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R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 121 / Novembro, 2003 / No 2.096

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

[email protected]

Para o BrasilAssinatura anual R$ 30,00Número avulso R$ 4,00Para o ExteriorAssinatura anualSimples US$ 35,00Aérea US$ 45,00

Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Antonio Cesar Perride Carvalho, Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oli-veira São Thiago; Secretário – Iaponan Albuquerqueda Silva; Gerente – Amaury Alves da Silva; REFOR-MADOR: Registro de Publicação no 121.P.209/73(DCDP do Departamento de Polícia Federal do Mi-nistério da Justiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 –

I. E. 81.600.503.

Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – BrasilTel.: (21) 2589-6020; Fax: (21) 2589-6838

Capa: Rebouças & Associados

Tema da Capa: O tema DIA DOS VIVOS expressa avisão espírita da vida e da morte, no mês da tradi-cional comemoração de Finados ou dia dos mortos.

EDITORIAL

O ponto de união 4

ENTREVISTA: FRANCISCO BISPO DOS ANJOS 11Uma visão do Movimento Espírita

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 14O fenômeno do século XX – Francisco Cândido

Xavier – Ney da Silva Pinheiro

ESFLORANDO O EVANGELHO 21Vê como vives – Emmanuel

A FEB E O ESPERANTO 25O Esperanto divulgando o Espiritismo na Polônia – Neusa Priscotin Mendes

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 33 Os milhões do Sr. Allan Kardec – Allan Kardec

SEARA ESPÍRITA 42

Reflexões e ponderações – Juvanir Borges de Souza 5Cadáveres e fama – Joanna de Ângelis 7Tristeza e solidão – Corydes Monsores 8Dia dos vivos – Richard Simonetti 9Oração no dia dos mortos – Emmanuel 10Educação – André Luiz 16 Lavoisier e a fenomenologia espírita – Mauro Paiva Fonseca 17O amor que se divide multiplica a felicidade – 18

Dalva Silva SouzaIdentidade dos Espíritos – Rildo G. Mouta 19Surgimento do Homem na Terra – Umberto Ferreira 20Intuições espíritas dos filósofos gregos – Paulo Roberto Viola 22Amor – João de Brito 24Perigos e receios – Washington Borges de Souza 26Apresentação social – Passos Lírio 27O corpo e o Espírito – Inaldo Lacerda Lima 28A Fraternidade – Paulo Nunes Batista 29 A reencarnação e o medo da verdade – 30

José Carlos Monteiro de MouraDesencarnação – Olegário Mariano 32Parque Gráfico da FEB – 55 anos 35Canto cidadão – Orson Peter Carrara 361o Congresso Espírita Paraguaio 37Uma expressão habitual: O Nosso Centro – 38

Octávio Caúmo SerranoReferência passo a passo – II – Capítulo de livro – 40

Geraldo Campetti SobrinhoApoio oculto – Maria Dolores 41

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4 Reformador/Novembro 2003402

No primeiro capítulo da Introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo, de-pois de observar que as matérias contidas nos Evangelhos podem ser divididasem cinco partes – os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições;

as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas; e o ensi-no moral –, Allan Kardec destaca: “As quatro primeiras têm sido objeto de controvér-sias; a última, porém, conservou-se constantemente inatacável. Diante desse códigodivino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem reu-nir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suascrenças, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempree por toda a parte se originaram das questões dogmáticas. Aliás, se o discutissem, neleteriam as seitas encontrado sua própria condenação, visto que, na maioria, elas seagarram mais à parte mística do que à parte moral, que exige de cada um a reformade si mesmo.”

A ênfase dada ao ensino moral no trato com os assuntos do Evangelho de Jesusnão representa uma opinião pessoal de Kardec. É diretriz que os Espíritos Superioresestabeleceram na Doutrina Espírita, que, como Consolador prometido que é, veiopara ensinar todas as coisas e recordar tudo o que Jesus disse e vivenciou há dois milanos.

Sendo “terreno onde todos os cultos podem reunir-se”, é, com muito mais razão,o ponto de união de todos os espíritas, que devem ter no ensino moral do Evangelhoo foco principal de sua ação, pois será através do estudo, da divulgação e da prática doEspiritismo, com a nossa concomitante reforma moral, que teremos condições de de-senvolver o nosso progresso espiritual, o qual nos permitirá alcançar níveis de com-preensão mais profunda da vida e de todas as leis que emanam de Deus.

O ensino moral do Evangelho à luz da Doutrina Espírita representa o ponto deunião em torno do qual devemos todos nos concentrar, alimentando-nos com as vi-brações da fraternidade e fortalecendo-nos no trabalho de difusão doutrinária, abrindo,assim, uma nova era para a regeneração da Humanidade.

EditorialO ponto de união

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ADoutrina Espírita, em sua es-sência, foi revelada pelos Espí-ritos Superiores e sistematiza-

da pelo missionário Allan Kardec.Seu objetivo primacial é o da

libertação das almas presas à mate-rialidade da vida, mostrando ao ho-mem sua verdadeira natureza.

O caminho indicado pela Dou-trina para essa libertação é o mesmohá muito indicado pelo Mestre Je-sus, o Cristo de Deus, em sua men-sagem a toda a Humanidade – “Eusou o caminho, a verdade e a vida.Ninguém vem ao Pai senão pormim.”

Os espíritas atentos sabem,pois, que, para alcançarem a liber-tação, há um caminho a ser palmi-lhado, com esforço e coragem, semtergiversações.

Esse caminho para a ascensãoindividual, ensinado pelo Cristo, éreafirmado pelo Espiritismo, emlinguagem atual e inteligível pelageneralidade das criaturas interessa-das no auto-aperfeiçoamento.

A obra da regeneração do ho-mem e do mundo é, entretanto,complexa e difícil.

Apesar da clareza da DoutrinaConsoladora, interpretando os en-sinos milenares do Cristo, que osespalhou por toda a Humanidade,através dos missionários de todas as

épocas, a rebeldia do espírito huma-no se apega ao personalismo, aoegoísmo, ao materialismo multifá-rio, ao orgulho e às vaidades.

Assim, a Ciência e as Religiões,que deveriam constituir-se em ala-vancas para o progresso integral daHumanidade, perdem-se em des-vios constantes, dominadas por in-teresses personalistas de toda or-dem.

Dogmas impróprios, cientí-ficos e religiosos, são responsáveispor idéias que se cristalizam notempo, atrasando o progresso ge-ral.

A verdade que liberta e a reali-dade que se impõe por si mesmasofrem a procrastinação natural de-vida ao livre-arbítrio individual, ei-vado de personalismos.

O resultado é que o progressointelectual e moral dos habitantesde mundos como a Terra se fazmuito lentamente, mesmo com aassistência permanente dirigida doAlto.

Entretanto, a evolução, o pro-gresso, que é lei divina, não deixade incidir sobre os indivíduos e so-bre as coletividades, mesmo que àcusta de repetições de vidas e de ex-periências, por vezes dolorosas.

...Jesus, que é o caminho, é tam-

bém a verdade. Preposto de Deus,Governador Espiritual da Terra, tema missão de transmitir a verdade àHumanidade, de modo progressivo,na medida em que ela, ou parte de-la, possa compreender o sentidoreal da vida e de todas as coisas.

A verdade, em sua forma uni-tária e absoluta, não é ainda conhe-cida pelos homens.

Mas tem sido revelada de for-ma parcial e relativa às necessidadesdos homens e aos tempos.

Tanto na ordem física, quantona ordem moral e intelectual, a ver-dade vai-se desvendando aos Espí-ritos, à medida e na proporção quese elevam em espiritualidade.

O amor, a fraternidade, comoos conhecimentos em geral são ex-pressões da verdade.

Desenvolver os sentimentossintetizados no Amor e proporcio-nar conhecimentos sempre maisamplos aos habitantes do planeta

Reformador/Novembro 2003 5403

Reflexões e ponderaçõesJuvanir Borges de Souza

A evolução,

o progresso,

que é lei divina,

não deixa

de incidir

sobre os indivíduos

e sobre as

coletividades

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Terra é a grande missão de Jesus, oVerbo do princípio.

Para isso se valeu de Espíritosmissionários junto a todos os po-vos e no seio de todas as raças: Fo--Hi e Confúcio, Buda, Sócrates ePlatão, Moisés e os profetas bíbli-cos, Amenhotep IV, Mahomet etantos outros, são alguns dessesenviados.

Essa tarefa extraordinária Elemesmo executou-a pessoalmen-te, quando de seu nascimento evida entre os homens, dando iní-cio à Era Cristã da História hu-mana.

Aquela missão que o Cristo de-sempenhou pessoalmente, como oConsolador, o Espírito da Verdade,junto aos apóstolos que escolheu,Ele prometeu que continuaria comoutro Consolador que viria no fu-turo, para recordar as verdades já re-veladas, acrescidas de outras par-celas de conhecimentos a que oshomens fizessem jus.

O Consolador prometido já seacha no seio da Humanidade. É,sem dúvida, a denominada Tercei-ra Revelação, a Doutrina que os Es-píritos Superiores, à frente o Espí-rito da Verdade, transmitiram aoshomens, através da mediunidade detrabalhadores escolhidos e do mis-sionário Allan Kardec.

A tarefa atribuída pelo Cristoao Consolador, junto à Humanida-de, consiste em mostrar a luz daverdade, que a guiará, progressiva-mente, em conhecimentos no cam-po da matéria, assim como no ter-reno moral.

Jesus mostra ainda o senti-do verdadeiro da Vida, criada porDeus sob múltiplas formas e que,no homem, é o Espírito em evolu-ção contínua.

A Doutrina Espírita, o Conso-lador, demonstra essas verdades sobforma clara, nítida, em linguagemacessível a todos.

...Uma das grandes realizações da

Nova Revelação, com relação aopensamento moderno, foi a de es-tabelecer perfeita harmonia entre aFé e a Razão.

Em todos os tempos, tem sidonotória a divergência entre a virtu-de da Fé, essa força interior ardua-mente construída, e a Razão huma-na que o Criador nos outorgou,como orientadora de nossa inte-ligência.

Essa divergência, entretanto,não deve existir em nenhum senti-do, como demonstraram os Espíri-tos Reveladores, levando Kardec aformular o célebre aforismo: “Féinabalável só o é a que pode encararfrente a frente a razão, em todas asépocas da Humanidade.”

Realmente, a verdadeira fé ba-seia-se em realidades transcenden-tes, que a razão esclarecida não de-ve desconhecer.

Não se pode conceber que oCriador dotasse o homem, Espíritoimortal, de faculdades inconciliá-veis, que se combatessem.

A fé, força e energia do senti-mento, que eleva o poder do ser,não poderia ser repelida e contraria-da pela inteligência e raciocínio des-se mesmo ser.

Se essa anomalia ocorresse, te-ria havido uma falha, um enganona Criação, o que é inconcebível.

O que tem ocorrido, atravésdos tempos, é a fragilidade da fé,por múltiplas razões, como tam-bém falhas da razão, uma e outrasreparáveis.

Como decorrência da grandeverdade de que Fé e Razão se com-plementam, não poderão prevale-cer, no futuro, as divergências e ocombate entre a Religião e a Ciên-cia, eis que ambas são alavancas pa-ra o progresso.

Suas divergências devem-se àsmás interpretações de um lado e deoutro, e à ignorância de princípiosnorteadores de que a Humanidadejá dispõe.

Não se pode interpretar ra-cionalismo como ateísmo ou ma-terialismo, como também não sepode aceitar as teses e dogmasdos teólogos, que se basearam naletra e não no espírito dos ensinosantigos.

A correção dessas anomalias foifeita com as instruções dos Espíri-tos Superiores, ajustando as inter-pretações incorretas e acrescentan-do os novos conhecimentos trazidospelo Consolador.

O que se torna necessário éque cada ser humano procure aVerdade, superando conceitos epreconceitos, despindo-se do orgu-lho e da vaidade e abrindo os olhose os ouvidos para o superior, o trans-cendente.

O caminho torna-se mais fácilcom a fé raciocinada.

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O que se torna

necessário é

que cada ser

humano procure

a Verdade

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Reformador/Novembro 2003 7405

Pessoas há, que transitam nomundo hodierno, aureoladaspela fama a que fazem jus, em

razão dos procedimentos elevados edos labores de edificação que reali-zam em favor da sociedade.

Outras também existem, quepermanecem no anonimato, embo-ra as ações de engrandecimentomoral que desenvolvem, optandopelo silêncio, não se preocupandocom as láureas da glória, nem comos ouropéis da ilusão terrena.

Igualmente se notabilizamaquelas que se fazem verdugos doseu próximo, sendo a sua celebri-dade decorrente das aflições queinfligem, tornando-se lamentavel-mente notórias pela crueldade quelhes é peculiar.

Tão logo desencarnam, são co-mentadas, invejadas, imitadas, trans-formando-se em modelos para con-dutas pessoais, pelo menos, por al-gum tempo, em decorrência do cho-que e do traumatismo que produz oseu falecimento.

Há pessoas, no mundo das fri-volidades, que têm dificuldade paraalcançar metas grandiosas e atingirposições que despertem comoção,quais o destaque na comunidade, nopoder econômico, político, social...

Borboleteiam em volta daque-las que são focos da atenção geral,buscando imitá-las pelo exterior,

copiando-lhes o maneirismo, a ca-ligrafia, os temas de conversação, ostiques e características da comuni-cação verbal...

Quando desencarnam esses in-divíduos, que se tornaram célebres,os seus seguidores estão vigilantes eansiosos para tomar-lhes o lugar,mesmo que em postura secundária,atirando-se em aguerridas disputaspelos tesouros da aparência, fazen-do-se famosos graças aos seuscadáveres...

Não têm por meta o trabalhode construção do bem, que os imi-tados produziram, mas propõem-sea herdar-lhes a fama, a serem seussubstitutos na forma, sem as cre-denciais superiores de natureza mo-ral, que os tornariam, sem dúvida,seus continuadores.

Engalfinham-se em intrigasodientas, em batalhas verbais ou es-critas contra os demais, apontando--os como desejosos de serem os le-gatários reais, com o objetivo exclu-sivo de afastá-los do seu caminho,deixando-lhes em aberto o espaçoque disputam.

Ao agredir aos outros, exterio-rizam o conflito em que se atur-dem, receando perder o campeona-to da insensatez que perseguemavidamente.

Vestem a capa da humildade,e, através de comportamento fingi-do, assim como de simplicidadeforçada, sem qualquer credencialpara aspirar à fama que perseguem,pensam merecer as honrarias daglória fugidia que ambicionam.

Não se dão idéia do ridículo aque se expõem, e malbaratam a ex-celente oportunidade ao seu alcan-ce para a iluminação interior quepostergam.

Para eles é muito difícil assumiro que são, a sua realidade, traba-lhando em favor da própria trans-formação moral para melhor.

Desejam a fama a qualquerpreço, embora se recusem pagar otributo que a mesma exige, em ra-zão de a coroa de que se faz porta-dora pesar muito, não raro, vergan-do a cabeça daquele que a ostenta...

...Luta, porém, para a preserva-

ção da tua identidade, sem invejade ninguém.

És, o que fazes de ti.Por mais que admires alguém,

não o copies pelo exterior, antesaprende as lições de que seja porta-dor, insculpindo-as nos refolhosdalma, a fim de vivenciares os seusexemplos dignificadores, as suas re-núncias grandiosas.

Toma-os como lições vivas eaplica-as no teu comportamentopessoal.

Prossegue, porém, tu mesmo,com as tuas características, as tuasconquistas, os teus valores em con-tínuo processo de enriquecimentoespiritual.

É muito desagradável e pertur-badora a dissimulação.

Esforça-te por ser autêntico,por assinalar a tua marcha evoluti-va com as tuas realizações pessoais,

Cadáveres e fama

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8 Reformador/Novembro 2003406

todas decorrentes das tuas lutas deiluminação, que nascem no pensa-mento, exteriorizam-se no verboedificante e se materializam no in-tercâmbio com todas criaturas.

Como existem aquelas que sepreocupam em adquirir fama sobreo cadáver das pessoas notáveis, dealguma forma, outras há, tambémenfermas, que os elegem como seuslíderes, embora o esdrúxulo com-portamento que se permitem.

Se abraças o Espiritismo, quete ajuda a discernir e a crescer inte-riormente, dispões do Modelo daHumanidade, que é o Mestre porexcelência, a Quem deves imitar,seguindo-O em todos os teus mo-mentos.

Deixa-te penetrar pelos Seusensinos e comportamento, buscan-do copiar-Lhe a conduta, porqueEle, sim, é o Guia que jamais seequivocou.

Quando na Cruz, no instru-mento de flagício, ao invés da fugaespetacular ao testemunho, com osbraços abertos, afirmou que assimpermaneceria, a fim de atrair todosao Seu magnânimo coração.

A Sua vida, que foi uma sinfo-nia de ações incomuns e libertado-ras, continua vibrando na pauta daNatureza e dos séculos, a fim deque todos a ouçam e se deliciemcom os seus acordes incomparáveis.

Os cadáveres que anteriormen-te hospedaram Espíritos nobres ounão, que se notabilizaram no mun-do, igualmente decompõem-se co-mo todos os demais, transforman-do-se em cinza e pó.

Deixa-os no solo de onde seoriginam e voa com a Essência li-vre, nimbada de claridades divinas,quando bons e missionários doamor, da caridade, da paz...

A fama sobre cadáveres alcan-ça também aqueles que foram Es-píritos ignóbeis, perversos, san-guinários.

A sua é a fama da loucura, dasenfermidades que lhes consumiramos corpos.

...Francisco de Assis, imitando

Jesus, despiu-se de tudo para con-segui-lo, e não se considerava dignosequer de O amar.

Teresa d’Ávila, para segui-lO,sacrificou-se até a doação total.

... E todos aqueles que Lhe têmbuscado a companhia morrem nocorpo, a fim de que possam vivercom Ele.

A fama, portanto, sobre cadá-veres de pessoas notáveis, transfor-ma-se em transtorno de comporta-mento a caminho da loucura...

Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Dival-do P. Franco, na reunião mediúnica danoite de 28 de julho de 2003, no CentroEspírita Caminho da Redenção, em Sal-vador, Bahia.)

Tristeza e solidãoCorydes Monsores

“Olhai os lírios do campo (...).”Jesus. (Mateus, 6:28.)

Quando a tristeza te bater à portae solidão sentires no teu ninho,pensa em Jesus e deixa, de mansinho,aflorar o sorriso que conforta.

O pássaro alimenta o filhotinhocom o que encontra no pomar, na horta.Não planta, entanto a natureza o exortaa trabalhar e o trata com carinho.

