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Ano XXVI - n° 42 - Setembro 2012

Ano XXVI - n° 42 - Setembro 2012 · 4. Parte da herança do Ir. Char-les Howard - Suas Circulares e o desenvolvimento da obra marista, na África e na Ásia - Oceania. 5. Álbum

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índiceUm testemunho e, ao mesmo tempo, uma homenagem página 2Ir. Alberto Ricica

Ser Champagnat hoje página 3Ir. Emili Turú

1. REFLETINDO SOBRE O IR. CHARLES HOWARD

Sua presença muito nos enriqueceuIr. Séan Sammon página 6

Charles, uma lenda na família página 12Sra. Clare Howard

2. RESENHA HISTÓRICA

Vida do Ir. Charles Howard

■ A família e os primeiros anos de vida página 18■ O início da vida marista página 20■ Nomeações e cargos na Austrália página 20■ Formação permanente e provincial página 23■ Capitular e Conselheiro Geral página 24■ Superior Geral página 26■ Depois de seu mandato

como Superior Geral página 27

3. SUPERIOR GERAL

Oito anos com o Ir. Charles página 30“Os sonhos de Deus para o Instituto tornou-os seus”Ir. Benito Arbués

“Charles Champagnat” página 34Entrevista Ir. Richard Dunleavy

Ano XXVI – nº 42 – setembro 2012

Diretor:

Alberto I. Ricica S., fms

Comitê de Publicações:

Ir. Antonio Ramalho,

Ir. Alberto Ricica e Luiz Da Rosa

Tradutores:

Espanhol:Gabriela Scanavino, Ir. Moisés Puente,Ir. Jack González

Francês:Ir. Aimé Maillet, Ir. Joannès Fontanay,Ir. Gilles Hogue, Ir. Josep Roura

Inglês:Ir. John Allen, Ir. James McKnight, Ir. Mario Colussi, Ir. Edward Clisby

Português:Ir. Aloisio Kuhn, Ir. Rogério Matteucci,Ir. Salvador Durante, Ir. Afonso Levis,Ir. Miro Reckziegel, P. Eduardo Campagnani Ferreira, Ricardo Tescarolo

Diagrama e fotolitos:

TIPOCROM, s.r.l.

Via A. Meucci 28,

00012 Guidonia

Roma (Itália)

Redação e Administração:

Piazzale Marcelino Champagnat, 2.

C.P. 10250 – 00144 ROMA

Tel. (39) 06 54 51 71

Fax (39) 06 54 517 217

E-mail: [email protected]

Web: www.champagnat.org

Editor:

Instituto dos Irmãos Maristas

Impressor:

C.S.C. GRAFICA, s.r.l.

Via A. Meucci 28,

00012 Guidonia

Roma (Itália)

Setembro 2012

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4. A HERANÇA DE CHARLES HOWARD

Circulares: – “Constituições e Estatutos, Nossa Regra de vida”– “O Fundador interpela os Irmãos”

“As Constituições como um retrato de família que mostra o melhor de nós mesmos”

Ir. Alain Delorme página 40

– “Pastoral das vocações”“Sois para outros jovens de hoje sinais de esperança e de amor”

Ir. César Augusto Rojas página 44

– “O discernimento”– “A espiritualidade Apostólica Marista”

“A missão somente é missão quando está arraigada em Cristo e, portanto, na vontade do Pai”.

Ir. Peter Rodney página 48

– “Semeadores de esperança” “Todos os dias, nosso apostolado nos convoca, de maneira mais ou menos intensa, a sermos homens de audácia, cheios de esperança”

Ir. Carlos Wielganczuk página 52

– “Um apelo urgente: Sollicitudo rei socialis”“Este chamado nos vem como um autêntico dom do Espírito Santo, que nos impulsiona a afastar de nossas vidas reservas e temores, para nelas realizar uma verdadeira conversão”

Ir. Mario Meuti página 56

– “O Movimento Champagnat da Família Marista”“Somos chamados a ajudar-nos e a complementar-nos uns aos outros”

Ir. Javier Espinosa página 62

“É uma bênção e uma alegria sentir-nos chamados a partilhar nossas mútuas riquezas e a viver,juntos, uma aventura espiritual e apostólica fascinante”

Ana Sarrate página 66

A obra do MIC e o desenvolvimento na África:“As pegadas deixadas pelo Ir. Charles Howard na África”

Ir. Eugène Kabanguka página 69

A obra e o desenvolvimento do MAPAC: “Previsão e coragem de abrir centros de formação internacional”.

Ir. Manuel V. de Leon página 77

5. ÁLBUM DE FOTOSDiz-se de Charles Howard página 80

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Um testemunho e,ao mesmo tempo,

uma homenagem

E D I T O R I A L

O presente número da FMSMensagem quer ser umtestemunho e, ao mes-

mo tempo, uma homenagem aoIr. Charles Howard, X Superiorgeral, falecido em 14 de janeirode 2012. O sentido do númerodesta revista não é de repetirparte de sua história ou da ricaherança que nos deixou, mas deespelhá-la, hoje. Reconhecemosassim o valioso dom de sua pes-soa e a grande contribuição da-da ao Instituto e à Igreja, palpi-tante ainda agora. Demos-lhe onome de “Audácia e Esperança”não apenas por tratar-se do lemautilizado pelo Ir. Charles Howard,no XIX Capítulo geral, mas porquereflete também sua personalida-de e as grandes linhas de açãopor ele promovidas.

Por isso, recolhemos com inte-resse os testemunhos das pes-soas que o conheceram mais deperto. Promovemos também umareleitura das Circulares do Ir.Charles e da obra por ele anima-da, através de Irmãos que comele conviveram, ou que atuaramno desenvolvimento de deter-minada obra ou ação relaciona-da com tais documentos. Algunsdesses testemunhos ou contri-buições tiveram que ser encur-tados para evitar repetições. Pe-ço perdão por isso. Em todo ca-so, foram respeitados, funda-mentalmente, os elementos querecordam nosso estimado Char-les Howard.

O presente número está divididoem 5 partes:

1. Recordando o Ir. Charles Ho-ward – Reflexões feitas porpessoas muito próximas a Char-les, uma do Ir. Seán D. Sammone outra de sua sobrinha ClareHoward. Ambos os textos fo-ram lidos nos funerais do Ir.Charles Howard, no dia 24 dejaneiro de 2012, em Sidney.

2. Breve resenha histórica - Ex-traída do fascículo que foientregado aos presentes, nodia de seu funeral.

3. Testemunhos sobre CharlesHoward, SG – Escrevem doisIrmãos que integraram seuConselho geral.

4. Parte da herança do Ir. Char-les Howard - Suas Circulares eo desenvolvimento da obramarista, na África e na Ásia -Oceania.

5. Álbum de Fotos.Agradeço a todos os que contri-buíram para que este número daFMS Mensagem alcance o objeti-vo de apresentar, de modo vivo eatual, aquele que foi nosso Su-perior geral, nos anos de 1985 a1993. No agradecimento vai in-cluído o Ir. Terry Gilsenan, deSidney, Austrália, que enviou nu-merosas fotografias do IrmãoCharles.

2 • FMS Mensagem 42

Diretor das Comunicações e da revista FMS Mensagem

Ir. Alberto I. Ricica S.

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Setembro 2012 • 3

D izem alguns, com ironia,que a melhor maneira deanular o testemunho pro-

fético de alguém é canonizá-lo:uma vez nos altares, longe denós, torna-se mais fácil, paranós, dizer que foi uma pessoa ex-cepcional e, por isso, inimitável.Desculpamos nossa mediocridadecom exaltações desproporcionadase injustificáveis das pessoas quetememos imitar.Não é isso que desejamos fazercom o nosso querido Ir. Charles;queremos que sua recordação per-dure entre nós, porque nele reco-nhecemos a autenticidade dos va-lores que não podemos perder.Em dezembro de 2010, tive a

ocasião de encontrar-me com elee comprovar que Charles conti-nuava sendo o Charles de sempre:grande personalidade e grandesdotes de liderança! É uma ale-gria pertencer a um Instituto quenão nos fabricou “em série”, masrespeitou nossa maneira de ser e,com esse respeito, acompanhounosso crescimento humano e es-piritual.Como vamos lembrar nosso que-rido Irmão Charles?Ele foi uma pessoa que demons-trava seu afeto através de pe-

quenos detalhes. Sendo eu Ir-mãozinho jovem, em Barcelona,o Ir. Charles visitou minha Pro-víncia e, embora não recorde bemos detalhes, provavelmente tro-camos algumas palavras em in-glês. Para minha surpresa, rece-bi, depois de umas semanas, umexemplar das Constituições eminglês, com uma dedicatória pes-soal do Ir. Charles. E sei que mui-tos outros Irmãos são testemu-nhas de gestos semelhantes, ex-pressão de sua delicadeza e aten-ção.Charles, apaixonado promotor deum mundo mais fraterno e justo,soube com delicadeza e tato con-tagiar com sua sensibilidade amuitas pessoas, abrindo novasfronteiras para nossa missão.Charles enviou uma mensagemfortíssima a todo o Instituto, aoconvidar um grupo de leigos e deleigas para o XIX Capítulo geral.Recordo com emoção o momen-

to em que esse grupo entrou naSala capitular, acolhido com for-te aplauso dos Capitulares empé. Simbolicamente, abriam-senão somente as portas da Salacapitular, mas de todo o Institu-to.Charles cunhou a expressão “serChampagnat hoje” e o foi verda-deiramente para todos nós: Ma-rista de coração, autêntico filhode Champagnat!Enquanto escrevo estas linhas,

imagino Charles a olhar-me comseu sorriso de menino travesso,a dizer-me: “não é necessárioescrever sobre mim!”- como adiminuir sua importância... Con-servo esse sorriso maravilhoso,recordação de uma vida entrega-da com naturalidade e simplici-dade, a exemplo de Maria.Obrigado, Charles: reconhecemossua passagem, entre nós, comodom de Deus e sinal da ternura deMaria.

Ser Champagnat

hojeSuperior Geral

Ir. Emili Turú e Ir. Charles Howard. Randwick, 2010

Ir. Emili Turú

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HOME

NAGE

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WARD

4 • FMS Mensagem 42

1.Refletindo sobre o

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Setembro 2012 • 5

Ir.Charles Howard

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[…] Eu gostaria de parti-lhar algo do homemque sempre foi nossoirmão e amigo, mastambém nosso líder,

uma fonte de inspiração e de desafio e um modelo do que significaser um Marcelino Champagnat nos dias de hoje.Ele desempenhou muito bem várias funções: como diretor de esco-la e superior de comunidade, estudante e professor, provincial, Con-selheiro geral e Superior geral. Ele era também um edificador, um di-

S ua presença muito nosenriqueceu, suas ideias

nos tornaram mais sábios,seu modo de viver e de agirnos tornou mais conscien-tes de nossas responsabili-dades.

6 • FMS Mensagem 42

Ir. Seán SammonTomado de “Elogio Fúnebre ao Irmão

Charles Howard, FMS”, Colégio St. Joseph,

Sydney, Austrália,24 de janeiro de 2012

Sua presençamuito nos

Conselho Geral: 1985 – 1993

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retor do juniorado tão bom quanto escritor e pro-fessor abordando os mais variados temas, tais co-mo: a vida religiosa e seu futuro, justiça e paz, vo-cações e o papel essencial dos leigos e das leigasna Igreja.Sim, Charles caminhou a passos largos através daspaisagens da vida com bravura, coragem, assumindoriscos; ele tinha formidáveis talentos e era dota-do por Deus de muitas maneiras. Mas, enfim, erasempre Charles, homem de uma fé incomum, umapessoa na qual se podia confiar, alguém que sa-bia ouvir, era leal com os amigos, gostava de umaperitivo e de uma conversa, compreendia as fra-quezas humanas, ajudava a acreditar em si mes-mo e nos desafiava a todos para assumirmos res-ponsabilidades diante da comunidade humana.

UM PERÍODO DETREMENDAS MUDANÇASCharles viveu durante um tempo da história que se-ria descrito, anos mais tarde, como um período detremendas mudanças, não apenas em termos deavanços científicos e tecnológicos, mas também deum aprofundamento da fé e da compreensão da pes-soa humana. Ele passou tempo suficiente nestemundo, antes do Concílio Vaticano II, para com-preender a necessidade da mudança radical em nos-sa Igreja, e viveu longos anos depois, suficientes pa-ra ser como um parteiro das transformações funda-mentais que esse Concílio histórico introduziu. Poisele foi um daqueles homens raros a quem é dada aoportunidade de ajudar a formar o tempo em que vi-ve. Não sendo daqueles que fazem as coisas sem co-locar todo o seu coração, ele aproveitou essa opor-tunidade sem hesitação.Eleito Superior geral na idade em que muitos ho-

mens começam a preparar-se para aaposentadoria, ele iniciou, com Benito e os mem-bros de seu Conselho, uma caminhada cheia de ini-ciativas que hoje nós consideramos como consoli-dadas. Eles não venceram facilmente, mas com tra-balho árduo, com negociações e construindo con-senso. No entanto, como os verdadeiros líderes, elenão buscou o consenso sem um plano definido, mas,ao contrário, modelava-o a determinada visão. Des-sa maneira, ele fez a genuína diferença no mundoem que viveu e deixou um legado ao nosso Institutoque continua evidente até hoje.Além de tudo, ele permaneceu sempre deliberada-mente discreto. Lembro-me bem que me contou cer-ta vez que, logo depois de escrever a sua última car-ta circular, recebeu uma mensagem de um dos Irmãos

Por ocasião de meu segundo noviciado, em 1988, o Ir. Charles estava, com certa frequência, em visitafora de Roma. No fim de nossa sessão, tivemos asorte de manter um contato com ele. Acabáramos deviver uma sessão de animação cristã com jovensadolescentes de nossas escolas e do internato.Considerei bom entregar-lhe o livrinho que narrava a

experiência vivida. Ele o recebeu como um pequenotesouro e mostrou assim que as pequenas coisastinham um lugar importante em seu coração de Irmãoe, certamente, em sua oração. Fiquei impressionadoque um Superior geral pudesse ter tal interesse poruma simples iniciativa acontecida num país pequenocomo a Bélgica. Com efeito, algumas semanas maistarde, ele escreveu referindo-se à sua alegria deter lido a descrição de nossa experiência de campo.

Seu grande coração de Irmão estava realmenteatento às pequenas coisas. A exemplo de Maria e de Champagnat, ele foi um bom Pai para o Instituto.Obrigado, Ir. Charles, e junto de Maria e de Marcelino, continue a cuidar do mundo marista . Ir. ROBERTO DI TROIA - ARLON, BÉLGICA

enriqueceu

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de sua Província. O texto dizia o seguinte: “Caro Charles, acabei de lera sua última Circular. Não está mal. Para dizer a verdade, eu fui procu-rar algumas das outras que você escreveu, para lê-las”.Charles foi o primeiro Superior geral de língua inglesa. Vindo de um gru-po linguístico que não é muito conhecido pela estrita observância oupela vida ascética, ele demonstrou, pelas suas palavras e pelas suasações, o que significava viver o Cristianismo na prática, como o pró-prio Marcelino. Nesse tempo, ele convenceu a todos os que o ouviamque a fé vivida ativamente era também parte essencial da mensagem,como o entusiasmo do Profeta e Messias, que andava pelas estradas daPalestina do primeiro século, pregando uma grande paixão por Deus epela humanidade.[...]

TRABALHAVAEM REDESCharles trabalhava em redes, muito antes que esse termo fosseinventado e sua prática se tornasse moda. Com palavras e comações ele punha as pessoas juntas. Fosse através de uma con-versa, de um artigo que publicava ou em consequência de umadecisão corajosa que tomava, ele nos fazia considerar pontosde vista diversos dos nossos, e olhar além das diferenças quepoderiam dividir-nos, além de nos fazer apreciar o quanto tí-nhamos em comum.[...]Tinha uma inexplicável capacidade de lembrar-se de nomes;mostrou aptidão de um natural contador de histórias, construiu

8 • FMS Mensagem 42

Ir. Seán SammonSUA PRESENÇA MUITO NOS ENRIQUECEU

Com os Noviços do Peru

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centros de formação no conti-nente africano e na região Ásia/Pacífico, para reu-nir todos os jovens Irmãos nessas regiões. Ele setornou o primeiro Superior geral a visitar nossos Ir-mãos na República Popular da China, dando espe-rança aos homens que tinham sofrido prisão, durasdificuldades e privações, durante tantos anos.Ele também renovou o espírito missionário do Ins-tituto, encorajando novas fundações na Europa doleste e em outros lugares, apoiando a criação re-cente das Hermanitas, um grupo de mulheres quese reuniram para fundar uma congregação religiosaem torno do carisma de Marcelino Champagnat.Tornou-nos mais conscientes de nossa obrigação

para com o pobre e lembrou-nos repe-tidamente que ser marista significaestar onde a Igreja não está. Ele tam-bém esteve entre os primeiros a reco-nhecer a importância do associadoleigo e fez de tudo para promovê-lo.

UMA MANEIRA NOVAE MAIS PROFUNDADurante esses anos, veio a conhecer Marcelino Cham-pagnat de maneira nova e mais profunda. Anos depois,ele disse que começou a ver o Fundador de modo di-ferente, como um ser humano, com seus defeitos econflitos interiores, tristezas e falhas, e não tanto co-mo um modelo perfeito. “Esses elementos me ajuda-ram muito”, escreveu ele, “a estabelecer um relacio-namento entre nós; senti então que ele poderia com-preender e partilhar meus próprios problemas”.Para Charles, o Fundador era “um homem de cora-ção”, uma pessoa que amava de maneira generosa

Conheci o Ir. Charles em 1990 no juvenato de

Jaraguá do Sul - SC - Brasil. O que me deixou

foi a marca de um homem forte, de fibra, alegre,

entusiasmado pela vida consagrada religiosa

MARISTA. Sua inteligência no dom da

sabedoria de Deus intensificou os projetos de

abertura do Instituto dos Irmãos Maristas num

coração sem fronteiras entre irmãos e leigos e

no campo missionário.LUCIANO MENEZES

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e profunda, um líder que era ao mesmo tempo amigo, companheiro e pai;alguém que viveu os sofrimentos e alegrias, as traições e perigos, e osêxitos de seus companheiros. Mas, isso também não poderia ser dito arespeito do próprio Charles? Claro que sim, pois durante o seu manda-to, ninguém duvidava que era o próprio Marcelino Champagnat quem di-rigia o nosso Instituto.Seu amor a Maria se aprofundou durante esse período. Isso se tornou maisevidente quando ele encerrou o Capítulo de 1993, dizendo uma oraçãoque havia escrito à Mãe de Jesus, a mulher que Marcelino tão frequen-temente chamou de nossa Boa Mãe e Recurso Ordinário.[...]

TRÊSCARACTERÍSTICAS[...] Para mim, há três características de Charles que me vêm de ime-diato à mente: seu entusiasmo, seu amor pelos jovens Irmãos, seucompromisso em ajudar a restaurar o justo lugar dos leigos e das lei-gas na Igreja.Primeiro, seu entusiasmo ou paixão. Charles era apaixonado por mui-

10 • FMS Mensagem 42

Leigos no XIX Capítulo Geral

Ir. Seán SammonSUA PRESENÇA MUITO NOS ENRIQUECEU

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tas coisas. Ele tinha um coração voltado para o po-bre; era inamovível quando se tratava de assuntosde justiça, acreditando profundamente que aque-les que abraçam a vida religiosa representam aconsciência da Igreja. Ele nos desafiava a viver es-se apelo de tal modo que se tornava evidente pa-ra todos que vale a pena doar a própria vida.Ele era apaixonado por Deus, assim como por suafamília, seus amigos, seus irmãos. Ele se interes-sava por todos. Ele nos amava e compreendia nos-sa imperfeição, era tolerante com nossos erros, nosajudava a enfrentar nossos medos.Em segundo lugar, seu amor pelos jovens Irmãos.Charles tinha um lugar especial em seu coração pa-ra nossos Irmãos mais jovens. De fato, ele sempreestava à vontade entre eles. Os jovens iam até ele,porque demonstrava, de alguma maneira, que lhestinha um profundo apreço e grande interesse.Nunca hesitava em proporcionar os meios neces-sários aos jovens Irmãos para crescerem, amplia-rem suas perspectivas, e compreenderem o quan-to Jesus Cristo os amava. E lhes escrevia regular-mente. Lembro-me, por exemplo, que, visitandouma Província na América Latina, durante os anosem que prestei serviço como Superior geral, en-contrei um jovem Irmão que me disse, orgulhoso,ter recebido uma mensagem do Superior geral. Eusorri, mas não me lembrava de ter-lhe escrito. Pou-co importa. Porém, mais tarde passei diante de seuquarto e vi sobre a sua mesa uma mensagem deCharles. Para esse jovem, Charles Howard seriasempre seu Superior geral.Finalmente, sua determinação em dar aos leigos eàs leigas seu justo lugar em nossa Igreja. Charles eradesses homens de Igreja, clarividentes, que acredi-tam verdadeiramente que o Espírito Santo estava portrás dos trabalhos do Concílio Vaticano II, e nuncahesitou em considerar o próprio trabalho como sen-do do Espírito. Como João Paulo II, estava con-vencido de que este milênio era o tempo dos leigose desafiava seus Irmãos a fazerem todo o possívelpara transformar isso em realidade.Para Charles, no entanto, o tempo dos leigos não sig-nificava o fim da vida religiosa. Não, ele viu que is-to conduzia a uma nova época de colaboração e decorresponsabilidade na missão. Para ele, como os lei-gos e as leigas devem assumir seu justo lugar na

Igreja, assim nós, Irmãos religiosos, devemos real-mente ser o que fomos chamados a ser.Escrevendo sobre o Movimento Champagnat da Fa-mília Marista e acompanhando as etapas de seu cres-cimento no Instituto, ele tomou uma iniciativa co-rajosa ao convidar certo número de leigos para o nos-so Capítulo geral de 1993. Isso nunca tinha acon-tecido antes e Charles sabia que a possibilidade deeles participarem das sessões do Capítulo dependia,efetivamente, do voto dos capitulares. Talvez, se-guindo o velho ditado que diz ser mais fácil pedirperdão do que permissão, ele tomou a iniciativa deconvidá-los, antes de qualquer voto, e confiou naboa vontade dos capitulares de decidirem pelo me-lhor. E ele teve razão. Os delegados do Capítulo ra-pidamente aprovaram a presença desse primeirogrupo de leigos, e a prática continua até hoje.

FOMOSABENÇOADOS[...] Fomos abençoados nos bons anos em quevocê esteve entre nós. Sua presença muito nosenriqueceu, suas ideias nos tornaram mais sá-bios, seu modo de viver e de agir nos tornoumais conscientes de nossas responsabilidades.Continue a rezar por nós, como sempre o fez, enunca cesse de estar conosco de formas novas:desafiando-nos a ser melhores do que somos, ho-mens e mulheres generosos, enamorados de Deuse inflamados pela Boa-nova de Jesus Cristo.E a nós, que somos seus Irmãos, auxilie-nos a rea-lizar o sonho desse simples vigário do interior, Pa-dre Marista e nosso Fundador: ajude-nos a fazer demodo extraordinário as coisas ordinárias e a amarcom amor extraordinário. Sim, continue a mostrar-nos o que significa ser Champagnat nos dias de ho-je: homens de fé, com o coração voltado para os po-bres e sempre prontos a evangelizar os jovens.Charles, você faz parte agora da comunhão dos san-tos. Você alcançou seu lugar junto a Deus; pode,pois, de quanto em quando, enviar a algum dentrenós, uma de suas célebres mensagens. Repouse pa-ra sempre, na eterna paz de Deus.

Amém.

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[…] Meu nome é Clare Ho-ward e Charles é meu tio.É um privilégio poder parti-lhar, em nome dos irmãosde Charles, Jim e John, bem

como de meus irmãos e suas famílias, um pouco da vida de Charles e re-fletir sobre nosso tio Charles como membro da família, pessoa que ama-mos e admiramos. Nascido em Melbourne em 1924, Charles McKean Ho-ward foi o primeiro de três irmãos, filhos de Mollie e Charlie. Seu nomedo meio, McKean, é da família de sua mãe.

