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1 Ano V- N o 46 Fevereiro de 2011 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL PETGeo INFORMATIVO ISSN: 1982-517X Editorial Em fevereiro, mês no qual uma nova grade de aulas se apresenta, uma nova grade de atividades do PET começa a ser estabelecida também. Nós, Petianos e a Tutora, nos envolvemos e nos dedicamos principalmente ao planejamento das atividades de ensino e extensão para 2011 focando no fechamento do cronograma de atividades do SIMGeo e ENAPET-Geo. Também concluímos mais um material didático, dessa vez para auxiliar os alunos do terceirão da escola Leonor de Barros acerca de algumas atualidades sobre nosso estado entre outros temas recorrentes nos vestibulares. Mais sobre essa atividade apresentaremos um relato nesta edição. Apresentaremos o relato da nossa colega petiana Paula que voltou de viagem da Ucrânia, onde ela participou de um projeto de educação ambiental. Esta edição também contará com o ensaio de uma acadêmica sobre uma cidade fictícia rica de relações sobre o crime urbano: Gothan City, essa mesma, a cidade do Batman. Além dos clássicos PET Indica e uma lista dos eventos mais próximos. Aproveitamos a oportunidade para dar boas vindas aos calouros da geografia. E desejamos sucesso nessa nova fase que se inicia em suas vidas. Será um ano de muito trabalho, dedicação e produção para todos nós! Grupo PET-Geografia FAED/UDESC

Ano I - No 09 - petgeoudesc.files.wordpress.com · alunos do terceirão da escola Leonor de Barros acerca de algumas atualidades sobre nosso estado entre outros temas recorrentes

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Ano V- No46 Fevereiro de 2011

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL

PETGeo INFORMATIVO

ISSN: 1982-517X

Editorial

Em fevereiro, mês no qual uma nova grade de aulas se apresenta, uma nova

grade de atividades do PET começa a ser estabelecida também. Nós, Petianos e a

Tutora, nos envolvemos e nos dedicamos principalmente ao planejamento das

atividades de ensino e extensão para 2011 focando no fechamento do cronograma de

atividades do SIMGeo e ENAPET-Geo.

Também concluímos mais um material didático, dessa vez para auxiliar os

alunos do terceirão da escola Leonor de Barros acerca de algumas atualidades sobre

nosso estado entre outros temas recorrentes nos vestibulares. Mais sobre essa atividade

apresentaremos um relato nesta edição. Apresentaremos o relato da nossa colega petiana

Paula que voltou de viagem da Ucrânia, onde ela participou de um projeto de educação

ambiental. Esta edição também contará com o ensaio de uma acadêmica sobre uma

cidade fictícia rica de relações sobre o crime urbano: Gothan City, essa mesma, a cidade

do Batman. Além dos clássicos PET Indica e uma lista dos eventos mais próximos.

Aproveitamos a oportunidade para dar boas vindas aos calouros da geografia. E

desejamos sucesso nessa nova fase que se inicia em suas vidas. Será um ano de muito

trabalho, dedicação e produção para todos nós!

Grupo PET-Geografia FAED/UDESC

2

Nessa edição:

Página

Gothan City:Welcome to the world whithout rules–Alessandra da Silva Ramos… 3

Relato Material Didático: Santa Catarina para Terceirão-Michelle Martins de

Oliveira ......................................................................................................................... 21

Relato do projeto de educação ambiental na Ucrânia-Paula Carvalho de Castro. 21

PET Indica .................................................................................................................... 24

Eventos .......................................................................................................................... 25

PETGeo FAED/UDESC

Expediente:

Bolsistas: Ana Paula Esnidei Pereira, Emannuel dos Santos Costa, Gabriela Bassani Fahl, João Garcia

Neto, Laura Dias Prestes, Leonardo Lenzi Barbosa, Marcela Gonçalves Werutsky, Maria Carolina Soares,

Michelle Martins de Oliveira, Morgana Giovanella de Farias, Paula Carvalho de Castro, Pedro Martins

Gomes.

Tutor(a): Vera Lúcia Nehls Dias.

Edição: Michelle Martins de Oliveira

Revisão: Vera Lúcia Nehls Dias

Impresso pelo Grupo PET-Geografia FAED/UDESC, em tamanho A4, fonte Times New Roman.

