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pág. 13 A história e os desafios da Psicologia da Aviação no Brasil pág. 08 Trabalho, ética e normas na era das tecnologias de comunicação Quebra de sigilo para combate ao feminicídio pág. 15 pág. 12 Os números das eleições do Sistema Conselhos de Psicologia Ano XXVII, nº 114 - Dezembro 2016

Ano XXVII, nº 114 - Dezembro 2016 - site.cfp.org.br · sustentável e em defesa da justiça ... nada à violência contra a mulher, e ... de atuação das e dos profissionais da

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A história e os desafios da Psicologia

da Aviação no Brasil

pág. 08

Trabalho, ética e normas na era das tecnologias de comunicação

Quebra de sigilo para combate ao

feminicídiopág. 15

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Os números das eleições do Sistema Conselhos de Psicologia

Ano XXVII, nº 114 - Dezembro 2016

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Conselho Federal de Psicologia Conselho Federal de PsicologiaJornal do Federal - Dezembro 2016 Jornal do Federal - Dezembro 2016

Editorial

C o n s e l h oFederal dePsicologia

Ano XXVII, nº 114 - Dezembro 2016

SAF SUL, Quadra 2, Lote 2, Bloco B, Ed. Via Office, Térreo, sala 104CEP: 70.070-600 - Brasília/DF BrasilFone: (61) 2109-0100 - FAX: (61) 2109-0150www.cfp.org.br

F /conselhofederaldepsicologiaT @cfp_psicologia

DIRETORIARogério de Oliveira SilvaPresidenteMeire Nunes VianaVice-PresidenteMaria da Graça Corrêa JacquesTesoureiraVera Lucia MorselliSecretária

CONSELHEIROS EFETIVOS

Madge Porto CruzSergio Luis BraghiniRoberto Moraes Cruz

Lurdes Perez ObergSecretária Região Sudeste

Dorotéa Albuquerque de CristoSecretária Região Norte

PSICÓLOGOS CONVIDADOS

Nádia Maria Dourado RochaRosano Freire Carvalho

CONSELHEIROS SUPLENTES

Viviane Moura de Azevedo RibeiroJoão Carlos Alchieri

Roberto Moraes CruzSuplente Região Sul

PSICÓLOGOS CONVIDADOS SUPLENTES

Jefferson de Souza Bernardes

COLETIVO AMPLIADO

Ana Maria Jacó-VilelaMemória da Psicologia

Bárbara de Souza ContePsicoterapia

Carla Andréa RibeiroAssistência Social

Luciana Ferreira ÂngeloPsicologia do Esporte e da Atividade Física

Marco Aurélio Máximo PradoDireitos Humanos

Raquel GuzzoEducação e Assistência Social

Rodrigo Tôrres OliveiraPsicologia Jurídica

Silvia KollerRelações com a BVS-PSI

Tânia GrigoloSaúde Mental

Vera PaivaDireitos Humanos

COORDENADOR GERAL

José Carlos de Paula

COORDENAçãO DE COMUNICAçãO SOCIAL

Maria Goes de Mello

JORNALISTA RESPONSÁVEL

Maria Goes de Mello (MTB 9088)

REPORTAGEMAndré Martins de AlmeidaGisele BarbieriMaria Goes de MelloPedro BiondiSílvia Alvarez

REVISãO

Maria Goes de MelloPedro Biondi

ARTES

Marcelo CoutinhoMarcos Cavalcante Nobre

FOTO CAPA

Marianna Cartaxo | Mídia NINJA

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAçãO

Seu Conselho

Criação de novas comissões marcou o último triênio do CFPInstâncias buscaram assessorar e orientar a categoria em dife-rentes temas. Jornal do Federal faz um balanço das atividades

A partir do Planejamento Estraté-gico Plurianual (PEP) do 16º Plená-rio do CFP, que indicou a formação de comissões em diversas áreas da Psicologia, grupos de profissionais se organizaram para estudar, asses-sorar e orientar a categoria em dife-rentes temas durante o triênio 2014-2016.

Como resultado, cinco novas comissões passaram a funcionar na autarquia, dando vazão às de-mandas, dúvidas e questões levan-tadas pelas(os) profissionais. Jun-taram-se às comissões já existen-tes – a de Avaliação Psicológica e de Direitos Humanos – as novas instâncias que trabalharam com os temas de Gestão de Riscos e De-sastres, Educação, Assistência So-cial, Psicologia Jurídica e Psicolo-gia do Trânsito.

Apresentamos a seguir um ba-lanço dos trabalhos dessas instân-cias nos últimos três anos. Confira.

Comissão de Psicologia na Gestão Integral de Riscos e de Desastres

A importância da atuação da (o) psicóloga (o) na gestão de situa-ções de emergência e desastres já foi abordada em edições anterio-res do Jornal do Federal. A Comis-são Nacional do CFP que estuda e trabalha com essa temática realizou diversas atividades com o objetivo de fomentar e orientar os profissio-nais no tema.

Em parceria com os Conselhos Regionais, foram realizadas oficinas em diversas capitais do país. Na re-gião Sudeste, a Comissão comemo-ra a realização de uma oficina por estado. Dez módulos de um curso disponível na plataforma OrientaPsi e a elaboração de uma nota técnica com diretrizes sobre a atuação de psicólogos nesse campo comple-

tam o quadro das principais ativida-des realizadas.

Na avaliação de Ionara Rabelo, uma das coordenadoras, o grupo de profissionais que participou dos trabalhos da Comissão vai deixar como legado a ideia de que a atu-ação da (o) psicóloga (o) deve en-globar todo o processo de gestão do risco e do desastre (prevenção, mi-tigação, preparação, resposta e re-cuperação) - sempre em conexão com a realidade e atores locais. Este foi o motivo pelo qual se optou por mudar o nome da Comissão, antes intitulada “Comissão de Psicologia nas Emergências e Desastres”.

Eliane Martins, também coorde-nadora da comissão, complemen-ta essa avaliação, destacando a im-

portância da atuação conjunta de várias áreas profissionais no proces-so de prevenção, resposta e mitiga-ção de situações de emergência. “O atendimento do desastre é multi-profissional e interdisciplinar e nós precisamos de todos esses olhares, inclusive de dentro da Psicologia, suas epistemes, pra poder dar conta de gerenciar um desastre”, diz.

Comissão Nacional de Psicologia na Educação – PsinaEd

A Comissão Nacional de Psico-logia na Educação centrou os traba-lhos em torno de três eixos temáti-cos: “Psicologia na Educação: Exer-cício Profissional”, “Psicologia na Educação E Formação Profissional”

No último Jornal do Federal de 2016, o 16º Plenário se despede após três anos de intenso trabalho em prol de duas agendas da Psico-logia. Na primeira, buscamos pau-tar o Exercício Profissional do pon-to de vista do trabalho, do fazer da-quelas e daqueles que se ocupam em levar adiante uma profissão ain-da por demais precarizada e avilta-da quanto aos seus direitos básicos. Nesta edição, esse eixo é represen-tado em matérias como a que conta sobre as articulações feitas recente-mente pelo Conselho para aperfei-çoar ampliar a presença da avalia-ção psicológica nos procedimentos ligados à habilitação de conduto-res, além de artigo que discute os impactos das novas tecnologias no exercício profissional.

A segunda grande agenda, a Psi-cologia na Sociedade, representa

uma forma de discutir e apresentar as contribuições que a ciência e a profissão psicológica podem e de-vem trazer para a nossa sociedade, buscando sempre uma perspecti-va de desenvolvimento solidário, sustentável e em defesa da justiça social e dos direitos humanos. Es-ses debates também são refletidos aqui, como no texto que explicita a importância da orientação profis-sional de quebra de sigilo em caso de vulnerabilidade extrema relacio-nada à violência contra a mulher, e em matéria sobre o reconhecimen-to, por parte do STF, da representa-tividade do CFP para atuar na Justi-ça em causas ligadas a orientação sexual e/ou identidade de gênero.

Todavia, diante da conjuntura política do nosso país, não nos fur-tamos ao dever de nos posicionar em relação ao que se passa na so-

ciedade brasileira. Assim já o fize-mos, em nota que explicitou que as decisões tomadas pelos acordos políticos dos que deveriam nos con-duzir a um cenário de estabilidade estavam, em realidade, levando-nos ao encontro de uma provável tra-gédia social e política. Infelizmen-te, estávamos corretos. A crise em que hoje estamos mergulhados não provém de problemas meramente econômicos, trazidos à tona por re-presentações políticas e pela nossa mídia parcial, retrógrada e reacioná-ria. Trata-se do retorno da opressão sobre os que sempre tiveram menos direitos, da retirada de conquistas trabalhistas, do aumento discrimina-ção racial e da violência em relação às mulheres, da imposição de religi-ões, da criminalização de crianças.

O grande mote da reação con-servadora em curso não se insere na

economia e na moralidade política, mas na não aceitação dos avanços das conquistas das mulheres, dos pobres, da população LGBT, dos ne-gros, das crianças e adolescentes de nosso país nos últimos anos.

Não nos furtaremos ao dever de denunciar o que se passa neste ins-tante histórico em nosso país. Nesse sentido, apresentamos também al-gumas publicações que pretendem contribuir para o avanço de nossa democracia, como “O Louco Infra-tor e o Estigma da Periculosidade” e “Aborto e (Não) Desejo de Materni-dade(s): Questões para a Psicologia.

Ao mesmo tempo que agrade-cemos e encerramos esta gestão do CFP, reiteramos nossa posição contrária ao golpe dos homens brancos, ricos e hipócritas que hoje querem fazer o Brasil mergulhar nas trevas.

Olá,

e “Políticas de Inserção da Psicolo-gia no Campo Educacional”.

Artigos, notícias, contribuições teóricas e legislações sobre estes eixos foram organizados e disponi-bilizados no site www.psinaed.cfp.org.br - criado para dar visibilidade ao tema da Psicologia da Educação junto à categoria. Também foram realizados cinco debates online que abordaram questões como o Siste-ma Nacional de Educação e a diver-sidade e relações étnico-raciais na escola.

A Psicologia Escolar recebeu es-pecial atenção, tendo sido tema do 2o Seminário de Psicologia na Edu-cação, realizado pelo CFP em parce-ria com a PUC-Campinas em agosto, e também motivou a publicação do

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livro “Psicologia Escolar: que fazer é esse?” (saiba mais na página 11).

As coordenadoras Meire Nunes e Raquel Guzzo fazem um balanço po-sitivo dos trabalhos, apontando como principal contribuição a ideia de que o profissional da Psicologia pode efe-tivamente contribuir com a melhoria da educação brasileira, indo além do papel da assistência psicológica.

