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Ano II – número 15 – outubro e novembro/2007 1 http://sisejuferj.org.br

Ano II – número 15 – outubro e novembro/2007...tas “se licham” para o que diz a Bíblia. “Não matarás”, é o que diz um dos 10 Mandamen-tos, e note que não existe vírgula

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Í N D I C E

EditorialO Sisejufe, no final de 2007, estáatento para que não passemos maisum ano sem o pagamento dos pas-sivos.Página 4

Cartas de LeitorOpiniões, sugestões e críticas. Saiba oque pensam alguns dos nossos leitores.Página 5

SindicaisAqui você vai encontrar novidades sobre o PL319, os novos requerimentos do Sisejufe aoTRE e o preocupante silêncio do TRT diantedos questionamentos do sindicato.Página 6

Dicas CulturaisTeatro, esculturas portuguesas, umlivro sobre a Revolução Russa e umaexcelente alternativa para quemquer ouvir o bom e velho samba.Página 10

Oficina LiteráriaMarlene de Lima conta a história deum amor que não conhece idade.Página 11

Justiça do TrabalhoAo chamar a FGV para preparar o seuplano de gestão de pessoal, o TRTentrega ao lobo a guarda das ovelhas.Nós explicamos por quê.Página 12

EntrevistaOs fotojornalistas Vinícius Souza e Ma-ria Eugênia Sá estão lançando o video-documentário América Minada. Nestaentrevista, Vinícius conta por que a Co-lômbia tornou-se a líder mundial em ví-timas de minas antipessoais.Páginas 21, 22 e 23

Reforma AgráriaMesmo depois do assassinato de sem-terra no Paraná e da agressão a uma tra-balhadora rural, uma juíza mandou sol-tar os suspeitos.Página 20

Teia de IdéiasO cantor e compositor Zeca Baleiro questio-na por que certos cidadãos só vêm a públicomostrar revolta quando são roubados.Páginas 18 e 19

InternacionalSegundo a OIT, mais de 3 milhões decrianças mexicanas são usadas comoforça de trabalho. Detalhes no arti-go de Mário Augusto Jakobskind.Página 24

Nossa HistóriaNo terceiro artigo da séria sobrea trajetória do sindicalismo bra-sileiro, Helder Molina avalia a or-ganização dos trabalhadores en-tre 1945 e 1964.Página Central

NacionalO Ceará foi o primeiro estado a abo-lir a escravidão, anos antes da LeiÁurea. O caso é narrado pelo profes-sor Ernesto Germano Parés.Página 25

MulheresMales típicos da cultura ocidental, a ano-rexia e a bulimia vitimam cada vez maisjovens no Brasil. Veja na matéria de Bian-ca Rocha.Página 26

CulturaComo foi o último Botequim, os prepara-tivos para o próximo Sarau Judicial Cool ea defesa do Sisejufe ao livro acessível.Página 28

JustiçaMax Leone mostra que a corregedo-ria do CNJ começa a funcionar comoum canal para o tão esperado con-trole externo do Poder Judiciário.Página 7

SindicaisA atuação do Sisejufe antes e duran-te a última reunião do CJF garantiunovas conquistas para a categoria.Páginas 8 e 9

NacionalMais de 3,7 milhões de brasileirosvotaram no plebiscito popular queoptou pela retomada da CompanhiaVale do Rio Doce.Página 13

Outra HistóriaNum texto em homenagem aos 90anos da Revolução Russa, Roberto Pon-ciano discute os mitos ocidentais quetentam minimizar a participação dossoviéticos na Segunda Grande Guerra.Páginas 14 e 15

MulheresA psicóloga Patrícia Abel Balestrin mos-tra que machismo e feminismo não sãoconceitos antagônicos. Na verdade, umacoisa não tem nada a ver com a outra.Página 27

Fulgêncio Pedra BrancaNosso colaborador volta a atacar e disparasua metralhadora verbal contra as recei-tas da elite para controlar a criminalidade.Página 29

LatuffO cartunista, que desperta amores e ódiosem função de seu traço nada convencional,critica a ação de Tio Sam pelo mundo.Página 30

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OOEditorial Envie seu comentário para o e-mail [email protected]

DIRETORIA: André Gustavo Souza Silveira da Silva, David Batista Cordeiro da Silva, Dulavim de Oliveira Lima Júnior, Flávio Braga Prieto da Silva, JoãoRonaldo Mac-Cormick da Costa, Leonor da Silva Mendonça, Lucilene Lima Araújo de Jesus, Márcio de Souza Marques, Nilton Alves Pinheiro, Otton Cid daConceição, Renato Gonçalves da Silva, Ricardo de Azevedo Soares, Roberto Ponciano Gomes de Souza Júnior e Valter Nogueira Alves.

Filiado à FENAJUFE e à CUT

SEDE: Avenida Presidente Vargas 509, 11º andar – Centro – Rio de Janeiro-RJ – CEP 20071-003TEL./FAX: (21) 2215-2443 – PORTAL: http://sisejuferj.org.brENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected]

IDÉIAS EM REVISTA – REDAÇÃO: Henri Figueiredo (MTb 3953/RS) – Max Leone (MTb 18.091) – Bianca Rocha (Estagiária de Jornalismo)PROJETO GRÁFICO ORIGINAL: Claudio Camillo (Mtb 20.478) – DIAGRAMAÇÃO: Deisedóris de Carvalho – ILUSTRAÇÃO: LatuffASSESSORIA POLÍTICA – Márcia BauerCONSELHO EDITORIAL – Roberto Ponciano, João Mac-Cormick, Henri Figueiredo, Max Leone, Márcia Bauer, Valter Nogueira Alves, Nilton Pinheiro.IMPRESSÃO: PALAVRAS PINTADAS Editora e Gráfica Ltda. (7.500 exemplares)

Impresso emPapel Reciclato

As matérias assinadas são de responsabilidade exclusiva dos autores. As cartas de leitor estão sujeitas a edição por questões deespaço. Demais colaborações devem ser enviadas em até 2 mil caracteres e a publicação está sujeita a aprovação do Conselho Editorial.Todos os textos podem ser reproduzidos desde que citada a fonte.

O Sisejufe, no final de 2007, está atento paraque não passemos mais um ano sem o paga-mento dos passivos. Decisões favoráveis noConselho da Justiça Federal (CJF), pedidos en-caminhados ao Tribunal Regional Eleitoral(TRE) e ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT)e informações sobre sobras orçamentárias nosdeixam confiantes de que neste ano o Judiciá-rio conseguirá saldar, ao menos em parte, a dí-vida que tem com a categoria. Isso mostra queo sindicato não luta pelos direitos dos servido-res apenas quando há campanha salarial.

Acompanhamos também a aprovação naComissão de Trabalho, Administração e Servi-ço Público (CTASP) da Câmara o Projeto de Lei319. Ainda que ele tenha sido deturpado pelasemendas, trará de volta o quadro único e o adi-cional de 5% dos técnicos. Todas estas lutasvocê confere nesta edição.

Você vai encontrar aqui o resultado do ple-biscito nacional pela retomada da CompanhiaVale do Rio Doce, do qual o Sisejufe fez parte, ever que mais de 93% dos votantes acham que oBrasil fez mal negócio em entregar o patrimô-

nio público de mão beijada à iniciativa privada.O leitor de Idéias também encontra nesta dé-cima quinta edição, a continuação da série deHelder Molina sobre o sindicalismo brasileiro.O historiador analisa, neste artigo, o períodovivido pelo movimento sindical no início daGuerra Fria.

Entrando de vez na polêmica sobre a perti-nência de se chamar o “capitão Nascimento”para resolver à bala o problema da criminalida-de, reproduzimos o texto lúcido do cantor ecompositor Zeca Baleiro e o sarcasmo do fiel co-laborador Fulgêncio Pedra Branca – que ironizasecretário de Estado, prefeito e governador.

Do México ao Brasil, passando pela Colôm-bia líder mundial em minas terrestres, as pági-nas de Idéias apresentam um panorama nadaanimador da situação das crianças, adolescen-tes, sem-terra e populações que convivem coma luta armada na América Latina. Acreditamos,porém, como diz o entrevistado desta edição,que com a denúncia dessas mazelas estejamoscolaborando um pouco para a mudança efeti-va dessa triste realidade. Uma boa leitura!

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Cartas de leitorTremores na JF da Venezuela

Sou funcionária da Justiça Federal e trabalho noprédio que apresenta tremores (isso mesmo, apre-senta porque os tremores são constantes). Lendo amatéria publicada na Idéias de setembro resolvi rela-tar o que vem acontecendo aqui. Os tremores não serestringiram aos dias 27 e 28 de agosto. Eles conti-nuam ocorrendo até o dia de hoje, diariamente. Mó-veis e objetos (como estantes e monitores) trememconstantemente. Há rachaduras nos corredores, nosbanheiros públicos, nas escadas. O que eu não con-sigo entender é o porquê de não se tomar nenhumaprovidência diante disso. Não nos sentimos segurosaqui diante do boletim da Defesa Civil que foi dispo-nibilizado pela Justiça Federal. (...) Nada é conclusivono boletim. Verifica-se no boletim que tudo é “apa-rente” ou “aparentemente”. A vistoria foi realizadaem “alguns pavimentos”. Como, diante de um prédioque apresentou tremores, a segurança é garantidadiante de um laudo onde somente alguns pavimen-tos são vistoriados? (...) Estamos sendo tratados comtotal desconsideração pelas autoridades administra-tivas da Justiça Federal. Estamos sendo obrigados atrabalhar com muito medo e num prédio que, a des-peito do que está sendo divulgado, treme cada diamais. (...) Eu tenho observado que muitos funcionári-os que estão em pânico não querem se manifestarpor medo de represálias. (...) Gostaria somente depedir, se for possível, sigilo quanto ao meu nome.

Servidora da Justiça Federal da avenida Venezuela

Contra a legalização do aborto

“Não matarás”. “A religião é o ópio dopovo”. Com estas duas frases quero iniciar aexplanação de minha idéia a respeito da le-galização do aborto. O PT é um partido comidéias socialistas, e sabemos que os socialis-tas “se licham” para o que diz a Bíblia. “Nãomatarás”, é o que diz um dos 10 Mandamen-tos, e note que não existe vírgula e sim pon-to final. Não há abertura para que se aceiteo aborto se olharmos à luz da Bíblia. “A reli-gião é o ópio do povo”, palavras de KarlMarx, comunista que não tinha amor ne-nhum pelo ser humano, portanto aquelesque apóiam o aborto, seguem os mesmosideais de Karl Marx, pouco pensam na vidaque está sendo gerada no ventre de umamãe. Não se justifica, em hipótese nenhuma,matar uma vida já formada. Deus age tantona paciência com o homem como tambémna sua forma de aplicar o seu juízo contraaquele que “mata”, ou melhor “que aborta”.O mesmo argumento é usado por aqueles

que querem a liberação da maconha, são osmesmos dos que querem legalizar o aborto.“Problema de Saúde Pública”.

Pensem...José Carlos – Justiça Federal

– José Carlos, devagar com o an-dor... aí vai a famosa frase de Marx, em seu con-texto: “O sofrimento religioso é, a um único emesmo tempo, a expressão do sofrimento real eum protesto contra o sofrimento real. A religiãoé o suspiro da criatura oprimida, o coração deum mundo sem coração e a alma de condiçõesdesalmadas. É o ópio do povo.” Há, pelo mun-do, vários socialistas cristãos e o sindicato enossa revista não se filiam a nenhuma corren-te política-partidária. O importante na maté-ria da edição passada sobre a legalização doaborto é o alerta para o fato de que o abortocriminalizado e clandestino já é a quarta cau-sa de mortalidade materna no Brasil. Os da-dos são do SUS, que atende 250 mil brasilei-ras por ano com infecções e hemorragias emdecorrência de abortos mal-feitos.

Novas Varas Federais

Excelente a reportagem sobre as PECs 2/2003 e 54/1999 da edição de setembro daIdéias. Porém, não li nenhuma linha a res-peito do PL 5859/2005 (criação de 230 VFs),cujo andamento na Câmara caminha a pas-sos pra lá de lentos. Gostaria que o sindica-to se posicionasse a respeito deste PL e pas-sasse a cobrar maiores esforços de nossosdeputados com vistas à sua aprovação. Estetema é de interesse, senão direto, ao menosindireto, do sindicato e dos servidores da JF,pois a criação da VFs e, conseqüentemente,dos cargos efetivos é de suma importânciapara a melhoria do trabalho e desafogamen-to do Judiciário.

Maria Moreno

– Obrigado pela sugestão de pau-ta. Nas próximas edições de Idéias e do jornalContraponto, do Sisejufe, vamos tratar do Pro-jeto de Lei 5859/2005.

