado: Área de Abrangência Regional – AAR (...) Área de Influência Indireta

– AII (...) Área de Influência Direta – AID (...) Área Diretamente Afetada – ADA.

E mais, o TR estabelece que, sob cada uma dessas denominações, seja determinada a área de

influência sob a ótica socioeconômica e cultural, com critérios, e por vezes, limites

claramente definidos no próprio TR (parágrafos 66 para a AII, e 72 a 76 para a AID e ADA).

O TR elenca ainda, em seu bojo, para cada meio – físico, biótico e socioeconômico e cultural

-, quais os temas e assuntos a serem abordados sob a égide de cada uma dessas denominações

de áreas de influência.

Portanto, segundo pelo menos querem fazer crer alguns dos Especialistas, ao se imputar aos

autores do EIA uma limitação intencional da visão ambiental da implementação do AHE Belo

Monte meramente à ótica territorial significa, ao fim e ao cabo, considerar que o próprio

órgão ambiental federal competente para licenciar empreendimentos de natureza e portes

variados tem um entendimento restrito da questão. Isto porque, ao se utilizar as denominações

e diretrizes estabelecidas pelo Ibama para o tema “áreas de influência” conforme explicitado

em seu TR para o EIA e o Rima do empreendimento em tela, desconsiderar-se-ia

obrigatoriamente relações sociais e culturais relativas às populações atingidas. E o que é mais

grave, ao se criticar este aspecto no EIA do AHE Belo Monte, põe-se em julgamento critérios

definidos acertadamente pelo órgão ambiental em apreço para tantos outros processos de

licenciamento ambiental.

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Isto sem se falar na semelhante deturpação da questão ambiental que estaria sendo cometida

também pela Funai, dado que foi no bojo de seus TRs para os estudos etnoecológicos que

foram definidas quais as terras indígenas que deveriam ser consideradas como AID e como

AII.

Desconhecimento presumido e/ou intencional da íntegra dos procedimentos

metodológicos adotados no EIA para a definição das áreas de influência

Muitas das críticas feitas ao EIA e ao Rima no tocante a não terem considerado “este fator ou

aquele” na definição das áreas de estudo para o AHE Belo Monte são facilmente

desmanteladas mediante uma visita minimamente apurada ao conteúdo do Volume 5 do EIA,

mais especificamente do capítulo 6, denominado “Definição das Áreas de Influência”. Isto

porque:

Já em seu item 6.1 “Considerações Gerais”, deixa-se claro, sob uma mesma explicação,

que a AID, que engloba a ADA, é o espaço onde se prevê a geração de impactos, pelo

empreendimento, sob os diferentes componentes do meio ambiente, inclusive sobre sua

dimensão social, econômica e cultural. Fica explícito, ainda, que sob nenhuma hipótese há

qualquer intenção metodológica de se reduzir a relevância da AID frente à ADA, embora

seja nesta que vão se processar, em sua dimensão eminentemente física, as interferências

do empreendimento sobre o território. Nesse sentido, seguem estratos do texto que

ratificam esses preceitos:

“De acordo com o manual “Instruções para Estudos de Viabilidade de

Aproveitamentos Hidrelétricos” (ELETROBRÁS, 1997), esta área (AID e ADA,

complementação nossa em acordo com o título do subitem”) refere-se àquela

“cuja abrangência dos impactos incide diretamente sobre os recursos ambientais

e a rede de relações sociais, econômicas e culturais, podendo se estender além

dos limites da área a ser definida como polígono de utilidade pública”. (grifo

nosso)

E mais:

“Ainda com relação à AID, vale ressaltar que a mesma não se limita à ADA, mas

abrange áreas circunvizinhas que poderão ser atingidas pelos impactos

potenciais diretos da implantação e operação do empreendimento, em vista da

rede de relações físicas, bióticas, sociais, econômicas e culturais estabelecidas

com a ADA. Dessa forma, e em acordo com o TR do IBAMA, a AID inclui a

futura Área de Entorno do Reservatório Artificial, espaço geográfico para o qual

deverá ser desenvolvido o Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do

Reservatório Artificial (PACUERA), definido pela Resolução CONAMA no

302/2002. Por fim, observa-se que a AID para os temas socioeconômicos não se

atém aos limites municipais, mas sim a localidades que possam ser diretamente

impactadas pelo empreendimento em análise, até mesmo porque a delimitação

territorial dos municípios, enquanto área de influência, já está considerada na

AII, que abarca espacialmente a AID. (grifo nosso)

Em seu item 6.5 “Delimitação das Áreas de Influência”, explicita-se o porquê da

consideração, para compor a ADA, de envoltórias de remanso do futuro reservatório do

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Xingu frente a diferentes vazões, basicamente para atender um item específico do TR do

Ibama, parágrafo 77, conforme texto a seguir, in verbis:

Tendo em vista o caráter dinâmico dos Reservatórios5 da calha do Rio Xingu e

Reservatório dos Canais, sua abrangência deverá ser estabelecida segundo

critérios técnicos apropriando-se de uma envoltória representativa da fusão das

diferentes áreas de inundação para diferentes vazões. As áreas e perímetros

deverão ser definidos a partir da realização de estudo que contemple:

Modelagem hidráulica; Nível Máximo Normal em cada uma das casas de força;

Vazões – mínima mensal, média mensal, máxima mensal – entre outras vazões

pertinentes; Efeitos de remanso; Perfis da Linha d'água para diferentes vazões e

suas respectivas cotas altimétricas; Georreferenciamento de cada uma das

envoltórias dos diferentes “reservatórios” e o resultado de sua fusões.

Esta é, portanto, a justificativa e a explicação que demanda um dos Especialistas à Pág.

126 do Painel de Especialistas em pauta, verificando-se, portanto, que não há quaisquer

incongruências entre áreas declaradas como alagadas no EIA. Bastava, para obter essa

resposta, ter lido atentamente, ou mais apropriadamente, ter se referenciado

adequadamente à leitura do Capítulo 6 do EIA.

Alegar-se que indiscriminadamente adotou-se a cota 97,0 m para definição do universo de

população atingida demonstra uma desconsideração e um desconhecimento inaceitáveis

não só do conteúdo deste Capítulo 6 do EIA, mas como do próprio Rima. Isto porque se

deixa claro, e demonstra-se no EIA no referido Capítulo, que a ADA no perímetro urbano

da cidade de Altamira estendeu-se até a cota altimétrica 100 m, dado que esta foi definida

pelos estudos de remanso como aquela correspondente a um tempo de recorrência de 100

anos, a partir da qual não mais serão sentidos, em Altamira, nas cheias, os efeitos do

reservatório em relação à situação que hoje já ocorre nesses eventos. Aliás, mais uma vez

demonstra-se que foi ignorado, propositalmente ou não, o teor do TR do Ibama relativo à

elaboração do EIA e do Rima do AHE Belo Monte, dado que este já estabelece essa

obrigatoriedade para a delimitação da ADA no perímetro urbano de Altamira.

Basta avaliar o conteúdo de cada item que explicita os procedimentos metodológicos

adotados para delimitar cada área de influência para depreender claramente, e sem

subterfúgios, que a dimensão socioeconômica e cultural foi sempre objeto de análise

particular. Até porque se tem cada área de influência definida para os componentes dos

meios físico e biótico (muitas das vezes unidos em um só espaço geográfico definidor de

cada área de influência, mas por vezes individualizado, como ocorreu para a ictiofauna) e,

em particular, para o componente socioeconômico e cultural. Vale aqui destacar, para

comprovar tal consideração, texto constante do subitem 6.5.2.2 referente à delimitação da

AID para o Meio Socioeconômico e Cultural, in verbis:

No caso dos estudos socioeconômicos, a AID foi definida como a área onde se

darão os impactos diretos da implantação do empreendimento, considerada a

partir da apreensão das dinâmicas socioeconômicas da organização do espaço

que, para o território em estudo, possuem como principais elementos

estruturantes os aglomerados humanos das sedes municipais e alguns povoados,

5 A conformação e a configuração dos reservatórios podem sofrer modificações em função da variação de vazão

e do regime hidrológico.

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os núcleos rurais de referência, os eixos rodoviários de articulação regional -

Transamazônica (BR 230), Transassurini e PA 415, que liga Altamira à Vitória

do Xingu -, e o rio Xingu. (grifo nosso).

Portanto, não se venha dizer que a ótica de definição dos espaços de análise ambiental foi

eminentemente territorial. Houve, sim, uma demarcação física do espaço, mas de forma a

incluir aquelas dimensões onde as trocas sociais, econômicas e culturais hoje já ocorrem,

relações estas que poderão ser afetadas pela implementação do empreendimento em tela.

Por fim, cabe salientar que querer passar a idéia de que pelo fato de a ADA ter

compreendido somente a calha do rio Xingu no denominado Trecho de Vazão Reduzida

(TVR) é uma comprovação de que populações, indígenas ou não, foram desconsideradas

para fins de identificação e avaliação de impactos é, em todos os contextos, uma

afirmativa desprovida de qualquer veracidade e tecnicamente irresponsável. Novamente,

basta reportar-se a uma leitura minimamente atenta do Capítulo 6 do EIA para detectar-se

que terras indígenas e núcleos ribeirinhos foram adequadamente contemplados a título de

AID, o que, reitera-se, não significa um menosprezo de impactos em relação àqueles que

são gerados na ADA e se propagam diretamente para a AID. E isto sem falar na análise

dos Volumes 29 a 31, referentes à identificação, caracterização e avaliação de impactos,

que comprovam que os efeitos sobre essas populações às margens do TVR foram

avaliados.

Conclusões a respeito das críticas sobre as áreas de influência consideradas no EIA e

no Rima

Conclusivamente, com base no aqui exposto e no teor do EIA, pondera-se: quem efetivamente

está sendo falacioso ao afirmar que somente foi considerada como atingida a população

afetada territorialmente pela inundação? Quem está desconsiderando os ditames do órgão

ambiental licenciador e das resoluções do Conama ao criticar as delimitações de áreas de

influência adotadas no EIA?

Há que se entender, e se referenciar, adequadamente ao conteúdo dos estudos realizados antes

de se fazer acusações claramente difamatórias e irresponsáveis como as apresentadas,

firmemente repudiadas pelos técnicos autores do EIA e do Rima do AHE Belo Monte.

4 Da alegada utilização de retórica para ocultamento dos impactos

Ao longo de toda a documentação do Painel de Especialistas são apresentadas diferentes

críticas relacionando impactos que pretensamente não teriam sido objeto de abordagem, ou ao

menos de avaliação adequada por parte dos autores do EIA e do Rima.

É interessante observar que questionamentos tão incisivos feitos aos impactos analisados - ou

àqueles que se diz não o terem sido - sob a ótica socioeconômica e cultural não se baseiam, ao

menos ao que se depreende da documentação produzida pelo Painel de Especialistas, na

análise dos Volumes 29, 30 e 31 do EIA, que cuidam do Capítulo 10 “Identificação,

Caracterização e Avaliação de Impactos Ambientais”. E teme-se, efetivamente, que tais

volumes não tenham sido contemplados pela avaliação dos ilustríssimos componentes do

Painel.

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Prova dessa lacuna da avaliação pelos especialistas é que, à Pág. 23, onde se elenca os

volumes do EIA que subsidiaram as ditas “análises referentes à realidade social”, não consta,

surpreendentemente, a nominação aos supracitados três volumes. Aliás, como referenciado

em outro item deste documento de resposta, tampouco ao Volume 5, Capítulo 6, onde

detalha-se o processo de definição e delimitação das áreas de influência. Assim, adjetivos que

abundam na documentação do Painel de Especialistas em tela parecem fundamentar-se, pelo

menos em sua grande maioria, na avaliação do diagnóstico e, quando muito, do volume do

EIA afeto aos planos, programas e projetos ambientais, isto sem se considerar aqueles autores

que explicitamente só se calcaram na leitura do Rima.

Cabe aqui destacar, a título de exceção, a menção explícita que se faz ao que se conclui ser o

teor dos Volumes 29, 30 e 31:

“No que se refere ao texto dos volumes que abordam a análise sócio-econômica e

etno-ecológica e naqueles referentes aos impactos e medidas mitigadoras

verifica-se grande heterogeneidade, passa-se de textos mal formulados e

contendo até mesmo erros de redação (como parte do capítulo 6, em particular a

referente aos movimentos sociais a textos bem elaborados, como algumas partes

dos estudos de impactos ou capítulos da análise etno-ecológica, também muito

desigual” (pág. 38) (grifo nosso).

Em linhas gerais, as críticas feitas ao processo de identificação, caracterização e avaliação de

impactos parecem centrar-se em três linhas de argumentação, conforme atestam os trechos

apresentados a seguir, in verbis, da documentação disponibilizada pelo Painel de Especialistas

ao Ibama:

Quanto à adoção, no EIA e no Rima de uma classificação “viciada” para os impactos:

A estruturação do EIA é baseada nos requisitos estabelecidos na resolução

CONAMA 001/1986. (...) Os requisitos acima apresentam a vantagem de

demandar informações pormenorizadas e planos “mitigadores”. No entanto,

sugerem um formato para o relatório de categorias prontas e avaliação por

oposições: benéfico x adverso, direto x indireto, (...). O uso de categorias prévias

ao estudo implica na produção de julgamento anterior à análise. (págs. 86/87)

(grifo nosso)

Quanto à carência de análise interrelacionada entre os meios:

O RIMA apresenta uma análise que separa a caracterização do meio físico – em

que são descritos os rios da região, o regime de chuvas e o tipo de terrenos -; o

meio biótico – os tipos de florestas e vegetação e as espécies da fauna - e o meio

socioeconômico – que traz o perfil demográfico e lista as atividades produtivas e

os serviços da região (p.32-45). A interrelação entre esses três meios não é

explorada no documento, isto é, não é descrito como o modo de vida da

população potencialmente atingida se relaciona com os recursos hídricos, o

regime de cheias e vazantes e os recursos da fauna e da flora acessados pelos

moradores. (...) Os métodos convencionais de avaliação de impacto das

atividades produtivas e projetos de desenvolvimento têm sido fortemente

criticados por separarem o meio ambiente de suas dimensões sociopolíticas e

culturais. Produzem com freqüência uma separação indevida entre os processos

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biofísicos e a diversidade de implicações que os mesmos têm quando

referenciados aos modos de uso e significação próprios aos distintos grupos

sociais que compartilham o território. Os diversos elementos do meio, vistos

normalmente como bióticos ou abióticos, lênticos ou pedológicos etc. não são, via

de regra, associados à diversidade sociocultural dos que dele dependem, seja em

termos de renda, gênero ou etnia. (págs. 44/45) (grifo nosso)

O EIA, quando trata das questões ambientais, se restringe muito à análise de

fenômenos físicos, químicos e biológicos, como se não precisassem ser

considerados fenômenos que são alvos de estudos de outras ciências incluídas na

área das ciências humanas, como a política, a sociologia e a economia. A

avaliação dos impactos ambientais do empreendimento fica irremediavelmente

prejudicada sem a análise integrada destes componentes, que são determinantes

do que aconteceria com os ecossistemas. (Pág. 177) (grifo nosso)

Quanto a não identificação de impactos significativos e da eficácia das medidas propostas:

Seguem alguns exemplos de críticas:

Assim, pode-se afirmar que a ausência de um modelo para a elaboração de um

cenário confiável sobre os impactos da construção de Belo Monte não permite

sequer quantificar e qualificar os impactos para a população submetida à seca

permanente que irá caracterizar a área denominada Trecho de Vazão Reduzida –

“TVR” na Volta Grande. (pág. 49) (grifo nosso)

É necessário que os estudiosos dos animais e plantas que prepararam os

relatórios apresentados no EIA sejam convidados a apresentar análises objetivas

nas quais explicitem o que pode ser extraído de forma conclusiva de seus estudos,

incluindo os impactos do empreendimento, proposição de medidas mitigatórias e

compensatórias e a avaliação da eficácia esperada de cada medida. É esperado

que os especialistas tenham mais a extrair das informações por eles obtidas,

assim como é necessário que sejam apresentadas previsões concretas. Também é

necessário que as previsões possam ser atribuídas a seus autores, que se

tornariam responsáveis pelas mesmas. Assim a população poderia ser informada

claramente quanto ao que está sendo previsto, qual o nível de segurança destas

previsões, assim como quanto ao poder de generalização dos resultados destes

estudos para os ecossistemas como um todo. (pág. 179) (grifo nosso)

Análise “viciada” dos impactos

É interessante observar que ao fazer a crítica à adoção de “categorias prontas” de impactos,

contesta-se, no rol de documentos do Painel de Especialistas, os ditames da Resolução

Conama 001/86, a qual determina, em seu Art. 6o, Inciso II, uma das obrigatoriedades e

diretrizes a serem adotadas para tal em um EIA. In verbis:

Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases

de implantação e operação da atividade; (...) Análise dos impactos ambientais do

projeto e de suas alternativas, através da identificação, previsão da magnitude e

interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando:

os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos,

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imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de

reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos

ônus e benefícios sociais; (...) (pág. 82) (grifo nosso)

Esses ditames da citada Resolução são, acertadamente, ratificados pelo TR do Ibama em seu

item 3.3.6 “Identificação e Avaliação dos Impactos Ambientais” para fins de adoção

obrigatória no EIA do AHE Belo Monte, a saber:

297. Esta avaliação deverá ser realizada considerando os fatores ambientais

descritos pelo diagnóstico ambiental e abranger: (grifo nosso)

• Natureza dos Impactos (positivo/ benéfico; negativo/ adverso),

• Localização e espacialização (localizado na área diretamente afetada, na

área de influência direta ou na área de influência indireta; e disperso ou

difuso na área de influência).

• Fase de ocorrência (planejamento, implantação, operação ou desativação)

• Incidência (direto; indireto)

• Duração (temporário; permanente ou cíclico)

• Temporabilidade (curto; médio ou longo prazo)

• Reversibilidade (reversível; irreversível)

• Ocorrência (certo; provável ou improvável),

• Importância (baixa, média, alta)

• Magnitude (baixa, média, alta)

Repete-se aqui, portanto, o mesmo processo de se vilipendiar as diretrizes estabelecidas pelo

órgão ambiental competente para o licenciamento ambiental do empreendimento em tela, e,

pior, as resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente.

Observa-se aqui que, caso não houvesse sido adotadas tais classificações e critérios de

avaliação para os impactos, fatalmente o EIA do AHE Belo Monte não seria aceito pelo

Ibama, em função do não atendimento cabal ao TR estabelecido para sua elaboração.

Desconhecimento da metodologia de avaliação integrada das redes de precedência de

impactos adotada no EIA

Ao ser analisado o Volume 29 do EIA, item 10.2.2.1, no tópico “Sistemas Produtores e

Consumidores”, deixa-se claro que ao se considerar tal sistema como um dos pressupostos

para o processo de identificação, caracterização e avaliação de impactos adotado, reconhece-

se que:

Há, naturalmente, um conjunto de condições organizadas de forma sistêmica que são

responsáveis pela produção de um recurso ambiental em qualidade, quantidade e

temporalidade, necessárias e suficientes para atender aos padrões de consumo

estabelecidos pelas demais variáveis ambientais presentes na região em estudo,

correspondendo, neste caso, à demanda ecológica daquele ecossistema específico;

A partir da implantação de atividades não naturais (antrópicas) na região - atividades estas

também detentoras de padrões de consumo específicos - as demandas antrópicas ali

presentes devem ser somadas à demanda ecológica;

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Os sistemas produtores são aqueles que produzem recursos que sustentam/dão suporte à

existência ou à ocorrência de processos naturais ou antrópicos numa dada região,

respeitando-se as relações identificadas entre as variáveis ambientais;

Da mesma forma, existem sistemas consumidores ou usuários que dependem dos

produtores para a sua ocorrência e/ou manutenção; e

Em síntese, o meio ambiente é constituído por variáveis ambientais interdependentes que

compõem os meios Físico, Biótico e Socioeconômico e Cultural e que a análise dessa

interdependência permite caracterizar diferentes relações entre as variáveis que compõem

o sistema ambiental.

Ao se discorrer sobre a metodologia adotada para desenvolvimento do processo de avaliação

de impactos ambientais, no subitem 10.2.2.2 do referido volume explicita-se que foi a partir

do reconhecimento da existência da relação de seqüenciamento natural das variáveis

ambientais, derivada da interatividade existente entre elas, que se procedeu à análise dos

impactos para o AHE Belo Monte a partir da identificação das chamadas “redes de

precedência de impactos”.

Basta analisar uma das inúmeras redes de precedência que compõem os Volumes 29, 30 e 31

para se concluir que a interrelação entre meios foi contemplada durante todo o processo de

avaliação de impactos. Prova disso, entre as várias disponíveis nos referidos relatórios, é o

exemplo apresentado a seguir para a cadeia de impactos derivada daquele primário referente

ao aumento do fluxo migratório. Esta rede ilustra como impactos sobre variáveis de diferentes

meios foram considerados de forma sistêmica. Portanto, somente o desconhecimento do teor

dos referidos volumes pode levar a comentários de que tais relações foram totalmente

desprezadas no EIA, bem como o conceito de “serviços ambientais”.

E mais, procedeu-se à descrição de cada um desses impactos, a sua caracterização em acordo

com as categorias de classificação estabelecidas no TR do Ibama e à avaliação de sua

reversibilidade, relevância e magnitude. Admite-se, logicamente, que os resultados de tais

avaliações possam ser discutidos – este, inclusive, um pressuposto da análise do EIA pelo

órgão ambiental competente -, mas nunca desconsiderar a sua existência, ou pior, negar a

adoção dos princípios metodológicos básicos de interação que são pressupostos do

procedimento adotado.

O Painel dos Especialistas chama atenção ainda para a “retórica sobre os impactos na Volta

Grande (...) que oculta, dentre outros, o fato de que terras indígenas – Juruna do

Paquiçamba e Arara da Volta Grande – são diretamente afetadas pela obra”. Este argumento

é totalmente improcedente, uma vez que foram estudadas uma Área Indígena, nove Terras

Indígenas e os Indígenas Citadinos e Moradores da Região da Volta Grande do Xingu,

segundo os parâmetros definidos pela Funai nos respectivos Termos de Referência. Todas as

populações indígenas foram inequívocamente tratadas como tal, respeitando-se seus direitos

constitucionais e legais.

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Aumento do Fluxo Migratório

Intensificação do Uso e

Ocupação Desordenado do Solo,

em Especial no Entorno das

Vilas Residenciais

Aumento da Demanda por

Equipamentos e Serviços

Sociais

Sobrecarga na Gestão da

Administração Pública

Aumento da Demanda por

Segurança Pública

Aumento da Disseminação de

Doenças Endêmicas e

Possibilidade de Introdução de

Novas Endemias

Aumento da Disseminação de

Doenças Infecto-contagiosas

Especulação Imobiliária e

Aumento sobre os Imóveis do

Entorno

Aumento da Pressão de Caça

Perda de Diversidade da

Fauna

Aumento da Pressão sobre os

Recursos Florestais Madeireiros

e Não Madeireiros

Aumento da Perda de

Diversidade da Flora

Aumento na População de

Espécies Exóticas (Flora e

Fauna)

Proliferação de Zoonoses

Impactos sobre os Usos

Sustentáveis dos Recursos

Pesqueiros – Sobrepesca e Perda

de Modalidade de Pescarias

Alterações na Repartição

dos Benefícios da

Explotação Pesqueira

Fonte: EIA AHE Belo Monte, Volume 29, Figura 10.4.2-1

Rede de Precedência de Impactos Derivada do Impacto Primário “Aumento do Fluxo

Migratório”

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Conclusões sobre a alegação do uso de retórica para ocultar impactos e/ou a sua

adequada avaliação

Frente ao aqui exposto, bem como ao teor dos Volumes 29, 30 e 31 do EIA ora

reiteradamente citados, recomenda-se, ao Painel de Especialistas, que analisem tais

documentos antes de proferir acusações do tipo daquelas constantes da documentação

produzida com relação ao processo de avaliação de impactos adotado para a análise ambiental

do AHE Belo Monte.

5 Da alegada negação de impactos a jusante da Barragem Principal e da Casa de

Força

Em parecer elaborado por Nírvia Ravena fica claro que a autora desconhece o tratamento

dado ao Trecho de Vazão Reduzida (TVR) pela equipe que elaborou os estudos ambientais.

No Volume 28 do EIA – Análise Integrada – é apresentado o diagnóstico ambiental integrado

do TVR. Nesse momento todos os temas que já foram abordados nos capítulos de diagnóstico

(físico, biótico e socioeconômico) são retomados relacionando-os entre si de forma a

consolidar um conhecimento dos modos de vida da população que reside nesse trecho. Em

nenhum momento do EIA podem ser encontradas afirmações ou “conjecturas”, conforme

colocado pela autora, que digam que “permanecerão estáveis os modos de vida das

categorias sociais como pescadores e agricultores familiares atingidos pela construção da

UHE de Belo Monte”.

A acusação feita pela autora de que o EIA apresenta uma série de lacunas intencionais para

diminuir os custos de transação em processos indenizatórios, ocultando impactos sobre os

modos de vida da população, é no mínimo leviana. O Volume 31 – Avaliação de Impactos

(parte 3) - apresenta a relação de precedência entre os impactos identificados para o TVR.

Essa relação de precedência é basicamente a identificação dos impactos primários,

secundários e terciários, o que se mostra extremamente relevante para a proposição de

medidas sobre o impacto gerador.

Dessa forma, a identificação de alterações no modo de vida da população foi um produto de

diversos outros impactos associados (navegação, perdas de ambientes para a ictiofauna,

dificuldades de acesso a água, perdas de referências socioespaciais, alteração na qualidade da

água, perdas de renda e sustento, alteração do aporte de nutrientes ao sistema etc), que

fizeram parte da rede de precedência de impactos do TVR apresentada no volume 31 do EIA.

A autora não apresenta nenhum fundamento para afirmar que há “ausência de modelo para a

elaboração de um cenário confiável sobre os impactos da construção de Belo Monte para a

população submetida a seca permanente (...) na Volta Grande”. Em contraposição a isso, os

estudos apresentam uma discussão profunda sobre a quantidade de água necessária para

manutenção da biodiversidade e qualidade de vida dessa população, usando metodologia que

representa o estado da arte sobre o tema, culminando na proposição de uma quantidade de

água que nem de longe expressa uma condição de seca permanente.

A análise detida do EIA revela que os direitos fundamentais à segurança alimentar e à

segurança hídrica, previstos na Constituição Federal e em diversos tratados internacionais,

foram priorizados no estudo.

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Diferentemente do apontado pela autora, não existe uma estratégia de má fé utilizada pelos

responsáveis pela elaboração do EIA de não se discutir a segurança hídrica nesse trecho. Toda

a proposição de um hidrograma para a Volta Grande baseou-se na manutenção de vazões, no

mínimo iguais aquelas que ocorrem hoje no rio em condições de estiagem e portanto, não faz

o menor sentido se falar de escassez hídrica conforme sugerido.

Intencional, neste caso, parece a conduta da autora que por ignorância do tema ou intenção de

indução ao erro associa a construção do AHE Belo Monte a uma catástrofe, negligenciando

tudo aquilo que foi avaliado nos estudos ambientais e todas as medidas propostas como forma

de mitigação do impacto identificado.

Quanto ao trecho de jusante foram avaliados dois impactos principais relacionados à erosão a

jusante da casa de força principal e alterações na qualidade das águas e suas conseqüências

sobre os bancos de nidificação das tartarugas. De forma contraditória ao que é dito pela

autora, que imputa à equipe do EIA ação de esconder impactos, o parecer elaborado por

Geraldo Santos diz que “quanto aos quelônios, o EIA-RIMA apresenta muitas informações

originais e faz um prognóstico bem embasado dos impactos da hidrelétrica sobre esse grupo

de animais”. Esse autor lista os impactos associados ao grupo de quelônios e peixes que são

justamente aqueles apresentados pela equipe do EIA, e, portanto, confirma a realização de um

estudo sério, claro e profundo onde os impactos foram apresentados, discutidos e ações foram

propostas.

Assim, deduz-se que a falta de uma leitura e entendimento mais profundo do EIA, bem como

uma visão pouca integrada da autora, impossibilitando-a de compreender as relações

abordadas no EIA sobre os diversos itens, desqualificam boa parte das avaliações

apresentadas e cumprem somente o papel de reforçar aquilo que já foi identificado no EIA:

esse trecho do rio será objeto de impacto mesmo com a medida já proposta no EIA do

hidrograma ecológico e, portanto, ações ambientais como condições de saneamento,

programas relativos à pesca, à saúde, etc., são previstos e devem ser detalhados na próxima

fase de licenciamento.

Por fim, vale destacar a incoerência entre os próprios pareceres elaborados pelos especialistas

ao longo da documentação apresentada: ao mesmo tempo que uns acusam o EIA de ser

omisso ou de negar impactos, outros chegam a tecer elogios à qualidade técnica do

documento, como faz o autor Geraldo Mendes dos Santos em seu paper “Análise do EIA-

RIMA – Ictiofauna (1)” (págs. 138 a 147). In verbis:

Mesmo do ponto de vista técnico parece haver uma grande incongruência para a

implantação desta hidrelétrica e isso diz respeito à enorme oscilação do volume

d„água do Xingu, no local do AHE Belo Monte. Segundo dados dos estudos de

impacto ambiental, a vazão deste rio alcança cerca de vinte mil metros cúbicos

por segundo no período de cheia, baixando para menos de mil metros cúbicos por

segundo no período de seca. Ou seja, a máxima produção de energia, estimada

em cerca de 11 mil MW, só será conseguida no período de poucos meses,

enquanto durar a cheia. Na seca, esta produção será drasticamente reduzida.

