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1 Teologia da Espiritualidade. Módulo 2. História da Espiritualidade ACENOS À ESPIRITUALIDADE PATRÍSTICA ANTOLOGIA DE TEXTOS Padres Apostólicos: “Por meio dele(Cristo) a nossa inteligência, antes obtusa e entenebrecida, refloresce na sua luz admirável, por ele se são abertos os olhos do nosso coração” ( 1 Clemente aos Coríntios 36). “Se não estamos dispostos a morrer para imitar a sua paixão, não temos a vida em nós” (Inácio aos Magnésios 5) “Para mim é melhor morrer por Jesus Cristo...procuro aquele que morreu por nós... deixai que eu imite a paixão do meu Deus!”(Inácio aos Romanos 5-6) “Deus que o ressuscitou da morte, ressuscitará também a nós se fizermos a sua vontade...” (Policarpo 2). “O homem que viaja, quanto mais se aproxima de casa, tanto mais se apressa... em um longo caminho até os homens velozes caminham devagar; quando porém o caminho é encurtado, então até os vagarosos caminham velozmente” (Opus imperfectum in Mathaeum, Homilia XLVIII 3: PG 56,900) “Procuramos nos reunir todos juntos, frequentemente, e assim todos unidos pelos mesmos sentimentos poderemos também ser unidos para a vida”(2 Clemente aos Coríntios 17) “À ira deles, a vossa mansidão; ao orgulho deles, a vossa humildade; às blasfêmias deles, as vossas orações; ao erro deles, a vossa firmeza na fé; à ferocidade deles, a vossa doçura que evita de pagar o mal com o mal. Pela nossa bondade mostramo-nos irmãos deles, esforçando- nos de imitar o Senhor” (Inácio aos Efésios 10) Padres Apologistas: O homem deve procurar conhecer a si mesmo para entender quem é, de onde vem, porque existe... ora, isto não se pode descobrir e conhecer sem perscrutar o universo, sendo as coisas tão intimamente unidas entre si e concatenadas que não se conhece bem o homem se primeiro não se conhece a Deus” (Minúcio Feliz, Octavius 17) “Não é melhor dedicar a Deus um santuário na nossa mente? Deverei oferecer dons e vítimas de coisas que Ele me pôs à disposição, quase como se quisesse recusar os seus benefícios?... Uma conduta boa, uma consciência pura, um sentimento incorrupto, eis a vítima que ele aceita. A retidão é oração a Deus, a justiça sacrifício; quem se abstém do mal se torna favorável a Deus, quem salva o seu irmão do perigo lhe imola a vítima

Antologia de textos patrísticos

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Teologia da Espiritualidade. Módulo 2. História da Espiritualidade

ACENOS À ESPIRITUALIDADE PATRÍSTICA

ANTOLOGIA DE TEXTOS

Padres Apostólicos:

“Por meio dele(Cristo) a nossa inteligência, antes obtusa e entenebrecida, refloresce na sua luz admirável, por ele se são abertos os olhos do nosso coração” ( 1 Clemente aos Coríntios 36).

“Se não estamos dispostos a morrer para imitar a sua paixão, não temos a vida em nós” (Inácio aos Magnésios 5)

“Para mim é melhor morrer por Jesus Cristo...procuro aquele que morreu por nós... deixai que eu imite a paixão do meu Deus!”(Inácio aos Romanos 5-6)

“Deus que o ressuscitou da morte, ressuscitará também a nós se fizermos a sua vontade...” (Policarpo 2).

“O homem que viaja, quanto mais se aproxima de casa, tanto mais se apressa... em um longo caminho até os homens velozes caminham devagar; quando porém o caminho é encurtado, então até os vagarosos caminham velozmente” (Opus imperfectum in Mathaeum, Homilia XLVIII 3: PG 56,900)

“Procuramos nos reunir todos juntos, frequentemente, e assim todos unidos pelos mesmos sentimentos poderemos também ser unidos para a vida”(2 Clemente aos Coríntios 17)

“À ira deles, a vossa mansidão; ao orgulho deles, a vossa humildade; às blasfêmias deles, as vossas orações; ao erro deles, a vossa firmeza na fé; à ferocidade deles, a vossa doçura que evita de pagar o mal com o mal. Pela nossa bondade mostramo-nos irmãos deles, esforçando-nos de imitar o Senhor” (Inácio aos Efésios 10)