Comissão Nacional de Psicologia na Assistência Social - Conpas

Conforme o Censo Suas 2013, re-alizado pelo Ministério de Desenvol-vimento Social, 22.882 psicólogas (os) atuam na política de assistên-cia social em todo o país, conside-rando os serviços em unidades pú-blicas estatais e gestão do Sistema Único de Assistência Social (Suas).

O compromisso com esse núme-ro expressivo de psicólogas (os) que atuam na Assistência Social resultou na criação da Comissão, cujos esfor-ços para acolher as dúvidas e inquie-

tudes da categoria envolveram a pro-dução de dez debates online e em um curso introdutório à Política de Assis-tência Social, disponível na platafor-ma OrientaPsi. Além disso, diversos materiais sobre o tema foram reuni-dos no site www.conpas.cfp.org.br.

O acúmulo das discussões deu forma ao 3º Seminário Nacional de Psicologia na Assistência Social, com o tema “Exercício profissional e avanços ético-políticos”, realizado nos dias 22 e 23 de agosto deste ano. As atividades regulares de represen-tação do CFP no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e no Fórum Nacional de Trabalhadores do Suas (FNTSuas) também fizeram parte da agenda da Comissão.

De acordo com o coordenador Enrico Braga, os principais temas abordados nas atividades desenvol-vidas foram a formação profissio-nal, a produção e elaboração de do-cumentos, a interdisciplinaridade, as relações com o sistema de Justi-ça e a reformulação dos parâmetros

de atuação das e dos profissionais da Psicologia no âmbito do Suas.

Este último tema deu origem à Nota Técnica 1/2016 – Conpas/CFP – documento elaborado a partir de consulta pública que contou com a participação de mais de 550 profis-sionais de todas as regiões do país. A versão final do documento com os novos parâmetros para atuação no Suas está prevista para ser publi-cada ainda em dezembro.

Braga avalia que, em tempos de retrocesso de direitos nos campos das políticas públicas, “é fundamen-tal a continuidade e a permanência de discussões e trabalhos que certa-mente resultarão em orientações e iniciativas fiscalizatórias mais asser-tivas e, principalmente, articuladas à especificidade da atuação profis-sional dos psicólogos no Suas”.

Comissão de Psicologia Jurídica

Na opinião do coordenador Ro-drigo Tôrres, a criação da Comissão

de Psicologia Jurídica foi um mar-co importante para a categoria, pois permitiu um importante espaço de interface da profissão com o Direito – um dos campos teóricos e práti-cos mais antigos, em que hoje atu-am milhares de psicólogas (os).

Um trabalho de destaque reali-zado conjuntamente com a Comis-são de Direitos Humanos (CDH) da autarquia foi a inspeção de mani-cômios judiciais de 17 unidades da Federação e do Distrito Federal, que resultou na publicação de um livro em parceria com a Ordem dos Ad-vogados do Brasil (OAB) e a Asso-ciação Nacional do Ministério Públi-co em Defesa da Saúde (Ampasa), e na realização do seminário “A Des-construção da Lógica Manicomial: Construindo alternativas”.

A Comissão também se engajou em temas como a redução da maio-ridade penal, sistema prisional, me-didas socioeducativas e o estigma da periculosidade do louco infrator – este último também transformado

em livro. O acúmulo das discussões se concretizou em publicações, de-bates online, seminários e na cons-trução de pareceres técnicos em resposta a demandas dirigidas ao CFP neste área.

“Todas as pautas, pareceres, li-vros, relatórios, participações em eventos, debates, audiências publi-cas etc. tiveram sempre a exigên-cia do compromisso da Psicologia e de suas práticas com os Direitos Humanos e a promoção de uma ci-dadania inclusiva e participativa”, apontou Tôrres.

Avaliação Psicológica - CCAP

Em atividade desde 2003, a Co-missão Consultiva em Avaliação Psicológica ganhou uma programa-ção inédita neste ano: palestras iti-nerantes, nas cinco regiões do país, debateram a avaliação psicológica no Brasil, o papel da CCAP e assun-tos referentes ao Sistema de Ava-liação de Testes Psicológicos (Sa-tepsi). Gratuitas e abertas a toda a categoria, as atividades ocorreram em Belém, Brasília, Salvador e Flo-rianópolis.

Também inéditas foram as reu-niões realizadas com editoras de materiais psicológicos. O primeiro encontro, em setembro de 2015, foi um momento importante para dis-cutir questões relacionadas ao uso profissional de instrumentos psico-lógicos e à modernização de nor-mas e critérios técnicos associados tanto à utilização quanto a comer-cialização desses materiais. Na se-gunda reunião, realizada em julho de 2016, a atualização de normas sobre testes psicológicos foi um dos principais assuntos debatidos, além de solicitações de Conselhos Regionais quanto à distribuição de normas, a venda de livros de tabelas normativas e as dúvidas da catego-ria quanto ao seu uso.

Em 2014, a CCAP acompanhou o desenvolvimento do novo Siste-ma de Testes Psicológicos – Satepsi, lançado em novembro de 2013. A ferramenta apresenta agora maior interatividade com a categoria, edi-

toras e sociedade, por meio do uso de conceitos modernos de visua-lização e práticas para emissão de pareceres e relatorias eletrônicas. Com isso, busca-se agilidade e qua-lidade no acompanhamento das avaliações e consulta aos testes psi-cológicos.

No triênio 2014-2016, foram re-cepcionados 29 testes para avalia-ção no Satepsi. Entre eles, dezesseis receberam parecer favorável, doze foram considerados desfavoráveis, e dois continuam em análise.

Resoluções, emissão de pare-ceres e notas técnicas também constituíram o dia a dia dos traba-lhos da Comissão. Destacamos a Nota Técnica 2/2016, referente a testes psicológicos em ambiente virtual. O texto recomenda a ado-ção de cuidados referentes a inte-gralidade, sigilo e atenção aos di-reitos do usuário na utilização de resultados dos testes.

Comissão de Psicologia do Trânsito

Com o objetivo de valorizar os profissionais da área de Psicologia do Trânsito que sofrem com baixas remunerações e discrepância de

valores entre as regiões do país, um dos trabalhos de destaque da Co-missão foi a atualização da Tabela de Referência de Honorários do Psi-cólogo, incluindo o item “Avaliação Psicológica para a Carteira Nacional de Habilitação”, com os valores de referência para a realização de ava-liação psicológica no contexto do trânsito.

Outro destaque da atuação do órgão foi a série de cinco encontros, gratuitos e abertos ao público, rea-lizados em capitais ao longo deste ano. Belo Horizonte, São Paulo, Pal-mas, Curitiba e Fortaleza receberam o Seminário Psicologia do Trânsito, que também foi uma oportunidade de desenvolvimento e capacitação profissional.

Por meio de palestras e apre-sentação de pesquisas científicas, os participantes puderam aperfei-çoar o conhecimento sobre a situ-ação do trânsito em suas regiões e as possibilidades e desafios de atu-ação da (o) psicóloga (o) da área.

Comissão de Direitos Humanos - CDH

Apesar da tradição de engaja-mento nas pautas relativas à área

humanos no CFP, o grupo de psicó-logos que assumiu em 2014 a coor-denação da Comissão de Direitos Humanos – a mais antiga da autar-quia, criada em 1998 – identificou uma lacuna na formação da cate-goria acerca da história e dos prin-cípios desses direitos.

Por esse motivo, a Comissão de-dicou parte importante do seu tra-balho à atualização e formação do debate sobre DH utilizando, princi-palmente, as ferramentas digitais do Conselho e a internet, por meio dos debates online, da divulgação de documentários nas redes sociais e da realização de cursos na plata-forma OrientaPsi.

Além disso, como vimos na edi-ção passada do Jornal do Federal, no último triênio a CDH priorizou quatro eixos de trabalho definidos em consonância com o contexto atual do país, a saber: “Enfrenta-mento da Violência de Estado e da tortura”, “Direitos e enfrentamentos às violências de gênero e sexuais”, “Direitos e Assistência aos usuários de drogas e suas famílias” e “En-frentamento das violências associa-das ao racismo e a preconceitos ét-nicos”.

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Conselho Federal de Psicologia Conselho Federal de PsicologiaJornal do Federal - Dezembro 2016 Jornal do Federal - Dezembro 2016

Fortalecendo a profissão

Em busca de participação mais ampla no Código de Trânsito Brasileiro

O Conselho Federal de Psico-logia (CFP) manteve, nos últimos meses, articulações para ampliar a participação da categoria no novo Código de Trânsito Brasilei-ro (CTB). As ações incluíram diá-logos com a comissão especial da Câmara dos Deputados que trata do aprimoramento da legislação.

Em 22 de novembro, o presi-dente do CFP, Rogério Oliveira, reuniu-se com o deputado Sérgio Brito (PSD-BA), relator do Proje-to de Lei (PL) 8.085/14. A propos-ta altera, junto a outros projetos apensados, a Lei 9.503/97, que institui o Código.

Oliveira se comprometeu a en-

caminhar, em nome do 16º Plená-rio da autarquia, um projeto que contemple a ampliação da partici-pação das (os) psicólogas (os) no que diz respeito tanto à avaliação psicológica para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) como aos processos de re-novação do documento e em si-tuações de envolvimento de con-dutores em acidentes graves e cri-mes de trânsito.

“A Psicologia teria o papel de entender se aquele indivíduo tem condição de conduzir um veícu-lo ao longo de toda sua vida. Isso efetivamente garantiria o papel de perito (a) examinador (a) de trân-

CFP participou do debate e das articulações para aperfeiçoar a lei e ampliar a presença da avaliação psicológica nos procedimentos ligados à habilitação de condutores

sito”, afirma. Quando foi fechada esta edição do Jornal do Federal, a contribuição do CFP estava em fase de conclusão.

CompromissoNo começo daquele mês, em

evento na Assembleia Legislativa da Bahia, em Salvador, Sergio Bri-

to garantiu ao presidente do CFP que a retirada da obrigatoriedade da avaliação psicológica não está aventada em nenhuma hipótese. Segundo o relator, embora pudes-se ter sido proposta em algum dos projetos apensos (anexados) à matéria, tal mudança nunca foi o objetivo da comissão que trata da

alteração do Código de Trânsito. “A interpretação do texto de

um artigo deu a entender, o que não era nosso objetivo, que pro-punha retirar o exame psicológi-co da carteira de habilitação. Nos-sa pretensão é fortalecer o exame não só na primeira habilitação, mas também na renovação”, afir-

mou o deputado. O encontro foi o primeiro de uma série promovida em várias capitais pela comissão da Câmara.