Curiosamente, este dado é praticamente omitido e quase nada discutido nos

estudos de viabilidade do empreendimento. Esta é uma das poucas mais

importantes lacunas do EIA-RIMA. (págs. 146 e 147) (grifo nosso)

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Nesse sentido, vale observar que a questão levantada pelo autor como “uma das poucas mais

importantes lacunas do EIA-RIMA” é, na realidade, não relacionada diretamente aos estudos

de impacto ambiental, mas sim a uma tomada de decisão por parte dos planejadores do setor

energético brasileiro e cuja abordagem é cabível nesse contexto e nas análises de viabilidade

de engenharia do AHE Belo Monte.

6 Da má fé de se acusar os estudos etnoecológicos de “desindianizar” populações

indígenas

A caracterização, no EIA/RIMA, dos processos históricos pelos quais passaram as populações

indígenas Juruna do Km 17, Juruna de Paquiçamba e Arara de Volta Grande do Xingu é

acusada, no Painel dos Especialistas, de ser preconceituosa e/ou discriminatória (Págs. 67, 73

e 74). O EIA/RIMA é acusado de tratá-los como menos índios, de reforçar o que seriam

estereótipos populares quanto a ex-índios ou descendentes de índios.

No entanto, ao longo das mais de 20.000 páginas do EIA/RIMA, expressões como menos

índios, ex-índios ou descendentes de índios não são uma vez sequer utilizadas para

caracterizar os Juruna ou os Arara da Volta Grande do Xingu. Observa-se, aliás, que os

trechos do RIMA e do EIA que o Painel dos Especialistas se dá ao trabalho de transcrever

(Págs 73 e 74) dizem respeito especificamente aos “povos indígenas das TIs Paquiçamba e

Arara da Volta Grande do Xingu e Área Indígena Juruna do km 17” (Pág. 73) e aos “Juruna

da Terra Indígena Paquiçamba”(Pág 74). Ou seja, no EIA/RIMA a apresentação de processos

históricos é explicitamente antecedida do pleno reconhecimento dessas populações como

indígenas, conforme os próprios trechos criticados.

A Área Indígena Juruna do Km 17 e as Terras Indígenas Paquiçamba e Arara da Volta Grande

do Xingu foram as mais intensamente estudadas pelo componente indígena do EIA do AHE

Belo Monte. Isto foi feito por determinação da Funai, conforme expresso em seus Termos de

Referência, e pela justificativa de que aquelas Área e Terras serão as mais fortemente

impactadas, caso o AHE Belo Monte venha a ser construído. Em nenhum momento dos

estudos presentes no Volume 35 do EIA são negados a esses indígenas direitos ou reduzidos

Planos, Projetos e Programas em virtude dos processos históricos particulares que

vivenciaram e que estão registrados em suas memórias e na bibliografia. São de se notar as

demandas dos Juruna e dos Arara da Volta Grande do Xingu elencadas entre as ações

compensatórias nos volumes 3, 4 e 5 do Volume 35 do EIA, de apoio para aprendizado do

idioma Yudjá e Arara, já que o idioma por eles falado é o português regional.

Entende-se, pois, como má-fé, e não como fruto de análise, a acusação feita pelo Painel dos

Especialistas (Pág. 74) de que o EIA/RIMA desenvolve uma estratégia para desindianizar os

Juruna e os Arara da Volta Grande do Xingu.

7 Da consonância entre o Plano de Atendimento à População Atingida proposto no

EIA e no RIMA e as Diretrizes Recomendadas para Tratamento dos Atingidos pelo

Painel de Especialistas

São muitas as críticas feitas, no bojo da documentação do Painel de Especialistas, ao

tratamento que, alegam os autores, foi dado à população atingida no âmbito do EIA e do

RIMA. É interessante observar, no entanto, que nenhuma das críticas traçadas remete-se ao

conteúdo do Plano de Atendimento à População Atingida apresentado no Volume 33 do EIA,

mais especificamente no Capítulo 12 – “Planos, Programas e Projetos Ambientais”, item 12.9.

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Se isto tivesse sido realizado, certamente o resultado da análise teria sido outro e, neste

sentido, basta verificar o grau de consonância do referido Plano com as diretrizes constantes

do paper “Extraído d‟ “O Conceito de Atingido. Uma revisão do debate e diretrizes”6,

apresentado ao final do Capítulo de Anexos da documentação apresentada pelo Painel de

Especialistas, mais especificamente às págs. 218 a 229.

Para tanto, procede-se, a seguir, a elencar, para cada diretriz constante do paper supra

referenciado, os itens do Plano de Atendimento à População Atingida que são diretamente

relacionados.

Diretriz constante do paper “Extraído d’ “O

Conceito de Atingido. Uma revisão do debate e

diretrizes”

Item do Plano de Atendimento à População

Atingida (Volume 33 do EIA)

1. A implantação de um projeto hidrelétrico constitui

processo complexo de mudança social, que implica no

deslocamento compulsório de população e em

alterações na organização cultural, social, econômica e

territorial (ELETROBRÁS, 1992, II Plano Diretor de

Meio Ambiente).

Itens “Justificativas” e “Arcabouço Legal” – Págs. 194

a 196; 200 a 203

2. Os empreendedores do Sistema Eletrobrás têm a

responsabilidade de indenizar, ressarcir, reparar e/ou

compensar danos causados a todos quantos forem

atingidos por seus empreendimentos (implantação e

operação). (ELETROBRÁS, 1992, II Plano Diretor de

Meio Ambiente).

Itens “Justificativas” e “Arcabouço Legal” –

Págs. 194 a 196; 200 a 203; e

Item “Conceitos e Princípios Básicos” – Págs.

198 a 200

3. Entende-se que na identificação dos impactos e dos

grupos sociais, comunidades, famílias e indivíduos

atingidos devem ser consideradas as alterações

resultantes não apenas da implantação do reservatório,

mas também das demais obras e intervenções

associadas ao empreendimento, tais como canteiro,

instalações funcionais e residenciais, estradas, linhas

de transmissão, etc. (ELETROBRAS/DNAEE, 1997,

Instruções para Elaboração de Estudos de

Viabilidade).

Item “Conceitos e Princípios Básicos” –

“Atingido” – Pág. 198;

Item “Público-alvo Rural e Urbano” – Págs. 204 a

207.

6 Documento de autoria de Carlos B. Vainer, com a colaboração de Flávia Braga Vieira, Francisca Silvania de

Souza Monte, Mirian Regina Nuti e Raquel de Mattos Viana, em acordo com informação constante à pág. 218 da

documentação apresentada pelo Painel de Especialistas.

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Diretriz constante do paper “Extraído d’ “O

Conceito de Atingido. Uma revisão do debate e

diretrizes”

Item do Plano de Atendimento à População

Atingida (Volume 33 do EIA)

4. Na identificação dos tipos de impactos, devem ser

considerados, entre outros: a) o deslocamento

compulsório (de proprietários e não proprietários); b) a

perda da terra e outros bens; c) perda ou restrição de

acesso a recursos necessários à reprodução do modo de

vida; d) perda ou redução de fontes de emprego, renda

ou meios de sustento; e) ruptura de circuitos

econômicos. (ELETROBRAS/CEPEL/DNAEE,

Manual de Inventário Hidrelétrico de Bacias

Hidrográficas).

Item “Conceitos e Princípios Básicos” –

“Atingido” – Pág. 198;

Item “Público-alvo Rural e Urbano” – Págs. 204 a

207.

5.Atenção deverá ser conferida aos efeitos a jusante da

barragem, que se fazem sentir normalmente apenas

após o enchimento do reservatório. A restrição ou

perda do potencial pesqueiro, mudanças do regime

hídrico, efeitos sobre a navegação e comunicação,

perda ou redução dos recursos para agricultura de

vazante ou outras formas de exploração das várzeas

(garimpo, extração de materiais, etc.), assim como

todas as interferência a jusante deverão ser

consideradas. (ELETROBRAS/DNAEE, 1997,

Instruções para Elaboração de Estudos de Viabilidade).

Item “Público-alvo Rural e Urbano” – Quadro 12.9-2,

Págs. 205 e 206, valendo ressaltar que do referido

quadro consta, explicitamente, que são considerados

atingidos: “moradores das comunidades ribeirinhas

com estreita dependência do rio, localizadas na área

de Vazão Reduzida (Volta Grande)”; “moradores das

comunidades situadas no trecho de jusante, abaixo da

Casa do Força Principal”; e “pescadores das

comunidades localizadas na Volta Grande e a jusante

da Casa de Força Principal”.

6. Também deverão ser consideradas as alterações

impostas a circuitos e redes de sociabilidade, sempre

que implicarem na ruptura de relações importantes

para a reprodução social, consideradas as dimensões

culturais e a identidade dos grupos, comunidades e

famílias atingidas. (ELETROBRAS/DNAEE, 1997,

Instruções para Elaboração de Estudos de Viabilidade;

ELETROBRAS/CEPEL/DNAEE, Manual de

Inventário Hidrelétrico de Bacias

Hidrográficas).

Itens “Justificativas” e “Arcabouço Legal” –

Págs. 194 a 196; 200 a 203; e

Item “Conceitos e Princípios Básicos” –

“Atingido” e “Reparação” - Pág. 198

Programa de Acompanhamento Social, com seus

projetos de Atendimento Social e de

Acompanhamento e Monitoramento Social das

Comunidades do Entorno da Obra e das

Comunidades Anfitriãs

Projeto de Reparação

7. Proprietários e não proprietários, pequenos meeiros,

parceiros, posseiros (de terras públicas ou privadas),

empregados, autônomos, trabalhadores informais,

pequenos empresários poderão ser considerados

atingidos. A ausência de título legal de propriedade ou

de vínculo legal de emprego não será tomada como

critério para excluir grupos, comunidades, famílias ou

indivíduos ao adequado reconhecimento como

atingido (Acordo Eletrosul/CRAB, 1987) .

Item “Público-alvo Rural e Urbano” – Págs. 204 a

207;

Programa de Negociação e Aquisição de Terras e

Benfeitorias na Área Rural, com os projetos de

indenização e aquisição de terras e benfeitorias,

de reassentamento rural, de regularização rural,

de reorganização de áreas remanescentes e de

reparação

Programa de Negociação e Aquisição de Terras e

Benfeitorias na Área Urbana, com os projetos de

indenização e aquisição de terras e benfeitorias

urbanas, de reassentamento urbano, de

regularização fundiária urbana e de reparação

8. Deverá ser considerada a dimensão temporal dos

impactos, de modo a incorporar o caráter

essencialmente dinâmico dos processos sociais,

econômicos, políticos e ambientais. Isto implicará em

considerar impactos que se fazem sentir em diferentes

momentos do ciclo do projeto (ELETROBRÁS, 1992,

II Plano Diretor de Meio Ambiente).

A dimensão temporal dos impactos, fazendo com que

o Plano estenda-se inclusive pela Etapa de Operação,

está explicitada nos programas e projetos voltados

para o monitoramento social para identificar situações

ainda merecedoras de mitigação

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Diretriz constante do paper “Extraído d’ “O

Conceito de Atingido. Uma revisão do debate e

diretrizes”

Item do Plano de Atendimento à População

Atingida (Volume 33 do EIA)

9. Para as Terras e Povos Indígenas serão consideradas

suas especificidades culturais, direitos históricos,

constitucionais e reconhecidos por convenções

internacionais, além das diretrizes já estabelecidas no

Setor Elétrico. Esse processo deverá contar com a

participação das comunidades afetadas e com

o conhecimento do Ministério Público, desde as etapas

iniciais de planejamento dos empreendimentos.

Volume 35 do EIA, referente aos estudos

etnoecológicos, bem como o Volume do EIA “Estudos

Etnoecológicos – Análise Ambiental”, dos quais

constam os programas propostos para a população

indígena elaborados não só a partir da detecção de

suas especificidades culturais e direitos, mas também

voltados para fortalecê-los.

Recomenda-se, assim, aos especialistas, uma leitura detalhada de todos os programas e

projetos que compõem o Plano de Atendimento à População Atingida, bem como as

justificativas e conceitos que conduziram a sua definição.

8 Das respostas específicas às perguntas do Painel de Especialistas

Apresenta-se, a seguir, as respostas às perguntas específicas constantes da documentação

elaborada pelo Painel de Especialistas – págs. 185 a 191.

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1. Entendendo que para qualquer empreendimento humano ser considerado

sustentável deva ser viável economicamente, socialmente justo, culturalmente

aceito e ecologicamente correto, e demonstrado que a barragem de Belo Monte não

atende a esta definição, qual o compromisso do governo Lula com o

desenvolvimento sustentável?

O Governo do presidente Lula está caracterizado pelo compromisso com a integração das

políticas públicas e com a transversalidade da política ambiental. A elaboração de planos de

desenvolvimento sustentável em torno dos projetos estruturantes de infra-estrutura,

coordenados pela Casa Civil, são exemplos desta prática que se pretende faça parte da cultura

política brasileira e efetiva política de Estado. No caso do AHE Belo Monte, foi elaborado o

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Xingu pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos

da Universidade Federal do Pará, sob a orientação da Secretaria de Estado de Integração

Regional do Pará, contando com a coordenação geral da Casa Civil da Presidência da

República.

2. O paradigma da complexidade vem se impondo principalmente em se tratando do

respeito ao meio ambiente e ao diálogo social que deva ser feito para que as ações

governamentais se executem com maturidade. Pensar usina hidrelétrica como

fornecedora de energia a qualquer custo rompe com este conceito. Que parâmetros

além do energético justificam obra de tamanho impacto e com tamanhas

contradições?

Considerando parâmetros geopolíticos, o Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte é um

projeto que consolida a integração do território nacional, expandindo para a região amazônica

meridional, não apenas a infra-estrutura energética e das redes de transmissão, mas, sobretudo

a oportunidade de consolidação da fronteira de ocupação humana e econômica. Belo Monte é

um projeto estruturante da sócio-economia regional, pois caracteriza a formação de uma nova

fronteira, com geração de trabalho e renda. Em suas diretrizes de implantação, a inserção

regional preconiza o aproveitamento de insumos e matérias-primas regionais, assim como a

priorização do emprego da mão-de-obra local. Para tanto, a população regional receberá

treinamentos e especialização em diversas áreas de atuação e atividades, as quais deverão

proporcionar condições amplamente favoráveis à inserção da região transamazônica no

cenário econômico nacional e internacional.

Além disso, o AHE Belo Monte é um projeto que interliga energeticamente bacias

hidrográficas de diversas regiões do país com dinâmicas hidrológicas distintas e

complementares, permitindo ganho energético para o Sistema Interligado Nacional.

3. Quais as quantificações feitas sobre a perda da biodiversidade e dos saberes que

serão perdidos com a inundação provocada pela barragem de Belo Monte?

Quando se refere à perda de biodiversidade significa que espécies desaparecerão de uma

determinada região, ou seja, diz respeito à extinção local de espécies. A quantificação da

perda de biodiversidade pode ser realizada abordando os seguintes aspectos:

Perda da diversificação do ambiente;

Perda de habitats específicos;

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Perda das relações ecológicas, em função do desaparecimento ou do número reduzido

de espécies.

Desta forma, os impactos referentes à perda de biodiversidade devido a implantação do

empreendimento têm abrangência regional e foram analisados, por exemplo, nos seguintes

impactos:

Perda da Diversidade da Flora (Volume 29, Avaliação de Impacto, descrição página

134), com abrangência regional, o que envolve a região da área de influência indireta

do empreendimento;

Perda de Diversidade da Fauna (Volume 29, página 137);

Intensificação da perda de cobertura vegetal e hábitat natural (Volume 29, página 268)

Perda de habitats naturais (Volume 29, página 276)

Por outro lado, a pergunta se refere à perda de biodiversidade, considerando apenas as áreas

inundadas pela barragem de Belo Monte.

Os estudos e levantamentos realizados no âmbito do EIA, bem como estudos pretéritos

disponíveis não indicaram a presença de espécies endêmicas da região que sofrerá inundação

para os grupos de mamíferos, répteis, anfíbios, aves, como também para os vegetais, uma vez

que as espécies identificadas ocorrem em outros trechos da bacia do rio e seus tributários, os

quais não sofrerão inundação. Algumas espécies, inclusive, têm distribuição que extrapola a

bacia e mesmo a região amazônica.

Os principais recursos naturais utilizados pela população local se referem às espécies animais

normalmente caçadas, pescadas ou aos vegetais utilizados para construção de casas, retirada

de palhas e cipós (espécies vegetais) apresentam ampla distribuição geográfica; portanto,

considerando a área de inserção do empreendimento, não haverá perda regional da

diversidade destes organismos. No entanto, em função do já avançado estado de alteração da

paisagem na AID e ADA, tais recursos serão reduzidos localmente com a inundação dos

reservatórios. Desta forma, como medidas mitigadoras prevêem a conservação e o manejo dos

recursos da flora, da fauna e da ictiofauna.

Entre as espécies associadas aos ambientes aquáticos que sofrerão impacto com a inundação,

destacam-se os quelônios, os quais também são muito utilizados pelas populações locais. Este

grupo de animais, num estudo de biologia reprodutiva realizado no âmbito do EIA (cujo

conteúdo na íntegra está no Volume 20 – Relatórios do MPEG – Fauna Aquática), mostrou

que a taxa de predação de ninhos de quelônios, principalmente por humanos, nas praias

existentes no trecho da Volta Grande do rio Xingu até a confluência com o Iriri, chegam até a

100%. Já quanto à caça praticada na região observou-e que, devido a alteração de habitat, já

está se tornando escassa.

Desta forma, considerando o conjunto de espécies de quelônios identificados no estudo, sua

ampla distribuição geográfica e como as populações responderam a implantação de

hidrelétricas em outras regiões amazônicas, não há indícios de que haverá desaparecimento

das espécies de quelônios do trecho do rio Xingu na região do reservatório do rio, mas sim

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alteração na estrutura das populações, diminuição da abundância e modificação da dinâmica

populacional desta e de outras espécies de quelônios.

Por outro lado, com relação à ictiofauna, vários impactos foram previstos para a perda de

espécies, tanto pela conversão de habitat-chave, quanto pela intolerância destes organismos às

alterações na qualidade da água. A descrição destes impactos está no Volume 29 Avaliação de

Impactos – Parte 1, página 329 do EIA.

Entre as ações propostas para mitigar e compensar os impactos previstos inerentes à perda de

diversidade de flora e fauna com a implantação do empreendimento destacam-se: a) o Plano

de Conservação dos Ecossistemas Aquáticos, que reúne as medidas voltadas para a criação de

espécies de peixe em cativeiro, manejo e conservação dos recursos pesqueiros, ações de

sustentabilidade da pesca, manejo e conservação dos quelônios aquáticos, e b) o Plano de

Conservação dos Ecossistemas Terrestres cujas ações de manejo e conservação são ali

indicadas, como também o Programa de Compensação Ambiental. Destaca-se também o

PACUERA – Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatórios Artificiais

cuja prerrogativa é buscar conciliar o uso e ocupação do solo com a manutenção e

conservação dos recursos naturais.

Estes programas estão descritos no Volume 33 do EIA e apresentam grau de detalhamento

apropriado para um Estudo de Impacto Ambiental, atendendo ao Termo de Referência

emitido pelo IBAMA, que norteou todo o EIA.

Para a ictiofauna é indicada no Volume 29 página 331 ações preventivas, mitigadoras e de

controle, a saber:

Plano de Conservação do Ecossistema Aquático, com ações de conservação e monitoramento

da ictiofauna. Além destas ações, observa-se ainda que, no bojo do Plano de Gestão dos

Recursos Hídricos, está proposto o monitoramento dos igarapés interceptados pelos diques.

Deve-se considerar ainda que, com a implantação dos reservatórios, haverá mais abundância

de algumas espécies de peixes comerciais, como já foi relatado em outros reservatórios em

regiões tropicais. Para o uso sustentável dos recursos pesqueiros tanto na região onde estes

ficarão mais escassos quanto na região do reservatório, onde serão mais abundantes, são

propostas ações de ordenamento da pesca estabelecidas no Programa de Sustentabilidade da

Pesca.

Para os recursos madeireiros e não madeireiros que sofrerão impactos com a implantação dos

reservatórios, são propostas ações preventivas e mitigadoras dos impactos para evitar a perda

de diversidade da flora com abrangência regional. Estas medidas estão apontadas, no subitem

a.2.9.3 para o impacto que o origina, isto é, o “Aumento da Pressão sobre os Recursos

Florestais Madeireiros e Não Madeireiros”.

A título de medida compensatória, mas também guardando um caráter preventivo em relação

a um provável avanço de frentes de ocupação e conseqüente aumento da pressão sobre os

recursos madeireiros e não madeireiros, propõe-se no EIA, a criação de Unidades de

Conservação. Essas unidades propostas, apresentadas no Programa de Compensação

Ambiental, são voltadas para a conservação dos recursos florestais de terra firme e aluviais da

margem direita do rio Xingu, que estão submetidos a uma potencial ameaça derivada do

avanço de projetos de assentamentos rurais. Essas ações estão descritas e apresentadas de

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forma detalhada no Volume 33 do EIA, que corresponde a Planos, Programas e Projetos

Ambientais.

4. A expansão prevista das indústrias eletrointensivas na Amazônia está dentro das

previsões no Plano Decenal? Este deve ser o destino da energia da Belo Monte (se

for construída), fornecer energia subsidiada para indústrias que empregam

pouco?

Os cenários do PDE 2008-2017 consideram as expansões de todas as atividades econômicas,

variando segundo a intensidade de crescimento do Produto Interno Bruto – PIB; baseiam-se

em premissas de crescimento econômico e demográfico formando as premissas setoriais.

As indústrias eletro intensivas, como todas as indústrias, foram contempladas no perfil

produtivo da região Amazônica, nas regiões e estados cujas potencialidades apontam para a

sua utilização no período decenal do PDE.

As empresas interessadas na implantação de processos eletro-intensivos no país apresentam

seus planos de investimentos, novas expansões (projetos existentes ou novos projetos), os

quais são avaliados pelo Setor Elétrico Brasileiro (MME, EPE, Operador Nacional do Sistema

- ONS e concessionárias de energia elétrica) quanto à sua viabilidade temporal e à

factibilidade legal e institucional, para então serem incorporadas ao planejamento setorial.

Existem, sim, projetos de indústrias eletro intensivas previstos no PDE para o Estado do Pará,

onde ocorrem as grandes reservas minerais da Amazônia. Neste item, cabe destacar uma

questão estratégica regional de cunho estritamente econômico. Trata-se de oportunidade

peculiar que a região Amazônica dispõe no que concerne aos seus recursos naturais,

associando o potencial mineral ao potencial hidráulico para exploração energética. A

possibilidade de exploração sustentável da cadeia mineral associada à exploração da energia

renovável dos recursos hídricos pela hidroeletricidade, faz da Amazônia uma fronteira de

destaque para o país, com oportunidade de se colocar como fronteira para o mundo, evoluindo

de posição de exportador de commodities, agregando valor a estes, e estabelecer-se como

grande produtor mundial com desenvolvimento sustentável desta região.

Trata-se de exploração de minério de ferro, de cobre, de níquel, de bauxita, de caulim,

localizados tanto na província mineral de Carajás quanto na calha do Rio Amazonas, margens

esquerda e direita. No horizonte decenal do PDE, incidem projetos da cadeia mineral da

bauxita, cobre, níquel e minério de ferro.

No PDE 2008-2017 existe uma projeção de demanda de energia elétrica para esses projetos,

os quais são detalhados pelas empresas/agentes e encaminhadas à EPE, ONS e outras

instituições, que por sua vez se utilizam das informações para elaborar seus planejamentos de

expansão e operação.

5. Porque não se amplia a vazão que passaria pela barragem Pimental para garantir

a sobrevivência com dignidade das populações da Volta Grande e manter o

equilíbrio da natureza e garantir a sobrevivência dos peixes do rio Xingu?

As vazões propostas no hidrograma ecológico já foram estabelecidas de modo a permitir à

manutenção dos modos de vida das populações da Volta Grande, dos usos da água e das

condições necessárias à manutenção da reprodução e alimentação dos peixes.

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6. Há um plano para o desenvolvimento sustentável da região? Porque isso não foi

submetido a discussões com as comunidades, enquanto o projeto Belo Monte está

sendo encaminhado com caráter de urgência?

O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Xingu – PDRS Xingu - elaborado pelo Núcleo

de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará, sob a orientação da Secretaria

de Estado de Integração Regional do Pará e coordenação da Casa Civil da Presidência da

República, é o plano de referência que deverá pautar o desenvolvimento regional de forma

sustentável. A metodologia utilizada no processo de elaboração do PDRS Xingu foi a

realização de consultas públicas nos municípios da área de influência do AHE Belo Monte.

As consultas públicas ocorreram no período de 15 a 21 de fevereiro de 2009, conforme

cronograma abaixo:

CONSULTAS PÚBLICAS DO PDRS XINGU

16/02/2009 Municípios de Altamira, Brasil Novo, Anapu e Pacajá

18/02/2009 Municípios de Senador José Porfírio, Vitória do Xingu e Porto de Moz

20/02/2009 Municípios de Uruará, Medicilândia e Placas.

As Consultas Públicas foram organizadas e divulgadas pela Secretaria de Estado de

Integração Regional do Pará e contaram com a participação ampla da sociedade civil

organizada, dos órgãos de governo estadual e municipais, da Casa Civil e da Secretaria Geral

da Presidência da República, de instituições federais atuantes na região como o INCRA e o

DNIT e de vários ministérios: MME, MMA, MI, MT, MAPA, MCidades, MDA, MDS.

7. Há um Plano Decenal de expansão de energia. Com Eletrobrás também

planejando entre 5 e 15 hidrelétricas enormes no Peru, com a maioria da energia

(80%) destinada para o Brasil, isso não significa que vai ter energia sobrando na

próxima década?

O governo peruano propôs uma parceria com o governo brasileiro para estudar seis

aproveitamentos hidrelétricos na Amazônia Peruana, que totalizam 7.564 MW.

A viabilidade destes empreendimentos e a viabilidade da importação de sua energia é uma

hipótese que depende de fatores técnicos e políticos para a sua confirmação. O atual estágio

dos estudos, não permite demonstrar uma opção de garantia de suprimento ao mercado de

energia elétrica brasileiro.

O PDE 2008-2017 do Ministério de Minas e Energia-MME, elaborado pela Empresa de

Pesquisa Energética-EPE, não considerou a importação da energia produzida por esses

empreendimentos pelo SIN até 2017, uma vez que os estudos de viabilidade técnica,

econômica e ambiental dos mesmos estão sendo elaborados.

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8. Uma vez que considerável parte das espécies de peixes não foi identificada, foi

identificada apenas até grupos gerais (gênero ou família, sem caracterização da

espécie), foi identificado erroneamente (gênero que não são válidos, espécies que

não ocorrem na região) ou foi questionavelmente identificada (a maioria), como é

possível saber quais são as espécies de peixes ocorrentes no local do

empreendimento?

Normalmente esta pergunta pode ser respondida por qualquer cientista

especialista que examine material testemunho adequadamente registrado e

disponibilizado numa coleção científica permanente, de acordo com as práticas

internacionalmente aceitas de curadoria e acesso a coleções científicas. Como o

material usado para inventariar a fauna da região não foi registrado e

disponibilizado numa coleção científica disponível publicamente aos cientistas

capacitados e em alguns casos nem mesmo foi coletado (e.g. peixes não

Loricariidae que ocorrem nos pedrais), pode-se afirmar que esta pergunta não foi

respondida. Ou seja: Até mesmo a composição da fauna de peixes da área de

abrangência do EIA RIMA ainda é desconhecida.

A situação de desconhecimento sobre as espécies da ictiofauna neotropical de água doce é de

conhecimento público. Mais de 25% do total das espécies conhecidas não possui status

taxonômico definitivo (Reis et al., 2003). Nas coletas de ictiofauna do rio Xingu foram

obtidos mais de 35.000 indivíduos, tendo sido contemplados todos os ambientes aquáticos da

região de estudo, com diversas artes de captura e ao longo de todas as épocas do ano,

seguindo o ciclo hidrológico. Assim, estas coletas são representativas espacial (áreas e tipos

de habitat) e temporalmente dos trechos do rio Xingu direta e indiretamente afetados pelo

empreendimento, conforme exigências do TR do Ibama.

Esta coleção de indivíduos foi toda identificada até espécie em 60% dos casos, sendo que em

40% utilizou-se denominação de “morfo-espécies” em decorrência da grande falta de estudos

taxonômicos na literatura para esta fauna, e do fato de terem sido realizadas coletas em

ambientes pouco conhecidos na região, como é o caso dos pequenos igarapés que drenam o

rio Xingu.

As curvas de coletor, para as diferentes artes de pesca utilizadas e as estimativas por

modelagem do número de espécies em cada ambiente (Volume 16, paginas 52 a 113)

referendam a representatividade taxonômica da ictiofauna amostrada.

A lista de espécies final, contendo 789 categorias diferentes, foi elaborada agregando às

espécies coletadas (387) e mais os registros encontrados em museus e coleções nacionais

internacionais, consultados através da literatura científica ou pela internet.

Alem da classificação taxonômica, toda a ictiofauna registrada foi classificada também de

acordo com categorias funcionais ou ecológicas, de acordo com guildas tróficas,

comportamento migrador, estratégias reprodutivas, uso de habitat, bem como o uso das

mesmas pela pesca. Todas as análises dos resultados sobre diversidade, riqueza, biologia e

ecologia da ictiofauna, bem como toda a descrição de impactos do empreendimento foram

realizadas com base em grupos de espécies (análises de ordenamento estatístico) ou grupos

funcionais (ecológicos) e em nenhum caso com base nas espécies individualmente

consideradas.

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O material coletado, esta sendo ainda trabalhado e preparado para uma revisão taxonômica

das espécies e descrição de espécies novas, para posterior depósito em uma coleção científica.

Taxonomistas foram contatados para esta atividade.

Contudo, a correta identificação das morfo-espécies não irá alterar os impactos identificados e

nem as medidas e programas sugeridos no EIA de Belo Monte, uma vez que os mesmos

foram com base nos grandes grupos funcionais antes mencionados.