Padres Apologistas:

“ O homem deve procurar conhecer a si mesmo para entender quem é, de onde vem, porque existe... ora, isto não se pode descobrir e conhecer sem perscrutar o universo, sendo as coisas tão intimamente unidas entre si e concatenadas que não se conhece bem o homem se primeiro não se conhece a Deus” (Minúcio Feliz, Octavius 17)

“Não é melhor dedicar a Deus um santuário na nossa mente? Deverei oferecer dons e vítimas de coisas que Ele me pôs à disposição, quase como se quisesse recusar os seus benefícios?... Uma conduta boa, uma consciência pura, um sentimento incorrupto, eis a vítima que ele aceita. A retidão é oração a Deus, a justiça sacrifício; quem se abstém do mal se torna favorável a Deus, quem salva o seu irmão do perigo lhe imola a vítima mais bela. Eis os nossos sacrifícios, eis os nossos ritos: quem é mais justo, é considerado por nós o mais religioso” (Minúcio Feliz, Octavius 32)

“Nós, ao contrário, damos pouquíssimo valor à vida nesta terra e nos fazemos tomar somente pelo desejo de conhecer o verdadeiro Deus e o seu Verbo” “Estamos persuadidos que para além desta vida viveremos uma outra, melhor que a presente e além do mais uma vida celeste...” (Atenágora, Súplica pelos cristãos XII.XXXI)

“Nós que um tempo nos abandonávamos à luxúria, agora abraçamos a castidade; nós que nos servíamos de artes mágicas, agora consagramos nós mesmos ao Deus Bom e não gerado; nós que nos alimentávamos mais do que os outros de riquezas e fortunas, agora até os bens que

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possuímos os pomos em comum e os dividimos com todos os pobres; nós que nos odiávamos, nos matávamos uns aos outros, não acolhíamos na nossa cada gente de todo tipo e costumes, agora, depois da vinda de Cristo, convivemos em comum e rezamos pelos inimigos...”( Justino, Apologia I, XIV).

“Como o agricultor, uma vez semeado o campo, espera a colheita sem repetir a semeadura, assim também para nós a medida da concupiscência é a procriação da prole... As segundas núpcias, morto o marido ou a esposa, não são outra coisa que um decoroso adultério” (Atenágora, Súplica pelos cristãos XXXIII)

“Os bens que possuímos os pomos em comum e dividimos com todos os pobres” (Justino, Apologia I, XIV).

“Tudo é dividido entre nós, salvo a mulher que é nossa. Neste ponto do matrimônio infringimos o princípio de ter as coisas em comum” (Tertuliano, Apologético XXXIX).

“O que nos faz reconhecer não é um sinal material, mas a inocência e a modéstia; nós nos amamos uns aos outros porque não conhecemos o ódio; nós, embora se o vedes com olhos maus, nos chamamos ‘irmãos’, porque criaturas de um só Deus, participantes da mesma fé, herdeiros da mesma esperança” (Minúcio Feliz, Otávio 31).

“Como no mar existem ilhas que são habitáveis, ricas de água e de frutas...com portos a oferecer refúgio àqueles surpreendidos pela tempestade, assim Deus deu ao mundo agitado e confuso pelos pecados as comunidades, chamadas santas igrejas, nas quais, como nos portos facilmente abordáveis das ilhas, se encontram os ensinamentos da verdade; aqui se refugiam aqueles que desejam se salvar, aqueles que são enamorados da verdade e querem fugir à ira e ao juízo divino” (Teófilo, Três livros a Autólico, livro segundo 14)

Espiritualidade do Martírio:

“O procônsul os condenou a serem queimados vivos... Amarraram Carpo. E enquanto o amarravam, Carpo ria. Intrigados, aqueles que estavam em volta lhe perguntavam: ‘Por que rides?’. O santo respondeu : ‘Vi a glória do Senhor e me alegrei. Eis que agora estou livre de vós e de vossas malvadezas” ( Do Martírio de Carpo, Papilo e Agatonice).

“Eram confortados pela alegria do martírio, pela esperança da felicidade prometida e pelo amor por Cristo e pelo Espírito do Pai... avançavam alegres e cobertos de glória e de graça...” ( Do Martírio de Potino e outros Mártires de Lion).