Sugestões, reclamações, convites, opiniões: [email protected]

3

GOTHAM CITY

Welcome to the world without rules1

Alessandra da Silva Ramos¹

“Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula

incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os

mortos juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra no paraíso e prende-se a suas asas com tanta

força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual

ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos

de progresso.”2

Esse indivíduo traumatizado. Insano. Indivíduo que não liga que dali há alguns

anos, todos os seus esforços não irão valer de nada. O crime volta, sempre volta. O

inimigo de Batman é eterno.

Assim como o texto de Benjamin, o herói Batman emerge no universo das histórias em

quadrinho no período pós-primeira guerra3. Ele nasce na origem clássica contada por

Bob Kane, a mesma refinada no recomeço que a DC Comics oferece ao herói nos anos

1980, escrito por Frank Miller4 ou a filmada na obra cinematográfica Batman Begins

(2005)5: um garoto, de pais ricos, os vê morrer assassinados por um ninguém. Um

marginal perdido naquele mundo catastrófico. Catástrofe que trouxe mais uma

catástrofe.

1 “Bem-vindo ao mundo sem regras”. Slogan da campanha publicitária do filme BATMAN: O

cavaleiro das trevas. Direção: Christopher Nolan. Produção: Emma Thomas, Christopher Nolan e

Charles Roven. Roteiro: David S. Goyer, Christopher Nolan e Jonathan Nolan. Intérpretes: Christian

Bale, Heath Ledger, Michael Caine e outros. São Paulo: Warner Brasil, 2008. Edição especial: DVD

duplo (152min) (Figura 1)

1 Acadêmica do curso de História FAED/UDESC

2 BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da

cultura. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p.226

3 “Batman é um super-herói, personagem de histórias em quadrinhos publicadas

pela editora norte-americana DC Comics, cuja primeira aparição alguns acreditam ter sido em desenhos

de Frank Foster em 1932, e que foi publicado posteriormente na revista Detective Comics #27, em Maio

de1939. [...] foi co-criado pelo desenhista Bob Kane e o escritor Bill Finger, embora apenas Kane receba

oficialmente os créditos, apesar de seus esforços para dividir os méritos na criação do personagem.

Apesar de oficialmente creditado a Bob Kane, os desenhos de Frank Foster II, artista ligado à indústria de

publicações de Nova Iorque na década de 1930, foram considerados autênticos pela DC Comics.”

http://pt.wikipedia.org/wiki/Batman acessado 14/11/2010 as 14:10h

4 MILLER, Frank; MAZZUCCHELLI, David. Batman: Ano um. História em quadrinhos. São

Paulo: ed. Abril, 2002.

5 BATMAN Begins. Direção: Christopher Nolan. Produção: Emma Thomas, Larry J. Franco e

Charles Roven. Roteiro: David S. Goyer e Christopher Nolan. Intérpretes: Christian Bale, Michael Caine,

Liam Neeson e outros. São Paulo: Warner Brasil, 2005. 1 DVD (134min)

4

Mas qual é o propósito desse herói? Vingança? Ele sabe que o crime é

impossível de ser detido por completo, ele renasce com o progresso, assim como com

trauma de tantos vilões mascarados em suas vestes bizarras ou fisionomias

horripilantes. O crime é tão grande quanto os prédios anônimos de Gotham, que

expressam uma imagem bonita, afastada daquele chão cheio de criaturas traumatizadas,

de lixo ou do “amontoado de ruínas”, como nos diz Walter Benjamin. Essas criaturas só

diferem daquelas que estão nas coberturas por seu dinheiro.

O símbolo desse herói não é um morcego por acaso. Ele pronúncia seu

propósito: o garoto Wayne tinha medo de morcegos, Batman quer que os criminosos

compartilhem desse mesmo medo.

Bruce Wayne existe, ele não emerge do trauma. A partir de um trauma, o Batman surge

de Bruce Wayne. Ele é uma máscara. Máscara essa que permite ao garoto Wayne não

mais precisar falar, a máscara falará por ele.

Uma criatura feita para ser o guardião de Gotham. Guardar a cidade de seu

próprio caos. Caos inscrito em criaturas traumatizadas. Cada vilão tem sua história, seu

trauma. Eles não são diferentes de Batman: eles têm um propósito a partir de uma

experiência marcante, traumatizante. Exceto aquele que não tem propósito.

