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Ano XXI - n° 36 - Setembro 2007

Ano XXI - n° 36 - Setembro 2007 › e_maristas › Message › Message_36PT.pdf · cada um deles, como filho da Igreja, teste-munha da fé e seguidor fiel do carisma e da missão

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  • Ano XXI - n° 36 - Setembro 2007

  • índiceOs primeiros Irmãos Maristas bem-aventurados.

    Ir. AMEstaún

    página 2

    Carta a meus Irmãos.

    Ir. Seán Sammon

    página 5

    Procurando compreender a História.

    Feliciano Montero García

    página 10

    Mártir é aquele que não salva a sua vidaa qualquer preço.

    Juan María Laboa Gallego

    página 18

    A presença marista na Espanhanas vésperas da guerra civil.

    Ir. Juan Moral Barrio

    página 23

    IR. BERNARDODiocese de Girona

    página 25

    Ano XXI - n° 36 - Setembro 2007

    Diretor:Ir. AMEstaún

    Comissão de Publicações:Irmãos Emili Turú, AMEstaún, OnorinoRota e Luiz Da Rosa.

    Coordenação dos tradutores:Ir. Carlos Martín Hinojar

    Tradutores:Espanhol:Ir. Carlos Martín Hinojar

    Francês:Ir. Giovanni BigottoIr. Louis RichardIr. Jean RoussonIr. Fabricio Galiana

    Inglês:Ir. Ross Murrin

    Português:Ir. Manoel SoaresP. Eduardo CampagnaniIr. Aloisio Kuhn

    Fotografia:AMEstaún, Arquivos daVicepostuladuría da Espanhaem Santa María de Bellpuigde Les Avellanes,José Sedano Gutiérrez

    Diagrama e fotolitos:TIPOCROM, s.r.l.Via A. Meucci 28, 00012 Guidonia,Roma (Italia)

    Redação e Administração:Piazzale Marcellino Champagnat, 2C.P. 10250 - 00144 ROMATel. (39) 06 54 51 71Fax (39) 06 54 517 217E-mail: [email protected]: www.champagnat.org

    Edita:Instituto dos Irmãos MaristasCasa geral - Roma

    Imprime:C.S.C. GRAFICA, s.r.l.Via A. Meucci 28, 00012 Guidonia,Roma (Italia)

  • IR. LAURENTINODiocese de Burgos

    página 33

    IR. VIRGILIODiocese de Pamplona

    página 39

    DIOCESE DE BURGOSAlberto María, Fortunato Andrés, Frumencio, Gabriel Eduardo,Gil Felipe, Isaías María, José Federico, Licarión, Lino Fernando,Porfirio, Salvio, Santiago María, Santos, Vivencio página 45

    DIOCESE DE CARTAGENAJuan de Mata página 61

    DIOCESE DE GIRONAAnselmo, Carlos Rafael, Epifanio, Laureano Carlos página 65

    DIOCESE DE LLEIDALeónides, Victor Conrado, Victorino José página 73

    DIOCESE DE PALENCIAÁngel Andrés, Miguel Ireneo página 79

    DIOCESE DE PAMPLONABaudilio, Felipe José, Félix León, Ismael, Leopoldo José,Ramón Alberto, Santiago, Teódulo página 83

    DIOCESE DE SAN SEBASTIÁNVito José página 93

    DIOCESE DE SOLSONADionisio Martín página 97

    DIOCESE DE TERRASABernabé página 101

    DIOCESE DE ZARAGOZAJosé Carmelo, Martiniano página 105

    DIOCESE DE URGELLHermógenes, Vulfrano página 109

    DIOCESE DE VICAntolín, Gaudencio, Jaime Ramón, Juan Crisóstomo, Prisciliano página 113

    História do processo de beatificação página 120

  • OsprimeirosIrmãos Maristasbem-aventurados

    E D I T O R I A L Ir. AMEstaún

    A beatificação de umgrupo de Irmãos Ma-ristas, pela primeiravez, desde a fundação, abreum capítulo solene, nas pági-nas da história de nosso In-stituto. A história dessa notí-cia, iniciada com o fuzilamen-to desses servos de Deus, e

    coroada com a celebração dabeatificação, em Roma, temsido longa e complicada. Oamadurecimento dessa notí-cia, hoje proclamada aos qua-tro ventos, levou mais de se-tenta anos. O desenvolvimen-to dos numerosos passos, se-guido por dois longos “pro-

    cessos”, pode-se entrevercom a leitura de uma abun-dante documentação, elabo-rada sob a orientação dosespecialistas da Congregaçãopara as Causas dos Santos. Oavanço dos trabalhos foimarcado com os decretos ofi-ciais. O Ir. Bernardo, de umalado, seguiu caminho pró-prio; os Irmãos Laurentino,Virgílio e seus 44 compa-nheiros maristas, por outro la-do, foram arrolados em umasó causa, porque martiriza-dos em uma mesma noite.Hoje, concluídos esses doisprocessos, os protagonistassão reconhecidos oficialmen-te como mártires, como cris-tãos mortos pela sua fé. Estanotícia, enunciada na epígra-fe acima, permanecerá parasempre, na história dos Ir-mãozinhos de Maria.

    A carta do IrmãoSeán Sammon,Superior Geral

    O Irmão Seán Sammon, Super-ior Geral, em carta de 6 de jun-ho de 2007, parabenizou essas

    2 • FMS Mensagem 36

  • Setembro de 2007 3

    testemunhas do Evangelho, emnome de todos os maristas e es-tendeu essa felicitação a todoo Instituto, pelo novo sinal devida que o Senhor suscitou en-tre nós. Na citada carta, o IrmãoSeán fez constar o nome dos 47Irmãos, cujo testemunho foi re-conhecido oficialmente pelaIgreja, e observa que “eles seconverteram em semente de vi-da nova, não apenas para nos-so Instituto e sua missão, maspara a Igreja universal”.Por essa razão, o lema “Semen-tes de vida” converteu-se emuma proposta motivadora pararetomar o caminho espiritual,vivido por todo o Instituto, atéa beatificação, e para os novositinerários do Espírito que seespelharem nesse aconteci-mento.

    Mártires por sua féem Jesus Cristo

    A morte desses Irmãos, hojereconhecidos pela Igreja comomártires por sua fé em JesusCristo, ocorreu em circunstân-cias complexas, fazendo histó-ria, quando esta atravessavaáguas revoltas e agitadas.O Irmão Juan Moral descreveas circunstâncias em que atua-vam os Irmãos Maristas, naEspanha, quando ocorreram osacontecimentos que envolve-ram nossos irmãos com a en-trega de suas vidas.Os fatos foram interpretadoscom chaves de leitura muitovariados, em livros, revistas eoutros meios de comunicaçãode massa.Nessa tarefa nos acompanha

    Feliciano Montero, com sua re-flexão “procurando compreendera história”, enquanto Juan Ma-ría Laboa, por sua vez, nos ofe-rece uma visão do que signifi-ca, hoje, ser um mártir.

    Um por umos Irmãosprotagonistas

    Em seguida, nestas páginas, sãoapresentados, um por um, os ir-mãos protagonistas dessa festade beatificação, com uma brevenotícia biográfica, os lugares emque nasceram para a vida e paraa fé, suas raízes familiares, seuspassos iniciais na vida marista, asdatas de seus compromissos de-terminantes, os lugares de seuapostolado e o final trágico desuas vidas, diante dos fuzis edas metralhadoras do ódio queencurtaram suas existências.Acompanha-nos, nesta nomina-ta, o testemunho escrito de al-guns companheiros de cami-nhada que sobreviveram aos acon-tecimentos, e especialmente o dequantos escreveram alguma obrasobre os fatos ocorridos, naque-les dias de luto. Irmanam-se asvozes do episcopado de Girona e

  • de Palencia, em torno da vida do Irmão Bernardo que ponteia esse gru-po. A voz pastoral do arcebispo de Barcelona ressoa desde a cidade

    em que morreram Laurentino, Virgílio e seus 44 companheirosmártires, e onde se realizou todo o processo canônico

    diocesano, prévio ao processo romano, que seconclui com a proclamação do martírio.

    Suas vidas foramfecundas para Deus,para a Igrejae para o Instituto

    FMS Mensagem quis recolher o testemunhomartirológico de nossos irmãos paraidentificar, de forma simples, a pessoa de

    cada um deles, como filho da Igreja, teste-munha da fé e seguidor fiel do carisma e da

    missão marista. Os 47 mártires pertencem a 14dioceses diferentes do país. Na paróquia de pe-

    quenos povoados, nas famílias e nas comunidadescristãs transmitiram-lhes a fé em Jesus Cristo, através

    do batismo, e incluíram-nos na lista dos crentes. A profis-são religiosa, emitida com maturidade, confirmou fortemente sua op-ção por Jesus Cristo. O derramamento de seu sangue selou, definiti-vamente, a opção que germinara a partir do batismo. Este testemunhode fidelidade foi encarnado por um numeroso grupo de Irmãos jovensque ofertaram sua vida como terra apenas lavrada para a sementeira.Partilham a honra dos altares com um expressivo grupo de contem-porâneos, pertencentes a outras ordens ou congregações religiosas,cujas vidas foram estraçalhadas pelo mesmo vendaval. É outro sinaleclesial de comunhão, na mesma fé. Hoje, os proclamamos felizes, bem-aventurados para sempre, porque suas vidas foram fecundas para Deus,para a Igreja e para o Instituto. O coro dos mártires Vos louva, Sen-hor; a suas vozes unimos as nossas, na fidelidade de cada dia.

    4 • FMS Mensagem 36

    Ir. AMEstaúneditorial

  • Septiembre 2006 5

    Esses nossos Irmãos sãotambém os primeiros a se-rem beatificados. Suas cau-sas serão reunidas, numamesma cerimônia, com asde outras 451 pessoas quederam sua vida pelo Evan-gelho. No grupo há bispos,vários sacerdotes e semina-ristas diocesanos, leigos, jo-

    vens, casados, homens e mulheres, além de outros religiosos e religio-sas.1 Este é um momento importante da história de nosso Instituto, emque nos é dada a oportunidade de nos unirmos à Igreja universal, pa-ra agradecermos o dom dos mártires, particularmente desses, que par-tilham nossa opção de vida. O compromisso público de viver plena e ra-dicalmente o Evangelho de Jesus levou esses homens, ora beatificados,até a experiência da cruz. Perseverando até o fim, converteram-se emsementes de vida, não apenas para o Instituto e sua missão, mas tam-bém para a Igreja universal.

    6 de junho de 2007

    Queridos Irmãos e pes-soas amigas que com-partilham o carisma de S.Marcel ino Champagnat:Com grande alegria lhesanunciamos que, no dia 28de outubro de 2007, emRoma, celebraremos a beati-ficação de 47 Irmãos nos-sos, vítimas das perseguiçõesreligiosas, ocorridas naEspanha, nos anos 30. A Igre-ja manifesta seu reconheci-mento a esses homens, márti-res e testemunhas heróicasda Boa-Nova de Jesus.

    Setembro de 2007 5

    Cartaa meusIrmãos

    Superior geralIr. Seán Sammon

    1 O grupo citado, além dos nossos Ir-mãos, é formado de 98 agostinianos, 62dominicanos, 59 salesianos, 58 Irmãosde La Salle, 31 carmelitas descalços, 29franciscanos, 23 adoradoras, 16 carme-litas, 9 irmãs dominicanas, 9 trinitários,4 missionárias carmelitas, 4 missioná-rios dos Sagrados Corações, 4 marianis-tas, 3 filhas do Coração de Maria, 2franciscanas da Misericórdia, 1 religiosada Ordem de S. Domingos, 1 carmelitada Caridade, 1 Trinitária enclausurada,1 carmelita da Apresentação.