NOSSA FAMÍLIA

Charles falava com frequência de seus pais, sempre reconhecendo os mo-delos que representaram para ele.Seu envolvimento na paróquia e na escola São Vicente de Paulo, suas ami-zades e sua lealdade às pessoas, incorporaram nele valores que perma-neceram ao longo de sua vida. Charles foi educado pelas Irmãs do Bom Samaritano, em Thornbury, Mel-bourne. Nós ainda temos um boletim escolar referente à 5ª série do en-sino fundamental, de 1934, onde foi registrado 100% de aproveitamentoem todas as disciplinas, junto com a menção “Excelente Aluno”, segundoobservação escrita pela Ir. Venceslau, certamente prenúncio de seu de-sempenho acadêmico posterior.Havia apenas 18 meses de diferença entre as idades de Charles e Jim, demodo que compunham par formidável nas brincadeiras próprias de crian-ças. Eles compartilhavam uma bicicleta, com Jim sentado na barra e Char-les no assento, cada um usando um dos pedais. As outras crianças não con-seguiam vencê-los! Jim se lembra de certa vez quando Charles aprontoualguma e foi ameaçado com um “Espera até seu pai chegar em casa!” Nasequência, Charles sumiu. Mas Jim ficou desconfiado de um estranho ob-jeto no meio do quintal...e lá estava Chales escondido no saco de juta! Mollie — ou Nanna, como nós a chamávamos —, era grande fã do timede Fitzroy, e Charles e Jim iam sempre com ela ao campo de futebol pa-ra assistir aos jogos.

Charles Howard é umalenda em nossa famí-

lia e estamos orgulhososde proclamá-lo nosso.

12 • FMS Mensagem 42

Charles, uma

Sra. Clare Howardsobrinha do

Ir. Charles Howard.

Tomado de “Elogio Fúnebre ao Irmão

Charles Howard, FMS”, Colégio St. Joseph,

Sydney, Austrália,24 de janeiro de 2012

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Setembro 2012 • 13

Já adolescentes, vendiam guloseimas nos jogos defutebol, mas eram facilmente atraídos pelos lancesda partida e permitiam que as outras crianças sur-rupiassem parte do estoque. Por isso nunca obti-veram lucro com o negócio!A família se mudou para Sydney em 1937 quando Johnainda era bebê. Charles estava com idade para iniciaro ensino médio e seu pai — o Poppy, como o cha-mávamos —, foi informado de que o colégio CBC Wa-verley era a melhor opção para Charles. Poppy ob-servou, entretanto, que o Colégio Marista de Rand-wick ficava mais perto de casa, e fez uma pesquisa arespeito durante uma manhã de sábado no encontrodo pessoal do bairro. Foi então apresentado ao dire-tor do colégio, Ir. Inácio, que estava de macacão eempurrava um carrinho de mão. Poppy, como traba-lhador braçal, tinha grande respeito pelo trabalho ma-nual e por isso ficou impressionado. Charles e Jim fo-ram então matriculados no Colégio Marista de Rand-wick e, como dizem por aqui, “o resto é história ...”Tenho certeza de que todos ficarão surpresos ao sa-ber que Charles chegou a frequentar uma academiade boxe! Ele e Jim integravam a equipe de boxe daescola, e Charles demonstrou talento suficiente pa-ra ganhar a final do torneio.

JUVENATO

Charles estava com 14 anos quando entrou para o Ju-venato Marista em Mittagong. Mais recentemente, co-mentou como isso deve ter sido difícil para seus pais,especialmente sua mãe, e questionou a capacidadede discernimento de meninos deixando suas famíliastão jovens.Sua infância no juvenato fez com que a família co-nhecesse pouco de sua vida nesse período, receben-do vagas notícias. Já adulto, a passagem pelas escolas

onde ensinou e os cargos de responsabilidade queexerceu foram bem documentados. Mas o que mais nosmarcou foi a pessoa de Charles.Ele era mestre em se manter em contato com as pes-soas e enviar uma mensagem especial para cadauma a quem escrevia. Para nossa família, cartões pos-tais, pequenas lembranças das viagens, votos de fe-liz aniversário ou simplesmente ‘estou pensando emvocês’ eram regularmente enviados para sobrinhos e

lendana família

Charles Howard, juvenista

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sobrinhas, e mais tarde para os filhos destes. Meu irmão Phil lembra-se deter ganho uma bela coleção de chaveiros […]Minha irmã, Maureen, notou como o estilo de suas cartas para ela semprerefletia as coisas de que ela gostava, e como ele foi capaz de comunicaralgo especial em toda a sua correspondência. Muitas pessoas receberamcartas e cartões postais […]. Suas cartas de Natal são famosas e sua cor-respondência certamente atingiu a casa do milhar.Como resultado de seus cargos de responsabilidade, ele passou muito tem-po fora da Austrália. Manter-se conectado, portanto, foi importante paraCharles. Ele valorizava a amizade, talvez porque vivesse sempre longe decasa e viajasse tanto. Sua família e seus amigos na Austrália eram impor-tantes para ele. Quando estava em casa, ficava ansioso para entrar em con-tato com todos e poder partilhar uma refeição, um passeio ou um filme.Quando retornou definitivamente à Austrália, Charles contou que ele e Johnforam morar na mesma cidade, e assim puderam regularmente passar al-gum tempo juntos, depois de ambos terem vivido no exterior por longosperíodos.Era maravilhoso vê-lo relaxar nos dias de Natal e nas reuniões com as fa-mílias Geaney e Stackpool. Ele gostava do encontro ao redor da mesa e sedivertia, observando os netos de Maggie, Meg & Frank e, mais recentemente,os amigos de John de Serra Leoa e a pequena N’Nadie. Ele é a única pes-soa que conheço que não gostava da “Caesar Salad” de Maggie!Nas reuniões de família Stackpool ele gostava de uma grande pilha depratos sujos, em razão da oportunidade de convivência que isso repre-sentava.

UMA PESSOA ESTIMULANTE

Ele era uma pessoa interessante e animada em umaconversa. Falava de política, da Igreja, de suas ex-periências na África, das missões dos Irmãos em vá-rios lugares ao redor do mundo, dos filmes assistidose de seus livros. Ele tornou o nosso mundo muito maisamplo.Suas experiências globais foram importantes para aconscientização de nossa família em questões dejustiça social, particularmente na década de 1970 e1980, quando os católicos da ‘classe média conser-vadora’ não tinham conhecimento dos problemas domundo e de sua relevância para a fé como os casos:• dos Irmãos Maristas assassinados em várias par-

tes da África — Argélia, Ruanda, República De-mocrática do Congo —, por serem cristãos ou porcausa da solidariedade com o povo da região,

• dos Irmãos da China, que ficaram sem poder entrarem contato com o Instituto desde a Revolução

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Clare HowardCHARLES É UMA LENDA NA FAMÍLIA

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Cultural e não podiam apresentar publicamentesua identidade marista por muitos anos.

• Essas histórias tornaram-nos conscientes do quesignifica perder ou arriscar a vida pela fé.

Suas histórias abordavam assuntos como o apartheid,a opressão, a desigualdade estrutural e a tirania po-lítica. No entanto, ele facilmente mudava de assuntoe comentava a vida cotidiana e seus desafios, co-mo os relacionamentos, as finanças, os filhos e otrabalho. Todos percebíamos a capacidade de Char-les para perguntar, ouvir e realmente atingir o queera importante para nós.A amizade de Charles com o Ir. Kieran Geaney — ouCol como nós o chamávamos — é um bom exem-plo dos valores que ele defendia. Charles acompa-nhou Col até sua casa, partindo de Roma, quandosofreu o derrame há 27 anos. Quando Charles vol-tou a viver na Austrália, ele visitava regularmenteCol, levando-o a passear ou a algum restaurante e,nos dois últimos anos, comprando chocolates ou sor-vetes, pois Charles sabia que Col gostava muito dedoces. Ficava evidente, olhando para os dois, que ha-via se estabelecido forte ligação durante o longo pe-ríodo do sofrimento de Coll.Charles era culto e inteligente, leitor ávido do TheTablet e de muitos outros jornais com temas reli-giosos, além de outras publicações nacionais e in-ternacionais. Ele nos enviava fotocópias de artigosinteressantes, com seus breves comentários. Essa ge-nerosidade com livros e artigos encorajava as pes-soas a pensarem na dimensão divina da vida. Tinha sempre uma palavra de reconhecimento dasqualidades das pessoas, fossem elas mães, pais, tra-balhadores e estudantes. Sempre falava do nosso po-tencial, do dom de sermos reconhecidos, experiên-cia rara no mundo de hoje. Minha irmã Denise sem-pre recorda do maravilhoso impacto que ela sentiaquando ele a chamava de “alguém especial”.

A PRESENÇA DE DEUSEM NOSSAS VIDASSua teologia era fortemente encarnacional, semprefalando a todos com entusiasmo sobre a presençade Deus em nossas vidas. Identificava em nós as-pectos que não percebíamos ou não ousávamos re-conhecer e que nos vinculavam à graça e à bençãode Deus. Sempre citava Sofonias nas cartas que es-crevia pra mim: “Deus se compraz em você, comoeu!”. Falava com simplicidade e franqueza quandoprecisava enfrentar situações complicadas ou deli-cadas. Mas tinha a capacidade incomum de enxer-gar além das fragilidades e defeitos das pessoas edas instituições. O que ele via — e às vezes conse-guia ver no coração das pessoas […] — nunca di-minuiu sua lealdade ou sua afeição pela pessoa ouinstituição. Que dom extraordinário este que Char-les recebeu!Ele tinha especial interesse pelo papel das mulheres,em particular das mães: como Marista, ele era ob-viamente influenciado pelo protagonismo de Maria.Sempre falava do amor e admiração por sua mãe, Mol-lie, bem como de sua atenção às experiências das mu-lheres nos países em desenvolvimento. Nossa irmãTrish recorda que ele com frequência usava a ex-pressão “senhora” ao se dirigir a uma mulher. Seu en-volvimento com a organização WATAC — Women andthe Australian Church, ao voltar de Roma, confirmaseu apreço pelo papel das mulheres na Igreja. O último ano de sua vida, já bastante debilitado pe-la doença, foi um período extremamente dolorosopara alguém com tanta vitalidade. […]Charles era um homem notável: Forte, mas gentil.Afável e sensível. Um homem de princípios. […]A experiência de conhecer e amar Charles, e de seramada por ele, transformou-me e me estimulou a sermais do que eu seria sem ele em minha vida, como,tenho certeza, deve ter acontecido com [outros…] Obrigado, Charles, por tantas graças que sua vidatrouxe para nós e para o mundo. Você permanece-rá para sempre em nossos corações.

Charles Howard com a sobrinha Clare

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HOME

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2.Resenha histórica16 • FMS Mensagem 42

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Mollie, até casar-se,trabalhou como ope-rária em uma fábricade sapatos. Eles tive-ram três filhos, todosmeninos, Charles, Ja-mes (Jim) e John.Charles nasceu no

dia 29 de outubro de 1924 no Hospi-tal “Royal Women’s”, em Melbourne.Com seu irmão, Jim, Charles frequen-tou uma escola paroquial dirigida pe-las Irmãs do Bom Samaritano, umacongregação australiana. No últimoano de sua escolaridade primária seupai foi transferido para Sydney paraser gerente geral de sua empresa. Afamília chegou em Sydney em agos-to de 1937, três meses depois donascimento de John. A família alu-gou uma casa nos subúrbios ao les-te de Sydney.Em Sydney havia um sistema dife-rente de educação. Charles e Jim ti-veram que frequentar uma escola

Os pais de Charles foramCharles (conhecido como

Charlie) e Mary (conhecida co-mo Mollie). Charlie e Mollienasceram e cresceram nos subúr-bios de Melbourne. Charlie, aprincípio, trabalhou como assis-tente em uma madeireira, e comoestocador. Mais tarde ele foi parauma empresa de limpeza de tapetes,onde alcançou posições em nívelde gerência.

FAMÍLIA E PRIMEIROS ANOS

Vida do IrmãoCharles Howard

Sydney, 1937

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de Irmãos, algo novo na vida dos dois pois até en-tão só tinham frequentado escola de freiras. Charlierecebeu duas indicações de escolas católicas paraos dois filhos: a escola dos Irmãos Cristãos (que erairlandesa), em Waverley, e a dos Irmãos Maristas,em Randwick. Em um fim de semana Charlie foi atéa escola Marista em Randwick para obter informa-ções sobre matrícula. Quando chegou encontrou umgrupo de homens trabalhando ao redor da escola, eele se aproximou de um deles, que estava empur-rando um carrinho de mão, e disse que ele estavaprocurando o Irmão responsável. O homem com ocarrinho de mão era o Irmão Diretor! Isso foi o suficiente para Charlie. Esta era a escola para osseus filhos. Professores que estavam dispostos a su-jar as mãos eram os professores certos para os seusmeninos! Assim, Charles e Jim foram matriculadospara o período final de 1937.Quando naquele ano Charlie e Mollie procuravamuma casa para comprar, um dos critérios era queesta tinha que estar perto de uma escola dos Ir-mãos Maristas, assim as crianças podiam lá estu-dar. Eles acabaram comprando uma casa em Be-verley Park bastante próxima da escola Maristaem Kogarah. A decisão de matricular os filhos na

Escola Marista já tinha sido tomada, Charlie nemvisitou a escola antes de comprar a casa, a con-versa com o Irmão Andrew a respeito dos Irmãosem missões e o testemunho dos Irmâos da escolaanterior já eram suficientes para que Charlie de-cidisse pela escola Marista. O ano de 1937 foi difícil para Charlie e Mollie, espe-cialmente para Mollie que teve que deixar sua famí-lia e amigos e se mudar para uma cidade estranhacom um bebê de três meses de idade. Nesse anotambém, seu filho de treze anos estava pedindo pa-ra sair de casa e ir para o juvenato dos Irmãos emMittagong – um lugar que nem ele e tão pouco osseus pais tinham ouvido falar antes. Isso foi umgrande ato de fé da parte deles.Charlie e Mollie foram muito ativos nas atividades daIgreja ao longo dos anos, apoiando a sua paróquia eas escolas dos seus filhos. Mollie foi catequista emescolas públicas por muitos anos. Charlie atuou nainstituição dos Cavaleiros do Cruzeiro do Sul (Knightsof the Southern Cross) e na Sociedade de São Vicentede Paulo. Depois que se aposentou ele foi responsá-vel pela expansão das filiais da Sociedade de São Vicente de Paulo e Centros de Bem-estar. Nosso irmão Charles de fato veio de formação sólida.

Família 1940: Charlie e Mollie (pais) com seu irmão Jim (esq.), John (centro) e Charles (dir.)

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O INÍCIO DA VIDA MARISTA: JUVENATO,POSTULANTADO, NOVICIADO

Charles admitia, a respeito de sua formação escolar, que sempre forao primeiro da turma. Desde o Juvenato teve excelentes professores,como os Irmãos Oliver, Canice, Damian, Ethelred, Peter Carrick e

Frederic Eddy. Ele percebeu que os meninos com baixodesempenho escolar eram os mais sujeitos a sentir sau-dades de casa. Charles recordava já no final da vida que,embora ele e outros colegas ainda usassem calças curtasno 4º ano do Juvenato, a ‘espiritualidade’ de suas ora-ções, frequentemente em latim, podia ser descrita comosendo a de um ‘adulto Marista’. Quando recebeu o hábito,no dia 2 de julho de 1942, passou a ser — para grandesurpresa — o Irmão Elias. Charles escreveu mais tarde que sua mãe dirigiu-se aoProvincial e lhe disse: “Como vou explicar à minha famí-lia que o nome dele agora é Elias?” A resposta foi: “Esseé um nome bíblico muito adequado!” Ela não ficou nemum pouco convencida com a explicação. Refletindo sobreo período do Noviciado, Charles fazia referências elogio-sas aos Irmãos formadores, mas acrescentava: “Emboraseja possível destacar alguns aspectos do desenvolvi-mento espiritual dos Irmãos formadores e como issocontribuía para o desenvolvimento das pessoas, eleseram bastante uniformizados naqueles tempos, inclusi-ve nos seminários. Só mais tarde nos tornamos maiscriativos”.

NOMEAÇÕES ECARGOS NA AUSTRÁLIACharles foi enviado a Bondi Beach (julho de 1943), para uma comunida-de denominada “segundo noviciado” em razão do rigor de seu Diretor.Dali mudou-se para Glenelg, em Adelaide, como professor titular de Ma-temática (1945-1947). Os estudantes o chamavam de “O Garoto”, poisestava para completar apenas 21 anos. Em seguida foi para o Juvenatode Mittagong (1948-1950). No período em que atuava como professorem Kogarah (1951-1954), o Provincial lhe sugeriu que cursasse a uni-versidade à noite. Embora fosse professor de Matemática e Ciências, es-ses cursos não estavam disponíveis à noite. Por isso, entrou para a gra-duação em Artes, formando-se em His-tória e Literatura Inglesa. Durante alguns anos issosignificou ter de se deslo-car de motocicleta.

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VIDA DO IRMÃO CHARLES HOWARD

Charles Howard como noviço

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Charles Howard no Colégio S. Joseph

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Após 2 anos no Colégio Saint Joseph (1955-1956),foi nomeado Diretor do Juvenato (1957-1961). Alguns juvenistas dessa época, lembram-se dele comgrande admiração e afeto. No primeiro dia de visi-ta, um pai lhe disse: “Você parece um tanto jovempara essa tarefa!” Ele respondeu que provavel-mente isso estava certo. No entanto, ele gostavade estar ali e representava um jato de ar fresco:relacionava-se bem com os pais, iniciou um gru-po para coleta de fundos, entrevistava regular-mente os juvenistas, aboliu o sistema de pontospor bom comportamento, organizou uma biblio-teca, construiu uma gruta e reativou o boletimescolar mensal, supervisionando todas as ativida-des essenciais que passaram a caracterizar o Ju-venato durante meio século. Em janeiro de 1961, partiu de navio para a Fran-ça para o “Segundo Noviciado” de cinco mesesem St.Paul-Trois-Châteaux, com uma idade infe-rior à habitual, porque iria assumir, em seu retor-no, o cargo de Diretor da esccola e Superior daComunidade de St. Joseph’s Hunter Hill, tarefapara a qual não fora cogitado a princípio. Nos

anos 1960 — na sociedade, na uni-versidade e mais tarde na Igreja —um espírito de contestação se ma-nifestou, provocando uma transfor-mação cultural e uma nova concep-ção de formação dos educandos doexternato e do internato. A educação secundária em NSW so-freu profunda mudança, a questãodo financiamento público emergiue diferentes interpretações do Va-ticano II, que então se realizava,foram propostas. Esses foram osproblemas mais complexos que aescola com 100 internos vinhaenfrentando desde sua fundação.Charles compreendeu que emer-

Eu encontrei pela primeira vez o Ir. Elias quando

tinha 15 anos de idade, em 1951, na escola dos Irmãos

Maristas de Kogarah, NSW, Austrália. Seu jovem

irmão, John, era meu companheiro de classe e seu

estimado pai, Charlie Howard, estava sempre por perto

da escola, arrumando alguma coisa que precisasse.

Primeiramente, o Ir. Charles me ensinou matemática. Nos

dois anos seguintes, ele lecionou matemática e física.

Como estudante eu só podia admirar a sua energia.

Eu permaneci em contato com o Ir. Charles desde os

tempos de escola e vi-o pela última vez em St. Gregory,

Campbelltown, no passado mês de julho.

O Ir. Charles sempre realizou muito bem tudo o que lhe

solicitaram. Ele foi particularmente atingido pela tragédia

dos Irmãos no Ruanda e ao mesmo tempo ficou muito

alegre ao se encontrar com os Irmãos da China, quando

os visitou. Ele me relatou, com grande alegria, um

acontecimento recente, envolvendo Irmãos, que estavam

caminhando por uma estrada e um carro da polícia parou

ao lado deles. Um dos Irmãos perguntou ao policial: “Por que

está nos prendendo hoje?” E o jovem policial ficou surpreso

pela pergunta e disse: “Eu apenas gostaria de lhe

oferecer carona, meu velho”.

BOB WESTON, AUSTRÁLIA

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giam tempos de transformaçãopara os quais ele precisava pre-parar os Irmãos e a escola. Umrelatório da época comentava:“Não havia qualquer plano deação” para enfrentar o novotempo e “o espectro financeiroassombrava o responsável porfazê-lo”. Não obstante o acú-mulo de atividades assumidascomo Diretor da escola, não ex-cluindo entre10 a 16 aulas se-manais que assumira como pro-fessor, Charles conseguia liderar

com serenidade, decisão, senso de humor, argúcia e misericórdia to-dos os colaboradores e conquistar, assim, amizades duradouras.Ao levar a bom termo a necessária expansão e o desenvolvimento dainfraestrutura da escola, Charles mostrou-se um homem de visão, umlíder que conquistou a confiança e o apoio das pessoas que convi-viam com ele. Após quatro anos de planejamento e com as constru-ções terminadas, a escola passou a ter uma infraestrutura e recursospedagógicos sem comparação na Austrália. Sua ousadia era impressio-nante. Mas o que mais se destacava nele não era apenas sua compe-tência prática, mas sua visão estratégica. Novas abordagens, de modo

especial para o ensinoreligioso, foram gradati-vamente sendo implanta-das. Desenvolveu umsem número de práticaslitúrgicas e de espiritua-lidade atualizadas e mo-tivadoras. Longe de de-sunir os Irmãos, ele pro-curava integrá-los emcomunidade. Como ob-servou um jovem Irmão:“Charles foi o melhorProvincial que tive emtoda a minha vida: umeducador magnífico euma das poucas pessoascom quem trabalhei queutilizava o ‘PensamentoLateral’.

VIDA DO IRMÃO CHARLES HOWARD

Charles Howard no 2º Noviciado

Eu entrei para os Irmãos Maristas em 1973, em Sydney. O Ir.

Charles, que tinha sido eleito provincial no ano anterior, era um homem

espetacular que, mesmo tendo se encontrado comigo apenas uma vez,

vários meses depois, me surpreendeu ao se lembrar do meu nome. Ele

era uma verdadeira inspiração para mim, sintetizando tudo aquilo que

eu pretendia ser como marista. Sua conduta, sua santidade, sua

delicadeza e dedicação formaram um homem que não era

simplesmente um grande Irmão, mas também um grande australiano.

Quando foi eleito Superior geral, eu senti certo orgulho por sua escolha

e tive certeza de que era a pessoa certa para a função. Nesse

momento difícil, transmito minhas condolências aos Irmãos, à sua

família e a seus incontáveis amigos e admiradores.

GREG TAYLOR , KEMPSEY | AUSTRÁLIA

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FORMAÇÃO PERMANENTEE PROVINCIAL

No primeiro semestre de 1968, Charles foi transfe-rido de St. Joseph para Bruxelas, para seguir osestudos religiosos e catequéticos do programa Lu-men Vitae. Logo após participar do Capítulo Geralde 1968, foi para a Universidade, em Dublin, ondeestudou Psicologia Clínica durante 18 meses. Fi-nalmente conseguira tempo para ler! Os conheci-mentos ali desenvolvidos foram valiosos em suasatividades pastorais e de formação. Nessa época,ele morou na comunidade de Ballsbridge, tendogostado de conviver com os Irmãos irlandeses. Em seguida, no segundo semestre de 1970, elefoi diretor da escola de St. Gregory, em Campbell-tonwn, superior de comunidade de Parramatta-Westmead e coordenador da formação em 1971,passando ao Postulantado de Wahroonga, duranteo primeiro semestre de 1972. Seu interesse pela

formação não era apenas consequência de suaexperiência prévia no Juvenato, mas a intuiçãode que um novo paradigma emergia, questionan-do as ideias sobre vocação e formação então vi-gentes. Em agosto de 1972, Charles tornou-se Provincial.Nessa ocasião havia 420 Irmãos na Província, vi-vendo em 40 comunidades. Ele nunca dizia “Que-ro isso”, mas “Acho que seria uma boa ideia...”.No Capítulo em que foi empossado Provincial, foidecidido o encerramento do Juvenato e suatransformação em Casa de Retiros. Outro projetofoi a abertura da missão na Ilha de Palm. Eleconduziu todas as ações pessoalmente, pois con-siderava que isso era importante tanto para osIrmãos quanto para ele próprio. Dava prioridadeao seu trabalho pastoral em vez de eventos maisfestivos, como a abertura de ano letivo. Gostavade viajar de avião “porque propicia algumas ho-ras para ler....Tempo é precioso!”