Um trauma silenciador

Walter Benjamin conta que os soldados que retornavam da guerra (Primeira

Grande Guerra) não voltavam com histórias heroicas. Nem com bonitos contos de

heroísmo para seus filhos, seus pais e suas mulheres se orgulharem. Os soldados

voltavam calados. Mais pobres de experiências comunicáveis.6

A experiência passa a ser incomunicável em uma sociedade regida pela técnica.

Não há mais espaço para narração nesse tempo entrecortado pelo capitalismo. Digo

narração, como uma vivência de continuidade e temporalidades. Do pai que repassa aos

filhos, do conhecimento ancestral.

Essa sociedade muda, se sujeita a técnica. A um progresso o qual se transforma e

transforma as vidas de maneira tão rápida e drástica que não pode ser assimilado através

6 BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da

cultura. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p.115

5

da fala.7 Em uma nova ótica o sujeito perde seu rosto, vira “a massa”, ao mesmo tempo

que, paradoxalmente, perde também sua consciência de coletividade.

O findar da narração tradicional e a transformação da experiência estão

diretamente conectados a aceleração da nossa percepção cotidiana, resultante de uma

outra dinâmica de mundo, a violência da velocidade que nos impõe a técnica. Passando

por não ter paciência de ouvir um velho, depois seus pais ao extremo da repulsa a

cumprimentar um “semi-desconhecido” que caminha na rua.

O interno e o externo sofrem um ruptura. A casa, além de abrigo para os objetos

que marcam quem ele é, vira uma espécie de refúgio contra aquele mundo hostil e

anônimo lá fora. A experiência ganha uma outra natureza, uma natureza que pertence ao

privado. Uma experiência de certa forma solitária, daquele que lê seu romance sozinho,

trancafiado em seu quarto, imerso em objetos que possuem sua marca.

Esse processo pode ser sintetizado em duas expressões em língua alemã que são

equivocadamente traduzidas como “experiência”, mas possuem uma sutil diferença. A

Erfahrung e a Erlebnis. Erfahrung (ou experiência) seria a narração tradicional, a

maneira de passar o conhecimento adquirido através dos anos pela palavra, da

comunicação no coletivo. Esta depois de um processo traumatizante, de impacto no

cotidiano se torna a Erlebnis (ou vivência), uma experiência transferida para o espaço

privado, individualizada do cidadão anônimo em sua ânsia de deixar marcas que

falaram por ele.

Sob esta ótica a garotinha que na loja de brinquedos causava estranheza na mãe,

preferindo o boneco do homem fantasiado de morcego à boneca Barbie, analisa um dos

heróis de sua infância. Percebendo que há muito mais por trás da máscara de Bruce

Wayne do que suas inocentes fantasias infantis eram capazes de imaginar.

“Nós queremos você aqui no manicômio onde é o seu lugar”8

Ainda muito cedo Bruce Wayne perde os pais e passa a carregar com ele toda a

culpa. Mas que culpa é essa? O menino sente a morte, o crime fere aquele que toca, ele

foi mais uma de tantas vitimas. Não busca vingança, mas a justiça. Para essa justiça,

agora Batman, usa do mesmo símbolo que o apavora para apavorar criminosos. Como

7 GAGNEBIN, Jeanne-Marie,. História e narração em Walter Benjamin. 2. ed. São Paulo:

Perspectiva, 1999. p.67

8 Fala do vilão Curinga em MORRISON, Grand; MCKEAN, Dave. Asilo Arkham. História em

Quadrinhos. São Paulo .Ed. Dc Comics In., 1990 (Figura 2)

6

o próprio personagem confessa no filme Batman Begins (2005): “Chegou a hora de

meus inimigos compartilharem meu medo”.9 E ele passa a se parecer com o tipo de

criatura que combate, depois de perceber que só obterá o controle pelo amedrontamento,

o terror.10

Este medo não é somente seu medo infantil. O morcego carrega consigo a

própria iconografia do medo. Na cultura popular ele é uma ameaça, um elemento

fortemente relacionado ao demônio. A revoada destes pequenos mamíferos representa

exatamente o que pretende Batman. Ele é a noite, o caótico, o imprevisível.

A dor se transforma em senso de justiça. Mas “de cara limpa” não é possível

fazer justiça. Não há respeito, pois não há medo. Os criminosos não temem e ainda

revidam. A sensação de culpa e impotência persiste, até um morcego atravessar a janela

da mansão Wayne e trazer nas asas a resposta.

