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Anna Maa Marques Cintra Maria de Fátima Gonçalves Moreira Tálamo Marilda Lopes Ginez de Lara Nair Yumiko Kobashi Para entender as linguagens documentárias

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Anna Maria Marques Cintra

Maria de Fátima Gonçalves Moreira Tálamo

Marilda Lopes Ginez de Lara

Nair Yumiko Kobashi

Para entender as linguagens

documentárias

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Esta obra apresenta os aspectos fundamen­

tais das linguagens documentárias: sua nature­

za, sua estrutura e suas funções. Aborda, de ma­

neira especial, as questões lingüísticas e lógicas

que fundamentam sua elaboração. Incorpora,

nesta segunda edição, um novo item - a Intro­

dução - em que se ressaltam o caráter sistêmico

das linguagens documentárias e seus aspectos

culturais. Além disso, foi inteiramente revista,

de modo a eliminar imperfeições.

Cada vez mais as linguagens documentárias

vêem se mostrando como importantes ferramen­

tas de organização e distribuição de informação.

Elas já são hoje consideradas imprescindíveis

para agregar valor à informação especializada,

na medida em que, por seu intermédio, a tarefa

de organizar tematicamente a informação tor­

na-se mais consistente.

Mas além de seu caráter organizacional, as

linguagens documentárias viabilizam o compar­

tilhamento de informações produzidas por dife­

rentes instituições. Decorre daí o fato de os sis­

temas ou redes cooperativos de informação não

prescindirem de algum tipo de vocabulário con­

trolado para a constituição de seus dispositivos

informacionais, sejam eles de uso local ou

disponibilizados para públicos amplos, através

de redes eletrônicas.

A utilização crescente de linguagens docu­

mentárias baseia-se na evidência de que, sem

uma linguagem compartilhada, não é possível a

comunicação entre serviços de informação e seus

usuários. Em vista disso, as linguagens docu­

mentárias se oferecem como instrumentos po­

derosos de socialização da informação. E a in­

fom1ação, na medida em que está diretamente

relacionada ao conhecimento, tem papel deci­

sivo na mudança dos destinos da humanidade.

Espera-se que sua leitura contribua para apri­

morar a formação daqueles que já atuam ou

atuarão profissionalmente no vasto campo da or­

ganização e transferência da informação.

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Anna Maria Marques Cintra Maria de Fátima Gonçalves Moreira Tálamo

Marilda Lopes Ginez de Lara Nair Yumiko Kobashi

1PARA ENTENDER

AS

LINGUAGENS

DOCUMENTARIAS

2J edição revista e an1pliada

! editora polis

2002

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Copyright CD 2002 das autL)ras Capa: Ivone Cludzal 1/ustraçiio da capa: Ben Nicholson, Agosto de 1956 (Vaid'Orcia). Rcvi5,fo: N3.ir Yumiko Kobashi e Marcos Frederico Editoraç5.o eletrônica: Editora Pulis

Ficli,1 catalugr,ític;1

CI1'-:TR,\ .'\11,1 M,1ria t'l ;1[. Paril cnkmkr ns lingu;igc11s ducu­mrnt;íri;1s. 2cd r-cv. e ampl.. - 5:ill l',rnlo l'ulis, 2002.

ISBN 83-7228-00 12-X

1 Linguc1gcns ducurncnLíri;is. I. Título.

Direi tos rtscn·,1dos pcb EL)]TORA POLIS lTDA

CDD - 025.4 CDU - 025.4

Rua Car.1n1Lirll, 1196 - Sa(1dc - 04138-00:2 - Szio Pnulo SP Tcl.: ( 11 )5 :

""

Nt-7 6tl 7 e ( 11):275-7 5 tl6 - F,lX ( 11)l75- 75 8 6 e-mail: polis(éê cdi tom polis .com. \Jr

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O .scnticlo Ili/Oi 11w1rn llln:1 eFiclência.

Ed,,v:1rJ Lopes

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Sumário

Apresentação 9

Introdução 13

... � ..

1. Conhecimento, informação e linguagem 19

1.1 Conl1ecimcnto e informZJçiio 191 2 Linguagem: car.JclerísticZJs gcrZJis 26

2. Linguagens documentó.rias 3321 NZJtun-zZJ, especificicbde e fun\'Õcs 3.32 2 ConfigurZJçi'io d.Js linguagens documentárias 42

3. Sistem<.1 nocional 49

3.1 Rdüçõcs hierárquirns 55 3 .1. 1 Relaç,1o genérica 5 8 3 12 Rebçi'ío pürtitiva 61

3 2 Relações ni'ío-lmrárquicas ou seqi.lfnci.Jis 62

4. Relaçôes lingüísticas e docurnent,1ç,1o 6 7

4.1 PolisscmiZJ e ambigL1icbdc 704.2 Sinonímia 74

4.3 1-!iponírniJ 11

Bibliografia 8 7

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Apresentação

O homem vive entre os c.:1mpos scmiológicos No seu

cotidiano, c1minha de um p,1r<1 oulro, consciente ou incons­

cientemente. Enreda-se nas construções :1rquitetônic:1s, p:1s­

Si1 por escull ums (Zis vezes sem ver), ouve "sons" perdidos

de músicas ou de grilos, restos de conversi.1S - agressiv,1s ou

c:irinliosos. C1da um desses campos pelos quais ele transiL1

diari,1mentc tem seu código específico. E ele trans-ita nu Sêll­

lido primeiro: vüi através de (trans) um crnninho (ito) que

as gerações passadas conslruíram parn ele e que su,1 própria

condiçR.o de humano lhe pl:Tmi�e "receber" de v6rios mudos:

cm um dos pólos, não "percebendo" a cxlcnsZio do mundo

cm que vive; no oulro pólo, "pcrccbcm!o" tal cxtensZio, apro­

priando-se dele e mm!ificmdo-o, construindo novo mundo,

novos mundos. Re-conslruinclo-sc no faur.

l:sscs Ci1mpos scmiológicos, com seus cóLhgos próprios,

muilos deles nZio-vcrbnis, cntrd.:.1çil111-se e manifcst:1111, na

vcrcbde, n conc!içfü> da sociedade naquele momento históri­

co. Essa inter-rcbçiio cnlrc os c;_impos, essa "costura" é 1Ta­

liz,1da pelo código vcrbill, pelo signo verld, pclzi p,1bvra Ou

SCJ<L os cnmpos semiológicos -;iiu m,111ifcst:1�:ões sócio­

cul ur;ús de uma dacb sociedade. Emliorn com suas espe-

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cificidzidcs, eles revelam a cu]t ura cbquela sociedade, n;:iquc­

la et<1pa de desenvolvimento. E a culturn é lransmitidâ, pre­

dominantemente, peln palnvra Por isso, só a palavrZJ lem ..1

condiç5o de penetrar lodos eles, de "interpenetr;í-los".

Esse é um cios motivos porque se afirma a import5ncizi

da pzilavra Su.:i condiç:io dt." plasticidade permite-lhe ser o

suporte do conhecimento. Sem conhecimento, o homem per­

manece sempre muito próximo do pólo dos que não perce­

bem a exlens.'io do mundo em qllc vivem, cm que circulnm.

E aí está um dos aspectos d.:i import."lnci.:i di.l informaçéfo.

Nesse sentido, parece que a infonnaç5o cumpre papel de­

cisi1'0 na 111uclança lias clcst.irws da humanidade, uma Fez

que ela está clirctarnmtc li.gacía ao conhecimento e ao dc­

scm•olvirncnto de cada wna elas áreas elo sabcr,já que todo

co11/1ecirncnto começa por algum tipo ele i1forrnaçiio e se

constitui cm i11formaçc'io ( .. )E para que o conhecimento ela

sociec/J.de não se perca e possa ser compartilhado, ele é re­

gistrado num claclo suporte: l.ivm, imaw111, fulo, disco ele.

passanclo a se constituir num documento.

A informaç5.o n3o é \1111 e/ado. Ela se constrói no encon­

tro de duas din5rnic.:1s: .:i din5mica de quem "emite", di: quem

"rrnmci.:i" (o cnunci,Hlor) e a din.Rrnic.:1 de quem "recebe" o

cnunci.:ido (o enunciütáriLl). Eb ocorre sempri: num espaço

onde as posições de quem "fob" e de qllem "ouvi:" s,10

intcrcambiadas, num jogo de forças perm;rnente.

Aí começa a linguagem clocumcntária. Corno conseguir

que o conhecimento �1eumuléiJo niio se perca, que se lenha

acesso .:i rlc, de tal modo que 11.10 seja necessó.rio "reinvent.1r

a roda" é:1 rnda gernç5o? A memória coletiva, a tr,msmissão

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oral da cultura são aspectos fundament,lis, mas como, nas

nrcas científicas, fazer conhecer o conteúdo de aproximadn­

mC'nte 60.000 revistas científicas e cerca de um milh5o de

artigos individu,1is? Esses dados, citados neste livro, rcvebrn

;:i estimativa de 1960. Certamente a produçi'io cienlífica é mui­

to maior.

Ninguém ousaria pensar que é possível conhecer to(b �1

produçi'io de um;:i determinacb área cio so.ber. Mas é nccess.:í­

rio, pelo menos, ter acesso ;:i seus o.v;:inços e po.rlir deles 110.

construçJo do novo conhecimento. Eis aí, de novo, ;:i lingua­

gem documentária.

Os desafios s5o numerosos. Num mundo cm que, <10

(JllC parece, o homem "nJo diz", ,iprnns "é dito" pelas p,1la­

vr;is; em que se tem, prcdomini.mtfmente, "a voz do dono"

f n."io o homem como "dono da voz"; cm qne os discurSl)S

ele rnúscar.:i circulam corno mcrc.:idori.J.s de maior valor, como

trabalkir zi linguagem clocumentúria? Afinzil, el;i pressupõe,

por nm ];:ido, a irnportf1ncia da divulgaçJo cb i1'.form<1ção

p;:irn que o homem assuma sua própria voz; por outro lado,

ela pressupõe o sujeito que v;Ji "püssür" o conhecimento

cirntífico, cbborndo na linguagem polissfrnic1, para outra -

a linguagem d.ocumc11tciria.

A pal,1v1'i1 carreg.:i J. próticJ social cb sociedadf, enfrixc1 os

valores de um determin;:1do momento histórico. É sub-n'/ll fria

Atuél, sem que tenhamos consciência de seu papel. Este s10eito

ri11e v,1i "!rndm:ir" o texto científico p:.ira c1 linguagem c/ocu-

111cntiÍria rnrrcga consigo essa formaçJo. T<1mbérn o stijeito

que cbborou o texto científico. N;_1 condiçJo de Sl�jeito, cad.:i

um tcri.'í seu universo de v,1lorcs, que lhe foi tr,msmiticlo peL1

culturJ. Como cvit.:ir os desvios nessa lr<1duçã.o?

1J

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Como dizfm as autoras, de um sistema de relações que

se caracteriza pela virtualidude, a LN (Língua Nutural), usa­

da pelo sqjcito do texto cirntífico e pelo sujcilo que f"ar:i. a

··trnduçifo" (e ;1indt1 pelo sujeito que "receber,/' a informaç/io,

é bom não esquecer) 1x1ss;1-sf para um sistema de rebçõcs

11.10-virt uni - a LD (Lingu,1gem D0cumenl.íri;1J

i\1Ias, cliferc11tcmc11le ela LN, o sistema ele relações elas LNs

niio € virtuaL hem como seus mecanismos ele articulaçiio

s,10 cxtrcma111c11tc precários, cmfncc claCJucles existentes nas

línguas, cm geral. Hcn, ao cont drio, elementos dessa li11gua­

ge111 cspccí(ica são selecionados ele universos cletcnninilclos

e seu sistcnlél clt: rclilç6cs { construíâo, sendo inclispcns.ivd,

para ui i/iz;-í-la, a o:ist(;ncia de rt'gras cxplfcitns. Por esse

motirn, as LYs siio linguugrns CtJnstruíclas.

O mundo contemporâneo se dcsnucl.1 cm sua comple­

xidade: todos os povos lutam paru ter vez e voz no concerto

das n,1çõcs. A constituiç.10 de ptJ]os hcgcmônicos consolida­

se a partir uo conhecimento. [ ;1 linguagem clocwncntâria jogi..l

p;:_1pd decisivo nessa re.1lid,1dc.

O des,1fiu é grande. .r\s pi1bvrns, "suspensas no ,:ir", pu­

rarn su,1 da11(,:;:_1. i\ll;1s ,1s ,1Llll)réls desse livro, com cifr1ei,1 e

cornpdfnciJ, top,1111 o dcsnl"io. E vcnctm. t ler p;1rn crer.

12

Alaria 1lparccida Bacce,ga Profrssora Livrc-d,.>ernll'

da E,,:ol,1 dt: Con1trnic;1çÕêS ,, ,·\t'les d;:i llnivcrsid, de (k São Pm!lo

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Introducão )

Se no 1x1ss,Klo :1s diCcffntes form.1s de nomc,1r o �1rco-íris

entre povos, ou .:is rebções diversas entre língu:1s p:ir:1 dizer

"cu estou com dor de c1beç:1" eram percebidas como c,1sos par­

t iculn rcs ou idiotismos, hoje, sJo en t endi(lé1s como 111�1-

nifrsL:içõcs naturais, gera(bs pelas diferenças de signific.:.mll' e

de subst.ínci:1 semJnlic.1, um.1 vez que o signifiG1do compôe,

indíssociavelmenle, i.1 tmid.1de numa cfod,1 língu:1

Com ef'cito, enq11,mto n:1 nossa cultura distinguimos

sele cores no :1 rco-íris, entre os brct:'ios e os gauleses esse

11(1mcro cai pJr.:.1 quntro, por exemplo, 11;1 zon:1 onde distin­

guimos :1zul e verde, des idcnt ific:1111 ,1pcn:1s o ºgl:is" E, de

form:1 semelh:rnte ?1 noss.1 expressJo ''Eu tenho um:1 dor de

c:1bcç:1" correspondem cm fr:111cês ou em it:ili:1110 outr:1s rc-

1.:içõcs: "J'ai 111;:il ?! b U:te" ou "J'vli dt1olc il c:1po".

Ev1denlementc, cm muitos rnsos pode-se ter .1 ilus:'io de

mer:1 t r:rnsposiçiio de ncimcs ou t roc:1 de significan lcs, corno

cm "ciio: dog/chien". EntrcL111lo, a esses sig11ific.1 11tcs corres­

pondem signific,1dos rcbcion:1clos ,1 tocb expcriêncin cultu­

r:11 dos fol.:intes de c.:.1(1::! língun, o que Icv:ir:í, irrcmedi,1vcl-

111cnle, .1 signific1dos diferentes, portanto ,1 signos diferentes.

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Pode-se, pois, dizer que cada língua néltural - LN - ana­

lisa os dados da experiência segundo padrões que dependem

da trmliç.:'io culturéll e do momento social do povo que a fala.

Isso fziz com que possamos dizer que cada LN f, J. rigor, umé1

ilnálise da sociedade, cio homem particip.:i.nte de um grupo e

de suJ. cultura.

MJ.rtinet (1969) diz: "Urna línguu é um instrumento

de comunicação segundo o qual de modo vc1rióvel de comu­

nicbcle p,ffél comunicbcle se anc1lis3 3 experiênciJ. hurnAnél em

unidzides provi<lc1s de conteúdo semâ.nlico e de expressão

fônica e em unidades clistintiv.:is sucessivas".

Mils isso n3o permite dizer que rn1rnél. mesmn comuni­

cbde as cstruturéls lingüístic1s sc;jarn homogêneéls. focilmcntc

obscrvzt-sc que as pessoas de umi1 mesmél comunidade lin­

gt"ríslica nno falam do mesmo modo. Entretanto, desde que

essc1s difrrcn�·as scjc1m tais que n3o impeço.ma comunicação,

dizemos q11e estamos diante de uma mesma língua.

Seguramente, se fizéssemos uma an6.lise cios sons pro­

duzidos pelas pessoas de um grupo culturztlmente homogê­

neo e de mesma língu:1, encontrnrí.Jmos inúmeré.lS difercn­

ç.::is No entonto, essüs diferenças de timbre, de intcnsicL::ide,

de c1ltur:1 etc., n5o s3o, freqüentemente, sentidas nem pelo

emissor, nem pelo receptor, nem tampouco como impeditivas

de comunicnção.

/\ "posiç3o" rebtivc1 do signo explicitc1 a noção de valor.

O.llémdo dizemos que umc1 peça ele abbastro Vi1le x, dizemos

que cb pode ser trocada por um outro ol�jeto de nal ureza

diferente dinheiro, ouro ele. Portanto seu poder de trocc1 esló

condicionado a relações fixéls existcn tes entre ele e objetos dc1

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mesma natureza, como outras peçns de nlabastro, prove­

nientes de outros lugnres.

Na LN, o elemento ele troca é o signo lingüístico, que

associa um significante (imagem ncúslicJ.) a um significado

(conceito). Seu poder de troca esUí ligé!do ao falo de poder

servir para designilr urna realidade lingüística que lhe é es­

tranha (reillidnde atingic!J. por intermédio de seu significado,

mas que n3.o é seu significado). Méls esle poder significativo

que constitui o signo é eslrilamenle condicionéldo pelas re­

lações que o unem aos oulros signos da língua, de sorle que

n.10 se pode escolhê-lo sem o recolocilr numa rede de relações

intra-lingüísticas.

Com os limites próprios de umél linguagem construída,

as linguagens clocumenUirias � LDs � se valem de quase to­

dos os conceitos apresentados para a LN, constituem sisternns

onde as unicb.des se organizam cm rel,1ç·õcs de dependência.

No entanto, n3.o se pode dizer que s�jil.m signos, urnn

vez que faltürn a suas unidades caraclerísticüs bi\sicas ele sig­

no: significante e significado articulados segundo pmlrões

sócio-culturais com clisponibilidaclcs virtuais de significaç3.o.

Também n.'io dependem nem da lradiç3.o cultural, nem

do momento social e sim de convenções cstélbclccidas no cem­

junto do próprio sistema que é, por isso, est:ílico e homogêneo.

N3.o se processa com essas Iinguügens uma cornunicél­

ção no sentido estrilo. Processa-se, antes, urna decodificação

purél e simples, à rn,meira de códigos csUílicos.

Ivlas, a utilização de unidades retiradas da LN, dá às LDs

um carMer parlicubr que as lorna, de certa forma, diferen­

tes dos sistemos esltilicos. Na sua utilizaçôo h;:í, como que

uma contnrninüção da mobilidade da LN, passnda via esco-

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lbzis lexicais que se tr<1nsform<1m cm unidzidcs clocu­

mcntárié.ls. Assim, JS LDs n5o se livrarn completamente de

interferências culturais que acahnm por exigir um trabalho

qu<'.1se permanente de atu,1lizaçiio.

O c.1rátcr sistémico fica garuntido com zi impossibilidade

de se ler uma unicbdc cm scpar;)do. De foto, c.:lll.1 unid;-1de só

pode ser ''lida" 11,1 sua relação com élS demziis unicbdcs com­

ponentes do sistema.

Por serem sistemas cunstruíclos, ns LDs sfio cconômic.1s.

Só que 11;10 se trata da ,1plicaçZio cio princípio de cconomiu da

LN e sim de t1rn,1 r.1cion,1liz.:içJo de escollws e de procedimen­

tos, que pcrrnit:1111 um,1 utilizac_:;.1.0 eficaz do sistcm.1.

;\s rcluçê5cs pé1r,1digrnáticas e sintagmáticil.s também

ocorrem, só que de forma basl:mtc rcstritn, especi,1lmentr

n;_is construçôes dos sinlélgm,1s.

No cnL:rnto, n.is LDs fic.:1 evidente o poder de troc.i di1S

unidades, num,1 posiçi'io bastante próxim,1 d,1 LN. Cad,1 uni­

d;idc don1111cntária clcsign,1 t1m<1 re;:i]idadc drntro do sistema

construído, o que lornü. evidente o v.ilor e él possihilid,1de de

troca, de representação.

!)e toda fornw, as LDs sfio trihut,irias da LN, n;i rncdidd

cm que silo construíd.is a p;_irtir deb. Embora haja um esfor­

Çl) de ncutraliz.içZio de tTi-lÇOS que fazem da LN um sistema

aberto, hetcrogrneo e multiforme, ,is l.Ds ac;1ham por assirni­

J:cir nlgum;_1s particul.iridades, um:1 vez que se vokm de uni­

dades chi l.N e sfio m:mipubd,1s, freqüentemente por seres que

têm nc1 LN c1lgo, nutur;1lrnc11tc. incorpora.do ci su,1 existência.

/\ funç;10 da I.D {: trnt;ir o conhecimento dispondo-o

como infornwç.'iu Em outr:1s p.il:nTns, compete i1s Ll)s trans­

formar estoques ele conhecimentos cm informilções a.dcqu.1-

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cbs nos diferentes segmentos sociais. É esse partilhamento que esló. na b.Jse do cm6.ter público da inforrnaçi'i:o e que não pode ser obtido nu a.usência de 11rna LD. De f,.1to, duranle muito tempo acreditou-se que a disponibilização dos esto­ques seria. suficiente pari1 .:1 sua socialização. Mas, allu:il­menle, o fundamenl,11 é a existência de uma forma de or­g;rnizüção que güranta o partilk1rnento. Ess;:i org;:iniz.:1ç,10 é ,, LD.

Coya.ud (1972) c1ponti1va, na rebç:i.o entre a Lingüísti-­ca e n Documentação, ilquilo que consider.wa ser 11111 gr;in­de defeito: por 11111 belo, os teóricos cb Lingúíslirn ac1hav;im lrab;ill1,111do sobre questões ahstrnt;is, ficarnlo inlciramcnle ausentes inf'orrna�:õcs sobre as línguas concrct;is. A seu ver os lingüistas poderiam ser divididos cm dois grupos: os teó­ricos que pendiam pziri-1 ;i lógica, p,1r<1 a busca de L111ivl'Tsais dü li11g1wgem, ignor;indo mesmo i.lS línguas concretas; e os especialistas numu dada língua que ,1rnbarn por se fechar nclu e por força de um terminologia prôprÍ3 chcg�1Varn ao limite da inconrnnic;ibi!iclade, até mesmo com o grupo lcó­nco. Entre estes dois extremos 11,wia um v,1zio.

Evidentemente que esto quest}o nem é l,fo simples, nem li'io clara. De todn forma, parecem faltar lrahal11os de rnrá­lcr extcnsiLll1é11 que poss;:irn f.1zcr de for111a produtiv.:1 a lign­çJo de teorias conlemporé1neas com prMicas soci,lis.

Conhecer primeiro os meandros cb linguc1gern p,1rcce ser pré-requisito, r;iúi.o pela qu;il fori1111 introduzidos nesse livro conceitos qur pcr111Íli1111 ;iprof'undar conhecírncnlos Ji.1 ,1c11mulaclos.

Oo ponto de vist;i cb lingu,1gcrn três aspectos rncrecnn dest;ique: ;i de111,1rc;içJo, a signific1çJo e a comunic.1ção. 5,°io

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esses aspectos que, segundo Kristevo (1969:14), permitem

dizer que todas élS µr6.ticas human;_is sJo tipos de linguagens.

Quanto us linguagens documentários, é necessário que

scjJ.rn vislAs, simultJ.ne:uncnte, como sistemas e como prá­

ticas sociois com lod;_is as suas implicações que vão de seu

aspecto moteriol, consubstanciado cm codeias ele unidades, ?!

sua 11::-ilurcz,1 comunicativa que pressupõe acordo entre su­

jeitos que dela se valem. !\!esse sentido, urna LO n:'io se apre­

sent<1 como uma construçil.o univcrsol, segue princípios (mi­

cos, mas reflete práticas soci<1is distintas relacion;:ic!as 1150 só

às nccessicbdcs cspecífic<1s de informação dos v{trios scg­

rn enlos sociais mas também aos vjrios consensos que os

rnracteriz:1m.

