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ANO III - NÚMERO 8 - FEVEREIRO DE 2003 INFORMATIVO DO ESCRITÓRIO PINHEIRO PEDRO ADVOGADOS Os grandes conglomerados de cidades, alØm de reunir milhıes de brasileiros, apresentam problemas sócio-ambientais de difícil soluçªo. Nesta ediçªo tratamos do assunto, buscando contribuir para as soluçıes. Na entrevista com o Deputado Joªo Caramez (PSDB), ele fala em Programa de Qualidade Total para enfrentar o assunto. Crise mobiliza a sociedade e já se pratica o uso da água reciclada no Brasil. Conheça mais sobre a chamada água de reúso, o andamento de alguns projetos e as carências institucionais e legais do assunto. Antonio Fernando Pinheiro Pedro diz que o “Ambiente de Regulação”, em marcha no Brasil e em diversas partes do mundo, não comporta ideologias com blindagens tradicionais de esquerda x direita e liberal x autoritário. PÆg. 9 PÆg. 16 `gua de Reœso Artigo Energia Limpa e RenovÆvel A crise de energia no Brasil ensinou que é preciso incrementar a matriz energética brasileira com geração de energia limpa e renovável. Em entrevista, o deputado Arnaldo Jardim, da Frente Parlamentar para a Energia Limpa do Estado de São Paulo, fala sobre os desafios de impedir nova crise e sobre as vantagens da energia de biomassa no Brasil. PÆg. 14 6 6 Regiıes Metropolitanas Regiıes Metropolitanas Foto: Luiz ClÆudio Barbosa Pag. PÆg.

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A N O I I I - N Ú M E R O 8 - F E V E R E I R O D E 2 0 0 3

I N F O R M A T I V O D O E S C R I T Ó R I O P I N H E I R O P E D R O A D V O G A D O S

Os grandes conglomerados de cidades, além de reunir milhões debrasileiros, apresentam problemas sócio-ambientais de difícil solução.

Nesta edição tratamos do assunto, buscando contribuir para assoluções. Na entrevista com o Deputado João Caramez (PSDB), ele

fala em �Programa de Qualidade Total� para enfrentar o assunto.

Crise mobiliza a sociedade e já se praticao uso da água reciclada no Brasil.Conheça mais sobre a chamada águade reúso, o andamento de algunsprojetos e as carências institucionaise legais do assunto.

Antonio Fernando Pinheiro Pedro diz que o“Ambiente de Regulação”, em marcha noBrasil e em diversas partes do mundo, nãocomporta ideologias com blindagenstradicionais de esquerda x direitae liberal x autoritário.Pág.9 Pág.16

Água de Reúso Artigo

Energia Limpa e RenovávelA crise de energia no Brasil ensinou que é preciso incrementar a matriz energética brasileiracom geração de energia limpa e renovável. Em entrevista, o deputado Arnaldo Jardim, daFrente Parlamentar para a Energia Limpa do Estado de São Paulo, fala sobre os desafiosde impedir nova crise e sobre as vantagens da energia de biomassa no Brasil. Pág.14

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RegiõesMetropolitanas

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Agradecimentos - 1Prezado Antonio Fernando Pinheiro Pedro. Os

Policiais Ambientais do Estado de São Paulo gostariamde render merecidas homenagens a Vossa Senhoria emfunção do apoio prestado pelo seu Escritório naelaboração de mais de 5.500 cartões de Natal, fato quecontribuiu muito para a aproximação desta instituiçãocom diversas autoridades e pessoas da comunidadepaulista e de todo o Brasil. Por esse motivo, os mais dedois mil policiais ambientais agradecem, estandoincluídos neles este Comandante e todos Oficiais doEstado Maior do Comando de Policiamento Ambiental.

João Leonardo Melle,Coronel e Comandante do PoliciamentoAmbiental, da Polícia Militardo Estado de São Paulo.

ExcelenteCaro Amigo Fernando. Excelente o último número

do “Ambiente Legal”, sobretudo pelas matérias sobre onovo Código Civil. Principalmente para os advogados“Expatriados” as informações ali contidas são degrande interesse. Parabéns! Aproveito a oportunidadepara desejar a você e a todos do Escritório Boas Festase um Ótimo 2003!

Alberto Ninio –Assistant Executive SecretaryThe Inspection Panel – The World Bank.Washington, DC, EUA.

Muito impressionadoPrezados senhores, sou estudante de uma

especialização em Educação Ambiental, naUniversidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais etive contato com o Informativo “Ambiente Legal” noFórum Social que aconteceu em minha cidade. Fiqueibastante impressionado com o mesmo, já que na áreaambiental, são poucos os boletins informativos.Assim, venho solicitar que o meu nome seja incluídono mailing do informativo. Será muito importantepara os meus estudos a leitura do mesmo.Atenciosamente,

Audrey de Souza Coimbra, Juiz de Fora, MG.

Agradecimentos - 2Ao doutor Antonio Fernando Pinheiro Pedro e à

doutora Edna Regina Uip Pinheiro Pedro os nossosagradecimentos pelo envio do exemplar da edição n.º 7“Revista Ambiente Legal”.

Gilberto Natalini, vereador pelo PSDB em SãoPaulo, Capital.

InteressanteRecebi exemplar do periódico Ambiente Legal e

achei muito interessante. Gostaria de receber aspróximas edições. Também achei muito interessante opequeno guia de legislação ambiental federal e gostariade receber exemplar adicional.

Sidney Aluani,gerente comercial ENSR International Brasil.

Espírito PúblicoPrezado Pinheiro Pedro, tenho o prazer de anunciar

o recebimento da edição número 7 do informativo“Ambiente Legal”, agradecendo-lhe e a toda equipe,pela distinção, apresso e consideração que V. Sa.sempre demonstrou pela Policia Ambiental.

Lembro-me com muita alegria de sua honrosapresença em Birigüi, atendendo nosso convite paraproferir palestra sobre a Lei 9.605/98 (a Lei dos CrimesAmbientais), quando de sua aprovação pelo CongressoNacional. Na ocasião, sem medir sacrifícios, adiou seuscompromissos para, de forma voluntariosa, nos brindarcom sua intelectualidade, amizade e simpatia, em clarademonstração de espírito público e amor às causasAmbientais. Agora no Comando do 2º Batalhão dePolícia Ambiental com sede em Birigüi, colocamo-nosa vosso dispor como amigo e servidor público.Parabéns pelo “Ambiente Legal” e pelas conquistaspolíticas. Felicidades!

Milton Paulo Boer –Comandante do 2º Batalhão de Polícia Ambiental.

cartas

Participação marcante

Foi marcante a participação daPinheiro Pedro – ConsultoriaAmbiental na IV Fimai – FeiraInternacional de Meio Am-biente Industrial, realizada noPavilhão Vermelho do ExpoCenter Norte, entre os dias 23e 25 de outubro. O destaque se

deve não só ao número de visitantes queestiveram no estande do escritório, mastambém em razão da qualidade dessas visi-tas. Empresários, especialistas emquestões ambientais nas mais diversasáreas do conhecimento, parlamentares,

secretários de estado e representações dedelegações estrangeiras passaram peloestande para conhecer a organização, es-clarecer dúvidas e firmar parcerias.

Antonio Fernando Pinheiro Pedroavaliou como positiva a participação doescritório em um dos principais eventosambientais do País. Chamou a atenção dePinheiro Pedro o nível de qualificação dosprofissionais participantes e o número ex-pressivo de jovens estudantes, interessa-dos na área de direito ambiental, que con-sidera estratégica para o futuro do Brasil.

Segundo Julio Tocalino Neto, Dire-

tor Geral da Fimai, a Feira Internacionaldo Meio Ambiente Industrial mostrou ocrescimento desse mercado no Brasil. Se-gundo ele, os 280 expositores receberammais de 20 mil visitantes, durante os trêsdias da realização da Feira. Entre eles es-tiveram também os especialistas que par-ticiparam do IV Seminário Internacionaldo Meio Ambiente Industrial e da Glo-bal Conference “Building a Sustai-nable World”, organizado pela ABEPO-LAR – Associação Brasileira de Ecolo-gia e de Prevenção à Poluição das Águase do Ar.

Rua Loureiro da Cruz, 225 - cep 01529-020Aclimação - São Paulo - SP, ou pelo e-mail:

[email protected]

Escreva para nosso informativo:

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ais um ano chegou ao fim. O ano de 2002 foi intenso

em inúmeros aspectos e próspero em alguns. No

campo esportivo fomos campeões de futebol pela

quinta vez. No plano político, o País acaba de viver

uma das mais claras demonstrações de que,

O Global e o Local

Mfinalmente, a democracia se acha consolidada, com o término do

processo eleitoral sem traumas e com a transição de poder, bastante

civilizada, para uma frente de oposição. Oxalá as promessas de

progresso social tenham materialização.

No campo ambiental os resultados não foram tão auspiciosos.

Não apenas no âmbito planetário, mas também no País. Dez anos

após a ECO 92, no Rio de Janeiro, foi realizada, em setembro

último, em Johanesburgo, na África do Sul, a RIO+10, mais uma

mega-conferência da ONU destinada a avaliar os progressos

havidos a partir da conferência do Rio de Janeiro. O balanço não

foi dos mais animadores.

Nesta edição trazemos matérias relacionadas a política,

ambiente, direitos, cidadania. O problema das regiões

metropolitanas brasileiras, a crise energética e a busca por uma

matriz limpa e sustentável, o aquecimento da Terra e os efeitos

esperados a partir da adoção do Protocolo de Kyoto, bem como

matéria sobre decisão inédita de uma das Câmaras do Tribunal de

Justiça do Estado do Paraná, que obriga um fabricante de

refrigerantes a reciclar as garrafas PET, após o uso, como forma de

minimizar os impactos ambientais destas embalagens no ambiente.

Outra matéria importante refere-se ao reuso da água, um novo

conceito entre nós brasileiros, que coloca em pauta o tema do uso

racional de um bem natural abundante entre nós, em determinadas

regiões do país, mas que começa ficar escasso justamente nas áreas

com grandes concentrações humanas.