Charles Howard como Provincial e seu Conselho - 1975

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Nesse período, na Austrália, alguns Irmãos reava-liavam sua vocação. Charles fez o que pode paraajudá-los a discernir a respeito dela e tomar umadecisão com paz interior. Um ex Irmão escreveu:“Deixar o Instituto implicava aprovação do Vati-cano para a dispensa dos meus votos perpétuos.Preparei o meu processo e o Provincial, na oca-sião o Ir. Charles, enviou-o a Roma. Algumas se-manas depois ele me telefonou para informar queminha Dispensa havia chegado. Naquela tarde, noescritório dele em Drummoyne, analisei o docu-mento. Na parte de trás, em latim, havia uma no-ta escrita a mão de uma autoridade do Vaticanoque cobrava do Instituto o equivalente a 1,200.00libras esterlinas para cobrir os custos legais. Eleentão riu muito e comentou: “Este símbolo colo-cado na frente de 1,200.00 não é da libra esterli-na britânica, mas da lira italiana. Isso vai noscustar apenas um dólar australiano!” Na hora me senti depreciado. “Isso é tudo o queeu valho?”, pensei com meus botões.Revendo seu período como Provincial em 1976, teve

consciência de quanto tinha avançado em muitos temas: ajudara Irmãos a enfrentar as transformações na Vida Religiosa, na Igreja,na Educação, na Formação Permanente, nos Documentos dos Capítu-los e, acima de tudo, a estudar os respectivos documentos. Houvequestões, contudo, que permaneceram em aberto, como as novasatitudes relativas ao voto de obediência, a afetividade, o papel damulher e o celibato como compromisso permanente.A repercussão de sua contribuição no âmbito mais amplo da Igrejapode ser constatada no comentário de um Bispo: “Charles foi semdúvida o líder mais significativo da Igreja da Austrália daquele tem-po”. Como exemplos: promoveu a unificação das Conferências dosReligiosos e das Religiosas, continuando amigo de suas liderançasao longo dos anos, e ajudou muitas pessoas a entenderem e acolhe-rem o espírito do Concílio Vaticano II.

CAPITULARE CONSELHEIRO GERALEm 1967, Charles acompanhou o então Provincial, Ir. Othmar Weldon,a Roma, para o primeiro Capítulo Geral do Instituto após o VaticanoII. Foi tempo de muita efervescência e promessa. A Igreja orientaratodos os Institutos religiosos a se dedicarem à questão da renovaçãoe do carisma fundacional, bem como de discernir “os sinais dos tem-pos” na perspectiva do Evangelho.

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VIDA DO IRMÃO CHARLES HOWARD

Ir. Basílio Rueda e o Ir. Charles Howard -

XVIII Capítulo Geral

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Surpreendentemente, o Capítulo precisou ser in-terrompido e novamente convocado no final de1968 em razão da necessidade de dar tempo paraque as propostas amadurecessem e outros Irmãosfossem consultados. A questão da introdução doSacerdócio no Instituto foi exaustivamente dis-cutida e quase resolvida. Foi o tema mais contra-ditório do Capítulo. Tempos depois Charles des-creveria esse Capítulo como “uma experiência ex-tremamente apaixonante, complexa e rica”.Seu segundo Capítulo Geral foi o de 1976, quereelegeu o Ir. Basílio Rueda para um segundomandato como Superior Geral e indicou Charlescomo Conselheiro Geral. O Ir. Richard Dunleavyrecorda: “Durante esse Capítulo, Charles foi a li-derança responsável por um avanço historica-mente significativo ao propor aos 136 líderesmaristas de todo o mundo reunidos em Roma quecomeçassem a “sentir” — e muitos de maneirabastante desconfortável —os temas centrais e asimplicações decorrentes do clamor pela Pobrezae pela Justiça. Até então, o Ir. Basílio Rueda di-zia que o tema era por demais sensível para sertratado em fórum aberto e com tantas culturas. Odia de oração e reflexão que Charles organizourepresentou momento decisivo para o Instituto eum movimento que ele, talvez mais do que qual-quer outro, foi capaz de promover com crescentefertilidade na Igreja e no Instituto nos anos quese seguiram. Assim nasceu “Pobreza e Justiça”, assim comooutros ricos documentos do Capítulo Geral de1976, como “Oração, Apostolado e Comunidade”,“Irmãos Maristas Hoje” e o esboço das novas‘Constituições e Estatutos’ (finalizado em 1985).Como Conselheiro Geral, Charles viajou muito, es-pecialmente pelo mundo marista de fala inglesa efrancesa. Foram tempos de profundas transforma-ções, em particular em muitas nações africanas, e

Charles passou ali bastante tempo. Era o fim daera colonial. Havia esperança e boas perspectivasno futuro, mas também muitos conflitos civis. O“apartheid” ainda era o regime do governo da Áfri-ca do Sul. Charles então trabalhou com os Irmãospara construir unidade e um novo projeto de vidanas comunidades e em seus ministérios.A situação política era diferente, mas não menostensa em outras partes do mundo marista. Foipedido a Charles de estabelecer um Secretariadode Justiça Social dentro da Administração geral.A ideia era que houvesse grupos paralelos criadosem todas as Províncias para refletir sobre os con-textos sociais dos apostolados maristas e paradiscernir onde era necessária uma transformação.Seu modo fraterno de tratar os temas politica-mente sensíveis foi fundamental para ajudar al-guns grupos de Irmãos a fazer mudanças signifi-cativas em certas atitudes e práticas já profunda-mente enraizadas.

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Vigoroso, inesperado e surpreendente em seusgestos e palavras causando forte impacto naspessoas, eis o perfil que guardo do Ir. CharlesHoward, um homem com visão de futuro.Lembro-me que, em 1992, durante a visita quefez a nossa Província de São Paulo, realizamosjuntos uma visita às obras do primeiro pavilhão doParque Gráfico da Editora FTD, em Guarulhos.Era uma construção ampla, pois aí seriaminstaladas as máquinas planas e rotativas. Nofinal da visita, eu estava bastante ansioso parasaber a reação do Ir. Superior Geral ante amagnitude daquela obra. Repentinamente virou-se para mim, estendeu-me a mão evigorosamente me disse “Mes compliments” (meus cumprimentos)! Essa surpreendenteatitude do Ir. Charles encheu-me de ânimo. Ele sabia valorizar!

Ir . DARIO BORTOLINI, SÃO PAULO, BRASIL

Concilio Vaticano II,1962

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SUPERIOR GERALDurante o Capítulo Geral de 1985, o Ir. Charles Howard foi eleito Supe-rior Geral, sucedendo ao Ir. Basílio Rueda.Este Capítulo aprovou as novas Constituições dos Irmãos Maristas. Essefato foi algo de grande importância para um Instituto com evidente e cres-cente diversidade de nacionalidades e culturas. Mesmo assim, o Irmão Char-les sentiu que necessitava empreender um discernimento mais focado nasprioridades do Capítulo para o seu mandato como Superior Geral.A partir desse objetivo o Irmão Charles e os Irmãos integrantes do novoConselho Geral iniciaram a elaboração das prioridades para a sua missão.São as prioridades estabelecidas por eles: fazer com que as novas Consti-tuições fossem conhecidas e aceitas pelos Irmãos; privilegiar o discerni-mento como instrumento de fé para tomada de decisão; exercer a missãocom coragem e iniciar novas frentes de atuação, objetivando a adapta-ção às novas realidades dos tempos; elaborar o Guia de Formação para aformação inicial e a insistência para que os Irmãos Formadores, envolvi-dos nos processos de formação dos jovens, sejam pessoas de experiênciade vida sólida; realizar uma prática de promoção vocacional ativa comofator essencial para o aumento das Vocações em nível mundial.O Irmão Charles ainda enfatizou outras questões importantes: tratou denossa era como sendo a ‘primavera’ dos leigos e promoveu maior abertu-ra para a participação destes na Vida e na Missão Marista, convidando al-guns leigos para o Capítulo Geral de 1993; lançou o Movimento Champagnatda Família Marista; o Ir. Charles foi determinante na criação do ConselhoInternacional de Finanças em nível de Instituto; procurou revitalizar a pre-sença Marista no leste europeu após o colapso da União Soviética, final-

mente decidindo-se pela presença dosIrmãos na Hungria; tinha uma forte li-gação com o trabalho das Hermanitas,jovens da América Central e da Améri-ca do Sul, que estavam decididas acriar uma comunidade religiosa baseadano Carisma de Marcelino Champagnat;foi o principal articulador da escolha doslogan do Capítulo Geral de 1993: “Au-dácia e Esperança”. Contudo, expres-sava como lamento o fato de não terescrito uma circular sobre Maria.Um grande empreendimento realizadopelo Irmão Charles foi o estabeleci-mento de um Escolasticado interna-cional para o continente africano,contando com a colaboraçaõ de 19 au-toridades então responsáveis pelosIrmãos Maristas na África. Duranteesse processo inicial houve certa ten-são entre os Irmãos, porém, devido à

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Com o Ir. Benito Arbués,sucessor como Superior Geral -

Aeroporto de Trichy, Índia,1995

VIDA DO IRMÃO CHARLES HOWARD

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sabedoria do Irmão Charles e às suas competênciasrelacionais, tudo se resolveu com harmonia. Hoje,nessa região, existe uma Casa de Formação para apro-ximadamente 100 pessoas e os Irmãos que moramneste lugar organizam-se em pequenas comunidades.Antes de terminar seu mandato como Superior Ge-ral, o Ir. Charles iniciou um escolasticado semelhanteem Manila, nas Filipinas, para Irmãos jovens da Ásia.O Ir. Charles Howard sempre estava à disposição daIgreja na África e em Roma. Destaca-se sua parti-cipação no Sínodo de 1990. Foi o primeiro SuperiorGeral a fazer uma visita à China no final dos anos80, provocando grande alegria para os Irmãos chineses mais velhos que haviam sofrido em anos an-teriores.

DEPOIS DE SEU MANDATOCOMO SUPERIOR GERALMuitas coisas poderiam ser ditas sobre os trabalhosde Charles depois que seu Generalato acabou. Elepassou anos em dois noviciados, Kutama na ÁfricaAustral e Lomeri no Pacífico. Finalmente ele foi ca-paz de realizar um sonho juvenil de ser um “mis-sionário”. Ele foi o delegado visitante para a regiãoda Índia. Ele foi membro de um grupo de pessoasimportantes nomeadas para observar as primeiraseleições democráticas da África do Sul.

Quando ele retornou de Roma para a Austrália,ele primeiro se hospedaram na casa Provincial,onde havia serviços de secretariado. Ele dedicoutempo e energia para sua valiosa correspondên-cia e escreveu para um número grande de pes-soas. Certa vez com ironia ele sugeriu, “Algumaspessoas dão livros como presentes no Natal. Umcostume louvável. Outros oferecem vales livros.Também louvável. ‘El cheapo’ vai ainda mais lon-ge. Ele sugere quais livros deveriam ser compra-dos para si mesmo! Isso sim é realmente criativi-dade.”Ao montar um pequeno álbum de fotos de seutempo como Superior Geral, ele escolheu palavrasde Thomas Merton para a introdução, que diz:

“Nós não somos fazedores de chuva, mas Cristãos.Quando nos dirigimos a Deus, ele é livre e assim somos nós.É simplesmente uma necessidade para mim de expressar meu amor para com meus amigos atravésda oração, é como abraçá-los.Se você gosta de outra pessoa, é o amor de Deus que está sendo realizado.É o mesmo amor que está chegando a seu amigo através de você, e a você através de seu amigo”.

Mais tarde, ele pediu para ir morar em Blacktownno oeste de Sydney, onde passou a viver com doisoutros Irmãos. Ele gostava de assumir a sua vez nacozinha. E era feliz por viver em uma casa em umarua de subúrbio onde ele podia se misturar facil-mente com pessoas de diferentes igrejas e credos.Charles continuou seu compromisso com a vida.Manteve-se sempre relacionamentos com um número de grupos ligados à Igreja: o Aboriginal

Ministry na Arquidiocese de Sydney e na diocesede Parramatta, Catalyst for Renewal, Australian Re-forming Catholics e Women and Australian Churchmovement.Em 2006 mudou-se para Campbelltown onde a co-munidade mantém ajudantes médicos e outros. Elepermaneceu extraordinariamente gentil e atenciosoaté o fim, mesmo quando já estava bastante con-fuso.

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Dia da eleição do Ir. Charles Howard como Superior Geral

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3.Superior geral

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“Os sonhos de Deus para o Instituto

Arica personalidade do Ir.Charles, através de sua vi-

vência cotidiana, se transformaem teologia narrativa do carismamarista. Agrada-me recordá-lo.

O Ir. Charles com o Ir. Benito Arbués,

seu sucessor comoSuperior Geral

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Até 1985, eu conhecia pouco Charles e pensoque algo semelhante acontecia a ele sobre mim.O Capítulo geral de 1985 uniu nossas vidas notrabalho de animação do Instituto e, sobretudo,numa amizade sincera e na comunhão em tornode um mesmo espírito. A partir dessa data, esti-ve com ele por oito anos. De sua experiênciaaprendi a viver a internacionalidade e a diversi-dade do Instituto marista e a estar atento aossinais do Espírito, porque com sua grande sensi-bilidade ele sabia unir os sonhos e o realismo davida cotidiana.Seu caráter aberto, humano, fraterno, delicadonos detalhes, próximo a cada pessoa, inspiravaconfiança e motivação. Sua amizade não era deocasião. A isso somava-se o fino humor inglêsque tornava agradável sua comunicação e, emmomentos oportunos, distendia tensões ou rom-pia silêncios. Gostava de brincar com seus esque-cimentos, ou até, com a surpresa que provou pornão ser entendido, com seu inglês australiano,por algumas pessoas de uma Província marista deexpressão inglesa. Fazia humor também com coi-sas curiosas acontecidas em suas viagens, comofoi o caso da comunidade que colocou em seuquarto um creme de barbear e, ao entrar, ficousurpreso com o detalhe, porque tinha esquecidosua pasta de dentes... e, imediatamente, abriu otubo para limpar seus dentes.Tinha finura de detalhes com todos, tanto na ca-sa, em Roma, como nas visitas às Províncias.Sempre surpreendia com particular atenção; àsvezes, um presente aos pais dos Irmãos em visitaa Roma. Mostrava-se atencioso com cada membrodo Conselho e cuidava da saúde, do estado deânimo ou do cansaço de quantos estavam com

ele. Lembro que um dia uma pessoa leiga de mi-nha Província lhe escreveu uma carta falando demim. Conheci o texto porque me chegou uma có-pia; naturalmente, não era de elogios. Poucosdias depois, Charles me disse que ele estava mui-to cansado e que ambos poderíamos sair para co-mer uma pizza, num restaurante vizinho. Nãohouve uma palavra sequer para pedir explicações,mas multiplicou gestos de apreço e de confiançaa meu respeito, naquele jantar. O Ir. Charles dispunha de tempo para todos, in-clusive para o trabalhador da casa que se queixa-

tornou-os seus”Oito anos com o Irmão Charles

Tive a felicidade de conhecer pessoalmente o Irmão Charles. Uma primeira vez, em 1999, quando Superior geral, ele veiovisitar a obra marista de Alepo; a segundavez, quando o convidamos para animar os encontros de formação para nossosprofessores do Líbano e as Fraternidades de Alepo. O Ir. Charles é para mim umprofeta marista; homem simples, atencioso edelicado. Ele me confirmou na importância da solidariedade, da abertura aos leigos, do papel da mulher e do rosto mariano de nosso Instituto.Expressei, várias vezes, minha gratidão a ele e, hoje, associo-me a todos os maristaspara dar graças a Deus pelo dom de sua pessoa.

I r. GEORGES SABÉ, ALEPO , SÍRIA

Ir. Benito Arbués

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va das decisões do diretor. Claro que não se ocupava em resolver con-flitos que eram de outra alçada, mas escutava, ajudando a descarre-gar a tensão da pessoa.No trabalho do Conselho ou das Comissões mostrava-se sério e bemorganizado nas questões que tinha entre as mãos. Às vezes, não erafácil acompanhá-lo porque sua intuição e, sobretudo, sua tenacidadenão se contentavam com pouco; com a finura que lhe era habitual,convidava a rever as soluções que se lhe traziam.Como superior foi excelente líder. Seu estilo harmonizava animação,motivação e governo. Não deixava de tomar decisões importantes,umas relativas ao governo normal, outras em perspectiva de futurocomo foi a criação do MIC de Nairóbi, para a formação conjunta naÁfrica, e a do MAPAC para a Ásia e o Pacífico.Valorizo dois aspectos particulares, na pessoa do Irmão Charles comoSuperior.

ACOLHIA OS PEQUENOSSINAIS DE VIDAEra fácil de perceber seu amor e entusiasmo pelo carisma marista e pe-la vocação de “Irmão”. Manifestava preocupação pela vitalidade do ca-risma – preferia a expressão fidelidade ao carisma. No grupo de Supe-riores gerais das Congregações de Irmãos, promoveu a publicação con-junta de um pequeno documento, em 1991: “IRMÃO nos Institutos Re-ligiosos Leigos”.O Irmão Charles mostrava-se sensível aos sinais dos tempos e acolhiaos menores sinais de vida como algo importante; naturalmente, ele se

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Ir. Benito Arbués“OS SONHOS DE DEUS PARA O INSTITUTO TORNOU-OS SEUS”

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implicava, mas também implicava. Mesmo se emtempo de renovação tudo fosse importante, aatenção aos sinais dos tempos e aos chamadosdo Espírito constituíam, para Charles, forte con-vicção que transmitia com sua palavra e comsuas atitudes.Não duvidava em apoiar sadias inquietações de Ir-mãos ou de pequenos grupos das Províncias, so-bretudo, em temas de formação, de solidariedade,de compromisso em favor dos pobres e de evange-lização dos jovens. Encorajou a abertura e a inte-gração dos leigos; buscou meios para dar voz aosIrmãos jovens, em Assembleias internacionais deIrmãos Provinciais ou no Capítulo geral; apoiouum grupo de moças que desejavam viver, comomulheres, a herança espiritual de S. Marcelino.Cuidou da relação entre as quatro Congregaçõesmaristas e ele mesmo promoveu encontros infor-mais e cordiais. Foi significativa e tenaz sua preo-cupação e abertura aos países da Europa do Leste,depois da “queda do Muro de Berlim”. Foi igual-mente ele que relançou e apoiou o estudo da curamilagrosa, ocorrida no Uruguai, cura que permitiua canonização do Padre Champagnat, em 1999.

DESENVOLVIAO DISCERNIMENTOE A ESCUTAO discernimento pessoal e comunitário era umaatitude permanente do Irmão Charles. Introduziu-ocomo um estilo de trabalho no Conselho e, sobre-tudo, em assuntos que afetavam a dispensa de vo-tos, nomeação de Provinciais e de Irmãos a serviçodo Instituto, centros de formação e decisões eco-nômicas importantes apresentadas pelas Provín-cias. Nas sessões do Conselho era observador equando se tratava de votar assuntos importantes,seu olhar intuía se todos os Conselheiros tinhamclareza e estado de ânimo para votar naquele mo-mento. Mais de uma vez pospôs decisões, suscitan-do ao mesmo tempo recursos para que se decidissecom clareza e paz interior.Houve, inclusive, alguma questão menos fácil coma Congregação para a Vida consagrada. Apesar de oerro provir do Dicastério Romano, Charles permane-

ceu sereno e, com delicadeza, voltou a pedir o pa-recer do Conselho.Os Irmãos Charles Howard e Basílio Rueda foramum presente do Senhor para os Maristas. Homensde Deus, de oração e de profundas convicções reli-giosas. Maria esteve muito presente em suas vidaspessoais e em seus escritos. Ambos nasceram emoutubro de 1924. O Ir. Basílio concluía 18 anos deSuperior geral, na idade de 61 anos e Charles com61 começava esse serviço.Sei que lhe custou aceitar a comunicação que lhefez um pequeno grupo de capitulares de que sepensava nele e que havia muita possibilidade de oCapítulo escolhê-lo como Superior geral. Sua con-formidade facilitou a eleição capitular.Foi-lhe muito mais fácil concluir em Roma e reti-rar-se à sua Província de Sydney. Dali realizou ser-viços ocasionais que lhe eram solicitados. Em oitoanos de Superior acumulara cansaço e sua saúdelhe recordava, de quando em quando, um problemade ouvido que lhe causava vertigens. Pagou tam-bém um tributo à malária.Há quem encontre problemas na transmissão decargo e em dar as informações de um Superior ge-ral para outro. Charles era muito ordenado nos te-mas. Preparou, em tempo, uma relação de assuntosque ainda não estavam resolvidos e com poucas fo-lhas deixou a situação esclarecida.O Irmão Charles é um dos Irmãos que mais marca-ram e enriqueceram minha vida. Ele irradiou espe-rança e intuiu o futuro. Os sonhos de Deus para oInstituto tornou-os seus. Abriu caminhos. Entre-gou-se com amor a serviço do Instituto. Sua vida esua mensagem continuam transmitindo futuro, esua rica herança é uma verdadeira reserva de espe-rança para o carisma marista.

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“Charles Entrevista com irmão Richard Dunleavy,

o mandato do irmão Charles Howard

R. Eu acho que o Ir. Charles sabiaque poderia ser eleito, porquemuitos Irmãos, de várias partes do mundo e que participavam

do Capítulo Geral, encorajavam-no a aceitar a liderança, já antes do momento da eleição do novo Superior Geral. No entanto, ele sesentia reticente por causa de sua idade. Na época ele tinha 60 anose estava terminando um mandato de nove anos como ConselheiroGeral. Porém, quando foi eleito de forma tão clara já no primeiro

escrutínio, humildemente aceitou a decisãodos Irmãos como sendo a vontade de Deuspara com ele. E, de fato, nos anos de seumandato, o Ir. Charles demonstrou ter umaenergia incrivelmente dinâmica.

P. QUAIS TRAÇOS DE SUA PERSONALIDADE FORAMEVIDENTES DURANTE O PERÍODO QUE PERMANECEU NESSA MISSÃO

R. O Ir. Charles era um homem e um Irmão dedons e habilidades pessoais raros. Ele eramuito inteligente e de mente e memóriaextremamente ágeis; um homem de reflexãoprofunda e de ação dinâmica; possuidor defenomenal habilidade de liderança. Mostroudesde o início do seu trabalho apostólico serum líder habilidoso, criativo, decidido,eminentemente educativo e um modelo paraaqueles a quem foi chamado a liderar, sejacomo professor, diretor de escola, superior decomunidade, provincial, conselheiro geral e,por fim, como Superior Geral. Ele realmente

P. QUAL FOI A REAÇÃODO IRMÃO CHARLESQUANDO FOI ELEITOSUPERIOR GERAL

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sabia como “reunir as tropas em torno dele“. Tenhocerteza de que ele teria brilhado em qualquer formade vida que tivesse escolhido. Ao mesmo tempo, oIr. Charles era simples e acolhedor com facilidadede se relacionar com pessoas de outras culturas eidades e com grande interesse e preocupação paracom todos que encontrava. De estilo pessoal forte,ele se sentia à vontade com todos, fossem jovensou velhos. Além disso, os seus relacionamentos econversas eram muitas vezes temperados com boadose de fino humor; era muito próprio dele relataralguns incidentes engraçados de sua experiênciapassada. Ainda sobre esse assunto, um de seuspontos fortes era a sua memória para guardarnomes de pessoas. O Arcebispo Wilson, presidenteda Conferência dos Bispos Australianos e ex-alunodo Irmão Charles, fez referência a esse dom noinício da homilia que proferiu na missa de corpopresente do Ir. Charles, na capela São José, emSydney. Dom Wilson disse que se o Ir. Charlestivesse conhecido alguém, depois de alguns anos,ele iria perguntar não somente sobre essa pessoa,mas, também, de coisas sobre seus pais e a respeitode cada um de seus irmãos e irmãs, e se lembrariade todos pelo nome.