SenadoTambém no dia 22, o represen-

tante do CFP se reuniu com a se-nadora Ana Amélia (PP-RS), auto-

ra do PLS 454/2012 – que originou o PL 8.085/14 e gerou polêmica por não fazer menção à avaliação psicológica.

A parlamentar explicou que o projeto em questão trata, exclusi-vamente, de exigir que aulas prá-ticas e testes de habilitação para que motociclistas recebam sua CNH precisam ser feitos no am-biente real, e se comprometeu a evitar eventuais equívocos no tex-to que for aprovado pelos deputa-dos.

“Em nenhum momento faz re-ferência aos testes psicológicos que, a meu ver, são indispensá-veis. No processo legislativo, mui-

tas vezes, um projeto fica desvirtu-ado pelo excesso de apensamen-tos de outras iniciativas que tratam de temas correlatos. O projeto está na Câmara, onde foram apensa-das outras 159 matérias de outros deputados, sob a relatoria do de-putado Sérgio Brito, que terá a in-cumbência de analisar a proposta. Depois, voltará ao Senado e corri-giremos, então, os equívocos”, di-vulgou a senadora em nota.

Em 8 de dezembro, o total de PLs apensados já tinha subido para 166. Acompanhe os traba-lhos da comissão da Câmara e a tramitação do projeto: http://bit.ly/comissaoctb

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Conselho Federal de Psicologia Conselho Federal de PsicologiaJornal do Federal - Dezembro 2016 Jornal do Federal - Dezembro 2016

Artigo/Opinião Fala, psicólog@!

Por Rogério Oliveira*

A Psicologia na superação das vulnerabilidadesHérica Costa, psicóloga potiguar que trabalha no município de Pereiro (CE), conta sua experiência no Cras daquela cidade e sua experiência na área

O espaço “Fala, Psicólog@” desta edição conta a experiência de uma profissional da região Nor-deste, Hérica Costa, técnica de re-ferência no Centro de Referência da Assistência Social (Cras) na ci-dade de Pereiro (CE). Ela falou ao Jornal do Federal sobre sua atua-ção como psicóloga social naquele município, onde trabalha com fa-mílias que se encontram em vulne-rabilidade e que estão inseridas no

Serviço de Proteção e Atendimen-to Integral à Família (Paif).

Confira a entrevista.

Qual é sua área de atuação na Psicologia?

Sou psicóloga formada pela Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte (UNP), no ano de 2011, e especialista em Interven-ção Familiar Sistêmica pelo Cen-tro Universitário do Rio Grande

do Norte (UNI-RN) em 2016. Minha primeira experiência foi

em um Centro de Referência Es-pecializado da Assistência So-cial (Creas) na cidade de Angicos (RN), onde atuei por três meses. Logo depois, comecei a trabalhar em um Núcleo de Apoio a Saúde da Família (Nasf), na cidade de Doutor Severiano, por oito me-ses. Em seguida, comecei atuar como técnica de referência no Cras da cidade de Pereiro (CE), onde estou até os dias atuais.

Como é sua rotina de trabalho?Tenho uma rotina de trabalho

de 40 horas semanais, em que faço atendimento a um público de famílias que se encontram em vulnerabilidade social. Essas fa-mílias são inseridas no Serviço de Programa e Atendimento In-

tegral à Família (Paif), fundamen-tal serviço ofertado pelo Cras, em que são realizadas visitas do-miciliares, atendimentos e acom-panhamento.

Este consiste em um trabalho de caráter continuado que visa fortalecer a função protetiva das famílias, prevenindo a ruptura de vínculos, promovendo o acesso e usufruto de direitos e contribuin-

O que considero mais importante é o vínculo

estabelecido com as famílias que chegam até nós, o

acompanhamento realizado para o enfrentamento das vulnerabilidades sociais”.

O trabalho das (os) profissionais da Psicologia e as novas tecnologias de comunicação

A Psicologia, a partir de sua re-gulamentação e da criação dos conselhos de classe, recebeu da sociedade brasileira a incumbên-cia de zelar por seu exercício vi-sando garantias básicas. Destas, destacam-se a ética e o rigor cien-tífico.

Ocorre que ambas não são está-ticas, mas devem e podem acom-panhar a evolução da sociedade em que estão inseridas. Para tanto, é necessário observar sempre a re-lação possível de ser estabelecida e que garanta o avanço do conhe-cimento sem produzir prejuízos às cidadãs e aos cidadãos.

Com o avanço das tecnologias de comunicação, via o incremen-to das redes sociais e dos apare-lhos de mobilidade (com desta-que para os smartphones), novos desafios se colocam para as e os profissionais, as instituições de formação, os conselhos de classe e as demais entidades da Psicolo-gia. Um, em especial, se apresen-ta com urgência e requer dessas pessoas e entidades um conjunto de respostas: o uso do meio virtu-al para orientar, acompanhar e dar suporte terapêutico aos sujeitos que assim o desejarem.

Quando iniciaram o processo de discussão e apropriação dos impactos dessas tecnologias no exercício profissional, os conse-lhos de classe não foram capazes de prever quais mecanismos sur-giriam e como poderiam interfe-rir nas prestações de serviço à so-ciedade, negativa e positivamente. Em uma década – período decor-rido desde o início desse debate – as comunicações em geral, ten-do a internet como epicentro, pas-saram por uma verdadeira revo-lução, que resultou em uma série

de novos aparelhos, instrumentos e facilidades, com transformações na vida de todas e todos a que a eles têm acesso.

Para se ter ideia do ritmo do pro-cesso, muitas das inovações e das empresas que nasceram em torno delas já caducaram ou foram extin-tas. Mesmo se pensarmos nos úl-timos quatro anos, tempo em que está em vigor a resolução que rege o atendimento psicológico media-do por tecnologias (a CFP 11/2012), o ecossistema digital já não é o mesmo, assim como a relação coti-diana com suas possibilidades e ris-cos – muitos deles ignorados.

A Resolução 11 precisa ser atu-alizada em dois aspectos: o con-trole das ferramentas aprovadas e os limites das ferramentas das redes sociais – especialmente no uso dos aplicativos via smartpho-nes. A atualização exige discussão na Apaf, assembleia que constitui a principal instância decisória no Sistema Conselhos de Psicologia, e, enquanto isso não acontece, os Conselhos Regionais estão sujei-tos a autorizar o funcionamento de plataformas de atendimento reco-nhecidamente distantes do ideal. Vale lembrar que o Conselho Fe-deral de Psicologia (CFP) é a ins-tância recursal, ou seja, o segundo degrau caso ocorra uma contesta-ção, e que, da mesma forma que os CRPs, não pode barrar os pro-jetos que cumprirem os requisitos – insuficientes – da norma vigente.

Como as novidades da tecnolo-gia eletrônica estão na vanguarda do nosso tempo, é preciso atenção e cautela para não embarcar em hi-póteses ainda não testadas e devi-damente constatadas como tendo capacidade de oferecer o que se propõem a fazer. Aplicativos e sí-

tios de relacionamento que surgem todo mês têm buscado vender uma ideia de que as condições tecnoló-gicas atuais são suficientes para ga-rantir uma excelente interação en-tre os profissionais e aqueles (as) que procuram e/ou necessitam dos seus serviços. Ocorre que isso não é verdade: em uma relação profis-sional-cliente, as variáveis presen-tes na interação ultrapassam sobre-maneira a simples troca de mensa-gens escritas, ou ainda a visualiza-ção por meio câmeras.

Outro fator presente nessa “pro-paganda enganosa” é o tempo de resposta: seja o de apreender os processos que os sujeitos estão vivenciando, com repercussão na mobilização subjetiva, quanto na capacidade destes meios de ofe-recerem o acolhimento necessá-rio quando da eclosão de sintomas e seus desdobramentos. Em uma cena clínica, de orientação e/ou acompanhamento terapêutico, por vezes o que é dito não é o mais im-portante para que se alcance os re-sultados desejados. Tais mecanis-mos e suas tecnologias ainda não evoluíram o suficiente para garan-tir de fato a substituição dos aten-

dimentos presenciais ao tratarmos de abordagens que envolvam a subjetividade do ser humano.

Por fim, a observância ética é o ponto central que norteia as di-versas prestações de serviço da Psicologia. E agir eticamente é, acima de tudo, não agir em causa própria. Está na contramão desse pressuposto prático oferecer facili-dades, fazer propaganda baseada na relação custo x benefício, expor valores para atrair público e divul-gar “cases” de sucesso assenta-dos nas ferramentas de marketing, bem como o uso de outras estraté-gias que não se baseiem na preva-lência da promoção do bem-estar e no respeito incondicional aos su-jeitos de direitos.

A sociedade brasileira, ao con-ferir aos conselhos de classe a responsabilidade por delimitar as fronteiras do que vem a ser ético ou não, espera dessas instituições ações efetivas que garantam a pre-valência do bom exercício profis-sional – executado a partir de qual-quer método ou técnica.

*Presidente do CFPFo

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Conselho Federal de Psicologia Conselho Federal de PsicologiaJornal do Federal - Dezembro 2016 Jornal do Federal - Dezembro 2016

Fala, psicólog@! Publicações

do para a melhoria da qualidade de vida. Ou seja, envolve a pre-venção e o enfrentamento das situações de vulnerabilidade e promoção de protagonismo das famílias, indivíduos e comunida-des na melhoria das condições de vida em seus territórios.

Na maioria das vezes essa demanda do Paif é encaminha-da para o Serviço de Convivên-cia e Fortalecimento de Vínculos de crianças, adolescentes e ido-sos do Cras, em que estão inse-ridas crianças na faixa etária de 0 a 15 anos, bem como, pesso-as idosas a partir de 60 anos de idade. Também realizamos grupo Paif com essas famílias no pró-prio serviço e nas comunidades acompanhadas. Outra atividade que desenvolvo é o Grupo Paif de Gestantes, que tem por base o direcionamento da oferta de um

serviço que proporcione o auto-conhecimento, a autoconfiança e a autoconsciência, vislumbrando às integrantes do grupo um me-lhor enfrentamento às pressões e repressões, superando assim as suas vulnerabilidades – muitas delas intensificadas no período gestacional.

O que você considera mais posi-tivo em relação ao seu cotidiano de trabalho?

O que considero mais impor-tante é o vínculo estabelecido com as famílias que chegam até nós, o acompanhamento reali-zado para o enfrentamento das vulnerabilidades sociais.

Quais limitações você encontra no seu cotidiano de trabalho?

As limitações são da própria política de Assistência Social, a

gestão em que está inserida. Há uma falta de conhecimento mui-to grande da importância dessa política para a vida das famílias que dela necessitam. Essa políti-ca ainda vive uma luta constante, nós psicólogos ainda precisamos ser vistos com outros olhos, acho que em relação ao nosso fazer, mas, é algo que aos poucos vem tendo grande avanço.