Enfim, procuramos mais uma vez trazer ao leitor de AmbienteLegal uma visão ampla, sem esquecer dos assuntos locais e

daqueles que tratam da vida de cada indivíduo. “Pensarglobalmente e agir localmente” é um

ensinamento da cultura ambiental que muito prezamos e

procuramos praticar. Esperamos com isso possibilitar

conhecimento e reciclagem de idéias e conceitos aos nossos

leitores e amigos.

Feliz 2003!O Editor

O Boletim Ambiente Legalé uma publicação doEscritório Pinheiro Pedro Advogados .

• Rua Loureiro da Cruz, 225,cep 01529-020 - AclimaçãoSão Paulo - SPTelefax: (5511)3208-3899 e 3272-8788www.pinheiropedro.com.bre-mail: [email protected]

Sócios DiretoresDr. Antonio Fernando Pinheiro PedroDra. Edna Regina Uip Pinheiro Pedro

Consultor GeralDr. Armando Pedro

Advogados AssociadosDra. Luciane Helena VieiraDr. Cássio Felippo AmaralDr. Rolf PetermannDr. Sérgio Luiz Citino de Faria MottaDr. Renato SakamotoDra. Adriana Pivato

Consultores AssociadosDr. Daniel J. LombardiDra. Flavia Witkowski FrangettoDra. Simone Vicente de AzevedoDra. Simone Nogueira

Gerente Administrativo FinanceiroDr. Armando Benetollo

Gerente de Marketing e ProjetosRenato Augusto Pinheiro Pedro

Jornalista ResponsávelPaulo Antunes - Mtb 11.960e-mail: [email protected]

Criação, produção gráficae editoraçãoJotaC Design e ComunicaçãoTel.: (11) 3924 5705www.jotac.com.br

Tiragem desta edição:7.000 exemplares.

editorial

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Decisão judicial enfatizaresponsabilidade pós-consumo

E nquanto dormita nos gabi-netes de deputados e sena-dores, no Congresso Nacio-nal, o projeto da chamadaLei da Política Nacional dosResíduos Sólidos, a Oitava

Câmara Cível, do Tribunal de Justiçado Estado do Paraná - presidida peloDesembargador Ivan Bortoleto, sendorelator o Desembargador Celso Roto-li de Macedo, e composta, ainda, peloJuiz Convocado Antônio Renato Stra-passon - proferiu, em agosto último,importante decisão em Apelação Ci-vil interposta pela Habitat - Associaçãode Defesa e Educação Ambiental, or-ganização não governamental queajuizara Ação Civil Pública contra aRefrigerantes Imperial Ltda. Oacórdão obriga a empresa a providen-ciar, entre outras coisas, “o recolhi-mento das embalagens dos produtosque vier a fabricar, após o consumo,quando deixadas em parques e praças,ruas, lagos, rios e onde forem encon-tradas”.

A decisão unânime da Oitava Câ-mara Civil do Tribunal de Justiça doEstado do Paraná, proferida nos autosda Apelação Civil n.º 118.652-1, re-

formando parcialmente decisão daprimeira instância, faz referências con-ceituais importantes para a gestãoambiental.

Diz o acórdão: “Se os avanços tec-nológicos induzem o crescente em-prego de vasilhames de matéria plás-tica tipo PET (polietileno tereftalato),propiciando que os fabricantes quedelas se utilizam aumentem lucros ereduzam custos, não é justo que a res-ponsabilidade pelo crescimento ex-ponencial do volume do lixo resultanteseja transferida apenas para o gover-no ou a população.”

Ao invocar dispositivos legais daUnião e do próprio Estado do Paraná,o relatório afirma que “a chamada res-ponsabilidade após o consumo, nocaso de produtos de alto poder po-luente, como as embalagens plásticas,envolve o fabricante de refrigerantes,pelos danos ambientais decorrentes.Esta responsabilidade é objetiva e im-plica na sua condenação nas obri-gações de fazer, a saber: adoção deprovidências em relação ao destino fi-nal e ambientalmente adequado dasembalagens plásticas de seus produ-tos, e de parte dos seus gastos com

publicidade em educação, sob pena demulta”.

Nesse quesito, a condenação é ex-plicita, devendo a empresa de refrige-rantes, após a publicação do acórdão,“dar início imediato a campanha pu-blicitária às suas expensas, com des-tinação de no mínimo 20% (vinte porcento) dos recursos financeiros quevier a gastar anualmente com a pro-moção de seus produtos, na divul-gação de mensagens educativas decombate ao lançamento de lixo plás-tico em corpos d’água e no meio am-biente em geral, informando o con-sumidor sobre as formas de reapro-veitamento e reutilização de vasilha-mes, indicando os locais e as condi-ções de recompra das embalagensplásticas, e estimulando a coleta des-tas visando a educação ambiental esua reciclagem. Deverá ainda im-primir em local visível e destacadoda embalagem de todos os seusprodutos informações sobre a possi-bilidade da sua reutilização e recom-pra, advertindo o consumidor quantoaos riscos ambientais advindos de seudescarte no solo, corpos d’água ouqualquer outro local não previsto pelo

A HABITAT - Associação de Defesa e Educação Ambientalpropôs Ação Civil Pública contra a Refrigerantes Imperial Ltda.

Em grau de Apelação, conseguiu decisão que obriga a empresa a recolherembalagens abandonadas em logradouros públicos. A decisão é importante

para a defesa ambiental e para a política dos resíduos sólidos.

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Imagem do Rio Pinheiros em São Paulo, com garrafas PET impactando o ambiente

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5onforme antecipou “Am-biente Legal” em sua últi-ma edição, o governo doEstado de São Paulo acabade editar o Decreto n.º47.397, publicado no

Muda o Licenciamento Ambientalno Estado de São Paulo

CDiário Oficial do dia 5 de dezembro,que altera e moderniza a legislação

órgão municipal competente de lim-peza pública”. O descumprimento dadecisão implicará, para a empresa,multa diária equivalente a 0,5% (meiopor cento) do valor dado à causa, aser carreada para o fundo previstopela lei da Ação Civil Pública ( Lein.º 7.347/85).

Na verdade a ONG requereu, ain-da, que “fosse suspenso o envasamen-to de produtos nas garrafas plásticasPET, por serem prejudiciais ao meioambiente e causarem danos gravescomo o entupimento de galerias plu-viais, proliferação de insetos, prejuí-zo à navegação e à biota, contami-nação do lençol freático e dano es-tético”. O acórdão, porém, assim res-pondeu a este pedido: “Não se podesimplesmente impedir o ato de envasede bebidas e refrigerantes em emba-lagens plásticas tipo PET, como quera apelante. Tal pretensão é juridica-mente impossível, pois seu acolhi-mento afrontaria as normas constitu-cionais que asseguram o respeito aosvalores sociais do trabalho, da livreiniciativa, e do livre exercício dequalquer atividade econômica”. Tam-bém não foi acolhido, por igual mo-tivo, o pedido de apresentação decronograma para substituição destematerial na linha de produção dafábrica de refrigerantes, pois se en-tendeu que a utilização da matériaplástica, nos mais diversos ramos daindústria, inclusive nas embalagensde bebidas e refrigerantes, é um fatoirreversível, além de não ser vedadaem nosso ordenamento jurídico.

O relator do acórdão faz ressalvaimportante, que serve também delição para a gestão ambiental, seja elapública ou privada. Diz o texto: “Sea causa não pode ser combatida, deve-se ao menos atacar objetiva e efi-cientemente os efeitos pelas mais di-

versas formas, sob pena de resignaçãoe assentimento em relação à lentatransformação do planeta num gi-gantesco depósito de lixo. Por istoque se deve priorizar o quanto antesa reciclagem obrigatória. No casobrasileiro, aliás, isto é de fundamen-tal importância até pelos efeitos so-ciais benéficos que traz ao fomentara chamada economia informal.”

E para não dizer que a decisão doTribunal paranaense foi inflexível erestritiva aos negócios da empresa, àobrigação de fazer o recolhimento dasembalagens dos produtos, foi facul-tada a adoção de “procedimentos dereutilização e recompra, por preço

justo, de no mínimo 50% (cinqüentapor cento) das garrafas plásticas queproduzir a cada ano, após o uso doproduto pelos consumidores, a fim dedar-lhes destino final ambientalmenteadequado, assim entendida a utiliza-ção e reutilização de garrafas e ou-tras embalagens plásticas em pro-cessos de reciclagem, e para a fabri-cação de embalagens novas ou paraoutro uso econômico, respeitadas asvedações e restrições estabelecidaspelos órgãos oficiais competentes daárea de saúde”.

Para Antonio Fernando Pinheiro

Pedro, Diretor do Escritório “PinheiroPedro Advogados”, não resta dúvidasobre a importância desta decisão dojudiciário paranaense, que certamenteproduzirá efeitos em outros estadosbrasileiros e em outras esferas do Po-der Judiciário em todo o País. “É umadecisão acertada nos aspectos legais,sustentada em conceitos ambientaisavançados e no princípio jurídico-econômico do ‘poluidor pagador’,além de benéfica para o meio am-biente pelos seus efeitos práticos. Nãopode, também, ser considerada umadecisão que prejudique a atividadeeconômica, afinal, não acolheu ospedidos extravagantes formuladospela organização não governamentale está acorde com a defesa da econo-mia e da livre iniciativa, que deveadotar como princípio a defesa domeio ambiente, segundo o que reza oartigo 170, VI, da Constituição Fede-ral. Enfim, é uma decisão que devedeixar a todos nós que militamos coma causa ambiental muito felizes e es-perançosos, bem como orgulhosostodos aqueles que operam no ramo dodireito. Ou seja, mesmo não havendouma Lei nacional que discipline aquestão dos Resíduos Sólidos comoum todo, já existe legislação sufi-ciente para amparar decisões judi-ciais em prol do meio ambiente, re-interpretando conceitos civis sob aótica dos interesses difusos. O Tribu-nal de Justiça do Paraná, por meio desua Oitava Câmara Civil, acaba de es-crever uma importante página nahistória do meio ambiente de nossoPaís”, avalia Pinheiro Pedro. À so-ciedade civil cumpre acompanhar ocumprimento dessa importante de-cisão judicial. “Ambiente Legal” es-tará vigilante e retornará ao assuntorepercutindo os efeitos dessa decisãoem edição futura.

que dispõe sobre a prevenção e con-trole da poluição do meio ambiente.