9. Em algum momento as associações indígenas foram contatadas pelas empresas no

decorrer desses anos dando algum tipo de explicação sobre o aumento dos

impactos em razão da construção da hidrelétrica?

As comunidades indígenas das TIs situadas na região do AHE Belo Monte vêm sendo

contatadas desde 2007, tendo recebido informações sobre o Empreendimento, seus Impactos e

os Programas para mitigá-los. Esses contatos foram registrados por meio de fotos e filmagens

e encontram-se disponíveis para consultas.

Os estudos realizados junto aos grupos indígenas pelos especialistas contaram com a

participação indígena e foram também períodos de troca de informações e esclarecimentos

sobre o empreendimento.

Como conseqüência das Vistorias Iniciais em Terras Indígenas, a FUNAI emitiu os Termos

de Referência para os estudos. Também foram indicados pelas comunidades os antropólogos

de sua preferência para a realização dos estudos. Assim:

na TI Arara da Volta Grande do Xingu foi indicada a antropóloga Marlinda Melo

Patricio;

na Aldeia da AI Juruna do km 17 foram indicados os antropólogos Antônio Carlos

Magalhães dos Santos ou Maria Elisa Guedes Vieira;

na TI Trincheira Bacajá, as comunidades das duas primeiras aldeias visitadas, Bacajá

e Mrotidjãm, indicaram os antropólogos Clarice Cohn ou William Fischer, indicação

endossada pelas demais aldeias, Patikrô e Pykayaká.

Nos Quadros a seguir estão demonstrados os contatos com as TIs e AI e os povos indígenas

durante os estudos realizados:

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AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES

VISTORIA INICIAL DA FUNAI

- Obtenção de subsídios para a elaboração do TR

- Apresentação do projeto do AHE Belo Monte e

seus impactos

- Solicitação da indicação de um antropólogo da

confiança da comunidade para a realização dos

Estudos Etnoecológicos

- Aldeia da TI Paquiçamba 18/12/2007 FUNAI

ELETROBRÁS

ELETRONORTE

CNEC

THEMAG

- Aldeia da TI Arara da Volta Grande do Xingu 19/12/2007

- Aldeia da AI Juruna do km 17 20/12/2007

- TI Trincheira Bacajá

Aldeia Bacajá

Aldeia Mrotidjãm

Aldeia Patikrô

Aldeia Pykayaká

28/10/2008

29/10/2008

09/12/2008

10/12/2008

REUNIÃO PARA APRESENTAÇÃO DAS

EQUIPES

- Retomada a explanação sobre o projeto do AHE

Belo Monte e seus impactos

- Apresentação das equipes técnicas responsáveis

pelos Estudos Etnoecológicos

- Aldeia da AI Juruna do km 17 13/08/2008 FUNAI, ELETROBRÁS,

ELETRONORTE, CNEC, THEMAG,

Antropólogas M. Elisa G. Vieira, Marlinda

M. Patrício e equipes - Aldeia da TI Paquiçamba 14/08/2008

- Aldeia da TI Arara da Volta Grande do Xingu 14/08/2008

1º TRABALHO DE CAMPO

- TI Paquiçamba 14/08/2008 a

25/08/2008

Antropóloga M. Elisa G. Vieira e equipe

- TI Arara da Volta Grande do Xingu 14/08/2008 a

25/08/2008

Antropóloga Marlinda Melo Patrício e

equipe

- AI Juruna do km 17 26/08/2008 a

29/08/2008

Antropóloga Maria Elisa Guedes Vieira e

equipe

- TI Trincheira Bacajá 17/02/2009 a

03/03/2009

Antropólogas Isabelle Vidal Giannini e

Clarice Cohn

2º TRABALHO DE CAMPO

- AI Juruna do km 17 07/11/2008 a

20/11/2008

Antropóloga M. Elisa G. Vieira e equipe

- TI Paquiçamba 12/11/2008 a

01/12/2008

Antropóloga Maria Elisa Guedes Vieira e

equipe

- TI Arara da Volta Grande do Xingu 13/11/2008 a

03/12/2008

Antropóloga Marlinda Melo Patrício e

equipe

1ª. PALESTRA SOBRE O AHE BELO MONTE

- Reapresentação do projeto do AHE Belo Monte,

etapas de construção e impactos

- Aldeia da TI Arara da Volta Grande do Xingu

14/11/2008 e

15/11/2008

ELETROBRÁS, ELETRONORTE, LEME,

Antropóloga Marlinda Melo Patrício e

equipe

- Aldeia da TI Paquiçamba 15/11/2008 ELETROBRÁS, ELETRONORTE, LEME,

Antropóloga Maria Elisa Guedes Vieira e

equipe - Aldeia da AI Juruna do km 17 17/11/2008

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AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES

3º TRABALHO DE CAMPO

- TI Paquiçamba 04/02/2009 a

27/02/2009

Antropóloga M. Elisa G. Vieira e equipe

- AI Juruna do km 17 06/02/2009 a

10/02/2009

Antropóloga Maria Elisa Guedes Vieira e

equipe

- TI Arara da Volta Grande do Xingu 14/02/2009 a

23/02/2009

Antropóloga Marlinda Melo Patrício e

equipe

2ª. PALESTRA SOBRE O AHE BELO MONTE

- Reapresentação do projeto do AHE Belo Monte e

impactos

- Aldeia da AI Juruna do km 17 10/02/2009 ELETROBRÁS,

ELETRONORTE,

LEME, Antropóloga Maria Elisa Guedes

Vieira e equipe

- Aldeia da TI Paquiçamba

11/02/2009

REUNIÃO INICIAL

- Apresentação do projeto do AHE Belo Monte, seus

impactos e os estudos etnoecológicos em andamento

- Aldeia da TI Kararaô 17/03/2009 FUNAI, ELETROBRÁS,

ELETRONORTE, Antropólogas Regina

Aparecida P. Muller e Alice Martins Villela

Pinto

- Aldeia da TI Arara 18/03/2009 e

19/03/2009

- Aldeia da TI Cachoeira Seca 19/03/2009 e

20/03/2009

- Aldeias da TI Apyterewa 21/03/2009

- Aldeia da TI Koatinemo 23/03/2009

- Aldeias da TI Araweté Igarapé Ipixuna 24/03/2009

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AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES

AUDIÊNCIAS INDÍGENAS

- Apresentação dos resultados dos Estudos

Etnoecológicos realizados

- Esclarecimentos de dúvidas dos índios sobre os

estudos, o Empreendimento, os impactos e o EIA

- Obtenção de informações adicionais junto às

comunidades para subsidiar o parecer da FUNAI

- Aldeia da AI Juruna do km 17

11/05/2009

FUNAI, ELETROBRÁS, ELETRONORTE,

CNEC, LEME, THEMAG, Antropóloga

Maria Elisa Guedes Vieira e equipe

- Aldeia da TI Paquiçamba

12/05/2009 e

13/05/2009

FUNAI, ELETROBRÁS, ELETRONORTE,

CNEC, LEME, THEMAG, Antropóloga

Maria Elisa Guedes Vieira e equipe

- Aldeia da TI Arara da Volta Grande do Xingu

13/05/2009 e

14/05/2009

FUNAI, ELETROBRÁS, ELETRONORTE,

CNEC, LEME, THEMAG, Antropóloga

Marlinda Melo Patrício e equipe

- Aldeias da TI Trincheira Bacajá

15/05/2009 e

16/05/2009

FUNAI, ELETROBRÁS, ELETRONORTE,

CNEC, LEME, THEMAG, Antropólogas

Isabelle Vidal Giannini e Clarice Cohn

- Aldeias da TI Apyterewa 17/05/2009 FUNAI, ELETROBRÁS, ELETRONORTE,

CNEC, LEME, THEMAG, Antropólogas

Regina Aparecida P. Muller, Sônia da Silva

Lorenz e Fábio Augusto Nogueira - Aldeias da TI Araweté Igarapé Ipixuna 18/05/2009 e

19/05/2009

- Aldeia da TI Koatinemo 20/05/2009 e

21/05/2009

- Aldeia da TI Kararaô 21/05/2009

- Aldeia da TI Arara 22/05/2009

- Aldeia da TI Cachoeira Seca 22/05/2009

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AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES

COMUNICAÇÃO DO PARECER DA FUNAI

- Apresentação do parecer preliminar da FUNAI

sobre a viabilidade do empreendimento

- Esclarecimentos sobre as Oitivas Indígenas com

representantes do Congresso Nacional.

- Comunicação e convite para as Audiências Públicas

do IBAMA, previstas para setembro.

- Oportunidade dos índios formularem perguntas

sobre o empreendimento e as mesmas serem

respondidas pelos integrantes da equipe.

- Assinatura da ata de reunião

- Aldeia da AI Juruna do km 17 19/08/2009 IBAMA

FUNAI

ELETROBRÁS

ELETRONORTE

LEME

CNEC

- Aldeias da TI Trincheira Bacajá 20/08/2009

- Aldeias da TI Apyterewa 22/08/2009

- Aldeias da TI Araweté Igarapé Ipixuna 23/08/2009 e

24/08/2009

- Aldeia da TI Koatinemo 25/08/2009

- Aldeia da TI Kararaô 26/08/2009

- Aldeia da TI Arara 26/08/2009

- Aldeia da TI Cachoeira Seca 27/08/2009

- Aldeia da TI Arara da Volta Grande do Xingu

02/09/2009 MPF

IBAMA

FUNAI

ELETROBRÁS

ELETRONORTE

CNEC - Aldeia da TI Paquiçamba

02/09/2009

AUDIÊNCIAS PÚBLICAS AHE BELO MONTE

- Apresentação geral do EIA pelo IBAMA em

Altamira, com a viabilização da participação das

comunidades indígenas estudadas

- Altamira

13/09/2008

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10. Como ficará a situação dos peixes na Volta Grande, especificamente no Trecho de

Vazão Reduzida? O que vai ser feito para compensar esse impacto?

Os impactos decorrentes da redução de vazão no trecho a jusante do sitio Pimental, estão

descritos no Volume 31, a partir da pagina 188 e foi denominado Alteração da Dinâmica do

Escoamento Fluvial do TVR. Dentro deste conjunto de impactos destaca-se, para a ictiofauna,

o impacto denominado: Redução de Populações ou Eliminação de Espécies Intolerantes às

Alterações Hidrológicas que Impossibilitem Acesso a Recursos – Chave, que foi descrito a

partir da pagina 212 desse volume, bem como o impacto: Alterações nos padrões de pesca

devido às mudanças nas comunidades de peixes, decorrentes de perturbações diretas ou

indiretas nos habitat, descrito na pagina 219 e subseqüentes do Volume 31, de onde foram

retirados os trechos a seguir.

O controle hidrológico, para a geração de energia, no Projeto de AHE Belo Monte, implicará

necessariamente na retenção de parte da vazão natural do rio, de modo que os níveis de vazão

remanescentes seriam insuficientes para o adequado funcionamento dos ecossistemas,

notadamente para permitir a inundação das florestas aluviais, que constituem habitat – chave

para a reprodução, desenvolvimento e nutrição de diversas espécies aquáticas.

A geração de energia no AHE Belo Monte requer a retenção de até 14.000 m3/s e apenas o

excedente deveria ser vertido para jusante da Barragem do Sítio Pimental. Isso implicaria na

redução de vazão desde a barragem até a casa de Força Principal, ou seja, em toda a Volta

Grande do Xingu. O projeto de viabilidade do AHE Belo Monte prevê uma vazão

remanescente de 2.000 m3.sec

-1 durante a cheia e 200 m

3.sec

-1 durante a seca. Isso

corresponde a aproximadamente 1/4 da vazão média das cheias históricas e a 1/5 da vazão

média das secas históricas do rio Xingu.

Conforme caracterizado no diagnóstico, na Volta Grande há três categorias de peixes que

dependem dos ambientes existentes:

peixes bentônicos e demersais associados aos pedrais (principalmente Loricariidae);

peixes que dependem da floresta alagada para reprodução e alimentação (muitos

Characidae, dentre outros);

peixes predadores que não dependem da floresta, mas que a utilizam para busca de

suas presas (muitos Cichlidae, Pimelodidae, dentre outros).

O hidrograma mínimo proposto pelo Estudo de Viabilidade para o trecho de vazão reduzida

provocaria a redução drástica de populações ou a eliminação de espécies intolerantes às

alterações hidrológicas que impossibilitem acesso a recursos – chave. Esses efeitos devem se

manifestar por três vias: (a) Perda da qualidade de habitat nos pedrais e demais habitats do

canal na Volta Grande do Xingu (afetando particularmente a fauna de Loricariidae); (b) Perda

de áreas de planícies de inundação por diminuição das vazões na Volta Grande do Xingu

(afetando peixes que utilizam estas áreas para desova e alimentação); (c) Perda de sincronia

para as atividades vitais (notadamente migração e reprodução).

O diagnóstico da ictiofauna da Área de Influência Indireta – AII do AHE Belo Monte

demonstrou a grande especiação e singularidade associadas aos pedrais do Médio Xingu

Inferior, cujas espécies diferem 64% daquelas encontradas em pedrais similares localizados

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na confluência Xingu – Iriri. Muito embora a maior parte dessas espécies que dependem dos

pedrais não esteja diretamente associada às planícies de inundação, nem tampouco necessitem

realizar migrações laterais ou longitudinais para desovar, suas estratégias de vida também são

intimamente dependentes do regime hidrológico.

O diagnóstico da ictiofauna também demonstrou que a diversidade de espécies deste trecho é

maior durante a enchente e cheia, já que muitas espécies colonizam as áreas inundáveis nestes

períodos. Além disso, a reprodução dessas espécies depende do estímulo proveniente da

enchente do rio.

Assim a redução drástica da vazão deverá impor pressões irreversíveis, contínuas e

crescentes, de alta relevância e magnitude média sobre as complexas relações tróficas que

mantêm a diversidade de espécies da Volta Grande do Xingu.

De acordo com o diagnóstico da ictiofauna no âmbito deste EIA – RIMA, foi verificado que o

início da desova no trecho da Volta Grande começa a partir de 8.000 m3.sec

-1, de modo que a

vazão remanescente proposta pelo projeto de viabilidade constitui ¼ da vazão mínima

necessária para começar a ocorrer a reprodução dos peixes nessa região. De acordo com o

mesmo diagnóstico, o trecho da Volta Grande do Xingu abriga cerca de 30% das áreas

reprodutivas de espécies migratórias identificadas entre o Iriri e Senador José Porfírio. As

principais áreas de desova deste trecho do rio Xingu encontram-se nas planícies de inundação

das ilhas, das margens e dos igarapés. Após a desova, os peixes adultos penetram as áreas

inundadas para se alimentar. Os alevinos são criados também nessas áreas ou em lagoas

insulares. A perda de planícies de inundação por controle hidrológico acarreta perdas

substanciais das guildas de espécies associadas àqueles habitats (WELCOMME et al., 2006).

Esses impactos são particularmente importantes para as espécies migradoras. Ainda que parte

dos estoques consiga desovar, a falta de inundação suficiente para a alimentação dos peixes

adultos poderá acarretar rupturas importantes nas redes tróficas da Volta Grande do Xingu.

Aumentos significativos na taxa de mortalidade natural devem decorrer da diminuição da

vazão (WELCOMME, 1992).

Se não ocorrer a inundação ou se esta ocorrer muito tarde, ou com irregularidades (subidas e

descidas constantes do nível do rio), fora do ritmo natural, poderão ocorrer também falhas no

fechamento do ciclo biológico das espécies. Desta forma, o diagnóstico estabelece

claramente, que a diminuição da vazão do rio deverá ir acompanhada de uma diminuição

correspondente da abundância relativa de todas as espécies que habitam a região (migradores

ou não), (endêmicos ou não). Estes impactos foram associados também com a diminuição das

fontes de renda para os pescadores, notadamente com o impacto denominado Sobrepesa e

Perda de Modalidades de Pesca (Volume 29, página 146 e subseqüentes).

Para mitigar, em parte, estes impactos, a equipe do EIA aplicou várias metodologias de

abordagem multidisciplinar, buscando também conciliar os objetivos de conservação com os

de geração de energia. Surge assim a proposta do hidrograma ecológico, que mesmo alterando

as condições naturais atuais, busca utilizar parâmetros ecológicos e biológicos para garantir a

manutenção de parte da biodiversidade, neste particular a abundância da ictiofauna. Propõe-se

desta forma uma alteração nos regimes de vazão, que atendam ao mínimo necessário para a

reprodução dos peixes, que habitam na Volta Grande. Para tal, utilizaram-se duas medidas de

vazão, a primeira de 4.000 m3.sec

-1, que corresponde ao valor que garante a inundação da

maior parte dos pedrais. Nesta vazão poderá ser garantida a desova, alimentação e refugio dos

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peixes que são característicos deste ambiente, como os Loricariidae que são importante alvo

da pesca de ornamentais. A segunda medida de vazão sugerida foi de 8.000 m3.sec

-1 Com esta

vazão foi observada a desova da maior parte dos peixes que habitam as planícies de inundação

durante a enchente, bem como a entrada das larvas nas planícies de inundação.

A falta do pulso de inundação determinará o desaparecimento dos cardumes de peixes que

dependem da floresta aluvial (67% da riqueza de espécies da Volta Grande. Os grandes

predadores também serão impactados pela falta de área de reprodução e alimentação.

Como ações preventivas e mitigadoras dos impactos acima são propostas aquelas a seguir

relacionadas:

No Plano de Gerenciamento Integrado da Volta Grande do Xingu, mais

especificamente no Programa de Conservação da Ictiofauna, os Projetos de

Aqüicultura de Peixes Ornamentais, de Monitoramento da Ictiofauna e de Incentivo à

Pesca Sustentável;

No contexto do Plano de Atendimento à População Atingida, o Programa de

Recomposição da Atividade Pesqueira.

No âmbito do Plano de Conservação de Ecossistemas Terrestres, o Programa de

Compensação Ambiental, através os projetos de criação de unidades de conservação

e manutenção das unidades já existentes.

11. No mesmo trecho, como ficará a situação dos quelônios, os bichos de casco, que são

importantes na alimentação dos ribeirinhos? O que vai ser feito para mitigar ou

compensar os impactos negativos?

No trecho de Vazão Reduzida, ocorrem os quelônios que são amplamente distribuídos na

região amazônica, em particular, compreendem três espécies do gênero Podocnemis:

Podocnemis expansa (tartaruga-da-amazônia), P. unifilis (tracajá) e P. sextuberculata (pitiú).

Os levantamentos e estudos realizados no âmbito do EIA demonstrados nos Volumes 16,

página 138 – Fauna Aquática e 20 – Relatório MPEG – Fauna Aquática, apresentam além

destas espécies, a ocorrência de outros quelônios vivendo nos rios, igarapés, poças marginais

ou em hábitats alagáveis enlameados, a saber: Chelus fimbriatus (matamatá); Platemys

platycephala (jabuti-machado), Kinosternon scorpioides; (muçuã), Rhynoclemmys puncularia

(aperema) e Mesoclemmys gibba (cabeça-torta). As duas outras espécies de quelônios da

região são os jabutis de hábitos terrestres: Chelonoidis carbonaria (jabuti-vermelho), e C.

denticulata (jabuti-amarelo).

De fato, as tartarugas e tracajás, como seus ovos, são coletados para consumo e comércio.

Essa questão é avaliada à luz da legislação ambiental.

Para mitigar ou compensar os impactos negativos está previsto o Plano de Conservação do

Ecossistema Aquático, cujo eixo principal de atuação está centro nos atributos e variáveis

ambientais específicas da flora e da fauna aquáticas que mais deverão ser impactados. A

relação dos programas e projetos associados ao Plano são apresentados na tabela abaixo,

extraída do Volume 33, página 11.

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PLANO PROGRAMA PROJETO

Plano de Conservação dos

Ecossistemas Aquáticos

Atua diretamente sobre atributos e

variáveis ambientais específicas da

flora e da fauna aquáticas que mais

deverão ser impactados

Programa de Monitoramento da

Flora

Projeto de Monitoramento das

Florestas Aluviais

Projeto de Monitoramento das

Formações Pioneiras

Programa de Conservação e

Manejo de Hábitats Aquáticos

Programa de Conservação da

Ictiofauna

Projeto de Aqüicultura de Peixes

Ornamentais

Projeto de Monitoramento da

Ictiofauna

Projeto de Incentivo à Pesca

Sustentável

Projeto de Implantação e

Monitoramento de Mecanismo

para Transposição de Peixes

Programa de Conservação da

Fauna Aquática

Projeto Monitoramento e Controle

de Invertebrados Aquáticos

Projeto de Monitoramento e

Manejo de Quelônios e

Crocodilianos

Projeto Monitoramento de

Mamíferos Aquáticos e Semi-

Aquáticos

Projeto de Monitoramento da

Avifauna Aquática e Semi-

Aquática

12. Como ficará a situação das espécies migradoras? Como isso afetará a vida das

populações ribeirinhas a jusante?

A descrição deste impacto sobre os peixes migradores é apresentada no Volume 29 do EIA,

página 336 e seguintes e Volume 31 do EIA, página 66 e seguintes, e foi designado

genericamente como “Fragmentação de Populações – Metapopulações ou Eliminação de

Espécies da Ictiofauna Intolerantes à Perda de Conectividade Lateral ou Longitudinal entre

Habitats – chave”, de onde são retirados os argumentos a seguir.

Os efeitos associados a esses impactos manifestarão pela: (a) interrupção das migrações

laterais para as planícies de inundação por deposição de material dragado durante a

construção do porto; (b) interrupção das migrações longitudinais de pequenos migradores por

barreira hidrológica no canal de desvio durante a construção da Barragem do Sítio Pimental;

(c) interrupção das migrações longitudinais dos peixes migradores por obstrução do canal do

rio Xingu após o fechamento da barragem no Sítio Pimental, que permitirá a formação do

Reservatório do Xingu; (d) interrupção das migrações laterais por obstrução dos igarapés após

o fechamento dos diques limitantes, que permitirão a formação do Reservatório dos Canais; e

(e) isolamento das comunidades nas cabeceiras dos igarapés após o afogamento dos cursos

médios pela formação do Reservatório dos Canais.

O rio Xingu funciona como um grande fluxo de água que conecta regiões e funciona como

uma via de dispersão de nutrientes, matéria orgânica, frutos, plantas flutuantes, larvas, ovos e

organismos adultos. Com a instalação da barragem no Sítio Pimental, ocorrerão alterações no

fluxo natural do rio, nesta região. Esta ação terá, portanto, um impacto direto na comunidade

de peixes migradores.

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O diagnóstico da ictiofauna indica que muitas espécies do rio Xingu apresentam movimentos

migratórios laterais e longitudinais. Algumas espécies, como os as dos gêneros Curimata,

Myleus, Brycon, Mylesinus, Prochilodus, dentre outros sobem os rios no início da enchente à

procura de locais apropriados para a desova, que garantem a sobrevivência dos filhotes. As

distâncias percorridas exatamente pelas diferentes espécies não foram determinadas no

contexto desse diagnóstico. Os estudos de genética deixaram evidências de que existe certa

conectividade entre as comunidades a montante (desde o rio Iriri) e a jusante (até a cidade de

José Porfírio) do rio Xingu, mesmo considerando a existência das barreiras geográficas

naturais, impostas pelas seqüências de cachoeiras pouco acima do povoado de Belo Monte.

Os dados de ictioplâncton reforçam estas evidências. Mas os estudos biológicos e de pesca

reforçam um modelo de migração de curtas distâncias, bem diferente dos que são registrados

em rios de água branca de baixa declividade como o rio Amazonas ou o Madeira. De todas as

formas, a avaliação de impactos da ictiofauna foi bem rigorosa diagnosticando que o

barramento no sitio Pimental deverá induzir alterações na abundância dos peixes migradores,

tanto na Volta Grande, quanto no reservatório do Xingu, indicando por tanto também

impactos para a atividade pesqueira nestes locais. Este impacto foi designado com contínuo e

de alta magnitude (Quadro 10.4.3.20, pag. 68 Volume 31).

Por outro lado, existem espécies, algumas de grande interesse econômico, como a dourada

Brachyplatystoma rousseauxii, a piramutaba B. vaillanti, e o maparã Hypophthalmus

edentatus, o tambaqui Colossoma macropomum, dentre outros, que não conseguem vencer

estas barreiras naturais do rio, motivo pelo qual elas ocorrem somente a jusante das grandes

cachoeiras de Belo Monte. Neste caso, a abundância destas espécies e, por tanto, a sua captura

pela pesca comercial/artesanal a jusante da casa de força principal, não será afetada pelo

empreendimento. A jusante também não devem ser observados impactos sobre a captura

comercial de outros peixes. Isto porque o tipo de turbinas a ser utilizado na barragem do sitio

Pimental, não deve destruir a passagem de larvas para os trechos a jusante.

Para minimizar os impactos acima descritos, são sugeridas ações ambientais de caráter

mitigador e de monitoramento, inseridas no âmbito do Plano de Conservação do Ecossistema

Aquático, mais especificamente no Programa de Conservação da Ictiofauna, através do

Projeto de Implantação e Monitoramento de Mecanismo para Transposição de Peixes,

representado por um canal de deriva e do Projeto de Monitoramento da Ictiofauna e Projeto de

Incentivo à Pesca Sustentável.

Os Estudos de Viabilidade do AHE Belo Monte prevê, como processo de controle intrínseco

da obra, a construção de uma escada de peixes para viabilizar a transposição dos cardumes em

migração. Contudo, com base em experiências anteriores o estudo sugere a alteração de uma

escada de peixes para um canal de transposição a ser construído ao lado do sitio Pimental,

para permitir a subida das espécies migradoras que cheguem a este local (veja resposta 19,

com mais detalhe).

Outras medida importante, refere-se ao monitoramento das condições de vida da população

da Volta Grande, que permitirá verificar possíveis impactos nas fontes de renda para os

trabalhadores da pesca e para a alimentação da população, de forma a que sejam acionados

mecanismos de garantia da restituição das perdas constatadas. Nesse sentido consta

explicitamente no Plano de Atendimento à População Atingida (Volume 33 do EIA, quadro

12.9-2) que são considerados atingidos os pescadores das comunidades localizadas na Volta

Grande e a Jusante da Casa de Força Principal.

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13. O que será feito quanto ao inevitável aumento da população humana na região, o

que acarretará num aumento da pressão dos recursos naturais, em grande parte já

impactados pelo próprio empreendimento?

O incremento de população em função do AHE Belo Monte, conforme detalhado no Volume

29 – Avaliação de Impactos, paginas 73 a 173, ocorrerá de maneira localizada, com maior

afluxo de população para os municípios de Altamira (sede) e Vitória do Xingu (sede, Belo

Monte e proximidades dos canteiros de obra do barramento principal e canais) e Anapu (Belo

Monte do Pontal).

Portanto, a população que afluirá para a região deverá se fixar, preferencialmente, nas áreas

urbanas das duas sedes municípais, além dos povoados e áreas rurais próximas aos canteiros

de obra, principalmente em função de nestes locais estarem previstos a instalação dos

alojamentos de trabalhadores.

Os impactos associados ao aumento da população humana na região do empreendimento

foram avaliados considerando a intensificação do uso dos recursos naturais, da pressão sobre

a cobertura vegetal, sobre os recursos faunísticos (em especial ictiofauna) e florísticos. Tais

impactos encontram-se descritos nos Volumes 29 e 30 – Avaliação de Impactos Ambientais,

respectivamente, partes 1 e 2 do EIA.

Os impactos decorrentes do aumento de população humana foram caracterizados e

interrelacionados na rede de precedência que pode ser observada nos Volumes

supramencionados, cuja organização é apresentada no Quadro 10.3.1, página 39 do Volume

29. Este quadro apresenta os impactos significativos e ações ambientais propostas para o AHE

Belo Monte, organizados por etapa do empreendimento, rede de precedência associada e

ações propostas nos programas e planos relacionados.

Destacam-se, a seguir, alguns impactos prováveis de ocorrerem e que tem relação com o

aumento da população humana:

- Intensificação do uso e ocupação desordenada do solo, em especial no entorno dos

canteiros de obra e alojamentos de trabalhadores (cuja descrição e avaliação estão

entre as páginas 91 e 97, do Volume 29 – Avaliação de Impactos – Parte 1);

- Intensificação da perda de cobertura vegetal (cuja descrição e avaliação estão entre

as páginas 270 a 275, do Volume 29 – Avaliação de Impactos – Parte 1);

- Aumento da perda de habitats naturais (cuja descrição e avaliação estão entre as

páginas 276 a 284, do Volume 29 – Avaliação de Impactos – Parte 1).

Para mitigar, compensar ou controlar tais impactos foram previstos vários planos, programas

e projetos ambientais que são apresentados em detalhe no Volume 33 – Planos, Programas e

Projetos. No entanto, para os impactos de intensificação de cobertura vegetal e aumento da

perda de habitats naturais destacam-se os seguintes programas propostos:

- No âmbito do Plano de Conservação dos Ecossistemas Terrestres, o Programa de

Conservação e Manejo da Flora, com ênfase para os Projetos de Salvamento e

Aproveitamento Científico da Flora e o Projeto de Formação de Banco de

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Germoplasma, como também o Programa de Proteção e Recuperação da APP dos

Reservatórios;

- No bojo do Plano de Conservação dos Ecossistemas Terrestres, o Programa de

Monitoramento da Flora, com ênfase para os Projetos de Monitoramento das

Florestas Aluviais e de Monitoramento Fenológico de Formações Pioneiras;

- Também no contexto do Plano de Conservação dos Ecossistemas Terrestres, o

Programa de Compensação Ambiental, englobando, em especial, o Projeto de

Criação de Unidades de Conservação, além do Projeto de Apoio às Ações de

Implantação e Manejo de Unidade de Conservação já Existente;

- Plano Ambiental de Controle e Uso do Entorno dos Reservatórios Artificiais –

PACUERA; e

- No contexto do Plano Ambiental de Construção, a implementação do Programa de

Recuperação de Áreas Degradadas.