Por fim, o meu trabalho é, além de tudo mencionado, uma “caixi-nha de surpresas”. Todos os dias recebemos encaminhamentos e demandas que não fazem par-te do nosso serviço, mas como atuo em um munícipio de peque-no porte em que só existe esse serviço e eu sou a única psicólo-ga da cidade, acabo me deparan-do com muitas demandas.

Confira as novas publicações do CFPLivros abordam interfaces da Psicologia com Direito, Saúde Mental, Tráfego, Educação e Gênero

As produções literárias de usuá-rias (os) contempladas (os) no Prê-mio Inclusão Social, promovido pelo CFP no ano passado, foram reuni-das no livro “Arte, Cultura e Traba-lho”, divulgado em agosto. A iniciati-va buscou contemplar experiências de usuários e familiares em proje-tos econômico-sociais, organizações não governamentais (ONGs) e em equipes interdisciplinares da Rede de Atenção Psicossocial de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, em diversas categorias, como arte, cul-tura, trabalho e economia solidária.

Segurança no Trânsito e Psicologia Escolar

Resultado de ações conjuntas realizadas pelo Conselho com as comissões de Trânsito e Consultiva em Avaliação Psicológica (CCAP), durante a “2ª Conferência de Alto Nível sobre Segurança no Trânsi-to” promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em no-vembro de 2015, “Psicologia do Trá-fego: Características e desafios no contexto do Mercosul” é um livro composto por nove capítulos que visa apresentar à psicóloga ou psi-cólogo, atuante ou não nesse con-texto, um conjunto de novas contri-buições metodológicas que podem atualizar a prática profissional.

“É possível verificar um conteúdo decorrente de investigações empíri-cas e teóricas em que os autores de-monstram um potencial do fazer na

No último semestre, seis novos livros foram lançados pelo Conse-lho Federal de Psicologia (CFP). To-dos estão disponíveis em formato digital e podem ser baixados no site da autarquia, na seção Publi-cações.

Em agosto, após a realização do seminário “Estatuto da Criança e do Adolescente: Refletindo sobre sujei-tos, direitos e responsabilidades”, em comemoração aos 25 anos do ECA, o CFP disponibilizou publica-ção com o mesmo nome que bus-cou transmitir as discussões que ocorreram nas mesas-redondas e nos minicursos do evento, ocorri-do em outubro de 2015. Na primei-ra seção do livro, constam os textos que retomam o histórico da criação do Estatuto. Na segunda, estão re-flexões sobre as políticas de prote-ção para crianças e adolescentes, avaliação da participação social e análise do acolhimento institucio-nal à luz da legislação. Na terceira, são analisados os entraves nas po-líticas socioeducativas para os ado-lescentes em conflito com a lei.

“Esperamos que esse trabalho, construído com a participação de muitos, possa contribuir no avan-ço da política de proteção e de di-reitos promovida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente”, afirma Rodrigo Tôrres, coordenador da Comissão de Psicologia Jurídica do CFP e um dos organizadores do livro.

A mesma comissão foi respon-sável pela publicação “O Louco In-frator e o Estigma da Periculosida-de”, lançada em novembro. Des-dobramento do seminário “A Des-construção da Lógica Manicomial: Construindo alternativas”, realizado pelo CFP em agosto, a obra apre-senta os impasses e desafios, a rea-lidade de segregação e maus-tratos e a urgência de discutir alternati-vas, inspiradas em projetos já exi-tosos de atenção à pessoa infratora com transtorno mental.

área de tráfego que perpassa frontei-ras, de áreas da ciência psicológica e das atividades desenvolvidas nos paí-ses vizinhos”, comenta João Alchieri, coordenador da Comissão de Avalia-ção Psicológica da autarquia.

A Psicologia nas escolas é tema do livro “Psicologia Escolar: Que Fa-zer é Esse?”, lançado em agosto pela Comissão de Psicologia na Educa-ção do CFP (PsinaEd) e é compos-to por três partes: Reflexões Teóri-cas Sobre a Psicologia na Educação, A Psicologia Diante dos Desafios da Educação Inclusiva e Compartilhan-do Práticas em Psicologia Escolar. Para as organizadoras, Meire Viana, conselheira do CFP, e a pesquisado-ra Rosângela Francischini, o livro é importante para a reflexão e a prá-tica de todas (os) as (os) psicólogas (os), e poderá contribuir “pela diver-sidade de temas que nele são abor-dados, pela profundidade com que esses temas são tratados, pela serie-

dade com que os profissionais que nele estão presentes, com seus arti-gos, abordam o campo da Psicolo-gia na Educação e, por fim, pelas in-quietações e possibilidades de con-tinuidade das reflexões a que ele nos convida”.

Fomentar o debate sobre a ne-cessidade de reflexão crítica da ca-tegoria sobre o conceito de “mater-nidade”, à luz dos estudos que des-crevem ou registram a prevalência do abortamento na população bra-sileira e utilizando de métodos de pesquisa reconhecidos para lidar com a especificidade do fenômeno, é o propósito da publicação “Aborto e (Não) Desejo de Maternidade(s): Questões para a Psicologia”, dispo-nível desde o final de novembro no site do Conselho. O livro é organiza-do pelas pesquisadoras Valeska Za-nello e Madge Porto, integrantes do 16º Plenário do CFP.

O primeiro trecho apresenta sete artigos que tratam a questão do aborto sob aspectos diversos, como a atualização das estimativas de sua magnitude, a contextualização jurí-dica, estigmas e complicações a ele relacionados e os serviços de abor-to legal no Brasil. Já a segunda par-te se dedica à discussão específica do papel da Psicologia nesse debate, com foco nos processos de subjeti-vação e mitificação da maternidade, além de apresentar uma leitura so-bre como o tema é tratado nas pu-blicações científicas da área.

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Conselho Federal de Psicologia Jornal do Federal - Dezembro 2016Conselho Federal de Psicologia Jornal do Federal - Dezembro 2016

Eleições Entrevista

Quase 100 mil psicólogas (os) votaram em todo o país. Cresceu a participação por meio do voto online

Eleições 2016 em números

Como você já sabe, em outu-bro a categoria escolheu os res-ponsáveis por conduzir as ações e políticas relacionadas à profis-são nos próximos três anos. No to-tal, 99.913 psicólogas (os) de todo o país votaram na Consulta Na-cional e nas eleições do Sistema Conselhos de Psicologia.

Com a soma dos votos online e por correspondência, foram de-finidos os novos dirigentes dos 23 Conselhos Regionais da profissão (ver quadro). Conforme dispõe o Regimento Eleitoral, as chapas vencedoras tomaram posse em setembro, quando se completa-ram 30 dias após o pleito.

Também foi eleita a chapa que vai administrar o Conselho Fede-ral de Psicologia (CFP) no triênio 2017-2019. Na Consulta Nacional, a chapa 23 – “Cuidar da Profissão: avançar a Psicologia com ética e cidadania” foi a vencedora, com 32.003 votos. Já a chapa Chapa 22 – “Fortalecer a Profissão” teve 29.080. A chapa 21 – “Renovação da Psicologia” ficou com 17.264 votos e a chapa 24 – “Psicólo-gos em Ação” com 8.970. Vota-ram nulo 7.984 profissionais, e em branco 4.612.

A nova gestão toma posse em 17 de dezembro, durante a As-sembleia das Políticas, da Admi-nistração e das Finanças (Apaf).

Modalidade de voto e participação

Essa foi a segunda vez que a ca-tegoria contou com o sistema de votação online. No processo elei-toral anterior, em 2013, 66.119 pes-soas votaram pela Internet, enquan-to 18.524 ainda utilizaram o voto por correspondência ou nos postos ins-talados pelo Brasil.

Já este ano, 91,57% dos votantes optaram pela modalidade online. Em números absolutos, foram 91.497 vo-tos eletrônicos e apenas 8.416 votos por correspondência.

Considerando o número de pro-fissionais aptos a votar, ou seja,

com as informações atualizadas no Cadastro Nacional de Psicólogas (os), o percentual de participação nas eleições se manteve pratica-mente o mesmo nos dois últimos pleitos, crescendo 1,3 ponto. Neste ano, 99.913 exerceram o direito ao voto em um universo de 208.519 ap-tos. No pleito anterior (2013), foram 84.493 votos, quando 181.313 esta-vam aptos a participar.

Em 2010, quando o sistema de votação online ainda não havia sido implementado, a participação to-tal da categoria nas eleições foi de 74.730 psicólogas (os) com cadas-tros ativos no CFP.

Custo-benefício

De acordo com dados do relatório final da Comissão Eleitoral, além de seguro e eficaz, o sistema de votação eletrônica é o que apresenta o melhor custo-benefício para a autarquia. Um voto online cus-ta R$ 3,85 e chega até 35,57% do colégio eleitoral (total de psicólogos inscritos). Já cada voto enviado pelos Correios custa R$ 16,52 e alcança so-mente 2,99% dos profissionais.

Confira a chapa eleita em cada Regional:- CRP 01 (DF): chapa 13 – “Fortalecer a Profissão”- CRP 02 (PE): chapa 11 – “S. E. R. PSI: Cuidando da

Profissão”- CRP 03 (BA): chapa 12 – “Psicologias em Movimento”- CRP 04 (MG): chapa 11 – “Cuidar da Profissão”- CRP 05 (RJ): chapa 11 – “Ética e Compromisso Social

para Cuidar da Profissão”- CRP 06 (SP): chapa 12 – “Pra Cuidar da Profissão”- CRP 07 (RS): chapa 11 – “AmpliaPsi”- CRP 08 (PR): chapa 12 – “Força e Inovação”- CRP 09 (GO): chapa 11 – “CRP Forte: Ampliando Con-

quista e Valorizando a Profissão”- CRP 10 (PA/AP): chapa 11 – “Psicologia em Movimen-

tos: para cuidar de todxs”- CRP 11 (CE): chapa 11 – “CRP-11 de Lutas”- CRP 12 (SC): chapa 11 – “Prá Cuidar da Profissão”

- CRP 13 (PB): chapa 11 – “Cuidando da Profissão”- CRP 14 (MS): chapa 11 – “Cuidar da Profissão: Psico-

logia em todo lugar!”- CRP 15 (AL): chapa 13 – “Um Conselho para Fortale-

cer a Psicologia”- CRP 16 (ES): chapa 11 –“Cuidar da Profissão: em de-

fesa do diálogo, da democracia e dos direitos humanos”- CRP 17 (RN): chapa 11 – “Cuidar Resistir Transformar”- CRP 18 (MT): chapa 11 – “Cuidar da Psicologia”- CRP 19 (SE): chapa 12 – “Crescer e Cuidar da Profissão”- CRP 20 (AM/AC/RO/RR): chapa 11 – “Pra Cuidar da

Profissão”- CRP 21 (PI): chapa 11 – “Avançar”- CRP 22 (MA): chapa 11 – “Diálogo, União e Cresci-

mento”- CRP 23 (TO): chapa 11 – “Aproximação”

Psicologia da Aviação: desafios de uma área em constante crescimento Selma Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Psicologia na Aviação (Abrapav), conta a história e o porvir desse campo de atuação

especialização dentro da Psicologia. Para saber mais sobre o tema, a as-

sessoria de Comunicação do Conse-lho Federal de Psicologia (CFP) con-versou com a presidente da Abrapav, Selma Ribeiro. Confira a entrevista.