Se a falta de recursos te inquietar,o Mestre nos ensina a praticaro Amor fundamental da Sua Ciência.

Se a usada roupa te preocupar,busca os lírios do campo para olhar,confia em Deus e em Sua Providência.

Não pode o lírio tecer nem fiar,mas Salomão não teve, ao desfilar,a mesma alvura e perfumosa essência.

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Reformador/Novembro 2003 9407

Antigas culturas orientais pran-teavam o nascimento e feste-javam a morte, partindo de

dois princípios:

Nascer é iniciar uma jornadade dores e atribulações, enfrentan-do longo degredo neste vale de lá-grimas.

Morrer é desvencilhar-se dasamarras e ganhar a amplidão.

São perfeitamente compatíveiscom a Doutrina Espírita, que nosfala da reencarnação como uma ex-periência difícil, complicada, masnecessária, no estágio de evoluçãoem que nos encontramos.

É, digamos, uma materializa-ção a longo prazo, uma armadurade carne que vestimos, a limitarnossas percepções.

Ligação tão íntima, tão entra-nhada, que o corpo passa a integrarnossa alma, como um apêndice,colocando-nos em contato com vi-cissitudes como a dor, o desajuste,a doença, a senilidade, próprios dosseres biológicos, a se acentuarem namedida em que se desgastam suascélulas.

Por outro lado, o esquecimen-to das experiências anteriores geraboa dose de insegurança. O reen-

carnante situa-se perdido no pre-sente, a caminhar para o futuro semo referencial do passado.

E há, ainda, o contato compessoas e situações que dizem res-peito ao pretérito, envolvendo afe-tos e desafetos. Estará às voltascom sentimentos gratuitos e con-traditórios de simpatia e antipatia,afeto e desafeto, amor e ódio, en-volvendo gente de seu relaciona-mento, particularmente os fami-liares.

Isso tudo é necessário, umacontingência evolutiva.

A carne é a lixa grossa que des-basta nossas imperfeições mais gros-seiras.

O esquecimento do passado éa bênção do recomeço, a fim deque possamos superar paixões e fi-xações que precipitaram nossos fra-cassos no pretérito.

A convivência com afetos e de-safetos de vidas anteriores é a opor-tunidade de consolidar afeições edesfazer aversões.

Mas… enfrentar tudo isso emestado de amnésia, sem a mínimanoção do porquê dessas experiên-cias!…

Barra pesada!

...A literatura psíquica nos dá no-

tícia das angústias do Espírito,quando se prepara para o mergulhona carne, considerando suas pró-prias limitações e as dificuldadesinerentes à jornada humana.

Em O Livro dos Espíritos, há aquestão 341:

Pergunta Kardec:

Na incerteza em que se vê,quanto às eventualidades do seutriunfo nas provas que vai suportarna vida, tem o Espírito uma causade ansiedade antes da sua encarna-ção?

Responde o mentor:

De ansiedade bem grande, poisque as provas da sua existência oretardarão ou farão avançar, con-forme as suporte.

No livro Nosso Lar, psicografiade Francisco Cândido Xavier, An-dré Luiz reporta-se à ansiedade deLaura, nobre senhora que se prepa-rava para reencarnar. Não obstanteseus incontáveis méritos, encara-va com apreensão o mergulho nacarne.

E comenta com o MinistroGenésio, um benfeitor espiritual:

– Tenho solicitado o socorro es-piritual de todos os companheiros,a fim de manter-me vigilante naslições aqui recebidas. Bem sei que aTerra está cheia da grandeza di-vina. Basta recordar que o nosso Solé o mesmo que alimenta os homens;no entanto, meu caro Ministro, te-nho receio daquele olvido temporá-rio em que nos precipitamos. Sinto--me qual enferma que se curou

Dia dos vivosRichard Simonetti

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10 Reformador/Novembro 2003408

de numerosas feridas… Em verda-de, as úlceras não mais me apo-quentam, mas conservo as cica-trizes. Bastaria um leve arranhão,para voltar a enfermidade.

Laura reporta-se àquele quetalvez seja o maior problema do Es-pírito reencarnado – a reincidência.

Tornar aos mesmos enganos dopassado.

Nas reuniões mediúnicas é co-mum o contato com Espíritos quesimplesmente refugam as oportuni-dades de reencarnar, alegando queestão muito bem e não se sentemdispostos a enfrentar o mergulhonas incertezas da carne.

Embora tenham que fazê-lo,mais cedo ou mais tarde, resistem oquanto podem.

Em face disso tudo, amigo lei-tor, podemos afirmar, sem sombrade dúvida, que reencarnar é com-plicado.

...Já desencarnar é o alijar da ar-

madura, a retomada das percepções,o reencontro com os afetos caros.

É o retorno à amplidão, umacelebração da Vida em plenitude,sem as limitações humanas.

Se desencarnarmos levandoum mínimo de vitórias, na lutacontra nossas imperfeições, se algo

fizemos em favor do bem comum,combatendo o egoísmo; se aprende-mos a conjugar os verbos amar, per-doar, compreender, na vivência doEvangelho, então seremos muitobem amparados, e nos situaremosfelizes como o viajor que finalmen-te retorna ao lar.

Estavam certas as antigas cul-turas orientais.

Quem sabe, um dia, quandoessa realidade for melhor assimiladapela Humanidade, haveremos demudar as comemorações do dois denovembro.

Não mais o dia dos mortos. Mais apropriadamente, o dia

dos vivos.

Senhor Jesus!Enquanto nossos irmãos na Terra se consagram

hoje à lembrança dos mortos-vivos que se desen-faixaram da carne, oramos também pelos vivos-mor-tos que ainda se ajustam à teia física...

Pelos que jazem sepultados em palácios silen-ciosos, fugindo ao trabalho, como quem se cadave-riza, pouco a pouco, para o sepulcro;

pelos que se enrijeceram gradativamente na au-toridade convencional, adornando a própria inutili-dade com títulos preciosos, à feição de belos epitáfiosinúteis;

pelos que anestesiaram a consciência no vício,transformando as alegrias desvairadas do mundo emportões escancarados para a longa descida às trevas;

pelos que enterraram a própria mente nos cofresda sovinice, enclausurando a existência numa covade ouro;

pelos que paralisaram a circulação do própriosangue, nos excessos da mesa;

pelos que se mumificaram no féretro da pre-guiça, receando as cruzes redentoras e as calúniashonrosas;

pelos que se imobilizaram no paraíso domésti-

co, enquistando-se no egoísmo entorpecente, comodesmemoriados, descansando no espaço estreito doesquife...

E rogamos-te ainda, Senhor, pelos mortos daspenitenciárias que ouviram as sugestões do crime eclamam agora na dor do arrependimento;

pelos mortos dos hospitais e dos manicômios, quegemem, relegados à solidão, na noite da enfermidade;

pelos mortos de desânimo, que se renderam, naluta, às punhaladas da ingratidão;

pelos mortos de desespero, que caíram em suicí-dio moral, por desertores da renúncia e da paciência;

pelos mortos de saudade, que lamentam a faltados seres pelos quais dariam a própria vida;

e por esses outros mortos, desconhecidos e pe-queninos, que são as crianças entregues à via públi-ca, exterminadas na vala do esquecimento...

Por todos esses nossos irmãos, não ignoramos quechoras também como choraste sobre Lázaro morto...

E trazendo igualmente hoje a cada um deles aflor da esperança e o lume da oração, sabemos queo teu amor infinito clarear-nos-á o vale da morte, en-sinando-nos o caminho da eterna ressurreição.

Emmanuel

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos.14. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2001, cap. 77, p. 217-218.

Oração no dia dos mortos

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P. – Há quanto tempo vocêatua no Movimento Espírita?

FB – Na primeira quarta-feirade março de 1947 eu chegava, pelaprimeira vez, à Capital, procedentedo interior, da Região da ChapadaDiamantina, de um povoado noMunicípio de Seabra, hoje Cidadede Souto Soares. Lá havia lido, nosanos 1945/1946, alguns livros espí-ritas, tomados por empréstimo, acomeçar pelo romance A Vingançado Judeu, de J. W. Rochester. Com-prei, em seguida, alguns livros àFEB, pelo “Reembolso Postal”. Nodomingo seguinte, cedo, dirigi-meà União Espírita Bahiana, no Largodo Cruzeiro de São Francisco, 8, noCentro Histórico de Salvador, e láencontrei reunida a União da Ju-ventude Espírita da Bahia, primei-ra organização juvenil espírita doEstado, fundada em 1945. Integrei--me logo no grupo, na Casa, hojeFederação Espírita do Estado da Ba-hia, e no Movimento Espírita, até osdias atuais. Participavam daquelasessão matutina, na União EspíritaBahiana, os jovens Heitor SpínolaCardoso, fundador da Mocidade,Maria Luísa Serra Pontes, com des-tacada atuação na Juventude e naimplantação da Evangelização daInfância na Bahia, a partir do anode 1954, Ildefonso do Espírito San-to, Waldemir Almeida de Oliveiraque, com mais alguns companhei-

ros, chegados depois – Etiene Gifo-ne Rocha e Sinésio Vieira Ramos(desencarnados em 1962), Jaymedos Santos Batista, a partir de 1958,e outros – viriam formar um grupounido, amigo, voltado para a divul-gação da Doutrina e organização eunificação do Movimento Espírita,na Bahia.

P. – Como você se envolveucom o trabalho de unificação?

FB – Com o surgimento de ju-ventudes espíritas em outros Cen-tros, no início de 1950, já participa-va da criação da União das Juven-tudes Espíritas da Bahia, órgão deunificação do movimento jovem,passando a União da Juventude adenominar-se Juventude EspíritaManoel Miranda, em homenagemao grande trabalhador da Causa Es-

pírita em nosso Estado, ManoelBaptista Philomeno de Miranda,Espírito dedicado ao estudo da me-diunidade, que vem, há algum tem-po, transmitindo apreciados livrosatravés da psicografia de DivaldoPereira Franco. Com a assinatura do“Pacto Áureo” em 1949 e a conse-qüente fundação da União SocialEspírita da Bahia (USEB), em 2 denovembro de 1950, dois anos depoisera criado o Departamento de Ju-ventude da USEB, para substituir aUnião das Juventudes, e eu empos-sado seu Diretor, em 8/12/1952.

P. – Em que período dirigiu aFEEB e em que cenário?

FB – Quando da volta daUnião Espírita Bahiana à condiçãode órgão federativo estadual, com onome de Federação Espírita do Es-tado da Bahia, em 11/2/1973, coma incorporação da USEB, eu estavaconcluindo o segundo mandato detrês anos como Presidente da UniãoEspírita Bahiana. Instalada a FEEB,fui eleito Presidente da Direto-ria Executiva para um mandato detrês anos, para o qual fui tambémreeleito. De lá para cá, tenho sidoPresidente do Conselho Adminis-trativo ou 2o Vice-Presidente da Di-retoria Executiva, cargo para o qualfui novamente escolhido no mês deabril último.

O cenário era bem diferente.Os dirigentes dos Centros, de mo-

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ENTREVISTA: FRANCISCO BISPO DOS ANJOS

Francisco Bispo dos Anjos, Secretário da Comissão Regional Nordeste doConselho Federativo Nacional, fala a Reformador sobre sua vivência no

Movimento Espírita da Bahia, do Nordeste, e em âmbito nacional

Francisco Bispo dos Anjos

falando no CFN

Uma visão do Movimento Espírita

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do geral, ainda não haviam desper-tado para a importância da uniãodos espíritas e a unificação do Mo-vimento, não obstante os esforçosdesenvolvidos por José Petitinga eManoel Miranda, nos tempos daUnião Espírita Bahiana, e pelos pri-meiros dirigentes da USEB, que tor-naram mais freqüentes as visitas aosCentros e introduziram a prática depalestras espíritas em logradourospúblicos, nos bairros da Capital,início do esforço de sair-se dos limi-tes do Centro para levar a Mensa-gem Espírita à comunidade comoum todo. Foi pequeno o númerode novas adesões à nova Entidade,quando, para suprir a carência detrabalhadores na área, os jovens,com mais tempo nas atividades deunificação, passaram a integrar aDiretoria da USEB, promovendo-sealteração estratégica de dispositivodo Estatuto (1962). Nos primeirosanos era notória a apatia dos Cen-tros já integrantes do sistema, co-meçando a amenizar as dificuldadesapós os jovens mais experientes queatuavam no DIJ terem assumidocargos na direção da Federativa, nofinal de 1969. A década de 60 mar-cou profundas mudanças no Movi-mento na Bahia, com reflexos nosdemais Estados da Região. Foiquando passaram a ocorrer os Gran-des Eventos Espíritas em Salvador,em espaços não espíritas abertos àsociedade como um todo e commaior utilização dos meios de co-municação, então mais disponíveis.Cabe ressaltar como um dos princi-pais fatores contributivos de mu-danças do cenário espírita na Bahiae na Região a ação e o apoio ao tra-balho de difusão da Doutrina e aotrabalho de unificação do médiume orador Divaldo Pereira Franco,

com os extraordinários recursos desua abençoada oratória, a excelên-cia dos livros por ele recebidos me-diunicamente, perto de 200 já pu-blicados, e as ações doutrinárias esociais do Centro Espírita Caminhoda Redenção, por ele fundado em1947. Foi dessa fase de inovações emudanças no Movimento Espírita,entre nós, que se chegou à instala-ção da FEEB, em 1973. A fase do

início de Grandes Eventos Espíritasno Estado, as comemorações doscentenários do primeiro CentroEspírita do Brasil (1965) e doprimeiro Jornal Espírita do Brasil(1969). A paisagem, nos seis pri-meiros anos da FEEB foi, em parte,de desdobramento dos aconteci-mentos e de reorganização admi-nistrativa da União Espírita Bahia-na, transformada em Federação Es-pírita do Estado da Bahia, combastante entusiasmo, esperança edeterminação. Contam-se hoje per-to de 500 Associações Espíritas noEstado, sediadas na Capital e emgrande parte das cidades do inte-rior. Podemos citar como exemploVitória da Conquista, realizandode 7 a 14 de setembro a sua 50a Se-mana Espírita, considerada como o

maior e mais importante eventocultural da cidade, nos últimosanos, com intensa repercussão emtoda a Bahia e a participação de es-píritas de vários outros Estados doBrasil e até do Exterior.

P. – Como você avalia o desen-volvimento do Conselho FederativoNacional desde o inicio de sua par-ticipação?

FB – Quando das reuniões doConselho Federativo Nacional(CFN) ainda no Rio de Janeiro,participei de uma delas, presididapelo Dr. Antônio Wantuil de Frei-tas. No período em que a freqüên-cia das reuniões mudou de mensaispara trimestrais e, depois, quadri-mestrais, participei de todas. Coma transferência do CFN para Brasí-lia, o funcionamento das Zonais, acriação e funcionamento das Co-missões Regionais, tenho participa-do de quase todas as reuniões doCFN como representante da FEEBou na qualidade de Secretário daComissão Regional Nordeste. Te-nho, portanto, o privilégio de haveracompanhado de perto as grandesmudanças por que tem passado oConselho Federativo Nacional, ho-je um órgão moderno, atual eatuante. O desenvolvimento do CFNé estupendo. Comparando um órgãonacional constituído na sua grandemaioria por representantes das Fe-derativas estaduais, residentes noRio de Janeiro – era a situação deantes do Ciclo de Reuniões Zonais– com a última Reunião Ordináriado CFN, em novembro de 2002,quando participaram diretamenteos Presidentes das Federações Espí-ritas dos 27 Estados, a diferença éimensa. São outros os tempos. Éoutro o Movimento. É outra amentalidade, o conteúdo, o prepa-

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São outros

os tempos.

É outro o

Movimento.

É outra a

mentalidade

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ro das pessoas envolvidas, o nível departicipação, a infra-estrutura dasreuniões, tanto do CFN quanto dasComissões Regionais. Que dizer daconvivência fraterna? Do clima en-tre pessoas amigas que se reencon-tram periodicamente para avaliar oque foi possível, durante a fase an-terior e discutir e planejar o que fa-zer, as novas ações a serem imple-mentadas, da intensa vibração es-piritual nas Reuniões das Comis-sões Regionais que ocorreram nasquatro Regiões neste ano? Louve-mos, entretanto, o passado, os quese esforçaram para construir a base.Louvemos as épocas: Wantuil deFreitas e a sementeira de luz com adisseminação do livro espírita portodo o Brasil, na sublime parceriados Espíritos (a mensagem) comFrancisco Cândido Xavier (o mé-dium), Antônio Wantuil de Freitas(o administrador e editor) e a FEB(o apoio material); Armando de As-sis e o início da descentralização daação federativa e unificadora; Fran-cisco Thiesen e a organização e ocrescimento da FEB e do CFN; Ju-vanir Borges e a firme e crescenteevolução do CFN, com cada umade suas reuniões, às vezes surpreen-dente em termos de avanços: na or-ganização, na condução, no conteú-do, na participação dos represen-tantes das entidades integrantes.

P. – Desde sua participação ini-cial na Comissão Regional Nordestecomo avalia a evolução da mesma?

FB – Em outubro de 1986,acompanhei Nestor Masotti, entãoDiretor da FEB e Coordenador dasComissões Regionais, a duas reu-niões preparatórias para instalaçãoda Comissão Regional Nordeste:em Natal (RN), no dia 4 e, no dia 5,em João Pessoa (PB). Nos dias 21 e

22 do mês de março de 1987, par-ticipei da primeira Reunião Ordiná-ria da Comissão, como Secretário,função que desempenho até os diasatuais. A Comissão vem alcançandoos seus objetivos. De um único gru-po inicial, reunindo apenas Presi-dentes e representantes das Federa-tivas estaduais, foi ocorrendo, anoapós ano, o desdobramento poráreas específicas de atividade dosCentros Espíritas, reunindo-se, ca-da uma delas, com agenda própria,os seus diretores nas Federativas es-taduais da Região para troca de ex-periência, planejamento e avaliação,em conjunto, chegando-se, na Reu-nião Ordinária deste ano, em SãoLuís (MA), a sete reuniões concomi-tantes, durante dois dias de trabalhodas seguintes áreas: dos Dirigentes(Presidentes e Assessores das Federa-tivas), da Atividade Mediúnica, daComunicação Social Espírita, doEstudo Sistematizado da DoutrinaEspírita, da Infância e Juventude, doServiço de Assistência e PromoçãoSocial Espírita e do AtendimentoEspiritual no Centro Espírita. Alémdas Reuniões Ordinárias, em rodí-zio, nas Capitais dos Estados, vêmocorrendo, no dia-a-dia, com maiorfreqüência nos Encontros Regionaisde áreas específicas, atividades inte-restaduais e a crescente amizade ecomunicação mais fácil e mais fre-qüente entre os dirigentes das Fede-rativas e dos seus departamentos.Tem evoluído consideravelmente onúmero de participantes, acima de100 pessoas nas últimas reuniões; aqualidade, o conteúdo, a organiza-ção, a infra-estrutura das reuniões,comunicação, a harmonia, o climade amorosidade e a vibração espiri-tual reinantes, sobretudo no finaldas últimas reuniões. Podemos afir-

mar, pois, que a contribuição daComissão Regional à evolução doMovimento Espírita na Região temsido decisiva, refletindo-se na signi-ficativa melhoria da qualidade dosserviços oferecidos pelas Federativase pelos Centros Espíritas envolvidos,numa constatação de que a unifica-ção é possível! Espíritas com anima-doras perspectivas para o futuro, de-monstrando que a união e a uni-ficação são possíveis! Dependem denós, os espíritas.