Para o impacto relacionado à intensificação do uso e ocupação desordenada do solo é

previsto o desenvolvimento de programas ambientais que integram o Plano de Articulação

Institucional, a saber: Programa de Fortalecimento da Administração Pública; e Programa de

Apoio à Gestão dos Serviços Públicos.

Ainda, segundo o EIA, em especial no tocante à Altamira, Vitória do Xingu e Belo Monte,

devem ser também destacadas ações atinentes aos Programas de Intervenção previstos para

estes locais, inseridos no Plano de Requalificação Urbana.

Há ainda o programa ambiental de construção que tem o intuito de controlar ações antrópicas

inerentes à construção do empreendimento e promover a gestão ambiental do mesmo,

durante a fase de implantação.

14. O EIA / RIMA não estima as conseqüências da introdução e transposição de

espécies. O impacto pode ser muito grande para a pesca!

A introdução involuntária de espécies por meio da transposição de peixes requer que (a) o

método de transposição facilite o transporte passivo de espécies, (b) que passariam a ter

acesso a uma área biogeográfica distinta, antes intransponível para elas. Esse impacto não

acontecerá na AHE Belo Monte.

A Barragem Principal do empreendimento localiza-se no Sítio Pimental, no qual não existe

uma barreira natural que impeça a livre locomoção da ictiofauna. O diagnóstico da ictiofauna

aponta para similaridade de cerca de 65% entre as espécies localizadas acima e abaixo

daquele barramento (Volume 16, páginas 42 a 51 e gráfico 7.8.4.1 – 4 na página 46). O

diagnóstico da ictiofauna também apresenta evidências genéticas de conectividade entre as

populações de curimatãs localizadas a jusante e a montante do barramento, cujas migrações

seriam assim interrompidas pelo barramento no Sítio Pimental (Volume 16, páginas 152 a 163

e figura 7.8.4- 35). Para mitigar esse impacto, foi proposto um método de transposição, tipo

canal de deriva, no Sítio Pimental, que mantivesse o estímulo migratório necessário para atrair

os peixes em piracema, que continuariam migrando rio acima pela correnteza do canal de

desvio (Volume 33 – Projeto de Implantação e Monitoramento de Mecanismos de

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Transposição de Peixes – página 181 a 184). Portanto, as espécies que poderão ter acesso ao

canal de desvio são as mesmas que atualmente se locomovem livremente pelo canal do rio e

que terão seu trajeto interrompido pela implantação da barragem.

A única barreira natural efetiva na região, representada por fortes cachoeiras, localiza-se bem

a jusante da barragem principal, próximo ao Sítio Belo Monte. Os estudos da ictiofauna

apontam para similaridade de apenas cerca de 30% das espécies dos trechos localizados a

jusante e montante dessas cachoeiras (Volume 16, páginas 42 a 51 e gráfico 7.8.4.1 – 4 na

página 46), mas, nem mesmo esse trecho parece intransponível aos peixes migradores

(Volume 16, páginas 152 a 163 e figura 7.8.4- 35). Neste trecho, nenhum método de

transposição será implantado, aquelas cachoeiras continuarão existindo e as espécies

migradoras continuarão tendo livre acesso para migração até o Sítio Pimental.

15. Espécies de invertebrados causam grandes danos quando introduzidas em bacias

hidrográficas, gerando efeitos em toda a cascata trófica. Como aprovar um EIA /

RIMA que não leva esse tópico em consideração. Exemplo: O mexilhão dourado

(Limnoperna fortunei) é um animal asiático, introduzido nos Estados Unidos e

ENTOPE as USINAS HIDRELÉTRICAS e leva a um PREJUÍZO na ordem de

BILHÕES de dólares por ANO.

Ao contrário do que afirma a pergunta, o EIA avaliou os impactos decorrentes da introdução

de espécies. Este impacto está descrito no Volume 29 – Avaliação de Impacto sob o título

“Aumento na População de Espécies Exóticas (Flora e Fauna)”, na página 141.

A literatura mostra que o mexilhão dourado está presente na bacia do rio da Prata e foi

introduzido na América do Sul em água de lastro de navios. Ultimamente tem atingido a bacia

do alto rio Paraguai sendo constatado em três pontos no Pantanal.

Está em curso um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento coordenado pela Eletronorte e

desenvolvido em conjunto com o laboratório Lactec de Curitiba- PR. Este estudo visa

estabelecer um Modelo de Análise de Risco para Bioinvasões Aquáticas: Estudo de Caso do

Mexilhão Dourado, sendo que um dos objetivos é a elaboração do banco de dados que servirá

de suporte ao modelo de análise de risco para bioinvasões aquáticas.

Até o momento foram percorridos vários pontos estratégicos da bacia amazônica, principais

rios e portos, para coletas de amostras de água para análise da presença de mexilhão dourado,

parâmetros de qualidade da água (pH, temperatura, oxigênio dissolvido, turbidez e

condutividade), presença de indivíduos adultos de Limnoperna fortunei e Corbicula fluminea.

Também estão sendo levantados os vetores de dispersão, tais como barcos de pesca amadora e

profissional, embarcações comerciais, transportes de materiais úmidos (areia e pedra),

transporte de peixes vivos e alevinos para a piscicultura, aquariofilia, entre outros.

Os levantamentos feitos no ano de 2008 nos principais rios amazônicos: Tocantins, Araguaia,

rio Pará, Solimões, Negro, Tapajós, Mearim, Itapecuru, bem como em alguns reservatórios de

hidrelétricas da região, não registraram presença e danos causados por estas espécies

invasoras asiáticas na Amazônia.

No entanto, como medida de prevenção e controle foi previsto no âmbito do EIA o Programa

de Monitoramento de Qualidade de Água e Limnologia, o qual deverá levantar parâmetros

que permitam a identificação da possível introdução do mexilhão dourado Limnoperna

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fortunei na região. Os programas relacionados ao monitoramento da qualidade da água estão

descritos no Volume 33 do EIA.

Vale esclarecer que o principal meio de ampliação da área de dispersão do mexilhão dourado

(espécie asiática) é através do deslocamento de barcos, por água ou via terrestre, como

também por guelras de peixes e outros animais. Desta forma, desde 2003, as autoridades

competentes estão mobilizadas, tentando combater a propagação do mexilhão dourado no

Brasil, com a criação de uma força tarefa (Portaria MMA, n°494, de 22/12/03). Este grupo

visa avaliar o impacto e delinear as medidas a serem tomadas para o controle, incluindo a

divulgação e conscientização de todos que utilizam os rios com a finalidade profissional ou de

lazer, como também estimular medidas de controle que já estão sendo adotadas em

empreendimentos hidrelétricos em operação e tem se mostrado efetivas.

16. O projeto traz conseqüências sobre o rio Bacajá? Quais as conseqüências sobre a

vida das pessoas que moram rio Bacajá acima, a partir da sua foz no Xingu,

incluindo indígenas da TI Trincheira Bacajá, homologada ?

O EIA apresenta em diversos momentos as interferências que o AHE Belo Monte causará no

rio Bacajá sobre os diversos temas de estudo. Entretanto, para atendimento à solicitação de

informações complementares ao EIA, todos os temas foram integrados em um único

documento e apresentado como anexo aos Estudos Etnoecológicos – Análise Ambiental,

entregue ao IBAMA e FUNAI em 10/07/09.

Com relação às alterações hidrológicas do rio Bacajá, o EIA apresenta no volume 11 –

Diagnóstico da AID e ADA, pags. 138 a 172, uma caracterização do escoamento não só no rio

Bacajá mas nos outros afluentes do rio Xingu, pela margem direita, que se localizam no

trecho de vazão reduzida. Esse estudo foi complementado com o resultado de novas seções

topobatimétricas e apresentado ao IBAMA como atendimento aos itens elencados no Parecer

COHID/CGENE/DILIC/IBAMA no 29/2009, considerados necessários à análise de mérito

dos estudos ambientais do AHE Belo Monte.

O objetivo desse estudo de modelagem dos afluentes foi avaliar a interferência física que a

redução de vazão provocará nos mesmos. O que os estudos mostraram é que a interferência

do rio Xingu no rio Bacajá é maior do que nos demais afluentes e a redução de vazão na calha

do rio Xingu na Volta Grande impacta diretamente as planícies de inundação hoje aí

verificadas, importante refúgio da ictiofauna.

Dessa forma, parte da bacia do rio Bacajá foi considerada, no EIA, dentro das áreas de

influência do empreendimento e verifica-se que a parcela da bacia do rio Bacajá inserida na

AID (Meios Físico, Biótico e Socioeconômico e Cultural) é aquela que efetivamente sofrerá

impactos diretos advindos do empreendimento e que poderão resultar em efeitos negativos

para a comunidade indígena Xikrin do Bacajá, avaliada no volume 35 do EIA “Estudos

Etnoecológicos”- Tomo 5 – TI Trincheira Bacajá”. Isto porque:

Os estudos de detalhe de remanso realizados no rio Bacajá, inclusive à luz de

levantamentos topobatimétricos realizados ao longo desse corpo hídrico, mostram

que a influência da redução de vazão no rio Xingu estará restrita a uma extensão de

25 a 30 km a partir da foz do rio Bacajá e, portanto, inferior à extensão de 40 km

assumida como limite da AID no EIA.

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Essa influência hidráulica se fará sentir sobre diferentes variáveis ambientais,

implicando na redução das áreas inundáveis nesse trecho de 30 km do rio Bacajá,

com consequentes impactos diretos sobre a vegetação associada a essas planícies

aluviais, sobre a fauna aquática (ictiofauna e quelônios aquáticos) que têm nessas

planícies ambientes propícios à sua nidificação, abrigo e alimentação, com

conseqüências para a pesca e a caça, e também sobre a navegação nesse trecho final

do rio Bacajá.

Os estudos da TI Trincheira Bacajá indicam que o limite perimetral dessa TI que

intercepta o rio Bacajá situa-se a 51 km de sua foz no rio Xingu e, portanto, livre dos

efeitos diretos de redução das planícies de inundação derivados da redução de vazão

no Trecho de Vazão Reduzida. A primeira aldeia Xikrin de Bacajá (Aldeia

Pykaiaká), localiza-se 6 km a montante dessa interseção e, portanto, a 57 km da foz.

Observando-se o Mapa de Uso e Ocupação Indígena apresentado no volume 35 do

EIA e reproduzido no Parecer anexo ao Documento Estudos Etnoecológicos –

Análise Ambiental, verifica-se que as áreas de caça e coleta extrativista apontadas

pelos moradores dessa aldeia localizam-se distantes da margem do rio, associados a

igarapés e grotas presentes na TI e que não serão afetadas por efeitos de remanso do

rio Xingu sobre o rio Bacajá. Há que se observar, neste sentido, que mesmo áreas de

pesca localizadas nas margens do rio, e que são utilizadas pelos indígenas, não

sofrerão impactos diretos de perda de ambientes para a ictiofauna.

Os estudos mostram que dificuldades sobre a navegação deverão ocorrer na porção

do rio Bacajá que sofrerá a influência direta da redução de vazão no rio Xingu – os

25 a 30 km anteriormente mencionados, principalmente quando se considera que as

profundidades se reduzirão até 3 m por um período superior ao que ocorre hoje.

Os estudos apresentados reconhecem que outros impactos que poderão interferir

negativa e diretamente no modo de vida dos Xikrin de Bacajá podem ser advindos de

frentes de ocupação que já se fazem sentir, em especial, nas porções sul e leste do

território indígena. Esses impactos poderão exercer uma pressão sobre a atividade

pesqueira e alterar a qualidade da água, dado que o recurso hídrico que drena a TI

Trincheira Bacajá tem sua qualidade determinada pelos usos que se faz do recurso a

montante ou interiormente à própria área indígena. Assim, processos de erosão

associados à ocupação antrópica ou a desmatamentos a montante poderão alterar a

turbidez da água ou a deposição de sedimentos ao longo do rio.

O incremento dessas pressões antrópicas sobre a TI, e as consequentes alterações na

qualidade das águas, não podem ser atribuídos diretamente à implementação do AHE

Belo Monte. Isto porque, o estudo mostra que, a despeito de se ter um número

significativo de pessoas atraídas pelo empreendimento, não há motivos para se

antever que a região no entorno da TI Trincheira Bacajá possa vir a representar um

fator de fixação territorial. O estudo de distribuição dessa população mostra que o

entorno dos Sítios Construtivos e as cidades de Altamira e Vitória do Xingu, e

mesmo aquelas localidades situadas na Volta Grande do Xingu, às margens do

Trecho de Vazão Reduzida, como Ressaca e Ilha da Fazenda serão locais mais

atrativos. Isto porque a infra-estrutura nesses locais é melhor, além de serem mais

próximos dos centros onde estarão os serviços.

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Como forma de atenuação aos impactos avaliados foram desenvolvidos planos e programas,

indicados no próprio EIA, como forma de mitigação e monitoramento das condições de vida

da população de todo o trecho da Volta Grande além dos programas específicos dos estudos

etnoecológicos da TI Trincheira Bacajá, tais como:

Programa de Conservação e Manejo da Flora, visando incentivar a recomposição da

mata ciliar do rio Bacajá e dos rios e igarapés afluentes a ele;

Projeto de Criação de Unidades de Conservação, visando reforçar a necessidade de

implantação das UCs propostas no EIA, que contribuirão para a proteção de suas

fronteiras, proteção das margens do rio Bacajá, evitando processos de ocupação

irregular, simplificação de habitats e degradação de áreas ambientalmente sensíveis;

Programas de Conservação da Fauna Terrestre e Aquática e Programa de

Monitoramento da Flora, com o objetivo de acompanhar a evolução da vegetação

aluvial e das ilhas e pedrais utilizados pelas populações indígenas;

Programa de Conservação da Ictiofauna, estendendo-se o monitoramento ao longo do

rio Bacajá;

Programa de Monitoramento Limnológico e de Qualidade da Água e Programa de

Monitoramento Hidráulico, Hidrológico e Sedimentológico do rio Bacajá.

Programa de monitoramento das condições de navegação, visando a identificação de

problemas anteriormente à conclusão das obras

17. Quais as conseqüências da obra proposta sobre o lençol freático na Volta Grande

(baixo) e na cidade de Altamira (alto)?

As conseqüências da implantação do AHE Belo Monte sobre o lençol freático na Volta

Grande do rio Xingu foram avaliadas no EIA no volume 31 – Avaliação de Impactos- parte3

(pags. 229 a 233) sobre o ponto de vista do comprometimento do abastecimento por poços

rasos.

Para avaliar os impactos da alteração na dinâmica de escoamento fluvial no trecho de vazão

reduzida e suas alterações sobre o nível do lençol freático, foram selecionados três locais para

uma análise hidráulica detalhada, conforme apresentado no EIA:

- Margem esquerda do rio Xingu na altura da Ilha Pimental, o trecho entre a barragem e

o núcleo de referência rural São Pedro;

- Margem esquerda do rio Xingu em frente a TI Paquiçamba, e

- Margem direita nas proximidades da foz dos afluentes: Ituna; Itatá; Bacajaí; e Bacajá.

Um dos impactos mais significativos ocorre no trecho de 10km do rio Xingu, na margem

esquerda da Ilha Pimental, onde se localiza o núcleo de referência rural de São Pedro. Por este

canal são veiculadas atualmente cerca de 10% das vazões totais do Xingu, ocorrendo

variações sazonais de vazão que fazem parte dos processos de inundação das ilhas fluviais e

áreas alagadiças marginais aos canais. Nos estudos de viabilidade, não foram previstos

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vertedouro ou outro tipo de estrutura para veicular as vazões que normalmente passam por

estes canais, ou seja, não haverá vazão nesse trecho com extensão aproximada de 10km.

Avaliações feitas no capítulo de recursos hídricos do diagnóstico da ADA/AID do meio

físico, Volume 11, demonstraram que a parte mais de jusante deste canal, mais próximo ao

final da Ilha Pimental, será alimentada pelo nível de jusante.

Outro impacto relevante poderá ocorrer na região da TI Paquiçamba. Análises das linhas

d‟água e velocidades e de imagem de satélite mostraram que nessa seção, este braço do rio

Xingu ficaria praticamente seco, com alguma quantidade de água com baixíssima velocidade

de escoamento.

O que se conclui no EIA é que com a diminuição na quantidade de água que escoa esse trecho

da Volta Grande ocorrerá rebaixamento do lençol freático, o que poderá afetar os aqüíferos

constituídos por aluviões e por solos de alteração de rochas do Complexo Xingu. Esse

rebaixamento condiciona e compromete o abastecimento por poços rasos nesta região.

Nos 10 km do barramento até o núcleo de referência rural de São Pedro o impacto no lençol

freático será maior do que no restante do trecho, portanto, foi adotado no EIA a possibilidade

de relocação da população que vive próxima ao rio ou nas ilhas desse trecho.

Os níveis d`água dos poços cadastrados responderam às variações do nível do rio Xingu quase

que diretamente. Esse comportamento é de importância para os poços rasos com

profundidades predominantes da ordem de 3 a 5,0 m especialmente para aqueles instalados

em aluvião a jusante do barramento, tanto nas planícies fluviais como nas ilhas. Em situações

de estiagem observadas atualmente, esses poços têm os níveis d `água rebaixados ou têm sua

qualidade de água alterada e alguns secam, sendo sua utilização interrompida até o

enchimento do rio.

No trecho onde esses poços foram identificados, a redução acentuada de vazões deverá

provocar impacto direto sobre o abastecimento feito dessa forma. Como medida de mitigação

o EIA previu no Programa de Recomposição da Infra-estrutura Rural, Projeto de

Recomposição da Infra-Estrutura de Saneamento, volume 33 – Planos, Programas e Projetos

(pags. 255 e 256), que visa dotar as comunidades afetadas de condições adequadas de água e

esgoto.

Outro impacto avaliado no EIA, como um impacto derivado da alteração do escoamento no

trecho de vazão reduzida, está relacionado à diminuição da umidade do solo, tratado no

volume 31, é a alteração na vegetação presente na região das ilhas como também das margens

dos igarapés e do rio Xingu (Floresta Ombrófila Aluvial), os quais estão descritos nas pags.

201 a 207. Neste aspecto poderá ocorrer alteração da composição das espécies vegetais

alterando a fitossociologia desta formação, em função das condições ecológicas de adaptação

ao alagamento sazonal.

Esse impacto sobre a vegetação aluvial é também possível de ocorrer nas florestas dos

tributários da margem direita do rio Xingu e em todo o trecho deste rio que será submetido a

redução da vazão. No caso das florestas aluviais presentes nos igarapés da margem direita, em

especial, o Bacajá, Bacajaí, Ituna e Itatá, poderão sofrer diminuição do efeito de remanso do

rio Xingu em vazões menores que as naturais. Isto poderá promover também a diminuição

longitudinal e lateral das inundações destas formações florestais durante o período de cheia e

conseqüentes alterações também na umidade do solo, uma vez que o nível do rio Xingu de

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toda a região da Volta Grande será alterado. Então, os impactos relacionados a alteração de

composição e estrutura das comunidades florísticas também são possíveis de ocorrência para

as formações que margeiam estes igarapés.

No conjunto de Programas Ambientais, foram previstos Programas de monitoramento e

conservação da flora, cuja a tônica é buscar soluções adequadas, após o conhecimento do

comportamento fenológico destas espécies para manter a funcionalidade destes hábitats

sazonais. Dentre estes, o Projeto de Monitoramento das Florestas Aluviais tem como objetivo

monitorar os padrões fenológicos existentes e evolutivos dos principais grupos de plantas

existentes nas formações de florestas ombrófilas densas aluviais, nas áreas dos reservatórios e

no Trecho de Vazão Reduzida de forma a propiciar a ocorrência de ambientes adequados para

o desenvolvimento da ictiofauna, dos quelônios e de outros organismos que dependem das

florestas aluviais. Outro objetivo deste projeto é conhecer os padrões fitossociológicos

vigentes e quais alterações que ocorrerão em função da implantação e operação do

empreendimento.

Acredita-se que em decorrência do grande prazo existente para que o trecho de vazão

reduzida se torne um trecho com oferta menor de água, adaptações poderão ser assimiladas

com alterações no tipo de vegetação e na fauna associada dessas ilhas de margem que não

mais serão inundadas, mas a conservação desses ambientes pode ser uma medida

compensatória ao impacto avaliado.

a) Altamira

A avaliação do comportamento do lençol freático de Altamira está no volume 11-

Diagnóstico da AID e ADA, Capítulo 7.7.3 referente às Águas Subterrâneas, no item 7.7.3.4

- Avaliação do Comportamento do Lençol Freático (pags. 208 a 215) e os impactos

associados a elevação do nível do freático no volume 31 de Avaliação de Impactos – parte 3,

item 10.4.3.1.1. – Impactos associados ao processo de inundação das áreas para formação dos

reservatórios (pags. 24 a 27). Essas avaliações foram feitas com base em critérios

hidrogeológicos e a partir de levantamentos de campo em mais de 60 poços, com leituras

diretas de nível d`água, em três campanhas desenvolvidas em abril, junho e setembro de

2007, considerando as variações sazonais das vazões e de níveis d`agua do rio Xingu. Além

disso foram obtidas através de entrevistas as profundidades de níveis d´água observadas nas

cheias maiores.

Conforme avaliado no diagnóstico, os poços cadastrados em Altamira são, de maneira geral,

poços rasos, do tipo cacimba e poucos são do tipo tubular, sendo os mais rasos aqueles

localizados junto aos igarapés e sobre os aluviões, nas porções planas da cidade, enquanto

aqueles mais profundos estão localizados nas porções de relevo mais elevado.

Na avaliação do comportamento do lençol freático de Altamira foi considerado que, na

situação com o reservatório, os níveis de água no rio Xingu, nas cheias médias, estarão

apenas da ordem de 1 metro acima do nível atual sem o reservatório e haverá uma

eliminação das grandes variações sazonais observadas atualmente, devido ao reservatório na

cota 97 m. Observa-se que nos anos secos a flutuação sazonal é reduzida a menos de um

metro acima da cota 97 m.

Os resultados dessas campanhas de campo foram sintetizados em mapas com as linhas

equipotenciais elaboradas para os poços instalados no aluvião, para cada uma das três

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campanhas (Desenhos 6365-EIA-DE-G91-019 a 021) e também em um mapa das

profundidades obtidas para os níveis d`água nas três campanhas efetuadas e das

profundidades estimadas para as grandes cheias, onde também são apresentadas linhas de

isoprofundidades (Desenho 6365-EIA-DE-G91-022).

Com base na análise desses estudos, concluiu-se que os níveis d`água dos poços instalados

no aluvião responderam às variações do rio Xingu. Também, como apresentado nos estudos

do EIA, com o conhecimento de que o nível d`água do reservatório em Altamira deverá

situar-se entre as cotas 97 m (praticamente o mesmo nível do rio Xingu quando da primeira

campanha em abril de 200, nas cotas 96,70 a 96,76m) e até por volta da cota 99,0 m nas

cheias, concluiu-se que na situação com o reservatório, os níveis de água do lençol freático

e/ou cargas hidráulicas deverão ser na maior parte do tempo bastante próximos àqueles

obtidos na primeira campanha efetuada entre 17 a 19 de abril de 2007 , mostrados no Desenho

6365-EIA-DE-G91-019, e para as épocas de cheias algo mais mais elevados. Será, portanto,

eliminada grande parcela das variações sazonais observadas nesses níveis.

Em decorrência da elevação permanente dos níveis de água subterrânea nos aluviões de

Altamira, devido à implantação do reservatório do Xingu, estão previstas inundação,

surgências de água, perenização e formação de novas áreas úmidas e alagadas conforme

descrito na resposta 63.

Esse impacto foi avaliado como de magnitude alta e como medida o Plano de Requalificação

Urbana de Altamira prevê o tratamento dessas áreas que serão formadas a partir da

reurbanização das baixadas existentes.

Durante as campanhas de medidas de níveis d`água dos poços instalados no aqüífero

superficial, concluiu-se que a qualidade da água que é extraída do aluvião está comprometida

em vários locais da cidade pela presença de diversas fontes de contaminação, como cemitério,

postos de gasolina e inexistência de rede de esgoto e presença de fossas. Inclusive, durante

essas campanhas, foram obtidas informações de existência de contaminação de poços por

postos de gasolina. De fato, as amostras de água coletadas e analisadas quando das três

campanhas da hidrogeologia caracterizaram essa contaminação do aqüífero superficial

constituído pelo aluvião.

À elevação permanente dos níveis de água subterrânea superficial estará associado um

acréscimo na vulnerabilidade à contaminação do aqüífero aluvionar pela saturação das fontes

de contaminação ou a proximidade do nível d‟água dessas fontes, apesar de que esse aqüífero

já se apresenta contaminado.

Esse impacto foi avaliado como de ocorrência certa e o prazo para a manifestação da elevação

dos níveis freáticos/cargas hidráulica em Altamira é imediato/curto prazo devido às altas

condutividades hidráulicas que caracterizam o aluvião. É um impacto irreversível e de

relevância alta, pois apesar da elevação do nível freático já ocorrer atualmente nas cheias, a

partir da formação do reservatório é que a elevação terá caráter permanente e com baixo nível

de oscilação sazonal. Essa condição levará a alterações na qualidade da água subterrânea

extraída do aluvião para abastecimento.

A medida proposta para o abastecimento de água em Altamira faz parte do Plano de

Requalificação Urbana - Programa de Intervenção em Altamira, apresentado no volume 33 –

Planos, Programas e Projetos (págs. 310 a 325). Este Programa prevê a implantação de redes

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de abastecimento de água para as áreas a serem objeto de reassentamento da população, para

as áreas destinadas às habitações dos funcionários vinculados às obras que terão residência em

Altamira, bem como aquelas a serem ocupadas pela população afluente a Altamira com a

implantação das obras, o que, em conjunto, corresponde a aproximadamente 50% da área

ocupada da cidade. Prevê ainda a implantação de nova captação de água e estação de

tratamento.

Na próxima etapa de licenciamento, após o leilão, haverá detalhamento das condições de

abastecimento em Altamira e serão incluídos na rede de abastecimento a ser fornecida pelo

empreendedor todos os estabelecimentos alimentados por poços rasos, onde a água estiver

contaminada ou avaliada a alternativa de captação de água subterrânea com a utilização de

poços profundos, devido a existência de áreas promissoras em camadas de arenito das

Formações Maecuru e Ererê, localizadas em profundidades entre 200 a 230 metros.

18. Quais as conseqüências sobre a vida dos moradores da área rural dos travessões da

Transamazônica, e que ficariam nos trechos médios e inferior de vários igarapés

que ficariam seccionados pelas barragens e, portanto secos a maior parte do ano, e

cujos lençóis freáticos e poços também secariam? (em vários pontos os travessões

da Transamazônica seriam também alagados pelas represas ou canais, e a ligação

terrestre desses moradores com Altamira, Anapu e demais cidades ficaria suspensa

ou sujeita a longos desvios com encarecimento de custos).

A formação do Reservatório dos Canais implicará na obstrução ou seccionamento dos

Travessões 27, 45, 50 e 55 e alguns ramais de ligação entre eles, afetando o acesso aos

imóveis rurais de locais como Arroz Cru, Vila Rica, ou Núcleos de Referência Rural como

Santa Luzia, Deus é Amor, Bom Jardim I, Bom Jardim II, São Francisco das Chagas,

Raimundo Nonato, dentre outros locais, afetando uma ampla região entre a Rodovia

Transamazônica e o rio Xingu, Incluindo os pontos em que os travessões serão interceptados

pelos canais de derivação, criando dificuldade de acesso para muitos imóveis rurais.

Mesmo que grande parte dessas áreas seja usada para a formação do Reservatório dos Canais,

ainda permanecerão no local dezenas de imóveis e famílias residentes, para as quais devem

ser reconstituídos os acessos, garantindo condições satisfatórias para o escoamento da

produção e o deslocamento da população. Tais ações estão apresentadas no Programa de

Recomposição da Infraestrutura Viária, descrita no Volume 33 do EIA.

Quanto a restrição de circulação decorrente da formação dos canais, está previsto no projeto

de engenharia do AHE Belo Monte a implantação de balsa para a travessia do canal, de forma

a evitar a ocorrência de grandes desvios de percurso para a população.

19. Com base em que é proposto um sistema experimental de transposição de peixes,

se o EIA não apresenta evidências de que a transposição da volta grande seja

necessária para uma porção representativa da fauna aquática (na verdade para

nenhuma delas)?

Mesmo considerando que estudos necessários para o estabelecimento dos padrões migratórios

na Amazônia envolvem escala espacial regional e escala temporal mais longa que a possível

em um EIA/RIMA, o Diagnóstico da Ictiofauna (Volume 16 – 7.8.4.1.6) apresenta um

conjunto de evidências ecológicas indiretas que apontam para a necessidade de implantação

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de um método para a transposição dos peixes migradores a serem afetados pelo barramento no

Sítio Pimental.

Os estudos referentes às “adaptações da ictiofauna ao ciclo hidrológico e aos ambientes

aquáticos” (Volume 16, páginas 116 a 123) apontam para a época de ocorrência de migrações

e a necessidade de manutenção dos sinais de sincronia migratória advindos da enchente e da

correnteza, além dos habitats para a desova e crescimento. Os estudos sobre “estratégias

reprodutivas, determinação dos locais de desova e observação da piracema” (Volume 16,

páginas 129 a 142) indicam que diversos locais de desovas encontram-se em áreas que serão

afetadas tanto a jusante como a montante do barramento. Estudos direcionados

especificamente à variabilidade genética de curimatãs e aos deslocamentos dos peixes

migradores (Volume 16, páginas 152 a 163) apontam para a conectividade entre as

populações daquela espécie ao longo dos trechos estudados a jusante a montante do

barramento, e as distribuições de freqüência de comprimentos das espécies migradoras nesses

trechos (Volume 16, páginas 142 a 151) parecem corroborar essa hipótese.