O livro orgonizil-sc, além d.1 Introcluçi:io, em quatro ca­

pítulos O primeiro trnz considerações, como o título sin<1li­

z<1, sobre conhecimento, informnção e linguilgcm vcrb.Jl ou

natural - LN. O segundo enfoca asµeclos importantes das

linguagens JocumenUírias - LDs. O terceiro discute relüções

intervenientes nas linguagens document.:írias e o qumto re­

lomi:l conceitos de se111ilntic;1 lingüístirn que têm µapel f un­

d<1rnenlal n<1 construçi'io de LDs.

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1

Conhecimento, informação e linguagem

.. � ...

1 .1 CONHECIMENTO E INFORivl:\Çi\O

Em est:ido dicionário informação significa "aç3o ou efei­

to de informar", "instruçâo", "indagélçJo", "investigc1ção",

"notícia".

O significêido de i1!formaç/ío implic.J a presençi-1 de serné.ls

que envolvem apresentaçJo, representação ou criação de idéia,

segundo uma forma. Em sumi1, a informação constitui, ela

mesmc1, um conhecimento potencialmente tro.nsmissível.

Sob outro ângulo, pode-se dizer que a i,formação rela­

ciom1-se ,?i identifirnção de um ''sinal" e supõe umil "forma"

p;:1ssívrl de ser interprelé:1dé.1 como mensagem.

De outr;:i ótirn, ainda, sabe-se que a i,�formação se cons­

titui, ni.l sociedade modern<1, em ingrediente indispensável do

dia-<1-dia dc1s pessoas, graças, de modo especial, aos veículos

de comunicação de mass<1

Entretanto, é em sentido específico de algum tipo de co­

nhecimento produzido no nível do mundo científico e

tecnológico que interessa fazer considerações.

Dü mesma forma que a informação acontece nos dois

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cxtn-mos do circuito da comunicnção, o conhecimento Jcon­

tece no extremo do emissor, responsável peb criaçiio cm si e

no extremo do receptor, onde se e.ló. il recepção du inform<1ção

criach

Neste sentido, 1x.1rcce indiscutível que il infonnaç.io cum­

pre p:ipel decisivo na mudanç:i dos destinos dü llllmanicbde,

uma vez que ela está, dirct1mcnte, ligada ao conhecimento e

;10 desenvolvimento ck cadn um.:i das ,Ín'as do saber, )<"i que

todo conhfcirnento começi.1 por algum tipo de infonn;1çôo e

se constitui em inforrnilçi'io.

A purtir da déc1cb de 1970, a noção de informaçiio, hem

como os lermos que ;1 represcntnm tomam vulto, seja 11;1

constituiçJ.o dos discursos, seja n.1 crinç.:io de disciplinas cs­

pecífico1s. ;\credita-se mesmo que a sua expansifo represente,

na sociedade ocidt'nl�1l, um elos maiores sucessos de uma p:i­

lavra no século XX.

i\ utilizaçJo rccorrrntt' da p<1bvra gerou, como é natu­

ral, urn<.1 variaç5o conceit u<1l. Assim, fab-se do conceito de

informação em diferentes áreas de conhecimento, podendo a

rel<1ção infon11;1ção/conhecimento ser observadJ ;1 partir de

trfs aspectos que se complcmcnt;1m:

• engu;rnto o conhecimento é estruturado, coerente e

frcgiientemcnle univcrs,1!, il inforrn:1ção é atomizada,

fra.gmenladc1 e p,1rticular;

• cngu;mto o conhecimento é ele duração significc1.tiv.1,

a informação é lcrnporáriil, transitória, U1lvcz mes­

mo efêmera;

• enquanto o Clll1hccimcnto é um estoque, �1 inforrné1-

ção t um fluxo de mensagens.

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Com efeito, o estoque de conhecimentDs é alterado com

o input ele novas informações, em virtude ele adições, reestru­

turnç·ões ou mudanç<1s.

l'vlas, para que o conhecimento <ln sociedade não se perc.1

e possa ser compartilhé!do, ele é registrado num do.do su­

porte: livro, imagem, foto, disco etc., passando ;-1 se consti­

tuir um documento.

O desenvolvimento científico e tecnológico tem

proporcionado ;'i sociccbde um.1 massn enorme de inforrn;-1-

1;:ôes ger,1doras de conhecimentos, portanto de documentos,

que precisam ser tratados ,1dequadamc11te para que h,�j;i n.io

só a sua divulgaçJo, como também .:.1 criaçJo de novos co­

nhecimentos, cumprindo ;1ssim a rotina natur.:.11 d,1 própri.:.1

ciência.

Daí o papel fundilmcntal da {irea de documentuçiio,

respons;ívcl pela tri,1gem, orgzrnização e c011scrv.:.1çJo cb in­

formaçc°io, bem como pela viabi!i7.élç:io a seu acesso.

Hé'í que se considerar que i'l massa considerável de docu­

mentos em papel que constitui volume consider.ível vêm se

jtmLmdo, de forma t<1mbém crescente, documentos cm ou­

tros suportes como disco, fotogr;if'i.1, fit.1 111;1gnétic1, vídeo etc.

Scgt111do Waddington (1975), é pr:1ticamcnte impossível

cbr uma imagem do mundo moderno, ciue chegue próxim.1

da cxzitidiio, cm termos Jc conhecimentos acunll!bdos. En­

trel,mto, pode-se chegar a ter uma idéia parci,.1! do probk­

n1:1, qunnclo se consideram os estudos sobre o crescimento

d:1 inlormziçJo científica e técnica nos últimos dois séculos,

;Jl r,1vés só das publicações Je rcvistc1s especializadas desses

,luis campos.

As dui.15 primeirns revistils inteiramente dedicadas ;'i ciên-

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eia começaram em 1665: The Philosophical Transactions of

thc Royal Society of London e Journal eles Sçavants (frança). A

partir de 1760, houve uma implcmcntaç5o de publicações

desta natureza que, pouco él pouco, prt1ticamcntc duplica­

r,1m i1 cada quinze anos.

Sabe-se que ;:i.té meados da segunda metade do século

XX. for.::1111 fund.::idas mais de ·100.000 rcvistns cicniífirns. No

entanto, n5o se sabe qu;:inLJs dcsapareccr;im e, hoje, é pratiGl-

111.ente impossível dizer o número ddns. Para se ter uma idéia,

em 1938, c;ilculou-se ern 33.000 o número de revistas cien­

tíficns publicadas, sendo que no final dos ;inos "J 960, ele atin­

gi;i cerca de 60.000, com um milh5o de artigos in<lividun.is

por ,u10 Estimava-se, cm 1996, que havia 200 000 perió­

dicos em circulação, número que continun crescendo pri11ci­

p,.1lmentc <1 pürlir de sua difusão em formato eletrônico

Os cbdos s.'i:o, sem dúvidn, imprecisos, méls suficientes

para demonstrar a dimensão do probkrna ct�jo desdobra­

mento pode ser observado por meio da criação de revist;:i.s

secundárias e terciárias, do fenômeno da "redcscoberlé1" cien­

tífic1, da tendência.:) cspeci,1liz<1ção e d;i rApida obsolescência

da informaçno

Com efeito, i1 primeira revisla secundária, n�ja fun�·Jo

é resumir e sintetizar os artigos publicados nas revisL:is pri­

mártas, surgiu na A.lcm,111ha em 1714. De b par<1 có, esse

tipo dr periódico veio aumcnt.:rndo, cheg,rndo mesmo é1 mul­

tiplicar-se com, praticamente, ,1 mesma taxél exponencial d,1s

revistas prím:.irias. Em 1960, czilcu!ou-se em 1.900 o nú­

mero desL1s revist.1s secumtirias.

O volume de revist<ts sccund.:í.rias levou à cri,içJo de re­

visléls tercüírias que informavam sobre as revist<1s de sín-

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tese. Sob essa mesmi'l perspectiva, criou-se o Sistema Uni­

versal de lnformaçiio Científica (UNIS!ST), com o patrocínio

dé1s Nações Unidns, com .:, tarefa central de arm.:1zené1r toda

a informJção científirn em um comJmlJdor central, dotado

de um sistema de busca.

O terceiro desclobré1mento diz respeito il um frnômeno

muito comum hc�je: é mnis fócil redescobrir J.lgo que saber

se zilguérn jtí o descobriu antes. /\creditam alguns que este

fenômeno cb "rcdescobcrt:1" poss:1 tornar-se um dos princi­

pais fotores limit:.H.lores da li.1xa de .:iv;_rnc,:o da ciênciil na so­

ciedade contemporé'\nc:1. H;:í, por vezes, um dispêndio enor­

me de recursos ln1111anos e materíélis p,1rzi drscohrir o j6

descoberto

/\ trndênciil fi rspccic1liJ;:.1dc constituiu um;_1 c.1r;_1eterís­

tica muito presente 11,1s décad.:is p�1ss,1<las, chegando mesmo

:1 motivar filósofos e cduc1dorcs p,1r;_1 discutir ;1 questão da

intcrdisciplinaricbcle. Nos úllimos anos, embora oinda per­

sista, com s;_1liência, esln c.:iracterística, assish:-sc a urna for­

te reaçilo à alta especialidade, de modo pélrticular com os

movimentos denominados pós-modernos.

;\ velocicbde de procliH;,"ío ele inforrn.:içilo tem como con­

scqiif'ncia quase imcdiat:1 ,1 obsolcscênciil de conhecimentos.

De .Soll:1 Pricc discutiu isto cm krrnos cio que ck chzunou de

coeficiente de irncdialismo: se ,1 qu;:mlicfade de infor111.1ç'i'10

dobra cm quinze anos, rb sCTin ,r\ no início deste período e

lA no fim do mesmo período O acdscimo de A é A e o

coeficiente de imecli<1tismo é i\./21\ = 1/2. lslo é, ao c.1bo de

quinze ;_mos, 50% chs i11forrn;1\·õrs disponíveis ser3o fruto

de descohcrL1s rcaliLi1cli1s durc111lc o pcríudo cm qucst.:io (Pricc,

·1965)

'.)� __ )

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Não é difícil perceber que em áreas de awmço muito

veloz, como n computaç.10, o período de duplicaçJo não é

15 anos, mas muito menor, talvez 4, o que ampli,� b.1stante

o índice de obsolescfnci.J.

/\.ssim, cieiro esl{i que ninguém pode, nem mesmo numn

área de especiulidadc, avenl urar-se a "conhecer" ludo o que se

publica. f'vfas também é cbro que uma pessoa pode conseguir

informações p,nciais em níveis satisfolórios, gri..lps aos meios

desenvolvidos pnrn gu:irda e rccuperaç.10 e.la informaçiio.

As necessidades, 11.:üurülmrnte, v.:iriam de um domínio

parJ. outro, de um grupo para outro, segundo o eslé.Ígio de

Jcst'nvolvimenlo da .íreo., a n.:itureza cios usu.:ít·ios, seus ob­

jetivos A.pesar dessas variações, é preciso que as informa­

ções srj;:im confiAvcis, atuais e inwcfoltamcnle disponíveis.

Para se chrgar i.l isso é indispens,1vel um trabalho sistc­

míltico que se compõe de um conjunto de opernções cm ca­

dei,1, isto é, operações marcadas por íntima relação entre cada

urna das etapas: .:is últinrns oper;-1ções estão ligadas .:)s pri­

meiras e as primeiras v.10 conduzindo às últimas.

Numa extrc111id�1de da rnciciJ. estJo os documentos que

seriio [ralados e, na outra, os resultados desse processo ex­

pressos em produtos docume11l,írios cio tipo: rdcrêncii.ls, des­

crições de documentos, publicações secuncli5ri.:is e terciéÍrias.

O processo começa peln opcraçi=io ele coleta Jc dados que

se constillli num procedimento ele alimcntaçi'io, por meio do

con1unto de documentos que p,1ss;1rn a intcgri1r umJ. unida­

Jc ele informc.1çfio

A primeiri1 rJ.se que se decompõe em éllgumJ.s eli.1p�1s

sucessiv,1s (loc;ilizaçâo de documentos, triagem e escolha,

procedimentos de üquisiç<lo propriamente ditos) exige pro-·

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fissionais atualizados em relação à evolução <lo conhecimento

e à produção no domínio considerado, o que supõe que a

unidndr dr informação esteja bem integra.da no circuito cien­

tífico nacion:.11 e internacional, formal e informal.

Quando se trüta de publicações disponíveis no merca­

do, a coktn npóia-sc em fontes identificáveis e acessíveis: dc­

pósilo leg.Jl, bibliografias nacionais, G1ti.Í]ogos de editores, ou

c:1tólogos coletivos, índices, repertórios, bibliografids de toda

espécie. Mas, quando se trata de localizm um.:i lilerntura dita

sublcrrânca, é fund,1mcntdl que se poss.J dispor de umél rede

de perrnul;1 e de aquisição sistern.ítica, o que implica inte­

gração no circuito científico da ,írc�1.

A scgundn fase do processo consiste cm opernções de

controle e registro do materi,11. Nesta fase, é frito o tratü­

mcnto intelcctlwl dos documentos, por meio <le descriç,10 lii­

bliogrófica. descrição do conteúdo, cstoc�1gem, busca e difu­

são. Todüs essas opt.>rações visam cncontrnr, de imedi,ito, a

informnção necessúria pari1 responder à dcrnand,1.

i\ tmefo inicial consiste cm proceder à idrntific1ção do

documento, o que é feito por intermédio de urna dcscriç5o hi­

bliogrMiG1 ou de u1Lílogo que explicita Slli.1S c:11-;_1cteríslicas for­

m.:i.is: autor. título, fonte, formato, língua, data da ecliçJo etc.

Em scguicb, é frit:1 a descrição do conteúdo, dcnomina­

cb análise clocumcnlária. Esta etap.:i. recobre oper<1ções de des­

crição das informac,-õcs que trazem o documento, e i1 trndu­

ç.3.o dessas informações 11u111<1 formubçâo aceiLí.vel pelo

sistema adolado.

Daí nasce il rclé1ção cb ciência da inforrnaçZín com a lin­

guagem nnturnl, rclnr,10 que p1-ccisc1 ser ;111<1lis;1da do iln­

gulo dil guarda e da recuperação dos documentos, por meio

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de sistemas que fazem a representação dJ inform;:içiio que

veiculam conhecimento.

Não só o volume de documentos constituídos cm lin­

guagem natural, corno também a nJ.turezJ. da linguagem

verbal, justificam um;i reflex."io e specífica

1.2 LINCUAGEM: CAR,-\CTERÍSTlCAS GERAIS

A linguagem, enquanto ol�jeto de reflexão, perde-se no

tempo; entrelirnto, enquanto objeto de uma ciência, é relati­

vamente recente.

O rnrcJ.tcr científico deu à lingungem um.1 f"orp t"1l que,

hoje, pode-se dizer que da é tornadiJ como chave ele acesso

do home m moderno .:'is leis do funcionamento social

(Kristeva, 1969).

Embora, desde sempre, da tenha sido considcrad.:1 na

sué.l articulação hornt'm/socicd"1dc, hoje, busca-se um isola­

mento metodológico na tentativa de vê-b corno ol�cto par­

ticulJ.r em si mesmél. O homem como que se distancia, se

descola dn Jinguagrm que o constitui e obriga-se n "dizer o

modo como diz". (Kristeva, I 969, p. 14)

Neste esforço de m:lis e melhor conhecer .:1 lingw1gcm,

os primeiros aspectos que se sobressaem s3o ,1 dcrnarcaç.10,

a significação e .:1 comunic.:1ção.

Em primeiro lugar, é preciso dizer que todJ.s as pdti­

c;:1s humanas s:io tipos dt' linglli1gcns, j;í qut' cbs têm :1 fun­

ç5o de c.lcm,irc1r, significar e comunicar. Entrd:111to, como

c1ssi11:1b Barlhes (1964), C]lli1lqucr sistem:1 scmiológico repas­

sa-se de linguagem verbal.

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Ao longo <los tempos, a concepção <le linguagem foi se

modificando, à mercê do saber constituído e <la ideologia rei­

nante. J\lé o século XVIII, predominou uma concepção teoló­

gica que colocava cm primeiro plano sua origem e as regras

universais da sua lógica. O século XIX foi marc1do por uma

concepçô.o liisloricisla que via a linguagem como um pro­

cesso cm cvoluç.:io alr.Jvés dos tempos. Hoje predominam as

concepções <la linguagem corno sistema ern funcionamento.

J\ prática da linguagem é marcc1dc1 por umc1 tendência

n.Jtural do homem: compreender, governar e modificar o

mundo. Com efeito, o homem busca, incansavelmente, e11-

ccmtr,1r um.:i ordem para as coisas, j.5. que um mundo caóti­

co seria incompreensível, insuportável; por isso ele busca

encontrar, em meio n aparência caóliG1, uma ordem mesmo

que sul�jacenle, uma estruluré1 capaz de explicar JS coisns.

Nél sua busca ref1exiva, o homem trabalha com umn es­

trutura que é, a um só tempo, estMica e dini'imica, isto é, que

permite .J fixaç.:io de cada c1parência dentro do esquema geral

de referência, ao mesmo tempo em que deixa esp,1ço para que

essa mesn1,1 aparência su1ja num outro ponto do quadro, a

partir de outras relações, repelindo o mesmo processo.

/\ssim, situa-se numa ponta a .:_1preensão e, na outra, a

compreensz"i.o O primuro esforço, o de fixaçô.o, equivale ,1

uma Céltalogaçô.o do mundo. O segundo, o de coordenação,

equivale a uma hierarquizaç.'io do mundo

E dentre :1s coisas a conhecer, provavelmente, seja a lin­

gu.:1gem verbal uma das mais 111trigilntcs, jó. que ela se foz

presente no dia-,1-dia, de forma inalienável, participando do

processo e do produto deste conhecer.

Como é feita <le palavras, a grande maioria dos dados

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de que o homem dispõe, daquilo que forma seu intelecto,

p.::in:cc importante pensar a p;:ilavrn, unidade recoberta por

inúmeras dificuldades, entre élS quais pode-se cit;:ir o fato de

nem todJs as línguas possuírem escrita e, portanto, ;:i idcn­

tificaçiio da 1x1lavr;:i com o espaço em branco ser, cm alguns

cé:lsos, inviável.

f!usser (1963, p. 22) lenta atingir um nível de explirn­

ção pélra a palavra, construimlo uma imagem que tenta ex­

pressar él passogem das sensações para a lingu.::igern. Diz ck:

"Há, ap;_irenternente, um,1 insU\ncia entre sentido e intelec­

to, que transforma dado cm p3!.:lVrél. O intelecto sensu stricto

é uma tecel<1gem que usa pabvr;:is como fios. O intelecto

smsu lato tem uma ante-s<1la n:1 qual funciona uma fü1çi-'io

que tr,rnsform,1 o.lgod.'io bruto (dados dos sentidos) em fios

(p,1lavras). A maioriz1 Uél m:1 téria-prima, porém, jA vem cm

forma de fios."

Para ele, :10 se dd"inir realid<1de como conjunto de dados,

se estéí concebendo que .1 vid.i do homem se passa numa du­

pli:1 realidade: por um lado, ,� re.:1lid<1dc cbs palavrns; por ou­

tro, a rei1lidack dos dac.los brutos ou imediatos. Co11siderc1ndo

que os e.lodos brutos oliqj;:im o intelecto nJ. forma de p,1la­

vrJs, pode-se dizer que a rco.lidacJc se f;iz com p;1bvrns e p<1-

bvr.1s in statu nasccncli.

Na prcítica da linguilgcm !1é.llural, sabe-se que ;is p:1la­

vras chegam até ,1s pessoo.s por intermédio cios sentidos de

forma org,rniz;i(b, isto é, si'io agrupadas ele acordo com re­

gras preestahclecicJas, formando frnses.

De um bdo, entJo, ;1 língua pode ser vist;:i como um

sistema cuj;is unidades se articul:1m nu pbno da expressão e

do conteúdo, planos que se unificam como o ímico modo de

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ser do pensamento, a sua realidade e a sua rc<1lizaçô.o. As­

sim, a língua integra o universo mais amplo da linguagem e

atua corno elemento fundamental na comunicaç5o social.

Da mcsrnél forn,il que não há socied;-i<le sem linguagem,

nzio há sociedélde sem comunicação. "Tudo o que se produz

como linguagem tem lugm· nél trnc.:1 soci;1l para ser comuni­

cado" (Flusser, 1963, p. 12).

Nél comunicação, ohserva-se que todo f,1Lmte assume

o cluplo pélpcl de destinador e destinaUírio Jc mensagem, pois

�10 mesmo tempo cm que é capaz de emiti-Ias, sabe decifrá­

Lis. Ou sejél, na situação natur;1l de cornunicaçJ.o, o fa!.,mtc

n;:io emite mensagem que ele nôo sc:ja capaz ele decifrar.

Assim se introduz o fobntc no complexo domínio do

sL�jcito, isto é, no universo ela sua constituiçJ.o e da sua rrla­

ç;fo com o outro. Na rclé1Çi10 consigo mesmo e com o outro

fabnlc, opera com o ato de nomrnr que é frito com ,1 língua,

exterior élo indivíduo e submissa a umél espécie de contrato

soci;1] firmado, n,:lluralmente, para garantir J comunicação .

.r\ língua é, pois, um sisternél de signos e regras com­

binütórias que, de fato, nzi:o se rrnliza completamente na fola

ele nenhum sujeito. Ele, só existe completamente na massa,

no co11JU1lto de uma socied,1c!c. Mas t;imbérn é um sislemél

ele relações virtuais cm permanente disponibi!i(bclc para o

folante.

Enqu,mto realizaçzi:o, pode-se dizer que, qu.:mdo as pa­

bvL1s s.'io percebidas, percebe-se uma realid,xle ordenada,

um cosmo, o que permite di7.er que a língua é também o

coi'.junto de frases percebidas e perceptíveis

Por outro lado, as p;1bvr;1s sJo aprccmlidas e compreen­

didas como símbolos, isto é, como tendo significado, por-

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que, por meio de um <lcordo entre vários contratantes, elas

substituem algo, apontam para algo, são "procuradoras" de

algo.

É, pois, <l partir de um acordo entre st�jeitos que os sinélis

são apreendidos e compreendidos, reJ.lizando, em sociedmle, o

GHi.'íter simbólico cl.J. língua, condição do pensamento.

Tradicionalmente, são distinguidéls as palavras él pü.rtir de seus significJ.dos em substantivos, acljetivos, verbos etc. A

mesma tradiçJ.o ensina que substantivos significam "subs-

15.ncias", que acljetivos signific.J.m "qualidades", que verbos signifirnm "processos modific.J.nclo substilnciéls", que prepo­

sições e conjunções significam "relações" entre substâncias

Essa classif'irnç:ão, nJ.o obstante ser enfatizada, oferece

pontos de conflito muito evidentes. A.ntes de mais nada, ela

pressupõe umél realidade absolut<l, um universo uniforme­

mente ordeno.do, urna estrutura rígida de mundo, e'.Spclhada na estrutura da língua. É mais ou menos como na concep­

ção platônica em que o fenomen.J.l espelha a estrutura do

mundo cl<ls idéias.

Se <l realid.J.de rn,iis ampla mostrn línguas como o chinês

e, de resto, as língu;is ,iglutinadas f assil{1bicas onck esta divi­

são não faz sentido, <l. presença mais imedi3ta da língu.J. m.J.­

lern3 mostra reéllidades que põem cm cheque esta divisão.

Enquanto n<l. frase "Isto é uma caixa grande", "caixa" e

"grande" são expressões .J.utênticas, respectivamente, das sig-

11ifiu1ç:ões substâncii.l e qualidade, n,1 frnse "Isto é um cai­

xão" a qualicl.J.de como que vem engolicl.J. pela substância. J{J

nil frase "Viver é luti.lr" observam-se processos assumidos

como substil.ncias.