P. – O Movimento se desenvol-ve por toda a Região Nordeste?

FB – Já apresenta acentuadoprogresso, principalmente nos cen-tros urbanos mais desenvolvidos.Tem aumentado o número de Cen-tros Espíritas em cada Estado daRegião. Já são cerca de 500 naBahia. E muitos são os Centroscom grande número de freqüenta-dores. As Campanhas lançadas pe-la FEB vêm sendo trabalhadas comentusiasmo e bons resultados. ACampanha do ESDE é consideradaimportante também no processo decaptação de novos trabalhadores.

P. – Que ação considera prio-ritária para favorecer a difusão daDoutrina?

FB – A FEB manter o ritmoatual da divulgação do livro espíri-ta, das Campanhas Permanentes, dadescentralização da ação federativae unificadora. E conquistar a mídia:jornal, rádio, informática e, princi-palmente, a televisão. O Movimen-to Espírita tem de contar, o quantoantes, com este excepcional meio decomunicação, para que a DoutrinaEspírita possa, em tempo menor,beneficiar toda a sociedade, atingin-do, assim, a plenitude dos seus ob-jetivos.Vamos vibrar por uma futu-ra rede espírita de televisão?

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“A história é feita de homens-

-tipo (...) ultrapassam as frontei-

ras do seu tempo e, como são a

síntese do passado, são igual-

mente os arautos do futuro (...).

(Do livro Hipnotismo e Mediunidade, OHomem e a sua missão, de César Lom-broso, edição da Federação EspíritaBrasileira.)

Escrever a respeito de FranciscoCândido Xavier, alinhavadocom ternura e reconhecimen-

to, é nosso propósito. Dizer algo arespeito desse vulto humano e desua obra, erguida sobre um pedes-tal de solidariedade humana, de tra-balho e de esforço beneditino, semoutra preocupação que não a detestemunhar-lhe, a exemplo de tan-tos outros, o nosso reconhecimen-to e a nossa admiração à beleza cris-talina do exemplo de vida e daslições de imortalidade, que noslegou.

Perdoa-nos, querido Amigo,onde estiveres, se ferirmos a tuasensibilidade, falando das virtudesliriais, de correção e nobreza, de tuaalma, discorrendo sobre as virtudesdo teu coração, vaso de amenidadese de ternura, aberto sem distinção a

todos os que te batiam à porta, àprocura de lenitivo para as crises dealma, sob a “didática severa da dor”,certo que, no Plano de Luz em quete encontras, não são ausentes doteu coração, principalmente, aque-les deserdados do mundo.

Todavia, “não tivéssemos umalíngua tão pobre na gratidão”, pro-curaríamos, como mereces, sem fe-rir a tua sensibilidade, registrar,aqui, o testemunho que é possível,na linguagem do coração que todosentendem, perante os frutos impe-recíveis de tua realização de alma ede coração, libertando as consciên-cias do cárcere sombrio da ignorân-cia espiritual, certo que tua vidaapostolar foi uma bandeira desfral-dada de exemplificação cristã e lú-cido entendimento das contingên-cias humanas.

No Universo tudo passa, tudose esvai, tudo finda, na correntezada vida, que se renova eterna; fi-cam, porém, e permanecem acimado tempo – mesclados com a eter-nidade – indestrutíveis exemploscomo os da tua vida, de correção edoçura, de idealidade e tolerância,de modéstia e recato.

“Ainda quando a vida mais nãofosse que a urna da saudade, o sa-crário da memória dos bons [no di-zer de brilhante mestre da palavra e

do pensamento], bastava só isto pa-ra reputarmos um benefício celestee cobrirmos de reconhecimento àgenerosidade Daquele que nô-ladoou; – porém, quando ela nosprodigaliza dádivas como as do teuespírito, não é que lhe devemos du-vidar da grandeza a que te acercas-te primeiro do que nós”, nas lidesenobrecedoras de sublimadas reali-zações espirituais.

Não é possível dissociarmos otrabalho-missão de Francisco Cân-dido Xavier da obra redentora deAllan Kardec, certo que uma é odesdobramento da outra. É a reve-lação dentro da Revelação, com in-questionável fidelidade e coerência,“sem atraiçoar-lhe uma vírgula se-quer”, ao longo de uma jornada demais de setenta e quatro anos detestemunho inquebrantável, em sin-tonia com o seu emérito Colabora-dor Espiritual, Emmanuel, que, aoinício de sua caminhada em face domandato a desempenhar, como de-legação do Alto, lhe adverte, numato de lealdade e responsabilidade,que, se algo lhe viesse aconselharque não estivesse de acordo com aspalavras de Jesus e de Kardec, deve-ria permanecer com Jesus e Kardec,procurando esquecê-lo.

É oportuno repetir, aqui, aspalavras de um eminente pensador,

O fenômeno do século XX – Francisco Cândido Xavier

Ney da Silva Pinheiro

PRESENÇA DE CHICO XAVIERPRESENÇA DE CHICO XAVIER

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o que é uma verdade irrefragável:“Aquele que se adiante cem anos oumais aos seus contemporâneos de-verá esperar cem anos ou mais paraser compreendido.” Nesta contin-gência se colocam os autênticosdesbravadores do futuro, e tu te co-locas entre eles, pelos tesouros deensinamentos que nos legaste, in-termediando, com sublimada coe-rência, dos Planos de Luz.

A presença de Francisco Cân-dido Xavier, pelo influxo de valoresespirituais que mobilizou, represen-ta para o homem moderno, noquadro do seu horizonte evolutivo,um impulso decisivo no sentido desua destinação espiritual.

Pedimos vênia ao eminente ar-ticulista, que abre as páginas deReformador, para fazer nossas comreferência a Francisco Cândido Xa-vier, pela grandeza do trabalho des-te na Seara do Cristo, suas inspira-das palavras, usadas em outra opor-tunidade: “Ele não pertencia à poei-ra inumerável das gerações que acirculação eterna da vida traz e var-re indistintamente no fluxo e reflu-xo dos tempos, mas a essa ordem devalores que a Providência Divinaevoca entre os homens”, como im-pulso à sua evolução espiritual.

O seu vulto crescerá à medidaque o tempo o afastar de nós, peloscaminhos da História. Como ins-trumento, porém, da ProvidênciaDivina, o calor do seu amor, os fru-tos imperecíveis de sua mediunida-de com Jesus, o seu exemplo de fi-delidade cristã, se irradiarão porsobre as incertezas de nossas vidas,iluminando os caminhos e derra-mando sobre os nossos corações obálsamo das consolações supremas.

A exemplo, porém, dos legíti-mos colaboradores do progresso

humano, não foi, nem poderia serexceção: provou fundo, ao longodas aflições da romagem, o cálice daamargura, da incompreensão e, co-mo toda a alma verdadeiramentegrande, a dor, o sacrifício sem con-ta “lhe não alterou a brandura datêmpera e a serenidade da atitude”,dando na prática, e não apenas emafirmações verbalísticas, lições irre-vogáveis e edificantes de “trabalho,solidariedade e tolerância”, que lheresumem toda a plataforma de vi-da, assimilada do egrégio Codifica-dor do Espiritismo.

Na ordem das coisas, atente-mos, este ainda é um determinis-mo histórico, que só é superadopela tenacidade daquelas almasque trazem no íntimo o calor deum amor feito de renúncias e con-fiança na Providência Divina e nadestinação humana, num super-lativo esforço de doação incon-dicional.

A pletora do Movimento Espí-rita do Brasil, “com sua exuberân-cia, com o seu viço, com sua seiva”,é um sinal irrefragável da predesti-nação de nossa Pátria para compar-tilhar da tarefa augusta de redençãoplanetária, destacando-se como sig-nificativo instrumento, para essamissão, o seu movimento editorialde livros espíritas. Essas publicaçõesconstituem uma vasta e fecunda li-teratura, que abrange largamente odomínio da religião, da filosofia, daciência e da arte, cabendo aos livrospsicografados por Francisco Cândi-do Xavier, nesse contexto, a prima-zia, tanto pela substância doutriná-ria, quanto pela forma, escrita numvernáculo correto, abrangendo amais de 400 volumes, com milhõesde exemplares editados, fato im-pressionante na história do livro.

Como discípulo singular deAllan Kardec, abriu-nos, FranciscoCândido Xavier, através do LivroEspírita, as portas de ouro de ummundo melhor, descortinando am-plos horizontes e nos franqueandoas veredas do coração e da inteli-gência para comungarmos, em suaplenitude com a vida inteira. Daíporque o seu nome é flama, é ga-rantia, é plataforma nos labores doIdeal Espírita.

Francisco Cândido Xavier, aooferecer-nos as lições sublimadas,colhidas por suas mãos abençoadasnas fontes inexauríveis do Infinito,criou-nos condições para sentirmosinvocação como essa que nos faz oaureolado Léon Denis, num livrode doçuras e de belezas inquestio-náveis: – “Vamos, pois, pelo futuroalém mais longe, para a vida que serenova eterna, pela vida imensa quenos abre um espiritualismo regene-rado! Fé do passado, ciências, filo-sofias, religiões do presente e doporvir, iluminai-vos com uma cha-ma nova; sacudi vossos velhos sudá-rios e as cinzas que os cobrem; es-cutai as vozes evocativas e revela-doras do túmulo; elas nos trazemuma renovação do pensamentocom os segredos do Além, que ohomem tem necessidade de conhe-cer para melhor viver, melhor agir,melhor morrer.”

Os agitados na dúvida saberãosentir, na hora de sua maturação, asubstância de consolação contidanessa Doutrina que nos irmana, eque, exemplarmente, Francisco Cân-dido Xavier não procrastinou a ho-ra de servir, e que descortina ao nos-so entendimento o amanhecer deum mundo melhor, equacionandoo amor infinito, a misericórdia e ajustiça divina, em termos de lógica

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inquestionável e de razão inconfun-dível.

Depois que, numa obra impe-recível de clareza, lógica e rigor,com assentos profeticamente subli-mes, Allan Kardec, sob a égide doCristo, reuniu, para os que têm“olhos de ver e coração de sentir”,num corpo granítico de doutrina,os ensinamentos de vida eterna dosMentores Espirituais da Humani-dade – o caminho da libertação dascontingências inferiores da vidaacha-se aberto a todas as criaturasde boa vontade, nas luzes dessaobra imortal, suplementada, ho-je, pelo trabalho apostolar da almadiamantina de Francisco CândidoXavier, numa doação de labor infa-tigável, de renúncia, de humildadee de sabedoria.

Toda a vez que, sobre a faceda Terra, sucede um acontecimen-to verdadeiramente excepcional,cujo evento signifique, por issomesmo, uma mutação construtivanos destinos da Humanidade, ve-jamos, com os olhos de ver, comos olhos da alma, nesse fato, ainfluência sagrada do Cristo-Jesusna organização de todos os sur-tos positivos da civilização pla-netária.

Cabe ao Espiritismo, verdadei-ro “curso propedêutico para asgrandes lições do porvir”, no dizerde Humberto de Campos, Espírito,paradigma inquestionável para to-dos os homens de boa vontade, amissão de lançar as coordenadasfundamentais aos rumos do pensa-mento diretivo da civilização, noque pese a obstinação da “ignorân-cia da ciência do século” e pela in-capacidade de conceber o que é di-vino, no dizer de Eugênio Nus,contemporâneo de Kardec.

EducaçãoO amor é a base do ensino.Professor e aluno, cooperação mútua.

*

O auto-aprimoramento será sempre espontâneo.Disciplina excessiva, caminho de violência.

*

A curiosidade construtiva ajuda o aprendizado.Indagação ociosa, dúvida enfermiça.

*

Egoísmo nalma gera temor e insegurança.Evangelho no coração, coragem na consciência.

*

Cada criatura é um mundo particular de trabalho e experiência.Não existe vocação compulsória.

*

Toda aula deve nascer do sentimento.Automatismo na instrução, gelo na idéia.

*

A educação real não recompensa nem castiga.A lição inicial do instrutor envolve em si mesma a responsabilida-

de pessoal do aprendiz.

*

Os desvios da infância e da juventude refletem os desvios damadureza.

Aproveitamento do estudante, eficiência do mestre.

*

Maternidade e paternidade são magistérios sublimes.Lar, primeira escola; pais, primeiros professores; primeiro dia de

vida, primeira aula do filho.

*

Pais e educadores! Se o lar deve entrosar-se com a escola, o cultodo Evangelho em casa deve unir-se à matéria lecionada em classe, nailuminação da mente em trânsito para as esferas superiores da Vida.

André Luiz

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA Waldo. O Espírito da Verdade,Autores Diversos. 12. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2000, cap. 16, p. 46 e 47.

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Afarta literatura espírita exis-tente nos dá conta dos fenô-menos de materialização e

desmaterialização, já amplamentecomprovados e praticados pelos ex-perimentadores da Ciência Espíri-ta, como William Crookes, Albertde Rochas, César Lombroso e ou-tros. Além disso, muitas são as pes-soas que já assistiram a fenômenosdessa natureza, nem todas com apreocupação de analisar-lhes asconseqüências e origens.

Quando se desmaterializa umobjeto ou um ser, o que é feito dele?O que acontece à sua natureza?Quando igualmente à vista de to-dos se materializa um objeto ou umser, de onde ele procede? Qual a suaorigem?

Uma vez que, segundo o prin-cípio de Lavoisier, a destruição ab-soluta não existe, somos forçados aprocurar o destino dos objetos ouseres desmaterializados. Se eles ape-nas se transformaram, para ondeforam conduzidos? Certamente pa-ra uma situação que nos seja im-perceptível; para um estado ex-trafísico!

Do mesmo modo, os objetose seres que se materializaram noPlano Físico deverão ter vindo de

algum lugar! Se nos eram imper-ceptíveis e intangíveis antes dematerializar-se, com certeza exis-tiam antes de aparecer, uma vezque “nada se cria”! De onde vie-ram?

Se “nada se perde, nada secria”, claro está que estes objetos ouseres apenas se “transformaram”!Fica assim demonstrado que existeum estado extrafísico de onde elesvêm, e para onde vão ao desmate-rializar-se. Com este raciocínio, oprincípio de Lavoisier nos leva àcomprovação da existência do Mun-do Espiritual!

Ao enunciar que “na Naturezanada se cria, nada se perde, tudo setransforma”, o eminente sábio pen-sador não imaginava, naquela épo-ca, a extensão do princípio queenunciava, pois obviamente o enun-ciado se referia à Terra, com seuabrangente transformismo fenomê-nico. Com relação ao Universo, nãose poderá aplicá-lo da mesma ma-neira, por isso que Deus cria inces-santemente! Dentro dos limites donosso orbe, porém, esta verdademaravilhosa nos ajuda a compreen-der a grandiosidade do Criador detodas as coisas à nossa volta, e o seuperpétuo transformar-se, cada vezpara uma posição mais elevada emais perfeita.

A ciência espírita nos faz en-tender que um mesmo objeto, ouser, poderá transferir-se de um para

outro desses planos, sem perda desua identidade real. Nos fenômenosde materialização e desmaterializa-ção, não existe nem criação nem ex-tinção do objeto ou ser submetidoàquele processo, mas simplesmenteuma transformação, uma transfe-rência, quer em um sentido, querem outro.

Deste modo, a ciência oficial,a despeito do grau de materialismoque conduz o raciocínio de grandeparte dos seus prosélitos, encontra-rá neste princípio, endossado porela mesma, os meios de comprovar,de maneira inequívoca, a existênciados Espíritos e do Mundo Espiri-tual, tantas vezes negada por seusexpoentes.

A Doutrina Espírita é tam-bém ciência que, como as demais,para ser conhecida e compreendi-da há de ser estudada, meditadae experimentada. Quem deve ins-truir-se a respeito das coisas es-pirituais não deverá ler as obrasbásicas que compõem o penta-teuco da Doutrina Espírita co-mo se lesse um romance para dis-trair-se.

Espiritismo é matéria da maiselevada seriedade, que não se coa-duna com a leviandade, pois nosfala daquilo que é de maior im-portância para a criatura humana:o progresso do Espírito – a ver-dadeira finalidade da existência naTerra!

Lavoisier e a fenomenologiaespírita

Mauro Paiva Fonseca

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Opensamento centrado nas coi-sas materiais e em nós mes-mos retrata a nossa personali-

dade egoísta e esse deve ser oprincipal foco do trabalho de refor-ma moral que precisamos empreen-der, tendo em vista a obtenção dasmetas de aprimoramento espiritualque nos trouxeram de novo à vidana Terra. Constata-se que o Espíri-to revela a sua tendência para as ma-nifestações do egoísmo desde as pri-meiras fases de sua existência e, senão forem corrigidas, elas se eviden-ciarão em toda a sua vida terrestre.

Observamos que egoísmo fazparte do nosso processo cultural ede nossas vidas, está na família e nasociedade em geral, contaminandoas relações humanas, por isso é tãodifícil tomarmos consciência doque precisamos mudar. Estamosadaptados ao contexto a que fomoscondicionados desde a infância. Emfamília, a nossa vontade confronta--se com a opinião, o desejo e os há-bitos dos outros, criando conflitos.Gostamos de impor modelos e pa-drões àqueles que conosco con-vivem. Sofremos, mas não nos da-mos conta de que a única maneirade evitar o tormento é pacificar-nosintimamente, evitando o compor-

tamento inadequado inspirado pe-lo egoísmo. Muitas vezes, o que nosleva a agir mal é a vaidade pessoal,um dos frutos do egoísmo que ain-da nos caracteriza e que se apresen-ta não só na vida familiar, mas tam-bém em nossas atividades na CasaEspírita, que é, na verdade, uma ex-tensão da nossa família. Essa pare-ce ser uma doença epidêmica a exi-gir tratamento urgente.