O Decreto introduz tese já defen-dida neste Boletim, da necessária des-centralização do licenciamento. “Noentanto, deverá ser objeto de análisemais acurada quanto à sua aplicabili-dade”, diz Antonio Fernando Pinheiro

Pedro. Entre as principais mudançasestão a instituição da Licença Prévia,a obrigatoriedade de renovaçãoperiódica das licenças e o licencia-mento municipal para atividades deimpacto ambiental eminentementelocal.

"Além de acertada,esta decisão judicial,está sustentada em

conceitos ambientaisavançados como o dopoluidor pagador. Ela

vai produzir muitosefeitos em todo o

País."

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A indagação acima está nocentro das discussões queenvolvem as chamadasRegiões Metropolitanasbrasileiras. Sérgio de Aze-vedo, cientista político,

tros. Na oportunidade, foram estabe-lecidas as Regiões Metropolitanas deBelém, Belo Horizonte, Curitiba, For-taleza, Porto Alegre, Recife, Salvadore São Paulo. Um ano depois foi criadaa do Rio de Janeiro. Atualmente elastotalizam 26, sendo as mais recentesas da Foz do Itajaí, Carbonífera e deTubarão, estabelecidas em janeiro de2002, no Estado de Santa Catarina.

Segundo informações da Emplasa,do governo do Estado de São Paulo,essas regiões concentram um total de413 municípios, onde vivem poucomais de 68 milhões de habitantes, dis-tribuídos numa área aproximada de167 km2.

Mas por que será que o institutochamado “Região Metropolitana” nãotem funcionado?

As explicações são muitas e depen-dem do viés de análise de seus autores.Estão refletidas na enorme quantidadede estudos acadêmicos, documentosgovernamentais e publicações dasinstituições criadas para tratar daspolíticas metropolitanas.

No Judiciário, a questão dasRegiões Metropolitanas foi objeto deamplo debate na Ação Popular pro-movida por moradores do Municípiode São Paulo, sob o patrocínio do ad-

vogado Antonio Fernando PinheiroPedro, e na Ação Civil Pública, pro-movida pelo Ministério PúblicoPaulista, após representação das asso-ciações de bairro afetadas, ajuizadasem face da Municipalidade de SãoPaulo e seus gestores, contra a insta-lação de dois mega-incineradores nacidade. Os processos foram conduzi-dos em meio a um profundo debatesobre a natureza, validade jurídica evigência do instituto da Região Me-tropolitana de São Paulo, em especialsobre o efeito do deslocamento do cha-mado interesse local prevalente (Mu-nicipal) para a esfera tutelar do órgãoestadual de gestão da metrópole.Naqueles autos constaram precisasmanifestações de Eros Roberto Grau,Toshio Mukay, Pinheiro Pedro, entre

outros (documen-tação que será futu-ramente exposta nosite do escritório, tãologo termine sua re-formulação).

Três fases mar-cam os últimos trintaanos de implemen-tação das regiõesmetropolitanas noBrasil:

A primeira, apartir dos anos 70,vincada pela centrali-zação político-finan-ceira da União, caben-do aos estados federa-dos responsabilidade

formal na implementação das gestõesmetropolitanas, tudo em detrimento dosmunicípios. Esse período, que vai de1973 a 1988, com forte componente au-toritário do modelo. Contudo, o mode-lo apresentava estrutura institucional edisponibilidade de recursos federais,que permitiram implementação de vá-rios projetos metropolitanos de sanea-mento, transporte coletivo e tráfegourbano.

A segunda fase é marcada pela

professor da Universidade Estadual doNorte Fluminense e pesquisador co-laborador do Observatório de Políti-cas Urbanas da Região Metropolitanade Belo Horizonte, em recente traba-lho publicado, diz que o formato ins-titucional das regiões metropolitanasé, na verdade, “tema polêmico na lite-ratura nacional e internacional – espe-cialmente nos países que optaram peloregime federativo -, em virtude dacomplexa e controversa divisão depoder entre as esferas de governo”. Dizmais: “Ainda que os governos esta-duais e os municípiosmetropolitanos re-conheçam formal-mente a importânciainstitucional da es-fera metropolitana,tendem a ver essaquestão como umjogo de ‘soma zero’,onde uma maior‘governança’ metro-politana implicariaredução de poderpara o estado e/oumunicípios”.

As regiões metro-politanas brasileirasforam criadas com apromulgação da LeiComplementar Federal n.º 14, de 8 dejunho de 1973, inscrevendo, assim, aquestão metropolitana na ConstituiçãoFederal. Essa lei definiu tais regiõescomo “um conjunto de municípioscontíguos e integrados social e eco-nomicamente a uma cidade central,com serviços públicos e infra-estrutu-ra comuns”. Na verdade, a finalidadeda criação de regiões metropolitanasfoi tentar resolver o agravamento dosproblemas urbanos nos grandes cen-

Como administrar“cidades que se juntam”?

As Regiões Metropolitanas Brasileiras, com seus imensosaglomerados humanos, reúnem também todas as mazelas sociais das populaçõescarentes do país. Nesta reportagem e na entrevista que a segue, com o Deputado

João Caramez, tratamos dos desafios da gestão metropolitana.

O cenário de decadência social não difere das "cidades medievais"

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hegemonia da retórica municipalista,na qual a questão metropolitana eraidentificada com os desmandos dosgovernos militares. A autonomia mu-nicipal é reconhecida na ConstituiçãoFederal de 1988, induzindo resistên-cia explícita à gestão metropolitana,cuja implementação é transferida paraos estados federados.

Por fim, a terceira fase, iniciada nosanos 90, com a reforma do Estado e oprocesso de privatização, caracteriza-se pela celebração de parcerias e con-sórcios entre municípios metropoli-tanos, implementando-se processo ain-da incipiente de redes nacionaistemáticas e agências de análise e fo-mento regional urbano. Caracteriza-sepelo envolvimento dos consórcios in-termunicipais e formação de convêniosem regiões conurbadas, buscandoequacionar o saneamento ambiental ea gestão dos recursos hídricos. Obser-va-se também o surgimento de asso-ciações civis de várias matizes e derepresentações da iniciativa privada,em conselhos e manifestações públi-cas. Por outro lado, instala-se nos es-tados ambiente de regulação das ati-vidades de cunho público, recém-privatizadas.

Embora tenham sua existência re-conhecida pela Constituição Federal,as regiões metropolitanas não confi-guram unidade federativa ou entidadeautônoma de governo. A experiênciade poder no Brasil inclui definiçõesprecisas de esferas administrativas –federal, estadual ou municipal – nãocontemplando instâncias inter-mediárias. Isso gera um vazio institu-cional ainda não resolvido, com refle-xos no saneamento e nos transportesmetropolitanos, por exemplo. Cadamunicípio cuida bem dos assuntosmunicipais, mas não há uma instânciade relacionamento horizontal forte.

Na avaliação de Sérgio de Azevedo,o fenômeno permanece como um grandedesafio para um país que, além de con-centrar mais de 30% da população emregiões metropolitanas, concentra tam-bém nelas suas maiores riquezas e osmais fortes índices de pobreza.

Uma auditoria do TCU – Tribunalde Contas da União levada a cabo como IBAMA, Agência Nacional deÁguas e Ministério do Meio Ambiente,constatou que 19 regiões metropolita-nas do País podem entrar em colapsono que tange ao abastecimento deágua. Essa crise não se deve apenasaos fatores climáticos, mas tambémpor não ser a água tratada como bemestratégico.

Soma-se a isso não haver inte-gração da Política Nacional de Recur-sos Hídricos com as demais políticaspúblicas. A falta de políticas abran-gentes para essas regiões também ex-plica essa “crise da água-energia” nosgrandes centros urbanos.

Como exemplo da dificuldade deimplementação integrada de políticas,a Região Metropolitana da BaixadaSantista (que reúne nove municípios),criada em 30 de julho de 1996, con-seguiu aprovar somente em 3 de maiode 1999 diretrizes para elaboraçãodo “Relatório do Plano Diretor deResíduos Sólidos da Região Metropo-litana” e, mais recentemente, em 30de agosto de 2001, aprovou outra de-liberação tratando temas como saúde,segurança pública, saneamento, edu-cação, habitação e transportes metro-politanos.

Não é pouco. Rodolfo Nicastro,diretor do Departamento de MeioAmbiente da Prefeitura do Guarujá,assevera que são muitos os avanços naBaixada Santista desde a criação daRegião Metropolitana, porém não bas-ta a institucionalização legal dasregiões metropolitanas. De qualquerforma, ele entende que as pessoas es-tão aprendendo a lidar com os temasda região metropolitana da BaixadaSantista. Fóruns de discussão, câma-ras setoriais, participação da sociedadecivil são instrumentos capazes de tor-nar as regiões metropolitanas ativas,atuantes e de auxiliá-las a formularpropostas para solução dos problemasregionais.

O Estado de São Paulo abriga,

além da Região Metropolitana de SãoPaulo e a da Baixada Santista, a RegiãoMetropolitana de Campinas. As trêsconcentram cerca de 21,7 milhões dehabitantes, ou seja, 58,6% da popu-lação do Estado e 12% do total de ha-bitantes do País. As três conurbaçõesapresentam Produto Interno Bruto quecorresponde a 63% do PIB estadual equase um quarto do nacional.

A população da Grande São Pauloforma um dos três maiores aglomera-dos urbanos do mundo, ao lado daRegião Metropolitana de Tóquio, com29 milhões de habitantes e da Cidadedo México, com 18 milhões de habi-tantes.