P. E O QUE VOCÊ ACREDITA SEREM AS CARACTERÍSTICAS CENTRAIS DA ESPIRITUALIDADE DO IR. CHARLES?

R. O Ir. Charles era uma pessoa quetestemunhava uma grande integridade pessoal;não houve discrepância entre o seu

comportamento externo e sua vida interior. Ele claramente viveu - em união com MarcelinoChampagnat - aquela frase icônica presente emnossas Constituições “seguir a Cristo comoMaria“. Jesus, Maria e Marcelino Champagnateram seus modelos e fontes de força, tanto emsua oração, quanto em sua ação cotidiana. Esses três pilares de sua espiritualidade tambémse tornaram referências centrais para os textos desuas circulares como Superior Geral. Durante o Capítulo Geral de 1985 e, imediatamente emseguida à sua eleição como Superior Geral, o Ir. Charles destacou a necessidade dos Irmãosfazerem da espiritualidade e dos processos dediscernimento a parte central de suas vidasdiárias e de suas decisões no que se refere aotrabalho apostólico. E me lembro de que issosempre esteve presente durante seu governo e nas reuniões do Conselho Geral. Exemplo disso era a sua insistência para com o exercício noturno de “Revisão do Dia”.Outro foco importante para o Ir. Charles era acompreensão de que os seguidores de MarcelinoChampagnat deveriam estar envolvidos em causasde justiça social, especialmente aquelasrelacionadas à pastoral da educação. Certamente,ele próprio era alguém que acreditava em “viversimplesmente para que outros possamsimplesmente viver“. Por outro lado, ele tambémse preocupava com que os Irmãos, especialmenteaqueles que vivessem em países do primeiromundo, e, certamente, como toda a IgrejaInstitucional a partir do Vaticano II, fizessemdessa prática uma prioridade para suas vidas e

Champagnat”Ir. Richard Dunleavy, fms conselheiro geral durante

como superior geral,1985 - 1993

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para as instituições que governassem. Essa mensagem tornou-seainda mais convincente quando o Papa João Paulo II fez o apelodesafiador em relação à vivência de uma solidariedade generosa paracom os mais necessitados.

P. PARA O IR. CHARLES, QUAIS ERAM AS SUAS PRIORIDADES ENQUANTO SUPERIOR GERAL?

R. Como acabamos de apontar, desde o início do seu mandato, o Ir.Charles concentrou a atenção do Conselho Geral - na verdade de todo oInstituto - sobre as seguintes prioridades: a Missão Marista, justiçasocial e a prática do discernimento. Além dessas prioridades, em seuprimeiro ano de mandato, ele também trabalhou, junto com o Conselho,no envolvimento dos Irmãos para interiorizarem plenamente as novasConstituições aprovadas pelo Capítulo Geral, além de reforçar aformação Marista, inicial e permanente, com ênfase na África e na Ásia.O Guia de Formação do Instituto foi elaborado e publicado nessa época.Ainda podemos destacar outras prioridades de seu governo: o esforçopara elucidar uma clara compreensão da Espiritualidade ApostólicaMarista, a partilha do Carisma com os leigos que teve comoconsequência imediata a criação do Movimento Champagnat e, por fim,o incentivo aos Irmãos para compartilhar a história de Champagnat e o seu espírito de forma mais eficaz para com os nossos colaboradores ealunos. Para tanto, o Ir. Charles encomendou uma tradução atualizadada biografia de Marcelino Champagnat por ocasião do aniversário de 200anos de seu nascimento e insistiu para que cada Irmão recebesse umexemplar. O Ir. Charles ainda se propôs outro grande desafio, que foi o de visitarpessoalmente todas as Províncias do Instituto e o maior número

possível de comunidades de Irmãos. Ele foi o primeiro Superior Gerala visitar os nossos Irmãos Chineses, que viveram décadas deprisão e de sofrimento. Essa foi uma ocasião históricaprofundamente comovente para estes Irmãos e também para

todos nós. Vale ressaltar que suas visitas eram marcadas pelocaráter de um peregrino, um companheiro, um “irmão entre

irmãos”, sempre disposto a encorajar a todos, Irmãos ecolaboradores leigos. Era incansável neste compromisso queobviamente consumiu muito de sua energia, principalmentefísica. No entanto, nós, membros do Conselho, que porvezes nos preocupávamos com o seu cansaço, éramossempre surpreendidos quando ele voltava para casa

renovado e revigorado pelas experiências que tinhavivenciado com os Irmãos, colaboradores leigos e

estudantes nos países em que ele havia estado.Percebíamos que as visitas o revigoravamespiritual e fisicamente.

Entrevista com Ir. Richard Dunleavy“CHARLES CHAMPAGNAT”

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P. EXISTE ALGO MAIS QUE VOCÊ GOSTARIA DE ACRESCENTAR SOBRE O IRMÃO CHARLES?

R. Talvez mais dois comentários. PrimeiroCharles era um homem não apenas para osIrmãos Maristas, mas também para toda a Igreja.Qualificado como estava por seus estudos de pós-graduação na Irlanda, onde entrou em contatocom o que há de melhor do pensamentoteológico, antropológico e espiritual desde oVaticano II, ele estava entusiasmado em ajudar afazer a renovação da Igreja como “povo de Deus”.Na Austrália, como Provincial, ele já havia sidoreconhecido como um religioso cuja mente eação atingiram não apenas sua própria famíliareligiosa, mas se estendeu para ajudar outrascongregações na onda de renovação que seguiu oConcílio Vaticano II. Quando chegou a Romacomo Conselheiro foi a mesma coisa. Eleconseguiu entusiasmar membros de outrosConselhos Gerais, e foi, de fato, o principal

articulador entre Congregações de IrmãosEducadores para preparar um folhetohistoricamente importante sobre a missão doIrmão na Igreja.Meu segundo comentário é quase um“instantâneo” de tudo o que mencioneianteriormente. Um Irmão belga já idoso,missionário no Congo, — distrito Marista queCharles procurava apoiar de todos os modospossíveis em razão dos conflitos armados e dapobreza que afligia essa nação — em certaocasião saudou-o, em um discurso deagradecimento, como “Charles Champagnat”!Para mim, essa expressão capta em uma imagemas extraordinárias qualidades humanas, maristas,fraternas e eclesiais que Charles vivia ecompartilhava em tudo o que fazia em seusmuitos anos de serviço generoso e único,especialmente como líder, primeiramente naAustrália e, depois, em todo o mundo Marista,seja como Conselheiro Geral, seja como Superior Geral.

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4.A herança de

O Ir. Charles entrega as Constituições

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Charles Howard

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Agora que nós dispomos danova edição de nossasConstituições e Estatutos,parece-me interessante de

revisitar, rapidamente, a primeira Circular do Ir. Charles Howard que oSenhor chamou para junto de si, sábado, 14 de janeiro de 2012. Esta será uma maneira de reencontrá-lo, com suas qualidades de che-fe e seu grande coração colocado a serviço dos Irmãos durante umalonga vida, bem preenchida. Também de dar graças a Deus, à sua fa-mília, à sua pátria, pelo magnífico presente que foi para todos nóssua rica personalidade, desabrochada na vocação marista. Parece-me que o texto de 25 de dezembro de 1986 : «Constituições e

Estatutos, nossa Regra de Vida», po-deria ser publicado em 2012, e queseu impacto sobre o espírito dosleitores não seria muito diferentedaquele que ele teve há 25 anos. O Ir. Charles, antes de abordar o

assunto anunciado pelo título desua Circular, dá uma rápida per-cepção de seus primeiros conta-tos, como Superior geral, com osIrmãos e suas obras em diferen-tes países: Zimbábue, África doSul, Brasil, Estados-Unidos, Ni-géria, Irlanda e Grã-Bretanha.Vêm em seguida os dados de

base e a gênese deste impor-tante acontecimento que cons-titui a aprovação de nossasConstituições pela Igreja, re-cordando o mandato dado pelo

As Constituições co-mo um retrato de

família que mostra omelhor de nós mesmos.

Circulares: Constituições e O Fundador

Em várias ocasiões, tive a graça de entreter-me de perto com

nosso Irmão Charles. Em todas essas ocasiões, envolveu-me uma

grande paz que ele irradiava junto com seu fino sentido de humor. Foi

um digníssimo sucessor de nosso inesquecível Irmão Basílio. As

Circulares do Irmão Charles, desde aquela que escreveu sobre o

Discernimento Espiritual até suas orientações sobre o Laicato

Marista, muito me iluminaram por seus enfoques profundamente

espirituais e por serem muito práticas. Acertou de cheio em suas

orientações sobre a Espiritualidade Apostólica Marista, esse novo

jeito de viver nossa espiritualidade que tanto bem nos faz. Agora,

que está no céu, o Irmão Charles aumentará seu grande amor por

nosso Instituto. Ele intercederá por nós para respondermos ao

Senhor, partindo depressa, como Maria, rumo a novas terras.

Ir. JOSÉ CONTRERAS LANDEROS

CIDADE JUÁREZ , MÉXICO

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decreto “Perfectae Caritatis” de 28 de outubro de1965, sobre a renovação da vida religiosa. O Ir.Charles sublinha que “o decreto precisa que a finali-dade essencial não é de escrever um texto de reno-vação espiritual e de adaptação, mas que a revisãodas Constituições é sobretudo a consequência deuma renovação e de uma adaptação verdadeiramen-te realizadas e um meio de cumpri-las” (p.17). Eleevoca em seguida a carta «Ecclesiae Sanctae» quenão faz outra coisa que retomar «Perfectae Carita-tis» sobre «a fidelidade ao Evangelho, ao carismado Fundador e aos sinais dos tempos nos quaisvivemos» (p.19).Ele continua insistindo sobre nossa identidade noseio da Igreja e as responsabilidades que dela de-correm para nós. Ele escreve: «Nosso Instituto foifundado sob a inspiração do Espírito Santo paraexercer por sua vida, seu testemunho e sua açãoapostólica, uma influência vivificante na Igreja eno mundo. Trata-se aqui de um dom particular àIgreja; e portanto, o povo de Deus que é Igreja,tem o direito de ser informado sobre nossa funda-ção e de examinar nossos documentos a fim de verse eles são fiéis ao Evangelho e à Igreja.» (p.20)O Ir. Charles nos apresenta então a noção de ca-risma, referindo-se à carta aos Religiosos «Evan-gelica Testificatio» (1971) de Paulo VI, e ele sedemora sobre um documento menos conhecido,publicado em 1978, «Mutuae Relationes» que dádiretivas para as relações mútuas entre bispos ereligiosos, na Igreja. «Em referência à teologiadeste documento, nós podemos estabelecer que ocarisma de Marcelino Champagnat é uma experiên-cia do Espírito, e por consequência, a fonte da es-piritualidade e do seu zelo apostólico e dá um ca-ráter distintivo à nossa comunidade religiosa…

Este carisma nos é transmitido a nós, Irmãos,para ser vivido, conservado, aprofundado epartilhado. (MR 11). O carisma contém em si opoder de atrair outras pessoas no seguimento desua missão. Segue daí que nós, os Irmãos, quepartilhamos este dom, temos uma séria respon-sabilidade em relação ao Instituto, em relaçãoà Igreja e todo o povo de Deus». (p.22)Para o trabalho de aprofundamento do carisma àluz dos textos citados, a Circular evoca os doisprincipais métodos colocados em prática para es-te fim. Primeiramente a pesquisa, a reflexão, ameditação sobre a vida de Marcelino e dos pri-meiros Irmãos; a reflexão sobre nossa experiênciacomo Irmãos maristas, a partir dos Irmãos comos quais vivemos e sobre a ação do Espírito San-to em sua vida. No que concerne ao esforço feitopelos delegados ao Capítulo Geral de 1985, parafinalizar o texto das Constituições, o Ir. Charlesescreveu: «É portanto, por fim, um trabalho deamor e de respeito que foi realizado com um gran-de senso de colaboração fraterna, no espírito deChampagnat. Ele mesmo tinha trabalhado duropara dar forma humana à inspiração com a qual oEspírito o investira» (p.23). E ele acrescenta: «Éum documento que nos obriga a um novo par-tir, à medida que reafirmamos com confiança,não somente o valor do religioso marista na Igre-ja, mas também a necessidade de apóstolos maris-tas convincentes, para a Igreja e o mundo de ho-je. Como o recordou João Paulo II na sua mensa-gem pessoal aos nossos capitulares: “Vossa missãojunto à juventude é indispensável”» (p.23).Agradecendo a todos os Irmãos que participaramde alguma forma do trabalho das Constituições, oIr. Charles escreveu: «O que eles nos deram foi

Estatutos. Nossa Regra de vida. interpela seus Irmãos

Ir. Alain Delorme

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CIRCULARES: Constituições e Estatutos. Nossa Regra de vida. O Fundador interpela seus IrmãosIr. Alain Delorme

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uma interpelação, um documento que nos ajudará a aprofundar nossoamor ao Senhor, nossa consagração marista, nossa missão no meio domundo, sobretudo o mundo dos jovens e dos pobres» (Id.).Ele retrata em seguida, em grandes linhas, a história da evolução de nos-so texto, depois de 9 de janeiro de 1863, quando Pio IX aprovou o Insti-tuto dos Pequenos Irmãos de Maria, até o decreto de aprovação pela Igre-ja das Constituições atuais, dia 7 de outubro de 1986. Este percurso his-tórico termina por um «Aleluia ! E mais uma vez obrigado a todos os Ir-mãos que contribuíram nesta obra de amor para com o Instituto» (p.27).)

VIDA NOVA

As páginas seguintes têm por título: “Um apelo à conversão e a umavida nova”. Nelas lemos: «O carisma dado pelo Espírito a Champagnatprovoca de maneira especial nossa resposta ao Pai. É um apelo dirigido acada um de nós. Cristo nos diz: “Segue-me”. E este convite é um apelo àconversão que se manifesta a todos nós, especialmente nas nossas novasConstituições... A conversão é uma graça, porque é Deus que toma a ini-ciativa, chamando-nos. Quando nós recebemos esta graça com humilda-de e abertura, nosso coração muda e nós nos tornamos mais receptivosao chamado de Deus» (Id.).O Ir. Charles refere-se ao artigo 166: «Conscientes da distância entre osapelos de Deus e nossas respostas, sentimos necessidade de conversãopermanente...». Da mesma forma o artigo 46, intitulado “Nossa caminha-da de consagrados”, «fala maravilhosamente da caminhada a realizar nanossa vida consagrada, caminhada que pode, por momentos, experimentar

dúvidas, perda de entusiasmo, se-cura de coração. Ele fala tambémda necessidade de abrir caminhoem meio a tudo isso, sem temer ocombate, certos de encontrar emMaria e em nossos Irmãos a forçainesgotável» (p.29).Para terminar, ele cita o artigo34 : “Amor preferencial aos po-bres” «que une o apelo que nosdirigem nossas tradições e o apeloatual da Igreja formulado porPaulo VI e João Paulo II» (p.30).“Amor por nossas Constitui-ções.” A este propósito, o Ir.Charles escreveu: « Nossas Consti-tuições podem ser comparadas aum retrato de família que nosmostra o melhor de nós mesmos;sim, o que há de melhor em nós

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CAMINHARCOM NOSSASCONSTITUIÇÕESCreio, Irmãos, que essas novas Constituições podem nos ajudar poderosamente a perseverar com mais fidelidade e fecundidade. Agradeçamos ao Senhor por elas e rezemo-las, amemo-las, vivamo-las» (p.44).• Algumas frases sublinhadas nesse resumo que

precede da primeira Circular do Ir. Charles Ho-ward me parecem significativas no que se re-fere à visão que ele tinha de nosso carisma aserviço da Igreja, de seu amor ao Padre Cham-pagnat e a seus Irmãos, os de ontem e os dehoje, de sua preocupação com os mais pobrespara os quais nós fomos fundados. Recordar oartigo 34 (Amor preferencial aos pobres) napágina 30 é bem significativo a esse respeito. E no caso de se reter uma dessas frases, eu ci-tarei de bom grado aquela da página 44, re-produzida acima, que me parece revelar todoo amor do Ir. Charles por nossa família religio-sa e seu desejo ardente de vê-la crescer na fi-delidade ao Fundador e à Igreja.

• A atualidade desta Circular deve-se também,penso eu, ao fato que o texto das Constitui-ções de 1986 sofreu apenas pequenas modifi-cações concernentes a 3 artigos sobre 171. OsEstatutos foram modificados em maior número(89), mas isto é normal, em razão de sua na-tureza e da grande liberdade que a Igreja dei-xa aos Institutos para fazê-lo.

• Parece-me interessante lembrar que o Ir. Char-les Howard, em resposta ao desejo unânimeexpresso pelos Irmãos Provinciais, no momen-to da Conferência geral de 1989, em Veranó-polis (Brasil), fez redigir o livro intitulado“Caminhar com nossas Constituições”, surgidoem 1991, para facilitar a oração e a reflexãodos Irmãos a partir das Constituições. Este li-vro permanece um instrumento útil para aoração pessoal e comunitária.

como grupo, os valores e os ideais que amamos, em-bora estejamos bem conscientes de não estarmos àaltura. Elas permanecem para nós a melhor expres-são que temos da experiência de nosso Fundador ede gerações de Irmãos até nós. Elas contêm a sabe-doria acumulada de milhares de Irmãos Maristas epodemos todos ver nelas uma grande parte de nossaprópria experiência e de nossas aspirações.» (p.31) Na página anterior ele declarava: «Rezo com fervor afim de que todos nós cheguemos a ter um grandeamor às nossas Constituições. Eu vos convido a unirvossas orações às minhas.»O Ir. Charles continua: «Podemos dizer que a Bíbliae as Constituições são uma só coisa para nós; sãonossos dois livros de vida e de amor, vida e amorao mesmo tempo recebidos e doados… isto não éexagero, meus Irmãos. Adotai as Constituições comoemblema de vossa vida, do vosso ser profundo, devossa consagração, do vosso amor pelos outros. Queelas sejam para todos nós um livro sagrado… Este li-vro sagrado que são nossas Constituições representapara nós, de maneira particular, a Boa Nova de Je-sus, concernente ao amor do Pai. A Boa Nova que re-cebemos em todas as palavras que nos revelam oamor de Deus; a Boa Nova que nós transmitimos,quando nos esforçamos para partilhar com os outros,aquilo que compreendemos do amor do Pai» (p.32).Assim se encerra a apresentação das Constituições.O leitor pode descobrir como continuação, méto-dos para lê-las, rezá-las e partilhá-las, pessoalmen-te ou em comunidade, com o conselho de praticara Lectio Divina. Após uma rápida apresentação donovo Código de Direito Canônico, e do nosso Direi-to Próprio, o Ir. Charles concluiu com uma anedotaque introduz o parágrafo que segue: «Perseverarsignifica bem mais que ficar na Congregação. Perse-verar significa um esforço contínuo para ser sempremais fiel. Isto supõe que nós cremos, com São Pau-lo, que nossas vidas estão unidas aos sofrimentos, àmorte e à ressurreição de Jesus. Sabemos pelo cora-ção que nosso lugar é com Maria, ao pé da Cruz.Apesar de nossos passos em falso e de nossas dúvi-das, sabemos que nosso combate pela fidelidade épurificado, e o ardor de nossa coragem reavivado,no mistério pascal. É também neste mistério que to-dos os nossos esforços, por mais pobres que sejam,são recolhidos em Deus.

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Foi a segunda Circular doseu mandato. A primeirafora dedicada ao tema dasrecentes Constituições.O tema das vocações este-ve presente desde nossasorigens. Entretanto, esta éa primeira Circular do Ins-

tituto dedicada totalmente ao tema vocacional. O 18° Ca-pítulo Geral empregou a maior parte do tempo na revisãoda versão definitiva das Constituições e assinalou o temadas vocações como uma das prioridades a atender. Daí amotivação para lançar esta Circular.1 A Circular contémcinco partes: a situação atual; as mudanças atuais; a ba-se teológica das vocações; a fidelidade ao fundador, aseu carisma e a seu espírito; sugestões para a reflexão ea ação.

UMA CRISEDA CULTURA E DA FÉ

Sem a necessidade de fazer dela um compêndio, no de-correr de suas páginas o Ir. Charles aborda, de maneirabem simples, clara e objetiva, diversos aspectos queconvergem na realidade vocacional do momento. Na pri-meira parte, assinala que, entre os fatores que inter-

vêm no descenso das vocações, há, sem dúvida, umacrise da cultura e da fé, além de uma mudança pro-

funda na sociedade, especialmente nos paísesocidentais.

Um dos escritos quemarcam fortemente a

história de nosso Institutoe no qual se plasmou gran-de parte do espírito vividoe irradiado pelo IrmãoCharles foi a Circular so-bre as Vocações, escritaem novembro de 1987.

Circular: Pastoral das

44 • FMS Mensaje 42

“Sois para outrosjovens de hoje

sinais de esperançae de amor.”

1 cf. Circulares dos Superiores-geraisdo Instituto dos Irmãos Maristas,

Pastoral das vocações, Roma, 1° de novembro de 1987, vol. XXIX,

Casa geral, p. 7.

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Referindo-se às crises de vocações em nossahistória, constata que em nenhum outro mo-mento se conheceu uma baixa tão generalizadae profunda. Menciona as crises havidas em1822 que, por três anos, pareciam comprometero desenvolvimento da Congregação recém-nas-cida. E também a crise vivida nos anos 1902-1903, em que as leis francesas obrigaram os re-ligiosos a escolher entre o exílio ou a reduçãoao estado civil.No segundo capítulo analisa as mudanças nasociedade e nas atitudes sociais, mencionandoalgumas tendências atuais, como o secularismo,o declínio do sagrado e dos valores baseadosno religioso, o fenômeno do consumismo, opredomínio de uma economia exploradora, opoder da tecnologia, a luta pela autonomia, asnovas atitudes perante o papel da mulher nasociedade e na Igreja, um enfoque diferente daliberdade, da autoridade e da obediência, umamudança de atitude em face da afetividade, daintimidade e da sexualidade, uma natalidade emdescenso e uma instabilidade cultural já gene-ralizada.Em relação às mudanças na Igreja, fala de umaIgreja que aceita o diálogo com o mundo e comas demais religiões, de uma Igreja em atitudede serviço que procura uma nova aproximaçãocom os leigos, que sente que deve renovar-se eque se interpela, mesmo com toda a confusão ea controvérsia derivadas disso.

UM COMPROMISSODEFINITIVO

Quanto à Vida Religiosa, assinala a confusão eperda de sua identidade, devido a tantas mudançassociais e eclesiásticas. Cita a perda de confiançarealmente destrutiva que se deu tanto entre osque têm o dever de chamar, quanto entre os que,tendo sido chamados, se negam a um compromis-so definitivo, no vaivém de um fluxo e refluxocontínuos. Refere-se também à importância damissão dos leigos na Igreja e da importância decolaborar com eles.Na terceira parte faz uma reflexão teológica sobrea vocação. A vocação é iniciativa de Deus, é dome é tarefa. “O chamado cristão de base é o ‘Segue-me’ de Jesus pelo qual nos convida a preferi-lo co-mo Senhor e Salvador, a ser discípulos, colabora-dores, a participar de sua Igreja. Diz que o chama-do a seguir uma direção específica – sacerdote, re-ligioso, leigo – nunca obriga, e sublinha depois aimportância da vocação de leigo dentro da Igreja.Apresenta vários elementos importantes em rela-ção à vocação, tais como a meditação, a oração, aimportância da fé, e a missão.A quarta parte é uma das mais belas e interessan-

vocações Ir. César Augusto Rojas

Conheci o Irmão Charles há,aproximadamente, 21 anos. Seu modo de serme fez sentir que era um Irmão que seinteressava por todos os que habitávamosnessa casa marista.Tocou-me o coração quando, ao voltar paraRoma, ele enviou um cartão postal da FamíliaMarista ao pessoal da limpeza de meucolégio. Foi um gesto delicado e um sinal defraternidade, que encurtou distâncias ereafirmou as intuições da tenda ampliada,inclusiva, de igualdade evangélica. Graças a Deus por esse Irmão que olhou paraaqueles que necessitam mais de carinho e deespaço de realização.

CAROLINA VARGAS G., LIMACHE , CHILE

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2 Circulares dos Superiores- gerais

do Instituto dos Irmãos Maristas

Pastoral das vocações, p. 50

Piquenique com o Ir. Basílio Rueda e

outros Irmãos no Brasil

Ir. César Augusto Rojas CIRCULAR: As Vocações

46 • FMS Mensagem 42

tes, porque aborda o tema a partir da vida de nosso Fundador. Apresen-ta Marcelino como alguém que tem muito a dizer-nos sobre o tema vo-cacional. Refere-se à sua fé em nossa vocação e ao seu apreço por essedom, expressando quanto valorizava a vocação do Irmão, e à sua ora-ção pelas vocações, recorrendo frequentemente a Maria para isso. Falade sua confiança inquebrantável em Jesus e Maria e, finalmente, refere-se à sua conduta em tempo de crise, recordando que, nos momentos di-fíceis, ele “implorava invariavelmente a ajuda do Alto pela oração, eem seguida realizava todas as gestões concretas que a experiência, asconsultas ou a reflexão lhe sugeriam como sendo as mais indicadas.Finalmente, oferece uma série de pistas de reflexão e ação, tais como: aresponsabilidade de cada Irmão no tema vocacional, o planejamento pro-vincial para a pastoral vocacional por meio do qual se abarquem as gran-des linhas do programa, os caminhos e meios para acolher os jovens, ese considere a existência da equipe provincial de pastoral vocacional.Exorta a ir pessoalmente ao encontro dos jovens, animando-nos a serentusiastas de nosso estilo de vida e a ter maior confiança no trabalhodas vocações, sendo mais decididos quando se trata de animar os jo-vens a refletir sobre o chamado que puderam receber, e para apresentaro chamado do Senhor à vida sacerdotal e religiosa como um conviteque pode ser dirigido a eles.Faz referência a uma experiência de comunidade marista como outrocampo propício para o florescimento vocacional, indicando como con-dição para isso algumas características importantes: que seja vibrante,orante, convidativa, missionária e com as características de simplicida-de, abertura e acolhida próprias de uma comunidade marista. Assinala aimportância do acompanhamento e o valor dos grupos.