O desafio de criar uma culturamais fraterna passa pela necessida-de de desenvolvimento global daspotencialidades intelecto-morais dosEspíritos que encarnam neste mun-do de provas e expiações, mas ob-serva-se, no mundo moderno, umsistema de discriminação, em queaqueles que não têm acesso ao pro-cesso educativo formal acabam ex-cluídos das decisões de nível sócio--político. O modelo cultural volta-do principalmente para a valoriza-ção do intelecto tem reforçado astendências egoístas, estruturandopersonalidades em que preponde-ram o orgulho e o despotismo eque prezam o “poder”, o “ter” e o“querer” em conexão com a transi-toriedade dos valores materiais. Aidéia do “amor” como algo exteriorainda prevalece, e a maioria não en-tende o “porquê” de suas carênciasafetivas, cujas conseqüências são fa-cilmente identificáveis: o consumis-mo, o excesso alimentar, a uniãocom o objetivo precípuo de satisfa-

ção sexual, entre outras. E, enquan-to isso, extenso número de seres per-manece à margem, sem conforto,sem oportunidade, à mercê das in-fluências mais perniciosas.

A Doutrina Espírita nos mos-tra que somente o desenvolvimen-to do intelecto não basta para aeducação global do Espírito e que oestímulo às potencialidades espiri-tuais deve ser prioritário na tarefade educação. E, se as tendências pa-ra as manifestações egoístas se reve-lam já na fase infantil, é fácil dedu-zir que, se elas não forem traba-lhadas, não se poderá construiruma personalidade mais voltada àmanifestação do amor. Parece-nosque entramos em um círculo vicio-so difícil de quebrar, porque, paraeducar as crianças para o amor, ospróprios educadores precisariamsuperar os obstáculos que se inter-põem ao desenvolvimento da suacapacidade de amar. Somos, em ge-ral, seres defensivos em relação aoamor e, quando alguém se aproxi-ma de nós, querendo nos conhecerem essência, escondemo-nos atrásdas máscaras culturais.

O amor é o alimento de nossasvidas. O encontro com o próximo,principalmente aqueles que são co-locados como nossos filhos, devefundamentar-se no princípio de quetodos nós somos Espíritos reencar-nados em processo evolutivo coma obrigação de trabalhar pelo de-

O amor que se dividemultiplica a felicidade

Dalva Silva Souza

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senvolvimento de todas as virtudesque já existem em nós em estadopotencial e estão sintetizadas noamor. Não devemos “amar” comidéia de “possuir”. A família é onosso grande laboratório de testes,para aprimoramento da capacida-de afetiva. É imperioso que saiba-mos dialogar, ouvir e compreender,enfim, fazer-nos presentes verda-deiramente no dia-a-dia da vida fa-

miliar. O adulto que se conscienti-za de sua própria necessidade deaprender a amar apresenta à crian-ça os recursos necessários à suaeducação afetiva. Conscientizaçãoé a palavra-chave, portanto, paraencontrar a solução do problema equebrar o círculo vicioso em quenos encontramos. Reconheçamos,pois, com Emmanuel, que “con-quanto bastas vezes sejamos recal-

citrantes na sustentação do amoregoístico, desvairado em exigênciasde toda espécie, a pouco e poucoacabamos por entender que apenaso amor que sabiamente se divide,em bênçãos de paz e alegria paracom os outros, é capaz de multipli-car a verdadeira felicidade.”*

Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns (Ed.FEB), cap. XXIV, item 255, ensina-nos:“A questão da identidade dos Espíritos é uma

das mais controvertidas, mesmo entre os adeptos doEspiritismo. É que, com efeito, os Espíritos não nostrazem um ato de notoriedade e sabe-se com que fa-cilidade alguns dentre eles tomam nomes empresta-dos que nunca lhes pertenceram. Esta, por isso mes-mo, é, depois da obsessão, uma das maiores dificul-dades do Espiritismo prático. Todavia, em muitoscasos, a identidade absoluta não passa de questão se-cundária e sem importância real.”

Mais adiante (item 267), o Codificador resumeos meios de reconhecerem-se os Espíritos, com baseno bom senso e na retidão de juízo. Afirma ele:“Apreciam-se os Espíritos pela linguagem de queusam e pelas suas ações (2o).” “Os Espíritos supe-riores se exprimem com simplicidade, sem prolixi-dade (9o).” “Reconhecem-se ainda os Espíritos le-vianos, pela facilidade com que predizem o futuroe precisam fatos materiais de que não nos é dadoter conhecimento (8o).” “Os bons Espíritos nuncaordenam; não se impõem, aconselham e, se não sãoescutados, retiram-se (10o).”

Um famoso pesquisador dos fenômenos espíri-tas ou psíquicos foi o francês Alfred Erny. Escreveuele em seu livro O Psiquismo Experimental, cap. IX(Ed. FEB), sobre a “Identidade dos Espíritos”: “Eisuma das mais difíceis questões para todos os que es-

tudam os fenômenos psíquicos e as relações doshomens com os desencarnados.”

A respeito do mesmo assunto, eis o que es-creveu o notável escritor, jornalista e publicista in-glês William Thomas Stead, desencarnado em1912, quando do naufrágio do transatlântico “Ti-tanic”: “Falava com meu irmão sobre a comuni-cação dos Espíritos quando ele me pediu um frag-mento de louça, partiu em dois pedaços, fez, atinta, sinais num e noutro, e pediu-me que conser-vasse um deles; o outro iria escondê-lo esperandovir dizer onde ele estava, após o decesso.”

Tempos depois, o irmão de Stead desencarnoue, numa sessão de fenômenos psíquicos, informouque o outro pedaço se encontrava na gaveta de de-terminada escrivaninha. Aberta a mesma, lá estava ooutro pedaço, que se adaptava perfeitamente à parteguardada pelo pesquisador.

Em seu livro A Alma é Imortal (Ed. FEB), GabrielDelanne afirma, esclarecendo o assunto: “No estadoatual dos nossos conhecimentos, cremos que a identi-dade de um Espírito se acha perfeitamente estabelecidaquando ele se mostra a atuar, materializado, numa for-ma idêntica à que teve outrora o seu corpo físico. É ocaso de Estela Livermore e de outros Espíritos.”

Em verdade, em verdade, o que nos falta éaprofundarmo-nos no conhecimento da Doutrinados Espíritos, a Terceira Revelação de Deus aoshomens, através de Jesus.

*XAVIER, Francisco C. Vida e Sexo, pelo Es-pírito Emmanuel, cap. 11, FEB.

Identidade dos EspíritosRildo G. Mouta

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ARevista Veja1 traz reportagemsobre o descobrimento, naEtiópia, do ancestral comum

a todos os homens e que foi chama-do de Homo sapiens idaltu. Segun-do a reportagem, suas “característi-cas genéticas se perpetuam até hojeem nosso corpo”.

Seria apenas mais um fatocientífico, como tantos outros naárea da Paleontologia. Entretanto,uma particularidade faz dele umacontecimento especial: os cálculosindicam que esse ancestral tenha vi-vido há cerca de 200 mil anos.

Segundo André Luiz2, o “ser”(princípio inteligente) alcançou a“idade da razão” (espírito) – dandoorigem à civilização humana – hácerca de 200 mil anos.

A reportagem chama esse an-cestral de “Adão africano”, o que le-va ao entendimento de que seja an-cestral único para a espécie hu-mana. De acordo com a DoutrinaEspírita3, a espécie humana não seoriginou de um único homem. Elasurgiu em diferentes pontos do Glo-bo e em épocas diversas. Não negaque Adão tenha existido, mas escla-rece que ele teria sido um homemque tivesse sobrevivido a um dosgrandes cataclismos, que eram co-

muns em épocas recuadas. Adão po-de ter sido o tronco de uma deter-minada raça que habitou a Terra.

André Luiz2 ensina que “(...) oprincípio inteligente gastou, desdeos vírus e as bactérias das primeirashoras do protoplasma na Terra,mais ou menos quinze milhõesde séculos, a fim de que pudesse,

como ser pensante, embora em fa-se embrionária da razão, lançar assuas primeiras emissões de pensa-mento contínuo para os EspaçosCósmicos” (grifo nosso). É umtempo extremamente longo des-pendido na condição de princípiointeligente, mas necessário para de-

senvolver o raciocínio e atingir o es-tágio de espírito. Comparados comesse período, duzentos mil anos sig-nificam um intervalo de tempo bas-tante reduzido. Talvez isso expliquepor que os Espíritos que habitam aTerra ainda são tão pouco evoluí-dos, sobretudo no campo moral,quando comparados com os quehabitam as categorias de mundosmais adiantados do que ela.

De acordo com o Espiritismo,o progresso intelectual antecede oprogresso moral e contribui signifi-cativamente para o desenvolvimen-to deste. Sem dúvida, o progressointelectual já conquistado pelo ho-mem terreno é expressivo. Falta aele investir mais na sua melhoriamoral. Essa é a sua maior necessi-dade. Foi por isso que os Espíritos,ao ditarem a Doutrina Espírita,foram enfáticos nos ensinamen-tos morais, os quais, segundo eles,constituem a maior carência daHumanidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1 Veja, edição no 1.807, 18 de junho de 2003.

2 XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Wal-

do. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito

André Luiz. 20. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002,

Primeira Parte, caps. III e VI.

3 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83. ed.,

Rio de Janeiro: FEB, 2002, Parte 1a , cap. III.

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Surgimento do Homemna Terra

Umberto Ferreira

De acordo com o

Espiritismo,

o progresso intelectual

antecede o progresso

moral e contribui

significativamente

para o

desenvolvimento

deste

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Vê como vives“E chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas

e disse-lhes: negociai até que eu venha.” – Jesus. (Lucas, 19:13.)

Com a precisa madureza do raciocínio, compreenderá o homem que toda a sua exis-tência é um grande conjunto de negócios espirituais e que a vida, em si, não passa de atoreligioso permanente, com vistas aos deveres divinos que nos prendem a Deus.

Por enquanto, o mundo apenas exige testemunhos de fé das pessoas indicadas pordetentoras de mandato essencialmente religioso.

Os católicos romanos rodeiam de exigências os sacerdotes, desvirtuando-lhes oapostolado. Os protestantes, na maioria, atribuem aos ministros evangélicos as obri-gações mais completas do culto. Os espiritistas reclamam de doutrinadores e médiunsas supremas demonstrações de caridade e pureza, como se a luz e a verdade da NovaRevelação pudessem constituir exclusivo patrimônio de alguns cérebros falíveis.

Urge considerar, porém, que o testemunho cristão, no campo transitório da lutahumana, é dever de todos os homens, indistintamente.

Cada criatura foi chamada pela Providência a determinado setor de trabalhos es-pirituais na Terra.

O comerciante está em negócios de suprimento e de fraternidade.

O administrador permanece em negócios de orientação, distribuição e res-ponsabilidade.

O servidor foi trazido a negócios de obediência e edificação.

As mães e os pais terrestres foram convocados a negócios de renúncia, exemplifi-cação e devotamento.

O carpinteiro está fabricando colunas para o templo vivo do lar.

O cientista vive fornecendo equações de progresso que melhorem o bem-estar domundo.

O cozinheiro trabalha para alimentar o operário e o sábio.

Todos os homens vivem na Obra de Deus, valendo-se dela para alcançarem, umdia, a grandeza divina. Usufrutuários de patrimônios que pertencem ao Pai, encontram--se no campo das oportunidades presentes, negociando com os valores do Senhor.

Em razão desta verdade, meu amigo, vê o que fazes e não te esqueças de subordi-nar teus desejos a Deus, nos negócios que por algum tempo te forem confiados nomundo.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Vinha de Luz, pelo Espírito Emmanuel. 17. ed., Rio de Janeiro: FEB,2001, cap. 2, p. 15-16.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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Basta um simples mergulho superficial nas águasda filosofia grega da Antigüidade para verificarque lá já prosperava a intuição a que alude a ho-

je conhecida Doutrina Espírita, que chegou tantotempo depois.

Assim, por exemplo, em Pitágoras –que teria criado o vocábulo filosofia, cu-jo significado é amor à sabedoria – va-mos encontrar, no século V antes deCristo, os primeiros esboços intuiti-vos do processo reencarnatório. Dorespeitado matemático, que acre-ditava serem os números o princí-pio e a chave do Universo, veio ateoria da concepção do sofrimen-to como resultado de faltas pre-gressas, com vistas à libertação, umdia, de toda a materialização. A al-ma seria o prenúncio do renasci-mento de um outro corpo, até quepurificada pela prática de virtudes, ou,usando a expressão de Platão – que che-garia mais tarde – até que conseguisse viverplenamente conforme a Justiça.

É bem verdade que Platão veio para clarear umpouco mais essa teoria, ao distinguir três tipos de al-ma: as inexpiáveis, as dos pecados expiáveis e as queviveram conforme a justiça. A estas duas últimas, ofundador da Academia – a primeira Escola de Filoso-fia da Humanidade, que permaneceu irradiando estu-dos para o mundo durante quase um milênio – pre-viu, como conseqüência, as penas ou o prêmio

merecido, que Jesus viria confirmar, mais tarde, aoprometer a cada um segundo as suas obras.

Curioso é que tamanha intuição brotaria justa-mente de iluminados como Platão, não obstante seuestranho politeísmo capaz de homenagear abertamen-te supostas divindades visíveis, que seriam os astros eo cosmo, embora associando esses deuses à idéia doBem. Como os filósofos sempre estiveram liberadosno campo das idéias para fazer passeios nos pomares

frutuosos da metafísica, a conclusão politeís-ta não vem tanto ao caso, na medida em

que o discípulo mais ilustre de Sócra-tes chegaria a um importante resul-

tado, que é a explicação racionaldo sofrimento humano, colocan-do a idéia do Bem no centro desua manifestação religiosa, talqual faria Kardec em sua con-soladora Codificação.

Com efeito, Platão cum-prira aquilo que seu mestre,Sócrates, concluíra com parti-

cular iluminação, a propósitoda profissão de parteira que sua

mãe exercia: os filósofos, como asparteiras, só fazem ajudar a trazer à

luz aquilo que já trazem por si sós.Afinal, não teria racionalidade imaginar

um sofrimento sem causa determinada, semrelação de causalidade, pouco importando, naque-les primórdios, sem a luz de Jesus, então ainda porvir, que essa conclusão tivesse partido de uma con-cepção monoteísta ou politeísta da divindade, namedida em que preconizava uma lei eterna e imutá-vel de justiça, qual seja a da causa e efeito, a despei-to do livre-arbítrio com que o Criador presenteousuas criaturas humanas, tudo exatamente como vi-

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Intuições espíritas dosfilósofos gregos

Paulo Roberto Viola

Só c ra t e s

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ria a corroborar a Doutrina Espírita, surgida na me-tade do século XIX.

O que vale notar é que, de Pitágoras a Platão, che-gavam as primeiras luzes, que viriam a ser contestadaspor Aristóteles em suas famosas contemplações – ele odiscípulo mais ilustre de Platão, fundador de sua pró-pria escola, o Liceu – responsável pela transformaçãodo pensamento grego na concepção da transcendênciade Deus: quem procura as causas primeiras acaba che-gando numa interrogação que só pode ser respondidacom o reconhecimento de um Ser Divino, que é a cau-sa de si mesmo, uma definição, por assim dizer, in-tuitiva, que traz o mesmo conteúdo da defini-ção espírita, de cunho racionalista, queviria tantos séculos depois. A Igreja aAristóteles mais se inclinou, após re-verenciar por muito tempo a teoriadas idéias de Platão; a mesma Igre-ja que até o Concílio de Constan-tinopla debateu aberta e livremen-te o processo reencarnatório, con-siderado, a partir de então, pordecreto papal, questão proibidade discussão.

O fato é que essa presença daintuição sobre os filósofos gregos,hoje chamada de espírita, poderiaser aprofundada em questões muitocuriosas, como por exemplo, o famosoconvite de Sócrates à pesquisa do quemsomos, de onde viemos e para onde vamos,quando adotou a célebre máxima: “Conhece-ti a timesmo” [inscrita no Templo de Delfos cerca de 800a.C.] símbolo da idéia sofista. Sócrates, que não che-gou a deixar uma obra escrita – mas que fora conde-nado à morte por envenenamento, julgado culpadopor subversão da juventude, pelas idéias que suscita-va, legou a seus seguidores conclusões com verdadesespíritas de grande profundidade, como, por exemplo,a reflexão que esses seguidores desenvolviam sobre opensamento de Protágoras de Abdera: O homem é amedida de todas as coisas. Não seriam todas essas coi-sas justamente o resultado de sua trajetória evolutivaatravés do processo reencarnatório, que dita o exatonível de consciência atual do ser?

Com efeito, as intuições espíritas sobre esses no-táveis da sabedoria humana vieram para preparar as

teses evangélicas que seriam trazidas por Jesus e quevão resplandecer naquele que seria um dos gigantesdo pensamento cristão universal: Santo Agostinho,convertido ao Cristianismo no século IV da nossaEra. Segundo ele, a idéia de espírito envolve a dememória. Pela perversão da vontade o homem esco-lhe a privação do ser, pois o pecado resulta do livre--arbítrio. A chamada doutrina agostiniana da remi-niscência, através da qual as teses de Platão sofreramnovas adaptações filosóficas, não seria exatamente arecordação inapagável que o Espírito traz em sua tra-

jetória evolutiva, para expiar, ou gozar as delíciasdo Reino dos Céus, conforme o merecimen-

to de cada um? Em suas famosas Con-fissões, contidas em 13 volumes, San-

to Agostinho aproxima-se, comrara luz, das concepções espíritasque viriam a ser codificadas porKardec, utilizando-se, sempreque necessário, de linguagempouco elucidativa: o mal é umaperversão da vontade desviadada Substância Suprema – Deus.

Nesse mesmo sentido da lin-guagem enigmática se manifesta-

ra Jesus, quando falava para umtempo em que não havia chegado a

hora de a ignorância dissipar-se, con-forme se pode, por exemplo, deduzir

do testemunho do evangelista João(14:17-26): o Espírito da Verdade, que o

mundo não pode receber, porque não o vê e nem o co-nhece, mas vós conheceis porque habita convosco e es-tará em vós. Mas o Espírito Santo, que o Pai envia-rá em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas evos fará lembrar de tudo que vos tenho dito.

