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Análise e classificação de solicitações de assistência técnica em empreendimentos residenciais verticais pelo método FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) Julho/2019 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019 Análise e classificação de solicitações de assistência técnica em empreendimentos residenciais verticais pelo método FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) Rodrigo Ribeiro Prudente [email protected] MBA Gerenciamento de Obras, Tecnologia e Qualidade da Construção Instituto de Pós-Graduação IPOG Campo Grande/MS, 11 de outubro de 2018 Resumo Este artigo tem como objetivo apresentar o método FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) como ferramenta na classificação e tomadas de decisões baseados nas aberturas de chamado de assistência técnica em um empreendimento residencial vertical. Com a publicação da nova Norma de Desempenho, ABNT NBR 15.575, divulgada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em 2013, elevou o nível do desempenho mínimo dos sistemas que compõe as edificações habitacionais a fim de atender as exigências dos usuários. A abertura de chamados para assistência técnica tem uma incumbência intrínseca muito importante, que é de retroalimentar toda a cadeira produtiva de uma incorporadora e construtora. A classificação e padronização desses chamados auxiliam na identificação da causa raiz das manifestações patológicas que surgem. Com o método FMEA as empresas do setor poderão eleger materiais com melhor custo benefício, construir de forma mais consciente e entregar um produto com desempenho satisfatório para o usuário. Palavras-chave: FMEA. Assistência técnica. Desempenho das edificações. 1. Introdução A atual concorrência no mercado da construção civil, assim como a mudança nos padrões de exigência apresentada pelos consumidores com relação aos imóveis adquiridos, são fatos que estão obrigando as construtoras a aprimorarem os seus processos gerenciais para garantir cada vez mais um preço competitivo do seu produto e sua existência no mercado. A busca contínua pela qualidade e desempenho dos produtos e dos processos gerenciais de um departamento de pós-ocupação é importante, pois além de garantir uma maior satisfação dos clientes, realimenta os métodos construtivos com informações estratégicas que podem reduzir a ocorrência de manifestações patológicas nos próximos empreendimentos da empresa. Quando as manifestações patológicas surgem dentro do prazo de garantia contratual oferecido pela construtora, o custo do reparo é suportado por ela caso verificado sua responsabilidade. Os problemas podem surgir de diversas formas e é difícil prever onde

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Análise e classificação de solicitações de assistência técnica em empreendimentos

residenciais verticais pelo método FMEA (Failure Mode and Effect Analysis)

Julho/2019

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019

Análise e classificação de solicitações de assistência técnica em

empreendimentos residenciais verticais pelo método FMEA

(Failure Mode and Effect Analysis)

Rodrigo Ribeiro Prudente – [email protected]

MBA Gerenciamento de Obras, Tecnologia e Qualidade da Construção

Instituto de Pós-Graduação – IPOG

Campo Grande/MS, 11 de outubro de 2018

Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar o método FMEA (Failure Mode and Effect

Analysis) como ferramenta na classificação e tomadas de decisões baseados nas aberturas

de chamado de assistência técnica em um empreendimento residencial vertical. Com a

publicação da nova Norma de Desempenho, ABNT NBR 15.575, divulgada pela

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em 2013, elevou o nível do

desempenho mínimo dos sistemas que compõe as edificações habitacionais a fim de

atender as exigências dos usuários. A abertura de chamados para assistência técnica tem

uma incumbência intrínseca muito importante, que é de retroalimentar toda a cadeira

produtiva de uma incorporadora e construtora. A classificação e padronização desses

chamados auxiliam na identificação da causa raiz das manifestações patológicas que

surgem. Com o método FMEA as empresas do setor poderão eleger materiais com melhor

custo benefício, construir de forma mais consciente e entregar um produto com

desempenho satisfatório para o usuário.

Palavras-chave: FMEA. Assistência técnica. Desempenho das edificações.

1. Introdução

A atual concorrência no mercado da construção civil, assim como a mudança nos padrões

de exigência apresentada pelos consumidores com relação aos imóveis adquiridos, são

fatos que estão obrigando as construtoras a aprimorarem os seus processos gerenciais para

garantir cada vez mais um preço competitivo do seu produto e sua existência no mercado.

A busca contínua pela qualidade e desempenho dos produtos e dos processos gerenciais

de um departamento de pós-ocupação é importante, pois além de garantir uma maior

satisfação dos clientes, realimenta os métodos construtivos com informações estratégicas

que podem reduzir a ocorrência de manifestações patológicas nos próximos

empreendimentos da empresa.