“Aquele que uma vez venceu a morte, pode vencê-la em cada um de nós” ( Cipriano, Carta X).

“Antes de tudo não depende de ti o martírio, mas da eleição da parte de Deus. Mesmo se não mártir, o cristão que desprezou e abandonou tudo e deu prova de seguir a Cristo será considerado entre os mártires de Cristo” ( Cipriano, sobre a imortalidade 12).

Exortação ao martírio, de Orígenes (184-254)

“Se passamos da morte para a vida (1Jo 3,14), ao passarmos da infidelidade para a fé, não nos admiremos se o mundo nos odeia. Com efeito, quem não tiver passado da morte para a vida, mas permanecer na morte, não pode amar aqueles que abandonaram a tenebrosa morada da morte, para entrar na morada feita de pedras vivas, onde brilha a luz da vida. Jesus deu a sua vida por nós (1Jo 3,16); portanto, também nós devemos dar a vida , não digo por ele, mas por nós, quero dizer, por aqueles que serão construídos, edificados, com o nosso martírio. Chegou o tempo, cristãos, de nos gloriarmos. Eis o que está escrito: E não só isso, pois nos gloriamos também de nossas tribulações, sabendo que a

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tribulação gera a constância, a constância leva a uma virtude provada, a virtude provada desabrocha em esperança; e a esperança não decepciona. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5,3-5). Se, à medida que os sofrimentos de Cristo crescem para nós, cresce também a nossa consolação por Cristo (2Cor 1,5), acolhamos com entusiasmo os sofrimentos de Cristo; e que eles sejam muitos em nós, se desejamos realmente obter a grande consolação reservada para todos os que choram. Talvez ela não seja igual medida para todos. Pois se assim fosse, não estaria escrito: à medida que os sofrimentos de Cristo crescem em nós, cresce também a nossa consolação. Aqueles que participam dos sofrimentos de Cristo, participarão também da consolação que ele dará em proporção aos sofrimentos suportados por seu amor. É o que nos ensina aquele que afirmava cheio de confiança: Assim como participais dos sofrimentos, participareis também da consolação (cf. 2Cor 1,7). Da mesma forma Deus fala através do Profeta: No momento favorável, eu te ouvi e no dia da Salvação, eu te socorri (cf. Is 49,8; 2Cor 6,2). Haverá, por acaso, tempo mais favorável do que esta hora, quando por causa do nosso amor a Deus em Cristo somos publicamente levados prisioneiros neste mundo, porém, mais como vencedores do que como vencidos? Na verdade, os mártires de Cristo, unidos a ele, destroçam os principados e as potestades, e com Cristo triunfam sobre eles. Deste modo, tendo participado de seus sofrimentos, também participam dos merecimentos que ele alcançou com a sua coragem heróica. Que outro dia de salvação haverá tão verdadeiro como aquele em que deste modo partireis da terra? Rogo-vos, porém, que não deis a ninguém motivo de escândalo, para que o nosso ministério não seja desacreditado; mas em tudo comportai-vos como ministros de Deus com grande paciência (cf. 2Cor 6,3-4), dizendo: E agora Senhor, que mais espero ? Só em vós eu coloquei minha esperança ! (Sl 38,8). (Nn 41-42: PG 11, 618-619) (Séc. III).

Textos de S. Irineu:

“Todos crêem em um só e mesmo Deus Pai, admitem a mesma economia da encarnação do Filho de Deus, reconhecem o mesmo dom do Espírito, meditam os mesmos preceitos, observam a mesma forma de organização da Igreja, esperam a mesma vinda do Senhor, esperam a mesma salvação do homem todo, alma e corpo” (Contra as heresias V 20,1,448-449).

“Assim como a glória de Deus é o homem vivente, a vida do homem é a manifestação de Deus”(Contra as heresias IV 20,7,349).

“Quando veio o Verbo, Ele mostrou a verdadeira imagem e restabeleceu a semelhança em modo estável, tornando o homem semelhante ao Pai invisível por meio do Verbo visível” “O homem que recebeu o Espírito de Deus não perde a substância da carne, mas muda a qualidade do fruto das suas obras e toma um outro nome, que indica a sua mudança para melhor: não é mais chamado carne e sangue, mas homem espiritual”(Contra as heresias V,10,2,428).