Quais os primeiros registros de atuação da Psicologia na área de aviação?

Foi entre a primeira e a segun-da Guerras Mundiais, quando hou-ve a necessidade de fazer a seleção das pessoas que atuariam na linha de frente. Surgem então os primei-ros contatos da Psicologia com a Aviação. Quando essas pessoas re-tornavam da guerra, também exis-tia o acompanhamento da Psicolo-gia, pois algumas regressavam com traumas. A Psicologia deu um apoio mais específico nesse campo. Outro campo de atuação foi com a sele-ção de novos combatentes, e depois disso temos a Psicologia auxiliando também na parte de treinamento de pilotos e profissionais da área, na relação do homem com a má-quina. Nesse último quesito come-çamos a observar que as limitações humanas e cognitivas poderiam in-fluenciar acidentes. Por isso, os co-nhecimentos na área de Psicologia Cognitiva, principalmente, ajudaram bastante em questões como estu-dos e na tomada de decisões dentro da cabine, e também por conta de alguns acidentes que aconteceram. Na Aviação é assim: acontece o aci-dente e, ao se investigar as causas, percebe-se que a participação hu-mana teve alguma contribuição. A partir dessa investigação, verifica-se onde o ser humano errou e o que o levou a errar. Consequentemente, se desenvolvem medidas para redu-

A Psicologia da Aviação é uma área de atuação que conta com a pre-sença de muitas (os) psicólogas (os), embora não seja tão divulgada den-tro da categoria e ainda não seja con-siderada uma especialidade. Os pri-meiros registros da atuação na área aparecem com a 1a Guerra Mundial, quando foi montado o primeiro labo-ratório de Psicologia na aviação, na Alemanha. Profissionais começavam a mostrar a importância das psicólo-gas (os) tanto na seleção de pilotos, que seriam enviados para a linha de frente, como na assistência aos trau-mas dessas pessoas ao retornarem do combate. Após exames, eram identi-ficados sintomas de neuroses, e para minimizá-los as (os) profissionais se utilizavam de entrevistas psiquiátricas e testes psicológicos.

No Brasil, na década de 1960 é criado dentro da Aeronáutica o Insti-tuto de Seleção e Orientação, órgão responsável pela parte de seleção de pessoal, e a partir daí começam a aparecer as (os) primeiras (os) psi-cólogas (os) na área. Em 2013, é fun-dada a Associação Brasileira de Psi-cologia na Aviação (Abrapav). Desde sua fundação, a entidade reúne pro-fissionais e produção científica para auxiliar na formação e qualificação, além de transformar a área em uma

zir esses erros e mecanismos para que ele possa desempenhar tarefas de uma maneira mais eficiente. Na década de 1980 ocorreu o “boom” da automação na Aviação, e as questões relacionadas à automa-ção da máquina exigiram bastan-te utilização dos conhecimentos da Psicologia Cognitiva, para auxiliar nessa área. Outro campo bastan-te utilizado foi a Psicologia Social, no final da década de 1970 e início da década de 1980, quando se ob-servou que em alguns acidentes aé-reos houve melhora no trabalho de equipe e na comunicação, utilizan-do a observação de alguns conhe-cimentos da dinâmica de pequenos grupos e da forma como eles fun-cionavam para desenvolver treina-mentos relacionados às habilidades não técnicas, ou seja, comunicação, liderança etc.

E no Brasil? Os primeiros trabalhos no Brasil

nessa área surgiram na década de 1960, quando foi criado o Instituto de Seleção e Orientação, órgão res-ponsável pela parte de seleção de pessoal da Aeronáutica. Começa-ram a aparecer os primeiros psicó-logos trabalhando nessa área, foca-dos mais na seleção de pessoal. Em 1981 é inaugurado o Serviço de Se-leção e Orientação da Aeronáutica (ISO), que em 1988 deu lugar ao Ins-tituto de Psicologia da Aeronáutica (IPA), responsável pela organização da Psicologia dentro da aviação mi-litar. O IPA é responsável pela par-te militar e, hoje, ele é quem dita as

normas de como a Psicologia vai funcionar na Aeronáutica.

O trabalho da Psicologia na Aviação ficou mais intenso no co-meço da década de 1980, quando foi criado na Aeronáutica o Corpo Feminino de Oficiais e as mulheres passaram a fazer parte da vida mi-litar. Já existiam os psicólogos ci-vis – e eu sou dessa época, come-cei a trabalhar na Aeronáutica na década de 1980, recém-formada. A gente começou a fazer traba-lhos específicos, além de seleção de pessoal e pesquisa, entre outras atribuições. Passou a haver a par-ticipação dos psicólogos em diver-sas áreas do Brasil, orientados pelo IPA, nas escolas da Força Aérea, na área clínica, na área organizacio-nal (seleção e acompanhamento) e, principalmente, na área de investi-gação de acidentes.

Fale um pouco sobre o surgimen-to da Abrapav e sua contribuição para o setor.

A criação da Associação se deu em 2013, por meio de 19 psicólogos (as), todos (as) atuando na Avia-ção civil e militar. Temos trabalha-do para fazer a divulgação da Psi-cologia da Aviação e atingir alguns objetivos, tais como buscar meios para a formação desses profis-sionais, para que eles não sejam formados na prática, como nós fomos. Fornecer meios para esse profissional se capacitar aqui no Brasil, porque muitos de nós tive-mos que buscar capacitação fora, onde existem várias associações

Temos trabalhado para fazer a divulgação da Psicologia da Aviação e buscar meios

para a formação dos profissionais, para que eles

não sejam formados na prática, como nós fomos”

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Conselho Federal de Psicologia Conselho Federal de PsicologiaJornal do Federal - Dezembro 2016 Jornal do Federal - Dezembro 2016

Entrevista Direitos Humanos

Nota técnica reforça proteção à mulherCFP aprovou orientação profissional de quebra de sigilo em caso de vulnerabilidade extrema, mais uma medida contra o feminicídio

O 16º Plenário do Conselho apro-vou, em novembro, nota técnica de orientação profissional em casos de violência. O documento trata das si-tuações em que deve haver quebra do sigilo profissional, orientando a reali-zação da comunicação externa (de-núncia) se a vida da mulher – ou a de seus filhos (as), ou de pessoas próxi-mas – estiver seriamente ameaçada.

Na nota, a autarquia manifesta apoio à adoção dessa medida sem o consentimento da paciente diante de sério risco de feminicídio. São listados

No ano em que a Lei Maria da Pe-nha (11.340/2006) completa uma déca-da, os números mostram que o princi-pal instrumento legal contra a violên-cia doméstica aumentou a visibilidade desse tipo de crime e seu combate na Justiça, mas não bastou para reverter o quadro de riscos que as brasileiras en-frentam. O tema, em sua ligação com o machismo, o racismo e a desigualda-de, é um dos eixos da atuação do Con-selho Federal de Psicologia (CFP) no contexto dos direitos humanos e foi o centro de diversas ações em 2016.

também os fatores indicativos da imi-nência do crime, e frisado o caráter excepcional, de resposta a vulnerabi-lidade extrema. Nos demais casos, a prioridade é acolher a paciente e for-talecer sua autonomia, subsidiando suas decisões.Confira as orientações > http://bit.ly/notafem

O texto reitera a obrigatoriedade de notificar todos os casos de vio-lência contra a mulher atendidos pe-las (os) profissionais de saúde, seja em serviços públicos ou particula-

fortes nessa área – como a Euro-pean Association for Aviation Psy-chology, que existe há 60 anos.

Aqui estamos engatinhando; te-mos três anos, mas o trabalho dos profissionais já é de longa data. Nosso objetivo, hoje, é poder reunir esses profissionais, e para isso esta-mos fazendo um levantamento para saber quantos psicólogos atuam nessa área. O levantamento deve ser finalizado no próximo ano.

Hoje nós temos psicólogos em todas as áreas da aviação. Nas em-presas aéreas, na infraestrutura ae-roportuária, no controle de tráfe-go aéreo, nas escolas de formação, universidades, órgãos da aviação, aeroclubes, nas Forças Armadas e nas forças auxiliares, dentre outras. Em todas essas áreas, onde existe atuação de pilotos, como a Marinha, Exército e Aeronáutica, temos psi-cólogos. Para trabalhar nesse am-biente, além do conhecimento da Psicologia, você precisa conhecer o ambiente aeronáutico e saber como ele funciona. É um ambiente especí-fico, e por conta disso temos uma série de normas internacionais que regem essa atividade. Observando essas demandas, achamos por bem criar uma entidade que possa reunir as pessoas que atuam nessa área, saber quem são elas e como pode-mos ajudá-las.

Qual sua avaliação da presença dos profissionais da Psicologia na área?

Antigamente, o psicólogo entra-va na empresa para trabalhar em áreas como a de Recursos Huma-nos ou de Seleção. Hoje, também temos profissionais atuantes na área de segurança operacional de voo. Todas as empresas têm psicó-

logos atuantes na área de preven-ção e investigação de acidentes. Percebemos isso na formação, por exemplo. Eu participo de formação de investigadores psicólogos, mi-nistrada pelo Centro de Investiga-ção e Prevenção de Acidentes Ae-ronáuticos, e vemos o grande nú-mero de psicólogos que participam desses cursos. Percebemos que as empresas estão dando ênfase e prioridade para o trabalho na área de segurança aérea, que é um dos pontos fortes do trabalho dos psi-cólogos.

Como os profissionais conse-guem se capacitar para o traba-lho na Psicologia da Aviação?

A formação normal que o psicólogo tem na universidade não contempla os conhecimen-tos dessa área. Até porque não é uma área oficialmente vista como especialização da Psicologia, a exemplo de áreas já consagradas, como a organizacional, do traba-lho ou clínica. Normalmente, nas instituições, alguma cadeira abor-da especificamente essa área. A Psicologia da Aviação ainda não tem visibilidade dentro da acade-mia como uma área de atuação e muito menos como especializa-ção. Uma das nossas intenções é justamente tentar fazer essa di-vulgação dentro das universida-des, para estudantes de Psicolo-gia saberem que há esse “nicho de mercado”, onde podem atuar.