O Diagnóstico de Ictioplâncton (Volume 16 – 7.8.4.2) reforçam estas evidências. Larvas de

espécies migradoras, ainda com saco vitelínico (dois dias de idade) foram capturadas no

trecho do futuro Reservatório do Xingu sendo carreadas pela correnteza a dois metros de

profundidade. Por isto, fica claro que as obras de engenharia, que serão construídas, irão

obstruir este trânsito rio acima dos adultos, e rio abaixo dos jovens recrutas. Esta interrupção

deverá induzir alterações na abundância dos peixes migradores, abaixo do reservatório. É

provável também que mudanças na abundância destas espécies sejam observadas, a longo

prazo, a montante do reservatório, bem como a jusante das cachoeiras, como conseqüência da

interrupção deste fluxo.

Por outro lado, os Estudos de Viabilidade do AHE Belo Monte já previram a construção de

uma escada de peixes para viabilizar a transposição dos cardumes em migração e mitigar este

impacto. Contudo, os estudos e experiências atualmente conhecidos no Brasil indicam que as

escadas de peixes, classicamente construídas em barragens de hidrelétricas, não estão

contribuindo para as finalidades que foram planejadas. A maior parte dos trabalhos de

monitoramento dos sistemas de transposição existentes na América do Sul comprova que, em

lugar de auxiliar na conservação das comunidades ícticas, as escadas de peixes podem

contribuir negativamente, selecionando certas espécies e evitando a subida ou descida de

outras. Além disso, os peixes que sobem e desovam acima da barragem têm o sucesso

reprodutivo comprometido pela perda das larvas, que decantam na baixa correnteza das

represas (OLDANI, et al., 2007; AGOSTINHO et al., 2007a; 2007b; SANTOS, et al., 2007;

PELICICE; AGOSTINHO, 2008) .

Dessa forma, o EIA sugere uma modificação do projeto original, de uma escada de peixes

para um canal de deriva, além de solicitar que seja realizado o monitoramento deste

mecanismo de transposição dos peixes. O canal de deriva seria uma solução experimental, que

se baseia no conceito de usar um igarapé natural para essa transposição, buscando reproduzir

melhor as condições naturais, antes do barramento.

A descrição, caracterização e avaliação dos impactos relativos à “Fragmentação de

Populações – Metapopulações ou Eliminação de Espécies da Ictiofauna Intolerantes à

Perda de Conectividade Lateral ou Longitudinal entre Habitats – chave”, bem como as

ações propostas para mitigar seus efeitos foram apresentados no EIA/RIMA (Volume 29,

páginas 336 a 341).

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20. Como pode ser incluído no projeto um sistema de eclusas ligando duas partes do

rio hoje separadas por uma barreira geográfica, sem considerada a introdução de

espécies fora de sua área de distribuição?

Muito embora estivesse previsto nos Estudos de Viabilidade a implantação de uma eclusa em

Belo Monte, essa idéia foi abandonada. Mesmo para a transposição de embarcações está

prevista a implantação apenas de um sistema hidráulico seco, sem riscos de transportar

componentes da biodiversidade conjuntamente.

O problema de introdução de espécies isoladas por barreira geográfica por meio de qualquer

outro método de transposição não existe para o caso da AHE Belo Monte, como abordado

anteriormente no item 14.

21. Uma vez que a introdução de espécies inevitavelmente resultaria do sistema de

eclusas e do sistema de transposição de peixes e este problema não é considerado

no EIA, quem responderá pela infração (Lei Federal nº 9.605 de 12 de fevereiro de

1998), para cada espécie introduzida acima do barramento?

O problema de introdução de espécies isoladas por barreira geográfica por meio de eclusas

(que não serão construídas) ou pelo canal de desvio (método proposto para transposição de

peixes) não existe para o caso da AHE Belo Monte, como abordado anteriormente nos itens

14 e 20.

22. As duas espécies de boto poderão invadir a região acima do barramento,

acompanhando os barcos no sistema de eclusas? E o que dizer de todas as outras

espécies de peixes, plantas, invertebrados e microorganismos que só ocorrem

abaixo da volta grande? Quais os impactos esperados destes eventos?

As duas espécies de boto somente ocorrem a jusante de Belo Monte, não ultrapassando os

trechos das cachoeiras, conforme apresentado e detalhadamente descritos nos Volumes 25 e

26 – Diagnóstico da ADA e AID e estudo contido no Volume 16 do EIA, Página 212.

Além disso, como mostra esse diagnóstico, as duas espécies têm distribuição distinta na ria do

Xingu. Sobre a questão dos peixes, veja resposta da questão 21. Ver também respostas das

questões 10 e 12.

No entanto, como não há previsão de implantação de sistema de eclusas no trecho de jusante,

no sítio Belo Monte, não há possibilidade de que os botos invadam a região acima do

barramento. A mesma afirmação vale para as outras espécies de peixes, de plantas,

invertebrados e microorganismos que só ocorrem abaixo da Volta Grande.

A transposição de embarcações de médio e pequeno portes, será feito a seco, usando um

sistema de elevador hidráulico a ser instalado no sítio Pimental.

Para a conservação da fauna aquática, há programas específicos previstos no âmbito dos

programas e projetos, previstos no Volume 33 do EIA.

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23. A invasão de espécies deve ser considerada como relevante, da forma como foi

feito, em um EIA de um projeto a que acarretará estes eventos em águas

continentais?

Realmente a invasão de espécies tem sido um dos principais problemas para a conservação da

fauna e flora nativas, conforme afirmam vários documentos técnicos e instituições que atuam

na área de conservação dos recursos naturais (IUCN, Instituto Horus, MMA, etc). Espécies

terrestres e aquáticas invasoras têm acarretado prejuízos financeiros e ambientais e isso tem

sido amplamente registrado pela literatura específica.

Pela relevância deste fato, o EIA avaliou os impactos decorrentes da introdução de espécies,

que está descrito no Volume 29 – Avaliação de Impacto sob o título “Aumento na População

de Espécies Exóticas (Flora e Fauna)”, na página 141.

Para as espécies aquáticas, a literatura tem mostrado que o mexilhão dourado é a principal

espécie invasora de águas continentais brasileiras, introduzido na América do Sul em água de

lastro de navios. Conforme apresentado nas respostas das questões 15 e 24, estudos realizados

na região amazônica, até momento, não identificaram danos ambientais produzidos por

Limnoperma fortunei.

Mesmo assim, ações de monitoramento e controle são previstas nos programas ambientais do

EIA, capítulo intitulado Planos, Programas e Projetos, Volume 33 do EIA.

Recomenda-se ainda que quando do detalhamento dos programas na próxima fase do

licenciamento, no âmbito do PBA, deverão ser previstos os parâmetros para o monitoramento

de ocorrência de invasão de espécies aquáticas invasoras, visando estabelecer medidas de

controle, caso tal invasão ocorra.

24. Porque o EIA não considera a vulnerabilidade do empreendimento a espécies

invasoras (como Limnoperma fortunei que já é encontrada no país infestando

hidrelétricas e poderá ser introduzida na bacia amazônica), incluindo eclusas e um

sistema experimental de transposição de peixes sem justificativa?

Ver resposta da questão nº 15

25. Como pode ser incluído no projeto a abertura de uma hidrovia, incluindo

dragagens e quebras do leito rochoso por uma extensão de 50 km, passando por

uma área de "importância biológica extremamente alta" (Portaria n° 9/MMA, de

23 de janeiro de 2007), sem que sejam considerados os impactos destas obras no

EIA?

A proposição de uma hidrovia apresentada na caracterização do empreendimento foi uma

proposta do estudo de viabilidade. De acordo com o texto, o rio Xingu, no local de

implantação do empreendimento, tem sua navegabilidade hoje limitada pela presença de

inúmeras corredeiras e cachoeiras no trecho da Volta Grande. O trecho de jusante, que se

estende da foz no rio Amazonas até a localidade de Belo Monte, apresenta facilidades para a

navegação que hoje já é realizada para grandes embarcações que chegam até o porto da

Petrobras.

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Com a implantação do AHE Belo Monte e seu respectivo reservatório, seria criada uma

condição favorável para o estabelecimento de uma hidrovia no rio Xingu. Entretanto a

concretização dessa proposta passa por uma discussão que deve envolver diversos outros

atores, além do empreendedor.

26. Como pode ser considerado que o impacto no arquipélago do Tabuleiro do

Emabubal, a jusante do reservatório, será tão pequeno que não precisa ser

considerado nos estudos, se os dados de sedimentologia são escassos (EIA –Vol. 5-

AAR Meio Físico. Pág.72) e seria aberta uma hidrovia passando pelo local (EIA.

Vol. 3. Pág. 88)?

O impacto nos Tabuleiros das Tartarugas foi estudado com coleta de dados existentes

(observações sedimentométricas em Altamira, na região da barragem Pimental e nas

proximidades do canal de fuga) e coleta de dados primários: areia do fundo e das margens na

região dos tabuleiros e em diversos pontos do futuro reservatório.

Foi aplicado modelo matemático da evolução do fundo de areia na região de jusante da Casa

de Força até os Tabuleiros das Tartarugas, e foi feito estudo da origem das areias da região

dos tabuleiros.

Portanto, não pode ser dito que o assunto não foi considerado nos estudos.

Em relação aos dados escassos de sedimentologia, a referência que é feita no EIA é na Área

de Abrangência Regional, pois existem regiões na bacia onde isso acontece. Na região do

Empreendimento, por outro lado, as observações de transporte de sedimentos em Altamira

foram feitas ao longo de muitos anos e ainda hoje tem continuidade de monitoramento pela

ANA.

O volume 5 refere-se ao diagnostico de toda a bacia hidrográfica do rio Xingu e a referência

sobre a escassez de dados é para toda a bacia. Conforme demonstra o parágrado da página

citada pela questão e reproduzido a seguir, o trecho médio/baixo do rio é o mais bem servido

em dados sobre o transporte de sedimentos.

“A bacia do rio Xingu é mal servida no quesito medições de transporte sólido, ao longo dos

seus 509.000 km2 somente 6 postos contam com medições de descargas sólidas, mesmo

assim com número reduzido de medições e concentrados na sua totalidade no trecho

médio baixo e baixo da bacia.”

Foi essa base de dados fornecida pelas estações localizadas no trecho médio/baixo do rio

Xingu que permitiram a modelagem matemática efetuada no diagnóstico da AII, abaixo

referenciada e permitiu as conclusões transcritas a seguir.

Volume 7 – Diagnóstico da AII – Meio Físico, item 7.4.3.6 Caracterização Hidráulica e

Sedimentologica a Jusante da Casa de Força

“A partir dos dados disponíveis, dos cálculos efetuados e com os conceitos gerais mostrados

anteriormente foi possível concluir que:

i) Os cálculos da capacidade de transporte sólido de fundo e total por cinco métodos

diferentes, de uso consagrado, mostram que para as vazões que compreendem a modeladora

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(entre 6.357 m3/s e 9.542 m

3/s) as concentrações são nulas ou próximas a isso no trecho a

jusante da seção S15 e entre as seções S11 e S15, onde se encontram os bancos de areia

Juncal e outros. Mesmo para a vazão excepcional de 32.109 m3/s, a jusante da seção S15

(inclusive) as concentrações são modestas no trecho dos bancos (entre S11 e S15). Portanto,

esses resultados demonstram ser este trecho uma zona deposicional e o trecho das ilhas são

os pontos de deposição natural.

ii) Os cálculos demonstram que para a vazão modeladora há uma predominância de

transporte de fundo, em face da baixa capacidade do escoamento manter sedimentos em

suspensão. No trecho dos bancos de areia, cerca de 80% dos sedimentos não ultrapassam

10% da profundidade da coluna de água. Com isto os resultados das equações de transporte

sólido total e de fundo tendem a se aproximar (da mesma ordem de grandeza). Uma

interpretação que se pode dar é que realmente este trecho é de deposição, dada a baixa

capacidade de transporte sólido em suspensão.

iii) Os critérios para a determinação da condição crítica de início de transporte de fundo

(Shields – por Van Rijn) e em suspensão (Van Rijn), mostram que nos trechos dos bancos

(entre seções S11 e S15) e a jusante até a foz, não há condições de remoção dos sedimentos

do leito ou de ressuspenção até o limite das areias muito finas e siltes (d=0,06mm). Esta

afirmação vale para a faixa de vazão modeladora.”

27. Como pode ser considerado suficiente um estudo bioespeleológico em cavernas

classificadas como de "importância biológica extremamente alta" (Portaria n°

9/MMA, de 23 de janeiro de 2007 (ver EIA. Vol.33. Pág. 155), na qual já foram

observadas espécies adaptadas a estes ambientes (TRAJANO & MOREIRA, 1991),

sendo que apenas 5 das 48 morfoespécies encontradas foram identificadas (EIA –

Espeleologia – Anexo 5)?

Há um claro equívoco na classificação das cavernas apontada na pergunta; esclarece-se que a

classificação "importância biológica extremamente alta", cujo trecho foi extraído do EIA

(página 155) refere-se às áreas indicadas como prioritárias para conservação da

biodiversidade na Amazônia, que podem vir a constituir Unidades de Conservação de uso

sustentável ou proteção integral. Este indicação é preconizada por vários documentos

técnicos, científicos e legais, como por exemplo, Capobianco (2001) e a Portaria n° 9/MMA,

de 23 de janeiro de 2007. Entre elas, encontra-se a área AM 183, denominada Cavernas da

Volta Grande, que além da vegetação e dos ambientes aluviais considerados ecologicamente

relevantes, também apresenta abrigos e cavidades naturais.

Especificamente para cavernas, discussões envolvendo especialistas no assunto têm sido

realizadas nos últimos anos para apontar metodologias adequadas que permitam classificar a

relevância destes ambientes, os quais apresentam características únicas e específicas.

No âmbito desta discussão metodológica, cabe ressaltar que as cavidades naturais são

consideradas, conforme a Constituição Federal Brasileira (Artigo 20, X), bens da União.

A importância da preservação do patrimônio espeleológico é ressaltada em diversos itens da

legislação concernente sobre o tema, incluindo a Resolução CONAMA nº. 5 de 6 agosto de

1987, que instituiu o Programa Nacional de Proteção do Patrimônio Espeleológico com

objetivos de identificar, cadastrar, inventariar, proteger, recuperar e gerenciar este patrimônio.

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Assim, observa-se também que os estudos procuraram considerar a legislação sobre cavidades

naturais subterrâneas, entretanto, essa legislação está sendo objeto de várias alterações.

Recentemente, o Decreto nº 6640, de 7 de novembro de 2008, alterou as disposições sobre a

proteção das cavidades naturais subterrâneas. Conforme esse Decreto, essas cavidades serão

classificadas de acordo com quatro graus de relevância: máximo, alto, médio e baixo, a ser

determinado pela análise de vários atributos avaliados sob o enfoque regional e local e

classificados em termos de sua importância (acentuada, significativa ou baixa). A

metodologia para a classificação do grau de relevância das cavidades naturais subterrâneas

seria estabelecida no prazo de sessenta dias a partir data da publicação do Decreto nº. 6640,

pelo Ministério do Meio Ambiente, ouvidos o Instituto Chico Mendes, IBAMA e demais

setores governamentais afetos ao tema, conforme o referido Decreto. Mais recentemente, foi

publicada uma Instrução Normativa nº 2, de 20 de agosto de 2009, que indica a metodologia a

ser adotada para estabelecer o grau de relevância para as cavidades naturais brasileiras.

Os estudos espeleológicos no âmbito do EIA considerando os parâmetros apresentados nesta

metodologia, demonstram que não haverá impactos diretos na caverna Kararaô, que em

conformidade com os atributos apontados na IN nº 2/09 pode ser considerada de máxima

relevância. Por outro lado, em função da proximidade desta caverna com o reservatório dos

Canais, medidas de controle da estanqueidade e de proteção desta importante cavidade são

previstas no Volume 33 – Planos, Programas e Projetos do EIA.

28. Quantas espécies endêmicas das cavernas ameaçadas de inundação estão sendo

colocadas em risco com este projeto?

Apenas os abrigos localizados na calha do rio Xingu serão afetados pela inundação do

Reservatório do Xingu com a implantação do projeto, são eles: abrigos da Gravura, Assurini e

Abutre. (Ver FIGURA 28-1, “Localização das cavernas/grutas e abrigos/locas em relação ao

reservatório, do documento “Relatório Levantamento do Patrimônio Espeleológico –

Atendimento ao Termo de Referência do CECAV”, aqui reproduzida).

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FIGURA 28- 1 - Localização das cavernas/grutas e abrigos/locas em relação ao reservatório.

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Estas cavidades possuem dimensões pequenas e estão localizadas em paredões muito

próximos ao rio Xingu, constituindo habitats sazonais para espécies de invertebrados e outros

animais. Desta forma, durante as cheias, os abrigos Assurini e da Gravura ainda apresentam

alguns locais emersos, que continuarão disponíveis para a fauna específica, após a formação

do reservatório. Já o abrigo do Abutre fica totalmente submerso durante o período de cheia

normal do rio Xingu.

Nestes abrigos (da Gravura, Assurini e Abutre), apesar dos reduzidos tamanhos, foram

registradas altas riquezas de espécies, pois a vegetação do entorno ainda está bem preservada,

sem indícios de impacto por desmatamentos e posterior estabelecimento de pastagens, como

observado nas proximidades da Caverna Kararaô, por exemplo. As entradas destes abrigos

localizam-se diretamente nas margens do rio Xingu e, em função do regime de cheias do rio

Xingu, cabe ressaltar que boa parte da fauna provavelmente configura-se como acidental ou

troglófila (e.g., formigas, cupins, alguns coleópteros, caranguejos braquiúros, aranhas

caranguejeiras, aranhas Pholcidae, aranhas Theridiosomatidae, amplipígeos Heterophrynidae).

Entre estas, duas espécies da fauna típicamente epígea (que utilizam ambientes fora da terra)

foram encontradas no Abrigo da Gravura e são consideradas pouco comuns: uma espécie de

Onycophora e um Arachnida Schizomida.

Especificamente nos abrigos que serão diretamente afetados pela inundação do Reservatório

do rio Xingu, houve registros de espécies troglófilas, que também são encontradas

amplamente em cavernas de outras regiões brasileiras (percevejos da família Reduviidae,

aranhas das famílais Pholcidae e Theridiosomatidae, amblipígeos da família Heterophrynidae,

etc).

Portanto, respondendo a pergunta acima, nenhuma espécie endêmica de caverna será

ameaçada pela implantação do reservatório do Xingu.

Deve-se considerar que a fauna subterrânea não apresenta distribuição pontual e sim por todo

o maciço rochoso, sendo que, provavelmente, com a inundação destes abrigos, apenas uma

parte da população de alguns táxons será atingida.

Vários outros abrigos situados próximos aos abrigos que serão afetados diretamente com a

implantação da barragem do AHE Belo Monte não serão afetados pela inundação do

reservatório, pois se situam em cotas mais elevadas. As comparações dos levantamentos

realizados em períodos distintos (cheia e seca) comprovaram a existência de alta variação na

composição faunística devido à sazonalidade. Desta forma, considerando que tais abrigos

sofrem inundação periódica e que estes ambientes (ou parte destes) ficam indisponíveis para a

fauna que os utiliza em períodos de estiagem é provável que, quando tais abrigos ficarem

permanentemente inundados, a fauna ocupe outros abrigos localizados próximos, os quais não

sofrerão alteração.

Uma hipótese que explicaria esta grande sazonalidade seria o fato de que na época chuvosa os

ambientes externos ofereceriam mais alimento; já na época seca os abrigos estão disponíveis e

podem ser utilizados como um refúgio para alguns grupos da fauna, como morcegos e

andorinhas, por exemplo.

Os levantamentos realizados no âmbito do EIA demonstraram que o abrigo da Gravura no

início da época seca tem rápida ocupação da fauna terrestre nos diferentes substratos do

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abrigo (rocha, paredes e solo) o que demonstra a importância dos abrigos da região de

Altamira para refúgio da fauna terrestre, cuja importância foi considerada na concepção dos

programas ambientais, visando a manutenção destes habitats e sua recuperação.

Medidas de proteção dos abrigos e cavernas situados na região de inserção do

empreendimento deverão ser tomadas, aliadas com a recuperação do entorno destes abrigos

(Programa de Proteção e Recuperação da APP dos Reservatórios), cuja maioria encontra-se

bastante alterado. Tais medidas e programas podem ser observados no Volume 33 do EIA.

Além disso, o Programa de Monitoramento de Fauna Terrestre, avaliando a diversidade

regional, também deverá ser implantado no âmbito do Plano de Conservação dos

Ecossistemas Terrestres; da mesma forma, o PACUERA (ambos previstos e descritos no

Volume 33 do EIA), deverá apresentar diretrizes e medidas para a conservação de habitats

relevantes e específicos de fauna e flora sensíveis a alterações ambientais.

29. Como podem ser realizados os trâmites de licenciamento de uma obra da

magnitude aqui tratadas, sendo que a sociedade não teve nenhuma oportunidade

de conhecer os dados contidos no EIA, considerando que partes deste documento

continuaram a ser acrescentadas durante e depois das audiências públicas? Quem

responde pela legalidade deste processo?

O processo de divulgação do EIA seguiu os trâmites legais definidos pelo órgão responsável

pelo licenciamento ambiental.

30. Uma vez que apenas o início da desova foi observado com a vazão de 8000 m3/s,

sendo que o ciclo de aumento do nível do rio ainda estava em progresso, com base

em que pode ser dito que um breve pico de 8000 m3/s será suficiente para manter

as centenas de espécies de peixes que habitam a Volta Grande?

Como foi dito acima, o Estudo de Viabilidade apresentava uma vazão muito menor do que

proposto pelo EIA. Os impactos da redução de vazão foram avaliados extensamente (veja

resposta a pergunta Nr. 10). Em nenhum momento, o diagnóstico nega os impactos desta

redução. A proposta de uma vazão de 8.000 m3/s, utilizou uma solução de consenso,

amplamente debatida, buscando atender a necessidade de geração de energia e os parâmetros

ecológicos encontrados. A solução encontrada deve mitigar, em parte, os impactos, impedindo

o desaparecimento massivo de espécies. Contudo, a diminuição da abundância das espécies

foi diagnosticada exaustivamente. O monitoramento da ictiofauna e da pesca, através dos

programas sugeridos visam permitir um manejo adaptativo das condições ambientais neste

trecho de vazão reduzido.

31. Com base em que dados e análises é apontado que o desenvolvimento de técnicas

para criação das espécies exploradas para aquarismo na região afetadas

beneficiará a população que hoje coleta estes animais? Nesta resposta deve ser

considerado que a região não tem nenhuma tradição em aquarismo; que mesmo o

Pará tem produção pouco expressiva; que esta é uma atividade de alta

complexidade e extremamente competitiva; que boa parte dos consumidores dos

peixes ornamentais do Rio Xingu estão no exterior; que as outras espécies

amazônicas que são hoje reproduzidas em cativeiro estão sendo produzidas em

regiões mais desenvolvidas do país e no exterior.

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O extrativismo de peixes ornamentais na região da Volta Grande do Xingu, é uma atividade

muito insalubre, perigosa e predatória. Existem muitos casos de pescadores com doenças

decorrentes da atividade de mergulho em condições pouco seguras. Isto foi relatado

detalhadamente no Volume 19, no capítulo sobre a Pesca de Peixes Ornamentais (página 221

e subseqüentes). Adicionalmente, boa parte dos pescadores trabalha na ilegalidade, seja por

capturarem espécies proibidas pelos órgãos ambientais, ou pela falta de documentação para

esta atividade.

A redução de vazão na Volta Grande irá aumentar a capturabilidade dos peixes ornamentais,

induzindo a maiores índices de captura, o que poderá comprometer os estoques já

intensamente explotados.

O cultivo de algumas espécies de peixes ornamentais (como Hypancistrus zebra, espécie

endêmica e ameaçada de extinção), já é realizado com sucesso em outros países. Porém,

segundo a literatura, não requer altos graus de tecnologia, se realizado em pequena escala

(Schliewen e Strawikowski, 1989; Strawikowski, 1992.

Os pescadores de peixes ornamentais, não são pescadores com tanta tradição na profissão

como os pescadores artesanais de peixes para consumo. Boa parte deles, eram garimpeiros,

que aproveitaram seus conhecimentos do uso de compressor para mergulho, para realizar a

atividade de coleta desta fauna, após o declínio da atividade de garimpo de ouro na região.

Isso os torna, mais aptos a aceitarem treinamentos e novas formas de rendimentos

econômicos.

A cadeia de comercialização desta atividade, não precisa ser alterada, por ocasião da produção

de peixes em cativeiro. Isto significa que os atuais atravessadores e empresas exportadoras

poderão continuar adquirindo peixes indiscriminadamente, tanto do aquarismo como do

extrativismo pesqueiro ornamental, que independentemente da construção da barragem teria

que diminuir e ser melhor controlada, para garantir a boa conservação dessa fauna na região.

32. Para que seja feita esta intervenção irreversível na exploração de peixes

ornamentais não seria necessária uma análise sócio-econômica prévia avaliando a

reais possibilidades dos pescadores da região tornarem-se aqüicultores

exportadores bem sucedidos?

Os estudos do EIA, em especial no volume 19, caracterizaram a pesca ornamental praticada

atualmente na região. Para tanto foi realizada um amplo levantamento que abordou as

tecnologias e metodos de pesca utilizados, a produção por espécie, as formas de organização

do sistema produtivo, as práticas de comercialização, os locais preferenciais de pesca, destino

da produção. Como resultado de tal pesquisa foi detectada a importância da atividade para a

sobrevivência das populações residentes ao longo do rio Xingu, em especial para a Volta

Grande do Xingu.

A possível perda de renda dos pescadores e da biodiversidade do ambiente com a implantação

do AHE Belo Monte levou à proposta de um projeto de cultivo em cativeiro, das espécies de

Loricariidae de importância econômica, conforme indicado no volume 33, pagina 171 -

Programa de Aquicultura de Peixes Ornamentais.

Este programa que envolve o desenvolvimento de tecnologias que deverão ser sujeitas a

experimentação técnico-científica para a escolha das condições mais econômicas e eficientes

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para o cultivo e cálculos da rentabilidade econômica e dos investimentos a serem

disponibilizados para a extensão desse projeto para as comunidades.

De todas as formas, o programa de Conservação da Ictiofauna, no qual se contempla o Projeto

de Aqüicultura de Peixes ornamentais ainda não foi detalhado para sua execução, mas deve

contemplar atividades de treinamento e capacitação para os produtores que se candidatem a

esta atividade, bem como deverá promover facilidades econômicas para a obtenção dos

primeiros materiais para a produção de peixes ornamentais no cultivo. Obviamente, uma

análise sócio-econômica deverá ser feita, antes de sua total implantação, na fase inicial deste

projeto, incluindo estudos de ampliação do mercado.

33. Qual a validade de um estudo de peixes para o EIA em que não foi amostrada de

forma minimamente eficiente a ictiofauna das corredeiras, sendo este o ambiente

mais raro e mais ameaçado pelo projeto?

Recomendamos a leitura do Volume 19, Capitulo 2, na seção de metodologia (pagina 18 e

subseqüentes), onde são explicados os métodos de coleta e os ambientes associados. Para o

caso particular das corredeiras, foram utilizados dois métodos de coleta (pagina 29 e

subseqüentes), a saber: 1) coleta de todos os peixes demersais e bentônicos em parcelas e 2)

censos visuais em transectos. As coletas foram realizadas nos períodos de seca e enchente,

pois são os únicos que permitem este tipo de coleta nesses ambientes, devido às fortes

correntezas do rio e baixa visibilidade, durante a cheia e vazante.

Para determinar a diversidade de peixes demersais e bentônicos, associados aos ambientes de

pedrais e corredeiras, foram realizadas parcelas de 5 x 5m (25m2), em 7 locais: um local em

cada um dos setores I (Iriri) e IV (Belo Monte), respectivamente; dois locais no setor III

(Volta Grande); e três no setor II (Reservatório). Em cada local e período trabalharam três

pescadores e cada um realizou, em média, três pseudo-réplicas, de acordo com as

características do substrato do rio. Depois de delimitada a área, cada pescador capturou o

maior número possível dos peixes presentes na área. Os peixes foram capturados

manualmente, ou com auxílio de pequenas tarrafas.

A técnica de parcelas de amostragem com busca direta de exemplares é extremamente

eficiente para a captura de peixes com baixa mobilidade e fortemente associadas ao substrato

do fundo. Contudo, ela pode ser executada com maior sucesso no período de águas baixas. À

medida que a velocidade e nível do rio aumentam a sua aplicação se torna mais difícil.

Para o estudo da ictiofauna na coluna d´água, em ambientes de corredeiras, foram realizados

censos visuais subaquáticos em transectos lineares de 15m de comprimento e 1m de largura

de cada lado (30m2), que foram percorridos em 15 minutos. Os transectos foram realizados

em seis locais de coleta, distribuídos ao longo do rio: um em cada um dos setores 1 e 4,

respectivamente; e dois nos setores 2 e 3, respectivamente. Três observadores realizaram três

transectos por pessoa, em cada local de coleta, totalizando um esforço total de 270 m2, por

período de coleta.

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34. Como se espera que seja a comunidade de organismos aquáticos que habitarão as

áreas inundadas de Altamira, considerando que a água será rasa, sem correnteza e

sob efeito direto da cidade?

As “áreas inundadas” de Altamira serão formadas pelo alagamento dos igarapés Panelas,

Altamira e Ambé quando o enchimento do reservatório do Xingu chegar até a cota 97. Estes

braços do reservatório que serão formados terão tempos de retenção diferenciados do tempo

de retenção do corpo de água principal do reservatório, o qual poderá variar de 5 a 10 dias no

período de cheia até um máximo de 150 dias no período de seca no igarapé Altamira, 85 no

igarapé Ambé e 55 dias no igarapé Panelas conforme descrito no documento

“ATENDIMENTO AO ITEM QUALIDADE DA ÁGUA E LIMNOLOGIA DO PARECER

29/2009”, Item 1.2 – “Tempo de retenção nos braços a serem formados nos igarapés em

Altamira e simulação do estado trófico nos tributários Altamira, Ambé e Panelas”. Pelas

características morfométricas destes corpos de água, os braços do reservatório que serão

formados não serão rasos e apresentarão profundidades médias superiores a 5 metros, o qual é

a profundidade média atual destes igarapés. O fluxo da água para o rio Xingu poderá ser

limitado pelo volume da água do reservatório principal, porém a água não ficará estagnada

nos braços formados.