Quando as manifestações patológicas surgem dentro do prazo de garantia contratual

oferecido pela construtora, o custo do reparo é suportado por ela caso verificado sua

responsabilidade. Os problemas podem surgir de diversas formas e é difícil prever onde

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irá decorrer. Portanto é um desafio muito grande para as construtoras e incorporadoras

estruturar um setor de pós-ocupação para atender essa demanda.

Por este motivo a norma de desempenho NBR15575/2013 entrou em vigor com o objetivo

de estabelecer parâmetros objetivos e quantitativos para melhorar a qualidade das

habitações, constituindo assim um marco tecnológico e de modernização da construção

brasileira.

Outra motivação que justifica o desenvolvimento da pesquisa neste assunto é que muitas

das decisões estratégicas são tomadas com base em informações e indicadores que não

retratam a realidade, camuflando a causa raiz da problemática resultando alocação errada

dos recursos financeiros e humanos e não garantindo a total recuperação que por muitas

vezes acaba reaparecendo em outro momento.

A NBR 5674/1999 de Manutenção Predial cita que há diversos estudos pelo mundo e em

diferentes tipos de edificações que indicam que os custos anuais referentes à operação e

manutenção das edificações variam de 1% a 2% do custo total da construção. É um

percentual aparentemente pequeno, porém muitas vezes o custo acumulado dispendido

com operação e manutenção durante a vida útil do empreendimento chega a ser superior

ao custo da construção. (ABNT, 1999, p. 2)

O Sinduscon de São Paulo realizou uma pesquisa em 2002 e verificou que as construtoras

chegam a gastar 3,5% do valor total do empreendimento para a realização de manutenções

no período de garantia, sendo que a meta idealizada por elas é de 0,5%. (CONSOLI, 2006,

p. 25).

Na desaceleração do setor da construção civil, final do ano de 2017, o mercado recebeu

vários empreendimentos residenciais, comerciais, mistos com uma elevada taxa de

surgimento de problemas. Com isso, podemos observar que seus respectivos

planejamentos em maioria não foram cumpridos conforme previsto, sempre tendo uma

variação significativa no atraso.

Os principais motivos são: alta rotatividade de mão de obra, planejamento sem índices de

produtividade, equipes de obras pequenas, falta de aplicação das ferramentas gerenciais,

variação da capacidade produtiva, estabelecimento de metas de produção fora da

capacidade de realização, qualificação de mestres de obras e encarregados.

Desta forma, o foco em um planejamento sólido vem sendo cada vez mais a intenção dos

profissionais de hoje em dia, tendo como benefícios vários aspectos, obras entregues

dentro do prazo, menor custo e alta qualidade. A construção civil para atingir seus

resultados com êxito, depende da qualificação de todos os envolvidos, mas ultimamente

o grande causador dessa falha é o planejamento mal elaborado.

2. Objetivo

Elaborar um método de análise baseado nos chamados de assistência técnica utilizando a

metodologia do FMEA (Failure Mode and Effect Analysis).

3. Desenvolvimento

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3.1. Conceito e Histórico

As Normas Brasileiras que abrangem os serviços de manutenção de edificações ressaltam

sua importância e que, porém, o fator cultural vem demonstrando uma grande barreira

nas empresas brasileiras. Segundo a NBR 5674 (ABNT, 1999) manutenção de edificação

é um conjunto de procedimentos a serem realizados almejando a conservação ou

recuperação da capacidade funcional da edificação e de suas partes constituintes, visando

satisfazer as necessidades e segurança dos usuários.

As práticas de manutenção em equipamentos tiveram início com a revolução industrial,

no século XIX, com a mecanização da indústria, mas apenas referente a serviços de

limpeza, lubrificação e reparos. A modernização das indústrias durante a Segunda Guerra

Mundial fez com que a confiabilidade e disponibilidade dos equipamentos ganhassem

importância (LIMA; CASTILHO, 2006).

A NBR 5462 (ABNT, 1994) define que as atividades de manutenção devem ser uma

combinação entre ações técnicas e administrativas, incluindo a supervisão,

proporcionando a manutenção ou melhoria da capacidade da edificação em desempenhar

duas funções.

Já a NBR 14037 (ABNT, 2011) referente ao manual de operação, uso e manutenção das

edificações define manutenção como sendo um conjunto de atividades que visam à

conservação e recuperação da capacidade funcional da edificação e de suas partes,

atendendo as necessidades de segurança dos usuários.

Dardengo (2010) enfatiza que a manutenção predial pode ser definida como sendo o

controle de várias atividades para manter uma edificação em seu estado de construção

original, preservando sua capacidade de uso e, além disso, proporcionar adequação a

novas solicitações dos usuários quando for necessário.