Todos os psicólogos que atu-am hoje na Aviação foram sendo formados de acordo com necessi-dades individuais. A formação de-pende muito do próprio interes-se do profissional em buscar esse conhecimento. Não existe um cur-so formal sobre isso no Brasil, só cursos pequenos de extensão, que forma o psicólogo para atuar na área de investigação e prevenção, mas para isso o profissional preci-sa estar ligado a uma empresa de aviação. Existe também um curso da Marinha para psicólogos mili-tares. O Instituto de Psicologia da Aeronáutica também tem um cur-

so, mas é exclusivo para psicólogos da Aeronáutica. Já o Exército não tem um curso específico. A minha formação nessa área foi por meio dos cursos que eu fiz fora do Bra-sil. Cursos pelas Associações Euro-peia, Americana e Australiana, além de Congressos. Fornecer capacita-ção nessa área também é um obje-tivo da associação.

Como você avalia a produção de conhecimento sobre a área no Brasil?

O que temos no Brasil de produ-ção científica sobre Psicologia da Aviação é fruto de práticas de pro-fissionais que atuam na área, que participam de congressos e encon-tros onde seus trabalhos são apre-sentados. Temos a Revista Cone-xão Sipaer, que é de segurança em aviação. O Instituto Tecnológico da Aeronáutica também tem um cur-so de mestrado em segurança na aviação que é aberto para qualquer profissional que trabalha na avia-ção. Temos psicólogos nesse cur-so e as teses de mestrado e dou-torado produzidas nele e em áreas correlatas são fonte de informa-ção para quem atua nessa área. Outro trabalho que estamos reali-zando na Associação é reunir todo esse material espalhado e formar um banco de dados. Depois, iremos disponibilizá-lo para os psicólogos e público em geral. Temos também um livro editado, que é o primeiro editado sobre a Psicologia da Avia-ção, chamado “Os voos da Psicolo-gia no Brasil: Estudos e práticas na aviação”. Foi lançado em 2001, está esgotado e estamos tentando lan-çar uma versão e-book. O segundo volume será lançado em breve.

Qual a importância da avaliação psicológica no campo da Aviação?

Após um acidente em março de 2015, quando um avião da Ger-manwings caiu nos Alpes france-ses, a suspeita foi de que o copiloto teria causado o acidente. Ele tinha problemas e tomava medicamen-tos. Após esse acidente, surgiu uma preocupação mundial com o acom-

panhamento psicológico e a ava-liação psicológica. A Anac fez uma recomendação de que elas fossem realizadas anualmente. Na verdade isso era feito, mas não com uma exi-gência tão significativa, e o incidente reforçou essa necessidade.

Hoje, o que temos são algumas diretrizes da avaliação psicológi-ca que precisam ser feitas, ou na fase inicial ou nas decorrentes, mas precisamos de uma padro-nização melhor do que tem de ser visto, avaliado e o grau de pro-fundidade. Existe uma norma in-ternacional que seguimos no Bra-sil, que diz quais são as restrições na avaliação do aeronavegante e trata de capacitação psicofísi-ca. Ali estão todas as restrições na questão psicológica, porém ela não aponta os instrumentos que devem ser usados e os parâ-metros aceitáveis. A orientação é para que se siga o material e os testes autorizados pelo CFP, mas não existe um protocolo padrão. Existem as restrições e os testes oficializados, mas não há um pro-tocolo que diga como fazer, bem como seu padrão de aceitação.

Conheça as normas relativas ao apoio a vítimas de desastres

aéreosNo Brasil, devem ser seguidas

as determinações da Instrução de Aviação Civil IAC 200-1001 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que é um Plano de Assistên-cia às vítimas de acidentes aero-náuticos e apoio a seus familiares. A norma, de 2005, tem especifi-cações de como a empresa aérea deve se organizar para prestar as-sistência às vítimas, não somente no atendimento psicológico, mas em outras áreas. Quando se trata da atuação em âmbito internacio-nal, a norma que rege o trabalho da Psicologia é a Circular 285-AN/166 da Organização da Aviação Civil Internacional (Oaci).

Do latim • Traduzida como “amiga (o) da corte (ou do tribunal)”, a expressão amicus curiae designa pessoa ou entidade que, sem ser parte no processo em questão, for-nece subsídios ao tribunal no intui-to de aprofundar o debate e propi-ciar a decisão mais justa.

Legitimidade reconhecida em causas LGBT Decisão do ministro do STF Edson Fachin autoriza Conselho a intervir como amicus curiae em mandado de injunção que visa criminalizar homofobia

“É um reconhecimento, por parte da sociedade e do órgão máximo da Justiça brasileira, do papel que o Con-selho e a Psicologia têm tido nas ques-tões da subjetividade humana, da orientação sexual, dos direitos huma-nos, da liberdade das pessoas”, ava-lia o presidente da autarquia, Rogério Oliveira. “Nos nossos posicionamen-tos, tratamos a subjetividade a partir da condição humana, daquilo que as pessoas podem construir buscando a sua autonomia, a sua felicidade.”

Criminalização específicaNo Mandado de Injunção, a AB-

GLT pede a criminalização específi-ca das ofensas, dos homicídios e das

O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a representatividade do Conselho Federal de Psicologia (CFP) para atuar na Justiça em causas liga-das a orientação sexual e/ou identida-de de gênero.

“Para além de suas finalidades ins-titucionais, o Conselho demonstrou possuir a necessária representativida-de temática material e espacial”, con-clui o relator, o ministro Edson Fachin, na decisão, publicada em 5 de outu-bro. “Desse modo, mostra-se legítima sua intervenção na condição de ami-cus curiae em virtude da possibilidade de contribuir de forma relevante, dire-ta e imediata no tema em pauta.”

O despacho diz respeito ao Man-dado de Injunção (MI) 4.733, no qual a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexu-ais (ABGLT) pleiteia o reconhecimen-to do dever constitucional do Con-gresso Nacional em criminalizar a ho-mofobia e a transfobia.

Em sua petição, o CFP ressaltava a necessidade de consolidar a proteção de pessoas vítimas de discriminação, que muitas vezes procuram a orienta-ção profissional de um (a) psicólogo (a).

agressões com motivação homofóbi-ca ou transfóbica, argumentando que o quadro de violência e discriminação tem inviabilizado os direitos funda-mentais à livre orientação sexual e à livre identidade de gênero, bem como à segurança.

A argumentação do CFP para se manifestar no caso reúne dados e in-formações que reforçam a vulnerabi-lidade da população em questão, a importância de suprir a omissão legis-lativa no assunto e a relação das (os) psicólogos com essas questões, seja por meio do acolhimento diário ou da pesquisa. O texto lembra a atribuição da autarquia e seu envolvimento com a produção de conhecimento, com destaque para a temática em questão.

“Nossa admissão serve como precedente para outras causas no STF em que o Conselho se apresen-ta como amicus curiae”, observa a ad-vogada Mariana Kreimer Melucci, que responde pela fundamentação.

Resolução validadaEm junho, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) confirmou a validade da Resolução CFP 1/99, que estabelece as normas para atuação das (os) psicó-logas (os) em relação a orientação sexual. O texto pro-íbe as (os) profissionais de exercerem qualquer ativida-de que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas e adotarem ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados – veta, portanto, a prática de terapias

na linha conhecida como “cura gay”.“Essas práticas vedadas se inserem num processo de naturalização, visto em vários espaços, que represen-ta um retrocesso porque traz em si uma proposta que pode desembocar no sofrimento do sujeito, e não na sua autonomia, na sua liberdade”, observa Oliveira.O Tribunal afirma que a Resolução em vigor é coerente com a legislação, a dignidade da pessoa humana e o direito fundamental ao livre exercício profissional.

res. Também diferencia a notifica-ção compulsória (processo interno da Saúde, com fins epidemiológicos, para subsidiar políticas públicas) e a denúncia (remessa à polícia, à Justiça e ao Ministério Público). Vídeo explica as duas medidas > bit.ly/video_notXcom

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Revista + Psicologia do EsporteDireitos Humanos + Prestação de contas

Conhecer o (a) pesquisador (a) e difundir conhecimento científico para a categoria

GT da Apaf divulga resultados da pesquisa de Psicologia e Esporte

Seção inaugurada no site do CFP em julho divulga, toda semana, entrevista sobre um artigo da revista Psicologia: Ciência e Profissão

Levantamento com 306 participantes, realizado de fevereiro a maio de 2016, aponta dados e perspectivas para a especialidade que vem crescendo no país

A ideia surgiu a partir da partici-pação de servidores do CFP no 24º Curso de Editoração Científica (24º CEC) e 9º Seminário Satélite para Editores Plenos (9º SSEP), realizado na Universidade Estadual de Campi-nas (Unicamp) em junho, que apon-tou a relevância do uso das mídias sociais na divulgação de conteúdo de publicações científicas. A partir dessa reflexão, a equipe responsá-vel pela revista decidiu pela divulga-ção mais ampla do periódico no site e nas redes sociais.

a iniciativa deve suscitar outras daqui em diante. “A equipe do GT Psicolo-gia e Esporte entende que a pesquisa pode ser refeita periodicamente, pois o mercado de trabalho está em cons-tante modificação, tendendo a abar-car profissionais atuantes, que não necessariamente participaram desta primeira pesquisa”, ressaltou.

Dados quantitativosDe acordo com a pesquisa, geo-

graficamente, as (os) psicólogas (os) do Esporte estão distribuídos nas se-guintes regiões: 36,36% no Sudeste; 29,09% no Nordeste; 19,09% no Sul; 12,72% no Centro-Oeste; e 2,72% no Norte.

Na formação acadêmica, 43,56% apontaram a Psicologia como for-mação na graduação. No entanto, dentre as instituições formadoras (190 em todo território nacional ci-tadas pelos participantes), poucas apresentam na sua grade curricular (9,48%) a matéria Psicologia do Es-

O que a (o) psicóloga (o) brasilei-ra (o) está produzindo do ponto de vista científico? Esse conhecimento está restrito aos muros da academia ou a categoria e a sociedade sabem sobre o que vem sendo publicado? A partir desses questionamentos e da ampla inserção das redes sociais na vida contemporânea, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), desde julho de 2016, publica semanalmen-te uma entrevista com os autores dos artigos da revista Psicologia: Ci-ência e Profissão (PCP).

Os quadros a seguir mostram os saldos de dezembro de 2013 e dezem-bro de 2016.