    No dia de 28 de outubro de 2007 em Roma beatificação de 47 irmãos

  • Nossos Irmãosmártires, sementes de vida

    Nossos predecessores na fé, cu-nharam a frase: “O sangue dosmártires é semente de novoscristãos” (Tertuliano, Apol. 50,13). São palavras que expressam

    a convicção, amplamente com-partilhada, de que a vida e amorte dos que perseveram, fiéisao Evangelho, são uma fontede riqueza para todos. Inspira-dos nessa mesma convicção, aequipe de Irmãos que está pre-parando a beatificação de nos-sos mártires, lembra que esses

    homens foram “sementes de vi-da”, não apenas para o Institu-to, mas para a Igreja inteira. O lema “Sementes de vida”,acompanhar-nos-á, nesse per-íodo que vai até a beatificaçãode nossos 47 mártires. Anexa-mos aqui seus nomes, com da-ta e lugar de nascimento:

    Superior geralIr. Seán Sammon

    6 • FMS Mensagem 36

    BERNARDO: Plácido Fábrega Juliá, 1889, Camallera (Girona).

    LAURENTINO: Mariano Alonso Fuente, 1881, Castrecías (Burgos).

    VIRGILIO: Trifón Lacunza Unzu, 1891, Ciriza (Navarra).

    ALBERTO MARÍA: Néstor Vivar Valdivielso, 1910, Estépar (Burgos).

    ÁNGEL ANDRÉS: Lucio Izquierdo López, 1899, Dueñas (Palencia).

    ANSELMO: Aniceto Falgueras Casellas, 1879, Salt (Girona).

    ANTOLÍN: Antonio Roig Alibau, 1891, Igualada (Barcelona).

    BAUDILIO: Pedro Ciordia Hernández, 1888, Cárcar (Navarra).

    BERNABÉ: Casimiro Riba Pi, 1877, Rubí (Barcelona).

    CARLOS RAFAEL: Carlos Brengaret Pujol, 1917, Sant Jordi Desvalls (Girona).

    DIONISIO MARTÍN: José Cesari Mercadal, 1903, Puig-Reig (Barcelona).

    EPIFANIO: Fernando Suñer Estrach, 1874, Taialà (Girona).

    FELIPE JOSÉ: Fermín Latienda Azpilicueta, 1891, Iruñuela (Navarra).

    FÉLIX LEÓN: Félix Ayúcar Eraso, 1911, Estella (Navarra).

    FORTUNATO ANDRÉS: Fortunato Ruiz Peña, 1898, La Piedra (Burgos).

    FRUMENCIO: Julio García Galarza, 1909, Medina de Pomar (Burgos).

    GABRlEL EDUARDO: Segismundo Hidalgo Martínez, 1913, Tobes y Rahedo (Burgos).

    GAUDENCIO: Juan Tubau Perelló, 1894, Igualada (Barcelona).

    GIL FELIPE: Felipe Ruiz Peña, 1907, Cilleruelo de Bezana (Burgos).

    HERMÓGENES: Antonio Badía Andalé, 1908, Bellcaire (Lleida).

    ISAÍAS MARÍA: Victoriano Martínez Martín, 1899, Villalbilla de Villadiego (Burgos).

    ISMAEL: Nicolás Ran Goñi, 1909, Cirauqui (Navarra).

    JAIME RAMÓN: Jaime Morella Bruguera, 1898, Sant Pere d’Osor (Girona).

  • Muitos sinais de vidaem nosso Instituto

    Esta beatificação ocorre numano em que se manifestammuitos sinais de vida, em nos-so Instituto. A Assembléia daMissão, a celebrar-se em Men-

    des, Brasil, em setembro próxi-mo, oferecer-nos-á os frutosdo trabalho de muitas mãos.Pouco depois, começará o Anode espiritualidade, quando po-deremos dispor do documentode espiritualidade apostólicamarista, recentemente elabo-

    Carta a meus irmãos

    Setembro de 2007 7

    JOSÉ CARMELO: Gregorio Faci Molins, 1908, La Codoñera (Teruel).

    JOSÉ FEDERICO: Nicolás Pereda Revuelta, 1916, Villanueva la Blanca (Burgos).

    JUAN CRISÓSTOMO: Juan Pelfort Planell, 1913, Igualada (Barcelona).

    JUAN DE MATA: Jesús Menchón Franco, 1898, Murcia (Murcia).

    LAUREANO CARLOS: Pedro Sitges Puig, 1889, Parlavà (Girona).

    LEÓNIDES: Jerónimo Messegué Ribera, 1884, Castelló de Farfanya (Lleida).

    LEOPOLDO JOSÉ: Florentino Redondo Insausti, 1885, Cárcar (Navarra).

    LICARIÓN: Ángel Roba Osorno, 1895, Sasamón (Burgos).

    LINO FERNANDO: Víctor Gutiérrez Gómez, 1899, Villegas (Burgos).

    MARTINIANO: Isidro Serrano Fabón, 1901, Cañada de Verich (Teruel).

    MIGUEL IRENEO: Leocadio Rodríguez Nieto, 1899, Calahorra de Boedo (Palencia).

    PORFIRIO: Leoncio Pérez Gómez, 1899, Masa (Burgos).

    PRISCILIANO: José Mir Pons, 1889, Igualada (Barcelona).

    RAMÓN ALBERTO: Feliciano Ayúcar Eraso, 1914, Estella (Navarra).

    SALVIO: Victoriano Gómez Gutiérrez, 1884, Villamorón (Burgos).

    SANTIAGO: Serafín Zugaldía Lacruz, 1894, Echálaz (Navarra).

    SANTIAGO MARÍA: Santiago Saiz Martínez, 1912, Castañares (Burgos).

    SANTOS: Santos Escudero Miguel, 1907, Medinilla de la Dehesa (Burgos).

    TEÓDULO: Lucio Zudaire Aramendía, 1890, Echávarri (Navarra).

    VÍCTOR CONRADO: José Ambrós Dejuán, 1898, Tragó de Noguera (Lleida).

    VICTORINO JOSÉ: José Blanch Roca, 1908, Torregrossa (Lleida).

    VITO JOSÉ: José Miguel Elola Arruti, 1893, Régil (Guipúzcoa).

    VIVENCIO: Juan Núñez Casado, 1908, Covarrubias (Burgos).

    VULFRANO: Ramón Mill Arán, 1909, Castellserà (Lleida).

  • rado, junto com as atividadese reflexões que, durante dozemeses, nos ajudarão a centrarsempre mais apaixonadamentenossas vidas em Jesus. A rede do laicato marista, emconstante expansão, a aber-tura de novas comunidades,no sul da Ásia, dentro do pro-grama da missão ad gentes,são exemplos, entre outros,que testemunham da vitalida-de da herança que nos deixa-ram nossos Irmãos mártires daEspanha.A Igreja definiu-os como “már-tires da educação cristã da ju-ventude”. Apesar da persegui-ção, fizeram tudo o que pude-ram, para serem fiéis às crian-ças e aos jovens que haviam si-

    do confiados a seus cuidados.Faremos bem em considerá-loscomo modelos da missão ma-

    rista, em sua melhor expressão.Em breve, receberão uma pu-blicação que trará o testemu-nho de vida de cada um dessesIrmãos mártires.

    As palvras de João Paulo II

    Convidamo-los a ler essas pági-nas, tendo em mente as palvrasde João Paulo II, em sua exor-tação Ecclesia in Europa: “...Que-ro com os padres sinodais apre-sentar, novamente, a todos, pa-ra que nunca seja esquecido, ogrande sinal de esperança cons-tituído por tantas testemunhasda fé cristã que viveram, no úl-timo século, tanto no Orientequanto no Ocidente. Souberamassumir o Evangelho em situa-ções de hostilidade e persegui-

    Superior geralIr. Seán Sammon

    8 • FMS Mensagem 36

    Igreja do mosterio de “Les Avellanes”.

    Sepulcro dos mártires.

  • Setembro de 2007 9

    ção, freqüentemente até a pro-va suprema do sangue.Estas testemunhas, particular-mente as que enfrentaram a pro-va do martírio, são um sinal elo-qüente e grandioso, que somoschamados a contemplar e a imi-tar. Atestam-nos a vitalidade daIgreja; apresentam-se como luzpara a Igreja e a humanidade,porque, nas trevas, fizeram bri-lhar a luz de Cristo.Mais radicalmente ainda, elasdizem-nos que o martírio é en-carnação suprema do Evangelhoda esperança. De fato, os márti-res anunciam este Evangelho etestemunham-no com a sua vi-da até à efusão do sangue,porque, certos de não poderemviver sem Cristo, estão prontosa morrer por Ele, na convicção deque Jesus é o Senhor e o Salva-dor do homem e que este, porconseguinte, só n’Ele encontra averdadeira plenitude da vida”.

    Celebremos as vidas desses mártiressurpreendente testemunho da Boa-Nova

    Celebremos, portanto, seja comnossa presença em Roma ou emnossos lugares de origem, as vi-das desses mártires e demos gra-ças a Deus por seu surpreenden-te testemunho da Boa-Nova. Aci-ma de tudo, honremo-los de ma-neira especial, imitando suasvirtudes e o seu zelo apostólico.Demos graças ao Senhor, com

    Marcelino e com todos os Ir-mãos que nos precederam, navida marista, pelo dom destasbeatificações. Do jeito de Maria,reconheçamos que Deus olhou

    para nós e nos abençoou; reze-mos para que em nosso trabalhose manifeste sempre sua obra.

    Com afeição

    Carta a meus irmãos

    Irmão Seán D. Sammon, FMS

    Superior Geral

    Irmão Emili Turú, FMS

    Representante do Conselhopara a beatificação de nossos

    mártires de Espanha

    Capela dos mártires.

  • 10 • FMS Mensagem 36

    Procurando compreender a história

    Ir. AMEstaún

    Os mártires maristas do verão de 1936 em Barcelona

    F eliciano Montero García é catedrático de His-tória Contemporânea, na Universidade de Al-calá de Henares, e conhece bem, portanto, ocontexto social e histórico no qual ocorreu o as-sassinato de nossos irmãos. Publicou, entre outroslivros, «O movimento católico na Espanha», «Fran-quismo e memória popular», «A Ação Católicaespanhola e o franquismo: auge e crise da Ação Ca-tólica especialmente nos anos 60», e colaborou emimportantes obras coletivas a propósito da histó-ria da Espanha. Além disso, conhece bem o Insti-tuto marista, pois foi aluno do colégio marista deSalamanca desde o curso primário até o pré-uni-versitário, e seu irmão Agustín é irmão marista daProvíncia Compostela.Ele nos recebe gentilmente nas instalações daConferência marista, em Madri, onde nos explicao contexto histórico no qual ocorreram as mor-tes dos mártires maristas, no verão de 1936.

    E N T R E V I S T A FELICIANO MONTERO GARCÍA

  • Septiembre 2006 11Setembro de 2007 11

    á foi decidida pelaIgreja a beatificação

    de um grupo de irmãosmaristas assassinados no início da guerra civilespanhola de 1936 a 1939.Como era o estado da opinião pública naquelesmomentos, na Espanha?