“Pai...eu acho que vou morrer esta noite.

Tentei ser paciente. Tentei esperar... mas... eu

preciso saber. Como, pai? Como devo agir? O

que devo usar...pra que eles tenham medo? Se

eu tocar este sino, Alfred vem. Ele pode deter

o sangramento a tempo.(...) Sim, pai. Eu

tenho tudo... menos paciência. Prefiro

morrer... a esperar... mais outra hora. Já

esperei... dezoito anos... (...) Desde que minha

vida perdeu o sentido. Sem o menor aviso, ele

surge...estilhaçando a janela do seu estúdio,

agora meu. [um morcego aparece, pousando

sobre o busto do pai] Já vi essa criatura

antes... em algum lugar. Ela me aterrorizou

quando criança... me aterrorizou... Sim, pai.

Eu me tornarei um morcego [Bruce toca o

sino]”11

Desse momento em diante, através de Batman, os criminosos compartilharão os medos

do pequeno Bruce.12

9 BATMAN Begins. Direção: Christopher Nolan. Op. Cit.

10 MILLER, Frank; MAZZUCCHELLI, David. Capítulo um: quem sou eu e como vim a ser. In:

Batman: Ano um. História em quadrinhos. São Paulo: ed. Abril, 2002. p. 8-22

11 MILLER, Frank; MAZZUCCHELLI, David. Capítulo um: quem sou eu e como vim a ser. Op.

Cit. p. 20-22

(Figura 3)

12 MILLER, Frank; MAZZUCCHELLI, David. Capítulo quatro: amigo em apuros Op. Cit. p. 78

(Figura 4)

7

O assassinato do pai se torna uma desculpa plausível para que Wayne se torne

Batman, mais do que sua obsessão pelas criaturas da noite. A lembrança do trauma o

invade a toda hora e assim ele escreve seu destino. Analisando através de Benjamin:

“Pensar não inclui apenas o movimento das

ideias, mas também sua imobilização.

Quando o pensamento pára, bruscamente,

numa configuração saturada de tensões, ele

lhes comunica um choque, através do qual

essa configuração se cristaliza enquanto

mônada. [...] Nessa estrutura, ele reconhece o

sinal de uma imobilização messiânica dos

acontecimentos, ou, dito de outro modo, de

uma oportunidade revolucionária de lutar por

um passado oprimido.”13

Imobilizando a imagem do passado o herói cria para si uma nova realidade. Realidade

essa, onde se faz justiça, onde seu medo, seu ódio, sua raiva podem ser descontados na

escória de Gotham. Mas até onde o próprio Batman não faz parte desta escória?

O justiceiro, dependendo da ótica em que é analisado, não passa de mais uma

vítima dessa cidade corrupta e sem controle. Ele compartilha da mesma da loucura de

seus arqui-inimigos. O vilão Curinga pode estar certo quando o chama ao Asilo Arkham

dizendo que, ali “é o seu lugar”14

ou o convida a dividir um quarto de paredes

acolchoadas15

. Até onde vai o senso de justiça e começa a insanidade do herói?

Apesar de não ter transformado seu trauma em propósitos maldosos, em crimes,

ele está ali. O trauma persiste. Ele precisa da máscara para viver no coletivo. Falar por

ele. Não aguenta a palavra, como bem é explorado em O Asilo Arkham de Grant

Morrison. Quando em uma teste de Rorschach se nega a dizer o que viu. Mas sabemos

que ele viu o morcego, seu trauma.16

Trauma esse que o impossibilita que fale, que na

mesma história não aguente uma simples associação de palavras.17

Esse indivíduo se fecha no espaço privado. Na mansão. Na batcaverna. Mansão

que como bem diz Vicky Vale ao herói no filme Batman de Tim Burton: “Essa casa não

13 BENJAMIN, Walter. Op. Cit. 231

14 MORRISON, Grand; MCKEAN, Dave. Op. Cit.

15 BATMAN: O cavaleiro das trevas. Direção: Christopher Nolan. Op. Cit.

16 MORRISON, Grand; MCKEAN, Dave. Op. Cit. (Figura 5)

17 MORRISON, Grand; MCKEAN, Dave. Op. Cit.

8

tem nada haver com você”.18

Nessa obra o próprio Bruce não se encaixa naquele lugar

imerso em tantas antiguidades e obras de arte. “Nele, o 'interior' obriga o habitante a

adquirir o máximo possível de hábitos, que se ajustam melhor a esse interior que a ele

próprio.”19

Já pelo seu lado a batcaverna abriga os medos do menino e a técnica de Batman.