Os exemplos poderiam ser multiplicados, 1jara mostrar

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que a cla.ssifirnção absoluta n3o corresponde à re<1lidade. Entrclémto, é preciso éldmitir que a classificação tradicional,

mesmo com possíveis defeitos, oferece vantagens, na medi­

da cm que e!J. permite ver a língua corno um sistema de símbolos apontando parél <1lgo, ou significando <1lgo. Na rez1lidade, a línguél não se constitui num cortjunto de símbo­

los equivJkntcs, rnc1s, antes, num conjunto de símbolos hiern.rquicamcnte difcrenciJc!os. O signific<1clo de c;1cla sím­

bolo só se torna compreensível dentro do conjunto do siste-1m1 inteiro.

A língua não é funçJo do sL0eito falante nem sucessão

de pé1lavr,1s correspondentes ü outras equiv,1lentcs. É um sis­tem,1-estrulura de valores e formns. Os sistcmJs de v.Jlores nfio sZío construções p<1rticubres de um indivíduo; s.10, ,m­ies, o resultado de todo um contexto socioh1stórico que de­terrnin.:i ;.1s condições de produç.10 do discurso.

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2 Linguagens documentárias

2. N:\TLIREZA, ESPECIFICIDADE E FLIN<_:ÔES

llrn rJpido retrospecto sohre a ií.re.i da documentaç,.fo

moslr,1 que, nas décadas de 1950 e 1960, com o crescimento

do conlwcirncnto científico e tecnológico, houve dificuldades

para arm.izenar e rccuper:ir informações. A soluç:'io foi en­

contrada com uma mud:inça do enfoque e da nmccituaçJo

da recupcro.ç3o da informa1,::'io. Com efeito, foi 3.Jxrndonada

él JKrspecliva preferencial de rccuper.:içõ:o bibliogrófica e nor-­

malização cli1ssiricatória e descritivo., buscando-se a cons­

trução de linguagens próprias.

Vem dest.1 époc,1 a ulilizaç.'io de Linguagens Docu­

rnent,írias - LDs, par:1 ,1 recupernçi'io Ja informaçZio. Essas

lingu,1gens sJo, pois, construícbs para indexaç:10, arma­

ZfI1<1rnento e rccupcraç:'io da i11formdçiio e correspondem ,1

sistemas de símbolos destinados a "tu.1duzir" os conteúdos

dos documentos

Como decorrênciil destil 111 ucbn�·a de conu:il uaçZio da

6rea, houve grande concentraçJo cm cst udos de Lingüística

e de Eslillística, especi,1lmente para viabilizor ,1 ;mtomc1çi:i.o

do tratamento cfa informc1ç,10.

Com os estudos de Ling i.iístirn esprrava-se resolver pro-

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blemas de vocabuljrio, tendo em vista a construçno de ins­

trumentos nrnis adequndos Estes estudos lev.::m:im a an;'íli­

ses de conteúdos e.la Linguagem N;:itural - LN, a buscas de

métodos de padronizaçõ.o relativos à pass<1gem d.1 LN p<1rn a

LlJ, ;.io estabelecimento de mecanismos para é1 est rut urciç3o

de campos scrn.5.nticos, df c;:impos associativos e de c.1tego­

ri;_1s funcionc1is.

/\ EstAtística, por su;:i vez, foi tom.1dc1 como instrumento

de apoio, tendo cm vist.1 determinar freqüênciéls de descri­

tores, mapeamento Jc ocorrências e <111iÍ!ise de citações, o que

levou élO desenvolvimento da Bibliomctria.

No .1mplo universo da linguagem, éls LDs possuem um

status muito p;:irticul,ir: por meio delas pode-se representar,

de 111z111cira sintética, as informações materiéilizacbs nos

textos.

Tal como a LN, as LDs são sistem,,s simbólicos instituí­

dos que visam facilitélr a cornunicaç3o. Sua funçJo cnrnuni­

Céltiv.:.i, entretanto, é restrita a contextos document;'írios, ou

sej.:i, ns L.Ds devem torn;_ir possível a comtmirnç5o usu,-írio­

sistema.

Grande pc1rte das discussões teóricas sobré' LDs inserem­

sr no 5mbito cb /\nólise Documrntjria que, por su,1 vez, se

define corno uma atividade mclodo!ógicé1 específicé1 no inte­

rior d.1 Documcntaç5.o, que trata d.:.i análise, síntese e repre­

scntaç.10 da inform.:içâo, com o objetivo de recuperá-la e

clisseminá-b.

Nesse contexto, as LDs são, pois, instrumentos inter­

mediários, ou instrumentos de comutação, através dos quais

se realiza a "tr;.idução" d<.1 síntese dos textos e das perguntas

dos usuários. Estél "tradução" é feita em unidades infor-

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macionais ou conjunto de unidades aptas a integrar siste­mas documenti'írios. !\ formalização d<1s perguntas dos usuá­rios é feitzi rn.1 linguagem do próprio sistema. É por esta ra­

zão que as LDs podem ser concebidas como instrumentos de comutação documentária.

Ivl3s, diferentemente da LN, o sistema de relações das

LDs não é virtual, hem corno seus rneGmismos de articub­çii:o s.10 extremamente precários, em frice daqueles existen­

les nas língu.:is em geral. Bem uo contréÍrio, elementos dessa

linguagem específica sBo selecionados de universos determi­n.:1dos e seu sistema c.le rclaçües é construído, sendo indis­

pens:i.wl, para utilizj-Ja, n existência de regras explícitas Por

esse motivo, as LDs são linguagens construídas. C.:ida LD específirn representa, por outro Indo, um pon­

to de vist.1 p;:irticubr sobre a rcalidé1de. Como sistem.:i de

rclaçües construído, o signific1do c.le cada um de seus ele­mentos vai estar direL'..1mente subordinado às definições cor­

respondentes .:ios elementos colocados nas posições supe­riores do sistema.

Segundo Gardin, uma LO é um conjunto ele termos, pro­

vidos mi n-10 de regras sintiitici.1s, utilizadas pnra represen­tar conteúdos de documentos técnico-científicos com fins de clé1ssific.1ção ou busc;1 relrospectivn de inform.:içõcs (Gardin ct al, ]968).

Para o autor, umél. LD deve integrnr três ekrnentos b;isicos:

• um léxico, identificado como urna list.::i de elementos

descritores, devidnmente filtrados e depurndos;• urna rede paradigrn.:ítica pnra traduzir certzis relações

essenciais e, geralmente estáveis, entre descritores. Essa

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rcclc lógico-sem5.ntirn, corresponde i'1 org;:mizaç3o clos

descritores numa forma que, lato sensu, poder-se-ia

chamar classificaçJo; e

• uma rede sint<1grn;Hiu-1 destinada a express.:ir as re!u­

ções contingentes cntrc os descritores, rcluções que s<"i.o

v,ílidas no contexto particllbr onde aparecem. A cons­

truç.:io de "sinlagm.1s" é feita por meio de regrns sin­

táticas destinadas J. coorden.:ir os termos ciue dão conl,1

do tema.

Embora 11.1 LN haja diferl'nça conceitua] clara entre lé­

xico, vocabul.írio, nomencblura e terminologia, observurn­

se usos sinonírnicos dC' léxico e voc,1bul:.írio por um lado, e

nomencbt ura e lerminologi,1 por outro.

Nas LJJs, por sua vez, é bastante freqi"icntc o uso

inJiscriminziclo destas p,1lavr;1s, o que pode compromder o

próprio conceito ele reprcsent,içiio clocumcntária, na medida

cm que a cada lermo deveria corresponder urna funç.:io dife­

rente dentro du linguagem.

Entret.1nto, cadél urna dess.:is pnlavras remele ,1 conceitos

específicos, o que nos permite dizer que cada umn tem

c;ir;iclcrísticJs e funções própri,1s, fator suficiente p;_ir�1 im­

pedir sua lltilizé1çôo indiscriminadél.

Embor�1 mesmo nos L'St udos das ciênci.1s d.:i linguagem

h;�j;1, eventualmente, refcrênci..1 a léxico e vocahul,írio como

conjunto de pabvr,1s de uma língua CHI de um autor, de um,1

arte otl de um meio social, a rigor, léxico design,1 o conjunto

de unidades re.:iis e virtu,1is que formam a língua de uma

comtmid,HJc, algo como um depósito de dcrnentos cm C'sla­

do irlua.l e dt' regras que permitem a construçi'io ck novas

unidmlcs, ncccssJri;1s para a atividade lrnm,rna da fala.

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Já vocabulário refere-se ao conjunto de ocorrênciéJs que

integrom um determinado corpus discursivo, como uma

lista de unicbdes d.::i fzt!a (Duhois ct al., 1973) Assim, pode­

se fribr no voc;ilnil,írio que encontr,1mos no trilbalho de

Cu11ha, rebtivc1mcntc i1s ocorrências rcgistmdas nos discur­

sos sobre polílicn colonial de 1\driano J\11oreiro (Cunb.::i, 1990),

ou no vocabul6rio médico, a partir de lcva11larncnlo cm

dcterminacbs obras médirns, por exemplo.

Em termos de L!Js, nâo foz. sentido folar nC'm cm léxico,

nem cm vocabulário nas :1cepções d,1 Lingüístirn, uma vez

que esses ekmcntos s.10 específicos da LN. As LDs, lingu:1-

gcns construícbs que s:io, com finalidades espccffic1s de

rcprcscntaç:io Jocument;'iria, nJo sJo suíicicntcmcntc ,1rli­

cubdns, 11cm se constituem cm unidades geradoras de no­

vos elementos.

Também !l:i.o inlegr,rn1 vocabulírios propriamcnlc di­

los porque suo formadas de 1x1bvr;1s preferenciais, comhi­

n,1ndo pabvr�1s de vornbul,írios de dctermi11aclos domínios e

palavras utiliz:-icfas pelos us11Jrios. Desta forma, englolx11n

vúrios voc:ibul.írios, representativos ele vúrios discursos /\s­

sim qu:rndo :1 p,1bvr�1 vocabutírio rdffr-sc ?t LD, eleve ser

entendida segundo esta úllim:1 :1cepçiio, que privilegi:1 um,1

constituição a partir de origens diferentes

Urna 11oml'ncliltura, por sua vez, como sugere ,1 própri;1

p,1l,1vra, diz respeito ú açZio de cl1arnm algo por seu nome.

,·\ssim, se constitui cm list:1 de nomrs que- st1põem biuní­

vocidade dn rcbçJo significudo-signilic,rnte (Dubois ct ai.,

1973). T1lvez se poss,1 melhor car<.1ctcrizar uma nomencb­

luri-1 como ctiquctils que dcsign;irn coisas ou conceitos pré­

cxislcnlcs, como a nomcnclatur,1 d,1 QuímiG1, por exemplo,

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fül qual, independentemente de um sistema nocional porti­

cular, algo se cbamél ouro, nitrogênio ou potássio.

Diferentemente de um.1 nomenclatura, uma terminologia

refere-se élO conjunto de termos de um.1 área, termos rclacio­

n.:1dos e definidos rigorosamente para designar as noções que

lhe são úteis (idem, ibidem). Assim, por exemplo, a termino­logia da educação hrnsileira pode ser encontrada no Glossá­

rio de termos em educaç3o (Br.1sil, Ministério da Edurnção e Cultura, 1980). Trata-se de um sisternél de termos orgt1nizc1-

dos a partir de noções particulares. É bom lembrar que todo conhecimento Lécnico-cienlí­

fico desdobra-se num universo de linguzigem. ,\ lingua­gem condiciona o conhecimento objetivo, determina os li­mites e su.:1 formulação (Grangcr, 1974). As linguagens construídas exigem formulações rigoros,1s de sentido <"i me­did.1 que a próprin ;:itividade se encontro subordinoda lt

articulação da linguagem. Desse modo, c1 atividade termi­nológica é parte constitutiva da ativid.1de lécnico-científirn

e diz respeito, dirct.J.mentc, a um conjunto de termos organizados.

Tod.Js as defi nições c1nalísadas anteriormente ifv,1111-

nos a concluir que as LDs nfío se confundem com léxicos,

vocc1bul6.rios, nomenclaturas e terminologias, embora in­corporem elementos dl' todos eles. É importante que ess.J

difcrenciüção sejJ. feita, para melhor delimitélr suas carnctc­

rístirns em f,1ce d.1 funçZio que devem desempcnl 1c1r 11;1 re­presentação da informaçâo documentária.

A represenl<1çi'io documentári;i é obtida por meio de um

processo que se inici,1 pela éln,íli�e do texto, com o objdivo ele identific;.1r conteúdos pertinentes em função diJS finali-

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dades do sistema - e da representação desses conteúdos -

numa forma sintética, padronizada e unívoca.

A síntfsf f i1 representnç3.o documentárias <1dvindas do

processo de .:mzilise podem apresent.:i.r-se, geralmente, sob

du:-is formas: o resumo, que é feito sem n intermcdiélÇJO de

um;_1 LD e o índice, que , para maior qualidade, deve ser ela­

borado a partir de uma LD.

A opcr.:iç.10 de traduç3.o de textos cm LN para um.:1 LD

denomina-se indexaçJo. lnfrente .:io processo de index;içJo

c,t3.o oper.1çcJes de cbssificaç5o.

As várias Cases do processo an,1lítico apresent.:1111 uma

complexicfadc considerável, pois n.1.0 se trata de adquirir os

documentos e armazenéÍ-los numa ordem lógic;i /\ docu­

mcnU1çZio é memória, seleção de idéias, reagrupamento de

noções e de conceitos, síntfse de dados Trata-se de tri,1r, de

av::1!i.Jr, de analisar, de "trnduzir", de encontrar respost;:is para

necessidades específicas.

A utilizaç3o da LN neste processo leva, seguri.lmente, ;'i

incompreensão e ?1 confus.10, devido a fenômenos nilturaís

como il redundânci.:i., a ;1mhigüidade, i1 polissemi;1 " ;1s va­

riações idioletais.

A condiçZio p.:ira se obter resultados positivos na busc;1

de inf"ormaç,'io é que i1 pcrguntil e é1 resposta sejam /"ormub­

lbs no mesmo sistema. J\ssirn, é neccssé'írio converter t1111,�

pergunta frita cm LN par.:i o sistcm.:i cm que foi traduzido o

conteúdo do documento, isto é, parn uma LD.

Dito de outro modo, uma LD é utilizadi1 na entrada do

sistema, quando o documento é analisado p<.1ra registro. Seu

conteúdo é idcntiricado e "trnduzido", de acordo com os ter­

mos da LI) utilizada e segundo él política de indcx.Jçiio

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estabelecida. É da mesma forma utilizado à saída do sistema, quando, a partir da solicit.1ção da informação pelo usuiírio,

é feita a reprcscnt .. 1çJo para busca. Assim, seu pedido é an.1-

lisat.lo, seu conteúdo identific.1do e devidamente "lr:1duzido"

nos termos cb l.D ulilizé1da.

Para realiwr lêlis funções de intermediaçi'io, as LDs de­

vem ser construídas <lc tal forrn;1 qur seja possível o contro­le sobre o vocabulcírio. Tal controle é necess;_frio pnrJ que, ;1

rnda tmidé1de preferencial integrnda numa LD, correspondo

um conceito ou noçJo Essa correspondênci;1 só é assegura­da por intermédio das terminologias de espcci.:1lid.::1Je.

Vale Jernbr<lr que, isolad.:1s, élS palavras nJo lrrn signifi­

rndo ou lêm tod,)s os signiCirndos possíveis. É só no discur­so, ou sc_:j;1, no uso, que as p;1bvrns .:1ssumcm signific1dos

p3rliculares. Como, vi,1 de regrn, os ckmcnlos das LDs sJo desvincubdos dos contextos omk ilj).lIYcem, pode-se correr o risco de que as p;1]avras que as inlegr;im ;1ssum.:.H11 todos

ou nenhum significado. Por meio das terminologias de espc­c:i,1licfade, .is p,.1bvras pass,1rn a ser lermos, assumindo sig­nificados vincut1dos ;1 sistemas dt' conceitos delcrrnin,1dos.

CDnfrre-sc, desse modo, rdáênci.::i /is p,11Jvr:1s, CJlll' passam

a signilicnr segundo delcrmin.:idos sistemas nocion;lis, ,1.s­scgur;1mlo interprcl,1ções pertinentes.

1\s LDs m;iis c,rnbecidas são os tcsauros e os sistemas

de cbssilirnç:êio lJihliogré'lfirn (Gomes, 1990). 1\s clifcrcnç;_1s cnt re esses dois tipos de l.Ds residem no 111:1ior ou menor

grau de reproduç5o das rebçõcs presentes nc1 LN e no uni­

verso de conhccirncnlo que prclendem cobrir. Os pnmóros sistemas ck classific;1ç:êio bibliográfica co­

nhecidos são de natureza enciclopéclico, corno a CDD - Dei-vcy

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Decimal Class(fication, a CDU - Classificação Decimal Univer­

sal C: él LC - Lilm.uy of Congrcss, f visam cohrir lodo o C:speclro

do conhccimcnlo. Sislcm;-is posteriores como ,is cbssificaçõcs

faccladas desenvolvidas a p.:irlir do CRG - Class1fication

Rcscarch Group, com base 11;1 Colon ClassU"ication, de R;-in­

g,malhan, visam a domínios parlicubres. l)s les,1uros, por

seu lado, originaram-se de cbssificações fa.celadas com um;:i.

prcocupaç3o adicio11;1l: ;:i do controle Jo voc;1bulúrio.

Historicamenle, verifica-se conlínua progressão das L.Ds

a c,1minho dé1 cspeci,1lização. Conseqt"ienlcmenlc, ab;.rndona­

se ,1 prelensii.o de cobrir lodo o universo do conhccimenlo

para vollnr-se a domínios c;.1da vez m;.1is específicos.

Todns as LDs, cnlrelanlo, si'io ulili1.adas para rcprcsen­

ti1r o conlet'1do dos lcxlos, rn;-is 1130 os lexlos eks mC:smos.

A funçJo ele represcnl;1çJo deve ser entendida, neste conlcx­

lo, como sendo de nalurezil eminenlemenle rcfcrenci.::il: ;is

unid;1dcs de umJ LD devem ser utilizadas como índices reb­

livos a assunlos lr,1L1dos nos lcxtos, nJo lendo, porl;mto, ,1

funç.:io de subslituí-los.

Os produtos oblidos por meio d;i intcrmedia�:Jo d,1s LDs

s3o, desse modo, gcncr:díz,111lcs. 1"130 se rcprcscnla o texto

individual, 111,1s :1 cl:isse ck ;1ssu11lo Z1 qu,11 ele se refere. /\

m,iior ou menor espcciticid:1ck cio assunto a ser representado

depende cb m,iior ou menor correspondência d,1 Ln com o

sislcma nocional dos domínios de cspccialilbde. /\ssim, por

mlcrméclio de um sislem,1 de clnssificaç.:io enciclopédico, tC'x­

los muito específicos sJn cbssificados cm classes de assunto

mais gcr,.1is; a rcprcse11t,1çiio cll cspecificidilclc dos assunlos

de L1is Lexlos é mais \'i,ívcl com o uso de uma UJ voltada,

cspccificomcntc, porn o domí1110 correspondcnlc.

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Os estudos das LDs têm avançado progressivamente, nc1

direção dc1 definiç3o dos constil uintes e de sué:ls in terrebções,

ger;mdo vári.is lingu.igcns, de acordo com o domínio de es­

pecialidade. lsto, por um bdo, permite que a :í.rca se libere

do monopólio das classificações universais; por outro, tem

mostrado inúmeros problemcJ.s ligados n falta de rigor na

construção de LDs. Tais problemas referem-se n clefiniç3o do

conjunto de termos que comporJo c1 lista de descritores; n

orgzrniznç:io dos termos nurn.1 rede pnradigrnátirn (úrvores

d.1ssificatórias ou refações vertic.Jis) péirél reunir descritores;

ao estabelecimento clé1 rrde sintagméltica (rclc1ções horizon­

tais entre descritores e mecanismos de sintaxe) para permi­

tir maior possibilidade de reprcsenlução de novos conceitos e

a agilizaç3o na recupcraç3o de assuntos; à definiç3o das cha­

ves de acesso ao sistemo (compatibilizaçi:io ele linguc1gem

usuário/sistema).

2.2 CONFICUR!\C,:/\0 0/\S LINGUA.CENS D0CUJ'v1ENTÁRIA':i

1\s LDs mais consistentes para a representação docu­

rncn Uiria dispõem de um vocahul;1rio que integra elementos,

de um bdo, d:1 linguagem de especicJ.lidade e das termino­

logic1s e, lk outro, da LN que é a linguagem dos usuários.

Essas unicbdes, acornp;rnhadas ou n.:io de urna notação,

constituem o ''léxico" cbs LDs, denominadas, diferentemente,

conforme o sistema e a époccJ., corno: pabvrzis-cbavc, descri­

tores, c.1beçzill10s de assunto etc.

O vocabul6rio Jocumenló.rio tem por objetivo reunir

unidades depuradas de tudo aquilo que possa obscurecer o

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sentido: ambigüidade de vocábulo ou de construção, sinonímiél, pobreza informJ.tiva, redundâncizi etc. Além dis­so, ek é fixado de tal f'ormJ. que seu uso, hem como su;:is

relações estrut11r.:i.is szio codifirndos e não podem mudor ao sabor dos usuArios. Assim, chegJ.-se J. um instrumento re­btivamente est;.ívd.

Toda LD tem, também, uma sintJ.xe. Ela é bJ.stanle ru­dimentar nos sistem<1s de cbssifirnção bibliográfiG1 (/ldd no­tes, na CDD; uso ele + / , : na CDU, por exemplo) e m.iis desenvolvida nos tesauros, com 3 utilizaçzi.o de operc1dores boolcJ.nos. O esquema sintático de t1ma LO permite n deli­miL1ção mais precisi.1 de um üssunto, por meio dzi combin.1-çAo de seus elementos.

Nos sistemas de classifiG1ç.10 convencionais, 11.1011,í gr.111-de preoctqx1çâo com o controle do voc.1b1116.rio. J� freqüente a utiliz.:içno de frnses, como ocorre, por exemplo, na CDU. J

(

í nos tcsauros, a funçé'1o de controle do vocabul.írio está m.iis presente. Par.:i este fim, as LDs incorporam procedimentos de normnlizaç.'io grc1m.:1tical e sem5ntic.:i.. A normalização grzi­matirnl refere-se à forma de apresentaçi10 dos seus elemen­tos quanto .:10 gêm:To (geralmente masculino), <10 número (uso de singular ou plural) e ,10 gr.:1t1 (Par.:i. rnnis informa­ções, ver Comes, 1990) ;\ norm;_ilizc1çi'i.o scmântirn procura garantir a univocicbck na rqJresentnção dos conceitos de éÍrens dr cspeci:1lidade, pm meio d.:1s relaçl>cs lógico-scmântic1s.

O co1�junto noc:ion:11 b6sico é .:i.prcscntado cm hierar­quias (na vertical), cm torno das quais se ngregam ;-1s uni­d.:idcs informacionais que se relacionam liorizont .. 1lmente. Nenhuma llnidzide pode figurar n11ma LD sem que est�ji.l re­lacionada a uma outrn unidade d.i mesma linguagem.

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Nos t sauros, os dif'ercntes lipos de relações rnlrc as uni­

dades sZio 111.:iis clar.::nnente .:1prcsentados enquanto sistemas

de classificaç.:io bibliogri.fficn, n5o raras vezes é1malgarnam,

numa mesma hierarquia, rebções de natureza diferente.

As varinçõrs na form,1 de ;1prcsent.1ção dns LDs devfm­

se ,1 m;iior Oll menor incorpornçi10 dos difcrrntcs Lipos ele

rcbções existentes rntre .1s paléJvr:1s n;1 LN e rnlrc os termos

de espccialid;cick. T;ris v:iri,1çôes exprimem, télmbém, o llli.lÍl)r

Oll menor .:-1primornmento d.1 funç:io de reprcsenlaç5o

documcntúrio.

Algumas LDs foram construídas visimdo, principéllmcn­

te, il organização dos documentos rn1s fstnntes, sendo que

sua funçJo de rcpresent.:içJo deve ser difcrenci:1da: a rcpre­

senlação nesse caso (.kvc ser entendidü como ,1 identiricaçi'io

de documentos com cbsses genérirns de assuntos lradicio­

tlillmentc reconhecidos.