Diversos autores consideram um patamar mínimo de desempenho abaixo do qual o

edifício não mais cumprirá de forma satisfatória as suas funções, com isso deve-se evitar

que a edificação tenha uma deterioração natural que provoque uma queda suficiente que

atinja tal nível, conforme mostrado na Figura 01.

As manutenções preventivas têm o objetivo de elevar esse patamar de desempenho,

mesmo considerando quedas residuais, desta forma evita-se chegar ao patamar mínimo

exigido.

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Figura 01 – Expressão gráfica da queda de desempenho natural de uma edificação no tempo

(LICHTENSTEIN, 1986)

.

Além disso, os problemas patológicos são evolutivos e tendem a se agravar com o passar

do tempo e gerar novos problemas associados ao inicial (TAGUCHI, 2010).

Sitter (1984) enfatiza, adiar uma intervenção significa aumentar os custos diretos em

progressão geométrica de razão cinco. A Figura 02 caracteriza a Lei de Sitter, conhecida

também como Lei de Evolução de Custos.

Figura 02 – Lei de Sitter (1984), Lei de evolução de custos da manutenção

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No gráfico da Figura 02 é possível observar o aumento exponencial do custo de

intervenção em relação ao tempo de tomada de decisão para a intervenção no problema,

sendo que as intervenções na fase de projeto possuem custo 1, intervenções na fase de

execução possuem custo 5 vezes superior ao custo da fase de projetos, intervenções na

fase preventiva acarretam custos 25 vezes ao custo da fase de projetos e intervenções na

fase corretiva acarretam custos 125 vezes ao custo da fase de projetos, essa é a famosa

“Lei dos cincos”.

3.2. Departamento de Assistência Técnica

Na atual conjuntura, os consumidores estão cada vez mais exigentes, as construtoras para

sobreviverem nesse mercado se veem obrigadas a oferecer produtos com menor custo,

por causa da concorrência, e produtos cada vez mais diversificados prezando a qualidade

e o desempenho.

As novas tecnologias cada vez mais empregadas pelas construtoras auxiliam nessa busca

pela qualificação dos empreendimentos, reduzindo desperdícios, racionalizando os

processos construtivos, aumentando a produtividade, rastreando as manifestações

patológicas e aplicando gestão integrada dos sistemas (RESENDE; MELHADO;

MEDEIROS, 2002).

Os dados coletados durante a assistência técnica são de extremo valor, pois subsidiam o

processo de retroalimentação do sistema produtivo, uma vez que essas informações são

utilizadas para a busca da melhoria contínua do processo. Com a rastreabilidade dos

processos é possível adotar ações preventivas, visando à eliminação ou minimização dos

problemas detectados, podendo ser feita por meio da elaboração de novas especificações

de projeto e materiais, novos procedimentos de execução de serviços, novas metas de

qualidade ou aperfeiçoamento de pessoal (JOBIM, 1997; SOUZA, 1997).

Souza (1997) e Ramos e Filho (2007) mostram em suas pesquisas que uma inspeção

detalhada realizada pelos profissionais do departamento de assistência técnica antes da

entrega do empreendimento ao cliente, seguindo um check lists dos itens a serem

inspecionados, garantem maior satisfação ao cliente externo no momento da entrega e

diminuem consequentemente o número de solicitações de assistência técnica durante a

vida útil do empreendimento.

Em paralelo ao recebimento da unidade outros documentos também deverão ser entregues

ao cliente, como por exemplo, o Manual do Proprietário que visa esclarecer possíveis

dúvidas dos clientes de forma fácil e clara durante a vida útil do empreendimento. Este

tipo de manual é cada vez mais utilizado e cada vez mais importante para o bom

desempenho da edificação, pois nele é descrito de forma clara toda edificação, instruções

e forma de situações de emergência, garantias da construtora, formas e períodos de

inspeções preventivas, discriminação dos materiais empregados, formas de uso e

operação dos sistemas (RESENDE; MELHADO; MEDEIROS, 2002).

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O acompanhamento pós-ocupação do empreendimento relativo à assistência técnica deve

ser realizado seguindo procedimentos padronizados ou etapas definidas como: a entrega

do edifício ao cliente propriamente dita, a solicitação do cliente de algum reparo, a análise

da referida solicitação, a realização do referido serviço, a inclusão dos custos relacionados

ao atendimento, as ações preventivas e o levantamento da satisfação dos clientes

(RESENDE; MELHADO; MEDEIROS, 2002).

É importante ressaltar também que mediante a execução dos serviços de assistência

técnica os custos não previstos podem ser analisados e agregados ao valor final do

empreendimento (RAMOS; FILHO, 2007).