O Programa do Governo Federal,“Melhorar a Qualidade de Vida nasAglomerações Urbanas e RegiõesMetropolitanas”, revela que a reestru-turação econômica, proporcionadapelo Plano de Estabilização do País,reorganizou a base produtiva entre asregiões, alterando a configuração darede de cidades, com mudanças noperfil da demanda urbana. Isso signifi-ca dizer que está ocorrendo uma inte-riorização do fenômeno urbano, tor-nando cada vez mais difuso os con-ceitos de urbano e rural. Há um cresci-mento das cidades de porte médio. Há,também, uma aceleração da urbaniza-ção das áreas de fronteiras econômi-cas. Nos centros urbanos, a periferianão parou de crescer e confirmou umatendência à formação e consolidaçãode aglomerações urbanas metropoli-tanas e não-metropolitanas. As atuais49 aglomerações urbanas reúnem 379municípios, concentram cerca de 47%do total da população do País, um to-tal de 74,3 milhões de habitantes. Asaglomerações e regiões metropolitanasconcentram 70% dos domicílios fave-lados do Brasil, aproximadamente cin-co milhões de pessoas ou 12% da po-pulação metropolitana.

“A grande lição, após 20 anos deausência de uma política urbana para oPaís, é que o imenso desafio de me-lhorar a qualidade de vida das grandescidades não depende apenas de recur-sos abundantes, mas de um grande in-vestimento no fortalecimento institucio-nal e na capacidade técnica das prefei-turas”, conclui o documento federal.

O resgate dos instrumentos degestão metropolitana e sua inclusão noambiente de regulação, estruturado emagências, conselhos e mecanismos defomento, como apontado na entrevis-ta a seguir, pode, com certeza, ilumi-nar ainda mais essa grande e tormen-tosa questão.

Nas Regiões Metropolitanas estão 70%dos domicílios favelados

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Um Programa de �Qualidade Total� para as Regiões Metropolitanas

quanto ao sistema de coleta de lixo. Istonão quer dizer que não haja pontos posi-tivos na constituição de uma regiãometropolitana. O foco central desta dis-cussão é propor novas idéias que ve-nham aperfeiçoar e corrigir distorçõesda estrutura já existente.

AL - E quais seriam essas novasidéias?

João Caramez - Entendemos serinteressante a criação de uma “Secre-taria Especial de Gestão Metropoli-tana”. Essa secretaria será responsável

pela condução estratégica das políticaspúblicas relacionadas às questões quepermeiam a interface entre infra-estru-tura e serviços nos diversos municípios.As ações derivadas destas políticas se-riam efetivadas por “Agências Metro-politanas de Gestão”, braços executi-vos da nova pasta. Para legitimar essaatuação deverão ser implementados os“Conselhos Metropolitanos de Desen-volvimento”, constituídos por represen-tantes dos municípios da respectivaregião e com o intuito maior de propor,analisar e sancionar políticas abran-gentes que corrijam distorções e me-lhorem os aspectos sócio-ambientaisenvolvidos. Creio que um instrumento

O papel do Poder Legislativo nestequarto da história, especialmentefrente aos crescentes problemas

desta natureza é providencial, pois asresponsabilidades parciais serão anali-sadas em conjunto, com o objetivo deestabelecer regras justas para a cons-trução de um patamar mais digno dequalidade de vida, aumento da produ-tividade, e, o mais importante, desen-volvimento sustentável, com a di-minuição e eliminação das ações quedegradam o ambiente urbano.

AL - Qual é sua avaliação sobre aRegião Metropolitana de São Pauloneste contexto?

João Caramez - O que se observana Região Metropolitana de SãoPaulo são algumas ações isoladas, como propósito de corrigir distorçõesgraves. Por exemplo, existem algunstrabalhos visando aperfeiçoar o siste-ma de coleta, transporte e disposiçãodos resíduos sólidos. Especificamenteno Grande ABC, que está inserido naRMSP, através do Consórcio Intermu-nicipal. Entretanto é um procedimentoisolado, que envolve apenas os municí-pios do ABC.

AL - Com as bases legais e con-ceituais definidas, como implementaros instrumentos que façam andar aspolíticas metropolitanas?

João Caramez - Tenho convicçãoque, se os instrumentos de política me-tropolitana forem implantados, fare-mos formidáveis progressos. Porém, énecessário, para o bom funcionamen-to, que se tomem medidas de mudançasestruturais. Hoje, dentro da Secretariade Transportes existem quatro empre-sas vinculadas à sua estrutura: Empla-sa, EMTU, CPTM e o Metrô, todas elascom sua respectiva autonomia de plane-jamento, sem que haja uma interação,cada uma cuidando de sua área. Oideal é ter apenas uma empresa noplanejamento, que ofereça subsídiostécnicos que tornem coerentes obrascomo o Rodoanel ou a Linha Cinco doMetrô. Ou seja, produza um estudocompleto sobre a ocupação e uso doentorno ou da região de influência des-sas obras, para evitar graves problemasde ocupação desordenada dos espaços.

AL - Dê alguns exemplos de medi-das que poderiam ser aplicadas paraagilizar a implementação e institucio-nalização de instrumentos e mecanis-mos de gerenciamento da RMSP.

enfrentados pelas chamadas RegiõesMetropolitanas e outros aglomeradosurbanos - que, ao mesmo tempo em quereúnem riquezas, concentram contin-gentes humanos e toda sorte de proble-mas sociais, econômicos e ambientais- são os temas da entrevista que Am-biente Legal traz ao leitor, com o Depu-tado Estadual pelo PSDB, João Cara-mez. Ex-Prefeito de Itapevi - uma das39 cidades que compõem a RegiãoMetropolitana de São Paulo - e ex-Chefe da Casa Civil do Governo doEstado, o deputado assume sua segun-da legislatura tendo sido o mais votadona Região Metropolitana de SãoPaulo, onde pretende contribuir, comseu conhecimento e esforço político,para o encaminhamento de “novasidéias” para enfrentar os graves pro-blemas das regiões metropolitanas.

Ambiente Legal - As questões dasRegiões Metropolitanas parecem serinsolúveis, dada a magnitude que ga-nham com a somatória dos problemasdas diversas cidades que compõem es-sas áreas. Porém, há quem afirme que,na verdade, “faltam instrumentos”para fazer as regiões metropolitanasfuncionar. Isso é verdade? Quais sãoestes instrumentos? Com eles asRegiões Metropolitanas estarão prote-gidas de interesses políticos menoresque inviabilizam as políticas públicasnecessárias?

João Caramez - De fato, com osurgimento das regiões metropolitanasatravés do processo de conurbação,problemas que antes eram gerenciadosno âmbito de cada município deixaramde ser tratados. Perdeu-se alguns aspec-tos relativos à responsabilidade admi-nistrativa e, consequentemente, ques-tões aparentemente simples tornaram-se vultosas e de difícil solução. Osassuntos relativos à infra-estrutura, porexemplo, passaram a sofrer contínuadeterioração por conseqüência de políti-cas conflitantes entre os municípiospertencentes a uma região metropoli-tana. Existem inúmeros exemplos dequeda de qualidade no transporte públi-co, bem como ações questionáveis

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Caramez: �novas idéias paraas regiões metropolitanas.�

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João Caramez - Acredito que acriação de uma “Secretaria de GestãoMetropolitana”, que já é uma vontadedo atual Secretário dos TransportesMetropolitanos, Jurandir Fernandes,subordinada diretamente ao Governa-dor e atuando através de “AgênciasMetropolitanas de Gestão” e seus res-pectivos Conselhos Metropolitanos deDesenvolvimento, poderá ser umasolução plausível. É importante quehaja um entendimento supra partidário,para que as ações tomadas com vistasa promover os aspectos mais críticosnão venham a sofrer recuos a cada tro-ca de governo. Posso comparar a im-portância dessas medidas como sendoa implantação de um programa de“Qualidade Total”, largamente utiliza-do nas empresas de sucesso: a implan-tação deve ter seu início, porém, nãodeve ter fim. A busca pelo aprimora-mento deve ser contínua e adequada aoseu tempo.

AL - Como o Poder Legislativodeve e pode ajudar nesse processo?As Regiões Metropolitanas estão napauta dos deputados?

João Caramez - Considero queestas ações passam por um envolvi-mento suprapartidário. É necessárioque haja a participação de todos osprefeitos e vontade política para as in-tervenções de políticas públicas. En-tretanto, acho que a grande contri-buição que a Assembléia Legislativapoderá dar nesse processo é alteran-do a Lei que hoje determina 1% doICMS para ser aplicado apenas emmoradia. No meu entender, podemosampliar o leque dessa aplicação parao planejamento e execução de obrasde infra-estrutura. Um exemplo cla-ro da eficácia dessa mudança seriaprincipalmente na aplicação do Esta-tuto da Cidade, onde o Governo terácondições de executar obras de urba-nização nas áreas ocupadas irregular-

mente, por exemplo.AL - Pode-se afirmar que sua

atuação será destacada neste parti-cular?

João Caramez - Sem dúvida al-guma, até porque já há algum tempotemos levantado a tese da institucio-nalização das RM, da mudança daSecretaria dos Transportes Metropo-litanos e do fortalecimento da Empla-sa. Não resta dúvida de que na RegiãoMetropolitana de São Paulo sãonecessárias ações imediatas para cor-rigir problemas que surgiram no pas-sado e prejudicam a qualidade de vidada imensa população que vive nestaregião. Muitas soluções já estão ela-boradas. Basta colocá-las em exe-cução e é isso que pretendemos fazercom a ajuda do Governo do Estado,dos prefeitos, das lideranças organiza-das desta região e com o apoio dosnossos companheiros da AssembléiaLegislativa de São Paulo.

S empre que ocorre uma crise énormal surgirem propostasvisando solucioná-la. Essaafirmação pode ser perfeita-mente ajustada para a chama-da “crise da água”, sentida nas

da geração de efluentes.“O Brasil ainda não possui um es-

tatuto legal que trate do reúso de águas”,informa Eudemberg Pinheiro da Silva,da Superintendência de Tecnologia eCapacitação, da Agência Nacional deÁguas.