Ela contrapõe com a mansão e seus artefatos antigos, históricos. Construindo a

dualidade do herói. A batcaverna se encontra vazia de futilidades, diferente da mansão,

ela serve não mais do que para o bem comum. Para os artefatos que permitem Batman

fazer sua justiça.

E diferente de tudo, no segundo Batman de Nolan, Batman Begins (2005)20

,

Bruce e Batman, ocupam dois espaços. Um apartamento e um esconderijo. Ambos com

o mínimo de objetos necessários a sobrevivência, aparentemente vazios, assim como a

caverna no subterrâneo da mansão.

“Why so serious?”21

“O Curinga é um caso especial. Muitos de nós acreditam que ele está além de qualquer

tratamento. Na verdade, não estamos certos que ele possa ser definido como insano. […] É bem possível

que estejamos diante de um caso de super sanidade. Uma nova e brilhante modificação da percepção

humana mais adequada à vida urbana do fim do século XX. Diferente de você ou de mim, o Curinga não

parece ter controle sobre as informações sensoriais que recebe do mundo externo. Por isso, alguns dias

ele é um palhaço infantil. Outros um psicopata assassino. Ele não tem verdadeira personalidade. Ele cria

uma diferente por dia. O Curinga se vê como o mestre do desgoverno, e o mundo como um teatro do

absurdo.”22

Um vilão sem propósito. É assim que eu definiria o Curinga. No inglês Joker,

em uma tradução livre “piadista”. O piadista em cada obra que aparece brinca com a

identidade de Batman. E as vezes vai mais fundo, com a de Bruce também. De origem

18 BATMAN. Direção: Tim Burton. Produção: Peter Guber e Jon Peters. Roteiro: Sam Hamm e

Warren Skaaren baseado no personagem de Bob Kane. Intérpretes: Michael Keaton, Jack Nicholson,

Kim Basinger e outros . São Paulo: Warner Brasil, 1989. 1 DVD (126min)

19 BENJAMIN, Walter. Op. Cit. 118

20 BATMAN Begins. Direção: Christopher Nolan. Op. Cit.

21 Fala do personagem Curinga no filme BATMAN: O cavaleiro das trevas. Direção: Christopher

Nolan Op. Cit.

22 Fala da personagem Dr. Ruth em MORRISON, Grand; MCKEAN, Dave. Op. Cit.

9

incerta até 1988, quando Alan Moore o presenteia com uma23

. Esta que apesar de se

considerada a “oficial” continua múltipla. Pois origem remete a uma identidade. Mas

qual será a do Curinga?

O pai de família desesperado de Alan Moore?24

A criança que tem o rosto

retalhado pelo pai alcoólatra? Ou o marido que se auto mutila para confortar a esposa,

também mutilada por agiotas que lhe cobravam dividas de jogo?25

Todas essas versões

remetem ao amor e sobretudo aos vícios. Duas coisas que ultrapassam o controle

“racional humano”. O Curinga assim como o amor e os vícios de suas origens é

incontrolável, impulsivo e sem propósitos. Como o próprio se descreve em Batman: O

cavaleiro das trevas (2008):

“Eu tenho mesmo cara de quem faz planos?

Sabe o que eu sou? Sou um cão atrás de

carros. Não saberia o que fazer se pegasse

um. Eu só faço as coisas. A máfia faz planos.

Os tiras fazem planos. Gordon faz planos.

Eles são cheios de planos, sabe? Fazem

planos para controlar o mundinho deles. Eu

não faço planos. Tento mostrar a quem faz

planos... como realmente são ridículas as

tentativas deles de controlar tudo.”26

Ele é o extremo de Batman, o detetive super disciplinado, que quer ter tudo sob

controle. Quer a ordem. Seus planos são metodicamente armados para que resultem na

limpeza de Gotham, mesmo com meios não muito ortodoxos. Enquanto seu arqui

inimigo não quer nada mais além de anarquia. Curinga deseja o caos, o medo. E é nesse

jogo de quem provoca mais medo que um completa o outro em uma eterna batalha de

cão e gato. Ou morcego e palhaço.

