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APOIO AOS REFUGIADOS Instituições de ensino promovem ações de ajuda aos refugiados e de integração entre culturas PÁGINA 4 REGULAÇÃO PARA DRONES Cada dia mais usados, os drones contam agora com uma série de normas para poder voar PÁGINA 12 GUILHERME TESTA FABIANO DO AMARAL OS MESMOS PROBLEMAS Emergências lotadas, filas constantes, falta de leitos, pacientes do Interior que precisam viajar horas para comparecer a uma consulta na Capital. São apenas alguns dos problemas que há anos se repetem e que parecem se agravar com o passar do tempo REVELAÇÃO NO INTER Apenas quatro meses após ser descoberta pelo Internacional, Isadora vai para a Seleção Sub-17 PÁGINA 14 FABIANO DO AMARAL ANO 122 | Nº 282 PORTO ALEGRE, DOMINGO, 9/7/2017 SC, PR - R$ 2,50 | RS - R$ 2,00

ANO 122 |Nº282 SC, PR -R$2,50 |RS-R$ 2,00 OSMESMOS … · unidade que possui 64 leitos. Enquanto os recursos destinados para asaúde continuarem diminuindo eapopulação, ... nete

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APOIO AOSREFUGIADOS

Instituições deensino promovemações de ajuda aosrefugiados e deintegração entreculturas

PÁGINA 4

REGULAÇÃOPARA DRONES

Cada dia maisusados, os dronescontam agora comuma série denormas parapoder voar

PÁGINA 12

GUILHERME TESTA FABIANO DO AMARAL

OSMESMOSPROBLEMAS

Emergências lotadas, filas constantes, falta de leitos,pacientes do Interior que precisam viajar horas para

comparecer a uma consulta na Capital. São apenas alguns dosproblemas que há anos se repetem e que parecem

se agravar com o passar do tempo

REVELAÇÃONO INTER

Apenas quatromeses após serdescoberta peloInternacional,Isadora vai para aSeleção Sub-17

PÁGINA 14

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ANO 122 | Nº 282PORTO ALEGRE, DOMINGO, 9/7/2017SC, PR - R$ 2,50 | RS - R$ 2,00

Saúde: crise que se repeteEm prejuízo à

população, filas efalta de vagas já

se tornaramcaracterísticas donosso sistema de

saúde. Com adiminuição de

leitos, asdeficiências do

atendimento nointerior do Estado eas falhas de gestão,

a situação pareceficar cada vez

mais grave

Entre emergências superlotadas,postos de saúde com falta de es-trutura e de profissionais, alémdas filas intermináveis na espera

por exames e cirurgias diversas, a saúdeno Rio Grande do Sul respira por apare-lhos há pelo menos uma década. Morado-res do interior do Estado viajam até a Ca-pital, na tradicional “ambulancioterapia”,e nem sempre encontram atendimento. OMinistério da Saúde informou, por meiode nota, que repassou, via Fundo Esta-dual de Saúde e aos fundos municipais, ovalor de R$ 4,39 bilhões, em 2016, e R$2,18 bilhões, até o momento, em 2017 “pa-ra custear diversos procedimentos, tantoda atenção básica, como da vigilância emsaúde, assistência farmacêutica e blocoda média e alta complexidade”.

Segundo o assessor técnico da área deSaúde da Federação das Associações deMunicípios do Rio Grande do Sul (Fa-murs), Paulo Azeredo Filho, pacientesque já estão com um quadro preocupantede saúde precisam encarar horas de via-gem e, muitas vezes, ficam mais de dezhoras esperando atendimento. “A ambu-lancioterapia é uma verdadeira falta dehumanização”, declarou Azeredo Filho.As ambulâncias chegam a fazer filas nasproximidades dos hospitais. Segundo ele,o governo do Estado está com uma dívidade R$ 394 milhões com as prefeituras.“Não temos um calendário de pagamen-tos e nem a garantia de que esse valor se-rá repassado. Desta forma, as prefeiturasacabam gastando, em média, 22% do or-çamento com saúde, então outras áreasficam desestruturadas”, explicou Filho.