Conforme está previsto na construção do empreendimento (Programa de Intervenção em

Altamira), a cidade de Altamira terá uma rede de esgotamento sanitário e coleta e disposição

de resíduos sólidos implementada para evitar o despejo de efluentes diretamente nos corpos

de água como ocorre atualmente. Além da construção de parques e áreas de proteção nas

margens dos braços do reservatório para preservar a qualidade da água. Desta forma,

pretende-se evitar os impactos da cidade sobre a qualidade da água e evitar os processos de

eutrofização.

As comunidades de organismos aquáticos que se espera que habitem estes braços do

reservatório do Xingu em Altamira deverão ser as típicas de ambientes lênticos, conforme

descrito nas páginas 48 e 51 do documento “ATENDIMENTO AO ITEM QUALIDADE DA

ÁGUA E LIMNOLOGIA DO PARECER 29/2009” para as comunidades de fitoplâncton e

zooplâncton, respectivamente. Já para os macroinvertebrados bentônicos, não se esperam

grandes modificações na composição da comunidade. As macrófitas aquáticas poderão

apresentar um desenvolvimento maior em áreas de baixa circulação de água com predomínio

do gênero Eichornia, conforme descrito na página 77 do mesmo documento.

35. Como pode ser apresentada criação de unidades de conservação de terra firme

como compensação pela perda de áreas nas quais existe o contínuo entre terra

firme, florestas inundáveis, praias e pedrais?

Para a elaboração da proposta de criação de unidades de conservação, foram considerados os

seguintes parâmetros:

- principais ambientes e ecossistemas que sofrerão alteração e impactos com a

implantação da AHE Belo Monte;

- a situação de conservação dos habitats aquáticos e terrestres;

- atual uso e ocupação do solo;

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- o uso e importância dos habitats aquáticos para a população ribeirinha e indígena;

- propostas e projetos de assentamentos rurais;

- projetos governamentais para a região de inserção do empreendimento;

- aspectos biogeográficos da região, considerando áreas de interflúvio e sua

localização referencial na bacia do rio Xingu;

- existência de áreas protegidas ou especialmente protegidas por lei na região de

interesse;

- indicações oficiais de áreas prioritárias para conservação e;

- o arcabouço teórico sobre biogeografia de ilhas, design de unidades de conservação e

biologia da conservação (vide, por exemplo, C. L. Shafer. 1990. Nature Reserves.

Island Theory and Conservation Practice. Smithsonian Institution Press).

As argumentações e indicações das áreas foram baseadas no estudo de unidades de paisagem

e na dinâmica de desmatamento da região apresentadas no Volume 13 – ADA e AID – Uso do

Solo e Vegetação.

Foi considerado ainda o que preconiza a legislação ambiental vigente (SNUC nº 9.985/2000 e

Decreto que o regulamenta nº 4.340/2002) que trata de indicações para compensação por

significativo impacto.

O artigo 36 do SNUC especifica que nos casos de licenciamento ambiental de

empreendimentos de significativo impacto, o empreendedor é obrigado apoiar a implantação e

manutenção de unidade de conservação do grupo de proteção integral e deverá considerar as

propostas do EIA. Neste mesmo artigo, parágrafo 2º cita que pode ser também contemplada a

criação de novas unidades de conservação na região de inserção do empreendimento.

Para o caso do AHE Belo Monte, as proposta de compensação são apresentadas de forma

detalhada no Volume 33, item 12.7.5, página 153.

Ao contrário do que é afirmado na pergunta, a proposta contempla também a proteção de

ambientes de florestas inundáveis, uma vez que a região indicada abrange vegetação aluvial

existente nas margens do rio Bacajá e a malha hídrica formada pelos sistemas de igarapés de

ambas áreas sugeridas. Além disso, o Mosaico de Unidades de Conservação situado na região

da Terra do Meio abrange vários ecossistemas e ambientes de praias, pedrais, floresta

inundável e de terra firme, cujas ações de compensação previstas para a ESEC da Terra do

Meio visam proteger e manter tais ambientes.

Quanto às regiões da Volta Grande e de montante do reservatório do Xingu, optou-se por não

propor a criação de unidades de conservação nestas áreas, porque atualmente são áreas

utilizadas pelos pescadores, ribeirinhos e indígenas, sendo que parte do rio Xingu situado na

Volta Grande constitui sítio pesqueiro oficial. Como as Unidades de Conservação a serem

criadas como compensação ambiental deverão ser de proteção integral (SNUC nº 9.985/00), o

uso dessas duas áreas pela população local ficaria impossibilitado, caso estas unidades fossem

efetivamente criadas.

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O conjunto de projetos e programas previstos no Plano de Conservação dos Ecossistemas

Aquáticos tem o objetivo principal de garantir a proteção dos ambientes aquáticos que

sofrerão alteração pela implantação do empreendimento e devem ser conduzidos de forma

integrada com os outros planos e programas.

A criação das duas unidades de conservação propostas no EIA poderá compor um mosaico de

áreas protegidas no entorno de terras indígenas, promovendo a efetiva proteção da

biodiversidade regional do interflúvio Xingu – Tocantins. Além disso, essas área possuem

tamanho, uso e ocupação do solo vigente e localização estratégica sob o ponto de vista da

conservação de populações viáveis de fauna e flora.

36. Com o fluxo migratório trazido pelo empreendimento, assim como o aumento pela

demanda de alimento e madeira, qual o aumento previsto para o ritmo de

desmatamento na região?

As análises desenvolvidas no EIA indicaram que existem áreas suficientes na região, para

que não haja o aumento no ritmo do desmatamento em função da demanda de alimentos.

O provimento da alimentação da população mobilizada pelo empreendimento ocorrerá de

diversas maneiras, através de fornecedores da região, de outros municípios do Pará e mesmo

de outros estados da federação, com o incremento na demanda de produtos alimentícios in

natura e industrializados.

Internamente à região, os estudos mostraram que, de acordo com os dados do Censo

Agropecuário de 2006, analisados no volume 9 - Diagnóstico da Área de Influência Indireta,

os municípios que compõem a AII possuem um rebanho bovino com cerca de 1.700.000

cabeças de gado, sustentado por cerca de 1.350.000 ha de pastagens, o que, inequivocamente

suprirá a demanda gerada pelo aumento de população.

Outro dado a ser considerado, é que as áreas destinadas à agricultura, nesses mesmos

municípios, somam cerca de 316.000 ha, dos quais 103.000 ha destinados as lavouras

temporárias e tradição de produção de mandioca, arroz, feijão, milho, banana, melancia,

mamão, tomate, dentre outros produtos. Existem, portanto, significativas áreas para uso

agrícola já consolidadas nos onze municípios da AII, com potencial para que parte dos

insumos alimentares necessários seja suprido pela região.

Com vistas a potencializar o desenvolvimento econômico e ampliar as possibilidades de

geração de trabalho e renda da região em decorrência do incremento da demanda por

alimento, são propostas ações no Programa de Desenvolvimento de Atividades Produtivas.

Estre Progama propõe, entre outras ações, a qualificação de produtores agropecuários para se

tornarem fornecedores de insumos para atender as demandas geradas pelo empreendimento.

37. Qual será o custo do aumento de fiscalização necessário para conter o incremento

do desmatamento na região causado pelo empreendimento e qual a instituição que

o assumirá?

Os custos dos programas e projetos ambientais diretamente relacionados com a implantação

do empreendimento são calculados na etapa do Plano Básico Ambiental. Considerando a

Política Ambiental Brasileira e do Sistema Nacional de Meio Ambiente, compete às

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instituições federal e estadual executarem ações previstas nesta Política, entre elas ações de

fiscalização ambiental e de proteção dos recursos naturais.

No entanto, em função da implantação do AHE Belo Monte e dos impactos decorrentes de

sua implantação, os programas que tratam de ações de ordenamento do uso e da ocupação do

solo, apresentam ações de visam conter o desmatamento e também desenvolver alternativas

de produção e sustentabilidade (ver programas sócio-econômico, Volume 33 do EIA). Em

cada programa são previstas ações que deverão ser desenvolvidas pelo empreendedor, como

também possíveis parcerias e ações de fortalecimento institucional.

38. Uma vez que a criação de unidades de conservação é parte das medidas

compensatórias do empreendimento, será o empreendedor a arcar com os custos

da manutenção da cobertura original destas áreas?

Uma vez sendo criadas as Unidades de Conservação propostas, cabe ao empreendedor a sua

implantação e manutenção, como é indicado no capítulo VIII – da Compensação por

Significativo Impacto Ambiental do Decreto nº 4.340/2002, artigos de 31 a 34.

Além disso, a aplicação dos recursos da compensação ambiental deverá obedecer a seguinte

ordem de prioridade:

- regularização fundiária e demarcação das terras;

- elaboração, revisão ou implantação de plano de manejo;

- aquisição de bens e serviços necessários à implantação, gestão, monitoramento e

proteção da unidade, compreendendo sua área de amortecimento;

- desenvolvimento de estudos necessários à criação de nova unidade de conservação;

- desenvolvimento de pesquisas necessárias para o manejo da unidade de conservação.

Desta forma, deverá ser apontado no instrumento de criação da Unidade, quer seja decreto ou

lei, quem será o responsável pela sua manutenção. Existem exemplos bem sucedidos de

Unidades criadas para compensar os impactos de empreendimentos hidrelétricos na região

amazônica que apresentam áreas bem preservadas e têm sido implantadas com o apoio do

empreendedor, constituindo a melhor forma de conservar os recursos naturais da região.

39. Uma vez identificados aumentos populacionais de insetos vetores de doenças, como

conseqüências das alterações ambientais produzidas pelo reservatório, com base

no plano monitoramento previsto, quem arcará com os custos de reversão destes

quadros? Quais os planos e orçamentos estimados para estas ações?

A implantação do AHE Belo Monte, como indicado no Volume 31, podera vir a provocar o

aumento na incidência insetos vetores de doenças endêmicas como malária, leishmaniose

tegumentar, dengue, febre amarela e outras arboviroses.

Considerando tal impacto são propostas como medidas de mitigação, ações de intensificação

da vigilância epidemiológica, bem como ações de prevenção e controle de doenças. Tais

ações encontram-se detalhadas nos seguintes Programas/Projetos: Programa de Vigilância

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Epidemiológica, Prevenção e Controle das Doenças, Projeto de Monitoramento e Controle de

Vetores de Doenças Endêmicas e do Programa de Ação de Controle à Malária (PACM), todos

inseridos no Plano de Saúde Pública. (volume 33 do EIA. Pag. 394)

Além dessas, são propostas também ações de natureza preventiva voltadas à eliminação da

formação de poças, através de derrocamentos a serem feitos, durante a Etapa de Construção,

no trecho do rio Xingu onde está inserido o Núcleo de Referência Rural São Pedro. Tais ações

farão parte do Plano Ambiental de Construção (volume 33 do EIA. Pag 25)

Todos os custos da implementação desses programas são de responsabilida do empreendedor

e terão os custos detalhados na etapa subsequente, de elaboração do Plano Básico Ambiental.

40. Existe compromisso do empreendedor com o cumprimento das promessas

apresentadas nas audiências públicas e gravadas em vídeo?

A implantação dos programas ambientais previstos no EIA / RIMA é compromisso legal e

garantido por meio das condicionantes da licença ambiental prévia, a ser concedida pelo

IBAMA, e pelas exigências do edital de licitação da ANEEL, devendo ser integralmente

assumida pelo empreendedor que vencer o certame de concessão do empreendimento.

41. Considerando as trocas de governo e mudanças na política que podem ocorrer nas

próximas décadas, existe garantia de que não serão realizados novos barramentos

no Rio Xingu, como forma de regularizar a produção energética de Belo Monte?

O primeiro inventário do rio Xingu, que identificou dois barramentos no rio, foi desenvolvido

na segunda metade da década de 1970, com premissas já ultrapassadas. Nos anos de 2007 e

2008, foi realizado novo estudo de inventário, com diretrizes adequadas e modernas, que foi

aprovado pela ANEEL em 28 de Julho de 2008, pelo despacho 2.756. Este estudo identificou

como único aproveitamento viável o AHE Belo Monte, composto por barramento a jusante da

cidade de Altamira. Devido à importância estratégica, o Conselho Nacional de Política

Energética – CNPE emitiu a Resolução nº 06 de 03 de Julho de 2008, em que aconselha à

ANEEL aprovar os estudos de inventário do rio Xingu nesses termos. Integram o CNPE:

I - O Ministro de Estado de Minas e Energia, que o presidirá;

II - O Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia;

III - O Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão;

IV - O Ministro de Estado da Fazenda;

V - O Ministro de Estado do Meio Ambiente;

VI - O Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;

VII - O Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República;

VIII - Um representante dos Estados e do Distrito Federal;

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IX - Um cidadão brasileiro especialista em matéria de energia; e

X - Um representante de universidade brasileira, especialista em matéria de energia.

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) é um órgão de assessoramento do

Presidente da República. Sua função é formular políticas e diretrizes de energia destinadas,

entre outros, a promoção do desenvolvimento sustentado, ampliação do mercado de trabalho e

valorização dos recursos energéticos, proteção do meio ambiente e promoção da conservação

de energia, utilização de fontes renováveis de energia, mediante o aproveitamento dos

insumos disponíveis e das tecnologias aplicáveis.

42. Quais as espécies para as quais já foi identificado que poderão ser extintas, ou ter

suas populações reduzidas como conseqüência do empreendimento?

Quando se refere à extinção de espécies ou desaparecimento de espécies de uma

determinada região, ou seja, diz respeito à extinção local de espécies. Este desaparecimento

pode ocorrer por três motivos:

Perda da diversificação do ambiente;

Perda de habitats específicos;

Perda das relações ecológicas, em função do desaparecimento ou do número reduzido

de espécies.

Desta forma, os impactos referentes à extinção de espécies devido a implantação do

empreendimento têm abrangência regional e foram analisados, por exemplo, nos seguintes

impactos:

Perda da Diversidade da Flora (Volume 29, Avaliação de Impacto, descrição página

134), com abrangência regional, o que envolve a região da área de influência indireta

do empreendimento;

Perda de Diversidade da Fauna (Volume 29, página 137);

Intensificação da perda de cobertura vegetal e hábitat natural (Volume 29, página

268)

Os estudos e levantamentos realizados no âmbito do EIA, bem como estudos pretéritos

disponíveis não indicaram a presença de espécies endêmicas da região que sofrerá inundada

para os grupos de mamíferos, répteis, anfíbios, aves, como também para os vegetais, uma

vez que as espécies identificadas ocorrem em outros trechos da bacia do rio e seus

tributários, os quais não sofrerão inundação. Algumas espécies inclusive tem distribuição

que extrapola a bacia e mesmo a região amazônica.

Por outro lado, com relação à ictiofauna, vários impactos foram previstos para a perda de

espécies, tanto pela conversão de habitat-chave, quanto pela intolerância destes organismos

às alterações na qualidade da água. A descrição destes impactos está no Volume 29

Avaliação de Impactos – Parte 1, página 329 do EIA.

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Entre as ações propostas para mitigar e compensar os impactos previstos inerentes à perda

de diversidade de flora e fauna com a implantação do empreendimento destacam-se: a) o

Plano de Conservação dos Ecossistemas Aquáticos, que reúne as medidas voltadas para a

criação de espécies de peixe em cativeiro, manejo e conservação dos recursos pesqueiros,

ações de sustentabilidade da pesca, manejo e conservação dos quelônios aquáticos, e b) o

Plano de Conservação dos Ecossistemas Terrestres cujas ações de manejo e conservação são

ali indicadas, como também o Programa de Compensação Ambiental. Destaca-se também o

PACUERA – Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatórios

Artificiais cuja prerrogativa é buscar conciliar o uso e ocupação do solo com a manutenção

e conservação dos recursos naturais.

Estes programas estão descritos no Volume 33 do EIA. Apresentam grau de detalhamento

apropriado para um Estudo de Impacto Ambiental e atendem o que estava preconizado no

TR emitido pelo IBAMA que norteou o estudo.

43. Existe possibilidade de mudança na qualidade da água a jusante do reservatório

como conseqüência das obras, incluindo a construção de portos e abertura de

hidrovias? Em caso afirmativo, quais os impactos esperados no arquipélago do

tabuleiro do Embaubal em conseqüência disto e porque tais impactos não foram

incluídos no EIA?

O projeto do AHE Belo Monte não prevê a construção de hidrovias. Essa possibilidade existia

no estudo de viabilidade e não se configurou como uma necessidade durante o

desenvolvimento do EIA. Por outro lado, o volume 29 de avaliação de impactos – parte 1 –

contempla a alteração na qualidade de água em função de obras como a construção de porto.

Conforme descrito no EIA, deverá ser implantado um porto às margens do rio Xingu,

próximo ao Sítio Belo Monte. O leito do rio nesse local deverá ser dragado para a sua

conformação aos requisitos das embarcações a serem atendidas pelo porto. Como impacto

dessa ação foi previsto um incremento da turbidez das águas nas imediações.

Entretanto, conforme já abordado na questão 26 desse documento, os tabuleiros de

reprodução das tartarugas se encontram a cerca de 60 km do local de restituição de vazões e

portanto não estão sujeitas a esses impactos.

44. Considerando a perda da maior parte ou totalidade da floresta de várzea, assim

como as mudanças nos ecossistemas em geral da Volta Grande do Rio Xingu, quais

os impactos esperados para a economia das duas tribos indígenas que habitam a

região?

Os povos indígenas das TIs Paquiçamba e Arara da Volta Grande do Xingu dependem de

recursos externos para a sua subsistência. Participam do mercado regional fornecendo

produtos e mão-de-obra e adquirindo bens de consumo duráveis e não-duráveis.

Para os que vivem nessas terras indígenas, as fontes formais e regulares de renda são

limitadas. São poucos os aposentados que recebem do INSS. Alguns assalariados recebem

como Agente Comunitário de Saúde (ACS), Agente Indígena de Saúde (AIS), Agente

Indígena de Saneamento (AISAN) e professora.

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Na Volta Grande do Xingu a pesca é uma atividade realizada para consumo e

comercialização, sendo comercializados tanto os peixes para consumo quanto os peixes

ornamentais, variedade esta preferida por conta da maior possibilidade de ganho. Os

moradores das TIs Arara da Volta Grande do Xingu e Paquiçamba tem a possibilidade de

trabalho como diaristas em atividades de pesca. Os produtos da pesca são destinados

principalmente a Altamira, com forte dependência de intermediários.

O trabalho como diarista em fazendas é comum, por períodos que às vezes se prolongam por

semanas, comprometendo as atividades de roçados nas Terras Indígenas.

O artesanato, praticado por algumas famílias, é uma fonte complementar de renda. A venda de

animais silvestres, atualmente ilegal, também é praticada eventualmente, como admitem os

Arara.

Da produção agrícola, voltada basicamente para subsistência, destaca-se a farinha de

mandioca como produto de comercialização dos Juruna de Paquiçamba. Nos itens de coleta

que são comercializados, destaca-se a castanha-do-Pará. Do cipó titica os Juruna de

Paquiçamba confeccionam vassouras que vendem para os moradores regionais.

Os impactos sobre a economia das TIs poderão se dar em decorrência do aumento da pressão

sobre a pesca e da alteração das espécies ou redução na quantidade de peixes que têm

interesse comercial para estas populações. As atividades de extrativismo vegetal, como a

coleta de castanha e a obtenção de matéria prima para a produção de artesanato, poderão

sofrer algumas interferências. A pressão sobre a caça também poderá ser potencializada,

comprometendo o comércio, ainda que ilegal, de animais silvestres.

Outros impactos avaliados foram a dificuldade de navegação na região da barragem do Sítio

Pimental durante o período construtivo, o aumento da dificuldade de navegação no TVR, após

a conclusão das obras, e o receio dos índios à utilização do sistema de transposição de

embarcações previsto na barragem do Sítio Pimental, que poderiam dificultar o acesso a

Altamira e o escoamento e a comercialização dos produtos. A permanência das condições

mínimas de navegação no TVR, por outro lado, foi um dos aspectos que condicionou a

definição do Hidrograma Ecológico, assim como a construção do sistema de transposição de

embarcações na barragem do Sítio Pimental e a previsão de monitoramento das condições de

navegabilidade e das condições de vida, que pode vir a identificar a necessidade de alguma

intervenção adicional localizada no TVR para facilitar o acesso a Altamira.

Estas e outras medidas para prevenir, mitigar ou compensar estes impactos foram previstas

nos seguintes programas:

Programa de Comunicação com a População Indígena, incluindo capacitação de

agentes indígenas de comunicação, visitas periódicas às obras e realização de

apresentações e oficinas, visando a troca de informações sobre o andamento das obras

e as dificuldades encontradas pelos indígenas moradores nas TIs da Volta Grande do

Xingu;

Programa de Interação e Articulação Institucional, com vistas a fomentar a utilização

de recursos naturais para a melhoria das condições de vida das populações indígenas;

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Programa de Conservação da Fauna Terrestre, com extensão do monitoramento às

áreas internas das TIs e às áreas utilizadas para as atividades de caça. Possibilidade de

utilizar animais resgatados como matrizes para criatórios indígenas;

Programa de Monitoramento da Flora, em especial da vegetação aluvial e das ilhas e

pedrais utilizadas pelas comunidades indígenas para caça, pesca e coleta;

Programa de Conservação da Fauna Aquática, extensivo às TIs e às áreas utilizadas

pelas comunidades indígenas para a apanha de quelônios e caça de crocodilianos;

Programa de Conservação da Ictiofauna, com monitoramento interno às TIs e nas

áreas utilizadas pelas comunidades indígenas para suas atividades de pesca, inclusive

no rio Bacajá, que também é utilizado pelos Arara. Estabelecimento de acordos de

pesca e inclusão das comunidades das TIs Paquiçamba e Arara da Volta Grande do

Xingu como público-alvo do Projeto de Aqüicultura de Peixes Ornamentais;

Programa de Monitoramento das Condições de Navegabilidade e das Condições de

Vida, visando monitorar as condições de navegação no rio Xingu no TVR e no trecho

final do rio Bacajá, bem como nos igapós das TIs que permitem o acesso aos recursos

vegetais, a utilização do sistema de transposição da barragem pelas embarcações das

populações indígenas e as condições de escoamento da produção das TIs;

Programa de Desenvolvimento de Atividades Produtivas e de Capacitação da

População Indígena, visando desenvolver atividades sustentáveis para as comunidades

indígenas, agregar valor aos produtos já comercializados pelas comunidades, apoiar a

implementação de viveiros de frutíferas, plantas medicinais, a coleta de sementes,

aqüicultura e apicultura, como atividades alternativas para geração de autonomia e

renda.

45. É esperada redução na densidade de espécies de caça utilizadas por tribos

indígenas e outras populações tradicionais na Volta Grande do Rio Xingu? Em

caso afirmativo, em quanto é esperada esta redução e qual o impacto esperado na

vida destas populações?

Como acontece em muitas etnias na Amazônia, a proteína animal obtida através da caça e da

pesca é, muitas vezes, a única forma de obtenção desse recurso por essas populações.

Os Juruna da TI Paquiçamba ainda praticam a caça, sendo este um importante recurso para

mantê-los em bons níveis nutricionais. Dentre os animais mais apreciados pelos Juruna tem-

se: tracajá, paca, mutum-pinima, queixada, veado-mateiro, jabuti-vermelho, jacu, caititu,

capivara, anta, macaco-guariba entre outros.

Os Arara da Volta Grande do Xingu tem diversos usos para os animais caçados, tais como:

uso alimentar, medicinal, ritual, comercial e ornamental, e dão preferência ao porcão, veado,

tracajá, paca, jaboti, mutum, anta, jacu, capivara, cutia, tatu, etc.

A fauna é utilizada na dieta dos Arara. Em média cada família se alimenta de carne de caça de

3 a 4 dias por semana. Apesar de não caçarem todos os dias, os índios se revezam nessa

atividade, e a caça abatida geralmente é dividida entre todos na aldeia.

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Apesar de não ser confeccionada por todas as famílias, alguns Arara possuem a habilidade de

fazer artesanatos para comércio, e entre estes há o uso do casco do tatu para confecção de

cordões, além de penas de algumas aves, como araras e papagaios, entre outros. Esta atividade

não é a principal fonte de renda para as famílias que os fazem, mas se configura em um

importante complemento para a mesma.

O uso da fauna para curar diversas enfermidades e doenças está associado à vivência e ao

desenvolvimento da atividade de benzedor realizada por seu Leôncio ao longo de sua vida.

Apesar da caça ser uma prática proibida, esta atividade é comum, pois é freqüente a oferta de

animais silvestres nas feiras-livres da região da Volta Grande do Xingu. Os próprios Arara

admitem que, dependendo da situação econômica momentânea das famílias, eventualmente

podem caçar para vender um jaboti e ou outro animal de pequeno porte.

Os impactos sobre a caça deverão ocorrer a partir do início da etapa de construção da

barragem. O aumento da população atraída pelo Empreendimento poderá provocar um

aumento da pressão sobre os recursos de caça, podendo comprometer os estoques de caça.

Os estudos avaliaram que a caça poderá ser pressionada devido aos seguintes fatores:

O aumento da população do entorno utilizando a caça;

As derrubadas para estabelecimento de mais pastos e outros usos, reduzindo os locais

onde a caça se reproduz;

O aumento populacional dos Juruna e Arara devido às migrações, aumentando a

pressão sobre a caça dentro das próprias TIs;

A diminuição da água nas grotas e restingas, que levará a uma diminuição da caça,

além de dificultar o acesso e a captura.

Com a diminuição da caça, os Juruna acreditam que enfrentarão mais um problema, que é o

surgimento de doenças em função da desnutrição causada pela escassez de proteína animal, já

que ficarão mais fracos e mais suscetíveis às doenças.

Mesmo para as situações temporárias em que a fauna afugentada pelas obras venha a dirigir

para as TIs, os estudos prevêm que o aumento da população de animais pode causar a

sobreposição de nicho e disputa de território.

Para prevenir, mitigar ou compensar os efeitos do aumento da pressão sobre a caça foram

previstos diversos Planos, Programas e Projetos para as Populações Indígenas e outras

populações tradicionais da Volta Grande do Xingu. Dentre eles:

Plano de Relacionamento com a População, incluindo, no Programa de Interação

Social e Comunicação, o Programa de Comunicação com a População Indígena, com a

capacitação de agentes indígenas de comunicação, visitas periódicas às obras e

realização de apresentações e oficinas, visando a troca de informações sobre o

andamento das obras e as dificuldades encontradas pelos indígenas moradores nas TIs

e também os moradores da Volta Grande do Xingu;

dentro deste mesmo Plano, está previsto o Programa de Orientação e Monitoramento

da População Migrante, com vistas a informá-la sobre a importância da integridade

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física e ambiental dos territórios das TIs e AI e as particularidades culturais e modos

de vida das populações indígenas;

ainda no mesmo Plano, está previsto o Programa de Educação Ambiental para a

população indígena, incluindo a capacitação de agentes ambientais indígenas,

enfocando orientações para evitar o sobreuso dos recursos naturais e práticas de

saneamento básico;

no Plano de Conservação dos Ecossistemas Terrestres, Programa de Conservação da

Fauna Terrestre estão previstos dois projetos com extensão às comunidades indígenas:

um de monitoramento da herpetofauna, avifauna, mamíferos terrestres e quirópteros,

que deverá incluir as atividades e os locais de caça dos indígenas, tanto dentro das TIs

quanto fora delas, e o monitoramento da fauna durante a após as ações mais

impactantes. No Projeto de Salvamento e Aproveitamento Científico da Fauna está

prevista a análise de locais para soltura dos animais resgatados, incluindo a

possibilidade de utilização como matrizes para criatórios indígenas;

por fim, no Plano de Sustentabilidade Econômica da População Indígena estão

previstos, nos Projetos de Desenvolvimento de Atividades Produtivas e Capacitação

da População Indígena, o apoio do Empreendedor à implementação de criadouros de

animais silvestres e à capacitação da população para a criação de animais domésticos.

46. Uma vez que os especialistas que escreveram os relatórios de fauna e flora não

consideram que a vazão ecológica seja suficiente para manter os processos naturais

na região da Volta Grande, e mesmo os dados de desova de peixes são insuficientes

para que se faça qualquer previsão, qual a base científica que poderá ser

apresentada para defender o cumprimento da vazão ecológica quando o

empreendimento estiver pronto?

No trecho de vazão reduzida da Volta Grande (cerca de 100 km do rio) os estudos de

Viabilidade do AHE Belo Monte previam uma liberação de vazão pequena, alcançando no

máximo 2.000 m²/seg. O EIA propõe que essa vazão fosse alterada, para inundar parte da

floresta aluvial.

Espera-se, portanto, que a densidade de peixes diminua, de acordo com a diminuição da

vazão. Para mitigar em parte este impacto, propõe-se uma alteração nos regimes de vazão, que

atendam ao mínimo necessário para a reprodução dos peixes, que habitam na Volta Grande.

Para tal, utilizaram-se duas medidas de vazão, a primeira de 4.000 m3.seg

-1, corresponde ao

valor que garante a inundação da maior parte dos pedrais. Nesta vazão poderá ser garantida a

desova, alimentação e refugio dos peixes que são característicos deste ambiente, como os

cascudos que são alvo da pesca de ornamentais, da família Loricariidae. A segunda medida de

vazão sugerida foi de 8.000 m3.seg

-1 Com esta vazão foi observada a desova da maior parte

dos peixes que habitam as planícies de inundação durante a enchente, bem como a entrada das

larvas nas planícies de inundação. Assim, a busca deste valor, poderia garantir a reprodução e

desenvolvimento de boa parte dos peixes da região.