Por que, afinal de contas, segundo uma lenda no mundo das histórias em

quadrinhos consumada por Tim Burtom em seu filme de 198927

, um criou o outro.

Joker, ou Curinga, era o ladrão que segurava a tremula arma na noite em que só o que

resta ao menino é a luz do único poste da rua em frente ao teatro em que seus pais são

mortos, o crime o fere, seu futuro inimigo lhe impõe a situação que cria dentro dele a

23 MOORE, Alan; BOLLAND, Brian, HIGGINS, John. Batman – Piada Mortal. História em

quadrinhos. São

Paulo: ed. Abril, 1999.

24 MOORE, Alan; BOLLAND, Brian, HIGGINS, John. Op. Cit.

25 BATMAN: O cavaleiro das trevas. Direção: Christopher Nolan. Op. Cit.

26 Ibidem.

27 BATMAN. Direção: Tim Burton.

10

ânsia por justiça, o Batman. Assim como o Batman atendendo a apenas mais uma das

chamadas noturnas ataca e derruba um criminoso em substancias químicas que legam ao

homem o palhaço.

Mas apesar de tudo Curinga está sempre um passo a frente de Batman, ele é a

imprevisibilidade. Não há como prever os passos do agente do caos. Eu tenho a resposta

para pergunta que martiriza o herói em Piada Mortal: “Como duas pessoas que não se

conhecem podem se odiar tanto?”28

Simples. Eles são a dualidade, como as duas faces

da moeda de Harvey Dent. O lado que mata e o que mantém a vida. No fundo eles se

conhecem melhor do que imaginam.

“Burro e civilizado são a mesma coisa em Gotham City”29

Cidade tomada pelo crime. Suja e corruptível. Perfeita para Batman, que toma

como sentido da vida combater o crime. Lá, sua vida nunca mais perderá o sentido. É

um círculo vicioso. A cidade se alimenta do medo, da morte, do trauma. Cria sujeitos

carregados de marcas dolorosas que em consequência marcam outros. Ela é

praticamente um personagem vivo que interfere diretamente em cada trama. Como

sugere a fala de alguns personagens que praticamente conversam com a cidade. Curinga

do alto de seu sarcasmo: “Gotham City sempre me faz sorrir!”30

. Ou o tenente novato

Gordon que em Batman: Ano Um tem de se condicionar como um tira incorruptível e

sobreviver a corrupção que consome o lugar.

Gotham se assemelha a casa burguesa da segunda metade do século XIX,

descrita pelos “escritores criminais”, como Allan Poe, Conan Doyle. Assim como esta,

a cidade parece feita para o crime.31

A disposição do mobiliário da casa se assemelha a

disposição das ruas. Em uma perfeita dinâmica para emboscada, elas se fecham em

becos escuros e sujos, onde mocinhas indefesas resolvem caminhar durante a noite. É

uma “cidade armadilha”. O Asilo Arkham que abriga todos os bandidos psicóticos fica

logo ali, nas redondezas e um simples parque de diversão abandonado vira uma arma

mortal.32

28 MOORE, Alan; BOLLAND, Brian, HIGGINS, John. Op. Cit. p. 14 (Figura 6)

29 MILLER, Frank, JANSON, Klaus e VARLEY, Lynn. Batman – O cavaleiro das trevas. Vol.

1. História em quadrinhos. São Paulo: ed. Abril, 1987.

30 BATMAN. Direção: Tim Burton.

31 BENJAMIN, Walter; BARBOSA, Jose Carlos Martins. Rua de mão única. 5. ed. São Paulo:

Brasiliense, 1995. p. 14-15

32 MOORE, Alan; BOLLAND, Brian, HIGGINS, John. Op. Cit.

11

Essa cidade é carregada de elementos de diversas outras em diversas épocas. A

maneira como segrega os mais pobres, operários, prostitutas, parece com Londres do

século XIX.33

Semelhante a essa, Gotham também possui seu “East end”.34

Mas aqui

seu elo de ligação temporária a “West end” não é o metrô. É Batman. Criatura que

circula por esses dois mundos, mas que diferente dos operários, que trabalhavam

durante o dia e voltavam para a “periferia” pela noite, Batman trabalha durante a noite.