Após nove anos da Resolução CFP 13/2007, que regulamentou as especialidades na Psicologia, o Grupo de Trabalho (GT) da Assem-bleia das Políticas da Administra-ção e das Finanças (Apaf) de Psi-cologia e Esporte elaborou, a partir das demandas dos representantes dos Conselhos Regionais e de Gru-pos de Profissionais da área, um Censo da Psicologia do Esporte.

O objetivo foi conhecer quem são, onde estão, qual a formação e as necessidades das (os) profissionais que atuam na área. Com os dados coletados, a autarquia e as (os) pro-fissionais poderão debater diretrizes e referências para o exercício profis-sional. A pesquisa foi realizada entre os meses de fevereiro e maio de 2016 e contou com 306 participantes, sen-do 40,52% estudantes e 56,21% profis-sionais.

Segundo Luciana Ferreira Ângelo, integrante do Coletivo Ampliado do Conselho Federal de Psicologia (CFP),

O conselheiro Roberto Cruz, editor da revista, explica que essa ampliação é importante não apenas para que es-tudantes e categoria conheçam o que está sendo produzido, mas também para contribuir com seu processo de internacionalização junto a públicos do mundo inteiro. “As nossas capaci-tações foram muito importantes para trazermos ideias novas para a revista e a colocarmos no patamar de parâme-tros internacionais. Hoje somos Qua-lis A2 e queremos chegar à qualifica-ção Qualis A1”, reforça Cruz.

porte, como optativa ou obrigatória ou mesmo como campo de estágio. Dos 27,45% dos participantes que responderam negativamente à pre-sença da especialidade na grade, 20,26% informaram que gostariam de ter a disciplina na graduação.

Nas condições de trabalho, dos 306 participantes, 56,54% indicaram que atuam com a Psicologia do Es-porte em áreas como ensino, pesqui-sa e intervenção. O contrato de traba-lho dos profissionais se dá de distintas formas, refletindo a realidade do mer-cado de trabalho da especialidade.

O campo de atuação mais indica-do pelos participantes foi o alto rendi-mento (25,62%), seguido de iniciação esportiva (19,40%), Psicologia Clínica do Esporte (17,91%) e projetos sociais (14,18%). Com menos expressividade, foram citados os campos da atividade física e lazer, reabilitação e pesquisa.

Dados QualitativosNos dados qualitativos, foram

expostas as dificuldades, soluções possíveis e perspectivas. No primei-ro ponto, foram identificadas ca-rências na formação e qualificação profissional, bem como na divulga-ção da especialidade junto à socie-dade. As (os) participantes aponta-ram também obstáculos para inser-ção em equipes multidisciplinares e comissões técnicas.

Entre as soluções apresentadas pelas (os) participantes, estão o in-vestimento na formação acadêmi-ca e profissional desde a gradua-ção; aproximação da Psicologia a áreas afins para ser presente e compreendida; fomento, por parte do Sistema Conselhos, de espaços de discussão e parceria com insti-tuições que abordam a especiali-dade, incluindo representatividade legislativa, para influenciar proje-tos de lei sobre o tema e favorecer encontros científicos e profissio-nais em regiões distintas do país.

Condições para submissão de artigos

Quem quiser submeter um artigo para publicação na Revista Psicologia: Ciência e Profissão deve acessar o site http://www.scielo.br/revistas/pcp/pinstruc.htm, da plata-forma da SciELO.

No endereço, na seção “Apresentação formal de manuscrito”, acesse o link http://submission.scielo.br/index.php/pcp/about/submis-sions#authorGuidelines. Lá constam o link para fazer o cadastro na revista, caso você ainda não tenha, e o link de lo-gin para envio dos artigos.

Perigo na rua e em casaDaDos e estimativas35% das mulheres no mundo já fo-ram vítimas de violência física e/ou sexualDos 4.762 feminicídios registrados em 2013 no Brasil, 50,3% foram cometidos por familiares a maioria por parceiros ou ex-parceirosUma mulher é estuprada a cada 11 minutos no paísDe 2006 a 2015, a Lei Maria da Pe-

nha diminuiu 10% a projeção ante-rior de aumento da taxa de homi-cídios domésticos Mas as mortes violentas de mulheres negras subiram 54% en-tre 2003 e 2013 O país tem taxa de 4,8 homicídios para cada 100 mil mulheres É o 5º em ranking com 83 pa-íses

Fontes: OMS, Ipea, SIM/MS, Flacso

Asc

om C

FP

ArticulaçãoO CFP participa da construção de

minuta de resolução sobre quebra de sigilo, processo conduzido pelo Minis-tério Público do Distrito Federal e Ter-ritórios (MPDFT) com representantes de outros Conselhos Federais (Enfer-magem, Medicina e Serviço Social).

Para a psicóloga Valeska Zanel-lo, representante do CFP no Conse-lho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), as e os profissionais de saú-de têm o dever de evitar a perpetua-ção do ciclo de vitimização.

“Se a gente não escuta, não aco-lhe, não atende a situação de violên-cia e não faz referência para a rede, a gente estará apenas medicalizando essas mulheres, ou seja, vai cometer outro tipo de violência com elas: a ins-titucional”, defende.

Debates e vídeoA temática foi abordada em deba-

tes online, a exemplo do realizado em junho, sobre o papel das psicólogas (os) no enfrentamento desse proble-ma social e desse crime.

A atividade lançou vídeo com o objetivo de sensibilizar os profissio-

nais de saúde no contexto da violên-cia contra a mulher. Uma das princi-pais vias de identificação das agres-sões está em locais de atendimento como hospitais e centros da rede de atenção à saúde mental.

A peça apresenta os tipos de vio-lência de gênero, o impacto da agres-são na saúde mental, a legislação so-bre o assunto, os serviços disponíveis e o que a (o) profissional deve fazer ao se deparar com tal situação. Veja > bit.ly/video_psaude

Contra o estuproO CFP participou, também em ju-

nho, de audiência pública do Senado Federal sobre o combate ao estupro.

Dentre os caminhos defendidos pelas participantes para enfrentar o machismo e a chamada cultura do estupro no país estão: a articulação de políticas em defesa dos direitos das mulheres, a responsabilização da mídia, o aprimoramento legal, o au-mento da representação feminina nos espaços de poder e a discussão de gê-nero nas escolas e universidades.

A violência, segundo as palestran-tes, reflete a objetificação da mulher, o preconceito e a cultura machista, que culpabiliza a vítima. “Esse proces-so é profundo, ele é entranhado, na-turalizado”, disse Valeska Zanello. “A interpelação feita pela nossa cultura às mulheres é que elas se coloquem nesse lugar de objeto de desejo. E ela ensina aos homens que as mulheres são objetos disponíveis e (difunde) um tipo de masculinidade que deve ser provada ao consumi-las.”

SALDOS BANCÁRIOS DATA: 09/12/2016

RECURSOS CFP CONTA SALDOConta Movimento - BB 201.172-7 74.280,62R$ Conta Arrecadação Diária - BB 209.523-8 -R$ Investimento Fundo CDB - Conta Arrecadaç. 209.523-8 1.683.776,13R$ Conta Fundo de Reserva - CFP 201.301-0 -R$ Investimento CDB Fundo de reserva 201.301-0 1.463.476,87R$ Conta Arrecadação Diária - CEF 30.680-1 -R$ Investimento CDB - Conta Arrec. - CEF 30.680-1 -R$

TOTAL RECURSOS DO CFP R$ 3.221.533,62

RECURSOS DIVERSOS CONTA SALDOConta Arrecadação Revista 200.563-8 5.351,01R$ Investimento Fundo CDB - Conta Divulgação 200.563-8 7.141.419,97R$ Poupança - Divulgação 200.563-8 51.328,10R$ Conta Fundo Seções 201.335-5 644,93R$ Investimento Fundo CDB - Conta Fundo de Seções 201.335-5 1.550.236,44R$ Fundo de Reserva Devolução de Anuidades 6109-3 86.912,97R$ Fundo de Reserva Devolução de Anuidades (Aplicação) 6109-3 984.028,12R$ Conta Convênio Inscrição 6419-X -R$

TOTAL RECURSOS DIVERSOS R$ 9.819.921,54

13.041.455,16R$

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA

TOTAL DOS RECURSOS GERAIS

SALDOS BANCÁRIOS DATA: 20/12/2013

RECURSOS CFP CONTA SALDOConta Movimento - BB 201.172-7 133.784,76R$ Conta Arrecadação Diária - BB 209.523-8 -R$ Investimento Fundo CDB - Conta Arrecadaç. 209.523-8 34.735,26R$ Conta Fundo de Reserva - CFP 201.301-0 137,92R$ Investimento CDB Fundo de reserva 201.301-0 0,00R$ Conta Arrecadação Diária - CEF 30.680-1 -R$ Investimento CDB - Conta Arrec. - CEF 30.680-1 -R$

TOTAL RECURSOS DO CFP R$ 168.657,94

RECURSOS DIVERSOS CONTA SALDOConta Arrecadação Revista 200.563-8 -R$ Investimento Fundo CDB - Conta Divulgação 200.563-8 26.799,42R$ Poupança - Divulgação 200.563-8 40.239,09R$ Conta Fundo Seções 201.335-5 52.803,58R$ Investimento Fundo CDB - Conta Fundo de Seções 201.335-5 -R$ Fundo de Reserva Devolução de Anuidades 6109-3 93,11R$ Conta Recebimento de Convênio Patrocínio 2ª Mostra 6199-9 -R$ Conta Convênio Inscrição 6419-X -R$

TOTAL RECURSOS DIVERSOS R$ 119.935,20

288.593,14R$

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA

TOTAL DOS RECURSOS GERAIS

Contas no azul

18 19

Conselho Federal de Psicologia Conselho Federal de PsicologiaJornal do Federal - Dezembro 2016 Jornal do Federal - Dezembro 2016

Orientação e ética Memórias da Psicologia

Como lidar com a Saúde Mental? A situação de hoje e de ontem

pessoas com transtorno mental e/ou com uso de drogas, e seus fa-miliares.

Hoje, nos quase 40 anos de lu-tas pela reforma psiquiátrica no Brasil, temos muitas conquistas: no plano legal e normativo (Lei 10.216 de 2001 e múltiplas porta-rias); na implantação de uma Rede de Atenção Psicossocial (Raps) in-

A Reforma Psiquiátrica busca substituir a assistência em institui-ções totais por uma rede de ser-viços de atenção psicossocial de base comunitária; desconstruir e reconstruir em novas bases sabe-res e práticas em Saúde Mental; transformar as relações sociais que sustentam a discriminação, a negligência e a violência para com

tegrada ao SUS, com variados dis-positivos e serviços, e distribuída em todo o território nacional; na experimentação, implantação e sistematização de diversificados dispositivos intersetoriais, terapêu-ticos, jurídicos, sociais, culturais e de trabalho, que incidem sobre a saúde mental das pessoas.