Portanto, o hidrograma proposto, denominado de “hidrograma ecológico”, teve como base, no

caso da ictiofauna, a relação entre os valores de vazão observados e as etapas do ciclo de vida

das espécies (reprodução, desenvolvimento, alimentação, recrutamento) e devem portanto

garantir que parte destas funções vitais sejam mantidas mesmo com o represamento do rio.

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A redução de vazão deve afetar também a migração dos peixes rio acima. Contudo, com base

em estudos anteriores, espera-se que muitas das espécies migradoras continuem subindo as

corredeiras e optem por outras vias alternativas, ao encontrarem as barreiras da represa ou da

pequena vazão. Neste caso, igarapés e rios da rede hidrográfica do rio Xingu (Bacajá, Bacajaí,

etc), a jusante da barragem, poderão servir como rotas de migração. Desse modo, a perda de

hábitats que afetará os peixes aferá igualmente os tracajás, mamíferos aquáticos e outros

componentes da fauna aquática, conforme indicado em cada um dos respectivos diagnóstico e

impactos do EIA.

Vide respostas das questões correlatas: 10, 19, 30, 31, 32 e 51.

47. Qual a viabilidade do empreendimento, sem outros barramentos, considerando

que o Rio Xingu está tendo sua vazão reduzida como conseqüência do

desmatamento (COE, COSTA & SOARES-FILHO, 2009)? Qual a expectativa de

perda de produção do empreendimento para as próximas décadas, considerando

este efeito?

O estudo energético do AHE Belo Monte foi elaborado com base na série de vazões históricas

definida pela ANA e nos modelos de simulação utilizados pelo setor elétrico brasileiro, que

consideram o Sistema Interligado Nacional e que são sistematicamente utilizados para o

planejamento do setor. Durante o período da operação da usina, o Operador Nacional do

Sistema – ONS irá definir os despachos de energia em função dos dados hidrológicos

registrados e das necessidades do mercado consumidor.

Os estudos energéticos demonstraram que o AHE Belo Monte é viável sem a necessidade de

implantação de outros aproveitamentos hidrelétricos na Bacia do Rio Xingu.

48. Qual a expectativa de perda de produção do empreendimento nas próximas

décadas considerando o efeito conjunto do desmatamento e do aquecimento global

reduzindo a vazão do Rio Xingu?

Ver resposta da questão 47

49. Como deve ser o impacto da formação do lago nos igarapés da cidade?

O volume 11 – Diagnóstico da ADA e AID (físico), apresenta a caracterização hidráulica do

rio Xingu ao longo do reservatório que será formado (pags. 24 a 59). Na sequência, o mesmo

relatório apresenta ainda a modelagem em Altamira considerando a interferência do

reservatório nos três igarapés que cortam a cidade e que terão seu nível d‟água elevado em

função do reservatório do rio Xingu.

A TABELA 49-1 adaptada da tabela 7.7.2-31 do EIA mostra como é a cota hoje quando a

vazão do rio Xingu esta baixa, como é o caso da vazão de 1017m3/s que pode ser comparada

com a cota que ficará depois de formado o reservatório, igual a 97m.

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TABELA 49-1

Cidade de Altamira. Comparação dos Níveis d‟água para as condições Naturais e com

Reservatório.

Características das vazões Vazão

Condição atual

Cota

Condição com

reserv.

Cota

(m3/s) (m) (m)

Rio em condição de estiagem 1017 93,29 97,01

Rio em condições médias (mês de

janeiro/fevereiro) 7.851 95,27 97,29

Rio em condição de cheia anual 23.414 97,90 98,90

Rio em condição de cheia nunca registrada

(Cheia de 25 anos) 33.812 99,50 100,10

Fonte: Leme Engenharia, EIA do AHE Belo Monte, Tabela 7.7.2-31

Cabe destacar que as oscilações que ocorrem no rio Xingu hoje entre o período de estiagem e

o período de cheia ocorrerão, depois da implantação do reservatório, entre as cotas 97 e 100.

No período de estiagem o rio Xingu ficará sempre na cota 97m e nos meses de cheia o nível

poderá subir até a cota 100m. Em situação extrema em que o rio estaria demasiadamente

cheio, o nível poderá ultrapassar a cota 100m, mas os efeitos dessa inundação não estarão

mais associados ao empreendimento, ou seja, a interferência máxima do empreendimento será

até a cota 100m. É importante destacar que durante todo o período de observação de cota em

Altamira (desde 1971) o rio nunca chegou a essa cota.

A formação do Reservatório do rio Xingu,com a conseqüente inundação dos Igarapés, indicou

a necessidade do desenvolvimento de uma pesquisa socioeconômica, considerando a cota

100m, para a identificação e caracterização da população que será atingida. Concluindo por

um remanejamento de um total de 4.362 grupos domésticos. Além de serem afetadas

atividades econômicas e equipamentos sociais (Ver Volume 23-ADA Urbana).

50. Como ficaria a situação das praias do rio Xingu utilizadas para o lazer da

população de Altamira no período da seca?

Os estudos do EIA mapearam e identificaram as principais praias a serem afetadas (Volume

21, Diagnóstico do Meio Sócio-econômico) em função da implantação do reservatório na

calha do rio Xingu, quais sejam: Arapujazinho, do Amor, Adalberto, do Besouro, do Louro,

do Olivete, do Pedral, do Padeiro, do Pagé, Prainha, Sossego. Algumas dessas praias possuem

pequena infraestrutura com bares, palhoças e banheiros. Na região da Volta Grande, abaixo

da barragem do sítio Pimental, as praias permanecerão exposta e em condições de uso por

mais tempo maior durante o ano, devido a redução da vazão.

Conforme diagnosticado no EIA, freqüentar o Rio Xingu para desfrutar de suas praias é uma

atividade de lazer praticada por grande número de pessoas nos municípios da região.

Para compensar a perda dessas praias e áreas de lazer, impacto analisado no Volume 31 –

Avaliação de Impactos – Parte III e Prognóstico Global, o EIA propõe o Projeto de

Recomposição de Praias e Locais de Lazer, integrante do Programa de

Restituição/Recuperação da Atividade de Turismo e Lazer, apresentado no volume 33, pag

295, que tem como ojetivo recompor tais locais de lazer por meio da implantação de praias

artificiais.

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De acordo com o proposto neste Projeto, a escolha dos locais para implantação das novas

praias deverá ser definida em conjunto com a população, ratificando-se assim, a prática de

diálogo social intrinseco à pratica de sustentabilidade que permeia todas as ações do AHE

Belo Monte.

51. Como seria o impacto nos peixes migratórios e os peixes endêmicos (inclusive os

peixes ornamentais), considerando a vazão reduzida e o canal lateral para

transposição dos peixes?

Ver resposta da questão nº 10

52. Quais as localidades escolhidas para o reassentamento das pessoas atingidas pela

obra? Como será feito o reassentamento. Será realmente feito ou os

empreendedores preferirão a indenização? Qual o custo do reassentamento?

Na etapa atual dos estudos, foram identificadas e avaliadas diferentes alternativas locacionais,

verificando-se a disponibilidade de terras para a implantação dos reassentamentos. A escolha

das áreas para futuro reassentamento será realizada no Plano Básico Ambiental – PBA, com a

participação da população envolvida no processo.

O Volume 33 – Planos, Programas e Projetos, item 1.9, especificamente no Programa de

Indenização e Aquisição de Terras e Benfeitorias, pág. 216 e seguintes trata, entre outros

aspectos, das diretrizes básicas a serem seguindas quando da implantação dos Projetos de

Reassentamento. De acordo com o disposto neste Programa, deverá ser garantido:

Participação da população a ser reassentada na escolha das áreas de reassentamento,

previamente com viabilidade técnica e econômica comprovada;

Que o tamanho mínimo dos lotes obedeça ao módulo fiscal rural, que para a região do

empreendimento é de 75 hectares;

Os locais para reassentamento deverão apresentar solos de boa qualidade; localização

de preferência no município atual ou nos municípios próximos, topografia compatível

com a do imóvel anterior;

Para a implantação dos projetos de reassentamento deverão ser adquiridos imóveis que

disponham de acesso adequado e que não se encontrem em área com algum

impedimento legal;

O reconhecimento do loteamento pelo INCRA/ITERPA, necessário para que os

reassentamentos tenham acesso a linhas de crédito e programas de assistência técnica

oficiais;

Infraestrutura de serviços essenciais – disponibilidade de provimento dos serviços de

água, luz e esgotamento sanitário. Além dos reassentamentos serem dotados de

equipamentos de saúde, educação, Centro Comunitário;

Manutenção da renda e da produção.

Tudo que está proposto no EIA e que constar da Licença Prévia, caso a mesma seja emitida

pelo IBAMA, deverá necessariamente ser implementado.

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A etapa de elaboração de EIA não pressupõe o detalhamento dos custos dos diversos

Programas Ambientais, incluindo-se dentre estes os Projetos de Reassentamento;

53. Como ficará a operação da “vazão ecológica” em uma situação com escassez de

água. Todas as turbinas seriam desligadas na casa de força principal?

O volume 33 de Avaliação de Impactos – parte 3 (pags. 234 a 288) apresenta a avaliação feita

pela equipe do EIA sobre o hidrograma ecológico para o trecho de vazão reduzida.

A conclusão desse estudo aponta para uma proposta de compatibilidade entre viabilidade

comercial do empreendimento (geração de energia) e a proposição de um hidrograma que

atenda às condições mínimas ambientais, identificadas como fundamentais no TVR. Isto

implica em liberar o hidrograma de manutenção do ecossistema para o TVR em um

determinado ano e admitir que no próximo ano o sistema possa ser submetido a um

“estresse” hídrico ainda maior. Tal hipótese pressupõe que o “bioma” possa ser submetido a

um regime maior restrição, por no máximo um ano, desde que no ano seguinte vazões de, pelo

menos, 8000 m3/s fossem liberadas, o que possibilitaria manter a produtividade mínima,

garantindo sua sustentabilidade. Dessa forma, o hidrograma ambiental proposto para o TVR

deverá ser o indicado no QUADRO 53-1 a seguir:

QUADRO 53-1

Hidrograma Ambiental – vazões médias mensais propostas para o TVR

Hidrogramas Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

I 1.100 1.600 2.500 4.000 1.800 1.200 1.000 900 750 700 800 900

II 1.100 1.600 4.000 8.000 4.000 2.000 1.200 900 750 700 800 900

As vazões a serem obrigatoriamente liberadas para jusante na barragem do Sítio Pimental não

serão constantes e deverão obedecer a uma variação sazonal, acompanhando a variação

natural do rio Xingu.

O hidrograma I é o hidrograma mínimo a ser liberado e tem como vazão média mensal

mínima 700 m3/s e uma vazão máxima de 4.000 m

3/s. Desta forma, uma vez praticado tal

hidrograma, no ano seguinte a vazão média mensal deve atingir 8.000 m3/s em pelo menos 1

mês obedecendo a forma do hidrograma II ou pelo menos o volume anual desse.

A vazão mínima do rio Xingu usada como referência nesse estudo é a vazão de 1.017 m3/s,

que representa a mínima média anual obtida a partir de dados de mínimas diárias anuais do

período de 1971 a 2000.

O estudo mostra que vazões superiores a essa ocorrem em 43% do tempo do período de

estiagem, ou seja, quase metade dos anos analisados (30 anos) teve valores mínimos

superiores a 1017 m3/s. Análises comparativas do escoamento entre vazões dessa ordem e

vazões de 700 m3/s e análises das imagens de satélite para essas condições mostraram que não

existem diferenças significativas de escoamento entre esses dois valores. Considerando a

necessidade de se derivar alguma vazão para o reservatório dos canais, optou-se por manter

uma mínima de 700 m3/s no TVR e derivar o restante para oxigenar e promover a renovação

da água no reservatório dos canais.

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As avaliações do escoamento nas seções transversais levantadas ao longo do TVR mostram

que vazões inferiores a 700m3/s, apesar de já terem ocorrido no histórico de vazões com uma

freqüência de 10%, reduzem significativamente as áreas molhadas deixando canais secos ou

com baixas profundidades.

A ocorrência natural de vazões inferiores a 700m3/s além de ser um evento raro, gera

impactos isolados e de curta duração que se resolvem naturalmente sem necessidade de

intervenções. Por outro lado, a proposição de uma vazão mínima no hidrograma ecológico

será um evento freqüente (todos os anos no período de estiagem) e de maior duração quando

comparado aos eventos naturais, ressaltando, portanto, a necessidade de se indicar um valor

no qual se possa conviver com as limitações oferecidas por ele.

Dessa forma, o mínimo definido para o trecho da Volta Grande do rio Xingu é uma vazão de

700m3/s. Em situações de escassez acentuada quando as vazões do rio Xingu forem inferiores

a 1000m3/s deverá sempre passar 700m3/s no trecho da Volta Grande e o restante no

reservatório dos canais. Nessas situações será mantida a geração na casa de força

complementar e se necessário poderá ser interrompida temporariamente a geração na casa de

força principal.

54. Quais as alterações no modo de vida das populações a jusante (trecho da Volta

grande com vazão reduzida? Transporte, comunicação com postos de saúde,

comercio da produção local.

O QUADRO 54-1 a seguir sintetiza os principais impactos identificados como de ocorrência

provável no que concerne ao modo de vida das populações residentes no trecho a jusante da

barragem principal a ser construida no rio Xingu. (Volume 31 – Avaliação de Impactos –

Parte III e Prognóstico Global – “Análise de impactos para alternativas com vazões de

estiagem de 700m3/s e diferentes vazões de cheias, pág. 288 a 297”)

QUADRO 54-1

Impactos no Trecho de Vazão Reduzida e Áreas Próximas aos Reservatórios e Canteiros de

Obras segundo Municípios e Localidades

Trecho de Vazão Reduzida

Municípios Localidades e TI Impactos/Medidas

Vitória do Xingu

Região de São Pedro

Belo Monte (margem

esquesrda)

TI Paquiçamba

Interrupção da navegação (imóveis entre o

Barramento Principal e São Pedro, margem

esquerda);

Dificuldade do Escoamento da Produção nos

Períodos de Estiagem;

Dificuldade do Transporte Fluvial nos Períodos de

Estiagem;

Dificuldade do Acesso aos Equipamentos Sociais

(Escolas, Postos de Saúde, Igreja) nos Períodos de

Estiagem;

Pressão sobre os usos sustentáveis dos recursos

pesqueiros – Sobrepesca e perda de modalidades de

pescarias;

Anapu Belo Monte do Pontal

Senador J. Porfírio

Ilha da Fazenda

Ressaca

Garimpo do Galo

TI Arara da Volta

Grande

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Para fazer frente a tais impactos foram propostos vários Programas que fazem parte do Plano

de Atendimento à População Atingida, do Plano Gerenciamento da Volta Grande do Xingu e

os voltados especificamente para as populações indígenas. Programas que são detalhados no

Volume 33 e nos tomos do volume 35, referentes aos estudos etnoecológicos.

55. Como foram feitos os cenários de desmatamento? Quais as conseqüências no

trecho de vazão reduzida? Há risco de desertificação?

Os cenários de desmatamentos foram feitos para toda a Bacia do rio Xingu e estão descritos

no Volume II da Avaliação Ambiental Integrada, documento este que serviu de base para a

análise integrada da bacia, apresentada no Volume 28 do EIA.

No Prognóstico Global, Volume 31 do EIA, também são analisados os cenários de evolução

da bacia do rio Xingu sem o empreendimento (páginas 2 a 30) e com o empreendimento,

neste caso, sem serem consideradas as medidas ambientais propostas (páginas 32 a 53) e

considerando tais medidas (páginas 54 a 74).

A síntese dos resultados destes estudos de cenários é a seguinte: para o cenário tendencial

2015, processando-se as informações disponibilizadas para o período 2000/2007, sumarizam-

se alguns pontos notáveis da projeção 2007/2015, sendo que a taxa efetiva de crescimento da

área desmatada é de 4,11%.

Em termos absolutos, o incremento da área desflorestada é de 23.800 km2. Em 2015 a área

desmatada passaria para 98.776 km2, evoluindo de um valor inicial em 2007 de 74.976 km

2.

Há uma quantidade expressiva de municípios da bacia que se encontra com o estoque de

florestas disponíveis (fora das áreas protegidas) praticamente exaurido, como os de Altamira

(3,3%), São Félix do Xingu (6,11%) e Ourilândia, do Norte (3,62%), entre outros. Em se

considerando 20% de área florestada como “o mínimo a ser preservado” pela legislação,

esses municípios já não se enquadram nessa situação, pois já ultrapassaram o limite de 80%

de ocupação.

Há ainda, pontos notáveis a serem destacados no cenário tendencial 2025: a taxa efetiva de

crescimento da área desflorestada é de 3,15%, em vez de dos 4,11% preliminarmente

assumidos, devido à redução de estoques florestais e do possível aumento de fiscalização.

O incremento da área desflorestada é de 49.153 km2 e em 2025, a área desmatada passaria

para 134.699 km2, evoluindo de um valor de referência em 2015 da ordem de 98.776 km2.

Os sete maiores municípios, com participações acima de 4% em termos da contribuição ao

incremento da área desflorestada projetada para 2025, correspondem a São Félix do Xingu,

Altamira, Cumaru, Querência, Nova Ubiratã, Brasil Novo e Gaúcha do Norte. sinalizando,

mais uma vez, o direcionamento dos incrementos da ocupação.

Como se depreende, a manutenção de taxas de crescimento do desflorestamento de 4,11% e

3,15% a.a. do Cenário Tendencial deve levar a exaustão dos estoques de áreas em mais de

uma dezena de municípios. Mais detalhes podem ser encontrados nas paginas 128 a 148 do

Volume 28 – Análise Integrada.

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É importante enfatizar, entretanto, que a dinâmica que impulsiona a atual motivação do

desflorestamento, cujo padrão procurou-se estabelecer em alguma medida, relaciona-se

também a outras demandas de ordem socioeconômica.

O asfaltamento das estradas e vicinais da região, nos moldes de outras rodovias da

Amazônica (por exemplo, a BR-364), promoverá o uso alternativo do solo, com ocupação

das margens da rodovia e a expansão da substituição da vegetação florestal por plantios

agrícolas, pastagens e monoculturas. Para alguns segmentos da sociedade brasileira a floresta

é vista como fator impeditivo ao desenvolvimento, pois há fragilidade na implantação das

políticas alternativas para a conservação das florestas (redução de impostos, pagamento pela

manutenção da floresta em pé, pelos benefícios ambientais daquela floresta protegida).

Enquanto persistir o estímulo, através de políticas públicas para a conversão da floresta para

uso alternativo do solo, o desmatamento continuará acontecendo, independente da

implantação de hidrelétricas.

Não é devido a implantação de hidrelétricas que ocorre o desmatamento na região

amazônica; em termos proporcionais, as áreas que são desmatadas para a implantação de

pastagem e agricultura e que atualmente se encontram abandonadas, são muitas vezes

maiores do que áreas desmatadas ou alteradas pela implantação de hidrelétricas. Estes

empreendimentos podem, no máximo, potencializar uma situação que já ocorre no seu local

de implantação (AID), em função da ausência de fiscalização por parte do poder público

local, estadual e federal.

Exemplos de criação de Unidades de Conservação como medida de compensação em torno

de empreendimentos hidrelétricos são vários na região amazônica, além de apoio na

fiscalização de limites de unidades já existentes e mesmo de terras indígenas (exemplos de

Tucurui, Balbina, Samuel). No caso da UHE Balbina a efetiva implantação e manutenção da

Terra Indígena Waimiri Atroari e da Reserva Biológica do Uatumã, permitiu a proteção de

cerca de 3,5 milhões de hectares de florestas nativas, ou seja, uma área dez vezes maior que a

inundada pelo reservatório.

Objetivando indicar áreas para a criação de unidade de conservação de proteção integral na

região do empreendimento, é proposto no AHE Belo Monte, o Projeto de Criação de

Unidades de Conservação, inserido no Programa de Compensação Ambiental (Volume 33,

item 12.7.5.1, págs. 154 a 160). Neste Projeto são propostos estudos em duas regiões de

interesse, situadas na margem direita do rio Xingu. A primeira região situa-se próxima a

Volta Grande, margem direita do rio Bacajá, um dos mais importantes afluentes do Xingu.

Esta região limita-se com a T.I. Arara da Volta Grande situada na margem esquerda do rio

Bacajá. O polígono de interesse apresenta cerca de 80.000 hectares de floresta em melhor

estado de conservação, quando comparado com as florestas na margem esquerda do rio

Xingu na região da Volta Grande. A criação de uma unidade de conservação nesta região

permitirá a proteção dos últimos maciços florestais de terra firme presentes na região e

também propiciará a proteção das florestas aluviais do rio Bacajá.

A outra área potencial para ser uma unidade de conservação de proteção integral, situa-se do

sul da AII do AHE Belo Monte entre as T.I. Koatinemo e a T.I. Trincheira Bacaja (Unidade

2). Há um polígono com cerca de 200.000 ha, ainda com florestas bem conservadas, que

poderia, junto com as supracitadas terras indígenas, formar um bloco contínuo de floresta

com cerca de 1,6 milhões de hectares. A indicação de proteção de grandes extensões de

maciços florestais na Amazônia vem sendo preconizado por pesquisadores e estudiosos,

Page 83: ANÁLISE DAS CRÍTICAS DO DOCUMENTO “PAINEL DOS …€¦ · Alguns especialistas se fiam, inclusive, apenas na análise do RIMA, que, como é sabido, propositadamente não contempla

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sendo que estas áreas teriam a capacidade de funcionar como unidades evolutivas, mantendo

populações viáveis de espécies em longo prazo (Peres 2005).

Informações adicionais e contextualização sobre o desmatamento da região de inserção do

empreendimento poderão ser obtidas no Volume 28, que trata da análise integrada dos temas

estudados no EIA e que apresentam informações acerca do desmatamento e alteração de

habitats na região de inserção do empreendimento.

A vegetação aluvial presente no trecho da vazão reduzida constitui APP e deverá ser mantida

como tal, segundo a legislação vigente, portanto, não sendo área passível de ocupação. No

entanto, esta vegetação sofrerá impacto em função da redução de vazão no trecho da Volta

Grande. O Impacto intitulado “Alteração nos Padrões Fenológicos e Composição Florística

das Planícies Aluviais”, está descrito na página 180 do Volume 30 do EIA - Avaliação de

Impacto Ambiental – Parte II. Medidas de Mitigação estão descritas no Volume 33 – Planos,

Programas e Projetos, item 12.8 Plano de Conservação dos Ecossistemas Aquáticos que se

inicia na página 161.

Para este trecho não há risco de „desertificação‟, uma vez que o termo é utilizado para

descrever o fenômeno que corresponde à transformação de uma área em um deserto.

Segundo a Convenção das Nações Unidades de Combate à Desertificação este termo se

refere à degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultante de

vários fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas.

A Bacia do Xingu está inserida na região Amazônica e, portanto, não se enquadra nesta

categoria por se situar em uma região de alta umidade relativa do ar. As áreas suscetíveis à

desertificação são as regiões de clima semi-árido ou sub-úmido seco, encontrados no

Nordeste brasileiro e na região norte do Estado de Minas Gerais, localidades com clima

semi-árido e subúmidos secos.

Volume 28 – Análise Integrada

Quanto as cenários de desmatamento para região, há de se considerar a situação atual da

região de inserção do empreendimento, cuja frente de expansão da região Amazônica pela

rodovia Transamazônica, favoreceu a abertura de áreas e o desmatamento, sem que as leis

ambientais fossem cumpridas, especialmente, na manutenção de reservas legais (80% da área

da propriedade) como também de APPs. Nos dias atuais, observam-se na região,

remanescentes de florestas, resultantes da ocupação estimulada por projetos governamentais

de desenvolvimento baseado em substituição da floresta, especialmente por pastagens, o que

vem sendo praticado na região há mais de 30 anos.

No Prognóstico Global Volume 31 do EIA são analisados cenários de evolução da bacia do

rio Xingu sem o empreendimento (páginas 2 a 30) e com o empreendimento, neste caso, sem

serem consideradas as medidas ambientais propostas (páginas 32 a 53) e considerando tais

medidas (páginas 54 a 74).

Os estudos de AAI também abordam a questão dos cenários de desmatamento para a bacia do

rio Xingu (Estudos da AAI páginas 128 a 148 e Resumo Executivo - páginas 41 e 42).

A síntese dos resultados é a seguinte: para os cenários tendenciais 2015, processando-se as

informações disponibilizadas para o período 2000/2007, sumarizam-se alguns pontos notáveis

da projeção 2007/2015, sendo que a taxa efetiva de crescimento da área desmatada é de

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4,11%. Em termos absolutos, o incremento da área desflorestada é de 23.800 km2. Em 2015,

a área desmatada passaria para 98.776 km2, evoluindo de um valor inicial em 2007 de 74.976

km2.

Há uma quantidade expressiva de municípios da bacia que se encontram com o estoque de

florestas disponíveis (fora das áreas protegidas) praticamente exaurido, como os de Altamira

(3,3%), São Félix do Xingu (6,11%) e Ourilândia,do Norte (3,62%), entre outros. Em se

considerando 20% de área florestada como „o mínimo a ser preservado‟, esses municípios já

não se enquadram nessa situação, pois já ultrapassaram o limite de 80% de ocupação.

Há ainda, pontos notáveis a serem destacados no cenário tendencial 2025: a taxa efetiva de

crescimento da área desflorestada é de 3,15%, em vez de dos 4,11% preliminarmente

assumidos, devido à redução de estoques florestais e do possível aumento de fiscalização.

O incremento da área desflorestada é de 49.153 km2 e em 2025, a área desmatada passaria

para 134.699 km2, evoluindo de um valor de referência em 2015 da ordem de 98.776 km2.

Os sete maiores municípios, com participações acima de 4% em termos da contribuição ao

incremento da área desflorestada projetada para 2025, correspondem a São Félix do Xingu,

Altamira, Cumaru, Querência, Nova Ubiratã, Brasil Novo e Gaúcha do Norte. sinalizando,

mais uma vez, o direcionamento dos incrementos da ocupação.

Como se depreende, a manutenção de taxas de crescimento do desflorestamento de 4,11% e

3,15% a.a. do Cenário Tendencial deve levar a exaustão dos estoques de áreas em mais de

uma dezena de municípios.

Mais detalhes podem ser encontrados nas páginas 128 a 148 do relatório da AAI. Ver página

145 (volume 28), Avaliação Ambiental Integrada.

É importante enfatizar que a dinâmica que impulsiona a atual motivação do desflorestamento,

cujo padrão procurou-se estabelecer em alguma medida, relaciona-se também a outras

demandas de ordem socioeconômica.

O asfaltamento das estradas e vicinais da região, nos moldes de outras rodovias da Amazônica

(por exemplo, a BR-364), promoverá o uso alternativo do solo, com ocupação das margens da

rodovia e a expansão da substituição da vegetação florestal por plantios agrícolas, pastagens e

monoculturas. Para alguns segmentos da sociedade brasileira a floresta é vista como fator

impeditivo ao desenvolvimento, pois há fragilidade na implantação das políticas alternativas

para a conservação das florestas (redução de impostos, pagamento pela manutenção da

floresta em pé, pelos benefícios ambientais daquela floresta protegida). Enquanto persistir o

estímulo, através de políticas públicas para a conversão da floresta para uso alternativo do

solo, o desmatamento continuará acontecendo, independente da implantação de hidrelétricas.

Não é devido a implantação de hidrelétricas que ocorre o desmatamento na região amazônica,

em termos proporcionais, as áreas que são desmatadas para a implantação de pastagem e

agricultura e que atualmente se encontram abandonadas, são muitas vezes maiores do que

áreas desmatadas ou alteradas pela implantação de hidrelétricas. Estes empreendimentos

podem, no máximo, potencializar uma situação que já ocorre no seu local de implantação

(AID). Em função da ausência do poder público local, estadual e federal.

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Exemplos de criação de Unidades de Conservação como medida de compensação em torno de

empreendimentos hidrelétricos são vários na região amazônica, além de apoio na fiscalização

de limites de unidades já existentes e mesmo de terras indígenas (exemplos de Tucurui,

Balbina, Samuel) . No caso da UHE Balbina a efetiva implantação e manutenção das Terra

Indígena Waimiri Atroari e da Reserva Biológica do Uatumã, permitiu a proteção de cerca de

3,5 milhões de hectares de floretas nativas, ou seja, uma área dez vezes maior que a inundada

pelo reservatório.

Objetivando indicar áreas para a criação de unidade de conservação de proteção integral na

região do empreendimento, é proposto no AHE Belo Monte, o Projeto de Criação de

Unidades de Conservação, inserido no Programa de Compensação Ambiental (Volume 33,

item 12.7.5.1, págs. 154 a 160). Neste Projeto são propostos estudos em duas regiões de

interesse, situadas na margem direita do rio Xingu. A primeira região situa-se próxima Volta

Grande, margem direita do rio Bacajá, um dos mais importantes afluentes do Xingu. Esta

região limita-se com a T.I. Arara da Volta Grande situada na margem esquerda do rio Bacajá.

O polígono de interesse apresenta cerca de 80.000 hectares de floresta em melhor estado de

conservação, quando comparado com as florestas na margem esquerda do rio Xingu na região

da Volta Grande. A criação de uma unidade de conservação nesta região permitirá a proteção

dos últimos maciços florestais de terra firme presentes na região e também propiciará a

proteção das florestas aluviais do rio Bacajá.

A outra área potencial para ser uma unidade de conservação de proteção integral, situa-se do

sul da AII do AHE Belo Monte entre as T.I. Koatinemo e a T.I. Trincheira Bacaja (Unidade

2). Há um polígono com cerca de 200.000 ha, ainda com florestas bem conservadas, que

poderia, junto com as supracitadas terras indígenas, formar um bloco contínuo de floresta com

cerca de 1,6 milhões de hectares. A indicação de proteção de grandes extensões de maciços

florestais na Amazônia vem sendo preconizado por pesquisadores e estudiosos, sendo que

estas áreas teriam a capacidade de funcionar como unidades evolutivas, mantendo populações

viáveis de espécies em longo prazo (Peres 2005).