Em certos aspectos eu vejo na cidade fictícia a Paris no mesmo século. Com

suas avenidas largas, que evitariam a possibilidade de as pessoas se aglomerarem e

promoverem barricadas ou trancarem as ruas.35

Essas avenidas privilegiam o corpo

individual em movimento, a velocidade. Ao mesmo tempo em que quem assiste os

pronunciamentos do prefeito faz parte, de certa forma, de uma “massa individual”. As

pessoas não param para conversar com um estranho em Gotham, nem para socializar em

espaços de lazer. Só se fala com o outro para perguntar preços ou proferir críticas aos

atos do homem fantasiado de morcego.

Seus prédios são tão altos quanto os de Nova York no inicio do século XX.

Possibilitando a uma elite que se posicione a cima de todo o lixo da cidade. Eles

ignoram a escória, fazem questão de ficar literalmente a cima, bem longe do burburinho

do lugar.

Misturando tantos elementos a catástrofe de Gotham vai se amontoando. A

cidade faz suas vítimas independe de classe social ou profissão. Alimentada pelo

trauma, ela consome seus moradores. Do menino rico a secretária solitária, pegando até

mesmo o promotor público...

Referências

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e

história da cultura. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

__________. BOLLE, Willi; TIEDEMANN, Rolf. Passagens. Belo Horizonte: Ed. da

UFMG; São

Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.

33 SENNETT, Richard. Carne e pedra: o corpo e a cidade na civilização ocidental. 2. ed. Rio de

Janeiro: Record, 2001. p. 272

34 MILLER, Frank; MAZZUCCHELLI, David. Capítulo um: quem sou eu e como vim a ser. Op.

Cit. p. 10

35 SENNETT, Richard. Op. Cit.

12

__________. BARBOSA, Jose Carlos Martins. Rua de mão única. 5. ed. São Paulo:

Brasiliense,

1995.

GAGNEBIN, Jeanne-Marie,. História e narração em Walter Benjamin. 2. ed. São

Paulo: Perspectiva, 1999.

VARGAS, Alexandre Link. A morte do homem no morcego. SC, 2007, 132f.

(Dissertação de Mestrado). Pós-Graduação em Ciências da Linguagem, UNISUL.

SENNETT, Richard. Carne e pedra: o corpo e a cidade na civilização ocidental. 2. ed.

Rio de Janeiro: Record, 2001.

Informações de internet

http://pt.wikipedia.org/wiki/Batman acessado 14/11/2010 as 14:10h

http://en.wikipedia.org/wiki/Gotham_City acessado 16/11/2010 as 23:45

http://www.entrecomics.com/ acessado 16/11/2010 as 23:45

Histórias em Quadrinhos

MILLER, Frank. O cavaleiro das trevas. História em quadrinhos (4 vol.). São Paulo:

ed.

Abril, 1997.

MILLER, Frank; MAZZUCCHELLI, David. Batman: Ano um. História em

quadrinhos. São

Paulo: ed. Abril, 2002.

MOORE, Alan; BOLLAND, Brian. A piada mortal. História em quadrinhos. São

Paulo: ed.

Abril, 1999.

MORRISON, Grant; MCKEAN, Dave. Asilo Arkham. História em quadrinhos. São

Paulo:

Panini comics, 2003.

Filmografia

BURTON, Tim. Batman – edição especial. [DVD]. Warner home video, 2005.

____________. Batman o retorno – edição especial. [DVD]. Warner home video,

2005.

NOLAN, Christopher. Batman begins – edição especial. [DVD]. Warner home video,

2005.

13

________. Batman: O cavaleiro das trevas – edição especial [DVD]. Warner home

video, 2008.

SMITH, Steven. Batman desmascarado: A psicologia do cavaleiro das trevas. History

Chanel, 2008

Anexo I – Figuras

14

Figura 1

Figura 2

15

Figura 3

16

Figura 4

17

Figura 5

18

Anexo II – Panorama de Gotham

Figura 6

19

Batman (1989) Batman: O retorno (1992)

Mapa da Cidade

20

Batman Begins (2005) Batman Begins (2005)

Batman - Ano Um

21

Asilo Arkham

Piada Mortal

Asilo Arkham

22

______________________________________________________________________

Relato Material Didático: Santa Catarina para Terceirão.