A. estruturn b,ísic:1 de um.:1 LD é d:id:i por rebçõcs hie­

r{irquirns, que podem ser gcnéric;is, específirns ou parlilivns.

( rebções genéricas r relações p.1rtit iv.1s Sfr.10 t rati::idas no Cil­

pítu lo 3). O vértice de c:1cb liieLirquia é o gêmro ou o

todo A.s suhdivisües sucessivas 11�1 liier.:irqui,1 constituem os

rspécirs e/ou :1s p;1rlcs, qur podem, nov,1rncnle, se subdivi­

dir. As rebçc>cs hier,írcp1iG1s provêem as unidéldcs supcror­

Je11ndas e ,1s unidades subordin:1LL1s. Uni(bdcs subordinad,1s

,w mesmo vértice, quirndo no mesmo nível d.:i cadri,1, drno­

rninam-sc coordcnad;1s.

Nos sistcmns de cbssific;1ção bibliogrMica, ,1 estrutura

hicr;írquicJ é d:i(b pela not;1çc10 (decirmil, no c.::iso cb CDD e

da CDU). O vértice d:is c;1deias hierJ.r(Juic,1s é constiluído J)l)l"

disciplinas cunvcncion:lis que se subdividem sucessivamen-

44

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Nos lesauros, os diferentes tipos de rebções enlre as uni­

dades são mais claramenlc apresent.1dos enquo.nlo sistemas

de cl;issifiG1ç3o bibliográfica, n:fo r;_iras vezes amalgam;1m,

num;_\ mesma hicr:irquia, rcbçõcs ele natureza difrrenle.

As variações na form;_1 de ;�presenlaçi'io das Ll)s devem­

se ,1 m,1ior ou menor incorporação dos difrrentes tipos de

rcbçõcs cxistentes cnlre as palavras na LN e enlre os lermos

de cspeci;1lidade. ·1:lis variações exprimem, também, o maior

ou menor aprimor:1mcnlu da função de rcprcscnlaç.10

documenlóri,1.

Algum;_1s LDs for;1m conslruícbs visando, principzilmcn­

h:, A urg,miz,1çô:o dos clucumcnlos n.is cslantcs, sendo que

sua funçôo de rcprcsentaç-:io deve ser dih:Tcnci,1da: ,1 rcpre­

scnlaçJo nesse caso deve ser cnlendid,1 crnno ;1 idenlif"ic1çJo

ck documentos com classes genéric.is de assunlos lri1dicio­

n,1lmcnle reconhecidos.

;\ e:=;trulura lxísic;1 de uma LIJ é daLb pur rebçôes hie­

rárqlliG1s, que podem ser genériG1s, especffiG1s ou p;:irtitivas.

(rd,1ções gcnéricns e rel:1ções p;irlil1v;1s scri'io lr;Jt<1Lbs no ca­

píl ulo 3). O vértice de cada liiernrquia é o gênero ou o

todo. i\S subdivisões sucessivas n;-i liier,1rquia constitt1cm ;1s

espécies e/ou ;:1s p,nles, que podem, ntJv;1rncnle, se subdivi­

dir. i\S relaçêks 1I icr6rquirns provêcm ;1s unid,1dcs st1pcrnr­

dcn�1di1s e as unicbdcs stliJordinndas. Unid;1des suhordin,Hbs

<10 mesmo vértice, quandu no mesmo nívL·I c..b cncki;1, deno­

minam-se coordenadas

Nos sistemas de classificnç3o bibliogrMica, a cslrnlura

hier6rquica é dada pelei notaçzio (decimal, no caso d,1 CDD e

da (DU). O vértici.> c.bs c1dcias Iiicrárquic<1s é constituído por

disciplinas convencion;iis que se subdividem succssiv.imcn-

44

te. /\ indicação dos assuntos é feit;:i por meio ela notação nu­

mérica ou ;:ilfa-numérica, conforme o tipo de sistema.

A organiz,1ção b6sica dos lesauros também é hicr:1rq11i­

c;1, existindo l,mtos vértices, que cqLiivalem a cbsses, quantos

forem os aspectos escolhidos p.1ra org:mizar o domínio de

especi,1lic.bde. Nos tesauros mais modernos, tais vértices s?io

denornin<.1dos Top Tcrms e não constil uem descritores, mas

idcntific;1111 ,1s classes escolhicbs par,1 reunir os descritort's.

Vi:1 de regra, são utilizadas not;içôes numéricas :1pcn:1s p.:ira

apresentar as hiernrqui:1s b;isirns e suas princip;ús subdivi­

sões. Ji1is notaçc"ies, entrclzmlo, rar<.1rnenlc s5o utilizad,1s [Klri.l

descrever o conteúdo dos textos 1\ lig<.1ç.°10 lógico-liicr:.írqui­

rn fntre descritores é, no u1so dos tesauros, mais cLir:1, uma vez que é ide11tific1c.b pelos códigos TG crermo Genérico ou

·rtrmo Geral), T[ ('[ermo Específico). Alguns tes:1uros utili­

zam, t1mhém, os códigos TCI' (Termo Genérico l\1rtitivo) e

T[P crermo Específico P;:irtitivo) para aprcsc11l.:.1r ,1s rebçõcs

hier,írquirns do tipo todo/1xirte.

As LDs ;1prescnt;1m, aincb, unidades que si.io rebcion;_1-

lbs ele form;1 n?io-liicrúrquic:1. As rcbções n::io-hinárquicas

são, norm:1lmente, de11orninad,1s ;issocialivJs, muilo cml)l)­

r;i ni.io se poss:1 afirm:1r que :is rcl.içôes hier:'IrquiG1s também

n:io o sc_j;m1. É preciso kmbr;ir, enlrcl:rnto, que :1s relações

hier;írquic.1s representam :1ssociaçõcs m:iis esl:.íveis entre ti:T­

mos, cnqu.into que .1s relações nôo-hicr:.írquicas ex pressam

outro gênero de proxirnic.bde entre os lermos Os rel;1cion:1-

mcntos não-hier,írquicos indicam ;1 ligaç,10 entre termos que

est?io cm campos semânticos distintos, porém próximos. Cacb

termo relacionado pode se constituir no ponto de partid<1 p,ir:1

uma fomíli:1 de lermos aparentados.

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A porlir das noções de geral/particular e de todo/parte, él aniílisc e.li-is rel.:1.çôcs liier{irquirns mostra, pelo menos, três tipos característicos: as rel;:1çõcs genéricas, as relações espe­cífirns e é1S relações partitiv.1s que, como os nomes indic:un, marcam rebçõcs de oêncro llOrlanto o lohais ou ªL'r"i· c; 1·D_ t"> ' n t, n ., t:

laçôes ck espécie, logo parliculan."s e relações de parir de um todo.

i\s rel;ições genéricas definem-se como rebções liirr.:í.r­quiG1s, basczidéls 11;1 idcnticbclc parci:11 do conjunto de Glrac­terístic.1s cbs noc,_·ões superorclenacbs e subordinadas 11el.1s envolvidas. O gênero, nesse sentido, é entcnclido como no­ção supcrordenada que cornporl;1 <-1s mesm,1s Cé1ractrríslic1s das noções subon!in,1d;is, a p:irlir dela.

. J ,í as rebções específicas definem-se como reL\:Ões liier,írquicas su!Jordinacbs que, rilém de comp.1.rtilli,1r UZ!s mesmas ciraclerístiG1s da noção que lhes f superorden;:ida, Ziprcscnt.1, pelo menos, uma rnré1cterística .1. mais que as diferencia.

l·\ noç,10 genfric1 impõe-se, portanto, como cortjunçJo de carnctcrístiG1s comuns, enqwmto que 3 noção espccffirn eslé1belece uma diajun�<fo, ,3 p,1rtir cb con_1t111çiio clé1da.

/\ noção espccífic;i é, port;-rnto, urn.1 noçi:io subordinada que indicé1 a existência de uma dífercnçZl, cm f;Ke de um conjunto de carncterístic;is comuns. /\o mesmo tempo, aprc­scnt1 élS car,1Clcrísliu1s comuns e, pelo menos, um,1 rnr.:1cte­ríslica que a di/"crrnci,1 da noçJo gcnérirn

Assim, por exemplo, ;io subdividir o conjunto dos mél­míferos cm racion�1is e irrncil)n<1is, afirtné1-se, simultanea­mente, a exislf'nci;1 de uma diferença. (r,3cion;1l e irr,1cional) sobre um plano comum ou semelhzmte (mamíferos)

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A (marnikro)

Supcrordcnação 1

(so.:melhança) 1

h e

(racional) (irracio,wl)

,._ _______ ____.

Coordc.:n:içiio

Fig 2 - [squc111.1 iÍL' rel.içãv senérica.

NoçClO gen0rica

1 Subordinação (diferenças)

No�ões l:spccíficas

Na rebçiio genfric:1, a supcrordena�:.10 caminh;:i cbs di­

ferenças para ,is semelhanças, ou sej,1, da espécie para o gê­

nero e, invers.1.mcntc, ;i subordi11;1ç."io cami11k1 das semclhan-­

v1s p;:ir;1 as diferenps, a partir d;:is primeiras, islo é, do gênero

JJi.lI\J éJS espécies.

Exemplificmdo: ;i noç5o de "embarcaçii.o" subclivide-se,

segundo o "tipo", cm noções mais cspecífirns como a de iate, jangada, canoél, navio, chata etc Em rclaçJu é1 essas últimé1s,

a noçJo específic1 "embarcação" é ;i noç3o s11perorclrn,1da. É

<1 p .. 1rlir dessas relé1ções que se pode afirmar que iate é uma espécie de "cmharrnção; que ·'embarcaç;:io" {: um gênero; e

que iate e canoa são noções coorden:id.is.

.1,í a rcbç}o p:irliliva é um lipo de rclaç,10 hicrárquirn,

n;:i qual a noção superordenada refere-se a um objeto consi­

der:1do corno um todo e as noções subonlin,1das a o�jctos

consider,-1dos como suas pi1rles_ Em relaç.:io a "navio", a no­

ç3o de "casco" é um.:i noçJo específic.1 1x1rtiliva, denotando

que n,1vio é umél noçfio rd"crentc ao Lodo (supcrorclenud.1.) e

quc ,;G1sco" é urn.1 noç.'Jn rcCcrl'nte o. parte (subordinad.1).

Do mesmo modo, él noç3o "convés" denota uma subdivisão

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te. A. indico.ção dos o.ssuntos é feita por meio da notaç5o nu­

mérica ou alfo-nurnérica, conforme o tipo de sistema.

J\ orgnnizaç5o b;.ísica dos tesauros também é hierúrqui­

c,1, existindo t;mlos vértices, que equivalem a ci,Jsses, qu;rnlos

forem os aspectos escolhidos para orga.nizar o <lomínio de

CSJ)('Cié.1licbde. Nos tes;rnros mais modernos, tais vértices s:=io

denominados Top 'frrn1s e n5o constituem descritores, mos

ic.knlificam .:is cbsses escolhi<las para reunir os descritores.

Vi:i. de regra, são utilizadas notações numéricas apcn.is par.i

;1presrnlm as hier.irquias b.1sirns e stws principais su!Jdivi­

sôcs. "fois notações, entretanto, r:1ramentc silo utilizadas para

descrever o conteúdo dos textos. J\ ligaçJo lógico-hier:irqui­

GJ entre Jescritorcs é, no rnso dos tesü.uros, mc1is cbra, umél.

vez que é idcnlifiG1d.:.1 pelos códigos TG crermo Genérico ou

·1crmo Ccr:1!), TE (Termo Específico). Alguns lesauros tilili­

z;im, li.m1bé111, os códigos TCP (Termo Genérico P.:.1rlitivo) e

TU' /Termo Específico Partitivo) 1x1ri.l aprcsenlm ,1s relnçôcs

hicr.:írquirns do tipo lodoip.:.1rtc.

As LDs aprrsenUun, c1inJa, unidades que s.iio relé1ciona­

das de forma nzio-hierzírquica. As rebções n50-hicr.:1rquic;.1s

sã.o, norrn;:ilrnenlc, dcnomin<1cbs ;1ssoci.:.1Livas, muito cmho-­

ra n5o se possa afirmar que ,1s relações hiedrquicas também

n:io o sej,1111. É prCL:iso km\Jr;1r, enlrcLrnto, que i!S rcbções

llicr.:irquic;1s representam .:1ssociac;ões mnis esti.Ívcis entre ler­

mos, cnqu.1nlo que ,1s relações n.10-hierúrquic;is expressam

outro gênero de proximidmk entre os lermos. Os rcbcion.:1-

mcnlos n,10-liirr{irquicos indirnm a ligaçJo entre termos que

esl3o cm campos semânticos distintos, porém próximos C1eb

lermo relacionado pode se constituir no ponlo de partid,1 p�1r,1

uma fomília de lermos aparentados.

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Nos sistemas de classificação bibliográfica, os relacio­namentos não-hierárquicos, quando ocorrem, são erronea­mente ''enrnixados" nas hierarqt1ias. É só nos tesauros que estas rebçõcs são explicitamente identificadas pelo código TR (Termo Relacionado).

Adicionalmente, é1S LDs apresentam relações de equiva­

lência. Este tipo de relacionc1mento entre os termos permite a compatibilidade entre a linguagem do sistema e a do usu{i­

rio, operando no nível da sinonímia. Desse modo, criam-se as remissivas, indicc1cbs nos tesc1.uros pelas expressões USE (Use) e l!P (Usado Para), quase inexistentes nos sistemas de cbssificziç3o bibliogr6fica. As relações de equivalência reme­tem o conjunto dos não-termos ou não-descritores para o conjunto dos termos ou descritores /\ finalidade dessas re­missivas é encaminhar o usu(irio para os termos preferidos pelo sistem,1. Constitui-se, desse modo, um.1 chave de aces­so ao sistema.

O co1"Dunto de relações que constitui a estrutura do tesauro é "um elemento importante para que ele possa cum­prir sua funç3o: ela permite ao usu(irio (indexador ou consulente) encontrar o(s) tcrmo(s) mais adcquado(s), mes­mo si::m Si.lbcr, de início, o nome específico pc:ir;1 representar a idéia ou o conceito que ele procura. A p;1rtir de um termo que o l1Sllé1rio conhece, o tesauro, através de sua estrutura, mostra diversos outros que podem ser ti'io oportunos ou mnis do que aquele que lhe veio à mente" (Gomes, 1990, p.16).

Vale ressaltar, ;1inda, que no uso das LDs, podem ser construídns novns relações entre os termos a partir do con­junto de operadores sintfiticos disponíveis, como, por exem-

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pio, as adcl notes, na CDD; + / : ::, no caso da CDU; opera­

dores booleanos, no caso dos tesauros.

Uma vez elaboradas e postas em uso, as LDs mais

desenvolvidas como os tcsa11ros, sJ:o permanentemente atuéJ­

lizildils, mediante operações de supressão de termos em de­

suso, re.:i.grupamento de descritores em funçiio ela existência

de palavras raramente utilizadas e/ou adiçi'io de termos no­

vos. Só .:i.ssim as 1.Ds se rnJ.ntêm como instrumentos dinf\­

rnicos capazes de incorporar os avanços do conhecimento e

as modific.Jções de significado de lermos jú existentes.

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3

Sistema nocional

:\ todo e qualquer rnmpo de conhecimrnlo corresponde

um conjunto Jc noções que lhe é próprio i\s .:íreas cspe­

cializad;is J,1 experiênci.1 humané:l elevem ler seu universo

nocional dcvicbmenle identificado J partir de um dado pon­

to de vista, püra que seja possível organizó.-lo de forma sis­

temMicé!, 011 s�ja, inler--relacionada. Só a organização no­

cional de um;.1 5rrn permite ;:i ulilizaç5o de instrnrnentos

eficazes para o tratZimento e recupcrnç5o cb informê!ç.:'io.

A aus�ncio. de um sislemél de noções devidamente siste­

m�1lizado, invi;::ibilizo. o empreendimento de dar formZI a um

conjunto de pahwms, nJ medida em que esharrn, neccss;::iria­

mentc, cm dificuldades é!dvincbs cb folta de comprecnsiio ou

da compreensão incorretJ d�1s possibilicbdcs de relacionamen­

to entre terrnüs.

Consickrzrnclo que as LDs, normalmente, funcionam a

partir do controle do "vocabulário" ela áreZI, pode-se facil­

mente depreender que o sistemZI nocional de umcJ área cons­

titui-se em um pur5metro básico, ou em umJ viga-meslrn

de sustentaçJo das LDs.

1\ssirn, na pró.tirn, êl aus0nciu de um sistema nocional

compromete não só a indexação, mas também, é) economia

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da próprio ntivicbde documentiiria, fragmenl;:111do-a com q11estões relativils ao significado e à compreensão dos ler­mos. Além disso, nJo raro, as respostas às questões formu­

ladas submetem-se a varinções, segundo o entendimento CJllC cada indexador lem da .:írea, ou segundo o humor no

morncnlo cbquek qt1e opera com a inforrnnçào, o que, fa­talmente, introduz deformações, descaracteriznn<lo os ins­lrumentos docurnent.:írios.

Desta mancirc1, faz-se necessiirio estabelecer, a priori, que ,1 utilização ele qualquer LO supõe é1 explicitac,:Jo nocional da ;írca i1 que se refere e é1 su;i organiznç5o na f'orrnc1 de um sistema.

Segundo a norma ISO 108 7, um sislcma nocion;il ckfi-11e-sc como um '·conjunlo estrulurndo de noçôcs que rcflele as relações cslahclecidéls entre ,is noçôcs que o compõem e no qual cada noç5o é dctcrrninnda pela sua posiçào no siste­ma". Nii.o hast;i, porlnnto, recuperar as noções, enurnernn­do-,1s. É preciso ir além e estc1beleccr suc1s posições relativas, o que se oblém por meio da cklerminaç5o dc1s relaçôes que.1.s associam.

J\ noção ou o co11ccito, por suo vez, define-se corno ·'unidade de pcns;imento constituído por propriedades co­muns :1 um.:i cbssc de objetos"(ISO 108 7). Emborn n.10 estc­j.:1rn lig .. 1déls é1 línguas específicas, ;is noções s5o express<1spor termos e símbolos, sendo influenci;idas pelo contextosócio-cultt1r.:il.

i\s noções, devidamente relacionadé1s, constituem, pois.

o :1rcabouço fundarnent:1! parn ;:i organiz:iç5o de uma áreé1,na medicb em que pl)ssihililam um ponto de vislé1 rnuteric1-lizmlo no sistemc1 de noções, para o trabalho documfntário.

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As relações entre as noções materializam o sistema de noções, que se express;:im, documentariamente, em relações

hierárquicas e relações não-bierórquicJ.s.

As relações hierárquicas são aquelas que se definem en­

tre noções subordinadas em um ou viírios níveis (]SO 108 7)

Dilo de outra forma, as relações bied.rquic;:1s são aquelas

que acontecem entre termos de um conjunto, onde cada ter­mo é superior ao termo seguinte, por uma característica de

natureza normativa

No conjunto das relações hierárquicas, hú que se levar em conta o conceito de ordem e de subordinação i\ ordem

deve ser observnd;:i como urn;:i superordennçiio que consiste

na possibilid;:ide de subdivisão de uma noção hirr2írquica mais alla em um certo número de noções de nível inferior, chil­

madas noções subordinadas. É este processo de subdivis.'io que se denomina subordinc1c;ão. Invers<1rnente, a noçiio su­bordinada é a noç5o que, num "sistem;i hierárquico", pode ser agrupada com uma cm mais noções do mesmo nível (no­

ções coordenadas entre si), pi.lra formar urna noção de nível superior (ISO 108 7), ou seja, umc1 superordenação .

Supen>nknaç:10

r

. ·\

> l b f ..._. - - - - - - - _.,..

1 S" 'º"' ü,c,çáo

Fig 1 - Esqurma de rdaçôi:5 hierárquicas.

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, \ 1'·" 111 .J.1:-. 11oi;ões de geral/pnrticular e de todo/parte,

a ,::mj!ise dns 1Tlações hicrúrquicas mostra, pelo menos, três

tipos c;1racterísticos: as relações genfricas, as relações espe­

cífirns e as relações p<1rtitiw1s que, como os nomes indic.:un,

mé11rcam rcb<;ões de gênero, portanto glolx1is ou gerais, re­

];1\·ôcs de espécie, logo particulares f relações de parte> de t1111

l\1du.

As relaçêSes genC'ricas definem-se como relações hier,ír­

quicas, baseadíl.s na identid;1dc parcial do conjunto de carac­

tfríslicas das noções supfrorden.:1d.1s f subordinadas nelas

envolvidds. O gênero, nesse sentido, é entendido como no­

çJ.o superordcnada que comporta as mesmas carc1clerístic1s

dDs noçc"5cs subordin.:1das, i1 p,irtir dela

Jj as reiaç("5cs t?specíficas definem-si? como relações

hicrúrquirns subordina<l;:is que, .:ilém de cornpmti\11ar c_fas

mcsm.:is característic;1s da noçi.i.o que lhes é supcronlcnada,

e1prescnL:i, pelo menos, urna car,1ctcrística a mais que as

di fercncia.

J\ noç.'io genérica impõe-se, portanto, como conjunçJo

de car;1cteríslicas comuns, enqtwnlo que a noçJo espccífirn

esta!Jekce urna disjunç.'io, a partir d,1 co11il111çiio dada.

A noç,10 cspecífic1 é, pl)rtrn1 to, uma noção subordi nnda

que indica a cxislênciél de uma diferença, cm focc de um

corüunlo de características comuns. 1\0 mesmo tempo, ;.1prc­

senta as características comuns e, pelo menos, uma caracte­

rísticél que a di!crcnci,1 da noçi'io genérica.

Assim, por exemplo, ao subdividir o conjunto dos rna­

mífcros cm racion:1is e irracionais, élfirmél-se, sirnultanca­

mcnte, a existênci;i de uni;1 difcrenp (r;1cionc1I e irr,,cional)

sobre um plano comum ou scmclh.:rntc (mamíferos).

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Supcrordcnação 1 scmel lwni;a) /\ (mamíkrn)

r (racional) (irracional) .-----------. Coordcnai;ão

Fig 2 - Es,1uc11w de rclaçiio genérica.

Noçiio genérica 1 Subordinação ( di fcrcnças)

Na relação genérica, a superordenação caminha d.1s di­ferenças para as semelhanças, ou seja, dil espécie pélr,1 o gê­nero e, inversamente, a subordinaçJo caminha das semelhan­ças pdra as diferenças, a partir das primeiras, isto é, do gênero para as espécies Exemplificando: a noçJo de "embarcaçJo" subdivide-se, segundo o "lipo", em noções m,lis específicas como a de iate,

jangada, canoa, navio, chata ele. Em relação a essas últimas, a noçJo específica "embarcação" é a noçJo superordenmb. É a p.Jrlir dessas relações que se pode afirmar que iate é uma espécie de "embarc1çJo; que "embJrcaçJo" (, um género; e que iate e canoa sã.o noções coordenadas .J,í a relação partitiva é um tipo de relação hier{irquirn, na qual a noç3o superordeno.da refere-se a um ol<jeto consi­der,1do como um todo e as noções subordinadas a objetos considerados como suas pürles. Em rclaçiío a "n,wio", a no­i.·ão de "casco" é uma noção específica partitiva, denot.:rndo que n,wio é uma noçôo referente ao todo (superordcna(b) e que "casco" é 11111a noçJo referente Zi parle (subordinada). Do mesmo modo, a noção "convés" denota urna subdivisão 53

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por partes da noção "navio". Relacionadas por coordenação,

as noções "convés" e "quilha" são denominaci.J.s noções

coordenadas.

Supc,rordcnaçJo

r

Navio

b e d quilha convc's maslio

,._ _______ _.

CDorcknação

Noçfio gcnL�rica partiliva

1 (todo) Subordinação

Noção partitiva

(partl'.S)

Fig, 3 - Esc1w·ma ele rclaç5o partitiva.