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a querer e a valorizar nossa respectiva vocação,alimentá-la nessa nova relação de Irmãos e Lei-gos, e trabalhar juntos para que sejam suscitadase promovidas em nossos diversos e variados luga-res de missão marista.

AS VOCAÇÕES

Inspirados na Circular sobre as Vocações, um dosprincipais desafios para a vida marista de hoje écriar uma cultura vocacional que penetre e per-meie todos os nossos ambientes; que, em nívelpessoal, nos faça protagonistas diretos do hojede nossa história; que nossas comunidades refli-tam o gosto e a alegria de nossa vida de consa-grados; que nossos lugares de missão sejam es-paços onde os valores cultivados criem um am-biente favorável para despertar, acompanhar econsolidar as vocações para a Igreja e, de manei-ra particular, para a vida consagrada e a vida lai-cal marista.Com sua Circular, o Ir. Charles lançou, oportuna-mente, um grande grito a nosso Instituto, gritoque continua ressoando no interior de nossos co-rações. Sintamos, queridos membros da famíliamarista, que todos somos corresponsáveis pelacontinuidade, no tempo e na história, desse ca-risma tão rico para a Igreja e para o mundo dehoje. Mas também tenhamos consciência de queé um carisma que deve continuar vivo em muitoshomens e mulheres que sentem este chamado es-pecial de Deus para viver os valores que Marceli-no Champagnat e nossos primeiros Irmãos encar-naram e foram transmitindo através das diversasgerações.Que o Deus da vida e nossa Boa Mãe continuemescutando e acolhendo nossas preces pelo flores-cimento vocacional em nosso Instituto, e que emnossas Unidades Administrativas, seja em nívelregional, provincial ou local, busquemos os me-lhores meios e estruturas para que a pastoral vo-cacional constitua uma verdadeira opção na qualtodos nos sintamos envolvidos. Peçamos ao Senhor, por intermédio do Ir. Char-les, que continue a nos acompanhar e abençoarnesta bela, mas complexa e desafiadora missão.

Recorda o papel das famílias, referindo o influxoimportante que têm os pais para despertar as vo-cações, e também sobre a influência que muitosdeles exercem para desviar seus filhos da ideia deresponder ao chamado à vida consagrada. Insisteem que os pais precisam de nossa ajuda paraadotar uma atitude positiva a respeito do futurode seus filhos e sugere buscar ocasiões em queos pais e seus filhos possam relacionar-se e con-viver com religiosos e sacerdotes que vivem suaconsagração com entusiasmo.Conclui a Circular dirigindo-se aos mais jovens, ani-mando-os a desempenhar um papel especial noapostolado das vocações: “Quisera impeli-los a de-sempenhar esse papel com audácia e valentia, como coração e em espírito de oração. Lembro-lhes quepara os outros jovens de hoje, vocês são sinal deesperança e de amor. Que sua experiência de Deusos ajude a tocar os corações”.2

Como vemos, é uma Circular que tem muita atuali-dade e vigência, dada a realidade que em nível ge-neralizado se vive em torno do tema vocacional àVida Consagrada Marista. Com o passar dos anos,todas essas iniciativas apresentadas pelo Ir. Charlesse tornaram realidade e foram implementadas emgrande parte de nossas Unidades Administrativas.Estamos conscientes de que a vocação à VidaConsagrada é um dom de Deus, que espera a ge-nerosidade na resposta do ser humano; Deus con-tinua chamando e concedendo a muitos homense mulheres a graça para essa opção de vida. Arealidade da sociedade muitas vezes não permiteo florescimento ou consolidação das vocações,mas é um desafio que devemos assumir e enfren-tar com ousadia e criatividade.Inspirados em nosso Fundador e conscientes deque não foi a primeira vez que nosso Institutotem sido confrontado assim, confiamos na prote-ção de Deus e de nossa Boa Mãe por meio da ora-ção contínua e buscamos os melhores meios paratrabalhar neste difícil desafio da promoção voca-cional à Vida Consagrada Marista.Um elemento muito interessante, que o Ir. Char-les já vislumbra em diversos escritos, é o papelprotagonista da vocação laical, que hoje em diaé referencial e suporte para nossa opção e estilode vida como religiosos Irmãos. Somos chamados

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Apesar de anos já passadosdesde que foram escritas,elas contêm muita coisaque estimula e desafia a vi-da Marista e a nossa missãono século 21. Ao todo Charles escreveu oi-to circulares. A que trata so-

bre o Discernimento foi a sua terceira – escrita em 1988. A circular so-bre Espiritualidade Apostólica Marista foi a sua oitava e última circular,foi escrita em duas partes, uma em 1992 e a outra em 1993.Deixe-me começar com a circular sobre o Discernimento. Na introduçãoCharles descreveu as cinco prioridades que o Conselho Geral de entãoestabeleceu logo após a eleição de 1985. Charles deveria escrever cir-culares a respeito de todas as cinco prioridades, sendo que duas – asNovas Constituições e Vocações – já haviam sido escritas antes de elevoltar sua atenção para a questão do Discernimento.

UM PROCESSO DE RE-EDUCAÇÃO

Na época, os irmãos comentavam a respeito do estilo de redação do Ir.Charles e do seu antecessor, Ir.Basilio Rueda. Os dois estilos comple-mentavam-se e apoiavam-se um ao outro. O estilo do Ir. Basílio era maispedagógico – algo no estilo de um livro. Ele estava começando a co-municar mudanças muito significativas na teologia, eclesiologia, vidareligiosa, etc, que vieram a partir do Vaticano II. Os Irmãos (e a Igre-ja) precisavam engajar-se em um processo de re-educação e formaçãopara uma nova compreensão e prática da vida religiosa. Basílio come-çou a escrever um sólido ponto de referência para essas mudanças re-volucionárias de paradigmas. Com esta parte tão bem feita (tanto pa-ra nós quanto para muitos outros na vida religiosa) seu sucessor, Char-

les, pôde, então, adotar um estilo mais pastoral em seus escritos.

O pedido para escreversobre duas circulares

do Ir. Charles Howard levou-me a tirá-las da prateleira evoltar a lê-las. Valeu a pena fa-zer a leitura, e é algo que eurecomendo a todos.

“A missãosomente

é missão quandoestá arraigada

em Cristo e, portanto, na vontade

do Pai”.

Circulares: O Discernimento. Espiritualidade Apostólica

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As circulares de Charles eram mais parecidas com lon-gas cartas. Seu foco era a vida cotidiana à luz das no-vas orientações da Vida Religiosa. Assim, as circula-res de Charles eram mais breves e faziam freqüentesreferências aos Irmãos (geralmente sem citar nomes)que conheceu durante o curso de sua vida religiosae anos como Superior Geral. Essas pequenas “vinhe-tas” da vida real deu substância e humanidade aospontos que ele estava enfatizando. Em um sentido realeram histórias de família que ele estava vivencian-do – histórias de sucesso e fraqueza – tanto deações heróicas quanto de situações menos positivas.

E os Irmãos puderam se ver nessas histórias. Este es-tilo refletiu a personalidade de Charles. Nas refeiçõescomunitárias ele gostava de contar histórias, e fa-cilmente incentivava outros a contarem suas histó-rias – especialmente quando havia visitantes. Haviatambém algo de “afetuoso” em seus escritos. Da mes-ma maneira que ele podia ser muito veemente e de-safiador, de uma forma “viril”, ele também não per-dia de vista a sensibilidade, a reflexão e a compai-xão ‘feminina’, que também é parte do nosso caris-ma. Na circular sobre o Discernimento ele desenvol-veu extensivamente a idéia da prática de um “cora-ção sábio” – o que ele via como algo que deveria serexercitado diariamente, e como o fundamento es-sencial de discernimento para aqueles momentos detomada de grandes decisões.

ENSINAR AS CONSTITUIÇÕES

Com uma distância de mais de 20 anos, é também sur-preendente notar o quanto Charles utilizava as “no-vas” Constituições em suas circulares. Eu acredito queele tomou como parte de sua responsabilidade pes-soal o objetivo de promover e ensinar as Constitui-ções aprovadas pelo Capítulo que o elegeu SuperiorGeral. A sua primeira circular (1986) foi sobre as Cons-tituições e o seu Conselho elaborou em 1991 um ex-tensivo recurso chamado: Vivendo Nossas Constitui-ções. Ele frequentemente referia-se às Constituiçõescomo a mais rica expressão, nos dias atuais, de tu-do o que nosso carisma se tornou desde a época deMarcelino e dos primeiros irmãos. Não há talvez umasó página em suas circulares que não apresente pe-lo menos uma citação das Constituições. Em muitoscasos, ele junta diferentes artigos para produzir uma

Ir. Peter Rodney

Marista

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descrição muito reveladora do que ele queria comunicar.Um terceiro elemento que ainda hoje é impressionante, é a forma con-temporânea como Charles lidou com os desafios da época. Ele teve umasérie de cuidados para o seu amado Instituto, e, ao mesmo tempo buscouum jeito para empreender a sua renovação. Sua escrita era clara e desa-fiadora, e sempre encorajadora e esperançosa. Ele dirigiu os seus escritosa todos os níveis do Instituto – às Províncias e seus líderes, às comuni-dades e sua vida em comum, e aos Irmãos, individualmente, nas escolhasque eles estavam fazendo todos os dias ao viver a Vida Religiosa Marista.Na circular Discernimento ele aprofundou sobre o valor e os métodos de dis-cernimento pessoal e comunitário. De forma apaixonada que era caracte-rística em sua maneira de viver a vida, ele não deixou de criticar o nossocompromisso com os marginalizados – especialmente indagando quem sãoos principais participantes e beneficiários em nossas escolas e apostola-dos educativos. Em três lugares diferentes na Espiritualidade Apostólica Ma-rista está o desafio: “missão só é missão quando ela está enraizada em Cris-to, e, portanto, na vontade do Pai”. Ao mesmo tempo, ele pôde ver que naIgreja pós-Vaticano os Leigos ocupariam os seus lugares de direito, e queiriam enriquecer a vivência da espiritualidade e missão de Marcelino. Ago-ra, vinte anos mais tarde, isso está começando a florescer entre nós.Naturalmente, Charles refletia sua própria cultura, mas ao mesmo tempoestava muito consciente da necessidade do Instituto ser de fato incultu-rado. Da sua própria cultura ele trouxe o valor de praticidade. (Marcelinotinha essa qualidade também.) Assim, vemos em suas circulares que Char-les fez um grande esforço para comunicar os meios necessários para quesuas idéias pudessem ser vividas no cotidiano, dizendo – é isso que pre-cisamos fazer, e é assim que podemos fazer. Não é de se admirar, então,que a circular sobre o Discernimento continha um pequeno panfleto. A “Re-visão do Dia” foi apresentada em etapas fáceis, colocada com questões prá-ticas e oferecida como um meio de crescimento, e não um fardo para sercarregado. Não foi o Exame de Consciência, com seu foco sobre o pecadoe fracasso, com o qual muitos irmãos estavam familiarizados, mas um fo-co mais positivo sobre a ação de um Deus amoroso em cada dia. Refletiudessa forma, a espiritualidade apostólica encarnada, que o próprio Char-les vivia.

A ESPIRITUALIDADE APOSTÓLICA MARISTA

Tudo isso serviu para o florescimento da Espiritualidade Apostólica Maris-ta – sua última circular. Uma e outra vez ele volta aos temas de sua paixão e visão, desenvolvidos nas circulares anteriores – a riqueza das Cons-tituições, o tesouro da nossa Vocação, o discernimento praticado na vidadiária, Maria e Marcelino como modelos para o florescimento do Institu-to, o amor pelos pobres, a sua visão para o laicato Marista, etc. Os temasvoltam e são revigorados com luz e esperança.Sendo provavelmente o primeiro documento oficial do Instituto a apresentar

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Ir. Peter Rodney CIRCULARES: O discernimento. Espiritualidade Apostólica Marista

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Setembro 2012 • 51

a Espiritualidade Apostólica Marista em pormenores,Charles parecia cuidadoso para enraizá-lo em nossocarisma e patrimônio vivo. Há frequentes referênciasa Maria, Marcelino e os primeiros Irmãos. Foi nestacircular que Charles falou de Maria com os pés imer-sos na poeira das estradas – uma imagem muito que-rida na espiritualidade de muitos Maristas hoje. Ne-nhuma discussão sobre a Espiritualidade Apostólica Ma-rista poderia ser completa sem uma referência à prá-tica de Marcelino da Presença de Deus, e assim Char-les começou a desenvolver como esta poderosa fer-ramenta poderia ser entendida e praticada hoje.Na Espiritualidade Apostólica Marista é notável a suaênfase sobre a Igreja como comunhão – promoven-do a eclesiologia do Vaticano II. Uma leitura cuida-dosa da sua eclesiologia nos fará notar o seu elementoMariano – o rosto Mariano da Igreja – que agora, emnossos tempos, está tornando-se o foco.Como eu disse anteriormente, há tantos elementos quecontinuam muito contemporâneos nas circulares deCharles. Talvez já tenhamos superado as antigas ”ba-talhas” sobre as formas de oração comunitária. Mas,para mim, os desafios sobre o discernimento de nos-sas prioridades apostólicas ainda permanecem. Hojefalamos de “novas terras”. Como as pessoas dos nos-sos dias, Charles expressou preocupação com a pro-teção do nosso meio ambiente e seus cuidados. Ele fa-lou do trabalho no apostolado com todas as pessoasde boa vontade, falando muitas vezes sobre isso e ci-tando exemplos específicos do apostolado em paísesmuçulmanos. Vinte anos atrás, ele estava antecipan-do o desafio dos nossos dias para um diálogo inter-religioso eficaz e de um apostolado compartilhado.

Espiritualidade Apostólica Marista foi sua circular final,e eu sinto, uma vez que foi publicada um ano antes dofinal de seu mandato, que Charles tinha consciênciadisso. Tenho a sensação de que ele usou esta sua úl-tima oportunidade para apresentar um compromis-so amplo e ardente a respeito de uma série de te-mas caros ao seu coração. Falei de alguns deles. Naconclusão da circular ele deu especial ênfase a trêsdeles. Ele os introduziu dizendo que o Instituto ti-nha necessidade de homens de visão no que diz res-peito ao nosso carisma. Na verdade, não estava eledescrevendo a si mesmo? Os três exemplos que eleapresentou foram: a Família Marista e o Movimen-to Champagnat – que está agora se desenvolvendocomo a Vocação Laica Marista; a Solidariedade – comfoco na solidariedade ad intra: Maristas com uma vi-são global e uma preocupação internacional para avitalidade do nosso carisma; e finalmente, a In-culturação – o que ele expressou como enriqueci-mento cross-cultural tanto do Instituto como daIgreja. Será que tudo isso não parece estar em ple-no século 21?Finalmente, se você estava procurando um resumosucinto da espiritualida3de pessoal de Charles e tu-do o que ele apresentou em Discernimento e Espiri-tualidade Apostólica Marista, você não precisa ir alémda oração com a qual ele concluiu sua Carta de Agra-decimento - escrita em 1993, na conclusão dosseus anos férteis de liderança do Instituto. É opor-tuno que a fé, a esperança, o amor e a paixão do Ir.Charles Howard permaneçam conosco em sua ora-ção que constitui a base do número 156 de Água daRocha.

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A Esperança autêntica sefundamenta na fidelidade deDeus, demonstrada concre-tamente em Jesus Cristoque veio dizer com palavras

e atos que para Deus ninguém está perdido. Senão leiamos atenta-mente as três parábolas em Lucas: A ovelha perdida (Lc 15,3-7), a

moeda perdida (Lc 15,8-10) e os dois filhos (Lc15,11-32).

“É a presença do Espírito em nossa vida, nomundo que nos envolve, nas pessoas que

formam o mundo, nos enche de es-perança. Esta presença na vida

de cada pessoa nos dá a ca-pacidade de desempenharnosso papel de construto-res do Reino sem consi-derar a raça, a religiãoou as convicções políti-cas do destinatário.”“Cristo, cuja vida estádentro de nós, age pornosso intermédio, ama aspessoas através de nós domodo que nunca imagina-

mos, fez S. Paulo dizer:Aquele que, pela virtude que opera em nós, pode fazer infini-tamente mais do que tudo quanto pedimos ou entendemos,

a ele seja dada glória, na Igreja em Cristo Jesus por to-das as gerações da eternidade (Ef 3,20).” (citações daCircular do Irmão Charles Howard).

CRISTO nos precede e nos acompanha pelo seu

ACircular, Semeadoresde Esperança, escrita

pelo Irmão Charles Ho-ward, há 22 anos, podeatravessar gerações por seuconteúdo sempre atual.

“Todos os dias,nosso apostolado

nos convoca, de maneira mais

ou menos intensa,a sermos homens

de audácia,cheios

de esperança”.

Circular: Semeadores de

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ação de Deus se torna mais concreta, tanto na ex-periência pessoal, facilmente percebida, como nahistória das pessoas, na Igreja, nos acontecimen-tos e no caminhar do Instituto nesses 195 anos desua existência. Quantas maravilhas o Senhor ope-rou e quanta esperança nasceu nas crianças e nosjovens nesses anos todos pela mediação de Irmãose de leigos e leigas, graças à docilidade e fidelida-de de Champagnat a Deus! A história vai ensinando que não há acontecimen-to que se subtraia à fidelidade e ação de Deus,mesmo que num primeiro momento não esteja cla-ro. Uma leitura feita em clima orante, ajudará adescobrir os passos de Deus nesses acontecimen-tos, dando razão ao que o teólogo Schilebeeckxafirmava em um de seus conceituados livros: “Tu-do é graça em visibilidade”.São tantas as luzes que vão surgindo na caminha-da de quem se deixa seduzir pela autêntica Espe-rança que nasce a certeza de que o Espírito Santoage em nosso meio, na Igreja, na vida religiosa eem nosso Instituto em particular. A certeza de que Jesus se comprometeu conosco ecom a humanidade e que nos precede e nos acom-panha e nos inspira as palavras, gestos e atitudes,nos dinamiza e torna fecundas nossas ações.

Espírito, tornando fecundas nossas obras.A obra que realizamos não é nossa, masde Deus, repetia amiúde o nosso queridofundador. A Esperança, dom de Deus, necessita sercultivada ao longo da vida, sobretudo pelaoração e em contato com a Palavra deDeus. Ela nos sustentará nos momentos difíceispelos quais passamos.

VITORIOSOS EM MEIO ÀS DIFICULDADES

A docilidade à fidelidade de Deus em nossa vidafará com que saiamos vitoriosos em meio aos so-frimentos, dificuldades e contratempos.Em tais momentos saberemos onde colocamosnossa esperança. São Paulo escreve: “Veja cadaum como constrói! Ninguém pode colocar um ali-cerce diferente daquele que já foi posto: JesusCristo. Se alguém constrói sobre o alicerce comouro, prata, pedras preciosas, madeira, capim oupalha, a obra de cada um ficará em evidência... Sea obra construída resistir, o operário receberá arecompensa. (1 Cor 3,10-14).” As maravilhas operadas por Deus, em quem colo-camos nossa esperança, lidas na história pessoal enos acontecimentos, alargam nossos horizontes,dilatam nosso coração em hinos de louvor e grati-dão. Despertam para um compromisso de vida quese traduz no serviço gozoso aos irmãos e irmãs,em quem se percebe a ação de Deus. O modo de tratar a Circular pelo Irmão CharlesHoward, é de índole a alimentar iniciativas apos-tólicas. Lança luzes e direciona sua fala onde a

esperança Ir. Carlos Wielganczuk

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A SERENIDADEO Irmão Charles, na Circular, reveste a Esperança com algumas carac-terísticas que nos ajudam a ter maior clareza naquilo que vivemos:A serenidade é uma das principais características da esperança. Su-

põe estarmos convencidos da presença de Cristo e da sua vitória fi-nal, apesar de todos os obstáculos que possamos encontrar. Supõeigualmente estar convencidos da presença do Espírito Santo que desperta paz, serenidade e alegria, apanágio de pessoas de autênticaesperança.A vivência da serenidade, da paz e da alegria nos ensinarão que Deuscontinua fiel em nossa vida, o que despertará a coragem e a audácia. Marcelino, homem de iniciativas, buscou com audácia, intrepidez earrojo a aprovação legal do Instituto, em vida. Alimentou a certezade que Deus e a Santíssima Virgem, em quem depositou total con-fiança, não deixariam sem atender tal necessidade que reverteria parao bem das crianças e dos jovens. O que ocorreu em 1851, onze anosapós a sua morte, com vantagens inesperadas.Conhecemos nosso Fundador por outro traço significativo de sua per-

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Ir. Carlos WielganczukCIRCULAR: Semeadores de esperança

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sonalidade, que sem contar com recursos, pôs-sea construir l´Hermitage e chegou a bom termopor sua audácia nascida da confiança na fideli-dade de Deus e na proteção de Maria que nuncalhe faltaram.A pessoa que se apóia na fidelidade de Deus,torna-se criativa, multiplica as energias a servi-ço dos irmãos, diminui as necessidades próprias,em favor das autênticas necessidades dos outros.Vai descobrindo que o Espírito Santo não a deixainativa, não só quanto à ação, sobretudo quantoà vida nova que brota, despertando novas e co-rajosas iniciativas. Exemplos de audácia, criativi-dade, confiança e coragem, temos dentro donosso Instituto, na pessoa do nosso Fundador,dos nossos primeiros Irmãos e em tantos Irmãosque entregaram sua vida como resposta à fideli-dade de Deus. O Espírito Santo age vigorosamen-te nas pessoas, nos acontecimentos, na socieda-de, em todos os setores, despertando incrível di-namismo, impossível só pelas forças humanas.

A ESPERANÇA CRISTÃ

A esperança cristã é uma esperança corajosa,porque está baseada na fidelidade de Deus emseu amor para conosco desde sempre e parasempre e no seguimento de Jesus, com quemnos comprometemos pelos votos religiosos.O Irmão Charles ao se referir à coragem, escre-ve: “Para a maioria de nós, a coragem não seráuma virtude dramática, mas antes a coragem dafidelidade de todos os dias, fidelidade em vivero Evangelho e irradiar o Evangelho. Todos osdias, nosso apostolado nos convoca de maneiramais ou menos intensa para sermos homens decoragem, cheios de esperança.”O que foi escrito a respeito da Esperança, nãopassa pela mente de que a vivência da mesmatorna a vida fácil e sem problemas. Quem seapóia verdadeiramente na fidelidade de Deus ena busca da sua vontade terá como resultado nasua caminhada a cruz e com ela o mistério Pas-cal. Mas tudo será vencido, graças a Ele que nosprecede e nos acompanha com a sua graça e

com a presença sempre eficaz do seu Espírito.Queremos um apoio e incentivo em nosso pere-grinar terrestre? Olhemos para Maria, nossa BoaMãe, modelo de esperança, Ela que tudo fez noInstituto e continua fazendo. Como nas Bodasde Caná, nos diz: “Façam o que Ele mandar”(Jo 2,5).Conscientes de que se nosso apoio não for a fi-delidade de Deus jamais desmentida em nossasvidas, seremos dramaticamente vulneráveis einoperantes para o Reino de Deus. Somos forte-mente convidados para tomar conhecimento dasriquezas com que o Senhor nos revestiu comomembros do Instituto nos 195 anos de sua fun-dação. Profundamente motivados pela graça in-signe de seguidores de Cristo, a serviço dascrianças e jovens, amparados por Maria, nossaBoa Mãe e São José, nossos padroeiros e certosda intercessão de nosso Fundador, colocamostoda nossa Esperança e busca da vontade amo-rosa do Pai, cuja fidelidade jamais nos faltou.