Idéias não cansa

Quando a gente não gosta, a gente reclama. Mas o que é bom tem

de ser reconhecido. Nem é a primeira vez que eu elogio a Idéias em

Revista. Mas não me canso mesmo. Vocês acertaram em cheio, e acer-

tam cada vez mais. As matérias estão ótimas, concisas, instigantes. A

edição é muito bem feita, está bem diagramada, tem bastante ilustra-

ção e muita informação também. Os idealizadores e produtores da

revista estão fazendo um trabalho excelente. Dá gosto ler a revista. Eu

tenho visto as pessoas muito interessadas por ela, inclusive debatendo

os assuntos. Parabéns, mais uma vez!Tereza Cardoso

TRF2 – Centro Cultural

Apoio à Polícia Judiciária

Gostaria de parabenizar o Sisejufe pelo apoio dado à criação da

Polícia Judiciária. Infelizmente, ainda não faço parte do quadro de

servidores da Justiça Federal, mas quero relatar que, desde 2004,

venho prestando concurso. Em 2004 fui aprovado em um cadastro

de reserva para o cargo de técnico judiciário na especialidade Segu-

rança e Transporte. Ao final da validade, não fui convocado. Agora,

em 2007, obtive êxito e estou indo para a 2ª fase (teste físico). Espero

que esse sindicato consiga fazer valer o que reza a Lei Maior, fazendo

com que os terceirizados, adidos, cedidos de outros orgãos, dêem

lugar aos que buscam o serviço público através de concurso.

Marcelo Borges

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Sindicais Projeto acolheu um retrocesso nos tribunais superiores

O PL 319/07 foi aprovado na Comis-são do Trabalho, Administração e Ser-viço Público (CTASP) da Câmara no dia10 de outubro. O projeto unifica a car-reira judiciária (mantidos os três car-gos) e a define como exclusiva de Esta-do. Além disso, retoma o Adicional deQualificação (5%) por formação supe-rior aos técnicos judiciários (não foramincluídos os auxiliares judiciários). Asemendas apresentadas pelo relatorRodrigo Maia (DEM-RJ) foram acolhi-das pelo autor do substitutivo, SandroMabel (PR-GO). Elas garantem a redis-tribuição em todo o Judiciário Federal(não por ramo, como na remoção).

O projeto todavia acolheu um re-trocesso, verdadeiro “trem da alegria”,ao liberar a ocupação por extraquadrosde cargos comissionados nos gabine-

PL 319 é aprovado na CTASPtes dos ministros dos tribunais supe-riores, e ainda os aumentou para 55%(na lei atual é 50%) nas secretarias dosmesmos tribunais (nos regionais per-manecem os 50%). O substitutivo tam-bém manteve o pagamento da GAJpara servidores cedidos a outros ór-gãos que não do Judiciário Federal.

O avanço na aprovação do PL 319foi explicitar a retroatividade a junhode 2006 do Adicional de Qualificaçãopor graduação superior aos técnicosjudiciários.

Apesar das ressalvas (CJs nos gabi-netes dos tribunais superiores e aindaa não-inclusão dos auxiliares), o textoatende à reivindicação dos servidoresde recolocação de pontos vetados nalei do PCS. Outro item que estava no

PCS, e que foi derrubado por vontadedo Executivo, previa a criação do qua-dro único, ou seja, o servidor poderiatransferir-se entre as Justiças – do TREpara o TRT, por exemplo. No atual PCS,80% das vagas das funções comissio-nadas e 50% dos cargos em comissãodo Judiciário são destinadas a funcio-nários do quadro. Com a emenda pro-posta pelo STF, esse limite termina emtodos os tribunais superiores.

Com o substitutivo, abrem-se as por-tas para o nepotismo e o favorecimentopolítico dentro do Judiciário Federal. OSisejufe acha que isso é um retrocesso eluta junto com a Fenajufe para anulaçãodo substitutivo, combatendo o “trem daalegria”, para que alcancemos a totali-dade dos cargos comissionados para osservidores concursados.

Em outubro, o Siseju-fe enviou ao TRE dois ofí-cios buscando informa-ções sobre a futura mu-dança de endereço para aCentral do Brasil e sobreo pagamento da Progres-são Funcional, retroativaa dezembro de 2006. Nosdocumentos encaminha-dos ao desembargadorRoberto Wilder, presiden-te do TRE, o sindicato in-forma que vem acompa-nhando os procedimen-tos de regulamentação doPCS em todos os tribuanise, em função disto, requer

Sisejufe enviapedidos ao TRE

informações sobre o paga-mento da Progressão Fun-cional, retroativo a dezem-bro de 2006, conformeaprovação da Lei n°11.416/06 e pela Resolu-ção n° 22.581 de 30/08/2007. O Sisejufe tambémformaliza ao tribunal odescontentamento dosservidores com relação apossível mudança de ende-reço, já que provável loca-lização, na Central do Bra-sil, tem segurança precáriae não dispõe de estabeleci-mentos de serviços, comorestaurantes, por exemplo.

O descaso do TRT paraquestão dos passivos dosfuncionários fica expressopelo silêncio em responderaos questionamentos e pe-didos do sindicato acerca dopagamento da URV e dosquintos. Em outubro, o sin-dicato protocolou o ofício373, em forma de pedidoadministrativo para que oTRT se posicionasse em fa-vor da preferência no paga-mento de passivos para osservidores, diante da possi-bilidade de se pagar com an-terioridade o recente passi-vo criado para os magistra-dos pelo julgamento do CNJ.Um ofício identificado foiprotocolado no TRF, encami-nhado para o CJF e votado naúltima reunião do órgão. Já

O silêncio do TRTno caso do TRT o silêncio foia resposta. Reiterando o pe-dido o sindicato protocoloumais dois pedidos, o primei-ro sobre as sobras orçamen-tárias para o pagamento dosQuintos e o segundo reite-rando o pedido do pagamen-to dos 11,98%. Se o TRT nãoquer tomar uma decisão arespeito, que remeta aoCSJT ou negue o pedido paraque o sindicato recorra. Otribunal não pode protelara decisão e, no apagar dasluzes, usar as sobras orça-mentárias para pagamentosde magistrados ou devolvê-las para a União, criandonovos passivos. O sindicatovai lutar até o fim para queparte dos passivos seja qui-tada este ano.

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*Da Redação.

Justiça Corregedoria permite que a sociedade reclame de magistrados

CNJ ensaia controle externoMax Leone*

controle externo do Poder Judi-ciário sempre foi tratado com cer-ta reserva no Brasil. Mas nos últi-mos dois anos, após a implanta-ção do Conselho Nacional de Jus-

tiça (CNJ), a sociedade assistiu, na avalia-ção de especialistas, ao nascimento deum canal que exercesse a função de coi-bir excessos cometidos por magistradosna hora de proferir uma sentença. O atu-al corregedor do CNJ, ministro Cesar As-for Rocha, tem a clareza de que a conso-lidação do conselho como um órgão con-trolador do Judiciário permitirá aos ci-dadãos que se manifestem quando sesentirem prejudicados com o resultadode um julgamento.

Essa seria, então, a explicação para ocrescimento do número de representa-ções contra juízes no conselho nos últi-mos meses. De 28 de janeiro de desteano até hoje, quando foi implantado oprocesso eletrônico no CNJ, foram autu-ados 1.339 processos na Corregedoria.Isso representa 62,33% do total de pro-cessos autuados em todo o CNJ no mes-mo período (2.148) em todo o país.

“Há uma série de fatores que expli-cam o aumento de representações. Umdeles é a consolidação do Conselho Na-cional de Justiça como órgão de contro-le do Poder Judiciário, graças a divulga-ção dos atos do CNJ pela mídia”, avalia ocorregedor.

O advogado constitucionalista Ronal-do Cramer, conselheiro da Ordem dosAdvogados do Brasil (OAB-RJ), considerapositiva a atuação do CNJ no que diz res-peito ao controle do Poder Judiciário.Segundo Cramer, em um regime demo-crático, como o vivido no país, nada maissalutar que um órgão alheio ao dia-a-diados juízes para exercer esse papel funda-mental. Ele lembra que, normalmente, ocontrole era feito pelos próprios tribu-nais onde os magistrados atuam.

Asfor Rocha: prazos longos entreos principais problemas

“O controle externo é positivo. Eleinibi desvios de condutas e abusos depoder, de arbítrio. Vai punir os casos demaus juizes, que na minha avaliação, sãoexceções. Isso acaba incentivando aspessoas a fazerem as representações.Elas perdem o medo de sofrerem retalia-ções”, afirma o conselheiro da OAB-RJ.

O corregedor do CNJ, ministro CesarAsfor Rocha, revela que o que mais a so-ciedade reclama dos magistrados é o ex-cesso de prazo que se dá para julgar umacausa, além da questão disciplinar. Mas,Rocha ressalva que é preciso ter cuidadocom as representações por demora nojulgamento:

“Muitas vezes, o que se tenta é con-seguir prioridade no julgamento, não secaracterizando excesso injustificado deprazo. Há que se ter em mente, também,o enorme volume de processos que osjuizes recebem”, pondera.

Para o conselheiro da OAB-RJ Ronal-do Cramer, o grande volume de proces-sos que chegam diariamente aos tribu-nais é motivado pela tendência de tudono país ser resolvido na Justiça.

“Por isso é que bom ter o controle externodo Judiciário. No sistema democrático muitacoisa acaba parando na Justiça para ser re-volvida. Evita os excessos”, comenta.

Como reclamar de um juiz

Sobre as penas a que os magistradosestão sujeitos, o corregedor explica quea punição máxima para o juiz em um pro-cesso disciplinar é a aposentadoria com-pulsória, segundo a Lei Orgânica da Ma-gistratura (Loman). Já as disciplinares são:advertência, censura, remoção compul-sória, disponibilidade com vencimentosproporcionais ao tempo de serviço, apo-sentadoria compulsória com vencimen-tos proporcionais ao tempo de serviço.

O corregedor do conselho orientacomo o cidadão pode reclamar de umjuiz, caso se sinta prejudicado com umprocedimento do magistrado. SegundoCesar Asfor Rocha, no próprio site doConselho Nacional de Justiça (cnj.gov.br)podem ser encontrados os modelos derepresentação disciplinar (RD) e de re-presentação por excesso de prazo (REP).

“Os modelos devem ser impressos,preenchidos, assinados, postados, viacorreio, para o endereço do Protocolodo CNJ. A representação pode ser envia-da por fax, mas, neste caso, o reclaman-te deverá encaminhar num prazo de cin-co dias os originais pelo correio, con-forme determina a Lei 9.800/99”, explicaRocha.

Asfor Rocha ressalta que ainda não sãoaceitas representações feitas por e-mail,em razão da inexistência de previsão re-gimental. Mas ele afirma que está emcurso o desenvolvimento de uma ferra-menta que possibilitará a interposiçãoonline, mediante cadastro prévio. O cor-regedor do CNJ acredita que após a con-solidação, o conselho se voltará mais paracumprir seu principal papel, o de estabe-lecer estratégias para o Judiciário.

“É preciso idealizar condutas e proce-dimentos que possam melhorar cada vezmais a atuação do CNJ”, diz o corregedor.

O

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CJF aprova novas conquistas para servidores

Ação política: Valter Nogueira, desembargador Castro Aguiar, Otton Cid e Roberto Ponciano

Foto: Bianca Rocha

Os diretores do Sisejufe ValterNogueira Alves e Roberto Poncia-no compareceram à reunião doConselho da Justiça Federal (CJF)que ocorreu na manhã de segun-da-feira, 29 de outubro, no HotelSofitel em Copacabana. Várias

questões importantes para os ser-vidores do Judiciário Federal fo-ram discutidas nessa reunião. Al-gumas das decisões tomadas ad-vieram de pedidos administrativosformulados pelo Sisejufe, quetambém fez o acompanhamento

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O pedido de consulta do presiden-te do TRF, Castro Aguiar, para a regu-lamentação de horário e jornada detrabalho suscitou esse debate no CJF.Hoje, no Rio, o horário de funciona-mento é de 11h às 19h e o de atendi-mento ao público de 12h às 18h. Odesembargador Castro Aguiar tinha ointuito de alterar o horário de funcio-namento do TRF para o período de 10hàs 18h. Em virtude dessa consulta, orelator do pedido, ministro do STJ Gil-son Dipp, resolveu regulamentar ohorário de funcionamento da JustiçaFederal de 1º e 2º Graus para todo opaís. Dipp determinou que, num pra-zo de 30 dias, toda a Justiça Federal de1º e 2º Graus tenha, no mínimo, 8 ho-ras diárias de atendimento ao públi-

co. Os tribunais terão a liberdade defixar a jornada de trabalho de seus ser-vidores entre 6 e 8 horas conformedetermina a Lei 8.112/90. O Sisejufe,pioneiro na discussão da redução dajornada para 6 horas, já tinha pleitea-do ao presidente do TRF-2 Castro Agui-ar a redução da carga horária. Na oca-sião, o sindicato foi informado que aposição dos presidentes dos TRFsera de regulamentar a jornada em 8horas de trabalho mais uma hora dealmoço. Diante dos argumentos dosindicato de que a jornada costumei-ra é de 7 horas seguidas, ou de 7 maisuma de almoço, e que o aumento detrabalho causaria transtornos na vidado funcionalismo, o presidente doTRF-2 comprometeu-se a defender a

Horário de atendimento ao público dos TRFs passa a serde, no mínimo, 8 horas contínuas. Jornada de trabalho,porém, pode ser flexibilizada para 6 horas

flexibilização para 7 horas. O sindi-cato também levou ao presidente aproblemática criada com a implan-tação do processo virtual – o que le-vou os servidores a desempenharfunções análogas a de digitadores,com a ocorrência de LER-Dort eoutras doenças ocupacionais. Opresidente do TRF -2 também secomprometeu a defender as 6 ho-ras neste caso específico. Com adecisão do CJF, no dia 29 de outu-tbro, o Sisejufe vai reforçar juntoao TRF-2 a necessidade da adoçãoda jornada de 6 horas com doisturnos – o que, inclusive, poderáampliar o horário de atendimentoao público para além das 8 horasdiárias mínimas.

político junto ao presidente doTribunal Regional Federal (TRF) da2° Região, desembargador CastroAguiar, para garantir que os pro-jetos fossem pautados e votados.Veja abaixo os principais pontosda reunião.