As relações não-hierárquicas, por sua vez, definem-se

pela neg;:üiva. Elas recobrem o conjunto de relações que nzi.o

são passíveis de serem descritas como hierárquicas.

É evidente a insuficiência dessa abordagem. No ent.:m­

to, concretamente, pouco se pode a ela acrescentél.r. Se as re­

lações hierárquicas supõem ordem e subordinação lógicas,

;is 11.10-hieré'írquicas não podem supor, ex;itél.menle, essas ca­

racterísticas.

As relações que não se submetem a uma hierarquia são

aquelas que aprescntél.m entre si conligiiiclade espaciôl ou

temporal. Por esta razão, tais relações t.::imbém são chama­

das de relações seqüenciais

Consideram-se relações sequenna1s as de oposiç5o, él.S

de Cilusa-efeito, as de contradição e outrns menos evidentes

como aquelas eslabelccid;is entre as etél.pas de um processo,

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Exemplificando:

ANIMAIS

Mnmíferos

Aves

Répteis

Balráquios

Peixes

/\NUvlJ\15

Carnívoros

I lcrbívoros

Cada umél dess;:is construções delimita e conforma as

noções ou conceitos a serem representados, refletindo esco­

lhas de determinadc1s propriedades, tal como numa árvore

de Porffrio. "O lwrnern é necessariamente mortal somente

numa éÍrvore de Porfírio pJ.rticularrnente fornhzadiJ. no pro­

blenrn d;:i dur;:ição diJ. vidü" (Eco, 1984, p 51 ).

Refletindo Uiis princípios de organização, a configura­

ção das LDs é fruto da organização empírica das proprieda­

des das palavras (e não das coisas), est;mdo fundament;:ida

em postulados sócio-culturais. A.s cldsses, assim obtidas, re­

presentmn, portanto, ponlos de vist[l determinados sobre os

JSSLmlos.

3.1. 1 Relaçc'io genfrica

lima rebçJo genérica supõe uma noç5o fundamental

que inclui noções específicas que, por suu vez, nrnntém com

ela rebções hierárquicas (Boutin-0.uesnel ct al., 1985).

Por exemplo, a noção de árFore agrupc1 noções mais es­

pecífirns de folhas e de con(feras; por su;::i vez, as con(feras

são, segundo a persistência das folhas, caducas e não-caclu­

cas (idem, ibiclcm).

Desse modo, "as relações genéricas indicam que todo

58

conceito que pertence à categoria do conceito específico (a

espécie) é parte da extensão do conceito [ltnplo (o gênero).

Um conceito específico possui todas as rnracterísticas do ccm­

cei to mais amplo, mais, pelo menos, uma C[lrélcterística dis­

tintiva adicional que serve para diferenciar conceitos especí­

ficos no mesmo nível de élbstração" (ISO 704).

;\ extcnsZío ele urna noção corresponde ao ''conjunto de

indivíduos aos qu.:lis uma noção pode ser aplicada (Boutin­

O.uesnel ct al., 1985) e diz respeito à "totalidc1de de todas as

espécies que pertencem ao mesmo nível de abstração ou à

totalidade dos objetos que têm todas as cü.racterísticas do

conceito"(ISO 704).

A noção de extensão vem sempre associada à de intcnsão

ou comprccnsc'i.o. lntensão de uma noção é o corüunto de rn­

racterísticas que compõem esta noç3.o (Boutin-Quesnel d. al.,

1985 ). ;\ intens3.o de um conceito diz respeito 21 toL1lidade

das característirns deste conceito ( 150 704 ). Portanto, quan­

to maior a intensão do conceito, menor sua extensão e vice­

versa. Ou seja, qu.Jnto maior o número de características

que compõem um. conceito, menor é o número de objetos

que compdrtilhü.m destü.s características (lei dô correlação

reversa).

í\ validade de uma relaç.'io genéric.:i pode ser constat[lda

por meio de um esquema lógico do tipo "lodos,'ulguns".

INSETOS

/ ALGUNS sAo TODOSS/\0

�G,\Fi\NHOTOS

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O esquema precedente (JB!CT, 1984, p. 26; ISO 2 788-1986, 1989, p. 605) indica que olguns membros da classe

''Insetos" szio conhecidos como "g::ifanhotos", enq uJ.nto que

todos os "gafanhotos" são "insetos", por definiç5o e inde­

pendentemente do contexto. Isso porque a cbssificaç:io t em

por base as c<lracteríslicas que sZío necessárias e suficientes

paro distinguir noções. O co1�junto de objetos ao qual se ,:ll"ri­

bui rnracteríslicas ou propriec.bdes comuns, ou sc:jél, ao qual

foi a plic.:i.da �1 mesma car<lcterístic;i de divisão, form;i a classe.

!'elo teste de cbsse, gMélnte-se que o lermo ''gafanho­tos" não sejél indevic.lamrnte subordinado ;'i classe de ''prn­

gas", conforme o esquemn abaixo:

PK/\G.'\S

/ �:\LCiUMAS sAo AI.GUNSS,\O

G1\FANHOTOS

Podem existir, tcxbvi.:i., casos especiais nos quais o cc1mpo "controle de prng.:1s" clctcrmin.:i. ,1 subordinnçi10 de "gaf.:i.nho­

tos" .:i. "pr;igas", atmdcndo a objel ivos mui lo específicos (idem,

ibide111).

Conforme jj mrncion.:i.do, uma seqtiêncié! de conci:itos

subordinéldos forma uma si:qüênci,1 vertic.:i.l, enqu,rnto que

noções diferencia(bs no mesmo nível de abstração formam

uma seqi_'1ência horizontal, denornin,1da coordenação.

A coorden.:1ç.:io resulL1, pois, d;1 üSSl)CÍ:iç:io entre noções

obtidas por intermédio di.1 divisão J. partir de um.:1 mesma

60

rnr.:1cterístic.:1. São, portanto, coordenacbs às noções obtidas a partir de "máquina", resultante da subdivisão por tipo: má­

quina de moer carne, de costura, de fresar, de macarrJo etc.

3.1.2 Relação partitiva

A rclilçii:o partitiva expressa i1 relaçfio entre o todo e su,1s

partes. É preciso observar que a relaçõ.o partitiva nõ.o se con­

lunde com ;:i relaçõ.o genérica, embora geralmente elas sejam

representadas do mesmo modo.

Na relaç."ío partiliv:i, o conceito dé.1 parte deprnde do ccm­

ceito do lodo e não pode ser definido previ,1menlc à ddiniçJo do conceito elo todo. Não podemos definir ·'um motor de au­

tomóvel", ;mtcs de definirmos "um .Jutomóvel" (ISO 704). r\s direl rizes parc1 a clabor;:içôo de tesa uros da UNESCO

rcc()nhecem quatro tipos principc1is de cbsses que represen­

lilm relücionamcnto todo/parte: sislern;:is e órgãos do cor­

po, localidades gcogriificas, disciplinas ou ó1-e,1s de estudo e estruturos soci2is hier;::irquiz;:1d;_1s (IBICT, 1984)

Os conceitos que est.:io em urna relação partitiva podem

formar séries horizontais e verticilis similares às séries hori­zontais e verticais forméldas por relações genéricas (ISO 704),

como no exemplo:

SlSTt::M,\ NERVOSO .'ilSTEM,\ NE!Z\/050 CENTR,\L

Ct:REIWO

,\\EJJUL-\ ESPINHAL

1h111tc IHICT. "\',)�4. p . .'.:'J

No1:to g�n.'ric1 partiliva No,·õcs parlilivas

Tais relações i:stii.o presentes nos sistemas de cbssific1-ÇJO bibliogriífic:.i como a CDD e a CDU.

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Também os relacionamentos enumerativos podem ser

considerados como uma modéllidade de relação partitivél, na

medida em que indicam "a conexão existente entre uma

categoria geral de objetos ou ;:icontccimentos expressos me­

di.:mte um substzmtivo comum e um caso individu;:il de tal

rntegoria, que constitui um exemplo ou classe de um só

elemento, representado por um nome próprio", como em:

Fonte: (IS() 27HH)

REC!C)ES MONT:\i\'liOS:-\5

/\ndcs

1 lima laia

Neste c:1so, Andes e Himolaia são subordinodos hiernr­

quicé1mente, porque, mesmo que não sejüm tipos nem par­

tes de "regic1cs mont;:inlioszis", representam exemplos ou

casos específicos do termo genérico (idem, ibidem).

3 .2 REL\ÇÕES N:\0-HJERÁRO.UICAS OU SEQÜENC!1\IS

As reloçcJcs sequcnc1,:us sJo relações que apresentam,

como vimos, umd dependência resultante de um;:i conti­

güidade espaci;:iJ ou tcmporc1! (13outin-O.ucsncl et a!., 1985),

do tipo causa/efeito, ;:mtes/depois, esquerdaídireita, acim;_1/

abaixo, produtor/produto, m;:iterial/produto

Tais re!J.ções podem, também, representar estágios de

um processo de desenvolvimento ou de produção, procedi­

mentos legais, procedimentos odministrativos. Conceitos

deste tipo, com ;:ilgumo freqüência, representam ações que

62

podem ser subdivididas em ações partitiv;:is, tomando lugar

consecutivamente ou simult;:meamente (ISO 704).

/\ orande dificuld,:ide para definir as relações associativas LJ

não-hierárquicas provém do foto de que toc!J.s as pabvras,

termos ou conceitos podem se relacionar entre si em algum

momento. Isto porque élS ,:issociaçõcs dependem, em larga

medidél, do universo de referência considerado.

As ,:issoci,:ições entre termos pertencentes a c,:itcgorias

diferentes são dadas ,:i partir do universo de referência indivi­

dual. Paro. o controle de vocabulário, entretanto, é essencial

conhecer e explicitar determinados universos de referência

Tais referências só podem estar asscntacfos em princí­

pios funcionais, como reconhece Dahlbcrg, parn quem um

rebcionamcnto funcional é "aquele em que um termo que

denote éltividéldc ou operação se liga, conceitualmente, a

um;:i enticL:ide 011 propriedade" (apud IHJCJ, 1984, p. 31 ).

Assim sendo, zi delimitação das nssociüções entre os termos

deve se ligar à estrutura conceituai de domínios específicos,

operacionalizada pcln terminologia, n::i quéll os conceitos de­

vcrJ.o estar mape;:1dos e definidos. Esrnpa-se, dcst:1 m,:ineirn,

do virtualicli.1de associativa passível de ser descnc1dcadn cm

IN; confere-se, por outro lado, consistência aos procedi­

mentos pürél a dctcrminaçfio das ;1ssocinções cm domínios

específicos.

Como ressalt.:1 o documento do !BICT, '111,10 existe pes­

quisa suficiente parn cleterminélr as bases teóric1s d,1s re­

lações associativas" (IBICT, 1984, p. 31) Em foce desse pro­

blema, a nrnior parte das recomencbções existentes nos

milnuais e normds par;i construçi"io de LDs s.:io resultantes

d;:i przítíc,:i (idem, ibidem).

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q) CoisiJ/seu contra-agente:

INSETOS li'!SETICIDA5

r) .f\lividude/produto:

TEAR TECIDO

s) Pessoas ou coisns/suzis origens:

HR,.\SILEIROS BR:\SIL

:\UTOMÓVEL

t) Ass,>ei.1ç;io implícili1:

Hr\LANÇO DE PAG:-\J\IIENTO

li'!DL!STRL-\ AUTOMOHll .ÍST!Ct\

COivlÉRClO ll\:TERN.·\CION,\I.

Ohs.: Esl,1 .:issoci,1çiiu indt1i, segundo iV!ol la, lod,1s ,1qucl<1s que Jl;J() s,· conform;ir,1m ,1os l'Xl'lllplos ankriormcnk rcfrridos (idem, ibidem ).

u) Expressões sinc.1l cgorem6l ic.1s/subst.1ntivos nclos incluídos:

PEIXES fÓSSEIS PEIXES

FLORES DE P.Al'EL FLORES

v) lntcrfoccta:

NÍVEL DE ATJ\'IDADE ECO,\JÔivUCA POLÍTICA Iv!Oi\:ET.ÁR!A

Obs: l'ulític.:i tvlonctCtria (B) é- ;1ssl>ci,1d,1 ;i Nível de Alivid,1dc Económica (..-\) '·porque .\j�í liavi;1 sido ilssociado il B, prcvi.1mc11lc, pelo foto de,-\ ser lltnil d.:is c;.1r.1clcríslicils de B, e sem que B sc_ja, ncccssari;1111cnlc u111<1 d,1s ,·arad,rísl icis de .-\" (,\\olla, J 98 7, p. 49).

66

4

Relações lingüís ticas e documentacão

Urn.1 vez estabelecido um sistcmzi nocional, existem

condições para estabelecer relações entre termos. O rigor

com que tais relações se propõem determin.1 o grau de con­

trole de uma linguagem construída. Dito de outro modo,

urna linguagem construída é produto de uma operação nas

pabvras que ilS tr;insforma em termos. De foto, d linguil­

gem construída neutraliza as diferenças existentes na re­

lação entre a pabvra e seus significados em LN. Nela n5o

podem coexistir, por exemplo, duas ou mais palavrns que

se refiram a um mesmo conceito, ou uma palavra para

designar vários conceitos, sem que o futo seja suficiente­

mente registrado, e seja devic.bmente control<1do. Por essa

razão as linguagens document;_1rii.1S integram vornbuli.írios

controlados.

Para Girilcteriz<1r o que vem iJ ser o controle do voca­

bulário, é preciso entender como se comporta a significaçõ.o.

Bilkhtin ( 1981) observa que, no plano ideológico, a palavra

é uma unicbde "neutra", isto é, apta a se .:idequar a dife­

rentes padrões culturais. E isso ocorre, porque ela é por­

tadora ele umi.1 gama de significação que a torna capaz ele

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produto e produtor, instrumento e processo. É import<1nle salientar que tais relo.çõcs não podem ser definido.s em toda

sua cxlenSélO.

De certo modo, a difirnld.Jde de definir as relações n5o­

hierórquicas encontra-se enunci,1da na sua denominação

usual: rdo.ções associativas. A. impropriedade do termo "as­

sociação" deve-se, neste caso, c10 fato ele que qualquer que

sc:ja J. niJ.lureza da rebção, ela é, em certo grau, associo.livo.. O probkrno. cnl3.o continuarin: haveria relações associativos

hier.írquicas e rebções associativas n.10-hierárquicas

Por isso é preciso restabelecer o contexto que a v:11ide,

ou seja, irnbgo.r a sua naturez:1. O exemplo trcrnscrito .:1b:1i­

xo, da Norma ISO 108 7, ilustr<1 este aspecto.

REL.·\(,':',0 ASSOCl1\TJV;\

DOENÇ,\ TR.·\:\"51\-\TTIJ);\ 5EXLl,\LME:s.'T[

Sífilis

Li11fngra11ulomalosr inguin,il

,\LI EN:\Ç".\O /\lENTAL 11\!CLI R,\VEl.

Demência

[sq11izofrc1iia

PsicoSl' 111,mbcn depressiva

Fig. 4 - MoliJ1os rm;iÍicos juridicam,'nlc aceitos para o c/i1.·ôrcio.

3.1 RF.LAÇÔE.S l llER:\RQUIC-\S

/\ m,1cro-organização d.:1 maior parte das LDs funda-se

na organização lógico-hierárquica de suas unidades. A deli­mito.çilo de classes de .issunto é feité1 .i pé1rtir de pontos de

vista determinJ.dos. Tais pontos de vista., por sué1 vez, eslJo

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baseados em postulados df signifirndo ou cunvenções cul­

turais e ideológicas.

Esse é o caso dos sistemas de cbssific.:1ç3o bibliogr.:ffic::i

corno él [)[\'VEY DECII'vlJ\L CLASSIFIC.,\TION, CDD e él CL,\551fl­

CAÇ:\O DECIM.,\L UNIVERS.,\L, CDU. Esses sistcm.1.s secubres

s5o atualizados por ediçôes periódiec1s que buscam solucionJr

problemas d,1 conternpor.:.rneicbde, já que eles foram org;rni­

z.:1dos, na sua form,1 inici;i.l cm 1 O cbsses principi.lis que co­

briam, consensu.:1lmcnte, o conhccimc11to de entJo. Tais cbs­

ses, por suzi vez, subdividem-se sucessivamente.

A organizaçJo lcígico-hierárquic:1 r t,1mbém .:1 base dJ

organizaç5o dos tcsauros. Corno jj mencion.:ido, os tesauros

têm sua origem llél Colon Classification de Ranganathan e nas

experiências posteriores dcscnvolvid.:is pelo Classification

Rcsearch Gruup, referentes à estruturação do conhccirncnl"o,

a pnrtir da noçJo de ''faceta", ou seja, dn noçiio que privile­

gia determinados pontos de vista no arranjo dos domínios e

subdomínios porhcul.:ires, em função de objetivos específicos

do sistema document.:írio em questi1o. A fonte ele rderênci.:i

para a construção cbs hier:1rquizis, neste caso, é .:i estrut ur.:::i

leórico-concei t ual de domínios específicos, determinzinc..lo-se

cortjuntos de termos do domínio nuckar - n ,írea de especia­

liz.::ição propriamente dila-, e domínios periféricos, ou é.Írcas

complernentzires, conforme necessidac..les ohjetiv.:is do siste­

ma em questão.

No caso dos sistemas de classificaçzio e dos tes:1uros, é.l

organização dzi macro-hierarquia e das liier.:irquias subse­

qüentes depende, porlémto, dos princípios ou carc1cterísticé.ls

de divisão :idoL1dos :1 L"ilUé.l passo, vnriando conforme objeti­

vos dclerminzidos: a CDD e .:i CDU pretendem rcf crir-se .:io

56

universo global de conhecimento, tendo-se curvodo, para

tanto, ,'is referências post ubcbs por 13.:icon par.:::i a orgJniza­

çào do conhecimento; já os tesauros voltam-se para domí­

nios cmb vez m.:iis p:1rticubrrs, sendo construídos cm fun­

c..·Jo de universos muito delerminmlos. SJo, por essa raz3.o,

mais flexíveis quanto Zl estruturaçJo do esquema classi­

ficalório básico e rn;i.is ,1dequ,1dos ao :itendimcnto das neces­

sidades i11formc1tiv.:1s de domínios especié.llizados.

;\ flexibilidade dos tcsauros vincub-se a um princípio

c.le utilicbde Desse modo, pode-se construir, pzira lll1l cam­

po p.:irt icubr do conhecimento, tantos tesauros quantos fo­

rem necess;írios. Cada um deles procurariÍ org.:mizar um dado

universo nocional, de .:1cordo com o ponto de vist:i que se

imprirne ao domínio, para responder a diferentes necessicb­

dcs. Para a ISO 704, "um ol�jcto cspccífirn pode ser visto de

diferentes pontos de vist<.1 por disciplinas diferentes".

1\ssim, por exemplo, '·cm termodinfünirn as caracterís­

tic.::1s essenciais do conceito 'líquidu' sõ.o aqueb.s que indirnm

que ele é 'umn substância cm cstaclv condensado, intermediário

entre sólido e gasoso"' (idem, ibidem)_ "Em hidrornecânica, as

rnractcrístic.:is rssrnci,1is do conceito 'líquido' s3o que ele é

uma subsU1ncia que é 'inco111press(vcl'1 'cle11sa e capaz ele.fluir'"

(idem, ibidem).

No exemplo d,1 ISO, .:is Glr�ictcrístic::is (propriecbdcs) pri­

vilegiadas n:1 dcfi11içã.o de "líquido" em termoclinJ.mic.:i ou

em hidromecJnic.:i, determinnm .:i definiçJo, implicando, por­

tanto, modos específicos de abordagem do .:::issunto e, conse­

qüentemente, construção e.las hierarquias.

DcsL1 form.:i, é pussível construir t,rntas hiernrquias

quantas diferentes conjunções realiz.:::irmos entre as p.:11.:::ivras.

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1 1•,,, 1d\ 1s • 111 pnst ulados de significado ou convenções cul-

l I ir,1is e ideológic.:is.

Esse é o Glso dos sistcrn<1s de classificaçJ'o bibliográfica

como a DEWEY DECIMAL CL\SSIFICATION, CDD e él CL\SSIFl­

C.'\ÇÃO DECIJvtAL ll.NIVEJ:1.S;\L, CDU. Esses sislenrns secubres

s3o ,1tu<1liz<1dos por ediçõt:s pcriódic.1s que busrnm solucionar

problemas cb conlcrnpor,:meidadc, jó que eks foram orgc111i­

zados, na sua formc1 inicial em 10 classes principais que co­

briam, consensualmt:ntt:, o conhecimento de entJo. T.::iis clas­

ses, por sua vez, subdividem-se succssiv.1menlc.

A organiz.-içJo lógico-hierárquica é larnbém a lx1se tb

organização dos tes;1uros. Como jó. mencionado, os tes;1uros

lêm su,1 origem n;i Co/011 Class(fication de �.mg�1natilan e nas

experiências posleriorcs dcsenvolvicbs pelo Class(fication

Rcscarch Grou 11, referentes c1 esln1l uraçno do conhecimento,

a p,:,rtir do noçJo de "faceta", ou s�jo., da noçiio qlle privile­

gia determinados pontos de vista no c11-rc1njo dos domínios e

subdomínios p,1rticubres, em funç5o de objetivos específicos

do sislema document,írio em queslJo. A fonte de referência

parn a conslrução cbs biernrquias, neste ciso, é a estrulura

tcórico-conccitu.1.l de domínios específicos, dctermin,1ndo-se

coqjuntos de termos do domínio 11uclcc1r - ,1 círea de especi�1-

lizaç5o propri,1menlc Jit;i -, e domínios periféricos, 0t1 .ire.JS

complcment.:1res, conforme neccssicbdes ol�jetiv;:is do sisle­

mn em questão.

No c1so dos sistemas de classific;1ç5o e dos tesat1ros, a

org.::mizaçâo dn m;:icro-hicrarquia e das liicrarqui;is subse­

qücnlcs depende, port<1nlo, dos princípios ou características

de <livisiio adolados ,1 c:idn passo, variando conforrnc objeti­

vos determino.dos: a CDD e a CDU pretendem referir-se <10

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t m1vcrso global de conhecimento, tendo-se curvado, para

l .. mto, Zls referências postubdas por Bacon para a organiza­

ç:1o do conhecimento; _j;í os tesauros voltam-se para domí­

nios cada vez mais particulares, sendo construídos cm fun­

ç:'ío de universos muito determinados. 55:o, por essa razJo,

mais f1cxívcis quanto à estruturação do esquema classi­

ficatório b .. isico e mais adequndos ao ,1lcndimento das neces­

sidades informativas de domínios especializados.

A f1exibilidade dos tesauros vincula-se a um princípio

de utilidéldc. Desse modo, pode-se construir, pélra um cam­

po parlicular do cu11liccimcnlo, tanlos les�1uros quanlos fo­

rem necessários. Cada um deles procurnrú organizar um dado

universo nocional, de acordo com o ponto de vista que se

imprime ao domínio, para responder él diferentes necessicb­

clcs. Para a ISO 704, "um objeto específico pode ser visto de

difcrcntcs pontos de vista por disciplinas difcrcntes".

Assim, por exemplo, "cm tcrmodinfimica élS caractcrís­

liG1s essenciais do conceito 'líquido' são aquelas que indico.m

que ele é 'umo. subst,focia cm estado conclensacio, intermecliário

entre sólido e gasoso"' (iclcm, ibidem). "Em hidromecfinica., as

caro.cterísticas essenciais do conceito 'líquido' sJo que ele é

uma subsUincia CJUe l 'incomprcss(i:eL 'c/cnsa e capaz defluir"'

(idem, ibiclcm).

No exemplo da 150, c1s características (propriedades) pri­

vilcgiéldas na clefiniç3:o de ''líquido" cm tcrmodinJmica ou

cm hidromcdinica, determinam a dcfiniç.10, implicando, por­

tanto, modos específicos de abordagem do assunto e, consc­

qücntcmcntc, construçi'iu das hierarquias.