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Durante os oito anos de seumandato, torna ao tema emdiversas ocasiões, em seusdiscursos e em suas Circu-lares, até – acreditamos –influenciar nesta questão opróprio XIX Capítulo Geral.Seu pensamento se tornamais audaz na Circular de 30

de novembro de 1990, que leva o mesmo título da conhecida Encícli-ca de João Paulo II: “Sollicitudo rei socialis”, escrita no fim de 1987.O Ir. Charles introduz o tema com a alusão à nossa tradição de filhosde Champagnat, recordando quanto amor ao Papa e a suas palavras ti-nha o Fundador. Com realismo, no entanto, não silencia sobre as di-ficuldades que, hoje, encontram os numerosos documentos pontifícios,as críticas que recebem e a pouca atenção da opinião pública... Masdesta vez – escreve – “Desejo sublinhar o fato de a Sollicitudo rei so-cialis ser uma Encíclica de particular importância. Foi escrita vinte anosdepois da Populorum progressio, do Papa Paulo VI, exatamente pa-ra celebrar o vigésimo aniversário desse memorável documento... Ne-nhum Irmão Marista deveria ignorar seu conteúdo e todos deveriamempenhar-se em meditá-la e aplicá-la à própria vida e à própria açãoresponsável”.

INTERDEPENDÊNCIA E SOLIDARIEDADE

No 2° capítulo, apresenta uma breve síntese da Encíclica, relacionando-a com os elementos importantes da Populorum progressio. Sublinhaos conceitos da interdependência de todas as nações da Terra e doconsequente dever da solidariedade. Esclarece que o conceito de de-senvolvimento humano refere-se mais ao ser do que ao ter: “Mais

Todos sabem quanto eraviva no Ir. Charles Ho-

ward a preocupação por umInstituto Marista que mani-festasse, com mais audácia,uma clara opção pelos po-bres, através de gestos con-cretos de solidariedade, emnível pessoal e institucional.

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Circular: Um chamado Sollicitudo

“Este chamadonos vem como

um autêntico domdo Espírito

Santo, que nosimpulsiona

a afastar de nossasvidas reservas

e temores, paranelas realizar

uma verdadeiraconversão”.

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Poderia até ser obrigatório vender esses bens a fim dedar comida, bebida, roupa ou abrigo aos necessitados.Conforme as palavras de Paulo VI, temos todos de cons-truir a «civilização do amor». (C 2.4, pág. 265)Depois do aceno no 3º capítulo às críticas feitas àEncíclica, especialmente o desconcerto dos EstadosUnidos e de muitos outros observadores à tomada dedistância de João Paulo II, tanto em relação ao So-cialismo quanto ao Capitalismo ocidental, Charles Ho-ward oferece ao Instituto, no 4º capítulo, uma sé-rie de suas reflexões sobre a Encíclica mesma. Temainda, em relação ao momento em que saiu a Encí-

se possui, mais se deseja; e assim, as aspirações hu-manas mais profundas permanecem subjugadas. Oquadro atual indica que os “poucos” que gozam domuito estão insatisfeitos porque querem sempre maise os “muitos” que têm pouco ou nada, se consideramimpossibilitados a realizar até o mínimo da própria vo-cação humana... A própria Igreja tem grave respon-sabilidade na área social. Desde a antiguidade, elacompreendeu a tarefa de aliviar a miséria da huma-nidade sofredora, quer esteja perto quer, longe. As ne-cessidades dos pobres pesam mais do que a «neces-sidade» de ornatos ou de sagrados objetos do culto.

Ir. Mario Meuti

urgente:rei socialis

Em Escola Marista numa favela de Londrina, Paraná, Brasil, 1992

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clica, a experiência histórica de 1989 com o esfacelamento do bloco so-cialista na Europa do Leste e alhures.“Irmãos, tanto o mundo quanto a Igreja estão numa encruzilhada histó-rica; estão num momento da história da humanidade que é crítico para avida dos homens e mulheres das gerações vindouras. Situação similar, ra-ramente verificada nos séculos passados, abre novas possibilidades paraos seres humanos. Evitemos de menosprezar a situação: os fundamentosda sociedade estão sendo abalados. Estamos em presença de decisões pa-ra a humanidade que podem ter alcance remoto e consequências dura-douras.”(C 4.1, pág. 272)

O QUE NOS AMARRA ÉA VISÃO BIPOLAR DO MUNDOO nosso não é apenas um tempo-kronós, no sentido de simples transcursode dias, - explica o Ir. Charles Howard, citando o jesuíta John Haughey– mas um tempo-kairós, isto é, hora propícia, tempo de acontecimen-tos especiais, tempo de salvação e de redenção... Para a leitura destes,não bastam as análises econômico-políticas, mas é preciso olhar os fa-tos, a partir das grandes aspirações do coração humano: a rejeição da ca-misa de força de uma visão bipolar do mundo, a rejeição dos regimes to-talitários, as ânsias de liberdade expressas de modo especial pelos jovens.“Prezados Irmãos, vemos o mundo com olhos que veem essa época da his-tória humana como um possível momento kairós sem precedentes em queo Espírito Santo está dando forças a homens e mulheres para mudar o mun-

58 • FMS Mensagem 42

Ir. Mario MeutiCIRCULAR: Um chamado urgente: Sollicitudo rei socialis

Papua Nova Guiné

1 Sollicitudo rei socialis -n. 37. E ainda:

Um mundo dividido em blocos e sustentadopor ideologias rígidas,

onde, em vez da interdependência

e da solidariedade,dominam diferentes

formas de imperialismo,só pode ser um mundo

submetido a “estruturasde pecado”. (nº 36)

2 Sollicitudo rei socialis, nº 47.

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278). E citando diretamente a João Paulo II, no art.47 da Encíclica, convida os Irmãos à ação: “Comamargura é preciso dizer que, como se pode pecar poregoísmo, por ganância e ânsia de poder, pode-se pe-car também em relação às necessidades urgentes demultidões humanas, imersas no subdesenvolvimen-to, por medo, indecisão e, no fundo, por covardia.”2

“Assim, estimados Irmãos, é inegável que nestamatéria há um chamado à ação para cada um denós”. E insiste, consciente do risco de ser mal-en-tendido: “Ao falar de um chamado para a ação, que-ro dizer exatamente isto mesmo. Devemos realmen-te resistir à tentação de espiritualizar esse chama-mento, fugindo dos dilemas muito concretos que de-vemos enfrentar de maneira ativa, escondendo-nossimplesmente por uma retirada na oração... Fazpouco tempo, o diretor de um centro de espirituali-dade bem conhecido, dizia que, quando ele organi-zava sessões que tratassem da vida pessoal com Deus,podia contar com resposta pronta; mas, quandoanunciava retiros que versassem sobre paz, justiçaracial e desenvolvimento do Terceiro Mundo, tinhapoucos participantes.(C. 4.3, p. 279)Não se trata de sentir-nos culpados no sentidomoral pessoal, mas de despertar nossa sensibilida-de face a essas “estruturas de pecado” que, tambémao nosso redor, perpetuam situações de injustiça ede grave discriminação. Não conseguiremos mudaras coisas da noite para o dia, mas a dificuldade dodever não pode deixar-nos na indiferença e naapatia.“A isto tudo, permitam-me acrescentar uma coisamais - a importância do ensino socialda Igreja para despertar as cons-ciências para os problemas queafetam a socie-dade. Leva-mos nossosalunos à prática

do? Temos fé suficiente para acreditar na Providên-cia de Deus que agora está nas mãos dos homens apossibilidade de reverter o ciclo quase inquebrantá-vel de pobreza e de violência terríveis que acabrunhamvasta proporção da humanidade?” (C 4.1, pág. 274)“É fácil de compreender que alguns dentre nós sen-tir-se-ão confusos, mesmo frustrados e impacientes,(O que posso fazer eu, como indivíduo, neste processode reconversão do curso da história?”). E reafirma ain-da mais fortemente: “Em primeiro lugar, procuremosser sérios, devemos compreender que todos nós fo-mos convocados para responder a esse convite doPapa como um imperativo moral. Esta é a premissacentral da Encíclica.” (C 4.2, pág. 275)

TODOS IMPLICADOSNO PROGRESSODA HUMANIDADEO ponto de partida da carta de João Paulo – expli-ca ainda Charles Howard – é este: ricos e pobres, to-dos são envolvidos e condividem a responsabilida-de de trabalhar pelo verdadeiro progresso da hu-manidade. Aquelas que foram denominadas “déca-das do desenvolvimento” não eliminaram absolu-tamente as causas profundas do subdesenvolvi-mento; a pobreza aumentou e se estendeu a outraspopulações; e a rapidez das mudanças sociais levouao extremo a desigualdade entre os seres humanos.É preciso recomeçar, colocando no centro as pes-soas humanas concretas, em sua individualidade; asque sofrem sob o peso insuportável da exploraçãode outros. É em relação a isso que o Papa usa, re-petidas vezes, a famosa expressão “estruturas depecado” para indicar “qual é a verdadeira nature-za do mal que está diante de nós, na questão do “de-senvolvimento dos povos”: trata-se de um mal mo-ral, fruto de muitos pecados e que levam a “estru-turas pecaminosas”. Diagnosticar o mal significaidentificar exatamente, no nível da conduta huma-na, o caminho a ser seguido para superá-lo.” 1

Com isso responde à pergunta sobre o compromis-so individual, ao dizer que “não é coisa que pode-mos deixar às pessoas com particular sensibilidadesobre temas sociais, mas é uma exigência do próprioEvangelho e da vocação cristã...” (C. 4.3, pág.

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de atividades caritativas que os ponham em contato com situações de po-breza.” (Cn 87)Um parágrafo especial é dedicado à “interdependência e solidariedade”, doisaspectos basilares da mensagem do Papa: “O fato de que homens e mulhe-res, em várias partes do mundo, sintam como próprias as injustiças e as vio-lações dos direitos humanos cometidas em países longínquos, que talvez nun-ca visitaremos, é sinal de uma realidade transformada em consciência... Tra-ta-se da interdependência sentida como sistema determinante das relações,no mundo contemporâneo. Quando a interdependência é assim reconhecida,a resposta correlata, como atitude moral e social, é a solidariedade... quenão é um sentimento de vaga compaixão ou de enternecimento superficialpelos males sofridos por tantas pessoas, próximas ou distantes. Pelo contrário,é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem-comum; ouseja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeira-mente responsáveis por todos”.3 ( C 4.4, p.280 e 281)

O AMOR PREFERENCIAL AOS POBRES

O 5° Capítulo é dedicado inteiramente ao comentário da expressão doPapa: “Amor preferencial aos pobres”. Essa expressão do Papa encon-tra eco muito claro em nossas Constituições que falam de nosso «amor

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3 Sollicitudo rei socialis, nº 37 e 38

4 Sollicitudo rei socialis, 42

5 Cfr. Discurso de aberturado XIX Capítulo Geral

de 19936 XIX Capítulo Geral:

Documento deSolidariedade, nº 20.

7 www.champagnat.org/203.php?caso=

xxidocumentos_view&id=30

Bangladesh

Ir. Mario MeutiCIRCULAR: Um chamado urgente: Sollicitudo rei socialis

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preferencial aos pobres» (artigo 34 e outros). “Ago-ra, Irmãos, permitam-me citar algumas palavras daEncíclica. São mais eloquentes de quanto eu possadizer. O amor preferencial aos pobres é uma opção,ou uma forma especial de primado na prática da ca-ridade cristã, testemunhada por toda a Tradição daIgreja... Hoje, dada a dimensão mundial que a ques-tão social assumiu, esse amor preferencial, com asdecisões que ele nos inspira, não pode deixar deabranger as imensas multidões de famintos, de men-digos, sem teto, assistência médica e, sobretudo, semesperança de um mundo melhor: não se pode deixarde ter em conta a existência dessas realidades. Ig-norá-las significaria tornar-nos como o «rico epulão»,que fingia não conhecer o pobre Lázaro, que jazia àsua porta.” (Lc 16,19)4. Palavras muito fortes! (C 5.1,p. 288)A tarefa não é simples e pode assustar, mas Charlesse diz convicto de que esse chamado constitui umautêntico dom do Espírito Santo, que nos move aafastar de nossa vida reservas e medos, para nela ope-rar uma verdadeira conversão... De resto, acrescen-ta, isso já é realidade na vida de muitos Irmãos e re-presenta nova vitalidade para as Províncias.A última parte da Circular insiste sobre a necessi-dade de um contato direto com os pobres, como es-trada mestra para adquirir sensibilidade nova, nes-se campo, para mudar nossa visão do mundo e res-ponder com a conversão pessoal e institucionalque a Igreja e os tempos atuais nos pedem. Reco-menda que todos possam fazer experiências, mes-mo breves, em contextos de pobreza real, promo-vendo as que, em mais ocasiões, chamou de “pere-grinações de solidariedade”.5 A experiência que exi-giu explicitamente de todos os Provinciais, antes daConferência geral de Veranópolis, em 1989; de to-dos os delegados do Capítulo geral de 1993, tam-bém propôs a muitos Irmãos em seus múltiplos en-contros. Não podemos mais permitir-nos que “hajaIrmãos fechados em guetos mentais ou físicos, pa-ra os quais os pobres são apenas uma estatística”.O XIX Capítulo geral foi muito influenciado por es-sa “mudança social” incutida no Instituto por fide-lidade à genuína herança de M. Champagnat. Começacom o título Audácia e Esperança para continuarcom a Mensagem a todos os Irmãos Maristas cu-jo ponto de partida é a escuta do grito do mundo:o grito dos pobres, das crianças de rua e abando-

nadas... mas também o grito de esperança que bro-ta em tantos lugares para sugerir-nos chamamen-tos novos e audazes. E há um documento sobre asolidariedade que começa exatamente citando as“peregrinações de solidariedade” efetuadas por ca-da um dos capitulares, para propor escolhas novase audazes às Províncias, às comunidades e a cada Ir-mão. “Chegou a hora de assumir coletivamente, demodo decisivo e inequívoco o chamado evangélico àsolidariedade.”6

São muitos os desenvolvimentos sucessivos: emtodas as Províncias do Instituto nasceram novasobras sociais a serviço de crianças mais pobres e mar-ginalizadas, grupos e associações de solidariedadeum pouco por toda parte, graças também ao impulsoproveniente dos leigos e à restruturação das Uni-dades Administrativas. Em nível de Instituto, nas-ceu o BIS (Bureau International of Solidarity) e des-se, a FMSI-Onlus (Fundação Marista para a Solida-riedade Internacional) destinada a acompanhar e afinanciar projetos de solidariedade e desenvolvi-mento, e a dedicar-se ao novo desafio da defesa eda promoção dos Direitos das Crianças e dos jovens,na sede ONU de Genebra.“Olhar o mundo com os olhos de uma criança po-bre” foi o lema cunhado pelo Ir. Seán Sammon, quedirigiu o Instituto de 2001 a 2009, e foi retomado pe-lo novo Superior geral Emili Turú que, ao encerrar oXXI Capítulo geral, desejava que “dentro de oitoanos, quando olharmos para trás, possamos dizerque o Instituto realizou passos muito significativos naarte de defender os direitos da criança e do jovem”. 7

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Intuiu dimensões dessa no-va época do carisma marista.Veja-se o pensamento e avisão que desenvolve na Cir-cular de 1991: ‘O MovimentoChampagnat da Família Ma-rista - Uma graça para todos

nós’, essas intuições mantêm grande atualidade e continuam a inspirara reflexão do Secretariado dos leigos. Dessa Circular e de sua interven-ção no XIX Capítulo geral – Leigos e Irmãos juntos na missão – provêm

as citações textuais ou adaptadas das linhas que seguem.“É bênção e motivo de alegria para todos, Irmãos e leigos, diráo Ir. Charles, poder compartilhar as mesmas riquezas espiri-tuais e viver juntos essa emocionante aventura espiritual eapostólica que tanto nos eleva”. Por isso, anos mais tarde, aAssembleia de Mendes falará de uma vocação carismática co-mum, que uns vivem como pessoas consagradas e outros, co-mo pessoas leigas. Era a convicção clara do Ir. Charles, quan-do expressava que “somos chamados a ajudar-nos e a com-plementar-nos uns aos outros”. Tanto na Circular mencionada como em outros escritos, gos-tava de recordar a Exortação Apostólica “Christi fideles laici”de João Paulo II, onde se diz que na Igreja-comunhão osestados de vida estão de tal modo relacionados entre si queresultam ordenados um ao outro. São modalidades, ao mes-mo tempo, diversas e complementares de modo que cadauma tem sua original e inconfundível fisionomia e, aomesmo tempo, cada uma está em relação com as outras ea seu serviço.O Ir. Charles tinha esta certeza: “Todos nós partilhamos avocação cristã e isso implica no dever de animar-nos unsaos outros, em nossos diferentes dons e nos chamados

Recordar o Ir. Charlesé lembrá-lo a partir de

suas significativas intuiçõessobre o caminho de co-munhão dos leigos, leigas eIrmãos. Ele se adiantou aesse futuro de comunhãodo último Capítulo geral.

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Conheci o Irmão Charles por ocasião de sua

visita à Colômbia, em 1989, ano do centenário da

chegada dos Irmãos Maristas a esse país.

Um homem muito simples, próximo, afável.

Sempre disposto a escutar, muito atento

aos detalhes.

Suas Circulares, qualquer que fosse o grupo

em que as partilhávamos, convidavam a seguir

apaixonando-nos por Champagnat e seu

estilo de vida.

Sempre respondeu de próprio punho às

mensagens que lhe eram enviadas. Apesar de

suas ocupações, sempre arranjava tempo para

dizer à pessoa: você é importante para mim!

MARIA EUGENIA , PASTO, COLÔMBIA

Circular: O Movimento da Família

“Somos chamados aajudar-nos e

a complementar-nosuns aos outros”

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ma, na medida em que o viverem mais plenamente.E essa não deve ser uma comunicação em sentidoúnico, pois, na comunhão, é evidente que necessi-tamos uns dos outros, e os Irmãos necessitam dosleigos. Quando tivermos chegado ao ponto de osleigos se considerarem responsáveis pela herançado carisma de Marcelino, então poderemos cantarum jubiloso Aleluia”. No fundo, o Ir. Charles mani-festava que com a participação dos leigos no caris-ma, a vida marista se sente desafiada e enriquecidae que, juntos, Irmãos e leigos, devemos enfrentar ofuturo desse carisma.Algumas das convicções do Ir. Charles se plasmaramno Capítulo geral de 1993, ao qual 14 leigos foramconvidados pelo Ir. Charles; participaram por duassemanas. A Mensagem do Capítulo o menciona: “Apresença entre nós, durante alguns dias de quatorzeleigos, foi um acontecimento histórico. Ajudaram-nos a compreender melhor que devemos assumirnossa missão de Igreja em comunhão profunda com

pessoais. Não se pode considerar um chamado su-perior a outro, mas promovê-los todos. Com essaideia na mente, faço um convite a todos para queparticipem nessa importante convivência, a fim detrabalhar para o desenvolvimento de todas as voca-ções, a leiga, a religiosa e a sacerdotal”.Manifestava sua convicção de que nossas vocaçõesespecíficas se iluminam mutuamente, sem se con-fundirem, e assim somos, uns para os outros, fonteconstante de riqueza.A complementação, lembrada pelo Ir. Charles, com-portava para ele maior associação em variadas for-mas, incluindo maior número de voluntários emnossas missões, a formação de comunidades mistase, logicamente, o fortalecimento do MovimentoChampagnat da Família Marista (MCFM). Seu pensa-mento manifestava que essa complementaridadevocacional de Irmãos e leigos permitiria fortalecernossas identidades específicas. Estas são palavrassuas referidas ao religioso Irmão: “Compartilharcom eles (leigos e leigas) espiritualmente vai reve-lar-nos novas profundidades de nossa vocação deIrmãos.”Se então já se começava a falar do carisma comodom à Igreja, ele soube aplicá-lo abertamente aonosso Instituto. Manifestou reiteradamente que ocarisma marista seria enriquecido pelos leigos. Émuito bonito este parágrafo de sua intervenção noCapítulo: “O carisma de um Instituto não pertenceexclusivamente a esse Instituto. Os carismas sãopara a Igreja e pertencem à Igreja. Nós somos osherdeiros do carisma de Marcelino e, por isso mes-mo, seus guardiões, mas é para nós uma alegria euma responsabilidade ser capazes de partilhar essedom e, como já disse em alguma ocasião, os leigoshaverão de revelar-nos novas facetas desse caris-

Ir. Javier Espinosa e Ana Sarrate

Champagnat Marista

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eles”. E o Capítulo aprovou esta proposição: “O XIX Capítulo geral reafir-ma sua vontade de partilhar, cada dia mais, a espiritualidade e a missãocom os leigos. Solicita ao Ir. Superior geral e a seu Conselho que animemos Irmãos e as comunidades do Instituto a progredirem nesse caminhode comunhão”. Foi novidade que os documentos capitulares se referissema leigos e Irmãos. A presença leiga aparecerá, posteriormente, em assem-bleias e Capítulos provinciais, em comissões e grupos de animação. Ini-ciava-se uma nova época de comunhão em nosso Instituto.

OS LEIGOS ESTÃO PREPARADOS PARA ESCREVER UMA PÁGINA DA HISTÓRIA CONOSCOSe o Ir. Charles fala de complementaridade é porque acredita na voca-ção leiga, na igualdade de todos os crentes, em sua força na missãoda Igreja. Por isso recordará as inspiradas palavras de um autor: “Osleigos estão preparados para escrever uma página de história conos-co”. E assim, em sua Circular, considera proveitoso situar as coisas nocontexto da Igreja e do mundo, e na nova visão teológica sobre o lai-cato. Sobre isso se manifesta muito clarividente.Fazendo menção da Exortação ‘Christi fideles laici’, disse que a espiri-tualidade e a dignidade, a missão e a responsabilidade dos leigos fo-ram proclamadas de maneira solene. A Igreja inteira (clérigos, religio-

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Ir. Javier Espinosa e Ana SarrateCIRCULAR: O Movimento Champagnat da Família Marista

Leigos no XIX Capítulo Geral

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sos e leigos) constitui uma comunhão; todos jun-tos participam da missão profética e sacerdotalde Jesus Cristo; todos juntos são chamados àsantidade. Assumindo que existem relativas dife-renças nas atribuições do sacerdócio e do laica-to, essas não devem ser afirmadas até o ponto depassar por alto o princípio mais fundamental evital da comunhão cristã e a igualdade de todosos crentes. Há um lugar próprio para a autorida-de da hierarquia e os presbíteros na Igreja. Masesse lugar, cuja origem encontramos na intençãoque teve Jesus de dotar a Igreja de uma lideran-ça, não pode contradizer sua visão mais funda-mental de uma comunidade de discípulos que ha-veriam de viver em espírito de fraternidade,igualdade e serviço.Suas afirmações se inspiram igualmente no Vati-cano II. O Concílio, afirma o Ir. Charles, insistiuque a verdade fundamental, no seio da Igreja, é acomunhão, baseada na união do autêntico crentecom Cristo, por meio do Batismo. Na qualidadede crentes batizados, está o direito inalienávelde todos. A fundamental igualdade, tanto na dig-nidade como na responsabilidade, deriva daunião direta de cada crente com Cristo, atravésdo Batismo.Com muita esperança, no fim do XIX Capítulo ge-ral, falou de primavera e mudança: Para mim, umdos sinais mais claros de esperança, nesta prima-vera, é a ideia mais clara que temos da naturezada Igreja, a Igreja como comunhão missionária, aIgreja como povo de Deus, em que há diferentesministérios, variados carismas e funções, mas to-dos estão unidos como discípulos de Cristo e tes-temunhas de sua ressurreição, comprometidos emseguir a mesma senda de amor, de esperança e deserviço, unidos pelo mesmo Espírito para conti-nuar a missão de Jesus. Nossas gerações são cha-madas a construir esse novo modelo de Igreja;uma Igreja que promove muito mais a participa-ção; o povo cristão se sente animado e ajudadocom recursos e formação, a fim de apresentar aosdemais o mistério da Igreja e assim possam des-cobrir o sentido de suas vidas. Dessa esperança, tão evangélica e tão marista,nascem os convites que o Irmão Charles faz emseus escritos. Recolho alguns:

• Encontramo-nos num momento muito importan-te da história da Igreja, momento de renasci-mento, de retorno ao estilo da Igreja primitiva,quando os leigos desempenhavam um grandepapel na missão. Uma de nossas prioridades con-siste, agora, em promover esse renascer, com de-licadeza, coragem e visão. Se não o fizermos as-sim, então diminuiremos a Igreja do futuro, o Po-vo de Deus, o Corpo de Cristo… tudo o que ama-mos.