Aliás, a Política Nacional de Recur-sos Hídricos não contemplou de forma

direta a questão do reúso. O assunto estásendo tratado na Câmara Técnica deCiência e Tecnologia do Conselho Na-cional de Recursos Hídricos, onde foicriado grupo de trabalho para discussãodo tema. “Entre os objetivos deste gru-po estão o estabelecimento de diretrizese a proposição de instrumentos legais enormativos, bem como de mecanismosde articulação com outros setores”, ex-plica Eudemberg, que é engenheiro ci-vil formado pela Universidade de Fortale-za e mestre em Saneamento Ambiental,pela Universidade Federal do Ceará.

O engenheiro da Agência Nacionalde Águas lembra que, em outros países,existem dispositivos voltados para o reú-so da água há muito tempo. Ele cita o“Water Reuse”, adotado pela AgênciaFederal de Proteção Ambiental Ameri-cana, em 1992, bem como o “CalifórniaTitle 22”, regulamento mais exigenteque o da Agência Ambiental e que ins-pirou os dispositivos de países comoArábia Saudita e Israel. A Costa Ricaestabeleceu o “Reglamento de Reuso yVertido de Águas Residuales”; o Méxi-

Água: bem natural e finito.O reúso ajuda a preservar.

A prática do reúso da água vem se disseminando no Brasil. Embora o País possua um dosmaiores patrimônios hídricos do Planeta, a medida se torna necessária principalmente nos

grandes centros urbanos, cuja demanda é reprimida pela poluição.

grandes metrópoles. A crescente cons-ciência sobre desperdício e mau usodeste recurso natural limitado tem con-tribuído para o surgimento de novos con-ceitos e práticas. O chamado “reúso” daágua é um exemplo disso.

O Brasil possui um dos maiores pa-trimônios hídricos do Planeta, o qual, noentanto, está localizado em áreas compouca densidade populacional, como oPantanal e a Amazônia. Nas áreas urba-nas, onde estão concentrados os maiorescontingentes populacionais, ocorrem osdesabastecimentos, a poluição e a es-cassez frente à crescente demanda.

Por isso mesmo é necessário que osdiversos setores produtivos busquem -por meio de investimentos em estrutu-ra, tecnologia e recursos humanos - umagestão sustentável, o controle de perdase a minimização do consumo de água e

Eudemberg:�falta uma política de reúso.�

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co, no seu código de águas, estabeleceua “Norma Oficial Mexicana”, em 1977,tratando dos limites máximos permis-síveis de contaminantes para águas re-siduárias tratadas, que sejam reusadasem serviços públicos. E, por fim, a Es-panha estabeleceu, no seu PlanoHidrológico Nacional, normas para reu-tilização de águas residuárias.

Contudo, apesar desta lacuna legal,o fato é que o reúso de águas residuárias,ainda que embrionariamente, já é umarealidade no Brasil, muito embora nãoexistam dados que permitam um diag-nóstico preciso sobre a matéria no país.Faltam informações sobre volume totalreutilizado, qualidade das águas reusa-das, aspectos econômicos e financeiros,aspectos sanitários e epidemiológicos,aspectos sociais, de saúde pública e departicipação pública, tipologias de reú-so e tecnologias e padrões a serem ado-tados, em nível nacional. Como afirmaEudemberg, “Tudo isso ainda é um so-nho dos gestores, especialistas e consul-tores no assunto”.

A cobrança pelo uso da água, pre-vista pela Lei da Política Nacional dosRecursos Hídricos, bem como a imple-mentação de políticas de reúso da águapara fins menos nobres, visando dis-ponibilizar água bruta para abastecimen-to humano, entre outros fins essenciais,são práticas que se impõem, especial-mente pelo fato de a água ser um recur-so finito.

O reúso na prática

O reúso de águas pode ocorrer deforma direta ou indireta. O direto ocorrequando o líquido passa por processos detratamento, acondicionamento e distri-buição, visando especificamente à suareutilização. A irrigação, aqüicultura,abastecimento industrial e abastecimen-to humano, são exemplos desse tipo dereúso.

O indireto refere-se àquele sistemacujo esgoto é lançado no ambiente(águas superficiais e subterrâneas), passapor processo de diluição, dispersão edepuração, voltando a ser utilizado. Arecarga de aqüíferos, lançamento de cor-pos hídricos superficiais e a regulariza-ção de cursos d’água são exemplos des-sa modalidade.

Além do setor industrial, o reúsotambém é alternativa que pode ser ado-tada por outros setores da economia epara inúmeras finalidades. Contudo, háque se observar que o nível de qualidadeda água que se quer reusar deve estarcompatível com cada uma das finali-dades: irrigação paisagística, irrigaçãode campos de cultivo, usos industriais,recarga de aqüíferos, usos urbanos nãopotáveis, finalidades ambientais e usos

diversos (aqüicultura, construções, con-trole de poeira e dessedentação de ani-mais).

O engenheiro Eudemberg lembra oexemplo da Companhia de SaneamentoBásico do Estado de São Paulo - SA-BESP, para a qual o fornecimento deágua de reúso já é uma realidade. Elefaz referência ao projeto da fábrica deLinhas Correntes, que utiliza a água pro-veniente do esgoto tratado pela empre-sa de saneamento, para lavagem e tingi-mento de seus produtos. Outros exem-plos são os da Prefeitura de São Cae-tano do Sul, que utiliza água tratada pelaEstação de Tratamento de Esgotos doABC para rega de jardins e lavagem deruas após realização das feiras livres, edas prefeituras de Barueri e Carapicuíba.Algumas empresas construtoras tambémestão utilizando este produto para o as-sentamento de pó em canteiros de obras.

A empresa de saneamento do Esta-do de São Paulo informa, em seu site,que sua política de venda de água reci-clada está coerente com o programa glo-bal estabelecido pela Organização dasNações Unidas – ONU e pela Organiza-ção Mundial da Saúde – OMS, que pre-tende alcançar três importantes elemen-tos: proteção da saúde pública, ma-nutenção da integridade dos ecossiste-mas e uso sustentado da água.

No Estado do Ceará, a Companhiade Água e Esgoto do Estado do Ceará, apartir de 2001, também intensificou asatividades para o reúso da água, preven-do investimentos com o objetivo de in-centivar a pesquisa, o combate ao pre-conceito contra a água reutilizada e aimplantação de programas de reúso emescala de demonstração real, bem comoa construção do Centro de Reúso e Trata-mento de Esgoto e Água da Estação deTratamento de Esgoto de Aquiraz, quevai contar com a parceria das Univer-sidades Estadual e Federal do Ceará.

A Agência Nacional de Águas, porsua vez, visando fomentar a reutilizaçãode águas residuárias, tem participado doComitê Gestor do Fundo Setorial de Re-cursos Hídricos, no âmbito do Minis-tério da Ciência e Tecnologia, onde, em2001, apresentou uma carteira com 79projetos, dos quais 49 foram aprovados.Dentre eles estão alguns que tratam so-bre o tema de reúso de águas.

Outro projeto que conta com o apoioda ANA e que promove o reúso de águasresiduárias é o Programa de Reúso deÁgua no Semi-Árido Brasileiro, que estásendo executado pela Empresa Brasilei-ra de Pesquisa Agropecuária – EMBRA-PA e pela Universidade Federal da Paraí-ba e da Prefeitura de Campina Grande.O objetivo do projeto é implantar umsistema de referência de uso de efluen-tes urbanos para a região semi-árida

brasileira, onde serão avaliados a via-bilidade econômica do tratamento de es-goto municipal e seu reúso como águade utilidade na indústria ou como águade irrigação na agricultura.

Saúde Pública

Uma das questões que ainda nãoapresentam um consenso é a que tratado uso da água de reúso como águapotável. O professor Pedro CaetanoSanches Mancuso, da Faculdade deSaúde Pública da USP, lembra que,embora já exista tecnologia suficientepara alcançar qualidade de água para to-das as finalidades, aspectos econômicosinviabilizam determinados usos. O cus-to para alcançar uma água “ultra pura”é tão alto e a tecnologia necessária tãosofisticada que o seu uso só se justificapara projetos de tecnologia de ponta,como os do setor eletroeletrônico, porexemplo.

Um caso prático que merecedestaque, segundo Pedro Mancuso, é oprojeto do Parque Hopi Hari, situado nointerior do Estado de São Paulo, às mar-gens de um riacho cuja classe de águasnão comportava qualquer tipo de des-carga, sendo necessário desenvolver umtrabalho visando atingir a “descargazero”, promovendo-se a reciclagem daágua para fins de rega de jardins, usossanitários e infiltração no solo. Ele desta-ca que o nível de tratamento neste casoé de uma “água quase potável”, comcuidados extremados para não haverpoluição do lençol freático.

O professor, que acaba de lançar jun-tamente com outros 13 autores um livrosobre o assunto, o “Reúso de Água”(Editora Mandi ), chama atenção paraa questão da disposição adequada dolodo resultante do tratamento dos esgo-tos. Trata-se ainda de um problema nãoequacionado técnica e economicamente.Favorável ao reúso para fins industriais,rega de jardins, umidificação de solos,usos agrícolas, lavagem de ruas, PedroMancuso, lembra, porém, que o assun-to ainda carece de regulamentação legalno Brasil.

FIESP cautelosa

Romildo de Oliveira Campelo, dire-tor titular adjunto do Departamento deMeio Ambiente e Desenvolvimento Sus-tentável da FIESP – Federação das In-dústrias do Estado de São Paulo, diz quea instituição está lidando com o temacom “muito cuidado”. Ele concorda que,tecnologicamente, é possível obterqualquer tipo de água, porém os cus-tos, a logística e a falta de disponibili-dade de água tratada, são aspectos quejustificam a cautela da instituição que

O reúso na prática

Saúde Pública

FIESP cautelosa

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Romildo da FIESP:"Situações bizarras."

representa os em-presários do Esta-do de São Paulo.

O diretor demeio ambiente dizque a FIESP in-centiva seus asso-ciados a promo-ver o chamado“reúso interno” desuas águas re-siduárias. Atéporque diante desituações no míni-mo bizarras, as in-dústrias em SãoPaulo devem pa-gar para colocarsuas águas servi-

das nas tubulações da concessionária doserviço de saneamento do estado,efluentes esses que a concessionária irá

jogar nos rios novamente, pois ainda estálonge o dia em que os esgotos chegarãoàs grandes estações de tratamento exis-tentes. Faltam os chamados intercep-tores.