Em última análise, das presentes reflexões livres,uma conclusão se pode tirar, sem medo de errar.A Humanidade evolui captando, tal qual constata-ra o pesquisador francês Charles Richet, aquelesoutros sentidos que não podem ser auferidos, nempor nossa inteligência, nem por nossos hoje moder-nos aparelhos de física, mas que são detectados per-feitamente por nossos sentidos, único canal que per-mite aos sábios e filósofos de todos os temposassimilarem sinais de avanço em direção aos ho-rizontes sem-fim por onde transita nosso aprendiza-

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P l a t ã o

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do, enquanto seres encarnados neste planeta de pro-vas e expiações.

É justamente nesse referido canal sensitivo de re-cepção de novos conhecimentos que ocorre o fenôme-no espírita da intuição, pois é através dessa via que osEspíritos desencarnados colaboram com a evolução daHumanidade, suscitando novos avanços.

Quando Cliton, discípulo de Sócrates, sugeriu aseu mestre que fugisse para livrar-se da condenaçãomáxima, a resposta desse primeiro mártir da Filosofiafoi categórica, e quem testemunhou esse fato, paracontá-lo mais tarde ao mundo, foi, nada mais nadamenos, que seu discípulo Platão: “Daimon não con-cordaria com isso”, respondeu Sócrates. Daimon – ex-pressão que na Antigüidade designava Espíritos, emgeral – era a própria fonte de inspiração do filósofo, acomprovar, em tão distante época da Humanidade,que somente prosperamos na evolução do conheci-mento quando estamos em sintonia com as escolas su-periores, de onde emanam as melhores descobertas econquistas do saber humano.

Com o advento do Espiritismo chegaram, a seutempo, as provas e evidências que brotavam da in-tuição de Sócrates, como por exemplo, quando di-zia que os que transitaram encarnados por este plane-ta, irão encontrar-se após a desencarnação e se iden-tificarão plenamente, a estabelecer a certeza de quea morte é mera metamorfose, sem qualquer inter-rupção da vida.

Sócrates, que ao lado de Platão veio, como dito,para preparar a Era Cristã, através do processo intui-tivo de manifestação filosófica, teve, tal qual Jesus,pontos em comum na trajetória por este planeta. Am-bos não deixaram qualquer legado escrito, mas formu-laram mensagens de sabedoria que o tempo não teráa ousadia de apagar e se tornaram conhecidos, pelosséculos, através do testemunho de seus discípulos. Fo-ram condenados à morte como malfeitores e sofreramas piores conseqüências do farisaísmo, do preconcei-to religioso, da hipocrisia.

Lícito é, pois, concluir que Sócrates – a despeitoda acusação que lhe pesa de filósofo pagão – e seu dis-cípulo Platão, se não tiveram a antevisão exata do queestava por vir mais adiante, com a vinda do Salvador,teriam, pelo menos, pressentido, a despeito de suas lu-minosas conclusões, a chegada da Era de Luz, da qualforam os mais ilustres precursores.

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AmorO Amor, sublime impulso de Deus, é a ener-

gia que move os mundos:Tudo cria, tudo transforma, tudo eleva.Palpita em todas as criaturas.Alimenta todas as ações.

*O ódio é o Amor que se envenena.A paixão é o Amor que se incendeia.O egoísmo é o Amor que se concentra em si

mesmo.O ciúme é o Amor que se dilacera.A revolta é o Amor que se transvia.O orgulho é o Amor que enlouquece.A discórdia é o Amor que divide.A vaidade é o Amor que se ilude.A avareza é o Amor que se encarcera.O vício é o Amor que se embrutece.A crueldade é o Amor que tiraniza.O fanatismo é o Amor que se petrifica.A fraternidade é o Amor que se expande.A bondade é o Amor que se desenvolve.O carinho é o Amor que se enflora.A dedicação é o Amor que se estende.O trabalho digno é o Amor que aprimora.A experiência é o Amor que amadurece.A renúncia é o Amor que se ilumina.O sacrifício é o Amor que se santifica.O Amor é o clima do Universo.

*É a religião da vida, a base do estímulo e a

força da Criação.Ao seu influxo, as vidas se agrupam, subli-

mando-se para a imortalidade.Nesse ou naquele recanto isolado, quando se

lhe retire a influência, reina sempre o caos.Com ele, tudo se aclara.Longe dele, a sombra se coagula e prevalece. Em suma, o bem é o Amor que se desdobra, em

busca da Perfeição no Infinito, segundo os Propósi-tos Divinos; e o mal é, simplesmente, o Amor forada Lei.

João de Brito

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Falando à Terra, Diver-sos Espíritos. 5. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1991, p. 105-106.

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Foi editado há pouco tempo OLivro dos Espíritos em Polo-nês (...). O tradutor do mesmo,

o jovem Przemyslaw Grzybowski,pedagogo de uma universidade emseu país (para dar uma idéia de co-mo para nós não é familiar a lín-gua polonesa, o nome do rapazpronuncia-se Pjemisuav Gjibovs-qui, lido no alfabeto Português). Omoço, quando um jovem em tor-no de 15 anos, interessou-se peloEspiritismo e escreveu para um es-perantista brasileiro, que lhe en-viou em Esperanto os livros Kio es-tas Spiritismo, La Libro de laSpiritoj (chamamos a atenção paraa pronúncia: spiritoi) e La kialo dela Vivo, (O que é o Espiritismo, OLivro dos Espíritos e O Porquê daVida, os dois primeiros de Kardece o terceiro de Léon Denis). Foi oinício de uma história que certa-mente não terá fim. Ele iniciouum grupo de estudos destes livroscom outros esperantistas polone-ses, fez contato estreito com outrosbrasileiros, ampliou o contato aco-idealistas da França, tendo visi-tado esse país e ali vivenciado ex-periências espíritas, estabelecendorelações com o Sr. Roger Perez,que dirige a USFF (Union SpiriteFrançaise et Francophone), comsede em Paris [Tours]. Compreen-

sivelmente, para ele foi muito maisfácil visitar a França do que oBrasil. Daí, visando ampliar a di-vulgação espírita na Polônia alémdos círculos esperantistas, foi acer-tada a tradução de O Livro dos Es-píritos para o Polonês (...), a partirdo Francês, língua em que origi-nalmente surgiu a obra, já que onosso culto moço domina o Fran-cês e também o Inglês. Muito acer-tada esta decisão, pois sempre quepossível, uma obra deve ser tradu-zida de seu idioma original, as pró-prias edições esperantas foram tra-duzidas do Francês e não do Por-tuguês, embora feitas por brasilei-ros. O Livro dos Médiuns já estáigualmente traduzido pelo nossoco-idealista, aguardando edição, ejá está em seus planos traduzir ou-tra obra de Kardec.

Nosso jovem já editou em Po-lonês, com resumos em Francês eEsperanto, de criação própria,Histórias Espíritas (...) que contaa História do Espiritismo, princi-palmente na Polônia, e dá outrasinformações sobre a doutrina, queele confessa ter escrito com ajudade poloneses e de outros espíritasda França, Itália, Inglaterra e Bra-sil, obra essa cujo preparo duroucerca de 6 anos. Também faz pro-gramas de rádio na Polônia sobreo Espiritismo.

Tendo sido lhe perguntado“Você pode algo dizer sobre o papeldas obras espíritas em Esperantopara seu conhecimento do Espiritis-mo?” ele respondeu: “É claro. Paramim elas representaram o papelprincipal, porque na Polônia nãohavia outras obras espíritas. Então,os livros espíritas em Esperanto fo-ram para mim e para outros polo-neses a única fonte de informaçãosobre este tema.” “Qual a sua opi-nião a respeito das versões em Espe-ranto?” “Ótimas. Eu não sou lin-güista, mas as compreendo sempremuito bem, isso significa, que sãobem feitas. Falando sério, eu as con-sidero verdadeiramente boas.” “Elasde alguma maneira lhe auxiliaram,quando fez a tradução do Francês?”“É claro. Quando eu tive algumadúvida sobre algumas expressõesem Francês, eu consultei paralela-mente a versão em Esperanto.”

Com alegria constatamos que,ratificando as previsões de diver-sos espíritos através de diversosmédiuns, eis o Esperanto divul-gando o Espiritismo em escalamundial.

Parabéns aos editores dos livrosesperantistas assim como aos seusdivulgadores através do planeta.

Fonte: Jornal Verdade e Luz, junho de2003, p. 4, Ribeirão Preto-SP.

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A FEB E O ESPERANTO

O Esperanto divulgando oEspiritismo na Polônia

Neusa Priscotin Mendes

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Atualmente, encontramos emvários locais e ocasiões pessoasque manifestam perturbações

de diversas naturezas. O medo damorte é muito comum e causa vá-rias turbulências. As dores físicas eos padecimentos morais sempreocasionam dissabores, mas o receioda morte decorre geralmente dodesgosto de ser a pessoa obrigada aabandonar bens materiais e posi-ções sociais privilegiadas ou, ainda,é devido ao apego demasiado à vi-da, na suposição de que tudo termi-na no túmulo.

O receio de dores e sofrimen-tos é natural pelos constrangimen-tos que são impostos ao corpo físi-co e ao Espírito a ele ligado. Oinstinto de preservar e proteger a vi-da leva-nos a evitar os riscos de do-res, os perigos de danos ao corpo oumesmo de sua extinção. Mas, narealidade, o que tememos é o fenô-meno da morte, pelo enigma querepresenta.

O Espiritismo é, portanto, in-dispensável ao Espírito, encarnadoou desencarnado, pelos esclareci-mentos que presta e pelas recomen-dações de comportamento moral ca-paz de evitar reparações penosas nocaminho do progresso. A DoutrinaEspírita ajuda a criatura a encontrara senda da evolução, revela a vida fu-

tura, amplia a visão do Infinito, dáao homem a noção da eternidade elhe transmite consolação.

Deveríamos, antes de tudo, re-cear os perigos pertinentes à própriavida por causa das oportunidadesque ela enseja para a prática deações maléficas, com desprezo dobem, males que carreamos dentrode nós, difíceis de serem superadose extintos. Egoísmo e orgulho emuitas máculas deles derivadas sãoimplacáveis inimigos que nos atre-lam a resgates dolorosos.

São compreensíveis as cautelaspara a preservação da vida contra asmaldades e riscos de variados ma-tizes. Violências, vícios, cobiça de-lirante etc., são conseqüências da ig-norância e do materialismo insanoe inconsciente que impõem às pes-soas cuidados instintivos. Há mui-tos indivíduos sem fé que queremdesfrutar, em todos os instantes davida, de gozos e prazeres. Buscambens e recursos, sem avaliarem osmeios de conquistá-los e sem medi-rem conseqüências. Infelizmente,essa é uma realidade sombria quedeslustra grande parcela da Huma-nidade terrena.

A produção, o comércio e oconsumo de drogas alucinatóriasativaram as perturbações sociais eaumentaram o número de distúr-bios mentais que assustam e trazemdesassossego ao seio das famílias e atoda a coletividade. A solução paraessas e muitas outras questões gra-ves somente pode ser encontrada na

educação das pessoas, em sentidoamplo e profundo, que possa con-duzi-las ao progresso moral.

As religiões se tornam, às vezes,incapazes na condução das pessoaspara Deus e para a verdade. O ex-clusivismo e o partidarismo as en-fraquecem.

O Consolador é bênção deDeus. Foi enviado aos homens paraajudá-los, clareando os caminhos doprogresso. Ensina e comprova a exis-tência de Deus e do Espírito e nosmostra que a morte nivela os corposfísicos para reintegrá-los à Naturezae libertar a alma imortal para re-nascer. A morte é apenas um episó-dio da própria vida do Espírito.

O princípio da reencarnaçãoesclarece que medo, pânico, fobias,neuroses, psicoses etc., muitas ve-zes, são originárias de vidas passa-das, quando ocorrências foram gra-vadas no perispírito e se mani-festam em encarnações posteriores.Outras vezes, podem ser influênciaespiritual em processos obsessivos.

A descrença ou o desconheci-mento da vida futura são entravesao progresso moral das pessoas. Háaquelas que, do berço ao túmulo,vivem atadas a valores materiais,movidas pela ganância e ambição,esquecidas ou ignorantes das verda-des essenciais.

Kardec, o Codificador da Dou-trina Espírita, lembra-nos com suanotável sabedoria e seu admirávelbom senso que Ciência e Religiãonão conseguem se entender porque

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Perigos e receiosWashington Borges de Souza

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cada qual procura ver as coisas sobseus exclusivos pontos de vista. OEspiritismo une ambas e tem fun-damento em filosofia própria paraintegrar a crença ao conhecimentocom base na razão.

A Terra, embora tenha trans-posto os períodos peculiares dosmundos primitivos, conforme ensi-na a Doutrina Espírita, ainda nãofaz por merecer usufruir dos bene-fícios normais de um orbe de rege-neração em razão de estarem muitoarraigados no coração humano os

sentimentos deploráveis do egoís-mo, do orgulho, de ódios e torpe-zas, além de outros, tudo causadopela ignorância e inobservância dasleis divinas.

Depois que foram transmiti-das as revelações divinas, os ho-mens dispõem dos meios e re-cursos para a construção de ummundo melhor, onde possam viverem paz. Têm condições de enten-der que as guerras, contendas econflitos resultam sempre em pre-juízos para todos. Podem entender

que somos irmãos e, irmanados,buscarmos a felicidade.

O progresso intelectual realiza-do permite ao habitante terreno tera certeza de que Deus existe, obser-var que as leis naturais são sábias einteligentes, concluir que a almanão é uma abstração e está, comocriação divina, predestinada a pro-gredir sempre pelo exercício dobem e do amor ao próximo, a simesma e a Deus, o Pai eterno, oCriador de todos nós e de tudo queexiste.

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P. – Qual deve ser a nossaapresentação social? É-nos lícitoandar bem trajados ou haverá al-gum ensinamento doutrinário quenos aconselhe o contrário?

R. – Cada um anda comopode. A vida em sociedade pede,por um lado, higiene e asseio; poroutro, requer decência e compos-tura. Nenhum de nós é obrigado aandar bonito, mas devemos ter acompreensão de nos apresentar emcondições de não causar má im-pressão, de não nos fazermos no-tados de maneira desagradável.

Em matéria de vestuário, en-quanto o luxo será demasiado, odesmazelo nunca deixará de ser demenos.

Assim, não importa que nosapresentemos modestamente tra-jados, desde que estejam limpas asvestes e higienizado o nosso corpo.

Contudo, há na vida práticatarefas e atividades que, pela sua na-tureza, impõem o uso obrigatóriode roupas padronizadas, tais comouniformes, jalecos, macacões, aven-tais e guarda-pós, independentes deoutras vestimentas, bem como exis-tem funções para cujo exercícioseus ocupantes terão que observarmaior apuro de apresentação.

Isto é coisa que todo mundosabe e aceita.

A Doutrina Espírita não nosaconselha a que sejamos diferentesdos outros no vestuário, querquando no desempenho de traba-lhos espirituais, quer em qualqueroutra circunstância. O que ela nossugere, com toda propriedade ejusteza, é que não queiramos pôras mãos onde elas não alcançam,nem pretendamos alongar os pésalém do lençol.

O desejo de melhoramento éuma coisa, a mania de exibiçãoé outra, e completamente dife-

rente. O primeiro pode induzir--nos ao progresso, a um relativobem-estar; a segunda levar-nos-á àinsolvência, ao descrédito, à perdade reputação; atirar-nos-á no des-penhadeiro dos decaídos e fracas-sados, onde vivem os representan-tes da miséria engomada.

Dizem que a aparência é tu-do. Se ainda pusessem um quase,talvez haveria mais possibilidadede aceitação. Mas, assim com estecaráter taxativo, não concordamos.Admitimos, sim, e isto sem som-bras de dúvidas, que a boa aparên-cia tenha seu valor e valha real-mente em função do meio am-biente, à margem do qual ninguémpode viver.

Dizem que a aparência é tu-do; e nós nos lembramos de quedizem, também, que as aparênciasenganam e que nem tudo que bri-lha é ouro. E é nisto que devemospensar de preferência a quanto seinsinua a respeito do assunto.

Apresentação socialPassos Lírio

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Não se trata de um dualismo.Trata-se de um esclarecimen-to a nossos leitores, em geral,

sobre o que é o corpo, o que é o Es-pírito, o porquê do corpo e sua fun-ção a serviço do Espírito. Claro quenão temos a presunção de escreverpara espíritas estudiosos, mas a con-duzir a profundas reflexões aquelesde nossos leitores que não se fami-liarizaram ainda com a Ciência Es-pírita, mas já adquiriram o bom há-bito de ler Reformador.

Já há bastante tempo que o ho-mem alcançou condições para en-tender o porquê de, sendo ele Espí-rito, ser levado a aprisionar-se numcorpo e nele habitar.

Houve uma época em que, porimaturidade evolutiva, esteve o ho-mem planetário sem condição decompreender ou sequer cogitar apropósito de seu corpo e de si mes-mo como Espírito, não obstante oaparecimento de alguns iluminadosque conseguiram vislumbrar tal rea-lidade, à feição de um Sócrates, deum Aristóteles... E ainda assim, háaqueles que até de Deus duvidam,mesmo depois de Ele ter-se reve-lado, há cerca de quatro milênios,através da mediunidade de Moisés,como Criador incriado do Univer-so. E não somente se revelar, masmuito mais ainda: dar conhecimen-

to de Sua vontade, poder e deter-minações.

O homem planetário, todavia,preso às algemas da dúvida, e ne-gando a Ciência, ainda hoje, inda-ga se há outros mundos habitadosalém de nossa pequenina Terra agravitar em torno de uma pequenaestrela de 5a grandeza, não obstan-te a ciência astronômica já tratar daexistência de cerca de cem biliõesde galáxias no espaço universal(Space Facts, por Caroline Stotte Clint Twist, publicado por DKPublishing Book, Ltd., London,1995, edição americana em nossopoder, página 12): “There are about100 billion galaxies in the univer-se; each contains more than 100billion stars (há cerca de 100 biliõesde galáxias no Universo; e cadauma delas contém mais ou menos100 biliões de estrelas).

Entretanto, muitas dessas cria-turas continuam a considerar, comexpressões vaidosas de cientistas, serdifícil que haja vida em outros pon-tos do Universo!... Deus, porém,continua a se manifestar à Huma-nidade através do mesmo princípiocom que se manifestou a Moisés nolongínquo passado: a Mediunidade.