    Houve um tempo, no final do re-gime de Francisco Franco (gover-nante da Espanha de abril de 1939a novembro de 1975, que assumiuo poder em conseqüência de umgolpe de Estado contra o governoda Segunda República, ocorridoem 18 de julho de 1936, e que mo-tivou a guerra civil, que se esten-deu entre os anos de 1936 e1939), em que a reivindicação dosmártires e da guerra civil, comouma «cruzada», parecia que tinhapassado à história dentro de cer-ta compreensão e consideraçãoda guerra civil como um erro mons-truoso, onde todos os protago-nistas, de um lado ou de outro,tinham tido alguma responsabili-dade. Depois deste reconhecimento ge-ral das próprias culpas e res-ponsabilidades, o que havia eraum compromisso de reconciliaçãoe uma intenção de superar a fasede acerto de contas e de revan-ches.Nesse contexto, os inúmeros pro-cessos de beatificação dos márti-res da guerra ficaram paralisados,a serviço desse objetivo reconci-liador, que era a principal via deum processo pacífico de transiçãopara a democracia, no qual a Igrejateria um papel essencial. Por seulado, os herdeiros dos vencidosrenunciariam a reivindicar-lhes amemória.Passado o tempo, consolidada a

    J

    transição, a Igreja, em meadosdos anos 1980, coincidindo como 50º aniversário da guerra civil,reiniciou ou deu um novo impul-so aos processos de beatificaçãodos seus mártires. Ao mesmo tem-po, na época, começavam a sur-gir em setores não católicos, crí-ticas abertas à Igreja, sobre suaimplicação e colaboração nas re-pressões do franquismo, e por is-so se solicitava a ela que, noespírito do jubileu de 2000, tam-bém pedisse perdão. Mais recentemente a investiga-ção dos historiadores e algumasiniciativas de cidadania, como aAssociação para a recuperação damemória histórica, estão reivin-dicando fortemente as outras ví-timas, mártires de outras causas,anônimos, desaparecidos, sepul-tados em fossas comuns, víti-mas da repressão dos vencedoresdurante a guerra e nos primeirosanos do pós-guerra.Em resumo, parece ter voltado,com toda a sua virulência, naopinião pública espanhola, umclima de confrontação em rela-ção às violências cometidas poruns e pelos outros, durante aguerra civil, como se tratasse de

    um novo acerto de contas. Mes-mo considerando o risco queeste confronto mediático pos-sa significar para a consolida-ção da convivência civil, estapode ser também a ocasião pa-ra curar definitivamente as fe-ridas latentes, que talvez te-nham sido silenciadas por cau-sa do medo de reproduzir oconflito.

    m todo caso, é neste clima de

    confrontação, com o riscode um acerto de contas ou de esclarecimento da «verdade» completa de tudo o que aconteceu,que devemos situar arecordação e a homenagemaos nossos mártiresmaristas. Como fazê-lo, sem contribuir a exacerbar o confronto político?

    Seguramente fazendo um exercíciode compreensão histórica dosacontecimentos, de forma com-plementar à leitura cristã. Contex-tualizando o ocorrido dentro deuma leitura política, social e men-

    E

    Sinais de anticlericalismo exacerbado.

  • Ir. AMEstaúnentrevista a Feliciano Montero García

    12 • FMS Mensagem 36

    tal de seu tempo. Procurandoresponder às perguntas sobre a na-tureza e as razões da uma violên-cia anticlerical e anti-religiosa, queseguramente vinha de longe, fi-cou incubando lentamente e semanifestou de maneira sur-preendente e descontrolada, inex-plicável e irracional, in-compreensível, até hoje, para oshistoriadores e para os herdeirosideológicos ou políticos daquelesviolentos. O surpreendente, comofoi assinalado pelo antropólogoManuel Delgado, é a incapacidadede historiadores e políticos para en-tender e assumir essa violênciaanticlerical e anti-religiosa queprovocou o acontecimento dos már-tires, no verão de 1936.

    omo se forma na Espanha

    a corrente do anticlericalismo?

    Para começar, o anticlericalismo naEspanha vinha de longe, tinha-semanifestado ciclicamente através

    e da convivência social harmônica.Na Espanha da «restauração cano-vista» (sistema político promovi-do por Cánovas del Castillo, duranteo período 1876-1923), as referên-cias legais, isto é, a Constituiçãoe o concordato com a Santa Sé,protegiam um regime com carac-terísticas confessionais e de uni-dade católica, deixando pouca mar-gem à livre expressão e propagan-da dos liberais e dos agnósticos. No entanto, pouco a pouco, suasiniciativas culturais e pedagógicasforam ganhando terreno e in-fluência real, ainda que não conse-guissem modificar as referências le-gais para dar uma mínima tole-rância aos católicos.Paralelamente, o catolicismoconsolidava sua hegemonia e suainfluência social e ideológica atra-vés da crescente implantação denovas congregações religiosas,muitas delas como os Maristas,vindas da França no final do sécu-lo 19 e princípio do século 20.Eram congregações masculinas efemininas, dedicadas principal-mente ao ensino e à assistência so-cial, e que foram precisamente oprincipal alvo das denúncias dosanticlericais desde o início do sé-culo 20.

    do assassinato dos frades em 1835,mas tinha sido alimentado espe-cialmente desde o início do sécu-lo 20, seguindo o exemplo de ou-tros países, especialmente a Fran-ça da Terceira República.O anticlericalismo, com suas múl-tiplas manifestações e caracterís-ticas, já antes da Segunda Repú-blica espanhola era a expressãode uma luta defensiva e ofensivacontra seu antagonista, o «cleri-calismo», ou seja, de acordo coma percepção dos anticlericais, eracontra o peso social, político eprincipalmente ideológico do cle-ro diocesano e religioso, nas ins-tituições sociais e especialmenteeducacionais. Era uma influênciaque se considerava perniciosa, umobstáculo para a modernização e oprogresso. O que os anticlericais reivindi-cam como legítima secularizaçãode um Estado autônomo, os cle-ricais denunciam como um peri-goso processo de descristianiza-ção, que era ao mesmo tempoentendido como uma perda fun-damental da identidade nacional

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  • Setiembre 2006 13Setembro de 2007 13

    Uma campanha sistemática, para-lela aos projetos para regular ascongregações, procurou despres-tigiar o trabalho delas e responsa-bilizá-las por todos os «males» danação. A regeneração da Espanha,sua modernização, dependia daredução da presença das congre-gações religiosas na educação.

    educação é um tema dediscussão e de

    confronto entre os clericaise os anticlericais espanhóis.Realmente a regeneração daEspanha dependia daredução da presença daIgreja no campo daeducação?

    Esta tese da retórica anticlerical,reiterada e assumida especial-mente durante o tempo da Se-gunda República, não correspon-dia à realidade social. Melhor di-zendo, segundo estudos recentes(Maitane Ostolaza), se os colé-gios das congregações tinham seexpandido tanto nas primeiras dé-cadas do século 20, não era ape-nas pela proteção legal (políti-ca), mas porque também respon-diam de maneira eficaz à deman-da social. O que elas ofereciam nocampo educacional se ajustavamelhor às novas necessidades so-ciais do que a fraca e escassa es-cola pública.Mas, é certo que a contribuição daescola católica à «modernização»econômica e social, de um país emvias de industrialização, não im-pedia que seus conteúdos doutri-nais («o liberalismo é pecado»)fossem considerados perniciosospelos liberais, pelos homens da

    m meio a uma intensaebulição social e

    política, culmina nesta épocana Espanha um processo queincluía medidassecularizadoras da educação.Como os maristas foramafetados pelas leis sobre a educação, promulgadasdurante este período?

    A lei das congregações, de 1933,foi o auge de uma série de medi-

    das secularizadoras e, de acordocom os artigos da Constituição,ela afetava diretamente a vida ea atividade docente das congre-gações, como os maristas. Ela asobrigava a secularizar seus colé-gios, colocando-os nas mãos deassociações leigas se quisessemcontinuar exercendo suas ativi-dades. Mas, uma vez aprovadaesta lei, a mudança política mo-tivada pelo triunfo eleitoral dospartidos de direita, aliviou a si-tuação. As leis anticlericais nãoforam derrogadas, pois para issodeveriam ser revisados previa-mente os correspondentes artigosda Constituição, mas sua aplica-ção foi contida ou suavizada. Em efeito, durante o biênio 1933-1935 governou de forma instáveluma coalizão de republicanos ra-dicais (moderados, apesar do no-me) e católicos da CEDA (Confe-deração espanhola das direitasautônomas). A CEDA era o partido majoritárioda coalizão, mas não tinha maio-ria suficiente para governar so-zinho, e, além disso, sua orien-tação republicana era considera-da duvidosa para os republica-nos de esquerda e para os socia-listas. Por isso, diante da chegada de vá-rios ministros da CEDA ao gover-no, a esquerda operária convocouuma greve geral revolucionária(em outubro de 1934) que, ain-da que tenha fracassado, menosnas Astúrias, provocou manifes-tações de violência anticlerical. Amorte do Irmão Bernardo, emBarruelo, foi uma expressão des-sa violência, que antecipava asque se reproduziriam em julho eagosto de 1936.

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    Instituição Livre de Ensino, os ma-çons e livre pensadores, os repu-blicanos, os socialistas e anar-quistas. Isto quer dizer que nasprimeiras décadas do século 20não parou de crescer o confrontoe com um descrédito recíprocoentre clericais e anticlericais. Nãoimporta muito se seus argumentosforam reais ou míticos, o certo éque eram eficazes na configuraçãodos dois blocos, das duas culturasantagônicas e identidades coleti-vas, chamadas a se excluírem e ase eliminarem reciprocamente.

    Logotipo e marca comercial FTD, obra do desenhista Joaquín Renart.

  • á, pois, um passo daagressividade legal,

    do anticlericalismo «legal»,à violência anticlerical?

    Durante a Segunda República játinham acontecido alguns episódiosviolentos, especialmente o incêndiodos conventos em 11 de maio de1931, a menos de um mês da pro-clamação da República, e durante arevolução de outubro de 1934. Mas,a violência anticlerical, a persegui-ção religiosa propriamente dita, oassassinato sistemático e indiscri-minado de padres, religiosos e lei-gos militantes de organizações ca-tólicas, a queima e profanação de lu-gares de culto, a violação e a zom-baria dos sacramentos, dos ritos ecerimônias, não se produziram atéo verão de 1936. E isto sob a formade iniciativas populares, de comitêsrevolucionários e de milícias locais,que dentre seus objetivos revolu-cionários tinham como prioridade aeliminação física da Igreja e deseus ministros, por considerá-los osprincipais obstáculos para as mu-danças sociais. Os inúmeros testemunhos recolhidospelos historiadores, mais especial-mente na obra clássica de AntonioMontero, que continua sendo fun-damental, confirmam a natureza ra-dical e indiscriminada dessa vio-lência, que não distingue entre o pa-dre «bom», ou «social», e o menosvirtuoso, entre o mais religioso e omais empenhado politicamente...Certamente existem tantas varian-tes quantas situações locais e so-ciais. Houve republicanos que pro-curaram mediar e evitar com maiorou menor êxito as execuções, oupessoas que esconderam ou deramoutro tipo de cobertura.

    Todos os historiadores, de um ladoou de outro, reconhecem a magni-tude da violência anticlerical, acei-tando-se ainda como válidos osnúmeros que nos oferece o livro deAntonio Montero, isto é, 13 bis-pos, 4.184 sacerdotes diocesanos,2.365 religiosos e 283 religiosas,em um total de 6.832 vítimas. As-sim como também reconhecem asrazões fundamentalmente religio-sas, mais que políticas, dessa per-seguição. Embora nem todos este-jam de acordo com essa distinção,a verdade é que era muito difícil na-quele momento separar a razão re-ligiosa da razão política.

    sto quer dizer que aguerra civil e sua

    conseqüente explosão deviolência anticlerical eraminevitáveis?

    Não necessariamente. A violêncianas ruas era muito importante,mas foi o golpe militar falido queprovocou a resistência popular, ea violência revolucionária, sob aforma de um grande «acerto decontas». A violência anticlerical se pro-longou durante toda a guerra,mas foi especialmente intensanos meses de julho a setembro de1936, o chamado «verão san-grento», tempo em que os pode-res locais e os comitês revolucio-

    nários controlaram diretamentea situação, por cima e à margemdas instituições republicanas. Isto é o que ficou acertado, paraquitar ou reduzir a responsabilidadedas autoridades republicanas naviolência anticlerical dos primeirosmeses, salientando, pelo contrário,as iniciativas de mediação e decobertura que as autoridadestinham tido diante dos comitêsrevolucionários. De fato, isto foi oque ocorreu com o grupo de irmãosmaristas de Barcelona, que foramsalvos «in extremis» pela autori-dade do Generalitat (governo daCatalunha) no dia seguinte do as-sassinato do primeiro grupo.

    uais poderiam ter sidoas razões da violência

    e do anticlericalismopopular na Espanha duranteesse período turbulento?