Aqueles que precisam de atenção bá-sica amanhecem em frente aos postosde saúde que, infelizmente, não dão con-

ta da demanda. Dia sim e dia também,emergências pediátricas e para adultos,em diversos hospitais de Porto Alegre,restringem atendimento a casos gravesdevido à superlotação. No Hospital Con-ceição e no Hospital de Clínicas, elasfuncionaram todos os dias de junho e aprimeira semana de julho com númerode pacientes superior à capacidade.

Na manhã do dia 3 de julho, porexemplo, a emergência do Hospital deClínicas atendia 89 adultos para 41 lei-tos disponíveis. Na ala pediátrica, eram11 pacientes para nove vagas. No mes-mo dia, a emergência do Conceição de-clarou restrição máxima, atendendo ape-nas pacientes com risco de morte, pois83 pacientes estavam hospitalizados naunidade que possui 64 leitos. Enquantoos recursos destinados para a saúdecontinuarem diminuindo e a população,demograficamente, aumentando, fica di-fícil fechar a conta.

Conforme o presidente do SindicatoMédico do Rio Grande do Sul (Simers),Paulo de Argollo Mendes, o Estado viveuma crise muito grave de falta de leitos.Somente em Porto Alegre, de acordocom levantamento do Simers, 214 leitosdo Sistema Único de Saúde (SUS) foramfechados em 7 anos. Para Argollo, a ex-plicação de que faltam leitos por causado inverno não convence. “Eles têm queestar preparados para isso, tinham quesaber que a demanda viria e não se pre-pararam”, disse. Segundo ele, não é pos-sível demonstrar surpresa pelo fato deque o inverno chegou. “Ele chega todosos anos, não podem argumentar comose fosse uma desculpa”, enfatizou.

Segundo Argollo, o ponto principal, eque seria uma solução viável para a cri-

se dos leitos em Porto Alegre, é a reaber-tura do Hospital Parque Belém. “Sãomais de 200 leitos prontos, aparelhos detomografia, ecografia, UTI com dez leitosequipados, cinco blocos cirúrgicos equipa-dos. É um crime deixar isto fechado e ospacientes nos corredores das emergên-cias ou enfiados, escondidos nos postosde saúde, por falta de leito. Leito tem, fal-ta competência para gerir”, ressaltou. Opresidente do Simers também destacou aexaustão dos médicos que trabalham nes-tas condições. “Os médicos estão absolu-tamente exaustos, como o resto da equi-pe, sobrecarregados e submetidos a si-tuação de violência. O estresse deixa aspessoas mais cansadas e menos produti-vas”, disse. Conforme ele, se soma a essasituação ter que atender pacientes irrita-dos porque o atendimento demora, comose fosse culpa do médico. Segundo Ar-gollo, as pessoas não deveriam gritarcom os médicos. “Deviam gritar no gabi-nete do prefeito, porque ele tem que con-tratar mais médicos para atender a de-manda.” Para o presidente do Simers,por conta da má gestão e a insuficientedestinação de recursos “nós estamos vi-vendo uma situação que é absolutamentepesada e difícil para os médicos e extre-mamente injusta com os pacientes”.

Para o presidente da Associação Mé-dica do Rio Grande do Sul (Amrigs), Al-fredo Cantalice Neto, a crise na saúdeno Rio Grande do Sul “já é um proble-ma crônico, de muitos anos, e se agra-va muito no inverno”. Conforme Canta-lice Neto, há duas “soluções” possíveis:incentivo à vacinação e busca maior pe-las Unidades de Pronto Atendimento(UPAs) e Unidades Básicas de Saúde(UBS), com o objetivo de desafogar as