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Ano II – número 15 – outubro e novembro/2007 9http://sisejuferj.org.br

Ao final da sessão do CJF, na ma-nhã de segunda, 29 de outubro, no Riode Janeiro, o presidente do conselho,ministro Gomes de Barros solicitou asaída dos demais para que os mem-bros do conselho deliberassem emsessão reservada. A deliberação foiacerca do requerimento do Sisejufepara se dar preferência nos pagamen-tos dos passivos aos servidores – deacordo com o critério da anteriorieda-de do crédito. Diante de duas possibi-lidades, a primeira que o Sisejufe re-puta imoral – de pagar o novo passivode Adicional de Tempo de Serviço dosmagistrados em detrimento dos pas-sivos dos servidores – e a segunda, demanter a preferência legal pagando ospassivos mais antigos, o CJF optou poruma terceira via: vai pagar os passivos

“eqüitativamente”. Uma parte do pas-sivo dos servidores e outra parte dospassivos dos juízes. Os valores a serempagos serão definidos na próxima reu-nião do conselho de administração doSTJ, que verificará a quantidade doscréditos orçamentários disponíveispara pagamento de passivos e aplica-rá proporcionalmente os pagamentosdos passivos de servidores e juízes. Osindicato considera que esta não foi asolução mais adequada para o proble-ma já que não pedimos privilégio, masapenas a execução cronológica dospassivos. Ainda que os servidores ga-rantam parte dos seus pagamentoseste ano, fica claro que houve uma pre-ferência do pagamento dos passivosque foram admitidos há menos de ummês.

CJF acata em parte pedido do Riode pagamento dos passivoscom prioridade para os servidores

Um pedido formulado por servi-dora da Justiça Federal do Rio deJaneiro, de uniformização de pa-gamento dos Quintos, estava paraser apreciado há mais de dois anosno CJF.

O Sisejufe foi informado desterecurso recentemente pela própriaservidora e interveio junto ao pre-sidente do TRF-2 para que o pedi-do fosse pautado e para que o pre-sidente Castro Aguiar votasse a fa-vor dele. No cálculo/pagto dosQuintos dos TRFs da 1ª, 2ª, 4ª e 5ªRegiões os tribunais usaram um de-terminado valor de cálculo.

A Justiça Federal de 1ª Instânciado Rio e o TRF de São Paulo usaram

Servidores de 1ª Instânciaterão os Quintos corrigidos

outro fator, menor, no cálculo dosmesmos Quintos. Disso adveiouma distorção nos valores. Dianteda repercussão financeira que issoteria, o sindicato, em audiênciacom Castro Aguiar, solicitou queele pedisse urgência na apreciaçãodesse requerimento e que defen-desse a aplicação dos percentuaisadotados pelo TRF.

Depois da reunião com o Sise-jufe, o presidente Castro Aguiarpautou o pedido no CJF e ele foiaprovado por unanimidade. Assimsendo, os servidores da JF de 1ªInstância do Rio de Janeiro terãocorrigidos seus valores (a receberou já recebidos) a maior para seigualarem aos da 2ª Instância.

O pedido administrativo do Siseju-fe, formulado há mais de três anos, foifinalmente apreciado pelo CJF, e suaaprovação, por unanimidade, teráabrangência nacional. A regulamenta-ção ficou da seguinte maneira: o valordo Auxílio-creche será reajustado paraR$ 280 líquidos, maior valor nacional.Não será exigida a comprovação depagamento de creche, já que tal exi-gência privava os pais de recém-nasci-dos de receberem os valores gastoscom os cuidados com os filhos. O pra-zo máximo para o recebimento de va-lor será até os seis anos de idade dodependente, com flexibilidade caso acriança ainda não esteja na primeirasérie do Ensino Fundamental.

Aprovado aumento,uniformização e não-exigência de recibono Auxílio-creche

Ficou decidido na reuniãodo CJF no Rio, dia 29 de outu-bro, que o cargo de Oficial deGabinete será denominado deChefe de Gabinete.

O objetivo dessa mudançade nomenclatura não é poruma simples questão de sta-tus.

Com a mudança do nome,os atuais Oficiais de Gabineteterão reconhecida sua atribui-ção de chefia, sendo assim seussubstitutos poderão receber aFC5 durante as férias e impedi-mentos dos titulares.

Cargo de Oficialde Gabinetemuda de nome

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10 Ano II – número 15 – outubro e novembro/2007http://sisejuferj.org.br

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I SO Alienista

Lusa – a Matriz Portuguesa

A peça O Alienista está em cartaz no Teatro Ipanema até dia19 de novembro. O espetáculo revela ao público um dos maisimportantes autores da cultura nacional, Machado de Assis. Comroteiro e direção de Sady Bianchin, a história, passada em Ita-guaí, Rio de Janeiro, representa um mosaico de palavras, molda-

das em metáforas onde os personagens transmitem o olhar machadiano. O espetáculo é encenado pelo Grutacha(Grupo de Teatro das Faculdades Integradas Hélio Alonso) – único grupo de teatro universitário permanente do Riode Janeiro, que está completando 10 anos. O Teatro Ipanema, onde O Alienista está em cartaz todas as segundas-feiras, fica na Rua Prudente de Moraes, 824 – Ipanema. Os ingressos custam R$ 10, inteira, e R$ 5, meia entrada.

A exposição Lusa – a Matriz Portuguesa está emcartaz no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio deJaneiro apresentando 147 peças, trazidas de museusde Portugal, que ensinam sobre a cultura e a trajetó-ria daquele país dos tempos da pré-história à épocado descobrimento do Brasil. A mostra, que ocupa todoo prédio, inicia as comemorações dos 200 anos davinda da família real portuguesa ao Brasil. A exposi-ção enfoca a origem do povo luso, abordando os po-vos antigos, o domínio romano, as presenças cristã,judaica e árabe, o período de formação de suas fron-teiras chegando ao apogeu do país, com as grandes

Lançamentos da Boitempo: O Ano I da Revolução Russa, de Victor Serge e A ideologia alemã, de Karl Marx e Friedrich Engels

A aguardada edição de A ide-ologia alemã, foi traduzida pelaprimeira vez diretamente do ale-mão para o português. O livro éconsiderado a obra mais impor-tante de Marx e Engels e foiescrito entre os anos 1845 e1846. O texto é a primeira ex-posição estruturada da concep-ção materialista da história. Naobra existe uma crítica onde osdois filósofos ridicularizam oidealismo alemão e articulam

as categorias essenciais da dialética marxista (como tra-balho, modo de produção, forças produtivas, aliena-

Comuna do Semente

Toda quinta-feira tem samba de primeira na Lapa, na Comuna do Semente.Quem comanda a roda é o trio Roberta Nistra, Lúcio Sanfilippo e MarceloMatos, representantes da nova geração do samba carioca. A Comuna do Se-mente faz parte da história do samba da Lapa, berço de inúmeros grupos emúsicos incluindo nomes como Teresa Cristina e Armando Costa. A casa édecorada com exposições de artistas locais, tem capacidade para 80 pessoas efica na rua Joaquim Silva, 138, junto aos Arcos na Lapa. Maiores informaçõesno telefone (21) 2509-3591 ou (21) 9781-2451. O espaço funciona de domin-go a quinta-feira.

ção, consciência) constituindo um novo corpo teórico.O Ano I da Revolução Russa escrito pelo jornalista e

revolucionário belga Victor Serge é um vibrante e enga-jado relato da revolução que mudou os rumos da histó-ria mundial. Os antecedentes, a luta e os conflitos revo-lucionários são narrados por Serge poucos anos apósterem acontecido. O livro já foi publicado em 1930, eimpressiona a abordagem completa feita por Serge dosvários aspectos do período entre 7 de novembro de 1917e 7 de novembro de 1918. A obra narra as batalhas, osdebates políticos e questões como o alcoolismo nas tro-pas. A partir de seu cotidiano, Serge fornece os perfisdos principais líderes da época e faz o registro de comofoi vivenciar a primeira revolução comunista bem-suce-dida no mundo.

navegações. Um dosdestaques da expo-sição é a estátua degranito de um guer-reiro celta com qua-se 2 metros de altu-ra, provavelmente do século I a.C. A mostra fica em cartaz deterça-feira a domingo, das 10h às 21h, até 27 de janeiro de2008, e expõe obras que nunca saíram do território portu-guês. O Centro Cultural Banco do Brasil fica na rua Primeirode Março, n° 66, Centro, Rio de Janeiro. Maiores informa-ções no telefone (21) 3808-2020. A entrada é franca.

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Ano II – número 15 – outubro e novembro/2007 11http://sisejuferj.org.br

Oficina Literária Nunca uma dúzia de palavras doeu tanto

travessando a Barata Ribeiro,Aramis ajustou os multifocais edeu aquele sorriso meio perdi-do da hipermetropia para os

dezenove anos de Elisa, que o espe-rava na Cardeal Arcoverde. Parou umtáxi. Pelo retrovisor, o motorista ava-liava o casal.

Sozinhos, ele a esmagou contra aparede acarpetada de azul e a beijoucom força. O amor evoluiu pelas pol-tronas e pufes, onde roupas tiradas nodesespero aguardariam.

Muito a ser dito naquela tarde.Mas as palavras se perdiam nas urgên-cias. “Eu queria um feriado só pra nósdois” “Hoje nem é feriado, meu bem,e estamos aqui.” “Forcei a barra prasair cedo. A criançada ficou com a pro-fessora de artes, que não gostou nemum pouco. Por que não nos beijamosna rua, como todo mundo?” – recla-mou, se deitando de bruços. Ele per-correu com o gelo do uísque o vale desuas costas, enquanto escolhia as pa-lavras. Num restaurante seria mais fá-cil. Mas vá ser prudente com essascoisas. Na cama, a conversa definitivaparecia ameaçada.

“Estamos muito apegados um aooutro. Isso não é bom, minha prince-sa.” Como não? É o que tem de bom.Maravilha.” “Conheço seus truques.Finge não entender: é jovem demaispara mim.” “Besteira. Quem vai se im-portar?” “Seu pai, por exemplo. E comrazão. Já ouviu dizer que o mundo émau?” “Tenho quase vinte anos. Vocênão é viúvo? A gente pode até se ca-sar.” “Casar! Tá louca?” “Eu disse, por-que você falou no meu pai. Mas saibaque estou curtindo muito o amor dagente, de verdade, sem essa de ‘ficar’”.

Antes que as portas se fechassemMarlene de Lima* “Eu também, meu amor. Vamos adi-

ar este papo, tá bem? Já é tarde. Vis-ta a roupa, que tenho uns processos praler ainda hoje.”

Ela ficou de pé no colchão, pondoem destaque toda a exuberância docorpinho teen. “Nada disso, seu advo-gado caxias.” Abriu os braços e, malse equilibrando, pôs um pé maldososobre a sunga comportada. Aramisabriu um riso de sábia complacência.Ela se ajoelhou, quase chorosa. “Nãote acho velho. Você é o meu gatão, égostoso, legal. O mais é preconceito.Pra mim, não faz diferença. Mas mediga, cara, quantos anos...?” A cora-gem, porém, o abandonara.

Na volta, esperou no táxi, en-quanto ele pegava documentos noescritório da Praça Mauá. Se arre-pendeu da pergunta. Uma palavrapode ser o tiro de misericórdia.Desceram na Estação Carioca. Cho-via um pouco. Elisa abraçou o na-morado pela cintura, querendoconfirmar um vínculo que – pres-sentia – estava por um fio.

Moravam em direções opostas.Poucos passageiros àquela hora. Ometrô de Aramis surgiu primeiro.Beijou-a de leve e embarcou. Naplataforma, ela já não esperava aresposta. Mas, antes que as portasse fechassem, a verdade explodiu:“Se-ten-ta-e-dooooiiisss.”

Continuou parada, aturdidacom o estardalhaço metálico dosvagões, sem notar que seu tremtambém chegara.

Nunca uma dúzia de letras doeutanto.

*Funcionária aposentada doTRT-RJ.

A

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Justiça do Trabalho FGV dissemina o ideário neoliberal

12 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

TRT contrata arautos de sua extinçãoNão é de hoje que a tão respeita-

da Fundação Getúlio Vargas (FGV), éresponsável pela doutrinação e dis-seminação do pensamento neolibe-ral que de um período para cá vemditando as regras da política econô-mica do país. Instituição privada bra-sileira, sem fins lucrativos, foi fun-dada em 1944 para se dedicar aoensino e à pesquisa em ciências so-ciais. O que vem exercendo com ex-celência, na formação do pensamen-to hegemônico. O surpreendente éque o Tribunal Re-gional do Traba-lho (TRT) do Rio deJaneiro tenha cha-mado a FGV paraprepapar o seuprograma de ges-tão de pessoal.