    Como já disse no início, ainda ho-je não se entendem bem as razõesdessa violência anticlerical, defobia pelo sacro e anti-religiosados primeiros meses da guerracivil. As autoridades republicanasprocuraram imediatamente contere se manter à distância dessasações, lavando suas mãos de to-da responsabilidade, atribuindo-as a agentes incontrolados. Ape-sar disso, não se pode negar umcerto grau de cumplicidade com

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    Ir. AMEstaún

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    entrevista a Feliciano Montero García

    Cadáveres do Convento das Salesas

    (Barcelona), hoje Colégio dosIrmãos Maristas,

    expostos na portada igreja pelos

    revolucionários.

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    essas iniciativas. Mas, principal-mente, a questão está em expli-car a possível conexão, incluídaa involuntária, entre a violênciaverbal e a propaganda acumula-da desde o início do século, espe-cialmente nos anos 1930, e a vio-lência popular.Alguns autores, a partir da pers-pectiva antropológica, sugeremrazões muito profundas e antigas,que têm a ver com a ausência dareforma protestante. Outros, apartir do estudo das culturas e dasidentidades políticas, buscam raí-zes mais próximas, ligadas às lu-tas pela secularização do Estadoe da sociedade, que ocorreramem todos os países católicos la-tinos, como França, Itália e Por-tugal. Em todo caso, parece cla-ro que na violência do verão de1936 se conjugaram diversos ele-mentos ou fatores de origem e na-tureza diversas, velhos precon-ceitos ou imagens sobre os «ví-cios» do clero e acertos de contasmais recentes, relacionados como controle da educação popular eas lutas sindicais.

    ode-se atribuir a violência popular

    anticlerical a uma razãodefensiva, diante doalinhamento da Igreja, sua colaboração com o golpe militar e, em alguns casos, a suaparticipação material na luta, armazenandoarmamento ou utilizando os edifícios religiosos como fortalezas?

    As denúncias desse tipo não pu-deram ser demonstradas. Por ou-tro lado, a explosão da violênciae a perseguição anticlerical foramanteriores ou simultâneas aosprimeiros acontecimentos daguerra, quando ainda não se po-dia saber com muita clareza oque estava acontecendo. Isto não quer dizer que o assas-sínio dos clérigos tinha sido pre-viamente planificado, que fosseum objetivo revolucionário prio-ritário ou que fosse condição pré-via para a realização de outrosobjetivos.

    Esta era uma convicção ampla-mente alimentada na reflexão ena propaganda da imprensa e nasescolas operárias.

    ual era a perspectivada Igreja católica

    espanhola em relação aos debates sobre a escola e a educação popular?

    Umas das expressões mais clarasdo confronto clericalismo-anti-clericalismo, ou catolicismo-lai-cismo, é a luta pela escola, querdizer, pelo controle dos conteú-dos educativos e do conjunto dosistema educacional.A partir da perspectiva católica,em nome da liberdade de ensino,se pretendia já nos congressos ca-tólicos nacionais no início do sé-culo 20 (Burgos em 1899 e San-tiago em 1902) a possibilidade decriação de centros docentes emface ao que chamam de «mono-pólio docente do Estado», e jun-to a isso, a defesa das congrega-ções religiosas diante dos proje-tos para regular e controlar suasatividades. Recorda-se que em1910, o governo presidido porCanalejas aprovou a chamada «leido cadeado», que impedia o es-tabelecimento, na Espanha, denovas ordens religiosas sem aautorização expressa do Conselhode ministros. A pressão anticlerical parece ce-der entre 1912 e 1931 e, em umclima de proteção à ditadura dePrimo de Rivera, a escola católi-ca, em suas diversas expressões,não deixa de crescer. Um quadroda evolução das escolas, das co-munidades e das vocações maris-

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    Colégio marista de Sants (Barcelona) incendiado pelos revolucionários.

  • tas na Província Espanha, entre1919 e 1931, expressa bem essecrescimento. O número de colégios e escolastinha passado de 60 a 69, o de ir-mãos de 587 a 813 e o de alunosde 13.023 a 20.246.A boa saúde da escola católicanão podia então deixar de susci-tar a preocupação de seus anta-gonistas. Neste, como em outrostemas relativos à «seculariza-ção», a proclamação da SegundaRepública era a ocasião para le-var a termo, de forma radical, osobjetivos secularizadores. Foi assim que se refletiu no arti-go 26 da Constituição de 1931, ede uma maneira mais determi-nante na Lei das congregações re-ligiosas, de junho de 1933. Segundo o artigo 30 da Lei dascongregações, as ordens e ascongregações religiosas não po-deriam se dedicar ao exercício doensino, e a Inspeção do Estadocuidaria para que as ordens e ascongregações religiosas não pu-dessem criar ou manter colégiosde ensino privados, nem direta-mente, nem se valendo de pes-soas leigas por interposição.

    E o artigo 31 dava prazos concre-tos e imediatos para a entrada emvigor dessas determinações.

    ual foi a reação dos Irmãos Maristas

    diante das leissecularizadoras que os impediam de exercer o ensino, de criar escolas ou de manter colégios de ensino privados?

    As congregações tomaram conhe-cimento da nova situação e trata-ram de se adaptar e de se defen-der, decidindo medidas oportu-nas. A principal delas foi a de se-cularizar sua presença pública, apartir do traje leigo ao invés do há-bito, obtendo títulos de docênciaoficiais, mas principalmente trans-formando a titularidade jurídica enominal dos colégios em «mútuosescolares» e transformando juri-dicamente as propriedades em no-vas sociedades que depositavam ocapital no exterior. O livro do Ir.Teodoro Barriuso sobre o Ir. Lau-rentino explica muito bem estatransformação obrigada.

    As vicissitudes da República foramaumentando os temores e asesperanças pela sobrevivência. Opanorama hostil percebido desdeo início (a queima dos conventosem 11 de maio de 1931 afetou al-guns colégios), se manteve ecresceu até junho de 1933. Aaplicação da Lei das congregaçõestornaria dificilmente sustentá-veis os colégios e as comunida-des, mesmo que tivessem a apa-rência secularizada. Mas, o triunfodo partido católico, a CEDA, naseleições de novembro de 1933,despertou as expectativas de umamudança. Ainda que não tenha ti-do mudança na lei, o novo climade governo permitiu a sobrevi-vência dos colégios católicos. Aexpectativa mudou de novo radi-calmente com o triunfo eleitoralda Frente Popular, em fevereiro de1936. Os governos da Frente Po-pular retomariam os objetivos eprogramas reformistas em todosos terrenos, inclusive no da se-cularização e no da escola.Além disso, a pressão das basesrevolucionárias extravasava a pró-pria legalidade, como por exem-plo, a iniciativa municipal deconfiscar o colégio marista deOrihuela.Havia um choque entre a posiçãodo governo, em defesa da legali-dade, da aplicação da Constitui-ção e da Lei das congregações,com a pressão revolucionária po-pular que, lembrando o que tinhaocorrido em outubro de 1934,poderia estourar com toda a suavirulência, assim como realmen-te aconteceu. A partir do estouro da guerra jánão cabiam nem negociações nemadaptações, mas se impunha a

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    Ir. AMEstaúnentrevista a Feliciano Montero García

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    Escola marista de Torelló.

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    eliminação física das pessoas,dos centros e seus meios de co-municação. A editora Edelvivesfoi um dos primeiros objetivos aserem destruídos.

    inalmente, a partir do ponto de vista

    do historiador e do homemde fé, existem algumaslições que a Igreja, e maisconcretamente os IrmãosMaristas, podemos aprendercom o ocorrido nesse verão de 1936?

    Como historiador e como ho-mem de fé, na linha do pensa-mento do concílio Vaticano II eno espírito que presidiu a pro-posta que fez o papa João Pau-lo II, na ocasião da celebraçãodo jubileu, convidando a Igreja,os cristãos e os católicos a umarevisão autocrítica da própriahistória, eu convidaria os Ir-mãos Maristas a fazerem um es-forço para verem o passado demaneira compreensiva, mas ao

    mesmo tempo de uma maneiraautocrítica. Apesar de que atualmente pare-cem se reproduzir os conflitosentre os partidários que lutaramde um ou do outro lado, eu pen-so que felizmente o real contex-to social espanhol, neste mo-mento, não tem nada a ver como contexto dos anos 1930. Nes-se sentido, não deveríamos te-

    mer. Mas, em todo caso, se de-veria procurar evitar alimentar asraízes que levaram a desencadeareste conflito, insistindo mais naabertura ao diálogo com os ou-tros a partir do ponto de vistaideológico e social, além detransformar as plataformas, quepodem ser potencialmente deconflito, em plataformas de com-preensão e de diálogo.

    BREVE CRONOLOGiA DA HISTÓRIA DA ESPANHA (1868-1939)

    1868 – Revolução contra Isabel II [exilada na França em 30 de setembro]1870 – Eleição de Amadeu I de Savóia como rei1872 – Terceira guerra carlista (1872-1876)1873 – Abdicação de Amadeu II1873 – Proclamação da Primeira República1874 – Restauração da monarquia dos Bourbon, com Alfonso XII [filho de Isabel II]1876 – Nova Constituição e uma «Lei municipal»1885 – Regência de Maria Cristina1893 – Atentados anarquistas (bomba no colégio de Barcelona)1897 – Assassinato de Cánovas (primeiro ministro) pelos anarquistas1898 – Guerra contra os Estados Unidos1898 – Perda das últimas colônias imperialistas. Tratado de Paris.1902 – Maioridade de Alfonso XIII1909 – Começo da guerra do Marrocos1909 – Greve geral em Barcelona [A SEMANA TRÁGICA]1911 – Greves gerais protestando contra a guerra do Marrocos1912 – Assassinato de Canalejas (primeiro ministro)1917 – Greve geral revolucionária na Espanha1921 – As tropas espanholas lutando no Marrocos sofrem o desastre de Anual1923 – Golpe de Estado de Miguel Primo de Rivera1927 – Pacificação no Marrocos1931 – 12 de Abril se declara a Segunda República1931 – Incendiados conventos em Madri1932 – Falido o golpe militar do general Sanjurjo1932 – Autonomia da Catalunha1932 – Agitação anarquista na Catalunha1932 – Dissolve-se a Companhia de Jesus1933 – Revolução anarquista em Casas Viejas (vilarejo da Andaluzia)1934 – Forma-se o governo da CEDA (Confederação espanhola das direitas autônomas)1934 – Movimentos revolucionários na Catalunha e nas Astúrias1936 – A Frente Popular ganha as eleições1936 – Sublevação do general Francisco Franco em 18 de julho:

    começa a GUERRA CIVIL1939 – Fim da guerra civil em 1º de abril1939 – Governo do general Franco (1939-1975)

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    Mártir é aqueleque não salva a sua vida

    Ir. AMEstaún

    a qualquer preço

    Juan Maria Laboa Gallego (Pasajes de San Juan,Guipúzcoa, 1939), é sacerdote diocesano, in-cardinado na diocese de Madri, licenciado em filo-sofia e teologia e doutor em história da Igreja, pe-la Universidade Gregoriana, de Roma, onde lecio-nou durante 12 anos. Foi professor durante 15anos na Faculdade de Ciências Políticas da Univer-sidade Complutense, de Madri, professor ordinárioda Universidade de Comillas durante 35 anos e pro-fessor convidado em diversas universidades européiase americanas. Fundador e diretor da revista «Vin-te Séculos de História da Igreja». Dentre seus livros,pode-se destacar «A longa caminhada da Igreja»(1985), «Atlas histórico do cristianismo» (2000),«História da Igreja. Idade contemporânea» (2002),«Atlas histórico do monaquismo» (2003), além desua colaboração na obra «Igreja e intolerâncias: Aguerra civil», onde escreveu o capítulo «Motivos daperseguição». Tivemos um diálogo com o Pe. JuanMaria, na sede da Conferência Marista, em Madri.