CLÁUDIO ISAÍAS, JESSICA HÜBLER, JÉZICA BRUNO E MARCO AURÉLIO RUAS

ALIN

AD

ESO

UZA

REPORTAGEM

As emergênciasda maioria dos

hospitais da Capitalfuncionam atendendo

pacientes emnúmero acima

de sua capacidade

CONTINUA >>

9/7/2017 | CORREIO DO POVO +DOMINGO | 7

Reduçãode leitosnaCapital

214

10%422

8.405

2010

LEITOS TOTAIS

2017

8.3301.637

2010

LEITOS

5.462

2010

LEITOS SUS

2017

5.248

leitos SUS foram fechados em Porto Alegre nos últimossete anos. Se levados em consideração os 208 leitos dohospital Parque Belém que estão atualmente fechados, a

perda de leitos no período foi de

A perda declínicos nosrepresenta

emergências. “O público alvo (crian-ças, gestantes e idosos) da vacinaçãofoi o que menos aderiu à campanha.”Segundo ele, o comportamento da po-pulação de sempre buscar as emergên-cias é uma das causas da superlota-ção. “Precisamos incentivar a procurapor UPAs e UBS.”

O presidente do Conselho Regionalde Medicina do Estado do Rio Grandedo Sul (Cremers), Fernando Weber Ma-tos, afirmou que o quadro no Rio Gran-de do Sul está piorando desde 2010,quando houve a última atualização natabela do SUS. Segundo ele, prioridadeé a saúde, pelo menos para médicos eentidades que representam a categoria.“Para quem está no governo, eu nãosei. Devem achar que a saúde está em3º ou 4º lugar e tem outras prioridadescomo pagar dívidas, arrumar estra-das… Gostaria que a saúde fosse a pri-meira das prioridades, que houvessedeslocamento de verba adequado, parafazer um planejamento mínimo para po-der atender a população.”

Sobre a superlotação nas emergên-cias, Matos reforçou a questão cultu-ral: a população procura, primeiro, asemergências. “Ficam horas nos hospi-tais convivendo dentro de salas emque todos têm vírus e bactérias. Quemvai para a sala de espera com uma gri-pe leve é capaz de sair de lá mais con-taminado ainda por outros vírus”, aler-tou. Matos reafirma que pacientescom gripe deviam ser atendidos nospostos de saúde, não deveriam ir paraas emergências dos hospitais. “Masvão ser atendidas por quem? E on-de?”, questionou. Segundo ele, “é umcaos, uma bola de neve. Falta gestão eaí a gente olha para as emergênciasonde tem 100 pacientes esperando e,na verdade, ao invés de terem dois mé-dicos atendendo, tinha que ter quatro,tinha que ter três enfermeiras e sótem um. Aí se estabelece o caos, aca-ba ficando o dia inteiro esperando aconsulta, e piora”, explicou.

De acordo com o enfermeiro e conse-lheiro do Conselho Regional de Enfer-magem do Rio Grande do Sul (Coren-RS), Ricardo Haesbaert, a populaçãovê no profissional da Saúde o culpadonesse processo mas, na verdade, o quefalta é a prioridade por parte do gover-no. Segundo ele, determinadas comple-xidades demandam um número “x” deprofissionais que “as instituições, emsua maioria, não têm obedecido.”

Dentro do Coren-RS, Haesbaerts expli-ca que há um processo de fiscalizaçãodos serviços de Saúde. “Tentamos aler-tar as autoridades no sentido de que, seelas não fizerem o investimento necessá-rio, vai ter consequências em relação àsaude da população. Tem que havermais investimento.” Segundo Haesbaert,diversas unidades hospitalares não dis-ponibilizam local adequado para descan-so. “Quem faz plantão de 12 horas numhospital tem direito a uma hora de des-canso, mas não tem local para isto.”

O Ministério da Saúde enfatizouque, especialmente para os procedi-mentos da média e alta complexidade,foram repassados R$ 3 bilhões em2016 e 1,57 bilhões em 2017 até o mo-mento. O financiamento do SUS é tri-partite (União, Estados e municípios),sendo o Ministério da Saúde o órgãogestor no nível federal. Cabe a ele ela-borar políticas públicas nacionais deatendimento à população. Os gestoresmunicipais e estaduais de saúde sãoresponsáveis pelo atendimento diretoà população, gestão das unidades desaúde, organização, programação, con-trole e avaliação das ações de saúdepara os cidadãos.