Em tempos depolíticas neolibe-rais sem freios,como nos 8 anos demandato de Fernan-do Henrique Cardo-so, a tese que pre-valeceu foi a de queas administraçõespúblicas deveriam se preocupar e seresponsabilizar pela reestruturaçãodo Estado brasileiro no que diz res-peito às suas funções econômicas epolítico-ideológicas.

A teoria dominante pregava que, deprodutor direto de bens e serviços, oEstado deveria, e passou a ser , apenaso coordenador de iniciativas privadas,tanto na área econômica, como na áreasocial. Tanto que o programa de pri-vatização se tornou a principal políti-ca estatal da ocasião.

Na área social a privatização é com-plementada por políticas de descen-tralização, de fragmentação e de foca-lização. Fundamentada na retirada daresponsabilidade direta e universal doEstado pela proteção do trabalho e noestímulo a um associativismo presta-dor de serviços sociais “de interessepúblico”, é a época da reforma do apa-relho estatal.

As políticas governamentais são de-finidas por um núcleo estratégico, si-tuado no Executivo central, e a ser exe-

cutadas por par-ceiros na “novasociedade civil”.Posteriormente,essas políticassão avaliadaspor esse núcleocentral, dinâmi-ca da chamadaadministraçãogerencial.

As políticassociais em geralcomeçam a seconstituir emserviços não-ex-clusivos do Esta-

do, ou seja, que podem ser exercidossimultaneamente pelo Estado, pelainiciativa privada e pelas chamadas or-ganizações públicas não-estatais.

E qual seria a responsabilidade daFundação Getúlio Vargas? De lá saíramnomes como do ex-ministro Luiz Car-los Bresser Perreira, da economistaElena Landau e de tantos outros balu-artes do processo de privatização bra-sileiro, sempre focados na lógica daresponsabilidade social e reformista.E assim se foram as empresas dos se-

tores de telefonia, elétrico e a super-poderosa Vale do Rio Doce para asmãos do capital privado.

Basta fazer uma pesquisa rápi-da que se perceberá que a produ-ção acadêmica da fundação é vol-tada para formular idéias que ga-rantam a nova geração hegemôni-ca. As publicações visam difundir anova mentalidade de estabilidadesocial, por meio da pedagogia daresponsabilidade social. Para a di-reção do Sisejufe, o pensamentoproduzido pela FGV é historica-mente contrário aos direitos traba-balhistas, já que postula a flexibi-lização e o fim da Consolidação dasLeis do Trabalho (CLT) – e conse-qüentemente o fim da Justiça tra-balhista.

Como prêmio pela árdua luta daFGV para extingüir a Justiça do Tra-balho, principalmente durante os8 anos do governo FHC, o TRT cha-mou a instituição para preparar oseu programa de gestão de pesso-al. Na proposta constam a extinçãode cargos, como os de informática,segurança e carpintaria.

A fundação sugere a terceiriza-ção desses setores e o aumento doritmo do trabalho com uma maiormédia de processos por servidor.Como se não bastasse, também foisugerida a redução de valores daalgumas FC s. É difícil acreditar,diante disso, que o critério para acontratação da fundação tenhasido meramente técnico. Está aber-to o debate.

Como prêmio pela árdualuta da FGV paraextinguir a Justiça doTrabalho, principalmentedurante os 8 anosdo governo FHC, o TRTchamou a instituiçãopara prepararo seu programade gestão de pessoal.

*Da Redação.

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Ano II – número 14 – setembro/2007 13http://sisejuferj.org.br

Mais de 3,7 milhões de brasileirosparticiparam do Plebiscito Popularpela Anulação do Leilão da Vale do Riodo Doce. O resultado final, divulgadopelo Comitê Nacional, no dia 8 deoutubro, revelou a insatisfação de3.523.843 cidadãos com a venda daminerada para o capital privado. Ototal de votos Não, contrários à priva-tização da Vale, representa 95,09% daquantidade de votos válidos compu-tados pela consulta à população. Ape-nas 181.668 disseram ser favoráveisà venda. O plebiscito foi realizado de1º a 7 de setembro deste ano em todoo país. Só a Central Única dos Traba-lhadores (CUT), uma das organizado-ras, contabilizou mais de 900 mil vo-tos, sendo 96% contrários à venda. ACUT-RJ recolheu mais de 50 mil, coma participação de 40 sindicatos – en-tre eles o Sisejufe – com 93% dos vo-tantes marcando Não.

A divulgação do resultado finalaconteceu no Plenário 9 da Câmarados Deputados. No dia 10, membrosdo comitê foram recebidos em audi-ências por representantes dos pode-res Executivo e Legislativo, em Brasí-lia. No Palácio do Planalto, uma dele-gação do Comitê Nacional das entida-des que organizaram o plebiscito foirecebida pelo secretário nacional deArticulação Social, Antônio RobertoLambertucci, representante do minis-tro da Secretaria Geral da Presidênciada República, Luiz Dulci.

Após ouvir as entidades, Lamber-tucci comprometeu-se em encami-nhar os documentos entregues aoministro Dulci para que fossem repas-sados ao presidente Lula. A comissãoera composta por Julio Turra, diretorexecutivo da CUT Nacional; Lúcia

Nacional 95% votam pela anulação da venda da ex-estatal

Brasileiros querem a Vale de voltaMax Leone*

Stumpf, presidente da UNE; membrosdo Movimento dos Atingidos por Bar-ragens (MAB) e da rede Jubileu Sul.

Na Câmara, a delegação foi recebida pelopresidente da Casa, deputado Arlindo Chi-naglia (PT-SP), em seu gabinete. Além da en-trega dos resultados, se debateu a participa-ção do Comitê Nacional (que agrupa 64 enti-dades) no encaminhamento de um Projetode Lei de Iniciativa Popular para realizar umPlebiscito Oficial sobre a retomada da Vale. Opresidente da Câmara se prontificou a ofere-cer os elementos e os procedimentos neces-sários para encaminhar um projeto de inicia-tiva popular, que deve ser endossado por 1%do total dos eleitores registrados no país,cerca de 1 milhão e 250 mil assinaturas.

Fotos: Arquivo CVRD

Caminhão Fora-de-estrada: Mina de Conceição, em Itabira, Minas Gerais

* Da Redação.

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14 Ano II – número 15 – outubro e novembro/2007http://sisejuferj.org.br

o ano em que a humanidade cele-bra os 90 anos da Revolução Rus-sa, é importante mostrar a atuali-dade e o papel libertador da Revo-lução de Outubro e sua importân-

cia na nossa vida. Foi a União Soviética aprincipal responsável pela vitória contrao Eixo nazi-fascista e a libertação da hu-manidade do perigo do Terceiro Reich.Os historiadores ocidentais fazem detudo para reduzir a importância da lutarussa, passando a designar a invasão daNormandia como o “Dia D” da SegundaGrande Guerra. Nada mais mentiroso.

Antes de tudo é preciso dizer que oregime nazista de Hitler nada tinha emcomum com o socialismo soviético. Pormais que tenha havido terríveis erros nacondução do socialismo russo, ele era ogrande inimigo a ser batido. Desde a as-censão de Hitler ao poder a União Sovi-ética denunciava o rearmamento alemãoe os planos imperialistas expansionistasgermânicos. Inglaterra e França não sófingiam não ver a escalada belicista ale-mã, como exultavam com a possibilidadede uma guerra alemã à União Soviética.

Durante a Guerra Civil Espanhola, en-quanto a Luftware alemã pôde impune-mente rasgar os céus franceses parabombardear soldados e cidades republi-canas, o governo francês impediu que oExército Vermelho passasse pela Françapara combater ao lado dos republicanos,dificultando sobremaneira o envio dearmas pela União Soviétca aos resisten-tes da República. O resultado históricodisto todos já sabem, mas há um outro:a Alemanha nazista pôde treinar táticasde guerra aérea impunemente com asbenções das potências “liberais e demo-cráticas”.

Diante da imobilidade e da simpatiado Ocidente frente à Alemanha Nazista éque nasce o pacto de não-agressão ger-mano-soviético, que jamais foi um pac-to de cooperação militar. A diplomaciade ambos os países jactava-se de ter tido

Outra história Os nazistas teriam sido vencidos sozinhos pelo Exército Vermelho

Stalingrado, o verdadeiro Dia DRoberto Ponciano* uma vitória política sobre o outro lado.

Pelo lado alemão, Hitler considerava quecom o pacto poderia operar mais livre-mente a guerra contra o resto da Europa.Pelo lado soviético, Stálin acreditava queentrar em guerra contra a Alemanha seriasuicídio e que era necessário um esforçoconcentrado de guerra para fazer frenteao inimigo. Ambos queriam ganhar tem-po para o confronto que viria mais tarde.A história provaria quem estava correto.

Na URSS, o dia de trabalho – que jáera de 8 horas por dia em 1927 (é bomlembrar que no Brasil esta conquista datade 1988) – foi estendido para 12 horas eindústrias inteiras foram remodeladaspara produzir equipamentos bélicos noesforço de guerra.

Houve um grande erro estratégicodiante do pacto. Stálin considerou que aAlemanha Nazista só teria condições deinvadir a URSS em 1943 e se descuidou desua defesa na linha de frente (embora ossoviéticos nunca tenham alimentado ilu-são de que não haveria confronto com onazismo). Assim, quando a Alemanha in-vadiu a União Soviética, em julho de 1941,em que pese todo o esforço industrial deguerra, parecia efetivamente que em me-ses a União Soviética deixaria de existir.De um total de 7,5 mil aviões, os soviéti-cos perderam 4 mil só na primeira semana.Considera-se que a URSS perdeu 80% daaviação e mais de 50% dos tanques nos doisprimeiros meses de ataque alemão.

O mito do General Inverno

Há um mito ocidental de que os rus-sos só conseguiram derrotar os alemãespor conta do “General Inverno”. É verda-de que a chegada do pesado inverno atra-sou a guerra alemã, mas os alemães nãoforam parados só pela neve, e não foramderrotados por ela. Foram derrotados nocampo da tecnologia e da produção, pelacapacidade da URSS se reorganizar emmeio ao cataclismo e produzir aerona-ves e tanques em tempo recorde. Cam-pos inteiros eram queimados e indústri-as eram desmontadas em dias e remon-tadas na retaguarda. O soldado soviéti-co, vendo que o inimigo alemão assassi-nava civis, passou a combater até a mor-te. Na retaguarda alemã, uma incrível guer-rilha começa a minar a força e o ânimodos combatentes germânicos.

O frio fez estragos grandiosos no ladosoviético. Sitiados em Leningrado, 1milhão de pessoas morreram de fome efrio. A diferença é que o exército sovié-tico estava tecnologicamente melhorpreparado para o frio. Desde as vesti-mentas até o tanque e o óleo. Enquantoo óleo dos aeromotores alemães conge-lava nos tanques e não os deixava deco-lar, a força aérea soviética, na mesmavelocidade que perdia aviões, os fabrica-va, e conduzia missões consideradas im-possíveis em pleno inverno.

Dos sucessos iniciais de 1941 e 1942,a Luftware alemã começou a ser batidano ar pela aviação russa em 1943, emmaior número e, agora, desenvolvendoem plena guerra aviões tão ou mais velo-zes que os alemães, capazes de abater osantes inexpugnáveis inimigos aéreos. Nochão, as tropas panzers perderam a su-perioridade. Se no início da guerra ospanzers enfrentam os obsoletos B50 so-viéticos, estes sendo destruídos na pro-porção de 2 por 1, agora enfrentavam osterríveis T34. Mais velozes, melhoresblindados, melhor manobráveis no ter-reno difícil, com um alcance de tiro mai-or. Pela primeira vez na segunda guerraos nazistas enfrentam um inimigo que

N

Até outubro de 1941 osnazistas já haviam cercadoLeningrado e estavamàs portas de Moscou.Até novembro, o saldode destruição era gigantescoe não se podia imaginarque um país arrasadodaquele modopudesse resistir.

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Ano II – número 15 – outubro e novembro/2007 15http://sisejuferj.org.br

tinha superioridade tecnológica na bata-lha dos tanques. Isto afeta sobremaneirao ânimo alemão. Divisões inteiras sãodestruídas em batalhas de tanques des-comunais, nas quais os T34 precedem aoavanço inexorável das tropas russas.

Stalingrado também estava cercadadesde julho de 1942. Um monte de ruí-nas com soldados soviéticos escondidospraticamente nos entulhos e nos subter-râneos da cidade, era a última cidadelacontra o avanço do exército alemão rumoao petróleo e o trigo dos campos soviéti-cos. 63,8% de toda a força militar do Eixoencontrava-se na URSS neste momento(incluindo suas tropas mais capazes). Hi-tler queria capturar Stalingrado e seguirrumo ao Leste, para se juntar aos japone-ses que estavam prontos para invadir aÍndia, e rumo ao Sul, para juntar as tropasde Rommel, que combatia no Oriente.

Numa resistência tenaz, Stalingradocombate 200 dias, sitiada, faminta, mui-tas vezes com dificuldades de se abaste-cer de munições. Três exércitos alemães,

dois romenos, um húngaro e um italianocercam Stalingrado. A situação pareciapender para a Alemanha, mas, devido àgrande resistência militar, ao grande es-forço do povo soviético durante a guer-ra para suprir o Exército Vermelho e asuperioridade tecnológica e bélica con-seguida devido a isto, a cidade não sóresiste na batalha mais sangrenta da his-tória, mas, incrivelmente, os soviéticoscontra-atacam e aí começa o fim do nazi-fascismo.