    E N T R E V I S T A JUAN MARÍA LABOA GALLEGO

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    celebração da beatificação

    dos irmãos Bernardo,assassinado em Barruelo de Santillán (Valencia), em 1934, Laurentino, Virgílioe outros 44 companheiros,assassinados em Barcelona,trazem à memória osinúmeros episódios deviolência que marcaram ahistória do século 20. Existealguma explicação para aviolência institucionalizada no século 20?

    O século 20 foi um século espe-cialmente traumático, por sua vio-lência institucionalizada e por seusassassinatos em massa, indiscri-minados, ou por seus assassinatosseletivos. Recordemos os mais deum milhão de mortos armênios, osinumeráveis mortos da ditaduracomunista na URSS e o terror sta-linista, as duas guerras mundiais eo extermínio dos judeus, os 30 mil-hões de mortos nas carestias chi-nesas de 1958 e de 1962, as vio-lências dos regimes autoritários naAmérica latina e as guerras na Áfri-ca, a morte de um terço da popu-

    lação chinesa, os assassinatos naIugoslávia e em Ruanda. Todos ti-nham uma explicação, mas estaexplicação era sempre inaceitável.

    violência que se viveuna Espanha desde

    a Segunda República teve, dentre seus destacadosprotagonistas, os anticlericais.O anticlericalismo encontrasua justificativa nos erros da Igreja?

    Desde que apareceram os escritosde alguns pensadores e desde aRevolução Francesa, há um anti-clericalismo furibundo que marcouboa parte da política e da culturados países europeus de origem la-tina e que, muitas vezes, se mis-turou com o desenvolvimento dosmovimentos sociais que acompanha-ram o processo de industrializa-ção. Não é sensato justificar in-discriminadamente este anticleri-calismo com os possíveis pecadoscometidos pela Igreja que, no en-tanto, os cometeu realmente. Oanticlericalismo histórico ultra-

    passou, em todos os sentidos, es-tas aparentes causas.

    uais teriam sido as motivações dos atos

    anti-religiosos na Espanha republicana?

    No século 20, o cristianismo atra-vessou uma noite «muito longa emuito escura». A perseguição anti-religiosa não foi uma questão polí-tica casual de um país ou de algunspolíticos, mas uma componentepermanente nos países liberais e, demaneira especial, em toda a políti-ca soviética nas suas diversas ver-sões. Todos os cristãos foram consi-derados inimigos, por aqueles queestavam da parte de diversos regi-mes comunistas. Motivações an-tropológicas, ideológicas e simbó-licas nutriram e estiveram por trásdestas perseguições. Para os que in-tegravam esses grupos, os clérigose as comunidades religiosas deve-riam desaparecer, para dar lugar auma sociedade nova, sem a «alie-nação religiosa». Além das motiva-ções histórico-políticas, que po-

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    AQ

    Incêndio de igrejas e de conventos em Barcelona durante a «Semana trágica», vistoa partir de Montjuic.

    Neninos madrilenhos durante umainstrução militar.

  • dem ser discutidas, existiu umamotivação anti-religiosa específicae identificadora. Isto é, um dogmamais ou menos consciente, maisou menos expresso, em quaisquerdos casos operativos, e que consis-tia em dizer que a religião deveriaser erradicada da sociedade. NaEspanha temos o exemplo de Ale-jandro Lerroux, alguém que, du-rante um período, teve muita in-fluência em alguns ambientes eque era expoente de um agressivoe radical anticlericalismo. «Não hánada de sagrado na terra. O povo éescravo da Igreja e esta deve serdestruída», foi o seu dogma, mui-tas vezes repetido. O êxito obtidopor quem pensava assim, nas As-túrias, mostrou o clima anticlericalexistente, tanto no campo social,como no político e no cultural. Nãoresta dúvida que as perseguições de1934 e de 1936 se inscrevem nogrande capítulo da luta contra a I-greja. Atacaram uma Igreja, cujapresença desejavam erradicar.

    s irmãos maristas quemorreram assassinados,

    primeiro Bernardo, emBarruelo, depois Laurentino,Virgílio e outros 44companheiros, em Barcelona,pode-se dizer que sãomártires, porque morrerampor causa da fé?

    Muitos destes mártires não morre-ram diretamente por causa de suafé, mas pelas atividades que tinhamassumido em conseqüência de suafé, pela coerência de vida queconservaram e manifestaram emseu apostolado. Suas vidas eramgeralmente simples, escondidas e

    passavam despercebidas, mas em simesmas ela se constituíam a lem-brança de uma opção. Isto explicao fato de que foram assassinados,com igual ferocidade, tanto as pes-soas pobres e desconhecidas comoos famosos predicadores, tanto osbeneméritos lutadores a favor dajustiça social como os monges car-tuchos. Para alguns, à semelhançadaquilo que sucedia na Rússia, os re-ligiosos foram vistos como umaameaça que colocava obstáculosdiante do objetivo que tinham, queera o de conseguir o domínio ideo-lógico do país. Nos mártires se com-binam, com freqüência, integrida-de interior e fragilidade, no senti-do de insegurança interior. A Igre-ja nunca aprovou a busca do mar-tírio e a heroicidade não exige umavalentia ostensiva. Pode-se serconseqüente e exemplar mesmo seo caminho até a guilhotina for per-corrido com temor e angústia. Cha-ma a atenção o fato de que não en-contramos casos em que os ideaisforam abandonados, apesar de nãoserem poucas as vezes que lhes foioferecida a possibilidade de se sal-varem se aceitassem de se casar, pa-ra romper o voto de castidade. A i-números sacerdotes e religiosos, e

    também a alguns bispos, foi-lhesdada a oportunidade de escapar damorte, mas quase todos decidirampermanecer com o povo que lheshavia sido confiado.

    uitos dos mortoslutaram por uma causa

    humana justa, ou por valoresnem sempre compreendidospela ideologia dominante. O martírio é um confronto de idéias?

    No conceito de martírio entram asexpressões de solidariedade e im-plicam em uma causa humana, nadefesa de alguns valores, tais co-mo a justiça, o amor e a solida-riedade, que nem sempre são en-tendidos da mesma maneira pelasideologias dominantes no mo-mento. É sugestivo e esclarecedoro fato que se imponha o martíriocomo uma tentativa de eliminaro cristianismo, enquanto reservade fé e de interpretação da hu-manidade, um conceito, aliás,que obviamente não é partilhadopor aqueles que perseguem. Estesmartírios também deveriam serintegrados às diversas lutas do sé-

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    Ir. AMEstaúnentrevista a Juan María Laboa Gallego

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  • Setembro de 2007 21

    culo 20 em defesa dos direitos hu-manos e da liberdade.

    s mártires não sãovítimas de uma

    história feita por outros,vítimas das inconseqüênciase dos pecados da Igreja?

    É verdade que todos nós somoscúmplices do mal existente no mun-do e, neste sentido, o martírio po-deria ser interpretado como o jul-gamento de uma Igreja. Assim, sepoderia considerar que os mártiressão freqüentemente vítimas da his-tória, de uma história que foi feitapor outros, através de suas decisõese por suas palavras. Este é um temabelíssimo, mas que se esfacela se oenfrentamos com complexos, commasoquismo ou malabarismos. Efe-tivamente, apesar de todas as ten-tativas de racionalizar, não existejustificativa para os crimes cometi-dos contra pessoas que, na grandemaioria dos casos, não apenas nãoeram culpados de alguma falta, masnem mesmo tinham se envolvido emalguma atividade política.

    s cristãos aprenderam a perdoar com Jesus.

    «Perdoai-lhes porque nãosabem o que fazem», disse na cruz. Muitos dos assassinospertenciam a gruposincontrolados. Eram ignorantes?Não sabiam o que faziam? A quem se deve oferecer o perdão?

    É verdade que muitos martírios fo-ram feitos por pessoas sem qual-quer controle, mas o que não se

    pode esquecer é que houve umaprolongada e controlada campa-nha de publicidade negativa, de mi-tos e propaganda escandalosa, queacusavam os religiosos de toda sor-te de culpas e falsos crimes. O ca-ráter absurdo de uma publicidadeprolongada e de muitas acusaçõesmaliciosas, feitas em momentosdramáticos, não impediu que al-gumas pessoas acreditassem nelas.O ódio demonstrado em muitos as-sassinatos pode-se explicar so-mente por uma grande falta de cul-tura ou por um bombardeamento depropaganda negativa. Os folhetosanticlericais pré-revolucionários eos que circulavam durante a Revo-lução Francesa, e que tiveram uma

    enorme interferência sobre aquelesacontecimentos, nos permitem ex-plicar o que sucedeu ao longo dosséculos 19 e 20.

    radicionalmente a Igrejachama de «mártir»

    aquele que morre pela fé. Nãoé uma ousadia e um martírioviver a fé em meio a um mundoem franca oposição, comdesprezo ou marginalizaçãoda fé? Qual é hoje, para aIgreja, o sentido de mártir?

    «Mártir é também quem pereceem sua luta ativa para que se afir-mem as exigências de suas convic-ções cristãs», escreveu Rahner,convicções que contrapõem comalgumas das ideologias dominan-tes na época contemporânea. Omartírio da época contemporâneaampliou suas motivações e suas ca-racterísticas, e naturalmente nãopode ser compreendido sem os ex-poentes iluministas ou culturais doséculo 19, ou sem a propagandaanarquista ou socialista. Ao longo do século encontramosuma interminável lista de sacerdo-tes, religiosos e religiosas assassi-nados por causa de sua defesa dosmais pobres, dos marginalizados eabandonados. São os mártires da ca-ridade, aqueles que se mantiveramem uma vida coerente com sua vo-cação, ou são os mártires da injus-tiça de uma situação, que uma vezinstalada não pode suportar quesejam impostos limites à sua im-punidade. São ainda os mártirespor causa de sua fidelidade a umaIgreja que conserva alguns valorescontraditórios para aqueles que do-minam um país ou uma região, em

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  • um determinado momento.Mártir é aquele que não salva a suaprópria vida a qualquer custo. É al-guém que crê e espera, que anun-cia o Evangelho e ama a Igreja,que prossegue seu trabalho e seutestemunho, inclusive correndo peri-go de vida, porque ele se sobrepõeao temor. Trata-se de pessoas querealmente crêem e que não renun-ciam a crer e a viver sua fé, inclu-sive em circunstâncias de incom-preensão e de rechaço. Muitos te-

    riam salvado a própria vida se ti-vessem renunciado à sua fé ou aotrabalho nos campos educativos oucaritativos da Igreja. O modo comoviviam a sua fé e sua vocação cris-tã, ou como trabalhavam genero-samente para o bem comum, ajudaa compreender sua aceitação domartírio. Não porque o buscassem,mas porque ele era coerente comsua forma habitual de vida. Elesforam perseverantes em sua voca-ção até a morte.

    partir deste seu pontode vista, de que

    maneira as beatificaçõesdos nossos irmãos poderiamse transformar em estímulopara os maristas de todo omundo?