Romildo lembra que as indústriasforam obrigadas a promover o tratamen-to de seus efluentes, por conta do Pro-jeto Tietê que promoveu o controle dapoluição hídrica. Nada mais coerente,portanto, que haja o reaproveitamentodesta água para fins industriais, ou paraserviços de limpeza, rega de jardins, res-friamento de equipamentos. Promove-se de uma só vez economia na captaçãode água nos rios e também na conta doesgoto.

Anicia A. B. Pio, engenheira e es-pecialista em Recursos Hídricos, doDepartamento de Meio Ambiente daFiesp, lembra que hoje ainda não ocorrea cobrança pelo uso da água captada

nos mananciais, o que, a seu ver, tam-bém contribui para o não crescimentodo uso da água reciclada. Ela avaliaque, quando a cobrança ocorrer, o mer-cado do reúso da água será inevitavel-mente incrementado. A engenheiralembra que há regiões onde, em épocade estiagem, a escassez do recurso éuma realidade e que ocorrem situaçõesonde os mananciais estão exagerada-mente comprometidos, exigindograndes investimentos para seu trata-mento antes do uso, fatores estes quepodem incrementar o mercado doreuso de águas.

Os dois representantes da indústriapaulista concordam que é necessáriohaver uma regulamentação legal damatéria. Porém, antes disso, dizem queé preciso haver uma “descomplicação”da legislação ambiental e de recursoshídricos já existente.

água é um recurso natural limita-do. Assim a define a lei de Políti-ca Nacional de Recursos Hídricos

O reúso da água e a �sanção premial�

Aem seu art. 1º, inciso II. A PNRS prevê,dentre seus objetivos, “a utilização racio-nal e integrada dos recursos hídricos,com vistas ao desenvolvimento susten-

tável”, relembrandonesse dispositivo a im-portância da garantiado uso múltiplo daságuas, incluindo otransporte aquaviáriona gestão integrada dosrecursos hídricos eadotando a busca pelautilização racional des-se recurso ambientaltão importante.

Essencial à sadiaqualidade de vida e aodesenvolvimento, des-de sua utilização para

usos prioritários como o consumo hu-mano e a dessedentação de animais, atéo uso industrial, a água deve ser utiliza-da da melhor maneira possível. Umaforma racional, mas ainda pouco empre-gada no Brasil, de utilização eficientedo recurso hídrico, é o reúso.

Talvez o pouco emprego do reúso daágua em nosso país deva-se ao relativodesconhecimento dessa tecnologia, à fal-ta de estímulo para sua utilização pelasindústrias e outras entidades que uti-lizam a água em suas atividade e ao pre-conceito doutrinário em fazer uso deágua proveniente de efluentes pós-tra-tados.

Os fatores acima mencionados, as-sociados à idéia de ter o Brasil água em

abundância, colocaram todos nós emsituação frágil, perante a realidade dosfatos. A necessidade de racionalizaçãodo uso desse recurso natural foi impos-ta à população brasileira na recente cri-se de energia. O fato, no entanto, serviupara conscientizar-nos a todos que aágua é um recurso finito.

A difusão, portanto, dos benefíciosdo reúso da água é necessária, bem comosua institucionalização.

Uma forma de otimizar a adoção detecnologia de reúso de água é a criaçãode mecanismos legais de carátereconômico, de sanção premial para en-tidades públicas ou privadas que tratemseus efluentes e deixem em condiçõesde reúso a água utilizada em suas ativi-dades. Dessa forma, o recurso hídricoseria redirecionado à própria atividadeda empresa ou destinado à irrigação ououtras finalidades ambientais. A sançãopremial é uma forma legal de incentivo,diferente da sanção punitiva, e pode seraplicada sob a forma de descontotributário ou compensação parafiscal.

O tradicional sistema de posturas deordem sanitária, por outra via, reclamaprofunda modificação, para permitir aintrodução do reúso de água no sistemade esgotamento sanitário, mediantetratamento diferenciado. Isso evitariaque a água posta, a alto custo, emcondições de potabilidade e destinada àdessedentação e higienização humana,fosse, literalmente, para o ralo ou parao vaso sanitário, em instalações habili-tadas para economizar esse recurso.

O Decreto nº 8.648/76, por exem-plo, regulamentador da Lei nº 997/76,que dispõe sobre a prevenção e controle

da poluição no Estado de São Paulo,prevê a obrigatoriedade de pré-tratamen-to de efluentes advindos de qualquerfonte poluidora e a sua obrigatoriedadede lançamento em rede pública de es-goto, quando houver, mas não contem-pla incentivo algum àqueles que, indoalém do estrito cumprimento da lei, ado-tam o reúso da água ou mesmo tratamseus efluentes em melhor condição queo sistema público disponibilizado.

Nesse contexto, é possível pensar emestender o princípio do usuário-pagadorpara aqueles que usam menor quan-tidade de água, devendo tal usuário pa-gar menos, uma vez que contribui paraa redução da demanda sobre os manan-ciais e minimiza a contaminação.

Outra externalidade da Política deRecursos Hídricos, ao não contemplaro reúso no seu texto legal, será a invia-bilização de todo o sistema de sanea-mento público, cuja captação e devo-lução aos cursos d’água, com ou semtratamento, nos centros urbanos, trans-forma-o no principal cliente do sistema,e, com certeza, o seu principal pagador...

Para tanto é necessário que sejamadotadas políticas públicas e sistemas degestão, bem como formulada uma ade-quada legislação regulamentadora quetraga segurança jurídica àqueles quevenham investir no reúso da água.

Fernando e Flavio

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Flavio Rufino Gazani , é advoga-do especialista em direito ambien-tal, associado do Escritório PinheiroPedro Advogados, hoje cursandopós-graduação na American Uni-versity, em Washington-DC, EUA.

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Não há exagero em afirmarque nunca, como na últi-ma década, houve tama-nha dedicação da hu-manidade para encontrarcaminhos que levem à

ciedade civil mundial, vem encontran-do meios para que esse mecanismoseja efetivado. Afinal, estamos todosno mesmo barco, ou melhor, no mes-mo planeta. Sugestão brasileira ado-tada na conferência de Kyoto, oMecanismo de Desenvolvimento Lim-po busca alternativas tecnológicas parao desenvolvimento de fontes alterna-tivas de energia, “limpas”, livres decompostos de carbono, e de projetosvoltados para a área florestal, visandoa absorção de CO2, feita pela vege-tação através do processo de fotossín-tese. É o chamado “seqüestro de car-bono”. Nos últimos dez anos, inú-meros foram os encontros no âmbitoda Organização das Nações Unidaspara tratar do assunto. Um dos maisimportantes foi justamente aquele queresultou no estabelecimento do Proto-colo de Kyoto, no Japão, em 1997(COP 3). A última Conferência dasPartes (COP. 8), da Convenção-Quadro

das Nações Unidas sobre Mudanças doClima, foi realizada em Nova Delhi,na Índia entre os dias 23 de outubro e1º de novembro de 2002.

Flavio Rufino Gazani, especialis-ta em Direito Ambiental pela USP,associado do Escritório Pinheiro PedroAdvogados, hoje cursando pós-gra-duação na American University, emWashington-DC, EUA, lá esteve,como representante do escritório e,também, do Instituto de PesquisaAmbiental da Amazônia. Ele partici-pou da reunião de Nova Delhi e infor-ma que, ali, quase nada se deliberou,até porque não havia prazos para se-rem cumpridos.

Porém, diante da expectativa daentrada em vigor do Protocolo deKyoto, que ocorrerá tão logo o rati-fiquem países responsáveis por 55%das emissões de CO2 no planeta, areunião serviu para colocar em pautaa “questão florestal”, tema que desper-ta opiniões divergentes entre paísesdos Hemisférios Sul e Norte, desen-volvidos e em desenvolvimento, entreos que ainda possuem um patrimônioambiental e aqueles que pagaram seu“desenvolvimento” com todos os seusrecursos naturais, ao longo da história.

Durante a COP-8, relata FlavioGazani, o Conselho Executivo doMDL também se reuniu para dar con-tinuidade ao estabelecimento de mo-dalidades e procedimentos para imple-mentação dos Mecanismos de Desen-volvimento Limpo, com a adoção, in-clusive, de um formulário modelo eestabelecimento de taxas para o regis-tro dos projetos.

Flávio Gazani pondera que, embo-ra a implementação dos projetos deMDL dependa da ratificação do Pro-tocolo de Kyoto, que passaria a fun-cionar como uma lei mundial para oassunto, o fato é que, tanto a Confe-

Protocolo de Kyoto e oDesenvolvimento Limpo

A implementação dos chamados Mecanismos de Desenvolvimento Limpo,além de combaterem os efeitos nefastos da poluição podem gerar lucros.

Trata-se de uma transformação radical nos conceitosprodutivos da era da revolução industrial e a

humanidade espera que produza efeitos rapidamente.

reversão dos estragos produzidos pelohomem no Planeta Terra, especial-mente a partir da Revolução Indus-trial e durante todo o século XX. Noplano das mudanças climáticas, frenteàs sombrias previsões dos estudoscientíficos, isso é particularmente en-fatizado pelos esforços da Organiza-ção das Nações Unidas a partir da ECO92. Também é verdade que essa tenta-tiva de reversão já está ganhando con-tornos de um “negócio lucrativo”.

Desde a aprovação da Convençãodas Nações Unidas sobre as MudançasClimáticas, com a assinatura de cercade 175 países, durante a ECO 92,muito se tem discutido no sentido deadotar medidas visando estancar ereverter esse verdadeiro processo desuicídio coletivo da humanidade. Con-venção que, a partir de estudos cientí-ficos, demonstrou que a principalcausa da elevação da temperatura doPlaneta estava no aumento das concen-trações de gases com alto teor de com-postos de enxofre, resultantes daqueima de combustíveis fósseis.

Aliás, um dos documentos resul-tantes da Convenção, firmado noJapão, em 1997, é o chamado Proto-colo de Kyoto, que, em sua essência,determina que quem polui deve assumirfinanceiramente as conseqüências dis-so. Assim, aqueles países que mais po-luem, chamados países desenvolvidos,são os que deverão arcar com a contados prejuízos causados ao meio am-biente, ou pelo menos compensá-los.