Os exércitos soviéticos conseguemcom a ajuda da força aérea e dos T34flanquear os exércitos romenos e cer-cam aproximadamente 300 mil soldadosalemães em novembro de 1942. Os ale-mães ainda resistem dois meses, masem 16 de janeiro de 1943 o general Pau-lus entrega-se com o remanescente doseu exército. Na batalha de Stalingradoos soldados do Eixo haviam perdido cer-ca de 800 mil homens, o Exército Ver-melho havia perdido 1 milhão e 100 mil.O exército americano, durante toda aguerra perdeu 300 mil.

Depois da derrota de Stalingrado,a máquina bélica alemã foi completa-mente desbaratada, e os soviéticosbateram as tropas alemãs até Berlim.Os aliados não invadiram a Norman-dia senão depois da vitória soviéti-ca em Stalingrado (embora Stálin cla-masse por esta invasão fazia tempo)e a celeridade na invasão da Norman-dia se deveu principalmente ao te-mor de que URSS tomasse toda a Ale-manha sozinha, já que a Alemanha es-tava militarmente derrotada. Fica cla-ro então que o verdadeiro “dia D” daSegunda Guerra foi a batalha de Sta-lingrado. Mesmo sem a invasão daNormandia os nazistas teriam sidovencidos sozinhos pelo Exército Ver-melho, que já havia derrotado o gros-so das tropas alemães e as estava le-vando de volta para o Reichstag. Paraconcluir, devemos lembrar que maisde 25 milhões de soviéticos morre-ram na luta contra o nazi-fascismo.

*Escritor e diretor do Sisejufe.

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16 Ano II – número 15 – outubro e novembro/2007http://sisejuferj.org.br

O sindicalismo brasileiroHelder Molina*

Em 1945 os comunistastentam impulsionar uma rup-tura do sindicalismo com oEstado. Essa busca de alterna-tiva se materializa na criaçãodo Movimento Unificador dosTrabalhadores (MUP). Eles rei-vindicam uma reforma sindi-cal, nos aspectos mais impor-tantes da estrutura oficial,como o direito de organizarsindicatos independentes dachancela do Ministério do Tra-balho, e uma maior autonomia

política para suas ações.

Apesar dessa busca de autonomia,os comunistas continuam participan-do da Frente Democrática Antifascis-ta, no período inicial da “Guerra Fria”,em aliança com os setores ligados aoVarguismo. “Guerra Fria” é a denomi-nação que se dá ao processo de tré-gua capitaneado pelos EUA e URSScom o fim da Segunda Guerra Mundi-al, em que se divide o mundo em doisgrandes blocos geopolíticos – o blo-co comunista, ou o do Leste Europeu,sob liderança da URSS, e o bloco capi-talista, na Europa Ocidental e Améri-cas, com hegemonia dos EUA.

Em 1947, o Partido Comunista Bra-sileiro é colocado na ilegalidade e arepressão aos comunistas volta comtoda força. Mesmo assim, ao arrepioda legislação trabalhista e sindical, omovimento sindical busca se organi-zar de forma autônoma, surgindo vá-rios organizações sindicais indepen-dentes, sob forma de plenárias, movi-mentos horizontais, articulações inte-restaduais. Criada na década de 1950,a Confederação Geral dos Trabalhado-res (CGT) foi a mais importante. Ela seconsolida no início dos anos 1960, jáno governo de João Goulart (1961-1964), basicamente formada por sin-

dicatos oficiais e, contraditoriamen-te, com a participação de sindicalis-tas de oposição à estrutura oficial.

No contexto nacional-desenvolvi-mentista, nos anos 1950 até início dadécada de 1960, o movimento sindi-cal se fortalece. Os sindicatos se trans-formam em interlocutores importan-tes dos trabalhadores diante dos pa-trões e do Estado. Essa influência ins-titucional crescente torna o sindica-lismo participante da vida política na-cional. Mesmo com esse aumento deinfluência os sindicatos não consegui-ram organizar a maioria, e nem supe-rar a dependência do Estado.

Com a crescente industrialização ea conseqüente urbanização, como pro-duto desta, há um processo de declí-nio do campesinato e do trabalho nosetor agrário da economia. A classeoperária e o trabalho nas fábricas as-sumem um protagonismo que temcomo desdobramento a maior influên-cia dos sindicatos operários e urbanoscomo força política de vanguarda naslutas e movimentos políticos, princi-palmente no início dos anos 1960.

Os fenômenos da industrializaçãoe urbanização e expansão para os es-tados do interior (Centro-Oeste, Nor-te) fortalece outros grupos e camadassociais, como as classes médias, osempresários industriais, a burocraciaestatal, os militares e segmentos daintelectualidade brasileira. Consoli-da-se uma sociedade civil diferencia-da, urbana e incorporada ao espíritoda indústria, do comércio e do con-sumo. A classe dominante, e as clas-ses médias, como acontece historica-mente, se tornam protagonistas dosvalores conservadores e individualis-tas, agora alimentadas pela possibili-dade de maior consumo.

No governo de João Goulart há um

acirramento dos conflitos de interes-ses entre esses diferentes grupos. Osembates políticos se aguçam na medi-da em que o espaço público se alarga.Os sindicatos assumem a ponta desseprocesso de confrontação, intensifi-cando as lutas salariais e em defesa de

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“O fantasma vermelho, a ameado comunismo e o medo dobarulho das ruas tão largamentvociferados e ardilosamentefermentados pela direitabrasileira, não foramdevidamente dimensionadospelas forças da esquerda sociale política nos anos 1961-1964.Veio o golpe fascista, executadopelos militares, sob patrocíniodo grande capital estrangeiroe do governo dos EUA.”

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Ano II – número 15 – outubro e novembro/2007 17http://sisejuferj.org.br

direitos trabalhistas, e questionando acresceste dependência econômica doEstado brasileiro aos capitais externos.

A classe operária, setores do fun-cionalismo público, como os profes-sores, e os estudantes (o movimentoestudantil é, nesse contexto históri-co, um importante sujeito políticocoletivo) intensificam as jornadas delutas e as exigências por reformas debase, principalmente nos campos daeducação, saúde, moradia, empregoe reforma agrária.

Os comunistas, lideranças inde-pendentes vinculadas aos setores pro-gressistas da Igreja, e intelectuais na-cionalistas assumem abertamente adefesa das reformas, da ampliação daslutas sociais, da ruptura com a depen-dência econômica e política externase, por conseqüência, a defesa do go-verno Goulart. Pressionam o Estadopara obter ganhos econômicos, soci-ais e políticos. A correlação de forças,aparentemente, possibilitava o avan-ço dos movimentos sociais, e o gover-

no sinalizava favoravelmente nessadireção.

O movimento sindical busca mai-or autonomia, formando uniões sindi-cais independentes, como o ComandoGeral dos Trabalhadores (CGT, masnão confunda com a outra, que eraConfederação), fundado em 1962, noauge das lutas operárias e estudantis.Intensifica-se a participação dos sindi-catos na vida política nacional. Perigo-samente, essa crescente influência nãoresultou em maior aprofundamento daautonomia, fortalecimento coletivo eformação política dos trabalhadores.Não se constituíram movimentos inde-pendentes e desatrelados do Estado,mas sim vinculado aos interesses des-te. O apoio de Goulart aos sindicatos,essa aliança do sindicalismo com o Es-tado, produziu uma ilusão de poder,uma subestimação das reais forças daclasse trabalhadora.

Os sindicatos foram estimulados aradicalizar nos discursos e nas açõespolíticas, indo muito além do que

suas próprias forças garantiam. Umsindicalismo de vanguarda, sem a su-ficiente retaguarda das massas. Nãose nega a necessidade e a coerênciade se buscar as lutas de massas, asruas, as reivindicações coletivas comoinstrumentos essências aos trabalha-dores, na busca de seus direitos e natransformação do Estado. O que sequestiona é se as direções compreen-dem a realidade objetiva e a correla-ção das forças em disputa no terrenoda luta de classes. A nosso ver, subes-timou-se a capacidade de reação dasclasses dominantes e dos setores mé-dios urbanos, eivados de conservado-rismo e outros valores burgueses.

O fantasma vermelho, a ameaça docomunismo e o medo do barulho dasruas tão largamente vociferados e ar-dilosamente fermentados pela direi-ta brasileira, não foram devidamentedimensionados pelas forças da es-querda social e política nos anos1961-1964. Veio o golpe fascista, exe-cutado pelos militares, sob patrocíniodo grande capital estrangeiro e dogoverno dos EUA.

Uma lição que mais tarde seriaaprendida pelo movimento sindicalpós-ditadura militar, que as direçõesnão podem substituir as massas, aocontrário, só o movimento concretoda classe pode garantir conquistas epoder político.

No próximo número de Idéias emRevista analisaremos o sindicalismo eas lutas sindicais sob a ditadura mili-tar. Os anos de chumbo e as alternati-vas de resistência, tanto política quan-to armada, ao horror fascista que seabateu sobre o Brasil, de 1964 a 1984.

*Historiador, assessor de formaçãoda CUT-RJ e coordenador do curso

Marxismos do Sisejufe.

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No início do mês, o apresentadorLuciano Huck escreveu um texto sobreo roubo de seu Rolex. O artigo gerouuma avalanche de cartas ao jornal, en-tre as quais uma escrita por mim. Nãome considero um polemista, pelo me-nos não no sentido espetaculoso dapalavra. Temo, por ser público, pare-cer alguém em busca de autopromo-ção, algo que abomino. Por outro lado,não arredo pé de uma boa discussão,o que sempre me parece salutar. Porisso resolvi aceitar o convite a exporminha opinião, já distorcida desdeentão.

Reconheço que minha carta, curta,grossa e escrita num instante emocio-nado, num impulso, não é um primorde clareza e sabia que corria o risco de

O rolo do Rolexinterpretações toscas. Mas há momen-tos em que me parece necessário bo-tar a boca no trombone, nem que sejapara não poluir o fígado com rancoresinúteis. Como uma provocação.

Foi o que fiz. Foi o que fez Huck, re-voltado ao ver lesado seu patrimônio,sentimento, aliás, legítimo. Eu tambémreclamaria caso roubassem algo com-prado com o suor do rosto. Reclamariana mesa de bar, em família, na roda deamigos. Nunca num jornal.

Esse argumento, apesar de prosai-co, é pra mim o xis da questão. Porque um cidadão vem a público mos-trar sua revolta com a situação dopaís, alardeando senso de justiça so-cial, só quando é roubado? Lançandomão de privilégio dado a personali-dades, utiliza um espaço de debatespolíticos e adultos para reclamaçõespessoais (sim, não fez mais que isso),escorado em argumentos quase in-fantis, como “sou cidadão, pago meusimpostos”. Dias depois, Ferréz, umporta-voz da periferia, escreveu texto

Zeca Baleiro*

no mesmo espaço, “romanceando” oocorrido.

Foi acusado de glamourizar o rou-bo e de fazer apologia do crime. Antesque me acusem de ressentido ou re-vanchista, friso que lamento a violên-cia sofrida por Huck. Não tenho nadapessoalmente contra ele, de quem nãosei muito. Considero-o um bom pro-fissional, alguém dotado de certa sen-sibilidade para lidar com o grande pú-blico, o que por si só me parece admi-rável. À distância, sei de sua rápida as-censão na TV. É, portanto, o que osmitificadores gostam de chamar de“vencedor”. Alguém que conquista seuespaço à custa de trabalho me parecedigno de admiração.

Por que um cidadãovem a público mostrarsua revolta com asituação do país,alardeando senso dejustiça social, sóquando é roubado?

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E-mails de leitores que chegaramaté mim (os mais brandos me chama-vam de “marxista babaca” e “comunis-ta de museu”) revelam uma confusãoterrível de conceitos (e preconceitos) eidéias mal formuladas (há raras exce-ções) e me fizeram reafirmar minha tris-te tese de botequim de que o pensa-mento do nosso tempo está embota-do, e as pessoas, desarticuladas.

Vi dois pobres estereótipos seremfortemente reiterados. Os que espina-fraram Huck eram “comunistas”, “pe-tistas”, “fascistas”. Os que o apoiavameram “burgueses”, “elite”, palavra quedesafortunadamente usei em minhacarta. Elite é palavra perigosa e, de tãolevianamente usada, esquecemos seureal sentido. Recorro ao Houaiss: “Eli-te - 1. o que há de mais valorizado e demelhor qualidade, especialmente emum grupo social [este sentido não seaplica à grande maioria dos ricos bra-sileiros]; 2. minoria que detém o pres-tígio e o domínio sobre o grupo social[este, sim]”.

*Nascido José de Ribamar CoelhoSantos, é cantor e compositor mara-

nhense. Tem sete discos lançados,entre eles, “Pet Shop Mundo Cão”.

do nosso ralo processo democráti-co. Não cabendo em si, disparaesta pérola: “Sem ela [a pro-priedade privada], estaría-mos de tacape na mão,puxando as moças peloscabelos”. Confesso queme peguei a imaginaresse sr. de tacape emmãos, lutando por seulugar à sombra sem o es-cudo de uma revista fas-cistóide. Os idiotas de-vem ter direito à expres-são, sim, sr. Reinaldo.Seu texto é prova disso.