Em 18 de abril de 1857, explo-diu nas livrarias de Paris a presençade um livro estranho, mas vindo domundo espiritual, naquele instantecom apenas 501 questões, cuja edi-ção se esgotou rapidamente. Mas,em 1860, ressurge numa segundaedição com 1.019 questões, tratan-

do, filosoficamente, das revelaçõesde Deus e da Verdade para todos oshomens da Terra. Intitula-se essaobra O Livro dos Espíritos, porqueda autoria deles, cumprindo a pro-messa que o Cristo fez de mandaraos homens outro Consolador(Evangelho segundo o evangelistaJoão, capítulos 14, 15 e 16). Por serde autoria dos Espíritos e não sua,o missionário da Terceira Revelaçãode Deus à Humanidade, assinou--lhe Allan Kardec (um pseudôni-mo), nome que ele tivera em umade suas encarnações anteriores, nacondição de sacerdote druida.

Com convicção afirmamos: talobra não veio apenas para nós espí-ritas (que já nos conscientizamosser Espíritos encarnados), veio paratodos os seres humanos. Mas, oshomens – como sempre rebeldes àsverdades eternas – continuam des-crentes das manifestações espiri-tuais, a cogitar, entretanto, de coi-sas que não entendem, em nome daCiência de que estão em verdadetão distanciados!... Desse modo, co-gitam de descobertas cujos sentidosconfundem, vaidosamente, como sefossem crianças a brincar irrespon-savelmente com as manifestações dasuprema Inteligência Universal.

Sequer refletem, por ignorân-cia, a respeito dos milênios queDeus consome na criação do Espí-rito, fazendo-o percorrer séculos eséculos, como essência espiritual,dormindo na pedra, aprendendo arespirar na vida vegetal, e preparan-

O corpo e o EspíritoInaldo Lacerda Lima

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do-se para a conquista da razão nosplanos da irracionalidade, onde de-senvolve o instinto, até o momentode cessar esse peregrinar multimile-nar com o seu nascimento espiri-tual, tornando-se um ser à seme-lhança de Deus, Espírito, enfim!...Mas Deus o quer também à Suaimagem, isto é perfeito. E leva-o aevoluir, dotando-o de um corpo,que o possa individualizar comoser; de razão, com a qual desenvol-ve a inteligência; de livre-arbítrio,para que tenha a responsabilidadede seus atos, na busca da perfeição;e, finalmente, de consciência, paraque possa discernir com segurançaentre o bem e o mal.

Ah! Mas, afinal, que queremoscom estas lucubrações? Quase nada!Apenas advertir: Homens do mun-do, cuidado! Atentai na simbologiada Torre de Babel (Gênesis, 11:9).Atentai bem no juízo que fazeis deDeus, julgando-O tão mau quantovós mesmos, que por ódio ou pai-xão vos destruís uns aos outros emguerras de extermínio... Vós, queum dia, confundindo-vos, ergues-tes fogueiras colossais para incine-rar corpos vivos, desrespeitando o5o Mandamento da Lei! Lembrai--vos de Sócrates – o melhor dos ho-mens, segundo Platão – obrigado aingerir uma taça de cicuta!... Lem-brai-vos de Jesus, o Cristo embaixa-dor de Deus, crucificado no madei-ro da infâmia para satisfação desacerdotes infiéis!...

Chega, homens sonâmbulosdo mundo! Despertai para a com-preensão de que não existe nenhumoutro Lúcifer, senão vós mesmos,ou todos nós, quando esquecemosa paternidade divina e, traindo acondição de irmãos, tripudiamossobre a bandeira da Fraternidade!

Só há por enquanto um inferno,que é este nosso mundo, cujos de-mônios somos nós mesmos, quan-do dilapidamos os talentos divinosdo Amor e da Paz. Mas nunca uminferno de penas eternas, pois Deusé Pai! E mesmo do inferno terrenonos retira pelas reencarnações suces-sivas. Aí tendes, pois, em ordem: oEspírito, o corpo físico e a suafunção.

Eis que uma certa experiênciaque alguém praticou, em nome daCiência, utilizando-se de uma ino-cente ovelha, já parece colocar mui-tos de vós, ó homens pequeninos,na condição obstinada e ridícula dedesafiadores da Divindade! Maisuma vez, cuidado! E quanto a nósoutros, espíritas, tenhamos também,por nossa vez, muito cuidado, paranão surfarmos nessas ondas violen-tas do oceano do materialismo!...Recordemos que nos foi colocada

nos ombros uma tarefa bastante sé-ria e sobremodo importante: a deunir esforços na condição abençoa-da de trabalhadores da última ho-ra, conforme nos assinala, em seucapítulo vigésimo, O Evangelho se-gundo o Espiritismo. Eles não sa-bem, mas nós sabemos que estamosadentrando a fase mais séria do pro-cesso regenerador deste nosso pla-neta.

Que brinquem, que zombem,que recalcitrem na obstinação domal: é o livre-arbítrio deles. Quan-to a nós, mantenhamo-nos fiéis, co-mo os discípulos de ontem, à mis-são do Cristo deste orbe, engajadosno trabalho de sua regeneração,possivelmente ainda neste milênio,e atentos sempre à função do corpo(prisão carnal) e à função do Espí-rito, nele aprisionado, a fim de pu-rificar-nos, para a gloriosa caminha-da na direção de Deus, nosso Pai!

A FraternidadePaulo Nunes Batista

Pelos caminhos da Fraternidadedeve seguir a Humanidade, um dia,se quer chegar ao reino da Harmonia,onde governa a deusa da Verdade.

Até que chegue essa fraterna idade,o mundo há de sofrer a tiraniada Cupidez – que leva à hipocrisia,do Orgulho – que dá frutos de maldade.

Todo o sofrer humano tem por causao humano egoísmo. E a dor só terá pausaao sol do Amor, em cada coração...

Que luz não vem de um coração fraterno!Pela Fraternidade – o humano infernopode mudar-se em céu de Redenção!...

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“Porque somos de ontem e nadasabemos.” (Jó, 8:9.)

1. A reencarnação constitui,inegavelmente, o grande obstáculopara que os seguidores de certas ra-mificações do Cristianismo aceitemo Espiritismo, livre dos conceitos epreconceitos que alimentam contraele. Até mesmo a comunicaçãocom os “mortos”, que a própriaIgreja já admite, não possui ascaracterísticas do tabu em que atransformaram.

Velhas e superadas idéias, aindacultivadas, são a principal razão dasua sistemática e até agressiva rejei-ção. Todavia, é notório que todos osargumentos alinhados contra elapossuem como ponto comum omedo. Medo do retorno como ani-mais, medo de voltar em posiçãosocial inferior, medo de uma mu-dança de sexo, medo dos aleijões edas doenças, enfim, toda espécie demedos, alimentados, principalmen-te, pela total falta de informação arespeito do assunto.

Sobre o retorno como animais(metempsicose), Kardec foi incisi-vo, ao dizer: “Há, porém, entre ametempsicose indiana e a doutrinada reencarnação, tal qual nos é en-sinada hoje, uma diferença capital:para começar, aquela admite a trans-figuração da alma no corpo dos ani-mais, o que seria uma degradação;

em segundo lugar, essa transmigra-ção não se opera senão na Terra. Aocontrário dizem-nos os Espíritos quea reencarnação é um progresso in-cessante, que o homem é uma cria-ção à parte, cuja alma nada tem decomum com o princípio vital dosanimais; que as diversas existênciaspodem realizar-se tanto na Terraquanto, por uma lei de progresso,num mundo de ordem superior. Eisto, como diz Pitágoras, até quese realize o tempo de sua purifi-cação.” (Instruções Práticas sobre asManifestações Espíritas, Edições“O Pensamento”, São Paulo, s/d,p. 31.)

Os outros temores podem serafastados ou, quando nada, mini-mizados, através de um melhor co-nhecimento da Doutrina dos Espí-ritos, mesmo que tal conhecimentose deva apenas a um sentimento decuriosidade, porquanto o Espiritis-mo não se preocupa em fazer prose-litismo.

As mudanças, variações e alter-nativas sociais, sexuais, físicas, psí-quicas etc., são indispensáveis àevolução individual e coletiva, sejacomo expiação, seja como prova.Nos termos dos ensinamentos dosEspíritos Superiores e em total har-monia com os postulados cristãos –sintetizados no Sermão do Monte– constituem a conseqüência inexo-rável da lei de causa e efeito. A

Humanidade, de um modo geral,não sente dificuldades em aceitá-laquando se refere aos fenômenos doplano material, mas resiste em ad-miti-la no âmbito espiritual, cir-cunstância que tem servido de im-passe a uma melhor compreensãodo mecanismo operacional da Jus-tiça Divina, da qual a reencarnaçãoé o principal instrumento.

O conhecimento dessas verda-des ainda é, pelo menos no mundoocidental, muito diminuto. A reen-carnação continua sendo vista co-mo uma verdadeira e temível catás-trofe, sobretudo quando orgulho evaidade estão em jogo. Detentoresde cargos eletivos, membros dosPoderes do Estado, executivos deprestígio, profissionais liberais quese notabilizaram, personalidades domundo artístico e esportivo, respei-tados e consagrados pela sociedadeque os “endeusa” na sua busca des-medida por toda espécie de ídolos,relutam diante da possibilidade deretornarem à carne em condiçõesde subalternidade ou de total des-conhecimento e esquecimento dopúblico que hoje os aplaude.

2. O argumento mais utiliza-do contra a reencarnação é a afir-mativa de Paulo (Hebreus, 9:27--28): “E, assim como aos homens es-tá ordenado morrerem uma só vez e,depois disto, o juízo, assim tambémCristo, tendo-se oferecido uma vez

A reencarnação e o medoda verdade

José Carlos Monteiro de Moura

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para sempre para tirar os pecados demuitos, aparecerá segunda vez, sempecado, aos que o aguardam para asalvação.” Nela se agarram, comotábua de salvação, os que a negame temem, atribuindo-lhe caracte-rísticas de verdadeiro e irrefutáveldogma.

Os que pensam e agem dessaforma incidem em gravíssimos egrosseiros erros de interpretação. Oprimeiro resulta do fato de coloca-rem a palavra de Paulo acima da dopróprio Jesus. Existem, no Evange-lho, inúmeras passagens em que apluralidade de existências é afirma-da categoricamente.

A identidade entre os EspíritosJoão Batista e Elias é de uma clare-za inconfundível: “E os seus discípu-los o interrogaram, dizendo: Porque dizem então os escribas que émister que Elias venha primeiro? EJesus, respondendo, disse-lhes: Emverdade Elias virá primeiro, e res-taurará todas as coisas; Mas digo--vos que Elias já veio, e não o conhe-ceram, mas fizeram-lhe tudo o quequiseram. Assim farão eles tambémpadecer o Filho do Homem. Entãoentenderam os discípulos que lhesfalara de João Batista.” (Mateus,17:10-13). Ainda: “E, desde os diasde João Batista até agora, se faz vio-lência ao reino dos céus, e pela forçase apoderam dele. Porque todos osprofetas e a lei profetizaram até João.E, se quereis dar crédito, é este oElias que havia de vir.” (Mateus,11:12-14.)

A narrativa de Lucas (1:13-17),sobre o nascimento de João nãopermite, também, qualquer dúvida:“Mas o anjo lhe disse: Zacarias,não temas, porque a tua oração foiouvida, e Isabel, tua mulher, daráà luz um filho, e lhe porás o nome

de João. E terá prazer e alegria, emuitos se alegrarão no seu nasci-mento. Porque será grande diantedo Senhor, e não beberá vinho,nem bebida forte, e será cheio doEspírito Santo, já desde o ventre desua mãe. E converterá muitos filhosde Israel ao Senhor seu Deus. E irádiante dele no espírito e virtude deElias, para converter os corações dospais aos filhos, e os rebelde à pru-dência dos justos, com o fim de pre-parar ao Senhor um povo bem dis-posto.”

Quando da indagação feita porJesus aos discípulos sobre o que amultidão pensava a respeito de suaidentidade, a resposta, tanto emMateus (16:14) como em Lucas(9:19), revela a naturalidade comque a reencarnação era aceita pelopovo, que o considerava como a res-surreição (reencarnação) de JoãoBatista, de Elias, de Jeremias ou deum dos profetas.

Na cura do cego de nascença,a pergunta feita pelos discípulos arespeito da causa do mal é um refle-xo da crença existente em todo oOriente Médio àquela época, se-gundo a qual, se alguém nascessecom alguma moléstia física ou men-tal, era em razão de algum pecadoque ela ou seus pais haviam come-tido em vida anterior: “Caminhan-do, Jesus viu um homem cego denascença. E os seus discípulos per-guntaram: Mestre, quem pecou, es-te ou seus pais para que nascesse ce-go? Respondeu Jesus: nem ele pecou,nem seus pais, mas foi para que semanifestem nele as obras de Deus.”(João, 9:1-3.)

Do episódio, podem ser retira-das as seguintes conclusões:

Primeira: A certeza de que osdiscípulos aceitavam a reencarna-

ção, fato que Ele, Jesus, conheciapor saber até os pensamentos maisíntimos deles.

Segunda: Jesus não negou nemcorrigiu esse modo de pensar. Ape-nas lhes disse que se tratava de umcaso especial, cuja causa não se re-portava a nenhum fato do passado.

Terceira: Seu objetivo princi-pal, ao efetuar a cura, era eminen-temente pedagógico, e tinha comofinalidade a manifestação da obrade Deus, sobretudo para os eternosdescrentes. É o que ele mesmo afir-ma: “Eu vim a este mundo parajuízo, a fim de que os que não vêemvejam, e os que vêem sejam cegos.”(João, 9:39.)

Finalmente, embora os exem-plos não se esgotem aqui, convémlembrar o conhecido diálogo de Je-sus com Nicodemos, ou mais preci-samente a sua resposta ao Doutor daLei. A Igreja entende o episódio aseu modo, considerando-o a provamais evidente da necessidade do ba-tismo, na forma como ela o minis-tra. Em virtude das limitações natu-rais do trabalho, a opinião de SérgioFernandes Aleixo (Reencarnação,Lei da Bíblia, Lei do Evangelho,Lei de Deus, Publicações Lachâtre,Niterói, RJ, 1999, p. 52) resumetudo o que se poderia dizer: “Se o as-sunto em pauta fosse o batismo litúr-gico, Jesus não responderia à perple-xidade de Nicodemos dizendo: ‘Tu ésmestre em Israel e não compreendesestas cousas?’ (Jo, 3:10). Realmente,um doutor da lei não ignoraria umaprática milenar como a do batismo.A pergunta do Cristo, entretanto,justifica-se plenamente no que res-peita à lei da reencarnação, que eraconhecida e admitida pelos fariseus,conforme assegura – e já o vimos –o historiador Flávio Josefo.”

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É incontestável, portanto, que,por maior respeito e admiração quePaulo e sua obra mereçam, não sepode admitir que a sua palavra se so-breponha à de Jesus, como preten-dem os adversários da reencarnação.

3. O segundo erro decorre doentendimento da expressão “aos ho-mens está ordenado morrerem umasó vez”. Há que se notar que Pau-lo usa o verbo morrer e não o ver-bo nascer e, como lembra José ReisChaves (A Face Oculta das Reli-giões, Editora Martin Claret Ltda.,São Paulo, 2000. p. 145 e ss.), ho-mem nenhum morre mais de umavez. Ocorrida a morte, ela é defini-tiva e irrevogável, de acordo com ainsuperável expressão do caipira mi-neiro: “Fulano se defuntou-se e sefinou-se.”

O autor em referência, ao ex-plicar o verdadeiro sentido do tex-to pauliano, afirma: “Assim ele fazuma comparação da morte de Jesus,uma vez só, com a morte dos outroshomens que também acontece umavez só. Usando de uma linguagempopular, diríamos que nós morre-mos uma vez só, porque ‘morremosbem morridos’, como Jesus tambémmorreu uma vez só ‘bem morrido’.Dizendo com outras palavras: Jesusnão morreu mais ou menos, masmorreu de uma vez por todas, comoos homens também morrem de umavez só por todas. Isso não tem nadacontra a reencarnação. E São Pau-lo nem pensava em reencarnação,quando escreveu esse texto. São Pau-lo não disse que os homens vivemuma vez só. Se ele tivesse dito isso,aí sim, ele teria deixado algumadúvida contra a reencarnação, masnão foi isso que ele falou.”

Ademais, é importante obser-var, apenas a título de argumenta-

ção, que o texto em questão – den-tro do critério adotado pelos quedele se servem para negar a reencar-nação – permite a absurda conclu-são de que Jesus, por ocasião de suavinda à Terra, estava, a exemplodos demais homens, manchado pe-lo pecado, pois “aparecerá segun-da vez, sem pecado, aos que o espe-ram para salvação”. (O destaque énosso.)

4. Diante do exposto, ressum-bra a certeza de que o “temor reen-carnatório” é o reflexo daquilo queo homem carrega no recôndito deseu ser. Ainda ecoam em sua cons-ciência os erros do passado, que ocomodismo do presente não lhepermite reparar. Pressente, no en-tanto, que, fatalmente, independen-te de sua crença ou de sua descren-ça, terá que passar, ou que repassar,

por experiências muitas vezes dolo-rosas, na sua longa jornada evoluti-va. Daí a razão por que insiste emnegar a reencarnação, como se esseexpediente o pudesse libertar das si-tuações que advirão como resulta-do ou efeito da lei da causalidade.Todavia, poderá afastar ou minimi-zar tais conseqüências, desde que seempenhe em libertar-se das suasimperfeições. É o que Kardec con-signa expressamente no item 33o,número 3, do “Código Penal da Vi-da Futura”: “Podendo todo homemlibertar-se das imperfeições por efei-to da vontade, pode igualmenteanular os males consecutivos e asse-gurar a futura felicidade.

A cada um segundo as suasobras, no Céu como na Terra: – talé a lei da Justiça Divina.” (O Céu eo Inferno, 1a Parte, cap. VII.)

Desencarnação...E desperto, extasiado, entre a praia e a montanha...Porque mais claro o céu, porque mais verde o mar?O mundo em derredor é um castelo a brilhar,Entre ogivas de prata a lua se emaranha...

Cantam vagas na areia uma balada estranha,Guardo, alerta e feliz, o dom de reencontrarO berço, a meninice, a voz do antigo lar,A poesia do amor que me inspira e acompanha!...

Insone, torno ao quarto, e vejo-me deposto,Rígido o corpo inerte, a palidez no rosto...Será isto, Senhor, o pesar de morrer?!...

Vida, que me trouxeste à morte malsofrida,Morte, que restituis meu coração à vida,Quero partir, mudar, renovar, esquecer!...