EMERGÊNCIAS.O olhar de inconformidade descrevia

os problemas enfrentados pelos que de-pendiam do SUS na emergência do Hospi-tal de Clínicas de Porto Alegre na últimasemana. Assim como as outras emergên-cias da Capital, o setor convive com a su-perlotação e a resultante necessidade derestrição de atendimentos.

Com alguns dedos enfaixados e outrosdeformados, o eletricista Wlademir Silveirada Silva, 54, já não aguardava para seratendido. “Estou esperando passar a tontu-ra e dor nos pulmões para voltar pra ca-sa.” Portador da síndrome de Raynaud, elesofre mais com a condição no inverno e, co-mo seus sintomas o levaram a crer que es-tá com pneumonia, não encontrou outrapossibilidade se não ir até a emergência.

A síndrome afeta os vasos sanguíneos,principalmente dos dedos das mãos e dospés. Ele descobriu a doença há cerca dedois anos e, desde então, conseguiu con-sultar apenas duas vezes. “É quase umano pra conseguir uma consulta. A últi-ma foi em setembro passado e a próximaé em agosto.” As consultas são no pró-prio Hospital de Clínicas. Entretanto, oque o levou à emergência não foi somen-te os dedos enfaixados, que o preocupam,mas também as dores no pulmão, a faltade apetite e o mal-estar. “Disseram quepra entrar é só em ambulância”, disse.Naquela tarde, a emergência atendia 115pacientes mesmo com apenas 41 leitos.

“Convivemos cronicamente com a super-lotação”, afirma o gerente operacional daemergência do HCPA, José Pedro Prates.Segundo ele, o quadro era ainda pior atéque a situação se esgotou e novo protoco-lo foi adotado. “O limite era de 150 pacien-tes. A qualidade assistencial estava cain-do, então adotamos novo plano de açãodesde novembro.” Desde aquele mês, apartir da superlotação, as portas vão se fe-chando para as consultas. Com 90 pacien-tes em atendimento no setor e a previsãode aumento deste número, o atendimentofica restrito a casos com risco de morte.As causas da atual situação são diversas,entre elas a falta de contratação de profis-sionais que supram a demanda, falta de in-formação que resulta na procura dasemergências e não da atenção básica, au-sência de investimentos e financiamentose envelhecimento da população.

Os traumas dos pacientes e familiares seacumulam de forma que alguns evitam seidentificar com medo de causar mais proble-mas ao seu atendimento. “Fiquei cinco diasna emergência e depois um mês e meio in-ternada. Eu operei a aorta”, relata uma ido-sa ao lado da porta de entrada do HospitalConceição. “Fui bem atendida. Os médicose enfermeiras lutam bastante, mas o gover-no não auxilia”, diz. Ela tinha saído do hos-pital há uma semana e agora aguardava oresultado do exame de sangue. O médico in-dicou que chegasse às 10h para realizar oexame, levando em consideração que tinhaconsulta às 13h. Porém, foi chamada quaseàs 13h para o exame e acabou tendo queremarcar a consulta. Era perto de 16hquando ainda esperava o resultado. Com ca-pacidade de 64 pacientes internados, a insti-tuição atendia 87 naquele momento. “Aolongo do tempo, as pessoas se acostuma-ram a procurar as emergências para teremsuas necessidades atendidas”, comenta ogerente de pacientes externos do HospitalConceição, Alexandre Bessil. De acordocom ele, os hospitais dependem da migra-ção dos pacientes para as unidades básicasde saúde. “Quando a população sentir quena unidade básica terá o atendimento quebusca irá migrar das emergências para es-ses locais.” O gerente também acredita queo atual sistema ainda trabalha muito a par-tir da doença e não da prevenção. “Isso mu-da o custo da assistência.”

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