A surpreendente repercussão dofato revela que a disparidade social éum calo no pé de nossa sociedade, parao qual não parece haver remédio – des-filaram intolerância e ódio à flor dapele, a destacar o espantoso texto deReinaldo Azevedo, colunista da revis-ta Veja, notório reduto da ultradireitacaricata, mas nem por isso menos pe-rigosa. Amparado em uma hipócrita“consciência democrática”, propõevetar o direito à expressão (represáliaa Ferréz), uma das maiores conquistas

Reinaldo Azevedo

Do imbróglio, sobram-meduas parcas conclusões.A exclusão social nãojustifica a delinqüênciaou o pendor ao crime,mas ninguém poderánegar que alguém semdireito à escola, quecresce num cenário demiséria e abandono,está mais vulnerávelaos apelos da vidabandida. Por seu turno,pessoas públicas não sãoblindadas (seus carrospodem ser) e estãosujeitas a roubos,violências ou àdesaprovação de leitores,especialmente secometem textos fúteissobre questões tão críticascomo essa ora em debate.

Igual direito de expressão foi dadoa Huck e Ferréz. Do imbróglio, sobram-me duas parcas conclusões. A exclusãosocial não justifica a delinqüência ou opendor ao crime, mas ninguém poderánegar que alguém sem direito à esco-la, que cresce num cenário de misériae abandono, está mais vulnerável aosapelos da vida bandida. Por seu tur-no, pessoas públicas não são blinda-das (seus carros podem ser) e estãosujeitas a roubos, violências ou à de-saprovação de leitores, especialmen-te se cometem textos fúteis sobrequestões tão críticas como essa oraem debate.

Por fim, devo dizer que sempre pen-sei a existência como algo muito maiscomplexo do que um mero embateentre ricos e pobres, esquerda e direi-ta, conservadores e progressistas, ex-cluídos e privilegiados. O tosco debateem torno do desabafo nervoso de Huckpôs novas pulgas na minha orelha. Aoque parece, desde as priscas eras, o pro-blema do mundo é mesmo um só - umaluta de classes cruel e sem fim.

Rolex

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trabalhadora Izabel Nascimentode Souza foi surrada, espancadae levou três tiros da milícia con-tratada pela transnacional suíça

Syngenta para reprimir e eliminar otrabalhadores rurais sem-terra. Izabeljá não corre perigo de vida, ela saiu docoma após ter perdido o olho direito etem o braço do mesmo lado afetadopor paralisia motora.

O tiro que atingiu a trabalhadoraIzabel no rosto, entrou por seu olho,desceu até o ombro e se alojou na re-gião dos pulmões. A trajetória indicaque provavelmente o tiro foi dado decima para baixo, e que, também pro-vavelmente, Izabel estava agachada eolhando para cima, quando foi balea-da. Neste mesmo confronto foi assas-sinado com dois tiros a queima-roupao militante e trabalhador sem-terraKeno – Valmir Mota. Os trabalhadoresGentil Couto Viera, Jonas Gomes deQueiroz, Domingos Barreto e HudsonCardin foram feridos e hospitalizados.Dezenas de outros trabalhadores fo-ram igualmente feridos por armas defogo e espancamento.

Sete pistoleiros da empresa NF Se-gurança foram presos em flagrante. Aempresa foi contratada pela Syngenta,para “fazer o trabalho”. O MinistérioPúblico havia pedido a prisão preventivados sete, para a apuração dos fatos. Noentanto, por decisão da juíza SandraRegina Bittencourt Simões, já foram sol-tos. A decisão da juíza – todos sabem –atrapalhará o inquérito policial. A deci-são da juíza teve o objetivo de dificultaras investigações e inviabilizar o anda-mento do inquérito policial.

Reforma Agrária Juíza do Paraná soltou pistoleiros contratados pela Syngenta

Sem-terra mortos, assassinos soltosBrasil de Fato*

*Jornal Brasil de Fato,de 31 de outubro.

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A NF Segurança, de acordo com adelegacia da Polícia Federal de Casca-vel, age na ilegalidade. Sua proprietá-ria, Maria Ivanete Campos de Freitas,e dois funcionários foram presos emflagrante em 27 de setembro passado.Na ocasião, encontraram muniçãocontrabandeada estocada na sede daempresa. Suspeita-se que a NF sejauma companhia de fachada usada como objetivo de acobertar ações de gru-pos como a Sociedade dos ProdutoresRurais do Oeste (SRO) e o Movimentodos Produtores Rurais (MPR).

NF Segurança podeser milícia privada

No dia 25 de outubro, a Associa-ção do Comércio e Indústria de Cas-cavel (Acic), em reunião aberta ao pú-blico, legitimou a ação dos pistolei-ros da NF. O presidente da associa-ção, senhor Valdinei Antônio da Sil-va, acusou os trabalhadores ruraissem-terra de “traficantes, ladrões eseqüestradores”, tratando a milíciaprivada da NF como “uma empresa desegurança legítima”.

De acordo com o Banco de Dadosda Luta pela Terra, da UniversidadeEstadual Paulista (Unesp), coordena-do pelo geógrafo e professor doutorBernardo Mançano, o município deCascavel, o Pontal do Paranapanema,o sudeste do Pará, o Médio Vale do RioSão Francisco e o entorno de Brasíliasão as regiões que concentram os maisviolentos senhores ruralistas, contu-mazes em “fazer justiça” com as pró-prias mãos.

Sete pistoleiros da empresaNF Segurança foram presosem flagrante. A empresa foicontratada pela Syngenta,para “fazer o trabalho”. OMinistério Público haviapedido a prisão preventivados sete, para a apuraçãodos fatos. No entanto, pordecisão da juíza SandraRegina Bittencourt Simões,já foram soltos. A decisãoda juíza – todos sabem –atrapalhará o inquéritopolicial. A decisão da juízateve o objetivo de dificultaras investigações einviabilizar o andamento doinquérito policial.

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A Américaminada

Entrevista A Colômbia já é a líder mundial de vítimas de minas terrestres

Continua nas páginas 20 e 21

fotógrafo e jornalista paulistaVinícius Souza, 39 anos, atuadesde 2001 na produção de pro-jetos e de matérias internacio-nais em fotografia documental.

Casado há 16 anos com a também fo-tojornalista Maria Eugênia Sá, Viníciusfala nesta entrevista da guerra civil quetornou a Colômbia, desde 2006, a lídermundial em vítimas de minas terrestrese de munições não detonadas (em espa-nhol municiones sin explotar (Muse). Ocasal já desenvolveu projetos jornalísti-cos na Caxemira, região de intensa dis-puta territorial entre a Índia e o Paquis-tão; e em Angola (fotos desta viagem fo-ram publicadas na edição nº 7 de Idéias– viagem que rendeu o livro Angola – Aesperança de um povo. Da passagempela Colômbia, foram produzidos o li-vro e video-documentário America Mi-nada, que mostra que 10 países da Amé-rica Latina têm campos minados e quena Colômbia a prática ainda é comumen-te usada pelos diversos grupos armadosque disputam território.

Idéias em Revista – O senhor e sua compa-nheira visitaram a Angola, a Caxemira e aColômbia como repórteres. Voltaram commaterial inédito, mas não despertaramgrande interesse na chamada “grandemídia”. Como o senhor vê a barreira im-posta pelas redações ao olhar brasileiro so-bre os conflitos armados que se espalhampelo mundo?Vinícius – É mais barato tratar a notícia comoum produto qualquer, como sabonete. Porisso se compra pacotes de notícias das agên-cias internacionais como a Reuters e a CNN.Assim, se acaba reproduzindo o que interes-sa aos estadunidenses. O olhar brasileiro dámais trabalho, é mais caro, e a nossa mídia épreguiçosa. Se já passou pela “censura” dosEUA, é só publicar aqui e pronto. Assim asseções internacionais dos grandes jornaisficam todas iguais, com as mesmas fontes. Édifícil fazer o trabalho que fazemos, mas va-mos adiante porque acreditamos nesse jor-nalismo. E temos publicado bastante em re-vistas como Caros Amigos, Carta Capital, eem sites como o NPC e o Adital. E é bomlembrar que não interessa aos EUA falar so-

bre o assunto. Eles são um dos poucos paí-ses no mundo que não assinaram o Tratadode Ottawa, de banimento das minas.

Idéias em Revista – Mas os EUA são os mai-ores investidores em programas de erradi-cação de minas... a contradição é apenasaparente?Vinícius – Não há contradições nas posi-ções dos EUA. Eles são os maiores financia-dores dos programas antiminas, mas a mai-or parte da grana é usada em países onde osEUA tem invasões militares, como no Afega-nistão e no Iraque.

Idéias em Revista – Como o senhor vê odéficit de informação do povo brasileirosobre a América do Sul e Central em con-traposição com a enxurrada de informa-ção sobre Europa e EUA?Vinícius – É preocupante que saibamos so-bre as eleições na Suécia mas não quem é opresidente do Uruguai. Novamente o gran-de problema é o imperialismo e a globaliza-ção também na mídia.

ODenúncia: Vinícius e Eugênia estão lançando o videodocumentário “América Minada”

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Idéias em Revista – Na sua opiniãoisso faz parte de uma estratégiamaior para isolar os povos latino-americanos e evitar que eles se ar-ticulem?Vinícius – Sem dúvida. Além do quetambém é mais barato comprar asnotícias da BBC de Londres. A queminteressa a integração da AméricaLatina? Na Caxemira, por exemplo,existe o exemplo claro de imperia-lismo indiano. Há mais de 15 anosque os conflitos na região não sãoentre Índia e Paquistão e sim entreos separatistas e os exércitos deocupação de ambas as nações. Masa mídia globalizada insiste em dizerque a Caxemira é um problema dedisputa territorial entre Índia e Pa-quistão. Não lemos e não ouvimosem nenhum lugar que existem 18grupos separatistas só na parte ocu-pada pela Índia e que o exército in-diano usa o estupro em massa comotática de guerra para quebrar a von-tade de liberdade do povo.

Idéias em Revista – Vocês desenvolvem estetipo de reportagem por ideologia?Vinícius – Sim, mas não só ideologia política.Também ideologia da notícia. Achamos queas histórias importantes precisam ser conta-das, independentemente do lado que o jor-nalista esteja. Eu e Eugênia, por exemplo, so-mos socialistas. Apoiamos o processo histó-rico de Cuba e a revolução na Venezuela. Masquando escrevemos um artigo sobre a ques-tão das minas na América Latina temos queinformar que Cuba também não assinou o Tra-tado de Ottawa. E que a Venezuela não des-minou os campos ao longo da fronteira coma Colômbia.

Idéias em Revista – Na Colômbia, que é a atu-al líder mundial em minas terrestres, quemsão os principais responsáveis pelos camposminados?Vinícius – Todos os grupos armados que atu-am naquele país. Hoje, especialmente, o Ejer-cito de Liberacion Nacional (ELN). Mas tambémo Exército, os paramilitares e as Forças Arma-das Revolucionárias da Colômbia (Farc). Cer-ca de 50% dos mortos e feridos por minas na

Colômbia, oficialmente, são militares. Masisso porque são os militares que registrammelhor os seus feridos. A outra metade deatingidos são identificados como “não mili-tares”. Podem, inclusive, ser guerrilheiros enão assumem, ou mesmo civis. De qualquerforma, na realidade a metade dos feridos, mu-tilados e mortos por minas naquele país sãocrianças e adolescentes.

Idéias em Revista – No documentárioAmerica minada vemos que as vítimas, namaioria, tem um tom delicado, contro-lado, não são pessoas que expressam re-volta pelo fato de estarem mutiladas.Esse tom cuidadoso ao lidar com o assun-to tem a ver com a constante pressão queessas populações sofrem do exército, dosparamilitares e dos guerrilheiros?Vinícius – Eu diria que as vítimas na Colôm-bia são resignadas, mais do que revoltadas.Elas vivem numa guerra civil há 40 anos. Ecomo todos os lados plantam minas, a quemculpar? Ainda assim alguns culpam claramen-te a guerrilha.

Idéias em Revista – No caso da Colômbia,quais são as distorções mais recorrentessobre as Farc, o Exército, o ELN e os parami-litares na mídia?Vinícius – No caso dos paramilitares, queeles estariam sendo desarmados e pacifi-cados. É mentira pura e simples. Na ver-dade, eles estão saindo da frente do pal-co, como grupo identificado, e seus che-fes estão entrando para a política comanistia total sobre seus crimes, mantendoas propriedades roubadas do povo e ga-nhando influência no governo. O ELN estásendo dizimado realmente. Estes sim que-rem depor as armas e lutar politicamentecomo partido, assim como ocorreu com oM-19, mas o governo diz que negociaquando, na verdade, extermina. Já as Farcé mais complicado porque a maior parterealmente apóia a produção de cocaína etem nela sua renda e seu maior poder.Com eles sim o governo teria de negociarpara achar uma paz duradoura na Colôm-bia. Mas enquanto Uribe for presidenteisso é impossível. Boa parte dos ideais so-cialistas das Farc foram abaixo e o prag-matismo da cocaína/dinheiro impera.