DcsL1 forma, é possível construir tantas hicrarquio.s

quantas diferentes conjunções rcalizo.rmos entre as palavras.

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Exemplificando:

/\Nl1\1./\IS

Mnmífrros

J\ves

Répteis

Batráquios

Peixes

---

/\NIM1\IS

Carnívoros

l ierhívoros

Cnda um.::i clessns construções delimita e conforma as

noções ou conceitos u serem representados, refktindo esco­

lhi.is de determinadas propriedades, tal como numa Jrvore

de Porfírio. "O homem é nccessarimnente mort.11 somente

num.1 árvore de Porfírio particularmente fornliz.:ida no pro­

blema da dur;iç3.o da vida" (Eco, 1984, p. 51 ).

Refletindo tais princípios de organização, a conrig ura­

ção das LDs é fruto do organizaç3.o empírica das proprieda­

des das pabvr�1s (e n;io das coisas), est�mdo fundamentada

em postulados sócio-culturais. As classes, assim obtid;:is, re­

presentam, portanto, pontos de vista determinados sobre os

assuntos.

3.1.1 Rclaçiio ,gcnéricc1

Uma rel.J.ção genérico supõe uma noção fundamental

que inclui noções cspecífic.:1s que, por sua vez, mantl'm com

ela relações hierjrquicas (Boutin-Ouesncl ct ai., 1985).

Por exemplo, a noção de úrvorc .::tgrupa noções mais es­

pecíficas de folhas e de con(leras; por sua vez, as coníferas

são, segundo a persistência das folb.1s, caducas e não-cadu­

cas (idem, ibiclcm)

Desse modo, "as rebções genéricas indicam que todo

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conceito que pertence à rntegoria do conceito específico (aespécie) é parte da extensão do conceito amplo (o gênero).Um conceito específico possui todas as c.:iracterísticas do con­ceito mais amplo, mais, pelo menos, uma característica dis­tintiva adicional que serve para diferenciar conceitos especí­ficos no mesmo nível de abstração" (ISO 704).

A extcnsJo de urna 1wç,Io corresponde ao "coruunto deindivíduos .:ios quais uma noção pode ser aplicada (Boutin-0.uesnel ct al., 1985) e diz respeito à "totc1lidade de todas asespécies que pertencem ao mesmo nível de c1bstr;:1ção ou àtotalidade dos objetos que têm todas as característicc1s doconceito"(ISO 704).

A noção de extensão vem sempre associada à de intcnsão

ou compreensão. lntensão de uma noç3o é o conjunto de ca­racterísticzis que compõem esta noção (Boutin-Quesnel ct al.,

1 985). A intensão de um conceito diz respeito ú totalidadedr1s características deste conceito (ISO 704). Portanto, quan­to maior a intensão do conceito, menor sua extensão e vice­versa. Ou se:jo, quanto maior o número de característicasque compõem um conceito, menor é o número de objetosque compartilham destas características (lei da correlaçãoreversa).

A validaJe dr umo relação genérica pode ser constatCidapor meio de um esquc111C1 lógico do tipo "Lodos/Cilguns".

INSF.TOS

/ ;\LCUNS si,o TODOS Si,O

�G,\lº/\NHOTOS

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O esquema precedente (IBICT, 1984, p. 26; 150 2 788-1986, 1989, p. 605) indica que alguns membros da cbsse"Insetos" são conhecidos como "gafanhotos", cnqu;:into quetodos os ·' gafanhotos" são "insetos", por definiç3o e inde­pendentemente do contexto. Isso porque a classificaç.:10 tempor b;:isc> as caraclerístic.::1s que szio necessárias e suficirntespara distinguir noções. O conjunto de objetos ao qual se c1lri­bui cc1r;:ictcrísticas ou propriedades comuns, ou S('.j.'.1, ao qualfoi :1plicada a mesma célractc>ríslirn de divisão, formé1 é1 cbsse.

Pelo leste ele classe, garante-se que o lermo "g<1fonho­tos" não seja indevicfamentc subordinado A classe de "prn­g::is", conforme o esquema abaixo:

PRAGAS

/ ALGU1vfAS SAO i\LGUNSS.'\O

�CiAl:,\NHOTOS

Podem existir, todaviél, rnsos especiais nos quais o campo"controle de prag.1s" cletcrminc1 :1 subordinaç:io ck "gnfanlio­tos" a "pragas", éltendemlo a ol�jelivos muito específicos (idem,ibidem).

Conforme jií mcncion:1do, umu seqi.1ência de conceitosst1bordinaclos forma 11111a seqüênci,1 vertic.11, cnqwmlo quenoções difrrenciad:1s no mesmo nível t.!e abslr.1ção Corrnarnurn.1 scqúência horizontal, clenomin:1clé1 coordenação.

A coorclcn;ição resulta, pois, da üssocic1ç:'io cntri.> noçõesobtidas por intermédio da divis3o a partir de umü mesma

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;\ experiência na elaboração de LDs permitiu rnumernr

vários lipos de associação, segundo ü sua natureza. Entretan­

to, a ocorrência e utilidade desta ou daquela .:lssociação depen­

de do modo de org,rnização dos domínios de especi�1lidade. Confrontando-se ;:is recomend;-iç('5cs do IBJCT e aquelas

�1presrntadél.s por Lmcaster (1987) e por Molla ('] 987), ob­

serv::i-sc grande v�iricdack de rcla1;:ôes mJ.rcadas por diferen­

tes pontos de visL1. Abaixo estão reunidos exemplos dcsti­

n<1dos a cscbrecer ns complexas relações entre termos, cuj.1

:1ssociaçiio resulla ele contigiiicl,1de temporal ou espacinl:

<1) RcbçJo de 1\tribui(io:

l::CONOMI,\ NÍVEL DE ,\Tl\'11):\DE ECONÔJ\·llC-\

b) Discíplinil ot1 c.1rnµo de csludot objetos ou fenêimcnos cs­

tudi1dos:

ENTOMOLOGI,\

ESlÍ:TICA

PAClfJSMO

1;-...:snos

MELEZ.\

p,\Z

e) Processo ou opt'r;1çiio/seu ngentc ou instrumento:

CONTROLE DA T[MPERATUIU

ILUM[ 1r\(,\O

AUTOI·d .. ·\�:.�o

.\QUI:CíMENTO

POLÍTICA MONI:T.-\RL·\

c\J Relação de [nl1ui?ncia:

l'OLÍTJCA I\\ONET.-\RIA

e) ivL:itérié:l-prima,rproduto:

n:\LIXIT·\

f) Coiso, élplirnção

r\lt·\STECJ;\:\ENTO DE ,\CU-\

64

TERMOS.JAIOS

L: \PADA'i

COMJ'LIT·\DORE:i

COi\rnUSTÍVUS

L·\X\.'i DE JURO.'i

.-\LU '1ÍNIO

IRRIGAÇÃO

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g) Aç3o/resultado da ação

TECELAGE1\l

PINTURA (Arte)

CR[SCIMENTO ECONé\v!ICO

TECIDOS

MURAIS

DESENVOLV!MEN·ro ECONÔ1vl!CO

h) C:n1s.1lidade ou cous,vconscqliência:

CRESCI1\lt.:i\:TC) ECON, M[CO

iJ Efrilo/c;1usa:

FEBRE

j) Ocpend[·nci;i c;1usol:

DOE 1 .r\5 PATOGÊ IJCr\S

kJ 1\tividade/,1gcntc:

·1:-\Br\GIS1V\O

1) Alividi1dc/propried:1de

COlffE

m) 1\livicbdes complementares:

COMPRA

n) Opnslos:

\'][");\

1:Ml'RECO

o) ;\ç:1o. seu paciente:

EXTRJ\l)IÇ-\0

l'ESC:\

DE5ENVOLVIMENTO EC01 'ÔMICO

JNFECÇ-\0

,\CENTES P.-\TOCÍ:N!COS

FUMO

LISJNr\BILlDADE

VENDA

;\lORT[

CRIJ\\INU505

PléSCADU

p) Coiso ou nlivicbde,suas propriedades ou agentes

VI.::NEi\'.05

CRL\f\(:\ Slll'EIWOT\D,-\

65

TOX!n\D[

l!SINA.BIUDADE

INTl:UCÊ1 1C!A

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4

Relações lingüísticas e documentação

......

Uma \/ez estabelecido um sistema nocional, existem

condições parn. estabelecer relações entre termos. O rigor

com que tais rebções se propõem determina o grnu de con­

trole de urna linguagem construídd. Dito de outro modo,

uma linguagem construícfa é produto de uma operaç5o m1s

palavras que as transforma em termos. De fato, a lingua­

gem construída neutraliza as diferenças existentes na re­

laç5o entre a palavra e seus significados em LN. Nela não

podem coexistir, por exemplo, duils ou mais palnvras que

se refiram a um mesmo conceito, ou uma p,1!J.vra para

designar vários conceitos, sem que o fato seja suficiente­

mente registrado, e seja devidamente controlado. Por essa

rnz5o as linguagens document/irias integram vornbulé.hios

controlados.

Para rnracteriz<1r o que vem a ser o controle cio voca­

bultirio, é preciso entender corno se comporta a significaçi.io.

Bakhtin ( 1981) observa que, no pbno ideológico, a palavra

é umd unidade "neutra", isto é, apta a se .Jdequélr a dife­

rentes padrões culturilis. E isso ocorre, porque ela é por­

tadorn de uma gama de significação que a torna capaz de

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LD LN

Stc ... .. Sdo. Stc ... .. sdol

... .. sdo2

... .. sdo3

É preciso entender, port.1nto, que é intrínseco ií. p;:i_lavra

signifiGJr de 111,1neir:i própri;:i_ .1 c;:i_da ocorrênci.1. Esse n.'i.o e

lllll defeito. É ,rntes uma G1r.1etcrístic;:i_ irnporlimtíssimn p,1r;1 ,1 inlcrprcl<1ç.'i.o dl) mundo. Ni'io se pode exigir que a LN de­

cline d:i su;-i funç.'i.o t:imbém inlcrprcL1liva e criildora para

e.xcrcil;:ir �1pc11:1s a runç.'io informativa. i\s LDs, ,10 contró.rio,porque s3o ebboracbs p:1ra o exercício estrito da funç.'i.o in­

forrnntiv:1 , compreendem unicbdcs c.1pnzcs de representar

inforrnziçJo. ,\.!Jo é suficiente que l:iis unicbcks signifiquem.É ncccss,írio que ebs signifiquem de 111<1ncira determinillh

Portanto, qunndo se ,1firm:1 que ;:is lingu,1gcns docu­mcnl,íri,1s supõem o controk do voca!Jul.írio, afirma-se, si­multar 1carnc11tl':

,1) il exislêncii1 de mcc111isrnos inlnprclativos próprios,

uma vrz qur nJo se pode utilizar o mcc:1nismo

inlcrprcL1livo d,1 LN p:ira determinar significados Lbs unil!ddes dcsli11;1d,1s ,) reprcsenl,1çJo d,1 i11forrn<1çJo;

b) ;1 possibilil.bdc de se produzir linguagens de 11,llurc­z,1 mcmossêmica que participam cb ebboraç3o de LDs.

Em Lice da nc1lurez�1 plurissl:'mica da LN, a elahora­

ç3o de LDs supõe alterar ;:i fonte de significaç.10, istoé, alterar ;i possibilidade de significar, orientando-a

par,1 a necessid:idc de fix;:ir significados. Este processo

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permite a transformação da unidade de significnç3o

em unidade de informaç3o;

c) a existêncio de um vornbulário próprio de uma LD

que comporta, prefcrenci.:ilmente, unidades de lingu::i­

gens de especialidade, isto é, termos, também deno­

minados "vocabulários especializados". O vocabulá­

rio ger.:il que se compõe de palavrns, se, por um lado,

é mais rico que o primeiro, por outro, do ponto de

visla do tratamento da informoçâo, é m<1is limit<1do.

4.1 POL155Ei'v1IA E AMBIGÜJDADE

Par.J a Lingüístic.::i, a pabvra é sempre fonte de signifi­

cação J\1J.s h6 que se distinguir a plurissignifirnç5o corno

[cnômeno geral, decorrente da organizaç5o sintático-semJ.n­

tica de enunci::idos, e J. polissemia, fenômeno específico da

árc<1 vocabulo.r.

A ambigüidnde, por sun vez, é cntenclid�1 como i1 possi­

bilidade de uma comunicaç3o lingi.iístirn prestar-se a mais

de uma interpretaç3o e ocorre em funç3o, tanto da pluris­

signifie:1ç3o como da polissemia.

De [ato, a ambigiiidmk pode ser conseqüência, nél i'írea

vocabular, da polissemiJ ou da homonímia e, no pbno n1Z1is

geral, de deficiências na utiliz<1ção de példrões sintático­

sem5nticos.

Peb polissemia, como foi mencionado élnteriormente,

observa-se que uma palavra pode comportar mais de um

significado, como em "I-Iojc trabnlhei muito conz ar-condicio­

nado", onde o enunü:idor tanto pode estar dizendo que tra-

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normalmente, com os mernnismos interpretativos habituais

e nos ncostumamos com signifirndos repetitivos. Isso diz

respeito .::i.os nossos h.:í.bitos e n5o uo sislcmn lingü[slico.

Por estarem num sistrma relacionnl, as p,-1lavrns de­

vem ser ohservacl;is cm oposiçé'io um,1s ;)s outros. Em si

mesma, por exemplo, .:i palavra ''all:1'' pode ser incorrcla­

mL'.11te interpret<1<.fo como ambígua, j;1 que pode estar nsso­

ci:1eb .1 signifirnções difrrcn tes, como: crizmç�1 alta e mulher

alta. O mesmo pode-se :1firmAr cm rclaçé'io .1 pabvr,1 "b:1i­

xo", um,1 vez que ''criança baixa" e "mulher baixa" ;iprc­

scnb.1111 igu,1lrnente significações divcrs<1s A .:imbigi.iidade

(bs pal.:.1vr.1s inexiste se :1s observamos como oposiç::io. fic,1

evidente, desse mo<lo, que '·cri,mp b;:1ix;1"/"cri,111ça alta" é

11111n oposiçJo ,m,ílog:1 à oposiçZio '·nndher b:lixa"/''nrnlhcr

,11la". !\ signiCic-1ç;:io, nesse caso, denomin,1-sc oposicion,il e

possibilita delcrmin,1r o sentido, propondo limites par::i :1

indelerminaçJo original.

E.sl:imos diélnlc, cnt.::io, de dois fenômenos que devem

ser objeto Lbs opera�-t'5es de dabor�1çJo de linguagens doc11-

mcrll,1ri,1s: a polissemic1 e a monossemia. A polissemia é rcs­

ponsúvcl pcb p:1ssagcm de umil significaç:io 3 outr,1, c..lc modo

que <1s u11id,1des scj,1111 G1p,11.es de represcnlnr ,1 informélçZio.

;\ infornuçJo, ao contrúrio di.l signific:ic)io geral, deve ser

dctcrminnd:1. Para que da o s�ja, <1 signifiu1çifo que a reprc­

senl.:1 nfio pode ser de nat111Y2a polissi?mirn. í\ monossemizi,

por su,1 vez, desej:ivd n;1s LDs, é obtida por meio de redes

rcbcionélis e definições dos termos. Isto quer dizer que, :io

contré1rio dél LN, onde ;1 riquezil vincula-se él polisscmi,1, a

fix:1ç5o de rd,içõcs e definições prcc1s:1s é seu princípio

organizador ckment:ir e lx:ísico.

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/\ssim, .:10 oper.ir com LDs, devemos .inalisá-las, tendo

t·m vista desvcnd.ir o modo pelo qu.:11 ncbs .is signiíic<1ções

siio orgilnizadas.

i\ rigor, n5o se destja que um termo se enriqueça. Exi­

ge-se que ele expresse conceitos c.lcterminodos ... ·\ definiç3.o

deve propor um�1 cxprcssZío (sinl.:1gm:1 ou p<1hvra) sem<1nli­

c.:1menle equiv,1lenle .� unidade a ser dcfiniclii. N,10 se deve

descrever, por exemplo, o objeto concreto ferro ou úgua, 111;1s

o f'tmcion<1rnenlo lingüíslico <lo lermo m1n1 sistema nocional

em quesliio, l;il como Fe e H_,O, respectivamente, p,1rn o vo­

cabulário J.i Química

O turno, larnbém, define-se por suas relações com ou­

lros termos. Extraindo o lermo do lug,11' que ocup,1, o qual

lhe confere sei I valor, privamo-nos do único meio possível par.:1

definir suzi cxistênci,1 li11giústic;1, rigoros;1 o suticicnle par.:1 ga­

rantir seu f11ncion;_ime11lo como unidade <le inform<1çi10.

Sendo ;1ssim, Fc e 1120 pass:rn1 ,1 ler signifirndos fixa­

dos e determinados Integram um vocaht1lário espcciillizado

(técnico ou científico) Seus corrcl,ll os ferro e {igu;.1 integram

o vocabu!.:í.rio geral d<1 LN, no qual podem ;1ssu111ir signifi­

cações <.hvcrsas. Por exemplo, ferro, em relaçiio ,10 objeto, ;i

conceito etc

Por vezes , observ,1-se confus,}o cnlrL· ,1mbigi"iic!mlc e

polissemia A nrnbigiiidadc lcxic<1l impõe-se por rncío d,1

polisscmin e da hornonímio. Na lingu,1gcm uocumcnl,íria, a

:1mbigüidade {: Lrnlada com o auxílio de moc!ifirndores que

contexhwlizam o sentido. Ex.: planta (botJnica), planta (ar­

quiteturéi); comp<1nlii.1. (empres:J), comp.inliia (1xssoa).

[rn princípio, cm LN, a ambigüicbde é focilrncntc resol­

vida pelo contexto. O mesmo 11.10 ocorre com a polissemiJ.

7� _)

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;\ visEio ingêmlé1 que identifiG1 ;:imbigüidade e polissemia,

acaba por acreditar que apenas a ambigüidade leva c1 inde­

terminação do s,ntido. Ela é, ele fato, o fenômeno maisª!-'ª­

rente e o menos grave. A armadilha é acreditar que J pa­

lavr<1 tenha um único significé)do. Nega-se a polissemi<1 como

fenômeno global e estalielccem-se operé)dores de sentido que

pouco têm a ver com o rnrnpo nocional, isto é, substitui-se

o conceito ou a noçi'io própria dos vocabulários especializ;:idos

pelas indeterminações do vocabulário geral.

Para nn1tralizar c.1 polissemia, é preciso bnçm mão de

dois recursos: ebhoração de redes rebcion<1is e estabeleci­

mento de definições e notas de escopo, srmpre que as redrs

sr mostri.lt-crn insuficientes para <1 interpretação tmívoca d3

significação. Té)is recursos impõem operadores de sentido,

isto é, elementos que conduzem o indexador a intcrprel.J.r

adequad.:uncnte, cm conformicléide com o sistema nocional

cm questão .

4.2 SINONÍMI1\

A sinonímia é uma relação de equivalênci.1 entre, ao me­

nos, duas pJ.IAvras. Por meio clcb nJo st' afirma i1 identidade

entre L)S demcnlos envolvidos na relação. Isto é, x equivzile i1

y indica que x pode, cm detcrminaJo.s circunstJncias, subs­

tituir '>1- i\. equivalência é um recurso norrnaliz;:idor impor­

tante parü o. compreensão de uma linguagem documcntiíria.

De um lado, permite normalizar a polissemia, indicando que

várias pulavras, umn vez que compartilham signific1dos pró­

ximos, expressam-sr por um mesmo descritor. De outro,

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assumir sentidos ou valores diferentes, dependendo do con­lexto.

/\ssirn, a despeito de seus semas básicos que constitunn

o que se poderia chamar de núcleo "duro" de significaç5o da

p;:ilavr,1, ela como que se amolda a cada realidade contfxtu,1!,

permitindo diferentes focalizações.

Desta forma, é impróprio dizer que um;:i cbda palavr;1 tem o significado y, embora s(-:ja viável, a p,1rtir de um sig­

nific;:ido b:ísico, ,1í"irrn,ir que ela .1ssume vó.rios senlidos ou

v,1lores, dependendo de contextos. N?ío é por acaso, pois, que i1 LN se propõe como esp:1ço para o exercício dn li1)Cnbdc. O

sujeito folante nôo é ;:ipenas um reprodulur de sentido. A.o se

<1poss:1r dil linguagem, ele rxcrcila o ato de signif"ic1r, que supõe liberdade de escolh,1.

Esta é umn das riJZCJes pelas quais a L r se define, inv.J­

riavclmente, pela Sllil dinarnicicbdc, jó. que, é1 cada momen­to, cb se lransform.J, evolui. É o instrumento de represen­

taç5o da renlid,1de que deve ser carnctcrizodo corno mCilliplo e plurissigniíicalivo.

!\s unicbcles conslit ulivos das linguagens conslruídas, ilO conldrio, significam de m,111eir,1 precisa. Contrapõem-se,'is unidades ÔJ LN, jusléirnente por imporem significados fi­xos, de rnaneir;:i coercitiva. /\o contr,írio da pal,nT,1 polis­sêmic;:i do vou1bu]3rio geral d,1 LN, o lamo do voG1bul.írio especializado das linguagens construídas tende a se compor­tar de m,meira uniforme, com pequenos variZJções, isto é, nele as rebçõcs cnlre forma si0nificZJnte r sionifie1dc) l•"n-� . . V � �

demo ser unívocas. Diz-se, nesse caso, que o termo, ao ccrn­tr,írio do pabvra polissêmic1, é de naluru,1. monossêmica

Em diagram:1:

68

LO

Sle. .. Sdo. Stc ..

..

LN

selo!

sdo2

sdo3

t preciso entender, porlanto, qur é rnlrínscco i1 p;:ilé!vra

significar de m,111eira própria a cada ocorrênci,1. Esse 1150 e

um dcfeilo. t ,111tes uma caraeteríst ica impurL111tíssirn,1 p,1ri1 :1 inlcrprelaçJu do mundo. NJ.o se pode exigir que i1 LN de­

cline d,1 su,1 funç:io tom!Jém i11lerpret,1liva e cri,1dora pnra

cxerciL1r apen,1s a funçôo inlormaliva. As LDs, ao conlri'írio, porque s:io cbbo1\1cbs para o exercício estrito da funçôo in­

form,1liva, compreendem unidades capazes de representar

informaç5o. NJ.o é suf"icicnlc que tais unidades signifiquem. í:: nccess,írio que elas signifiquem de maneir,1 dctcrminé!d,1.

Port:mlo , qu,mdo se ,1firma que ;:is linguagens docu­mcnliíriils supõem o conlrolc do voc;:ibul;írio, afirma-se, si­m ui l :mc,1mcn te:

a) a cxislência de mcrnnismos inlcrprclalivos próprios,

uma vez que 11,10 se pode utilizar o mecanismo

inlcrprcL1livo cb LN p,1ra delerminar significados dasunidades dcslinacbs i1 reprcscntz1çJ.o da inform.:iç5o;

b) a possibilidade de se produzir linguagens de nature­za rnonossêmica que p,irtic1p:1111 da ebburaç5o de LDs.

Em L1.ce da naturcz:1 plurissêmica da LN, a clahora­

\·5o de LDs supõe alterar a fonte de signiíic:iç?i.o, isloé, alterar a possibilicLide ck significar, oricnl;imJo-�1

par,1 ,1. necessidade de fixar signií icados. Esle processo

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permite a transformação da unidade de significação

em unidade de informuç5o;

c) a existência de um voc:1bulc1rio próprio de urna LDque comporl.i, JJrefcrcncialmente unidades de linoua-,

,·,

gens de especialidélde, isto é, lermos, também deno-minc1dos "vocabulzírios espccialin1dos". O vocabulá­rio geral que se compõe de palavras, se, por um lado,é mais rico que o primeiro, por outro, do ponto devista do tratamento da inforrnZJ.ção, é mais limitado.