Olegário Mariano

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Poetas Redivivos, Diversos Espíritos. 3. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 1994, cap. 7, p. 21.

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Fomos informados de que nu-ma grande cidade comercial,onde o Espiritismo conta nu-

merosos adeptos, e onde faz omaior bem entre a classe laboriosa,um sacerdote tornou-se propagan-dista de certo falatório, que almascaridosas se apressaram em espalharpelas ruas e certamente amplificar.Conforme tal intriga, somos milio-nário; em nossa casa tudo brilha esó pisamos os mais belos tapetes deAubusson. Conheceram-nos pobreem Lyon; hoje temos carruagem dequatro cavalos e levamos em Parisuma vida principesca. Toda essafortuna nos vem da Inglaterra, des-de que nos ocupamos do Espiritis-mo e remuneramos generosamenteos nossos agentes na província.Vendemos caro os manuscritos denossas obras, sobre os quais aindaganhamos uma comissão, o quenão nos impede de os vender a pre-ços exorbitantes, etc.

Eis a resposta que demos à pes-soa que nos envia tais detalhes:

“Meu caro senhor, ri muitodos milhões com que me gratificatão generosamente o Abade V...,principalmente porque estava lon-ge de suspeitar dessa boa sorte. Orelatório feito à Sociedade de Paris,antes da recepção de vossa carta,aqui publicado, infelizmente vem

reduzir essa ilusão a uma realidademuito menos dourada. Aliás, não éa única inexatidão desse relato fan-tástico; antes de tudo, jamais moreiem Lyon1 e, pois, não vejo comolá me tivessem conhecido pobre;quanto a minha carruagem de qua-tro cavalos, lamento dizer que se re-duz aos sendeiros de um fiacre quetomo apenas cinco ou seis vezes aoano, por economia. É verdade queantes das estradas de ferro fiz algu-mas viagens em diligências; sem dú-vida fizeram confusão. Mas convémnão esquecer que nessa época aindanão se cogitava de Espiritismo e, se-gundo o abade, é ao Espiritismoque devo a minha imensa fortuna.Onde, então, pescaram tudo isto,senão no arsenal da calúnia? Seriatanto mais verossímil se se pensassena natureza da população em cujomeio apregoam tais rumores. É deconvir que faltam boas razões parase deixarem reduzir a tão ridículosexpedientes, a fim de desacreditar oEspiritismo. O sr. abade não vê quevai diretamente contra o seu objeti-vo, porque, dizer que o Espiritismome enriqueceu a tal ponto é confes-sar que está imensamente espalha-do. Se, pois, se espalhou tanto, é

que agrada. Assim, aquilo que elequeria lançar contra o homem, vol-ta-se em benefício da doutrina. De-pois disto fazei alguém acreditarque uma doutrina, que em algunsanos dá milhões ao seu propagador,seja uma utopia, uma idéia oca! Talresultado seria um verdadeiro mila-gre, pois não há exemplo de umateoria filosófica que jamais tenha si-do fonte de riqueza. Geralmente,como sucede com as invenções,come-se o pouco que se tem; seriaeste, mais ou menos, o meu caso, sese soubesse tudo quanto me custa aobra a que me dediquei e à qual sa-crifico meu tempo, minhas vigílias,meu repouso e minha saúde. Con-tudo, tenho por princípio guardarpara mim aquilo que faço e não gri-tar dos telhados. Para ser imparcial,o sr. abade deveria ter feito um pa-ralelo das quantias que as comuni-dades e os conventos usurpam dosfiéis; quanto ao Espiritismo, medesua influência pelo bem que faz, pe-lo número de aflitos que consola, enão pelo dinheiro que produz.

Se levamos uma vida princi-pesca, deveríamos dispor, natural-mente, de uma mesa requintada.Que diria, pois, o sr. abade se visseminhas mais suntuosas refeições,nas quais recebo os amigos? Achá--las-ia muito frugais, ao lado dassóbrias refeições de certos dignitá-rios da Igreja, que talvez as recusas-sem até mesmo nas mais austerasquaresmas. Dir-lhe-ei, então, já queele ignora, e para lhe poupar o tra-

Os milhões do Sr. Allan Kardec

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE

1 N. do T.: Em 1815 Allan Kardec deixouLyon, onde nasceu, e foi estudar em Yverdon,Suíça, no famoso Instituto de Educação dePestalozzi, ali permanecendo até 1822. Trans-feriu--se para Paris nesse mesmo ano, vivendona capital francesa até 31 de março de 1869,data de sua desencarnação.

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balho das comparações, que o Es-piritismo não é e nem pode ser ummeio de enriquecer; que repudiatoda especulação de que pudesseser objeto; que ensina a fazer pou-co caso do temporal, a contentar--se com o necessário e a não procu-rar as alegrias do supérfluo, quenão são o caminho do céu; que setodos os homens fossem espíritas,não teriam inveja, nem ciúmes,nem se espoliariam uns aos outros;não maldiriam o próximo nem ocaluniariam, porque ele ensina es-sa máxima do Cristo: Não façais aoutrem o que não gostaríeis que vosfizessem. É para pô-la em práticaque não escrevo todas as letras donome do Sr. Abade V...

Ensina ainda o Espiritismo quea fortuna é um depósito de que de-vemos prestar contas e que o ricoserá julgado conforme o empregoque dela tiver feito. Se eu possuíssea que me atribuem e, sobretudo, sea devesse ao Espiritismo, eu seriaperjuro aos meus princípios de aempregar na satisfação do orgulhoe na posse de prazeres mundanos,em lugar de a fazer servir à causacuja defesa abracei.

Mas – perguntarão – e as vos-sas obras? Não vendestes caro osmanuscritos? Um instante; isto éentrar no domínio privado, ondenão reconheço a ninguém o direitode se imiscuir. Sempre honrei osmeus negócios, não importa a quepreço de sacrifícios e de privações;nada devo a quem quer que seja,enquanto muitos me devem, sem oque teria mais do dobro do que meresta; assim, ao invés de subir, des-ci na escala da fortuna. Não tenho,pois, de dar satisfação de meus ne-gócios a ninguém; que isso fiquebastante claro. Entretanto, para

contentar um pouco os curiosos,que não se deveriam intrometercom o que não lhes diz respeito, di-rei que se tivesse vendido meus ma-nuscritos apenas teria usado do di-reito que todo trabalhador tem devender o produto de seu trabalho;mas não vendi nenhum; alguns atédoei, pura e simplesmente, no inte-resse da causa, e que são vendidos àvontade, sem que me venha umcentavo. Manuscritos são vendidoscaro quando se referem a obras co-nhecidas, de lucro previamente ga-rantido, mas em parte alguma seencontram editores tão complacen-tes que paguem a peso de ouroobras cujo lucro é hipotético, quan-do nem mesmo querem correr orisco da impressão. Ora, a esse res-peito, uma obra filosófica tem cemvezes menos valor do que certos ro-mances vinculados a determinadosnomes. Para dar uma idéia de meusimensos lucros, direi que a primei-ra edição de O Livro dos Espíritos,que empreendi por minha conta erisco, mesmo não tendo editor quedela quisesse encarregar-se, rendeu--me cerca de quinhentos francos, jádescontadas as despesas e depois deesgotados todos os exemplares, ven-didos e doados, como posso provardocumentalmente. Não sei que ti-po de carruagem se poderia com-prar com isto. Na impossibilidadeem que me encontrei, não tendoainda os milhões em questão, paraassumir pessoalmente os gastos detodas as minhas publicações e, so-bretudo, de me ocupar com a suacomercialização, cedi por algumtempo o direito de publicação, me-diante um direito do autor, calcula-do a tantos centavos por exemplarvendido; assim, desconheço inteira-mente os detalhes da venda e das

transações que os intermediáriospossam fazer com as remessas feitaspelos editores aos seus correspon-dentes, transações de cuja responsa-bilidade eu declino, estando obriga-do, no que me concerne, a prestarcontas aos editores, mediante umvalor estipulado, de todos os livrosretirados, vendidos ou consideradosperdidos.

Quanto ao lucro que pode ad-vir da venda de minhas obras, nãotenho que dar explicações de seumontante, nem de seu emprego.Por certo, cabe-me o direito de outilizar como bem me aprouver;entretanto, não sabem se tal produ-to tem uma destinação determina-da, da qual não pode ser desviado;é o que saberão mais tarde. Porque,se um dia alguém tivesse a fantasiade escrever a minha história comdados semelhantes aos relatados aci-ma, os fatos deveriam ser repostosem sua integridade. Por isso deixa-rei memórias circunstanciadas sobretodas as minhas relações e todos osmeus negócios, sobretudo no querespeita ao Espiritismo, a fim depoupar aos cronistas futuros osequívocos em que muitas vezescaem, por terem confiado nos boa-tos dos doidivanas, das más línguase das pessoas interessadas em detur-par a verdade, às quais deixo o pra-zer de deblaterar à vontade, paraque mais tarde se torne mais evi-dente a sua má-fé.

Pessoalmente eu me inquieta-ria muito pouco se meu nome nãoestivesse, de agora em diante, liga-do intimamente à história do Es-piritismo. Por minhas relações, na-turalmente possuo a respeito osmais numerosos e autênticos docu-mentos que existem; pude acompa-nhar a doutrina em todo o seu de-

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senvolvimento, observar-lhe todasas peripécias, como prever-lhe asconseqüências. Para todo homemque estuda esse movimento, torna--se evidente que o Espiritismo mar-cará uma das fases da humanidade.É, pois, necessário que, mais tarde,se saiba quais as vicissitudes que te-ve de atravessar, os obstáculos queencontrou, os inimigos que procu-raram travar-lhe a marcha, as armasde que se serviram para o combater.Não menos importante é saber porque meios pôde triunfar; quais aspessoas que, por seu zelo, devota-mento e abnegação, terão contri-buído eficazmente para a sua pro-pagação; aqueles cujos nomes e atos

merecerão ser assinalados para o re-conhecimento da posteridade, eque tomo como dever inscrever nasminhas fichas. Compreende-se queessa história não pode aparecer tãocedo; o Espiritismo apenas acaba denascer e as fases mais interessantesde seu estabelecimento ainda nãoforam concluídas. Aliás, poderáacontecer que, entre os Saulos doEspiritismo de hoje, mais tarde sur-jam São Paulos; esperemos não terque registrar os Judas.

Tais são, meu caro senhor, asreflexões sugeridas pelos estranhosrumores que me chegaram. Se os re-futei, não foi pelos espíritas de vos-sa cidade, que me conhecem muito

bem e que teriam podido julgar-mequando os visitei, se em mim hou-vessem percebido gostos e atitudesde um grão-senhor. Faço-o em aten-ção aos que não me conhecem e quepoderiam ser induzidos em erro poressa maneira mais que leviana de fa-zer a história. Se o Sr. Abade V...não tem em vista senão dizer a ver-dade, estou pronto a lhe fornecerverbalmente todas as explicações ne-cessárias ao seu esclarecimento.

Todo vosso,

Allan Kardec.”

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –junho de 1862. (Tradução de EvandroNoleto Bezerra.)

Realizou-se na sexta-feira, dia 19 de setembro, um encontro informal no refeitório do 2o andar do Par-que Gráfico da FEB (Rua Souza Valente, 17 – São Cristóvão), para comemorar os 55 anos das oficinas gráfi-cas. Participaram do evento diretores, funcionários e colaboradores. Vê-se, na foto acima, o Vice-PresidenteSady Guilherme Schmidt no momento em que dirigia a palavra aos presentes.

Parque Gráfico da FEB – 55 anos

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Adefinição de dicionário da pa-lavra cidadão é: o que habitauma cidade ou indivíduo no

gozo dos direitos civis e políticos deum Estado. Já cidadania é a quali-dade do cidadão, ou seu modo deser, aptidão, disposição moral. A so-ciedade brasileira, composta de ci-dadãos, por sua vez, divide-se emPrimeiro, Segundo e Terceiro Setor.O primeiro é o governo e seus ór-gãos administrativos e operacionaisque têm o dever de cuidar da socie-dade; o segundo é o setor privado,constituído das empresas que fo-mentam a economia, oferecem em-pregos e em consequência desenvol-vem a coletividade, mesmo comobjetivos de lucratividade. Já o ter-ceiro setor é constituído por or-ganizações sem fins lucrativos enão governamentais, cujos princi-pais personagens são as fundações1,as empresas com responsabilidadesocial2, as pessoas físicas propria-

mente ditas3 e as entidades benefi-centes4.

É nesta parcela da sociedade, ado terceiro setor, que surge a figurado voluntário, que é o cidadão quedoa seu tempo, seu trabalho e ta-lento, de maneira espontânea e nãoremunerada, para causas de interes-se social e comunitário. É uma for-ma de participar positiva e ativa-mente na sociedade, oferecendo seutempo e disponibilidade para aju-dar os outros, ou simplesmente re-forçar a defesa de causas nobres. Ecomo as instituições espíritas estãoenvolvidas no socorro às dificulda-des humanas, o trabalho voluntárioaí está bastante presente e estimula-do, embora que não exclusivamen-te, pois que há ações nobres em to-da parte.

A evolução do trabalho volun-tário no Brasil iniciou-se em 1543com a fundação da Santa Casa daMisericórdia de Santos, no Estadode São Paulo, que depois se espa-lhou pelo País. Outras ações vieramna seqüência: a) surgimento do Co-

mitê Internacional da Cruz Verme-lha, em 1863 e 1908; b) promulga-ção da Lei 91, de 28/1/1935, deter-minando as regras pelas quais são associedades declaradas de utilidadepública; c) a criação da LegiãoBrasileira de Assistência (LBA), em1942; d) o surgimento das Asso-ciações dos Pais e Amigos dos Ex-cepcionais (APAEs); e) a criação doProjeto Rondon, em 1967; f ) acriação da Pastoral da Criança, em1983; g) o surgimento da Ação daCidadania contra a Miséria e pelaVida, pelo sociólogo Herbert deSouza (Betinho), objetivando ocombate à fome, entre outras ini-ciativas. O fato marcante, entretan-to, foi a declaração, pela ONU, em2001, do Ano Internacional doVoluntariado.

A atividade voluntária é a 8ª noranking das maiores economias domundo; o setor filantrópico apre-sentou crescimento de 44,38% en-tre os anos de 1991 e 1995; o nú-mero de voluntários no Brasil jáchega a 20 milhões e 81% da mão--de-obra ligada ao terceiro setor dis-tribui-se em cinco áreas de ativida-des: educação, saúde, cultura, re-creação e assistência social.

Essas considerações todas en-volvem a questão da captação de re-cursos, sensibilização da sociedade,motivação e conquista do voluntá-rio, transparência na aplicação dosrecursos e a reflexão em torno dosinúmeros exemplos existentes noPaís, inspirados sem dúvida no

Canto cidadão*Orson Peter Carrara

* Nota do autor: o título desta matéria foi ins-pirado em programa com o mesmo nomeapresentado pela Rede Boa Nova de Rádio, aossábados às 11 horas da manhã. Sugerimos vi-sitar o site www.cantocidadao.com.br.1 Instituições que financiam o terceiro setorcom doações às entidades beneficentes.2 Comprometidas, por exemplo, com as ques-tões ambientais, e estimuladoras de funcioná-rios responsáveis com as graves questões na-cionais.

3 Pessoas da coletividade; a classe média, noBrasil, doa em média R$23,00 para iniciativasde apoio à promoção humana.

4 São as que cuidam de idosos, carentes, me-ninos de rua, drogados, alcoólatras, órfãos,mães solteiras, preservam o meio ambiente,educam e profissionalizam jovens, alfabetizamadultos, fazem campanhas de doação de san-gue, distribuem merendas, livros, sopão, dis-tribuem-se pelos conhecidos plantões dos cha-mados CVV, etc.

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princípio da solidariedade, funda-mento do Evangelho de Jesus, queem última análise é construtor dacidadania que leva à espiritualidadee à paz, almejado estado de equilí-brio para a Humanidade.

O capítulo XI de O Evangelhosegundo o Espiritismo5, intituladopelo Codificador Allan Kardec comoAmar o próximo como a si mesmo,em suas 14 páginas, exalta o amor (aDeus, ao próximo como a si mes-mo) como o maior mandamentodeixado por Jesus, mas é na mensa-gem assinada por Lázaro6 com o tí-tulo A lei de amor, em Paris, 1862,(item 8), que encontramos os se-guintes trechos: “O amor resume adoutrina de Jesus toda inteira (...). Alei de amor substitui a personalida-de pela fusão dos seres; extingue asmisérias sociais7.” Ora, este aniqui-lar das misérias sociais é exatamenteo sentido das questões 886 a 891 deO Livro dos Espíritos e que deve en-caminhar, através da evolução, todosos Espíritos para o teor da resposta àquestão 980 da mesma obra. Teorque indica a finalidade de viver e osobjetivos da vida humana.

Mas é na Revista Espírita demarço de 18678 que Kardec colo-cou mensagem assinada por Um Es-pírito com o título A Solidarieda-de. Referida mensagem é síntese detudo o que escrevemos até estas li-nhas e bem coloca o sentido da ci-dadania (ou este envolvimento em

favor da coletividade). A mensagemfoi recebida em Paris no dia 26 denovembro de 1866, pela médiumSra. Sabb..., de cujo conteúdo ex-traímos: “(...) Não estais sobre a Ter-ra para nela viver à moda dos ani-mais, para nela vegetar (...). Ohomem não é um ser isolado, é umser coletivo. O homem é solidáriodo homem7. É em vão que procurao complemento do seu ser, quer di-zer, a felicidade em si mesmo ou na-quilo que o cerca isoladamente; elenão pode encontrá-la senão no HO-MEM ou na Humanidade. Não fa-zeis, pois, nada para ser pessoalmen-te felizes, enquanto a infelicidade deum membro da Humanidade (...)possa vos afligir. (...).” Ora, eis osentido da solidariedade, inspirado-ra das ações de cidadania. Enquan-to houver infelizes, não será possível

a felicidade humana. Eis por que aação espírita para a paz9 solicita oamor, o sentimento por excelência5,capaz de inspirar as ações solidáriasda cidadania, também presentes noMovimento Espírita, pois que ple-namente identificadas com o espíri-to do Espiritismo.

A expressão canto cidadão*, tí-tulo desta matéria, clama pois co-mo convite permanente à vivênciadesses princípios. Poeticamente écomo se o cidadão cantasse os be-nefícios da solidariedade – filha doamor – que deve unir os filhos deDeus no Planeta.