56. Para onde estas pessoas serão realocadas: ribeirinhos, índios, população urbana de

Altamira, agricultores? Por que não ha mais território disponível para ser

ocupado...

A população rural (ribeirinhos, agricultores e índios desaldeados, etc) que atualmente ocupam

áreas rurais ao longo do rio Xingu, situadas no trecho de formação do reservatório, deverão

ser atendidos no âmbito do Programa de Negociação e Aquisição de Terras e Benfeitorias,

detalhado no Volume 33, podendo optar por uma das seguintes modalidades de atendimento:

Indenização em dinheiro;

Relocação assistida;

Reassentamento em áreas remanescentes do mesmo imóvel;

Relocação para Projeto de Reassentamento.

Conforme explicitado na questão 52, a definição das áreas para reassentamento deverá ocorrer

quando da elaboração do Plano Básico Ambiental, devendo contar com a participação de

todas as partes envolvidas. São áreras que serão adquiridas para este fim pelo empreendedor.

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Os levantamentos socioeconômicos indicaram que, somente nos municípios de Altamira,

Vitória do Xingu e Brasil Novo, existem estabelecimentos agropecuários que somam

1.600.000 ha. Mesmo considerando a reposição de toda a área rural enquadrada na ADA,

hipótese que não se realizará já que, principalmente ao longo do rio Xingu, muitos imóveis

serão parcialmente afetados, seriam necessários cerca de 106.000 ha.

Assim, observa-se que há uma significativa disponibilidade de áreas já incorporadas ao uso

agropecuário, que podem ser adquiridas para a implantação de projetos de reassentamento,

sem se fazer necessário avançar no desflorestamento da região.

Quanto à população urbana de Altamira, ainda de acordo com o Programa Negociação e

Aquisição de Terras e Benfeitorias, há como possibilidade as seguintes modalidade de

tratamento:

Idenização em dinheiro;

Relocação assistida;

Relocação para Reassentamentos, em lotes de 300m2 e habitações com tamanho

mínimo de 60 m2.

No caso da proposta de Reassentamento, conforme explicitado no referido Programa e no

Programa de Intervenção Urbana em Altamira (Volume 33), o reassentamento deverá ser

realizado no proprio muncípio, próximo as áreas atualmente ocupadas. Observe-se que, de

acordo com os estudos realizados, são necessários para o reassentamento dos 4.362 grupos

domésticos, aproximadamente, 160 ha. Os estudos mostraram também que no perímetro

urbano de Altamira há disponibilidade de, aproximadamente, 420 ha, ainda não ocupados, o

que corresponde a quase 2,5 vezes a área requerida para reassentamento. Estas áreas podem

abrigar cerca 10.000 lotes de 300m², considerando inclusive os arruamentos. Existe, ainda, a

alternativa de reaproveitamento de áreas junto aos igarapés, as quais deverão ser aterradas

para atingir cota superior a 100m.

57. Qual a capacidade máxima da linha de transmissão prevista de escoamento da

energia que será produzida, durante o período de pico (11.000 mw) e para a

energia firme (4.000 mw) ?

Os sistemas de transmissão associados a empreendimentos de geração são dimensionados

para transportar a totalidade de sua capacidade geradora instalada, o que, no caso do AHE

Belo Monte, terá uma capacidade de transmissão de 11.233 MW (potência total instalada na

casa de força principal e na casa de força complementar).

58. Qual será o impacto da barragem na vazão do Rio Bacajá? Qual será o impacto da

vazão ecológica proposta na integridade dos ecossistemas, na diversidade e

abundancia das espécies?

Dado que não se prevêm modificações na bacia hidrográfica do rio Bacajá a serem

provocadas pelo empreendimento, não se identificam alterações nas vazões naturais do rio

Bacajá.

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As alterações previstas dizem respeito a foz do rio Bacajá, que sofre interferência direta do rio

Xingu. Conforme apresentado na resposta a questão 16, com relação às alterações

hidrológicas do rio Bacajá, o EIA apresenta no volume 11 – Diagnóstico da AID e ADA,

pags. 138 a 172, uma caracterização do escoamento não só no rio Bacajá mas nos outros

afluentes do rio Xingu, pela margem direita, que se localizam no trecho de vazão reduzida.

Esse estudo foi complementado com o resultado de novas seções topobatimétricas e

apresentado ao IBAMA como atendimento aos itens elencados no Parecer

COHID/CGENE/DILIC/IBAMA no 29/2009, considerados necessários à análise de mérito

dos estudos ambientais do AHE Belo Monte.

Em relação a ictiofauna foram realizadas, no rio Bacajá, coletas com redes de malha para

ictiofauna, em dois locais, a saber: 1) próximo da foz do rio Bacajá e 2) na frente da primeira

aldeia indígena, a uns 50 km da foz.

Os resultados do levantamento no rio Bacajá renderam 1.104 indivíduos, pertencentes a 4

ordens e 13 famílias e totalizando 92 espécies de peixes, sendo 51 espécies encontradas nas

proximidades da aldeia indígena e 47 nos pedrais próximos da foz do rio. As espécies mais

abundantes na foz foram Moenkasia sp2, Leoporinus julii, Crenicichla sp "laranja" e

Leporinus trigrinus. Na frente da aldeia destacaram-se Tocantinsia piresi, Auchenipterus

nuchalis, Ageneiosus aff. ucayalensis e Plagioscion surinamensis. Os exemplares capturados

mediam desde 1 cm até 30 cm.

Assim como no Xingu, o ciclo hidrológico e de inundação periódica das áreas marginais

florestadas, pelo transbordamento lateral de águas do rio e ambientes associados é

fundamental para a fauna do rio Bacajá. Neste rio, encontramos tanto peixes sedentários como

migradores, da mesma forma que no rio Xingu.

No modelo de migração proposto no estudo de impacto ambiental da ictiofuana, exemplares

adultos das espécies migradoras, como o Prochilodus nigricans e outros, se deslocam, por

curtas distâncias, rio acima, na busca de locais de inundação adequados para a desova e

alimentação durante a cheia. Neste caso destaca-se a importância dos tributários como o rio

Bacajá para abrigar a ictiofauna que efetua as migrações laterais. Este deslocamento acontece

a cada ano, levando indivíduos maiores, de algumas espécies, a predominar nas áreas mais

altas dos rios e tributários. Aparentemente, a existência das corredeiras e fortes velocidades

das águas, bem como a declividade do rio contribuem para que os deslocamentos anuais dos

peixes migradores não sejam de grandes distâncias. Por outro lado, as fortes velocidades do

rio garantiriam a deriva de larvas e jovens, rio abaixo, permitindo assim o fluxo gênico e o

intercâmbio genético.

Este modelo explica porque não foram observados grandes cardumes de peixes subindo os

rios, durante o período de estiagem e nem indivíduos com gônadas maduras nesse período. Ou

seja, tanto as migrações como a reprodução de muitas espécies da ictiofauna ocorre no inicio

da enchente.

Como a implantação da barragem de Belo Monte no sítio Pimental implicaria em barreira

física para a movimentação de peixes rio acima, espera-se o rio Bacajá seja uma via

alternativa para a subida dos peixes nesta região. Por isto, a manutenção e conservação das

florestas aluviais e áreas de inundação deste rio, devem ser prioridade nos programas de

conservação da região.

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Se a proposição de um sistema de vazões ecológicas, que garantam pelo menos 8.000 m3.sec

-

1, durante boa parte dos anos, for cumprida, a desova e os deslocamentos dos peixes

migradores no período de cheias será garantida entre a parte baixa do rio e a Volta Grande,

mesmo que em menor proporção ao contingente atualmente existente.

Por tanto se conclui que, espécies migradoras poderão continuar migrando e se reproduzindo

no trecho da Volta Grande e no rio Bacajá, mesmo após a implantação do empreendimento se

os as vazões ecológicas propostas forem respeitadas. Para o trecho a montante do rio Bacajá,

após uns 25 km da foz, não há indícios dos estudos de meio físico, de que haverá alteração na

disponibilidade destas áreas inundáveis. Neste sentido, supõe-se que as metapopulações do rio

Bacajá serão fortalecidas, aumentando sua separação genética dos indivíduos do rio Xingu.

Este efeito pode ser compensado devido à diminuição de competição e ao aumento relativo da

disponibilidade de locais de alimentação, o que torna as condições favoráveis para a

multiplicação destas populações, as quais, portanto, não necessariamente devem diminuir em

abundância.

59. Qual a garantia real e legal de que não serão construídos outros barramentos

futuros acima de Altamira, já que a energia firme de Belo monte é apenas 39% da

potência instalada e precisaria de mais água para turbinar? A resolução do

Conselho Nacional de política Energética não é suficiente. Trata-se de Conselho

Consultivo da Presidência da República que se reúne com a freqüência que se

queira e pode revogar suas decisões anteriores, não é instância superior ao

Congresso Nacional nem às altas esferas do poder judiciário. .Exemplos do que já

ocorreu no passado sobre resoluções:

Em 2005, o Congresso Nacional subitamente aprovou a construção de Belo Monte,

sem debate e muito menos com consultas aos povos indígenas, como mencionado

na Constituição. A facilidade com que a proteção da Constituição foi rompida no

caso de Belo Monte levanta a possibilidade de contar com a regulação do rio Xingu

com Babaquara/Altamira.

Outro caso foi o enchimento de Balbina, que era para permanecer durante vários

anos na cota de 46 metros acima do nível do mar, mas foi diretamente enchido,

além da cota originalmente prevista de 50 metros.

Num Estado de Direito as garantias reais e legais de qualquer ordem são decorrentes da

preservação das instituições legitimamente constituídas. No caso de estudos de inventário

hidrelétrico de bacias hidrográficas, as instituições legitimamente responsáveis pelo

ordenamento técnico e legal são a ANEEL, Ministério de Minas e Energia e o CNPE.

Desta forma, conforme exposto na questão 41, os estudos de inventário e a resolução do

CNPE são as garantias da previsão da construção de um único aproveitamento na bacia do rio

Xingu, no momento.

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60. Por que as empresas privadas não querem assumir a construção da obra na região

dos diques e dos reservatórios e transferir essa responsabilidade para Empresas da

Eletrobrás como tem saído nos jornais?

Os responsáveis pela totalidade do empreendimento serão conhecidos após o leilão.

61. Existe risco geológico em fazer os reservatórios sobre os terrenos da Volta Grande

que é uma região de transição de terrenos e cheia de cavernas? Não haveria risco

da água armazenada escapar por fraturas tal como já acontece no trecho do leito

da Volta Grande que a água passa por baixo das pedras? Só os diques (que são na

verdade barragens pelos desenhos do EIA) seguram a água?

As cavidades subterrâneas (cavernas) estão na Formação Maecuru, na faixa de rochas

sedimentares da Bacia Amazonas, aflorante nas escarpas entre os igarapés Santo Antonio e

Santa Elena, na margem esquerda do Reservatório dos Canais, com comprimento de 9,2 Km,

o que representa uma porcentagem de 3,37 % em relação ao comprimento da margem do

reservatório. Portanto, as áreas de ocorrência dessas cavernas são conhecidas e localizadas

e não estão distribuídas de forma generalizada sobre os terrenos da Volta Grande, não

implicando, portanto, em riscos de construção dos reservatórios.

NO CAPÍTULO 7.7.10 (VOLUME 11, PÁGINA 444) DO EIA FOI EFETUADA

ANÁLISE DAS INVESTIGAÇÕES E AVALIAÇÃO DE RISCOS GEOLÓGICO

GEOTÉCNICOS E FUGAS DE ÁGUA PARA OS DIVERSOS SÍTIOS DA OBRA

INCLUINDO AQUELES DOS CANAIS DIQUES.

No Apêndice 7.7.10.1 desse Capítulo foram apresentadas as investigações geológico-

geotécnicas efetuadas e feita a avaliação de cada um dos sítios, de forma abrangente e

detalhada, enquanto no Quadro 7.7.10.1, é apresentada a avaliação de forma sintetizada ,

sendo que abaixo está reproduzida a avaliação para o caso dos diques

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Sítios

Construtivos/Estruturas Investigações Realizadas Possíveis Condicionantes Possíveis Processos Tratamentos de Fundação

Diques

Belo Monte ME: 3, 4.

Mapeamento geológico-

geotécnico (escala 1:5.000);

Sondagens rotativas com ensaios

de perda d‟água sob pressão em

alguns diques;

Sondagens a percussão com

ensaios de infiltração em alguns

diques;

Sondagens a trado;

Poços de inspeção;

Coleta de amostras deformadas e

indeformadas;

Sísmica de refração;

Sondagens elétricas verticais;

Ensaios de laboratório:

-Solos: caracterização e ensaios

especiais.

Folhelhos e ritmitos pouco

coerentes e incoerentes e seus

solos residuais e

descontinuidades sub-horizontais

associadas ao acamamento e às

lâminas do folhelho.

Instabilizações nos diques Seções dos diques com

taludes abatidos e bermas

estabilizantes;

Escavação do arenito até

exposição do solo residual

com resistência elevada;

Sistemas de drenagem

interna, filtro horizontal e

tapete drenante;

Execução de trincheira (cut-

off) com largura de base

entre 5 a 10m conforme a

altura do dique e base em

solo residual ou de

alteração;

Remoção total dos blocos

soltos e no caso de

concentração dos blocos

remoção em profundidade

ou injeção;

Remoção do colúvio entre

0,5 e 3m, conforme altura

do dique.

Belo Monte MD: 6A, 6B Ritmitos

Diques

Belo Monte MD: 6C e

7A

Arenitos nas ombreiras dos

diques.

Efeitos indesejáveis de

percolação como

concentração de fluxo,

cargas hidráulicas elevadas

e eventual piping.

Diques

Belo Monte MD: 6A,

6B, 6C, 7A, 7B, 7C, 7D,

10A, 11, 12, 13,

14A,14B, 14C, 14D, 14E,

18, 19 E 20.

Bela Vista: 19A, 23,

23A, 24, 24A, 25, 26, 27,

28 E 29

Solos de alteração de migmatito

espessos nas ombreiras

predominantemente e em alguns

casos na porção central, muitas

vezes associados a blocos de

rocha.

Milonitos, cataclasitos e zonas

de falha no maciço rochoso e

contato solo de alteração/topo

rochoso com altas

condutividades hidráulicas.

Canalículos de origem radicular

e termítica no colúvio, solos

residual e de alteração.

Diques

Eventuais coluviões espessos e

colapsíveis.

Fenômenos de colapso

quando saturados

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Eventuais riscos decorrentes de quantitativos e tipos de investigações que caracterizaram a

etapa de viabilidade, são praticamente inexistentes ou de pouca relevância, que deverá ser

ainda reduzida com as campanhas a serem desenvolvidas nas próximas etapas de projeto

básico e executivo e também com o acompanhamento geológico durante a implantação da

obra.

Foram previstos em projeto, já nessa etapa de viabilidade, soluções e tratamentos de

fundação para as obras projetadas, incluindo os diques, que contemplam possíveis

condicionantes e processos geológico-geotécnicos (incluindo as fraturas do maciço rochoso)

relacionados a risco. Considera-se, ainda, que:

As campanhas de investigações das próximas etapas de projeto (básico e executivo),

além do acompanhamento geológico durante a implantação da obra, permitirão um

melhor conhecimento dos condicionantes e de processos associados a risco e,

portanto, as soluções de projeto e os tratamentos de fundação serão adequados de

forma a eliminar ou reduzir a relevância dos eventuais riscos a níveis desprezíveis.

Muitos dos condicionantes e processos relacionados a risco identificados para o AHE

Belo Monte são usuais e requerem intervenções, soluções de projeto e de

tratamento de fundação também usuais e já empregadas em outros aproveitamentos

hidrelétricos.

Para alguns condicionantes e processos geológico-geotécnicos que possam

demandar investigações mais detalhadas e, conseqüentemente, também

detalhamentos, ajustes e alterações nas soluções de projeto e de tratamento de

fundação, avaliam-se a necessidade de soluções usuais e a possibilidade de utilizar

experiências prévias, amplamente conhecidas e empregadas em outros

aproveitamentos hidrelétricos brasileiros.

Assim, riscos decorrentes dos condicionantes e processos geológico-geotécnicos (incluindo

as fraturas do maciço rochoso) identificados na avaliação dos diversos sítios do AHE Belo

Monte são, de maneira geral, de pouca relevância. Uma exceção é a possibilidade de fuga

de água dos reservatórios, à qual está associado um risco de maior relevância

comparativamente com os demais condicionantes e processos relacionados a risco.

A faixa de rochas sedimentares da Bacia Amazonas aflorante nas escarpas entre os igarapés

Santo Antonio e Santa Elena, na margem esquerda do Reservatório dos Canais, com

comprimento de 9,2 Km, o que representa uma porcentagem de 3,37 % em relação ao

comprimento da margem do reservatório, apresenta a Formação Maecuru portadora de

cavidades subterrâneas e de feições desenvolvidas a partir de processos de piping. Observa-se

que, a princípio, a Caverna Kararaô e outras cavidades menores existentes nas proximidades

além de outras feições de piping menores, são aquelas com possibilidades de fuga d‟água do

reservatório e que deverão ser objeto de estudos complementares com ações preventivas, de

monitoramento e/ou de mitigação. Essas feições estão em áreas localizadas dentro do setor de

9,2 Km da faixa de rochas sedimentares.

Os reservatórios devem ser necessariamente estanques e não devem apresentar fugas de água

significativas e, portanto, o projeto de engenharia contemplará um sistema de controle para

prevenir a possibilidade ou para reduzir o risco de ocorrência desse processo a níveis

desprezíveis, com base no desenvolvimento do Programa de Controle da Estanqueidade dos

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Reservatórios. Várias alternativas são visualizadas, entre elas, tapetes de argila e outros

dispositivos de impermeabilização comumente empregados em soluções para condicionantes

de percolação através de fundação de barragens, além de diques com fundação em solos de

alteração de rochas cristalinas/rochas cristalinas do Complexo Xingu e/ou da Formação

Trombetas.

62. Haveria água para turbinar a casa de força principal se a vazão do Xingu estiver

próxima de 700m3/s?

Ver resposta da questão 53.

63. Como fica o esgoto sanitário de Altamira com o aumentos dos níveis de água. Vai

funcionar? Não vai haver brotamento de água na cidade?

Esgotos em Altamira

O volume 11 – Diagnóstico da ADA e AID (físico) apresenta os estudos de remanso

efetuados especificamente para os igarapés Altamira, Ambé e Panelas (pags. 59 a 101).

Conforme mostrado nas tabelas apresentadas no EIA para cada um dos igarapés de Altamira,

os níveis d‟água e velocidades serão afetados com a formação do reservatório principal, em

relação a situação natural. Uma análise feita para o igarapé Altamira, que tem sua bacia de

drenagem bastante ocupada e recebe esgoto “in natura”, além do lixo, mostra reduções de

velocidades para a metade do valor atual em condições de cheia no igarapé e velocidade

próxima de zero em condições de vazões menores.

Essas novas condições que serão criadas poderão propiciar o desenvolvimento do processo de

eutrofização, uma vez que os efluentes gerados na bacia e lançados sem tratamento nas águas

dos igarapés irão sofrer uma concentração pela resistência à circulação da água dos igarapés

bloqueados pelas águas do reservatório. O maior tempo de residência destas águas irá agravar

o cenário.

O estudo de qualidade de água deste EIA apresentado no volume 15 – ADA e AID (Biótico)

considerou especificamente a análise de colimetria de Escherichia coli como parâmetro de

avaliação da qualidade da água considerando que é um bom indicador de contaminação por

esgotos ou dejetos animais que são prejudiciais à saúde humana. Os maiores valores de

abundância desse parâmetro foram observados nos locais onde há maior influência das

atividades humana como nos igarapés Panelas e Altamira.

Com o aumento de nutrientes e do tempo de residência, as algas cianofíceas e as macrófitas

aquáticas serão favorecidas podendo aumentar muito suas populações, comprometendo a

biodiversidade aquática e os usos destes igarapés e poderão funcionar como importantes

regiões de contribuição destes organismos para o rio Xingu. Esse impacto foi avaliado no EIA

como de relevância alta e magnitude alta

Como medida prevista para esse impacto foi apresentado no EIA o Plano de Requalificação

Urbana- Programa de Intervenção em Altamira, apresentado no volume 33 – Planos,

Programas e Projetos (páginas. 310 a 325). Esse Programa propõe a implantação de um

sistema de coleta e tratamento de esgoto para a cidade. O detalhamento de projeto executivo

desse sistema de tratamento será objeto da próxima fase de licenciamento, no âmbito do

detalhamento do PBA.

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Surgência de água em Altamira

Foi apresentado no EIA o Plano de Requalificação Urbana - Programa de Intervenção em

Altamira, no volume 33 – Planos, Programas e Projetos (páginas. 310 a 325). Esse Programa

propõe a implantação de um sistema de coleta e tratamento de esgoto para a cidade. O

detalhamento de projeto executivo desse sistema de tratamento será objeto da próxima fase de

licenciamento, no âmbito do detalhamento do PBA e deverá apresentar as especificações para

que as obras a serem implantadas apresente bom desempenho, considerando necessariamente

as características locais geológico-geotécnicas e de nível d`água subterrânea. Por outro lado a

implantação das obras deverá seguir as especificações de projeto.

Em decorrência da elevação permanente dos níveis de água subterrânea nos aluviões de

Altamira, devido à implantação do reservatório do Xingu, estão previstas inundação,

surgências de água, perenização e formação de novas áreas úmidas e alagadas, sendo que os

locais prováveis de ocorrência desses processos estão apresentados no EIA. Avaliam-se que

as áreas de maior criticidade quanto a esses processos são aquelas onde o nível d`água do

aqüífero superficial constituído pelo aluvião (mostrado no mapa de isoprofundidade dos

níveis d`água da campanha de 17 a 19 de abril de 2007 do Capítulo Águas Subterrâneas –

Desenho 6365-EIA-DE-G91-022) situa-se a profundidades menores que 2,0 a 3,0 m, de

maneira geral, nas regiões urbanizadas da foz do igarapé Altamira e entre os igarapés

Altamira e Ambé. Outras áreas suscetíveis a esses processos são aquelas dos aluviões dos

igarapés Panelas e Trindade, mostrados nos diversos mapas temáticos do EIA.

Áreas atualmente sujeitas à inundação nas épocas de cheia serão inundadas permanentemente

com o reservatório. Incluem-se nessas condições as áreas junto ao reservatório cuja superfície

do terreno está abaixo do nível do reservatório e também as depressões que podem sofrer

inundação pela elevação do lençol freático e intersecção desse nível pela topografia do

terreno, tal como as lagoas junto aos poços 51 e 54, nas proximidades das ruas Independente e

Aldo Tora, indicados no mapa de profundidades dos níveis d`água obtidos na campanha de 17

a 19 de abril de 2007(Desenho 6365-EIA-DE-G91-022).

64. O Rima é bonito e colorido, mas não fala nada em risco hidrológico na Volta

Grande, após a barragem principal. Vai ter água para poços, a que profundidade,

com que qualidade?

Esse assunto foi contemplado na resposta apresentada à questão 17 – Volta Grande.

65. Porque um estudo com 20 mil páginas é divulgado com tão pouco tempo para

apreciação da sociedade? Não dá tempo de ler. Um dia antes da audiência ainda

foram divulgados volumes de complementação dos estudos antropológicos. Por que

tanta pressa se o processo é para ser sério?

O volume dos estudos antropológicos entregue em setembro às vésperas das Audiências

refere-se à População Indígena Urbana da Cidade de Altamira e Famílias Indígenas

Moradoras da Região da Volta Grande do Rio Xingu, cujo Termo de Referência, conforme

mencionado na página 12 de 230 do Painel de Especialistas, foi entregue pela FUNAI à

ELETROBRÁS apenas em 05/01/2009. Considera-se que o prazo de oito meses para a

realização dos trabalhos, que incluíram pesquisa censitária abrangente no município de

Altamira e na Volta Grande do Xingu, foi um prazo recorde para o grau de detalhamento e

precisão do documento.

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Ressalte-se ainda que estas famílias indígenas já haviam sido cadastradas na pesquisa sócio-

econômica do EIA e que estarão incluídas em todos os Planos, Programas e Projetos previstos

para as populações urbanas de Altamira e ribeirinha da Volta Grande do Xingu. Mesmo

assim, a FUNAI considerou necessária a realização de um estudo com estas famílias, que hoje

se encontram em uma situação sui generis, visto que, apesar de serem indígenas, não são

reconhecidos pela FUNAI e pela FUNASA como tal.

O trabalho realizado, inédito em estudos de EIA/Rima, procurou apontar Planos, Programas e

Projetos adicionais e específicos para esta população, como forma de melhor respeitar suas

peculiaridades culturais e sociais.

66. Uma das maiores riquezas naturais do rio Xingu são as tartarugas. É possível que

as praias desapareçam e as tartarugas sofram. Teriam que ser feitas praias

artificiais e talvez para sempre a areia tenha que ser adicionada. Qual o custo

disso? Os dados de sedimentologia são insuficientes (EIA volume AAR, pág. 72)

para dizer que o Tabuleiro do Embaubal possa ser preservado.

A questão dos tabuleiros das tartarugas, na ria do Xingu, está bem discutida no diagnóstico do

EIA (Volume 16 – Fauna Aquática, Diagnóstico Quelônios, Página 138. Esse diagnóstico

mostra que os problemas com a tartaruga já vem ocorrendo nos últimos anos, em função de

eventos de repiquete com a súbita subida do rio no pico da estiagem e durante o período

reprodutivo das tartarugas-da-amazônia.

Os estudos de sedimentos indicaram que em vazões menores, com cerca de 1000 m3/s, a

região dos tabuleiros também sofre influência da maré de jusante. Além disso, a grande

pressão antrópica para a coleta de ovos e adultos que atualmente ocorre nos tabuleiros,

prejudica o sucesso reprodutivo desta espécie. Há dificuldade de fiscalização pelo órgão

ambiental por ser uma área muito ampla. Tais fatos associados remetem, sem considerar o

empreendimento, à necessidade urgente de implantação de ações de manejo, conservação

destes tabuleiros, bem como o controle da pressão antrópica sobre as tartarugas. Sendo assim,

o EIA avaliou, com base no diagnóstico e na situação atual dos sítios reprodutivos, bem como

nos resultados dos estudos de sedimentos os impactos e ações que serão potencializadas com

a implantação do empreendimento.

Ainda, o modelo matemático feito para análise da qualidade da água, para o reservatório dos

canais demonstra haverá pouca ou nenhuma influência numa distância de 60 km do local de

restituição de vazão, onde estão os tabuleiros das tartarugas. Este impacto foi descrito sob o

seguinte título “Perturbações Comportamentais nas Populações de Tartarugas-da-Amazônia

pela Intensificação do Fluxo de Embarcações”, cuja detalhe da descrição e avaliação pode ser

observado no Volume 30 – Avaliação de Impactos – Parte 2, página 212. Além disso, há um

projeto específico de conservação e proteção desses tabuleiros, contido no Volume 33 –

Projeto de Monitoramento e Manejo de Quelônios e Crocodilianos, contido em Planos,

Programas e Projetos. Quanto ao dimensionamento dos custos de ações de manejo que serão

previstas nos programas ambientais, estes deverão ser detalhados no âmbito do Projeto Básico

Ambiental – PBA, o qual é desenvolvido em outra etapa do licenciamento ambiental, isto é,

para a solicitação da licença de instalação, após a obtenção da LP e respectivas

condicionantes.

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67. Não se sabe bem qual o custo financeiro do AHE de Belo Monte, mas se sabe que

oscila na casa de dezenas de bilhões. Também o custo ambiental, se fosse

transformado em dinheiro, serão outras dezenas de bilhões. Apesar disso, o

governo está seriamente empenhado na sua construção. Ou seja, parece que a

energia elétrica é o bem mais valioso a ser extraído do Xingu e isso a qualquer

preço. Dependente ou mesmo independente de seu custo, é preciso saber, para

quem ou para que esta energia está sendo produzida. Informação sobre isso é um

direito do cidadão (sobretudo daquele que vive na região) e um dever do governo

democrático. O que o governo tem a dizer sobre isso?

Quando implantado, o Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte irá compor o parque gerador

de energia elétrica brasileiro e a energia gerada pelo empreendimento será interligada à rede

básica de transmissão. Portanto, o AHE Belo Monte fará parte do Sistema Interligado

Nacional podendo suprir de energia elétrica as demandas de grande parte do território

brasileiro, do Amapá ao Rio Grande do Sul, de acordo com o despacho de carga realizado

pelo Operador Nacional do Sistema – ONS. Cabe ressaltar que a demanda de energia elétrica

paraense está contemplada nos planos setoriais de atendimento.

68. Quando e como serão realizadas as oitivas indígenas?

Em relação à oitiva dos índios, o Supremo Tribunal Federal, em decisão proferida pela

Ministra Ellen Gracie, em 16.03.2007, nos autos da Suspensão de Liminar nº 125, determinou

que se deve “permitir ao IBAMA que proceda à oitiva das comunidades indígenas

interessadas.”

Sendo assim, em consonância com o posicionamento do STF acerca da correta interpretação a

ser dada ao artigo 231, §3º, da Constituição Federal, e ao Decreto Legislativo federal 788 de

2005, e seguindo o procedimento de audiência pública, previsto nos artigos 32 a 35 da Lei

Federal 9.784/99 e na Resolução CONAMA 09/87, tem-se que as audiências públicas

conduzidas dos dias 10 a 15 de setembro de 2009 devem ser consideradas o momento em que

o IBAMA proporcionou a oitiva das comunidades afetadas pelo projeto do AHE Belo Monte.