4.1 POLIS5EiV1I/\ E AJ\lBIGÜJD/\DE

Para a Lingiiística, a pZ1lavra é sempre fonte de signifi­

caçi10. J\1c.1s hó que se distinguir a plurissignificaç5o como

fenômeno geral, decorrente da organização sintMico-semân­

tica de enunciados, e a polissemia, fenômeno específico da

área vocabular.

A .:i.mbigüidadc, por su.:i. vez, é entendida como a possi­

bilidade de uma comunicoçiio lingiiístic:1 prestar-se a mais

de urna interpretação e ocorre em função, tanto da pluris­

significação como da polissemia

De fnto, a ambigüidade pode ser conseqüência, na área

voc;ibular, da polissemia ou da homonírnia e, no plano rnnis

ger.11, de deficiências na utilização de pzidrõcs sintMico­

semânticos.

Pela polissemia, como foi mencionado anteriormente,

observa-se que uma palavra pode comporlnr mais de um

significado, como em "Hoje trabalhei muito conz ar-condicio­

nado", onde o enunciador Urnto pode estar dizendo que tra-

70

balhou em aparelhos de ar-condicionado, quanto cm ;1111-

bienlc refrigerado ou aquecido por ar-condicionado. Ou 11él

fr.:1sc "O cachorro do meu vizinho uivou ;_1 noite toda", onde

ele pode estar dizendo que o cachorro pertence ao vizinho,

ou que o vizinho é um cachorro.

-n-1mbém a hornonímia, que consiste cm uma mesm.:1

formd significante remeter a duas realid.Jdes vocabulares di­

versas, sej.:i.rn unidades com idcntid.:i.de ftmica (]10111ofonin)

ou identidade orMica (homoçzrafia), 1Jo<lc Qernr ambi{),üidn-u ,., ,...., e..

de. Por exemplo, num;i frase corno "O mestre entn:gou a ca­

deira ao coleoa" o sionificanlc "cadeirn" t;:rnto lJOde remeter ..:-, , D

i\ palavra c;1deira = objeto para sentnr, quanto a cadeirn =

cátedra de um docente.

Pelas deficiências no uso de pdclrõcs sintáticos, eviden­

ciam-se também :11nbigüidadcs, geralmente, resolvidas em

LN com modiriG1çõcs de colocaç:10, como em "Os juízes cn­

c:1ravam os réus cnigrnMicos", onde tanto él signific;iç:10 pode

ser relélliva à atitude dos juízes, quanto ;_10 estzido dos réus.

;\ colocação dos sintagmzis, ou a seleção de padrões sintMi­

cos pode, entretanto, des:1mbigüi7-.:1r a frase "Os JUÍ7-es cnig­

mólicos encnravarn os réus" ou ''l)s juízes encaravam os réus

que eram (estavam) cnigm,ílicos.

Num,1 linguagem clocumcnt:íria, tanto a polissemia,

qu;_mlo a ambigüidade devem ser neutralizadas, par.:1 que

seja gnranlidn a rnonosscmi:1 entre a formd do significante e

a elo significado.

A ambigúid.1de evidencia, de maneira inequívoca, a di­

veroêncin entre ,1 a1J,.1rência e a realidéldc cio sistema e nos " t

permite dizer que :1 aparênci:1 ni'io é sempre a pista inter-

1xctativa mais segura. Levados pela aparência, operamos,

71

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A visão ingênua que identifica ambigüidade e polissemia, acaba por élcreditar que apenas a arnbigüidnde leva à inde­

terminaçJo do sentido. Eb é, de frlto, o fenômeno mais apa­rente e o menos grave. /\ arn1adilha é acreditar que a pél­

lavra tenha um único si!.?.nif'icado Ncaa-se a lJolissemia como �J V

fenômeno glob,11 e esL1belccem-se operadores de sentido que

pouco têm ;:i ver com o c.1111po nocional, isto é, substilui-se o conceito ou a noção própria elos vornbulúrios especié1lizados

pebs indeterminações do vocabulário geral

Para neutralizar a polissemi;:i, é preciso lançar m.:'io de dois recursos: clahornçi'io de redes relacionais e cst;:ibeleci­

mento ele definições e notas de escopo, sempre que éJS redes se mostrnrcm insuficientes para a interpretaçZio unívorn da signific1.ção. Tais recursos impõem opcr;idorcs de sentido, isto é, elementos que conduzem o indexador a interpretar

c1dequadarncnle, em conformidade com o sistema nocion.11 em questão.

4.2 SINONÍMli\

:\ sinonímia é urna relação de equivalência entre, ao me­

nos, duas palavras. Por meio dela não se élfirma a idcnticbdc entre os elementos envolvidos na relação. Isto é, x rquiv,1lc a

y indica que x pode, cm deterrnina(bs circunsUi.nci<1s, subs­

tituir y. A equivnlência é um recurso normalizador impor­tante para a compreensi.'io de tuna linguagem documentúria.

De um lado, permite normalizar a polissemi<1, indicando que

v.:irias p:1bvras, urn<1 vez que cornpmtilham significados pró­ximos, expressam-se J)l)r um mesmo descritor. De oulro,

74

permite compatibilizar a linguagem dos usuários cu111 ,1 1111

guagem do sistema, funcionando, assim, como operador de

sentido. É importmte enlendê-la sempre como conseqüência do

contexto. Este folor caracteriza <1 equivalência como urna ope­

raçi.'io relativamente arbilrária, mas isso é pouco importan­

te, urna vez que a arbilrmie<lade esteja registrada.

De fato, ;:i transformaç5o da unidade de significaç5o cm

unidade de informação é .J carnclcrística fundamental do con­

lrole ele vocabulário, jj que numa linguagem construída, a

cada unidade de informação deve corresponder um único

sentido referencial.

No entanlo, c1 existência Je sinônimos ou qu;:ise sinôni-

mos nos lcvJ a considerar rebções de equivalência para o

trabalho documcntiírio.

A arande irn1)ortância das relações de equivalênciaLJ

advém do falo que elas intensificüm o processo de controle

sohre a variaç.:io de signifirndo, permilindo maior rigor no

tratamento da informação e eficácia na sua recuperação.

Como os outros gêneros de rebções mencion�1das anlerior­

mente, as relações de equivalênciu introduzem p;1rârnelros

pma o uso da linguagem determinadas por um gru po.

No sentido estrilo, a sinonímia pode sn definida corno

identidade de significaçJo entre elementos lexicais, porém, a

existência de sinonímia ;:ibsolut<1 é controversa, sendo G.1usa

de debates entre lexicólogos. Alguns alltorcs ;iclmitcm sua

existênci<1 para o caso da cqllivalência entre du.Js línguas f un­

cionais, como cm gaivolas - nome popular/Larus - nome

científico; outros, <10 contrário, tratam tais equivalências

como quase-sinonímia

75

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Entre lingüistas é mais freqüente n ;:iceit.1ção do concei­

to de qu.1se-sinônimo, ou de para-sinônimo, uma vo. que

péirecc muilo pouco provável que, cm LN, dui.ls palavras

portadoras de exatamente o mesmo significado poss.:im so­

b1Yvivcr.

Entre documenl.:ilislas, larnhérn, silo utilizados os ccm­

ccilos de sinônimo e qw1se-sinônimo. Enquanto sinônimo

indica cad;i um dos termos de urn;1 lín"ll,1 dad,1 que desio-� . V

na1T1 urn,1 rncsma noçJo, 111;1s que se situ,1111 cm níveis da

língt1a ou de conccplu,1liz,1çJo clifcrentcs, ou que se empre­

gam cm silunç-õcs de comunic.1(10 diferentes; qu,1sc-sin611i­

mos cksign,1rn fonn;1s que nJo são inlcrc.1rnhiávcis cm to­

dos os enunciados reblivos ;_1 um mesmo domínio

:\ v,1ri,1da g:1m,1 ck qu,1se-sinônirnos, talvez, poss;� ser

rcsumicb cm ;1lguns tipos:

pabvras pertrnccnles ,1 c.fr1ktos diferentes (dialetos

regionais, soci;iis, eLírios etc.), como pcsquis<1 (Br,1-

sil)/lnvcslig,1çJo (Porl ugal); aviJo/acroplnno;

- palavr,1s pcrlcncenlcs a diferentes estilos ou regis­

tros, como dor de cahcç;1/ccfoléi;1; gnivoL1S/brídcos;

:kido clorídrico (química), ,ícic.lo muri:ítico (conslru­

ç,10 civil);

p;:ibvrns que gu,1rcbm ,1pen,1s u111;1 difrrcnç;1 cmoliv;1

ou Vi.1lor:1tivd, como países cm vii.lS de dcsenvolvimcn­

to/p,1Íses subdesenvolvidos;

- palavras que têm su,1 ocorrêncin limil:1cla, n,1 medida

cm que só aparecem com outr,1s, como "de lx1rbc,1r"

que vem com 15.minas: gilctcs/lfimin,1s de barbct.1r;

- p,1bvrns cujos s ignificados sJo. ele foto, muito pró-

76

ximos e se intcrsect;::im, co1T10 belo/bonito; casa/resi­

dência; L::ilecimenlo lrnorl e.

Na claboraçZío de LDs é fundamental urn trabalho espe­

cífico com sinônimos e quase-sinônimos, um;i vez que css:1s

lingu.:igcns lêm por funçifo compalihilizar pelo menos du;1s

oulr.1s linglwgcns: a de especialidade ou c.b litt:r,llur.:i em

questzio e i1 do usuário, por meio de Lermos preferenciais.

Num.:i accpçZío mé,is ampb, corno é o caso da sinonímia

utiliz,1d,1 né1 clabor,1ç3o de tes;:iuros, dois Lermos sJo sinôni­

mos quando têm a possibilicbdc funcional de se suhslilt1í­

rem um ao oulro, podendo comprccmlcr tanto :1 sinonímia

<1hsoluta (L)l110 i.l q11<1se-sinonímia. ;\ sinonírniü ni.ls I.Ds é de

c1rAter C'minenlcrnentc pref'rrcncial e visa n:meler o 11st1:.í.rio

de um lermo n3o-prcfercnci;il, p;1ra um lermo sdccion.:1do,

ou preferencial.

4.3 Hll'ONÍMI!\

Do ponto ele visla c.b Lingúíslic.1, a cslrill l!l·:1ç.'i.o llicri.'ir­

quirn de t1rn voc1buli.Írio pode ser dacb sob dois modos: por

11111;1 rrbç:'í.o de liiponímia ot1 por meio d:1 rchç6o p;1rle 1lodo

No nível das relações de sentido o probkrn,1 lb signifi­

l-,HJio pode ser vislo sob diversos ic"\11gulos, ou s\j,1, n p;1rtir

lk diversas categorias.

/\ categoria denominada hiponími;i opcrr1 com :1 no(JO

de ínclus.'io, a mcsm,1 noç.'io que per mite reunir lmicbdcs

11uma classe. r\ssim, rosa e cral'LJ esL'io incluíclas cm flor, ou

1•.ilo e lccfo csl.'i.o incluídos cm a11i111.-il, ou cscarlalt' csUí in-,,

1·\11íc.lo em vermelho.

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Enh·c lingüistas é m<1is freqüente n aceitação do concei­

to de quase-sinônimo, ou de para-sinônimo, uma vez que

parece muito pouco provável que, em LN, duas palélvras

portadoréJS de o:aL1mente o mesmo significado possam so­

breviver.

Entre documcntJ!istJs, tan1bém, s.10 ulilizi'!dos os con­

ceitos de sinônimo e quase-sinônimo. Enquanto sinônimo

indirn Cé1CÍí1 um dos termos de uma língu.:i dadu que desig­

nam urna mesma noçJo, mas que se situam em níveis da

líng t1é1 ou de CO!lcept twlizé1ç5o difo-rentes, ou que se emprc­

g�1m cm sit u::içocs de comunic;:1çiio diferentes; qu ,1se-sinôni­

mos dcsign,1111 form.:is que n<':io sfío intcrcamhii-1vcis em to­

dos os enunciados relativos a um mesmo domínio

A v,1r iad,1 g;im,1 de qu,1se-sinéinimos, til!vcz, possa ser

resumidn cm i!lguns tipos:

- 1x1!avras pertencentes a dialetos diferentes (dialetos

reg ionais, soci,1is, cL:irios etc.), como pesquisn (Bré1-

sil)/!nvestigaç;10 (Portug:1!); aviiio/c1eroplnno;

- p,1lilvras pertencentes ,1 diferentes estilos ou regis­

t rns, como dor ele caheça/ceL1léi,1; gi1ivot,1s/brícleos;

,kido clorídrico (química). ,kido muri,ílico (constru­

çJo civil);

- p:iL1vr,1s qu e gué!rdan1 apenas um;1 difcre11çé1 cmotiv,1

ou v;ilorativ:1, como p�1íses cm vias ele clesenvoJvirn cn­

to/paísfs subdesenvolvidos;

pé!l,1vrns que têm su:1 ocorrência limit;1da, na medicb

t'l11 qul' só é1p,1reCt'rn com out rns, como "de b;irl icnr"

que vem com L1111i11<1s: gilctcs,: Jilmin:-1s de barbc�1r;

- p.1Javré1S cujos signifirndos são, de f.:ito, muito pró-

76

ximos e se intersectam, como belo/bonito; cas;i/rrsi

dência; falecimento/morle

Na eJabnra\·Jo de LDs é fundamenlc1l um tr.:1b.:1lho espe­

cífico com sinônimos e qunsc-sinônimos, um;i vez que essas

linguagens têm por Cunçifo compatibíli1ar pelo rnt'nos duas

outrns linguagens: a de especialidade OLI da Jiteralnrn em

quest3o e c1 do usui.Írio, por me io de lermos prefcrencié1is.

Nu mil .:icepçi'io rnnis :1mpl.:i, como é o caso da sinonímia

ulilizilda na ebboraçôo de tcsauros, dois lermos s5o sinôni­

mos qu,mdo têm a possibilid.:ide f uncion .. iJ ele se substituí­

rem um :10 oul ro, podendo compreender tanlo a sinonímia

ilhsoluL1 como a qu;1se-sinonímic1. A sinonímia rn1s Ll)s é de

c::ir,:Hcr eminentemente preferencial e visa remeter o usu,.írio

de um lermo 11Zío-prcfere11ci<1l, para um termo selecionado,

ou preferencial.

4.3 Hll'ONÍiv1l/\

Do ponto de vista da Lingi1íslirn, a cstrul uraçJo llier.:ír­

q11irn de um voc;ibul,hio poJe ser dada sob dois modos: por

um,1 rcbçi'io de hiponími:1 ou por meio dél rebção parle ·todo.

No nível dc1s rcbçõcs de sentido o problema d:1 sig nif'i­

c;içc10 pode ser visto sob diversos ângulus, ou scj,1, a p�irtir

de clivers3s categorias.

/\. rnlcgoría denominada hiponímia opera com a no1;.-Jo

de inclusi'io, a mcsrn:1 noç<'fo que permite reunir unidades

nunrn classe. :\ssim, rosa e cranJ esU:io inclu ídas cm.flor, ou

,gato e lciio estilo incluídos em ,111i1na/1

ou escarlate estéi in­

cluído cm l·'Cl'lllclho.

77

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A inclusão tem a ver, pois, com a inserção de um dado

elemento numa classe. Isso dito de outra forma, indica que

a hiponímia expressa ";i relação existente entre um lexema

müis específico ou subordinüdo, e um lexema mais geral ou

superorden,1clo, tal como é exemplificacl.1 por 1x1res corno

'vaca': 'animal', 'rosa': 'flor' etc." (Lyons, 1977, p. 235).

Nesta reliição há que se consiclerélr dois termos: o supe­

rior, denominado por Lyons ('! 9 77) Superordem1do, e o in­

ferior, Hipônimo.

Os termos constitutivos de uma classe são, p01s, co­

h1pô111mos. Entretanto, é necessário observm que nem toda

classe dispõe de um superordenado. E mais: él existênciél de

um superordenado encabeçando uma cbssc pode v.::iri<1r de

língua para língua.

I.yons menciona <l existênci,1, em grego clássico, de uma

form.:1 superordenada p.::ira abranger todus as profissões e ofí­

cios, desde Si1patciro, médico, passando por tocador de flau­

t.:1 e timoneiro. Em inglês e em português não há pi1bvra

que possa encabeçar conjunto tão v;:iriado. Neste caso, tem­

se umn lacuna lcxico.l.

A hiponímia pode ser drfinida., também, em termos de

implirnç3o unilnter.:11 e representa uma rebção transitiva, de

tal modo que, se 'x' é hipônimo de \1' e 'y' é hipônimo de

'z', então 'x' é liipônim.o de 'z'.

Exemplo: vaca --........ � mü.mífero animal

v.ica -----1 ... � animal

;\ hiponímia é, ninda, uma propositur.::i analítica, sendo

que a leitura e compreensão do significüdo dos hipônimos

78

podem ser feitos segundo a fórmula 'x é um<1 espéne (ou

tipo) de y ': o gato é uma espécie de animal.

;\ relação de hiponímia/hiperonímia (ou subordinação/

superorden<1ção) permite verificar que um termo pertence,

ou suhordin<1-se a um outro mais geral, o gênero, mas não

permite identificar em que os termos subordinados se llíie-

renciam entre si.

Por outro lado, em virtude da polissemia, uma mesma

palavra pode aparecer em vúrios pontos da hicnirqui<1. Palmer

(1976) menciona corno exemplo .::i palavra c111imal que pode

ser usada cm três pontos cb cadeia:

1. em contraste com ''vegetc.11", incluindo, nrste caso aves1

peixes, insetos, mamíferos;

2. no sentido de "mamífero", contrapondo-se a ans, pci­

xcs e insetos, mas incluindo seres humanos e bichos;

3. no sentido de "bicho", opondo-se <l sen:s humanos.

Assim, a palavra animal pockri.Í surgir três vezes na

classificação hierárquica da natureza, como mostra Pa.lmer

(p 91):

Cn111 l'iclo l-"S Se111 l'id"

;:we pei.,l": inseto wrinwl

humano wtiowl

Os cxrm pios poderiam ser mui ti plicados. No entanto,

parece ser suficiente levar em conta que, em r<1zão da

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A inclusiio tem a ver, pois, com a inserção de um déldo

elemento numa cbsse. Isso dito de outra forma, indica que

a hiponímia expressa "a relação existente entre um lexema

nrnis específico ou subordinado, e um lexema mais geral ou

superordenado, tnl corno é exemplificada por pares como

'vaca': ';:mimai', 'roso': 'flor' etc." (Lyons, 1977, p. 235).

Nesta relação há que se considerar dois termos: o supe­

rior, denominado por Lyons ( 19 77) Superorden;:ido, e o 111-

frrior, Hipônimo.

Os termos constitutivos ele uma classe são, pois, co­

hipônimos. Entretanto, é necessário obscrvnr que nem toda

classe dispõe de um superordenndo. E mnis: a existência de

um superorden<1do encabeçando urna cbsse pode variar de

língua para líng11a.

Lyons mencionzi a existência, em grego clóssico, de uma

form.:1 supcrorclcnada p;:ira abranger tod.:1s as profissões e ofí­

cios, desde snpatciro, m�dico, passando por tornclor de flau­

to e timoneiro. Em inglês e cm português nJo há palavra

que possa encabeçJr co1""0unto tão variado. Neste caso, tem­

se uma lacuna lexic;:11.

A hiponímia pode ser definida, também, em termos de

implicação unilateral e representa urna relação transitiva, de

tal modo que, se 'x' é hipônimo de 'y' e 'y' é hipônirno de

'z', então 'x' é hipônimo de 'z'.

Exn11plo: varn -----1... mi1mífero .. animal

VaCi1 __ ....,.... animal

A hiponímiil é, ninda, uma propositura analítica, sendo

que a leitura e compreensão cio significa.do dos hipônimos

78

podem ser feitos segundo a fórmula 'x é uma espécie (ou

tipo) de y': o galo é uma espécie de animal.

J\ relnçào de biponímin/hiperonímia (ou suborclinaç5o/

superordcnação) permite verificar que um termo pertence,

ou subordinél-se a um outro mais gernl, o gênero, mas não

permite identificar cm que os termos subordinados se dife-

rcncium entre si.

Por outro lado, em virtude da polissemia, uma mcsmi1

palavra pode aparecer cm v.:írios pontos da hierarquia. Palmer

( 1976) menciona como exemplo a pulavra animal que pode

ser usada em três pontos d;:i cadeia:

1. em contraste com ''vegetal", incluindo, neste caso él\'cS,

peixes, insetos, 111c1111ífcros;

1. 110 sentido de "mamífero", contrélpondo-se a aves, pei­

xes e insetos, mi1S incluindo Sl'rcs lwmil!WS t' /Jichos;

3. no sentido de "bicho", opondo-se i1 seres liwnanos.

Assim, n palavra animal podcr.:í surgir três vezes na

cbssifiG1ção hierárquic1 da natureza, como mostra Palmer

(p. 92):

CuJ/1 t·idu

/� vcg(:t�I cminwl

\"S

��ave pc:ixc inseto wii11wl

humano <I/IÍ/11(1/

Sem ,·id(I

Os exemplos poderiam ser rnultiplirndos. No entanto,

parece ser suficiente levar em conta que, em razJo da

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polissemia, um termo corno do pode, por ser o genérico da

cbsse, ser tomado como superonknado c corno hipônirno,

respeit:1dC1s, naturalmente, as situoções conlextuois.

Ci/,)

>�ceio n1del" Cflc/1orro

RcsL1 observar que além da noç:1 0 Je inclus5o, ,1

hiponírnio contém implíciL1, tnmbfo1, a rcbç::io lógica de ccm­

seqi"iênci:1, j;,1 que i!O dizer "Isto é uma rosa", lcm-sc, ncccs­

sariDmcnte, o pressuposto ''Jslo é uma flor". Ou scj:1, a fr,1se

que contém o liipônimo pressupõe, nccessari;1mentc, o

superorde1rndo. O inverso, cvidcnlcrncnte, nJo é venl.ldciro .

.Se os membros de uma clilsse s.'io cspccificndos com "lo­

dos", ocorre o inverso: "Todas as flores s,10 belas" inclui

"Todas c1s rosas sfio belas", mas o inverso 11,10 é verdackiro .

Pode-se dizer que ;i rcfoç.'io de liiponímia representa um;i

op1:raçiio de conjunçiio cm foce do termo supcrorckn;ido, bem

como de disjun�·,10, tomando-se a série de lermos obtidos ;i

J)i.lrtir Ja divisJo n-:1liz;1d,1.

Como 11il LN, nzis LDs a s11pcrordcn,1ç,10/subordin,1ç5o

representa um c.1so de implicaçJo tmiblcral, onde o lermo

supcrordcnado implirn termos subordinzidos, denominados

liipônimos.

Em lermos do léxico, o sentido de um hipônimo (: pro­

duto do sentido de um nome superordcnndo e de um

rnodificélJor :1qjetivé-1l IY,Jl ou potencial, que responde ;i per­

gunlns do seguinte tipo: 'que espécie de .. !'; 'que tipo dr .. 7'.

80

Por exemplo: - "Que espécie de animal era?"

- "Ern um elefante."

Dito de outro modo, é\ resposta ;i perguntas desse gêne­

ro - e oulT,1s similares, do tipo 'como .. ?', 'de que maneira

... ?' _ se dilo a partir da introdução de uma diferença, que

produz i.1S subclasses.

Os co-hipônimos - ou os termos coon.len;1dos que tor­

mam uma mesma série - contrast.::i.m em sentido, sendo que

a naturcz,1 do contraste pode ser explicada em termos de di­

ferentes modificações adjetivais (Lyons, 19 77).

Pode-se dizer que as modificações füijctiva1s no léxico

· .. t· ,' L · ou 1Jro1xied.:ides corresponde111, nas LDs, a ca1 c1C e, ts 1c;is

que rc:1liz.::i.m a indivic.luaçfio de termos. Do ponto do vista

extrnsion;_i], 05 termos que se subordinam a 11m s11peror­

c.lenado contêm todas as rnractcrístirns que identific;im a

cl<1.sse, mais um;i que os distingue dos demais .