• Devemos trabalhar juntos para desenvolver aconsciência eclesial, o sentido da pertença ao mis-tério da Igreja como comunhão. A oração de Je-sus na última ceia, - “que todos sejam um” – éum programa de vida e de ação para todos nós.

• Façamos o que estiver em nossas mãos para aju-dar os leigos a aceitarem esse desafio de ser pro-tagonistas na missão da Igreja.

A eclesiologia da comunhão, que o Ir. Charles tantoaprecia lembrar, devolva o carisma e a missão ao seioda Igreja, de modo que os leigos possam viver o ca-risma fundacional de formas diferentes àquelas típi-cas da vida religiosa, e possam vivê-lo de maneira in-tegral, relativamente às diversas facetas da pessoa;não em todas as potencialidades do carisma quedesbordam cada grupo, seja de Irmãos, seja de lei-gos ou sacerdotes maristas.O Ir. Charles, como a história do chefe índio, trou-xe-nos o regalo de um futuro melhor para nossa tri-bo. Foi sua visão de uma nova concepção carismá-tica para uma tenda mais ampla, onde caibam mais,onde se fala de complementaridade e comunhão, denovas facetas do carisma marista, de novo modelode Igreja, novos aprofundamentos da vocação do Ir-mão e do regalo da vocação do leigo marista.IRMÃO CHARLES HOWARD, OBRIGADO!

Ir. Javier Espinosa

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A Circular nos revela um ho-mem que ama a Igreja e porisso deseja que ela seja maisautêntica: em diálogo com omundo e construindo comeste, para que ela seja maissignificativa.Em todo o texto se faz evi-dente sua preocupação em

responder a ela. Depois de analisar alguns desafios que a Igreja vive emseu trabalho de evangelização, recorda-nos que “nos encontramos nummomento muito importante da história da Igreja, momento de renasci-mento, de retorno ao estilo da Igreja primitiva, quando os leigos de-sempenhavam um papel importante na missão. Uma de nossas priorida-des, agora, consiste em promover esse renascer, com tato e delicadeza,coragem e largueza de vistas. Se não o fizermos assim, então diminui-remos a Igreja do futuro, o Povo de Deus, o Corpo de Cristo… tudo o queamamos” (MCFM, p. 322).

VIVAMOS COM PAIXÃO A MISSÃO MARISTA

O Ir. Charles “nos descobriu”, percebeu a realidade de tantos leigos eleigas que sintonizávamos com a espiritualidade de Marcelino, que vi-víamos com paixão a missão marista e que, a partir de nossa condi-ção de leigos, trazíamos nova forma de viver esse dom.Mais ainda, suas palavras continuam a desafiar-nos, hoje. Ele perce-beu uma família nova, ainda no começo, na qual Irmãos e leigos ca-minhassem juntos, dando maior vitalidade ao carisma. Ele nos anima-va a fazer experiência em comunidade; a atrever-nos a escrever o queo Espírito em nós suscitava, ao partilharmos e vivermos essa espiri-tualidade; a sentir-nos verdadeiramente responsáveis por fazer cresceressa família na Igreja.Seu entusiasmo por essa realidade leva-o a escrever: “Portanto, Ir-mãos, sois todos convidados a colaborar no crescimento desses gru-pos de leigos, e a partilhar nosso carisma, esse presente vindo deDeus para o bem da Igreja.” “Os leigos estão preparados para escreveruma página da história conosco”. Muitos Irmãos, animados por essas palavras, nos acompanharam naaventura de crescer como cristãos e maristas, criando processos for-mativos para o laicato, gerando comunidades ou grupos de vida, en-corajando-nos a tomar iniciativas e fazendo sentir-nos parte de suafamília.

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“É uma bênção e uma alegria

sentir-noschamados a

partilhar nossasmútuas riquezas

e a viver, juntos,uma aventura

espiritual e apostólicafascinante”

Quando torno a ler aCircular do Ir. Charles

sobre a criação do Movimen-to Champagnat da FamíliaMarista, deparo-me com umhomem profético: suas pala-vras são tão atuais que aindacontinuam sendo uma grandereferência para o presente.

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Graças a esses Irmãos, que apostaram no espíritoque nascera depois do Vaticano II, fomos toman-do consciência de nossa vocação leiga e de nossopapel na construção do Reino de Deus. Mostra-ram-nos a pessoa de Marcelino e comunicaram-nos seu entusiasmo em viver do jeito de Maria.

A OPORTUNIDADE QUE MUITOS ESPERÁVAMOS

O Movimento Champagnat da Família Marista foia oportunidade que muitos leigos e leigas espe-rávamos para comprometer-nos mais como maris-tas. O Ir. Charles nos dizia: “Sois bem-vindos àvossa casa marista. Há tempo que estais nela porvosso modo de viver, sentir e agir. Agora, optas-tes por viver mais profundamente a fé e o apos-tolado, sendo outros Champagnat, em vosso pró-prio ambiente, começando por vosso próprio lar.”(Ir. Charles, MCFM, p. 366)Não somente aumentou o número de fraternida-des do Movimento Champagnat, mas surgiramtambém outros grupos e comunidades leigas que,aproveitando esse novo convite, sentiram a ne-cessidade de aprofundar seu ser marista e seu vi-ver como maristas, a partir da opção da vida lei-

ga, porque como nos dizia também o Ir. Charles:“O espírito é criador e trabalha de múltiplos mo-dos; o Movimento Champagnat é um deles, masnão o único.”A partir da própria experiência, vai nos sugerindointuições e pistas valiosas para desenvolver nossaespiritualidade, vida em comunhão e missão lei-ga. Recorda-nos que esse Movimento “não é umamaneira de viver a vida religiosa no mundo, masuma forma de viver a vida leiga no mundo”; por-tanto, o desenvolvimento de uma verdadeira espi-ritualidade leiga é a de tomar consciência de queDeus se nos faz presente, tal como somos e nofluir ordinário de nossa vida, através de nossahistória pessoal, desde o matrimônio e a família,a amizade, o trabalho, as preocupações diárias, asrealidades sociais em que estamos imersos, conse-guindo integrar a vida e a oração para chegarmosa uma espiritualidade do corrente e do ordinário.Desafia-nos a desenvolver uma espiritualidademarista secular que enriqueça mais o carisma, enos recorde que a missão é uma (a de Jesus Cris-to), mas a forma de servir os demais terá, nos lei-gos, formas diversas… Não esquece tampouco opapel da mulher na Igreja e a tarefa pendente depoder comprometer-se na missão em todas as

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suas dimensões. Destaca sua convicçãoe delicadeza para convidar a que, entreos maristas, se faça o esforço de nãoperder a riqueza que traz uma perspec-tiva feminina do carisma marista.Quanto se teria alegrado o Ir. Charlesao encontrar confirmadas muitas desuas intuições, no documento “Em tor-no da mesma mesa: a vocação dos lei-gos maristas de Champagnat”! Temosum primeiro documento nascido da rea-lidade leiga marista que se define a simesma, a partir de suas próprias pala-

vras e vivências. Pode-se fazer um trabalho comparativo entre os doisdocumentos – a Circular do Ir. Charles e o documento “Em torno damesma mesa” – e encontraremos muitos paralelismos…20 anos depois!Há atualmente em torno de 280 fraternidades do Movimento Cham-pagnat, com uns 3.200 membros associados, além de uma rica varie-dade de grupos e comunidades em que os leigos compartem nossa vi-da marista: momentos de oração em comum, formação, a missão de “tor-nar conhecido e amado Jesus Cristo”, as alegrias e dificuldades da vidacotidiana… São sempre mais frequentes os encontros de fraternidadesou grupos leigos, em níveis provinciais e mesmo regionais. Já foram cria-das algumas estruturas ou equipes de animação dos mesmos lideradospelos próprios membros que, sobretudo, acontecem no nível provincial.Vamos tomando consciência de que somos responsáveis por dar vida e sercriativos para responder como maristas leigos no mundo de hoje.

A COMUNHÃO ENTRE IRMÃOS E LEIGOS

Nesse caminho já percorrido, podemos confirmar com nossa expe-riência muitas das ideias do Ir. Charles, entre as quais se destacaa riqueza mútua que está supondo a comunhão entre Irmãos eleigos. “É uma bênção e uma alegria para nós Irmãos, e para vósleigos, sentir-nos chamados a partilhar nossas mútuas riquezas ea viver juntos uma aventura espiritual e apostólica fascinante.”Creio que o Ir. Charles trouxe a semente para que os capitularesdo XXI Capítulo geral proclamassem: “Contemplamos nosso fu-turo marista como uma comunhão de pessoas, no carisma deChampagnat, em que nossas vocações específicas vão enrique-cer-se mutuamente”.Há muito caminho a percorrer, mas, como nos convidava o Ir-mão Charles, “coloquemos nosso trabalho nas mãos de Maria…epodemos estar certos de que Maria abençoará os esforços quefazemos para atrair outros para nossa vida e missão”.

Ana Sarrate

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Conheci o Irmão Charles Howard em l’Hermitage.

Não foi um encontro programado. Encontrava-se ele

ali e quis falar com o grupo de jovens animadores que

começávamos a abeberar-nos nas “fontes” maristas.

Recordo-o como homem próximo e sempre sorridente.

Com o passar do tempo, e a partir das Fraternidades,

em várias ocasiões nos debruçamos sobre sua Circular

concernente ao Movimento Champagnat da Família

Marista. Sempre me chamou à atenção sua atualidade.

Parece ter sido escrita ontem. Dou graças a Deus por

sua vida e por suas intuições, particularmente as que se

referem aos Leigos. Que o Espírito nos conceda ser

Champagnat hoje!MARTA , BILBAO, ESPAÑA

Charles Howard com dois leigos no XIX Capítulo Geral

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A obra do MIC e o desenvolvimento na África:

As pegadas deixadaspelo Ir. Charles Howard

na África

Esse provérbio africano aplica-se muitobem ao Ir. Charles Howard. Depois doXVIII Capítulo geral, o Ir. Charles deuespecial atenção à pastoral das voca-

ções e da formação, à redefinição das prioridades apostólicas, à pro-moção da inculturação e à revitalização da identidade, num contextoem que a vocação do Irmão era vista como vocação sacerdotal in-completa.

« Quem plantou uma árvore antes demorrer não viveu inutilmente.» Trata-

se de uma árvore frutífera que nutre seuspróprios filhos e aqueles dos vizinhos, du-rante gerações e gerações.

Ir. Eugène Kabanguka

Charles Howard,em uma reunião

dos Superiores da África.Dezembro de 1986

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AS VOCAÇÕES E A FORMAÇÃO: O CENTRO MARISTA INTERNACIONAL DE NAIRÓBI, UMA RESPOSTA À URGENTE NECESSIDADEDE FORMAÇÃO DOS JOVENS IRMÃOS DA ÁFRICALemos a Circular sobre as vocações e estamos de acordo com o Ir.Charles Howard quando diz que nosso Instituto não tem brio se nãotiver progênie. Pouco importa em que parte do mundo ela emerge. Di-zemos na África que « mulher bonita é aquela que carrega uma crian-ça nos braços ».Seu interesse pelas vocações na África foi concretizado quando, no

fim de seu mandato como Superior geral, se ofereceu para colaborarcomo formador no Noviciado de Kutama, no Zimbábue. Mas suamarca mais conhecida na África e no mundo marista foi a criaçãodo Centro Marista Internacional de Nairóbi.O Ir. Charles Howard adotou como prioridade a criação do CentroMarista Internacional, conhecido como « Marist International Cen-tre » (MIC), em 1986. Poucos meses após sua eleição, enviou o Ir.Powel Prieur a Harare, Abidjan, Kinshasa e Nairóbi pra estudar apossibilidade de criar um Escolasticado interafricano. Consultou,sem tardar, os Superiores maiores do continente. Existiam apenasas Províncias de Madagascar e da África do Sul, enquanto as ou-tras missões se agrupavam em distritos ou setores dependentesde Roma ou de outras Províncias da Europa e do Canadá.Fomos beneficiados com o apoio incondicional do Cardeal Otun-ga, então arcebispo de Nairóbi, e de outros bispos do Quênia.Foi em nome do Cardeal que o terreno do MIC foi comprado edele fez cessão, pouco antes de sua morte. Tivemos também acolaboração e a participação com recursos humanos da Univer-sidade Católica da África Oriental e de outros seus colegasconstituintes. Nunca houve concorrência. A Comissão do EnsinoSuperior (CHE) acompanhou assiduamente nosso processo de

elaboração dos programas até conceder-nos a aprovação.

A EXTENSÃO DO MIC, UM TESTEMUNHO VIBRANTEDA AUTÊNTICA FRATERNIDADE AFRICANA

A partir de 1989, o que o Ir. Charles Howard e os superiores dos Irmãosmaristas, no continente africano tinham previsto como Escolasticado pa-ra nossos Irmãos, abriu-se, pouco a pouco, para outras comunidades re-ligiosas, depois a leigos, diversificando progressivamente seus progra-mas acadêmicos e de formação religiosa. Com efeito, um adágio africa-no reza acertadamente: « quem não quer nutrir os filhos de seu vizinho,não terá jamais os seus alimentados ». Isso pode aplicar-se ao inteiromundo marista, quando falamos de Igreja marial, de partilha de recur-sos humanos e materiais.Quando celebramos o décimo aniversário de nascimento do MIC, em 1996,

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Ir. Eugène KabangukaAS PEGADAS DEIXADAS PELO IR. CHARLES HOWARD NA ÁFRICA

Tive a graça de conversar com

o Superior geral sobre as

atividades dos ‘Amigos de

Marcelino Champagnat’ dos quais

fui dos assessores-fundadores

com o Ir. Marino Primiceri e depois

com o Ir. Rossigno Paul, em Bukavu

(ITFM). Ele era muito atencioso

e eu, em nenhum momento,

poderia imaginar que estava

diante de um grande homem.

RUKUNDA LOUIS, KINSHASA ,

REP. DEM . DO CONGO

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foi constatado que, enquanto Centro Internacional,ele acentuava a internacionalidade e a intercultura-lidade, neste mundo que se torna sempre mais umaaldeia planetária. A equipe de formação e o pessoalacadêmico dos cinco continentes construíram sua es-trutura acolhedora e eu espírito de família. O corpodiscente já abrangia vários países da África, a Índia,a Itália e Portugal. Foi a partir de então que nasceua ideia de um estatuto universitário. A UniversidadePontifícia Urbaniana à qual o MIC estava afiliado, aca-bava de assinalar que ela não tinha Faculdade de Edu-cação para continuar a expedir título universitário emeducação. Mais, em 1999, com a Convenção de Bo-lonha, todas as Universidades do oeste e centro-eu-ropeu, compreendida a Universidade Urbaniana, ado-tavam um novo sistema educativo padronizado paratoda a Europa. Assim o MIC passou de três a quatroanos de estudos. Ao mesmo tempo, no Quênia, a Co-missão nacional do ensino superior (CHE) advertia queas Universidades estrangeiras não reconhecidas pe-las instâncias nacionais, não tinham o direito de ex-pedir diplomas para o interior do país. Isso fez comque renunciássemos ao projeto que tínhamos de afi-liar-nos ao « Marist College Poughkeepsie ».O Ir. Charles Howard dirigiu-se pessoalmente a Nai-róbi, e fomos iniciar as negociações com a Comis-são nacional do ensino superior (CHE). Ele já não eramais Superior geral, mas o MIC era seu filho de pre-dileção. A CHE orientou-nos para a Universidade Ca-tólica da África Oriental (Catholic University of East

Africa - CUEA) e as negociações começaram sem tar-dança. E, para participar da CUEA, era preciso atua-lizar todos os programas, a fim de acolher centenasde jovens africanos em busca de educação superiore fazer de nossos Irmãos educadores religiosos bemqualificados. A Universidade Católica exigia tambémque nosso programa abrangesse quatro anos, antesde ser aprovado como um de seus colégios consti-tuintes, em 2002.Quando, no início, alguns Irmãos resistiam à exi-gência da parte acadêmica do programa, dizendo queestavam no MIC apenas para a formação, agora, de-vido ao acento dado ao título universitário, algunspensaram que não haveria mais for-mação. Houve boatos que diziamque o MIC se tornara exclusivamen-te uma universidade, e que o Insti-tuto perdia seu investimento. Issonão era verdade. É também verda-de que, nessa abertura, não sedeve esquecer que nossos an-cestrais bem nos ensinaram que« o ovo não dança com a pedra »ou « Uma cabaça cheia deleite sempre semantém longe dabriga com ca-cetes ».O que significaque os Irmãos em formação

Com Irmãos do MIC, Nairóbi

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devem estar atentos em conservar sua identidade religiosa e não con-verter-se apenas em estudantes universitários. É, pois, uma questão deequilíbrio. Um bom apóstolo da juventude deve ter uma boa formaçãohumana, religiosa e acadêmica. O acompanhamento pessoal ajuda a con-servar esse equilíbrio.Essa abertura fez com que em setembro de 2011, o MIC fosse reconhe-cido como Colégio Universitário (Marist International University Colle-ge – MIUC). Atualmente 105 jovens Irmãos ali fazem sua formação dopós-noviciado e mais de 500 jovens religiosos e leigos se beneficiam des-sa oportunidade para sua formação humana e religiosa. Alguns desses jo-vens não teriam tido nenhuma possibilidade de acesso à universidade porcausa de seu fraco resultado acadêmico; os Irmãos Maristas criaram pro-gramas de recuperação e de nivelamento. Alguns jovens fazem apenasseis meses ou um ano acadêmico para conseguir a qualificação que oshabilita a continuarem seus estudos em nível universitário, em instituiçõesde livre escolha. Assim o MIUC irradia na África, por essa ação inovado-ra de semear a esperança no coração de um considerável número de jo-vens que, agora, podem sonhar fazer carreira, sendo ao mesmo tempo boastestemunhas de Deus. Observamos aqui que as portas estão abertas a to-dos os jovens sem distinção de crença e proveniência. Isso favorece umsaudável clima ecumênico, inter-religioso e intercultural. Além disso, osIrmãos têm um contato direto com jovens adolescentes. Alguns Irmãos não compreenderam a mudança operada no programa deformação. O espírito continua o mesmo, mas o conteúdo mudou, segundoo contexto atual em que se encontra nossa missão na África. Ao longodos últimos 15 anos, esse continente sofreu mudanças vertiginosas nos

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Ir. Eugène KabangukaAS PEGADAS DEIXADAS PELO IR. CHARLES HOWARD NA ÁFRICA

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planos educacional, social e político. E como diz umprovérbio mossi (povo de Burkina Faso): « Se o cur-so d’água muda de itinerário, o jacaré é obrigado desegui-lo». O programa de formação deve responderàs necessidades dos Irmãos e da sociedade do ter-ceiro milênio. Além disso, é preciso abrir-se para omundo dos jovens de hoje, e sobretudo estar comeles de modo significativo, respondendo às suas per-guntas, indo ao encontro de suas expectativas e ali-mentando seus sonhos, ao mesmo tempo que os es-clarece.Em reconhecimento a essa abertura universal, as au-toridades civis quenianas, em colaboração com osvizinhos do MIC, acabaram de asfaltar a estrada quepassa diante da comunidade, e deu-lhe o nome de« Marist Lane ».

OS JOVENS IRMÃOS SÃO ACOMPANHADOSEM SUA CAMINHADA VOCACIONAL

Os Irmãos vivem em fraternidades equilibradas de 12a 14 membros. Dois formadores animam cada fra-ternidade. Com isso a comunidade perfaz, atualmente,120 Irmãos. Tamanho de uma Província.Uma das razões pelas quais o MIC foi fundado era ade garantir que os jovens Irmãos fossem acompa-nhados em sua caminhada vocacional. Isso respei-ta a cultura africana segundo a qual os jovens sãosempre iniciados e acompanhados pelos mais idosos.O adágio diz que « quem viu o sol antes de ti fez-seornar com a sabedoria antes de ti». Com efeito, eleacumulou muita sabedoria por ter visto a interven-ção de Deus nas inumeráveis dificuldades da vida.

Tive a bênção de conviver com o Irmão Charles em muitas ocasiões: na Casa Geral,

quando estudei em Roma; Em Valpré-Lyon, quando nos deu aulas no Curso de Formadores;

nas visitas que ele fez ao Brasil. Dentre tantas boas lembranças que retenho sobre sua

pessoa, saliento o aguçado interesse e conhecimento que ele tinha pela caminhada da Igreja

do Brasil e da América Latina. Isso me chamou a atenção pois ele, sendo da Oceania,

assumindo missão de animação e governo a partir da Europa, valorizava tanto esses como

os demais continentes. Tinha um conhecimento aprofundado da caminhada teológica

latino-americana e uma amizade estreita com vários de seus bispos, teólogos e

religiosos(as) engajados(as) com a causa dos pobres e a transformação social. Tudo isso o

iluminava em suas reflexões sobre a Doutrina Social da Igreja, a aplicação do Concílio

Vaticano II e da Evangelii Nuntiandi, da qual ele era profundo conhecedor. Esse seu

conhecimento e essa sua paixão pela Igreja dos Pobres o potenciavam a animar o Instituto

em favor da tranformação social e em vista da promoção humana das crianças e jovens.

JOÃO GUTEMBERG , MANAUS, BRASIL

E o acompanhado sabe ser ele o primeiro responsávelpelo processo de transformação que deve realizar:« a madeira pode ficar três anos no lago; ela não se-rá nunca um jacaré ». É preciso ter a vontade e acapacidade de mudar. Diante das dificuldades, to-do o mundo sabe que se pode escorregar sobreuma pedra e ser capaz de subir uma montanha. Sig-nifica que não se deve desanimar diante das difi-culdades. É melhor fazer todos os esforços possíveisem vista de uma vida melhor. Não dizemos que aque-le que deseja mel deve ter a coragem de enfrentaras abelhas? Durante a formação, com o acompanhamento pessoale grupal, os Irmãos aprendem a superar os hábitos cul-turais. Abandonam a ideia corrente de que “não é proi-bido trapacear, mas sim, deixar-se descobrir ”. Eles es-tão atentos à voz interior e não à opinião pública.Aprendem a não gastar muita energia com o cuidadodas aparências. E não se aceita mais o adágio segun-do o qual “é culpável quem se deixasurpreender em flagrante delito”.Aprendem a ser mais realistase menos pretensiosos, a re-conhecer as forças e os limites pessoais. Dessemodo eles aceitam a responsabilidade pessoal em vez de se esconderem detrásdo pecado cole-tivo que, pouco apouco,se

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torna normativo. Aos poucos, começam a denunciar a legalização de prá-ticas más, que se tornam normas, simplesmente porque são aceitas pe-la maioria. Por acréscimo, a aceitação da responsabilidade pessoal fazcom que não mais se projetem, sobre os outros, os próprios defeitos: sevocê é feio não culpe seu espelho!

PROMOVER A INCULTURAÇÃO, A LIDERANÇA LOCALE REVITALIZAR NOSSA IDENTIDADE

Por ocasião do congresso marista pan-africano, em 1992, em Nairóbi, oIr. Charles Howard fez questão de convidar um bispo antropólogo afri-cano, Dom Sarpong de Kumasi, do Gana, para falar da vida cristã nocontexto africano, sublinhando que o Cristo precedeu os missionáriosnessa terra africana, não apenas como refugiado no Egito, mas tambémpor seu espírito que inspirou os bons valores ancestrais que é precisorespeitar para fazer aterrar o Evangelho. Por isso, insistiu com as Pro-víncias que mantinham missões na África sobre a promoção da lideran-ça local. Vejam que, em 1992, ele erigiu a Província da Nigéria e Gana.Os que participaram do congresso lembrar-se-ão de sua apresentaçãosobre “o sacramento do Irmão”, valendo-se do verbo inglês de seu léxi-co pessoal: “TO BROTHER’ (fraternizar ou colocar juntos, n.tr.) para sig-nificar que nossa identidade, nossa espiritualidade e nossa missão sãoinseparáveis. Insistiu no fato de que todo encontro, sobretudo com ascrianças, é uma ocasião de amar e de evangelizar.Os valores africanos de comunidade, de solidariedade foram muito su-blinhados para mostrar que não se vive para si ou sozinho. Com efeito,está provado que “para uma criança crescer, é preciso toda uma vila”.Cada um é responsável por todos e todos são responsáveis por cada

um. E mais do que viver orgulhosamente, vive-se co-mo tributário por tudo quanto foi recebido da socie-dade. Assim, o individualismo, a preocupação com obem-estar pessoal, a exploração, sobretudo dos pe-quenos e dos pobres deveriam colidir com a lei dagratidão, da gratuidade e da solidariedade. Respon-dendo a esse apelo à solidariedade, a Província daBélgica-Holanda, naquele tempo, criou um fundopara a formação dos formadores africanos e contri-buiu com valores consideráveis, durante dez anos. Asinceridade é outro valor sobre o qual esse congres-so insistiu. Com efeito, todo mundo sabe que amentira produz flores, mas não, frutos. Esse era umapelo a perseverar fielmente na vocação.Sabemos que, por sua integridade, o Ir. Charles Ho-ward foi nomeado observador oficial das eleiçõesdemocráticas, na África do Sul, vendo Nelson Man-dela conquistar a presidência, em 1994.