A transformação no setor da construção civil foi além do volume em quantidade de

empreendimentos, houve também uma mudança em relação à tipologia das construções,

que passaram de pequenas e médias construções para processos em grande escala.

3.3. Manifestações Patológicas

A manifestação patológica nas edificações é uma ciência que estuda de uma forma global

as origens, as causas, mecanismos de ocorrência, manifestações e consequências da fase

em que o edifício ou suas partes têm seu comportamento ou desempenho abaixo do limite

pré-estabelecido segundo Lichtenstein (1986) e Antoniazzi (2008). Por isso se considera

que as manifestações patológicas podem ter origens em qualquer fase ou etapa construtiva

de uma edificação, onde as mesmas podem ser atribuídas a um conjunto de fatores e não

somente a uma causa ou etapa isolada (RODRIGUES, 2008).

Com a evolução da civilização e a inovação tecnológica houve um crescimento dos riscos

oferecidos pelas construções e consequentemente uma maior preocupação referente às

manifestações patológicas nas construções não apenas relacionadas ao colapso da

estrutura, mas sim, por todas as manifestações construtivas que geram desconforto ao

usuário de alguma forma, podendo ser visual, funcional ou outra (LICHTENSTEIN,

1986, ANTONIAZZI, 2008).

3.3.1. Falhas de Projetos

A fase de projeto possui várias outras etapas que são o estudo preliminar, anteprojeto,

projeto legal, projeto básico e o projeto executivo. Desta forma as falhas encontradas

relacionadas à fase de projeto podem estar em qualquer uma destas etapas, mas

normalmente as maiores incidências de falhas são encontradas na etapa do projeto

executivo, sendo que a gravidade na correção técnica ou econômica do problema é cada

vez maior, quanto mais tarde ocorrer no cronograma do projeto (LICHTENSTEIN, 1986,

ANTONIAZZI, 2008).

Araújo (2004) e posteriormente Salermo (2005) em seus estudos específicos sobre a

grande incidência de manifestações patológicas em sistemas prediais hidráulicos e

sanitários ressaltam que muitos problemas que diminuem a vida útil de uma edificação

podem ser relacionados com a grande incidência de improvisação, tanto na fase de projeto

quanto na fase de execução e uso.

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Dentre as possíveis falhas que podem ser decorrentes da fase de projeto (LIMA, 2005,

ANTONIAZZI, 2008) é possível citar:

• Projetos mal elaborados e/ou incompletos;

• Baixa qualidade dos materiais especificados;

• Materiais que sejam de difícil manutenção sem detalhamento;

• Falta de detalhes construtivos como, por exemplo, juntas de dilatação;

• Falta de projeto As Built com as modificações que existiram no decorrer da obra;

• Erros de compatibilidade entre projetos gerando dúvidas e podendo acarretar erros

graves na hora da execução;

• Presença de informações erradas ou insuficientes;

• Cargas ou tensões não consideradas nos cálculos estruturais, entre outras.

3.3.2. Falhas relacionadas aos insumos

Os procedimentos de conferência dos materiais no recebimento dos mesmos no canteiro

de obras e sua estocagem devem ser feitos seguindo as normas técnicas existentes para

que as manifestações patológicas sejam evitadas desde o início do processo construtivo.

A indústria de fornecedores de matéria prima para a construção civil por possuir maior

poder de negociação perante a indústria da construção civil devido ao seu maior volume,

faz com que essa indústria possa condicionar a qualidade de seus produtos interferindo

de forma considerável no sistema construtivo e consequentemente no produto final que é

o empreendimento.

Taguchi (2010) enfatiza a importância da aquisição de materiais na prevenção de

manifestações patológicas construtivas, pois a escolha do material a ser empregado na

obra muitas vezes está sendo feita considerando apenas o preço e não a qualidade do

produto, deixando de lado fatores como durabilidade.

Araújo (2004) e Salermo (2005) ressaltam que um grande problema encontrado nas obras

é a utilização de materiais de baixa qualidade, causando problemas e gerando

manifestações patológicas que serão detectadas na fase de uso e ocupação do

empreendimento.

Dessa forma é necessário que o controle de recebimento e o controle tecnológico dos

materiais sejam fiscalizados de forma intensa, juntamente com a retroalimentação das

informações à cadeia de suprimentos, na busca pela melhoria contínua dos produtos,

agregando valor ao produto final.

O gerenciamento da cadeia de suprimentos tem como objetivos melhorar o planejamento,

o controle eficiente do fluxo de materiais e estoque, podendo trazer ao processo

construtivo vários benefícios dentre eles: redução do tempo de ciclo do processo, redução

dos custos com aquisição de material, aumento da produtividade, redução do custo

logístico, diminuição do tempo improdutivo, entre outros (FONTANINI; PICHI, 2007).