    Em nossos dias, a mentalidadedominante em um mundo de co-modidades e aburguesado, queabsorve aqueles que crêem, seinquieta com a últimas conse-qüências às quais pode levar a fi-delidade ao amor, a uma doutri-na e a alguns ideais. Estamosacostumados ao café sem cafeí-na, ao doce sem açúcar, à cerve-ja sem álcool, etc. O martírio nosintroduz de imediato no âmbitoda coerência pessoal, no dasconseqüências do amor e da ge-nerosidade, nos das exigênciasda própria vocação. O martírionos repropõe de maneira nua ecrua o mistério da cruz, e não hácruz nem martírio sem amor. Pa-ra qualquer um de nós, o ofereci-mento da própria vida se consti-tui uma sacudida e uma interpe-lação.

    22 • FMS Mensagem 36

    Ir. AMEstaúnentrevista a Juan María Laboa Gallego

    A

    O Coliseo de Roma expoente dos mártires da Cristandade.

  • Setembro de 2007 23

    Presençamaristana Espanhanas vésperas da guerra civil

    1936-1939

    Ir. Juan Moral Barrio

    Para verificar algumas caracte-rísticas da presença dos IrmãosMaristas no campo educacio-nal, e em todas as dimensõesda geografia espanhola no mo-mento em que foram martiriza-

    dos os irmãos, podemos analisar os dados estatísticos referentes aos anosde 1934-1935. Se observarmos os lugares onde eles trabalham, podemosnotar que, salvo exceções, na maioria deles se trata principalmente de vilarejos, que não são propriamente as principais localidades de suasrespectivas províncias. É o caso de Alcoy, Badalona,Cabezón de la Sal, Barruelo de Santullán, Centellas,La Garriga, Manzanares, Palafrugell, Algemesí, Ca-net, Mataró, Sabadell, Torrelaguna, Villanueva de lasMinas, Arceniega, Carrejo, Igualada, Orbó...

    O tipo de atividade educacionalVerificando mais detalhadamente as estatísticasdos anos que antecederam imediatamente a guerra,pode-se deduzir que havia um processo de cresci-mento ininterrupto nos quatro níveis do ensinooferecidos pelos irmãos, que são os cursos Primá-rios, o Comercial, o Secundário e o Industrial. Osavanços mais consistentes e efetivos podem ser ve-rificados nos níveis mais populares e elementares,isto é, os cursos Primário e Comercial. Há certamente um ligeiro retrocesso durante osanos da República, fato que possivelmente nãodeve ser atribuído à iniciativa dos pais que esco-lhiam as escolas de seus filhos, privilegiando maisum tipo de escola do que outro, mas esse recuo se

    No ano de 1936, na Espan-ha, não existia além deuma província marista, que es-tava prestes a celebrar os 50anos da chegada dos primeirosirmãos a Girona, em 1886.

    Informações estatísticas sobre as matrículas escolares

    das escolas maristas da Espanha em 1934,

    publicado em Stella Maris de fevereiro de 1935.

  • deve mais à desorganização existente na época,devida aos acontecimentos que criavam um am-biente de insegurança.Nesse período há um nítido e significativo predo-mínio dos cursos populares, não apenas com re-ferência à região onde as escolas se localizam,mas, se examinarmos com particular atenção ca-da uma das situações, como é o caso de Barcelo-na, as cinco escolinhas se situam em bairros quetêm uma efetiva necessidade da escolarizaçãobásica. Estas escolas eram mantidas por peque-nas comunidades, formadas por três ou quatro ir-mãos, com exceção a de Sants, onde havia 11 ir-mãos para atender mais de 500 alunos. Em 23dessas escolas, o número de alunos não ia alémde 300. Os vilarejos e os bairros com uma signifi-cativa presença de operários eram os mais socor-ridos. As transferências e a evolução das escoli-nhas se faziam segundo o ritmo das necessidadese das dificuldades que surgiam do desenvolvi-mento do trabalho educativo e apostólico. A criação dos chamados cursos noturnos, que

    eram autênticos cursos de alfabetização, de cultura e de recuperação,deu-se com o intuito de oferecer um complemento natural da escola esegundo as necessidades dos bairros.

    Um modo apostólico de educarHá um modo de proceder que se repete quase exatamente em cada cidadeonde os irmãos se estabelecem, como algo que herdaram dos mais velhos,daqueles que os precederam e por quem tinham sido enviados. Talvez essacaracterística venha mesmo diretamente do fundador, Marcelino Cham-pagnat. «Vocês devem estar de acordo com as autoridades eclesiásticas ecivis, cada vez que estabelecerem qualquer atividade em uma cidade.» Aescola não é totalmente gratuita, mas se pede aos pais que colaborem se-gundo suas diferentes possibilidades. Na circunscrição da grande escolasão criadas várias escolas pequenas, para que sejam atendidos aquelesque podem menos, os mais necessitados. Em Barcelona, por exemplo, asescolas pequenas se multiplicaram, abrindo-se mais de cinco delas, que semantinham sob o patrocínio do colégio que estava na rua Lauria, antes docomeço da guerra. Quando os quatro primeiros maristas são enviados àEspanha, eles recebem a bênção do Superior, que lhes diz: «Vocês vão es-tudar o castelhano, para depois ficarem à disposição da Providência divi-na… Sejam religiosos, abnegados e piedosos. Vocês deverão servir de mo-delo a muitos outros que virão depois». Este encargo interior, que carregatodo aquele que parte em missão, foi sem dúvida transmitido às geraçõesde maristas que sucederam estes primeiros enviados.

    24 • FMS Mensagem 36

    Ir. Juan Moral Barriopresença marista na Espanha

    Os dados estatísticos incluemas matrículas escolaresrelativas ao ano de 1934 do distrito chileno e peruano,dependente da província.

  • Setembro de 2007 • 25

    BernardoIrmãoPlácido Fàbrega Julià, 1889-1934Camallera (Girona)

    Aquele que confessa que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus.

    1 Jo 4,15

    GironaDiocesede

  • A revolução em BarrueloA revolta, em Barruelo, que se estendeu pela região mineira da pro-víncia de Palencia, temos que incluí-la no contexto da chamada re-volução das Astúrias, no mês de outubro de 1934. A localidade de Bar-ruelo tinha as minas de carvão mais importantes da região.A organização socialista contribuiu para reavivar o fermento revolu-cionário em toda a região das minas, especialmente nas de Barruelo.Durante o verão de 1934, os rumores de um possível levante se fize-ram insistentes e, com a acumulação de armas e a fabricação caseirade bombas e coquetéis Molotov, na sede socialista, estavam dispos-tos e preparados para a luta.O jornal El Socialista, de 4 de outubro, deu o sinal: “Nunca um passoatrás. Todos....Avante!” e os socialistas de Barruelo esperavam ordens.Foi feito o chamado à greve geral e a adesão foi total. Em 5 de outu-bro, a cidade estava preparada e disposta para a revolta. O primeiroataque foi contra dois guardas civis que se refugiaram na prefeitura.Esta foi imediatamente colocada em chamas. Houve outros ataques edesfiles ao canto da Internacional. Em 6 de outubro, a revolta conti-nuou. O quartel da guarda civil e a igreja paroquial foram incendiados.

    A escola dos Irmãos, que se en-contrava ao lado da igreja pa-roquial, foi um dos primeirosalvos, pelas 4h da madrugada,quando lançaram contra elabombas Molotov. Não conse-guiram prender os Irmãos quehaviam fugido, por indicaçãodo diretor, mas prenderam a es-te, o Ir. Bernardo, que foi as-sassinado. (Positio del H. Ber-nardo, págs. 24-27.)

    Ser um mártir não se improvisaEm Bernardo batia um coraçãode apóstolo. Em todos os luga-res por onde ele passou, as ini-ciativas se multiplicavam: co-rais, associação de ex-alunos,grupos de ação católica, movi-mentos de jovens apóstolos en-

    26 • FMS Mensagem 36

    Diocese de GironaIrmão Bernardo

    Missa celebrada em Barruelo pela ocasião

    do translado dos restos mortais do Irmão Bernardo

    à Igreja paroquial.

  • Setembro de 2007 • 27

    tre os alunos, portas abertas à cultura, entroni-zação de imagens do Sagrado Coração, vigílias deoração, círculos de estudo, conferências culturaise religiosas, classes para educação de adultos, bol-sas de estudo, biblioteca itinerante, grupos de tea-tro, atividades folclóricas, visitas às famílias dostrabalhadores de mina, visitas a enfermos, trabalhovocacional, acompanhamento de Irmãos jovens,sem deixar o trabalho normal de Diretor e de pro-fessor no colégio.Nove horas de aula diárias, escrevia a um ex-alu-no seu, horas que me parecem minutos, porque meencontro feliz entre as crianças e me parece pou-co tudo que faço por elas.

    Tudo o que aqui descrevemos amadurecia com umaintensa vida de intimidade com o Senhor e com aBoa Mãe. Bom, sem esquecer a “mortificação” e atéo cilício. Dizia: Que bem posso fazer aos alunos senão sou o primeiro a viver o que digo para elas?

    A mãe com os dois filhos maristas.

    v Em uma página, toda uma vida1889. 18 de fevereiro, o Irmão Bernardo Fàbrega Julià nasce em Camallera, perto de Girona. No

    batismo, recebe o nome de Plácido Juan, José.

    1901. Em 9 de março, entra no Juvenato, onde um de seus irmãos o havia precedido.

    1905. Em 8 de setembro faz os primeiros votos. Em 1910 emite os votos perpétuos.Percorre todas as etapas que os Irmãos naquela época conheciam nas comunidades maris-tas: cozinheiro da comunidade, estudos, professor do primário, depois no ensino secundá-rio, vice-diretor da escola, superior da comunidade e diretor do colégio.

    1910. Ensina no colégio de Igualada e em 1916, se encontra entre os fundadores do Colégio SãoJosé, de Barcelona.

    1925. É nomeado diretor da escola das minas de carvão de Vallejo de Orbó. Com certeza, seuapostolado se centrou na formação dos filhos dos mineiros. Ele chega a amar apaixonada-mente esse povo trabalhador, pobre e mentalizado pelas idéias do marxismo. Conscienteda pobreza dessas famílias, deseja criar para seus filhos oportunidades para um futuromelhor.

    1931. Os superiores lhe pedem para assumir a direção da escola de Barruelo de Santullán, sem-pre na região das minas.

    1934. Em 6 de outubro, às 4h da manhã, é assassinado. Seu corpo foi objeto de insultos, mutila-do, arrastado pelos pés até a horta dos Irmãos e abandonado durante 24 horas.Seus restos repousam agora, na igreja paroquial de Barruelo de Santullán.

  • TestemunhosSe o Irmão Bernardo chegou a ser um educador eficaz da fé de seus jo-vens alunos, isso não se deveu somente a suas aulas de catequese se

    não, sobretudo, à sua experiência de Deus.Foi um professor extraordinário, de fortevontade, de caráter enérgico, sério e pro-fundo em tudo o que empreendia: poroutra parte, se mostrava respeitoso, afá-vel, delicado em suas formas de trato emuito caridoso… Sua sinceridade e reti-dão eram notáveis.Um Irmão jovem foi enviado à comunidadedo Irmão Bernardo. O Provincial só lhe deuesse conselho: Trata de ir sempre comBernardo… Depois de alguns dias o Irmãocompreendeu: “Era como se me tivesse di-to: aconselho-te a ser piedoso, mortifi-cado, com muito zelo apostólico, em umapalavra, que sejas santo. Porém, tudo is-so te recomendo em uma só vez, ao dizer-te que vivas muito perto do bom IrmãoBernardo. Com efeito, será para ti ummodelo de piedade e um exemplo de ab-negação e de regularidade; um exemplo dezelo apostólico e uma luz de santidade.Uma cópia e um resumo de todas as vir-tudes religiosas e maristas. Encontrarásnele um guia, um amigo, um pai e um ir-mão.”

    Jardim da escola dos irmãos.