Michelle Martins de Oliveira¹1

Os vestibulares das universidades catarinenses têm costumeiramente feito

perguntas relacionadas aos últimos acontecimentos referentes ao nosso estado. Dentre

os fatos mais importantes do fim da década de 2000 e início da década de 2010 estão os

deslizamentos e mais recentemente o processo erosivo que a Praia da Armação –

Florianópolis sofreu. Para estimular a preocupação com o meio ambiente, além de

ajudar com o vestibular e ajudar nos estudos do terceirão nós do PET-Geografia fizemos

um apanhado com questões pontuais dos últimos acontecimentos catarinenses mais

comentados. Além de toda a preocupação com os últimos fatos no nosso estado fizemos

alguns mapas atrativos para facilitar a percepção da regionalização de fatores humanos e

físicos de Santa Catarina. Buscando auxiliar os alunos para as provas que poderão

decidir seus caminhos acadêmicos também buscamos despertar a valorização do curso

de geografia ainda dentro de um colégio no qual o ensino das geociências ainda

encontra-se em dissonância com a nossa realidade que se mostra cada vez mais

dinâmica. Esperamos que nosso trabalho seja incorporado e sirva de estímulo tanto aos

professores quanto aos alunos do colégio Leonor de Barros onde tal material, e os

demais que serão produzidos serão aplicados.

Relato do projeto de educação ambiental na Ucrânia

Paula Carvalho de Castro2

1 Bolsista PET-Geografia

2 Bolsista PET-Geografia

Batman - Ano um

23

PET- Indica

Livro:Labyrinth - Kate Mosse 2005.

Os símbolos de uma cidade são construídos quando seus objetos

perdem suas funções práticas iniciais, mas permanecem com valor

simbólico cuja riqueza imaterial transcende a importância de

funcionalidade. O livro Layrinthy de Kate Mosse pinta a

importância desses símbolos para a comunicação, e mostra um

pouco do quanto se perde por acreditar que apenas os nossos

símbolos são dotados de cientificidade, de uma inteligência

superior em relação aos nossos antepassados. O livro retrata uma

França medieval e uma atual, mostrando contrastes e aproximações

dos dois tempos.

Filme: Salade Russes – 1993

Um pouco de como foi à sociedade russa em transição do

socialismo para o capitalismo. Russos indo de encontro à França,

por um portal, invadem a casa de uma francesa, que também acaba

conhecendo um pouco de São Petersburgo-Rússia. Salada russa em

Paris ou Janela para Paris é um excelente filme recheado de humor

inteligente que estampa muitos contrastes sociais e políticos além

de nos agraciar com belíssimas músicas. Além de colocar o

patriotismo em evidencia e a luta por uma nação melhor, também

nos encanta por colocar a educação das crianças como chave para

um futuro melhor, como no discurso emocionante do professor de

música: “Nascemos num lugar e numa época errados, vivemos num

país pobre, mas se não estivermos lá não vamos conseguir fazer

nada pra mudar isso”. É uma obra com densidade histórica e

misturas intelectuais fascinantes.

Filme: Kirikou et la sorcière - 1998

A História é baseada em uma lenda da África Ocidental. Um

menino que nasce falante e sem ajuda de médicos, o qual enfrenta

tudo e todos, inclusive a Karabá (feiticeira), mas sem querer

machucar. Ele “esvazia” o mal, e quer entender o porquê das

mazelas sociais. Com muita curiosidade o valente garoto salva

crianças, esquilos e até a própria feiticeira do mal. Uma animação

riquíssima de detalhes culturais africanos, tal como canções em

seus rituais, como de morte, e de vitória. Mostra uma natureza

diferente, nada harmônica. Aliás, essa natureza serve para

propósitos humanos e o homem tornar-se objeto de controle, e para

controle.

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Eventos

XIX Encontro Nacional dos Estudantes de Geografia (XIX ENEG)

6 a 12 de fevereiro, Vitória, ES

VII Congresso Internacional GEOMATICA

7 a 11 de fevereiro, Havana, Cuba

IAG/AIG Regional Conference on Geomorphology: Geomorphology for Human

Adaptation to Changing Tropical Environments

18-22 fevereiro, Addis Ababa, Etiópia

XI Encontro Nacional de Práticas de Ensino de Geografia – ENPEG

Goiânia-GO

17 a 21 de abril de 2011

Evento: 1st Conference on Spatial Statistics - Mapping Global Change

University of Twente, Enschede, The Netherlands

23 a 25 Março de 2011