5 107a edição FEB, tradução de Guillon Ribei-ro, agosto de 1993.6 Irmão de Marta e Maria, residentes em Betâ-nia (Lucas, 10:38-42).7 Destaques do autor.8 Edição do IDE-Araras-SP, tradução de Salva-dor Gentile, páginas 88 e 89.

9 Esta matéria é adaptação da palestra Quali-dade e dinamismo na ação espírita para a paz,apresentada pelo autor no XI Congresso Espí-rita da Bahia, ocorrido de 31/10 a 3/11/2002,em Salvador-BA.

Realizou-se em Assunção, de 11 a 13 de setembro, no Salão de Con-venções do Hotel Excelsior, o 1o Congresso Espírita Paraguaio, cujo temacentral foi Congresso pela Paz do Mundo à Luz do Espiritismo. O Presidenteda FEB e Secretário-Geral do Conselho Espirita Internacional, Nestor JoãoMasotti, representou ambas as instituições na Sessão de Abertura.

A programação do Congresso focalizou, especialmente, a Parte 3a deO Livro dos Espíritos, que trata das Leis Morais, através de palestras, semi-nários e painéis, desenvolvidos por vários expositores, dentre os quais osbrasileiros Nestor João Masotti, Maria Euny Herrera Masotti, Altivo Fer-reira e Carlos Roberto Campetti.

1o Congresso Espírita Paraguaio

Sessão de Abertura: Aspecto da Mesa

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Certa noite, quando chegáva-mos à Casa Espírita para ostrabalhos, um companheiro

nos disse: – Encontrei um amigocom problemas e lhe recomendeique viesse ao NOSSO CENTRO.Essa expressão fez com que medi-tássemos sobre o assunto.

Por que Nosso Centro? Vamosa algumas considerações.

Freqüentamos essa Casa Espí-rita porque, ali, nos sentimos bem,ora como participantes, ora comoassistentes, e, assim, vamos levandoa vida. Normalmente, fazemos isto,uma vez por semana, exagerando,duas.

Mas, conhecemos, de verdade,o nosso Centro? Como começou,quem o fundou, quais as atividadesda casa? Aliás, por falar em casa, éprópria ou alugada? Sabemos o va-lor das despesas, quem paga a luz,a água e o IPTU, a cada dia maiscaro?

Já paramos, para pensar, comotudo começou? Como se deu o“epi-Centro”?

Hoje, ao chegar para a reunião,encontramos tudo organizado. Gos-tamos de ler e, ali, existe uma bi-blioteca, que nos oferece livros sele-

cionados da Doutrina Espírita, semnenhum pagamento. Necessitamosde assistência espiritual, ou gostaría-mos de participar dos trabalhos depasses, e, ali, encontramos as equi-pes formadas, que nos atendem. In-comoda-nos um problema familiar,envolvendo vícios e desarmonias, e,ali, nos socorremos da entrevistaque nos orienta como vencermos asdificuldades.

Antecedendo ou complemen-tando essa coleção de oportunida-des, desejaríamos ouvir comentáriose explicações sobre o Evangelho doCristo, à luz da Codificação Espíri-ta e, ali, está o expositor, com umalição preparada.

Na nossa Casa Espírita tem,também, como convém a toda boaorganização, mensagens que a Espi-ritualidade Superior nos oferece,por meio de médiuns sérios e que,como gotas de sabedoria, vão nosequilibrando, pouco a pouco. Leva-mos, até, algumas para casa, porquenos parecem sob medida para al-guém que conhecemos.

E na primeira vez que viemosao Centro? Ainda, nos lembramos?Fomos recepcionados por alguémque, atenciosamente, nos explicoutodas as possibilidades que a Casaoferecia: Explicação do Evangelho,Passes, Entrevistas, Escola de Espi-ritismo e Educação Mediúnica,

Moral Cristã e tudo o que, hoje,conhecemos, mais ou menos.

Quando estávamos com algumdesequilíbrio psíquico, com a mediu-nidade querendo explodir, a equiperesponsável nos assistiu, juntamentecom os Espíritos, para organizarnossos “dons” mediúnicos, com ofim de nos capacitar a servir e servir--nos. Tudo, gratuitamente, e com ca-rinho, ambos, coisas raras de se en-contrar, hoje em dia.

Há, também, na nossa Socie-dade um quadro de avisos. Curiosoque quase ninguém lê e, com fre-qüência, nele há informações im-portantes: cursos, ministrados naCasa ou em outros Centros, pales-tras, promoções, encontros, campa-nhas, etc. Encontramos, no quadro,os endereços de jornais e revistas es-píritas que nos convidam a que fa-çamos uma assinatura. Por falar nis-so, você que, agora, nos lê, assinaalgum jornal ou revista? Um ano deassinatura custa menos do que umalmoço simples. Já prestigiamos es-ses irmãos que se esforçam na di-vulgação do Espiritismo, geralmen-te com sacrifício pessoal? Instruí-mo-nos e nos atualizamos com aDoutrina, como convém a todo es-pírita, ou vamos ao Centro paradormir? Reencarnação é algo pre-cioso. Será que acreditamos nisso,de verdade?

Uma expressão habitual: O Nosso Centro

Octávio Caúmo Serrano

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Outra coisa que es-quecemos, ou nem mes-mo sabemos, é que oCentro é uma pessoa jurí-dica e tem compromissoslegais e fiscais. Tem livrode atas, livro caixa, entre-ga declaração de impostode renda, paga licença defuncionamento e publici-dade...

Então, caberia a per-gunta: por que diante detantas dificuldades as pes-soas abrem Centros Espí-ritas?

Porque maior do queos problemas, é a vocaçãopara a caridade, que co-meça a se ampliar nos co-rações humanos. CadaCentro aberto evita que criaturasacabem internadas em manicômios.A orientação evangélica contribuipara diminuir a venda de psicotró-picos, porque organiza a alma e,por conseqüência, harmoniza o físi-co. Cada reunião de desobsessão re-tira das trevas Espíritos que vive-ram, desordenadamente, e, hoje, seescravizam às necessidades huma-nas, por viver em sintonia com ainferioridade dos encarnados. Comisso, incomodam, menos, os encar-nados.

E qual tem sido nosso compor-tamento, perante a Casa que nosacolhe? Prestamos mais atenção àsfalhas, não é? Criticamos a irmã que,recentemente, nos atendeu sem ohabitual sorriso, sem imaginar queela poderia ter, em casa, o esposo en-fermo ou desempregado, mas que,apesar de tudo, veio cumprir a suaobrigação, mantendo-se em seu pos-to? Será que, somente, nossas doresmerecem atenção? Será que, ainda,

pensamos que o trabalhador espíritaé invulnerável ao sofrimento?

E aquela dirigente, rigorosa nadisciplina, que chama nossa atençãoporque desaparecemos do trabalho,por comodismo ou desinteresse,não será nossa benfeitora? Nós a ve-mos, com mágoas, com melindres,porque ela detectou nossa irrespon-sabilidade. Detestamos ser corrigi-dos e não suportamos pressões. Sóque elas, ainda, são necessárias por-que somos vacilantes.

Após esse teórico esboço doque acontece na Casa Espírita, on-de, até o amor entre as criaturas,muitas vezes, está ausente, propo-mos que todos nos unamos, nas ta-refas do NOSSO CENTRO. À ho-ra da saída, qualquer um podefechar a janela, qualquer um podeapagar a luz ou fechar a porta. To-dos, reunidos, formamos o Espiri-tismo, a redentora Doutrina, quenão depende de papas ou gurus, deministros ou sacerdotes, de mestres

ou pastores. É a doutrina do auxí-lio mútuo, onde não há maior oumenor. É a lição que o Cristo ensi-nou a poucos que podiam entendê--lo, no seu tempo, e que Kardecpopularizou, a fim de que ummaior número de criaturas pudesseser beneficiado. Pena que, ainda, se-jamos poucos.

Todavia, cada cristão que servee dá exemplo, irá animando o queestá ao seu lado para que arregace asmangas e participe, também. Nesteinstante de desentendimento uni-versal, quando a palavra crise é amais pronunciada, em todos os po-vos, somente existe uma saída paramudar o pessimismo generalizadoentre as criaturas: TRABALHO ECARIDADE.

Fonte: Tribuna Espírita, de setem-bro/outubro/2002. Publicado original-mente em Semeador (órgão da Federa-ção Espírita do Estado de São Paulo), dejunho de 1991.

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Neste artigo, vamos apresentaros passos para elaboração deuma referência bibliográfica

de livro citado em parte. Suponhamos que ao redigir

um texto, você tenha consulta-do vários livros. Evidentemente,não precisou ler na íntegra to-dos os livros pesquisados, utili-zando-se apenas de um ou maiscapítulos dos referidos documen-tos para subsidiar seu trabalho in-telectual.

Como fazer, então, para citaressas partes de livros na lista dasreferências bibliográficas?

Já vimos os passos para elabo-ração de uma referência bibliográfi-ca no todo, quais sejam:

1. autor;2. título;3. autor espiritual (somente

para os livros psicografa-dos);

4. edição;5. local de publicação;6. editora;7. data de publicação;8. número de páginas (não

obrigatório).

Digamos que você esteja pre-parando uma palestra e, como pa-lestrante organizado, planeja bem otema a ser exposto. Para tanto, es-creve um texto com as idéias prin-cipais ou, pelo menos, anota asfontes de informação que consultoupara seu estudo, preparação e pos-terior acesso a esses dados.

Citemos um exemplo concre-to: a sua palestra é sobre o aborto.Após a pesquisa para identificaçãoe localização de textos de apoio paraestudo, você encontrou um capítu-lo de um dos livros de Richard Si-monetti que lhe interessa.

Para essa pesquisa, é funda-mental consultar obras de referên-cias em formato bibliográfico, ele-trônico ou digital, tais como catá-logos, dicionários/glossários, enci-clopédias, índices de assuntos, den-tre outras obras do gênero.

Inicialmente, você deve citaros elementos que identificam o au-tor e o título do capítulo. Emseguida, registra-se o termo latinoIn seguido de dois pontos (In:).Logo depois, inclui-se o nome doautor do livro. Como neste caso oautor do livro é o mesmo do capí-tulo, deve-se indicar a omissão doautor, uma vez que já foi registra-do no início da referência, pormeio de seis traços subscritos,seguidos de ponto. O restante é fá-

cil: são os passos de 3 a 7 anterior-mente mencionados neste mesmoitem. Logo após, cita-se a parte es-pecífica, ou seja, o número docapítulo referenciado, ou o inter-valo das páginas iniciais e finais emque ele está inserido.

Complicou tudo?

Então, vamos lá. Vejamos pas-so a passo como se faz a referênciade um capítulo de livro:

1. autor do capítulo – SIMO-NETTI, Richard.

2. título do capítulo – Oquinto filho.

3. termo latino In seguido dedois pontos e de seis tra-ços subscritos e ponto – In: ______.

4. título do livro destacado: Quem tem medo dos espíri-tos?

5. edição: 2. ed.6. local de publicação: Bauru,

SP7. editora: Gráf. São João;8. data de publicação: 1992;9. intervalo das páginas do

capítulo: p. 89-93.

A referência bibliográfica docapítulo pesquisado é registrada daseguinte forma:

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Referência passo a passo – II –

Capítulo de livroGeraldo Campetti Sobrinho

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SIMONETTI, Richard. Oquinto filho. In: ______.Quem tem medo dos espíri-tos? 2. ed. Bauru, SP: Gráf.São João, 1992. p. 89-93.

Ao prosseguir a sua pesquisa,você encontra ainda um capítulo deum livro psicografado por J. RaulTeixeira. A referência bibliográficaficaria assim:

TEIXEIRA, J. Raul. No dia doremorso. In: ______. Para usodiário. Pelo Espírito Joanes. 2.ed. Niterói, RJ: Fráter, 2000.Cap. 21. p. 115-116.

Outra possibilidade para estareferência, é iniciar com a citaçãodo autor espiritual. Neste caso, fi-caria assim:

JOANES (Espírito). No dia doremorso. In:______. Para usodiário. Psicografado por J. RaulTeixeira. 2. ed. Niterói, RJ:Fráter, 2000. Cap. 21. p. 115--116.

Optamos pela primeira formapara efeito de padronização dasentradas de autoria sempre peloautor encarnado e, para as obrasmediúnicas, sempre pelo médium.Porém, ambas as citações das obraspsicografadas estão corretas. Ado-tando-se uma das formas de refe-renciação, deve-se mantê-la em to-da a publicação.

Ao preparar a relação completadas referências, você pode optar emapresentá-las em nota de rodapé dapágina ou no final do texto. Preferi-mos para artigos de pequena exten-são, como geralmente são os textosespíritas, que as referências sejam lo-calizadas no final do artigo. No casoda preparação de livros, recomenda-

-se citar as fontes em notas de ro-dapé e, além disso, incluí-las no finalda publicação em capítulo intitula-do referências ou notas e referên-cias.

Ainda assim, você dispõe deduas opções de organização: nu-mérica crescente, isto é, as refe-rências são apresentadas na se-qüência das chamadas no textopor meio de números, ou na or-dem alfabética dos autores que en-

cabeçam a entrada das referências.A ordem alfabética é a mais em-pregada.

Prezado leitor, sabe qual é asensação que tenho ao (in)concluircada item desse?

A de que sempre está faltandoalguma coisa.

No próximo artigo, veremoscomo fazer a referência bibliográfi-ca de periódicos e de artigos de pe-riódicos.

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Apoio ocultoEscuta, coração,Seja qual forA nuance de dorQue te mergulha em aflição,Nunca te dês à intemperançaDo azedume que se inclinaPara a sombra abismal da indisciplinaSem qualquer esperança.

Por maior seja o vultoDa mágoa que te fere a alma dorida,Resguarda-te na paz que nos defende a vida, Sem cair em tumulto.Procura o bem, nas trilhas em que vamos,Cala-te, serve, age, abençoa e não temas,A bondade de Deus jamais nos dá problemasDe que não careçamos.

Crise, tribulação, instante de agonia,Desilusão, tristeza e dissaborSão medidas de amorCom que o Céu nos protege, dia-a-dia.A passagem do tempo não é vãE, ante a luta maior, a que a vida nos leva,Tudo o que nos pareça prova ou trevaSerá luz amanhã.

Maria Dolores

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. A Vida Conta. 3. ed., São Paulo: CEU, 1984,cap. 16, p. 52-53.

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Paraná: Seminários – Serviço Assistencial e Família

A Federação Espírita do Paraná promoveu em ou-tubro dois seminários, com Elaine Tornel: dia 25, emsua Sede Histórica, das 15 às 18 horas, o Semináriosobre Serviço Assistencial Espírita; dia 26, no Teatroda FEP, das 9 às 12 horas, o Seminário sobre Família.

Bahia: Seminário Consciência e MediunidadeA Federação Espírita do Estado da Bahia promoveuno dia 14 de setembro, em sua sede, o SeminárioConsciência e Mediunidade, coordenado pelo Proje-to Manoel Philomeno de Miranda, e tendo, por clien-tela, médiuns, integrantes de reuniões mediúnicas einteressados no tema.

Honduras: Seminário sobre O Livro dos EspíritosA Coordenadoria para a América Central e Caribe doConselho Espírita Internacional patrocinou e os Cen-tros Espíritas de Honduras organizaram, em Teguci-galpa, o I Seminário Internacional de O Livro dos Es-píritos, com a presença de confrades representantes daGuatemala, El Salvador, Cuba e Estados Unidos, e decerca de 300 participantes dos Centros Espíritas deHonduras. Os temas do Seminário foram desenvolvi-dos pelos seguintes expositores: Edwin Bravo (Gua-temala), Manuel de la Cruz (Cuba) e José Velazques(El Salvador).

SENAD: Combate às drogasA Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), órgãofederal responsável pelo combate à dependência quími-ca, elaborou um kit composto por sete cartilhas, seteprospectos e uma revista infantil da Turma da Môni-ca. O material traz variadas informações sobre as dro-gas, o mal que causam, como evitá-las, onde conseguirajuda, tratamento, etc. Os interessados devem entrarem contato diretamente com a SENAD, pelo telefone0800-614321. O kit é enviado gratuitamente.

USE/SP: Encontro de EvangelizadoresA União das Sociedades Espíritas do Estado de SãoPaulo (USE) promoveu, através de seu Departamentode Infância, em 20 e 21 de setembro, no Lar Irmã

Celeste, de Guarulhos, o Encontro Estadual de Evan-gelizadores da Infância, com o objetivo de reunir edu-cadores da infância, do Estado de São Paulo, para oaprimoramento e a troca de experiências. O tema cen-tral – Educação Espírita – foi desenvolvido pelos ex-positores Júlia Nezu de Oliveira, Luiz Fernando Pen-teado e Rita Foelker.

Casa Espírita CentenáriaO Centro Espírita João Batista, fundado em 1902por Manoel de Carvalho França, comemorou, no dia24 de junho passado, 101 anos de atividades inin-terruptas, com palestra de Joel Vaz, que abordou otema A comparação da reencarnação à luz da ciên-cia e da filosofia. A centenária instituição tem suasede na Rua Dona Claudina, 105, Méier, Rio deJaneiro (RJ).

B. Horizonte (MG): Hospital Espírita “André Luiz”A XII Semana de Espiritismo e Psiquiatria do Hospi-tal Espírita “André Luiz” (HEAL), realizou-se em Be-lo Horizonte, com o apoio da Associação Médico-Es-pírita de Minas Gerais, no período de 13 a 17 deoutubro passado, com o tema central Bioética e os Pa-radigmas Espíritas. A palestra de abertura ocorreu naUnião Espírita Mineira, seguindo-se as demais em Ins-tituições Espíritas da Capital, com encerramento noHEAL. Foram expositores no evento: Joana D'arc Par-reira de Paulo, Rosemeire Simões, Dr. Oswaldo HelyMoreira, Dr. Roberto Lúcio V. de Souza e Dr. JaiderRodrigues de Paulo.

França: Medicina e EspiritualidadeA Associação Médico-Espírita Internacional promoveem Paris, no dia 16 de novembro corrente, o PrimeiroEncontro na França sobre Medicina e Espiritualidade.O evento ocorre no FIAP (30, rue Cabanis 75014 –Paris, métro Glacière), cabendo a abertura a RogerPerez, Coordenador do CEI-Europa. O temário serádesenvolvido através de palestras, seminários e mesas--redondas pelos expositores: Dra. Marlene Nobre, Pre-sidente das AMEs Brasil e Internacional, Dr. SérgioFelipe de Oliveira, Dra. Katia Marabuco e Dra. Mariada Graça de Ender.

SEARA ESPÍRITA

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