3.3.3. Falhas relacionadas a execução

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O setor da construção civil não se assimila com as outras indústrias que utilizam

procedimentos repetitivos para vários produtos. Cada obra pode ser considerada diferente,

mesmo possuindo projetos semelhantes, uma vez que o espaço físico muda, o meio

externo não é o mesmo, a exposição e tipologia do terreno não são os mesmos, ou seja, a

maioria dos fatores varia.

As manifestações patológicas detectadas em empreendimentos em muitos casos têm

origem em algum erro ou falha cometida nas fases do processo da construção civil, sendo

a fase de execução uma das fases críticas do processo, pois envolvem diversos setores

produtivos da construção civil (ANTUNES, 2011).

A grande rotatividade, a falta e a desqualificação da mão de obra nos canteiros também

são fatores que dificultam a execução e o controle de qualidade dos serviços. Aliado a

esses fatores estão a grande carga horária de trabalho e a baixa remuneração dos

colaboradores causando a desmotivação dos mesmos e consequentemente a baixa

produtividade e a execução errada dos serviços, proporcionando o surgimento de falhas

e manifestações futuras nos empreendimentos (LICHTENSTEIN, 1986, ANTONIAZZI,

2008).

3.3.4. Falhas relacionadas ao uso

Ramos e Filho (2007) relatam que falhas nas construções com origem na etapa de

utilização dos empreendimentos, segundo estatísticas internacionais, estão em torno de 8

a 10%. Como forma de combater este problema, as empresas estão cada vez mais se

adequando tanto em relação às leis vigentes quanto para a manutenção das mesmas no

cenário competitivo do mercado.

Estão sendo desenvolvidos e entregues aos clientes Manuais de Operação, Uso e

Manutenção das Edificações, Manuais do Usuário contendo de forma detalhada todas as

plantas do empreendimento e todas as informações necessárias para o seu melhor

aproveitamento e uso, sendo também uma forma criada pelas empresas em evitar que

manifestações patológicas provenientes do mau uso da edificação sejam de sua

responsabilidade (SANTOS, 2003).

Araújo (2004) e Salermo (2005) ressaltam que a falta de uma política de manutenção dos

empreendimentos é um dos fatores que contribui para o surgimento de manifestações

patológicas.

Os principais serviços relacionados à manutenção são: a reparação, remodelação,

renovação, inspeção dos sistemas, limpeza e reabilitação, e que se realizados de forma

frequente e planejada podem, além de melhorar o desempenho e a vida útil das

edificações, trazer benefícios como a redução dos custos com reparos e substituição e

uma economia associada à não interrupção de uso da edificação causada pela falha de

algum elemento.

4. Métodos dos modos de análise de falhas

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residenciais verticais pelo método FMEA (Failure Mode and Effect Analysis)

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Dentre os diversos métodos gerenciais utilizados para a detecção de modos de falhas dos

sistemas na busca pela melhoria contínua dos processos, o FMEA (Failure Mode and

Effect Analysis) e o QFD (Quality Function Deployment) obtiveram grande

reconhecimento devido ao grande sucesso alcançado nas implantações de métodos

gerenciais pautados na qualidade e planejamento estratégico (FERNANDES;

REBELATO, 2006).

O QFD consiste no desdobramento do planejamento da qualidade atendendo as

necessidades dos clientes em requisitos do produto e processos.

O Método FMEA trata da análise dos modos de falhas ligado às necessidades específicas

em relação ao sistema, projeto ou processo (BAHRAMI, BAZZAZ, SAJJADI, 2012).

O Método de Plano de Controle vem sendo substituído pelas medidas de detecção de

falhas abrangendo as informações do projeto. Já os Métodos de Inspeção, Auditoria e

CEP são a principal fonte de coleta de dados em relação ao desempenho de processos,

nas quais é possível tomar decisões que visam atender aos requisitos de projeto.

Neste trabalho vamos abordar sobre o método FMEA com o objetivo de conseguir

identificar os modos de falhas dos sistemas com maiores incidências de solicitações de

assistências técnicas, buscando uma melhor compreensão das manifestações patológicas

que afetam os empreendimentos residenciais.

5. Histórico do FMEA

Com a evolução das manutenções, cada vez mais preventivas visando à confiabilidade

dos sistemas durante sua utilização, surge a necessidade de entender melhor as falhas,

para eliminar ou minimizar seus efeitos. Nesse contexto surgem algumas ferramentas para

auxiliar as organizações no alcance da melhoria contínua de seus processos.