O último balanço publicado (2015, dados de dez/2014) revelou uma rede com 2.209 Centros de Atenção Psicossocial (Caps); 156 unidades de acolhimento existen-tes ou em construção; 899 serviços residenciais em funcionamento ou

já habilitados; 4349 pessoas com bolsas do Programa de Volta para Casa e 1008 iniciativas de geração de renda.

Em 1990, tínhamos cerca de 96% dos recursos em Saúde Men-tal investidos em serviços do tipo manicomial, e em 2013, cerca de 80% dos recursos já estavam des-tinados a serviços comunitários. Na estratégia brasileira, o proces-so de substituição tem sido gradu-al e responsável, para evitar a de-sassistência. A Organização Mun-dial de Saúde reconhece que hoje o Brasil, a despeito dos seus de-

Processos éticos

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 495/2016 - oRiGem – CRP-06 (102/2012):EMENTA – Irregularidade no atendimento clínico.DECISÃO CRP: Censura públicaDECISÃO CFP: AdvertênciaDATA DO JULGAMENTO: 13/05/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Maria da Graça Corrêa Jacques

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 496/2016 - oRiGem – CRP-08 (018/2014):EMENTA – Irregularidade no atendimento clínico.DECISÃO CRP: CassaçãoDECISÃO CFP: Retorno dos autos ao CRP-08 para novo julgamento.DATA DO JULGAMENTO: 13/05/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Viviane Moura de Azevedo Ribeiro

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 613/2016 - oRiGem – CRP-09 (010/2014):EMENTA – Laudo psicológico sem fundamentação técnica e científica.DECISÃO CRP: Advertência DECISÃO CFP: Retorno dos autos ao CRP-09 para novo julgamento.DATA DO JULGAMENTO: 13/05/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Madge Porto Cruz

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 758/2016 - oRiGem – CRP-06 (096/2013):EMENTA – Laudo psicológico sem fundamentação técnica e científica.DECISÃO CRP: Advertência DECISÃO CFP: AdvertênciaDATA DO JULGAMENTO: 13/05/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Vera Lúcia Morselli

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 759/2016- oRiGem – CRP-06 (008/2012):EMENTA – Laudo psicológico sem fundamentação técnica e científica.DECISÃO CRP: Censura públicaDECISÃO CFP: Censura públicaDATA DO JULGAMENTO: 10/06/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: João Baptista Fortes de Oliveira

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 807/2016- oRiGem – CRP-06 (030/2012):EMENTA – Laudo psicológico sem fundamentação técnica e científica.DECISÃO CRP: ArquivamentoDECISÃO CFP: ArquivamentoDATA DO JULGAMENTO: 10/06/2016

PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Rogério de Oliveira Silva

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 756/2016- oRiGem – CRP-06 (115/2012):EMENTA – Infração ao sigilo profissional.DECISÃO CRP: CassaçãoDECISÃO CFP: CassaçãoDATA DO JULGAMENTO: 10/06/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Rogério de Oliveira Silva

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 933/2016- oRiGem – CRP-12 (362/2013):EMENTA – Infração ao sigilo profissional.DECISÃO CRP: Censura públicaDECISÃO CFP: Censura públicaDATA DO JULGAMENTO: 10/06/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Dorotéa Albuquerque de Cristo

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 1016/2016 - oRiGem – CRP-03 (004/2015)EMENTA – Irregularidade na venda de testes psicológicos.DECISÃO CRP: MultaDECISÃO CFP: ArquivamentoDATA DO JULGAMENTO: 22/07/2016 PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Eliandro Rômulo Cruz Araújo

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 958/2016 - oRiGem – CRP-06 (101/2012)EMENTA – Laudo psicológico sem fundamentação técnica e científica.DECISÃO CRP: ArquivamentoDECISÃO CFP: ArquivamentoDATA DO JULGAMENTO: 22/07/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Maria da Graça Corrêa Jacques

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 1145/2016 - oRiGem – CRP-04 (007/2010)EMENTA – Aplicação de prática não reconhecida pela profissão.DECISÃO CRP: AdvertênciaDECISÃO CFP: AdvertênciaDATA DO JULGAMENTO: 22/07/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Sérgio Luís Braghini

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 1436/2016 - oRiGem – CRP-07 (012/2013):EMENTA – Laudo psicológico sem fundamentação técnica e científica.DECISÃO CRP: Exclusão liminar da denúnciaDECISÃO CFP: Arquivamento

DATA DO JULGAMENTO: 22/07/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Madge Porto Cruz

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 1486/2016 - oRiGem – CRP-06 (131/2013):EMENTA – Laudo psicológico sem fundamentação técnica e científica.DECISÃO CRP: ArquivamentoDECISÃO CFP: ArquivamentoDATA DO JULGAMENTO: 22/07/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: RELATORIA: Vera Lúcia Morselli

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 423/2016 - oRiGem – CRP-08 (024/2014):EMENTA – Laudo psicológico sem fundamentação técnica e científica.DECISÃO CRP: Exclusão liminar da denúnciaDECISÃO CFP: Instauração de processo disciplinar éticoDATA DO JULGAMENTO: 19/08/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: João Carlos Alchieri

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 1504/2016 - oRiGem – CRP-04 (020/2012):EMENTA – Laudo psicológico sem fundamentação técnica e científica.DECISÃO CRP: Exclusão liminar da denúnciaDECISÃO CFP: ArquivamentoDATA DO JULGAMENTO: 19/08/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Roberto Moraes Cruz

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 1546/2016 - oRiGem – CRP-06 (109/2013):EMENTA – Laudo psicológico sem fundamentação técnica e científicaDECISÃO CRP: AdvertênciaDECISÃO CFP: AdvertênciaDATA DO JULGAMENTO: 19/08/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Dorotéa Albuquerque de Cristo

PRoCesso ÉtiCo-PRoFissioNaL CFP Nº 1505/2016 - oRiGem – CRP-06 (112/2012):EMENTA – Laudo psicológico sem fundamentação técnica e científica.DECISÃO CRP: ArquivamentoDECISÃO CFP: ArquivamentoDATA DO JULGAMENTO: 19/08/2016PRESIDENTE DA SESSÃO: Mariza Monteiro BorgesRELATORIA: Lurdes Perez Oberg

20

Conselho Federal de Psicologia Jornal do Federal - Dezembro 2016

Memórias da Psicologia

safios e problemas, constitui uma referência para países do tipo continental.

Temos ainda múltiplos desa-fios, como aumentar a oferta de serviços efetivamente substituti-vos, como os Caps III, com acolhi-mento noturno e aberto 7 dias por semana; aumentar a oferta e efe-tividade de serviços/dispositivos públicos para usuários de álcool e drogas, particularmente de cra-ck; aumentar a cobertura em áre-as mais remotas, como várias na Amazônia; a melhorar a integra-ção com a rede de atenção primá-ria em saúde promover a desinsti-tucionalização em polos manico-miais remanescentes.

Ulisses Pernambucano: um pioneiro

Diante deste quadro, é mister perguntar como, em outros mo-mentos da história, se lidou com a questão da Saúde Mental. Bus-camos a resposta investigando o trabalho de Ulisses Pernambuca-no de Mello Sobrinho, que nasceu no Recife em 1892. Com apenas 20 anos formou-se em Medicina, no Rio de Janeiro. Nos últimos anos do curso, foi acadêmico interno do Hospital Nacional de Alienados, re-cebendo forte influência do Dr. Ju-liano Moreira. A vida e a obra de Ulisses Pernambucano têm a mar-ca do pioneirismo.

Em 1918, é criada no Recife a cadeira “Psicologia e Pedagogia” na Escola Normal Oficial do Esta-do, constituindo-se no marco do início oficial da Psicologia em Per-nambuco. Ulisses concorre com a monografia “Classificação das crianças anormais: a parada do desenvolvimento intelectual e suas formas; a instabilidade e a astenia mental”, tida como a primeira tese brasileira no campo da deficiência mental. De 1923 a 1927, exerce a direção dessa escola e funda, em 1925, uma escola pioneira nessa especialidade, anexa à Escola Nor-mal e que, em outra estrutura or-ganizacional, ainda continua em

funcionamento (2016).Em 1925, funda o Instituto de

Psicologia do Recife, considera-do a primeira instituição cientifi-camente autônoma a funcionar regularmente no Brasil. O Institu-to realiza um amplo programa de padronização de testes, avaliações psicológicas, seleção e orientação profissionais. Paralelamente, pas-sa a dirigir o Hospital de Doenças Nervosas e Mentais (1924-1926), anteriormente chamado Hospital de Alienados.

Ao assumir pela segunda vez a direção do Hospital (1931 a 1935), criou um audacioso projeto de re-estruturação de todo o serviço psiquiátrico estadual, através da criação da Assistência a Psicopa-tas de Pernambuco. Implementou uma ousada reforma psiquiátrica, fugindo do vigente modelo hospi-talcêntrico. Para tanto, funda um ambulatório público para realizar assistência psiquiátrica extra-hos-pitalar, utiliza em larga escala a la-borterapia (hoje terapia ocupacio-nal), introduz a hidroterapia, cria um dos primeiros serviços públi-cos da higiene mental no Brasil, funda revistas e periódicos, aborda publicamente orientações preven-tivas, promove trabalho de acom-panhamento às famílias dos inter-nos por meio de visitadoras (hoje assistentes sociais), mantendo os vínculos extra-hospitalares dos in-ternos, entre outras ações. Pode-se ver, nessas iniciativas, as sementes de uma visionária política antima-nicomial.

Paralelamente, desenvolve ati-vidades docentes na Faculdade de Medicina. Em 1934 preside, no Re-cife, o “1º Congresso Afro-Brasilei-ro” idealizado por seu primo e ami-go Gilberto Freyre. A sua defesa de minorias marginalizadas começa a incomodar e é denunciado como “subversivo”. É arbitrariamente preso e fica detido por 60 dias na Casa de Detenção da capital per-nambucana. Falece prematura-mente, de enfarto fulminante, em 1943, no Rio de Janeiro.

Eduardo Mourão Vasconcelos é graduado em Psicologia, mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (1985), doutor em políticas sociais pela London School of Economics (1992) e pós-doutor na Anglia Ruskin University. Professor associado aposentado da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Adailson Medeiros é mestre em Psicologia Cognitiva. Professor aposentado do Departamento de Psicologia da UFPE. Atual docente da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (FACHO).