Essa conta é muito alta e de difícilmensuração. Mesmo assim, a diplo-macia, em consonância com a so-

Livro sobre a viabilidade jurídica do MDL

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rência das Partes e seu ConselhoExecutivo do MDL, como Governose empresas do mundo todo, vêm seadiantando para recepcionar esse mer-cado “gigante” em formação. De fato,a expectativa é que o Protocolo passe avigorar tão logo obtenha o prometidoaval da Federação Russa, alcançandoassim os 55% de emissões totais repre-sentativas adotadas pelo Protocolo.

Porém, enquanto isso não ocorre,um frenético processo está em cursonos campos técnico e financeiro visan-do a formulação de projetos destina-dos a reduzir as emissões de países dochamado Anexo 1, ou seja, aquelespaíses que devem pagar a conta dashistóricas emissões de compostos decarbono, responsáveis pelas mais sig-nificativas mudanças climáticas ocor-ridas no Planeta Terra.

O Brasil não possui metas paracumprir no âmbito do Protocolo deKyoto e pode se beneficiar com a im-plementação de projetos de seqüestroou redução de emissões de carbono.

Para tanto, há hoje uma imperati-va necessidade de implementar “infra-estrutura legal” para regular os assun-tos do Protocolo de Kyoto e os meca-nismos de desenvolvimento limpo.

Nesse campo, atendendo reivindi-cação do CEBDS – Conselho Empre-sarial Brasileiro Para o Desenvolvi-mento Sustentável, o governo Fernan-

do Henrique, em um de seus últimosatos, baixou conjunto de normas visan-do operacionalizar indicativos de ele-gibilidade para os projetos brasileiros.Trata-se da resolução nº1, adotada nareunião extraordinária da ComissãoInterministerial de Mudança Global doClima, realizada em 12 de dezembrode 2002, que consiste de exposição demodalidades e procedimentos paraapreciação de projetos enquadrados noMecanismo de Desenvolvimento Lim-po no âmbito da Convenção-Quadrodas Nações Unidas sobre Mudança doClima.

Flavio Rufino Gazani e Flavia Wit-kowski Frangetto, advogada especia-lista em Direito Ambiental e colabo-radora do escritório Pinheiro PedroAdvogados, acabam de dar valiosacontribuição ao assunto com o lança-mento da obra “Viabilização Jurídicado Mecanismo de DesenvolvimentoLimpo no Brasil”, livro editado pela

“O Brasil, não possuimetas para cumprir noâmbito do Protocolo de

Kyoto e pode se beneficiarcom a implementação deprojetos de seqüestro ouredução de emissões de

carbono”.

egurança Pública eSegurança Ambien-tal” foi o tema daconferênciaque oadvo-

IIEB – Instituto Internacional deEducação do Brasil e pela FundaçãoPeirópolis . Além de oferecer umavisão ampla sobre a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobreMudanças Climáticas e do Protoco-lo de Kyoto, a obra traz subsídiospara aqueles que pretendem promo-ver, financiar ou apoiar projetos deMDL no Brasil. O livro traz aindatodos os tratados internacionais so-bre o assunto e o “Quadro Jurídicodo MDL”; “O MDL Network noBrasil” e o “MDL Checklist”.

Seminário sobre CrimesAmbientais

�Sgado Antonio Fer-nando Pinheiro Pedro pro-feriu no encerramento do 1ºSeminário Estadual sobre CrimesContra o Meio Ambiente, realizado en-tre os dias 15 e 17 de outubro, pelaPolícia Militar do Estado de São Pau-lo e seu Comando de PoliciamentoAmbiental.

O evento contou com a presençade policiais militares e civis de corpo-rações de todo o Brasil, fato impor-tante e revelador da preocupação queo tema traz hoje ao setor de Segurança

Fernando Almeida: �critérios para o MDLno Brasil - vitória do CEBDS�

Leonardo Melle, Comandante da Polí-cia Ambiental do Estado de São

Paulo, o Desembargador aposenta-do Eládio Lecey, do Rio

Grande do Sul, o Pro-motor de Justiçapaulista José Carlos

Melone Sícoli, o Juiz Fe-deral e ex-presidente da Associaçãodos Juízes Federais, Flávio Dino deCastro e Costa e o DesembargadorGilberto Passos de Freitas, do TJSP,entre outros ilustres juristas. O semi-nário contou com a promoção da Se-cretaria de Estado dos Negócios da Se-gurança Pública e da Secretaria Na-cional de Segurança Pública, comapoio especial e responsabilidade daprogramação científica do Instituto “ODireito Por Um Planeta Verde”.

Pública nacional.Participaram do Seminário pales-

trantes como o Procurador de JustiçaAntonio Herman Benjamin, membrodo Ministério Público Paulista e dire-tor do Instituto “O Direito por UmPlaneta Verde”, o Coronel PM João

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R eeleito deputado esta-dual pelo PPS, o enge-nheiro Arnaldo Jardimvai dar ênfase na con-tinuidade do trabalhoque vem realizando nocomando da “Frente

“A energia mais caraé a energia que falta!”

Não resta dúvida que o “Apagão” teve um efeito benéfico sobre o povobrasileiro, que passou a consumir energia de maneira mais consciente. Outrobenefício proveniente da crise de abastecimento foi deixar claro que o País

precisa de uma matriz energética diversificada e limpa.

cial para os grandes aproveitamen-tos hidrelétricos está praticamenteesgotado. Resta a alternativa das cha-madas Pequenas Centrais Hi-drelétricas (PCHs). Mas, de qualquermodo, é preciso pensar em modelosalternativos, como o gás natural, abiomassa, a energia eólica e a solar,estas duas últimas em situaçõesbastante peculiares.

AL - Como o senhor avalia oPrograma Brasileiro de Termelé-tricas movidas a gás natural?

Arnaldo Jardim - Na verdade oprograma de termelétricas acabouatrasando, muito em função dasaprovações dos Estudos de Impac-tos Ambientais e do LicenciamentoAmbiental. Teve, também, o proble-ma de encontrar a equação econômi-ca adequada para a compra do gásda Bolívia, pelo fato de o gás ser co-tado em dólar, o que atrapalhou o an-damento do programa. Hoje, a situa-ção é de excesso de oferta de ener-

gia. A crise trouxe um efeitopedagógico benéfico e as pessoaspassaram a economizar energia. Aindústria e o comércio promove-ram uma reestruturação em suas de-mandas energéticas. Também houveo aumento da tarifa, ainda em funçãodas decisões governamentais frenteà crise, e isso também contribuiupara a redução do consumo, ou seja,hoje existe energia de sobra nos es-toques das distribuidoras.

AL - Então o programa de ter-melétricas está comprometido?

Arnaldo Jardim - Não. Achoque nos períodos de seca, quando osreservatórios das hidrelétricas ficamcomprometidos, tem todo o sentidodo mundo utilizar fontes alternativasde energia, inclusive as termelé-tricas. E tem mais. Com o possívelcrescimento econômico que, espera-mos, virá com o novo governo, é pre-ciso que seja estabelecida já umamatriz energética alternativa. Casocontrário, vamos enfrentar a escassezenergética novamente em 2005. E, écomo eu sempre digo, a energia maiscara é aquela que falta. Portanto, épreciso planejar para prevenir crisesfuturas.

AL - O senhor tem sido um de-fensor da adoção de fontes de ener-gia alternativas, limpas e reno-váveis. Lidera inclusive uma FrenteParlamentar na Assembléia que tra-ta do assunto. Fale sobre isso.

Arnaldo Jardim - A criação daFrente foi proposta diante da cons-tatação que o mundo está cada vezmais consciente que a energia é umbem essencial para o desenvolvimen-to dos países e para a qualidade devida dos povos. Ser auto-suficientee exportador de energia é condiçãofundamental para que um país semantenha bem posicionado na nova

Parlamentar pela Energia Limpa eRenovável”. O parlamentar recebeua reportagem do Ambiente Legalpara uma entrevista, entrecortada porinúmeros telefonemas e reuniões,compromissos e viagens, demons-trando a intensa atividade do depu-tado frente às questões energéticas.Ele falou sobre a crise do “apagão”e sobre o momento atual, em queexiste energia sobrando, mas nãoteve dúvidas de prognosticar que,com o possível crescimento eco-nômico do país, em 2005 estaremosvivendo nova crise se o governo nãotomar providências urgentes naadoção de uma matriz energéticamais ampla e diversificada. Por isso,Arnaldo Jardim defende não apenasmedidas que fortaleçam o forneci-mento de energia para dar conta dademanda, como também a adoção defontes alternativas renováveis e lim-pas, visto que “os grandes aprovei-tamentos hidrelétricos em nosso Paísestão praticamente esgotados”. Aseguir o resumo da conversa.

Ambiente Legal - A crise ener-gética mostrou que o Brasil não podeficar dependente de apenas umafonte de geração. Quais são os ca-minhos para não enfrentarmos ou-tra crise?

Arnaldo Jardim - De fato, a cri-se energética de 2001 foi pedagógi-ca. É preciso reconhecer que é umprivilégio para o Brasil contar comeste rico potencial hídrico. Contudo,é preciso dizer também que o poten-

Arnaldo Jardim: "É preciso estabelecer jáuma matriz energética alternativa."

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ordem econômica mundial. Mas, nãobastará ser produtor de qualquer tipode energia. As exigências ambientaisda sociedade moderna e a curva des-cendente de produção de petróleoirão privilegiar as energias limpas,seguras e renováveis.

AL - E nesse particular o Brasilpode levar vantagem?

Arnaldo Jardim - Sem dúvida.Veja o caso dacana de açúcar.I n f o r m a ç õ e sdão conta que ocusto médio doMW de energiagerada pelahidreletricidadeestá em R$30,00 (trintareais). O MWdo gás natural éde R$ 230,00(duzentos etrinta reais) e ocusto médio doMW geradopelo bagaço decana é de R$ 70,00 (setenta reais).Além do preço, tem a vantagem deser uma energia mais limpa e reno-vável. Também é verdade que as al-ternativas eólica e solar, que são am-bientalmente ótimas, não são com-petitivas economicamente. O customédio do MW gerado está na or-dem de R$ 200,00 (duzentos reais).