Dentre essas ferramentas é possível citar o FMEA (Failure Mode and Effect Analysis)

que corresponde a uma metodologia de análise do modo e efeito da falha que começou a

ser desenvolvida em 1949, pelo exército americano com o objetivo de determinar as

causas e efeitos das ocorrências de falhas em sistemas e equipamentos e,

consequentemente, definirem ações que reduzam ou eliminem o risco associado a essas

falhas. Mas sua primeira aplicação prática se deu, em 1963, no projeto APOLLO da

agência norte-americana NASA (National Aeronautics and Space Administration)

(FERNANDES; REBELATO, 2006, AGUIAR, 2007).

Segundo Aguiar (2007) o FMEA, na década de 80, ganha grande espaço na engenharia

de produção, atendendo as indústrias aeroespaciais e automobilísticas. Em 1988, a Ford

Motor Company publica um manual de instruções de FMEA separando a metodologia

para dois tipos diferentes de análise, para projeto e para processo.

Já em 1994, a General Motors Corporation; Chrysler Corporation e Ford Motor Company

desenvolveram a norma QS-9000 que era constituída de um programa avançado de

planejamento da qualidade em projetos e processos (APQP) que também foi incorporada

ao FMEA, definindo critérios de pontuação para a avaliação das falhas detectadas.

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Atualmente as empresas automotivas seguem a norma ISO/TS 16949:2002 que tem seus

princípios na norma QS-9000.

Atualmente, conforme Laurenti (2010), a ferramenta FMEA está sendo aplicada em

vários setores economicamente distintos, como na área médica, química, petroquímica,

alimentícia, administrativa, contábil, entre outras.

5.1. Conceitos do FMEA

Segundo alguns autores, FMEA corresponde a uma metodologia que analisa cada modo

de falha de um sistema específico visando determinar as consequências ou os efeitos

destas falhas em outros sistemas, classificando assim cada modo de falha de acordo com

sua severidade, ocorrência e detecção e recomendando ações para eliminar ou minimizar

seus efeitos (PUENTE et al., 2002; RHEE; ISHII, 2003; AGUIAR, 2007; LAURENTI,

2010).

Fernandes (2005) e Aguiar (2007) salientam que o FMEA é um método analítico que

segue uma sequência lógica e sistemática, usada para detectar e eliminar falhas potenciais

encontradas em sistemas ou processos de fabricação.

Cassanelli et al. (2006) e Pereira (2008) afirmam que os melhores resultados são

conseguidos com a aplicação do FMEA preferencialmente de forma antecipada,

preventiva, dentro do processo de desenvolvimento do produto, visando à mitigação dos

modos de falhas potenciais adotando modos mais preventivos de controle.

O método FMEA busca identificar e quantificar os modos de falhas mais propícios de

levar risco ao cliente final. Fernandes (2005) cita os principais passos para se executar

um FMEA, sendo eles:

• Identificar os modos de falhas já conhecidos e os potenciais;

• Identificar os efeitos e a severidade de cada modo de falha identificado;

• Identificar as prováveis causas e probabilidade de ocorrências das falhas

identificadas;

• Identificar os meios de detecção das falhas;

• Avaliar o potencial risco de cada modo de falha e definir ações para eliminação

ou minimização de seus efeitos ao produto ou processo analisado.

Dentre os vários benefícios provenientes de uma correta aplicação do método FMEA é

possível citar: melhoria na qualidade, confiabilidade e segurança dos produtos e serviços;

contribuição para o aumento da satisfação do cliente final; redução de tempo e

desperdícios no desenvolvimento de um produto; estabelecimento de prioridades na

tomada de decisões; eliminação de etapas desnecessárias; padronização de execução de

serviços; identificação de erros e prevenção; construção de banco de dados para futuras

tomadas de decisões baseadas na experiência com atividades passadas, entre outros

(STAMATIS, 2005; MCDERMOTT; MIKULAK; BEAUREGARD, 2009).

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Análise e classificação de solicitações de assistência técnica em empreendimentos

residenciais verticais pelo método FMEA (Failure Mode and Effect Analysis)

Julho/2019

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019

Conforme autores pesquisados, a análise FMEA pode ser enquadrada em dois tipos

básicos: o FMEA de produto e o FMEA de processo.

Verificou-se que este método está mais difundido na indústria automobilística,

aeroespacial e eletrônica, mas que também pode ser utilizada na indústria da construção

civil em diferentes fases e níveis da empresa, como por exemplo, a fase de planejamento,

concepção de projeto, execução e pós-obra, visando à otimização e melhoria dos

processos (TOZZI, 2004; PEREIRA, 2008; MIGUÉIS, 2010).