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Vinícius em Angola Muletas e maturidade forçada Crianças são as principais vítimas

O Exército mina arredores de torresde energia

“Histórias importantesprecisam ser contadas.Eu e Eugênia somossocialistas, mas quandoescrevemos um artigosobre a questão das minasna América Latina temosque informar que Cubatambém não assinouo Tratado de Ottawa.E que a Venezuela nãodesminou os camposao longo da fronteiracom a Colômbia.”

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Idéias em Revista – Muitos analistas dizemque a intervenção e o apoio de Washingtona Uribe camufla a tentativa de controlar osmeios de produção da droga e não buscarsua erradicação. O senhor concorda?Vinícius – Os EUA sabem que é impossível er-radicar a droga, mas não acho que queiramcontrolar a produção. A intervenção é maispara justificar os gastos militares na moralis-ta “guerra contra as drogas”.

Idéias em Revista – Vocês fotografaram e fil-maram muitas vítimas de minas. Como sedeu esse contato?Vinícius – Conhecemos um menino, que esta-va em Bogotá esperando por uma cirurgia,numa missão gerenciada por uma alemã. Ele éo caso típico de uma criança curiosa que foi pe-gar algo que não conhecia no chão e era umartefato explosivo. Ficou com uma cicatriz cho-cante no rosto. Se houvesse uma campanhagrande de esclarecimento sobre as minas namídia local, esses casos seriam minimizados.Esse menino foi fotografado com uma másca-ra de Hallowenn, uma ironia é que numa festade origem estadunidense ele possa sair na ruasem medo do preconceito. Conhecemos umamoça muito bonita, que está sendo atendidapor uma ONG em Medellin que faz a mediaçãode atendimento com o governo, que consegueos documentos das vítimas para pedir indeni-zacao ao Estado e que dá auxílio a visitas a hos-pitais e próteses. A moça deve ter hoje uns 24

anos e é camponesa. Ela seguia o pai no cam-po, o pai pisou numa mina e perdeu um pé, elacorreu para ajudá-lo e pisou noutra mina. Es-tava com um bebê no colo que não se feriu pormilagre. São pessoas simples e muito religio-sas. Aceitam seu destino como “vontade deDeus” e rezam para melhorar de situação. Nãotêm nenhum tipo de ajuda psicológica especí-fica. Apesar disso, 80% das vítimas de arma defogo na Colômbia são mortas ou feridas em si-tuações idênticas as que vivemos aqui. São bri-gas de bar, balas perdidas, etc., nada a ver coma guerrilha. A violência no Brasil também éimensa. Eu perdi um irmão de 24 anos assassi-nado num assalto a poucas quadras de casa,em 1997. Roubaram dele um talão de cheque,30 reais e o som do carro, um Fiat Uno.

Idéias em Revista – O assassinato de seu irmãolhe mobilizou para contar as histórias de pes-soas que vivem em situações de violência?Vinícius – Me mobilizou a buscar o que eraimportante pra mim e não apenas trabalharpra ganhar dinheiro e comprar coisas.

Idéias em Revista – E o que é importante parao senhor?Vinícius – Para mim e para a Gê (Maria EugêniaSá, sua companheira) o importante é mostrar avida das pessoas. Infelizmente a vida é dura,difícil e muitas vezes violenta, mas esperamosque, com nosso trabalho, possamos denunci-ar essas mazelas e ajudar a solucioná-las.

Família mutilada: Nancy, ao centro, perdeu a perna direita ao socorrer o pai Manuel. Sua mãe foi atingida no rosto

“Apesar das minas, 80%das vítimas de arma defogo na Colômbia sãomortas ou feridas emsituações idênticasas que vivemos aqui.São brigas de bar, balasperdidas, etc., nadaa ver com a guerrilha.A violência no Brasiltambém é imensa.”

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Internacional Não se divulga que 3,3 milhões de crianças e adolescentes trabalham

México, um país de contrastes e censuras

Mário Augusto Jakobskind*

*Jornalista.

No México, país que ficou em se-gundo plano na mídia internacionaldepois de uma eleição presidencialsuspeita, a Televisa, segundo denúnci-as, pressionou a distribuidora WarnerBros. no sentido de não exibir o docu-mentário de Luis Mandoki sobre o pro-cesso eleitoral de 2006 que culminoucom a duvidosa vitória do presidente Fe-lipe Calderón. Para Mandoki e o produ-tor do documentário, Federico Arreo-la, a pressão representa um ataque con-tra a liberdade de expressão. Mandokié também o autor do documentárioQuem é o senhor Lopez?, sobre o candida-to do Partido Revolucionário Democrá-tico (PRD) Andrés Manuel Lopez Obra-dor, que vendeu mais de dois milhõesde cópias em DVD.

Até agora, nenhum dos rotineirosdefensores da liberdade de expressãose posicionou contra as pressões da Tele-

visa, possivelmente a mando dogoverno de Felipe Calderón,que em um ano de mandato sófavoreceu os poderosos gruposeconômicos que jogaram todasas cartas para evitar a derrotado atual presidente mexicano.Repórteres sem Fronteira e aSociedade Interamericana deImprensa, a SIP, por exemplo,não se ocupam de países ondeos governantes são de absolutaconfiança da mídia conservado-ra. Preferem concentrar as ba-terias contra governos de outrotipo, que colocam em questãoa potência hegemônica.

Em termos comparativos,Calderón, do Partido AçãoNacional, estaria ainda maisa direita de um Geraldo Al-ckmin, candidato derrotadona última eleição presidenci-al brasileira. Na campana

presidencial mexicana, o candidatoque venceu por meio ponto a LopezObrador, mesmo assim sem reconta-gem de votos suspeitos, jogou pesadocom a ajuda da mídia conservadora.Calderón não conseguiu responder auma série de questões, como, porexemplo, ter favorecido a um cunhadoquando foi ministro e assim sucessiva-mente. Tudo ficou por isso mesmo.

O atual presidente mexicano estálevando adiante uma radical políticaeconômica neoliberal, que seria tam-bém aplicada no Brasil se o vitoriosotivesse sido Alckmin.

Por que será que a mídia conser-vadora não divulga a censura ao do-cumentário sobre a eleição fraudu-lenta de Felipe Calderón? Por queserá que outros meios de comuni-cação pela América Latina adotama mesma filosofia quando se tratade decidir sobre a divulgação de

questões de interesse dos leitores,ouvintes ou telespectadores?

Qual será o motivo, por exemplo,da mídia nacional não divulgar que 3,3milhões de crianças e adolescentesmexicanos, meninos e meninas, entreseis e 14 anos, trabalham. É que as eli-tes mexicanas, a mesma que apoiouCalderón, tenta de todas as formasesconder que o fenômeno tem comoorigem a exclusão, a pobreza e a de-sigualdade social.

Ou seja, os ricos do México, sem-pre cada vez mais ricos, tentam detodas as formas esconder o fato de omodelo econômico vigente ser a prin-cipal causa de tantos menores de ida-de trabalharem.

No México, segundo as estatísti-cas, a cada ano 300 mil meninos emeninas, em sua maioria indígenasdos estados de Oaxaca, Guerrero, Chi-apas, Veracruz, Puebla e Michoacánabandonam as suas comunidadespara emigrar com as famílias para asáreas agrícolas no norte do país, par-ticularmente Sinaloa y Baja California,em busca de trabalho e renda.

A propósito de crianças e adolescentes,no mundo inteiro, segundo a OrganizaçãoMundial do Trabalho (OIT), cerca de 218milhões deles trabalham, sendo que 132milhões se dedicam à agricultura, conside-rada uma das três atividades mais perigo-sas, juntamente com a mineração e a cons-trução.

No Congresso mexicano estão pro-pondo que se investigue o ex-presi-dente Vicente Fox, que está sendo acu-sado de enriquecimento ilícito duran-te o período em que governou o paísazteca, de 2001 a 2006. Mais um paraa coleção...

UNICEF/México/Maurício Ramos

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Ceará aboliu a escravidão sete anos antes da Lei ÁureaNacional

Em 1881, no Ceará, as caravelasque chegavam transportando merca-dorias para a província e que deveri-am receber os produtos que seriamexportados não conseguiam alcançaro porto devido aos bancos de areia erecifes existentes no litoral. Este tra-balho era feito por jangadeiros queconduziam os produtos do porto atéas galeras e traziam as mercadorias,inclusive escravos que eram levadospara a província. Mas, curiosamente,estes jangadeiros eram ex-escravosalforriados ou filhos de escravos quejá haviam conquistado a liberdade.Chefiados por Francisco José do Nas-cimento – o Dragão do Mar – resol-vem se rebelar contra a manutençãoda escravidão e entram em greve. Ima-ginem o que significa a mercadoria seacumulando no porto sem ser embar-cada ou o quanto custa uma caravelaancorada ao largo sem poder descar-regar seus produtos! Pois é.

A situação ficou tão complicadaque os proprietários do Ceará pedi-ram uma reunião de urgência na Câ-mara da Província e os deputados aca-baram votando uma lei abolindo a es-cravidão. O Ceará foi o primeiro esta-do brasileiro a acabar com a escravi-dão, sete anos antes da Lei Áurea(1888), e esta é uma vitória devida aosjangadeiros comandados pelo Dragãodo Mar. Sim, é claro que os livros quecontam a “história oficial” jamais fala-ram nisso. Como deixar o povo saberque uma greve de negros aboliu a es-cravidão?

Conheço esta história desde 1992,mas sempre que eu a contava, em mi-nhas palestras e cursos, as pessoas me

Passagem desbotada na memória...... das nossas novas (e velhas) gerações

Ernesto Germano Parés* olhavam como se eu falasse de um dis-co voador ou de um ET. Os livros dehistória não registram o fato e issonunca apareceu na telinha da Globo.

É verdade que a cultura popularaté faz referências não muito claras,como na música de Aldir Blanc e JoãoBosco. Bem, há cerca de três ou qua-tro anos eu soube que um jornalistacearense estava levantando esta his-tória. Foi construído um espaço pú-blico em homenagem ao “Dragão doMar”, com salas para eventos cultu-rais, exposições, etc. E um imenso pa-inel, usando uma gravura feita em1884! Quando estive pela última vezem Fortaleza, em setembro, corri pararegistrar o herói de que falo há tantotempo. Depois andei pela beira dapraia, no mesmo cais onde ele andou,olhando para as pedras escuras quelhe servem de monumento...

O Mestre-Sala dos Mares

Há muito tempoNas águas da GuanabaraO Dragão do Mar reapareceuNa figura de um bravo feiticeiroA quem a história não esqueceuConhecido como o navegante negroTinha dignidade de um mestre-salaE ao acenar pelo mar, na alegriadas regatasFoi saudado no pontoPelas mocinhas francesasJovens polacas e por batalhões demulatasRubras cascatasJorravam das costas dos santosEntre cantos e chibatas

Inundando o coraçãoDo pessoal do porãoQue a exemplo do feiticeiroGritava entãoGlória aos piratasÀs mulatasÀs sereiasGlória à farofaÀ cachaçaÀs baleiasGlória à todas as lutas inglóriasQue através de nossa históriaNão esquecemos jamaisSalve o navegante negroQue tem por monumentoAs pedras pisadas do cais

João Bosco/Aldir Blanc

*Consultor e pesquisador do MovimentoSindical. Professor do curso Marxismos

do Sisejufe.

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Mulheres Anorexia e bulimia são males típicos da cultura ocidental

Loucura narcisista

*Da Redação.

Dentre os males modernos classi-ficados por especialistas como típicosda cultura ocidental, está a anorexia– doença caracterizada por uma insu-ficiente dieta alimentar, popularmen-te conhecida como a “doença da ma-greza”. O distúrbio psicológico ali-mentar está diretamente associadocom a bulimia, doença que leva o in-divíduo a vomitar tudo o que ingere.A anorexia, que atinge na grande mai-oria dos casos mulheres jovens, é con-siderada um dos piores males da so-ciedade atual e já é a principal causade morte entre as portadoras detranstornos psicológicos.

De acordo com depoimentos demulheres anoréxicas, quem tem essetipo de distúrbio alimentar não se vêcomo um doente, apenas como umapessoa determinada a ficar mais bo-nita e ser aceita num contexto social.Para as “Anas” (anorexas) e “Mias” (bu-límicas) – como se denominam as jo-vens que padecem desse mal – a re-pulsa pelo alimento torna-as mais for-tes, elas recusam comida, mas sen-tem fome como qualquer um. Asportadoras da doença usam a Inter-net para trocar experiências, com-binam datas para iniciar juntas umperíodo no food (sem comida) e ofe-recem apoio umas às outras paramanter a abstinência. Essas meninasse vangloriam como garotas disci-plinadas que necessitam umas dasoutras para manter suas dietas ma-lucas à base de Coca-Cola Light, cháse chicletes sem açúcar.