    A cruz indica o lugar onde por 24 horas

    ficou o corpo do Irmão Bernardo.

    Diocese de GironaIrmão Bernardo

    Quando considero os santos, de perto, são as coisas pequenas as

    que me revelam a luz que brilha em suas almas e queilumina meu coração. Sinto-me prisioneiro, entredois polos: sua atividade desbordante e o sentidoprofundo de sua pobreza. Vivem os esforçosespirituais com a mesma fragilidade que sentimos nós,ante as dificuldades da vida. A santidade deles é umasantidade do dia-a-dia, feita de pequenos gestos: um copo de vinho acrescido à comida dos pobres;curar os feridos de guerra com o mesmo afeto, sem perguntar de que lado são.E desde 1931, a lenta ascensão até o martírio, eles que não tinham outra política senão Cristo.Ensinam-me que a santidade tece sua presença, na trama diária da vida; que o Senhor se compraz na humildade de todos os dias, e é aí que semeia a força para afrontar o martírio.

    Ir. Giovanni Bigotto, Postulador geral

    28 • FMS Mensagem 36

  • Setembro de 2007 • 29

    Uma vida oferecida

    B arruelo, um antigo vilarejo na região das mi-nas, ao norte da província de Palencia, é hojeuma pequena cidade habitada principalmente poraposentados.É um vilarejo que vive de recordações. Dentre elas, po-de-se destacar de maneira especial a lembrança dosirmãos maristas. Eles marcaram um período da histó-ria dessa cidadezinha. Os filhos dos que trabalhavamnas minas, que foram educados por eles, hoje ocupamalguns dos postos mais relevantes, espalhados por to-da a Espanha.Dentre todos os irmãos que trabalharam ali, se so-bressai especialmente o Irmão Bernardo. Primeiroem Vallejo de Orbó, depois em Barruelo, a sua foi umavida inteiramente dedicada à educação de alguns jo-vens que, se não tivessem a sua ajuda, não teriam al-ternativa na vida do que extrair o carvão das obscu-ras entranhas da terra.Ele morreu mártir. Mas, o martírio do Irmão Bernardonão aconteceu em um simples dia 6 de outubro. Pa-ra os filhos destes vilarejos, o seu martírio aconteceutodos os dias, porque ser mártir é imolar-se a cada mi-nuto, oferecendo a própria vida a serviço dos outros.São poucos os estudantes que tiveram a felicidade deconhecê-lo pessoalmente. Mas, todos nós o conhe-cemos, porque aqueles que o conheceram nos falarame ainda falam sobre ele, diariamente, contando-nos de-talhes de sua vida.Nas reuniões informais, nas conversas,nos encontros com aqueles que vêm defora, o Irmão Bernardo se torna sempreum assunto de interesse: como vai oprocesso de beatificação, o que se es-queceu de dizer sobre ele e a importân-cia que isso pode ter, pois ele já é consi-derado um santo, etc.

    E por que não contarmos os detalhes? Como pároco, pos-so constatar muitos deles na vida quotidiana dos ha-bitantes desses vilarejos. Basta destacar alguns deles.– Desde que seus restos foram transladados para a

    paróquia de São Tomás e colocados na parte fron-tal daquela que se chamava a «nave do batismo»,não passou um só dia sem que tivessem trazidoflores naturais para ornar o seu nicho. Hoje ela jáse chama a «capela do Irmão Bernardo».

    – No afresco da cúpula da paróquia, obra de Jorgedel Nozal, artista filho de um minerador e ex-aluno marista, e que realizou este trabalho ape-sar da contrariedade do bispo, se destaca entrenuvens a estrela do Irmão Bernardo, que do lu-gar de seu martírio sobe sorridente até o céu.

    – É comum ver os paroquianos, tanto os que parti-cipam diariamente da missa, como os que vêm àigreja somente aos domingos, que frequentemen-te passam pela capela do Irmão Bernardo antesde ocupar um lugar na igreja para a Eucaristia.

    Como pároco e como aluno marista, como continuo meconsiderando, acho que conheço muitos detalhes davida do Irmão Bernardo. Por isso, me junto às pessoasdos vilarejos de Barruelo e de Vallejo para garantir queo seu martírio não seja coisa de apenas um dia, masde toda uma vida. Para nós, antes mesmo de sua beati-ficação, já o consideramos um santo.

    Ángel Pérez Torices,pároco de Barruelo e Vallejo

    Sacerdotes e autoridades em redor da urna

    que contém os restos mortais do Beato Irmão Bernardo.

  • 30 • FMS Mensagem 36

    Diocese de GironaIrmão Bernardo

    Los cuatro irmãos martires en Bugobe: Miguel Ángel, Julio, Fernando y Servando.

    La Provincia de Españafue generosa con las misiones. Envió más de 20 irmãos a México, una docena aPerú y Chile, diez a Colombia, y otros diez a Argentina. Continuará siendo una Provincia misionera después de la persecución enviando irmãos a Ve-nezuela, Cuba, Ecuador, Paraguay, Uruguay y Bolivia. Y esa sana tradición se mantiene en el presente con envíos de irmãos a Hungría, Rumania, Ar-gelia, Costa de Marfil, Congo... Los cuatro irmãos mártires en Bugobe: Servando, Miguel Ángel, Fernando y Julio están en línea directa con los ir-mãos que murieron asesinados del 1934 al 1936 y los pioneros de la “missio ad gentes”.

    IRMÃO BERNARDOAPÓSTOLO E MÁRTIR

    José Ignacio Munilla, Bispo de Palencia

    E u dou graças a Deus por tantostestemunhos, belos e heróicos,como os que estou descobrindo desdeque, no dia 10 de setembro do anopassado, recebi a consagração episcopalna catedral de Palencia. Naquelaoportunidade, não se tratou de umvalenciano, mas de um filho deCamallera (Girona) que ficou ligado parasempre à nossa diocese castelhana, emvirtude da universalidade católica, quenos faz plenamente disponíveis para oReino de Deus. A Providência quis que esta beatificaçãodo Irmão Bernardo se realizasse em ummomento convulso da história daEspanha. A divisão e as disputas no seioda sociedade espanhola são muitoevidentes. O testemunho do IrmãoBernardo nos ensina a superar osbloqueios e as fraturas sociais, servindoo homem, que tem nome e sobrenome, àmargem de suas etiquetas políticas. Esteé o caminho: a pessoa concreta.O principal sinal que autentica omartírio é este: morrer perdoando. Nãobasta conhecer as palavras pronunciadaspelo Irmão Bernardo, quando caiu ferido

    mortalmente, para nos darmos conta que a sua vida e morte seguem aspegadas de Jesus: «Perdão, meu Deus!Eu os perdôo, Senhor! Minha mãe,Virgem Santíssima, perdoe-lhes!».A aplicação prática que devemos tirardisso tudo é bastante evidente. Paramorrer perdoando é necessário viverperdoando. Nosso mundo necessita,principalmente, de misericórdia. Por isso, pedimos ao Irmão Bernardoque nos alcance esta graça, de olhar o mundo com olhos de misericórdia.A diocese de Palencia se prepara commuita disposição para a beatificação dos498 Servos de Deus, vítimas daperseguição religiosa, que se realizaráno dia 28 de outubro, em Roma. Dentro da família marista, mais doisvalencianos acompanharam o IrmãoBernardo: o Irmão Ángel Andrés, naturalde Dueñas, e o Irmão Miguel Ireneo,natural de Leocadio em Calahorra de Boedo. Peregrinaremos a Roma para renovar e rejuvenescer a nossa fé. Não em vão, como dizia Tertuliano, pois «o sangue dos mártires é semente de novos cristãos».

  • Setembro de 2007 • 31

    ncia de Españaerosa con las misiones. Envió más de 20 irmãos a México, una docena auna Provincia misionera después de la persecución enviando irmãos a Ve-se mantiene en el presente con envíos de irmãos a Hungría, Rumania, Ar-vando, Miguel Ángel, Fernando y Julio están en línea directa con los ir- ad gentes”.

    UMA MORTE MARTIRIALQUE ENOBRECE

    A IGREJA DE GIRONAE A DE PALENCIA

    Carles Soler i PerdigóBispo de Girona

    É motivo de alegria que um filho daIgreja de Deus que peregrina emGirona, Plàcid Fàbrega y Julià,conhecido como o Irmão Bernardo,nascido e batizado na paróquia de SanBartolomé de Camallera, no municípiode Sal, seja beatificado. Isto é, elevadoà honra dos altares e proposto comoexemplo e intercessor para todos nós.O Irmão Bernardo demonstrou seugrande amor às crianças e aos jovensem diferentes situações, durante 19anos, com entrega total e abnegaçãoapostólica. Ele é mais conhecido erecordado logicamente em Vallejo deOrbó e Barruelo, território de mineraçãode carvão, onde harmonizou suadedicação educativa como professor ediretor da escola com um bom trabalho

    na catequese e no apostolado juvenil.Era sempre atento às necessidades das crianças e dos jovens.A Igreja de Girona, a paróquia deCamallera, sentem-se santamenteorgulhosas, porque a fé na qual foiiniciado e educado Plàcid Fàbrega y Julià, que viveu ali em sua juventude,entre o final do século 19 e o início do século 20, foi a mesma que o levou dali para que continuasse a testemunhá-la generosamente, onde a obediência religiosa àcongregação dos maristas o destinava.Com a distinção de sua morte martirialele enobrece a nossa Igreja e a de Palencia, unindo com laçosfraternos a paróquia de Camallera e a de Barruelo.

  • BARRIUSO MARTÍNEZ,Teodoro,Hermano Laurentino,marista (1881-1936)mártir de la escuela católica,Vicepostuladuria de Espanha, Madrid, 2003.

    ANDREUCCI, Gabriele, Barcinonem.Beatificacionis seuDeclarationis MartyriiServorum Dei Laurentini,Virgilii, et XLIV SociorumPositio super Martyrio,Roma, 1996.

    CORREDERA GUTIÉRREZ,Eduardo, Páginas dehistoria marista. España1936-1939, Barcelona, 1977.

    CORREDERA GUTIÉRREZ,Eduardo, Páginas dehistoria marista. España.La semana Trágica. 1936-1939, Zaragoza, 1980.

    MARTÍNEZ CALVO,Inocencio, Unacomunidad de mártires,hermanos maristas;convento de Santa Maria de Bellpuig de las Avellanas,Zaragoza, 1967.

    MORAL BARRIO, Juan J., HermanoBernardo, marista, mártir entre los mineros,Zaragoza, 1993.

    MORAL BARRIO, Juan J., Vidasentregadas; Martirologiomarista de España, 1909-1939, Zaragoza, 1997.

    SANTAMARÍA, Mariano;MORAL BARRIO, Juan J.;ARBEZ, Juan Carlos,Cien años en la escuela,Zaragoza, 1987.

    32 • FMS Mensagem 36

    Os beatos Laurentino e Bernardo nos vitrais da Casa Marista

    de Miraflores (Burgos).