/\ rclaç;io de hiponímia colocadi1 pela lingiíístic.:i. permi­

te explicar, nas LDs, v;írios tipos de rclacion.::imentos to111a­

dos como hierúrquicos que não cabem cknlro da cl.:i.ss1hca-

ÇEio oênero ·'esJJécie (e t3o pouco nas relc1çõcs todo/parte, e:,

parte/pmte)

Há casos, por exemplo, em que dois ou mais termos

enconlrnm-se em conlr.:.1sle e nõ.o existem, no léxico, pala­

vras (ou term.os, no c.:i.so das LDs) que lhes sej:_1111 superor­

cknac.Jos e, a n.10 ser que se utilizem elernenll)S de natureza

diferente, provenientes de outras parles do discurso, não é

possível reuni-los.

cidade, médias � Tamanho das cidade,cidades pequenas � rncgalópolcs

81

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polissemia, um termo como cão pode, por ser o genérico da clo.sse, ser tomado como superordenéldo e como hipônimo, respciL1d.is, na! uralmcnle, as situações contcxt lli.1Ís.

Cúo

Rcsl:1 observur gue il!Lçm da noç;'io de inclusJo, a hiponímia conlém implíciLJ, também, J rebç;1o lógica de con­scqi'1ênci<1, _j;i que ,10 dizer ·'Islo é uma rosn", lcm-se, neccs­s<1riamcnle, o prcss11posto "lslo é ll111é1 flor". Ou scj;i, a fr,1sc que Cllntém o hipônimo prcssupõe, neccssari,1mentc, o superordenado O inverso, evidentemente, nJo é vcrd<1deiro.

Se os membros de uma classe siio especificados com '·to­dos", ocorre o invcrso: "1c)do.s :is flores sJo lxbs" inclui ""füdas �is rosas s,10 belas", 111,1s o inverso n.'io é verJildeiro.

Pode-se dizer qut: a rebçiio ele hiponímia representa um;i opcr:.iç.10 de corvunçiio cm face do lermo superordrnndo, bem corno de Lfi�junçJo, lomarnlo-se a série de termos o!Jtidos a p<1rlir da divisiio rcaliz;ich

Corno na L , n.is lDs a superordrnnç:1o,'subordinaçJo representa um ciso de i111plic.1çc10 unilateral. onde o lermo superordcn,1do implica termos subordinados, dl'nomin.:idos liipônimos.

Em lermos do kxico, o sentido de um liipônimo € prn­du lo do se:ntido de um nome supcrordrn�1do e de um 111odifiG1dor a<.tjcliv,1! real ou potcncid!, que responde ,1 per­guntas do seguinte lipo: ·que espécie de ... ?'; 'que tipo de ... ?'.

80

Por exemplo: - "Que espécie de animal era?" - "Era um elefante."

Dito de outro modo, a resposta a pcrgunt.:is desse gêne­ro_ e outr;1s similares, do tipo 'como ... ?', 'de que maneira ... 7' _ se dão 3 p.:irt ir cb. introdução de uma difercnç.J, q uc produz as subclasses.

Os co-hipônimos - ou os t·ermos coordenados que J-or­m,1m uma mesma série - contrastam em sentido, sendo que a natureza do contraste pode ser explicado. em lermos de di­ferentes modificações nqjetivo.is (Lyons, 1977).

Pode-se dizer que as modificações aqjelivnis no léxico · -- ct·e -'1s11·cíl.s ou 1no1)riedndescorrespondem, nas LDs, il caia 1 . , . .

. que rc.1lizi1m a individuaçôo de termos. Do ponto do vista.extcnsional, os termos que se subordinam a um superor­clenado contêm todJs Js CJ.rJcterísticas que idcntificm1 a cbssc, mais uma que os distingue dos (km.1.is

J\ relaçi'io de hiponímia colocad.:i pela lingC1ístirn permi­te explirnr, nas LDs, v6rios tipos de rcbcionamentos to�1n­dos corno hier:irquicos que não cnbem dentro da dass1f1ca­ç;ío gênero'espécie (e tJo pouco n.1s relações todo;parte, pa.rtc/purte).

. IM casos, por exemplo, em que dois ou mms termos1:ncontram-se cm contraste e n5o existem, no léxico, p;:Jia­vrc1s (ou termos, no c.:1so di!s LDs) que lhes se:jcim superor­den:iJos e, iJ não ser que se utilizem elementos de nal urez;, diferente, provfnifntes de outras p.1rtes do discurso. n5o é possível rrnni-los.

cidades núlias --------=---- Tamanho das cidadescidade; pcquc11:1s � mcgalopoks

81

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Este é um caso de relação quase-pJ.radigmática (ou uma

quase-hiponímia), uma vez que se utilizJ. um3 expressão

m;_iis geral ("tamzmho") pü.ra reunir os diferentes tipos de

cidil.de.

Aqui, entretanto, n3o é Véfüdu a aplicação du fórmula

"x é um gênero de y". A. frase obtida da sua aplicação não é

natural ou é inaceiUvel. A. estrut urnç3o do voczibulário,

neste cziso, é feita por outrns pülavrzis ou sintzigrnas que

desempenham o mesmo papel de "que gênero de .. " (ou que

espécie de ... ).

"Comparáveis ,'is questões Que gênero ele animal era?1 e

Era uma Faca ou outra espécie de ani111al?1

s3o Como é que ele

obteve isso -- comprando-o ou roubando-o? e Ele comprou isso

ou arranjou-o de algum outro modo?" (Lyons, 1977, p.237)

ou ainda, no caso ele aqjetivos "Quando clizes que o teu

vesticlu é carmim, queres dizer que é em tons de vermelho ou de

outra cor? i-'..ssim como podemos dizer /1 vaca é um animal

ele um certo g(�nero, também podemos dizer .. . Comprar algu­

ma coisa (; obtê-la ele uma determinada maneira e Um objeto

camwn é um objeto vermelho de uma certa maneira" (iclcm,

ibidem).

Em resumo, responde-se, nestes casos, a perguntas do

tipo ''corno" e "de que maneira", muito emborn elas n.'io

possam, também, ser zimplamente empregadas com suces­

so. A hiponímia, na verdade, pode manifestzir-se de muit3s

111dllC!ri1S.

Isto explica porque não é possível aplicar, muitas ve­

zes, o esquema lógico "todos/alguns" sugerido pelos ma­

nuais de elaborJ.ç3o de vornbuló.rios documentários.

82

O exemplo anteriormente mencionado:

INSETOS

/ � ALGUNS TODOS SÃO

� / GAFANHOTOS

sugere o esquema como meio para a validação de um rela­

cionamento aenérico indicando que alguns membros da clas-ê) ,

se "insetos" são conhecidos como "gafanhotos", enquanto

que todos os "gafanhotos" são "insetos", por definição e in­

dependentemente do contexto (IBICT, 1984, p. 26; ISO 2 788,

1986, 1989, p. 605).

Entretanto, ele n5o funcionariél no exemplo ;_mterior, re­

lativo a 'cidades'. A língua, nn verdade, n3o é rigidamente

estruturada em termos lógicos.

As diferentes séries formadas a pzirtir de um mesmo

termo podem ser vistas como o resultado de diferentes mo­

dos de rezilizar é1 coqjunção, oriunda dos diferentes pontos

tomados como orioem cb subdivis5o eiou das diferentes ca-i:)

racterísticas tom.1dZJ.s para .:1 construção de cadJ. hierarquia.

Esse aspecto relaciona-se com. a adoção das categorias

aristotélicas de predicuç5o - substância, modo, quuntidade,

qualidade etc. e suas Jtua!izZJ.ções nos seus desenvolvimen­

tos subseqüentes. Em Documentação, por exemplo, Ranga­

nathan utilizou cinco categorias para agrupm os assuntos:

personalidade, matéria, energia, espaço e tempo.

P;:ira i.l. úrea de Ciência e Tecnologia, o Classification

Rcscarch Group - CRG sugeriu que os termos fossem agrupa-

83

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Este é um caso de relação quase-paradigmática (ou uma

qunse-hiponímia), uma vez que se utiliza umn expressão

mais geral ("t.:imanho") para reunir os diferentes tipos de

cid.1de.

Aqui, entreL:mto, nno é válida a aplicação da fórmula

"x é um gênero de y". A. frase obtidn da sun aplicação não é

nc1l ural ou é inilceitável. A. estruturnção do vocabulúrio,

neste rnso, é feita por outras pnbvras ou sintagrn3s que

desempenhéirn o mesmo papel de "que gênero de ... " (ou que

espécie de . )

"Comparáveis às questões Que gênero ele animal era.?, e

Era uma vaca ou outra espécie de animal?, são Co1110 é que ele

obtcFe isso - comprando-o ou roubando-o'? e Ele comprou isso

ou arranjou-o ele algum outro modo?" (Lyons, 1977, p.23 7)

... ou ilinda, no caso de .:1cijelivos "Quando clizes que o teu

vestido é carmim, c1ueres dizer que é em tons de vermelho ou ele

outra cor? Assim corno podemos dizer A vaca é um animal

de um certo gênero, também podemos dizer . . . Compr-ar algu­

ma coisa é obtê-la de uma determinada maneira e Um ol�jeto

carmim é um objeto vermelho ele uma certa maneira" (iclem ,

ibidem).

Em resumo, responde-se, nesles casos, .:i perguntas do

tipo ''como" e ''de que mémeira", muito emborn elas nJo

possam, tnrnbém, ser J.mplamente empregadas com suces­

so. ;\ hiponímia, na verdade, pode manifcsl,ir-se de muit.Js

maneiras.

lslo explica porque niio é possível aplicar, muitas ve­

zes, o esq ucma lógico ··todos/Dlguns" sugrrido pelos ma­

nuais de claboraç5o de vocabuL:írios documentários.

82

O exemplo anteriormente mencionado:

INSETOS

/ ALGUNS TODOS SÃO

� / GAFANHOTOS

sugere o esquema como meio parn a validação de um reb­

cionnmento genérico, indicando que alguns membros da clé.1s­

se "insetos" são conhecidos como "gafanhotos", enquanto

que todos os "gafanhotos" são "insetos", por definiç5o e in­

dependentemente do contexto (IBICT, 1984, p. 26; ISO 2 788,

1986, 1989, p. 605).

Entfftanto, ele não funcionaria no exemplo anterior, re­

lativo J. 'cidndcs'. i\ língua, na verdade, não é rigidomente

estruturada em termos lógicos.

As diferentes séries formadas a portir de um mesmo

termo podem ser vistas como o resultado de diferentes mo­

dos de realizar a conjunção, oriunda dos diferentes pontos

tomados como origem da subdivisão e/ou das diferentes ca­

racterísticas tomadas para a construção de cada hierarquié.1

Esse aspecto relaciona-se com a adoção das categorias

aristoté]iG1s ele predicaçJo - substância, modo, quantir.bdc,

qui1lidzic!e etc. e suas at uzilizações nos seus desenvolvimen­

tos subseqüentes. Em Documentação, por exemplo, Ranga­

nJ.than utilizou cinco G1tegorias para .:igrup.:ir os assuntos:

pcrsona.lidade, matéria, energia, espa.ço e tempo.

Para a área. de Ciênci�1 e Tecnologi.:i, o Class{fication

Research Group - CRC sugeriu que os termos fossem agrupa-

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1 /1,, •,11 · 1 1 ide, .1s seguintes categoriéls fundamentais: substância

[1wud tlo), órgão, constituinte, estrutura, forma, propriedade,

objeto da ação (materi.:iis brutos, materiais não tratados),

ação, operação, procc-ssos, agente, cs1x1ço e tempo. Barbar;:i

Kylc, também integnrnle do CRG, distinguiu as artes, as ati­

vidades, os objetivos, os objetos, as idéias, as abstroções.

J\imb na ,Írea de Documentação, Shera & Egan ( 1969)

propuseram as rntegori;is agente, aç5o, modo, objeto, o�jcto

de açâo, tempo, espaço e produto. Grolier (1962), por seu

lado, sugeriu categorias const.:rntes de tempo, espaço, aç.:io e

GltcQorias variáveis: subst.1.ncia ói-aão analítico sintético, \ ·' / t, f ,

propriedade, forma e organização.

Na ú1-c;1 da Lingüística vzile ress,1ltar os "casos concep­

tuais" de Pottier (1974): c.1usalivo instrumental ziorntivo I • I ("} /

nominntivo, erg;itivo, ,1cusalivo, associ;:llivo, locativo, dativo,

Iieneficiativo, finalidnde.

De um modo ou outro, todas essas noções ou focel,1s

remonlnm às cl assificações ziristolélica e knntiana. /\

estruturação do vocabulário cm kÍreas distintas definir;-1 as

noções funcionais mais generalizantes a serem adotadzis Por

outro Indo, tal estruturziç.10, dada cm função ele relações de

hiponími;:i e quase-hiponímia, pode ser rcalizil.da por meio

de um peq11cno n(uncro ele lexemas (noções gencralizzinte s,

categorias, facetas) com sentido muito ger;:il.

Pode-se afirmzir, com Lyons, que nem sempre é possí­

vel estrulur;u hierzirquiczimente os kxcmas em termos de

hiponímia, dé1cb zi ausência de kxiczilizoção, em algumas lín­

guas. Não hó, em português, por exemplo, nenhum lexema

que seja superordenaclo zi todos os nomes abstr.:ilos, ou a

todos os nomes concretos. O que se encontr.1, ao contr:írio,

84

__ -___

são conjuntos de le.xemzis muito gerais - '"pessoa' (ou 'indi­

víduo'), ',mimai', 'peixe', 'ave', 'inseto', 'coisa', 'lugar', 'subs­

tâ.ncia', 'rn;itéria', 'qw,lidadc', 'cs tndo' etc. - que s5o

superorden,idos em rcbçfüi a subconjuntos maiores ou me­

nores desU1s subclasses de nomes" (Lyons, 1977).

Em resumo, pzira o autor não existe ordenação bieu.í.r­

quico a pzirtir de um lexema superordenndo único, foto que

se estende ;1 diversas parles do discurso, pois, além dos no­

mes, isso se aplica oos verbos e aos ac\jetivos.

Entrclanlo, se nos casos de hiponímia pode-se élfir111<1r

que existe umzi relaçJo paradigmáticzi de sentido cnlre os

lexemas, na ausência de superordcnados pziradigmMicos p;irn

a reunião de lexemas pode ocorrer um.:i relzição qtwse­

paradigmática (idem, ibidem).

/\ssirn, pmzi reunir os zidjctivos 'vermelho', 'nmzirelo',

'azul' etc., pode-se utilizar: 'cor'; para fobr de 'redondo',

quadrado', 'oblongo': 'forma'.

Mas h() casos cm que n.10 hi.Í, no vocabulário, lexemas

]Jélr<l oroanizar hicr;irquic.1mcnte os termos. Trat.:i-se dast"> ' /

''lacunds lcxirnis", dcvid;1s, na m<1ior parte cbs vezes, n fato-

1-cs culturais.

Urna !clcuna lexical pode ser descrita como um "buraco

no modelo", ou sejél, J. i.lUsêncii.l de um lexema num cbdo

lugar da estrutura ele um campo lexiczil" (Lyons, 1977)

A rcbção hiponímia/supcrordenac,'<'io corresponde, em

lóoicn ;) rebç.:i.o aênero/csJJfrie (ou esJJécie/Qêncro). O con-� , D

, . • .. J

junto desse tipo de relücionamento é denominado, via de re-

grJ., relacion,1rncnto genérico.

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dos segundo as seguintes cntcgorias fundamentais: substânci<1

(produto), órgão, constituinte, estrutura, forma, propriedade,

oqjeto da ação (materiais brutos, materiais não tratados),

élÇifo, opcraç5o, processos, <1gcnte, espnço e tempo. Barbara

Kyle, também intcQrante do CRG dislinauiu as <1rtes as élti-..._., I LJ • • I

vidndes, os objetivos, os objetos, as idéias, as nbstrações.

J\jnda na área de Documentação, Shera & Egan (1969)

propuseram os categorias agente, �1ç3o, modo, objeto, objeto

de açi'io, tempo, espnço e produto. Crolier (1962), por seu

lado, sugeriu rntegorias constantes de tempo, esparo, aç5o e

categorias variáveis: subst<'lnci<1, órg5.o, <1nalítico, sintético,

propriedade, forma e organizaçi'io.

Na ,í.rea da Lingiiístic<1 vnle rrssaltar os "casos concep­

tuais" de Pollier ( 1974): c.:rnsativo instrumental <1aenlivo , , i:"> ,

nominativo, erc:ativo, ncusalivo ossocialivo Iocotivo clativcJ 1...1 I • f 1 I

benefici<1tivo, finalidzide

De um modo ou outro, tocbs cssns noções ou facetns

remontam i'ts clnssificações aristotélica e kantiana. A

estruturação do vocabulário cm óreas distintas clefinir,í as

noções funcion;Jis mais gencrnlizanlcs a serem adot.:idas. Por

outro bdo, L:il estruturaçâo, dnda em funç5.o de relações de

liiponírnia e q11ase-hiponírnia, pode ser realizacb por meio

de um pequeno ní1mcrn de lexem:1s (noções gencr<1liz.111les,

calegori<1s, facetas) com sentido muito oer;:il. . � Pode-se afirmar, com Lyons, que nem sempre é possí­

vel estrutur<1r hiernrquic;imenle os lexemas em termos de

hiponímii'l, dad.1 n ausência de IexicnlizaçJo, em algumas lín­

guns. N,10 há, cm português, por exemplo, nenhum lexema

que seja supernrcknndo a todos os nomes abstratos, ou a

todos os nomes concretos. O que se encontra, no contrário,

84

sJo conjuntos de lexemas muito gerais - '"pessoa' (ou 'indi­

víduo'), 'animal', 'peixe', 'ave', ' inseto', 'coisa', 'lugar', 'subs­

t5.ncia', 'matéria', 'qualidade', 'estado' etc. - que sJo

superordenados em rebç5o a subconjuntos maiores ou me­

nores clest1s subclasses de nomes" (Lyons, 1977) .

Em resumo, para o autor ni'io existe orden.1çi'io hieri.Í.r­

quica a partir de um lexema superordenado único, foto que

se estende a diversas partes cio discurso, pois, além dos no­

mes, isso se aplic.1 aos verbos e aos acUetivos.

Entrd.Jnlo, se nos casos de hiponímin pode-se afirmar

que existe uma relaçJo paradigméilirn de sentido entre os

lexemas, na ausência de superordenados p.1radigmáticos p;1ra

a reuni,10 de lexem::is pode ocorrer um.J relnç.'fo qu;ise-

lJaradiomiilica (idem, ibidem)."

Assim, pnr.::i reunir os adjetivos 'vermelho', 'amarelo',

'azul' ele., pode-se utilizar: 'cor'; para falar de 'redondo',

qtwdr<1do', 'oblongo': 'forma'.

Mas há casos em que niio há, no voc;1buJjrio, lexemas

para org,rnizar, hicr<1rquicamenle, os lermos Tralc1-se das

"lacunns lcxirnis", devidas, na moior pc1rte das vezes, a fato­

res culturais.

Urna lncuna lexic1l pode ser descrita como um ''buraco

no modelo", ou seja, a m1sência de um lexema num dado

lugar da estrutura de um campo lexical" (Lyons, 1977)

J\ relnção hiponími.:i/superordenaç5o corresponde, em

Jóoirn à rebçzio aênero/es1Jécie (ou es1Jécie/Qênero) O cem-,:-, 1 Ô

LJ

junto desse tipo de rebcionamcnto é denominado, via de re-

erra relacionamento o.enérico. t-) I lJ

85

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dos segundo as seguintes categorias fundamentais: substância

(produto), órgão, constituinte, estrutura, forma, propriedade,

objeto da Jção (materiais brutos, materiais não trntados),

ação, opcraçiio, processos, c1gente, espaço e tt>mpo. Bi.irb,1ra

Kyle, também integrante do CRG, distinguiu as artes, as iJti­

vidades, os ol�jetivos, os ol�jetos, as idéias, as abstrações.

1\i11da n;i {1rea de DlKUmcntação, Shera & Eg:m ( 1969)

propuseram as categorias agente, üção, modo, objeto, objeto

de aç3o, tempo, esp,1ço e produto. Grolier (196'.2.), por seu

lüdo, sugrriu categori.1s const.:rntes de tempo, csp,1ço, ,1çJo e

rntegorias varióveis: suhstnncia, órgão, iJnalítico, sintético,

propric-d;-1de, forma e org.:rnização.

Na área du Lingüístirn vale ress3ltnr os "c3sos concep­

tw1is" de Pottier (1974): causativo, instrumental, agentivo,

nomirn1livo, ergativo, ac11s3tivo, ;:issociativo, locativo, (lé.itivo,

beneficialivo, finalidade.

De 11m modo ou outro, todas essas noções ou focetas

remontam Às classificações aristotélica e Lrnt iana. /\

estrulurélção do vocabul{irio cm áreus distintas definirá él.S

noções funcion<1is mais generalizantes n serem adot..1das. Por

outro bdo, tal estrutur.:iç.'io, dada cm funç5o de relações de

hiponímia e quase-hiponírnia, pode ser rcalizod.:i por meio

de um pequeno número de lcxern:1s (noçoes generali7.é.ll1tcs,

Gitegorii1s, ÜJCetas) com senlido muito geral.

Pode-se .:ifirm<lr, com Lyons, que nem sempre é possí­

vt'l estruturar hierarquicamente os lexern;is cm termos de

liiponírnia, d,1d.'l n ausência de lexic;1Iização, cm algumns lín­

guas. Nifo há, em português, por exemplo, nenhum lexcmé.1

que sej.1 superorden<ldo a todos os nomt's abstr.:ltos, ou a

todos os nomes concretos. O que se encontrél, ao contrório,

84

são conjt1ntos de lexemas muito gerais - '"pessoa' (ou 'indi­

víduo'), 'animal', 'peixe', 'i.1ve', 'inseto', 'coisa', 'lugiJr', 'subs­

ti.1ncii1', 'm.:itérin', 'qualid.:ide', 'estado' etc. - que são

supcrorden<ldos em relaçJo a subconjuntos maiores ou me­

nores destas subclasses de nomes" (Lyons. 1977).

Em resumo, para o ;rntor não existe ordenação hier!1r­

quica n pürlir de um lexema supcrordcnado único, fato que

se estende a diversas p<lrtes do discurso, pois, além dos no­

mes, isso se o.plica aos wrbos e aos adjetivos.

Enlrelanlo, se nos casos de hiponírnia pode-se afirmar

que existe urna rcl.:içJo p.::iri.!digmática de sentido entre os

lexemas, na ;rnsênci,1 de supcrorden.:1dos par<ldigrnfiticos par.:i

i.l reuniJo de lexem:-is pode ocorrer um.1 rclaç.'io qu:-ise­

paradigrnMic.:i (idem, i/Jidcm).

Assim, p.:ir:-1 reunir os <ldjetivos 'vermelho', '3111,irelo',

'ilztil' etc., pode-se utiliz.:1r: 'cor'; para fobr de 'redondo',

quadr.::ic!o', 'oblongo': ·forma'.

Mas hú c3sos em que n3o h!1, no vocabulório, lexemas

para organizar, hierzirquicamcnte, os termos. Tr.::it.::1-se das

"l<-Kllni1s lcxicnis", devidas, na rno.ior parle d.:.is vezes, a fato­

res cullur,1is.

Urna bcuna lcxirnl pode ser descrita como u111 "buraco

no modelo", ou seja, n ausência de um lexema num dado

lug.:1r da eslruturn ele um campo lexical" (Lyons, 'J 977).

A rebção hiponími.:i/superordenação corresponde, cm

I<wici1 ,'i relação ofnero/es•Jécie (ou es1Jécie/gê11cro). O con-;::, · 1 D t 1..

junto desse tipo de rcbcionarnento é drnornin<ldo, via de re-

nra rclacionamenlo Qenérico. C) I lJ

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