Textos de Orígenes:

“Talvez ignores que também a ti, isto é, a toda a Igreja de Deus e ao povo dos fiéis foi dado o sacerdócio... Tens portanto o sacerdócio, uma vez que sois um povo sacerdotal e por isso deves oferecer a Deus a vítima de louvor: a vítima das orações, a vítima da misericórdia, a vítima do pudor, a vítima da justiça, a vítima da santidade” (Homilia XI sobre Levítico 1)“ Não te maravilhes que este santuário seja aberto somente aos sacerdotes, já que todos aqueles que foram ungidos com o óleo do santo crisma tornaram-se sacerdotes... sois portanto uma estirpe sacerdotal e por isso haveis acesso ao santuário.” (ibidem, 9).“Este sentimento do amor, que por dom do Criador foi inserido na alma racional, alguns o empregam como amor ao dinheiro ou à propensão à avidez, ou para conseguir fama e então tornam-se desejosos de vanglória, ou para procurar prostitutas e se encontram prisioneiros da impudicícia e da libido...” (Comentário ao Cântico, prefácio).“Quando tu lês: ‘e ensinava nas suas sinagogas e todos celebravam os seus louvores’ estejas atento a não crer que só aqueles foram felizes, enquanto tu foste privado do seu ensinamento. Se a Escritura é verdadeira, Deus não falou somente nas assembléias judaicas, mas também hoje fala nesta nossa

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assembléia; e não somente aqui, na nossa Igreja, mas também em outras e em todo o mundo Jesus ensina, procurando os instrumentos para transmitir o seu ensinamento” (Com. a Lc - Homilia XXXII 2).“Se uma parte do corpo nos faz mal... pois é por causa da dor de uma só parte que toda a pessoa sofre, ... se algum de nós que somos ditos os seus membros está mal e sofre por algum pecado, ele, Cristo, se diz que não é ainda submisso porque são alguns de seus membros aqueles que não são sujeitos a Deus”“Se a ti que és membro não parece perfeita alegria se te falta um outro membro, quanto mais o nosso Senhor e Salvador que é Cabeça e autor de todo o corpo, reterá que para ele não seja perfeita alegria até que não veja mais que falta ao seu corpo alguma coisa dos seus membros”(Homilia VII sobre Levítico 2).

Textos do monaquismo:

“A coabitação constitui um campo de prova, uma bela via de progresso, um contínuo exercício, uma ininterrupta meditação dos preceitos do Senhor. E o escopo desta vida comum é a glória de Deus... Este gênero de vida comum é conforme aquele que levavam os santos recordados nos Atos dos Apóstolos: os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum” ( Basílio de Cesaréia, Regulae fusius tractatae VII par.4).

“ele pensava e refletia como os apóstolos tivessem deixado tudo para seguir o Senhor; como nos Atos se narra dos cristãos que vendiam os seus bens e depositavam o valor aos pés dos apóstolos para que fossem distribuídos aos necessitados e quão grande era a recompensa preparada para estes no céu” (Santo Atanásio, Vida de Antão).

“Os prêmios prometidos por Deus não são somente reservados aos que caíram e aos mortos, mas também a todos os fiéis que têm resistido íntegros na fé. Mesmo se não mártir, o cristão que abandonou tudo e deu prova de seguir a Cristo será considerado entre os mártires de Cristo” (S. Cipriano, A Fortunato 12 ).“A filosofia é um estado moral unido a uma opinião da verdadeira ciência do ser, mas dessa se desviaram os gregos e judeus, rejeitando a sabedoria que vem do céu: se puseram a filosofar sem Cristo, o único que da verdadeira filosofia oferece o modelo, em obras e palavras. Ele de fato por primeiro abriu-nos a via com o seu modo de vida, tendo mostrado uma conduta pura, seja exaltando sempre mais a vida sobre as paixões do corpo, seja enfim desprezando inteiramente também essa quando a salvação dos homens exigia a morte. Ensinava assim que quem escolhe professar retamente a filosofia deve renunciar a todas as doçuras de viver, dominar muito bem sofrimentos e paixões, desprezando o corpo e não ter como preciosa nem mesmo a vida, mas estar pronto a abrir mão dela, se para dar um exemplo de virtude, fosse necessário rejeitá-la” (Nilo, Discurso Ascético).