AL - Qual é a porcentagem deenergia gerada pela biomassa namatriz energética do País?

Arnaldo Jardim - Representauns 2%. No Estado de São Paulo estána ordem de 4%. Mas é possível, empouco tempo, com investimentos,aumentar essa participação rapida-mente. Aliás, nós estamos defenden-

FIESP – Federação dasIndústrias do Estado deSão Paulo acaba de editara publicação “Água e In-dústria”, onde reconhecea água como fator es-

“Recentemente foidebatido, por

autoridades mundiais,o papel estratégico do

álcool combustívelbrasileiro como fontede energia renovável

nas matrizesenergéticas.”

Água e IndústriaLafer Piva, diz que a legislação recentesobre o gerenciamento de recursoshídricos no Brasil, ao considerar a águacomo um bem público dotado de val-or econômico, tornou os diferentesusos de recursos hídricos passíveis decobrança.

O objetivo da edição é, de maneirasimples e didática, fomentar a adoçãode medidas que visem a utilização

tratégico para a sobrevivência e cresci-mento do setor industrial. Sua apre-sentação, assinada pelo presidente dainstituição, o empresário Horácio

do Protocolo de Kyoto, em breve,como uma lei mundial, deve sercomemorada por todos nós. Trata-sede um acordo internacional de com-bate aos gases que provocam o efeitoestufa. Para o Brasil, viabilizará umasérie de projetos na área ambiental,com o estabelecimento do MDL, quecriará possibilidades de geração dedivisas com a comercialização decréditos de carbono, que capturadosda atmosfera por meio de plantaçõesde cana de açúcar, por exemplo,poderão ser negociados com os paí-ses que tem compromissos deredução das emissões de poluentespara a atmosfera.

Sobre a questão do álcool com-bustível lembro que recentemente,durante a II Conferência Internacio-nal sobre a Internacionalização doÁlcool Combustível, foi debatidopor autoridades mundiais o papel es-tratégico do álcool combustívelbrasileiro como fonte de energia re-novável nas matrizes energéticas dospaíses e as ações necessárias paralevá-lo à condição de commodityinternacional.

AL - Por fim, as energias eólicae solar...

Arnaldo Jardim - O potencialeólico no nordeste brasileiro deve seraproveitado. Já existem projetos noCeará, com aporte de recursos finan-ceiros e tecnológicos da Alemanha,que mostram que esta é uma alter-nativa para ser usada no litoral nor-destino. Em São Paulo isso não dácerto. Já quanto à energia solar, estaainda é cara e não há previsão de quevenha ter seus custos baixados. Éuma alternativa para ser usada empequenas comunidades e projetos es-pecíficos.

do que em 15 anos o Brasil alcanceum patamar de 10% de energiaproduzida pela biomassa. Para issoé preciso que seja aprovada uma leivoltada para o financiamento de pro-jetos de geração de energia limpa erenovável.

AL - Quando se fala em energiade biomassa a lembrança é a dacana de açúcar. Existem, porém,

outras alterna-tivas, não émesmo?

A r n a l d oJardim - Sim.O Brasil é pró-digo em mate-rial lenhoso,aparas da in-dústria de mo-biliário, restosda bananicultu-ra e palha dearroz são outraspossibilidadesimportantes.

AL - Du-rante a Rio+10

houve tratativas relativas àprodução de veículos a álcool emum convênio com uma montadoraalemã, a Volks-wagem e o governoalemão. Esse acordo foi apontadocomo um dos negócios pertencentesaos chamados Mecanismos de De-senvolvimento Limpo (MDL), pre-vistos pelo Protocolo de Kyoto, umavez que, com a substituição do com-bustível fóssil por outro mais limpoe renovável, haverá a redução dasemissões dos compostos de car-bono. Essa pode ser outra vantagemcomparativa para o Brasil, ao ado-tar uma matriz energética mais lim-pa e alternativa?

Arnaldo Jardim - A ratificação

racional da água e fornecer orientaçãoaos usuários industriais quanto aosnovos procedimentos a serem adota-dos, contribuindo assim para que sepossa alcançar processos ecoeficientesde produção. Também consta da pu-blicação uma lista de endereços emtodo o Estado, onde é possível obterinformações sobre o assunto.

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Compreender o ambiente de re-gulação é fundamental, espe-cialmente neste momento, emque novo Governo se inicia,ungido por programa pautadopelo “resgate do controle doEstado sobre atividades con-

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O “Ambiente de Regulação” nãocomporta ideologias ultrapassadas.

Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado especialista em Direito Ambiental, diretor da ABAA - Associação Brasileira dos AdvogadosAmbientalistas, Professor de Direito Ambiental.

sideradas essenciais”. É necessário,porém, que se promova, igualmente, oresgate do conceito que gerou a profun-da reforma do Estado brasileiro nos úl-timos quinze anos, in-troduzindo uma nova tec-nologia de gestão, de-nominada “ambiente deregulação”. Conseqüên-cia da adoção dos inte-resses difusos como vetortutelado pelo Estado, for-mando o que chamamosde “terceira geração dedireitos da era moderna”.

Diferente dos direitosindividuais de primeirageração (onde há a pre-ponderância da vontadepessoal, da liberdade de contratar e dapropriedade), dos direitos coletivos desegunda geração (com os chamados con-tratos coletivos, a sindicalização e arelação previdenciária), a tutela dosdireitos difusos compreende, emprimeiro lugar, o reconhecimento de quenem sempre a “vontade da maioria” sig-nifica prevalência desta sobre o interessedo Estado e destes sobre o InteressePúblico.

Outro aspecto relevante dessa novaordem é que os papéis dos poderes exe-cutivo, legislativo e judiciário já não sãomais exercidos como tradicionalmenteo eram na chamada democracia repre-sentativa. Hoje, o que existe é um Esta-do de Poderes permeáveis que não ageregido apenas pela posição programáti-ca de seus mandatários, mas através deuma série de estruturas incrustadas naadministração, denominadas “mecanis-mos de participação”. Conselhos técni-cos multidisciplinares, de cidadãos e or-ganizações não governamentais, audiên-cias públicas e consultas setoriais cons-tituem mecanismos que interferem nospoderes executivo, legislativo e ju-

diciário. Não raro, nos deparamos commudanças na atividade econômica oca-sionadas por resoluções, com força delei, emanadas a partir de deliberaçõesde conselhos técnicos, quando não pre-cedidas por determinação judicial faceao executivo.

Este fenômeno deve ser compreen-dido tendo-se em vista que interessesque afetam o meio ambiente, energia,saneamento, saúde, segurança pública,

educação, entre outros,são indivisíveis e dizemrespeito a um número in-determinado de pessoas,independentemente declasse social ou até mes-mo de nacionalidade.

É verdade que a ca-pacidade de fomento doGoverno, em especialnestas matérias de direitodifuso, sofre sensívelredução. A figura do Es-tado Provedor é substi-tuída pela do Estado

Regulador.Surgem as chamadas “agências re-

guladoras”, que passam a monitoraratividades econômicas que antigamentepossuíam cunho estatizante e que, ago-ra, mesmo privatizadas, não perderam aessência de interesse público.

Sendo o ambiente de regulação umambiente de ordem pública, deve estarvinculado a uma estrutura constitucio-nal e orientado por leis emanadas pelosparlamentos. No entanto, essa legislaçãosofre mudanças estruturais profundas.

Face à capacidade de intervenção dasociedade civil organizada e dos agenteseconômicos nas atividades de regulaçãoe à dinâmica tecnológica e social dosdias atuais, não compete mais aos par-lamentos editar “Leis Codificadas”, quecongelam processos técnicos e econômi-cos, cujos procedimentos são rapida-mente tornados obsoletos.

A técnica legislativa de terceira gera-ção é aquela que privilegia a formulaçãode Políticas Públicas, entendidas estasnão apenas como figura de linguagem,mas como ação do Estado, vinculada àConstituição, adstrita à Lei, e, portanto,

matéria de Direito Púbico. Uma Políti-ca Pública distingue-se das leis codifi-cadas por não engessar as ações gover-namentais.

Assim, a verdadeira Política Públi-ca deve ter como norte estabelecerprincípios, objetivos, definições de con-ceitos legais, normas gerais e instrumen-tos para sua implementação. A sua regu-lamentação, bem como o estabelecimen-to de mecanismos de solução de confli-tos, devem ser definidos pelas AgênciasReguladoras e pelos Conselhos a elasadstritos, com a participação da so-ciedade civil.

Essa nova página da história já podeser sentida no Brasil e no resto do mun-do, sendo adotada por organismos inter-nacionais de fomento e comércio, nãohavendo como ser ignorada e mesmodescartada isoladamente por este ou poroutro país.

Com a Reforma do Estado e o pro-cesso de privatização ocorrido a partirde 1995, instalou-se definitivamente oambiente de regulação em nosso país.Este é o ambiente vigente hoje nos seto-res de telefonia, recursos hídricos, ener-gia, combustíveis e transportes. É oambiente que vem sendo implantado nadefesa da livre concorrência, na tutelados direitos dos menores e adolescentese das relações de consumo e que espe-ramos ver, em breve, adotada tambémna gestão do saneamento básico e nagestão ambiental, esta última ordenadapor uma Lei de Política Nacional vigentehá vinte anos, porém não modernizadana sua estrutura regulatória e sistêmica.

O ambiente de regulação exige queo administrador público esteja despidode blindagens ideológicas ultrapassadas,etiquetado como “liberal” ou “socialis-ta”, ou vítima de qualquer outra visãocalcada no pensamento excessivamenteracional e kantiano, que ruiu com oMuro de Berlim, no final do Séc. XX.Resta, portanto, saber se os novos go-vernantes do Brasil do Séc. XXI saberãodar curso a esse processo que é históri-co e mundial.

É isso que difere os Estadistas dosGerentes, os Democratas dos Buro-cratas!

Antonio Fernando Pinheiro Pedro