A doença, subjetivamente, trazuma recusa inconsciente de crescer,tentando conservar as formas de in-fância (ser pequeno e sem curvas). Atentativa de controle do corpo surge

assim como umaforma inconscientede compensação deum sentimento ge-neralizado de inca-pacidade, de depen-dência e de dificul-dades de autono-mia. O criador dapsicanálise Sig-mund Freud escre-veu que todos osseres humanos têmuma pulsão de mor-te. Em termos sim-plistas, é a parte queestá caminhandopara a morte, paraas doenças e para adepressão. Essa pul-são costuma serbem menor do queo seu oposto, a pul-são de vida, que fazviver, ser feliz e buscar relacionamen-tos. Assim, no caso dessas duas pul-sões estarem em desequilíbrio, e a demorte ser mais forte, as pessoas po-dem desenvolver uma tendência adoenças, à depressão e até a própriamorte.

A anorexia já fez várias vítimas fa-mosas, e o caso mais recente é o damodelo brasileira Ana Carolina Res-ton Macan, que morreu aos 21 anos,em 15 de novembro do ano passado,pesando 40 quilos. Vítima de compli-cações provocadas pela anorexia ner-vosa, havia declarado sete meses an-tes de morrer que tinha perdido ocontrole e que havia parado de co-mer. “Às vezes ainda me acho gorda.Eu tenho uma imagem distorcida demim”, afirmou numa entrevista diasantes de sua morte. A família, no iní-cio, não percebeu que a modelo tinhaalgum tipo de distúrbio alimentar.

“Quando ela passava mal e vomitava,abria o chuveiro para que ninguémouvisse, quando descobrimos já eratarde”, disse uma tia da modelo lem-brando como a sobrinha camuflava adoença.

A atual conjuntura social favoreceo desenvolvimento deste tipo de dis-túrbio. Um padrão de beleza inalcan-çável e sua difusão na mídia leva aosextremos o desafio de ser bela. Ano-réxicas se espelham em modelos fa-mosas que também não levam vidassaudáveis. Para algumas modelos, aanorexia é o preço para se manter naspassarelas badaladas. A cura dessadoença passa pelo apoio familiar e,principalmente, pela ruptura com ospadrões estéticos difundidos comodesejáveis pela mídia.

Foto: http://kyle-me.net/wordpress/wp-content/abkontakt-anorexia.jpg

Bianca Rocha*

Ainda “gorda”: doente tem imagem distorcida de si mesma

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o participar de um programa derádio em Recife1, o apresenta-dor perguntou a mim e a outraparticipante se o feminismo

não teria caído de moda... Sheila Be-zerra2 respondeu que o feminismo sóteria caído de moda se o machismotambém caísse... Depois afirmou quenão estaria opondo o feminismo aomachismo, pois, de fato, não são fe-nômenos ou movimentos opostos.Enquanto o feminismo – ou seria me-lhor dizê-lo no plural: os feminismos– são movimentos e teorizações quecolocam no centro de seus debates asconstruções sociais em torno do gê-nero e das mulheres prioritariamen-te, o machismo é uma forma de dis-criminação muitas vezes naturalizadaem nossa sociedade que coloca a mu-lher como um ser inferior ao homem.

O machismo pressupõe uma hie-rarquia nas relações e se manifesta dediversas formas: desde uma palavraque ofende, menospreza e/ou inferi-oriza a pessoa pelo fato de ser mulheraté formas de violência consideradasmais graves como a violência física,sexual e patrimonial. Muitas vezesesse machismo está sutilmente colo-cado em piadas, expressões culturais,músicas, falas e tons de falas que im-plicitamente (ou nem tão implicita-mente assim) partem do princípio deque as mulheres são mais frágeis, in-capazes de determinados feitos, me-nos inteligentes para algumas habili-dades, enfim, “pequenas verdades’

Mulheres A análise de gênero inclui diferentes feminilidades e masculinidades

Feminismos e Relações de GêneroPatrícia Abel Balestrin*

que se infiltram até mesmo em con-versas mais sérias de gente conside-rada intelectualizada e bem “culta”.

Se há um tempo atrás os debatesfeministas limitavam-se a discussõessobre “a mulher” (no singular), hoje épreciso que se faça uma análise plu-ral e relacional do gênero, incluindoas diferentes feminilidades e mascu-linidades, além das muitas identida-des sexuais que se articulam com ogênero e com outros marcadores so-ciais como classe, raça/etnia, geraçãoe nacionalidade. Identidade de gêne-ro refere-se ao modo como os sujei-tos tornam-se femininos e/ou mascu-linos, diferentemente do sexo queseriam as marcas corporais que deter-minam se um sujeito é homem e/oumulher. A crítica feminista surge parase contrapor ao determinismo bio-lógico onde, a partir do sexo mar-cado num corpo ao nascer, já esta-ria traçado seu destino e suas pos-síveis identidades...

Nesta lógica, um corpo de ho-mem deveria necessariamente seconstituir enquanto um corpo mas-culino e para seguir a norma deve-ria desejar um corpo do sexo opos-to e feminino. Da mesma forma, ocorpo de mulher deveria ser femini-

no e desejar um outro corpo mas-culino. Esta é a chamada heteronor-matividade – uma norma que regenosso pensamento, nossos compor-tamentos e emoções na direção deuma “heterossexualidade compul-sória”. Quando um sujeito foge àesta norma, ele é tido como desvi-ante, anormal, doente, incompleto,imaturo...

Enquanto não entendermos quetodos e todas, independente das iden-tidades que assumimos e desejamos,independente da idade que temos edas ocupações que nos têm, somosresponsáveis por construirmos umasociedade baseada na igualdade degênero, no respeito e na solidarieda-de, estaremos contribuindo de formadireta ou indireta para que inúmerasformas de opressão e discriminação semantenham em nossas vidas. É preci-so coragem e ousadia para levarmos asério este debate e imprimirmos emnossas relações cotidianas outras for-mas de ver, sentir, tocar, e pensar.

*Professora, psicóloga, integrantedo Geerge - Grupo de Estudos

de Educação e Relações de Gêneroe mestre em Educação

pela UFRGS/Porto Alegre.

A

Enquanto os feminismos são movimentos e teorizações quecolocam no centro de seus debates as construções sociaisem torno do gênero e das mulheres prioritariamente,o machismo é uma forma de discriminação que colocaa mulher como um ser inferior ao homem.

1 O programa Realidades apresentado porMarcelo Pelizzoli teve como título neste dia:Mulher, segundo sexo? Este programa vai ao artodos os domingos, às 18h, na rádio universitá-ria da UFPE.

2 Sheila Bezerra é militante do Fórum deMulheres de Pernambuco e mestre em Antro-pologia pela UFPE/Recife.

A crítica feminista surge para se contrapor aodeterminismo biológico onde, a partir do sexomarcado num corpo ao nascer, já estaria traçadoseu destino e suas possíveis identidades...

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Cultura Próximo Botequim terá rock e dance para fechar o ano

Diogo Nogueira faz a festa do servidor

Acima, DiogoNogueira solta a voz

no Botequim de 26de outubro.

O 8º Botequim do Sisejufe, em ho-menagem ao Dia do Servidor Público,aconteceu na noite de 26 de outubro,no Clube do Empresário, e reuniu maisde 400 pessoas. A noite foi aberta pelogrupo Roda Carioca, do compositor eservidor do Judiciário Federal Du Bas-conça. Em seguida, o público conti-nuou no samba com Diogo Nogueirae sua banda. Diogo começou na músi-ca aos 12 anos de idade acompanhan-do o pai, João Nogueira – morto em2003. Os fãs de João não se decepcio-naram com o jovem Diogo, cujo tim-bre lembra muito o do pai. Com novasmúsicas como “Samba pros poetas” e“Lua de um poeta” e clássicos como“O espelho” e “Todo menino é um rei”,Diogo Nogueira levou o público aodelírio.

No 9º Botequim do Sisejufe, agen-dado para 14 de dezembro, tambémno Clube do Empresário, será a vez dorock e do dance. Estão programadasduas bandas de rock, entre elas, já con-firmada, a Marafos. A noite tambémvai ter a discotecagem de um DJ.

Sobre a batuta do cantor, com-positor e escritor Du Basconça, vemaí o segundo Sarau Judicial Cool,no dia 23 de novembro de 2007. Naprimeira edição, os artistas da ca-tegoria deram um verdadeiro showno auditório do Sisejufe. Agora éhora do bis. Se você é poeta, pin-tor, cantor, instrumentista, pirata,mambembe, pirófago, malabarista,envie e-mail para [email protected] e se inscreva parao sarau. Se você gosta de música,poesia e arte em geral, venha para osarau. “Poetas, seresteiros, namora-dos, é chegada a hora de sorrir e can-tar” (Gilberto Gil).

2º Sarau Judicial CoolOs diretores do Sisejufe Dulavim de

Oliveira Lima Jr. e Ricardo de AzevedoSoares participaram, durante a 13ª Bie-nal do Livro, em setembro, de manifes-tação em prol do livro acessível. O ato foiorganizado pela associação de ex-alunosdo Instituto Benjamin Constant. Cercade quinze deficientes visuais visitaramestandes de editoras e livrarias, explica-ram o que é o livro acessível e reivindica-ram sua produção. O livro acessível éaquele que se adapta ao formato do de-senho universal, podendo, assim, serlido por todas as pessoas, com ou semdeficiência, de forma autônoma. Alémdisso, o livro acessível propicia acessoao texto de forma visual e digital, paraque, de um lado, as pessoas cegas pos-

Em defesa do “livro acessível”sam soletrá-lo e, de outro, as pessoascom baixa visão consigam lê-lo utilizan-do letras de tamanho aumentado. Na Eu-ropa e nos EUA já são vendidos livros queatendem ao conceito do desenho uni-versal, na medida em que o formatoDAISY – acrônimo em inglês para Siste-ma Digital de Informação Acessível – édotado dessas características. Os livrossão distribuídos em CD-ROM, fazendocom que seu conteúdo possa ser acessa-do por um cego, por exemplo, a partirde um computador. Além disso, o áudiopode ser reproduzido em qualquer to-cador de mp3. Desse modo, mesmo pes-soas que não necessitam desses recur-sos podem usar esses livros em situaçõescomo engarrafamentos, por exemplo.

Foto: Sílvio Amaral

Foto: Henri Figueiredo

Ao lado, a aberturado show, com o

grupo Roda Carioca,do servidor federal

Du Basconça(ao violão).

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Fulgêncio Pedra Branca Receitas da elite para acabar com o crime

Pobre ao molho de alcaparras

governo subsidie silenciadores parafuzis e metralhadoras e só libere aguerra do tráfico com armas dentro dasespecificações dos ruídos permitidaspelo Cesar Blog Maia. É como diz osecretário Beltrame, tiro em Copa éuma coisa, na favela da Coréia é outra.Já o governador Cabral defende o abor-to como controle da natalidade na fa-vela, afinal pobres têm muito mais fi-lho do que a classe média... só faltoudizer do que o cidadão de bem – osmesmos cidadãos que formam dois

*Fulgêncio é alcoólatra,hipocondríaco e escreve de graça

para esta página por falta de coisamais útil que para fazer.

terços dos consumidores de cocaína eque ganham mais do que 6 mil reaismensais. Lembra que, nas décadas de60 e 70, quandos os EUA bombardea-vam e fulminavam com DDD camposna América Latina, eles diziam que eramais fácil “acabar com os guerrilhei-ros nas barrigas das mães”... Qualquercoincidância não é mera similhença...

Do jeito que anda, algum gaiato vaisugerir que adotemos na culinária ca-rioca as receitas que um arguto reve-rendo inglês sugeriu como crítica aolivro de Malthus: preparar suculentospratos com a carne das crianças pobres.Afinal, seria uma maneira adequada aoque vem sendo pregado para se con-trolar a violência. Pratos do dia: pobreao Belle Menuer e pobre ao molho dealcaparras...

Nossa imprensa é cada vezmais folhetim sensacionalis-ta e direitoso do que veícu-lo capaz de informar. Notroféu besteirol da década a“revista”(?) Época estampa ofilósofo da humanidade Lu-ciano Huck, perguntandose ele mereceu ter o Ro-lex roubado. De manei-ra prestimosa o vene-rando intelectual emlugar de dar queixa nadelegacia mais próximavociferou nos jornaiscontra a falta de segu-rança... Teve até genteque disse que ele merecia,sim, ser roubado. Eu não che-go a tanto, roubo é roubo e vidahumana é sempre uma vida huma-na, por mais tolo que seja o seu porta-dor, mas que a repercussão estupen-da deste fato nos nossos jornais nosleva a pensar em quão imbecil é nossaimprensa, isto nos leva. A notícia hojeé medida pela importância que a pró-pria mídia lhe dá. Neste caso é comodiz o velho ditado, a montanha pariuum rato. Na tal matéria, o genial Huckdisse que a solução seria chamar o ca-pitão Nascimento – o neo-Rambo daZona Sul... afinal, matar pobre não éviolência, violência é só quando a balaacha o peito branco de quem não morana favela. Negro, nordestino, pobre,morador de favela, quando morre, ésó um número.

Deu n’O Globo: “tiroteio em fave-las incomoda vizinhos ao morro”. Nãoincomoda quem mora no morro não,né? Já tá acostumado... Que durmamcom tiroteio, que corram das balas,que morram... e daí? Imprensa é praquem tem “vida produtiva”, por issoos tiros atrapalhando a paz vizinhan-ça rica, ah, isto é notícia. Sugiro que o

Preparar suculentospratos à basede crianças pobrespode virar alternativapara se controlara violênciano Rio de Janeiro.

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