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DESENVOLVIMENTO: SER FERMENTO DETRANSFORMAÇÃO DE NOSSA SOCIEDADE

É preciso mudar o ditado segundo o qual « não éo faminto que come, mas aquele que tem alimen-to ». Isso é inadmissível na sociedade que procla-ma a solidariedade como um de seus valores fun-damentais.Quando de sua constituição, o Centro Internacio-nal Marista de Nairóbi inspirava-se no contexto dacomunidade de L’Hermitage. Os Irmãos eram pre-parados para serem capazes de tudo. O item dodesenvolvimento era uma das características doprograma de formação. Os Irmãos aprendiam aresponder às necessidades normais da comunida-de. Assim, mantinham oficinas de carpintaria, me-cânica, solda, eletricidade, agricultura e outras.Depois de 15 anos constata-se que era precisoentrar no mundo da interdependência. É precisoser realista: não se pode fazer tudo. No entanto,a formação continua centrada sobre o mistério daRedenção e convida a nela participar ativamente,colocando suas forças e talentos a serviço da so-ciedade. Em vez de estender a mão para receber, épreciso produzir e usufruir com altivez do produtodo próprio esforço. Sobretudo, que todo mundosaiba que “quando recolher se torna fácil demais,curvar-se vem a ser difícil”. Não podemos retornarà civilização da colheita! A terra nos foi dada pa-ra fazê-la frutificar. A África contém riquezas ili-mitadas, mesmo se continua sendo o continentemais pobre porque suas riquezas são motivo deconflitos. Pisa-se sobre tesouros enterrados en-quanto se acaricia a própria miséria. Vamos resig-nar-nos a prolongar essa situação?Quando encaminhamos nosso reconhecimento co-mo Colégio Universitário, a CHE pediu que identi-ficássemos nossa especificidade em relação àsUniversidades do Quênia e aos outros Colégios deNairóbi. Os dois eixos constitutivos muito impor-tantes de nosso programa eram os estudos religio-sos e estudos sobre o desenvolvimento. Nós con-sideramos a paixão por Deus e a compaixão pelahumanidade a razão de ser de todas as outras op-ções. Somente a paixão e a compaixão podemconseguir que os seres humanos aceitem todos osriscos da vida. A audácia e a criatividade são fru-tos desse fogo interior.

Os estudantes e o pessoal do MIC, agora MIUC,são chamados a ser fermento de transformação.Os jovens Irmãos que acotovelam outros estudan-tes são agentes muito importantes. As várias ofi-cinas de trabalho e as atividades extracurricularesfazem escutar os apelos em favor da transforma-ção de nossa sociedade e de nossa Igreja, paraque veiculem todas as mudanças necessárias paraum desenvolvimento humano integral.Charles Howard tinha considerado a encíclica« Sollicitudo Rei Socialis » do Papa João Paulo IIum ’apelo urgente’ para comprometer-nos com omelhoramento da condição humana, e não temosdesculpas:“Nada, pois, diz o Papa, justifica o desespero ou opessimismo ou a inércia. É preciso dizê-lo com tris-teza, mas é preciso dizê-lo; assim como se podepecar por egoísmo e por excessiva vontade de lucroe de poder, podem-se cometer também faltas,quando somos confrontados com as necessidadesurgentes de multidões humanas mergulhadas nosubdesenvolvimento, por temor, por indecisão e,no fundo, por negligência... (Sollicitudo Rei Socia-lis, nº 47).

UMA PROPOSTA PARA CONCLUIR

O MIUC poderia irradiar ainda mais mediante ini-ciativas para reforçar as bases da cultura da paz eda reconciliação. Todos estão de acordo que ocontinente Africano é muito rico em valores quedeveriam conduzir à unidade e à fraternidade uni-versal, mas, infelizmente numerosos aspectos deapartheid constituem uma gangrena destruidorana espera de uma amputação dolorosa. Como foidito acima, o Ir. Charles Howard participou doprocesso de paz na África do Sul, e convida todo

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Marista do continente a contribuir na superação das diversas divisões.Se a formação num meio tão intercultural não conseguir aliviar o pesodo tribalismo, do regionalismo, do nepotismo, da corrupção, do tráficode influência e de todo anacronismo que envilecem a sociedade africa-na, teremos investido inutilmente em pessoal e em material. Teremosabafado o fogo que queimava no coração do Ir. Charles Howard quandodizia que nossa vocação é ser irmãos de todos: TO BROTHER.Com o chamado do Papa Bento XVI a construir uma paz justa e dura-doura, na África, o ‘Marist International University College’ deveriafazer da evangelização sua primeira prioridade, transversal a todos osseus programas. O Papa afirma que “o rosto da evangelização toma,hoje, o nome de reconciliação, condição indispensável para instaurarna África relações de justiça entre os homens e para construir uma pazjusta e durável, no respeito a cada indivíduo e a todos os povos; umapaz que [...] se abre à contribuição de todas as pessoas de boa vonta-de, acima dos grupos religiosos, étnicos, linguísticos, culturais e sociaisrespectivos” (Africae Munus, 174).Este chamado ressoa muito forte nesse continente rasgado por guer-ras civis e por lutas de influência. A evangelização deveria atingir asprofundezas da cultura e transformá-la a fim de que os valores africa-nos de fraternidade, de solidariedade, de generosidade, de acolhimen-to, de relação com o divino, de respeito à criação, etc., sejam vividosefetivamente, além das considerações de clãs e tribos. O fruto da ex-

periência internacional e intercultural deve ser a paz, a reconcilia-ção e a justiça e a superação de toda forma de chauvinismo.

Em última análise, a internacionalidade e a interculturalida-de devem colocar fim ao apartheid que subsiste ainda nos

corações e nas atitudes de grande número de africanos, Irmãosinclusive.

Quer se trate de políticos de todos os partidos ou de pregadoresde todas as denominações, os africanos proclamam bem alto: ”umade nossas armas poderosas é o diálogo” ou ainda “nós somos umpovo de paz e de tolerância”! E o que constatamos? Certamente, há

um fundamento para o diálogo, para a paz e a reconciliação, comovalores proclamados, mas ele é muito frágil; com efeito, assistimos acorridas cegas atrás de ideólogos sedentos de poder, em detrimentodos concidadãos. Para responder a uma necessidade tão urgente na

África, não deveríamos desenvolver o diálogo em nossos progra-mas de formação e em nossas obras? Eu gostaria de propor

que a promoção da paz e da reconciliação constituísseum dos elementos importantes de um curso sobre asolução dos conflitos, a ser introduzido no programados Irmãos e de outros estudantes do MIUC. Haveria

possibilidade de inspirar-se na ‘Comissão Verdade e Re-conciliação’, da África do Sul. Sabemos também que os Je-

suítas acabam de criar um Instituto para a Paz (Peace Institu-te), e eles poderiam nos enriquecer.

Ir. Eugène KabangukaAS PEGADAS DEIXADAS PELO IR. CHARLES HOWARD NA ÁFRICA

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A obra e o desenvolvimento do MAPAC-Ásia-Oceania:

Previsão e coragemde abrir centros

de formação internacional

Era um verão quente em maio de 1977, e euensinava catecismo para as crianças do vila-rejo próximo quando tive a oportunidade deconversar com o Ir. Charles. Nós nos senta-

mos sob uma árvore e ficamos ao mesmo tempo observando as crian-ças brincando no campo. Estas crianças estavam passando ali algunsdias de férias da escola pública. Para mantê-los ocupados durante otempo de férias da escola, alguns irmãos organizavam atividades de-

Eu encontrei pela primeira vezo Ir. Charles Howard quan-

do eu era um jovem escolásticoem Marbel, Cotabato do Sul,nas Filipinas.

Ir. Manuel V. de Leon

Ir. Charles inaugura o MAPAC - Junho de 1993

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nominadas “Flores de maio”, reunindo as crianças dos vilarejos da re-gião em torno da devoção a Nossa Senhora e ao mesmo tempo paralhes falar das histórias da Bíblia e lhes ensinar as orações básicas.A esse tempo, ele tinha sido recentemente eleito conselheiro geral eestava visitando as Filipinas. Desde o nosso primeiro encontro ele meperguntou a respeito de meu contexto familiar e de minha vida comojovem irmão. Ele me impressionou pela sua abordagem, pela delicadezae pelo grande interesse pelos jovens. Durante esta entrevista (o acom-panhamento não estava ainda muito difundido neste período), ele pô-de fazer algumas observações sobre as crianças que corriam em torno.Em 1985, ele foi eleito superior geral. Como superior geral, suas visitasàs Filipinas se tornaram mais frequentes. Ele pregou um retiro e organi-zou um Capítulo provincial em 1988. Foi particularmente neste encontrodos irmãos que o Ir. Renato Cruz foi empossado como provincial, enquantoele ainda prestava serviços no Conselho geral.Durante seu mandato como superior geral, ele teve uma ampla visão e acoragem de abrir duas casas internacionais de formação de pós-novicia-do em Nairóbi, no Quênia, e em Marikina, região metropolitana de Mani-la, nas Filipinas.Destas duas casas de formação, posso falar unicamente do Centro maristada Ásia (MAC), que mais tarde tornou-se o Centro marista da Ásia Pacífi-co (MAPAC).Eu fui diretor da escola marista de Marikina de 1988 até 2003. Nos pri-meiros anos deste período à frente da escola, fui testemunha das visitasde irmãos da Administração geral, inclusive acolhendo o Ir. Charles quan-

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Ir. Manuel V. De LeonPREVISÃO E CORAGEM DE ABRIR CENTROS DE FORMAÇÃO INTERNACIONAL

Ir. Charles com grupo de Irmãos

nas Filipinas, 1988

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do veio a Manila. Não sabia muito bem o que aconte-cia na ocasião, até que fomos informados que procu-rássemos uma casa localizada fora do campus da escola,porque a residência dos irmãos se transformaria em ca-sa de formação para os irmãos que estavam terminan-do o noviciado em Tamontaka, cidade de Cotabato.Naquele tempo, havia irmãos procedentes da Índiae do Sri Lanka que faziam sua formação do novicia-do nas Filipinas. Alguns anos depois, vieram tambémirmãos do Paquistão, da Malásia e da Coréia do Sul.Em 1994, depois que foram concluídas as instalaçõesatuais, os superiores da região Pacífico ou Ocenia de-cidiram enviar os jovens irmãos de Pápua Nova Gui-né, das Ilhas Salomão, do Kiribati, de Samoa, de Fi-ji, de Tonga e de Vanuatu.Atualmente, o MAPAC abriu suas portas a outrascongregações religiosas para que façam ali sua for-mação, inclusive irmãs vindas do Vietnã. Neste mo-mento, um irmão vindo da China continental, per-tencente à província Ásia Leste, está completandoseu terceiro ano de estudos escolásticos. Dentro dedois anos, os irmãos do setor da Missão Ad Gentes es-tarão vindo ao MAPAC para a sua formação de pós-noviciado.Para garantir uma efetiva e eficiente realização dosprogramas do centro, o Conselho Diretor do MAPAC,composto dos superiores das províncias e distritose do vigário geral, representando a Administração ge-ral, está autorizada a supervisionar e monitorar di-retamente as atividades do centro. Duas vezes porano, todo o conselho e a direção se encontram emManila. Durante estes encontros, os programas sãoavaliados e os membros da equipe de formadores eos estudantes são consultados a respeito de assun-tos de caráter imediato ou a longo termo.O Ir. Wenceslao Calimpon foi convidado pessoalmentepelo Ir. Charles para voltar às Filipinas e se tornar oprimeiro reitor do centro, depois de ter passado trêsanos em trabalho missionário em Pápua Nova Gui-né. Ele teve a assistência do Ir. Alfredo Herrera, dodistrito da Coréia, enquanto o Ir. Columbanus Pratt,companheiro do Ir. Charles, ficou com a responsa-bilidade pela construção do prédio.Dentre os irmãos que prestaram serviço como reitor es-tão: Ir. Wenceslao Calimpon, Ir. Alfredo Herrera, Ir. CarlTapp, Ir. Paterno Corpus, Ir. Jeff Crowe e Ir. DesmondHoward. Atualmente, o reitor é o Ir. Peter Rodney.

Eu encontrei o Ir. Charles Howard há cerca de 25 anos, em dezembro de 1987. Era o meuterceiro ano como professo perpétuo entre os Irmãos Maristas. Tínhamos um retiro anual com ele, na casa dos Padres Passionistas, em Calumpang, Cidade de General Santos, nas Filipinas. Ele chamou todos os membros da Província marista das Filipinas e teve uma pequena conversa pessoal com cada um em particular. Eu não me esqueço da pergunta queme fez: “Você ama a sua vocação?” Eu dissesimplesmente sim, e ele acrescentou: “Obrigado,Irmão; por favor, reze por mim e vamos rezar um pelo outro”. Deixando-o na sala de reuniões, eu fiquei maravilhado com o tipo de questão que me fez, e ainda mais com o tom de sua voz e seusgestos. Ele era muito paterno! Esta foi a imagemimpressa em minha memória e da qual sempre melembrarei. Agradeço ao Senhor pelo Ir. CharlesHoward; foi um dom para o mundo marista..SR. MODESTO T. PAGCO, CIDADE DE COTABATO, FILIPINAS

Depois de mais de 20 anos de existência, o MAC ou MAPAC formou irmãos que atualmente ocu-pam funções importantes em diversas províncias edistritos. Durante dois períodos, dois de seus di-plomados prestaram serviços no centro fazendoparte da equipe de formação. São eles os irmãos John Hazelman e Roshan Silva, um deles sendo subs-tituído pelo Ir. Simon Serero, de Pápua Nova Guiné.O atual diretor dos noviços nas Filipinas é o Ir. Lin-dley Sionosa, que também teve a sua formação noMAPAC.O Ir. Charles não apenas deixou um marco na insta-lação do MAPAC, mas antes que o centro existisse eleviajou à China para se encontrar com nossos irmãos,que se sentiram reforçados em sua fé e lealdade àcongregação e à Igreja, apesar das dificuldades de-vidas ao isolamento e à perseguição pelo regime co-munista. Ele tentou até atrair um candidato, que entrouno noviciado, mas deixou.O Ir. Charles pode ter partido, mas sua memóriaestá viva. Ele será sempre lembrado. Seu legadonas mentes e nos corações das pessoas, cujas vi-das foram tocadas por ele, nos inspira a fazernossa parte, fazendo a diferença, seja ela grandeou pequena.

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HOMENAGEM A Ir. CHARLESWARD

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A IDEIA ESSENCIAL DE FAMÍLIA MARISTA

[…] Sinto muito o falecimento doIr. Charles Howard, com quem

tive ocasião de conviver durante o mêsde estada na Casa Geral para pintar o mural da Família Marista. A ini-ciativa de pintar esse mural surgiu, como tantas outras relacionadas coma imagem de Champagnat, do Ir. Agustín Carazo, naquele momento Pos-tulador geral. Durante semanas, antes de ir a Roma , estive fazendo es-boços sem conhecer exatamente o espaço real, de modo que tive de reor-ganizar minhas ideias e começar de novo, embora mantendo a ideia es-

DIZ-SE DE

CHARLESHOWARD

Painel da FamíliaMarista

na Casa Geral.Pintado por Goyo.

Detalhe:Ir. Charles Howard,

Ir. Francisco eMarcelino

Gregorio Domínguez(Goyo), Espanha

Se pretendemos conhecer a personalidade de uma pessoa, sem dúvidas pode ser útil

ver as fotografias tiradas dela ou também fazer uma entrevista com quem tentou representá-la num quadro. Nesse campo, poderíamos dizer que o nosso Ir. Charles era parecido com São Marcelino Champagnat, que nunca quis ser retratado.Aqui você encontra os testemunhos dos artistas que fizeram o seu retrato e, em seguida, um álbum com fotografias.

5.Álbum de fotos

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HOWARD HOMENAGEM A Ir. CHAR

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sencial de Família Marista, em que Marcelino nos in-dica o caminho, que é Maria, para chegar a Jesus epor Jesus a todos os nossos semelhantes. Como a grande Família Marista inclui os IrmãosMaristas, os Padres Maristas e as Irmãs Maristas,o Ir Agustín Carazo me pediu para incluir a fotodo Irmão Charles como representante de todos osIrmãos nesse momento, e possivelmente, umpouco com a ideia de prestar-lhe uma homena-

gem e proporcionar ao Irmão Charles uma surpre-sa. Eu pintei o quadro baseado numa foto que oIrmão Agustín me proporcionou, e, quando acheique estava pronto, o Irmão Agustín convidou oIrmão Charles para vê-lo. Na verdade, sua reaçãonão foi aquela que nós esperávamos. Não gostoude ver-se no mural; imagino que se deva a seuespírito de humildade. Desse modo, o que fiz en-tão foi esmaecer os traços para que sua imagem

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[...] O principal problema - talvez a sorte ou a “graça” - foi que o Irmão Charles e seus

Conselheiros não estavam em Roma (ferragosto), e ele nunca me indicou claramente como

queria essa pintura mural da Família Marista. Parece que queria algo simbólico: uma grande

“árvore” com 4 ramos da FM, visto que na Oceania é uma realidade palpável. Porém, Goyo

entendia outra coisa por “Família Marista”, ao redor de Champagnat e sua obra dos Irmãos.

[...] Goyo começou a pintar os quatro “núcleos” de pessoas: “Marcelino” que convida a entrar

em um ambiente familiar - com fotos de família - e conhecer o trabalho dos Irmãos na

educação, a atenção às crianças e jovens, ao redor e do jeito de Maria - com simplicidade e

carinho para que esses “alunos” já (trans) formados sejam capazes de anunciar a Jesus e

entregá-lo aos “necessitados” (que vivem nas trevas, na dor, na solidão)...

[...Depois] de quando em vez, o Irmão Charles descia para ver, e voltava com ares de

satisfação; embora me tenha questionado por eu haver sugerido incluir sua foto ao lado do

Irmão Francisco [primeiro Superior Geral e ele como o atual]. Por essa razão se “repintou”

retirando-lhe destaque na cor.

[...] Acredito que o mérito maior do Irmão Charles está em ter buscado e encontrado

elementos substanciais da pessoa e da espiritualidade de Marcelino, que depois transmitia

por meio de suas Circulares. Porém, quanto ao desejo de pintar “a árvore dos quatro ramos”,

para representar a grande Família Marista, parece-me que não esteve tão inspirado quanto

o foi Goyo, com seus talentos de artista plástico e com coração marista..

Ir. AGUSTÍN CARAZO A.

COLEGIO N. SRA. DE ANDACOLLO, LA SERENA , CHILE

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ficasse velada ou apenas vislumbrada. Penso que o Irmão Agustín deveter-se exercitado em seus dotes diplomáticos para que, finalmente, oIr Charles aceitasse ver-se cada dia na pintura mural. Recordo commuito carinho aquele mês e a ajuda que a comunidade dos Irmãos es-tudantes me proporcionou para a colocação do mural. Meus detalhespreferidos nessa obra são: o pequeno vaso de cristal com as violetas, aimagem de Maria e o grupo da direita ao redor de Jesus.

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C omo pintor profissional, eu tive o privilégiode pintar o retrato do Irmão Charles Howard.

Inicialmente um grande quadro, quase de corpointeiro, para o colégio St. Joseph, de Hunters Hill,e em seguida, um estudo menor para a Casa ge-ral dos maristas, em Roma. O Dr. Tony Bookallil,um dos ex-alunos do Colégio St. Joseph, foiquem me indicou para o primeiro trabalho, en-quanto o segundo foi um pedido de Roma.As sessões de pintura foram organizadas com quaseum ano de antecedência, porque o Ir. Charles tinhauma agenda muito intensa. Durante o tempo que pas-sou na Austrália, o Ir. Charles permaneceu em meuestúdio, durante seis longos dias, com paciência e coo-peração. À medida que as sessões progrediam, um

grande entendimentonasceu entre nós, oque considero um ele-mento necessário parapoder transmitir na pintura o espírito da pessoa.Algum tempo depois de terminado o trabalho, oIr. Charles aceitou, com relutância, uma cerimô-nia de inauguração do grande retrato no ColégioSt. Joseph, mas me confessou, com grande hu-mildade, que gostaria de estar “50 mil milhas lon-ge dali”. A cerimônia de apresentação do quadrofoi uma noite muito especial para todos os parti-cipantes e foi a última ocasião em que estive como Ir. Charles. As lembranças do meu contato pessoalcom esse homem especial são ainda muito vivas.

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Quadro que se encontra na “Galeria dos Superiores” da Casa geral

Yve Close, Sydney,Austrália

O PRIVILÉGIO DE PINTAR O RETRATO DO Ir.CHARLES HOWARD

Quadro que se encontra no Colégio S. Joseph, Austrália

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1. IR. CHARLES HOWARD COM SEU PAI3. IR. CHARLES HOWARD COM

IR. BASÍLIO RUEDA, NO CAPÍTULO GERAL DE 19764. IR. CHARLES HOWARD

NO XIX CAPÍTULO GERAL COM OS IRMÃOS BASILIO E BENITO ARBUÉS

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5 E 6. XVIII CAPÍTULO GERAL :

IRMÃOS NA AUDIÊNCIA COM

O PAPA JOÃO PAULO II.

7. IR. CHARLES HOWARD

NO SÍNODO DE 1990.

8. UMA DAS FOTOGRAFIAS OFICIAIS

DO IR . CHARLES HOWARD

COMO SUPERIOR GERAL6

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1, 2, 3 E 4. ILHAS DO PACÍFICO

5. IR. CHARLES HOWARD

COM O CARDEAL

DE MOÇAMBIQUE

6. FIJI. CERIMÔNIA YAQONA

DE BOAS-VINDAS.

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1. VISITA

A PAPUA-NOVA

GUINÉ

2, 3 E 4. IR. CHARLES

HOWARD VISITA

O BRASIL

5. IR. CHARLES

HOWARD

NÀ ARGENTINA

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1, 2, 3, 4 E 5.

IR . CHARLES

COM OS IRMÃOS

NA CHINA

6. IR . CHARLES

EM SAMOA

7. IR . CHARLES

EM FIJI

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3. IR. CHARLES HOWARD, MARÇO DE 20074. IR. CHARLES HOWARD COM UMA DE SUAS SOBRINHAS

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5. IR. CHARLES HOWARD COM IR. KEVIN WILLITS, 2010

6 E 7. O IR. CHARLES HOWARD RECEBE UM DOUTORADOHONORÁRIO DA AUSTRALIANCATHOLIC UNIVERSITY,2000

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1, 2 E 3. FUNERAL DE

IR. CHARLES

HOWARD.

20 DE JANEIRO

DE 2012.SEQUÊNCIA

4. IR. EMILI,SUPERIORGERAL

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1. IR. JEFF CROWE,PROVINCIAL DE SYDNEY2 E 3. DOM PHILIPE. WILLSON,ARCEBISPO DE ADELAIDE, EX-ALUNO DO IR . CHARLES

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Page 100: Ano XXVI - n° 42 - Setembro 2012 · 4. Parte da herança do Ir. Char-les Howard - Suas Circulares e o desenvolvimento da obra marista, na África e na Ásia - Oceania. 5. Álbum

[...] Fomos abençoados nos bons anos em que vocêesteve entre nós. Sua presença muito nos enriqueceu,suas ideias nos tornaram mais sábios, seu modo de vivere de agir nos tornou mais conscientes de nossasresponsabilidades. Continue a rezar por nós, como sempre o fez, e nunca cesse de estar conosco de formas novas: desafiando-nos a ser melhores do que somos, homens e mulheres generosos,enamorados de Deus e inflamados pela Boa-nova de Jesus Cristo.E a nós, que somos seus Irmãos, auxilie-nos a realizar o sonho desse simples vigário do interior, PadreMarista e nosso Fundador: ajude-nos a fazer de modoextraordinário as coisas ordinárias e a amar com amorextraordinário. Sim, continue a mostrar-nos o que significa ser Champagnat nos dias de hoje: homens de fé, com o coração voltado para os pobres e sempre prontos a evangelizar os jovens.

Ir. Seán Sammon