Segundo Pereira (2004), Stamatis (2005), Fernandes (2005) e Laurenti (2010) o método

FMEA pode ser dividido em quatro tipos enquadrados de acordo com o momento de

aplicação no ciclo de desenvolvimento do produto, como será relatado a seguir. Fernandes

(2005) ainda relaciona as etapas de desenvolvimento do produto e os tipos de FMEAs

existentes, conforme pode ser observado na Figura 2.11.

• FMEA de Sistema: também conhecido como FMEA de Conceito, é utilizado para

avaliar falhas em sistemas e subsistemas no estágio de definição do conceito e projeto.

Busca identificar e selecionar o melhor sistema que atenda a necessidade do cliente final

e define procedimentos que identificam falhas potenciais que possam gerar risco ao

sistema na sua fase de uso (FERNANDES, 2005).

• FMEA de Produto: consiste em um método que avalia falhas potenciais em produtos

antes de sua liberação para a fabricação. Foca as falhas advindas da fase de projeto,

auxiliando na detecção das mesmas, testando e validando o produto, estabelecendo

prioridades e alterações no projeto para melhor atender o cliente final, reduzindo as falhas

e os riscos do produto (FERNANDES, 2005).

• FMEA de Processo: é utilizado na análise dos processos de montagem e fabricação antes

de sua liberação para sua produção em série. Segundo Fernandes (2005) além de analisar

os processos de montagem e fabricação do produto, o FMEA de Processo ainda define a

necessidade de alteração no processo, prioriza ações de melhoria contínua e auxilia na

execução do plano de controle do processo (FERNANDES, 2005).

• FMEA de Serviço: corresponde a análise de serviços antes que eles cheguem ao cliente.

Pode ser encaixado na execução de outros tipos de FMEA (Sistema, Produto e Processo),

pois foca na avaliação de modo de falhas dos serviços em relação à necessidade do cliente,

definindo alterações nos serviços e estabelecendo prioridades de intervenções nos

serviços na busca pela melhoria contínua dos serviços disponibilizados (FERNANDES,

2005). Na busca por melhor entender como a aplicação do FMEA pode ser realizada

buscou-se desenvolver junto às fontes da literatura um formulário que representasse a

análise do FMEA, a explicação dos campos constituintes da planilha e o fluxo de

atividades necessárias no decorrer da execução dos processos, conforme pode ser

observado na Tabela 2.3. Uma correta avaliação de riscos permite reduzir a probabilidade

de ocorrência das falhas e consequentemente a redução dos riscos, atuando assim

preventivamente visando à garantia de níveis de segurança mais elevados. A análise

FMEA deve ser feita de forma cíclica em todas as fases da obra, assumindo um papel

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preventivo na fase de projeto e um papel dinâmico na fase de execução das tarefas

(MIGUÉIS, 2010; BAHRAMI, BAZZ AZ, SAJJADI, 2012).

5.2. FMEA na construção civil

Visando tornar a pesquisa mais genuína, a análise dos chamados de assistências técnicas

buscou-se padronizar os parâmetros do FMEA. Foram propostas as escalas de valoração

identificando a Severidade do modo de falhas “S”, o Custo necessário para corrigir a falha

“C” e a complexidade de Intervenção da falha “I”, que para conseguir realizar a análise

de criticidade das manifestações patológicas detectadas foi proposto o cálculo dos

Coeficientes de Prioridade de Risco.

5.2.1. Severidade

A valoração da severidade visa avaliar o impacto causado pelo efeito do modo de falha

sobre o funcionamento do dispositivo que está sendo analisado. Normalmente é atribuída

uma escala de 1 a 10, em que a classificação de 1 corresponde a uma gravidade

imperceptível e a classificação de 10 refere-se à pior possibilidade ao nível de

consequências, em que a segurança do usuário pode estar em risco (PEREIRA, 2008).

Para se ter uma maior uniformidade na atribuição da valoração de “S”, optou-se por

atribuir uma escala menor de 1 a 4, conforme pode ser observado na Tabela 01.

Tabela 01 – Índices de Severidade (Adaptado de PEREIRA, 2008)

Como se trata de assistências técnicas em que o usuário realizou uma solicitação de

atendimento de uma manifestação patológica detectada, não foi considerado o índice

mínimo, uma vez que o índice é utilizado quando o usuário mal percebe a ocorrência da

falha.