    Pequenabibliografia

  • Setembro de 2007 • 33

    LaurentinoIrmão

    BurgosDiocesedePois fomos todos batizados num só Espíritopara ser um só corpo. 1 Cor 12,13a

    Mariano Alonso Fuente, 1881-1936Castrecías (Burgos)

  • 34 • FMS Mensagem 36

    Mariano nasceu no dia 21 de novembro de1881, em Castrecías, (Burgos) no seio deuma família de lavradores.Em 1897, inicia o noviciado. Em 1899, co-meça o apostolado em Cartagena. No iní-cio, lhe custa bastante manter a disci-plina. Porém, logo consegue se fazerrespeitar: seu caráter franco e equânime,a bondade e a ciência lhe ganham os co-rações, a ponto de, quarenta anos maistarde, seus alunos recordarem com admi-ração suas grandes qualidades de educa-dor. Em 1905, é nomeado diretor do colégio deCartagena. O Ir. Berilo, Assistente geral,quando visita essa comunidade, encontra nela tal união e dedicaçãoaos alunos que, admirado, recompensa os Irmãos com uma excursãoa Orán (Argélia).Aos 31 anos, assume a direção do colégio de Burgos, um dos mais im-portantes da Espanha. Seu sucesso é total. Ele tem a ocasião de for-

    mar um grande número de Irmãos jovens econsegue uma grande estabilidade em sua co-munidade. O Ir. Floriberto, Provincial, ao apre-sentá-lo a seus Irmãos lhes diz: Trago-lhescomo diretor um Irmão muito devoto do SagradoCoração.O Ir. Eoldo, Visitador, solicita seus serviços co-mo adjunto, pois a Província da Espanha é mui-to grande, com 800 Irmãos e mais de 60 casas.Porém, o Ir. Eoldo é enviado ao México e o Ir.Laurentino se encontra sozinho em sua funçãode Visitador.Em 1928, o Ir. Laurentino é chamado para di-rigir a Província da Espanha. Em Canet de Mar,no Santuário da Virgem, renova sua consagra-ção que, ali mesmo, havia feito 31 anos antes,e põe nas mãos de Maria o trabalho que lhe éconfiado.A Espanha entra em um período turbulento etrágico e os irmãos têm necessidade de serguiados por uma pessoa prudente e firme. Emmeio da tormenta, o Ir. Laurentino transmiteaos Irmãos coragem e audácia para resistir eainda para funda novas escolas: Sevilla, Cór-doba, Huelva... que continuam sendo, hoje, co-légios florescentes. Ele também sabe criar en-tre os Irmãos um clima de intensa espiritua-

    Diocese de BurgosIrmão Laurentino

  • Setembro de 2007 • 35

    lidade, que dinamiza o apóstolo e prepara o már-tir. Durante o tempo de tormenta, o nível espiri-tual e apostólico das comunidades chega a um ní-vel extraordinário.A hora do martírio estava próxima. Em 18 de ju-lho de 1936, o exército da África inicia o levan-te nacional. No dia 19, inicia a revolução em Bar-celona e, pela tarde, centenas de igrejas e conven-tos são incendiados.Qual era o estado de ânimo do Ir. Laurentino? Nodia 3 de outubro de 1936, ele envia o Ir. Ataná-sio a Múrcia para socorrer os Irmãos que estão nocárcere. Pede-lhe para levar consigo o SantíssimoSacramento e lhe dá essa mensagem: Diga aos Ir-mãos que, desde o início dessa sangrenta revolu-ção, não vivo senão para eles, que me recordo de-

    les continuamente e não deixo de recomendá-losà proteção da Santíssima Virgem.O Irmão Laurentino recebeu propostas e facili-dades para ir para a Itália. Ele sempre preferiu fi-car com seus Irmãos dispersados e atacados. Eleconseguiu fazer com que 117 jovens Irmãos emformação passassem para a França. No entanto,ele e 106 outros Irmãos caem na armadilha pre-parada pelas F.A.I (Forças Anarquistas Insurgen-tes). No dia 7 de outubro de 1936, em Barcelo-na, eles foram presos no navio Cabo Santo Agos-tinho, que deveria levá-los para a França, segun-do o acordo com as F.A.I.Durante a noite seguinte, 46 Irmãos, entre osquais os Irmãos Laurentino e Virgílio, foram fu-zilados nos cemitérios de Barcelona.

    Cripta da Igreja da Rua São Elias, de Barcelona, onde esteve o quartel geral da FAI convertida em “checa” (lugar de tortura).

  • UM OLHAR ATRAVÉS DA ALMA

    Esses trechos nos permitem conhecer um pouco mais da alma do Ir-mão Laurentino: Durante esses dias, cheios de problemas, duranteos quais todos ou quase todos vivemos horas e dias de profunda in-

    quietação... tenho pensado constan-temente nas pessoas e nas obras da nos-sa Província que tanto amamos; desejoestar quase que continuamente emcomunicação com os Irmãos, parti-cularmente aqueles que sofreram porcausa dessa desordem. Como gosta-ria de poder consolá-los, encorajá-los, ouvi-los e manifestar minha afei-ção religiosa que, nesses dias de luto,tenho sentido como jamais senti, nomeu coração de pai. Nesses momen-tos críticos, que nossa atitude não se-ja semelhante à daqueles que se en-tregam a lamentações estéreis... Seja-mos religiosos em nossas ações, pala-vras e sentimentos, particularmentenesses momentos em que o Senhor de-seja nos fazer sentir um pouco o pe-so da sua Cruz adorável... Rezemos,pois, com fervor, continuemos nossotrabalho de maneira intensa e metódica,entreguemo-nos a Deus e às nossasocupações, sem reserva. Vivemos umtempo precioso; agora nos sentiremosverdadeiramente discípulos de Cris-to. Mil vezes felizes se o Senhor nosjulgar dignos de sofrer por Ele.

    36 • FMS Mensagem 36

    Diocese de BurgosIrmão Laurentino

    Posso resumir a vida do IrmãoLaurentino inspirando-me na frase de

    são Marcelino reproduzida na recente circular do Ir.Seán, aquela mesma que citei no título e que elecolocou em prática durante toda a sua vida e em suamorte. O Irmão Laurentino, há 100 anos, bebendonas fontes que nos chegaram de L’Hermitage, resumiudesta maneira a doutrina de Marcelino a respeito dosignificado de tornar Jesus Cristo conhecido: «Ocatecismo deve ocupar o lugar de honra noprograma de nossos cursos, a lição de doutrinadeverá ser a mais bem preparada e explicada peloprofessor, aquela que nossos alunos ouvem com maisgosto e interesse». Mas, não terminou assim a sualição. Pois, durante a revolução comunista libertáriana Espanha, ele soube dar a sua vida por seus irmãos,ainda que tivesse a oportunidade de salvá-la. De fato,em meio à brutal perseguição que já havia matado maisde 100 irmãos, no dia 8 de outubro de 1936, oIrmão Laurentino foi assassinado em companhia deoutros 45 maristas. Em uma recente biografia sua,resumo sua vida nestas palavras: Irmão Laurentino,marista, mártir da escola católica.

    Ir. Teodoro Barriuso Martínezal

  • Setembro de 2007 • 37

    Agora!No início do ano de 1933, o Irmão Laurentino, Pro-vincial, enviou votos aos seus Irmãos, um tanto sur-preendentes:

    Vocês que, todos os dias, dizem a Deus que oamam com todo o seu coração, com toda a sua al-ma, com todo o seu ser, agora é o momento de de-monstrar isso. Sim, é agora que aqueles que per-severam no seu amor serão zombados, abandona-dos, caluniados, privados dos seus legítimos direitosde cidadão, insultados e feitos alvo de uma per-seguição satânica.

    É agora o momento de mostrar até onde vai a fi-delidade que vocês têm jurado ao Senhor. É ago-ra o momento de provar que seus desejos de sa-crifício não são ilusórios e fantasiosos. Aqueles quehoje mostram fraqueza e abandonam a boa cau-sa, talvez, um dia se achassem invencíveis..

    Virá o tempo em que veremos os valentes - aque-les que tudo podem Naquele que os fortifica e queé nossa Vida e nossa Força - aqueles que, por na-da neste mundo, perdem a paz, mas que, protegi-dos pela fortaleza de Deus, dão a impressão de quesua alma se torna mais forte, diante das dificul-dades e das angústias do momento. Eles não re-cuam, diante dos maiores sacrifícios – ainda quereconheçam espontaneamente sua fragilidade – co-mo não recuou diante dos tiranos e perseguidoresa plêiade de mártires, de confessores e de homensapaixonados por Jesus Cristo.

    É agora o tempo de se alegrar e se rejubilar, comonos disse Jesus e como fizeram os apóstolos,quando chegou o momento de sofrer penas e per-seguição por causa do nome do divino Mestre. No entanto, não somos nós os perseguidos, mas éJesus que é perseguido em cada um dos seus fiéisservidores. Cada um de nós sofre por si só, mas elesofre em todos os seus membros.

    Façam, pois, calar dentro de vocês as queixas e la-mentações, vocês que seguem o Redentor; vocêsque não chegaram ainda às dores do Calvário,

    nem ao despojamento do Salvador. Ele se cala, re-za, sofre e redime. Rezem, fortifiquem-se, traba-lhem, cooperem com Ele, na salvação das almas.Vocês querem uma preparação melhor para celebraro 19º centenário do drama sangrento do Calvário? É agora o tempo de fazer a reparação de maneiramais eficaz, por si mesmo e pelos outros, do des-prezo dado a Deus. É agora o tempo de fazer vio-lência ao céu com preces fervorosas e contínuas emfavor da vontade de Deus e da Igreja; em favor daspessoas e das obras que nos são tão caras e quenos são particularmente confiadas.

    Sim, é agora o tempo de rezar, e rezar bem, comonos exige nosso estado de religiosos. Agora, ago-ra, sem esperar nem depois, nem amanhã. Agora éa hora para merecer esse tempo de provação queé um tempo de graça e de bênçãos... Que esta se-ja a nossa divisa para o ano de 1933.

    Irmão Laurentino, Stella Maris, janeiro de 1933, nº 138, p. 5

  • 38 • FMS Mensagem 36

    ADMIRAÇÃO E GRATIDÃO

    Ao relembrar os acontecimentos vividos com os irmãos dacomunidade marista de Avellanes, há 71 anos, no verão e outono

    de 1936, dois sentimentos afloram com intensidade em mim: de ADMIRAÇÃO ede GRATIDÃO.O passar dos anos não amortizou aquelas recordações. Pelo contrário. Ao melembrar das atitudes dos superiores responsáveis pela então província daEspanha, do Irmão Laurentino, que era o provincial, e de seu Conselho, dos superiores da casa de Avellanas, dos irmãos formadores dos escolásticos, dos noviços, dos postulantes e dos juvenistas, admiro sua integridade aoenfrentar situações inéditas. Eles jogavam com a própria vida e as de mais de200 pessoas que estavam sob o seu encargo. Tenho admiração também pelo senso de responsabilidade que demonstraram quando não desapareceram de um cenárioperigoso no qual se encontravam. Alguns deles poderiam tê-lo feito com relativafacilidade, mas continuaram seguindo conosco, até que estivéssemos colocadosnas famílias dos vilarejos vizinhos a Avellanes.Quando parecia que o projeto dos superiores, de proporcionar a saída de todos nós da chamada «zona vermelha», ia ter êxito, somente uma centena de nós, os mais jovens, pudemos chegar à fronteira da França. Nunca esquecereio olhar com o qual me despedi do grupo de irmãos mais velhos que tinham ficadoprisioneiros, diante da incerteza de tudo o que poderia acontecer. Também não esquecerei o que pensei naquele momento: «meus companheiros e eu vamos para a liberdade, a vida, a segurança... mas pagando um preço muitocaro, o sangue e a vida de meus irmãos que ficam do outro lado da fronteira».Nunca esqueci a GRATIDÃO que sinto pela congregação marista e pelos irmãosque ela formou com uma qualidade humana e sobrenatural tão extraordinárias.À memória deles dedico estas duas flores da lembrança: ADMIRAÇÃO e GRATIDÃO.

    Ir. Javier García Terradillos

  • VirgílioIrmãoTrifón Nicasio Lacunza Unzu, 1891-1936Ciriza (Navarra)

    Vede que manifestação de amor nos deu o Pai: sermos chamados filhos de Deus.E nós o somos!

    1 Jo 3,1

    PamplonaDiocesede

    Setembro de 2007 • 39

  • Uma família de lavradores Trifón nasceu no dia 3 de julho de 1891 emCiriza, Navarra,