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Anorexia nas passarelas

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Entrevista cedida a Roselaine Araújo, Revista Costura Perfeira (São Paulo), Seção Especial “Passarela doente” – Ano XI, N. 54, março e abril/2010.

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Page 1: Anorexia nas passarelas

REVISTA COSTURA PERFEITA – EDIÇÃO 54SEÇÃO: Especial - PAUTA: Anorexia nas passarelas

ENTREVISTA - Nizia Maria Souza Villaça

Nome completo: Nízia Maria Souza Villaça Formação: Pós-Doutorado em Antropologia Cultural, Paris V - Sorbonne Cargo: Professora Titular Razão Social da empresa ou organização à qual pertence: UFRJ – Universidade

Federal do Rio de JaneiroTempo de atuação na área: 20 (vinte) anosDivulgue o seu site: www.grupoethos.net

1. A senhora já escreveu livros sobre moda, comportamento e corpo. Em algumas de suas publicações, o tema anorexia nervosa é abordado? Caso a resposta seja afirmativa, informe em qual livro o tema aparece e como ele é tratado.

Resposta: Segundo o Dr. Dráuzio Varella, anorexia nervosa é um distúrbio alimentar resultado da preocupação exagerada com o peso corporal que pode provocar problemas psiquiátricos graves. A pessoa se olha no espelho e embora extremamente magra, se vê obesa. Nos livros que tratei da temática corporal, foram enfatizados diversos aspectos do imaginário contemporâneo sobre o assunto com ênfase nas metamorfoses e tendências às desmaterializações propiciadas pelas novas tecnologias. Sobre anorexia propriamente dita orientei a tese “Corpografias”, de Larissa Grandi Bastos, onde um capítulo era dedicado à questão:” no limite: transtornos mais que alimentares”. Creio que mais importante do que as proibições e condenações é buscar a pluralização do mundo das imagens e dos desejos.

2. Para você, como foi que a humanidade chegou nesse patamar no qual a magreza absoluta é cultuada como um padrão de beleza? Explique as razões para que isso tenha acontecido, segundo seu ponto de vista.

Resposta: A questão identidade/diferença é estruturante dos processos de organização social, determinando movimentos de inclusão e de exclusão, de anonimato e de fama. Mabel Moraña, pesquisadora ligada aos Estudos Culturais Latinoamericanos, chama a atenção para a questão da violência simbólico-normativa contra os corpos femininos que, para aparecer devem se conformar aos modelos dominantes, desconsiderando a escuta de seu próprio corpo.

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3. Na sua opinião, os modelos de beleza difundidos hoje pela indústria da moda e pela mídia contribuem para a propagação dessas doenças entre os jovens? Por que?

Resposta: Embora a questão das medidas corporais não seja nova, pois, desde a década de 20 acentua-se franca aversão pelos gordos, hoje os recursos tecnológicos e a crescente visibilidade dos modelos imagéticos parecem incentivar a confusão de imagens e corpos. Penso que o consumo das aparências nesse regime de construção de sentido colabora para o desenvolvimento do problema. Por outro lado, é sintomática a criação de um “body scanner” para medir os corpos pensando na modelização industrial. Tal aparelho busca sintonizar a produção com a variedade de padrões dos corpos que de uma forma geral estão mais altos, mais gordos e mais musculosos. As brasileiras não são magras como querem os estilistas. A moda de rua, a moda dos “blogs” caminha também na direção de uma maior flexibilização do imaginário feminino.

4. Em 2006, a morte da modelo brasileira Ana Carolina Reston, vítima de anorexia, foi mais um exemplo para alertar a sociedade e o mundo sobre as graves conseqüências dessa doença. De lá pra cá, as exigências dentro das agências de modelos permaneceram praticamente iguais. Na sua opinião, quais seriam as formas mais adequadas para combater essa postura irresponsável por parte das agências e também dos promotores de desfiles?

Resposta: Como já referi, alguns caminhos hoje percorridos apontam para a tentativa de suavizar a camisa de força representada pelas regras de obtenção do corpo esquálido que desemboca frequentemente nos distúrbios alimentares. Campanhas publicitárias começam a denunciar a imposição do modelo estilo Kate Moss, vítima famosa da anorexia. A diversidade do mundo contemporâneo começa a ser um pólo de atração utilizado no mundo publicitário e na produção de desfiles de moda. O estilista Jean-Paul Gaultier incluiu em seu desfile uma modelo obesa e a aproximação da moda do universo da arte é um fator positivo para sair da padronização.

5. Em 2006, um evento de moda em Madri, na Espanha, não permitiu que desfilassem modelos com índice de massa corporal inferior ao que é estabelecido como saudável pela Organização Mundial da Saúde. O que você achou dessa medida?

Resposta: As medidas de controle da massa corporal frequentemente são desobedecidas e a obsessão pela magreza vence o temor da perda da saúde. O protesto contra o déficit de massa corporal apresentado em Paris na realidade não teve eco e os padrões de um modo geral permanecem. Assim, diante da recente campanha contra o remédio Sibutramina, utilizado por inúmeras mulheres e capaz de causar doenças graves, levando mesmo à morte, muitas consumidoras deram de ombros. Uma delas afirmou-me com veemência: “prefiro morrer magra”.

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6. Para você o que a indústria da moda e mídia podem fazer para ajudar na redução dessas doenças?

Resposta: a indústria da moda não poderá ficar para traz em relação às tendência do contemporâneo que começam, efetivamente, a amar a diversidade cultural. Eis aí um efeito benéfico da globalização. Assim por exemplo, Alcino Leite Neto referencia, em sua coluna, no jornal Folha de S. Paulo, o sucesso do continente africano no mundo fashion para cortar a monotonia ocidental. E viva a diferença!

Desde já, muito obrigada!Um abraço,Roselaine Araújo – repórter MTB 38256Tel.: (11) 2171-9252/ [email protected]

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