5.2.2. Custo

Buscou-se respaldar os custos de manutenção predial em edificações na literatura. Desta

forma, Marques de Jesus (2008) faz um estudo de reabilitação em cinco edifícios, na

cidade de São Paulo, levantando os custos globais necessários para reabilitar os edifícios

estudados.

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Vazquez e Santos (2010), em seus estudos, levantaram os custos anuais com os serviços

de assistência técnica necessários para o tratamento das patologias separando os custos

por subsistemas de construção. Em relação às intervenções realizadas de forma pontual,

como é o caso das intervenções devido às solicitações de assistências técnicas, ainda não

foram encontrados estudos referentes aos custos necessários para reestabelecer a

funcionalidade das edificações.

Por ainda não haver parâmetros bem definidos em relação ao custo, foi proposta uma

forma de quantificar este critério. A valoração do custo que cada intervenção gerou busca

relacionar os gastos necessários para correções futuras em empreendimentos, visando

apontar os sistemas construtivos com maiores custos de intervenção, gerando assim uma

mudança na gestão de empreendimentos futuros em especial para esses serviços que estão

gerando maior custo no pós-obra.

Foi proposta uma escala de 1 a 4 com faixas de valores em que cada intervenção pode ser

enquadrada, conforme Tabela 02, desta forma é possível levar em consideração a despesa

para correção de cada intervenção.

Esse critério deverá ser ajustado de região para região, pois os valores de mão de obra e

insumos variam conforme a edificação foi construída.

Tabela 02 – Índices de Custos

5.2.3. Complexidade de Intervenção

Pedro, Vilhena e Paiva (2011) em seus estudos no desenvolvimento de uma metodologia

para avaliação da necessidade de reabilitação de edifícios propuseram uma análise

baseada na complexidade de intervenção dos problemas detectados. Neste estudo a

complexidade de intervenção se refere à reabilitação de edifícios e está enquadrada em

três escalas (simples, média e difícil). Desta forma realizou-se uma adaptação da

metodologia desenvolvida, por Pedro, Vilhena e Paiva (2011), visando melhor

enquadramento no que se estende às solicitações de assistências técnicas. Para manter a

uniformidade de valores a Complexidade de Intervenção “I” foi criada em uma escala

variando de 1 a 4, em que o 1 corresponde a uma intervenção com maior facilidade ou

pontual do sistema em questão, já o 4 corresponde a uma intervenção mais complicada

em que é necessário intervir em mais de um sistema para que a falha seja corrigida. Na

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Tabela 03 são indicados os atributos para cada índice valorado.

Tabela 03 – Índices de Complexidade e Intervenção (Adaptado de PEDRO; VILHENA; PAIVA, 2011)

5.2.4. Coeficiente de Prioridade de Risco

O coeficiente de prioridade de risco visualizando o grau de risco da manifestação

patológica identificada pode ser valorado por meio da multiplicação dos índices de

severidade, custo e complexidade de intervenção conforme a expressão 1.

Desta forma é possível atribuir faixas de prioridade de risco, conforme apresentado na

Tabela 04, para se realizar um melhor plano de intervenção para empreendimentos

futuros.

𝐶𝑃𝑅 = 𝑆 × 𝐶 × 𝐼

Onde:

CPR= Coeficiente de prioridade de risco;

S= Índice de severidade;

C= Índice de custo;

I= Índice de complexidade de intervenção.

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Tabela 04 - Escala de valoração da prioridade de risco e grau de urgência das intervenções (Adaptado de

PEREIRA, 2008)

6. Conclusão

O FMEA é mais utilizado nas indústrias seriadas visto que a repetição e a produção em

grande escala são predominantes. Para a construção civil, baseada na execução de

produtos únicos com características particulares existe uma dificuldade em adaptar os

modos de identificação de falhas, pois a cada obra existe um fator predominante diferente,

como região, cultura local, estruturação da empresa entre outros.

Um dos principais desafios dessa pesquisa foi a dificuldade de encontrar material

específico dos modos de falhas voltado para o setor da construção civil.

O objetivo geral do trabalho foi propor parâmetros para a aplicação do método FMEA

nas empresas do setor da construção civil. Para o aproveitamento máximo da ferramenta,

as empresas deverão ter algumas características importantes como, um departamento bem

estruturado de pós ocupação, um software integrado a todos os setores, procedimentos

internos bem definidos, corpo técnico robusto.

Fica a sugestão de realizar um estudo de caso acompanhando desde o ante-projeto até 01

(um) ano após entrega da obra, é importante registrar todas as reclamações mesmo

aquelas que não é de responsabilidade da construtora, desta forma a retroalimentação dos

setores será mais fidedigna para as tomadas de decisões.

Referências

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acesso em 12/07/2018.